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APLICABILIDADE EM MATERIAIS DE
CONSTRUÇÃO
NOVEMBRO DE 2021
MESTRADO EM ESTRUTURAS DE ENGENHARIA CIVIL 2020/2021
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Tel. +351-22-508 1901
Fax +351-22-508 1446
[email protected]
Editado por
FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Rua Dr. Roberto Frias
4200-465 PORTO
Portugal
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Fax +351-22-508 1440
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http://www.fe.up.pt
Este documento foi produzido a partir de versão eletrónica fornecida pelo respetivo
Autor.
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
A meus Pais
AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer a meus pais, Anna Lúcia e Cláudio, e ao meu irmão Rodrigo, sem
o incentivo e apoio deles esta dissertação não se concretizaria, mesmo que a distância. Também gostaria
de agradecer a minha tia Ana por toda disposição, apoio e suporte.
A minha orientadora, Professora Doutora Joana Sousa Coutinho, pela colaboração, dedicação,
transferência de conhecimento e experiência, características estas que viabilizaram a realização deste
trabalho.
À empresa GrandVision por fornecer os resíduos de lentes oftálmicas utilizadas neste estudo.
Um agradecimento especial também a todas as minhas amigas do Brasil, Ana Clara, Natália, Fernanda,
Helena e Marcela e aos amigos que fiz aqui em Portugal Thaina, Sara, Scarllet, Rafaela P, Chanalisa,
Josema, Viviane e Rafaela B. E por fim, agradeço ao Iran pelo incentivo e companheirismo em parte
dessa trajetória.
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
RESUMO
A produção de resíduos em larga escala, atualmente, é um problema mundial que enfrenta enorme
dificuldade de ser solucionado, seja pela dificuldade de reciclar o material, pelo custo do seu tratamento
ser elevado ou até mesmo pela falta de conhecimento e políticas de incentivo em descartes e reciclagem.
A construção civil é um setor que pode mitigar os efeitos deste problema já que apresenta um enorme
potencial para absorver e valorizar resíduos através da incorporação deles em betões e argamassas.
Portanto, a presente tese de mestrado pretende viabilizar tecnicamente a utilização de um resíduo
industrial, proveniente do sobrante de lentes oftálmicas produzidas com Columbia resin 39 (CR39),
através da substituição parcial do agregado natural em argamassas de revestimento.
O plano de trabalho consistiu em incorporar o resíduo de lentes oftálmicas (LW) em argamassas para
mosaicos hidráulicos, como substituto parcial da areia. Em uma primeira etapa, com o objetivo de
identificar qual composição mais se adequaria para a produção dos mosaicos, realizou-se um estudo
preliminar onde produziu-se 8 argamassas utilizando diferentes percentuais de substituição em volume
(20% e 50%), tipos de cimento (CEM 32,5, CEM 42,5 e CEM 52,5) e a relação água/cimento (0,45 e
0,50). Para cada argamassa, moldaram-se 3 provetes com dimensão de 4×4×16 que, após 28 dias em
cura, foram submetidos aos ensaios de resistência à flexão e compressão. Diante dos resultados de
resistência à flexão obtidos definiu-se que a melhor composição seria a que apresentava 20% de LW,
80% de areia natural, cimento CEM 52,5 e relação água/cimento de 0,45.
Em uma análise geral os resultados não são satisfatórios, principalmente devido ao facto dos mosaicos
não terem atingido a resistência esperada. Isso pode ter ocorrido devido à ausência de prensas para a
produção do mosaico, o que pode ter resultado em uma argamassa não suficientemente compactada.
Logo, este trabalho contribui de forma significativa identificando possíveis falhas na produção que
podem ter prejudicado os resultados finais, e consequentemente auxiliando na possível valorização do
resíduo em futuros trabalhos.
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
ABSTRACT
The large-scale production of waste is currently a global problem that faces enormous difficulty to be
solved, whether due to the difficulty of recycling the material, the high cost of its treatment or even the
lack of knowledge and incentive policies for disposal and recycling. Civil construction is a sector that
can mitigate the effects of this problem as it has huge potential to absorb and recover waste through its
incorporation into concrete and mortar. Therefore, this thesis intends to technically enable the use of an
industrial waste from scrap ophthalmic lenses produced with Columbia resin 39 (CR39) for partial
replacement of the natural aggregate in coating mortars.
The main work consists in the incorporation of ophthalmic lens waste (LW) in mortars for terrazzo tiles
as a partial substitute of the sand. To identify which composition would be most suitable to produce
terrazzo tiles, a preliminary study was carried out, 8 mortars were produced using different percentages
of substitution in volume (20 % and 50%), 3 types of cement (CEM 32.5, CEM 42.5 and CEM 52.5)
and 2 water/cement ratio (0.45 and 0.50). For each mortar, 3 specimens with dimensions of 4×4×16
were moulded and, after 28 days, were submitted to flexural strength and compression strength tests.
Considering the results of flexural strength obtained, it was possible to identify the best composition
corresponding to 20% LW, 80% natural sand, cement CEM 52.5 and a water/cement ratio of 0.45.
A second phase of the present research work aimed at producing terrazzo tiles to NP EN 13748-1 and
NP EN 13748-2. Test specimens with dimensions of 20×20 cm² and thickness of 21 mm that later were
moulded and later submitted to flexural testing, Bohme abrasion and water absorption tests. The results
obtained for the flexural strength at 28 days reached an average of 4.2 MPa. The Bohme abrasion
resistance of the specimens obtained an average volume loss of 1.69 cm³/50 cm². In the absorption test
the results were satisfactory, reaching a coefficient of capillary absorption of 0.3 g/cm² and an absolute
water absorption equivalent to 6.7% of the mass.
In a global analysis the presented results are not yet satisfactory, mainly since the tiles did not reach the
expected mechanical strength. This could be due to the absence of adequate presses to produce the tiles,
which could have resulted in a mortar not sufficiently compacted. Therefore, this work contributed
significantly by identifying possible failures in production that led to under-target results, thus leading
the way for future work on the application of this waste.
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS ................................................................................................................................... I
RESUMO .................................................................................................................................................. III
ABSTRACT ............................................................................................................................................... V
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................1
1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO ....................................................................................................................... 1
1.2. OBJETIVOS ....................................................................................................................................... 2
1.3. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ....................................................................................................... 2
vii
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
3.2.4. AREIA............................................................................................................................................. 22
3.3. ENSAIOS PRELIMINARES ............................................................................................................... 22
3.3.1. PRODUÇÃO DAS AMASSADURAS ....................................................................................................... 23
3.3.2. ENSAIO DE TRABALHABILIDADE ........................................................................................................ 24
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
5. CONCLUSÃO ....................................................................................................................51
5.1. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 51
5.2. DESENVOLVIMENTOS FUTUROS.................................................................................................... 55
ix
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 2.1. Modelo linear (A) versus modelo circular (B): 1) Matéria-prima virgem; 2) Produção e
transformação; 3) Consumo e utilização; 4) Manutenção e reutilização; 5) Final da vida útil; 6)
Reciclagem; 7) Incineração com valorização energética e 8) Descarte em aterro sanitário ................... 4
Figura 3.1. Resíduo de lentes oftálmicas. a) Resíduo prontos para transporte; b) Resíduo em ênfase.
................................................................................................................................................................ 18
Figura 3.2. Primeira moagem. a) Moinho de facas grandes; b) Facas; c) Resíduos de lentes após a
primeira moagem. .................................................................................................................................. 18
Figura 3.3. Segunda moagem. a) Moinho de facas pequeno; b) Facas; c) Resíduo de lentes após
segunda moagem. .................................................................................................................................. 19
Figura 3.4. Preparativos para o ensaio. a) Amostra passante no peneiro de 4mm; b) Esquartelador. . 19
Figura 3.5. Preparo do material. a) Volume do provete; b) Secagem em estufa; c) Lavagem no peneiro
0,0063mm............................................................................................................................................... 20
Figura 3.8 Curva granulométrica da areia com a série base e do LW. .................................................. 22
Figura 3.11. Processo de fabricação dos provetes testes. 1) Determinação das quantidades da mistura.
2) Misturador. 3) Mistura pronta. 4) Medição da temperatura da mistura. 5) Medição do diâmetro no
ensaio de trabalhabilidade. 6) Compactador. 7) Colocação do material em 2 etapas. 8) Regularização
da argamassa no molde. 9) Moldes preenchidos e prontos para descansar 24h. 10) Desmoldagem. 11)
Provetes imersos em água para a realização da cura por 27 dias. ....................................................... 26
Figura 3.13. Ensaio de Resistência à Flexão. a) Provete a ensaiar b) Provete rompido ...................... 27
Figura 3.17. Masseira. a) Masseira com velocidade controlada; b) Argamassa sendo produzida. ...... 31
Figura 3.18. Tratamento do agregado miúdo. a) Junção dos agregados; b) Homogeneização da mistura
através de uma espátula. ....................................................................................................................... 32
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Figura 3.20. Moldagem do ladrilho referência. a) Pesagem da massa; b) Espalhando a argamassa com
ferramenta rudimentar; c) Mesa de vibração. ........................................................................................ 33
Figura 3.21. Processo de produção dos mosaicos. A) Moldagem; b) Desmoldagem; c) Identificação; d)
Submersão em água para cura. ............................................................................................................. 34
Figura 4.3. Provetes ensaiados. a) Antes do ensaio; b) Após o 8º ciclo; c) Após o 16º ciclo. .............. 47
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
ÍNDICE DE QUADROS
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
ABR – Abrasão
ABS – Absorção
AC – Antes de Cristo
CR 39 – Columbia Resin 39
PC – Policarbonato
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INTRODUÇÃO
1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO
Ao longo das últimas décadas a preocupação com o meio ambiente tem aumentado exponencialmente.
A grande produção de resíduos e a sua destinação imprópria tem gerado enormes impactos ambientais,
como a poluição dos lençóis freáticos e dos oceanos. Pesquisas apontam que aproximadamente 60% dos
resíduos gerados no mundo são depositados em aterros ou em locais inadequados [1]. Os materiais que
não podem ser reciclados normalmente são incinerados de forma a obter a valorização energética,
ferindo os princípios do ciclo biológico onde o resíduo deveria ser considerado alimento de outros
elementos ou então, estes resíduos são destinados a aterros, o que demanda uma grande área disponível
devido ao seu elevado volume [2].
A indústria de lentes oftálmicas é extremamente importante no que diz respeito a qualidade de vida e
saúde da população, porém apresenta ampla produção de resíduos resultantes da trajetória na fabricação
das lentes tais como vidro, policarbonato, Columbia resin (CR 39). Dentre estes produtos, alguns
possuem propriedades que permitem a sua reciclagem, como o vidro, e outros que por possuírem uma
estrutura química complexa só estão aptos a valorização energética, como a CR 39. Embora a CR 39
não seja reciclada, ela se destaca na indústria oftálmica como um dos materiais mais utilizados na
produção de lentes sendo depositada em sua maioria em aterro pela indústria GrandVision.
1
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
uma alternativa, além de contribuir para o meio ambiente, ainda pode diminuir o custo de produção da
argamassa ao reduzir o uso de materiais virgens, por exemplo, a areia.
1.2. OBJETIVOS
O presente estudo pretende avaliar a viabilidade técnica da utilização de um resíduo industrial, a
Columbia Resin (CR 39) proveniente de lentes oftálmicas, na substituição parcial do agregado na
composição de argamassas de revestimento, mais especificamente, para ladrilhos e mosaicos
hidráulicos.
Os objetivos específicos consistem em produzir um ladrilho hidráulico com substituição parcial do
agregado natural, nomeadamente a areia, pelo resíduo industrial que atenda as especificidades das
normas NP EN 13748-1 e NP EN 13748-2. Para esta análise, é avaliado o desempenho dos mosaicos
através:
• Verificação das dimensões geométricas bem como do aspeto estético dos mosaicos;
• Estudo do comportamento mecânico de argamassas de revestimento para mosaicos
compostas por LW;
• Avaliação da resistência a abrasão da argamassa de revestimento com incorporação de LW;
• Verificação da capacidade de absorção de água e do coeficiente de absorção capilar.
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
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ESTADO DA ARTE
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Figura 2.1. Modelo linear (A) versus modelo circular (B): 1) Matéria-prima virgem; 2) Produção e transformação;
3) Consumo e utilização; 4) Manutenção e reutilização; 5) Final da vida útil; 6) Reciclagem; 7) Incineração com
valorização energética e 8) Descarte em aterro sanitário
A transição da economia linear para a circular não é fácil. Em termos dos consumidores é indispensável
uma mudança na cultura e no ambiente industrial, muitas vezes fazendo-se necessário uma alteração dos
modelos de negócios. Por isso, os governos estão buscando formas de minimizar o desperdício de
recursos a fim de reduzir os impactos ambientais, por vezes através de incentivos fiscais. A economia
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
circular proporciona uma solução para a otimização de resíduos gerados por empresas, ou seja, incentiva
a criação de oportunidades de negócios, por exemplo, o resíduo de uma empresa pode ser a matéria-
prima de outra (ecologia industrial) [6].
Devido à crescente preocupação relacionada com o esgotamento de recursos naturais e aos danos
causados no meio ambiente, a cada dia a EC se torna mais importante a nível global em diversos setores
econômicos. A indústria da construção civil é uma das principais responsáveis pelo consumo de
matérias-primas e pela geração de resíduos no mundo. Portanto é considerado um setor portador de um
enorme potencial de aplicação da cultura e do sistema da abordagem da economia circular [7].
Para verificar se existem vantagens ambientais em relação a emissões de dióxido de carbono quando se
integra conceitos da economia circular ao invés de utilizar o sistema da economia linear é necessário
investigar. Por exemplo, Nasir et al realizaram um estudo de caso na indústria da construção em que a
pesquisa avalia os impactos que produtos de isolamento térmico para edifícios tradicionalmente
produzidos com matérias-primas virgens e provenientes de materiais reciclados causam ao meio
ambiente através da análise do ciclo de vida destes materiais. A partir deste método e dos dados
fornecidos pelas empresas, os autores calcularam e analisaram as emissões totais de dióxido de carbono
durante toda a vida do produto. Os resultados apontaram que o material de isolamento proveniente da
cadeia de produção circular emite 39% menos dióxido de carbono para o meio ambiente do que o
material de isolamento produzido na cadeia de produção linear [8].
É evidente que a EC tem um grande foco em aspetos ambientais e por ser cíclico não reconhece os
impactos ao redor. A economia espiral (EE), que ainda se encontra em desenvolvimento, emerge com a
finalidade de agregar o ambiente social aos conceitos já pré-estabelecidos através da avaliação da
confiança, da cultura e dos valores sociais. Essa dinâmica agregadora proporciona conhecimento e
aprendizagem de forma criativa em diferentes áreas (sociedade, economia e ecossistemas naturais) no
conceito de espirais com feedback contínuo melhorando assim a qualidade de vida das pessoas [9].
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
artesanal ou industrial através de uma prensa e os principais componentes da mistura são cimento,
agregado e água, e quando necessário, ainda podem-se acrescentar adjuvantes e adições (pigmentos,
polímero, entre outros). O nome hidráulico remete ao ligante cimento que requere, como o betão, cura
em água por submersão ou aspersão, ou seja, não se utiliza a técnica de queima em fornos como os
revestimentos cerâmicos [10].
Figura 2.3. Mosaicos Hidráulicos. a) Aplicação em residência particular. b) Aplicação em praça pública.
Registos revelam que este material surgiu em meados do século XIX como uma alternativa de
substituição do revestimento de pedra. Devido a sua boa resistência mecânica e a possibilidade de
acrescentar pigmentos para fazer desenhos decorativos, o ladrilho hidráulico difundiu-se rapidamente
pelos países europeus. No entanto, a partir de 1960 este revestimento começou a perder mercado para
outros modelos como cerâmicos e porcelanatos, que possuem um processo de fabrico mais simples e
mais industrializável, proporcionando produção em larga escala e diminuição do custo. Comparando
tecnicamente estes materiais, todos possuem boa resistência e se assemelham no processo de instalação
[11]. No entanto, no que diz respeito à média de produção em fábrica de área de material por trabalhador
a cada dia, os valores chegam a 10 mil m² para pisos cerâmicos e 20 m² para ladrilhos hidráulicos [12].
Ou seja, pela produção 500 vezes menor, comprova-se desta maneira que o processo de fabricação do
ladrilho hidráulico é mais artesanal e personalizado em comparação com as cerâmicas.
A literatura aponta avanços no desenvolvimento de ladrilhos de alto desempenho. Catoia, por exemplo,
estudou a otimização da produção de ladrilhos hidráulicos para uma escala industrial através do
desenvolvimento de um ladrilho hidráulico de alto desempenho. Para isso, utilizou como referência a
tecnologia existente na produção de betão de alto desempenho. Duas composições com relação
água/cimento de 0,32% foram estudadas, i) com cimento CPB 40 estrutural, metacaulino, ADVA Cast
e agregado miúdo e ii) com CP V ARI RS, sílica ativa, ADVA Cast e agregado miúdo. O cimento CPB
40 Estrutural trata-se de um cimento branco da classe de resistência 40 MPa, sua composição é de 75 a
100% de clínquer branco e sulfatos e de 0 a 25% de calcário. Já o cimento CP V ARI RS consiste em
um cimento de alta resistência inicial composto por 95 a 100% de clínquer incluindo sulfato de cálcio e
0 a 5% de calcário. O ADVA Cast é um adjuvante superplastificante de 3ª geração composto por
policarboxilatos. As adições escolhidas, nomeadamente a sílica de fumo e o metacaulino, possuem o
objetivo de proporcionar um composto mais resistente e levaram em consideração o efeito microfiler
que busca preencher os vazios existentes e a reação pozolânica, ou seja, a reação química entre o
hidróxido de cálcio com as partículas de adição [13] promovendo a durabilidade. Os resultados obtidos
para a primeira composição foram satisfatórios de acordo com a norma brasileira NBR 9457:1986. A
resistência à flexão atingiu valores 56% maiores que o mínimo exigido de 5MPa, a absorção de água
ficou próxima de 2% o que é inferior ao limite de 8%, e a resistência a abrasão aos 28 dias foi de 4,64
mm, um valor próximo dos 3% permitidos em norma. Para a segunda composição os resultados foram
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
ainda melhores, a resistência a flexão apresentou valores 72% acima do mínimo exigido, a absorção de
água ficou próxima de 1%, enquanto a resistência a abrasão aos 28 dias 3,26 mm [13].
Atualmente, a aplicação de ladrilho hidráulico está voltando a conquistar arquitetos e consumidores, não
somente pela sua funcionalidade, mas principalmente por causa do seu grande potencial decorativo
através do uso de peças exclusivas em determinados ambientes. Apesar de antigas, as peças criam um
efeito moderno e estiloso e sobretudo são fáceis de limpar [14]. Esses aspetos positivos evidenciados
são os responsáveis pela crescente utilização de ladrilhos, atraindo estudos de incorporação de resíduos.
Na literatura já existem trabalhos incorporando resíduos de madeira provenientes da indústria da
marcenaria na fabricação de ladrilhos hidráulicos vibrados. A proposta elaborada por Savazzini-Reis e
Fagundes consiste em substituir parcialmente, em massa, a areia por resíduo nas percentagens de 0%,
5% e 10%, na proporção cimento e agregado miúdo em 1:2, relação água cimento inicial de 0,5 e
adjuvante plastificante na proporção de 0,2% da massa do cimento. Os resultados mostram que, na
medida que se aumenta a percentagem de resíduo na argamassa, a absorção de água aumenta, 10%, 16%
e 19%, e a resistência à flexão diminui, 5,91 MPa, 3,71 MPa e 3,01 MPa, respetivamente para 0%, 5%
e 10% de resíduo [15].
Além da incorporação de madeira, outros resíduos podem ser introduzidos na composição de argamassas
para ladrilhos e mosaicos hidráulicos, tais como os polímeros. Na União Europeia, e, portanto, em
Portugal, as normas que especificam os requisitos dos ladrilhos e mosaicos hidráulicos acabados, os
critérios de avaliação de conformidade, e os ensaios a serem realizados são NP EN 13748-1 [16] e NP
EN 13748-2 [17], independente se há a incorporação de resíduos ou não. Apesar da norma apresentar
uma nomenclatura diferente para as peças utilizadas no interior e exterior, ladrilhos ou mosaicos
hidráulicos são elementos produzidos individualmente compactados de maneira adequada, de forma e
espessura regular, satisfazendo os requisitos impostos pelas respetivas normas, podendo ser de camada
única ou dupla [16][17]. As propriedades e as condicionantes normativas impostas pelas duas normas
estão descritas abaixo.
2.2.1. PREMISSAS GEOMÉTRICAS
Apesar das dimensões de fabrico das peças de ladrilho hidráulico serem de responsabilidade do
fabricante, para que a realização dos ensaios seja relevante é necessário que as peças atendam os
requisitos exigidos pela norma NP EN 13748-1 e 13748-2.
2.2.1.1. Espessura
Para ladrilhos de camada única não há imposições ou restrições referentes à espessura, para outros
modelos de ladrilho hidráulico a exigência quanto à espessura está apresentada no Quadro 2.1.
Quadro 2.1. Requisitos de espessura.
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
não pode exceder um desvio de ± 2 mm quando a peça tem uma espessura pré-definida < 40 mm ou ±
4 mm quando a peça tem uma espessura pré-definida ≥ 40 mm.
Além destas verificações, é necessário que um único ladrilho não possua dimensões que diferem entre
si de mais de 3 mm e quando os ladrilhos forem classificados como calibrados este valor reduz para 1
mm.
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
1 ST 3,5 2,8
2 TT 4,0 3,2
3 UT 5,0 4,0
A carga de rotura é satisfatória quando verifica os dois requisitos: 1) A carga de rotura média de quatro
provetes ser maior ou igual aos valores apresentados no Quadro 2.4. na classe de carga de rotura
apropriada. 2) Os resultados individuais serem maiores ou iguais aos valores apresentados no Quadro
2.4. na respetiva classe analisada.
Quadro 2.4. Classe de carga de rotura.
30 3T 3,5 2,4
45 4T 4,0 3,6
70 7T 7,0 5,6
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2 G ≤ 26 cm³/50 cm²
3 H ≤ 20 cm³/50 cm²
4 I ≤ 18 cm³/50 cm²
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Os resíduos eram maioritariamente biodegradáveis, até à Revolução Industrial que alterou este cenário
devido à substituição do método de produção manual para a produção em larga escala através de
máquinas. Como se produzia mais em menos tempo, o consumo de produtos novos passou a ser
incentivado e consequentemente o descarte aumentou. Ademais, com o passar do tempo e o aumento da
tecnologia, tornou-se mais barato para as indústrias produzirem plásticos, alumínio e vidro do que
reutilizarem os materiais descartados [18].
Até meio do século XX o descarte de lixo não era considerado um fator de risco. No entanto, este
acúmulo de resíduos em zonas concentradas ocasionaram um desequilíbrio no planeta [2]. Cidadãos
começaram a apresentar sintomas de intoxicação causados pela ingestão de água e pelo contato com
solo contaminados por produtos químicos despejados pela indústria. Estas questões promoveram
discussões da importância da gestão de resíduos e ocasionaram a implementação de normas mais rígidas
no controle de descartes [18].
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
neste setor são o policloreto de vinil (PVC), poliuretano (PU), e poliolefinas (PO), nomeadamente
polietileno (PE) e polipropileno (PP) [23].
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
é que a sua ideia foi colocada em prática por monges italianos que chamaram de pedra de leitura e era
feita a partir de cristal de rocha de quartzo. Foi na famosa fábrica de vidro de Murano que artesãos
desenvolveram uma fórmula com características transparentes capaz de se tornar auxiliar de visão.
Ademais, estes artesões avançaram e criaram aros de madeira, preenchidos por vidro convexo, unidos
no eixo, este foi o primeiro par de óculos do qual se tem conhecimento [34].
No início do século XXI a empresa Zeiss direcionou seus estudos para lentes oftálmicas com o objetivo
de melhorar a experiência sensorial das pessoas. Na época, considerava-se uma boa lente aquela que era
incolor e altamente transparente e que sem revestimento Punktal® possuísse uma taxa de transparência
de 92%. Através do desenvolvimento promovido pela área militar, foi possível obter uma lente de vidro
com tecnologia antirreflexo com taxa de transparência de 98% [33].
Até então as lentes eram produzidas em material inorgânico, essencialmente o vidro, material pesado e
frágil. Depois surgiu no mercado um novo material com as características principais necessárias para
fabricação de lentes, sendo estas: leveza, transparência e não quebrar com facilidade. Este material,
Columbia resin 39 (CR 39) em 1970 começou a ser comercializado no formato de lentes corretivas [33].
De acordo com Bhootra, atualmente, o CR 39 é o material mais utilizado na fabricação de lentes
oftálmicas, com um índice de refração de 1,498 e massa volúmica de 1,32 g/cm³. O material possui alta
resistência a impactos, elevada transparência, pode ser revestido e sofrer tingimento sendo que a
desvantagem aparece na baixa resistência a abrasão quando comparado com o vidro [35]. Estas
características ficam evidentes para os usuários. Elmadina et al investigaram a satisfação dos clientes
que utilizam óculos com lentes oftálmicas fabricadas com CR-39 nos parâmetros de conforto,
durabilidade e segurança. De facto, foi realizado um questionário tanto a homens como mulheres com
idades ente 5 e 65 anos e os dados foram analisados pelo software de estatística SPSS. Os resultados
apontaram para uma elevada satisfação em conforto (96%) ao utilizar lentes de CR-39 em comparação
com lentes de vidro. Referente a CR-39, 97% apontaram que as lentes são mais leves e 96% apontaram
que as lentes são mais seguras. No entanto, 89,5% disseram que as lentes são mais frágeis sendo
suscetíveis a arranhões quando comparado com as lentes de vidro [36].
A Columbia Resin 39 é um tipo de polímero. Os polímeros consistem em pequenas moléculas
(monômeros) ligadas, através da polimerização, entre si. Os polímeros utilizados de forma recorrente na
produção de lentes oftálmicas são; o termoplástico e o termofixo, que diferem entre si no alinhamento
das moléculas, conforme apresentado na Figura 2.4. Os polímeros termofixos possuem na sua cadeia
agentes de ligação entre as moléculas, o que torna a sua estrutura parecida com uma rede e por isso a
sua rigidez não se altera quando submetido a altas temperaturas, mas depois destrói-se. Já os polímeros
termoplásticos possuem uma cadeia molecular independente, ou seja, não possuem agentes de ligação
entre as moléculas. Este material quando submetido a altas temperaturas amolece e funde-se novamente.
O Policarbonato é um exemplo de polímero termoplástico [35].
14
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Panyakapo e Panyakapo afirmam que atualmente os plásticos termofixos não são reciclados, portanto
as opções de destino final são o aterro sanitário e a queima. Caso eles fossem reusados os custos com a
gestão de resíduos em aterro e a emissão de poluentes através da queima decresceria [25].
Como não é possível reciclar, não existe um destino adequado para os resíduos de plástico termofixo,
utilizados na fabricação de lentes oftalmológicas. A construção civil, nomeadamente de edificações,
requer uma enorme quantidade de material para compor argamassas e betões. A literatura já apresenta
registos de sucesso considerando o uso de materiais reciclados para compor argamassas e betões.
Experiências com o uso de CR39 em materiais comentícios ainda é muito escasso na literatura.
Um dos estudos encontrados é o de Ruivinho onde é realizada a avaliação da composição dos resíduos
de lentes oftálmicas orgânicas provenientes do corte e do descarte de lentes em Portugal com o objetivo
de considerar possíveis soluções de valorização para os polímeros. Os materiais plásticos mais
recorrentes foram o CR 39 (di-carbonato di-alila do etileno glicol), o Policarbonato (PC) e poliuretanos
termoplásticos (TPU) que são classificados como termoplásticos ou termofixos. Os polímeros
classificados como termoplásticos foram identificados como recicláveis e os termofixos como não
recicláveis. Apesar de nem sempre ser possível reciclar pode-se afirmar que é possível valorizar todos
os resíduos de lentes oftálmicas orgânicas (RLOO) mesmo que de formas distintas e com diferentes
níveis de benefícios ambientais [37]
Assim, caso o uso deste material em argamassas seja viável sob o ponto de vista técnico, existirão alguns
benefícios: i) proporciona um destino adequado ao resíduo, ii) vai evitar utilizar material virgem, iii)
oportunidade de mercado para os produtores do material. Dessa forma, o principal objetivo desta
dissertação de mestrado é avaliar o comportamento mecânico de argamassa para a produção de ladrilhos
hidráulicos composta por CR39, tema este que não está abrangido na literatura.
15
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
16
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
3
PROGRAMA EXPERIMENTAL
3.1. INTRODUÇÃO
No presente capítulo, primeiramente são apresentadas as características dos materiais utilizados e a
descrição dos ensaios preliminares em argamassas produzidas, na parte aplicável, de acordo com a
norma NP EN 196-1 Método de Ensaio de cimentos – Parte 1: Determinação das resistências mecânicas
[38]. Consideraram-se argamassas que tem composições variadas com o objetivo de identificar qual a
mistura que melhor se adequa ao objetivo proposto. Após a descrição destes ensaios é apresentada uma
breve discussão dos resultados com o objetivo de definir a argamassa a ser utilizada nos mosaicos.
Em seguida é abordado neste capítulo ainda a produção detalhada dos mosaicos e a descrição dos ensaios
em que eles são submetidos.
17
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Figura 3.1. Resíduo de lentes oftálmicas. a) Resíduo prontos para transporte; b) Resíduo em ênfase.
Figura 3.2. Primeira moagem. a) Moinho de facas grandes; b) Facas; c) Resíduos de lentes após a primeira
moagem.
Na sequência, utilizou-se um moinho de facas pequeno para reduzir ainda mais o tamanho das partículas
com o objetivo de tornar a dimensão das partículas adequada para efetuar a substituição parcial do
agregado fino na argamassa, Figura 3.3. A granulometria do resíduo após o processo final é apresentada
na próxima seção.
18
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Figura 3.3. Segunda moagem. a) Moinho de facas pequeno; b) Facas; c) Resíduo de lentes após segunda
moagem.
3.2.1.2. Granulometria do LW
A análise granulométrica do LW foi realizada segundo a norma NP EN 933-1 (2014). O ensaio
fundamenta-se na análise da distribuição da dimensão dos grãos dos agregados através de um conjunto
de peneiros selecionados de acordo com a natureza da amostra e o objetivo do trabalho.
Para determinação do volume mínimo da amostra a ser utilizado no ensaio, deve-se primeiramente
determinar a dimensão máxima do agregado. Como pode ser visto na Figura 3.4, a totalidade do
agregado passa pelo peneiro de 4mm, portanto, de acordo com a referida norma o volume mínimo do
provete é de 0,3 litros. A fim de obter resultados fiáveis onde a amostra represente as características
média do todo, deve-se recorrer à norma NP EN 932-1 [39] onde é especificado como realizar a redução
das amostras. Visto que o volume necessário é pequeno, neste trabalho utilizou-se o esquartelador,
apresentado na Figura 3.4, para reduzir, de forma aleatória, o tamanho da amostra.
Figura 3.4. Preparativos para o ensaio. a) Amostra passante no peneiro de 4mm; b) Esquartelador.
19
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
O volume de agregado a utilizar para o ensaio é de 0,4 litros, apresentado na Figura 3.5. A preparação
da amostra para o ensaio de análise granulométrica consiste em primeiramente colocar na estufa para
secar a uma temperatura de 107,5°C ± 2,5°C até atingir massa constante. Retira-se então o provete da
estufa para arrefecer e em seguida pesa-se o material (M1 = 297,6 g). Após a pesagem, lava-se o material
na peneira 0,063 mm com água corrente até que a água que atravessa fique límpida, significando que já
não há mais material passante. Posteriormente coloca-se a secar novamente na estufa à temperatura
107,5°C ± 2,5°C até atingir massa constante e em seguida pesa-se novamente (M2 = 293,1 g).
Figura 3.5. Preparo do material. a) Volume do provete; b) Secagem em estufa; c) Lavagem no peneiro
0,0063mm.
20
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
O material retido em cada peneira deve ser pesado e relacionado com a massa inicial do provete seco.
Em seguida, deve-se calcular a percentagem de passados acumulados em cada peneiro. A curva
granulométrica do LW é apresentada na Figura 3.7.
100,00
90,00
Percentagem cumulativa que passa (%)
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
0,063
0,125
0,250
0,500
8,0
1,00
2,00
4,00
16,0
31,5
63,0
90,0
Abertura quadrada dos peneiros (mm)
3.2.2. CIMENTO
Para a realização dos estudos utilizaram-se três cimentos com propriedades distintas, o CEM II/B-L
32,5R (BR), o CEM I 42,5R e o CEM I 52,5 (BR). As propriedades mecânicas, químicas e físicas de
cada um de acordo com as respetivas fichas técnicas estão especificadas em Quadro 3.1., Quadro 3.2. e
Quadro 3.3.
Quadro 3.1. Propriedades Mecânicas – NP EN 196-1 (ficha técnica SECIL)
Resistências (MPa)
Dias
CEM II/B-L 32,5R (BR) CEM I 42,5R CEM I 52,5 (BR)
2 ≥ 10 ≥ 20 ≥ 30
7 - - -
Valor Especificado
Propriedades
CEM II/B-L 32,5R (BR) CEM I 42,5R CEM I 52,5 (BR)
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Valor Especificado
Propriedades
CEM II/B-L 32,5R (BR) CEM I 42,5R CEM I 52,5 (BR)
Expansibilidade ≤ 10 mm ≤ 10 mm ≤ 10 mm
3.2.3. ÁGUA
A água utilizada nas amassaduras é potável procedente da rede pública, o que está de acordo com as
normas NP EN 13748-1 e NP EN 13748-2.
3.2.4. AREIA
É importante que a areia e o LW apresentem uma granulometria semelhante a fim de minimizar o efeito
da granulometria em termos de substituição de material. Portanto escolheu-se a areia 0/4 mm, de massa
volúmica 2,64 Mg/m³ e 0,10% de absorção de água com granulometria apresentada na Figura 3.8.
100
0,063
0,125
0,250
1,000
2,000
4,000
8,000
16,000
31,500
63,000
90,000
Areia LW
22
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Tendo como base a norma NP EN 196-1, para a realização do ensaio de determinação de resistência
mecânica, são necessários 3 provetes com dimensão individual de 4×4×16 cm³. Considerando então cada
tipo de argamassa produzida produziu-se o volume de 1 dm³ para cada amostra. As quantidades
utilizadas em cada mistura estão apresentadas no Quadro 3.5.
Quadro 3.5. Quantidade dos componentes das argamassas.
Teste Cimento (g) Areia (g) LW (g) Água Efetiva (g) Água absorvida (g)
23
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
As misturas foram realizadas de acordo com a linha do tempo referida na norma NP EN 196 -1 onde é
especificada a ordem que se devem incluir os materiais bem como o tempo de mistura dentro da
misturadora, tendo-se seguido a linha do tempo definida apresentada na Figura 3.9.
24
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
25
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Figura 3.11. Processo de fabricação dos provetes testes. 1) Determinação das quantidades da mistura. 2)
Misturador. 3) Mistura pronta. 4) Medição da temperatura da mistura. 5) Medição do diâmetro no ensaio de
trabalhabilidade. 6) Compactador. 7) Colocação do material em 2 etapas. 8) Regularização da argamassa no
molde. 9) Moldes preenchidos e prontos para descansar 24h. 10) Desmoldagem. 11) Provetes imersos em água
para a realização da cura por 27 dias.
Este processo foi padrão e realizado para todas as amassaduras individualmente. Na Figura 3.12. são
apresentados os provetes identificados e prontos para os ensaios que serão apresentados adiante.
26
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Onde:
Rf é a resistência à flexão em MPa;
b é o lado da seção quadrada do prisma em mm;
Fr é a carga aplicada no meio do prisma na fratura em N;
l é a distância entre os apoios em mm
O ensaio de um provete é apresentado como exemplo na Figura 3.13.
Neste ensaio obtém-se a resistência à flexão individual de cada provete, no entanto, para apresentar os
resultados, faz-se a média dos três provetes de cada amassadura. Os resultados estão apresentados na
Figura 3.14.
8,0
7,0
Resistência (MPa)
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
T0 T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7
Teste
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Onde:
RC é a resistência à compressão em MPa;
FC é a carga máxima de fratura em N;
1600 é a área das placas em mm².
O exemplo de ensaio em um provete é apresentado na Figura 3.15.
Neste ensaio obtém-se a resistência à compressão individual de cada provete. No entanto, para
apresentar os resultados, faz-se a média dos seis provetes de cada amassadura. Os resultados estão
apresentados na Figura 3.16.
28
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
70
60
Resistência (MPa)
50
40
30
20
10
0
T0 T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7
Teste
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Como o objetivo de produzir mosaicos que atendam os critérios referente à resistência mecânica
especificada em norma, a amassadura definida para a produção de ladrilhos hidráulicos é a T7, com
cimento CEM I 52,5R BR, fator a/c de 0,45 e 20% de LW. Entre todas as composições estudadas esta é
a que possui maior resistência devido, sobretudo, ao tipo de cimento.
Onde:
T é a resistência em MPa;
P é a carga de rotura em N;
L é a distância entre os apoios em mm;
B é a largura do mosaico no plano de rotura em mm;
T é a espessura do mosaico no plano de rotura em mm.
Com o objetivo de atender à norma mais exigente quanto a resistência à flexão, NP EN 1378-2 para
mosaicos hidráulicos para exteriores, é necessário que a resistência à flexão média seja de 5 MPa para
a classe C. Sendo conhecida distância entre os apoios e a largura do mosaico no plano de rotura, fixou-
se a resistência em 7 MPa e variadas espessuras a fim de obter-se a carga de rotura mínima de 3,0 MPa.
O Quadro 3.7 apresenta os resultados.
Quadro 3.7. Definição da espessura do mosaico.
Com a espessura de 21 mm, supostamente o mosaico deverá atender ambas as normas já citadas, onde
na norma NP EN 13748-1 especifica classe 3 quando os valores individuais de carga de rotura não são
abaixo de 3kN e a resistência à flexão média mínima é de 5MPa. Já para NP EN 13748-2 os mosaicos
são considerados classe 30 quando a carga de rotura média é de 3kN e classe 3 quando a resistência à
rotura média é de no mínimo 5MPa.
30
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Figura 3.17. Masseira. a) Masseira com velocidade controlada; b) Argamassa sendo produzida.
Teste Cimento (g) Areia (g) LW (g) Água Efetiva (g) Água absorvida (g)
O volume de 2 litros de amassadura permite moldar 2 mosaicos. Portanto, considerando que para os
ensaios são necessários, por norma, no mínimo 7 ladrilhos mais 3 cubos decidiu-se realizar 6
amassaduras de forma a produzirem-se peças extra.
De forma que todo o agregado se encontrasse em condições semelhantes de saturação, definiu-se que a
água absorvida seria misturada com a areia previamente e esperou-se 15 minutos para iniciar a
amassadura na misturadora. A mistura seguiu a linha do tempo previamente definida e apresentada na
Figura 3.9. Para facilitar a mistura do agregado miúdo, ao invés de colocar a areia e o LW
separadamente, juntou-se o LW com a areia num recipiente e após misturados com o auxílio de uma
espátula (Figura 3.18) foram introduzidos na misturadora.
31
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Figura 3.18. Tratamento do agregado miúdo. a) Junção dos agregados; b) Homogeneização da mistura através
de uma espátula.
Como foram produzidas 6 argamassas do mesmo tipo, foi necessário identificar cada amassadura.
Definiu-se que seriam chamadas de T7-A, T7-B, T7-C, T7-D, T7-E e T7-F. Ao fim da produção de cada
uma, realizou-se o ensaio de trabalhabilidade sendo os resultados apresentados no Quadro 3.9.
Quadro 3.9. Resultados do ensaio de trabalhabilidade nas argamassas dos mosaicos.
A partir dos resultados obtidos pode-se observar que os valores de trabalhabilidade são muito próximos,
indicando que a homogeneidade pretendida no fabrico das argamassas foi conseguida.
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Com o objetivo de padronizar o processo de moldagem, optou-se por fazer do ladrilho T7-A-1 a
referência e considerar o valor da massa utilizada como padrão para a produção dos seguintes. Para
identificar a massa necessária para preencher 21 mm de altura do molde foi necessário primeiramente
realizar a tara do mesmo na balança e depois começar a preencher com argamassa. Para espalhar a
argamassa dentro do molde utilizou-se uma espátula e uma ferramenta rudimentar produzida no
laboratório com 27,9 cm de altura. Quando se identificou que a altura de argamassa estava próxima dos
21 mm, colocou-se na mesa de vibração durante 40 s, após esta vibração verificou-se o assentamento da
argamassa e, então, foi necessário acrescentar mais argamassa. Novamente espalhou-se a argamassa no
molde e fez-se a vibração manual, que consistiu em levantar o molde aproximadamente 5cm da mesa e
deixar cair, por 4 vezes. Na sequência foi realizada novamente a vibração mecânica na mesa por 40 s.
No final do processo, verificou-se com uma régua que a distância entre o topo da argamassa e o topo do
molde era de aproximadamente 27,9cm e, portanto, o mosaico estava com 21 mm. Para verificar a massa
introduzida no molde, pesou-se, dessa vez o molde com a argamassa, e, então, obteve-se a massa de
1885 g. Fotos do processo são apresentadas na Figura 3.20.
Figura 3.20. Moldagem do ladrilho referência. a) Pesagem da massa; b) Espalhando a argamassa com
ferramenta rudimentar; c) Mesa de vibração.
Por norma, são necessários 3 ladrilhos para o ensaio de absorção, 4 ladrilhos para o ensaio de resistência
a flexão e 3 cubos com dimensões de 7×7×7 cm³ para o ensaio de abrasão. Sabendo que cada ladrilho
tem 20×20×2,1 cm³ obteve-se o volume equivalente a 0,84 litros. Considerando que a misturadora
33
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
produz 2 litros, moldaram-se 2 ladrilhos por amassadura. A ordem das moldagens, bem como o ensaio
a ser realizado com cada mosaico estão indicados no Quadro 3.10.
T7 - E - 1 R2 20x20x2,1 Resistência
T7 – E
T7 - E - 2 R3 20x20x2,1 Resistência
T7 – F T7 - F - 1 R4 20x20x2,1 Resistência
A moldagem dos ladrilhos foi sempre seguida pelo ensaio de trabalhabilidade. O processo consistiu em
despejar 1885 g de argamassa dentro do molde, acomodar com a espátula e com a ferramenta rudimentar.
Para as vibrações, manteve-se a ordem de 40 s de vibração mecânica, levantar manualmente o molde a
altura de 5cm e deixar cair livremente por 4 vezes e por fim, mais 40s de vibração mecânica na mesa.
Após o término do processo de moldagem, deixou-se o molde com o ladrilho fresco curar à temperatura
ambiente do laboratório durante 24h e depois efetuar a desmoldagem. Em seguida, cada peça foi
identificada e colocada dentro de um recipiente com água no interior da câmara de cura durante 27 dias.
A Figura 3.21 apresenta algumas fotografias do processo.
34
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Para o ensaio de abrasão foram produzidos cubos com dimensões 7×7×7 cm³, que são apresentados na
Figura 3.22.
Como por norma era exigido que fossem produzidos no mínimo 7 ladrilhos e o laboratório dispunha de
apenas 5 moldes, foi necessário realizar as moldagens em 2 dias distintos. Ademais, resolveu-se moldar
3 mosaicos extras, mantendo o mesmo procedimento previamente definido, e aplicar 127 g de LW na
superfície dos mesmos para serem ensaiados à flexão. As fotografias destes mosaicos são apresentadas
da Figura 3.23.
Figura 3.23. Moldagem dos mosaicos com LW polvilhado. a) Mosaico com 127g de LW polvilhado; b) Leve
pressão para o LW aderir a argamassa fresca; c) Desmoldagem e retirada do excesso de LW; d) Mosaico
identificado.
35
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Já na verificação da retilinearidade das arestas deve-se colocar a régua ao longo da aresta e a distância
máxima entre a régua e a peça deve ser anotada. Nessa etapa foram verificadas as 4 arestas de cada
ladrilho conforme apresentado na Figura 3. 25.
Na verificação da planeza da face superior, a norma indica medir o desvio máximo convexo e côncavo
ao longo das duas diagonais da face superior com um instrumento com exatidão de 0,1 mm. Através do
esquadro, Figura 3.26, pôde-se averiguar a planeza de todas as peças.
36
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Figura 3. 27. Ensaio de rotura. a) Máquina; b) Ajuste do mosaico no equipamento; c) Rotura do mosaico.
No final do ensaio de cada mosaico, o equipamento regista a carga que provocou a rotura e a partir da
equação (3.4) é possível calcular a resistência à rotura.
3×𝑃×𝐿
𝑇 = 2×𝑏×𝑡 2 (3.4)
Onde:
T é a resistência em MPa;
P é a carga de rotura em N;
L é a distância entre os apoios em mm;
B é a largura do mosaico no plano de rotura em mm;
T é a espessura do mosaico no plano de rotura em mm.
37
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Em seguida fixou-se um cubo de cada vez sobre a pista de ensaio, polvilhada com material abrasivo
normalizado (alumina fundida), com a face a ser ensaiada (a que apresenta os 9 pontos marcados) em
contato com a pista. A fim de forçar o desgaste, carregou-se axialmente o cubo com uma carga de 294
± 3 N e ligou-se o equipamento, conforme Figura 3.1Figura 3.29.
Cada cubo foi submetido a um total de 16 ciclos com 22 rotações cada. Após cada ciclo completo rodou-
se 90º o provete e a cada 4 ciclos completos foi necessário pesar e marcar os 9 pontos na face de contato
para poder executar as medições. Ao fim dos 16 ciclos, calculou-se a perda média do volume do provete
através da equação:
∆𝑚
∆𝑉 = 𝜌𝑅
(3.5)
Onde:
ΔV é a perda de volume após os 16 ciclos em mm³;
Δm é a perda de massa após os 16 ciclos em g;
ρR é a massa volúmica do provete em g/mm³
38
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
quando a diferença de massa entre 2 pesagens efetuadas num intervalo de 24h for inferior a 0,1%. Antes
de efetuar as pesagens deve-se deixar sempre os provetes arrefecerem até a temperatura ambiente. A
massa obtida no final do ciclo de secagem é a massa no estado seco (md). Seguidamente deve-se selar
as faces laterais, Figura 3.30, dos provetes e pesar novamente, obtendo-se então a massa no estado seco
do provete selado (md,s).
Para a continuação do ensaio, devem-se imergir os provetes em água, com temperatura igual a 20±5 °C
com uma profundidade superior a 2mm e inferior a 10mm. Após 24 ± 0,5h deve-se retirar o provete da
imersão sem molhar a face posterior e efetuar a eliminação da água aderente à face de sucção através de
uma esponja húmida. Após este processo concluído deve-se pesar o provete para obter-se a massa do
provete após sucção de água por capilaridade após 24h através da superfície (mh,24h) e imergir novamente
o provete em água, só que dessa vez, a camada de água deve variar entre 25mm e 50mm. O provete fica
submerso até atingir massa constante (alteração máxima de 0,1% de massa em 24 h) ou pelo menos 3
dias, Figura 3.31. Esta última pesagem proporcionará a massa do provete saturado de água à pressão
atmosférica (mh,c).
Figura 3.31. Submersão dos mosaicos em água. a) Água a nível 10 mm; b) Água a nível 40 mm.
Tendo todas estas informações anotadas, é possível calcular o coeficiente de absorção através da
Fórmula 3.6 e calcular a capacidade de absorção através da Fórmula 3.7.
𝑚ℎ,24ℎ −𝑚𝑑,𝑠
𝑊24ℎ = 𝑆
(3.6)
Onde:
W24h é o coeficiente de absorção capilar por unidade de superfície à pressão atmosférica após 24h em
g/cm²;
39
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
mh,24h é a massa do provete após sucção de água por capilaridade após 24h através da superfície de ensaio
S em g;
md,s é a massa no estado seco do provete selado em g;
S é a superfície (face de sucção) do provete em cm².
𝑚ℎ,𝑐 −𝑚𝑑,𝑠
𝑊𝑚,𝑎 = × 100 % (3.7)
𝑚𝑑,𝑠
Onde:
Wm,a é a capacidade de absorção de água baseada na massa em % de massa;
mh,c é a massa do provete saturado de água à pressão atmosférica em g;
md,s é a massa do provete no estado seco em g.
3.5.2.1. Geometria
Segue o mesmo procedimento descrito no item 3.5.1.1.
40
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
4
RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. INTRODUÇÃO
Nesse capítulo são apresentados os resultados obtidos e as discussões apropriadas para cada ensaio. No
total foram produzidos 10 mosaicos de camada única. Dentre eles, 3 mosaicos foram destinados ao
ensaio de absorção de água, sendo eles denominados como ABS1 a ABS3, 7 foram designados para o
ensaio de resistência à rotura, nomeados aqui como R1 a R7. Entre estes 7, apenas R5 a R7 contem LW
polvilhado na superfície. No entanto, o ensaio de abrasão não é realizado com mosaicos, e sim com
cubos, pelo que foram produzidos 3 cubos nomeados neste trabalho como ABR1 a ABR3.
41
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
No que diz respeito a geometria, pode-se verificar que referente as dimensões dos mosaicos, de acordo
com o pré-requisito do desvio admitido ser de 0,3%, ou seja, todas as peças deveriam ter dimensões de
200 mm ± 0,6 mm. Ao analisar as dimensões individualmente apresentadas no Quadro 4.1, apenas o
mosaico R3 atende esta especificação da norma. Caso a análise seja feita através da média, todos os
mosaicos que foram submetidos ao ensaio de resistência à flexão atendem à exigência.
Quadro 4. 2. Espessura dos ladrilhos.
42
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Os mosaicos foram idealizados com 21 mm, no entanto como o molde tinha 200 mm de altura não foi
possível executar um controle de qualidade rigoroso como quando se dispõe de moldes espessura
correta, isto é, próprios para o fim em causa. Apesar de se ter tido o cuidado de produzir os mosaicos
com uma massa pré-determinada, não foi possível um produto final com variação máxima de ± 2 mm
pois os mosaicos apresentaram uma média geral de 23,1 mm quando o máximo permitido é 23,0 mm.
Referente à retilinearidade (Quadro 4.3.) e à planeza da superfície (Quadro 4.4) de forma geral os
mosaicos também não atendem à especificação de ser inferior a 0,3% da dimensão da aresta como se
poderia prever, pela ausência de equipamento adequado.
Quadro 4.3. Retilinearidade.
Dimensões (mm)
Provetes
Aresta 1 Aresta 2 Aresta 3 Aresta 4
43
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
Dimensões (mm)
R2 - não OK - não OK
R3 - não OK - não OK
R5 - não OK - não OK
R6 - não OK - não OK
R7 - não OK - não OK
2,5
R1
2
R2
Força (kN)
1,5 R3
R4
1
R5
0,5 R6
R7
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5
Deslocamento (mm)
44
Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
De acordo com a NP EN 13748 no que diz respeito à carga de rotura, apenas os ladrilhos R6 e R7
atenderam a exigência da classe 2 onde nenhum valor individual pode ser menor que 2,5 kN, todos os
outros (R1, R2, R3, R4 e R5) romperam com valores inferiores a 2,5 kN. Já para a norma EN 13748-2
existem 7 possibilidades de carga de rotura que variam da classe 30 a 300, os provetes R1, R2, R3 e R4
não se enquadram em nenhuma classe visto que para a menor classe (30) a carga média de rotura precisa
ser de 3,0 kN, e a carga de rotura individual mínima de 2,4 kN.
A partir da força que provoca a rotura em cada mosaico, é necessário calcular a resistência à rotura
através da Fórmula 3.3. Sendo a distância entre os apoios 133,33 mm para todos os casos, os valores
obtidos para a resistência a rotura são apresentados no Quadro 4.5 e o gráfico para uma melhor
identificação visual dos resultados está na Figura 4.2. Além dos valores individuais, também se verifica
as médias, sendo a média 1 somente da média dos mosaicos R1, R2, R3 e R4, enquanto a média 2 além
desses, também inclui os mosaicos R5, R6 e R7.
Quadro 4.5. Resultados da resistência à rotura e carga de rotura.
Os resultados obtidos quanto a resistência à rotura para ladrilhos hidráulicos utilizados no interior são
insuficientes para atender a norma NP EN 13748-1. A resistência média obtida de 4 ladrilhos (R1, R2,
R3 e R4) foi de 4,2 MPa, quando o necessário era 5 MPa. Quanto ao requisito de nenhum ladrilho
possuir valor individual inferior a 4 MPa, se verifica que apenas o R3 não atende. Já na norma NP EN
13748-2 para mosaicos hidráulicos para exteriores os requisitos são diferentes dos valores exigidos na
NP EN 13748-1. Os valores de resistência média são divididos em classes, para mosaicos com valor de
resistência média igual 4,2 MPa e resistência individual mínima de 3,8 MPa, o que se enquadra na classe
2.
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5,0
4,5
4,0
3,5
Resistência (MPa)
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
R1 R2 R3 R4 R5 R6 R7 Média 1 Média 2
Mosaicos
Na sequência, os provetes foram submetidos ao ensaio e a cada 4 ciclos as alturas dos 9 pontos eram
apontadas. É importante destacar que a partir do 8º ciclo colocou-se um papel cartão com espessura
aproximada de 2 mm entre o provete e o peso na face superior por causa da forte vibração do provete
na mesa. Este cartão teve a única finalidade de amortecer a pancada entre o provete com o peso e então
evitar fissuras. A altura média dos provetes ao fim do 4º, 8º, 12º e 16º ciclos são apresentados no Quadro
4.7 e o estado dos provetes ao longo do ensaio pode ser verificado na Figura 4.3.
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Figura 4.3. Provetes ensaiados. a) Antes do ensaio; b) Após o 8º ciclo; c) Após o 16º ciclo.
Como pode ser observado na Figura 4.3 o provete ABR 3 perdeu um pedaço durante o desgaste na face
II do conjunto do 8º ciclo, as massas podem ser conferidas no Quadro 4.8.
Quadro 4.8. Peso dos provetes.
Massa (g)
Fase
ABR1 ABR2 ABR3
Após a obtenção de todos os dados definiu-se a perda de volume após 16 ciclos e os resultados obtidos
para o ensaio de abrasão realizado através do método de Bohme são apresentados no Quadro 4.9.
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Apesar dos resultados obtidos no ensaio (ΔVABR1=1,50 cm³/50 cm², ΔVABR2=1,83 cm³/50 cm²,
ΔVABR3=1,73 cm³/50 cm²) estarem abaixo do limite imposto pela norma de 30 cm³/50 cm², os provetes
não atenderam as dimensões mínimas necessárias de 71±1,5. Os três (ABR1, ABR2 e ABR3)
apresentaram alturas iniciais inferiores a 69,5 mm, que seria a altura mínima permitida. Portanto, o
ensaio deveria ser repetido com novos provetes que possuíssem essas dimensões.
Ademais, é importante ressaltar que devido a intensa vibração, os provetes foram desgastados na lateral
devido ao atrito com o equipamento, o que interfere de forma direta na massa final.
As pesagens realizadas durante todo o ensaio de massa do provete seco, massa do provete seco selado,
massa do provete após sucção de água por capilaridade após 24 h e massa do provete seco saturado são
apresentadas no Quadro 4.11, bem como o cálculo do coeficiente de absorção capilar e a capacidade de
absorção.
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W24h Wm,a
Provete md (g) md,s (g) mh,24h (g) mh,c (g)
(g/cm²) (%massa)
Como pode ser observado no Quadro 4.11 os 3 provetes possuem valor de absorção total de água inferior
a 8% em massa e a absorção de água é inferior a 0,4 g/cm². Portanto satisfaz as condições impostas na
norma NP EN 13748-1.
Quando a análise foi realizada pela norma NP EN 13748-2 verifica-se que existem 3 classes de
resistência atmosférica. Para as classes 1 e 3 o desempenho referente à absorção de água por % de massa
não é medido. Já para a classe 2, é necessário que o desempenho da absorção de água seja em média ≤
6 %, então, como todos os valores obtidos no ensaio são superiores a 6, pode-se afirmar que os mosaicos
não atendem a classe 2 da referida norma.
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
5
CONCLUSÃO
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mecânicas, físicas e químicas para além de poder apresentar um aspeto final especial que poderá ser
cobiçado em nichos de mercado exóticos.
Logo, esta tese de mestrado estudou a incorporação do LW numa argamassa cimentícia de revestimento,
especificamente para mosaicos. No Quadro 5.1. apresentam-se os resultados da primeira iteração deste
programa de investigação que consistiu em ensaiar provetes de diferentes composições, variando a
relação água/cimento, a percentagem de LW em volume e o tipo de cimento.
Quadro 5.1. Síntese dos resultados dos estudos preliminares.
A partir dos resultados obtidos nos testes preliminares, a argamassa a ser utilizada para produzir os
ladrilhos hidráulicos foi definida, sendo esta a T7. Produziram-se mosaicos para os ensaios de resistência
à rotura, abrasão e absorção de água. Ademais, foram verificados os aspetos relativos a aparência do
produto acabado.
Apresenta-se assim no Quadro 5.2. a síntese dos resultados obtidos no decorrer do presente estudo
relativo a mosaicos com a incorporação do LW na substituição parcial em volume da areia em 20% e
ainda a conformidade ou não com as normas.
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ABR1 1,50 OK OK
ABR2 1,83 OK OK
ABR3 1,73 OK OK
Ao analisar os resultados, pode se perceber que os mosaicos atentem as especificidades das normas
quanto à abrasão e parcialmente à absorção. Contudo, ainda não atende os requisitos quanto a resistência
à rotura.
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MABR4 16,14 OK OK
MABR5 - - -
MABR6 18,42 OK OK
Como se pode constatar, apesar dos resultados do presente estudo ainda não serem satisfatórios,
apresentam um melhor desempenho que no primeiro trabalho realizado. Note-se que a principal causa
de não se terem atingido os objetivos nesta segunda tentativa pode ter a ver com o facto de não existirem
ainda disponíveis equipamentos dedicados para o fabrico de mosaicos.
Vale destacar que em relação às inconformidades no que diz respeito a resistência dos mosaicos embora
se tenha previsto uma determinada resistência à flexão aquando dos estudos preliminares, calculada em
provetes de argamassa compactada de acordo com a normalização em vigor para determinação da
resistência do cimento (NP EN 196-1), na realidade o material resultante do processo de fabrico dos
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mosaicos não terá sido suficientemente compactado levando a que a argamassa resultante fosse menos
densa, mais porosa e portanto menos resistente. Esta hipótese pode ser confirmada ao comparar os
valores de massa volúmica do provete 4×4×16 cm³ com a do mosaico apresentados no Quadro 5.4. Nota-
se que o provete é 17% mais denso do que o mosaico.
Quadro 5.4. Comparação da massa volúmica do presente estudo.
Com o objetivo de verificar se no estudo realizado anteriormente também ocorreu a diferença da massa
volúmica entre o mosaico e o provete, buscou-se os dados e apresenta-se os resultados no Quadro 5.5.
Quadro 5.5. Comparação da massa volúmica do estudo anterior.
Neste caso, pode-se perceber que o provete é 6% mais denso que o mosaico. Apesar da diferença ser
menor do que os 17% encontrados para a mistura com a combinação T7, também se comprova que a
vibração não foi a mais adequada.
Ainda que se tenha constatado que a densidade do mosaico é demasiado baixa devido a compactação
ineficiente, não parece viável aumentar muito o tempo de compactação uma vez que pode-se correr o
risco de segregar o material, isto é, o material mais leve, LW, sobrenadar os outros constituintes da
argamassa. Portanto parece fundamental tentar produzir os ladrilhos com o auxílio de uma prensa
adaptada ou mesmo produzir mosaicos de dupla camada. Nestes, a camada principal seria uma
argamassa convencional sem o material reciclado, e a camada de acabamento seria com a inserção do
LW como substituo parcial da areia.
Por fim, ao se tratar de um estudo inovador, é preciso que a equipa de investigação permaneça
investigando e aprofundando os conhecimentos sobre este resíduo em específico com o objetivo de
encontrar melhores resultados em argamassas de revestimento e mesmo noutras aplicações. Torna-se,
portanto, cada vez mais premente incentivar o desenvolvimento de novas pesquisas no segmento da
incorporação de resíduos industriais em elementos da construção civil e, logo, servir como exemplo de
sustentabilidade através da responsabilidade social e ambiental.
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Resíduo Industrial: Estudo da Aplicabilidade em Materiais de Construção
não possui registos na literatura algumas sugestões de futuros estudos são apresentadas. Portanto, com
base nas conclusões deste trabalho, listam-se os seguintes tópicos para trabalhos futuro.
• Estudar o modo de compactação, de preferência com uma prensa e moldes adequados, de
modo a obter uma argamassa mais densa levando a valores da resistência e geometria
conformes;
• Realizar um estudo específico e aprofundado sobre CR-39;
• Estudar a incorporação de adjuvantes que auxiliassem na trabalhabilidade das misturas;
• Reduzir a relação água cimento;
• Estudar a viabilidade de produzir mosaicos de dupla camada com LW somente na camada
superficial;
• Avaliar o impacto económico da viabilidade da incorporação de LW em argamassas;
• Avaliar o impacto ambiental que a incorporação do LW em argamassas pode proporcionar.
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