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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região

Recurso Ordinário Trabalhista


0001313-06.2023.5.09.0651
Relator: CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA MENDONCA

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 24/07/2024


Valor da causa: R$ 517.743,98

Partes:
RECORRENTE: DANIELE PRISCILA DA SILVA FARDIN DE ASSUNCAO
ADVOGADO: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI
ADVOGADO: JULIANA LUCIANI DA SILVA ZELLA
ADVOGADO: CAMILA KAPP
ADVOGADO: DANIELE CLAUDIA PANDINI
RECORRENTE: CESCAGE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS
ADVOGADO: EDYVANA TATAGIBA MEDINA
ADVOGADO: LEANDRO TADEU PRATES DE FREITAS
RECORRENTE: SISTEMA EDUCACIONAL CAMPOS GERAIS LTDA
ADVOGADO: EDYVANA TATAGIBA MEDINA
RECORRENTE: ASSOCIACAO UNIVERSITARIA SANTA URSULA
ADVOGADO: EDYVANA TATAGIBA MEDINA
RECORRENTE: UNICA EDUCACIONAL LTDA
ADVOGADO: MARCUS VINICIUS MAGALHAES MACHADO
RECORRENTE: FUNORTE EDUCACIONAL
ADVOGADO: MARCUS VINICIUS MAGALHAES MACHADO
RECORRIDO: DANIELE PRISCILA DA SILVA FARDIN DE ASSUNCAO
ADVOGADO: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI
ADVOGADO: JULIANA LUCIANI DA SILVA ZELLA
ADVOGADO: CAMILA KAPP
ADVOGADO: DANIELE CLAUDIA PANDINI
RECORRIDO: CESCAGE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS
ADVOGADO: EDYVANA TATAGIBA MEDINA
ADVOGADO: LEANDRO TADEU PRATES DE FREITAS
RECORRIDO: SISTEMA EDUCACIONAL CAMPOS GERAIS LTDA
ADVOGADO: EDYVANA TATAGIBA MEDINA
RECORRIDO: ASSOCIACAO UNIVERSITARIA SANTA URSULA
ADVOGADO: EDYVANA TATAGIBA MEDINA
RECORRIDO: UNICA EDUCACIONAL LTDA
ADVOGADO: MARCUS VINICIUS MAGALHAES MACHADO
RECORRIDO: FUNORTE EDUCACIONAL
ADVOGADO: MARCUS VINICIUS MAGALHAES MACHADO
PAGINA_CAPA_PROCESSO_PJE
Fls.: 3

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA 04ª VARA DO


TRABALHO DE PONTA GROSSA-PARANÁ

ATOrd 0001313-06.2023.5.09.0651

DANIELE PRISCILA DA SILVA FARDIN DE


ASSUNÇÃO, já qualificada nos autos em epígrafe, em que litiga em face de
CESCAGE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS
LTDA. E OUTROS, vem à presença de Vossa Excelência, através de seus
procuradores adiante assinados, interpor RECURSO ORDINÁRIO, em face da
r. sentença de fls. 910/925, complementada pela decisão de fls. 963/966.

DAS INTIMAÇÕES E NOTIFICAÇÕES

Requer-se sejam todas as notificações e intimações endereçadas


exclusivamente ao advogado VALDYR PERRINI (OAB/PR 14.015), sob pena
de nulidade processual, nos termos da Súmula 427 do TST, sem prejuízo da
prática de quaisquer atos processuais pelos demais procuradores, em conjunto
ou separadamente.

Requer, pois, o regular processamento do apelo e


juntada aos autos das razões que seguem em anexo.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Curitiba, 08 de julho de 2024.

Ana Paula Balliana Rossatto Valdyr Perrini


OAB/PR 39.368 OAB/PR 14.015

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 4

EXCELENTÍSSIMOS DESEMBARGADORES DO EGRÉGIO TRIBUNAL


REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO

ATOrd 0001313-06.2023.5.09.0651

Recorrente: DANIELE PRISCILA DA SILVA FARDIN DE ASSUNÇÃO

Recorridos: CESCAGE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS


GERAIS LTDA. E OUTROS

Origem: 04ª Vara do Trabalho de Ponta Grossa - PR

RAZÕES DE RECURSO ORDINÁRIO

Eméritos Julgadores

Insurge-se o recorrente em face da r. decisão do Juízo


a quo de fls. 910/925, complementada pela decisão de fls. 963/966, pelas razões a
seguir expostas:

I – PRELIMINARMENTE

1- NULIDADE POR NEGATIVA DE


PRESTAÇÃO JURISDICIONAL

A – ERRO MATERIAL – DIFERENÇAS


SALARIAIS – ADICIONAL DE 50% - HORA AULA 50 MINUTOS

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 5

Na inicial, a parte autora postulou o pagamento de


DIFERENÇAS SALARIAIS em razão do adicional de 50% pelo desrespeito à
duração da hora aula de 50 minutos, nos termos da norma coletiva (cláusula 40
– fl. 33):

A r. sentença deferiu o pleito obreiro, conforme fl.


917. Nada obstante, considerou que se trataria de pedido de HORAS EXTRAS:

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 6

Em Embargos, a autora requereu fosse corrigido o


erro material constante do corpo da decisão e parte dispositiva, para que onde
constasse HORAS EXTRAS, passasse a constar DIFERENÇAS SALARIAIS.

Os Embargos foram assim decididos (fls. 964/965):

“3.2. OMISSÃO. CONTRADIÇÃO.


OBSCURIDADE. JORNADA DE TRABALHO. MULTAS
CONVENCIONAIS. HONORÁRIOS DO ADVOGADO.

Das razões de embargo, extrai-se que o embargante


sustenta a omissão, contradição e/ou obscuridade em razão do decidido
no tocante à jornada de trabalho, dentre outros.

Trata-se de mera rediscussão da matéria,


visando reanálise de fatos e provas, por ter sido o entendimento
exarado contrário aos interesses da parte - o que por si só, não
caracteriza o vício apontado no julgado (arts. 1022 do CPC e
897-A da CLT).

Diante disso, percebe-se que o presente recurso


não merece prosperar, na medida em que as questões ora
levantadas foram decididas e devidamente fundamentadas no
item 2.7 e 2.10 da sentença vergastada (ID d5501e9), pelo que não
há de se falar em omissão, contradição e/ou obscuridade - já que
“o Poder Judiciário não está obrigado a emitir expresso juízo de
valor a respeito de todas as teses e artigos de lei invocados pelas
partes, bastando fazer uso de argumentação adequada para
fundamentar a decisão, ainda que não espelhe qualquer das
teses invocadas” (AgRg no AREsp nº 296677 / SP. STJ - T2. Rel.
Mauro Campbell Marques. DJe 11.09.2013 - grifo nosso).

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 7

O mero inconformismo quanto às razões de decidir


da sentença, não torna os embargos de declaração recurso hábil para
alteração do que foi decidido. A finalidade deles não é a revisão do
julgado. Neste sentido:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PRETENSÃO


DE REAPRECIAÇÃO DA PROVA. REDISCUSSÃO DE TESE
EXPLÍCITA ADOTADA NO ACÓRDÃO. MANIFESTO
INTENTO PROTELATÓRIO. EMBARGOS DO AUTOR. MULTA
DEVIDA. Os embargos de declaração restringem-se às hipóteses em
que necessário o aperfeiçoamento jurisdicional em face de efetiva
omissão, obscuridade ou contradição (artigo 897-A da CLT e art. 535
do CPC). (...) Ademais, não há de se perder de foco os princípios da
celeridade e economia processual, igualmente importantes à busca da
eficácia da prestação jurisdicional, evitando-se a movimentação
desnecessária da máquina judiciária, além do interesse de ambas as
partes em ver definida a demanda judicial. Verificado, de maneira
cristalina, o intuito protelatório da medida, devida sua rejeição e ainda,
há que se aplicar a multa de que trata o parágrafo único do artigo 538,
do CPC. (TRT-PR-01506-2012-965-09-00-8-ACO-22196-2015 - 6A.
TURMA; Relator: SUELI GIL EL RAFIHI; Publicado no DEJT em
14-07-2015)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA


DE VÍCIOS DE JULGAMENTO NA DECISÃO. PRETENSÃO DE
ALTERAÇÃO DO MÉRITO. NÃO CABIMENTO. Os embargos de
declaração, mesmo depois da vigência do novo CPC (Lei 13.105/2015),
não se destinam a solucionar possíveis problemas quanto à justiça da
decisão ("error in judicando"), conforme, aliás, já preconizava a tese
fixada recentemente pelo Supremo Tribunal Federal, no sentido de que
"embargos de declaração não se prestam a corrigir possíveis erros de
julgamento" (RE 194662 EDED-EDv, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO,
Tribunal Pleno, julgado em 14/05/2015, DJe-151 DIVULG 31-07-
2015 PUBLIC 03-08-2015 EMENT VOL-03992-02 PP00196). Ou
seja, não se constituem medida para buscar a reconsideração da decisão
e, tampouco, prestam-se à rediscussão da conclusão jurídica adotada
pelo julgador ou à reapreciação do conjunto probatório. Tribunal
Regional do Trabalho da 9a Região (6ª Turma). Acórdão: 0000892-
45.2016.5.09.0656. Relator: SUELI GIL EL RAFIHI. Data de
julgamento: 29/11/2017. Publicado no DEJT em 05/12/2017.

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 8

Por todo o exposto, rejeita-se.”

Ora! O erro material é evidente!!

E sua correção implica na alteração de como com que


foram deferidos os reflexos, pois nos casos de horas extras, os mesmos levam em
conta a Súmula 394 da SDI-1 do C. TST, o que não se aplica às diferenças salariais.

Explica-se:

Na inicial, pugnou a parte autora pelos seguintes


reflexos decorrentes de DIFERENÇAS SALARIAIS (fl. 33):

“Requer reflexos de tal verba em repousos semanais


remunerados, e com estes em hora-atividade, a soma de todos em
titulação mestre e em quinquênios.

Pugna ainda que as diferenças ora postuladas


acrescidas dos reflexos requeridos no parágrafo anterior reflitam em
aviso prévio indenizado, férias acrescidas do terço constitucional,
décimos terceiros salários e todas somadas em FGTS (11,2%)”

Em sentença, os reflexos foram assim deferidos (fl.


917):

“... (d) por habituais, cabem repercussões em


descanso semanal remunerado (Súmula nº 172 do TST), aviso prévio
indenizado, férias mais um terço, décimo terceiro salário e FGTS
(11,2%), hora atividade, observados os termos da OJ nº 394 da SDI1;”

Eis o que estabelece a OJ 394 em questão:

Antiga redação

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Fls.: 9

REPOUSO SEMANAL REMUNERADO - RSR.


INTEGRAÇÃO DAS HORAS EXTRAS. NÃO
REPERCUSSÃONO CÁLCULO DAS FÉRIAS, DO DÉCIMO
TERCEIRO SALÁRIO, DO AVISO PRÉVIO E
DOSDEPÓSITOS DO FGTS. (DEJT divulgado em 09, 10 e
11.06.2010)
A majoração do valor do repouso semanal remunerado, em
razão da integração das horas extras habitualmente prestadas,
não repercute no cálculo das férias, da gratificação natalina, do
aviso prévio e do FGTS, sob pena de caracterização de “bis in
idem”.
Nova redação

REPOUSO SEMANAL REMUNERADO. INTEGRAÇÃO DAS


HORAS EXTRAS. REPERCUSSÃO NO CÁLCULO DAS
FÉRIAS, DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO, AVISO PRÉVIO E
DEPÓSITOS DO FGTS.

I. A majoração do valor do repouso semanal remunerado


decorrente da integração das horas extras habituais deve
repercutir no cálculo, efetuado pelo empregador, das demais
parcelas que têm como base de cálculo o salário, não se
cogitando de bis in idem por sua incidência no cálculo das
férias, da gratificação natalina, do aviso prévio e do FGTS.

II. O item I será aplicado às horas extras trabalhadas a partir de


20/03/2023.

Logo, imprescindível fosse corrigido o erro material


apontado, de modo a afastar a aplicação da OJ 394 da SDI-1 do C. TST quando
deferidos os reflexos relativos ao adicional de 50% em razão do limite de
duração da hora aula de 50 minutos.

Cristalizada a nulidade por negativa de prestação


jurisdicional.

B - OMISSÃO – DIFERENÇAS SALARIAIS –


ADICIONAL DE 50% - HORA AULA 50 MINUTOS

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Ao deferir o pagamento do adicional de 50% em face


do desrespeito à duração da hora aula de 50 minutos, assim foram deferidos os
reflexos (fl. 917):

“... (d) por habituais, cabem repercussões em


descanso semanal remunerado (Súmula nº 172 do TST), aviso prévio
indenizado, férias mais um terço, décimo terceiro salário e FGTS
(11,2%), hora atividade, observados os termos da OJ nº 394 da SDI1;”

A parte autora opôs Embargos de Declaração não


somente em face da aplicação da OJ 394 da SDI-1 do C. TST (conforme item
supra), mas também pedindo fosse sanada omissão quanto ao pedido de reflexos
em titulação e quinquênios, bem como quanto à ordem de incidência dos mesmos
levando em conta a norma coletiva.

Explica-se:

Na inicial, pugnou a parte autora pelos seguintes


reflexos em razão do adicional de 50% devido quando desrespeitada a duração
da hora aula de 50 minutos (fl. 33):

“Requer reflexos de tal verba em repousos semanais


remunerados, e com estes em hora-atividade, a soma de todos em
titulação mestre e em quinquênios.

Pugna ainda que as diferenças ora postuladas


acrescidas dos reflexos requeridos no parágrafo anterior reflitam em
aviso prévio indenizado, férias acrescidas do terço constitucional,
décimos terceiros salários e todas somadas em FGTS (11,2%)”

Em sentença, os reflexos foram assim deferidos (fl.


917):

“... (d) por habituais, cabem repercussões em


descanso semanal remunerado (Súmula nº 172 do TST), aviso prévio
indenizado, férias mais um terço, décimo terceiro salário e FGTS
(11,2%), hora atividade, observados os termos da OJ nº 394 da SDI1;”

Constatada OMISSÃO quanto ao pedido de reflexos


em “titulação” e “quinquênios”

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Também constatada OMISSÃO quanto ao pedido de


reflexos em DSR e, COM ESTES, em hora atividade, em face do anexo da CCT
da categoria que assim determina (fl. 126):

A parte autora, então, opôs Embargos de Declaração


(fls. 931/932).

Em que pese os Embargos opostos, o Juízo a quo


negou-se a complementar a tutela jurisdicional conforme requerida (fls.
964/965):

“3.2. OMISSÃO. CONTRADIÇÃO.


OBSCURIDADE. JORNADA DE TRABALHO. MULTAS
CONVENCIONAIS. HONORÁRIOS DO ADVOGADO.

Das razões de embargo, extrai-se que o embargante


sustenta a omissão, contradição e/ou obscuridade em razão do decidido
no tocante à jornada de trabalho, dentre outros.

Trata-se de mera rediscussão da matéria,


visando reanálise de fatos e provas, por ter sido o entendimento
exarado contrário aos interesses da parte - o que por si só, não
caracteriza o vício apontado no julgado (arts. 1022 do CPC e
897-A da CLT).

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
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Diante disso, percebe-se que o presente recurso


não merece prosperar, na medida em que as questões ora
levantadas foram decididas e devidamente fundamentadas no
item 2.7 e 2.10 da sentença vergastada (ID d5501e9), pelo que não
há de se falar em omissão, contradição e/ou obscuridade - já que
“o Poder Judiciário não está obrigado a emitir expresso juízo de
valor a respeito de todas as teses e artigos de lei invocados pelas
partes, bastando fazer uso de argumentação adequada para
fundamentar a decisão, ainda que não espelhe qualquer das
teses invocadas” (AgRg no AREsp nº 296677 / SP. STJ - T2. Rel.
Mauro Campbell Marques. DJe 11.09.2013 - grifo nosso).

O mero inconformismo quanto às razões de decidir


da sentença, não torna os embargos de declaração recurso hábil para
alteração do que foi decidido. A finalidade deles não é a revisão do
julgado. Neste sentido:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PRETENSÃO


DE REAPRECIAÇÃO DA PROVA. REDISCUSSÃO DE TESE
EXPLÍCITA ADOTADA NO ACÓRDÃO. MANIFESTO
INTENTO PROTELATÓRIO. EMBARGOS DO AUTOR. MULTA
DEVIDA. Os embargos de declaração restringem-se às hipóteses em
que necessário o aperfeiçoamento jurisdicional em face de efetiva
omissão, obscuridade ou contradição (artigo 897-A da CLT e art. 535
do CPC). (...) Ademais, não há de se perder de foco os princípios da
celeridade e economia processual, igualmente importantes à busca da
eficácia da prestação jurisdicional, evitando-se a movimentação
desnecessária da máquina judiciária, além do interesse de ambas as
partes em ver definida a demanda judicial. Verificado, de maneira
cristalina, o intuito protelatório da medida, devida sua rejeição e ainda,
há que se aplicar a multa de que trata o parágrafo único do artigo 538,
do CPC. (TRT-PR-01506-2012-965-09-00-8-ACO-22196-2015 - 6A.
TURMA; Relator: SUELI GIL EL RAFIHI; Publicado no DEJT em
14-07-2015)

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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA


DE VÍCIOS DE JULGAMENTO NA DECISÃO. PRETENSÃO DE
ALTERAÇÃO DO MÉRITO. NÃO CABIMENTO. Os embargos de
declaração, mesmo depois da vigência do novo CPC (Lei 13.105/2015),
não se destinam a solucionar possíveis problemas quanto à justiça da
decisão ("error in judicando"), conforme, aliás, já preconizava a tese
fixada recentemente pelo Supremo Tribunal Federal, no sentido de que
"embargos de declaração não se prestam a corrigir possíveis erros de
julgamento" (RE 194662 EDED-EDv, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO,
Tribunal Pleno, julgado em 14/05/2015, DJe-151 DIVULG 31-07-
2015 PUBLIC 03-08-2015 EMENT VOL-03992-02 PP00196). Ou
seja, não se constituem medida para buscar a reconsideração da decisão
e, tampouco, prestam-se à rediscussão da conclusão jurídica adotada
pelo julgador ou à reapreciação do conjunto probatório. Tribunal
Regional do Trabalho da 9a Região (6ª Turma). Acórdão: 0000892-
45.2016.5.09.0656. Relator: SUELI GIL EL RAFIHI. Data de
julgamento: 29/11/2017. Publicado no DEJT em 05/12/2017.

Por todo o exposto, rejeita-se.”

Cristalizada a negativa de prestação jurisdicional,


eis que, em que pese tenha sido feito o pedido de reflexos do adicional de 50%
em razão da duração da hora aula de 50 minutos em quinquênios e titulação,
deixou o nobre julgador monocrático de se manifestar quanto aos mesmos,
seja para acolhimento, seja para refutação do pedido.

Ademais, omisso quanto ao anexo da CCT da


categoria, no tocante à ordem devida dos reflexos, violando o artigo 7º, XXVI
da CF.

Deveria o Julgador de primeiro grau ter se


pronunciado sobre o pedido de reflexos em quinquênios e titulação, bem
como em relação à ordem dos reflexos conforme norma coletiva, vez que
instado a julgar, por primeiro em exordial e, em segundo, em Embargos,
mantendo-se silente.

C – OMISSÃO - DOS REFLEXOS EM DSR E HORA


ATIVIDADE PELAS ATIVIDADES DE SUPERVISÃO DE ESTÁGIO –
OMISSÃO

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Na exordial, pugnou a parte autora pelo o pagamento


de hora atividade e DSR sobre as horas aula pagas a título de Supervisão de
Estágio.

Em sentença, conforme fl. 917, o Juízo analisou tão


somente o pedido de reflexos em hora atividade:

“Hora atividade. Descanso semanal remunerado.

Pugna a parte autora pelo pagamento da hora


atividade à razão de 12% do salário do docente, conforme norma
convencional e do descanso semanal remunerado, sobre a “Supervisão
de Estágio”.

Sem qualquer razão.

A cláusula convencional que embasa o pedido não


admite interpretação extensiva, limitando-se somente as atividade de
correção de prova e trabalhos, preparação de aulas e pesquisa.

Indeferem-se, portanto.”

Foi omisso quanto ao pedido de incidência de DSR à


luz da Súmula 351 do C. TST, pelo que a parte autora opôs Embargos de
Declaração (fls. 933/934).

Os Embargos foram assim decididos (fls. 964/965):

“3.2. OMISSÃO. CONTRADIÇÃO.


OBSCURIDADE. JORNADA DE TRABALHO. MULTAS
CONVENCIONAIS. HONORÁRIOS DO ADVOGADO.

Das razões de embargo, extrai-se que o embargante


sustenta a omissão, contradição e/ou obscuridade em razão do decidido
no tocante à jornada de trabalho, dentre outros.

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 15

Trata-se de mera rediscussão da matéria,


visando reanálise de fatos e provas, por ter sido o entendimento
exarado contrário aos interesses da parte - o que por si só, não
caracteriza o vício apontado no julgado (arts. 1022 do CPC e
897-A da CLT).

Diante disso, percebe-se que o presente recurso


não merece prosperar, na medida em que as questões ora
levantadas foram decididas e devidamente fundamentadas no
item 2.7 e 2.10 da sentença vergastada (ID d5501e9), pelo que não
há de se falar em omissão, contradição e/ou obscuridade - já que
“o Poder Judiciário não está obrigado a emitir expresso juízo de
valor a respeito de todas as teses e artigos de lei invocados pelas
partes, bastando fazer uso de argumentação adequada para
fundamentar a decisão, ainda que não espelhe qualquer das
teses invocadas” (AgRg no AREsp nº 296677 / SP. STJ - T2. Rel.
Mauro Campbell Marques. DJe 11.09.2013 - grifo nosso).

O mero inconformismo quanto às razões de decidir


da sentença, não torna os embargos de declaração recurso hábil para
alteração do que foi decidido. A finalidade deles não é a revisão do
julgado. Neste sentido:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PRETENSÃO


DE REAPRECIAÇÃO DA PROVA. REDISCUSSÃO DE TESE
EXPLÍCITA ADOTADA NO ACÓRDÃO. MANIFESTO
INTENTO PROTELATÓRIO. EMBARGOS DO AUTOR. MULTA
DEVIDA. Os embargos de declaração restringem-se às hipóteses em
que necessário o aperfeiçoamento jurisdicional em face de efetiva
omissão, obscuridade ou contradição (artigo 897-A da CLT e art. 535
do CPC). (...) Ademais, não há de se perder de foco os princípios da
celeridade e economia processual, igualmente importantes à busca da
eficácia da prestação jurisdicional, evitando-se a movimentação
desnecessária da máquina judiciária, além do interesse de ambas as
partes em ver definida a demanda judicial. Verificado, de maneira
cristalina, o intuito protelatório da medida, devida sua rejeição e ainda,
há que se aplicar a multa de que trata o parágrafo único do artigo 538,
do CPC. (TRT-PR-01506-2012-965-09-00-8-ACO-22196-2015 - 6A.
TURMA; Relator: SUELI GIL EL RAFIHI; Publicado no DEJT em
14-07-2015)

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA


DE VÍCIOS DE JULGAMENTO NA DECISÃO. PRETENSÃO DE
ALTERAÇÃO DO MÉRITO. NÃO CABIMENTO. Os embargos de
declaração, mesmo depois da vigência do novo CPC (Lei 13.105/2015),
não se destinam a solucionar possíveis problemas quanto à justiça da
decisão ("error in judicando"), conforme, aliás, já preconizava a tese
fixada recentemente pelo Supremo Tribunal Federal, no sentido de que
"embargos de declaração não se prestam a corrigir possíveis erros de
julgamento" (RE 194662 EDED-EDv, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO,
Tribunal Pleno, julgado em 14/05/2015, DJe-151 DIVULG 31-07-
2015 PUBLIC 03-08-2015 EMENT VOL-03992-02 PP00196). Ou
seja, não se constituem medida para buscar a reconsideração da decisão
e, tampouco, prestam-se à rediscussão da conclusão jurídica adotada
pelo julgador ou à reapreciação do conjunto probatório. Tribunal
Regional do Trabalho da 9a Região (6ª Turma). Acórdão: 0000892-
45.2016.5.09.0656. Relator: SUELI GIL EL RAFIHI. Data de
julgamento: 29/11/2017. Publicado no DEJT em 05/12/2017.

Por todo o exposto, rejeita-se.”

Cristalizada a negativa de prestação jurisdicional, à


medida que não analisado o pedido de pagamento de DSR sobre as horas de
Supervisão de Estágio, conforme suscitado em Embargos.

D – OMISSÃO – HORAS EXTRAS DEFERIDAS –


PARÂMETROS DE CONDENAÇÃO

Na inicial, postulou a parte autora o pagamento de


horas extras sob o seguintes parâmetros e reflexos:

- Quanto aos intervalos de recreio (fl. 41):

“No cálculo das horas extras ora postuladas requer


sejam observados os valores quitados pela reclamada, o adicional de
50% e o multiplicador 4,5 semanas.

Requer reflexos de tal verba em repousos semanais


remunerados, e com estes em hora-atividade, a soma de todos em
titulação mestre e em quinquênios.

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Fls.: 17

Pugna ainda reflexos das horas extras postuladas


acrescidas dos reflexos postulados no parágrafo anterior em aviso prévio
indenizado, décimos terceiros salários, férias acrescidas do terço
constitucional e a soma de todas as anteriores em FGTS (11,2%).”

- Quanto às atividades extraclasse (fl. 60):

“No cálculo das horas extras postuladas pede que


sejam observados os valores quitados ao longo do pacto laboral,
acrescido das diferenças postuladas nos itens 5.1 a 5.3 supra, bem como
a duração da horaaula de 50 minutos, o adicional 50% e o multiplicador
4,5 semanas.

Requer reflexos das horas extras postuladas em


repousos semanais remunerados, e com estes em hora-atividade, a soma
de todos em “titulação mestre” (na forma observada pela empregadora)
e quinquênios.

Pugna ainda que as diferenças ora postuladas


acrescidas dos reflexos requeridos no parágrafo anterior reflitam em
aviso prévio indenizado, férias acrescidas do terço constitucional,
décimos terceiros salários e todas somadas em FGTS.”

Em sentença, assim decidiu o Juízo (fl. 916):

“Dito isto, reputam-se devidas 25 horas de tempo à


disposição por semestre, 8 horas de tempo à disposição por semana; 10
horas de tempo à disposição por ano; acumuladamente, sem prejuízo do
acréscimo dos 20 minutos de intervalos, apuradas pelos seguintes
parâmetros: (a) o tempo à disposição era o apontado supra; (b)
especialmente quanto aos minutos de intervalo, deverá serem
observados os dias em que a reclamante lecionou aulas, conforme cartões
de ponto; (c) a base de cálculo deve observar a evolução salarial; (d) o
divisor é 220; (e) o adicional é de 50% para dias úteis e 100% para DSRs
e feriados laborados e não compensados; (f) deverão ser observados os
entendimentos consolidados na Súmula nº 63 do Tribunal Superior do
Trabalho e na OJ nº 97 da SDI1, conforme o caso; (g) por habituais,

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Fls.: 18

cabem repercussões em descanso semanal remunerado (Súmula nº 172


do TST), aviso prévio indenizado, férias mais um terço, décimo terceiro
salário e FGTS (11,2%), hora atividade, observados os termos da OJ nº
394 da SDI1; e (h) juros, correção monetária e descontos legais nas
formas dos itens próprios.”

Da decisão a parte autora opôs Embargos de


Declaração (fls. 934/936), à medida que constatada omissão do Juízo monocrático
quanto:

- duração da hora aula de 50 minutos;

- reflexos em titulação mestre e quinquênios.

O Juízo a quo fez ouvidos de mercador às insurgências


da autora.

Os Embargos foram assim decididos (fls. 964/965):

“3.2. OMISSÃO. CONTRADIÇÃO.


OBSCURIDADE. JORNADA DE TRABALHO. MULTAS
CONVENCIONAIS. HONORÁRIOS DO ADVOGADO.

Das razões de embargo, extrai-se que o embargante


sustenta a omissão, contradição e/ou obscuridade em razão do decidido
no tocante à jornada de trabalho, dentre outros.

Trata-se de mera rediscussão da matéria,


visando reanálise de fatos e provas, por ter sido o entendimento
exarado contrário aos interesses da parte - o que por si só, não
caracteriza o vício apontado no julgado (arts. 1022 do CPC e
897-A da CLT).

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Fls.: 19

Diante disso, percebe-se que o presente recurso


não merece prosperar, na medida em que as questões ora
levantadas foram decididas e devidamente fundamentadas no
item 2.7 e 2.10 da sentença vergastada (ID d5501e9), pelo que não
há de se falar em omissão, contradição e/ou obscuridade - já que
“o Poder Judiciário não está obrigado a emitir expresso juízo de
valor a respeito de todas as teses e artigos de lei invocados pelas
partes, bastando fazer uso de argumentação adequada para
fundamentar a decisão, ainda que não espelhe qualquer das
teses invocadas” (AgRg no AREsp nº 296677 / SP. STJ - T2. Rel.
Mauro Campbell Marques. DJe 11.09.2013 - grifo nosso).

O mero inconformismo quanto às razões de decidir


da sentença, não torna os embargos de declaração recurso hábil para
alteração do que foi decidido. A finalidade deles não é a revisão do
julgado. Neste sentido:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PRETENSÃO


DE REAPRECIAÇÃO DA PROVA. REDISCUSSÃO DE TESE
EXPLÍCITA ADOTADA NO ACÓRDÃO. MANIFESTO
INTENTO PROTELATÓRIO. EMBARGOS DO AUTOR. MULTA
DEVIDA. Os embargos de declaração restringem-se às hipóteses em
que necessário o aperfeiçoamento jurisdicional em face de efetiva
omissão, obscuridade ou contradição (artigo 897-A da CLT e art. 535
do CPC). (...) Ademais, não há de se perder de foco os princípios da
celeridade e economia processual, igualmente importantes à busca da
eficácia da prestação jurisdicional, evitando-se a movimentação
desnecessária da máquina judiciária, além do interesse de ambas as
partes em ver definida a demanda judicial. Verificado, de maneira
cristalina, o intuito protelatório da medida, devida sua rejeição e ainda,
há que se aplicar a multa de que trata o parágrafo único do artigo 538,
do CPC. (TRT-PR-01506-2012-965-09-00-8-ACO-22196-2015 - 6A.
TURMA; Relator: SUELI GIL EL RAFIHI; Publicado no DEJT em
14-07-2015)

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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA


DE VÍCIOS DE JULGAMENTO NA DECISÃO. PRETENSÃO DE
ALTERAÇÃO DO MÉRITO. NÃO CABIMENTO. Os embargos de
declaração, mesmo depois da vigência do novo CPC (Lei 13.105/2015),
não se destinam a solucionar possíveis problemas quanto à justiça da
decisão ("error in judicando"), conforme, aliás, já preconizava a tese
fixada recentemente pelo Supremo Tribunal Federal, no sentido de que
"embargos de declaração não se prestam a corrigir possíveis erros de
julgamento" (RE 194662 EDED-EDv, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO,
Tribunal Pleno, julgado em 14/05/2015, DJe-151 DIVULG 31-07-
2015 PUBLIC 03-08-2015 EMENT VOL-03992-02 PP00196). Ou
seja, não se constituem medida para buscar a reconsideração da decisão
e, tampouco, prestam-se à rediscussão da conclusão jurídica adotada
pelo julgador ou à reapreciação do conjunto probatório. Tribunal
Regional do Trabalho da 9a Região (6ª Turma). Acórdão: 0000892-
45.2016.5.09.0656. Relator: SUELI GIL EL RAFIHI. Data de
julgamento: 29/11/2017. Publicado no DEJT em 05/12/2017.

Por todo o exposto, rejeita-se.”

Cristalizada a nulidade por negativa de prestação


jurisdicional, na medida em que o Juízo monocrático não se manifestou sobre
o pedido da inicial de duração da hora aula de 50 minutos e de reflexos em
titulação mestre e quinquênios quanto aos parâmetros das horas extras
deferidas

E - CONCLUSÃO

No momento processual oportuno, requereu a autora


a manifestação expressa do d. Juízo a respeito de omissões e erros materiais
constantes da r. decisão, que se não produzissem efeito modificativo, ao menos
viabilizassem à parte autora a interposição da medida recursal de forma
adequada, já que estariam presentes as razões de decidir para que fossem
devidamente impugnadas.

A negativa na prestação jurisdicional por certo


dificulta em muito a interposição do recurso cabível, até por não ter a parte
recorrente condição de atacar os fundamentos do r. julgado, inexistentes no caso
em tela.

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Fls.: 21

Assim, a falta de entrega total da prestação


jurisdicional representa afronta ao artigo 489 do CPC, 93, inciso IX da Carta
Magna, bem como ao artigo 832 da CLT. Eiva de nulidade a r. sentença, não
restando ao recorrente alternativa senão buscar a decretação da nulidade do
julgado, a fim de não ver rejeitadas suas pretensões recursais por alegação de
supressão de instância.

Requer, portanto, seja reconhecida nulidade por


negativa de prestação jurisdicional, determinando-se a remessa dos autos à
origem para que se proceda à devida complementação, nos termos supra
sustentados (A + B + C + D).

Isto se os julgadores de instância segunda não


entenderem que em face do princípio da celeridade processual e do
estabelecido pelos artigos 282, § 2º e 1013 do CPC, seja possível desde logo
enfrentar os aspectos omissos quando da análise do mérito da pretensão.

2- NULIDADE DA SENTENÇA EXTRA


PETITA – MULTA CONVENCIONAL POR MORA SALARIAL

Na inicial, postulou a parte autora o pagamento de


multa convencional por mora salarial.

O pedido restou assim formulado (fl. 61):

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Fls.: 22

Em sentença, a ilustre magistrada houve por bem


confundir o pedido formulado acima transcrito com as multas convencionais.
Deste modo, deferiu (fls. 918/919):

“2.10. MULTAS CONVENCIONAIS.

Por ter sido reconhecida, na presente decisão, a


violação da cláusula convencional relativa ao pagamento de salário no
prazo, merecem ser as reclamadas condenadas ao pagamento da
multa convencional pelo instrumento violado, conforme
estabelecido na respectiva cláusula penal, observados seus precisos
termos, limitadas ao valor da obrigação principal corrigida por ocasião
da liquidação, conforme entendimentos abaixo transcritos, com os quais
se comunga:

OJ nº 54 da SDI1 - MULTA. CLÁUSULA PENAL.


VALOR SUPERIOR AO PRINCIPAL. O valor da
multa estipulada em cláusula penal, ainda que diária,

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Fls.: 23

não poderá ser superior à obrigação principal


corrigida, em virtude da aplicação do artigo 412 do
Código Civil de 2002 (art. 920 do Código Civil de
1916)

MULTAS CONVENCIONAIS. LIMITAÇÃO. A


princípio, o valor da cominação estipulado na
cláusula penal dos instrumentos negociais coletivos
deve ser respeitado, porquanto decorre da autonomia
da vontade das partes convenentes (CF, art. 7.º,
XXVI). Não obstante, estabelece o Código Civil (CC),
no seu artigo 412, que o montante da penalidade não
pode exceder o da obrigação principal, limitação de
ordem legal à liberdade das partes que deve ser
observada. Nesse sentido, esta Turma firmou
entendimento, sufragado no item II da Orientação
"interna corporis" n.º 53, de que é devida somente
uma multa convencional por instrumento normativo
descumprido, exceto se houver previsão normativa
diversa e, neste caso, atentando-se ao limite do valor
principal. Recurso ordinário do reclamante conhecido
e parcialmente provido. (RO nº 00564-2008-089- 09-
00-4. TRT9 - T3. Rel. Altino Pedrozo dos Santos.
DEJT 26.08.2011 - grifo nosso)

Afasta-se expressamente a reincidência mensal por


acarretar enriquecimento sem causa.

Não há que se falar em descontos previdenciário e/ou


fiscal, pois a parcela deferida possui natureza indenizatória.

Defere-se nestes termos.”

Ocorre que o pedido de pagamento de multas


convencionais sequer foi realizado pela autora. O que pleiteou a reclamante foi o
pagamento da multa por mora salarial. Ou seja, o pedido em nada se relaciona
com a multa convencional insculpida na cláusula 63 (exemplificativamente fl.
146):

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Fls.: 24

A decisão de primeiro grau mostra-se extra petita, eis


que a providência jurisdicional deferida foi diversa da que foi postulada, deferida
com base em fundamento não invocado.

No caso, o pleito deferido é totalmente estranho não


só ao pedido, mas também aos seus fundamentos.

Ora, a sentença extra petita, decorrente de evidente


error in procedendo, resta cominada de nulidade absoluta, devendo ser devolvida
ao juízo a quo para o devido julgamento da controvérsia.

Diante do exposto, requer seja reconhecida a


nulidade da sentença quanto ao tópico nela intitulado “multas convencionais”,
determinando-se a remessa dos autos à origem para que o julgador
monocrático proceda ao julgamento dos pedidos de pagamento de multa
convencional por mora salarial e de indenização pela ruptura do contrato de
coordenação.

Isto se os julgadores de instância segunda não


entenderem que em face do princípio da celeridade processual e do
estabelecido pelos artigos 282, § 2º e 1013 do CPC, seja possível desde logo
enfrentar os aspectos omissos quando da análise do mérito da pretensão.

II - MÉRITO

1 – DO VALOR DA CAUSA

A autora ingressou com a presente demanda em


18.12.2023, indicando como valor de alçada R$ 60.000,00 e valor total estimado
dos pedidos de R$ 517.743,98 (fl. 107).

O Juízo de primeiro grau houve por bem alterar de


ofício o valor da causa, de modo que o mesmo viesse a corresponder à somatória
dos pedidos estimados da exordial (fl. 310).

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Fls.: 25

A parte autora arguiu a nulidade da relação


processual em face do procedimento adotado (fls. 312/316), as quais foram
renovadas em razões finais orais pela reclamante em audiência (fl. 909).

Haja vista o não pronunciamento do Juízo de


primeiro grau em sentença quanto à nulidade arguida, a parte autora opôs
Embargos de Declaração, pugnando fosse sanada a omissão no particular.

Os Embargos foram assim decididos (fls. 963/964):

“Não há que se falar em omissão quanto a


alteração do valor da causa, porque tal análise é feita em grau
recursal quando da eventual interposição de recurso ordinário
pela parte, e não pelo Juízo a quo, inclusive em razão do
princípio do efeito devolutivo em profundidade do recurso
ordinário, aplicável ao processo do trabalho. Neste sentido:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. QUESTÕES


NÃO APRECIADAS. EFEITO DEVOLUTIVO EM
PROFUNDIDADE. Em se tratando de recurso de natureza ordinária,
compete ao Tribunal "ad quem" conhecer na integralidade os
argumentos lançados na defesa e repisados no recurso interposto pela
parte, ainda que sobre eles não tenha se manifestado o órgão de origem.
O amplo efeito devolutivo do recurso ordinário torna despiciendo o
prequestionamento em primeiro grau e a possibilidade de exame de
questão (que não se confunde com pedido, vale salientar) não apreciada
pela sentença, nos moldes do art. 515, §§ 1º e 2º, afasta o prejuízo
determinante de possível nulidade. Preliminar de negativa de prestação
jurisdicional não acolhida. (RO nº 30903-2009-028-09-00-8. TRT9 -
T7. Rel. Janete do Amarante. DEJT 10.02.2012)

Pelo exposto, indefere-se.”

Haja vista o não restabelecimento pelo Juízo a quo em


sentença do valor apontado pela obreira na exordial, pede a obreira seja
reformada a decisão, nos seguintes termos.

Em primeiro lugar pondere-se que o valor atribuído


à causa para fins de alçada em nada se correlaciona com o valor estimado dos

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Fls.: 26

pedidos da exordial. Enquanto aquele é o montante mínimo fixado por ato do


Poder Judiciário para a distribuição das ações, este é variável à medida que
considera as aspirações da parte autora de recebimento que podem jamais se
concretizar se não formado o convencimento do juízo através do conteúdo fático-
probatório produzido nos autos.

No mesmo sentido, não raras vezes as ações


interpostas trazem em seu conteúdo pedidos indeterminados, aos quais não se
pode atribuir valor antecipadamente, ou até mesmo pedidos que não se podem
quantificar, como os decorrentes de obrigações de fazer, por exemplo.

Tem-se, portanto, que justificável a utilização de


valores diversos para a alçada da presente reclamatória e para a quantificação
estimativa dos pedidos.

Ademais, é desprovida de amparo legal a majoração


de ofício do valor da causa considerando o cálculo que acompanhou a peça de
ingresso, pois o artigo 2º, da Lei 5.584/1970 autoriza que o Juiz atribua valor à
causa apenas nos casos em que este é indeterminado na petição inicial,
hipótese que não ocorre no caso vertente.

Eis o teor do artigo 2º da Lei 5584/70:

“Art. 2º. Nos dissídios individuais, proposta a


conciliação, e não havendo acordo, o Presidente, da Junta ou o
Juiz, antes de passar à instrução da causa, fixar-lhe-á o valor
para a determinação da alçada, se este for indeterminado no
pedido.

§ 1º. Em audiência, ao aduzir razões finais,


poderá qualquer das partes, impugnar o valor fixado e, se o Juiz
o mantiver, pedir revisão da decisão, no prazo de 48 (quarenta
e oito) horas, ao Presidente do Tribunal Regional.

§ 2º O pedido de revisão, que não terá efeito


suspensivo deverá ser instruído com a petição inicial e a Ata da
Audiência, em cópia autenticada pela Secretaria da Junta, e
será julgado em 48 (quarenta e oito) horas, a partir do seu
recebimento pelo Presidente do Tribunal Regional.

§ 3º Quando o valor fixado para a causa, na


forma deste artigo, não exceder de 2 (duas) vezes o salário-
mínimo vigente na sede do Juízo, será dispensável o resumo

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Fls.: 27

dos depoimentos, devendo constar da Ata a conclusão da Junta


quanto à matéria de fato.

Eis a lição de Manoel Antônio Teixeira Filho sobre a


aplicação subsidiária do CPC em matérias em que existem normas processuais
trabalhistas vigentes:

“Em primeiro lugar o artigo 15 não tem eficácia


derrogante do artigo 769, da CLT, sabendo-se que essa, na parte
processual, constitui norma específica para solucionar os
conflitos de interesses que são da competência constitucional da
Justiça do Trabalho. Destarte, não basta que o processo do
trabalho seja omisso em relação a determinado tema; a adoção
da norma do processo civil somente será lícita se não for
compatível com o processo do trabalho (CLT, artigo 769) – não
apenas do ponto de vista da literalidade das disposições deste,
mas de seus princípios essenciais... O substantivo subsidiária
tem no texto do artigo 769, o sentido daquele que presta auxílio,
que fortifica. Entende-se que, em determinadas situações
particulares, o intérprete do artigo 769 não se deve satisfazer
com o fato de estarem presentes os mencionados requisitos da
omissão e da compatibilidade, para incursionar nos domínios
do CPC, à cata de norma subsidiária; ela deve verificar, também,
se o processo do trabalho necessita para a sua efetividade a
norma exógena. Desse modo, em casos especiais, serão três os
requisitos para adoção supletório de normativos do processo
civil, nesta ordem: omissão, compatibilidade e necessidade.” (in
“Comentários ao Novo Código de Processo Civil sob a
Perspectiva do Processo do Trabalho”, Editora Ltr, 1ª Edição,
pgs. 46/47, Teixeira Filho, Manoel Antônio)

O artigo 769 da CLT e o artigo 324 do CPC, assim


dispõem:

“Art. 769 - Nos casos omissos, o direito


processual comum será fonte subsidiária do direito processual
do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as
normas deste Título.

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Fls.: 28

Art. 324. O pedido deve ser determinado.”

Ora, a legislação trabalhista não é omissa acerca da


matéria nem tampouco o valor para determinação da alçada é indeterminado no
pedido.

Sendo assim, fora destas raras situações, como a lei


processual do trabalho não é omissa no particular, o valor não é indeterminado
no pedido, não há que se admitir a alteração no valor da causa por parte do
Julgador.

Importante também que se frise à luz da Súmula 71


do C. TST que não houve impugnação do valor dado à causa pela autora pela
parte contrária, pelo que o valor atribuído é inalterável no curso do processo:

71 – ALÇADA. A alçada é fixada pelo valor


dado à causa na data de seu ajuizamento, desde que não
impugnado, sendo inalterável no curso do processo.

Cumpre observar que a normativa não foi objeto


nem de revogação nem de alteração em face do advento do Novo CPC.

Ao regulamentar de forma satisfatória a fixação e a


possibilidade de alteração do valor da causa sem abrir brecha para sua alteração,
a Lei 5584/70 exaure a matéria, não sendo defensável a aplicação subsidiária do
CPC neste particular para todos aqueles que entendem que o artigo 769 da CLT
não foi revogado.

Diante do exposto, pugna pela reforma da decisão


monocrática, a fim de que seja mantido o valor da causa apontado pela autora
na petição inicial, tendo em vista que a alteração promovida pelo magistrado
em sentença carece de amparo legal.

2 – DIFERENÇAS SALARIAIS EM FACE DA


REDUÇÃO DE CARGA HORÁRIA

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Fls.: 29

Na inicial, pugnou a parte autora pelo deferimento de


diferenças salariais à obreira em razão das reduções de carga horária que lhe
foram impingidas ao longo da contratualidade, bem como reflexos decorrentes.

O Juízo de primeiro grau negou o pedido.

Eis os termos da decisão (fl. 915):

“Pugna a reclamante pela aplicação do princípio da


irredutibilidade salarial, informando em sua exordial que ocorreu
redução salarial por diversas maneiras, a saber: a) redução do valor
hora-aula (redução direta); b) redução da carga horária (redução
indireta); c) tempo à disposição não remunerado (situações que serão
analisadas no tópico sobre jornada de trabalho); pedindo em
consequência o pagamento do que lhe foi reduzido.

Examina-se.

Os instrumentos normativos preveem hipóteses


de exclusão do princípio da irredutibilidade, de modo que a mera
redução salarial é ilícita, inclusive violando norma
convencional.

Ocorre que, nos presentes autos, a testemunha


ANGELA DE GOES LARA CARDOSO reconheceu, em outras
palavras, que houve redução do número de alunos nas turmas,
dizendo expressamente que “supriu a necessidade da região e
acabou diminuindo o número de alunos em turmas”, bem como
acusando que o curso sequer teve continuidade – o que corrobora
a tese defensiva.

Assim, em respeito à autonomia da vontade


coletiva, reconhecendo que houve redução do número de alunos,
inviável o deferimento do pleito.

Indefere-se. “

Merece reforma.

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Eis o que estabelece a norma coletiva a respeito da


redução da carga horária do professor (CCT 2021/2023 – fls. 195,
exemplificativamente):

“REDUÇÃO DA CARGA HORÁRIA São


irredutíveis a carga horária e a remuneração do Docente, exceto se a
redução resultar:

a) da exclusão horas ou aulas excedentes acrescidas à


carga horária do docente em caráter eventual ou por motivo de
substituição;

b) do pedido do Professor, em três vias, aceito pela


instituição empregadora, mediante protocolo no SINPROPAR;

c) da diminuição das turmas das Instituições de


Ensino, em função da redução do número de alunos e no caso do
Ensino Superior, da não existência para o semestre ou ano letivo
da turma/disciplina para a qual o Docente vinha normalmente
lecionando, devidamente comprovada quando questionada
judicialmente. A Instituição de Ensino deverá tentar preservar a
carga horária do professor, quando possível seu remanejamento.
Caso a instituição de ensino não realize o remanejamento e o
professor entenda que o mesmo era possível, este poderá
demonstrá-lo judicialmente;

d) alteração da matriz curricular devidamente


documentada frente ao órgão regulador do respectivo sistema de ensino;
e) pedido do professor, com a concordância da instituição de ensino, para
realização de cursos de seu interesse (ex. mestrado, doutorado).”

Pois bem.

A prova produzida nos autos deixou claro que xxx

Neste sentido, o depoimento da professora Rosana


(fls. 786 e seguintes da degravação):

“Juíza: E sabe se houve redução de turmas dela? O número de


alunos e carga horária?

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Fls.: 31

Testemunha: Reduziram. A carga horária era reduzida sempre


por essas junções.

Juíza: E sabe quantos alunos ficavam nas turmas?

Testemunha: Ficava às vezes 30, 60, 50. Dependia da turma.

Juíza: E a senhora ficou até qual a data lá?

Testemunha: Até 2022.

Juíza: Final. Completou o término do semestre? Do ano?

Testemunha: É que daí do ano começou online, né? Aí quando


voltou, eu peguei algumas disciplinas especiais que eles falam
que daí é online, só que é para algumas que pegaram
dependência. Então 2022 foi só com as dependências.

Juíza: Vocês tinham cartão ponto? Controle de Jornada?


Diário? Tinha alguma coisa?

Testemunha: Nunca assinei nada. Aí teve. Para a gente começar


a bater o ponto. Só que daí veio a pandemia e daí acabou.

Juíza: Nesse período todo que a senhora trabalhou, nunca


bateu ponto, nem diário de classe, diário de?

Testemunha: Diário de classe a gente tinha. Todo dia a gente…

Juíza: E fazia anotação?

Testemunha: Sim, a gente entregava esses diários de classe.

Juíza: A senhora saiu antes ou depois da professora Daniele?

Testemunha: Eu saí depois dela. Depois dela.

Juíza: E sabe o motivo da saída dela?

Testemunha: Eu acho que foi por redução de carga horária


mesmo.

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Juíza: E a senhora tinha recebia depósito em conta?

Testemunha: Depósito em conta.

Juíza: Teve, ocorreu atraso nos seus salários?

Testemunha: Sim, várias vezes.

Juíza: Perguntas Doutora.

Procuradora da autora: Sim Excelência obrigada. Alguma vez a


redução de carga horária.

Juíza: Não pode ficar assim porque está sendo gravado.

Procuradora da autora: Alguma vez a redução de carga horária


foi a seu pedido?

Testemunha: Nunca foi o meu pedido.

Procuradora da autora: Quando houve a redução da sua carga


horária, foi oferecido para a senhora dar aula em outro curso,
assumir alguma outra disciplina para repor essa carga horária
na sua rotina?

Testemunha: Não, nunca foi feito isso.

Procuradora da autora: E agora a senhora poderia assumir as


aulas em outro curso? A senhora tinha aderência pela sua
formação?

Testemunha: Sim, até eu dava para Enfermagem,


microbiologia.

Juíza: No geral, teve uma redução para todos os professores de


carga horária?

Testemunha: É que aí acontece que algumas disciplinas. Até


colocaram outros professores para dar aquela disciplina e veio
um professor de fora e assumiu. Juntaram todas as turmas e ele
assumiu aquela disciplina, que aí era um de outras pessoas, né?

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Procuradora da autora: Então, no período que havia redução,


houve contratação de professores do curso de Farmácia?

Testemunha: Não sei se foi de Farmácia, mas tem um caso de


um de um professor que foi contratado ali.

Juíza: De outro curso?

Testemunha: A gente não conhecia ele, né?

Juíza: De outro curso?

Testemunha: Não lembro o nome dele. Eu sei que era de outro


curso e sei que ele assumiu. Juntaram todas as turmas e ele
assumiu.

Juíza: De Farmácia, a senhora recorda se, teve a contratação de


alguém?

Testemunha: Eu sei que foi de contra contratação para Farmácia


não.

Procuradora da autora: E essa disciplina que foi assumida por


esse professor. A senhora, a professora Daniele, teriam
condição de ministrar?

Testemunha: Sim. Eram disciplinas básicas, era fisiologia.

Juíza: Mas qual era o curso?

Testemunha: Eles juntaram tudo. Juntaram todos os cursos ali


da saúde e fizeram uma turma grande.

Juíza: Com quantos alunos?

Testemunha: Aí eu não tenho ideia, porque daí como a gente


não tinha acesso, né? A turma então não sei te informar quantos
alunos teriam naquela turma.

Procuradora da autora: E a senhora mencionou que essa


disciplina era fisiologia?

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Testemunha: Isso é fisiologia.

Procuradora da autora: Sabe dizer se a professora Daniele deu


essa disciplina de fisiologia e biofísica?

Testemunha: Era dela essa disciplina. Ela deu essa disciplina


sim, de fisiologia.

Procuradora da autora: E legislação e ética farmacêutica. Sabe


se ela chegou a ministrar?

Testemunha: Chegou a ministrar e aí passaram para outro


professor. E aí esse outro professor saiu da instituição e daí
deram essa disciplina para mim.

Procuradora da autora: E fundamentos de administração sabe


se ela chegou a ministrar?

Testemunha: Ministrou também. Procuradora da autora: Isso


tudo em sala de aula? Testemunha: E isso tudo presencial. Isso
fora os estágios.

Procuradora da autora: Então quando a senhora falou que unir


as turmas não reduzia, o número de alunos aumentava. Por
exemplo, se era uma turma de 20 alunos, quando unia ficava
40, é isso?

Testemunha: Isso eles reuniam todas, algumas turmas ali para


dar mais volume, né? E aí assumia um professor, aquela turma
só então alguns cursos eram juntos.

Procuradora da autora: Entendi qual que era o seu horário de


trabalho na instituição entre 2018 e 2023. Com que frequência
que a senhora estava na instituição e que horários?

Testemunha: Eu trabalhava de segunda, na sexta feira a gente


quase não dava aula, mas a gente dava de segunda a quinta na
maioria das vezes. É assim sempre estava lá as quatro aulas, as
quatro aulas, as vezes das duas primeiras ou as vezes as duas
últimas. Mas eu estava lá de segunda a quinta, sempre. E aí em

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2021 eu comecei a ajudar a coordenação, então eu ficava


também lá o período do dia eu ficava lá das oito até às seis e aí
voltava dar aula, né? Terminava o dia dando aula e às vezes aí
foi reduzida essa minha carga horária para 20 horas. Daí eu
ficava só de manhã ou só à tarde. Daí eu escolhia um período
para eu ir. Mas isso foi durante dois meses só.

Procuradora da autora: E daí que a senhora dava aula à noite a


senhora ficava até que horas?

Testemunha: Ficava até às dez.

Procuradora da autora: E nos dias que a senhora estava na


instituição, os horários que a senhora estava na instituição, a
senhora encontrava a professora Daniele lá?

Testemunha: Ah, sim, encontrava.

Procuradora da autora: Grade horária sempre houve na


instituição no período em que vocês trabalharam juntas?

Testemunha: Não entendi.

Procuradora da autora: Aquela grade sabe que vem a


disciplina, a turma, os horários das aulas.

Testemunha: Ininteligível. Eles mandavam no e-mail para


gente essa grade né, com o nosso nome e o que a gente iria
dar....”

Depreende-se do depoimento acima transcrito que:

→ A reclamada realizava a junção de turmas (haviam


turmas acumuladas), o que gerava a aparente redução;

→ Houve a contratação de novos professores para


lecionar disciplinas de aderência da autora: ou seja, a mesma poderia ter sido
remanejada;

→ A autora lecionava para diversas disciplinas, que


foram retiradas dela e passadas para outros professores, inclusive, para a

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 36

testemunha: vez mais demonstrando a possibilidade de remanejamento da


carga horária da obreira;

→ A Instituição de Ensino não realizava o


remanejamento dos docentes para outras disciplinas que possuía aderência com
o intuito de evitar a redução de carga horária: ou seja, não havia política de
remanejamento;

→ Na época em que houve a redução de carga


horária, houve a contratação de um professor para assumir aulas em que a autora
possuía aderência: ou seja, deixando a Instituição de remanejar a reclamante
ainda que possível.

Os holerites acostados deixam as reduções de carga


horária perpetradas evidentes:

- 09.2019: de 40 horas-aula semanais para 30;

- 03.2020: de 30 horas-aula semanais para 10;

- 05.2020: de 10 horas-aula semanais para 3.

A ilicitude na redução da carga horária do professor


não encontra amparo somente na norma coletiva. Importante ressaltar as mesmas
ensejam a redução das respectivas verbas remuneratórias, agredindo
frontalmente o art. 7º, VI, da CF e ao art. 468 da CLT, que assim asseguram:

Artigo 7º - São direitos dos trabalhadores


urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social...

VI – irredutibilidade do salário, salvo o


disposto em convenção ou acordo coletivo;

Artigo 468 - Nos contratos individuais de


trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por
mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem,
direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de
nulidade da cláusula infringente desta garantia.

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 37

Importantes algumas considerações a respeito do


depoimento da testemunha Angela, utilizado como fundamento pelo Juízo
monocrático.

Em que pese a professora Angela ter afirmado que


houve a descontinuidade do curso de farmácia, a mesma asseverou que não
houve diminuição de alunos e turmas nos anos de 2018/2019/2020/2021.

Neste sentido, seu depoimento (fls. 808/809) da


degravação):

Procurador do réu (Cescage): Pois é, mas é só uma questão. É a


mesma pergunta, não é? Vocês doutores, sabem da minha
brevidade, com relação a que quantitativo de alunos houve?
Haveria uma diminuição nos anos 2018, 2019, 2020, 2021? Uma
diminuição de alunos?

Testemunha: Não, não teve, desses anos não.

Procurador do réu (Cescage): E com relação a se abriu novas


turmas no semestre 2021 e 2022. Abriu novas turmas?

Testemunha: Não lembro.

Ou seja: não houve a prova de redução do número de


alunos e turmas, ônus que incumbia ao reclamado, nos termos dos artigos 373 do
CPC e 818 da CLT.

Ainda, houve prova por parte da autora da


possibilidade de remanejamento da mesma.

Por fim, observe-se que a OJ 244 do C. TST não tem o


condão de afastar as diferenças salariais em face da redução de carga horária na
medida em que o direito postulado possui regramento na convenção coletiva da
categoria. Deste modo, a não concessão das diferenças salariais pleiteadas viola
o artigo 7º, XXVI da CF.

Assim, não tendo se configurado qualquer das


excludentes convencionais acima elencadas, requer seja reformada a decisão

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 38

de primeiro grau, para reconhecer a invalidade das alterações contratuais


consubstanciadas na redução de carga horária lecionada pela parte autora e
condenação dos reclamados no pagamento das diferenças salariais daí
decorrentes, mês a mês, observando-se o que foi pago e o que deveria sê-lo,
reputando-se devidas 40 horas-aula semanais a partir de setembro de 2019.

Requer reflexos de tal verba em repousos semanais


remunerados, e com estes em hora-atividade, a soma de todos em titulação
mestre e em quinquênios.

Pugna ainda que as diferenças ora postuladas


acrescidas dos reflexos requeridos no parágrafo anterior reflitam em aviso
prévio indenizado, férias acrescidas do terço constitucional, décimos terceiros
salários e todas somadas em FGTS (11,2%).

3 – DIFERENÇAS SALARIAIS EM RAZÃO DO


ADICIONAL DE 50% RECONHECIDO

3.1 – DO ERRO MATERIAL – PRELIMINAR DE


NULIDADE

Caso este Tribunal entenda que não há nulidade a


ser declarada, nos termos pleiteados na preliminar do presente apelo, sendo
possível adentrar ao mérito do Recurso desde já, pede seja reformada a decisão
de primeiro grau no que tange ao afastamento da OJ 394 da SDI-1 do C. TST,
nos seguintes termos:

O Juízo de primeiro grau houve por bem deferir


“horas extras” à obreira em razão da duração de 60 minutos das aulas de
Supervisão de Estágio.

O pedido da autora foi feito com fulcro nas cláusulas


40 das CCTs aplicáveis à categoria da autora:

“15 – DURAÇÃO DA HORA-AULA –


Considera-se como hora-aula o trabalho letivo dentro da classe
com duração máxima de 50 (cinquenta) minutos, fazendo o
professor jus à remuneração de adicional sobre o tempo que
exceder deste limite.”

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 39

Ocorre que a decisão necessita de pequena reforma,


eis que o adicional pleiteado, e deferido, não se trata de “horas extras”, mas sim
de diferenças salariais.

A reforma se faz necessária à medida que os reflexos


foram assim deferidos pelo Juízo (fl. 917):

“... (d) por habituais, cabem repercussões em


descanso semanal remunerado (Súmula nº 172 do TST), aviso prévio
indenizado, férias mais um terço, décimo terceiro salário e FGTS
(11,2%), hora atividade, observados os termos da OJ nº 394 da
SDI1;”

Eis o que estabelece a OJ 394 em questão:

Antiga redação

REPOUSO SEMANAL REMUNERADO - RSR.


INTEGRAÇÃO DAS HORAS EXTRAS. NÃO
REPERCUSSÃONO CÁLCULO DAS FÉRIAS, DO DÉCIMO
TERCEIRO SALÁRIO, DO AVISO PRÉVIO E
DOSDEPÓSITOS DO FGTS. (DEJT divulgado em 09, 10 e
11.06.2010)
A majoração do valor do repouso semanal remunerado, em
razão da integração das horas extras habitualmente prestadas,
não repercute no cálculo das férias, da gratificação natalina, do
aviso prévio e do FGTS, sob pena de caracterização de “bis in
idem”.

Nova redação

REPOUSO SEMANAL REMUNERADO. INTEGRAÇÃO DAS


HORAS EXTRAS. REPERCUSSÃO NO CÁLCULO DAS
FÉRIAS, DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO, AVISO PRÉVIO E
DEPÓSITOS DO FGTS.

I. A majoração do valor do repouso semanal remunerado


decorrente da integração das horas extras habituais deve
repercutir no cálculo, efetuado pelo empregador, das demais
parcelas que têm como base de cálculo o salário, não se
cogitando de bis in idem por sua incidência no cálculo das
férias, da gratificação natalina, do aviso prévio e do FGTS.

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 40

II. O item I será aplicado às horas extras trabalhadas a partir de


20/03/2023.

Deste modo, se o adicional deferido se trata de


diferença salarial, e não de horas extras, imprescindível que se afaste a aplicação
da OJ 394 da SDI-1 do C. TST quanto aos reflexos deferidos.

Pugna seja reformada a decisão de primeiro grau,


para que o adicional de 50% deferido em razão da duração de 60 minutos da
Supervisão de Estágio seja declarado como diferença salarial, afastando-se a
aplicação da OJ 394 da SDI-1 do C. TST.

3.2 – DOS REFLEXOS CORRESPONDENTES –


PRELIMINAR DE NULIDADE

Caso este Tribunal entenda que não há nulidade a


ser declarada, nos termos pleiteados na preliminar do presente apelo, sendo
possível adentrar ao mérito do Recurso desde já, pede seja reformada a decisão
de primeiro grau no que tange ao deferimento de reflexos do adicional de 50%
deferido, nos seguintes termos:

Na inicial, pugnou a parte autora pelos seguintes


reflexos em razão do adicional de 50% devido quando desrespeitada a duração
da hora aula de 50 minutos (fl. 33):

“Requer reflexos de tal verba em repousos semanais


remunerados, e com estes em hora-atividade, a soma de todos em
titulação mestre e em quinquênios.

Pugna ainda que as diferenças ora postuladas


acrescidas dos reflexos requeridos no parágrafo anterior reflitam em
aviso prévio indenizado, férias acrescidas do terço constitucional,
décimos terceiros salários e todas somadas em FGTS (11,2%)”

Em sentença, os reflexos foram assim deferidos (fl.


917):

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 41

“... (d) por habituais, cabem repercussões em


descanso semanal remunerado (Súmula nº 172 do TST), aviso prévio
indenizado, férias mais um terço, décimo terceiro salário e FGTS
(11,2%), hora atividade, observados os termos da OJ nº 394 da SDI1;”

Além do pedido de reforma constante do item supra,


no sentido de afastar a aplicação da OJ 394 da SDI-1 do C. TST, a decisão de
primeiro grau deve ser reformada para acrescer reflexos em “titulação” e
“quinquênios”.

Ainda, nos termos do Anexo da CCT da categoria (fl.


126, por exemplo), os reflexos em DSR devem incidir na Hora Atividade.

Vejamos o teor do instrumento coletivo:

Como se verifica, há determinação expressa para que


as verbas de natureza salarial gerem reflexos em DSR e, COM ESTE, em hora
atividade.

Em outras palavras, a hora atividade é calculada após


a incidência do DSR sobre o salário base.

Deste modo, a forma como decidido pelo Juízo a quo


viola a norma coletiva e, por conseguinte, o artigo 7º, XXVI da CF.

Diante do exposto, requer seja reformada a decisão


de primeiro grau, fim de que as diferenças salariais decorrentes do pagamento
do adicional de 50% sobre os minutos excedentes do limite da hora-aula de 50
(cinquenta) minutos gerem reflexos em:

- repousos semanais remunerados, e com estes em


hora-atividade, a soma de todos em titulação mestre e em quinquênios.

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 42

Pugna ainda que as diferenças ora postuladas


acrescidas dos reflexos requeridos no parágrafo anterior reflitam em aviso
prévio indenizado, férias acrescidas do terço constitucional, décimos terceiros
salários e todas somadas em FGTS (11,2%).

4 - DSR E HORA ATIVIDADE – PRELIMINAR DE


NULIDADE

Caso este Tribunal entenda que não há nulidade a


ser declarada, nos termos pleiteados na preliminar do presente apelo, sendo
possível adentrar ao mérito do Recurso desde já, pede seja reformada a decisão
de primeiro grau no que tange ao deferimento de DSR e Hora Atividade sob a
rubrica “Supervisão de Estágio”, nos seguintes termos:

O Juízo de primeiro grau indeferiu o pedido de


pagamento de DSR e hora atividade à autora decorrente do labor em “Supervisão
de Estágio”.

Eis os termos da decisão (fl. 917):

“Pugna a parte autora pelo pagamento da hora


atividade à razão de 12% do salário do docente, conforme norma
convencional e do descanso semanal remunerado, sobre a “Supervisão
de Estágio”.

Sem qualquer razão.

A cláusula convencional que embasa o pedido não


admite interpretação extensiva, limitando-se somente as atividade de
correção de prova e trabalhos, preparação de aulas e pesquisa.

Indeferem-se, portanto. “

A decisão merece reforma. Vejamos:

Na inicial a parte autora pugnou pelo pagamento de


reflexos em DSR e Hora Atividade decorrentes das verbas pagas sob a rubrica
“Supervisão de Estágio”. Isto porque a Supervisão de Estágio era quitada como
hora aula e se tratava de atividade docente em sentido estrito.

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 43

Eis trecho da exordial nesse sentido (fl. 33):

Em defesa as reclamadas não impugnaram o pedido


de diferenças salariais decorrentes do não pagamento dos reflexos em DSR e
Hora-Atividade decorrentes do labor em Supervisão de Estágio, tampouco a
afirmação de que se trataria a Supervisão de atividade docente em sentido estrito.

Deste modo, os fatos alegados pela autora devem ser


tidos como verdadeiros, em detrimento ao disposto no artigo 341 da CLT, que
ora se transcreve:

Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se


precisamente sobre as alegações de fato constantes na petição
inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas, salvo
se (...)

É claramente perceptível a ausência de pagamento de


DSR e Hora Atividade calculados sob as rubricas pagas como “Supervisão de
Estágio”, conforme depreende-se dos holerites de fls. 463, 466, 467/472, 474/477
e 479/524.

Destaca-se que a hora-atividade e o DSR são devidos


com amparo em Súmula, norma convencional, no contrato de trabalho e na Lei
605/1949, que assim determinam:

- Súmula 351 do C. TST:

351. PROFESSOR – REPOUSO SEMANAL


REMUNERADO – ARTIGO 7º § 2º DA LEI 605 DE 5.01.1949
E ART. 320 DA CLT.

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 44

O professor que recebe salário mensal a base


de hora-aula tem direito ao acréscimo de 1/6 a título de
repouso semanal remunerado, considerando-se para este o
mês de quatro semanas e meia.”

- Art. 1º da Lei 605/1949:

Art. 1º Todo empregado tem direito ao repouso


semanal remunerado de vinte e quatro horas consecutivas,
preferentemente aos domingos e, nos limites das exigências
técnicas das empresas, nos feriados civis e religiosos, de acordo
com a tradição local.

- Cláusula 16 da CCT 2021/2023 (fl. 182,


exemplificativamente):

- Anexo I das CCTs da categoria, fl. 126


exemplificativamente:

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 45

- Cláusula 2ª do contrato de trabalho de fl. 437:

Ora! Se os reclamados não contestaram a afirmação


da autora de que a Supervisão de Estágio era atividade de natureza docente, o
que significa dizer que admitiram a alegação como verdadeira, não há
justificativa plausível para que a Instituição de Ensino deixe de efetuar o
pagamento respectivo à autora.

O indeferimento judicial do pedido viola norma


coletiva e, por sua vez, o artigo 7º, XXVI da CF:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos


e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social:
...
XXVI - reconhecimento das convenções e
acordos coletivos de trabalho;

Diante do exposto, requer seja reformada a decisão,


de modo que sejam deferidas diferenças de repousos semanais remunerados e
com estes em hora-atividade sob a rubrica quitada a título de “Supervisão de
Estágio”.

Requer reflexos de tais diferenças em “titulação


mestre” (na forma observada pela empregadora) e quinquênios.

Pugna ainda que as diferenças ora postuladas


acrescidas dos reflexos requeridos no parágrafo anterior reflitam em aviso
prévio indenizado, férias acrescidas do terço constitucional, décimos terceiros
salários e todas somadas em FGTS (11,2%)

5 – DOS PARÂMETROS DAS HORAS EXTRAS


DEFERIDAS – PRELIMINAR DE NULIDADE

Caso este Tribunal entenda que não há nulidade a


ser declarada, nos termos pleiteados na preliminar do presente apelo, sendo

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 46

possível adentrar ao mérito do Recurso desde já, pede seja reformada a decisão
de primeiro grau no que tange aos parâmetros de cálculo das horas extras
deferidas, nos seguintes termos:

Na inicial, postulou a parte autora o pagamento de


horas extras sob o seguintes parâmetros e reflexos:

- Quanto aos intervalos de recreio (fl. 41):

“No cálculo das horas extras ora postuladas requer


sejam observados os valores quitados pela reclamada, o adicional de
50% e o multiplicador 4,5 semanas.

Requer reflexos de tal verba em repousos semanais


remunerados, e com estes em hora-atividade, a soma de todos em
titulação mestre e em quinquênios.

Pugna ainda reflexos das horas extras postuladas


acrescidas dos reflexos postulados no parágrafo anterior em aviso prévio
indenizado, décimos terceiros salários, férias acrescidas do terço
constitucional e a soma de todas as anteriores em FGTS (11,2%).”

- Quanto às atividades extraclasse (fl. 60):

“No cálculo das horas extras postuladas pede que


sejam observados os valores quitados ao longo do pacto laboral,
acrescido das diferenças postuladas nos itens 5.1 a 5.3 supra, bem como
a duração da hora aula de 50 minutos, o adicional 50% e o multiplicador
4,5 semanas.

Requer reflexos das horas extras postuladas em


repousos semanais remunerados, e com estes em hora-atividade, a soma
de todos em “titulação mestre” (na forma observada pela empregadora)
e quinquênios.

Pugna ainda que as diferenças ora postuladas


acrescidas dos reflexos requeridos no parágrafo anterior reflitam em
aviso prévio indenizado, férias acrescidas do terço constitucional,
décimos terceiros salários e todas somadas em FGTS.”

Em sentença, assim decidiu o Juízo (fl. 916):

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 47

“Dito isto, reputam-se devidas 25 horas de tempo à


disposição por semestre, 8 horas de tempo à disposição por semana; 10
horas de tempo à disposição por ano; acumuladamente, sem prejuízo do
acréscimo dos 20 minutos de intervalos, apuradas pelos seguintes
parâmetros: (a) o tempo à disposição era o apontado supra; (b)
especialmente quanto aos minutos de intervalo, deverá serem
observados os dias em que a reclamante lecionou aulas, conforme cartões
de ponto; (c) a base de cálculo deve observar a evolução salarial; (d) o
divisor é 220; (e) o adicional é de 50% para dias úteis e 100% para DSRs
e feriados laborados e não compensados; (f) deverão ser observados os
entendimentos consolidados na Súmula nº 63 do Tribunal Superior do
Trabalho e na OJ nº 97 da SDI1, conforme o caso; (g) por habituais,
cabem repercussões em descanso semanal remunerado (Súmula nº 172
do TST), aviso prévio indenizado, férias mais um terço, décimo terceiro
salário e FGTS (11,2%), hora atividade, observados os termos da OJ nº
394 da SDI1; e (h) juros, correção monetária e descontos legais nas
formas dos itens próprios.”

A decisão merece reforma, vejamos:

5.1 – DA DURAÇAO DA HORA AULA DE 50


MINUTOS

Pugna pela reforma da decisão, de modo que seja


determinado o cálculo do intervalo de recreio e das atividades extraclasse
considerando a duração da hora aula de 50 minutos.

A cláusula 12 das CCT´s da categoria vigentes à época


do contrato de trabalho da autora assim determinam (exemplificativamente, fl.
112):

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 48

Observa-se que a norma coletiva determina que a


duração da hora aula é de 50 minutos e que a mesma PODE SER DISTRIBUÍDA
EM ATIVIDADE OU DISCIPLINA.

Deste modo, a ATIVIDADE de atender os alunos no


intervalo para tirar dúvidas, ou o desempenho de ATIVIDADES extraclasse
ensejam que o cálculo seja realizado considerando a duração da hora aula de 50
minutos, por expressa disposição convencional.

Entendimento contrário significaria violar a norma


coletiva e, por conseguinte, o artigo 7º, XXVI da CF:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos


e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social:
...
XXVI - reconhecimento das convenções e
acordos coletivos de trabalho;

Ainda, com relação às atividades extraclasse, a CCT


da categoria é clara ao definir que as mesmas serão remuneradas como hora
extra, como HORA AULA mais adicional (fl. 114, exemplificativamente):

Pelo exposto, pugna pela reforma da decisão de


primeiro grau, de modo que seja determinado que no cálculo das horas extras
decorrentes dos intervalos de recreio e das atividades extraclasse seja
considerada a duração da hora aula de 50 minutos.

5.2 – DOS REFLEXOS EM TITULAÇÃO MESTRE E


QUINQUÊNIOS

Na inicial, postulou a parte autora o pagamento de


horas extras sob o seguintes parâmetros e reflexos:

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- Quanto aos intervalos de recreio (fl. 41):

“No cálculo das horas extras ora postuladas requer


sejam observados os valores quitados pela reclamada, o adicional de
50% e o multiplicador 4,5 semanas.

Requer reflexos de tal verba em repousos semanais


remunerados, e com estes em hora-atividade, a soma de todos em
titulação mestre e em quinquênios.

Pugna ainda reflexos das horas extras postuladas


acrescidas dos reflexos postulados no parágrafo anterior em aviso prévio
indenizado, décimos terceiros salários, férias acrescidas do terço
constitucional e a soma de todas as anteriores em FGTS (11,2%).”

- Quanto às atividades extraclasse (fl. 60):

“No cálculo das horas extras postuladas pede que


sejam observados os valores quitados ao longo do pacto laboral,
acrescido das diferenças postuladas nos itens 5.1 a 5.3 supra, bem como
a duração da horaaula de 50 minutos, o adicional 50% e o multiplicador
4,5 semanas.

Requer reflexos das horas extras postuladas em


repousos semanais remunerados, e com estes em hora-atividade, a soma
de todos em “titulação mestre” (na forma observada pela empregadora)
e quinquênios.

Pugna ainda que as diferenças ora postuladas


acrescidas dos reflexos requeridos no parágrafo anterior reflitam em
aviso prévio indenizado, férias acrescidas do terço constitucional,
décimos terceiros salários e todas somadas em FGTS.”

Em sentença, assim decidiu o Juízo (fl. 916):

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“Dito isto, reputam-se devidas 25 horas de tempo à


disposição por semestre, 8 horas de tempo à disposição por semana; 10
horas de tempo à disposição por ano; acumuladamente, sem prejuízo do
acréscimo dos 20 minutos de intervalos, apuradas pelos seguintes
parâmetros: (a) o tempo à disposição era o apontado supra; (b)
especialmente quanto aos minutos de intervalo, deverá serem
observados os dias em que a reclamante lecionou aulas, conforme cartões
de ponto; (c) a base de cálculo deve observar a evolução salarial; (d) o
divisor é 220; (e) o adicional é de 50% para dias úteis e 100% para DSRs
e feriados laborados e não compensados; (f) deverão ser observados os
entendimentos consolidados na Súmula nº 63 do Tribunal Superior do
Trabalho e na OJ nº 97 da SDI1, conforme o caso; (g) por habituais,
cabem repercussões em descanso semanal remunerado (Súmula nº 172
do TST), aviso prévio indenizado, férias mais um terço, décimo terceiro
salário e FGTS (11,2%), hora atividade, observados os termos da OJ nº
394 da SDI1; e (h) juros, correção monetária e descontos legais nas
formas dos itens próprios.”

Deste modo, pede seja reformada a decisão de


primeiro grau, de modo que sejam acrescidos aos reflexos já deferidos, reflexos
em titulação mestre e quinquênios.

5.3 – DEMAIS PARÂMETROS

Eis os parâmetros das horas extras deferidas pelo


Juízo de primeiro grau (fl. 916):

“...apuradas pelos seguintes parâmetros: (a) o tempo


à disposição era o apontado supra; (b) especialmente quanto aos minutos
de intervalo, deverá serem observados os dias em que a reclamante
lecionou aulas, conforme cartões de ponto; (c) a base de cálculo deve
observar a evolução salarial; (d) o divisor é 220; (e) o adicional é de 50%
para dias úteis e 100% para DSRs e feriados laborados e não
compensados; (f) deverão ser observados os entendimentos consolidados
na Súmula nº 63 do Tribunal Superior do Trabalho e na OJ nº 97 da
SDI1, conforme o caso; (g) por habituais, cabem repercussões em
descanso semanal remunerado (Súmula nº 172 do TST), aviso prévio
indenizado, férias mais um terço, décimo terceiro salário e FGTS
(11,2%), hora atividade, observados os termos da OJ nº 394 da SDI1; e

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(h) juros, correção monetária e descontos legais nas formas dos itens
próprios.”

Além das alterações requeridas nos itens supra, pede


seja reformada a sentença para que seja considerado o multiplicador 4,5.

Isto decorre do que disciplina o artigo 320, §1º da


CLT:

Art. 320 - A remuneração dos professores será fixada


pelo número de aulas semanais, na conformidade dos horários.

§ 1º - O pagamento far-se-á mensalmente,


considerando-se para este efeito cada mês constituído de
quatro semanas e meia.

E também porque era esta a sistemática adotada pelo


reclamado.

Vejamos por exemplo o holerite de fl. 464:

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- 20 horas aula semanais x 4,5 = 90 horas aula mensais

Deste modo, a sistemática deve ser mantida, pois se


incorporou ao contrato de trabalho obreiro como condição mais benéfica, não
podendo ser modificada, sob pena de violar o artigo 468 da CLT.

Diante do exposto, pede seja adotado o


multiplicador 4,5 para o cálculo das horas extras deferidas.

6 – DAS HORAS EXTRAS DECORRENTES DO


ARTIGO 318 DA CLT

6.1 – DECISÃO ATACADA

O Juízo de primeiro grau houve por bem indeferir o


pedido de horas extras excedentes à 4ª hora aula consecutiva e 6ª hora aula
intercalada ao fundamento que ausente amparo legal.

Eis os termos da decisão (fl. 916):

“Ausente fundamentação legal, haja vista que


a redação que embasa o pedido foi alterada, não mais
abarcando como jornada extraordinária a 4ª hora-aula
consecutiva e/ou 6ª hora-aula intercalada.

Indefere-se. “

A decisão merece reforma, eis que deve ser afastada


a nova redação do artigo 318 da CLT, pelos fundamentos que seguem:

6.2.1. INCONSTITUCIONALIDADE DA
ALTERAÇÃO DO ARTIGO 318 DA CLT PROMOVIDA PELA LEI 13.415/2017

6.2.1.1. CONTROLE DIFUSO DA


CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS

Como é sabido, o Supremo Tribunal Federal figura no


Estado Democrático como o guardião da Constituição Federal. Nesse sentido,
suas decisões são prolatadas com base na melhor interpretação dos dispositivos

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constitucionais vigentes. Não se pode, por conseguinte, fazer prevalecer


dispositivo inserido em lei ordinária que se antepõe à interpretação dada pela
mais alta Corte do Poder Judiciário aos dispositivos constitucionais que
ensejaram a conclusão adotada.

Todos os juízes e Tribunais tem obrigação de exercer


o controle difuso da constitucionalidade das leis, sempre que se deparam com
norma legal escancaradamente inconstitucional tal qual ocorre com a nova
redação do artigo 318 da CLT pelas razões a seguir explicitadas, observados os
requisitos estabelecidos pelo artigo 97 da Constituição Federal nesse particular:

“Art. 97. Somente pelo voto da maioria


absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo
órgão especial poderão os tribunais declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público.”

A propósito da funcionalidade do chamado controle


difuso ou incidental da constitucionalidade das normas legais que se impõe no
caso concreto, mister se faz transcrever as seguintes considerações doutrinárias
de lavra de Gregório Assagra de Almeida, extraídas do sítio eletrônico
https://jus.com.br/artigos/11949/controle-difuso-da-constitucionalidade-
como-garantia-constitucional-fundamental-art-5-xxxv-da-cf-88:

“O Brasil adotou o sistema jurisdicional misto


de controle da constitucionalidade. De um lado, temos o
controle abstrato e concentrado, que é exercido em processos
de tutela de direito objetivo perante as Cortes Constitucionais
pátrias (STF, na sua condição de Corte Constitucional
Nacional, e Tribunais de Justiça dos Estados ou do Distrito
Federal, que também atuam como Cortes Constitucionais
Regionais). De outro, temos o controle difuso ou incidental,
que é exercido nos processos de tutela de direitos subjetivos.

Qualquer juiz ou tribunal possui competência


para exercer o controle difuso ou incidental da
constitucionalidade ao apreciar, incidentalmente, de ofício ou
mediante provocação da parte ou do interessado, questão
relacionada com a constitucionalidade ou
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo.

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Portanto, no Direito brasileiro qualquer juiz ou


tribunal pode recusar a aplicação de uma lei, diante de um caso
concreto, por considerá-la inconstitucional.

Não é possível, no controle difuso ou incidente


da constitucionalidade que se formule pedido ‘principaliter’
de declaração de inconstitucionalidade, o que é próprio do
controle concentrado ou abstrato da constitucionalidade.

Se o demandante é quem pretende o exercício


do controle difuso ou incidente da constitucionalidade, ele
poderá requerê-lo: na inicial, em qualquer manifestação no
curso do processo ou até mesmo pela via recursal...

O certo é que não há forma rígida ou prazo para


se suscitar o controle difuso ou incidental da
constitucionalidade no curso do processo, até porque esse
controle é matéria de ordem pública e, por isso, não gera, pelo
menos em tese, preclusão.

Por outro lado, a decisão que concluir pela


inconstitucionalidade em sede de controle difuso atingirá
exclusivamente as partes entre as quais for proferida. Os
efeitos são, assim, inter partes e, em regra, ex tunc.

Basicamente são dois os dispositivos


constitucionais que fundamentam o controle difuso ou
incidental da constitucionalidade no sistema jurídico
brasileiro: a) art. 5º, XXXV, da CF, que consagra o denominado
princípio da inafastabilidade das decisões judiciais; b) e o art.
97 da CF, que consagra e exige a observância pelos tribunais,
para o controle difuso, da cláusula constitucional de reserva de
plenário.

Assim, pelo que se observa, o controle difuso


ou incidental da constitucionalidade é garantia constitucional
fundamental. É o que se extrai do art. 5º, XXXV, da CF, quando
diz que "a lei não poderá excluir da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito.”

Com efeito, tem aplicabilidade imediata (§ 1º,


do art. 5º, da CF), não lhe é compatível interpretação restritiva

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e possui natureza de cláusula pétrea (art. 60, § 4º, IV, da CF).


Não fosse isso, é questão de ordem pública e, a depender da
situação, poderá ser também de interesse social, o que impõe,
havendo demanda em curso, que o Judiciário se pronuncie
inclusive ex officio: nenhum juiz está obrigado a observar uma
lei ou ato normativo que entenda que seja inconstitucional.”

6.2.1.2. DA INCONSTITUCIONALIDADE DO
“CONTRABANDO JURÍDICO”

Em 16.02.2017, a Lei nº 13.415, alterou o art. 318 da


CLT, que passou a ter a seguinte redação:

“Art. 318. O professor poderá lecionar em um


mesmo estabelecimento por mais de um turno, desde que não
ultrapasse a jornada de trabalho semanal estabelecida
legalmente, assegurado e não computado o intervalo para
refeição.”

Tal alteração, que supostamente sepultaria a jornada


de trabalho reduzida do professor, é flagrantemente inconstitucional!

Três razões primordiais são levadas em conta quando


o legislador estabelece para determinadas profissões jornadas de trabalho
inferiores à regra legal de 8 horas diárias e 44 semanais: o caráter penoso da
atividade realizada, o prestígio social da profissão e a capacidade de articulação
e defesa dos direitos dos profissionais beneficiados.

Assim, não constituem privilégios nem tampouco


benesses da lei as jornadas diárias reduzidas conquistadas pela categoria
profissional dos bancários (seis horas), dos jornalistas (cinco horas) e dos
professores (quatro horas aulas consecutivas e seis intercaladas), dentre outras,
consagradas pela Consolidação das Leis do Trabalho, promulgada em 1º de maio
de 1.943 ou por leis posteriores.

Induvidoso que de meados do século XX para cá a


penosidade da atividade dos professores do ensino fundamental, médio e
superior só se exacerbou. Alunos e famílias cada vez mais exigentes,
complexidade dos recursos tecnológicos cujo domínio se tornou essencial para o

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exercício da profissão, necessidade de reciclagem e atualização permanente,


multiplicação de exigências burocráticas por parte dos órgãos estatais e das
instituições de ensino e necessidade de tempo disponível além da jornada
lecionada para correção de provas e trabalhos e preparação de aulas, só fizeram
dificultar e desestimular o exercício dessa profissão.

O mesmo não se diga acerca do prestígio social e da


capacidade de articulação e de defesa dos direitos dos profissionais da educação
(de estarrecer a má fé ou a despolitização de alguns sindicalistas que chegaram a
vir a público enaltecer a alteração do artigo 318 da CLT!).

Aproveitando-se deste momento de despolitização e


de estupefação da classe trabalhadora e da crescente internacionalização e
precarização da educação, justamente quando razões de saúde pública e
individual física e mental exigem mais do que nunca que se estabeleçam
condições de trabalho condignas para os docentes com a fixação de um salário
justo para uma jornada razoável de trabalho lecionada (já que o tempo de
preparação de aulas e de correção de provas e trabalhos é imponderável) um
deputado do PSDB do Rio de Janeiro, Otávio Leite, na calada da noite da
aprovação do pacote de reforma do ensino médio conseguiu a proeza
representada pela revogação do artigo 318 da CLT supostamente pondo fim à
jornada especial do professor.

Otávio Leite é um típico representante do baixo clero


do Congresso Nacional. Segundo o site congressoemfoco.uol.com.br. foi eleito
com o apoio financeiro de grandes conglomerados empresariais (dentre eles o
Centro Educacional Marapendi) e do banqueiro Ronaldo Cesar Coelho, também
do PSDB. Esse último admite, segundo o Jornal Folha de São Paulo de
07/01/2017, ter alavancado recursos do exterior oriundos da Odebrecht para a
campanha presidencial do Ministro José Serra em 2010, assim como ter incluído
tais valores no recente “programa de regularização de ativos no exterior”.

Análise acurada da forma como a alteração do teor do


artigo 318 da CLT foi obtida pelo representante dos poderosos grupos
educacionais no Congresso parecem sinalizar que desta vez as instituições de
ensino privado foram com muita sede ao pote da acumulação de lucros e da
desvalorização dos profissionais do ensino, gerando preceito legal nitidamente
inconstitucional.

Utilizando-se do poder de discricionariedade que o


artigo 62 da Constituição Federal confere ao Presidente da República para os

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casos em que entende presentes os requisitos de relevância e urgência, este editou


a Medida Provisória 746, de 22 de setembro de 2016, que “Institui a Política de
Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral, altera
a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional, e a Lei nº 11.494 de 20 de junho 2007, que regulamenta o
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação, e dá outras providências.”

Do texto original nenhuma pretensão do Presidente


da República de alterar regras trabalhistas que beneficiam há décadas os
professores. Tampouco qualquer pálida referência a alteração ou revogação de
preceito inserido na Consolidação das Leis do Trabalho, assunto completamente
alheio às diretrizes e bases do ensino médio, tratadas pela medida provisória.

Na lei de conversão da medida provisória, como num


passe de mágica, aparece a referência à alteração da Consolidação das Leis do
Trabalho, sepultando a jornada especial dos professores que passam a “poder”
trabalhar em dois turnos, submetidos agora à jornada legal aplicável aos
trabalhadores em geral, de 44 horas semanais e 8 horas diárias.

Numa penada as 36 horas-aulas intercaladas ou 24


horas-aula consecutivas que integravam há décadas o patrimônio jurídico dos
professores foram descartadas, passando a ter direito de receber como extras
apenas as que excedem da oitava hora trabalhada diária e quadragésima quarta
semanal.

A estratégia de se utilizar do menor espaço de


discussão inerente ao processo de conversão em lei das medidas provisórias para
inserir alterações legislativas alheias ao que o Presidente da República reputou
urgente e relevante, conhecidas no jargão congressual como “contrabando
jurídico” foi afortunadamente repudiada com firmeza pelo Supremo Tribunal
Federal.

Notícia extraída do site do Supremo Tribunal Federal


(stf.jus.br) de 15 de outubro de 2015 alerta nesse sentido:

“O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu,


nesta quinta-feira (15), que a partir de agora o Congresso
Nacional não pode mais incluir, em medidas provisórias (MPs)
editadas pelo Poder Executivo, emendas parlamentares que

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não tenham pertinência temática com a norma, o chamado


“contrabando legislativo”.
A decisão foi tomada nesta quinta-feira (15) no
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
5127, por meio da qual a Confederação Nacional das Profissões
Liberais (CNPL) questionava alterações feitas na MP 472/2009,
convertida na Lei 12.249/2010, que resultaram na extinção da
profissão de técnico em contabilidade. A MP em questão
tratava de temas diversos, que não guardam relação com a
profissão de contador. Por maioria, o Plenário julgou
improcedente a ação, mantendo a validade da norma
questionada em razão do princípio da segurança jurídica.
Contudo, o Tribunal decidiu cientificar o Congresso Nacional
de que a prática é incompatível com a Constituição Federal…

A relatora do caso, ministra Rosa Weber,


lembrou em seu voto que o uso de medidas provisórias se dá
por motivos de urgência e relevância da matéria, cuja análise
compete ao chefe do Poder Executivo. E, de acordo com a
ministra, a jurisprudência do STF aponta no sentido de que,
em se tratando de matéria sob reserva de iniciativa do Poder
Executivo, há necessidade de pertinência temática entre a
emenda parlamentar e o conteúdo da norma original. Nesse
ponto, a ministra lembrou que a Resolução 1/2002 do
Congresso Nacional veda a apresentação de emendas sobre
assuntos não pertinentes ao texto da MP.

De acordo com a relatora, no caso concreto, a


matéria versada na emenda, ainda que não sujeita à reserva de
iniciativa do chefe do Poder Executivo, não foi considerada
como de relevância e urgência a merecer o rito especial do
processo de conversão de medida provisória em lei.

Para Rosa Weber, o chamado “contrabando


legislativo” não denota mera inobservância de forma, mas um
procedimento antidemocrático, em que se subtrai do debate
legislativo – intencionalmente ou não – a discussão sobre
normas que irão regular a vida em sociedade. A ministra
salientou que ao seguir o rito da conversão de MP, impediu-se
que os dispositivos questionados fossem analisados por
comissões temáticas, fossem objeto de audiências públicas e

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que fosse debatido e refletido de forma mais aprofundada.


Assim, votou pela procedência da ação…

Na proclamação do resultado do julgamento


foi afirmado que, por maioria de votos, a Corte decidiu
cientificar ao Poder Legislativo que o STF afirmou, com efeitos
ex nunc (de agora em diante), que não é compatível com a
Constituição a apresentação de emendas sem relação de
pertinência temática com medida provisória submetida à sua
apreciação.”

Tivessem os “contrabandistas” tido o cuidado de


inserir um parágrafo no artigo 318 dirigido exclusivamente aos professores de
ensino médio e poderiam defender, ainda que com poucas chances de êxito, que
a jornada de trabalho do professor desse segmento é tema correlato com a
organização deste ensino. A ganância representada por ampliar a jornada de
trabalho de todos os professores não deixa dúvidas acerca da total falta de
pertinência entre a norma inserida na CLT e o tema abordado pela medida
provisória.

Evidente a má-fé dos congressistas que endossaram


esta impertinência temática, empenhados em fugir do aprofundamento do tema
que certamente ocorreria em comissões temáticas e audiências públicas se a
matéria fosse inserida em projeto de lei ordinária tal qual a importância do
assunto requer.

Se o Presidente da República, a quem a Constituição


Federal atribuiu discricionariedade para eleger os temas relevantes e urgentes
que pretende sejam regulados pela estreita via da conversão em lei da medida
provisória, não quis se reportar à questão da jornada de trabalho do professor,
limitando-se a tratar das diretrizes e bases do ensino médio, por suposto que
integrante do Congresso Nacional não detém a prerrogativa de ampliar essa
discussão.

Como se vê, o procedimento adotado, consistente na


inserção, mediante emenda parlamentar no processo legislativo de conversão
de medida provisória em lei, de matérias de conteúdo temático estranho ao
objeto originário da medida provisória contraria os artigos 1º, caput, parágrafo
único, 2º, caput, 5º, caput, e inciso da LIV da Constituição Federal, que assim
dispõem:

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Art. 1º A República Federativa do Brasil,


formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos:

...

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo,


que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
nos termos desta Constituição.

Art. 2º São Poderes da União, independentes


e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem


distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

...

LV - aos litigantes, em processo judicial ou


administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;

Consentânea com a proibição de contrabandos


jurídicos como o presente, a clareza do art. 4º, § 4º, da Resolução nº 01/2002 do
Congresso Nacional, que integra o Regimento Comum, com força de lei na
interpretação do artigo 62 da Carta Política:

“Art. 4.º...

§ 4º. É vedada a apresentação de emendas que


versem sobre matéria estranha àquela tratada na Medida
Provisória, cabendo ao Presidente da Comissão o seu
indeferimento liminar.”

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Conforme observam os professores Marco Aurélio


Marrafon e Ilton Norberto Robl Filho em artigo denominado “Controle de
constitucionalidade no projeto de lei de conversão de medida provisória em face
dos ‘contrabandos legislativos’: salvaguarda do Estado Democrático de Direito”
1 “a inclusão de matérias estranhas ao objeto da Medida Provisória (…) viola:

i) o devido processo legislativo constitucionalmente previsto, ii) o princípio da


legalidade, iii) o direito subjetivo dos membros do Congresso Nacional (…) ao
pleno exercício de sua competência constitucional e iv) os limites da
discricionariedade legislativa no exercício do poder de legislar”

Eis ainda lição convergente da doutrina:

"A medida provisória pode ser emendada no


Congresso, não mais perdurando a proibição nesse sentido
que havia no regime do decreto-lei, na ordem constitucional
pretérita. As emendas apresentadas devem, porém, guardar
pertinência temática com o objeto da medida provisória, sob
pena de indeferimento.” (MENDES, Gilmar Ferreira;
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito
Constitucional. 8a ed. rev. e atual., São Paulo: Saraiva, 2013, p.
884-5)

Finalmente a questão merece ser analisada à luz do


que dispõe o caput do artigo 7º da Constituição Federal:

“são direitos dos trabalhadores urbanos e


rurais, além de outros que visem a melhoria das suas condições
sociais”.

As regras trabalhistas devem melhorar as condições


do empregado, e não piorá-las, como foi o caso da nova redação do artigo 318 da
CLT.

Mostra o princípio do não retrocesso social uma


obrigação de não fazer, de se abster, de não estabelecer condições sociais piores
do que as já existentes e que já foram conquistadas pelas pessoas. O legislador

1in FELLET, André e NOVELINO, Marcelo (Organizadores) – (Constitucionalismo e


Democracia . Salvador: Jus Podium: 2013, p. 235-6.

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deve ampliar as condições sociais, e não as restringir. A ideia é avançar em


condições sociais, e não retroceder.

Em face do exposto, pugna pela declaração


incidental de inconstitucionalidade da redação do artigo 318 da CLT
promovida pela Lei 13.415/2017 pelas razões a seguir esmiuçadas, mantendo-se
a vigência da redação anterior, nos seguintes termos:

“Art. 318 - Num mesmo estabelecimento de


ensino não poderá o professor dar, por dia, mais de 4 (quatro)
aulas consecutivas, nem mais de 6 (seis), intercaladas.”

6.2.2. DIREITO ADQUIRIDO À JORNADA DO


ARTIGO 318 DA CLT AINDA QUE NÃO SE RECONHEÇA A
INCONSTITUCIONALIDADE POSTULADA

Chama-se especial atenção para o fato de que esse


direito subsiste ainda que não se repute constitucional a alteração do artigo 318
da CLT promovida pela Lei 13.415/2017. Isto em função da combinação dos
seguintes preceitos legais:

Da Constituição Federal:

“Art. 5º...

XXXVI – A lei não prejudicará o direito


adquirido, o direito adquirido e a coisa julgada;

Artigo 7º - São direitos dos trabalhadores


urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social...”

Da CLT:

“Artigo 468 - Nos contratos individuais de


trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por
mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem,
direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de
nulidade da cláusula infringente desta garantia.”

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A propósito da interpretação que se deve fazer acerca


dos preceitos legais que retiram direitos trabalhistas dos trabalhadores por força
da onda neoliberal reforçada com o advento do Governo Temer e do status
constitucional do princípio da aplicação da norma mais favorável, oportunas as
reflexões expendidas por Maurício Godinho Delgado e Grabriela Neves Delgado
em sua obra “A Reforma Trabalhista no Brasil (Editora LTR, 2ª Edição):

“Conforme se sabe o Direito contemporâneo,


próprio do Estado Democrático de Direito, que é inerente ao
Constitucionalismo Humanístico e Social, não está mais
contido apenas na regra jurídica – ao reverso do que se louvava
no período napoleônico do liberalismo primitivo, há duzentos
anos atrás. É que o Direito está, antes de tudo, contido na norma
jurídica, constituída não só pela regra, mas também - e
principalmente pelos princípios jurídicos.

Muito menos, a interpretação dessa regra deve


se fazer a partir de seu aparente sentido literal. O sentido
próprio da regra jurídica está determinado também pelo
sentido da norma de Direito (regra e princípios jurídicos),
sendo que nesse sentido se encontra por intermédio do manejo
científico dos métodos da exegese jurídica denominados
método lógico, sistemático e teológico. Tais métodos, conforme
enfatizado, devem ser brandidos, pelo intérprete do fenômeno
jurídico, equilibradamente e de maneira conjugada, como um
todo coerente, unitário e sistêmico.

Uma das técnicas consagradas de interpretação


lógico-sistemática e teleológica consiste na interpretação em
conformidade com a Constituição da República – ou em
conformidade com certo(s) princípio(s) constitucional(ais) – a
par da interpretação em conformidade com determinado(s)
diplomas(s) normativo(s) internacional(ais) imperativo(s) no
Brasil...

Ora, essa alteração legislativa não toma em


consideração a matriz humanística e social da Constituição de
1988 e das normas internacionais de Direitos Humanos
vigorantes no Brasil uma vez que negligencia,

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injustificadamente, o princípio da norma mais favorável (art.


7º, caput, CF).

Conforme se sabe o princípio da norma mais


favorável também ostenta matriz internacional (além de
constitucional), por estar projetado nos princípios
internacionais da progressividade social e da vedação do
retrocesso social...” ( páginas 96 e 306).”

Regras de direito intertemporal igualmente sufragam


a tese de que não se altera a jornada de trabalho de 4 horas aulas consecutivas e
seis intercaladas incorporada no contrato de trabalho dos professores admitidos
antes da vigência da nova redação do artigo 318 da CLT, ocorrida a partir de
17.02.2017, data da publicação da Lei 13.415/2017.

A propósito do tema, pertinentes as considerações de


Maurício Godinho Delgado e Grabriela Neves Delgado na obra acima citada
inclusive com importante referência sumulada pelo Tribunal Regional do
Trabalho:

“De outro lado, há ponderações no sentido de


que a Lei 13.467/2017 teria de respeitar o direito adquirido dos
trabalhadores, em seus contratos de trabalho antigos, não
podendo modificar o conteúdo de tais contratos, ainda que esse
conteúdo tenha sido criado, tempos atrás, por regra legal.

Essas últimas ponderações valem-se, como


seus fundamentos, de distintas normas da Constituição da
República – todas imperativas , a propósito: o artigo 5º, inciso
XXXVI (respeito ao direito adquirido), o artigo 5º § 2º
(princípio da vedação do retrocesso social) o artigo 7º caput
(princípio da norma mais favorável); o artigo 7º VI (princípio
da irredutibilidade salarial).

A jurisprudência do TST, ao enfrentar, há


poucos anos, situação parecida, sufragou esta segunda direção
interpretativa.

Realmente, ao decidir sobre o tema da redução


da base de cálculo do adicional de periculosidade do

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empregado eletricitário, em decorrência do advento da então


nova Lei 12.740, de 08.12.2012, aprovou alteração em sua
Súmula 191, no sentido de afirmar que ‘a alteração da base de
cálculo do adicional de periculosidade do eletricitário
promovida pela Lei 12.740/2012 atinge somente contrato de
trabalho firmado a partir de sua vigência, de modo que nesse
caso, o cálculo será realizado exclusivamente sobre o salário
básico, conforme determina o § 1º do artigo 193 da CLT (Súmula
191, inciso III; grifos acrescidos).

A prevalecer essa jurisprudência sumulada


recente do Tribunal Superior do Trabalho, portanto, as
repercussões da Lei 13.467/2017 atingiriam, essencialmente,
apenas relações sócio-jurídicas realmente novas, deflagradas a
partir de 11 de novembro de 2017 (contratos efetivamente
novos, dessa maneira)... (obra citada, páginas 408 e 411).

Neste contexto, tendo o reclamante sido admitido


antes do início da vigência da Lei 13.415/2017 e tendo trabalhado sob a
sistemática de labor que excedia o limite legal e contratual estabelecido pela
redação original do artigo 318 da CLT, o direito ao recebimento das horas-aulas
lecionadas além da quarta hora-aula consecutiva e sexta intercalada como extras
cristalizado desde antanho incorporou-se no seu contrato de trabalho,
configurando direito adquirido não suscetível de ser extirpado pela via
legislativa.

Afinal, é cediço que as normas regulamentadoras dos


direitos trabalhistas conferem direitos mínimos conferidos aos trabalhadores,
convivendo perfeitamente com direitos mais amplos que se inserem no contrato
de trabalho e são insuscetíveis de serem eliminados em face do que preceitua o
artigo 468 da CLT. Essa realidade, inerente ao Direito do Trabalho, não foi
alterada com o advento das Leis 13.415/2017 e 13.467/2017.

O novo patamar mínimo de direitos a horas extras


lecionadas estabelecido pela Lei 13.415/2017 ainda que proviesse de alteração
legislativa não eivada de inconstitucionalidade, não teria o condão de extirpar
direitos já inseridos no patrimônio jurídico do empregado, por força da aplicação
de normas legais que já se inseriram no contrato de trabalho do docente, sob o
manto protetivo da aplicação da norma mais favorável estabelecida pelo caput do
artigo 7º da Constituição Federal.

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Neste sentido as seguintes ementas:

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DE PASSO


FUNDO. HORAS EXTRAS COM BASE NO ART. 318 DA CLT.
1. A nova redação do art. 318 da CLT, dada pela Lei 13.415/17,
não incide no caso, em que admitido o trabalhador em 1994,
porquanto entrou em vigor apenas em 17/02/2017. 2. Tal
entendimento está em consonância com o princípio da
irretroatividade das leis e o da segurança jurídica (art. 5º,
XXXVI, CF e arts. 2º e 6º, da LINDB), de modo que a incidência
da referida alteração legislativa esbarra no princípio da
aderência da norma mais benéfica à relação laboral vigente
quando da admissão do autor (1994). 3. O art. 7º, XIII, da CF
estabelece a duração do trabalho normal não superior a oito
horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a
compensação de horários e a redução da jornada, mediante
acordo ou convenção coletiva de trabalho, entretanto, tal
previsão não exclui as jornadas especiais concernentes a
determinadas atividades, a exemplo do bancário e mesmo do
professor. Em tais casos, a previsão não se sujeita à negociação
coletiva a qual deve ter por objetivo a melhoria das condições
sociais do trabalhador, exegese que se extrai do art. 7º, caput e
dos princípios fundamentais a que se sujeita a República
Federativa do Brasil, dentre os quais, o da dignidade da pessoa
humana e os valores sociais do trabalho (art. 1º, incisos III e
IV), não excluídos os princípios e regras implícitas decorrente
do regime e dos princípios adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
parte, na forma do art. 5º, § 2º, CF (teoria das normas
implícitas). 4. As normas coletivas que estabelecem
disposições em sentido diverso ao disposto no art. 318 da CLT
(redação original, sem as alterações da Lei 13.415/2017) não
podem prevalecer. A livre negociação coletiva e a teoria do
conglobamento não se sobrepõem às demais normas e
princípios constitucionais, os quais devem também ser levados
em consideração, não sendo o caso de prevalência da vontade
coletiva, como sustenta a ré e nem sequer de ofensa ao disposto
no art. 7º, incisos XIII e XXVI, da Constituição da República,
mas, da incidência da norma mais favorável (art. 318 da CLT -
em sua redação original vigente quando da admissão do autor).

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Fls.: 67

(TRT-4 - RO: 00212033720175040664, Rel. Marcelo José Ferlin


D’Ambroso, 2ª Turma, DJE: 01/08/2019)

"A) RECURSO DE REVISTA DA


RECLAMANTE. PROCESSO ANTERIOR À LEI 13.467/2017. 1.
PRELIMINAR DE NULIDADE POR NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. 2.
HORAS EXTRAS. REDUÇÃO DA CARGA HORÁRIA.
MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA 126/TST. 3. PROFESSOR.
INTERVALO INTRAJORNADA. TEMPO ENTRE AULAS EM
UM MESMO TURNO ("JANELAS") E TEMPO ENTRE
TURNOS DE AULAS: EFEITOS JURÍDICOS DIVERSOS. Nos
termos da antiga redação do art. 318 da CLT - vigente à época
da contratação: num mesmo estabelecimento de ensino não
poderá o professor dar, por dia, mais de 4 (quatro) aulas
consecutivas, nem mais de 6 (seis), intercaladas. A norma
revela a especialidade da jornada do professor ante o contexto
fático do ensino no país. Isto é, trata-se de jornada especial em
relação àquela dos demais trabalhadores regidos pelo art. 71 da
CLT, ante as peculiaridades havidas no magistério. A jornada
do professor é calculada por hora-aula, em horas contínuas ou
intercaladas (art. 318, CLT). A legislação permite, então, que o
professor ministre, em um mesmo estabelecimento de ensino,
quatro aulas consecutivas ou seis intercaladas. A fim de
viabilizar essa última hipótese, considera-se que o professor
possa lecionar aulas em turnos distintos, como, por exemplo,
matutino e noturno ou ainda vespertino e noturno, sem que
isso revele extrapolação do intervalo intrajornada máximo de
duas horas. Nesse aspecto, não se torna viável a aplicação da
Súmula 118/TST à jornada especial dos professores, uma vez
que o verbete foi editado a fim de atender às jornadas dos
trabalhadores no comércio, na indústria, em bancos etc, em que
a regra jurídica e o sistema laborativo são diversos. A
peculiaridade da profissão e atividade empregatícia do
professor - que pode ser meramente "aulista", assumindo em
uma instituição de ensino diversas turmas, com remuneração
calculada pelas horas-aula (art. 320, CLT)- evidencia ser da
lógica de sua profissão a observância da regra do art. 318, ao
invés da regra extensiva da Súmula 118/TST. Reconheça-se que
o tempo entre aulas, sequenciais em um mesmo turno - as
"janelas", portanto - compõe sua jornada, sem dúvida; porém
não o lapso entre um turno de trabalho e outro. Especificidade

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da profissão, reconhecida pela CLT. Conquanto a Lei nº


13.415/2017 tenha alterado a redação original do referido art.
318 da CLT - passando a dispor que "O professor poderá
lecionar em um mesmo estabelecimento por mais de um turno,
desde que não ultrapasse a jornada de trabalho semanal
estabelecida legalmente, assegurado e não computado o
intervalo para refeição" -, depreende-se que essa diretriz
normativa não se aplica ao caso dos autos, haja vista que essa
não era a regra vigente à época da contratação. Recurso de
revista não conhecido nos temas... (TST - RR:
27426007320085090011, Relator: Mauricio Godinho Delgado,
Data de Julgamento: 18/12/2018, 3ª Turma, Data de Publicação:
DEJT 07/01/2019) - destaquei.

Subsiste, por conseguinte, o direito à remuneração


como extras das horas trabalhadas além dos limites da redação originária do
artigo 318 da CLT, mesmo depois da vigência da Lei 13.415/2017, ainda que não
se repute esse diploma legal inconstitucional nesse particular.

Neste sentido, aponta-se recente entendimento


exarado pela 4ª Turma deste TRT nos autos de nº 0002093-21.2017.5.09.0015,
conforme acórdão de relatoria da Desembargadora Marlene Suguimatsu:

...

Precede a discussão quanto à


constitucionalidade ou não do art. 318 da CLT, com a redação
trazida pela Lei 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, a
aplicabilidade do direito intertemporal para os contratos de
trabalho celebrados em data anterior à vigência da Lei e que
findaram após, como na hipótese, em que o autor foi contratado
em 01/06/2015 a 19/06/2017. A ação foi interposta em
09/11/2017 (fl. 2).

A matéria é similar a discutida em relação as


inovações introduzidas pela Lei da Reforma, tratada no tópico 1
"Lei 13.467/2017.

Como externado no mencionado tópico, no


entendimento desta Relatora e dos demais membros do
Colegiado as alterações promovidas pela nova lei, no aspecto

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Fls.: 69

relativo a direitos materiais, deve alcançar apenas as relações


jurídicas posteriores à sua vigência, salvo se mais benéficas aos
trabalhadores. As justificativas jurídicas são de várias ordens,
a começar pelo respeito à segurança jurídica das relações
contratuais, o respeito ao direito adquirido e ao ato jurídico
perfeito, previstos no art. 5º, XXXVI, da CF e art. 6º da Lei de
Introdução ao Código Civil ("A lei em vigor terá efeito imediato
e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e
a coisa julgada"), além do respeito aos princípios e regras
peculiares ao Direito do Trabalho.

Portanto, define-se que não poderão ser


aplicadas à relação contratual que se analisa, as alterações
introduzidas pela Lei 13.415/20017 que sejam prejudiciais ao
autor. Devem ser observados os arts. 5º, XXXVI e 7º, caput, da
CF/1988, o art. 6º da LINDB, os artigos 9º, 444 e 468 da CLT, os
princípios da proteção (na perspectiva de manter a condição
mais benéfica ao trabalhador) e o princípio da vedação ao
retrocesso social, além das normas de direito internacional e
outras normas e princípios mencionados nesta decisão.

Estabelecidas essas considerações, resta


prejudicada a análise da declaração de inconstitucionalidade do
art. 318 da CLT, com as alterações introduzidas pela Lei
13.415/20017, bem como do pedido de suspensão do processo.

Aplica-se à hipótese o art. 318 da CLT com a


redação anterior às alterações introduzidas pela Lei
13.415/20017.

Em decorrência, o autor faz jus ao pagamento,


como extra, em todo período contratual, das horas aulas
trabalhadas além de 4 horas aulas lecionadas diárias
consecutivas e de 6 horas aulas intercaladas.

Reformo para determinar que as horas extras


sejam calculadas considerando as excedentes da 4ª horas aulas
lecionadas diárias consecutivas e da 6ª horas aulas intercaladas,
estendidos os parâmetros da decisão de primeiro grau fixados
para o período da admissão até 16/02/2017 para todo período
contratual.

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Também no sentido de que inaplicável a nova redação


do artigo 318 da CLT para professores contratados anteriormente a 16.02.2017, o
posicionamento no sentido de que a aplicação imediata do novo preceito legal
configura redução salarial ilícita, ferindo o art. 7º, inciso VI, da CF.

Aplica-se, por analogia, nesse caso, o entendimento


do C. TST quando da alteração da base de cálculo do adicional de periculosidade
para os eletricitários, que, no item III, da Súmula 191, assim estabeleceu:

ADICIONAL DE PERICULOSIDADE.
INCIDÊNCIA. BASE DE CÁLCULO (cancelada a parte final da
antiga redação e inseridos os itens II e III) - Res. 214/2016, DEJT
divulgado em 30.11.2016 e 01 e 02.12.2016

(...)

III - A alteração da base de cálculo do adicional


de periculosidade do eletricitário promovida pela Lei nº
12.740/2012 atinge somente contrato de trabalho firmado a
partir de sua vigência, de modo que, nesse caso, o cálculo será
realizado exclusivamente sobre o salário básico, conforme
determina o § 1º do art. 193 da CLT.

Por mais essa razão as alterações trazidas pela Lei


13.415/2017.

Neste sentido a decisão proferida nos autos 0000955-


90.2019.5.09.0001, que trata da mesma questão em reclamatória trabalhista,
proferida pela Exa. Juíza Márcia Frazão da Silva em 04.04.2022:

“...

Deixo assentado não vislumbrar


inconstitucionalidade na nova redação do art. 318 da CLT.
Nada obstante, entendo ser inaplicável o teor da nova redação
ao contrato de trabalho sub judice.

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 71

Entendo que as referidas disposições de direito


material promovidas pela Lei 1345-2017 de 16.02.2017,
porquanto visivelmente prejudiciais ao trabalhador, são
inaplicáveis ao contrato de trabalho sub judice, uma vez que se
trata de contrato de trabalho firmado em período anterior ao
início de vigência da Lei, pena de redução salarial ilícita,
porquanto fora dos parâmetros constitucionais.

Não se trata de reconhecimento de direito


adquirido a determinado estatuto legal, mas sim, de não
aplicação do disposto de alteração legislativa naquelas
hipóteses que implicariam redução salarial, por exemplo, por
exemplo, pela desconsideração de períodos de tempo à
disposição do empregador até então considerados sob a égide
da lei anterior.

Aplica-se, no particular, o entendimento que


foi consagrado pelo C. TST, por exemplo, quando do início da
vigência da Lei 12740-2012, que alterou a base de cálculo do
adicional de periculosidade para os eletricitários, até então
regidos pela Lei 7369-1985 (Súmula 191, III, do C. TST, na
redação que lhe foi atribuída pela Res. 214/2016).”

Com base na lição do C. TST, entendo que a


aplicação imediata das referidas disposições legais aos
contratos de trabalho em vigência em 16.02.2017, hipótese dos
autos, fere, concomitantemente, o princípio da inalterabilidade
lesiva das condições contratuais (art. 468 da CLT) e o princípio
da irredutibilidade salarial previsto constitucionalmente (art.
7, VI, da Constituição da República). Observe-se.

Sendo assim, ainda que não se acate a


inconstitucionalidade acima postulada, com fulcro no estabelecido pelos
artigos 5º, XXVI e 7º, VI da Constituição Federal e 468 da CLT e no Princípio
do Não Retrocesso Social, subsiste o direito da parte reclamante a receber como
extras aquelas horas laboradas além da quarta consecutiva e sexta intercalada
a partir de 16.02.2017, quando da vigência da Lei 13.415/2017.

6.3 – PEDIDO

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 72

O reclamado não se desincumbiu de seu ônus de


controlar a jornada da parte autora, não trazendo aos autos as grades horárias,
diários de classe e sequer os cartões de ponto preenchidos, razão pela qual há que
prevalecer a carga horária descrita na petição inicial (artigos 818 da CLT e 373, II
do CPC, artigo 400 do CPC e Súmula 338, I do C. TST).

Frisa-se que a prova oral produzida indica a


existência de controle de jornada pela ré, seja pelos diários de classe, pelas grades
horárias ou até mesmo pelo cartão de ponto nos seguintes moldes:

- Depoimento da preposta da reclamada:

“... Procuradora da autora: Era reduzido do mesmo jeito então.


E durante todo o período da autora, houve controle de horário?
A senhora sabe dizer?

Preposta: Era pedido para que o professor fizesse o controle de


horário. Agora esse professor não fez aí.

Procuradora da autora: Não mas cartão ponto, porque a


instituição não por responsabilidade do professor. A
instituição manteve o controle do horário durante todo o
período da professora Daniele sabe dizer?

Preposta: Tinha o controle de horário pela. Pelo diário de


classe.

Procuradora da autora: Então, sempre houve diário de classe,


grade horária, controle sempre houve durante todo o período?

Preposta: Sim...”

- Depoimento da primeira testemunha ouvida à


convite da autora:

“... Juíza: Vocês tinham cartão ponto? Controle de Jornada?


Diário? Tinha alguma coisa?

Testemunha: Nunca assinei nada. Aí teve. Para a gente começar


a bater o ponto. Só que daí veio a pandemia e daí acabou.

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 73

Juíza: Nesse período todo que a senhora trabalhou, nunca


bateu ponto, nem diário de classe, diário de?
Testemunha: Diário de classe a gente tinha. Todo dia a gente…

Juíza: E fazia anotação?

Testemunha: Sim, a gente entregava esses diários de classe. ...


Que Procuradora da autora: Entendi qual que era o seu horário
de trabalho na instituição entre 2018 e 2023. Com que
frequência que a senhora estava na instituição e que horários?

Testemunha: Eu trabalhava de segunda, na sexta feira a gente


quase não dava aula, mas a gente dava de segunda a quinta na
maioria das vezes. É assim sempre estava lá as quatro aulas, as
quatro aulas, as vezes das duas primeiras ou as vezes as duas
últimas. Mas eu estava lá de segunda a quinta, sempre. E aí em
2021 eu comecei a ajudar a coordenação, então eu ficava
também lá o período do dia eu ficava lá das oito até às seis e aí
voltava dar aula, né? Terminava o dia dando aula e às vezes aí
foi reduzida essa minha carga horária para 20 horas. Daí eu
ficava só de manhã ou só à tarde. Daí eu escolhia um período
para eu ir. Mas isso foi durante dois meses só.

Procuradora da autora: E daí que a senhora dava aula à noite a


senhora ficava até que horas? Ficava até às dez. E nos dias que
a senhora estava na instituição, os horários que a senhora
estava na instituições, a senhora encontrava a professora
Daniele lá?

Testemunha: Ah, sim, encontrava.

Procuradora da autora: Grade horária sempre houve na


instituição no período em que vocês trabalharam juntas.

Testemunha: Não entendi.

Procuradora da autora: Aquela grade sabe que vem a


disciplina, a turma, os horários das aulas.

Testemunha da autora: Assim a gente entendeu. Eles


mandavam no e-mail para gente essa grade né, com o nosso
nome e o que a gente iria dar...”

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Fls.: 74

Desta feita, incide na hipótese o disposto na Súmula


338 do C. TST, abaixo transcrita, devendo prevalecer a jornada declinada na peça
de ingresso:

JORNADA DE TRABALHO. REGISTRO. ÔNUS DA PROVA.

I - É ônus do empregador que conta com mais de 10 (dez)


empregados o registro da jornada de trabalho na forma do art.
74, § 2º, da CLT. A não-apresentação injustificada dos controles
de freqüência gera presunção relativa de veracidade da jornada
de trabalho, a qual pode ser elidida por prova em contrário.

Nestes termos, em decorrência do disposto no art. 74,


§ 2º1 da CLT, combinado com a Súmula 338 do E. TST, a reclamada estava
obrigada a manter os controles de horário de trabalho de seus empregados. Como
a reclamada não trouxe os documentos relativos à jornada de trabalho da autora,
mesmo sendo intimada sob as penas do artigo 400 do CPC para tanto, deve ser
aplicada a Súmula 338, I do C. TST, nos moldes descritos acima e no próprio
artigo 400 do CPC.

Diante do exposto, requer seja reformada a decisão,


de modo que sejam deferidas à obreira horas extras pelas horas aula
trabalhadas além de 4 horas aula lecionadas diárias consecutivas e de 6 horas
aula intercaladas.

No cálculo das horas extras postuladas pede que


sejam observados os valores quitados ao longo do pacto laboral, acrescido das
diferenças deferidas e postuladas, bem como a duração da hora-aula de 50
minutos, o adicional 50% e o multiplicador 4,5 semanas.

Requer reflexos de tal verba em repousos semanais


remunerados, e com estes em hora-atividade, a soma de todos em titulação
mestre e em quinquênios.

Pugna ainda que as diferenças ora postuladas


acrescidas dos reflexos requeridos no parágrafo anterior reflitam em aviso
prévio indenizado, férias acrescidas do terço constitucional, décimos terceiros
salários e todas somadas em FGTS.

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Fls.: 75

7 – DA MULTA CONVENCIONAL – MORA


SALARIAL

Caso este Tribunal entenda que não há nulidade a


ser declarada, nos termos pleiteados na preliminar do presente apelo, sendo
possível adentrar ao mérito do Recurso desde já, pede seja reformada a decisão
de primeiro grau no que tange à multa convencional por mora salarial, nos
seguintes termos:

Na inicial, postulou a parte autora o pagamento de


multa convencional por mora salarial.

O pedido restou assim formulado (fl. 61):

Em sentença, a ilustre magistrada houve por bem


confundir o pedido formulado acima transcrito com as multas convencionais.
Deste modo, deferiu (fls. 918/919):

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Fls.: 76

“2.10. MULTAS CONVENCIONAIS.

Por ter sido reconhecida, na presente decisão, a


violação da cláusula convencional relativa ao pagamento de salário no
prazo, merecem ser as reclamadas condenadas ao pagamento da
multa convencional pelo instrumento violado, conforme
estabelecido na respectiva cláusula penal, observados seus precisos
termos, limitadas ao valor da obrigação principal corrigida por ocasião
da liquidação, conforme entendimentos abaixo transcritos, com os quais
se comunga:

OJ nº 54 da SDI1 - MULTA. CLÁUSULA PENAL.


VALOR SUPERIOR AO PRINCIPAL. O valor da
multa estipulada em cláusula penal, ainda que diária,
não poderá ser superior à obrigação principal
corrigida, em virtude da aplicação do artigo 412 do
Código Civil de 2002 (art. 920 do Código Civil de
1916)

MULTAS CONVENCIONAIS. LIMITAÇÃO. A


princípio, o valor da cominação estipulado na
cláusula penal dos instrumentos negociais coletivos
deve ser respeitado, porquanto decorre da autonomia
da vontade das partes convenentes (CF, art. 7.º,
XXVI). Não obstante, estabelece o Código Civil (CC),
no seu artigo 412, que o montante da penalidade não
pode exceder o da obrigação principal, limitação de
ordem legal à liberdade das partes que deve ser
observada. Nesse sentido, esta Turma firmou
entendimento, sufragado no item II da Orientação
"interna corporis" n.º 53, de que é devida somente
uma multa convencional por instrumento normativo
descumprido, exceto se houver previsão normativa
diversa e, neste caso, atentando-se ao limite do valor
principal. Recurso ordinário do reclamante conhecido
e parcialmente provido. (RO nº 00564-2008-089- 09-
00-4. TRT9 - T3. Rel. Altino Pedrozo dos Santos.
DEJT 26.08.2011 - grifo nosso)

Afasta-se expressamente a reincidência mensal por


acarretar enriquecimento sem causa.

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Fls.: 77

Não há que se falar em descontos previdenciário e/ou


fiscal, pois a parcela deferida possui natureza indenizatória.

Defere-se nestes termos.”

Merece reforma.

A ilustre magistrada se equivocou ao deferir a multa


convencional insculpida na cláusula septuagésima quarta das CCT´s da
categoria2 vigentes à época do contrato da autora, eis que a multa pleiteada é a
de número 8 das CCTs 2016/2017 e 2017/2018, 6 da CCT 2018/2020, 2019/2021,
2020/2022, 2021/2023 e 2022/2024, conforme petição inicial à fl. 61:

CLÁUSULA SEXTA - ATRASO DE PAGAMENTO


Fica estabelecida uma multa de 10% (dez por cento) sobre o
saldo salarial na hipótese de atraso no pagamento de salários
até 20 (vinte) dias e de 0,5% (meio por cento) por dia no período
subsequente, limitada a sanção ao valor equivalente ao da
obrigação principal devida.

Como se verifica, a indenização convencional em


nada se relaciona com a multa convencional deferida pelo Juízo.

Não há dúvidas quanto ao reiterado atraso no


pagamento de salários à autora.

Em primeiro lugar, cumpre observar que o reclamado


não contesta a alegação de que pagava salários em atraso à autora, pelo que a
alegação da obreira deve ser considerada verdadeira, em face do que preceitua o
artigo 341 do CPC.

Ademais, a primeira testemunha ouvida a convite da


autora, professora Rosana, indicou com precisão em seu depoimento que ocorria
atraso salarial, nos seguintes moldes (fls. 787/788 da degravação):

2 CLÁUSULA SEPTAGÉSIMA QUARTA - MULTA POR DESCUMPRIMENTO


Fica estabelecido que o não cumprimento de quaisquer das cláusulas da presente
Convenção Coletiva de Trabalho importará em uma multa equivalente a 10% (dez por
cento) do maior piso salarial da categoria, por cláusula infringida, em favor da parte
prejudicada.

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Fls.: 78

“...

Juíza: Teve, ocorreu atraso nos seus salários?

Testemunha: Sim, várias vezes. ...

Procuradora da autora: Em relação a esses atrasos no


pagamento do salário. Vocês chegaram a conversar com a
instituição? Chegaram a tratar sobre esse assunto?

Testemunha: Sim.

Procuradora da autora: Houve algum posicionamento, algum


retorno?

Testemunha: Não. Até esses atrasos eram bem recorrentes e eu


assim ficava bem com medo de, por exemplo, fazer uma conta.
Eu não sabia quando que eu ia conseguir pagar o boleto,
porque nunca era. A gente nunca sabia se no quinto dia útil
realmente a gente ia receber. Não tinha isso, a gente nem sabia
quanto ia receber, porque o mês eles pagavam um valor e no
outro mês era outro valor. Aí férias e 13.º atrasava tudo. Então
a gente não podia contar com aquilo mesmo...”

As convenções coletivas da categoria estabelecem


multa em face do atraso no pagamento dos salários nos seguintes termos
(cláusula 8ª – CCT 2021/2023 – fl. 180 por exemplo):

CLÁUSULA SEXTA - ATRASO DE


PAGAMENTO Fica estabelecida uma multa de 10% (dez por
cento) sobre o saldo salarial na hipótese de atraso no
pagamento de salários até 20 (vinte) dias e de 0,5% (meio por
cento) por dia no período subsequente, limitada a sanção ao
valor equivalente ao da obrigação principal devida.

Não aplicar a multa convencional respectiva viola a


norma coletiva e, por conseguinte, o artigo 7º, XXVI da CF, que assim estabelece:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos


e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social:

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Fls.: 79

...
XXVI - reconhecimento das convenções e
acordos coletivos de trabalho;

Frente ao exposto, requer seja reformada a decisão


de primeiro grau, de modo que sejam deferidas à autora multas normativas em
face do atraso no pagamento dos salários, férias acrescidas do terço
constitucional e décimos terceiros salários no importe de 10% (dez por cento)
sobre o saldo salarial pelo atraso no pagamento de salários até 20 (vinte) dias e
de 0,5% (meio por cento) por dia no período subsequente, considerando- se os
valores pagos, deferidos e os postulados na presente ação.

8 – DO HOME OFFICE

O Juízo a quo houve por bem indeferir o pedido da


autora de reembolso das despesas relativas ao tempo em que laborou em Home
Office, no montante de R$ 200,00 mensais, sob o fundamento que não teria a
mesma carreado aos autos qualquer comprovante de despesa relativo ao período.

Merece reforma.

Primeiramente, indica-se que o reclamado não


impugna as alegações da autora elencadas na exordial no que tange ao aumento
das despesas decorrentes do labor em home-office.

Desse modo, os fundamentos expostos na exordial e


não impugnados pelo réu, devem ser tidos como verdadeiros, em detrimento ao
disposto no artigo 341 da CLT, que ora se transcreve:

341. Incumbe também ao réu manifestar-se


precisamente sobre as alegações de fato constantes na petição
inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas, salvo
se (...)

Cumpre também observar que a imposição legal


quanto à obrigação do empregador prover na integralidade os recursos
necessários para o trabalho em home office de seu empregado decorre do artigo
2º da CLT, que assim estabelece:

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Fls.: 80

Art. 2º - Considera-se empregador a empresa,


individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade
econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de
serviço.

Ou seja: é do empregador o risco da atividade


econômica, não podendo o mesmo ser transferido ao trabalhador. Uma vez
reconhecido o labor em home office, bem como que houve aumento nas despesas
do empregado, é dever do empregador supri-las, pois é seu o risco econômico da
atividade. Tal fato não ocorreu no caso em tela.

A preposta das rés confessou em seu depoimento


que a Instituição de Ensino não concedeu ajuda de custo e sequer mobiliário para
que os docentes laborassem em Home-Office (fls. 783/784 da degravação):

“... Procuradora da autora: Não sabe. E no período em que ela


trabalhou em home office. Acho que a senhora mencionou
quando que foi esse período.

Preposta: Acho que 2020, se eu não estou enganada e salvo


engano.

Procuradora da autora: Até quando? Quando te voltaram


presencialmente, sabe dizer?

Preposta: Olha doutora, como ela fazia a supervisão do estágio


e ficou bastante tempo sem que os alunos pudessem ir até o
hospital. Eu não vou saber precisar quanto tempo, mas acho
que creio que um ano, não sei se de seis meses a um ano.

Procuradora da autora: E sabe se a instituição chegou a fornecer


algum equipamento mobiliário, professor a fazer as aulas em
casa?

Preposta: Não. Não, não.

Procuradora da autora: Não. Sabe se houve alguma ajuda de


custo por parte da instituição?

Preposta: Não...”

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Fls.: 81

Destaca-se que é fato notório que para que fosse


possível exercer o labor em Home-Office, os docentes tiveram que arcar com o
aumento das suas despesas, com:

1º - Energia elétrica;

2º - Internet;

3º - Telefonia;

4º - Plataformas virtuais;

5º - Equipamentos de áudio e vídeo mais eficientes;

6º - Mobiliário adequado para que as novas


atividades docentes à distância não lhes causassem doenças profissionais,
entre outros.

Nesse sentido, a primeira testemunha ouvida a


convite da parte autora, professora Rosana, indicou em seu depoimento que
houve aumento de despesas, e que a reclamada não prestou qualquer auxílio (fls.
799/800):

“...
Procuradora da autora: No período que a
senhora trabalhou na pandemia, a senhora chegou a trabalhar
em home office? Houve algum aumento de despesa na sua, na
sua casa, no período que a senhora trabalhou remotamente ou
não?

Testemunha: Na na minha. Sim, porque a


minha internet não era muito boa e como eu moro num sobrado
no meu quarto, eu não conseguia dar aula porque a rua era
muito movimentada, muito barulho, não conseguia dar aula.
Então eu montei algo lá na sala da minha casa. Só que a internet
lá embaixo não pegava. Então eu tive que contratar uma
internet melhor e colocar um roteador lá embaixo. Mas esse foi
o meu caso.

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Fls.: 82

Procuradora da autora: E a senhora teve que


fazer alguma adaptação na sua casa em termos de móveis, de
ambientes, para dar aula remotamente?

Testemunha: Sim, sim, sim. Foi comprado uma


mesa para colocar na sala, né? E foi colocado esse roteador novo
lá.

Procuradora da autora: E a instituição ela


chegou a disponibilizar algum técnico caso vocês tivessem
algum problema para ter alguma orientação, alguma ajuda no
período de aula remota?

Testemunha: Não, não que eu lembre, não.

Procuradora da autora: E essa situação de ajuste


de equipamentos. A senhora sabe dizer se isso aconteceu com
a professora Daniele? Com os outros professores?

Testemunha: Não sei. Não sei falar...”

O fato da parte autora não ter juntado aos autos os


comprovantes de gastos arcados não retira o direito de ressarcimento.

Isso porque, se houve aumento das despesas, essas


devem ser suportadas pelo empregador, de modo que o que se buscava era uma
sentença que reconhecesse o direito do trabalhador ao ressarcimento de
eventuais gastos suportados em face do labor em Home Office.

Isso tudo com base no que determina o artigo 21 da


Convenção 155 da OIT sobre o tema:

“Art. 21 — As medidas de segurança e higiene


do trabalho não deverão implicar nenhum ônus financeiro para
os trabalhadores.”

E nem poderia ser diferente em face do estabelecido


pelo artigo 2º da CLT, abaixo transcrito, visto que um dos pilares do Direto do
Trabalho é justamente atribuir-se os riscos do negócio ao empregador:

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Fls.: 83

“Art. 2º - Considera-se empregador a empresa,


individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade
econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de
serviço.”

Neste sentido os enunciados da ANAMATRA


aprovados na 2ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho, que trata
do assunto:

25. TELETRABALHO: DESCABIMENTO DA


MERA TRANSFERÊNCIA DE CUSTOS PATRONAIS A
interpretação do artigo 75-D da CLT deve ser feita de forma
sistemática, sendo que o contrato escrito pode dispor sobre a
forma de custeio dos equipamentos e da infraestrutura
necessários ao labor pelo empregador, bem como sobre a forma
de reembolso das despesas eventualmente feitas pelo
empregado, não sendo possível transferir ao empregado os
custos do labor realizado em regime de teletrabalho, em
atenção ao disposto no artigo 2º, caput, da CLT...

70. TELETRABALHO: CUSTEIO DE


EQUIPAMENTOS O contrato de trabalho deve dispor sobre a
estrutura e sobre a forma de reembolso de despesas do
teletrabalho, mas não pode transferir para o empregado seus
custos, que devem ser suportados exclusivamente pelo
empregador. Interpretação sistemática dos artigos 75-D e 2º da
CLT à luz dos artigos 1º, IV, 5º, XIII e 170 da Constituição da
República e do artigo 21 da Convenção 155 da OIT.”

Seria muito fácil ao empregador esperar que o


empregado arque com os valores decorrentes de energia elétrica, internet
potente, câmera para transmissão das aulas, entre outros equipamentos
necessários para lecionar suas aulas, sem previsão de qualquer reembolso.

Os reclamados agem como se fosse dever do


empregado arcar com as despesas dos equipamentos necessários para que possa
laborar, o que sob nenhum viés pode se admitir, o que foi respaldado pelo
entendimento do Juízo a quo.

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Fls.: 84

Inclusive, o entendimento jurisprudencial é


uníssono quanto a necessidade de reembolso das despesas, sob pena de violação
ao artigo 2º da CLT:

“RECURSO ORDINÁRIO DO RÉU. DESVIO


DE FUNÇÃO. A testemunha do autor afirmou que o
reclamante, desde a admissão, exercia a função de
coordenador, comprovando, portanto, o desvio de função
alegado. HORAS EXTRAS E INTERVALO
INTRAJORNADA. A testemunha do autor corroborou a
informação do preposto de que o reclamante se reportava aos
srs. Plínio e Daniel Oliva. Ademais, o próprio preposto
asseverou que a admissão e demissão de funcionários cabia
apenas aos RH. Ressalte-se, por oportuno que, como bem
observou o juiz a quo, alguns recibos de pagamento apontam
a quitação de horas extras (ID 0ff3905), o que vai de encontro
com a tese defensiva de ausência de controles sobre a jornada
do autor. Cumpre esclarecer que a vantagem pecuniária
representada pela gratificação do cargo há de ser combinada
com o requisito determinante alegado pela ré, qual seja, a
fidúcia superior e os poderes de gestão. Da análise do
conjunto fático-probatório, portanto, emerge a conclusão de
que o Autor exercia função "essencialmente técnica". Tratava-
se de execução de atribuições que não poderiam repercutir
diretamente nos resultados da atividade do empregador. Em
relação ao intervalo intrajornada, a supressão ou concessão
parcial do intervalo destinado à alimentação e ao repouso do
trabalhador, no curso da jornada de trabalho com duração
superior a seis horas, enseja o pagamento integral da hora que
deveria ter sido de repouso, com acréscimo de 50%, sem
dedução dos minutos efetivamente usufruídos. Pacífica
outrossim a natureza salarial da parcela. Exegese do art. 71, §
4º, da CLT e Súmula nº 437 do C. TST. REEMBOLSO DE
DESPESAS. É inadmissível que os custos operacionais do
empreendimento sejam suportados pelo empregado. No caso,
entendo ter havido transferência de custos à parte
hipossuficiente da relação empregatícia em flagrante violação
ao artigo 2º da CLT e ao princípio da vedação ao
enriquecimento sem causa. Porém, de acordo com os gastos
informados na planilha juntada pelo autor a título de
despesas com o homme office, é possível verificar que a média
de gastos do autor com luz no período foi de R$ 97,69.

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Fls.: 85

RECURSO ORDINÁRIO DO AUTOR. COMISSÕES. Além


de ficar comprovado que o reclamante realizava vendas, a
prova oral demonstrou a manobra feita pela ré para se eximir
da obrigação de pagar comissões ao reclamante. Assim, diante
da prova dos autos concluo que o autor faz jus às comissões
pois em que pese não ser da área comercial, realizava vendas
como os funcionários de tal área e era cobrado por elas pelos
superiores hierárquicos. DANO MORAL. O fato ilícito
invocado na pretensão de indenização por dano moral não se
confunde com a prova do dano em si mesmo, porque, quanto
a este último, trata-se de dano in re ipsa, ou seja, que
independe da prova do efetivo prejuízo sofrido. O fato
danoso, entretanto, não prescinde de prova, na hipótese, não
produzida. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. No caso,
considerando-se que ação foi proposta em 09/11/2017,
portanto, antes de 11/11/2017, são indevidos os honorários
advocatícios. I -(TRT-1 - RO: 01018705020175010031 RJ,
Relator: MARIO SERGIO MEDEIROS PINHEIRO, Data de
Julgamento: 24/09/2019, Primeira Turma, Data de Publicação:
04/10/2019).

O entendimento doutrinário vem nesse mesmo


sentido:

“Relativamente aos equipamentos necessários


para a realização do teletrabalho e despesas usuais
correspondentes (aquisição de aparelhos tecnológicos e
instalações de suporte; assinaturas de telefonia e/ou internet;
etc.) a nova Lei estabelece regra algo imprecisa. Estipula que as
“disposições relativas à responsabilidade pela aquisição,
manutenção ou fornecimento dos equipamentos tecnológicos e
da infraestrutura necessária e adequada à prestação do trabalho
remoto, bem como ao reembolso de despesas arcadas pelo
empregado, serão previstas em contrato escrito” (art. 75-D,
caput, CLT).

Não obstante certa imprecisão da Lei nesse


tópico, o fato é que a CLT segue a diretriz geral de que os custos
e encargos relativos ao contrato empregatício e à prestação de
serviços nele contratada cabem ao empregador, ao invés de ao
empregado. Isso é o que deflui do próprio conceito de empregador

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Fls.: 86

explicitado pela ordem jurídica. De fato, o art. 2º, caput, da CLT,


enfatiza ser empregador “a empresa individual ou coletiva, que
assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria
e dirige a prestação de serviço” (grifos acrescidos). Nesse quadro,
a regra do artigo 75-D da CLT tem de ser interpretada em
harmonia com a regra do art. 2º, caput, da mesma CLT,
colocando sob onus do empregador esses custos inerentes ao
teletrabalho3.”

Ainda, importante destacar que conforme estudo


realizado pelo Professor da Universidade Federal do Paraná, Dr. Marco Aurélio
Serau Júnior, o aumento de gastos da classe trabalhadora é eminente, e não deve
ser permitido que o empregado arque com o ônus do labor remoto,
demonstrando vez mais a importância da representação sindical no caso em
comento, nos seguintes moldes:
“...

Conforme já mencionado, outra questão que


afeta a classe trabalhadora diz respeito ao aumento dos gastos
com, por exemplo, conta de luz, internet e demais gastos, por
outro lado, não recebem em contrapartida um valor mensal
justo.
...

Tendo em vista os vazios legislativos em


determinadas matérias, a atuação sindical no tocante ao
controle da jornada de trabalho, a garantia do direito à
desconexão e o custeio das tecnologias e gastos com a
infraestrutura poderia corroborar uma execução do teletrabalho
de forma mais justa, protegendo a classe trabalhadora e não
permitindo que ela arque com o preço da crise econômica trazida
pelo contexto de pandemia de COVID-19. Nesse sentido defendeu
o sindicato UGT, União Geral dos Trabalhadores, ao reivindicar
que as empresas arquem com os equipamentos informáticos, as
redes de Wi-Fi e demais utensílios que forem necessários para a
execução do ofício (OLiAS,2020).

Em suma, a adoção do modelo de teletrabalho se


deu de forma urgente como forma de dar continuidade à execução

3DELGADO. Mauricio Godinho; DELGADO. Gabriela Neves. A Reforma Trabalhista no Brasil


com comentários à Lei nº 13.467/2017. LTR, 2ª edição, 2018, p. 140/141.

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Fls.: 87

dos trabalhos e, ao mesmo tempo, garantir o isolamento


necessário da população, como forma de prevenção ao vírus.
Todavia, essa ampla - e abusiva - adoção gerou muito mais
consequências negativas para a classe trabalhadora, em
comparação com os efeitos para o empresariado.

Diante das consequências expostas, bem como


as declarações de várias empresas que pretendem continuar com
o teletrabalho como modelo padrão de execução do trabalho,
conclui-se que é de suma importância uma regulamentação do
trabalho na qual se resquarde os direitos e garantias
trabalhistas, respeitando a saúde dos trabalhadores e
trabalhadores e a justa definição da responsabilidade com os
gastos com estrutura e infraestrutura.4”

Cita-se pesquisa realizada pelo SINPRO/RS, na


pandemia (abril de 2021), com 1.195 professores, indicando valor médio gasto
com adequação do espaço de trabalho em R$ 3.143,02, especialmente com planos
de internet, aquisição de equipamentos e adequação física do espaço de trabalho5:

4 JUNIOR, Marco Aurélio Serau. O Abuso do Teletrabalho a partir da Legislação Emergencial


da Pandemia COVID-19. Artigo publicado em 09.12.2020. p. 11/12. Acesso em
<https://periodicos.unb.br/index.php/revistadedireitounb/article/view/32044/28359>
Acesso em 14.10.2021.
5 SINPROS/RS. Pesquisa Realidade Docente 2021 Sinpro/RS - Análise Preliminar. Disponível

em: https://www.extraclasse.org.br/wp-content/uploads/2021/04/Pesquisa-Docentes-
An%C3%A1lise-Preliminar-2021.pdf. Acesso em: 30.06.2023

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Fls.: 88

Dessa maneira, vislumbra-se que ao contrário do


que entendeu a d. Julgadora a quo, o empregador possui mais vantagens que o
próprio empregado na adoção da modalidade Home-Office, de modo que não
pode transferir o ônus do negócio aos substituídos.

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Fls.: 89

Citam-se dois importantes precedentes, que indicam


a existência de despesas suportadas pelos empregados em virtude da
modalidade de trabalho:

- Pagamento pela UNIFAEL de parte das despesas


adicionais decorrentes das aulas que passaram a ser lecionadas no âmbito do
domicílio dos professores mediante indenização mensal de R$ 100,00 para seus
professores em face do teletrabalho, consoante se demonstra pela transcrição
do holerite do Professor Marcio Borges Lacerda, que leciona para aquela
instituição de ensino superior (fls. 271 e seguintes):

- Pagamento pela PETROBRÁS por 9 meses de


pandemia de valor fixo de R$ 1.000,00 (equivalente a R$ 111,11 mensais) para
seus empregados a título de indenização pelo teletrabalho o que se evidencia
com a juntada da liminar deferida em desfavor da Petrobras nos autos de
número 0100455-61.2020.5.01.0052 (fls. 252 e seguintes):

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Fls.: 90

Sendo assim, por esses fundamentos, são devidos os


ressarcimentos das despesas arcadas pela autora em decorrência do labor no
Home Office.

Diante de todo o exposto, pugna pela reforma da r.


sentença, a fim de que seja:

a) Reconhecido que o valor médio das despesas


do reclamante acrescido da locação dos bens móveis e imóveis pessoais do
docente colocados à disposição do empregador em face do deslocamento das
atividades presenciais para o domicílio do docente corresponde a R$ 200,00
mensais;

b) Condenados os reclamados ao pagamento


correspondente no período compreendido entre 17 de março de 2020 e 26 de
abril de 2021.

9 - DOS DANOS MORAIS

O Juízo de primeiro grau houve por bem indeferir o


pedido da parte autora de pagamento de indenização por danos morais nos
seguintes termos (fl. 920):

“Embora seja notório que a sonegação de


direitos trabalhistas provoca transtornos à vida pessoal do
trabalhador, razoável concluir que alcança a esfera patrimonial
resolvendo-se com o acolhimento do pleito de natureza
condenatória.

Conferir ao fato a elástica interpretação


pretendida pela demandante significaria banalizar,
perigosamente, a reparação do dano moral, pondo em risco seu
escopo precípuo de resguardar os direitos da personalidade.

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Fls.: 91

Corroborando tal entendimento, vejamos:

ATRASO NO PAGAMENTO DE VERBAS


RESCISÓRIAS. DANOS MORAIS NÃO
CARACTERIZADOS. Para a configuração do ato
ilícito, apto a ensejar a responsabilidade civil, é
indispensável o concurso de três elementos: conduta
humana, comportamento voluntário causador de
prejuízo; nexo causal, vínculo que une o agente ao
prejuízo causado; e o dano propriamente dito, lesão a
um interesse jurídico material ou moral (arts. 186 e
927 do Código Civil). No caso em apreço, porém, o
dano moral vem sustentado apenas no atraso na
quitação das verbas rescisórias, dando ensejo à busca
da tutela jurisdicional, o que de fato ocorreu, sendo a
presente demanda em face das Rés acolhida
parcialmente. Logo, o pedido indenizatório sustenta-
se no próprio direito usurpado, sem que a Autora
comprovasse ofensa ou humilhação por perda de
crédito ou mesmo por contas não pagas, de molde a
revelar repercussões patrimoniais e morais para ser
devida a indenização pleiteada. Recurso da
Reclamante a que se nega provimento, nesse
particular. (RO nº 17093-2013-028-09-00-0. TRT9 -
T7. Rel. Ubirajara Carlos Mendes. DEJT 11.03.2014)

Por todo o exposto, indefere-se.”

Pois bem.

A sentença merece reforma tendo em vista que o


reconhecimento de pagamento de salários em atraso por si só gera o dever de
indenização pelo empregador.

O atraso reiterado no pagamento de salários


configura dano moral in re ipsa, nos termos da Súmula 33 deste E. TRT da 9ª
Região, tendo em vista a angústia que o comprometimento no orçamento familiar
causa ao trabalhador, não dependendo de prova do dano:

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Fls.: 92

ATRASO REITERADO OU NÃO PAGAMENTO DE


SALÁRIOS OU DE VERBAS RESCISÓRIAS. DANO
MORAL. INDENIZAÇÃO:

I - O atraso reiterado ou o não pagamento de salários


caracteriza, por si, dano moral, por se tratar de dano in re ipsa;

A conduta da reclamada afronta os incisos V e X do


artigo 5º da Constituição Federal:

“Art. 5.º (...)

V - é assegurado o direito de resposta,


proporcional ao agravo, além da indenização por dano
material, moral, ou à imagem...

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada,


a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação.”

Embasam o presente pleito indenizatório os já citados


incisos V e X, do art. 5º da Constituição Federal, bem como os arts. 186, 187, 927
e 944 do Código Civil:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de


um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou bons
costumes.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e


187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão


do dano.”

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Fls.: 93

Cumpre observar que o fato de haver apuração de


multa convencional pelo atraso no pagamento de salários não afasta o direito ao
recebimento de indenização pelo dano moral correspondente.

Diante do exposto, pugna pela reforma da decisão


monocrática, de modo a reconhecer os danos morais sofridos pela parte
reclamante, bem como sejam as reclamadas condenadas ao pagamento de
indenização no montante correspondente a 10 salários da reclamante, de
acordo com os critérios estabelecidos pelo § 1º, inciso III do artigo 223-G da
CLT, com a redação dada pela Lei 13.467/2017, ou outro valor inferior ou
superior que este Tribunal entenda devido, considerando-se a gravidade do
dano causado, o porte econômico da reclamada e o caráter educativo da
condenação, como forma de desestimular a prática de condutas ensejadoras de
dano moral.

10 – JUSTIÇA GRATUITA

O ilustre magistrado de primeiro grau houve por bem


negar o pedido de justiça gratuita formulado pela autora ao fundamento que a
mesma receberia valor superior a 40% do teto da Previdência Social.

Eis os termos da decisão (fl. 921):

“Considerando o disposto no § 3º do art. 790 da


Consolidação das Leis do Trabalho, que faculta aos juízes a concessão
do benefício da justiça gratuita aqueles que perceberem salário igual ou
inferior a 40% do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de
Previdência Social.

Tendo-se em vista que tal valor é de R$


7.507,49 (Portaria Interministerial MTP/ME nº 26/2023), e
diante do registro vigente em CTPS, verifica-se que a reclamante
percebe valor superior a R$ 3.002,99 mensais, 40% do teto
previdenciário, não se concede os benefícios da justiça
gratuita. “

A decisão merece reforma.

A reclamante exerce sua prerrogativa de postular os


benefícios da Justiça Gratuita dado que sua atual condição econômica não lhe

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Fls.: 94

permite arcar com custas processuais e honorários advocatícios sem prejuízo de


seu sustento e de sua família.

Assim procede considerando que os benefícios da


Justiça Gratuita podem ser solicitados em qualquer fase do processo
independente do grau de jurisdição, nos moldes aduzidos pela Orientação
Jurisprudencial 269-TST:

269. JUSTIÇA GRATUITA. REQUERIMENTO DE


ISENÇÃO DE DESPESAS PROCESSUAIS. MOMENTO
OPORTUNO

I - O benefício da justiça gratuita pode ser requerido


em qualquer tempo ou grau de jurisdição, desde que, na fase
recursal, seja o requerimento formulado no prazo alusivo ao
recurso;

Conforme cópia de sua CTPS ora anexada, o único


vínculo empregatício que a autora mantém atualmente é com CESUMAR -
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE MARINGA LTDA, onde auferiu como
última remuneração o valor de R$ 2.105,84, valor este abaixo do limite de 40% do
teto da Previdência Social, nos termos do artigo 790, §3º da CLT:

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Fls.: 95

Enfatize-se que segundo entendimento


jurisprudencial predominante, os benefícios da Justiça Gratuita podem ser
pleiteados a qualquer tempo pelo hipossuficiente dado que em se tratando de
uma situação que se altera ao sabor das circunstâncias da vida, é perfeitamente
possível que a miserabilidade advenha no curso da relação processual:

GRATUIDADE DA JUSTIÇA. CONCESSÃO NA FASE


RECURSAL. É facultado ao Magistrado conceder à parte o
benefício da Justiça gratuita a qualquer tempo ou grau de
jurisdição, desde que, na fase recursal, seja requerido no prazo
do recurso, conforme o entendimento consolidado na OJ nº
269, I, da SDI-I, do TST. (TRT 4ª R.; ROT 0020616-
63.2019.5.04.0011; Décima Turma; Relª Desª Cleusa Regina
Halfen; Julg. 21/10/2020; DEJTRS 29/10/2020)

RECURSO ORDINÁRIO EM AGRAVO REGIMENTAL EM


MANDADO DE SEGURANÇA 1 - PEDIDO DE CONCESSÃO
DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA. PESSOA
FÍSICA. 1.1 - De acordo com a Orientação Jurisprudencial 269
da SbDI-1, „o benefício da justiça gratuita pode ser requerido
em qualquer tempo ou grau de jurisdição, desde que, na fase
recursal, seja o requerimento formulado no prazo alusivo ao
recurso‟. 1.2 - Na hipótese, o pedido foi efetuado dentro do
prazo recursal e em conformidade com a lei, nos termos do art.
790, § 3º, da CLT. Pedido deferido. […]. (RO - 100259-
92.2016.5.01.0000 , Relatora Ministra: Delaíde Miranda Arantes,
Data de Julgamento: 29/05/2018, Subseção II Especializada em
Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 01/06/2018)

RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA


LEI 13.015/2014. CUSTAS. VALOR DA CAUSA.
MAJORAÇÃO DE OFÍCIO. AÇÃO SOB A ÉGIDE DO
CPC/1973. Verifica-se que tanto a interposição da reclamação
trabalhista, como a sentença que majorou o valor da causa e o
prazo para a impugnação do valor da causa transcorreram na
vigência CPC de 1973, assim, a matéria será julgada com
amparo nas normas do CPC de 1973. No caso, a jurisprudência
desta Corte Superior entende ser inadmissível a majoração do
valor da causa de ofício pelo órgão julgador quando ausente

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Fls.: 96

impugnação da parte contrária, nos termos do art. 261 do


CPC/1973 e da Súmula 71 do TST. Precedentes. Recurso de
revista conhecido e provido. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
GRATUITA. DECLARAÇÃO DE POBREZA. ISENÇÃO DAS
CUSTAS PROCESSUAIS. O entendimento deste Tribunal
Superior é no sentido de afirmar que os benefícios da justiça
gratuita podem ser requeridos em qualquer tempo ou grau de
jurisdição, desde que, na fase recursal, seja o requerimento
formulado no prazo alusivo ao recurso, nos termos da OJ nº 269
da SDI-I. No caso, verifica-se que o reclamante juntou a
declaração de que não possui condições financeiras de arcar
com os custos do processo em sede de recurso ordinário à fl.
329 do PJE. Ademais, para a concessão da assistência judiciária,
basta a simples afirmação do declarante ou de seu advogado,
para se considerar configurada a sua situação econômica, nos
termos da OJ nº 304 da SDI-I. Precedentes. Recurso de revista
conhecido e provido. (RR - 1182-27.2013.5.02.0085 , Relatora
Ministra: Maria Helena Mallmann, Data de Julgamento:
20/06/2018, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 29/06/2018)

Ademais, o deferimento da Justiça Gratuita pode se


amparar tão somente na declaração de hipossuficiência da obreira acostada aos
autos.

No sentido de que basta a declaração de


hipossuficiência, transcreve-se aresto de lavra do Eminente Desembargador
Benedito Xavier da Silva, com voto vencedor da Desembargadora Thereza
Cristina Gosdal, nos autos de número AP 0000227-28.2018.5.09.0084:

“Todavia, prevaleceu no Colegiado o voto da


Excelentíssima Desembargadora Thereza Cristina Gosdal, no
sentido de que "a declaração da autora é suficiente para o
deferimento da justiça gratuita", conforme precedentes desta
Seção Especializada, a exemplo do acórdão proferido no
processo 0000904-66-2017-5-09-0513, de lavra do Excelentíssimo
Desembargador Cássio Colombo Filho (publ. em 27/03/2019):

‘Pleiteia a exequente a concessão dos


benefícios da justiça gratuita, nos termos da lei (fls. 142/143).

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Fls.: 97

O entendimento pacificado no TST é de que


basta a declaração feita pelo próprio interessado, ou por seu
advogado, de que não há condições de arcar com os custos do
processo para que seja deferida a justiça gratuita. Essa é a
diretriz da Súmula nº 463 do TST:

"ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.


COMPROVAÇÃO (conversão da Orientação Jurisprudencial
nº 304 da SBDI-1, com alterações decorrentes do CPC de 2015)
- Res. 219/2017, DEJT divulgado em 28, 29 e 30.06.2017

I - A partir de 26.06.2017, para a concessão da


assistência judiciária gratuita à pessoa natural, basta a
declaração de hipossuficiência econômica firmada pela parte
ou por seu advogado, desde que munido de procuração com
poderes específicos para esse fim (art. 105 do CPC de 2015);

...

De acordo com o art. 99 do CPC/2015, o pedido


de gratuidade da justiça pode ser formulado em recurso (Art.
99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na
petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de
terceiro no processo ou em recurso).

A recorrente instruiu a presente ação com a


declaração de hipossuficiência econômica de fl. 19,
devidamente assinada, na qual declarou, sob as penas da lei,
que não possui recursos suficientes para custear qualquer
demanda sem prejuízo do sustento próprio e de sua família.

Presume-se verdadeira essa declaração. A


presunção é relativa e admite prova em contrário, contudo, a
parte contrária não logrou demonstrar que os ganhos da
agravante são suficientes para sustentar os gastos pessoais e
familiares e, ainda, arcar com os custos decorrentes da presente
execução trabalhista.

Desse modo, dá-se provimento ao agravo de


petição da exequente, para lhe conceder os benefícios da justiça
gratuita".

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Fls.: 98

Ante o exposto, gratuita formulado pela


embargante...

Em Sessão Ordinária realizada nesta data, sob


a Presidência do Excelentíssimo Desembargador Arion
Mazurkevic; presente a Excelentíssima Procuradora Viviane
Dockhorn Weffort, representante do Ministério Público do
Trabalho; computados os votos dos Excelentíssimos
Desembargadores Benedito Xavier da Silva, Archimedes
Castro Campos Junior, Ricardo Tadeu Marques da Fonseca,
Thereza Cristina Gosdal, Ney Fernando Olivé Malhadas,
Adilson Luiz Funez, Célio Horst Waldraff e Arion Mazurkevic;
em férias os Excelentíssimos Desembargadores Aramis de
Souza Silveira, Eliazer Antonio Medeiros e Marco Antonio
Vianna Mansur, em licença o Excelentíssimo Desembargador
Cassio Colombo Filho, sustentou oralmente a advogada
Priscila Quadros Cury de Araujo, inscrita pela parte agravada;
aposentada a excelentíssima Desembargadora Eneida Cornel,
conforme Decreto do excelentíssimo Senhor Presidente da
República, de 5 de abril de 2019, publicado no Diário Oficial
da União de 8 de abril de 2019, Edição 67, Seção 2, página 1;
ACORDAM o s Desembargadores da Seção Especializada do
Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, por unanimidade
de votos, rejeitar a preliminar de não conhecimento do recurso,
arguida pelo embargado em contraminuta, e CONHECER DO
AGRAVO DE PETIÇÃO DA EMBARGANTE e da respectiva
contraminuta; por maioria de votos, vencido o excelentíssimo
Desembargador relator Benedito Xavier da Silva, deferir o
pedido de justiça gratuita formulado pela embargante...”

Trata-se de decisão, aliás, que segue na esteira de


consagrada jurisprudência consubstanciada pela Súmula nº 463 do TST:

"ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.


COMPROVAÇÃO.

I - A partir de 26.06.2017, para a concessão da


assistência judiciária gratuita à pessoa natural, basta a
declaração de hipossuficiência econômica firmada pela parte
ou por seu advogado, desde que munido de procuração com
poderes específicos para esse fim (art. 105 do CPC de 2015); ...

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Fls.: 99

E de abundante corrente jurisprudencial mesmo


depois do advento da Lei 13.467 de 13.07.2017:

JUSTIÇA GRATUITA. RECLAMANTE.


DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA. É entendimento
do TST de que a mera apresentação da declaração de
hipossuficiência é suficiente para a concessão dos benefícios
da justiça gratuita ao reclamante, mesmo após a vigência da
Lei 13.467/2017. (TRT-1 - ROT: 01010001920195010036 RJ,
Relator: ANGELO GALVAO ZAMORANO, Data de
Julgamento: 14/03/2022, Quarta Turma, Data de Publicação:
29/03/2022)
https://trt-
1.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1441249477/recurso-
ordinario-trabalhista-rot-1010001920195010036-rj

JUSTIÇA GRATUITA. POSTERIOR À LEI


13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA. A
nova redação do § 4ºdo art. 790, da CLT, não é incompatível
com a redação do artigo 99, § 3º, do CPC. A declaração de
pobreza, firmada pela Reclamante, faz presumir que a sua
situação econômica não lhe permite custear as despesas do
processo, nos termos da Lei 7.115/83, sendo tal documento
suficiente para assegurar-lhe os benefícios da Justiça Gratuita
e isentá-la do recolhimento das custas processuais,
ressaltando-se que, ao firmar referida declaração, a signatária
já se encontra sob as penas da lei. Nesse sentido, a Súmula 463
do C. TST. Portanto, a declaração de hipossuficiência,
acostada à inicial, é suficiente para que sejam deferidos os
benefícios da Justiça Gratuita à Reclamante. (TRT-2
10012249420205020382 SP, Relator: ADRIANA PRADO LIMA,
11ª Turma - Cadeira 4, Data de Publicação: 20/06/2022)
https://trt-
2.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1551214987/10012249420205
020382-sp

BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA.


CONCESSÃO. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA.
Na seara trabalhista, é suficiente para a concessão dos
benefícios da justiça gratuita ao empregado a declaração de
hipossuficiência firmada por ele ou por advogado munido

Assinado eletronicamente por: VALDYR ARNALDO LESSNAU PERRINI - Juntado em: 09/07/2024 11:25:01 - 1385912
Fls.: 100

com procuração específica, nos termos da Súmula nº 463, I, do


TST, mesmo após a vigência da Lei nº 13.467/15. Recurso
ordinário da reclamada conhecido e improvido. (TRT-11
00004994020205110005, Relator: ELEONORA DE SOUZA
SAUNIER, 2ª Turma) https://trt-
11.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1312358782/4994020205110
005

BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA.


PESSOA NATURAL. DECLARAÇÃO DE
HIPOSSUFICIÊNCIA ECONÔMICA. Para a concessão do
benefício da justiça gratuita à pessoa natural, basta a
declaração de hipossuficiência econômica, que constituiu
presunção de veracidade. Com efeito, conquanto o § 3º do art.
790 da CLT fixe a presunção de miserabilidade apenas em
favor daqueles empregados que possuem salário igual ou
inferior a 40% do limite máximo dos benefícios do Regime
Geral de Previdência Social, referido dispositivo legal,
consoante permite o art. 769 a CLT e art. 15 do CPC, deve ser
interpretado conjuntamente com o artigo 99, § 2º, do CPC, o
qual dispõe que somente será indeferido o pedido de
gratuidade da justiça "se houver nos autos elementos que
evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão
de gratuidade", presumindo-se "verdadeira a alegação de
insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural" (§
3º). No caso vertente consta dos autos a declaração de
hipossuficiência firmada pelo Autor, o que é suficiente para a
presunção de veracidade de que não possui recursos
necessários ao custeio da demanda. Provido o apelo do Autor,
no particular. (TRT-23 - ROT: 00006392920205230009 MT,
Relator: ADENIR ALVES DA SILVA CARRUESCO, 1ª
Turma, Data de Publicação: 09/02/2022)
https://trt-
23.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1375970915/recurso-ordinario-trabalhista-
rot-6392920205230009-mt

E uma vez concedido o pedido de Justiça Gratuita à


autora, a exigibilidade dos honorários sucumbenciais aos quais foi condenada
deve ficar suspensa por dois anos.

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A cessação da suspensão somente ocorre se o


empregado deixar de ser hipossuficiente, o que não ocorre necessariamente com
o simples recebimento de valores no processo em que houve condenação ao
pagamento de honorários em favor do advogado patronal – ou em outro -
especialmente se considerando que a exorbitante condenação ao pagamento de
honorários advocatícios, acima referida, seja mantida.

Neste sentido, os seguintes julgados:

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SUSPENSÃO


DA EXIGIBILIDADE. JUSTIÇA GRATUITA. Ante o
julgamento pelo STF da ADI-5766, em 20/10/2021, publicação
em 3/5/2022, declarando a inconstitucionalidade da expressão
"desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro
processo, créditos capazes de suportar a despesa", constante
do parágrafo 4º do artigo 791-A da CLT, e sendo o autor
beneficiário da justiça gratuita, fica suspensa a exigibilidade
do pagamento dos honorários advocatícios, por 2 anos, nos
moldes da parte final do parágrafo 4º do artigo 791-A da CLT.
(TRT-18 - ROT: 00105055920215180011 GO 0010505-
59.2021.5.18.0011, Relator: GENTIL PIO DE OLIVEIRA, Data
de Julgamento: 09/06/2022, Publicação DJE: 10.06.2022, 1ª
TURMA) -
https://sistemas.trt18.jus.br/visualizador/pages/conteudo.seam
?p_tipo=2&p_grau=1&p_id=51103029&p_idpje=792921&p_nu
m=792921&p_npag=x

HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA. JUSTIÇA


GRATUITA. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE. A questão,
atualmente, não comporta maiores discussões acerca da
melhor exegese a ser feita, diante da recente decisão do
Excelso Supremo Tribunal Federal que, por maioria, na ADIn
5.766/DF, declarou a inconstitucionalidade parcial do
parágrafo 4º, do artigo 791-A, da Consolidação das Leis do
Trabalho, de modo que os valores objeto da condenação a
título de honorários advocatícios sucumbenciais ficam sob
condição suspensiva de exigibilidade, a teor do que dispõe o
§ 4º, do já citado artigo 791-A, da CLT, afastando a

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compensação com outros créditos trabalhistas. (TRT-2


10006621220205020471 SP, Relator: ADRIANA MARIA
BATTISTELLI VARELLIS, 10ª Turma - Cadeira 3, Data de
Publicação DJE: 12/11/2021) -
https://pje.trt2.jus.br/consultaprocessual/detalhe-
processo/1000662-12.2020.5.02.0471/2#a0d06b9

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS -
BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA - SUSPENSÃO
DA EXIGIBILIDADE. Ao se considerar a situação de
hipossuficiência do obreiro, não elidida por prova em
contrário, a obrigação de pagar a verba honorária deve ficar
sob condição suspensiva de exigibilidade, enquanto perdurar
a situação que deu ensejo ao deferimento da justiça gratuita,
observado o prazo máximo legal de dois anos, após o qual
deverá ser extinta a obrigação, nos termos do artigo da norma
celetista já citado, com redação conferida pela Lei 13467/2017.
Não se desconsidera que mesmo o beneficiário da justiça
gratuita pode ser condenado ao pagamento de honorários
advocatícios, conforme § 4º, do artigo 791-A. Todavia, não se
pode admitir a exigibilidade imediata do pagamento da
condenação em honorários advocatícios de empregado
beneficiário da justiça gratuita, em condições de carência
econômica. Trata-se de verdadeira obstacularização do acesso
à prestação jurisdicional aos menos favorecidos
economicamente, não sendo demais afirmar que, por vezes, os
mais necessitados da tutela jurisdicional, principalmente no
âmbito desta Especializada. (TRT-3 - RO:
00106780620185030044 MG 0010678-06.2018.5.03.0044, Relator:
Adriana Campos de Souza Freire Pimenta, Data de
Julgamento: 04/10/2021, Primeira Turma, Data de Publicação
DJE: 07/10/2021) https://pje-
consulta.trt3.jus.br/consultaprocessual/detalhe-
processo/0010678-06.2018.5.03.0044/2#088e404

Em face do exposto, requer seja concedido o


benefício da justiça gratuita à autora.

Diante da concessão do benefício da Justiça Gratuita


à obreira, requer permaneça suspenso o pagamento de honorários

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sucumbenciais, independentemente da obtenção de créditos pela parte autora


em Juízo, inclusive em outro processo, sendo admitida a sua cobrança apenas
e tão somente se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado, ocorrer a
cessação das condições de hipossuficiência que justificaram a concessão dos
benefícios da Justiça Gratuita.

11 - DOS HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS –


PARÂMETROS DE CÁLCULO

11.1 – DA DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU

Com relação aos honorários sucumbenciais, assim


determinou o Juízo monocrático (fl. 921):

“2.14. HONORÁRIOS DO ADVOGADO.

Não tendo sido concedido os benefícios da justiça


gratuita, e considerando os critérios previstos no art. 791-A, § 2º da
Consolidação das Leis do Trabalho, arbitro em 10% sobre o valor dos
pedidos rejeitados, devidamente atualizados (em favor dos
advogados das rés, rateados).

Outrossim, considerando os critérios previstos no art.


791-A, § 2º da Consolidação das Leis do Trabalho, arbitro em 5% sobre
o valor de liquidação da sentença (em favor do advogado da parte
autora).

Defere-se, nestes termos”

Merece reforma.

11.2 – PARÂMETROS PARA CÁLCULO DOS


HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

A - ESTABELECIMENTO DE VALOR FIXO NOS


MOLDES ESTABELECIDOS PELO § 2º DO 791-A DA CLT

Pede seja reformada a decisão de primeiro grau que


condenou a parte autora ao pagamento de honorários em favor do patrono das
rés em percentual, de modo que os mesmos sejam arbitrados em valor fixo.

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Neste caso, merece prevalecer o critério a seguir


aduzido a título de apuração de honorários, em consonância com a orientação
expendida pela 3ª. Turma do E. TRT da 9ª Região, em Acórdão prolatado pela
Dra. Thereza Cristina Gosdal nos autos de número 0000626-88.2018.5.09.0009,
nos seguintes termos:

“A presente ação foi ajuizada em 2018, de


forma que se aplicam as disposições previstas no art. 791-A e
§§ da CLT, inseridas pela Lei 13.467/2017, na forma do art. 6º da
IN 41 do TST ("Na Justiça do Trabalho, a condenação em
honorários advocatícios sucumbenciais, prevista no art. 791-A,
e parágrafos, da CLT, será aplicável apenas às ações propostas
após 11 de novembro de 2017 (Lei nº 13.467/2017). Nas ações
propostas anteriormente, subsistem as diretrizes do art. 14 da
Lei nº 5.584/1970 e das Súmulas nos 219 e 329 do TST").

Dispõe o art. 791-A, da CLT (Incluído pela Lei


nº 13.467, de 2017):

"Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em


causa própria, serão devidos honorários de sucumbência,
fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de
15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da liquidação
da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo
possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa.

(...)

§ 3º Na hipótese de procedência parcial, o juízo


arbitrará honorários de sucumbência recíproca, vedada a
compensação entre os honorários."

Esta Turma passou a entender que no caso de


procedência parcial dos pedidos da parte autora (como ocorre
no caso em tela), nos moldes do § 3º do artigo 791-A da CLT, "o
juízo arbitrará honorários de sucumbência recíproca, vedada a
compensação entre os honorários". Assim, não é possível
reformar a sentença para excluir a condenação do reclamante
ao pagamento de honorários advocatícios em favor do patrono
da parte ré.

Entretanto, em face do previsto no § 3º do art.


791-A da CLT, ao contrário do que ocorre em relação aos

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honorários de sucumbência devidos ao advogado da parte


autora, para a fixação dos honorários de sucumbência a serem
pagos pelo empregado ao patrono da ré o Juízo não está adstrito
ao que estabelece o "caput" do art. 791-A da CLT, mas deverá
observar os critérios estabelecidos nos incisos de I a IV do § 2º
do mesmo artigo: "o grau de zelo do profissional"; "o lugar de
prestação do serviço"; "a natureza e a importância da causa"; e
"o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o
seu serviço".

Portanto, em face da sucumbência parcial do


autor, a fixação dos honorários não deve se dar com base em
percentual sobre o valor dos pedidos rejeitados, mas com base
na previsão do § 2º do art. 791-A da CLT. Em igual sentido, a
decisão proferida nos autos 0011994-34.2016.5.09.0084, julgado
em 15/08/2018, de relatoria do Exmo. Des. Aramis de Souza
Silveira.

Assim, mesmo sendo beneficiário da justiça


gratuita, havendo sucumbência parcial, o autor é devedor de
honorários, na forma do art. 791-A, § 4º da CLT. Observados os
parâmetros acima indicados, fixo os honorários de
sucumbência em favor do advogado da ré no valor de R$
3.000,00 (três mil reais), que se mostra adequado, considerando
a complexidade da causa, os pedidos julgados procedentes e o
zelo do advogado na condução do processo.

Ante o exporto, dou provimento parcial para


reduzir a condenação do autor em honorários advocatícios de
sucumbência para R$ 3.000,00 (três mil reais).”

Diversos outros Tribunais vêm decidindo de forma


convergente à decisão acima referida, entendendo que a condenação ao
pagamento de valor fixo pelo trabalhador viabiliza o acesso à justiça, ao mesmo
tempo que atende aos princípios de proporcionalidade e razoabilidade:

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUBENCIAIS.


ARBITRAMENTO EM VALOR FIXO. POSSIBILIDADE.
Permite-se o arbitramento em valor fixo dos honorários
advocatícios sucumbenciais impostos em primeiro grau à luz

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dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade,


observados os requisitos do art. 791-A, § 2º, da CLT. O MM.
Juízo de primeiro grau não está adstrito aos percentuais
fixados pelo caput do referido artigo, pois na imposição dos
honorários, nas situações arroladas pelo § 2º, deve-se observar
o grau de zelo do profissional; o lugar de prestação do serviço;
a natureza e a importância da causa; o trabalho realizado pelo
advogado e o tempo exigido para o seu serviço. (TRT-3 - RO:
00103434820195030174 MG 0010343-48.2019.5.03.0174, Relator:
Milton V.Thibau de Almeida, Data de Julgamento: 09/06/2020,
Terceira Turma, Data de Publicação: 10/06/2020.) https://trt-
3.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1110705817/recurso-
ordinario-trabalhista-ro-103434820195030174-mg-0010343-
4820195030174

AÇÃO AJUIZADA APÓS A VIGÊNCIA DA LEI 13.467/2017.


SUCUMBÊNCIA EXCLUSIVA DO RECLAMANTE.
BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS EQUITATIVOS. Para as ações ajuizadas
após a vigência da Lei 13.467/2017, em caso de sucumbência
exclusiva do trabalhador, é cabível a cobrança de honorários
advocatícios sucumbenciais, ainda que beneficiário da justiça
gratuita. Contudo, como não se pode criar obstáculos ao
acesso à Justiça Trabalhista, o juiz pode deixar de observar os
percentuais e fixar honorários equitativos nas situações de
sucumbência do reclamante, estipulando um valor fixo,
segundo à razoabilidade e à proporcionalidade. (TRT-18 -
ROPS: 00100057220185180051 GO 0010005-72.2018.5.18.0051,
Relator: ALDON DO VALE ALVES TAGLIALEGNA, Data de
Julgamento: 08/06/2018, 1ª TURMA) https://trt-
18.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/652339323/rops-
100057220185180051-go-0010005-7220185180051

ACÓRDÃO 1ª TURMA GDABP/acmg/cgel EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO. AÇÃO RESCISÓRIA. BANCO DO
ESTADO DO PIAUÍ. REAJUSTE SALARIAL DE 61,23% DO
ACORDO COLETIVO DE TRABALHO DE 1992.
PRESCRIÇÃO TOTAL. VIOLAÇÃO LEGAL NÃO
CONFIGURADA. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS.

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OMISSÃO. PROVIMENTO PARCIAL. Tratando-se de


sucumbência total ou parcial do trabalhador, a fixação dos
honorários advocatícios deve observar critérios equitativos,
independente de percentuais, considerando os parâmetros do
§ 2º do art. 791-A da CLT, podendo ser estipulado um valor
fixo, viabilizando assim o acesso à justiça e concretizando os
princípios de proporcionalidade e razoabilidade. Na hipótese
dos autos, tratando-se de ação ajuizada em 24/8/2018, após a
vigência da Lei nº 13.467/2017, configurada a sucumbência do
autor, ainda que beneficiário da justiça gratuita, incidem
honorários advocatícios, suspendendo-se, porém, sua a
exigibilidade (§ 4º do art. 791-A da CLT). Dessa forma,
verificada omissão na fundamentação dos honorários
sucumbenciais, integra-se o julgado para prestar
esclarecimentos, porém sem efeito modificativo. Embargos de
declaração providos em parte. (TRT-22 - ED:
000801682520185220000, Relator: Arnaldo Boson Paes, Data de
Julgamento: 20/02/2019, TRIBUNAL PLENO) https://trt-
22.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/682187075/embargos-de-
declaracao-ed-801682520185220000

Em face do exposto, considerando-se os critérios


aduzidos pelos itens I a IV do § 2º do artigo 791-A da CLT, violados segundo a
tese expendida no caso em tela, requer sejam os honorários devidos em favor
dos patronos dos empregadores delimitados em R$ 1.000,00 (hum mil reais), a
serem rateados entre os mesmos.

B – APLICAÇÃO DA SÚMULA 326 DO STJ

Em caráter subsidiário ao pedido no item A, em não


se entendendo pela condenação da autora ao pagamento de honorários em valor
fixo, sustenta-se que os honorários de sucumbência em favor do empregador
devem ser limitados aos pedidos integralmente improcedentes.

Esse critério afasta o raciocínio cartesiano que por


vezes tem orientado a fixação da verba honorária devida pela parte autora nessa
Justiça Especializada, correspondente à diferença entre a totalidade dos valores
postulados e a totalidade dos valores deferidos.

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Os honorários de sucumbência devem ser auferidos


levando-se em conta cada um dos pedidos formulados, razão pela qual havendo
acolhimento parcial de pedido examinado de per si, não há mais que se falar em
sucumbência recíproca, mas apenas e tão somente sucumbência patronal.

Nesse exato sentido a Súmula 326 do Superior


Tribunal de Justiça:

326 - Na ação de indenização por dano moral, a


condenação em montante inferior ao postulado na inicial não
implica sucumbência recíproca.

Nesta direção a jurisprudência também na esfera


trabalhista:

HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA
RECÍPROCA. FIXAÇÃO DE VALOR INDENIZATÓRIO
MENOR QUE O PLEITEADO. EXCLUSÃO DEVIDA. O
deferimento de indenização por danos morais em montante
inferior ao pleitado na inicial não implica em sucumbência
recíproca, porquanto o Autor não foi sucumbente no pedido
em si. É devida a exclusão, no caso, dos honorários de
sucumbência fixados na origem em favor do advogado da
Reclamada. Recursos ordinários conhecidos, desprovido o da
Reclamada e provido o do Autor. (TRT 10, 0000800-
55.2018.5.10.0111, Rel. Des. João Luis Rocha Sampaio, DJE
06.05.2019)

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
SUCUMBENCIAIS. PEDIDO DEFERIDO PARCIALMENTE.
NÃO CONFIGURAÇÃO DE SUCUMBÊNCIA PARCIAL. No
caso de procedência parcial de pedidos, aplica-se o disposto no
Enunciado nº 99 da 2ª Jornada de Direito Material e Processual
do Trabalho, in litteris: "SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. O
JUÍZO ARBITRARÁ HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA
RECÍPROCA (ART. 791-A, PAR.3º, DA CLT) APENAS EM
CASO DE INDEFERIMENTO TOTAL DO PEDIDO
ESPECÍFICO. O ACOLHIMENTO DO PEDIDO, COM
QUANTIFICAÇÃO INFERIOR AO POSTULADO, NÃO

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CARACTERIZA SUCUMBÊNCIA PARCIAL, POIS A VERBA


POSTULADA RESTOU ACOLHIDA. QUANDO O
LEGISLADOR MENCIONOU" SUCUMBÊNCIA PARCIAL ",
REFERIUSE AO ACOLHIMENTO DE PARTE DOS PEDIDOS
FORMULADOS NA PETIÇÃO INICIAL". (TRT-3 - RO:
00115556020175030082 0011555- 60.2017.5.03.0082, Relator:
Paula Oliveira Cantelli, Quarta Turma)

RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA.


CÁLCULOS DE LIQUIDAÇÃO. ADEQUAÇÃO À
SENTENÇA. Constatado que os cálculos de liquidação não
observaram corretamente o que consta no corpo da sentença,
mister se faz a sua retificação, a fim de adequá-los ao comando
sentencial. Recurso ordinário a que se dá parcial provimento.
RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE.
SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA NÃO CONFIGURADA.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS PELA PARTE AUTORA.
NÃO CABIMENTO.A norma celetista que prevê o pagamento
de honorários advocatícios a cargo da parte autora relaciona-se
à sucumbência recíproca (CLT, art. 791-A, § 3º). No presente
caso, todos os pedidos formulados na petição inicial foram
(parcialmente) acolhidos, não havendo, pois, sucumbência
recíproca propriamente dita. A parte dos pedidos que não foi
deferida restringiu-se à quantidade, não ao título em si. Por
outras palavras, houve sucumbência parcial do autor, mas não
recíproca, motivo pelo qual não são devidos honorários
advocatícios sucumbenciais pela parte autora. Recurso
ordinário a que se dá parcial provimento. (TRT-13 - RO:
00000486520195130014 0000048- 65.2019.5.13.0014, 2ª Turma,
Data de Publicação: 22/07/2019)

Merece registro no particular o entendimento adotado


pelo Magistrado Eduardo Baracat (Juiz Titular da 9ª Vara do Trabalho de
Curitiba), conforme sentença proferidas nos autos de nº 0000626-
88.2018.5.09.0009 (Autor: Joaquim Brasileiro x Associação Franciscana de Ensino
Bom Jesus):

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“Fixo os honorários de sucumbência em 15%


(quinze por cento) para cada advogado.

Saliente-se que a sucumbência referida pela lei


se dá no âmbito do pedido, de modo que a parte autora deverá
suportar honorários apenas quando ficar integralmente
vencida no pedido.

Os honorários devidos ao advogado da parte


autora deverão incidir sobre o ganho econômico por ela obtido
que deverá ser apurado em liquidação de sentença.

Os honorários devidos ao advogado da parte ré


deverão incidir sobre os seguintes valores cujos pedidos a
Autora restou integralmente vencida: diferenças de
gratificação, gratificação de coordenação, horas extras do
recreio, horas extras, intervalo intrajornada, adicional noturno,
nulidade da dispensa e verbas pertinentes e indenização por
danos morais.

Os valores indicados na petição inicial que


sirvam de base de cálculo de honorários advocatícios serão
atualizados desde a data do ajuizamento da ação até o cálculo
do valor devido.

A concessão dos benefícios da justiça gratuita


ao autor não afasta a obrigação de pagamento de honorários de
sucumbência, permanecendo, no entanto, sua exigibilidade
suspensa, nos termos do art. 791-A, § 4º, da CLT.

Aplica-se, no caso, o § 4º do art. 791-A da CLT,


já que vencido beneficiária de justiça gratuita, devendo as
obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarem sob
condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser
executadas se, nos dois aos subsequentes ao trânsito em
julgado da decisão que as certificou, o credor demonstra que
deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que
justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado
esse prazo, tais obrigações do beneficiário.

Não cabe, portanto, a utilizar o crédito


alimentar reconhecido ao Autor, neste ou em outro processo,
para pagar obrigações decorrentes de sua sucumbência, se não
verificada alteração na sua situação de insuficiência, sob pena
de violação do art. 791-A, § 4º, da CLT.”

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Chama atenção, também, para o Enunciado 99 da


ANAMATRA:

99. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA O juízo arbitrará


honorários de sucumbência recíproca (art. 791-A, par.3º, da
CLT) apenas em caso de indeferimento total do pedido
específico. O acolhimento do pedido, com quantificação
inferior ao postulado, não caracteriza sucumbência parcial,
pois a verba postulada restou acolhida. Quando o legislador
mencionou “sucumbência parcial”, referiu-se ao acolhimento
de parte dos pedidos formulados na petição inicial.

Ante o exposto, subsidiariamente ao pleito acima


formulado no sentido de que os honorários devem ser estabelecidos de forma
fixa de acordo com o estabelecido pelo § 2º do artigo 791-A da CLT, requer que
para o cálculo dos mesmos em favor do patrono dos reclamados leve-se em
conta apenas os pedidos integralmente improcedentes, excluindo-se da base
de cálculo a “parte perdedora” dos pedidos parcialmente procedentes, nos
termos supra aduzidos.

C - DA MAJORAÇÃO

Requer seja majorado o percentual de condenação


dos reclamados para 15%, ou 10%, por mais se adequarem ao que estabelece o
artigo 791-A caput e §2º da CLT:

Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria,


serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o
mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze por
cento) sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do
proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo,
sobre o valor atualizado da causa.
...
§ 2o Ao fixar os honorários, o juízo observará:

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I - o grau de zelo do profissional;

II - o lugar de prestação do serviço;

III - a natureza e a importância da causa;

IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para


o seu serviço.

O percentual de 15%, ou 10%, se mostra mais


adequado ao caso em comento.

Diante do exposto, pugna pela majoração do


percentual de honorários devidos em favor do patrono do autor para 15% ou
10%.

11.3 – REQUERIMENTO QUANTO AOS


HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS

Em resumo, requer a reforma da r. sentença para que


sejam alterados os parâmetros de condenação para:

a) Que sejam arbitrados os honorários


sucumbenciais devidos ao patrono dos réus no
valor fixo de R$ 1.000,00, a serem distribuídos
entre os mesmos;

b) Em sendo mantida a condenação em percentual,


seja aplicada a Súmula 326 do STJ, nos termos da
fundamentação;

c) Sejam majorados os honorários devidos ao


patrono da autora, para 15%, ou ao menos 10%,
sobre o valor da liquidação.

III - PEDIDO

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Protesta pelo CONHECIMENTO e INTEGRAL


PROVIMENTO do presente RECURSO ORDINÁRIO, com a reforma do
julgado nos termos acima aduzidos.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Curitiba, 08 de julho de 2024.

Ana Paula Balliana Rossatto Valdyr Perrini


OAB/PR 39.368 OAB/PR 14.015

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https://pje.trt9.jus.br/pjekz/validacao/24070911240211400000133278571?instancia=1
Número do processo: 0001313-06.2023.5.09.0651
Número do documento: 24070911240211400000133278571

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