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RELISE

AS DIFICULDADES ENFRENTADAS NA CONCESSÃO DE CRÉDITO


PELOS EMPREENDEDORES DE BONFINÓPOLIS DE MINAS 1

Jorge Luiz Andrade Ramos2


Raquel Aparecida Alves3
Gevair Campos4
Rosimeire Fernandes Cruz Pereira5

RESUMO

O empreendedor brasileiro tem opções de crédito para seu negócio como


investimentos para implantação, ampliação, recuperação e modernização de
instalações e/ou atividades nos setores de indústria, comércio, prestação de
serviços, agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura. O acesso ao
crédito constitui-se em uma ferramenta indispensável para que
empreendedores e empresas consigam atender a sua capacidade produtiva e,
sendo assim, estimular o crescimento econômico. Nesse sentido, o objetivo
deste estudo foi averiguar os obstáculos enfrentados no que se refere à
concessão de crédito para os empresários de Bonfinópolis de Minas manterem
e expandirem seus empreendimentos. Este estudo se classifica como
quantitativo e a coleta de dados foi realizada mediante a aplicação de
questionários estruturados aos empresários do município em relação à
concessão de crédito. Os resultados apontam dificuldades dos pequenos
empreendedores em acessar o crédito para seus negócios devido a uma série
de requisitos burocráticos a serem atendidos.

Palavras-chaves: empresas, empreendedores, concessão de crédito.

ABSTRACT

Brazilian entrepreneur have some credit options for business, as investments


for implantation, expansion, business recovery and modernization of facilities
and activities in industry, trade, services, agriculture, forestry production, fishing

1
Recebido em 10/07/2019.
2
Faculdade CNEC Unaí. [email protected]
3
Faculdade CNEC Unaí. [email protected]
4
Faculdade CNEC Unaí. [email protected]
5
Faculdade do Noroeste de Minas. [email protected]
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industry and aquaculture. The access to credit is an indispensable tool for
entrepreneurs and companies to meet their productive capacity and, thus, to
stimulate economic growth. In this sense, the objective of this study was to
investigate the obstacles faced in granting credit to entrepreneurs of
Bonfinópolis de Minas to maintain and expand their enterprises. The study was
classified as a quantitative study, and data collection was performed through
the application of questionnaires about granting credit to entrepreneur in the
municipality. The results pointed out difficulties of small entrepreneur in
accessing credit for business due to bureaucratic requirements.

Keywords: companies, entrepreneurs, credit granting.

INTRODUÇÃO
As micro e pequenas empresas têm alta relevância quando se trata da
economia do país e da contratação de funcionários no Brasil, é o setor que
mais gera empregos. De acordo com um estudo de mercado feito pelo Sebrae
em campo nacional, existem 6,4 milhões de estabelecimentos, desse total,
99% são micro e pequenas empresas (MPE). As MPEs respondem por 52%
dos empregos com carteira assinada no setor privado (16,1 milhões) (SEBRAE,
2000).
Contudo, como qualquer outra empresa, a exemplo das de médio e
grande porte, as micro e pequenas também necessitam de capital de giro para
fomentar suas atividades e oportunizar a sua permanência no mercado. Nesse
sentido, os principais concessores de crédito no Brasil são os bancos estatais,
sendo o principal o Banco de Desenvolvimento Nacional (BNDES).
Atualmente, o empreendedor brasileiro tem opções de crédito para seu
negócio como investimentos para implantação, ampliação, recuperação e
modernização de instalações e/ou atividades nos setores de indústria,
infraestrutura, comércio, prestação de serviços, agropecuária, produção
florestal, pesca e aquicultura. São financiáveis itens como estudos e projetos,
obras civis, montagens e instalações, móveis e utensílios, treinamento,

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despesas pré-operacionais, máquinas e equipamentos nacionais novos
credenciados no BNDES, aquisição ou licenciamento de softwares nacionais
credenciados no BNDES e serviços correlatos. Esses são os incentivos
utilizados para o crescimento da empresa, nos quais o empreendedor pode ser
amparado (SEBRAE, 2000).
No entanto, existem duas grandes barreiras que dificultam essa
liberação de crédito, sendo elas a burocracia e as altas taxas de juros. Isso
dificulta o empreendedor a manter o seu negócio, muitas das vezes não
conseguindo atuar da melhor forma em âmbito econômico devido às
dificuldades encontradas.
Diz-se que a redução da burocracia permite melhores resultados na
economia. Cogita-se que é necessário mudar o cenário institucional para que
se tenham atividades empresariais avançadas. Quando se reduz a burocracia
agiliza-se o processo empresarial e se concede melhores resultados na
atividade econômica que são o aumento da competitividade ao oferecer preços
menores e o progresso das relações comerciais (SEBRAE, 2000).
Ainda conforme o SEBRAE (2000), sobre as taxas, ressalta-se que a
composição da taxa de juros varia de acordo com a forma de apoio. Para
operações indiretas, a taxa de juros final será composta pelo Custo Financeiro,
pela Taxa do BNDES (inclui a remuneração do BNDES e a taxa de
intermediação financeira) e pela Taxa do Agente Financeiro. Para operações
diretas, a taxa de juros final será composta pelo Custo Financeiro e pela Taxa
do BNDES (inclui a remuneração do BNDES e a taxa de risco de crédito). O
cliente pode solicitar o financiamento diretamente ao BNDES (forma direta) ou
por meio de instituições financeiras credenciadas (forma indireta). A forma de
apoio depende da finalidade e do valor do financiamento.
Para expandir os negócios, micro e pequenas empresas podem
acessar linhas de crédito específicas para o segmento ou para a finalidade que
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se quer alcançar com o recurso. É preciso tomar alguns cuidados, como, por
exemplo, identificar a real necessidade de empréstimo/financiamento,
pesquisar qual linha e banco melhor atende ao projeto, elaborar um plano de
negócio etc.
Nesse contexto, este trabalho objetivou analisar a concessão de crédito
para micro e pequenas empresas de Bonfinópolis de Minas a fim de investigar
as barreiras enfrentadas no que se refere à concessão de crédito para que os
empresários possam manter/expandir seus negócios.
Os resultados deste estudo são importantes uma vez que se
identificaram os caminhos para a obtenção do crédito, as principais dificuldades
e a relevância do crédito para a manutenção e crescimento das empresas. O
trabalho também pode ser útil como fonte para pesquisas futuras que levem em
conta o tema ou como instrumento de leitura para os interessados no assunto.

REFERENCIAL TEÓRICO

Processo histórico e evolutivo do crédito


Após quase duzentos anos após na Grã-Bretanha, no Brasil ocorreu a
Revolução Industrial, pouco menos de cem anos atrasados em relação aos
Estados Unidos e a França. Essa transformação econômica radical pela qual
passou o Sul do País e principalmente São Paulo foi a passagem de uma fase
agrícola para uma fase industrial, já consideravelmente desenvolvida
(PEREIRA, 1963).
O papel que coube aos empresários brasileiros, dentro da
industrialização do país, foi indubitavelmente, o de liderança. Vários fatores
abriram portas no país, principalmente a partir de 1930, oportunidades para
investimentos lucrativos na indústria. Essas oportunidades se
consubstanciavam, em termos sumários, na existência, dentro das fronteiras,
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de um mínimo de capital disponível, de um princípio de mercado interno, de
uma impossibilidade efetiva de importar os produtos industriais de consumo
que o mercado exigia e adequados, inicialmente, à depressão mundial dos
anos 30, e, logo após, à Segunda Guerra Mundial. E essas oportunidades não
foram perdidas (PEREIRA, 1963).
O Brasil possuía naquele momento um grupo de homens que faziam
união entre um mínimo de capacidade técnica para acelerar um processo
industrial com um enorme desejo de progresso e afirmação social. Esses
homens transformaram-se rapidamente em empresários no sentido
Schumpeteriano do termo, em inovadores que redefiniam os fatores de
produção e dirigiam o processo de acumulação de capital, possibilitando assim,
o crescimento da produtividade e consequente evolução econômica (PEREIRA,
1963).
Desde então, o mercado começou com um novo ponto de vista sobre o
sistema econômico, existindo novas formas de se abrir um negócio. Foi esse o
ponto de partida no país, em que houve grande busca de um sistema onde os
indivíduos pudessem ser auxiliados por uma instituição para que pudessem
abrir seus próprios negócios. Foi quando instituições financeiras colocaram em
prática o crédito no Brasil (PEREIRA, 1963).
Segundo Schrickel (1998), crédito é derivado da palavra latina
“credere”, que tem como significado crer, confiar ou acreditar; ou ainda do
substantivo” creditum", o qual vale expressamente por confiança. Conforme
Schrickel (1998), crédito é todo ato de escolha ou condição de alguém de
ceder, por determinado tempo, parcela do seu patrimônio a outra pessoa, com
a expectativa de que essa parcela volte a seu poder totalmente após
transcorrido o período combinado. Todavia, varia-se do contexto em que é
utilizado, podendo ter vários significados.

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Nessa área existe também o microcrédito que pode ser definido como
todos os serviços financeiros para microempreendedores, excluindo-se o
crédito para consumo. Já o microcrédito produtivo orientado é um crédito
produtivo popular, com objetivo de financiamento a microempreendedores de
baixa renda, para ser aplicado em seu exercício profissional (BNDS, 2002 apud
ALVES; FERREIRA, 2009). Em suma, o microcrédito produtivo orientado é um
crédito específico para uma determinada área da economia: os micro e
pequenos empreendimentos, podendo ser formais ou informais. Tem-se como
destino negócios de pequeno porte, administrado por pessoas de baixa renda,
e não se destina a financiar o consumo. Por conseguinte, o acesso a essa
modalidade creditícia torna-se uma oportunidade para o desenvolvimento dos
pequenos negócios, levando a uma melhoria da capacidade de consumo da
unidade familiar por meio da criação de renda (ALVES; FERREIRA, 2009).
A evolução econômica tem forte relação com a ampliação do crédito.
Uma maior disponibilidade de empréstimos consente que a demanda efetiva se
expanda e, de modo consequente, gere uma aceleração da trajetória de
aumento da receita e do emprego. Quando se tem acesso ao crédito permite-
se às famílias aumentar seu consumo de bens duráveis e investir, em especial,
em residências e educação (SANT’ANNA; BORÇA JUNIOR; ARAUJO, 2009).
Atualmente, no Brasil, as sociedades de garantia de crédito, por
requererem regulamentação própria, não possuem vinculação direta com o
SFN, ou seja, o Conselho Monetário Nacional não normatiza o segmento e
nem o Banco Central do Brasil o fiscaliza. Ainda assim, o que se observa é
uma forte conexão entre sistema garantidor de crédito e o SFN, tendo em vista
que essas sociedades estão direcionadas para a concessão das garantias
complementares exigidas dentro do respectivo sistema financeiro (ZICA;
MARTINS, 2008).

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O acesso ao crédito constitui-se em uma ferramenta indispensável para
que pessoas e empresas consigam atender a sua capacidade produtiva e,
sendo assim, estimular o crescimento econômico. No Brasil, o nível de crédito
ainda é baixo quando comparado ao de países desenvolvidos como os Estados
Unidos, Japão e Alemanha ou aos de países em desenvolvimento, de
crescimento rápido, como a China, Malásia e Tailândia. Entretanto, observa-se,
que entre o período de 2004 a 2008, houve uma expansão do crédito no Brasil
muito acima do desempenho do PIB. Paralelamente a isso, esse progresso
veio acompanhado de mudanças significativas no que diz respeito ao
alongamento contínuo dos prazos das operações de crédito (SANT’ANNA;
BORÇA JUNIOR; ARAUJO, 2009).

Empreendedores, as empresas e a questão financeira


Palavras como negócios, inovação, criação e empreendedorismo são
citadas constantemente no campo acadêmico quando se trata da área
econômica. Empresas e governo mostram gradual interesse tanto nacional
como internacional pelos empreendedores. Mesmo com esse interesse, não se
tem ainda uma definição precisa e totalmente aceita quando se trata do
assunto empreendedorismo. No francês entrepreuner em sua fiel tradução
significa “intermediário” ou “aquele que está entre” (HISRICH; PETERS;
SHEPHERD, 2009).
Assim, apareceram algumas definições para o termo
empreendedorismo bem como do processo empreendedor como também as
características de quem se considerava um. Hisrich, Peter e Shepherd (2009)
retratam o trajeto dessa definição indicando o período inicial que ocorreu ainda
quando aconteciam as rotas comerciais, exploradas por Marco Polo, para o
Extremo Oriente. Esse termo também foi usado na Idade Média para

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caracterização de um administrador de amplos projetos de criação (como
castelos, fortificações e prédios públicos).
No século XVII, a palavra foi associada ao risco, sendo o
empreendedor o que firmava um acordo com o governo para realizar um
serviço ou produzir produtos, combinando uma quantia fixa para esse trato e
admitindo todos os lucros ou danos decorrentes. Já no século XVIII o
empreendedor teve o termo destoado do provedor de capital (atualmente
chamado de investidor de risco), diferenciação decorrente da industrialização
como resposta às modificações e produções da época. No próximo período, o
final do século XIX e início do XX, não se diferenciavam empreendedores de
administradores e tais eram vistos a partir de um ponto de vista econômico, e,
na metade do século XX, surge a visão de empreendedor como inovador
(PEREIRA, 1963).
Atualmente o empreendedorismo desenvolveu para mais que a ideia
clássica de startup, incluindo empresas e instituições de vários modelos e
fases. Diante disso, o empreendedorismo ocorre em empresas antigas e
atuais, com menor e maior estrutura, com crescimento acelerado e retardado
em vários setores (privativos, sem fins lucrativos ou comunitários), em ampla
região e em totais etapas de progresso de uma nação (DORNELAS; SPINELLI;
ADAMS JUNIOR, 2010).
A política de crédito, em uma instituição financeira, segundo Sant’anna,
Borça Junior e Araujo (2009) deve observar as seguintes definições:
- mercado alvo – parâmetro que define quais os tipos de clientes
serão aceitos quanto ao porte, setor e ramo da economia, além da
seleção da situação econômico-financeira dos clientes com quem se
pretende trabalhar;
- critérios de aceitação de risco – devem existir parâmetros que visem
produzir a lucratividade esperada pelos acionistas e mantenham a
credibilidade da instituição junto ao mercado;
- critérios de impedimento – estabelecem restrições que impedem o
cliente de operar com o crédito. Tais critérios estão dentro do que o
mercado costuma chamar de “boa técnica bancária”;

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- critério de análise de clientes – estabelecem quais os pontos de
análise relevantes para cada tipo de cliente;
- concessão de limite versus operações de crédito – separa a análise
do cliente (limite de crédito) da análise da operação de crédito
(capacidade de retornar o investimento).

Realizando algumas considerações a respeito da política ou modelos


de crédito de um banco, percebe-se que são itens de referência para estudo,
precavendo desentendimentos ou ausências pela parte de gerentes de crédito,
englobando dúvidas relacionadas à dimensão dos empréstimos a serem
liberados, por exemplo, níveis de risco admitidos, lucro mínimo das linhas de
crédito, limiar de crédito, inclusive a condição de acompanhamento desses no
tocante à verificação dos sistemas adotados, retomada de perdas e disposição
para não cumprimento. Notadamente, de acordo com a provisão para
devedores dúbios, recente normatização do Banco Central – Resolução nº
2.682, de 21.12.1999 – normatizou o tema retirando a autocracia dos Bancos
para solucionar o assunto, estabelecendo percentuais relacionados com o risco
da operação de crédito contratada (DORNELAS; SPINELLI; ADAMS JUNIOR,
2010).
É indiscutível que as empresas se defrontem com inúmeras
dificuldades, quando se busca recursos para investimentos ou empréstimos em
instituições financeiras, tanto públicas quanto privadas. Essas dificuldades
ganham dimensão especialmente para o segmento das micro e pequenas
empresas. No Brasil as barreiras em obtenção de crédito sucedem
principalmente dois pontos estruturais: o alto custo financeiro e as fortes
restrições de acesso ao crédito. Comprova-se essa visão na baixa relação
entre o Produto Interno Bruto Nacional (PIB) e o volume das operações de
crédito do sistema financeiro em analogia a países com economias mais
desenvolvidas ou semelhantes à brasileira (DORNELAS; SPINELLI; ADAMS
JUNIOR, 2010).

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A atividade de crédito implica risco significativo para as instituições
financeiras, pois se trata de uma modalidade de risco que está presente em
qualquer atividade comercial, caracterizada pela probabilidade de não
recebimento dos recursos emprestados (DOUAT, 1994; SCHRICKEL, 1997
apud DORNELAS; SPINELLI; ADAMS JUNIOR, 2010).
Na gestão desse risco, as instituições financeiras desenvolveram vasto
aparato de técnicas, visando minimizar suas perdas. Essas técnicas vão desde
o treinamento de especialistas até o uso de modelagens estatísticas que lhe
conferiram maior robustez e eficácia na análise dos clientes. O avanço dessas
técnicas foi fortemente influenciado por governos e por órgãos de supervisão
bancária, tendo em vista a importância da concessão de crédito para o
desenvolvimento de determinados segmentos da economia, em especial o das
MPE’s (DOUAT 1994; SCHRICKEL1997 apud DORNELAS; SPINELLI; ADAMS
JUNIOR, 2010).
De acordo com Schrickel (1997 apud ALVES; FERREIRA, 2009), a
atividade de crédito provoca ameaças consideráveis às instituições financeiras,
já que se trata de uma categoria de risco que está corrente em qualquer ação
comercial, descrita pela provável falta de recebimento dos fundos emprestados.
Devido a esse risco, as companhias financeiras elaboraram amplo mecanismo
estratégico, planejando reduzir seus males. Essas táticas que vão desde a
capacitação de entendedores, até a utilização de modelagens estatísticas
proporcionam uma maior força e êxito na análise dos clientes.
Conforme pesquisas desenvolvidas pelo SEBRAE (2000), o crédito é
fator determinante para o desempenho econômico-financeiro das Micro e
Pequenas Empresas (MPE’s). Em pesquisa realizada em 2000, constatou-se
que existe uma inadequação do crédito para esse segmento, sinalizando que
as principais dificuldades para obtenção de financiamento são a burocracia

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elevada (59%) e juros elevados (40,7%) (ALMEIDA, 2000 apud CAMARGOS;
LIMA 2008).
Em complemento a isso, conforme destacam Camargos e Lima (2008),
existem recursos financeiros disponíveis em várias instituições, mas o custo é
alto para as empresas desse segmento, pois há percepção de risco elevado
por parte das instituições financeiras.
O desenvolvimento de políticas voltadas para a promoção do
empreendedorismo deve ser precedido pela construção de um sistema de
apoio financeiro, frequentemente mais importante que a própria expectativa de
sucesso do negócio (SHAPERO; SOKOL, 1982 apud BUENO, 2003).
Refere-se à chance de perdas que é o resultado da falta de certeza em
relação ao recebimento de uma quantia contratada, adequado pelo titular de
um empréstimo ou emissor de um título. Sendo uma falha de uma contraparte
no cumprimento de compromissos contratuais. De acordo com Duarte Júnior
(1996, p. 5), a chance de perdas está ligada ao “recebimento de um valor
contratado, a ser pago por um tomador de empréstimo, contraparte de um
contrato ou emissor de um título, descontadas as expectativas de recuperação
e realização de garantias”.
A permissão de empréstimos é a ação essencial da maior parte dos
bancos. Para que sejam desenvolvidos seus serviços de empréstimos
necessitam fazer avaliações sobre o cliente contratante, para se ter as
possibilidades de crédito dos fornecedores (BUENO, 2003).
Como uma forma de classificação, o SEBRAE (2000) organizou uma
forma de agrupar as empresas que é relacionada com a quantidade de
funcionários e seu setor de atuação, determinados em relação à receita bruta
anual e ao número de empregados. Quanto à Receita Bruta Anual do
Microempreendedor Individual, ela vai até R$ 60.000,00, já a microempresa
tem receita de até R$ 360.000,00 e a empresa de Pequeno Porte de R$
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360.000,01 até R$ 3.600.000,00. Já quanto ao número de colaboradores o
SEBRAE utiliza o critério por número de empregados do IBGE como critério de
ordenação do porte dos empreendimentos para fins bancários, ações de
tecnologia, exportação, entre outros. Para a indústria têm-se os micros com até
19 empregados, as pequenas de 20 a 99 empregados, as médias de 100 a 499
empregados e as grandes com mais de 500 empregados. Para o comércio e
serviços para micros com até 9 empregados, para pequenas de 10 a 49
empregados, para médias de 50 a 99 empregados e para grandes com mais de
100 empregados.

Dificuldades de concessão de crédito para empreendedores


O empreendedorismo emerge em todos os padrões sociais,
localizações, níveis de escolaridade, por meio de pessoas que gerenciam
grandes empresas. No entanto, como citado, são necessários recursos
financeiros para empreender, sendo esse um dos primeiros obstáculos do
pequeno empreendedor. Nesse contexto, de dificuldade e carência de recursos
financeiros, foi criado o microcrédito produtivo orientado que é uma chance
para os empreendedores que possuem uma renda menor. Essa forma de
crédito oferece uma alternativa de empréstimo tanto para pessoas físicas
quanto para jurídicas do setor formal e informal que, por tantas razões, não
conseguem ter acesso ao sistema bancário clássico, e que mesmo assim tem
como objetivo criar, crescer ou conseguir capital de giro para uma pequena
empresa (SOLOMON, 1986).
Na concepção de Solomon (1986), a falta de capital cria barreiras para
o pequeno empreendedor desde o início, dificultando investimentos essenciais
em melhorias e inovação.
Quando se tem esses obstáculos, geram-se empresas com custos e
despesas elevadas, obtendo baixas receitas como resultado e falta de
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eficiência em termos produtivos. CAMARGOS et al. (2010) completam ainda
que a “escassez de capital é a principal responsável pelo fato de que as
pequenas empresas estão comumente fadadas a períodos de vida muito
curtos”.
Uma das etapas do processo empreendedor é o levantamento de
fundos, sendo apontado por observadores e pela maioria dos empreendedores
como uma das problemáticas mais trabalhosas na elaboração de um novo
negócio (HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2009). Existe esse obstáculo
devido à realidade de que os empreendedores e os investidores normalmente
não têm o mesmo conhecimento sobre a ideia ou oportunidade em questão. Os
investidores necessitam de tomadas de decisões em relação a apoiar novos
empreendimentos com valores muito incertos, com menos informações do que
o empreendedor possui. Com essa falta de certeza e a alteridade de
informações, acabam então criando questões no financiamento de novas
empresas. Dessa maneira, o processo de disponibilidade econômica de um
novo empreendimento consiste em uma união de pesquisas, hipóteses e
conclusões que permitem ao investidor julgar se o convém ou não investir em
determinado negócio (BERNARDI, 2011).
No entanto, no Brasil, ainda existem, por determinados motivos,
amplas dificuldades ao se dar início a uma ação empreendedora. Tem-se
impasses associados a falhas gerenciais, coordenações operacionais, políticas
públicas, entre outros. Dolabela (2008) faz uma comparação de dados do
SEBRAE relacionados aos principais pontos de obstáculos e motivos para o
fechamento das micro e pequenas empresas. Ele coloca que os relevantes
são: a falta de capital de giro (42% dos entrevistados afirmaram passar por
essa dificuldade); problemáticas financeiras (21%); ausência de clientes (25%)
e carência de crédito bancário (14%).

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Além do mais, segundo pesquisas do SEBRAE, a concorrência das
micro e pequenas empresas pode estar relacionada com o tamanho e tempo
da empresa – sendo assim, quanto menor o empreendimento será maior o
risco de extinção; escolaridade dos sócios - quanto maior a escolaridade maior
a chance de sucesso; pois se tem experiência prévia, sendo que 60% dos
empreendedores de sucesso tinham passado por experiência anterior em
algum negócio; disponibilidade de capital na abertura; identificação e avaliação
de oportunidades e marketing de vendas (DOLABELA, 2008).
Em relação ao que se refere às barreiras encontradas pelas pequenas
e microempresas para obtenção de financiamento o elementar seria a não
diferenciação no estudo de crédito das MPE’s e grandes empresas, o que de
fato impossibilita essa análise, pois, na maior parte das vezes, o demonstrativo
das MPE’s não tem confiabilidade. Os pontos utilizados para decidir e analisar
o crédito pelos variados bancos são praticamente semelhantes, sendo: 1)
balanços patrimoniais (quando se tem); 2) garantias reais; 3) feeling de
analistas; 4) consultas à Centralização do Serviço de Bancos S. A. (Serasa) e
5) consulta ao Banco Central do Brasil. Contudo, tem-se que, se por um lado,
essa observação tem papel primordial no processo de determinação e análise
do risco de crédito de qualquer empreendimento, ao prover a chance, com
base em dados históricos, do risco de inadimplência da execução de crédito e,
por outro lado, a falta de credibilidade e exatidão dos papéis que são
obrigatórios, como, a título de exemplo, o levantamento patrimonial. Deveriam
ser considerados outros pontos na análise e deliberação de permissão de
crédito, como: 1) grau de escolaridade do proprietário; 2) período de
funcionamento da empresa; 3) prática anterior do proprietário no setor; 4)
localização da empresa; 5) nível de inovação dos seus sistemas e, por fim, 6)
destino do crédito (PASSOS et al., 2009).

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Segundo Fagnani (2011), alguns fatores inibem o comportamento do
empreendedor, existem forças restritivas que são capazes de inibir a ação
criativa dos empreendedores e dificultar suas atitudes relacionadas à criação
de empresas. Essas dificuldades podem ser categorizadas como: dificuldades
de conjuntura econômica, localização, burocráticas, tecnológicas,
mercadológicas, de concorrência, financeira e do período inicial de operação
da nova empresa.
Para o mesmo autor, uma das maiores dificuldades encontradas pelo
empreendedor são as políticas econômicas praticadas no tempo atual.
Geralmente as ideias do empreendedor são barradas pela dificuldade de obter
recursos devido às elevadas taxas de juros praticadas no mercado financeiro e
a escassez de linhas de créditos para financiamento. São esses os fatores que
forçam os empreendedores a se arriscarem a suportar o alto custo ou muitas
vezes a abandonar o seu empreendimento.
Definir o local para instalação da empresa é outro fator que torna mais
difícil o processo de formação de novos empreendimentos. Isso acontece
devido à falta de locais com infraestrutura, que tenham preços de compra ou
locação acessíveis para os novos empreendedores (PASSOS et al., 2009).
O que limita as ações do empreendedor durante a fase de elaboração
e registro do processo formal de constituição do novo empreendimento são as
barreiras burocráticas. O empreendedor deve atender a todas as formalidades,
sendo elas exigências de vários órgãos como a Receita Federal, Receita
Estadual, Prefeitura, entre outros, o que ocasiona entraves à constituição legal
do empreendimento. A principal dificuldade é a demora que o processo de
legalização proporciona, mantendo o empreendedor inativo por algum tempo,
tendo assim que arcar com maiores custos (PASSOS et al., 2009).
Para estabelecer uma empresa se requer do empreendedor a tomada
de decisão relacionada à tecnologia que será utilizada. Quando não se tem
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determinada experiência em relação a esse assunto, ele enfrentará dificuldade
de decidir técnicas, processos e equipamentos adequados para sua produção
(FAGNANI, 2011).
A dificuldade de penetração da empresa ou do produto no mercado,
sendo esse o fator que irá manter o sucesso do seu novo empreendimento, é
uma das barreiras que os empreendedores encontram. Mesmo que se tenha
uma ideia boa, isso não será o suficiente ao empresário, é necessário que haja
a aceitação do mercado. E, para que isso aconteça, o empreendedor necessita
de um eficiente sistema de informação e coleta de dados (PASSOS et al.,
2009).
O mercado atual é um ambiente de grandes desafios e perspectivas
para novos empreendimentos, pois na época da informação em que se
encontram, aquele que apresenta o melhor potencial possível se sairá melhor.
Um dos fundamentais pontos que deve se informar, antes de criar uma
empresa, é sobre a sua concorrência. Essas informações levarão a definição
da amplitude de produtos a serem fabricados e a criação das estratégias
mercadológicas competitivas (FAGNANI, 2011).
Muitas das vezes, por falta de recursos, ou por utilizá-los de forma
inadequada e pouco sistematizada, o empreendedor encontra contratempos
para obter determinadas informações, que são fundamentais para o bom
desempenho de seu negócio. É elementar que o empreendedor seja capaz de
combinar meios da forma que melhor satisfaça as necessidades da população,
para que possa concorrer no mercado. Os empreendedores se encontram com
o desafio de disputar os clientes e de criar uma empresa efetivamente
competitiva. A competitividade impede a capacidade de inovação do indivíduo
que é pressionado a atender as condições do mercado (PASSOS et al., 2009).
Um planejamento é necessário para que se tenha segurança de estar
no caminho certo, para não ser surpreendido por essas e outras
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contrariedades. Sem essa organização não existem critérios para mensurar e
analisar o próprio comportamento da empresa, pois planejar é decidir
antecipadamente o que fazer e de que maneira atuar. O planejamento traça os
objetivos e os caminhos para alcançá-los, de forma versátil e embasada em
informações, inferências e metas (FAGNANI, 2011).
Passos et al. (2009) afirmam que, em função de suas particularidades,
o capital de risco tem grande sinergia com pequenas empresas de base
tecnológica que permitem ganhos expressivos frente às dificuldades de acesso
ao crédito no mercado financeiro tradicional. De acordo com Fagnani (2011), as
empresas de pequeno e médio porte americanas já utilizam esta modalidade
de captação há várias décadas para o financiamento de seus
empreendimentos, que na fase inicial de crescimento, proporcionou o
desenvolvimento de novos produtos, melhora no serviço e uma posição de
destaque em seu setor de atuação.

MÉTODO
Conforme o objetivo deste estudo, que foi investigar as barreiras
enfrentadas no que se refere à concessão de crédito para que os empresários
de Bonfinópolis de Minas possam manter ou expandir os seus negócios, ele se
classifica como quantitativo uma vez que intencionou-se coletar informações
dos empresários do município acerca do processo de concessão de crédito
para uma compreensão mais consistente do objeto pesquisado e descrevê-las
utilizando-se de técnicas estatísticas.
Em relação ao campo da pesquisa, a zona urbana de Bonfinópolis de
Minas possui 494 empresas ativas nos ramos de comércio em geral e uma
população de 5.865 habitantes. No dia 1º de março de 1963, o município
recebeu o nome de Bonfinópolis de Minas. Foram muitos obstáculos a
transpor, pois nesta época não havia infraestrutura suficiente no município para
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promover o desenvolvimento. Muitos homens e mulheres anônimos, alguns
nascidos na própria região e outros imigrantes, se destacaram e se
empenharam na construção do município, doando terras para loteamentos,
construindo igrejas, pontes, estradas, criando escolas e desbravando o vasto
cerrado (BONFINÓPOLIS DE MINAS, 2018).
Para a coleta de dados utilizou-se um questionário estruturado
contendo questões construídas a partir do objetivo da pesquisa. Os
participantes da pesquisa foram todos os empresários da zona urbana do
município. Ressalta-se que muito embora existam quatrocentas e noventa e
quatro empresas registradas, nem todas estão em funcionamento efetivo e que
boa parte dos empresários não devolveram o questionário, assim, conseguiu-
se recolher 42 (quarenta e dois) questionários efetivamente respondidos.
A coleta de dados aconteceu no mês de abril de 2019. A codificação
dos dados foi feita no Microsoft Excel e os dados transformados em média
aritmética simples. Os resultados da pesquisa são apresentados na seção
seguinte.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quanto ao perfil dos respondentes, investigou-se o gênero, a faixa
etária, a formação, o ramo de negócios e a atuação no mercado.
Quanto ao gênero, a prevalência de empresários é do gênero
masculino (76%) e os dados revelam que prevalecem pessoas mais maduras:
28,5% respondentes com idade entre 41 e 50 anos e 33,3% com idade entre
31 e 40 anos. No que se refere à formação escolar,16,6% possuem formação
apenas no ensino fundamental, 35,7% possuem formação no ensino médio
completo, 23,8% não completaram o ensino médio, 11,9% possuem ensino
superior completo e 11,9% possuem ensino superior incompleto.

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Os campos de atuação dos entrevistados são variados, sendo eles
perfumaria, contabilidade, lojas agropecuárias, lojas de calçados e vestuário,
hortifrúti, postos de combustíveis, mercearias e mercados, autopeças e
serviços mecânicos, restaurantes, advocacias, bares, farmácias, papelaria e
salões de beleza. Quanto ao tempo de atuação no mercado a maioria deles
(76,1%) possui menos do que 10 anos de atuação, 19% possuem de 11 a 20
anos e os demais um maior tempo de atuação.
É importante ressaltar, a princípio, que o empresário precisa
compreender e ter um bom entendimento sobre as características, elementos e
necessidades do mercado em que atua para usufruir de vários aspectos
positivos, tais como visão estratégica do negócio, bom desempenho nas
diversas fases do negócio, identificação de cenários e tendências e conhecer
melhor a clientela e características de consumo (MORAIS, 2019).
Foi questionado aos entrevistados sobre como eles percebem o seu
nível de conhecimento sobre o contexto financeiro ao qual sua empresa está
inserida. As respostas foram variadas, 23,8% percebem como ótimo, 47,6%
como bom, 16,6% como regular, 4,7% como ruim e 7,1% não souberam
responder. Os dados revelam que a maioria parece ter conhecimento acerca
do seu contexto financeiro, ainda que uma pequena parcela disse não
conhecer e/ou não soube responder.
Ao serem questionados sobre já terem precisado de crédito para sua
empresa, 90% responderam já terem precisado e 10% não precisaram, ou
seja, ao que tudo indica, a maior parte dos pesquisados já sentiu alguma
necessidade relacionada ao capital para alguma finalidade e, sobre a finalidade
do pedido de crédito, 38% utilizaram para capital de giro de sua empresa, 36%
para quitação de dívidas, 17% para ampliar a empresa e 9% relataram nunca
terem pedido crédito junto a instituições financeiras, como pode-se observar na
Figura 1.
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Figura 1 – Finalidade para Uso do Crédito

Fonte: Dados da pesquisa.

O processo de concessão de crédito pode ser enxergado como uma


tática de atração de clientes e melhora nas vendas das pequenas empresas
com o objetivo de aumentar o faturamento, nesse sentido, quitar dívidas ou
ampliar o negócio pode ser entendido como uma reorganização e,
consequentemente, aquecimento do negócio (POTRICH et al. 2012 apud
AMORIM, 2019).
Contudo, o acesso ao crédito não se tem mostrado algo fácil ou
acessível a todos na medida em que é um processo cujos caminhos são
difíceis e burocráticos. Nesse contexto, a análise das Figuras 2 e 3 permite
observar as principais burocracias e dificuldades encontradas pelos
participantes da pesquisa ao pleitearem o crédito.
Figura 2 – Burocracias na Concessão de Crédito

Fonte: Dados da pesquisa.

Conforme os dados da Figura 2, 48% dos questionados acreditam que


ter um avalista é a parte mais burocrática no processo de concessão de

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crédito, seguida da necessidade de comprovação da renda e da capacidade de
pagamento (24%) e de ter que dar em garantia bens (19%). Nove por cento
dos respondentes disseram não terem precisado de crédito.
Figura 3 – Dificuldades no Processo de Concessão de Crédito

Fonte: Dados da pesquisa.

Quanto às dificuldades enfrentadas no processo de concessão, as


altas taxas de juros foram indicadas como uma das maiores (32%). No entanto,
os prazos para pagamento e as condições contratuais (22%), juntamente com
a análise criteriosa do pedido (21%) e a demora na concessão também foram
apontadas como dificuldades expressivas.
Fagnani (2011) ressalta que as elevadas taxas de juros no mercado
dificultam a atuação dos empreendedores em todos os sentidos, podendo
colocar seu negócio em risco. A Figura 3 mostra que as dificuldades
encontradas pelos empresários são variadas, porém, as altas taxas de juros
representam a dificuldade mais apontada por eles.
Os serviços de atendimento e atenção ao cliente no momento de
concessão também foram questionados pelos empresários bonfinopolitanos,
11,9% deles relatam como sendo um serviço muito bom, 23,8% como bom,
33,3% como regular, 14,2% como ruim, 7,1% como muito ruim e 9,5% não
souberam responder. Com relação à opinião dos entrevistados em relação à
dificuldade de conseguir empréstimos em tempos de crise, 71% relatam sentir
maior dificuldade e 29% relatam não verem dificuldade.

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É relevante que antes de ir a uma empresa de concessão de crédito, o
empresário pesquise para saber das particularidades de cada uma. Assim
sendo, 52,4% dos empreendedores declararam não terem feito nenhuma
pesquisa, 47,6% declararam que fizeram pesquisas na Internet, em diferentes
instituições, entre pessoas que já adquiriram crédito e por indicações.
No que se refere à expectativa para o atual cenário econômico
brasileiro e a nova gestão do país em relação à concessão de crédito, 23,8%
dos empreendedores possuem expectativas muito boas, 16,7% boas, 33,3%
regulares, 14,2% ruins, 2,3% muito ruins e 9,5% não souberam responder.
A pesquisa foi finalizada com um questionamento sobre a visão de
futuro que cada empresário tem de sua empresa baseado na situação atual e
na mudança econômica; 23,8% deles disseram que enxergam a empresa
ampliada na sua área de atuação, 52,4% veem a empresa gerando mais
lucros, 7,1% veem a empresa estagnada, 7,1% enxergam uma baixa no ramo
de atuação no futuro e 9,5% não souberam responder.
As dificuldades encontradas pelos empresários da cidade como altas
taxas de juros, burocracias, demora na análise do pedido, garantia de bens e
condições contratuais foram comentadas pelos autores referenciados neste
artigo, confirmando que tais fatos atrapalham os empreendedores a
expandirem ou manterem seus pequenos empreendimentos. Essas mesmas
dificuldades relatadas pelos autores foram as principais reclamações
apontadas pelos entrevistados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O empreendedorismo é um ramo no qual não se tem uma classe social
padrão ou pré-requisito, todas as pessoas podem empreender desde que
possuam os recursos financeiros suficientes para tal. Essa acaba sendo a
primeira dificuldade do empreendedor. Na tentativa de facilitar a abertura de
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novos negócios foi criado o microcrédito. Os obstáculos que surgem para os
pequenos empreendedores resultam numa empresa com alto custo e baixo
lucro, consequentemente, baixa produtividade, sendo o principal fator de
falência das MPE’s.
Diante da pesquisa aqui apresentada e os estudos feitos na literatura
conclui-se que há uma maior dificuldade dos micro e pequenos
empreendedores de conseguir concessão de crédito para seus negócios
devido à quantidade de requisitos a serem preenchidos para a concessão.
Além disso, os investidores precisam analisar e pesquisar sobre o novo
negócio para concluir se devem ou não investir.
Percebeu-se também que o empresário deve ter um conhecimento
sobre o ramo que pretende atuar, pesquisar o mercado, estudar seus
concorrentes, estudar seus produtos e ter clareza dos pontos cruciais para ter
um bom embasamento teórico e colocá-lo em prática.
Constatou-se que grande parte do fechamento das novas empresas
não depende apenas de capital para abertura, mas também de capital de giro,
baixa lucratividade, alto custo, problemas financeiros, pouca clientela, baixo
conhecimento de campo e déficit de crédito bancário.
Em relação aos micro e pequenos empreendedores de Bonfinópolis de
Minas pode-se concluir, através da pesquisa, que a maioria relata ter
dificuldade em conseguir crédito para seus negócios. Apontam também a
necessidade de avalista e análise criteriosa do pedido como uma das principais
dificuldades.
Recomenda-se que outras pesquisas sobre o assunto sejam
realizadas, principalmente pesquisas que abranjam um número maior de
empresas, tanto micro, pequenas e grandes para fins de comparação e melhor
compreensão dos processos de concessão de crédito.

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