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CAMPUS DE M ARÍLI A
F ACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCI AS
Marília
2008
2
CDD 370.152
3
B ANCA EXAMINADORA:
AGRADECIMENTOS
Ao meu irmão Renato, sua esposa Caroline e a querida Yasmin, pelo carinho de sempre...
Aos meus sogros Helena e Salvador (em memória), a Maria Cecília, Maria Estela, Aguida,
Reinaldo Jr. e os pequenos Giovani e Arthur que, também, acompanharam essa trajetória
de estudos.
À Suely Mello, pela forma respeitosa com que conduziu essa orientação, pelo
carinho e generosidade, por me acompanhar nessa caminhada científica dividindo
seus conhecimentos, sem me impedir de voar...
Baruch Espinosa,
Ética, Parte V, proposição XLII,
Escólio.
8
RESUMO
Palavras-c hav e: psic ologia histór ico-cu ltura l; educ ação escolar;
desenvolv im ento psíquico; unidade afetiv o-cognit ivo.
9
ABSTRACT
Hist oric al- Cultural Psycholog y af firms the thesis of the soc ial exper ienc e as
the bas is to hum an developm ent and points the aff ective-c ognitive unit as
m ediating the relat ions of hum an beings with knowledge in th e developm ent
of the ps ychologica l f unctions. Th is research h ad f or goal to explain the
constit ution of the aff ective pro cesse s f rom the rel atio n bet ween hum an
bei ng and hum an product ion s – s uch as signs and i nst rum ents. It is a
theoretic-bib liograp hic st ud y that s earched f or the phi losophi ca l roots of
Vigotsk i´s thought about the af f ective experiences – Espin os a (17th century)
and Marx (19th cent ury). I n the set of pr oposa ls of the autho rs of the School
of Vigotsk i, it searc hed elem ents that conf irm ed the historic or ig in of the
aff ectivit y and ov erc om e som e m istak es that still m ak e diff icult the so lution
of problem s f aced by the children in school context. In face of cartesian
m atrix that k eeps t he organic ist a nd s ubjectivist t hou ght in psyc ho logic al
scie nce an well as in Educ ati on – separat ing em otions f rom other functions in
the set of hum an consc ience, detach ing the ir natural and no n–histor ica l
character and tre ati ng them as an im pedit ive in education processes – th is
study po inted the im portance of think ing over the re lat ions that hum ans
estab lish with the environm ent, the roll of knowledge an d the real condit io ns
of lif e and educatio n that produce the aff ective processes, detaching the
activ it y as an ess ential cate gory in the constit ution of necess iti es and
reasons, as well a s in the c onst ituti on of desires an d its express ions,
increasing the learn ing possibilities an d m oving the developm ent ahead. The
ana lyses has confirm ed the hypothesi s of the aff ective cons titution as result
of each hum an be ing’s histor y of appro priat ion and ex press ion of sig ns a nd
instrum ents and als o that thoughts and f eeling s are psychological proc esses
deve lop ed i n this process, overcom ing the innate p otent ia ls and aff ective
predispos it ion s ideas, plac in g sch ool ed ucation an d the tea ching i ntent ional
character – in the organizat ion and practical co nductio n of the pedagogical
work – as condit ion ing el em ents in changing the ways of think ing and f eeling,
that all ow to c onf igure in new bas is t he d irect ion of children learni ng in
school and to conf ir m the unit bet ween aff ection and cog nit ion in the ps ych ic
deve lopm ent.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................12
PARTE I
PRESSUPOSTOS TEÓRICO-FILOSÓFICOS E
METODOLÓGICOS.........................................................................24
Considerações Iniciais...............................................................................................25
2.1 Uma crítica à concepção materialista das emoções humanas a partir da teoria
organicista..................................................................................................................49
PARTE II
IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS............................................................................134
Considerações Finais............................................................................................157
INTRODUÇÃO
1
Estamos empregando, por hora, o adjetivo afetivo conforme a atribuição filosófica, que designa em
geral tudo o que se refere à esfera das emoções: estado afetivo, função afetiva ou condição de caráter
genericamente emotivo, podendo referir-se a qualquer emoção, afeto ou paixão (ABBAGNANO, 2007,
p. 20).
13
2
GOMES, C.A.V. A surdez e suas implicações na concepção de crianças surdas, de seus pais e
professores. 2000. 196 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências,
Universidade Estadual Paulista, Marília, 2000.
14
3
Optamos, neste texto, pela grafia Vigotski para designação do nome desse autor, porém, no caso de
citações e referências bibliográficas que possamos utilizar, respeitaremos as diferentes grafias
adotadas nos textos originais.
17
4
“Henry Wallon (1879-1962), psicólogo francês, especialista em psicologia e psicopedagogia infantil.
Aplicou a dialética marxista ao desenvolvimento psíquico na idade infantil. Depois da segunda guerra
mundial tomou parte na reforma do ensino na França.” (VYGOTSKI, 1996, p.317, tradução nossa).
19
5
CHAUÍ (2005) adverte que o nome de Espinosa é grafado de maneiras diversas, aparecendo ora
como “Espinoza”, ora como “de Espinosa”, “Spinosa”, “Espinosa”. Em suas obras, escritas em latim, o
filósofo assinava “Benedictus de Spinoza”. Respeitando a convenção atual, para a língua portuguesa
adotamos, neste trabalho, a grafia “Espinosa”.
6
O sexto volume das obras escolhidas inclui o trabalho “Teoria de las emociones”, escrito entre 1931 e
1933, no qual Vigotski, utilizando-se das teorias de Espinosa e Descartes submete a uma rigorosa
análise filosófica a teoria organicista das emoções na tentativa de desvelar a presença do pensamento
cartesiano que, segundo ele, “está presente em cada página das obras de psicologia sobre as
emoções escritas no curso dos últimos sessenta anos.” (Vigotsky, 2004, p.139, tradução nossa).
21
7
Frase proferida por Roberto Leher na IV Jornada do Núcleo de Ensino de Marília: Releitura de Marx
para a Educação Atual, em Marília, Agosto de 2005.
25
8
Nascido na Holanda em 24 de Novembro de 1632, Baruch de Espinosa (Bento, em português;
Benedictus, em latim) era filho de emigrantes portugueses, tinha o português como sua língua materna
e o catolicismo como uma marca implícita dessa nacionalidade. Vivenciou, desde muito cedo, um
conflito com relação a suas origens: era judeu por receber educação rabínica; português, porque seus
pais eram emigrantes portugueses e holandês porque nasceu em Amsterdã. Entre a conversão
forçada ao cristianismo e a expulsão de seu país, seus familiares tornaram-se marranos ou cristãos-
novos e, embora aceitassem a nova fé, permaneceram vinculados à tradição judaica. Na adolescência
Espinosa foi educado como os demais jovens marranos: estudou o hebraico, a Bíblia e a história do
povo judeu, interessando-se pelos grandes problemas do judaísmo. Chegou ao judaísmo, depois de
ter estudado algumas ciências, denominadas profanas, como a lógica, a metafísica e a medicina.
Os elementos propostos por essas ciências negavam a verdade das Escrituras e do Deus nelas
revelado, substituindo-o por um Deus-natureza, negando a fé e só aceitando o poder natural da razão.
Espinosa contrapõe, criticamente, o conhecimento profético e o natural (razão natural humana); é
enfático na oposição entre a passividade receptiva “iluminada” (a revelação), que é a marca da
profecia, e a atividade intelectual, que é a marca própria da razão.
Aos vinte e quatro anos, Espinosa foi convocado pela Sinagoga de Amsterdã, sofreu um intenso
interrogatório, cuja finalidade foi mostrar seu ateísmo – expressão que se refere ao homem que
concebe Deus contra a concepção tradicional vigente, ou seja, uma denominação muito mais política
do que religiosa – e a partir de então, tomou a iniciativa de afastar-se da comunidade judaica, fato esse
que provocou outras transformações em sua vida. Integrou-se à vida cultural holandesa e passou a
usufruir da liberdade burguesa, entendida como liberdade de consciência e tolerância religiosa que o
Estado holandês proporcionava. Após a excomunhão pela comunidade judaica de Amsterdã a 27 de
Julho de 1656, Espinosa abandonou os estudos judaicos e penetrou no humanismo clássico. Nessa
mesma época passou a estudar a filosofia de Descartes, a qual exerceu sobre ele uma forte influência,
caracterizando o peso do novo racionalismo do século XVII.
A fragilidade da sua condição física, associada à tuberculose que acometeu sua saúde por quase vinte
anos, levou-o a morte em 21 de Fevereiro de 1677. Sua principal obra é a Ética demonstrada à
maneira dos geômetras, concluída em 1675, mas publicada apenas em 1677, juntamente com outras
que formaram o volume das Obras póstumas.
26
9
O idealismo pressupõe a existência da razão subjetiva, a qual possui princípios e modalidades de
conhecimento que são universais e necessários, válidos para todos os seres em todos os tempos e
lugares. “[...] constitui-se como corrente filosófica que subordina toda a existência humana e todo ser
objetivo e exterior ao homem à cognição. Tem como alguns de seus representantes: Platão, Berkeley,
Hegel e Kant. Em Psicologia, corresponde à corrente cuja explicação do psiquismo está ligada à idéia
de que o pensamento subordina a realidade a si mesmo, de que a consciência existe antes da matéria.
O pensamento é tido, portanto, como princípio da existência.” (BISSOLI, 2005, p.25).
28
do sujeito ou, dito de outro modo, o que essa doutrina filosófica não deu
a conhecer foram os mecanismos da atividade humana como elem ento
constitutivo do conhecimento.
Na história da Filosofia, pensadores de diferentes períodos
e tendências com o Espinosa (1632-1677), Hegel (1770-1831), Marx
(1818-1883) e Heidegger (1889-1976) concordam que o conhecimento é
caracterizado como uma atividade ou um esf orço em preendido pelo ser
humano para a superação do seu “estado natural” evoluindo para o
desenvolvimento das qualidades humanas e para o conhecimento da
realidade (KOSIK, 2002).
Na tentativa de reunir elementos explicativos sobre a
constituição do afetivo na atividade hum ana, entendemos necessária a
referência a um outro filósofo que superou as concepções até então
consagradas à explicação da relação do sujeito com o objeto do
conhecim ento.
Marcando a história da Filosofia a partir do século XIX,
Marx 10 figura com o a segunda influência na formação do pensam ento
10
Nascido em Treves, capital da província alemã do Reno (Renânia), em 5 de Maio de 1818, Karl Marx,
ingressou na carreira jurídica em 1836 na Universidade de Bonn seguindo, depois, para a
Universidade de Berlim. O fato de ter se ligado ao grupo dos jovens Hegelianos – muito embora ele
não concordasse com o idealismo de Hegel (1770-1831) – associado ao crescente interesse pela
História e pela Filosofia fez com que desistisse de ser advogado.
Terminou o doutorado em 1841 e decidiu seguir a carreira universitária. Tornou-se redator-chefe da
Gazeta Renana nos anos de 1842-1843, mas abandonou o cargo após sofrer pressões políticas e
perseguições, emigrando para Paris em 1843. Em 1844 quando esteve exilado em Paris redige os
Manuscritos Econômico-filosóficos, também chamados de Manuscritos de Paris. As idéias centrais dos
Manuscritos são a essência humana e o trabalho alienado. Nesse mesmo ano (1844) Marx reencontra
o amigo Friedrich Engels (1820-1895) com quem iniciaria uma estreita colaboração intelectual e
política. Juntos escrevem A Sagrada Família (1845) e A Ideologia Alemã, este último redigido entre os
anos de 1845-1846.
Saviani (2004) explica que: “Na passagem dos Manuscritos de 1844 para as Teses sobre Feuerbach e
A Ideologia alemã o conceito de essência humana passa a coincidir com a práxis, ou seja, o homem
passa a ser entendido como ser prático, produtor, transformador” (Saviani, 2004, p.37-8). Esse mesmo
autor (2004) pontua que o conceito de alienação deixa de desempenhar o papel central que
desempenhava nos Manuscritos e, de fundamento explicativo da situação humana, passa a ser
considerado um fenômeno social que, por sua vez, é explicado por outro fenômeno histórico, a saber,
a divisão do trabalho.
Em Bruxelas (1847) Marx e Engels ingressaram na Liga dos Justos, organização sediada na França,
mas com ramificações internacionais – Liga Comunista – publicando no início de 1848 o Manifesto do
Partido Comunista. Em 1852 publica O 18 Brumário de Luís Bonaparte, em que analisa os
acontecimentos na França entre os anos de 1848-1851.
Mas a obra máxima de Marx – O Capital – teve seu primeiro volume publicado apenas em 1867. Nesta
obra, as premissas estabelecidas em A Ideologia Alemã vão ser aplicadas rigorosamente ao estudo do
modo de produção capitalista, fundamentalmente naquilo que seria o desvelamento do que a
“economia científica burguesa” jamais poderia explicar, o segredo da exploração do homem pelo
homem. Marx morre em 14 de Março de 1883, em Londres.
29
11
Informação obtida a partir do curso Concepção de Vygotsky: uma análise semântica, ministrado por
Bóris Guryevich Meshcheryakov, durante a I Conferência Internacional: O enfoque histórico-cultural em
questão, em Santo André-SP, Novembro de 2006.
30
12
Newton Duarte apresenta uma crítica contundente acerca da vinculação do nome de Vigotski às
concepções neoliberais de educação em seu livro Vigotski e o “aprender a aprender”: crítica às
apropriações neoliberais e pós-modernas da teoria vigotskiana, publicado pela editora Autores
Associados, 2001.
33
13
Para maiores informações ver ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. – 5ª. ed. – São Paulo:
Martins Fontes, 2007, p. 363-376.
14
Conforme ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. – 5ª. ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2007,
p.20.
34
15
Para maiores informações consultar ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. – 5ª. ed. – São Paulo:
Martins Fontes, 2007, p. 1039-1043.
16
DELEUZE, Gilles. Aula sobre Espinosa em 24/01/78, disponível em http: // www.webdeleuze.com,
acessado em 05/05/2007. A mesma observação é referida por Gleizer (2005) que, tendo revisado a
tradução da Ética de Espinosa publicada pela coleção Os Pensadores (1973) admite ter corrigido
alguns erros importantes, dentre os quais cabe assinalar a tradução dos dois termos latinos “affectus”
e “affectiones” pelo único termo português “afecção” (GLEIZER, 2005, p.64).
17
Encontramos no francês a seguinte designação para affection: “afeto, afeição, amor, carinho;
amizade, benevolência, ternura, inclinação, doença.” (BURTIN – VINHOLES, 2003, p.11).
35
18
Em Chauí (2005, p.98) encontramos a definição de afecção como “toda mudança, alteração ou
modificação de alguma coisa, seja produzida por ela mesma, seja causada por outra coisa.” Ela
argumenta que, na alma, as afecções do corpo se realizam como idéias afetivas ou sentimentos,
derivando desse fenômeno o emprego de dois termos – afecções e afetos – o que marca uma
diferença entre eles.
19
Encontramos na obra de Gilles Deleuze – Espinosa: filosofia prática. São Paulo: Escuta, 2002;
tradução de Daniel Lins e Fabien Pascal Lins, a expressão “afetos” ou sentimentos (affectus), do que
concluímos que, nesta obra, o autor entende que os dois termos podem ser empregados como
sinônimos.
36
(TEIXEIRA, 2001). Isso nos perm ite alegar, desde já, que Espinosa faz
uma distinção entre afetos e paixões.
Daí as expressões ação e paixão 20. Entendida como
atividade, domínio, a ação é uma potência positiva, que f az aum entar as
potências de pensar e agir, ou seja, nestas condições o sujeito está no
domínio das causas que o afetam; a ação consiste em se apropriar de
todas as causas exteriores que am pliem sua atividade; nesta o sujeito
está total e plenamente de posse daquilo que faz, sente e pensa.
Contrariamente, a paixão 21 é um declínio das potências de
pensar e agir porque o sujeito, ao sofrer as afecções, é determ inado a
fazer, sentir e pensar a partir de causas externas mais fortes e
poderosas do que ele.
Já nos textos empregados para referenciar o pensam ento
marxiano (MÁRKUS, 1974a; MÁRKUS, 1974b; MARX, 1993; MARX &
ENGELS, 2002), encontramos as expressões emoção e paixão com o
sinônimos. “A emoção intensa, a paixão é a faculdade do homem
esforçando-se energicamente por alcançar o seu objeto.” (MARX, 1993,
p.251, grifo nosso).
Com essa afirm ação o filósofo explica a emoção e/ou
paixão a partir da existência concreta dos objetos fora do sujeito. Por
ser real e sensível esse objeto af eta, produzindo sensações. Na relação,
na afetação, nas impressões, ações ou efeitos que um outro ser exerce
sobre o sujeito é que se dá o processo de constituição histórica dos
sentidos, qualidades e capacidades humanas.
Desta form a, a atividade do sujeito visando a apropriação
das objetivações hum anas 22 implica, conseqüentemente, a reprodução
20
“Quando, por conseguinte, podemos ser a causa adequada de uma dessas afecções, por afecção
entendo uma ação; nos outros casos, uma paixão.” (ESPINOSA, 2004, p. 276, parte III, def.III, grifo do
autor).
“A nossa alma, quanto a certas coisas, age (é ativa), mas, quanto a outras, sofre (é passiva), isto é,
enquanto tem idéias adequadas, é necessariamente ativa em certas coisas; mas, enquanto tem idéias
inadequadas, é necessariamente passiva em certas coisas.” (ESPINOSA, 2004, p.277, parte III, prop.
I, grifo do autor).
21
Chauí, fundamentando-se na filosofia de Espinosa, define paixão como “afetos ou sentimentos
causados em nós por coisas ou causas exteriores a nós e das quais somos os receptores passivos.”
(CHAUÍ, 2005, p.101).
22
Esse aspecto da apropriação foi aprofundado pelo psicólogo soviético Aléxis Leontiev em seu livro O
desenvolvimento do psiquismo, páginas de 259 a 284. Lisboa: Livros Horizonte, 1978. Duarte (1993)
38
também faz uma importante análise sobre a relação entre apropriação e objetivação na dinâmica de
formação do gênero humano e dos indivíduos no livro: A individualidade para-si: contribuição a uma
teoria histórico-social da formação do indivíduo. Campinas: Autores Associados, 1993.
23
Convém observar que isso pode ser conseqüência de equívocos e/ou interpretações inadequadas
no momento das traduções, já que não nos utilizamos das obras do autor na sua versão original –
russo. É preciso destacar que os textos referidos neste trabalho são traduções do russo para o
espanhol (no caso dos volumes I, II, III, IV das obras escolhidas), para o inglês (volume VI das obras)
e ainda deste último para o espanhol, no caso do texto “Teoria de las Emociones: Estúdio histórico-
psicológico” que se encontra no sexto volume das obras de Vigotski).
24
“For this reason, for Vygotsky, the subject of the historical-methodological analysis is, together with
emotions (feelings, affects) the broadest complex of radical psychological problems…”
(YARO S H E VS K Y , 19 8 7 , p. 254).
39
26
No original: “Las actitudes emocionales permanentes genéticamente aparecen después que las
vivencias circunstanciales. Son el resultado de la generalización emocional, o sea de la
generalización de repetidas vivencias emocionales de situación ligadas con un objeto dado.”
27
No original: “Las emociones y los sentimientos se determinan no solo por aquello que los motiva
directamente en un momento dado, sino también por amplios sistemas de conexiones temporales que
se han creado en la experiência pasada.”
41
28
No original: “Nosotros examinamos los estados afectivos como vivencias emocionales prolongadas
y profundas, directamente relacionadas con las necesidades y aspiraciones activas, que tienen para
el sujeto una importância vital. En este sentido, todas las personas poseen una vida afectiva más o
menos intensa, sin la cual se convertirián en seres pasivos o indiferentes [...] En la literatura
psicológica contemporânea, el concepto de afecto es utilizado por numerosos psicólogos en este
mismo sentido, L.S. Vigotsky, S.L. Rubinstein, K. Lewin, K. Koffka y otros.”
29
Para obter maiores explicações, consultar ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. – 5ª. ed. – São
Paulo: Martins Fontes, 2007, p.20.
42
30
A Psicologia Histórico-Cultural ou Escola de Vigotski constitui uma vertente da Psicologia
fundamentada nos pressupostos teórico-filosóficos e metodológicos do Materialismo Histórico Dialético
e tem em Lev Semiónovich Vigotski (1896-1934) seu principal representante. Admitindo a
materialidade dos processos psicológicos Vigotski elaborou, a partir da década de vinte, em conjunto
com seus colaboradores, um sistema teórico-metodológico original, fundamento da teoria psicológica
geral da Atividade desenvolvida, posteriormente, por Aleksei Nikolaevich Leontiev (1903-1979). Os
trabalhos de Leontiev dão continuidade e desenvolvem a mesma corrente psicológica inaugurada por
Vigotski e, segundo Duarte (2004), se constituem em significativas contribuições para a educação
contemporânea.
Saviani (2004) aponta Vigotski (1896-1934), Leontiev (1903-1979), Davidov (1930), Luria (1902-1977)
e Elkonin (1904-1984), como os autores que compõem a “Escola soviética” de Psicologia. Entre os
demais pesquisadores e continuadores da obra de Vigotski que compõem essa escola de pensamento
podemos citar: A. Zaporózhets (1905-1981), L. Bozhóvich (1908-1981), P. Galperin (1902), M.I. Lisina
(1929-1983) e outros. Para maiores informações, consultar: DAVÍDOV, V.; SHUARE, M. Datos sobre
los autores. In: DAVÍDOV, V.; SHUARE, M. (Orgs.). La Psicologia Evolutiva y Pedagógica en la URSS
(Antologia). Moscou: Editorial Progresso, 1987, p.338-344 e SHUARE, Marta. La psicología soviética
tal como yo la veo. Moscú: Editorial Progresso, 1990.
45
A dia lét ica ab arca a nat ure za, o pens am ento, a história
[...] Essa teoria do m aterialism o psicológico ou dia lética
da ps ico log ia é a que eu cons idero psico logia gera l. 32
(VYG OTSKI, 1991, p .389, tradução nos sa).
31
No original: “En esencia, lo que hemos hecho es poner de manifiesto la tesis, hace tiempo
establecida em nuestra ciencia, de su profundo dualismo, que impregna todo su desarrollo, y, por
tanto, nos hemos adherido a um indudable principio histórico.”
32
No original: “La dialéctica abarca la naturaleza, el pensamiento, la historia: es la ciencia más
general, universal hasta el máximo. Esa teoria del materialismo psicológico o dialéctica de la
psicologia es a lo que yo considero psicología general.”
46
33
No original: “[...] ésta es el procedimiento de objetivación de lo subjetivo, su análisis permite penetrar
en el mundo ínterior del hombre, abre el caminho para aplicar um método verdaderamente objetivo em
la psicología.”
47
34
No original: “La profunda diferencia entre los problemas psíquicos y fisiológicos resulta totalmente
insuperable para el pensamiento metafísico, mientras que la irreductibilidad de unos a otros no
constituye obstáculo alguno para el pensamiento dialéctico, acostumbrado a analizar los procesos de
desarrollo por um lado como procesos contínuos y, por outro, como procesos que van acompañados
de saltos, de la aparición de nuevas cualidades.”
48
35
No original: “[...] la exclusión de la conciencia de la esfera de la psicología científica (la psicologia
del comportamiento – M.S.) conserva em gran medida todo el dualismo y el espiritualismo de la
psicología subjetiva anterior.”
50
36
Este texto encontra-se no sexto volume das obras do autor: The Teaching about Emotions.
Historical-Psychological Studies . In: Vygotskii. L.S.The Collected Works of L.S. Vygotsky, Scientific
Legacy, traduzido por Marie J. Hall. p.71-235, New York, 1987. Nos utilizamos de uma tradução do
inglês para o espanhol.
37
No texto de Vigotski em inglês “The teaching about Emotions. Historical-Psychological Studies”
(1987), as teorias de W. James e Lange datam de 1884 e 1885, respectivamente.
51
38
No original: “Habitualmente se cree que, en las formas groseras de la emoción, la impresión
psíquica resultante de la percepción de um objeto determinado nos provoca um estado mental
llamado emoción, y que esta última implica uma cierta manifestación corporal. Por el contrario, según
mi teoria, la excitación corporal sigue directamente a la percepcíon debido a que la provoca, y la
conciencia que tenemos de esta excitación en el momento en que acontece constituye, precisamente,
la emoción.”
39
No original: “Por consiguiente, las modificaciones orgánicas se nos aparecen no como procesos
estrictamente modificados que siguen la naturaleza psicológica de las emociones, sino más bien co
mo uma reacción típica, intensa y estandarizada, que se produce de manera uniforme durante las
emociones más diversas.”
53
com as dem ais, é especificam ente distinto, porém essa distinção não é
suficiente para caracterizar a natureza psicológica das emoções.
Frente a isso, os organicistas se viram condenados a
considerar a emoção, na sua essência, como um processo passivo,
sensorial, como um a sensação de uma natureza particular,
conseqüentemente deixaram de lado todos os elementos do processo
emocional – a m otivação, a tendência à ação, o im pulso – dado que,
para Vigotski, “[...] a emoção não é sim plesmente a som a das
sensações das reações orgânicas, mas principalmente uma tendência a
atuar em um a direção determinada.” (VIGOTSKY, 2004, p.40, tradução
nossa).
Em decorrência desse primeiro aspecto, ele identifica
outros que vêm na esteira da análise fisiológica das emoções: o conflito
entre a intenção consciente e a tendência emocional ou, conform e
Vigotski (2004, p.77), “[...] as correlações entre as funções voluntárias e
as em oções.”
A imbricação entre a vontade, que atua de maneira
consciente e que se m anifesta no ato da decisão e da intenção, e o
afeto, não se explica nem se sustenta do ponto de vista do pensam ento
organicista.
Exatam ente porque esse modelo teórico não admite a
relação entre processos emocionais e processos conscientes, ele
também não dá conta de explicar as “emoções superiores”, o que
acarreta um dualismo na interpretação da natureza das emoções
superiores e inferiores, afirma Vigotski (2004).
Esses equívocos que, segundo Vigotski (2004), são de
natureza ideológica, resultam da tentativa de vincular a teoria
organicista com a filosofia de Espinosa.
Um erro derivado de uma “negligência filosófica”, resultado
de uma confusão maior que prevalece na história da Psicologia: “a idéia
de um parentesco interno e de uma herança histórica entre a teoria das
paixões de Descartes e de Espinosa.” (VIGOTSKY, 2004, p.84, tradução
nossa).
54
40
No original: “[...] las pasiones humanas representam para Descartes no sólo la única manifestación
de la vida común del alma y el cuerpo en la naturaleza humana, sino también, de una manera
general, algo único em su gênero, el único fenômeno em todo el universo, [...] en que se unen dos
substancias que no pueden reunirse en ninguna outra parte.”
41
Situada no meio do órgão central dos nervos. Aqui acontece a transformação inversa dos
movimentos do espírito em movimentos corporais da glândula, que daí se propagam a todos os
órgãos. (VIGOTSKY, 2004, p 114, tradução nossa).
42
Conforme sua própria definição: “são corpos, finíssimas partículas de sangue, muito móveis e
quentes, produzidas no coração e que, [...] como um vento ligeiro, uma chama viva ascende sem
cessar a partir do coração até o cérebro e por meio dos nervos, entra nos músculos e comunica o
movimento a todos os membros.” (VIGOSTKY, 2004, p.109, tradução nossa).
56
43
No original: “[...] los fenómenos afectivos son puramente subjetivos y no pueden utilizarse en modo
alguno para el conocimiento de la realidad externa, que siempre se experimenta como um estado de
nuestro “yo”, y no como la propriedad de objetos determinados.”
44
No original: “[...] las emociones deben remitirse al periodo prehistórico más lejano, al periodo
prehumano de la evolución psíquica. En el hombre, éstas desempeñan únicamente el papel de
rudimentos, absurdos vestígios de la oscura herencia de antepasados animales. En la historia del
psiquismo humano, no solo es imposible cualquier perspectiva de desarrollo de las emociones, sino
que, por el contrario, éstas están condenadas a uma regresión continua y, en última instancia, a la
muerte.”
57
45
“Uma afecção, que é paixão, deixa de ser paixão no momento em que dela formamos uma idéia
clara e distinta.” (ESPINOSA, 2004, p.410, parte V, prop. III, grifo do autor).
“Portanto, uma afecção está tanto mais em nosso poder e a alma sofre tanto menos da sua parte
quanto melhor nós a conhecemos.” (ESPINOSA, 2004, p.411, parte V, prop. III, corolário).
“Não há nenhuma afecção do corpo de que nós não possamos formar um conceito claro e distinto.”
(ESPINOSA, 2004, p.411, parte V, prop. IV, grifo do autor).
“Na medida em que a alma conhece as coisas como necessárias, tem maior poder sobre as
afecções, por outras palavras, sofre menos por parte delas.” (ESPINOSA, 2004, p.412, parte V, prop.
VI, grifo do autor).
59
46
No original: “En realidad, se desarrolla un conflicto entre dos movimientos de dirección opuesta que
se comunican en el órgano del alma: el uno, por médio del cuerpo, a través de los espíritus animales,
el outro, por medio del alma, a través de la voluntad. El primer movimiento es involuntário y está
determinado exclusivamente por impresiones corporales, el segundo es voluntário y está motivado
por la intención establecida por la voluntad [...] Así, conforme al pensamiento de Descartes, en dos
casos extremos podemos considerar las pasiones o como el producto del automatismo corporal, o
como el puro resultado de la actividad espiritual.”
47
No original: “Son pasiones que nacen en la necesidad nutritiva vital del feto [...] El mecanismo de
las pasiones de un adulto tiene su fuente en la estructura y el funcionamiento de la máquina fetal.”
48
Segundo Vigotski os atos reflexos podem ser muito distintos e variáveis, mas eles se constituem em
uma reação inata do organismo, a mais comum a todos os indivíduos de uma determinada espécie,
sendo considerada uma forma absoluta e imutável dentre todas as demais formas do comportamento
humano (2004, p.207).
60
49
No original: “Como todos los demás reflejos éstas son reacciones innatas del organismo,
preestablecidas y preparadas a lo largo del desarrollo zoológico y embrionario; son inherentes al
hombre em virtude de la estructura de su organismo y, a decir verdad, excluyen cualquier posibilidad
de desarrollo.”
50
Nesta citação aparece a expressão reflexo e em outras passagens desse mesmo texto (VIGOTSKY,
2004, p.212) encontramos a expressão instintos. Entendemos que possa ter havido um problema de
tradução ao empregar ambas as palavras com o mesmo significado, porque em um outro trabalho do
mesmo autor – Obras Escolhidas IV – observamos uma preocupação sua em distinguir os dois
mecanismos.
51
A autora refere instinto como os mecanismos de comportamento ou as coordenações motoras
compulsórias que são específicas da espécie e, ao mesmo tempo, específicos da ação, herdados
através do código genético, desencadeados por estímulos internos e externos e que desempenham
um papel preponderante na preservação da espécie dentro de um certo estádio do desenvolvimento
do organismo e que ultrapassam a inteligência da espécie em questão do ponto de vista deste valor
seletivo positivo. (HELLER, 1983, p.40).
61
52
Ampliaremos a discussão acerca da categoria motivo no próximo capítulo.
53
Por medicalização, entenda-se “a utilização do modelo biomédico sustentado no método clínico,
para abordar problemas de ordem sócio-econômico-cultural. Aplicado à compreensão do
comportamento humano, ele conduz a uma visão individualizada e biologizante”. In: Rotular e Excluir,
PSI jornal de Psicologia. Publicação do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, CRP SP, 6ª.
região, n. 155, mar – abr/ 2008, p.10-11.
54
A dislexia, atualmente definida, de forma ampla, como uma condição hereditária com alterações
genéticas, apresentando ainda alterações no padrão neurológico, pode ser incluída no campo da
TDAH. Para maiores informações sobre a atualidade dessa discussão ver o artigo Dislexia: quem
procura acha. In: Rotular e Excluir, PSI jornal de Psicologia. Publicação do Conselho Regional de
Psicologia de São Paulo, CRP SP, 6ª. região, n. 155, mar – abr/ 2008, p.12-13.
62
55
Trata-se do livro Inteligência Emocional (1995) publicado pela editora Objetiva, do psicólogo e
jornalista norte-americano Daniel Goleman. Segundo dado da revista Veja, edição 1478, ano 30 – n.
2 de Janeiro de 1997, um sucesso editorial que se manteve por mais de trinta e cinco semanas na
lista dos livros mais vendidos no Brasil.
63
56
Entendida como estrutura da existência, subjacente a todos os eventos e coisas, essência ou “ser
interior” (DURANT, 2000, p. 173).
57
“Por modo entendo as afecções da substância, isto é, o que existe noutra coisa pela qual também é
concebido.” (ESPINOSA, 2004, p.150, parte I, def. V, grifo do autor).
“Modo são as coisas e os pensamentos particulares que expressam os atributos de Deus,
pensamento e extensão.” (ABBAGNANO, 2007, p.792).
“Um modo é qualquer coisa ou evento individual, qualquer forma ou formato que a realidade assuma
transitoriamente; você, seu corpo, seus pensamentos, seu grupo, sua espécie, seu planeta são
modos.” (DURANT, 2000, p. 173).
66
58
Espinosa admite uma variação do conceito Natureza: por “Natureza Naturada entende os modos
infinitos e finitos imanentes à substância divina, produzidos pela atividade dos atributos, que
constituem o mundo em que vivemos” e por “Natureza Naturante a substância divina com seus infinitos
atributos infinitos como causa de si e causa imanente de todas as coisas.” (CHAUÍ, 2005, p.101); ver
também Espinosa (2004, p.187, parte I, prop. XXIX, escólio).
67
Não há pensam ento sem objeto. O pen sam ento é sem pre
de algum a coisa, e para Es pinosa a al ma não é senão o
pensam ento ou a idéia do corp o e das cois as qu e af etam
o corpo, sem nenhum a ref erência, repetim os, à idéia
tradic ional de um a alm a substânci a, suporte das idéias.
(TEIXEIRA, 2001, p. 122).
69
59
“A ordem e a conexão das idéias é a mesma que a ordem e a conexão das coisas.” (ESPINOSA,
2004, p.228, parte II, prop. VII, grifo do autor).
“A primeira coisa que constitui o ser da alma humana não é senão a idéia de uma coisa singular
existente em ato.” (ESPINOSA, 2004, p.233, parte II, prop. XI, grifo do autor).
“Tudo o que acontece no objeto da idéia que constitui a alma humana deve ser percebido pela alma
humana; por outras palavras: a idéia dessa coisa existirá necessariamente na alma; isto é, se o objeto
dessa idéia que constitui a alma humana é um corpo, nada poderá acontecer nesse corpo que não
seja percebido pela alma.” (ESPINOSA, 2004, p.234, parte II, prop. XII, grifo do autor).
“O objeto da idéia que constitui a alma humana é o corpo, ou seja, um modo determinado da extensão,
existente em ato, e não outra coisa.” (ESPINOSA, 2004, p.234, parte II, prop. XIII, grifo do autor).
“A alma humana é apta a perceber um grande número de coisas, e é tanto mais apta quanto o seu
corpo pode ser disposto de um grande número de maneiras.” (ESPINOSA, 2004, p. 241, parte II, prop.
XIV, grifo do autor).
“A alma humana não conhece o próprio corpo humano nem sabe que este existe, senão pelas idéias
das afecções de que o corpo é afetado.” (ESPINOSA, 2004, p.245, parte II, prop. XIX, grifo do autor).
“A alma humana percebe não apenas as afecções do corpo, mas também as idéias dessas afecções.”
(ESPINOSA, 2004, p.247, parte II, prop. XXII, grifo do autor).
“A alma não se conhece a si mesma, a não ser enquanto percebe as idéias das afecções do corpo.”
(ESPINOSA, 2004, p. 247, parte II, prop. XXIII, grifo do autor).
70
60
Espinosa não distingue intelecto e vontade, mas unifica-os sob o poder de agir – as idéias e as
volições são atos singulares de afirmação e de negação. Apresenta sua concepção de vontade, de
maneira detalhada, no capítulo XII – Da mente humana – (ESPINOSA, 2004, p.97-101).
72
[...] os seres hum anos têm a opin ião de que são l ivre s por
estarem cônscios das suas vo liç ões e das suas
apetências, e nem por sonhos lhes p as sa pela cab eça a
idéia d as causa s qu e os disp õem a apetecer e a querer,
visto que as ignor am . (ESPINOSA, 2004, p.19 8, parte I,
apên dice, grif o do a utor).
61
Espinosa reitera que o desejo é a própria essência do homem, isto é (pela proposição VII da parte
III), um esforço pelo qual o homem se esforça por perseverar no seu ser. “O esforço pelo qual toda
coisa tende a perseverar no seu ser não é senão a essência atual dessa coisa.” (ESPINOSA, 2004, p.
283, parte III, prop. VII, grifo do autor).
73
62
(ESPINOSA, 2004, p.283, parte III, prop. VII)
74
63
“Por realidade e por perfeição entendo a mesma coisa.” (ESPINOSA, 2004, p.224, parte II,
explicação VI).
64
Segundo Deleuze (1978), o afeto é demonstrado por meio de um “regime de variação” que acontece
à medida que as idéias vão se afirmando em nós, durante nossa existência diária; essa variação
corresponde a um vai-e-vem, determinando um aumento ou diminuição, ainda que mínimo, de nossa
“potência de agir” ou de nossa “força de existir”.
76
65
“No pensamento de Espinosa, o termo “idéia” é tomado em dois sentidos principais: a idéia como um
conceito que nossa mente forma (ter idéia de alguma coisa); a idéia como a natureza de nossa própria
alma (ser idéia do corpo e ser idéia de si mesma). Nos dois casos, porém, há um traço comum: uma
idéia é um ato (ato do intelecto para ter idéia; e a existência da mente ou alma como força para ser
idéia, isto é, um modo do atributo Pensamento). No sentido de ter idéia, há dois tipos de idéias: as
imaginativas ou inadequadas e as intelectivas ou adequadas.” (CHAUÍ, 2005, p. 99, grifo do autor).
66
De acordo com TEIXEIRA (2001), quanto ao número de modos de percepção, adotamos a divisão
tríplice, que é também a da Ética: o 1º. modo é a opinião, o 2º.é a crença, conhecimento racional e o
3º, o conhecimento claro e distinto.(TEIXEIRA, 2001, p.85). E quanto às faculdades que presidem cada
um deles são, respectivamente, a imaginação, a razão e a intuição. (CHAUÍ, 2005, p.36).
77
67
Livro II da Ética, Proposição XXXV, Escólio, Espinosa exemplifica que [...] “quando olhamos o sol,
imaginamos que ele se encontra a uma distância de nós de cerca de duzentos pés, e, aqui, o erro não
consiste apenas nessa imaginação, mas no fato de que, enquanto assim imaginamos ignoramos a
causa dessa imaginação bem como a verdadeira distância a que está o sol. Com efeito, embora, mais
tarde, venhamos a saber que o sol se encontra afastado de nós mais de seiscentas vezes o diâmetro
da Terra, não deixaremos, todavia, de imaginar que ele está perto de nós.” (ESPINOSA, 2004, p.254).
Também por meio desse exemplo imaginamos que, pelo aparente movimento daquela estrela, é ela
que se desloca, gerando o dia e a noite, enquanto a Terra permanece imóvel. É assim que a imagem
exprime a maneira como nosso corpo é afetado pelas coisas externas.
78
68
“Tudo que imaginamos que conduz à alegria, esforçar-nos-emos por fazer de modo a que se
produza; mas tudo que imaginamos que lhe é contrário ou que conduz à tristeza, esforçar-nos-emos
por afastá-lo ou destruí-lo.” (ESPINOSA, 2004, p.297, parte III, prop. XXVIII, grifo do autor).
69
Sobre esse conceito ver ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia, São Paulo: Martins Fontes, 2007,
p.670-672.
79
70
“Ato de sentir antecipadamente o que vai acontecer, perceber, sentir ao longe ou antes de ver;
pressagiar, antever, adivinhar por indícios, ter suspeitas, desconfiar, perceber antecipadamente
através dos sentidos.” (HOUAISS, 2007, p.2293).
81
71
Destacamos que a categoria de totalidade elaborada na filosofia clássica alemã como um dos
conceitos centrais e que compreende a realidade nas suas leis e conexões internas, foi preanunciada
na filosofia moderna por Espinosa, por meio dos seus conceitos de natura naturans (natura naturante –
Deus) e natura naturata (natura naturada – atributos e modos de Deus). (KOSIK, 2002, p.41).
86
72
Ampliaremos a discussão sobre a função dos instrumentos e signos no desenvolvimento psicológico
humano no próximo capítulo.
87
73
Encontramos algumas definições para o termo capacidade: Em Márkus (1974b, p.54) “a capacidade
de produzir um objeto significa assimilar uma forma de agir que contém tanto o instrumento quanto o
objeto e na conexão necessária à realização da finalidade desejada. A capacidade aparece como
transposição de certas conexões e interações objetivas para a atividade do sujeito, a qual,
naturalmente, corresponde às leis de funcionamento do organismo e dos órgãos humanos.”
Abrantes & Martins (2006) entendem por “capacidade a expressão de um dinâmico processo que se
produz na atividade social para dar respostas a necessidades também produzidas socialmente” e,
citando Teplov (apud ABRANTES & MARTINS, 2006) “[...] a capacidade existe somente no estado de
evolução, nós não devemos esquecer que esta evolução não pode se realizar de outro modo senão no
processo de uma atividade qualquer, prática ou teórica [...] que a capacidade não pode aparecer fora
de uma atividade concreta adequada.” (TEPLOV, 1966, p. 215 grifos do autor, tradução nossa)
74
Voltaremos a tratar deste fenômeno mais adiante, no item que versa sobre a subjetividade em Marx.
89
75
“Experimentar com resignação e paciência, suportar, tolerar, agüentar, passar por, experimentar;
ser objeto de.” (HOUAISS, 2007, p.2598).
91
76
Aparência no sentido marxiano do termo, aquilo que denota uma análise parcial, unilateral,
encobrindo as múltiplas determinações dos fenômenos.
93
77
Para um aprofundamento acerca dos conceitos de conhecimento concreto e empírico, ver KOPNIN,
P.V. A dialética como lógica e teoria do conhecimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.;
capítulo III: O Pensamento: objeto da lógica dialética, páginas 121 a 182.
94
78
Leontiev aprofunda esta discussão no seu livro Actividad, conciencia y personalidad, - no capítulo IV,
item 2 quando trata da trama sensorial da consciência – páginas 105 a 110.
95
79
Vide nota de rodapé na página 88 deste trabalho.
80
Conforme afirma Espinosa no livro IV da Ética: “O desejo, forma afetiva do conatus, é a própria
essência do homem enquanto se põe a agir em decorrência de uma afecção que o determina neste
ou naquele sentido.” (CHAUÍ, 1999, p.50).
96
81
Na opinião de Marx, “é a história da indústria, da produção, que permite explicar a “essência” do
homem, o conjunto de suas faculdades, e entre essas, a consciência”. Diz Marx (apud MÁRKUS,
1974b, p.57): “Ve-se como a história da indústria e a existência objetiva já formada da indústria são o
livro aberto das forças essenciais do homem, a psicologia humana, presente a nossos olhos de modo
sensível. Essa história da indústria foi até hoje entendida não em sua conexão com o ser do homem,
mas sempre numa relação meramente exterior de utilidade...”
82
Na parte II da Ética Espinosa dispõe sobre a natureza e a origem da alma ( 2004, p. 221-272).
83
Vide tópico 2.2.1: A relação corpo-alma. In: Contribuições da filosofia de Espinosa para uma
perspectiva materialista do afetivo, páginas 65-70.
98
84
A teoria materialista dialética do reflexo define conhecimento como um reflexo do mundo como
realidade objetiva: a sensação, a percepção, a consciência, são a imagem do mundo exterior.
(RUBINSTEIN, 1965). Este aspecto será aprofundado no item sobre o reflexo psíquico da realidade.
99
85
No original: “En el plano psicológico, la conciencia aparece, ante todo, como um proceso gracias al
cual el hombre adquiere conciencia del mundo circundante y de si mismo. El adquirir conciencia de
algo, presupone de modo necesario cierto conjunto de conocimientos com el cual se relaciona lo que
nos rodea y entonces es aprehendido por la conciencia [...] El que el hombre posea conciencia
significa, en propiedad, que en le decurso de la vida, de la comunicación, del aprendizage, se ha
formado en el hombre tal conjunto (o sistema) de conocimientos más o menos generalizados y
objetivados en la palabra, que gracias a ellos puede el hombre adquirir conciencia de lo que le rodea
y de si mismo entrando en conocimiento de los fenómenos de la realidad a través de su correlación
con los conocimientos aludidos.”
100
86
No original: “[...] el tener o no conciencia de unos determinados fenômenos y cosas depende de la
“fuerza” de estos últimos, significa admitir que el hecho de tener (o no tener) conciencia de un
fenômeno depende no sólo del saber que permite entrar en conocimiento del objeto o fenômeno
dados, sino además, de la actitud que este objeto o fenômeno provoquen en el sujeto. A ello se
deben las interrelaciones contradictorias, profundas y, a la vez, antagónicas que existen entre el tener
conciencia y la afectividad.”
87
Nos reportamos a Adolfo Sánchez Vázquez (2007, p. 221 – 225) na distinção dessas duas formas
de expressão da atividade consciente: cognoscitiva e teleológica.
101
88
No original: “En la caracterización del ser-conciente humano Marx presupone siempre la
intencionalidad del mismo. La conciencia es conciencia de algo, tiene uma orientación objetual. Por
uma parte, la conciencia parece como ‘reproducción intelectual’ de la realidad, como conocimiento del
mundo circundante, del hombre em él, del sujeto material activo mismo [...] Por outra parte, la
conciencia aparece como la ‘producción espiritual’ de los fines, los ideales, las ideas y los valores que
se realizan por medio de la actividad.”
89
Teleologia significa “qualquer doutrina que identifica a presença de metas, fins ou objetivos últimos
guiando a natureza e a humanidade, considerando a finalidade como o princípio explicativo
fundamental na organização e nas transformações de todos os seres da realidade, finalismo.”
(HOUAISS, 2007, p.2687).
90
MÁRKUS cita uma passagem em que Marx – na sua obra máxima; O capital – expressa essa
dimensão da consciência. Diz ele: “Ao final do processo de trabalho aparece um resultado que estava
já presente ao princípio do mesmo na representação do trabalhador, ou seja, que estava já presente
idealmente ao começo do trabalho. O trabalhador não se limita a atuar uma transformação do natural;
ao mesmo tempo realiza no natural um fim por ele sabido, um fim que determina como lei o modo e o
tipo de seu fazer e ao qual tem que subordinar sua vontade.” (MÁRKUS, 1974a, p.46, tradução nossa).
102
91
Espinosa (2004) discute esse aspecto na Parte III da Ética: Da origem e da natureza das afecções,
p.275-276.
108
92
No original: “Como regla general, el objeto reflejado en los fenômenos psíquicos afecta a las
necesidades y a los intereses del individuo por lo que provoca en él una determinada actitud
emocional y volitiva (anhelos, sentimientos). Todo acto psíquico concreto, toda ‘unidad’ de conciencia
compreende ambos componentes: uno intelectual o cognoscitivo, y outro afectivo [...] (en el sentido
de la filosofia clásica del siglo XVII, por ejemplo en la de Spinoza) [...] Sin embargo, es precisamente
en el aspecto cognoscitivo del proceso psíquico donde se manifiesta con singular relieve la conexión
de los fenómenos psíquicos con el mundo objetivo.”
109
93
No original: “Las emociones y los sentimientos no son, como las funciones cognoscitivas, el reflejo
mismo de los objetos y fenómenos reales, sino que son el reflejo de la relación que hay entre ellos,
las necesidades y los motivos de actividad del sujeto. No todo objeto o fenômeno real motiva uma
actitud emocional hacia él: mucho de lo que se percibe es indiferente.”
110
95
No original: “El desarrollo histórico de los afectos o las emociones consiste fundamentalmente em
que se alteran las conexiones iniciales em que se han producido y surgen un nuevo ordem y nuevas
conexiones. Hemos dicho que, como expresaba acertadamente Spinoza, el conocimiento de nuestro
afecto altera este, transformándolo de um estado pasivo em outro activo [...] nuestros afectos actúan
en un complicado sistema con nuestros conceptos [...] esse sentimiento es histórico, que de hecho se
altera en medios ideológicos y psicológicos distintos, a pesar de que en él queda indudablemente
cierto radical biológico, en virtude del cual surge esta emoción. Por conseguiente, as emociones
complexas aparecen sólo históricamente y son la combinación de relaciones que surgen a
consecuencia de la vida histórica, combinación que tiene lugar en el transcurso del proceso evolutivo
de las emociones.”
114
96
Acrescentamos que esse aspecto será aprofundado na parte II desse estudo que trata das
Implicações Educacionais.
116
97
Esse texto, escrito em 1932 e publicado em 1936 no livro de YAKOBSON, P. M. Psychology of the
Stage Feelings of the Actor, Moscow, 1936, pp. 197-211. [ Psicologia dos sentimentos cênicos do ator],
faz parte do conjunto de textos que compõem o sexto volume das obras escolhidas do autor,
VYGOTSKII. L.S. The Collected Works of L.S. Vygotsky, Scientific Legacy, traduzido por Marie J. Hall.,
New York, 1987.
98
No original: “Psychology teaches that emotions are not an exception different from other
manifestations of our mental life. Like all other mental functions, emotions do not remain in the
connection in which they are given initially by virtue of the biological organization of the mind. In the
process of social life, feelings develop and former connections disintegrate; emotions appear in new
relations with other elements of mental life, new systems develop, new alloys of mental functions and
unities of a higher order appear within which special patterns, interdependencies, special forms of
connection and movement are dominant.”
117
100
No original: “[...] el hombre, en la etapa superior de su desarrollo, llega a dominar su propia
conducta, subordina a su poder las propias reacciones. Lo mismo que subordina las acciones de las
fuerzas externas de la naturaleza, subordina también los procesos de su propia conducta en base de
las leys naturales de tal comportamiento. Como las leyes naturales del comportamiento se basan en
las leyes del estímulo-reacción, resulta impossible dominar la reacción mientras no se domine el
estímulo. El nino, por conseguiente, domina su conducta siempre que domine el sistema de los
estímulos que es su llave.”
120
101
No original: “[...] toda función en el desarrollo cultural del niño aparece en escena dos veces, en
dos planos; primero en el plano social y después en el psicológico, al principio entre los hombres
como categoria interpsíquica y luego en el interior del niño como categoria intrapsíquica [...] Tenemos
pleno derecho a considerar la tesis expuesta como una ley,pero el paso, naturalmente, de lo externo
a lo interno, modifica el próprio proceso,transforma su estructura y funciones. Detrás de todas las
funciones superiores y sus relaciones se encuentran gnéticamente las relaciones sociales, las
auténticas relaciones humanas.”
102
No original: ”Se muestra contrario a reducir el arte a su función propiamente cognoscitiva,
gnoseológica. Si el arte ejerce efectivamente una función cognoscitiva, se trata de una función de
conocimiento peculiar, realizada por procedimientos peculiares, y no únicamente de um conocimiento
de imágenes. La uitlización de la imagem, del símbolo, no crea por si misma la obra de arte. Lo
‘pictográfico’ y lo artístico son fenômenos muy disitntos.”
121
103
No original: “[...] el arte ‘trabaja’ con sentimientos humanos y la obra artística encarna em si este
trabajo. Los sentimientos, emociones, pasiones, forman parte del contenido de la obra de arte, pero
em ella se transforman. Al igual que um procedimiento artístico provoca la metamorfosis del material
de la obra, puede provocar asimismo la metamorfosis de los sentimientos. El significado de esta
metamorfosis de los sentimientos consiste, según Vigotski, en que éstos se elevan sobre los
sentimientos individuales, se generalizan y se tornan sociales.”
122
104
“A vontade não pode ser chamada causa livre, mas somente causa necessária.” (ESPINOSA, 2004,
p.190, parte I, prop. XXXII, grifo do autor).
“Por conseguinte, seja qual for o modo por que se conceba a vontade, a saber, como finita ou infinita,
ela carece de uma causa pela qual seja determinada a existir e a agir.” (ESPINOSA, 2004, p.190, I,
prop. XXXII, p.190, demonstração).
105
No original: “[...] el libre albedrío no consiste en estar libre de los motivos, sino que consiste en que
el nino toma conciencia de la situación, toma conciencia de la necesidad de elegir, que el motivo se lo
impone y que su libertad en el caso dado, como dice la definición filosófica, es una necesidad
gnoseológica.”
123
Voltemos a Marx.
As em oções – a paixão – constituem a capacidade
essencial do homem ativam ente voltada para o seu objeto (MARX,
1993). Do ponto de vista de Heller, isso significa “a orientação-para-o-
objeto-do-afeto, ou o fato de que só podemos compreender o afeto (e
também o motivo) no contexto da relação entre sujeito e objeto”
(HELLER, 1983, p.36).
Se nos foi possível determinar o terreno da vontade a partir
das relações que o sujeito estabelece com as objetivações humanas,
cabe-nos agora reforçar a distinção entre vontade e desejo na
concepção espinosista, pois para nos inclinarmos ou desejarmos alguma
coisa, temos que conhecê-la 106. “Não pode existir desejo sem objeto
(mesmo que este seja apenas um objeto ideal)” (HELLER, 1983, p.39).
A vontade pode ser entendida, a partir da teoria de
Espinosa, com o “o primeiro estágio de um unificado processo orgânico
do qual a ação exterior é a conclusão” (DURANT, 2000, p.179), ou
ainda, pode ser considerada uma idéia que permanece por mais tempo
na consciência antes de passar à ação.
Diferentemente, para esta teoria, o desejo é uma força
impulsiva que determina a duração de uma idéia – ou vontade – na
consciência do sujeito. Tendo já referido o desejo com o a “própria
essência do homem” 107, segundo Espinosa é por meio do desejo que o
homem se esforça ou não para realizar as coisas que preservem o seu
ser. Nesse caso, “o desejo determina o pensamento e a ação ”
(DURANT, 2000, p.179, grifo nosso).
Para distinguir esses dois conceitos, nos apoiam os na idéia
de que, se existe um modo de pensamento representativo – que trata
das qualidades objetivas e inerentes aos objetos – existe também um
modo de pensamento não-representativo, indicativo da variação das
potências de agir e pensar provocadas no sujeito.
106
“Os modos de pensar como o amor, o desejo ou qualquer outro sentimento da alma, qualquer que
seja o nome por que é designado, não podem existir num indivíduo senão enquanto se verifica nesse
mesmo indivíduo uma idéia da coisa amada, desejada, etc. Mas uma idéia pode existir sem que exista
qualquer outro modo de pensar.” (ESPINOSA, Ética, parte II, p.224).
107
Ética, parte IV, prop. XVIII, demonstração, p.355.
124
108
Deleuze ao explicar os principais conceitos da Ética aplica à categoria consciência as
características de Reflexão: segundo a qual a consciência não é propriedade moral do sujeito, mas a
propriedade física da idéia; reflexão da idéia no espírito e Correlação, segundo a qual a relação da
consciência com a idéia de que é consciência é a mesma da relação da idéia com o objeto de que é
conhecimento. (DELEUZE, 2002, p.65).
125
109
No original: “[...] los significados llevan una vida dual. Son producidos por la sociedad y poseen su
propia historia en el desarrollo del lenguaje, en el desarrollo de las formas de la conciencia social [...]
En ésta su existencia objetiva se subordinan a las leyes histórico-sociales y a la vez, a la lógica
interna de su próprio desarrollo.
126
111
Leontiev (1978b, p.154) recorre à citação de um autor francês “[...] la situación emociógena no
existe como tal. Depende de la relación entre las motivaciones e las posibilidades del sujeto”. In:
FRAISSE, P., “Les émotions”, Traité de Psychologie experimentale, vol. V, PUF, 1965).
112
No original: “[...] las vivencias subjetivas, el querer, el desejar, etc., no son motivos porque no son
capaces de engendrar por sí solos una actividad orientada y, consiguientemente, la cuestión
psicológica fundamental reside en comprender en qué consiste el objeto de ese querer, de ese deseo
o pasión.”
129
113
No original: “Las emociones no subordinan a la actividad, sino que son su resultado y el
‘mecanismo’ de su movimiento. La particularidad de las emociones reside em que reflejan las
relaciones entre los motivos (necesidades) y el êxito o la posibilidad de realización exitosa de una
actividad del sujeto que responda a aquéllos. Además, no se trata aquí de la reflexión de estas
relaciones, sino de su reflejo sensorial directo,de la vivencia.”
130
115
No livro Escola e Democracia, Saviani (2002) analisa criticamente essa pedagogia de essência
humanista que se traduziu no movimento escolanovista e que obteve grande aceitação no sistema
educacional brasileiro. Duarte (1998, 2001) também faz uma importante avaliação crítica desse
movimento e de suas interfaces com o construtivismo piagetiano.
141
[...] não há na rea lid ade objet o de ensin o, nem algo que
val ha a p ena s er ensinado [...] o desejo da criança bast a
a cada in stante, par a lhe bas ear o desenvolvim ento [...]
A criança tem capacidades naturais que a def inem , que
constit uem um dado irref utável; f oram -lhe atrib uídas p or
um a Providênc ia, publ ic am ente cham ada Natureza... e
um a vez p ara sem pre [...] Neste tipo d e educ açã o “as
crian ças aprendem som ente o qu e querem ", a única
f unção do m estre é reconh ecer es sa vontade da criança.
(SNYDERS, 1978, p. 61-63, grif o do autor ).
116
São reunidos por George Snyders (1978) como fazendo parte do grupo de autores não-diretivos:
Kurt Lewin (1810-1947) – nascido na Alemanha – professor de Psicologia na Universidade de
Berlim; A.S. Neill fundador da escola de Summerhill em 1921, na região de Londres; Carl R. Rogers
nascido em 1902 em Chicago o qual, depois de ter começado a estudar para pastor, consagra-se à
Psicologia e ao ensino de Psicologia, desenvolvendo, ao mesmo tempo, atividade como terapeuta e
Michel Lobrot, professor na Universidade de Paris.
142
117
Sobre as especificidades do papel do educador em relação ao processo educativo e ao
desenvolvimento infantil do nascimento ao terceiro ano de vida, ver LIMA, E. A. Re-conceitualizando
o papel do educador: o ponto de vista da Escola de Vigotski. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP, Marília, 2001; sobre as regularidades do desenvolvimento
da personalidade infantil entre 0 e 10 anos, consultar BISSOLI, M.F. Educação e desenvolvimento da
personalidade da criança: contribuições da Teoria Histórico-Cultural. Tese (Doutorado em Educação)
– Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP, 2005 e sobre as especificidades entre ensino e
desenvolvimento infantil na faixa etária de 0 a 6 anos ver PASQUALINI, J.C. Contribuições da
Psicologia Histórico-Cultural para a educação escolar de crianças de 0 a 6 anos: desenvolvimento
infantil e ensino em Vigotski, Leontiev e Elkonin. Dissertação (Mestrado em Educação Escolar),
UNESP, Araraquara, 2006.
145
118
Conforme Abrantes & Martins (2006), o pensamento teórico também considera o que é dado
sensorialmente, mas visa reproduzir o processo de transformação das coisas, representando por
meio de conceitos. Os conceitos são formas de atividade mental pelas quais os objetos são
reproduzidos em formas de idéias.
149
educação escolar atinge seu objetivo prim eiro de form ar sujeitos ativos,
que possam se orientar no m undo, decodificá-lo, f azer suas escolhas,
deixando-se dominar, unicamente, por necessidades humanizadoras.
É importante ressaltar que esse domínio do
com portamento não se refere apenas, e tão somente, às soluções de
problemas ou a tarefas cognitivas, mas, igualm ente, à vivência afetiva
que conforma esse processo. Recuperando a premissa histórico-
cultural da interfuncionalidade do sistema psíquico (VYGOTSKI e
LURIA, 1996), dado o avanço do conhecimento conceitual, as emoções
passam a assumir novas configurações, prom ovendo novas form as de
sentir e conceber o objeto.
Os jogos infantis se constituem num mecanismo a partir do
qual se pode observar esse processo de formação do domínio
emocional. Os jogos de papéis sociais ou as brincadeiras-de-f az-cont a
exigem da criança um domínio do com portamento que se baseia em
regras de condutas sociais, ou seja, o jogo faz com que a criança
assuma o comportam ento de um personagem que trará, implícito, uma
matriz afetiva. Em outras palavras, para desempenhar um papel social
é preciso incorporar um “jeito de ser” mãe, irmã, professora, enfermeir a
e tantos outros diferentes personagens.
Esses jogos cumprem a tarefa de ajudar na formação do
domínio emocional, porque oferecem a possibilidade de a criança (re)
produzir a vivência de m aneira integral como unidade de form ação
cognitiva e afetiva, que ela o faz, também, a partir de situações de vida
concretas e historicamente datadas. Isso significa que a criança partir á
de situações experienciadas ou conhecidas por ela, e que a ampliaçã o
dessas fontes também poderá ser objeto da escola.
Este avanço nos modos de pensar e sentir um mesmo
objeto que, no caso dos jogos infantis, refere-se aos significados
sociais atribuídos aos diferentes personagens, im plica para a criança
ser fiel e exercitar todas as restrições não somente cognitivas, mas
também af etivas, ou ainda “[...] seguir um roteiro que a cultura marca
[...]”. “A criança aprende a sentir o papel.” (CORRAL, 2006, p.139,
tradução e grifo nosso).
150
119
No original: “Esta posibilidad de formar los deseos infantiles, de dirigirlos, hace del juego un
poderoso medio educativo cuando se introducen en él temas que poseen gran importancia para la
educación.”
151
ser objeto de atenção docente, dado que nos põe, novamente, frente à
questão da intencionalidade do trabalho do professor, e de como este
pode ser requerido no plano da organização das práticas pedagógicas
no interior da escola.
Outro aspecto que coloca os processos afetivos no centro
das discussões quanto aos procedimentos de ensino e de
aprendizagem escolar, diz respeito às categorias de imaginação e
criatividade.
Vigotski (1987a) discute a imaginação como uma função
psíquica que tem suas bases desenvolvidas a partir das experiências
reais da criança. Para o senso comum, diz Vigotski (1987a, p.10,
tradução nossa) “[...] a criação é privativa de uns quantos seres
seletos, gênios, talentos, autores de grandes obras de arte [...]”.
Contrariando essa idéia, o autor dispõe sobre a
precocidade com que essa função aparece no desenvolvimento da
criança, estando presente já por ocasião dos jogos infantis. Ele pontua
que a imaginação é m ais “pobre” na criança do que no adulto, em
função dos limites da sua experiência, uma vez que a atividade
criadora da imaginação se encontra num a relação direta com o volume
e a qualidade das experiências acumuladas.
Assim, quanto mais elementos extraídos da realidade a
criança dispuser, maior será a possibilidade de novas com binações e,
portanto, maior será sua capacidade criadora.
Conforme temos apontado, os processos afetivos sã o
constituidores de toda a atividade da criança nas relações que estas
mantêm com as objetivações humanas, o que nos leva a afirm ar que,
também, no caso da imaginação criativa, afeto e cognição ocupam o
lugar de fundam entos do pensamento criativo.
Os elem entos que entram na composição da criatividade
são, inicialmente, tomados e/ou experienciados pela criança no
confronto com a realidade, a partir da qual, em seu pensamento,
sofrem um a reestruturação, convertendo-se em produto de sua
imaginação que, posteriormente voltarão à realidade, materializando-se
em novas objetivações, que retratam sua atividade criadora.
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No original: “Gracias a ellos se orienta la conducta social de la personalidad; los estímulos y signos
así formados se convierten en el medio fundamental que permite al individuo dominar sus propios
procesos de comportamiento.”
154
num dado mom ento da sua vida, o estudo ratifica que esses afetos,
desejos podem ser am pliados, ressignificados e, portanto,
transformados a partir do conhecimento.
Daí a complexidade da tarefa que se coloca para os
educadores: reconhecer o papel do conhecimento escolar com o
instrumento de superação e modificação de pensamentos e sentimentos
entendendo que, no processo de ensino e de aprendizagem escolar,
tanto quanto em outras dimensões da vida, as em oções não podem ser
tratadas como obstáculos a serem transpostos, visando a ampliação do
cognitivo, mas devem ser entendidas como uma função que inicia,
percorre e finaliza cada momento da atividade do sujeito, se fazendo
presente em todas as etapas do desenvolvimento hum ano. Foi essa a
idéia que Vigotski quis afirmar quando disse que, “[...] as emoções são
pontos de desequilíbrio em nossa conduta quando nos sentimos
pressionados pelo meio ou quando triunfamos sobre este. ” (VYGOTSKI
apud CORRAL, 2006, tradução nossa, grifo do autor).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS