Ensino Da Historia e Memoria Coletiva
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CDU 37.01:930
imobilidade política que provocava, uma vez que as respostas aos problemas inter-
nos dependiam exclusivamente do exterior, do capitalismo internacional.
Na busca de explicação da posição do Brasil junto ao mundo globalizado, no-
vamente ocorreram aproximações com as condições dos países latino-americanos.
Os debates que ocorriam em encontros de professores da rede com historiadores
passaram a enfatizar mudanças nas análises sobre os problemas nacionais e latino-
americanos, constatando-se que, sobretudo pela análise da produção didática, ha-
via simplificações que reduzem a história da América Latina em etapas sucessivas
de dependência econômica: a dependência colonial, a dependência primário-ex-
portadora, a dependência tecnológico-financeira. Da mesma forma, nesse processo
de crítica ao estruturalismo, havia ainda a tendência de se criarem generalizações
que impediam a compreensão das situações internas, particulares e regionais:
Mas também não podemos trocar essa missão de construir consciências nacionais
por aquela de outorgar às identidades regionais espaços multinacionais, como o
Mercosul, de um passado tão imaginário e, talvez, mais artificial do que o anterior.
não exclua a política, mas esta necessita ser revista quanto aos seus conceitos
fundamentais: poder, estado, partidos políticos e movimentos sociais, entre ou-
tros. Torna-se fundamental aprofundar estudos sobre os diferentes sujeitos que
participaram e participam da história local e nacional, sejam indígenas, trabalha-
dores urbanos ou rurais, políticos, empresários, fazendeiros, religiosos, etc.
As relações entre pesquisadores e professores tornam-se vitais no processo
para que a redefinição da constituição de identidades sociais não se fragmente em
estudos de “caso” e se tornem dogmáticas e maniqueístas, repetindo o percurso
muitas vezes delineado pela constituição de uma identidade nacional elitista e
excludente. Na atualidade, os estudos históricos nas escolas estão associados ao
desenvolvimento intelectual dos alunos dos diferentes níveis de escolarização,
além de ligados a seus processos de socialização em diversas esferas, fornecendo
legitimidade à constituição da vida social, aos conflitos e projetos políticos. Esse
compromisso do ensino de história, ao lado da sua inerente condição de formador
de valores, juntamente com os demais componentes escolares, situa com precisão
o atual momento da história da disciplina.
A introdução da história da África e da cultura afro-brasileira e africana inse-
re-se nessa condição contemporânea do papel da história escolar, tendo como
pressuposto a constituição de identidades sociais e de uma redefinição de uma
identidade nacional. A nação não é mais concebida como relacionada de forma
umbilical e intrínseca a um problema político a fim de legitimar o estado. Está
condicionada a uma concepção da relação entre nação e povo que necessariamente
deve preocupar-se com todos os seus cidadãos. Essa relação que também não é
nova modifica-se, nesse momento da história do ensino de história, por ser uma
aspiração e por ter, efetivamente, a participação dos próprios grupos sociais excluí-
dos da denominada história nacional, tendo como paradigma uma identidade na-
cional concebida não de forma homogênea, mas fundada na diversidade.
NOTAS
1. Uma série de pesquisas, muitas delas teses e dissertações, algumas já publicadas, têm
sido realizadas no Brasil e apresentadas, não de forma extensiva, nas referências. Pode-
se também consultar as referências no site do Banco de Dados LIVRES (http://paje.fe.
usp.br/estrutura/livres/index.htm) que apresenta um balanço bastante extenso sobre
as pesquisas referentes à história dos livros didáticos das diferentes disciplinas, sendo
que muitos desses estudos abordam o papel dos livros didáticos na formação da iden-
tidade nacional.
2. Sobre a constituição e as práticas do currículo humanístico clássico e do científico, a
referência é o artigo Les humanités dans l´histoire de l´enseignement français, de André
Chervel e Marie-Madeleine Compère, publicado em 1997.
3. História comparada nas fronteiras do Mercosul: uma experiência entre instituições de
ensino brasileiras e argentinas, de Maria de Fátima Sabino Dias e Maria José Reis, apre-
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.