Alberto Caeiro_síntese
Alberto Caeiro_síntese
Alberto Caeiro_síntese
Contextualização
Exemplo: «E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja
natureza não conseguirei definir.» In «Carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais
Monteiro»
Viveu quase sempre no meio campestre, isolado das multidões e das ações
humanas. Não se conhece nenhuma profissão a este heterónimo, apenas o desejo
de ser poeta (e nem esse é seu).
Ex.: «Não tenho ambições nem desejos./ Ser poeta não é uma ambição minha.»
(Poema «O Guardador de Rebanhos I»)
Ex.: «[…] aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir – instintiva e
subconscientemente – uns discípulos.» In «Carta de Fernando Pessoa a Adolfo
Casais Monteiro»
TEMÁTICAS
Ex.: «Eu nunca guardei rebanhos,/ Mas é como se os guardasse./ Minha alma é
como um pastor,» (Poema «O Guardador de Rebanhos I»)
Tal como esse «pastor», o «eu» integra-se na Mãe Natureza, unindo-se numa
ligação forte como qualquer outro elemento natural. Deambula pelos espaços
campestres, observa o que está ao seu redor, apreciando o ambiente. Ele
contempla a Natureza. O sujeito lírico imprime aos seus «espontâneos» poemas
uma tranquilidade extrema decorrente das vivências no tempo presente e da
fruição do espaço natural. Este ambiente presenteia-o com simplicidade e
felicidade, associadas a um prazer sensorial.
Ex.: «Conhece o vento e o sol/ E anda pela mão das Estações/ A seguir e a olhar.»
(Poema «O Guardador de Rebanhos I»)
Ex.1: «E o que vejo a cada momento/ É aquilo que nunca antes eu tinha visto,»
(Poema «O Guardador de Rebanhos II»)
Ex.3: «O mundo não se fez para pensarmos nele/ (Pensar é estar doente dos olhos)»
(Poema «O Guardador de Rebanhos II»)
Ex.4: «Penso com os olhos e com os ouvidos/ E com as mãos e os pés/ E com o nariz
e a boca.» (Poema «O Guardador de Rebanhos IX»)
Ex.: «E o que vejo a cada momento/ É aquilo que nunca antes eu tinha visto,/ E eu
sei dar por isso muito bem.../ Sei ter o pasmo comigo/ Que teria uma criança se, ao
nascer,/ Reparasse que nascera deveras.../ Sinto-me nascido a cada momento/
Para a eterna novidade do mundo... (Poema «O Guardador de Rebanhos II»)
Ex.1: «Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,» (Poema «O
Guardador de Rebanhos I»)
Ex.2: «Os meus pensamentos são contentes./ Só tenho pena de saber que eles são
contentes,/ Porque, se o não soubesse» (Poema «O Guardador de Rebanhos I»)
Ex.3: «Por isso quando num dia de calor/ Me sinto triste de gozá-lo tanto, […]/ Sinto
todo o meu corpo deitado na realidade,/ Sei a verdade e sou feliz.» (Poema «O
Guardador de Rebanhos IX»)
Além desses, são usados outros recursos estilísticos que imprimem aos
poemas um ritmo lento como se, por vezes, o «eu» pretendesse prolongar o
momento presente, único tempo real que lhe dá acesso à realidade, à Natureza.
Tratando-se do poeta das sensações, encontramos também muitas passagens que
apelam aos nossos cinco sentidos.
*comparação: «Como uma borboleta pela janela.» «Mas eu fico triste como um
pôr do sol»; (Poema «O Guardador de Rebanhos I»)
*anáfora: «E anda pela mão das Estações […]/ E se sente a noite entrada/ E é o que
deve estar na alma» (Poema «O Guardador de Rebanhos I»); «Então acredito nele,/
Então acredito nele a toda a hora» (Poema « O Guardador de Rebanhos V»); «E
haver gente que erra é original, / E haver gente doente torna o Mundo engraçado.»
(Poema «O Guardador de Rebanhos XLI»)
*exploração das sensações visuais e táteis: «Ou quando uma nuvem passa a
mão por cima da luz» (Poema «O Guardador de Rebanhos I»); «E limpavam o suor
da testa quente» (Poema «O Guardador de Rebanhos I»)
Ex.1: «(Ou ser o rebanho todo/ Para andar espalhado por toda a encosta/ A ser muita
cousa feliz ao mesmo tempo)» (Poema «O Guardador de Rebanhos I»)
Ex.2: «Rimo quando calha/ E as mais das vezes não rimo.../ Copio a Natureza e não
a interrogo./ (De que me serviria interrogá-la?)/ Nem tudo é terreno plano,/ Por isso
muitas vezes não rimo...» (Poema «O Guardador de Rebanhos XIV»)
Ex.3: «Que triste não saber florir!/ Ter que pôr verso sobre verso, como quem
constrói um muro/ E ver se está bem, e tirar se não está!.../ Quando a única casa
artística é a Terra toda/ Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.» (Poema
«O Guardador de Rebanhos XXXVI»)