Parte 2 Garota GG 6 Manuh Costa
Parte 2 Garota GG 6 Manuh Costa
Parte 2 Garota GG 6 Manuh Costa
Como vai?
Eu sei que demorei, sei que você sofre de ansiedade e sei que não
gosta de esperar, então aqui depositei anos de muito amor, do meu amor.
Espero que saiba que não considero que entenda que tive que dividir este
livro em duas partes, então haverá uma parte três, mas sei que posso contar
com sua compreensão e paciência.
Sparks - Coldplay
SYML - "DIM"
Daughter - Medicine
Daughter - Medicine
Manuh Costa.
MARIDO E MULHER
— Está cansada?
— Bastante.
A viagem foi boa e esclarecedora, mas acabou e com ela veio nosso
retorno para casa, já é madrugada e de fato eu estou bem cansada, nosso
último dia em Cabo de San Lucas foi bem tranquilo, almoçamos no hotel e
passeamos a beira mar ao final da tarde, embarcamos por volta das 19:00 e
já passa da 00:30, não consegui relaxar nem dormir, mesmo que tenha sido
um dia relativamente agradável, Mosés também estava meio agitado,
estávamos ansiosos para voltar para casa.
Por mais que eu note que estou relativamente mais calma que o
Mosés, sei que não é tão fácil para mim ter de lidar com isso depois de
tantos anos, evitamos falar durante nosso dia e depois que embarcamos, só
alinhamos algumas coisas sobre como contaremos as crianças da nossa
reconciliação e da anulação do divórcio.
Pensei bem sobre isso e estou convencida de que será o melhor para
mim e para nós dois acima de tudo.
Tiro a saia que vesti em conjunto com a blusa de cor beje, os sapatos
altos depois vou para a cama tirando os meus brincos, Mosés se joga na
cama só de cueca, ele sabe como se despir na velocidade da luz, sorrio em
perceber a sensação boa de saber que ele está aqui, há meses não o vejo
aqui ou em lugar algum.
— Eu aceito.
Acho que nem paciência para beijar estávamos tendo e que por isso
é sempre uma boa surpresa quando fazemos coisas que havíamos esquecido
de como era, ele solta as minhas mãos e seus dedos se enfiam em meus
cabelos, minhas mãos pousam em suas costas e eu a toco acariciando a pele
quente, a boca explora a minha com mais firmeza, a língua degustando
minha boca como uma carícia íntima.
Minha mão direita desce até a bunda dele e enfio a mão dentro da
cueca apalpando-o, abrindo as pernas para que se esfregue bem em mim e
gosto que seus quadris se movam devagar fazendo o pau dele pressionar
minha carne, mesmo por cima da calcinha consigo sentir a potência, a
dureza.
Enfio a mão em sua nuca e isso o agrada, ele deixa os meus lábios e
cola a testa na minha, me sinto envolvida por seu olhar, pela forma como
sorri para mim, ele move os quadris com mais firmeza então puxa meus
cabelos com força, afundando meus quadris no colchão com a rigor, sorrio e
mordisco seu queixo sem pressa deixando um toque quente dos meus lábios
no lugar.
Aperto o pau e ele salta entre meus dedos, tão palpável e duro que
me faz salivar, ao mesmo tempo ergo meus quadris e empino a bunda para
trás me posicionando, ele tira os dedos de mim e começa a espalhar o meu
líquido viscoso no cacete melando-o, saio de cima dele e vou para o lado,
tiro minha calcinha e depois vou até o banheiro, sei que preciso me preparar
antes.
— Sim.
— Aaaahhhhh! — grito.
Mas ele não para, é macho alfa insaciável que só vai parar quando
souber que não vou aguentar e agora, aguento muito bem. Sou tomada por
um latejar intenso enquanto sou penetrada assim, sua violência me agrada e
sinto meus seios pulando enquanto ouço o estalar do saco batendo nas
minhas nádegas.
Ganho um tapa forte na bunda enquanto ele vem mais fundo, bem
mais fundo, arregalo os olhos e olho nosso reflexo no espelho, Mosés sorri
cheio de malícia, quase maldade.
Tapo minha boca depois que falo e ele tira a mão da minha boca
depois estende uma das mãos e enfia nos meus cabelos, então os puxa me
fazendo me erguer, sopro arfante, meu coração tão acelerado que parece que
vai sair pela boca.
— Tem certeza disso? — engulo a seco tão arfante que quase não
consigo falar. — Bebê isso é extremo, sou pesada demais, Mosés minha
artrose!
— Que raba deliciosa! — escuto ele gritar enquanto meu corpo sobe
e desce com as metidas dele.
Mordisco seu lábio inferior e depois seu queixo, assim sinto minhas
pernas tremendo e um peso intenso tomando minha região pélvica, sorrio
enquanto o orgasmo anal se aproxima, ele aperta minhas nádegas apertando
a carne envolta da rigidez, isso me enche de tesão mais uma vez, só que
mais denso.
Sorrio, acho que precisarei retirar o que eu disse, mas só por esse
instante não quero discutir isso.
— Tudo bem?
— Sim.
Sorrio, pouso a mão sob a sua e a seguro depois beijo a palma com
cuidado.
— Eu também.
Mosés toca meus cabelos sem pressa, me faz esse carinho, eu o olho
e ele fica me analisando em silêncio por alguns momentos.
— Não acho que não tem que ser, mas aquela fase já passou, meu
amor, hoje temos que viver nossa fase, não somos tão jovens, Bê.
— Quero dizer que nunca pensei que nossa vida sexual estagnasse
tão rápido, achei que pararíamos com uns setenta e oito por aí. — admito.
— Sei que quer que seja diferente, que espera que seja mais picante,
é isso?
— Você não quer que seja assim? — toco seu abdome e depois seu
peito. — Quer dizer, eu acho que aos poucos fui me sentindo abandonada
nesse sentido do nosso casamento, por você, mas principalmente por mim,
fez parecer que o seu desejo por mim foi diminuindo.
— Não foi, algumas vezes é tão cansativo toda a rotina da empresa
que eu me ocupo muito com isso. — Mosés revela. — Quis começar a
malhar para poder me sentir mais disciplinado e disposto, quando mais
novo praticava box e luta, hoje me pego cochilando no escritório ou
bebendo para afundar as mágoas, a vida do adulto não é uma missão tão
incrível quanto parece.
— Não quis te perturbar com nada do tipo, sei que também estava
cansada da rotina, sempre me senti em desvantagem em relação a você
justamente por isso e sei que estava exausta de dividir as tarefas da casa e
da empresa.
— Bem, quero que você não me omita mais essas coisas, sei que
vinha viajando muito e isso talvez não tenha te feito bem.
— Ana, tem coisas que sei que se eu te falar, vai acabar ficando
ainda mais preocupada, sobrecarregar você não é algo do qual eu queira.
É verdade.
— Te amo.
É algo que sai de forma natural, como sempre foi antes, algo que
não deveria ter mudado tanto com o passar dos anos, Mosés me aperta com
força e sei que minhas palavras têm relevo e significado para ele, é claro
que eu o amo muito, ele é o homem com quem me casei e decidi dividir
minha vida, mas acima de tudo alguém que amo muito.
— Sim.
— Me perdoe.
— Ana eu... se isso voltar a acontecer, acho que teremos que nos
divorciar.
— Quero que confie em mim, sei que tem seus problemas com a
imagem e me desculpe, não quero minimizá-los, mas isso não pode mais
ficar acima do nosso casamento, é algo que eu quero que você saiba.
— Foi tão difícil para nós dois quando nos casamos, lembra? Você
sofria tanto com isso, por que isso agora?
— Sei que está apavorada em ouvir isso, mas preciso que saiba que
eu vou te apoiar sempre, em tudo, terapia, médico, o que precisar, mas não
quero mais ter que conviver com esse medo que você tem de ser gorda ou
de que é insuficiente para si mesma. — ele limpa as faces com a outra mão.
— E sinto muito que se machuque com tudo isso, mas temos que falar sobre
isso de uma forma transparente, eu amo você, amo muito, mas não podemos
ficar juntos se nossa vida tiver que orbitar em volta disso.
Razões, motivos ele tem de sobra, eu não posso rebater isso porque
seria injusto com ele, me propus a ouvi-lo e a tentar compreender o que
poderemos fazer para nos proporcionar um casamento melhor, que
tenhamos paz e união em nosso matrimônio e não tem que ser apenas no
sentido da empresa, principalmente na forma como lidamos um com o
outro.
— Eu só...
— Eu entendo, você quer que isso não seja o centro das atenções do
nosso casamento e está coberto de razão, é triste ouvir isso de você, mas é a
verdade e eu sei que meus problemas com a minha imagem têm me
perseguido desde muito jovem, era algo que acreditava ter superado,
contudo que hoje vejo que não melhorei tanto ao ponto de não me comparar
mais, nem de sofrer ou de não ficar olhando para todos os pequenos
“defeitos” do meu corpo.
— Ana!
— Como faria isso se achava que estava com ela? Sei que
conversaríamos, mas estávamos brigando tanto antes de eu voltar para cá
que parecia impossível tentar uma conciliação, eu estava ferida e só queria
que tudo acabasse logo, estava envergonhada, me sentia suja de pensar que
dormia com você numa cama e quando viajava dormia com ela.
— Mosés eu sei que não, mas você viu a sua bunda estampada nos
jornais do país?
Ele vai ficando vermelho até as orelhas, havia fotos em que ele
estava abraçando aquela garota quase nu.
Não sei se fico muito feliz de ouvir isso, mas conhecendo-o tão bem
sei que é sincero da parte dele.
— Sei o que vai dizer, vai me chamar de machista e tudo mais, só
que eu preciso que você saiba que ela não é o meu biotipo, eu gosto de
mulher grande, é a minha preferência, gosto de pegar, de apalpar e de sentir,
eu tenho direito de gostar de mulher gorda? Ou vai me chamar de
magrofóbico?
O jeito como ele fala me faz sorrir, ele está com raiva, porém ainda
assim me contenho.
— Olha, que você saiba por mim, se fosse para eu te trair eu trairia
com uma mulher do seu biotipo, eu te disse que não me sinto bem com
qualquer mulher na cama, tenho meus traumas e dificuldades, eu não sei me
soltar por nada com ninguém além de você, temos nossa intimidade, nosso
jeito de fazer amor e outra coisa, ela não seria você, então já quero deixar
bem claro que eu não quero ser mais questionado sobre isso, nem que eu
apareça no Xvídeos deitado numa cama com a Rainha Elizabeth, entendeu?
— Sim senhor.
— Mosés...
— Você não é obesa mórbida, ou é?
— Mas nada, se for fazer terá que procurar a Beth e pedir indicação
de um bom psicólogo, tem que se cuidar primeiro para depois pensar sobre
isso com calma, ver se isso está te afetando fisicamente, seus exames são
sempre excelentes.
— Está bem.
Depois que falo eu o abraço com força, eu amo meu marido, amo
tanto que me sinto uma imbecil depois de tudo, sei o que deveria ter feito,
mas não fiz devido as circunstâncias, não foi algo bom, mas me serviu de
lição para que não permita que isso aconteça novamente.
— Está acordada?
Acho que fazia tanto tempo que não experimentava como era essa
sensação que não consigo pensar em dormir nesse momento, um momento
de carinho e gentileza, de trégua e paz, apenas do nosso silêncio, algo que
poucas vezes vínhamos dividindo nos últimos anos em nosso casamento.
— Por quê?
Entendo o que Mosés quer dizer, ele quer dizer que ele enfrentou o
meu medo de viver o nosso amor de frente comigo, acho que ele venceu em
todas as vezes e tem razão, muita razão.
— Sim.
— Não quero mais ter que lutar com seus complexos, Ana, eles me
assustam — ele me olha nos olhos e suas irises se movem depressa. — Não
gosto desse lado em você, não gosto da forma como se coloca nessa
posição, não gosto também do jeito como você se vê, me deixa triste.
— Como acha que eu devo me ver? — questiono mesmo não
gostando das coisas que ele está me falando e que sei que vai continuar a
me falar.
— Achei que não fosse mais querer falar sobre isso — comento e
toco sua face devagar.
— É claro que teremos que falar sobre isso — ele toca meus cabelos
e os puxa para trás da minha orelha. — Eu sei que você precisa que eu
entenda seu lado mais uma vez.
— Não sou muito para você, só quero ser o suficiente, Ana, por que
está dizendo isso? — indaga. — Você não é assim e sabe disso, por que está
se colocando de novo nessa posição?
— Explique então.
— Só quis dizer que você é especial e que sei que devido a isso me
fará muito feliz, que você sempre foi comigo mais do que eu esperava que
fosse, é claro que eu não pensei que nós dois daríamos certo no começo,
mas hoje eu vejo o grande homem que você é, depois de tudo você ainda
quer estar ao meu lado e me trata com amor e quer me ajudar, sou grata por
você não ter desistido de mim.
Eu o beijo e vou para cima dele sentindo seu aperto bem quente, os
braços que me apertam amplamente dando a volta em minha cintura, as
mãos grandes que deslizam por minhas costas e me apalpam, nossas bocas
se envolvem com intensidade enquanto escuto os sons dos beijos.
Sei que oprime o sorriso, sei que ele ama esse apelido e que adora
que eu seja carinhosa com ele, senti tanta falta disso, tanta que sinto
vontade de chorar só de lembrar de todas as vezes que estava na cama
lembrando de momentos como esse e ele não estava lá comigo, saber que
foi minha decisão deixá-lo me deixa triste, ainda que não tenha sido algo
que foi por minha culpa.
— Eu prometo que nunca mais vou deixar que nada nem ninguém
fazer isso conosco novamente, nem eu farei — falo e meus olhos começam
a se encher de lágrimas.
Sorrio e vou para o lado limpando as minhas faces, Mosés vem para
cima de mim e puxa os cobertores, rio entre lágrimas, sei o que passei, ele
sabe o que passou, porém também me sinto bem mal pela forma como sei
que tenho tomado essas decisões, principalmente por saber que apesar dos
pesares nossa relação teve esse rompimento e isso nos abalou muito, mas
porque eu escolhi não confiar nele e seguir os meus medos e inseguranças.
Quer dizer, não estava errada, mas também indiretamente sei que
poderia ter feito as coisas diferentes.
— Ana...
— Eu sei que sente, amor, por favor não transforme isso num drama
ainda maior, já passou.
Rio alto e abraço esse bobo, ele beija a curva o meu pescoço e
depois puxa os cobertores nos cobrindo até o pescoço, segura a minha mão
e entrelaça os dedos nos meus apertando-os com gentileza.
Sei que ele revira os olhos, mas beijo sua cabeça mesmo assim,
respiro fundo e relaxo aos poucos, deixando que meu corpo afunde na nossa
cama, olhando para o teto de nossa casa e um pouco mais feliz, bem mais
feliz na verdade.
— Hummmm...
— Achei que nunca mais veria essa cena — Sophie abraça o pai
com força e funga.
Sei o quanto tudo isso foi difícil para as crianças, o quanto sofreram
e o quanto foram machucadas pela minha decisão de pedir o divórcio,
também por pensarem tantas coisas ruins sobre o pai, não gosto de ver os
meus filhos sofrendo como vem sendo.
— O papai nunca mais vai permitir que a mamãe faça algo assim —
Mosés determina emocionado e beija a cabeça dela e depois a de Laisa. —
Nós nunca mais vamos nos separar.
Os meninos sobem na cama e vêm para cima de nós dois, Cory fica
sentado entre nós dois com as pernas dobradas limpando os cantos dos
olhos, estendo a mão chamando-o e ele vem nos abraçar também.
Sei que muitas pessoas não entenderiam a ligação que temos com
nossas crianças, para a maioria das pessoas lá fora somos superprotetores e
acham que nós as mimamos muito porque tratamos elas como deve ser, mas
não dou a mínima, muito menos o Mosés.
— Foi muito boa, fizemos muito sexo — Mosés enfatiza num tom
exagerado.
Cory fica parado diante de nós dois nos olhando como se não
acreditasse que estamos aqui, Mosés sai da cama, já está usando uma cueca,
provavelmente foi até o closet pela madrugada e pegou para si.
— Sei que isso afeta muito vocês dois, não quero que fiquem
magoados ou decepcionados comigo com a reaproximação da Viviane — os
olhos dele se enchem de um tipo de mágoa. — Eu sei que ela fez tudo
errado com vocês e comigo, mas talvez ela tenha mudado, não é?
Eu duvido muito.
— Tem que ter cautela, sua mãe é uma pessoa na qual não devemos
confiar de forma alguma — Mosés retorna e se aproxima da cama, já está
usando uma calça de pijama. — Ela disse alguma coisa?
— Disse que quer me ver e que sente muito a minha falta — Cory
confessa sem jeito. — Pai, sei que teve seus problemas com ela no passado,
mas seria legal que me apoiasse nisso, talvez ela queira realmente se
redimir.
Quem não julgaria? Ela foi responsável por tudo o que aconteceu
em boa parte dos problemas que tivemos indiretamente quando nos
conhecemos, todas as coisas referentes a Safi e como consequência o
enfarto do Phill e, além disso. Das motivações por parte da raiva que a Safi
sentia por mim, dela ter ido à igreja e tentar impedir o Mosés de se casar
comigo e depois de quando chegou ao limite quando aponto aquela arma
para mim.
Cory não sabe de boa parte dessas coisas e talvez nunca precise
saber, dizer isso para ele nos dias atuais não mudaria nada além do fato de
que sua mãe no passado foi uma pessoa muito má.
Eu acredito em segundas chances, acredito na oportunidade da
mudança, mas não sei se acredito tanto que isso possa se encaixar a
qualquer pessoa nesse mundo.
— Não farei nada que vocês dois não permitam — garante Cory
com um tom a mais de seriedade no olhar e olha para o pai como se
esperasse aprovação da parte dele. — Papai?
Mosés me olha brevemente e sei o que esse olhar quer dizer, mas ele
respira fundo e isso também significa que está ponderando. Quando o Cory
começou a crescer nós dois chegamos a um acordo de silêncio total em
relação ao que aconteceu com a mãe dele quando ele era criança. Sempre
dissemos quem era Viviane, onde ela estava, mas tudo isso se resumiu a um
“ataque de esquizofrenia e paranoia” e nada além disso. Dissemos que ela é
uma ex de Mosés e que ela decidiu nos dar a guarda dele quando ele era
pequeno devido a isso, mas nada além do que ele já sabe.
Sabemos o impacto que isso poderia ter na vida dele e não queremos
que o Cory sofra com as escolhas da mãe, nem que saiba que ela o
negligenciou tanto durante seus primeiros anos de vida, é uma conversa que
só vamos ter se ele de fato nos perguntar e como ele até então nunca
questionou, não nos coube tomar nenhuma decisão sobre falar algo do tipo.
— Sei como se sente em relação a isso, meu amor, mas tudo tem seu
tempo, podem continuar conversando e quando se sentir pronto podemos
marcar uma data...
Mas me zango do jeito como ele se refere a ela como “minha mãe”,
ela nunca quis ser mãe dele de verdade e se tentou foi algo do qual não fez
direito.
— Não vamos dizer nada a ele, você sabe que no exato momento
em que nós dois dissermos o que ela fez, ele vai pensar que estamos
tentando afastar ele dela, que eu estou tentando afastar ele dela por sua
causa — respondo e começo a sair da cama. — Acho que agora é a hora de
falar com o tio Olaf sobre alguém para cuidar dele à distância durante esses
dias e saber quais as verdadeiras intenções dela.
— O que foi? Vai ficar aí olhando para a minha “raba” e não vai vir
se trocar?
— Sempre.
DE VOLTA
Pego a garrafa de café e sirvo mais uma xícara para o Mosés depois
outra para mim, olho para a mesa farta e para cada uma das minhas crianças
sentadas em seus lugares, acho que começaram a marcar cadeira quando as
gêmeas já estavam com uns cinco anos, Cory sempre se sentou ao lado
esquerdo do pai e eu ao direito.
Porque não é fácil cuidar de sete filhos ao mesmo tempo, nada fácil
na verdade.
Mas olhando hoje para todos eles me sinto orgulhosa e satisfeita, sei
que fiz um bom trabalho como mãe, que sou presente na vida das minhas
crianças e que eu sempre fiz tudo o que estava ao meu alcance para que
todos eles estivessem limpos e bem alimentados.
— Estou feliz que o papai voltou para casa — Akin diz com um
sorriso imenso nos lábios.
Olho para o rumo da minha menina e ela acaba por rir, as crianças
disparam a rir também e fico espantada achando graça com isso. Ao mesmo
tempo que me dou conta do quanto senti falta disso, me vejo também tão
conectada com cada um deles que isso me faz sentir alguém boba demais.
Meu lar.
Sei que trabalhar a distância não tem sido fácil para mim, evitei vir a
Handerson com todas as forças porque sabia que ele estaria aqui, ainda fico
imaginando como até algumas semanas atrás eu estava trabalhando em casa
via internet, dividindo meu tempo entre copos de chá, café e alguns lenços.
Não sinto que negligenciei meu cargo, fiz tudo como pude e da
melhor forma, sei que Mosés tem administrado boa parte das coisas sem
muita dificuldade mesmo que tenhamos sido uma ótima equipe durante
todos esses anos.
Ser sua sócia para mim veio sendo bem mais importante do que ser
sua esposa de fato e vice e versa, então agora queremos fazer diferente,
queremos que nosso casamento volte a ocupar o primeiro lugar em nossas
vidas.
Acho que com o passar dos anos eu fui me esquecendo de como era
esse processo, me arrumar mais, calçar meus sapatos Dolce prediletos,
colocar brincos, me sentir de novo a mulher que demorei a aprender a ser.
Se amar todos os dias sendo gorda não tem sido a missão mais fácil
do mundo, mesmo com muito esforço, sei que nos últimos anos eu estava
me mantendo arrumada muito mais por obrigação do que em si porque
queria, porque gostava e não deve ser assim.
Puxo meu cabelo para trás e pego meu casaco no banco de trás do
carro, quando tranco meu carro coloco a alça da bolsa sobre o ombro e vou
caminhando até o elevador do estacionamento.
Isso tudo bem diante de mim usando uma gravata azul escura que eu
cansei de arrumar em seu pescoço nos dias de correria, na mão esquerda em
seu anelar a aliança dourada reluzente.
— Eu amo esse lugar — digo, mas está mais para uma sensação de
alívio.
É por isso que as decisões que exigem mais deixo para ele, é bom e
racional em muitos sentidos que eu não sou.
— Obrigado.
— Oi, Ana.
Da última vez que ouvi essa voz, havia uma arma apontada para
mim no meu quarto em casa, quando me lembro do olhar dela algo em mim
enrijece, me sinto endurecida, olho para o teclado do telefone em cima da
minha mesa, pego meu celular e noto que a minha mão treme um pouco.
— Você tem cuidado dele muito bem e sou grata por isso, mas eu
sou a verdadeira mãe dele e ele também merece que eu faça parte da vida
dele.
Odeio com todas as forças que ela fale por esses termos porque eu
não só cuidei do Cory, eu sou a mãe verdadeira dele também, para mim
nunca seria diferente disso, ele é meu filho tanto quanto as minhas outras
crianças.
— Ele está com receio de magoar você e o seu marido, então quero
deixar claro que eu não vou me aproximar de vocês, só quero ver o meu
filho e poder ter esse tempo com ele.
É tão irritante que ela apareça depois de todo esse tempo repetindo
que o Cory seja filho dela, que ela é a mãe dele quando na verdade teve
muitas oportunidades no passado e não fez a mínima questão de que ele
fosse de fato tudo isso para ela.
Meu corpo todo está tenso só de pensar que de alguma forma ela
estará tão perto do Cory nos próximos dias, contudo, sei que não há muito a
ser feito em relação a isso porque é o que o Cory quer, nesse momento tudo
o que me resta é ter que lidar com os fatos.
Só que eu não acredito que ela mudou assim do nada, nem que
esteja disposta só a se aproximar de Cory para conhecê-lo porque se assim
fosse, ela já haveria entrado em contato conosco quando ele era mais novo.
Ela ter me ligado só reforça o que eu sei que vai acontecer, ela vai
ter que ver o Cory, mas também é um aviso de que por mais que nós
tenhamos enterrado ela no nosso passado, ela está bem mais que viva no
nosso presente.
Todo cuidado com essa cobra é pouco.
Eu consigo.
Por alguns momentos enquanto Sêmora vai até a cafeteira da nossa
sala, fico processando a ligação na qual acabei de desligar, o quanto ainda é
irritante pensar que Viviane está muito perto de nós mesmo depois de tudo.
E sei que o meu marido — sim, sim marido! — tem toda a razão de
nutrir raiva dela, mas nesse momento ainda precisaremos ter bastante
cuidado para lidar com Viviane porque agora não é como antes.
Porque não quero que ela faça com o Cory o que fez com a Safira e
sei que com a capacidade dela de manipular pessoas isso seria algo
facilmente possível em se tratando dela, só de pensar sinto calafrios ruins
pelo corpo todo.
Nos sentamos uma de frente para a outra a Sêmora sopra seu café
habitual, ela fica de lado toda elegante e isso faz com que eu sinta um
pouco mais de orgulho dela, é minha melhor amiga há mais de vinte anos,
minha confidente e minha principal rede de apoio.
— Vocês transaram?
— Sim!
Ela faz aquela cara de safada e isso me faz rir, eu e a Sêmora fomos
desenvolvendo muita intimidade com o passar dos anos para falar sobre
nossos casamentos, filhos, sobre como nos sentimos nos dias ruins e nos
dias bons, mas a Sêmora tem essa capacidade incrível de falar sobre
sacanagem como se fosse a coisa mais normal do mundo.
— Como assim?
Sêmora está chocada, claro, quem iria esperar que depois de todo
esse tempo aquela mulher voltasse fazendo exigências? Ninguém poderia
contar com isso, contudo, vindo de uma completa desequilibrada o que
deveríamos esperar?
— Bem, acho que essa é a única coisa ruim e mais desafiadora por
agora, eu e o Mosés nos reconciliamos e conseguimos colocar um ponto
final naquela situação com a Gisele.
— E aí?
— Ela inventou tudo, disse que sabia que pagariam bem para ela se
conseguisse montar alguma situação com uma pessoa importante, que teve
essa ideia para dar um golpe publicitário porque na época a irmã dela estava
fazendo tratamento de cancer e ela não tinha dinheiro para arcar com tudo.
— Eu sei que não é, mas não é justo com o Cory também, realmente
sei que é complicado ainda estamos pensando com zelo sobre isso, só que
nesse momento sei que se proibirmos ele de qualquer coisa, talvez isso o
coloque contra nós dois.
Eu sei que ele não reagiria muito bem, na verdade se o Mosés já está
exaltado com tudo o que está acontecendo não quero nem imaginar a forma
como o Tom reagiria se a Viviane ousasse se aproximar de quem quer que
seja da nossa família.
Acho que chegou naquele nível que nem se trata mais de perdão.
Sei o que ela quer dizer com isso, cria os meninos realmente como
se fossem dela, a verdade é que eu e Sêmora dividimos um bocado dessa
coisa de ser mãe de crianças que não trouxemos ao mundo.
A Sammy sumiu e nunca quis saber dos meninos, hoje eles são
garotos que respeitam a minha melhor amiga como sua verdadeira mãe, já
estão na faculdade também, contudo, ao menos a Sêmora restou o conforto
do Jammie ter dito a verdade desde que eles ainda eram muito pequenos.
Eu não tive essa sorte, não quero nem imaginar como o Cory
reagiria de saber todas as maldades que aquela bruxa sujeitou a ele e a
nossa família, que ela quase o matou de fome e dando remédios ao meu
filho, dói de lembrar o estado que ele chegou a nossa casa.
Começo a rir, rio tanto que minha barriga dói porque se há alguém
que me faz rir assim nessa vida além dela não conheço, termino meu café e
me ergo porque sei que preciso fazer alguns acertos já que vou embora mais
cedo.
Nunca!
PRESENTES
Cory ainda tem aquele olhar temoroso de quando faz algo errado e
deseja pedir alguma coisa, conheço bem as minhas crianças, o suficiente em
diversos sentidos. Os olhos claros e os cabelos loiro escuros lisinhos, não
conto quantas vezes o abracei, dei colo, carinho e afeto, mas que também
ensinei, que protegi e dei bronca.
Agora tem esse rapaz alto com barba feita diante dos meus olhos me
analisando como se quisesse me dizer algo do qual sei que não vou gostar,
só pela forma como ele me olha sei que se refere a ela.
— Quero me desculpar pelo que eu falei mais cedo, acho que você
não merecia que eu falasse daquele jeito com você, é só que... — ele hesita
um tanto nervoso. — Só quero conhecer a minha mãe biológica, sem
dramas ou brigas!
— Acha que estou agindo assim porque tenho ciúmes do seu pai? —
começo a me irritar com a ideia.
— Ok.
— Foi isso o que a sua “mãe” te disse? Que eu estou com ciúmes do
Mosés com ela? Aposto que deve ter sido muito legal bater vários papos
com a sua verdadeira “mãe” durante esses meses pelas minhas costas! —
respondo e me sinto mal com isso.
Sinto vontade de chorar, não por ele ter omitido, mas por notar que o
Cory está erguendo uma barreira forte entre eu e ele assim por conta da
Viviane.
A conversa tomou esse tom sério porque meu filho de repente está
me chamando de louca, apenas pelo fato de que eu estou reagindo como
qualquer ser humano normal a enxurrada de coisas que acabo de saber.
Isso é algo que me desestabiliza num nível do qual nunca achei que
me desestabilizaria porque eu sei o que a Safi sofreu depois do acidente, o
que o meu sogro sofreu internado e de toda a dor que o Mosés e eu
enfrentamos durante os meses que se seguiram por conta do inferno que ela
fez em nossas vidas.
Relembrar é algo que tenho feito pouco, por isso é algo que está me
perturbando de repente.
— Ela deve ter mesmo razão, porque afinal de contas, ela é a sua
mãe! — ressalto a última palavra cheia de desprezo e saio da lavanderia
passando por ele.
Eu e Mosés temos muito que falar e agora que sei que ela e o Cory
estão mantendo contato há mais tempo será algo que teremos que fazer o
mais rápido possível.
Mosés olha para ele realmente surpreso, logo em seguida seu olhar
assume aquele tom de raiva e chateação.
— Cory, sai daqui, vai ajudar os seus irmãos, deixa que eu converso
com a sua mãe! — Mosés ordena todo sério.
— Pai eu só quis...
Mosés me solta e nos viramos para o rumo dele, fico olhando para o
meu filho e isso realmente me machuca porque sei que ela está se
aproveitando de sua vulnerabilidade, que está usando o fato de ser genitora
dele para querer justificar o que quer que tenha inventado em sua cabeça.
— Você se acha tão adulto para machucar sua mãe com palavras só
porque a sua genitora reapareceu na sua vida depois de todos esses anos? —
Mosés indaga com uma voz firme feito rocha e o encara com tanta
seriedade que sinto um pouco de medo. — Sua mãe é esta que está aqui, ou
a sua genitora limpou sua bunda? Te deu banho? Te confortou depois de
uma queda? Quem sempre esteve aqui por você foi a sua mãe, não a
Viviane...
— Mas pai...
— Pode ajudar a sua mãe, Cory, mas há muitas coisas que estão
além da sua compreensão que nos fazem estar em dois extremos — explico
num tom ainda mais sincero fitando-o fixamente. —, mas não me peça que
tolere algo além disso, porque isso não vai acontecer.
— Por que você a odeia tanto? Você não se casou com o papai?
Fico calada, Mosés aperta os meus dedos com firmeza e ficamos nos
encarando por momentos desconfortáveis de silêncio. Sei que não poderia
explicar ou dar a resposta que devo para ele, não é algo do qual eu poderia
dizer ao meu filho, isso o destruiria.
Eu nunca poderia imaginar que o Cory diria algo assim para mim,
palavras cortantes, coisas que me machucam extremamente.
— Amor...
Mesmo que ela tenha dito essas coisas para ele, ainda que ela o
tenha infectado com mentiras e invenções, não vou permitir que ela
machuque o meu menino do mesmo jeito que machucou minha cunhada
anos atrás.
Se ela estiver achando que isso vai acontecer, ela está absolutamente
enganada.
O MAIS VELHO
— Ela o contaminou.
Acho que ele teve medo de que o fato de estarmos separados fosse
ainda mais nos prejudicar em uma futura reconciliação, compreendo suas
motivações pensando por esse lado, mesmo que não justifique tanto as
omissões.
— Ela cumpriu a pena dela por contravenção e ela pagou uma multa
generosa para o Estado, o advogado dela conseguiu convencer o juiz de que
ela não representa risco para ninguém então tiveram que liberar ela.
— A palavra proibida!
— Até parece que você não paga um segurança para seguir ele no
campus, não é? Pegou todas as manias controladoras do papai e dos meus
tios.
Ele revira os olhos, mas merda! Estou tão magoada pela briga que
tive com meu filho por conta daquela naja, mesmo que eu saiba que
necessariamente ele não tem culpa, que ele deve ter sido induzido por ela a
acreditar em tudo o que ela disse.
Mas bem, não deve ser pecado reconhecer que tem uma fragilidade
como essa, de poder se reconfortar entre os braços do marido e admitir que
essa sensação te faz um bem danado, senti falta disso.
Porque faz com que eu me sinta forte e posturada diante dos meus
problemas, das coisas que eu vivencio e desafios diários que encaro por ser
um pouco de cada coisa, até mesmo quando sou um pouco mais mãe do que
devo ser.
— Eu não pensei que seria tão difícil também, mas você me disse
que deveríamos deixar que ele viva isso com ela — Mosés diz baixinho e
coloca outro beijinho atrás da minha orelha.
— Eu não achei que ele havia omitido isso de nós dois — confesso
e olho através da janela. — Ela deve ter dito tantas mentiras para o meu
menino, mas dessa vez não vou permitir que ela machuque ninguém da
nossa família.
— Ela não irá — ele garante num tom mais ameaçador. — Não
podemos deixar que o fato da Viviane estar solta nos afete nessa proporção,
mesmo que seja difícil.
— Sabe que em algum momento ele terá que saber a verdade, não
sabe?
— Não é sua culpa, você não poderia saber que ela era problemática
— afirmo. — E se você não houvesse se envolvido com ela, nosso menino
não estaria aqui hoje conosco.
E sorri, meu coração fica quentinho e fico na pontinha dos pés para
alcançar seus lábios, dou-lhe um selinho leve e Mosés me aperta com mais
firmeza se esfregando na minha bunda, a arma dele está firme e parece bem
pronta.
— Toda essa tensão me deu uma vontade de trepar — diz ele com os
lábios colados nos meus. — Trepar até me cansar! Me prometeu uma
surpresa, cadê?
Isso me faz lembrar de algo importante.
Faço cara de tédio, ele olha para a caixa de presente e depois para
mim todo curioso.
Ele desfaz a carranca e olha para a caixa todo sério, logo em seguida
estende as mãos e a pega para si, ergue o peso e nega com a cabeça.
— Sério? — ele vem atrás de mim e quando olho para trás, Mosés
está encostando a cabeça na lateral da caixinha. — Porra! Ana, para de
brincar com os meus sentimentos!
— Aí, vira essa boca para lá! — Gustav faz uma careta.
Ele enfia a mão dentro da caixa e seu semblante muda quando toca o
que tem dentro, Laisa se aproxima toda curiosa enquanto Saara e Bea estão
bastante empolgadas, Akim se esgueira para frente para ver.
Então meu esposo a retira de dentro da caixa, seus olhos por alguns
instantes se fixam nela tão espantados e automaticamente cheios de amor
que me fazem querer chorar mais uma vez.
— O Mike sabe que você não suporta viver sem apoio emocional
papai — Cory avisa enternecido.
Nada mais justo que todos nós fiquemos ao seu lado assim como
estamos, abraçadinhos.
Sorrio, ainda assim eu fico feliz de poder ter retornado e que nosso
primeiro dia aqui tenha sido de alguma forma com nossos filhos, com a
certeza também de que na empresa as coisas vão se ajustar e que estamos
fazendo tudo do jeito que deve ser feito.
Só que era como sempre é com ele e seus irmãos quando faz algo
errado, ele estava tentando uma reparação, algo que me fizesse sentir
melhor, alguma compensação por ter me chamado de louca, por ter mentido
para mim.
Isso se tornou tão pessoal de repente, porque doeu muito quando o
Mosés por diversas vezes durante discussões e brigas me chamava de louca,
por mais que em momentos eu soubesse que era só o jeito dele se expressar,
isso me atingiu em camadas diferentes e em sentidos diversos dentro de
mim.
Agora a pouco passei nos quartos deles, entendendo mais uma vez
suas individualidades, notando os seus rituais noturnos antes de dormir,
dizendo a mim mesma que agora sou mãe de seis adolescentes e um homem
adulto, tentando afastar dos pensamentos a sensação de que o Cory não é
meu de verdade por mais que ele tenha me feito sentir assim.
— Gostou do presente?
Meus passos são lentos enquanto ele vai se esticando para trás e se
deitando na cama, tão gostoso envolvido nessa toalha de banho, tão lindo e
todo molhado só para mim. Mantenho contato visual, bem, isso é algo do
qual tentei planejar sozinha e com cuidado, mas com o passar do tempo eu
me acostumei muito com o fato de ter acessibilidade a um bocado de coisa.
Entro no box e inicio meu ritual de banho ligeiro, me lavo bem com
sabonete líquido e passo meu óleo de banho predileto, depois lavo bem as
partes e o rosto, então saio do box pegando a minha toalha de banho.
— É um bom termo.
Depois ele se afasta e sobe na cama então se senta onde estava
antes, depois que fecho a cortina me aproximo da cama segurando a taça,
ele fica me olhando de cima abaixo em silêncio, bebendo mais dois goles de
champanhe.
Jogo alguns em seu peito e outros sob seu pau firme e outros até
perto de suas pernas, quando termino me sinto satisfeita, a cena é um pouco
excitante não sei porque. Me sento no canto da cama e observo com
cuidado de cima abaixo.
— Bem mais que justo, mas que tal se você também for minha
escrava sexual quando eu quiser?
— Eu gosto disso.
Pego um morando perto o joelho dele e levo até meus lábios então
mordo e enquanto mastigo bebo mais um gole do champanhe, a mistura
completa e deliciosa. Observá-lo absolutamente nu, ver cada pequeno
detalhe de seu corpo só para mim é tão bom.
Subo na cama e fico de joelhos perto dos pés dele, depois engatinho
sob os joelhos até ele pouco me importando se amasso ou não os morangos
jogados na cama, me inclino e abocanho um morango em sua virilha,
quando apanho com a língua chupo o local como se chupasse uma fruta e
então me ergo mastigando o morango, vendo seu pênis saltar de repente.
Mosés mastiga o morango e pega a garrafa de champanhe em cima
da mesinha de cabeceira então enche sua taça mais uma vez, ele estende a
garrafa para mim enquanto mastigo meu morango e deixo que encha minha
taça também.
Me inclino mais uma vez e abocanho esse canto sugando a pele, ele
suspira mais uma vez profundamente enquanto me ergo e mastigo o
morango, isso começa a se tornar um jogo excitante.
Jogo o celular dele num canto e toco seus ombros, então o empurro
com força contra a cama e vejo as pétalas irem para todos os lados, Mosés
ergue a mão e saca um tapa forte na minha cara, aguento a ardência e agarro
o polegar dele com a boca sugando o dedo com vontade.
Ele espalha toda a minha umidade e segura o pau com a outra mão,
então se toca enquanto os dedos fazem gestos lentos e circulares em minha
vagina, com cuidado se introduz até mim e enquanto desço com os quadris
me penetra vagarosamente.
Os olhos azuis estão nos meus enquanto nos movemos feito dois
bichos selvagens num ritmo intenso, roubo-lhe outro beijo forte, explorando
toda sua boca, sua língua a minha, ele toca meus tornozelos e os puxa, ergo
as pernas apoiando os pés na cama e afasto as pernas ficando arreganhada
para ele, me movendo num cavalgue rápido com ele, sentindo o toque de
seus polegares pressionando minhas virilhas com força.
Olho para trás enquanto mantenho meu cavalgue acelerado, ele está
suado, olhando para minha bunda, as veias saltando de seu pescoço
enquanto as mãos seguram as ligas da lingerie e as puxa.
Ele toca meus braços logo em seguida e depois minhas costas até
alcançar minhas nádegas, ele me ergue e eu o capturo com a mão livre,
conduzo seu pênis mais uma vez para mim e enquanto ele entra novamente
solto um gemido entre nossos beijos.
Mosés deixa meus lábios e começa a traçar beijos por todo meu
pescoço, meus quadris se movem e ergo a cabeça lhe dando acesso ao meu
colo, aos meus seios, ele os mordisca por cima do tecido transparente
deixando os mamilos ouriçados. Sorrio e ergo a garrafa levando-a até meus
lábios, bebo dois goles modestos do champanhe serpenteando sobre ele, sua
boca dando leves mordiscas abaixo dos meus seios enquanto ele os aperta
com força espremendo-os sob o tecido transparente do sutiã.
Olho nos olhos e toda nossa conexão faz muito mais sentido, isso
desperta em nós dois um lado oculto de nosso casamento ou que em algum
momento do passado nós não soubemos como desenvolver.
Somos ótimos juntos, merda! Por que cheguei a pensar por uma
fração de segundos que poderia ser diferente?
— Isso, isso! — ele geme alto enquanto vai liberando o gozo forte
comigo. — Muito bem, querida!
Ah, é isso!
Desperto.
Deixo seus lábios e começo a beijar seu pescoço, depois seu peito
ele ergue os braços e se deita de costas deixando que eu o comtemple
enquanto minha boca alcança seu abdome, com a língua desço até seu
monte de púbis, ele geme baixinho e sei que adora isso.
Com ele sempre fui capaz de tudo, mesmo que em algum momento
isso tenha se perdido em algum sentido.
Sua mão se enfia nos meus cabelos e ele os puxa para cima fazendo
com que me erga, deixo-o todo babado e ao mesmo tempo me inclino para
lamber e sou impedida pela mão impiedosa, o puxão nos meus cabelos diz
claramente que ele não quer isso.
— Tem algo que quero que use para mim — ele diz baixinho e se
ergue puxando meus cabelos com mais força. — Vai usar!
— Sim.
Ele me puxa para cima e sei que devo subir e me sentar sob suas
coxas, Mosés estica o braço e abre a segunda gaveta da cabeceira então
retira uma caixa de lá, não muito grande, um pouco menor que uma caixa
de sapato.
— Perfeita!
Ele toca meus seios por cima da pedraria e me faz sentir um arrepio
intenso por todo o meu corpo.
Sinto um despertar diferente para nós dois agora, algo tão poderoso
que ainda não sei como explicar.
— O senhor também!
Fico perdida por alguns momentos ouvindo os sons altos dos nossos
gritos em meio a melodia baixa de uma música romântica, ouvindo as
metidas intensas transmitindo prazer para todo o meu ser de forma diferente
e una.
Sou puxada para trás e ele me agarra com um braço enquanto força
um pouco mais na minha bunda, tento me libertar suportando o orgasmo
brutal, então começo a chorar porque mal consigo controlar esses impulsos,
ele não para! Ele não hesita!
Não o vejo cessar ou parar, me encolho mais uma vez e meu corpo
trepida com a intensidade de outro orgasmo, o vejo sorrir de um jeito
leviano e meter mais fundo impiedosamente, o recebo agoniada pelo prazer,
mais sensível e molhada que nunca.
— Porra, meu amor! — geme ele e goza com força dentro de mim.
E goza mais uma vez com mais vigor, suado, deslizo sob ele
suportando mais uma metida severa, sentindo a rajada forte que me faz
soltar mais um grito banhada de prazer, meu corpo totalmente sensível e
entregue.
— Gostou do presente?
— É perfeito.
— Você ficou tão linda com esse pequeno mimo, meu amor. — ele
diz baixinho me observando de cima abaixo com um sorriso.
— Acho que te machuquei isso sim — toco seu peito e seu abdome.
— Olha.
— Você acha que eu aguento outra dessas? — ele olha pra os meus
seios. — Se bem que uma espanhola cairia muito bem para finalizar a noite.
— Ela disse que teve que pagar a dez pessoas para montarem, mas
que ela mesma também levou horas a fio para terminar. — ele explica
tranquilo.
— São diamantes.
Engulo a seco, ele me dá um beijinho como se fosse a coisa mais
normal do mundo e depois me abraça tranquilamente, fico por alguns
instantes absorvendo toda essa informação, é claro que é uma peça meio
pesada, mas eu nunca poderia imaginar que isso tudo aqui são pedras de
diamante.
Ele não mede valor por interesse ou moeda, talvez num passado
distante tivesse muito isso de querer pagar por tudo o que fizessem para ele,
mas atualmente sei que ele fica muito feliz com pequenas coisas, as
valoriza, então esse mimo assim como ele diz talvez tenha um significado
muito mais sentimental do que financeiro.
Ele não se importa com o preço e sim o valor das coisas assim como
eu.
— Eu amei meu presente — digo sincera. — Te amo, muito
obrigada, meu amor.
Ouço o som de sua risada se espalhar pelo quarto, não carrego tanto
remorso de desfrutar de uma vida razoavelmente luxuosa, temos trabalhado
incansavelmente para que seja assim, mas algumas vezes nos damos a esses
pequenos prazeres da vida.
Mesmo que no dia a dia ainda ande com roupas simples e levemos
uma vida no mínimo confortável, sei que com o casamento e o
reconhecimento de paternidade do meu pai, muito dinheiro veio junto.
— Que nada, ela pagou muito bem para que essas ajudantes dela
fizessem tudo, sem falar que sempre que eu ia na loja ela me expulsava
dizendo que queria que fosse surpresa.
Conversei com a Safi algumas vezes durante esses meses, a vi
também com frequência, vi o Tom e as crianças também, ela se mostrou
muito triste com minha decisão de separação, mas me apoiou assim como o
Tom, sei que ela também apoiou o irmão de alguma forma, são muito
unidos.
Eu o fito, sua mão toca minha cintura por baixo das camadas da
pequenas joias reluzentes.
Fico tão feliz com sua gentileza, porque mesmo diante de tudo sei
que o Mosés não quis desistir de mim e o amo ainda mais por isso a cada
instante.
Dizendo para mim mesma que agora e para sempre mais uma vez
ele é só meu.
NOVOS SENTIMENTOS
Não esperava que ele fosse acordar tão cedo, porém, também não
pensei que ele dormiria até as 11:35.
É claro que as crianças sabem disso, elas sabem que temos nossa
intimidade, mas fingem muito bem que não sabem porque morrem de
vergonha disso assim como nós dois, por mais que sempre falamos sobre
essas coisas com eles de uma forma natural.
Sou tão idiota por ter chegado a cogitar que ele poderia me traído!
Sei que terei que compensá-lo por tudo, ainda que não tenha sido
tudo assim no sentido literal, que tenha sido um conjunto de coisas que
aconteceram.
— Isso não irá acontecer — ele responde e toca meu queixo com a
outra mão erguendo minha cabeça, seu olhar me acerta em cheio. — Nunca,
entendeu?
Acho que ele não quer que eu me sinta exatamente assim, um pouco
mais culpada de tudo.
— Tá.
Engatinho até ele e me sento ao seu lado, ele passa o braço em volta
do meu corpo e indica a torrada e os ovos.
— Estou pensando que quero uma noite dessas pelo ou menos uma
vez por mês até os noventa e seis no mínimo.
— Ah, eu aguento!
Rio mais uma vez e ele morde a torrada de novo, beijo sua face e
vejo os cabelinhos brancos nos cantos de sua orelha, alguns fios espalhados
por seus cabelos, a coisa mais charmosa que eu poderia ver em anos depois
de uma noite de sexo intenso.
— Pai, mãe, o tio Tom acabou de chegar, ele quer conversar com
vocês! — a voz de Sophie soa do outro lado da porta. — Pelo amor de
Deus, né? Já chega também!
É que o Tom costuma ser super flexível em tudo, tudo, mas quando
se trata da Safi ele parece que trava em absolutamente tudo, mesmo que eu
entenda é inevitável que ele não aja como um Carsson ignorante e
troglodita quando precisa proteger sua esposa.
É algo que o Mosés faz muito bem, mas convivendo com meu pai e
meus tios ele faz muito melhor.
Saio do nosso quarto me sentindo até tranquila, quando acordei mais
cedo tomei um banho rápido e coloquei uma calça de moletom folgada e
uma camiseta leve, estou descalça como sempre fico quando estou em casa.
— Pode deixar.
Ouço uma risada ao abrir a porta, tão logo saio do quarto aceno para
ele e puxo a maçaneta vendo-o sorrir e negar com a cabeça, assim todo
gostosinho, mas ao fechar a porta paro de sorrir e sei que devo levar a sério
seu pedido.
Da última vez que teve uma reunião de família ouvi uma discussão
calorosa entre papai, tia Júlia e o tio Jack, tudo isso porque a tia Júlia estava
pensando sobre se mudar para outro estado, no final da discussão o tio
Jonas estava chorando enquanto o tio PH ficou berrando aos quatro ventos
o quanto todos da família erão loucos e tempestuosos.
Ele é o mais velho depois do Nando e é o que não tem nada a ver
com nada que lembre hospitais — que é o negócio da família há anos — ou
as empresas do pai, mesmo que tenha ações e se esforce para estar lá em
reuniões importantes, ele preferiu tirar boa parte do tempo para se dedicar a
família.
Ah, mais uma vez terei que lidar com essa inconveniência.
Suspiro me afastando um pouco, Tom pega a caneca e vai
caminhando até o sofá que mantemos perto da sacada do escritório, na
verdade aqui é a biblioteca que funciona como escritório algumas vezes, é o
lugar preferido das crianças para ler nos dias de inverno e costumava ser o
lugar que eu e o meu marido profanávamos anos atrás na ausência deles.
É, bons tempos!
— E...
— Bem, Tom, o que você quer que eu fale? Ela quer se reaproximar
do filho dela!
Me sinto realmente bem em ouvir isso, mesmo que dito com certo
rancor.
Mas ele sabe todo o processo da Safi, ele estava lá quando ela teve
que fazer tantas terapias, as dores que ela sentia no começo, os choros, ele a
carregou no colo depois de um dia difícil na Universidade e a consolou.
Ele veio depois do acidente, mas para ele foi como viver todo o
inferno que nós que presenciamos o que houve de perto também.
— Não quero ela perto do meu sobrinho, nem da Safira ou dos meus
filhos, enfim, de nenhum de vocês, ela é perigosa.
— Eu sei que ela é, mas ao que tudo indica ela andou mexendo os
pauzinhos em relação ao Cory já tem um tempo, ontem nós brigamos.
— Sei que quer resolver isso da melhor forma e acredito que não é a
melhor forma colocar a Safira e o Cory nessa posição novamente. —
explico mantendo o máximo de calma e o semblante dele se torna um pouco
mais preocupado. — Acredito que você não entenda as proporções que isso
poderá tomar caso nós decidamos falar para o Cory ou para a Safira,
primeiro porque eu e o Mosés nunca contamos para ele o que houve e
segundo, quer mesmo que a Safi passe por todo o trauma mais uma vez?
— Não acha que tudo se resolveria se contasse para ele o que ela
realmente fez?
— Tem, basta que conte para ele que a mãe dele é uma mau-caráter
e que ela causou tudo aquilo nele e na Safira, no Phill.
— Eu odeio tudo isso tanto quanto você, mas você não está
pensando nos sentimentos do Cory ou da Safira, só está com medo de que
ela sofra no processo e eu te entendo...
Ele me interrompe mais uma vez, abro a boca para falar, porém
desisto, decido que não vou continuar a conversa, me levanto.
— O que foi?
— É que você não está me ouvindo, não adianta o que eu diga você
ainda se sentirá no direito de falar o que acha e encarar isso como uma
verdade absoluta.
— Sou bom nisso, não sou? Agora quer que eu deixe uma assassina
a solta e ignore o fato de que ela quase matou a minha esposa há quinze
anos como se isso fosse algo irrelevante? Você não tem sangue nas veias,
Ana, porque não é possível.
De novo.
— Seu filho não pode sentir dor, Ana? Em vista de toda a dor que a
minha mulher sentiu?
— Ah eu devo te lembrar que antes de você se casar com ela, eu
estive com ela por bastante tempo, eu cuidei dela tanto quanto você e
preciso dizer que a Viviane não presta, ela é uma pessoa horrível, mas a
Safira fez todas as escolhas dela e isso não é culpa da Viviane.
— Está dizendo que a Safira tem culpa de ter sido envenenada por
ela? Ela era só uma garota, Ana! — fala exasperado. — Não é possível que
esteja dizendo isso!
— Você não sabe todo o inferno que foi a minha vida antes de você
conhecer a Safira, por todas as coisas que eu e o Mosés passamos por causa
da Viviane, você não está nem tentando entender o que eu quero dizer, só
está zangado porque sei que a ama, sei que carregou as dores dela, mas não
é justo comigo também!
— Não preciso que diga que sofreu, Ana, sei que sofreu, mas...
— Não vai acontecer, o tio Jack garantiu ao Mosés que vai vigiar ela
de perto.
— Papai já sabe?
— Melhor.
— Eu disse para ele que iria pensar, ele disse que é muito
importante para ele e que sabe que vocês dois não iriam, que não pediria
isso para vocês.
Tom fica em silêncio por alguns momentos, entretanto, sei que isso
seria pedir demais até para ele, afinal como a Viviane reagiria quando
soubesse que ele é casado com a Safira?
— Vou pedir que a Lottie vá com ele, mas não vou dizer que não
vou, pedirei que ele fale o horário e ela passará aqui para pegar ele, ela é
boa em lidar com pessoas como a Viviane.
Ah, se é! Aquela ali é uma onça assim como todos da família falam.
— E não faz essa cara, você sabe que ela ama um barraco, mas
resolve tudo sem ficar pedindo nada aos nossos pais, diferente do Nando e
eu.
— Será que ela vai conseguir cutucar a onça e sair ilesa? — Mosés
pergunta com um olhar coberto de deboche.
— Você não?
— Me senti traída.
— Eu também.
Esfrego a bochecha na mão dele feito filhote triste e ele se inclina
me puxando para perto de si, passando o outro braço em volta da minha
cintura, me abraçando tão forte que faz com que eu fique bem.
Tão bem.
— Acho que você está pedindo demais, o Cory não é mais uma
criança, amor, ele já é um homem adulto e precisa saber lidar com suas
próprias decisões.
— Eu sei, eu sei!
Fazia tanto tempo que não me sentia assim com o meu marido que
estou me sentindo como bichinho carente, aliás, por falar em bichinho...
— Já viu a Nina?
— Claro!
— Absolutamente não.
— Pedi para nossos pais ficarem com as crianças, o Cory vai com
eles também, papai disse que quer levá-los para pescar, então teremos três
dias só nossos.
— Eu posso levar a Sêmora de tiracolo?
— Nossa, já chegou?
Ele ri, beijo seu peito, aspiro o cheiro gostoso dele, senti falta disso
mais que tudo.
— Moda Vintage?
— Século 17.
— Uma coisa temos que admitir, você tem uma imaginação muito
fértil senhor HC.
— Ah, eu tenho!
— Capacitista!
— Explorador de irmã.
— Gostosa.
Assim como tem sido desde que o Cory tirou habilitação, nos
dividimos em dois carros, em um ele veio no carro dele com os gêmeos,
Sophie e Saara e no outro viemos eu, Mosés, Bea e Laisa, Mosés ficou meio
chateado porque não pode trazer a Nina. Fiquei observando-o por
momentos conversando com sua nova filhote enquanto a colocava em sua
caixinha de papelão toda forrada deixando claro que voltaria com uma
caminha mais confortável, fiquei sorrindo feito boba, grata por ter dado a
cadelinha para ele.
Aqui é ensolarado, sem falar que nossa casa fica afastada da cidade
grande, temos essa oportunidade incrível de morar num lugar em que
estamos mais perto da natureza e da família do que dos dias estressantes na
cidade grande cercados de prédios e buzinas.
Claro que ainda amamos nossa casa nos Hamptons, vamos passar as
férias ou feriados lá com a família, ela ainda é meu primeiro amor, contudo,
não me vejo morando assim tão longe do meu pai.
Acho que fomos dormir por volta das 05:00 da manhã, eu não dormi
muito, me levantei às 09:00. Ele ainda conseguiu dormir até as 11:30. Só
que acho que me acostumei com a rotina de me acordar cedo e que nos
últimos meses por sofrer com insônia e ansiedade também não posso dizer
que dormir tão bem tem sido meu foco.
Manhoso!
Ela começa a rir assim como suas irmãs e irmãos, é verdade que não
estava nos meus planos engravidar de múltiplos em nenhuma das vezes, foi
tão difícil, não gosto de lembrar das nossas discussões, mas também foi
uma das melhores coisas que poderia me acontecer.
Ah, ele vai ficar me adulando, mas não deixa de ser fofo quando ele
me chama de mamãe.
Noto que ela está com o celular apontado para nossa mesa, não está
sozinha, está acompanhada de mais duas jovens moças, não faço ideia de
quem sejam.
— Ela está nos filmando? — Laisa indaga ao olhar para trás e vai se
encolhendo na cadeira. — Que vergonha!
Não é algo que eu faça ou tenha feito nos últimos anos ou desde
nunca, odeio ser exposta a quaisquer tipos de coisa, mas se tem uma coisa
que eu realmente odeio é o fato de que ela está expondo as minhas crianças.
Me afasto da nossa mesa e vou até a mesa dela, vejo ela puxar o
Iphone para baixo, longe do meu campo de visão, tão logo fico diante da
mesa dela tento dar meu melhor sorriso para a moça.
— Perdão, boa tarde, gostaria de saber por qual motivo você estava
filmando as minhas crianças.
As duas moças riem entre si, sorrio para ela mesmo sabendo que ela
falou isso num tom de voz tão alto que basicamente todas as pessoas das
mesas em volta ouviram e estão olhando.
— Ela não fará nada, mas eu farei! — a voz do Mosés soa alto atrás
de mim. — Espero que tenha bons advogados, como é mesmo o seu nome?
— Estou com medo papai! — Saara faz cara de choro e abraça o pai
também.
— Senhora, vou pedir que espere e não faça mais isso no nosso
estabelecimento, a polícia será acionada — a funcionária informa.
— Cory, leva os seus irmãos para o carro e liga para o tio Ali, peça
que ele venha buscar vocês por favor, eu e o seu pai resolveremos isso o
mais rápido possível.
Eu ainda mais.
PROVIDÊNCIAS
Se eu achava que ser esposa do Mosés na época era algo difícil, ser
a filha de um dos herdeiros mais ricos do mundo se mostrou um desafio
diário. Isso só se intensificou mais com o passar dos anos porque por mais
que em diversas circunstâncias nós tentemos, algumas coisas vazam.
Eu sei que antes de eu ser reconhecida a família já vinha passando
por muitos escândalos, alguns de deixar de cabelo em pé, como por
exemplo o casamento de fachada da minha tia avó Lílian ou que meu avô
biológico de verdade era seu esposo, não cheguei a conhecer a minha avó,
papai não fala muito nela, desconheço os motivos, mas acredito que isso
implique em coisas que envolvem ele e o tio Richard.
Uma vez por ano no Dia de Finados temos ido ao túmulo dos
familiares, costuma ser um dia meio triste para o vovô Carsson, para a vó,
mas também porque sei o que significa a perda de todos os membros
Carsson para todos nós e o quanto isso representa na história do nosso
nome.
Sei que as pessoas talvez não entendam, afinal de contas elas não
fazem parte da nossa família, entretanto, os anos de convivência têm me
mostrado que carrego não só um nome coberto de escândalos, mas um
legado muito importante.
Hoje, ainda é incrível como não consigo definir o fato de ser mãe
apenas por isso.
— Eu não estou tão chateada, mas ainda estou pensativa sobre isso.
— Não precisa se sentir grato porque nós fizemos algo tão simples
como te amar, Cory, o amor não é algo que escolhemos sentir por ninguém.
— falo escolhendo cada palavra com muito zelo. — Agora se estiver se
referindo as coisas materiais, muito menos isso, sempre lutaremos para dar
tudo o que pudermos a você.
— Não gosto mesmo, precisa ouvir da minha boca? Isso não vai
torná-la menos sua mãe ou mudar a importância que ela poderá ter na sua
vida. — falo sincera e atenta a batata que estou fatiando.
— Claro que não, eu acho que você deve fazer o que acha que é
melhor para conhecer a sua mãe.
— Se bem que acho que não tenho muitas chances, ela é do curso de
direito, super engajada em causas e popular, acho que meio que estou
intimidado.
— Uma crush?
— De direita?
Ele não solta mesmo essa cadela desde o exato momento em que
chegamos. Pediu que alguém trouxesse uma caminha de cachorro e os potes
para ração, a coitada da cachorra já tem um laço bem na testa que uma das
meninas colocou e cara de que é cachorra de mulher.
Ele colocou a caminha da Nina perto da nossa cama, acho que ainda
está se acostumando com o fato de que agora tem uma nova filhotinha para
cuidar, para dar amor e sinceramente gosto muito de ver ele segurando-a.
Ele revira os olhos, acho que teve seu tempo de dormir, desde que
chegamos ele pegou a caminha de Nina e subiu para nosso quarto, foi se
deitar, as meninas foram para seus quartos e os meninos estão na sala de
jogos jogando videogames. Estou organizando algumas coisas na cozinha e
preparando o jantar, legumes gratinados, quero fazer um risoto e servir com
carne de panela também.
Ele entrega a garrafa para o Cory e depois apoia Nina em seu peito
acariciando a cabecinha dela, a pequenina está com olhinhos fechados toda
mimosa. Sei que fiz uma boa escolha, ela é uma mistura de Yorkshire com
algum outro animal pequeno, não acho que será de grande porte.
Troco olhares com Mosés e fico vermelha, dou mais um beijo suave
nele e volto a fatiar alguns talos de vagem.
Mamãe entra no meu quarto toda sorridente, eu já sei que ela veio
para buscar as crianças, Cory irá dividir o tempo dele com ela e o Phill
durante os dias que estivermos fora. Sorrio logo que ela abre os braços.
Confesso que a minha relação com o meu pai tem sido muito melhor
do que a relação com a minha mãe a longo prazo, contudo, ela também tem
esse espaço no meu coração porque conquistou quando decidiu me respeitar
mais, me ouvir mais e principalmente a entender que acima de qualquer
coisa sou sua filha.
— Oi, mamãe!
Nos abraçamos fortemente, acho que ela aprendeu boas lições nos
anos de convivência desde que se casou com o Phill e veio morar perto da
gente, também por causa dos nossos filhos, dos meus sobrinhos. Isso meio
que amoleceu o coração da mamãe em muitos sentidos, coisa que ela não
conseguia ser quando eu era criança, mas bem, isso é passado agora.
— O Phill veio?
— Sei bem!
Ela arregala os olhos e isso me faz sorrir mais uma vez, mamãe usa
uma calça jeans e uma blusa moletom cinza, tênis, ela e o Phill embarcaram
nessas de fazer caminhadas pela manhã e optaram por ter uma vida mais
saudável de uns tempos para cá. Claro que ele já é adepto de hábitos assim
devido aos problemas cardíacos, mas ela deslanchou mesmo há uns cinco
anos atrás.
Ele carrega as peças encapadas em dois cabides, saiu mais cedo para
ir buscar na loja da Safi, essas serão nossas fantasias para o baile, me senti
super grata quando telefonei ontem à noite e ela falou que tinha nossos
números.
— Ah, por favor, são só quatro dias, para onde mais eu poderia levar
tantos netos? Sempre que vamos sair temos que andar de mãos dadas! —
Phill vem logo atrás se apoiando na bengala, usando como sempre terno
azul escuro e sapatos reluzentes. — E a Nina ficará com a Dulce, já
conversei com ela sobre tudo, fique tranquilo.
Vou até ele de braços abertos, Phil me abraça todo gentil, amoroso,
como sempre tem feito desde que nos conhecemos, temos uma relação
excelente.
Ele não quer que a mamãe pense mal dele, tadinho, mesmo depois
de tudo noto que ainda busca aprovação dela em diversos sentidos.
Minhas bochechas esquentam, pois bem, esses são nossos pais, são
nossos principais apoiadores, pessoas que se importam muito conosco, que
nos querem felizes e juntos acima de todas as coisas.
— Eu já volto.
Mora aqui perto assim como mamãe e Phill, assim como todo o
restante da família Carsson, cercados por um território amplo de proteção
extensa de floresta e um muro alto nos limites da propriedade.
Acho tão fofinho quando meu pai me chama de filha, é claro que
não é como meu outro pai chamava, mas faz com que esse instinto paternal
dele soe mais alto perto de mim. Perdemos um bom tempo afastados, eu,
ele e a Ayla, temos nos empenhado para que seja diferente desde que ele
nos achou.
— Encontrei, pai.
— Estamos muito felizes que vocês tenham voltado, mas o que o
Jack me falou não deixa de ser preocupante.
— Sobre o Cory?
Papai cruza os braços, está usando uma calça de brim beje e uma
camiseta social de mangas de cor azul escura, nada que lembre algo
relacionado ao hospital, acho que talvez hoje seja uma de suas folgas dos
plantões.
Cabelos loiros bem aparados e os olhos azuis que são num tom
parecido com os meus, mas fora isso e talvez as nossas personalidades
fisicamente sejamos extremos opostos, diria até que as meninas têm mais
semelhança com ele do que eu.
— Ana, estou pedindo que me deixe cuidar disso! — papai fala num
tom ainda ameno.
— E eu não vou permitir que magoem você, isso não tem a ver com
o Cory e sabe disso, o que impede que essa louca coloque a segurança dele
em risco também?
Fico nervosa, porém sei que ele tem olhos em todos os cantos, ele
sabe que eu detesto que fique vigiando minha vida nesse sentido, que odeio
que fique monitorando cada passo meu para saber o que estou fazendo.
— Antes que diga qualquer coisa, foi alguém que entrou em contato
com a equipe de imprensa ameaçando divulgar o vídeo, não acha que
deveria ter mudado sua postura nesse sentido?
Sei que isso afetou papai, minha mãe, o Phill, meus tios e até meus
avós, divórcio é uma coisa que não ocorre na família frequentemente ou
melhor, nunca. Ao menos não desde que entrei para a família.
Só que não é só pelo divórcio e sim pelo que nós representamos uns
para os outros, Mosés é parte de nossa família em todos os sentidos, há uma
preocupação enorme sobre as crianças também, o bem-estar emocional
delas principalmente.
Isso foi algo com o qual tentei lidar quando tudo explodiu, de todas
as melhores formas tentei organizar isso, mesmo que não tenha funcionado
porque eu me senti destruída com o processo, só que agora não é o caso.
— Filha, é o correto.
— Diria ou não?
— Você é uma teimosa mesmo, deve ter puxado aquela sua mãe!
— É que não é tão simples quanto aparecer depois de vinte e sete
anos dizendo que é pai de alguém, eu ainda tenho responsabilidade afetiva
com os meus filhos, pai, e o fato do Cory ter a Viviane como mãe não pode
interferir no jeito como ele possa conhecê-la.
— Não gosto de ter que falar isso, filha, mas se ela se aproximar
demais de você, não serei tão piedoso com ela como você ou Mosés foram e
reze muito para que o Cory não fique no meio disso. — papai declara
secamente e sinto um arrepio estranho na espinha. — Eu não permitirei que
ela aponte uma arma para você novamente, você não será desamparada
como antes e eu cuidarei para que dessa vez, ela fique tão longe, mas tão
longe que nunca mais possamos ouvir o nome dela novamente, entendeu?
— Sim, eu entendo.
Ele me lança um olhar severo, como faz quando não gosta de algo
que eu disse ou fiz.
— Vou para casa, trouxe um bolo e biscoitos que suas irmãs e sua
mãe fizeram.
Começo a sorrir, é que ela é casada com ele e aprendi com o tempo
que tenho mais uma mãe que é uma xará e um amorzinho de pessoa.
— Ele saberá no momento certo, mas agora ele tem que passar por
tudo isso para entender, e se ele se afastar de mim, papai?
— Ana, o Cory não é uma criança, ele não é tão ingênuo, sei que ele
entenderia muito bem que você só fez isso para protegê-lo.
Ergo os braços e papai passa os braços em volta de mim me
puxando para um abraço forte, ok, hoje é dia oficial do abraço dos meus
pais.
— Se eu tiver que ver essa sua bunda feia mais uma vez na tela do
meu celular, eu mesmo cuidarei de afastar a minha filha para sempre de
você, entendeu, moleque?
— Sim senhor!
— Sei que vocês dois estão tentando fazer tudo o que podem para
dar certo, estou feliz que voltaram, todos estamos, sabia que era questão de
tempo até resolverem isso.
Ele sai do escritório mantendo o sorriso nos lábios, sei que vai ficar
com as crianças porque ele adora estar com as meninas e os meninos, com o
Cory, mesmo com tudo acontecendo.
— Gostou do quarto?
Acho que nunca poderia ter escolhido algo tão lindo e me sinto
muito grata de saber que ele teve toda essa preocupação e cuidado de
escolher num quarto de hotel com vista para o mar.
— Cansada?
— Um pouco.
A verdade é que saber que as crianças estão com nossos pais e que
vão para essa pequena viagem com eles já me deixa bastante aliviada,
porque de todas as formas o Cory estará longe da Viviane e porque eu sei
que ele será monitorado de perto por todos.
Ele ri.
Volto a rir porque é inevitável, só que eu sei que para o Mosés ficar
cinco meses e meio sem sexo direito talvez tenha sido como viver uma
eternidade sem fazer uma necessidade básica.
— Eu prometo.
Sei que pensarei em algo, a safada que habita em mim fará isso
muito bem.
— Nem olhe para mim, eu só sou o cara que quer te dar sexo.
— O que significa...
— Eu sei que teremos, mas não vou me desgastar com pessoas que
acham que eu tenho que estar à disposição deles.
— Agora sim você está parecendo o seu pai e os seus tios falando!
— Você entendeu.
— Estava pensando sobre o que a Sophie disse sobre você ter outros
bebês — Mosés coloca mais uma roupa dobrada dentro da segunda gaveta
escondendo um sorriso. — Já pensou se isso acontece?
Eu evito bebês por muitos motivos e um deles é que meu trabalho
tem sido minha prioridade assim como minha família também tem sido.
Depois da gravidez dos gêmeos chegou esse momento em que decidi
mutuamente com o meu esposo que não queríamos mais ter filhos, desde
então eu tomei contraceptivo durante um tempo e nos últimos anos uso
DIU.
— Eu chorava!
— E como acha que seria para mim ser mãe aos quarenta e tantos
anos?
— Normal?
— E mais uma vez você está querendo dar ouvidos a quem não faz
parte das nossas vidas.
Não achei que ouviria isso vindo dele com tanta simplicidade e
carinho.
— Mas é que para mim você sempre foi completa, sabe? Então é
complicado imaginar isso na prática, é difícil até de imaginar que alguém
não te veria como eu te vejo.
— Sei que é cansativo demais para você ter que passar por esses
processos desgastantes, antes de ontem no restaurante eu me senti bastante
desconfortável em ouvir aquela mulher falando aquilo sobre você.
— Eu gostei muito da sua atitude, apesar de saber que o seu pai não
aprovaria.
— Ele chamou minha atenção hoje cedo sobre tudo isso, também
falamos sobre o Cory, nem tivemos tempo de falar disso direito.
— E aí?
— Ah, eu sou?
Pego novamente meu Macbook e volto a analisar os relatórios que
foram enviados ontem e hoje pela governança, outros pela ouvidoria, são
coisas que costumo analisar, mas que basicamente acumulei quando decidi
viajar com o Mosés. Sei que para ele não tem sido assim tão difícil olhar
tudo isso ou participar das reuniões da empresa, ele é mais rápido nesse
sentido, já eu costumo ser um pouco mais analítica e detalhista.
É, de fato!
— Você não se vê quando está com ciúmes, mesmo que isso seja
fofo e doentio algumas vezes — respondo e analiso um outro e-mail que a
Marcy me enviou mais cedo. — A Marcy enviou e-mails sobre o novo
programa ambiental, já deu uma olhada?
— Já sim, enquanto a madame dormia no voo — ele responde e
coloca as nossas nécessaires individuais sob a escrivaninha.
Ele se aproxima tirando a camisa que vestiu para vir para cá, já está
descalço desde que chegamos, a minha boca se enche quando ele ergue os
braços e observo os músculos do abdome dele se contraírem e se
expandirem, o peitoral firme e essas entradinhas, mas desvio o olhar para a
tela porque ainda é — e acho que sempre será. — constrangedor olhar para
o meu marido como uma cadela no cio disposta a transar com ele só porque
ele se tornou esse incrível gostoso depois dos quarenta.
— Vinho ou café?
Você!
— Hum..., bem, acho que um café, podemos trabalhar até tarde hoje
e descansar um pouco amanhã até a hora do baile.
— Ok.
— Nada.
Meu Deus!
E ele é apenas...
Mosés segura meu pescoço com força e pressiona minha carne com
uma penetração mais ligeira, franzo a testa e arfo sentindo o impacto
profundo dentro de mim fazendo com que meu corpo se estremeça por
completo de tanto tesão.
Inclino o corpo para frente e ele vem mais forte me dando um tapa
bem servido na cara, apertando meu pescoço com mais força, puxo o ar
sentindo-o vibrar comigo, minha intimidade tão sensível que ele desliza
para dentro e para fora.
Sou liberta quando estou prestes a gozar, então ele para e fica me
observando espremida entre ele e a parede, toda trêmula, nas pontas dos pés
para alcançá-lo, toda arfante e molhada.
Ergo a cabeça e sua mão solta meu cabelo e toca meu pescoço, ele
vem me penetrando longamente como se me experimentasse, com a mão
livre aperta o meu seio e o contato quente de sua mão quente e suada me faz
gemer.
Olho para baixo e vejo a rua movimentada, isso faz minhas pernas
sentirem um frio esquisito, algo que me dá medo, mas só consigo me sentir
ainda mais úmida, como se o risco aumentasse o desejo de prazer que ele
alimenta nesse exato instante.
Talvez seja o frio que causa arrepios dos pés à cabeça, a sensação de
altura, a adrenalina e toda essa sensação que nunca experimentei antes, a
falta de pudor e de vergonha, eu não sei, mas vai me subindo um calor
estranho das solas dos pés até os tornozelos, logo em seguida por minhas
canelas até atingir minhas coxas.
— Aí tem um ralo.
— Eu estou.
Sua mão segura meu seio e ele o aperta se enfiando debaixo do meu
braço pela lateral do meu corpo, abocanhando-o e sugando-o com força,
sopro me movendo com ele novamente, dizendo para mim mesma um
enorme “por que não?” mentalmente.
É ele tinha razão, nossa primeira vez com isso foi simplesmente
maravilhosa.
ALGO PRECIOSO
Ele está com a mão enfiada nos meus cabelos acariciando meu
couro cabeludo sem pressa, as pernas abertas, todo relaxado enquanto estou
deitada sob seu corpo de bruços, tocando sua coxa.
Rio e ele também, me ergo e vou colocando alguns beijinhos por seu
peito e subindo pela trilha até seu pescoço, apoio a cabeça no travesseiro de
lado e ele me olha afastando meus cabelos para trás.
— Não quero ponderar com você, amor, somos casados, essas coisas
são normais entre casais.
Nunca o recriminei de forma tão severa é claro, sei que essa foi uma
forma que ele encontrou de viver sua infância também. Como quando ele
comprou as bicicletas das meninas e comprou uma novinha para ele da
mesma cor e modelo para adultos só para poder andar de bicicleta com elas
ou quando ele deu aos meninos uma bola e ficaram por horas chutando bola
no jardim de casa.
Akim saiu da água todo afoito e risonho, nem parecia que tinha
caído de cara na fonte, claro que não era de rir, mas eu acabei rindo muito
de nervoso, sequei a cabeça dele e os braços juntamente com os ombros,
levamos alguns minutos até retornar ao ritual, acho que foi a primeira vez
que vi o meu pai rir tanto na vida, ele e os meus tios pareciam eufóricos
com a cena.
Para nossa alegria temos os vídeos, para o azar do Akim até hoje os
tios dele e os avós acabam dando muita rizada desse momento com humor,
mas ele sabe que tem um lugar especial no coração de todos assim como
seus irmãos que também capricharam em outros momentos em eventos da
família ou em casa.
— Acho que fiz um bom trabalho, ele se tornou um excelente
nadador — Mosés comenta fazendo uma cara de modéstia que só ele.
— Não esqueço a cara dele quando consegui pegar ele da fonte, ele
saiu com os olhos arregalados olhando para os lados todo assustado, mas
rindo.
— Você acha que eu não me lembro que você uma vez deixou as
meninas sozinhas na banheira e quando eu subi no quarto elas haviam
inundado o banheiro?
— Isso não foi minha culpa, ainda não sei como tiveram força para
abrir aquelas torneiras.
Vivemos tantas coisas boas nesses anos, mas não deixa de ser
assustador que não pensei sobre isso com tanto cuidado e zelo como agora.
Acho que é assim que a maioria das mulheres que são casadas há muitos
anos se sentem quando precisam tomar alguma decisão definitiva sobre a
relação.
— Eu amo você.
É tão forte vivenciar isso depois de tudo o que passamos juntos.
— Eu sabia!
Acabo por rir e ele também, mas confesso, talvez eu pense mesmo
com carinho nisso num futuro próximo, agora me parece muito mais
interessante só praticar.
O BAILE
“Bom dia, meu amor, espero que tenha acordado bem, sei que
acordou, seu tio me ligou e pediu que eu fosse me reunir com ele, não quis
te acordar, você está dormindo tão bem. O seu pai me enviou mensagem e
avisou sobre nos reunirmos, acho que agora definitivamente entrei para o
clã. Aproveite o resto do seu dia para ir ao Spa do hotel e descansar, estou
levando minha roupa, nos vemos a noite.
Mosés enviou fotos da Nina mais cedo, fiquei rindo ao ver a pobre
da cachorra toda mimada dormindo na caminha que ele comprou para ela,
depois outras fotos foram surgindo e exibindo o meu pai segurando um taco
de golfe e reconheci o local logo de imediato, logo em seguida ele mandou
selfies dele ao lado do Dominic, do Tom, e do Nando, isso me fez sorrir,
porque sei que sinceramente é importante para ele voltar a rotina de
inclusão familiar.
Não que ele tenha sido tão excluído assim, sei que papai se
empenhou em mantê-lo por perto, mas dadas as circunstâncias eu sei que
ele não se sentia nada a vontade para estar assim tão próximo da família do
meu pai.
Eu também sei que o meu pai tentou muito fazer com que eu e
Mosés tivéssemos conversas ou uma reconciliação durante os meses de
separação, ainda que ele assim como eu acreditasse no que vimos nos
jornais e nas redes sociais, só que foi algo que eu optei por não fazer.
Assim que eu e o Mosés nos separamos eu pedi ao meu pai que não
se metesse nisso, que era meu casamento e minha vida e que nem ele e nem
ninguém da família tinham o direito de interferir em nenhum sentido.
É claro que eu sei que ele conversou com o Mosés, ele é o meu pai,
o conheço o suficiente para saber que devem ter tido um diálogo cheio de
hostilidade, papai não é um homem de medir palavras e o meu marido sabe
ser um cavalo quando quer.
Enviei uma selfie da minha cama com meu Macbook aberto e o Ipad
ligado, logo em seguida atendi a uma ligação de vídeo da Sêmora e soube
que deveria trabalhar um pouco.
Sei que para ele tem sido uma maratona cansativa porque ele está lá
para participar ativamente de tudo enquanto eu fiquei com a parte menos
burocrática e mais analítica. Ele estava trabalhando muito mais do que eu,
eu sei, porque haviam dias que para mim era insuportável acordar e lidar
com tudo.
Sei que isso será a curto prazo porque em algum momento algumas
funções serão mais só de tomada de decisão já que vamos meio que
terceirizar algumas funções para novos diretores.
Então começamos nosso dia com uma reunião online com alguns
diretores, tive que juntar um pouco de paciência quando ouvi as exigências
dos meus renomados colegas da empresa e fiquei por momentos relendo
essas novas condições que eles gostariam de inserir na promoção que eles
desejaram inserir devido aos termos que eu e Mosés colocamos há alguns
dias durante as reuniões.
Sei que alguns diretores não gostam de mim pelo exclusivo fato de
que sou mulher, não preciso de tanto esforço para ver que em algumas
reuniões eles trocam sorrisos e elogios com o meu marido, mesmo o Mosés
sendo mil vezes mais rigoroso e direto que eu.
Só que é um meio onde aprendi a saber como lidar para ter uma boa
produtividade e resultados.
É muito fácil para cada um deles viajar toda semana, ficar até tarde
no trabalho, tirar apenas um dia de folga em épocas do ano, afinal de
contas, todos têm esposas que cuidam de suas vidas pessoais em casa, dos
filhos, de todo o resto.
Respirei fundo e guardei tudo dizendo para mim mesma que teria
uma longa tarde de beleza pela frente e isso me fez lembrar de alguém do
qual me comprometi a ajudar. Sorri e mandei mensagem para a Sêmora
pedindo que ela entrasse em contato.
Sei que sendo ou não de última hora ela daria o seu melhor em
quaisquer hipótese.
Pedi que a cabeleireira fizesse uma trança raiz nos meus cabelos e
ela colocou pequenas presilhas com pingentes em formato de flores
amarelas, achei que combinou muito comigo e me deixou até um pouco
mais jovem. Já a minha maquiagem escolhi algo mais leve, pouca base,
uma sombra em tons claros nos olhos, pouco delineador e ela até colocou
cílios postiços em mim, um batom cor de rosa suave e quem diria, fiquei tão
bem.
— Chegamos, senhora!
— Obrigada.
Noto os flashs assim que saio do carro, puxo a saia enfiando a alça
da bolsa no pulso e puxo o restante da saia para fora do carro subindo na
calçada de tapete vermelho. Não achei que o meu esposo me receberia
porque sei que o fato de papai estar aqui fará com que a imprensa não se
sinta na liberdade de dizer nada ou questionar nada.
Mesmo que ele saiba que eu não vou dizer nada sei que ele quer me
proteger a todo custo de perguntas constrangedoras, quer que eu não me
sinta desconfortável com nada que possam dizer e sabe muito bem que as
pessoas jamais fariam isso em sua presença.
Arrumo a saia no corpo e papai puxa a parte de trás do vestido para
o lado, ele ergue o braço e passo o meu por debaixo do dele, isso me faz
sorrir mais uma vez, porque sei que o que ele tem de educado e gentil
quando quer, quando não quer tem de jumento.
— Obrigada, papai!
Sei que para essas pessoas agora eu não passo de uma corna que
perdoou o marido por suas traições e que aparenta fingir que nada
aconteceu, mas bem, eu sei que não é assim, eu sei a verdade e não dou a
mínima para o que pensam ou dizem.
— Eu cheguei, sogro, posso assumir daqui.
Eu vejo esse homem alto usando um traje azul escuro com meias
cano alto e sapatos reluzentes e por alguns segundos eu perco um pouco da
atenção, como se precisasse mesmo constatar que ele é meu.
Só meu.
Passei meses tentando me convencer de que não era, mas isso não é
verdade, nunca será.
— Sim senhor!
Bem, tive que seguir regras ao meu envolver com ele em vários
sentidos, agora ele se incomoda porque sabe que o nome do meu pai é mais
importante que o dele e que papai tem uma reputação a zelar e ele tem que
fazer isso porque está comigo.
É interessante pensar o quanto o mundo dá voltas, era contadora
dele, virei sua secretária, depois sócia, meu nome era totalmente anônimo e
insignificante, hoje sou dona da maioria das ações da empresa e tenho nome
relevante socialmente.
— Demorei muito?
— Não muito.
Para não dizer o mínimo é claro porque ano passado ele deu uma
viagem com tudo pago para a Turquia para os donatários mais generosos da
noite. O tio Jonas tem aquela coisa de querer que doemos o suficiente, mas
que promove essas festas para arrancar muito mais dos outros,
principalmente dos milionários muquiranas.
— Eu sei que não tive, mas fui responsável por não ter sabido lidar
com tudo isso como se devia.
Acho que ele se sente responsável porque o papai está incumbindo
essa culpa nele e mesmo que entenda o meu pai, não quero que ele fique
martirizando o Mosés pelo que houve.
— Não estou chateado, ele foi sincero, mas não foi tão rude, depois
que falou tudo isso me deu um abraço e disse que está feliz demais por nós,
que sou como um filho para ele, em quinze anos ele nunca me disse algo do
tipo.
— Ah, amor!
— Titia!
Eu noto que ele está com aquela cara de “perdi o garoto, ufa, achei”
porque reconheço isso do meu marido, cansei de ver ele sair procurando
uma das crianças pelo jardim desesperado enquanto elas se escondiam dele
dentro dos armários da cozinha.
— Vou buscar uma água, ah, e parabéns por terem voltado, estamos
muito felizes por vocês, de verdade — ele fala discretamente e lança um
olhar para o filho. — E você não conta para sua mãe que eu te perdi.
Eu e Mosés acabamos por rir enquanto seu pai se afasta dando uma
de durão.
João Lucas sorri todo sapeca e abraça meu esposo, ele é tão
carinhoso, acho que de todos os filhos da Lottie ele é o mais carinhoso de
todos. Confesso que também o fato da Ângela ter nascido com deficiência
visual fez com que toda a família se concentrasse muito em dar amor e
carinho incondicional para eles.
Passaram por maus bocados quando ela nasceu, a pequena é uma
verdadeira vencedora.
— Ah, você está aí, não é seu pestinha? — a voz de Clint é cheia de
humor e preocupação. — Oi tia, oi tio! Que bom que vieram!
Sei que todas as intenções da nossa família são para que fiquemos
juntos, eles sabem que eu e o Mosés nos amamos.
João Lucas leva alguns segundos para pensar, depois se solta dos
braços do meu marido e escorrega para o chão, ele dá a volta na cadeira e
depois vai correndo para Clint. Clint que já está quase terminando seu curso
de direito na faculdade pega seu irmão mais novo no colo e o abraça de um
jeito fraternal.
Eu sinceramente sei que a Lottie demorou bastante para ter filhos,
que o Clint é fruto do primeiro casamento do Dominic, mas ainda me
pergunto, como é que ela consegue administrar tantos filhos com idades
diferentes de uma só vez.
— Vou atrás do papai, ele deve estar atrás de algum lugar para
chorar, da última vez que esse capeta sumiu, ficou três horas escondido
dentro do armário da cozinha, ele quase infartou e a mamãe por pouco não
terminou o serviço.
— Sei.
Aproveitei para enviar fotos da festa para o grupo das crianças, eles
não paravam de comentar como gostariam de ter vindo, mas também se
mostraram bastante felizes por estarem na Flórida.
Já acenei para uns trinta parentes, para o tio Jack e para a tia Duda,
também para o tio Jonas que tentou por duas vezes chegar a minha mesa,
mas não conseguiu porque diversas vezes o pegavam pelo caminho.
É claro que minhas pernas estão meio nervosas, apesar de que sei
que danço bem, não dançamos uma boa valsa há bastante tempo.
Mantenho a mão erguida junta da dele e me sinto tão chique, não sei
explicar.
Maravilhada eu diria.
Onde todas as coisas conspiram para dar certo, onde tudo é por uma
fração de segundo perfeito.
Rodo indo de encontro até ele, gargalho e olho em volta vendo que a
dança continua enquanto paro e ele me abraça por trás me embalando nessa
dança mais lenta, não consigo parar de rir.
Isso é tão contra tudo o que ele é, isso é muito mais do que ele
sempre conseguiu ser.
Ele dá uma volta inteira e fica diante de mim, logo vejo-o parado
diante de mim cantando enquanto vai se inclinando para baixo e se
ajoelhando, nesse momento vejo todos os meus tios se ajoelhando e
erguendo os braços para cima.
Meu tio Jack faz uma cara de tédio tão grande que só consigo rir,
realmente, socorro, fizeram o tio Jack — o mais mal-encarado dos irmãos
Carsson — se prestar a esse papel?
Meus coração se enche tanto de amor por ele que mal sei descrever
isso.
— Eu te amo tanto!
Não espero por resposta, me inclino e dou um beijo nele, mas não
apenas um beijo, mas um beijo do meu mais puro e singelo amor, com todo
significado por minha gratidão a ele por isso.
— Já pode me chamar de encantado, viu? — ele pede entre o beijo.
— Meu encantado!
EM ALERTA
Da última vez que ele fez uma surpresinha parecida foi durante
nossa dança de casamento.
Começo a pensar que talvez por isso ele veio passar o dia com
minha família, eles tiveram que ensaiar isso, eles devem ter tido um
trabalho enorme para dançar de forma sincronizada.
— Senhora Carson!
Conta com tantas suítes que eu não me recordo o número exato, tem
também salão de jogos, uma piscina na outra lateral com área com
churrasqueira e até mesmo um lago com fonte nos fundos.
Será que devo dar uma gorjeta? Deixei minha bolsa sob a mesa.
— Eu não quero gorjeta — ele fala e seu tom de voz parece mais
grave.
Estamos longe o suficiente para que ninguém que esteja tão perto da
porta possa ver.
O rapaz se inclina devagar e minha reação não poderia ser diferente,
pulo para o lado e seguro meu vestido, então me levanto e começo a correr,
não tenho muito tempo, não consigo dar nem alguns passos para longe e
sinto um puxão forte nos cabelos.
Solto um grito enquanto meu corpo vai para trás, chuto o sapato
com os pés para longe enquanto meu corpo tromba de encontro o dele e ele
coloca a mão na minha boca me impedindo de continuar gritando.
— Eu não quero! Não! Para! Eu não quero — grito bem alto num
tom de súplica. — Me solta! Eu já disse que não quero! Eu sou casada! Por
favor, pare!
Tento puxar o ar, contudo, a pressão contra minhas costas é tão forte
que não consigo emitir som algum. A mão dele se enfia dentro das saias do
meu vestido e logo em seguida ele começa a tentar tatear minha bunda.
Ergo as mãos para trás tentando impedi-lo, mas ele enfia a mão nos
meus cabelos e bate com a minha cabeça novamente na pedra do banco,
minha visão treme e meu corpo estremece com a dor da pancada.
A minha visão fica meio turva mais uma vez, mas tento espernear e
junto toda a força que tenho para me mover, ele pressiona minhas costas
com todo o peso da perna mais uma vez e meus pulmões são esmagados
com força fazendo com que eu solte um gemido alto de dor.
Meu marido vai para cima do ruivo com toda força e acerta dois
socos no rosto do canalha, o homem cambaleia, mas não caí, ergue os
punhos disposto a brigar, noto que tem sangue escorrendo pelo nariz do
Mosés e um pequeno corte no canto de sua boca.
Mosés tenta se soltar dos braços de papai, mas não consegue, está
arfante e suado, sangrando, isso ainda não parece nem de longe impedi-lo,
meu tio Phelipe vem de encontro a mim enquanto tio Jack e tio Alejandro
ficam de frente para o Mosés.
Tio Jack segura as faces dele com as mãos fazendo com que ele o
fite, Mosés se recusa a olhar no rosto dele e continua a olhar para o homem
que se contorce deitado no chão da grama.
Mas acima de tudo esse medo desolador por trás das camadas dos
mistos sentimentos.
Sinto uma mão suave tocando a minha testa e escuto o som do choro
baixo da Safira, pisco devagar e minha segunda mãe está vindo conosco
toda preocupada.
— Você vai com ela — ouço papai dizer para Mosés. — Cuidamos
disso por aqui, fique despreocupado, a Ana precisa mais de você.
— Sim senhor.
Acabou.
ALGO ISOLADO
— Ele teve sorte que eu não gastei o meu réu primário hoje à noite.
Meu tio sai do quarto com sua mala, Mosés vai até a porta e depois
de trancá-la vem para a cama com uma cara fechada que só Deus sabe.
Fico triste que tudo isso tenha acontecido nessa noite, pior conosco.
— Ele pressionou a perna com tanta força nas minhas costas que
perdi o ar e apaguei por alguns instantes.
Sei o que teria acontecido e não gosto de lembrar, a imagem dele tão
fora de si espancando aquele homem, teve que se contido por três homens
para não acabar cometendo uma loucura.
Eu sei que isso seria mil vezes pior para o Mosés, por mais que no
momento da raiva ele estivesse num ritmo frenético quando voltasse a si e
visse o que fez, bem, conhecendo-o bem sei que não se arrependeria por ter
feito uma desgraça com o sujeito, mas por nossos filhos ele lamentaria
muito.
É algo que ele tem feito bem, mas não é algo do qual ele poderia
esquecer jamais, nem com mil anos de terapia.
Estico a mão e coloco sob as mãos dele, quando ele ergue a cabeça
está com os olhos cobertos por uma camada fina de lágrimas, a intensidade
disso me estilhaça mais uma vez, saber que ele reviveu o trauma, que ele
lembrou de tudo o que aquela mulher lhe causou.
Eu sei que ele se sentiu péssimo quando viu aquele homem nojento
me sufocando porque ele também foi uma vítima por anos de muitos abusos
e ele era apenas uma criança muito pequena quando tudo começou.
Tudo o que o Mosés viveu só reforça para mim todos os dias desde
que eu soube que existem pessoas que deixam marcas tão profundas em
nossas almas e vidas que se não desistirmos temos que sobreviver a todos
os dias pelo resto de nossas vidas tentando costurar todo o dia com agulhas
pontudas e linhas finas, os buracos que causaram.
Isso não parece surtir efeito nele, seu olhar continua vidrado e sei
que em pensamentos ruins.
Mas, francamente? O meu tio sabe de tudo sobre todos nós, ele
quem cuida da segurança de basicamente todo mundo, ele cuida para que as
coisas fiquem bem, o vovô já está velhinho assim como a vovó também já
está de idade, atualmente Jack quem cuida de tudo.
— Seu tio Richard me disse que lamentava por tudo o que eu passei,
eles dois me deram muitas palavras de apoio, disseram que não devo sentir
medo ou vergonha de nada, que eu não tive culpa e que sou a vítima. Que
isso não mudava a forma como eles me viam e que sou sobrevivente. — ele
faz uma breve pausa e sua voz se embarga. — Fiquei com vergonha, mas
seu tio Jack disse que eu não tenho que me envergonhar com nada, que tudo
o que eu passei não me torna menos homem e que eles se orgulham de
saber que você é casada comigo, confesso que chorei um pouco.
— Sei que tudo isso abalou eles dois, senti isso, acho que por isso o
seu tio tentou me acalmar, tive a sensação de que ele já passou por algo
assim, que o Richard também.
Mosés falando isso agora me faz pensar com cuidado nessas coisas.
Meus tios são homens bastante reservados e de família, são carinhosos e
preocupados, possuem gestos protetores por todos da família.
Eu não posso dizer que são homens super soltos e desinibidos, pelo
contrário, a maioria deles assim como meu pai costumam ser bem na deles,
porém, algo do tipo nunca se passaria pela minha cabeça.
Só que não deixa de ser triste de pensar que passaram por isso
também.
— Não era por mim, era por você, amor, eu nunca, nunca permitirei
que alguém abuse de você. Quando nos conhecemos eu tinha vergonha e
me sentia um fraco, depois que começamos a namorar mesmo com todas as
coisas enfiei essa vontade de te proteger no meu coração.
— Você não é, ele é um monstro abusador, seu tio Alê está cuidando
de tudo, por sorte foi um caso isolado e não atrapalhou o baile. O Jamie foi
lá na cozinha para conversar comigo, a Sêmora também perguntou por
você, ficou preocupada.
— Eu estava tão zonza que nem sei como o meu tio me trouxe e por
onde passamos, tadinha da Safi, como ela está?
— Foi tudo tão rápido, me sinto idiota por ter acreditado nele —
lamento com tristeza e certa chateação. — Pensei que você queria me
encontrar a sós, que poderíamos conversar, eu estava tão feliz com nossa
dança que nem pensei duas vezes.
Graças a Deus!
Sei que seria complicado ir embora com tantos olhares sob nós.
— Gostou da surpresa?
Aperto os dedos entre os dele e faço que sim com a cabeça, Mosés
se inclina e coloca um beijo na minha testa, carinhoso, gentil, bom.
Não mesmo.
Devia isso ao Mosés, não pelo nosso casamento, pela separação, não
por tudo o que houve sobre a suposta traição, mas porque eu não confiei
nele o suficiente para acreditar que ele estava certo.
Sabe que seja como for, nunca mais eu irei duvidar dele em nenhum
sentido.
Nunca mais.
OUTRO DIA
Ergo a outra mão e toco seus cabelos enfiando os dedos neles, ele
beija a minha barriga e depois espalma meu monte de vênus com mais força
abocanhando meu seio direito novamente, sugando-o com mais intensidade.
Estou satisfeita de notar que ele dormiu a noite toda mesmo com
todos os acontecimentos de ontem, não gostaria que o Mosés ficasse tão
machucado emocionalmente ao ponto de perder a noite de sono.
Os lábios dele tocam os meus num selinho e logo sem seguida, ele
me abraça colocando metade do corpo em cima do meu de forma natural.
Acredito que fomos dormir por volta das 00:30 por aí.
— Deve ter sido a surra — Mosés diz e pega meu celular então
começar a digitar na tela. — Vou mandar mensagem para as crianças e para
a Dulce, quero saber se a Nina está se comportando bem.
Meu esposo se inclina para trás e toca o meio das minhas costas, faz
cara feia.
— Muito feio?
Acabo rindo da voz manhosa que ele faz, mas decido fazer uma
brincadeira.
— Tá — respondo e suspiro.
— E não vai.
Duvido muito que papai fale qualquer coisa que seja, não é muito do
tipo que age assim, porém, entendo meu esposo.
Eles nunca fariam ou falariam nada para que ele se sentisse mal
nesse sentido.
— Agora não tem mais graça — justifico e faço bico. —, mas posso
pensar nisso até a noite.
— Eu aceito!
— Parece justo.
— Eu não quero que lamente por nada do que houve ontem, tá?
Nem que se martirize! — digo entre o beijo. — Você não deve se sentir mal
por nada do que houve na sua infância, você não teve culpa de nada.
— Não é uma coisa que eu possa esquecer, amor — justifica, mas
calmo.
— Eu sei que não, mas quero que se lembre de todo o carinho que
aquele menininho merece, de todo amor e de toda compreensão. Eu sei que
em algum lugar dentro do seu coração você sabe que ele merece muito isso.
Ele faz que sim com a cabeça, sei que isso é muito importante para
ele, mesmo que esteja em seu passado e que hoje ele seja bem resolvido
com isso, algumas feridas em determinados momentos sempre se abrem.
— Achei que vocês dois não iriam mais sair daquele quarto!
— Sim.
— Nós nem nos vimos ontem! — Lucinda sua esposa fala dando um
abraço caloroso no Mosés e depois vindo me abraçar. — Tudo bem,
querida?
Ela é um pouco mais da mãe que sempre desejei ter desde pequena.
— Ela está bem, meu amor, não precisa se preocupar — papai diz se
aproximando todo nervoso. — Você sabe como ela é, não sabe? É chorona!
Estou emocionada.
Mamãe sorri, sei que se preocupa muito conosco, que sabe das
minhas dores, por mais que nos últimos meses eu a tenha afastado assim
como afastei a todos. Ela não deixou de me enviar mensagens ou me ligar,
tentar aproximações.
Eu me afastei de todos da família porque foi o que pude fazer,
porém também por conta da vergonha que senti devido a exposição, ainda
que eu soubesse que não haveria julgamentos, sei que seria complicado ter
que ver todos por perto e agir como se fosse normal.
Sei que todos estão rindo muito com a cara de cachorro medroso
que ele está fazendo, Mosés inclusive o abraça com riso aberto.
Foi algo isolado, sei que em algum momento todos foram voltando
para a festa, disfarçando, fingindo que nada havia acontecido.
Outro escândalo envolvendo a mim e ao meu marido é algo do qual
nenhum de nós queremos.
— Dá para acreditar que ele nos fez dançar? — tio Richard indaga
perto da mesa. — Levei muito tempo para construir a minha moral e ela ser
destruída assim.
— Venham tomar café logo antes que esse bando de bebum comece
a beber — mamãe aconselha e vai me indicando a mesa do terraço coberto.
Tio Alejandro vai indicando uma das mesas perto da piscina para
que Mosés vá para lá, vejo meus tios e primos irem andando também para
esse rumo, papai vai para a churrasqueira enquanto minhas tias vão indo
para o rumo da mesa enorme do terraço.
Acho que agora vão conversar e eu sei que essa conversa será
fundamental para que saibamos o que aconteceu com aquele monstro.
Olho para a minha tia Maria e faço que sim com a cabeça.
Faz tanto tempo que não me reúno com as minhas tias e com a
minha mãe. Sinto falta de alguém.
— E as bebidas da festa?
Sei que não estava nos planos de ninguém ficar, todos tecnicamente
voltam para suas casas ou hotéis depois dos bailes. Nem mesmo o tio Jonas
fica para dormir porque essa casa não estava pronta para isso.
— Não precisava de tanto, tia, sei que vocês têm suas vidas...
— Queremos que saiba que nós lamentamos por tudo, meu amor —
tia Maria diz e passa a mão nas minhas costas. — Você pode contar
conosco, se quiser conversar estamos todas aqui.
A tia Helena vem logo atrás usando uma saia longa de estampas
claras e uma blusinha de alças, meu tio Nickolas entra carregando sacolas
enquanto tio Dani vem carregando mais sacolas, ambos usando calções de
banho coloridos e camisas folgadas e leves.
— Ela ficará bem — mamãe troca beijinhos faciais com tia Jô.
— Estou sim, tio Nick, você nem se juntou aos meus tios para a
valsa.
— A sua tia não pode vir — tio Nick guarda a última caixa. — Na
próxima pode deixar que eu venho.
Sei que é tolice, tenho quarenta e quatro anos, sou adulta demais
para isso, mas é tão bom saber que meus tios me tratam bem ao ponto de
saberem o que eu amo comer. Se isso fosse na família da minha mãe
provavelmente me mandariam emagrecer.
Nunca fui criticada por minha aparência ou meu peso, aqui sempre
foi local de acolhimento e carinho.
— Eu preciso dizer que eu não tenho nem idade para ser avô, quanto
mais pela terceira vez — tio Dani o segue levando várias vasilhas com
petiscos.
— Graças a Deus que tudo foi resolvido da melhor forma — tia Gil
bebe dois goles de sua água com gás. — Você ainda está sentindo muita
dor?
— Seu tio disse que ele foi indiciado por tentativa de estupro, claro,
ele está no hospital tendo todos os cuidados devidos, tem um policial
esperando-o para levá-lo preso assim que tiver a alta. — tia Sarah revela. —
Espero que ele não saia tão cedo.
— E não foi, o Alê disse que ele já tem passagem por tentativa de
estupro e que já foi preso algumas vezes por vandalismo. Só que desta vez
ele se deu muito mal.
— Agora nos fale, como está sendo a vida intensa de sexo depois
que reataram? — Tia Sarah indaga fazendo uma cara de malícia que só ela.
— Isso tudo? — tia Gil arregala os olhos. — Sabia que depois que o
Blaise nasceu eu e o Ph nunca mais tivemos liberdade para nada?
— Três vezes por semana, garotas, hum-hum, não fico sem! — tia
Sarah nega com a cabeça.
— Todo mundo sabe que a pessoa que mais transa aqui são a Helena
e o Dani — tia Jô cochicha arrancando mais risadas de todas.
— E você que transou semana passada atrás do carro na garagem?
— tia Helena protesta escondendo o riso. — Quase que foram pegos pelos
cachorro do vizinho.!
Não sei se seria assim tão incorreto dizer as minhas tias que a minha
vida sexual anda bem agitada, mas vou deixar que usem a imaginação, no
momento parece muito mais interessante desfrutar de cada momento de
forma particular.
PEQUENOS ATOS
— Apleciando a vista?
Meus tios estão jogando baralho, meu pai está conversando com o
tio Richard e o tio Ph perto da churrasqueira, eu sei que eles normalizam
muito essa coisa de falar do hospital em qualquer momento do dia, mas
precisava ser perto da churrasqueira?
— Eu lamento que você tenha tido que ver tudo aquilo, Safi!
— Eu sei, bobinha!
— Você tem que pegar uma senha e entrar na fila — bebo mais um
gole de cerveja. — Não é a única.
No olhar, nos gestos dela, sei que está tensa de pensar sobre isso
assim como o Tom, ela mais do que qualquer pessoa sentiu na pele as
consequências de confiar e acreditar naquela megera.
— Sim, foi uma decisão multa, o Tom e o papai estão cientes, ele
será monitorado de perto.
Não esperava que ela fosse reagir assim, Tom e papai reagiram tão
mal.
— Não sei como seria se ele não houvesse aparecido na minha vida,
não quero pensar no passado com raiva ou mágoa. Cheguei tão longe para
me sentir mal por conta dela, ela não irá destruir quem eu me tornei.
— Sei o quanto feri você e o Mosés no passado, que isso fez mal,
causei os problemas do papai — ela vai falando devagar. — Não quero
mais ser aquela pessoa, nunca mais.
Ela quer dizer que o passado ficou para trás, que está feliz com seu
presente e que não deseja sentir raiva de si mesma ou da Viviane por nada.
Que se perdoou, só que ela sabe que como isso a marcou e como não pode
mudar nada em relação a isso, ela lembra disso como prova de que não se
ressente de nada.
Sorrio e abro os braços indo para ela, a abraço sem pensar duas
vezes, porque a Safi é de fato como uma irmã para mim, ela me conquistou
com o passar dos anos, ela me mostrou que apesar de tudo eu poderia se
capaz de amá-la.
— Opa!
Não deveria ser assim tão sexy te ver bêbado dessa forma abrindo o
chuveiro do banheiro.
Meio? Tadinho!
Mosés começou a beber para valer por volta das 17:00 e nem faz
muito tempo, não é algo do qual eu fique interferindo, quando estamos em
família procuramos aproveitar cada momento juntos e nos divertir.
Dou uma risada alta e ele se vira fazendo uma cara de bobão que o
deixa um pouquinho ainda mais viril, eu não sei explicar, nem notei que era
cerveja sem álcool, mas deve ser, é muito a cara do papai e dos meus tios
fazerem isso...
— Acho que por estar tomando remédio o tio PH não quis te dar
cerveja com álcool.
— Enfim, funcionou!
— Quer, é?
— Você também!
Rio, nego com a cabeça e ele acaba por rir também, me solta e pego
um pouco mais de sabonete líquido, despejo em seu peito rapidamente e
volto a lavá-lo.
Ah, amor!
— Porque você é!
Ele me dá um sorriso todo feliz e me abraça com força, sei que isso
significa demais para o Mosés, todo o contato que ele estabeleceu com os
meus familiares durante esses anos de convivência foi algo que fortaleceu
muito os laços dele consigo mesmo.
Porque ele cresceu sem ter uma família de verdade, foi uma criança
que passou por muitos lares ruins, então isso tem grande importância para
ele nos dias de hoje.
Mesmo que os pais biológicos dele venham visitá-lo uma vez por
mês, que ele mantenha contado com ambos sempre, que sua irmã biológica
venha nos ver a cada quinze dias ou vice e versa, ele ainda sente que
algumas vezes minha família é muito mais presente em sua vida.
— Me casei com você e ganhei tanto, sou grato Bê, muito grato
porque acima de tudo, você me ensinou que devo permitir que as pessoas
estejam perto de mim, que mereço ser amado como sou.
— Garoto, você não era tão fraco para bebida assim não, hein?
Será que precisaremos de mais motivos para que eu não faça o que
ele me pediu?
— Ana.
— Te acordei, queridinha?
Essa voz.
— Estava dormindo.
— Bem, eles estão viajando com meus pais, não estou junto.
— Eu sei que eles estão viajando com os seus pais, eu só quero
entender porque ele não atende as minhas ligações.
— Sei que você se esconde por trás dessa máscara de mãe boazinha,
mas não passa de uma controladora, ele me disse que você não o deixa sair
com os amigos durante a semana, não concordo com isso.
— Dinheiro esse que ficou numa conta para que ele usufruísse, meu
dinheiro!
— Com essa vida de dondoca que você leva, acho meio difícil que
você se sinta cansada, não é mesmo?
— Ele quem?
Eu quero que ela fale bem muito, mas bem muito mesmo, preciso
aproveitar todas as oportunidades porque elas serão evidências para nos
proteger de futuros problemas, bem como o Cory também.
— Você deve estar feliz vivendo a minha vida, mas de uma coisa eu
tenho certeza, pessoas como você que constroem uma família às custas da
felicidade dos outros uma hora ou outra caem.
Ela realmente acredita que eu roubei o Mosés dela, que roubei sua
chance de ser feliz, ela é definitivamente a pessoa mais narcisista e
desequilibrada que eu já conheci em toda a minha vida.
— Já que está tão convencida por que você não telefona para ele e
pede para que ele volte para você? Se o amor de vocês era tão imaculado
assim porque ele me escolheu? Eu não fui obrigação, não! Eu fui escolha,
Viviane, até quando você irá ficar repetindo para si mesma que eu criei tudo
isso?
— Você sabe o que fez, não sabe? Não pensou duas vezes antes de
dopar o meu filho e apontar uma arma para mim, você não pensou antes de
causar tudo aquilo a Safi e ao Phill.
Sem falar que isso causaria muita dor no meu filho, machucados
sem precedentes.
— Tá.
— O que foi?
Depois alguns votos de “bom dia” vim para cá, avistei meu tio de
longe, sentado no banco de pedra lendo um livro, tomando uma caneca de
chá, parecendo perdido em pensamentos profundos, tão calado ou até mais
do que de praxe.
— É sobre a Viviane?
— Preciso saber sobre ela, acho que dessa vez preciso estar munida
para que ela não acabe destruindo nada de novo.
— Preciso que entenda algo e sei que isso vai te custar muita
paciência e compaixão — tio Jack ergue a caneca e a leva até a boca então
bebe um gole curto de chá. — Viviane tem problemas mentais sérios.
Franzo a testa até meio surpresa, sempre soube que ela tinha
problemas mentais, mas não tantos nesse sentido.
— Eu não quero que sinta pena dela, mas acho que você sabe que
todos nós sofremos muito com problemas emocionais durante a vida. — tio
Jack olha para os arbustos mais adiante e parece distante. — E eu entendo
muito seu sofrimento, mas nesse sentido talvez não haja muito o que se
fazer.
— Aí você vai me dizer que ela sofreu abusos e que por isso ela é
daquele jeito!
— Ela foi estuprada diversas vezes pelo padrasto com apenas dois
anos de idade, Ana!
— Não espero que tenha pena dela, como eu já disse, eu sei que o
melhor para ela talvez fosse ficar internada, só que não é a realidade agora.
Sei também que te machuca muito saber disso e ter que lidar com o fato de
que ela é genitora do seu filho, só que eu sei o quanto é difícil lidar com
problemas emocionais.
— Lamento que esteja passando por isso, mas foi um risco que
decidiram correr quando adotaram o Cory.
Não esperava por essas palavras por parte do meu tio, mesmo que
me doa saber sobre o passado da Viviane porque nenhum ser humano
merece ser submetido a nada disso, achei que o meu tio me ouviria e que
não seria tão duro ou faria vista grossa.
— É injusto que eu te fale a verdade? Que faça com que você veja
que a forma como se sente não vai mudar o fato de que ela também não vai
se cuidar e viverá pelo resto da vida assim?
— Sei que não é justo, Ana, só que não posso me comprometer mais
do que já estou me comprometendo. Não há nada que possamos fazer de
diferente além de garantir a segurança de todos vocês. Não é algo que se
faça por vingança, você precisa compreender que não posso mudar nada
nesse sentido.
— Você não deve dar tanta importância para a Viviane, ela não irá
se aproximar de vocês como no passado, te dou a minha palavra de homem
que tudo o que estiver ao meu alcance eu farei.
Nossa!
— Sua postura sempre dirá mais sobre você do que sobre a Viviane,
Ana. Não importa o que ela faça, isso sempre te atingirá porque ela sabe
que você é insegura com isso e você não deve ser assim. Não pode achar
que ela vai te deixar em paz porque isso não vai acontecer e enquanto ela
souber das suas fragilidades e dos seus medos ela sempre exercerá controle
sobre você.
Agora que tenho minha resposta, sei o que não devo fazer.
Lanço um breve olhar para papai, ele entrou no quarto sem nem
pedir ou bater, os olhos azuis focados em mim de um jeito duro, imagino
que o Mosés tenha avisado para ele. Subi há alguns minutos e decidi que é
hora de irmos embora para nossa casa.
Pedi que ele tomasse banho e depois descesse para tomar café,
avisei que arrumaria as malas. Quando retornei ao nosso quarto ele já estava
acordado mexendo no celular, imaginei que fosse algo sobre a ligação que
recebemos na madrugada.
Ele também nem questionou, acho que sabe que devemos voltar
para casa e resolvermos isso da melhor forma possível. Fui pedir ajuda do
meu tio e ele se mostrou muito mais piedoso com aquela cobra do que
comigo ou minha família.
Acabou que mesmo depois de eu ter decidido que não deixaria que
ela atrapalhasse nossos dias, não está funcionando, ela está me afetando
sim, e não tem nem um mês que ela saiu do hospital.
— Ana está zangada porque eu disse para ela tentar lidar com os
problemas sem que isso a afete — tio Jack entra no quarto com as mãos
enfiadas dentro dos bolsos do short que usa.
— Ana, pelo amor de Deus! — tio Jack fala sem emoção alguma na
voz. — Eu só quis dizer que não deve se preocupar demais com isso, que
ela sabe que te atinge por isso faz isso e que no momento não há muito a se
fazer por conta dos problemas mentais dela.
Não serei conivente com a postura da Viviane, mesmo que ela tenha
todos esses problemas, na minha cabeça é algo do qual ela deveria tentar
cuidar, por mais que seja difícil, ao menos se medicar.
— Eu a entendo...
Meu tio sempre foi uma rocha, alguém do qual todos se inspiram e
se orgulham, nunca passaria pela minha cabeça que ele foi abusado também
na infância.
— Lamento que tenha passado por isso, irmão — papai fala para ele
com os olhos cobertos por lágrimas. — Foi ele?
Papai parece por dentro de algo que não sei, não faço a mínima
ideia, tio Jack faz que sim com a cabeça em silêncio. Acho que essa é a
primeira vez em muito tempo que vejo meu pai chorando.
— Quero que saiba por mim que se ela não houvesse passado por
tanta coisa ruim, eu mesmo providenciaria para que ela ficasse presa, mas
tive o infortúnio de ver os prontuários dela, de saber de sua história de vida.
Não é algo que nenhuma criança deva passar.
— Eu sinto muito que você passou por isso, tio, eu nunca poderia
fazer ideia.
Tio Jack retira as mãos dos bolsos e recebe meu abraço passando os
braços em volta de mim, me apertando com força. Me sinto péssima agora,
meu coração até dói de saber que ele passou por isso.
Papai se aproxima e nos abraça também todo choroso, acho que com
a idade essa carga emocional vem para ele vagarosamente. É algo do qual
não costumo presenciar tanto entre os homens da família. Não com tanta
naturalidade.
Olho para o rumo da porta e não solto meu tio, papai também não.
Ali perto da soleira, meu esposo está segurando uma vasilha com pedaços
de melancia, ao lado dele a minha tia Maria, ou melhor, Duda.
Ela sorri e troca esse olhar intenso com meu tio e ele sorri para ela
como se dissesse um segredo só deles, é algo do qual percebo sempre que
trocam olhares, algo realmente lindo e forte que parece fazer um pouco
mais de sentido agora.
— Sei.
Sorrio, meu esposo fica parado ao meu lado com os braços cruzados
como se esperasse que eu dissesse o real motivo por trás da choradeira de
momentos atrás.
— Eu não vou dizer, mas ao menos meu tio me garantiu que vai
resolver essas questões de segurança em relação a Viviane.
— Ah, então foi por conta dela que você fez os dois idosos
chorarem?
— Talvez.
Mas me trouxe reflexão tudo o que o meu tio Jack falou sobre isso.
Acho que só temos cargas de vida diferentes e saber como lidar com
isso para mim no passado foi algo complexo, hoje é algo do qual não vinha
me preocupando tanto até a Viviane reaparecer.
Porque o Mosés veio com uma bagagem maior que a minha, ex-
namoradas, uma infância difícil e muitos traumas, ele tinha tanta
dificuldade de estar perto do pai, da própria irmã, isso mudou bastante em
bons sentidos.
— Claro.
— Bem, meu tio me disse que teve acesso ao prontuário dela e que
descobriu que ela sofre com várias doenças desde pequena, algumas dela
desenvolveu devido a abusos na infância.
— Entendi, você ficou brava porque seu tio te contou que ela age
assim porque é doente e depois queria ir embora, então seu tio voltou aqui e
disse que tem que aceitar isso porque ela é doente e você decidiu ficar.
— Eu sei, só que quero que nós saibamos como lidar melhor com
isso e sei que não saberemos se não soubermos de fato quem é a Viviane,
sinto que por mais que você tenha dito sobre ela, ela ainda é uma
desconhecida.
— Sei que você não gosta de falar sobre esses momentos da sua
vida, mas como era a relação?
Ele entrelaça os dedos nos meus e me puxa para fora do closet, sei
que precisamos ter essa conversa porque foi algo do qual fizemos pouco no
decorrer desses anos. O episódio com a Viviane ficou enterrado no passado
e foi algo do qual não temos comentado.
Seu retorno traz à tona toda essa situação, só que também me faz
pensar agora no quanto eu e Mosés pouco falamos sobre ela em si. Me faz
pensar no quanto Viviane foi insignificante na vida do Mosés em vários
sentidos e teria sido na minha se ela ao menos nos desse ao luxo de ter sido
como a Sammy, entretanto, ela preferiu nos marcar.
— Não era só por isso, quando nos encontramos pela primeira vez
ela me fez realmente sorrir, foi gentil e divertida comigo, também sedutora.
Toco sua face, nutro grande admiração pelo meu marido, isso não é
novidade, mas ouvir esse tom de sinceridade em sua voz é sempre surreal.
— Foi uma anestesia, como que algo que te tira a dor por alguns
momentos, conhecer o Cory sem sombra de dúvidas me fez querer muito ter
uma família. Eu adorava ficar com o garoto, ele era carinhoso demais
comigo desde o primeiro momento em que o vi. — os olhos dele assumem
leveza. — Ainda me lembro da primeira vez que ela o levou para que eu o
conhecesse, ele sorriu para mim, sabe Bê? Ficou meio tímido e depois se
jogou nos meus braços me abraçando.
— Na mente dela é tudo tão distorcido que ela fez parecer que eu
roubei você dela, ela disse isso ao Cory.
Exatamente isso.
— Só que a mãe era rica e que o pai era falecido, na época eu não
liguei muito para isso, nem cheguei a conhecer a mãe dela, ela não falava
sobre nenhum parente ou familiar.
— Talvez ela tenha seus próprios traumas nos quais não sabia lidar.
— É claro que ela não sabia lidar, ela acordava e já cheirava uma
carreira de pó e bebia um copo de uísque. Teve um dia que acordei e
quando entrei no banheiro do quarto de hotel onde estávamos hospedados e
ela estava cheirando uma carreira de pó na pia do banheiro, o Cory estava
sentado na pedra da pia vendo tudo. Peguei o menino e o tirei dali na hora,
depois quando fui chamar atenção dela, Viviane disse que eu era um
exagerado, que ele só tinha três anos e que não iria lembrar de nada daquilo.
Meu Deus! Nunca achei que havia sido assim!
— Não sei bem sobre o passado dela, isso é algo do qual eu nunca
procurei saber.
— Sei o que via nos jornais, era um homem com uma notoriedade
incrível, mas também pelo que ela dizia, era abusivo e péssimo marido para
ela.
— Não sei se poderíamos acreditar na Viviane em relação a isso.
— Eu quero poder resolver isso da melhor forma, sei que ela fez
tudo isso por minha causa.
— Não foi por sua causa, não acredito que seja por você, você foi
apenas um meio que ela encontrou de expor a forma como se sentia.
— Acho que ela quis contar essa mentira para si mesma durante
todo esse tempo para se sentir menos culpada em relação a tudo o que
causou. Parece a desculpa perfeita para fazer o Cory acreditar nas intenções
dela.
— Sabe porque não acredito nisso? Porque ela teve muito tempo
depois que nos separamos para se reaproximar de mim, estive solteiro por
muito tempo antes de me envolver com você, porque então ela não foi atrás
de mim durante esse tempo?
É, tem isso.
— Meu herói!
— Não podemos dar poder para ela, Bê, não dessa vez!
— Demos sim, todas as vezes que ela usava a Safi e isso te afetava.
É verdade.
— Agora mais do que nunca não podemos nos deixar levar por
essas provocações dela.
Tomara.
CONCRETO
— Eu cheguei!
— É força do hábito!
— Então não pense, não aconteceu, sei que você está abalada,
amiga.
— Na minha forma de ver as coisas sei que ele está encantado com
a chance de conhecer a genitora dele.
— Esses dias têm sido uma loucura, né? Nem tivemos tempo de
conversar, você nem entrou em detalhes sobre a viagem, estou morrendo de
curiosidade.
Rimos, sei que a Sêmora tem trabalhado muito todos esses anos, de
forma leal e séria, mesmo que sejamos amigas fora da empresa, temos
trabalhado muito bem juntas. Também me dava bem com a Marcy, tive
sorte de ter pessoas maravilhosas comigo na empresa.
— Estou feliz demais que você e ele se entenderam, Rainha Bê, sei
que todos esses meses ambos sofreram muito com a separação.
— Eu nem falei com a minha advogada ainda, mas acredito que ela
já tenha noção de que não vou prosseguir com o divórcio.
— Ela enviou mensagens durante esses dias, eu falei que você tinha
viajado e que quando retornasse resolveria.
É uma pena que a Gisele tenha feito tudo o que fez, nunca duvidei
da competência dela, era uma excelente profissional.
— Antes de ontem ela escondeu meu cactos numa gaveta, levei duas
horas para achar, quando confrontei ela, a safada me comprou com
chocolates e nos convidou para um jantar com o meu irmão e as crianças,
fui basicamente forçada a aceitar.
— Parece que foi ontem que você era a fim do marido dela, né?
— Escuta essa, o Lion começou a sair com uma garota que tratava
ele feito um lixo há alguns meses, mas na cabeça dele isso iria funcionar
porque ela é bonita, foca nessa parte, ok? Tá prestando atenção?
— Não, eles não saíram de perto e quando ela foi ao banheiro, foi
sozinha, para mim pareceu só um aviso por parte dela para me provocar,
para dizer que meu filho agora tinha uma dona.
— Ele disse que ficou magoado porque nenhuma garota com quem
ele saía me agradava, que eu o fazia se sentir mal e que não tomava boas
escolhas. Eu disse para ele que não era obrigada a gostar de nenhuma das
garotas com quem ele saia, mas que eu nunca tinha dito nada para ele sobre
isso e que não quis parecer rejeitar a ideia de que ele namorava, só que ele
sempre levava garotas que eu sabia que não iriam levar ele a sério.
— O Cory nunca levou nenhuma namorada lá em casa, mas está
tendo um crush com a filha de um congressista — revelo pouco empolgada.
— Republicana!
— Isso é constrangedor!
— Ana, vai por mim, fica pior. Por volta das 19:00 ela desceu as
escadas já vestida dizendo que precisava ir, me pediu na cara lavada que eu
pedisse um Uber para ela, eu chamei e ela foi embora. Alguns dias se
passaram e ela não voltou a nossa casa, não precisei dizer nada.
— Conta logo!
— Ela deu um perdido nele, ele descobriu que ela tem namorado e
de quebra ainda recebeu um e-mail dela pedindo que parasse de ser
“inconveniente” e parasse de mandar mensagens para ela ou ela iria
processar ele.
— Pedi ao Junior para fazer uma pesquisa sobre ela, ele descobriu
que ela é filha de um advogado respeitado na cidade e que tem esse
namorado desde o colegial. Enviei a calcinha dela numa caixa para o
escritório do pai dela com um bilhete que dizia “Sua filha anda perdendo
muitas calcinhas, com os meus cumprimentos, Sêmora R.G.Cartier.”. Reza
a lenda que até hoje ela está enviando mensagens para o Lion pedindo
desculpas por tudo.
— Ele ficou bem, disse que ficará solteiro por uns tempos, o
Jammie conversou com ele também, acho que agora ele aprendeu a lição.
— Mas que ela é desaforada, ela é!
— Não é um barato?
Rimos meio alto, escuto o som de três batidas na porta e meu esposo
coloca a cabeça para dentro do quarto lançando um sorriso forçado para
nós.
— Desculpem incomodar, garotas, o Jammie disse que precisa de
você Sêmora.
— Amei o biquíni, mas acho que não fui a única, não é mesmo?
Acho graça.
Ambas caem na risada, mas é que eu as conheço tão bem que não
importa o que digam. Sêmora e Ayla também se tornaram boas amigas com
o passar dos anos, só que também são daquele tipo de pessoas que adoram
uma boa fofoca.
— Claro.
— Acho que você não nota o jeito como o Mosés te olha, Ana, é
sério!
— Ele não fez parecer que me via, Ayla, ele esqueceu de cativar isso
em mim, nós estávamos brigando muito e passando por uma crise feia nos
últimos anos. Tudo o que aconteceu para que nós nos separássemos foi o
estopim, sei que falhei de não confiar nas palavras dele, mas sinceramente?
Estava exausta.
— E no hospital? — questiono.
— Eu não sei o quanto isso afetou a mãe dela, mas imagino que por
ser uma mulher bem orientada isso a abalou bastante. Ela mal estava
olhando na cara da garota quando entrei no quarto, nem chegou perto do
neto. Fiquei me perguntando o quanto sou leiga de achar que não poderia
acontecer comigo e olha que sempre aparecem casos assim, nunca deixo de
me chocar.
— Que fofo!
Troco olhares com o meu marido, ele pisca para mim de novo e eu
fico um pouco mais constrangida, mas de todas as formas sei que esse dia
em família será mais que especial, será maravilhoso.
MAIS QUE INTENSO
Escondo o sorriso, ah, porque eu achei que ele não viria atrás de
mim?
Me viro para ele e o fito por alguns momentos notando esse olhar
coberto de desejo e vontade, depois Mosés pousa as mãos sob meus ombros
e os toca com delicadeza, ergo a cabeça entendendo o apelo repentino em
seu olhar oferecendo o pescoço para ele.
Ele avança explorando minha boca sem pudor, mas também com
paixão controlada, sua língua tomando a minha com força gentil, me sinto
um pouco tonta com o beijo, perco o ar e arfo me afastando um pouquinho.
— Me deixa te lavar?
— Sim.
Quem mais acreditaria que daria certo nesse mundo? Quem mais
levaria a sério? Ninguém levou no começo, quando toda aquela merda
aconteceu fui ridicularizada por conta do meu peso. Como se em algum
momento durante todos os meus anos de casamento todo o resto da
sociedade estivesse torcendo para que eu me divorciasse dele só para terem
o prazer de dizer “sempre soube que era fachada”.
Ele se inclina mais uma vez e me beija com ardor, me inclino para
frente e o agarro mais uma vez pelo pescoço, Mosés abaixa as mãos e me
segura as coxas, assim de um jeito fácil me ergue do chão puxando minhas
pernas para cima.
Me sinto fora da esfera, fora da realidade que sempre foi, mas tão
dentro disso tudo que não sei como explicar para mim mesma. Todas as
vezes são aventuras únicas, mas essas desde que voltamos estão de fato
muito mais potentes, como algo multável, mas em sua essência
imutavelmente poderoso.
Não consigo pensar em querer nada além dele bem enfiado em mim,
de sentir seu olhar caindo sobre o meu como agora, de sentir sua respiração
forte e masculina soprando de encontro ao meu rosto.
Meu corpo estremece a beira de um colapso a cada metida firme,
mas implora por mais todas as vezes que ele vai e volta. Agora gosto muito
mais de ver, o toque tem significado único e o olhar tons diferentes, algo
próximo a um cintilante.
Algo como ácido prestes a derreter todo quando ele pousa os olhos
em mim.
Ele me fita com olhos eufóricos e esse sorriso lindo nos lábios,
tirando de mim algo que havia adormecido e esquecido em algum lugar
bem distante mais uma vez. Como quando eu perco algo dentro de casa e
não noto o quanto estava bem diante dos meus olhos.
Quando ele se ergue estamos com lágrimas nos olhos e me sinto tão
bem, mesmo assim aliviada, confortável, feliz.
Isso talvez seja dramático demais, meloso para quem quer que seja,
mas é a soma de tudo o que sentimos pelo outro.
— Já acordou, Bêzinha?
Ele pousa a mão sob a minha e enfia os dedos entre os meus com
afinco, então encosta o rosto no meu de lado e ficamos em silêncio olhando
para as portas da sacada, as cortinas entreabertas. O sol lá fora já parece
bem alto, o vento desses lados é mais forte, enquanto toda a claridade toma
nosso quarto fico desejando ficar um pouco mais aqui com ele.
Só que nosso voo nos espera e temos que voltar para a nossa casa,
para nossa vida real.
— Gostaria de ficar mais uns dias aqui com você — ele fala e beija
o cantinho da minha boca.
— Eu também quero, podemos ver com o tio Jonas uma data mais
para frente, o que acha?
— Também, né?
Eu sei que foram basicamente uns seis meses sem sexo no total,
porque antes de tudo aquilo acontecer nós dois estávamos há alguns dias
sem ter relações, antes disso nós só estávamos fazendo sexo casual.
Agora que voltamos temos tido essa vida sexual fora da realidade
onde algumas vezes quando o meu marido me olha já me vem uma vontade
louca de dar para ele.
Sorrio ainda meio constrangida e vou para cima dele, Mosés se deita
de costas apoiando a cabeça no travesseiro, eu o beijo de leve e ele toca
meus cabelos puxando-os para o lado.
— Você ficou zangado pela forma como meu pai está cuidando de
tudo nesse sentido?
— Você acha que eu fiquei bem nas fotos? Seja verdadeira, adorei
ver a minha bunda estampada na primeira página do site “Alfinetada dos
Famosos”.
— Isso não faz dela uma vítima, ela quase destruiu nosso
casamento, nossa família, eu dei um duro danado para construir uma boa
imagem para o seu pai, até isso ela quase me roubou, eu estava assim de
conseguir participar das reuniões do fim de mês e descobrir o que tanto seu
pai, tios e primos escondem de mim.
Mosés vai até a geladeira e pega um vinho tinto e depois duas taças
no armário, ele fica parado ao meu lado abrindo a garrafa de vinho, olhando
para dentro das panelas, depois pega um tomate cereja e enfia na boca
mastigando.
— E seriam...
Adoro o cheiro desse vinho, ele é tão docinho, é um dos vinhos que
bebemos aos domingos a noite ou em algum almoço com as crianças. Pego
a taça com a mão livre e a trago até a boca, bebo dois goles curtos adorando
o sabor.
— Sabe que eles não vão aceitar, eles sempre querem mais.
— Amor, não vamos começar a falar mal dos nossos pais nem os
culpar por nossas personalidades maravilhosas.
— Eu também entendo.
— Ele não poderia esconder isso dela por muito tempo, acho que
nos esquecemos que ela basicamente criou o Cory como se fosse seu filho.
Ele cresceu indo para a casa dela aos fins de semana, é com ela que ele fala
sobre jogos e torneios de vídeo games.
— Até hoje eu não entendo como funciona esses jogos de torre, Safi
domina bem o assunto ao lado do Tom.
— Ela quer ser incluída porque o ama, quer protegê-lo, mas não
entende que isso também é perigoso porque a genitora dele foi a
responsável por ela estar assim hoje.
— Entendo a Safi, disse para ela que era algo do qual não havíamos
pensado muito bem sobre como contar, ela entendeu e disse que me ama,
que sou um ótimo irmão e que não devo superprotegê-la, que o marido dela
faz isso muito bem.
É ruim ouvir isso, mas também entendo o que ele quer dizer com
essas palavras.
Sei que ela é uma ameaça, mas meu coração de mãe, ah, ele é mole.
— Não quero o meu filho indo visitar ela num hospital psiquiátrico
— dou de ombros e desejo o queijo ralado no arroz misturando bem. —
Tempera a rúcula e os tomates por favor?
— Você não acha que ela vai simplesmente deixar tudo como está,
não é? Você a ouviu durante aquela ligação!
— Eu ouvi bem, mas acho que vou seguir o conselho do tio Jack,
daí se não houver recursos vou apelar para o tio Alê.
— Eu não me importo com ela, desde que ela não chegue perto de
você ou das crianças. O direito dele conhecer ela é algo que pertence a ele,
isso é algo que eu não posso mudar, mas como o meu tio disse que ela
passou por essas coisas na infância, vou relevar essa questão da
convivência.
— Vou respeitar sua vontade, mas se ela continuar com essa postura
eu mesmo vou cuidar para que ela vá presa, não vou colocar a vida de
nenhuma das minhas crianças ou a sua em risco novamente. No começo eu
a ignorei, eu recusei ligações, eu ignorei os sinais da Safira, agora não será
assim.
Não mesmo.
— Eu não sei como cheguei a acreditar que ela nos deixaria em paz
quando comecei a me relacionar com você, ela me ligava basicamente todos
os dias, tive que mudar de número e pedir que meu advogado resolvesse
tudo.
— É que depois que eu fui mãe tanta coisa mudou, até mesmo meu
jeito de ver as pessoas, sinto que me tornei mais protetora e forte, pronta
para tantas situações.
— Exato.
Pego o prato dele e entrego, coloco salada por cima do risoto com
carne e depois pego o meu fazendo o mesmo, recebo um cheiro gostoso no
pescoço e dou um beijo nele de volta.
— Sim!
Eu sei que no fim, tudo acabará bem.
PATROA
Eu tenho essa nítida impressão de que hoje não terei a manhã mais
gloriosa da minha vida, porém, não há outro lugar onde eu gostaria de estar
nesse exato momento.
Como no carro do Cory não cabem todos, ele sempre tem que
deslocar para buscar quando preciso ou algum motorista que o Ali
disponibiliza de sua empresa.
— Bem, vamos aos pontos, quero chegar em casa antes das 17:00.
Tive tempo de acordar e montar isso hoje pela manhã, acho que é
uma proposta justa, eu não tenho intenção de demitir ninguém, mas preciso
que todos esses homens entendam que as coisas não podem ser só como
eles querem que sejam.
Essa é uma das piores coisas de se estar no comando, não tem como
ponderar na maioria das vezes, o que vale para um vale para todos.
— Sim eu pensei.
Só que ainda custa entrar na minha cabeça que eles ajam sempre
como se eu Co dependesse do meu marido para tomar algumas decisões, é
claro, muitas das reuniões o Mosés quem participa, eu fico mais com a
outra parte, só que agora eu quem irei tratar dessa parte.
Sei também que para eles é muito mais cômodo trabalhar com o
Mosés justamente por eles serem homens, porque já o conhecem a muito
mais tempo que eu, eles estabeleceram esse contato com ele porque ele é
dono da empresa a mais tempo.
Por isso que quando eu decidi tomar essa decisão, optei por dizer a
mim mesma que deveria ter mais paciência e calma, eu sei que eles não
poderiam reagir bem a isso.
Mais silêncio.
— Suas palavras dizem muito mais sobre você do que sobre mim,
Scott, o que é uma pena! — falo sincera. — E que pena Scott, você não é
uma gorda bilionária, você é só um homenzinho medíocre que acha que vai
machucar mulheres porque pensa que isso faz de você alguém superior
quando na verdade não passar de um homenzinho pobre de espírito que não
tem nada a oferecer. Tenho pena da sua mulher, aquela coitada não tem bom
gosto, tenho pena das suas duas filhas, da sua mãe, da sua avó, ah, e até
mesmo daquele cachorro que você carrega para cima e para baixo quando
sai para correr de manhã no seu condomínio classe média baixa.
Deixei a irritação causada pela acalorada reunião que tive com meus
diretores ou melhor ex-diretores de lado e preferi não dar ouvidos aquelas
coisas, as palavras de ódio e optei por conviver com as sensações ruins e
acolher isso só para mim.
Porque todas as vezes sei que de alguma forma isso irá me atingir,
mas como todas as outras vezes ninguém precisará saber que passei por
esse momento. Agora eu penso que me sinto mais forte para lidar com
críticas maldosas do que antes, mais resistente.
Mosés não disse nada sobre o que eu falei na empresa, sei que ele
não gostou nada de ter ouvido aqueles caras falando tudo aquilo para mim,
porém gostei muito dele não ter se intrometido e tomado partida, até mesmo
pelo fato dele não ter me defendido dessa vez.
Ele talvez agora saiba que preciso dar esse passo na minha vida para
que as coisas fluam melhor na minha relação comigo mesma e isso possa
refletir na nossa relação. Porque eu me tornei a mulher que me tornei pelo
amor que ele sempre dedicou a mim, só que durante nossa separação isso
foi algo que me fez ver o lado ruim de me sentir extremamente amada e
protegida por ele.
Eu sei que ele é, sempre será a pessoa que mais amo, só que isso
nunca poderá ser mais importante do que eu preciso ser para mim.
— Cansada?
Mosés sobe na nossa cama e vem para junto de mim, ele se deita
com a cabeça em cima do meu seio e coloca metade do corpo sob o meu.
— Não muito, algum sinal dos seus filhos? Da sua nova cadela?
— Ah, você está falando do fato da sua mãe ter feito eu ir buscar
eles no aeroporto e ter me informado o horário errado do voo?
— Sim.
— Que bom.
Enfio a mão nos cabelos dele e toco seu couro cabeludo, ele se
treme todo e isso me faz rir mais uma vez, sou apertada, só consigo me
sentir grata acima de tudo.
— Acho que estou com um pouco de fome — ele fala e enfia a mão
dentro do decote do meu vestido, então aperta meu seio. — Preciso comer
alguma coisa.
— Dívida eterna.
Ele aperta meu seio direito por baixo do vestido e beija meu
pescoço, fecho os olhos dizendo a mim mesma que se eu não for firme, vou
acabar dando para ele de novo e agora não é o momento.
Nossa!
— Ah, amor, você não tem noção do quanto me excita por coisas
pequenas.
Ele puxa o cordão que prende o decote do meu vestido e meus seios
se espalham debaixo do tecido, depois puxa o tecido para os lados e toca
meus seios devagar, observando-os com adoração.
Você é maravilhoso!
Ele toca minha coxa e depois começa a puxar a saia do meu vestido
para cima, é tão gostoso me sentir observada assim por ele, mesmo depois
te tanto tempo, mesmo por trás de toda a vergonha que me provoca.
O meu marido é ótimo nisso, sempre foi, mas quando ele quer, se
supera.
Ele morde meu monte de vênus com carinho e desce mais uma vez
me lambendo toda de cima abaixo. Estendo a mão enfiando em seus cabelos
mais uma vez e me movo conforme sua boca me suga de cima para baixo.
Para mim que recebo o orgasmo, mas para ele que adora me
penetrar enquanto gozo.
Ele vem metendo numa firmeza viril, beijando meu pé, minha perna,
meu joelho. Estico a perna e meus dedos dos pés aguentando a metida
severa, ouvindo o som do sexo como batidas altas e sons de palmadas.
Me tremo toda sem tempo para pensar, porque ele continua vindo e
mordendo meus seios, chupando os bicos como se chupasse algo de comer.
Isso me faz sorrir, isso também me faz ter lágrimas nos olhos devido a dor
que o prazer causa.
Eu nunca pensei que ele fosse gostar tanto de me ouvir falando essas
coisas, é como se algo feroz o despertasse.
— Fode essa porra com força, caralho! — grito. — Fode essa boceta
com força.
— Vou encher sua boceta de porra, Bê, vou te deixar toda gozada,
Bêzinha!
Sou obedecida, ele olha para minha boceta todo concentrado, faz um
excelente trabalho estocando fundo em mim, subindo e descendo, não
consigo imaginar que faria isso anos atrás com tanta facilidade.
Levo alguns minutos para entrar no frenesi e ele sente isso, minhas
contrações e vibrações enquanto seu firme pau me estoca, é uma sensação
inigualável e densa. Começo a chorar quando um orgasmo mais violento me
toma e ele vem gozando dentro de mim enquanto o polegar toca meu
clítoris rapidinho.
Não ouso olhar na direção do meu marido, é que todas as vezes que
eu olho, sinto que uma parte de mim adora chegar a essa conclusão, mas a
outra morre de vergonha.
Mamãe além de ter errado o horário do voo, preferiu pedir que Ali
enviasse algum motorista para dividir o percurso com o Cory, no final o que
importa é que deu tudo certo.
Não digo nada, coloco a fatia do bolo no meu prato e fico por alguns
momentos me sentindo estranhamente mal e eu sei porque.
O Cory não está distante de mim atoa, sei que o climinha provocado
por nossa acalorada discussão se passou, só que muito provavelmente a
genitora dele está mais próxima dele em diversos sentidos e isso o faz
acreditar que deve me evitar.
— Eu já vou.
Mosés cruza os braços e sei que ele detesta muito mais o fato do
Cory se referir ao genitor como pai do que em si por ele ter pedido dinheiro,
mesmo que se esforce para entender. Pala primeira vez desde que tudo
começou ele sabe como é sentir na pele o Cory chamando outro homem de
pai.
— Ela me disse que ligou para você e que você se mostrou bastante
hostil a ideia de ajudar ela com o dinheiro.
— Sei que vocês não gostam disso, mas não quero que ela fique
morando num hotel, é perigoso, quero comprar uma casa para ela e dar uma
ajuda mensal com esse dinheiro.
— No momento ela não pensa sobre trabalhar, mas me diz aí, o que
o senhor em a ver com isso?
— E antes que pense mal me deixe explicar que eu não tenho nada
contra ela ser sustentada, eu inclusive durante um tempo sustentei ela,
porém, alguém nas condições atuais dela deveria no mínimo arrumar um
emprego de meio período, não ficar pedindo ao filho que a sustente.
— O que quer dizer com isso? Não faria o mesmo pela sua mãe?
Fico tensa em ver que Mosés respira mais devagar, sei que os nervos
dele estão a flor da pele em ouvir isso.
— Estou dizendo que deve ter cautela e não jogar seu dinheiro fora
com coisas superficiais, conheço sua mãe muito bem para saber que assim
que ela colocar as mãos nesse dinheiro, ela irá começar a gastá-lo de forma
irresponsável.
— Por que? Não pode? Ela precisa de alguém e não tem nenhum
familiar, eu sou sua única família — Cory responde de forma intrínseca. —
Ela precisa muito mais de mim do que vocês.
— E eu sou grato por isso, papai, mas já sou adulto o suficiente para
decidir o que é melhor para mim, nesse momento é fundamental estar com
ela. Sem falar que serão só por alguns fins de semana.
Meu Deus!
— Fica tentando me dar lição de moral, mas todos sabem que teve
um caso com a minha mãe enquanto ela ainda era casada.
— E ela era tão santinha que sempre vinha atrás de mim, não é
mesmo?
— Eu só estou dizendo...
— Garoto eu nunca te disse o que fazer nada vida, não será agora
que eu farei isso, mas sou seu pai e se não quiser aprender pelo amor,
aprenderá pela dor! — Mosés aponta para ele e depois gira os calcanhares
indo até a porta.
Mosés sai do quarto dele e bate à porta com tanta força que as
paredes tremem, lanço um olhar duro para o meu mais velho, é doloroso
pensar que ele esteja passando por isso porque nossa confiança foi
quebrada, me dói saber que ele se voltou contra nós dois.
— Não farei com que se sinta culpado por querer ajudar a sua mãe,
Cory, faça o que você achar melhor, mas acho que mesmo com tantas
dúvidas dentro do seu coração, você sabe que não poderá se enganar por
muito tempo. — digo engolindo a vontade de chorar. — Eu te amo, mas se
tiver que partir porque acha que é o melhor para si mesmo, faça isso, nós
sempre estaremos aqui para você.
— Tá — responde baixinho. — Me desculpe, mamãe.
— Tudo bem, vou conversar com o seu pai, faça o que achar melhor,
iremos te apoiar, você sabe que ele fala coisas ruins quando está sob pressão
ou com raiva.
— Vou conversar com o seu pai, pense com cuidado nas suas
decisões, ok?
Talvez seja melhor assim, se ele quer ficar com ela, que vá, não serei
eu quem irei impedir, só espero que ela não faça um grande estrago como
da outra vez, não sei se aguentaria um sofrimento tão grande.
UM VAZIO
Bem, eu não sei se isso valeria para mim até o exato momento.
Eu o conheço bem para saber que está zangado comigo e com o pai,
sei também que é sensato o suficiente para entrar em contato e depois dizer
que está com ela porque acredito que era isso o que ele queria ter dito
ontem.
Foi algo que fizemos durante esses dias desde nosso retorno, em
nenhuma das tentativas de conversa ele parecia disposto a entender as
coisas como elas são e parece muito tarde para remediar ou lamentar.
Eu sei que ele está errado, sei que vai se machucar muito com esse
processo, mas tudo o que poderei fazer é só esperar que ele retorne.
— Sei que está triste, ouvi o som do carro dele hoje cedo, não quis
te acordar e sabia que não poderia impedi-lo.
— Ele vai se dar conta de quem ela é quando começar a dizer não
para ela.
É tão duro ter que admitir que o Cory tem sido meio estúpido
conosco e isso não tem a ver só com ela, tem a ver com o fato de que o
criamos muito bem e que justamente por isso nunca contávamos com essa
reação por parte dele.
— Vou falar com o tio Jack — digo. — Quero que ele seja vigiado,
não quero que ele acabe jogando o futuro dele no lixo por culpa dela.
— Eu acredito que será o melhor, mesmo que ele nos odeie agora.
— Ele quer acreditar no que convém para ele, nós nunca fomos
abertos sobre nada em relação a ela, então ele está construindo essa imagem
dela baseado no que ela fala. As ações sempre dirão muito mais do que as
palavras.
— Assim espero.
— O Cory está aqui comigo, ele saiu para comprar algo para o
nosso café — ela responde do outro lado da linha. — Olá, inimiga!
Decido não responder, mas é péssimo sim ter que saber que meu
filho agora vai morar com ela e que por isso terei que providenciar uma
casa para que ela viva, por mim ela moraria ao menos há uns mil
quilômetros de distância de todos nós.
— Bem, o Cory não vai gostar de saber que vocês estão me negando
auxílio, se só com algumas coisinhas que eu disse para ele, já veio morar
comigo, imaginem o que ele não faria se soubesse de todas as coisas
horríveis que eu passei naquele hospício por sua causa!
É assustador ver que ela fala com tanta convicção que parece até
estar certa.
— Depois você pergunta a ele porque ele fez tantos anos de terapia
— continuo.
Consegui!
— Ah, você não sabia? Ele não te disse? Quando ele tinha cinco
anos de idade alguns pássaros começaram a aparecer sem cabeça na nossa
propriedade, tivemos que procurar o auxílio de um médico especializado,
acho que ele herdou de você esse problema.
— Pode fazer essas exigências ao seu filho, ele vai comprar tudo o
que você precisar.
— Você não conhece o filho que tem Viviane, cuidado, ele é muito
mais esperto do que aparenta, até logo!
Troco um rápido olhar com o meu esposo e sei que teremos que dar
algumas explicações nada agradáveis para as crianças. É algo do qual
também nunca tocamos no assunto, já que não falamos sobre os pais do
Cory com nenhum deles. Eles sabem sim que o irmão mais velho é adotivo,
mas isso nunca foi relevante demais para eles já que o Cory chegou à
família quando as meninas ainda eram bebês e antes dos meninos nascerem.
— Temos que falar algo para vocês que talvez não seja muito
agradável — Mosés pega a vasilha com massa de panqueca e coloca sob a
pedra ao lado do cooktop.
É, que!
— Sabemos que não será uma coisa muito fácil de se lidar, mas
acreditamos que o Cory virá visitá-los com frequência, ele precisa desse
tempo para si. — Mosés fala e liga a chama da frigideira.
— Mas nós somos a família dele! — Sahara exclama chateada. —
Ele foi embora sem se despedir? Ele nunca faria isso!
Ele fez.
Ele sabe que seria mil vezes mais doloroso se despedir de nós, ele
sabe o quanto as irmãs e os irmãos o amam, mesmo que esteja sendo um
completo idiota em pensar só em si mesmo nesse momento.
— Acho que está havendo algum engano, o Cory não iria embora
assim do nada — Sophie argumenta mais séria.
— Querida ele foi, lamentamos muito pela situação, mas foi escolha
dele, só cabe a nós respeitarmos — digo com cuidado.
Sei que ela está magoada, assim como Sahara, Bea e Laisa, os
meninos também por mais que tentem esconder suas emoções, só que eu
nunca poderia privar que eles soubessem a verdade.
E por mais que achem que dói que o Cory tenha ido sem se
despedir, sei que a dor de todos independente de qual seja é algo terrível de
se sentir. Já foi um sofrimento quando ele decidiu estudar fora, agora será
mais um sofrimento ter que lidar com a ausência dele nos poucos dias em
que vem para ficar conosco.
— E vocês, tipo, deixaram ele ir? — Bea faz uma careta. — Não
deveriam.
— Ele já é adulto o suficiente para fazer as escolhas que deseja —
respondo sincera.
— Então, tipo, é isso? Ele vai embora morar com uma completa
estranha e vocês agem como se fosse supernormal? — Sophie dispara super
irritada. — Que tipo de pais são vocês?
Sobre isso não há o que fazer e agora tão pouco sobre a decisão do
Cory de ir embora.
Antes das 14:00 é foda, mas dadas as circunstâncias, nem uma dose
braba de terapia poderia curar todas as dores de decepções que sentimos
nesse momento.
Eu já sabia que nosso primeiro dia sem ele aqui seria doloroso
demais, eu achei que teríamos tempo para resolver tudo direitinho, mas ele
decidiu partir, foi morar com aquela mulher que agora chama de mãe, é tão
difícil.
Mosés está tentando ser forte, sei que sim, mas sabe que também
não há nada que possa fazer, a sensação de impotência e incapacidade veio
com força assim que nós nos demos conta de que agora as coisas não serão
da forma como têm sido.
Eu mesma não tive tempo de olhar nada, sei que na minha ausência
a Dulce cuida muito bem de tudo, só que é algo que eles realmente gostam
de fazer desde muito pequenos.
Ok, achei que eles não reagiriam bem, nem tivemos tempo de
ensaiar o que dizer, mas não pensei que iriam nos responsabilizar pelo
irmão ter decidido ir embora, isso não é nossa culpa, foi uma escolha
exclusiva dele.
— Vocês têm certeza de que irão permitir que ele more com uma
completa estranha?
— Ela não é mãe dele, você quem é a mãe dele! — a voz de Sophie
esbraveja entrando no terraço.
— Pode dizer isso para ele se desejar, nesse exato momento ele não
quer nos ouvir — falo. — E eu sei que sou mãe dele, só que isso é algo que
o Cory deve fazer sozinho, é a escolha dele, é a jornada dele. Acha que eu
também não chorei quando vi o quarto dele vazio?
— Acho que temos que fazer algo para mudar isso — reclama ela.
— Essa mulher nunca quis saber dele antes, por que isso agora?
— Ela é a mãe dele, ela é mãe! Ela é mãe! — Mosés fala irônico. —
Ela só quer cuidar do filhinho dela.
— Ela deve ser mesmo muito importante para ele nos trocar por ela
— Bea comenta vindo também para o terraço.
— Sophie seu irmão foi embora porque quis — digo com mais
firmeza e ela enrijece. — Queira você ou não terá que conviver com isso
assim como cada um de nós. Também não gosto da situação, mas não há
nada que não tenhamos dito ao Cory que o fizesse ficar, foi uma decisão
dele, não nossa e ele só voltará para esse casa quando ele quiser. Não vou
ficar tentando provar nada para ele, ele quem está perdendo, não nós!
Mas isso me fez refletir com zelo sobre como tenho sorte de que
hoje posso dividir isso com o meu esposo.
Não trocaria esse lugar por nenhum outro, bem, trocaria talvez em
alguma hipótese por nossa antiga casa nos Hamptons.
Sempre fui uma mãe presente na vida dos meus filhos, sempre fui
informada sobre onde estavam e com quem estavam, nunca ficaram longe
de mim ou de algum familiar meu, eles sempre estão sob meus cuidados
mesmo quando estão de férias com nossos pais.
Agora meu coração se contrai porque sei que o quarto ao lado está
vazio, que ele não ocupa mais o lugar que sempre ocupou na nossa casa e
me dói muito mais de saber que talvez não queira ocupar mais esse espaço
na minha vida.
Meu esposo dorme abraçado a mim, acho que quando ele viu que
estava anoitecendo decidiu parar de se preocupar um pouco com o Cory. Sei
que o Mosés é muito melhor do que eu para lidar com essa situações, ele
esconde bem até quanto pode, depois quando tudo parece prestes a explodir,
ele mostra como se sente.
Ele está sendo movido pela mágoa pelas coisas que o Cory falou
para ele ontem, eu estou sendo movida porquê de uma forma estranha me
senti trocada e substituída com o decorrer do dia.
Eu sei que não importa o que eu diga, ele não voltará assim tão fácil.
Me dói saber que meu bebê não está aqui, me dói tanto.
Meu coração até salta quando vejo que é o carro dele, salta com
tanta força que me sinto eufórica.
— Não, mas eu mandei uma mensagem mais cedo e ele disse que
estava pensando com calma sobre. — ela responde contente.
— Volta para o seu quarto e finge que está dormindo — Mosés
sussurra apressado. — Ele tá vindo.
Será que ela disse algo que ele não gostou? Será que brigaram?
Tomara!
Cory está usando a mesma roupa de ontem, nem parece ter tomado
banho, os cabelos estão bagunçados e ele segura a mala de viagens com
uma mão e a mochila pendurada no ombro com a outra.
Ele foi embora hoje cedo, mas parece que foi dias.
Seu olhar tem arrependimento estampado, não sei por ter ido
embora ou se porque teve que engolir o orgulho para voltar, mas de todas as
formas isso não importa.
— Não precisa ficar se justificando, sou seu pai e entendo seu lado
— Mosés se aproxima dele e pega sua mala. — Sua mãe vai arrumar um
prato de comida, já jantou?
Ah, Mosés!
Seu gesto parece frio, mas sei que esconde imenso alívio pelo Cory
ter voltado.
— Obrigado, mãe.
Ele não quer conversar e não acho que seja o momento certo.
Eu não irei brigar com o Cory agora, sei que ele já está sofrendo o
suficiente por ter decidido sair de casa de manhã e ter voltado há essas
horas da manhã para casa.
Me aproximo e não resisto em dar um forte abraço nele, ainda sei o
que outras pessoas pensariam, o que diriam, que ele deve ser punido por
tudo o que nos fez passar no dia de hoje, mas não quero punir meu filho por
uma má decisão.
Ele começa.
— Eu saí daqui disposto a ajudar ela, eu queria passar uns dias com
ela para nos conhecermos. Precisavam ver a cara dela quando me viu,
parecia realmente decepcionada, disse a mim mesmo que talvez ela
estivesse assustada com a minha visita.
— Não tenho muitas lembranças de ter estado com ela, são poucas
lembranças de passeios, mas tudo muito embaçado nas minhas memórias.
— ele faz uma pequena pausa. — Quando voltei ela estava meio distante,
começou a me fazer perguntas sobre as questões financeiras, disse que
precisaria de um pouco mais de dinheiro para ter funcionários. Eu disse
para ela que poderíamos resolver isso conforme os dias fossem se passando,
ela não gostou do que eu falei e me chamou de egoísta, disse que eu estava
aproveitando bem a vida com o dinheiro que ela havia ajudado o marido a
conquistar, fiquei em choque.
Ela achou que tinha encontrado outra mina de ouro. Ela não o vê
como seu filho querido, não sabe da oportunidade de ouro que é ter o Cory
como filho.
Engraçado, ela me vê como inimiga, mas criei seu filho como meu,
o amo como meu, faço tudo por ele porque sei que é meu e o mais irônico
de tudo isso é que ela só afirmou isso ao tentar afastá-lo de mim.
Ela só está dizendo o quanto o Cory não precisa ter que conhecê-la
ou lidar com ela, o quanto ela não é necessária na vida dele, o quanto ela
sempre foi e sempre será uma grande egoísta por deixar ele em segundo
plano na vida dela.
— Eu disse para ela que estava ajudando-a como eu podia, que iria
providenciar tudo assim que o banco liberasse as quantias, ela fez parecer
que eu não fazia na hora que ela queria porque eu não queria. Me senti
bastante pressionado, ela acabou com a minha saúde mental em menos de
doze horas de convivência. Só falava de dinheiro, de uma casa com bons
móveis, de carros de luxo, de procedimentos estéticos, parecia um filme de
terror do século vinte um.
Queria não sentir vontade de rir, meu filho faz cara de cachorro
triste, mas meu marido ergue a cabeça e oprimindo o sorriso em silêncio, é
como se dissesse silenciosamente “bem-feito”, e é, mas o Cory não precisa
saber disso.
— Eu não achei que ela fosse assim — minto sentada ao lado dele.
Não deixo de sentir um pouco de pena, mesmo que ele não mereça,
isso só reforça o fato de que ela está mais desequilibrada mais que tudo, sei
que nem está tomando os remédios porque se estivesse não teria agido
assim, bem, talvez tivesse, quem sabe?
É a Viviane!
— Sempre que eu fazia menção em sair do quarto com alguma
prerrogativa ela dizia algo como “vai sair e me deixar aqui sozinha?” ela
conseguiu me sufocar em menos de um dia de convivência. — explica
chateado. — Quando eu fui ao banheiro, ela me seguiu, ficou me esperando
na porta parecendo paranoica, tive a sensação de que depois que voltei para
a sala do quarto, ela foi ver se eu havia pegado alguma coisa no banheiro.
Eu acho que ela fez com ele assim como fez com o Mosés quando
ele fazia perguntas a respeito do marido dela.
Fico atenta a essa fala, talvez explique algumas coisas que o tio Jack
falou.
Sempre dividimos tudo por igual com eles, entre nós dois, tentamos
dar o nosso melhor aos nossos filhos, se não damos a todos, não damos a
nenhum.
Meu Deus!
— Não quero mais ter que lidar com ela, darei o dinheiro para ela e
pedirei ao advogado que ela assine um acordo para que não fique me
pedindo dinheiro. Bloqueei ela em tudo, eu não aguento mais um segundo
perto dela.
— Nós não vamos te punir por ter decidido passar esse dia com a
sua mãe biológica — afirmo colocando a mão sob a dele. — Você é nosso
filho independente de qualquer coisa.
— Eu acreditei muito que poderia ter um vínculo maior com ela, ter
uma sensação nova de pertencimento. Achei que nós dois teríamos alguma
relação de mãe e filho, só que ela não é nada do que eu pensei. — Cory está
bastante magoado. — Eu pensei que poderia ajudá-la, que ela poderia
contar comigo para o que precisasse porque sei que se fosse vocês dois
iriam se sentir da mesma forma.
Nada justifica a forma como ele agiu em relação a nós nesse sentido,
mas ele tem um coração gigante e isso é algo que eu entenda porque o
conheço.
— Ela não é minha mãe, cometi esse erro, mamãe, nunca mais me
deixe sair dessa casa, pelo amor de Deus!
— Nós somos sua família, garoto, por favor, não faça mais isso!
Seus irmãos choraram o dia todo, Sophie quase que me mata!
Cory funga, choroso, mas sei que nesse momento ele deve sentir
muita dor por tudo o que vivenciou perto daquela cobra. Ela não o merece
em nenhum sentido.
Só que isso já era esperado, não achei que seria tão rápido, enfim,
ainda bem que não demorou.
Viviane agora já sabe que as máscaras dela caíram, agora ela não
terá nenhum argumento para estar perto de nós e nem do nosso filho.
Graças a Deus que foi algo que durou só um dia, não quero pensar
se duraria mais que isso.
Fim da parte II
BÔNUS * SAFIRA
— Eu cheguei.
Para algumas coisas levo mais tempo para pensar, é incrível como
para achar ele um gato eu não levo.
— Não.
— E a sua babá?
Droga!
— Embola, você — digo antes que ele abra a boca para falar.
Mas não tenho força o suficiente para mover tanto os braços, para
erguê-los, me canso com frequência, sem citar o fato de que minhas mãos
também não me obedecem sempre.
Minha cabeça cai para trás e meu braço cai para o lado enquanto ele
me carrega, então ele ergue mais o braço puxando minha cabeça de
encontro ao seu peito, inspiro o cheiro forte de incenso em um misto de
suor e perfume oriental.
Ele tem esse cheiro que lembra um estudante desleixado, mas tão
aguçado, sinto que depois do acidente sinto melhor o cheiro das coisas, até
mesmo o gosto, por mais que alguns outros sentidos tenham ficado
defasados devido as sequelas.
O doutor Haddad disse que a expectativa é que até o ano que vem eu
recupere toda a mobilidade dos membros superiores e dadas as
circunstâncias em que cheguei a essa casa eu acredito muito na melhora.
Eu não consigo!
É Safira com r!
Prefiro não responder, por mais que note toda sinceridade do mundo
em seu tom de voz.
Ele pega uma almofada e depois faz com que eu me deite de costas
apoiada com a cabeça na almofada, logo em seguida puxa as minhas pernas
e ajeita os meus braços dos lados do meu corpo, fica me olhando assim todo
sério por alguns momentos.
— Eu adoro você, mas tem que parar de me tratar assim, tem que
me deixar ficar perto, estou me cansando do seu comportamento.
Me irrito, porque esse garotinho mimado com certeza não sabe nem
de um por cento do que passei para estar aqui hoje, acha que com essa
desculpa esfarrapada vai me convencer de que gosta de mim?
— Não.
— Eu não ligo para o que você possa pensar, Safira, vou ficar e
ponto final.
Eu ainda tenho muitos flashs na cabeça sobre como era a minha vida
antes, outras coisas são distorcidas e meio apagadas, mas eu tenho quase
todas elas em minha mente reservadas para qualquer momento que me traga
conforto e um pouco de revolta.
É claro que eu também gostava muito da pessoa que ela era comigo
porque era a minha única grande amiga até eu descobrir que a única grande
amiga da relação era eu.
Era boba, ingênua e ainda é complexo demais pensar que isso não
tem mais de dois anos, que parece que foi ontem que entrei naquele carro e
fui tomando uma série de decisões erradas que mudaram a minha vida para
sempre.
Não é algo que eu consiga falar ou possa falar com ninguém além da
Polônia ou da minha psicóloga nas sessões de terapia, faz mal, mas também
faz bem.
Ele e a Ana.
Ele se sujeitou a muita coisa para que nós tivéssemos uma casa e
comida.
— Você é mexeliqueilo!
Começo a rir quando ele revira os olhos, porque ele sempre faz isso
e é tão fofo, admito, é muito fofo e confesso que por mais que eu tenha
unido todas as forças para afastar ele de mim, ao entendimento do meu
irmão e da Ana e até da Polônia desde a primeira visita dele, o Antônio é o
meu namorado.
Talvez só para mim que isso não faça sentido ou não funcione.
Ele solta meu pé direito e pega o esquerdo, começo a sentir as
pontinhas de faíscas provocadas pelos dedos dele, ao mesmo tempo isso me
traz uma sensação estranhamente boa, sei que isso é só reflexo, mas não
deixa de ser bom.
Meu coração dispara e quando ele se vira para mim fico pensando
sobre escolher mais palavras tortas para responder, porém, não consigo falar
nada.
Acho que o meu silêncio é uma resposta óbvia de que eu não irei
mais conseguir segurar essa situação por muito tempo, mas será que isso
poderia só por um segundo dar certo?