BRASIL REPÚBLICANO II
UNESP – FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS – CÂMPUS DE ASSIS/SP
R.A: 221241566 Período: Noturno 25/11/2024
DISCENTE: THIAGO PEREIRA CAMARGO COMELLI
DOCENTE: EDUARDO ROMERO DE OLIVEIRA1
Atividade 4 (Política Cultural do Estado Novo e Escola Nova)
Atividade 1: “A reforma da educação com que se institui a escola para todos (escola única),
organizada à maneira de uma comunidade e baseada no exercício normal do trabalho em
cooperação, implantou no Brasil escolas novas para uma nova civilização. Pondo na base as
ideias igualitárias de uma sociedade de forma industrial, em marcha para a democracia e na
cúspide da pirâmide revolucionária da reforma, os ideais de pesquisa, de experiência e de ação,
quis o estado preparar as gerações não para a vida, segundo uma representação abstrata, mas para
a vida social do seu tempo, sob um regime igualitário e democrático em evolução, transmudando
a escola popular não apenas em instrumento de adaptação (socialização) mas num aparelho
dinâmico de transformação social. Para este fim, a reforma articulou a escola com o meio social,
modificou a sua estrutura remodelando-a num regime de trabalho e de vida comum, sob a feição
de uma comunidade em miniatura, em que seriam utilizadas as diversas formas de atividade
social, que desenvolvem o sentimento de responsabilidade, de sociabilidade e de cooperação".
AZEVEDO, Fernando. Novos caminhos e novos fins (1958).
1
Livre-docente em Patrimônio Cultural (UNESP, 2019), Doutor em Filosofia (Universidade de São Paulo, 2003), Mestre em
História (Universidade de São Paulo, 1995)
Pós-doutoramento: Universidade do Minho (2010), Universidade de Birmingham/ Ironbridge International Institute for Cultural
Heritage (2015). Professor visitante Master Erasmus Mundus Techniques, Patrimoine, Territoires de l`Industrie, na Université
Paris I Pantheon Sourbonne (2019). Professor Associado na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (desde 2004),
na graduação (UNESP, campus de Rosana), no Programa de Pós-Graduação de História Social (UNESP/FCL, campus de Assis)
Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (UNESP/FAAC, campus de Bauru). Membro de comissões científicas e
parecerista: como parecerista na FAPESP, Boletim do Museu Emilio Goeldi, Revista de História (UNESP), Membro do Comitê
Científico de Patrimônio Histórico na Revista de História TST - Transportes, Servicios y Telecomunicaciones e Membro do Corpo
Editorial da revista The Historic Environment: Policy & Practice.
Presidente do Comitê Brasileiro para Conservação do Patrimônio Industrial (2021-2023). Membro do grupo de trabalho ICOMOS
Our Common Dignity Rights-based Approaches Working Group (2018 atual).
Desenvolve investigações em temas relativos a patrimônio cultural, história dos transportes e memória. Possui diversos trabalhos
publicados sobre patrimônio industrial, história do transporte ferroviária, memória e turismo cultural. Nos últimos anos tem
desenvolvido pesquisa sobre patrimônio industrial ferroviário (identificação, preservação e gestão), com colaboração de
pesquisadores brasileiros e estrangeiros. (Fonte: Currículo Lattes)
FICHAMENTO DE AULA
Explique o que foi o Movimento da Escola Nova (1932) e como ele orientou políticas públicas de
educação nos anos 1930 e 1940.
Atividade 2: Decreto 22.928 de 12 de julho de 1933: O Chefe do Governo Provisório da
República dos Estados Unidos do Brasil, usando das atribuições contidas no art. do decreto n.
19.398, de 11 de novembro de 1930
Considerando que é dever do Poder Público defender o patrimônio artístico da Nação e que
fazem parte das tradições de um povo os lugares em que se realizaram os grandes feitos da sua
história;
Considerando que a cidade de Ouro Preto, antiga capital do Estado de Minas Gerais, foi teatro de
acontecimentos de alto relevo histórico na formação da nossa nacionalidade e que possui velhos
monumentos, edifícios e templos de arquitetura colonial, verdadeiras obras d'arte, que merecem
defesa e conservação;
Resolve:
Art. 1º Fica erigida em Monumento Nacional a Cidade de Ouro Preto, sem ônus para a União
Federal e dentro do que determina a legislação vigente.
Explique este decreto a partir dos comentários de aula e do texto de Monica Velloso
FICHAMENTO DE AULA
Formalizado em 1932, com a publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova,
o movimento representou uma reforma educacional alinhada às transformações sociais, culturais
e econômicas do Brasil no início do século. Inspirada por pedagogos como John Dewey, Édouard
Claparède e Maria Montessori, o movimento brasileiro buscou adaptar o sistema educacional à
modernidade e às demandas da industrialização e urbanização. Surgida como uma espécie reação
às limitações do ensino tradicional, que era caracterizado pela memorização mecânica e pela
centralidade do professo, a Escola Nova era norteada por um ideário que definia a educação
centrada no aluno, na experimentação prática e na formação integral, com ênfase no
desenvolvimento de habilidades críticas e na participação ativa dos estudantes no processo de
aprendizado.
Grosso modo, essa perspectiva estava profundamente ligada ao conceito de pragmatismo
educacional, que via a educação como ferramenta para resolver problemas sociais e preparar
cidadãos para a democracia e o trabalho produtivo. No Brasil, a adoção desse movimento
também refletia o embate entre os valores liberais republicanos e as estruturas oligárquicas
herdadas do período imperial, que privilegiavam as elites agrárias. O Manifesto de 1932,
assinado por intelectuais como Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e Cecília Meireles,
defendia a democratização do ensino, a laicidade da educação e a valorização da formação de
professores, posicionando a educação como um direito fundamental e um dever do Estado.
De acordo com Saviani (p.244), o “Manifesto apresentou-se como uma instrumento
político que expressou a posição de um grupo de educadores aglutinados desde a década de 1920,
que vislumbrou na Revolução de 1930 a oportunidade de exercer o controle da educação no país.
Todavia, recebeu uma avalanche de críticas oriundas dominantemente de intelectuais ligados à
Igreja Católica, tendo à frente Alceu Amoroso Lima. Todavia, para a trindade governamental da
década de 1930 (Vargas, Campos e Capanema), os princípios da educação cristã, assim como os
princípios pedagógicos renovadores não tinham valor em si, mas eram vistos como instrumentos
de ação política.
O governo de Getúlio Vargas, iniciado em 1930, coincidiu com a emergência das reformas
educacionais propostas pelos escola novistas. Dentro da agenda governamental varguista sobre a
modernização brasileira, houve também um engajamento quanto ao fortalecimento de instituições
de ensino. Durante o período, ocorreram mudanças significativas no campo educacional, marcada
especialmente pela criação do Ministério da Educação e Saúde Pública (1930), pela Constituição
FICHAMENTO DE AULA
de 1934 pela educação profissionalizante. A criação do Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI) em 1942 exemplifica como o escolanovismo foi reinterpretado para atender
às necessidades de uma economia industrial em expansão, priorizando a formação de mão de
obra qualificada.
Para Saviani, Fernando de Azevedo foi o principal divulgador e apologeta do movimento
da Escola Nova no Brasil. Em Novos Caminhos e Novos Fins: a nova política de educação no
Brasil – subsídios para uma história de quatro anos, percebe-se o intento de reformar a instrução
pública do Distrito Federal, dirigido por Azevedo entre 1927-1930. Nessa obra, o autor afirma
que a política nacional de educação e cultura haviam atingido seu ponto culminante com a
Constituição de 1937. Não obstante, Azevedo fazia cursos avulsos e tinha interesses intelectuais
diversificados pela literatura, sociologia, política e economia (SAVIANI, p.210-211)
Para Azevedo, a lei que instituiu a reforma incorporou a própria essência da nova
concepção pedagógica, integrando, numa unidade de concepção e plano, as diversas
contribuições dos autores integrados do movimento reformador. Para ele, o ideal da Escola Nova
envolvia três aspectos: escola única, escola do trabalho e escola-comunidade. A primeira,
entendia como uma educação infantil uniforme (primário), de formação comum, obrigatória e
gratuita, com duração de 5 anos. Quanto a escola do trabalho, alinhava-se ao que o autor concebia
como a transformação da atividade educativa num instrumento de reorganização econômica. Por
último, a escola-comunidade postulava que a escola fosse organizada como uma comunidade em
miniatura, que incentivasse o trabalho em grupo (SAVIANI, p.212)
Portanto, pode-se afirmar que o movimento denominado como Escola Nova orientou as
políticas públicas de educação nos anos 1930 e 1940, haja vista que funciono como um
catalisador de debates e reformas que reconfiguraram a educação brasileira durante o Estado
Novo. Apesar das limitações práticas e das tensões com o autoritarismo, deixou um legado
fundamental, especialmente na defesa da educação pública, laica e universal, além de
metodologias pedagógicas centradas no aluno, que continuaram a influenciar políticas
educacionais no Brasil no pós-guerra.
FICHAMENTO DE AULA
O Decreto nº 22.928, de 12 de julho de 1933, foi promulgado durante o Governo
Provisório de Getúlio Varga. Esse decreto elevou a cidade de Ouro Preto à condição de
Monumento Nacional, justificando-se pela relevância histórica, artística e cultural da cidade no
processo de formação da identidade brasileira. O governo de Vargas buscou consolidar uma
identidade nacional, em parte por meio da valorização do patrimônio histórico e cultural. O
período foi marcado pelo esforço em reforçar símbolos que expressassem a unidade nacional e as
raízes históricas do Brasil, como forma de criar um senso de pertencimento em uma sociedade
marcada por desigualdades regionais e sociais.
Antes do decreto n nº 22.928, a preservação do patrimônio histórico brasileira era
incipiente. Ouro Preto, uma das principais cidades do Ciclo do Ouro e palco de eventos como a
Inconfidência Mineira, era vista como um símbolo da história colonial e da luta pela liberdade,
que a partir da década de 1930, passou a ter uma ressignificação histórica à medida que o Estado
Novo lançava mão de uma política cultural e educacional, destinada a formar cidadãos. Nesse
ínterim, os intelectuais políticos tiveram papel fundamental para os desígnios traçados pelo
governo de Vargas.
De acordo com Velloso (p.139), o período do Estado Novo é particularmente rico para a
análise das relações entre intelectuais e o Estado, haja vista que nesse período se revelou uma
profunda inserção desse grupo social na organização político-ideológica do regime. Na mesma
linha, houve uma relação entre a propaganda política e educação durante o governo Vargas, em
que os intelectuais consistiram no grupo privilegiado para o projeto de educar a coletividade de
acordo com os ideais doutrinários do regime. Dentro desse projeto educativo, a autora distingue
duas instâncias de atuação estratégica, a saber: o Ministério da Educação, dirigido por Gustavo
Capanema e o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), encabeçado por Lourival Fontes.
Entre essas entidades, ocorreria uma espécie de divisão do trabalho, visando atingir
clientelas distintas: O Ministério Capanema voltava-se para a formação de uma cultura erudita,
enquanto o DIP buscava orientar as mais distintas manifestações das culturas populares.
Consubstanciando essas duas orientações culturais, Velloso enfatiza o postulado doutrinário
enfatizado pelos representantes do regime, a saber: a união entre o homem de pensamento e o
homem da ação, a política e a literatura. A entrada de Getúlio Vargas para a Acadêmico Brasileira
de Letras, em dezembro de 1943, marca a simbiose entre o “verbo e a ação”, idealismo e
pragmatismo.
FICHAMENTO DE AULA
Não obstante, é possível perceber uma certa retórica antiliberal que fundamentaria o papel
atribuído ao intelectual. Segundo Velloso, no liberalismo era aceitável que o intelectual fosse
inimigo do Estado, visto que este não representava o verdadeiro Brasil. Já no Estado Novo, tal
fato não poderia ocorrer, pois o ideário varguista concebia o Estado como tutor, pai da
intelectualidade, identificado com as forças sociais. Em outras palavras, a partir do momento em
que o Estado marca presença em todos os domínios da vida social, não por que o intelectual
manter a antiga posição de oposicionista ou insistir na marginalidade (VELLOSO, p.146-147)
Grosso modo, a educação popular garantiria a homogeneidade entre cultura e valores.
Durante o governo Vargas, esta era vista como uma forma de assegurar a organização do regime,
que ajudaria também a invalidar manifestações culturais prejudiciais ao interesse nacional.
Assim, o rádio, os teatro de revista e o samba deveriam ser saneados para o ideário estadonovista,
à medida em que ampliava o acesso à arte, que introjetaria os ideais de “bom exemplo, certo e
direito” na massa. Nessa perspectiva, caberia ao intelectual o papel de falar ao inconsciente dos
sujeitos, norteado pelos imperativos da integração política.
Segundo Velloso, figuras como Francisco Campos defendiam a técnica intelectualista de
utilização do inconsciente coletivo para o controle política da nação. Assim, o intelectual falaria a
linguagem do inconsciente das massas, composto por forças telúricas e emoções primitivas.
Segundo o advogado e educador estadonovista, o universo íntimo das camadas populares seria
local privilegiado para o mito da nação e do herói. Não à toa, o regime recorreria
incansavelmente aos dramas épicos, narrativas heroicas, lendas e crônicas. O civismo e a
exaltação dos valores pátrios compuseram o pano de fundo em que se desenrolariam essas
narrativas.
O exemplo do radioteatro demonstra com clareza esse projeto de cultura voltado às
massas durante o Estado Novo: recomendava-se que o estilo dogmático dos historiadores e o tom
doutrinário dos sociólogos fosse preterido em prol da narrativa romanceada. Para Velloso (p.154),
o drama amoroso de Marília e Dirceu seria mais convincente para transmitir o senso de amor
cívico do que o puro relato dos fatos. Na mesma linha, a história exemplar da Inconfidência
Mineira penetraria com mais força no universo cotidiano dos ouvintes, pois era ressignificada
para criar uma identidade de valores. Assim, vários teatrólogos e historiados são convidados para
atuar o radioteatro, como Joraci de Carvalho, que escreveu uma série de dramas históricos para
FICHAMENTO DE AULA
serem transmitidos pela rádio Hora do Brasil. Em suma, o vultos históricos estabeleceriam uma
trajetória do já vivido, experimentado e consagrado, bastando segui-los.
Portanto, o Estado Novo planejou a questão cultural de modo a buscar raízes de uma
brasilidade desejada pela cúpula varguista, mostrando-se preocupado em converter a cultura em
instrumento de doutrinação, pari passu a consagração de uma tradição, simbolismo e de heróis
nacionais. Confecciona-se uma história das grande efemérides, em que personalidades como
Caxias e Tiradentes são apropriados como exemplos nos quais o país deve buscar inspiração e
força para superar a crise da modernidade e do liberalismo que marcou a República denominada
como Velha. O Decreto nº 22.928, de 12 de julho de 1933, exemplifica esse cuidado em reforçar
o patrimônio histórico da cidade de Ouro Preto, haja vista sua carga de exemplaridade histórica
para o Estado Novo e seu ideário, que liga os acontecimentos da Inconfidência Mineira com a
Revolução de 1930, como se ligados pelo mesmo cordão umbilical.