Torn Ivy - Eve Newton

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TORN IVY

HARÉM REVERSO PARANORMAL


REIS DE THORNFIELD
BOOK 2

EVE NEWTON
Direitos Autorais
Direitos Autorais © 2024 por Eve Newton Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida de qualquer forma ou por
quaisquer meios eletrônicos ou mecânicos, incluindo sistemas de armazenamento
e recuperação de informações, sem permissão por escrito da autora, exceto para
o uso de breves citações em uma resenha de livro.
CONTENTS

Nota da Autora
1. Ivy
2. Tate
3. Ivy
4. Torin
5. Ivy
6. Bram
7. Ivy
8. Ivy
9. Ivy
10. Tate
11. Ivy
12. Torin
13. Tate
14. Bram
15. Torin
16. Ivy
17. Ivy
18. Ivy
19. Tate
20. Ivy
21. Ivy
22. Bram
23. Torin
24. Ivy
25. Ivy
26. Ivy
27. Ivy
28. Tate
29. Ivy
30. Bram
31. Ivy
32. Ivy
33. Ivy
34. Tate
35. Ivy
36. Torin
37. Bram
38. Tate
39. Ivy
40. Ivy
41. Torin
42. Ivy
43. Bram
44. Tate
45. Ivy
46. Torin
47. Ivy

Também por
NOTA DA AUTORA

Esta é uma história de Romance Paranormal Harém Reverso e


Academia Sombria. Todos os personagens principais têm 21 anos.
Os rapazes são essencialmente vilões. Se você está procurando
uma leitura suave e aconchegante, não a encontrará nestas
páginas.
Os Reis de Thornfield contém conteúdo adulto e gráfico, e
recomenda-se discrição do leitor.
Uma lista completa de avisos de gatilho para este livro/série
pode ser encontrada exclusivamente no meu site:
https://evenewton.com/kings-of-thornfield
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1

IVY

O J
rapidamente se dissipa quando percebo que sou uma traidora tão
grande quanto ele, solto um suspiro. — Você é um completo
babaca.
— Digo o mesmo, vadia.
— O que você está fazendo aqui?
Josh sorri com desdém, cruzando os braços sobre o peito. — O
quê, você achou que era a única com contas a acertar com a Morte
e seu bando de psicopatas?
Estreito os olhos para ele. — Então o quê, você tem sido uma
espécie de espião sobrenatural esse tempo todo?
— Não exatamente — ele diz. — Digamos que tenho conexões
que você nem sonharia em ter.
Vex pigarreia. — Por mais tocante que seja esse reencontro,
temos assuntos mais urgentes para discutir.
Eu me viro para ele. — Você sabia disso? Sobre o Josh?
Ele dá de ombros. — Eu sei de muitas coisas. Não significa que
compartilho todas elas.
— Vão se foder, vocês dois — cuspo, me sentindo irritada, mas
sem ter moral para falar. — Quero respostas. Agora.
Josh suspira. — Tudo bem. Versão curta? Fazemos parte de
uma resistência. Contra a Morte, contra O Sindicato, contra todo o
maldito sistema que tem controlado metamorfos e outros seres
sobrenaturais por séculos.
Minha mente gira. — Uma resistência? Como? Por quê?
— Porque o sistema está corrompido — diz Josh, seus olhos
ardendo com uma intensidade que nunca vi antes. — Porque seres
como nós não deveriam ser escravos da Morte ou de ninguém.
Deveríamos ser livres.
Olho ao redor da caverna, observando as outras criaturas ainda
trabalhando. — E todos esses seres fazem parte dessa resistência?
— Sim.
— Por que você se parece com a Morte na sua outra forma? —
exijo saber.
Os lábios de Josh se curvam em um sorriso sardônico. —
Porque nós somos a Morte, de certa forma. Ou pelo menos, fomos
criados para ser.
Eu pisco, tentando processar isso. — Que porra isso significa?
— Significa — Vex intervém — que a Morte não é apenas uma
entidade. É um papel, uma posição escolhida, e esses seres — ele
gesticula ao redor da caverna — eram todos candidatos em
potencial.
— Candidatos? — repito, minha cabeça girando.
Josh assente. — Sim. Pense nisso como uma entrevista de
emprego cósmica do inferno. Todos nós fomos criados, treinados e
testados para potencialmente nos tornarmos a próxima Morte. Mas
alguns de nós decidimos que não queríamos o cargo.
Solto uma respiração trêmula enquanto isso explode minha
mente ainda mais do que ser confrontada com a Morte em primeiro
lugar. Agora, há pilhas deles por aí. — Então vocês são o quê? Os
rejeitados da Morte?
— Preferimos ser chamados de entidades cósmicas de mente
independente — diz Josh com um sorriso irônico. — Mas sim,
essencialmente.
— E o que isso tem a ver comigo? — pergunto, embora esteja
começando a ter uma sensação desagradável no estômago.
Vex e Josh trocam um olhar que me dá vontade de socar os
dois.
— Você, Ivy — diz Vex lentamente — é algo especial. Algo que
não deveria existir.
— Uma falha no sistema — acrescenta Josh.
— Vocês dois vão ter que parar de ser tão fodidamente
enigmáticos. Está me irritando. Apenas digam logo. Eu posso lidar
com isso! — disparo, a frustração aumentando.
Os olhos de Josh se fixam nos meus. — Significa que você é um
curinga, Ivy. Você deveria ser a Morte, mas rejeitou o processo. Isso
nunca aconteceu antes.
— Como é? Rejeitei o processo? Como? Por quê? O que isso
significa?
Ele dá de ombros. — Isso é o que não sabemos, mas sabemos
que te torna especial. É por isso que O Sindicato queria você, por
que a Morte tem um interesse especial em você, e por que
queremos você do nosso lado.
Estreitando os olhos enquanto tento processar tudo isso, me viro
para Vex. — E você? Onde se encaixa em tudo isso?
— Eu sou o que você poderia chamar de agente livre — diz Vex
com um sorriso irônico. — Tenho minhas próprias razões para
querer ver o poder da Morte diminuído. Vamos deixar por isso
mesmo.
Balanço a cabeça, me sentindo sobrecarregada. — Isso é
insano. Tudo isso. Além do que vocês disseram sobre mim, estão
me dizendo que existe essa resistência secreta bem debaixo do
nariz da Morte? Como isso é possível?
— A Morte não é onisciente — explica Josh. — Poderosa, sim,
mas não sabe de tudo. Temos sido cuidadosos e estratégicos.
Esperando o momento certo.
— E agora? — pergunto, sentindo um nó no estômago. — Por
que revelar tudo isso para mim agora?
Josh e Vex trocam um olhar que me deixa inquieta.
— Porque — diz Josh lentamente — achamos que você pode
ser a chave para derrubar a Morte.
Eu solto uma risada, não conseguindo me conter. — Eu? A
chave para derrubar a Morte? Isso é fodidamente absurdo.
— É mesmo? — pergunta Vex, levantando uma sobrancelha. —
Você já demonstrou uma capacidade de resistir ao poder da Morte
de maneiras que ninguém mais conseguiu. Você é imprevisível,
incontrolável.
— Um verdadeiro pé no saco, na verdade — murmura Josh, e eu
mostro o dedo do meio para ele. Ele sorri. — Mas é disso que
precisamos. Um espinho na lateral dele. Um veneno para o qual ele
não tem antídoto.
Resisto à vontade de revirar os olhos com tanta força que quase
ficam presos, e balanço a cabeça em vez disso, tentando processar
todas essas informações. — Então o quê, vocês querem que eu me
junte à sua pequena rebelião? Lute contra o grande e mau Morte?
— Não é tão simples — diz Josh, sua expressão ficando séria.
— O que estamos propondo é perigoso. Se falharmos, as
consequências seriam graves.
— Mais graves do que ser caçada pela Morte e O Sindicato? —
pergunto sarcasticamente.
Vex assente sombriamente. — Muito mais. Estamos falando de
potencialmente desmantelar o próprio tecido da existência.
Eu pisico para ele. — Você está brincando, certo?
— Eu gostaria de estar — ele diz.
Passo a mão pelo cabelo, me sentindo sobrecarregada. —
Vocês estão me pedindo para arriscar tudo, para potencialmente
destruir o universo, baseado em quê? No fato de que sou uma
espécie de falha cósmica?
Josh dá um passo à frente, seus olhos intensos. — Estamos
pedindo que você se posicione contra um sistema que tem oprimido
nossa espécie por milênios. Para lutar pela liberdade, não apenas
para você, mas para todos os seres sobrenaturais.
Eu rio amargamente. — Ah, é só isso? Apenas derrubar uma
antiga ordem cósmica e libertar o mundo sobrenatural. Sem
pressão.
— Você não entende, Ivy? A Morte está manipulando o sistema.
Ele está providenciando para que almas sejam entregues antes de
estarem prontas.
O sangue some do meu rosto enquanto eu congelo. — O quê?
— Você me ouviu e sabe o que eu quis dizer, então não se faça
de desentendido. Ele estabeleceu O Sindicato para garantir que
haja um lugar para suas técnicas desonestas contornarem o
equilíbrio cósmico. Ele está trapaceando o sistema, e não vamos
mais tolerar isso.
— Nossa — murmuro. — Que porra é essa? — O que isso faz
de mim? Cúmplice dessa manipulação cósmica? Ao eliminar esses
alvos, bandidos ou não, tenho bagunçado completamente a ordem
universal?
— Olha — diz Vex, seu tom suavizando um pouco —, sabemos
que é muita coisa para absorver. Mas você precisa entender a
oportunidade que temos aqui. Com sua resistência única ao poder
da Morte, podemos realmente ter uma chance.
Cruzo os braços, olhando para ambos ceticamente.
— Resistência? Ele me puxou para uma paisagem de sonho
maluca mais cedo e me deu um ultimato sério. Eu não diria que isso
foi resistente ao poder dele.
Josh e Vex trocam outro olhar que me dá vontade de dar um
tapa nos dois.
— Qual foi o ultimato? — Josh pergunta cuidadosamente.
— Que eu matasse meus caras ou ele levaria minha alma. —
Olho para Vex. — É por isso que eu estava fugindo.
— Você acha que pode fugir da Morte? — ele pergunta com os
olhos estreitos. — Interessante.
— Olha, o plano — Josh diz lentamente — é usar sua conexão
com a Morte contra ele. Essencialmente, sequestrar o poder dele.
Eu pisco.
— Sequestrar o poder dele? Que porra isso significa? — Parece
que tenho perguntado isso muito ultimamente.
Vex suspira.
— Significa que achamos que você pode ser capaz de acessar
as habilidades da Morte, drená-las e usá-las você mesma.
— O quê? Vocês querem que eu me torne a Morte? — pergunto
incrédula.
— Basicamente, sim — Josh diz, assentindo como um daqueles
bonecos de cabeça móvel.
Fecho os olhos e respiro. Isso não pode estar acontecendo.
Simplesmente não pode.
— Ivy.
Meus olhos se abrem de repente quando ouço a voz familiar, e
faço uma careta.
— Tia Cathy. Eu deveria saber que você fazia parte disso.
Suas sobrancelhas perfeitas se erguem.
— Você sabia?
Meus ombros caem.
— Não. Eu não sabia de nada disso. O que você está fazendo
aqui? Você é uma desses rejeitados?
— Ei — Josh retruca. — Grosseira.
— Desculpe — murmuro.
— Eu sou uma desses rejeitados — diz Cathy, juntando as mãos
delicadamente na frente dela. Seu terno preto é elegante e formal,
muito parecido com o que me lembro dela. — Não se esqueça de
que você também é.
— Ainda mais — diz Josh com desdém.
Balanço a cabeça para ele, lançando-lhe um olhar feroz.
— Não consigo entender isso. Como é que eu vou impedir a
Morte de levar minha alma ou matar meus caras, ou me forçar a
matar meus caras, ou seja lá o que for? Isso é tudo que me importa
agora. O objetivo final de vocês não é o meu.
— É sim — diz Cathy. — É seu legado.
— Hã? Que legado? — Um aperto nos meus pulsos me faz
franzir a testa para meus braços. Hera venenosa tomou o lugar dos
meus dedos e está subindo pelos meus braços enquanto o pavor
preenche minha alma sobre o que ela vai dizer. Eu me antecipo: —
Você está dizendo que meus pais faziam parte disso?
Seus olhos verdes encontram os meus, e ela balança a cabeça
lentamente.
— Não — ela diz baixinho. — Pula certas pessoas. É assim que
é. Meu avô era um, não meus pais, nem seu pai, e você.
Encaro Cathy, minha mente girando.
— Então você está dizendo que essa coisa de candidato
cósmico à Morte corre na nossa família?
Ela assente solenemente.
— É uma peculiaridade genética rara, passada através das
gerações. Alguns de nós são escolhidos, outros não. Você e eu
fomos.
— Mas eu não sabia — protesto fracamente. — Como eu
poderia não saber?
— O conhecimento é suprimido — Josh explica. — Faz parte do
processo. Você não deve se lembrar até ser ativada.
Viro-me para encará-lo.
— Ativada?
— Significa — Vex intervém — que algo ativa suas habilidades
latentes. Algo desperta a parte de você que foi destinada a ser a
Morte.
— Mas você não é uma dessas coisas de Morte? — pergunto a
ele, ignorando sua declaração por um momento.
— Não. Mas tenho conhecimento interno do Sindicato, e todo
mundo tem seu preço.
Eu pisco com isso, imaginando qual é o dele, mas deixo de lado.
— Ok, mas porque eu não sou realmente uma dessas coisas de
Morte, nunca fui ativada, então não tenho a menor ideia do que isso
é?
— Isso — diz Josh.
— Então tenho que acreditar na sua palavra?
— Basicamente. Você confia em mim?
A pergunta é disparada contra mim, e não tenho uma resposta.
— Você disse que confiava em mim — diz Vex. — Estou te
dizendo que tudo o que Josh e Cathy dizem é verdade.
Bem, que beleza como ele me encurralou.
— E agora? Vocês querem que eu desafie a Morte pelo trabalho
dele?
— Não exatamente — diz Josh. — Queremos que você perturbe
o sistema. Que jogue uma chave nos planos da Morte.
— Me tornando a Morte? — pergunto incrédula.
Vex balança a cabeça.
— Não. Não queremos que você se torne a Morte. Queremos
que você seja a antítese da Morte.
Eu bufo.
— Vida? Desculpe decepcioná-los, mas não estou exatamente
nutrindo uma nova existência aqui.
Josh revira os olhos.
— Não Vida. Pense nisso mais como Caos. Uma força que
perturba a ordem natural que a Morte alega manter.
— Caos — repito secamente. — Brilhante. Porque minha vida já
não estava fodida o suficiente.
Cathy dá um passo à frente, seus olhos implorando.
— Ivy, eu sei que é muita coisa para absorver. Mas você tem que
entender a importância do que estamos pedindo. A Morte se tornou
corrupta, abusando de seu poder e manipulando o sistema.
Precisamos de alguém que possa se opor a ele.
Eu rio amargamente.
— E vocês acham que esse alguém sou eu?
— Nós sabemos que é você. Sua imprevisibilidade é exatamente
o motivo pelo qual você é perfeita para isso — argumenta Josh. — A
Morte não pode antecipar seus movimentos porque nem mesmo
você sabe o que vai fazer em seguida.
— Nossa, obrigada — murmuro, minhas bochechas ficando um
pouco quentes.
— Olha, não temos tempo para você ter uma crise existencial
agora. A Morte está atrás de você, lembra? Precisamos agir rápido.
Estreito os olhos para ele.
— O que exatamente você propõe que eu faça? Chegue perto
da Morte, dê um tapa na cara dele com minha luva e o desafie para
um duelo?
Josh dá uma risadinha. — Não tão dramático assim, mas
também não está longe.
— Precisamos que você acesse suas habilidades latentes —
explica Vex. — Para despertar a parte de você que foi destinada a
ser a Morte.
— Tá, mas como diabos eu vou fazer isso?
Cathy dá um passo à frente, sua expressão séria. — Você
precisa ser ativada. Estamos nos preparando para este momento há
muito tempo. Temos maneiras de amplificar sua resistência natural
ao poder da Morte.
— Amplificar como? — pergunto desconfiada.
Josh sorri, e não é uma visão reconfortante. — Já ouviu falar de
magia do caos?
— Hum, não. A menos que eu tenha perdido essa opção de
palestra no Prospecto de Thornfield.
— Definitivamente não está no Prospecto. Isso é algo primordial,
mais antigo que a própria Morte. É imprevisível e perigoso, mas
incrivelmente poderoso. Muito como você. — Ele sorri para mim.
— Na verdade, é você — afirma Cathy, e agora já é demais.
Mostro o dedo do meio para eles com as duas mãos e dou meia-
volta para tentar a sorte com os monstros das sombras.
2

TATE

A ,
boca seca como lixa. Piscando contra a luz fraca, tento me orientar.
Estou deitado em um chão de pedra fria no que parece ser algum
tipo de câmara subterrânea. As paredes são de rocha bruta, úmidas
e escorregadias. A única luz vem de algumas tochas bruxuleantes
montadas nas paredes.
— Merda — gemo, me esforçando para sentar. Meu corpo dói
por inteiro, como se eu tivesse sido atropelado por um caminhão.
Conforme minha visão se clareia, vejo Torin e Bram esparramados
por perto, ainda inconscientes.
— Bem-vindo de volta ao mundo dos vivos, Sr. Blackwell — diz
uma voz rouca.
Viro a cabeça rapidamente, me encolhendo com o movimento
repentino, para ver a criatura pálida e assustadora de antes parada
nas sombras. De perto, ele é ainda mais perturbador, com a pele
parecendo pergaminho esticado sobre ossos, olhos afundados e
circundados por escuridão, boca esticada em um sorriso
anormalmente largo.
— Quem diabos é você? — rosno, tentando invocar minha
magia. Nada acontece. O pânico explode em meu peito.
O sorriso da criatura se alarga impossivelmente mais. — Eu sou
a Morte, Sr. Blackwell, e vocês três se tornaram um grande espinho
no meu lado.
Encaro-o, minha mente girando. Morte? Como, a personificação
real da morte? Em que diabos nós nos metemos?
Minha mente dispara, tentando processar essa situação
impossível. A própria Morte está diante de mim, e está irritada
conosco. O que diabos fizemos para atrair a atenção de uma força
primordial?
— Onde está a Ivy? — exijo, me forçando a ficar de pé apesar
da onda de tontura que me atinge. — O que você fez com ela?
O rosto esquelético da Morte se contorce em algo que pode ser
diversão. — A Srta. Hammond não é mais sua preocupação. Ela
pertence a mim.
Uma raiva incandescente surge através de mim. — Nem pensar
— rosno, dando um passo à frente. — Ivy não pertence a ninguém.
— Oh, mas ela pertence — diz a Morte calmamente. — Ela fez
um acordo com O Sindicato há muito tempo. Sua alma é minha para
reivindicar.
O Sindicato - o nome gela minha alma. Eu nunca imaginei que o
Sindicato estivesse conectado à própria Morte.
Atrás de mim, ouço Torin e Bram começando a se mexer.
— O que você quer de nós? — pergunto, tentando ganhar tempo
para que os outros recuperem a consciência. Vamos precisar de
toda a nossa força para sair dessa.
O sorriso da Morte se alarga impossivelmente mais. — Vocês
são uma distração para meu maior trunfo. Preciso de vocês fora do
caminho até que ela decida ver as coisas do meu jeito. Fugir foi um
erro. Há muito poucos lugares onde não posso encontrá-la.
Ela fugiu da Morte? Minha alma se enche de alívio com esse
comentário. Ela não nos abandonou. Ela estava com medo.
— Onde ela está agora?
O sorriso da Morte diminui levemente. — Isso não é da sua
conta. A Srta. Hammond cumprirá seu contrato, de um jeito ou de
outro.
Atrás de mim, ouço Torin rosnar enquanto se levanta. — Nem
pensar — ele rosna. — Não vamos deixar você forçá-la a nada.
A Morte vira seu olhar estranho para Torin. — Vocês não têm voz
nesse assunto. O contrato é vinculativo.
— Dane-se o seu contrato — Bram cospe, cambaleando para
ficar ao nosso lado. — Vamos encontrar uma maneira de quebrá-lo.
A risada da Morte ecoa pelas paredes de pedra. — Vocês,
criaturas tolas. Vocês não têm ideia com o que estão lidando.
Cerro os punhos, tentando desesperadamente invocar nem que
seja uma faísca de magia. Nada. Seja lá o que for este lugar, está
bloqueando completamente nossos poderes.
— Deixe-nos ir — exijo. — Deixe-nos encontrar Ivy.
— Acho que não — diz a Morte calmamente. — Vocês ficarão
aqui até que a Srta. Hammond retorne para completar sua tarefa.
— E qual seria essa, então? — pergunto, tendo um mau
pressentimento sobre isso.
— Matar vocês três, é claro.
Suas palavras me atingem como um soco no estômago. É por
isso que ela fugiu, para nos proteger de si mesma.
— Ela não vai fazer isso — rosno.
O sorriso esquelético da Morte se alarga. — Oh, mas ela vai. De
um jeito ou de outro. Ou ela completará o contrato voluntariamente,
ou eu reivindicarei sua alma, e vocês morrerão de qualquer forma.
Raiva e terror guerreiam dentro de mim. A ideia de Ivy ser
forçada a nos matar, de sua alma ser torcida e corrompida por essa
criatura, é insuportável.
— Não vamos deixar isso acontecer — Torin rosna, suas presas
à mostra apesar da nossa falta de poderes. — Vamos encontrar
uma maneira de te parar.
A Morte ri, o som como ossos chacoalhando. — Vocês são bem-
vindos para tentar. Mas por enquanto, vocês ficarão aqui. Talvez a
Srta. Hammond caia em si e retorne por conta própria.
Com isso, ele desaparece, nos deixando sozinhos na câmara
úmida.
— Merda! — eu rujo, socando a parede de pedra. A dor
atravessa meu braço, mas mal sinto.
— Precisamos sair daqui — diz Bram, seus olhos examinando o
quarto em busca de qualquer fraqueza, qualquer rota de fuga. —
Temos que encontrar Ivy antes que ele a encontre.
— Como sabemos que ele não pode encontrá-la? — Torin rosna.
— Aquele sorriso maldito sumiu do rosto dele quando perguntei
onde ela estava. Ele não sabe.
— Ainda não, de qualquer forma — Bram murmura. — Nossos
poderes são inúteis aqui. Estamos presos como malditos ratos.
Respiro fundo, me forçando a pensar.
— Precisamos pensar — digo, andando de um lado para o outro
na pequena câmara. — Deve haver uma saída daqui.
Torin passa as mãos pelas paredes, procurando por mecanismos
ocultos ou pontos fracos. — Essas paredes são sólidas. Não vejo
portas ou janelas.
Bram se agacha, examinando o chão. — A pedra é sem
emendas. Acho que também não vamos sair por aí.
Passo as mãos pelo cabelo em frustração. — Ele quer nos
manter presos enquanto caça a Ivy.
O pensamento me dá calafrios. — Não podemos deixar isso
acontecer. Temos que encontrar uma maneira de sair daqui.
— Nossos poderes são inúteis — Bram nos lembra. — Vamos
ter que contar com nossa astúcia.
Assinto com a cabeça, forçando-me a pensar racionalmente
apesar do medo por Ivy que aperta meu peito. — Certo, vamos
analisar isso. O que sabemos sobre a Morte?
— Ele é poderoso pra caralho — murmura Torin.
— Ele é o chefe do Sindicato, o que faz sentido agora que penso
nisso. Ele quer que a Ivy cumpra seu contrato nos matando —
acrescenta Bram.
— Certo — digo. — Então ele precisa dela viva, pelo menos por
enquanto. Isso nos dá algum tempo.
— Mas quanto? — pergunta Torin. — Não sabemos quanto
tempo ele vai esperar antes de decidir reivindicar a alma dela e
acabar com a gente.
— Precisamos nos concentrar em sair daqui primeiro. Uma vez
que estivermos livres, podemos nos preocupar em encontrar a Ivy e
deter a Morte.
Torin assente, seus olhos examinando a câmara novamente. —
Deve haver uma saída. Nenhuma prisão é perfeita.
— Nem mesmo uma criada pela própria Morte? — murmura
Bram sombriamente.
Lanço-lhe um olhar fulminante. — Não está ajudando, Bram.
Precisamos de soluções, não de pessimismo.
Ele ergue as mãos em rendição. — Tudo bem. E se tentássemos
sobrecarregar o que quer que esteja bloqueando nossos poderes?
Atacar com tudo o que temos de uma vez?
Não é uma má ideia, mas balanço a cabeça. — Muito arriscado.
Não sabemos que tipo de retaliação isso pode causar. Poderíamos
acabar nos matando. Além disso, já estou meio morto por ter
quebrado as malditas proteções do Vex. Quando eu puser as mãos
nele, vou arrancar a porra da cabeça dele e enfiá-la no cu.
— Por mais que eu adore essa imagem, precisamos nos
concentrar — rosna Torin. — Fazer algo é melhor do que esperar
aqui para morrer.
— Não — digo firmemente. — Precisamos estar vivos para
ajudar a Ivy. Vamos pensar nisso logicamente.
Bram assente, seus olhos examinando a câmara novamente. —
Deve haver alguma fraqueza, alguma falha nesta prisão. Nada é
perfeito, nem mesmo as criações da Morte.
— Talvez estejamos pensando nisso errado — diz Torin
lentamente. — Não podemos usar nossos poderes mágicos, mas e
quanto às nossas outras habilidades? Nossa força, nossos
sentidos? Deus sabe que posso sentir o cheiro desse mofo num
nível aprimorado. — Ele franze o nariz.
Olho para ele atentamente. — O que você está pensando?
Torin move-se para o centro da sala, fechando os olhos. —
Deixem-me tentar algo. Todo mundo cale a boca.
Observamos enquanto ele fica perfeitamente imóvel, com a
cabeça ligeiramente inclinada, como se estivesse ouvindo algo.
Depois de um longo momento, onde acho que nem Bram nem eu
sequer respiramos, seus olhos se abrem de repente.
— Ali — diz ele, apontando para um ponto na parede que não
parece diferente de qualquer outro. — Posso ouvir algo. É como um
zumbido fraco.
Movendo-me rapidamente pela sala, pressiono meu ouvido
contra a parede, mas não consigo ouvir porra nenhuma.
— Você ouve? — pergunta Torin.
— Não, não sou vampiro — digo, recuando. — Mas confio em
você.
Bram se junta a nós, sua testa franzida em concentração. —
Pode ser a fonte do que está bloqueando nossos poderes. Ou
talvez...
— Talvez o quê? — insiste Torin.
— Talvez não seja para nos manter dentro — diz Bram
lentamente. — Talvez seja para manter algo fora.
As implicações disso me dão um arrepio na espinha. O que
poderia ser tão terrível que até mesmo a Morte quer manter
afastado?
— Então você acha que não estamos no reino sobrenatural, mas
em algum lugar mais sinistro?
— Sim. Meus sentidos faéricos estão formigando.
— Hmm. De qualquer forma, essa é nossa melhor pista. Vamos
nos concentrar neste ponto. Deve haver uma maneira de usá-lo a
nosso favor.
Torin assente, passando as mãos sobre as pedras. — Se
pudermos interromper o que quer que esteja causando esse
zumbido, talvez possamos enfraquecer a prisão.
— Ou libertar algo pior — murmura Bram, mas ele se junta a nós
na examinação da parede.
Procuramos cada centímetro da seção zumbidora, procurando
qualquer rachadura ou emenda que possamos explorar. Quando
estou prestes a desistir de frustração, meus dedos encontram algo.
— Esperem — sussurro. — Acho que encontrei algo.
3

IVY

S J , V C ,
girando com tudo o que acabaram de me contar. Magia do caos.
Tornar-se a antítese da Morte. Uma especialista em rejeição da
Morte. É tudo demais... Espera.
Rejeição da Morte. Isso tem muito mais conotações do que me
sinto confortável. Será que estou exagerando?
É, provavelmente.
— Ivy, espera! — Josh grita atrás de mim.
Eu me viro, encarando-o.
— Você não pode ir. A Morte vai te encontrar.
— Você não pode fugir disso, Ivy. A Morte vai te encontrar
eventualmente — diz Vex.
— Talvez — eu rosno —, mas vocês estão tentando me colocar
na linha de fogo quando eu quero fazer exatamente o oposto. Estou
fazendo isso para salvar meus caras!
— Está mesmo? — ele pergunta seriamente. — Do jeito que eu
vejo, se você fugir e não fizer o que a Morte quer, ele vai matá-los
pessoalmente. Se já não o fez.
Eu congelo, meu sangue gelando com as palavras de Vex. —
Como assim, se ele já não o fez?
A expressão de Vex é sombria. — A Morte não é conhecida por
sua paciência. Se você fugiu, ele pode decidir tomar as coisas em
suas próprias mãos.
— Não — eu sussurro, balançando a cabeça. — Ele não faria...
— Mas sei no meu coração que ele faria. Claro que ele faria, porra.
— Não sabemos com certeza — Josh diz rapidamente, lançando
um olhar fulminante para Vex. — Mas quanto mais esperarmos,
mais perigo eles correm.
Eu cerro os punhos, dividida entre raiva e medo. — Então eu
devo simplesmente confiar em vocês e no seu plano maluco de me
tornar algum tipo de entidade do caos para lutar contra a Morte?
— Não é ideal — diz Cathy suavemente —, mas pode ser nossa
única chance de salvá-los e parar a corrupção da Morte.
Olho entre os três, minha mente acelerada. Por mais insano que
o plano deles pareça, eu realmente tenho outra escolha? Se a Morte
está com meus caras, no entanto. Não há realmente escolha, há?
— Tudo bem — eu rosno. — O que eu preciso fazer?
Josh acena uma vez. — Primeiro, precisamos despertar suas
habilidades latentes, e para isso, vamos precisar te deixar com
raiva.
Eu bufo. — Acredite, já estou bastante puta.
— Não o suficiente — diz Vex, balançando a cabeça. —
Precisamos te levar ao seu limite absoluto.
— E como vocês planejam fazer isso? — pergunto, enfiando as
mãos no meu cabelo e puxando, a ansiedade de toda essa noite me
afetando.
— Assim.
A nova voz ressoa pela câmara, sobrepondo-se ao zumbido das
máquinas de computador e aos suaves murmúrios dos
trabalhadores.
Virando-me para ela, sinto uma raiva realmente homicida.
— Ei, Ives — diz Ramsey, levantando a mão em um meio aceno.
— Brava?
Minha visão fica vermelha enquanto me atiro contra Ramsey,
todos os pensamentos racionais fugindo da minha mente. — Seu
filho da puta! — grito, meu punho conectando-se com a mandíbula
dele com um estalo satisfatório. — Eu confiava em você! Você é
meu manipulador! Meu melhor amigo!
Ele cambaleia para trás, mas não cai, um sorriso brincando em
seus lábios apesar do sangue escorrendo do canto de sua boca. —
Eu sei, mas tinha que ser assim. Você não estava pronta, Ivy. Você
não estava pronta para enfrentar essa luta. Tinha que haver algo
que valesse a pena. Algo que você não pudesse perder.
— Rah! — Eu balanço novamente, mas desta vez ele está
pronto. Ele se esquiva do meu soco e usa meu impulso para me
jogar por cima do ombro. Eu bato no chão com força, o ar saindo
dos meus pulmões, mas a raiva e a adrenalina correm pelas minhas
veias, me colocando de pé em um instante.
— Seu pedaço de merda manipulador — eu rosno, circulando
Ramsey. — Alguma coisa foi real? Nossa amizade? Ou era tudo
apenas parte do seu grande plano de merda?
O sorriso de Ramsey vacila por um momento, algo como
arrependimento brilhando em seus olhos. — Foi real, Ivy. Você é
minha amiga. Mas isso é maior que amizade. Isso é sobre o destino
do mundo sobrenatural e, eventualmente, do humano também.
— Que se fodam os mundos — eu disparo, me atirando sobre
ele novamente. Desta vez, consigo derrubá-lo no chão, prendendo-o
sob mim. — Você mentiu para mim. Por anos. Você tem jogado dos
dois lados. Você me traiu!
Eu o soco novamente, saboreando o estalo de cartilagem
quando meu punho se conecta com seu nariz. Sangue espirra, mas
não me importo. Todo o medo, confusão e raiva dos últimos dias
saem de mim em uma torrente de violência.
— Ivy, pare! — Josh grita, mas eu o ignoro.
Ramsey não revida; ele apenas recebe a surra. Isso me irrita
ainda mais.
— Revide, seu babaca! — grito, agarrando a frente da camisa
dele e sacudindo-o. — Você queria me deixar com raiva? Bem,
parabéns, porra! Missão cumprida!
De repente, sinto uma onda de energia percorrendo meu corpo -
um poder bruto e primordial que faz cada terminação nervosa
formigar. O ar ao meu redor crepita com eletricidade.
Olho para minhas mãos e ofego. Elas brilham com uma luz rosa
estranha, fios de energia escura rodopiando ao redor dos meus
dedos. Que porra é essa? Eu não tenho magia ativa.
Ramsey sorri para mim através dos dentes ensanguentados. —
Aí está ela — ele diz. — O Caos encarnado.
A raiva dentro de mim atinge um pico febril. Com um grito de
fúria, bato minhas palmas no peito de Ramsey. — Você é um
babaca!
Ele agarra meus pulsos. — Eu sei, Ives. Eu sei. Mas você está
pronta para isso agora. Isto é a coisa certa a fazer.
— Não — eu rosno. — A coisa certa a fazer era trabalhar para O
Sindicato para que eu pudesse descobrir o que aconteceu com
meus pais. De verdade. Isso é uma merda fodida da qual não quero
fazer parte. — Ofegando pesadamente, me levanto dele e me
afasto, as mãos tremendo.
A energia rosa rodopia ao meu redor, crepitando e pulsando.
Encaro minhas mãos em descrença, observando fios de névoa
escura se enrolarem entre meus dedos.
— Que porra é essa? — exijo, virando-me para Josh e os outros.
Josh me encara com algo como admiração, mas há medo lá
também, e isso me assusta. — Essa é sua magia do caos
despertando. As partes de você mesma que você rejeitou ainda no
útero.
— Eca. — Olho feio para ele com uma grande repulsa por falar
sobre úteros. — Eu não quero isso. Leve de volta.
— Não funciona assim — diz Cathy gentilmente. — Este poder
sempre foi parte de você. Você apenas o desbloqueou.
— Ao me mostrar que toda a minha vida foi uma grande traição.
— Sinto muito, Ivy. Eu odeio que isso tenha acontecido dessa
maneira. Se houvesse outro jeito-
— Havia! Vocês poderiam ter me contado o que estava
acontecendo. Me deixado fazer minhas próprias escolhas com os
olhos bem abertos. Sinto como se vocês tivessem me enganado, e
isso não está certo.
Ele parece triste, e me sinto dividida novamente. Só que desta
vez, entre amá-lo e estar tão zangada com ele que eu poderia
esmagar seu rosto de novo.
— Justo. Mas eu sou um bastardo mentiroso que está tentando
salvar o mundo.
— Que se foda isso — rosno. — E os meus caras? Onde eles
estão?
— Se a Morte os tem, provavelmente estão no reino dele. Um
lugar entre a vida e a morte — diz Vex.
— Você — digo, apontando para ele — é melhor correr, porque
você me fez confiar em você. Eu devia ter continuado não gostando
de você.
— Aww, ela gosta de mim — ele ronrona daquele jeito sexy que
realmente me irrita agora.
— Nunca disse isso — digo entre dentes. — Onde é esse lugar?
Como posso chegar lá?
— Você nem sabe se os caras estão lá — diz Ramsey.
Balanço a cabeça, me sentindo completamente derrotada. — Fui
tola em pensar que poderia fugir da Morte. Claro que ele os tem.
— Olha — diz Cathy naquele tom sem rodeios pelo qual ela é
conhecida. — Eu entendo que isso tudo é um grande despertar, e
você está puta. Com toda razão. O que Josh e Ramsey disseram é
verdade, no entanto. Você não estava pronta. Você não tinha nada a
perder e tudo a ganhar trabalhando para O Sindicato. Mas aqui vai
um fato interessante, Ivy. Seus pais foram mortos pelo Sindicato.
Isso mesmo. Eles mataram seus pais para chegar até você. A pobre
órfãzinha com tanto poder latente que poderia explodir universos.
Então preste atenção. Você tem duas escolhas. Enfie sua cabeça de
volta na areia e seja uma garotinha ingênua ou coloque sua calcinha
de mulher e encare a verdade como nós te apresentamos.
Eu olho para ela, boquiaberta com suas palavras duras, francas
e dolorosas. A energia rosa ao meu redor pulsa e crepita,
respondendo ao turbilhão de emoções que se agitam dentro de
mim.
— Você está mentindo — sussurro, mas no fundo, sei que ela
não está. Isso faz um sentido doentio, explicando tantas coisas
sobre minha vida que eu nunca entendi.
— Sinto muito, Ivy — diz Cathy, sua voz suavizando
ligeiramente. — Mas é a verdade. O Sindicato tem manipulado você
desde o início. Se eu soubesse o que você estava fazendo, teria
tentado impedir, mas era tarde demais quando descobri. Você
estava muito envolvida, e sei que nada que eu pudesse ter dito teria
importado... exceto para te empurrar ainda mais para eles.
Fecho os olhos, tentando processar essa nova informação. Tudo
o que eu pensava saber sobre minha vida, sobre meu propósito, tem
sido uma mentira.
— Vou encontrar meus caras — declaro de repente, abrindo os
olhos. — E então vou derrubar a Morte e O Sindicato. Não porque
vocês querem que eu faça, mas porque eles brincaram com a minha
vida pela última vez. Mas preciso saber uma coisa. O que acontece
quando a Morte, como ela é agora, for derrotada? E depois? Quem
assume? Vamos acabar em uma situação semelhante?
— Essa é a questão — diz Josh, balançando a cabeça. — Não
sabemos.
Revirando os olhos, murmuro: — Ótimo, simplesmente ótimo.
4

TORIN

O T
a parede de pedra áspera, procurando o que quer que ele tenha
encontrado. Minha audição aprimorada capta o leve arranhar das
unhas dele contra a rocha.
— O que é isso? — Bram pergunta impacientemente.
— Não tenho certeza — murmura Tate, de olhos fechados para
se concentrar nos outros sentidos. — Há algum tipo de junção ou
rachadura aqui. É sutil, mas...
Ele para de falar, pressionando com mais força contra a parede.
De repente, ouve-se um suave clique e uma seção da pedra desliza
para trás, revelando um pequeno nicho.
— Que porra é essa? — Eu o empurro para olhar dentro. — Sou
eu, ou isso foi fácil demais de encontrar?
— Depende de quem eles costumam prender aqui — observa
Bram. — Vampiros com audição aprimorada podem não ser a
norma.
— Verdade — murmuro e me abaixo um pouco para dar uma
olhada melhor dentro do buraco na parede.
Dentro, há um objeto estranho. Uma esfera do tamanho de uma
bola de críquete feita de algum tipo de material iridescente que
muda e se agita conforme olhamos para ela. Sussurros fracos estão
vindo dela, tão sutis que até minha audição de vampiro está tendo
dificuldade para captá-los.
— Que porra é essa coisa? — Bram pergunta, inclinando-se
para olhar mais de perto.
— Não faço ideia — diz Tate. — Mas aposto que é importante.
Todos nós olhamos fixamente para o orbe mutante e sussurrante
por um longo momento.
— Foda-se — eu finalmente digo, tomando uma decisão. — Não
temos muitas outras opções. Eu digo para pegarmos e ver o que
acontece.
Tate parece incerto. — Tem certeza? Isso pode dar muito errado.
Dou de ombros. — Já somos prisioneiros da Morte. Quanto pior
pode ficar?
— Ah, você tinha que falar, não é? — Bram murmura, mas não
discute mais.
Respirando fundo, estendo a mão e agarro o orbe. No momento
em que minha pele faz contato, uma descarga de energia percorre
meu corpo. Os sussurros ficam mais altos, tornando-se um enxame
de vozes na minha cabeça.
— Torin? — Tate murmura.
Uma porta desliza atrás de nós, fazendo-nos girar rapidamente,
mãos erguidas, prontos para lutar, mas nada passa por ela.
— Você fez isso? — Bram pergunta.
— Talvez — respondo. — Quem pode dizer?
— Devemos atravessar? — Tate pergunta.
— Sim, não vamos ficar aqui parados com o dedo no cu —
respondo bruscamente, avançando.
— Espere — diz Bram. — Precisamos conversar. Eu tenho
escondido algo de vocês. Me alinhei com uma organização que
acha que quer derrubar O Sindicato. Fiz alguns trabalhos para eles.
O objetivo era ver se eu poderia circular nos mesmos círculos que a
Poison. Eles a querem. Disseram que a Ivy é especial.
Eu o encaro enquanto ele divaga. — Especial como? — O resto
não me incomoda. Não me importo com o que ele faz no tempo
livre, e qualquer coisa que derrube O Sindicato está bem por mim. É
meu objetivo final, afinal. Quanto menos trabalho eu tiver que fazer
para realizar essa tarefa, melhor.
Ele dá de ombros. — Eles não disseram.
— Quem são eles? — Tate pergunta cuidadosamente, menos
disposto a deixar isso passar, parece.
— Na verdade, não tenho muita certeza. Eles me abordaram
uma noite na floresta. Era como se soubessem o que eu queria.
Mas além de querer O Sindicato fora do caminho, seus motivos são
nebulosos, na melhor das hipóteses.
Tate passa a mão pelo cabelo, com frustração evidente em cada
linha de seu corpo. — Não temos tempo para essa merda.
Precisamos encontrar a Ivy antes que a Morte faça o que quer que
esteja planejando.
— Concordo — digo, enfiando o orbe no meu bolso. As vozes na
minha cabeça se aquietam para um murmúrio surdo. — Podemos
lidar com as atividades extracurriculares do Bram depois. Agora,
precisamos sair daqui.
Sem esperar por uma resposta, atravesso a porta aberta, com os
sentidos em alerta. Os outros seguem logo atrás, com Tate
murmurando palavrões.
A passagem além é escura e estreita, as paredes úmidas de
umidade. O ar é denso com o cheiro de decomposição e algo mais,
algo antigo e poderoso que me deixa com os nervos à flor da pele.
Ela se torce e vira, levando-nos mais fundo no reino em que nos
encontramos. A escuridão é absoluta, mas minha visão de vampiro
me permite navegar sem problemas. Atrás de mim, ouço Tate e
Bram tropeçando ocasionalmente.
— Você consegue ver alguma coisa? — Tate sussurra.
— Não muito — respondo. — Só mais túnel. Mas há algo
estranho neste lugar.
— Sem brincadeira — Bram murmura. — Estamos no domínio
da Morte. Tudo é estranho.
Ignoro-o, concentrando-me na estranha energia que posso sentir
pulsando no ar. Ela me lembra o orbe no meu bolso, que começou a
vibrar levemente.
De repente, o túnel se abre em uma vasta caverna. O teto se
estende impossivelmente alto, perdido nas sombras. Pilares
maciços de osso e pedra suportam o peso acima, esculpidos com
símbolos intrincados que machucam meus olhos ao olhar
diretamente.
— Puta merda — Bram respira.
— O Submundo — Tate afirma, muito mais calmo do que me
sinto agora. — O reino dos mortos.
— Como diabos você sabe disso? — pergunto, incapaz de
desviar os olhos da beleza assombrosa da caverna.
— Um puto de um palpite — ele rosna, e eu dou de ombros.
— Justo.
Ficamos na beira da vasta caverna, absorvendo a visão
impossível diante de nós. O ar é pesado e opressivo.
— E agora? — Bram sussurra. — Estamos no Submundo. Como
diabos vamos encontrar a Ivy em tudo isso?
Tiro o orbe do meu bolso. Está brilhando fracamente, as cores
turbilhonantes se movendo mais rapidamente. Os sussurros na
minha cabeça ficaram mais altos e mais insistentes, embora eu
ainda não consiga distinguir nenhuma palavra clara.
— Acho que isso pode nos guiar — digo, erguendo-o. — Parece
estar reagindo a alguma coisa.
Tate o olha com cautela. — Tem certeza de que podemos confiar
nessa coisa? Pelo que sabemos, pode estar nos levando para uma
armadilha.
Dou de ombros. — Você tem uma ideia melhor?
Ele franze a testa, mas não discute mais.
— Certo então — digo, dando um passo à frente. — Vamos ver
onde isso nos leva.
Fazemos nosso caminho pelo chão da caverna, passando entre
os pilares imponentes e formações estranhas. O orbe pulsa em
minha mão, esquentando à medida que avançamos mais fundo no
Submundo.
De repente, um grito estridente ecoa pela caverna. Congelamos,
olhando freneticamente ao redor em busca da fonte.
— Que porra foi essa? — sibila Bram, seus olhos percorrendo o
ambiente.
— Não sei — rosno —, mas não gosto disso.
O grito vem novamente, mais próximo desta vez. Nas sombras
entre os pilares, vejo vislumbres de movimentos. Formas escuras
passam rapidamente na borda da minha visão.
— Não estamos sozinhos — murmura Tate, agitando a mão para
testar se tem magia.
Ele não tem.
Isso não é bom.
O orbe em minha mão pulsa com mais urgência, ficando quase
dolorosamente quente. Quase o deixo cair quando uma dor ardente
atravessa minha palma.
— Porra! — praguejo, jogando o orbe entre as mãos. — Essa
coisa está enlouquecendo.
— Talvez devêssemos... — Bram começa, mas é interrompido
quando uma figura salta da escuridão em nossa direção.
É humanoide, mas apenas vagamente. Sua pele é cinzenta e
murcha, esticada sobre uma estrutura esquelética. Órbitas oculares
vazias nos fitam de um rosto cadavérico, e sua boca se abre em
outro grito penetrante.
— Movam-se! — grita Tate, nos empurrando para frente.
Corremos, desviando entre os pilares enquanto mais criaturas
emergem das sombras. Seus gritos ecoam pelas paredes da
caverna, um estrondo de morte e fome que me arrepia até o âmago.
O orbe pulsa freneticamente em minha mão, nos guiando
através da caverna labiríntica. Não faço ideia se estamos correndo
para a segurança ou para um perigo maior, mas não temos muita
escolha. As criaturas estão nos alcançando, suas mãos ossudas
tentando agarrar nossas roupas.
— Que porra são essas coisas? — ofega Bram enquanto
corremos.
— Almas perdidas — grunhe Tate. — As que nunca chegaram
ao seu descanso final.
— Como você sabe todas essas merdas? — exijo, desviando de
uma mão que tenta me agarrar.
— Eu leio — ele responde bruscamente. — Agora cala a boca e
corre!
Disparamos pelos caminhos sinuosos entre os pilares, os gritos
das almas perdidas ficando cada vez mais altos atrás de nós. O
orbe em minha mão está vibrando, me puxando para frente com
uma urgência que não posso ignorar.
De repente, irrompemos do labirinto de pilares em um espaço
amplo e aberto. No centro, ergue-se uma estrutura massiva que
parece um cruzamento entre um templo e uma fortaleza. Paredes
de pedra negra se elevam impossivelmente altas, esculpidas com os
mesmos símbolos que machucam os olhos como os dos pilares. Um
conjunto de portas enormes está aberto diante de nós, com a
escuridão se derramando como uma força física.
— Ali dentro! — grito, apontando para as portas abertas.
Fazemos uma corrida louca até a entrada, com os uivos das
almas perdidas logo atrás de nós. Assim que cruzamos a soleira, há
um clarão cegante, e estamos caindo no campus de Thornfield, nos
fundos do estacionamento.
Por um momento, apenas ficamos deitados ali, ofegantes e
tentando processar o que acabou de acontecer.
— Que porra foi essa? — geme Bram, se levantando para sentar
e testando para ver se sua magia retornou. Redemoinhos escuros
envolvem suas mãos, e ele suspira aliviado.
Sento-me lentamente, minha cabeça girando. O orbe ainda está
firmemente agarrado em minha mão, mas ficou frio e escuro. As
vozes em minha cabeça diminuíram até o silêncio.
— Estamos de volta ou em algum tipo de universo paralelo? —
pergunta Tate, olhando ao redor incrédulo.
Faço que sim com a cabeça, observando nosso entorno. Ainda é
noite. O estacionamento está fracamente iluminado por postes de
luz piscantes. Tudo parece normal, mas depois do que acabamos
de passar, não tenho certeza se posso confiar em meus sentidos.
— Como? — exige Bram. — Como viemos do Submundo para
cá?
Levanto o orbe agora inerte. — Acho que essa coisa nos trouxe
de volta de alguma forma. Quando passamos por aquelas portas...
Tate franze a testa, estendendo a mão para tocar o orbe. Assim
que seus dedos fazem contato, ele recua com um silvo. — Porra!
Está gelado.
— É — murmuro. — É como se toda a energia tivesse se
esgotado.
Ficamos em silêncio por um momento, tentando processar tudo
o que aconteceu. Finalmente, Bram fala.
— Não gosto disso.
— Eu também não.
— E agora? — pergunta Bram, se levantando e tirando a sujeira
de suas roupas.
Levanto-me também, guardando o orbe agora inútil no bolso. —
Vamos encontrar Ivy. Ela ainda está lá fora em algum lugar, e a
Morte está atrás dela.
Tate assente sombriamente. — Concordo. Mas por onde
começamos a procurar? Ela pode estar em qualquer lugar.
Fecho os olhos, concentrando-me em meus sentidos de vampiro,
mas não há nada. Balanço a cabeça.
— Pode ser influência da Morte — sugere Bram. — Se ele a
pegou...
— Ele não pegou — rosno, não querendo nem considerar essa
possibilidade. — Saberíamos se ele tivesse.
Tate solta um suspiro. — Então estamos de volta à estaca zero.
Sem ideia de onde Ivy está, a Morte atrás dela, e agora alguma
organização misteriosa que também a quer. — Ele lança um olhar
furioso para Bram.
— Algo maior está acontecendo aqui — murmuro com uma
careta. — Tudo das últimas semanas está levando a algo mais.
— O que você quer dizer? — pergunta Tate.
— Não sei. Ainda não descobri. Tenho a sensação de que isso é
um gigantesco jogo de Tetris que a Morte está jogando. Só
precisamos descobrir como começar a mover as peças nós
mesmos.
— Moleza — murmura Tate. — Tetris da Morte, lá vamos nós.
5

IVY

E ,
ao meu redor enquanto tento processar tudo o que acabei de
descobrir. Minha vida inteira foi uma mentira, orquestrada por forças
que eu nem sabia que existiam, e agora eles querem que eu me
torne uma espécie de entidade caótica para lutar contra a Morte.
Uma parte de mim quer mandar todos eles se foderem. Correr o
mais longe e rápido que puder dessa insanidade. Mas outra parte,
uma parte crescente, sente uma estranha sensação de acerto.
Como se peças de um quebra-cabeça que eu não sabia que estava
resolvendo finalmente estivessem se encaixando.
— Tudo bem — digo finalmente, olhando para os rostos ao meu
redor. Josh, Vex, Cathy, Ramsey. Pessoas que eu pensava
conhecer. Pessoas que mentiram para mim. Mas também, pessoas
que podem ser minha única chance de salvar meus caras e deter a
Morte. — Qual é o próximo passo?
Josh, com uma expressão séria demais, diz: — Agora que seus
poderes despertaram, precisamos treiná-la para usá-los. A magia do
caos é imprevisível e perigosa. Se você não conseguir controlá-la,
ela vai te consumir.
— Adorável — murmuro. — E como exatamente se treina para
usar magia imprevisível?
Vex sorri, e não é uma visão reconfortante.
— Abraçando o caos, é claro.
— Tem certeza que não posso fugir, em vez disso? — pergunto,
mas é uma ideia sem futuro. Se eu fugir, meus caras morrem. Isso
não vai acontecer.
— Você poderia — diz Vex, quase relutante, como se não
quisesse revelar um grande segredo. — Conheço talvez um lugar
onde você poderia ir onde ele não te encontraria.
— E esse lugar seria? — pergunto, curiosa apesar de mim
mesma.
— Uma Academia a algumas centenas de quilômetros daqui
chamada MistHallow. Muito parecida com esta, mas bem mais
acima na cadeia alimentar.
— Hmm. — Pondero, mas então balanço a cabeça. Não vou
fugir. Não agora. Se eu falhar, então posso, mas Poison não foge de
lutas. Ivy pode até fugir ocasionalmente, mas Poison é fodona, e eu
preciso dela agora.
Então, eu mudo. Cabelo rosa chanel, olhos azul-bebê. Corpo de
matar.
E ao fazer isso, as roupas mágicas que Vex me deu
desaparecem, me deixando nua em uma sala cheia de criaturas que
querem que eu enfrente a Morte e vença.
Fantástico pra caralho.
Resume bem o meu dia.
— Ah, puta que pariu — murmuro, cruzando as pernas e
cobrindo os seios numa tentativa fútil de modéstia. — Alguém tem
alguma roupa?
Josh dá risadinhas enquanto Vex me olha com malícia. Cathy
revira os olhos e estala os dedos, conjurando um conjunto simples
preto de legging, regata e botas.
— Valeu — digo a contragosto, vestindo rapidamente as roupas.
— Agora então — diz Cathy com vivacidade — vamos começar
seu treinamento.
— O quê? Agora? — pergunto incrédula. — Não tenho direito a
um momento para, sei lá, processar toda essa merda que vocês
acabaram de despejar em mim?
— Tempo é um luxo que não temos — diz Ramsey, seu rosto
ainda sangrando do soco que dei nele. Bem feito. — Se você voltar
lá para fora, tem esse ultimato pairando sobre sua cabeça.
Ele está certo, mas talvez isso não seja a pior coisa. Talvez eu
possa ganhar algum tempo.
— Na verdade — digo lentamente — talvez voltar lá para fora
seja exatamente o que eu preciso fazer.
Josh franze a testa.
— O que você está pensando?
— A Morte me deu uma escolha: matar meus caras ou ele leva
minha alma, certo? Bem, e se eu fingir que vou fazer isso? Ganhar
tempo enquanto descubro como usar esses novos poderes?
Vex balança a cabeça.
— É arriscado demais. Se a Morte perceber que você está
enrolando...
— Ele vai o quê? Me matar? Levar minha alma? É o que ele está
planejando de qualquer jeito — argumento. — Pelo menos assim,
tenho uma chance de salvar os caras e aprender a controlar essa
merda de magia do caos.
Cathy parece pensativa.
— Pode funcionar. Se você for convincente o suficiente.
— Sou uma ótima mentirosa quando preciso — digo,
gesticulando para minha persona transformada.
Ramsey assente.
— Ela tem razão. Pode ser nossa melhor chance de pegar a
Morte desprevenido.
— Tudo bem — diz Josh depois de um momento. — Mas você
não pode ir às cegas. Precisamos te dar pelo menos um
treinamento básico antes de enfrentar a Morte de novo.
Aceno com a cabeça, aliviada por eles não estarem brigando
comigo por isso.
— Beleza. Me deem o básico.
— Não é tão simples assim. A magia do caos é... caótica. Por
sua própria natureza, ela não deveria existir — diz Cathy.
— Você está dizendo que eu não deveria existir? — rosno.
— Sim — ela afirma. — Quando sua alma rejeitou o chamado da
Morte, você se tornou algo que não deveria existir. Lide com isso
como quiser, mas faça rápido. Quanto mais tempo sua magia ficar
solta, mais ela vai te rasgar ao meio.
— Você quer dizer isso literalmente?
Ela aperta os lábios, mas não responde.
— Tá bom, então — digo, respirando fundo. — Vamos fazer isso.
Me ensinem como controlar essa magia do caos antes que ela me
despedace.
Josh acena, sua expressão séria.
— A primeira coisa que você precisa entender é que a magia do
caos não segue as regras da magia normal. É imprevisível e
selvagem. Você não pode controlá-la tanto quanto guiá-la.
— Como?
— Abraçando o caos — diz Vex, dando um passo à frente. —
Você precisa se livrar de suas preconcepções sobre como a magia
deve funcionar. Esqueça tudo o que você acha que sabe.
Ergo uma sobrancelha para ele.
— Isso não deve ser muito difícil, considerando que eu não sabia
que tinha magia ativa até uns dez minutos atrás.
— Justo — ele concede. — Mas você esteve em volta de
usuários de magia. Tem ideias sobre como ela deve funcionar.
Esqueça tudo isso.
— Tá — digo lentamente. — Então o que eu faço em vez disso?
— Sinta a energia dentro de você — instrui Cathy. — Aquele
poder rosa crepitante. Não tente controlá-lo. Apenas deixe-o fluir
através de você.
Fecho os olhos, me concentrando na estranha energia que
posso sentir zumbindo sob minha pele. É selvagem, imprevisível,
como um relâmpago preso em uma garrafa. Todos os instintos
gritam para que eu a contenha, para forçá-la à submissão, mas
resisto ao impulso. Em vez disso, tento relaxar, deixar o poder fluir
livremente através de mim.
— Bom — murmura Josh. — Agora, pense em algo que você
quer que aconteça. Não tente fazer acontecer, apenas mantenha a
intenção em sua mente.
Penso nos meus caras - Tate, Torin e Bram. Quero encontrá-los,
saber que estão seguros. A energia dentro de mim aumenta em
resposta ao meu desejo, crepitando ao longo da minha pele.
— Abra os olhos — diz Ramsey suavemente.
Eu abro, e ofego.
6

BRAM

— Q ? — , I ,
melhor, Poison, incrédulo. Num momento estávamos no
estacionamento de Thornfield, no outro estamos... onde quer que
seja isso. Uma espécie de caverna subterrânea cheia de criaturas
estranhas e Poison crepitando com energia rosa.
Tate e Torin parecem igualmente perplexos ao meu lado, se
recuperando da viagem muito perturbadora que acabamos de fazer.
— Ivy? — diz Tate cautelosamente. — Desculpa, querida. Não
vou te chamar de Poison agora. Como chegamos aqui? O que está
acontecendo?
Os olhos de Ivy estão arregalados enquanto ela nos encara. —
Acho que fui eu que fiz isso. De alguma forma.
— Você fez o quê exatamente? — rosna Torin, seus olhos
disparando desconfiados para os outros na sala.
— Eu estava praticando essa magia idiota, e queria encontrar
vocês — explica Ivy, com a voz trêmula. — Para saber se estavam
seguros, e então vocês estavam aqui.
— Impressionante — diz uma mulher que não reconheço,
olhando para Ivy com interesse. — Você é mais poderosa do que
imaginávamos.
— Quem diabos é você? — exijo, colocando-me protetoramente
na frente de Ivy.
— Calma, Bram — diz Ivy, colocando a mão no meu braço. —
Essa é minha tia Cathy, você conhece o resto.
— Vex — Tate rosna. — É bom você não ter encostado um dedo
nela.
Ele sorri maliciosamente. — Só quando ela me pediu.
A fúria de Tate é como algo vivo. Ele convoca sua magia, mas
Ivy o impede batendo a mão em seu pulso. — Não. Não deixe que
ele te provoque. Ele é um idiota.
— Ei — Vex retruca. — Um idiota que salvou você.
— Nããão, um idiota que me trouxe para essa merda toda!
— Ok, vamos voltar um minuto aqui. O que está acontecendo?
Por que você fugiu, Ivy? Foi por causa da Morte?
Seus olhos se arregalam quando ela olha para mim. Aqueles
olhos azul-celeste que fazem meu pau ficar duro. Por mais que eu
tenha me apaixonado por Ivy como ela mesma, não posso negar o
efeito que Poison tem em mim. — Como você sabia sobre a Morte?
— Ele nos fez uma visita — rosna Torin. — E decidiu nos
aprisionar. Nós escapamos.
Os olhos de Ivy se arregalam em choque. — Vocês escaparam
da Morte? Como?
— Longa história — interrompo. — A versão curta é que
encontramos uma coisa estranha tipo um orbe que nos transportou
para fora de lá. Agora, você pode explicar que porra está
acontecendo?
Ivy respira fundo, olhando ao redor para os outros na caverna. —
É complicado. Basicamente, a Morte me deu um ultimato para matar
vocês ou ele levaria minha alma. Eu fugi para tentar proteger vocês,
mas então... — Ela gesticula vagamente para si mesma e a energia
rosa ainda crepitando ao seu redor. — Tudo isso aconteceu.
— O que é exatamente "tudo isso"? — pergunta Tate, olhando-a
com cautela. — Por que Vex está aqui?
Resisto à vontade de revirar os olhos. Tate está tão preso em
Vex e seu ciúme ou rivalidade ou seja lá o que for, é como se
fossem irmãos ou algo assim...
Espera. Eu acabei de... Estreito os olhos para eles. Não. Eles
parecem exatamente opostos.
— Aparentemente, eu tenho magia do caos — diz Ivy,
interrompendo meus pensamentos errantes. — Porque sou uma
espécie de falha cósmica que rejeitou se tornar a Morte ainda no
útero, e agora esses caras querem que eu use isso para derrubar a
Morte e O Sindicato.
Pisca, tentando processar essa enxurrada de informações. — É
muita coisa. — Franzindo a testa, olho ao redor da sala. — Você
é...? Eu te conheço? — pergunto, focando novamente na mulher.
— Não, esse seria eu — diz Josh, levantando a mão. Mal
conheço o cara, só de vista. Ele é o namorado de Ramsey.
— Você? Você é a criatura com quem tenho lidado?
— Mm-hmm.
— Então vocês estão realmente tentando derrubar O Sindicato?
— A Morte, principalmente, mas O Sindicato é sua criação, então
por consequência, sim.
— Então onde as mortes se encaixam na sua coisa... e não me
venha com "precisa saber". Se você quer que eu entre nessa merda
toda... — aceno com a mão ao redor — ... sem falar no fato de que
Ivy tem algo que só ouvi falar em contos dos Fae antigos, você me
deve isso.
— Que mortes? — pergunta Ivy, momentaneamente distraída.
— Bram tem feito alguns trabalhos freelance para nós,
eliminando aliados estratégicos da Morte. Ele tem vários seres que
lhe entregam almas, às escondidas em troca de favores extras.
— Aquele maldito bruxo. Eu sabia que ele era um pedaço de
merda — cuspo.
— Espera — interrompe Ivy, seus olhos se estreitando para mim.
— Você tem trabalhado para eles? Esse tempo todo?
Me mexo desconfortavelmente sob seu olhar intenso. — Não.
Muito recentemente. Eu estava tentando encontrar uma maneira de
me aproximar de Poison. Eu não sabia quem eles realmente eram.
Só sabia que queriam derrubar O Sindicato.
— Você estava tentando se aproximar de Poison? — ela
pergunta. — Por quê? Para poder me matar também? — O
temperamento de Ivy explodiu, aumentando dramaticamente a
energia rosa ao seu redor.
— Não seja ridícula — retruco. — Eu não queria matar Poison.
— Não, só sequestrá-la e acorrentá-la à parede até que ela
concordasse em ficar com você — Tate rosna.
— O quê? — Com os olhos arregalados, Poison me encara.
Faço a diferenciação agora porque estou seriamente encrencado.
— Não — minto. — Não era exatamente-
— Ok, pessoal, vamos todos nos acalmar — Josh intervém,
levantando as mãos. — Estamos todos do mesmo lado aqui, e suas
merdas pessoais podem esperar.
— Estamos todos do mesmo lado? — Ivy pergunta, olhando ao
redor da sala com suspeita. — Porque do meu ponto de vista,
parece que todo mundo tem mentido para todo mundo.
Ela não está errada. A tensão na sala é evidente com todos os
segredos e mentiras vindo à tona.
— Olha — digo, tentando acalmar a situação. — Podemos
discutir sobre quem escondeu o quê depois. Agora, precisamos nos
concentrar no quadro geral. A Morte está atrás de Ivy. Estamos
assumindo que ele a quer por causa da magia do caos ou porque
sabe que ela pode matá-lo com isso, então quer manter seus
inimigos por perto?
Os olhos de Ivy se estreitam para mim. — Boa pergunta. Por que
a Morte me quer tanto? É só por causa dessa magia do caos, ou
tem mais coisa por trás?
Josh e Cathy trocam um olhar carregado que me deixa com os
nervos à flor da pele.
— Tem mais — Josh admite relutantemente. — Acreditamos que
a Morte quer usar você como uma arma. Sua magia do caos, se
devidamente aproveitada, poderia potencialmente destruir reinos
inteiros.
— O quê? — Ivy sussurra, com o rosto pálido.
— A Morte tem acumulado poder por séculos — explica Cathy.
— Mas ainda há reinos fora do seu alcance. Com você sob seu
controle, ele poderia expandir seu domínio ainda mais.
— Que se foda — rosna Torin. — Não vamos deixar isso
acontecer.
Tate concorda com a cabeça, mas percebo que seus olhos
continuam se voltando para Vex. Definitivamente há algo
acontecendo ali que não entendo completamente.
— Então, qual é o plano? — pergunto, tentando focar no
problema imediato. — Como mantemos a Ivy segura e detemos a
Morte?
— Nós a treinamos — diz Josh com firmeza. — Ensinamos a ela
como controlar a magia do caos para que a Morte não possa usá-la
como arma.
— E depois? — exige Ivy. — Eu simplesmente chego perto da
Morte e o mato?
Vex sorri. — Algo assim, sim.
— Vocês são loucos — Tate esbraveja. — Não podemos mandá-
la contra a Morte. É suicídio.
— Não temos muita escolha — argumenta Josh. — A Morte não
vai parar de vir atrás dela, e se ele puser as mãos nela, as
consequências podem ser catastróficas.
Observo a discussão se desenrolar, minha mente ainda tentando
processar que Ivy tem magia do caos. Isso é uma coisa seriamente
mítica.
— Chega — diz Ivy de repente, sua voz cortando a discussão. A
energia rosa ao seu redor pulsa ameaçadoramente. — Isso não
cabe a nenhum de vocês decidir. É comigo e somente comigo.
— Discordo — diz Torin, seu olhar perfurando o dela. — Você
não pode experimentar o que vivemos e depois nos dispensar como
se não fôssemos dignos do seu tempo.
— Eu nunca disse isso-
— É, você meio que insinuou — interrompo. — Nós temos algo a
dizer sobre o que acontece na sua vida, Ivy, quer você goste ou não.
Os olhos de Ivy brilham de raiva, a energia rosa crepitando mais
intensamente ao seu redor. — Vocês não podem ditar minhas
escolhas — ela dispara. — Nenhum de vocês. Esta é a minha vida,
meu poder e minha decisão.
— Ivy — diz Tate suavemente, estendendo a mão para ela. —
Não estamos tentando te controlar. Só queremos te proteger.
Ela se afasta bruscamente do toque dele. — Eu não preciso da
proteção de vocês. Preciso que confiem em mim para tomar minhas
próprias decisões.
— Mesmo que essas escolhas te matem? — Torin rosna.
— Especialmente nesse caso — Ivy retruca.
Observo o impasse, me sentindo dividido. Por um lado, entendo
o desejo dos caras de manter Ivy segura. Por outro, sei em primeira
mão como pode ser sufocante ter outros tentando controlar seu
destino.
— Olha — digo, tentando ser a voz da razão pela primeira vez.
Tate está cego quando se trata disso. Ele não consegue ver a razão.
— Estamos todos nervosos aqui. Por que não damos um passo
atrás e resolvemos isso juntos?
O olhar de Ivy se volta para o meu, seus olhos azuis ardendo. —
Sério? Depois que você andou por aí trabalhando para alguma
organização obscura para se aproximar do Veneno?
Eu me encolho. — Touché. No entanto, essa não é a questão
aqui.
Ela faz uma careta porque sabe que estou certo.
— Ok, isso já foi longe demais — declara Cathy, dando um
passo à frente. — Ivy, você está agindo como uma criança
emburrada. Caia na real. Quer ser tão adulta? Aja como uma. Isso
não é só sobre você, querida. É sobre todos. Os bons, os maus e os
completamente malvados. Mas todos importam no quadro geral das
coisas. Você entende isso? Ou precisamos voltar ao básico com
você como se fosse uma criança?
Torin e eu trocamos um olhar chocado. Uau, essa mulher não
alivia o jogo.
No entanto, parece ter funcionado. Ivy está bufando, mas está
perdendo sua defensividade.
Não é muito, mas é um começo.
7

IVY

R ,
agita dentro de mim. As palavras duras da tia Cathy doem, mas sei
que ela tem razão. Estou agindo de forma infantil quando o que está
em jogo é tão importante.
— Você tem razão — digo a contragosto. — Me desculpe. Esta
noite foi demais.
— Nós entendemos — diz Ramsey gentilmente, se aproximando
e parecendo envergonhado. — Mas precisamos trabalhar juntos se
quisermos ter alguma chance contra a Morte.
Concordo com a cabeça, olhando para meus rapazes. — Eu sei.
Sinto muito por tentar excluir vocês. Só não quero que nenhum de
vocês se machuque por minha causa.
A expressão de Tate suaviza. — Ivy, daríamos nossas vidas por
você. Quando você vai perceber isso?
— Ele está certo — acrescenta Torin com aspereza. — Faríamos
qualquer coisa que você nos pedisse.
Bram concorda com a cabeça, embora haja cautela em seus
olhos. Ele sabe mais sobre essa magia do caos e está preocupado
com isso. Isso não me enche de grande confiança.
— Tudo bem — digo, endireitando os ombros. — Então, qual é o
nosso próximo passo?
— Mais treinamento — diz Ramsey. — O que você fez, trazendo
os rapazes para cá, foi monumental. Você precisa pegar isso e
aprimorar como uma habilidade. Assim como nos shows, você tem
que se adaptar às situações. É o que te faz tão incrível. Por que
você é tão boa no que faz. Você consegue pensar rápido e fora da
caixa.
— Essencialmente, é isso que é a magia do caos — diz Bram. —
Mas há poucos textos sobre isso, pelo que me lembro. É uma magia
antiga que não tem lugar neste mundo e não tem portadores.
— Até agora — diz Tate baixinho, olhando para mim como se eu
tivesse caído da lua.
— Há um lugar que talvez tenha as informações que precisamos
— diz Vex.
— Onde? — pergunto. — Porque é muito bom dizer que preciso
me adaptar às situações. Qualquer ajuda que eu puder conseguir
seria muito apreciada.
Pelo canto do olho, vejo Cathy assentir em aprovação agora que
recuperei minhas boas maneiras e não estou mais agindo como
uma criança mimada.
— Lembra daquele lugar que te falei? — ele murmura.
Franzo a testa e então me lembro que ele mencionou uma
Academia chamada MistHallow. — Sim.
— Lá. Me dê alguns dias. Conheço o diretor. Ele provavelmente
pode ajudar se souber que o mundo sobrenatural está em perigo.
Ele é uma boa pessoa.
— Okay, bem, se você conseguir as informações, sabe onde me
encontrar. Agora, preciso ir para casa, dormir um pouco e tentar
descobrir uma maneira de adiar matar meus rapazes para que a
Morte não leve minha alma.
Ramsey assente. — Eu te acompanho de volta.
Levanto minha mão. — Não. Preciso ficar sozinha. — Seu rosto
cai, e eu lhe lanço um sorriso fraco. — Desculpe por ter te socado.
— Desculpe por ter mentido para você.
Dou de ombros. — Acho que todos nós estávamos escondendo
coisas. Isso precisa acabar.
— Concordo. Não tenho mais segredos.
— Nem eu — diz Josh.
— Eu também não — murmuro, e olho para os rapazes. — Vejo
vocês mais tarde, okay?
Viro-me para sair, mas então faço uma careta. — Hum, como eu
saio daqui?
Vex ri. — Deixe comigo.
— Nem pensar...
A exclamação de Tate é interrompida quando Vex estala os
dedos, e me vejo na escadaria da frente da casa dele, olhando para
o amanhecer em pleno movimento. Sem perder um segundo, volto
para a casa geminada que divido com Ramsey, esperando que Vex
possa encontrar algo que me ajude a entender esse poder. Não
acho que algo possa me dizer como manejá-lo, mas se eu soubesse
por que ele existe e para que foi realmente feito; então talvez eu
tenha uma chance de enfrentar a Morte e vencer.
Atravesso o campus e entro em casa. Subindo as escadas, me
sinto completamente exausta. Os eventos da noite giram em minha
mente: o ultimato da Morte, a descoberta da minha magia do caos,
revelações sobre meu passado e O Sindicato.
Vou direto para o chuveiro, esperando que a água quente ajude
a clarear minha mente. Ligo-o, me dispo e volto a ser Ivy. Poison
não vai me ajudar com isso. Entro e fico sob o jato d'água, tentando
organizar tudo o que aprendi.
Sou uma espécie de falha cósmica. Uma candidata rejeitada
pela Morte com magia do caos imprevisível, e agora esperam que
eu use esse poder para derrubar a Morte e desmantelar O
Sindicato. Em teoria, é um plano sólido. O Sindicato sob o domínio
da Morte parece ser um lugar bem desagradável, e eu estou
contribuindo para isso sendo Poison. Isso tem que acabar agora. De
alguma forma. Mas na prática, sinto que isso pode exigir mais do
que sou capaz de oferecer, e esse pensamento não me agrada.
Lavando-me metodicamente, passo a esponja pelo meu corpo
com os olhos fechados, imaginando-a nas mãos dos meus rapazes.
Ofegante, abro-os para ver Tate comigo, nu e encharcado,
enquanto se aproxima, suas mãos acariciando meus seios enquanto
belisca meus mamilos.
— Você me trouxe aqui? — ele pergunta com um leve sorriso
malicioso.
— Devo ter trazido.
— Magia útil, essa.
— Não é? — Mal consigo dizer isso antes que ele me pegue e
me pressione contra os azulejos frios, sua boca devorando a minha
enquanto deixo cair a esponja e me agarro a ele, envolvendo-o com
minhas pernas.
A boca de Tate esmaga a minha, faminta e exigente. Gemo no
beijo, meus dedos emaranhados em seu cabelo molhado enquanto
a água quente cai sobre nós. Seu corpo rígido me pressiona contra
os azulejos, e a marca na minha lombar arde em uma dor branca e
quente.
Arquejo quando isso provoca uma onda de desejo diretamente
para minha boceta. Não há dúvida de que estou com meu parceiro
destinado. Minha alma sabe.
— Porra, senti sua falta — ele rosna, seus lábios descendo pelo
meu pescoço.
— Eu também — ofego quando ele mordisca meu ponto de
pulso. — Desculpe por ter fugido.
Ele se afasta um pouco, seu olhar intenso encontrando o meu.
— Nunca mais faça isso. Não precisamos que você nos proteja, Ivy.
Só precisamos de você.
Aceno com a cabeça, incapaz de falar devido ao nó na garganta.
Em vez disso, puxo-o de volta para outro beijo ardente. Suas mãos
percorrem meu corpo, deixando rastros de fogo por onde passam.
Arquejo ao seu toque, desesperada por mais.
Tate muda seu aperto, erguendo minhas pernas mais alto ao
redor de sua cintura. Com um único movimento suave, seu pau está
dentro de mim, preenchendo minha buceta completamente. Nós
dois gememos com a sensação.
— Puta que pariu, Ivy — ele ofega contra meu pescoço. — O
que você faz comigo.
Eu só consigo choramingar em resposta enquanto ele
estabelece um ritmo punitivo que impulsiona a avalanche de prazer.
Não há nada além deste momento, nada além de Tate e a foda
primorosa entre nós.
Meu clitóris lateja enquanto Tate me penetra, seu pau grosso me
esticando à perfeição. A água quente cai sobre nós enquanto ele me
fode contra a parede do chuveiro como se não houvesse amanhã,
sua boca deixando beijos quentes ao longo do meu pescoço e
clavícula.
— Tate — eu arquejo, agarrando seus ombros largos. — Oh,
porra, isso!
Ele rosna baixo em sua garganta, aumentando o ritmo. Uma mão
agarra minha bunda enquanto a outra desliza entre nós para
esfregar círculos apertados no meu clitóris. As sensações duplas me
fazem disparar em direção a um orgasmo avassaladoramente
rápido.
— Isso mesmo, princesinha — Tate murmura contra minha pele.
— Se entrega pra mim. Quero te sentir gozar no meu pau.
Suas palavras, combinadas com o prazer implacável, me
empurram sobre o limite. Grito quando meu orgasmo me atinge,
minha buceta se apertando fortemente ao seu redor. Tate grunhe,
enfiando seu pau ainda mais fundo em mim antes de se liberar,
pressionando sua testa contra a minha enquanto somos banhados
pela água que vai ficando mais fria.
A intensidade de nossa conexão, tanto física quanto emocional,
me deixa me sentindo exposta e vulnerável.
— Provavelmente devíamos sair antes que a água fique gelada
— murmuro eventualmente.
Tate concorda, me colocando cuidadosamente de pé sobre
pernas trêmulas. Ele se estende atrás de mim para desligar o
chuveiro, então pega uma toalha para me envolver.
Acho difícil acreditar que o trouxe até mim, nu e pronto para me
empalar em seu pau duro como pedra, mas aqui está ele.
É um pouco assustador, no entanto. O que mais esse novo
poder poderia fazer sem meu controle consciente?
8

IVY

A
estranha da minha vida é diferente do que eu esperava. Não há
pavor, nem ansiedade sobre o que tenho que fazer. Em vez disso,
me sinto estranhamente em paz com minha situação. A Morte pode
ser um tremendo imbecil que quer que eu mate meus caras ou
entregue minha alma, mas há poder em saber quem é seu inimigo.
Mais do que isso, há poder em saber quem e o que você é.
Embora isso seja discutível neste momento. Realmente preciso
descobrir essa merda ou morrerei tentando. Não é exatamente
como eu quero partir.
Eu me espreguiço languidamente, sentindo o zumbido daquela
magia do caos sob minha pele como milhares de bolhas de
champanhe efervescentes correndo pelas minhas veias. Ainda está
lá, esperando para ser liberada, mas não parece tão volátil quanto
ontem à noite. Talvez porque estou começando a aceitá-la como
parte de mim em vez de lutar contra ela. Ou talvez seja porque eu
estava dormindo, e uma vez que eu acorde completamente, o
inferno vai se soltar.
Acho que descobriremos em breve.
Saindo da cama, grata pelo meu pijama quente na manhã fria,
vou até o banheiro e bocejo antes de começar a me arrumar.
De volta ao meu quarto, há uma batida na porta que me faz
pular. A magia do caos surge em resposta ao meu estado
assustado. Faíscas rosa dançam sobre minha pele antes que eu
possa acalmá-la. Franzindo a testa, vou atender, abrindo uma fresta
e olhando para fora, esperando Ramsey.
Em vez disso, é Cathy, parecendo impecável como sempre em
outro terno elegante, desta vez um azul marinho profundo que a faz
parecer ainda mais intimidante que o normal. — Bom dia, Ivy.
Ramsey me deixou entrar. Espero que não se importe com o horário
matinal. Dormiu bem?
— Na verdade, sim — digo, relaxando um pouco, surpreendendo
a mim mesma com a verdade disso. — Me sinto diferente. Como se
tudo estivesse mais nítido de alguma forma, mais real.
Ela acena como se isso fosse exatamente o que esperava,
entrando no quarto enquanto eu a deixo passar com aquela
eficiência graciosa que sempre invejei. — A magia do caos está se
acomodando em seu sistema. Agora que você a reconheceu, está
se tornando mais integrada às suas habilidades naturais. É bastante
fascinante de observar, na verdade.
— Então como é que perder a mãe e o pai não me deu isso? —
solto e então mordo o lábio enquanto espero pela resposta.
Ela suspira. — Não tenho certeza. Eu estava esperando por isso.
Mas nunca veio. Talvez o luto não seja seu gatilho. Ou mesmo a
raiva. A traição parece ser o bilhete.
— Eu me senti traída por eles me deixarem.
— Será mesmo? Não acho que você se sentiu traída, Ivy. Você
estava triste e com raiva, mas não traída. Não realmente.
Abaixo o olhar, absorvendo isso. Suponho que ela esteja certa. À
luz dos eventos recentes, faz sentido.
Ela se move para a janela e olha para o campus. — Vex partiu
para MistHallow. Ele retornará em breve.
— Ok. Você acha que ele vai encontrar alguma coisa?
— O Professor Blackthorn é uma criatura notável. Se ele não
tiver as respostas, ele as encontrará.
— É bom saber disso. Queria que tivéssemos o mesmo aqui em
Thornfield. Em vez disso, temos o insidioso Professor Swann e um
Diretor cujo nome eu nem sei, muito menos vejo seu rosto. Por que
isso?
— Hmm, sobre Swann-
— Ah, vai se foder — rosno. — Você está me dizendo que ele
também faz parte da sua organização?
— Hmm.
Reviro os olhos. — Como vocês se chamam, afinal? — bufo e
me sento na minha cama, puxando meus pés para descansar na
borda e envolvendo meus braços ao redor deles.
— A Resistência.
— Que original.
Ela ri pelo nariz. — Como se O Sindicato fosse tão único.
Bem, ok, ela tem razão nisso.
— Falando em único, além de um erro cósmico, o que eu sou?
Porque agora mesmo, me sinto como uma bobina de Tesla
ambulante.
Ela sorri, mas é tingido de tristeza e algo mais profundo, algo
que me faz pensar que ela sabe mais do que está dizendo. — Você
é algo inteiramente novo, Ivy. Um ser com o potencial de se tornar a
Morte que rejeitou esse destino enquanto ainda estava se formando.
A magia do caos é um resultado dessa rejeição. É energia potencial
pura sem propósito predeterminado. Pense nisso como um rio que
de repente muda de curso. Todo esse poder tem que ir para algum
lugar.
— Então posso usá-lo como quiser?
— Em teoria, sim. Mas é perigoso. Sem o controle adequado,
como eu disse ontem, poderia te despedaçar de dentro para fora.
Pense naquele rio. Se você tentar contê-lo completamente, ele
apenas encontrará outra saída, geralmente de forma destrutiva.
Penso em como foi fácil trazer os caras até mim ontem à noite,
como foi natural acessar esse poder. Tinha sido como respirar, como
se meu corpo soubesse exatamente o que fazer, mesmo que minha
mente ainda estivesse se atualizando. — É estranho. Não sei como
explicar.
— Posso imaginar, mas você precisa agir rapidamente, Ivy. O
tempo não está ao nosso lado com este ultimato. A Morte não vai
esperar para sempre para você fazer sua escolha. Mas primeiro,
vamos ver o que você pode fazer instintivamente.
Ela se move para o centro do meu quarto, fazendo um gesto
para que eu me junte a ela. — Feche os olhos. Sinta o poder dentro
de você. Não tente direcioná-lo ainda, apenas deixe-o fluir
naturalmente.
Faço o que ela diz e me concentro internamente. A magia do
caos responde imediatamente, surgindo através de mim como uma
onda gigante. Luz rosa preenche o quarto, lançando sombras
estranhas nas paredes.
— Bom — murmura Cathy. — Agora, tente manifestar algo
simples. Uma bola de luz, talvez.
Eu me concentro, tentando moldar a energia selvagem em algo
contido. Em vez disso, o quarto inteiro se enche de orbes flutuantes
de luz rosa, cada um pulsando com seu próprio ritmo.
— Interessante — diz Cathy. — Seu poder parece querer se
expandir em vez de se contrair. Vamos tentar outra coisa. Pense em
proteção.
As luzes desaparecem instantaneamente, substituídas por uma
rede de vinhas venenosas que rastejam pelas paredes e teto,
criando uma fortaleza natural ao nosso redor. As vinhas cintilam
com a mesma energia rosa, parecendo belas e mortais ao mesmo
tempo.
— Oh! — digo, olhando para elas com admiração. — Oh.
— O quê? — Cathy pergunta.
— As vinhas. Eu me transformei com elas recentemente. Meus
braços se tornaram as vinhas. Meu Professor disse que era raro.
— Sim, eu sei. Josh me contou.
— Claro — murmuro, mas deixo pra lá. — Então, isso fazia parte
desta magia?
— Não necessariamente. Acho que estas — ela gesticula para
as vinhas — são uma extensão de sua habilidade natural de
transformação, que inclui o que você descreveu.
— Então ela pega o que eu tenho e torna melhor?
Ela acena com a cabeça. — Acho que sim. Embora não
tenhamos estudos de caso, então... — Ela dá de ombros. — Mas
parece que suas habilidades naturais de metamorfo estão
claramente influenciando como a magia do caos se manifesta. A
conexão com as plantas, particularmente as defensivas ou
venenosas, parece especialmente forte.
Aceno com a mão e as trepadeiras recuam, não deixando
nenhum vestígio de que já estiveram lá. Parece natural, como
respirar. — Isso é louco. Mas como faço para que ela faça coisas
específicas? Ontem à noite, acidentalmente trouxe o Tate para cá
quando estava apenas pensando nos rapazes.
— Na verdade, esse é um exemplo perfeito de como a magia do
caos funciona — diz Cathy. — Você tinha uma intenção clara, e o
poder encontrou a maneira mais direta de fazer isso acontecer. O
truque é aprender a ser mais específica com suas intenções,
permitindo ao mesmo tempo que a magia encontre seu próprio
caminho.
Ela demonstra estendendo a mão. Uma pequena chama
aparece, dançando em sua palma. — A magia normal é assim -
contida, direcionada, proposital. A magia do caos... — Ela acena
com a outra mão, e a chama explode em um vórtice giratório de
fogo que preenche a sala antes de desaparecer completamente. —
É selvagem, imprevisível, mas infinitamente mais poderosa.
Eu olho fixamente para o espaço onde o fogo estivera, meu
coração acelerando de empolgação em vez de medo. A magia do
caos dentro de mim responde ao meu entusiasmo, fazendo o ar
estalar com eletricidade. — Mas como você sabe, se não tem
referência? — pergunto algo que de repente parece importante.
— É uma boa pergunta, e realmente, estamos voando às cegas.
Não deveríamos admitir isso, mas você precisa saber. Tudo isso é
um palpite baseado no pouco que sabemos. Toda magia é sobre
sentir a energia, deixá-la fluir naturalmente enquanto a guiamos
suavemente na direção que queremos. Mas pense nisso como
surfar uma onda — ela explica enquanto tento manifestar o poder
novamente. — Você não controla o oceano, mas pode trabalhar com
ele, usar seu poder para levá-la aonde quer ir.
Aceno com a cabeça, focando na energia zumbindo sob minha
pele. Em vez de tentar forçá-la a tomar forma, deixo-a subir
naturalmente, sentindo-a rodopiar ao meu redor. Uma luz rosa
preenche a sala enquanto a magia do caos responde ao meu
chamado.
— Bom — murmura Cathy. — Agora, pense em algo que você
quer que aconteça. Não tente fazer acontecer, apenas mantenha a
intenção em sua mente.
Penso em proteção e em manter meus rapazes a salvo da
Morte. A magia surge, mais forte desta vez, e de repente, a sala
está cheia de trepadeiras espinhosas novamente, mas estas são
diferentes. Elas pulsam com um brilho rosa de aparência tóxica,
pingando uma espécie de seiva luminescente.
— Essas parecem desagradáveis.
Cathy acena com aprovação, cuidadosa para não tocar nas
trepadeiras. — Muito. A magia parece responder aos seus desejos
subconscientes e afinidades naturais. Sua conexão com as plantas,
particularmente as venenosas, é claramente forte. É como se o
poder soubesse exatamente o que você é, tanto Ivy quanto Veneno,
fundidos em algo novo.
Aceno com a mão e as trepadeiras recuam como as últimas, não
deixando vestígio de que já estiveram lá. Mas ainda posso senti-las,
como se estivessem logo abaixo da superfície da realidade,
esperando para serem chamadas novamente. — Está ficando mais
fácil a cada vez.
— Isso é bom, mas também potencialmente perigoso — adverte
Cathy. — Quanto mais fácil se torna, mais tentador será usá-la para
tudo. Você precisa aprender a ter contenção, além de controle.
Agora, vamos tentar algo mais desafiador. Quero que você-Uma
batida na porta nos interrompe. Ramsey coloca a cabeça para
dentro, seu rosto todo curado do meu ataque da noite passada.
Seus olhos se arregalam com a energia rosa ainda crepitando ao
meu redor. — Desculpe interromper, mas o Josh acha que
encontrou algo interessante nos textos antigos. Ah, e seu cabelo
está flutuando.
Rapidamente abaixo meus cabelos levitantes e os sigo até a
cozinha, onde Josh tem vários livros de aparência antiga
espalhados pela mesa. O rosto geralmente alegre de Josh está
sério enquanto aponta para uma passagem específica.
— De onde você tirou isso? — pergunto com uma careta para os
livros decididamente assustadores.
— Do seu Fae das Trevas — ele responde. — Parece que esse
poder pode estar ligado aos Fae antigos de alguma forma, já que
ele tinha esses na biblioteca da família.
— Que fica onde?
— No Reino dos Fae das Trevas.
Pressionei os lábios. — Onde ele está?
— Tirando uma soneca. Olha, podemos falar sobre o gostosão
depois, agora, isso, por favor. — Ele cutuca o livro enfaticamente.
— Sim, desculpe — murmuro. Prioridades.
— É um relato de outro candidato à Morte que rejeitou o cargo.
— Ah é? Quem? Quando? O que aconteceu com eles? Não tão
única afinal, então. Que droga.
Me inclino para examinar o texto desbotado, escrito em uma
língua tão arcaica que me dá dor de cabeça só de olhar.
— Eles se tornaram a Morte.
Pisquei enquanto Cathy soltava uma respiração áspera.
Ramsey tem os braços cruzados firmemente enquanto está ao
lado de Josh, seu olhar fixo em mim.
— Entendo. Então, não há saída para mim. Ou eu morro ou me
torno a Morte.
— Ambos — diz Josh. — Pelo que posso entender, e tenha em
mente que os Fae falam em enigmas, quando você morrer, você se
tornará a Morte. Você não é a rejeitada, Ivy. Você é a escolhida.
Meu coração dispara com isso. — Mas isso não faz sentido. Por
que a Morte quereria levar minha alma se sabe que eu me torno a
Morte quando morrer?
Ele dá de ombros. — Quem sabe?
— Bem, isso é animador — murmuro, mas internamente, estou
guardando essa informação. — E se eu lutar contra isso?
— Você inevitavelmente será despedaçada por isso.
— Quanto tempo até isso acontecer?
— Algumas semanas, mais ou menos. É difícil de ler, mas o que
sei é que, de acordo com isto, o poder deles cresceu
exponencialmente nos dias seguintes ao seu despertar. Eles se
tornaram cada vez mais instáveis até...
— Até que explodiram e se tornaram a Morte como a
conhecemos? Então, o que era a Morte, quero dizer o título, não a
criatura que se tornou isso, antes?
— Outra boa pergunta. A Morte atual está por aí há um bom
tempo. Vex está em MistHallow procurando mais informações, mas
enquanto isso, você precisa se mexer. Os textos sugerem que a
primeira semana é crucial. Ou você aprende a trabalhar com o
poder, ou ele começa a trabalhar contra você.
— Vamos assumir que essa criatura era Fae então, se eles têm
essa informação?
— É uma teoria sólida.
— Eu não tenho nada de Fae em mim — aponto, esperando que
isso importe.
— Exceto quando você está transando com o Bram — Ramsey
se manifesta com um sorriso para mim, que logo desaparece
quando Cathy limpa a garganta e lança um olhar ameaçador para
ele. Escondo meu sorriso, feliz por estarmos bem novamente.
Josh desvia habilmente. — Não acho que a espécie importe. Ou
talvez importe. De novo, quem sabe? Precisamos do Vex.
— Ugh, nunca diga isso em voz alta para ele. O ego dele já é
monumental.
— Qual é o plano em relação ao ultimato? — pergunta Cathy, me
observando atentamente.
— Vou jogar o jogo dele, mas pelas minhas regras. Ele vai
aprender que o veneno pode ser tão mortal para a Morte quanto é
para todos os outros.
— Isso tudo é muito dramático — diz Josh secamente —, mas o
que isso realmente significa em termos práticos?
— Significa que preciso descobrir as fraquezas da Morte e qual é
o seu objetivo final, e significa que preciso encontrar uma maneira
de proteger meus rapazes enquanto faço isso.
— E como exatamente você planeja fazer tudo isso? — pergunta
Ramsey.
— Descobrindo o que ele quer. Até fazermos isso, tudo isso é
inútil.
— Bem — diz Cathy depois de um momento —, acho que já
chega de teoria por enquanto. Precisamos continuar praticando até
termos algumas respostas definitivas.
A Morte pode pensar que me encurralou, mas ele está prestes a
aprender o que acontece quando se encurrala uma videira
venenosa.
Ela cresce.
Ela se espalha.
E, eventualmente, mata tudo em seu caminho.
A questão é: posso aceitar o destino que me foi entregue e
empurrado para debaixo do tapete mental por enquanto?
9

IVY

— C - , - —
instrui Cathy enquanto tento manifestar minha magia do caos de
maneira controlada.
Estamos no jardim dos fundos, que parece mais seguro do que
praticar dentro de casa. O sol da manhã aquece minha pele, mas há
um frio distinto no ar que me faz agradecer pelo suéter grande
demais que estou usando.
— Eu estou me concentrando — murmuro, tentando direcionar a
energia selvagem que corre pelas minhas veias. A aura rosa ao meu
redor pulsa erraticamente, respondendo à minha frustração.
— Não, você está tentando controlá-la — suspira Cathy. —
Lembre-se do que discutimos. Você precisa guiá-la, não forçá-la.
Tudo bem, mas ela não é a que tem poder instável suficiente
para acidentalmente remodelar a realidade. A invocação acidental
de Tate ontem à noite foi apenas o começo - esta manhã, eu já
transformei meu café em um vórtice giratório de estrelas líquidas e
fiz todas as plantas do jardim começarem a cantar.
— Talvez devêssemos tentar algo mais simples — sugere
Ramsey de sua posição segura perto da porta dos fundos. — Como
levitação?
Respirando fundo, tento acalmar meus pensamentos acelerados.
A magia do caos responde às minhas emoções, aprendi isso.
Quando estou com raiva, ela se manifesta como aquelas vinhas
tóxicas. Quando estou com medo, cria barreiras defensivas. Quando
penso nos meus rapazes, eles aparecem. Bem, eles apareceram
ontem. Hoje é um jogo diferente. Mas tentar fazer com que ela faça
coisas específicas quando não estou sentindo emoções fortes é
como tentar pastorear gatos molhados e irritados. Gatos molhados,
irritados, muito explosivos e que dobram a realidade.
— Ok — digo, fechando os olhos. — Vamos tentar isso de novo.
Concentro-me na sensação da magia fluindo através de mim,
tentando não direcioná-la tanto quanto sugerir o que quero. Apenas
uma simples manifestação de luz, só isso. Nada complicado.
O poder aumenta, e ouço Cathy ofegar. Abrindo os olhos, vejo o
porquê - em vez de uma simples bola de luz, criei uma miniatura de
aurora boreal que está dançando pelo jardim. Luzes rosa e verdes
rodopiam pelo ar, belas, mas definitivamente não o que eu estava
mirando.
— Bem — diz Josh alegremente, — pelo menos é bonito.
Aceno com a mão, tentando dissipar as luzes, mas em vez disso,
elas se intensificam, espalhando-se pelo céu. — Hum, isso não é
bom.
— Ivy — diz Cathy cuidadosamente, — talvez devêssemos fazer
uma pausa.
— Não, eu posso consertar isso. — Concentro-me mais,
tentando puxar o poder de volta, mas é como tentar agarrar fumaça
com as mãos nuas. Quanto mais tento controlá-lo, mais ele escapa
de mim.
A aurora começa a girar mais rápido, as cores se aprofundando
para um rico tom púrpura. O ar crepita com energia, fazendo meus
cabelos ficarem em pé. Isso é ruim. Isso é muito ruim.
— Ivy — adverte Ramsey, dando um passo à frente. — Seus
olhos estão brilhando.
Antes que eu possa responder, o poder aumenta novamente,
mais forte desta vez. Uma onda de magia explode para fora, e de
repente, o jardim está cheio de pessoas. Tate, Torin e Bram
aparecem primeiro, parecendo confusos e ligeiramente
desarrumados. Então Vex se materializa, no meio de uma conversa
com alguém que não reconheço. Mais figuras surgem do nada -
estudantes de Thornfield, pessoas aleatórias da cidade, até mesmo
algumas criaturas que tenho certeza que não são deste reino.
— Merda — sussurro enquanto a magia continua a sair de
controle. A aurora acima de nós se tornou um vórtice giratório de
energia, puxando a própria realidade. Objetos começam a aparecer
e desaparecer aleatoriamente. Árvores se transformam em fontes, a
grama se torna cristal, a cerca do jardim se transforma em uma
parede de sombras vivas.
— Que diabos? — exige Torin, abaixando-se quando um bando
do que parecem ser pássaros parecidos com fênix surge acima de
sua cabeça.
— Ivy! — grita Tate, tentando me alcançar através do caos. —
Você precisa parar!
— Eu não consigo! — O poder é forte demais, selvagem demais.
Ele se alimenta do meu pânico, ficando mais forte a cada segundo
que passa. O vórtice acima de nós cresce, ameaçando rasgar o céu.
Bram tenta usar sua magia Fae das Trevas para conter o caos,
mas ela simplesmente absorve seu poder, adicionando-o ao
turbilhão. Mais pessoas continuam aparecendo. O Professor Swann
se materializa brevemente antes de desaparecer novamente,
substituído por um grupo de sereias confusas se debatendo na
grama cristalina.
— Concentre-se, Ivy! — grita Cathy sobre o vento crescente. —
Não lute contra isso. Trabalhe com isso!
Fácil para ela dizer quando a realidade não está se
desenrolando ao nosso redor. Posso sentir o poder se acumulando
até um ponto crítico, como uma represa prestes a estourar. Se eu
não fizer algo logo...
Uma mão quente agarra a minha, e olho para cima para ver Tate
ao meu lado. Apesar do caos, ele conseguiu me alcançar. Seu toque
me ancora, o vínculo do destino entre nós zumbindo com energia,
iluminando a marca nas minhas costas em um clarão branco quente
que me faz ofegar e me traz de volta à terra.
— Deixe-me ajudar.
Eu assinto, grata por sua presença. Ele entrelaça nossos dedos,
e sua magia flui para mim através de nossa conexão, não tentando
controlar meu caos, mas trabalhando com ele, apoiando-o. Os
outros rapazes parecem entender o que está acontecendo. Torin e
Bram se aproximam, adicionando seu poder à mistura.
Minha magia responde à energia deles, e os surtos selvagens
começam a se estabilizar. Lenta e cuidadosamente, guio o poder de
volta, não lutando contra ele, mas encorajando-o a se acalmar. O
vórtice acima de nós encolhe, as manifestações aleatórias
diminuindo.
— Isso mesmo — murmura Tate. — Você consegue.
Com um último esforço, puxo a magia de volta para mim. O
vórtice colapsa, a aurora desaparece e a realidade volta ao normal.
As criaturas invocadas somem, retornando para onde quer que
tenham vindo. O jardim volta ao normal, embora a grama
permaneça ligeiramente cintilante.
Desabo contra Tate, exausta. — Caramba.
— Na verdade — diz Cathy, examinando as consequências, —
isso foi bem impressionante.
Olho para ela incrédula. — Impressionante? Eu quase rasguei
um buraco na realidade!
— Sim, mas você também conseguiu consertar. Com ajuda —
acrescenta ela, acenando para os rapazes, — mas ainda assim.
Você está aprendendo.
— Aprendendo a quê? Acidentalmente invocar metade de
Thornfield e transformar o jardim em um show de luzes?
— Aprendendo a trabalhar com seu poder em vez de contra ele
— ela explica. — Quando você parou de tentar controlá-lo e aceitou
ajuda, a magia respondeu positivamente.
Olho ao redor para os outros. Ramsey e Josh estão verificando o
jardim em busca de quaisquer efeitos persistentes, enquanto Torin,
Bram e Tate ainda não soltaram minhas mãos.
— Foi aterrorizante — admito baixinho.
— Mas educativo — diz Tate, apertando minha mão. —
Aprendemos que seu poder responde bem à nossa energia. Isso
pode ser útil.
— Também aprendemos que posso acidentalmente invocar
pessoas através de grandes distâncias e potencialmente remodelar
a realidade quando perco o controle. Isso é menos útil e mais
aterrorizante.
— Tudo faz parte do aprendizado — insiste Cathy. — Embora
talvez devêssemos fazer uma pausa antes de tentar qualquer outra
coisa.
Aceno fracamente com a cabeça, ainda me apoiando em Tate. A
magia se acalmou um pouco, mas posso senti-la zumbindo sob
minha pele, pronta para agir.
— Da próxima vez — diz Ramsey, pegando o que parece ser
uma flor cristalizada — talvez devêssemos praticar em algum lugar
mais remoto.
— Concordo — diz Cathy com um aceno de cabeça.
Fecho os olhos, sentindo a energia remanescente no ar. Esse
poder é mais perigoso do que eu percebia, mas também mais
conectado aos rapazes do que eu esperava. Talvez essa seja a
chave - não tentar lidar com isso sozinha, mas trabalhar juntos.
— Vem — diz Tate suavemente. — Vamos te levar para dentro
antes que você acidentalmente invoque um Dragão ou algo assim.
— Nem brinque com isso — murmuro, mas permito que ele me
guie em direção à casa.
Ao chegarmos à porta, olho de volta para o jardim. Apesar de ter
voltado quase ao normal, ainda há um leve brilho rosa no ar, como
um eco do que aconteceu. Um lembrete de que meu poder, embora
bonito, também é potencialmente catastrófico.
Preciso aprender a controlá-lo melhor e rápido. Porque da
próxima vez, talvez não tenhamos tanta sorte.
10

TATE

I
para o que acabamos de presenciar e no que fomos envolvidos.
Aterrorizante, talvez. Inspirador, definitivamente. O poder bruto que
Ivy possui está além de qualquer coisa que eu já tenha encontrado,
e como um dos bruxos mais poderosos do reino, supostamente, isso
é dizer algo.
— Isso foi intenso pra caralho — Torin murmura, se juntando a
nós. Suas roupas estão levemente úmidas por ter ajudado o povo
do mar. — Precisamos conversar sobre isso.
Lanço-lhe um olhar de advertência. Agora não é hora para uma
de suas palestras sobre controle e responsabilidade. Ivy precisa de
descanso e apoio, não de críticas.
— Depois — digo firmemente.
Depois de acomodá-la no sofá com uma xícara de chá, me junto
a Torin e Bram na cozinha, secos com magia e procurando algo
decididamente mais forte que chá.
— Isso é ruim — Torin diz sem rodeios. Ele parece pálido por ter
ficado exposto ao sol direto e àquele show de luzes. Isso deve tê-lo
enfraquecido provavelmente mais do que ele está demonstrando. —
Esse tipo de poder não é natural.
— Nada nessa situação é natural — ressalto. — Ela é
literalmente uma falha cósmica.
— Uma falha cósmica que pode rasgar buracos na realidade —
Bram acrescenta. — Vocês sentiram como ela absorveu minha
magia facilmente? Foi como jogar um fósforo em uma fogueira.
Passo a mão pelo meu cabelo ainda molhado, frustrado. — Qual
é o ponto? Não podemos exatamente colocar o gênio de volta na
lâmpada. O poder agora faz parte dela.
— O ponto é — Torin diz, baixando a voz — que precisamos
descobrir como ajudá-la a controlar isso antes que ela
acidentalmente remodele a realidade ou invoque algo que não
possamos lidar.
— Vocês viram o que aconteceu lá fora — argumento. —
Quando trabalhamos juntos, apoiando-a em vez de tentar conter seu
poder, ele respondeu a nós, através dela.
— Sim, desta vez — Bram murmura. — Mas e na próxima? E se
não estivermos lá para ajudar?
O pensamento me causa calafrios. Por mais que eu odeie
admitir, ele tem razão. — Então garantiremos que estaremos lá.
Todos nós.
— E a Morte? — Torin pergunta. — O que acontece quando ele
descobrir o quão poderosa ela se tornou? Você acha que ele vai
deixar alguém com esse tipo de poder andar por aí livremente?
— Ele já sabe — uma voz diz da porta. Nos viramos para ver
Cathy parada ali, sua expressão sombria. — Por que você acha que
ele está tão desesperado para controlá-la ou tomar sua alma? Esse
poder está além de qualquer coisa que até ele poderia esperar.
— O que você quer dizer? — exijo saber.
Cathy suspira, entrando mais na cozinha. — Aprendemos com
os textos que Bram deu a Josh que a Morte já foi como Ivy. Ele
rejeitou o poder, mas em vez de torná-lo seguro dele, o poder o
escolheu. O mesmo é dito para Ivy. Agora, acredito que a Morte não
chegou tão longe. Ele falhou antes que pudesse. Ivy é notável. Ela é
algo verdadeiramente único. Ela não está apenas canalizando o
caos - está se tornando o caos encarnado.
— Então você está dizendo que Ivy foi escolhida para se tornar a
Morte? — arrisco.
— Sim.
— E que ela é o caos? A Morte Caótica à solta?
— Potencialmente.
As implicações dessa declaração pairam pesadas no ar. Penso
em como foi natural quando nossas magias se combinaram, como
pareceu certo. — É por isso que nosso poder ajuda a estabilizar o
dela? Porque somos de alguma forma suas âncoras?
— Possivelmente — Cathy assente. — Sua conexão com ela
parece ajudá-la a se concentrar no caos em vez de ser consumida
por ele.
— Então, o que fazemos? — Bram pergunta.
— Nunca podemos deixá-la sozinha — murmuro.
— Mas e se não formos suficientes? — A voz de Torin é baixa,
mas intensa. — E se ela perder o controle novamente e não
pudermos ajudá-la?
Encaro seu olhar firmemente. — Então lidaremos com isso se
acontecer. Mas não vou desistir dela. Não posso.
A marca do destino no meu peito arde em concordância. Minha
conexão com Ivy vai além da lógica ou da razão - é profunda na
alma, inabalável.
— Nenhum de nós vai — Bram diz após um momento. — Isso é
muito, mas não faz diferença em como nos sentimos em relação a
ela.
Torin assente lentamente. — Tudo bem. Mas precisamos de um
plano melhor do que apenas esperar pelo melhor. Precisamos
entender melhor esse poder.
— Vex acha que pode ajudar com isso — admito a contragosto.
— Se ele encontrar algo útil em MistHallow, então tudo bem.
— Falando em Vex — Bram declara, com os olhos estreitados.
— Qual é o seu problema com ele?
— Ele é um idiota — respondo bruscamente.
— É, não estou comprando essa. Há mais nessa história do que
você está dizendo.
Rangendo os dentes, olho furiosamente para ele, afastando o
ódio que tenho por aquele homem. — Não faço ideia do que você
está falando.
— Ah, claro — ele murmura e suspira, irritado com minha
evasiva.
— Deixe isso pra lá — Torin esbraveja. — E quanto a Ivy se
tornar a Morte? O que diabos isso significa? Ela tem que sair por aí
coletando almas? Ela perde a vida como conhece? E quanto a nós?
Cathy dá de ombros. — Tudo isso é território inexplorado. Não
sabemos nada além do que estava nos livros da família de Bram e o
que sabíamos de nossa própria pesquisa limitada.
— Falando de mim? — Ivy pergunta, entrando na cozinha, me
fazendo perceber que a deixamos sozinha por muito tempo.
— Só nos atualizando — digo com um sorriso.
Ela não o retribui. Ela não está com humor para ser persuadida
pelo charme, pelo que parece.
Os olhos de Ivy se estreitam enquanto ela olha entre nós. — Não
me venha com essa. Sei que vocês estão falando sobre o que
acabou de acontecer e o que isso significa. Então desembuchem.
Troco olhares com os outros, incerto sobre quanto revelar. Cathy
intervém suavemente.
— Estávamos discutindo a natureza de seus poderes e como
poderíamos ajudá-la a controlá-los melhor — ela diz. Não é uma
mentira, mas também não é toda a verdade.
Ivy não está comprando. — Isso não é tudo.
— Estamos preocupados — Torin admite. — Esse tipo de poder
é perigoso, Ivy. Para você e para todos ao seu redor.
Seu rosto endurece. — Você acha que eu não sei disso? Acha
que não estou aterrorizada com o que posso fazer se perder o
controle de novo?
— Não é isso que ele quis dizer — digo rapidamente, movendo-
me em sua direção. Mas ela dá um passo para trás, seus olhos
brilhando com mágoa e raiva.
— Não é? Porque parece que vocês todos estão com medo de
mim. Como se achassem que sou algum tipo de monstro que
precisa ser contido.
— Ninguém pensa isso — diz Bram com firmeza. — Estamos
apenas tentando descobrir como ajudar você.
Lágrimas se acumulam nos olhos dela, e eu a puxo para mim,
envolvendo-a firmemente em meus braços. — Ivy, estamos aqui
para ajudar você da maneira que quiser. Basta nos dizer do que
precisa, e nós providenciaremos.
Ela funga em meu peito, e então um telefone no balcão vibra
bruscamente, cortando o silêncio.
11

IVY

O R ,
sala congelarem.
Ele se apressa e o agarra, verificando-o com uma expressão de
desagrado. Ele olha para mim com um olhar sombrio.
— Uma missão? — pergunto, arqueando a sobrancelha.
— Sim.
— E eu deveria simplesmente aceitar e seguir alegremente para
entregar uma alma à Morte que pode ser uma armadilha do
sistema?
— Você não tem muita escolha — ele diz baixinho.
Ele está certo. Eu sei que está. Ignorar O Sindicato não é uma
opção. — O que diz?
Ele vira o telefone para me mostrar.
ALVO: David Beech LOCAL: Cemitério Thornfield HORA: Meia-
noite Franzo a testa para a mensagem. — Nenhuma espécie ou
outra informação? Como diabos devo saber como matá-lo?
— Isso é incomum, tenho que admitir — murmura Ramsey. —
Deixe-me ligar e ver se consigo descobrir algo.
Ele disca e pressiona o telefone contra o ouvido enquanto
desaparece da cozinha.
Ramsey retorna alguns minutos depois, sua expressão ainda
mais perturbada. — Algo não está certo. O Sindicato não tem
informações adicionais. Nenhuma. É como se esse alvo
simplesmente tivesse aparecido no sistema.
— O quê? Isso não faz sentido. Todo alvo tem um arquivo, um
histórico, um motivo para ser marcado. — A magia se agita sob
minha pele, respondendo à minha inquietação. Energia rosa crepita
nos meus dedos. — Alguém poderia ter hackeado o sistema?
— Apenas a Morte tem esse tipo de acesso — diz Ramsey
baixinho.
Todos deixamos isso ser absorvido. As implicações são claras -
isso não é apenas uma missão, é um movimento deliberado no jogo
que a Morte está jogando.
— Pode ser um teste — diz Tate.
— É exatamente isso. Ele está testando como eu vou lidar com
uma missão impossível.
— A questão é — diz Bram de sua posição perto da janela — o
que ele realmente está procurando?
Olho para minhas mãos. Desde o incidente desta manhã, meu
poder tem se sentido diferente. Está mais integrado, menos
propenso a explodir, mas também de alguma forma mais profundo,
como se estivesse esperando por algo.
— Só há uma maneira de descobrir — digo finalmente. — Tenho
que ir.
— Não sozinha — diz Tate imediatamente.
— Ele quer ver o que vamos fazer — murmuro. — Todos nós.
— Então vamos dar exatamente o que ele quer — diz Torin. —
Estou cansado de ser o fantoche desse idiota.
— Concordo — rosno e marcho para o andar de cima até meu
quarto, batendo a porta atrás de mim enquanto tento entender do
que se trata tudo isso. Abro a caixa de armas e olho para elas,
decidindo o que diabos devo levar comigo nesta missão.

C - ,
de descobrir o que a Morte quer com essa charada. Estou na frente
do meu espelho, tendo me transformado em Poison para participar
deste jogo.
— Pronta? — Tate pergunta da porta.
Viro-me para encará-lo, notando como seus olhos acompanham
a energia rosa que flui ao meu redor. — O máximo que posso estar.
Partimos a pé, já que não é tão longe a ponto de precisarmos
dirigir. A lua cheia paira no céu, o que torna as vibrações
assustadoras que estou sentindo muito piores. O cemitério à meia-
noite é exatamente tão sinistro quanto você imaginaria. O luar
projeta longas sombras entre as lápides, e uma leve névoa se
enrola em torno dos meus tornozelos enquanto percorro os
caminhos familiares. Sozinha, mas não. Os rapazes estão me
observando de pontos estratégicos. Tate na antiga torre da igreja,
Torin entre os carvalhos antigos e Bram nas sombras do mausoléu.
Sua presença é um conforto, mesmo que eu não possa vê-los.
O cemitério parece vazio, mas meus sentidos me dizem o
contrário. Há uma perturbação no ar, uma ondulação na realidade
que envia arrepios pela minha pele.
— Senhorita Hammond — a voz da Morte ecoa de todos os
lugares, me fazendo pular. A névoa se adensa ominosamente.
Ele se materializa na minha frente, seu rosto esquelético sorrindo
mais largo que o normal. — Ah, o caos encarnado. Você superou
todas as expectativas.
— Olá, David Beech — digo.
Ele ri e se aproxima, imune às vinhas tóxicas que instintivamente
brotam ao meu redor. — Ele era bastante parecido com você,
Senhorita Hammond. Alguém que desafiou seu caminho pretendido.
Não terminou bem para ele.
— Isso deveria ser um aviso?
Sua risada é como ossos chacoalhando. — Mais como uma
prévia. A menos que...
O ar muda, e de repente, o cemitério está cheio de criaturas
sombrias, mais sólidas do que as que encontrei no reino da Morte.
Elas se movem entre as sepulturas, não atacando, mas
definitivamente ameaçadoras.
— A menos que o quê? — exijo, convocando mais poder para
mim. A energia rosa rodopia mais rápido, misturando-se com a
névoa para criar uma tempestade de caos e magia ao nosso redor.
— A menos que você aprenda a realmente abraçar o que você é.
— A Morte acena com a mão, e a realidade ondula. — Mostre-me,
pequena portadora do caos. Mostre-me o que você realmente pode
fazer.
As criaturas sombrias avançam, não para me atacar diretamente,
mas para cortar qualquer rota de fuga. Sinto os rapazes se
tensionando em suas posições, prontos para intervir, mas algo me
diz que é exatamente isso que a Morte quer.
— Eu já sei o que posso fazer — digo, deixando a magia do caos
fluir livremente. Energia rosa preenche o cemitério, e a realidade
começa a se dobrar ao nosso redor. — A questão é, você pode me
impedir?
O chão sob nós se transforma, vinhas tóxicas tecendo padrões
que pulsam com energia caótica. As sombras tentam atravessá-las,
mas recuam, sibilando. Interessante.
— Fascinante — murmura a Morte, observando enquanto meu
poder continua a se espalhar. — Você está aprendendo a moldar a
realidade rapidamente. Mas consegue manter o controle quando
tudo desmorona?
Ele levanta sua mão esquelética, e as criaturas sombrias de
repente se multiplicam, centenas delas enchendo o cemitério. Elas
começam a rasgar o tecido da realidade, criando fendas no ar
através das quais vislumbro outros reinos, outras possibilidades.
Energia rosa explode para fora em uma onda que congela tudo -
as sombras, as fendas na realidade, até mesmo a névoa. O tempo
parece parar, preso em meu poder.
Os rapazes se materializam ao meu lado, atraídos pela magia.
Seu próprio poder se soma ao meu, apoiando-o e deixando sua
energia se fundir com o caos.
A energia rosa pulsa, e as criaturas sombrias se dissolvem no
nada. As fendas na realidade se selam, deixando apenas uma tênue
aurora rosa dançando no ar.
A Morte permanece perfeitamente imóvel, observando essa
exibição com o que parece ser satisfação. — Muito bem. Você já
aprendeu a lição mais importante - o caos não deve ser controlado,
apenas guiado.
— Por que este teste? — exijo, mantendo meu controle sobre a
magia. Ela vibra através de mim, pronta para ser liberada a qualquer
momento. — Por que criar uma tarefa falsa?
— Para ver o que você faria, é claro. Para entender como seu
poder evoluiu. — Ele se aproxima, indiferente às vinhas tóxicas que
o atacam. — Você deveria ser minha sucessora, mas em vez disso,
tornou-se algo completamente diferente. Algo novo.
— Desculpe estragar seus planos — digo, sem nenhum
arrependimento.
Ele ri novamente. — Oh, mas você não estragou. Não realmente.
Você apenas os complicou. Da maneira mais deliciosa. — Suas
órbitas vazias se fixam nos rapazes. — Sua conexão com esses três
é fascinante. A forma como sua magia interage com o poder deles é
muito informativa.
— O que você realmente quer? — Tate exige, com faíscas
negras voando de seus dedos.
— Querer? Eu quero ver como isso se desenrola. — A Morte
abre suas mãos esqueléticas. — O caos é mudança, e a mudança
está chegando. A questão é: você será seu arauto ou sua vítima?
Antes que qualquer um de nós possa reagir, ele desaparece,
levando consigo a atmosfera opressiva. O cemitério volta ao normal,
embora minhas vinhas tóxicas permaneçam, brilhando suavemente
sob o luar.
— Bem — diz Bram depois de um momento —, isso foi
anticlimático.
— Ele está jogando um jogo mais longo do que pensávamos —
observa Torin. — Isso não era apenas sobre testar seus poderes.
— Não — concordo, observando a energia rosa ainda dançando
no ar. — Ele queria ver como trabalhamos juntos. Como a magia do
caos responde à presença de vocês.
— E? — Tate insiste.
Olho para minhas mãos, onde a energia rosa ainda flui como luz
estelar líquida. — E acho que ele conseguiu exatamente o que
queria. Ele sabe agora que sou mais forte com vocês, que a magia
do caos responde de forma diferente quando estamos juntos.
— Isso é ruim? — pergunta Bram.
— Não sei. — Encontro seus olhares um por um. — Mas acho
que acabamos de mostrar nossas cartas, e a Morte definitivamente
está jogando com cartas que ainda não posso ver.
Tenho quase certeza de que ele mudou de ideia sobre eu matar
os rapazes agora. Ele pode ver que seria desvantajoso para
qualquer jogo final que ele tenha.
Mas a questão é: o que a Morte planeja fazer com esse
conhecimento?
O que vamos fazer a respeito?
Isso é apenas o começo de algo muito maior do que qualquer
um de nós percebe, mas precisamos nos atualizar e rápido antes
que a Morte venha atrás de todos nós.
12

TORIN

O
residual. Energia rosa dança através da névoa como uma aurora
boreal. Vendo Ivy usar tal poder, começo a entender por que sou
instintivamente atraído por ela. Cresci com lei e ordem. Ia contra
minha natureza vampírica, que só queria se rebelar a cada
oportunidade. Mas para isso, havia punições severas da querida
Mamãe. Papai era mais do tipo "não dou a mínima" do que ela.
Agora que estou quase livre do controle deles e posso fazer o que
bem entender, aquele lado meu que quer causar o caos e ver no
que dá, buscou essa criatura que pode trazer a destruição. Não é
que eu não tenha me apaixonado por Ivy. Eu me apaixonei. E muito.
Mas antes de saber quem ela era, o que ela era, quando a conhecia
apenas como Veneno, foi instinto.
— É, anticlimático — murmuro, mas não estou convencido. Algo
aconteceu aqui; só não temos acesso a isso. Ainda. Teremos assim
que pudermos descobrir que diabos está realmente acontecendo
aqui. Sinto que estou perdendo algo que deveria saber, mas tentar
identificar é como tentar fixar um único feixe em um show de luzes
laser.
Meu telefone vibra no bolso. Com uma careta, o tiro e encaro a
tela. O nome da minha mãe aparece. Claro que ela ligaria agora. O
momento é perfeito demais para ser coincidência.
— Preciso resolver uma coisa — digo aos outros, me afastando.
Ivy me observa partir, ainda disfarçada de Veneno. Não posso negar
a atração. Quero jogá-la no chão, rasgar suas roupas e empalá-la
no meu pau até não restar mais nada dentro de mim para despejar
em sua buceta.
Atendo quando estou fora do alcance de voz. — Que foi?
— Bem, isso é rude.
— Quem se importa? O que você quer?
Sinto uma satisfação doentia em falar com ela desse jeito e ouvi-
la bufar e se atrapalhar. Ela não está acostumada, mas não há nada
que possa fazer comigo agora. Estou farto.
— Suponho que o entretenimento no cemitério tenha terminado?
— Sua voz é ártica, carregando aquele tom de superioridade que
sempre me irrita.
— Você sabia sobre isso.
— Eu sei tudo sobre onde você está e o que faz — ela diz.
Estreitando os olhos, afasto o telefone do ouvido. Aquela vadia.
Seu tom se afia. — Mas esqueça isso. É hora de você se
lembrar de onde veio. O Coven se reunirá em alguns dias. Espero
que você esteja lá, pronto para assumir seu lugar como herdeiro de
seu pai.
Aperto o telefone com mais força. — Não.
— Como é que é?
— Eu disse não. — As palavras soam como correntes se
quebrando. — Cansei de ser seu peão, Mãe. Encontre outra pessoa
para manipular.
— Não seja ridículo. Você é meu filho. Tudo que fiz foi para
garantir seu futuro.
— Não — corrijo-a —, tudo que você fez foi para garantir seu
poder. Mas acabou pra mim, você, o Coven e esse nome de família.
— Seu ingratozi... — Sua voz é cortada abruptamente. Quando
fala novamente, seu tom é perigosamente calmo, o que aprendi que
nunca é um bom sinal. — Você vai se arrepender disso, Torin. O
Coven não é gentil com desertores.
— Pode me ameaçar o quanto quiser — digo, me sentindo
estranhamente liberto. — Não vou voltar.
— Isso é por causa daquela bruxa do caos, não é? — ela sibila.
— Acha que não sei o que está acontecendo? Ela vai destruir você,
Torin. Vai destruir tudo.
Olho de relance para Ivy, ainda brilhando com energia rosa. —
Talvez. Mas pelo menos será minha escolha.
Desligo antes que ela possa responder, sabendo muito bem que
isso não é o fim. Mas não me importo. As coisas mudaram, e já era
hora da minha mãe perceber isso.
Bruxa do caos.
As palavras ecoam em minha mente. Bruxa. Não vadia. Bruxa.
Minha mãe geralmente não mede as palavras, então será que ela
quis dizer bruxa no sentido de espécie e não como insulto? Olho
para Ivy novamente. Faz sentido. Bruxas são naturalmente
talentosas em magia. É quem elas são; é sua razão de ser. O resto
de nós aprende. É algo que temos, mas não nos define. Bruxas e
bruxos, no entanto? Isso é diferente. Meu olhar se alterna entre Ivy
e Tate, e o Death Tetris começa a encaixar as peças em minha mão.
Eu sabia que não estava vendo tudo, mas isso não é tudo.
É algo, no entanto.
E aquela vadia da minha mãe é a causa. Claro que é. Ela se
certificou disso. Ela sabe como meu cérebro funciona. — Puta que
pariu — murmuro e volto para os outros.
Eles estão em uma discussão profunda sobre os motivos da
Morte. Ivy olha para cima quando me aproximo, seus olhos se
estreitando levemente.
— Tudo bem? — ela pergunta.
Aceno com a cabeça, ainda não pronto para compartilhar os
detalhes disso. Preciso de mais fatos. — O de sempre, minha mãe
sendo uma vadia completa. O que perdi? — Jogo o telefone no chão
e o esmago com minha força vampírica.
Ivy olha fixamente para ele e lambe os lábios. — Tem certeza de
que está bem? — ela pergunta, pegando minha mão e entrelaçando
nossos dedos.
O simples ato me faz sentir como um deus. Não consigo explicar,
e nem tenho certeza se quero. Aceno uma vez, e ela aceita que não
quero falar sobre isso.
— Estávamos apenas discutindo nosso próximo passo — diz
Tate. — Morte claramente tem um plano, mas ainda estamos no
escuro sobre o que é.
— Precisamos de mais informações — diz Bram, passando a
mão pelos cabelos escuros. — Sobre a Morte, sobre magia do caos,
sobre tudo.
— Vex pode ter encontrado algo útil em MistHallow — Tate
admite a contragosto. — Ele deve voltar logo.
Ivy acena. — Vamos sair e reagrupar. Para ser honesta, acho
que entrar às cegas em situações agora é uma má ideia.
Precisamos segurar o fogo e esperar para ver se Vex tem algo útil.
Se não, então nós...
— Estamos ferrados? — pergunto com um sorriso irônico.
Ela ri. — É, mas eu ia dizer, então vamos entrar com tudo e
descobrir a merda depois.
— Uma mulher do meu coração — murmuro, puxando-a para
mais perto.
Ela roça os lábios nos meus com um sorriso lento antes de se
virar e sair, deixando-nos para segui-la.
13

TATE

D I ,
outros caras voltamos para nossa casa do outro lado do campus.
Torin e Bram desapareceram, me deixando remoendo na cozinha
com um copo de uísque, forte o suficiente para fazer sua cabeça
girar. Mas é necessário. Algo não está se encaixando aqui. Estamos
perdendo algo vital sobre quem Ivy é. Eu simplesmente não consigo
descobrir porque não consigo clarear minha mente o suficiente para
fazê-lo. Não que a bebida vá ajudar. Na verdade, provavelmente vai
piorar as coisas.
Uma batida forte na porta dos fundos me faz levantar o olhar do
redemoinho de líquido âmbar que balança no copo enquanto o giro.
Atravessando até lá, lanco um olhar furioso para o idiota do outro
lado. — Você.
Vex sorri ironicamente e levanta um livro que já viu séculos
melhores e crepita com magia negra.
— Você vai trazer isso para dentro da minha casa? — pergunto,
apontando para o livro com o copo.
— Só se você quiser saber o que eu sei.
Isso me faz dar um passo para o lado com uma careta. De jeito
nenhum vou deixar que ele tenha informações sobre Ivy que eu não
tenho. — Vou chamar todo mundo.
— Não. Só você.
Franzindo a testa, sento-me em uma ponta da mesa da cozinha,
e ele ocupa o outro lado.
O grimório que ele trouxe de MistHallow fica entre nós, suas
páginas antigas zumbindo com energia sombria. Isso me dá
arrepios.
Nuvens de tempestade se juntam lá fora, combinando com meu
humor. O suave tamborilar da chuva contra as janelas preenche o
pesado silêncio entre nós.
— Você precisa ler isso — diz Vex finalmente, sua expressão
habitualmente presunçosa ausente. — Encontrei algo interessante
enquanto pesquisava sobre a magia do caos.
— E você tinha que me mostrar sozinho? Poderia ter
simplesmente mandado uma mensagem. — Giro novamente o
líquido âmbar no meu copo, observando a luz refletir nele.
Ele se mexe desconfortavelmente na cadeira, um sinal de alerta
de que seja lá o que esse livro contém, eu não vou gostar. — Não
sobre isso.
Um relâmpago brilha lá fora, iluminando a cozinha. O grimório se
move em resposta, energia sombria ondulando em sua superfície.
— O nome de solteira da sua mãe era Sarah Well — declara
Vex, recostando-se. Suas palavras caem na cozinha silenciosa
como pedras em águas paradas. — Antes de se casar com seu pai.
Congelo, com o copo a meio caminho dos lábios. O uísque
reflete a luz do abajur, brilhando como âmbar. — Eu sei disso. E
daí?
— Porque o nome de solteira da minha mãe também era Well. —
Ele abre o grimório em uma árvore genealógica, o pergaminho
envelhecido estalando sob seus dedos. Apontando para dois ramos
que se separaram décadas atrás, ele continua: — Elas eram irmãs.
O uísque queima quando o viro de uma vez. A chuva tamboria
constantemente contra as janelas, percussão da natureza para esta
retorcida reunião familiar. — Somos primos?
Ele balança a cabeça. — Não. Pior.
— Pior? — Sinto um espinho de pavor no meu sangue. O que
poderia ser pior do que ser primo dele? Ah, você tinha que
perguntar, não é?
Vex ri. — Seu pai transou com a minha mãe.
— Ah, pelo amor de tudo que é profano — murmuro, resistindo à
vontade de vomitar. — Você está de sacanagem comigo?
— Quem dera eu estivesse. Explica por que nos odiamos à
primeira vista na universidade, mano. — Sua risada é amarga,
ecoando no pequeno espaço entre nós.
— Vai se foder — rosno. — Não acredito nisso nem por um
segundo.
Um trovão ruge lá fora enquanto penso naquele primeiro dia em
Thornfield há três anos, o choque instantâneo de poder entre nós.
Como tinha parecido familiar de alguma forma, mesmo quando
tentávamos nos arremessar pelo pátio.
— Por que me contar agora? — pergunto, estudando as linhas
intrincadas da árvore genealógica, apesar da minha relutância em
aceitar essa tragédia. Nomes e datas se espalham pelo pergaminho
como uma teia, conectando pessoas há muito mortas a nós dois
sentados na minha cozinha escurecida pela chuva.
— Porque estou indo embora. — Ele fecha o grimório
cuidadosamente, o couro antigo rangendo. — Não posso recusar, e
para ser bem honesto, quando a Morte descobrir que o traí, minhas
bolas estarão na linha de corte. Eu não confio exatamente que
vocês vão salvar minha bunda quando a hora chegar, entende?
Eu o estudo - meu rival, meu meio-irmão, essa pessoa que
passei três anos odiando por razões que nunca entendi
completamente. A semelhança está lá, agora que sei o que
procurar. Algo no formato do seu queixo, no ângulo das maçãs do
rosto. — Isso não muda porra nenhuma.
— Não. Não vamos de repente nos tornar melhores amigos só
porque somos família.
— Com certeza que não. — Penso em Torin, que se tornou mais
família para mim do que qualquer parente de sangue jamais
poderia. Naquela noite chuvosa em um beco que mudou tudo. —
Família é o que você faz dela, de qualquer forma.
Vex assente, um entendimento passando entre nós como um
relâmpago. — Isso não é tudo que este livro tem. Você vai achar
uma leitura interessante. Tem informações sobre magia do caos que
podem ajudar com tudo. — Ele se levanta.
— Tente não ser um babaca tão grande em MistHallow — digo,
mas não há verdadeiro rancor nisso. É estranho como uma
revelação pode drenar anos de antagonismo.
Ele ri, e então se vai, me deixando com um grimório cheio de
segredos e uma conexão familiar que eu nunca esperava. A chuva
continua a cair lá fora, lavando o velho enquanto algo novo toma
seu lugar.
Sirvo outro uísque e puxo o grimório para mais perto, pensando
em Ivy, em magia do caos e linhagens, na família que você escolhe
versus a família em que você nasce, no poder que reconhece o
poder, e nas conexões que correm mais profundas que o sangue.
Um relâmpago brilha novamente, iluminando os ramos
intrincados da árvore genealógica. Às vezes, o passado te
surpreende. Às vezes, ele explica coisas que você nunca entendeu
sobre si mesmo, e às vezes, saber de onde você veio ajuda a
descobrir para onde está indo.
Hora de ver que outros segredos este livro guarda.
As páginas do grimório estão quebradiças sob meus dedos
enquanto leio. As primeiras páginas detalham a história da família
Well e como nossa linhagem remonta à primeira convergência de
magia na Grã-Bretanha.
É interessante, e definitivamente vou ler mais, mas isso não é
sobre mim. É sobre a Ivy e o que podemos aprender para ajudá-la.
Então, procuro o capítulo sobre magia do caos. Diagramas
detalhados mostram como a energia natural flui através das linhas
de energia e como certas linhagens agem como condutores para
diferentes tipos de poder. Os Wells, ao que parece, eram
conhecidos por sua habilidade de canalizar e direcionar magia bruta
- exatamente com o que Ivy está lutando agora.
Uma nota rabiscada às pressas na margem chama minha
atenção: "Caos requer âncora. Sangue chama sangue. O equilíbrio
deve ser mantido."
Viro outra página, e um esboço me faz pausar. Ele mostra um
bruxo em pé entre duas forças - Caos e ordem - agindo como um
canal entre elas. As peças estão começando a se encaixar de
maneiras que eu nunca esperava.
O texto nada na página, a tinta antiga se movendo como se
estivesse viva. Uma seção inteira detalha como a magia do caos
procura condutores naturais - linhagens que podem suportar seu
poder bruto sem se queimar.
—A linhagem Well serve como pedra fundamental — diz uma
passagem. —Onde o Caos flui sem controle, nosso sangue se
lembra. Não controlamos; canalizamos. Não comandamos;
guiamos. Este é nosso dom e nosso fardo.
Minhas mãos formigam enquanto leio, minha magia Blackwell
respondendo às palavras.
Outra página mostra notas detalhadas sobre o que acontece
quando a magia do caos encontra uma linhagem de ancoragem. O
diagrama é como um esboço do que acontece entre Ivy e eu - seu
poder selvagem encontrando minha magia mais estruturada, a
forma como eles se sincronizam em vez de colidir.
—A âncora deve estar disposta — leio em voz alta. —A conexão
não pode ser forçada. A confiança flui em ambos os sentidos, ou o
canal se quebra.
Um relâmpago cai lá fora enquanto me viro para um capítulo
intitulado 'O Preço do Poder'. As palavras são mais escuras aqui,
escritas no que parece suspeitamente sangue: 'O Preço do Poder'
sangra pela página em tinta carmesim escura. A tempestade lá fora
parece fazer uma pausa, como se prendesse a respiração.
—Canalizar o Caos é cortejar a destruição. A âncora suporta não
apenas o peso do poder, mas também suas consequências. Cada
vez que o caos flui através do sangue disposto, ele deixa sua
marca. Essas marcas se acumulam como cicatrizes na alma.
Poucas linhagens podem suportar exposição repetida. Aquelas que
o fazem emergem mudadas. A linhagem Well carrega este fardo
através de gerações, mas mesmo nós não somos imunes aos seus
efeitos. Isso não soa nada bem.
As páginas do grimório farfalham sozinhas e param em um
diagrama que mostra como a exposição repetida à magia do Caos
pode alterar a essência de uma pessoa ao longo do tempo. Não é
apenas sobre poder - é sobre mudança fundamental em nível
celular.
—A âncora se torna tanto conduto quanto recipiente — leio em
voz alta. —Em tempos de grande necessidade, eles podem invocar
o caos armazenado, mas a um grande custo pessoal.
Minha mente dispara, pensando em como o poder de Ivy se
estabiliza quando estamos juntos. Será que estou
inconscientemente agindo como sua âncora?
Se isso for verdade, então cada vez que ajudo Ivy a controlar
seu poder, estou assumindo parte dessa energia caótica e me
mudando de maneiras que não entendo completamente.
O relâmpago brilha novamente e, por um momento, juro que vejo
energia rosa crepitando nas pontas dos meus dedos. Mas quando
pisco, ela desaparece. Deve ser a bebida.
As últimas páginas do capítulo são ominosas: —À medida que o
Caos cresce, a âncora também deve crescer. Mas cuidado - há um
ponto de virada. Um momento em que a balança pende
irrevogavelmente para a destruição. Quando esse momento chegar,
apenas o sacrifício pode restaurar o equilíbrio.
Ao fechar o grimório, as palavras pairam pesadas no ar, minha
mente girando. O relâmpago brilha novamente antes que o trovão
estronde lá fora.
Sacrifício. A palavra ecoa na minha cabeça, me enchendo de
pavor. Que tipo de sacrifício? Quem teria que fazê-lo? Ivy? Eu?
Outra pessoa?
Penso no poder bruto que flui através de Ivy e quão natural
parece quando nossa magia se entrelaça.
Sirvo-me de outro copo de uísque, precisando de algo para
acalmar meus nervos. O álcool queima ao descer, mas faz pouco
para acalmar a tempestade de pensamentos na minha cabeça.
Como explico isso para Ivy, e para todos, que nossa conexão
pode ser mais do que apenas atração ou destino, mas um ato
cósmico de equilíbrio com consequências terríveis?
Não tenho nenhuma resposta. Pelo menos, não ainda.
14

BRAM

A .
Mas não é isso que me faz parar na chuva. É o eco da magia
caótica de Ivy, ainda pairando no ar desde antes. Há algo em sua
energia que chama a minha verdadeira natureza, algo que venho
tentando entender desde que a experimentei pela primeira vez.
Amoras selvagens.
Desço pela rua escorregadia enquanto as sombras se curvam ao
meu redor. A Corte ficaria horrorizada com a imprudência que tenho
mostrado ultimamente, mas, então, eles sempre se horrorizaram
com minhas escolhas.
A casa de Ivy está logo à frente, com as luzes ainda acesas
apesar da hora tardia. Sinto essa nova magia no ar, mas por baixo
dela, há algo mais. Algo mais antigo. Algo selvagem que responde
ao meu presença de uma forma que a magia deste reino nunca
responde. Minhas passadas diminuem ao chegar perto de sua casa.
Vejo ela olhando pela janela do quarto no topo da casa, com um
suave brilho de luz atrás dela. Ela ainda está disfarçada de Poison.
Paro para olhar para ela, sabendo que ela não sabe que estou aqui.
A chuva ao meu redor começa a cair para cima, apenas um
pouco, respondendo ao meu estado distraído. Rapidamente
restauro meu controle, mas não antes de Ivy olhar para baixo como
se seu olhar fosse atraído por mim. Nossos olhos se encontram no
escuro, e por um momento, sua magia caótica se entrelaça com o
poder antigo em meu sangue como se tivesse encontrado algo
familiar.
O que isso significa? Será que ela é parte Fada? Ou é a magia
que é Fada? Isso faria mais sentido. Pareço ter sido o único a ouvir
falar sobre esse tipo de magia e ter textos sobre isso. Os Fadas
Antigos eram uma estranha turma. Eles não eram divididos como
nós somos agora, mas um grupo que se separou há vários séculos.
Um relâmpago corta o céu e o trovão ruge, mas ainda nos
olhamos, nenhum de nós se movendo.
Meu poder parece instável esta noite, respondendo à sua
proximidade.
Tirando a atenção dela, vejo Tate aparecer no fim da rua, um
livro debaixo do braço. Ele me vê imediatamente.
— Espiando? — pergunta ele.
— Sempre. O que é isso?
— Oferendas de Vex.
Levanto uma sobrancelha. — Ah? Quer compartilhar?
Ele faz um gesto com a cabeça em direção à casa de Ivy. —
Você sabe onde está Torin?
Balanço a cabeça e o sigo pelo caminho do jardim de Ivy. Ela
abre a porta antes que ele possa bater, e Torin está parado atrás
dela.
— Ei, gente — diz ela. — Entrem.
Entramos, encharcados, mas um pouco de magia resolve isso
rapidamente.
— Subam — murmura ela e sobe duas a duas enquanto
seguimos.
Uma vez dentro do quarto, sinto a atmosfera mudar para algo
mais sedutor.
— Preciso parar de pensar por um tempo. Vocês podem me
ajudar? — murmura ela, tirando suas roupas e ficando nua diante de
nós. Ela volta a ser Ivy, e isso me dá um aperto de saudade direto
no meu pau. De repente, estou na frente dela, empurrando-a contra
a parede. — Volte ao disfarce — sussuro. — Quero isso grosseiro,
duro, doloroso. Quero te foder até você implorar para parar. Quero
ver lágrimas nos seus olhos azuis, Poison.
Ela ofegante, mas o cheiro de sua excitação atinge meu nariz, e
ela faz como eu pedi.
Minha mão se fecha em volta de sua garganta, e eu me inclino
para sussurrar: — Você quer esquecer? Você nem vai se lembrar do
seu nome depois que eu terminar com você, sua putinha.
Aperto meu aperto em volta da garganta de Poison, sentindo seu
pulso acelerar sob meus dedos. Seus olhos estão largos, com as
pupilas dilatadas pela excitação. Bom. É exatamente o que quero
ver.
— Ajoelhe-se — ronco, soltando-a e empurrando-a para baixo.
Ela se ajoelha de boa vontade, seu cabelo rosa caindo sobre o rosto
enquanto olha para mim.
Olho para Tate e Torin. — Vocês podem participar ou assistir. A
escolha é deles.
Torin se aproxima primeiro, seus presas já estendidos. — Acho
que vou levar a boca dela — diz, desabotoando a calça.
Tate hesita por um momento antes de deixar o livro de lado e se
aproximar.
Agarro um punhado de cabelo de Poison, puxando sua cabeça
para trás. — Você queria esquecer? Então vamos ver o quão bem
você consegue se concentrar quando está sendo usada como a
putinha que é.
Ela geme enquanto Torin enfia seu pau na boca dela, não dando
tempo para se ajustar.
Alcanço uma de suas mãos e depois a outra por trás dela.
Puxando seus braços para trás dela, entrego seu controle para ela
enquanto Torin enfia sua cara brutalmente.
Torço seus braços atrás das costas, prendendo-os lá com uma
mão enquanto desaboto a minha com a outra. Poison ofega
enquanto Torin enfia mais fundo.
— Qual é, sua putinha? Não aguenta? — provoco, passando o
couro do meu cinto por suas costas expostas. Ela treme, mas não
se afasta.
Soltando seus pulsos, envolvo o cinto em volta de seu pescoço e
puxo com força, ouvindo-a ofegar novamente. Seguro com força
enquanto Torin sai da boca dela, seu pau molhado e balançando.
Puxando o cinto, faço Poison ficar de pé e a guio até a cama.
Ajoelho-a, vendo suas mãos se aperto firmemente nas cobertas. Ela
sabe que será destruída. Desabotoando minha calça, agarro meu
pau com a mão livre enquanto Tate sobe na cama, nu e com o pau
pronto para a boca dela.
Com um impulso brutal, enfio-me dentro dela, sua boceta
apertada e molhada. Ela grita, o som abafado enquanto Tate enfia
seu pau na garganta dela.
— É isso — ronco, estabelecendo um ritmo punitivo. — Receba
como a putinha gananciosa que é.
O corpo de Poison treme com cada impulso, seus gemidos
abafados vibrando em torno do pau de Tate. Puxo o cinto,
apertando-o em volta de seu pescoço. Sua boceta se contrai em
volta de mim em resposta.
— Caramba, ela está adorando isso — diz Torin, acariciando-se
enquanto assiste.
Sorrio, trazendo minha mão para baixo com força na bunda de
Poison. O estalo agudo ecoa pelo quarto, seguido por seu soluço
sufocado.
— Claro que está — digo, dando outro tapa. — Putinhas sujas
como ela anseiam por serem usadas.
Tate grunhe, seus quadris se movendo enquanto enfia a boca de
Poison. — Merda, estou quase.
Aumento o ritmo, enfiei-me em Poison impiedosamente. Suas
pernas tremem, prestes a cederem.
— Não se atreva a gozar — ronco para ela.
Poison soluça, seu corpo se contraindo. Sinto ela lutando para
segurar seu orgasmo enquanto a saqueo. Bom. Quero que ela
esteja desesperada e sofrendo.
Tate grunhe, agarrando os cabelos de Poison com força
enquanto penetra sua garganta. Ela engole obediente, ofegando por
ar quando ele se retira.
Eu puxo o cinto, puxando-a contra meu peito. Minha outra mão
se move e meus dedos apertam seu clitóris, torcendo-o até que ela
engasgue um pranto.
—Você quer gozar, não é? —resmungo em seu ouvido. —Suja e
safada, se excitando com isso.— Ela balança a cabeça
freneticamente, incapaz de falar pela pressão do cinto.
—Que pena —riso cruelmente. Solto seu clitóris e entrego a guia
a Torin. Ele a segura firmemente enquanto eu empurro as costas de
Poison, antes de agarrar seus quadris com força suficiente para
deixá-la marcada. Ela geme novamente enquanto eu enfuro meu
pau o mais fundo que seu corpo permite. —Porra —grunho. —
Porra, você é uma safada tão boa para mim. Molhando meu pau
para que eu possa te foder mais forte.— Eu a enfuro
implacavelmente, seu corpo se contorcendo com cada estocada
brutal. Torin puxa o cinto, sufocando-a enquanto eu a espanho. Sua
buceta se contrai ao meu redor, desesperada por alívio.
—Por favor —ofegou entre as estocadas.
—Já está implorando? Patética.— Eu me retiro abruptamente,
deixando-a vazia e gemendo. Com um empurrão brusco, agarro a
guia de Torin e vire Poison de costas. Torin retoma o cinto e o
mantém apertado ao redor de seu pescoço enquanto eu abro bem
suas pernas.
—Olha só para você —sussuro, passando um dedo por sua
vagina jorrando. —Molhada e ansiosa para ser enchida. Uma
putinha tão necessitada.— Eu enfuro um dedo dentro dela, depois
outro. Depois, um terceiro. Ela se contorce na cama enquanto eu
adiciono um quarto. Retirando, faço um punho e o enfuro de volta
dentro dela, ouvindo-a gritar.
O grito de Poison é cortado abruptamente quando Torin puxa o
cinto mais forte. Seus olhos rolam para trás, o rosto envermelhando
enquanto ela luta por ar. Eu mantenho meu punho enterrado dentro
dela, sentindo sua buceta se contrair ao meu redor.
—Porra, olha só para ela —diz Tate, acariciando-se. —Ela adora.
Ela é linda demais.— Eu sorrio, torcendo meu punho dentro de
Poison. Seu corpo se contorce, preso entre prazer e dor. —Claro
que é. É para isso que safadas como ela servem.— Eu retiro meu
punho lentamente, observando sua vagina aberta. Ela geme, as
ancas se levantando da cama.
—A putinha quer mais? —provoco. Enfuro meu punho de volta
na vagina de Poison, sentindo sua buceta se contrair ao meu redor
enquanto ela grita. Lágrimas escorrem pelo rosto dela, como eu
queria. Mas suas ancas ainda se movem, desesperadas por mais.
—Porra, insaciável —resmungo, movendo meu punho dentro e
fora dela. —É isso que você precisava? Ser esticada e usada como
a puta suja que você é?— Eu retiro meu punho e enfuro meu pau
dentro dela em um movimento brutal. Ela arqueja para fora da
cama.
—Você quer gozar? —rosno. —Então goza. Goza no meu pau
como a puta que você é.— O corpo de Poison convulsiona quando
seu orgasmo a atinge com força. Eu não diminuo, fodendo-a através
dele enquanto ela se contorce e geme.
—Isso aí —resmungo. —Receba. Receba cada porra de
centímetro.— Ela quase quebra meu pau com sua buceta, e é um
paraíso. Com um rugido, eu me entrego fundo dentro dela e gozo
forte, enchendo-a com meu esperma quente.
Por um momento, todos ficamos parados, o único som nosso
respirar pesado. Então eu me retiro bruscamente, admirando a visão
do meu esperma escorrendo da vagina abusada de Poison. Ela fica
ali, tremendo e ofegante enquanto Torin afrouxa o cinto ao redor de
seu pescoço.
—Qual é o seu nome, puta?— —P-Poison —respira.
O sorriso que desenha meus lábios é perverso quando ela nos
dá a luz verde para continuar.
15

TORIN

A
controle, e minhas presas se revelam quando Bram se retira do
pequeno cunhado de Poison. Ela está nos dando um creampie que
leva meu desejo para além do espaço. Com um baixo ronco, solto o
cinto e arrasto ela até mim. Deito-me com ela em cima de mim,
tremendo e fraca enquanto enfuro meu pau nela. —Anda em cima
de mim, vadia—, resmunguei.
Os olhos de Poison se abrem como que por encanto enquanto a
imponho ao meu pau. Ela ainda está tremendo de seu intenso
orgasmo, mas obedece, começando a mover os quadris.
—Mais rápido—, resmunguei, agarrando-a pela cintura com
força suficiente para deixar marcas.
Ela geme, mas acelera o ritmo, pulando no meu pau. Seus peitos
balançam sedutoramente com cada movimento. Eu alço e agarro-os
de maneira grosseira, apertando e torcendo seus mamilos até ela
gritar.
—Isso aí, grite por mim. Que todos ouçam o que uma vadia suja
você é.— Agarro o cinto e o puxo com mais força. Ela ofega, e seus
olhos rolam para trás. Ela desaba para frente, e eu sorrio. Viramos
no colo, e eu a imponho. Cortei seu suprimento de oxigênio, e ela
desmaiou. Tenho segundos para aproveitar esse momento de abuso
completamente nojento antes de precisar reanimá-la. Meu pau é
como ferro em sua macia buceta, e eu gimo ao enfiar em seu corpo
inconsciente com intensidade selvagem, minhas presas totalmente
estendidas. A parte primitiva de mim se deleita com sua completa
vulnerabilidade, seu corpo inerte à minha mercê.
Mas sei que não posso deixar isso durar.
Com um ronco frustrado, afrouxo o cinto. —Acorda, vadia. Ainda
não acabei com você.— Seus olhos se abrem como que por
encanto, e ela ofega por ar enquanto sua cura inata de shifter entra
em ação. Assim que vejo a consciência retornar aos seus olhos,
enfio brutalmente nela.
—Isso aí—, resmunguei. —Fique comigo. Quero que sinta cada.
Porra. Enfiar.— O corpo de Poison se contorce sob mim, sua buceta
se contraindo ao redor do meu pau enquanto ela luta por ar.
Lágrimas escorrem pelas bordas dos seus olhos, mas posso sentir
seu desejo aumentando.
—Vadia suja—, resmunguei. —Se excitando com o fato de ser
fodida enquanto está inconsciente.— —Ahh!—, ela rasca, sua voz
tão rouca que mal se ouve. —Sim—, ela geme. —Mais.— Porra. Ela
poderia ser mais perfeita?
Sinto meu orgasmo se aproximando, meus movimentos ficando
erráticos. Com um rugido, me entrego profundamente dentro dela e
chego como nunca antes, enchendo sua já molhada buceta o
suficiente para que o sêmen escorra de volta.
Meu pau ainda está contorcido quando eu me retiro, afrouxo o
cinto novamente, permitindo que Poison respire desesperadamente.
Olho para Tate, que está se masturbando enquanto assiste. —
Sua vez. Quero ver você castigar a buceta dela.— Os olhos de Tate
escurecem enquanto se aproxima da forma tremendo de Poison na
cama. Ele a agarra grosseiramente pelo cabelo, puxando sua
cabeça para trás. Mas ao olhar nos seus olhos, vejo ele sorrir
gentilmente, e eu suspira. O tempo de pancadaria acabou.
—Eu te amo—, ele murmura. —Mude de volta.— Com um
sorriso que fala por si, Poison muda de volta para Ivy e o
recompensa ao derrubá-lo na cama e montá-lo.
—Seu bunda mole—, resmunguei. —Estávamos nos divertindo.
— —E agora estou me divertindo—, ele diz com um sorriso brilhante
enquanto Ivy começa a pular sobre ele com grande desprezo, seus
cabelos loiros balançando à medida que ela pula no pau dele. Não
posso negar o apelo de vê-la assumir o controle.
—Porra, Ivy—, Tate grita, agarrando seus quadris. —Você é tão
boa.— Ela se inclina, capturando seus lábios em um beijo
apaixonado. Rolei meus olhos para o lado com a demonstração de
ternura, mas meu pau se contorce com interesse renovado.
Bram se aproxima, sua mão deslizando pela espinha de Ivy. Ela
treme ao toque dele, mas não interrompe seu ritmo.
—Não se esqueça de nós, pequena—, Bram murmura. —Ainda
não acabamos com você.— Ivy geme no bico de Tate enquanto os
dedos de Bram se entram entre as bochechas dela. —Porra, todo
esse sêmen está escorrendo pelo seu buraco. Quer que eu te foda
aí?— Observo com interesse enquanto ele lentamente introduz um
dedo em seu buraco apertado.
—Mm—, Ivy geme, mexendo as nádegas para ele.
Ivy ofega, seus movimentos falhando um pouco enquanto Bram
adiciona outro dedo. Tate aproveita, agarrando seus quadris com
força e enfurrando nela.
—Porra—, Ivy geme. —Mais. Preciso de mais.— Bram está feliz
em ceder. Com um sorriso malicioso, ele se posiciona atrás dela e
enfia seu pau lentamente no cu dela.
—Porra!—, Ivy grita enquanto o pau de Bram a estica. Seu corpo
treme, presa entre os dois homens a impingirem nela.
—Isso aí, aguenta tudo—, Bram resmunga, agarrando seus
quadris enquanto se aprofunda mais.
—Tão apertado—, Tate grunhe.
Me aproximo, minha ereção balançando. —Lamba-me limpo—,
eu susurro, agarrando um punhado de cabelo de Ivy e puxando sua
cabeça para trás.
Seus lábios se abrem em um ofegante silencioso, e eu enfio meu
pau na boca dela. Ela ofega um pouco, mas logo se ajusta, sua
língua girando ao redor do meu comprimento.
—Isso aí—, eu gimo. —Use essa boca talentosa sua.— Ivy
geme ao redor do meu pau enquanto Bram e Tate mantêm um ritmo
brutal, fodendo-a dos dois lados. Seu corpo se contorce entre nós,
completamente à nossa mercê.
—Porra—, Bram grunhe. —Você está me apertando tanto.—
Aperto meu agarre no cabelo de Ivy, enfiamos sua face de maneira
grosseira.
—Tão boa, pequena princesa—, eu elogio, mudando de tática
agora que ela é Ivy novamente. —Levando todos os nossos paus
como se fosse feita para isso.— Tate grita, seus quadris se
movendo mais rápido. —Porra, Ivy, você é tão boa.— Ivy geme ao
redor do meu pau, seu corpo tremendo enquanto é fodida dos dois
lados.
—Chega para nós, pequena assassina—, eu resmunguei.
Com um grito abafado, o orgasmo de Ivy a atinge com força. Seu
corpo convulsiona loucamente, tremendo incontrolavelmente.
—Porra!—, Tate grita, enterrando-se profundamente enquanto
chega.
Bram segue logo em seguida com um gemido gutural, enchendo
o bumbum da Ivy com seu sêmen. A visão dela nos receber todos
de uma vez me leva ao limite, e eu jogo na sua garganta com um
rugido.
Por um momento, todos ficamos imóveis, ofegantes. Então, eu
lentamente saio da boca da Ivy, observando enquanto ela ofegante
procura ar. Seu corpo desaba entre Bram e Tate, completamente
usada e pingando de nosso sêmen.
Passando uma mão sobre seu cabelo encharcado de suor, eu a
agarro levemente e inclino sua cabeça para trás. —Qual é o seu
nome, pequena assassina?—
16

IVY

P T ,
prazer e exaustão.
—Não consigo me lembrar — murmuro.
Torin sorri com satisfação e algo mais suave em seus olhos. —
Boa menina.
Solto um gemido quando Bram e Tate saem lentamente de mim.
Meu corpo dói da maneira mais deliciosa, completamente usado e
marcado pelos três. Desabo na cama, com sêmen escorrendo dos
meus buracos abusados.
—Puta que pariu — resmungo nos lençóis.
Bram ri sombriamente. —Você aguentou lindamente. Uma boa
menina para nós.
Estremeço com seu elogio, uma faísca de excitação se
acendendo apesar do meu cansaço. Esses homens serão minha
morte.
—Vem — diz Torin, me pegando em seus braços. —Vamos te
limpar.
Enquanto ele me carrega para o banheiro, vejo de relance o livro
que Tate trouxe. Está esquecido na minha escrivaninha, um
lembrete do caos que nos aguarda fora deste momento. Mas por
enquanto, me deixo afundar no êxtase, cercada pelos homens que
me cativam.
Torin me coloca gentilmente no chuveiro, seu toque
surpreendentemente carinhoso após a foda brutal que acabei de
suportar. A água quente cai sobre nós enquanto os caras se juntam
a nós, suas mãos percorrendo meu corpo e me limpando com
cuidado reverente.
—Porra, você é incrível — murmura Tate, dando um beijo no
meu ombro.
Me inclino contra o peito dele, deixando a água lavar os vestígios
da nossa devassidão.
—Conseguimos te fazer esquecer? — pergunta Bram, seus
olhos escuros perscrutando os meus. —De verdade?
Por um momento, eu realmente consegui afastar as ameaças e
mistérios iminentes. Mas a realidade volta com tudo quando me
lembro por que precisei da distração em primeiro lugar.
—Por um tempo — admito. —Mas não podemos ignorar o que
está acontecendo para sempre.
O maxilar de Torin se contrai. —Vamos descobrir. Vamos apenas
aproveitar esta noite, tá?
Quero concordar, mas sou impaciente na melhor das hipóteses.
—O livro. O que Vex descobriu?
Os braços de Tate me apertam. —Vamos nos secar primeiro.
Depois veremos juntos.
Concordo com a cabeça, me permitindo mais alguns minutos de
paz antes de enfrentar quaisquer novas revelações que nos
aguardam. Ao sairmos do chuveiro, me vejo no espelho embaçado.
Meu cabelo está selvagem, a pele corada e marcada com
hematomas e mordidas. Pareço completamente fodida e reclamada.
—Porra, você é linda — murmura Bram, chegando atrás de mim
e encontrando meus olhos no espelho. Suas mãos deslizam
possessivamente sobre meus quadris.
Me inclino contra ele, um pequeno sorriso brincando em meus
lábios. —Vocês certamente sabem como fazer uma garota se sentir
desejada.
Torin bufa enquanto se seca. —Desejada? Tente irresistível pra
caralho.
Nos secamos e voltamos para o meu quarto. Visto uma camiseta
grande, sem me incomodar com mais nada. Os rapazes se
acomodam enquanto Tate pega o livro da minha escrivaninha.
—Vamos ver o que Vex desenterrou — digo, me acomodando na
cama entre Bram e Torin.
Tate abre o livro, folheando páginas de texto antigo. —Há muita
história da minha família aqui — ele começa cuidadosamente. —
Aparentemente, minha linhagem, a linhagem Well e Black, é uma
âncora para a magia do caos. É por isso que você se sente mais
estável perto de mim.
—O quê? — pergunto, com as sobrancelhas erguidas. —Sério?
Ele assente, quase timidamente. Torin o encara com algo
cauteloso e um pouco irritado.
—É por isso que somos destinados? — murmuro, desviando o
olhar de volta para Tate.
—Somos mais do que isso — ele diz. —Somos duas peças do
mesmo todo.
—Ah, vai se foder — Torin dispara. —Você não pode chegar aqui
e levá-la para longe de nós com essa merda.
Tate rosna. —Quem está levando ela embora, seu babaca?
Estou dizendo fatos. — Ele cutuca o livro com força.
—Deixa pra lá — eu disparo, ansiosa para aprender mais sobre
essa magia que está ameaçando me partir ao meio. —O que ele diz
sobre a magia?
—É aí que fica um pouco confuso — ele diz com um bufo para
Torin e se concentrando novamente.
—Bem, acho que é magia Fae Antiga — Bram solta de repente.
—De alguma forma, você, não sendo Fae, é capaz de manejá-la.
Ela escolheu você, obviamente, mas a base dela é da minha
herança.
—Ah é? — pergunto interessada. —Como você chegou a essa
conclusão?
—Semelhante reconhece semelhante — ele diz e levanta a mão.
Sombras escuras saem de sua palma e se envolvem ao meu redor,
atraindo minha energia rosa e se combinando com ela.
—Puta merda — murmuro. —Ok, Fae, então.
—Acho que você é uma bruxa — Torin acrescenta, quase
triunfante, com um olhar furioso para Tate.
—O quê? — pergunto, franzindo o nariz. —Como assim?
Ele revira os olhos. —Algo que minha mãe disse. Ela não diz as
coisas à toa. Cada palavra é medida. Ela te chamou de bruxa do
caos. Pensei no início que fosse um insulto, tipo vadia, mas não é. É
fato.
—E como ela sabe disso?
Ele dá de ombros e então me encara. —Você vai me fazer
perguntar a ela, não é?
—Só se você quiser. Entendo o drama familiar e não vou te pedir
para fazer nada que você não queira. Mas pode ajudar.
—Ela não vai nos contar nada que não queira que saibamos.
Suspiro, passando a mão pelo cabelo úmido. —Então, se
tirarmos ela da equação, o que sabemos é que sou algum tipo de
bruxa do caos com magia Fae Antiga, ancorada pela linhagem do
Tate.
Bram assente solenemente. —Isso resume bem.
—Ótimo — murmuro. —A coisa da bruxa é interessante. Nunca
tive magia ativa antes de agora. Me pergunto de onde veio esse
lado de bruxa e por que nunca se manifestou antes.
A mão de Torin desliza pela minha coxa, seu toque é possessivo
e reconfortante. —Vamos descobrir sem o empecilho da minha mãe.
Dou uma risadinha. —É, se não podemos confiar nela, não
precisamos dela.
—Obrigado — ele diz com pressa.
Seguro seu rosto e dou um sorriso suave.
Tate folheia mais páginas do livro, com a testa franzida em
concentração. —Tem algo aqui sobre equilibrar o caos. Diz que a
âncora - que seria eu - precisa... oh.
—O quê? — pergunto, sentando mais ereta. —O que diz?
As bochechas de Tate ficam levemente coradas. —Diz que
precisamos, ahn, fundir nossas energias. Frequentemente e
profundamente.
Torin bufa. —Então vocês precisam transar. Muito. Que
conveniente.
Reviro os olhos diante da provocação de Torin. — É só isso que
diz? Apenas "fundir energias"?
— Sim. É compartilhar magia. Deixar a minha tocar a sua.
Exatamente como você fez com o Bram há um minuto.
— OK, bem, isso não parece tão terrível... — Mas paro quando
vejo a expressão no rosto dele. — O quê?
— Eu supostamente devo tirar o fardo de você. Absorver parte
desse poder e filtrá-lo.
— Isso é perigoso?
Ele dá de ombros.
— OK, talvez não façamos isso então até sabermos mais.
Ficamos em silêncio, cada um perdido em seus próprios
pensamentos. Isso está ficando muito mais complicado do que eu
poderia ter imaginado. Eu não queria nada disso. Estava feliz sendo
uma metamorfa, e agora sou todos os tipos de outras coisas que
não entendo ou nem sei de onde vieram.
— Talvez precisemos começar pela minha própria árvore
genealógica — murmuro. — Tentar descobrir de onde veio a bruxa.
Antes que os rapazes possam responder, a realidade se
distorce. Sinto-me enjoada enquanto a Morte se materializa na sala
com um ruído ominoso. — Isso viria de mim.
17

IVY

A M
se estabelece no meu quarto. Suas órbitas oculares parecem conter
galáxias enquanto ele me estuda.
— O que quer dizer com "vem de você"? — exijo, puxando
minha camiseta grande para baixo, constrangida. — E antes que
tente qualquer coisa, coloque um dedo nojento neles e eu acabarei
com você, mesmo que isso signifique acabar comigo mesma no
processo.
A risada da Morte ecoa como ossos chacoalhando em um
túmulo. — Minha querida garota, acha que me importo em matá-
los? Não, isso é tudo para seu benefício. Quanto ao seu poder,
pensou que suas habilidades notáveis vieram do nada? A magia do
caos que corre em suas veias não é um acidente. É evolução.
Estreito os olhos para ele. — Evolução do quê?
— Da linhagem de bruxas mais poderosa que já existiu. — Ele
acena com uma mão esquelética, e a realidade ondula. De repente,
não estamos mais no meu quarto, mas em uma biblioteca antiga,
tendo deixado os rapazes para trás no meu quarto. Livros forram as
paredes do chão ao teto, suas lombadas estalando com poder
antigo. — Você vem da minha linhagem. — A Morte se move para
uma das prateleiras, puxando um tomo maciço que parece mais
velho que o próprio tempo. — Há muitas, muitas gerações, antes de
me tornar a Morte, eu era o patriarca da família de bruxas mais
poderosa que já existiu.
O livro flutua entre nós, suas páginas virando sozinhas até
pararem em uma árvore genealógica. Nomes e datas se espalham
pelo pergaminho, alguns tão antigos que mal são legíveis.
— Sua magia do caos é poder antigo evoluído. Quando você
rejeitou se tornar a Morte ainda no útero, não apenas criou uma
falha cósmica, mas transformou a magia de bruxa inerente à nossa
família em algo completamente novo.
Encaro a árvore genealógica, observando como linhas de poder
pulsam através dela como veias. Meu nome está na parte inferior,
brilhando com aquela energia rosa familiar. Acima dele, através de
inúmeras gerações, a linha remonta a... — David Beech.
— De fato — diz a Morte, soando quase orgulhoso. — Nossa
linhagem sempre foi diferente. Não apenas usamos magia; nós
somos magia. Mas você, minha querida descendente, levou isso
além do que qualquer um de nós poderia ter imaginado.
— A magia Fae Antiga? Isso tem algo a ver com essa evolução?
— Apesar da minha raiva e medo desse babaca, ele está realmente
sendo franco e me contando coisas que preciso saber para matá-lo.
É como todos sempre me dizem que eu me adapto às
circunstâncias, penso rápido, penso fora da caixa. Bem, agora,
estou fazendo os três, além de fingir que estou concordando com
ele, para que me conte tudo e pense que estou sendo receptiva - o
velho golpe duplo.
— A magia de bruxa em nossa linhagem sempre teve uma
afinidade com o poder Fae. Algo sobre a forma como percebemos e
canalizamos energia. Mas sua transformação as fundiu
completamente.
Minha cabeça gira enquanto tento processar isso. — Então não
sou apenas um acidente cósmico? Tudo isso foi predeterminado? É
isso que está dizendo?
— Não predeterminado — corrige a Morte. — Potencial. Nossa
linhagem sempre carregou o potencial para transformação. Você é
simplesmente a primeira a alcançá-lo.
— Mas por quê? — exijo. — Por que aconteceu comigo?
A Morte se aproxima, e eu resisto ao impulso de recuar. O fedor
de escuridão e morte o envolve, e é verdadeiramente aterrorizante.
— Porque você foi forte o suficiente para rejeitar o que deveria ser.
Forte o suficiente para criar algo novo a partir de algo antigo. — Ele
estende a mão como se fosse tocar meu rosto, mas para logo antes.
— A magia do caos não está lutando contra sua natureza de bruxa -
ela é sua natureza de bruxa, evoluída para algo mais poderoso do
que qualquer uma das duas tem o direito de ser. Isso... — ele
gesticula para a energia rosa crepitando ao meu redor — isso está
além de qualquer coisa que já vimos antes.
— E agora? O que você quer de mim? — pergunto, observando
como minha magia se estende instintivamente em direção ao poder
da Morte. Onde eles se tocam, a realidade estremece. — O que isso
significa para mim?
— Significa, querida garota, que você tem escolhas a fazer. O
poder que você possui poderia remodelar tudo. A ordem natural, o
equilíbrio entre os reinos, até mesmo a própria morte.
— É por isso que você quer minha alma? — exijo. — Porque eu
poderia potencialmente foder com toda a sua operação?
A risada da Morte ecoa pela biblioteca. — Oh, não. Eu quero sua
alma porque ela é a chave para algo muito maior do que mera morte
e almas. — Ele acena com a mão novamente, e estamos de volta
ao meu quarto. — Mas essa é uma revelação para outro momento.
— Espere! — chamo enquanto ele começa a desaparecer. —
Tenho mais perguntas!
— Claro que tem — sua voz ecoa enquanto ele desaparece. —
Mas algumas respostas devem ser conquistadas, não dadas.
— Bem, isso foi muito útil.
— Na verdade — diz Bram pensativo — foi. Sabemos mais
agora do que sabíamos antes.
— Vocês ouviram?
— Nós vimos. Como se estivesse na TV.
— Essa informação é valiosa — diz Torin. — Explica por que
você pode fazer coisas que nenhum outro sobrenatural pode. Por
que seu poder parece ao mesmo tempo antigo e novo.
Olho para minhas mãos, observando a energia rosa dançar entre
meus dedos. — Mas não explica tudo. Por que agora? Por que o
poder esperou até agora para se manifestar?
— Talvez não tenha esperado — sugere Tate. — Talvez
estivesse lá o tempo todo, só que adormecido. Sua habilidade de
transformação, quando evoluiu para incluir as vinhas, poderia ser
parte disso, uma expressão do poder antes de despertar
completamente.
— Então, o que fazemos com essa informação? — pergunto,
olhando entre os três homens que se tornaram tão essenciais para
minha existência.
— Nós a usamos — diz Bram simplesmente. — Conhecimento é
poder, e agora sabemos que sua magia não é apenas caos aleatório
- é poder herdado que evoluiu. Isso significa que pode ser entendido
e controlado. Não é o que todos parecem pensar que é. É caos, sim,
mas não é entropia completa.
— E quanto à Morte? — Torin faz a pergunta que todos estamos
pensando. — Qual é o verdadeiro jogo dele aqui?
Balanço a cabeça, lembrando-me da forma como nosso poder
havia ressoado quando se tocou. — Não sei. Mas tenho a sensação
de que mal arranhamos a superfície do que ele está planejando.
Tate me puxa para mais perto, sua magia envolvendo a minha de
forma reconfortante. — Seja o que for, vamos descobrir. Essa
revelação é surpreendente, mas, para ser sincero, não é tão
inesperada.
Eu me inclino em seu abraço, sentindo os outros caras se
aproximarem também. A presença deles me ancora e me ajuda a
focar através do turbilhão de revelações.
— Ele disse que algumas respostas devem ser conquistadas —
murmuro. — Acho que é hora de começarmos a conquistá-las.
— Como? — pergunta Torin.
Um sorriso lento se espalha pelo meu rosto enquanto uma ideia
se forma. — Fazendo o que faço de melhor - causar caos. Mas
desta vez, com propósito.
A energia rosa surge ao meu redor, mais forte do que nunca
agora que entendo sua origem. Não sou apenas uma falha cósmica
ou um acidente aleatório. Sou a evolução de um poder antigo.
— A Morte quer brincar de jogos? — digo, observando enquanto
meu poder responde à minha intenção, criando padrões no ar que
parecem constelações nascendo. — Então vamos mostrar a ele
como o caos realmente funciona.
Eles sabem tão bem quanto eu que isso muda tudo, não apenas
o que sabemos sobre o meu poder, mas também como abordamos
seu uso.
Estou cansada de ser reativa. Cansada de deixar os outros
ditarem as regras do jogo. Posso ser descendente da Morte, mas
também sou algo completamente novo.
E é hora de mostrar a todos exatamente o que isso significa.
Depois que eu desabar e dormir até não poder mais.
18

IVY

A M
apenas uma ressaca de sobrecarga de informação. Acordo para
encontrar todo o meu corpo crepitando com uma energia
desconfortável, como se eu tivesse relâmpagos presos sob minha
pele.
— Puta merda — murmuro, rolando para fora da cama. Os
rapazes tinham ido embora tarde da noite depois de discutirmos a
bomba da Morte até estarmos exaustos de tanto falar. Agora,
parada na frente do meu espelho, posso ver que algo está
definitivamente errado.
Energia rosa pulsa através das minhas veias, visível sob minha
pele como um mapa rodoviário do caos. É bonito de uma maneira
aterrorizante, mas a sensação de queimação que a acompanha é
menos que agradável.
— Merda, merda, merda. — Pressiono minhas mãos contra meu
estômago quando uma onda de náusea me atinge. A magia
aumenta e, de repente, meu reflexo mostra tanto Ivy quanto Poison
sobrepostas, como uma fotografia de dupla exposição.
Meu telefone vibra no criado-mudo. Fazendo uma careta, eu o
pego, vendo o nome de Tate piscar na tela.
— Oi — digo com voz rouca.
— Você precisa vir para cá — ele diz sem rodeios. — Algo está
acontecendo.
— É, não brinca. — Observo enquanto meu cabelo muda entre
loiro e rosa sem que eu tente mudar ativamente. — Estarei aí em
dez minutos.
Visto roupas às pressas, sem me preocupar com nada elegante
já que meu corpo parece estar tendo uma crise de identidade por
conta própria. A caminhada pelo campus até a casa dos rapazes é
interessante, para dizer o mínimo. Meu poder continua flutuando,
fazendo a realidade ondular ao meu redor. As árvores brevemente
se tornam cristalinas antes de voltarem ao normal, e eu juro que
posso ouvir cores.
No momento em que chego à porta deles, estou suando apesar
do ar frio da manhã. Tate a abre antes que eu possa bater,
parecendo tão mal quanto eu me sinto.
— Entre — ele diz rapidamente, me puxando para dentro. —
Antes que alguém te veja.
— O que há de errado comigo? — exijo assim que estamos na
cozinha. Torin e Bram já estão lá, sobrancelhas erguidas diante do
meu estado.
— Puta que pariu — Bram respira, sua visão Fae obviamente
captando algo que não podemos ver. — Sua aura está se
fragmentando.
— Minha o quê está fazendo o quê agora?
— Ele está certo — diz Torin, se aproximando. — É como se seu
poder estivesse tentando se separar. É visível a olho nu — ele diz,
lançando um olhar de soslaio para Bram.
Outra onda de náusea me atinge, e eu me agarro ao balcão da
cozinha para me apoiar. A energia rosa crepita mais intensamente e,
de repente, todos os objetos de metal na cozinha começam a
flutuar.
— Ivy — Tate diz cuidadosamente —, acho que suas... vamos
chamá-las de identidades? Estão lutando uma contra a outra.
— Mas a Morte disse que elas eram a mesma coisa — protesto,
observando enquanto os talheres flutuantes começam a girar em
padrões complexos. — Apenas evoluídas.
— Talvez esse seja o problema — sugere Bram. — A evolução
nem sempre é suave. Às vezes há um conflito entre o antigo e o
novo.
Uma dor aguda atravessa meu peito, e eu ofego. Olhando para
baixo, vejo que um garfo voou pela sala e se enterrou fundo no meu
peito.
— Ah — engasgo enquanto o puxo para fora e o vejo coberto de
sangue rosa, não vermelho.
O resto dos objetos flutuantes cai de volta quando meus joelhos
cedem. Tate me pega antes que eu atinja o chão.
— Isso é ruim — Torin murmura, ajudando Tate a me levar até
uma cadeira. — A temperatura dela está oscilando muito.
Ele está certo. Em um minuto, estou queimando; no outro, estou
congelando. Minha pele continua mudando entre Ivy e Poison sem
meu controle, e a energia rosa está se tornando mais errática.
— O que fazemos? — pergunto com os dentes cerrados
enquanto outra onda de dor me atinge. — Porque isso dói pra
caralho.
— Precisamos estabilizá-la — diz Bram, sua magia Fae das
Trevas se estendendo tentativamente em direção à minha. Onde
elas se tocam, há um breve momento de alívio antes que a dor
retorne pior do que antes.
— Pare — ofego. — Isso piora as coisas. Quer devorar. Eu não
posso...
Tate se ajoelha na minha frente, pegando minhas mãos nas dele.
— Deixe-me tentar. Eu deveria ser sua âncora, certo?
Eu aceno, incapaz de falar, enquanto outra onda de poder me
atravessa. Sua magia envolve a minha, tentando conter o caos, mas
algo está diferente desta vez. Em vez de ajudar, novamente parece
que seu poder está sendo consumido pelo meu.
— Porra! — Tate arranca suas mãos, sua pele fumegando
levemente onde nos tocamos. — Isso também não está
funcionando.
— Não brinca — consigo dizer antes de me dobrar quando sinto
como se meus órgãos internos estivessem se reorganizando. —
Meu Deus, o que está acontecendo comigo? É esta a fase de me
despedaçar? Pensei que tivesse mais tempo.
— Não, não acho que seja isso. Seu poder está tentando se
estabelecer — diz Bram, me observando atentamente. — O lado
bruxa de você e a magia do caos tipo Fae não estão apenas se
fundindo, estão criando algo inteiramente novo. De novo.
— De novo? — digo entre os dentes. As janelas tremem
ameaçadoramente.
Ele acena. — Evoluindo, como a Morte disse, mas estou
começando a pensar que isso era a letra miúda. É contínuo.
— Precisamos de ajuda — diz Torin firmemente. — Isso está
além de nós.
— De quem? — Tate exige. — Morte? A Resistência? Não
sabemos em quem confiar.
Outra onda de dor me atinge, e desta vez, eu grito. Energia rosa
explode para fora, estilhaçando todas as janelas da casa. A
realidade se dobra ao nosso redor e, de repente, a cozinha está
cheia de várias versões de mim. Algumas Ivy, algumas Poison,
algumas estranhas combinações de ambas.
— Oh, isso é novo — diz uma das minhas duplicatas antes de
piscar e sumir da existência.
— Concentre-se — ordena Bram, sua voz cortando através do
caos. — Ivy, olhe para mim.
Forço meus olhos a encontrarem os dele, tentando ignorar a
maneira como minhas duplicatas estão começando a afetar o
mundo físico ao nosso redor. Uma delas transformou a geladeira em
uma fonte de luz estelar, e então Aspen aparece, assustando os
rapazes à inação por um segundo.
— O poder não está lutando consigo mesmo — diz Bram
intensamente, o primeiro a recuperar os sentidos. — Está lutando
contra você. Você ainda está tentando manter Ivy e Poison, e Aspen
separadas, ainda tentando manter a divisão entre as mudanças.
Assassina fodona...s e shifter normal tentando ir às aulas e viver
uma vida normal. Mas elas não são separadas, Ivy. São você. Todas
você.
— Que filosófico da sua parte, Bram — rosno enquanto outra
duplicata aparece, esta crepitando com pura energia caótica. — Mas
como isso me ajuda agora?
— Pare de lutar contra isso — ele insiste. — Pare de tentar ser
ou Ivy ou Poison. Seja ambas. Não seja nenhuma. Seja o que quer
que este poder esteja te fazendo se tornar.
— Ele está certo — diz Tate, suas mãos queimadas agora
curadas. — Você tem tentado controlá-lo, mantê-lo contido em
caixinhas arrumadas. Mas não é assim que a evolução funciona.
Uma corrente de poder particularmente violenta me lança em
posição fetal. As réplicas piscam e se multiplicam, cada uma
mostrando um aspecto diferente de quem eu sou e quem eu poderia
ser.
— Não sei como — admito entre lágrimas de dor. — Não sei
como ser ambas.
— Sim, você sabe — diz Torin baixinho. — Você faz isso toda
vez que está conosco. Toda vez que se permite simplesmente ser,
sem rótulos ou expectativas.
A dor atinge um crescendo, e sinto algo dentro de mim começar
a se quebrar. Mas talvez precise quebrar. Talvez esse seja o ponto.
Respirando tremulamente, fecho os olhos e paro de lutar. Paro
de tentar ser Ivy ou Poison, bruxa ou manipuladora do caos. Eu
simplesmente... sou.
O poder gira uma última vez, mas desta vez, não dói. Sinto como
se algo estivesse se encaixando, como peças de um quebra-cabeça
finalmente encontrando seu alinhamento correto.
Quando abro os olhos, as réplicas sumiram. A cozinha é uma
zona de desastre, mas a dor diminuiu. Olhando para minhas mãos,
vejo a energia rosa ainda fluindo pelas minhas veias, mas está
diferente agora - mais integrada, menos como se estivesse tentando
escapar.
— Sua aura está inteira novamente — diz Bram. — Mas de um
roxo vibrante. Você combinou suas personas.
— Por quanto tempo? — pergunto fracamente.
Ele aperta os lábios antes de responder: — Isso é o que teremos
que descobrir.
Levanto-me cuidadosamente, testando este novo equilíbrio. Meu
poder ainda estala sob minha pele, mas não parece mais estar
tentando me despedaçar. Em vez disso, parece certo. Por enquanto.
— Bem — digo, olhando ao redor para a destruição que minha
transformação causou e esfregando meu peito, que se curou do
ataque triplo —, isso foi divertido.
Tate resmunga, examinando suas mãos em processo de cura.
— Essa é uma palavra para descrever.
— Você está bem? — Torin pergunta, aproximando-se, mas
ainda mantendo uma distância segura.
Considero a pergunta seriamente.
— Acho que sim. Parece diferente, como se tudo tivesse se
acomodado em uma nova configuração.
— E a mudança? — Bram pergunta. — Você ainda pode
controlá-la?
Concentro-me brevemente, e minha aparência muda
suavemente entre Ivy e Poison antes de se estabilizar novamente.
— Sim, mas também parece diferente. Menos como colocar uma
máscara e mais como expressar diferentes aspectos de um todo.
— É isso que a Morte quis dizer — diz Tate de repente. — Sobre
evolução. Não se trata apenas do poder ficar mais forte, mas de se
tornar algo completamente novo.
Concordo com a cabeça, observando enquanto a energia rosa-
roxa dança entre meus dedos, respondendo aos meus pensamentos
sem tentar dominá-los.
— Acho que você está certo. Mas algo me diz que isso é apenas
o começo.
— Do quê? — Torin pergunta.
Olhando ao redor para meus caras - minhas âncoras, meus
amantes, meus parceiros neste caos que está se tornando - eu
sorrio.
— De descobrir exatamente do que sou capaz agora que não
estou mais lutando inconscientemente contra mim mesma.
O poder ronrona sob minha pele, não mais tentando me
despedaçar, mas ansioso para me mostrar o que pode fazer. O que
podemos fazer, agora que estamos verdadeiramente integrados.
— Devemos nos preocupar? — Tate pergunta, mas está
sorrindo.
— Provavelmente — admito. — Mas quando isso já nos
impediu?
Ele ri, mas posso ver a preocupação por baixo. Eu também estou
com medo, mas não vou mostrar. Seja lá o que for essa evolução,
tenho que aprender a identificá-la e controlá-la antes que ela me
despedace. Se isso acontecer, não tenho certeza do que sobrará de
mim.
19

TATE

V I ,
um alívio. Mas há um custo para todo esse poder, e estou
começando a senti-lo. Ela voltou para sua casa para tomar banho e
se trocar, deixando-nos para lidar com as consequências de sua
transformação. O que eu tinha que dizer a ela pode esperar diante
desse desenvolvimento. Sei que ela sabe que isso não vai durar, e
esse pensamento é o que está me preocupando.
Quando ela puxou seu poder para aceitar suas personas, ela
também usou o meu. Minhas mãos ainda formigam de onde sua
magia me queimou antes, mas isso não é o que me preocupa. É a
dor mais profunda, a maneira como minha própria magia se sente
diferente desde que comecei a ancorar o poder dela.
— Você parece um lixo — diz Torin sem rodeios enquanto
limpamos a cozinha.
— Obrigado — murmuro, fazendo uma careta quando outra onda
de desconforto me atravessa. Minha magia oscila erraticamente,
fazendo com que o vidro quebrado que estou varrendo se
transforme brevemente em borboletas antes de voltar ao normal.
— Ele está certo — diz Bram, me observando com aqueles olhos
Fae perspicazes demais. — Algo está errado.
Eu me endireito, lutando contra uma onda de tontura. — Estou
bem.
— Besteira — Torin dispara. — Sua aura está quase tão fodida
quanto a de Ivy estava, e igualmente visível — acrescenta, lançando
um olhar para Bram, que revira os olhos.
Passando a mão pelo cabelo, tento focar minha magia em
consertar uma janela quebrada. Em vez disso, a realidade se
distorce ao redor dela, criando um portal que mostra vislumbres de
outras dimensões antes que eu rapidamente o feche.
— Porra — eu respiro, cambaleando para trás. Isso
definitivamente é novo.
— Sente-se antes que você caia — Bram ordena, me guiando
até uma cadeira. — O que está acontecendo?
Balanço a cabeça, tentando clarear a estranha visão dupla que
se desenvolveu. — Não sei. Desde que comecei a ancorar o poder
de Ivy, as coisas têm estado estranhas.
— Estranhas como? — Torin exige.
— Como se minha magia não fosse mais inteiramente minha. —
Levanto minhas mãos, observando enquanto faíscas negras se
misturam com traços de energia rosa e roxa. — Está mudando, se
adaptando para lidar com o caos dela.
— O grimório mencionou isso — diz Bram de repente. — Sobre
âncoras sofrerem consequências. Não lemos o suficiente para ver
quais eram essas consequências.
Outra onda de poder estranho corre por mim, e agarro o braço
da cadeira enquanto a realidade ameaça se dobrar novamente. —
Bem, acho que estamos descobrindo.
— Precisamos contar para Ivy — diz Torin, mas eu balanço a
cabeça vigorosamente.
— Não. Ela acabou de conseguir controlar seu poder. Não
precisa se preocupar com isso também.
— Ela vai notar eventualmente — Bram aponta. —
Especialmente se você continuar distorcendo a realidade toda vez
que tentar usar magia.
Ele está certo, é claro. Ivy é observadora demais para não notar
que algo está errado, especialmente agora que seu poder se
estabilizou. Mas o pensamento de adicionar ao fardo dela me deixa
doente.
— Olha — digo, me forçando a ficar de pé apesar da tendência
da sala de inclinar para o lado, — eu só preciso me ajustar.
Descobrir como lidar com esse novo, seja lá o que isso for.
Como que para provar meu ponto, minha magia explode
novamente. Desta vez, em vez de criar portais ou transformar
objetos, ela se estende e se conecta com os traços do poder de Ivy
ainda pairando no ar. O loop de feedback resultante me manda de
joelhos.
— Tate! — Torin me pega antes que eu caia de cara no chão. —
Chega. Vamos chamar Ivy.
— Não — eu ofego, lutando através do caleidoscópio de
sensações inundando meu sistema. — Só... me dê um minuto.
Bram se agacha ao meu lado, sua magia Fae sondando
suavemente o que quer que esteja acontecendo com a minha. —
Isso não é apenas adaptação — ele diz sombriamente. — Sua
magia está sendo fundamentalmente alterada pela exposição ao
caos dela.
— Isso é ruim? — consigo perguntar quando outra onda me
atinge.
— Não faço ideia. Sua linhagem pode ser destinada a ancorar
magia do caos, mas este nível de poder está mudando você a nível
celular.
— Puta que pariu — Torin murmura. — Podemos pará-lo?
— Apenas parando a ancoragem completamente — diz Bram. —
Mas isso deixaria Ivy sem estabilidade novamente.
— Não é uma opção — eu rosno, finalmente conseguindo ficar
de pé. A sala parou de girar em sua maior parte, mas minha magia
parece estar tentando se reescrever de dentro para fora.
— Então precisamos encontrar uma maneira de administrá-la —
diz Torin de forma prática. — Porque você não pode continuar
assim.
Ele está certo. Cada vez que eu ancoro o poder de Ivy, cada vez
que nossa magia se mistura, as mudanças se tornam mais
pronunciadas. Posso sentir agora na maneira como minha magia
naturalmente estruturada está sendo infectada pelo caos, criando
algo híbrido e imprevisível.
— A linhagem Well — digo de repente, lembrando algo do
grimório. — Supostamente é capaz de lidar com isso. Meus
ancestrais fizeram isso.
— Seus ancestrais não lidaram com um poder como o de Ivy —
Bram aponta. — Isso é evolução, lembra? Território novo.
Outro raio me atinge, mas desta vez, estou pronto para isso. Em
vez de lutar contra o caos e tentar integrá-lo com minha magia,
deixo-o fluir, assim como dissemos a Ivy para fazer. A sensação é
bizarra, como ter um segundo batimento cardíaco, um ritmo de
poder que não combina exatamente com minha própria frequência.
— Oh — respiro quando algo muda dentro de mim. — Isso é
diferente.
— O quê? — Torin exige. — O que está acontecendo?
Levanto minhas mãos, observando como minha magia negra
agora flui com fios permanentes de rosa. — Acho que estou me
adaptando.
Bram se aproxima, estudando a mudança. — Não está apenas
afetando sua magia mais — ele diz. — Está se tornando parte dela.
— Isso deveria acontecer? — Torin pergunta, com genuíno medo
tingindo seu tom. Isso não é bom.
— Quem sabe? — Solto uma risada ligeiramente histérica. —
Nada disso deveria acontecer. Estamos literalmente inventando isso
enquanto avançamos.
A porta da frente se abre, e a voz de Ivy chama, — Vocês não
vão acreditar no que eu acabei de fazer!
O pânico passa pelo rosto de Torin, mas eu balanço a cabeça
bruscamente. Precisamos de mais tempo para entender o que está
acontecendo antes de contar a ela.
Ivy entra saltitante na cozinha, praticamente brilhando com poder
controlado. Ela para abruptamente quando nos vê todos agrupados.
— O que há de errado?
— Nada — digo rapidamente, forçando um sorriso. — Só
discutindo a limpeza.
Seus olhos se estreitam com suspeita, passando por cada um de
nós antes de se fixarem em mim. — Você está mentindo.
— Ivy-
— Não. — Ela se aproxima, seu poder se estendendo em
direção ao meu. Tento recuar, mas é tarde demais. No momento em
que nossa magia se toca, ela ofega. — Que porra é essa?
A conexão entre nós se intensifica, mais forte do que nunca
agora que o poder dela se estabilizou e o meu começou a mudar.
Energia rosa e roxa rodopia com o preto, criando padrões que
distorcem a realidade ao nosso redor.
— Tate — ela sussurra, olhando fixamente para onde nossos
poderes se misturam — o que está acontecendo com você?
— Está tudo bem — insisto, mesmo quando outra onda de
transformação me atravessa. — Só alguns efeitos colaterais da
ancoragem.
— Efeitos colaterais? — Sua voz se eleva. — Sua magia está
literalmente mudando de cor!
— Não é só a cor — diz Bram, ignorando meu olhar fulminante.
— A magia do caos está alterando-o fundamentalmente. Cada vez
que ele ancora seu poder, isso o muda um pouco mais.
Ivy dá um passo para trás, com uma expressão de horror
surgindo em seu rosto. — Estou te machucando?
— Não — digo com firmeza, estendendo a mão para ela apesar
da forma como isso faz minha magia aumentar. — Você não está
me machucando. Estou me adaptando. Evolução, lembra?
— Evolução que pode te matar — murmura Torin.
— Não está ajudando — rosno para ele.
O poder de Ivy se retrai bruscamente, deixando-me com uma
estranha sensação de perda. — Temos que parar com isso.
— Não. — Seguro suas mãos, ignorando a maneira como nosso
poder combinado faz a realidade ondular. — Sabíamos que haveria
consequências. O grimório nos avisou. Mas isso é necessário.
— Nada vale a pena arriscar você — ela diz ferozmente.
— Você vale — digo a ela, com total sinceridade. — Além disso,
agora é tarde demais. A mudança já começou e, sinceramente? —
Olho para nossas mãos unidas, onde a energia rosa, roxa e preta
dançam juntas em perfeita harmonia. — Acho que não quero voltar
atrás.
20

IVY

J
estabeleceu em sua nova configuração, três horas aprendendo a
controlar essa forma evoluída de magia caótica de bruxa-fada. Três
horas observando essa energia dançar sob minha pele como um
raio preso em cristal. A luz da tarde entra pela janela da nossa
cozinha enquanto tomo meu terceiro café, tentando ignorar como a
realidade ocasionalmente ondula quando minha concentração falha.
A evolução do meu poder pode estar se estabilizando, mas
'estável' é um termo relativo quando você é basicamente o caos
encarnado.
— Para de ficar aí remoendo — diz Ramsey, sentando-se na
cadeira à minha frente. — Teu poder tá bem, e o mundo ainda não
acabou.
Eu o encaro por cima da minha xícara de café. — Ainda sendo a
palavra-chave, e desde quando 'bem' é bom o suficiente?
— Bom, nisso tu tem razão — ele sorri, mas a expressão
congela quando seu telefone vibra com aquele tom familiar do
Sindicato.
O som faz meu estômago se contrair. Mas o rosto de Ramsey
empalidece enquanto ele lê a mensagem, e algo frio se instala em
meu âmago.
— O que foi? — exijo saber. — Quem é o alvo?
Ele engole em seco, olhando para mim com medo genuíno nos
olhos. — Cathy Hammond.
A caneca na minha mão se estilhaça quando meu poder se
desestabiliza e dispara pelo meu corpo em uma velocidade
vertiginosa. O café se transforma em borboletas cintilantes que se
dissolvem em uma névoa rosa profunda. — Minha tia? O Sindicato
quer que eu mate minha tia?
— É pior — Ramsey diz baixinho. — Tu tem doze horas pra
completar a missão, ou eles vão mandar outros agentes pra fazer
isso, e eles não vão ser rápidos.
A magia crepita ao meu redor enquanto a raiva cresce. A luz do
sol pisca lá fora, e nuvens de tempestade se formam em uma
velocidade antinatural. — Eles sabem?
— Ou estão testando tua lealdade. A Resistência não está
exatamente ostentando suas atividades. Duvido que o Sindicato
saiba sobre eles, e também duvido que saibam o que tu é agora.
— Bem, me perdoe se eu duvido da tua dúvida. — A realidade
se distorce levemente ao meu redor enquanto me levanto. Os
azulejos sob meus pés se transformam em um cristal vivo que se
espalha pelas paredes. — Isso não é lealdade, é tortura.
— É uma mensagem — diz Ramsey sombriamente. — Essa é a
maneira deles mostrarem que te controlam.
Meu poder se descontrola, transformando a mesa da cozinha em
uma massa de vinhas retorcidas antes que eu o controle
novamente. — Eles não me controlam.
— Não? — Ele ergue seu telefone. — Então por que já tem uma
equipe de assassinos de elite sendo montada pra lidar com isso se
tu recusar?
Isso me deixa gelada. — Que equipe?
— Os Espectros.
O nome me atinge com mais força do que eu gostaria. Memórias
voltam do meu primeiro ano como Veneno, observando das
sombras enquanto eles trabalhavam. O caso Thompson. O fedor de
decomposição e loucura. A maneira como eles o mantiveram
consciente durante tudo, como o fizeram assistir enquanto
destruíam sistematicamente tudo que ele amava antes de
finalmente acabar com ele.
— Merda — sussurro, e as paredes de cristal racham com meu
medo.
— Tu tem doze horas — Ramsey repete suavemente. — Depois
disso, eles entram em ação. E Ivy? Eles não vão só atrás da Cathy.
Qualquer um que tentar protegê-la será considerado um alvo.
— Eles realmente não estão pra brincadeira — murmuro.
— Não, não estão. — Ramsey se levanta, indo até a janela onde
as nuvens de tempestade agora pressionam o vidro como coisas
vivas. — Isso é uma demonstração de poder, pura e simples. Eles
querem provar que são teus donos.
— Mas por que agora se eles não sabem sobre a Resistência ou
sobre meus novos poderes?
Ele dá de ombros. — Não sei.
— Me fala sobre a Equipe Alfa dos Espectros — digo, me
forçando a pensar taticamente mesmo que meu poder ameace
rasgar a realidade ao nosso redor.
A expressão de Ramsey fica grave. — Eles são o pior do pior.
Cinco membros, cada um especializado em uma forma diferente de
tortura. A líder deles, Echo, ela é algo à parte. Dizem que ela pode
fazer um único momento de dor durar o que parece uma eternidade.
— E os outros? — Preciso saber contra o que estou lutando,
preciso entender exatamente que ameaça eles representam para
minha tia.
— Shade trabalha com sombras. Ele as torna sólidas, as usa pra
arrancar a pele dos ossos. Eu vi o trabalho deles uma vez, no início
da minha carreira de manipulador. A vítima... parecia que tinha sido
esculpida pela escuridão viva.
Meu poder pulsa com cada revelação, transformando as paredes
de cristal em espelhos que refletem versões infinitas de nós, cada
uma ligeiramente diferente. Em uma, sou totalmente Veneno. Em
outra, pura energia caótica ganhando forma.
— Whisper é especialista em tortura psicológica — Ramsey
continua. — Entra na tua cabeça, te faz experimentar teus piores
medos em loop. Eles enlouqueceram um vampiro mais velho em
menos de uma hora. Ele ainda está num asilo, gritando sobre
sombras que falam.
A tempestade lá fora se intensifica, a chuva começando a cair
para cima quando meu controle escorrega um pouco.
— Grave pode controlar a decomposição; te faz sentir teu corpo
apodrecendo enquanto tu ainda tá vivo. Te mantém consciente
durante todo o processo. — Ramsey estremece. — E então tem o
Silence...
— O que o Silence faz?
— Ninguém sabe exatamente. Aqueles que o encontraram
nunca mais falam de novo. Literalmente não podem. Algo sobre o
poder dele rouba tua voz, não só fisicamente, mas mais
profundamente. Como se tirasse tua capacidade de se expressar de
qualquer forma.
O telefone de Ramsey vibra novamente, e eu engulo em seco
enquanto ele olha para ele. — O que diz?
— Este é o teste final. Faça isso, e eles te contam o que
aconteceu com teus pais.
— O quê? Tu tá falando sério?
Ele vira o telefone para me mostrar. — Muito sério.
— Merda. Bem, eu já sei o que aconteceu com meus pais, então
não preciso fazer isso, certo? — Solto uma risada fraca, desprovida
de qualquer humor.
— Errado. Se tu não fizer isso, eles pegam tua alma conforme
teu contrato, e a Cathy morre de qualquer jeito. Dolorosa e
lentamente.
— Então o quê? — disparo. — Eu devo tornar rápido e indolor?
Ele balança a cabeça. — Não sei, Ives. Estou aqui como teu
manipulador, te dando fatos quando tu não consegue vê-los.
— Merda. — Sento-me novamente e enterro a cabeça nas mãos.
— Não sei o que fazer. Eles ainda podem pegar minha alma com eu
assim? A Morte não vai impedi-los?
— A menos que a Morte esteja envolvida nisso, o que,
convenhamos, é mais do que provável.
— Porra.
O cristal se espalha pelo teto, criando um caleidoscópio de
reflexos que mostram diferentes versões de futuros possíveis. Na
maioria deles, há sangue.
— Eles querem você emocional, desequilibrada. Mais fácil de
manipular. Os Espectros não são apenas assassinos - são uma
arma psicológica. A ameaça deles muitas vezes é suficiente para
garantir a obediência.
Magia rosa-púrpura crepita ao meu redor enquanto processo
essa informação. O Sindicato não está apenas enviando assassinos
- está enviando sua equipe mais sádica, sabendo exatamente o que
farão com minha tia.
Mas eles cometeram um erro crucial.
— Você não pode salvar todo mundo — diz Ramsey
suavemente, observando enquanto meu poder começa a se
estabilizar, focando em algo mortal em vez de caótico.
— Observe-me. Nenhum de nós morre esta noite. — Vou em
direção à porta, meu poder zumbindo com planos letais. A realidade
se dobra levemente ao meu redor, respondendo à minha clareza de
propósito.
Saindo para a tempestade, deixo meu poder fluir livremente.
Energia rosa e roxa dança ao meu redor, respondendo à minha
raiva e determinação. Deixe que observem. Deixe que pensem que
sabem o que estou planejando.
O negócio com venenos é que eles funcionam melhor quando
você não os vê chegando. O Sindicato quer jogar jogos? Quer testar
minha lealdade. Tudo bem.
Mas eles não sabem algo crucial: eu não sou mais apenas
Veneno. Não sou apenas uma assassina metamorfa. Sou uma
bruxa e uma manipuladora do caos relacionada à Morte. Sou algo
novo, algo evoluído, e eles estão prestes a aprender exatamente o
que isso significa.
O jogo começou, e desta vez, não estou jogando pelas regras de
ninguém além das minhas próprias.
Hora de mostrar a eles por que não se encurrala uma trepadeira
venenosa.
Ela tende a crescer em direções inesperadas, e tudo o que toca
morre.
As nuvens de tempestade começam a chover fogo púrpura.
É mais profundo e mais escuro do que aquilo com que comecei.
Está evoluindo.
Deixe que observem.
Deixe que se preocupem.
A caçada começou.
21

IVY

A
caminho, cada passo deixando pegadas semelhantes a diamantes
que se desvanecem em poeira estelar. Meu poder não apenas
evoluiu nos últimos minutos, tornou-se algo inteiramente novo, algo
que não segue as velhas regras. Mas é exatamente disso que
preciso agora.
Primeiro o mais importante: coleta de informações.
— Mostre-me — sussurro para o campus de Thornfield, que está
coberto por uma névoa enevoada que nada tem a ver com o clima.
Meu poder responde. A magia se espalha pelo concreto sob meus
pés, criando uma teia de consciência. Posso sentir cinco assinaturas
distintas de anormalidade movendo-se pelas sombras. Os Espectros
já estão aqui, posicionando-se.
Eles são bons, tenho que admitir. Mas eu sou melhor. Porque
enquanto eles me observam, esperando que eu faça um movimento
em direção a Cathy, não percebem que sei exatamente onde eles
estão.
Meu poder não é mais apenas caos, e evolução, por definição,
se adapta.
Encontro um lugar tranquilo no campus, atrás do prédio principal,
e me apoio na parede, fechando os olhos. A magia espirala de mim
em todas as direções, carregando minha consciência consigo.
Posso sentir cada rato em cada esgoto, cada aranha tecendo sua
teia, cada barata correndo pelas paredes. Vida, em todas as suas
formas, pronta para ser ajustada.
O Sindicato pensa que sabe o que posso fazer, mas eles ainda
não viram nada. Sim, isso vai me expor de maneira grande, mas
quem se importa? Para ser honesta comigo mesma, acho que
Ramsey está errado, e eles já sabem de tudo.
Estão tentando me assustar com sua contagem regressiva, suas
ameaças, seu esquadrão de elite de assassinos. Mas eles se
esqueceram de algo sobre mim, ou talvez seja algo que nunca
souberam em primeiro lugar. Não estou mais lutando apenas por
mim mesma. Isso não é sobre lealdade ao Sindicato versus amor
pela minha tia, que, sejamos honestos, é escasso. Mas família é
família e toda essa besteira.
Isso é sobre avanço versus estagnação. Mudança versus
controle. O futuro versus o passado.
E eu sei de que lado estou.
Meu poder ondula novamente, mas desta vez, eu o direciono
com um único pensamento. Cada inseto, cada roedor, cada forma
de vida minúscula no campus se torna uma extensão da minha
consciência. Posso sentir os Espectros se movendo e posso
rastrear seu progresso através das lacunas na realidade que eles
pensam que ninguém mais pode ver.
Vamos lá, seus idiotas. Vocês estão cegos e nem sabem disso.
Relâmpagos cruzam o céu enquanto me afasto da parede, meu
poder zumbindo com um propósito mortal. Hora de mostrar a eles
que escolheram brigar com a garota errada.
Na natureza, não são os mais fortes que sobrevivem, são
aqueles mais responsivos à mudança, e mudança nunca foi um
problema para mim. Só que desta vez, não é apenas meu rosto ou
meu nome... é tudo.
Eu me movo pelo campus como um fantasma, meu poder
ondulando a realidade ao meu redor. Os Espectros pensam que
estão me caçando, mas não têm ideia de que acabaram de se
tornar a presa.
Avisto Echo primeiro, sua assinatura de energia uma nota
dissonante na sinfonia de vida ao nosso redor. Ela está empoleirada
em um telhado, olhos esquadrinhando o terreno abaixo. Hora de
fazer meu primeiro movimento.
Com um pensamento, envio um enxame de mariposas em
espiral em sua direção, infundindo-as com caos. Conforme se
aproximam de Echo, suas asas brilham com uma luz roxa
fantasmagórica.
Echo percebe tarde demais. As mariposas explodem em uma
explosão de energia caótica, cegando-a momentaneamente. Nesse
instante de distração, estou lá, movendo-me através do tempo e do
espaço com algo que canta poder de bruxa para mim.
Ela gira, mãos já tecendo algum feitiço sombrio, mas sou mais
rápida. Meu poder se lança, envolvendo-a como vinhas vivas. Elas
afundam em sua pele, injetando caos diretamente em seu sistema.
Os olhos de Echo se arregalam ao sentir minha magia invadindo-
a. — O que você é? — ela ofega.
Eu sorrio, deixando um pouco de Veneno transparecer. — Algo
que você não entenderia mesmo se eu explicasse com giz de cera.
Você agora é obsoleta.
Com uma torção da minha vontade, despedaço a conexão de
Echo com seu próprio poder. Ela grita enquanto ele se afasta dela,
deixando-a drenada e impotente.
Echo desaba, seu corpo convulsionando enquanto minha
energia frenética devasta seu sistema.
Uma a menos, faltam quatro.
Eu sorrio. Esta é a maior diversão que tive no trabalho em muito
tempo. Mas não tenho tempo para me deliciar com essa pequena
vitória. Já posso sentir os outros Espectros convergindo para minha
localização, atraídos pelo grito de Echo. Ótimo. Deixe que venham.
Shade se materializa das sombras primeiro, sua forma
ondulando como escuridão senciente. — O que você fez? — ele
rosna, vendo a forma prostrada de Echo.
— Erradicação do mais fraco — respondo, deixando meu poder
brilhar ao meu redor. O ar treme com o fedor de ozônio.
Shade não perde tempo com palavras. Tentáculos de sombra se
lançam, visando arrancar a pele dos meus ossos. Mas minha magia
é mais rápida, transmutando a escuridão em borboletas que se
dissolvem em névoa.
Seus olhos se arregalam em choque. — Impossível.
Eu sorrio, sentindo o caos cantar em minhas veias. — Você não
tem ideia do que está enfrentando.
Com um pensamento, envio uma onda de insetos mutantes
enxameando em sua direção. Cada um carrega uma faísca da
minha magia, pronta para explodir ao contato. Shade tenta se
dispersar em sombra, mas meu poder já está lá, infectando a
própria escuridão.
Ele grita enquanto a loucura o invade, distorcendo sua essência.
Observo impassivelmente enquanto sua forma se desmancha,
espalhando-se em fiapos de sombra contaminada que se dissipam
no vento.
Dois a menos.
Um sussurro de som é meu único aviso antes que Silence
apareça atrás de mim, suas mãos já alcançando minha garganta.
Mas eu não estou mais lá. Meu poder surge, deslocando-me através
do espaço em uma explosão de energia roxa.
Reapareço atrás de Silence, relâmpagos cintilando entre meus
dedos. — Boa tentativa — provoco. — Mas você terá que ser mais
rápido que isso.
Silence gira, seus olhos se arregalando ao perceberem meu
estado transformado. Eles abrem a boca, mas nenhum som sai. Em
vez disso, sinto uma pressão se acumulando no ar ao nosso redor,
como se a realidade estivesse sendo comprimida.
Com um pensamento, despedaço o silêncio que estão tentando
impor. A pressão explode para fora em uma onda de som que
estilhaça janelas e faz Silence cambalear para trás.
Antes que possam se recuperar, estou sobre eles. Minhas mãos
se fecham em ambos os lados de sua cabeça, e eu despejo
anarquia diretamente em sua mente. Silêncio grita, um ruído irritante
como unhas em um quadro-negro, enquanto meu poder
sobrecarrega seus sentidos.
Eles desabam, seu poder quebrado e sua mente estilhaçada.
O ar fica espesso com o fedor de decomposição conforme Grave
se aproxima. Vegetação apodrecida brota do chão a cada passo que
ele dá.
— Impressionante — ele resmunga. — Mas você consegue
enfrentar dois de nós ao mesmo tempo?
Eu recuo enquanto Whisper entra em vista, e sorrio friamente
enquanto eles se aproximam. — Dois contra um? Mal parece justo.
— Meu poder crepita ao meu redor, a realidade se distorcendo em
seu rastro. — Para vocês.
Os olhos de Grave se estreitam. — Vadia arrogante. Vamos ver
quão convencida você fica quando sua carne estiver apodrecendo
dos seus ossos.
Ele ergue as mãos, energia escura rodopiando ao seu redor. A
vegetação ao redor do campus murcha e apodrece. Mas antes que
o efeito possa me alcançar, eu torço a realidade ao meu redor,
criando uma bolha onde seu poder não pode me tocar.
— Impossível — Grave rosna.
— Se por isso você quer dizer possível, então sim.
Whisper não perde tempo com palavras. Sinto a pressão de seu
poder tentando invadir minha mente, me prender em um ciclo dos
meus piores medos. Mas minha magia evoluída repele isso como
água nas costas de um pato.
Ataco com dois tentáculos de poder, um para cada um deles.
Grave tenta contra-atacar com uma onda de decomposição, mas
minha magia simplesmente a absorve, ficando mais forte. Whisper
tenta se refugiar nas sombras, mas eu estou lá esperando por ele.
Inundo seu sistema com puro caos, sobrecarregando sua habilidade
de manipular medos.
Grave ruge de frustração quando seu poder falha em me afetar.
Ele avança, mãos estendidas para me tocar diretamente. Mas eu
não estou mais lá. Pisca atrás dele, meu poder se materializando
em uma forma física.
— Você quer decomposição? — eu rosno. — Vou te mostrar
decomposição.
Com um único golpe, corto a conexão de Grave com seu poder.
Ele grita enquanto suas próprias habilidades se voltam para dentro,
seu corpo começando a apodrecer de dentro para fora.
Whisper, percebendo que está em desvantagem, vira-se para
fugir. Mas meu poder está em toda parte agora, infundido no tecido
da realidade ao nosso redor. Não há para onde ele correr.
Estendo-me com minha mente, agarrando os fios de sua
consciência. Com uma torção violenta, destroço sua psique,
deixando-o uma casca babando.
O campus abaixo continua como se nada tivesse acontecido
enquanto eu fico no telhado no centro da destruição. Meu poder
zumbe contente, tendo se banqueteado com suas habilidades.
Posso sentir a magia roubada deles se integrando à minha, me
tornando mais forte.
— Ainda quer me pedir para matar minha tia? — eu grito. — Se
a resposta for 'sim', então você é o próximo da fila. Escolha com
sabedoria.
Corro e salto do topo do prédio. Segurando meus braços
enquanto despencava em direção ao chão, por um momento,
perdida na beleza do voo, meus pés atingem o solo, joelhos
dobrados, e a terra racha sob a pressão. Eu me endireito com um
sorriso perverso.
No momento seguinte, sei que me perdi. Fui despedaçada, e não
sei se algum dia poderei ser remontada novamente.
Mas talvez eu não queira ser.
22

BRAM

A F S
segundos antes do ataque chegar. Eu me abaixo e rolo quando uma
lâmina de pura sombra corta o espaço onde minha cabeça estava.
— Ficando descuidado, Príncipe Bram — a voz de Draxon
sussurra atrás de mim. — Ou ela está te enfraquecendo?
Eu puxo a escuridão ao meu redor como um manto, minha
magia das sombras respondendo à ameaça. O pátio da
universidade está lotado nesta hora, e é provavelmente por isso que
o executor político da minha família veio me fazer uma visita.
— Ciúmes? — pergunto às sombras. — De que ela está fora do
seu alcance?
Uma risada como vidro quebrando racha o concreto sob meus
pés. — Fora do nosso alcance? Olhe ao seu redor. Tudo está ao
nosso alcance.
Ele não está errado. Cada canto escuro abriga ameaças
potenciais. Cada conversa sussurrada carrega significados ocultos.
Draxon se materializa da escuridão; sua forma é mais sugestão
do que substância. — A Corte Sombria manda lembranças — diz
ele, empunhando lâminas de sombra como extensões de si mesmo.
— Eles estão muito interessados na sua associação com a Herdeira
da Morte e se perguntam por que você não os informou.
É claro que estão.
— Diga a eles para entrarem na fila — rosno, enfrentando seu
ataque com minhas próprias construções de sombra. — Todos
parecem ter uma opinião ultimamente.
— Você se alinhou com o caos encarnado — diz Draxon, nossas
armas de sombra colidindo em exibições de escuridão impossível.
— Achou que não haveria consequências?
A luta se move pelo pátio em explosões de velocidade rápidas
demais para olhos mortais rastrearem. Draxon é bom, um dos
melhores. Mas eu fui treinado pela própria Corte Sombria, e
algumas lições você nunca esquece.
— Você não está aqui por mim — murmuro, captando vislumbres
de seu verdadeiro propósito nos padrões de seus ataques. — Isso é
sobre ela. Sobre mostrar a ela o que está em jogo.
Sua risada confirma isso.
— Garoto esperto — Draxon ronrona, sua forma ondulando
como óleo na água. — Tantas peças em jogo. Tantas maneiras
como isso poderia terminar.
Eu mudo de tática, puxando a magia Fae que me marca como
sangue real. As sombras respondem de maneira diferente agora,
assumindo aspectos de luz estelar e gelo.
As sombras infundidas com luz estelar rodopiam ao meu redor,
respondendo ao meu sangue. Os olhos de Draxon se arregalam
ligeiramente ao reconhecer o verdadeiro poder da linhagem real.
— Ah, aí está — diz ele, um toque de respeito colorindo seu tom.
— Eu estava me perguntando quando você pararia de se conter.
— Quer um espetáculo? — rosno, sentindo a magia fluir através
de mim. — Vou te dar um maldito espetáculo.
Eu ataco com tentáculos de sombra e luz estelar, cada um
carregando o frio mortal do reino Sombrio. Draxon contra-ataca com
suas próprias construções de sombra, mas posso ver a tensão em
seu rosto enquanto ele luta contra a magia real.
— A Corte subestima ela — digo, pressionando minha
vantagem. — Eles pensam que ela é apenas mais um peão em
seus jogos.
Draxon ri, um som como gelo rachando. — Oh, nós sabemos
exatamente o que ela é. A questão é, você sabe?
Suas palavras me fazem hesitar, e nesse momento de distração,
ele ataca. Uma lâmina de pura sombra corta meu peito, traçando
uma linha de sangue prateado.
Eu tropeço para trás, mais chocado do que ferido. Faz um tempo
desde que alguém conseguiu me ferir.
— Você está comprometido — diz Draxon, circulando-me como
um predador. — Seus sentimentos por ela te enfraqueceram.
— Você está errado — rosno, deixando meu sangue real fluir
livremente agora. As sombras ao nosso redor se contorcem e se
retorcem, respondendo ao meu poder liberado. — Ela não me
enfraquece. Ela me torna mais forte.
Os estudantes ao nosso redor formaram um círculo enorme,
incapazes de desviar o olhar mesmo que devessem correr o mais
longe possível. Haverá danos colaterais.
Os olhos de Draxon se estreitam ao sentir a mudança no ar. O
véu se dobra ao nosso redor enquanto eu acesso todo o potencial
da minha herança.
— Você esqueceu quem eu sou — digo, minha voz ecoando com
poder etéreo. — O que eu sou.
As sombras se fundem em formas sólidas, criaturas de pesadelo
nascidas da escuridão e da luz estelar. Elas circulam ao nosso
redor, rosnando e mordendo.
Draxon dá um passo para trás, o medo real cintilando em seus
olhos pela primeira vez. — Isso está além da sua posição, Príncipe
Bram. A Corte não tolerará tal demonstração de poder neste reino.
Eu rio, e o som envia rachaduras, espalhando-se pelo concreto.
— E ainda assim eles te enviaram aqui para me testar, para ver se
eu ainda era o príncipe obediente deles. — Mostro os dentes em um
sorriso feroz. — Considere isso minha demissão.
Com um pensamento, envio minhas feras de sombra investindo
contra Draxon. Ele luta de volta valentemente, suas sombras
colidindo com as minhas em uma exibição vertiginosa de magia
sombria. Mas ele está em desvantagem, e sabe disso.
— Você não pode protegê-la para sempre — Draxon ofega
enquanto meus lacaios o dilaceram. — A Corte virá atrás dela e de
você.
— Que venham — rosno, apertando meu domínio sobre a
realidade. O véu entre os mundos se torna fino, e posso sentir a
atração do reino Sombrio. — Vou mostrar a eles exatamente o que
acontece quando ameaçam o que é meu.
Com uma última explosão de poder, eu rasgo um portal para o
reino dos Fae Sombrios. Os olhos de Draxon se arregalam em
pânico quando ele percebe o que estou prestes a fazer.
— Você não pode — ele implora. — Eles vão te matar por isso.
Eu sorrio friamente. — Eles podem tentar.
Com um pensamento, envio Draxon voando através do portal,
seus gritos ecoando através das realidades. O portal se fecha atrás
dele, deixando apenas um frio persistente no ar.
As criaturas de sombra se dissolvem quando libero meu controle
sobre elas, a realidade se acomodando de volta ao lugar. Os
estudantes que testemunharam a luta permanecem congelados,
suas mentes lutando para processar o que acabaram de ver.
Eu me viro para me dirigir a eles, deixando transparecer um
indício da minha verdadeira natureza. — Isso nunca aconteceu —
digo, minha voz carregada com glamour Fae. — Vocês não viram
nada incomum aqui hoje.
Seus olhos ficam vidrados enquanto a sugestão se estabelece.
Em momentos, eles se dispersam, retornando às suas rotinas
normais como se nada tivesse ocorrido.
— Truque legal. Não funciona com esta vadia, porém.
A voz de Ivy me faz girar. — Quanto disso você viu?
— Que tal tudo? — Ela se aproxima, com um balançar sedutor
em seus movimentos. Isso me anima imediatamente.
Eu a agarro e a empurro contra a árvore mais próxima, minha
mão indo entre suas pernas para apertar sua boceta.
Ela morde o lábio inferior e se contorce para mais perto de mim.
Eu abro o botão e o zíper de sua calça jeans, deslizando minha mão
para dentro para encontrá-la encharcada por mim.
Ivy geme suavemente enquanto meus dedos deslizam por suas
dobras úmidas. — Porra, Bram. Aqui mesmo?
— Aqui mesmo — eu rosno, mordiscando seu pescoço. A
adrenalina da luta ainda corre por mim, me deixando imprudente. —
Eu preciso de você. Agora.
Ela sorri maliciosamente, seus olhos brilhando com aquele novo
poder. — Então me tome.
Empurrando sua calça jeans para baixo sobre suas coxas, ela
mantém as pernas pressionadas enquanto eu abro minhas calças.
Aproximando-me, eu empurro para dentro de sua boceta apertada,
encaixado entre suas coxas e causando uma fricção irresistível.
— Sim — ela sibila enquanto eu entro nela, enterrando-me até o
cabo.
Eu estabeleço um ritmo implacável, fodendo-a com força contra
a casca áspera — Mais forte — ela exige, sua voz grossa de luxúria
enquanto, mais uma vez, os estudantes param para olhar. Mas
nenhum de nós se importa. — Me faça sentir, Bram.
Enquanto eu a penetro impiedosamente, ela se contorce contra a
árvore, que range ameaçadoramente atrás dela, mas estou além de
me importar. Tudo que importa é o calor apertado de sua boceta ao
redor do meu pau, a maneira como ela ofega e geme a cada
estocada.
— Porra, Ivy — eu gemo, sentindo meu orgasmo se
aproximando. — Você me deixa maluco.
Sua boceta se aperta ao meu redor enquanto ela goza com um
grito, seu poder explodindo em ondas de energia vibrante.
O orgasmo de Ivy desencadeia o meu, e eu gozo com um rugido
gutural, derramando-me profundamente dentro dela. Enquanto nós
dois trememos com as ondas posteriores, eu me torno agudamente
consciente de nosso entorno e rio.
— Bem — diz Ivy sem fôlego — essa é uma maneira de fazer
uma declaração.
Saindo lentamente dela e guardando meu pau, eu a ajudo a
arrumar suas roupas. — Sutileza nunca foi meu forte.
Ela sorri, seus olhos brilhando com malícia e excitação
remanescente. — Claramente. Não que eu esteja reclamando.
Enquanto nos arrumamos, percebo que a multidão de
estudantes começa a se dispersar, provavelmente excitada por este
show de sexo ao vivo.
— Provavelmente devemos sair daqui — murmuro. — Estou
surpreso que os funcionários ainda não tenham aparecido.
— Por favor. Eles não saberiam o que fazer consigo mesmos.
O descaso casual de Ivy com as potenciais consequências me
faz rir, mas há uma ponta de tensão na minha risada. A luta com
Draxon e suas implicações ainda pesam fortemente em minha
mente.
— Precisamos conversar — digo, pegando sua mão e levando-a
para longe da cena de nossa transa muito pública. — Em algum
lugar privado.
Ela acena com a cabeça, sua expressão ficando séria ao
perceber meu humor. Atravessamos o campus, eventualmente
chegando a um canto isolado da biblioteca.
— Desembucha — diz Ivy assim que estamos sozinhos. — O
que te deixou tão agitado? Além do óbvio — ela acrescenta com um
sorriso malicioso.
Passo a mão pelo cabelo, tentando organizar meus
pensamentos. — Aquela luta não era só sobre mim. A Corte Negra
está fazendo movimentos, Ivy. Eles estão interessados em você.
Seus olhos se estreitam. — Por causa desse poder Fae?
— Sim, eles provavelmente acham que pertence a eles e,
portanto, você pertence a eles. Draxon estava aqui para te levar.
— Então, o que fazemos a respeito?
Eu suspiro, olhando para a biblioteca sem a menor ideia do que
dizer a ela. — Nós garantimos que isso não aconteça.
23

TORIN

— A
qualquer um imagina — diz Mãe, com o cabelo puxado para trás de
forma severa. Ela parece mais uma professora universitária do que
uma das vampiras mais poderosas da Grã-Bretanha, mas há algo
em seus olhos que trai a fachada. Algo ancestral. — Especialmente
quando se trata da linhagem da Morte.
Ela espalha o que parece ser uma árvore genealógica, mas
diferente de qualquer uma que eu já tenha visto antes. As linhas
entre os nomes brilham com uma luz tênue, e alguns ramos
parecem existir em múltiplas dimensões ao mesmo tempo,
sobrepondo-se de maneiras que machucam meus olhos ao olhar
diretamente.
Eu a encaro com irritação. Ela apareceu aqui momentos atrás,
sem aviso prévio, e está me forçando a ouvi-la porque diz que é
sobre Ivy. Uma palavra que seja um leve insulto, e eu mesma
estacarei essa mulher e a tirarei da minha vida, de uma vez por
todas.
— Essas conexões — ela traça uma linha brilhante — não são
apenas genealogia. São ligações mágicas, cuidadosamente
orquestradas ao longo de séculos. Olhe aqui — a linhagem Smith se
fundindo com os Thornes em 1742. Não foi uma união natural. Eles
foram atraídos por forças que nunca entenderam.
Eu me inclino para mais perto, tentando me concentrar nos
padrões intrincados, dando a ela exatamente cinco minutos para
fazer seu argumento antes que eu comece a atirar estacas por aí.
— A linhagem Hammond aparece aqui — ela continua,
apontando para uma seção onde múltiplas linhas convergem como
uma teia de aranha. — E aqui. E aqui. Sempre em junções críticas.
Sempre quando o poder da Morte precisa ser ajustado.
— Ajustado como?
Ela tira outro documento, este encadernado no que parece
suspeitamente pele humana. — A Morte escolhe recipientes de
linhagens específicas — aquelas com uma afinidade natural pela
magia do caos. Mas é mais do que simples compatibilidade. A
linhagem Hammond não é apenas sintonizada com o poder da
Morte. Ela é projetada. Tem sido por séculos.
— Projetada? — Eu estudo a complexa teia de casamentos e
ligações mágicas. Certos nomes continuam aparecendo — famílias
antigas, bruxas poderosas, figuras misteriosas marcadas com
símbolos que nunca vi antes.
— Observe — ela diz, dispondo mais três documentos em uma
formação triangular. Eles brilham, criando uma projeção no ar entre
eles. Um mapa tridimensional de linhagens mágicas que se estende
através do tempo. — Em 1503, a primeira ligação deliberada. Os
Hammonds não eram nada então, apenas uma família menor de
bruxas de quintal. Mas tinham potencial.
A projeção mostra duas linhas se fundindo, acompanhadas por
uma onda de poder que faz o ar ter gosto de relâmpago.
— Então aqui — 1648. A Convergência da Meia-Noite. Sete
famílias, sete ligações rituais, todas projetadas para concentrar
certas habilidades na linhagem.
Eu observo enquanto as linhas mágicas se retorcem e se
fundem, criando padrões que parecem seguir algum grande design.
— Quem orquestrou isso? A Morte?
A risada da Mãe não tem humor. — Isso remonta a muito antes.
Muito antes mesmo.
Ela revela outro documento, este escrito em uma língua que
parece mudar toda vez que tento lê-la. — Há padrões, se você sabe
onde procurar. Certas famílias orquestrando uniões específicas,
guiando as linhagens em direção a um propósito singular.
— Que propósito?
— Evolução — ela diz suavemente. — Evolução controlada e
direcionada da habilidade mágica. A capacidade de não apenas
canalizar o poder da Morte, mas de mudá-lo. De torná-lo mais.
A projeção muda, mostrando convergências mais recentes. Eu
reconheço alguns nomes agora — famílias ainda ativas na política
sobrenatural.
— Cada casamento arranjado, cada criança nascida, cada morte
cuidadosamente cronometrada, todos fazem parte de um design
maior. A linhagem Hammond não foi escolhida pela Morte. Ela foi
criada para a Morte.
Isso é novo e interessante. Ela ganha mais cinco minutos. —
Criada por quem?
— Essa é a parte interessante. — Ela tira outro documento, este
com símbolos que fazem meus olhos lacrimejar. — Existem poderes
mais antigos que a Morte. Magias mais antigas que o caos, e elas
têm esperado. Planejado. Preparado.
Há uma batida na porta, e Bram a empurra para abrir com Ivy ao
seu lado. — Ei. Precisamos conversar-Ele se interrompe ao ver
minha mãe e seus documentos.
A reação de Ivy é interessante, porém. Ela para de repente
enquanto encara minha mãe. A projeção flutuante das linhagens de
sangue se deforma, respondendo à presença dela como ferro a um
ímã.
— Você — Ivy declara. — Você estava lá. Na cabana.
A expressão da Mãe não muda, mas seus olhos se estreitam. —
Senhorita Hammond. Bom ver você novamente.
— Novamente?
— Quando eu matei seu pai — Ivy diz, sem tirar os olhos da
minha mãe — havia uma mulher lá. Observando antes de
desaparecer em uma nuvem de poder roxo.
— A maga avançada que Tate achou que estava lá — eu digo
entre dentes. — Era você.
— As peças já estavam em movimento — Mãe diz calmamente,
afastando o assunto como se estivesse discutindo o clima em vez
de sua presença no assassinato do meu pai. — Certas coisas
tinham que acontecer em uma ordem específica. A morte do seu pai
foi um catalisador necessário.
— A questão é por quê? Por que você queria ele morto? Por que
revelar esses segredos das linhagens agora?
Mãe se endireita, e por um momento, vislumbro algo antigo e
terrível em seus olhos. — Porque a Morte não é a única jogando um
jogo longo. O Sindicato pensa que são os manipuladores, mas há
poderes mais antigos em ação.
Ela gesticula para os documentos espalhados, cada um
brilhando com séculos de magia cuidadosamente tecida. — Observe
o padrão. A linhagem Hammond cruzando com praticantes do caos
em 1742. A infusão de magia negra através do casamento Smith em
1823. A ligação do poder elemental através da aliança Thorne em
1901. Cada geração, cada união, cuidadosamente orquestrada para
criar o recipiente perfeito.
— As linhagens de sangue — eu digo, as peças se encaixando
em um lugar horrível. — Você não está apenas compartilhando
informações. Você faz parte do que quer que esteja projetando-as.
Parte da organização que tem manipulado linhagens sobrenaturais
por séculos.
— Garoto esperto. — O sorriso da Mãe contém segredos dentro
de segredos. — Embora talvez não esperto o suficiente, se você
ainda não descobriu por que seu pai realmente teve que morrer.
— Explique.
— Os recipientes da Morte não são escolhidos — ela diz,
batendo nas antigas árvores genealógicas. As linhas mágicas
respondem ao seu toque, criando novos padrões no ar. — Eles são
criados. Através de séculos de reprodução cuidadosa, ligações
mágicas e... — ela olha para Ivy — remoções precisamente
cronometradas de certos obstáculos.
— Meu pai era um obstáculo? — pergunto, sentindo a ironia. Ele
definitivamente era um obstáculo para mim.
— Ele descobriu demais. Começou a fazer perguntas perigosas
sobre famílias antigas e magias mais antigas ainda. — Ela traça um
vínculo particularmente complexo no padrão flutuante. — Ele ia
expor tudo. Todo o trabalho cuidadoso de séculos, desfeito pela
ganância de um homem por poder. Não podíamos permitir isso.
— Nós? — Ivy exige. — Quem exatamente é "nós"?
O sorriso da mãe fica mais afiado. — Agora essa é a verdadeira
questão, não é? A que O Sindicato deveria estar perguntando, em
vez de brincar com seus joguinhos de ultimatos e demonstrações de
poder.
Ela acena com a mão, e as projeções mágicas se reformam,
mostrando novos padrões, conexões mais profundas que eu não
havia notado antes. — Cada grande evento sobrenatural na história,
cada ascensão ao poder, cada queda de uma família antiga, cada
tragédia aparentemente aleatória, tudo faz parte do padrão. Tudo
nos movendo em direção a este momento.
— Que momento? — exijo saber, mas agora vejo nas linhagens.
A forma como todas parecem convergir para este ponto no tempo.
Para Ivy.
— Evolução — diz a mãe novamente, mas desta vez, a palavra
carrega peso. Poder. Promessa. — A verdadeira evolução da
habilidade mágica. A linhagem Hammond foi criada para ser mais
do que apenas o receptáculo da Morte. Foi projetada para mudar a
própria Morte.
— Sabe de uma coisa? — Ivy dispara. — Estou ficando
realmente cansada dessa maldita palavra. Ninguém a usa de novo,
ou começo a chutar traseiros.
Mãe olha para Ivy com algo parecido com fome. — Você já está
sentindo, não é? A forma como seu poder está crescendo,
mudando, tornando-se algo novo. Algo mais do que a Morte jamais
pretendeu. Orquestramos toda a sua existência. Séculos de
reprodução cuidadosa e manipulação mágica, tudo levando a você.
O receptáculo perfeito para o que está por vir.
— O que está por vir? — pergunto.
Mãe reúne os documentos antigos com um movimento de mão,
e eles desaparecem, seu sorriso guardando séculos de segredos. —
Os poderes antigos estão despertando. As barreiras entre os
mundos estão se desgastando. E vocês, meus queridos filhos, estão
no cruzamento da história.
Ela olha entre nós, e por um momento, vejo algo vasto e escuro
por trás de seus olhos. Algo que faz o poder da Morte parecer jovem
em comparação.
— A questão não é quem eu sou ou o que fiz — ela diz. — A
questão é: quando vocês finalmente entenderem o que está por vir,
de que lado da história escolherão estar?
Nós a encaramos, sem palavras.
— Escolham com sabedoria, crianças — diz a mãe, virando-se
para sair. — A dança está apenas começando.
Ela desaparece em uma nuvem de poder, deixando-nos apenas
com perguntas e o peso esmagador da revelação.
A verdade se assenta ao nosso redor como cinzas caindo: Nada
é o que pensávamos.
Ninguém é quem acreditamos.
E o verdadeiro jogo?
Nem sequer começou ainda.
— Que porra é mais velha que a Morte? — Bram dispara,
frustrado e irritado como eu.
— A única coisa que vem antes dela — murmura Ivy. — A Vida.
24

IVY

A ,
fazendo meu poder maluco explodir em resposta. Vida. Claro. A
palavra ecoa em minha mente, carregando um peso além de sua
simples sílaba. O que mais poderia ser poderoso o suficiente para
orquestrar séculos de manipulação da linhagem sanguínea? O que
mais teria a paciência, a previsão, para moldar o recipiente perfeito
ao longo de gerações?
Meu poder ondula sob minha pele, não mais um caos de cor
clara, mas algo mais profundo e primitivo. É como se minhas células
estivessem despertando para uma verdade que sempre
conheceram.
— Os véus estão se afinando — murmuro, observando enquanto
a realidade ondula ao nosso redor. Meu poder responde de maneira
diferente agora, mais sintonizado com as mudanças sutis entre os
reinos. — Você não consegue sentir?
O ar fica denso de possibilidades, adquirindo uma qualidade
estranha que faz com que respirar pareça como inspirar luz líquida.
De repente, a sala se enche de um brilho radiante que me cega
momentaneamente. Levantando a mão para cobrir meus olhos,
cada célula do meu corpo canta em reconhecimento.
Antes que qualquer um de nós possa se mover, a realidade se
divide. Não há outra palavra para isso. O tecido da existência se
parte como uma cortina, criando uma ferida no mundo que sangra
pura força vital não filtrada. Através dessa fenda, surge uma figura
que faz minha respiração parar e meus membros virarem gelatina.
Ela é linda de uma maneira que desafia a descrição. Sua forma
muda e cresce constantemente. Flores florescem em seus passos,
explodindo em vida vibrante apenas para murchar e serem
substituídas por novo crescimento em ciclos infinitos. Sua pele brilha
com uma luz interna que dói olhar diretamente, como tentar encarar
o sol. Seu cabelo se move como trepadeiras, cada fio um organismo
separado alcançando a luz.
A marca na minha lombar queima de repente, uma dor
lancinante que me faz ofegar. O vínculo do par destinado está
reagindo a algo, tentando me dizer algo crucial.
— Tate — sussurro, e como se convocado pela minha
necessidade, a porta se abre violentamente.
Ele tropeça para dentro, seu rosto pálido de tensão. Onde nossa
magia geralmente se conecta suavemente, há agora uma
ressonância perturbadora, como duas frequências dissonantes
tentando se alinhar.
— Que porra está acontecendo? — ele exige, seu poder
alcançando o meu instintivamente. Mas quando nossa magia se
toca, algo estranho ocorre. Em vez do efeito estabilizador usual, a
realidade se distorce mais violentamente ao nosso redor.
— Olá, âncora — diz essa criatura, sua voz contendo multidões
de vida - o estalo de sementes brotando, o farfalhar das folhas, o
ciclo eterno de crescimento e renovação. — Que fascinante. Você
também começou a se adaptar.
Os olhos de Tate se arregalam ao absorver sua forma
impossível. — Quem-
— Vida — respiro, a compreensão inundando-me. Meu poder
responde à presença dela, criando padrões estranhos no ar onde
nossas energias se encontram. — Ela é a Vida.
Ela sorri, e é como assistir a uma flor se desabrochar em câmera
rápida, belo mas nauseante. — Você cresceu lindamente, melhor do
que poderíamos ter esperado. E sua âncora... — ela estuda Tate
com intensidade perturbadora — ele está se reconfigurando
perfeitamente para conter seu caos.
— Nós? — Torin exige, movendo-se protetoramente para perto
de mim. Sua natureza vampírica recua da presença esmagadora da
Vida. Sua pura vitalidade é anátema para seu estado morto-vivo.
Vida acena com a mão de forma dismissiva, e onde ela passa, a
realidade floresce com vegetação impossível que cresce e morre em
segundos. As paredes brotam crescimentos fúngicos que cintilam
com bioluminescência, enquanto o chão se torna um tapete vivo de
musgo que respira sob nossos pés.
— Morte e eu temos jogado este jogo por eras — ela diz, fixando
sua atenção de volta em mim. — Mas as regras estão prestes a
mudar.
— Por causa de mim? — pergunto, observando como minha
magia do caos reage à presença dela, criando padrões rodopiantes
de roxo escuro e dourado onde nossos poderes se tocam. As cores
se misturam e se separam como óleo na água, nem se misturando
completamente nem se repelindo completamente.
Tate se move para mais perto de mim, mas posso sentir sua luta.
Seu papel como minha âncora é ajudar a estabilizar meu poder, mas
a presença da Vida afeta nossa conexão, tornando-a volátil e
imprevisível.
— Por causa do que você representa — ela corrige, sua forma
mudando sutilmente a cada palavra. — O equilíbrio perfeito entre
vida e morte, caos e ordem. Uma ponte entre o que é e o que
poderia ser.
A sala continua a se transformar ao nosso redor, paredes se
tornando tecido vivo que explode com energia mágica. As sombras
de Bram se contorcem desconfortavelmente, e Torin parece
fisicamente doente pela presença esmagadora da pura força vital.
Até mesmo a magia geralmente estável de Tate flutua
erraticamente.
— Você quer destruir a Morte — digo, a verdade se formando em
minha mente enquanto as peças se encaixam. — É disso que se
trata tudo isso. A manipulação da linhagem sanguínea, a evolução
engenheirada do meu poder. Você quer me usar para acabar com a
Morte.
Seu sorriso se torna predatório, e me sinto enjoada enquanto
meu sangue pulsa em meus ouvidos. Isso não é apenas sobre a
Morte; é sobre a morte.
Flores brotam de sua pele, florescendo e morrendo em rápida
sucessão enquanto a encaro horrorizada. — Imagine, pequena
catalisadora. Um mundo sem fim. Vida pura e eterna. Sem mais
perdas, sem mais dor, sem mais finais.
— Isso não é vida — argumento, sentindo o erro disso em meus
ossos. — Isso é estagnação. Sem morte, nada realmente vive.
Apenas existe.
— De fato. — Vida se move mais perto, e a realidade se distorce
ao seu redor. O ar vibra, espesso com esporos e vida microscópica
que não deveria ser visível a olho nu. — Mas você está pensando
muito pequeno. Não se trata de preservar vidas individuais. É sobre
transformar a própria existência. Torná-la mais.
Como que para demonstrar, ela toca uma planta próxima. Ela
cresce rapidamente, tornando-se algo impossível - um híbrido de
carne e flor que se contorce com vitalidade antinatural. Veias pulsam
sob pétalas translúcidas, e o que podem ser olhos piscam úmidos
de dentro de seu núcleo.
— É isso que você quer? — pergunto, horrorizada. —
Transformar tudo nessas abominações?
Tate aperta meus dedos com força, seu toque me mantendo
ancorada mesmo enquanto nossa magia combinada faz a realidade
flutuar mais violentamente. Posso sentir que ele está tentando me
ancorar, mas a presença de Vida corrompe a conexão,
transformando nossa harmonia habitual em algo selvagem e
instável.
— Quero cumprir o potencial de todos os seres vivos — ela diz,
sua voz assumindo o tom da loucura. Flores brotam de sua boca a
cada palavra, florescendo e murchando entre as sílabas. É horrível
de assistir, mas não consigo desviar o olhar. — Libertá-los das
restrições arbitrárias da mortalidade. E você, meu recipiente
perfeitamente criado, vai me ajudar a fazer isso.
— Ela não vai ajudar ninguém — Tate rosna, sua magia me
envolvendo protetoramente. Mas no momento em que toca o poder
de Vida, ela se transforma, energia negra brotando pequenos
botões de crescimento caótico.
Vida ri, e o som faz a realidade estremecer enquanto Tate
cambaleia para trás. — Oh, doce âncora. Você já está ajudando.
Cada vez que tenta estabilizar o poder dela, você cria novos
caminhos para expansão. Novas possibilidades de crescimento.
Meu poder surge em resposta às suas palavras, mas não em
concordância. A magia do caos que flui através de mim recua ao
seu toque, reconhecendo o erro fundamental de sua visão. Onde
nossas energias se encontram, a própria realidade parece se
contorcer.
— É por isso que Morte me escolheu — murmuro, as peças se
encaixando enquanto o aperto de Tate em minha mão se intensifica.
— Não porque ele queria um sucessor, mas porque precisava de
alguém que pudesse se opor a isso.
O riso de Vida desta vez é como vidro quebrando, e as flores
explodem ao nosso redor, suas pétalas caindo como chuva. Mas
elas estão erradas de alguma forma. São simétricas demais,
perfeitas demais, e carecem das belas imperfeições que tornam as
coisas naturais reais.
— Morte não escolheu você, criança. Eu escolhi. Milênios atrás,
quando comecei a moldar o que se tornaria a linhagem Hammond.
Morte apenas desempenhou seu papel, pensando que estava
preparando seu próprio sucessor.
O quarto continua se transformando, com paredes se tornando
tecido vivo que vibra com uma vitalidade doentia. Vinhas irrompem
pelo chão, crescendo, morrendo e renascendo em ciclos
intermináveis. Cada iteração se torna mais distorcida e errada. A
presença corpórea de Vida corrompe a ordem natural.
— Você está louca — Bram sibila, sua magia Fae recuando da
força vital distorcida que preenche o quarto. Suas sombras tentam
fornecer cobertura, mas onde quer que toquem o poder de Vida,
brotam fungos grotescos e luminescentes.
— Natural. — A beleza de Vida se transforma em algo terrível.
Suas feições perfeitas se tornam perfeitas demais, vivas demais,
células visivelmente se multiplicando e morrendo por toda a sua
pele. — Eu sou a natureza. Eu sou a própria vida, e estou cansada
de compartilhar o poder com Morte. Cansada de ver minhas
criações murcharem e morrerem quando poderiam florescer
eternamente. — O sorriso de Vida se torna enigmático enquanto a
realidade estremece ao nosso redor. — Você entenderá em breve —
ela diz, sua forma começando a se desfocar nas bordas. — Afinal, é
disso que trata a evolução.
25

IVY

A ,
simplesmente... se desfaz. É a única palavra para descrever. Não há
flash de luz, nem saída dramática - ela simplesmente deixa de
existir, deixando para trás uma ausência que parece mais
substancial que sua presença. A vegetação retorcida permanece, no
entanto, com uma vitalidade perturbadora que me dá arrepios.
—Bem, isso foi inesperado — murmura Torin, mas sua voz soa
tensa. A força vital avassaladora cobrou seu preço em sua natureza
vampírica.
—Você está bem, garoto-vampiro? — pergunto, ainda olhando
fixamente para o espaço onde Life estivera. Meu poder avançado
ainda crepita sob minha pele. Mas algo está diferente agora. O caos
parece proposital, de alguma forma, como se estivesse tentando me
dizer algo que eu deveria ter percebido há muito tempo.
—Sim — ele resmunga, parecendo mais pálido que o normal.
—Ivy? — A mão de Tate ainda está envolta na minha, seu toque
tranquilizador apesar da forma como nossa magia combinada faz a
realidade ondular. —O que você está pensando?
—Morte — digo lentamente, as peças se encaixando como um
quebra-cabeça se resolvendo sozinho. —Estivemos olhando para
isso tudo errado. Ele não é o vilão desta história.
Bram franze a testa, suas sombras finalmente se acalmando
agora que a presença de Life desapareceu. —O que você quer
dizer?
—Pense nisso — digo, enquanto a compreensão me inunda. —
Por que a Morte escolheria um recipiente que potencialmente
poderia destruí-lo? Por que orquestrar minha adaptação se isso
significava dar a Life a arma perfeita contra ele?
—A menos que — diz Tate —, esse não fosse o plano de jeito
nenhum.
—Exatamente. Ele não estava me preparando para destruí-lo ou
substituí-lo. Ele estava me preparando para manter o equilíbrio.
Para lutar contra Life assumindo o controle. Todo esse tempo, todos
estavam falando sobre - insira um gemido na maldita palavra -
evolução como se fosse sobre se tornar mais poderoso. Mas e se
for sobre se tornar mais equilibrado?
O caos dentro de mim responde à minha realização, criando uma
exibição que se parece com uma dupla hélice no ar - uma fita
escura como a Morte, outra brilhante como a Vida, com minha
energia roxa escura se entrelaçando entre elas erraticamente.
—A linhagem Hammond não foi projetada para destruir a Morte
— diz Tate pensativamente, sua magia se estendendo para
estabilizar o padrão que criei. —Foi projetada para ficar entre a Vida
e a Morte. Para manter a ordem natural.
Bram se aproxima, estudando o design flutuante com sua visão
Fae. —É por isso que a magia Fae Antiga respondeu a você. Os
Fae entendem o equilíbrio melhor que a maioria - existimos nos
espaços entre os reinos.
—E por que eu sou sua âncora — acrescenta Tate, sua energia
negra agora entremeada com traços do meu caos. —A linhagem
Well não é apenas sobre conter o caos - é sobre ajudar a canalizá-lo
produtivamente.
Eu aceno, sentindo a verdade em meus ossos. —A Morte sabia
que Life estava planejando algo. Ele sabia que ela vinha
manipulando linhagens por séculos, tentando criar o recipiente
perfeito para seu poder. Então, ele se adaptou. Usou o próprio plano
dela contra ela.
—Garantindo que seu recipiente perfeito fosse igualmente
sintonizado com o poder dele — diz Torin, entendendo. —Puta que
pariu, brilhante na verdade.
—Mais do que isso. Ele garantiu que eu fosse capaz de entender
ambos os lados. Vida e Morte. Criação e destruição. Crescimento e
decadência. Eles não são forças opostas - são partes de um mesmo
todo. Ou deveriam ser.
A vegetação retorcida que Life deixou para trás responde à
minha presença de maneira diferente agora. Em vez de crescer
selvagemente, ela se acomoda em um padrão mais natural,
encontrando equilíbrio entre crescimento e decadência.
—É por isso que você rejeitou se tornar a Morte ainda no útero
— percebe Tate. —Não porque você estava lutando contra o poder
da Morte, mas porque você estava destinada a ser algo
completamente diferente. Algo novo.
—Não novo — corrijo, enquanto vejo o quadro maior. —Antigo.
Tão antigo quanto a própria Vida e Morte. Deve ter havido um
guardião do equilíbrio. Alguém ou algo que mantém o equilíbrio
entre os reinos. Life tem tentado eliminar esse papel, para inclinar
tudo para o crescimento sem fim.
A realidade ondula ao nosso redor novamente, mas desta vez,
eu não luto contra isso. Em vez disso, deixo minha magia fluir
naturalmente, observando enquanto ela estabiliza as flutuações em
vez de exacerbá-las.
—Não se trata de se tornar poderoso o suficiente para destruir a
Morte. Trata-se de se tornar equilibrado o suficiente para ficar entre
a Vida e a Morte. Para impedir que qualquer força domine a outra.
—É por isso que a Morte te deu aquelas escolhas — diz Bram.
—Matar-nos ou perder sua alma - ele estava testando se você
poderia entender a necessidade de equilíbrio. Que às vezes o
sacrifício é necessário para manter a ordem natural.
—Eu apostaria que é por isso que ele nos aprisionou também.
Para ver se poderíamos escapar e voltar para Ivy ou desistir e
enfrentar nosso destino — murmura Torin.
Concordando, acho que tudo isso faz sentido em um nível tão
maluco que provavelmente é preciso uma louca para entender. —Eu
encontrei outro caminho.
—Porque é disso que se trata o equilíbrio realmente — diz Tate
suavemente. —Encontrar o caminho entre os extremos. Não apenas
aceitar as opções que te são dadas, mas criar novas possibilidades.
A marca em minhas costas aquece, e eu entendo algo mais
também. —O vínculo de parceiros predestinados - não é só sobre
romance ou destino. É sobre criar conexões que ajudam a manter o
equilíbrio. Cada um de vocês traz algo essencial para esta equação.
—Tate ancora seu caos — diz Torin, contando nos dedos. —
Bram traz a compreensão Fae dos espaços intermediários, e eu...
— ele pausa, franzindo a testa.
—Você traz a perspectiva de alguém que existe entre a vida e a
morte — digo a ele. —Vampiros não estão totalmente vivos nem
totalmente mortos. Você entende a liminaridade de uma forma que
poucos podem.
O quarto fica em silêncio enquanto todos processamos essas
revelações.
—E agora? — Bram finalmente pergunta. —Como impedimos
Life de desfazer tudo?
—Não lutamos contra ela diretamente — digo lentamente. —É
isso que ela quer. Conflito, ruptura, uma chance de provar que seu
caminho é melhor. Em vez disso, restauramos o equilíbrio. Cada vez
que ela tentar inclinar a balança para a vida sem fim, encontramos
maneiras de manter o equilíbrio.
—E a Morte? — pergunta Torin. —Onde ele se encaixa em tudo
isso?
— Ele também tem jogado o jogo longo. Trabalhando contra os
planos de Vida enquanto parecia se opor a nós. Tudo o que ele fez,
os ultimatos, os testes, até mesmo colocar O Sindicato contra mim -
tudo isso foi para me preparar para esse papel.
— O receptáculo perfeito — Tate murmura —, não para o poder
da Morte ou da Vida, mas para o próprio equilíbrio.
— Bem — digo após um momento de reflexão silenciosa —, pelo
menos agora sabemos pelo que realmente estamos lutando.
Os outros assentem, e sinto nosso vínculo se fortalecer - não
apenas pelo destino ou circunstância, mas por um propósito
compartilhado. Vida pode ter passado séculos criando o receptáculo
perfeito, mas ela nunca entendeu o que esse receptáculo realmente
estava destinado a se tornar.
Não uma arma de destruição.
Não um agente de vida eterna.
Mas um guardião do equilíbrio.
Uma força para o equilíbrio em um universo que
desesperadamente precisa disso.
A verdadeira evolução não é sobre poder, afinal.
É sobre compreensão.
Sobre equilíbrio.
Sobre encontrar o caminho entre os extremos.
E pela primeira vez desde que meu poder despertou, me sinto
verdadeiramente pronta para trilhar esse caminho.
Não importa aonde ele leve.
Não importa se ele me despedaçar.
26

IVY

O
a realidade ondula novamente - mas desta vez, não é por causa da
minha magia do caos. Três figuras se materializam na sala, seus
corpos se reformando a partir das sombras de uma maneira que me
coloca na defensiva até que eu veja quem são.
— Ah, ótimo, mais drama — Torin murmura, mas percebo que
ele se move protetoramente para mais perto de mim mesmo assim.
Josh acena, mas seu sorriso habitual está ausente. — Temos um
problema.
— Quando não temos? — respondo. — O que aconteceu?
— O Sindicato — diz uma mulher, seus olhos prateados
brilhando com urgência. — Eles vão atrás da Cathy esta noite.
— E você é? — pergunto com uma sobrancelha erguida.
— Esta é Eva — diz Josh apressadamente.
— Como você soube sobre a Cathy?
— Você os irritou de verdade, Ivy. Ficaram confusos ao saber o
que você pode fazer agora, e escolheram sua tia como alvo.
— Eles já tinham feito isso antes — murmuro. — Pensei que
tinha acabado.
Ele balança a cabeça.
A realidade ondula ao nosso redor em resposta à minha raiva.
Tate segura minha mão, seu poder de âncora lutando para
estabilizar o caos que ameaça explodir para fora.
— Quando? — exijo saber.
Josh dá de ombros. — Não sabemos ao certo. São rumores.
— Merda.
— Na verdade, tem mais — diz o terceiro membro da
Resistência, outra mulher que não reconheço. — É por isso que
estamos aqui. O Sindicato não está agindo por conta própria mais.
Eles estão sendo influenciados.
— Por quem?
— Boa pergunta.
Mas acho que já sei. A Morte está perdendo o controle sobre seu
pequeno bando de assassinos de circo, e a Vida está elevando seu
jogo. Isso não é bom. A Vida não está apenas tentando desfazer a
morte, ela está eliminando sistematicamente qualquer coisa que
possa ajudar a manter o equilíbrio.
— Isso não teve nada a ver com a Morte. Os Espectros. Foi a
Vida. Ela foi atrás da minha tia para me atingir.
— Hã? — Josh pergunta, franzindo o nariz. — Quem diabos é a
Vida?
Balanço a cabeça, e Torin começa a explicar enquanto minha
mente gira com tudo o que está acontecendo.
De repente, cheguei a um ponto em que estou cansada. Muito
cansada, porra. Tenho estado a todo vapor pelo que parece dias
agora e só quero fechar os olhos e acordar na semana passada,
onde tudo fazia sentido.
Batendo as mãos na cabeça para cortar o barulho, o falatório
das criaturas ao meu redor, fecho os olhos com um gemido e me
agacho.
— Ivy! — A voz de Tate corta a névoa em minha mente.
O mundo gira enquanto me agacho ali, mãos pressionadas
contra minha cabeça. Tudo é demais - as revelações sobre a Vida e
a Morte, a ameaça à Cathy, o peso desse novo papel que devo
desempenhar.
Meu poder flui e reflui em padrões imprevisíveis, fazendo o
mundo ao meu redor se torcer e distorcer em ondas nauseantes.
— Ivy, respire — diz Tate. Suas mãos estão em meus ombros,
tentando me acalmar. — Concentre-se na minha voz. Encontre seu
centro.
Eu tento, mas é como tentar agarrar fumaça. Qualquer
compreensão emergente que eu tinha sobre equilíbrio parece
distante, teórica. Neste momento, tudo o que posso sentir é a
avassaladora onda de caos me despedaçando.
— Não consigo — ofego. — É demais. Eu não sei como-
— Sim, você sabe — diz Bram firmemente. Ele se ajoelha ao
meu lado, sua magia das sombras nos envolvendo como um casulo.
— Você tem feito isso o tempo todo. Toda vez que encontrou uma
terceira opção, toda vez que rejeitou escolhas falsas. Isso é
equilíbrio em ação quando você nem percebia. Você é mais forte
que isso. Mais forte que todos eles. Você é a porra do Veneno, uma
vadia durona que pega o que damos a ela e implora por mais. Você
não é marionete de ninguém, Ivy. Você é melhor que todos eles.
Torin se junta a nós, sua mão fria nas minhas costas por baixo
da camiseta me envia arrepios. — Lembra do que você disse sobre
os vampiros existirem entre a vida e a morte? Esse é você agora.
Você é a ponte, o intermediário. Abrace isso.
Suas palavras penetram a névoa de sobrecarga. Concentro-me
em seu toque, na forma como nossas energias se misturam. A
âncora firme de Tate, a proteção sombria de Bram, a natureza
liminar de Torin.
Gradualmente, o caos dentro de mim começa a se acalmar. Não
desaparecendo, mas encontrando um estado de equilíbrio. Respiro
fundo e abro os olhos.
— Aí está ela — diz Torin com um sorriso irônico. — Nossa vadia
durona.
Consigo dar um sorriso fraco. — Obrigada, pessoal. Eu
precisava disso.
— Quando quiser — murmura Bram.
Levantando-me lentamente, encaro os outros. Josh e os
membros da Resistência parecem preocupados, mas não há tempo
para explicações.
— Certo — digo, minha voz mais forte agora. — Precisamos de
um plano. O Sindicato vai atrás da Cathy, e não podemos deixar
isso acontecer.
— Concordo — diz Tate. — Mas não podemos simplesmente nos
apressar cegamente. Se a Vida está influenciando eles agora, não
sabemos contra o que estamos lutando. Precisamos de um plano.
Algo que satisfaça o Sindicato sem realmente prejudicar a Cathy.
— Podemos fingir a morte dela? — pergunto lentamente.
— Não será fácil — adverte Eva. — Eles não são tolos.
Josh nos estuda pensativamente. — Pode funcionar. Mas você
vai precisar de ajuda interna. Alguém que saiba exatamente o que o
Sindicato procura em uma confirmação de morte.
— A Resistência pode ajudar com isso? — pergunto.
A mulher desconhecida dá um passo à frente novamente. — É
por isso que estou aqui. Sou Katie, uma ex-validadora de mortes do
Sindicato. Conheço todos os protocolos que eles usam para
confirmar uma morte.
— Uma validadora de mortes? — O lábio de Torin se curva. —
Eles realmente burocratizam tudo, não é?
— Você não faz ideia — diz Katie secamente. — Existem
dezessete protocolos distintos para confirmar diferentes tipos de
mortes sobrenaturais. Eles esperarão marcadores específicos.
— O que exatamente eles precisam ver? — Forço-me a
perguntar. — Nunca tive essa lista antes, e os vampiros viram pó,
então como eles sequer verificam? — Nunca tinha pensado nisso
antes, mas assumi que eles deviam saber de alguma forma. Talvez
eu não quisesse saber.
Katie começa a listar os requisitos clinicamente, mas eu me
desligo. Não me importo. Tudo que me importa é consertar qualquer
bagunça em que fui jogada o mais rápido possível para que eu
possa terminar em Thornfield e simplesmente ir viver minha vida
com meus caras. Quanto mais cedo isso acontecer, melhor.
Aquela onda de exaustão me atinge novamente, mas eu a
afasto. Haverá tempo para dormir depois.
Volto a prestar atenção quando Bram diz: — Precisamos ser
espertos nisso. O Sindicato espera caos e destruição de Ivy. Eles
estarão atentos a grandes e bagunçadas demonstrações de poder.
— Então, vamos ser sutis — digo, uma ideia se formando. —
Eles são tão focados em protocolos e procedimentos... e se
usarmos isso contra eles?
Josh ergue uma sobrancelha.
— O que você está pensando?
— Uma morte perfeita — digo lentamente. — Tenho uma ideia
sobre isso. Mas primeiro, precisamos chegar à Cathy antes que O
Sindicato o faça. Onde ela está?
Josh concorda com a cabeça.
— Em casa. Ela disse que tinha algo para resolver.
— Então precisamos agir rápido. — Viro-me para meus
companheiros. — Prontos?
Katie acena gravemente com a cabeça.
— Tenham cuidado. As marés mudaram com essa alteração na
hierarquia. Vocês precisam ser...
— Melhores? — digo amargamente.
Ela confirma com a cabeça.
— Maravilha — murmuro.
— Não vamos perdê-la — diz Tate com firmeza, sua mão
encontrando a minha. — Podemos fazer isso.
— A Resistência vai ajudar — acrescenta Josh. — Temos
observado alguns dos outros operativos do Sindicato há algum
tempo, tentando entender o que estava acontecendo com eles.
Estamos aprendendo seus padrões. Eles são fortes, mas
previsíveis. Tudo tem que ser exatamente como eles querem.
— A influência da Vida — murmuro. — Eles são como aquelas
plantas distorcidas, perfeitas demais para serem naturais. Sem
variação, sem caos, sem...
— Equilíbrio — completa Katie. — Exatamente. Eles seguem
protocolos porque não conseguem conceber alternativas. Para eles,
tudo é preto no branco. Sem áreas cinzentas.
— Então usaremos essa rigidez contra eles — digo. — Eles não
vivem o suficiente para machucar mais ninguém.
27

IVY

V B . A
parte Fae desse poder, que ainda não entendo, reconhece o espaço
entre os reinos, compreendendo-o não como escuridão, mas como
outra forma de equilíbrio. O contraponto natural à luz.
Emergimos no jardim dos fundos de Cathy, materializando-nos
atrás de seus preciosos arbustos de rosas.
Caminhando em direção à porta dos fundos, testo a maçaneta.
Está aberta, e balanço a cabeça, minha boca em uma linha sombria.
Ela nunca se preocupou muito com segurança. Posso entender o
porquê agora, sabendo que ela trabalha para A Resistência. Mas
ainda assim. Isso deveria torná-la mais consciente em relação à
segurança.
— Cathy? Você está aí? — chamo.
Ela entra na cozinha segurando algo que parece uma arma laser.
Abaixa-a quando me vê. — Ivy? O que você está fazendo aqui?
— Viemos por você-
— Vocês precisam ir embora. Há criaturas vindo-
— Você sabe?
Ela bufa para mim quando a interrompo, assim como ela fez
comigo, e seus olhos se estreitam ao observar nosso grupo. —
Claro que sei. Não sou uma civil indefesa, Ivy. Eu tenho me
preparado para isso.
Eu piscos, surpresa, mas então balanço a cabeça para mim
mesma. Eu deveria ter imaginado. A Resistência deveria ter
sabido... Algo não se encaixa aqui. — Se preparando como? —
pergunto com suspeita.
Ela gesticula para a estranha arma em sua mão. — Protótipo.
Foi projetada para interromper assinaturas de energia sobrenatural.
Deve incapacitar a maioria das ameaças, pelo menos
temporariamente.
— Impressionante — murmura Torin, olhando o dispositivo com
interesse.
— Não temos tempo para demonstrações — digo, forçando-nos
a voltar ao assunto. — O Sindicato está vindo atrás de você, Cathy.
Precisamos tirar você daqui.
Ela balança a cabeça firmemente. — Não. Não vou fugir. Eles
querem vir atrás de mim? Eles são mais que bem-vindos, porra.
Pressiono meus lábios diante da atitude desafiadora da minha
tia. De repente, a vejo pelo que ela é. Uma mulher durona. Não é
que ela não se importasse ou não me amasse. Ela trabalha para
uma agência sobrenatural encarregada de derrubar O Sindicato.
Simples, realmente, agora que eu sei. Posso ver tudo com muito
mais clareza.
— Não é mais apenas o Sindicato — Tate explica rapidamente.
— Há forças maiores em jogo. Entidades de nível cósmico que
fazem o Sindicato parecer valentões de escola.
— Vida — afirma Cathy. — Eu sei.
— Tá, então o que estamos fazendo aqui? — pergunto em
exasperação, — Se todos vocês já estão por dentro.
— Não faço a menor ideia — ela diz dando de ombros. — Por
que vocês estão aqui?
— Josh — murmuro e então balanço a cabeça. — Não. Ele não
é um traidor.
— Eu não gostei daquela Katie — Bram declara enfaticamente.
— Ela me deu arrepios.
— Idem — diz Torin. — Meus sentidos vampíricos
enlouqueceram perto dela.
— O que vocês estão dizendo? Josh está em perigo? —
pergunto, em pânico. Ramsey nunca me perdoaria se eu deixasse o
namorado dele morrer.
— Olha — Tate dispara, tudo isso o deixando irritado. —
Estamos prestes a ser cercados por esses idiotas seres perfeitos, e
estamos aqui parados conversando. Mais movimento, menos
conversa.
Tarde demais.
A realidade se distorce quando dois daqueles seres perfeitos
atravessam a parede da cozinha de Cathy. Seus movimentos são
anormalmente suaves, e suas características são simétricas demais.
Onde pisam, o azulejo brota minúsculas flores idênticas. A
assinatura da Vida escrita em cada uma de suas ações.
— Abaixem-se! — grita Bram, suas sombras avançando para
criar uma barreira entre nós e eles. Mas onde sua escuridão toca a
perfeição deles, ela começa a se transformar, brotando as mesmas
flores matemáticas em padrões precisos.
Meu poder reage instintivamente, reconhecendo o erro
fundamental da existência deles. São armas vivas de pura ordem,
criadas para eliminar o caos.
— As sombras não vão contê-los — adverte Tate, seu poder de
âncora lutando para estabilizar a explosão selvagem da minha
magia. — Precisamos de outra saída.
— Ivy Hammond — eles falam em uníssono, suas vozes
carregando harmônicos que fazem a realidade estremecer. — A
ordem natural deve ser preservada. Todo o caos deve ser contido.
— Ah, vão se foder — Cathy dispara. — Ordem natural uma ova.
Vocês são tão naturais quanto rosas de plástico.
Seguro minha risada enquanto ela aponta sua arma para eles e
atira. As sombras de Bram explodem, causando um contragolpe que
nos derruba. Meus ouvidos zumbem enquanto luto para me levantar,
piscando para afastar as manchas da minha visão.
— Porra — Torin geme, já se movendo para se colocar entre
mim e os intrusos. — Isso foi forte.
Mas quando a poeira baixa, vejo que o protótipo de Cathy fez
mais do que apenas interromper. Onde os seres estavam, a
realidade oscila, como olhar através do calor. Suas formas perfeitas
piscam e se distorcem, lutando para manter a coesão.
— Ha! — Cathy exclama triunfante. — Tomem isso, seus
bastardos simétricos!
Sua vitória é de curta duração. Mesmo enquanto observamos, a
distorção começa a se estabilizar. Flores impossivelmente perfeitas
brotam das rachaduras na realidade, costurando-a de volta com
uma precisão nauseante.
— Okay, novo plano — digo, agarrando o braço de Cathy. —
Estamos indo embora. Agora.
Ela começa a protestar, mas Bram já está se movendo. Suas
sombras, ainda cambaleantes da explosão da arma, conseguem se
fundir o suficiente para formar um portal giratório.
— Vão! — ele grita, o esforço evidente em sua voz. — Não
posso mantê-lo por muito tempo!
Não precisamos que nos digam duas vezes. Tate agarra minha
outra mão, e mergulhamos na escuridão. Torin e Cathy estão logo
atrás de nós. Bram vem por último, selando o portal logo quando os
seres avançam.
O reino das sombras gira ao nosso redor, um vórtice vertiginoso
de escuridão e formas meio formadas. O aperto de Tate em minha
mão é uma âncora no caos. A presença de Cathy é uma fagulha
brilhante de desafio, sua energia pulsando com adrenalina e raiva.
Emergimos em uma clareira na floresta, e a mudança repentina
da escuridão para o luar nos cega momentaneamente. Enquanto
meus olhos se ajustam, avalio nosso entorno. Árvores antigas se
erguem acima, seus galhos criando padrões intrincados contra o
céu noturno. O ar está denso de magia, antiga e selvagem.
— Onde estamos? — pergunto, não reconhecendo nada sobre
nossa localização.
Bram se apoia em uma árvore, parecendo exausto pela criação
do portal após Cathy ter explodido sua magia. — Um dos lugares
intermediários. Um espaço marginal onde as barreiras entre os
reinos são finas. Devemos estar seguros aqui, pelo menos por
enquanto.
Cathy assobia, baixo e apreciativa. — Impressionante. Ouvi
rumores sobre lugares como este, mas nunca realmente vi um.
— É, bem, aproveite a paisagem enquanto pode — Torin
resmunga, seus sentidos vampíricos claramente em alerta máximo.
— Aquelas coisas vão nos encontrar eventualmente. Precisamos de
um plano.
— Nos encontrar? — Cathy zomba. — Oh não, querido. Nós não
vamos nos esconder aqui enquanto eles nos caçam. Nós vamos
aniquilá-los. Ivy? — ela diz, erguendo sua arma laser. — Está
comigo?
28

TATE

O I
palavras de sua tia. Há um fogo em seus olhos, mas há algo mais
também, um lampejo de incerteza.
— Cathy — diz Ivy lentamente — Eu entendo que você quer
lutar. Mas não podemos simplesmente atacar de armas em punho.
Esses não são inimigos normais.
— Eles pareciam bem vulneráveis ao meu protótipo —
argumenta Cathy, dando uma batidinha em sua arma.
— Por cerca de cinco segundos — digo com os dentes cerrados,
me sentindo um pouco suado e instável. — Depois eles começaram
a se regenerar. Precisamos de um plano melhor.
Ivy assente, com a testa franzida em pensamento. Quase posso
ver as engrenagens girando em sua mente, pesando opções e
possibilidades. É isso que a torna tão única no ringue. Ela realmente
pensa fora da caixa.
— E se... — ela começa, então pausa, mordendo o lábio. — E se
voltarmos ao plano original e usarmos a própria perfeição deles
contra eles?
Bram ergue uma sobrancelha. — Isso era tudo muito bom na
teoria, mas você tem algo concreto?
— Eles são criaturas de pura ordem, certo? Sem caos, sem
variação. Tudo tem que ser perfeito. — Os olhos de Ivy se iluminam
enquanto a ideia toma forma. — Então, o que acontece se
introduzirmos um pouco de desordem no sistema perfeito deles?
Como a arma da Cathy, mas em uma escala mais severa.
Entendo onde ela quer chegar. — Sobrecarregá-los com caos?
— Exatamente — diz Ivy, seus olhos brilhando com aquele olhar
ligeiramente perturbado que aprendi a amar e temer. — Não
introduzimos apenas um pouco de caos. Inundamos o sistema deles
com isso.
— E como exatamente fazemos isso? — pergunta Torin
ceticamente.
O sorriso de Ivy se alarga. — Usamos a mim. Ou, mais
especificamente, minha magia. Esses seres são pura ordem. A
antítese de tudo que eu represento. Então, e se aumentarmos isso
ao máximo?
Sinto um arrepio até a alma. — Ivy, seu poder já é incrivelmente
volátil. Levá-lo além pode ser perigoso.
— Para eles ou para mim? — ela desafia.
— Ambos — digo firmemente.
Bram concorda com a cabeça. — Ele está certo, Ivy. Não
sabemos o que canalizar tanto caos poderia fazer com você.
— Eu sei — interrompe Cathy, com uma expressão sombria. —
Ou pelo menos, tenho uma ideia. A Resistência tem estudado o que
podíamos da magia do caos por anos. Tentando entender seu
potencial e seus limites.
Ivy se vira para sua tia, com evidente curiosidade. — E?
Cathy suspira. — Já passamos por isso, Ivy. Você será
despedaçada. Literalmente te desfará a nível molecular.
Sinto meu coração apertar com o pensamento. —
Absolutamente não — rosno. — Não vamos arriscar Ivy assim. Deve
haver outra maneira.
Os olhos de Ivy brilham com determinação. — E se
combinarmos abordagens? Usar a arma da Cathy para
desestabilizá-los, e então atingi-los com uma explosão controlada
de magia do caos?
— Defina 'controlada' — pede Torin, com os olhos estreitados.
— É aí que vocês entram — explica Ivy. — Tate, você me
ancora. Bram, suas sombras podem ajudar a conter o raio da
explosão. Torin, sua natureza vampírica te dá uma perspectiva única
sobre o equilíbrio entre vida e morte. Você pode me ajudar a ajustar
o caos.
Quero argumentar, insistir que é perigoso demais. Mas vejo a
determinação nos olhos de Ivy e sei que esta é uma batalha que
não vou ganhar. Em vez disso, aceno sombriamente. — Tudo bem.
Mas ao primeiro sinal de problema, paramos tudo. Sua vida não vale
o sacrifício.
— Concordo — diz Bram firmemente.
Cathy olha entre nós, sua expressão ilegível. Finalmente, ela
suspira. — É arriscado pra caralho, mas pode funcionar. Esses
seres dependem da ordem perfeita. Uma explosão direcionada de
caos poderia estilhaçar a coesão deles.
— Então, temos um plano — diz Ivy, um sorriso feroz se
espalhando por seu rosto. — Agora só precisamos atraí-los.
— Como você propõe que façamos isso? — pergunta Torin.
— Damos a eles o que estão procurando — responde Cathy. —
Eu.
— Não — diz Ivy, balançando a cabeça. — Damos a eles a mim.
— Não — ecoa Cathy. — Damos a eles a mim. Esta parte não é
sobre você. Eles me querem fora do caminho.
Estreito os olhos ao observar essa troca. Há algo que Cathy não
está dizendo. — Por quê? — pergunto.
Cathy dá de ombros. — Porque sou a tia da Ivy, porque trabalho
para a resistência? Quem sabe? Escolha uma opção.
Bram acena lentamente. — Poderia funcionar. Nós os atraímos,
fazendo-os pensar que te encurralaram, e então armamos a
armadilha.
— Não gosto disso — rosno.
— Nem eu — protesta Ivy.
Cathy verifica sua arma, com um sorriso sombrio no rosto. —
Bem, que pena. Decisão tomada. Bram? Nos leve de volta?
Ele olha para Ivy em busca de confirmação.
Ela acena lentamente, e eu gemo. Isso vai acabar em desastre.
Não estamos prontos para isso.
Bram cria um portal de sombras, e pulamos através dele,
aterrissando novamente no jardim dos fundos de Cathy, escondidos
atrás de alguns arbustos grandes.
Observo inquieto enquanto Cathy caminha confiante para o meio
da grama, sua arma em posição de prontidão. O resto de nós está
escondido, pronto para lançar nossa armadilha.
— Aqui estou eu, seus anormais simétricos! — grita Cathy. —
Venham me pegar!
Por um longo momento, nada acontece. O jardim está
estranhamente silencioso, nem mesmo uma brisa agita as folhas.
Então a realidade ondula e dois daqueles seres perfeitos
atravessam, seus movimentos sobrenaturalmente fluidos.
— Catherine Hammond — eles entoam em uníssono. — Você
será eliminada para preservar a ordem natural.
Cathy bufa. — Ordem natural o meu rabo. Vocês não
reconheceriam o natural nem se ele mordesse suas bundas
perfeitamente esculpidas.
Ela ergue sua arma e dispara. O tiro atinge os seres diretamente
no peito, fazendo-os tremular e distorcer. Mas assim como antes,
eles começam a se reorganizar quase imediatamente, flores
impossíveis florescendo das rachaduras em suas formas.
— Agora! — grita Ivy.
Saímos de nossos esconderijos. As sombras de Bram avançam,
criando uma barreira para conter o caos que está prestes a ser
liberado. Agarro a mão de Ivy, canalizando minha magia para ajudar
a ancorá-la ao aqui e agora. Torin se move ao lado de Ivy e coloca a
mão na nuca dela. Sinto-a estremecer ao toque dele.
Os olhos de Ivy flamejam com fogo púrpura enquanto ela enrola
a magia profundamente dentro dela. Eletricidade estática se forma
ao nosso redor, fazendo nossos cabelos se arrepiarem.
Observo com um sentimento ruim na alma enquanto Ivy reúne
seu poder, energia roxa crepitando ao seu redor. Ela respira fundo e
libera sua magia. O caos puro irrompe dela em um vórtice
turbilhonante de energia roxa e preta. Ele atinge os seres perfeitos
com força devastadora.
Por um momento, nada parece acontecer. Os seres
permanecem imóveis, absorvendo a energia caótica. Então,
rachaduras se formam em sua simetria perfeita. Pequenas fissuras
que se espalham e se multiplicam.
— Está funcionando — murmura Cathy.
Mas algo está errado. Posso sentir através da nossa conexão. O
poder de Ivy não está apenas afetando os seres, está rasgando o
tecido da realidade.
— Ivy! — grito. — Recue! É demais!
Ela parece não me ouvir. Seus olhos estão distantes, perdidos
no fluxo do caos puro.
Os seres perfeitos estão se desintegrando agora, suas formas se
dissolvendo em padrões turbilhonantes de caos impossivelmente
ordenado. Mas a realidade está se fraturando ao nosso redor. Vejo
vislumbres de outros reinos através das rachaduras - lugares que
não deveriam existir em nosso mundo.
— Bram! — grito. — Precisamos conter isso!
Suas sombras se esforçam contra o ataque do caos, mal
conseguindo contê-lo. — Estou tentando! — Bram range os dentes.
— Mas é demais!
Os olhos de Torin estão arregalados de pânico. — Precisamos
pará-la!
Tento alcançar Ivy através da nossa conexão, mas é como tentar
agarrar fumaça. Sua consciência está perdida no vórtice
turbilhonante da magia do caos.
— Ivy! — grito novamente, o desespero arranhando minha
garganta. — Volte para nós!
Por um instante, vejo o reconhecimento piscar em seus olhos.
Então ela grita. Um som de pura agonia que me gela até os ossos.
Energia roxa explode para fora, estilhaçando a barreira de sombras
de Bram.
Os seres perfeitos se dissolvem completamente, sua perfeição
ordenada despedaçada pelo caos puro. Mas o vórtice não para.
Continua crescendo, a realidade se fraturando ainda mais a cada
segundo que passa.
— Não! — grita Cathy. Ela aponta sua arma para Ivy, o dedo no
gatilho.
Movo-me sem pensar, derrubando-a no chão. — Você está
louca? — rosno. — Pode matá-la!
— Ela já está morta se não fizermos algo!
Ela está certa. O caos está se espalhando, consumindo tudo em
seu caminho. Árvores se deformam e se contorcem em formas
impossíveis. O chão sob nossos pés se rompe, lançando torrões de
terra alto no ar, mas Ivy é meu foco principal. Ivy está suspensa no
coração do vórtice do caos, seu corpo se arqueando em agonia
enquanto a realidade se fragmenta ao seu redor. Energia roxa
percorre suas veias, visível sob sua pele como relâmpagos. Ela está
sendo dilacerada em nível molecular, exatamente como Cathy havia
advertido.
— Aguente firme! — grito, lutando contra a turbulência para
alcançá-la. Minha magia de âncora se esforça contra o puro caos,
tentando ancorá-la, dar-lhe algo para se agarrar.
As sombras de Bram dançam freneticamente, tentando conter a
destruição mesmo enquanto são dilaceradas pelo poder bruto. —
Estamos perdendo ela! — ele grita sobre o rugido da realidade se
desfazendo.
Torin a agarra pelos ombros com força, sacudindo-a. — Sua
força vital está se fragmentando! — ele exclama. — O caos está
desfazendo ela!
Observo horrorizado enquanto a forma de Ivy fica borrada nas
bordas, se desfazendo como uma fotografia se dissolvendo em
ácido. Luz roxa brilha de seus olhos e boca enquanto ela grita
novamente. É um som que rasga o próprio tecido da existência.
— Ivy! — Avanço, lutando contra o maelstrom com tudo que
tenho. Minha magia a envolve como correntes escuras de pura
ordem, tentando mantê-la unida. Mas não é suficiente. O caos é
forte demais, primordial demais.
Através da nossa conexão, sinto sua consciência se
fragmentando.
— Lute contra isso! — brado, derramando mais poder em nosso
vínculo. — Lembre-se de quem você é! Lembre-se de nós!
Mas o caos está vencendo. Observo em desespero enquanto
pedaços de Ivy literalmente se desprendem. Fragmentos de seu ser
se espalham por dimensões que nunca deveríamos ver. Seu corpo
cintila como uma transmissão ruim, existindo em múltiplos estados
ao mesmo tempo.
A voz de Cathy corta através do caos enquanto ela se aproxima
de mim e me estende a arma laser. — Aqui.
— Não! Não posso! — Enterro as mãos no cabelo enquanto olho
entre a arma e Ivy. — Não posso!
— Faça isso! — Torin ruge. — Ela já está morta se você não
fizer!
Com a mão trêmula, pego a arma laser e a aponto para Ivy,
pânico e medo me dilacerando com uma overdose de culpa.
— Sinto muito. Eu te amo. — Puxo o gatilho e observo, sentindo-
me enjoado, enquanto o laser a atinge e interrompe sua aura,
estilhaçando-a completamente. — Não! — O luto me esmaga,
forçando-me de joelhos enquanto ela cai. Torin a segura como uma
marionete macabra, um choque nauseado em seu rosto.
O vórtice do caos se contrai, retornando para Ivy como água
descendo pelo ralo. A realidade se recompõe, embora tudo pareça
ligeiramente torto - como se o mundo tivesse sido quebrado e
remontado de forma imperfeita.
Finalmente, a última energia roxa desaparece.
Ela está quase irreconhecível. Partes dela continuam mudando
entre estados de existência, nunca se fixando completamente em
uma realidade. Sua pele está translúcida em alguns lugares,
mostrando o caos ainda correndo por suas veias.
— Fomos tarde demais. Ela foi dilacerada em nível quântico.
Isso é exatamente o que eu temia.
— Podemos consertá-la? — exijo, minha voz falhando.
Bram se aproxima, quase roboticamente. — Ela existe em
múltiplas dimensões agora. Partes dela espalhadas por realidades
que nem podemos compreender.
Pego a mão flácida de Ivy e a pressiono contra meus lábios. —
Vamos consertar isso. Eu prometo. Vamos encontrar uma maneira
de trazer você de volta.
Mas olhando para o que restou da mulher que amo, me pergunto
se algumas coisas não podem ser consertadas. Se às vezes o preço
do poder é alto demais para que se possa realmente voltar atrás.
Os seres perfeitos podem ter sido destruídos, mas levaram Ivy
com eles. Dilaceraram-na de maneiras que podem ser impossíveis
de reparar.
29

IVY

E .
Despedaçada como confete espalhado por dimensões infinitas.
Cada fragmento da minha consciência experimenta uma realidade
diferente, uma versão distinta da existência que minha simples
mente de metamorfa não consegue compreender.
Em uma dimensão, sou pura energia, dançando através de
estruturas cristalinas de geometria impossível. Em outra, sou
pensamento líquido, fluindo pelos espaços entre os momentos. Em
algum outro lugar, não sou nada além de uma coleção de
possibilidades quânticas, existindo em todos os estados
simultaneamente.
Tate?
Tento chamar, mas minha voz se estilhaça através das
realidades. Em uma dimensão, ela emerge como um estouro de luz
roxa. Em outra, se torna uma cascata de equações matemáticas.
Alguém?
Mas estou sozinha aqui, nestes espaços entre espaços. Minhas
memórias se dispersam como folhas de outono, cada uma flutuando
para uma dimensão diferente. Vejo relances delas enquanto
passam: Primeiro dia na universidade, excitação e medo se
misturando.
Os olhos de Tate, cheios de preocupação enquanto minha magia
do caos surge.
O toque frio de Torin, me ancorando à realidade.
As sombras de Bram, dançando com meu caos.
Cada memória parece intimamente minha e impossivelmente
distante ao mesmo tempo, como tentar lembrar de um sonho
enquanto ainda se está sonhando. Tento alcançá-las, mas minha
consciência está muito fragmentada, muito espalhada por
dimensões que eu nunca deveria ter experimentado.
Em uma realidade, sou versões de mim mesma que colapsam
em incerteza quântica. Em outra, vejo meu corpo através dos olhos
de Tate, quebrado e mudando entre estados de existência, antes de
voltar a ser eu. A dor em seu rosto dilacera o que resta do meu
coração, mas não consigo alcançá-lo. Não posso dizer a ele que
ainda estou aqui, em algum lugar neste labirinto multidimensional.
Concentre-se, Ivy. A palavra ecoa estranhamente através das
realidades. Lembre-se de quem você é.
Mas quem sou eu agora? A magia do caos me despedaçou em
níveis mais profundos que o físico, espalhou minha essência por
dimensões que desafiam a compreensão.
Os pensamentos se fragmentam, cada pedaço flutuando para
uma dimensão diferente. Estou me perdendo, perdendo o próprio
conceito de eu. Minha consciência se espalha mais fina por
realidades infinitas, cada fragmento experimentando uma versão
diferente da existência.
A realidade se quebra e se reforma ao redor da minha essência
espalhada, mas em outro lugar, experimento o tempo fluindo para
trás, para frente, de lado através de dimensões que não posso
nomear.
Por favor. Já não tenho certeza para quem estou chamando. Me
ajudem.
Mas a ajuda parece impossível quando existo em tantos lugares
ao mesmo tempo, quando meu ser foi despedaçado no nível
quântico. Cada fragmento da minha consciência experimenta sua
própria realidade, sua própria versão da existência, sem nenhuma
maneira de juntá-los novamente.
A magia do caos se tornou minha ruína, me espalhando por
dimensões como estrelas pelo céu noturno. Cada pedaço de mim
brilha em sua própria realidade, mas nenhum deles consegue
encontrar o caminho de volta para casa.
Sou luz roxa dançando através da espuma quântica.
Sou incerteza matemática ganhando forma.
Sou caos espalhado por dimensões ordenadas.
Sou tudo e nada, em todo lugar e em lugar nenhum.
O tempo não tem significado aqui.
Um mundo onde nunca descobri minha magia do caos.
Uma realidade onde Tate e eu nunca nos conhecemos.
Uma dimensão onde os seres perfeitos venceram.
Linhas do tempo se ramificando infinitamente, cada uma
carregando um fragmento de quem eu era.
Minha consciência se estica mais fina pelo multiverso. Tento me
agarrar às memórias, ao núcleo de quem sou, mas elas escapam
como luz estelar através do vidro.
O gosto do beijo de Tate se dissolve em equações matemáticas.
O som da risada de Torin se torna uma explosão de energia
vermelha.
A sensação do toque de Bram se transforma em padrões
geométricos.
O rosto da minha mãe se fragmenta em possibilidades infinitas.
Em algumas dimensões, estou ciente do meu corpo caído e
quebrado no jardim de Cathy. Vejo através de uma percepção
fraturada enquanto Tate segura minha mão, enquanto os olhos de
Torin se enchem de dor, enquanto as sombras de Bram dançam
inutilmente ao redor da minha forma em mutação. Mas essas
imagens parecem cada vez mais distantes, como memórias de
memórias de sonhos.
Eu deveria estar com medo. Mas o medo requer um eu coerente
para experimentá-lo, e eu sou tudo menos coerente agora. Sou
incerteza ganhando consciência, magia do caos despedaçada em
níveis mais profundos que o físico.
Eu sou Ivy Hammond.
Mas sou eu quando minha própria essência foi espalhada por
dimensões que eu nunca deveria conhecer?
A vida queria ordem? Bem, eles alcançaram seu oposto - caos
tão completo que transcende a realidade física. Sou a antítese deles
levada ao seu extremo lógico, o pesadelo da ordem manifestado
através das dimensões.
Cada batida do coração ocorre em uma dimensão diferente.
Cada pensamento abrange múltiplas realidades.
Cada emoção ressoa através de estados quânticos.
Cada momento de existência se fragmenta ainda mais.
Estou espalhada.
Estou desfeita.
Estou perdida.
Estou despedaçada.
30

BRAM

F ,
quebrada que antes era Ivy, agora descansando no sofá de Cathy
dentro da casa silenciosa demais. A realidade ainda parece errada,
como se tivesse sido esticada demais e voltado ao lugar, mas
flácida. Minhas entranhas se contorcem, sentindo o caos persistente
no ar.
— Precisamos fazer alguma coisa — diz Tate, sua voz falhando.
Ele não soltou a mão de Ivy, mesmo que partes dela continuem
aparecendo e desaparecendo da existência. — Deve haver uma
maneira de trazê-la de volta.
— De volta de onde? — pergunta Torin amargamente. — Ela foi
despedaçada. Espalhada por dimensões. Não temos ideia de onde
ela está ou em quantos pedaços está.
Tate rosna com as palavras duras de Torin, mas o vampiro está
certo. Sinto um arrepio me percorrer com suas palavras. Como um
Fae, entendo a liminaridade melhor do que a maioria, exceto talvez
os vampiros. Os espaços entre reinos, os lugares finos onde os
mundos se sobrepõem. Mas isso está além de qualquer coisa que já
encontrei.
— Começamos estabilizando o que resta da forma física dela —
diz Cathy, toda profissional apesar do horror da situação. — Meu
protótipo pode ser capaz de interromper as flutuações de
decoerência, pelo menos temporariamente.
Ela aponta sua arma para o corpo oscilante de Ivy.
Tate afasta a arma laser da mão de Cathy com um tapa. — Não.
— Calma — digo, colocando uma mão em seu ombro. —
Precisamos tentar algo.
— Não pode ficar pior — murmura Torin.
Olho feio para ele. — Você pode calar a porra da boca?
— O quê? Não adianta dourar a pílula. Está tudo fodido. Tudo
está fodido! — Ele se vira e vai até a janela para olhar para o céu
noturno.
Enquanto olho para Ivy, ignorando Tate e Cathy discutindo, vejo
um lampejo de magia muito reconhecível sob a pele de Ivy.
— Fae — murmuro. — O que você quer?
Estreitando os olhos, eu a encaro. Ela desliza para fora e se
dirige a mim, envolvendo-me.
Com um grunhido de surpresa, sou arrancado deste reino e
jogado diretamente na frente do Rei e da Rainha dos Fae Obscuros
em sua sala do trono de volta em casa, caindo e batendo meus
joelhos dolorosamente no chão aos seus pés.
— Bem-vindo de volta, filho — diz papai alegremente, com um
grande sorriso que só pode ser descrito como divertimento em seu
rosto.
Levanto-me cambaleante, desorientado pela súbita mudança na
realidade. A opulência familiar da sala do trono dos Fae Obscuros
me cerca, um contraste gritante com o caos que acabei de deixar
para trás.
— Que porra é essa? — rosno, olhando furiosamente para meus
pais. — Vocês não podiam ter mandado um convite?
Mamãe ergue uma sobrancelha, sua expressão cheia de
diversão e desaprovação. — Linguagem, querido. E nós tentamos
métodos mais convencionais. Você tem ignorado nossas
convocações.
— Eu tenho estado um pouco ocupado — disparo. — Caso não
tenham notado, há uma guerra cósmica se formando no reino
sobrenatural.
Papai acena com a mão, descartando. — Problemas de supes.
Temos assuntos mais urgentes para discutir.
Sinto meu temperamento se elevando. — Mais urgentes do que
véus sendo rasgados?
— A bruxa Hammond — diz mamãe, acenando com a mão de
forma displicente. — É por isso que o trouxemos aqui.
Estreito os olhos. — O que vocês sabem sobre ela?
Papai se levanta, sua figura imponente irradiando poder. —
Sabemos que ela representa um ponto de convergência de magias
antigas. Um nexo de caos e ordem que poderia remodelar a própria
existência.
— Sim, bem, ela está atualmente remodelando a existência
sendo despedaçada molécula por molécula — rosno. — Então, a
menos que vocês tenham algo que possa me ajudar a salvá-la,
estou indo embora.
— Essa magia dela é Fae Antiga. Você sabe disso, certo?
— E daí? Não está ajudando ela.
— Não está ajudando ela? — Papai ri, o som ecoando de forma
não natural pela sala do trono. — Meu querido menino, é a única
coisa impedindo que ela seja completamente desfeita agora.
Eu congelo, esperança e suspeita guerreando dentro de mim. —
O que você quer dizer?
Mamãe se levanta, seu vestido cintilando como uma noite
estrelada enquanto ela desce o estrado. — Está se agarrando a ela.
Uma linha de vida para ela, de certa forma.
— Mas Ivy não é Fae.
— Não — concorda papai. — Mas sua linhagem foi projetada
para canalizar magia Fae. Para aproveitar o caos de maneiras que
nem mesmo nós podemos compreender totalmente.
Minha mente gira com as implicações. — Então, vocês estão
dizendo...
— Que a mesma coisa que a está despedaçando também é o
que a mantém unida — termina mamãe. — A magia Fae Antiga é
tanto veneno quanto antídoto.
— Como a consertamos? — exijo. — Como a trazemos de volta?
A expressão do papai fica séria. — Não será fácil. Ela foi
espalhada por dimensões, sua essência fragmentada. Mas pode
haver um jeito.
— Me diga — rosno.
Mamãe produz um tomo antigo, sua capa se contorcendo com
sombras vivas. — Há um ritual. Um que pode trazer de volta
fragmentos de uma alma despedaçada. Mas requer sacrifício.
— Que tipo de sacrifício? — pergunto instantaneamente,
sabendo que darei minha própria vida para salvá-la.
Meus pais trocam um olhar carregado antes de mamãe
responder: — O ritual requer três sacrifícios: um de sangue, um de
poder e um de espírito.
— Expliquem.
Papai suspira pesadamente. — Os Fae Antigos eram sombrios.
Realmente muito negros. Tenha isso em mente. O sacrifício de
sangue é simples, uma oferenda voluntária de força vital para
ancorar os fragmentos dispersos. O sacrifício de poder envolve
canalizar e queimar uma parte significativa da essência mágica de
alguém. O sacrifício de espírito... — ele para, parecendo sombrio.
— O quê? — rosno impacientemente.
— O sacrifício de espírito requer entregar uma parte central da
identidade de alguém — termina mamãe. — Um aspecto
fundamental do eu, dado voluntária e permanentemente.
Sinto o peso de suas palavras se instalando sobre mim. Esses
não são apenas sacrifícios. São mutilações do eu nos níveis mais
profundos.
— Mas isso vai trazer a Ivy de volta? — pergunto, precisando ter
certeza.
— Deve reconstituir a essência dela — diz meu pai
cuidadosamente. — Mas ela não será a mesma. O ritual deixará
cicatrizes, tanto naqueles que o realizarem quanto na própria Ivy.
Faço que sim com a cabeça, sombriamente. — Melhor
cicatrizada do que espalhada por dimensões.
— Você entende que sozinho não pode completar esse ritual —
diz minha mãe. — Ele requer três participantes dispostos. Um para
cada sacrifício.
Minha mente imediatamente vai para Tate e Torin. Sei, sem
dúvida, que eles estariam dispostos a pagar qualquer preço para
salvar a Ivy. A questão é, quem assumirá qual sacrifício?
— Eu vou fazer — digo com firmeza. — Vou reunir os outros, e
realizaremos o ritual.
Meu pai assente solenemente. — Fique avisado, filho. Essa
magia é antiga e sombria. Ela exigirá um preço terrível.
— Além do que já vai tirar de nós? — pergunto firmemente.
Minha mãe faz que sim e me entrega o tomo antigo. Sua capa se
encolhe ao meu toque. — As instruções estão aí dentro. Escolha
seus sacrifícios com sabedoria.
— Como realizamos o ritual? — pergunto, deixando minhas
dúvidas de lado por enquanto.
— O ritual deve ser realizado em um ponto de nexo entre os
reinos. Um lugar onde os véus são naturalmente finos.
— Thornfield — murmuro. — A Ivy destruiu o lugar mais cedo.
Meu pai assente em aprovação. — Isso serviria. Você precisará
criar um círculo ritual usando sangue de todos os três participantes.
Os sacrifícios devem ser feitos em uma ordem específica - sangue,
depois poder, depois espírito.
— O sacrifício de sangue ancora a essência dispersa dela —
explica minha mãe. — O sacrifício de poder fornece a energia para
trazê-la de volta. E o sacrifício de espírito... — ela faz uma pausa,
parecendo sombria — dá a ela algo para o qual retornar. Um farol
no caos.
Absorvo essa informação, minha mente já correndo com planos.
— Quanto tempo temos?
— Não muito — diz meu pai gravemente. — Quanto mais tempo
ela permanecer dispersa, mais difícil será trazê-la de volta. E há um
risco...
— Que risco? — exijo saber.
A expressão de minha mãe fica solene. — Quanto mais tempo a
Ivy permanecer dispersa, mais sua essência se fragmentará.
Eventualmente, pode não haver o suficiente de seu eu original para
reconstituir.
Sinto um arrepio me percorrer com suas palavras. — Quanto
tempo?
— É difícil dizer — responde meu pai. — O tempo se move
diferentemente entre as dimensões. Mas eu não esperaria mais que
um dia no seu reino.
Faço que sim sombriamente, agarrando o tomo antigo. —
Entendo. Obrigado por isso.
Minha mãe dá um passo à frente, colocando uma mão em minha
bochecha. Por um momento, sua fachada régia se quebra,
mostrando a preocupação por baixo. — Tenha cuidado, meu filho.
— Terei.
Meu pai assente em aprovação. — Você escolheu bem, Bram.
Ela é uma companheira digna para um príncipe dos Fae Obscuros.
Começo a protestar que não é só sobre mim, que Tate e Torin
são igualmente importantes para a Ivy. Mas percebo que agora não
é hora para essa conversa. Em vez disso, simplesmente faço que
sim.
— Preciso ir — digo. — Não temos muito tempo.
Minha mãe acena com a mão, e sinto a realidade mudar ao meu
redor. — Vamos te mandar de volta para o momento em que te
tiramos. — Mas então ela se inclina para sussurrar em meu ouvido.
— Boa sorte, Bram. Acesse os Fae Antigos que correm em suas
veias. É o único caminho.
A sala do trono se dissolve, e me encontro de volta na sala de
estar de Cathy, o livro antigo se contorcendo em meu aperto. Tate e
Cathy ainda estão discutindo, congelados nas posições exatas em
que estavam quando fui levado. Torin permanece perto da janela, de
costas para a sala.
— Chega — rosno, minha voz cortando a discussão deles. —
Sei como salvar a Ivy.
Todos se viram para me encarar, com expressões que variam de
esperança a suspeita.
— Como? — exige Tate, seus olhos fixos no livro que se
contorce em meu aperto. — Onde você conseguiu isso?
Respiro fundo, me preparando para as reações deles. — Estive
em casa. Resumindo, há um ritual. Magia Fae antiga. Pode reunir a
essência dispersa da Ivy, mas... — hesito, sabendo como eles
reagirão ao custo.
— Mas o quê? — pergunta Torin, se afastando da janela.
— Requer sacrifício — digo sombriamente. — Três sacrifícios,
para ser preciso. Sangue, poder e espírito.
A sala fica em silêncio enquanto eles processam minhas
palavras.
— Que tipo de sacrifícios estamos falando? — pergunta Cathy,
com os olhos estreitados.
Explico rapidamente, observando seus rostos à medida que a
compreensão surge. O sacrifício de sangue, uma oferta voluntária
de força vital. O sacrifício de poder, queimando uma parte
significativa da essência mágica de alguém, e o sacrifício de
espírito, desistindo de um aspecto fundamental do eu.
— Eu faço — diz Tate imediatamente, com o maxilar tenso de
determinação. — O que for preciso.
— Todos nós faremos — acrescenta Torin, se aproximando.
Seus olhos se voltam para a forma imóvel de Ivy no sofá. — Ela
faria o mesmo por qualquer um de nós.
Faço que sim, sentindo uma sensação de pavor que nunca
experimentei antes. — Não será fácil. O ritual deixará cicatrizes,
tanto em nós quanto na Ivy. Ela pode não ser a mesma depois.
— Melhor cicatrizada do que dispersa — diz Torin sombriamente,
ecoando meus pensamentos anteriores.
— Precisamos agir rápido — digo. — Meus pais avisaram que
quanto mais tempo a Ivy permanecer fragmentada, mais difícil será
trazê-la de volta. Precisamos fazer isso antes que...
— Antes do quê? — exige Tate.
Respiro fundo. — Antes que não haja o suficiente de seu eu
original para reconstituir.
Um silêncio pesado cai sobre a sala.
— Onde realizamos esse ritual? — pergunta Cathy, toda
profissional apesar da gravidade da situação.
— Aqui mesmo no jardim — respondo, deixando de lado todas
as emoções pessoais e adotando uma atitude mais profissional. É a
única coisa que me fará atravessar isso. — É um ponto de nexo
entre os reinos, de qualquer forma, especialmente depois que a Ivy
o destruiu mais cedo. Os véus são finos aqui.
Tate assente com a cabeça. —Precisaremos movê-la com
cuidado. Nesse estado, quem sabe o que as mudanças
dimensionais poderiam fazer com ela.
Torin dá um passo em direção a ela.
—Não — diz Tate. —Eu a carregarei.
—Você está tremendo como uma folha ao vento — ele retruca.
—Afaste-se e deixe comigo. Furtividade é meu nome do meio.
Tate faz uma careta, mas se afasta.
Eu o seguro pelo cotovelo e o levo para fora. —Nós cuidaremos
disso e dela.
Ele acena com a cabeça, mas não diz nada.
Fico com a sensação de que isso vai acabar mal.
Para todos nós.
31

IVY

S .
32

IVY

E .
33

IVY

O , ,
quem sinto falta com o que resta da minha alma despedaçada e
dilacerada, há muito foram esquecidos.
34

TATE

— Q ? —
enquanto observo Torin colocar Ivy gentilmente no jardim
bagunçado. Não pode ter sido muito tempo. Uma hora? No máximo.
Cathy se movimenta de um lado para o outro, a personificação
da eficiência, e olha para seu relógio. — Três horas.
— Tanto assim?
Ela assente solenemente. — Ficamos em choque por um tempo
antes de levá-la para dentro.
— Mas isso é bom — diz Bram. — Ainda estamos bem dentro da
janela para trazê-la de volta inteira.
Esperamos.
— Otimismo soa completamente errado vindo da sua boca —
resmungo.
Ele me mostra o dedo do meio, mas não há ressentimentos. Pelo
menos um de nós está tentando.
Não consigo evitar meus pensamentos sombrios. Não consigo
deixar de pensar que estamos condenados. Nada nunca deu certo
na minha vida. Mesmo as coisas que alguém poderia apontar como
tendo funcionado a meu favor nunca foram sobre algo bom que
aconteceu. Um exemplo perfeito é que fiquei órfão quando era um
jovem adolescente e escolhi Torin para assaltar uma noite. Sim, deu
certo; estou aqui agora em vez de em alguma prisão juvenil para
bruxos ou, pior, em uma toca de drogas mágicas me prostituindo por
comida e abrigo. Mas se eu não tivesse sido deixado sozinho neste
mundo para começar, isso nem seria uma questão.
— Certo, temos que tirar sangue e fazer um círculo — diz Bram,
lendo do livro que até a mim dá arrepios. Aquela coisa fede a magia
antiga e não do tipo bom. Nem mesmo do tipo sombrio.
Basicamente, vamos chamar de breu. Quero perguntar onde ele
conseguiu, mas acho que sua família deve ter dado a ele.
Minhas mãos tremem enquanto corto minha palma com o
athame que Cathy tirou de um coldre em seu quadril. Apertando
com força e sibilando com a queimação antinatural, passo-o para
Bram e então o ajudo a desenhar o círculo ritual com sangue. Nosso
sangue. O cheiro de cobre paira pesado no ar, misturando-se com o
caos remanescente do incidente de Ivy. Não consigo me forçar a
chamar isso de outra coisa.
Torin coloca gentilmente o corpo imóvel de Ivy no centro do
círculo. Partes dela continuam sumindo e reaparecendo, como um
holograma com defeito. Isso faz meu estômago revirar.
— Tem certeza de que isso vai ajudar e não piorar as coisas? —
pergunto a Bram pela centésima vez enquanto ele entrega o athame
a Torin. Observo enquanto a prata encantada corta sua palma como
uma faca quente na manteiga, e ele adiciona seu sangue ao círculo.
Ele assente sombriamente. — É nossa única chance. Você está
pronto?
Não. Não estou pronto. Estou aterrorizado. Mas concordo
mesmo assim. — O que fazemos primeiro?
Bram consulta o volume que se contorce. — Sacrifício de sangue
primeiro. Vai ancorar a essência dispersa dela.
— Eu faço — diz Torin imediatamente.
Começo a protestar, mas Bram me interrompe. — Faz sentido.
Como vampiro, você tem a conexão mais forte com tudo relacionado
a sangue.
— O que vem depois? Precisamos alinhar nossos patinhos
proverbiais antes de começarmos isso — declara Cathy.
— Poder e espírito — responde Bram. — Acho que preciso ser o
poder. Tate, você a marcou e tem a marca dela; acho que seu
espírito será o mais forte, ainda mais com a linha de âncora
passando por você.
— É — murmuro. Por mais que eu odeie admitir em um dia
normal, Bram é o mais poderoso aqui. Na maior parte do tempo, ele
não usa sua fonte de poder total, não é necessário neste plano de
existência. Mas hoje não é um dia normal. — Use cada maldita gota
de poder que você tem escondido. Está me ouvindo?
Ele franze a testa e sei que quer retaliar sobre seus próprios
sentimentos por Ivy, mas após alguns segundos, ele assente
sombriamente e deixa pra lá. — Vou usar.
— Então como fazemos isso? — pergunta Torin. — O que é
exigido de nós?
— Cada sacrifício requer um ritual específico — explica Bram,
consultando o livro antigo. — Para o sacrifício de sangue, Torin,
você precisará oferecer uma porção significativa da sua força vital.
Isso vai te enfraquecer consideravelmente.
Torin assente sombriamente. — O que for preciso.
— Eu canalizarei meu poder em seguida — continua Bram. —
Terei que levar minha magia ao limite e além. Pode queimar uma
grande parte das minhas habilidades, possivelmente de forma
permanente.
Sinto um calafrio com suas palavras, mas permaneço em
silêncio.
— E para o sacrifício do espírito? — pergunto, temendo a
resposta.
Bram procura meus olhos por um momento. — Você terá que
desistir de um aspecto fundamental de si mesmo, Tate. Algo central
para sua identidade. Acho que cabe a você porque o livro é vago
nos detalhes, mas será doloroso e permanente.
Engulo em seco, mas concordo. Minha mente de repente ficou
em branco, e eu nem sei o que devo oferecer. Pensa, seu bastardo,
pensa!
Bram respira fundo. — Precisamos formar um triângulo ao redor
dela. Torin, você começa. Corte seu pulso e mantenha-o aberto,
acho que segurando o corte separado? Deixe seu sangue fluir para
o círculo enquanto se concentra em Ivy. Imagine a essência dela,
espalhada por dimensões, e force-a a se condensar em torno da
sua oferta. Cathy, precisamos de você aqui com essa sua atitude
sem limites. Mantenha-nos na linha.
Ela assente bruscamente, com os pés plantados e as mãos atrás
das costas.
— Torin Ashford do Coven Ainsley, você está pronto? — Bram
pergunta formalmente.
Torin concorda, seu rosto fixo em uma expressão que só poderia
ser descrita como sombria e levemente enjoada com a perspectiva
de forçar seu próprio corpo a não se curar. Mas suas mãos não
tremem, nem um pouco, enquanto ele corta seu pulso com o
athame mais fundo que o necessário. Sangue escuro brota
imediatamente.
— Agora — instrui Bram.
Torin se ajoelha na borda do círculo de sangue, segurando seu
pulso cortado sobre ele. Seu rosto se contorce de dor enquanto ele
força a ferida a permanecer aberta, lutando contra sua cura
vampírica. Seu sangue pinga constantemente no círculo.
— Concentre-se em Ivy — instrui Bram. — Imagine o espírito
dela espalhado entre diferentes dimensões. Concentre-se nele se
reunindo em torno da sua oferta.
Torin fecha os olhos, sua testa franzida em concentração. O ar
fica pesado, carregado de energia mágica. A pele de Torin começa a
empalidecer, assumindo um tom acinzentado. Ele está literalmente
derramando sua força vital no ritual.
Olho para baixo e vejo a forma prostrada de Ivy, com partes dela
parecendo se solidificar por breves momentos antes de desvanecer
novamente.
— Mantenha-se firme — diz Bram, com a voz tensa. — Você
precisa continuar até que todos nós tenhamos terminado.
Torin solta um suspiro dolorido, cambaleando ligeiramente. Seus
olhos se abrem, desfocados e vidrados.
— Príncipe Bramwell, filho de Mabius, Rei das Fadas Sombrias,
está pronto? — Bram cai de joelhos, colocando as mãos na borda
do círculo e entoa em, o que presumo ser, a língua antiga das
Fadas.
O ar fica mais denso, como sopa, tornando difícil respirar. Os
olhos de Bram brilham prateados enquanto ele canaliza mais magia
do que eu já senti dele antes. É escura, quase tão negra quanto o
livro diante do qual ele está ajoelhado. O círculo de sangue cintila e
pulsa com energia enquanto o poder de Bram o inunda. Flashes de
prata e roxo me cegam, mas não consigo desviar o olhar.
O corpo de Ivy se ergue levemente do chão, suspenso em um
casulo de energia mágica rodopiante.
Dedos de frio glacial percorrem a parte de trás do meu pescoço
e minha coluna, fazendo-me estremecer e tentar me afastar. A
magia de Bram alcançou profundezas que eu nem sabia serem
possíveis.
— Tate Blackwell da linhagem Well — ele grunhe. — Está
pronto?
Engulo em seco e caio de joelhos, ainda sem saber o que
oferecer. Se eu perder minha magia, não serei útil para Ivy, mas se
eu não fizer algo, ela estará perdida para nós pela eternidade.
Sofrendo e atormentada e sabe-se lá o que mais. Fecho os olhos e
deixo o que quer que pareça certo borbulhar à superfície.
E então me ocorre.
A parte mais pura de mim, a parte mais verdadeira que me faz
ser quem eu sou agora, não é minha magia ou minha força.
É meu amor por Ivy.
Respiro fundo, preparando-me para o que estou prestes a fazer.
Meu amor por Ivy é o cerne de quem sou agora - ele moldou cada
decisão, cada ação desde que a conheci. Abrir mão disso é como
arrancar meu próprio coração. Mas se é isso que é preciso para
trazê-la de volta, farei sem hesitação.
— Estou pronto — digo, minha voz firme apesar do medo que
remexe em minhas entranhas.
Bram assente sombriamente; seu rosto tenso enquanto continua
canalizando poder para o ritual. — Faça.
Fecho os olhos, evocando memórias de Ivy. Sua risada, seu
sorriso, o fogo em seus olhos quando está zangada. A marca que
ela me deu no peito, a minha em suas costas. Como ela se sente
em meus braços, o gosto de seu beijo. A profundidade da emoção
que sinto por ela, um amor tão profundo que mudou tudo em mim.
Abrindo os olhos, forçando-me a olhar para ela, lágrimas
escorrem pelo meu rosto enquanto reúno tudo isso, esta parte mais
preciosa de mim. Então, com um soluço rouco, eu o empurro para
longe de mim e para dentro do círculo ritual.
A dor é imediata e avassaladora. Sinto como se meu peito
tivesse sido rasgado, deixando apenas um vazio onde meu coração
deveria estar. Grito, dobrando-me enquanto a agonia me atravessa.
Mas sinto que está funcionando. O círculo está respondendo a
nós.
— Continue! — grita Cathy. — Ainda não acabou.
— Merda — Torin grunhe e desmaia.
Bram está aguentando, mas por pouco. Sua pele está ondulando
como se houvesse mil besouros rastejando sob ela. Veias negras
apareceram por todo seu corpo e rosto. Seus olhos agora são
abismos negros. Ele vomita, e uma cobra negra se desenrola de sua
boca, e resisto ao impulso de recuar quando ela desliza através do
círculo e se acomoda sobre o corpo de Ivy, enrolando-se e sibilando.
— Não parem! — Cathy grita. — Vocês estão quase lá!
Forço-me a continuar canalizando, mesmo me sentindo vazio. O
amor que entreguei deixa um vazio doloroso, mas me agarro à
memória do porquê estou fazendo isso. Por Ivy. Mesmo que não
possa mais senti-lo, sei que importa.
O ar crepita com energia. A realidade se dobra ao nosso redor. O
corpo de Ivy se ergue mais alto, suspenso em um casulo de magia
rodopiante. Por um momento, vejo vislumbres de mil ou mais outros
reinos através de rachaduras no ar.
Então, com um som como a realidade se rasgando, tudo
implode.
A energia mágica se precipita para dentro, colidindo com Ivy com
tanta força que sou jogado para trás. Uma luz cegante preenche o
círculo, forçando-me a proteger os olhos e então... nada.
35

IVY

T .
Isso ainda é uma palavra?
Será que eu ainda existo?
Onde estou?
Quem sou eu?
Sou ninguém e todo mundo. Talvez eu seja até o próprio tempo.
Estes são mesmo meus pensamentos?
Eu sou...
Eu sou...
As sensações retornam, avassaladoras e caóticas. A dor
atravessa cada célula, cada átomo do meu ser, enquanto a
realidade se reafirma. Eu ofego, engasgando com o ar que é denso
demais, real demais, depois de uma eternidade de existência sem
forma.
Meus olhos se abrem de repente, absorvendo um vórtice
turbilhonante de cores e formas acima de mim que lentamente se
misturam em formas reconhecíveis. O céu noturno, estrelas, a lua
cheia.
— Ivy?
É uma voz feminina suave que acho que deveria reconhecer.
Tento virar a cabeça, mas meu pescoço protesta com dor. Fecho os
olhos com força quando a náusea me domina. Virando de lado,
vomito, nem me incomodando em levantar a cabeça. Não posso.
Parece que está cheia de chumbo.
Uma mão fresca passa pela minha testa e reúne meu cabelo, a
outra me levanta ligeiramente para que eu não me engasgue com
meu próprio vômito. Lágrimas ardem em meus olhos, e a bile
queima meu nariz e garganta.
Abro os olhos, tentando focar.
Onde estou?
Quem sou eu?
Quem é essa pessoa ao meu lado?
— Calma — a mulher diz suavemente. — Está tudo bem. Você
voltou.
Voltei? Voltei de onde?
Minha mente parece nebulosa, as lembranças fora de alcance.
Tento falar, mas só consigo emitir um grunhido rouco.
— Água — finalmente consigo dizer.
A mulher me ajuda a sentar lentamente, meu corpo protestando
a cada movimento. Ela segura uma garrafa nos meus lábios, e eu
bebo avidamente, o líquido fresco aliviando minha garganta áspera.
À medida que minha visão se clareia, percebo mais detalhes.
Palavras, coisas, voltam ao lugar enquanto minha mente se
esclarece um pouco, mas ainda é como caminhar por uma névoa
densa sobre um terreno irregular, que por acaso também é um
campo minado.
Estamos em um jardim, mas parece que uma bomba explodiu. A
grama está chamuscada em alguns lugares; árvores estão dobradas
em ângulos não naturais. O telhado da casa que se ergue sobre nós
tem um pedaço faltando.
Abaixando o olhar enquanto minha cabeça lateja erraticamente,
vejo três homens deitados inconscientes ao redor da borda do
círculo. Algo puxa minha memória, uma sensação de familiaridade,
mas não consigo agarrá-la completamente.
— O que aconteceu? — pergunto, minha voz ainda fraca. —
Quem é você? Quem sou eu?
O rosto da mulher cai, a preocupação franzindo sua testa. —
Você não se lembra?
Balanço a cabeça, estremecendo com o movimento. — Tudo
está confuso. É como se meu cérebro tivesse sido despedaçado e
remontado errado.
Ela suspira profundamente. — Isso não está longe da verdade.
Eu sou Cathy Hammond, sua tia. Você é Ivy Hammond.
Ivy. O nome parece certo, mas também de alguma forma errado.
Como se não se encaixasse mais perfeitamente.
— Você se lembra de alguma coisa? — Cathy pergunta.
Balanço a cabeça e fecho os olhos quando o movimento envia
outra onda de náusea sobre mim. — Flutuando. Testemunhando
nascimentos, morte, renascimentos, estrelas nascendo e
morrendo...
— Tudo bem, shh — Cathy murmura enquanto eu sufoco um
soluço. — Vamos te levar para dentro, e você pode descansar um
pouco.
Deixo Cathy me ajudar a ficar de pé, minhas pernas trêmulas e
não cooperativas. Cada passo é um esforço, e meu corpo se sente
simultaneamente pesado demais e leve demais. Me apoio
pesadamente nela, mas ela não se importa. Ela está me segurando.
— E quanto a eles? — pergunto.
Cathy olha para trás. — Eles ficarão bem por enquanto. Você é a
prioridade.
Enquanto lentamente fazemos nosso caminho até a casa,
fragmentos de memória passam pela minha mente: energia roxa
crepitando ao redor das minhas mãos, criaturas implodindo, flores
explodindo. Mas nada disso parece ter acontecido comigo.
Dentro, Cathy me ajuda a sentar no sofá. A maciez das
almofadas é quase avassaladora depois de... depois do quê? Não
consigo me lembrar, mas meu corpo reage como se tivesse sido
uma eternidade desde que senti algo tão mundano e reconfortante.
— Aqui — diz Cathy, me entregando a água novamente. —
Goles pequenos.
Eu obedeço, saboreando o líquido fresco. Enquanto bebo,
estudo o rosto de Cathy. Há algo familiar em suas feições, mas é
como olhar para uma estranha que me lembra alguém que eu
costumava conhecer.
— Você disse que é minha tia? — pergunto hesitante.
Ela acena. — Sim.
— E aqueles homens lá fora?
A expressão de Cathy fica dolorida. — Eles são importantes para
você. Muito importantes. Mas acho que é melhor você se lembrar
disso por conta própria.
Aceno lentamente, estremecendo quando minha cabeça lateja.
— O que aconteceu comigo? Por que não consigo me lembrar?
Cathy suspira profundamente. — É muita coisa. Podemos falar
sobre isso outra hora, depois que você tiver descansado.
— Não. Quero saber agora.
Ela revira os olhos, e uma parte de mim, bem no fundo, quer rir
da ação. — Sempre tão teimosa. A versão curta dos eventos é que
houve um incidente com sua magia. Você foi despedaçada e
espalhada por dimensões. Um ritual foi realizado para te trazer de
volta.
Magia? Dimensões? Ritual? As palavras acendem algo na minha
mente, mas escorregam antes que eu possa agarrá-las. — Não
entendo.
— Eu sei — diz Cathy gentilmente. — Vai levar tempo para tudo
se assentar. Sua mente e corpo passaram por uma provação
tremenda.
Fecho os olhos, de repente exausta. — Me sinto tão estranha.
Como se eu não me encaixasse na minha própria pele.
— Isso é de se esperar — Cathy responde. — Descanse agora.
Podemos conversar mais quando você estiver se sentindo mais
forte.
Aceno e viro as costas para ela enquanto fecho os olhos. Ela
coloca um cobertor sobre mim, e eu tremo. Enquanto adormeço,
vejo vislumbres de rostos e lugares na minha mente. Eles escapam
como fumaça, me deixando me sentindo vazia e perdida.
— Ivy — murmuro. — Eu sou Ivy Hammond.
As palavras parecem familiares, mas não significam nada.
36

TORIN

A , -
completamente drenado e deixado sob o sol. Cada célula do meu
corpo dói com um cansaço profundo que nunca experimentei antes.
Abro os olhos, piscando, e faço uma careta com o brilho do
amanhecer.
As lembranças voltam numa dolorosa reconstituição. O ritual, a
forma dispersa de Ivy, o sacrifício de sangue. Olho para o meu
pulso, vendo que o corte profundo mal começou a cicatrizar. Isso
não está certo. Eu já deveria ter me regenerado. Minha sede de
sangue está intensificada e sinto que um ataque de fúria está por vir.
Gemendo, eu me esforço para sentar. O mundo gira de forma
nauseante, e tenho que fechar os olhos por um momento para não
vomitar. Quando os abro novamente, observo a cena ao meu redor.
O círculo do ritual está queimado na grama, ainda brilhando
fracamente com energia residual. Bram está inconsciente por perto,
sua pele acinzentada e coberta pelo que parecem ser veias pretas.
Tate está encolhido, com o rosto contorcido de dor mesmo na
inconsciência.
Ivy sumiu.
O pânico me invade. — Ivy! — chamo, minha voz rouca e fraca.
— Ela está lá dentro — diz Cathy, se aproximando. — Está
descansando. Aqui, achei que você poderia precisar disso.
Ela me estende uma bolsa de sangue, e eu a arranco dela,
rasgando-a e engolindo o conteúdo vorazmente.
Dreno a bolsa de sangue em segundos, sentindo parte da minha
força retornar. Mas não é suficiente. Nem de longe suficiente.
— Mais — rosno, jogando a bolsa vazia de lado.
Cathy me entrega outra sem comentários. Eu a rasgo, bebendo
avidamente. Conforme o sangue flui através de mim, sinto meu
corpo começar a se reparar lentamente. O corte no meu pulso se
fecha, embora muito mais devagar do que deveria.
— Como ela está? — pergunto entre goles. — Deu certo?
A expressão de Cathy é sombria. — Ela está viva e inteira,
fisicamente, pelo menos. Mas sua mente... — Ela para, balançando
a cabeça.
Um frio de pavor se instala no meu estômago. — O que você
quer dizer?
— Ela não se lembra de nada — diz Cathy suavemente. — Nem
quem ela é, nem quem nós somos. É como se suas memórias
tivessem sido dispersas junto com sua essência. Ela pode falar,
conhece palavras e o que as coisas são, mas o resto... se foi.
— Merda. Como podemos ajudá-la?
— Agora, precisamos nos concentrar em estabilizar todo mundo.
Vocês três se levaram ao limite com esse ritual. Haverá
consequências mágicas e oficiais também. O que vocês fizeram foi
ilegal em todos os sentidos para o Departamento de Lei e Ordem
Mágica.
— Quem se importa com isso? Desde que Ivy esteja aqui,
lidaremos com qualquer outra coisa.
Bram se mexe com um gemido de dor. Seus olhos se abrem,
revelando orbes negros como tinta. — Merda — ele resmunga. —
Deu certo?
Faço que sim com a cabeça, sombriamente. — Ela está viva.
Mas há complicações.
Bram se esforça para se sentar, seus movimentos bruscos e
descoordenados. — Que tipo de complicações? — ele pergunta,
sua voz áspera.
— Ela não se lembra de nada — explico, sentindo uma dor oca
no peito. — Nem quem ela é, nem quem nós somos.
— Merda — murmura Bram. Ele olha para suas mãos,
flexionando os dedos. — Minha magia está morta.
— Morta de vez ou precisa recarregar?
Ele dá de ombros. — Acho que vamos descobrir.
— O ritual cobrou um preço alto de todos vocês — diz Cathy,
sombriamente. — Vai levar tempo para se recuperarem, se é que
vão se recuperar totalmente.
Olho para Tate, que ainda está inconsciente. — E quanto a ele?
Cathy balança a cabeça. — Não sei. O sacrifício espiritual... sem
saber o que ele desistiu, é mais difícil dizer quais serão as
consequências até que ele acorde.
Tate se mexe como se soubesse que estávamos falando dele.
Seus olhos se abrem de repente, desfocados e vidrados de dor. Ele
tenta falar, mas só consegue um gemido estrangulado, seu olhar
vagando freneticamente. — Ivy? — ele consegue dizer com
dificuldade.
— Ela está lá dentro. Está viva.
O alívio inunda seu rosto, mas é rapidamente substituído por
uma expressão vazia que acende uns cem sinais de alerta. Ele se
levanta cambaleando, balançando bruscamente, e acena com a
cabeça. — Isso é bom então.
Sua intensidade habitual quando se trata de Ivy está
completamente ausente. Não há pressa desesperada para ir ao lado
dela, nem uma enxurrada de perguntas sobre sua condição. Apenas
aquele olhar vazio e reconhecimento apático.
— Tate — digo cuidadosamente —, você está bem?
Ele pisca para mim, sua expressão levemente confusa. — Claro.
Por que não estaria?
Bram e eu trocamos um olhar preocupado. Isso não está certo.
— Você se lembra do que aconteceu? — Bram pergunta. — O
ritual?
Tate acena lentamente. — Trouxemos Ivy de volta. Funcionou.
— E como você se sente sobre isso? — insisto.
Ele dá de ombros. — Está bom, eu acho. Ela é importante.
Importante? Apenas importante? Este é o homem que
incendiaria o mundo por Ivy sem hesitar. Algo está muito errado.
Cathy franze os lábios enquanto me lança um olhar que grita que
isso está tudo errado. — Tate — diz Cathy gentilmente —, o que
exatamente você sacrificou para o ritual?
Ele franze a testa, pensando. — Eu... não tenho certeza. Algo
importante, eu acho. Mas está tudo bem. Trouxemos Ivy de volta.
A sensação vazia no meu peito se aprofunda. Seja lá o que for,
tirou algo dele que o está fazendo agir assim agora. Mas o quê?
— Você ainda tem sua magia?
Ele estende a mão, e uma faísca ganha vida. Não é tão brilhante
quanto o normal, mas é mais do que Bram tem. — Boa coisa —
murmuro, mas se ele não desistiu de sua magia, o que ele fez?
— Devemos ir vê-la — murmura Bram, se esforçando para ficar
de pé.
Aceno com a cabeça e seguimos Cathy para dentro da casa,
com Tate nos seguindo quase roboticamente. Meus instintos estão
gritando que algo está muito errado com ele, mas afasto essa
preocupação por enquanto. Ivy é a prioridade.
Ignorando a parte do telhado que foi arrancada, provavelmente
durante o ritual, entramos na sala de estar para encontrar Ivy
encolhida no sofá, envolta em um cobertor. Ela se mexe quando nos
aproximamos, piscando para nós com confusão em seus olhos.
— Como você está se sentindo? — pergunto suavemente,
agachando-me ao lado dela.
Ela estuda meu rosto atentamente, com a testa franzida. — Não
tenho certeza. Tudo parece estranho. Quem é você?
As palavras me atingem como um tapa na cara com um peixe
molhado. Dói mais do que eu esperava.
— Sou Torin Ashford, um vampiro — digo, lutando para manter
minha voz firme. — Nós somos... amigos.
Seus olhos passam rapidamente para Bram e Tate. — E eles?
— Também são amigos — diz Bram. — Eu sou Bram, e aquele é
Tate.
Ivy acena lentamente, mas não há reconhecimento em seus
olhos. Apenas confusão e um toque de medo.
— Você se lembra de alguma coisa? — pergunto, embora já
saiba a resposta.
Ela balança a cabeça. — Está tudo embaralhado. Tenho flashes,
mas nada faz sentido. Cathy diz que sou Ivy Hammond, mas... —
Ela para, parecendo perdida.
— Mas o quê? — incentivo gentilmente, tentando esconder o
desespero em minha voz.
Ivy olha para baixo, brincando com a borda do cobertor. — Mas
não parece certo. Como se fosse o nome de outra pessoa. A vida de
outra pessoa.
Meu coração se aperta dolorosamente. Quero abraçá-la, dizer
que tudo ficará bem. Mas não posso. Não quando ela nem sabe
quem eu sou.
— Vai levar tempo — diz Cathy suavemente. — Sua mente e seu
corpo passaram por uma provação tremenda.
Ivy acena, mas ainda parece perdida e confusa. Seu olhar se
volta para Tate, que está afastado do grupo, com uma expressão
estranhamente vazia. — Acho que preciso descansar agora.
— Boa ideia — digo e puxo o cobertor, acomodando-a. Não
quero arriscar movê-la para uma cama ainda. Ela parece que se
quebraria em um milhão de pedaços se respirássemos muito forte
perto dela.
Ela fecha os olhos, e vejo sua respiração se regularizar e se
aprofundar, e me sinto aliviado por não ter que interagir mais com
ela. Sinto-me terrível por pensar isso, mas esta é uma situação
perturbadora, e eu realmente não sei o que dizer ou como agir.
Estou exausto e com fome de sangue, e minha mente não está tão
afiada quanto normalmente.
Nos retiramos para a cozinha, deixando Ivy descansar. O silêncio
é pesado, cheio de medos e perguntas não ditas. Cathy se ocupa
fazendo café, embora eu duvide que algum de nós realmente o
queira. Ela pega outra bolsa de sangue da mini geladeira e a joga
para mim. Não pergunto por que ela tem um estoque... Na verdade,
não quero saber.
Pegando-a no ar, lanço-lhe um sorriso agradecido. Ela faz uma
careta para mim e volta a fazer café.
— Que porra vamos fazer agora? — Bram pergunta baixinho,
afundando-se em uma cadeira. Ele parece completamente exausto,
as veias negras ainda visíveis sob sua pele pálida.
Balanço a cabeça, sem saber o que dizer. — Não sei. Nós a
trouxemos de volta, mas... — Paro, incapaz de terminar o
pensamento.
— Mas a que custo? — Cathy termina sombriamente, colocando
uma caneca de café na frente de Bram. — Para ela e para todos
vocês.
Meu olhar se desvia para Tate, que está olhando fixamente pela
janela. Sua falta de reação à condição de Ivy é profundamente
perturbadora. — Tate — digo cuidadosamente. — Como você está
se sentindo?
Ele se vira para mim, sua expressão neutra. — Estou bem. Por
que você continua perguntando?
— Porque você não está agindo como você mesmo — Bram
explode. — Ivy não se lembra de nós, e você está aí parado como
se não importasse!
Tate pisca, parecendo levemente confuso. — Claro que importa.
Mas nós a trouxemos de volta. Esse era o objetivo, não era?
— Sim, mas... — começo, mas paro. Isso é inútil. É como discutir
com uma IA. — Tate, o que exatamente você sacrificou pelo ritual?
— pergunto, desesperado para entender o que aconteceu com ele.
Já temos problemas suficientes sem precisar consertá-lo também.
Ele franze a testa, pensando. — Já disse a vocês. Não tenho
certeza. Algo importante, eu acho.
Reviro os olhos impacientemente enquanto ele nos dá essa
resposta novamente.
— Tente se lembrar — Bram insiste. — É crucial entendermos o
que foi perdido.
Tate fecha os olhos, concentrando-se. Depois de um longo
momento, ele os abre novamente, parecendo perturbado. Ele para,
balançando a cabeça.
— O que você sente pela Ivy agora? — pergunto, um sentimento
de pavor surgindo enquanto penso que posso ter acabado de
descobrir.
Ele dá de ombros. — Ela é Ivy.
— E? — Bram range os dentes, parecendo chegar à mesma
conclusão que eu.
— E nada.
— Nada? Você não sente nada por ela?
Tate dá de ombros novamente e vira as costas para nós para
olhar pela janela mais uma vez.
— Seu amor — sussurro. — Você sacrificou seu amor por ela.
O rosto de Bram é uma carranca feroz quando ele chega à
mesma conclusão que eu. — Merda. É por isso que ele está tão
indiferente. Ele literalmente não pode sentir o que sentia antes.
— Amor? — Tate murmura. — Está apenas em branco.
A enormidade do que aconteceu se instala sobre nós como um
cobertor sufocante. Ivy não tem memórias, Tate não tem
sentimentos por ela, Bram está potencialmente despojado de sua
magia, Cathy está escondendo bolsas de sangue, e eu... nem
sequer tenho certeza da extensão total do que perdi ainda, e não
tenho certeza se estou pronto para descobrir.
37

BRAM

E ,
menor lampejo de magia. Nada. O vazio dentro de mim é um
abismo onde meu poder costumava residir. Nunca me senti tão oco,
tão completamente inútil. Acessar meu poder real em um nível que
não tinha desde que vim para este reino foi mais complicado do que
eu imaginava. Então, tive que cavar ainda mais fundo. Os Fae
Antigos fazem parte da minha linhagem. A linhagem Real. Sou
descendente direto, não alguma versão diluída como a maioria dos
Fae das Trevas por aí. Eu nem sabia que era capaz de canalizar
essa merda deles. Para ser sincero, nem sabia que isso existia.
Agora sei muito bem.
Veias negras.
Escaravelhos rastejando sob minha pele, o que levanta uma
porrada de perguntas.
Porra, vomitando cobras.
— Ei, pessoal. Onde está a cobra?
— Ela se arrastou para os arbustos — murmura Cathy. — Eu
não ia persegui-la. Devemos? — ela pergunta, com o nariz franzido,
mas parecendo determinada se for necessário.
— Talvez seja uma boa ideia — murmuro, me levantando.
— Deixe-me pegar algumas ferramentas — ela diz e sai
marchando com uma eficiência brutal pela qual sou grato, porque
não consigo pensar direito agora.
Torin olha para mim enquanto me levanto, sua expressão
sombria. — Ainda nada?
Balanço a cabeça. — É como se tivesse sido arrancada pela
raiz. Posso sentir onde deveria estar, mas simplesmente... não há
nada.
Ele acena com simpatia e suga seu saco de sangue. — Dê
tempo ao tempo. Todos nós pagamos um preço alto por esse ritual.
Olho para ele com irritação. Ele parece ótimo agora que tem a
boca cheia de sangue. Até o ferimento em seu pulso sumiu. Meu
olhar se volta para Tate e é como ser atingido no estômago por uma
garra de dragão. — Alguns mais do que outros.
Cathy retorna com uma bolsa resistente de cordão, alguns
ganchos e luvas grossas. — Certo, vamos caçar cobras
demoníacas. Embora eu não saiba o que faremos com ela se a
pegarmos.
— Fae Antigo — murmuro.
— Hmm? — ela murmura.
— Não demônio. Fae Antigo — digo mais alto.
— Bom, isso torna tudo melhor agora, não é? — Seu sorriso
sarcástico me faz rir.
— Desculpe, estou apimentado hoje.
— Não estamos todos, jovem príncipe? Não estamos todos?
Saímos, vasculhando o jardim exuberante em busca de qualquer
sinal da serpente. O círculo do ritual ainda está queimado na grama,
uma lembrança aguda do que fizemos.
— Ali! — Torin aponta para um lampejo de escamas
desaparecendo sob um arbusto.
Convergimos para o local, Cathy empunhando o gancho como
uma arma. Ao afastarmos os galhos, a vemos. Uma cobra negra e
elegante com olhos estranhamente inteligentes. Ela se ergue,
sibilando para nós.
— Cuidado — aviso. — Não sabemos que tipo de magia ela
pode possuir.
— Ou que coisa das entranhas do inferno a possui — murmura
Torin.
Cathy avança com o gancho, uma criatura mais corajosa do que
eu, mas a cobra é mais rápida. Ela serpenteia entre suas pernas e
segue direto para a casa.
— Merda! — Torin pragueja. — Está indo em direção à Ivy!
Corremos atrás dela, irrompendo pela porta dos fundos. A cobra
desliza pelo chão da cozinha com uma velocidade antinatural, indo
direto para a sala onde Ivy está descansando.
— Pare-a! — grito, embora saiba que é inútil. Sem minha magia,
estou impotente para fazer qualquer coisa.
Torin salta sobre o balcão da cozinha, usando sua velocidade de
vampiro para tentar cortar o caminho da cobra. Mas é tarde demais.
A serpente desliza para debaixo do sofá onde Ivy está dormindo.
— Porra! — Cathy pragueja, brandindo seu gancho. —
Precisamos tirá-la de lá.
Nos aproximamos cautelosamente, incertos sobre o que a
serpente pode fazer. Ivy se mexe com a comoção, piscando para
nós confusa.
— O que está acontecendo? — ela pergunta sonolenta.
— Não se mexa — diz Torin cuidadosamente. — Há uma cobra
embaixo do sofá.
Os olhos de Ivy se arregalam em alarme, mas ela permanece
imóvel. — Uma cobra?
— Não é uma cobra qualquer — explico sombriamente. — É
mágica.
Cathy se move para frente com o gancho, pronta para tentar
pescar a criatura. Mas antes que ela possa, a cobra emerge por
conta própria.
Ela desliza para o colo de Ivy, enrolando-se em seu braço. Eu
me tenso, pronto para avançar e arrancá-la dela se necessário. Mas
Ivy não parece assustada. Se é que parece algo, ela parece
fascinada pela criatura.
— É linda — ela murmura, observando enquanto a serpente
sobe por seu braço. Suas escamas brilham com uma iridescência
mística, mudando de cor na luz.
— Ivy, não se mexa — digo cautelosamente. — Não sabemos do
que ela é capaz.
Mas ela parece não me ouvir. Seus olhos estão fixos na serpente
enquanto ela faz seu caminho até seu ombro. Então, para nosso
horror, ela começa a deslizar ao redor de seu pescoço.
— Ivy! — Torin range os dentes, dando um passo à frente.
Ela ergue uma mão, detendo-o. — Não — ela diz. — É minha.
— Como assim, é sua? — pergunto cuidadosamente.
Ivy acaricia a cabeça da serpente, um sorriso sereno em seu
rosto, mas ela não me responde. É como se ela nem me ouvisse.
Torin e eu trocamos olhares preocupados. Isso não pode ser
bom. Olho ao redor procurando por Tate, mas ele não está em lugar
nenhum.
Aquela cobra é magia dos Fae Antigos, negra e imprevisível. Tê-
la ligada à Ivy não pode ser uma coisa boa.
— Talvez devêssemos tentar removê-la — Torin sugere
cautelosamente.
Os olhos de Ivy brilham com raiva repentina. — Não! Vocês não
podem tirá-la de mim. Ela é minha.
A veemência em sua voz nos pega de surpresa. Essa não é a
Ivy que conhecemos. Seu tom e sua possessividade sobre essa
criatura perigosa estão completamente errados.
— Ivy — digo cuidadosamente — Essa cobra veio do ritual para
te trazer de volta. Não sabemos que tipo de magia ela possui ou o
que pode fazer com você. Por favor, deixe-nos removê-la com
segurança.
Ela me lança um olhar furioso, seus olhos brilhando com uma luz
roxa. — Você não entende. Ela é parte de mim agora. Eu preciso
dela.
A cobra aperta suas espiras ao redor do pescoço dela, mas Ivy
não mostra sinais de aflição. Se é que algo, ela parece confortada
por sua presença.
— O que você quer dizer com "é parte de você"? — pergunta
Torin, sua voz tensa de preocupação.
Ivy acaricia as escamas da serpente, com um sorriso sonhador
no rosto. — Ela me conhece. Todo o meu ser, através de todas as
dimensões. É a única coisa que parece certa.
Um arrepio percorre minha espinha ao ouvir suas palavras. Esta
criatura parece ter se agarrado aos fragmentos dispersos da
essência de Ivy que reunimos. Mas a que custo?
— Ivy — diz Cathy gentilmente — Eu sei que tudo parece
confuso agora. Mas essa cobra pode ser perigosa. Por favor, deixe-
nos ajudar você.
Por um momento, a expressão de Ivy vacila, incerteza piscando
em seus olhos. Mas então a cobra sibila suavemente, e ela balança
a cabeça.
— Não — ela diz firmemente. — Ela fica comigo.
Nós a encaramos, sem palavras. Se tentarmos remover aquela
cobra de seu aperto, ela lutará contra nós, isso está claro.
A questão é, que domínio ela tem sobre Ivy, e como diabos
podemos quebrá-lo?
38

TATE

E ,
enquanto os outros se preocupam com Ivy e aquela estranha cobra.
Sei que deveria me importar. Sei que esta situação é perigosa e
perturbadora. Mas não sinto nada sobre coisa alguma. Apático é a
palavra.
É como olhar para o mundo através de um vidro embaçado.
Tudo está abafado, distante. O pânico nas vozes de Torin e Bram
enquanto tentam argumentar com Ivy na outra sala sobre a cobra
mal é registrado.
Torin e Bram parecem pensar que eu amei Ivy uma vez e desisti
disso, mas não consigo me lembrar. Não é apenas uma sensação
de amor perdido... está totalmente ausente, como se nunca tivesse
existido em primeiro lugar. Neste momento, simplesmente não sinto
muita coisa.
Uma pequena parte de mim entende que isso deveria ser
aterrorizante. O Tate que eu era antes, sabendo de tudo isso,
tentaria sistematicamente lembrar, tentando descobrir que diabos
estava acontecendo. Mas esse Tate se foi, deixando para trás esta
concha vazia.
Meu olhar se desvia para o círculo ritual chamuscado, e me
pergunto distraidamente o que acontecerá conosco. O que fizemos
provavelmente era ilegal. Mesmo que tenhamos conseguido trazer
Ivy de volta, a que custo foi isso? Para ela, para todos nós?
Os outros ainda estão discutindo com Ivy na sala de estar. Eu
deveria ir lá e tentar ajudar. Mas o que eu poderia oferecer? Quem
eu sou agora é diferente. Eu sei disso. Posso não me lembrar de
amá-la, mas me lembro de ser mais proativo e estar na ofensiva.
Por mais que eu tente me forçar a me mover, a pensar, a agir. Ainda
fico ali parado, olhando fixamente.
Solto um suspiro e dou um passo para trás. Ficar parado aqui
não vai realizar nada. Preciso sair e me dar algum espaço desta
situação. Dar espaço a Ivy enquanto ela tenta descobrir as coisas.
Movendo-me em direção à porta dos fundos, saio sem dizer uma
palavra e me dirijo para o lado da casa. Atravessando a rua,
caminho. Estamos a alguns quilômetros do campus de Thornfield, o
que é bom. Posso usar este tempo, esta caminhada, para clarear
minha mente. Olho para o céu cinzento e sem brilho e pisco quando
a neve atinge meu rosto. É cedo. Normalmente nunca neva tão
cedo. É resultado do que fizemos? Fodemos com tudo ao fazer o
que fizemos? Importa mesmo se fizemos?
Mesmo isso é algo com o qual não consigo me importar.
Conforme me aproximo de Thornfield, a neve cai mais pesada,
cobrindo o mundo de branco. O silêncio é opressivo, quebrado
apenas pelo ranger das minhas botas na neve fresca. Nem mesmo
sinto o frio agora.
Minha mente divaga para Ivy e os outros na casa de Cathy. Sei
que deveria estar preocupado com aquela cobra, com as memórias
perdidas de Ivy, com o que todos nós sacrificamos. Mas é como
tentar agarrar fumaça. A preocupação escapa antes que eu possa
formá-la completamente.
Chego à borda do campus, os prédios familiares se erguendo à
frente. As aulas começarão em breve para o dia. A vida normal
continua, alheia ao caos que desencadeamos. Por um momento,
considero simplesmente ir para a aula, fingindo que nada
aconteceu. Seria fácil voltar a uma rotina, deixar que os detalhes
mundanos da vida estudantil me distraíssem do vazio interior.
Mas mesmo pensando nisso, sei que não posso. O que quer que
eu tenha perdido, o que quer que tenha sido tirado de mim, ainda
tenho algum senso de dever. De obrigação, se não de cuidado.
Preciso voltar, enfrentar quaisquer consequências que estejam por
vir.
Mas preciso de um minuto.
Atravessando o pátio, franzo a testa. O lugar está deserto. Não
há sinal de vida em lugar algum. Nem estudantes, nem funcionários.
É uma cidade fantasma. Sei que eu deveria me importar com o que
diabos aconteceu aqui, mas não me importo.
Dirigindo-me para onde há uma grande parede com alvos
pintados para os estudantes praticarem acertos com sua magia, dou
um passo atrás na laje de concreto que se estende à sua frente e
encaro a parede. Há círculos de todos os tamanhos na parede
pintados em vermelho. Quanto menor o círculo, mais difícil o alvo.
Enrolo minha magia na palma da mão e olho para baixo. Parece
mais sinistra do que antes, mas pode ser apenas eu, projetando
coisas que não estão lá.
Encaro a energia crepitante na minha palma, tentando invocar
alguma emoção. Medo, excitação, qualquer coisa. Mas não há
nada. A magia parece estranha, quase malévola. Não o poder
quente e familiar que vagamente me lembro de ter empunhado
antes.
Com um movimento do pulso, lanço um raio de energia no
menor alvo. Erra por muito, chamuscando a parede a vários metros
de distância. Franzo a testa. Minha mira costumava ser certeira.
Tento de novo e de novo. Cada tentativa erra, minha magia está
errática e imprevisível. A frustração deveria estar aumentando, mas
sinto apenas um desapego entorpecido enquanto observo meus
fracassos se acumularem na parede.
Após o décimo erro, abaixo a mão. Qual é o sentido disso? Nem
consigo me lembrar por que me importava em aperfeiçoar essas
habilidades em primeiro lugar.
Um vento frio açoita o pátio vazio, agitando a neve fresca. O
silêncio sinistro do campus abandonado me pressiona. Eu deveria
estar perturbado pela total ausência de vida aqui. Mas como tudo o
mais, mal registro isso.
Viro-me de costas para a parede chamuscada, sem saber o que
fazer em seguida. Voltar para a casa de Cathy? Tentar ajudar com
Ivy e aquela cobra? O pensamento não tem apelo. Ficar aqui no
campus e esperar por... algo? Igualmente sem atrativos.
Começo a me afastar, mas então me viro e disparo uma esfera
de poder contra a parede. Ela erra todos os alvos, ricocheteando
inofensivamente no bloco de concreto.
— Porra! — rujo, sentindo uma raiva familiar surgir. — Foda-se!
— Lanço outra e mais outra. — Porra! — rujo, atirando raio após
raio de energia inútil contra a parede. Minha mira é selvagem, a
magia ricocheta nos alvos, não deixando nenhum sinal de dano.
A raiva se sente bem, porém. É a primeira emoção real que senti
desde que acordei após o ritual. Me entrego a ela, gritando
obscenidades enquanto libero meu poder.
A neve rodopia ao meu redor, levantada pela força dos meus
ataques. O ar estala com ozônio e magia residual.
Continuo até meus braços doerem, e estou ofegante. A parede
está imaculada e sem manchas. Nenhum alvo sequer foi atingido.
Exausto, desabo de joelhos na neve. A raiva se esvai, deixando-
me vazio novamente. Mas por um momento ali, senti algo. Não era
amor ou felicidade, mas era uma emoção. Prova de que não estou
completamente morto por dentro.
Encaro minhas mãos, ainda crepitando fracamente com poder.
Minha magia parece errada, contaminada de alguma forma. Mas é
tudo o que me resta.
— O que eu deveria fazer agora? — pergunto ao ar vazio.
— Você luta.
A voz vem do nada, e eu olho para cima. Vendo a Morte em pé
ali, seu rosto e mãos esqueléticos as únicas partes visíveis sob
aquele manto negro flutuante, levanto-me rapidamente. — Lutar
contra o quê? — zombo.
As órbitas oculares vazias da Morte parecem me perfurar. —
Lute pelo que você perdeu, Tate Blackwell. Lute para recuperar sua
alma.
Bufo com desdém. — Minha alma? Eu não perdi minha alma.
Apenas meus sentimentos por alguma garota.
— É isso que você pensa? — A voz da Morte é fria, ecoando
estranhamente no pátio vazio. — Você desistiu de muito mais do
que imagina. Seu amor por Ivy era o núcleo de quem você era. Sem
ele, você não passa de uma casca vazia.
Suas palavras deveriam ferir e me deixar com raiva, mas eu só
me sinto entorpecido. — E daí se eu for? Talvez isso seja melhor.
Sem emoções confusas atrapalhando.
A Morte dá um passo à frente, a neve rodopiando ao redor de
sua forma encapuzada. — É melhor? Olhe para si mesmo, Tate.
Você mal consegue controlar sua magia. Não sente nada pela
mulher por quem uma vez teria morrido. É realmente essa a
existência que você quer?
Dou de ombros, desviando o olhar. — Não importa o que eu
queira. O que está feito, está feito.
— Nada está verdadeiramente feito — diz a Morte, gesticulando
ao seu redor. — Sempre há escolhas a serem feitas, caminhos a
seguir. A questão é: você está disposto a lutar pelo que perdeu?
Eu o encaro. — Como? Como posso lutar por algo que nem
sequer me lembro?
A mão esquelética da Morte aponta para mim, e eu estremeço
apesar de mim mesmo. — Esta realidade está errada - toda ela.
Vocês três, em seu desejo e pressa de trazer de volta a mulher que
amam, alteraram a percepção. Este não é o mundo em que vocês
estavam antes de realizar o ritual. Você não vê isso? — Ele agita os
dedos, e uma esfera aparece, brilhando em vermelho intenso, mas
com um ponto de escuridão nela. Eu a reconheço
instantaneamente, mesmo nunca tendo a visto antes. — Sua alma,
jovem Blackwell.
Eu pisco, processando isso. — Por que você a tem?
A Morte ri. — Por que você acha?
— Estou morto?
— Na realidade em que você deveria estar, sim, você morreu
durante o ritual. Arrancar seu amor de sua alma por Ivy Hammond te
matou.
— Então por que ainda estou aqui?
— Você não está. Pelo menos, você está, mas neste mundo
onde as coisas são... diferentes.
— Você está dizendo que criamos uma nova dimensão ou que
fomos transportados para uma?
A Morte fecha a mão sobre a esfera, e ela desaparece. —
Nenhuma das duas. E ambas. O ritual que vocês realizaram rasgou
o próprio tecido da realidade. Criou ondulações. Distorções. Este
mundo em que você se encontra agora é um reflexo fraturado do
seu próprio, deformado pelo caos que vocês desencadearam.
Eu luto para processar essa informação. — Estamos em algum
tipo de linha do tempo alternativa?
— De certa forma — diz a Morte. — Mas é instável. Incompleta.
Olhe ao seu redor, Tate. Um campus vazio no meio do semestre?
Neve caindo meses antes do previsto? Sua própria magia, selvagem
e imprevisível? Esses são sintomas de uma realidade que está se
desfazendo pelas costuras.
Um arrepio percorre minha espinha, e não tem nada a ver com a
neve caindo pela gola da minha camisa. — O que acontece se ela
se desfizer completamente?
A voz da Morte fica sombria. — Oblívio. Para você, para Ivy, para
todos neste mundo fraturado. A menos que você encontre uma
maneira de consertar as coisas.
— Como? — exijo. — Como posso consertar algo que nem
entendo completamente?
— Você começa recuperando o que perdeu — diz a Morte,
gesticulando para onde minha alma estava momentos antes. — Seu
amor por Ivy não era apenas uma emoção, Tate. Era o núcleo de
quem você era. Sem ele, você está à deriva em um mar de caos,
incapaz de ancorar a si mesmo ou a qualquer outra pessoa.
Balanço a cabeça, a frustração aumentando. — Mas se
desfizermos esta linha do tempo, eu não vou simplesmente estar
morto?
A Morte me observa silenciosamente por um longo momento.
Finalmente, ele fala. — A morte nem sempre é o fim, Tate Blackwell.
Especialmente não em uma realidade tão fraturada quanto esta.
Franzo a testa, tentando entender suas palavras enigmáticas. —
O que isso significa?
— Significa que as linhas entre a vida e a morte, entre uma
realidade e outra, foram borradas pelo que você e seus
companheiros fizeram — explica a Morte. — Sua forma física pode
ter perecido na linha do tempo original, mas sua essência - sua alma
- persiste.
— Então o quê, eu sou algum tipo de fantasma? — pergunto
ceticamente.
A Morte balança a cabeça. — Não. Você está muito vivo nesta
realidade distorcida. Mas você está incompleto, sem âncora. Ao
recuperar sua alma, ao lutar para restaurar o que foi perdido, você
pode ser capaz de preencher a lacuna entre o que era e o que é.
— Isso é loucura. Como vou lutar por algo que nem me lembro?
Como recupero um amor que não sinto?
— Escolhendo fazê-lo — diz a Morte simplesmente. —
Reconhecendo que esse vazio dentro de você está errado, que
deveria haver mais. Estando disposto a enfrentar a dor e o luto que
vêm com amar alguém, em vez de se esconder neste estado
entorpecido e buscando o que você realmente procura.
— Que seria? — pergunto, mas ele já se foi. — Ah, vai se foder,
seu completo cuzão ossudo.
A risada da Morte ecoa ao meu redor, e eu estremeço. Se o que
ele diz é verdade, e eu morri durante o ritual, foi minha morte que
fez isso, ou foi o ritual? Foi Ivy estar inteira novamente? Ela deveria
permanecer dispersa?
O caos nunca deve estar em um só lugar, Tate Blackwell. Ele
não pode ser contido.
Eu reviro os olhos enquanto a voz da Morte ressoa em minha
cabeça. — Certo. Tudo bem. Isso deve ser uma combinação de
coisas, então. Todas as coisas que fizemos criaram esta linha do
tempo. Então temos que desfazer tudo. Eu tenho que morrer; Ivy
tem que permanecer despedaçada... — Balanço a cabeça. — Não é
uma opção! — Eu enrolo minha magia novamente e a lanço com o
sentimento de pura raiva que desceu sobre mim.
O raio de magia voa da minha mão, crepitando com poder
descontrolado. Por um momento, penso que vai errar a parede
completamente. Mas no último segundo, ele se curva
impossivelmente, atingindo o menor alvo bem no centro.
O impacto é explosivo. A parede inteira se estilhaça, e pedaços
de concreto voam em todas as direções. Rapidamente, ergo um
escudo apressado para desviar os detritos.
Enquanto a poeira baixa, olho em choque para a destruição.
Aquele único raio continha mais poder do que qualquer coisa que eu
já canalizei antes.
— Que porra é essa? — murmuro.
Minha magia não está mais fraca ou imprevisível. Ela está crua,
indomada. Sem o núcleo emocional que sacrifiquei, não há nada
para contê-la.
Olho para minhas mãos, ainda crepitando com energia. Pela
primeira vez desde que acordei após o ritual, sinto um lampejo de
medo real.
Este poder, descontrolado pela consciência, por mais
moralmente cinzenta que fosse, é perigoso. Eu sou perigoso.
As palavras da Morte ecoam em minha mente. Lute pelo que
você perdeu. Recupere sua alma.
Cerro os punhos, extinguindo a magia. Por mais que eu odeie
admitir, o bastardo ossudo está certo. Não posso continuar assim;
uma casca vazia com mais poder do que controle.
Preciso encontrar um caminho de volta para quem eu era. Pelo
meu próprio bem e pelo de Ivy. Mesmo que isso signifique que eu
tenha que morrer, sei que não posso viver assim.
39

IVY

A ,
sentindo uma sensação de calma me invadir. A cobra se enrola mais
apertado em volta do meu pescoço. Sua presença é estranhamente
reconfortante.
— Ivy, por favor — diz Bram, sua voz tensa de preocupação. —
Essa coisa pode ser perigosa.
Desvio o olhar da serpente para olhar para ele. A preocupação
em seus olhos deveria me comover, mas me sinto estranhamente
distante. — Não é perigosa — digo suavemente. — Não para mim.
Torin dá um passo à frente, suas presas aparecendo enquanto
fala. — Você não sabe disso. Essa cobra veio da magia Fae Antiga.
É imprevisível.
Eu o ignoro enquanto Cathy franze a testa para mim, baixando
ligeiramente seu gancho. — Ivy, querida, eu sei que tudo parece
confuso agora. Mas estamos apenas tentando ajudar.
— Não preciso de ajuda — respondo bruscamente,
surpreendendo a mim mesma com a veemência no meu tom. —
Preciso que todos vocês recuem e me deixem entender isso.
A cobra sibila suavemente, como se concordasse. Acaricio sua
cabeça, maravilhada com o brilho de suas escamas sob a luz fraca
do quarto escurecido.
Olho pela janela e vejo a neve caindo. É bonito. Eu me lembro
da neve. Posso não me lembrar das pessoas ao meu redor, mas me
lembro de coisas e lugares. Eu me lembro da neve. Levantando-me
instável, minhas pernas ainda parecendo gelatina, eu me arrasto até
a janela, sibilando para qualquer um que se aproxime para me
ajudar. Olhando para a paisagem branca e pura, eu tremo. Não sei o
quê, mas algo não parece certo nisso.
Pressiono minha mão contra o vidro frio, observando minha
respiração embaçar a janela. A neve cai silenciosamente lá fora,
cobrindo tudo de branco. É bonito, mas sinistro. Algo nisso parece
estranho, antinatural.
— Nunca nevou tão cedo antes — murmuro, mais para mim
mesma do que para os outros.
Posso sentir a tensão aumentar um pouco atrás de mim, mas
ninguém diz nada. Eu me viro para encará-los, a cobra apertando
suas voltas ao redor do meu pescoço. — O que exatamente vocês
fizeram para me trazer de volta?
Eles trocam olhares inquietos. Torin inspira profundamente, sua
expressão sombria. — Recorremos a uma magia muito obscura e
muito antiga. Foi perigoso e provavelmente ilegal.
— Provavelmente? — Cathy bufa. — Tente definitivamente.
Tivemos sorte de não explodir metade do reino.
Franzo a testa, tentando juntar os fragmentos de memória que
flutuam em minha mente. — Eu estava espalhada por diferentes
dimensões.
Bram assente. — Sua essência foi dilacerada. Tivemos que
puxá-la de volta.
— Por quê?
A pergunta paira no ar como um gás nocivo.
— Porque — Torin bufa. — Tínhamos que fazer.
Não insisto. Eles claramente não têm uma resposta adequada
para mim. — Quanto tempo eu fiquei fora no seu... neste mundo?
— Cerca de três horas e meia — diz Cathy.
Meu sangue congela. — O quê? — pergunto, confusão
inundando meu sistema já sobrecarregado. — Horas?
Bram e Torin trocam um olhar cauteloso antes de Bram voltar
seu olhar para mim. — Quanto tempo foi para você?
Baixando o olhar, eu me viro. — Uma eternidade.
O silêncio segue isso.
Mas então Bram pergunta: — Você quer dizer isso literalmente,
ou parecia?
— Eu vi o amanhecer de impérios. Eu os vi ascender e
eventualmente cair. Testemunhei estrelas nascendo e depois se
apagando, piscando pela última vez quando morriam. Eu estava em
todo lugar e em lugar nenhum. Foi um segundo. Foram milhares de
anos.
— Merda — Torin murmura, e sinto sua presença logo atrás de
mim. — Ivy. — O desespero e a tristeza em sua voz fazem lágrimas
arderem em meus olhos, mas eu as afasto piscando.
Viro-me para encará-los, minha mão instintivamente alcançando
para acariciar a cobra enrolada em meu pescoço. Sua presença me
ancora e mantém a esmagadora inundação de memórias e
sensações sob controle.
— Vocês não entendem — digo suavemente. — Eu vivi mil
vidas. Vi coisas que vocês nem podem imaginar. Agora estou de
volta aqui, neste corpo que parece pequeno demais, frágil demais
para conter tudo o que experimentei.
Bram dá um passo hesitante à frente. — Ivy, não tínhamos ideia.
Se soubéssemos...
— Vocês o quê? — disparo. — Teriam me deixado espalhada
pelas dimensões? Talvez isso tivesse sido melhor.
No momento em que as palavras saem da minha boca, me
arrependo. A dor lampeja em seus rostos. Mas não consigo me
forçar a voltar atrás. Parte de mim acredita nisso.
Torin passa a mão pelos cabelos, a frustração evidente em cada
linha de seu corpo. — Fizemos isso para te salvar. Arriscamos tudo.
— Eu não pedi que fizessem — digo, minha voz mal acima de
um sussurro.
Cathy pousa seu gancho, sua expressão suavizando. — Não,
você não pediu. Mas não podíamos simplesmente deixar você
assim. Nos importamos com você, Ivy. Você perguntou por que
fizemos isso. É por isso. Não tínhamos ideia se você estava
sofrendo ou sendo torturada ou com dor. Tomamos uma decisão, e
agora todos temos que viver com ela.
A cobra sibila suavemente, mas não está irritada com as
palavras brutalmente verdadeiras de Cathy. Se é que é possível, ela
quer que eu as aceite. — Preciso de um pouco de ar — consigo
dizer finalmente, virando-me para a porta da frente, abrindo-a e
saindo. Meus pés afundam nos montes de neve que estão se
acumulando, e parece algo com o qual eu deveria estar animada.
— Bem, bem, bem. Veja só o que seu grupo de adoradores fez.
Franzindo o cenho, olho para a voz, e o reconhecimento me
atinge como um Dragão em pleno voo. — Vida — digo,
pressionando os lábios. — O que você quer?
Ela inclina a cabeça, também pressionando os dela, enquanto
me encara com crescente preocupação. — Você esqueceu seu
propósito?
— Que propósito?
Ela revira os olhos e suspira. — Ok, primeiro as coisas mais
importantes. Você precisa levar seu traseiro perky de volta à linha
do tempo correta, e então precisa se lembrar de tudo que o tempo a
fez esquecer.
— Do que você está falando?
Vida suspira pesadamente, sua forma etérea cintilando na neve
que cai. — Esta não é sua realidade, Ivy. O ritual que seus amigos
realizaram para trazê-la de volta rasgou um buraco no tecido da
existência. Você foi empurrada para uma linha do tempo fraturada,
um reflexo distorcido do seu verdadeiro mundo.
Eu pisco, tentando processar suas palavras. — Então nada disso
é real? — Estranhamente, isso faz mais sentido do que qualquer
outra coisa que experimentei desde que retornei ao meu corpo.
— Sim e não — diz Vida, acenando com a mão e me mostrando
uma visão na neve.
Aproximo-me, deixando a curiosidade me vencer, e espio a neve
turbilhonante, observando enquanto imagens se formam e se
transformam. Vejo lampejos de outra realidade. Esta é onde fui
trazida de volta, mas é uma devastação completa. Recuo e balanço
a cabeça.
— Essa é sua verdadeira linha do tempo — explica Vida. —
Aquela de onde você foi arrancada quando foi espalhada pelas
dimensões.
Franzo a testa, recuando das imagens com minhas memórias
fragmentadas. — Mas se isso é real, então o que é isto? — Faço um
gesto indicando o mundo vazio e coberto de neve ao nosso redor.
— Isto é uma realidade fraturada, criada pelo caos do ritual que
a trouxe de volta — diz Vida. — É instável, incompleta, e se deixada
sem controle, poderia se desmanchar completamente com todos
vocês dentro dela.
A serpente ao redor do meu pescoço se aperta, como se
sentisse meu desconforto. Acaricio suas escamas distraidamente.
— O que eu deveria fazer? Como faço para nos levar de volta?
A expressão de Vida fica séria. — Você precisa se lembrar de
quem você realmente é, Ivy. Não apenas os fragmentos dispersos
de si mesma, mas seu ser completo. Seu propósito.
— Você continua mencionando esse propósito — digo, com
frustração crescente na voz. — Que propósito? Não tenho memórias
de nada além de coisas. Provavelmente é por isso que me lembro
de você.
Ela faz uma careta com meu insulto, mas o deixa de lado. —
Você é o Caos encarnado, Ivy. A personificação da mudança, da
transformação. Você está destinada a trazer equilíbrio aos reinos, a
agitar as coisas quando elas se tornam estagnadas.
E?
Ela não está dizendo tudo. O que não consigo lembrar? Parece
importante que eu me lembre.
— O que mais você não está me contando?
Vida suspira, sua forma cintilando na neve que cai. — Você não
é apenas o Caos, Ivy. Você é o Nexo. O ponto focal onde todos os
reinos se cruzam. Sua existência mantém a realidade unida.
Eu pisco, atordoada com essa revelação. — É por isso que eu
acabei em todos os lugares quando eu-
— Morreu.
Eu balbucio. — Morri? Eu morri?
— Mm-hm.
— E você quer que eu volte para aquela realidade onde estou
morta? Como isso vai ajudar em alguma coisa?
— Vai trazer seu amante de volta.
Eu tropeço para trás, meus olhos voltando para a visão, para a
parte que eu evitei olhar antes.
Tate.
— E depois? — Eu engasgo, me perguntando por que acredito
nessa criatura, mas acredito. Pela primeira vez desde que voltei, sei
que o que ela diz é real.
A expressão de Vida endurece levemente. — E então você terá
uma escolha a fazer. Uma que poderia remodelar a realidade como
você a conhece.
Eu olho fixamente para ela, minha mente girando. — Que tipo de
escolha?
— Se permanecer como está - espalhada pelas dimensões,
mantendo a realidade unida, mas incapaz de realmente viver - ou se
tornar algo novo. Algo que possa existir em um único lugar sem
rasgar o tecido da existência.
A serpente ao redor do meu pescoço sibila suavemente, suas
escamas ondulando em agitação. Eu a acaricio distraidamente,
encontrando conforto em sua presença. — Se eu escolher me tornar
algo novo? O que acontece então? Tate vive?
Vida dá de ombros, sua forma piscando como uma chama de
vela. — Não sei. Essa é a natureza da verdadeira mudança, Ivy. É
imprevisível. Mas é necessária. Os reinos se tornaram estagnados,
calcificados. Eles precisam da centelha do caos para evoluir.
Eu reviro os olhos ao ouvir essa palavra novamente. Mas desta
vez, ela atinge algo profundo dentro de mim, e começo a
compreender fragmentos da vida que perdi. — Você queria me usar
para criar vida eterna — murmuro. — Se eu voltar, o que acontece
então?
Ela sorri, e vejo a presença ominosa ondulando sob a superfície
de sua pele lisa. — Só há uma maneira de descobrir.
E então ela desaparece.
— Não confie nela — diz Bram da porta. — Você não pode
confiar em uma palavra que ela diz. Isso tudo é por causa dela.
— Talvez — concordo. — Mas ela também não está errada. Se
ela diz que esta não é nossa verdadeira linha do tempo, que o ritual
que você realizou para me trazer de volta rasgou um buraco na
realidade, então estamos em algum tipo de dimensão fraturada.
A expressão de Bram escurece, e ele fecha os olhos e solta o ar,
esfregando uma mão no rosto. — Eu temia algo assim.
— Você sabia que isso poderia acontecer? — pergunto, com
raiva crescendo dentro de mim.
Ele levanta as mãos defensivamente. — Não exatamente. Mas
mexer com esse nível de magia... sabíamos que poderia haver
consequências. Só não sabíamos quão graves.
Eu balanço a cabeça, com frustração crescente. — Então você
arriscou rasgar a realidade só para me trazer de volta? Por quê? O
que poderia valer tanto a pena assim?
Os olhos de Bram brilham com uma emoção que não consigo
identificar. — Você. Você vale a pena, Ivy. Não podíamos
simplesmente deixar você espalhada pelas dimensões. Faríamos
isso de novo e de novo-
— E de novo — interrompe Torin.
Suas palavras deveriam me tocar, deveriam me fazer sentir algo.
Mas eu só me sinto vazia. — E agora? Estamos presos em alguma
versão quebrada da realidade, e se voltarmos para o mundo real,
Tate está morto.
— Não necessariamente — diz Bram, dando um passo à frente.
— Pode haver uma maneira de consertar isso. De voltar para nossa
linha do tempo adequada antes que Tate morra.
— Antes de vocês me trazerem de volta, você quer dizer —
afirmo amargamente.
Bram faz uma careta diante da minha atitude pouco positiva. —
Não. Se pudermos encontrar uma maneira de voltar para o
momento preciso em que você retornou, o momento preciso em que
Tate morre, talvez possamos evitar tudo isso.
— E como diabos fazemos isso? — rosno.
— Perguntando à única criatura que sabe tudo sobre a morte.
Eu pisco e dou de ombros.
Ele revira os olhos. — Morte, Ivy. Morte.
Certo. Porque temos Vida, então temos que ter Morte também.
Claro. Isso tudo faz sentido agora. Tudo faz sentido. Não.
40

IVY

A B
descrença. — Ivy, eu sei que tudo isso é confuso e avassalador.
Mas podemos resolver isso juntos.
Eu rio amargamente. — Eu nem sei quem vocês são. Nenhum
de vocês. Tenho esses fragmentos de memórias, mas nada
concreto. Como posso confiar em vocês?
A cobra ao redor do meu pescoço sibila suavemente, reagindo
às minhas emoções enquanto passo os dedos por suas escamas.
Os olhos de Torin ardem com intensidade. — Então confia nos teus
instintos, Ivy. No fundo, tu nos conheces. Tu sabes que faríamos
qualquer coisa por ti.
Balanço a cabeça, sobrecarregada. — Esse é o problema. Vocês
já fizeram demais. Nós já fizemos demais. Se começarmos a mexer
de novo, não vamos piorar as coisas?
— Bom, elas só podem ficar melhores, porra — Bram dispara,
perdendo a paciência.
— Não está ajudando — Torin range os dentes.
— Fizemos isso porque te amamos — Bram declara.
As palavras me atingem com força. Amor. Parece algo tão
pequeno diante de tudo que aconteceu. E ainda assim.
Fecho os olhos, tentando organizar o caos na minha mente.
Lampejos de memória dançam atrás das minhas pálpebras, mas
somem antes que eu possa me lembrar.
Quando abro os olhos novamente, vejo o desespero e o amor
em seus rostos. Isso mexe com algo profundo dentro de mim, um
lampejo de reconhecimento.
— Tudo bem — digo suavemente. — Digamos que eu acredite
em vocês. Que vocês fizeram tudo isso porque me amam. Como
consertamos isso?
A expressão de Bram se suaviza um pouco. — Tu chamas a
Morte. Ele é o único que pode navegar pelas fronteiras entre as
realidades.
— Como exatamente eu faço isso? — pergunto desconfiada. —
Coloco um anúncio de Procura-se? "Procura-se figura esquelética,
deve ter foice própria"?
Torin bufa. — Ah, tu estás aí dentro, Ivy Hammond, quer tu
admitas ou não. Mas por mais que eu ame o teu sarcasmo, não é
bem assim. Temos que lembrar que tu não te lembras, então
faremos isso por ti. Tu conheces a Morte. Todos nós conhecemos,
infelizmente. Ele é teu ancestral. Tu deverias ser a herdeira dele,
mas a Vida-
— Tem outros planos. Eu me lembro — murmuro. Agora que ele
diz, eu sei. — Mas se a Vida quer tanto que voltemos para aquela
realidade, deveríamos mesmo estar considerando isso?
— Sim — diz Bram. — Voltar para nossa linha do tempo correta
é a jogada certa. Só precisamos fazer isso nos nossos termos, não
nos dela.
— E como fazemos isso?
Os olhos de Torin brilham com determinação. — Fazendo um
acordo com a própria Morte.
Eu bufo. — Certo. Porque fazer acordos com entidades
cósmicas tem funcionado tão bem para nós até agora.
— A Morte é diferente. Podemos confiar nele.
Me viro para ver Tate caminhando pelo jardim, coberto de neve e
encharcado. Ele nem parece sentir frio, apenas alheio a tudo ao seu
redor. — Como assim?
— Ele me visitou mais cedo. Precisamos voltar. Para consertar
isso.
— Você sabe? — aventuro-me a perguntar.
Seu rosto escurece. — Eu sei.
— E você ainda quer fazer isso?
— Temos que fazer. Eu não terminei com você ainda, Ivy — ele
diz, o desespero fazendo sua voz falhar. — Nem perto de terminar
com você. Não posso viver assim. Prefiro estar morto do que não te
amar.
Minha respiração acelera com suas palavras, mas não sei o que
dizer.
— Você se lembra? — Torin sussurra.
Tate acena sombriamente.
Bram dá um tapa em seu ombro. — Bem, vamos torcer para que
não chegue a esse ponto.
Encaro Tate, tentando conciliar a intensidade em seus olhos com
a casca vazia de um homem com quem acordei. — Você se lembra
de tudo agora?
Ele acena gravemente. — A Morte me mostrou o que perdemos.
O que eu perdi. E eu não posso... não vou aceitar viver assim.
— Você acha que ele poderia me ajudar a lembrar?
— Você está morta na outra realidade?
Eu o encaro. — Acho que não.
— Então provavelmente não. Estou conectado a ele agora em
um nível que eu gostaria de não estar. Mas é o que temos.
— Lidando com o que vier.
Ele sorri com minhas palavras. — Você se lembra mais do que
pensa.
— Espero que sim, porque isso é uma merda.
Compartilhamos um sorriso, e a cobra enrolada no meu pescoço
desliza pelo meu corpo, deixando meu pescoço congelando
enquanto a neve cai sobre ele. Ela desliza até Bram, que congela. A
cobra se enrola em sua perna e lentamente sobe pelo seu corpo.
— Erm — ele gagueja.
— Ele é inofensivo — digo.
— Para você, talvez. — Ele recua quando a cobra alcança seu
peito. — Essa coisa saiu da minha boca. Espero mesmo que não
esteja tentando voltar.
Não consigo conter a risada enquanto o pânico de Bram atinge
níveis cômicos. — Saiu da sua boca? — engasgo entre risos.
Bram me lança um olhar feio, mas há um toque de alívio em
seus olhos ao me ver rindo. — É, ri mesmo. Você não foi quem
vomitou cobras.
A cobra continua sua jornada pelo corpo de Bram, finalmente se
acomodando ao redor de seu pescoço. Ele fica completamente
imóvel, olhos arregalados de apreensão.
— Acho que ela gosta de você — diz Torin com um sorriso
malicioso.
— Vai se foder — Bram murmura.
Observo a cobra, fascinada. Ela parece atraída por Bram de uma
maneira que não era pelos outros. — Acho... acho que ela está
tentando nos dizer algo.
Tate se aproxima, estudando a serpente. — Ela veio da magia
Fae Antiga, certo? Talvez esteja conectada ao Bram de alguma
forma.
A cobra sibila. Os olhos de Bram se arregalam. — Posso sentir
algo. Como se estivesse tentando se comunicar.
— O que ela está dizendo? — pergunto, me aproximando.
Bram fecha os olhos, se concentrando. — Não são exatamente
palavras. São mais como impressões. Imagens. — Sua testa se
franze. — Vejo uma porta. Não, não uma porta. Um portal.
— Para onde leva esse portal? — pergunta Torin.
— Para o outro lado — responde uma nova voz.
Todos nós nos viramos para ver a Morte parada ali, suas vestes
negras em contraste marcante com a paisagem nevada.
— Morte — digo, reconhecendo sua cara estúpida agora que a
vejo. É como apertar um botão. Aperte a Ivy e, em vez de guinchar,
ela se lembra de coisas. Isso deve ser divertido.
A Morte inclina levemente a cabeça. — Ivy. Você está numa
situação complicada.
— Não me diga — digo com desdém.
A cobra ao redor do pescoço de Bram sibila, deslizando pelo seu
corpo e se movendo em direção à Morte. Para minha surpresa, a
Morte estende uma mão ossuda, permitindo que a serpente se
enrole em seu braço.
— O que é essa coisa? — Torin pergunta cautelosamente.
— Um fragmento de magia Fae Antiga — responde a Morte. —
As partes de vocês que abriram mão.
— O quê? — Tate murmura roucamente.
Bram olha fixamente para a cobra, sua expressão tensa. — A
cobra representa o ritual? Ela contém as coisas que sacrificamos?
A Morte fica em silêncio por um longo momento, seu olhar vazio
passando por cada um de nós. Finalmente, ele fala. — De fato.
— Então, como usamos isso para consertar essa bagunça? —
Torin pergunta, olhando para a cobra com interesse renovado.
— Vocês têm que desfazer o que fizeram.
— Como? — exijo saber.
— Isso vocês têm que descobrir. Só façam rápido, hein. Há um
mundo de problemas esperando por você, Ivy.
Ele desaparece, deixando a cobra no caminho nevado. Ela
desliza rapidamente para baixo de um arbusto.
— Não! — grito. — Não podemos perdê-la!
— Precisam disto? — Cathy pergunta, aparecendo com uma
bolsa de cordão e alguns ganchos.
— De novo não — Bram geme, mas arranca um dos ganchos da
mão dela. — Vamos caçar uma cobra.
— Vamos torcer para encontrarmos a maldita, ou ficaremos
presos aqui para sempre — digo entre dentes, sentindo um senso
de propósito, mesmo que seja apenas encontrar a cobra. É algo em
que se concentrar. Por enquanto.
41

TORIN

E ,
os olhos esquadrinhando qualquer sinal da serpente. O frio não me
incomoda muito, sendo um vampiro e tudo mais, mas os outros já
começam a tremer.
— Isso é uma merda sem sentido — Bram resmunga, chutando
um arbusto coberto de neve. — Aquela cobra pode estar em
qualquer lugar a essa altura.
— Temos que continuar procurando — Ivy insiste, seus dentes
batendo levemente. — É nossa única pista sobre como consertar
essa bagunça.
Eu olho para ela, a preocupação me corroendo. Ela parece
pálida, frágil. Nada como a mulher feroz e vibrante que me lembro.
Quanto dela realmente voltou? Será que deixamos parte dela
espalhada por outras dimensões?
Tate se aproxima dela, hesitando por um momento antes de
envolver um braço em seus ombros. — Devíamos te levar para
dentro em breve. Você está congelando.
Ela se inclina para ele instintivamente, então fica tensa e se
afasta. — Estou bem. Precisamos encontrar aquela cobra.
Tate nem parece incomodado por ela tê-lo afastado, o que é
muito estranho.
— Precisamos encontrar a cobra. Se a Morte estiver certa,
aquela coisa tem partes de nós dentro dela, ou representativas, seja
lá o que for. O amor de Tate por Ivy está naquela maldita coisa. A
magia de Bram, provavelmente, e meu... — Eu paro de falar com
uma careta. Ainda não sei.
— Seu o quê, Torin? — Bram dispara, parecendo irritado. — O
que exatamente você perdeu em tudo isso?
Estou prestes a mandá-lo se foder quando uma dor branca e
quente atravessa meu braço, e eu grunho. Olhando para baixo, vejo
a neve branca e imaculada coberta de vermelho-carmesim, e franzo
a testa ainda mais ao perceber que está vindo de mim. A ferida que
fiz durante o ritual está de volta e sangrando livremente.
— Merda — sibilo, apertando minha mão sobre o ferimento para
estancar o sangramento. Os outros se viram para me olhar,
alarmados.
— Que diabos? — diz Bram, se aproximando para inspecionar
meu braço.
— A ferida do ritual — explico por entre os dentes cerrados. —
Reabriu.
— Mas isso cicatrizou assim que você se alimentou. Como isso é
possível?
Balanço a cabeça, sem saber o que dizer. — Acho que essa é
minha parte.
Tate franze a testa, seu olhar intenso enquanto estuda meu
braço sangrando. — O que você quer dizer?
— Você perdeu seu amor, Bram perdeu sua magia, e eu
continuarei sangrando até consertarmos isso — afirmo, de alguma
forma não tão chateado com essa revelação quanto deveria estar.
— Aqui — diz Cathy, tirando uma bolsa de sangue da pequena
mochila que está carregando.
— O quê? Você é tipo uma traficante de sangue ou algo assim?
Ela franze os lábios. — Você quer ou não?
Eu a agarro dela e rasgo com minhas presas. Assim que bebo, a
ferida começa a cicatrizar novamente.
— Isso não é divertido — reclamo.
— Melhor garantir que mantenhamos você abastecido — diz
Bram e se vira para procurar no chão novamente.
Olhando para Cathy, pergunto: — Você tem mais?
Ela dá uma batidinha na mochila. — Tenho você coberto.
O rosto de Ivy está pálido enquanto ela me encara, e eu sorrio,
garantindo a ela que estou bem. Por enquanto. Mas então lágrimas
inundam seus olhos. — Sinto muito. Tudo isso aconteceu por minha
causa. Vocês todos estão sofrendo por minha causa.
As palavras de Ivy pairam pesadas no ar gélido. Quero apoiá-la,
dizer que não é culpa dela, mas as palavras ficam presas na minha
garganta. Porque, de certa forma, ela está certa. Fizemos isso por
ela. Rasgamos a realidade para trazê-la de volta.
Mas eu faria tudo de novo sem hesitar. Todos nós faríamos.
— Não — diz Tate com firmeza, alcançando a mão dela. — Não
se culpe pelas nossas escolhas.
Ela se afasta dele, abraçando a si mesma. — Mas vocês estão
todos sofrendo por minha causa. Tate, você morreu. Bram perdeu
sua magia. Torin está sangrando até a morte. Como isso não é
minha culpa?
— Porque nós escolhemos isso — digo, finalmente encontrando
minha voz. — Sabíamos dos riscos. Fizemos mesmo assim.
Bram acena sombriamente. — E faríamos de novo.
Ivy balança a cabeça, lágrimas congelando em suas bochechas
no vento cortante. — Isso não muda o fato de que tudo isso é minha
culpa. Eu... — Ela para e franze a testa duramente. — Eu me
lembro. Eu fiz isso tentando matar aqueles seres que O Sindicato
enviou atrás de Cathy.
— Correção. Que a Vida enviou atrás de Cathy — eu aponto. —
Não podemos confiar nela.
— Não, não podemos, mas ela está certa em dizer que
precisamos voltar. Não podemos ficar aqui — diz Tate.
— Concordo. Do que mais você se lembra? — pergunto
cautelosamente após uma pausa.
Seus olhos encontram os meus, e ela balança a cabeça
tristemente. — É como se todos vocês tivessem sido apagados da
minha mente. Desculpem.
— É um teste — afirma Cathy, retomando sua busca, bolsa e
gancho prontos.
— Um teste? — pergunto curioso. — Por quem e qual é o
propósito disso?
— Para ver se vocês encontram o caminho de volta uns para os
outros. Toda essa coisa é um teste gigante, e tenho quase certeza
de que essa criatura Vida está por trás disso.
— Uau — digo, levantando as mãos. — Espere um minuto. Você
não pode simplesmente dizer isso casualmente e continuar
procurando aquela cobra como se isso não fosse a maior coisa que
ouvimos o dia todo.
Ela olha para cima e me lança um olhar que praticamente
confirma que ela acha que sou burro como uma porta e um
completo idiota. — Quer dizer que isso nunca passou pela sua
cabeça?
Olhando feio para ela, sou forçado a admitir que não, nem por
um segundo, isso passou pela minha cabeça. — Toda essa situação
fodida é algum tipo de teste cósmico de relacionamento?
— Parece que sim — diz Cathy com um dar de ombros, voltando
à sua busca pela cobra. — Mas não apenas relacionamento. Laços,
pessoal. Já ouviram falar disso?
Furioso, dou um passo à frente, mas então me lembro que ela é
tia de Ivy e provedora do sangue que está me impedindo de sangrar
por todo lado. Talvez um pouco de moderação seja necessário.
Ivy envolve os braços mais apertado ao redor de si mesma,
parecendo pequena e perdida. — Mas por quê? Qual é o propósito?
— Para ver se o seu vínculo é forte o suficiente — diz Tate
silenciosamente. — Para ver se você encontraria o caminho de volta
para nós mesmo sem memórias.
Sinto um arrepio que não tem nada a ver com a neve. — E se
ela falhar?
Ninguém responde. Não precisamos dizer em voz alta. Se Ivy
falhar neste teste, poderíamos perder tudo. Uns aos outros, nossa
realidade adequada, talvez até mesmo nossa própria existência.
— Nós não vamos falhar — diz Bram com firmeza. — Só
precisamos encontrar aquela maldita cobra e descobrir como usá-la
para voltar.
— Mostre seu peito para ela — digo bruscamente para Tate, que
está olhando para Ivy como um cachorrinho perdido na neve.
— Hã? — ele murmura.
— Sua marca. Mostre para ela.
Ele pisca e olha para baixo. Abre a camisa e olha para ela como
se fosse a primeira vez que a visse. O olhar de Ivy vai direto para lá.
— Você fez isso com ele. Ele te marcou também. Na parte
inferior das suas costas. Vocês dois são destinados, predestinados,
ou seja lá como quiser chamar.
— E nós? — ela pergunta, desviando o olhar para o meu e
buscando em minha alma as respostas.
— Acredito que somos destinados a ficar juntos — afirmo
corajosamente. — Pode ser que não tenhamos a mesma conexão
profunda de almas que você e Tate têm, mas isso é irrelevante
quando sinto o que sinto por você. Sou obcecado por você. Tenho
sido desde que te vi pela primeira vez como Poison.
Os olhos de Ivy se arregalam com minhas palavras, um lampejo
de reconhecimento passando por seu rosto. — Poison — ela
murmura. — Eu me lembro. Cabelo rosa. Poderosa, perigosa.
— Isso mesmo — digo, encorajado. — Esse é seu alter ego. A
versão assassina durona de você mesma.
Ela franze a testa, concentrando-se. — Eu matei pessoas.
— Só as más — Bram intervém rapidamente. — Você é como
uma vigilante sobrenatural.
Ivy balança a cabeça, parecendo sobrecarregada. — Isso tudo é
tão confuso. Sinto como se estivesse tentando montar um quebra-
cabeça de mil peças com apenas um punhado delas.
— Então deixe-nos ajudar você a encontrar o resto — diz Tate
suavemente. Ele estende a mão para ela novamente, e desta vez,
ela não se afasta. Ela coloca hesitantemente a mão sobre a marca
dele, e ela se acende, reconhecendo seu toque. Ele sibila, e ela
entreabre os lábios. É como um maldito conto de fadas, torcido e
sombrio.
— Aí está — digo entre os dentes.
— E aí está o porquê — diz Cathy lenta e silenciosamente. —
Ninguém se mexe.
Cerro os dentes e aperto a mão sobre o ferimento aberto que
decidiu que preciso de mais sangue neste exato momento.
— Calma agora — diz Bram, empunhando seu gancho enquanto
Cathy abre a bolsa.
Olho para onde eles estão e vejo a cobra se enrolando na perna
esquerda de Tate. — Oh, olha só. É a cobra de calça do Tate —
zombo, incapaz de me conter diante da piada que estava ali
esperando.
Bram sufoca sua gargalhada enquanto Tate faz uma careta para
mim com um olhar que poderia estaquear um vampiro... se já não
estivéssemos nesta dimensão infernal e não exatamente vivos para
começar.
Ivy fica paralisada, sua mão ainda no peito de Tate sobre sua
marca. A cobra para, sua cabeça balançando como se considerasse
seu próximo movimento.
— Não. Se. Mexam. Porra — Bram diz entre os dentes, sério
agora enquanto seus olhos se fixam na serpente.
O maxilar de Tate está cerrado, seu corpo todo rígido. — Não
estou planejando me mexer — ele murmura.
A cobra continua sua jornada ascendente, enrolando-se ao redor
do torso de Tate. Quando chega ao seu peito, ela para novamente,
sua língua bifurcada saindo para provar o ar.
— O que ela está fazendo? — Bram sussurra.
— Eu acho... — Ivy sussurra. — Acho que ela é atraída pela
marca.
A cobra desliza para frente, sua língua provando a pele de Tate,
sibilando furiosamente na marca.
— Agora! — Bram grita e fisga a cobra rapidamente,
praticamente jogando-a para Cathy, que a pega na bolsa e amarra o
cordão firmemente.
Todos nós ficamos lá parados por um momento, assimilando os
eventos. — E agora? — pergunto, quebrando o silêncio.
— Agora, descobrimos como esse desgraçado pode nos ajudar
a voltar para casa.
— De volta ao velho livro sinistro?
— Parece que sim.
— Precisamos desfazer tudo e começar de novo — diz Tate. —
Precisamos fazer direito desta vez. Garantir que nenhum de nós
morra.
— Você confia em nós, Ivy? Confia em nós para desfazer isso e
ainda assim trazê-la de volta?
Seu olhar se fixa no meu e vejo as vidas que ela viveu enquanto
estávamos ocupados lamentando sua morte e nos matando por
causa de um ritual mortal que saiu pela culatra.
O silêncio é ensurdecedor.
42

IVY

E T , .
Será que confio neles? Nesses homens que afirmam me amar, que
rasgaram a realidade para me trazer de volta?
A verdade é que não sei. Minhas memórias estão fragmentadas
e incertas. Mas há algo mais profundo que a memória me puxando.
Uma certeza visceral de que essas criaturas são importantes para
mim, mesmo que eu não consiga lembrar completamente o porquê.
— Eu... — começo, mas hesito. Como posso explicar o conflito
que se agita dentro de mim? A parte que quer fugir, se esconder do
caos que eles desencadearam, e a parte que se sente
inexplicavelmente atraída por eles, especialmente por Tate.
Respiro fundo, me preparando. — Não me leve a mal, mas não
sei se confio em vocês — digo finalmente. — Mas confio que vocês
acreditam estar fazendo a coisa certa, e por enquanto, isso tem que
ser suficiente.
Torin assente, um lampejo de alívio passando por seu rosto. — É
um começo.
— E agora? — Bram pergunta, olhando com cautela para a
bolsa contendo a serpente.
— Agora descobrimos como usar essa coisa para voltar — diz
Tate.
— Para o livro — Bram murmura, e vejo o arrepio que o
percorre.
Deixo que ele, Cathy e Tate vão na frente, mas fico para trás
com Torin, colocando minha mão em seu braço. — Você precisa de
mais do que sangue frio em bolsas — murmuro.
Seus olhos se acendem, e sinto uma pontada de nervosismo.
Mas ergo o queixo, sem recuar.
Ele se aproxima, segurando meu rosto. Não me encolho. Na
verdade, acolho o toque frio. — Não posso pedir que você faça isso
— ele murmura.
— Você não pediu.
Ele sorri tristemente. — Você sabe o que quero dizer. Você
precisa da sua força.
Encaro seu olhar firmemente. — Você precisa mais da sua. Não
podemos nos dar ao luxo de ter você enfraquecido agora quando
tem que fazer essa merda de ritual de retrocesso.
Seus olhos escurecem de fome, mas ele ainda hesita. — Ivy,
você não precisa fazer isso. Não quando você não está... sendo
você mesma.
Balanço a cabeça. — Posso não me lembrar de tudo, mas sei
que isso parece certo. Por favor, Torin. Deixe-me ajudar você.
Ele examina meu rosto por um longo momento, então assente.
Inclino a cabeça, expondo meu pescoço. Torin se aproxima.
Estremeço, mas não de medo. Há uma antecipação correndo por
mim que não entendo completamente.
Suas presas roçam minha pele, e eu ofego. Então ele morde, e o
mundo explode em sensação.
Dói, mas apenas por um segundo. Então uma onda de prazer
me inunda, fazendo meus joelhos fraquejarem, e minha boceta
pulsa em resposta a ele. O braço de Torin envolve minha cintura, me
segurando firme enquanto ele bebe.
Imagens relampejam em minha mente de Torin e eu
entrelaçados em lençóis. Suas presas em meu pescoço, seu pau
profundamente dentro de mim enquanto grito de êxtase.
Ele rosna baixo em sua garganta e me ergue, me prensando
contra uma árvore próxima. É pequena, e o tronco é estreito e
instável, mas isso não o impede. Com suas presas ainda em meu
pescoço, ele abre o botão da minha calça jeans e baixa o zíper
rapidamente. Eu a empurro para baixo o máximo que posso, e então
ele me solta com um rosnado possessivo e predatório vindo de seu
peito e remove a calça com magia.
Arquejo quando os dedos frios de Torin deslizam entre minhas
pernas, me encontrando já molhada e ansiando por ele. — Torin —
gemo, deixando minha cabeça cair contra o tronco da árvore.
Ele rosna novamente, seus olhos ardendo de fome e luxúria. —
Mande-me parar — diz asperamente. — Diga-me que não é isso
que você quer, e eu irei embora.
Não posso. Cada célula do meu corpo grita por ele. Posso não
me lembrar de tudo, mas me lembro disso - a conexão elétrica entre
nós, a maneira como ele me faz sentir viva.
— Por favor — choramingo, balançando meus quadris contra
sua mão. — Preciso de você.
É tudo o que é preciso. Em um movimento rápido, ele abre suas
calças e me ergue, seu pau pressionando contra meu clitóris. Me
ajusto e envolvo minhas pernas ao redor de sua cintura. Ele entra
na minha boceta com uma estocada profunda.
Ambos gritamos com a sensação. É familiar e nova. Meu corpo
se lembra dele mesmo que minha mente não.
Torin me fode contra a árvore, na neve, nesta dimensão estranha
em que nos encontramos. A casca machuca minhas costas, mas
mal percebo. Estou perdida no prazer crescendo dentro de mim.
Suas presas roçam meu pescoço novamente, e inclino a cabeça,
me oferecendo a ele. Quando ele morde, bebendo profundamente,
me desfaço ao seu redor com um grito. Agarro seu pau como se
fosse quebrá-lo ao meio, e ele grunhe, afundando as presas ainda
mais. Arquejo enquanto molho seu pau, e ele geme antes de
enrijecer e gozar dentro de mim, me inundando.
As presas de Torin se retraem, e ele encosta sua testa na minha,
ambos ofegantes. — Puta merda — ele respira.
Solto uma risada trêmula. — É.
Ele se afasta ligeiramente para me olhar, sua expressão cheia de
preocupação e desejo persistente. Ele ergue a mão para enrolar
uma mecha do meu cabelo em seu dedo. Está rosa e curto. Eu
mudei. — Você está bem? Me deixei levar.
Aceno com a cabeça, ainda me sentindo atordoada, mas de um
jeito bom. — Estou mais do que bem.
Nos separamos relutantemente, ajeitando nossas roupas
enquanto ele me devolve minha calça jeans magicamente
descartada. Conforme o êxtase diminui, a realidade começa a se
infiltrar. Ainda estamos em uma dimensão fraturada, ainda temos
um ritual para desfazer, e ainda temos muito em jogo.
— Devemos voltar para os outros — digo, de repente me
sentindo constrangida.
Torin assente, sua expressão ficando séria. — Sim. Temos
trabalho a fazer.
Enquanto começamos a caminhar de volta, ele alcança minha
mão. Hesito por um momento, então entrelaço meus dedos nos
dele. Posso não me lembrar de tudo, mas sei que isso parece certo.
— Quando foi que eu mudei? — murmuro, me sentindo um
pouco envergonhada.
— No segundo antes de eu enfiar meu pau em você.
— Porra — murmuro.
— Poison — ele sussurra. — Você pode não se lembrar de tudo,
mas ainda está aí dentro.
Eu aceno com a cabeça, pensando se deveria voltar à forma
original, mas quando tento, descubro que não consigo. Entre perder
meu sangue, a transformação inicial e a transa absurdamente boa,
estou esgotada. Mas não vou admitir isso. Então sorrio e permaneço
como Poison. Talvez seja melhor assim. Ela sempre foi mais forte.
Sempre mais confiante.
Voltamos para os outros, minha mão ainda entrelaçada na de
Torin. Ao nos aproximarmos, vejo os olhos de Bram se arregalarem
ligeiramente ao ver meu cabelo rosa e aparência alterada.
— Ora, ora, olá, Poison — ele diz com um sorriso malicioso. —
Que bom que se juntou a nós.
Resisto à vontade de mostrar-lhe o dedo do meio, em vez disso
me concentrando na tarefa em questão. — Vocês descobriram
alguma coisa sobre a cobra?
Tate levanta o livro, sua expressão sombria. — Talvez. Há uma
possível reversão que pode funcionar, mas Bram está relutante.
— Relutante? — pergunto. — Por quê?
— Envolve fazermos tudo ao contrário — afirma Tate.
— Ok, então voltamos. Qual é o problema?
— Aquela cobra. Saiu. Da minha boca — Bram resmunga.
Aperto os lábios, lutando contra a vontade de rir da expressão
em seu rosto. — Ok, posso entender como isso seria desagradável
— digo, tentando manter minha voz firme. — Mas se for nossa única
opção?
Bram passa a mão pelo cabelo, visivelmente frustrado. — Eu sei,
eu sei. É só que, porra. A ideia de engolir aquela coisa
conscientemente. É, eca.
— Com sorte, você estará muito envolvido no ritual para
perceber — diz Cathy.
Bram rosna para ela, mas Torin aperta minha mão e chama
minha atenção. — Tem certeza de que está pronta para isso? Você
parece um pouco pálida.
Eu endireito a coluna, canalizando a confiança de Poison. —
Estou bem. Vamos fazer isso.
Cathy me olha ceticamente, mas não comenta. Em vez disso, ela
levanta a bolsa contendo a cobra. — Então, o que exatamente
precisamos fazer?
Tate folheia o livro, com a testa franzida em concentração. — De
acordo com isso, precisamos recriar o círculo do ritual, mas com
tudo ao contrário. A cobra precisa ser reabsorvida na ordem oposta
à que foi expelida.
— Significa que eu tenho que ser o último — afirma Torin.
— E eu tenho que morrer primeiro — diz Tate baixinho.
Um arrepio me percorre ao ouvir suas palavras, e eu balanço a
cabeça. — Deve haver outra maneira...
— Não há — ele diz, me interrompendo. — Ou fazemos isso, ou
ficamos aqui, assim.
— Merda.
— Pode repetir — murmura Bram, mas respira fundo e pega a
bolsa com a cobra de Cathy. — Vamos acabar logo com isso, para
que eu possa voltar à realidade e depois chutar alguns traseiros da
Vida e da Morte.
43

BRAM

E ,
revirando de pavor. A ideia de engolir aquela coisa me dá vontade
de vomitar, mas sei que não temos escolha. Esta é nossa única
chance de consertar a bagunça que fizemos.
Caminhando lentamente para fora, vemos o círculo chamuscado,
e paramos para olhar para ele e o jardim revirado. — Você pode não
ter mais uma casa depois disso — murmuro para Cathy.
— É pequena demais de qualquer jeito — ela murmura de volta
e então se move com passos determinados para ficar no lugar
oposto ao que estava durante o ritual.
— Certo, então temos que criar uma imagem espelhada —
declaro e me ajoelho no lado oposto ao que estava antes. Tate e
Torin também tomam posições invertidas. Olho para o livro, coloco-o
na grama e abro na página que precisamos. A serpente se contorce
na bolsa, nada satisfeita. Está sibilando e cuspindo, e suas presas
continuam aparecendo através da bolsa enquanto ela a morde. —
Ivy, deite-se no meio com os pés apontados para mim.
Ela assente e se abaixa no chão. Mantendo minhas mãos firmes,
olho para Tate. Seu olhar está fixo em Ivy, sem vacilar. — Tate
Blackwell da linhagem Well, você está pronto?
Ele acena sombriamente e fecha os olhos. Quando coloca a mão
no círculo chamuscado, ele se acende com um brilho escuro, e eu
expiro. Solto a serpente, sacudindo-a para fora da bolsa. Ela está
furiosa e se contorce perigosamente, mas então parece perceber
que tem um propósito, e desliza até Ivy, enrolando-se em seu
estômago. Encaro-a com aversão, mas não há como evitar isso. Ela
tem que voltar pelo mesmo caminho que saiu.
Tate ofega duramente quando faíscas brilhantes saem da
serpente e entram nele, derrubando-o, mas ele mantém a mão no
círculo, nunca o quebrando.
— Príncipe Bramwell, filho de Mabius, Rei dos Fae Negros, você
está pronto?
Coloco minha mão no círculo, e por um segundo, não há nada.
Mas então minha magia parece retornar a mim em uma explosão de
energia enquanto a serpente desliza em minha direção. A onda de
minha magia retornando é poderosa e selvagem. É intoxicante
depois de me sentir tão vazio. Mas não tenho tempo para me
deleitar com isso. A serpente está se aproximando, seus olhos
penetrantes fixos em mim.
— Merda — murmuro, me preparando.
A serpente se ergue, e me forço a ficar imóvel enquanto ela
avança, mergulhando diretamente em minha boca e descendo
minha garganta.
A sensação é indescritível - escamosa, contorcendo-se,
sufocante. Engasgo reflexivamente, mas me forço a engolir, a
absorver tudo.
Pontos pretos dançam em minha visão enquanto luto para
respirar em torno da criatura deslizando para dentro das minhas
entranhas. Bem quando acho que não posso aguentar mais, acaba.
A serpente desaparece dentro de mim com um último gole
nauseante.
Dobro-me, ofegante e com ânsia. Mas posso sentir minha magia
surgindo, mais forte do que nunca. O círculo brilha, e o vento
mágico gira ao nosso redor, arrancando a grama pelas raízes.
— Torin Ashford, do Coven Ainsley, você está pronto? — grunho.
Torin coloca a mão no círculo, e ele explode com um brilho
vermelho. Seus olhos reviram, e ele desmaia. A ferida em seu braço
se reabre, mas em vez de sangrar para fora, ele sangra para dentro.
É fodidamente distorcido e nauseante, mas faz sentido. Tudo
está ao contrário.
O corpo de Ivy se contorce no chão, suas costas arqueando
enquanto rajadas de energia percorrem seu corpo. O vento uiva ao
nosso redor, arremessando detritos pelo ar. Telhas voam do telhado
de Cathy, mas continuamos. O círculo brilha com uma luz ofuscante,
me forçando a proteger os olhos. Posso sentir a própria realidade se
dobrando e torcendo ao nosso redor.
— Continuem! — Cathy grita sobre o som da magia.
Há um estrondo ensurdecedor, como um trovão diretamente
acima. O chão treme sob nós. Por um momento, me sinto sem peso,
suspenso entre realidades.
Então tudo fica preto por um segundo antes de uma magia roxo
profundo piscar como um show de luzes de laser.
— Ivy! — grito quando seu corpo cai no chão. — Ela se foi!
Perdemos a abertura!
Os olhos de Tate estão arregalados de horror. — Não! — ele
ruge, avançando para onde Ivy está, mas Cathy, rápida como um
relâmpago, está lá, agarrando a parte de trás de sua gola para que
ele não quebre o círculo. Ele engasga e tenta se debater, mas
aquela mulher é surpreendentemente forte.
— Não sabemos o que vai acontecer se quebrarmos o círculo
agora! — grito para ele.
Tate luta, seus olhos selvagens de desespero. — Temos que
encontrá-la! Não podemos perdê-la de novo!
— Não vamos — digo firmemente, mesmo que a dúvida roa meu
interior. — Mas temos que terminar isso direito, ou podemos piorar
ainda mais as coisas.
Torin geme, recobrando a consciência. Ele pisca groguemente,
absorvendo o caos ao nosso redor. — Conseguimos? Estamos de
volta?
— Ainda não terminamos!
O vento mágico ainda está uivando ao nosso redor, a realidade
se dobrando e torcendo. Estamos equilibrados na borda da navalha
entre dimensões. Um movimento errado pode despedaçar tudo.
— O que fazemos? — Tate pergunta, sua voz rouca de angústia.
Respiro fundo, me centrando para transmitir essa notícia e reunir
a força necessária para fazer o que precisa ser feito. Minha magia
restaurada está confiante e feliz por estar de volta comigo, selvagem
e potente. — Voltamos para o momento exato antes de tudo isso
começar. Antes de Ivy se espalhar pelas dimensões.
— E depois? — Torin exige.
— E então a impedimos de fazer isso em primeiro lugar. Vamos
rebobinar o tempo.
44

TATE

— V ? — ,
todas as direções. Não estou morto. Como não estou morto? — Isso
é mesmo possível?
Os olhos de Bram estão ardendo com uma intensidade
determinada.
— Com a quantidade de poder que liberamos? Tem que ser. É
nossa única chance de consertar isso sem perder Ivy.
Quero argumentar e apontar todas as formas como isso poderia
dar terrivelmente errado. Mas a alternativa - deixar Ivy espalhada
por dimensões ou presa em alguma realidade fraturada - é
impensável.
— Como fazemos isso? — pergunta Torin, com a voz rouca.
— Canalizamos todo o nosso poder para o círculo — explica
Bram. — Foquem no momento exatamente antes de Ivy se
dispersar. Temos que visualizá-lo perfeitamente.
— Isso nos deixará vulneráveis ao ataque daqueles seres —
observa Cathy, ainda agarrando minha gola com força. Dou de
ombros para me livrar e ela me solta com um olhar de advertência
para que eu me comporte.
— Vulneráveis? — Bram zomba. — Nós os aniquilaremos.
— É bom mesmo — ela murmura, mas dá um passo para trás.
Fecho os olhos, evocando a memória. Ivy está enfrentando
aquelas criaturas enviadas pelo Sindicato. A expressão de
determinação feroz em seu rosto enquanto ela se preparava para
liberar todo o seu poder.
— Consigo ver — sussurro. — Estou com ela, segurando sua
mão. Torin tem a mão na nuca dela.
— Bom — Bram assente. — Segure essa imagem. Coloque tudo
o que você tem nela.
Sinto meu poder crescer, impulsionado pelo meu amor por Ivy,
que flui livremente através de mim e para o círculo. Torin e Bram
fazem o mesmo. O ar faísca com eletricidade estática, fazendo
nossos cabelos ficarem em pé. As mechas rosa de Ivy ficam
eriçadas, e sorrio com a imagem dela, mas então me concentro.
Seu corpo está aqui, uma concha vazia, e precisamos trazê-la de
volta para dentro dele.
Bram começa a entoar um encantamento diretamente do livro.
Seus dedos tocando o papel se movem da direita para a esquerda.
Suas palavras estão embaralhadas, e mesmo que eu não conheça a
língua Fae, sei que ele está lendo de trás para frente.
— Bram? — chamo, mas ele está completamente perdido. Seus
olhos estão piscando em prata, as veias negras ainda visíveis sob
sua pele estão se contorcendo.
— Acho que ele foi possuído — grita Torin sobre o rugido de uma
magia tão negra. Sinto meu estômago revirar, e bile enche minha
boca enquanto vomito na grama ao meu lado. Torin está fazendo o
mesmo, cuspindo sangue por toda parte.
— Bram! — grito com voz rouca. — Pare!
Mas ele não ouve. Ou não pode me ouvir. Ou pior, não pode
parar mesmo que quisesse. Essa magia sinistra o pegou pelos
culhões, e agora estamos presos nesta realidade de pesadelo. Fica
escuro e frio, tão frio, que até Torin geme quando o frio que penetra
nos ossos se infiltra em sua pele.
— Cathy? — chamo, olhando para trás.
Mas ela não pode me responder. A mulher está encolhida em
posição fetal, tremendo incontrolavelmente. Estou dividido entre
quebrar o círculo para ajudá-la e ficar onde estou, caso cortar o
fornecimento de energia piore drasticamente as coisas. Embora eu
não possa imaginar como isso seria possível agora. Os sons de
monstros que nunca deveríamos ouvir rugem pela noite.
O mundo ao nosso redor desceu ao caos total. O cântico de
Bram assumiu um tom profundamente perturbador, sua voz
distorcida, profunda e ecoando estranhamente. A escuridão que nos
pressiona parece viva e malévola.
Mal posso distinguir a forma de Torin do outro lado do círculo,
mas posso ouvir o pânico em sua voz enquanto ele chama por
Bram. Minha garganta está em carne viva de tanto vomitar bile, e o
gosto ácido é amargo na minha boca.
— Temos que parar com isso! — grito, mas minhas palavras são
engolidas pelo vento uivante.
De repente, um grito penetrante corta a escuridão opressiva.
Levo um momento para perceber que está vindo do corpo sem vida
de Ivy. Suas costas se arqueiam do chão, boca aberta em um grito
agora silencioso enquanto fios de escuridão negra jorram de seus
olhos, nariz e boca.
— Ivy! — grito, avançando.
— Não quebre o círculo! — berra Torin.
Mesmo que todos os meus instintos gritem para que eu vá até
ela, paro, sabendo que ele está certo. Quebrá-lo agora destruirá
tudo. Bram está canalizando algo tão absolutamente aterrorizante
que acho que ele nunca será capaz de se recuperar disso. Se era
assim que os Fae Antigos operavam, eu estou muito feliz por não ter
vivido naqueles tempos.
O mundo ao nosso redor gira. Lentamente no início, em uma
direção anti-horária.
— Porra! Está funcionando! Estamos revertendo o tempo! —
grito, mas logo em seguida vomito novamente quando a terra gira
em uma velocidade rápida que meu estômago simplesmente não
aguenta.
O mundo gira cada vez mais rápido, um borrão vertiginoso de
escuridão e imagens piscando. Mal consigo manter meus olhos
abertos, muito menos me concentrar em manter o círculo. Mas sei
que tenho que aguentar. Por Ivy. Por todos nós.
De repente, tudo para.
45

IVY

E , .
Fragmentos de memórias e realidades passam por mim em um
caleidoscópio vertiginoso. Vejo vislumbres de mim mesma - como
Poison, como criança, como alguém que nem reconheço.
Pedaços de mim estão rodopiando ao meu redor,
desaparecendo de vista enquanto grito, o pânico erguendo sua
cabeça como se esse ritual inverso não tivesse funcionado. Estou
perdida. Dilacerada novamente, e não acho que conseguirei
sobreviver a outra eternidade assim.
Então, de repente, todos os fragmentos são puxados de volta em
velocidade supersônica, e sou arremessada de volta ao meu corpo
com tanta força que o ar é expulso dos meus pulmões. Eu ofego e
balbucio, meus olhos se abrindo enquanto observo meus arredores.
Estou de pé no jardim de Cathy, encarando um grupo de
criaturas monstruosas. Suas formas distorcidas se embaçam e
mudam, desafiando descrição.
A mão de Tate está firmemente apertada na minha. A palma fria
de Torin repousa na parte de trás do meu pescoço. Bram está um
pouco à nossa frente, com magia rodopiando em seus dedos.
— O qu- — começo a dizer, mas então tudo volta à minha
mente. Os caras. Meu amor por eles. O ritual. A realidade fraturada.
Só que desta vez, parece que passamos do momento em que me
dividi em partes diferentes, e Tate morreu e de alguma forma
voltamos aos momentos antes de eu me explodir até Júpiter e de
volta.
— Ivy — Tate diz com urgência. — Você se lembra?
Aceno com a cabeça, apertando sua mão. — Lembro de tudo
agora. Não vou cometer o mesmo erro duas vezes.
Ele sorri e diz: — Eu te amo pra caralho.
Sorrindo de volta, respondo: — Eu também te amo pra caralho.
— Isso tudo é muito bonito e tal, mas será que dá pra se
concentrar? — Torin resmunga enquanto as criaturas perfeitas de
Vida descem sobre nós.
Procuro por Cathy e por um momento não a vejo, mas então
respiro aliviada ao vê-la prestes a enfiar um foguete no traseiro
desses monstros na forma de sua arma laser.
— Esperem! — grito. — Recuem.
— O quê? — Tate murmura.
— Confiem em mim — murmuro, esperando por tudo que não
esteja errada sobre esses idiotas. Eles são programados para matar
de forma ordenada; por mais bizarro que seja, é um fato. Em vez de
bombardeá-los com caos, só precisamos tornar o mundo ao redor
deles caótico demais para que seus cérebros compreendam. Eles
vão - espero - entrar em pane e implodir enquanto entram em
colapso. — Quando eu disser três, nos movemos. Para todo lado. O
mais rápido que puderem ao redor deles. Não os toquem. Não
atirem. Façam com que venham atrás de nós.
— Entendido — Bram grita. — Mas se apresse, porra!
Dou de ombros e sorrio. — Três! — e me movo.
Arranco minha mão da de Tate e corro para a esquerda,
ziguezagueando loucamente pelo jardim. Pelo canto do olho, vejo os
outros se espalharem em direções diferentes. As criaturas pausam,
suas cabeças girando enquanto tentam rastrear nossos movimentos
caóticos.
— Continuem! — grito, abaixando-me e serpenteando entre
árvores e arbustos. — Não deixem que se concentrem em nenhum
de nós!
Torin usa sua velocidade vampírica para correr de um lado para
o outro, criando imagens residuais borradas. Bram se teletransporta
em rápida sucessão, aparecendo e desaparecendo mais rápido do
que os olhos podem acompanhar. Tate conjura cópias ilusórias de si
mesmo, todas correndo em direções diferentes.
As criaturas começam a tremer e se contorcer, sua programação
lutando para acompanhar a sobrecarga sensorial avassaladora.
Uma delas solta um gemido agudo, com fumaça saindo de suas
orelhas.
— Está funcionando! — Cathy grita alegremente. Ela está
usando algum tipo de artefato mágico para saltar instantaneamente
entre pontos, confundindo as criaturas ainda mais.
Me esforço mais, mudando rapidamente entre formas - Poison,
Aspen, Ivy e alguns aleatórios que variam em tamanho, forma e cor.
Os olhos das criaturas giram loucamente em suas órbitas,
incapazes de acompanhar as mudanças constantes.
Com uma série de guinchos ensurdecedores, as criaturas
começam a apresentar mau funcionamento. Seus corpos se
contorcem e se contraem enquanto sua programação sobrecarrega.
Uma por uma, elas desabam no chão, tremendo e soltando faíscas.
Cathy solta um grito de alegria, e eu rio.
— Puta merda — Bram ofega, materializando-se ao meu lado,
coberto de veias pretas e parecendo a morte em pessoa. —
Realmente funcionou.
Sorrio, sentindo uma onda de exaltação. — Nunca subestime o
poder do caos.
Tate se aproxima correndo, dispersando suas ilusões. — Foi um
pensamento brilhante, Ivy. Como você sabia que funcionaria?
— Eu não sabia — admito. — Mas imaginei que seres criados
pela Vida para serem perfeitos e ordenados não conseguiriam lidar
com o verdadeiro caos. Parece que eu estava certa.
Torin aparece ao nosso lado em um borrão de movimento. —
Lembre-me de nunca te irritar — diz ele com um sorriso irônico. —
Sua mente é um lugar aterrorizante.
Eu rio, mas sou interrompida quando uma palma lenta ecoa pelo
jardim. Todos nos viramos para ver Vida parada ali, sua forma
etérea cintilando com raiva mal contida.
— Bem jogado — diz ela, sua voz pingando veneno. — Eu
subestimei você, Ivy Hammond. Não acontecerá novamente.
Vida se aproxima, e eu mantenho minha posição, ladeada pelos
meus três homens. — Você subestimou todos nós — digo com
firmeza. — Somos mais fortes juntos.
Os olhos de Vida se estreitam. — Que sentimentalismo. Será
sua ruína.
— Acho que você só está puta porque seus assassinos perfeitos
fritaram — Bram zomba.
A forma de Vida vacila perigosamente. — Vocês não têm ideia
do que fizeram. O equilíbrio-
— Ah, poupe-nos do sermão — Torin interrompe. — Já ouvimos
tudo isso antes. Equilíbrio isso, ordem aquilo. Novidade: o universo
prospera no caos, no nascimento, morte, renascimento. É assim que
o mundo é. Não importa onde ou quando.
Sinto uma onda de orgulho e amor por esses homens ao meu
lado. Passamos pelo inferno e voltamos, literalmente despedaçados
e remontados, e aqui estamos, unidos contra uma força cósmica.
— Vocês não podem impedir o que está por vir — Vida sibila. —
O reset vai acontecer!
— Não sob nossa vigilância — informo a ela. Embora eu soe
mais confiante do que me sinto de repente. O que realmente
conseguimos aqui? Matamos seus robôs. Não exatamente algo que
altere o mundo.
A forma de Vida começa a crescer, pairando sobre nós de
maneira ameaçadora. — Vocês acham que podem se opor a mim?
Eu sou a própria Vida!
Sinto meu próprio poder aumentando para enfrentar seu desafio.
O caos rodopia ao meu redor, pronto para ser desencadeado. — E
eu sou o Caos. A força que impulsiona a evolução, que provoca a
criação. Sem mim, você é apenas estagnação.
— Ivy — Tate adverte. — Não faça isso. É o que ela quer.
Merda.
— Ele está certo — Bram grita. — Ivy! A Vida nunca quis que
você voltasse aqui porque você é útil. Ela queria que você ficasse
presa em um ciclo interminável de ser dispersada, nós fazendo o
ritual, a reversão disso, apenas para que tudo acontecesse de novo,
repetidamente. Mas o que ela não contava era o quanto estaríamos
dispostos a ir para te trazer de volta.
— E até onde é isso? — pergunto, minha voz tremendo
levemente.
— Você não vai querer saber — ele murmura. — Mas digamos
apenas que o tempo estava do nosso lado.
Encaro Bram e recuo antes de lançar um olhar fulminante para a
Vida. Ela sibila e desaparece em uma fonte de flores, o que me faz
dar um passo para trás. — Uhm...
— Ela é a Vida — diz Cathy. — Ela não tem a capacidade de te
matar.
— Ah, ok, faz sentido — digo com um aceno de cabeça e então
desabo no chão. — Alguém mais exausto?
— Nem me fale — diz Tate, sentando-se ao meu lado. — Eu
poderia dormir por uma semana.
Solto um suspiro capaz de mover montanhas. — Queria que
pudéssemos. Mas isso não acabou. Seja lá o que a Vida tenha
planejado, estamos apenas arranhando a superfície do que está por
vir.
— Acho que podemos tirar cinco — diz Bram, sentando-se com
Torin enquanto Cathy afaga minha cabeça e desaparece lá dentro,
nos deixando à vontade. — Nós merecemos. Nós realmente
merecemos.
— Quais são as implicações de vocês terem rebobinado o
tempo? — pergunto seriamente.
— Não faço ideia, mas será divertido descobrir — ele responde.
— Será mesmo? — Torin retruca. — Sua ideia de diversão é...
nada divertida.
Rimos levemente, e eu me levanto. — Vamos voltar para minha
casa. Ver quanto tempo podemos descansar antes que essa merda
grudada no ventilador comece a voar em todas as direções.
— Imagem agradável — diz Tate, levantando-se e me
envolvendo em seus braços.
Em uma fração de segundo, estamos no meu quarto, com os
outros nos seguindo apressadamente. — Desculpem, pessoal. Mas
preciso dormir. Hora de brincar depois. — Bocejo, e Tate me pega
no colo e me leva para a cama. Ele me deita e me cobre,
completamente vestida, mas não dou a mínima. Meus olhos se
fecham, e apago.
46

TORIN

— O ?
— Tate pergunta baixinho enquanto passamos o tempo no quarto de
Ivy, esperando ela acordar. Bram também desmaiou depois do
feitiço que realizou, que, francamente, foi além de qualquer coisa
que eu pensava que testemunharia em minha vida. Ele não é mais
simplesmente um Príncipe Fae das Trevas. Ele é mais agora.
Mesmo que não perceba. Ele abriu aquela lata de minhocas... quer
dizer, cobras, e agora tem que lidar com as consequências.
Reviro os olhos com a pergunta de Tate. — Só Deus sabe.
Imagino que ela seja lacaia da Vida. De certa forma, faz sentido. Ela
é uma vampira, sim, poderosa, antiga e semi-imortal. Ainda existem
coisas que podem matar vampiros. Ela é paranoica e obcecada com
a eternidade. Talvez tenha feito um pacto com a Vida para se tornar
verdadeiramente imortal? É um palpite.
— Um bom palpite — ele diz, torcendo os lábios. — Queria que
soubéssemos o que vai acontecer em seguida.
— Eu também. — Suspiro, passando a mão pelo cabelo. — Mas
se tem uma coisa que aprendi com tudo isso, é que não podemos
prever nada quando se trata de forças cósmicas e caos encarnado.
Tate assente, seu olhar vagando para a forma adormecida de
Ivy. — Você acha que ela está bem? Realmente bem? Ela viveu mil
vidas, ela mesma disse. Este corpo parece pequeno demais para
ela agora.
Considero cuidadosamente a pergunta de Tate. —
Honestamente? Não tenho certeza. Ivy passou por mais do que
podemos compreender. Ela pode parecer bem na superfície, mas
quem sabe o que está acontecendo por baixo?
— Devemos nos preocupar? — Tate pergunta, a testa franzida
de preocupação.
Suspiro. — Devemos sempre nos preocupar quando se trata de
Ivy. Mas ela é forte. Se alguém pode lidar com isso, é ela. — Soo
mais confiante do que me sinto, mas ele parece acreditar.
Caímos em silêncio, ambos perdidos em nossos próprios
pensamentos. O peso de tudo que aconteceu - o ritual, a realidade
fraturada, voltar o tempo - parece opressivo.
— Qual você acha que será o próximo movimento da Vida? —
Tate pergunta depois de um tempo.
Balanço a cabeça. — Não faço ideia. Mas seja lá o que for,
duvido que seja bom para qualquer um de nós. Precisamos estar
preparados para qualquer coisa.
— Como nos preparamos para uma força cósmica que quer
redefinir a realidade?
— Permanecendo unidos — digo com firmeza. — Somos mais
fortes como uma unidade. Foi isso que nos trouxe até aqui.
Tate concorda, então boceja amplamente. — Talvez devêssemos
descansar também. Quem sabe quando teremos outra chance?
Concordo, me acomodando em uma poltrona confortável
enquanto Tate se enrola ao lado de Ivy na cama. Mas não consigo
dormir. Ainda estou agitado pelo ritual reverso. Foi uma loucura,
mas me deixou inquieto com perguntas enormes e difíceis de
entender.
Sento-me no quarto escurecido, vigiando Ivy, Tate e Bram
enquanto dormem. Minha mente está acelerada, e sou incapaz de
encontrar paz depois de tudo que passamos. O peso das forças
cósmicas e da iminente perdição pesa sobre mim.
Um ruído suave chama minha atenção. Ivy se mexe, seus olhos
se abrindo lentamente. Ela pisca sonolenta, percebendo seu
entorno.
— Ei — digo suavemente. — Como está se sentindo?
Ela se senta cuidadosamente, tentando não perturbar Tate e
Bram. — Como se tivesse sido atropelada pelo mundo. Vários
mundos, na verdade. — Sua voz está rouca de sono. — Quanto
tempo fiquei apagada?
— Cerca de seis horas — respondo. — Nem de longe o
suficiente, se quer saber minha opinião.
Ivy passa a mão pelos cabelos emaranhados. — Algum sinal da
Vida ou de outras palhaçadas cósmicas enquanto eu dormia?
Balanço a cabeça. — Tudo quieto na frente celestial. Por
enquanto.
Ela assente, então me encara com um olhar penetrante. — Você
parece um lixo, Torin. Não dormiu nada?
— Não — admito. — Muito agitado. Muitas perguntas.
Ivy se arrasta até o pé da cama e dá uma batidinha no espaço
ao lado dela. — Venha aqui. Converse comigo.
Hesito por um momento, então me junto a ela na cama. Ivy se
inclina contra mim, seu calor reconfortante.
— O que está passando pela sua cabeça? — Ivy pergunta
suavemente.
Suspiro, tentando organizar meus pensamentos turbilhonantes.
— Tudo. Nada. Fico repassando tudo na minha cabeça. Parece
impossível que estejamos sentados aqui agora, relativamente ilesos.
Ivy assente. — Sei o que quer dizer. Parte de mim ainda se
sente espalhada por dimensões.
— Você está bem? — pergunto, estudando seu rosto. — Por
dentro? Você está bem por dentro?
Ela fica quieta por um momento, considerando. — Não tenho
certeza — admite finalmente. — Como concilio tudo aquilo com
isso? — Ela gesticula para si mesma, para o quarto ao nosso redor.
Passo um braço ao redor dos ombros dela. — Um dia de cada
vez, eu suponho. Estamos aqui por você, Ivy. O que você precisar.
Ela encosta a cabeça no meu ombro. — Eu sei, e sou grata. Não
sou a mesma pessoa que era antes de tudo isso.
— Nenhum de nós é — aponto. — Todos fomos mudados pelo
que passamos. Bram especialmente.
Ela olha para ele com uma expressão preocupada. — Sim, ele
não é o mesmo.
— Você ainda o ama? Ama a gente? — deixo escapar, sabendo
que isso é uma grande parte da minha inquietação.
Ivy fica quieta por um longo momento, considerando minha
pergunta. Prendo a respiração, com medo do que sua resposta
possa ser.
Finalmente, ela fala suavemente. — Eu amo vocês. Todos vocês.
Mas é diferente agora. Mais profundo em alguns aspectos e mais
complicado em outros. Vivi vidas inteiras e vi coisas além da
imaginação. Isso me mudou, mudou como vejo tudo, incluindo o
amor.
Aceno com a cabeça, tentando processar suas palavras. —
Posso entender isso. Não podemos esperar que você seja
exatamente a mesma depois de tudo que passou.
Ela se vira para me olhar, seus olhos brilhando com lágrimas
contidas. — Mas estou com medo, Torin. Tenho medo de estar
diferente demais agora. De não me encaixar mais nesta vida. Acho
que a pergunta maior é: você ainda me ama?
Franzindo a testa para ela, pisque, surpreso com sua pergunta.
— Claro que ainda te amo — digo firmemente, segurando seu
rosto em minhas mãos. — Ivy, nada poderia mudar isso. Nem
realidades alternativas, nem forças cósmicas, nada.
Ela se inclina ao meu toque, uma lágrima escorrendo por sua
bochecha. — Mesmo que eu não seja mais a mesma pessoa por
quem você se apaixonou?
— Você ainda é você — insisto. — O cerne de quem você é -
sua força, sua compaixão, seu espírito ardente - isso não mudou. E
foi por isso que me apaixonei.
Ela acena com a cabeça e então me surpreende inclinando-se e
me beijando suavemente. É um beijo agridoce, tingido de alívio e
medo persistente. Quando ela se afasta, há uma centelha de sua
antiga travessura em seus olhos.
— Sabe — ela diz —, eu me lembro de um encontro bem quente
naquela realidade fraturada. Que tal uma reprise?
Eu sorrio, sentindo parte da tensão se dissipar. — Sempre. Mas
e a bela adormecida e o príncipe das trevas ali?
Ivy olha para Tate e Bram, ainda profundamente adormecidos. —
Eles se juntarão a nós quando acordarem. Por enquanto, somos só
você e eu.
Puxo Ivy para perto, capturando seus lábios em um beijo
apaixonado. Ela responde com entusiasmo, seus dedos
emaranhando-se em meu cabelo enquanto pressiona seu corpo
contra o meu. O beijo se aprofunda, ficando mais intenso a cada
segundo.
Traço beijos pelo seu pescoço, deleitando-me com o suave
gemido que ela deixa escapar. Minhas mãos deslizam por baixo de
sua camiseta, acariciando a pele quente de suas costas.
— Torin — ela sussurra, arqueando-se ao meu toque. — Eu
preciso de você.
Essas palavras acendem um fogo em mim. Rapidamente tiro
suas roupas, depois as minhas, não querendo desperdiçar mais um
momento. Os olhos de Ivy percorrem meu corpo com fome, e isso
faz meu pau pulsar em resposta.
Ela me puxa para cima dela, envolvendo minhas costas com
suas pernas. Entro nela lentamente, saboreando a sensação de sua
boceta apertada me envolvendo. Ambos gememos com a sensação.
Estabeleço um ritmo constante. Ivy me acompanha estocada por
estocada, suas unhas arranhando minhas costas. O prazer aumenta
rapidamente, intensificado pela conexão emocional entre nós.
— Porra, Ivy — ofego. — Você é incrível.
Ela responde apertando-se ao meu redor, me fazendo ver
estrelas. Acelero o ritmo, investindo nela com mais força e rapidez.
Os gemidos de Ivy ficam mais altos, acordando os outros rapazes,
enquanto eu a penetro.
Tate se mexe ao nosso lado, seus olhos se arregalando ao ver a
cena. — Começando sem a gente? — ele diz com um sorriso
sonolento, já abrindo as calças.
Não diminuo o ritmo enquanto invisto em Ivy. — Quem dorme
não pesca — ofego.
Ivy estende a mão e puxa Tate para mais perto, beijando-o
profundamente. Sua mão serpenteia para baixo para envolver o pau
dele, que endurece rapidamente.
Bram geme do outro lado da cama. — Porra, que tesão — ele
murmura e rapidamente tira as roupas.
— Ah, porra — Ivy geme. Sua boceta se aperta ritmicamente ao
meu redor enquanto seu primeiro orgasmo a domina.
A visão e a sensação dela gozando me descontrolam. Com um
gemido gutural, enterro-me profundamente dentro dela e me deixo
levar, preenchendo-a com minha liberação.
Enquanto recuperamos o fôlego, Tate e Bram se aproximam,
seus olhos escuros de luxúria. Ivy olha entre eles, como o gato que
pegou o creme.
Relutantemente, saio de dentro de Ivy, rolando para o lado para
dar espaço aos outros. Tate imediatamente toma meu lugar,
deslizando para o calor úmido de Ivy com um gemido de prazer. Ver
o pau dele empurrando através da minha porra faz o meu reagir
novamente.
— Que menina safada — murmuro, me aproximando dela e
beliscando seus mamilos.
Ela grita e se contorce enquanto Bram se posiciona perto da
cabeça de Ivy, seu pau duro e pronto. Ela se vira para tomá-lo em
sua boca, gemendo ao redor de seu comprimento enquanto Tate
investe profundamente dentro dela.
O quarto se enche dos sons e aromas do sexo. O corpo de Ivy
se contorce entre Tate e Bram, perdida em êxtase.
O ritmo de Tate acelera. — Preciso de você — ele grunhe.
Bram enrola os dedos no cabelo de Ivy, guiando seus
movimentos enquanto ela o chupa. — Goza no pau dele — ele
rosna.
Os gritos abafados de Ivy ficam mais altos à medida que ela se
aproxima de outro ápice. Sua mão se estende, agarrando a minha
com força enquanto ondas de prazer a inundam.
O clímax de Ivy desencadeia a liberação de Tate. Ele geme
profundamente, seus quadris se contraindo enquanto se esvazia
dentro dela. Bram segue logo depois, derramando-se na garganta
de Ivy com um grito estrangulado. Ela engole cada gota avidamente,
e eu já estou pronto para outra rodada.
Desabamos em um emaranhado de membros suados, todos
ofegantes. Ivy está deitada no meio de nós, um sorriso satisfeito em
seu rosto.
Mas a realidade tem o hábito de intrometer-se. Uma brisa fria
varre o quarto, fazendo todos nós tremer, até mesmo eu.
— Alguém deixou uma janela aberta? — Tate pergunta,
franzindo a testa.
Eu me sento, examinando o quarto. — Não, todas as janelas
estão fechadas.
47

IVY

O
estremecer, e não tem nada a ver com o êxtase pós-orgasmo.
Sento-me, enrolando o lençol ao meu redor, e examino os cantos
escuros do meu quarto.
— Algo não está certo — murmuro, com os sentidos em alerta
máximo.
Os rapazes ficam tensos ao meu redor, em guarda. Tate conjura
roupas para todos nós para que não enfrentemos o perigo nus.
Então, ele acende uma pequena chama na palma da mão,
projetando sombras tremulantes nas paredes.
— Mostre-se — Bram rosna, com energia negra crepitando em
seus dedos. Posso sentir a malevolência do outro lado do quarto e
estremeço.
Por um momento, nada acontece. Então, uma figura se
materializa perto dos pés da cama. Alta, esquelética, envolta em um
manto negro.
— Ah, é você — declaro com um bufo. — O que você quer?
Suas órbitas oculares vazias parecem me perfurar, se isso é
mesmo possível. — Vim com um aviso, Ivy Hammond, e uma oferta.
Torin se aproxima de mim protetoramente. — Que tipo de aviso?
— Que tipo de oferta? — Tate dispara.
Os dedos ossudos da Morte se curvam enquanto ele olha para
todos nós, claramente pós-foda, e pela expressão em seu rosto, se
tivesse olhos, ele os reviraria para nós. — A balança pendeu
demais. A Vida está ficando desesperada. Ela não medirá esforços
para reequilibrar a balança. Mesmo que signifique destruir tudo no
processo.
— E a oferta? — pergunto cautelosamente.
— Uma chance de detê-la. De preservar esta realidade e todas
as outras conectadas a ela. — A Morte faz uma pausa, seu olhar
percorrendo todos nós. — Mas virá com um preço alto.
— Não é sempre assim? — digo entre dentes. — Já passei pelo
inferno e voltei, então me diga logo. Não pode ser pior do que o que
já passei.
Ele ri sinistramente. — Tem certeza disso?
Ele estala os dedos, e o som ecoa pelo quarto.
O quarto vazio no meio de alguma dimensão que definitivamente
não é o reino sobrenatural. — Onde estão meus caras? — pergunto
imediatamente.
— Eles não estão aqui.
— Bem, óbvio — rosno. — Você os machucou?
— Não. Eles são irrelevantes.
— Não, eles não são! Como ousa!
— Ah, acalme-se. Quero dizer para esta decisão. É sua para
tomar, e não quero que eles a influenciem de nenhuma maneira,
forma ou jeito.
— Que decisão? — pergunto, sentindo o pavor crescer pela
milésima vez este mês.
— Tudo isso ficou fora de controle, querida. O caos que você
carrega dentro de si, os laços que tem com aqueles homens, a Vida
decidindo que você é mais uma ameaça do que ela imaginava
inicialmente. Tudo escalou para níveis sem precedentes.
Precisamos agir. Juntos.
— Ok, concordo que isso virou uma bagunça colossal, mas
como vamos acabar com isso?
Ele considera minha pergunta por um momento. — Você se
lembra que é da minha linhagem?
— Sim, meio difícil esquecer.
— Você rejeitou meu poder subconscientemente. — Ele me
encara com seus não-olhos.
Faço uma careta. — Desculpe?
Ele bufa. — Um pouco tarde para isso, criança. Você foi
escolhida por mim para ser minha protetora contra isso, como você
chamou? — Ele agita sua mão ossuda.
— Bagunça colossal? — ofereço, prestativa.
— De fato. Esta bagunça colossal.
— Me proteger como? — pergunto, franzindo os lábios, tentando
não me concentrar na Morte dizendo "bagunça colossal".
— Você está realmente pronta para abraçar seu destino, Ivy
Hammond?
— Você está realmente pronto para parar de falar em enigmas e
ir direto ao ponto?
— Estou. O tempo chegou. E passou. E voltou novamente. Você
sabe, isso vai voltar para morder sua bunda, certo?
— O retrocesso do tempo? Imaginei. Mas menos disso e mais do
problema mais imediato.
Ele pausa e parece um pouco incomodado, como se falar a
verdade o machucasse.
— O tempo está passando — digo, batendo no pulso mesmo
não usando um relógio e nunca tendo usado.
Ele junta as mãos, palmas viradas uma para a outra como se
estivesse rezando. — Você precisa aceitar que este poder está
dentro de você. Além do caos, além da natureza metamorfa, a parte
bruxa que vem de mim é algo que você tem que abraçar.
— Ok. Isso deve ser fácil o suficiente — digo, pensando que me
safei fácil aqui, mas deveria saber melhor. Minha vida simplesmente
não é mais tão simples. Talvez uma vez. Hoje não.
— É imperativo que você assuma o papel que preciso de você.
— Que seria?
— Você precisa se tornar eu.
É um momento de tirar o fôlego, mas apenas porque eu não
estava esperando isso neste exato momento. Era uma teoria que
discutimos logo no início e descartamos. — Você está se
aposentando?
Ele sorri e balança a cabeça. — Não existe isso. Você vai pegar
meu poder, absorver a força da Morte, combinar sua essência com a
minha e com as daqueles que vieram antes de mim e se tornar a
Morte.
— Me tornar você — digo lentamente. — Me tornar a Morte.
Ele assente. — O Sindicato tem sido uma fachada por muitos
anos agora, coletando almas. Um exército. Você precisará dele para
lutar contra a Vida.
— Um exército de almas? — Não gosto nem um pouco do som
disso.
— Os piores criminosos que este mundo já teve que oferecer. Eu
os procurei, e você, Veneno, entre outros, os matou e os coletou.
Construindo este exército necessário para preservar a ordem
natural.
— Um exército de almas? — repito, minha mente girando com as
implicações. — Você quer que eu me torne a Morte e comande um
exército das piores almas da história?
A Morte assente solenemente. — É a única maneira de impedir a
Vida de alterar o curso da natureza. Ela é a primeira. Ela é mais
poderosa. É mais fácil tirar uma vida do que criá-la. Eu sou uma das
muitas forças da Morte desde o alvorecer dos tempos. Ela é uma
constante.
Balanço a cabeça, sobrecarregada. — Como eu supostamente
me torno a Morte? O que acontece comigo? Com Ivy? Com quem
eu sou agora?
— Tu ainda serás tu. Mas também serás mais. Tua essência,
tuas memórias, teus amores, permanecerão. Mas ganharás meu
poder, meu conhecimento, meu propósito.
— E quanto aos meus rapazes? Minha vida aqui? — pergunto,
minha voz falhando ligeiramente.
A Morte fica em silêncio por um longo momento. — Essa parte
depende de ti. Podes tentar continuar tua vida aqui em Thornfield.
Não posso dizer como isso vai acontecer.
— O que tu fizeste? — pergunto, minha voz pequena e
assustada. Minha boca ficou seca, e minhas mãos estão tremendo
levemente. — Tu continuaste?
A Morte hesita antes de responder. — Eu tentei, por um tempo.
Mas o poder, a responsabilidade, te muda. Torna difícil manter
relacionamentos normais e uma vida normal.
Sinto um arrepio percorrer meu corpo com suas palavras. —
Então, eu teria que abrir mão deles? Abrir mão de tudo?
— Não necessariamente — diz a Morte. — Mas tuas prioridades
mudariam. Teu foco precisaria estar em manter o equilíbrio, em
guiar almas e comandar o exército contra as forças da Vida. Apegos
pessoais se tornam complicados, especialmente se um deles chega
ao fim da linha.
O fim da linha. Morte. Sim, eles são todas criaturas sobrenaturais
com algum tipo de imortalidade. Se viverem vidas seguras e
protegidas. Mas isso não é garantia. Não quando prevejo a Vida me
atacando em toda oportunidade que ela tiver. Isso não é algo que
acontece uma única vez. Será uma coisa constante.
— Tu tens lutado contra ela desde que te tornaste a Morte?
Ele assente solenemente. — E meu antecessor antes de mim, e
assim por diante.
— Merda. — Envolvo-me com meus braços, sentindo-me
repentinamente fria e muito sozinha. — Então, é sacrificar minha
vida como a conheço, ou sacrificar toda a realidade? — pergunto
amargamente. — Que escolha.
— É o fardo do poder — diz a Morte solenemente. — Com
grandes responsabilidades vem-Bufo. — Ah, vai te catar.
A Morte realmente ri. — Justo. Mas o sentimento permanece
verdadeiro.
Abaixando o rosto em minhas mãos, inspiro profundamente
antes de expirar. Sei o que tenho que fazer. Não há escolha. É uma
questão de fato. Pura e simples. Por mais que eu odeie admitir, ele
está certo sobre os rapazes não estarem envolvidos nisso. Eles
tentarão me impedir. Ou mesmo se não tentassem, e então? De
qualquer forma, isso recairia sobre eles. Não posso deixar isso
acontecer. Esta é minha escolha e somente minha.
Baixo minhas mãos para os lados e ergo meu queixo. — Como
fazemos isso? Por favor, não diga um ritual. Por favor, não diga um
ritual.
Ele abre seus braços, sua capa preta ondulando ao seu redor.
Vejo agora a profundidade da escuridão. Vejo uma eternidade do
vazio, de almas rodopiando em um espaço sem fim. Vejo o peso de
incontáveis mortes, de guiar espíritos para seu descanso final. Vejo
a responsabilidade de manter o equilíbrio entre a vida e a morte.
— Estás pronta, Ivy Hammond? — pergunta a Morte, sua voz
ecoando pelo vazio.
Respiro fundo, me preparando. — Estou.
A Morte acena solenemente. — Então dê um passo à frente.
— É só isso?
— É só isso.
— Estás pronto, David Beech?
Ele recua ligeiramente, e eu sufoco o soluço enquanto lágrimas
de sangue rolam por seu rosto esquelético. — Estou pronto.
Assentindo com uma profundidade de emoção que nunca pensei
que sentiria pela criatura parada à minha frente com pernas
trêmulas, movimento-me em sua direção. Ao me aproximar, sinto
uma atração, como se a gravidade aumentasse exponencialmente.
A escuridão rodopia ao meu redor, tentáculos de sombra
envolvendo meus membros.
A Morte coloca suas mãos ósseas em cada lado do meu rosto.
Seu toque é frio, mas não desagradável. Parece que estou voltando
para casa em um lugar onde nunca estive.
— Abraça a escuridão, Ivy — sussurra ele. — Deixa que ela se
torne parte de ti. — Ele me envolve com seus braços.
Fecho os olhos, e a escuridão invade, preenchendo cada célula
do meu corpo. Ofego com a sensação - é avassaladora,
aterrorizante e emocionante.
Memórias inundam-me, não apenas as minhas, mas as da Morte
- Milênios guiando almas, mantendo o equilíbrio. O peso da
responsabilidade se assenta sobre meus ombros como um manto
pesado.
Sinto-me mudando e expandindo. Minha consciência se estende
através do tempo e do espaço. Posso sentir cada alma em
existência e sentir o fluxo e refluxo da vida e da morte através de
incontáveis realidades.
Quando abro os olhos, não sou mais apenas Ivy. Eu sou a Morte.
O poder corre através de mim, antigo e terrível e belo.
David Beech está diante de mim, sua forma já desvanecendo. —
Está feito — diz ele suavemente. — O manto passou para ti.
Estendo a mão para ele e reivindico minha primeira alma. Ele se
dissipa em fiapos de sombra, mas o agarro pela mão e o conduzo
para o exército de almas que ocupa o vazio dentro de mim.
Estou sozinha agora. Morte. A protetora do equilíbrio. A
comandante de um exército de almas.
Fecho os olhos enquanto isso me invade e quando os abro
novamente, estou de volta ao meu quarto. Meus rapazes estão
frenéticos, mas antes que possam perguntar, ou que eu possa lhes
dizer qualquer coisa, a Vida aparece. Ela deve ter sentido a troca de
poder, e está furiosa.
— Vejo — ela cospe. — David Beech, você é um filho da puta do
mais alto calibre.
— Não, ele é fodidamente inteligente, e tu não vais ganhar esta
luta, Vida. Nem agora, nem nunca.
Ela baixa os ombros, e sua forma muda. Minha boca se abre em
choque quando a forma diante de mim é uma que reconheço
instantaneamente. A fúria explode em meu peito, e eu me lanço
para frente, mãos estendidas, preparada para ser obliterada se
necessário, só para torcer seu pescoço magricelo.
Continue com Wild Ivy, Livro 3 (pré-encomenda para o final de
janeiro de 2025) Se queres acompanhar Vex em sua mudança para
a Academia MistHallow, podes conferir ele, Tilly e o resto dos
rapazes aqui: Junte-se ao meu Grupo de Leitores no Facebook para
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