OLEANNA arrumada
OLEANNA arrumada
OLEANNA arrumada
Fevereiro de 1993
"Oh, estar em Oleanna - é onde eu preferia estar. Depois ir para
a Noruega e arrastar os grilhões da escravidão."
Canção Popular
A falta de ar fresco parece não afetar muito a alegria das
crianças de uma ruazinha de Londres. A maior parte delas canta
e brinca como se estivesse num lago. da Escócia. Portanto, a
ausência de uma atmosfera mental genial não costuma ser
reconhecida pelas crianças que nunca a tiveram. Os jovens têm a
maravilhosa faculdade de morrer ou adaptar-se às
circunstâncias. Mesmo quando estão infelizes - muito infelizes é
impressionante como é fácil evitar que eles o percebam ou, pelo
menos, que o atribuam a qualquer outra causa além da própria
pecaminosidade.
JONH: Vamos deixar o misticismo de fora, ok? Carol? Você não acha? (PAUSA)
JOHN: Hmm?
JOHN: … O quê?
JOHN: (PAUSA) Não. Me desculpe. Não. Você está certa. Eu estou com um pouco de
pressa. (PAUSA) Você quer saber o que é "termo forense"? Eu acho que é um termo
que ficou preso, por causa do uso, a algum significado mais específico do que as
próprias palavras indicariam. Eu acho que é isso que quer dizer "termo forense".
(PAUSA)
JOHN: Não tenho certeza absoluta. É uma daquelas, talvez aconteça com você também,
que alguém te explica e você diz "ahã" e imediatamente depois...
1
CAROL: Mas você não faz isso.
CAROL: … Esque…
CAROL: … Não...
CAROL: Não.
CAROL: Não.
JOHN: Você me deu a honra de vir aqui… Tudo bem. Carol. Eu acho que estou num
impasse. Eu acho que…
CAROL: … que…
2
PEGA ALGUNS PAPÉIS SOBRE A MESA) Eu nem sei se diria "mas". Eu diria que
quando eu volto a examin…
JOHN: Não. Eu entendo, eu entendo o que você quis... (ELE AGITA OS PAPÉIS) Mas
o seu trabalho...
JOHN: (AO MESMO TEMPO QUE ELA FALA "ANOTAÇÕES") Sim. Eu entendo. O
que eu estou tentando te dizer é que alguns… alguns mal…
CAROL: … Eu…
CAROL: Não, não. Estou fazendo o que me disseram. É difícil pra mim. É difícil…
JOHN: …, mas…
CAROL: É verdade.
JOHN: Eu acho…
CAROL: Eu…
JOHN: Você é uma moça extremamente brilhante… Você não tem nenhum problema
de…
3
CAROL: … Eu…
JOHN: Não. Eu vou te dizer por quê. Vou te dizer… acho que você está com raiva,
eu…
JOHN: … todo…
CAROL: … outra…
JOHN: … olha…
CAROL: … Eu…
"Eu acho que as ideias contidas neste trabalho expressam os sentimentos do autor da
maneira como ele pretendia, com base nos seus resultados." O que quer dizer isso?
Você entende? O que…
JOHN: … como…
4
CAROL: … você não pode…
CAROL: … Eu…
JOHN: … até os… eu… Até os critérios para julgar os progressos em sala são…
CAROL: Eu fiz o que você pediu. Eu fiz… Eu fiz tudo o que… Eu li o seu livro, você
me disse para comprar o seu livro e ler. Tudo o que você diz eu… (ELA ESTENDE O
CADERNO) (O TELEFONE TOCA) eu anoto… tudo…
JOHN: … olha…
CAROL: O que?
JOHN: Eu…
JOHN: Não…
JOHN: Eu…
JOHN: … durante as aulas eu… (ELE ATENDE O TELEFONE) Alô. Não posso falar
agora. Jerry? É? Eu enten... Não dá prá falar agora. Eu sei... eu sei (AO TELEFONE)
Jerry. Não dá para falar agora. É, eu… me liga daqui a… obrigado. (ELE DESLIGA)
(PARA CAROL) O que você quer que eu faça? Somos duas pessoas normais. Nós dois
estamos sujeitos a…
CAROL: Não.
JOHN: Certas normas institucionais… Me diz o que você quer que eu faça…
5
CAROL: Me ensina.
CAROL: Nada. O que você quer dizer. Quando você fala sobre… A transformação
virtual dos jovens em depósitos"…
JOHN: … bem…
CAROL: Eu não…
CAROL: Não. Tem pessoas lá fora. Pessoas que vêm aqui. Que vem para saber coisas
que não sabem. Elas vêm aqui. Para serem ajudadas. Portanto alguém deveria ajudá-
las... A saber alguma coisa. Para continuar, como é que eles dizem? "Para continuar no
mundo". COMO POSSO CONTINUAR SE EU NÃO… Se eu não passar? Mas eu não
entendo. Eu não consigo entender. Eu não entendo nada… e fico andando em círculos.
De manhã à noite… com esse único pensamento na cabeça. Sou uma idiota.
JOHN: Eu…
JOHN: Eu acho que você está com raiva. Muitas pessoas estão com raiva. Eu tenho que
dar um telefonema. E tenho um encontro que está me pressionando; simpatizo com as
suas preocupações e adoraria ter tempo, mas essa nossa conversa não tinha sido
marcada com antecedência e eu…
6
CAROL: Você disse que sim.
CAROL: Disse.
JOHN: Quando?
CAROL: … você…
JOHN: Não. Eu nunca disse isso, ou melhor, nunca diria isso para uma aluna minha,
e…
CAROL: Que eu sou uma idiota. E que não vou aprender nunca. Era isso que eu queria
dizer. Você tem razão.
JOHN: … eu…
CAROL: Ninguém me diz nada. Eu sento naquela sala de aula… no cantinho. No fundo
da sala. E ninguém fala sobre isto o tempo todo. E os "conceitos" e os "preceitos", e, e,
e, e, e, E SOBRE O QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO AFINAL? Eu leio o seu livro. As
pessoas dizem: "Ê bom assistir aquela aula". Porque você falou aos jovens sobre
responsabilidade. EU NÃO SEI O QUE QUER DIZER ISSO E ESTOU ME
FERRANDO…
CAROL: Não, você tem razão. "Ah, droga." Eu me dei mal. Pode me dar bomba. É um
lixo. Tudo o que eu faço. "As ideias contidas neste trabalho expressam os sentimentos
do autor". Está certo. Eu sei que eu sou uma idiota. Eu me conheço. (PAUSA) Eu me
conheço, professor. Não precisa me dizer. (PAUSA) Ê patético, não é? (ELA SE
LEVANTA)
JOHN: … Aha… (PAUSA) Sente-se. Sente-se, por favor. (PAUSA) Por favor, senta.
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CAROL: Por quê?
JOHN: Sente-se um pouco. (PAUSA) Por favor. Obrigado. Quero te dizer uma coisa.
JOHN: Eu vou te contar a minha história. (PAUSA) Você se importa? (PAUSA) Eu fui
criado para me sentir um idiota. É isso que eu quero te dizer. (PAUSA)
JOHN: Foi isso mesmo que eu disse. Desde pequeno, nas minhas lembranças mais
remotas, me diziam que eu era um idiota. "Inteligência rara. Por que tem que ser tão
idiota?" Ou então: "Você não consegue entender. Consegue?" E eu não conseguia.
CAROL: … O que…?
JOHN: O problema mais simples. Era demais para mim. Era um mistério.
JOHN: Como as pessoas aprendem. Como eu podia aprender. E é sobre isso que eu
tenho falado nas aulas. É claro que você não ouve, Carol. Você não consegue ouvir.
(PAUSA) Eu costumava falar de "gente de verdade" e ficava me perguntando o que essa
"gente de verdade" fazia. As pessoas de verdade. Quem eram essas pessoas? Era todo
mundo que não fosse eu. As pessoas boas. As pessoas capazes. As pessoas que
conseguiam fazer as coisas que eu não conseguia: aprender, estudar, decorar… Toda
aquela baboseira - que é o que eu tenho falado nas aulas. E eu percebi você na aula,
quando estávamos falando sobre os conceitos da…
JOHN: Bem, então a culpa é minha. A culpa não é sua. No meu entender essa é a pura
verdade. Eu lhe devo desculpas.
JOHN: Porque eu devia estar com outras coisas na minha cabeça… Nós estamos
comprando uma casa, e…
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JOHN: É.
CAROL: Quando?
JOHN: Para falar a verdade, a minha vida inteira. Na infância, e… talvez… devem ter
parado. Mas na minha cabeça continuou assim.
JOHN: Diziam que eu era incompetente. Está vendo? E quando me põem à prova, os…
os… os sentimentos da minha juventude sobre a própria questão da aprendizagem,
aparecem de novo e eu… Eu fico, eu me sinto "desmerecedor", e "despreparado"…
CAROL: É.
CAROL: …, mas aí você acaba errando. (PAUSA) Você tem que errar. (PAUSA) Não
é?
JOHN: Você vai ficar assustada quando tiver que enfrentar o que pode ou não ser aquilo
que talvez você venha a perceber como um teste. Você vai se sentir assustada.
JOHN: Bem, eu não sei se eu colocaria dessa maneira. Ouça, estou falando com você
como falaria com meu filho porque isso é uma coisa que eu gostaria que ele tivesse e
que eu nunca tive. Estou falando com você da maneira que eu gostaria que alguém
tivesse feito comigo. Eu não sei fazer isso de maneira impessoal, com você, mas…
JOHN: Está vendo? É isso que eu quero passar. Nós só podemos interpretar o
comportamento das pessoas através da ótica que nós… (O TELEFONE TOCA)
Através… (AO TELEFONE) Alô…? (PARA CAROL) Através da nossa própria ótica.
(PARA CAROL) Me dá licença um instante. (AO TELEFONE) Alô? Não, eu não posso
falar ag… Eu sei que eu disse. Daqui a pouco… Eu… Ele vai… sei. Eu falei com ele.
Nós vamos encontrar você no… não, porque eu estou com uma aluna. Vai ser rápid…
Mas isso também é importante. Eu estou com uma aluna, o Jerry vai… Ouve: quanto
mais cedo eu terminar, mais cedo eu saio, tudo bem. Eu amo você. Ouve, ouve, eu disse
"amo você", vai dar certo… porque eu sinto que vai dar… Eu já vou. Tudo bem? Então
vai levar o tempo que levar. (ELE DESLIGA) (PARA CAROL) Me desculpe.
JOHN: Estamos tendo problemas, como sempre fechamento da compra da casa nova.
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JOHN: É isso mesmo.
JOHN: Gosto.
JOHN: Ora, por quê? É. (PAUSA) talvez a gente seja parecido. (PAUSA)
JOHN: Tenho.
JOHN: Bom você está certíssima. (PAUSA) Se nós quisermos acabar com a
formalidade artificial entre aluno e professor, por que eu teria que esconder os meus
problemas e você não? É claro que eu tenho problemas.
JOHN: É. E talvez os meus problemas sejam, você sabe, parecidos com os seus.
JOHN: Tudo bem. Eu comecei a dar aulas tarde. E eu achava que era artificial. Essa
noção de "eu sei e você não sabe!" Eu passei a ver o processo educacional como uma
exploração. Eu detestava a escola, eu odiava os professores. Eu detestava todo mundo
que estivesse na posição de "chefe", porque eu sabia que eu não pensava. Eu sabia que
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eu ia errar. Eu era um fracasso. Eu não era bom em porra nenhuma. Quando eu… fui
ficando mais velho… (PAUSA) quando eu consegui me libertar (PAUSA) da
necessidade de errar, quando eu…
JOHN: Você tem que olhar para o que você é de verdade. E depois, você tem que ver o
jeito como você age. E dizer: "se eu fiz isso foi porque eu me vejo assim".
JOHN: Se eu erro o tempo todo, deve ser porque eu penso que sou um fracasso. Veja
bem. As provas, entende, que você faz na escola, na faculdade, na vida, na maioria das
vezes são feitas por idiotas. Por idiotas. Não há a menor necessidade de errar. Essas
provas não servem para medir o seu valor. E eu…
CAROL: … não…
JOHN: Elas não prestam. São uma piada de mau gosto. Olha pra mim. A banca
examinadora. Eles vão me julgar. A temível banca examinadora. Vão me pôr à prova.
Para eu conseguir a cátedra, um emprego vitalício, eu vou me submeter ao julgamento
de pessoas que eu não contrataria nem para lavar o meu carro. Mas, ainda assim, eu vou
me apresentar diante da veneranda banca examinadora, isso me dá uma vontade de
vomitar, de atirar toda a minha ruindade sobre a mesa e mostrar a eles: "Eu sou um
merda. Por que vocês foram escolher logo eu?"
JOHN: Não. Eles anunciaram que vão me dar, mas ainda não assinaram o papel. Está
vendo? A qualquer momento eles podem não assinar… O corpo docente pode fazer
restrições… eh? Eles vão descobrir o meu grande segredo. (PAUSA)
CAROL: E qual é?
JOHN: Eu não tenho nenhum. Mas eles, vão descobrir um indicador da minha ruindade.
CAROL: Indicador?
JOHN: Não.
CAROL: Eu te aborreci?
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JOHN: Não. E eu peço desculpas. É claro que você quer notícias da sua prova. (O
TELEFONE COMEÇA A TOCAR) Espera um pouquinho só. (ELE VASCULHA A
MESA)
JOHN: Deixa tocar. Vamos fazer um trato. Você fica aqui. Vamos começar o curso do
princípio. Vamos fazer de conta que não era você. Que era eu que não estava prestando
atenção. Vamos começar desde o princípio. Sua nota final é 10. (O TELEFONE PARA
DE TOCAR).
JOHN: (AO MESMO TEMPO EM QUE CAROL DIZ "ANO") A sua nota para este
semestre é 10. Se você me prometer que vai voltar. Mais algumas vezes. (ELE RASGA
A PROVA) Esqueça a prova. O importante é que eu desperte o seu interesse. Vamos
começar tudo de novo. (PAUSA)
CAROL: O que?
JOHN: O curso.
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CAROL: Por que você faria isso por mim?
CAROL: Humm?
CAROL: Tudo bem. Eu não entendi quando você falou sobre o efeito névoa.
CAROL: Estou.
CAROL: Eu quero ver se eu consigo acertar. (LENDO O CADERNO) Está aqui: você
escreveu sobre o efeito névoa.
JOHN: Virou um ritual, virou uma questão de fé. Todo mundo tem que se sujeitar ou,
em outras palavras, todo mundo tem direito ao ensino superior. E o meu ponto de
vista…
JOHN: Está bem, vamos tratar desse ponto. O que você pensa?
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CAROL: A justiça.
JOHN: Isso. Você acha que pode repetir o meu exemplo? (ELA OLHA PARA O
CADERNO) Sem procurar no caderno.
JOHN: Sim?
JOHN: Isso. Veja bem. A justiça é um direito, será que as pessoas têm que usá-la? Têm
que exigir um processo justo só porque têm direito? O ponto que eu estou levantando é
a confusão entre equidade e utilidade. As pessoas confundem a utilidade do ensino
superior com o direito que todo mundo tem de ir para a universidade. Na realidade, a
gente cria um preconceito com relação ao ensino superior…
CAROL: … você acha que é preconceito achar que todo mundo tem que ir para a
faculdade?
JOHN: Tudo bem! Pode falar! O que é um preconceito? É uma crença sem fundamento.
Todo mundo está sujeito a isso. Ninguém é perfeito. Quando há uma ameaça, ou, por
outro lado, quando a gente sente raiva não reage assim? Como você está reagindo
agora? Ótimo.
CAROL: Como…
JOHN: Ótimo…
CAROL: Eu estava dizendo… (OLHA NO CADERNO) Como você pode dizer numa
sala de aula, dizer numa aula de faculdade, que o ensino superior é um preconceito?
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CAROL: Predileção…
JOHN: Isso.
CAROL: O que?
CAROL: Não.
CAROL: Me provocar?
JOHN: Para forçar você… a ouvir. (PAUSA) Quando eu era mais jovem, alguém me
disse, que os ricos copulam menos que os pobres. Mas quando copulam têm que tirar
muito mais roupa. Durante anos eu comparava as minhas próprias experiências com
esse ditado. E o que é que isso queria dizer? Nada. Alguém te disse e você aceitou como
verdade absoluta que o ensino superior é um bem intocável. Esse negócio de ensino
superior, desde a guerra, se tornou uma questão tão definida, urna necessidade ditada
pela moda, para as pessoas que queriam ou aspiravam a nova classe média, que
pretendiam subir na vida e viam isso como uma questão de direito, isso chegou a tal
ponto que ninguém mais se pergunta "para que serve isso?" (PAUSA) Quais seriam as
razões para alguém fazer uma faculdade?
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JOHN: Nós estamos falando de ascensão econômica e eu me lembrei da mensalidade da
escola. (CONTINUA ESCREVENDO) (PARA SI MESMO) É um absurdo ter que
pagar um colégio tão caro e as universidades serem gratuitas. O mais importante é o
ensino básico. É manter as crianças dentro das escolas. E… Isso te interessa?
JOHN: Eu não estou dando aula. Só estou tentando passar para você algumas das coisas
que eu penso.
JOHN: Então por que as pessoas vão para a universidade? Porque elas ouviram dizer
que isso é o "certo"?
CAROL: Mas como é que essa gente vai se sentir quando ouvem dizer que estão
perdendo tempo?
CAROL: Você disse que a educação era uma “imposição prolongada e sistemática".
JOHN: Porque eu gosto. (PAUSA) Vamos… Eu sugiro que você dê uma examinada nos
dados demográficos, na capacidade de geração de renda, numa comparação entre
pessoas formadas e não formadas, homens e mulheres, de 1855 a 2015, e vamos ver se
essas estatísticas nos provam alguma coisa, tá? E…
CAROL: Não.
JOHN: O que?
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JOHN: … você…
JOHN: O que?
CAROL: Nada. Nada mesmo. Eu fico sorrindo nas aulas, sorrindo o tempo todo. Do
que é que você está falando? Do que é que todo mundo está falando? Eu não entendo.
Eu não sei o que quer dizer. Eu não sei por que tenho que estar aqui… Você me diz que
eu sou inteligente, e depois diz que eu não deveria estar aqui, o que é que você quer
comigo? O que é que isso tudo quer dizer? A quem eu tenho que ouvir… Eu… (ELE
CAMINHA NA DIREÇÃO DE CAROL E PASSA O BRAÇO SOBRE O OMBRO
DELA) Não.
JOHN: Shhhhhh.
JOHN: Shhhhhh.
JOHN: Fala.
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CAROL: Eu…
CAROL: Eu…
CAROL: Eu…
CAROL: Eu sempre…
JOHN: … ótimo…
(O TELEFONE TOCA)
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JOHN: (AO TELEFONE) Não posso falar agora. (PAUSA) O que? (PAUSA) Hmm.
(PAUSA) Tudo bem, eu… (AO TELEFONE) Não, não, eu sei que eu prometi, mas… O
que? Alô. O que? Ela o que? Ela não pode… Ela disse que o contrato não é válido? É a
nossa casa. Eu tenho o papel, quando nós voltarmos, semana que vem, com o
pagamento, e o papel… Aquela casa é… Espera aí, e o Jerry? O Jerry está aí? (PAUSA)
Está ou não está…? Ela tem advogad…? Como pode uma coisa dessas. Põe o Jerry na
linha. (PAUSA) Jerry. Mas que droga… Essa é a minha casa. Essa… tá bom, eu não,
não, não, eu não vou prá… ou… ouve, eu quero que ela se foda. Você fala com ela.
Ouve aqui: eu quero que você pegue a Grace e cai fora dessa casa. Deixa essa mulher aí.
Ela e o advogado dela, e diz para ela que a gente se vê no tribunal… não entendi.
(PAUSA) Tá, mas e a casa? (PAUSA) Não, não. Tudo bem. Tud… tudo bem…
(PAUSA) Claro. Já estou indo. (ELE DESLIGA) (PAUSA)
CAROL: É mesmo?
JOHN: É.
JOHN: É.
JOHN: Não.
CAROL: É o que?
CAROL: A cátedra.
JOHN: Bom, tem gente que vê isso como uma forma de agressão.
CAROL: O quê?
JOHN: A surpresa.
FIM DO ATO UM
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-DOIS-
JOHN: Como eu estava te dizendo, quando eu descobri que eu adorava ensinar, eu jurei
que não ia ser aquele tipo de instrutor frio, rígido, o tipo autômato que eu sempre tive na
minha infância. Só que eu sabia, desde o princípio, concedido errar às custas dos outros
e perguntava, e ainda me pergunto, se eu uma postura "graciosamente heterodoxa".
Quando surgiu a possibilidade de eu ficar com a cátedra, eu fiquei, naturalmente, feliz, e
me envaideci. E então percebi que eu não estava livre dessa necessidade de segurança, e
que talvez eu nem devesse me culpar por isso. Qual era o preço dessa segurança?
Conseguir a cátedra. A cátedra que depende do parecer da comissão examinadora. E foi
com base nisso que eu fechei o negócio da casa. Mas você, como você não tem família
prá sustentar, talvez você não entenda muito bem este argumento. Mas para mim é
importante uma boa casa para criar minha família. Mas agora a comissão examinadora
vai se reunir. Este é o processo, e é um bom processo. Eles vão se reunir, e ouvir a sua
queixa - que você tem direito a fazer; e ela vai ser indeferida. E, nesse meio tempo, eu
vou perder a minha casa. Eu vou perder o meu depósito, e a casa que eu escolhi para
minha mulher e meu filho vai para o beleléu. Eu sei que eu irritei você. Eu entendo que
você tenha raiva dos professores. Eu tinha raiva dos meus. E essa foi uma das razões
pelas quais eu me dediquei à educação.
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CAROL: Eu não sei o que é um paradigma.
JOHN: É um modelo.
JOHN: Se for importante prá você. Tá bem. Eu estava procurando um modelo. Mas
continuando: eu acho que um ponto...
CAROL: Eu...
JOHN: ...Não.
JOHN: Eu não quis dizer isso de jeito nenhum. Eu acho que você está me entendendo.
JOHN: Eu sei que você está chateada. Mas, me diga, literalmente, que mal eu te fiz?
CAROL: Seja lá o que for que você tenha feito a mim, na medida em que você fez
comigo, sabe, comigo enquanto estudante, e, portanto, para o corpo discente, está no
meu relatório. Para a comissão examinadora da cátedra.
JOHN: Tá bom. (PAUSA) Vejamos. (LÊ) Você diz que eu sou sexista. Que eu sou
elitista, que eu insisto em dispender tempo em desvios irregulares do texto prescrito,
com conotações dramáticas, apenas para me promover... e que estes elementos tomaram
formas sexualísticas e pornográficas... a saber. (PAUSA) Aí vem uma lista...
Exemplos...
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Em recinto fechado com uma aluna... "contou uma história desconexa de sexo explícito,
na qual a frequência e as atitudes sexuais dos pobres e dos ricos são, ao que parece, o
ponto central... fez menção de agarrar a referida aluna ... tudo isso dentro de um padrão
intencional... " (PAUSA)
(VOZ GRAVADA)
Ele disse que "gostava" de mim. Que "gostava" de estar comigo. Que me deixaria
fazer a prova de novo, se eu voltasse a vê-lo com mais frequência, no seu escritório.
Que tinha problemas com a esposa" e que "queria acabar com a formalidade
artificial entre aluno e professor”. Ele tentou me abraçar...” disse que se eu ficasse
sozinha com ele no escritório, mudaria a minha nota para 10.
CAROL: E você vai negar? Está vendo? E aí você vem com essa história de "eu não
entendo você..." Aí você... (APONTA)
JOHN: Está vendo? Você não consegue me dizer isso com as suas próprias palavras?
CAROL: (AO MESMO TEMPO QUE "CRESÇA") Olha. Eu acho que não preciso da
sua ajuda. Eu acho que não preciso de nada de você.
CAROL: Não me interessa o que você sente. Ta sabendo? Você - não tem esse poder.
Você fez isso tudo. E depois fica dizendo “o eu quero te ajudar a resolver o seu
problema..."
JOHN: É, eu entendo. Você está magoada. Tá certo. Eu acho que a tua raiva está te
traindo. A gente está trilhando um caminho que não é bom pra ninguém.
JOHN: Não te interessa? (PAUSA) Mas você fala de direitos. Você não percebe? Eu
também tenho direitos. Olha. Eu tenho uma casa... ela faz parte do mundo real; e a
banca examinadora, homens bons e verdadeiros...
CAROL: ...Professor...
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JOHN: Por favor: tudo isso faz parte desse mundo entende? Esta é a minha vida. Eu
não sou o bicho papão. Eu não "represento" nada. Eu...
CAROL: ...Professor...
JOHN: ...Sim...
CAROL: Professor, eu só vim aqui para lhe prestar um favor. Vim porque você me fez
um apelo pessoal. Talvez eu não devesse ter vindo. Mas eu vim. Em meu nome e em
nome do meu grupo. E você vem me falar da banca examinadora; um dos membros da
banca é uma mulher, como você sabe. E embora você possa dizer que isso é uma
brincadeira, uma frase histórica, ou uma generalização, ou todas as respostas acima,
chamar a banca de "homens bons e verdadeiros" é no mínimo degradante. É uma
observação sexista, e se eu deixar isso passar eu estarei contribuindo para a
continuidade desse método de pensamento. É uma observação...
JOHN: É pornográfica?
CAROL: Que direito você tem de falar com uma mulher na sua sala... É... é isso ...
Desculpa... você se acha no direito... você mesmo disse isso... de estruturar, de criar
uma postura, de "desempenhar", de "me chamar para vir aqui ... ", hein? Você diz que o
ensino superior é uma piada. E você acha isso mesmo, você age com base nisso. E você
confessa que gosta de fazer o papel de patriarca da classe. Dar isso, negar aquilo.
Agarrar... suas alunas.
CAROL: Corno você pode negar? Você fez isso comigo. Aqui. Foi você... você
confessou. Você adora o poder. Adora desviar, inventar, transgredir... transgredir
qualquer norma estabelecida para nós. E você acha que é "charmoso" ficar se
questionando sobre esse prazer em debochar e destruir. MAS VOCÊ TEM QUE SE
QUESTIONAR MESMO. Professor. E você escolhe as coisas que você acha que
servem para te elevar: escrever livros, a cátedra e os passos para chegar a isso você
chama de "rituais inúteis". Mas você segue esses rituais. Você diz que é hipocrisia. Mas
só quando se trata dos alunos. Mas eu quero que você fique sabendo que você é vil.
Bom dia.
CAROL: O que?
JOHN: Você disse "bom dia". Eu acho que hoje é um belo dia.
CAROL: É mesmo?
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JOHN: É, eu acho que sim.
CAROL: Espera...
CAROL: ...a...
JOHN: Eu quero ouvir. Com as suas palavras. O que você quer? O que é que você
sente?
JOHN: Sim...
JOHN: Não é vergonha nenhuma. Todo mundo precisa de conselho. É essencial. Agora
você e eu precisamos chegar a um acord... (TOCA O TELEFONE) (ELE HESITA UM
POUCO, DEPOIS PEGA O APARELHO)
Alô. (PAUSA) Hmmm... não, eu sei que eles vão. (PAUSA) Eu sei que ela vai. Diga a
ela que eu... eu posso ligar depois? Meu... meu anjo, liga pro Jerry. Eu estou resolvendo
o negócio da denúncia. Tá... Tá bem. Tchau. (DESLIGA) (PAUSA) Desculpe a
interrupção.
CAROL: Não...
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CAROL: Você estava dizendo que a gente devia chegar a um acordo para conversar
sobre a minha denúncia.
JOHN: Correto.
JOHN: É, o que eu estou dizendo é que a gente pode falar sobre isso agora,
simplesmente...
JOHN: Veja, tudo bem, eu tenho interesse no status quo, certo? Todo mundo tem. Mas
o que eu que estou dizendo é a comissão...
CAROL: Professor, você tem razão. Mas não força a barra. A gente vai resolver as
nossas diferenças, e...
JOHN: Um momento. Não. Existem normas... não há motivo para... olha, eu estou
tentando salvar você...
CAROL: Mas ninguém te pediu isso... Você está tentando me salvar? Faça-me o favor...
JOHN: Sente-se, parece que nós dois temos um... espera um instante. Só um instante...
Me faça o favor de... (ELE A IMPEDE DE SAIR)
CAROL: ME SOLTA!
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JOHN: Eu não tenho o menor desejo de segurar você, eu só quero falar com você.
-TRÊS-
26
JOHN: Vamos começar direito, combinado? Eu sinto que...
JOHN: Eu não quero que você saia. Eu pedi prá você vir...
JOHN: Embora eu sinta que você se beneficiaria, pelo menos um pouco, se...
JOHN: Os "promotores"?
JOHN: ...espera...
JOHN: Os "promotores"?
JOHN: Peraí.
JOHN: Quero. (PAUSA). Eu queria que você me ouvisse, se fosse possível. (PAUSA)
Pode ser?(PAUSA) (ELA SE SENTA) Obrigado. (PAUSA)
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JOHN: Está bem. (PAUSA) Eu não consigo deixar de achar que você merece que eu te
peça desculpas. (PAUSA) (COM PAPÉIS NA MÃO). Eu li e reli essas acusações.
CAROL: Desculpe, mas aquelas não são acusações. Aquilo tudo foi provado. São fatos.
JOHN: ...eu...
JOHN: Aquilo?
JOHN: Tudo bem. (ATENDE O TELEFONE) Alô. Sim. Estou aqui. Não posso falar
com ele agora... Mas agora não... eu sei... Fala com o Jerry e diz que está tudo bem
(PAUSA) minha mulher... sim. Vou ligar para ela também. Eu não posso falar agora.
(ELE DESLIGA) (PAUSA) Tudo bem. Foi bom você ter vindo. Obrigado. Eu estudei.
Passei algum tempo estudando as alegações.
CAROL: Não. Eu não posso permitir isso. Não tem nenhuma alegação. Tudo foi
provado...
JOHN: Com licença... tudo que você acha que está "estabelecido" pelo...
CAROL: A questão aqui não é o que eu "acho". Não são os meus "sentimentos", mas os
sentimentos das mulheres. E dos homens. Seus superiores, que foram "entrevistados",
entende? Para quem as provas foram apresentadas, foram eles que julgaram, eles que
resolveram punir você disciplinarmente. Por causa dos fatos. Por causa das tuas ações.
Foi isso que a comissão que ia te dar a cátedra disse. Foi isso que o meu advogado disse.
CAROL: O que você quer? Você quer me “convencer". Você que eu volte atrás. Eu não
vou voltar atrás. Por que eu deveria? Agora me diz. Você vai me dizer que tem mulher e
filho. Você vai me dizer que tem uma carreira e que trabalhou vinte anos para chegar
até aqui. Você sabe para que você trabalhou? Para ter poder. Poder. Entende? Você fica
aí sentado me contando histórias sobre a sua casa, sobre escola particular, privilégios e
como você consegue as coisas. Compra, gasta, debocha, briga. Tudo isso tem a ver com
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privilégio; e você nem sabe. Você não enxerga? Você trabalhou vinte anos para ter o
direito de me insultar. E você se sente no direito de ser pago para isso. Sua casa. Sua
mulher. O importantíssimo "depósito" para comprar a sua casa...
CAROL: Você não tem sentimentos? Esse é o argumento que você usa. Quem é que não
tem sentimentos? Os animais. Eu não estou do seu lado, então você questiona se eu sou
humana.
CAROL: Com quem? Com essa instituição, com os alunos. Com o meu grupo.
CAROL: É, porque eu não falo só por mim. Mas pelo grupo, por aqueles que sofrem o
que eu sofro. Mesmo se eu me sentisse inclinada a... sei lá, perdoar? Esquecer? Sei lá!
Fingir que você não...
CAROL: Transparecer?
JOHN: É.
CAROL: Acontecer?
JOHN: É.
CAROL: Por que você fala desse jeito? Minha nossa! Quem você pensa que é? Você
quer uma cátedra. Você quer o poder ilimitado. Pra poder fazer e dizer o que quiser.
Testar, questionar, se insinuar...
JOHN: Eu nunca...
CAROL: Me desculpe, só um minutinho, tá? (LÊ O CADERNO) Dia 12: "Bom dia,
gatinha."
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Dia 15: "Nossa, como você está elegante"...
17 de abril: "Se as meninas quiserem chegar mais perto... " Eu vi, professor. Durante
dois semestres você ficar sentado lá na frente explorando essa sua "prerrogativa
paternal", e o que é isso senão um estupro! (TIRA O LIVRO DELE DA BOLSA) E o
seu livro? Você acha que vai me "iluminar" de alguma maneira? Logo você, um
"dissidente". Fora dos padrões. E você diz que acredita no discurso intelectual livre.
VOCÊ NÃO ACREDITA EM NADA.
CAROL: Então por que você está questionando a decisão da comissão que te negou a
cátedra? Por que você está questionando a sua suspensão? Você acredita no que você
chama de liberdade de pensamento. Não é na "liberdade de pensamento" que você
acredita, é numa hierarquia elitista e... protegida que te remunera. E para ela você serve
de palhaço. E você debocha e explora o sistema que paga o teu aluguel. Você está
errado.Você acha que eu estou cheia de ódio. Eu sei o que você pensa que eu sou.
JOHN: Sabe?
CAROL: Você acha que eu sou medrosa, reprimida, confusa, sei lá, abandonada, uma
pobre coitada de sexualidade duvidosa, que só quer poder e vingança. (PAUSA) Não é?
CAROL: Não é melhor assim? Eu acho que esta é a primeira vez que você me tratou
com respeito. Porque você disse a verdade. (PAUSA) (SUSPIROS) Eu não vim aqui prá
tripudiar em cima de você, como você está pensando. Eu vim aqui para te dizer uma
coisa.
(PAUSA) Que eu acho que você estava completamente errado. Você me odeia agora?
(PAUSA)
JOHN: Muito.
CAROL: Por que você me odeia? Por que você acha que eu estou errada? Não. É
porque na sua cabeça eu estou com o poder. Escuta só. Me ouve, Professor. (PAUSA) É
o poder que você odeia. VOCÊ ODEIA TANTO que qualquer atmosfera de discussão
livre se torna impossível. Não é?
CAROL: Isso que você acha tão cruel é o mesmíssimo processo de seleção que eu, e o
meu grupo, temos que enfrentar todo santo dia. Você diz que educação é como uma
nuvem de fumaça. (PAUSA) Mas a gente se esforçou para chegar nessa faculdade.
(PAUSA) E alguns de nós... (PAUSA)... tiveram que enfrentar preconceitos...
econômicos, sexuais, você nem pode imaginar. E tiveram que sofrer humilhações que
eu espero que você e aqueles que você ama nunca tenham que enfrentar. (PAUSA) Para
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poder entrar aqui, para ter o mesmo sonho de segurança que você tem, nós, que... que
estamos... o tempo todo correndo perigo de perder tudo... por causa...
CAROL: Por causa da administração; dos professores; por sua causa. Por causa, por
exemplo, de uma nota baixa que impede a gente de se formar; por causa de uma
resposta mais ousada que a gente dê. Está vendo? O que é estar sujeito a esse poder.
(PAUSA)
CAROL: Minhas acusações não são banais. A prova disso é que elas foram aceitas
rapidinho. Uma piadinha que você contou com tintas sexuais. A linguagem que você
usa, as carícias verbais ou físicas, eu sei que você acha que isso não quer dizer nada. Eu
entendo. Eu sou diferente de você. Botar a mão no ombro de alguém ...
CAROL: ISSO É O QUE VOCÊ DIZ. Você ainda não entendeu? NÃO É VOCÊ
QUEM TEM QUE DIZER ISSO.
JOHN: Eu estou entendendo, já percebi que tem muita coisa construtiva no que você
está dizendo...
CAROL: Quem você pensa que eu sou? Você é muito idiota. Você acha que eu quero
"me vingar". Eu não quero vingança. EU QUERO COMPREENSÃO.
CAROL: Quero.
CAROL: É? O que?
CAROL: Ah, o seu emprego. É sobre isso que você quer falar. Tá legal. (PAUSA) E se
eu dissesse que é possível que o meu grupo retire a queixa? (PAUSA)
JOHN: O que?
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CAROL: Bom, digamos que seria um ato de amizade.
CAROL: É. (PAUSA)
CAROL: Ah. Só que não é uma "troca". Não é bem uma troca. O que a gente vai ganhar
com isso? (PAUSA)
JOHN: "Ganhar".
CAROL: É.
CAROL: Isso mesmo. A gente não ganha nada. (PAUSA) Está vendo?
JOHN: Estou.
CAROL: Resposta mixuruca. Professor: "Estou". Estou entendendo". Mas você vai
acabar entendendo.
CAROL: É possível.
JOHN: "Se..."
CAROL: Pode crer, eu entendo a raiva que você "está sentindo. Não é que eu também
não sinta, só que eu acho que você merece. Por isso não fico com remorso ... entendeu?
Eu tenho uma lista.
JOHN: O que?
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JOHN: Liberdade acadêmica...
CAROL: Alguém tem que escolher os livros. Se você pode escolher, os outros também
podem. Tá pensando que é o que? "Deus"?
CAROL: Você tem uma agenda, e nós temos uma agenda. Eu não estou interessada nos
teus sentimentos ou nas tuas motivações, mas nas tuas ações. Se você quiser que eu fale
com a comissão examinadora, aqui está a minha lista. Você é uma pessoa livre. Você
decide.
CAROL: Há uma série de textos que a gente quer que sejam modificados.
JOHN: Ah-ha. Deixa eu olhar isso aqui de novo. (LÊ) Eu estou lendo as exigências de
vocês. (PAUSA) Vocês querem abolir o meu livro?
CAROL: ...aqui está escrito... Nós queremos que ele deixe de ser incluído como um
exemplo representativo da universidade.
CAROL: Nós podemos e vamos reconsiderar; você quer o nosso apoio? Essa é a única
quest...
CAROL: Exatamente...
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CAROL: ...e nós temos uma declaração. (ENTREGA UMA FOLHA) ...que queremos
que você...
JOHN: Eu quero te dizer uma coisa. Eu sou um professor, tá? É o meu nome que está na
porta. E sou eu quem dou as aulas, é isso que eu faço. Eu tenho um livro que tem meu
nome na capa. E meu filho vai ver esse livro algum dia. Eu tenho responsabilidade... por
mim, pelo meu filho, pela minha profissão... eu não vou em casa há dois dias, sabia? Se
você quer saber, eu fiquei num hotel. Pensando. (O TELEFONE TOCA) ...pensando...
Só agora que eu percebi. (PAUSA) Você é perigosa, você está errada e a minha
obrigação é te dizer não. Você quer abolir o meu livro? Então vai à merda.
CAROL: ...acho melhor você atender esse telefone. (PAUSA) Atende o telefone.
JOHN: (AO TELEFONE) Ah-hã. (PAUSA) Tá. Porquê... eu... eu não podia ficar aí.
Tud... eles ficaram preocupados com... não. Eu estou bem agora Jerry Eu estou b... Eu
fiquei meio confuso, mas agora estou sentado e ... eu já sei como resolver. Perdi o
emprego? Tudo bem. Diga para a Grace que eu já estou indo prá casa, que tudo está b...
(PAUSA) O que? (PAUSA) O que é que foi? Jerry. Eles... Quem, o que eles podem
fazer ? (PAUSA) NÃO. (PAUSA) Eles não podem fazer is... Como assim? (PAUSA)
Mas como... (PAUSA)... ela está aqui comigo... Jerry. Eu não estou entendend...
(PAUSA) (ELE DESLIGA) (PARA CAROL) Que história é essa?
CAROL: Você tentou me estuprar. Eu estava saindo do seu escritório e você encostou
seu corpo no meu.
JOHN: ...Eu...
CAROL: Meu grupo já avisou o seu advogado de que nós podemos abrir um processo
criminal contra você.
JOHN: ...não...
CAROL: Eu fiquei sabendo que, de acordo com o código, isso caracteriza lesão
corporal.
JOHN: ...não...
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CAROL: É claro. Eu pensei que você soubesse.
JOHN: (ATENDE O TELEFONE) Alô? Eu... Alô? É... Ele acabou de ligar. Não... Eu.
Não dá prá falar agora, meu anjo. (PARA CAROL) Sai daqui.
JOHN: ...não te interessa quem é. Fora daqui. (AO TELEFONE) Não, vai ficar tudo
bem. Não dá. Não dá prá falar agora, meu anjo. (PARA CAROL) Some daqui!
JOHN: O que?
CAROL: Não chame sua mulher de "meu anjo". Você ouviu o que eu disse.
JOHN: ... Filha da puta. Você pensa que pode vir aqui com esse seu papo "politicamente
correto" e destruir a minha vida?
JOHN: Você devia... estuprar você...? Eu não encostaria em você nem com urna vara de
três metros.
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CAROL: Tá certo. (ELA AFASTA O OLHAR DELE E ABAIXA A CABEÇA)
(PARA SI MESMA) Tá certo.
FIM
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