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Recife
2011
JOÃO PAULO PEREIRA DA SILVA
Área de Concentração:
Orientador:
Recife
2011
Catalogação na fonte
Bibliotecária Raquel Cortizo, CRB-4 664
UFPE
622.35 CDD (22. ed.) BCTG/2011-152
Orientador: Prof. Dr. Carlos Adolpho Magalhães Baltar
(DEMINAS/UFPE)
Banca Examinadora:
Coordenador do PPGEMinas:
Aos que amamos, pela grandeza com que souberam compreender o sentido de nossa
luta, dispensando-nos muitas vezes de seu convívio para enfrentar nossas obrigações.
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................................... v
ABSTRACT .............................................................................................................................. vi
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1
2 OBJETIVO .............................................................................................................................. 3
4 EXPERIMENTAL ................................................................................................................ 30
7 CONLUSÕES ........................................................................................................................ 60
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Ilustração do método de flotação mineral e suas três fases constituintes. .................. 4
Figura 2. Ilustração do ângulo de contato formado em uma superfície mineral. ....................... 6
Figura 3. Ilustração das etapas de flotação. (a) colisão; (b) adesão – formação do ângulo de
contato e (c) transporte. ....................................................................................................... 8
Figura 4. Representação de uma molécula com estrutura heteropolar. .................................... 12
Figura 5. Estrutura molecular do oleato de sódio (adaptado de Bulatovic, 2007). .................. 14
Figura 6. Etapas de processos para a produção do silicato de sódio. ....................................... 18
Figura 7. Vibrações de estiramento (adaptada de Skoog et al., 2001). .................................... 28
Figura 8. Vibrações de deformação angular. Nota: (+) indica movimento para fora da página,
no sentido do leitor; (-) indica movimento para longe do leitor, no sentido para dentro da
página (adaptada de Skoog et al., 2001). ........................................................................... 28
Figura 9. Fluxograma com as etapas de cominuição de onde as amostras procederam. .......... 30
Figura 10. Aparato, composto por Tubo de Hallimond; agitador magnético; rotâmetro;
compressor e kitazato com filtro cerâmico, empregado nos testes de microflotação. ....... 33
Figura 11. Fluxograma dos passos realizados nas etapas de separação por tamanho e
microflotação. .................................................................................................................... 35
Figura 12. Distribuição de tamanho de partículas da calcita usada nos testes de flotação. ...... 38
Figura 13. Distribuição de tamanho de partículas do quartzo usado nos testes de flotação. .... 39
Figura 14. Difratograma de raios-X da amostra de quartzo utilizado no estudo. ..................... 40
Figura 15. Difratograma de raios-X da amostra de calcita utilizada no estudo........................ 40
Figura 16. Potencial zeta da calcita em função do pH na condição: Natural (ausência de
reagentes) e Amina (na presença de amina 150g/t). ......................................................... 41
Figura 17. Potencial zeta da calcita em função do pH nas condições: Natural (sem reagentes),
SS (com silicato de sódio 3000g/t) e SS + Amina (presença de ambos reagentes). .......... 42
Figura 18. Potencial zeta da calcita em função do pH na condição: Natural (ausência dos
reagentes) e Oleato (na presença de oleato 150g/t). .......................................................... 42
Figura 19. Potencial zeta da calcita em função do pH nas condições: Natural (ausência de
reagentes), SS (com silicato de sódio 3000g/t) e SS + Oleato (presença de ambos
reagentes). .......................................................................................................................... 43
Figura 20. Espectro de infravermelho do quartzo “in natura”. ................................................. 44
Figura 21. Espectro de infravermelho da calcita “in natura”. .................................................. 45
iii
Figura 22. Espectros do quartzo, antes e depois do condicionamento com silicato de sódio em
diversas concentrações e pH 11. ........................................................................................ 46
Figura 23. Espectros do quartzo “in natura” e condicionado com silicato de sódio em
diferentes concentração e pH 7. ......................................................................................... 47
Figura 24. Corte dos espectros do quartzo “in natura” e condicionado com o silicato de sódio
em diversas concentrações e pH 7. .................................................................................... 48
Figura 25. Mecanismo proposto para a adsorção do Na2SiO3 na superfície do quartzo. ......... 48
Figura 26. Espectros da calcita antes e depois do condicionamento com silicato de sódio em
diversas concentrações e pH 11. ........................................................................................ 50
Figura 27. Espectros da calcita, antes, e depois do condicionamento “in natura” e
condicionada com silicato de sódio em diversas concentrações e pH 7. ........................... 51
Figura 28. Corte dos espectros da calcita, antes, e depois do condicionamento com o silicato
de sódio em diversas concentrações e pH 7. ...................................................................... 52
Figura 29. Mecanismo proposto para a adsorção do Na2SiO3 na superfície da calcita. ........... 53
Figura 30. Efeito do silicato de sódio, em diferentes concentrações, na flotação do quartzo
com amina (150 g/t) em diversos valores de pH. .............................................................. 54
Figura 31. Influência da concentração da amina na flotação do quartzo pré-condicionado com
silicato de sódio (3000 g/t)................................................................................................. 55
Figura 32. Influência do módulo do silicato de sódio na flotação do quartzo com amina
(150g/t) em pH 7. ............................................................................................................... 56
Figura 33. Influência do módulo do silicato de sódio na flotação do quartzo com amina
(150g/t) em pH 11. ............................................................................................................. 57
Figura 34. Efeito da concentração do silicato de sódio, e do pH, na flotação da calcita com
oleato de sódio (150g/t). .................................................................................................... 58
Figura 35. Efeito do silicato de sódio em diversos valores de pH e concentração na flotação da
calcita com amina (150g/t). ............................................................................................... 59
iv
Pf Probabilidade de flotação -
Pc Probabilidade colisão -
Pa Probabilidade adesão -
Pt Probabilidade transporte -
dp Diâmetro da partícula mm
db Diâmetro da bolha mm
ΔG Energia livre J
τc Tempo de contato s
τi Tempo de indução s
mf Massa flotada g
ν Vibrações de estiramento -
δ Vibrações de deformação -
νs Vibração simétrica -
RESUMO
ABSTRACT
Sodium silicate (water glass) is a modifier reagent widely used in flotation as depressant and
dispersant, among other functions. The interaction between sodium silicate and the mineral
surface is poorly understood. This work aimed to investigate the mechanism of action of
sodium silicate as depressant in the flotation of the minerals quartz and calcite. The
experiment was performed using samples (quartz and calcite) of high purity with particle size
less than 147µm. The sample was characterized regarding the size distribution (laser
diffraction), chemical composition (X-ray fluorescence) and mineralogical composition (X-
ray diffraction). The results of chemical characterization showed a calcite with 52,8 % CaO
and 1,1 % MgO, and a quartz with 97,4 % SiO2. The mineralogical analysis confirmed the
high purity of the samples used in the research. The microflotation studies in a Hallimond
tube showed that in all systems tested, the efficiency of sodium silicate increased with the
concentration. Almost total depression (96 % for quartz and 97 % for calcite) was achieved
for the concentration 1500 g/t. The variation of the sodium silicate modulus did not affect its
performance in the flotation of quartz with amine (150 g/t). The most effective pH range was
observed between 5 and 8. At pH 11, sodium silicate did not work as depressant. The infrared
spectra showed that at pH 7, the monomer Si(OH)4 and SiO(OH)3 adsorbed on the surface of
the mineral quartz and calcite. The results of calcite zeta potential were altered after
conditioning with sodium silicate in the pH range between 7 and 9, while from pH 10 and
above the zeta potential of calcite was not reduced.
1 INTRODUÇÃO
Apesar da sua importância, a ação do silicato de sódio como depressor ainda é pouco
entendida. Vários autores apresentaram diferentes interpretações com relação à ação do
silicato de sódio: Castro e Hoces (1993) acreditam que a ação depressora do silicato de sódio
depende da concentração de sílica ácida presente na solução. Fuerstenau et al., (1968)
observaram que a sílica coloidal foi responsável pela depressão da calcita-CaCO3, enquanto
que os ânions de silicato deprimiram a fluorita-CaF2. Glembotski et al., (1961) apud
Bulatovic (2007) citaram que, em muitos casos, as micelas de ácido de sílica hidratada são
responsáveis pela depressão. A adsorção da sílica nos minerais de fluorita; calcita e barita,
segundo Marinakis e Shergold (1985), ocorreu através de interações entre as espécies Si(OH)4
e Si(OH)-3 e os sítios catiônicos superficiais. Eigeles (1964) apud Gong et al., (1993) citaram
que enquanto as espécies iônicas HSiO32- estavam ativas, nem os íons SiO32-, nem moléculas
de ácido silícico, tiveram qualquer efeito sobre a flotação dos minerais não sulfetos.
Silicatos poliméricos consistem em tetraedros de sílica que são ligados por pontes de
silício-oxigênio-silício (Dietzel, 2000). As espécies poliméricas predominam em soluções de
silicato de sódio com maior concentração e de maior relação SiO2/Na2O (Bass e Turner,
2
1997). Em flotação, o grau de depressão obtido com o silicato de sódio não depende da
relação entre o dióxido de silício e o óxido de sódio (Marinakis e Shergold, 1985). Esta
relação foi verificada no presente trabalho, e os resultados mostraram-se coerentes com a
citação acima.
2 OBJETIVO
Esse trabalho teve como objetivo investigar o mecanismo de ação do silicato de sódio,
como depressor de quartzo e calcita, buscando contribuir para o entendimento do processo e
uso mais racional do reagente.
4
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Flotação
A flotação ocorre em meio aquoso, onde partículas minerais estão dispersas formando
uma polpa. As partículas a serem flotadas são tornadas hidrofóbicas através da adição de
reagentes químicos apropriados. Na passagem do fluxo de ar, através da polpa, as partículas
hidrofóbicas aderem-se às bolhas de ar e são: conduzidas até a superfície.
Fundamentos da Flotação
Na técnica de flotação existem as três fases (sólida, líquida e gasosa) que participam
fortemente do processo (a mistura mineral, a água e o ar). Durante a moagem, as ligações
químicas são rompidas. Quando há ruptura de ligações fortes, superfícies polares são
formadas. Por sua vez, a ruptura de ligações frágeis dá origem a superfícies apolares.
Sabe-se que, para ocorrer interações as moléculas devem ter cargas contrárias ou ser
ambas apolares. As moléculas da água são polares, pois apresentam um dipolo permanente,
enquanto que o ar é composto por moléculas apolares, principalmente, de oxigênio e
nitrogênio.
Pf = Pc . Pa . Pt Eq. (1)
partículas com superfícies hidrofobizadas conseguem aderir às bolhas de ar. Portanto, para
que a adesão da partícula mineral na bolha de ar aconteça é indispensável que a interação
(bolha de ar – partícula) atenda a pré-requisitos termodinâmicos e cinéticos.
Onde ΔG é a variação de energia livre do sistema e γGS , γSL e γLG são as tensões
superficiais nas interfaces gás-sólido; sólido-líquido e líquido-gás, respectivamente.
Pa = τc / τi Eq. (5)
A Figura 3 Ilustra o esquema das três etapas fundamentais para que ocorra a flotação,
ou seja, em casos de ocorrência de falha em uma das etapas (colisão, adesão, e transporte) a
probabilidade de flotação estará totalmente comprometida.
Figura 3. Ilustração das etapas de flotação. (a) colisão; (b) adesão – formação do ângulo de
contato e (c) transporte.
9
Por sua vez, a flotação possui natureza físico-química, a qual permite modificar a
propriedade de uma determinada superfície de modo a ampliar as diferenças pré-existentes e,
dessa forma, aumentar a precisão na separação das espécies.
Aplicações Referências
Remoção de metais pesados (Ag+1, Sn+2, As+3, Cr+3/Cr+6, etc.) Rubio e Tessele (1997);
Gusmão (2003)
3.2.1 Coletores
A maioria dos minerais possui superfície hidrofílica, ou seja, não apresenta afinidade
pela fase gasosa. Entretanto, os coletores são responsáveis pela formação de uma fina camada
superficial, a qual torna a partícula mineral repelente à água e aderente a bolha de ar,
possibilitando a separação das diferentes espécies presentes.
vi. Cadeia hidrocarbônica longa o bastante para dar efeito hidrofóbico suficiente.
12
Os coletores catiônicos são compostos orgânicos que apresentam uma carga positiva
quando em meio aquoso. Estes são representados por aminas e seus sais, as quais são
derivadas do amônio (NH3) pela substituição de um ou mais de seus átomos de hidrogênio por
um número correspondente de cadeias hidrocarbônicas.
NH3 Amônio
R’ – R – NH Amina secundária
As aminas primárias ionizam por protonação (Eq. 7) e têm sido as únicas utilizadas em
instalações industriais de flotação mineral.
A ação desses coletores é pouco seletiva, a sua adsorção é de natureza física, portanto
apresenta baixa energia de interação e suas moléculas adsorvem-se no plano externo de
Helmholtz e na camada de Gouy (Baltar, 2008).
14
Os ácidos carboxílicos podem ser saturados ou insaturados, estes podem ter um, dois
ou três graus de insaturação. Os ácidos graxos insaturados são mais utilizados como reagente
coletor, dentre eles o mais importante é o ácido oleico com um grau de insaturação e 17
carbonos na cadeia hidrocarbônica, mostrado na Figura 5.
Devido ao fato de que apresentada baixa solubilidade, estes coletores, comumente, são
empregados na forma de sal obtido através de reação de saponificação, representadas nas
equações 10 e 11, que ocorre quando um ácido carboxílico reage com uma base, usa-se,
geralmente, o hidróxido de sódio ou potássio.
Eq. (10)
Eq. (11)
3.2.2 Modificadores
3.2.2.1 Dispersante
Os dispersantes são usados para evitar que as partículas finas formem agregados e,
assim, permaneçam individualizadas de modo a facilitar a sua posterior concentração (Baltar,
2010).
3.2.2.2 Depressor
Existem muitos tipos de reagentes depressores, cujas ações são complexas, variadas e,
em muitos casos, não totalmente compreendidas. Os depressores são divididos em dois tipos:
(II) Depressores orgânicos de alto peso molecular: reagentes como taninos, amido,
dextrina, carboximetilcelulose (CMC), lignina, goma arábica e poli (ácido
acrílico).
17
3.2.2.3 Reguladores de pH
Os íons hidrogênio (H+) e hidroxila (OH-) estão presentes em toda solução aquosa, e
suas concentrações em água pura são equivalentes. pH é o logaritmo comum de reciprocidade
da concentração do íon H+ em solução aquosa. Em soluções ácidas [H+] > [OH-] e, portanto,
>10-7, por isso pH < 7. De forma análoga, em soluções alcalinas, pH > 7.
Para uma maior eficiência da flotação, faz-se necessário o uso de reagentes que
controlem o pH da suspensão, os quais são ácidos ou as bases inorgânicos: As bases mais
utilizadas são os hidróxidos (de cálcio, magnésio, sódio, potássio, etc.), enquanto para o
abaixamento de pH usam-se, principalmente, os ácidos sulfúrico ou clorídrico.
O silicato de sódio é constituído por dióxido de silício (SiO2) e óxido de sódio (Na2O).
A variação da relação ponderal entre os óxidos constituintes, e o teor de sólidos da solução,
gera produtos com especificações variadas e com características específicas para cada
utilização nos diversos segmentos de mercado.
Por apresentar fácil manipulação, ser atóxico e não inflamável é um produto químico
com ampla aplicação, além de destacar-se como substituto em formulações e processos que
procuram alternativas ecologicamente corretas.
A Tabela 3 apresenta áreas onde o silicato de sódio pode ser aplicado e algumas de
suas respectivas funções.
APLICAÇÃO FUNÇÃO
A composição química pode ser expressa pela fórmula geral mNa2O.nSiO2 podendo
variar de acordo com a relação (n/m) dos seus óxidos. Esta relação é referida como módulo. O
percentual do dióxido de silício (SiO2), o percentual do óxido de sódio (Na2O), a relação entre
estes e o peso específico são quatro fatores que permitem a identificação precisa de um
silicato de sódio. O conhecimento de dois destes fatores possibilita a determinação dos outros
dois fatores remanescentes. Entre os tipos de compostos que podem ser formados, estão:
Ortossilicato de sódio (Na4SiO4), metassilicato de sódio (Na2SiO3), dimetassilicato de sódio
(Na2Si2O5), polissilicato de sódio (Na2SiO3)n entre outros. Todos são vítreos, incolores e
dissolvem-se em água.
Polímeros consistem em tetraedros de sílica que são ligados por pontes de silício-
oxigênio-silício (Dietzel, 2000). As espécies poliméricas predominam em soluções de silicato
de sódio com maior concentração e de maior relação SiO2/Na2O (Bass e Turner, 1997).
Íon ou molécula que se liga a um átomo metálico central para formar um complexo de
coordenação é denominado de ligante. Esta ligação, geralmente, envolve a doação de um ou
mais pares de elétrons do ligante para o metal. A natureza dessa ligação metal-ligante pode
variar de covalente a iônica.
25
O grau de depressão obtido com o silicato de sódio não depende da relação entre o
dióxido de silício e o óxido de sódio (Marinakis e Shergold, 1985).
Na separação entre apatita e calcita, o silicato de sódio com concentração de 1,3 x 10-3
mol/L-1, em pH 8 e 9, atuou como depressor da calcita. Contudo este efeito não foi observado
26
em concentrações menores (Rao et al., 1989). Além disso, as espécies poliméricas de silicato
adsorveram-se seletivamente na calcita em pH elevado e em baixas concentrações (Gong et
al., 1992; Gong et al., 1993).
Por sua vez, na flotação reversa entre apatita e magnetita, Su et al (1998) observaram
que a seletividade diminuiu à medida que a dosagem do silicato de sódio aumentou de 300g t-
1
(2,4 x 10-4 mol L-1) para 500g t-1 (4 x 10-4 mol L-1). Os autores consideram que, em baixa
concentração, o efeito dispersivo, é mais importante do que o efeito depressor.
A sílica coloidal foi responsável por deprimir a calcita, enquanto que os ânions de
silicato deprimiram a fluorita, confirmando, assim, diferentes espécies ativas para cada
mineral (Fuerstenau et al., apud Gong et al., 1993).
A adsorção da sílica nos minerais de fluorita (CaF2), calcita (CaCO3) e barita (BaSO4)
é de origem química, ocorrendo interações entre as espécies Si(OH)4; Si(OH)3- presentes em
solução e os sítios catiônicos da superfície. A quantidade de sílica adsorvida nos três minerais
(em ordem decrescente fluorita > calcita > barita) foi independente da proporção do silicato
de sódio usado e da idade da solução. As ligações de hidrogênio formadas, pelos grupos
silanol (SiH3OH), foram sugeridas como uma possível razão para a adsorção ocorrida na
superfície da fluorita (Marinakis e Shergold, 1985).
Na flotação de minerais não-sulfetos, enquanto que a espécie iônica HSiO32- foi ativa
nem os íons SiO32- nem as moléculas de ácido silícico apresentaram qualquer efeito sobre a
flotação (Eigeles apud Gong et al., 1993). Em flotação catiônica, a concentração de 1500g/t
do silicato de sódio foi indicada como ótima na depressão do quartzo. Além disso, na flotação
com ácido oleico (500g/t) em pH 9, quando adicionou-se o silicato de sódio (2000g/t) ocorreu
redução na recuperação da smithsonita de 90 para 87%, da calcita de 87 para 10% e na do
quartzo de 26 para 15% (Irannajad et al., 2009).
Como se pode observar, vários mecanismos de adsorção para o silicato de sódio foram
propostos, no entanto, as informações sobre o mecanismo de interação com a superfície
mineral ainda são insuficientes (Gong et al., 1993).
27
Figura 8. Vibrações de deformação angular. Nota: (+) indica movimento para fora da página, no
sentido do leitor; (-) indica movimento para longe do leitor, no sentido para dentro da página
(adaptada de Skoog et al., 2001).
4 EXPERIMENTAL
4.1 Material
4.2 Reagentes
Para isto, as amostras foram secas em estufa por 24 horas a 100ºC, homogeneizadas e
quarteadas formando alíquotas para serem analisada pelo método de energia dispersiva.
finos durante a flotação. Na parte superior encontra-se uma câmara por onde se coleta o
material flotado.
Figura 10. Aparato, composto por Tubo de Hallimond; agitador magnético; rotâmetro;
compressor e kitazato com filtro cerâmico, empregado nos testes de microflotação.
As pesagens das massas (inicial e final) dos minerais, bem como os papeis filtro e dos
reagentes necessários para os experimentos foram todas realizadas em uma balança de
precisão (0,001g) da marca Marte AL-500. As medições e aferições de pH realizadas no
presente trabalho foram todas obtidas em um pHmetro da marca Digimed DM-22, ambos os
equipamentos, disponíveis no Laboratório de Processamento Mineral e Resíduos do IFRN.
Figura 11. Fluxograma dos passos realizados nas etapas de separação por tamanho e
microflotação.
a. Calcita natural;
b. Quartzo natural;
O KBr foi deixado em uma estufa por uma hora (pra eliminar umidade), em seguida,
colocado em um dessecador para esfriar. Depois de esfriado, misturaram-se aproximadamente
1% da amostra + 99% de KBr (macerando em almofariz). A mistura foi levada para uma
prensa onde confeccionaram as pastilhas. Por fim, as pastilhas foram levadas para o
espectrômetro Termo Nicolet e realizadas as análises.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Calcita
d médio = 94 µm
Figura 12. Distribuição de tamanho de partículas da calcita usada nos testes de flotação.
Quartzo
d médio = 105 µm
Figura 13. Distribuição de tamanho de partículas do quartzo usado nos testes de flotação.
As curvas de potencial zeta da calcita natural e com amina (150g/t), em função do pH,
são mostradas na Figura 16.
Natural Amina
180
150
Potencial Zeta (mV)
120
90
60
30
6 7 8 9 10 11 12
pH
Natural SS SS + Amina
180
150
Potencial Zeta (mV)
120
90
60
30
6 7 8 9 10 11 12
pH
Figura 17. Potencial zeta da calcita em função do pH nas condições: Natural (sem reagentes),
SS (com silicato de sódio 3000g/t) e SS + Amina (presença de ambos reagentes).
Natural Oleato
160
130
Potencial Zeta (mV)
100
70
40
10
6 7 8 9 10 11 12
pH
Figura 18. Potencial zeta da calcita em função do pH na condição: Natural (ausência dos
reagentes) e Oleato (na presença de oleato 150g/t).
43
Observa-se que ocorreu uma diminuição no potencial zeta da calcita, confirmando que
o oleato adsorveu-se na superfície da calcita na ausência do silicato de sódio.
Natural SS SS + Oleato
160
130
Potencial Zeta (mV)
100
70
40
10
6 7 8 9 10 11 12
pH
Figura 19. Potencial zeta da calcita em função do pH nas condições: Natural (ausência de
reagentes), SS (com silicato de sódio 3000g/t) e SS + Oleato (presença de ambos reagentes).
Figura 22. Espectros do quartzo, antes e depois do condicionamento com silicato de sódio em
diversas concentrações e pH 11.
Figura 23. Espectros do quartzo “in natura” e condicionado com silicato de sódio em
diferentes concentração e pH 7.
O deslocamento das bandas de absorção em 1083 cm-1 para 1097 cm-1; de 777 cm-1
para 796 cm-1 e 456 cm-1 para 465 cm-1, bem como o surgimento de uma nova banda em 960
cm-1, atribuída a vibrações de estiramento do Si–OH em monômeros Si(OH)4, evidencia a
adsorção do silicato de sódio na superfície do quartzo (Yang et al., 2008; Halasz et al., 2007),
mostrando-se de acordo com os resultados de flotabilidade, em pH 7, que apresentou forte
efeito depressor do silicato de sódio.
O corte dos espectros do quartzo entre o intervalo de 400 cm-1 a 1500 cm-1 é mostrado
na Figura 24.
48
Figura 24. Corte dos espectros do quartzo “in natura” e condicionado com o silicato de sódio
em diversas concentrações e pH 7.
Figura 26. Espectros da calcita antes e depois do condicionamento com silicato de sódio em
diversas concentrações e pH 11.
Os espectros apresentaram apenas sobreposição das bandas 1427 cm-1; 876 cm-1; 710
cm-1. Dessa forma, o espectro mostra que, em pH 11, não ocorreu adsorção do silicato de
sódio em nenhuma das concentrações, pois não foi observado nenhum deslocamento nem o
aparecimento de nova banda. Este resultado está coerente com os resultados de flotabilidade,
uma vez que o silicato de sódio, em pH 11, não funcionou como depressor da calcita.
O deslocamento da banda em 1427 cm-1 para 1422 cm-1, bem como o surgimento de
bandas em 796 cm-1; 960 cm-1 e 1102 cm-1 que caracterizam respectivamente, vibração
simétrica (Na)O–Si–O(Na); vibração de estiramento do Si–OH em monômeros Si(OH)4 e
vibração de estiramento envolvendo entidades Si–O–Si atribuída a monômeros SiO(OH)3-
(Yang et al., 2008; Halasz et al., 2007), evidenciam a adsorção do silicato de sódio na
superfície da calcita, o que está de acordo com os resultados de flotabilidade obtidos em pH 7.
O corte dos espectros de infravermelho da calcita entre o intervalo de 500 cm-1 a 2000
cm-1 é mostrado na Figura 28.
52
Figura 28. Corte dos espectros da calcita, antes, e depois do condicionamento com o silicato
de sódio em diversas concentrações e pH 7.
100
90
80
Flotabilidade, %
70
60
50
40
30
20
10
0
5 6 7 8 9 10 11
pH
Na2SiO3 (g/t)
Em baixas concentrações (250 g/t e 500 g/t), o silicato de sódio não atuou como
depressor, uma vez que a flotabilidade do quartzo se manteve em valores elevados. No
entanto, a partir da concentração de 1000 g/t, o silicato de sódio agiu como depressor,
apresentando melhor desempenho entre o pH 5 e 8, onde a espécies de sílica predominantes
foram monômeros SiO(OH)3- e (Si(OH)4, reduzindo a flotabilidade do quartzo, em até 60 %
(em peso). A ação depressora do silicato de sódio foi mais forte conforme o aumento da
concentração (1500g/t e 3000g/t), proporcionando reduções de até 96%. Em pH 11, aonde
predominam as espécies di e polissilicato, não é observado o efeito depressor.
55
* pH fixado em 8
100
80
Flotabilidade, %
60
40
20
0
0 150 300 450 600 750 900
100
90
Flotabilidade, % 80
70
60
50
40
30
20
10
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Concentração do Na2SiO3 (g/t)
Módulo (SiO2/Na2O)
1 2,24 3,31
Figura 32. Influência do módulo do silicato de sódio na flotação do quartzo com amina
(150g/t) em pH 7.
Nas concentrações mais baixas (250 g/t e 500 g/t) nenhum dos silicatos de sódio
deprimiu o quartzo. O efeito depressor do silicato de sódio surgiu a partir da concentração de
1000g/t, todos mostrando o mesmo desempenho como depressor na flotabilidade do quartzo.
Portanto, o módulo do silicato de sódio não apresentou influência na flotabilidade do quartzo
com amina (150g/t) e pH 7.
57
100
90
80
Flotabilidade, %
70
60
50
40
30
20
10
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Concentração do Na2SiO3 (g/t)
Módulo (SiO2/Na2O)
1 2,24 3,31
Figura 33. Influência do módulo do silicato de sódio na flotação do quartzo com amina
(150g/t) em pH 11.
100
90
80
70
Flotabilidade, %
60
50
40
30
20
10
0
5 6 7 8 9 10 11
pH
Na2SiO3 (g/t)
Figura 34. Efeito da concentração do silicato de sódio, e do pH, na flotação da calcita com
oleato de sódio (150g/t).
100
90
80
Flotabilidade,%
70
60
50
40
30
20
10
0
5 6 7 8 9 10 11
pH
Na2SiO3 (g/t)
7 CONLUSÕES
Usou-se nos testes de flotação uma amostra de quartzo com 97,44 % SiO2 e tamanho
médio de 105 µm e outra de calcita com 52,79 % de CaO e tamanho médio de 94 µm. A
análise por difração de raios-X confirmou o elevado grau de pureza das amostras. Em função
dos resultados obtidos, estabeleceram-se as seguintes conclusões:
ii. A faixa de pH mais eficiente, do silicato de sódio como depressor, foi observada entre
5 e 8.
iv. O grau de depressão obtido com o silicato de sódio não depende da relação entre o
dióxido de silício e o óxido de sódio (módulo).
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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