ChacarasLazer_NovoRural
ChacarasLazer_NovoRural
ChacarasLazer_NovoRural
Resumo
Abstract
as well as in the occupations and uses of that space. This investigation has as central
focus of study the small farms for leisure, in the attempt of verifying the interface
between that new use of the rural earth and the constitution of a "new rural Brazilian",
besides the possibilities as: unit of leisure and potentiality of job offer to the local
population. The area denominated Recanto Santa Andréa is located division into lots of
small farms in the city of Cambé - PR. To reach the mark of the research we used as
methodological procedure to the accomplishment of field works through collection of
data by semi-structured interviews. We emphasized, that we accomplished a
bibliographical rising, which provided us theoretical for we continue and we execute
our investigation work.
Introdução
tecnológicos. O autor avalia que o “o novo rural” emerge a partir dos anos 1980 no
Brasil pautado em três grupos de atividades, a saber:
1- Uma agropecuária moderna baseada em commodities e intimamente ligada às
agroindústrias (formação e sedimentação dos complexos agroindustriais).
2- O desenvolvimento de um conjunto de atividades não agrícolas, essas ligadas à
moradia, ao lazer e a várias atividades industriais e de prestação de serviços
(jardinagem, pedreiro, caseiro entre outros).
3 - A disseminação de um conjunto de atividades agropecuárias destinadas a
nichos de mercado com o a produção de rã, pássaros, avestruz entre outras, bem como a
psicultura, fruticultura, floricultura, horticulturas.
Nas palavras do autor “um espaço rural penetrado pelo mundo urbano com velhos
e novos personagens, como os neorurais (profissionais liberais e outros ex-habitantes da
cidade que passaram a residir no campo)” (GRAZIANO DA SILVA,1999). Essa
postura ancora-se na defesa de que a realidade do espaço rural nacional não pode ser
considerada e trabalhada a partir das atividades agropecuárias e agroindustriais, mas
devemos pensá-lo no bojo das novas funções e novas ocupações que se fazem presente.
Ressaltamos a hipótese do “renascimento rural” (“la renaissance rurale”)
defendida por Kayser (1989) tendo como ponto de partida a realidade francesa, a qual
encontra-se associada à tese de um repovoamento do rural vinculado à segunda
residência, ou seja, seu argumento assenta-se no movimento populacional no sentido
inverso ao fomentado pelo processo de urbanização, uma vez que está ocorrendo nos
países de capitalismo avançado um repovoamento do espaço rural via atividades não
agrícola (descentralização industrial), local de moradia para aposentados e de lazer.
A importância de se distinguir essa dinâmica socioeconômica e territorial
encontra-se nas discussões em relação à atuação do poder Estatal. É necessário o
reconhecimento da “la multifonctionnalité de l’agriculture” para se repensar o espaço
rural, principalmente tendo em mente as políticas públicas para o setor, pois como
coloca Mundler (2007, p.1) “Si la miltifonctionnalité suscite tant d’intérêt, c’est parce
qu’elle offre, à ceux qui l’espèrent, la perspective d’un changement radical dans la
façon dant l’agriculture est orientée par les politiques publiques”.
A preocupação do autor é pensar o espaço rural em um contexto amplo que
envolva todos os atores sociais presente nesse espaço, ou seja, não se limitar em ver as
terra, enquanto que o rural encontra-se intrinsecamente relacionado a ela. Nas palavras
de Alentejano:
Assim, independente das atividades desenvolvidas, sejam elas industriais,
agrícolas, artesanais ou de serviços, das relações de trabalho existentes,
sejam assalariadas, pré-capitalistas ou familiares e do maior ou menor
desenvolvimento tecnológico, temos a terra como elemento que perpassa e
dá unidade a todas essas relações, muito diferente do que acontece nas
cidades onde a importância econômica, social e espacial da terra é muito
mais reduzida. (2003, p. 29).
eminentemente agrícolas passando então a esse “novo rural”, ou seja, um espaço que
assume novas finalidades e funções.
Existem, ainda, outras modalidades que estão fazendo do espaço rural instrumento
passível de grande valorização como é o caso da procura, por indústrias, de terrenos
localizados próximos de suas fontes de matéria-prima no intuito de diminuir seus custos
e ainda fugir dos congestionamentos e da poluição das cidades. Citamos esse fato
somente para deixar claro que outras atividades também estão modificando o rural
brasileiro, mas o tema central deste estudo serão as chácaras de lazer.
Podemos considerar que essas mudanças socioespaciais estão refletindo em outras
atividades, como por exemplo, no próprio trabalho das pessoas que estão residindo no
espaço rural atualmente. Pois o avanço nos meios de transporte permite que as pessoas
desloquem-se com mais facilidade. Dessa forma, muitos trabalhadores que antes se
dedicavam somente às atividades agrícolas, passaram a procurar, nas cidades, uma fonte
de renda para complementar seu orçamento. Nesse ponto sobressai-se a territorialização
dos CAIs que promovem a materialização da tecnificação do território, pois:
Nas áreas onde hoje a produção agropecuária se dá com importante
participação da ciência, da tecnologia e da informação, a paisagem bucólica
muito freqüentemente associada à vida no campo não é mais do que mera
lembrança, pois o meio natural e o meio técnico vêm sendo rapidamente
substituídos pelo “meio técnico-científico-informacional”. (ELIAS, 2002,
p.25).
Geralmente, esses empregos são buscados por membros da família, que passam a
constituir um grupo denominado de trabalhadores não-agrícolas que residem em
propriedades rurais. Portanto, proporcionam uma renda não-agrícola para a manutenção
do grupo familiar na unidade de produção agrícola, ou, em determinados casos, na
propriedade rural, no sentido de que a principal renda não advém das atividades
agropecuárias. Ocorre, ainda, a presença de trabalhadores sem-terra que trabalham,
tanto na agricultura, como nas atividades oferecidas no espaço urbano, obtendo renda
dupla e favorecendo seu orçamento. Essa renda dupla, tanto de trabalhos não-agrícolas
como agrícolas viabilizam a sobrevivência desses trabalhadores.
Nesse contexto, consideramos que o termo o “Novo Rural Brasileiro”,
particularmente em sua base teórica e metodológica proporciona apreender o processo
de mudanças que está acontecendo na atualidade no espaço rural, principalmente nas
áreas onde temos a territorialização do capital. O espaço rural mudou, é novo, no
sentido de que novas ocupações estão acontecendo neste meio e é a partir delas que
daremos ênfase nas chácaras para lazer.
No caso do nosso recorte espacial de pesquisa as chácaras para lazer são pequenas
e médias unidades de terra entre 2.500 m² a 2 hectares (20.000 m²), não podendo
ultrapassar, portanto, o módulo rural (um módulo rural equivale a 12 hectares no
município de Cambé - PR). Normalmente, os proprietários dessas chácaras são pessoas
que moram nas cidades, pois, acreditam que, naquele espaço, terão um recanto para
aliviar o estresse diário, aumentando assim sua qualidade de vida e a de sua família.
As atividades desenvolvidas nessas chácaras são as mais diversas, desde a
horticultura, piscicultura, pequenas criações, até uso exclusivo como segunda moradia
de seus donos ou ainda como locação das mesmas para usos festivos. Todavia, as
atividades presentes nas chácaras de lazer, dependem da área onde as mesmas estão
localizadas, já que ao se encontrarem no espaço urbano, não podem, manter ali, por
exemplo, uma granja, fato que afetaria enormemente os vizinhos devido ao mau cheiro,
entre outros incômodos.
Quando as propriedades estão localizadas no espaço rural, a situação mostra-se
diferente. No espaço rural, as atividades a serem desenvolvidas têm uma amplitude
maior, visto que a área é apropriada para tal. Dependendo do tamanho das chácaras, os
proprietários constroem pesque-pagues ou mantêm pequenas culturas como flores,
hortas, criam coelhos, aves, entre outras atividades, as quais se voltam para “nichos de
mercado”, principalmente de produtos que não demandam grandes extensões de terra e
ao mesmo tempo, são valorizados. Há aqueles que fazem da sua chácara um
empreendimento, ao construir alguns chalés para locar para usos em finais de semana.
Dessa forma, o proprietário consegue retirar, de sua propriedade, dinheiro para mantê-
la, ou ainda, auferir lucro. Graziano da Silva e Vilarinho analisam este assunto do
seguinte modo:
O impacto da proliferação das chácaras de fim de semana tem sido notável
sobre a paisagem rural. Primeiro, contribuem para manter as áreas de
preservação/conservação do que restou da flora local e, muitas vezes, dão
início a um processo de reflorestamento, mesclando espécies exóticas e
nativas. Segundo, expulsam as “grandes culturas”, que, em geral, utilizam-se
de grandes quantidades de insumos químicos e de máquinas pesadas nas
periferias das cidades. Terceiro, dão novo uso as terras antes ocupadas com
pequena agricultura familiar, até mesmo assalariando antigos posseiros e
moradores do local como “caseiros”, jardineiros e outras práticas de
preservação e principalmente guarda do patrimônio aí imobilizado na
ausência dos proprietários. (GRAZIANO DA SILVA; DALE. 2000, p. 43).
finais de semana. Outro proprietário afirmou que comprou sua chácara, também de
5.000 m.², no ano de 1998, num leilão, e pagou a quantia de R$ 8.000,00 mais uma
dívida de IPTU no valor de R$ 1.200,00, ou seja, a chácara saiu por um valor de R$
9.200,00. Esse proprietário pode aproveitar-se da valorização ocorrida na área, pois em
1999 vendeu-a para um conhecido pelo valor de R$ 35.000,00 após ter realizado como
benfeitoria apenas muro ao redor do lote. Podemos observar a valorização do espaço
dessa chácara em 79,19% do valor original, ocorrido durante o período de 1 ano no
Recanto Santa Andréa. Nesse período, ainda não existia asfalto, como atualmente, em
frente a essa chácara. Entretanto, esse ex-proprietário comprou-a novamente pelo valor
de R$ 38.000,00 e hoje construiu casa, piscina, pomar, entre outros, e disse que não a
vende por menos de R$ 200.000,00.
As outras entrevistas também nos proporcionaram uma visão da valorização
crescente das terras do loteamento, apesar de saber que atualmente quem adquire um
imóvel nesse loteamento já não faz um negócio tão bom como fizeram os proprietários
mais antigos. Acreditamos que o Loteamento, assim que foi liberado para venda, não se
mostrava como algo tão interessante como é hoje, pois foi nos anos de 1990 que se
consolidou como estilo de vida, o afastamento da cidade para obter qualidade de vida,
bem-estar e lazer.
O loteamento Recanto Santa Andréa, segundo o Sr. Odorício Onofre foi quase
totalmente vendido para pessoas que residiam em Londrina, cerca de 70% dos
proprietários eram londrinenses. Hoje, o que percebemos diante das entrevistas, é que a
maioria dos entrevistados reside em Cambé. Podemos explicar este fato por existir hoje,
no município de Londrina locais que podem ser adquiridos para fins de lazer, sendo
desnecessário adquirir um lote em outro município. Esse fenômeno começa a
disseminar-se, principalmente na década de noventa em diante, tendo em vista o
aumento expressivo da procura de moradias ou chácaras para lazer em lugares retirados
da cidade, que ofereçam paz e tranqüilidade, a fim de aliviar tensões e os desgastes
causados pelas atividades citadinas.
Os agentes imobiliários, percebendo essa necessidade, iniciaram uma estratégia de
marketing para atrair cada vez mais compradores para esses lotes, tanto em
condomínios fechados como em chácaras para lazer. Podemos considerar que esses
empreendimentos imobiliários voltam-se para pessoas com poder econômico elevado,
estabelecido um salário que gira em torno de R$ 250,00 a R$ 300,00 (2005), mais uma
cesta básica, mas isso depende do acordo estabelecido. Campanhola e Graziano da
Silva (2004, p. 181) apontam no estudo realizado sobre os caseiros de Vinhedo-SP, que
é possível constatar uma diversidade muito grande, em termos de salário, além das
exigências dos patrões em relação às atividades que serão desenvolvidas pelos caseiros
nas chácaras. Tal fato foi constatado na nossa investigação, no sentido que não ocorre
uma homogeneidade nos acordos entre os caseiros e os proprietários das chácaras.
Dessa forma, com intuito de apreender a experiências e as condições de
existências desses profissionais, entrevistamos 10 caseiros que prestam serviços no
loteamento. Nossa primeira questão para os caseiros foi em referência à origem dos
mesmos, tendo em vista o objetivo de saber de onde vieram e por quais motivos. Dos
10 entrevistados, 8 disseram ter vindo de cidades vizinhas de Cambé como: Jataizinho,
Porecatu, Rolândia e Londrina. Ao entrevistarmos esses caseiros, que na verdade são 8
caseiros e 2 caseiras, percebemos que todos nasceram no espaço rural e que alguns
moraram na cidade, sendo que as atividades que já exerceram foram: pedreiro, diarista,
marceneiro e auxiliar geral. A dificuldade em conseguir um trabalho rentável existe
devido à falta de capacitação, ou seja, essas pessoas freqüentaram poucas séries
escolares, sendo que, apenas 2 conseguiram concluir o ensino fundamental. A opção por
trabalharem como caseiros reflete o pensamento dos mesmos que disseram ser esta
profissão um trabalho que não necessita de alta capacitação e, por isso, eles não
procuram a escola novamente, alguns por falta de oportunidade. Sendo assim, os
caseiros vêem nas chácaras, em que trabalham, a alternativa de manter o emprego
estável, além, de ter como garantia a moradia para ele e sua família. Campanhola e
Graziano (2004,p.180) confirmam essa visão quando apontam que
Ser caseiro pode ser considerado apenas uma atividade transitória para
alguns, há um número significativo de entrevistados para os quais a profissão
de caseiro é considerada alternativa mais viável de emprego e não existe
muita perspectiva em abandoná-la.
Na ótica dos caseiros que entrevistamos, as atividades que exercem são muito
importantes como um deles ressaltou: “se não fosse nós, os patrão não teria a casa
limpa, a piscina cuidada, a grama cortada. Eu acho que nosso trabalho é importante
sim, mais até que o de doméstica que a mulher faz pra eles, porque lavar louça não
Uma outra questão refere-se aos filhos pequenos que muitos caseiros possuem.
Para as crianças, a prefeitura disponibiliza o transporte das mesmas até a escola. Além
disso, a 500 metros do loteamento, existe um ponto de ônibus que faz a linha
Brastislava-Cambé e que auxilia os pais e os filhos caso queiram fazer cursos ou tenham
alguma atividade para desempenharem no centro da cidade. Um outro aspecto que
levantamos durante as entrevistas foi sobre cursos gratuitos que existem no bairro ao
lado do Recanto Santa Andréa. As atividades são de aeróbica e artesanato para
mulheres.
Durante nosso estudo, percebemos que esse loteamento de chácaras possui várias
relações, pois, além de opção para trabalho, são ambientes para descanso e reflexão.
Assim, finalizamos a investigação com a constatação de temos atingindo o escopo da
pesquisa ao realizar uma análise das relações sociais e espaciais que compõem o
Loteamento Recanto Santa Andréa.
Considerações Finais
O empenho que é posto diante de uma pesquisa faz com que o pesquisador sinta
que está realizando um esforço para compreender o que lhe incomodou em algum
momento em relação ao objeto de estudo proposto. Foi nessa perspectiva que
trabalhamos, empenhando-nos ao máximo, para compreender as mudanças
socioespaciais ocorridas no espaço rural que se transformou no Loteamento Recanto
Santa Andréa e, automaticamente em espaço urbano pela prefeitura. Nesse contexto,
acreditamos que as mudanças foram significativas, tanto ao ver dos caseiros, como dos
proprietários das chácaras, em relação às mudanças na infra-estrutura geral do
loteamento, bem como da valorização espacial da área.
Salientamos a importância da pesquisa com os caseiros, pois estes, na maioria das
vezes nos trouxeram informações sobre a realidade do loteamento, no sentido que a
vivência deles é diária naquele espaço, diferentemente dos proprietários que não
residem nas chácaras. Para as pessoas que obtém uma ocupação nas chácaras, no caso
os caseiros, as mesmas representam uma alternativa de sobrevivência em atividades
agrícolas e não-agrícolas, pois identificamos no loteamento Recanto Santa Andréa, que
os caseiros tanto trabalham nas chácaras, como na cidade, os quais se constituem
trabalhadores polivantes, no sentido que assumem diferentes atividades tanto agrícolas
como não agrícolas.
Quanto à satisfação, em relação ao empreendimento chácaras para lazer, os
proprietários entrevistados salientaram que não existe “lugar melhor” para passar
momentos agradáveis com seus amigos e familiares, mesmo que os custos sejam altos,
além de outros fatores, como falta de segurança e ausência de infra-estrutura. Sendo
assim, percebemos que mais que um lote, esse espaço criou referências pessoais com
seus proprietários, e a partir disso, surgiu o vínculo e o sentimento de pertencimento em
relação ao lugar.
Em relação ao setor imobiliário, podemos dizer que é um segmento que está em
incessante procura por áreas que possam tornar-se objeto de consumo, ou seja, procura-
se por terras afastadas dos centros urbanos, constrói-se uma infra-estrutura, a qual é
capaz de atrair muitos compradores com a promessa de obter um espaço totalmente
seguro, com muito verde, que auxilie no alívio das tensões diárias, entre outras. As
pessoas, seduzidas pelo anúncio, acabam adquirindo esses lotes a fim de destinar-lhes
ao lazer familiar.
Consideramos que as mudanças que o espaço rural brasileiro vem passando nas
últimas décadas podem ser analisadas a partir da presença das chácaras para lazer, as
quais são apenas uma categoria na interface das transformações socioespacial rural, mas
muitas outras dão um novo tom ao rural, como o turismo rural, hotéis fazenda, pesque-
pagues, entre outros, o que torna as relações campo-cidade mais complexas no sentido
da presença de diferentes atores sociais nesse espaço. Dessa forma, cabe aos
pesquisadores o desafio de estudá-la com um olhar que extrapole a dicotomia rural-
urbano na busca abarcá-la na sua unidade dialética.
Notas
________________________
1
No ano de 1990 não foi realizado o Censo Demográfico no Brasil, por isso utilizamos os dados do ano
de 1991
Referências
DOLLÉ, M. (Coord.) L alongue route vers l’euro: croissance, emploi, revenus, 1985-
2000. Disponível em: <www.ladocumentationfrancaise.fr>. Acesso em: 10 fev. 2004.