Lays,+Artigos Livres 7 Larissa Bezerra Frank Antonio Mezzomo Fenix Jan Jun 2023

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1198

FUTEBOL, SOCIEDADE E TORCIDAS ANTIFASCISTAS


NO BRASIL: INTERPRETAÇÕES POSSÍVEIS A PARTIR
DA LITERATURA

FOOTBALL, SOCIETY AND SUPPORTERS IN BRAZIL:


POSSIBLE INTERPRETATIONS BASED ON THE
LITERATURE

Larissa Bezerra*
Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR
https://orcid.org/0000-0002-5618-3008
[email protected]

Frank Antonio Mezzomo**


Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR
https://orcid.org/0000-0003-0968-6777
[email protected]

RESUMO: Este texto procura identificar e compreender como as Humanidades no Brasil vem
problematizando as relações entre esporte, política e sociedade, principalmente levando em conta as torcidas
antifascistas. Destacamos aspectos de estudos sobre futebol e fizemos buscas por artigos, dissertações e teses
publicadas entre 2013 e 2022. Existem temas e campos a serem problematizados, como é o caso das torcidas
antifascistas, fenômeno recente, que pode ter vários desdobramentos políticos e sociais.

PALAVRAS-CHAVE: Torcedores antifascistas; política; humanidades.

ABSTRACT: This text seeks to identify and understand how the Humanities in Brazil have been questioning
the relationship between sport, politics and society, especially taking into account the anti-fascist supporters.
We highlighted aspects of studies on football and searched for articles, dissertations and theses published
between 2013 and 2022, which show that there are still many issues to be discussed, such as anti-fascist
supporters, a recent phenomenon that may have several consequences.

* Mestre pelo Programa de Pós-graduação Interdisciplinar Sociedade e Desenvolvimento da Universidade


Estadual do Paraná, com a pesquisa "Coletivos de torcedores no futebol brasileiro: constituição histórica e
pautas políticas". Professora Mediadora dos cursos de Comunicação no EaD da Unicesumar (Maringá-
PR)
** Pós-Doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade
Complutense/Madrid. Doutorado e Mestrado em História Cultural pela Universidade Federal de Santa
Catarina. Graduação em Filosofia e Especialização em História Social pela Universidade Estadual do
Oeste do Paraná (Unioeste). Professor Associado na Universidade Estadual do Paraná (Unespar), atuando
nos Programas de Pós-Graduação Interdisciplinar Sociedade e Desenvolvimento, História Pública e
Mestrado Profissional em Ensino de História.
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KEYWORDS: Antifascist supporters; politics; humanities.

INTRODUÇÃO
Um fenômeno recente no futebol brasileiro tem suscitado curiosidade da mídia,
sociedade e pesquisadores e pesquisadoras: os coletivos de torcedores (as) e torcidas
antifascistas, que têm se mobilizado, além da torcida pelo seu clube, com o ativismo
político e social. Este texto busca identificar e compreender o perfil da literatura brasileira,
ligada às Humanidades, que estão problematizando as relações entre o esporte, a política e
a sociedade, levando em consideração a ascensão desse modo de torcer no país. Para tanto,
fizemos buscas por artigos, dissertações e teses em portais de acesso aberto que foram
publicadas entre 2013 e 2022.
Campos e arquibancadas podem ajudar a compreender a sociedade, porque o elo
entre futebol, política, economia e cultura existe desde os primórdios do esporte e é
bastante contundente. Todas essas relações transcorrem inclusive no Brasil
contemporâneo, onde temos assistido as torcidas antifascistas serem protagonistas e
apoiadoras de diversas pautas como a militância contra preconceitos e opressões, contra a
desigualdade social e a elitização do esporte. Em 2020, esses grupos chegaram a sair às ruas,
junto com torcedores organizados, para se manifestar contra o racismo, contra o presidente
da República Jair Bolsonaro e a favor da democracia (SANTOS e HELAL, 2019; FOER,
2005; FRANCO JÚNIOR, 2007; GALEANO, 2019; CERREIA, 2020).
Tais protestos aconteceram em meio à pandemia de Covid-19 e foram motivados,
também, pelo próprio cenário pandêmico, no qual os torcedores consideraram o presidente
negligente e negacionista, pois havia alta taxa de contaminação e mortes enquanto o país
não contava nem mesmo com um Ministro da Saúde na época, não havia uma resposta
satisfatória para a crise sanitária e o governo parecia subestimar a doença. Essas
manifestações ganharam destaque na mídia, no Brasil e no exterior, e reanimaram os
debates contra o bolsonarismo e sobre a politização do torcer (PINHEIRO, 2021;
CERREIA, 2020).
A cultura futebolística contemporânea está vivenciando essa mobilização de
torcedores porque eles estão sendo confrontados com as consequências provocadas pelo
desenvolvimento do futebol moderno. No Brasil, principalmente a partir de 2014, com a
elitização provocada nos estádios e, consequentemente, nos modos de torcer, por conta da
Copa do Mundo realizada no país, o terreno se tornou muito fértil para que torcedoras e

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torcedores questionassem os espaços e papéis que lhes são atribuídos (NUMERATO,


2018; SANTOS; HELAL, 2019).
Para alcançarmos o objetivo do trabalho, construímos o texto em dois tópicos.
No primeiro, procuramos apontar algumas discussões no campo das Humanidades que
reforçam a importância em ser ver o futebol como espelho social, para que o leitor se situe
sobre como esses temas tem aparecido na academia. No segundo, uma revisão bibliográfica
de como esses assuntos vem sendo discutidos atualmente. Convém mencionar, para além
de uma nota estritamente metodológica, que o esporte, em particular o futebol, despertou
em nossas trajetórias de vida paixão e afeto, seja na infância, na juventude ou na vida
adulta. Para nós autores, embora com experiências em diferentes tempos e espaços, as
vivências esportivas representaram não somente um processo de socialização, senão uma
maneira de constituição de nossas identidades.

FUTEBOL E SOCIEDADE: INTERPRETAÇÕES POSSÍVEIS A


PARTIR DA LITERATURA
Manifestações de caráter político e social, sempre aconteceram dentro de campo e
nas arquibancadas, embora nem sempre com tanta frequência. No Brasil, por exemplo,
houve protestos contra a ditadura civil-militar por parte de jogadores e torcedores e o
futebol também foi instrumentalizado como meio para promover o regime
(FLORENZANO, 2010; PIVA, 2015).
Tendo presente essas questões, compreender o vínculo entre o futebol, a sociedade,
a política, a cultura e diversos outros fenômenos sociais, poderia ajudar na compreensão e
na transformação da sociedade em que se vive. O fascínio que o futebol causa “deve ser
buscado na apreensão intuitiva e emotiva daquilo que o futebol transmite a cada um de
seus adeptos: o reconhecimento velado e indireto de que o futebol fala da própria vida”
(FRANCO JÚNIOR, 2007, p. 165). E para Roberto DaMatta, quando se ganha
compreensão sociológica do futebol, as chances de interpretar a sociedade aumentam
simultaneamente.
Assim, como afirmam Teixeira e Hollanda (2016), esse esporte não se resume a
experiências de lazer e entretenimento, podendo ser um poderoso catalisador de
reivindicações coletivas. Pimenta (2018) também acredita que seja impossível falar de
torcidas de futebol sem passar por questões políticas e culturais, principalmente aquelas
ligadas ao processo de construção de identidade do jovem brasileiro e suas dimensões
cotidianas.

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De acordo com Helal (2011), havia poucos estudos e os que eram publicados
geralmente vinham com uma perspectiva “apocalíptica”, que considerava o futebol como
força de alienação do povo. Segundo o pesquisador, o capitalismo perdurou por muito
mais tempo do que previam os marxistas, o proletariado não havia adquirido a “consciência
de classe” e muitos autores que tinham certa visão pessimista do futebol consideravam que
este seria um dos aparelhos ideológicos do poder para esconder as contradições do
capitalismo e “docilizar” as massas. Mais tarde se sobressaiu uma nova perspectiva, através
dos olhares da Antropologia e da História.
Partindo de uma visão parecida, Lagos (2018) diz que quando se falava de esporte,
isso era feito de um lugar ingênuo, considerando essa prática como apolítica, desinteressada
ou ligada apenas ao flair play ou ideal olímpico. Como exemplos, o autor cita que Pierre de
Coubertin era enaltecido pela reativação dos Jogos Olímpicos, mas não se discutia que ele
era totalmente contra a participação de mulheres e que havia um sentimento de gratidão em
relação aos ingleses, mas pouco se falava sobre o tratamento desrespeitoso com as colônias,
que apenas podiam vê-los jogar. Para Lagos, os estudos conseguiram avançar com
Bourdieu em 1984, DaMatta em 1982 e Archetti em 2011, entre outros.
Além desses autores, no âmbito internacional, os estudos sobre futebol,
principalmente no que diz respeito às torcidas, têm aparecido desde o final da década de
1960 na Europa. Nas décadas de 1970 e 1980, com a crescente preocupação com o
hooliganismo, muitos se interessaram em compreender o comportamento desses
torcedores, o que

fez esse período particularmente fértil para essa área (Giulianotti, 1999;
Haynes, 1995). A maioria dos estudos desenvolvidos à época, por
questões óbvias, se dedicaram então a examinar grupos violentos de
torcedores. As perspectivas eram bastante distintas, do Marxismo de Ian
Taylor (1971a, b) à abordagem figuracional da ‘Escola de Leicester’
(Dunning, Murphy & Williams, 1988). Ainda que violência seja ainda um
tema frequentemente investigado neste campo, depois da criação da
Premier League e da reorganização cultural do futebol europeu nos anos
1990, vários pesquisadores passaram a focar no que Crawford (2003,
2004) chama de perspectiva da ‘resistência’. Estes estudos buscam
analisar os novos movimentos sociais e grupos com uma atitude mais
militante em relação a clubes, times, dirigentes, federações e entidades
organizadoras (VIMIEIRO, 2016, p. 5).

Giulianotti (2010), porém, aponta alguns problemas nesses estudos. No trabalho


de Ian Taylor, que argumentava que o hooliganismo no futebol deveria ser explicado de
acordo com mudanças econômicas e sociais mais amplas, não existe sustentação empírica
para tal. Peter Marsh utilizou a pesquisa etnográfica e melhorou qualitativamente as

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compreensões sobre violência de torcidas, mas, segundo o autor, o problema está em


alguns argumentos utilizados, como a agressão ser considerada mais inata do que adquirida
socialmente, sendo útil na natureza humana e, se tolerada em alguns ambientes
“adequados”, como o esporte, poderia ser algo benéfico para a sociedade. Já a Escola de
Leicester explicava o hooliganismo, e todas as questões relacionadas ao esporte, com a
perspectiva “figuracional” ou “sociológica do processo”, criada por Norbert Elias. Porém,
muitos diziam que a pesquisa em Leicester foi concebida apenas para confirmar o ponto de
vista de Elias.
Com a modificação da personalidade violenta dos torcedores ingleses, os
sociólogos do Reino Unido passaram a pesquisar também outros aspectos das torcidas de
futebol. Isso fez com que surgisse uma área mais interdisciplinar e internacional,
salientando muitas diferenças culturais de acordo com os lugares e diferentes características
no desenvolvimento de formas militantes de torcida (GIULIANOTTI, 2010).
Já os estudos sobre audiência e também sobre torcidas podem ser classificados,
segundo Crawford (2003), em três paradigmas: a) o Comportamental, no qual o público
absorve a mensagem passivamente; b) o de Resistência, no qual o público torna-se mais
ativo e busca participação e mudança; e c) o de Performance, que leva em conta que a
distância entre o performer e o público se torna quase nula e alguém pode ser esses dois
tipos ao mesmo tempo. Atualmente, a maioria dos estudos contemporâneos (alguns
apresentados aqui) sobre futebol se encaixa no paradigma da Resistência.
É importante mencionar, também, a Teoria Crítica do Esporte, conjunto de ideias
surgidas nos anos 1960 nos Estados Unidos, na França e na Alemanha que, inspirados na
Escola de Frankfurt, questionavam as afinidades estruturais do esporte com o mundo do
trabalho e a presença na indústria cultural. Embora a teoria tenha sido bastante criticada em
alguns pontos, como os exageros, falta de material empírico e ideologização, alguns
avanços também podem ser considerados e foram importantes para a compreensão do
esporte como espetáculo (VAZ, 2008).
No Brasil, em 1990 foi criado o Núcleo de Sociologia do Futebol da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro, pelo sociólogo Mauricio Murad, sendo essa fundação muito
importante, pois,

além de agregar diversos pesquisadores das universidades em encontros e


eventos, criou e publicou, durante a década de 1990, a revista Pesquisa
de Campo, com o objetivo de difundir os trabalhos acadêmicos sobre
futebol. Muitos pesquisadores que realizavam pesquisas isoladas sobre o
fenômeno futebolístico no país encontraram na revista um lugar de

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divulgação e de intercâmbio de pesquisas e reflexões (HELAL, 2011, p.


21).

Em 2006 foi criado na Universidade de São Paulo (USP) o “Grupo


Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol” (GIEF), para debater e descobrir novas
concepções sobre o tema. O GIEF participou de seminários, congressos, organização de
eventos, desenvolvimento de pesquisas acadêmicas, entre outras atividades (FAVERO;
MIRANDA; LOURENÇO FILHO, 2007). No final de 2014, o grupo encerrou as
atividades, mas na própria USP já havia, desde 2010, o “Núcleo Interdisciplinar de
Pesquisas sobre Futebol e Modalidades Lúdicas” (LUDENS), que promove atividades
similares ao grupo extinto. O que vemos é que diversos pesquisadores e pesquisadoras têm
se aventurado por esse tema nas últimas décadas, entre eles: Florenzano (2010), Franco
Júnior (2007), Guterman (2014), Murad (2012), Couto (2014), Santos (2017), Streapco
(2016), Toledo (2002), Vimieiro (2014).

ESTUDOS SOBRE FUTEBOL, POLÍTICA E TORCIDAS

Tomamos como princípio o fato de que o universo em torno do esporte é uma


perspectiva interessante para compreender as sociedades, tendo como divisor de águas a
obra “Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira”, organizado por Roberto
DaMatta, em 1982, para que esta perspectiva fosse mais considerada na academia (HELAL,
2010; LAGOS, 2018), além das pesquisas de Bernardo Buarque de Hollanda, Felipe
Tavares Paes Lopes, Ana Carolina Vimieiro, Irlan Simões Santos e Caio Pinheiro, entre
outros autores de diversas áreas do conhecimento.
Com objetivo de trazer em pauta as principais discussões acerca do futebol,
torcida e coletivos, realizamos uma revisão sistemática da literatura, sintetizando alguns
elementos entre múltiplos estudos (NUNES, ANDRADE, MORAIS, 2013). Definimos
como recorte temporal os anos de 2013 e 2022 pelo fato de que as tensões sociais
provocadas pelas Jornadas de Junho de 20131 podem ter criado um clima propício para que
surgissem diversos coletivos de torcedores, em consonância com o pensamento de vários

1 Em 2013, o ano foi conturbado no plano político e, durante a Copa das Confederações, aconteceram as
“Jornadas de Junho”, uma eclosão de manifestações em todo o país, com ideologias bastante
heterogêneas (TEIXEIRA; HOLLANDA, 2016). Singer (2013), prefere chamar de “Acontecimentos de
Junho”, por considerar que uma jornada questionaria a ordem estabelecida, o que não foi o caso, pois
mesmo as propostas de Constituinte e plebiscito para a reforma política caíram no esquecimento. Ele
pontua também que, além das múltiplas agendas do movimento, as orientações ideológicas iam desde o
ecossocialismo, passando por reformismo e liberalismo, até mesmo a impulsos fascistas. Entre os motivos
de descontentamento nesses protestos, estavam os gastos direcionados aos estádios e outras obras para a
Copa do Mundo de 2014, que seria realizada no Brasil.

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pesquisadores, que defendem que a situação política e social da época foi importante para a
organização desses coletivos, apesar de terem ganhado mais adeptos somente a partir de
2015 e conseguirem notoriedade em 2020, com participações em manifestações por todo o
país, pela democracia e contra o racismo e o presidente Jair Bolsonaro.
Em fevereiro de 2022, fizemos consultas em três plataformas on-line e de acesso
aberto: Scielo, Portal de Periódicos da CAPES e Google Acadêmico. Os descritores
utilizados foram os seguintes: “torcidas de futebol e política”, “torcidas antifascistas”,
“futebol, política e torcidas”, “mulheres torcedoras, futebol e política” e “coletivos de
torcedores”. No Quadro 1 apresentamos uma síntese dos materiais encontrados.

Quadro 1: Quantidade de artigos encontrados e selecionados em portais eletrônicos de acesso


aberto
Descritores Google Portal de Scielo Artigos
Acadêmico Periódicos CAPES selecionados
Torcidas de futebol e 16.600 386 1 18
política
Torcidas antifascistas 578 12 0 7
Futebol, política, torcidas 16.600 386 0 7
Mulheres torcedoras, 4.500 172 0 2
futebol e política
Coletivos de torcedores 44 2 12 4
Total selecionado 38
Fonte: Dados da pesquisa

A partir da leitura de títulos e resumos, selecionamos 38 artigos publicados em


periódicos brasileiros. Todos foram lidos por completo e escolhemos 16 para integrar essa
análise, visto que estes mantiveram proximidade com as temáticas mais significativas para
os objetivos deste texto. Portanto, artigos sobre torcidas organizadas, movimentos sociais
em geral e que falavam de homofobia, racismo ou machismo, mas sem necessariamente
envolver o protagonismo das torcidas, não foram selecionados para nossa análise. Demos
preferências àqueles que tratam da militância política de torcedores, principalmente na
internet e aos que são importantes na compreensão do cenário futebolístico brasileiro
enquanto campo acadêmico e espaço de resistência, ficando assim, portanto, os 16 que
integraram esta análise. O Quadro 2 mostra esses artigos, ordenados por data de
publicação.

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Quadro 2: Artigos com temáticas sobre torcidas de futebol e militância política


analisados para a pesquisa
Título Autor (es) Revista/Cidade Ano Área do conhecimento

A produtividade Ana Carolina Contracampo/Niterói-RJ 2014 Comunicação


digital dos Vimieiro
torcedores de
futebol brasileiros:
formatos,
motivações e
abordagens
Espetáculo Rosana da Câmara Esporte e 2016 Ciências Sociais
futebolístico e Teixeira/Bernardo Sociedade/Niterói-RJ
associativismo Borges Buarque
torcedor no Brasil: de Hollanda
Desafios e
perspectivas das
entidades
representativas de
torcidas organizadas
no futebol brasileiro
contemporâneo
Campanhas cívicas e Ana Carolina Esferas/Brasília-DF 2017 Comunicação
protestos de Vimieiro/
torcedores: em Rousiley Moreira
análise, a politização Maia
do futebol
Entre a esfera Ana Carolina Compolítica/Porto 2017 Comunicação
cultural e a esfera Vimieiro/ Alegre-RS
pública: Rousiley Moreira
comunidades online Maia
de torcedores e a
politização do
futebol
Mulher no futebol: Carolina Farias Seminário Internacional 2017 Ciências Sociais
no campo e nas Moares/Aira Enlaçando Sexualidades
arquibancadas Fernandes Bonfim
As artimanhas da Felipe Tavares Logos/Rio de Janeiro-RJ 2018 Comunicação
resistência Paes Lopes
torcedora: futebol,
linguagem e poder
Futebol, Felipe Tavares Alterjor/São Paulo-SP 2018 Comunicação
comunicação e Paes Lopes
ideologia: um
protesto da torcida
organizada Gaviões
da Fiel na “imprensa
alternativa” e na
“imprensa
tradicional”
“Ódio eterno ao Felipe Tavares Tempo/Niterói-RJ 2018 Ciências Sociais
futebol moderno”: Paes Lopes/
poder, dominação e Bernardo Borges
resistência nas Buarque de
arquibancadas dos Hollanda

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estádios da cidade
de São Paulo
A construção dos Felipe Tavares Famecos/Porto Alegre- 2019 Comunicação
problemas sociais Paes Lopes RS
do futebol: análise
do potencial
ideológico de
editoriais da Folha
de S. Paulo
A luta política do Felipe Tavares Alterjor/São Paulo-SP 2020 Comunicação
Coletivo Futebol, Paes Lopes
Mídia e Democracia:
Análise do seu
manifesto de
fundação
Futebol, gênero e Adriana Andrade Intercom/São Paulo-SP 2020 Comunicação
homossociabilidade Braga/ Alexandre
nas redes sociais: a Augusto Freire
masculinidade no Carauta
circuito
comunicacional do
WhatsApp
Futebol e política se Osmar Moreira de Motrocidades/São 2020 Educação
misturam: na Souza Júnior Carlos-SP
trincheira das lutas
contra o
autoritarismo
Diagnosticando as Caio Lucas Morais Cadernos de 2021 História
torcidas Pinheiro História/Belo Horizonte
antifascistas: como a
classe, a raça e o
gênero
redimensionam as
relações de poder
no futebol a partir
da ultras resistência
coral
O sequestro dos Caio Lucas Morais Locus/Juiz de Fora 2021 História
estádios de futebol: Pinheiro
a dimensão
simbólica das novas
arenas e a guinada
antifascista
transnacional nas
torcidas
Ciberativismo das Nathalia Ronchete FuLia/Belo Horizonte 2021 Interdisciplinar
torcidas antifascistas
nas eleições de 2018:
uma análise
quantitativa
Tribuna 77 e a Luiza Aguiar dos Estudos 2021 Interdisciplinar
defesa de Anjos Feministas/Florianópolis
LGBTQI+ nos
estádios
Fonte: Dados da pesquisa

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Desses 16 artigos, o filósofo, comunicólogo e doutor em Psicologia Social Felipe


Tavares Paes Lopes publicou 5 deles, sendo um em parceria com o sociólogo e doutor em
História Social da Cultura Bernardo Borges Buarque de Hollanda. Além deste, Hollanda
publicou outro junto com a também socióloga Rosana da Câmara Teixeira. Já Ana Carolina
Vimieiro, da Comunicação, publicou 3 desses artigos, sendo 2 em conjunto com Rousiley
Moreira Maia, também comunicóloga.
A psicóloga em Ciências da Comunicação Adriana Andrade Braga e Alexandre
Augusto Freire Carauta, da Comunicação, escreveram “Futebol, gênero e
homossociabilidade nas redes sociais: a masculinidade no circuito comunicacional do
WhatsApp”. E, por fim, a socióloga Carolina Farias Moares e Aira Fernandes Bonfim, da
História, Política e Bens Culturais, escreveram “Mulher no futebol: no campo e nas
arquibancadas”.
Em seus artigos, Lopes reflete bastante sobre o “futebol moderno” e a resistência
dos torcedores contra isso, sobre como as torcidas são vistas nos meios de comunicação e
em “A luta política do Coletivo Futebol, Mídia e Democracia: análise do seu manifesto de
fundação”, analisa esse grupo específico e sua luta por um futebol democrático e popular.
As pesquisas de Ana Carolina Viemeiro falam da produtividade digital dos
torcedores, principalmente aqueles com um viés mais crítico. Apesar de não ser dos
torcedores enquanto organização política, os trabalhos ajudam a compreender a
organização dos mesmos nas redes sociais, já que de acordo com Hollanda e Lopes (2018),
as discussões dos torcedores, principalmente sobre machismo e homofobia, estavam sendo
limitadas até então quase somente à internet e às redes sociais porque existe um medo de
retaliação por parte de torcedores intolerantes.
Em Teixeira e Hollanda (2016) temos um histórico que explica as origens dos
coletivos nas torcidas. Primeiro, a partir da ebulição social em 2013, com as Jornadas de
Junho. Depois, com o aumento da violência entre torcidas organizadas, a repressão dos
governantes em relação a essa violência e uma crise política avançando no país com a posse
de Michel Temer na presidência do Brasil, após o impeachment de Dilma Rousseff, que gerou
protestos inclusive nos estádios e potencializou o surgimento dos coletivos de torcedores
de esquerda e suas lutas contra o futebol moderno e contra problemas sociais, como foram
retratados por Lopes em seus trabalhos, já citados anteriormente.
Entre os artigos selecionados também há discussões sobre desigualdade de gênero
no futebol, em “Mulher no futebol: no campo e nas arquibancadas”. No texto, as autoras
citam coletivos de torcedores protagonizados por mulheres, como Movimento Toda

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Poderosa Corinthiana, Palmeiras Livre, Galo Queer, QUEERlorado e Palmeiras


Antifascista, também surgidos a partir de 2013, mas focando em pautas um pouco mais
específicas, como a luta contra o machismo e a homofobia. Já Couto (2010) destaca
jogadores como Afonsinho e Reinaldo, que se manifestaram politicamente e viraram
símbolos da esquerda brasileira na época da ditadura.
“‘Ódio eterno ao futebol moderno’: poder, dominação e resistência nas
arquibancadas dos estádios da cidade de São Paulo” de Lopes e Hollanda (2018), traz uma
série de movimentos, coletivos e entidades representativas de torcedores que estão
buscando enfrentar a mercantilização do futebol e consequente elitização dos clubes e
estádios. Os autores citam Punk Santista (Santos), O Povo do Clube (Internacional),
Resistência Azul Popular (Cruzeiro), Dissidenti (Palmeiras), Frente 1899 (Vitória),
Democracia Corinthiana (Corinthians) e o Futebol, Mídia e Democracia. Neste artigo,
também há a definição do que se considera um coletivo e qual a diferença entre eles e as
torcidas organizadas.
Em “Futebol e política se misturam: na trincheira das lutas contra o
autoritarismo”, Osmar Moreira de Souza Júnior, da Educação Física, problematiza o
entendimento do futebol como espaço de alienação política e apresenta as torcidas
antifascistas como campos de resistência contra projetos autoritários e antidemocráticos.
O historiador Caio Lucas Morais Pinheiro avalia a emergência das torcidas
antifascistas e o tensionamentos provocados nas dimensões de gênero, raça e classe no
artigo “Diagnosticando as torcidas antifascistas”. Em outro texto, “O sequestro dos
estádios de futebol”, o mesmo autor fala de como torcedores reagem ao processo de
modernização dos estádios de futebol no Brasil.
Com foco no ativismo on-line, essencial para que as torcidas antifascistas e
coletivos de torcedores espalhassem suas ideias, Nathalia Ronchete mostra como esses
grupos se utilizaram de mecanismos do ciberativismo para atuar nas eleições presidenciais
de 2018. Por fim, a educadora física Luiza Aguiar dos Anjos reflete sobre a torcida Tribuna
77, do Grêmio e como se posicionam sobre as pautas relativas à comunidade LGBTQIA+,
levando em conta que o esporte é historicamente associado aos homens e à masculinidade
e existe muito preconceito ainda hoje.
Buscamos, nas mesmas plataformas, dissertações e teses sobre o assunto, usando
os descritores utilizados também na procura dos artigos. Com isso, encontramos três
dissertações (no Google Acadêmico) e uma tese (no catálogo de teses e dissertações da

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CAPES) que tratam de temas relacionados à nossa proposta de pesquisa. O Quadro 3


mostra como foram os resultados obtidos na busca.

Quadro 3: Teses e dissertações encontradas e selecionadas em portais eletrônicos de acesso aberto


Descritores Google Catálogo de teses Scielo Teses/dissertações
Acadêmico e dissertações selecionadas
CAPES
Torcidas de futebol e 16.600 0 0 0
política
Torcidas antifascistas 578 2 0 2
Futebol, política, 16.600 432 0 0
torcidas
Mulheres torcedoras, 4.500 1667 0 1
futebol e política
Coletivos de 44 2 0 2
torcedores
Total selecionado 5
Fonte: Dados da pesquisa

O Quadro 4 contém mais informações sobre cada um, ordenados por data de
publicação.

Quadro 4: Teses e dissertações analisadas


Título Autor (es) Universidade/Cidade Ano Área do
conhecimento

Novas culturas torcedores: Irlan Simões Universidade do 2017 Comunicação


das arenas do futebol- Santos Estado do Rio de
negócio à resistência nas Janeiro/Rio de Janeiro
arquibancadas e redes
Pelo direito de torcer: das Maurício Universidade de São 2017 Interdisciplinar
torcidas gays aos Rodrigues Pinto Paulo/São Paulo
movimentos de torcedores
contrários ao machismo e
à homofobia no futebol
A militância político- Vitor Gomes Universidade Federal 2020 Sociologia
torcedora no campo de Goiás/Goiânia
futebolístico brasileiro
As ondas que (se) movem Caio Lucas Universidade Federal 2020 História
(n)o mar das torcidas: das Morais Pinheiro do Rio Grande do
charangas à guinada Sul/Porto Alegre
antifascista na Ultras
Resistência Coral (1950-
2020)
FUTEBOL E Guilherme Pontes Pontifícia Universidade 2021 História
RESISTÊNCIA: O papel Silveira Católica/São Paulo
dos coletivos de
torcedores na
ressignificação dos modos
de torcer (2013-2018)
Fonte: Dados da pesquisa

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Entre as dissertações, “Pelo direito de torcer: das torcidas gays aos movimentos
de torcedores contrários ao machismo e à homofobia no futebol”, Pinto (2017) concorda
com os demais pesquisadores quanto ao período e motivos para a aparição dos coletivos e
trata, principalmente, da luta deles contra a homofobia e o machismo. Também “Novas
culturas torcedoras: das arenas do futebol-negócio à resistência nas arquibancadas e redes”,
de Irlan Simões Santos. O autor investiga as mudanças no comportamento do público que
frequenta os estádios, que agora seria mais passivo, individualizado e orientado para o
consumo, justamente uma das pautas dos coletivos de torcedores, que são contra e tentam
resistir a essa transformação do futebol em puro negócio.
“A militância político-torcedora no campo futebolístico brasileiro” do sociólogo
Vitor Gomes, que baseou sua pesquisa na observação do Facebook de coletivos de
torcedores, fazendo um mapeamento das páginas existentes e realizando entrevistas com os
coletivos Palmeiras Antifascista e Palmeiras Livre. E, ainda, “Futebol e resistência: o papel
dos coletivos de torcedores na ressignificação dos modos de torcer (2013-2018)”, do
historiador Guilherme Pontes Silveira, reflete sobre o uso dos espaços urbanos e digitais
para a militância de movimentos de torcedores. O autor analisa as torcidas Palmeiras Livre,
Ocupa Palestra e Punk Santista.
Nas teses, encontramos “As ondas que (se) movem (n)o mar das torcidas: das
charangas à guinada antifascista na Ultras Resistência Coral (1950-2020)”, do historiador
Caio Lucas Morais Pinheiro. Entende o surgimento dos coletivos como a “guinada
antifascista” das torcidas e como sendo uma “quarta onda” dos modos de torcer, surgida
com um esgotamento da terceira onda e com a agitação política e social do país em 2013.
Ainda para o autor, o início foi em 2005, com o surgimento da Ultras Resistência Coral,
torcida antifascista do Ferroviário, de Fortaleza.
Vale destacar que, mesmo pesquisadoras e pesquisadores pensando o futebol e as
torcidas não mais como um fenômeno não-alienante, mas com poder de transformação
social, ainda existem pesquisas que tratam o assunto de modo mais pessimista. É o caso de
Menezes, Lima e Banzatto (2018), que dizem que a maioria dos torcedores brasileiros
parece seguir a desorientação política de seus ídolos, citando o fato de que em 2015,
manifestantes usaram a camisa da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), uma
instituição marcada por casos de corrupção, para protestar contra políticos que
consideravam corruptos. Talvez, dizem os autores, isso tenha a ver com o futebol ser uma
marca tão forte na identidade nacional que se desvencilha de qualquer mancha, mas que
talvez seja necessário admitir que a inteligência brasileira está em certa medida nos pés.

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Para Lopes e Cordeiro (2015), essa visão mais conservadora do futebol,


principalmente as que trazem o esporte com a metáfora de “ópio do povo”, não consegue
explicar as práticas de resistência e contestação e, ainda, retira a racionalidade do torcedor,
desumanizando-o e acaba legitimando o controle social e as medidas repressivas contra
eles. Em relação às torcidas antifascistas existe uma desconfiança ideológica por conta do
estereótipo da despolitização do torcedor, fazendo com que muitas vezes esse ativismo seja
questionado (CERREIA, 2020).
Salientamos ainda que, embora as torcidas organizadas tenham sido amplamente
estudadas no campo acadêmico brasileiro, os coletivos de torcedores ainda são um
fenômeno pouco discutido, como demonstramos nessa pequena síntese da literatura
encontrada sobre o assunto. E as pesquisas que tratam sobre este objeto são recentes.
Também pudemos compreender como se deu a emergência das torcidas
antifascistas no Brasil e suas formas de ativismo, principalmente com as pesquisas de Pinto
(2017), Santos (2017), Lopes e Hollanda (2018) e Lopes (2020), Silveira (2021) e Ronchete
(2021). E, ainda, como algumas organizações e produções de conteúdo por parte de
torcedores já vinham acontecendo nas redes sociais mesmo antes do advento dos coletivos
estruturados politicamente, com os trabalhos de Vimieiro (2014) e Vimieiro e Maia (2017).
Algumas pesquisas tratam de temas específicos como o machismo e a homofobia
(PINTO, 2017; MORAES E BONFIM, 2017; BRAGA E CARAUTA, 2020; ANJOS,
2021) e são fundamentais, pois são problemas explícitos de preconceito e exclusão no
futebol brasileiro e na sociedade, que ainda não foram solucionados por federações,
dirigentes, clubes, torcidas e demais envolvidos no esporte, mas são um recorte pequeno,
visto que a militância das torcidas se estende a diversos outros temas.
No caso da dissertação de Gomes (2020), existe esse contexto maior de militância
dos torcedores, embora as entrevistas realizadas pelo autor sejam apenas com dois
coletivos. O pesquisador também traz análises interessantes sobre rivalidade clubística no
cenário da luta política desses torcedores e como isso pode ser um empecilho, algo que não
havia sido tratado em outra pesquisa desta mesma maneira.
De acordo com Pinheiro (2020), existe uma considerável produção das ciências
sociais sobre futebol em diversos âmbitos, como jogadores, meios de comunicação, gestão,
identidade nacional ou torcidas, e “nota-se, assim, que este campo do conhecimento se
solidificou ao estabelecer uma multiplicidade de caminhos investigativos para a
compreensão das relações sociais no/do/por meio do futebol” (PINHEIRO, 2020, p. 29).
Portanto, ao que tudo indica, a questão das torcidas antifascistas deve se tornar um tema a

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ser explorado com maior frequência, com a consolidação do ativismo desses torcedores na
internet, estádios e ruas, com o reconhecimento do campo acadêmico sobre futebol e sua
importância e com os problemas sociais cada vez mais latentes no Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, buscamos dar dimensão de como a literatura das Humanidades no
Brasil se preocupou com a relação entre futebol e sociedade e como isso ajuda a
compreender o contexto atual de formação das torcidas antifascistas e coletivos de
torcedores e torcedoras. Nos últimos anos diversos pesquisadores e pesquisadoras se
propuseram a analisar tais temas, deixando a visão mais pessimista do futebol, como fonte
de alienação, em segundo plano.
Porém, ainda há muito que explorar sobre o tema, principalmente em relação às
torcidas mais politizadas, até porque são um fenômeno contemporâneo, e é difícil dizer ao
certo os rumos que irão tomar. Apesar disso, são consideradas por muitos pesquisadores e
pesquisadoras, como trouxemos no trabalho, movimentos com gigantesco potencial de
militância e de transformação social, que podem deixar um grande legado ao país ou, no
mínimo, ser mais um desafio aos grupos dominantes.
Ainda assim, alicerçados na leitura e análise da literatura apresentada, constatamos
que os materiais encontrados possibilitam o entendimento do contexto brasileiro de
formação do ativismo torcedor e como os estudos acadêmicos vêm tratando este assunto.
A partir dos textos encontrados nos portais de acesso aberto, é possível perceber
que os estudos sobre as torcidas antifascistas e coletivos de torcedores e torcedoras têm
aumentado de maneira considerável. Se antes de 2020 algumas pesquisas até mencionavam
os movimentos, a partir desse ano elas passaram a protagonizar diversos estudos.
Acreditamos que com as tensões sociais e crescente desigualdade, as torcidas podem
aumentar o ativismo e continuarem a ser observadas.
Além disso, ainda é possível avançar em diversos pontos, como as consequências
das manifestações de 2020 para esses grupos, a importância das redes sociais para o
movimento e o engajamento recebido – principalmente pelo fato de a internet ser uma
alternativa aos grupos excluídos dos estádios, seja pelo preconceito ou pela gentrificação
dos espaços, de poderem se expressar e expor esses impedimentos –, além da exposição
das torcidas na mídia, tanto de maneira positiva quanto negativa. Também é possível
avançar nas análises das pautas desses grupos. Em geral, vemos mais pesquisas que dizem
respeito ao ativismo político, esportivo e feminista ou LGBTQIA+, mas o leque de

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assuntos com os quais as torcidas se envolvem é muito maior. Ademais, poucas pesquisas
se preocupam com a questão da rivalidade no futebol em contraponto ao ativismo político
e ações entre torcidas de clubes diferentes. Ainda existe a possibilidade de compreensão de
algumas críticas feitas entre os próprios coletivos, como por exemplo, o fato de que a
militância precisa se dar em outras esferas que não a internet ou que as classes médias
incorporadas aos coletivos e torcidas não entendem a luta contra o futebol moderno.
Assim, reiteramos a importância de compreender esses movimentos, que podem
promover mudanças positivas em diversos cenários de atuação e que trazem a possibilidade
de amenizar a visão que ainda se tem sobre futebol como fonte de alienação e algo
separado de questões políticas, sociais e culturais.

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