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A leitura de partes do livro fenomenologia da percepção de merleau-ponty e o artigo Corpo,

percepção e conhecimento em Merleau-Ponty 2008 da Tererzinha Nobrega e alguns


atravessamentos possíveis com o meu tcc e o que já carrego de referências até aqui

https://www.scielo.br/j/epsic/a/4WhJkzJ77wqK6XCvHFwsqSD/?format=pdf&lang=pt

https://monoskop.org/images/0/07/Merleau_Ponty_Maurice_Fenomenologia_da_percep
%C3%A7%C3%A3o_1999.pdf

O baile funk, enquanto fenômeno cultural das periferias urbanas, desafia as categorias
tradicionais de espaço, corpo e tempo ao transformar lugares marginalizados em
epicentros de vivência e resistência. Sob a perspectiva fenomenológica de Maurice
Merleau-Ponty, o corpo não é um objeto isolado no mundo, mas o mediador essencial
da experiência. É por meio dele que habitamos o espaço, nos relacionamos com o
tempo e construímos significados no mundo. Com base nessa abordagem, pode-se
compreender como os corpos periféricos no baile funk ressignificam os espaços
urbanos e se afirmam como agentes de transformação cultural.

Merleau-Ponty conceitua o corpo como "corpo vivido", isto é, um corpo que sente e age
em constante relação com o mundo. Ele não é um receptor passivo de estímulos ou um
objeto físico puramente determinado pelas leis da natureza, mas um corpo que
percebe, interpreta e se expressa. Essa percepção encarnada é a base da existência
humana, e nela se entrelaçam o espaço, o tempo e a corporeidade. No contexto do
baile funk, o corpo vivido revela-se em sua potência máxima: ele não apenas ocupa o
espaço, mas o cria, transformando becos, ruas e terrenos baldios em territórios
simbólicos e afetivos. Esse processo de criação espacial é inseparável dos gestos,
ritmos e interações que caracterizam o baile.

A dança, enquanto manifestação central no baile funk, exemplifica essa relação


intrínseca entre corpo e espaço. Os movimentos do passinho ou das coreografias
improvisadas não são apenas respostas mecânicas à música; eles são formas de
expressão que carregam as marcas sociais, históricas e culturais dos sujeitos
periféricos. Para Merleau-Ponty, o movimento do corpo não é algo que acontece no
espaço, mas algo que cria espaço. Quando um corpo dança, ele estabelece novas
coordenadas espaciais e redefine as relações entre si e o ambiente. No baile funk,
essa dinâmica é particularmente evidente, pois os espaços urbanos são reconfigurados
em função das práticas culturais. O que era apenas uma rua marginalizada torna-se um
lugar de pertencimento, celebração e resistência.

Essa capacidade de ressignificar o espaço também está ligada à temporalidade própria


do baile funk. Merleau-Ponty descreve o tempo como uma dimensão vivida,
inseparável da experiência corporal. No baile, o ritmo musical estrutura o tempo de
maneira única, criando um presente intensificado e compartilhado. Esse tempo rítmico,
organizado pela cadência do funk, rompe com a linearidade do tempo cotidiano e
oferece uma experiência de transcendência. A música sincroniza os movimentos dos
corpos, gerando uma temporalidade coletiva que reforça os laços de comunidade e
pertencimento. Nesse sentido, o baile funk não é apenas um evento no tempo, mas um
fenômeno que reconfigura o tempo em si, transformando-o em uma vivência intensiva e
afetiva.

A fenomenologia do espaço também nos permite compreender como o baile funk


desestabiliza as categorias tradicionais de urbanidade. Para Merleau-Ponty, o espaço
não é um dado objetivo e fixo, mas um campo de relações dinâmicas. No baile funk, o
espaço é constantemente recriado pelos corpos em movimento e pela interação entre
som, luz e ambiente. Esse espaço fenomenológico não pode ser reduzido a métricas
ou mapas, pois ele é vivido de maneira única por cada sujeito e por cada comunidade.
O baile transforma o espaço urbano em um lugar onde as margens se tornam o centro,
onde o que antes era invisível adquire visibilidade e onde as práticas periféricas
questionam as hierarquias espaciais impostas pela cidade.

Essa transformação espacial é profundamente política. O corpo no baile funk é um


corpo marcado pela periferia, carregando consigo as contradições e as potências
desse território. Ao dançar, os sujeitos periféricos afirmam sua existência em um
espaço que muitas vezes lhes é negado. O baile não apenas ocupa o espaço urbano,
mas o ressignifica, desafiando as lógicas de exclusão e controle que caracterizam as
cidades contemporâneas. Nesse sentido, o baile funk pode ser entendido como uma
prática de resistência espacial, na qual os sujeitos periféricos reivindicam seu direito à
cidade e à visibilidade. Essa resistência não é apenas simbólica, mas concreta, pois
transforma o espaço urbano em um campo de possibilidades e pertencimento.

A noção de corpo vivido também nos ajuda a compreender como o baile funk articula
corporeidade e identidade. Para os sujeitos periféricos, a dança é mais do que uma
performance estética; ela é uma linguagem que comunica pertencimento, memória e
desejo. Cada gesto, cada movimento, carrega significados que vão além do indivíduo,
conectando-o a uma coletividade. A dança no baile funk é, portanto, uma forma de
inscrição no espaço e no tempo, uma maneira de dizer: "Eu existo, eu pertenço, eu
resisto." Essa dimensão expressiva do corpo revela a potência do baile como um
espaço de criação identitária, onde os sujeitos periféricos podem afirmar sua
singularidade e sua coletividade.

Além disso, o baile funk pode ser interpretado como uma heterotopia, nos termos de
Michel Foucault. Ele é um espaço que simultaneamente reflete e subverte a ordem
social. Dentro do baile, as hierarquias e exclusões que caracterizam a cidade são
desafiadas, criando um lugar onde os sujeitos periféricos podem reconfigurar suas
relações com o espaço e com o outro. Essa dimensão heterotópica reforça a ideia de
que o baile não é apenas um evento cultural, mas um fenômeno espacial que
questiona as normas e os limites da urbanidade. Ele é, ao mesmo tempo, um reflexo
das contradições da cidade e uma resposta a essas contradições, oferecendo um
espaço de liberdade e criação.

Por fim, é importante destacar que a fenomenologia do baile funk não se limita ao
espaço físico. Ela também envolve dimensões simbólicas e afetivas que ultrapassam
os limites do evento. O baile cria redes de pertencimento que conectam os
participantes de maneiras que vão além do espaço e do tempo imediatos. Essas redes
são fundamentais para compreender a força do baile funk como uma prática cultural
que transforma tanto os sujeitos quanto os espaços que eles habitam.
Ao integrar as reflexões de Terezinha Petrucia da Nóbrega sobre a fenomenologia de
Merleau-Ponty, podemos ampliar a compreensão de como o corpo no baile funk não
apenas interage com o espaço, mas o transforma por meio da sensibilidade estética.
Nóbrega destaca que a percepção não é uma simples resposta a estímulos, mas uma
"criação de sentido" que surge do movimento e da interação do corpo com o ambiente.
A dança no baile funk, assim como a arte, é uma forma de conhecimento sensível, que
ultrapassa o racionalismo e a causalidade linear. Cada movimento do corpo no baile
contribui para a configuração estética do espaço, onde a sinestesia — a fusão dos
sentidos — torna-se uma ferramenta de transformação, permitindo que os corpos
vivam e recriem o espaço de maneira coletiva e simbólica.

Além disso, a autopoiesis, conceito trazido por Nóbrega a partir das teorias de
Maturana e Varela, ajuda a explicar como os sujeitos periféricos no baile funk não são
meros receptores do espaço, mas o constroem ativamente. Como Nóbrega e Merleau-
Ponty sugerem, a percepção não é um processo de decodificação, mas de criação
constante, onde o corpo interage com o meio e reorganiza o mundo ao seu redor, tanto
fisicamente quanto simbolicamente. A plasticidade do cérebro e do corpo permite que
cada gesto, cada dança, seja uma oportunidade para ressignificar a realidade vivida, o
que é especialmente verdadeiro no contexto do baile funk.

Conclui-se, portanto, que o baile funk, analisado à luz da fenomenologia de Merleau-


Ponty e das contribuições de Nóbrega, é um fenômeno complexo e multidimensional,
que articula corpo, espaço e tempo de maneira única. Ele não só ressignifica os
espaços urbanos, mas também cria novas formas de percepção e de pertencimento,
afirmando as narrativas periféricas e criando novas formas de habitar a cidade. Essa
análise não apenas ilumina as dinâmicas do baile funk, mas também oferece uma
perspectiva mais ampla sobre como os sujeitos periféricos vivenciam e transformam o
mundo ao seu redor. A fenomenologia, ao valorizar a experiência vivida, nos permite
reconhecer o baile funk como uma prática cultural profundamente significativa, tanto
para os sujeitos que dele participam quanto para a cidade que ele transforma.

Merleau-Ponty, M. (1994). Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Martins Fontes.


Merleau-Ponty, M. (2004). A dúvida de Cézanne. São Paulo: Cosac Naify.
Nóbrega, T. P. (2008). Corpo, percepção e conhecimento em Merleau-Ponty. Estudos de
Psicologia, 13(2), 141-148.

SUGESTÕES LU>>> GASTON BACHERLARD filosofo frances, escreveu a poetica do espaço


Claudio Lacerda Trilogia da Arquitetura Desconstrutivista: uma pesquisa
artístico-teórica em dança. Recife: Universidade Federal de Pernambuco; Professor assistente.
Bailarino e coreógrafo.
https://www.portalabrace.org/vireuniao/pesquisadanca/1.%20LACERDA,%20Cl%E1udio..pdf

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