Reciclagem de bateria de lítio
Reciclagem de bateria de lítio
Reciclagem de bateria de lítio
Resumo
1. INTRODUÇÃO
1
Graduação em Engenharia Química – Centro Universitário UNA.
As baterias de íon-lítio são muito utilizadas no atual segmento industrial automotivo,
elétrico e eletrônico, que vem trabalhando fortemente no sentido de popularizar equipamentos
que utilizam fonte de energia alternativa às antigas baterias utilizadas, como já citado
anteriormente. Entre as alternativas reais e em uso, estão os veículos elétricos, smartphones e
eletro portáteis no geral.
Esse esforço do setor industrial busca atender ao apelo da sociedade e às novas leis e
restrições estabelecidas em diversos países, e consequentemente, alcançar a sustentabilidade e
perenidade da indústria conforme o COP26 (Conferência sobre Mudanças Climáticas) realizado
para que todos busquem métodos que erradiquem os gases prejudiciais a atmosfera até 2050.
(COSTA, 2010).
Este trabalho tem o objetivo de descrever como ocorre o processo de reciclagem das
baterias de lítio através do processo de descargas das baterias por eletrólise e trituração em
atmosfera inerte, dispondo para o mercado um material em blend composto por metais valiosos
como lítio (Li), cobalto (Co), níquel (Ni) e Cobre (Cu).
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Processo
2.1.1 Descarga
Para fazer com que seja possível realizar a descarga das baterias em grande escala, foi
estudado o processo de eletrólise.
O termo "eletrólise" tem origem na palavra grega que significa "decomposição por
eletricidade". Esse processo é utilizado para promover uma reação química não espontânea
através do uso de corrente elétrica. Para isso, um gerador de corrente elétrica contínua é
conectado aos eletrodos de uma célula eletrolítica, fazendo com que os elétrons participem de
reações de oxidação no ânodo e de redução no cátodo (FERNANDES, 2015).
Levando em consideração o processo de eletrólise (Figura 1), a ideia do trabalho é
submeter as baterias a esse processo de forma que a energia residual das baterias seja consumida
a fim de forçar uma outra reação não espontânea no meio de contato das baterias, conforme
figura abaixo.
Cátodo Ânodo
Solução eletrolítica
2.1.2 Moagem
2. Veículos Elétricos: As baterias de lítio (Li) são essenciais para a propulsão dos veículos
elétricos. Elas oferecem uma alta densidade de energia e uma boa relação entre peso e
capacidade de armazenamento, o que permite que os veículos elétricos percorram
distâncias significativas antes de serem recarregados.
INICIO
Recebimento Armazenamento
e desmonte
Trituração FIM
3.1 Descarregamento
Para iniciar os testes foram separados dois equipamentos compostos por baterias tipo
células sendo um módulo de tração (figura 02) e um Nobreak de Telecom (figura 03) e 5kg de
baterias de smartphones (figura 04).
Inicialmente o módulo de tração (figura 02) e o nobreak (figura 03) apresentavam uma
energia residual de aproximadamente 49,5V, que se encontra insegura para o manuseio e
realização dos testes, devido a isso, foi necessário realizar a descarga nos equipamentos a uma
tensão segura de aproximadamente 5V.
Quando a carga eletrônica programável é desligada, há um rápido aumento de tensão
devido à abertura do circuito. Esse aumento não é relacionado ao rebote, mas simplesmente
devido à perda da influência da resistência (medida em ohms) da bateria. Em circuito aberto,
as baterias medem 1,5 V e em circuito fechado medem 0,38 V.
Ao final do descarregamento preliminar, o equipamento apresentava uma tensão interna
de 0,83V, após a medição da tensão do equipamento, deu-se início ao desmonte dos
equipamentos e retirada das células das baterias, a fim de dar continuidade aos testes.
Figura 02: Módulo de tração desmontado.
Para realizar a descarga inicial nas baterias, foi utilizado um equipamento chamado
“carga eletrônica programável” (figura 05) que é um equipamento de teste utilizado para emular
cargas de resistências de corrente contínua ou corrente alternada, este equipamento possui em
sua configuração, uma opção de descarga, que ao se conectar os pólos das baterias, consegue
consumir a energia e dissipá-las em forma de calor por uma resistência. Podemos ver na figura
6 que a tensão das baterias vai baixando conforme o tempo que as mesmas passam dentro do
Nobreak para o descarregamento inicial.
Descarregamento preliminar
4
3,5
3
Tensão (Volts)
2,5
2
1,5
1
0,5
0
0 1 2 3 4 5
Tempo (horas)
Fonte: Próprios autores
Após a separação dos equipamentos e retirada das células, foram medidas novamente a
tensão presente nas baterias e apresentado uma média das mesmas com variação de 0,5V
conforme informado pela tabela 01.
Para realizar a descarga das baterias foi preparado uma solução eletrolítica de água
destilada e carbonado de sódio (Na2CO3) a 10% m/m (Figura 07). A reação balanceada dessa
solução pode ser descrita na equação 1, onde observou-se a formação do hidróxido de sódio
(NaOH), e o ácido carbônico (H2CO3).
Descarregamento
4
3,5
3
Tensão (Volts)
2,5
1,5
0,5
0
0 1 2 3 4 5 6 7
Tempo (horas)
Fonte: Próprios autores
Após as medições finais, feitas em até 10 minutos após a retirada das baterias da solução
eletrolítica, foi constatado que as baterias sofreram um rebote em tensão aumentando assim em
até 0,5V em relação a medição feita ao final da descarga no exato momento em que a bateria
saiu da eletrólise. Esse aumento não foi danoso ao processo pois a tensão esperada para a
realização segura da moagem era de até 1,5V, e as tensões encontradas não ultrapassaram esse
limite de segurança.
3.2 Trituração
Para realizar uma moagem segura a fim de mitigar os riscos operacionais advindos da
energia residual das baterias, é necessário realizar a inertização da câmara por adição de gás
inerte e exclusão de oxigênio. Para isso foi utilizado um triturador de bancada de eixo único
(figura 6) com facas de 1 a 2 cm, peneira com malha de 2,5 cm, moega com tampa e vedação e
saída inferior com tampa e vedação.
Para tornar a câmara de trituração um ambiente inerte foi utilizado um cilindro de
Nitrogênio (N2), e a medição foi feita através de um explosímetro (Figura 10), para que a
trituração seja segura é necessário alcançar um teor de oxigênio dentro da câmara abaixo de
8%.
Sequencialmente, foram dispostas 20 baterias tipo célula dentro da câmara de trituração
(Figura 11), após 1,5 minutos de alimentação de nitrogênio, foi alcançado um teor de 3,3% de
oxigênio no interior da câmara conforme explosímetro (Figura 10).
Realizou-se o acionamento do triturador e mantido ligado por 10 minutos, após isso, a tampa
da saída inferior foi aberta e o material processado foi retirado do triturador. Para
compreendermos a composição do material triturado, uma amostra foi enviada para análise,
onde foi determinado sua concentração em m/m, sendo:
• Lítio (Li) 1,9%
• Cobalto (Co) 6,1%
• Ferro (Fe) 0,0%
• Níquel (Ni) 0,4%
• Cobre (Cu) 0,4%
• Plástico e Grafite (C6H10) 91,2%
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nesta seção, observou-se os resultados obtidos a partir da análise dos dados coletados
durante o estudo. As informações aqui apresentadas são fundamentais para compreender os
efeitos e impactos das práticas de descarregamento e trituração de baterias de lítio. Os
resultados fornecem insights valiosos sobre a eficácia desses processos, bem como suas
implicações para a segurança, eficiência e sustentabilidade no manejo desses dispositivos.
A partir desses resultados, foi possível discutir os principais achados e suas contribuições
para a área de gerenciamento de resíduos de baterias de lítio, assim como identificar
oportunidades de melhoria e abordar possíveis desafios a serem enfrentados. Com base nas
informações obtidas, foi possível propor recomendações e diretrizes para a implementação de
boas práticas e regulamentações efetivas no âmbito da reciclagem de baterias de lítio.
• Risco de incêndio ou explosão: O calor gerado pelo curto-circuito pode levar à ignição
do eletrólito inflamável presente nas baterias, resultando em um risco de incêndio ou
explosão.
Para que a energia das baterias seja reduzida, foi proposto a imersão das baterias em uma
solução sendo essa é uma mistura de solvente e soluto, capaz de conduzir eletricidade devido à
presença de íons móveis. Nessa solução, os íons são formados quando o soluto se dissocia em
íons positivos e negativos devido à ação do solvente.
Quando uma corrente elétrica é aplicada a uma solução eletrolítica, os íons positivos são
atraídos pelo polo negativo (ânodo) e os íons negativos são atraídos pelo polo positivo (cátodo).
Esse movimento de íons no solvente permite a passagem de elétrons através da solução,
estabelecendo uma corrente elétrica.
O solvente utilizado foi a água destilada, e para aumentar a condutividade da solução foram
analisados dois tipos de soluto, o cloreto de sódio (NaCl) e o carbonato de sódio (Na2CO3). Para
ambos os solutos foram feitos testes de eficiência em relação a descarga das baterias, utilizando
duas baterias, uma em cada solução, contendo a mesma tensão inicial, cada solução foi
preparada com um litro de água destilada e 100g de soluto, sendo ele cloreto de sódio ou
carbonato de sódio, os resultados obtidos seguem conforme a figura 15 e figura 16.
Figura 15: Eficiência de descarregamento com Água destilada e cloreto de sódio.
Descarregamento
4,5
4
Tensão (Volts)
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
0 2 4 6 8 10
Tempo (horas)
Fonte: Próprios autores
Descarregamento
4,5
4
Tensão (Volts)
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
0 2 4 6 8 10
Tempo (horas)
Fonte: Próprios autores
Evidenciou-se que não há ganhos significativos em relação aos solutos utilizados, porém a
fim de evitar a formação de gás cloro durante o processo de descarregamento das baterias, foi
definido que o soluto a ser utilizado seria o carbonato de sódio. Devido a isso, solução
eletrolítica que foi definida para o descarregamento das baterias é composta de água destilada
e carbonato de sódio a 10% m/m, seguindo a seguinte reação:
O preparo da solução não é feito de forma balanceada, pois a adição do carbonato de sódio
serve apenas para aumentar a condutividade da solução, foram testadas outras concentrações,
mas acima da concentração de 10%m/m, não houve mudança de eficiência do processo de
descarga, assim, foram estudadas as possíveis reações que ocorrem durante o processo de
descarga.
Além do carbonato de sódio, foi definido a utilização do cobre metálico figura 12, que
quando adicionado à solução, ocorre um processo chamado dissolução eletroquímica, em que
íons de cobre são liberados na solução. Esses íons de cobre carregados positivamente (cátions
Cu²⁺) podem mover-se livremente na solução, aumentando a concentração de cargas móveis.
A presença desses íons de cobre na solução, aumenta a quantidade de portadores de carga
disponíveis para conduzir eletricidade, dessa forma, a condutividade elétrica da solução é
aprimorada temporariamente, ou seja, enquanto o cobre estiver na solução.
Com o uso do cobre metálico, foi observado uma redução considerável no tempo de
descarga das baterias, reduzindo em três horas o tempo de reação, sendo assim, foi constatado
que o cobre realiza a função de um catalisador na reação, conforme gráfico representado na
figura 17.
Foi definido que o tamanho dos fios de cobre deve ser no máximo metade do
comprimento das baterias, para que não haja contato de um mesmo fio com os dois polos de
uma bateria, pois assim, poderá ocorrer um curto circuito e uma possível explosão, o que
ocorreu, mas foi controlado rapidamente conforme figura 18.
Figura 18: Bateria após ocorrência de curto circuito dentro da solução.
Após a descarga das baterias até a tensão estimada (0,5V) foi observado que as baterias sofrem
um efeito chamado de rebote, onde a tensão das baterias aumenta após a retirada das mesmas
da solução. Esse efeito é atribuído a vários fatores, incluindo redistribuição dos íons de lítio
dentro da bateria e reações químicas reversas, que durante o efeito rebote ocorre uma pequena
liberação de energia armazenada, levando a um aumento temporário da tensão da bateria. Esse
aumento de tensão pode ser detectado e medido logo após a interrupção da descarga,
aumentando no máximo 0,5V acima da tensão que foi medida no momento da retirada das
baterias da solução eletrolítica.
4.3 Descaracterização
Durante a trituração das baterias, a energia que ainda está presente nas mesmas, pode se
dissipar em forma de calor, fenômeno que ocorre quando uma bateria sofre um dano mecânico.
Então, para evitar que esse calor se torne um princípio de combustão, é necessário realizar a
trituração em atmosfera inerte.
Atmosfera inerte refere-se a uma atmosfera que contém baixas concentrações de
oxigênio ou outros gases reativos. Nesse tipo de atmosfera, a presença de gases reativos é
reduzida para evitar reações indesejadas com materiais sensíveis ou potencialmente perigosos.
Para isso, foi utilizado um triturador com câmara estanque para que fosse possível a
inserção de um gás inerte, reduzindo assim o percentual de oxigênio do meio, pois abaixo de
8% de oxigênio em uma câmara, não haverá forma alguma de combustão.
Foi definido, que para realizar a inertização da câmara seria utilizado ou nitrogênio ou
dióxido de carbono, ambos gases inertes, mas por questões de disponibilidade os testes foram
realizados com nitrogênio.
4.4 Armazenamento
Logo após a trituração das baterias em um ambiente inerte, foi realizado o armazenamento
dos produtos. Para que não haja contaminação dos componentes e nem algum tipo de oxidação
quando misturados com a atmosfera, foi utilizado sacos plásticos para estocar os elementos.
5. CONCLUSÃO
Ao longo deste trabalho, explorou-se o tema da reciclagem de baterias de lítio, com foco
no processo de descarga por eletrólise e trituração em atmosfera inerte. Através da pesquisa
compreende-se como a reciclagem de baterias de lítio pode ajudar a mitigar os impactos
ambientais e promover a sustentabilidade na indústria de energia. Uma das principais
descobertas desta pesquisa foi a constatação de que a reciclagem de baterias de lítio é essencial
para minimizar os riscos associados ao descarte inadequado desses dispositivos. As baterias de
lítio são equipamentos muito sensíveis, extremamente perigosos e podem conter substâncias
tóxicas e metais pesados que, se não forem corretamente tratados, podem contaminar o solo, a
água e o ar, comprometendo a saúde humana e o meio ambiente.
O processo de descarga por eletrólise e trituração em atmosfera inerte mostrou-se uma
alternativa eficaz para a recuperação de materiais valiosos das baterias de lítio, como o lítio, o
cobalto, o níquel e o alumínio. Esse método permite a separação dos componentes da bateria
de forma segura e controlada, minimizando o risco de vazamento de substâncias nocivas.
Além dos benefícios ambientais, a reciclagem de baterias de lítio também apresenta
vantagens econômicas. A extração e o processamento de metais presentes nessas baterias
demandam recursos naturais e energéticos significativos, então a reciclagem adequada dessas
baterias permite a recuperação desses materiais, reduzindo a necessidade de novas minerações
e diminuindo os custos de produção, estando extremamente alinhada com o conceito de
economia circular.
No entanto, é importante ressaltar que a reciclagem de baterias de lítio ainda enfrenta
desafios significativos. A falta de regulamentação adequada, a complexidade do processo e a
necessidade de investimentos em infraestrutura são obstáculos a serem superados. Para uma
implementação efetiva da reciclagem de baterias de lítio em larga escala, é fundamental o
envolvimento de governos, indústria e sociedade civil na criação de políticas, incentivos e
campanhas de conscientização.
Como pesquisadores, temos a convicção de que o conhecimento gerado por esta
pesquisa contribuirá para o avanço do processo de reciclagem de baterias de lítio. Esperamos
que as descobertas e as recomendações apresentadas neste trabalho possam ser utilizadas como
base para futuros estudos e para a implementação de políticas e práticas sustentáveis na gestão
de baterias de lítio.
Em última análise, a reciclagem de baterias de lítio é um passo crucial em direção a um
futuro mais sustentável e livre de poluição. Nossos esforços em compreender e promover essa
prática visam contribuir para a preservação do meio ambiente e a promoção de um
desenvolvimento responsável. Cabe a todos nós, como cidadãos conscientes, adotar práticas de
reciclagem e apoiar iniciativas que promovam a sustentabilidade.
ADRADECIMENTOS
COSTA, R. C. da. Reciclagem de baterias de íons de lítio por processamento mecânico. [S.
l.: s. n.]. Dissertação de mestrado Universidade Federal do Rio Grande Do Sul, 2010. Acesso
em: 5 de maio. 2023.
FILHO, Cleber Marcos de Oliveira. Análise do ciclo de vida de baterias íon-lítio. 2022.
Monografia de trabalho de conclusão de curso. Acesso em 06 de maio de 2023.
LIVA, Patrícia Beaumord Gomes; PONTELO, Viviane Santos Lacerda; OLIVEIRA, Wedson
Souza. Logística reversa. Gestão e Tecnologia industrial. IETEC, 2003.
SHIBAO, Fábio Ytoshi; MOORI, Roberto Giro; SANTOS, MR dos. A logística reversa e a
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