Trabalho de Pesquisa - IVA-4
Trabalho de Pesquisa - IVA-4
Trabalho de Pesquisa - IVA-4
SHONY ALANE
ALIMA ELIDIO
Tema: Do Julgamento
Disciplina: Direito Processual Penal
Pós - Laboral
Tema: DO JULGAMENTO
Ciências Jurídicas e Investigação Criminal / Direito Processual Penal
Pós-Laboral
Docente:
Msc: José Capassura
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO..................................................................................................................1
1.1 Contextualização......................................................................................................................................2
1.2 Objectivos................................................................................................................................................3
1.2.1 Objectivo geral...................................................................................................................................3
1.2.2 Objectivos
específicos........................................................................................................................3
1.3 Metodologia da pesquisa..........................................................................................................................3
No presente trabalho versará sobre o julgamento, mais concretamente sobre o julgamento em sede do
processo penal moçambicano.
Ao longo dos três capítulos em que se divide o presente, teremos a luz uma breve introdução ao tema a
nós proposto, fazendo-se necessário para prossecussão do presente, referir que o julgamento constituí uma
garantia de justiça e um direito constitucionalmente reconhecido ao cidadão moçambicano conforme
rege-se pelos nrs.1° dos arts.62.° e art. 65.° da CRM, conjugado à regra do art. 1.° do CPP.
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1.1 Contextualização
Enquanto as fases da instrução e da audiência preliminar são fases de investigação e preparação do
processo penal, a fase do julgamento é uma fase de responsabilização, que corresponde ao momento em
que se analisam os factos perante o tribunal, se fazem os devidos enquadramentos legais, se produz a
prova perante o tribunal. Todos estes elementos se analisam em um ambiente de contraditório e após
feito isto, o tribunal profere a decisão sentença.
Nas fases anteriores ao julgamento, a prova é apenas indiciária, o que quer dizer que não é necessária uma
prova plena, já que não está destinada a imputar a responsabilidade, mas apenas a indicar essa
responsabilização ou a inocência do arguido. Esta é importante a medida em que concorre para os
diferentes princípios aplicáveis nas diferentes fases processuais.
Nas fases de um processo penal, as características são diferentes consoante cada fase processual, o que
afecta o regime dos actos processuais. Veja-se que, na fase da instrução, o processo é secreto, é
organizado de forma escrita e não é contraditório, sendo o primeiro momento contraditório, o momento
de debate preliminar, "quando requerido".
A publicidade
Esta característica penal levanta bastante debate entre os juristas em geral por conta da possível
abstracção feita na aplicação prática da presunção de inocência face à publicidade do processo penal na
Ordem Jurídica Moçambicana.
Ora, veja-se que, conforme regra do art. 10.° do CPP, as audiências de julgamento em processo penal
são públicas, excepto quando salvaguarda da intimidade pessoal, familiar, social ou moral ou ponderosas
razões de segurança da audiência ou de ordem pública aconselharem a exclusão ou limitação da
publicidade.
De acordo com o art. 86.º, n.º 1 do CPP, “o processo penal é, sob pena de nulidade, público, ressalvadas
as exceções previstas na lei”. Atualmente o princípio da publicidade é aplicável a qualquer fase do
processo penal, inclusive a fase de inquérito . No entanto, atente-se que o princípio da publicidade não é
absoluto, seja porque não abrange os dados relativos à reserva da vida privada que não constituam meios
de prova (art. 86.º, n.º 7 do CPP), seja porque o tribunal pode decidir sujeitar o processo a segredo de
justiça (nomeadamente para proteção dos direitos de algum dos sujeitos ou participantes processuais,
como os do arguido, do assistente ou do ofendido -, ou, no decurso da fase de inquérito, para tutela dos
interesses da investigação ou dos direitos dos sujeitos processuais - art. 86.º, n.ºs 2 e 3 do CPP.
A oralidade
Os actos processuais são orais, atinge-se a decisão através da forma oral, isto é, ouvindo o depoimento
das testemunhas, fazendo o interrogatório ou o contra-interrogatório e depois lendo inclusivamente a
própria decisão – a sentença. Por conseguinte, a decisão é proferida com base numa audiência de
discussão oral da matéria.
Aqui põe-se a questão da chamada documentação da audiência (art. 363º CPP). Esta documentação vai
permitir ao Tribunal superior duas coisas:
Por um lado, uma melhor apreciação da prova, mais ponderada eventualmente por parte do Tribunal
de 1ª Instância que ficou com dúvidas quanto à apreciação da matéria de facto para fundamentar a
sentença;
Por outro lado, o juiz vai voltar a rever o depoimento das testemunhas ou aquilo que se passou na
audiência de julgamento.
Incumbe ao Tribunal, ao juiz penal, fazer sobressair as razões, quer de acusação, quer da defesa. Nenhum
arguido poderá ser condenado sem que lhe tenha sido dada a possibilidade de se fazer ouvir, de se
defender.
Daí que a última pessoa a ser ouvida, a pronunciar-se num julgamento e após as alegações finais é o
arguido. Resultando, que o juiz só pode proferir a sua decisão depois de dar ao arguido a possibilidade de
contestar, de contrariar as razões ou os factos que lhe são imputados.Este princípio do contraditório está
directamente relacionado com o princípio da audiência.
A oportunidade que é conferida a todo o participante no processo de influir através da sua audição na
decisão do caso concreto. Através do princípio da audiência tem-se o reconhecimento da dignidade
pessoal do homem, impedindo que ele se torne num objecto do processo. O arguido, como qualquer outro
sujeito processual, é um sujeito activo, é um sujeito participativo em todo o processo. Por conseguinte,
deve ser ouvido porque através das suas declarações ele contribui para a decisão do caso concreto.
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1.2 Objectivos
1.2.1 Objectivo Geral
O presente trabalho tem como objectivo analisar o julgamento em processo penal moçambicano.
1.3 Metodologia
O presente trabalho de pesquisa foi elaborado por meio de uma pesquisa teórica fundamentado
essencialmente no uso de material bibliográfico sob o cânone jurídico penal e legislação complementar
moçambicana dos quais todos encontrar-se-ão dispostos na referência bibliográfica do presente.
De acordo com Gil (2002), por pesquisa bibliográfica entende-se a leitura, a análise e a interpretação de
material impresso. Entre eles podemos citar livros, documentos mimeografados ou fotocopiados,
periódicos, imagens, manuscritos, mapas, entre outros.
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CAPÍTULO II: DAS FASES DO JULGAMENTO
De acordo com as disposições legais, em sede dos arts. 357.° a 409.° do CPP, o julgamento está
organizado em três momentos destintos, o que quer dizer que esta fase processual é heterogénea, tendo-
se:
Terminada a fase da audiência preliminar, inicia-se a fase de julgamento. Esta começa com a distribuição
dos processos pela secretaria, sendo o processo entregue ao juiz, temos o que a lei denomina ao abrigo do
art. 357.° do CPP de 'Saneamento do processo '. Neste, o juiz faz um controlo das questões relevantes
para a boa tramitação do processo. Tratando-se essencialmente de um controlo da legalidade quanto aos
pressupostos processua que abstem à apreciação do mérito da causa.
O Saneamento tem duas funções fundamentais, "permitir que o juiz se pronuncie sobre as nulidades e
outros questões prévias ou incidentais que obstem à apreciação do mérito da causa de que possa desde
logo conhecer" (nr° 1, art. 357.° do CPP), isto é, alguma questão que impeça o desenvolvimento do
processo. Neste momento, o tribunal só verifica as condições básicas de legalidade e, não podendo entrar
no mérito da causa. Nesta fase o tribunal poderá recusar a acusação se ele for manifestamente infundada
(n°2, art.357.° do CPP), podendo tal rejeição ocorrer somente se relacionada com questões que tenham
autonomia em relação ao que passará depois da audiência de julgamento, ocorrendo se não tiver havido
audiência preliminar, já que, tendo havido, considera-se ter havido controlo, pelo que, o juiz não o irá
repetir.
A acusação manifestamente infundada considera-se nos seguintes casos (n°3,art. 357.° do CPP):
Feito o saneamento, é marcada a data da audiência (nr°1 art.358° do CPP), com a prioridade para os
casos de prisão preventiva ou domiciliária (i.e., com obrigação de permanência na habitação conforme
nr°4 do art. 358.° do CPP). Depois de marcada a data, o arguido pode apresentar a contestação e o rol de
testemunhas em conformidade com as regras expressas dos arts. 359.° e 360.° do CPP.
Estes aspectos são muito importantes na perspectiva do arguido por apesar de não ser vinculativa, a
contestação identifica questões que genericamente correspondem ao âmbito da causa, estando por isso
associada à identificação de questões que geram o dever de pronúncia do tribunal em que se este não se
pronunciar sobre as questões alegadas na contestação, gera-se a nulidade da sentença: "quando o tribunal
deixe de pronunciasobre questões que devesse apreciar ou conheça de questões de que não podia tomar
conhecimento (al. c), n°1 do art. 418.° do CPP).
2.1.3 Contestação
Relativamente a contestação, está poderá conforme nrs° 1 e 2, do art.359.° do CPP, ser apresentada na
audiência de julgamento mas, neste caso, é necessário antecipar a apresentação o rol de testemunhas e a
indicação dos peritos devendo as testemunhas de ser notificadas.
2.2 Da audiência
A fase da audiencia de julgamento é marcada pela exigência de publicidade nos termos do art.° 365.° do
CPP que, apenas pode ser limiada pelas razões previstas por lei, nomeadamente nos casos em que o juiz
da causa decida a sua exclusão ou a restrição, em função de outros elementos a salvaguardar (cfr. art. 97.°
do CPP). Assim por exemplo, nos casos de tráfico de pessoas ou de crime sexual que tenha por ofendido
um menor, os actos processuais decorrem em regra de exclusão da publicidade (nr.° 4 do art. 97.° do
CPP).
2.2.1 Dos actos introdutórios
Ademais, a audiencia de julgamento, decorre tendo em consideração as regras expressas do art. 384.° do
CPP que dita as exposições introdutórias. Nas exposições introdutórias, o tribunal confere 10 minutos
para que cada um dos sujeitos processuais indique sumariamente os factos que se propõe provar (n.° 2 do
art.384.° do CPP).
Quanto à prova no processo penal, entende-se que esta pode segundo os arts. 159.° e ss do CPP ser,
testemunhal, das declarações do arguido, do assistente e das partes civis, por acareação, por
reconhecimento, da reconstituição do facto, pericial ou documental.
Os princípios gerais da produção de prova regem-se pelo art. 385.° do CPP e se inicia com declarações do
arguido (al. a) do art. 386.° do CPP) em que este é obrigado a responder com a verdade a estas (n.°2 do
art. 387.° do CPP), porém, quanto aos factos, o arguido não é obrigado a responder tendo direito ao
silêncio e à não autoincriminação (n.° 1 do art. 388.° conjugando-se a al.c), do n.°1 do art. 69.°, ambos do
CPP).
Note-se que, uma vez que o julgamento é marcado pelo contraditório (art.372.° do CPP), isto obriga que
toda a produção de prova seja feita em submissão ao princípio do contraditório. Isto é fundamental,
porque a prova repetida ou examinada em julgamento, só passa a ser válida depois de ter sido filtrada pelo
contraditório (n.°2 do art.372.° do CPP).
É através da produção de prova em julgamento que o tribunal vai formar a sua convicção sobre a
existência ou inexistência dos factos, das situações e das circunstâncias em que ocorreu o crime, os quais
serão relevantes para o acto decisório, ou seja, para a sentença, baseando-se no permissão por Lei da livre
apreciação da prova ao abrigo do art. 157.° do CPP.
Todos os atos processuais realizados durante a audiência são documentados em ata de composição
estabelecida por lei, ao abrigo do art. 407.° do CPP, na qual são recolhidas as declarações, os
requerimentos, as promoções, entre outros. A documentação da audiência culmina com a documentação
de alegações orais que dispõe o art. 408.° do CPP, nas quais os advogados expõem as conclusões de facto
e de direito, que hajam extraído da prova produzida, podendo cada advogado replicar uma vez e também
outros atos decisórios orais que tiverem ocorrido.
2.3 Da sentença
Perdoe-nos o excesso, más, é a sentença, tudo no processo penal. De facto, pois é na sentença, e só na
sentença que tudo se decide. Mas, se é na sentença que tudo se decide, então devem ser claras as razões
da decisão. Assim, se o que está em causa é uma sentença condenatória, não devem restar quaisquer
dúvidas sobre as razões de facto e de direito por que se condena e em que se condena. Assim posto, se
tartar-se de uma sentença absolutória, igualmente devem ser claras as razões por que se absolve. De quê
nos estamos a expressar é da fundamentação da sentença, fundamentação que é um requisite da mesma
(n.°2 do art. 413.° do CPP, conjugado ao disposto no art. 8.° do CPP), ficando nula a sentença (quando
arguidas ou reconhecidas em recurso conforme n°2 do art. 418.° do CPP) nos termos do art. 418.° por
inobservância dos preceitos referidos nas al. b) dos nrs. 2 e 3 do art. 413.°, a inobservância as às regras
dos arts. 403.° e 404.° ou ainda quando o tribunal deixe de se pronunciar sobre questões que devesse
apreciar.
«As decisões dos tribunais que não sejam de mero expediente são fundamentadas na forma prevista na
lei».
Ademais, a sentença condenatória equivale à notificação aos sujeitos processuais (n°5 do art. 414.° do
CPP), sendo procedidos após a saída do presidente as subscrições e entrega das cópias pelo official de
justiça (n°6 do art. 414.° do CPP)
A sentença absolvitória por oposição, declara a extinção de qualquer medida de coação e ordena a
imediata libertação do arguido se preso preventivamente salvo, se não houverem outros motivos a sua
prisão (n°1 do art. 415.° do CPP), condenando o assistente em custas às regras dispostas no Código de
Custas Judiciais.
De acordo com disposição legal, é sempre absolvitória a sentença se o crime tiver sido cometido por
inimputável, porém, se for aplicada medida de segurança vale como sentença condenatória (n°3 do art.
415.° com a remissão ao n° 1 do art. 414.° do CPP) e de recurso sendo em correspondência aplicáveis as
regras dos nrs. 5 e 6 do art. 414.° do mesmo dispositivo.
Note-se ainda que, ainda que a sentença seja absolvitória, pode o tribunal condenar o arguido nos termos
do art. 416.° do CPP e é ordenada pelo tribual a publicação da sentença em jornar indicado pelo arguido
(art. 417.° do CPP).
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5.1 Conclusão
Em geral, pôde-se concluir que o processo penal desenrola-se tendo uma entidade acusadora distinta da
entidade julgadora. Simplesmente, não é um puro processo tipo acusatório, na medida em que se permite
que o tribunal possa investigar autónoma e oficiosamente o facto que lhe é sujeito à sua apreciação,
sujeito portanto a julgamento pelo princípio da acusação em termos gerais e também princípio da
investigação, que é atribuído aos Tribunais.
Em suma, ao abrigo do art. 3.° do CPP conjugado ao art. 59.° da CRM, pelo princípio “in dubio pro reo”,
se o tribunal tiver dúvidas quanto à prova que foi fornecida ou quanto a inocência ou culpabilidade do
arguido, deverá absolve-lo, não por ausência de prova, mas porque não se convenceu da sua culpabilidade
na prática do crime e em consequente respeito a este princípio legal.
O tribunal adquire a sua convicção através da oralidade na produção das provas e através da imediação do
contacto imediato com essas mesmas provas e isto é importante inclusive para conhecer da personalidade
concreta do arguido.
Relativamente aos princípios relativos à prova, os critérios que existem quanto à valoração e apreciação
da prova, o critério legal e a livre convicção do tribunal, ou livre apreciação da prova, cabe saber que, o
sistema processual penal moçambicano opta pelo sistema da livre apreciação da prova. Ademais, o
regime de produção de prova em audiencia é mais rico, porque já não se está apenas a preparar a prova
para acusar, mas sim para decidir o caso, daí que faça sentido repetir-se a prova. Desta feita, se a
testemunha for consistente, os factos vão ser considerados provados e, se entrar em contradições o
tribunal não dá credibilidade a ela e não a tomará em consideração como meio de prova para
demonstração de certos factos.
Sempre que há questões de natureza prejudicial em processo penal (por exemplo questões de natureza
constitucional) essas questões poderão obstar à apreciação imediata da causa por parte do tribunal, dendo
ser relegado o seu conhecimento para o tribunal competente (neste caso, para o Tribunal Constitucional)
embora esta questão possa depois ainda vir a ser suscitada em sede de recurso. Mas terá de ser alegada
logo no início, em 1ª Instância.
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5.2 Referências bibliográficas
LEGISLAÇÃO
Constituição da República de Moçambique
Códigos Penal e Processo Penal
Código Civil Moçambicano
DOUTRINA
MEIRA, Miguel Salgueiro, Enquadramento Histórico Do Genocídio Como Crime De Direito
Internacional, Revista Julgar, Portugal, 2022