EU SOU O CAOS - B.V Smith

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Título original: Eu sou o Caos

Copyright © 2024 – BV Smith

Revisora: Amanda Mont'Alverne


Betas: Andriela Bessa, Emylly Rocha e Amanda Mello
Capa e Diagramação: Grazi Fontes

Esta é uma obra de ficção.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida
por qualquer forma e/ou quaisquer meios existentes
sem prévia autorização por escrito da autora.
Os direitos morais foram assegurados.
A violação dos direitos autorais é crime,
estabelecido pela lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo
184 do Código Penal.
Dedicatória
Carta da Autora
Leia meus outros livros
Avisos e lista de gatilhos
Playlist
Sinopse
Prólogo

ATO I
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16

ATO II
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32

ATO III
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43

ATO IV
44
45
46
47
48
49
Epílogo
Nota das betas
Nota da revisora
Agradecimentos
“A todas nós que desejamos um amor tão insano quanto Hailey e
Dimitri, com promessas, tesão e lealdade que dure além da vida
terrena, esse livro foi feito para vocês.”
"De um caos tão grande só pode surgir algo maior,
algo imortal como a própria vida."
— Cândido ou o Otimismo, de Voltaire
Oi, bebezinhas.
Esse livro não me deixou fazer apenas uma nota,
mas sim uma carta para vocês, então é importante,
peço que você não a pule, ok?
A carta que escrevo agora, se baseia em 80% do
livro, todavia eu precisava externar todo o sentimento
que esses dois personagens me trouxeram. Para
você que é nova ou chegou por aqui agora, este é
o meu livro mais difícil, mais sombrio, mais
doloroso, então se você me conheceu por este livro,
eu te desejo boa sorte e peço encarecidamente que
não desista de mim. Meus outros livros tem mais
luz, mais leveza, e até uma dose considerável de
felicidade.
Esse livro é para ferir, para machucar, para
externalizar toda a dor e carga emocional desses dois
personagens, que são completamente insanos,
quebrados, sujos e obcecados um pelo outro.
Quando Dimitri começou a gritar sua história na
minha cabeça, eu o ignorei… kkk! Não me parecia
saudável dar ouvidos a um lado tão maligno e feio,
afinal os personagens de certa forma são parte de
mim, parte da minha história e do que eu vejo como
sofrimento, dor e agonia.
O sentimento de escrever as primeiras páginas
foram de puro terror e desespero, eu não tinha ideia
de como a história se desenrolaria, das críticas que
eu receberia, como esses personagens seriam
recepcionados pelo público, já que minha audiência
sabe que nunca tinha escrito dark, e não porque não
gosto do gênero, mas pela dificuldade emocional de
viver todas as fases junto deles.
Dimitri e Hailey tiveram anseio de contar sua
história e eu, como autora, tive medo!
Em todos os livros que escrevi, sempre teve
aquele fatídico momento em que os personagens
pararam de falar, e tive de usar de certa ‘’técnica’’
para manter a estrutura narrativa da história, mas
neste livro esse momento nunca chegou, eles nunca
se calaram. Se eu não me obrigasse a fazer pausas
necessárias, certamente teria enlouquecido. É sério.
Eles não calavam a boca.
Eu passei por tantas nuances de sentimentos
nesse livro, revisitei lugares tão obscuros meus,
cutuquei feridas tão antigas, tudo para trazer e viver
toda a história desses dois filhos da puta. Chorei
litros, ri bastante, fiquei fodidamente excitada, eu vivi
cada segundo deste livro.
Hay e Dimi, são um completo caos, uma bola de
destruição que de certa maneira se completa. Eu os
odiei, fiquei com raiva deles, quis pegá-los no colo e
dizer que ia ficar tudo bem, chorei com eles (boa
parte do livro), e dentro de tudo isso:
Os amei insanamente.
Esses personagens não só me mostraram que
mesmo no meu lado mais feio existe algo bonito, que
mesmo nas cicatrizes mais horríveis se existe beleza,
que mesmo nas situações mais fodidas e obscuras,
ainda se é possível obter luz. Eles me ensinaram
sobre resistência, sobre o poder em meio ao caos,
sobre a intensidade que se tira da raiva, sobre a fome
pela sobrevivência, sobre a lealdade que ultrapassa a
vida terrena.
Meu livro mais difícil me ensinou mais sobre mim
do que já pude imaginar em 26 anos. Essa obra é a
minha maior expressão de sentimento até aqui. O
último livro do ano de 2024 não poderia ser um
simples romance, eu teria que quebrar todas as
barreiras que ainda tentam me prender, arrebentar
todas as correntes que insistem em me amarrar.
Eu teria que aceitar que em mim existe Caos!
No entanto, eu gostaria de te preparar, esse livro
vai te fazer chorar, vai te deixar com ódio, vai te
machucar, vai acender sentimentos muito ruins em
você, mas ao terminá-lo, eu espero que como eu,
você se sinta livre e curada. Talvez seja necessário
realizar pausas esporádicas para respirar, tomar água
e só então retomar a leitura. Está tudo bem, eu te
entendo.
Acredito que agora seja o momento de agradecer
as pessoas maravilhosas que Deus me presenteou
para que esse lançamento acontecesse da maneira
que está acontecendo. Fazer os bastidores sozinha é
uma loucura e ter esse apoio fez total diferença para
que Dimi e Hay chegasse até suas mãos.
Obrigada Emy.
Obrigada Dri.
Vocês são anjos incríveis, meu dream team de
respeito.
No mais, peço que leia esse livro com calma, que
se atente a cada vírgula e parágrafo, sinta cada
emoção que será transmitida em doses cavalares a
você, e acredite serão muitas! E quando terminar,
avalie-o na Amazon, eu sou uma autora independente
que vive única e exclusivamente deste sonho.
Indique Eu sou o Caos para sua amiga e chorem
muito juntas, por cima e por baixo! Obrigada por estar
aqui, espero muito que você se apaixone por esses
dois, obviamente depois de odiá-los muito, sinta-se à
vontade para me enviar os surtos lá na DM do
Instagram @bvsmith.autora.
Ah, outra coisa. Leia a lista de gatilhos, você vai
precisar.
Obrigada e Feliz Natal!
Atração Perigosa
Um romance incrível, sobre um policial honesto e
uma ladra de diamantes. Um sabor delicioso, garanto
que vou reavivar suas fantasias com policiais.
AGE GAP - POLICIAL X LADRA - MOCINHA
OBCECADA - SLOWBURN - HOTS QUENTÍSSIMOS

Doce Demais Para Mim


Um Grumpy x Sunshine, sobre um mafioso russo,
e uma mocinha inocente, garanto que você vai se
apaixonar.
GRUMPY X SUNSHINE - AGE GAP - FAST BURN
- MOCINHA INOCENTE X ASSASSINO - ELE TENTA
MATAR O PAI DELA.
Querida leitora, conforme fui escrevendo este
livro, a lista de gatilhos foi aumentando e obviamente
para que não haja spoilers, não vou conseguir citar
todos os gatilhos presentes. Mas acredito que a
grande maioria está listado aqui, além disso, todos os
capítulos com temas sensíveis terão um aviso no
início, então esteja atenta a isso.
Abaixo deixo a lista de gatilhos, preserve sua
saúde mental, caso algum desses temas seja sensível
para você, não prossiga com a leitura.
Autoflagelação (machucar a si mesmo);
Algumas cenas fazem menção a BDSM
(contudo não são praticantes);
Mortes descritivas (tortura, sangue e uso de
objetos cortantes);
Violência verbal e psicológica;
Tortura;
Obsessão;
Codependência emocional;
Agressão física e psicológica;
Consumo de álcool e drogas lícitas e ilícitas;
Palavras de baixo calão;
Assassinatos;
Sexo explícito;
Relacionamentos doentios;
Abuso sexual e estupro (não entre os
protagonistas);
Abuso infantil;
Esse não é um livro fácil, esses dois personagens
têm muita carga emocional e não buscam justiça, eles
buscam vingança, sem medir esforços para consegui-
la. Novamente peço caso algum desses temas seja
gatilho para você não prossiga com a leitura.
Bebezinhas, essa playlist foi pensada com imenso
carinho para vocês. Para uma melhor experiência, as
músicas estão numeradas pelas ordens dos capítulos
e sugiro que acompanhe a leitura junto com a mesma.
Basta abrir a pesquisa do Spotify e ativar a opção
da câmera do celular e escanear o QR CODE abaixo
ou clique no LINK
Hailey Evans, a assassina mais letal da CIA,
esconde um passado doloroso: cresceu como orfã nas
ruas de Moscou. Durante sua infância, conheceu
Dimitri, o único amor de sua vida, e juntos fizeram um
pacto de permanecer unidos até a morte. Mas Dimitri
quebrou a promessa, despedaçando o coração de
Hailey. Determinada a vingar-se, ela agora o persegue
implacavelmente, movida por uma mistura de dor e
fúria.
Dimitri, conhecido como "O Carniceiro", foi
forjado em um ambiente de brutalidade e violência,
transformando-se em um dos mais jovens e temidos
torturadores da máfia russa. Ele mascara a dor de um
passado trágico através de um humor mórbido e uma
crueldade pulsante. Quando Hailey finalmente o
encontra, o confronto é inevitável. Ela, a garota que
ele acreditou ter o abandonado e que prometeu
vingança, agora se torna sua caçadora, mas Dimitri
também tem sua própria punição em mente.
Em um jogo mortal de perseguição e
ressentimento, antigos amores se transformam em
inimigos mortais, e a linha entre desejo e vingança se
torna perigosamente tênue. Quem sobreviverá a este
embate de corações endurecidos pela dor e pelo ódio?
6 anos
Minha cabeça doía muito, o sangue escorrendo
pela minha nuca, sujando meu cabelo me deixava
com mais frio ainda e o vento congelante atacou meu
nariz, fazendo a coriza aumentar. Eu não gostava de
brigas.
Porque eu sempre apanhava!
— Vamos lá, sua bichinha! — ele berrou bem alto
na minha frente. — Roube meu biscoito agora, seu
viadinho de merda!
Não queria sair dali, queria manter a cara
enterrada na neve, se eu me levantasse, ia ser pior.
Sempre era! Konstantin e sua gangue de meninos,
que sempre me batiam, já tinham quebrado alguns
dentes que eu tinha, a minha sorte era que dentes de
leite voltavam a crescer. Eu só não sabia por quanto
tempo.
Não consegui permanecer muito tempo no meu
mundo protegido. Meu corpo estremeceu, a dor
espalhando-se por minhas costelas feito ervas
daninhas quando senti o chute dele com força contra
minha barriga. O vômito subiu e eu quase me
engasguei enquanto ele continuava a me chutar.
Mais. E mais.
O coro de risadas ecoou distante demais para que
eu conseguisse assimilar e meu corpo se contorceu,
tentando processar toda aquela dor, minhas
entranhas queimando com fogo vivo.
— Hey, seu desgraçado! Por que não pega alguém
do seu tamanho?
Uma voz fina e infantil se manifestou no meio de
toda aquela dor. Não consegui levantar a cabeça,
continuei vomitando apenas água e o resto dos
biscoitos que eu tinha roubado dele, já que não comia
há uns dois dias, quase engasgando com a mistura de
sangue, vômito e neve.
Ao longe consegui ouvir as risadas esganiçadas
de Konstantin e seus amigos. Usando muito mais da
curiosidade do que de qualquer força, obriguei-me a
erguer a cabeça, meus cílios estavam infestados de
neve grossa, mas mesmo com a visão embaçada pela
dor e pela neve eu nunca esqueceria aquela imagem
na minha vida.
Deus tinha me mandado um anjo!
​ alvez tenha demorado um pouco, de certo ele
T
estava muito ocupado com seus afazeres no céu,
cuidar de anjos e de todos aqueles animais não devia
ser fácil. Mas depois de seis anos, eu finalmente tinha
visto a imagem mais linda da minha vida desgraçada.
Ali, entre os garotos maiores, estava… meu anjo
em forma de uma… menina? Ela era pequena, com
botas rosas e gastas da Hello Kitty, um casaco grande
demais para ela, e segurava um cabo de vassoura
como se fosse uma espada. Fiquei boquiaberto. O que
diabos ela estava fazendo?
Os garotos pararam por um segundo, tão
surpresos quanto eu. Ninguém falou nada, mas o jeito
como se entreolharam deixava claro que eles não
esperavam isso. Eu também não. Nunca alguém
tentou me defender. E agora, de repente, essa
garotinha menor do que eu aparece com um cabo de
vassoura na mão, encarando todo mundo como se
fosse uma heroína de histórias que eu só ouvia de
longe.
Mas o que fez meu corpo inteiro arrepiar foi
quando ela virou-se por cima do ombro e me encarou.
Meu Deus! O senhor lá de cima gostava mesmo de
mim! Os olhos enormes e tão azuis quanto o céu
estavam carregados por tanta fúria, ódio e veneno
que tive que engolir seco.
— Hey, garoto! Levante-se agora! — ela
comandou, a voz era um murmúrio agudo, ela falava
como se eu não fosse mais velho que ela.
Como se meu corpo fosse obediente a ela, eu me
coloquei de pé tão rápido que senti a tontura me
atingindo. Cambaleei duas vezes até conseguir me
manter de pé, o sangue do meu cabelo desceu pela
testa e cuspi um pouco da mistura de vômito, sangue
e neve em minha língua.
— Sai daqui, sua vadia novata! Você não sabe de
nada! Ele roubou meu biscoito — Konstantin cuspiu
para ela.
A garota avançou com os dentes arreganhados e
com o cabo de vassoura para o pescoço dele, que
cambaleou para trás quase caindo. O anjo que Deus
me enviava era brava, mais baixa que eu, e parecia
uma das panelas de pressão da cozinha das madres,
prestes a explodir.
— Hey, garoto! — ela chamou virando-se para
mim, sem deixar de segurar o cabo com mais força do
que parecia possuir. — Você pode correr? —
questionou mais baixo, como se quisesse que apenas
eu escutasse.
Pisquei os olhos, tentando compreender o que ela
dizia. Eu era muito burro, mas naquele momento
parecia que tinha ficado um pouco mais. Os meninos
de Konstantin começaram a se aproximar para nos
encurralar, e segurando a minha mão com uma das
suas e o cabo de vassoura na outra, nós corremos
dali, o mais rápido que nossas pernas curtas
conseguiam aguentar.
Corremos tanto que meu coração parecia
explodir. Corri ao lado dela e estava apavorado, tanto
pela dor quanto pela adrenalina. Ela era rápida, muito
mais rápida do que eu imaginava para alguém tão
pequeno. Quando finalmente paramos, ofegantes, em
um beco estreito, encostei-me à parede suja e respirei
fundo. A dor no meu corpo começava a dar lugar à
exaustão.
Ela olhou para mim com um sorriso atrevido com
uma janelinha faltando onde deveria ser seu canino.
Ela ainda segurava o cabo da vassoura, agora apoiado
no ombro como se fosse um troféu.
— Você precisa lutar, garoto! Não pode ser um
maricas — repreendeu-me como se estivesse
brigando.
Franzi as sobrancelhas, a raiva crescendo dentro
de mim. A última coisa que eu precisava era de mais
críticas. A dor e a vergonha me fizeram responder
com raiva:
— Eu não sou um maricas! — protestei
enraivecido
Ela sorriu de novo, e naquele sorriso com dentes
faltando havia algo familiar. Era o mesmo tipo de
sorriso que eu havia visto uma vez pela janela de uma
casa em uma noite de Natal. Lembro-me de ter
espiado enquanto uma família se abraçava em frente
a uma árvore de Natal, a cena era calorosa e cheia de
felicidade. Algo dentro de mim se apertou ao ver
aquilo, uma vontade profunda e inexplicável de ter
aquilo, mesmo que eu nunca soubesse realmente
como seria.
— Ótimo! Vamos arrumar uma vassoura para você
— prometeu-me.
Sem esperar uma resposta, ela começou a correr
novamente, puxando-me com ela. Eu a segui, meus
pés pesando mais do que nunca, e naquele dia,
mesmo eu não entendendo muitas coisas e sendo
muito lento para raciocinar, tinha entendido que Deus
ainda se importava comigo, mesmo que meu anjo
tivesse o tamanho de um anão e dentes faltando. Ela
ainda era a coisa mais bonita e especial que eu já
tinha visto na vida.
Ela era a única coisa boa que me acontecia, em
seis anos!
Depois daquele dia Deus nunca mais foi bom
comigo novamente, mas pelo menos agora eu tinha
um anjo para me compensar.
Preposição
Um acordo ou compromisso solene é sugerido entre
as partes envolvidas. Esta etapa envolve a
apresentação das intenções e o que cada parte deseja
alcançar.
“Eu, eu sigo, eu sigo você
Meu querido destino sombrio, eu sigo você”
I Follow Rivers
Agosto de 2023

Existem diferenças expressivas entre uma


promessa, uma jura e um pacto. Uma promessa, por
exemplo, é apenas um compromisso ou declaração de
intenção, na qual uma pessoa garante que fará ou
deixará de fazer algo. A promessa geralmente
depende da palavra de quem a faz, sem a
necessidade de rituais ou formalidades, é algo trivial,
estamos prometendo algo o tempo todo, “Prometo
que vou tentar aparecer”; “Prometo que serei mais
gentil”; “Prometo que iremos no próximo fim de
semana”.
Fútil. Falha. Desonrosa.
Já uma jura pode ser considerada um
compromisso mais sólido, é uma forma mais solene e
enfática de promessa, geralmente feita sob
juramento. Ao jurar, a pessoa invoca algo sagrado,
como sua honra, a verdade ou uma força divina, para
reforçar a veracidade e a seriedade do que está
afirmando, comumente associado a fins religiosos. Eu
nunca fui devota a nada que não fosse a
sobrevivência, então para mim uma jura não tinha
nenhum tipo de valia.
Comum. Brega. Ultrapassado.
E por fim temos o pacto, que diferente de
promessas e juras, o pacto envolve um acordo formal
entre duas ou mais partes, com obrigações mútuas.
Um pacto tem um caráter mais recíproco e pode ser
visto como um contrato, onde todos os envolvidos
têm responsabilidades, podendo ser formalizado de
diversas maneiras, comumente atrelado a atos físicos
para concretismo daquele compromisso. Um clássico
exemplo são os pactos de sangue, em que nos
primórdios os guerreiros se cortavam e derramavam
sangue como demonstração de sua lealdade ao seu
imperador.
O sangue é uma forma muito etérea de se
vincular com alguém, eu diria até irreversível. Pactos
não devem ser quebrados, pois uma aliança feita por
sangue é mais séria do que qualquer outra coisa.
Intenso. Inabalável. Concreto.
Esse definitivamente era meu jeito de me
comprometer com algo.
O que ninguém te fala sobre pactos de sangue é
que caso uma das partes quebre esse compromisso
imperecível, a parte lesada ganha o direito de tomar a
vida daquela que foi negligente. Era por isso que eu
continuava, e era por isso que eu nunca pararia até
ter a porra da minha dívida paga.
Aperto com mais força o pau grosso em minha
mão, batendo uma punheta gostosa, sentindo o
líquido seminal melar meus dedos, enquanto minha
língua dança eroticamente com a da garota à minha
frente, minha outra mão segurando seu cabelo escuro
com firmeza, trazendo-a mais para mim. Seu gosto é
delicioso e chupo o lábio inferior dela, fazendo-a
gemer contra minha boca.
O tesão fervilha por debaixo da minha pele,
minha boceta pulsa encharcando mais os dedos dela,
que dedilha meu clitóris por baixo da saia e ondas
escaldantes de prazer se espalham pelas minhas
pernas.
— Porra! Me deixa beijar ela, Jane — grunhe John
com impaciência, em meio a gemidos.
Aumento o ritmo da punheta em seu pau e viro
meu pescoço para sua direção, deixando que ele
capture meus lábios melados de saliva. Sua boca
devora a minha, querendo extorquir o sabor de sua
namorada de mim, o beijo é faminto, erótico e safado,
ele suga minha língua fazendo um barulho luxurioso
reverberar. Jane aumenta o estímulo em meu clitóris e
eu estou quase lá, meu baixo ventre está queimando
e meu orgasmo está tão perto que tenho que me
esforçar muito para lembrar o porquê estou aqui,
participando dessa putaria.
— Ohh, porra! Ela vai me fazer gozar antes de
você me foder — gemo contra a boca de John e ele
me dá um sorriso canalha, adorando nossa
brincadeirinha.
Jane parece adorar minha confissão, e se
empenha ainda mais, enfiando seu dedo delicado
dentro de mim e iniciando um ritmo alucinante. John
começa a beijar minha orelha e pescoço, enquanto
uma de suas mãos voam para meus peitos,
apertando-os por cima da camisa de botões que eu
uso.
Porra! Que delícia, eu poderia gozar facilmente
com ela me fodendo deste jeito.
Com um sacrifício grande, consigo me
desvencilhar deles, fico de pé em frente dos dois, que
me encaram com os olhos brilhando de tesão, me
inclino para beijar Jane, sugando a língua dela, que
me retribuiu ansiosamente e me afasto um pouco,
sorrindo diabolicamente. Agarro um chumaço do seu
cabelo, puxando-a para se inclinar.
— Vem! Quero ver você chupando ele — ronrono.
Ela me dá um sorriso safado e vai de bom grado,
virando de lado e aproximando o rosto do pau dele.
Ajoelho-me e o seguro pela base grossa, guiando-o
para dentro da boquinha dela. Quando ele some entre
seus lábios grossos, eu e John gememos em uníssono.
Ela começa a sugar e babar ele, fazendo saliva
escorrer pelas suas bolas e como não consigo ver um
desperdício, me inclino para lamber o fio de baba que
molha aquele local.
— Caralho! Você é uma putinha muito gostosa,
está valendo cada centavo — elogia John, rosnando.
Continuo sugando suas bolas com um sorrisinho
de canto, enquanto Jane geme alucinada com o pau
grosso fodendo sua garganta. Me levanto e me inclino
um pouco beijando John na boca, minha mão puxa
seus cabelos e a outra o cabelo de Jane, conduzindo a
mamada que ela dá nele.
A verdade é que eu amo uma boa putaria, gosto
de foder quase tanto quanto gosto de matar. E a
vantagem do meu trabalho era que quase sempre
conseguia fazer os dois.
John geme roucamente quando lambo seus lábios,
deixando sua boca babada com minha saliva e Jane
geme sufocadamente com o pau dele quase a
engasgando. Pego sua mão grande e forte e estico
para que ela fique no braço do sofá. Puxo um pouco a
saia e me sento com as pernas abertas, posicionando
sua mão em minha boceta e ele rosna gemendo
enquanto aperto os cabelos de Jane e empurro sua
cabeça com mais força, obrigando-a levá-lo mais
fundo em sua garganta. Me esfrego como uma vadia
na mão de John, melando sua palma e dedos com
minha lubrificação.
Seus dedos grossos, passando entre os grandes
lábios, me faz revirar os olhos, esfrego para frente e
para trás, fazendo seus dedos resvalarem pelo meu
clitóris, entrada e ânus.
E puta merda! É delicioso.
— Caralho! Que delícia, sua boceta está tão
molhada — ele geme tentando mexer seus dedos para
me penetrar e o ajudo, levantando um pouco o quadril
e ajusto três de seus dedos, engolindo-os com minha
boceta. Afundo mais a cabeça de Jane, ouvindo-a se
engasgar com o pau dele. — Chupa tudo, amor, me
engole inteiro, caralho.
Jane luta para respirar pelo nariz com dificuldade,
mas ela é determinada e continua o boquete com
mais e mais afinco. É bonito ver aquele rostinho
angelical dela todo vermelho e coberto de saliva, as
bochechas inchadas pelo pau grosso dele. Olho para
John, vendo seus olhos verdes vibrando, homens
amavam a ideia de duas mulheres ao mesmo tempo,
eles se sentiam muito mais másculos e confiantes.
Seus dedos me fodem com mais afinco, apoio um
joelho no canto do sofá e começo a quicar em sua
mão, vendo seus dedos entrarem e saírem brilhando
de minha boceta, minha boca abre e eu gemo
gostoso, sentindo meu orgasmo chegando como uma
avalanche.
Porra! Isso vai ser extraordinário.
Uma mão minha permanece nos cabelos de Jane e
a outra tateia o encosto do sofá, atrás da cabeça de
John, e enfio os dedos por dentro da costura,
alcançando a ponta de minha Neck Knife [1] , avanço
com os dedos até os fechar no cabo anatômico de
marfim, puxo a faca devagar tentando me concentrar
no que tenho que fazer, mas é malditamente difícil
quando os dedos de John giram dentro de mim,
cavando em minha boceta, me deixando ainda mais
molhada. Solto o ar descompassadamente e olho para
ele sorrindo maldosamente.
O desgraçado é lindo, alto, forte, com cabelos
loiros escuros, olhos verdes maliciosos e um sorriso
capaz de fazer calcinhas caírem sozinhas. Uma pena,
realmente, o pau dele parece bem divertido. Ele
lambe os lábios para mim, fazendo uma carinha tão
linda de cafajeste que me faz suspirar.
Aumento o ritmo das sentadas nos seus dedos, e
olhando em seus olhos, o esfaqueio. Primeiro em sua
carótida e o sangue esguicha em meu rosto. Desço a
faca mais uma vez em seu pescoço, no mesmo ritmo
frenético que meu quadril desce em seus dedos. Os
olhos arregalados e assustados de John só me injetam
mais fogo em minhas veias. A lâmina o golpeia outra
vez e eu alucino com o sangue dele sendo esguichado
por toda minha cara. Afundo a cabeça de Jane com
mais força, impedindo-a de subir para respirar.
Continuo esfaqueando John, que agora gorgoleja
sangue, tentando de alguma forma fugir da sequência
de facadas que eu desfiro em seu pescoço, bochecha,
têmpora, olho… sei lá. Não consigo mais ser tão
precisa por conta do orgasmo me atingindo com a
força de um tsunami. Meu corpo todo treme, minha
boceta engole os dedos dele, sugando-os para dentro
e meu ventre pega fogo com a explosão de prazer que
se espalha furiosamente por toda minha virilha.
Jane geme em desespero, engasgada com o pau
dele, murmurando pedidos de socorro abafados.
Porra! Aquilo sim era putaria das melhores, ela podia
ganhar o prêmio das vadias, quando soubessem que
morreu sufocada pelo pau no namorado.
— So… co… rro… corro — Jane tenta balbuciar.
Quando aquelas ondas malditamente deliciosas
do meu orgasmo vão cessando, puxo meu braço com
a faca que estava cravada no globo ocular de John,
espirrando mais sangue em meu rosto, que está tão
encharcado quanto minha boceta que ensopou seus
dedos, e isso só me deixa com um fodido tesão.
Levanto o quadril sentindo os dedos dele saírem de
dentro de mim, arrancando-me um gemido dengoso.
Jane ainda luta contra minha mão tentando a todo
custo subir, sua saliva tornando-se uma poça em
torno da base do pênis do falecido John. Seu rosto já
não é mais tão bonito quanto antes, coberto por
diversos cortes profundos da faca que afundei nele,
tornando sua cara parecida com o próprio
Frankenstein.
Pobre John, sentirei falta dos seus dedos mágicos.
Após respirar por alguns minutos, tentando
calibrar minha respiração, liberto os cabelos de Jane.
Ela sobe desesperada, tossindo muito, e quando seus
olhos marejados e assustados constatam a cena
sanguinária do seu namorado todo fodido, ela solta
um grito esganiçado. Mas logo seu choque
transforma-se em dor, já que aplico um golpe rápido,
cortando sua garganta na horizontal, abrindo a carne
do pescoço como um bife.
A adrenalina é como uma droga prazerosa em
minhas veias, quando eu a vejo levar desesperada a
mão ao local lesado, manchando-se com seu sangue
que jorra do corte profundo em sua garganta. Meu
sorriso aumenta, meus olhos estão vidrados e eu
observo cada segundo de sua morte, vendo sua dor,
seu desespero, sua vida esvaindo-se e deixando seus
olhos castanhos opacos e desvanecidos. Fecho os
olhos, respirando fundo, sugando o cheiro de morte
pelas narinas, os pelos do meu braço se arrepiam,
meu interior estremece, a onda de excitação me
aplaca.
Me levanto devagar, aproveitando-me da
sensação de euforia que circula meu corpo e caminho
até minha bolsa, pegando o pod de hortelã, os dedos
grudentos pelo sangue impregnado nas digitais e o
material plástico é manchado. Pulando o corpo de
Jane, com ele na mão, caminho até a varanda. Abro as
portas de vidro e, assim que piso lá fora, o ar fresco
da noite me envolve, quase como um abraço
silencioso. A cidade se estende abaixo de mim, fazia
um tempo desde que eu visitei Moscou pela última
vez, era outra ocasião e eu era uma outra pessoa.
Levo o cigarro eletrônico aos meus lábios e
aperto o botão. Inalo devagar, sentindo o vapor
preencher meus pulmões, como se lavasse tudo por
dentro. Por alguns segundos, fecho os olhos, deixando
o gosto suave refrescante se espalhar. Quando solto o
vapor, ele se mistura com a noite, desaparecendo no
ar. Adorava a sensação de fumar após matar, era
quase como o ritual do cigarro pós-sexo.
Sagrado e necessário.
Fazia poucos dias que eu estava na cidade, mas
aquilo definitivamente era meu jeito favorito de me
dar as boas-vindas.
60 meses.
1826 dias.
2.628.240 minutos
Cinco fodidos anos.
Era muito tempo para quem tinha tanta fome de
vingança como eu. Aquele desgraçado não sabia, mas
eu era como um animal faminto, quanto mais ele
fugia, mais ativava em mim o instinto de caça, a sede
por cravar meus dentes naquele pescoço de filho da
puta traidor dele, de me lambuzar com seu sangue.
Lambo os lábios sentindo o sabor ferruginoso invadir
minha língua, deliciando-me apenas por imaginar.
Agora seria fácil, eu já estive mais longe. Dimitri
podia ser negligente com seus pactos, mas a verdade
é que o destino é um justo juiz, e o tinha trazido
direto para minhas mãos. Agora não se tratava
apenas de cobrar a minha dívida, ele estava na minha
lista de trabalho, como John e Jane também um dia
estiveram.
E como a excelente profissional que eu era, nunca
perdia um alvo.
“Eu tive um sonho
Em que eu consegui tudo o que eu queria
Mas quando eu acordo, eu vejo
Você comigo”
Everything I Wanted - Billie Eilish

7 anos
Meus joelhos estavam doloridos, pressionados
contra o azulejo frio, meu nariz estava coçando e uma
mexa do meu cabelo se desprendeu do coque, caindo
no meu rosto, e tentei soprar para longe, sem obter
sucesso. Meus olhos fixos na enorme cruz de madeira
mogno, subindo para os pés pregados e
ensanguentados, daquele que chamavam de salvador
da humanidade, o padre Monroe continua com o
sermão, mas eu não conseguia me concentrar, aquilo
era tão chato!
— Dimi? Está acordado? — Conferi em um
sussurro, com a boca fechada.
Ao meu lado, Dimitri estava com os olhos
sonolentos, os lábios franzidos em um quase sorriso
de quem estava perdido em algum pensamento
divertido. Ele abriu um olho e me lançou um olhar
rápido, percebendo que estava cochilando como em
todas as outras missas.
— Estou... dormindo — responde num sussurro,
tão baixo que só eu consegui ouvir.
Soltei uma risadinha abafada, que rapidamente
disfarcei com uma tosse, olhando ao redor para
garantir que ninguém tivesse percebido. Ele sempre
sabia como me fazer rir, mesmo nos momentos mais
sérios, como agora, na missa obrigatória do orfanato.
Todos nós, órfãos alinhados nos bancos de madeira,
fingíamos uma devoção que não sentíamos. Eu só
conseguia pensar em como o sermão parecia durar
uma eternidade. E Dimitri... bem, Dimitri era igual a
mim. Nunca levava nada disso a sério.
— Se você for pego dormindo, iremos apanhar de
novo — cochichei, segurando a risada.
Dimitri abriu os dois olhos, me lançando um olhar
preguiçoso, cheio de desprezo pelo sermão que
continuava lá na frente. Ele parecia invencível,
sempre achava um jeito de rir na cara da disciplina
rígida do orfanato, como se nada pudesse realmente
tocá-lo.
— Não se preocupa, Hay. Eles nem sabem o que
fazer com a gente. — Ele me deu uma piscadela e
bocejou, esticando os braços de forma teatral, como
se estivesse em casa e não em plena missa.
Olhei ao redor novamente, preocupada que
alguma das freiras estivesse de olho em nós,
especialmente a irmã Agnes, que sempre tinha um
prazer especial em nos dar castigos. Mas Dimitri não
parecia se importar. Ele nunca se importava. Não era
mais aquele garoto medroso que conhecei, era como
se a rebeldia fosse a única coisa que o mantinha em
pé. Nós dois éramos assim. Eu também odiava cada
segundo daquelas missas, das regras, da vida dentro
do orfanato. Mas enquanto eu tentava manter a
cabeça baixa e sobreviver, Dimitri desafiava tudo.
Apanhando sempre.
— Um dia, vamos sair daqui, seremos adotados —
ele murmurou, inclinando-se para mim, como se fosse
contar um segredo. — Vamos deixar tudo isso para
trás, Hay. Vai ser só você e eu. Para sempre.
A ideia soava tão boa que por um segundo me
deixei levar, sonhando com o que poderia ser nossa
vida fora dali. Mas logo a realidade voltava, fria como
o chão onde estávamos ajoelhados. Eu, sempre um
pouco mais cética, tentava puxá-lo de volta para a
realidade, mas, no fundo, adorava como ele fazia tudo
parecer tão fácil. Sabia que sair daquele lugar era um
sonho distante, quase impossível. Mas Dimitri... ele
acreditava. E quando ele falava assim, eu queria
acreditar também.
— Quem adotaria a gente? Somos os piores desse
lugar — perguntei, mantendo minha voz baixa,
temendo que as freiras nos ouvissem.
Ele deu de ombros, com aquele sorriso meio
travesso, meio esperançoso.
— Não importa, desde que fiquemos sempre
juntos — respondeu como se tivesse a respostas para
todas as coisas complexas do mundo.
— Promete? — perguntei, minha voz soando mais
frágil do que eu gostaria.
Dimitri virou-se completamente para mim,
inclinando-se, os olhos azuis fixos nos meus, e de
repente a missa, o sermão, a igreja... tudo
desapareceu. Éramos só nós dois, como sempre.
— Prometo. — Sua voz saiu firme, sem hesitação.
— Sempre juntos, Hay. Ninguém vai nos separar. Nem
aqui, nem em lugar nenhum.
Ele estendeu a mão e, por um instante, hesitei.
Uma promessa como aquela... parecia grande demais
para duas crianças, mas, ao mesmo tempo… Não
grande o bastante para todas as desgraças que
recaiam, sempre, sobre a nossas vidas. Peguei sua
mão, nossos dedos pequenos se entrelaçando no frio
da igreja.
— E se... — comecei, as palavras saindo
vacilantes. — E se algo acontecer? Se algum dia
alguém tentar nos separar?
Dimitri apertou minha mão com mais força, os
olhos dele brilhando com a determinação que sempre
admirei.
— Não importa o que aconteça. Eu vou te
encontrar, onde quer que você esteja. Nem que tenha
que atravessar o mundo inteiro.
Soltei o ar, suspirando, me virando novamente
para cruz, ver aquele homem pregado sempre me
causava arrepios na espinha.
— Ele não parece ter feito uma promessa. — Por
algum motivo, aquilo parecia mais do que uma
simples promessa, o menino Jesus tinha derramado
seu sangue para salvar a humanidade segundo o
padre Monroe, aquilo parecia bem mais sério.
Dimitri coçou a cabeça, olhando para a cruz e
levantou a sobrancelha.
— Acho que é algum tipo de pacto — ele
murmurou distraidamente.
Repeti a palavra baixinho, como se o som dela
fosse muito melhor do que a palavra promessa. Eu
gostei da pronúncia e da forma que ela ressoou na
minha voz infantil.
— E se fizéssemos isso? — perguntei baixinho.
Dimitri olhou para mim, seus olhos azuis
brilhando com uma curiosidade misturada com a
mesma intensidade que eu sentia. Ele sabia que eu
não estava falando de uma simples promessa de
criança. Aquilo era mais sério, mais profundo.
Estávamos na igreja, e embora nenhum de nós se
importasse com as regras ou os sermões, algo sobre a
palavra “pacto” fez tudo parecer mais real, mais
definitivo.
— Um pacto? — ele repetiu, o tom da voz ficando
mais grave. — Como o dele? — Apontou
discretamente com o queixo para a cruz. O Cristo
pregado ali, ensanguentado, não parecia ser um
salvador para nós. Mas a ideia de um pacto... isso sim
tinha um peso diferente. Era mais do que só palavras.
Era uma espécie de aliança que não poderia ser
quebrada.
Assenti, minha voz saindo em um sussurro.
— Como o dele... com sangue e tudo.
Dimitri soltou uma risadinha abafada, tentando
não chamar a atenção das freiras, mas eu podia ver
em seus olhos que ele estava levando a ideia a sério.
Ele sempre me levava a sério, mesmo quando o
mundo inteiro nos ignorava. Ele inclinou-se mais
perto, os olhos fixos nos meus, como se estivesse me
desafiando a continuar.
— Então, o que faremos? — perguntou, sua voz
ficando quase tão baixa quanto um pensamento.
Olhei para nossas mãos entrelaçadas. Nossos
dedos pequenos e sujos do trabalho que nos forçavam
a fazer no orfanato, os joelhos doloridos pelo chão frio
da igreja. Éramos só duas crianças, mas naquele
momento, senti que estávamos prestes a selar algo
muito maior do que nós mesmos. A ideia me deu um
frio na barriga.
— A gente promete que vai ficar junto, não
importa o que aconteça — comecei, minha voz soando
mais forte agora. — Nem o tempo, nem o lugar. Nada
vai nos separar. Mesmo que o mundo tente, mesmo
que as pessoas nos forcem a ficar longe... — Apertei
mais a mão de Dimitri. — Não importa o que
aconteça… — Pensei em uma palavra que nos
definisse — Meu caos sempre vai encontrar o seu.
Dimitri me olhou por um longo momento,
absorvendo cada palavra. Então, ele soltou um
suspiro.
— E se algo ruim acontecer? — ele perguntou,
quase num sussurro. — E se for impossível?
Eu balancei a cabeça, determinada.
— Não vai ser impossível. Se alguém nos
machucar, ou tentar nos separar... a gente luta. Luta
até o fim — afirmei, sentindo meu peito arder com
orgulho daquele sentimento.
Dimitri continuou a me observar, o olhar fixo no
meu como se estivesse decidindo algo muito
importante. A intensidade em seus olhos me fez
segurar o fôlego por um momento. Então, ele sorriu
daquele jeito travesso que sempre me fazia esquecer
das coisas ruins e inclinou-se ainda mais perto de
mim, tão próximo que só eu pude ouvir o que ele
disse a seguir.
— E quando a gente crescer... — Sua voz saiu
baixa, quase como um segredo. — Você vai ser minha
esposa.
Eu fiquei paralisada por um segundo. Esposa?
Aquilo parecia distante, algo que pertencia ao mundo
dos adultos, mas a forma como ele disse... Dimitri
falava com tanta certeza que eu não soube como
reagir. Meu coração disparou de um jeito esquisito,
algo que eu nunca tinha sentido antes. Ele falava
como se fosse uma extensão natural do nosso pacto,
como se estar sempre juntos significasse também
que, um dia, seríamos mais do que apenas
companheiros de fuga.
— Sua... esposa? — repeti, a palavra soando
estranha e inesperada na minha boca.
Ele assentiu com firmeza, como se isso fosse o
mais óbvio do mundo.
— Sim, Hay. Vamos fugir juntos, viver nossa
própria vida e... — Ele deu de ombros, como se isso
fosse o curso natural das coisas. — E você vai ser
minha esposa. Assim, ninguém nunca vai poder nos
separar.
Por algum motivo estranho, minhas bochechas
esquentaram e a vergonha me dominou, mas me
obriguei a engolir e forcei as palavras para fora.
— Tudo bem! Serei sua esposa — afirmei.
Nós dois nos voltamos para a cruz, encarando
juntos a imagem do homem crucificado, respiramos
fundo em uníssono.
— Precisamos selar isso — pontuou Dimi.
O medo rastejou sob minha pele, eu tinha medo
de agulhas ou coisas pontudas, chorava muito quando
caia e ralava os joelhos, por mais que muito cedo
tivesse me acostumado com outros tipos de dores…
dores no coração, como dizia Dimitri. Não era adepta
de dores físicas, por isso aprendi a revidar muito
cedo, aprendi a bater, chutar e morder com 3 anos,
não era o comportamento mais recomendado para
uma menina, mas me impediu de apanhar muitas
vezes. Soltei o ar pesadamente.
— Hoje à noite vamos até a cozinha pegar uma
faca escondida, e lá fora fazemos — planejei
sussurradamente.
— Na lua cheia — declarou Dimitri.
Ondulei uma sobrancelha, contendo a vontade de
olhar para ele.
— Por que na lua cheia? — perguntei franzindo o
cenho.
Dimitri deu de ombros, seus olhos brilhando com
um misto de entusiasmo e mistério.
— Porque a lua cheia é mais forte, Hay. Se a
gente fizer nosso pacto de sangue sob a luz da lua
cheia, vai ser mais poderoso. Vai durar para sempre —
ele falou com tanta convicção que, por um momento,
eu acreditei que a lua cheia realmente pudesse dar
algum poder extra ao que estávamos prestes a fazer.
Dimitri sorriu, satisfeito. Ele sempre gostou
dessas ideias dramáticas, das coisas que pareciam
grandiosas e fora do comum. Para ele, aquilo não era
apenas uma brincadeira de criança. Era real, algo
maior do que nós dois. E, de alguma forma, eu sabia
que aquela promessa na minha infância ficaria
marcada para sempre.
Voltamos a olhar para frente, para o padre
Monroe, que continuava a falar sobre sacrifício,
redenção e promessas divinas. Mas eu já não ouvia
mais nada. Minha mente estava longe, pensando na
noite em que nós dois, sob a lua cheia, selaríamos
nosso destino com um pacto de sangue.
“Oh, eu sou um animal, me traga um Tramadol, me dê o álcool
Você é a minha fortaleza, você é meu bem-querer, meu suave amor”
High Enough - K.Flay

13 anos
Minhas sapatilhas de salto baixo faziam barulho
no chão dos corredores, o som ecoando por todos os
quartos do orfanato, aumentando minha frustração. O
coração batia forte no peito quando finalmente avistei
a cena que me deixou furiosa: Dimitri, com sua
bagunçada cabeleira escura, afundado no travesseiro,
completamente alheio ao mundo. A raiva ferveu
dentro de mim.
— Porra! Não acredito! — rosnei alto. — DIMITRI!
— gritei, voando até sua cama e sacudindo seu corpo
com brusquidão.
Ele acordou assustado, sentando-se na cama de
repente, os olhos sonolentos se arregalando ao me
ver. Para minha surpresa, relaxou as feições e os
ombros, coçando os olhos com uma expressão de
confusão, as madeixas escuras caindo na frente dos
olhos azuis.
— Que merda aconteceu, Hay? — perguntou, a
voz ainda embargada pelo sono.
Meu olhar era como fogo, queimando vivo em sua
direção. Eu queria explodir, mas sabia que precisava
me controlar, então cruzei os braços e fiz um bico,
tentando parecer mais séria.
— Que droga! Eu te falei que os Evans vêm nos
ver hoje! Precisamos estar apresentáveis! Como acha
que seremos adotados assim?
A indignação na minha voz soava quase
desesperada, como se a responsabilidade de nossa
futura felicidade dependesse dele deixar de ser um
garoto desleixado.
Dimitri soltou um bocejo e se espreguiçou, como
se o mundo estivesse prestes a acabar, mas ele ainda
tivesse tempo para relaxar. Seu cabelo desgrenhado
caía sobre os olhos e ele tentava ignorar minha
urgência. Não era a primeira vez que o acordava de
um sono profundo, mas sempre parecia tão
despreocupado com o que estava por vir.
— Relaxa, Hay. Eles não estão aqui para avaliar
nossa aparência, e você sabe disso — ele disse,
dando um sorriso de canto, como se fosse fácil
desprezar tudo o que estava em jogo.
— Não é só isso! — resmunguei, andando de um
lado para o outro. — Eles precisam sentir que somos
dignos, que estamos prontos para uma nova vida.
Você tem que se arrumar! — Mordi o lábio, tentando
manter a calma enquanto meu coração batia rápido.
Suas sobrancelhas escuras franziram e ele revirou
aqueles olhos malditos, estampando um sorriso
travesso em sua boca.
— Relaxa, Hay — ele disse, se esticando, e eu
observei a maneira como a camiseta amassada do
pijama se ajustou ao seu corpo, deixando
transparecer a despreocupação que sempre o
cercava. — Você sabe que eles não se importam com
a nossa aparência. Qual é, somos órfãos, o que eles
esperam? Que estejamos vestidos como príncipe e
princesa?
Franzi o cenho, cética. Eu sabia que a aparência
importava, especialmente para as famílias que
vinham visitar o orfanato em busca de uma criança
para adotar. As freiras sempre nos diziam que a
primeira impressão era a que ficava, e as palavras
ressoavam em minha cabeça como um mantra. Não
podíamos nos dar ao luxo de sermos vistos como
indesejáveis.
— Dimitri, isso não é um jogo. Eu quero ser
adotada, e você deveria querer também. Porque
precisamos permanecer juntos. Não podemos parecer
dois desleixados!
Ele finalmente me encarou, e por um momento,
seus olhos azuis estavam cheios de um entendimento
profundo. Ele sabia o quanto isso significava para
mim, mas seu sorriso travesso surgiu rapidamente,
como um raio de sol atravessando nuvens cinzas.
— Tudo bem, tudo bem! — ele respondeu,
colocando as mãos em um gesto de rendição. — Você
está certa. Eu… Hum… Vou me arrumar. Só… me dê
um segundo.
Minha respiração ficou mais forte, minhas
bochechas fervendo de ódio, e avancei para ele.
Enfiei os dedos no cobertor, fazendo força para fora, e
ele se debateu.
— Hailey! Não! Espera!
— Você é um idiota! — resmunguei, puxando o
cobertor de seu corpo. — Não tem nenhuma
consideração por mim, eu quero sair desse inferno
eu….
Minhas palavras morreram e meus olhos piscaram
assustados quando o vi com uma cueca branca e nela
havia um volume, sua parte íntima estava ereta e
rígida, me afastei colocando as mãos na boca
chocada! Dimitri me xingou, cobrindo sua genitália
com ambas as mãos, ele virou o rosto para o lado
evitando me olhar, suas bochechas brancas ficando
vermelhas como um camarão. Fiquei paralisada por
um momento e me afastei mais.
— Por… por… por que está assim? — questionei
com a voz baixa. Minhas bochechas coraram muito.
Dimitri rosnou, soltando um bufo, a vermelhidão
descendo para seu pescoço enquanto ele se cobria
com mais afinco.
— Sai daqui! Eu… quero fazer xixi, porra! — ele
chiou, levantando-se de súbito e passou por mim,
esbarrando seu ombro no meu.
Vestiu a calça do pijama e saiu do cômodo em
direção ao banheiro, e senti algo estranho dentro de
mim, como se meu corpo tivesse despertado com
aquela imagem. Eu sabia que adultos faziam bebês
fazendo sexo, mas aquilo parecia nojento demais para
mim, então, por que minha pele estava arrepiada, por
que não consegui desviar os olhos até que ele
cobrisse aquilo com as mãos?
Balancei a cabeça, soltando o ar e tentei me
concentrar na missão de achar alguma roupa
minimamente descente, tínhamos ganhado uma
porção de doações, alguma coisa teria de servir.
Entre os vãos daquelas gavetas feitas com madeira
velha, encontrei uma camisa estilo social branca, um
pouco grande para um garoto de 14 anos, mas teria
de servir.
Estiquei-a na cama, espalmando as rugas
amassadas com a mão, tentando fazer aquela merda
adquirir uma aparência mais digna. Hoje era o dia que
iriamos ser adotados, eu podia sentir, os Evans
seriam os responsáveis por nos dar um passe para
fora daquele inferno, eu não podia deixar Dimi
estragar tudo, precisava ser forte por mim e por ele.

Katy e Paul Evans eram um casal americano, eles


trabalhavam para o governo dos Estados Unidos e
descobriram que não podiam ter filhos e sempre
sonharam em ter um casal, o que para mim e Dimitri
era uma sorte enorme. Mesmo que eu nunca o tivesse
visto como um irmão, podia facilmente fingir se isso
nos tirasse daquele inferno.
— Tire a mão da boca! — rosnei para Dimitri ao
meu lado, que levava o indicador à boca e roía as
unhas nervosamente.
Nós tínhamos conseguido ajeitar seu cabelo
rebelde, deixando seu topete mais comportado e sem
os fios escuros caindo nos olhos. Eu também estava
nervosa, mas sabia que tinha que me acalmar para
que tudo desse certo.
— Acha que eles vão nos adotar mesmo? — ele
perguntou e eu assenti freneticamente, enquanto
encarava concentradíssima a porta do orfanato.
Olhei para baixo vendo meu vestido de princesa
roxo, até os joelhos, era o mais bonito que eu tinha, e
estava determinado a usar para impressioná-los. Meus
cabelos loiros estavam presos em duas tranças, cada
uma adornada com fitas cor-de-rosa.
A porta do orfanato se abriu lentamente e um
calor começou a se espalhar no meu peito. Olhei para
Dimitri, e ele também estava olhando para mim,
nossos olhos cheios de uma esperança compartilhada.
— Eles estão vindo! — sussurrei, minha voz cheia
de emoção.
Katy e Paul Evans apareceram, seus rostos
radiantes, cheios de um calor que eu não via há muito
tempo. Eles se apresentaram com sorrisos, e mesmo
sem conhecê-los de verdade, sentia que a energia
deles era diferente. Eles eram diferentes. A promessa
de um lar estava prestes a se concretizar.
— Olá! — disse Katy, com uma alegria
contagiante. — Vocês devem ser Dimitri e Hailey!
Senti um frio na barriga, mas também uma onda
de alívio. Dimitri estava tenso, mas eu sabia que
aquele era o momento que esperávamos. Nós
poderíamos finalmente deixar para trás os dias
sombrios no orfanato, as refeições frias e as noites
sem fim de solidão.
— É uma honra conhecer vocês — eu disse,
tentando parecer confiante enquanto olhava para
eles. Katy olhou para Paul apreciando o gesto, eu
cutuquei Dimitri com o cotovelo.
Ele resmungou e acenou com a cabeça para eles
— É um prazer conhecê-los — ele disse com a voz
terna, mas ainda carregada de hesitação.
Os olhos de Katy brilharam com entusiasmo. Ela
se agachou, alinhando-se à nossa altura, e seus olhos
brilhantes refletiam uma esperança genuína.
— Nós estamos tão felizes de estar aqui com
vocês! — ela exclamou, um sorriso largo no rosto. —
Temos muito para conversar!
Dimitri ainda parecia um pouco distante, seu
olhar vagando entre os rostos amigáveis e o orfanato,
como se estivesse lutando para deixar seus medos
para trás. Eu sabia que ele queria acreditar, mas a
desconfiança era um muro difícil de derrubar.
— O que vocês mais gostam de fazer? — Paul
perguntou, animado, quebrando o silêncio que se
formara.
— Eu gosto de ler! — menti, cheia de entusiasmo.
— E também gosto de desenhar — acrescentei uma
verdade.
Dimitri hesitou por um momento, mas então
soltou um pequeno sorriso, olhei para ele mexendo as
sobrancelhas sugestivamente.
Não diga que gosta de quebrar coisas. Faça como
ensaiamos
— Eu gosto de jogar futebol — ele respondeu,
mentindo como tínhamos combinado, sua voz mais
forte, como se um pequeno brilho de confiança
estivesse começando a emergir.
Katy sorriu ainda mais olhando para ele, e seu
olhar se iluminou.
— Futebol! Isso é ótimo! Nós temos um grande
quintal e um parquinho perto de casa. Podemos jogar
juntos!
A ideia de um quintal, de um lugar onde
pudéssemos brincar e ser livres, era quase surreal.
Era tudo o que sempre quisemos, e mesmo que
Dimitri ainda estivesse lutando com sua desconfiança,
eu sentia que havia uma luz de esperança começando
a brilhar em seu olhar.
Dimitri trocou um olhar comigo, e por um breve
momento, senti que estávamos compartilhando um
segredo. Este é o nosso momento, pensei, um calor se
espalhando pelo meu peito.
Nada podia nos separar agora.
“Ele acerta todas as contas
Ele mata com um plano em vista
Com uma lâmina e um sorriso”
The Matador - The White Buffallo

Agosto de 2023
A luz precária balançando no teto do galpão lança
raios amarelados contra a pele pálida e suada, um
dos sinais claros de que se está tendo uma crise de
pânico é quando existem tremores involuntários,
pupilas dilatadas, músculos retesados e dentre eles, o
meu favorito: o medo escorrendo pelos olhos e
alcançando o corpo inteiro. Meu sorriso é ativado
quando aprecio o sentimento, preenchendo os olhos
verdes do padre.
— P-po… p-por favor, meu filho, n-não… faça isso
— ele implora com a voz tremulando. — D-d… Deus n-
não… vai perdoá-lo — ele me alerta.
Fecho os olhos, respirando fundo, sentindo o
cheiro de suor, adrenalina e sangue. Aquela porra de
sensação poderosa me atinge como uma avalanche,
fervendo em minhas veias, descarrilando doses
cavalares de prazer e euforia. Meus dentes rangem
enquanto sinto o êxtase de dominar a situação. É um
vício, uma descarga de energia que me faz esquecer
de tudo… ou quase tudo.
Mas minha mente é traiçoeira, e por um segundo,
aquelas palavras me levam de volta. "Deus nunca vai
te perdoar por isso, Dimitri." A voz deles ecoa, não a
do padre à minha frente, mas de outro lugar… de
outro tempo.
A lembrança me atinge com brusquidão e fecho
os punhos com força, a raiva me consumindo. Foda-
se! Ela se foi. Hailey escolheu ir embora com eles. Ela
me abandonou, escolheu a vida perfeita e me deixou
para apodrecer no inferno. Que se dane o que Deus
pensa, que se dane o que aquela cadela me
prometeu.
Abro os olhos, soltando um rosnado alto e o padre
pula assustado, fazendo as correntes balançarem. Ele
está acorrentado com os braços esticados, caído
sobre seus joelhos, completamente pelado, suas bolas
e pau velho tão encolhidos que parecem uma coisa
só, mas o deixei com o colarinho, sabe como é, eu
aprecio uma boa cena dramática.
Me aproximo mais sorrindo como o próprio diabo.
— Sabe, padre… eu não tenho boas experiências
com a religião… — Eu digo pegando o alicate que está
na bandeja ao seu lado e ele se debate, fazendo as
correntes o apertarem ainda mais. Não consigo deixar
de sorrir, meus olhos devem estar reluzindo com a
sede de morte que pulsa dentro de mim. Torturar era
sempre divertido para mim, eu considerava que tinha
o melhor trabalho da Bravta, e diferente de todas as
outras coisas na minha vida, eu era ótimo nele. Meus
dedos prendem seu cabelo loiro e eu puxo sua cabeça
para trás, me alimentando da sua agonia, quando
olho em seus olhos.
— Você sabe usar língua de sinais, padre? —
questiono com a voz baixa. Eu cresci em uma porra
de orfanato católico, sabia que aos sábados tínhamos
aulas de linguagem de sinais, mesmo assim, eu o
encaro, aguardando a resposta e sorrindo
malignamente.
Seus cílios loiros batem assustados, as lágrimas
grossas correm pelo seu rosto enrugado.
— S-s… Sim… p-por… por que está perguntando
isso? — ele questiona, tremendo ainda mais.
Sua pergunta estica mais o sorriso em minha
boca e eu o sinto quase alcançando minhas orelhas.
Levanto o alicate no seu campo de visão e o terror
dilata mais seus olhos.
— Porque eu tô afim pra caralho de cortar sua
língua! Então se quiser falar sobre as garotas, o
momento é agora… — Solto seu cabelo, pegando sua
mandíbula e apertando com força até sua boca velha
abrir. — Ou terá que acenar, pois vou arrancar sua
língua nojenta depois de arrancar cada um dos seus
dentes!
— Nãaaao! — ele grita apavorado.
O cheiro de ureia empesteia o espaço, eles
sempre se mijavam comigo. Niko dizia que eu mentia
quando me vangloriava por isso, mas qual é, porra, eu
disse que era o melhor nessa merda! O mijo escorre
entre as pernas do padre e eu faço uma careta
quando a cachoeira amarela suja meus sapatos.
Aperto sua mandíbula com mais força, o buraco de
sua boca fica maior e semicerrando os olhos para
enxergar melhor, eu enfio o alicate em sua boca,
capturando seu molar e ele grita, debatendo-se como
a porra de um peixe fora d’água.
— Quietinho, padre! Uma extração dessa
necessita de precisão — aviso com a voz pingando
escárnio.
Os gritos dele tornam-se mais altos, abafados
pelo alicate em sua boca, e quando sinto que as
garras do alicate se firmaram bem em seu molar, com
um movimento rápido e decisivo, eu giro o alicate e,
com um estalo súbito, o dente é puxado
completamente para fora da gengiva. Sangue e saliva
espirram da boca dele e, consequentemente,
respingam na minha cara. Me afasto um pouco,
olhando o dente grande com 4 raízes, os gritos do
padre ainda reverberando, e eu absorvo seus gemidos
de dor e pedidos de socorro, me deliciando como se
estivesse bebendo algum tipo de néctar dos deuses.
Limpo com as costas da mão os resquícios de
saliva e sangue do rosto, me viro de volta para ele e
quando o encaro, ele já está soluçando diante de
mim, a boca sangrenta ainda se movendo em orações
desesperadas. Ele não tem ideia de que suas palavras
sobre Deus e perdão não me atingem. Nada mais me
atinge. Nada além da minha sede de vingança por
aquela cadela.
— Vamos lá, padre, você tem mais 31 tentativas,
até eu arrancar sua língua — ofereço, sorrindo
diabolicamente.

Saio do galpão, o cheiro de suor, sangue e medo


ainda preso nas minhas narinas. O ar frio de Moscou
corta minha pele, mas a sensação é boa, de certa
forma me acalma. Acendo um cigarro, o calor da
chama tocando meus dedos, e dou uma longa
tragada, deixando a fumaça queimar na garganta
antes de soltar devagar. Olho para o céu escuro e
nublado, sem estrelas. Eu estava vivo, mas às vezes…
eu tinha aquela sensação, cutucando meu cérebro e
me levando para aquele lugar escuro.
Aquele padre maldito... o que ele disse. As
palavras dele não deveriam me afetar, mas elas se
agarraram na minha mente como farpas. "Deus não
vai te perdoar..." Quanta merda! Como se eu me
importasse. Mas aquilo trouxe de volta algo que eu
tentei enterrar há anos.
Hailey.
Onde estava aquela cadela?
Já fazia o quê? Cinco anos? Cinco anos sem
pensar nela, sem deixar sua lembrança me corroer. Eu
havia aprendido a bloquear isso. Engoli cada pedaço
de raiva e transformei em força, em ódio. Mas
recentemente... Porra! Ela voltou a invadir minha
cabeça. Toda vez que eu baixava a guarda, a
lembrança dela surgia. Aqueles olhos grandes e
esperançosos, a voz suave, as mentiras.
Eu não devia pensar nisso.
Porra! Eu não vou pensar nisso.
Caralho, eu preciso muito encher a cara! Beber
até desmaiar com certeza vai resolver toda essa
merda. Bato a cinza do cigarro, jogando-a no chão
molhado enquanto caminho pelas ruas de Moscou. A
cidade parece sempre a mesma: imensa, fria,
indiferente. O bar não está longe, eu conhecia os
caminhos como a palma da minha mão por estar
sempre andando a pé.
No geral, eu não tinha essas paradas sombrias,
não costumava ficar na bad, mas essa porra estava se
tornando cada vez mais frequente. Meu corpo
automaticamente entra em alerta, os instintos
gritando. Olho de soslaio para os reflexos nas vitrines
das lojas fechadas. Um movimento sutil.
Alguém está me seguindo. Um sorriso maligno
repuxa em meus lábios ao perceber.
Ótimo! Eu estava louco para matar algum filho da
puta!
Continuo andando, calmamente, como se não
tivesse notado, mas a tensão nos músculos já está
presente. Dou outra tragada, e enquanto a fumaça se
dissipa no ar frio, sinto meus sentidos aflorarem, o
coração batendo um pouco mais rápido. Quem quer
que seja, ele está perto o suficiente para cometer um
erro. Giro o corpo e corro até o beco onde tinha visto
a sombra esguia passando.
Paro de repente no meio da calçada. O vento frio
sopra pelo beco, levantando pedaços de lixo que
rolam pelo chão. Viro-me lentamente, pronto para
encarar quem quer que seja. Meus olhos varrem a rua
deserta atrás de mim, as sombras se estendem pelas
paredes de concreto desgastado, mas não há
ninguém.
Nenhuma alma à vista.
Dou mais uma volta completa, meus olhos
buscando qualquer sinal de movimento. Nada. Nem
uma sombra deslocada, nem o som de passos
apressados desaparecendo no silêncio da madrugada.
O único som era o meu próprio coração, batendo
acelerado no peito.
Solto a fumaça do cigarro, lentamente, e rio por
dentro. Que merda é essa? Será que eu estava
ficando louco?
Caralho, preciso mesmo ficar chapado e apagar!
As luzes néon piscam no bar à frente, lançando
um brilho avermelhado nas ruas molhadas pela garoa
fina. Meu corpo está tenso, eletrizado, como se eu
sentisse que alguma merda gigantesca estava prestes
a acontecer. Eu só precisava de um litro de vodka
para silenciar a tempestade na porra da minha
cabeça. Ao empurrar a porta de ferro, o cheiro forte
de álcool e cigarro me atinge como um soco.
É exatamente o que eu preciso.
O lugar está meio vazio, um típico buraco em
Moscou, onde gente quebrada vinha se perder por
algumas horas. O barman, um sujeito careca e mal-
encarado, me dá um aceno de reconhecimento
enquanto limpa o balcão com um pano sujo.
Sento-me no canto mais escuro, onde a luz da
lâmpada pisca de vez em quando, como se estivesse
prestes a apagar.
Era o meu tipo de lugar.
— Vodka, sem gelo — resmungo, sem tirar o
cigarro da boca.
O copo chega rápido e eu viro o conteúdo de uma
vez, sentindo o calor queimar minha garganta e
acalmar, mesmo que temporariamente, o inferno que
gira dentro de mim. Levanto a mão para o barman
exigindo mais uma dose.
— Deixa a garrafa — exijo e seu cenho franze,
mas ele o faz.
A cada gole, os pensamentos começam a se
dissolver, mas a desgraçada… ela não sai da minha
cabeça. Cinco anos. Cinco malditos anos sem pensar
nela. E agora, tudo volta como um maldito raio. O
ódio me consome de novo.
O álcool está fazendo efeito, entorpecendo minha
mente. Mas mesmo assim, eu consigo ver a imagem
dela, nítida na minha cabeça. Ela, andando com
aqueles malditos Evans, deixando-me para trás como
se eu fosse nada.
Meus punhos se fecham ao redor da garrafa. A
última vez que a vi, na chuva, implorando por mim
com os olhos. Como se ela realmente se importasse.
Mas eu sabia a verdade. Ela tinha me abandonado. Ela
queria sair, queria se libertar de mim, e eu era um
fodido otário que não via.
— Cadela maldita… — sussurro, virando a garrafa
na boca e engolindo em goladas longas. A bebida
escorre pelo meu pescoço, mas eu não me importo.
Tudo que eu conseguia pensar era no momento em
que finalmente teria minha vingança.
No momento em que eu fecharia meus dedos
naquele pescocinho de demônia traidora dela.
Eu tinha um histórico grande na arte da tortura,
mas algumas coisas eu tinha guardado especialmente
para aquela cadela, nunca tendo testado em ninguém.
Eu já sabia exatamente o que faria quando finalmente
a encontrasse. Já tinha planejado tudo, cada detalhe,
cada grito que sairia daquela boquinha de judas dela.
Eu sorrio abertamente, imaginando todas as
formas de torturar a maldita.
Não sabia como, mas eu ainda pegaria aquela
desgraçada. Nunca acreditei em Deus ou na porra do
Universo, mas eu acreditava que de alguma forma o
destino seria o responsável por trazer a cadela,
diretamente para mim.
Para que eu aplicasse a sua lição.
Fecho meus olhos com força, tentando afastar as
memórias dela, mas elas vinham como facadas em
minha mente, penetrando fundo e me tirando a paz
que o álcool deveria ter proporcionado. Era sempre
assim. Uma parte de mim tentava fugir, mas a outra
se alimentava dessa obsessão doentia. Eu não
conseguia parar de pensar nela, de odiá-la, de desejar
aquele momento de vingança.
Levanto de súbito, indo até o barman careca, e
ergo uma nota de cem rublos. Ele balança a cabeça,
tirando do bolso um saquinho transparente contendo
o pó branco e me entrega, sorrio para ele e sigo pelo
fim do corredor.
Entro no banheiro, fechando a porta.
Eu não era a porra de um drogado, só precisava
anestesiar minha mente quando algumas merdas
ficavam grandes demais para que eu pudesse lidar,
então eu fazia isso de várias formas, bebendo,
fumando, fodendo e nas piores vezes, me drogando.
Pego o espelho pequeno que fica pendurado acima da
pia e jogo aquela merda na superfície, esvaziando o
saquinho.
Enrolo uma nota velha que tinha no bolso, e sem
mais cerimônias, cheiro alucinadamente aquele
caralho, sentindo meu nariz queimar como o próprio
inferno. Com os dedos ainda impregnados do sangue
do padre, pego um pouco de pó enfiando na gengiva e
correndo os dedos por cima dos dentes.
E assim, como um passe de mágica, os
pensamentos desaparecem!
A cadela tinha sumido, sendo engolida pelo limbo
da minha mente fodida.
Posiciono o espelho de volta e lavo as mãos
porcamente, passando água nos cabelos que caem na
minha cara, jogando-os para trás. Olho-me no espelho
e sorrio, vendo meus demônios me encarando de
volta.
É isso aí. Tudo está no seu maldito lugar.
Eu superei aquela cadela. Esse pesadelo não me
assombra mais.
“Más, más notícias
Um de nós dois vai perder
Eu sou a pólvora, você é o pavio
Apenas adicione alguma fricção”
My Strange Addiction - Billie Eilish

14 anos
Eu segurei a vassoura, varrendo mecanicamente,
tentando juntar as folhas secas em uma pilha
decente. O Senhor Koviski sempre me pagava uns
trocados para manter a fachada de sua loja limpa. Ele
não dizia isso, mas eu sabia que era o jeito dele de
me ajudar sem parecer caridade. Eu aparecia sempre
que tinha algum trabalho por ali. Meus olhos
começaram a se distrair, observando o movimento ao
redor. Homens faziam fila na floricultura ao lado,
comprando buquês, caixas decoradas, cheias de fitas
e laços.
Só então percebi que a loja do Sr. Koviski também
estava enfeitada, cheia de corações de papel, flores
artificiais nas prateleiras e balões. Tinha um clima
diferente no ar.
— Hey, Senhor Koviski, que dia é hoje? —
perguntei confuso, sem entender o porquê de tanta
movimentação.
O velho, barrigudo e sempre com o bigode
impecavelmente ajeitado, saiu da loja às pressas. Ele
olhou para mim, levantando a sobrancelha com um ar
de quem achava minha pergunta incrivelmente
estúpida.
— Ora, garoto! É Dia dos Namorados, você é
burro por acaso? — respondeu, ajeitando o bigode
como se aquilo fosse óbvio.
Eu franzi o cenho. Dia dos Namorados?
Sinceramente, aquilo não significava nada pra mim.
— E o que acontece nesse dia? — perguntei,
ainda distraído, observando um homem de terno sair
da floricultura com um buquê enorme. Devia ter
custado uma fortuna.
O velho soprou um sorriso, pegou a vassoura da
minha mão com um gesto brusco e começou a varrer
no meu lugar, como se eu fosse um caso perdido.
— Ora, os homens gastam seu dinheiro para
impressionar suas garotas. Tentam fazê-las se sentir
especiais, sabe? Um pouco de romance, um pouco de
bajulação.
Assenti, mas a ideia ainda parecia distante,
estranha. Eu nunca tinha visto nada assim no
orfanato, e mesmo nas ruas, ninguém se importava
com essas coisas.
— E as mulheres gostam disso? — questionei,
franzindo o cenho.
O velho riu de mim, devolvendo-me a vassoura.
— Ah, com certeza elas gostam, garoto! Quanto
mais cedo aprender isso, menos problemas terá. —
Ele me olhou rindo muito, com sua barriga
rechonchuda ondulando.
Segurei a vassoura com mais força e observei o
senhor Koviski entrar na loja, ainda rindo de mim. As
mulheres gostavam disso. Pensei naquelas palavras.
Eu mal sabia o que significava impressionar alguém,
muito menos como fazer Hailey se sentir especial. A
vida no orfanato era cinza e cheia de rotinas
mecânicas, e a única coisa constante era a presença
dela ao meu lado. Mas flores? Romantismo? Parecia
algo distante da nossa realidade.
Então, uma ideia começou a se formar. Se as
mulheres gostavam dessas coisas, será que Hailey
também gostaria? O pensamento de vê-la sorrir,
talvez corar ao receber um buquê, me atingiu como
uma onda inesperada. Aquele sorriso travesso, os
olhos brilhando de surpresa, talvez… Porra!
Definitivamente eu queria muito aquilo.
Entrei na loja correndo, meu coração batendo tão
rápido que parecia que explodiria a qualquer
momento.
— Senhor Koviski, quanto custa um daqueles? —
Apontei para o homem saindo da floricultura com um
buquê gigantesco.
Ele riu de mim novamente e ajeitou o bigode
olhando-me de cima.
— Talvez uns 3000 rublos [2] — respondeu,
enrolando seu bigode.
Meus olhos se arregalaram com o número que ele
disse. 3.000 rublos? Aquilo era uma pequena fortuna!
Eu sabia que nunca, nem em um milhão de anos,
conseguiria juntar tanto dinheiro só varrendo folhas.
Engoli em seco, sentindo uma onda de decepção subir
pelo meu peito. Por que essas merdas tinham que ser
tão caras? Era só a porra de um punhado de flores!
Mas enquanto o senhor Koviski ajeitava o bigode
me olhando com aquele típico olhar de pena, uma
outra ideia, mais sombria, começou a se formar na
minha mente. Eu não tinha 3.000 rublos, e
provavelmente nunca teria, mas talvez não precisasse
pagar.
Minha mão suou ao pensar nisso. Eu podia…
roubá-las. O pensamento me fez sentir uma pontada
de vergonha, mas, ao mesmo tempo, era tentador
demais para ser ignorado. Eu podia pegar um buquê
pequeno, só um, e ninguém perceberia. Já tinha feito
pequenos furtos antes, coisas sem valor, mas isso?
Era por uma causa muito maior.
Aquilo faria Hailey feliz!
Em instantes eu já estava entrando na
floricultura, o lugar abarrotado de gente apressada,
homens com rostos tensos, todos tentando
impressionar alguém com flores. O cheiro doce no ar
era sufocante, e o som das conversas e pedidos
misturava-se com o farfalhar das flores sendo
embaladas. Meus passos eram rápidos, mas eu
mantinha a cabeça baixa, tentando parecer invisível
em meio àquele caos. Eu sabia o que tinha que fazer.
De relance, meus olhos pararam em um buquê.
As flores eram de um azul intenso, quase tão
brilhantes quanto os olhos de Hailey. Meu coração
disparou. Aquele azul... não havia como não pensar
nela. Hailey sempre tivera algo especial, e aquele
buquê parecia perfeito para ela. Talvez aquilo a
fizesse sorrir de verdade, um sorriso sincero que fazia
tudo ao redor desaparecer, e por um segundo, tudo
pareceria certo.

​ movimento frenético da loja jogava a meu


O
favor. O dono estava de costas, ocupado com um
cliente exigente que falava alto demais.
Era agora, porra!
Aproximei-me da prateleira onde o buquê azul
descansava e meu coração parecia querer saltar pela
boca. As flores eram pequenas e delicadas, seus
caules amarrados em uma fita branca, com uma
elegância simples, mas ao mesmo tempo
deslumbrante. Toquei as flores com a ponta dos
dedos, sentindo o frescor delas, e tudo dentro de mim
gritava que eu deveria pegá-las.
E eu o fiz.
Em um movimento rápido, enfiei o buquê debaixo
do casaco, meu coração martelando tão forte que eu
podia sentir o pulso nas têmporas. Olhei em volta,
mas ninguém parecia notar. O barulho, as risadas, o
som do dinheiro trocando de mãos... tudo parecia
conspirar a meu favor.
Saí da loja a passos largos, forçando-me a não
correr. Mas quando senti que estava longe o
suficiente, o medo tomou conta de mim. Disparei pela
rua, minhas pernas movendo-se mais rápido do que
eu jamais imaginaria conseguir.
O mundo ao redor se tornou um borrão, mas as
flores azuis permaneciam vivas na minha mente. Elas
eram para Hailey. E elas a fariam feliz.

Cheguei ao orfanato ofegante, meus pulmões


queimando de tanto correr, mas nada disso
importava. Tudo o que eu conseguia pensar eram as
flores azuis que eu ainda segurava firmemente. Eram
para Hailey, e era isso que importava. Meu corpo
estava coberto de suor, o casaco encharcado da
corrida, mas eu continuava andando, meus passos
mais lentos agora que estava perto dela.
Lá estava ela, sentada no degrau da entrada, com
o cabelo loiro caindo em ondas soltas sobre os
ombros. Ela parecia distante, aquela expressão... era
o jeito dela de escapar do mundo ao redor, de
encontrar uma paz que parecia impossível naquele
lugar. E, de repente, meu peito apertou. O nervosismo
arranhando minha garganta.
Aproximando-me devagar, tirei o buquê de dentro
do casaco, as flores ainda frescas, embora amassadas
pela fuga. Quando fiquei diante dela, Hailey
finalmente levantou o olhar, surpresa ao me ver tão
perto.
— O que... o que é isso? — perguntou, os olhos
fixando-se nas flores.
Eu engoli em seco, as palavras se embaralhando
dentro de mim. Não era algo que eu fazia, dar
presentes, mostrar esse tipo de sentimento. Mas,
caramba, eu queria que ela soubesse que era
especial, nem que fosse por um segundo.
— São pra você — murmurei ainda ofegante,
estendendo o buquê, hesitante.
Ela arregalou os olhos, surpresa, e por um
momento, fiquei congelado, esperando sua reação.
Hailey olhou para as flores e depois para mim, e um
sorriso começou a se formar, pequeno no início, mas
crescendo aos poucos, iluminando seu rosto de uma
forma que eu não via há muito tempo. Aquele sorriso
travesso e encantador que parecia tornar tudo certo
no mundo.
— Dimi... — ela disse surpresa. — Elas são…
perfeitas — elogiou, pegando as flores com cuidado.
Seus dedos roçaram os meus e meu coração disparou
novamente, dessa vez por uma razão completamente
diferente.
Ela trouxe o buquê ao rosto, fechando os olhos
enquanto cheirava as flores, e eu fiquei ali, sem
palavras, apenas observando-a. E naquele momento,
tudo parecia ter valido a pena.
— Onde você conseguiu? — ela perguntou,
curiosa, abrindo os olhos novamente e me encarando
com aquele brilho que fazia meu peito apertar.
Eu apenas dei de ombros, tentando parecer
despreocupado.
— Não se preocupe com isso — respondi, virando
o rosto, sentindo o calor subindo ao meu pescoço.
Ela se levantou, sua proximidade fez meu coração
acelerar. Seus olhos azuis sempre me
desconcertavam, e cada vez mais perto de me tornar
um homem de verdade, despertava sentimentos em
mim que eram muito mais… intensos.
— Eu não tenho nada para você — ela lamentou,
fazendo um biquinho.
Cocei a cabeça, senti minhas bochechas pegando
fogo e sendo o idiota que eu era, pedi.
— Que tal se você me der um beijo?
Hailey me olhou surpresa, suas bochechas
corando levemente ao ouvir minhas palavras. Por um
segundo, pensei que tinha estragado tudo, que pedir
isso tinha sido estúpido. Eu era péssimo com
palavras, mas a ideia de um beijo dela... Bom, era
algo que eu vinha querendo há muito tempo, mesmo
que não soubesse como pedir.
Ela riu, um som leve e nervoso, enquanto seus
dedos brincavam com as pétalas das flores.
— Um beijo? — repetiu, a voz quase um sussurro,
como se estivesse testando a ideia na própria mente.
— É... — gaguejei, coçando a nuca, tentando
parecer despreocupado, embora por dentro meu
coração estivesse prestes a explodir. — Só... se você
quiser, claro.
Ela deu um passo à frente e eu senti o ar ficando
mais denso entre nós. Sua proximidade me deixou
sem ar, e eu podia ver os detalhes minúsculos de
suas sardas, a forma como seus lábios rosados
tremiam levemente. O cheiro das flores azuis
misturava-se com o dela, e aquilo mexeu comigo de
um jeito que nunca senti antes.
Hailey mordeu o lábio, e então, como se decidisse
de uma vez, ela deu outro passo, ficando na ponta
dos pés. Nossos rostos estavam tão próximos que eu
podia sentir sua respiração leve contra a minha pele.
— Feche os olhos, idiota — ela sussurrou, um
sorriso travesso dançando em seus lábios, o mesmo
sorriso que sempre me desconcertava.
Merda! Eu não queria perder um segundo daquilo,
mas mesmo assim obedeci.
Seus lábios tocaram os meus, leves, hesitantes, e
de repente o mundo inteiro pareceu se dissolver. O
tempo parou e o orfanato, com suas paredes sujas e
seu cheiro de mofo, desapareceu. Só existíamos nós
dois, Hailey e eu, naquele momento, naquela porra de
beijo perfeito.
Era suave, inocente, mas ao mesmo tempo, algo
dentro de mim acendeu, um fogo que eu nunca tinha
sentido antes. Meu coração batia descontrolado e
minhas mãos, que antes estavam perdidas, agora se
moviam por conta própria, segurando sua cintura com
cuidado, como se tivesse medo de quebrá-la.
Ela se afastou um pouco e quando abri os olhos,
vi o sorriso tímido que ela tentava esconder.
— Pronto, agora você tem seu presente —
murmurou, corando novamente, enquanto se afastava
um pouco.
Eu sorri como um verdadeiro idiota, enquanto
Hailey voltava a olhar para o buquê, e eu sabia que,
de algum jeito, aquilo havia mudado tudo em minha
mente. Eu só queria mais daquilo, eu poderia beijá-la
para sempre, mesmo que tivesse que roubar uma
porra de floricultura inteira para isso!
“A inocência morreu gritando
Querida, me pergunte, eu devo saber
Eu me arrastei do Éden até aqui
Só para sentar do lado de fora da sua porta”
From Eden - Hozier

13 anos
Os Evans não voltaram mais depois da última
visita, e eu não conseguia entender o porquê, eu
tinha planejado tudo com tanto cuidado. Desde a
forma como ajeitei o cabelo rebelde de Dimitri, até os
sorrisos ensaiados, as frases perfeitamente
calculadas para mostrar que éramos crianças comuns,
normais, que não daríamos nenhum tipo de trabalho.
O modo como me comportei, como ajeitei o vestido,
como forcei Dimitri a parecer mais... apresentável.
Tudo parecia ter dado certo. Pelo menos eu achei que
sim. Obviamente, nosso histórico no orfanato não
ajudava. Dimitri e eu éramos os piores do lugar, já
tendo feito duas freiras serem afastadas por não
aguentarem lidar conosco.
Certamente aquela maldita irmã Agnes fez nossa
caveira para eles, era a única explicação. Ela nunca
gostou de nós, principalmente de mim. Eu sempre via
o olhar de desaprovação que ela me lançava, aquele
jeito de quem estava apenas esperando a próxima
travessura para ter uma desculpa para me punir. Era
a única explicação. Os Evans pareciam ter nos
adorado. Kate e Paul... Eu vi nos seus olhos, nos
sorrisos que trocavam entre si enquanto conversavam
conosco.
Que droga! Eu só queria ir embora daquele
inferno.
Dimitri não falava sobre isso. Era como se ele
tivesse aceitado de imediato, como se já soubesse,
desde o início, que tudo daria errado. Talvez fosse
isso que me irritava mais. Ele sempre parecia saber
que o pior aconteceria, e eu odiava o fato de que,
dessa vez, ele estava certo.
Eu me afundava em pensamentos, revivendo cada
momento daquela visita. A maneira como Kate havia
acariciado meu cabelo, como Paul olhou com
admiração para Dimitri quando ele mencionou gostar
de futebol. Tudo parecia perfeito. Eles eram o nosso
bilhete de saída desse inferno, e eu tinha certeza de
que fiz tudo certo. Soltei um bufo frustrado, rolando
os olhos e apoiando meu rosto em meus joelhos.
— Hay! Vem brincar — chamou Dimitri do pátio
velho onde ele acertava garrafas de vidro com
pedrinhas.
Puxei meus cabelos, revirando os olhos. Como ele
podia estar tão calmo, sabendo que não íamos sair
daquele buraco? Elevei a cabeça, fuzilando-o com os
olhos, os mesmos que arderam com vontade de
chorar.
— Aposto que você não acerta tão longe quanto
eu — ele desafiou, gritando de novo, sem nem olhar
na minha direção, jogando outra pedra. O som da
garrafa quebrando se espalhou pelo pátio vazio,
ecoando no silêncio da tarde.
Eu queria ignorá-lo, mas não consegui. Minha
cabeça latejava de tanta raiva e a calma dele só
piorava tudo. Como ele podia estar tão tranquilo? Não
estávamos saindo daqui. Não teríamos um lar, uma
família, nada. Ficaria tudo igual: as camas duras, os
banhos gelados, a comida insípida e aquelas malditas
freiras... Apanhar toda vez que escapava um
palavrão, ou quando ousava desafiar qualquer uma
delas.
Levantei a cabeça, meus olhos ardiam com as
lágrimas que teimavam em não cair. Fuzilei Dimitri
com o olhar, mas ele estava distraído, se preparando
para atirar mais uma pedra.
Eu queria tanto chorar, deixar tudo sair, mas, ao
mesmo tempo, odiava a ideia. Se Dimitri me visse
assim, ele ficaria bravo. Porque muitas vezes reprimi
o choro dele, o chamando de maricas, e agora ele
faria o mesmo comigo.
Mas, caramba... Eu só queria ir embora. Eu só
queria uma casa de verdade, tomar um banho quente,
comer algo que não tivesse gosto de papelão e,
principalmente, não ter que me preocupar em
apanhar de novo por qualquer motivo idiota. Queria
sentir que havia algo mais além desse inferno. Fechei
os olhos com força, tentando sufocar o grito de raiva
que subia pela minha garganta.
— Hay! — Dimitri chamou de novo, dessa vez me
olhando de lado, ele se aproximou mais, apoiou as
mãos nos meus joelhos, os olhos azuis penetrantes,
invadindo minha alma. — Eles vão voltar, Hay, você
foi perfeita.
Engoli o bolo em minha garganta e forcei o
sorriso para ele. Não podia me deixar levar por aquela
angústia, Dimitri tendia a ser mais racional do que eu.
Ultimamente, tudo dentro de mim era um caos, uma
bagunça de emoções que eu mal conseguia controlar.
A mínima coisa me fazia querer chorar, e eu odiava
isso. Mas, diante dele, eu não podia deixar
transparecer tanto. Ele precisava de mim tão forte
quanto eu precisava dele. Ele deu aquele sorriso
travesso que sempre fazia meu coração acelerar.
Mesmo quando o mundo parecia estar caindo aos
pedaços, Dimitri sempre conseguia me fazer esquecer
da dor.
— Vem! Vou te dar quatro pedras de vantagem —
ele prometeu, me dando uma piscadela.
Eu sorri, aceitando o desafio.
— Preciso apenas de duas para te vencer, idiota!
— retruquei, levantando-me e empurrando seus
ombros de leve.
Ele riu, e por um momento, era como se nada
mais importasse. Nem o orfanato, nem os Evans, nem
a irmã Agnes. Só Dimitri e eu, como sempre.
Peguei as pedras e corri para o pátio, o coração
batendo mais rápido agora por um motivo diferente.
Dimitri já estava à frente, pronto para mais uma de
nossas competições bobas, mas tão essenciais para
manter nossa sanidade. Eu sabia que ele estava
tentando me distrair, tirar o peso das minhas costas.
E funcionava. Ele sempre sabia como fazer isso.
— Você acha que pode me vencer com só duas
pedras? — ele provocou, rindo.
— Vou te provar agora! — gritei de volta, mirando
a primeira garrafa.
Respirei fundo, semicerrando os olhos e
calculando a garrafa milimetricamente, que estava a
uns 3 metros de distância. Atirei a pedra com força e
ela acertou o vidro com precisão, estilhaçando-o em
pedaços.
O som do vidro quebrado ecoou pelo pátio. Eu
virei para Dimitri, um sorriso satisfeito se formando
no meu rosto.
— Viu só? — provoquei, orgulhosa de ter acertado
a garrafa com uma precisão inesperada.
No entanto, algo mudou no rosto de Dimitri. Seus
olhos se arregalaram tanto que achei que iam saltar
das órbitas. O sorriso travesso que ele sempre
carregava desapareceu e de repente ele estava na
minha frente, rápido, pegando-me pelos ombros com
uma força que eu não esperava.
— Oh meu Deus, Hay! Você está morrendo! — A
voz dele era um sussurro sufocado, e seus olhos...
estavam marejados.
Eu franzi o cenho, confusa, e por um momento
quis rir. Dimitri sempre foi o mais dramático entre nós
dois, mas dessa vez... ele parecia genuinamente
assustado. Seu rosto estava pálido e seu aperto em
meus ombros era firme demais para ser só
brincadeira.
— Dimitri, do que você tá falando? — perguntei,
tentando parecer indiferente, mas o pânico dele
começava a me afetar.
Então, seus olhos se moveram para o chão, e eu
os segui. Foi quando vi. Um filete de sangue escuro
escorria lentamente pela minha perna, saindo debaixo
do vestido azul que eu usava. O contraste do líquido
vermelho contra o azul-claro me fez piscar, tentando
entender de onde vinha.
— O que... — comecei a dizer, mas minha voz
morreu ao ver a quantidade de sangue aumentar.
Dimitri apertou os lábios, me puxando para
sentar. Ele estava ainda mais aflito do que eu, o que
só aumentava minha confusão. O pânico era quase
palpável no ar, e meu coração começou a bater mais
rápido.
— Como isso aconteceu? — ele perguntou com a
voz falhando, as mãos tremendo enquanto tentava
segurar o vestido para ver o ferimento. — Você não
sentiu?
— Não... eu... eu não sei. — Minha voz saiu fraca,
e o pânico que Dimitri exalava começou a me
contaminar de verdade.
O que diabos estava acontecendo?
Ele começou a puxar meu vestido para cima, sem
qualquer sutileza, na tentativa de ver de onde vinha
tanto sangue. Eu dei um tapa em sua mão,
instintivamente.
— Ei! O que você tá fazendo? — protestei,
tentando me afastar.
— Hay, você tá machucada! Precisamos ver o que
aconteceu! — ele gritou de volta, sem paciência, os
olhos arregalados e completamente fora de si. Era
raro ver Dimitri assim. Ele sempre tinha uma resposta
para tudo, sempre sabia o que fazer. Mas agora... ele
estava apavorado, tanto quanto eu.
Olhei para baixo novamente e o sangue
continuava a escorrer, pintando minha pele de
vermelho. O vestido azul-claro começava a ficar
manchado, e meu coração batia tão rápido que
parecia que ia explodir. Eu não conseguia entender
como algo tão estranho estava acontecendo. Não
havia dor, não havia ferida visível... apenas o sangue,
e a expressão desesperada de Dimitri.
— Meu Deus, Hay! O que a gente faz? — ele
perguntou em desespero, os olhos correndo de mim
para o sangue e de volta para mim, os cabelos
escuros caindo na frente dos olhos. Ele parecia
prestes a chorar, o que só me deixou mais nervosa.
Eu não sabia o que fazer. Não sabia o que estava
acontecendo. Só sabia que o sangue não parava e
Dimitri estava surtando. Minha mente começou a
imaginar o pior: uma hemorragia, uma doença
misteriosa, algo que poderia me matar ali mesmo no
pátio do orfanato.
— Eu... eu acho que vou morrer, Dimitri — soltei
de repente, e as lágrimas finalmente brotaram nos
meus olhos, queimando minha visão. Eu nunca tinha
me sentido tão vulnerável, tão fora de controle. E ele
estava tão apavorado quanto eu. — O que tá
acontecendo comigo?
Dimitri mordeu o lábio inferior que tremia,
claramente tentando pensar em algo. Ele olhou ao
redor como se procurasse uma solução milagrosa.
Antes que qualquer um de nós pudesse fazer
algo, a figura severa da irmã Agnes apareceu de
repente ao nosso lado, sua expressão fria e rígida
como sempre. Ela vinha caminhando apressada pelo
pátio, o hábito preto esvoaçando com o vento.
— Ahh! Finalmente achei vocês dois! — Sua voz
autoritária nos pegou de surpresa. — Tenho boas
notícias, os Evans vêm nesse fim de semana vê-los
e...
Ela parou abruptamente, os olhos se estreitando
ao nos ver. Dimitri estava ajoelhado, ainda tentando
levantar meu vestido com desespero. O choque
atravessou o rosto da irmã Agnes, que franziu o cenho
como se não pudesse acreditar no que via.
— Dimitri! O que está fazendo? — ela disparou,
com a voz dura. — Pare de levantar o vestido de
Hailey imediatamente!
— Irmã Agnes! — Dimitri gritou, a voz falhando
enquanto as lágrimas começavam a escorrer por seu
rosto. — Hailey está morrendo! Nos ajude, por favor!
Ele estava tão desesperado que a irmã Agnes
ficou em silêncio por um momento, sua expressão
endurecida suavizando um pouco enquanto olhava
para mim. Seus olhos se moveram para o sangue que
escorria pela minha perna, manchando o vestido azul.
— Santo Deus! — murmurou, mais para si mesma,
levando uma mão à testa. — Vocês dois... que
confusão vocês fizeram agora!
Ela se agachou ao meu lado, os olhos firmes nos
meus, e depois olhou para Dimitri, que soluçava ao
meu lado, claramente sem entender o que estava
acontecendo.
— Hailey não está morrendo, Dimitri — disse com
firmeza, mas com um tom que parecia até um pouco...
gentil? — Isso é algo natural, que acontece com
meninas da idade dela.
Dimitri olhou para ela, ainda confuso e cheio de
medo.
— Natural? Mas... tem tanto sangue! — ele
retrucou, a voz embargada.
A irmã Agnes suspirou, balançando a cabeça.
— É a menstruação, Dimitri. Uma fase normal da
vida de toda menina — ela explicou, com o máximo
de paciência que parecia capaz de reunir. — Agora,
parem com essa bagunça e venham comigo. Hailey
precisa de cuidados, e não dessa gritaria no meio do
pátio.
De que merda ela estava falando?
Eu e Dimitri trocamos olhares confusos, mas não
tive tempo de pensar muito, pois a irmã Agnes me
ajudou a levantar e Dimitri ficou ali, congelado, ainda
tentando processar tudo. Olhei para ele, tentando não
rir da expressão de completo choque e alívio em seu
rosto.
— Então... você não vai morrer? — ele perguntou,
secando as lágrimas com o dorso da mão.
Eu balancei a cabeça, ainda com o coração
acelerado, mas um pouco mais calma.
— Acho que não… — respondi sem certeza, com
um meio sorriso, tentando aliviar a tensão.
Ele soltou um suspiro profundo, como se o peso
do mundo tivesse sido tirado de seus ombros. A irmã
Agnes nos deu uma última olhada, antes de me puxar
bruscamente pelo braço.
— Vamos logo, Hailey — ela disse. — E você,
Dimitri, vá para o dormitório. Já causou confusão o
suficiente por hoje.
Dimitri acenou com a cabeça, ainda visivelmente
abalado, mas logo me deu um pequeno sorriso,
aquele sorriso travesso que eu conhecia tão bem.
— Te vejo depois, Hay. E... ainda bem que você
não tá morrendo… Eu não queria ter que me matar
aos 14 anos….
Os olhos da irmã Agnes quase caíram do rosto ao
ouvi-lo, mas eu só consegui sentir aquela chama
intensa que sempre era acesa quando se tratava de
nós dois… e do que nós tínhamos.
Virei para a irmã Agnes, me concentrando na
parte importante.
— A que horas os Evans vêm no fim de semana?
“Um pouco de vodka que vai deixar meu coração mais acelerado
Do que uma corrente elétrica dada por um desfibrilador no hospital”
Without Me – Eminem

Agosto de 2023
Eu fecho os punhos, sentindo as unhas curtas
fincarem na pele, tentando acalmar a ansiedade que
faz meu peito pulsar descompassado. Passo a mão
pelos cabelos, bagunçando ainda mais os fios que
caem sobre meu rosto. Era o quinto, talvez o sexto
cigarro. O gosto amargo já começa a me nausear, mas
eu preciso daquilo, da fumaça queimando os pulmões,
da porra do controle que parece falso, mas está ali.
Olho novamente para a casa de cercas brancas.
Caralho! Era só curiosidade. Nada, além disso! Solto a
fumaça pesadamente, qual era a porra do meu
problema? Por que não podia simplesmente esquecer
a cadela, como tinha feito na última década?
É isso, definitivamente eu iria fazer isso!
Viro-me para ir embora rapidamente, mas uma
voz infantil me paralisa no lugar.
— Tio Dimi?
Faço uma careta, ainda de costas, reconhecendo
a voz. Me viro devagar, e lá está ela, Mary,
balançando-se tranquilamente no balanço pendurado
no velho carvalho nos fundos da casa. As trancinhas
escuras balançam com o vento, e os olhos grandes,
inocentes, me encaram com um brilho de curiosidade
e familiaridade. Sorrio para ela.
— Hey, gatinha, como você cresceu, seu pai está
em casa? — pergunto.
Suas bochechas esticam em um sorriso. Mary
tinha sido adotada por Anya e o americano, ela foi
salva em uma das missões e é uma garotinha de 9
anos, muito educada para quem tinha passado pelo
inferno. Era estranho, já que ela se parecia muito com
Nick, tendo olhos cinzas como os seus e cabelos
escuros, além, é claro, da calma que com certeza não
provinha de Anya.
— Acho que sim, não tenho certeza, mas a
mamãe está na cozinha, você pode entrar e perguntar
a ela — oferece suavemente.
Eu sorrio para ela, assinto agradecendo e me viro
para entrar, mas antes me curvo para ficar na sua
altura e sussurro.
— Se você quiser se balançar mais alto, prometo
não contar para sua mãe. — Dou uma piscadela e ela
sorri também, aprovando nosso segredo.
O cheiro de carne assada toma minhas narinas
quando passo o umbral da porta, da divisória que
divide a cozinha da sala de estar. Consigo ver os
cabelos ruivos de Anya, ela usa um vestido verde-
claro, coberto por um avental branco, luvas de
cozinha acolchoadas, de costas, enquanto tira a forma
de dentro do forno. Meu estômago ronca alto, já fazia
um tempo que eu não fazia uma refeição decente.
Estava vivendo à base de cigarros e vodka.
Encosto na pilastra de madeira, observando-a
colocar a forma no balcão e tirar as luvas, quando ela
se vira e me vê, tomando um susto. Anya para no
meio do movimento, os olhos verdes ainda
arregalados, mas logo uma expressão de alívio cruza
seu rosto. Ela coloca as luvas acolchoadas no balcão
ao lado da forma e me lança um olhar quase
divertido, típico dela.
— Dimitri... — ela diz, com um tom misto de
reprovação e familiaridade. — Seu desgraçado, você
quase me matou do coração.
Eu dou de ombros, sorrindo e cruzando os braços,
tentando parecer casual, mas meus olhos ainda estão
grudados na carne assada que exala um cheiro que
faz meu estômago protestar com um ronco audível.
— O americano está em casa, garota Petrova? —
pergunto, engolindo uma quantidade exagerada de
saliva, caralho! Aquela carne parece suculenta.
Ela arqueia uma sobrancelha, limpando as mãos
no avental com uma calma que me irrita.
— Você sabe que ele tem nome, certo? — retruca
ela, antes de finalmente responder à minha pergunta,
com outra pergunta. — O que você quer com meu
marido?
Eu sopro uma risada, ela era bem possessiva com
o americano, e ainda tinha ressentimentos por ter
sido eu a tê-lo iniciado na Bravta. Ela devia me
agradecer, aquele desgraçado se tornara indestrutível
agora! Mas mulheres nunca entenderiam o nosso
mundo, o sangue e a dor faziam parte dos negócios.
— Uma conversa de homens, você pode ficar
tranquila, não vou tomar ele de você — caçoo, dando
a volta na cozinha e puxando um garfo, espeto uma
batata, enfiando na boca.
Caralho! Essa merda está quente!
Anya revira os olhos com uma mistura de
irritação e diversão ao me ver roubar uma batata da
travessa.
— Você tem a sutileza de um rinoceronte, Dimitri
— murmura, cruzando os braços enquanto me observa
tentar não queimar a língua. — Nick está no
escritório. Você já conhece a casa, não é? Já que é
sempre tão sem noção.
Ela aponta com a cabeça para o corredor, sem
desfazer a expressão impaciente no rosto. Ainda
assim, há uma pequena faísca de afeto em seu tom.
— No escritório, hein? — repito, fingindo pensar
enquanto jogo o garfo de volta na pia, mastigando a
batata fervente. — Vou até lá. — Caminho em direção
ao corredor, mas viro-me por cima do ombro. — E não
se esqueça, traga dois copos de vodka sem gelo, para
os homens. Sei que você sabe como agradar —
provoco piscando para ela.
Me encolho quando o prato voa ao lado da minha
cabeça, espatifando-se em milhões de cacos de vidro.
Dou risada e prossigo pelo corredor, antes que ela
possa me responder com uma de suas típicas
respostas afiadas. Me viro, atravessando o corredor
em direção ao escritório. Quando chego à porta, a
cena era típica do americano, afogado em papeis
espalhados por todos os lados, uma garrafa de uísque
pela metade no canto da mesa e ele, sentado na
cadeira, debruçado sobre algum documento com os
olhos semicerrados.
Bato duas vezes na porta, o som seco ecoando
pela sala. Nick ergue o olhar, seus olhos cinzentos se
fixando em mim com a mesma calma que sempre
exibe, mas com uma curiosidade evidente.
— Dimitri. — Massageia as têmporas soltando um
suspiro pesado, como se já imaginasse que quando eu
aparecia assim, sempre era trazendo problemas.
Nick se recosta na cadeira, ainda massageando
as têmporas, antes de cruzar os braços sobre o peito,
me encarando com aquele olhar que deixava claro
que ele não estava surpreso, mas também não muito
entusiasmado. Era o típico "o que você fez agora?"
sem precisar dizer em voz alta.
— Dimitri — repete, seu tom grave e cansado. —
O que você quer?
Fecho a porta atrás de mim e dou uma rápida
olhada no escritório bagunçado, típico do americano.
Com as mãos nos bolsos, me aproximo, puxando uma
cadeira e me sentando de frente para ele, apoiando
os cotovelos nos joelhos.
— Não precisa dessa cara, americano, não vim
trazer encrenca... dessa vez — brinco, tentando
aliviar o clima, mas o olhar de Nick permanece firme,
inabalável. Ele não está no clima de brincadeiras. Giro
na cadeira, balançando de um lado para o outro,
acendo um cigarro e o fumo.
Caralho! Aquela merda era difícil.
— Quando Vlad ficou encrencado com o lance dos
documentos do Rogers, você disse que tinha um
contato na CIA — pontuo, evitando seus olhos
cinzentos, me medindo de cima a baixo. — Você ainda
o tem?
De soslaio, consigo ver sua sobrancelha escura
levantando-se. Nick se recosta novamente na cadeira,
o olhar desconfiado, como sempre, tentando
desvendar o que eu realmente quero. Ele esfrega o
queixo, pensativo, antes de finalmente falar.
— Sim, um antigo parceiro que trabalhou comigo
no México — responde hesitante.
Levanto-me da cadeira, não conseguindo ficar
parado, minha pele parece estar pinicando. Já de pé,
puxo a garrafa de uísque que está na mesa, abrindo e
bebendo no gargalo três goles grandes.
— O que você precisa? — questiona Nick,
acendendo ele mesmo um cigarro.
O líquido de cor caramelo desce queimando em
minha garganta, engulo o último gole como se ele
fosse a coragem que eu preciso, para finalmente falar
o nome da desgraçada em voz alta.
— Preciso achar uma cadela! — confesso
rangendo os dentes.
A sobrancelha escura franze, obviamente
pensando que eu sou completamente louco. Nick solta
a fumaça lentamente, estudando-me com aquele
olhar calmo, como se estivesse acostumado a lidar
com merda, o que ele certamente estava. Mas eu
sabia que esse assunto era diferente, se eu achasse a
maldita, conseguiria finalmente limpar aquela sujeira
da minha pele. O americano bufa, tomando a garrafa
da minha mão e bebendo um gole.
— Preciso de um nome, Dimitri — ele demanda.
Eu sabia que ele precisava de mais informações
para conseguir o que eu pedia, e mesmo não
querendo abrir nada do meu passado merda para
ninguém, afinal eu nunca tinha o feito, eu precisava
dar uma direção a ele.
— Hailey… — O nome dela parece queimar na
minha língua e engulo o ácido em minha garganta. —
Hailey Evans. Os pais dela eram da CIA, por isso
acredito que não vai ser muito difícil localizar a
cadela.
Ele suspira pesadamente, coça a testa e me
devolve a garrafa de uísque.
— Não vou querer saber nada sobre essa garota,
vou? — ele pondera.
Eu rio amargamente. Ninguém fazia ideia,
ninguém sabia tudo o que aquela cachorra traidora
representou um dia para mim, não fazia questão de
lembrar da minha infância fodida e de como nos
apoiamos um no outro para sobreviver, e fazia ainda
menos questão de me lembrar do maldito pacto que
fizemos.
“Não importa o que aconteça, meu caos sempre
vai encontrar o seu.” As palavras martelam na minha
cabeça, espancando meu cérebro, engulo mais
uísque, tentando expulsar aquelas merdas para longe.
— Só me traga a localização da cadela,
americano, eu fico te devendo uma — prometo,
olhando em seus olhos. — E sabe que é sempre
vantajoso ter um favor pendente comigo — eu digo
sorrindo, e devolvendo a garrafa.
— Certo, certo. Eu vou ver o que consigo — diz,
seu tom ainda com aquela calma de sempre. Se
levanta da cadeira, tomando o último gole. — Mas
você vai me dever uma grande depois dessa, e não
vou esquecer disso. — Eu assinto, aliviado por ele não
querer cavar mais fundo no assunto. Mesmo assim, a
tensão no ar é palpável. Nick olha para a porta e
balança a cabeça, como se estivesse ponderando uma
decisão.
— Você devia ficar para o almoço — sugere de
repente.
Meu estômago ronca no instante em que ele
menciona "almoço". Não dá para negar que a comida
de Anya é uma das melhores coisas dessa vida, e
considerando que eu tinha vivido à base de cigarro e
vodka nos últimos dias, um prato decente não parece
tão ruim assim.
— Almoço, hein? — murmuro, tentando parecer
indiferente, mas não consigo esconder o brilho nos
olhos. — Se for a carne assada que eu senti o cheiro
lá na cozinha, não vou recusar. Você conseguiu
amansar a garota Petrova mesmo, hein, americano?
Ele sabe que é errado, mas mesmo assim ri e
seguimos para fora do escritório.
— Se Anya te ouvir, vai cortar as bolas de nós
dois.
Eu rio, jogando os cabelos para trás, e seguimos
juntos até a cozinha
Ao entrar, encontro Anya já pondo a mesa. Seus
olhos verdes me lançam um olhar severo,
provavelmente ainda irritada pelo prato que quase
estourou na minha cabeça. Mas havia algo naquele
olhar, um entendimento silencioso que, de certa
forma, fazia eu me sentir bem-vindo, na mesa dela e
dos Petrova.
O cheiro da carne, do molho e das batatas estão
me matando. Eu mal espero todos sentarem antes de
atacar o prato à minha frente. Nick se senta ao meu
lado, observando em silêncio enquanto eu devoro a
comida. Depois de alguns minutos de silêncio, com o
som dos talheres batendo nos pratos, Nick quebra
finalmente o silêncio.
— Vou entrar em contato com meu parceiro. Leva
tempo, mas a CIA tem seus métodos.
Assinto, entre uma mordida e outra. Não me
importava de esperar, eu já tinha o feito, só não podia
deixar mais as lembranças da cadela me correrem por
dentro. Precisava encontrá-la e acertar minhas contas
com a puta e então assim eu conseguiria seguir com a
porra da minha vida.
“Dor!
Você me fez, você me fez acreditar, acreditar
Dor!
Você me destrói e me reconstrói, eu acredito, acredito”
Believer - Imagine Dragons

13 anos
Meus ouvidos estão zumbindo, meu coração
batendo tão acelerado que não consigo mais ouvir o
que a irmã Agnes está falando, minha audição mutou
no momento em que ela disse “Os Evans vão adotar
vocês’’. Meu peito estava transbordando uma
felicidade da qual eu nunca tinha experimentado, a
sensação era aterrorizante, mas ao mesmo tempo,
avassaladora. Nós finalmente sairíamos daquele
buraco do inferno. Meus olhos marejaram, mas eu não
conseguia parar de sorrir. Dimi e eu finalmente
fugiríamos daquele lugar. A felicidade era quase
sufocante, do tipo que te faz duvidar que é real. E, se
fosse mesmo, quanto tempo até a gente estragar
tudo?
Eu olhei de soslaio para Dimitri, esperando ver a
mesma alegria estampada no rosto dele, mas ele
estava sério, com os punhos cerrados. Ele sabia tanto
quanto eu que alegria nunca durava muito tempo ali,
que sempre tinha uma pegadinha. Algo iria dar
errado, porque sempre dava. Mas, no fundo, a
esperança era como farpas fincando-se na minha
pele.
A voz da irmã Agnes me puxou de volta à
realidade, mais severa desta vez, com aquele tom que
ela usava quando não tinha mais paciência.
— Vocês dois estão me ouvindo? — ela exigiu.
Pisquei rapidamente, tentando voltar ao momento
presente, e fiz que sim com a cabeça, mas a verdade
era que meu cérebro estava a mil e eu não tinha
ouvido nada que ela disse depois da minha frase dos
sonhos.
— Há uma condição — continuou ela, suas
palavras cortando o que restava da minha euforia. —
Os Evans vão passar esse mês observando vocês. Se
houver qualquer encrenca, qualquer problema... a
adoção será suspensa.
Aquilo foi como um balde de água fria. De
repente, o buraco no meu estômago voltou, o mesmo
que sempre sentia quando algo parecia bom demais
para ser verdade. Eu sabia que Dimitri e eu éramos
bons em uma coisa: arranjar problemas. Não porque
queríamos, mas porque o mundo parecia ter uma
predileção por jogar merdas em nossas costas.
Minha cabeça girava com o que isso significava.
Um mês inteiro sem brigas, sem confusão, sem que
Dimitri se metesse em alguma encrenca por aí. Olhei
para ele, seus punhos ainda cerrados, e vi que ele
estava tão dividido quanto eu. Sua testa estava
franzida, como se estivesse ponderando todos os
possíveis cenários.
— Não se preocupem, vou falar com os Evans
hoje, e os manterei informados sobre tudo. Até lá,
quero que vocês se comportem. Nada de brigas, nada
de encrencas, entendido? — A irmã Agnes continuou,
nos encarando com aquele olhar firme de quem sabia
exatamente com quem estava lidando. — Agora vão!
Eu e Dimi saímos da sala dela e caminhamos lado
a lado, ambos ainda meio anestesiados pelas
informações. Me comportar por um mês inteiro não
parecia tão difícil... pelo menos, não para mim.
Mas Dimitri? Eu o conhecia bem o suficiente para
saber que aquela promessa seria mais difícil para ele
manter. Pisquei os olhos, peguei sua mão e comecei a
correr com ele.
— Hay! Onde estamos indo? — ele gritou à
medida que eu corria mais rápido.
Nossas mãos estavam suadas e entrelaçadas,
enquanto nossas pernas corriam rápido, entrando no
labirinto de árvores que tinha na frente do orfanato.
Minha respiração era ofegante e parei abruptamente,
pegando Dimitri pelos ombros e jogando-o contra um
tronco. Seus olhos azuis arregalaram, as bochechas
pálidas ficando vermelhas pela corrida e pela nossa
proximidade.
— Precisamos… — tentei dizer ofegantemente. —
Acrescentar uma nova condição ao nosso pacto. Me
prometa que não vai se meter em encrenca?
Ele franziu o cenho, os olhos azuis arregalando.
Ele pegou minha mão, acariciou a cicatriz no meu
pulso e colocou sua mão ao lado da minha, enquanto
olhava para mim com uma mistura de surpresa e
confusão. Ele ofegava, o peito subindo e descendo
rapidamente com a respiração descompassada da
corrida, mas seus olhos me fitavam como se não
tivesse certeza se eu estava falando sério. Sua mão
ainda segurava a minha, as cicatrizes que
compartilhávamos no pulso brilhando à luz suave que
atravessava as folhas das árvores ao nosso redor. O
silêncio entre nós era quebrado apenas pelo som do
vento, balançando os galhos acima de nossas
cabeças.
— Você quer que eu prometa isso? — ele
murmurou, a voz carregada de incerteza.
Eu balancei a cabeça, ainda tentando recuperar o
fôlego. Meu coração batia tão rápido que eu podia
senti-lo ecoar em meus ouvidos, mas precisava que
ele entendesse a seriedade do que estava pedindo.
— Se... — comecei, tentando colocar em palavras
o que eu sentia. — Se não conseguirmos passar esse
mês sem problemas, os Evans vão desistir. Vão achar
que somos um caso perdido, Dimi. E eu... eu não
aguento mais viver aqui. — Minha voz tremeu
levemente, traindo o medo e a ansiedade que me
corroíam por dentro.
Sua mão capturou meu queixo, fazendo uma
carícia na minha bochecha. Seus olhos azuis estavam
tão intensos, como se uma tempestade estivesse
prestes a desabar.
— Você confia mesmo neles? — ele finalmente
perguntou, a voz quase um sussurro. — Nos Evans?
Hesitei por um momento. Eu queria acreditar que
eles eram diferentes. Que não éramos só mais dois
órfãos no meio de tantos outros. Que eles realmente
queriam nos dar uma chance. Olhei fundo nos olhos
de Dimitri, aqueles olhos azuis que tantas vezes
tinham me salvado quando tudo parecia perdido.
— Eu confio em nós, Dimi. Se nós conseguirmos
fazer isso juntos, podemos sair daqui. Não quero mais
olhar para trás. Só prometa, por favor... — Minha voz
implorava, quase quebrando, mas eu me recusei a
chorar.
Ele me puxou pela cintura, fazendo-me colidir
contra seu corpo, me segurando com força, como se
quisesse me proteger de todo o mal do mundo, e
naquele momento, enquanto o calor do seu corpo me
envolvia, eu me senti segura. Era aquela sensação
irrefreável de que, juntos, poderíamos enfrentar
qualquer coisa. Ele estava crescendo rápido e eu já
mal alcançava seu ombro. Era uma lembrança
constante de que o tempo estava passando e que não
tínhamos mais muito dele ali naquele lugar. Cada
segundo contado até que os Evans decidissem se
éramos dignos de uma nova vida.
— Não importa o que aconteça, meu caos sempre
vai encontrar o seu — ele sussurrou contra minha
testa, sua voz grave ressoando pelo meu corpo como
uma promessa antiga, algo que só nós dois
entendíamos.
Eu sorri dentro do seu abraço, sentindo a pressão
em meu peito aliviar um pouco. Algumas lágrimas
silenciosas escorriam pelo meu rosto, mas eu as
deixei cair dessa vez. Para qualquer outra pessoa,
aquelas palavras não fariam sentido, mas para nós,
era tudo o que precisávamos. Dimitri e eu, unidos
pelo caos, pela sobrevivência, por uma vida que
sempre parecia mais difícil do que qualquer outra.
— Vamos sair daqui, Dimi — murmurei,
apertando-o ainda mais forte, como se ele pudesse
escorregar pelas minhas mãos se eu soltasse. — E
vamos ficar juntos para sempre.
Ele soltou uma risada baixa, aquele som meio
rouco que só Dimitri conseguia fazer, um misto de
incredulidade e esperança. Sabíamos que os Evans
representavam uma chance, talvez nossa única
chance, mas ambos tínhamos nossos medos. Eu não
confiava em adultos facilmente, e sabia que ele
também não. Mas se havia uma coisa que Dimitri e eu
compartilhávamos além das cicatrizes, era a
determinação de lutar.
“Não diga a ninguém que eu te controlo
Eu te destruí só pra te possuir
Eles não sabem que eu te amo”
One Of The Girls - The Weeknd

Agosto de 2023
Dimitri gosta de foder putas!
Eu tinha confirmado essa tese depois de observá-
lo por duas semanas. O desgraçado tinha mudado, ele
se tornara uma força da natureza, mais forte e mais
alto do que me lembrava. O corpo esculpido, os
músculos definidos sob a camiseta justa e aquele
sorriso travesso que ele tinha quando éramos
crianças ainda persistia, mas agora havia um novo
brilho nos seus olhos, algo perigoso, intoxicante. Era
como se ele estivesse se transformando em uma
tempestade, um furacão prestes a devorar tudo ao
seu redor. O assisti se embriagar, se drogar e foder
com mulheres ou homens em um puteiro específico
que ele frequentava com assiduidade.
Seria fácil pegá-lo em um desses momentos,
vulnerável, despido de qualquer defesa. A missão que
me fora encomendada não me deixava dúvidas sobre
como proceder. A ideia de encerrar sua vida
rapidamente não me parecia tentadora, na verdade,
meus planos para ele eram muito mais tortuosos. Eu
queria que ele vivesse, queria olhar nos olhos dele,
ver o sofrimento brilhando. A dor dele seria a minha
recompensa.
Puxo o capuz escondendo meus cabelos e aperto
o passo, seguindo-o para o local com luzes vermelhas.
Às vezes, era como se ele sentisse minha
presença à espreita, um instinto que ele não
conseguia ignorar. Era divertido vê-lo olhar para trás,
sua expressão misturando-se entre a ameaça e a
confusão, só para não encontrar nada além da
escuridão. Como a assassina mais assertiva da CIA,
nunca tendo perdido um alvo, eu sabia como me
camuflar. Ele estava em um estado constante de
paranoia, e isso apenas alimentava sua necessidade
de se afundar mais em substâncias para anestesiar
sua mente. Cada gole de vodka, cada trago de
cigarro, ou cada vez que recorria à cocaína, parecia
um grito silencioso pedindo por um socorro que ele
não conseguia verbalizar.
Descobri que ele tinha algum cargo dentro
daquela organização criminosa, aparentemente um
cargo de confiança e importância. As conversas que
escutava quando me infiltrava nos círculos do
submundo frequentemente o associavam a ser um
torturador cruel e sanguinário. Todos o temiam, suas
ações ecoando como uma lenda urbana que crescia a
cada relato. Ele não era apenas um peão nesse jogo,
era um dos protagonistas, um homem cuja força e
ferocidade faziam seus inimigos tremerem. O Dimitri
que eu conhecia, o garoto perdido, havia se
transformado em algo muito mais sombrio.
A verdade era que eu estava fascinada, era
insano pensar que de alguma forma tínhamos seguido
caminhos muito parecidos, sempre em busca de
aplacar essa fome de sangue e violência que vivia em
nós. Ao entrar no local, fui tomada por uma onda de
sons e cores, o cheiro de fumaça misturado com o
perfume barato das mulheres e o suor dos homens se
movendo em um ritmo frenético. Ele estava ali, no
centro da confusão, dançava com uma mulher
baixinha, com os cabelos escuros, ela usava apenas
calcinha fio dental e um corset justo, ressaltando os
peitos grandes, o qual Dimitri vez por outra enfiava a
cara e esfregava o rosto como um cachorro sarnento.
Ranjo os dentes, sentindo uma fúria assassina
crescer dentro do peito e aperto os punhos, sentindo
as unhas rasgarem a carne de minhas mãos, meus
olhos acompanhando quando ele sobe as escadas
segurando a cintura da garota. Eu os sigo até o
corredor que dá para os quartos privativos, e
furtivamente o acompanho entrar no quarto sem se
preocupar em fechar a porta.
Encosto-me no batente, discretamente, e observo
a garota ajoelhada aos seus pés enquanto ele luta
para se desfazer das calças, com ela o auxiliando a
descer o jeans escuro juntamente com sua cueca.
Meus olhos saltam quando seu pau duro e grande
salta para fora na cara dela.
Engulo a quantidade acumulada de saliva que se
junta repentinamente em minha boca. Ele é bem
avantajado, a cabeça rosada reluz com a quantidade
de líquido transparente saindo pela glande. Lambo os
lábios ao mesmo tempo que a garota também o faz.
Mordo minha boca, contendo o rosnado que quer subir
pela minha garganta quando ela o lambe.
— Seu gosto é delicioso! — ela elogia, arrancando
um sorriso safado dele.
Por um momento eu quero arrancar a cabeça
dela, só para provar se ela realmente tem razão ou se
por ser uma puta, está mentindo para agradá-lo.
Dimitri não a deixa continuar apenas nas lambidas
tímidas, bruscamente ele enrola seu cabelo em seu
punho e bate com seu pau grosso no rosto dela e em
seguida enfia-se na sua boca de uma vez. Meu corpo
incendeia e eu cogito seriamente a possibilidade de
foder com ele antes de matá-lo, ou, ao mesmo
tempo…
— Ohh, porra, isso! Caralho. Consegue me sentir
pulsando na sua garganta? — questiona com sadismo
pingando na voz. Ela assente com os olhos
lacrimejando e ele inicia um ritmo alucinante, fodendo
a garganta da garota como se fosse uma necessidade.
Desgraçado gostoso!
Eu já o tinha visto fodendo outras garotas, e ele
parecia aterradoramente delicioso quando estava
trepando. Era exatamente o tipo de sexo que eu
adorava, ele era selvagem, bruto, gostava de dar
tapas na cara, cuspir, morder e foder rabos.
Coincidentemente, tudo o que eu mais gostava. As
palmas das minhas mãos suam e começo a sentir a
umidade escorrendo entre as minhas dobras, lambo
meus lábios vendo-a sufocar com o pau dele e as
lágrimas rolam pelo seu rosto, manchando sua
maquiagem exagerada.
Observar a bunda tonificada dele, impulsionando-
se para dentro da boca dela era magnífico. Aquela
porra está me deixando fodidamente excitada, ao
mesmo tempo em que me deixa transtornada de ódio
por aquela cadela estar o chupando. É bonito
observar a forma que ela luta para respirar nos raros
momentos em que ele tira o pau inteiramente babado
de sua boca.
— Porra! Que delícia. Quero gozar na sua cara —
ele grunhe rouco.
Mordo meus lábios com mais força, contendo o
gemido. A garota parece desesperada, enquanto ele
pinta a cara dela inteira, passando o pau molhado de
saliva em todo o seu rosto. Ele é bruto, selvagem,
animalesco. E desgraçadamente delicioso!
— Diga, sua putinha — ele exige, rindo para ela e
batendo o pau com força em sua bochecha. — Diga:
Dimi, encha minha cara de porra!
Ofego, engolindo uma quantidade exagerada de
saliva e franzo o cenho quando as palavras quiseram
saltar da minha boca. A garota está totalmente
atordoada, o rosto todo molhado, repleto de saliva e
pré-sêmen, os olhos com a maquiagem preta borrada
e escorrendo. Ela fica especificamente sensual
daquele jeito. Meus mamilos doem, e mesmo odiando-
a por estar no lugar onde eu estranhamente queria
estar, eu queria participar daquela putaria. Queria
beijá-la e senti o gosto dele através da boca dela,
queria lamber seu rosto babado e me deliciar com o
gosto sujo daquela sacanagem.
— Por favor, Dimi, encha minha cara de porra! —
ela implora com a voz esganiçada pela garganta
dolorida e ele rosna alto, o som fazendo meu coração
acelerar e deixando minha calcinha mais encharcada.
Ele puxa o cabelo dela mais forte e pega o
próprio pênis, batendo uma punheta gostosa, usando
os lábios dela para esfregar a cabeça rosada à medida
que o quadril dele fode a própria mão. O calor está
insuportável, a dor no fundo do meu útero, a
sensação angustiante de querer aquele pau gostoso
dele me fodendo até a exaustão. Caralho!
Preciso matar logo esse filho da puta.
Quando Dimitri grunhe como um animal, gozando
no rosto da garota, é como assistir a um 7 de julho
americano [3] . Os músculos das pernas, coxas e
nádegas contraindo, era majestoso ver seu maxilar
travado, o som animalesco saindo de sua garganta e a
porra esguichando de seu pau, sujando o rosto inteiro
da garota. É como se ele estivesse a sodomizando,
mostrando a vadia que ela era, enchendo seu rosto
bonito com a porra dele, a sensação foi como se eu
estivesse gozando com ele. Eu amava sexo sujo,
amava a devassidão.
Aquilo foi demais para mim, me afastei
encostando as costas no corredor ao lado da porta,
meu peito subindo e descendo descompassadamente.
Meu corpo estava em chamas e eu precisava muito
gozar. Mordo os lábios tentando conter o desejo
efervescendo nas veias e respiro fundo. Eu era boa
em controlar as coisas, mas quando se tratava de
sexo, acendia-se um instinto primal em mim.
Pela visão periférica, vejo quando ele sai do
quarto, passando a mão pelos cabelos molhados e
ajeitando o cinto. Seu andar desleixado, mas ainda
imponente, exala aquela confiança quase selvagem
que ele sempre teve, mesmo quando tudo ao seu
redor parecia desmoronar. Seus olhos escaneiam o
corredor, talvez buscando algo familiar em meio
àquela confusão e crava-se em mim. O capuz do
moletom preto que eu uso e a baixa iluminação não o
deixam ver muito, mas ele reconheceria meus olhos
em qualquer lugar que me visse. O tom de azul dos
seus era completamente diferente dos meus, o fundo
royal e quase cinzento combina perfeitamente com
seus cabelos intensamente escuros, já os meus olhos
são mais puxados para o azul-turquesa, oscilando
entre o mar e o céu.
Nossos olhares se cruzam e por um segundo, ele
congela. Seus olhos azul-acinzentados, sempre tão
frios e calculistas, parecem subitamente em chamas,
como se a mera visão de mim o tivesse atingido como
um soco. Eu sabia o que ele estava pensando,
conhecia a confusão em sua mente. O álcool e as
drogas já o tinham feito duvidar da própria realidade
tantas vezes que ele não podia mais confiar no que
via. E eu? Eu era apenas mais um fantasma, uma
alucinação que ele acreditava ser fruto de sua própria
imaginação. A ideia me faz sorrir maldosamente.
Seu olhar permanece preso ao meu, e eu posso
ver o choque que se transforma rapidamente em
descrença. Dimitri passa a mão pelos cabelos de
novo, esfregando a cabeça como se tentasse espantar
os pensamentos confusos.
Eu me aproximo lentamente, ainda sorrindo, e o
observo endurecer o corpo, como se quisesse
preparar-se para um ataque que ele mesmo sabia que
não viria. Ele acredita que sou apenas uma ilusão de
sua cabeça, penso. A ideia era tão tentadora quanto
perigosa. Eu podia vê-lo cedendo a essa crença, e isso
tornava o jogo ainda mais interessante.
Dimitri balança a cabeça, soltando um riso curto
e incrédulo, olhando ao redor do corredor como se
esperasse que eu fosse desaparecer no próximo
piscar de olhos. Mas eu estava ali, e ele sabia disso,
eu tinha voltado para assombrá-lo.
— Você não é real. Eu… estou chapado… — ele
murmura mais para si do que para mim.
Aquilo estica ainda mais meu sorriso. Com o
corpo fervendo de tesão e ansiedade, chego mais
perto, até que o calor de seu corpo quase me engula.
A diferença de altura entre nós é gritante, mas a
minha determinação em destruí-lo, em deixar cada
pedaço de sua mente em frangalhos, é ainda maior.
Fico na ponta dos pés, minha boca próxima de seu
ouvido, o suficiente para que ele sinta meu hálito
quente e as palavras que eu sussurrei a seguir.
— Eu vou te pegar, Dimi.
O corpo dele enrijece instantaneamente, como se
cada músculo tivesse congelado. A respiração dele
para por um segundo, e então o choque finalmente
vem. Ele dá um salto para trás, olhos arregalados de
puro terror, como se estivesse diante de um pesadelo
encarnado. Dimitri olha para mim uma última vez,
confuso e atordoado, antes de virar e correr.
Eu fico parada, observando-o desaparecer pelo
corredor, sentindo o gosto doce da vitória. Dimitri
está fugindo, como se pudesse escapar. Mal sabia ele
que a caçada estava apenas começando.
“Eu sou carne e eu sou osso
Erga-se, ting ting, feito brilho e ouro
Eu tenho fogo em minha alma”
Glitter & Gold - Barns Courtney

14 anos
Eu aguentava. Cada maldita provocação, cada
teste de paciência, cada tarefa humilhante. Não era
por mim, nunca foi. Eu estava fazendo isso por Hailey.
Ela acreditava nos Evans, acreditava que finalmente
teríamos uma chance de sair daquele inferno. E eu…
bem… eu acreditava nela. Então, eu suportava. Mais
de 20 dias me mantendo na linha. Eles me
empurravam, me ignoravam, testavam meus limites,
e eu resistia, porque sabia o que estava em jogo.
A promessa. O adendo em nosso pacto.
Eu e Hailey tínhamos feito um acordo, algo que ia
muito além de qualquer adoção. Estávamos juntos
nessa, e só precisávamos aguentar um pouco mais.
Segurei a vassoura com mais força, varrendo as folhas
secas na frente do orfanato.
— Olha quem está aí, o cachorrinho da Hailey. —
Ouvi a voz escorregadia de Konstantin atrás de mim.
Ignorei. Continuei varrendo as folhas, como se ele
não estivesse ali. Eu sabia o que ele queria: me fazer
explodir, me fazer reagir. Eu não ia cair nessa. Não
dessa vez.
Ele chutou a pilha de folhas que eu já tinha
juntado, apertei o cabo da vassoura com mais força e
me concentrei no monte que eu empilhava. Sorrindo,
ele me observou juntar as folhas novamente.
— Ouvi dizer que Hailey está se divertindo sem
você — continuou ele, se aproximando. Eu podia
sentir o cheiro podre da provocação no ar. — Ela anda
beijando todos os garotos por aí. Você sabia disso?
Talvez ela só esteja esperando o momento certo para
sair e se livrar de você.
Eu apertei o cabo da vassoura. Senti os nós dos
meus dedos brancos de tanta força. Respira, Dimitri.
É mentira. É só mais uma porra de mentira. Eu sabia
que ele estava me provocando. Mas por um segundo,
só um segundo, o veneno das palavras dele entrou,
fazendo-me duvidar.
— Cala a boca — murmurei, tentando controlar a
raiva. Continuei varrendo, tentando afastar os
pensamentos que surgiam como facas afiadas na
minha mente.
Hailey e eu éramos parceiros, ela não ficaria com
mais ninguém além de mim. Ela me deu seu primeiro
beijo e quando crescêssemos ela seria minha esposa.
Konstantin era um desgraçado que vivia conosco no
orfanato, ele já tinha 16 anos e nunca havia sido
adotado, eu já tinha perdido a conta de quantas vezes
tínhamos saído na porrada, no entanto, ele sabia que
falar sobre Hailey sempre me desconcertava.
— Aposto que ela vai ter peitos grandes quando
crescer — ele provocou, fazendo-me ranger os dentes
e abaixei a cabeça tentando me concentrar na porra
das folhas.
Ele abaixou como o próprio diabo na minha
frente, seus olhos castanhos flamejando com escárnio
e provocação.
— Sabia que quando as meninas sangram,
significa que já estão prontas para levar pau nas suas
bocetas? — Suas palavras entraram fervendo pelos
meus ouvidos. — É o que a vadia da Hailey quer, que
alguém foda aquela boceta dela. — Ele segurou seu
pau por cima do short. — Eu posso fazer isso por ela,
já que você é uma bichinha e não consegue fazer.
Foi a gota d'água. Aquela última frase entrou na
minha cabeça e explodiu tudo o que eu tinha
segurado. Larguei a vassoura e, antes mesmo de
perceber, estava em cima dele, socando sua cara com
toda a força que eu tinha guardado nos últimos dias.
Eu não via mais nada. Era só raiva, puro ódio. O
som do punho acertando o rosto de Konstantin era a
única coisa que fazia sentido. Ele tentava revidar,
mas eu estava possuído. As palavras dele ecoavam na
minha cabeça como um martelo, e cada soco que eu
dava parecia um grito de desespero, uma tentativa de
expulsar aquele medo de perder Hailey, de ser
deixado para trás.
Eu sabia que eles estavam lá, os outros garotos,
tentando me puxar, tentando me separar dele, mas
eu não podia parar. Não conseguia. Tudo o que eu
queria era calar aquela boca mentirosa, acabar com
as provocações, acabar com a dor. Eu não estava
lutando só contra Konstantin. Eu estava lutando
contra tudo o que me jogaram a vida inteira. Contra
os Evans, contra a irmã Agnes, contra a maldita ideia
de que eu não era bom o suficiente.
Quando finalmente me separaram, meu corpo
estava exausto, mas minha mente ainda fervia. Olhei
para Konstantin no chão, sangrando, e percebi que
tinha ido longe demais. Eu estava coberto de sangue,
o meu e o dele, mas não senti nada.
— Dimitri! Santo Deus! O que você fez? — a irmã
Agnes gritou, ajoelhando-se no chão para socorrê-lo.
Minha respiração subia e descia bruscamente, eu
sabia que tinha estragado tudo, e a sensação de
fracasso era esmagadora. Só a dor de saber que tinha
falhado. Que, depois disso, os Evans não iam querer
saber de nós. Hailey... ela ficaria decepcionada… Eu
acabei com a única chance que tínhamos de sair
daquela merda de lugar.
Eu falhei com ela. E isso me destruiu mais do que
qualquer golpe que eu tivesse dado ou recebido
naquela luta. Meu couro cabeludo ardeu quando a
irmã Agnes me puxou pelos cabelos, o som de passos
ecoava pelo corredor vazio e minha cabeça latejava.
Meu couro cabeludo ardia enquanto a irmã Agnes me
puxava, arrastando-me sem piedade para a sala de
punição. Eu já sabia o que viria a seguir. Aquela sala,
fria e escura, era onde os “problemáticos” pagavam
por seus erros. A luz fraca da lamparina parecia ainda
mais sombria naquele dia.
Ela me empurrou contra a parede com força e eu
ouvi o som do chicote que ela desenrolava
calmamente, como se fosse uma rotina para ela. E
era. Para mim também.
Eu me forcei a ficar de pé, o corpo todo doendo,
mas não mostraria fraqueza. Não daria a ela o prazer
de me ver quebrar. Eu sempre suportava calado. Não
choraria, não imploraria. Afinal, eu não era um
maricas. E, quando o primeiro golpe veio, ardendo nas
minhas costas como fogo, eu cerrei os dentes,
encarando o chão.
— Você não passa de um ingrato, Dimitri. — A voz
dela soava calma, mas havia veneno em cada
palavra. — Sempre estragando tudo. Os Evans iam dar
uma nova vida a vocês, mas você… — Ela parou para
acertar outro golpe, mais forte. — Você jogou tudo
fora, como sempre.
Mais um golpe, e mais um. O couro do chicote
rasgava minha pele, mas eu me mantinha firme, os
punhos cerrados ao lado do corpo. Eu não gritaria.
Nunca gritei.
— E sabe o que vai acontecer agora? — A voz
dela soou mais baixa, quase um sussurro venenoso. —
Hailey será adotada, sim. Mas sem você.
Essas palavras me atingiram com mais força do
que qualquer chicotada. Meu coração vacilou. O
choque percorreu meu corpo e pela primeira vez senti
o pânico verdadeiro se apoderar de mim. Sem mim?
Como poderiam separar a gente? Nós tínhamos
prometido, desde sempre, que sairíamos juntos.
— A senhora está mentindo! — rosnei, minha voz
baixa e cheia de raiva, olhando para ela com fúria nos
olhos. Eu sabia que não podia confiar nela.
O chicote desceu com ainda mais força, rasgando
o pouco controle que eu tinha sobre a dor física. Mas
aquilo... aquilo ainda não era nada comparado à
tortura do que ela estava dizendo.
— Não estou! — a irmã Agnes retrucou com
frieza. — Você não pode acabar com a vida daquela
garota, Dimitri. Deus nunca vai perdoá-lo por isso. Ela
merece uma chance de ser feliz, longe de você.
Eu sentia as lágrimas se acumulando nos meus
olhos, mas me recusei a deixá-las cair. Eu não
mostraria fraqueza. Engoli o bolo na minha garganta,
tentando não sufocar com o desespero que crescia
dentro de mim. Ela era uma cadela mentirosa. Hailey
nunca me deixaria. Ela nunca faria isso.
— Hailey nunca irá sem mim! — grunhi, entre
dentes, minha voz fervendo com uma mistura de dor
e raiva. — A senhora não entende nada sobre nós.
A irmã Agnes ficou quieta por um momento, o
silêncio entre nós pesado como chumbo. Ela se
inclinou, chegando mais perto, e eu podia sentir o
hálito azedo dela enquanto falava devagar,
cruelmente:
— Talvez você é que não entenda, Dimitri. Hailey
tem a chance de ter uma vida que você nunca poderá
oferecer a ela. E os Evans... eles já decidiram. Não há
espaço para você. Só para ela.
Essas palavras me despedaçaram. A verdade era
como uma lâmina cortando fundo. Mesmo que eu não
quisesse acreditar, uma parte de mim sabia que as
pessoas como os Evans sempre conseguiam o que
queriam. E eu... eu era só um garoto marcado por
brigas, sangue e fracasso.
Mas eu me recusei a acreditar. Hailey nunca iria
sem mim. Ela nunca me deixaria. Eu prometi que
ficaria com ela. E, por Deus, eu cumpriria essa
promessa, custe o que custar.
Mais um golpe rasgou minha pele, mas eu ainda
não tinha cedido. O silêncio que seguiu foi sufocante.
Eu não gritaria, não imploraria. Mas então, a irmã
Agnes parou e se inclinou para perto de mim, seus
olhos frios encontrando os meus enquanto ela dizia,
com um tom baixo e cruel:
— Sabe, Dimitri... os Evans vêm buscar Hailey
esta noite.
Aquelas palavras congelaram meu sangue nas
veias. O chicote já não era mais importante. Eu a
encarei, descrente.
— Esta noite? — Minha voz saiu trêmula, algo que
odiei. O pânico começou a se instalar. Ela estava
mentindo, tinha que estar.
Ela assentiu lentamente, como se saboreasse
cada segundo da minha angústia.
— Sim. E é por isso que você vai ficar preso aqui,
nesta sala. — Ela se endireitou, apontando para a
pequena janela acima de nós. — Você pode vê-la indo
embora pela janela, se quiser. E sabe de uma coisa,
Dimitri? Você vai. Vai assistir Hailey ser levada, ela
terá bons pais e uma família linda, enquanto você, um
menino travesso, permanece aqui, onde sempre
pertenceu.
O chão parecia se abrir debaixo dos meus pés. O
suor escorria pelo meu rosto, misturando-se ao
sangue que pingava das feridas deixadas pelo
chicote. A dor física não era nada comparada à dor
que suas palavras causavam. Meu peito parecia que
ia explodir. Eu tentava engolir o pânico, tentava
acreditar que era mentira.
Ela não me deixaria!
Hailey nunca me deixaria. Ela nunca seria
adotada se não fossemos juntos.
Tínhamos um pacto, um pacto de sangue, porra.
Aquela irmã, Agnes, era uma desgraçada
mentirosa. Meus joelhos cederam e eu a observei sair
pela sala e me deixar trancado. Minhas pernas
falharam e eu desabei no chão. A dor subiu pelas
minhas pernas, mas não era nada comparada ao que
se passava no meu coração. A cicatriz no meu pulso
parecia pulsar, queimando como se quisesse me
lembrar de algo.
Olhei para ela. A cicatriz que simbolizava nosso
pacto, a promessa que fizemos quando éramos
crianças. Peguei meu pulso com meus dedos trêmulos
e beijei a marca. As lágrimas começaram a escorrer
dos meus olhos, quentes e furiosas, mas eu as
ignorei.
— Não importa o que aconteça, meu caos sempre
vai encontrar o seu — murmurei, sentindo o peso
esmagador daquelas palavras. — Não importa o que
aconteça, meu caos sempre vai encontrar o seu!
Repeti isso inúmeras vezes, como um mantra,
tentando me agarrar ao pacto que Hailey e eu
fizemos, à certeza de que, de alguma forma, nós
ainda sairíamos juntos daquela merda de lugar. Mas,
naquele momento, tudo o que eu conseguia sentir era
que tinha falhado. Que havia estragado tudo.
E agora... eu estava sozinho.
“Escolha as suas últimas palavras, esta é a última vez
Porque você e eu
Nós nascemos para morrer’”
Born To Die - Lana Del Ray

13 anos
O barulho dos meus sapatos ecoava pelos
corredores enquanto eu corria cada vez mais rápido.
Meu coração martelava no peito e o suor começava a
escorrer pela testa. Onde aquele idiota tinha se
enfiado? Era quase noite e Dimitri estava sumido
desde que saiu do dormitório de manhã. Eu estava
ficando desesperada.
Virei à esquerda, parando no pátio, os pulmões
queimando com o esforço. O ar fresco da noite que se
aproximava não ajudava a acalmar a ansiedade que
crescia dentro de mim. Olhei ao redor, tentando ver
se ele estava escondido em algum canto, mas nada. O
pátio estava praticamente vazio, exceto por uma
garota jogando bola sozinha.
— Você viu o Dimitri? — perguntei, a voz meio
ofegante.
Ela parou, olhou para mim e balançou a cabeça
em negativa antes de voltar a brincar com a bola.
Eu bufei, frustrada. Que droga!
Precisava encontrar Dimitri logo. Eu queria contar
que os Evans tinham adiantado nosso prazo e viriam
nos buscar naquela noite. O alívio e a excitação de
finalmente sairmos daquele lugar estavam me
sufocando. Já tinha feito as nossas trouxas de roupa,
o que, na verdade, não era muita coisa, mas era tudo
que tínhamos. Sabia que ele ia querer que eu levasse
seu estilingue, então não me esqueci de colocá-lo na
minha sacola. E, claro, meu caderno de desenhos
estava lá também, com as pétalas daquela flor azul
que ele me dera coladas na última página.
Continuei andando pelo pátio, agora mais
devagar, tentando pensar. Talvez ele estivesse perto
do velho galpão onde costumávamos nos esconder
quando queríamos fugir da supervisão das freiras. Ou
quem sabe, atrás dos barris de água, o lugar que ele
costumava chamar de "esconderijo secreto", mesmo
que todo mundo soubesse onde era.
Respirei fundo e segui na direção do galpão. A
cada passo, minha ansiedade aumentava. O céu
começava a ficar alaranjado, e eu sabia que logo os
Evans estariam chegando. Tínhamos pouco tempo.
— Droga, Dimi, onde você está? — murmurei
sozinha.
Eu continuava a procurar por Dimitri quando ouvi
passos rápidos se aproximando. Parei por um segundo
e me virei, já com o coração na garganta. A irmã
Agnes vinha caminhando na minha direção, com
aquele olhar rígido que eu já conhecia muito bem.
Minha garganta secou instantaneamente, um
pressentimento ruim subiu pela minha espinha.
— Hailey. — A voz dela era baixa, quase suave,
mas cheia de algo que eu não conseguia identificar de
imediato. — Eu preciso falar com você.
Meus olhos se estreitaram. Não gostava do jeito
como ela estava me olhando. Um arrepio percorreu
meu corpo.
— O que aconteceu? Onde está o Dimitri?
A irmã Agnes deu um passo à frente, e eu
automaticamente dei um para trás. A distância entre
nós parecia esmagadora, mesmo que fosse pequena.
— Ele se meteu em encrenca, Hailey. — Ela
respirou fundo, como se estivesse prestes a dizer algo
ainda pior. — Dimitri brigou com Konstantin... e
depois fugiu do orfanato.
Meu corpo congelou, e a raiva começou a
borbulhar dentro de mim. Não, isso não podia ser
verdade. Dimitri não fugiria sem mim. Não agora,
quando estávamos tão perto de sermos adotados e de
finalmente deixar este lugar.
— Você está mentindo — eu sussurrei, sentindo a
bile subir pela minha garganta. — Ele nunca faria
isso! Ele nunca fugiria... sem mim — afirmei
convictamente.
A irmã Agnes franziu os lábios, como se estivesse
esperando por essa reação. Ela balançou a cabeça
lentamente, quase como se estivesse sentindo pena
de mim.
— Não estou mentindo, Hailey. Ele atacou
Konstantin e fugiu. Não sei para onde ele foi. — Sua
voz tinha um tom persuasivo, e eu podia sentir que
algo estava errado, mas a dor de pensar que Dimitri
poderia realmente ter fugido sem mim era sufocante.
— Ele... ele não faria isso — eu repeti, tentando
controlar o tremor que começava a tomar conta do
meu corpo.
Continuei andando em passos duros, o ar ao meu
redor parecia pesado, sufocante, mas a única coisa
em que eu conseguia pensar era encontrar Dimitri. Eu
me recusava a acreditar naquela história. Ele não
fugiria sem mim. Ele não me deixaria para trás. Eu
precisava achar aquele idiota para irmos embora
quanto antes e nos livrarmos de uma vez por todas
daquela freira maldita.
— Hailey, me escute — ela insistiu, vindo atrás de
mim.
Ignorei-a e continuei caminhando, olhando ao
redor. Meus olhos varrendo o pátio, as sombras já se
alongando com a chegada da noite. Onde ele estava?
A raiva misturada com desespero pulsava nas minhas
veias, a cada segundo que passava e eu não o
encontrava, a angústia crescia.
— Dimitri! — chamei com a voz embargada, o
som reverberando pelas paredes. — Dimitri, onde
você se enfiou? Apareça agora!
Eu gritava, a garganta começando a arder, mas
não havia nenhum sinal dele. Isso não podia estar
acontecendo. Não! Porra! Não.
De repente, a irmã Agnes agarrou meus ombros,
me parando bruscamente. Eu tentei me soltar, mas o
aperto dela era firme, e seus olhos se fixaram nos
meus com uma intensidade que me fez congelar.
— Acabou, Hailey. Ele se foi. — As palavras dela
vieram frias e diretas, como um tapa na cara. — Ele
brigou com Konstantin de propósito. Ele... ele não
quer mais estar aqui.
Meu corpo começou a tremer, meus olhos se
encheram de lágrimas, mas eu abri a boca, pronta
para refutar. Ela estava mentindo. Claro que estava.
Ela sempre odiou Dimitri, sempre encontrou formas de
puni-lo por qualquer coisa.
— Não — sussurrei, balançando a cabeça em
negação. — Você está mentindo. Ele não faria isso.
Ele nunca faria isso comigo.
A irmã Agnes respirou fundo, mantendo o olhar
firme no meu.
— Ele não queria ser adotado, Hailey — disse com
uma calma assustadora. — Ele odeia os Evans. Ele
disse que essa vida não era pra ele, que queria outra
coisa. É por isso que ele fugiu. Ele te deixou, Hailey.
Ele fez a escolha dele.
Essas palavras foram como uma faca cravada no
peito. Meu coração disparou e o suor frio escorreu
pela minha nuca. Eu queria gritar que ela estava
mentindo, que Dimitri nunca faria isso. Mas... e se ele
realmente não quisesse ser adotado? Eu sabia que ele
detestava qualquer tipo de controle, qualquer
sensação de prisão. Ele odiava as regras, e os
Evans... Eles representavam tudo isso. E se…. Ele
tivesse mesmo me deixado?
O chão parecia estar abrindo-se sobre meus pés,
meu peito sendo massacrado por uma dor que nunca
havia experimentado e as lágrimas desceram furiosas
pelo meu rosto, queimando em minha bochecha.
— N-na… Não… — murmurei em um sussurro
fraco.
A irmã Agnes inclinou a cabeça, seus olhos
refletindo uma mistura de compaixão, seus dedos
finos limparam minhas lágrimas calmamente.
— Para você, ainda existe esperança, criança —
disse, acariciando meu rosto com a mão, o toque
gelado dela contrastando com a dor quente que me
consumia. — Os Evans te adoram. Eles querem você.
Você ainda tem a chance de ter uma família feliz, uma
vida diferente.
As palavras dela começaram a se infiltrar na
minha mente. Um desejo profundo surgiu em meu
peito. Eu sempre quis isso. Uma família, um lar, um
lugar onde eu me sentisse segura. Mas em nenhum
momento sonhei em viver isso sem ele, Dimitri estava
sempre comigo nesses devaneios. Família significava
estarmos juntos. Ele… não podia ter feito isso, não
podia ter me deixado. Olhei para minha cicatriz,
sentindo o peito rasgar e o soluço subiu alto e
compulsivo pela minha garganta. A irmã Agnes
revirou os olhos, levantando-se.
— Recomponha-se, menina! Os Evans já estão
chegando, vá pegar suas coisas.
As palavras dela ecoaram na minha mente, mas
eu mal as ouvi. A fúria se acumulava em mim e eu a
encarava, percebendo que a única coisa que me
restava agora era essa raiva. Dimitri não era apenas
um garoto que havia fugido; ele era um traidor. E
enquanto o peso da tristeza se transformava em fúria,
eu percebia que não poderia mais confiar nele. Ele
não era quem eu pensava. Talvez nunca tenha sido.
O buraco no meu peito era tão aterrador, que eu
mal conseguia respirar, ele tinha me deixado… E mais
uma vez eu voltei a ficar sozinha.
“Mas eu a vejo
No fundo da minha mente
O tempo todo
Como uma febre
Como se eu estivesse queimando vivo, como um sinal
Será que eu passei do limite?”
Wildflower - Billie Eilish

14 anos
Acordei em um salto, ouvindo os barulhos de
pneus freando no cascalho. Eu devia ter cochilado
naquele chão depois de tanto chorar e repetir aquelas
palavras, tantas vezes que era como se elas
queimassem no meu cérebro. As luzes dos faróis
vindo da janela fizeram meu coração acelerar.
Não! Porra, não podia ser verdade!
Me levantei abruptamente, a cabeça ainda
girando, e corri em direção à pequena janela, subindo
no banco. Meu peito estava apertado, e uma sensação
de desespero começava a se espalhar dentro de mim.
A cena que se desenrolava lá fora fez meu estômago
revirar.
Os Evans estavam ali, parados em frente ao
orfanato, e lá estava Hailey, com sua sacola e aquele
olhar confuso no rosto. O pânico tomou conta de mim,
enquanto eu tentava processar a realidade do que
estava acontecendo.
Eles estavam levando-a.
Ela estava indo embora.
— Hailey! — gritei, batendo com força na janela,
o som ecoando na sala vazia. Meu coração estava em
pedaços, cada batida do meu peito parecia um soco
no meu próprio corpo. Eu não sabia se estava mais
assustado ou furioso. O desespero se transformou em
um grito sufocado, uma súplica que transbordava de
minha alma. — Hailey, não! Volta!
Eu via os Evans a cercando, sorrindo, como se ela
fosse um brinquedo novo. O rosto dela estava pálido,
mas determinado. O desejo de correr até ela e puxá-la
para longe daquela situação era avassalador, mas as
paredes dessa sala pareciam mais altas e mais
impenetráveis do que nunca.
— Hailey! — gritei novamente, as lágrimas
escorrendo furiosas pelo meu rosto. Por que você não
me ouve? Meu peito ardia com a dor da perda, a
sensação de traição me consumia, e a culpa corroía
minha alma. Eu tinha falhado com ela, e agora ela
estava indo embora, provavelmente para nunca mais
voltar. As lágrimas escorriam livremente, uma
torrente incontrolável que refletia a tormenta dentro
de mim.
Como ela podia me deixar? Porra eu tinha
falhado, mas ela tinha me prometido.
— Haileeeey! Você me prometeu… — Meu choro
era desesperado, compulsivo e copioso. — Você…
Hailey, por favor, por favor… — implorei, batendo as
mãos no vidro.
A postura dela era rígida, fria e impenetrável. Ela
olhou para a porta do orfanato, limpando o canto dos
olhos, mordeu o lábio trêmulo e balançou a cabeça,
virando-se para o carro.
— Não, Hailey! Por favor, não me deixe… Você
prometeu — supliquei com a voz distorcida pelo
choro.
Quando a vi entrar no carro, tudo em mim ruiu.
Era como se eu estivesse desmoronando por dentro,
me afogando dentro de mim mesmo. Ela tinha me
deixado, e a verdade era que a promessa dela, nosso
pacto, agora parecia um eco distante, uma lembrança
desvanecente. O carro se afastou lentamente, uma
onda de fúria cresceu violenta e implacável dentro do
meu peito. Desci do banco chutando a mesa e
quebrando tudo o que eu via na sala.
Desgraçada! Ela era uma mentirosa, como todos
os adultos. Como a irmã Agnes!
Quebrei o vaso de plantas, espatifando-o em mil
pedaços, e as flores caíram no chão como se fossem
minha esperança se desfazendo. Todo mundo me
deixava; eu nunca era bom o suficiente, não
importava o quanto eu me esforçasse! A raiva
consumia meu coração, e eu olhei em volta, a visão
turva com lágrimas e a fúria me ofuscando. Nada que
eu fazia era reconhecido.
Talvez aquela cadela já tivesse planejado fugir. A
ideia me atingiu como um soco no estômago. Eu a
imaginava rindo de mim, tramando sua saída
enquanto eu ficava preso aqui, como sempre. Eu não
podia acreditar que ela faria isso. A traição corroía
minha alma, e a frustração só aumentava. O orfanato,
aquele lugar sufocante e miserável, estava se
transformando em uma prisão insuportável, e eu era o
único que não tinha uma chave para sair.
A fúria fervia dentro de mim, mas havia algo
mais, uma decisão começando a tomar forma em
meio ao caos. Se todos me viam como um problema,
se eu nunca era bom o suficiente, então talvez fosse
hora de ser exatamente o que esperavam de mim. Se
eu nunca poderia ser amado, então foda-se, que
assim fosse!
Eu iria me transformar na pior versão de mim
mesmo, naquela pessoa que todos temiam e
desprezavam. Por que tentar ser gentil se nunca fui
reconhecido por isso? Por que me esforçar para
agradar quando cada ato de bondade era ignorado e
pisado? A partir de agora, não haveria mais tentativas
de ser um “bom garoto.” Eu ia deixar meu ódio guiar
cada passo.
A partir de hoje, ninguém me deixaria de fora,
porque eu não daria a eles essa chance. Um sorriso
cruel se formou nos meus lábios, e a ideia de ser
alguém que todos temiam começou a me envolver
como um manto. Eu poderia ser aquele que quebrava
as regras, que não se importava com nada.
Quem precisa da porra de uma família, afinal?
Hailey tinha me abandonado, e eu não precisava
mais dela. Se ela não queria ficar ao meu lado, eu
também não queria saber de ninguém. Eu riria da dor,
e a dor se tornaria minha aliada. Estava decidido: eu
seria a tempestade que arrastaria tudo ao meu redor.
“Tão contente por termos quase conseguido
Tão triste, pois tivemos que abandonar”
Everybody Wants To Rule The World – Lorde

14 anos / Boston - Estados Unidos


— Muitas felicidades, muitos anos de vida —
cantarolou Kate junto com Paul.
A voz dos dois se misturava no ar enquanto Kate
trazia um bolo de chantilly branco, coberto com flores
azuis delicadas. Eles usavam chapeuzinhos de
aniversário coloridos, claramente tentando criar uma
atmosfera alegre, mas havia algo dolorosamente fora
de lugar. O bolo à minha frente, com a vela solitária
brilhando, lançava sombras suaves pelo cômodo,
iluminado apenas por aquele pequeno feixe de luz.
Aquilo deveria ser perfeito, o momento que eu sonhei
a vida inteira.
Meu primeiro aniversário comemorado. No
orfanato, os aniversários não eram diferentes de
qualquer outro dia. Nenhum bolo, nenhuma vela,
nenhum parabéns. Nada que fizesse o dia parecer
especial. Agora eu tinha tudo isso, estava em uma
casa bonita, cercada por pessoas que diziam gostar
de mim, e ainda assim… meu peito parecia vazio. Um
buraco escancarado e impossível de ignorar.
Fazia uma semana que eu havia me mudado para
os Estados Unidos com os Evans, tentando me
adaptar à nova casa, à nova rotina, mas tudo parecia
errado. Eu devia estar feliz. Devia. Era o que eles
esperavam de mim. Paul e Kate eram bons comigo,
tentavam de tudo para me fazer sentir parte da
família, mas nada disso preenchia o espaço que
Dimitri deixara.
Cada grama do meu ser gritava por ele. A falta
que eu sentia era quase física, como se eu tivesse
perdido um pedaço essencial de mim. Era como viver
sem uma parte do meu corpo, algo vital que foi
arrancado de mim.
Eu estava quebrada. Incompleta. Perdida.
A música de “parabéns” cessou e Kate sorriu
suavemente, esperando que eu soprasse as velas.
Olhei para o bolo e as lágrimas ameaçaram
transbordar, mas eu as segurei. Dimitri deveria estar
aqui comigo. A ausência dele era uma dor constante,
latejante. Ele tinha prometido que nunca me deixaria.
Nós tínhamos um pacto… Nada disso importou… Ele
tinha me deixado.
— Vamos, Hailey, faça um pedido — disse Paul
gentilmente, seus olhos esperando que eu reagisse.
Fechei os olhos, forçando-me a pensar em algo
bom, em qualquer coisa que eu pudesse desejar. Mas
o único desejo que importava era impossível. Eu só
queria Dimitri de volta. Eu queria voltar no tempo,
antes de tudo ter desmoronado. Queria que ele
estivesse ao meu lado, segurando minha mão,
zombando do bolo e me lembrando de como éramos
invencíveis quando estávamos juntos.
Soprei a vela, mas não senti nada. Nem
felicidade, nem esperança. Só vazio. O som da vela se
apagando foi abafado pelo silêncio pesado da sala.
Kate e Paul trocaram olhares, talvez esperando
alguma reação mais entusiasmada, mas tudo que eu
consegui foi um sorriso pálido e forçado.
— Obrigada pelo bolo… e por… bem, por tudo —
murmurei, tentando trazer uma falsa animação para
voz.
Paul e Kate se sentaram, servindo-se de um
pedaço de bolo cada, mas eu não toquei no meu
pedaço. Meu olhar estava apagado, sentia-me vazia,
oca por dentro, como se algo vital tivesse sido
arrancado de mim. A sensação de deslocamento não
me deixava. Mesmo aqui, com essa nova vida, nada
parecia fazer sentido.
Não sem ele!
— Você é uma garota muito especial, Hailey —
pontuou Kate, sorrindo com aquela calma peculiar que
ela sempre carregava.
Olhei para ela, engolindo o bolo que ameaçava
subir pela minha garganta. Aquele elogio soava
estranho para mim agora. Paul pegou minha mão por
cima da mesa, apertando-a calorosamente, como se
quisesse me transmitir confiança e segurança, mas eu
não conseguia deixar de me sentir desconfortável.
— Você será incrível, querida. Estamos muito
animados para iniciar seu treinamento — ele disse,
seus olhos brilhando de um jeito que me deixou
confusa.
Meu cenho franziu e eu encarei os dois, Paul
manteve a expressão etérea.
— Treinamento? — questionei, tentando disfarçar
o nervosismo que começava a surgir.
Kate sorriu suavemente, como se aquilo fosse a
coisa mais natural do mundo.
— Sim, querida. Vamos começar com algumas
aulas. Seu pai vai ajudar a coordenar seu
desenvolvimento e nós teremos treinadores
especializados para orientá-la — explicou ela, como
se fosse algo que já tivéssemos discutido antes.
Meu coração acelerou. Treinadores?
Desenvolvimento? De que merda eles estavam
falando? Tudo estava acontecendo rápido demais. Eu
só queria uma vida normal, ou ao menos algo próximo
disso, mas agora parecia que havia algo mais
profundo, algo que eu não tinha percebido.
— Você é especial, Hailey — repetiu Paul, os olhos
dele fixos nos meus, sérios. — E nós precisamos
preparar você para um futuro grandioso. Estamos
falando de habilidades que vão te proteger e permitir
que você siga nossos passos.
Seguir os passos deles? Um arrepio percorreu
minha espinha. Eu sabia que Paul e Kate não eram
apenas pais adotivos comuns. Eles tinham me
contado que trabalhavam para o governo, mas nunca
explicaram em detalhes. Agora, parecia que aquilo ia
além de um simples trabalho.
— Que passos? — Minha voz saiu mais baixa do
que eu esperava, o nó na minha garganta se
apertando.
Kate e Paul se entreolharam por um momento
antes de sorrirem como se nada estivesse errado.
— Coma seu bolo, querida, escove os dentinhos
antes de dormir, amanhã vamos começar bem cedo —
Kate informou, eles se levantaram da mesa, sem
responder minha pergunta e ela plantou um beijo em
minha têmpora, pegando meu rosto, seus olhos
verdes reluziam com um brilho sombrio.
— Você será extraordinária, querida — ela disse,
com um tom que soava tanto como um elogio quanto
uma sentença.
Quando eles se afastaram e saíram da sala, senti
meu estômago revirar. O bolo, que deveria ser um
símbolo de carinho, agora parecia um peso. Peguei o
garfo, hesitante, mas não consegui levar o doce à
boca. O gosto amargo da incerteza e da ansiedade já
tomava conta de mim.
Eu podia sentir que tinha alguma coisa errada,
algo de ruim que estava prestes a desmoronar sobre
minha cabeça.
Levantei-me, deixando o bolo intacto na mesa.
Subi as escadas para o meu quarto, meus pés
pareciam mais pesados a cada degrau. Tudo em mim
gritava que algo estava errado, mas eu não sabia
como escapar desse destino que me aguardava.
Extraordinária. Eles queriam isso de mim, mas eu não
sabia se queria isso para mim mesma.
Ao me deitar na cama, o quarto parecia maior,
vazio, frio. Minha mente vagava para Dimitri. Ele,
mais do que qualquer um, entenderia o que eu estava
sentindo. Mas ele não estava aqui.
Ele tinha me abandonado e eu estava sozinha.

Kate não mentiu quando disse que sairíamos


cedo. Quando ela me acordou às 4:30 da manhã,
ainda era noite lá fora, o céu escuro e sem estrelas.
Eu mal tinha dormido, rolando na cama a maior parte
da noite. Agora, com os olhos pesados, eu observava
as árvores passando pela janela do carro. Elas
pareciam sombras fantasmagóricas, se alongando a
cada vez que o carro passava sob as poucas luzes da
estrada.
Os olhos de Kate, sempre tão serenos, se
encontravam com os meus de vez em quando pelo
retrovisor. Eu queria acreditar que ela tinha boas
intenções, que talvez tudo isso fosse para o meu bem,
mas aquele olhar... Havia algo nele que me deixava
desconfortável. Ela sorria, mas era um sorriso frio,
quase ensaiado. Algo manipulador. Não tinha a
suavidade e o afeto que eu esperaria de alguém que
se importava.
Mordi meus lábios, minhas mãos estavam suando,
o calor desconfortável das palmas molhadas me fazia
esfregar os dedos uns nos outros, buscando algum
tipo de alívio. O espaço dentro do carro parecia
encolher a cada minuto, a cada parada nos sinais me
deixava mais nervosa. Eu queria perguntar para onde
estávamos indo, mas sabia que a resposta
provavelmente seria vaga, como tudo o que Kate e
Paul vinham fazendo desde que me adotaram.
O carro finalmente parou diante de um galpão
grande e mal iluminado. Sua estrutura metálica
parecia corroída pelo tempo, com grafites desbotados
nas paredes e janelas quebradas que deixavam o
vento gelado entrar. Eu olhei para Kate e Paul,
esperando alguma explicação, mas eles apenas
saíram do carro, sem dizer uma palavra.
Segui-os, relutante, sentindo o chão de cascalho
sob meus pés. O barulho das minhas botas quebrava
o silêncio desconfortável que pairava no ar. Quando
entramos no galpão, um cheiro de poeira e óleo velho
me atingiu, junto com o som de vozes masculinas
abafadas. Lá dentro, várias figuras robustas se
moviam, sombras projetadas pelas poucas luzes
amareladas penduradas no teto. Homens grandes,
musculosos, alguns com cicatrizes visíveis no rosto e
nos braços, olhavam para mim com uma mistura de
curiosidade e frieza.
Meu coração acelerou e um nó se formou em meu
estômago. Isso não parecia um lugar de treinamento
como eu havia imaginado. Aqueles homens... eles
eram duros, sérios, e o ambiente inteiro tinha uma
atmosfera pesada. Eu olhei para Kate, esperando
algum conforto, mas ela estava de braços cruzados,
olhando para a cena como se fosse uma espectadora
de algo inevitável.
— Hey, Evans, esse é seu novo bichinho de
estimação? — A voz grave e sarcástica do homem
careca ecoou pelo galpão, enquanto ele me observava
com desprezo. A cicatriz que cortava o rosto dele de
lado a lado parecia um troféu de muitas batalhas
vencidas. — Ela não é meio magricela para lutar?
Paul apenas sorriu, completamente calmo, e me
guiou mais para perto do ringue. As cordas já me
davam calafrios só de imaginar a mera possibilidade
de entrar ali dentro.
— Ela será a melhor — ele disse com confiança.
— Espero que esteja pronto para apanhar, Gordon.
O homem chamado Gordon deu uma gargalhada
cruel, um som que fez minha pele arrepiar.
— Do que você está falando? — eu sussurrei para
Paul, totalmente aterrorizada.
Paul, ainda com aquele sorriso tranquilo, se
abaixou até ficar na minha altura, colocando as mãos
firmes em meus ombros. Seus olhos cor de mel
brilhavam, mas não havia calor ali. O orgulho que ele
demonstrava parecia distorcido, quase insano.
— Ouça, Hailey, você é uma lutadora, é uma
sobrevivente — ele pontuou firmemente. — É por isso
que escolhemos você, essa dor te tornará
extraordinária, entre naquele ringue e faça o que
sempre fez… Sobreviva.
— O-o... o quê? — consegui balbuciar, quase sem
voz. Meu corpo todo queria se afastar dali, correr para
longe, mas Paul estava determinado. Ele não soltava
meus ombros, me prendendo ali, me forçando a
encarar o que estava por vir.
— Você vai apanhar até aprender a bater… não
hesite, não tenha piedade, se alguém lhe atacar, você
revida. Ou você mata, ou você morre. — Suas
palavras eram firmes, sólidas e cruéis.
Eram como facadas no meu peito. Como eu
poderia lutar contra alguém como Gordon? Eu não era
uma lutadora. Eu era só a porra de uma menina
assustada.
— Entre no ringue, Hailey — Paul ordenou, mais
uma vez. Seus dedos apertaram meus ombros,
pressionando-me para frente.
A sensação de desespero me tomou
completamente, mas eu sabia que não havia escolha.
Quando finalmente coloquei o pé no tapete do ringue,
senti como se estivesse pisando em um campo de
batalha. Eu estava sozinha, mais vulnerável do que
nunca.
Gordon estava à minha frente, sorrindo com um
prazer perverso. Seu sorriso predatório era o
prenúncio do inferno que eu sabia que viria. Ele
parecia ansioso, como se estivesse esperando por isso
há muito tempo.
Minha respiração ficou pesada, o coração
martelando no peito. E naquele instante, minha mente
gritou por Dimitri. Pensei nele com toda a força do
meu ser, implorando silenciosamente que ele me
encontrasse, que aparecesse e me tirasse dali. Eu
precisava dele, precisava que ele soubesse o quanto
eu estava sofrendo, o quanto eu estava perdida.
Eu clamei internamente, como se o caos que me
consumia pudesse chamá-lo, como se a dor que eu
sentia pudesse atraí-lo até a mim.
Mas ele não veio.
Ele nunca me encontrou.
E ali, sozinha, diante da crueldade de Gordon e
da expectativa insana de Paul, entendi que ninguém
viria me salvar. Eu estava por conta própria, e tudo o
que restava era o que Paul tinha dito: sobreviver.
“Rastejando dentro da minha pele
Essas feridas, elas não irão se curar
O medo é o que me derruba”
Crawling - Linkin Park

15 anos
Abri a boca, movendo a língua de um lado para o
outro, enquanto o médico mantinha a lanterna
enfiada dentro da minha boca, inspecionando com
tédio. Ele não disse nada, apenas acenou para que eu
continuasse na fila. Os passos eram curtos e pesados
por causa das algemas nas pernas, e o som metálico
dos grilhões era familiar. Aquele centro de detenção
para menores em Moscou estava sempre cheio, não
era a primeira vez que eu passava por lá. Já sabia o
procedimento de cor, era quase como uma rotina.
Ali, ninguém te via como alguém com futuro. Eu
era apenas mais um entre os muitos que entravam e
saíam. Roubo, agressão, pequenas infrações. Nada
grande, nada suficiente para me manter detido por
muito tempo. Eu era menor de idade, e isso era a
minha carta de saída. Os policiais e os guardas já
estavam acostumados a me ver. Às vezes, acho que
eles até gostavam, era previsível. Eu era previsível.
Sempre fodido.
Sempre envolvido em caos.
Sempre sozinho!
Depois de passar pela inspeção, fui conduzido
para o refeitório. O cheiro de comida velha e insossa
já preenchia o ar antes mesmo de eu entrar. Não era
o tipo de lugar onde alguém se sentia à vontade para
comer, mas era o que tínhamos. Peguei minha
bandeja e segui para uma mesa mais afastada,
tentando evitar qualquer confusão desnecessária.
Pelo menos naquele momento, eu não estava a fim de
briga. Só queria fazer a porra de uma refeição em
paz.
Mas, como sempre para mim, a paz não durava.
Enquanto me sentava, um cara alto e forte, que
parecia ser mais velho, veio na minha direção. O tipo
de sujeito que você nota de longe. Ele parou ao meu
lado, os olhos fixos em mim como se me estudasse.
As tatuagens cobrindo um lado de seu rosto.
— Você é Dimitri, certo? — ele perguntou, a voz
grossa, autoritária.
Eu apenas assenti, comendo aquela merda com
gosto de lavagem, não estava interessado em
conversar. A última coisa que eu precisava eram mais
problemas.
— Ouvi dizer que você tem habilidades… —
continuou ele, inclinando-se um pouco para ficar mais
próximo. — E que já foi detido algumas vezes por
furto e agressão. O que acha de usar essas
habilidades para algo maior?
Revirei os olhos. Algo maior? Tudo o que eles
faziam naquele lugar era encher a cabeça da gente de
merda. Desviei o olhar, tentando me concentrar na
comida insípida à minha frente, mas ele não desistiu.
— Estou falando de prestígio, Dimitri. Honra.
Coisas que talvez você nunca consiga sozinho. — Ele
sorriu, mas era um sorriso calculado, sem qualquer
sinal de humor.
Eu franzi o cenho, desconfiado. Esse tipo de papo
não era comum ali. A maioria só falava sobre
sobreviver mais um dia, cumprir a pena e sair para
fazer exatamente as mesmas coisas de novo.
— Que tipo de prestígio? — perguntei, sem
disfarçar o ceticismo.
O cara se aproximou mais, seus olhos brilhando
com uma espécie de entusiasmo sombrio.
— Você já ouviu falar da Bratva, não ouviu? —
sussurrou ele, como se fosse um segredo que não
devia ser dito em voz alta.
Claro que eu tinha ouvido falar da Bratva. Quem
em Moscou não ouviu? Era a organização mais
temida, mais poderosa. Um tipo de família. Mas não
uma família como aquelas que eu via em sonhos ou
nos contos de fadas. Nada parecida com aqueles
fodidos Evans. Era uma família de sangue, violência,
lealdade… e poder.
— Estamos sempre de olho em bons candidatos,
você sabe, naqueles que sabem sobreviver. — Ele
continuou, ignorando o silêncio que seguiu minha
reação. — E, bem… parece que você se encaixa no
perfil. Que tal, Dimitri? Quer fazer parte de algo
maior?
Minhas mãos apertaram a bandeja de metal. Eu
sabia que aquela proposta não era algo que se
recusava facilmente. Ali, no centro de detenção, eu já
era um nada, um número a mais, um gasto para o
governo. A ideia de prestígio e honra era fodidamente
tentadora, mas, porra… Eu já estava tão ferrado…
Desviei o olhar, tentando afastar o desconforto
que me invadia. Eu já tinha perdido a conta de
quantas vezes me disseram que eu não valia nada,
que minha vida estava fadada a ser um ciclo de
detenções, furtos, e violência sem sentido.
Todavia, eu não confiava nele. Não confiava em
ninguém. E essa conversa de "família" que ele jogava
em cima de mim não me cheirava bem.
— Não tô interessado — respondi, minha voz
seca, mas firme.
O sorriso dele quase alcançou as orelhas, mas
não tinha humor ali, só uma maldade encruada.
— Me procura se mudar de ideia — ofereceu como
o próprio demônio, antes de levantar-se e por cima do
ombro me alertar. — Essa detenção para menores é
fichinha, Dimi, mas acredite, a cadeia de verdade vai
mudar você, e então vai se lembrar da minha
proposta.
A ameaça dele ecoava na minha cabeça. Eu sabia
que ele não estava errado. O que eu estava vivendo
ali era só o começo, e o pior ainda estava por vir.
Quando fizesse 16 anos iria para uma penitenciária de
baixa periculosidade e as coisas com certeza podiam
ficar bem piores. No entanto, uma parte de mim
queria acreditar que eu conseguiria sair dessa vida
antes que fosse tarde demais, mas outra parte... a
parte mais cansada, mais calejada, sabia que a
realidade era implacável. Sabia que cedo ou tarde, eu
poderia acabar caindo de verdade.
Mas aceitar a proposta dele era como vender a
minha alma. E por mais quebrado e fodido que eu
estivesse, eu ainda tinha uma coisa que ninguém
poderia me tirar: o controle, por menor que fosse,
sobre minhas próprias decisões.

Penitenciária de baixa periculosidade de Moscou


Mordi os lábios com força, trincando a mandíbula
e os dentes, a agulha fervente com tinta feita de
maneira insalubre picava minha pele. A ardência
queimou como fogo vivo, mas lutei para manter o
braço parado. Kirill estava concentrado, seu olhar fixo
na tatuagem que ele estava criando, enquanto a tinta
se infiltrava na minha carne, transformando uma dor
em uma afirmação. A maldita cicatriz foi sumindo à
medida que aquela merda tomava forma. Um sorriso
dolorido se esticou em meus lábios quando vi a frase
surgindo em meio a bagunça de tinta e sangue.
YA Khaos [4]
As letras se formavam uma a uma, como se cada
uma delas estivesse esculpindo a nova identidade que
eu queria adotar. A dor física era um alívio
temporário, um tipo de antídoto que me ajudava a
esquecer os grilhões invisíveis que ainda me
prendiam. A cicatriz que marcava meu pulso era um
lembrete constante do meu passado, a lembrança de
uma fragilidade que eu não queria mais carregar.
Agora, com cada picada da agulha, eu estava
transformando esse passado em algo que poderia ser
meu. Algo que eu poderia controlar.
— Porra! Essa merda queima! — chiei
entredentes.
Os sons ao redor se tornaram um borrão e tudo o
que eu conseguia focar era na sensação da tinta
sendo injetada na minha pele. O zumbido da agulha e
o cheiro forte da tinta se misturavam ao ar pesado da
cela. Kirill era um homem robusto, marcado pela vida
dura que levara, ele tatuava os garotos novos em
troca de cigarros.
Quando Kirill terminou, ele limpou a área com um
pano sujo e um sorriso satisfeito se espalhou pelo
rosto dele. Eu olhei para o meu pulso e vi as letras se
destacando na minha pele, cruas e reais, como um
manifesto da nova vida que eu queria. A cicatriz
agora estava coberta, como se uma nova identidade
tivesse nascido, uma identidade que não temia o
caos, mas que era o próprio.
Sorri maldosamente, essa porra tinha ficado
incrível. Kirill percebeu meu sorriso
— Curtiu?
— Ficou foda! — admiti ainda sorrindo.
Ele riu, passando a mão pela barba espessa, e foi
até a pia lavar suas mãos. Encarei a tatuagem ainda
incrédulo e passei os dedos pela carne em relevo,
sentindo uma picada de dor.
— Vai custar só 6 maços — ele informou
casualmente.
Arregalei os olhos, engolindo seco. Porra! Seis
maços? Se eu tivesse três cigarros para oferecer,
seria muito, a última vez que consegui algum tinha
sido há dias, e desde então a única coisa que eu tinha
na minha mente era como sobreviver a esse lugar e a
tudo que viria.
Passei a mão pelos cabelos, jogando-os para trás
e coçei a minha barba por fazer.
— Porra… Eu… não tenho… seis maços, cara —
murmurei, tentando manter a calma, mas a tensão
começou a escalar dentro de mim.
Kirill parou e se virou, uma expressão de desdém
surgindo em seu rosto.
— Como assim não tem? Como você esperava me
pagar? — Ele me encarou, o sorriso desaparecendo
rapidamente.
Eu podia sentir a pressão aumentando. Naquele
momento, percebi que não apenas a tatuagem era
uma marca de identidade, mas também um símbolo
da minha nova realidade, uma vida onde eu estava
mais afundado na merda do que jamais havia estado.
E Kirill não estava disposto a deixar barato.
— Escuta, Dimi, não me venha com desculpas.
Você sabe como funcionam as coisas por aqui. Se não
tem os cigarros, vai ter que arranjar um jeito de pagar
— ele disse, seus olhos estreitando de forma
maliciosa.
Eu congelei no lugar quando ele se virou e
encostou na pia, acariciando seu pau por cima da
calça de moletom, enquanto me olhava com uma
luxúria doentia, e fechei os punhos com força.
— Você é bem bonitinho, se me pagar um
boquete a tatuagem sai de graça — ele ofereceu com
a voz rouca.
Caralho! Aquele verme achava mesmo que eu era
viado. Rangi os dentes, sentindo as unhas se
afundarem nas minhas palmas.
— Eu sou macho! Gosto de bocetas, porra! —
rosnei entre dentes. — Gosto de mulher, caralho!
Mesmo não tendo fodido nenhuma ainda, eu tinha
certeza que não era gay. Ele sorriu ainda se
esfregando na minha frente, os dentes amarelos
reluzindo naquela luz porca da cela.
— Eu também gosto de bocetas, Dimi — ele
zombou. — Todo mundo aqui gosta, mas não está
vendo nenhuma por aqui, está?
Meu corpo inteiro tremia quando ele se
aproximou, a onda implacável de fúria me dominou,
queimando-me por dentro, mas quando ele tirou o pau
para fora, fazendo menção de esfregar aquela porra
na minha cara, eu me levantei subitamente, o ódio e
a fúria pulsando dentro de mim. Meu punho chocou-se
contra seu rosto, espalhando sangue por todo lado,
ele cambaleou caindo no chão, levando agulha,
isqueiro e tinta para o chão.
Subi em cima dele, socando a cara do desgraçado
com toda força que eu tinha, sentindo o sangue e o
estralar dos ossos massacrados. O cheiro de ferrugem
preencheu o ar, me levantei e o chutei com força, ele
grunhiu de dor, cuspindo sangue tentando se esquivar
dos meus chutes.
— Eu não sou viado, seu filho da puta — rosnei
entre grunhidos.
Eu o chutei com mais afinco, alucinando quando
ouvi o som da minha bota quebrando suas costelas.
Eu só conseguia ver em vermelho, o ódio me cegava,
me fazia sedento por mais. Aquela porra descarregou
uma onda de prazer tão intensa e impetuosa dentro
de mim que eu não parei nem quando ele implorou,
ou chorou, ou quando ele estava desacordado. Minha
respiração era com a de um animal, grunhindo e
rosnando eu pisei na cabeça do desgraçado.
Tantas e tantas vezes…
Mais e mais…
Com mais e mais força.
Até quebrar seu crânio, espalhando os pedaços
dos seus ossos e massa encefálica por todo chão; até
esmagar sua cara, criando um buraco feito de miolos,
sangue e ossos; até que a barra da minha calça de
moletom estivesse ensopada, com os vestígios do seu
sangue nojento e os pedaços do seu cérebro
encruados no meu sapato.
Respirando descompassadamente, eu observei
aquela bagunça e um sentimento perigosamente
satisfatório se espalhou pelo meu corpo inteiro, me
deixando totalmente eletrizado. Minhas mãos estavam
cobertas de líquido carmim, minha cara e meu cabelo
empapado daquela porra. E confirmando o que todos
já me diziam, que eu seria um psicopata ou um
assassino, eu não consegui sentir nada olhando
aquela cena.
Nada! Além de prazer.
Nada! Além de sede.
Nada! Além de anseio por mais.
Um sorriso genuinamente alegre esticou meus
lábios.
Ele era o primeiro homem que eu matava. O
primeiro de muitos, e naquele momento, a realidade
da violência e do caos se estabeleceu como um novo
paradigma na minha vida. O que eu havia feito não
era apenas um ato de sobrevivência, eu tinha
gostado! Eu gostei de matar. Aquilo me completou de
uma maneira que eu nunca tinha sentido antes.
Eu me senti fodidamente poderoso.
Eu me senti suficiente.
Eu me senti foda pra caralho!
Era uma mudança irrevogável que me
transformaria para sempre. Mais do que qualquer
porra de tatuagem poderia fazer.
“Pra fazer carinho, eu mordo
Pra te amar, eu viro o olho
Pra aguentar, eu meto o louco
Vivo na base do soco”
Carnificina - Luiza Sonza

Agosto 2023
Giro na baqueta de um lado para o outro,
sugando o terceiro Martini pelo canudo e pisco os
olhos, ajustando a visão às lentes castanhas que
escondem meus olhos verdadeiros. Cada detalhe
importa e naquele momento, eu sou só mais uma
garota perdida entre as luzes vermelhas piscantes e a
música ensurdecedora daquele prostíbulo.
Mas minha atenção está muito longe do caos ao
redor. Como um gavião à espreita de sua presa, meus
olhos estão cravados em Dimitri. Ele está sentado ao
longe, em um sofá de couro preto, sozinho e
completamente alheio à presença de qualquer um.
Sua postura é casual, despreocupada, mas tudo
naquele desgraçado grita perigo. Ele usa uma camisa
preta, com os primeiros abertos, revelando o peito
musculoso e tatuado. As pernas esparramadas de
forma quase arrogante, acomodando a AK-47 em seu
colo como se fosse uma extensão natural de seu
corpo. Um cigarro pende de seus lábios, a fumaça
subindo em espirais preguiçosas, contrastando com a
atmosfera frenética daquele puteiro.
Sugo a bebida com mais força, sorrindo quando o
observo conversar com sua arma, acariciando-a como
se estivesse tocando uma punheta no cano cromado,
completamente maluco, insano e brutalmente lindo.
Um senhor mais velho e ruivo senta-se ao lado dele,
falando algo que o faz rir gostosamente, jogando a
cabeça para trás. Eles conversam animadamente, até
que uma prostituta loira chega oferecendo-se para
eles, o senhor mais velho sai com ela, com certeza
tentando pelo fio dental cravado na sua bunda.
Dimitri tira uma flanela do bolso e começa a polir
o cromo da AK-47. A cena parece saída de um filme
distorcido. Ele fala com a arma enquanto passa a
flanela sobre o metal, os olhos azuis vidrados,
completamente absorto. Ele conversa como se ela
fosse uma pessoa, algo íntimo, quase romântico. Meu
sorriso se alarga. Ele está realmente enlouquecendo,
e isso era música para os meus ouvidos.
Ele apaga o cigarro no cinzeiro, os olhos
escaneando o ambiente com a mesma casualidade
que suas roupas exalam, até que, por um breve
momento, sinto seu olhar cravar em mim. Meu
coração salta no peito, mas mantenho a fachada de
despreocupação, um sorriso ensaiado nos lábios
enquanto girava o Martini no copo. A peruca escura e
as lentes castanhas estão fazendo seu trabalho, eu
sou só mais uma entre tantas, invisível... até não ser.
Ele me olha por mais tempo do que eu esperava,
os olhos estreitos e avaliadores. Por um instante,
penso que meu disfarce falhou, que ele me
reconheceria. Mas então, aquele sorriso arrogante, o
mesmo que eu havia visto dar para tantas mulheres,
se espalha por seus lábios. É um sorriso predatório,
como se tivesse encontrado algo interessante para
comer. Empurro o peito para frente, fazendo meus
seios saltarem pelo decote do vestido preto e curto
que eu uso.
Ele se levanta, seus movimentos suaves e
controlados, a AK-47 é pendurada em seu ombro e
Dimitri atravessa o salão em minha direção,
ignorando os olhares curiosos e respeitosos que os
outros frequentadores do puteiro lançam na sua
direção. Tudo nele exala autoridade e perigo, e a cada
passo que ele dá, o ambiente parece se contrair.
Quando ele para em minha frente, seu corpo
irradia uma presença avassaladora. Ele se inclina
sobre o balcão, os olhos fixos em mim, e aquele
sorriso arrogante dança em seus lábios.
— Hey, gatinha, você é nova na casa? Nunca te vi
por aqui. — Sua voz é rouca, baixa o suficiente para
que só eu ouça.
Meu sorriso é devasso, beirando a crueldade, e
devagar eu balanço a cabeça negativamente, a
satisfação borbulhando em meu interior por ele ser
tão burro e cair tão facilmente no meu plano. Eu
posso sentir o cheiro do cigarro impregnado em sua
camisa, o calor de seu corpo tão perto do meu.
Atrevido como era, ele se enfia no meio das
minhas pernas, obrigando minhas coxas a abrirem
para acomodá-lo, sua palma descansa contra minha
pele exposta e me faz arder.
— Como se chama, docinho? — ele pergunta,
mordendo os lábios e passeando os olhos pelos meus
peitos descaradamente.
— Eu gostei do jeito que estava conversando com
sua arma — elogio, lambendo meus lábios. Deslizo as
unhas pelo seu peito, como uma gata manhosa.
— O quê? A Deisy? — Ele estufa o peito se
aproximando ainda mais. — Nós estávamos tendo um
bom momento, mas sabe… — Seus olhos azuis
descarados encaram meus seios novamente. — Ela
não se importa se você participar. — Aquilo me
arranca um sorriso diabólico.
Ele está caindo como um patinho.
Instantes depois, nós já estamos em um dos
quartos, a guerra de mãos e língua acontecendo
devassamente. Ele me aperta, devorando meu
pescoço, se alimentando dos meus gemidos, sugando
meus mamilos com uma brutalidade prazerosa.
Empurro-o para deitar na cama, subindo por cima e
lambendo seu rosto, sua mão desesperada sobe pelas
minhas coxas, apalpando minha pele com força, sem
beijos. Apenas chupadas e mordidas.
Afinal, prostitutas não beijam na boca, e Dimitri
parece levar aquela regra a sério.
Sua mão segura meu quadril, me empurrando
para cima sugestivamente.
— Vem, senta na minha cara! — ele rosna
ofegantemente.
Engatinho até ficar com a bunda em seu pescoço
e a boceta na mira da sua boca. Minha calcinha já
tinha ido dessa para melhor, então ele tinha caminho
livre para me chupar e sua língua afiada me lambe
com vontade, antes ele fechar a boca contra minha
carne, comendo minha boceta com a fome de 100
bárbaros. Afundo as mãos no seu cabelo sedoso,
empurrando-o contra minha boceta, me esfregando na
sua língua malditamente deliciosa.
— Ahhh… ahhh… que delícia, seu puto, me chupa
assim! — eu gemo ofegante.
Ele sorri contra a carne sensível, seus olhos azuis
pegando fogo, fazendo-me mais dolorida, fazendo
meu ventre arder de desejo. Rebolo com mais força,
rodando o quadril e empurrando para frente e para
trás, carimbando sua cara com a minha lubrificação,
melando sua barba rala, deixando seu rosto brilhando
e sua mão em minha bunda aperta a carne tão forte
que com certeza eu teria marcas.
— Porra! Goza na minha língua, sua putinha
gostosa — ele rosna aumentando o ritmo da sucção,
concentrando toda a pressão em meu clitóris.
Meus mamilos doem de tão duros e eu reviro os
olhos, apertando seus cabelos com mais força, e
sentindo meu corpo desabar, partindo-se em um
milhão de pedaços, eu gozo gemendo como uma
cadela, em sua língua macia e deliciosa.
— Caralho! Dimi, sua língua é tão gostosa, porra
— gemo, ronronando, ainda me esfregando e
aproveitando dos últimos espasmos.
Um sorriso arrogante toma seus lábios, ele
levanta o queixo brilhando de lubrificação, a cara
toda molhada e cheirando a minha boceta.
— Sabe como é, gata, eu sou foda para caralho,
na arte de chupar boceta eu me garanto e… — Seus
olhos alcançam os meus, uma sombra consciência
tomando suas feições. E ali eu noto que ele
finalmente fez a conexão de que eu já sabia seu
nome, mesmo ele nunca tendo me dito.
Um sorriso diabólico repuxa meus lábios e
rapidamente alcanço a seringa que está acoplada na
minha bota, e é tarde demais quando ele percebe,
enfio a agulha na sua coxa esquerda, empurrando o
êmbolo e injetando o sonífero em suas veias, tão
furtivamente que ele não tem tempo de reagir. Seus
olhos rolam para trás e o corpo cai pesadamente
sobre o colchão.
Apagando de uma vez.
Vulnerável como um patinho!

O que ninguém te conta sobre dopar um homem


de quase dois metros de altura, e fodidos 95 quilos de
músculos bem distribuídos, é o quão difícil é lidar com
ele depois que apaga. Dimitri parece um gigante de
pedra desabado naquele colchão, inerte e pesado
como se o próprio mundo estivesse sobre seus
ombros. E eu ainda meio trêmula pelo orgasmo
arrebatador que sua língua me deu, tive que pensar
em algo que me ajudasse a arrastá-lo para fora
daquele buraco, e então lembrei-me dos carrinhos de
roupa suja que sempre ficavam nos quartos daquele
puteiro, usados para levar lençóis e toalhas sujas. Era
a única maneira. Tinha que servir.
Com passos rápidos, me afasto do quarto onde
Dimitri está apagado, caminhando pelos corredores
até encontrar um daqueles carrinhos. Felizmente ele
está vazio e ninguém parece notar minha presença e
arrasto-o até o quarto onde Dimitri permanece
desmaiado.
— Você cresceu mesmo, não é, Dimi? — murmuro
para mim mesma, enquanto o posiciono da melhor
maneira possível.
Com muito esforço, seguro seus braços e começo
a puxá-lo, usando toda a força que eu tenho. Ele
parece um cadáver, completamente mole e sem
resistência. Tenho que fazer uma pausa para
recuperar o fôlego antes de finalmente conseguir
colocá-lo dentro do carrinho. Seus ombros largos
quase não cabem ali, e suas pernas ficam penduradas
de um jeito desajeitado.
Assim que consigo colocá-lo no carrinho,
empurro-o com toda a força que meus braços podem
oferecer. O som das rodinhas no chão soa alto, mas,
naquele lugar, ninguém parece se importar. As
pessoas estão ocupadas demais com seus próprios
segredos.
Empurro o carrinho com Dimitri até o
estacionamento nos fundos da boate, onde meu carro
nos espera. Com um último impulso, consigo colocá-lo
no porta malas, batendo a cabeça dele com um baque
surdo e possivelmente criando um corte, reviro os
olhos quando vejo o sangue escorrendo por sua testa.
Fecho a porta com um baque e respiro fundo, o suor
escorrendo pela minha testa. Sorte a minha que o
sonífero que injetei nele era potente o suficiente para
manter um gigante como ele desacordado por horas.
A estrada até Sotchi [5] será longa, quase
interminável, mas a ideia de cada quilômetro me
aproximar do meu objetivo me mantém acordada. A
casa de campo que me espera lá, com seu celeiro
isolado, já está preparada. Era o esconderijo perfeito
longe o bastante para que nenhum dos comparsas de
Dimitri, ou seus contatos criminosos, pudessem
rastreá-lo. E mais importante ainda: fora do alcance
do sinal do chip que a CIA implantou no meu braço.
Uma "medida de segurança" que agora servia apenas
para tentar controlar meus movimentos. Mas não
dessa vez.
Eu sabia o que eles queriam. Missões rápidas,
discretas, sem causar alarde. Para eles, quanto mais
eficiente e menos dramático, melhor. Uma bala na
cabeça, um corpo desaparecido, e pronto. Eu já tinha
seguido essas ordens muitas vezes antes, sem
hesitar. Mas não com Dimitri. Não depois de tudo o
que ele fez. Eu tinha demorado muito para achar
aquele filho da puta. A morte dele não seria rápida,
nem indolor. Eu o caçaria, o torturaria até que ele
implorasse por um fim. Até que ele sentisse cada
pedaço da dor que ele espalhou na porra da minha
vida.
Nós brincávamos de gato e rato. Eu o caçaria, o
deixaria acreditar que tinha chance, que podia
escapar. Mas no final, seria eu a decidir quando e
como aquilo terminaria. E só quando eu estivesse
farta, quando todo o ódio tivesse se dissipado, aí sim,
eu apertaria o gatilho ou cravaria minha faca em seu
coração. Essa vingança era minha.
E nem a CIA me tiraria isso!
Acendo um cigarro e abro a janela, deixando o
vento gelado da estrada noturna invadir o carro. Um
sorriso sombrio repuxa meus lábios enquanto imagino
as próximas horas.
— Bem-vindo ao inferno, Dimi — murmuro,
soprando a fumaça para fora ao som de “Welcome to
the jungle” do Guns N’ Roses.
“Em seu coração há um buraco
Há uma marca negra em sua alma
Nas mãos dela está meu coração
E ela não vai desistir até ficar com cicatrizes”
Horns - Bryce Fox

Agosto 2023
A consciência volta em ondas, como uma maré
lenta. Primeiro, a escuridão, densa e opressiva.
Depois, a dor que lateja na minha cabeça, irradiando
da têmpora, e algo quente e pegajoso escorre pelo
meu cabelo, gotejando na coxa nua. Eu estou
amarrado.
Porra!
A situação se clareia a cada segundo que passa.
Meu corpo preso a uma cadeira velha e
desconfortável, só de cueca. A corda grossa aperta
meu tronco e meus pulsos. Forço meus músculos
contra o encosto da cadeira, imobilizando-me.
Suspiro, com a cabeça inclinada para baixo, e encaro
o chão sujo, onde o sangue que escorre de mim forma
pequenas poças vermelhas.
Essa merda não é nova pra mim. Não é a primeira
vez que eu era capturado ou torturado. O problema de
ser bom nesse jogo é que, antes de aprender a
torturar, você tem que aprender a sobreviver à
tortura. Faz parte do treinamento. A gente se fode
muito antes de aprender a ser o algoz.
Mas, dessa vez, havia algo de diferente. Algo que
não se encaixava bem.
Tento mover os braços, testar as cordas, mas
estão bem amarrados. Não era um trabalho de
amador. Quem quer que seja, sabe o que está
fazendo. Eu rio, mas o som sai rouco e seco, ecoando
no espaço ao meu redor. Já passei por torturas piores,
mas dessa vez era pessoal. Porque sabia que, se eu
saísse dessa, quem quer que tenha me capturado,
estaria morto antes de perceber o que aconteceu.
Quando alguém na máfia é capturado, os boatos
correm rápido. As aparências são importantes. Não é
só sobre sobreviver, é sobre voltar, forte, intacto.
Mostrar que não importa o que façam com você, nada
te quebra. Cada vez que me capturavam, cada vez
que eu escapava e voltava, minha reputação crescia.
Eu era o caos em carne e osso, e ninguém saia inteiro
depois de mim.
Mas agora... Eu estava preso, vulnerável. E essa
merda ia ter que acabar rápido, porque eu não tinha
intenção de ficar por aqui por muito tempo.
Quem quer que você seja, vai pagar por isso,
penso, rangendo os dentes. E quando eu te encontrar,
seja quem porra você for, vai implorar pela mesma
dor que agora tenta me derrubar.
A porta range e eu levanto o olhar.
Quando ergo o pescoço, vejo a cadela que eu
estava chupando antes de apagar, perto de mim,
vestida em uma calça colada preta e uma camisa
branca de botões, ela calça luvas de procedimento
brancas enquanto sorri para mim.
— Como se sente, Dimi? — pergunta
animadamente.
Sopro um sorriso, dando de ombros.
— Já estive pior, gatinha — provoco
convencidamente. — Sabe, se quiser, posso te dar
umas aulinhas sobre tortura, já faço isso a algum
tempo, tenho quase um doutorado acadêmico —
ofereço, sorrindo arrogantemente.
Ela balança a cabeça, o sorriso demoníaco
pintando seu rosto, remexe nos bisturis e tesouras em
uma bandeja metálica. Reviro os olhos, soltando um
bufo.
Bisturis? Sério? Que amadora!
Sua próxima ação realmente me desconcerta,
com calma ela retira as lentes de contato uma a uma,
revelando olhos azuis e penetrantes que eu conhecia
muito bem. Meu corpo inteiro arrepia e como um
xeque-mate final ela puxa a peruca escura, deixando
os que os cabelos loiros caiam em cascata pelos
ombros.
Minha boca abre, meus olhos arregalam, o
coração incendiando, trotando tão rápido que acredito
que terei uma segunda overdose.
Era… era...
Essa puta desgraçada.
Cadela demoníaca.
— Hailey! Sua cachorra safada! — rosno entre
dentes, matando-a de vinte formas diferentes com
meu olhar. Me contorço na cadeira, mas as cordas
estão apertadas demais. Elas se cravam no meu peito
e no abdômen, mas eu não me importo. Minha
respiração é irregular, quase animalesca. Eu estou
completamente tomado pela raiva.
Essa mulher, essa maldita mulher... Cada
lembrança dela passa pela minha mente como flashes
rápidos. Eu queria rasgar sua pele, arrancar cada
pedaço de sua alma com minhas próprias mãos.
Ela chega perto sorrindo como a demônia que ela
é. Apoia as mãos nas minhas coxas, enfiando as
unhas na carne e fazendo-me apertar os dentes,
olhando no fundo dos meus olhos, transmitindo toda a
malignidade que só aquela cadela tinha, ela relembra:
— Eu disse que te acharia, Dimi.
Minha raiva só crescia. Ela estava brincando
comigo, como uma leoa com sua presa. Eu a mataria.
De um jeito ou de outro, eu sairia daquela merda e
ela pagaria por tudo.
— Eu vou acabar com você, Hailey... Eu vou te
despedaçar! — murmuro entre dentes, trincando a
mandíbula, sentindo o ódio dominando cada átomo do
meu ser.
Ela ri de forma arrogante e caminha lentamente
ao redor da cadeira, os saltos ecoando no chão, como
se estivesse me avaliando, saboreando o momento.
Seus olhos me estudam como se eu fosse apenas
mais uma presa em sua lista.
— Sabe, Dimi, eu ouvi muito sobre você...Eu te
observei durante semanas… — ela começa, parando
atrás de mim, seus dedos roçando de leve a minha
nuca, para em seguida puxar meu cabelo para trás,
ficando com o rosto a centímetros do meu. Eu podia
sentir sua respiração de cadela diabólica contra
minha boca.
A porra do cheiro da boceta dela ainda estava
impregnado na minha cara! Seu gosto doce e
venenoso, fermentando na minha língua. Minha
mandíbula estava trincada, meus dentes rangendo.
— Sabe, eu esperava mais — ela zomba com
escárnio. — Foi muito fácil capturar o grande
Carniceiro.
Rosno alto, o ódio borbulhando em minhas veias.
Quero arrancar aquele sorrisinho de cadela da cara
dela, rasgar seu rosto bonito, dividindo-a pela
metade. Sua língua demoníaca sai da boca e ela
lambe meus lábios, melando minha boca com sua
saliva. Grunho, me debatendo, odiando a fisgada no
meu pau e rindo ela me solta.
Eu a encaro com um ódio que queima como um
incêndio dentro de mim. Ela era uma maldita
psicopata, e eu havia subestimado o quanto ela me
odiava.
— Estou tão animada para brincar com você,
Dimi. — Ela afasta-se e começa a arrumar os
instrumentos na bandeja, suas mãos ágeis e
experientes enquanto seleciona cada item.
Um sorriso cínico puxa meus lábios.
— Qual o plano, Hay? Você acha mesmo que vai
me quebrar? Acha que vou gritar de dor como uma
mocinha? — debocho, rindo de forma arrogante.
— Você ainda não entendeu, Dimi. — O brilho nos
olhos dela é perigoso, e seu sorriso se amplia de
forma maliciosa. — Isso não é sobre quebrar você. É
sobre vingança, quero alcançar partes suas e fazê-las
sangrar. — Engulo seco, mas mantenho meus olhos
nos dela, em um desafio silencioso. — Vou fazer isso
ser tão horrível que você vai me implorar para te
matar.
Meu coração acelera e o arrepio na minha
espinha não era de medo, mas de uma adrenalina
inquieta. A verdade era que eu a conhecia bem o
suficiente para saber que ela não estava brincando.
Aquela cadela não queria apenas me ferir fisicamente,
ela queria minha mente, e isso poderia ser ainda mais
letal.
— Você é só uma puta amadora, Hailey, nunca vai
conseguir me superar. Eu sou o Deus da tortura,
porra! — esbravejo com orgulho, rindo de forma
doentia.
Ela se inclina mais perto, sua voz em um sussurro
sedutor, mas com uma tensão ameaçadora.
— Não se preocupe, Dimi... — ela diz com um
sorriso diabólico. — A diversão está apenas
começando.

Enquanto Hailey se aproxima, o bisturi em sua


mão reluzindo com a luz fraca do celeiro, com seus
olhos de demônia, extasiados em pura luxúria e
prazer doentios, eu não pude deixar de sorrir, mesmo
naquelas circunstâncias. A adrenalina pulsa nas
minhas veias como um veneno doce, alimentando
minha determinação e insanidade.
— Seu destino vai chegar cedo, cadela. Espere só
até eu sair daqui! — eu digo, forçando a voz a ser
firme, mas as cordas que apertam meu corpo me
lembram que minha liberdade está longe. E que eu
estou muito fodido!
Os passos do lado de fora do celeiro ficam mais
nítidos, como se fossem botas pisando pesadamente
na propriedade.
— Oi! Alguém está aí? Está tudo bem? —
pergunta um homem, sua voz ecoando do lado de
fora, carregada de preocupação. — Eu ouvi algo
parecido com uma briga…
Hailey avança rapidamente em minha direção e
quando abro a boca para gritar, ela é mais furtiva, se
aproximando e tampando minha boca com a mão. O
sorriso que havia se formado em meu rosto se alarga,
um gesto involuntário de triunfo. Era como se a sorte
estivesse finalmente ao meu lado.
— Você ouviu isso, cadela? — eu digo, desafiador.
O som abafado pela sua maldita mão em minha boca.
— Alguém está vindo me salvar. E quando eu sair
daqui, vou estraçalhar você.
Ela franze a testa, o azul em seus olhos se
tornando mais intenso. O bisturi ainda estava em sua
mão e ela hesita, e isso era tudo que eu preciso.
— Shiiiu, fica quietinho — ela sussurra, mas a
tensão em seu tom é palpável.
O homem se aproxima mais e eu ouço o ranger da
porta do celeiro. A situação está prestes a mudar, e a
possibilidade de escapar é quase tangível.
— Oi! Alguém está realmente aí? — A voz dele se
torna mais insistente, a preocupação começa a se
infiltrar no rosto de piranha psicótica dela.
— Ah, você está com medo, não é? — eu provoco,
a adrenalina me enchendo de coragem. — Não se
preocupe, ele não vai te machucar. Mas eu vou,
Hailey… muito. — A ameaça parecia mel em minha
boca, doce e tentadora.
— Cala a boca! — Ela aperta mais a mão na
minha boca, mas eu me debato na cadeira, a
frustração alimentando meu desejo de devorar aquela
maldita. O sangue ferve em minhas veias e, usando
todo ódio que borbulha dentro de mim, fecho os
dentes na carne da sua mão, mordendo-a com toda a
força. Ela grunhe de dor e sua mão sai da minha boca.
E aquela porra é minha chance.
— Socorro! — eu grito, ainda lutando contra as
cordas. — Essa puta louca está tentando me matar!
Ouvindo isso, a expressão de Hailey se
transforma em uma mistura de fúria e desespero. O
som dos passos se aproximando se intensifica e eu
sinto a tensão no ar aumentar.
— Cala essa boca, porra — ela grita, descendo a
mão sangrando na minha cara, mas é tarde demais. O
fazendeiro empurra a porta e entra, o rosto dele
marcado pela preocupação.
Os olhos do fazendeiro se ampliam, avaliando a
cena diante dele. Hailey, de pé ao meu lado, segura
um bisturi e sua expressão muda rapidamente de
raiva para desespero, enquanto tenta decidir seu
próximo movimento.
Porra! É isso aí. Agora aquela puta vai se ver
comigo.
Execução
Após acordar os termos, as partes dão seu
consentimento e começam a cumprir as obrigações
estipuladas no pacto.
“Mais fundo, mais fundo e mais fundo enquanto eu sonho em
Viver uma vida que parece ser
Uma realidade perdida”
Blind - KoRn

16 anos

Atenção: Esse capítulo tem cenas gráficas de


tortura, não prossiga se não se sentir a vontade.

Apertei o braço de Gordon com mais força entre


minhas pernas, sentindo o calor e a tensão enquanto
pressionava a panturrilha contra a garganta dele.
Cada músculo do meu corpo estava em alerta, e o
esforço era visceral. Ele grunhia de dor, cada ruído
era uma pequena vitória para mim. Estava
completamente focada, o mundo ao redor sumiu e
tudo o que importava era a respiração irregular dele,
que se tornava mais difícil a cada segundo.
Meu corpo tremia de esforço, mas a adrenalina
mantinha meus movimentos precisos e afiados. Eu
rosnava, quase como uma leoa em plena caça. Cada
fibra do meu ser dizia para continuar, para empurrar
ainda mais. Estiquei o braço dele ao limite, sentindo o
músculo pulsando enquanto eu o mantinha preso no
arm lock. Era uma sensação estranha, uma mistura de
poder e desespero. O desespero gritando que ou era
eu, ou era ele.
— Porra! Pirralha, você vai quebrar meu braço! —
Gordon grunhiu, a voz entrecortada pela dor.
Sua mão bateu freneticamente contra a minha
perna, um pedido silencioso de rendição, um sinal de
desistência. A sensação de euforia me invadia, mas
aquilo... não era piedade. Eu olhei para Paul, que
assistia à luta do lado de fora do corner. Ele não disse
nada, mas o pequeno sorriso que passou pelos seus
lábios, e o aceno quase imperceptível da cabeça,
eram tudo o que eu precisava.
Meus dentes rangiam de tanta pressão e em um
movimento calculado, elevei o quadril, torcendo o
braço de Gordon mais um pouco. Ouvi o estalo seco,
seguido do grito de dor que ele soltou, um som
primal, cheio de terror e desespero.
Seu braço estava deslocado, e a sensação de
vitória me atravessou como uma onda. Mas não havia
alegria. Não havia empatia. Apenas a crueza do
momento.
Eu tinha apanhado muito até chegar ali, até ter a
coragem e a força para quebrar o braço de um
homem do tamanho de Gordon. O treinamento havia
sido cruel, impiedoso, e o caminho até me tornar a
melhor lutadora daquele fodido lugar feito de dor. Mas
naquele instante, enquanto ele se contorcia no chão,
eu sabia que tinha superado todos os limites.
Nada naquela porra me quebraria, porque não
existia mais nada inteiro dentro de mim.
Paul entrou no ringue com passos firmes e
orgulhosos, o som de suas botas batendo no chão
abafado pelos gemidos de dor de Gordon. Meus olhos
se fixaram nele, observando seu rosto endurecido,
mas com uma satisfação que só alguém como Paul
poderia expressar. Ele tinha me treinado com tudo o
que sabia, sem misericórdia, e agora, ali estava eu,
provando que cada hematoma, cada dor que suportei,
tinha tido algum retorno.
Ele se aproximou de mim e sem dizer uma
palavra, pegou minha mão, ainda trêmula pelo
esforço, e ergueu-a no ar. A vitória era inegável, e
aquele gesto era um grito silencioso para todos ao
redor.
— Viram isso, seus filhos da puta? Minha filha é
uma máquina — ele gracejou orgulhoso. — Quem é o
próximo? — ele ofereceu, com um sorriso sádico
rasgando seu rosto.
Olhei ao redor, meus olhos ainda ardendo pela
adrenalina e raiva, passando por cada rosto. Arisca,
feroz, desafiadora e ofegante. O ódio borbulhava
dentro de mim, queimando tudo o que eu via. Nenhum
dos homens altos, fortes e brutais se atreveu a me
enfrentar. Havia medo em seus olhares. Eu era muito
mais do que eles esperavam.
Paul me puxou para um abraço, beijando o topo
da minha cabeça suada.
— Você será extraordinária, querida — ele
sussurrou contra meus cabelos suados, sua voz baixa,
como uma promessa.
Fechei os olhos por um momento, sentindo o peso
das suas palavras. Eu sabia que ele estava certo. Eu
já estava me tornando algo mais do que apenas uma
lutadora. Estava tornando-me algo brutal, sem
sentimentos, sem misericórdia, sem perdão.
Uma arma…
A cada dia, o desejo de sobreviver, de não ser
machucada, me transformava em um animal
selvagem. Mostrava os dentes antes mesmo de
alguém se aproximar. Meu instinto era de atacar antes
que pudessem me atacar. Eu não sentia mais
empatia, só a necessidade de ser mais forte, mais
violenta, mais incisiva.
— Você está se saindo maravilhosamente bem,
querida, eu e sua mãe estamos orgulhosos — Paul me
disse, olhando-me pelo retrovisor do carro.
Encostei a cabeça no vidro da janela, puxando o
capuz do moletom mais para frente, como se pudesse
me esconder de tudo. Mas principalmente de mim
mesma. As palavras dele não me traziam conforto.
Pelo contrário, quanto mais ele falava, mais eu sentia
como se estivesse me perdendo, como se algo dentro
de mim estivesse morrendo lentamente. Eu estava
ficando vazia. Cada golpe que eu dava, cada braço
que eu quebrava, me afastava mais da pessoa que eu
poderia ter sido.
Ele soltou um suspiro longo e orgulhoso. Mirei
seus olhos pelo retrovisor e ele sorriu.
— Agora falta pouco para acabarmos seu
treinamento — Paul pontuou com uma voz calma
demais, enquanto seus dedos tamborilavam no
volante.
Minhas sobrancelhas se uniram em confusão. Que
merda ele estava falando? Achei que já estivesse no
fim desse inferno.
— Achei que tivesse dito que ninguém mais
queria me enfrentar — retruquei com a testa franzida.
Ele riu, um som abafado, mas cheio de
convencimento.
— Realmente, querida, você agora coloca medo
em cada homem daquele galpão — ele observou,
uma pitada de orgulho evidente em sua voz. — Ser
forte fisicamente é importante, Hailey…
Eu senti um calafrio, como se alguém tivesse
aberto uma janela dentro de mim. Algo no tom de voz
dele, nos olhos escuros que me fitavam pelo
retrovisor, deixou claro que aquilo não era um elogio.
— Mas... — ele continuou, deixando a palavra
pairar no ar, pesada, carregada de expectativa. —
Nesse ramo, ser forte fisicamente não é o suficiente.
É indispensável ter uma mente imbatível. — Seu tom
ficou frio, calculado, como se ele estivesse recitando
algo que eu deveria decorar. — Precisamos fortalecer
sua capacidade de aguentar pressão.
Pisquei os olhos, sentindo a garganta secar e meu
estômago afundou. Pressão? O que ele queria dizer
com isso? Eu já aguentava mais do que qualquer um
que conheci. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que ele
não estava falando de socos ou de força bruta. Era
algo além do físico. Algo mais sombrio. Algo que eu
ainda não tinha enfrentado.
— Quando conseguirmos tornar seu corpo e sua
mente indestrutíveis, você será extraordinária,
querida — ele prometeu e seu sorriso me trouxe
calafrios.
O treinamento físico já tinha sido mais do que
prejudicial. Já tinha matado partes de mim que eu
nem sabia que existiam fragmentos de inocência, de
empatia, de humanidade. A cada luta, eu me afastava
mais da menina que eu havia sido e me aproximava
de uma criatura fria, cruel e sanguinária. Mas agora, a
promessa de Paul soava como uma sentença. Como
se, ao final do que ele estava planejando, eu fosse
cair num abismo do qual nunca mais sairia.

Meus olhos reviraram, meus dentes rangeram


fortemente e as lágrimas desceram furiosas,
queimando contra minha bochecha. A dor explodindo
como uma bomba dentro de mim, o cheiro forte de
sangue preenchendo o cômodo, o barulho do couro
entrando na minha pele, arrebentando a derme, cada
vez que o chicote de Paul me alcançava nas costas.
— P-p… po… por favor… — implorei em um fio de
voz.
Eu gritei mais alto quando a faca de Kate afundou
contra a pele da minha barriga, rasgando mais um
corte profundo. O sangue desceu, pelo meu ventre,
escorrendo como um rio até minhas pernas e o aço
das correntes mordeu minha pele quando eu me
debati, tentando fugir dos cortes que ela fazia em
mim.
— PARAAA! PARAAAA — berrei desesperadamente.
— POR FAVOR, PARAAA!!!
Ela recolheu a faca, parando de me cortar. Eu não
fazia ideia de quantas horas eu estava sendo
torturada por Kate e Paul, e ali, acorrentada com os
braços abertos, por um momento os flashes dos
domingos no orfanato encheram minha mente e
lembrei-me do Cristo crucificado, exatamente como
eu estava naquele momento. Ao olhar para aquela
cruz, nunca imaginei que algum dia eu me encontraria
tão próxima da mesma situação, torturada por
pessoas que diziam me amar e querer o melhor para
mim.
Eu gritei de horror quando o chicote de Paul me
acertou por sei lá que vez, minhas costas queimavam
como o próprio inferno, eu podia sentir os vergões em
carne viva. Nunca tive muita sorte, a vida sempre foi
meio filha da puta comigo, eu era um bebê que
nasceu na Alemanha, mas com certeza não tinha
vindo em uma família boa, já que com um ano, me
enviaram para um orfanato em São Petersburgo, e
isso durou até meus 04 anos, quando uma das
funcionárias tentou me matar e eu mordi sua
bochecha até arrancar um pedaço e fugi. Vivi nas ruas
até que com 05 anos, quando cheguei em Moscou
encontrei Dimitri e então nossa história começou.
Sempre fui abandonada!
Por pessoas que diziam que me amariam e
cuidariam de mim.
Eu era calejada, sabia que o sofrimento e a dor
faziam parte de quem eu era. Todavia, nem toda a
merda que eu vivi me preparou para ser torturada
daquela forma. Eu solucei chorando copiosamente,
sendo tragada de volta a realidade, quando Kate
reiniciou a sequência de cortes.
— Basta dizer qual era a palavra no envelope
querida — aquela desgraçada ofereceu com a voz
calma, enquanto rasgava mais da minha carne.
Eu solucei, me balançando e tentando me
esquivar da sua faca, mas o chicote de Paul em
minhas costas não me deu trégua. Minhas pernas
estavam pegajosas pelo sangue, minha pele suando
frio, meus músculos tão exaustos que eu não
conseguia mais raciocinar direito. Minhas mãos tão
geladas, a dor excruciante fazia a palavra queimar em
minha língua.
Mas eu não a disse.
Há uma semana, eu tinha recebido uma
correspondência, com uma palavra, e na carta dizia
que eu passaria por coisas horríveis, mas que não
poderia dizer a palavra, não importava o que
acontecesse, não importava o quanto me
machucassem. Aquilo era um teste para minha
resistência mental, como Paul tinha me dito. Agentes
da CIA constantemente eram capturados e torturados
daquela forma, então, como aspirante a substituta de
Paul e Kate, eu tinha que estar pronta quando isso
acontecesse. Eu só queria que aquela merda
terminasse, mas a promessa de que aquela seria a
penúltima etapa do meu treinamento, fazia com que
eu mantivesse minha boca fechada.
Eu só queria que aquela merda chegasse ao fim!
Se eu sobrevivesse aquele treinamento, eu
poderia voltar a ter uma vida normal, toda aquela dor
acabaria, e talvez Kate e Paul voltassem a ser os pais
amorosos que demonstraram ser no início. Talvez…
nós voltaríamos a ser uma família…
Era patético, mas havia um resquício de
esperança em mim, que ainda não tinha sido
destroçado.
— Por… por favor… Parem… por favor… —
supliquei com a voz embargada.
Kate, que estava sentada à minha frente, com os
cabelos loiros e o rosto repleto do meu sangue, sorriu
para mim, seus olhos continham um brilho orgulhoso
e doentio. Mas por algum motivo, o rosto dela
começou a ficar embaçado, meus olhos piscaram
pesados, o tempo parecia estar em câmera lenta.
Como se toda a dor que eu sofrera tivesse me
anestesiado, meu corpo parecia estar flutuando.
Você foi incrível, querida.
Estou tão orgulhoso de você, você é
extraordinária, Hailey.
Os murmúrios de Paul e Kate agora se pareciam
muito distantes, pontos escuros tomaram minha
visão, minha respiração estava fraca… Talvez… eu
finalmente estivesse morrendo.
Com a visão completamente preta, meus lábios
se puxaram em um sorriso fraco, quando por ironia
me lembrei da palavra que estava escrita na carta, as
letras piscaram em minha mente como luzes de Natal.
Uma coincidência fodida!
Uma forma do destino zombar com a minha cara!
A palavra…. A maldita palavra, que talvez fosse a
responsável pela minha morte.
A palavra era:
Caos.
“Todas as boas meninas vão para o inferno
Porque até a própria Deusa
Tem inimigos”
All The Good Girls Go To Hell - Billie Eilish

Agosto 2023
As sobrancelhas do fazendeiro se erguem tanto
que acho que vão grudar no cabelo. O homem fica
paralisado na porta do celeiro, observando a cena
com uma mistura de choque e confusão. Escondi o
bisturi nas costas, mesmo sabendo que ele tinha o
visto.
— Boa noite, senhor — falo, suavizando a voz,
deixando-a tão doce quanto mel.
O fazendeiro, um homem grande, alto, de barba
loira e cheia que combina com o corte militar, franze
o cenho. Seus olhos imediatamente cravam em
Dimitri, que se debate furiosamente na cadeira,
lutando contra as cordas que o prendem.
— O que está acontecendo aqui? — ele pergunta,
seus olhos se fixando em mim e a surpresa em seu
rosto rapidamente se transforma em desconfiança.
Dimitri sopra uma risada sarcástica, olhando para
o homem.
— Como assim o que está acontecendo? Não tá
vendo que essa cadela está tentando me matar? —
ele esclarece, quase rosnando as palavras.
Me afasto dele e me aproximo do fazendeiro com
passos lentos, mantendo a postura relaxada e
amigável. Meus olhos encontram os dele, que agora
estão cravados em mim com uma mistura de
desconfiança e... medo? Perfeito.
— Como se chama, senhor? — pergunto, com um
toque meloso na voz, forçando um sorriso encantador.
Seus olhos apavorados vagam de Dimitri para mim, e
eu posso ver a confusão tomando conta dele.
— R-ro… Robert — ele gagueja, ainda me olhando
incrédulo, tentando processar o que está vendo.
Suspiro, como se estivesse envergonhada e um
pouco constrangida, e dou uma risadinha forçada,
levantando as mãos em um gesto de desculpa. Dimitri
grita, se debatendo na cadeira, mas eu mantenho os
olhos de Robert em mim, pegando seu queixo para me
olhar, hipnotizando-o como a própria medusa.
— Robert, eu sinto muito por isso, de verdade. —
Faço uma pausa, mordendo o lábio inferior como se
estivesse hesitante. — É meio embaraçoso, mas... é
só uma brincadeira entre namorados. Você sabe, um
fetiche. — Minha voz sai em um tom brincalhão, como
se aquilo fosse algo completamente normal.
Robert pisca, ainda com a testa franzida, olhando
de mim para Dimitri, que está suando, rosnando e se
debatendo na cadeira.
— Brincadeira? — ele pergunta, incrédulo,
obviamente não convencido. — Mas… Ele tá
amarrado…
Robert olha novamente para Dimitri, cuja
expressão agora é uma mistura de fúria e descrença.
Ele não faz ideia de que eu estou manipulando o
fazendeiro com tanta facilidade.
— Essa cadela tá mentindo, porra! — Dimitri ruge,
tentando se livrar das cordas.
Suspiro e rolei os olhos, me aproximando ainda
mais de Robert, agora tão perto que posso sentir o
cheiro do feno que impregnava suas roupas.
— Você tem esposa, Robert? Filhos ou algo assim?
— pergunto, deslizando meus dedos pela camisa
xadrez que cobre o peito musculoso dele. O toque é
sutil, mas o suficiente para desestabilizá-lo ainda
mais.
Ele engole em seco, os olhos permanecendo fixos
em Dimitri por alguns segundos a mais do que o
necessário, mas ele não se afasta. Está confuso,
perdido na dissonância entre a cena à sua frente e as
palavras suaves que saem da minha boca.
— Eu... eu... — ele gagueja, visivelmente nervoso,
tentando encontrar as palavras. — Não, eu vivo
sozinho... e…
— Porra! Cara, não tá vendo que essa cadela tá
mentindo? — Dimitri chia entre os dentes, tentando
forçar as cordas que o seguram, sua voz carregada de
desespero. — Ela é uma assassina! Ela vai me matar!
Ela vai te matar
Os olhos de Robert quase saltam das órbitas. Ele
se vira para mim, finalmente processando as palavras
de Dimitri. Mas eu já sabia como lidar com essa
situação. Vejo o pânico crescer em seus olhos e dou
um passo para frente, posicionando-me entre ele e
Dimitri, desviando sua atenção.
— Assassina? — pergunto com uma risadinha
suave, balançando a cabeça em negação, como se
aquilo fosse a coisa mais absurda que já tinha ouvido.
— Essa é a brincadeira, sabe, Robert. Meu namorado
gosta de ser... — faço uma pausa, como se estivesse
levemente envergonhada — dominado. — Continuo, o
sorriso doce e quase inocente iluminando meu rosto.
— Hoje eu sou a assassina, mas às vezes sou a
policial, bombeira... essas coisas. — Inclino-me um
pouco, como se estivesse compartilhando um segredo
íntimo. — Ele gosta de ser amarrado, de sentir a
adrenalina. Acho que só exagerei um pouco hoje. —
Solto uma risada suave, como se tudo aquilo fosse um
pequeno mal-entendido.
Robert olha de mim para Dimitri, claramente em
conflito, tentando entender se aquilo é uma piada de
mau gosto ou não. Ele então segura a ponte do nariz,
balançando a cabeça em incredulidade.
— Jesus... esses jovens de hoje estão perdidos —
ele resmunga, alternando o olhar entre mim e Dimitri,
ainda perplexo.
Dou uma piscadinha para ele, suavizando a
situação, enquanto subo meus dedos pelo peito
musculoso de Robert, sentindo o feno impregnado em
suas roupas.
— Qual é, Robert? — gracejo, o sorriso se
alargando no meu rosto. — Você já teve a nossa
idade.
Ele ri, nervoso, coçando a nuca enquanto desvia o
olhar de mim para Dimitri mais uma vez, como se
tentasse encontrar alguma lógica naquela situação
absurda. Mas ao ver o olhar desesperado de Dimitri,
que agora parece um lunático se debatendo, Robert
volta a focar em mim, e o alívio começa a se espalhar
em seu rosto, já comprando a narrativa.
— Porra! Porra! — Dimitri grita. — Hailey, você
me paga, sua puta desgraçada!
Robert franze o cenho, seu olhar desce para mim
e como todos os homens, eu posso ver a onda ígnea
de desejo pairando em suas íris verdes. Como se eu
pudesse ler sua mente, sorrio maliciosamente antes
que ele solte a pergunta. Sinto um calor se espalhar
pelo meu corpo, uma familiaridade que eu sabia como
usar a meu favor.
— Você… — ele pigarreia, claramente hesitante,
como se estivesse envergonhado de perguntar —
Gosta que ele te xingue dessa forma?
Mordo o lábio inferior, balançando a cabeça
positivamente, mantendo meu sorriso sedutor.
— Às vezes... um pouco de conflito só apimenta
as coisas, não acha? — murmuro, dando um passo
mais perto dele, sentindo a eletricidade no ar entre
nós.
Robert se aproxima, hesitante, e eu me inclino
para ele, permitindo que a tensão crescesse entre
nós. A diferença de tamanho entre nós era palpável;
ele era um homem robusto, enquanto eu era
minúscula. Mas a fragilidade era uma ilusão. Eu sabia
como manipular a situação. Principalmente usando
um ponto tão fraco dos homens, o desejo.
— Você é um homem forte, Robert — sussurro,
deixando meus dedos deslizarem por seu peito
musculoso. — E eu gosto disso. Quem sabe eu
também não possa brincar com você?
Ele hesita por um momento, como se estivesse
avaliando suas opções. Então, com um impulso, ele se
aproxima ainda mais, envolvendo seus braços ao meu
redor, puxando-me para mais perto. A sensação do
seu corpo forte contra o meu me lembra do que está
prestes a acontecer, mas eu mantenho a calma.
Os lábios de Robert roçam meu pescoço, seu
hálito quente me fazendo sentir um misto de aversão
e prazer pelo controle.
— Cara, foge dessa cadela do mal! — Dimitri
rosna.
Mas Robert está faminto demais para ouvi-lo,
suas mãos grandes agarram meu peito por cima da
blusa e eu forço um gemido falso.
— Porra! Você é uma garotinha gostosa... — ele
murmura contra minha pele, a voz suave e cheia de
desejo.
— Ela é uma gostosa maligna! Fuja, seu puto
idiota! — Dimitri avisa, espumando de raiva.
Sua língua suga a pele do meu pescoço e ele me
pressiona mais, me fazendo sentir sua ereção
potente, enquanto grunhe contra minha pele.
— Gosta disso, sua… putinha? — pergunta e eu
tenho que conter a vontade de revirar os olhos. —
Você realmente se sente à vontade com isso? —
reformula, como se tivesse se arrependido de me
insultar.
Contenho a vontade de rir.
— Oh, muito — respondo, deixando uma risada
suave escapar. — Você não faz ideia do quanto.
Aproveitando a distração dele, movo a mão
lentamente para trás, pegando o bisturi que estava
escondido. O momento está se desenrolando
conforme o planejado; o desejo em seus olhos me
deixa ainda mais satisfeita. Quando ele começa
descer a boca para beijar meu colo em direção aos
meus seios, deslizo a lâmina por baixo do seu queixo.
Abrindo um corte fundo, o sangue escorre pelo meu
braço. Em um movimento rápido, a expressão de
sedução se transforma em pura dor. Com um puxão
preciso, ergo o bisturi e cravo-o de novo na garganta,
fazendo o sangue esguichar na minha cara, cortando
através da carne com um movimento fluido e letal. O
olhar de surpresa e dor em seu rosto é inestimável,
como se ele não conseguisse entender o que estava
acontecendo.
O corpo dele cai ao chão e Dimitri para de se
debater, seus olhos arregalados com a cena que se
desenrolava diante dele. O eco da lâmina na carne
ainda paira no ar. Meu cabelo está encharcado de
sangue, que escorre pela minha têmpora, passando
da bochecha até o pescoço e olho para baixo, vendo
minha blusa favorita manchada de sangue.
Coloco as mãos nas cinturas bufando. Droga! Eu
amava esse modelo, sempre era complicado usar
branco no trabalho. Giro o corpo virando para Dimitri,
que permanece estático, os olhos arregalados, me
olhando incredulamente.
Eu podia lidar com ele depois!
— Não sei você, Dimi… — falo, girando o pescoço
para liberar a tensão dos músculos — Mas eu preciso
de um banho.
Dimitri parece paralisado, incapaz de processar o
que acabara de testemunhar. Seu rosto é uma mistura
de horror e admiração, como se eu tivesse me
tornado uma versão de mim que ele nunca poderia
imaginar. Mas não tinha tempo para analisar sua
reação. Com um último olhar para o corpo caído de
Robert, caminho em direção à saída do celeiro,
sentindo a adrenalina pulsar em meu corpo. O plano
tinha funcionado perfeitamente, e eu estava a um
passo de alcançar o que desejava.
O cheiro de sangue e feno misturava-se no ar,
mas não me incomodava; em vez disso, me lembrava
do poder que eu tinha e era bom pra caralho!
“Fique de joelhos
Me implore para parar
Eu prometo que vou adorar se você fizer isso
Então faça isso por mim”
Do It For Me - Rosenfeld

Agosto de 2023
Abro os olhos assustado, sentindo uma onda
gelada escorrendo contra a minha cara, molhando
meu corpo e me deixando ensopado. O choque do frio
me faz piscar rapidamente, expulsando a água
acumulada nos cílios. Quando consigo finalmente
levantar a cabeça, trincando a mandíbula de raiva,
vejo Hailey bem na minha frente, segurando um balde
que ela acabou de jogar em mim. O sorriso perverso
em seus lábios só aumenta meu ódio.
— Bom dia, Dimi — ela diz, como se estivesse me
cumprimentando cordialmente, e não me afogando
em água fria.
Rosno para ela, a fúria borbulhando em minhas
entranhas. Estou tão puto que estou quase
espumando de raiva. A indignação se acumula dentro
de mim, aumentando ainda mais a vontade que tenho
de fazer picadinho dela, enquanto meus olhos a
medem de cima para baixo. Ela usa uma saia curta
que deixa suas coxas expostas, uma camisa azul que
destaca sua figura, botas pretas e suspensórios
caídos ao lado de suas coxas. A combinação a torna
perigosamente bonita. Balanço a cabeça para
expulsar esses pensamentos estúpidos.
— O que está fazendo, sua cadela? — rosno,
minha voz rouca e carregada de desespero.
— Te acordando, bobinho, ainda temos que
brincar por muito tempo.
Meu corpo inteiro dói, a rigidez das cordas me
deixou marcado e a posição desconfortável da cadeira
só piora a situação. Na verdade, eu apaguei, exausto
depois de imaginar mil formas de torturar aquela
vagabunda por tudo o que ela estava fazendo. Hailey
passeia pelo celeiro como se estivesse desfilando em
uma passarela. Sua confiança é irritante. Ela se
inclina no chão e eu sinto meu coração acelerar
quando percebo que está remexendo em um tecido
que só depois reconheço como a minha calça. Meu
celular!
— O que você está fazendo com meu celular? —
pergunto, tentando manter a voz firme, mas a
inquietação é evidente.
Porra! Aquela merda tinha coisas pesadas da
máfia, informações que homens matariam para saber.
Ela levanta o telefone, segurando-o como se fosse um
troféu, um sorriso malicioso nos lábios.
— Só quero ver se você tem algo interessante
aqui. — Ela dá uma olhada rápida na tela, ignorando
completamente a tensão no ar.
Com um movimento provocador, ela se aproxima,
rebolando os quadris e posicionando o aparelho bem
na minha cara. Tento me debater, mexendo o pescoço
para desviar o olhar, mas a tela é desbloqueada pelo
reconhecimento facial e meu estômago congela.
Meu coração dispara enquanto ela desliza pelo
menu, vendo cada notificação que poderia ser a
chave para a minha destruição. As mensagens
trocadas com membros da máfia, os planos de
operação, tudo exposto ali, e eu sou incapaz de fazer
algo para impedir.
— Não toque nisso, porra! — grito, desesperado,
tentando me soltar da cadeira. — Você não sabe no
que está se metendo, sua cadela!
Hailey dá uma risadinha, como se a minha
frustração fosse uma brincadeira.
— Quem é Vlad? — Meus olhos arregalam. — Ele
te mandou mais de 10 áudios, que tal se a gente
ouvisse, Dimi? — diz ela, o brilho malicioso em seus
olhos, sugerindo que ela está prestes a apertar um
botão que poderia trazer a desgraça.
Caralho!
Se Vlad tinha me mandado mais de 10 áudios, era
sinal que a merda toda estava muito ruim e Alexey
com certeza já tinha notado minha ausência.
— Hailey, não faz isso! — eu peço, tentando
manter a voz firme, mas a ansiedade escorre pela
minha garganta como ácido. — Você não sabe que
merda está fazendo.
Mas ela não ouve. Com um toque ágil na tela, o
primeiro áudio começa a tocar, e a voz de Vlad ecoa
pelo celeiro, carregada de tensão.
— “Dimitri, onde diabos você está? A base foi
atacada. Uns desgraçados da CIA invadiram e
tentaram matar Alexey! Precisamos de você aqui
agora!”
A adrenalina dispara em minhas veias e a
frustração se transforma em puro pânico. Merda,
tentaram matar meu Parkhan [6] e eu estou aqui
amarrado como uma linguiça por essa cadela sádica.
Hailey estreita os olhos e dando de ombros, aperta o
próximo botão, liberando o áudio.
Vlad continua, sua voz se tornando cada vez mais
apressada e tensa.
— “Não sei onde você se meteu, mas precisamos
de você! Alexey está furioso, e se você não aparecer,
vai… Parecer suspeito… Porra, só apareça logo, ok?”
A menção a Alexey faz meu coração disparar. Se
ele achasse que eu estava faltando com meu dever,
minha vida realmente poderia estar por um fio.
— Você não entende, sua cadela burra! — grito, a
raiva misturada com desespero. — Se os homens
acharem que sou um traidor, não sou só eu que vai
morrer, você também vai.
Ela revira os olhos, jogando o celular em uma
pilha de feno.
— Me cansei desse Vlad — diz, dando de ombros.
Um suspiro de alívio escapa dos meus lábios, mas
meus olhos continuam cravados nela, observando
cada mínimo movimento que faz.
Hailey gira em torno da cadeira, devagar,
rodeando-me como um urubu faz na carniça. Ela
coloca a mão no queixo pensativa.
— Eu pensei muito… no que fazer com você, Dimi
— pondera, inclinando a cabeça de lado, como se
estivesse avaliando sua presa.
Sinto a tensão no ar aumentar e minha mente
corre para encontrar uma maneira de me livrar
daquela situação.
— Queimar, cortar, desossar… — Um arrepio
passa pelo meu corpo, mas eu travo a mandíbula,
mantendo o olhar firme. — Tudo isso é muito
divertido, mas… tenho certeza que você já passou por
isso antes. — Ela sorri, parando na minha frente. — E
você sabe, eu gosto de me sentir especial — ela diz, o
sorriso nos lábios revelando uma diversão insana.
Engulo seco, levantando uma sobrancelha, seja lá
o que aquela cadela tenha pensado, não me cheira
bem.
— Ouça, Hailey, se me soltar, eu prometo não te
fazer sofrer, te dou uma morte rápida, ok?! — negocio
com ela, mas aquela desgraçada não parecia estar
disposta a ceder.
Ela morde os lábios, sorrindo sedutoramente,
inclinando-se e se apoiando nas minhas coxas. O calor
do seu corpo se aproxima do meu e eu consigo sentir
sua respiração batendo contra minha boca. A
proximidade é intoxicante e ameaçadora ao mesmo
tempo.
— Sabe, Dimi… na antiguidade, alguns soldados
romanos utilizavam uma técnica de tortura, muito
interessante… — Ela chega mais perto, fazendo-me
travar a mandíbula, o cheiro malditamente gostoso
invadindo minhas narinas. — Eles usavam o segundo
instinto mais forte do homem ao seu favor. — Sua voz
é sensual, sombria e insanamente sexy.
Engulo seco, sentindo meu corpo traidor começar
a esquentar, aqueles malditos olhos azuis são
hipnotizantes. Tento desviar, mas sua mão pega
minhas bochechas, apertando as unhas e me
obrigando a manter o olhar nela.
— Vamos fazer uma espécie de tease and denial [7]
e ver até onde você aguenta sem enlouquecer —
esclarece sorrindo, antes de aplicar uma lambida
venenosa na minha boca.
Desgraçada! Ela queria me provocar e me deixar
na mão. Conhecia aquela porra, já tinha feito algumas
práticas do mundo BDSM, mas aquilo não era para me
dar prazer.
Hailey usaria aquela merda como uma forma de
me torturar!
— Se acha que meu pau vai ficar duro por uma
puta como você, pode tirar seu cavalinho da chuva —
debocho, rindo sarcasticamente.
Ela faz um bico, como se eu a tivesse ofendido,
mas é uma reação completamente falsa, calculada.
Engulo seco quando vejo seus olhos flamejarem,
captando minhas palavras como um desafio. Minha
boca abre quando ela senta de uma vez no meu colo,
plantando aquela bunda de cadela maligna bem em
cima do meu pau.
— Bom, então vou ter que me esforçar bastante
— pontua ironicamente.
Travo a mandíbula, sentindo todo meu corpo
eletrizar, a onda escaldante de excitação se agita por
debaixo da minha pele, o sangue ferve em minhas
veias, eu respiro rápido e ruidosamente de forma
quase animalesca.
— Sabe, Dimi… eu gostei muito quando você
chupou minha boceta — ela comenta lambendo os
lábios e ranjo os dentes, lutando contra a fodida onda
de desejo que quer me engolir e contra as imagens de
sua boceta, molhada e depilada na minha língua.
Porra!
Nem pense em ficar duro, caralho!
— Você… pode… desistir — provoco por entre os
dentes travados. — Não… vai rolar, cadela — afirmo
rindo, porém sem nenhum pingo de certeza.
Eu ofego com força quando a desgraçada rebola
em meu colo, fazendo-me sentir o calor das suas
coxas e a maciez da sua bunda, a luxúria é como uma
poça ardente em minhas veias.
Pense em outra coisa, porra! Fecho os olhos com
força.
Velhos!
Burocracia!
A maldita irmã Agnes!
Qualquer coisa que não seja…
— Foi tão gostoso gozar na sua língua… — A voz
de Hailey é como o demônio, sussurrando, espancado
a sanidade da minha mente. — Eu estava tão
molhada, Dimi… você se lembra do meu gosto?
Filha da puta! Cadela demoníaca!
O sangue ferve em minhas veias com a porra das
imagens dela gozando na minha língua, gemendo
gostoso, enquanto minhas mãos amassavam a carne
macia da sua bunda. E como o fodido Adão que tinha
como sua única fraqueza Eva, meu pau incha, ficando
fodidamente duro, rígido como uma pedra,
pressionado contra a bunda daquela cadela safada.
Encaro o rosto triunfante dela.
Hailey sorri como a própria Alerquina, seus olhos
azuis-turquesa brilhando com a satisfação de esfregar
na minha cara o quanto eu estava fodido. Ela rebola
na minha ereção e eu ranjo os dentes, contendo o
grunhido de prazer que quer escapar.
— Parece que você já está pronto para brincar,
Dimi.

Trinco a mandíbula com tanta força que os dentes


estalam, as veias do meu pescoço saltam insufladas e
os músculos das coxas tão contraídos que tenho
certeza que essa merda vai arrebentar a qualquer
momento. A porra ferve furiosamente subindo pelo
canal da uretra, a pressão em minhas bolas é dolorida
pra caralho. A parte inferior do meu abdômen
incendeia, queimando, pulsando, latejando. Meu
quadril ganha vida própria, empurrando para frente
de forma automática, mesmo que eu esteja restrito
pelas cordas grossas, afundando em meu peito.
— Ahhh… ahh… sua… sua… — gemo entre
ofegos.
Quando a sensação agoniante de prazer vai se
tornando insuportável, a desgraçada, cadela maldita,
demônio de saia, tira a boca do meu pau, sugando e
fazendo um sonoro “pop’’ ao sair.
— Filha da puta! Volte aqui, sua cadela — eu
rosno agoniado.
Meu pau vai explodir!
Estou tão duro que as veias estão a ponto de
arrebentar, minhas bolas já estão azuis e eu estou no
nível de enlouquecer. A desgraçada encontrou uma
forma infinitamente mais aterrorizante de me torturar.
Hailey já tinha me asfixiado, enfiando seus peitos
grandes e deliciosos na minha boca, me obrigando a
chupar a porra de seus mamilos gostosos. Ela me
masturbou enquanto me afogava em seus seios,
levando-me ao limite do prazer, fazendo meu pau
liberar uma quantidade inacreditável de líquido pré-
ejaculatório. Minhas bolas repuxam, ela me deixou
latejando de necessidade pura e carnal. E quando eu
estou quase gozando, para tudo o que faz.
Como se me torturar com a mão não fosse o
suficiente, ela começou a me chupar com a habilidade
de uma profissional, como se aquela demônia tivesse
uma ficha com todos os meus gostos no boquete, a
desgraçada cumpriu tudo o que um homem pode
querer quando se trata de ser chupado. Lambeu-me,
sugou-me, mordeu levemente, usou a sequência
maligna de combinar língua e mãos, meu único
momento de alívio foi ver a cadela com lágrimas nos
olhos, quando tentava me levar mais fundo em sua
garganta, sufocada pelo meu tamanho, no entanto,
aquela merda mais me fodeu do que me ajudou!
Me debato na cadeira, rosnando e sentindo o pau
latejar, dolorido pra caralho, sensível como o inferno,
todo melado pela porra da sua saliva venenosa.
Hailey me olha com uma satisfação cruel e perversa,
eu podia jurar que aquela puta estava excitada por
me torturar daquela forma. Os mamilos intumescidos
e o rosto corado não mentiam.
Vagabunda sádica!
— Você está duro como uma rocha, Dimi! — ela
observa, lambendo os lábios, que certamente ainda
contém meu gosto.
Eu tremia!
De ódio.
De fúria.
De tesão acumulado.
De necessidade crua e primitiva.
Os meus músculos estão tão tensionados que
meus ossos parecem feitos de gelo. Estou suando
como um porco, o canal da uretra queima, latejando
dolorosamente e a região da pélvis pulsa. Estou
vivendo a porra do verdadeiro significado de “Blue
Balls’’ [8] .
A maldita ri da minha cara, enquanto ajusta os
peitos expostos de volta para dentro da blusa, a qual
ela mal se deu o trabalho de tirar. Tremendo dos pés à
cabeça, e podendo cortar até aço com meu pau, um
sorriso demoníaco rasga meu rosto.
— Eu vou… — ofego, tomando uma respiração —
matar você Hailey… — Sugo mais ar. — Vou foder seu
maldito cadáver quando eu sair da… Ahhh… Porra! —
grito entre dentes quando ela cai de boca em mim de
novo, engolindo meu pau e calando minhas ameaças.
Sua boca é o próprio inferno, quente, úmida e
maligna. Ela me suga, lambendo o freio da parte de
baixo da cabeça e reviro os olhos, arfando um
rosnado.
— Sua… Ohh… caralho… — Não tenho mais força
para xingar a cadela, só gemer de boca aberta,
grunhindo e me empurrando instintivamente para
dentro da boca dela. A cadeira velha chora, as pernas
arrastando no chão arenoso pelos meus impulsos
desesperados e restritos.
Ranjo os dentes e quando olho para baixo e
encontro seus olhos azuis, me encarando enquanto
sua boca se enche de mim, a excitação borbulha
pelas minhas veias e rosno sem conseguir tirar meus
olhos dela.
Cadela maldita! Por que essa puta tinha que ficar
tão linda com meu pau na boca?
— H-h… ha… Hailey… porra! Me deixa gozar… —
imploro como um fodido bastardo, mas a demônia ri
com meu pênis na boca, fazendo-me respirar
descompassadamente.
— Como você quer gozar, Dimi? — ela provoca
com a voz baixa e sensual.
Balanço a cabeça agoniado, as gotas de suor
ensopando meu cabelo, grudando-o na minha cara.
Merda, aquela vadia maldita!
— Q-q… q-qua… qualquer coisa… — Empurro o
quadril no ar, sentindo as cordas afundarem mais na
carne do meu peito. — Me chupa, senta no meu pau,
bate uma punheta! Só me deixa gozar, caralho! —
suplico, em desespero.
Você sabe que uma mulher é demoníaca quando
ela ri de um homem em um estado tão necessitado
quanto o meu. Hailey se levanta, limpando os cantos
da boca que escorriam saliva e pré-sêmen, meu
coração acelera com a sensação agoniante tomando
conta de mim. A aflição explodindo quando vejo ela se
afastando.
— Hailey! Onde você vai, porra? — chio
atormentado.
Seu olhar me mede com desejo, triunfo e
maldade. Ela parece em êxtase quando vê meu pau,
todo babado e em ponto de bala, levanta uma
sobrancelha e o sorriso maligno que toma seu rosto é
tão aterrorizante. Um arrepio toma meu corpo quando
ela se afasta caminhando para trás de mim e saindo
do meu campo de visão. Meu coração parece um trem
desgovernado, batendo tão forte que eu pude ouvi-lo.
Me debato igual um lunático e então ela volta ao
meu campo de visão, trazendo mais cordas consigo.
— Que porra é essa? O que está fazendo? — grito
rosnando.
Ela apenas sorri e termina de tirar minha cueca,
deixando-me completamente pelado, abre minhas
pernas, mesmo eu lutando contra seu agarre e as
amarrou, deixando-me com as coxas esparramadas e
uma ereção fodidamente dura. Meu pau quase batia
em meu umbigo, recusando-se a baixar uma porra de
um milímetro.
Ele se afasta como se estivesse admirando o
trabalho de me manter ainda mais restrito e
vulnerável.
— Sua cachorra safada, eu vou fazer picadinho de
você — rosno, espumando de raiva. Ela não se abala,
ajoelha-se entre minhas pernas e volta a me chupar,
gemendo em volta do meu comprimento, agitando de
novo a vontade insuportável de gozar, fazendo
minhas bolas repuxarem ainda mais doloridas.
Abro a boca gemendo, agora impedido de me
movimentar e empurrar contra sua boca, sendo
obrigado apenas a sentir todas aquelas malditas
sensações deliciosas e desesperado em antecedência
por saber que aquela maldita ia parar quando eu
estivesse quase alcançando o nirvana.
— Merda, Hailey… sua boca é… — Não consigo
concluir, grunhindo forte quando ela desce a boca, me
levando fundo, batendo a cabeça do meu pau em sua
garganta. Sinto meu saco fazendo pressão,
empurrando a porra para cima, mas no outro instante
tudo o que resta é dor, a maldita tinha parado de
novo.
— Porra! Me mata logo! Você vai fazer meu pau
explodir — confesso, sentindo a base do pênis
latejando.
Ela morde os lábios, divertindo-se com minha
agonia e meu corpo retrai, arrepiando-se inteiro
quando a vejo levar o dedo indicador à boca,
sugando-o, e deixando bem babado.
— Já te tocaram aqui, Dimi?
Meu pau contrai quando a maldita me toca
naquele lugar proibido, pressionado a ponta do dedo
delicado no lugar onde o sol não bate.
— Hailey! Porra! Não! — grito desesperado. — Se
fizer isso, eu vou até o inferno só para te matar de
novo! — ameaço em tormento.
— Qual é, Dimi? Eu te observei, sei que você fode
com garotos também — pontua, mantendo a pressão
na região, fazendo-me estremecer.
— Eu só como, porra! Eu não dou! — rujo, me
debatendo como um peixe fora d’água, fugindo
daquela mão esperta dela.
A risada maligna daquela cadela ecoa, ela dá uma
lambida de baixo para cima, sem tirar o maldito dedo
do meu rabo, aplicando uma pressão na entrada,
fazendo movimentos circulares com o indicador
devagar.
— Ohh, que bonitinho, você se guardou pra mim?
— ela zomba, mordendo os lábios.
Meus dentes rangem e eu me encontro na porra
de uma cruzada, pois a puta abre a boca, oferecendo
a língua para que eu possa esfregar meu pau, mas se
eu mover o quadril, aquele dedo dela vai chegar mais
próximo daquela área proibida.
— Você é uma maldita desgraçada… — rujo entre
dentes. — Quando eu sair daqui, é bom fugir pra bem
longe… — rosno quando sua língua rodeia a cabeça
do meu pau, que está sensível pra caralho. — Porque
eu vou… ohhh…. — Suga a cabeça de novo. — Vou
arrombar esse seu rabo magrelo e…. Ahhhh, porra! —
gemo alucinando
A maldita, em um movimento brusco, desce a
boca no meu comprimento, no mesmo tempo que seu
indicador me invade devagar, trazendo-me uma porra
de sensação tão prazerosa que meus olhos rolam para
trás das córneas. Ela me chupa com força, enquanto
seu dedo estimula algum lugar que não deveria estar
ali e que não deveria ser… tão gostoso.
— Ahhhh… porra… caralho… sua…. put… — Não
consigo completar a frase.
A enxurrada de prazer descarrila sobre minha
virilha com a pressão do furacão Katrina. Eu gozo tão
forte que meu pau treme dentro da boca dela,
jorrando porra em sua garganta e meu quadril
impulsiona para baixo, afundando mais seu dedo
perverso e malditamente gostoso, os músculos
contraindo tão forte que achei que as cordas fossem
me desmembrar.
Urro tão alto que sinto a garganta arranhar.
A filha da puta tinha me dado a gozada mais
intensa da minha vida.
Hailey retira o dedo de mim, arrancando-me um
suspiro, e me olhando com o demônio nos olhos.
Engole minha porra, lambendo meu pau sensível, e eu
ofego quando ela me limpa, sem deixar de me olhar
nos olhos.
Perversa. Destrutiva. Maligna.
E linda pra caralho!
Minhas pernas tremem, os tendões doloridos pelo
esforço e contração muscular. Estou ensopado de
suor, meu saco dolorido por segurar a porra, meus
olhos cravados nos dela, minha respiração
descompassada. Não conseguia parar de olhar o
quanto aquela demônia ficava linda com minha porra
melando seu queixo, o rosto corado, o azul dos olhos
dela incendiando, fervendo.
Meu coração palpita, sentindo como se eu
estivesse sendo queimado vivo pelo seu olhar. Eu não
conseguia ignorar. Apesar de todo o ódio e do que ela
representava, Hailey era extraordinária. Seus olhos
brilham com uma intensidade que me prende, como
se pudesse ver através da minha alma. Esmiuço cada
detalhe dela, os lábios inchados e brilhantes, os
cabelos ligeiramente bagunçados, o suor tornando os
fios da raiz mais escuros, fazendo seu cabelo parecer
mais vivo, mais perigoso e, de alguma forma, mais
atraente. Meu coração palpita no peito e por um
momento o ar parece ter se esvaído, eu me sentia
com 6 anos de novo.
Vendo-a pela primeira vez. E pensando que Deus
tinha me mandado um anjo.
Hailey levanta abruptamente, apoiando-se nas
minhas coxas, mas quando sua boca roça na minha, o
som cortante de tiros ecoa no celeiro, trazendo-nos
de volta à realidade de forma brutal.
“Se preparando para o dia que você nascerá novamente
Passe um tempo sozinho
Entenda que em breve você estará com pessoas melhores
Sozinho novamente’’
Chamber of Reflection – Your Anxiety Buddy

16 anos
Atenção: esse capítulo contém cenas gráficas de
abuso sexual e estupro, por favor priorize sua
saúde mental, caso seja um gatilho para você
não prossiga!

Minha cabeça estava pesada, como se estivesse


submersa em água, cada pensamento lutando para
emergir da escuridão. Então, como um filme antigo
projetado em uma tela distante, uma lembrança de
infância tomou forma, nítida e familiar. Eu tinha 13
anos de novo:
“Meus braços tremeram um pouco, quando a
sacola pesada foi depositada em minhas mãos, o
cheiro doce de canela e passas fez meu estômago
roncar, olhei para cima sorrindo animadamente:
— Obrigada pelas sobras, Senhor Kovisk —
agradeci, com a voz suave.
O velho homem sorriu, ajeitando o bigode com
um toque orgulhoso.
— Não há de que, criança. — Ele suspirou alto,
como se quisesse me lembrar de algo importante. — E
diga àquele pirralho que eu o perdoo pela dor de
cabeça. Que ele venha varrer as folhas na sexta-feira,
ok?
Mordi meus lábios, assentindo com a cabeça
devagar. Dimitri tinha se metido em encrenca desde
que roubara a floricultura do outro lado da rua e o
senhor Kovisk parou de chamá-lo para varrer as folhas
da frente da sua loja. Me afastei levando a sacola
pesada, acenei com uma mão pela última vez.
— Eu digo, obrigada mais uma vez e Feliz Natal!
— murmurei, antes de me afastar com a sacola quase
pesando mais que eu.
— Vá com cuidado, criança — ele desejou, antes
de entrar de volta para sua loja.
Andei rápido pela calçada, o frio de dezembro
cortando meu rosto, mas meu coração estava
aquecido pela generosidade daquele gesto. Quando
virei a esquina, o sorriso já alargando meu rosto, vi
Dimitri.
Ele estava parado em frente a uma loja de
televisores, completamente alheio a tudo ao redor, os
olhos fixos na tela dentro da vitrine. Revirei os olhos
com um suspiro, achando que ele estava apenas
perdido em mais uma de suas ideias mirabolantes.
— O que você está fazendo parado aí? Vamos
logo… — Minha voz parou quando meus olhos
seguiram os dele até a TV. — Uau…
Na tela, um carro conversível vermelho e
brilhante passava por uma estrada ensolarada, a
propaganda exibindo cada detalhe luxuoso. Era
diferente de qualquer coisa que já tínhamos visto, um
símbolo de liberdade que nós, dois jovens sem rumo,
jamais imaginaríamos ter.
— Um dia teremos um carro como esse, Hay —
Dimitri disse, sem desviar os olhos da tela, a voz
baixa e cheia de certeza.
Eu ri, achando a ideia absurda, mas parte de mim
queria acreditar nele.
— Ah é? — zombei, me virando para encará-lo. —
E quem vai dirigir?
Ele finalmente me olhou, o brilho de desafio e
brincadeira nos olhos.
— Eu vou, claro.
— Nem pensar! — retruquei, empurrando a sacola
para ele, fingindo uma indignação que era mais
divertida que séria. — Eu vou te ensinar a dirigir,
Dimitri. E você vai prometer que vai deixar!
Dimitri me olhou por um segundo, e então, com
um sorriso despreocupado, ele levantou a mão,
estendendo o dedo mindinho.
— Prometo.
E ali selamos mais um dos milhares de adendos
ao nosso pacto principal.’’
Acordei em súbito, abrindo os olhos e respirando
ofegante, minha cabeça girou, a visão foi clareando
aos poucos, meus músculos reclamaram, doloridos,
como se eu tivesse sido quebrada ao meio. Com a
visão ainda meio turva, tentei puxar os braços, mas
encontrei resistência, eu ainda estava acorrentada, no
mesmo maldito lugar onde Paul e Kate me torturaram.
Baixei os olhos, vendo que havia suturas nos cortes
que tinham na barriga, eu ainda estava de sutiã e
calcinha, as coxas pegajosas, porém não havia mais
todo aquele sangue, como se alguém tivesse me
limpado e costurado meus ferimentos.
Minha boca estava seca, minha cabeça latejava
furiosamente, eu não conseguia entender porque eu
ainda estava acorrentada. Passado alguns segundos a
porta se abriu e de lá entrou Kate com uma garrafa de
água.
— Ohh, você acordou querida, que bom! —
pontuou, se aproximando e levando a garrafa de água
a minha boca e engoli desesperada, sentindo a
garganta queimar. — Devagar, querida, se não vai
vomitar — aconselhou com a voz suave.
Olhei para ela assustada e tentei conter o
desespero, tomando pequenos goles. Ela sorriu
satisfeita e quando acabei a garrafa, ela a afastou da
minha boca.
— E-e… eu… não… entendo… — Minha voz estava
rouca, a garganta arrebentada depois de tanto gritar
e chorar. — Eu… eu disse a palavra? — questionei
confusa.
Os olhos de Kate se encheram de satisfação e
daquela admiração calculada.
— Não, meu amor! Você foi forte, desmaiou de
dor, mas não disse! — revelou orgulhosa, enquanto
acariciava meu rosto.
Franzi o cenho, completamente perdida.
— Então… porque… porque…
— Você foi incrível, querida, e já está pronta para
o seu último teste — ela me interrompeu.
Arregalei os olhos, eu estava completamente
exausta, meu corpo não suportava mais nenhuma dor.
As lágrimas vieram como uma avalanche,
preenchendo minha visão e a deixando turva.
— P-p… po… por favor, Kate… eu não quero mais
fazer isso — implorei entre soluços.
Ela sorriu complacente, ou sei lá que merda era
aquela no rosto falso dela e acariciou minha
bochecha, beijando minha testa.
— Esse será o último teste querida, se vencer
isso… — Pegou meu queixo, olhando-me nos olhos. —
Nada nunca será capaz de machucá-la — ela
prometeu se afastando e me debati, sentindo meu
corpo chorar pela dor e pela pressão dos pontos na
minha barriga.
— Por favor… me deixem ir… eu… por favor —
roguei, chorando copiosamente.
Ela saiu da sala por um momento e quando
voltou, o pânico tomou conta de mim. Ao seu lado
tinha um garoto e ele fitava o chão, remexendo nos
dedos nervosamente. A vergonha me dominou, eu me
senti o pior ser humano do mundo e me encolhi
tentando me esconder.
— Nós mulheres temos uma coisinha chata que
nos impede de atingir nosso potencial máximo — Kate
explicou, mexendo em uma das gavetas. — A sedução
pode ser uma arma poderosa no nosso ramo, querida,
eu mesma já a utilizei várias vezes. Por isso
precisamos tirar essa… ahh… hum… essa… barreira
do caminho! — pontuou de maneira casual.
Meu coração batia tão forte que achei que fosse
explodir, meu choro era compulsivo e balancei a
cabeça freneticamente.
Não!
Não!
Ela não podia fazer isso!
— P-po… p-po… — Funguei, soluçando. — Por
favor, Kate… N-n… não faça isso — eu implorei,
chorando de forma compulsiva.
Ela suspirou e balançou a cabeça, como se
estivesse sem paciência, então se aproximou do
garoto com algo na mão e bateu no ombro dele com
aquele sorriso manipulador.
— Não se preocupe, querida, eu cuidei de tudo,
será algo bom para você! — afirmou convicta. — Nós
até chamamos James, ele é filho adotivo dos Peterson,
lembra-se deles? — Eu me lembrava. Eram agentes da
CIA como Kate e Paul.
Engoli o soluço sentindo as lágrimas queimarem,
meu corpo tremia, de medo, de pânico, de desespero
puro. Ela acariciou o cabelo do garoto, que se
encolheu, evitando olhar para mim a todo custo.
— Ele é muito forte e bonito. — Ela olhou para
mim, sorrindo maliciosamente. — Cabelos escuros,
olhos azuis, como sei que você gosta.
Minha boca abriu em choque, ela estava se
referindo a ele… ao único garoto que amei… Dimitri.
— E tem praticamente a sua idade, faremos isso
bom para ambos… quantos anos você tem, querido?
— perguntou, acariciando a bochecha dele.
— D-d… de… dezoito — ele respondeu
gaguejando. Kate sorriu, balançando a cabeça
positivamente.
— Perfeito! Com certeza, já deve saber como
fazer uma mulher feliz. — Seu tom era malicioso,
perverso. James baixou a cabeça, as bochechas
ficando vermelhas.
— E-eu… eu… Sinto muito, senhora Evans… mas.
— Ele engoliu seco, coçando a cabeça. — É a… a
minha primeira vez também…
Os olhos de Kate se encheram com uma animação
diabólica e ela bateu palmas sorrindo.
— Isso é perfeito! — ela comemorou. — Ouviu
isso, querida? Ele é novo nisso também, mas não se
preocupe, estarei aqui para ajudar vocês.
Meu corpo tinha paralisado, eu não tinha mais
energia ou vigor para me debater, só sentir as
lágrimas grossas e dolorosas escorrendo pelo meu
rosto. Era como se eu estivesse presa dentro de mim
mesma. Agonizando, me afogando em um mar feito
de dor, desespero e angústia.
Kate se aproximou, em sua mão ela carregava
algo pequeno emborrachado, com o formato de uma
cápsula que continha um micro botão embaixo. Eu me
encolhi querendo fugir quando ela apertou o botão e
aquilo começou a vibrar. Ela sorriu como o próprio
diabo.
— P-po… p-po… por favor — implorei num fio de
voz. Mas ela apenas colocou aquele objeto dentro da
minha calcinha.
A vibração reverberou dentro de mim, fazendo
meu corpo inteiro estremecer. Eu me contorci,
sentindo as correntes quase arrancarem a pele dos
pulsos, grunhi, me remexendo, chorando mais,
gritando. Meus olhos arregalaram quando meu corpo
começou a esquentar, uma onda escaldante foi
tomando minha virilha. À medida que aquele objeto
vibrava, eu me desesperava cada vez mais, meu
corpo imundo estava respondendo aquele estimulo,
minha boceta estava ficando molhada e aquilo doía
mais do que ser torturada por 30 vezes seguidas.
Kate chamou James com a mão, que hesitante se
aproximou, ela expôs meus seios, fazendo-me gritar e
me debater ainda mais.
— Chupe os peitos dela, James — ela ordenou
com a voz rígida, ele arregalou os olhos e engoliu
seco, mas o fez, sua boca tomou meu mamilo,
sugando meu seio com calma.
Eu me debati, as sensações ficando cada vez
mais intensas. Eu me senti suja. Uma puta. Uma
fodida vagabunda. Meu corpo reagiu àquilo, fazendo
com que gemidos dolorosos escapassem da minha
garganta.
— N-n… naa… Não! Por favor, não! Parem! —
implorei, sentindo minha boceta latejar e a
lubrificação escorrer pelas minhas coxas. Por quê? Por
que aquilo estava acontecendo?
Kate acariciou meu rosto, beijando minha
bochecha molhada pelas lágrimas copiosas que ainda
escorriam.
— Shiiiu… está tudo bem, querida, isso é normal,
é prazer, é bom. Você está indo tão bem. Estou
orgulhosa de você
Socorro! Eu estava enlouquecendo, estava
quebrando, sendo despedaçada de dentro para fora.
James passou a me sugar com mais força e eu gemi
mais alto, sentindo espasmos subirem pelas minhas
coxas, fogo se acumular em minha virilha.
— Acho que já o suficiente — Kate interviu,
afastando o garoto do meu seio.
Eu voltei a respirar quando ela tirou a cápsula da
minha calcinha para em seguida descer a mesma
pelas minhas pernas. Eu não conseguia mais lutar,
não quando meu corpo dava sinais que gostava
daquilo.
Eu era detestável.
Imunda.
Suja.
Doente.
Kate virou-se para o garoto, entregando-lhe uma
camisinha e eu notei que ele parecia envergonhado
quando ela encarou sua ereção marcando na calça de
moletom.
— Sabe o que fazer, querido! — ela disse a ele,
antes de se sentar numa poltrona e pegar uma
revista.
James finalmente olhou para mim, seus olhos
receosos, envergonhados, culpa, dor e medo o
corroendo. Eu chorei mais quando o vi encapar seu
pau com o preservativo.
— Por favor… não faça isso… — supliquei com a
voz embargada.
Ele soltou um suspiro, engoliu em seco, eu vi
seus olhos marejados, mas nada disso o impediu, ele
segurou minhas pernas, apoiando-as no seu quadril, e
mirou seu membro em minha entrada.
— Devagar, garotinho! — Kate avisou, sem tirar
os olhos da revista.
James respirou fundo e me olhou com um misto
de pena e tristeza, e disse:
— Eu sinto muito… — pediu antes de se empurrar
para dentro de mim.
E ali eu quebrei!
Não havia mais nada de bom em mim, a dor de
perder a virgindade não se comparava a dor de ser
destroçada, destruída, corrompida, violada. Se existia
o lastro de algo bom em mim, foi desintegrado ali.
Meu corpo era meu pior inimigo, eu era nojenta,
obscura, imunda, insana.
Eu gritei de dor quando senti a pressão nos
pontos, quando ele estocou com mais força dentro de
mim.
— Hey, eu disse devagar! — Kate rugiu. — Vai
estourar a porra dos pontos dela.
— D-des… des… desculpe, senhora Evans, é que
é tão quente… e tão gostoso! — ele lamentou entre
dentes, diminuindo o ritmo das estocadas.
A dor foi se misturando ao prazer, as sensações
ficando mais intensas, e eu comecei a sentir aquela
onda gigantesca que me afogaria. E ali eu vi que não
havia redenção para mim, não havia inferno que me
acomodasse. Nenhum castigo seria suficiente para me
fazer pagar por aquilo.
Eu gozei.
No pau do garoto que me estuprava.
Chorando copiosamente.
James urrou quando me sentiu apertar seu pau e
convulsionar em seu colo, gozando junto comigo,
revirando os olhos como se estivesse em êxtase.
E então quando ele acabou, me olhou com os
olhos anuviados de prazer e eu… eu sorri… um sorriso
sem nenhum tipo de vida ou verdade. Me sentia morta
por dentro. Ele sorriu também, respirando
ofegantemente.
— V-vo… você gostou? — ele perguntou com um
sorriso ansioso.
Ainda chorando e sorrindo como uma psicopata,
eu assenti e fiz um movimento com a cabeça, pedindo
que ele se aproximasse. Curioso, aproximou o ouvido
da minha boca, como se quisesse me ouvir melhor.
Então, com todo ódio, nojo e desolação que
borbulhava dentro de mim, fechei os dentes em sua
orelha, massacrando a cartilagem entre meus dentes.
Os gritos dele e de Kate ecoaram, mas eu não via
nada. Não parei nem quando o sangue dele encheu
minha garganta, nem quando o membro decepado
saiu na minha boca.
Eu era o demônio e em mim não havia nenhum
pingo de piedade!
“Há algum Ás na sua manga?
Você não faz ideia de que é minha obsessão?
Sonhei com você quase todas as noites essa semana’’
Do I Wanna Know - Arctic Monkeys

Agosto 2023
Meu corpo ainda está em chamas, apenas pelo
leve toque da minha boca contra a dele, mas levanto
abruptamente, ouvindo o barulho dos tiros ecoando.
Merda! Dimitri se chacoalha na cadeira, os tiros
ficando mais intensos e mais perto.
— Hailey, me solta! Me solta agora — ele ruge,
sua raiva crescendo, mas juntamente com o
desespero.
Meu coração dispara. O tempo está se esgotando
e a adrenalina começa a correr pelas minhas veias. Eu
sabia que, se não agisse rápido, estaríamos mortos
em questão de minutos. Conhecia aquela abordagem,
sabia exatamente quem estava nos cercando. Um som
seco me faz virar o rosto e vejo a primeira cabeça
surgir na porta do celeiro. O homem vestido de preto
avança silenciosamente, mas eu não dou tempo para
ele tomar o próximo passo. Com um movimento
rápido, lanço minha faca diretamente em seu olho. O
grito dele corta o ar, ecoando entre as paredes de
madeira, enquanto ele cai, se contorcendo no chão.
Eu podia sentir o peso da escolha diante de mim.
Soltar Dimitri ou tentar resolver isso sozinha? Ele
podia ser um problema, mas também era a nossa
única chance de sobrevivermos.
— Me solta, porra! — ele grita de novo, a voz
mais urgente. — Esses desgraçados são muitos, você
não vai conseguir lidar com eles sozinha!
Outro som de passos pesados se aproximava e eu
soube que não havia mais tempo para hesitações.
Corro até ele, as mãos ainda tremendo de frustração
e da energia latente entre nós. Começo a desamarrar
suas mãos e pernas com rapidez, meu coração
batendo forte no peito.
— Isso ainda não acabou, Dimi — murmuro,
enquanto os nós dos dedos dele começam a se soltar.
— Acredite, Hailey, não está nem perto de acabar
— ele rosna de volta, a fúria evidente nos olhos. Mas
assim que suas mãos ficam livres, ele agarra o lado
da cadeira para se levantar, seus olhos queimando
com a mesma intensidade que os meus enquanto
veste a calça jeans com uma rapidez impressionante.
Outro homem invade o celeiro, a arma apontada
diretamente para mim. Não penso duas vezes, me
jogo no chão, rolando para o lado enquanto disparos
cortam o ar ao meu redor. Dimitri, agora livre, avança
contra ele como um animal, pegando a arma do
invasor e torcendo seu braço com um estalo sinistro,
dando três tiros em seu estômago, que derruba o
homem.
— Eles vão continuar vindo! — grito, tentando
manter o foco, mas tudo dentro de mim está em caos.
Mais tiros. Mais passos. Agora são muitos.
Aqueles desgraçados são da CIA, podia ver a insígnia
no uniforme, e eles nos cercaram, e o celeiro parece
uma prisão. Dimitri e eu nos olhamos, o momento de
tensão entre nós virando uma união silenciosa. Era
lutar ou morrer.
Pego a arma caída e me posiciono ao lado de
Dimitri. Ele limpa o sangue do rosto e sorri, aquele
sorriso cínico e selvagem que eu odiava.
— Vamos brincar, então — ele murmura, dando
uma olhada rápida no entorno.
Sem hesitar, corremos para o lado oposto do
celeiro, atirando contra os homens que entram. Um a
um eles caem, mas cada baixa que fazíamos parecia
atrair mais e mais deles para dentro.
O cheiro de pólvora e sangue se mistura ao ar
espesso do celeiro e meu corpo age por instinto.
Chuto a perna de um dos agentes, ele cai e
segurando-o pelas lapelas do casaco, desfiro 2 tiros
em seu peito, esguichando o sangue dele em meu
rosto e torso, enquanto Dimitri atira em outro que
tenta nos cercar pela direita.
— Vá para os fundos! — ele grita entre um
disparo e outro.
Olho na direção indicada e vejo uma pequena
chance de fuga, estreita e perigosa, mas a única que
tínhamos.
— Vai, porra! — ele ruge.
Corro em direção à porta, o som de balas
zumbindo ao meu redor. Sentia o calor da batalha, a
fúria correndo em minhas veias. Quando chego perto
da saída, olho para trás e vejo Dimitri lutando contra
dois homens, seus movimentos precisos e ferozes,
como uma máquina de matar. Ele os mata sorrindo,
fazendo questão de ter o sangue deles pintando seu
rosto.
Ele corre até onde eu estou, com uma faca de
caça e uma pistola na outra mão, e saímos correndo
do celeiro como dois animais selvagens fugindo para
a sobrevivência. Os tiros continuam zunindo ao nosso
redor, cada disparo passando perto demais. Eu sentia
o vento das balas rasgando o ar, o som dos projéteis
quebrando galhos e atingindo árvores, mas nenhum
de nós se atreve a olhar para trás.
Correr era nossa única opção.
A floresta densa se abre à nossa frente, e nossos
pés afundam na terra úmida enquanto avançamos, o
coração martelando no peito como um tambor de
guerra. Dimitri está logo atrás de mim, ambos
respirando pesadamente, mas movendo-se com
precisão. As árvores passam por nós como borrões
verdes e marrons, a adrenalina mantendo nossos
corpos em alerta máximo. Eu ouço o som dos agentes
nos seguindo, gritos distantes e o estalo de galhos
quebrando sob seus pés.
— Droga! — murmuro entre os dentes, sentindo
minha garganta arder pelo esforço. — Eles não vão
parar!
— Então corra mais rápido, porra! — Dimitri rosna
atrás de mim, a voz entrecortada pela corrida, mas
carregada com aquela fúria implacável de sempre.
Minhas pernas queimam, os pulmões imploram
por ar, mas eu continuo. Não tenho outra escolha. O
barulho dos tiros ainda ecoa atrás de nós, mas cada
segundo que passa parece nos dar uma vantagem
mínima.
É então que vejo a ponte à nossa frente. Estreita,
de madeira velha, ela se estende sobre um
desfiladeiro profundo. Uma visão que, em qualquer
outro momento, me faria hesitar, mas naquele
instante parece nossa única esperança de escapar. Eu
não tenho ideia do que havia do outro lado, mas
qualquer coisa era melhor do que os agentes da CIA
atirando em nossas costas.
— Ali! — grito, apontando para a ponte. Dimitri
vê, seus olhos afiados captando a oportunidade
Sem parar para pensar, atravessamos a ponte em
disparada. O som da madeira rangendo sob nossos
pés só serve para aumentar a tensão. Sinto o suor
escorrendo pela testa, misturado ao cheiro de terra e
medo. Meus pés quase tropeçam em uma das tábuas
soltas, mas continuo correndo.
Quando chegamos ao outro lado, viro para trás e
o vejo Dimitri já com uma faca em mãos, os olhos
fixos na estrutura.
— Que merda você vai fazer? — pergunto, ainda
tentando recuperar o fôlego.
— Impedir que eles nos sigam — ele responde
com um tom frio.
Sem hesitar, Dimitri se ajoelha e começa a cortar
as cordas da ponte com movimentos rápidos e
precisos. Eu observo com os olhos arregalados
enquanto ele trabalhava com uma eficiência fria, cada
corte enfraquecendo a estrutura.
Mais agentes aparecem no outro lado, ainda
disparando contra nós, mas a uma distância
considerável. As balas ricocheteiam nas pedras ao
nosso redor, e uma delas passa tão perto que sinto o
vento cortar minha bochecha, queimando levemente a
pele. O coração dispara, mas o pânico começa a ceder
lugar ao instinto de sobrevivência.
— Anda logo, Dimitri! — grito, vendo os homens
começarem a atravessar a ponte com pressa.
Ele dá o último golpe nas cordas e se levanta,
puxando-me para trás com força. Com um estalo
seco, as cordas da ponte se partem e, como em
câmera lenta, assisto a madeira velha começar a
ceder. A estrutura desaba sob os pés dos agentes, e
dois deles caem diretamente no desfiladeiro, seus
gritos se perdendo no vento enquanto a ponte
desmorona no abismo.
Há um silêncio por um momento. Apenas o som
da madeira quebrando lá embaixo e o eco dos gritos
que desapareciam na distância. Meus joelhos cedem
um pouco e eu solto o ar que estava segurando,
tentando absorver tudo o que tinha acabado de
acontecer.
Dimitri se vira para mim, os olhos selvagens
ainda faiscando com a adrenalina.
— Parece que seus amiguinhos não vão conseguir
te ajudar, Hailey — ele debocha. Maldito! Ele também
sabe que aqueles homens eram da CIA. E que não
estavam ali por mim. Ele joga o cabelo para trás, o
sangue dos agentes escorrendo pelo peito e pescoço,
molhando as tatuagens do peitoral.
— Vamos. — Ele me empurra bruscamente,
começando a se afastar da beira do desfiladeiro.

Nós caminhamos por um longo tempo em silêncio,


sem trocar uma única palavra, ambos ainda sentindo
o peso da perseguição e da adrenalina correndo em
nossas veias. O vento frio chicoteia nossos rostos e o
som distante de balas parece ainda ecoar na minha
mente, embora estivéssemos temporariamente fora
de perigo. Quando avistamos uma pequena casa de
campo ao longe, nossos olhares se cruzam, e ambos
ponderamos se entrar ali seria uma boa ideia.
Dimitri faz um sinal para eu ficar quieta enquanto
ele avança lentamente, circundando a casa para
verificar se havia mais alguém por perto. Eu me
encosto em uma árvore, tentando recuperar o fôlego
e lidar com a dor latejante nas pernas após a corrida
frenética. Minha blusa está encharcada de sangue,
resquício do combate, e meu cabelo grudento cai
sobre meu rosto, cobrindo parcialmente minha visão.
Quando Dimitri volta, ele faz um gesto com a
cabeça para que eu seguisse até a porta. Sem hesitar,
ele soca o vidro da porta com força, enfiando o braço
e destrancando-a por dentro. O estalo do vidro
quebrando ecoou. Solto uma respiração pesada,
aliviada por termos um abrigo temporário, mas antes
que eu possa entrar, Dimitri se vira com um
movimento rápido e me empurra contra a parede ao
lado da porta. Sua mão forte e ensanguentada,
cortada pelos cacos do vidro, envolve meu pescoço,
apertando com força. A dor me fez cerrar os dentes,
mas não posso deixar de sorrir, mesmo sufocando.
— Por que caralhos seus amiguinhos da CIA estão
tentando me matar? — ele rosna, a voz cheia de
raiva, os olhos ardendo de ódio.
Meu sorriso aumenta, mesmo com a falta de ar, e
minha mão instintivamente desce até minha coxa. Em
um movimento rápido, alcanço a faca reserva que
está presa ali e a pressiono contra o abdômen nu
dele, sentindo os músculos tensos sob a lâmina.
— Não precisa de muito pra querer te matar, Dimi
— provoco, o sorriso nos lábios transformando-se em
um misto de desafio e provocação. Ele aperta ainda
mais meu pescoço, sua fúria quase palpável, mas eu
podia sentir a hesitação. Ele sabe que eu tenho a
vantagem naquele momento.
— Não brinque comigo, Hailey, você não vai
gostar do meu tipo de diversão — ele avisa entre
dentes e a pressão em minha garganta aumenta.
— Caso… — Engasgo, lutando para falar,
pressionando mais minha faca em seu abdômen. —
Caso não tenha percebido, eles tentaram me matar
também. Então eu não faço a mínima ideia.
O silêncio entre nós fica denso, ambos
absorvendo a situação. Meu coração martela no peito,
não apenas pelo medo ou pela pressão de sua mão,
mas pela energia bruta e intensa que sempre existia
entre nós. Era uma tensão que misturava violência
com uma atração primitiva, algo que sempre rondava
nossas interações, desde a juventude. Isso nos
tornava perigosos e destrutivos um para o outro,
como dois predadores em um único círculo de morte.
Ele pisca, seu olhar fixo no meu enquanto inclina
a cabeça de lado, como se estivesse ponderando
minhas palavras. Seus olhos brilham com uma fúria
assassina, o azul intenso quase diabólico. E então
aquele sorriso canalha que eu conheço tão bem
aparece, seus dentes brancos e afiados reluzindo sob
a pouca luz.
— Parece que deixaram você sozinha comigo,
Hailey — ele murmura, aproximando o rosto
perigosamente do meu. A lâmina da minha faca
pressiona mais fundo em sua carne, mas ele não se
importa. O calor da proximidade dele me envolve,
como uma ameaça silenciosa. — Eu vou descobrir
tudo — ele continua, a voz baixa, rouca, quase um
sussurro, mas carregada de uma promessa sombria.
— E quando isso acabar, você vai pagar por cada
merda que me fez naquela porra de celeiro.
Sinto um arrepio percorrer meu corpo, mesmo
com a faca ainda pressionada contra ele, a mistura de
medo e excitação se chocando dentro de mim. Eu
deveria estar preocupada, deveria estar pensando em
uma maneira de sair dessa… mas, ao invés disso, um
sorriso sufocado se forma nos meus lábios, tanto pelo
aperto de sua mão, quanto pela intensidade da sua
presença.
— Estou ansiosa, Dimi — provoco, minha voz
baixa, quase desafiante, apesar da situação.
Ele balança a cabeça com aquele sorriso
debochado ainda no rosto, soltando meu pescoço de
repente, como se não valesse mais a pena me
prender. Meu corpo vacila ligeiramente para frente,
mas eu me recupero, respirando fundo.
Dimitri se afasta de mim com passos duros e
decididos e marcha direto para a porta da casa.
“Há partes de mim que não posso esconder
Eu tentei e tentei um milhão de vezes
Atravesse meu coração e torça para morrer
Bem-vindo ao meu lado sombrio’’
DARKSIDE - Neoni

17 anos
Elevei a cabeça, sentindo o sol aquecer minha
pele gelada. O banho de sol na penitenciária era a
única hora do dia que eu conseguia relaxar, mesmo
que por pouco tempo. Afastei as pernas no banco, me
esticando um pouco para me acomodar melhor. Levei
o cigarro à boca, tragando e soltando a fumaça
devagar, apreciando o gosto amargo que se misturava
com o cheiro da sujeira e do concreto. Desde a
primeira vez que matei na prisão, havia me tornado
ótimo nisso. Não era algo que eu buscava, mas
quando a oportunidade surgia, eu não hesitava. Matar
era bom e se tornara parte da minha rotina.
Não tinha um critério específico. Alguém me
desafiava, ou me oferecia algo interessante, e lá
estava eu, cravando minha lâmina no pescoço de
algum desgraçado, ou espancando ele até matar. A
sensação da lâmina atravessando a carne já era
quase mecânica agora, algo que eu fazia sem pensar.
Por causa dessa falta de escrúpulos, minha fama
cresceu naquele lugar, e os problemas começaram a
se afastar de mim. O que antes era um constante
estado de alerta, agora se tornava uma rotina onde
eu não precisava olhar por cima do ombro a cada
segundo. Depois que esmaguei a cabeça do falecido
Kirill, por exemplo, ninguém ousava me desafiar
abertamente.
Soltei a fumaça pesadamente, abrindo os olhos
devagar ao ouvir passos se aproximando. Revirei os
olhos, já irritado. O que quer que fosse, eu sabia que
não seria bom.
— Que merda você quer? — grunhi, sem tirar o
cigarro da boca. — Não vê que eu tô na porra do
banho de sol?
Helsink, um dos membros da Bratva, se
aproximou com a típica expressão dura. Ele era um
dos que frequentemente tentavam me puxar para o
lado deles, mas eu ainda não tinha aceitado a
proposta oficialmente. De vez em quando fazia uns
trabalhos para eles, ganhava uns favores aqui e ali.
Nada demais. Mas ele sabia que eu não era de me
comprometer com ninguém.
— Precisamos que você lide com um desgraçado
— disse ele, sua voz grave, como se a missão fosse
mais importante do que qualquer coisa.
Revirei os olhos de novo, soltando mais uma
tragada do cigarro antes de jogar o resto no chão,
esmagando-o com o pé.
— Claro que precisam. — Levantei, ajeitando o
cabelo bagunçado. — Quem é o felizardo da vez?
Helsink, como sempre, não sorriu. Sua expressão
permanecia impassível, fria como uma pedra.
— Um fodido pedófilo — ele respondeu. — Já o
pegamos, venha comigo.
Soltei um suspiro, sentindo meus punhos se
fecharem instintivamente. Já tinha lidado com muitos
tipos de desgraçados naquele inferno, mas pedófilos
eram de uma categoria especial. Com esses, a lâmina
sempre parecia cortar mais fundo, e o prazer de ver o
sangue escorrer tinha um gosto diferente. Era quase
pessoal. Sabia o que esperar: o medo no rosto deles,
as súplicas, os gritos, tudo isso me deixava em
êxtase.
— Certo — murmuro, começando a andar ao lado
de Helsink.
O caminho pelos corredores da penitenciária era
familiar, cada estalo de porta de metal, cada grito
abafado vindo das celas era parte da rotina. Os
guardas da prisão, comprados pela Bratva, faziam
vista grossa enquanto a gente resolvia "nossos
problemas".
Entramos em um corredor mais isolado, as luzes
piscando de forma irregular, projetando sombras
longas nas paredes manchadas de sujeira. O cheiro de
mofo e sangue antigo pairava no ar, como sempre.
Helsink parou em frente a uma porta de aço e deu
uma batida seca. Um dos homens de dentro abriu e
assentiu para nós, abrindo passagem.
Lá dentro, o infeliz já estava todo arrebentado,
segurado por ambos os braços por dois brutamontes,
no centro da sala. Suas mãos tremiam, o rosto
inchado e manchado de sangue seco. Devia ter
apanhado antes de eu chegar. Isso era sempre o
protocolo: estraçalhar a carne, antes de destroçar o
espírito.
Me aproximei lentamente, meus olhos fixos no
rosto dele. A sala estava silenciosa, exceto pelos
gemidos baixos que ele soltava, como se já soubesse
o que estava por vir. E ele sabia.
— Olhe só pra ele... — murmurei sorrindo,
inclinando a cabeça de lado, estudando o pedaço de
lixo humano à minha frente. — Qual é o nome desse
pedaço de bosta?
— Não importa — Helsink respondeu com desdém.
— Esse maldito estuprava garotas de 8 anos, o
maldito matou uma garotinha depois de tentar fazer
sexo anal com ela.
O desgraçado chorou mais alto, se debatendo
entre os braços dos caras que o seguravam.
— Eu não toquei nela, cara! E-e… eu juro — ele
suplicou, soluçando.
Inclinei a cabeça, a ideia doentia sendo impressa
e tatuando-se em meu cérebro, e olhei ao redor…
Um… dois… quatro… sete… oito. Oito homens
grandes e fortes estavam naquela merda de espaço
minúsculo.
Me aproximei, sorrindo como o diabo, vendo-o se
encolher. Agarrei seus cabelos grisalhos com uma
mão, obrigando-o a olhar para mim, os olhos escuros
tremendo, transbordando todo terror e pânico daquele
filho da puta.
— É isso que você gosta, seu merdinha? Comer o
cu de garotinhas? — acusei, puxando os fios de seu
cabelo com mais força, ele grunhiu de dor.
— P-po… p-po… por favor, cara, eu juro que não
toquei nela — ele implorou, a voz entrecortada por
soluços e o choro patético de um covarde.
Mal terminei de ouvir e meu punho já tinha
encontrado o caminho para a cara dele,
repetidamente. O som surdo dos socos ecoava pelo
espaço, cada impacto mais forte que o anterior. Senti
os ossos da minha mão latejarem, mas continuei,
ignorando a dor, alimentando a fúria que me
consumia.
Ele balançava a cada golpe, como um saco de
carne mole. Os dois homens ao lado seguravam
aquele pedaço de lixo, mantendo-o em pé para que eu
pudesse terminar o serviço. O sangue escorria
livremente agora, empapando seu rosto e caindo em
pingos grossos no chão sujo da cela. O nariz dele
estava torto, praticamente esmagado, o rosto inchado
e irreconhecível.
Parei por um instante, respirando com
dificuldade, o suor escorrendo pelas minhas
têmporas. Passei as costas da mão no rosto para
limpar o suor, mas só consegui me sujar com o
sangue dele, deixando uma mancha carmesim na
minha pele. Me inclinei para frente, o cheiro metálico
preenchendo o ar, misturado com o medo apodrecido
que saía dele.
— Hoje você vai provar do seu próprio veneno,
seu filho da puta! — prometi. — Abaixem a calça dele.
— NÃO! NÃO! POR FAVOR, NÃO! — ele berrou em
um tom atormentado.
Os dois homens o giraram bruscamente,
arrancando a calça de moletom dele, deixando aquele
filho da puta com a bunda magrela de fora. Meu
estômago revirou, eu sentia o asco subindo pela
minha garganta, mas o anseio de humilhar aquele
desgraçado ao máximo foi maior.
— Por favor… Me mata, por favor, me mata, cara!
— ele gritou desesperado.
Sorri com escárnio, eu não era um estuprador ou
pedófilo, mas eu era um assassino. E entendia que
não se tratava do ato sexual, e sim de subjugar, de
humilhar, de quebrar o outro ser humano. Isso
descarregava uma adrenalina alucinante que era
fodidamente viciante, então, mas do que deixá-lo em
agonia, colocar aquele desgraçado na situação de
suas vítimas doeria mais do que qualquer tipo de
tortura que eu pudesse pensar.
Engoli o asco, sentindo minha pele arrepiar, e me
posicionei atrás dele.
— Hoje seu cu vai ser arrombado por oito caras,
seu filho da puta! — cuspi, com sadismo pingando na
voz.
Helsink, encostado na parede, olhava com seus
olhos frios, impassível, e apenas me jogou um
preservativo, enquanto o cara gritava com tanta força
que a garganta parecia explodir. Se debatendo
fortemente, tentando a todo custo fugir da sua
penitência.
Abaixei minha calça de moletom, trincando os
dentes, e comecei a bater uma punheta com força,
obrigando meu pau a ficar duro. Aquela merda não me
excitava de forma nenhuma, então tive que me
esforçar pra caralho, conseguindo o resultado única e
exclusivamente pelo estímulo.
— POR FAVOR, CARA, ME MATA! POR FAVOR! — ele
gritou, implorando mais uma vez.
Deslizei o látex pelo meu comprimento, sentindo
o suor frio escorrer pela minha testa, meus dentes
trincaram e eu tentei não olhar muito para aquele
rabo magrelo dele e arriscar brochar. Cuspi no meu
pau e no cu do maldito. E me ajeitei.
— Você se fodeu por eu ser o primeiro —
escarneci rindo. — Meu pau é o maior de todos os que
estão aqui.
O coro de risadas sádicas reverberou no ar.
Soltando o ar entredentes, eu me forcei para dentro e
o grito dele era de puro terror, de pânico, de agonia.
E foi ali.
Que perdi minha virgindade.
Fodendo o rabo de um pedófilo!
Não por prazer.
Não por tesão.
Não por… amor. Única e exclusivamente por pura
maldade, por ser sádico, por ser sujo, por ser imoral e
demoníaco.
“ Você nunca conhecerá o psicopata sentado ao seu lado
Você nunca conhecerá o assassino sentado ao seu lado’’
Heathens - Twenty One Pilots

Agosto 2023
Abro as gavetas, uma a uma, cada vez mais
desesperado. Minhas mãos manchadas de sangue
deixam marcas na madeira clara dos armários. Tem
que haver alguma coisa ali. Enfio a mão no fundo de
mais uma gaveta, tateando com força.
Merda! Nada.
Subo as escadas de dois em dois degraus, o
coração batendo forte, minha paciência indo para o
caralho. Quem diabos mora naquela casa? O quarto
está tão imaculado quanto o resto do lugar, quase dá
para sentir o cheiro de limpeza irritante. Reviro mais
gavetas, jogando roupas para todos os lados.
Sem vodka.
Sem a porra de um cigarro!
Que tipo de gente era aquela?
— Além de invadir a casa, vai roubar também? —
A voz de Hailey ressoa como um maldito eco que eu
preferia ignorar. Cada palavra dela me provoca, mas
não olho para trás. Continuo abrindo e fechando os
armários, minha mente fervendo, o sangue ainda
quente depois de tudo o que tinha acontecido.
A adrenalina ainda corre nas minhas veias, e a
última coisa que eu preciso é ouvir a maldita voz
dela. Mas lá está ela, me lembrando de quem eu era,
de quem nós dois éramos e principalmente de quem
nós já… fomos.
— Roubar? — murmuro, ainda mexendo nas
gavetas. — Se isso aqui fosse uma casa de verdade,
com um mínimo de decência, teria algo pra beber ou
fumar. Que tipo de gente vive assim? — O sarcasmo
na minha voz é palpável, mas não consigo esconder a
irritação.
Ela não responde, mas eu sinto sua presença
mais perto. Cada célula do meu corpo sabe quando
Hailey está por perto, como se a tensão no ar
aumentasse com ela. Continuo mexendo nas coisas,
sem querer dar a ela o prazer de ver que está me
tirando do sério.
— Não sei… quem sabe pessoas que não passam
o tempo fugindo de agentes da CIA — ela diz, sua voz
baixa e cheia de uma calma provocante. — Quem
sabe tendo uma vida... normal. Você ainda se lembra
o que é isso, Dimi?
Fecho a gaveta com força e, finalmente, me viro
para encará-la. Hailey está encostada na porta, com
os braços cruzados, com um olhar indecifrável. Não
há medo, nem ódio. Apenas... provocação. Sempre
aquela merda de provocação.
— Foda-se o normal — murmuro, olhando ao
redor. — Só quero uma maldita vodka.
Ela descruza os braços, caminhando devagar até
mim. Cada passo dela parece diminuir o espaço,
calculado. Seu olhar está fixo em mim, e eu sinto a
tensão no ar aumentar. Para a poucos passos à minha
frente e eu posso sentir o maldito cheiro dela,
misturado ao sangue e ao suor que ainda estão nela,
o mesmo que eu sentia na minha própria pele. Ambos
sujos, ambos fodidos.
Respiro fundo, lutando contra o desejo de
explodir. Não há sentido em fingir que aquilo ia
acabar bem. Hailey e eu éramos uma bomba prestes a
explodir, e cada momento juntos era uma contagem
regressiva.
— Você é patético — ela escarnece, com prazer
cintilando em seus olhos.
Eu rio maldosamente.
— E você é uma cadela traidora, agora sai da
minha frente — falo empurrando seu ombro e
passando por ela, indo até o baú perto da cama.
A sensação de sua presença atrás de mim é
sufocante pra caralho, mas eu não podia me dar ao
luxo de olhar para ela agora. Abrindo a tampa do baú,
meus dedos tateiam o interior, procurando por
qualquer coisa que pudesse me dar alívio.
— É assim você resolve seus problemas, não é,
Dimi? Fugindo sempre. Das merdas que faz e se
afogando em vodka, cigarro e putas — ela diz, a voz
pingando sarcasmo, mas ainda carregada de um
desafio.
— Sabe como é, eu sei aproveitar bem a vida!
Mas, não sou tão canalha a ponto de abandonar ou
trair alguém — respondo irônico, sem me virar.
Continuo procurando no quarto, frustrado, quando
meus dedos roçam em algo sólido no fundo do baú.
Um sentimento de expectativa cresce dentro de mim.
Com um puxão rápido, revelando uma pequena
coleção de objetos empoeirados, mas, no meio
daquelas tralhas, algo se destaca.
Lá está ela: uma linda garrafa de conhaque,
parcialmente coberta de poeira, mas claramente
intacta. O vidro reflete a luz que entra pela janela, e a
presença dela é como um farol em meio à escuridão.
A garrafa parece uma resposta para a porra das
minhas preces silenciosas.
— Porra! É isso aí — comemoro, segurando a
garrafa acima da cabeça, como se fosse um troféu
conquistado em batalha.
Hailey revira os olhos, mas não consegue
esconder a incredulidade. Arranco a rolha da garrafa e
a ergo como se oferecesse a ela.
— A sua morte — brindo, engolindo vários goles.
— Que se depender de mim, será em breve.
Ela não diz nada, apenas observa enquanto eu
tomo mais e mais goles, tentando entorpecer a
mente, esquecer o quanto ela me desestabiliza. Cada
vez que eu olho para ela, cada sorriso sarcástico ou
desafio lançado, uma parte de mim se ergue, era
como se cutucasse a vida que eu tinha tentado
enterrar. E aquela porra de quase beijo? Merda, aquilo
havia sido perigoso, aquelas emoções nebulosas e
insanas demais se agitaram de uma maneira
fodidamente preocupante.
— Você é mais idiota do que imaginei — insulta-
me, antes de sair pela porta.
— E você, a puta safada que gosta de abusar de
homens indefesos. — O sarcasmo escapa dos meus
lábios sem que eu quisesse.
Assistindo-a partir da porta, percebo que,
enquanto ela se afasta, a decisão que eu preciso
tomar se torna cada vez mais clara. Aquela merda
precisa acabar, e eu tenho que fazer isso rápido. Se
não o fizesse, Hailey levará a última gota da minha
sanidade.
Ela me desestabiliza, mais do que eu queria
admitir. Eu preciso mergulhar de cabeça na escuridão
que eu conheço. O problema era que a cada momento
que passo perto dela, aquela merda se torna mais
difícil.
“Me encontra em todo mundo
Procura e me destrincha a fundo
Me diz qual amor não é confuso
Minado, inseguro’’
Sagrado Profano - Luiza Sonza

Agosto de 2023
Inclino mais a cabeça, sentindo a cachoeira de
água caindo sobre minha testa, ensopando meus
cabelos. A água morna escorre pela blusa preta de
alças finas, encharcando o tecido, e meus músculos
retesados vão relaxando à medida que a água me
lava e leva o sangue impregnado em meus cabelos.
Que caralhos estava acontecendo? Por que estavam
tentando me matar?
Só podia ser culpa daquele desgraçado,
certamente os homens de Charlie devem ter me
confundido com alguma puta que Dimitri estava
comendo. Expulsei o ar lentamente, os planos haviam
mudado, eu devia tê-lo matado assim que o droguei e
o levei para o celeiro, mas brincar com ele daquela
forma acendeu algo adormecido em mim, o prazer
que senti ao tê-lo gozando em minha boca foi
aterrador, intenso, perigoso.
A porta do box se abre bruscamente e de lá entra
Dimitri, vestindo somente com o jeans preto, e seu
abdômen totalmente nu, adornado apenas pelas
tatuagens, deixa-me boquiaberta por alguns
instantes. Pisco os olhos, forçando-me de volta para a
realidade.
— Que merda está fazendo? — rosno para ele,
que apenas dá de ombros e liga o outro chuveiro do
outro lado.
— Tomando banho! Preciso tirar o sangue desses
putos da minha cara! — ele responde simplesmente,
antes de mergulhar o rosto no jato de água, molhando
os cabelos escuros.
Ranjo os dentes, bufando e revirando os olhos. O
chuveiro é duplo, então cada um podia tomar seu
próprio banho, mas aquela merda é perigosa, meu
corpo traidor já começava a acender apenas com a
premissa desse filho da puta todo molhado e perto de
mim. Solto o ar, fecho os olhos, apertando punhos, e
me mantenho de costas, colocando a atenção na água
caindo pelo meu corpo, mas o barulho do jeans de
Dimitri ficando ensopado não me deixava me
concentrar, fora que a posição que eu estava me
tornava extremamente vulnerável. Ficar de costas
vestindo apenas uma blusa fina e calcinha perto do
meu inimigo, não era nada inteligente. Estava com a
retaguarda descoberta… literalmente!
— Por que você toma banho de roupa? — Sua voz
soa zombeteira, e eu ouço quando abre o zíper da
calça, possivelmente lavando seu pau.
— Não é da porra da sua conta! — retruco
enraivecida, sem abrir os olhos, sem me mover.
Instantes depois minhas costas são pressionadas
contra seu peito largo e meu corpo incendeia,
formigando desde os dedinhos dos pés até o último
fio de cabelo. Dimitri me cobre com seu tamanho,
apenas tocando nossos corpos, eu posso ouvir sua
respiração ficando descompassada, meu coração
acelera, mantenho os punhos fortemente fechados e
tento manter a respiração natural.
— Quando essa merda acabar… eu vou adorar
matar você — ele ameaça, sua voz estava rouca e
grave, reverberando dentro de mim, queimando em
minhas entranhas.
Ele cola mais nossos corpos, eu sinto seu pau
duro acomodando-se entre as bandas da minha bunda
e minha boceta contrai, meu ventre é inundado por
uma onda escaldante e eu mordo meus lábios,
contendo o gemido atrevido que quer escapar.
— Quando essa merda acabar, eu vou te matar
bem devagar, garantindo que você sinta muita dor —
retruco sua ameaça, quase rosnando.
O desgraçado ri alto, o som é delicioso, rouco,
grave e perigosamente sedutor. Dimitri pressiona
ainda mais seu pau em minha bunda, como se
quisesse reivindicar espaço entre minhas nádegas, e
minha boceta encharca, pulsando dolorosamente. A
tentativa de controlar minha respiração já era inútil e
falha, e sentir seu peito musculoso ondulando em
minhas costas era totalmente desconcertante, faz-me
queimar, arder de desejo.
— Sabe o que eu faria com você, sua cadela
maldita? — ele pergunta sadicamente.
— Diga, seu cuzão covarde! — exijo rosnando.
Sua mão grande se encaixa no meu pescoço, me
puxando mais para trás até que não exista espaço
nem para a água do chuveiro correr entre nós. Sua
boca malditamente deliciosa desce até minha orelha e
seu pau é engolido pelas bandas da minha bunda,
impedido apenas pelo tecido fino da calcinha e a
barreira do seu jeans de me alcançar completamente,
ainda assim disparando descargas elétricas de prazer
em minha boceta, fazendo-me latejar.
— Primeiro eu estrangularia esse seu pescocinho
magrelo. — Sua mão aplica pressão contra minha
garganta, o que é suficiente apenas para me fazer
queimar de tesão. — Até ver essa sua cara de puta
traidora ficando roxa. — Sua voz é minha queda.
Minha boceta dói, meu clitóris pulsa, minhas
dobras ficam tão ensopadas que eu podia sentir-me
escorrendo pelas coxas. O pau de Dimitri pulsa contra
minha bunda e eu podia estar alucinando pelo tesão
furioso, mas podia jurar o senti se esfregar entre
minha bunda.
— E depois? Iria me fazer carinho e me pôr para
dormir de conchinha com você? Você é uma piada,
Dimi! — caçoo, as palavras saindo com dificuldade
pela sua mão cortando meu ar.
Eu podia sentir o sorriso canalha dele em meus
ouvidos, sua outra mão atrevida agarra meu seio
esquerdo, amassando-o entre os dedos por cima da
blusa encharcada. Seu quadril não era mais discreto,
empurrando-se entre minha bunda, esfregando seu
pau entre as bandas, fazendo-me sentir o quão duro
ele estava, o quanto seu comprimento era rígido.
— Depois eu cortaria essa língua venenosa. —
Sua cabeça desce e ele morde com força na junção
entre meu ombro e pescoço, e um gemido de dor
misturado com prazer escapa da minha boca, fazendo
sua mão apertar mais minha garganta. — Assim você
nunca mais ia contar a suas malditas mentiras.
Caralho! Puto desgraçado.
Jogo minha mão para trás, agarrando sua bunda
por cima do jeans, puxando-o para frente,
incentivando-o a pressionar mais seu pau contra o
meu traseiro e minhas unhas fincam tão forte em sua
pele, que mesmo contra o jeans, eu sabia que estava
machucando-o. E por algum motivo eu sabia que ele
gostava, assim como eu gostava pra caralho de sua
mão amassando meu peito, estapeando minha pele,
fazendo-me arder. Rebolo gostoso contra sua ereção,
o gemido rouco e seu rosnado reverberando nas
paredes.
— É com essas…. — tento puxar o ar para
concluir as palavras — ameaças de merda que você é
considerado o pior torturador da Rússia? — Tento rir,
mas sua mão aperta mais, impedindo o ar de subir
pela minha traqueia.
Sua mão adentra bruscamente pelo decote da
blusa e ele belisca meu mamilo com força, fazendo a
pele sensível queimar.
— Você é uma cadela do mal, Hailey, eu não vejo
a hora de te matar! — ele rosna as palavras no meu
ouvido e coloco a minha outra mão para trás, entre
nós, enfiando-me em seu jeans, e aperto seu pau
entre meus dedos, arrancando um grunhido dele. Sua
mão, que estava em meu peito, aperta o bico,
torcendo-o entre os dedos sem dó, enquanto eu cravo
as unhas no eixo comprido e cheio de veias.
Eu sabia que deveríamos parar! Quanto mais dor
eu provocasse nele ou ele em mim, mas competitivo
seríamos, o que era uma merda! Já que nós
amávamos a dor, ela fazia parte de nós, ela era o
combustível que nos alimentava, era ela que nos fazia
alcançar o ápice e transcender em lugares
inimagináveis. Meu grito é sufocado pela sua mão
quando Dimitri larga meu peito e a desceu, enfiando-a
na minha calcinha, seus dedos longos se afundando
entre minhas dobras. Aperto mais as minhas unhas
contra a sua bunda e seu pau, arrancando um rosnado
dele.
— Sua puta desgraçada! Estou te estrangulando e
você está com essa boceta toda molhada — ele
observou entre dentes, mas sua voz contém uma
pitada sádica de orgulho. — Vadia maldita!
— Seu pau está pulsando contra minha mão, isso
significa que você também é uma vadia? — Minha voz
sai entrecortada, tanto pela respiração ofegante,
quanto pela privação de oxigênio.
Seu rosnado troveja alto, balançando tudo dentro
de mim. Em instantes, Dimitri tinha se afastado
apenas o suficiente para abaixar suas calças e rasgar
a minha calcinha e ele me gira rápido, pressionando
meu corpo contra o vidro do boxe, prendendo-me
entre o vidro e seu corpo forte, e esfrega-se contra
mim, moendo meus peitos e rosto contra o vidro.
Meus olhos reviram e eu gemo como uma cadela
quando seus dedos circulam meu quadril e alcançam
minha boceta.
Seus dedos me fodem com força, enquanto seu
pau mela minha bunda inteira, ele o acomoda entre
minhas nádegas e se empurra entre elas, usando as
bandas para se punhetar. Sua mão livre pega meu
cabelo, pressionando minha bochecha contra o vidro
gelado.
— Vou te foder de costas! Não quero olhar para
essa sua cara de vagabunda — ele rosna entre
gemidos e seus dedos giram dentro de mim, entrando
e saindo com mais afinco da minha boceta ensopada.
— Faça isso! Eu não quero ter que olhar para essa
sua cara de covarde bastardo — retruco com a voz
vacilante.
Aquela merda era transcendental de tão
fodidamente prazerosa, sentir seu pau duro pulsando
entre as bandas do meu rabo, seus dedos me
fodendo, o barulho do chuveiro, o ódio misturado ao
tesão fervendo em nossas veias, tudo se tornava
combustível para o que estava por vir. Espalmo as
mãos no vidro e empino mais a bunda, recebendo o
impacto delicioso do seu quadril moendo contra o
meu. Dimitri ri e tira os dedos da minha boceta, ele
me imprensa ainda mais, usando suas mãos para abrir
minhas nádegas. Pela visão periférica, o vejo juntar
um monte de saliva em sua boca, fazendo um barulho
perverso e devasso, para em seguida cuspir
certeiramente no meu buraco apertado.
Meus olhos se arregalam e eu vislumbro o sorriso
insano e diabólico que ele me lança, e uma mão
pressiona mais meu rosto de lado contra o vidro,
enquanto a outra estimula minha boceta por trás.
— O quê? Achou que eu fosse comer sua boceta?
— Sua voz é zombeteira, sombria e deliciosamente
maldosa. — Uma vadia como você não merece, vou
foder seu cu, vou te alargar com meu pau, te empalar
como a boa puta que você é!
O queimo vivo com meu olhar, matando-o de
todas as formas que eu conhecia, mas meus olhos
vacilam, revirando nas órbitas, quando ele arrasta a
lubrificação da minha boceta para cima, afundando
dois dedos no meu rabo. Minha boca abre e eu ofego
fortemente, seus dedos não me dão trégua, entrando
e saindo do meu cu, tornando a dor mais afiada, mais
intensa e mais fodidamente deliciosa. Meu orgasmo
ameaça transbordar, mas Dimitri não o deixa vir e eu
bufo frustrada, tentando empurrá-lo, mas ele me
mantém presa, entre seu corpo e o vidro.
— Está esperando o quê? Que eu te pegue no colo
como os garotos que você come fazem? — provoco,
sorrindo devassamente.
Ele ri daquele jeito canalha e se aproxima mais,
pegando-me por trás do joelho, segurando minha
perna e abrindo-a para apoiá-la em seu antebraço, a
mão que segura minha cabeça, desce entre nós,
ajeitando seu pau no meu rabo e então rosnando
contra meu ouvido, ele se afunda dentro de mim, me
empalando com tanta força que o vidro do box chora
quando meu corpo é praticamente esmagado.
Eu grito, sentindo meu rabo arder em volta do
pau grosso dele, é uma dor filha da puta, afinal eu
nunca tinha feito sexo anal. Mas eu amo cada
segundo, a dor de ser sodomizada não se compara ao
prazer de senti-lo pulsando dentro de mim. Ofego com
força, sentindo seu peito musculoso contra minhas
costas, mesmo que o tecido encharcado da minha
blusa esteja entre nós. Seu pau está cravado tão
fundo dentro de mim, que suas bolas batem na parte
de fora da minha boceta.
— Até que… — Ele tenta dizer entre dentes e
gemidos — para uma cadela sem coração, você tem
um cu apertado!
Eu gemo rosnando. Caralho! Eu amava quando
ele falava sujo, amava quando me xingava, era
aterradoramente bom, fazia-me arder, contrai o meu
anel apertado, sugando-o mais para dentro de mim.
Ele ofega, gemendo com ódio quando o aperto ainda
mais, contraindo o máximo que conseguia. A dor
torna-se ainda maior, mas eu consigo sentir minha
boceta pulsando, o orgasmo raspando perto, a linha
tênue entre dor e prazer sendo esticada ao máximo.
— Cala essa boca e me fode, seu desgraçado! —
ordeno em meio a gemidos.
— Sua putinha gulosa! — ele chia entre dentes.
Dimitri se puxa para fora até quase sair de dentro
de mim, e então seu quadril começa um vai e vem
alucinante, me prensando contra o vidro do box. O
barulho oco de nossos corpos molhados ecoa no
banheiro, eu gemo de boca aberta, com o rosto colado
no vidro e ele me fode impetuosamente, entrando e
saindo do meu cu, alargando o caminho, abrindo
espaço, estirando-me de dentro para fora. Ele rosna e
eu gemo, urrando de prazer cada vez que sua pélvis
moi contra minha bunda e suas bolas estapeiam a
parte de fora de minha boceta. Seu braço, que segura
minha perna, mantém-me aberta, para que seu pau
continue a me sodomizar e me alcançar mais fundo,
as veias do antebraço saltam entre as tatuagens dos
braços.
— Ohhh… ahhh… Caralho, seu cuzinho tá me
esfolando, sua cadela maldita — ele geme alto,
afundando-se com mais afinco.
Eu arfo, sentindo minhas pernas bambearem, mas
Dimitri me mantém pressionada contra o vidro do box
e eu agradeço por aquele vidro ser forte o suficiente
para aguentar suas estocadas tão brutais, que
balançam meu corpo, fazendo o som animalesco
reverberar nas paredes. Eu grito, choramingando,
sentindo todo meu corpo eletrizado com a dor de ser
fodida daquele jeito. Ele abaixa a cabeça mordendo
meu ombro, cravando os dentes em mim e a dor
explode, vigorosa e intensa quando sinto seus dentes
rasgando minha carne. Meu rabo o estrangula, minha
boceta lateja e eu gozo, sentindo meu corpo inteiro
em chamas. As lágrimas vêm aos meus olhos quando
ele se esforça mais para me foder, lutando contra o
aperto mortal do meu rabo e afundando com mais
afinco, me comendo com tanta raiva que eu consigo
sentir o quanto ele me odeia em cada estocada.
— Vou encher seu cu de porra! Quero que sinta
escorrendo. — Seu quadril bate mais forte, mais duro.
— Toda vez que sentar e doer, vai se lembrar de como
eu comi seu rabo, e você gozou como a cadela
vagabunda que você é. — Ele tem dificuldade de
concluir as últimas palavras.
E então eu sinto, seu pau me enchendo, os jatos
quentes fazendo meu cu arder, preenchendo-me de
maneira tão carnal e perversa, que eu gozo uma
segunda vez, vibrando ao redor do eixo grosso dele,
gemendo e gritando de prazer, sentindo todo meu
corpo eletrizar, enquanto meu rabo suga seu pau para
dentro, como se quisesse secar cada gota de porra. E
eu alucino ouvindo-o rosnar contra meu ouvido e se
derramar, empurrando cada gota para dentro de mim.
Quando o orgasmo impetuoso nos deixa, ambos
estamos respirando como animais, o ar parecia ter
sumido, cada lufada que eu puxava parecia não ser o
suficiente. Dimitri sai de dentro de mim, e eu tenho
que me segurar no vidro para não cair. Mas quando
acho que aquele filho da puta finalmente fosse me
deixar em paz, ele curva-se atrás de mim tomando
um pouco de distância, e segura as bandas da minha
bunda, abrindo-as bruscamente a ponto de arder.
— O-q… o que está fazendo, seu idiota? —
questiono entre respirações ofegantes.
Viro meu pescoço, encarando-o, e quase tenho a
porra de uma síncope ao vê-lo com os cabelos
molhados, caindo em frente do rosto, os olhos azuis
tão escuros que ele nem parecia humano, cravados no
meu rabo. Um sorriso demoníaco rasga seu rosto.
— Force para fora — ele ordena, lambendo os
lábios.
Pisco os olhos, confusa, mas mole demais para
afastá-lo.
— Force minha porra para fora do seu cu — ele
esclarece, e eu posso sentir o sadismo pingando em
sua voz.
Engulo seco, sentindo meu rosto esquentar, a
excitação voltando com força total, como se minutos
atrás eu quase não estivesse sucumbindo por um
orgasmo eletrizante. Mordo os lábios e encarando
seus olhos brilhando de forma doentia, forço,
expulsando sua porra do meu rabo, fazendo-a deslizar
e escorrer pela minha boceta, pelas minhas coxas e
perna.
Dimitri observa o caminho completamente
extasiado, hipnotizado, o sorriso em seu rosto é
pervertido, sádico, orgulhoso e imoral. O ar parece
pesar quando nossos olhares se encontram, meu
corpo todo arrepia, meu coração bobeia tão forte que
acho que vai explodir. Ele solta minha bunda, dando
um tapa ardido antes de seguir para seu lado do
chuveiro.
Com as pernas trêmulas e a bunda ardendo, eu
sigo para meu lado, deixando a água escorrer por
minha pele, tentando resfriar meu interior que ainda
ferve. E assim ficamos, tomando banho de costas um
para o outro, não dizendo nada.
O silêncio só é quebrado pelo som do chuveiro e
de nossas respirações ofegantes, pego o sabonete,
me ensaboando, e tento ignorar toda aquela tensão
pesando o ar, fazendo minha pele queimar, e
sentimentos que eu já tinha matado, se agitarem.
— Não ache que me dar seu cu vai me fazer
mudar de ideia — Dimitri pontua ainda de costas, eu
ranjo os dentes. — Ainda vou matar você.
Eu rosno, fechando os punhos. Ignorei-o, me
concentrando na tarefa de tirar o cheiro dele da
minha pele. Mas é malditamente difícil quando ouço o
sopro de sua risada canalha.
— Talvez eu foda seu cu enquanto te mato! — ele
afirma divertidamente.
‘“Todos nós precisamos de um propósito mais profundo
Um que seja verdadeiro e ousado
A única coisa que poderia nos machucar é a maldição da desistência’’
The Curse Of The Fold - Shawn James

16 Anos
A chuva caía com uma violência torrencial, o céu
desabava sobre mim enquanto eu esperava do lado
de fora da penitenciária. Cada gota fria era um golpe,
um choque que se espalhava pela minha pele, mas eu
não me importava. Meus cabelos estavam ensopados,
grudados ao rosto, e a blusa molhada colava ao
corpo, enquanto o chão ao redor se transformava em
poças. Mas nada disso importava. Não sentia o frio, o
desconforto, a dor física. A única dor real era a que
carregava dentro de mim, um vazio que a tempestade
lá fora não podia preencher.
Essa viagem para a Rússia só me fez perceber o
quanto eu precisava vê-lo. O quanto eu precisava
olhar nos olhos de Dimitri e dizer a ele, finalmente,
tudo o que seu abandono havia me causado. Todos os
pedaços quebrados que ele deixou para trás quando
desapareceu da minha vida. Eu queria que ele
soubesse o que aconteceu comigo por ele quebrar
nosso pacto, a promessa que ele não conseguiu
cumprir.
O peso do que carregava me esmagava. Eu
estava tão anestesiada, tão machucada. E tão vazia.
E então, eu o vi.
Dimitri apareceu, atravessando o portão, seus
passos lentos, mas firmes, como se a chuva não o
afetasse. Ele estava diferente, mais endurecido, mas
ao mesmo tempo... o mesmo. A mesma presença que
sempre me desarmou. Seu rosto estava marcado por
uma escuridão impassível, pelos demônios que ele
certamente enfrentou, mas seus olhos... Aqueles
olhos. Eles ainda queimavam com a mesma
intensidade que sempre me perseguiu, como se ele
nunca tivesse saído do meu lado.
Quando nossos olhares se encontraram, eu senti
um choque. Não de frio, mas de algo muito mais forte.
Ele parou por um segundo, talvez me reconhecendo,
talvez surpreso por me ver ali, mas logo voltou a
caminhar, desta vez em minha direção. A chuva caía
entre nós como uma barreira invisível, mas eu sabia
que não era a única coisa nos separando.
Os cabelos escuros dele estavam maiores e
conforme a chuva caía, as mechas encharcadas
cobriam parcialmente seu rosto, deixando seus olhos
azuis ainda mais intensos no meio das madeixas
negras. Era como se aquele azul penetrante me
observasse por trás de um véu de sombra e água. Ele
estava diferente. Mais forte, mais alto, o corpo
esguio, mas firme. Não havia músculos exagerados.
Eu queria gritar.
Queria que ele sentisse pelo menos uma fração
da dor que eu senti por todos esses anos. Queria dizer
a ele como os Evans me destruíram, como a ausência
dele me fez cair em uma escuridão da qual eu nunca
mais consegui sair. Mas as palavras não vinham.
Ficavam presas, sufocadas no fundo da minha
garganta, enquanto o peso de tudo aquilo que eu
nunca disse me esmagava.
O único fragmento de emoção que consegui
libertar foi o que eu menos queria mostrar. As
lágrimas. Elas encheram meus olhos sem que eu
pudesse impedir, e logo começaram a escorrer,
furiosas, pelo meu rosto. Misturavam-se com a chuva,
mas eu sabia que ele podia vê-las. Que ele podia ver
o quanto eu estava destruída.
O quanto ele tinha me destruído.
Dimitri permaneceu parado, imóvel, observando-
me com aquela expressão impenetrável. Talvez ele
entendesse, ou talvez estivesse com tanta raiva
quanto eu.
Eu nunca soube.
Porque ele não disse nada.
Nem uma maldita palavra.
E eu, sufocada pela dor, pela frustração de não
conseguir expressar o caos dentro de mim, deixei que
minhas lágrimas dissessem tudo o que minha voz não
conseguia.
A dor dentro de mim se intensificava a cada
segundo, e o peso do silêncio parecia insuportável. Eu
esperava qualquer reação dele, raiva, frustração,
talvez até a mesma mágoa que me consumia. Mas, de
repente, Dimitri fez algo que me desarmou
completamente.
Ele sorriu.
Não era um sorriso caloroso, muito menos de
alívio. Era um sorriso frio, cínico, como se estivesse
zombando de mim, de tudo o que eu estava sentindo
naquele momento. De tudo o que passei. E de tudo o
que ele me causou.
Soltou o ar devagar, com desdém, como se
estivesse diante de uma piada particularmente
patética.
— Nunca mais apareça na minha frente, garota. —
Sua voz veio cortante, carregada de uma frieza
impenetrável. — Traidores não têm vez no meu
mundo.
As palavras me atingiram como um soco no
estômago, tirando o ar dos meus pulmões. Traidora.
Ele me via assim. Como se fosse eu quem tivesse
quebrado o pacto, como se todo o inferno pelo qual
passei não significasse nada.
Ele não sabia, não fazia ideia do que eu tinha
suportado por sua ausência.
Antes que eu pudesse reagir, Dimitri virou as
costas, sem hesitar, sem olhar para trás. A chuva
continuava a cair pesada, encharcando-o ainda mais,
mas ele não hesitou. Não olhou para trás. Não deu
nenhum indício de remorso ou arrependimento. Eu
fiquei ali, paralisada, as lágrimas e a chuva se
misturando no meu rosto, até não saber mais onde
começava uma e terminava a outra. Meu coração, já
tão fraturado, se despedaçava mais um pouco.
Ele não ia voltar.
E foi ali que eu fiz um juramento. Um pacto,
comigo mesma, que não haveria mais espaço para
fragilidade. Não haveria perdão para quem me
quebrou. Não haveria paz para aqueles que me
machucaram. Dimitri tinha sido o primeiro, e ele, com
certeza, estava no topo da lista.
Eu jurei vingança, e não ia parar até que cada
maldita pessoa que havia me ferido sentisse a dor
que eu carregava. Dimitri seria o primeiro. E eu sabia
que, quando a hora chegasse, ele finalmente
entenderia o que significava ser traído.
“Não há escapatória, não posso esperar
Preciso de uma dose, amor, me dê isso
Você é perigoso
Estou adorando’’
Toxic - AnnenMayKantereit

Agosto 2023
Abro o armário, o olhar deslizando com
desinteresse pelas camisas penduradas. Franzo o
cenho ao ver a abundância de camisas sociais em
azul-claro e branco. Ridículo. Aquelas cores gritam
"calma e paciência", algo limpo, algo que
definitivamente eu não sou. Passo os dedos pelas
camisas, afastando-as com desdém, cada toque me
irritando mais. Elas me lembram reuniões formais,
políticos corruptos e mauricinhos engravatados.
Caminho pelo quarto, a toalha amarrada na
cintura, com gotas de água ainda escorrendo pelo
peito e costas. O banho que devia me relaxar acabou
me deixando mais pilhado, gozar no rabo daquela
cadela não foi uma boa ideia, mas não consegui
refrear a vontade insana de me afundar na bunda
gostosa da filha da puta.
Aquela merda deveria assustá-la, era a porra de
um castigo, mas como a puta maluca que ela era, a
desgraçada gozou no meu pau, quase me esmagando
naquele cuzinho apertado pra caralho.
Porra! Não posso pensar nisso, ou vou ficar duro
de novo!
Solto o ar, voltando a procurar algo nas outras
gavetas. Eu odiava o branco. Camisa branca é coisa
de gente que não se suja. Gente que não se mete na
lama, no sangue. Odiava como o vermelho do sangue
manchava o tecido, deixando um rastro impossível de
ignorar. Eu preferia o preto. Sempre o preto. Absorvia
a sujeira, escondia os rastros. Eu poderia torturar
algum desgraçado e sair sem carregar a evidência no
peito. O preto me dava controle.
Abro mais uma gaveta, jogando roupas para o
lado, até que encontro o que queria. Uma camiseta
preta, simples. Sem frescura. Sem significado além de
sua utilidade prática. A cor da noite, da escuridão que
eu carregava comigo. Estava desgastada, mas
serviria. E seria suficiente para o que viesse a seguir.
— Incorrigível. — A voz dela corta o silêncio,
carregada com aquela nota provocante que me irrita
tão bem. Ela devia ter lido a tatuagem nas minhas
costas, algo que ninguém mais costumava fazer.
Sinto seus olhos fixos na palavra entalhada na
minha pele, e um sorriso cínico puxa meus lábios
antes mesmo de me virar para encará-la. Passo a
camisa pela cabeça, ajeitando o tecido no abdômen.
— Uma tatuagem bem conveniente pra você,
Dimi. — O sarcasmo pinga da voz dela, a provocação
presente em cada sílaba.
Ela entra, vestida com uma calça clara e uma
blusa preta de decote generoso. O tecido abraça seu
corpo de uma forma que só faz minha irritação
crescer, destacando os malditos peitos empinados
para cima, provocando ainda mais do que suas
palavras.
Desvio o olhar, rangendo os dentes, tentando
afastar qualquer distração.
— Você nunca cala a boca, não é? — pergunto,
minha voz carregada de desprezo, mas com aquele
toque de provocação familiar.
— Não! — Hailey ri, sua voz pingando de
escárnio. — Na verdade, eu adoro apontar as merdas
que você faz. — Ela sorri, aquele sorriso perverso que
parece sempre no lugar certo, sempre sabendo como
me atingir. — Mas eu não preciso, não é, Dimi? Você
as marca na pele.
A referência à minha tatuagem, "INCORRIGÍVEL",
me faz cerrar os punhos. Eu sinto o calor subir ao meu
rosto, mas me controlo, mantendo o olhar fixo no
dela. Ela sabe mexer nas feridas, cutucar os cantos
escuros que eu tento enterrar. E, naquele momento,
parece gostar ainda mais de me ver irritado.
— É, sabe, Hailey… algumas cicatrizes eu carrego
com orgulho — falo, sem perder o contato visual. —
Outras... Bom, você sabe, não são importantes, eu
aprendi a ignorar — desdenho enquanto me enfio em
uma calça jeans que está jogada na cama.
Hailey revira os olhos, o que já está se tornando
típico. Passa por mim com aquela arrogância
controlada, descendo as escadas rapidamente. Eu a
sigo, mantendo a distância, mas o desejo de explodir
a cada passo aumenta. Preciso de um telefone, algo
para entrar em contato com Vlad, explicar a situação
fodida na qual me encontro e tentar não ser morto
por Alexey no processo.
Quanto mais tempo passo com aquela cadela,
mais difícil seria convencer qualquer um de que eu
não estava envolvido com a CIA, ou com toda essa
merda que parecia me rodear. Cada segundo ao lado
dela é um risco e não só para minha vida, mas para
minha sanidade.
— Temos que sair dessa casa, os donos podem
voltar — ela diz, cruzando os braços. — Vamos até a
cidade, e depois voltar a Moscou, estar aqui é
perigoso.
Eu não consigo conter a risada sarcástica.
— Perigoso como, Hailey? Como estar preso com
uma cadela que te droga, sequestra e pratica abuso?
— cuspo ironicamente.
Seus olhos flamejam e ela se aproxima, a raiva
tomando suas expressões.
— Você não é a vítima aqui, Dimitri. Nunca foi —
afirmou venenosa
Aquela…
Solto o ar entre os dentes, cada fibra do meu
corpo tensa, e me afasto dela antes de explodir. Ando
até a sala de estar, meus olhos varrendo o local,
procurando algum meio de comunicação. Que tipo de
gente vive em uma casa no meio do nada, sem sequer
um maldito celular? Meu sangue ferve, e a irritação
sobe em ondas.
— Não tem telefone. Eu já verifiquei. — A voz de
Hailey ecoa pela sala, como se ela fosse dona da
situação, o que só servia para alimentar ainda mais a
minha fúria. — Eles também não têm carro. Teremos
que descer a colina a pé.
Antes que possa raciocinar, já a tinha presa
contra a parede, minha mão ao redor de sua
garganta. O choque nos olhos dela dura apenas um
segundo antes de ser substituído por algo mais denso,
algo que reconheci imediatamente. Fúria, sim, mas
também o maldito tesão. Eu estou perto demais,
minha respiração entrecortada misturando-se à dela,
o calor subindo entre nós. Meus dedos apertam sua
garganta com mais força e meu corpo se aproxima
ainda mais, a distância entre nós é praticamente
inexistente.
— Escuta aqui, loirinha — vocifero, minha voz
baixa e cheia de ódio, o olhar fixo no dela. — Eu não
recebo ordens de ninguém. Principalmente de uma
cadela como você. — A proximidade é quase
sufocante, mas não cedo. A raiva borbulha,
alimentada pela excitação que eu odeio admitir sentir.
— Então nós vamos fazer o que eu disser que
faremos, entendeu?
Os olhos de Hailey, agora totalmente inflamados,
não mostram medo. Mostram algo muito mais
perigoso: desafio. O mesmo maldito desafio de
sempre. E isso, mais do que qualquer outra coisa, faz
o meu sangue ferver.
— E o que… — Ela engasga quando minha mão
aperta mais. — O grande mafioso tem em mente?
Sabemos que inteligência não é muito o seu forte.
Porra! Eu queria calar aquela maldita boca dela…
Antes que eu percebesse a merda que eu estava
fazendo, meus lábios encontram os dela com uma
brutalidade carregada de raiva. Não é um beijo
comum. É uma invasão, uma maneira de sufocar todo
o veneno que ela cospe, de tomar controle da
situação e, ao mesmo tempo, ceder ao impulso mais
primitivo que borbulha dentro de mim. O gosto dela é
amargo e doce ao mesmo tempo, como um veneno
viciante. E enquanto minha mão aperta sua garganta,
meus lábios dominam os dela, como se quisesse
esmagar qualquer palavra afiada que ela ainda
pretende soltar.
Ela fica tensa no começo, resistindo, mas logo
cede. E foi aí que percebo que por mais que Hailey
seja um inferno em minha vida, ela se alimenta do
caos tanto quanto eu. Sua boca devolve o beijo com a
mesma intensidade, sua língua brigando contra a
minha, suas unhas cravando-se em meus braços. O
choque entre nós era eletrizante e insuportável,
fodido para caralho.
Quando finalmente me afasto, ambos estamos
sem fôlego. Hailey está zonza, com a respiração
irregular, os olhos semicerrados, mas ainda com
aquele maldito brilho de desafio. Eu a solto
abruptamente, deixando que o espaço entre nós se
abra novamente.
— Nós vamos descer a colina a pé — declaro, o
tom frio e autoritário e sem espaço para
questionamentos.
Hailey tem dificuldades para descer a colina, e
era evidente. Cada vez que seus pés escorregam nas
pedras molhadas ou ela tropeça, eu consigo ouvir sua
respiração se tornar mais pesada, seus passos mais
arrastados. Não a ajudo, mas também não faço
nenhuma piada ou provocação sobre aquilo.
Eu, por outro lado, mal noto o cansaço, já estou
acostumado a andar por aí. Meus passos são
calculados, precisos, guiados mais pelo instinto do
que pela mente. Naquele momento, a minha cabeça
está em outro lugar. Fumega com lembranças e,
acima de tudo, com raiva.
A porra da promessa que fiz a Hailey tantos anos
atrás, ainda ressoa em minha mente, como uma
maldita sombra que eu não conseguia apagar. Prometi
a ela que ela seria a única a me ensinar a dirigir, e
cumpri essa merda de promessa até hoje. Não que eu
não pudesse ter aprendido sozinho, mas essa era uma
dessas coisas que grudava. Algo que nem todo o
tempo, traições, abandono ou distância conseguiu
apagar.
Quando finalmente chegamos à cidade, o alívio é
tangível. Mas Hailey está exausta, isso está claro em
cada movimento pesado e na maneira como ela tenta
disfarçar o cansaço. Mas, claro, ela não vai pedir para
parar, muito menos admitir que está no limite. Hailey
nunca admitiria fraqueza na minha frente.
Avisto um bar onde eu poderia ligar para Vlad e
caminho para lá, vendo os seus pés dela
cambalearem, o que só alimenta minha raiva e a
necessidade de manter o controle da situação. Cada
passo em direção ao bar parece ecoar aquele misto
de frustração e tensão que se acumula no peito.
Hailey segue atrás de mim, seus passos arrastados, a
respiração pesada. Ela não está acostumada com essa
porra de caminhada, e isso me irrita ainda mais.
Tudo nela me irrita.
Adentro o bar e caminho direto até o balcão, sem
dar atenção aos olhares curiosos que lançam na
minha direção. Um homem barbudo, com uma camisa
de banda desgastada, me encara enquanto seca um
copo sujo com um pano ainda mais imundo.
Ele faz um leve movimento com a cabeça quando
me aproximo.
— Sou o Dimitri. Carniceiro da Bratva. — As
palavras saem cortantes, sem espaço para discussão,
meus olhos fixos nos dele.
O efeito é imediato. Ele levanta as sobrancelhas,
o rosto endurecendo enquanto seu olhar salta
nervosamente de um lado para o outro, como se
quisesse garantir que ninguém mais tivesse ouvido. A
mudança no ar é palpável. O nome “carniceiro” traz
peso, e é exatamente esse o efeito que eu quero.
— O que precisa, senhor? — ele pergunta, a voz
baixa, quase um sussurro. A postura dele, rígida,
deixa claro que o medo já havia se instalado.
— Usar seu telefone, e um maço de cigarros. —
Minha voz sai afiada, o comando claro.
Ele acena rapidamente, enfiando a mão debaixo
do balcão e puxando um maço de cigarros, jogando-o
na minha direção com uma mão trêmula. Em seguida,
aponta para um telefone velho na parede atrás dele.
Pego o maço de cigarros e, sem perder tempo,
caminho até o telefone.
Com cigarro ainda entre os lábios eu disco o
número de Vlad, sabendo que não havia muito tempo
para rodeios. A linha toca algumas vezes antes de eu
ouvir a respiração pesada do outro lado.
— Dimi? — A voz dele ecoa, baixa e carregada de
desconfiança.
— Sou eu — respondo, tentando manter a calma,
mas já sentindo a tensão no ar. — Precisamos falar. Tô
fodido, preciso de ajuda — admito, soprando a
fumaça.
— Alexey já está à sua caça — ele diz, sem
rodeios. — Ele acha que nos traiu. Os malditos da CIA
invadiram a base procurando por você, que merda
está acontecendo?
Reviro os olhos e sopro a fumaça com força,
tentando não deixar a frustração tomar conta. Apoio o
telefone no ombro e, enquanto escuto Vlad, dou uma
olhada rápida para fora do bar. Hailey está ali,
encostada na parede, parecendo a própria
personificação de todos os meus problemas. Faço uma
careta, virando de costas novamente, afastando
aquela visão irritante da minha mente.
— É complicado demais pra explicar… —
murmuro, coçando a cabeça com impaciência. — O
que você precisa saber é que não tenho nada com
esses malditos da CIA. Só me ajude, ok? Eu vou falar
com Alexey.
Vlad solta um suspiro do outro lado, claramente
hesitante.
— E você acha que ele vai ouvir? Ele já te
considera morto. Não sei se vai dar tempo de resolver
isso com palavras.
— Ele vai ter que ouvir — respondo secamente. —
Eu vou até ele e acabo com essa merda. Mas antes
disso, manda um carro. Eu tô em Sotchi.
Há mais uma pausa, e dessa vez eu pude ouvir o
som distante de Vlad puxando o fôlego, ponderando
sobre as consequências de se envolver nessa
confusão. Ele era o Sovietinik [9] mais respeitado da
Rússia, mas ainda era meu melhor amigo.
— Ok — Vlad cede, mas com um tom de cautela.
— Vou mandar um soldado com o carro pra te buscar.
Ele vai dirigir, te manter seguro até que a gente
resolva isso.
A ideia de alguém dirigindo por mim,
especialmente um dos homens de Vlad, faz meu
sangue gelar. Eu ainda cumpria a maldita promessa
que fiz a Hailey: ela seria a única a me ensinar a
dirigir. Isso não tinha mudado, e eu não precisava
explicar aquela merda a ninguém, muito menos a
Vlad.
— Não — respondo rapidamente, a voz firme. —
Eu mesmo vou dirigir.
— O quê? — Vlad soa incrédulo, como se eu
tivesse acabado de sugerir algo absurdo. — Dimi, não
é hora pra ego. Você sabe que é melhor alguém...
— Eu disse que vou dirigir — corto, sem paciência
para justificar nada. — Manda o carro, sem motorista.
Silêncio do outro lado. Ele sabe que insistir só irá
piorar a situação.
— Certo. Seu filho da puta maluco! Volte logo,
não quero ter que pedir sua cabeça.
Desligo o telefone, evitando mais uma lição de
moral, e olho de relance para Hailey do lado de fora,
ainda escorada, ainda uma maldita distração. Ainda
acendendo aquela merda dentro de mim.
Porra! Eu precisava matar aquela cadela… E
rápido.
“Enquanto o resto dos caras estava tendo sua diversão
Cara, peço licença a você, eu estava tendo a minha’’
Mississippi Queen – Mountain

Agosto 2023
Quando o sedã preto para onde estamos, eu não
consigo conter a surpresa. Ser uma agente da CIA me
permite alguns benefícios, mas nenhum deles com
tamanha rapidez. A chuva cai de leve, criando um
brilho no asfalto, enquanto Dimitri passa por mim,
soprando a fumaça do cigarro para o alto, com aquele
maldito sorriso dançando em seus lábios. Parecia que
ele estava sempre no controle, como se nada no
mundo pudesse abalar sua confiança.
A tensão entre nós parecia maior a cada segundo
que passávamos juntos, e a vontade de matá-lo
crescia dentro de mim a cada vez que ele abria a
boca. Mas eu sabia que, com a CIA na nossa cola, eu
teria que esperar. Eu não conseguiria cumprir meus
planos de tortura, por mais que quisesse, se não me
mantivesse viva para realizá-los.
Dimitri passa por mim, soprando a fumaça
propositalmente em minha cara. Ele me joga a chave
que eu quase deixo cair com o susto.
— O grande mafioso não sabe dirigir? —
escarneço, apertando o botão para destravar o carro.
Ele ri, tragando mais um pouco do cigarro.
— Seja uma cadela obediente e faça algo de útil.
— Dimitri cospe as palavras com desdém, jogando o
cigarro no chão e esmagando-o com a bota. — Eu já
consegui o carro. Não seja uma vadia preguiçosa.
A raiva sobe pela minha garganta, quase me
sufocando. Aquela maldita arrogância, aquele jeito
desprezível de me tratar como se eu fosse nada mais
do que uma ferramenta que ele podia usar e
descartar quando bem entendesse. Respiro fundo,
forçando-me a manter o controle, mas minhas mãos
tremem levemente enquanto eu me dirijo ao carro.
— Vai ser incrível… — murmuro, abrindo a porta e
entrando no banco do motorista — fazer você engolir
cada palavra dessas.
— Guarde as ameaças, Hailey, dirija e cale essa
boca venenosa — Dimitri resmunga, ajeitando-se no
banco do passageiro como se estivesse indo para um
passeio qualquer. Ele abre as pernas e cruza as mãos
atrás da cabeça, em uma posição de relaxamento que
só me faz odiá-lo ainda mais.
Eu podia sentir o sangue fervendo debaixo da
pele. Ranjo os dentes, apertando o volante com força,
inclinando a cabeça ligeiramente, tentando manter o
controle sobre o ódio crescente. Ligo o carro e o
motor ruge, quase como se respondesse à minha
raiva. Um sorriso maldoso se forma nos meus lábios
ao notar o súbito movimento de Dimitri. Ele arregala
os olhos, a pose relaxada quebrada em um instante.
— Devag… oh, porra! — Ele mal termina de falar
antes de o carro dar um tranco forte. Afundo o pé no
acelerador sem remorso.
O veículo dispara como uma bala, e Dimitri, que
segundos antes parecia tão confortável, se agarra ao
banco com as duas mãos, como um gato assustado.
Seus olhos estão arregalados, e seu corpo é jogado
para trás com a força da arrancada.
— Hailey, caralho! — ele grita, e eu não consigo
conter o riso.
A satisfação que enche meu peito ao vê-lo, pela
primeira vez, realmente surpreso, é como um alívio
para toda a tensão que havia se acumulado entre nós.
Acelero ainda mais, sentindo o carro rasgar a estrada
enquanto Dimitri tenta manter a compostura. O vento
zune pelas janelas, e o barulho dos pneus contra o
asfalto parece uma sinfonia perfeita de caos.
— O que foi, Dimi? — provoco, o sorriso
crescendo nos meus lábios. — O grande carniceiro da
Bravta tem medo de um pouquinho de velocidade?
— Sua cadela maluca do caralho! — ele grita à
medida que o carro balança, e eu rio alto.
Mantenho o pé firme no acelerador, o carro
ziguezagueando levemente nas curvas, e Dimitri se
contorcendo no banco ao meu lado. A satisfação de
vê-lo perder o controle me alimenta e, por alguns
minutos, eu me permito aproveitar aquela pequena
vitória. Estávamos presos nessa maldita dança de
ódio e vingança, e ambos sabíamos que era uma
questão de tempo até um de nós perder o controle.

Estávamos quase chegando a Moscou quando as


luzes piscantes e a aglomeração de veículos parados
chamam nossa atenção. A estrada, que até então
estava livre e silenciosa, agora parece um campo de
batalha, repleta de carros de polícia e ambulâncias
espalhadas. O cheiro de asfalto queimado e metal
retorcido se mistura ao ar, enquanto eu diminuo a
velocidade, meus olhos se fixando no caos à frente.
Faço uma careta, forçando o carro a reduzir ainda
mais. A cena é desastrosa. Um enorme caminhão está
tombado, bloqueando grande parte da estrada,
enquanto os policiais tentam controlar o tráfego.
Dimitri bufa, coçando a cabeça, claramente
incomodado com a situação. Nos entreolhamos por
um breve momento, ambos com expressões de
confusão, sem saber se o atraso seria algo para
comemorar ou amaldiçoar.
— Merda! Isso vai nos atrasar — murmuro, os
dedos apertando o volante.
— Como se você já não estivesse fazendo isso,
dirigindo como uma maldita louca — ele retruca, mas
sem a habitual provocação. Sua voz está mais seca,
cansada, como se a situação o estivesse irritando
tanto quanto a mim.
O brilho de um letreiro vermelho na beira da
estrada chama nossa atenção. Um hotel decadente,
com poucas luzes acesas. Seus neons falhando,
anunciava "Hotel Vostok." Parecia o tipo de lugar em
que qualquer pessoa sensata passaria longe, mas ali,
naquela estrada congestionada e cercada de policiais,
era o melhor que tínhamos.
— Vamos parar — afirmo, tentando medir sua
reação. Eu estava exausta, o estresse acumulado de
horas dirigindo e toda a tensão entre nós estava
começando a pesar nos meus ombros.
Dimitri olha para o hotel, seus olhos avaliando
rapidamente a situação. Ele solta mais um daqueles
suspiros irritados, esfregando a nuca.
— Não temos outra escolha. — Ele balança a
cabeça, claramente relutante. — Não vamos ficar
parados aqui como alvos, não com a CIA atrás da
gente e sabe-se lá mais quem. — Ele me lança um
olhar e faz um gesto com a cabeça.
Giro o volante e estaciono em frente ao hotel. É
um lugar horrível, caindo aos pedaços, com letreiros
piscando em neon e um saguão que parecia ter saído
direto dos anos 80, mas é o que tínhamos. Sabia que
passarmos a noite em um ambiente fechado e
sozinhos nunca era uma boa ideia. Na verdade, era
quase um convite para mais brigas ou… pior. Mas,
com a situação de merda em que nos encontrávamos,
não tínhamos escolha.
Descemos do carro e adentramos o saguão com o
ar pesado. O recepcionista mal ergue os olhos quando
nos vê se aproximar do balcão. Dimitri joga o cigarro
fora antes de falar com ele.
— Dois quartos — ele resmunga, com
impaciência.
— Só tem um disponível — ele diz, num tom
desinteressado. — Duas camas separadas. Nada de
luxo.
Reviro os olhos. Claro, porque as coisas nunca
podiam ser fáceis quando se trata de Dimitri. Lanço
um olhar irritado para ele, esperando algum tipo de
explosão. Mas, para minha surpresa, ele apenas solta
outro suspiro cansado e joga uma nota sobre o
balcão.
— Pegamos — murmura, pegando a chave.
Caminhamos em silêncio pelos corredores
estreitos e mal iluminados, e quanto mais nos
aproximávamos do quarto, mais pesado parecia o ar
entre nós. Abro a porta e me deparo com o inevitável:
um quarto pequeno, com paredes desbotadas, uma
luz amarelada fraquejante e duas camas separadas.
Um alívio misturado com frustração passa por mim.
Eu não precisaria dividir a cama com Dimitri, mas, ao
mesmo tempo, estaríamos presos no mesmo espaço
minúsculo até o amanhecer.
Dimitri entra logo atrás de mim, jogando-se na
cama mais próxima da janela com um suspiro
exagerado.
— Camas separadas, isso é bom, não é, loirinha?
Não queria arriscar ser esfaqueado quando virasse
para o lado — ele zomba com a voz carregada de
sarcasmo.
Reviro os olhos bufando. Entrecerro os olhos,
sorrindo com desdém.
— Saiba que isso ainda pode acontecer —
respondo com a voz baixa, quase ameaçadora. — Se
eu fosse você, dormiria de olhos bem abertos.
Ele solta uma risada curta, como se achasse
graça na ameaça.
Entro no banheiro e ao fechar a porta atrás de
mim, me encosto por um momento, tentando
organizar o turbilhão que se forma dentro de mim.
Respiro fundo duas vezes, sentindo a pressão da
ansiedade pulsar nas veias.
Caminho até a pia, ligo a torneira e jogo água no
rosto, tentando aplacar o calor que queima minha
pele. Mas é inútil. Cada vez que eu fecho os olhos, a
lembrança da boca dele contra a minha retorna, a
sensação das suas mãos amassando meus peitos, dos
seus dedos me masturbando e do seu pau me
empalando como se pudesse me rasgar, toda aquela
merda fazendo minha pele arrepiar
involuntariamente. O desejo insano e aquela tensão
elétrica entre nós me deixa fora de controle. Não
devia ser assim. Ele era o inimigo. E eu tinha que
lembrar disso.
Levanto a cabeça e encaro meu reflexo no
espelho. As bochechas coradas, o olhar intenso, como
se eu estivesse à beira de algo que não poderia voltar
atrás.
— Calma, Hailey… — murmuro para mim mesma,
a voz baixa e firme, tentando trazer alguma lógica
para aquela loucura. — Isso vai acabar. Você mata o
desgraçado, e isso acaba.
“Eu quero ser um bom menino
Eu quero ser um gângster
Pois você pode ser a Bela
E eu posso ser a Fera’’
I Wanna Be Your Slave - Maneskin

Agosto 2023
Não consegui pregar o olho!
A ansiedade e aquela merda de agonia estão
fazendo minha pele pinicar. Dimitri, por outro lado,
dorme tranquilamente, como se o caos ao nosso redor
fosse apenas um detalhe. Ele ronca de boca aberta,
completamente alheio à minha insônia e à tensão que
me mantém acordada.
Por um mísero momento, permito-me observá-lo.
Seu rosto relaxado não combina com a brutalidade
que ele exibe quando acordado. Os cabelos lisos,
negros como a noite, estão caídos sobre a testa de
forma despreocupada. O peito sobe e desce com cada
respiração, e seu abdômen tonificado exibe uma
coleção de tatuagens: estrelas escuras, um dragão
sinuoso e uma frase que eu não conseguia ler na
penumbra do quarto. Os músculos oblíquos
desenhados na lateral de seu corpo.
Maldito gostoso!
Levanto-me de repente, sem conseguir mais ficar
parada. Preciso de ar, de algo que alivie a pressão
que parece me esmagar. Caminho até a porta com
passos duros, a raiva e a frustração martelando na
minha cabeça. Antes de sair, paro por um instante ao
lado da cama dele e, em um gesto quase automático,
roubo um dos cigarros do maço de Dimitri que está
largado na mesa de cabeceira.
A fumaça do cigarro se mistura ao ar frio da
noite, mas não traz o alívio que eu esperava. O
cansaço, a tensão e aquela constante sensação de
estar sendo observada me pressionam de todos os
lados. Caminho pelo estacionamento quase vazio do
hotel, a luz fraca dos postes lançando sombras longas
e distorcidas sobre o asfalto. Meus pés me levam até
uma pequena loja de conveniência, uma bênção
naquele lugar no meio do nada. Tudo o que eu preciso
é de algo forte para tentar aplacar o tumulto dentro
de mim.
Empurro a porta de vidro, que range ao abrir, e
me dirijo diretamente à máquina de café. O cheiro
forte de grãos torrados invade o ambiente, e eu pego
um copo descartável, enchendo até a borda com o
líquido escuro, afinal preciso me manter acordada. Em
alerta. A fragilidade era uma sentença de morte, eu já
a tinha experimentado algumas vezes e não precisava
de mais. Pago ao atendente, que nem sequer me olha,
e saio da loja, respirando fundo o ar fresco da
madrugada.
Mas assim que saio, uma voz familiar me chama.
— Hailey — sussurra alguém de um beco estreito
ao lado da conveniência. Meu corpo enrijece
instantaneamente, o alerta em cada fibra do meu ser.
O café quase escorrega da minha mão quando me viro
para o som. — Hailey! — A voz é mais insistente desta
vez.
Caminho na direção do beco, a mão
automaticamente indo em direção a coxa, onde
guardo uma faca. O coração bate acelerado, mas
mantenho meu rosto neutro, pronta para reagir.
Quando chego perto o suficiente, vejo a silhueta de
um homem encostado na parede. Meus olhos
arregalam.
— Nate? — Minhas palavras saem num sussurro
incrédulo, enquanto meus olhos percorrem
rapidamente o homem à minha frente. O capuz mal
cobre sua cabeça careca, mas a cicatriz que atravessa
o olho esquerdo é inconfundível. Eu conhecia Nathan
há anos. Ele é um dos agentes mais experientes com
quem já tinha trabalhado, frio e calculista, mas
sempre direto ao ponto.
— Hay… venha comigo — ele pede. — Precisamos
conversar, aqui não é seguro.
Engulo em seco, cada parte do meu corpo em
tensão. A última vez que tinha visto Nathan, ele
estava completamente envolvido na missão da CIA.
Agora, ele estava aqui, nas sombras, como se
estivesse fugindo também. Não era o estilo dele.
— Que porra está acontecendo? — exaspero, me
aproximando mais dele.
Os instintos entram em alerta máximo quando a
mão de Nate se fecha em meu braço, me puxando
mais profundamente para o beco, até estarmos em
um local completamente escuro, cercado apenas por
alguns sacos de lixo e o cheiro forte do que parecia
ser o esgoto.
Ele tira o capuz, revelando a cabeça careca e o
olhar sério que sempre o caracterizou. Solta um
suspiro pesado, e eu já sabia que o que ele ia dizer
não seria bom.
— A CIA está te caçando, ofereceram um bônus
de 200 mil dólares pela sua cabeça — ele esclarece
com a voz baixa e meus olhos arregalam. — Eles
acham que falhou na missão de executar o alvo 840.
840… Dimitri
Solto um rosnado, fechando os punhos ao lado do
corpo.
— Dimitri é meu. Eu decido quando e como matá-
lo — rosno, me aproximando dele.
Ele solta um suspiro irritado, se aproximando
mais até que eu sinta o calor do seu corpo me
cobrindo.
— Vale a pena morrer, por um torturador? — Sua
voz está carregada de raiva. — Por que tem que ser
tão teimosa? Deixe-me cuidar do alvo 840… fuja pra
longe até tudo estar…
No outro segundo, eu o tinha contra o muro, a
lâmina da faca que eu carregava na coxa pressionada
em seu pescoço. O olhar que eu lhe lanço tem a
intensidade de uma chama viva, ardente.
— Ele. É. Meu — vocifero, cada sílaba saindo em
um rosnado que ecoa na escuridão do beco. — Por
que está me ajudando, Nate? Você é um bom
samaritano ou está aqui apenas para receber o bônus
antes de todos?
Ele hesita, seus olhos se fixando nos meus, a
raiva se transformando em confusão e
vulnerabilidade.
— Por que você acha que eu me importo tanto? —
ele pergunta, sua voz mais baixa agora, mas ainda
carregada de emoção. — Eu… Me deixe cuidar de
você, Hay.
A lâmina da faca tremula ligeiramente em minha
mão. O que ele disse não faz sentido em meio ao caos
que nos cerca.
— Não preciso de cuidado. — O tom da minha voz
é cético, quase desdenhoso. — Nem de você. Nem da
porra da CIA. Nem de ninguém — cuspo as palavras
como se fossem ácido
Ele balança a cabeça, incrédulo, e solta um
suspiro.
— Todo mundo precisa Hailey. — A insistência
dele é irritante, como se estivesse tentando quebrar
uma barreira que eu não estou disposta a romper.
Eu me afasto um pouco, a faca ainda em mãos, a
tensão palpável entre nós. O que ele está dizendo
ressoa em minha mente, e eu não gosto daquela
merda nos olhos dele. Aquele sentimento esquisito
que um dia já senti.
Me afasto como se pudesse escapar da conversa,
mas ele agarra minha mão livre.
— Hailey… eu… sou apaixonado por você… eu…
acho que sempre fui.
Meus olhos arregalam. De que porra ele está
falando? Eu não queria nada daquela merda, amor era
uma fraqueza, era algo que nos deixava vulnerável,
algo que nos enfraquecia… eu não preciso daquilo.
— Vá embora Nate. — A firmeza na minha voz
quase soa como um comando, um aviso para ele se
afastar. O peso das minhas palavras está carregado
de uma frustração que mal consigo conter.
Ele hesita, como se minhas palavras fossem um
soco no estômago. O olhar dele se suaviza, mas a
determinação ainda brilha em seus olhos.
— Hailey, espe…
A frase dele é cortada por um grito estridente,
seguido pelo estrondo de um tiro. Tudo acontece tão
rapidamente que meus olhos não conseguem
acompanhar. Eu só sinto o sangue esguichando em
meu rosto, quente e espesso, enquanto o eco do
disparo e os gritos de Nate reverberam no beco
escuro.
Meus olhos se arregalam quando o vejo segurar a
mão que tenta me tocar. O membro agora está
desfeito, um pedaço estraçalhado, jorrando sangue,
enquanto ele grita de dor. A cena é caótica, e o
desespero encheu meu peito.
Giro a cabeça, meu coração disparando, e a visão
de Dimitri atrás de mim me faz sentir um frio na
espinha. Ele segura a pistola que usara para atirar na
mão de Nate e um sorriso diabólico dança em seus
lábios, como se estivesse satisfeito com o espetáculo.
— Esse é seu namorado, loirinha? — ele pergunta,
a voz cheia de sarcasmo e desprezo.
“ Você continua sonhando e tramando algo obscuro, sim, você continua
Você é venenosa e eu sei que isso é verdade
Todos os meus amigos acham que você é perversa’’
I Feel Like I’m Drowning - Two Feet

Agosto 2023
Assim que Hailey saiu do quarto, eu acordei, não
porque ela não tivesse sido discreta, mas havia
aquela maldita sensação, algo no meu corpo que
sempre sabia quando ela estava por perto ou não. Era
como se houvesse uma porra de corrente invisível que
me puxava para ela, quer eu quisesse ou não. E ali
estava eu, seguindo-a no meio da noite, sem saber
muito bem porquê.
Eu já tinha ouvido muita merda na vida, muita
situação já tinha feito meu sangue ferver, coisas
demais já atiçaram minha vontade de matar. Mas
nada na porra do universo me enfureceu mais do que
ouvir aquele merdinha se declarando para aquela
cadela.
A minha cadela!
Quando o vi estender a mão para tocá-la, o
instinto falou mais alto. Não pensei duas vezes. Mirei
e disparei. O som do tiro, os gritos dele... eram como
ter a porra de um orgasmo devastador. Um caos
instantâneo.
Hailey me olhou com aquele fogo que sempre
acendia dentro dela, o tipo de olhar que fazia até o
diabo vacilar. A faca tremia em suas mãos, e eu sabia
que ela estava furiosa. Mas que se foda. Ela
entenderia aquela merda.
Quando ela grita, raivosa, me xingando, eu dou
um passo à frente. O sangue dele ainda jorra, e ele se
contorce de dor. Eu a pego desprevenida, rápido
demais para que ela possa reagir. Empurro seu corpo
contra o do merdinha, prendendo-a entre nós dois. O
calor da sua raiva colide com a minha como uma
tempestade. Ela luta, tenta se soltar, mas eu a
mantenho firme, pressionada contra o homem ferido
que geme de dor atrás dela. O sangue dele escorre
rápido, manchando suas roupas, sua pele.
— Você é imundo. Eu odeio você — ela cospe as
palavras, alargando ainda mais o meu sorriso.
Minhas mãos sobem pelas suas coxas, apertando
a carne macia por baixo da saia, sentindo a energia
eletrizar meu corpo, o calor inundar cada maldita
célula minha. Hailey, se pudesse me matar com o
olhar, com certeza ela o faria.
​ Você ainda não entendeu, não é, sua cadela? —

murmuro, minha voz rouca contra seu ouvido,
enquanto minha mão se enfia, puxando o cabelo da
sua nuca e eu sinto seu corpo tenso, arrepiado e
excitado. — Você é minha, Hailey. Só minha. Minha
para torturar. Minha para matar. E minha para foder.
Antes que ela possa responder, capturo seus
lábios com os meus, com uma força que é tanto uma
reivindicação quanto uma punição. Há raiva, desejo e
algo mais, algo que eu nunca admitiria nem para mim
mesmo. Ela luta contra o beijo, mas eu sei que sente
aquilo também, aquela maldita corrente que nos
prende um ao outro.
Eu a beijo com uma posse que nenhum outro
homem jamais ousaria ter. Minhas mãos seguram sua
nuca com firmeza, como se eu pudesse tatuar na sua
pele o que significava ser minha. O cara atrás dela
geme em agonia, mas é irrelevante. O único som que
importava ali é o da nossa respiração pesada e do
caos que eu acabara de causar.
Nossas línguas se devoram, o beijo fica intenso,
luxurioso, gostoso pra caralho. Meu pau pressiona o
zíper do jeans e empurro mais seu corpo, moendo-a
contra o verme atrás dela, ouvindo o grunhido de dor
do maldito. Com um movimento brusco, puxo suas
coxas, tirando-a do chão e a obrigando a envolver
minha cintura com as pernas. Quando o ar fica
escasso, minha boca ataca seu pescoço, chupando,
mordendo, marcando-a, revindicando a porra da
minha posse sobre aquela desgraçada.
— Me… solta… — ela ofega, moendo contra mim,
e consequentemente esfregando a bunda no filho da
puta atrás.
Meus dentes se fecham no decote na blusa,
puxando com força e rasgando o tecido, me dando
acesso ao seu colo e a parte superior dos seios. Sugo
a pele com força o suficiente para deixar um chupão,
ouvindo-a gemer baixinho, um gemido resignado, e
seu quadril se move, estimulando a boceta contra
minha ereção.
— Esse filha da puta está duro? — questiono com
a voz enrouquecida.
A maldita, como ama me provocar, sorri
maldosamente.
— Sim, Dimi, eu consigo sentir o pau dele
esfregando na minha bunda — ela responde
diabolicamente. — E ele é tão gostoso.
Cadela diabólica.
Um riso de escárnio sai de mim, e usando apenas
uma mão, desço entre nós, puxo a calcinha dela para
o lado e afundo dois dedos naquela boceta molhada
do caralho.
— Sua boceta está pingando, Hay — observo,
lambendo os lábios só de lembrar do gosto dela. — É
por mim ou por esse merdinha aí atrás?
O sorriso dela é maligno, perverso, maldoso, do
jeito que eu adoro.
— Com certeza é por ele — ela cospe antes de
gemer, quando esfrego seu clitóris com o polegar.
Tiro meus dedos dela, abrindo minha calça em
desespero. O merdinha atrás dela urra de dor quando
me afundo de uma vez em sua boceta, fazendo seu
corpo pressionar ainda mais contra ele.
— Aproveita, seu merdinha! Esse é o máximo que
você terá dela, antes de ir para o inferno — zombo,
estocando fundo.
O infeliz já está ficando pálido, os olhos ficando
apagados à medida que o corpo de Hailey pula pelas
minhas estocadas, os gritos de dor dele aumentam e
os murmúrios de socorro só me deixam com mais
tesão. Gemo de boca aberta, sentindo a boceta dela
apertar meu pau, contraindo no meu comprimento.
Molhada.
Quente.
Gostosa pra porra.
Os gemidos de Hailey aumentam, reverberando
na noite, o tesão dela escorre, molhando minhas
bolas, a cada vez que eu entro e saio, aperto as coxas
dela, mantendo-a com as costas pressionadas contra
o filho da puta que já está quase morrendo. Meu olhar
no dela é predatório, compulsivo, obcecado.
Sua boceta me engole, me espremendo, me
esfolando, fazendo-me pulsar. Meto com mais força,
fazendo-a quicar no meu pau e olho por cima do seu
ombro, vendo o merdinha revirar os olhos, o suor frio
escorrendo pelo rosto. Ele vai morrer.
Me enterro com mais força na boceta dela e tomo
seus lábios, lambendo e mordendo a boca carnuda.
Quando nos separo, meu pau está ao ponto de
explodir, minha mente sádica precisa daquela porra.
Eu tatuaria aquela cena.
— Beija ele — ordeno com a voz rouca e
arrogante. — Beija ele antes dele morrer.
Hailey é meu inferno, meu caos, minha
penitência, meu demônio na terra. Com os olhos
anuviados de prazer, ela gira o pescoço, beijando o
cara que já está praticamente morto, gemendo nos
lábios do maldito enquanto meu pau afunda mais
forte, mais duro, mais gostoso em sua boceta.
Soco com mais força, esfregando minha virilha no
clitóris dela, pressionando cada vez mais fundo. A
enxurrada de prazer vem como uma bomba quando
ela o solta e geme de boca aberta, o sangue dele
escorrendo pelas laterais do seu queixo. O rosto dela
todo manchado com líquido carmesim. Toda aquela
porra. Deixando aquela maldita extraordinária de tão
linda.
Meu corpo inteiro arrepia, seu olhar perverso me
come vivo, ela revira os olhos, suas unhas cravam na
minha nuca, puxando meu cabelo a ponto de arder.
— Dimi… eu vou gozar… oh, porra, eu tô
gozando!
— Porra — xingo entre dentes quando sinto sua
boceta me esmagando. — Sua puta gostosa, eu tô
gozando, caralho!
Estoco alucinadamente, vendo seus peitos
pularem na minha cara, e gozo como se minha vida
fosse acabar. Meto tanto e tão fundo, que sinto a
porra vazando para fora da boceta dela e escorrendo
pela minha virilha a medida que o orgasmo dela envia
ondas pelo meu pau, tremendo, apertando,
massacrando-me dentro dela.
Nossas respirações estão descompassadas e
permanecemos ofegando, olhando um para o outro,
sentindo aquela porra me corroer por dentro. A
mistura poderosa de ódio, tesão, loucura e aquela
outra parada que eu nunca me atreveria a nomear
borbulhando nas minhas veias, fazendo meu coração
se agitar.
O prazer delicioso que era ainda estar enterrado
dentro dela, sentindo sua boceta me abrigar como a
porra de um lar feito sob medida para mim.
Como se ela toda fosse feita para mim.
Uma picada de dor reverbera pela minha
garganta quando ela pressionou a faca ali e me
afundo ainda mais na sua boceta, cravando meu pau
tão fundo que não tem espaço nem para minha porra
escorrer.
— Eu… v-vo… vou — ela ofega quando eu movo o
quadril, fazendo um oito, sem sair de dentro dela um
milímetro sequer. — Eu vou te matar, Dimi — fala
entre respirações ofegantes.
Eu sorrio diabolicamente, sentindo meu pau
endurecer ainda mais.
— É melhor fazer isso logo, Hay. Ou eu vou te
comer de novo — afirmo, me puxando para fora e
voltando para dentro com tudo.
“Isso é viciante, por favor
Me desculpe, garota
Pela maneira como você me faz sentir
Você é minha garota’’
Bathroom - Montell Fish

Agosto 2023
Caminhar de volta para o hotel com as pernas
trêmulas e a porra de Dimitri escorrendo pelas coxas
não é apenas humilhante, é tortuoso, vexatório,
ultrajante. A garoa fina açoita meu rosto, tornando
minhas bochechas geladas. O mais degradante é
admitir que não fodemos apenas uma vez. Depois
daquela trepada intensa contra o corpo de Nate,
Dimitri o chutou para o lado e me empurrou contra a
parede, levantando minha saia e pressionando meu
rosto contra o muro, enquanto seu pau me penetrava
profundamente por trás.
Ele me fodeu com força, com fome, com
possessividade, tão bruto a ponto de fazer minha
boceta arder, tentando expulsá-lo a cada estocada.
Era desprezível dizer que gozei mais uma vez junto
dele, como se a merda dos nossos corpos estivessem
tão conectados que só conseguissem alcançar o ápice
se fosse em conjunto. Era doentio e pervertido, mas
gozamos juntos naquela cena caótica, com ele
esmagando-me contra o muro e com o cadáver de
Nate ao nosso lado.
Quando entro no quarto, meu corpo está em
chamas. Cada músculo tenso, cada parte de mim
vibrando com uma raiva que quase me sufoca. A porta
se fecha atrás de mim com um estrondo, mas nem o
som ecoando no quarto vazio consegue abafar a
tempestade dentro de mim. Como aquele maldito se
achava no direito? Quem ele pensa que é, me
tomando daquele jeito, me tratando como se eu
fosse... a porra de sua propriedade.
Minhas mãos tremem, o gosto do beijo dele ainda
nos meus lábios como veneno. Eu quero arrancar essa
sensação de mim, esfregar minha pele até ela
queimar, mas não importa o quanto eu tente, o toque
dele está impregnado em mim como um ferro em
brasa. Sua revindicação escorrendo pelas minhas
pernas. Eu podia sentir o peso daquele maldito beijo
me prendendo, me queimando por dentro.
Giro o corpo bruscamente, empurrando seu peito
com a mão espalmada, fazendo-o cambalear para
trás.
— Você é um fodido idiota! — rosno, avançando
sobre ele, meu corpo tremendo de raiva.
Aquele maldito sorriso sarcástico curva seus
lábios e aquilo atiça ainda mais meu ódio. Avanço
contra ele com unhas e dentes, empurrando,
estapeando, mordendo. A raiva explodindo em mim
como uma tempestade. Eu quero machucá-lo, quero
que ele sinta o que eu estou sentindo.
Dimitri, no entanto, não se defende. Ele apenas
segura meus pulsos com firmeza, contendo-me sem
esforço, como se eu fosse um brinquedo
descontrolado em suas mãos. Pressiona seu corpo
contra o meu, prendendo-me contra ele, imobilizando
meus movimentos.
— É assim que você me agradece por salvar esse
seu rabo magrelo? — ele zomba, a voz baixa e
sensual escorrendo com aquele tom debochado que
me faz querer gritar.
Meus dentes rangem e eu me debato, tentando
de todas as formas me soltar, mas ele é mais forte.
Seu corpo mantém o meu preso com apenas uma
mão, como se eu fosse um pássaro enjaulado. Sinto o
cheiro dele, uma mistura de suor, tesão e perigo, e
aquilo só alimenta minha fúria e meu maldito desejo.
De repente, ele solta uma das mãos e enfia a
outra no bolso da calça, puxando o celular de Nate.
Empurra a tela aberta na minha frente, me forçando a
olhar. Meus olhos capturam as palavras na tela, o
sangue gelando nas veias.
"Alvo encontrado, vou levá-la para o porão e
executá-la."
As palavras de Nate para Charlie, o líder das
operações da CIA.
Minha respiração para por um segundo. O choque
faz a raiva dar lugar a uma confusão amarga. Ele... ia
me matar. Nate, o mesmo homem que minutos antes
tinha se declarado, estava pronto para me trair, para
me vender. Maldito de merda!
— Isso significa o quê? Que você é o mocinho
altruísta da história? — escarneço sorrindo sem
humor. — Não preciso da porra da sua proteção. Não
preciso de nada de você — cuspo, sentindo a fúria
fervendo sob minha pele, quente e corrosiva.
Dimitri sorri. Aquele maldito sorriso que faz
minhas pernas tremerem.
— Tem razão, Hailey — ele murmura, sua voz
baixa e perigosamente sedutora. — Não existe
altruísmo em mim.
Antes que eu possa responder, ele roça os lábios
nos meus, suave como um veneno, fazendo meu
corpo inteiro se enrijecer. Atrevido de merda!
— Tudo comigo tem um preço — ele continua, os
olhos ardendo de algo sombrio enquanto o calor de
seu corpo irradia contra o meu. — Então, que tal
começar a pagar o seu? — oferece com malícia
pingando na voz.
— Você nunca mais vai tocar em mim, seu filho
da puta — cuspo as palavras com um ódio fervente,
minha voz quase animalesca.
Dimitri apenas sorri, aquele sorriso cheio de
arrogância, como se soubesse que minhas palavras
não têm o efeito que eu quero. Pelo contrário, elas o
desafiam a continuar me provocando, para provar que
a porra do meu corpo traidor é suscetível e receptivo
aquele maldito. Se aproxima ainda mais, seu corpo
praticamente colado ao meu, me aprisionando entre a
parede e o seu calor sufocante.
— Adoro como as mentiras saltam, tão
facilmente, dessa sua boquinha de cadela — ele
murmurou, a voz impregnada de escárnio e desejo, os
olhos escuros com aquele brilho predatório.

Já devia ser quase três da manhã quando a onda


implacável do meu orgasmo raspou tão perto que
quase me consumiu viva. Minha boceta ensopou, a
virilha de Dimitri e eu gemi tanto que a garganta
arranhou. Estávamos na cama, trepando pela terceira
ou quarta vez, eu cavalgava por cima daquele pau
delicioso e maldito dele, sentindo-o me estirar a cada
vez que minha bunda batia contra suas coxas nuas,
minha pele em chamas, arrepiada, excitada. Minha
boceta estava tão sensível, que a cada vez que ele
escorregava para dentro, a linha tênue entre dor e
prazer se tornava mais fina.
— Sua filha da puta! Essa boceta está me
esmagando — ele urra entre dentes.
Reviro os olhos, sentindo os espasmos do pré-
orgasmo, fazendo meu corpo todo retrair. Aquele
desgraçado nunca se cansava e seu maldito pau,
nunca baixava. Meu corpo já dá sinais de
esgotamento, minha pele já contém diversas marcas,
dos chupões e mordidas que aquele infeliz me dá,
meus mamilos estão vermelhos e inchados, mas nós
continuávamos.
Metendo.
Fodendo.
Trepando.
Como fodidos animais.
Aquela merda já não é mais sobre prazer, é sobre
competição, sobre desafio, sobre ver quem desistiria
daquela tortura deliciosa antes de alcançar o nirvana.
Quem levantaria a bandeira antes de estarmos
praticamente fundidos um no outro. Minha bunda arde
com os tapas que Dimitri desfere sobre mim, minha
boceta luta para se esticar e continuar o recebendo.
Aquela posição não é só constrangedora, é
desconcertante. Permite que ele tenha acesso a todas
as partes minhas, mesmo que eu ainda esteja com
parte da blusa na metade do corpo, cobrindo minha
barriga e ele com as calças arriadas nos tornozelos.
Ainda é íntimo… profundo… desorientador.
Gemo com a boca aberta quando seus dedos
afundam na minha bunda, abrindo as nádegas, para
que ele possa estocar mais fundo, e eu consiga sentir
seu pau me rasgando com mais voracidade.
— Eu… — gemo choramingando. — Te odeio…
ohh… ahhhh… isso, porra.
Dimitri me olha, seus olhos azuis escuros, os
cabelos negros, grudados na testa pelo suor, o
pescoço coberto de chupões roxos e mordidas. Ele
sorri rosnando sem deixar de me penetrar com toda
força e violência que tem.
— Eu te odeio, Hailey — confessa entre dentes e
rebolo em seu colo, afundando seu pau, fazendo-o
alcançar partes minhas que eu mal sabia que tinha. —
Odeio que sua boceta seja… tão apertada. Tão
molhada.
Seus dedos afundam nas minhas nádegas,
esfregando o meio da minha bunda, e seu indicador
sonda meu anel apertado, sem muito preparo ele se
introduz para dentro, fazendo-me gritar e revirar os
olhos. Eu adoro aquela dor. Adoro pra caralho.
— Odeio que seu rabo seja tão gostoso, que seu
cuzinho me receba tão bem — ele ofega, enfiando
mais um dedo, me fodendo nos dois buracos, ao
mesmo tempo, em uma sincronia alucinante.
Meu clitóris lateja, minhas pernas pegam fogo e o
calor infernal se acumula em minha virilha. Nossos
olhares se encontram, conectando aquela corrente
elétrica poderosa e explosiva.
— Odeio… que por mais que você seja uma puta,
uma cadela traidora, eu quero te comer viva. Quero
devorar sua boceta. Empalar seu cu. Foder sua
garganta e lavar essa sua boca venenosa com minha
porra. — As palavras ditas entre dentes, com tanta
raiva e desejo, me destruirão.
— Eu… vou… gozar — anuncio me tremendo
inteira, contraindo tanto o corpo que acho que meus
ossos se quebrarão.
— Não fale, só goza, porra! — ruge, estocando
alucinadamente.
Meu corpo convulsiona e eu me derreto em seu
colo, tremendo e esguichando, molhando a nós dois.
Meus dedos dos pés retorcerm, é como estar sendo
eletrocutada, mas ao invés de eletricidade, receber
prazer, cru, carnal, intenso e devasso. Minha boceta
ensopa a nós dois e Dimitri goza junto comigo,
urrando como um animal, empurrando sua porra para
dentro de mim, obrigando minha boceta a reter todos
os jatos espessos de esperma que ele me lança. Nós
respiramos bruscamente, suados, exaustos,
destruídos, quebrados.
Eu queria fugir dali, sair correndo, escapar do seu
olhar e da sensação maravilhosa que era o ter dentro
de mim. Mas meu corpo está paralisado, eu só
consigo respirar ofegantemente e esquadrinhar cada
parte dele. Meus olhos percorrem cada linha
malditamente bonita de seu rosto, o queixo quadrado,
as maçãs do rosto marcadas, o cabelo negro, molhado
e grudado na testa, e aquela boca... a maldita boca
carnuda, agora vermelha e com um pequeno corte
que sangra levemente. Ele continua me olhando, sem
dizer uma palavra, e aquilo me desestabiliza ainda
mais.
Foram os olhos dele que me prenderam. Aqueles
olhos infernais.
Azuis, profundos, sombrios, perigosos e, de
alguma forma, viciantes.
É impossível desviar o olhar. Eles me desafiam,
me queimam por dentro, como se quisessem me
despir de todas as camadas de resistência que eu
construíra ao longo dos anos. A intensidade do que
sinto era sufocante, e eu me odeio por isso.
Dimitri ofega, o peito tatuado e suado subindo e
descendo, mas não desvia o olhar, não quebra nosso
contato, nem do seu pau na minha boceta, nem dos
seus olhos cravados nos meus. Por um segundo, há
silêncio. Apenas nós dois, nossas respirações
descompassadas e a confusão de sentimentos que
pairava no ar. Eu não sabia o que fazer. Aquele
momento parece maior do que qualquer coisa que já
tivéssemos vivido.
A sombra escura que toma os olhos de Dimitri
varre qualquer traço de vulnerabilidade que eu tinha
acabado de enxergar neles. É como se ele tivesse
erguido uma muralha em questão de segundos. A
expressão arrogante retorna ao seu rosto,
espalhando-se como uma máscara que ele sabe usar
tão bem.
— Se não for me dar seu cu, já pode sair! — ele
escarnece com um sorriso maldoso, a voz carregada
de desdém. — Cai fora do meu colo.
“E só talvez
Eu seja o culpado por tudo que ouvi
Mas não tenho certeza’’
Lithium - Nirvana

18 anos
Sentei-me mais confortável na cadeira dura,
empurrando meu corpo para trás, como se estivesse
em uma posição de poder, mesmo com as algemas
que me prendiam. A fumaça do cigarro escapava dos
meus lábios em lentas espirais, e eu a observava,
aproveitando aquele pequeno prazer que, por hora,
era tudo o que eu tinha. As visitas eram raras, e
nunca haviam sido para o meu benefício. Isso até
agora.
O homem alto e mais velho sentou-se na minha
frente, como se tivesse todo o tempo do mundo. Os
cabelos acobreados, a barba quase ruiva e os óculos
que ele colocou para revisar a pasta com meus
"crimes" me fizeram perceber que ele estava ali para
tratar de negócios. O tipo de homem que não se
abalava facilmente. O velhote era forte, tinha um bom
porte.
— Dimitri — ele começou, a voz carregada de
uma autoridade fria. — Dimitri de quê? Qual o seu
sobrenome, garoto?
A incredulidade na sua pergunta me irritou um
pouco, mas decidi jogar com ele. Eu era muito mais
do que um "garoto". Fiquei em silêncio por um
segundo, observando o brilho dos seus óculos
enquanto ele esperava uma resposta.
Levei o cigarro de volta à boca, traguei
profundamente, o gosto amargo preenchendo meus
pulmões antes de soltar a fumaça diretamente no seu
caminho. Quando ele franziu as sobrancelhas com a
minha falta de pressa, eu sorri maldosamente.
— Eu não tenho sobrenome, coroa. Nunca tive e
nunca terei. — Minhas palavras cortaram o ar entre
nós.
Ele soltou o ar pesadamente e segurou a ponte do
nariz, bufando.
— Porra! Você é um desses, é sério? — ele
pontuou, com um suspiro cansado, como se tivesse
lidado com centenas de idiotas como eu antes.
Ergui uma sobrancelha e minhas mãos, ainda
algemadas, descansaram no meu colo. Quem esse
velho achava que era? Aquele tom paternal de merda,
algo que eu nunca tive, e que ele jogava na minha
cara como se isso me importasse. Mas era o olhar
dele que me pegou desprevenido. Ele me mediu,
como se soubesse mais sobre mim do que eu mesmo,
e depois sorriu. Um sorriso que eu não conseguia
decifrar. Não era de desdém, nem de sarcasmo. Era
algo diferente, que me deixou incomodado.
— Você me lembra meu filho — ele soltou,
casualmente, como se estivesse falando do tempo.
Meus olhos o esquadrinharam, medindo cada
movimento dele com receio, e mais uma vez sua
atitude me fez arregalar os olhos, ele pegou o cigarro
da minha mão e o fumou, encostando-se na sua
própria cadeira.
— Jovem, desmiolado e com a inteligência de uma
lagosta — disse ele, e, por algum motivo, essa
comparação me fez ranger os dentes.
Porra, quem esse cara pensava que era? Ele
estava me provocando ou tentando me ensinar
alguma lição?
— E o que aconteceu com o seu filho, coroa? —
perguntei, o sarcasmo escorrendo das minhas
palavras. — Virou um advogado de merda também?
Ele riu, um som curto e amargo, antes de apagar
o cigarro no cinzeiro da mesa. Aquele riso curto e
amargo do velho me deixou tenso. O sarcasmo que eu
despejei em cima dele parecia não ter tido o efeito
que eu esperava.
— Ele está na faculdade, estudando, vai se tornar
um arquiteto — respondeu com um toque de orgulho.
Por um segundo, eu quase pude ver um brilho nos
olhos dele, mas logo desapareceu, substituído por
uma expressão dura, como se a realidade o tivesse
puxado de volta. — Ele foi iniciado recentemente,
como você.
Minha mandíbula travou. Eu sabia do que ele
estava falando. A iniciação. Aquele inferno que a
Bratva usava para moldar carne e espírito, para testar
o quanto você aguentava antes de quebrar. Mas eu...
já estava quebrado há tempos. Não havia nada em
mim que eles pudessem destruir que já não estivesse
em pedaços. Sobreviver àquela merda foi fácil,
comparado ao que a vida já tinha feito comigo.
O velhote soltou um suspiro, ajeitou os óculos e
pegou minha ficha novamente.
— Eu sou Vicktor Petrova, o advogado da Bratva.
— Finalmente ele se apresentou, a voz firme. — Não
sei se alguém te disse como isso funciona, garoto,
mas agora você faz parte de algo maior.
Ele parou, seus olhos encontrando os meus com
uma intensidade que quase me fez desviar o olhar.
— Considere essa a última vez que você passa a
noite em uma prisão. — A voz dele era fria, factual,
convicta.
Meu coração acelerou no peito, aquela sensação
esquisita que eu não gostava de sentir, então engoli
seco e mascarei tudo, vestindo minha expressão
sarcástica.
— Qual é, velho? Vai dizer que agora somos uma
família e você cuidará de mim? — escarneci, cuspindo
ácido pelas palavras.
Vicktor nem piscou. O sarcasmo que eu lançava
na sua direção parecia bater em uma parede sólida.
Ele me estudou por um momento, seus olhos
estreitando ligeiramente, como se estivesse tentando
decidir se eu merecia a verdade ou mais uma rodada
de provocação.
— Família? — Ele riu, mas não foi um som de
diversão. Foi áspero, quase amargo. — Não, garoto. A
Bratva não é uma família. Não é assim que funciona.
Ele se inclinou na cadeira, as mãos entrelaçando-
se sobre a mesa, os olhos fixos nos meus, e algo na
forma como ele me olhava me fez prestar atenção.
— Você não está mais sozinho, Dimitri, mas isso
não significa que haverá carinho ou conforto. — A voz
dele ficou mais dura, quase cortante. — Isso é sobre
lealdade. Lealdade à Bratva, acima de tudo. Não
importa se você é um assassino frio, calculista ou um
moleque irresponsável. Se for leal, estaremos aqui por
você, quando e como precisar.
Aquelas palavras ficaram ecoando na minha
cabeça. "Estaremos aqui por você." Algo dentro de
mim, aquela parte que eu odiava admitir que existia,
reagiu a isso. Não era a promessa de poder ou de
proteção que mexia comigo, era a ideia de pertencer
a algo maior, mesmo que fosse algo tão sombrio como
a Bratva.
E a premissa de não estar mais sozinho!
— E se eu não quiser essa merda de "ajuda"? —
disparei, o sarcasmo ainda tentando me manter no
controle da situação.
Ele riu, como se minhas palavras fossem uma
piada.
— Você não tem mais escolha, garoto, no
momento que disse sim à Bratva, deixou de ser sobre
o que você quer ou não. — Ele assinou alguns papéis
que estavam sobre a mesa. — Você não está mais
sozinho, mas também não está livre, Dimitri. Nunca
mais estará.
Engoli seco, tentando processar o peso do que ele
dizia. Meu corpo inteiro ficou tenso, como se
estivesse se preparando para um golpe que não
vinha. Mas então algo no olhar de Vicktor... aquela
faísca fria, mas firme, me trouxe um tipo de conforto
que eu não queria admitir. E era exatamente essa
sensação que me assustava. Confiança. Aquilo já
quase tinha me matado uma vez. Foi por confiar nela,
que todas as merdas tinham se espalhado em minha
vida.
Mas naquela hora eu parecia não ter mais
escolha.
O Petrova sorriu, mas não foi um sorriso
amigável. Era bruto, primitivo, como o de um homem
que já viu o inferno e voltou para contar a história.
— O que acha de sair daqui esta noite? — ele
perguntou, jogando as palavras como se estivesse me
oferecendo uma saída temporária do inferno. — Tomar
um banho quente, comer algo decente e, sei lá,
arranjar alguma confusão? Algo que vocês jovens
adoram fazer?
A oferta parecia boa demais para ser verdade, e
provavelmente era. Mas algo no jeito que ele falou, a
despreocupação na voz, fazia aquilo soar... real. Por
mais fodido que fosse, era uma chance. Uma
oportunidade de escapar dessa cela de merda, nem
que fosse por uma noite.
Eu soltei a fumaça do cigarro, sem desviar o olhar
dele.
— Tá me convidando pra um jantar, coroa? Que
merda é essa? Eu não curto velhotes — perguntei,
ainda mascarando qualquer traço de vulnerabilidade
com sarcasmo e humor.
O sorriso dele se alargou, mas continuou tão
perigoso quanto antes.
— Não seja tão arrogante, moleque. — Ele deu
uma risada seca, como se tivesse lidado com tipos
como eu a vida inteira. Depois, se levantou,
guardando os papeis com calma, como se não tivesse
pressa. — Mas posso garantir que, a partir de hoje,
sua vida não será mais a mesma.
As palavras dele atingiram algo profundo dentro
de mim, mesmo que eu não quisesse admitir. Aquela
promessa, o peso delas, fez algo em mim estremecer.
Desviei o olhar, meus dentes trincados, tentando
manter a pose. Meus dedos se remexiam no colo, a
tensão evidente.
— Eu… — Hesitei por um momento, odiando me
sentir exposto. — Eu… não tenho para onde ir. — A
confissão saiu baixa, quase um sussurro, mas naquele
silêncio, foi como se eu tivesse gritado.
Vicktor ergueu uma sobrancelha, seu olhar mais
avaliativo do que qualquer coisa. Ele soltou o ar
devagar, como se ponderasse algo.
— Esteja pronto às 19h — ele disse com firmeza,
como se não fosse um pedido, mas a ordem de um pai
mandão. — Venho te buscar. Você pode ficar na minha
casa até que tudo se acerte.
Aquilo me pegou de surpresa. Fiquei calado, o
sarcasmo e a provocação tinham evaporado. Um
homem que eu mal conhecia, da porra da Bratva, me
oferecendo abrigo. A vida nunca me deu esse tipo de
chance, mas agora parecia que eu tinha sido sugado
para dentro de algo maior do que podia entender
naquele momento.
— Certo — concordei secamente, sem olhar para
ele, mas a verdade é que eu não tinha escolha. E por
mais fodido que fosse, aquela sensação de ter um
lugar, de finalmente não estar sozinho, me trouxe um
tipo de alívio… O tipo que eu não queria sentir.
“Gritando, enganando e sangrando por você
E mesmo assim você não me ouve (afundando)’’
Going Under - Evanescence

Agosto 2023
O vento frio de Moscou corta meu rosto quando
abaixo o vidro do carro e deixo Dimitri no ponto
combinado para fazer a ligação com o tal Vlad. A
cidade está silenciosa, ainda que haja um fluxo
contínuo de pessoas e carros. Eu me sinto inquieta,
como se o caos que me persegue estivesse à espreita,
prestes a emergir a qualquer momento.
— Não vou demorar — Dimitri dissera com seu
habitual tom de comando, antes de me deixar para
trás.
Eu precisava de um momento para mim mesma,
longe do peso sufocante daquele homem. De alguma
forma, depois de tudo que aconteceu no hotel, eu
precisava de espaço. Só eu e o silêncio entre uma
decisão e outra.
Caminho pelas ruas de Moscou, ruas que eu
conhecia tão bem. Cada esquina traz uma lembrança
de quando eu era criança, perambulando por essas
mesmas calçadas, implorando por comida nas vitrines
reluzentes das lojas. O contraste entre a Hailey de
hoje e aquela versão perdida de mim é gritante, como
se eu tivesse deixado partes de quem eu era
espalhadas por cada canto da cidade. Fragmentada,
quebrada, irreconhecível.
Compro alguns pares de sapatos novos e uma
jaqueta de couro, me permitindo o luxo de sentir um
breve alívio, que as compras me traziam, ainda que
soubesse que não duraria.
Faço uma última parada em uma loja de cigarros
e compro um eletrônico de framboesa. O gosto doce
invade minha boca e a fumaça leve inunda meus
pulmões. Expulsá-la no ar frio da noite me dá uma
sensação momentânea de controle, um alívio para a
constante batalha dentro da minha cabeça.
Já está escurecendo quando finalmente chego ao
estacionamento, com as sacolas nas mãos, meus
passos mais lentos, acompanhando o caos em minha
mente. O silêncio das ruas começa a pesar. Não era
mais reconfortante como antes, havia algo fora do
lugar, uma sensação incômoda que me fez parar por
um segundo.
Foi quando senti. Estou sendo observada.
Seguida.
Meu corpo entra em alerta imediatamente. Giro o
pescoço, meus olhos varrendo o estacionamento,
tentando localizar Dimitri, mas ele não está lá.
Desgraçado. Não era incomum que ele sumisse sem
aviso. Afinal, fugir era trivial para um traidor como
ele. Respiro fundo, tentando manter a calma, mas
meus instintos gritam. Algo estava prestes a
acontecer, e eu sabia que como sempre eu não podia
contar com ninguém para me salvar.
Continuo andando, sentindo meu corpo inteiro em
alerta. Eram cinco. Eles emergem das sombras como
predadores, suas intenções tão claras quanto o ar
gelado que circula pelo estacionamento. Um deles, o
que parece ser o líder, está sorrindo, uma expressão
nojenta estampada em seu rosto.
— Uma princesinha não devia passear sozinha à
noite — ele zomba, se aproximando.
Ranjo os dentes, fechando os punhos e já
puxando uma das facas que guardo na coxa. Meus
pelos eriçam, meus olhos atentos esquadrinhando o
rosto de cada um deles. Os que eu não conseguisse
matar agora, certamente iria atrás depois.
Os cinco avançam de uma vez, cada movimento
deles calculado, treinado. O primeiro tenta me
agarrar, mas meu corpo já está em modo de combate,
minha mente fria e calculista. Desvio rapidamente,
dando-lhe um chute na lateral do joelho, o som de
ossos quebrando ecoando no estacionamento. Ele
grita e cai no chão.
Eu não espero o próximo. A adrenalina corre
quente nas minhas veias. Pego a faca e perfuro o
estômago do segundo, girando a lâmina até ele tossir
sangue e desabar.
Dois a menos.
Mas o terceiro já está em cima de mim. Ele me
golpeia nas costelas, o impacto me tirando o ar por
um momento, mas reajo rápido, cortando seu pescoço
com um movimento preciso. O sangue jorra enquanto
ele cai de joelhos, agarrando a garganta.
Três.
— Porra! Essa vadia é louca! Mate ela, logo, Irlov!
— grita o cara de moicano, seus olhos brilhando de
adrenalina enquanto me encara.
Os dois se entreolham, o medo cintilando em seus
olhares. O sorriso que se forma em meu rosto é cruel.
Malditos fracotes.
— Mata você! — responde Irlov, com a voz
trêmula, claramente nervoso.
Sentindo a fúria queimando em minhas veias,
avanço em direção a eles, os dentes à mostra, quase
delirando com a ideia de cortar a carne daqueles
malditos. A vontade de atacá-los me consume, mas o
barulho do gatilho sendo destravado congela meu
movimento. O metal frio da arma pressiona-se contra
a parte de trás da minha cabeça, e toda a adrenalina
evapora em um instante. Meu corpo inteiro fica
paralisado. Os homens também se congelam, os olhos
arregalados fixos na figura grande que está atrás de
mim. Medo toma conta da cena, e a atmosfera muda
de um confronto iminente para uma tensão opressora.
— Nikooooo! — um grito corta o ar, e todos nós
viramos ao mesmo tempo. Vejo Dimitri correndo na
nossa direção, e os homens imediatamente apontam
suas armas para ele.
Ele levanta as mãos, se aproximando devagar, e
meu corpo gela. Que merda aquele idiota está
fazendo? A arma ainda pressionada contra meu
cabelo parece pesar mais do que nunca, e o
desespero começa a me consumir.
— Niko… espera, cara. Me escuta, ok?! Só… por
favor, não… atire… não a mate… ainda — ele grita,
com a voz firme e convicta. Mesmo que eu possa ler o
desespero em seus olhos.
Os homens hesitam, a incerteza agora pairando
no ar como uma nuvem densa. Era a chance que eu
precisava. Com o instinto de sobrevivência me
guiando, faço uma rápida análise da situação,
avaliando as reações e as expressões. Eu precisava
agir rápido.
O homem atrás de mim, que aparentemente se
chamava Niko, não deixa de pressionar a arma na
minha cabeça, em uma ameaça explícita de que se eu
tentasse algo, ele explodiria meus miolos. Mas escuto
seu suspiro cansado, como se lidar com Dimitri fosse
sinônimo de dor de cabeça.
— Porra, Dimi! Por que sempre tenho que limpar
suas merdas? — Niko pontua, a frustração evidente
em seu tom.
Dimitri, ainda com os braços levantados, sorri
divertidamente, aquele desgraçado. Sorri!
Porra! Eu vou matá-lo.
— O que posso dizer, cara? Você é bom nisso —
ele zomba, lançando um sorriso para o homem atrás
de mim.
— A garota matou três dos nossos homens, Dimi,
sabe como as coisas funcionam, Alexey não é
paciente — Niko esclarece e sua voz é baixa, obscura.
Dimitri passa a mão entre os cabelos, suspirando,
enquanto segura o queixo como se ponderasse a
situação. Ele se balança para frente e para trás, uma
expressão de despreocupação em seu rosto que só
aumenta minha raiva.
— Porra! Você tem razão. — Meus olhos quase
saltam das órbitas. — Mas não acha que Alexey vai
querer informações sobre essa maluca? Sabe de onde
ela veio? Como conseguiu fazer toda essa merda?
— Seu filho da puta, idiota! — rosno, avançando
em direção a ele, desejando rasgar a cara dele com
as próprias mãos. Mas Niko me contém, puxando meu
cabelo para trás de forma brusca, me fazendo sentir a
dor de sua força.
— Calma, garota! — Niko ordena, a tensão em sua
voz misturando-se com um desespero crescente. — Se
você quiser sair viva dessa, é melhor parar de reagir.
Dimitri anda entre nós, como se estivesse
desfilando em sua casa, uma mão no queixo enquanto
analisa a situação.
— Olha Niko, sabe… não sou muito inteligente e
você sabe disso — informa casualmente. — Mas sabe,
sei o quanto Alexey precisa de informações pra toda
essa merda funcionar — pontua firmemente. — E se
tem alguém que as tem, é essa cadela aí.
A minha vontade de matar Dimitri aumenta a
cada segundo, dos jeitos mais dolorosos e perversos
que podiam existir. Eu me sentia espumando de raiva,
meu corpo treme com vontade de destroçar aquela
cara de maldito dele.
Niko suspira, parecendo ponderar, avaliando as
palavras de Dimitri. O queixo dele se contrai, seus
olhos avaliando não apenas Dimitri, mas também a
mim. A tensão no ar é palpável, e a linha entre a vida
e a morte se torna cada vez mais tênue. Eu sinto a
adrenalina pulsando em minhas veias, um impulso
feroz de lutar contra o destino que tentavam me
impor.
— Certo… Certo… vamos levá-la até Alexey —
Niko aceita com a voz baixa, tirando a arma da minha
cabeça.
Dimitri sorri, soltando o ar em um tom de alívio.
Mas em instantes, seus olhos arregalam, olhando algo
atrás de mim.
— Cara, você não preci…
A voz de Dimitri é cortada pela pressão repentina
que sinto na cabeça. Um frio gélido percorre meu
corpo enquanto meus olhos giram e o mundo ao meu
redor se torna um borrão.
E então, sou engolida pela escuridão. A última
coisa que vejo antes de tudo escurecer é o céu
estrelado de Moscou, a última lembrança de tudo o
que seria arrancado de mim e ali eu entendi.
O inferno estava só começando.
Avaliação:
Com o progresso do pacto, as partes entram na fase
de avaliação, onde analisam os resultados das ações
realizadas. Elas discutem o que está funcionando, o
que não está e como as mudanças nas circunstâncias
podem afetar o pacto.
“É uma bondade, alteza
Migalhas não são para todos
Velhos e jovens são bem-vindos à refeição”
Eat Your Young - Hozier

Setembro 2023
O barulho alto do soco atingindo minha cara ecoa
pelo espaço, um som seco que reverbera na minha
cabeça enquanto o gosto metálico de sangue enche
minha boca. Eu grunho de dor, inclinando a cabeça
para o lado e cuspindo o líquido vermelho que se
acumula.
— Porra, cara! Sem quebrar os dentes, sabe que
não fico tão bonito sem eles — chio para Alexey, que
já me deu alguns golpes bem dados desde que me
trouxeram aqui. Ele bufa, as narinas dilatadas de
raiva, o corpo tenso.
— Não torne essa merda ainda mais difícil, Dimi.
Diga logo, quem é essa garota? — ele cospe as
palavras com fúria, seus olhos faiscando enquanto
espera minha resposta.
Viro a cabeça para o lado, tentando limpar a
mente enquanto cuspo mais sangue no chão. Ao olhar
para Hailey, suspensa nas mesmas correntes que eu,
algo em mim se abre. Seus olhos arregalados me
atingem como um soco no estômago, me fazendo
perder o fôlego por um segundo. Eu estava
desesperado, mas tinha que manter o controle. O que
ninguém te conta sobre a máfia russa é que,
enquanto eles não tiverem certeza se você é ou não
um traidor, é tratado como tal até terem certeza.
— Como eu vou saber, cara? Essa cadela não me
disse nada. — Mentir para Alexey era como rolar os
dados com a própria vida. Qualquer deslize, qualquer
traço de hesitação, e tudo estava acabado. Mas se ele
soubesse que Hailey era da CIA, se soubesse todas as
merdas que ela tinha feito, não pensaria duas vezes
antes de matá-la.
Os olhos de Alexey se estreitam. O silêncio é
quase insuportável. Eu posso ouvir o zumbido distante
de vozes no corredor, o som das correntes balançando
suavemente e a respiração pesada de Hailey do outro
lado. Ele solta um suspiro pesado antes e me soca
mais uma vez, com tanta força que sinto a vibração
do impacto no meu cérebro.
— Não toque nele! Seu idiota — Hailey grita, se
remexendo nas correntes. — Se você o matar, eu vou
fazer picadinho de você.
Alexey se afasta de mim, sua sobrancelha loira
levantando-se, incredulamente. Porra! Essa garota
não fazia ideia do que tinha acabado de fazer.
Ameaçar a porra do Parkhan da Bratva? Essa
cadela era mesmo maluca.
— Cala essa boca, sua cadela burra! — rosno
entre dentes, tentando desesperadamente controlar a
situação antes que seja tarde demais. Eu não poderia
permitir que isso desandasse ainda mais.
Hailey me lança um olhar de puro ódio, os dentes
arreganhados em um rosnado feroz. Ela se debate nas
correntes como um animal encurralado, pronto para
atacar.
— Cala você, seu cuzão! Covarde de merda! — ela
retruca, cuspindo as palavras como ácido.
Ela se debate nas correntes, rosnando com os
dentes arreganhados para mim.
Os olhos de Alexey passeiam de mim para Hailey
e ele leva alguns minutos avaliando a situação,
enquanto travo a mandíbula, contendo a vontade de
devolver o insulto e ele nos encara, girando a cabeça
de um lado para o outro. Revira os olhos e me atinge
novamente, rasgando um corte profundo no meu
lábio.
— Quem é essa cadela, porra? — ele berra na
minha cara. Ranjo os dentes, respirando
pesadamente. Eu sorrio com os dentes sangrentos e
olho para Hailey, vestindo minha melhor expressão de
desdém.
— Eu não sei. Hey, cadela, quem é você? —
questiono com um sorriso. — Você é bem gostosinha,
mas não faz meu tipo.
— Vai ser foder, Dimitri! Pro inferno, você e todos
esses filhos da puta — ela grunhe, se balançando nas
correntes, como a porra de um animal selvagem.
Porra!
Alexey segurou a ponte do nariz, seu olhar entre
cerrado entre mim e ela, e confusão toma suas
feições. Todavia, se tem algo que meu Parkhan não é,
é burro. E ali eu vejo brilhar em seus olhos o
entendimento, a merda que eu tanto tentei esconder
e que seria a nossa sentença de morte. Alexey
caminha até mim novamente, puxa meu cabelo e
aponta a arma contra minha testa. Meu coração
acelera, o sangue ficando gelado, e ele olha em meus
olhos e com um sorriso frio diz:
— Você não vai dizer nada, Dimi, conheço você —
afirma, apertando mais meu cabelo. — Você pode ser
um filho da puta maluco, mas aguenta dor. Não vai
entregar a garota mesmo que eu escalpele sua carne.
— Solta ele! Solta ele agora, filho da puta! —
Hailey rosna, trincando os dentes e sacudindo as
correntes que seguram seus pulsos.
Engulo em seco, rangendo os dentes pelo aperto
da morte em meus cabelos, meu rosto lateja pelos
socos que eu tinha tomado, e podia sentir o sangue
escorrendo pela minha boca, misturando-se ao sabor
metálico que parece impregnado na minha língua.
Cada músculo do meu corpo está tenso, solicitado a
resistir a dor sem fraquejar. Mas Hailey... ela está em
pânico. E aquela merda é perigosa, se ela abrir a
boca, estaremos fodidos.
O som distinto do clique da arma sendo
destravada congela o ar ao meu redor. Hailey vê, e
isso a leva ao seu limite.
— Eu sou da CIA — ela grita com a voz
embargada. — Fui contratada para matar Dimitri, ele
não tem nada a ver com isso. Por favor. Não o mate.
Alexey sorri para mim, como se quisesse provar
que ele tinha um ponto. E naquela hora eu sabia que
estávamos muito fodidos… Alexey tira a arma da
minha cabeça, e no outro instante já está apontando
a arma para a cabeça dela. Meu coração parece que
sairia pela garganta, o pânico me toma, meu sangue
corre gelado.
— Alexey, por favor, cara! — berro, me
debatendo, lutando contra o agarre das correntes. —
Não a mate, porra, não toque nela.
Hailey é uma puta maluca, pois levanta a cabeça,
olhando-o nos olhos, sustentando o olhar assassino
que ele lhe lança. Ela não hesita, não treme, a
maldita não expressa uma única centelha de medo.
— Alexey! Me ouça, porra! Mate a mim. — Ranjo
os dentes, aquelas palavras são como assinar meu
atestado de óbito, mas diante daquilo eu não tinha
outra escolha.
Era isso, ou vê-la morrer… E aquela porra de
nenhuma fodida maneira ia acontecer.
— Eu sou um traidor. Vendi informações da
organização para a CIA. Essa cadela está mentindo,
ela é só uma maluca que eu fodi. — A mentira queima
minha língua como ácido corrosivo.
Hailey arregalou os olhos, me fuzilando com os
orbes azuis.
— O quê? — exaspera indignada. — Seu filho da
puta! É mentira, não está vendo? Ele é um maldito
mentiroso.
Alexey tira a arma da cabeça dela, usando-a para
coçar o cabelo loiro, enquanto reveza seu olhar de
mim para Hailey.
— Fui eu, porra! Me mata, caralho — rujo em
plenos pulmões
— É mentira, eu sou da CIA, esse filho da puta
está mentindo.
— Fui eu, porra — grito mais alto.
— Não foi não, fui eu!
— Cala essa maldita boca, não a escute, me mata
e deixa essa cadela ir.
— O quê? Nem fodendo. Ele é patético, eu matei
seus homens, o sequestrei e ia matá-lo.
— Ela está mentindo, fui eu. Fiz tudo sozinho.
O som do tiro reverbera no espaço, silenciando
instantaneamente a troca frenética de acusações
entre mim e Hailey. Alexey mantém a arma erguida,
ainda apontando para o teto, seus olhos gelados fixos
em nós dois. O silêncio que se instala é tão intenso
quanto o barulho ensurdecedor do tiro.
— Calem a boca, porra! — Alexey ruge irritado, a
fúria e a frustração vibrando em sua voz. Ele coça a
cabeça com a arma, soltando um bufo exasperado
enquanto olha de mim para Hailey, como se não
acreditasse na merda que está acontecendo.
— Caralho! Por que se tornou tão difícil matar
uma mulher nessa organização? — ele resmunga,
passando as mãos, pelo rosto, seus olhos percorrem
entre mim e Hailey, franzindo o cenho. — Afinal, que
porra vocês são? — ele questiona, descrente, seus
olhos se estreitando enquanto avalia cada um de nós.
O silêncio cai pesado na sala, mas o clima continua
carregado de tensão.
Minhas mãos estão suadas, e eu posso ouvir
Hailey ofegando na minha frente. Com um movimento
brusco, ele guarda a arma na parte de trás das
calças, como se estivesse cansado de tudo. Apoia as
mãos na cintura e solta um suspiro, bufando.
— Niko! — Alexey o chama, e ele se materializa
facilmente à sua frente.
— Meu Parkhan — Niko responde com a voz firme,
mas ao mesmo tempo submissa, consciente do poder
explosivo de Alexey.
— Tire esses desgraçados da minha frente… —
Alexey ordena, sua paciência claramente esgotada. —
Tranque esses putos em uma jaula e só os tire de lá
quando a porra da história deles começar a bater —
ordena, antes de sair da sala a passos duros.
“Eu quero arruinar meu amor
Você sabe que ela gosta de fingir
Eu quero arruinar meu amor’’ Break My Baby – KALEO

Setembro 2023
Tateio a junção entre metal e as barras de ferro,
me pendurando de cabeça para baixo, batendo,
cutucando, buscando algum tipo de erro no ligamento
entre a solda daquela maldita jaula. Minhas pernas se
enrolam na estrutura metálica e eu subo ainda mais e
meus dedos passam pelo filamento de estruturas de
aço. A frustração pulsa em meu peito, pesada e
sufocante, mas eu me recuso a desistir. Preciso de
uma saída.
— Não seja burra, isso é metal puro, é
inquebrável — Dimitri resmunga, sua voz gotejando
desdém. Ele está sentado no chão da jaula, relaxado,
como se aceitar nosso destino fosse a única opção
viável.
Eu o ignoro, concentrada em cada detalhe das
barras de metal, buscando alguma imperfeição que
me dê qualquer tipo de vantagem.
— Já escapei de lugares bem piores do que esse
buraco — retruco, meu tom afiado como lâmina. —
Então cala a merda da boca e me deixa trabalhar.
Ele bufa, rindo, eu posso sentir a merda dos seus
olhos me analisando enquanto eu me penduro de
cabeça para baixo, tentando verificar se tranca da
jaula tem qualquer tipo de fraqueza. A fúria borbulha
em minhas veias, ranjo os dentes e com um
movimento rápido, solto as barras, caindo de pé.
Aquela merda deve ter no mínimo 4 metros do teto ao
chão. Forjada com barras de aço e metal pesadas e
resistentes.
Fecho os punhos, fincando as unhas na carne das
palmas, e meu corpo treme enquanto eu olho para
Dimitri, queimando-o vivo com meus olhos. A postura
relaxada e o sorrisinho canalha estão me deixando
louca.
— Isso é tudo culpa sua! — rujo, me aproximando
dele como uma cobra dando o bote.
Seus olhos azuis queimam, inflamados em fúria, e
ele se aproxima, ficando de pé em um segundo, sua
altura e sombra me cobrindo, mas eu não me importo.
Eu mataria aquele desgraçado, nem que precise usar
os dentes para isso.
— Culpa minha? — Ele sopra uma risada
escarnecedora. — Se tivesse calado essa maldita
boca, poderia estar fora daqui. Mas você não é boa
nisso, não é, Hailey?
Franzo a testa, espumando de raiva.
— Você não vai se livrar de mim morrendo,
Dimitri. — Empurro seu peito com força, fazendo-o
cambalear para trás. — Sua morte me pertence, seu
filho da puta. É o mínimo que pode me dar depois de
tudo o que eu passei. Depois de tudo o que você me
causou! — cuspo as palavras, cada sílaba carregada
de um veneno que está preso na minha garganta há
tempo demais.
Ele ergue as sobrancelhas e uma sombra toma
seus olhos tão obscura que sinto meu corpo inteiro
arrepiando, mas eu não paro. Já que estávamos
naquela merda de situação, ele ia me ouvir. Ouvir
toda merda que, por ele ser um maldito traidor, tinha
me causado.
— O que você passou? — ele escarnece com o
sorriso sarcástico. — Você só pode estar de palhaçada
com minha cara.
Levanto a mão, batendo em seu braço, socando
seu peito, as malditas lágrimas enchendo meus olhos
e aquela dor antiga, uma que eu não queria admitir
que ainda existia, me inunda como uma enchente, me
afogando.
— É só o que você faz. Você foge. Como um
maldito covarde — rosno com a voz embargada.
Dimitri contém meus pulsos, que ainda o atacam, e
me encara seus olhos esquadrinhando cada parte de
mim, como se pudesse acessar minha alma com
aquela porra de olhar.
— De que caralho você está falando, sua maluca?
— Sua voz é acusatória, punitiva, como se eu o
estivesse culpando por algo absurdo.
Eu sorrio sem humor, indignada com a sua falta
de caráter ser tão fodida, a ponto de ele se fazer de
desentendido. Meus olhos queimam, as lágrimas
borbulhando, meu coração bate tão rápido e meu
peito se retorce. Mexer naquelas feridas é como enfiar
a faca nas próprias entranhas e a torcer.
— Você me deixou, porra! — grito com voz
tremendo de ódio. — Fugiu como o grande filho da
puta que é. Me deixou para morrer. — A voz sai
embargada e as lágrimas que eu vinha segurando
finalmente caem. — Quebrou a porra do nosso pacto.
Os olhos de Dimitri, tão frios e impenetráveis, se
estreitam por um segundo, mas ele não diz nada.
Como naquele dia na chuva. O maldito parece uma
pedra. Suas mãos apertam meus pulsos e com as
lágrimas grossas e pesadas queimando minha
bochecha, eu continuo.
— Eu confiei em você, eu entreguei minha vida a
você. Meu maldito sangue. — Cada sílaba parece
cortar minha carne mais profundamente. — Você não
sabe o que foi pra mim... ser descartada, como se eu
não valesse nada. Como se nós não fossemos nada. —
A voz falha, mas eu me recupero rápido. — Você só
pensou em salvar a própria pele. Nem olhou pra trás!
Me deixou... sozinha, perdida, achando que ia morrer
sem você.
Minha respiração está descompassada, meu peito
sobe e desce ritmicamente, eu me sinto derretendo,
como se meus ossos estivessem descolando da pele.
Me expor dessa forma é inaceitável, eu nunca o
fizera.
Nunca.
Só com Dimitri.
Só com aquele maldito.
— Quando você me deixou… — fungo, engolindo o
soluço. — E… eu… me tornei… tive que me tornar
essa coisa horrível… — Seus olhos me sondam, como
se estivessem vasculhando minha alma. — Sem
piedade. Sem empatia. Sem sentimentos. Vazia. Oca.
Suja. Podre por dentro.
O espaço fica em silêncio. A dor que eu carregava
por tanto tempo agora está exposta entre nós, crua,
pútrida e sangrando. Eu me sinto desmoronando, me
afogando em toda aquela maldita dor, todo aquele
desespero. As lembranças dos Evans enchem minha
mente, cortando-me, me batendo, me violando.
Dimitri dá um passo à frente e antes que eu
possa reagir, ele pega meu rosto com firmeza, seus
dedos ásperos segurando minhas bochechas. Os olhos
dele me devoram, aqueles malditos olhos azuis
intensos, queimando-me viva, consumindo minha
alma como um fodido dementador [10] . Ele me
aprisiona no seu olhar, apertando minhas bochechas
com mais força, respirando descompassadamente
contra minha boca, avaliando minhas lágrimas, como
se quisesse confirmar se seu estrago é real.
— Eu não faço a mínima porra de ideia do que
você está falando! — Sua voz sai baixa, quase um
sussurro, porém reforçando cada sílaba, o peso das
palavras parece bater em mim como um incêndio.
Cada frase me queima por dentro, trucidando-me,
arrebentando cada parte minha. O ódio me toma de
maneira visceral, eu me solto dele e girando o corpo
com toda força que eu tenho, espalmo um tapa na sua
cara, que o faz virar o rosto com o impacto. Minha
palma queima e meus dedos latejam pela violência.
— Seu filho da puta cínico! Egoísta de merda!
Maldito!
Dimitri me pega pelos ombros, apertando tanto
que eu sinto dor pela brusquidão, ele me sacode e eu
luto, me debatendo.
— Sua maldita cadela louca! É isso o que quer?
Quer me enlouquecer? — ele grita na minha cara, tão
forte que gotas de saliva voam na minha cara.
Eu me debato contra o agarre dele, lutando com
tudo o que eu tenho. Minhas mãos tentam socá-lo,
minhas unhas arranham seus braços, minha mente só
planejava destroçá-lo, eu só enxergava tudo
vermelho, rosnando, mordendo, como um animal.
Quando percebo que não posso vencer aquela força
brutal, faço a única coisa que me resta: cuspo
naquela cara mentirosa dele.
Dimitri arregala os olhos, uma mistura de choque
e incredulidade passa por seu rosto. Mas isso dura
apenas um segundo, pois em um movimento brusco,
ele me empurra contra as grades da jaula, prendendo
meu corpo com o dele. A força do impacto e a
proximidade do seu corpo me fazem arfar, o calor da
sua pele contra a minha é sufocante, esmagador.
Minha respiração descompassa ainda mais e meus
mamilos traidores apontam sob a blusa. Meu coração
bate tão forte, que eu posso ouvi-lo.
Com uma mão, Dimitri limpa o rosto onde eu
havia cuspido nele, seus olhos nunca se afastando
dos meus. Com a outra mão, ele agarra meu cabelo
com força, forçando minha cabeça para trás,
obrigando-me a olhar naquela cara maldita. Eu tento
resistir, mas ele parece implacável. Seus olhos
queimam de uma raiva antiga, quente e profunda,
algo que eu não esperava ver ali.
— Quer falar sobre egoísmo, Hailey? — Sua voz é
corrosiva, acusatória. — Por que não falamos sobre
quando VOCÊ me deixou, para viver a vida perfeita
com a porra dos seus pais perfeitinhos?
— Cala essa boca mentirosa! — rosno gritando.
Ele ri escarnecedoramente, apertando meu couro
cabeludo, fazendo arder.
— Ou que tal falarmos sobre como armou pelas
minhas costas para ser adotada sozinha e finalmente
se livrar de mim? — Suas palavras carregadas de
ódio, ressentimento, mágoa e dor.
— Cretino! Mentiroso de merda — cuspo
rosnando, com o corpo inteiro queimando, de raiva,
de dor, daquele maldito tesão.
Ele ri, aquele riso sarcástico que sempre me
destruiu por dentro. Seu agarre no meu cabelo fica
mais forte, como se ele quisesse me punir por seja lá
qual merda. Eu arreganho os dentes para ele,
rosnando, me debatendo, ignorando aquela dor do
caralho no couro cabeludo. Dimitri se aproxima mais,
sua outra mão fecha-se em minha garganta, e como
se estivesse agonizando, ele sorri, um sorriso
diabólico.
— E você conseguiu, não foi, Hailey? — ele
inquire, sua voz pingando ódio, ressentimento e
escárnio. — Finalmente se livrou de mim, não foi? A
princesinha finalmente livre do lixo que eu era.
Cada palavra dele é uma lâmina perfurando
minha alma, tudo o que eu sentia transbordava, me
afogando. A dor, rancor, ódio e mágoa... estão todos
ali, expostos entre nós. Eu não conseguia respirar.
Não conseguia raciocinar direito. Minha mente está
tão embasada que eu me sinto caindo de um
precipício.
— Huh, huh. — Um pigarro de garganta corta o
silêncio assassino entre nós. Nossas cabeças giram
instantaneamente.
Um homem mais velho, alto, de cabelos
acobreados e de óculos nos encara como se visse dois
animais brigando no zoológico. Ele carrega uma pasta
e veste calças sociais e camisa preta.
— Petrova? — Dimitri questiona, ainda sem me
soltar.
O homem ri, um som leve, quase zombeteiro. Ele
enfia as mãos nos bolsos e profere.
— Eu disse que aquela era a última noite que
passaria preso, garoto!
“Sempre bom
É sempre bom te ver
Oh, é sempre bom te ver’’
Tom’s Dinner - AnneMayKantereit

Setembro 2023
Mastigo desesperado, sentindo o gosto delicioso
de manteiga, ervas e a carne suculenta dissolvendo-
se em meus dentes. Engulo tudo, atacando com mais
uma mordida generosa, a voracidade tomando conta
de mim. O cheiro das batatas crocantes é gostoso pra
caralho. Olho para Hailey, que come seu hambúrguer
na mesma velocidade que eu ou um pouco mais
rápido. Já fazia um tempo que eu não fazia uma
refeição decente, desde que toda essa merda
aconteceu.
— Vocês eram colegas de jaula no mesmo
zoológico? — o Petrova zomba, à nossa frente.
Estávamos em um restaurante, sentados em um
daqueles bancos estofados, ele tinha pedido apenas
uma dose de vodka enquanto nos observava comer
como dois desesperados.
— Cala boca, porra — respondo, ainda com a boca
cheia.
Ele apenas ri, um sorriso desdenhoso que só
aumenta minha frustração. Hailey, por outro lado,
parece tão envolvida em seu hambúrguer que não
parece se importar com o comentário dele. Engulo o
bolo de comida, empurrando com um gole de suco.
— Como você conseguiu nos tirar de lá? —
pergunto, pegando uma batata.
Vicktor ri, como se a resposta fosse óbvia.
— Isso é decepcionante, garoto, te conheço há 9
anos e você não aprendeu nada comigo — rumoreja
ironicamente. — Todo mundo tem direito a um
advogado, mesmo na Bratva existem leis.
— Então o senhor é advogado? — Hailey entra na
conversa, o tom é curioso, mas não pejorativo.
Ele sorri para ela, assentindo com a cabeça.
— Há quase quarenta anos — revela com orgulho.
Engulo o resto de batata que eu ainda mastigava
e franzo o cenho.
— Eu não entendo. Alexey ia me matar… ele…
eu… eu disse que…
— Era um traidor e vendeu informações para CIA?
— ele completa com uma sobrancelha levantada.
Arregalo os olhos, encarando-o.
Merda, que caralhos estava acontecendo? O velho
era telepata?
— É, eu soube. Também soube de dois idiotas que
estavam brigando para morrer um pelo outro —
comenta com um sorrisinho sarcástico.
Hailey e eu nos olhamos por instante, aquelas
merdas que ela me disse ainda reverberando na
minha mente, desviamos o olhar nos concentrando no
Petrova a nossa frente. O velho mexe no rosto,
ajeitando os óculos redondos.
— Vamos lá, pensem nisso como uma saída
condicional, me contem toda merda que fizeram,
vamos alinhar os fatos e trazer uma história concreta
para Alexey — ele explica, a voz firme e autoritária. —
Temos pouco tempo para isso, então que tal começar
me dizendo quem é você e o que faz aqui? — Ele
aponta para Hailey com o queixo.
Tamborilo os dedos na toalha da mesa e passo a
mão pelos cabelos, jogando os fios, que caiem na
testa para trás.
— Quanto tempo temos?
— 24 horas, ou eles convocaram o conselho da
Bratva e reunirão a todos para matá-los — sentencia
seriamente.
Hailey bufa, cruzando os braços, e se joga no
estofado, fazendo um bico como a porra da cadela
mimada que é.
— Isso é ridículo, por que simplesmente não nos
matam? — ela questiona irritada.
Aquela cadela além de maluca era suicida?
Porra, Dimitri, como você pode ter errado tanto?
Viktor não se abala, olha para ela como tinha
olhado para mim naquele primeiro dia na sala de
visitas. Eu quase podia ver as palavras jovem e idiota
rodando ao redor de sua cabeça.
— As coisas não funcionam assim, garota, ser
uma organização criminosa tão poderosa exige muito
mais do que impulsividade e estripulias. — Hailey o
encara com raiva, eu posso ver que ela está contendo
as respostas naquela maldita boca venenosa.
— Parte disso significa manter pessoas
genuinamente habilidosas por perto. — Ergo a
sobrancelha, confuso pra caralho. — Dimitri pode ser
um idiota impetuoso — ranjo os dentes, fechando a
cara —, mas ainda é o nosso melhor torturador,
preciso, calculista, perigoso e cirúrgico.
Pisco os olhos e coço a cabeça, ficando meio sem
graça com o elogio. Eu não era bom em muitas coisas,
mas torturar, definitivamente, não era uma delas.
Aquilo para mim era como respirar, fácil e natural.
Hailey ri sarcasticamente, balançando a cabeça de um
lado para o outro de maneira incrédula.
— Ótimo, então no caso a descartável sou eu…
De novo — ela cospe, virando o rosto para o lado,
evitando nos encarar.
Aquelas palavras são carregadas de dor, rancor e
até uma certa… tristeza. O que me incomoda mais do
que eu gostaria de admitir. Lidar com minha própria
dor já é difícil, mas vê-la expor aquela merda que não
fazia o menor sentido, contorce minhas entranhas de
uma maneira fodidamente dolorosa.
— Você, apesar de ser um bichinho do mato,
selvagem e violento — Hailey fecha os punhos,
cerrando os dentes —, conseguiu matar homens com
o dobro do seu tamanho, é uma assassina
impressionante. Seria de grande utilidade em nosso
mundo.
Ela vira o pescoço, com os olhos arregalados,
solta o ar pesadamente, remexe os dedos no colo,
baixa os olhos e, pela primeira vez, desde que aquela
cadela tinha voltado para minha vida…
Eu a vejo corar.
Meu coração trota como um cavalo no peito,
meus olhos esquadrinham cada parte daquele rosto
perfeito, o tom rosado nas bochechas deixa sua pele
mais bonita, seus olhos mais brilhantes. Quando os
orbes azuis me flagram, eu desvio o olhar
rapidamente, fixando-me no Petrova.
De soslaio, sinto seus olhos me encarando,
agitando toda aquela merda embaixo da minha pele,
reanimando cada maldita célula minha que ainda
tinha devoção a ela. Engulo seco, sentindo o ar pesar,
o calor circulando meu corpo.
Porra!
— Preciso de vodka — peço, com a respiração
descompassada.
Viktor ergue a sobrancelha, alternando seu olhar
entre nós, em uma expressão de surpresa e
incredulidade que ele não faz questão de esconder. A
garçonete passa e eu praticamente imploro por uma
dose, e vendo meu desespero, a bebida chega tão
rápido quanto a tomo. Hailey revira os olhos,
suspirando.
— Eu sou da CIA, entrei com 16 anos e aos 19 já
era a assassina mais habilidosa de toda organização
— conta sem encarar Viktor. — Dimitri estava na
minha lista de trabalho, eu o cacei durante 5 anos,
até conseguir encontrá-lo.
Ele assente com a cabeça e eu cerro a mandíbula,
surpreso com a informação.
— Por que ele estava em sua lista? — questiona o
Petrova.
Hailey dá de ombros, empurrando o lábio para
frente.
— Eu não sei, nunca questionei os alvos, eu só os
matava. Sem perguntas, sem problemas, eu
simplesmente fazia o que tinha que ser feito —
murmura enfaticamente.
— Mas não com Dimitri. Você não o matou — ele
pontua.
Hailey o fuzila com os olhos, e soltando um
sorrisinho diabólico, ela diz.
— Ainda.
Solto um bufo, balançando a cabeça e revirando
os olhos.
— O que quero dizer, Hailey, é que de alguma
forma seu modus operandi mudou — ele observa,
coçando a barba. — A CIA é uma organização com
muito prestígio, nunca tivemos problemas com eles.
Aliás, é bem simples, eles não ultrapassam nossas
fronteiras e nós não ultrapassamos as deles.
— O que quer dizer? — ela questiona e eu o olho
com a mesma dúvida.
— Quero dizer que é estranho que Dimitri seja
seu alvo. Por que você em particular? Se fosse algo
ligado a Bratva, teriam mandado qualquer outro
agente. Existe algo que ligue vocês de alguma forma?
— ele pergunta, lançando olhares entre nós.
Engulo seco, desviando o olhar, e Hailey faz o
mesmo.
— Nós… éramos… órfãos no mesmo lugar… — ela
revela com a voz baixa.
O Petrova estala a língua, balançando a cabeça
negativamente.
— Algo mais aconteceu? Precisamos ter uma
visão clara de todos os fatores, Alexey precisa
compreender a magnitude de tudo isso, para caso
alguém tenha encomendado a morte de vocês dois,
precisarmos agir.
Hailey bufa, batendo os punhos na mesa e se
levantando bruscamente.
— Hey! Aonde você vai, cadela? — rosno, me
preparando para levantar.
— Ao banheiro, seu cretino — ela responde
rispidamente, antes de sair caminhando pelo corredor.
— Deixe-a ir — o Petrova aconselhou com a voz
baixa, meus olhos a seguem como um falcão até ela
entrar no banheiro. Passo as mãos pelos cabelos,
agitadamente, desespero e agonia queimando em
minha pele.
— Eu não vendi informações para CIA — admito
quase em um sussurro. Ele sopra uma risada.
— Acha que não sei disso, idiota? É por isso que
estou aqui, preciso de todas as informações — exige
com a voz firme. — Como aquela garota entrou para
CIA tão nova? O que aconteceu nesse orfanato para
vocês se odiarem tanto?
Remexo os dedos, batendo a perna embaixo da
mesa. Porra! Eu só queria um caralho de cigarro. E
não ter que falar do meu passado merda pra ninguém.
— Os pais adotivos dela, eles eram da CIA —
revelo, suspirando. — Provavelmente ela seguiu o
caminho daqueles malditos — sugiro, levando o dedo
até a boca e roendo a unha do canto.
Viktor bufa, revirando os olhos.
— Dimitri! Pare de fugir das perguntas, caralho!
— ele ruge, a voz carregada de preocupação. — Caso
não tenha percebido, estamos bem fodidos aqui, eu
preciso saber qual é sua maldita ligação com essa
garota e como…
A voz do Petrova se torna um borrão, eu não o
escutava mais, meus ouvidos zunem, meus olhos
vagueiam por entre seu ombro. Meus punhos fecham,
meus dentes rangem, a onda quente e odiosa emerge
dentro de mim como a porra de um vulcão em
erupção. Tudo dentro de mim ferve em segundos. O
desespero e a agonia haviam se transformado em
pura fúria.
Quando meus olhos digitalizam a imagem de
Hailey no corredor do banheiro, um cara enorme está
prensando-a contra a parede, seus braços bloqueando
qualquer rota de fuga, o corpo dele inclinado
perigosamente sobre o dela. Sua expressão é de pura
malícia, aquele sorriso torto e os olhos cheios de más
intenções. Hailey mantém o rosto virado, parecendo
tensa, mas em sua postura eu reconheço a mesma
velha raiva prestes a explodir. Levanto num salto,
com o corpo fervendo, as mãos formigando para
destroçar a cara daquele puto.
Aquela maldita cadela era minha.
Viva ou morta.
Traidora ou não. E ela definitivamente entenderia
aquela porra.
‘’Se você gosta do seu café quente
Me deixe ser a sua cafeteira
Você que decide, amor
Eu só quero ser seu’’ I Wanna Be Yours - Arctic Monkeys

Setembro 2023
Meu cérebro está fritando, a figura daquele
homem não só representa algo que aprendi a temer,
ela me lembra daquilo que eu nunca tivera. O jeito
como ele olha para Dimitri é paternal, como se
verdadeiramente se importasse, como se quisesse o
proteger de todas as decisões idiotas que faziam dele
quem era. Minhas mãos tremem, eu jogo, mais água
no rosto, tentando de alguma forma apagar aquelas
malditas emoções que insistem em submergir. Suspiro
pesadamente olhando para o espelho, seco as mãos,
meus pensamentos estão uma completa bagunça,
pois meu cérebro não consegue acompanhar a
velocidade dos acontecimentos, nem aceitar aquela
forma de ajuda. Saio do banheiro apenas para ser
abordada por um homem enorme, o rosto familiar de
uma lembrança distante, me encarando com um
sorriso sujo.
— Você cresceu bastante, hein, Hailey? — ele diz
com a voz embargada e um hálito horrível de álcool.
Um claro sinal de que está ébrio. — Eu sabia que
estava certo. Seus peitos... cresceram muito desde
que tinha 13 anos.
As palavras dele me atingem como um soco no
estômago. Meu corpo ferve e eu fechei os punhos,
pronta para atacar e rasgar a cara daquele filho da
puta. Ele me prensa contra a parede, rindo de forma
debochada, e meu coração começa a martelar no
peito.
— Se não quiser morrer, é melhor sair da porra do
meu caminho! — rosno, fuzilando-o com meus olhos.
Meu cérebro se torna lento demais para
acompanhar todos os acontecimentos seguintes, pois
no outro segundo aquele homem é levado ao chão
com Dimitri o puxando pela camisa e socando sua
cara com uma violência animalesca. Ele não perde
tempo; seu punho continua acertando o rosto do
sujeito com uma força brutal que faz um som seco
ecoar pelo corredor. O choque da situação me congela
por alguns segundos. O homem tenta se defender,
bloquear os golpes com o antebraço, mas já está
sangrando e Dimitri continua a socá-lo.
Só depois de alguns segundos que finalmente o
reconheço. Meu estômago revira quando a ficha cai.
— Dimitri! Para! — eu grito, tentando pará-lo,
mas ele me empurra e continua a socar o homem no
chão, que geme de dor e pedia clemência.
Agarro o cabelo de Dimitri por trás, tentando
refreá-lo, e ele recua com um impulso, me olhando
com um olhar assassino.
— É Konstantin! — grito, apontando para o
homem.
Dimitri ergue uma sobrancelha, seu cenho franze
em confusão e ele olha para o homem caído no chão,
que sorri, mesmo com o rosto todo fodido e sangue
pingando do supercílio. Os olhos de Dimitri arregalam
como se finalmente ele compreendesse a informação
que lhe dei, e no outro segundo ele volta a socar
Konstantin caído no chão. Como se saber quem ele
era fomentasse ainda mais sua sede de violência
— Dimitri! Para agora, porra — eu grito, tentando
afastá-lo. Mas Dimitri está cego de fúria, e ao invés
de parar, me empurra para o lado, continuando a
socar Konstantin com uma força desumana. O cara
geme, implorando por misericórdia, mas Dimitri
parece surdo a qualquer som que não seja a violência
de seus punhos na cara de Konstantin. Rosno,
agarrando-o, passando meus braços por baixo das
suas axilas.
Ele cede, deixando-se, ser levado para trás por
mim e mantenho o agarre segurando seus ombros,
praticamente pendurada pela diferença de altura. Ele
ofega, os punhos ainda fechados, prontos para
continuar se eu afrouxasse o mínimo em meu aperto.
Eu posso ver que ele está completamente fora de si,
consumido pelo ódio e pela necessidade ridícula de
me proteger.
Nós permanecemos juntos, agarrados, enquanto
Konstantin se esforça para se levantar. Aquele maldito
devia ser masoquista, pois nos olha com aquele
sorriso doentio, os dentes sujos de sangue, e sussurra
com dificuldade:
— Algumas coisas nunca mudam, não é? — ele
zomba.
Dimitri range os dentes, tremendo e pronto para
socá-lo de novo, e eu o aperto ainda mais contra mim,
sentindo seu peito subir e descer.
— Que porra você quer? — Dimi rosna, cada
palavra saindo como uma ameça mortal.
Konstantin limpa o sangue da testa com as costas
da mão, os ombros caídos, como se o peso do que
diria a seguir o esmagasse. Seus olhos evitam os
nossos por um momento, e eu vejo uma sombra de
vergonha passar por seu rosto. Ele hesita, a
arrogância e o deboche desaparecendo, sendo
substituídos por algo que parecia... culpa.
— Eu… eu… queria pedir desculpas. — Sua voz
sai baixa, quebrada, como se cada palavra fosse
difícil de ser pronunciada.
Aquelas palavras me atingem com uma mistura
de choque e incredulidade. Desculpas? Depois de
tudo? O homem que passou anos nos infernizando,
agora está ali, pedindo desculpas depois de anos. Eu
e Dimi nos olhamos, ambos com os olhos arregalados.
Konstantin suspira pesadamente.
— Eu… era um moleque burro, e naquele
momento qualquer coisa me comprava muito fácil —
revela com pesar e vergonha. — Tive inveja porque
vocês seriam adotados, eu já estava com quase 17
anos e nunca cheguei nem perto disso.
As palavras dele, investidas de vergonha e dor,
nos atingem em cheio. Eu absorvo cada sílaba, ainda
incrédula. Não é uma desculpa boa o suficiente para o
inferno que ele nos fez passar, mas ouvir aquilo
agora, depois de tanto tempo, é como abrir uma
ferida antiga. Dimitri parece estar tão paralisado
quanto a mim, ainda tentando digerir o que está
acontecendo.
Konstantin olha diretamente para Dimitri, com
tanta vergonha e arrependimento que é possível ver
seus olhos cor de mel ficando marejados.
— Me desculpa, cara, eu sei que nada que eu diga
será capaz de apagar o que fiz — lamenta com a voz
baixa. — Mas você sabe, a irmã Agnes… ela, bem…
ela me ofereceu 40 rublos, se eu conseguisse te fazer
brigar.
Franzo a sobrancelha, o que ele diz não faz o
menor sentido para mim. No entanto, para Dimitri,
parece ter algum significado oculto, pois ele fecha os
punhos com mais força, e eu posso sentir seu coração
batendo tão rápido quanto um cavalo de corrida.
— Cai fora! — Dimitri rosna a ordem entre dentes.
Ele hesita por um momento, como se quisesse
dizer algo mais, mas vê nos olhos de Dimitri que não
há mais espaço para conversas.
— Eu sei que não muda nada. Não estou
esperando perdão — diz ele, a voz quase um sussurro.
— Só quero que saibam... eu sinto muito. Sinto muito
por tudo.
Ele diz antes de sair caminhando para fora do
corredor e eu permaneço com a testa franzida, aquela
merda é estranha pra caralho. Depois de alguns
instantes, eu percebo que ainda estou agarrada a
Dimitri, engulo seco e me desvencilho rapidamente
dele.
— Que merda ele quis dizer com aquilo? —
pergunto, colocando uma mexa do meu cabelo atrás
da orelha.
Dimitri nega com a cabeça, seus olhos contêm
aquela sombra obscura e maligna, mas não parece
mais destinada a mim.
— Não tenho certeza, está tudo uma bagunça do
caralho — ele admite, bufando e passando as mãos
entre os fios negros.
Parece que toda vez que eu e Dimitri estávamos
juntos, uma onda de desgraças tinha a predileção de
cair sobre nossas cabeças. De certa maneira, nós dois
éramos como um verdadeiro ímã de catástrofes.
— Vamos! Temos que pensar em algo para dizer a
Alexey, antes de sermos mortos — ele relembra,
seguindo pelo corredor e eu vou atrás.
Observo suas costas por trás, os músculos
ondulando na camisa, e me lembro da tatuagem que
tinha visto na cabana. A palavra Neispravimyy [11] ,
escrita em uma fonte grossa e que grita
agressividade, é um contraste estranho, quase
irônico, pois eu me lembrava de ver a maldita irmã
Agnes usando aquele insulto inúmeras vezes com
Dimitri. Ele o tatuar na pele parece uma forma de
confirmar que ela estava correta.
Ele não podia ser corrigido, era uma causa
perdida, um caos completo.
Quando retornamos à mesa, o senhor Petrova nos
analisava com pesar nos olhos, como se fossemos a
descrição vívida de um caso perdido e ele bufa,
segurando a ponte do nariz.
— Acho que não vão conseguir convencer a
ninguém enquanto vocês dois não terem uma merda
de conversa decente, sem se insultar ou cuspir
ameaças um ao outro — ele constata, pesaroso.
Nós entreolhamos, ambos confusos, e reviramos
os olhos em uníssono.
— Minha conversa com essa cadela será quando
ela estiver morrendo, de preferência bem devagar —
Dimitri cospe com escárnio.
E novamente aquela expressão endurecida e
cheia de arrogância toma suas feições. A raiva me
domina, escorrendo como lava fervente, ranjo os
dentes e meu olhar o queima vivo.
— Seu cretino de merda! Eu vou matar você,
depois vou te ressuscitar só para poder te matar
novamente — ameaço, avançando contra ele, mas ele
não recua e nossos narizes ficam colados um no
outro. Nossos olhares duelando, ansiando pelo sangue
um do outro. Pela visão periférica, eu vejo o senhor
Petrova revirar os olhos e soltar um suspiro cansado.
— Vão ser as 24 horas mais longas da minha vida
— ele lamenta com pesar.
“Um dia desses, e não vai demorar muito
Você vai procurar por mim, e eu terei partido’’
I Believe To My Soul - Ray Charles

Setembro 2023
Aquela merda toda não faz sentido. Eu me sentia
como se estivesse entrando em parafuso, revivendo
cada momento daquela briga de infância com
Konstantin, repassando as cenas minuciosamente,
tentando encontrar algo incomum. Tentando entender
como, depois daquilo, minha vida tinha virado um
inferno. Como eu tinha me afundado no caos depois
de perder Hailey, como eu tinha me prejudicado por
anos por ter perdido o controle naquele maldito dia. E
como, porra, eu tinha fantasiado a vida que eu teria
tido se eu não tivesse socado Konstantin até meus
punhos ficarem roxos.
O peso das lembranças me engole por inteiro no
silêncio opressor que se forma dentro do carro. Viktor
dirige, os olhos fixos na estrada, sem dizer uma única
palavra durante todo o trajeto. Hailey está ao meu
lado, quieta, o olhar dela perdido em algum ponto
fora da janela, provavelmente tão incomodada quanto
eu com a merda que a vida jogou em cima de nós. Ela
não parece contente com a situação, mas também
não tem outra escolha, exceto aceitar o que Viktor
disse, apenas para sair dessa viva.
Tento não voltar as merdas ela me disse na jaula,
mas é impossível, meu cérebro martela cada maldita
palavra, espancando minha sanidade, minando
minhas certezas e balançando meus muros, mas ainda
pior do que isso, acendendo o sentimento mais
perigoso que existe: esperança… de que talvez,
apenas talvez, ela não tivesse me abandonado
daquele jeito.
Não seja ridículo! Isso é burrice, porra!
Quando o carro para na velha mansão dos
Petrova, eu sou arrancado dos meus pensamentos à
força. Nós ficaríamos na mansão até que
conseguíssemos pensar em algo decente para dizer a
Alexey no dia seguinte, o que com sorte nos manteria
vivos, mas isso era apenas uma possibilidade… uma
bem pequena.
Quando entro passando pela sala de estar, indo
para sala de jantar, meu sorriso desponta
automaticamente.
— Tio Dimi! — Yuri, o filho de 5 anos de Vlad,
grita, pulando de sua cadeira e correndo para abraçar
minha perna.
A mesa de jantar está reunida com toda a família
Petrova. Anya e o americano, a garotinha Mary, que
abre um sorriso completo quando me vê, a garota
Rogers, que está sentada na ponta acariciando a
barriga inchada com o quarto filho de Vlad, o mesmo
se levanta vindo até mim, os outros dois filhos dele,
ambos com 2 anos, presos a suas cadeiras de
alimentação, se chamam Andrey e Nikolay, o último
foi uma homenagem a Niko, que sua esposa fez após
atirar nele a alguns anos atrás.
— Hey, carinha. Você tá forte, hein? O que acha
de sairmos na porrada qualquer dia desses? — falo
para o pequeno Yuri, pegando-o no colo.
Ele ri, levantando os bracinhos, fechando os
punhos e simulando que vai me acertar. Vlad ri,
aquela risada selvagem e brutal que eu conheço bem.
— Papai, quero sair na pouada com tio Dimi — o
garotinho pede com os olhos castanhos brilhando.
Vlad revira os olhos, coçando a barba ruiva.
— Acho que terei que fazer isso primeiro, filho —
ele diz ao moleque.
A esposa de Vlad pigarreia com a garganta, os
olhos castanhos dela fuzilando a nós dois e eu engulo
seco, sentindo meu corpo todo arrepiar. Aquela
maluca ainda me botava medo, se ela atirou no
próprio marido, era melhor não arriscar. Devolvo Yuri
para Vlad, virando-me para trás.
E por instante, meu peito aperta, é como tomar
um soco no estômago. Hailey está paralisada a uma
distância que para ela parece segura, seus olhos
analisam a cena da família reunida, com uma
expressão de horror e pânico, como se aquela cena
fosse aterradora demais para lidar. Seus olhos contém
dor, medo, pavor e desespero. Eu conheço aquele
olhar. Puta merda, eu já tinha sentido aquilo também.
Ver algo que você nunca teve, algo que te machuca
só por existir e estar fora do seu alcance.
Estar naquela mansão e me reunir com todos os
Petrova tinha sido desafiador pra caralho no início, eu
não conhecia o conceito de família, nem na vida
antiga e nem na vida pós-máfia. O que eu tinha com
eles era o mais perto que cheguei de algo parecido
com me sentir bem-vindo, a vontade e… bom o
suficiente para estar ali. Foi um trabalho de longos e
longos anos. E o resultado ainda não era dos
melhores.
— Que merda você aprontou agora, Dimi? — Vlad
sussurra, apenas para que eu ouça. — Quem diabos é
essa garota?
Balaço a cabeça para ele e me aproximo devagar
de Hailey, que continua congelada, com os olhos
presos naquela cena de "felicidade familiar" que, ao
que parece, a fere mais do que qualquer dor física.
— Hailey — chamo com calma, tentando não a
assustar mais do que ela já parecia estar. Ela pisca,
parecendo voltar, para a realidade, seus olhos me
alcançam e eu vejo o exato momento em que ela
veste a máscara de indiferença, aquela que ela usa
para se proteger.
— Que lugar é esse? Por que estamos aqui? —
questiona arisca, tentando controlar o tom, mas eu
posso sentir o pavor em sua voz.
Engulo seco, meu coração palpita tão rápido que
eu sinto a veia do pescoço pulsando. Eu não sei como
responder, afinal também não entendia como e o
porquê os Petrova me aceitavam em sua mesa,
tratando-me como seu eu fizesse parte da sua família.
— Essa é minha casa e nós vamos jantar, menina
— Viktor intervém, com a voz suave e acolhedora.
Hailey parece aterrorizada, seus olhos se
arregalam tanto que acho que irão sair das córneas.
Sua cabeça balança negativamente e ver as lágrimas
acumulando em seus olhos é como levar uma facada
e a ter torcido em minhas entranhas.
— Eu… eu... Eu não… — balbucia com a voz
trêmula.
Porra!
Por quê?
Por que eu não conseguia dizer algo a ela? Por
que minha garganta parecia entalada com alguma
merda, que me impedia de dizer a ela que estava
tudo bem, que ela não precisava temer, e que
estávamos em um lugar seguro? Todas aquelas
palavras ficam presas, era como se, ao garantir isso a
ela, eu tinha que acreditar também, e a verdade é
que eu ainda estava preso nos meus próprios medos.
Medo de ser deixado, de nunca ser suficiente, de não
merecer o que os Petrova me ofereciam.
— Oi, você é a namorada do tio Dimi? — Mary, a
garotinha de Anya, surge na frente de Hailey.
Meus olhos arregalam e eu engulo seco,
encarando-a em um pedido silencioso que ela não
explodisse e me insultasse na frente da garota de 9
anos.
— Eu… sou uma… amiga — responde baixinho,
tão baixo que Mary tem que se aproximar mais para
entender.
A garotinha sorri, satisfeita com a resposta, e
antes que qualquer um de nós pudesse reagir, ela
pega a mão de Hailey e começa a puxá-la em direção
à mesa.
— Eu sou Mary, fui adotada por Nick e Anya — ela
conta a Hailey, que parece surpresa.
Devagar e sem fazer movimentos bruscos, nos
sentamos juntos com todos, com Mary ao nosso meio.
A garotinha continua a falar sobre como é divertido
ser filha do casal, e Hailey parece atônita ao ouvi-la.
Eu não conseguia tirar meus olhos dela, analisar suas
expressões, tentando compreender porque porra
aquilo parecia novo e inédito para ela.
Porque merda ela olhava como se tudo aquilo
fosse desconhecido, aterrorizante e assustador, se ela
tinha sido adotada? Tinha tido a chance de ter uma
família. Os Evans não me desciam, eu nunca confiei
ou gostei deles, mas… Hailey, ela acreditava neles…
Que merda tinha acontecido para que a imagem de
uma família fosse tão desconcertante para ela?
O que aqueles filhos da puta tinham feito com a
minha garota?
“O amor é um jogo perdido
Um incêndio de cinco andares quando você chegou
O amor é um jogo perdido
Um que eu gostaria de nunca ter jogado
Oh, que bagunça nós fizemos’’
Love Is A Losing Game - Amy Winehouse

Setembro 2023
Eu estou sentada à mesa, e toda aquela merda ao
meu redor parece irreal, como se estivesse presente
em uma cena de filme ao qual não pertenço. As
risadas das crianças soam estranhas, o barulho dos
talheres contra os pratos é quase ensurdecedor, e as
conversas fluem de uma maneira tão natural, que me
causa uma sensação de pânico. O som de pessoas
comendo, sorrindo, rindo, trocando palavras
despreocupadas... tudo isso me parece extremamente
errado.
Meus olhos passam pela mesa, vendo os rostos
descontraídos, os movimentos casuais de quem está
acostumado a estar ali, a sentir-se à vontade nesse
ambiente familiar. Mas para mim, cada sorriso, cada
gesto de afeto, é um lembrete gritante de como eu
estou fora de lugar. Meus dedos tremem levemente
enquanto eu seguro os talheres, o frio metálico entre
minhas mãos só intensifica a sensação de
desconforto, de me sentir deslocada, não
pertencente, apavorada.
Meu coração bate tão rápido, zumbindo em meus
ouvidos, meu estômago revira, eu sinto o sangue fugir
do meu rosto, a pele sua frio. Eu não gosto daquilo,
não gosto do que aquilo representa, não entendo
porque tínhamos que jantar daquele jeito.
— Há quanto tempo você e o tio Dimi se
conhecem? — A garotinha me puxa de volta à
realidade com uma força esmagadora.
Engulo seco, tentando não deixar a voz tremular.
— Há alguns anos… — Empurro sem graça.
Ela sorri, e com sua mãozinha pequena, toma
uma mexa do meu cabelo. Meu corpo inteiro arrepia,
reagindo como se aquele toque fosse uma ameaça,
mesmo que ela não parecesse nada com um predador,
enquanto gira a mecha entre os dedos.
— Seu cabelo é tão bonito e loiro! — elogia,
enrolando um cacho no dedinho minúsculo.
Meu corpo ainda está rígido, os músculos tensos
como se cada parte de mim estivesse preparada para
correr ou atacar. Eu respiro fundo, tentando, sem
muito sucesso, conter o pânico crescente que
borbulha sob a superfície. Quando as palavras
finalmente escapam da minha boca, soam frágeis,
trêmulas.
— O-ob... obrigada — murmuro, forçando um
sorriso para a garotinha, embora o desconforto seja
evidente.
De repente, uma voz feminina corta o ar, firme e,
ao mesmo tempo, carregada de autoridade materna:
— Mary!
Viro o pescoço rapidamente, minha pulsação
acelerada, e vejo a mulher que havia falado. Ela é
ruiva, com cabelos que caem em ondas vibrantes, e
seus olhos verdes lembram uma floresta densa, cheia
de mistérios. Sardas cobrem seu rosto de forma
delicada, quase harmoniosa, e a roupa preta que ela
usa faz seu cabelo parecer ainda mais brilhante. Uma
presença intensa, difícil de ignorar.
— Está tudo bem... — asseguro, com a voz baixa,
mas a verdade é que eu não tinha certeza se
realmente está.
A garota ruiva sorri, levantando uma sobrancelha
e olhando maliciosamente entre mim e Dimitri. O
mesmo não tira os olhos de mim, até mesmo comendo
o maldito me encara, como se quisesse estudar o
quanto aquela merda é desconfortável para mim.
Certamente era o objetivo dele me trazendo a esse
lugar, me obrigando a lidar com essas pessoas e agir
como se aquilo tudo não fosse assustar pra caralho.
A garotinha Mary olha para mãe e ao lado da
mulher ruiva há um homem mais velho, que a chama
com a mão, então sorrindo para mim, ela se levanta e
vai sentar próximo a eles, enquanto Dimitri senta na
cadeira dela, ficando lado a lado comigo. E sem que
eu pedisse, coloca mais um pedaço de bife
amanteigado no meu prato, o cheiro delicioso faz
minha boca marejar e respiro fundo, ainda sentindo o
estômago gelado, mas corto um pedaço, levando-o a
boca e mastigando.
— Experimente um Golubtsy [12] , estão bons pra
caralho! — ele sugere de boca cheia.
Reviro os olhos, soltando o ar, mas pego um,
colocando no meu prato. O sabor delicioso de tempero
e ervas, junto com a acidez do molho, é delicioso e
suculento, mas meu corpo ainda treme, minha perna
balança impacientemente. De repente, sinto algo
quente tocar minha mão por baixo da mesa. No início,
minha reação é puxar abruptamente, mas algo
mantém o aperto firme, e então eu percebo. É Dimitri.
Seus dedos buscam os meus com uma gentileza
incomum. Ele abre minha mão lentamente, como se
soubesse exatamente o quão frágil eu me sentia
naquele momento.
Por um instante, penso em puxar a mão e usá-la
para socar a cara dele. Mas o toque de nossas peles
era fodidamente acolhedor, então engulo seco,
sentindo meu coração se encher com aquilo que há
muitos anos eu não sentia…
Acalento.
Então eu não olho para ele, e também não o
afasto, apenas continuamos comendo, enquanto
Dimitri ri de algo que o senhor Petrova diz. Sem dizer
nada para mim, apenas me tocando, ele desliza os
dedos para o interior de meu pulso, onde a cicatriz
fina e pálida marca minha pele. Acariciando
suavemente o local, como se quisesse confirmar se
aquela lembrança silenciosa do que havíamos tido no
passado ainda está ali, se eu ainda a carrego comigo.
Eu não consigo olhar para ele. Não quero ver o
que seus olhos podem me dizer. Mas o calor de sua
mão, a forma como seu polegar acaricia a cicatriz, me
acalma de uma forma que eu não entendo
completamente. A tensão no meu corpo começa a
ceder, aos poucos, quase contra minha vontade.
Minha respiração, que antes era curta e entrecortada,
começa a se regular, e a pressão no meu peito
diminui.
Era uma pequena conexão em meio ao caos, e
por mais assustador que fosse, naquele momento, eu
me deixo segurar firme a mão dele, e me permito
imaginar como teria sido nosso destino se nunca
tivéssemos soltado.

Quando o jantar acaba, o senhor Petrova nos guia


até um quarto na parte superior da mansão. O espaço
é grande, mais luxuoso do que eu estou acostumada,
com uma cama, tamanho queen no centro do cômodo
e os móveis rústicos e elegantes. Perto da cama, uma
janela enorme dá vista para uma noite iluminada por
uma lua cheia, lá fora. Meu corpo continua meio
tenso, e eu ainda evito olhar para Dimitri e sentir
todas aquelas merdas esquisitas se remexendo em
meu interior.
— Tem toalhas limpas nos armários e escovas de
dentes extras, descansem um pouco… — o senhor
Petrova nos instrui e antes de nos deixar a sós no
quarto, sopra um. — Boa noite, crianças.
Eu estou inquieta, a calma momentânea que senti
ao segurar a mão de Dimitri no jantar parece estar se
esvaindo de mim, e sendo substituída por toda aquela
agonia que deixa meu peito em carne viva.
Ando pelo quarto, observando cada canto
minuciosamente, e posso sentir o olhar de Dimitri nas
minhas costas, posso sentir a tensão pesando o ar,
tornando-o quase tóxico.
— Por que você não escolheu isso, Dimi? — Minha
voz sai baixa, quase uma sugestão. Eu ainda não o
encaro, meus olhos fixos na janela, na lua cheia que
ilumina a escuridão do quarto. — Por que não
escolheu ser adotado e viver uma vida como essa?
Ouço seus passos se aproximando e finalmente
me viro para encará-lo, com toda dor, desespero e
agonia que borbulham sobre minha pele, expostas,
cruas, sangrando. Seus olhos me alcançam, mas ele
não diz nada, apenas me observa desmoronar na sua
frente. As lágrimas enchem meus olhos e meu queixo
treme, com tanta dor que eu me sinto sufocando.
As lágrimas derramam sobre meus olhos, e meu
peito aperta de um jeito que eu mal consigo respirar.
Eu estou afundando em um oceano de dor que parece
não ter fim.
— Podíamos ter esperado… juntos… — soluço, as
lágrimas queimando minha pele ao cair pelas
bochechas. — Se você me tivesse dito que não
gostava deles… nós poderíamos ter esperado… se
você…
A agonia que eu sinto se enrosca no meu âmago,
me destruindo por dentro. Parte de mim desejava que
ele tivesse me avisado, que tivesse impedido de ir
morar naquela casa, de viver aquele inferno com os
Evans. E, ao mesmo tempo, havia outra parte de mim
que se sentia aliviada por ele não ter passado pelo
mesmo pesadelo que eu.
Engulo em seco, tentando controlar o nó que
cresce na minha garganta, enquanto Dimitri se
aproxima, os olhos azuis tão escuros como o céu
antes de uma tempestade.
— Talvez… se não tivesse fugido, poderia ter sido
adotado por uma família… uma família como essa,
Dimi. Um lar de verdade. — Cada palavra perece
queimar em minha língua,
Cada palavra que sai da minha boca parece uma
faca cortando a língua. É quase insuportável dizer
aquilo em voz alta. Admitir que eu queria que ele
tivesse uma família, mesmo que sem mim.
Admitir que eu queria que o destino dele fosse
diferente do meu.
Engulo o soluço que surge na garganta e abro a
boca para continuar, mas ele me interrompe com uma
voz baixa, em um aviso claro para que eu pare.
— Hailey... — Ele tenta me chamar, mas eu não
escuto, imersa no turbilhão das minhas emoções,
deixando tudo o que sinto desabar ali.
— Um lar… — continuo, sem me deter. — Uma
vida onde alguém pudesse realmente cuidar de você,
amar você… — Eu estou tão envolta em dor que não
percebo a fúria crescendo nos olhos dele.
— Hailey! — A voz dele fica mais firme, mas eu
estou cega. Eu continuo, minhas palavras saem sem
controle, porque, de certa forma, eu ainda quero
entender porque ele havia fugido, porque ele não
havia escolhido algo diferente. Algo melhor. Algo
melhor do que vivi.
— Se tivesse ficado no orfanato, uma família
poderia tê-lo adotado… você não precisaria virar um
criminoso… — continuo com a voz embargada pelas
lágrimas. — Seu destino seria diferente…. — Do meu,
pensei.
É então que ele explode. Num movimento rápido,
Dimitri me agarra pelos ombros, sacudindo meu corpo
com força. Eu sinto o ar ser expelido dos meus
pulmões, meu corpo em choque, e meus olhos
encontram os dele, queimando com uma dor que me
atinge como um raio.
— Ninguém me quis, porra! — ele ruge e a voz sai
crua, agoniante, dolorosa, angustiante e desesperada.
— Ninguém nunca me quis! — ele completa com tanta
dor que choro mais, sentindo sua verdade cortar
minha carne tortuosamente.
E naquele momento eu desabo, chorando
compulsivamente, porque compreendo que mesmo
diante de todas as desgraças que a vida nos impôs,
tudo aquilo me provou que éramos iguais, destruídos,
quebrados, sujos, imorais e fodidos, e que de alguma
forma a minha alma era feita do mesmo material
obscuro que moldava a dele.
“Talvez nós estejamos certos
Talvez nós não estamos sozinhos’’
Everybody Dies - Billie Eilish

Setembro 2023
As palavras saem de mim como um rugido que eu
não consegui mais segurar. Era uma verdade que
estava presa no meu peito por tanto tempo, enterrada
sob camadas de ódio, dor e abandono. Eu a sacudi
com tanta força e, por um momento, não consigo
olhar para ela, a porra da visão ficando embaçada
pelas fodidas lágrimas que nunca derramei. Minha
garganta tem um bolo que parece travar minha fala,
mas eu forço aquela merda pra baixo e me obrigo a
continuar, sentindo minha carne sendo arrebentada.
— Você não entende… — Solto com a voz rouca,
como se cada palavra estivesse rasgando minha
garganta. — Você não tem ideia… de como foi esperar
por você.
Meus olhos ardem, mas eu me recuso a chorar. Eu
nunca chorei, não assim. A dor, a raiva, sempre
ficaram ali, encapsuladas, me corroendo por dentro,
mas dessa vez está tudo saindo, e eu não posso mais
segurar.
É feio, nojento, podre, mas eu preciso que ela
entenda, que saiba de tudo.
— Eu nunca fugi. Eu esperei por você, Hailey… —
Minha voz sai entrecortada, e eu vejo o rosto dela se
contorcer em algo que parece confusão e dor. — Um
ano inteiro. Me mantive na linha. Não arranjei nenhum
tipo de confusão.
Dou um passo para frente, me aproximando mais,
sentindo o ar pesado entre nós.
— Fiquei no orfanato, achando que você voltaria.
Que talvez... que talvez você mudasse de ideia, que
viesse me buscar. Rogando que você me perdoasse…
— Eu queria que ela entendesse o quão desesperado
eu tinha estado.
Cada dia, cada maldito dia naquele lugar, eu
acordava esperando ver o rosto dela. Esperando ouvir
a porta se abrir, esperando que ela aparecesse e eu
dissesse que tudo tinha sido um erro, que fossemos
embora juntos.
— Você não sabe o que é isso, porra, não sabe…
— Minha voz está ficando mais intensa, mais
desesperada. — Você me deixou lá, Hailey. Eu fiquei lá
como um idiota, acreditando que você viria... mas
você não veio.
O silêncio que cai entre nós é insuportável. Eu
vejo as lágrimas nos olhos dela, mas não consigo
parar. É como cutucar uma ferida, puxar o couro da
minha própria pele. Preciso expurgar toda aquela
merda de dentro de mim.
— Eu contei os dias. Cada maldito dia. E cada vez
que a porta abria, meu coração parava, achando que
era você… e não era. Nunca era.
Eu viro o rosto, sentindo o peso das minhas
próprias palavras caindo sobre mim. Eu estou
desmoronando, e não consigo mais manter aquela
merda guardada. Estou abrindo a porra do meu peito
e expondo-o para que ela conseguisse ver o estrago
que me causou.
A dor é tão crua, tão profunda, que eu nem
consigo pensar direito. Eu nunca tinha dito isso a
ninguém, nunca tinha permitido que essas palavras
fossem pronunciadas, porque era uma ferida que
mantive fechada com ferrolhos.
— Eu me odeio por isso. — Minha voz está
tremendo, e eu posso sentir o nó na minha garganta
ficando cada vez maior. — Eu me odiava por ter
acreditado que alguém como eu poderia ser querido…
ser amado… por alguém... por você.
Minha respiração está irregular agora, e eu sinto
o calor das primeiras lágrimas descendo pelas minhas
bochechas. Eu as limpo rapidamente, com raiva de
mim mesmo por chorar. Eu, Dimitri, a porra do homem
que nunca derramou uma lágrima, que torturava
milhões de desgraçados, agora está ali,
desmoronando na frente dela.
Sempre da maldita cadela.
— Dimi…. — Sua voz embargada me chama com
tanto receio, mas eu aperto mais seus ombros,
impedindo-a de falar.
Engulo aquela merda de choro, fungando para
dentro.
— Não sei que porra você está falando… Eu nunca
te deixaria, porra. Você era tudo para mim, tudo o que
eu sempre quis, minha alma é sua, caralho. Eu… eu…
eu só queria você, Hailey, nunca quis mais nada na
vida… Só você. Enquanto você estiver viva, eu
sempre vou querer você… E quando parar de respirar,
eu também irei, porque eu só vivo por você. — Minha
voz falha e eu viro o rosto, apertando os olhos para
não ceder. Mas não adianta. A dor está
transbordando, escorrendo pelas rachaduras que
passei anos tentando esconder.
O soluço que segue a seguir é de Hailey,
chorando desesperadamente. Eu abaixo a cabeça, os
ombros tremendo levemente, incapaz de continuar
segurando aquela dor. Tudo o que eu escondi por
tantos anos, todo o medo, a solidão, a raiva... estava
tudo ali agora, exposto diante dela.
— Dimitri… — ela me chama, suas mãos pegam
meu queixo, elevando meu rosto para o dela, seus
olhos desaguam como os meus, e ali nós choramos
juntos, expondo nossas dores, nossas feridas, nossa
sujeira, nosso caos um para o outro.
Hailey me puxa pela camisa e me abraça com
tanta força que eu posso sentir nossos corpos
tremendo, com ela me segurando, o som abafado do
seu choro contra meu peito, tudo vem à tona. A
merda de todos esses anos, a porra do abandono, o
ódio de mim mesmo por perdê-la.
A aperto com força, como se ela fosse a última
coisa que me mantivesse de pé. Minhas mãos tremem
e eu sinto a umidade das lágrimas no meu rosto,
queimando e caindo descontroladas. E a porra é que
eu não chorava. Nunca. Não tinha chorado mais desde
que a vi partir por aquela janela, nem quando entendi
que estava sozinho de verdade. Mas agora, tudo que
eu poderia fazer era desabar.
— Eles me quebraram, Dimi…— Hailey soluça
contra meu peito, a voz em um fio, e aquelas palavras
atravessam meu peito como lâminas afiadas. — Me
machucaram de formas irreparáveis…
Eu a seguro com força, quase de forma
desesperada, minhas mãos tremem apertando suas
costas. Ela treme, e eu sei que cada lágrima dela
queima tanto quanto as minhas. Meu coração
trotando tão rápido, com tanto ódio daqueles filhos da
puta. Enterro o rosto em seus cabelos, apertando-a
ainda mais contra mim, desejando poder apagar todo
aquele sofrimento.
— Vou matar esses malditos, Hay — prometo a
ela, ainda com a voz tremendo.
Ela levanta a cabeça, olhando-me com os olhos
vermelhos e inchados. Seu rosto é lindo pra caralho,
eu amava olhar para ela, amava seu cabelo, seus
olhos azuis, aquela boca fodidamente gostosa. Não
contenho a vontade borbulhando dentro do peito.
Desço minha boca na dela, beijando-a com tudo o que
eu ainda tinha, com o último resquício de bondade
que ainda existe em mim.
Nosso beijo tem o gosto salgado das lágrimas,
misturado com a dor, mágoa e saudade que nós dois
parecíamos carregar há tantos anos. Minha língua
exige a dela e eu chupo seu gosto, alucinando com o
gemido baixo que sai de sua boca. Meu pau endurece,
minha pele ferve, meu corpo clama por ela,
queimando como um vulcão quando o beijo se torna
mais urgente, mais desesperado, mais aflito.
Tropeçamos juntos para a cama, sem desgrudar
um centímetro um do outro, as mãos pequenas e
trêmulas alcançam a barra da minha camisa e eu a
ajudo retirar a peça, empurrando-a para deitar de
costas na cama. Subo em cima dela de novo, o tesão
fervendo na minha pele, quando sua língua suga a
minha e rosno na sua boca, mexendo o quadril,
fodendo-a a seco. Tão gostoso que nós dois
separamos nossos lábios por um segundo apenas para
gemer juntos.
Minhas mãos alcançam o botão descendo o zíper
da calça dela, e me afasto um pouco pra puxá-la
pelas pernas. Hailey sacode as pernas, me ajudando,
e a visão dela com uma calcinha azul de renda faz
meu pau latejar dolorosamente e ranjo os dentes
controlando a vontade de me afundar naquela boceta
perfeita.
Me debruço sobre seu corpo, beijando-a mais,
sugando aquela boca gostosa, gemendo contra ela,
sentindo as unhas dela arranharem minhas costas
enquanto arrasto a boca para seu pescoço, lambendo,
sugando a pele, mordendo sua orelha, gemendo em
seu ouvido. Hailey revira os olhos gemendo tão
gostoso, que está difícil me concentrar no caralho das
preliminares.
— Você é linda, porra! — gemo entre dentes. —
Sempre te achei perfeita, você foi feita para mim.
Ela se remexe embaixo de mim, esfregando a
boceta protegida apenas pela calcinha na minha
ereção. O desejo ferve entre nós, nossos corpos estão
quentes parecendo se encaixar numa perfeição
inigualável. Minha mão alcança a barra da camisa que
ela usa, desesperado para tirar, mas seu corpo
enrijece e ela trava minha mão em um movimento
brusco.
— Não! — ela exaspera, em desespero.
Ergo a sobrancelha, olhando em seus olhos, e
eles contém receio, vergonha, medo.
— O que houve? Me deixa te ver — peço, beijando
suas bochechas ainda molhada pelas lágrimas.
Hailey morde os lábios, eu posso sentir seu corpo
retesando, seus olhos trêmulos. Pego sua mão sem
deixar de olhar em seus olhos e beijo seu pulso, bem
na cicatriz.
— Quero beijar cada parte de você hoje, Hay —
confesso, dando mais alguns beijos na cicatriz em seu
pulso.
— E-eu… eu… não sou… bonita, aí — diz
desviando o olhar de mim para sua barriga, onde
minha mão descansa na barra da camisa.
Porra! Do que ela está falando? Ela é perfeita, de
qualquer jeito, até do avesso, se fosse duvidar. Volto
a beijar sua cicatriz, agora lambendo de leve,
sentindo o relevo da pele em minha língua, que faz
meu pau pulsar, babando dentro da calça. Hay geme
baixinho, os olhos faiscando de desejo.
— Você é perfeita! Tudo em você é perfeito para
mim — conto a ela, olhando em seus olhos, e minha
voz sai rouca por conta do tesão, mas firme pela
certeza de cada sílaba.
Hailey morde os lábios trêmulos, ainda hesitante
e receosa, mas devagar assente, me autorizando a
continuar. Eu sorrio para ela e seguro na barra da sua
camisa com as duas mãos, mas antes que eu possa
mover o tecido, ela me freia de novo.
— Dimi?
Olho em seus olhos, esperando, tentando calibrar
minha ansiedade e respiração ofegante.
— Sim, Hay?
Seus olhos tremulam de novo, mas ela solta o ar
pesadamente antes de pedir.
— Promete que se morrermos amanhã, você ainda
vai me achar? Seja no inferno ou em qualquer lugar?
— Suas palavras me atingem como uma avalanche,
inflando meu peito com aquele sentimento, antigo e
intenso pra caralho. Que sempre seria direcionado a
ela, em todas as vidas que eu vivesse.
Pego sua mão de novo, e olhando em seus olhos,
enquanto beijo sua cicatriz, com toda convicção que
eu tenho, se eu pudesse ajoelharia na frente dela
para expressar o quanto aquela mulher é tudo pra
mim. Mas uso algo que sempre nos representou, que
sempre nos conectou, que sempre nos fez ser um.
— Não importa o que aconteça, meu caos sempre
vai encontrar o seu.
“Metade amor, metade remorso
Se arrumando para fotos em Polaroids e cigarros’’
Sex, Drugs, Etc - Beach Weather

Setembro 2023
Quando o tecido da minha camisa passa pela
minha cabeça, eu quero fugir, quero parar, me
esconder. O quarto está escuro, mas a lua faz um
papel excelente de iluminar o espaço. Eu sei que ele
consegue ver as dez cicatrizes grossas, feitas pela
faca de Kate, a minha maior vergonha, o motivo de eu
nunca transar sem nada na parte de cima.
Os dedos de Dimitri traçam cada cicatriz,
fazendo-me arrepiar. Já fazia tantos anos que
ninguém além de mim tocava naquele lugar horrível.
Meu coração troveja alto, a vergonha pulsando, me
fazendo desviar os olhos dos deles, minha pele ainda
ferve pelo desejo, mas toda aquela carga de
vergonha, culpa e insegurança está me deixando
trêmula.
— Olhe para mim — ele pede, sua voz firme,
acolhedora e meus olhos marejam de novo. Eu não
quero, mas o faço, olho para ele, me perdendo
naquele oceano que eram seus olhos. — Você é
perfeita, e vou beijar cada pedaço seu até que
entenda isso — Dimitri promete-me com tanta
convicção, que meu corpo arrepia inteiro.
Minha virilha é inundada por uma onda fervente
quando ele me beija na primeira cicatriz, a sensação
dos seus lábios me beijando tão delicadamente é
assustadoramente deliciosa. Aquele lugar com a pele
danificada é muito mais sensível do que qualquer
outra parte do meu corpo e o tesão me morde com
força quando Dimi arrasta a língua por todas as
minhas cicatrizes, como se estivesse ligando-as uma
à outra. Eu ofego, gemendo e segurando seus
cabelos, implorando silenciosamente que ele
continue.
E ele o faz.
Beija-me em cada canto, lambendo minhas
cicatrizes, enquanto suas mãos sobem e desciam
pelas laterais do meu corpo, me desenhando como se
eu fosse arte em um quadro. Eu amo a forma como
suas mãos são ásperas, como seu toque, mesmo
tentando ser suave, é bruto, faminto do jeito que eu
adoro. Suas mãos sobem pelo meu corpo, apalpando e
espalhando calor por toda minha pele.
Quando suas palmas se fecham nos meus peitos,
eu ofego, gemendo sofregamente, agoniada pelo
tecido o impedir de me alcançar pele a pele. Dimitri
se livra do meu sutiã, com delicadeza, e suas mãos se
enchem dos meus seios, enquanto ele ainda beija
minha barriga, lambendo minhas cicatrizes, chupando
minha pele com um pouco mais de intensidade.
Arqueio o corpo na cama e jogo a cabeça para
trás, gemendo o nome dele, meu corpo pegando fogo,
minha boceta pulsando, completamente encharcada,
pronta para ele.
— Dimi… — o chamo ofegante. — Eu… preciso de
você.
Ele levanta a cabeça e sobe devagar, se acomoda
no meio das minhas pernas e desce a cabeça,
sugando meu mamilo enquanto a sua mão esmaga o
outro, apertando com força, quase tatuando seus
dedos na minha pele.
— Porra! Eu amei sua tatuagem, Hailey… me
prometa que vai me deixar beijar cada parte dela —
ele pede com a voz rouca e abafada pelo meu mamilo
em sua língua.
Meu sorriso aparece sem eu perceber. Ele se
refere aos ramos de rosas azuis que eu tinha tatuado
nas costelas, eles sobem desde a minha cintura,
espalhando-se pela lateral do meu corpo, e
terminando na lateral do meu seio esquerdo.
— Eu prometo — afirmo com toda certeza que eu
consigo. — Preciso de você, me fode. Me come bem
gostoso — peço com a voz ofegante.
Dimitri sorri aquele sorriso safado que me faz
derreter.
— Porra, Hay. Eu amo essa sua boquinha falando
putaria — ele rosna ofegante.
O ajudo a tirar minha calcinha e sua calça, a
única peça que ele ainda mantém. Dimi nos coloca de
lado, sua mão passa por trás do meu joelho e ele
ergue minha perna, deixando-me aberta para ele, seu
peito largo pressiona minhas costas, subindo e
descendo descompassadamente. Sua mão desce, seus
dedos alcançando minha boceta, sentindo o quanto eu
estou molhada, escorrendo, desesperada por ele.
Ele não deixa de me olhar e eu viro a cabeça de
lado, me concentrando em seus olhos, alucinando
com a cara de safado que ele faz conforme seus
dedos me masturbam, brincam com minhas dobras,
espalhando minha lubrificação por toda extensão.
— Não feche os olhos, eu quero te olhar, Hay —
ele pede com a voz enrouquecida.
Abro rapidamente os olhos que nem tinha me
dado conta de ter fechado, sua boca captura a minha
e eu gemo alto, sentindo seus dedos me foderem,
entrando e saindo da minha boceta cada vez mais
molhada.
— Dimi… eu quero seu pau… — imploro, gemendo
sofregamente.
Dimitri rosna contra minha boca e com um
movimento brusco se ajeitou atrás de mim, me
penetrando com voracidade. Reviro os olhos,
ofegando, gemendo de boca aberta, sentindo aquele
pau gostoso me estirar, me esticar por dentro. O
processo inicial é doloroso, Dimitri é tão grande que
eu consigo senti-lo batendo no meu colo do útero,
mas é fodidamente bom, eu amo dor, amo aquela dor.
— Porra, Hay! — ele chia entre dentes. — Essa
sua boceta é tão gostosa, amo te esfolar com meu
pau — ele geme em meu ouvido, mordendo o lóbulo, e
sua mão fecha-se em toda a extensão da minha
vagina, como se ele quisesse sentir com a mão todos
os movimentos que seu pau faz dentro de mim.
Rebolo contra ele, encontrando suas estocadas
brutais, viro o rosto para o dele, beijando sua boca,
puxando o lábio inferior com os dentes, ouvindo-o
gemer como um animal.
— Me bate — suplico ofegante. — Bate na minha
boceta.
— Porra, cadela! Você ainda vai me matar —
pontua entre gemidos e rosnados.
E com a mão aberta, Dimitri desce um tapa
violento na minha boceta. Eu grito, sentindo o corpo
todo formigar, a onda de calor subindo pelas pernas,
a dor explodindo de maneira tão gostosa que eu
pareço estar saindo do meu corpo. Dimi continua
estapeando minha boceta, no mesmo ritmo que seu
pau me açoita por trás.
Nossas respirações estão entrecortadas, o suor
escorre entre nossos corpos, tornando nosso cheiro
tão carnal, tão delicioso, tão nosso. Dimitri é a porra
de uma visão do paraíso, os cabelos escuros caídos na
testa, o rosto contraído, a boca retorcida em prazer,
os olhos azuis vez por outra revirando.
— Porra, eu quero te comer pra sempre… — Ele
esfregou meu clitóris, fazendo-me gritar e rebolar
mais. O sorriso convencido toma seus lábios. — Amo
essa sua cara de cadela. De puta safada.
Mordo os lábios, intensificando mais a expressão
de vadia que ele tanto ama e os dedos de Dimitri vêm
para minha boca e ele os enfia dentro. Eu os chupo
como fiz com seu pau naquele celeiro.
— Cospe, deixa eles bem babados — ele grunhe,
sem deixar de socar com força dentro de mim, junto
um bocado de saliva e cuspo na sua mão. Ele baixa a
mão, levando aquele monte de saliva, tira seu pau de
mim e usou aquilo para lubrificar meu rabo. Arfo,
sentindo aquele prazer diferente quando ele me toca
naquela área.
Os olhos de Dimi brilham, queimando com
luxúria, tesão e aquele maldito lado sádico que o
torna tão delicioso. Tão meu. Seus dedos entram do
meu rabo, me esticando, preparando o caminho para
o que vem a seguir.
— Não consigo decidir, Hailey… — murmura com
a voz rouca, pega seu pau e leva de volta para dentro
da minha boceta, estocando com ferocidade. — Se eu
como essa sua boceta gostosa, quero meter tanto
nela, até que você esteja inchada e vermelha — ele
gemeu roucamente, quando o aperto dentro de mim.
Reviro os olhos alucinada e bufo frustrada quando
ele sai de dentro, mas não consigo reclamar, porque
Dimitri arrasta seu pau da minha boceta, levando
toda lubrificação para meu cu, e com um movimento
brusco se afunda dentro de mim. A dor explode, o
anel de nervos contrai e eu grito, alucinando,
delirando entre a mistura viciante de dor e prazer.
— Ou… se eu soco meu pau no seu cuzinho
apertado. Porra! Eu amo te arrombar aqui, amo como
você me aperta, amo encher seu cu com minha porra.
— Cada palavra carregada de sadismo, de tesão, de
luxúria.
Ele começa a se movimentar, entrando e saindo
de mim, deixando-me sentir cada centímetro daquele
pau gostoso dele. Eu grunho de prazer, rebolando
encontrando suas investidas, contraindo, querendo
sentir arder, meu orgasmo se avoluma com a força de
um tornado. Com uma mão, Dimitri pega meu rosto,
seus dedos afundando nas bochechas, me obrigando a
olhar para seu rosto transtornado em prazer,
enquanto a outra mão desce entre nós, espalmando-
se na minha boceta, estapeando, a medida que seu
pau empala meu cu, de um jeito devassamente
gostoso.
— Porra! Essa sua carinha de puta, de cadela
gostosa — ele geme sem tirar os olhos de mim, um
sorriso canalha puxando seus lábios. — Minha cadela
gostosa.
O prazer transborda em doses cavalares quando
seus dedos entram na minha boceta e ele me fode ao
mesmo tempo, no mesmo ritmo frenético. A dor de
ser sodomizada, misturada ao prazer insano de seus
dedos dentro de mim me destrói, antes de perecer eu
só consigo sorrir para ele e proferir as palavras da
forma mais vagabunda que consigo.
— Au, au — lato antes de revirar os olhos,
gozando e como se o mundo fosse acabar. Minha
boceta esguicha, molhando os lençóis, meu cu
contrai, deixando o pau dele maior dentro de mim,
apertando tanto que acho que ficaremos grudados
para sempre.
Dimitri ruge, trincando os dentes, mas continua
me fodendo, nossas coxas batendo uma na outra.
Seus olhos reviram e ele joga a cabeça para trás,
enchendo meu rabo com sua porra, e eu amo cada
segundo, senti-lo pulsar dentro de mim, estremecer o
corpo todo, ouvir seu gemido gutural.
Eu quero viver aquela porra pra sempre com ele.
Meu corpo ainda está em chamas, o ar parece
escasso e meus pulmões queimam, mas eu não me
importo, capturo a boca dele, beijando-o mais,
enfiando a língua na boca dele, sugando seu gosto,
contraindo meu rabo em volta do seu pau que ainda
não tinha amolecido.
— Me fode de novo — peço ofegante. — Me come
a noite toda, se eu for morrer amanhã quero morrer
com sua porra escorrendo da minha boceta, do meu
cu, da minha boca. Com seu cheiro impregnado em
mim. Eu quero você em mim.
Dimitri arregala os olhos, os orbes azuis queimam
com uma fome visceral, ele respira
descompassadamente e eu posso ver reluzindo em
seus olhos tudo aquilo que nos foi tirado. O caos que
éramos juntos, brilhando em nossos olhos, a fome e a
obsessão que tínhamos um pelo outro.
O quanto minha alma ainda pertencia a ele,
mesmo depois de toda merda que passamos, os
pedaços de quem nós éramos ainda clamam um ao
outro. Dimitri me beija de novo, saindo do meu rabo e
entrando na minha boceta, arrancando mais gemidos.
Meu ventre queima por estar sensível, mas eu não me
importo, rebolo nele, sugando sua boca com a minha.
— Caralho! Eu vou esfolar sua boceta, Hay, vou te
comer tanto que nunca mais vai se lembrar como era
quando eu não estava dentro de você — ele promete,
invertendo as posições, subindo em cima de mim e
espalhando minhas pernas. Ele estoca com
velocidade, alcançando-me mais fundo, abrindo
minhas pernas, deixando-me mais exposta, mas
nunca deixando de me olhar nos olhos.
Afirmando com seu olhar de que o nosso caos
nunca se perderia de novo.
“Porque eu nunca me senti tão sozinha
Me senti tão sozinha, não, não’’
Never Felt So Alone - Labrith feat Billie Eilish

Setembro 2023
A ponta dos meus dedos desliza suavemente pela
sua costela, desenhando os ramos e botões de rosas
azuis que ela tem tatuado. Hailey dorme, ressonando
suavemente, mas eu não consegui pregar o olho, o
medo fodido de que tudo aquilo fosse apenas um
sonho, um devaneio insano da minha mente, me
mantinha acordado, alerta, com o coração martelando
no peito, mesmo quando os primeiros raios solares já
despontavam pela janela. O quarto ainda cheira ao
nosso sexo, sua pele ainda contém o meu suor e
certamente sua boceta ainda escorre minha porra.
Trepamos tanto que meu pau está sensível e esfolado.
Mas, obviamente, se ela me quisesse mais uma vez,
eu não negaria.
Tudo aquilo parecia surreal, eu não sabia o que
Hay tinha passado com os Evans, mas ao ver as
cicatrizes em sua barriga, eu soube que não fora nada
de bom. Me culpei por não estar com ela, por não
protegê-la, de alguma forma agora eu sabia que
nossa separação não tinha sido por vontade própria.
Ela foi imposta, foi planejada. Aquela puta da irmã
Agnes tinha algum tipo de envolvimento com aquela
merda, e se eu conseguisse ficar vivo, iria atrás da
maldita até no inferno.
Hailey se mexe levemente e eu congelo,
observando enquanto ela abre os olhos, ainda
sonolenta. Por um momento, nossos olhares se
cruzam e o silêncio entre nós é cheio de significados
que não seriam necessariamente ditos. Ela sorri
levemente, quase me causando um infarto, pela
magnitude de sua beleza ao acordar.
— Você está acordado… — ela murmura com a
voz rouca de sono.
— Não consegui dormir — admito, minha mão
agora descansando em sua cintura.
Ela franze a sobrancelha, e aquele sorriso
devasso que eu amava tanto toma sua expressão.
— Acho que não consigo mais trepar, estou
assada e minha bunda dói — admite, me arrancando
uma risada.
Me aconchego mais, puxando seu quadril e
esfregando meu pau na sua bunda, a ereção matinal
está dolorosa pra caralho.
— Você pedindo arrego, cadela? — zombo, vendo
seus olhos azuis flamejarem pelo desafio.
Ela morde os lábios, me olhando com os olhos
semicerrados.
— Eu ainda posso te chupar — oferece
maliciosamente.
Engulo seco, porque pela primeira vez na vida eu
queria fugir de sexo, mas não queria me desgrudar
nem um milímetro dela. Vendo minha expressão
incrédula, ela gargalha, jogando a cabeça para trás.
— Preciso de um banho, Dimi — ela observa,
balançando a bunda na minha ereção.
Caralho! Que dor.
Hailey ergue o tronco, sentando na cama e pego
sua mão, sem deixar que ela levante. Não queria que
ela saísse daquela cama, sabia todas as merdas que
ainda precisam ser resolvidas, mas não pensei nelas,
eu só queria ficar grudando em Hailey.
— Me deixa ir com você, eu… nunca… tomei
banho com ninguém — confesso.
Hailey ergue as sobrancelhas e vira a cabeça de
lado.
— Você tomou banho comigo, naquela cabana —
pontua, voltando seu corpo e se jogando em cima do
meu peito, abraço-a com força, a sensação das nossas
peles juntas era gostosa pra caralho. Acaricio seus
cabelos, olhando em seus olhos, relaxados, me
encarando com a mesma afeição de quando éramos
crianças.
— Aquilo foi diferente, eu só fodi seu cu. — Hailey
riu, e eu sorri também. — Eu quero tudo, todas essas
merdas de casal, lavar seu cabelo, passar a esponja
em todo seu corpo… lavar sua boceta. E…. Te beijar
bastante durante o processo.
Hailey suspira e sua boca encosta na minha em
um beijo casto, sem luxúria, só carinho, que eu nunca
tinha sentido por ninguém. Tudo era com ela. Todas as
coisas ruins e todas as malditas coisas boas.
— Me leva pra tomar banho, Dimi — ela pede, e
eu sorrio maliciosamente.
Quando nós dois sentamos na banheira com água
quente, parecia que tínhamos voltado a ser crianças
novamente. Hailey tinha jogado uma quantidade
exagerada de alguma merda de sais de banho e outra
parada que criava uma espuma densa e cheirosa na
banheira, só que aquilo começou a tomar proporções
exorbitantes e a espuma começou a transbordar pelas
laterais. Eu joguei espuma nela e dali começamos
uma guerra, competindo sobre quem ficava mais
ridículo coberto por aquela espuma.
A risada dela reverbera junto com a minha
quando faço um bigode mexicano com a espuma, nós
rimos pra caralho, vendo a água transbordar pelo piso
de porcelanato. Hailey se aproxima de mim, o sorriso
estampando seu rosto, coberta de espuma, e me beija
deliciosamente. Sua língua invade minha boca,
minhas mãos apertam seus peitos e ela geme na
minha boca, enquanto meu pau fica dolorosamente
duro.
— Hay… — eu gemo quando a sinto morder meu
pescoço e se acomodar no meu colo.
Ofegante e com aquela cara de safada que quase
sempre me destruirá, ela levanta o quadril e usando
uma mão, me encaixa em sua boceta, descendo o
quadril e me engolindo de uma vez. Ranjo os dentes,
grunhindo pela dor misturada ao prazer. Hay não se
move, olhou em meus olhos.
— Não quero me mover, só quero sentir você
dentro — confessou. — Nunca mais, Dimi… Não saia
de dentro de mim… Nunca mais…
Gemo entre dentes quando ela esfrega o quadril
para frente para trás sem me tirar de dentro nem um
centímetro. Ofego, jogando a cabeça para trás e
encostando a nuca na beirada da banheira. Observo
cada movimento que ela faz, seus peitos se movendo,
o prazer pintando seu rosto de vermelho, seus olhos
entrecerrando, o cabelo louro molhado.
Magnifica.
Gloriosa.
Exuberante.
E minha.
— Nunca mais, Dimi… nós nunca vamos nos
separar. Me prometa — pede entre gemidos, meu
quadril já não conseguia ficar mais parado, eu estoco
por baixo dela, esparramando água para todo lado.
— Nunca mais, Hay… eu nunca mais vou sair de
dentro de você — prometo, metendo com mais força.
Minha mão agarra sua nuca e a puxo para mim,
beijando aquela mulher como se fosse a última vez
que a beijaria em vida. Porque mesmo que eu
morresse dali a algumas horas, minha alma a amaria
independente de para qual lugar nós fossemos. Meu
caos sempre buscaria o dela.
Quando descemos as escadas, lado a lado, eu
olhei para Hailey sabendo que talvez aquela seria
última vez que eu a veria, sabia que talvez eu não
escapasse da punição de Alexey. Ser considerado um
traidor era um crime muito grave, além de trazer toda
aquela merda de confusão com a CIA atrás de mim.
Alexey não me deixaria viver… eu sabia disso. Mas eu
não me importava com minha vida, somente com
Hailey. Podia sentir uma tensão crescente em seu
corpo, e eu estava com os nervos à flor da pele. Algo
não estava certo. Era como se o silêncio do lugar
fosse um presságio de algo sombrio, iminente.
Quando olhamos para o andar de baixo, o cenário
mudou de repente. Os soldados de Alexey estavam lá,
como sombras em todos os cantos da sala, presenças
ameaçadoras nos cercando antes mesmo que
tivéssemos tempo de reagir. Um deles, o mais alto,
deu um passo à frente. Seus olhos frios e calculistas
se fixaram em nós com uma precisão mortal.
— Dimi… — Hay segura minha mão e eu aperto a
dela.
Engulo seco, sentindo os músculos tensionarem.
— Está tudo bem — eu digo a ela.
— O tempo acabou — diz ele, sua voz sai ríspida,
como um tiro no ar.
Meu corpo enrijece imediatamente, e meu
instinto foi de puxar Hailey para trás de mim,
protegendo-a de qualquer ameaça que viesse. Eu
sabia que esse momento chegaria, mas a ideia de que
eles levariam Hailey me enchia de um pavor que eu
não estava preparado para sentir.
— Ela não vai a lugar nenhum, podem me levar —
retruco com firmeza, meus olhos passando por cada
um dos homens, avaliando as chances. Eram muitos.
O Petrova, que estava encostado no canto da
sala, dá-me um aceno discreto, reafirmando o que
havíamos conversado antes. O plano é simples: eu me
entregaria sem resistência e aceitaria a punição de
Alexey. Em último caso, eu usaria a estratégia que
discutimos.
— Não foi uma pergunta, garoto. — O grandão
estala os dedos e como se fosse um comando
ensaiado, dois dos capangas avançam.
Eu não tive tempo de reagir. Antes que eu possa
mover um músculo, sinto mãos fortes segurando
meus braços, me imobilizando. Ao meu lado, Hailey é
capturada também, seus gritos abafados pelos braços
de um homem que a segura com brutalidade. Meu
sangue ferve instantaneamente e eu luto contra os
que me seguram, mas os malditos são fortes e eu
estou em desvantagem, ainda assim consigo chutar
um desgraçado que segura ela. Hailey dá uma
cotovelada em um dos putos, que tenta a conter.
— Soltem ela, seus filhos da puta — rujo, mas
minhas palavras não tiveram êxito.
— Seus malditos, eu vou matar vocês!
Desgraçados — Hailey rosna, se debatendo. O
desespero queima dentro de mim e eu me debato
mais, agoniado por destroçar aqueles filhos da puta.
Em um movimento brusco, um deles me acerta na
lateral da cabeça com uma coronhada. A dor explode
no meu crânio e minha visão fica embaçada. Eu tento
reagir, mas a força no meu corpo começa a falhar. As
vozes ao redor ficam distantes.
​H ailey grita meu nome novamente, mas sua voz
está ficando mais longe. Eu mal consegui manter
meus olhos abertos, mas ainda assim, tentei
encontrá-la, estendendo a mão na direção dela.
A última coisa que vejo antes de desabar no chão
é Hailey sendo arrastada para longe, seus olhos
cheios de medo, desespero e terror, e então tudo
ficou escuro.
“Nós rimos até chorarmos
Você diz: Vá rápido; Eu digo: Segure firme’’
Dead Of Nigth - Orville Pack

Setembro 2023
Já passei por muita merda na vida, minha mente
já tinha sido muito fodida, o fundo do poço já tinha
chegado muitas vezes para mim, aparentemente o
caos tinha uma certa predileção para comigo, a fome,
a miséria e o sofrimento não eram algo novo para
mim.
Mas nada na minha vida se comparou a estar
ajoelhado naquele salão, com todos os homens da
Bratva reunidos nas laterais para assistir a minha
morte. Mas pior do que isso, Hailey estava amarrada,
seus pulsos presos com força, e os olhos dela me
procuravam em desespero. Eu podia ver o medo
daqueles olhos que já tinham visto o pior da vida,
mas agora estávamos diante de algo que nem nós
dois estávamos preparados. O silêncio no salão era
sufocante, quebrado apenas pelo som da respiração
dela, entrecortada, enquanto ela tentava manter o
controle.
E então, ali na minha frente, estava Alexey. Ele
pairava sobre mim, como um maldito espectro de
vingança, seus olhos azuis faiscando com uma fúria
gelada. O ódio no olhar dele queimou cada pedaço de
mim, como se quisesse me reduzir a nada. A sala
parecia encolher sob o peso daquela raiva. Eu senti o
suor escorrendo pela minha nuca, minha respiração
pesada, cada segundo se estendendo como uma
eternidade.
Ele dá um passo à frente, as botas ecoando no
piso frio, enquanto todos ao redor esperam. Aquilo
era uma execução, e eu sabia que o momento da
decisão estava se aproximando.
— Você sempre teve o dom de causar problemas,
Dimitri. — A voz de Alexey é baixa, mas carrega uma
ameaça que reverbera no ar. — E agora, você arrastou
essa garota para isso também.
Minha mandíbula trava, a vontade de mandá-lo se
foder borbulhando em minha boca. Ele vira o corpo
apontando para Hailey, que o fuzila com o olhar,
arreganhando os dentes, o corpo tremendo, lutando
para se manter de pé. Ela está a uma distância
considerável, mas eu ainda conseguia ver seus olhos,
o medo, o desespero, a tristeza.
— Olhe para ela. — E eu obedeço, como se algo
dentro de mim fosse solicitado. — Ela está aqui por
sua causa, Dimitri. Você a trouxe para esse inferno.
Engulo seco sentindo a culpa me consumir. Hailey
rosna, fazendo menção de atacá-lo, mas Niko a
segura pelo antebraço, impendido-a de avançar em
Alexey, que solta o ar segurando a ponte do nariz. Se
aproxima de um soldado e lhe pede seu punhal, o
mesmo lhe dá, o cabo reluziu na luz fraca da sala.
Meu sangue bobeia gelado nas veias quando o
vejo de aproximar dela, meus joelhos impulsionam
para me levantar, mas mãos pesadas empurram meus
ombros, mantendo-me ajoelhado.
— Ninguém me desrespeita e sai impune.
Ninguém me desafia sem pagar… E você fez os dois,
porra! — Ele faz uma pausa, olhando diretamente nos
meus olhos. — Essa garota é importante para você,
não sei porque, porra, eu não te conheço mais. O meu
melhor torturador esconde segredos e negocia com
porcos da CIA, o que mais você esconde, Dimi?
Cada palavra dele vem com uma maldita pontada
de provocação. Ele está me testando, querendo que
eu exploda, e caralho, eu estou à beira de fazer isso.
Minhas mãos se fecham em punhos, os músculos
tensos, enquanto o ódio ferve em cada célula do meu
corpo.
— Não toque nela — rosno, a mandíbula travada,
minhas palavras saindo entre dentes.
Alexey suspira, um som de cansaço que faz minha
pele se arrepiar. Ele olha para mim como se eu fosse
um fardo, como se aquilo fosse apenas uma obrigação
chata e momentânea para ele. E então, ele se vira
para Hailey, caminhando lentamente em direção a
ela. Meu desespero cresce, a agonia escorre pelo meu
corpo como veneno, cada segundo tornando o medo
mais real, mais tangível. O frio no meu estômago se
espalha, congelando minhas entranhas.
Quando Alexey encosta a faca no pescoço dela,
meu mundo para. Eu sinto o grito subir por minha
garganta, queimando com uma fúria desesperada.
Minha visão se embaça com o horror, e as palavras
saem de mim com toda a força que eu tenho.
— Eu exijo aplicar o Priznaniye [13]
O salão mergulha em silêncio, como se minhas
palavras tivessem congelado o tempo. Os homens da
Bratva ao redor nos observam com olhos refinados,
absorvendo a surpresa da declaração. Eu sabia que
aquilo não era usado com frequência. O Priznaniye
era um antigo código de honra, uma oportunidade
para um mafioso confessar sua traição jurando pelo
próprio sangue, aceitando morrer com honra em troca
da vida daqueles que ama.
Alexey fica imóvel por um segundo, absorvendo
minhas palavras. Um sorriso lento, cruel, começa a se
formar no canto de seus lábios. Ele se afasta de
Hailey, o punhal ainda entre os dedos, mas agora, a
atenção dele está toda em mim.
— O Priznaniye? É sério, Dimi? — A voz dele é
uma sugestão perigosa. — Você realmente acha que
isso vai te salvar? Ou melhor, vai salvá-la?
— É meu direito — afirmo, olhando-o nos olhos
com firmeza.
Ele acena uma vez com a cabeça e me joga o
punhal.
— Muito bem, então! Realize seu Priznaniye e
morra com honra — ele diz, se afastando um pouco,
seus olhos ainda cravados em mim, como se estivesse
avaliando cada respiração que eu tomava.
Levanto-me devagar, pegando o punhal na mão, a
lâmina fria contra a pele quente. Seguro o cabo com
toda a força, sentindo a adrenalina pulsar,
misturando-se ao terror que ameaçava me engolir.
Cada batida do meu coração parece ecoar no salão
silencioso, e todos os olhares estavam sobre mim. O
peso da expectativa era opressivo, mas eu não podia
deixar que o medo me dominasse. Não agora.
Hailey está ali, os pulsos amarrados, a expressão
de pavor em seu rosto, mas há algo mais. Uma
centelha de esperança nos seus olhos, e isso me dá
forças. Eu não faria isso por mim; faria por ela,
sempre por ela. Inspiro fundo, procurando pela calma
que não está lá.
— Eu, Dimitri, Carniceiro da Bratva, confesso
perante todos os homens desse local, que sou um
traidor — os murmúrios chocados reverberam, os
olhos azuis de Alexey me fuzilam, a mandíbula
travando. Eu via em seus olhos o quanto ele queria
me matar. — Não porque vendi informações, ou
porque me associei a algum desgraçado da CIA.
Os rostos se voltam, confusos, e Alexey ergue
uma sobrancelha, como se estivessem tentando
entender se eu havia enlouquecido de verdade.
Engulo o bolo em minha garganta, a adrenalina e a
dor pulsando em meu peito.
— Mas porque quando me filiei a Bratva, já
possuía um pacto com outra pessoa.
Levanto meu pulso à frente de todos e rasgo um
corte na antiga cicatriz, os olhos fixos na tatuagem
que um dia estivera ali. O sangue começa a fluir,
escorrendo do meu braço e manchando o chão, uma
declaração silenciosa de que estava disposto a
sacrificar tudo por Hailey. Meu coração bate rápido, a
urgência das minhas palavras me empurrando para
frente.
— Hailey Evans, eu reitero meu pacto com você,
perante toda a Bratva, perante o céu e o inferno. Eu
nunca te deixarei, mesmo depois da minha morte.
“Esse não sou eu, esse não sou eu
Eu não sou filho de senador
Esse não sou eu, esse não sou eu’’
Fortunate Son - Creedence Clearwater

Setembro 2023
A vida como Parkhan da Bratva era uma dança
delicada entre poder e traição, um jogo de xadrez
onde cada movimento poderia significar a diferença
entre a vida e a morte. Desde o dia em que assumi o
controle, sempre soube que precisava manter uma
aura de força e respeito, todavia não era estupido,
também sabia que tinha de encontrar um sucessor
digno, alguém que pudesse levar o legado da Bratva
adiante. Alguém que tivesse resistência e culhões
para manter toda aquela porra de pé depois que eu
me fosse.
Dimitri sempre foi uma opção atraente. Desde
jovem, ele mostrou um talento natural para manipular
as pessoas, uma aptidão inata para violência e o
sangue-frio para fazer o que tinha que ser feito. Ele
não era apenas um soldado, mas também um
estrategista. Para mim, ele representava a
continuidade da Bratva, alguém que poderia unificar e
expandir nosso poder, e eu o via não só como mais
um subordinado, mas como um sucessor em
potencial.
A impulsividade e a falta de paciência eram os
pontos fracos, como todo jovem, ele não sabia usar
aquela energia toda para algo maior, e a insegurança
ou a incerteza o faziam sentir que nunca era bom o
suficiente. Mesmo tendo se tornado meu melhor
torturador ainda tão jovem, ele ainda carregava um
fardo que o tornava vulnerável.
Todavia, quando Dimitri se ajoelhou diante de
mim, com a garota amarrada, uma onda de confusão
e traição me atingiu. Sua declaração de traição me foi
cortada como uma faca. Ele tinha tudo o que poderia
desejar, respeito, poder e a chance de se tornar o
líder que sempre esperei que ele fosse. E agora, ele
estava jogando tudo isso fora por causa de uma
mulher.
As palavras dele reverberam na sala, e cada
confissão é como um golpe direto no meu orgulho.
Quando ele começa a se cortar, a dor física parece
distante comparada ao que eu sinto. Por um instante,
eu quis que ele recuasse, que hesitasse. Mas então eu
vi a determinação nos olhos dele, a maneira como ele
estava convicto ao cortar seu pulso, e uma chama de
admiração genuína acendeu dentro de mim.
Eu nunca tinha visto tal bravura. Ele não estava
pedindo piedade e implorando para não ser morto.
Estava jurando que a garota sempre estaria acima de
qualquer lealdade à Bratva. Isso me fez reconsiderar
a forma como eu via a lealdade. Eu era o chefe, mas o
que ele estava fazendo era mais verdadeiro do que
qualquer juramento que já tinham me oferecido.
— Saiam todos! — ordeno entre dentes, a voz
saindo com uma tensão palpável.
— Alexey — o Petrova me chama como um aviso,
os outros homens hesitando, percebendo a gravidade
da situação.
— Eu disse, saiam, porra! — grito, exasperado, a
raiva brotando em mim.
Um a um, cada homem na sala começa a deixar o
espaço, uma atmosfera pesada de apreensão
pairando no ar. Restam apenas eu, Dimitri e a garota
loira, que agora está tremendo de ódio, mas o medo
ainda é visível em seus olhos. Ele me olha com uma
confusão que não esconde sua acessibilidade da
morte, desde que eu não toque nela.
Caminho lentamente até a menina, a tensão entre
nós é palpável. Seu olhar é de um animal acuado,
pronto para atacar ou se defender, e isso desperta
algo em mim. A verdade é que eu não queria ferir
aquela garota. Ao contrário, havia algo em sua
hostilidade que me beneficiaria muito.
Desamarro suas mãos com cuidado, sem querer
que ela sentisse que eu estava sendo gentil. Mas era
difícil evitar parecer que sim. A puxo pelo braço,
sentindo o olhar de Dimitri ardendo em minha pele,
uma mistura de raiva e desespero.
— Ajoelhe-se ao lado dele — ordeno, empurrando-
a bruscamente para o chão. Ela hesita, olhando para
Dimitri como se estivesse se desculpando por ceder à
minha vontade.
Cruzo os braços na frente do corpo, observando
os dois, a tensão entre eles palpável, como se aquele
amor maluco deles fosse um fio delicado, prestes a se
romper. É a primeira vez que via uma devoção tão
intensa que transcendia a lealdade à Bratva.
— Me dê o punhal — peço a Dimitri, que hesita
por um momento antes de me estender o metal
pesado.
Pego a lâmina na minha mão, sentindo o frio do
aço, e estendo-a para a garota.
— Corte sua pele — ordeno ríspido e ela balança
a cabeça, arreganhando os dentes em um gesto de
desafio. — Corte logo, porra! — rosno, a frustração
explodindo em minha voz.
Com um rosnado, a garota finalmente pega o
punhal da minha mão. Com um movimento firme, ela
rasga um corte no pulso, fazendo o sangue fluir em
gotas grossas que caem no chão. O som do líquido
batendo na superfície fria ecoa na sala silenciosa, e
eu dou dois passos para trás, observando a cena.
— Agora, quero que jurem lealdade a mim e à
Bratva. Me pronunciem sob seu sangue, já que ao que
parece, palavras não valem de porra nenhuma, não
para vocês. — Meu olhar percorre os dois.
Dimitri, com o rosto contorcido, olha para Hailey
e pude ver que sua determinação não havia
diminuído. Ele sabia que essa era a única maneira de
ficar com ela. Pelo menos vivo. Era quase admirável,
mas também irritante. Naquele momento, percebi que
a devoção que ele sentia por ela era mais forte do
que qualquer juramento que eu pudesse exigir. Mas
eu faria aquela merda funcionar.
— Eu juro lealdade — Dimitri começa, sua voz
firme, apesar da situação. — Juro que meu sangue
pertence à Bratva. Faço isso por Hailey, e farei
qualquer coisa para mantê-la.
Hailey, com os olhos cheios de determinação,
olha para mim e para Dimitri, e eu sabia que ela
estava prestes a se comprometer da mesma forma.
— Eu também juro lealdade — ela declara, sua
voz quase sussurrada, mas cheia de verdade. — Meu
sangue pertence à Bratva, e eu farei o que for preciso
para ficar ao lado de Dimitri.
Aquilo era inesperado. Nunca imaginei que uma
garota se comprometeria assim, e, por um breve
momento, algo mudou dentro de mim. A devoção dela
e a coragem de Dimitri, me forçaram a reconsiderar
minha posição. O que antes parecia uma mera
formalidade, agora carregava um peso que eu não
havia previsto.
Ambos estavam dispostos a sacrificar tudo um
pelo outro, e era essa força que eu sempre procurei
na Bratva.
— Que merda fizeram com vocês dois? —
questiono erguendo uma sobrancelha.
Eles se entreolham, um entendimento silencioso
passando entre seus olhares, antes de entrelaçar os
dedos ensanguentados. Era uma cena que eu nunca
pensei que veria, uma conexão que transcendia a dor
e o sofrimento.
— Tentaram nos separar, fizeram de tudo para
que nunca pudéssemos ficar juntos — Dimitri
responde, a voz firme, mas com um leve tremor que
revela a carga emocional.
Assinto brevemente, sentindo um misto de
respeito e pesar. Olho para a garota, que me
enfrentava com uma intensidade que poderia
queimar.
— Me dê o punhal — peço, estendendo a mão.
Dimitri arregala os olhos, mas após um breve
momento de hesitação, concorda e a garota me
estende o metal. Pego a lâmina e, com um movimento
controlado, passo um corte no meio da palma,
deixando o sangue escorrer e pingar na frente dos
dois.
— Eu, Alexey Dubrov, filho de Krisko Dubrov,
Parkhan da Bratva, protetor e cumpridor de Vor V
Zakone, me comprometo com vocês dois. Nunca
permitirei que algo ou alguém os separe novamente,
e prestarei todo o auxílio que precisarem para acabar
com quem os feriu no passado — declaro, minha voz
ressoando com gravidade. — Essa é minha promessa
como seu Parkhan.
As palavras ecoaram na sala, pesadas e cheias de
significado. Havia um poder especial nas promessas
feitas com sangue, e naquele momento, um novo
pacto se formou entre nós. Naquele instante, percebi
que, talvez, a verdadeira força da Bratva não
consistia apenas nas alianças feitas por poder ou
medo, mas nas conexões humanas que, mesmo nas
situações mais sombrias e fodidas, podiam florescer e
prosperar.
Conclusão
Pode ser definido como a fase em que o pacto atinge
seu desfecho, seja com sucesso ou falha. Nesse
momento, as partes envolvidas refletem sobre os
resultados, considerando se os objetivos foram
realizados e quais foram os custos e consequências,
para atingimento do êxito.
“Quero ouvi-la dizer é: você é meu?
Bem, você é minha?
Você é minha?
Você é minha? Certo’’
R U Mine? - Arctic Monkeys

Outubro 2023
Giro na cadeira de rodinhas, o som das rodas
rangendo suavemente no chão de cimento enquanto
eu me aproximo da bandeja de utensílios. Tateio as
ferramentas, meus dedos acariciando o metal frio,
escolhendo com cuidado. O alicate menor, o mais
preciso, parece perfeito. Meu peito está fodidamente
cheio, uma mistura de adrenalina e prazer queimando
em minhas veias. A sensação de controle, de poder
sobre aquele desgraçado, era viciante. E somada à
euforia de ter Hailey de volta, porra, era
transcendental. Eu estava em um estado de êxtase
que beirava o divino.
Olho para Charlie, o líder de operações da CIA
amarrado à cadeira, apenas com calça jeans, sua pele
encharcada de suor. Ele não parece tão confiante
agora, seus olhos castanhos arregalados de puro
pavor. Cada respiração dele é uma expressão do seu
medo. O homem, por volta dos 40 anos, está com o
rosto transtornado em pavor, eu não quero me gabar,
mas até os homens mais resistentes sabem que
quando eu e a morte chegamos, algo muito ruim está
para acontecer.
— Você já esteve apaixonado, Charlie? —
pergunto casualmente, enquanto pego o alicate.
Sorrindo, faço a cadeira deslizar suavemente até ficar
de frente para ele, sentindo o peso do momento se
acumular entre nós.
Ele tenta puxar os braços, mas as amarras são
fortes. O horror em seus olhos cresce quando
posiciono seu dedo anelar entre as garras do alicate.
— Porra, cara, é incrível! — continuo, sorrindo
como um idiota apaixonado. — Sabe, eu me considero
uma cara de sorte. Minha garota é linda,
completamente maluca, mas definitivamente a coisa
mais linda que já botei meus olhos.
Eu dou uma olhada no rosto dele, suas feições
distorcidas pelo medo. O suor escorre pela sua testa,
pingando de seu queixo, enquanto ele balbucia uma
súplica incoerente.
— P-po… por favor, cara… não faça isso — ele
implora, sua voz trêmula, o desespero patente. Soava
como um porco, pronto para o abate.
Afasto-me por um momento, balançando o alicate
na mão enquanto coço a cabeça com ele. O suspiro de
alívio que escapa dos lábios de Charlie quase me faz
rir. Aquela esperança de que a dor havia acabado. Mal
sabia ele o que estava por vir.
— O amor é esquisito, não acha, Charlie? —
começo, deixando minha voz suave, quase casual. —
Eu quase posso me considerar um santo, sabe? —
Sorrindo diabolicamente, observo o medo escorrendo
de seus olhos castanhos, como se sua alma estivesse
se despedaçando ali mesmo, diante de mim. —
Acredita que amei a mesma cadela durante a vida
toda? — conto sorrindo ao me lembrar. Capturo seu
dedo novamente com o alicate e seu rosto se
contorce em agonia quando fecho as garras, porém
sem arrancar o membro, somente para causar uma
dor do caralho.
Os olhos de Charlie tremem, movendo-se
freneticamente como se estivessem buscando uma
saída, uma escapatória para o inferno que eu estava
prestes a lhe dar. Ele arfa, a respiração irregular,
tentando manter a sanidade no meio daquele
pesadelo.
— Você é maluco! Por favor, cara. Eu não sei de
nada disso, não tenho nada a ver com Kate e Paul, a
CIA nunca caçou vocês — ele grunhe com a voz
trêmula e aperto mais o alicate, sentindo a pele
rasgar. Ele grita de dor, as lágrimas se acumulam nas
laterais dos olhos.
Eu o observo por um momento, uma expressão de
pânico se espalhando pelo seu rosto, antes de apertar
mais o alicate. Sinto a pele dele começar a rasgar sob
a pressão. O grito que explode da garganta dele é
como música para meus ouvidos. As lágrimas
transbordando nas bordas dos olhos, enquanto ele se
contorce de dor, impotente.
— Acredita que a cadela tentou me matar,
Charlie? — declaro, a voz quase divertida.
Suspiro profundamente, sentindo os gritos dele
me envolverem, quase como uma canção de ninar. Era
esse tipo de controle que me deixava vivo, me fazia
sentir invencível.
— Mas você sabe, o amor perdoa... não é mesmo?
— declaro com um sorriso quase sereno. A ideia de
que o perdão era uma arma, e não uma fraqueza, era
algo que ele claramente não entendia. — E sabe qual
é a parte mais louca, Charlie? — continuo, inclinando-
me para mais perto, deixando o ar entre nós se tornar
pesado, quase sufocante para ele. — Eu passaria por
tudo de novo. Por ela, sempre por ela.
Charlie está à beira de um colapso, o medo
escorrendo de seus olhos. Ele sabe que, por mais que
implorasse, nada que diga me vai parar. Aplico uma
pressão mais forte no alicate, ouvindo o estalo do
osso sendo arrancado da falange. O grito horrorizado
de Charlie reverbera à medida que ele se debate na
cadeira, chorando e soluçando
Ergo o alicate com o pedaço de dedo e o sangue
escorre, descendo pelo meu pulso, pelo meu braço, e
eu sorrio para ele. Que me olha aterrorizado, como se
estivesse vendo o próprio demônio.
— Acho que vou levar esse dedo para minha
garota, o que acha, Charlie? Acha que ela vai curtir o
presente? — peço sua opinião, dando um sorriso.
O desgraçado chora como um bebê, berrando de
dor e se sacudindo como um peixe fora d’água.
Inclino a cabeça, aquela merda enche meu peito de
euforia, os gritos são meu som favorito, obviamente
depois dos gemidos de Hailey.
— Vamos lá, Charlie, toda essa sua emoção está
me deixando excitado, e eu quero voltar logo pra casa
e foder minha garota — confesso, me aproximando de
novo, e ele se encolhe, se debatendo como se
pudesse fugir.
Seu olhar salta entre o alicate e meu rosto,
tentando entender até onde eu irei. Mas o que ele não
entende, o que todos eles nunca entendem, é que não
há limites para mim quando se trata de Hailey.
— Onde estão Kate e Paul? — pergunto
novamente, a voz baixa, ameaçadora. — Que tal não
mentir para mim dessa vez?
— E-eu… eu não sei, porra! Eu não sei! —
choraminga com a voz tremendo.
Estalo a língua no céu da boca e olho para os
lados, me certificando que não tem nenhum soldado
presente e engulo em seco, pensando se eu falava
sobre aquilo… Mas foda-se, ele ia morrer mesmo. Me
aproximo mais, ficando com o rosto bem na frente do
dele.
— Hey, Charlie… você já… bom, você sabe…
deixou alguma mulher te tocar lá? — pergunto, em um
tom mais baixo.
Seus olhos arregalam e a boca abre,
completamente em choque.
— Eu… eu… por favor… eu juro que não sei…
nada… sobre eles… e nem sobre isso — ele implora,
sua voz alternando entre o medo e a confusão de me
achar um completo maluco.
Passo a mão livre no cabelo, jogando os fios
escuros para trás, e olho novamente para ele.
— Sabe, eu e Hay… a gente, bem… a gente pega
fogo, sabe? Nós fodemos pra valer — conto para ele.
— Mas ela curte, você sabe… Enfiar o dedo lá… e
bem… não que eu não goste… na verdade, é bom pra
caralho — confesso coçando a nuca.
Charlie me encara boquiaberto, o medo ainda
brilha em seus olhos, mas agora também com um
certo tipo de confusão, como se não conseguisse
acreditar nas palavras que saem da minha boca.
Solto um suspiro, posiciono seu dedo indicador
nas garras e ele se debate, tentando fugir do agarre
do alicate.
— NÃO! NÃO, CARAAA, NÃO — ele implora quando
aperto o alicate, prendendo seu dedo.
— Você… acha que o cara é gay… por… você
sabe… curtir isso? — pergunto com genuína
curiosidade. O encaro observando sua respiração
descompassada, a dúvida rolando em seus olhos. Ele
parece um cara que tinha vivido bastante, certamente
podia responder à porra da minha pergunta, então
aperto mais o alicate, como um aviso silencioso para
que ele prosseguisse.
Ele geme de dor, engolindo em seco, e me olha
apavorado.
— E-eu… eu… Eu acho que não. S-s… se… se
vocês dois gostam, por que não continuar? — pontua
gaguejando.
Assinto com a cabeça, refletindo sobre aquela
merda por um momento, porra! Ele está certo, meu
pau fisga lembrando da sensação de prazer quando
Hay faz aquilo, ao mesmo tempo que eu estou
enterrado na boceta dela. Mordo os lábios e sorrio
para Charlie.
— Porra, cara! Você é realmente bom nisso, valeu
— agradeço sorrindo.
Ele solta um grunhido de desespero, mas força
um sorriso, que dura apenas um segundo, substituído
por um sibilo de dor excruciante quando corto seu
indicador com o alicate, sorrindo diabolicamente.

Ofego forte, tombando a cabeça para trás,


gemendo gostoso. Porra! Hailey me suga com mais
força, chupando meu pau com afinco, massageando
minhas bolas e babando por todo meu comprimento.
— E o que ele disse? — lambe a cabeça. — Não
conseguiu nada sobre eles?
Ranjo os dentes, é difícil pra caralho falar quando
ela me chupa daquele jeito. Eu mal tinha conseguido
chegar em casa, ainda estava coberto pelo sangue de
Charlie quando ela literalmente me atacou, me
obrigando a sentar no sofá, se ajoelhou entre minhas
pernas e me obrigou a ser chupado por aquela boca
felina dela.
— Dimitri! — me reprende pela demora na
resposta, lambendo minhas bolas.
— N-na… não, ele não… ohh, porra, Hay! — gemo
ofegantemente quando ela me engole inteiro, ficando
com os olhos marejados. — Ele não parecia… estar…
mentindo — soprei a última palavra, seguido de um
gemido gutural.
Hailey sobe a cabeça, tirando meu pau de sua
boca e me encara, suas sobrancelhas se estreitam
confusas. Os olhos azuis faiscando o ódio e raiva
fervilhando. Não contenho a vontade, puxando-a por
baixo das axilas para meu colo. Tomo sua boca,
chupando sua língua e esfregando meu pau na sua
boceta por cima do shortinho fino do pijama que ela
usa. Ela geme, lambendo minha língua, agarro um
chumaço do seu cabelo, inclinando sua cabeça para
trás e beijando seu pescoço, mordendo e sugando.
— Dimi… precisamos achá-los… — ela geme
quando sugo seu mamilo por cima do tecido do
pijama. — Eu quero matá-los — declara
manhosamente.
Rosno ofegantemente, empurrando meu pau,
moendo contra ela, meu coração batendo tão rápido
que acho que infartarei.
— Eu vou te dar a cabeça dos dois, cadelinha —
prometo, puxando o tecido para baixo e mamando em
seu peito, faminto pra caralho.
Hailey rebola no meu colo, fazendo-me morder a
carne do mamilo, ela grita e eu urro, já enlouquecido
para me afundar naquele paraíso que é sua boceta.
Respiro fundo largado seu seio, tentando me
controlar, porra! Era difícil pensar em qualquer outra
coisa que não fosse comer ela. Puxo seu cabelo,
trazendo seu rosto de volta pra mim.
Os olhos azuis estão me queimando vivo, em uma
ameaça silenciosa de que se eu não a fodesse
naquele segundo, ela certamente me mataria. Um
sorriso canalha puxa meus lábios.
— Quero te mostrar uma coisa — falo,
ansiosamente.
Hailey arqueia uma sobrancelha, ainda sentada
no meu colo, inclinando a cabeça com aquele olhar de
desconfiança que ela sempre tinha quando éramos
crianças e eu aprontava. Seus olhos estreitam, como
se estivesse pronta para me dar uma bronca, mas
antes que ela possa dizer qualquer coisa, levanto-me
com ela nos braços. Sua risada surpreendida fez meu
peito vibrar. É o som que eu mais gosto de ouvir, o
som que faz toda aquela loucura valer a pena.
Caminho com ela no colo, descendo as escadas
que levam até a garagem. A casa onde estamos
vivendo agora é um presente que o Sr. Petrova me
deu quando fui oficialmente declarado o melhor
torturador da Bratva. É espaçosa, confortável, sem
grandes luxos, mas isso nunca importou para mim.
Em todos os malditos dias desde que pisei naquele
lugar, imaginei como seria viver ali com Hailey, como
se o espaço tivesse sido construído para nós dois
desde o início.
Quando chegamos à garagem, meu coração
dispara. Não sabia se era por nervosismo ou pelo que
estava prestes a mostrar a ela. Desço o último degrau
e a coloco de pé ao meu lado. Ela olha ao redor,
curiosa. Respiro fundo, torcendo internamente para
que aquela merda ainda funcionasse. Caminho até o
carro coberto por uma lona espessa e, com um
movimento rápido, puxo a capa.
O conversível vermelho.
Aquele carro era uma lembrança da infância. O
mesmo modelo que vimos uma vez, quando éramos
crianças, e que ficamos admirando por horas na rua,
sonhando com o que nunca poderíamos ter. Eu nunca
tinha esquecido aquele momento.
— Você lembra? — pergunto, com a voz mais
baixa, quase com medo da resposta.
Ela fica em silêncio por um momento, olhando
para o carro com os olhos arregalados. Os dedos dela
tocam a lataria, como se não acreditasse que aquilo
fosse real.
— O conversível… vermelho — murmura, quase
sem acreditar. — O mesmo que a gente viu quando
éramos crianças?
Assinto, um sorriso sem graça se formando nos
meus lábios.
— É o mesmo modelo. Eu nunca aprendi a dirigir,
sabe? Mas quando finalmente tive dinheiro e poder
suficiente, comprei esse carro... por… bom… você
sabe… por nós.
Hailey ri, balançando a cabeça em incredulidade.
Seus olhos brilham de um jeito que me faz sentir
como se tivesse tido 14 anos de novo, parado ao lado
dela, imaginando um futuro impossível.
— Você nunca aprendeu a dirigir? — Ela me olha,
surpresa. — Mas comprou o carro assim mesmo?
— Eu não comprei para mim — sussurro, os olhos
fixos nos dela. — Eu comprei para nós dois. Para o dia
em que você… voltasse.
Hailey morde os lábios inferiores, tentando
esconder as emoções que cintilam em seus olhos. Por
um instante, o silêncio entre nós fica pesado,
carregado de significados não ditos, de feridas que
ambos carregamos. Mas antes que eu possa reagir,
ela corre até mim, enlaçando meu pescoço, me
puxando para um beijo tão intenso que faz meu peito
arder, como se todo o ar tivesse sido sugado de mim.
A paixão no toque de seus lábios é eletrizante, uma
fusão de desejo, dor e um amor contido por tanto
tempo que agora transbordava.
As palavras queimam na minha língua. Porra! Eu
queria dizer, estava na ponta da língua, mas nunca
soube como. E, no fundo, sempre tive medo de que,
se as dissesse, não houvesse volta. Seria definitiva, e
eu já tinha perdido tanto.
Ela hesita por um segundo, os olhos marejados,
mas fixos nos meus, como se estivesse tomando
fôlego para algo que sempre quis dizer. Eu sabia que
era o momento. Sentia isso no ar ao nosso redor,
como uma tempestade prestes a desabar. Abro a boca
para falar, mas antes que qualquer som saísse, ela
me surpreende.
— Eu amo você, Dimi… — Sua voz está
embargada, mas firme. — Sempre amei, por toda a
minha vida, sempre vou te amar. Mesmo depois de
morta, minha alma e todo meu caos pertence a você.
As palavras dela ecoam em meu coração como
uma sinfonia. O peso da sinceridade e da intensidade
é quase esmagador. Em um instante, todo o resto
desaparece. A dor, o passado, os fantasmas que nos
assombram; tudo se dissipa e só restamos nós dois,
presos um no outro, por toda porra de eternidade.
— Hailey... — Minha voz sai rouca, como se
estivesse lutando contra as emoções. Abaixo minha
testa até tocar na dela, fechando os olhos por um
breve segundo. — Eu sempre fui seu. Mesmo quando
não sabia o que isso significava, sempre fui. Cada
porra de parte minha é sua, até o fim. Eu nunca
quebrei nosso pacto, nunca desonrei nenhuma das
promessas que fiz a você, e nunca vou. Eu te amo pra
caralho.
Ela me olha nos olhos, um brilho de devoção
misturado com um toque de vulnerabilidade. É como
se ela pudesse ler meus pensamentos, sabendo que
eu compartilhava do mesmo amor maluco, do mesmo
desejo e da mesma promessa de nunca mais nos
separarmos. Ela se afasta um pouco e pega as chaves
que estão no capô do carro, me entregou e dá a volta
para o banco do passageiro.
— Vamos — diz, seus olhos brilhando com a
mesma animação de quando éramos crianças e íamos
aprontar. — Eu vou te ensinar a dirigir essa belezinha.
Olho para as chaves na minha mão, quase sem
acreditar no que estava prestes a acontecer. O carro
que comprei para nós, o símbolo de uma vida que
sempre sonhamos, estava finalmente à nossa
disposição. Respiro fundo e dou a volta para o lado do
motorista, o coração batendo como se estivesse
prestes a viver o momento mais importante da minha
vida.
Sento-me no banco e Hailey ri de leve ao ver
minha hesitação. Seus dedos tocam os meus, me
incentivando.
— Não precisa se preocupar, Dimi. Estou aqui.
Sempre estive. Sempre estarei.
“Você não é meu dono
Não sou mais um de seus brinquedinhos
Você não é meu dono’’
You Don’t Own Me - SAYGRACE

Novembro 2023 / Sydney - Austrália


Caminho lentamente pelo lugar, minhas mãos
roçando suavemente os móveis impecáveis, como se
aquele toque pudesse me ancorar de volta à
realidade. Eu me aproximo de uma estante cheia de
livros e álbuns de fotos. Pego um deles, abrindo
aleatoriamente em uma página. Lá estávamos nós,
em um piquenique no parque, sorrisos estampados
em nossos rostos, como se o mundo fosse um lugar
seguro e tranquilo. Como se tudo aquilo não fosse
falso.
Respiro fundo, sentindo uma onda de emoções
que eu não estava preparada para enfrentar. Meu
coração bate rápido, enfrentar meu passado e tudo o
que passei com aqueles dois monstros é assustador,
mas eu não estou aqui para temer.
Estou aqui por vingança.
Fecho o álbum bruscamente, o som da capa
batendo ecoando na sala silenciosa. Minha respiração
acelerada me lembra do quanto tudo é difícil, mas
também do quanto é necessário. Encarar o passado.
Encará-los. Não como uma garota assustada que eles
conseguiram manipular, controlar e quebrar. Mas
como uma mulher que havia sobrevivido a tudo. Que
havia voltado para acabar com o que começou.
O ranger da porta se abrindo me traz de volta ao
presente. Meu corpo fica tenso. O som de passos ecoa
pela sala antes que a figura de Kate Evans apareça na
entrada. Seus olhos me encaram arregalados
As chaves em sua mão caem no chão, mas ela
não se move para pegá-las. Fica imóvel, em choque,
os lábios entreabertos como se as palavras tivessem
sido arrancadas de sua garganta.
— Hailey...? — A voz sai de seus lábios trêmulos,
a incredulidade clara em me ver ali.
Sorrio diabolicamente para ela, inclinando a
cabeça.
— Oi, mamãe… — cumprimento com a voz
carregada de ironia.
O queixo dela treme, eu nunca a chamei assim,
porque ela nunca foi a porra de uma mãe, era só uma
maldita que não sossegou enquanto não me
transformou nesse monstro. Kate engole seco e seus
olhos percorrem o espaço, tentando achar uma
escapatória.
— Hailey, querida… vamos conversar… — ela
pede, dando passos vacilantes para trás.
Kate dá mais um passo, o terror evidente em seu
rosto, mas o som frio e inconfundível de uma arma
sendo engatilhada ecoa pela sala, forçando-a a
congelar. Ela vira lentamente a cabeça, o medo
escorrendo pelos seus olhos ao ver Dimitri atrás dela,
apontando a arma diretamente para sua cabeça. Ele
sorri, aquele sorriso demoníaco que reflete todo o
prazer distorcido que sentia ao vê-la apavorada.
— Temos muito o que conversar, mamãe. — Minha
voz soa ameaçadora, carregada de ódio reprimido por
anos. — Você se lembra do Dimitri, não é?
Ela pisca várias vezes, tentando processar o que
está acontecendo, tentando lembrar do garoto que ela
pensava ter apagado da minha vida, da nossa vida.
Suas mãos começam a tremer, o olhar fixo em Dimitri,
e então, lentamente, ela assente, reconhecendo a
presença tão ameaçadora dele.
— Di-Dimitri... — A voz dela mal sai, embargada
pelo terror, a garganta seca enquanto ela tenta falar,
mas falha miseravelmente em disfarçar seu
desespero. — O que... o que vocês querem? Onde está
o Paul?
Dimitri se aproxima, empurrando-a para frente,
em direção à poltrona, fechando a porta atrás dele.
— Porque não se senta, Kate? Essa conversa pode
demorar um pouco — Dimi sugere, empurrando suas
costas bruscamente e a obrigando a sentar na
poltrona no canto da sala. Ele vai até a cozinha,
fuçando os armários, enquanto meu olhar permanece
fixo em nela, queimando-a viva em minhas íris.
Kate engole em seco, a tensão em seu corpo é
visível enquanto suas mãos tremem e se entrelaçam
nervosamente no colo. Ela lança um olhar rápido para
mim, mas não consegue sustentar o contato. Seu
medo está estampado em cada linha do seu rosto, e
eu sinto uma satisfação amarga ao ver o pavor que
ela tanto merece.
Dimitri, por sua vez, está completamente à
vontade, movendo-se pela cozinha como se estivesse
em casa. Sua presença domina o espaço.
— Você tem vodka aqui, Kate? — ele pergunta
casualmente, sua voz conta com aquela ironia cruel
que só ele sabia usar tão bem.
Ela hesita por um momento, o pânico evidente
em seus olhos, antes de balbuciar:
​ T-terceiro armário à esquerda. — Sua voz mal

sendo ouvida, não passando de um sussurro trêmulo.
Dimitri abre o armário e eu ouço o som familiar
de vidro quando encontra a garrafa. Ele pega dois
copos e serve uma bebida
— Quer uma bebida, docinho? — ele pergunta, os
olhos brilhando com aquela chama sombria que eu
conheço tão bem.
Eu sorrio, sem tirar meus olhos de Kate,
saboreando cada segundo daquela tortura
psicológica. Ela sabe que não há como escapar, que
as palavras que tanto tenta encontrar não mudariam
o que estava prestes a acontecer.
— Parece incrível, amor — respondo, sentindo a
euforia começar a tomar conta de mim, borbulhando
sob minha pele como lava prestes a entrar em
erupção.
Levo o líquido à boca quando Dimitri me entrega
o copo, meus olhos ainda fuzilam Kate enquanto ela
nos observa juntos, com um misto de nojo e horror em
seus olhos verdes. Engulo o conteúdo do copo todo e
olho para Dimitri, sorrindo completamente apaixonada
por aquele psicopata maluco.
Ele estreita os olhos, a selvageria dança nas íris
azuis.
— Docinho, não me provoque na frente da sua
mãe! Sabe que não me controlo quando me olha
assim — ele zomba, fazendo Kate arregalar os olhos.
— Essa cadela não pode ver meu pau quieto, sabe,
Kate?
Dou risada e volto meu olhar para a vaca maligna
na minha frente e caminho devagar, vendo-a se
encolher. Ao chegar perto dela, sento na mesinha de
centro, de frente para ela.
— Então, Kate, você quer me contar o que fez, ou
vamos precisar começar com as torturas? Você sabe
como isso funciona, não é? — imponho com um
sorrisinho de canto.
Ela pisca várias vezes, sua respiração pesada e
errática. Olha para suas mãos, que tremem no colo,
tentando encontrar coragem para falar. O silêncio que
se segue é pesado, sufocante. Dimitri dá um passo à
frente, balançando o copo de vodka na mão, fazendo
o líquido se mexer no vidro. O som faz Kate pular um
pouco na poltrona, como se já esperasse a pior das
reações.
— O que vocês fizeram com Paul? — balbucia com
a voz tremendo.
Dimitri ri, uma risada carregada de sarcasmo e
maldade.
— É complicado, quando separam a gente de
quem amamos, não é, Kate? — ele ironiza, seu olhar
brincando entre a maldade e a zombaria.
Kate hesita, engolindo em seco, sua expressão
mudando para uma mistura de desespero e raiva.
— Todos nós fazíamos isso — ela começa, com a
voz baixa e rouca. — Era o protocolo... agentes da
CIA... éramos treinados para adotar órfãos.
Transformá-los em armas. Não havia amor, nem
carinho. Era trabalho. — Ela engole em seco, o
desespero ainda brilhando em seus olhos enquanto
força as palavras a saírem. — Nunca foi pessoal,
Hailey... estávamos apenas seguindo o protocolo.
Minhas mãos apertam o copo com tanta força que
penso que ele poderia quebrar. Ouvir aquelas
palavras que me fizeram sentir o peso de anos de
manipulação, de mentiras, desmoronando sobre mim.
Cada lembrança da minha infância e adolescência
fodida, cada vez que chorei por nunca me sentir
amada, de repente tudo aquilo fazia sentido.
— Não era pessoal? — cuspo as palavras,
descrente. Meus olhos queimam com uma raiva que
quase não consigo controlar. — Vocês transformaram
crianças em armas. Você destruiu vidas! A minha
vida, porra! — grito, me levantando e ficando próxima
ao rosto dela.
Kate começa a chorar desesperadamente. Mas eu
a conhecia, aquela merda era tão falsa quanto ela.
— Eu sinto muito… por favor… não me
machuquem — implora com os olhos embargados.
Fecho os punhos, sentindo o ódio borbulhar em
minhas veias. Minha respiração engata, mas eu
preciso ouvir o resto sem enlouquecer, sem matar
aquela maldita antes dela me dizer tudo.
— Como vocês conseguiram me adotar sozinha?
Me conte como tramou com a irmã Agnes, para nos
separar — ordeno, a voz saindo quase animalesca
pela minha raiva.
Kate hesita, as palavras parecem entaladas em
sua garganta. O desespero é palpável, e a expectativa
em seus olhos fala mais do que qualquer coisa.
— Nós… nós… dissemos a ela que Dimitri não era
uma boa influência para você! E ofereci dinheiro a
ela, para… separá-los — ela admite, o medo evidente
em sua voz.
As palavras dela caem como uma bomba, o
impacto me fazendo recuar. A traição daquelas ações
ecoa dentro de mim. Dimitri rosna, andando pelo
cômodo, passando a mão entre os cabelos.
— Freira filha da puta! — ele xinga.
Volto meus olhos para Kate, minha mão
instintivamente indo para faca em minha coxa e
fazendo-a arregalar os olhos. Ela se encolhe mais no
sofá quando tiro a faca da bainha.
— O que mais vocês fizeram? A CIA não tinha
ciência de nada, você modificou minha lista de
assassinatos, colocando o nome de Dimitri lá, não é?
Charlie os ajudou com isso, não foi? — questiono já
sabendo a resposta.
Kate trava a mandíbula, mordendo o lábio
inferior, tentando fazer o queixo parar de tremer. Ela
fecha a expressão em uma falsa coragem e levantou a
cabeça arrogantemente.
— Não vou responder mais nada… Eu quero ver o
Paul agora — ela condiciona.
Me afasto um pouco, olho-a de cima e sorrio
diabolicamente.
— Ouviu isso, amor? Ela quer ver o papai — falo
para Dimitri, que retorna para cozinha.
— Porra! Achei que ela nunca fosse pedir — ele
comemora entusiasmado.
Quando Dimitri abre a geladeira, puxa a cabeça
de Paul, colando-a no balcão da cozinha, que divide
os cômodos. O grito de Kate é a melodia mais linda
que já ouvi, me trouxe tanta paz que eu fecho os
olhos, suspirando fundo e absorvendo o cheiro do
horror dela, encarando a cabeça decepada do seu
amado. O sangue escorre manchando o mármore
branco e a expressão de dor excruciante ainda
permanece no rosto do cadáver.
Olho para Dimitri por cima do ombro, ainda
ouvindo os gritos apavorados de Kate e o desespero
dela virando para o lado e vomitando. Usando os
lábios sem emitir nenhum tipo de som, eu murmuro
um “eu te amo’’ para Dimitri.
“Eu quero usar
E abusar de você
Eu quero saber o que está dentro de você’’
Sweet Dreams - Marilyn Manson

Novembro 2023
Meus olhos estão cravados nela, obcecado,
hipnotizado, fanático. Solto um suspiro profundo e
apaixonado, observando o quanto minha cadelinha é
linda. Estico as pernas na poltrona que estou sentado,
entrelaço as mãos e as coloco atrás da cabeça,
relaxando enquanto me regozijo com aquela cena
perfeita pra caralho. Hailey vira o rosto, as bochechas
cobertas de sangue, os cabelos loiros contêm mechas
carmesim, deixando-a insana de tão bonita.
— O que achou, amor? — me pergunta sorrindo, e
usando a mão cheia de sangue para tirar uma mecha
de cabelo da bochecha.
Viro a cabeça de lado, analisando. Kate está
pendurada com os braços abertos e amarrados,
apenas de lingerie, a pele pálida está suada e os
gritos dela ainda reverberam no galpão onde
estávamos. A carne rasgada em sua barriga exibe
vários cortes disformes, a palavra reluzindo no meio
da pele arrebentada me faz rosnar de satisfação. O
nosso selo brilha naquela puta desgraçada, “Caos’’
fora entalhado pela faca de Hailey, e por incrível que
pareça, aquela merda tinha ficado foda.
— Ficou incrível, docinho, se você não fosse tão
boa matando, seria uma artista famosa — elogio
orgulhoso.
Seu sorrisinho diabólico é minha perdição! Puta
merda, que mulher perfeita.
— Socorro! Me soltem, seus porcos. Psicopatas.
Doentes — Kate grunhe, se debatendo, a voz trêmula
e embargada não sustenta a hostilidade de seus
insultos.
Hailey pega o queixo da maldita, obrigando Kate
a olhar nos olhos do diabo. Ela grita e chora mais
quando minha garota acaricia suas bochechas, de
uma forma doentia de tão carinhosa. Mordo os lábios,
observando-a completamente fascinado, a onda de
calor sobe pelas minhas pernas e ajeito meu pau na
calça, estou ficando com um puta tesão só de ver a
cena da minha maluca fazendo sua vingança.
— Você está indo bem, Kate, estou tão orgulhosa
de você. — Sua voz é maligna e doce ao mesmo
tempo, e eu jurava que só Hailey conseguia fazer
aquilo.
A vagabunda se debate, chorando copiosamente,
seu rosto balança, tentando fugir do agarre das unhas
da minha cadelinha. Hay se afasta um pouco, como se
precisasse observar sua arte de longe, e meus olhos
descem até sua bunda gostosa, as coxas estavam
expostas, a minissaia preta de corte reto deixa o seu
traseiro bem desenhado e eu tenho que travar a
mandíbula para não gemer me lembrando de como eu
tinha a comido pela manhã.
— Amor, acho que Kate já está pronta para seu
último teste — ela constata com a voz carregada de
animação.
— P-po… po… por favor, me desculpa... Me
perdoa — Kate implora perdão, seu rosto horrorizado,
tremendo de dor e medo.
Hailey vira a cabeça por cima do ombro e eu
soube que estava na hora, sorrio tão malignamente
quando ela e viro o troco para o lado, encontrando a
cabeça de Paul, que está na mesa ao meu lado. Nós
obrigamos Kate a viajar de Sydney a Moscou com a
cabeça do seu amado no colo, obviamente o cheiro de
carne em decomposição infestou a porra do jatinho
inteiro, mas alguns sacrifícios valiam a pena.
Tudo pela mulher que amo.
— Chegou a hora do presente, Paul — falo ansioso
para a cabeça, e segurando no cabelo do falecido,
forço a mandíbula para baixo, a rigidez do pedaço de
carne não ajuda, então o estralo reverbera pelo
galpão, arrancando um grito aterrorizado de Kate.
Tiro o pequeno Bullet [14] da boca do defunto e o
estendo no ar, oferendo-o a Hailey como se fosse o
diamante mais raro do mundo. O brilho maligno nos
olhos dela me faz ofegar, meu coração expande com
aquela paixão insana que eu sinto por ela. Pegando a
cápsula, ela retorna para Kate saltitando como a
própria chapeuzinho vermelho, e pelo inferno se eu
não era a porra do lobo mau pronto para comê-la.
Hailey está me provocando, ela sabe do meu
tesão por toda essa parada mórbida, além é claro do
meu gosto peculiar para cenas dramáticas. Éramos
psicóticos e insanos, mas, porra! Nós combinamos tão
bem.
— O que vai fazer! — Kate berra, se debatendo
nas correntes. — NÃO! NÃO! NÃO!
Hailey a ignora, enfiando o vibrador ligado na
calcinha dela, fazendo-a arregalar os olhos vermelhos
e inchados e se contorcer. O rubor toma suas
bochechas, o sangue esguicha dos cortes a cada vez
que ela se debate. Hailey olha nos olhos dela,
acariciando suas bochechas e de maneira irônica pra
caralho, murmura:
— Está tudo bem, querida, isso é prazer, é bom.
— Sua voz pinga escárnio.
— P-p… por favor, Hailey, por favor — ela suplica,
chorando mais, enquanto alguns gemidos
involuntários começam a deixar sua garganta.
O que faz Hailey sorrir maldosamente e eu respiro
fundo, tentando conter minha excitação para
aguentar até o gran finale chegar, mas meu pau já
está duro pra caralho, as bolas pesando. Ver aquela
maldita pagar por tudo o que fez a minha garota me
causa um prazer sádico e doentio.
— Oh… humm… Ai meu Deus! — Kate geme ainda
chorando.
Hailey estala um tapa ardido na cara da maldita,
fazendo-a girar o pescoço e arregalar os olhos.
— Não chame por Deus! Ele não vai estar no
lugar para onde você vai, Kate — sentencia, sorrindo
maldosamente.
— Por favor… pare, por favor… me desculpe. —
Ela ainda tenta, choramingando.
Hay acaricia seu rosto no local que havia
estapeado, seus movimentos são sexys, seguros,
destrutivos, o que me faz respirar fundo, me
remexendo agitadamente na poltrona. Com um
movimento rápido, minha garota tira o vibrador da
calcinha da vadia, deixando-a respirar um pouco e se
preparar para o pior.
— Sabe, Kate, uma vez você me disse que nós
mulheres temos uma arma poderosíssima, e veja só,
você finalmente vai ter a chance de usá-la — Hailey
revela, vira-se e vem caminhando em minha direção.
Porra! Aquele é o sinal.
Respiro aliviado, sem tirar os olhos dela,
obcecado pelo movimento dos quadris balançando,
dos seios se mexendo, do seu olhar me deixando
ainda mais duro e necessitado. Pego o rádio com uma
mão, levando-o até a boca, sem desviar os olhos um
centímetro dela, ainda babando na minha mulher, e
murmuro no aparelho.
— Podem entrar!
Depois de alguns minutos, 6 homens da Bratva
entram no galpão, os filhos da puta são enormes, com
caras mais assustadoras do que a porra de um filme
de terror. Os gritos de Kate ecoam, desesperada,
aterrorizada, dando-se conta do que acontecerá
quando os homens começam a cercá-la. O mais alto
tira uma faca do bolso, rasgando o sutiã e calcinha
com toda violência que existe e os outros a olham
como um pedaço de carne, que eles mastigariam
bastante e depois cuspiriam fora.
Minha visão da desgraçada é tapada quando
Hailey para na minha frente, seus olhos queimando, o
rosto coberto de sangue, me olhando como o próprio
diabo. Sem perder tempo, ela desliza a calcinha pelas
pernas e faz um gesto com a cabeça, um desafio
silencioso, que eu, como o bom filho da puta que era,
não recuso.
Desesperado, sem tirar meus olhos daquela
deusa do inferno, luto para me desvencilhar das
minhas calças, abrindo o zíper e descendo o tecido
pelas pernas. Meu pau duro salta para fora e Hailey
lambe os lábios enquanto me encara, pego meu
comprimento grosso e movimento minha mão para
cima e para baixo.
— NAAAAO!!! NAÃÃÃÃO, POR FAVOOOOR. — Os
gritos atormentados de Kate ecoam naquele galpão.
Inclino a cabeça para o lado para ver o show, do
que parecia ser uma dupla penetração na vadia, mais
Hailey puxa meu queixo, cravando as unhas na minha
bochecha, em um aviso silencioso que minha atenção
tinha que ser só dela.
— Olhos em mim, Dimi — exige ciumenta.
Meu sorriso quase alcança as orelhas e eu travo a
mandíbula, respirando entre dentes quando a cadela
me monta, puxando a saia, me engolindo naquela
boceta molhada pra caralho.
— Caralho… Cadela gostosa… — ofego de boca
aberta e viro a cabeça de lado. — Porra, Paul, ela é
tão apertada — desabafo para a cabeça do defunto.
Hailey ri, mordendo os lábios e apoiando-se nos
meus ombros, ela começa a me cavalgar em um ritmo
contínuo, firme e delicioso. Meu pau é esmagado,
comprimido e melado por ela. Capturo seus lábios,
beijando aquela boca gostosa, gemendo junto com
ela.
A sala cheira a sexo, a sangue, ao medo e pavor
de Kate, e ao tesão doentio dos caras que a fodem
sem nenhuma pena, arregaçando todos seus buracos
sem nenhum cuidado ou clemência. Reviro os olhos,
ofegando, grunhindo e apertando os braços da
poltrona. Hailey para por um segundo e vira a cabeça
de Paul para frente para assistir à cena de Kate
colhendo o seu plantio.
Em um canteiro infinito de berinjelas.
Olho para ela completamente abismado, isso era
maldade demais até para mim. Hay sorri para mim,
fazendo aquela cara de puta, que me faz pulsar
dentro dela.
— Ele gosta de assistir, amor! — se justifica, me
apertando com a boceta.
— Porra, cadela! Você é o diabo — gemo entre
dentes.
Ela ri, mas dura apenas um segundo, porque
agarro seus quadris e me impulsiono para dentro dela
com mais força, fazendo nossas coxas baterem, o
barulho obsceno da sua boceta sendo esfolada no
meu caralho era o paraíso. O prazer vai se
intensificando em um nível estratosférico e eu tenho
que contrair os músculos das pernas para não gozar
quando sua boceta me aperta de um jeito que fico
completamente sem fôlego. Hay convulsiona, jogando
a cabeça para trás, gozando compulsivamente e me
deixando completamente molhado com sua essência.
— Caralho! Isso é delicioso — ela diz entre
gemidos.
Sorrio para ela, sabendo exatamente ao que ela
se refere, não é apenas o prazer da nossa foda, são
os gritos de Kate, clamando misericórdia quando o
quarto ou quinto cara arromba seu cu; é o cheiro do
suor, os gemidos dos caras gozando e a fodendo como
se ela fosse apenas um depósito de porra; é o nosso
jeito sujo e macabro de ter prazer e fazer justiça.
É a nossa vingança contra tudo o que passamos.
É nosso Caos.
Aquela merda é transcendental, um nível de
satisfação que só dois filhos da puta sádicos podem
entender. Hailey e eu somos uma completa bagunça,
mas ainda assim, de uma maneira fodida e doentia...
Nossa anarquia se completava.
“Nós vestimos vermelho para que eles não nos vejam sangrar
Cem notas de dólar sob nossa manga
Pretendemos não dormir até que estarmos mortos’’
Trouble - Valerie Broussard

Final de novembro 2023


Meu coração bate acelerado e eu mal consigo
controlar o sorriso que surge toda vez que coloco um
novo enfeite no carrinho. Minhas mãos suam
enquanto eu empurro o carrinho pelos corredores da
loja de artigos natalinos, meus olhos absorvendo as
luzes, os brilhos e os detalhes de cada ornamento.
Estava nervosa pra caralho, mas, ao mesmo tempo,
uma satisfação desconhecida se agita no fundo do
peito. Era a primeira vez que eu comprava essas
bugigangas, e pensar em montar minha primeira
árvore de Natal parecia surreal. As garotas Petrova
me convenceram de que essa seria uma experiência
transformadora, a primeira que eu teria com Dimitri,
em nossa nova casa.
Anya, a garota ruiva, daquele jantar na casa de
Viktor, caminha ao meu lado, observando com um
brilho nostálgico enquanto coloca enfeites no
carrinho.
— Você vai amar, Hailey — ela diz, sorrindo. —
Minha mãe adorava o Natal. Vlad e eu sempre
brigávamos para ver quem colocava a estrela no topo
da árvore.
Ao seu lado, Claire, acariciando a barriga redonda
de sete meses, irradia com um toque de ternura.
— Rosita sempre gosta de decorar a varanda e
fazer o presépio — ela comenta. — E eu adoro
preparar a sobremesa, sempre capricho nas tortas.
Eu as observo com uma expressão confusa, como
se falassem outro idioma. Para elas, esse era um
ritual familiar, comum e quase sagrado. Para mim, era
um universo totalmente novo. Mesmo assim, sentia
uma faísca de empolgação, parecia a chance de
recuperar algo que nunca soube que me faltava. E,
por mais estranho que isso fosse, eu queria
desesperadamente que Dimitri sentisse o mesmo.
Queria que ele também experimentasse o que nos foi
arrancado tão cedo.
A cada item que eu pegava, eu sentia mais
segurança de que estava construindo algo real. Olho
para o tubo de bolas vermelhas que Anya sugeriu e
coloco no meu carrinho, junto com uma caixa de luzes
douradas que imagino que deixará a sala iluminada
com aquele brilho cálido e reconfortante.
Depois de sair com várias sacolas, nós seguimos
pelo shopping até uma cafeteria luxuosa e quando
nos sentamos, elas me encaram com perguntas
rondando em suas cabeças. Reviro os olhos e solto o
ar.
— Ok! Perguntem. — Aceito com um meio sorriso.
Anya sorri e solta um suspiro como se estivesse
aliviada por finalmente poder me encher de
perguntas.
— Você e Dimitri, estão… se adaptando bem? —
Quer saber, mas eu podia ver o quê de malícia em sua
voz.
Dou risada, pegando um muffin e mordendo um
pedaço, assentindo com a cabeça.
— Nós fodemos ao menos 3 vezes por dia —
revelo orgulhosa, e elas arregalam os olhos juntas.
Se entreolham chocadas, e Claire fica vermelha e
coça o cabelo castanho.
— Foi assim que cheguei na quarta gravidez —
ela diz rindo.
Arregalo os olhos, encarando sua barriga
redonda, e um arrepio apavorado passa pela minha
espinha. Anya, vendo minha reação, ergue uma
sobrancelha ruiva.
— Não te anima a ideia de ter filhos? — questiona
direta.
Engulo seco, sentindo minhas bochechas
esquentarem. Ainda era estranho para mim estar no
meio de garotas e ter uma conversa tipicamente
feminina, meu relacionamento com Dimitri era
obsessivo demais e a ideia de dividir a atenção dele,
mesmo que fosse com uma criança, não me animava.
Mas como dizer aquilo sem chocar ambas?
— Ah… bem… Eu e Dimi temos… uma relação
diferente. — É a única coisa que consegui dizer.
— Isso é bem visível — Claire concorda.
Anya revira os olhos, soltando um bufo.
— É bom que alguém coloque aquele maluco na
linha — Anya diz. — Sem ofensa, mas como uma
garota delicada como você consegue ficar com um
doido como aquele?
Pisco os olhos tentando absorver as palavras dela
e quando meu cérebro finalmente faz a sinapse da
informação, eu rio muito, descontroladamente. Rio
tanto que os olhos chegam a ficar marejados.
Claire e Anya se entreolham, acho que finalmente
entendendo que eu sou tão prejudicada
psicologicamente quando Dimitri.
— Deixa para lá, que tal mudarmos de assunto?
— Claire intervém.
Limpo as lágrimas dos olhos, respirando fundo e
me volto para elas.
— Me desculpem, eu sei que parece loucura,
mas… bom, eu não posso engravidar, a CIA implanta
contraceptivos dentro do nosso útero quando
entramos para a operação. É uma tecnologia muito
avançada e torna a possibilidade praticamente nula —
explano para elas, ambas me encarando com um
misto de compaixão e preocupação.
— Eu… eu… sinto muito… — Anya deseja.
Ergo uma sobrancelha, por que elas estavam me
olhando com aquela cara?
— Isso não é algo ruim para mim, ok? — Deixo
claro. — Fiquei longe de Dimitri tempo demais, e
agora nós temos a chance de ficar juntos para
sempre.
Anya e Claire assentem, engolindo em seco.
Droga! Eu devia ter dito alguma merda de novo. Coço
o cabelo, lambendo os lábios.
— Olha, não me levem a mal… mas nós não
temos uma boa experiência com esse lance de família
— confesso um pouco mais baixo.
Anya assente, seus olhos verdes me analisando
minuciosamente.
— Eu entendo. Antes de Mary eu não queria
imaginar a possibilidade de ter que dividir Nick com
ninguém — ela afirma as palavras convictamente.
Claire a olha, e eu me surpreendo por ela me
entender, a pressão feminina para filhos e todas
essas merdas era sempre grande.
— Dimitri é tudo para mim, eu morreria por ele —
confesso com o peito cheio de sentimento.
Anya e Claire se entreolham emocionadas, e
assentem em uníssono.
— Nós ficamos felizes por vocês, Hailey, saiba
que te entendemos e daremos o espaço que precisa —
Anya oferece, mas pega minha mão por cima da mesa
e olhando nos meus olhos, diz. — E não se engane,
família é quem cuida da gente. Se alguém te disse ou
fez o contrário, era só um desgraçado narcisista.
Respiro fundo, sentindo meu peito agitar. Talvez
aquele assunto nunca fosse algo fácil para mim, e as
cicatrizes que eu carrego talvez nunca se curem, mas
ali o calor da companhia delas me aquecia de um jeito
diferente e novo, como se aquela fosse a família que
eu nunca imaginei que pudesse ter, e a ideia desse
primeiro Natal ao lado delas e de Dimitri não parece
tão ruim.

Quando volto para casa com as sacolas, meu


coração acelera repentinamente e desço do carro,
meus olhos rápidos esquadrinhando os cômodos à
medida que eu vou avançando. Minha mão vai
automaticamente para minha faca, na coxa, abrindo a
bainha onde ela fica acoplada.
A tensão em meu corpo é dissipada no momento
que chego na cozinha e sobre o balcão da ilha eu
vejo… Uma rosa azul, com um bilhete ao lado. Meu
sorriso é instantâneo quando me aproximo e pego a
rosa e o cartão, lendo a mensagem de Dimitri.
Você ainda gosta de rosas azuis, cadelinha?
Mordo os lábios, tentando conter aquele turbilhão
de sentimentos que me domina, enchendo meu peito
com aquela obsessão maluca por aquele homem. É
estranho pensar que a mesma proporção de ódio que
eu sentia por Dimitri, tinha se transformado em um
amor avassalador. Era como estar completa de novo,
mesmo que essa outra metade também fosse feita de
pedaços quebrados.
Segurando a rosa na mão, eu sigo pelas escadas
que dão para o andar de cima e quando empurro a
porta do quarto onde dormíamos juntos, o cheiro
característico me toma como uma avalanche. Meus
olhos arregalam e eu tapo a boca, completamente em
choque.
O quarto está coberto por inúmeros buquês,
todos com rosas azuis, o contraste dos móveis em
tons pasteis faz as flores reluzirem, deixando-as ainda
mais lindas. Eu paro na entrada, completamente sem
fôlego. O quarto transformado em um mar de azul, o
cheiro das rosas me envolve e a lembrança daquele
primeiro buquê de rosas azuis e amassadas que
Dimitri havia roubado na infância inunda minha mente
como uma onda poderosa. A rosa que eu seguro agora
parece ainda mais especial, como se fosse a peça
final de um quebra-cabeça emocional que eu nem
sabia que precisava remontar.
Cada buquê está cuidadosamente colocado nas
mesas laterais, ao redor da cama, sobre a cômoda. As
pétalas azuis formam uma visão quase surreal,
trazendo uma profundidade intensa para o quarto que
agora parece ser nosso refúgio, nosso santuário.
Aquela explosão de cores, a intensidade do perfume,
tudo aquilo parece irreal para mim, e ainda assim
algo que só podia partir de Dimitri.
Dou um passo à frente, ainda com a mão na boca,
sentindo meu coração bater tão forte que parece que
vai saltar do peito.
Minhas pernas quase vacilam enquanto eu avanço
mais para dentro do quarto, tentando absorver o
cenário à minha frente. Com o coração ainda
acelerado, caminho em direção à cama, onde um
pequeno pedaço de papel repousa entre os buquês.
Meus dedos tremem levemente enquanto pego o
bilhete, um sorriso escapando de meus lábios antes
mesmo de ler. Meus olhos marejam e meu coração
quase explode com aquele sentimento insano e
poderoso quando leio as palavras.
Não se preocupe, docinho, todas elas foram
roubadas.
A risada que vem é silenciosa, quase uma mistura
de alívio e carinho. Claro que ele havia feito isso,
Dimitri e seu jeito próprio e inescrupuloso de
demonstrar afeto. As rosas, cada uma delas, não são
apenas presentes; são declarações. Um lembrete de
quem ele era, de quem éramos juntos.
Seguro o bilhete contra meu peito, fechando os
olhos por um instante enquanto me deixo envolver
pela memória da infância, daquele primeiro buquê de
rosas azuis. Aquele pequeno gesto carrega mais do
que qualquer palavra poderia dizer. Era o símbolo do
amor insano, intenso e profundamente leal que
construímos juntos, e uma prova de que nem tudo
tinha sido quebrado em mim e que mesmo diante de
tudo o que eu vivi e de quem eu me tornara, algo
nunca mudaria.
Eu era completamente apaixonada por ele, para
sempre.
“Alguns podem dizer que eu falo alto, veja se eu me importo
Diferente deles, não fujo dos meus medos
Eu quebrei ossos, quebrei pedras, olhei o diabo nos olhos”
Broken Bones - KALEO

10 de dezembro
Minha boca se enche d’água, eu pareço a porra
de um cachorro babando por um pedaço de bife. Meu
corpo está em chamas, meu pau tão duro e latejante
que chega a doer, meus olhos não conseguem se fixar
em uma só parte, eu queria devorar ela inteira. Porra!
Definitivamente aquele era o melhor aniversário que
eu poderia ter.
— Dimi… eu… porra! — Hay balbucia agoniada.
Um sorriso sádico rasga meu rosto e eu lambo os
lábios, respirando entre dentes, tentando aproveitar
cada segundo daquele espetáculo. Hailey está sob a
cama de quatro, os pulsos amarrados para trás,
completamente nua, a única peça que cobre seu
corpo é a porra de um par de meias ⅞. A renda preta
nas coxas contrasta com a pele pálida e os ramos e
botões de rosas que ela tem tatuado na costela, sua
bunda está no alto e em seu quadril ela exibe um laço
de presente azul-turquesa, e eu posso ver tudo…. Que
delícia, ela era uma cadela deliciosa pra caralho!
— Você não precisava… me amarrar — negocia
com a voz ofegante.
Me aproximo respirando descompassadamente,
minha mão acaricia sua lombar bem acima do laço e
eu me ajoelho atrás dela, ficando com o rosto na
altura da sua boceta depilada. Lambo meus lábios,
olhando mais de perto, ela brilha, pingando, macia,
cremosa e pronta para mim.
— Você que quis me oferecer um presente de
aniversário — falo entre dentes, engolindo a
quantidade exagerada de saliva que se forma em
minha boca.
Hailey chia, rosnando e balançando a bunda, em
uma exigência silenciosa para que eu a toque. Eu rio,
estalando a língua negativamente.
— Não se mexa, porra! Não me obrigue a amarrar
suas pernas abertas — rosno, mordendo a polpa de
sua bunda de leve.
— Dimitri! Me toque agora, me chupa, me come…
só faça alguma coisa — choraminga ainda mexendo o
traseiro e tentando me alcançar, mas eu me afasto,
mordendo sua bunda com mais força. — Eu vou te
matar, desgraçado!
Meu sorriso pode facilmente alcançar as orelhas,
o cheiro da boceta dela está me enlouquecendo.
Aperto meu pau, tentando conter a onda de excitação
que parece que me consumirá vivo.
— Para um presente você fala demais, será que
vou ter que amordaçar sua boca também? — ameaço
rosnando e ela engole o ar quando me levanto e dou
um tapa com a mão aberta na sua boceta.
O gemido dela, misturado ao rosnado, faz meu
corpo todo arrepiar, meu pau lateja e eu trinco a
mandíbula para segurar o gemido.
— Mal… m-ma… maldito — ele resmunga quando
estapeio sua boceta novamente.
Caralho! Eu amava aniversários.
— Você lembra do que eu disse naquele celeiro,
Hailey? Que aquela merda ia ter volta? — rosno dando
mais um tapa nela, sentindo sua boceta molhar toda
minha palma.
Ela arregala aqueles lindos olhos azuis e eu sorrio
para ela, deixando explícito em meus olhos, o quanto
o presente dela está sendo incrível.
— N-na… na… não achei que você fosse
vingativo, amor. — Ela se esforça muito para a última
palavra sair carinhosa. Eu sabia que ela estava puta,
por estar vulnerável, mas estava excitada pra
caralho, pelo mesmo motivo.
Dou a volta, ficando no campo de visão dela, que
levanta a cabeça para me olhar, pego seu rosto,
agarrando seu cabelo sedoso e a beijo com fome,
enfiando minha língua em sua boca, sugando o sabor
fodido e delicioso daquela cadela gostosa. Quando a
solto, Hailey já tem os olhos anuviados de prazer e
aperto suas bochechas, obrigando-a me encarar.
— Você se enganou, docinho. — Sorrio
maldosamente. — Eu sou vingativo pra caralho.
Observar seus olhos arregalando e o rosto ficando
vermelho é fodidamente prazeroso, a solto e dou a
volta novamente.
— Dimi… por…
— Agora, cala essa boca de cadela e abre bem as
pernas, quero sua boceta bem aberta pra mim —
grunho as palavras e me afasto um pouco, para
observar o show.
Ofego forte, apertando meu pau, sentindo aquela
dor insuportável nas bolas quando a assisto espalhar
os joelhos, me dando visão privilegiada da carne
rosada e brilhando do seu cuzinho apertado e daquela
bunda gostosa. Rosno com força, me aproximando
abruptamente.
— Porra, cadela! Você quer me matar, não é? —
gemo rosnando, espalmo a mão na sua boceta, dando
tapas e apertando a carne molhada. Eu a sentia
pulsar e derreter ainda mais na minha mão.
Hailey geme gostoso, jogando a cabeça para trás
e rebola, pedindo por mais tapas, e eu dou, estapeio
sua boceta até ela estar gritando e pingando
lubrificação na cama.
Seu corpo lindo está suando, sua pele arrepiada,
e quando a sinto contrair os músculos, eu paro tudo.
Hailey me fuzila com os olhos. E eu sorrio da forma
mais canalha que consigo.
— D-d… Dim…. Dimitri! — ela rosna, quando se
dá conta do que eu vou fazer.
Mordo os lábios e começo a esfregar sua entrada
com dois dedos, enquanto a olho Hailey revira os
olhos quando pinço seu clitóris entre o indicador e o
polegar e faço pressão.
— Ahh… porra…. Dimi, por favor… amor… caralho
— ela choraminga, mexendo o quadril, e esfrego com
mais força seu clitóris, brincando com a sensação de
dor e prazer.
— Sua boceta está pingando, seu cuzinho está me
chamando, Hay, você quer meu pau? — ofereço
praticamente gemendo junto com ela.
— S… si… sim, me fode, amor, por favor — ela
geme, fazendo aquela cara de puta que sabia que
sempre me convencia e me colocava de joelhos.
Ranjo os dentes, mordendo os lábios, sentindo o
pau pulsando, a cabeça pegando fogo. Resista,
caralho. Espalmo a mão na sua boceta dando outro
tapa, arrancando um grito dela. Dou a volta,
ajoelhando atrás dela.
— Você é uma cadela manipuladora — acuso,
soprando contra sua boceta. Hailey ri para logo em
seguida gemer. — Mas não vai fugir do seu castigo.
— Dimi. Por favor… Eu… Ahhhh… porraaa! — Hay
grita quando meto minha língua nela.
Chupando sua boceta com toda fome que eu
tinha, o gosto dela explodindo na minha língua, me
fazendo alucinar. Gosto de destruição, de perversão,
de caos. Seguro as bandas de sua bunda, abrindo-a
para minha língua. Porra! Gostoso pra caralho!
Balanço a língua na sua fenda empapada,
lambendo toda a extensão e subindo até seu cu,
metendo a língua para dentro e fodendo seu
buraquinho, deixando-o bem babado, pra aguentar
meu pau mais tarde.
Hailey geme chorosamente, balançando o quadril,
esfregando-se no meu rosto e soluçando de prazer.
Desço lambendo de volta para sua boceta e chupo seu
clitóris, fazendo suas pernas tremerem, meto dois
dedos dentro do seu cu e estoco com força. O grito
dela reverbera pelas paredes do quarto e quando
sinto seu clitóris começar a tremer na minha língua…
Paro tudo novamente!
— Filho da puta! — ela xinga, a voz quase
animalesca pela raiva e frustração.
Eu sorrio maldosamente, acariciando sua lombar
e ajeitando meu laço de presente, vendo-a respirar
ofegantemente.
— Amor, por favor… Dimi, eu preciso —
choraminga desejosa.
Mordo os lábios, dou um tapa na sua bunda,
descendo os dedos e afundando em sua boceta por
trás, inclino o corpo para que ela consiga me ver, sem
deixar de foder sua boceta com os dedos.
— Nem comecei com você e já tá pedindo arrego,
cadelinha? — zombo rindo.
Hailey rosna, gemendo e soluçando, e eu alucino
de satisfação, aproveitando cada segundo do meu
presente de aniversário.

Os aniversários nunca tiveram muito significado


para mim, um fodido como eu não tinha muitas coisas
para desejar, e agora estranhamente eu tinha tudo o
que podia querer. Seguro a cintura de Hailey, ela está
linda com um vestido azul que desenha todas as suas
curvas, e a puxo para mais perto, dando um beijo na
sua testa.
— Obrigada pelo presente, eu adorei — agradeci
de forma maliciosa. — E você está linda.
Ela estreita os olhos, sorrindo para mim e me
medindo dos pés a cabeça. Eu estou usando calça
social preta e camisa azul-marinho, os primeiros
botões abertos exibindo as tatuagens do meu peito.
— Você também não está nada mal, estou quase
cogitando a possibilidade de não me vingar de você —
oferece, mordendo os lábios, e a puxo para mais perto
para sussurrar no seu ouvido.
— Estou ansioso pelo seu castigo — confesso,
mordendo o lóbulo da orelha dela, a fazendo suspirar.
Me afasto um pouco, já sentindo a onda ígnea de
tesão querendo me dominar. — Mas seu aniversário é
só em abril, então trate de se comportar até lá —
zombo dando um tapa na bunda dela.
A porta abre e eu e ela forçamos um sorriso
quando Mary aparece atrás, seus olhos cinzentos
passeiam de mim para Hailey, e então para nossas
mãos entrelaçadas, e o seu sorriso vai até as orelhas.
— Boa noite, gatinha, seu avô nos convidou para
jantar — explico sorrindo de lado.
Ela assente, alisando o vestido verde-claro, e nos
dá espaço para passar.
— Claro, entrem, por favor, todos já estão na
mesa — revela com alegria.
Nós passamos juntos de mãos dadas e eu sinto
quando Hailey aperta minha mão com mais força, seu
corpo retesa e eu a puxo para mais perto, beijando o
topo da sua cabeça.
— Está tudo bem, eu estou aqui com você,
sempre vou estar.
Ela solta o ar pesadamente e nós seguimos para
a mesa. O jantar estava delicioso, Anya tinha feito
meu prato favorito, nós comemos juntos, rindo e
contando histórias da máfia. Era incrível observar
como Hailey estava se enturmando com eles,
conversando abertamente com as garotas Petrova e
fazendo piadas com Vicktor, ela parecia confiar nele e
mantinha uma espécie de gratidão pela forma que ele
me tratou e me acolheu enquanto ela estava ausente.
Os pestinhas de Vlad comeram o bolo que deveria ser
meu, então tivemos que nos contentar com os
pedaços que restaram.
Depois do jantar, todos fomos beber na sala de
estar e falar sobre como Vlad e eu já fizemos nossos
inimigos chorarem como mocinhas, obviamente as
crianças já tinham desmaiado pelos sofás a esta hora.
Vicktor e Vlad se levantam, levando seus copos de
vodca consigo.
— Dimitri, pode me acompanhar até o escritório?
— o Petrova mais velho me pede.
Olho para Hailey ao meu lado, em um
questionamento silencioso se ela ficará bem.
— Está tudo bem, pode ir — ela me diz,
segurando meu queixo e me dando um beijo.
Me levanto, seguindo-os pelo corredor em direção
às escadas. Subo as escadas com Viktor e Vlad ao
meu lado, algo aperta meu peito e o clima entre nós
de repente fica tenso, eu estou um pouco confuso.
Estávamos rindo, falando besteiras, mas eu sabia que
aquele chamado ao escritório era mais do que só para
compartilhar mais uma história sobre as merdas que
já fizemos juntos.
Que porra eu tinha feito agora?
Quando chegamos, Viktor fecha a porta atrás de
nós e indica uma poltrona para que eu me sente. Ele
e Vlad ficam em pé por um instante, trocando um
olhar silencioso antes de Viktor se aproximar com um
ar solene, porém carregado de orgulho.
— Dimitri — ele começa, segurando o copo de
vodka ao nível dos olhos —, você é um garoto maluco
que me deu mais trabalho do que meus dois filhos
juntos…
Franzo o cenho, fazendo uma careta, já
preludiando que ele me daria a porra de um sermão
de aniversário. Do meu lado, Vlad sorri, com uma
expressão suave, quase orgulhosa, o tipo de emoção
que ele reserva para Claire e seus filhos. É impossível
não retribuir o sorriso, sentia uma conexão com esses
dois homens que ia além de amizade. E então o pai de
Vlad continua.
— Não sei que merda aconteceu na sua vida, e,
bem... sinceramente, isso não me interessa. — Ele dá
um gole, o tom sincero e quase bruto. — Mas este é
meu presente para você. Gostaria que aceitasse e,
para mim, a verdade é que isso já é real há muito
tempo. O papel é só formalidade.
Meu olhar se move entre ele e Vlad, que se
inclina a pegar uma pasta que está sobre a mesa. Ele
abre e tira um documento com um brasão gravado no
topo. Quando ele coloca a folha em minhas mãos, eu
me dou conta do que era: uma certidão oficial me
concedendo o sobrenome.
Dimitri Petrova.
Fico em silêncio por um momento, absorvendo o
peso do que aquilo significa. Viktor se senta à minha
frente, olhando diretamente nos meus olhos, como se
quisesse ter certeza de que eu entendesse a
profundidade desse gesto.
— Eu… eu… não sei o que dizer… — admito,
minha voz embargada, ainda lutando para processar a
situação.
Vlad se aproxima com aquele sorriso de canto,
com um tapa amigável e brutal em meu ombro. Meus
olhos ardem e eu ali, diante daqueles dois filhos da
puta, os únicos que nunca me desprezaram, nunca me
subestimaram, que sempre me acharam melhor do
que eu pensava ser, eu percebo.
Aquilo é família.
Não um sobrenome, nem uma autoridade
qualquer dando ordens, nem a porra de uma ligação
de sangue sem sentido. Mas lealdade.
Companheirismo. Fidelidade. E uma confiança
construída em cima das nossas fraquezas, cicatrizes e
batalhas compartilhadas, sem necessidade de
palavras. Levanto o olhar para Viktor e Vlad, sentindo
o peso daquele gesto. Aperto a mão de Viktor e sorrio,
sem precisar dizer nada. Eles entendem.
— Feliz aniversário, seu puto! — deseja Vlad,
pegando minha cabeça em um triângulo embaixo de
seu braço e bagunçando meus cabelos. Sorrio pra
caralho, fugindo do golpe, acertando um soco em seu
braço e vejo quando Vicktor Petrova levanta seu copo,
nos oferecendo, e eu e Vlad erguemos os nossos. E
juntos, nós brindamos.
— A família Petrova.
“Minha igreja não oferece absolvições
Ela me diz: Louve entre quatro paredes
O único paraíso para onde serei enviado
Vai ser quando eu estiver sozinho com você’’
Take Me To Church - Hozier

20 de dezembro
Meus olhos correm pelas paredes da velha sala,
agora desgastadas, mas ainda carregadas das
mesmas lembranças amargas. Os quadros e crucifixos
alinhados, as sombras projetadas pelas luzes fracas,
cada detalhe parece zombar de mim, como se o
próprio lugar ainda mantivesse viva a lembrança dos
castigos, dos gritos abafados. Do lado direito, um
painel repleto de chicotes desgastados pelo tempo,
mas inconfundíveis. Sinto minha mandíbula se
contrair ao encarar aquilo, lembrando-me de cada
marca, cada golpe que rasgava minha pele e
endurecia meu ódio.
A ansiedade queima em minhas veias, me faz
mexer na cadeira, girando-a de um lado para o outro.
Minhas mãos apertam os braços da cadeira, o barulho
da madeira rangendo ecoa no silêncio. E então, ouço.
Passos arrastados, o roçar de sapatos que fazem o
piso gemer, um som que conheço bem demais. Era o
mesmo andar que costumava anunciar o terror e a
punição, mas hoje era só o anúncio delicioso do meu
acerto de contas.
A porta range quando se abre e lá está ela, irmã
Agnes, a velha freira que causou toda a porra do
pesadelo na minha vida. Seu rosto se enrijece ao me
ver, mas em seus olhos eu vejo uma surpresa, o medo
disfarçado por trás da máscara de severidade que ela
sempre carrega. Eu não me movo, apenas a encaro
sorrindo, deixando que ela absorvesse cada segundo
naquele momento.
— Olá, irmã Agnes, lembra-se de mim? —
questiono, batendo um dos chicotes na minha palma,
testando o material.
A velha parece ter ficado ainda mais feia, as
feições frias agora estão potencializadas pelas rugas
ao redor dos olhos. Ela levanta o queixo
arrogantemente.
— Não me lembro do senhor, mas não é educado
invadir, saia da minha sala imediatamente — exige
com a voz dura, carregada de desdém, quase um
rosnado
Inclino a cabeça, fingindo uma expressão
ofendida, como se suas palavras tivessem me
afetado. Mas, por dentro, eu estou me deliciando.
Cada palavra, cada segundo da sua arrogância,
alimenta a satisfação em meu peito. Meus olhos não
deixam escapar um único movimento, cada traço de
tensão que ela tenta ocultar. Ela pode disfarçar o
quanto quisesse, mas eu vejo claramente o medo que
começa a germinar em suas feições envelhecidas.
— Sou eu... — murmuro casualmente, deixando o
nome pairar no ar como uma sentença. — O
incorrigível.
O silêncio cai entre nós. Vejo os olhos dela se
estreitarem, a máscara de arrogância vacilando por
um instante. O reconhecimento brilha ali, e por um
breve segundo, o leve estremecer em seu rosto é uma
recompensa que saboreio. Ela sabe quem eu sou. E
sabe o que eu estou fazendo ali.
— D-d… Dimitri! — balbucia ela, aturdida, dando
passos vacilantes para trás, seus olhos arregalados, a
máscara de arrogância finalmente despencando
enquanto a sombra do pânico toma conta.
Um sorriso lento e diabólico se forma em meus
lábios, e assinto com a cabeça, saboreando cada
segundo daquele reconhecimento desesperado.
— O próprio — murmuro, a palavra carregada de
um êxtase sombrio.
Ela tenta correr, mas mal dá um passo antes de
dar de cara com Hailey, que está atrás dela,
segurando uma faca e com os olhos brilhando em
antecipação. A velha volta a me olhar, sem saída, e
bato o chicote na mão despretensiosamente, o som
ressoando como um lembrete do que viria
— Lembra-se da Hailey, irmã Agnes? — ofereço
como se estivesse falando sobre o clima e Hailey sorri
para ela, aquele sorriso maligno que cada dia me
deixa mais apaixonado.
— P-po… por favor… não me machuquem.
O sorriso de Hailey é enorme, sombrio e
enigmático, o sorriso que cada vez eu via de um jeito
perverso, só me faz amá-la mais.
— Machucar você? Por que faríamos isso? —
questiono, coçando a cabeça com o chicote.
— Sim, Irmã Agnes, por que faríamos isso? —
reforça Hailey, se aproximando cada vez mais dela. —
Uma alma tão caridosa, que cuida de criancinhas e
vive uma vida de retidão.
A expressão de horror no rosto da velha me faz
suspirar, me deliciando com o pavor escorrendo dos
seus olhos.
— A não ser que você tenha… — Ela se vira
abruptamente para me ouvir, tentando se afastar de
Hailey. Me levanto, acompanhando-a com os olhos. —
Cometido um pecado imperdoável?
A irmã Agnes engole em seco, e o horror no rosto
dela intensifica-se ao ouvir minha última frase. Seus
olhos vão de mim para Hailey, em um frenesi
descontrolado, enquanto dá passos trêmulos para
trás, tentando escapar sem ter para onde ir. A cada
segundo que passa, o pavor escorre dela como suor, e
eu me delicio com cada expressão de desespero.
— Um pecado imperdoável, irmã? — Hailey
pergunta, deslizando o dedo pela lâmina da faca, os
olhos afiados e irônicos. — Que tipo de pecado
alguém como você poderia cometer, hein? — A voz
dela é melódica e suave, o que faz a provocação soar
ainda mais cruel.
A velha balbucia algo, tentando formular uma
desculpa ou uma justificativa, mas sua voz se esvai
em fragmentos desconexos. Ela sabe, naquele
instante, que não há mais nada a dizer, que qualquer
mentira não duraria nem um segundo sob o peso das
memórias e do medo que está estampado em seus
olhos.
Eu me aproximo lentamente, sentindo o prazer
sombrio de dominar a situação, o controle completo
sobre alguém que me humilhou por tanto tempo.
Quando paro na frente dela, acho que aquela velha
vai desmaiar ao ver a minha altura cobrindo seu
corpo débil e frágil, ainda mais quando me inclino
para sussurrar em seu ouvido.
— Deus nunca vai perdoá-la por isso, irmã Agnes
— escarneço, humilhando-a com as mesmas palavras
que um dia aquela filha da puta usou.
Ela treme ao ouvir minha voz tão próxima, a
respiração presa enquanto suas mãos buscam apoio
nas paredes, quase em pânico. Sua arrogância, sua
suposta fé, tudo aquilo se esfarelava em face da
justiça que finalmente a alcançava.
Aproximando-me ainda mais, observo as marcas
do tempo em seu rosto, rugas que antes carregavam
um semblante de frieza e desprezo, mas que agora
exibem apenas pavor. Eu quis que ela sentisse cada
gota desse medo, cada fragmento de desespero que
tantas crianças passaram ali, dentro daquelas
paredes, sob o pretexto de "disciplinar".
— Você acha mesmo que Ele estava com você
enquanto fazia o que fez? — continuo, minha voz
baixa e carregada de repulsa. — Para onde irá sua
alma, irmã Agnes?
Suas costas grudam na parede, o suor frio
brotando por baixo do véu, escorrendo pela sua testa.
Sorrindo como o próprio diabo, retiro minha arma da
lombar e quase alucino vendo seus olhos arregalarem
e o grito escapar de sua garganta.
— Não se preocupe, irmã, estou cumprindo um
trabalho divino aqui. — Faço o sinal da cruz, usando
minha arma com se fosse o terço. — Limpar os
demônios da terra.
— Por fav… AHHHH.
Sua frase é interrompida quando atirei em seu
joelho, fazendo-a cair sob a perna ferida, gritando de
dor e sangrando como um porco abatido. Hailey se
aproxima e nós dividimos a mesma faca, usando-a
para destroçar o corpo da irmã Agnes, o barulho da
carne sendo massacrada era quase mágico, o sangue
dela ensopando a nós dois. Hailey rasga um corte em
sua garganta, fazendo-a gorgolejar sangue, os
cabelos loiros ficando completamente carmesim, e eu
me surpreendo de como ela pode ser tão linda,
mesmo se parecendo com uma versão bizarra de
Carrie, A Estranha [15] .
— Deixa eu te ajudar, docinho — ofereço quando
a vejo tentar desmembrar a cabeça do corpo, uso a
faca para cortar mais fundo o pescoço, separando os
tendões e músculos. Minha pele é uma poça vermelha
e gosmenta, levanto e pisei no pescoço da velha,
quebrando a coluna cervical na pezada. A cabeça
solta-se do corpo, rolando no chão, deixando um
rastro de sangue na madeira escura.
Jogo os cabelos para trás, sujando-me de líquido
vermelho e olho para Hailey, nós dois respirávamos
ofegantemente. Destroçar um corpo não era um
trabalho simples, mesmo que o ódio e a adrenalina
ajudassem. Lambo os lábios, descendo meu olhar
para blusa branca que Hailey usa, que agora se
tornara vermelha. Mas são seus mamilos túrgidos que
me fazem salivar.
No outro segundo, eu já a tinha sobre a mesa,
esparramando suas pernas e a beijando
desesperadamente. Minha língua persegue a dela,
sentindo o gosto delicioso de sangue, tesão, luxúria e
devassidão. Hay rasga os botões da minha camisa,
arrancado-a e deixando-me com o peito nu, abro sua
blusa, libertando seus peitos e desço a cabeça,
chupando-os com fome, mamando como se estivesse
sem água há anos.
— Cadela gostosa — rosno, mordendo seu
mamilo, e ela grita, apertando meu cabelo.
— Dimitri, me fode agora! — exige gemendo.
Eu sorrio maldosamente. Meu pau pulsa ao ouvi-
la, eu amava a nossa perversidade. Me livro da minha
calça e subo sua saia, em instantes eu já estava me
afundando em sua boceta, metendo com força,
sentindo-a me apertar de um jeito que deveria ser
crime. Agarro sua bunda, empurrando seu quadril
para encontrar minhas estocadas, eu gemo de boca
aberta, sentindo o corpo todo eletrizar.
— Eu amo você — confesso, subindo uma mão e
agarrando seu pescoço, olhando em seus olhos, sendo
queimado vivo. — Amo você pra caralho.
Hailey geme, os olhos revirando enquanto ela se
desfaz em um orgasmo devastador, sua boceta me
espreme, fazendo-me grunhir e apertar os dentes,
refreando a vontade de gozar. Eu não queria que
aquela porra acabasse, vê-la coberta de sangue, com
a respiração ofegante, o rosto vermelho, a boca
aberta, os olhos anuviados de prazer, gemendo meu
nome e o quanto me amava. Porra! Aquela merda era
insana, era minha perdição, meu caos.
— Goza, Dimi… enche minha boceta de porra —
pede manhosa, fazendo aquela carinha de puta.
Caralho.
Eu não ia aguentar
— Golpe baixo! Filha da puta! — rosno, estocando
com mais força.
A onda de calor sobe furiosa pelas minhas coxas,
fazendo meu corpo inteiro formigar, meu pau treme,
os jatos de porra saindo com uma pressão do caralho.
Empurro para dentro, deixando-a marcada,
reivindicada, minha.
Nós entreolhamos, ambos ofegantes, cheirando a
sangue, a sexo, a porra e a maldade. Hailey sorri,
desce, me empurra suavemente e termina de se livrar
da saia, virando de costas. Empina a bunda, me olha
por cima do ombro e rindo como o diabo, me diz.
— Come meu rabo.
Minha boca abre em choque e meu pau pulsa, mal
tendo amolecido ainda. Balanço a cabeça incrédulo e
mordo os lábios, meto um tapa ardido na bunda dela,
abro as bandas e cuspo no seu cuzinho apertado.
— Está viciada em me dar seu rabo, não é,
cadela? — provoco, esfregando a cabeça do meu pau,
sentindo o anel de nervos piscar, me chamando para
foder.
— Me come logo, seu cretino — desafia, sorrindo
maldosamente.
Hailey ama a ideia de me provocar, deixava-me
insano com sua insubmissão no sexo, e eu… porra! Eu
amava colocar a cadela no seu maldito lugar. Agarro
um chumaço de cabelo, afundando no seu cu de uma
vez. Rosno, jogando a cabeça pra trás, sentindo-a
contrair ao máximo, me apertando dentro dela. Viro o
pescoço de lado, ali vendo o corpo desmembrado da
Irmã Agnes.
Estoco gostoso no rabo da cadela que eu amava
insanamente, eu morreria por ela, eu mataria por ela.
Mas acima de tudo eu viveria toda a porra de
sofrimento, mas mil vezes, apenas por essa porra de
momento com ela. Hailey era meu destino sombrio,
destroçado, caótico.
Mas, definitivamente, a porra de tudo o que eu
sempre quis. E agora nada poderia nos separar.
Meu caos sempre encontraria o dela.

Fim
24 de dezembro, quase 00h
Giro o pescoço de um lado para o outro,
visualizando se havia alguém ali. Quando noto que
estou sozinho, suspiro aliviado e me encosto no
parapeito da sacada, acendo um cigarro, inalando
profundamente a fumaça para dentro. Olho para o céu
sem estrelas e para a neve acumulando no horizonte.
A casa de Vlad fica próxima de uma floresta, e era
bonito observar a neve se acumulando nas árvores,
em frente. Ele tinha projetado a casa em um terreno
gigantesco, possivelmente antecedendo seu desejo
por muitos filhos. Sopro a fumaça, dando mais uma
olhada, e quase me engasgo ao tragar novamente
quando vejo uma cabecinha ruiva surgindo na escada.
Yuri me olha chocado, eu forço o sorriso,
balançando a cabeça negativamente em um pedido
silencioso para que ele não me dedurasse, mas como
o pestinha era filho de Vlad, sorri e em seguida grita.
— Papaaaai, tio Dimi está fumando econdido
dentro de casa de novo.
Ranjo os dentes, matando aquele pirralho com os
olhos.
— Pestinha X9 — resmungo entre dentes.
Minha primeira reação é largar o cigarro, mas ele
já tinha soltado o grito e não tinha como voltar atrás.
Escuto passos pesados vindo da sala, onde todos
estão reunidos para a ceia de Natal. A julgar pelo
ritmo apressado, só poderia ser Vlad. O pestinha ruivo
me olha com um sorrisinho vitorioso, cruzando os
braços como se fosse o maior moralista da casa.
— Porra, Dimi, quantas vezes vou precisar te
dizer que fumar na sacada ainda conta como dentro
de casa? — Vlad me encara com aquele olhar sério de
"pai de família" que ele nunca deixa de exibir. Mas
vejo o leve brilho de humor em seus olhos. — Sabe
que não pode fumar na minha casa, porra!
— Já acabou com o sermão, papai? — retruco,
ironizando o tom paternal que ele usa.
Yuri aproveita a deixa e pula nos braços de Vlad,
rindo. Então, como se tivesse planejado o momento
perfeito, ele solta a acusação final.
— Ele já está no segundo cigarro, papai — Yuri
termina a denúncia rindo.
Suspiro, derrotado, enquanto Vlad reprime o riso.
Aquele pirralho é um diabo em miniatura.
— Pode descer, pirralho. Vai lá contar vantagem
pra sua mãe — falo, fingindo impaciência, e Yuri
desce os degraus rindo, satisfeito com sua pequena
vitória.
Vlad se aproxima, me dando um tapa na cabeça,
devolvo o gesto com um soco no seu ombro e nós dois
rimos.
— Vamos descer, logo será Natal — ele fala,
descendo na frente.
Desço atrás de Vlad, já sentindo o calor da casa
se aproximando. Quando olhamos para a sala, o som
das risadas e conversas se misturam com o aroma
reconfortante do jantar. A mesa está repleta de pratos
deliciosos e as luzes piscando no grande pinheiro de
Natal dão à sala um tom caloroso.
— Feis atal, tio Dimi! — diz Nikolay, um dos
pequenos de Vlad, com um sorriso largo no rosto,
vindo até mim com uma caixinha preta e pequena, o
laço azul se destacando. Eu apenas dou um sorriso
amarelo, acariciando os cabelos castanhos de Nikolay
enquanto olho para Vlad, que me observa com um
leve sorriso. Ele apenas assente com a cabeça e eu,
curioso, puxo o laço, desatando a embalagem. Dentro,
há um isqueiro, mas não um qualquer. É um isqueiro
em formato de AK-47, como Deyse, uma pequena
peça de metal que, apesar de ser uma surpresa,
parece algo perfeito para mim.
Sorrio para Vlad, apertando o gatilho e liberando
a chama, balançando as sobrancelhas de forma
sugestiva.
Ele imediatamente fecha a cara, franzindo as
sobrancelhas ruivas e faz um gesto com a mão, como
se quisesse me pegar na porrada.
— Não, isso não significa que você pode fumar
aqui — decreta firme, com uma expressão de
advertência.
Eu rio, guardando o isqueiro no bolso. Não era só
a provocação de sempre, era parte de um
entendimento entre nós. Ainda assim, o presente era
uma lembrança de que, apesar de tudo, ainda
estávamos aqui, juntos, como uma família.
O jantar foi delicioso, uma mistura de pratos
tradicionais e alguns toques especiais que Anya, com
sua habilidade de cozinheira, sempre trazia para a
mesa. Conversas sobre velhas histórias de mafiosos e
piadas sobre as crianças corriam durante o jantar. As
risadas ecoaram pela sala e, embora eu estivesse em
um ambiente cheio de pessoas que eu não tinha
nenhuma ligação sanguínea, havia algo de
reconfortante naquela vibração de união.
Depois de comer, todos se encaminharam para a
sala de estar, onde uma conversa mais leve se
iniciou, provavelmente pelo clima de Natal. As
crianças, já saturadas da comida e da bagunça,
ficavam espalhadas pelos sofás, tentando arrumar
espaço para se aconchegar, enquanto as conversas
continuavam a fluir.
Vlad e Viktor, como sempre, conversavam sobre
negócios e estratégias, mas o tom estava mais
descontraído. O álcool ajudava a relaxar a todos, e
logo o tema das piadas voltou a ser o meu cigarro,
com todos brincando sobre como eu precisava ser
vigiado durante as festas, caso decidisse cometer
mais algum crime contra a saúde.
A noite foi tranquila e, ao contrário do que eu
esperava, aquele Natal, mesmo rodeado de pessoas
da máfia e negócios sombrios, teve algo de puro, algo
que tocava o meu coração.
Puxo Hailey da rodinha de conversa das garotas e
a trago para perto de mim. Ela está linda com um
vestido preto que desenha suas curvas, o tecido
contém um material acetinado, contrastando com seu
cabelo loiro que está preso em um rabo de cavalo
alto.
— Feliz Natal, cadelinha — sussurro no seu
ouvido, ela ri e vira-se para me beijar.
Nossos lábios se encontram e no momento em
que a sensação da sua boca contra a minha se fixa, é
como se o tempo parasse. Cada beijo com Hailey
parece novo, como se fosse a primeira vez. Meu
coração dispara, inflado com toda a intensidade do
amor que eu sinto por ela, como se fosse a única
coisa que importasse naquele momento.
— Feliz Natal, Dimi, eu amo você, amo o que
temos, amo estar aqui — confessa sobre meus lábios,
e eu sabia que ela se referia a estar na casa dos
Petrova e a convivência com eles. Tudo era novo,
desafiador, mas também reconfortante.
Ainda não era fácil para nós dois. Mantivemos
nossa relação “familiar’’ de maneira diferente, não
convencional. Eu com meus traumas, ela com os dela,
ainda lidando com o peso de tudo o que já havíamos
vivido. Mas, apesar de todas as nossas inseguranças e
feridas, a forma como os Petrova nos tratavam era
algo que nos tocava profundamente. Nos viam como
iguais, nos amavam apesar de nossas imperfeições e
sombras. Eles se tornaram nossa verdadeira família, e
isso era algo que eu nunca imaginei encontrar ou
merecer. Eles cuidavam de nós, e aquele era o maior
presente que eu pensava ter naquele Natal:
O sentimento de pertencer a algum lugar.
As coisas estavam acontecendo ao nosso redor,
mas era aquele momento com Hailey, a forma como
nos compreendíamos no silêncio um do outro, que
tornava a noite realmente especial. Naquela casa, em
meio a tudo o que construímos, havia uma sensação
de lar que nunca havíamos experimentado antes. E,
enquanto a ceia acontecia ao fundo, eu sabia que
aquele era o nosso lugar.
Eu e Hailey, juntos, fazendo do nosso jeito,
finalmente tendo a chance de criar a nossa própria
história.
Acabei de terminar o livro e, meu Deus, esse
casal já é um sucesso! A intensidade, o amor e a
lealdade que eles sentem um pelo outro são de outro
mundo. Mesmo quando achavam que se odiavam,
sentíamos toda a adoração, até mesmo obsessão, que
um sente pelo outro. O que foi a cena do Viktor com o
Dimi? Eu chorei vendo o Dimi finalmente se sentindo
pertencente a uma família.
BV, você pode ter certeza de que essa turma,
principalmente esse casal, vai alcançar o sucesso e
eu estou aqui do seu lado torcendo, chorando e
vibrando por cada conquista sua.
Como sempre digo, sua escrita é perfeita e quem
não conhece ainda vai se tornar sua fã depois desse
casal apocalíptico.
Andriela Bessa

Eu sabia que esse livro seria o meu favorito antes


mesmo de ler. A escrita da Bv sempre me cativou,
mas o sentimento que tive conhecendo a história do
Dimi e da Hailey foi muito além do que achei que
seria. Aqui temos um livro com MUITO sentimento, é
diferente de tudo o que ela já escreveu! A escrita da
Bv evoluiu muito positivamente e é impossível não se
emocionar e se apaixonar por esses dois (além de
claro, sentir raiva, dor e MUITO tesão rs).
Ela colocou uma dose gigantesca de amor nesse
livro, acompanhar de perto foi delicioso e uma honra
gigante!
Espero que meu casal de malucos conquistem
vocês assim como me conquistou. Ter sido beta foi
muito além do trabalho.
Com amor, Amanda Melo

Vou começar falando que não tenho como


discorrer sobre você BV, sua cadela! Eu peço um
lanche e você me entrega o quê???? Um banquete
CARALHO!!!
Esse livro do Dimi é completamente fora do
convencional, fora da curva. Me fez sentir um misto
de emoções que não senti em livro nenhum, porra!
A química deles, caralho, que química, que física,
que caralho louco e insano! É inenarrável! A cada
capítulo eu ficava OBCECADAAAAAA por mais deles,
senti tantas coisas lendo, uma tristeza profunda, uma
revolta INSANA, ódio e amor,
Porra, quanto amooor eu posso ter por eles?! Eis
a questão, era exatamente isso que você queria que
eu sentisse quando me deu esses personagens de
presente, um sentimento brutal e inegável, tantas
cenas fodas, que sinceramente eu não tenho uma
preferida, até tenho, aquela cena das mãos marcou
perfeitamente a mente completamente corrompidas
deles, aquele farol, ah, Hay, se tu soubesses o quanto
amo, te amar, em meio a infinidade de fenômenos
físico, você é a força da natureza, e o sol que ilumina,
e tempestade no olhar, não tem como te descrever,
amei cada pedaço do seu CAOS, aprendi, mas com
você do que comigo mesma, sobre promessas que não
podem ser quebradas, você é a força nuclear, e que
força em???!! Não me contive e não segurei o choro
em muitas situações, mas rir horrores tbm, ah, Hay,
Hay. Se tu soubesses o valor que tu tens…
E meu Dimi, sinceramente, é palpável falar sobre
esse HOMEM, que homem minhas queridas, dono de
uma força inabalável, inevitável, uma tempestade que
passa e derruba tudo e todos, a verdadeira teoria do
caos, me doeu tanto cada capítulo, cada sensação de
ter Hay por perto, foi angustiante sentir o que você
sentiu, passar o que você passou, sentir na pele o
sofrimento, a dor de um coração partido. Se eu
pudesse mencionar uma cena, não teria, por que
todas teve um peso para mim, SENTIMENTAL, olha
quem viu ela emmm, fria demais e completamente
apaixonada por DIMITRI PICA DE AÇO KAKAKA , aquela
confissão do que aconteceu na infância, contada para
Hay, me deu um nó na garganta, uma pressão no
peito, pensei que ia infartaaaaaar , aquilo me doeu
tanto, porque tinha que ser assim caralho?!!! BV
CADELA!!!!!
Dimi sem nome que vazioooo, sofriiiiii, sofro e
sofrerei por eles.
A frase que mais me marcou sempre foi: Meu
caos sempre encontrará o seu!
As palavras não ditas em um olhar…
Nota: 1000000/10 - Emylly Rocha
Intenso, visceral, profundo, intrigante, viciante,
obsessivo, poderoso, magnífico. Esses são alguns dos
adjetivos que podem definir esse livro. Sempre que a
BV chega dizendo que tem um livro novo, ao mesmo
tempo eu espero tudo e nada. Tudo porque ela é uma
escritora foda, e nada porque penso que ela não pode
mais me surpreender. Aí ela chega com Hailey e
Dimitri nos entregando a história deles e me deixa
assim, sem palavras para descrever tudo que eles
são. Não tem como não amar toda a intensidade
deles, foi um prazer fazer parte dessa jornada.
Oi, gente, que delícia escrever este
agradecimento, significa que acabei o último livro do
ano. Inicialmente meu objetivo sempre foi lançar no
mínimo 4 livros por ano, todavia pessoalmente eu
tinha um problema bem considerável de cumprir
metas, que já me assombra a um tempinho, então
nada é tão recompensador para uma procrastinadora
em tratamento do que escrever a palavra “fim’’.
Esse livro é muito especial para mim, mas do que
imaginei que seria. Tive vontade de desistir dele
inúmeras vezes, não porque não via potencial na
história, mas por não me achar boa o suficiente para
terminá-lo. E é aí que entram os anjos na nossa vida,
minhas betas foram essenciais para que esse livro
viesse até vocês. Elas me incentivaram tanto,
acreditaram no meu potencial e me ajudaram a riscar
mais esse item da minha lista de metas anuais.
Então vou tirar um tempo para fazer um
agradecimento especial a cada uma exclusivamente.
Andri, mulher do céu, você é extraordinária, se
algum dia não se sentiu assim, sinta-se. Você
acreditou em mim, primeiro do que todo mundo,
lembro da nossa primeira call, você dizendo “Tu ainda
vai ser grandona, mulher’’. Não sei se sou, mas com
você eu me sinto gigante, sua assessoria vai além do
âmbito profissional, você é a mãezona do rolê,
controlando as doidas que querem fazer mil
ilustrações… kkkk. Obrigada, amiga, por tudo, de
verdade. Saiba que você tem seu espaço na minha
vida e na minha equipe, não sei até onde “Eu sou o
Caos’’ vai chegar, mas saiba que você é uma das
responsáveis por estarmos aqui. Te amo.
Emy, minha paraibana arretada e completamente
maluca, falar sobre você é sempre divertido, você é
uma maluca que acreditou nessa loucura e embarcou
comigo nessa onda, e foi um prazer ver seus surtos,
conversar com você e dividir Dimitri contigo antes de
todos. Saiba que desde o momento que você surtou
na minha DM, numerando o cheiro de cada um dos
meus personagens, eu te amei loucamente. Parece
inacreditável que alguém de tão longe, que mal nos
conhece, acredite na gente com tanta garra e força.
Costumo dizer que Dri é meu alicerce que me mantém
de pé, mas tu é minha força para continuar, você é
muito especial, conquistou teu espaço no meu
coração e na equipe, te amo sua cadela. (é de lei
você fazer o “au, au’’).
Agora minhas Amandas, vocês são incríveis,
ambas sempre surtando com os lançamentos. Minha
revisora incrível, Amandinha não te largo nunca mais,
você já sabe como o negócio funciona por aqui, tiro,
gritaria e dedo no cu… kkkkk... Ainda assim embarca
e surta comigo nos meus livros. Obrigada por tanto.
E você Amanda Mello, minha influencer do
coração que desta vez betou meu primeiro bebê Dark,
você é maravilhosa, amiga, obrigada pelas
considerações, pelas fotos de reações no whats e por
ser você, tão sincera, tão pura e intensa. Amo tu.
E é claro, a vocês leitoras, que continuam aqui.
Vocês têm noção que esse é nosso quarto livro?
Obrigada por me lerem, obrigada pelas avaliações,
pelo carinho na DM, por me entenderem, pelas
perguntas na caixinha, eu sou completamente
apaixonada por vocês, costumo dizer que não tenho
muitas leitoras… ainda. Mas as que tenho são as
melhores.
Obrigada por me lerem, obrigada por estarem
aqui.
Com carinho, gratidão e lágrimas nos olhos.

BV. Smith

[1]
É uma faca pequena e leve projetada para ser usada pendurada ao
redor do pescoço, geralmente presa por uma corda, corrente ou paracord. Ela é
projetada para acesso rápido e fácil.

[2]
Moeda russa, 3000 seria equivalente a R$ 200,00.

[3]
Neste dia, em 1776, o país foi declarado livre e independente da
Inglaterra. Por toda a nação, fogos de artifício são disparados. As bandas tocam
marchas patrióticas nas paradas e políticos discursam sobre a liberdade e os
ideais americanos.

[4]
Eu sou o Caos, em russo.

[5]
Sotchi é uma cidade no Krai de Krasnodar, na Rússia, localizada na
costa do Mar Negro, perto da fronteira entre a Rússia e Geórgia/Abecásia,
ficando em média a 3 horas de Moscou.

[6]
Chefe da máfia russa.

[7]
A prática também pode ser chamada de T&D ou "começar e parar"
quando o submisso recebe estimulação sexual e essa estimulação é
interrompida antes dele atingir o orgasmo. Prática comum no BDSM.

[8]
Quando há um acúmulo de sangue nos testículos e pênis durante a
excitação sexual, e a ejaculação não ocorre, pode haver desconforto ou dor
considerável nos testículos.

[9]
Braço direito e conselheiro do Parkhan, cargo de altíssima confiança.

[10]
Um dementador é uma criatura do universo de Harry Potter que se
alimenta de felicidade humana e pode consumir a alma de uma pessoa

[11]
Incorrigível, em russo.

[12]
Bolinhos de repolho, recheados com carne e arroz.

[13]
Invenção da autora: é como se fosse um código moral de lei da
Bratva, onde o mafioso tem o direito de confessar sua traição jurando pelo seu
sangue e tem a chance de morrer com ‘’honra’’, por esse ato, seus entes
queridos e pessoas importantes para o mesmo são poupadas.

[14]
Vibrador em forma de cápsula.

[15]
Filme de 1976, onde a personagem aparece ao final do filme coberta
de sangue.

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