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Arquétipos e mitos
23/11/2024
Uma técnica tão antiga quanto o ritual, que envolve
o uso de símbolos, é a ativação e manipulação de arquétipos. De acordo com o psicólogo alemão Jung, arquétipo é uma experiência, ou um padrão de experiência, básica, comum a toda a humanidade. A linguagem é um produto do intelecto e da racionalidade, mas os arquétipos e os padrões de arquétipos transcendem o intelecto e a racionalidade. Consequentemente, em geral é por meio de símbolos que eles encontram a sua expressão mais directa, porque um símbolo não faz apelo apenas ao intelecto, mas despertam os níveis mais profundos da psique, o que os psicólogos chamam de “inconsciente”. Os símbolos podem operar isoladamente ou em conjunto, produzindo um conjunto de efeitos. Quando organizados numa narrativa coerente, ou num enredo, os símbolos tornam-se o que chamamos “mito”. A palavra “mito” não deveria ser usada no sentido de ficção ou fantasia, pois ela implica ao contrário, algo extremamente mais complexo e mais profundo. Os mitos não foram criados simplesmente para entreter, mas para explicar as coisas, para justificar a realidade. Para os povos antigos – babilónicos, celtas, gregos, egípcios, etc. – mito era sinónimo de religião, o que abrangia o conhecimento humano, o que classificamos de ciência, filosofia, psicologia, história, etc. Como os símbolos que o compõem, um mito pode ser pessoal ou coletivo. O mito pessoal dispensa comentários, pois todo o homem tem a sua própria explicação da realidade, com base em experiências, aventuras ou episódios de infância, que na memória assumem proporções míticas. Todos conhecem o relevo que amigos ou pessoas amadas ausentes chegam a assumir na nossa mente, alguns traços marcantes que despertam forte reação emocional. Num nível coletivo, pode haver figuras que gozam de uma condição mítica, mesmo quando estão vivas, intensificando-a em virtude da sua morte. A maioria dos mitos coletivos tem tanto um aspecto arquetípico quanto um aspecto puramente tribal. Um mito arquetípico reflete certas constantes universais da experiência humana. Uma virtude singular do mito é que ele pode ser usado para unir pessoas, ao ressaltar o que elas têm em comum. Os mitos tribais, em contrapartida, enfatizam não o que os homens têm em comum, mas o que os separa. Em vez de levar ao autoconhecimento, os mitos tribais apontam para fora, buscando um bode expiatório, um adversário externo para lançar sobre as suas costas tudo o que se quer repudiar. Tudo o que o inimigo é, nós não somos. Tudo o que o inimigo não é, somos. Ao longo da história, as religiões valeram-se de mitos e, na maioria das vezes, usaram essencialmente o mesmo mito, enfatizando os seus aspectos tribais ou arquetípicos, para gerar confiança e, em troca, conferir um sentido para a sua existência. Um dos motivos simbólicos e míticos de mais forte ressonância é o do apocalipse. Por vezes é empregue como arquétipo para induzir, como uma preliminar para o “juízo final”. Por vezes é apresentado como explicação para os mais variados males reais, imaginários ou previstos. Por vezes é usado para intimidar as pessoas, para tirar proveito da sua culpa, quebrar a sua resistência e arrancar confiança. Por vezes é utilizado de maneira tribal, criando uma pretensa elite dos que asseguram a sua “salvação”, em contraste com a massa dos “condenados”. E por vezes chega a servir de pretexto para a perseguição dos supostos “condenados”, como aconteceu no período da Inquisição. Segundo Jung, um mito está para a humanidade geral assim como o sonho está para o indivíduo. O sonho mostra uma verdade psicológica para a pessoa, em contrapartida, o mito mostra uma verdade que se aplica a toda humanidade. O homem só se renova pela essência; as imagens míticas constituem o veículo para que os padrões arquetípicos do inconsciente coletivo se manifestem no consciente do ser humano e o ajudem no seu processo de transformação. Pedro Juchem, M∴ M∴
Bibliografia “A Herança Messiânica”, Editora Nova Fronteira.
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