CONCEITOS TEORIA GERAL DE DIREITO CIVIL LL

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CONCEITOS TEORIA GERAL DE DIREITO CIVIL ll

Divergências entre a vontade e a declaração intencionais:

1. Simulação
A simulação corresponde a uma divergência intencional entre a declaração negocial e a
declaração de vontade, que resulta de um conluio entre declarante e declaratório, tendo em
vista, enganar terceiros. Para que um negócio possa ser declarado simulado, no art. 240º, nº1CC
são necessários que se mostrem verifcados determinados requisitos: divergência entre a
vontade e a declaração e que essa divergência seja intencional; que tenha como intenção
enganar terceiros; e que a falta de concordância entre o que se declara e o que se quer resulte de
um acordo simulatório entre declarante e declaratário.
Nos termos do nº2 do art. 240º CC, o negócio simulado é nulo, pelas seguintes razões
explicitadas: funciona como uma sanção do ordenamento jurídico para a falta intencional de
vontade negocial; a nulidade compreende-se no quadro de formação do negócio jurídico; e por
fm é predisposta para salvaguarda dos interesses de terceiros, que são enganados com um
negócio fcccio. A simulação pode ter uma de duas modalidades: inocente se a intenção for
apenas a de enganar terceiros, e fraudulenta se a intenção for a de enganar terceiros e prejudicá-
los.
A simulação pode ser ainda absoluta ou relatva.
1.1. Absoluta - art. 240º CC
É absoluta se existr apenas um negócio simulado. O negócio é meramente aparente uma vez que
as partes não pretendem nem pretenderam celebrá-lo, existindo apenas entre eles, um conluio
para enganar terceiros. O regime da nulidade do negócio simulado, segue o regime geral previsto
no art. 286º CC, com as especifcidades dos artigos 242º e 243º CC quanto à legitmidade para
arguir a nulidade dos negócios simulados. O art. 243º CC impede a invocação da nulidade
perante terceiros de boa fé, ou seja, estabelece como requisito único a boa fé. O regime especial
reside não só na salvaguarda/proteção de quem atua de boa fé, bem como castgar os
simuladores.
Importa aqui também alguma precisão no que devemos entender como terceiros de boa fé. São
todos aqueles que, integrando-se numa mesma cadeia de transmissões, vêm a sua posição
jurídica afetada por uma ou mais causas de validade, anteriores ao ato em que foram
intervenientes.

1.2. Relatia - art. 241º CC


E é relatva se por trás do negócio simulado, existe um outro que as partes efetvamente
quiseram celebrar, o chamado negócio real ou dissimulado. A simulação relatva pode ser
objetva quando incide sobre a natureza ou conteúdo de um negócio, podendo nós dentro desta,
distnguir ainda a simulação sobre a natureza do negócio, quando o que está em causa é uma
alteração do tpo contratual e a simulação de valor a incidir sobre o montante das prestações; e
por fm a subjetva se disser respeito aos sujeitos do negócio jurídico.
Nesta modalidade as partes celebraram um negócio com o intuito do negócio real ser outro.
Existem portanto dois negócios jurídicos, o que as partes declararam negocialmente, o simulado,
e o que quiserem realmente celebrar, o dissimulado, que é o negócio real. Tornearam desta
forma a lei, através de uma simulação.
O art. 241º, nº1 CC, diz-nos que o negócio real pode ser válido ou inválido, consoante seria válido
ou inválido se não tvesse fcado escondido. Desta forma deve ser averiguado o valor do negócio,
quer em termos substanciais, quer em termos formais, sendo os interessados na preservação do
negócio real quem têm de alegar e demonstrar a sua validade. Temos neste artgo presente, o
princípio da validade do negócio dissimulado. A nulidade do negócio simulado não o afeta, e
aplicam-se as regras de matéria de substância e forma correspondentes ao negócio pretendido
pelas partes. Deste principio não resulta no entanto, a necessária validade do negócio
dissimulado, porque o negócio dissimulado, pode ser afetado por um outro vício relatvo aos
sujeitos, objeto, fm, vontade ou declaração, assim como contrariar alguma regra declaratva. E
no caso de estar em causa um negócio dissimulado de natureza formal, deve ser observada a
forma exigida por lei.

2. Reseria Mental - art. 244º, nº1 CC


Nos termos do artigo 244º, nº1 CC, há reserva mental sempre que é emitda uma declaração
contrária à vontade real com o intuito de enganar o declaratário.
O que caracteriza a reserva mental, é o facto do declarante dizer uma coisa, mas querer outra.
Não porque se enganou, mas porque quis deliberadamente enganar o declaratário.
Enquanto que na simulação o intuito é enganar terceiros, aqui o intuito do declarante é enganar
o declaratário, falta o chamado “acordo simulatório”. O art. 244º CC, oferece-nos os elementos
que integram a reserva mental: divergência intencional entre a vontade e a declaração; e o
intuito de enganar o declaratário.
A declaração tem um elemento interno que é a vontade, e um elemento externo que é o que se
verbaliza. Entende o legislador que quem declarar conscientemente coisa contrária àquilo que
pretende, deve a pessoa fcar “agarrada” a essa declaração. O declaratário é protegido na medida
em que ele não sabe que o declarante não quer efetvamente cumprir a declaração, ele não está
na cabeça do declarante, para saber qual é a sua real intenção.
Assim, declarações negociais produzidas pelo declarante, valem independentemente da sua
vontade real ser divergente da vontade declarada, de forma a dar segurança ao tráfco jurídico, e
de forma a proteger o declaratário.
À semelhança do que existe na simulação, a reserva mental também tem modalidades.
Pode ser inocente se existe apenas intenção de enganar o declaratário, e fraudulenta se a
intenção de enganar o declaratário é acompanhada do intuito de prejudicar.
Por outro lado, a reserva mental pode ainda ser absoluta, quando na realidade, o declarante não
pretende celebrar qualquer negócio jurídico, ou relatva quando há a intenção de celebrar um
negócio diferente daquele que foi efetvamente celebrado.
Os efeitos da reserva mental, à semelhança da simulação são os mesmos (art. 244º, nº2 CC). Para
que o negócio possa ser considerado nulo, exige-se que o declaratário conheça a reserva. A
reserva não prejudica assim, a validade da declaração, exceto, como já dissemos, se for
conhecida do declaratário.
O legislador não defende que simulação e reserva mental é o mesmo, apenas diz que a ambas se
aplicam os efeitos da simulação no caso da contraparte, declaratário, também conhecer desta
divergência intencional.

3. Declaração Não Séria - art. 245º, nº2 CC


No fundo, são conversas em contexto de amigos.
Nas declarações não sérias, a primeira tarefa do jurista é tentar perceber o exato alcance da
declaração não séria. É preciso atentar: à divergência entre a vontade e a declaração que
aparentemente pretende ser negocialmente efcaz; à intencionalidade dessa divergência; à
ausência da intenção de enganar, quer terceiros, quer o declaratário; e à expectatva que o
declaratário se aperceberia da falta de seriedade da declaração.
A declaração não séria carece de qualquer efeito, segundo o nº1 do artgo supra mencionado,
uma vez que a declaração é emitda na expectatva de que a falta de seriedade não passe
despercebida.
Contudo, quando a declaração induz no declaratário alguma seriedade, isto é, quando as
circunstâncias em esta se verifcou justfcarem fundamentadamente a sua seriedade, então ele
pode ter direito a ser indemnizado por violação do direito de confança. O artigo 245º CC,
protege desta forma o dano da confança.
São possíveis 3 sanções a estes negócios jurídicos, a inefcácia, a inexistência e a nulidade.
Segundo o professor Mota Pinto, defendemos o recurso à inexistência, na medida em que falta o
corpus mínimo, que nos permite qualifcar o ato como verdadeiro negócio jurídico, ou seja, falta
o comportamento voluntário que consubstancia uma declaração.

Divergências entre a vontade e a declaração não intencionais:


1. Coação Física - art. 246º CC
A coação fsica é uma divergência não intencional entre a vontade e declaração, que existe sobre
o declarante, quando em resultado da utlização de força humana, natural ou psicológica, não
seja possível descortnar a existência de vontade.
Há portanto uma ausência total de vontade por parte do declarante, quando a força sobre a qual
o declarante é submetdo faz com que ele seja um mero instrumento sob um terceiro, sem
qualquer tpo de liberdade. Transforma-o quase num autómato (pegar nos braços e pernas e fcar
sem liberdade).
Nos casos de coação fsica ou absoluta a declaração emitda pelo declarante não é imputável à
sua vontade de ação, porque ela resulta de uma força exterior, excluindo a existência de qualquer
manifestação de auto determinação do declarante.
Não estamos a falar de uma ameaça, porque uma ameaça é coação moral, e a coação moral
trata-se de um vício da vontade.
A coação fsica ou absoluta é diferente da coação moral, na medida em que, ainda que ilícita, visa
extorquir a declaração negocial do declarante.
O critério prátco normatvo de distnção destes dois instrumentos jurídicos é avaliar se existe ou
não, a vontade no momento da conclusão do negócio, ou seja, é conseguir perceber se existe
margem de liberdade, ainda que mínima, por parte do declarante, para que o comportamento do
sujeito seja voluntário. Na coação moral ou relatva, o declarante mantém uma margem de
liberdade, por mínima que seja. No coação fsica ou absoluta, a liberdade está totalmente
excluída. Se não houver limitação total da vontade do declarante, aplicamos o art. 255º CC.
A coação fsica está regulada no art. 246º CC, juntamente com a falta de consciência da
declaração. Apesar de serem fguras distntas, é possível reconduzi-las a situações em que há
uma ausência de vontade.
2. Falta de consciência na declaração - art. 246º CC
Existe falta de consciência na declaração quando o sujeito que a emite não tem a consciência de
que ao seu comportamento é atribuído o valor da declaração negocial. Ele age de forma reflexa
e/ou inconsciente, e portanto sem vontade de emitr uma declaração negocial.
Mediante uma declaração emitda pelo declarante, lançamos mão da regras de interpretação do
negócio jurídico (art. 246ºCC), para saber se a declaração negocial está viciada pela falta da
consciência da declaração, e/ou coação fsica, e/ou coação moral, e perceber se ela pode,
efetvamente, ser imputada ou não ao declarante e em que termos. Caso não o possa ser, a
consequência é a inexistência do negócio, carecendo de qualquer efeito (art. 246º CC).
Nos casos em que a falta de consciência da declaração tenha sido criada por culpa do declarante,
a lei impõe-lhe a obrigação de indemnizar o declaratário, no âmbito da responsabilidade civil pré
contratual (art. 227º CC).
Na falta de consciência da declaração, o declarante mantém o discernimento e a liberdade.
Simplesmente julga que está a mover-se fora do palco juridicamente relevante. Ao passo que na
incapacidade acidental, o declarante apesar de saber que está na área negocial, não tem
discernimento ou liberdade para concretzar a atvidade jurídica. No fundo, o que permite
distnguir a falta de consciência da declaração, da incapacidade acidental é o facto do declarante
ter ou não capacidade para entender a declaração.

3. Erro obstáculo ou erro na declaração - art. 247º CC


O erro obstáculo traduz-se numa divergência não intencional entre a vontade e a declaração
como resultado de um mero lapso ou engano. Verifca-se que há um erro na declaração quando
alguém por lapso, manifesta uma vontade que não corresponde à sua vontade real. O declarante
quer dizer uma coisa, e por engano diz outra. Este engano, pode ser devido a um erro mecânico,
ou erro linguístco, ou erro de ajuizamento.
Nos termos do art. 247º CC, para que o declarante possa anular o negócio é necessário que se
encontrem cumpridos dois requisitos. Em primeiro lugar, o erro tem de ser essencial para o
negócio. É essencial quando com ele aquela declaração não poderia ser emitda, ou seja, incide
sobre um elemento do negócio que é determinante da sua celebração. Em segundo lugar, exige-
se que o declaratário conheça ou não deva ignorar essa essencialidade.
O erro na declaração tanto pode incidir sobre a pessoa do declaratário, como sobre o objeto do
negócio. O erro é conhecido quando o declaratário sabe qual é a vontade do declarante e por
isso, pode imediatamente aferir sobre a existência de erro na declaração. O erro é cognoscível,
quando qualquer pessoa minimamente inteligente pode retrar dos próprios termos da
declaração e do contexto e circunstâncias de onde esta é emitda, a vontade real do declarante. A
contrario senso, o erro não é conhecido nem cognoscível, quando o declaratário não conhece a
vontade real do declarante, nem dispõe de quaisquer elementos que lhe permitam conhecê-la.

Neste contexto importa ainda fazer menção ao erro de cálculo ou de escrita, previsto no art.
249º CC, que é revelado no próprio contexto da declaração ou através das circunstâncias em que
a declaração é feita. A declaração emitda nestes termos é válida, não estando em causa a sua
anulabilidade ou nulidade, havendo apenas direito à sua retfcação, que pode ocorrer a todo o
tempo. Esta retfcação é feita com base no art. 236º CC, de acordo com a vontade real do
declarante. O que distngue o erro de cálculo ou de escrita do erro obstáculo, é a possibilidade de
revelação do erro no contexto da declaração, o que signifca que o erro tem de ser ostensivo.
No fundo, o erro de cálculo ou escrita é quando na interpretação global da declaração, é possível
perceber que houve um lapso.

Importa ainda fazer menção ao erro na transmissão da declaração, que ocorre quando alguém é
incumbido de transmitr uma declaração negocial (sendo este denominado de núncio).
A pessoa incumbida de transmitr uma declaração negocial deve limitar-se a reproduzir a
declaração negocial, ou a entregar uma declaração previamente escrita.
Se aquele que foi encarregue de transmitr uma declaração a transmitr inexatamente, a
declaração deve valer como chega ao destnatário. A regra é a de que o declarante responde
pelos atos do intermediário com a exceção da sua conduta dolosa, caso em que a declaração
inexata não pode ser imputada ao declarante.
No caso de existr dolo por parte do interveniente, isto é, caso o intermediário altere
propositadamente o teor da declaração, esta é sempre anulável, aplicando-se o regime do art.
247º CC - regime do erro na declaração.

Vícios da vontade:
Ao contrário da divergência intencional e não intencional entre a vontade real e declaração
negocial, aqui não há qualquer divergência entre a vontade real e a vontade declarada. O
declarante quer dizer aquilo que verdadeiramente disse (mas está viciado).
O que aqui existe é uma perturbação no processo formatvo da vontade, que é determinada por
motvos anómalos.

4. Erro Vício
Ao contrário do erro obstáculo, e do erro na declaração, no erro vício, a vontade real e a vontade
declarada são coicidentes, embora a vontade esteja viciada, por força de uma errada
representação da realidade.
O erro vício tanto pode ser tanto um erro de facto, como um erro de direito, só sendo relevante
se atngir os motvos determinantes da vontade negocial que se refram à pessoa do declaratário,
ao objeto negocial ou aos motvos.
Passando a uma defnação propriamente dita, o erro vício é um vicio na formação da vontade,
contemporâneo da celebração do negócio e consiste no desconhecimento ou falsa representação
de uma circunstância de facto ou de direito, passada ou presente, relatvamente ao momento da
emissão da declaração negocial, e que determinou a celebração do negócio ou pelo menos a
celebração naqueles termos. A vontade real e declarada são então coincidentes, mas a vontade é
mal formada atendendo ao erro. Numa frase, a vontade não se formou em termos esclarecidos.
O erro vicio está previsto no art. 251º ao 254º CC, e não se confunde com o designado erro
futuro, nem com o erro de previsão, que é caracterizado pelo desconhecimento ou defciente
representação, quanto à evolução das circunstâncias existentes no momento da celebração do
negócio. No caso de ocorrer uma defciente previsão sobre a evolução futura de certa
circunstância ou esta é considerada irrelevante por não ser compreendida no perímetro
contratual, então, deve ser apreciada à luz do insttuto da alteração das circunstâncias - art. 437º
a 439º do CC.
Importa também referir que o erro vício atnge a vontade negocial não se confundindo com o
erro na declaração regulado nos artigos 247º a 250º CC, que atnge a declaração negocial e já não
a formação da vontade.
O critério determinante desta matéria é o do momento da representação da circunstância ou
elemento. Se a defciente representação ocorrer em momento anterior ou contemporâneo à
formação do negócio, deve ser tratada como erro vício.
Se for posterior aplicar-se-à o regime da resolução ou modifcação das circunstâncias previstas no
art. 437º CC.
Ora, admitr a invalidade de um negócio jurídico fundada na efciente ou falsa representação da
realidade, passada ou contemporânea, sem mais requisitos, seria suscecvel de provocar grandes
perturbações na segurança jurídica e na estabilidade dos vínculos negociais. Nesta medida, para
que o erro vicio possa ser invalidado, o legislador exige pela parte que negociou, que demonstre
a essencialidade do elemento sobre que recaiu o erro. Por outras palavras, ao sujeito que
negociou em erro incumbe a prova que ao não existr ignorância ou falsa representação da
realidade, não celebraria o negócio, ou pelo menos, não o celebraria naqueles termos. A
contrario sensu, se não provar o negócio é válido e não pode ser anulado com fundamento no
erro vicio.

O erro vício pode ser classifcado em duas categorias, em função do critério da autoria do erro:
 Pode ser um erro simples se se funda na conduta do próprio declarante (art. 251º e 152º
CC). Aqui compreendem-se 4 modalidades, de acordo com o critério do elemento do
negócio afetado pelo erro.
1. Erro sobre a pessoa do declaratário - art. 251º CC
Este erro integra o erro sobre a identdade e sobre as qualidades do declaratário, ou seja, está em
causa um erro sobre a pessoa. Aqui não existe divergência entre a vontade real e a vontade
declarada. O problema reside no processo formatvo da vontade designado por erro vício ou vicio
da vontade. Este erro torna o negócio anulável, por força do art. 247º CC, aplicado por força do
art. 251º CC.

2. Erro sobre o objeto do negócio - art. 251º CC


Aqui engloba-se não só o erro sobre a identdade do objeto, como também o erro sobre as
qualidades do objeto.
O erro sobre o objeto do negócio compreende as hipóteses em que o desconhecimento ou falsa
representação da realidade, respeitam ao bem jurídico. Seja este uma coisa, ou uma prestação a
realizar, assim como ao conteúdo negocial, à natureza do negócio e aos efeitos negociais.
O erro sobre as qualidades do objeto existrá quando uma das partes do contrato pressupuser em
concreto uma característca intrínseca dele que pode reputar de essencial ou que pode apenas
considerar para efeitos de conformação do restante conteúdo contratual. Já não existrá um erro
sobre o objeto, se o que existr for um erro sobre o valor ou o preço, independentemente das
qualidades da coisa. Assim o erro sobre o valor não deve ser integrado na defnição do erro sobre
o objeto. O erro tem de incidir sobre um elemento identtário ou sobre uma qualidade intrínseca
e duradoura do objeto. Por qualidade intrínseca entende-se tudo aquilo que faz parte da
essencialidade do objeto, sejam característcas substanciais, seja a aptdão para o desempenho
de uma função, seja o seu estado de conservação.
Quer o erro sobre a pessoa do negócio, quer o erro sobre o objeto negocial, desde que
juridicamente relevantes determinam a anulabilidade do negócio nos termos do art. 287º a 291º
CC.

3. Erro sobre os motvos - art. 252º, nº1 CC


O erro sobre os motvos surge como uma categoria residual. O STJ já afrmou a este propósito
que o art. 252º, nº1 CC, excluiu a relevância do erro sobre os motvos para além do
condicionalismo lá previsto. Exige-se na verdade o acordo acerca da essencialidade do motvo.
O erro sobre os motvos previsto no nº1 do art. 252º CC, incide sobre as qualidades subjetvas do
negócio, ou seja, sobre a motvação que determinou o declarante a celebrar um negócio ou pelo
menos a celebrá-lo naqueles termos. Abrangem-se as hipóteses em que o desconhecimento ou a
falsa representação da realidade respeitam à motvação subjacente à celebração do negócio, uu
seja, as circunstancias psicológicas que determinaram a celebração do mesmo. O erro sobre os
motvos funciona como uma categoria residual do erro vício, sendo que o legislador para além do
requisito da essencialidade do erro, exige também que as partes reconheçam por acordo a
essencialidade/causalidade do motvo. Isto é, que manifestem a sua concordância quanto à
essencialidade do elemento representado para a decisão negocial.
Este acordo não está sujeito a nenhuma forma, pelo que o princípio da liberdade de forma vigora
aqui (art. 219ºCC).
O erro sobre os motvos, que recaia sobre as circunstâncias que consttuem a base negocial, dá
lugar à anulabilidade (artigos 287º a 291º CC), que diversamente da alteração superveniente das
circunstâncias vigentes ao tempo do negócio, o estado de coisas erradamente fgurado é anterior
ou comtemporâno do negócio. Trata-se portanto de um vício que inquinou já a própria formação
do negócio e não de uma vicissitude surgida no decurso da sua execução.

4. Erro sobre a base do negócio - art. 252º, nº2 CC


No nº2 do art. 252º CC, encontra-se a previsão do erro sobre a base do negócio.
Aqui estamos perante as hipóteses de erro bilateral, caracterizado pela circunstância de ambas as
partes terem negociado em erro; e ainda os casos em que sendo o erro apenas de uma das
partes, a outra não pode deixar de conhecer ou de reconhecer a essencialidade do motvo, sobre
que recaiu o erro sobre o outro sujeito.
A este propósito, a doutrina e a jurisprudência dizem que se deve compreender que os
elementos de facto ou de direito, são determinantes na decisão de negociar, e fundamentais para
subsistência do negócio. A base do negócio equivale aos pressupostos fundamentais que são
reconhecidos como tal pelas partes, sob pena de grave violação do principio da boa fé, e do
equilíbrio negocial. Por outras palavras, a base do negócio integra os elementos que
objetvamente justfcam o negócio e que ditam a respetva conformação.

 Ou um erro qualifcado por dolo, tendo neste caso, regulação autónomas nos artgos 253º e
254º CC.
Esta fgura encontra-se prevista no art. 253º CC. Consttui também um erro vicio e releva nesta
sede, enquanto vicio na formação da vontade. O dolo interfere no processo de formação da
vontade, levando a que o declarante manifeste uma vontade que não pretendia, se se tvesse
apercebido da existência do erro pelo declaratário ou 3º.
5. Dolo
O dolo pressupõe sempre a adoção de um comportamento positvo ou negatvo voluntário por
parte do declaratário ou 3º, que através de palavras ou do silêncio intencional ou consciente faz o
declarante cair em erro. É elemento do conceito a intenção ou consciência de enganar. Da noção
ao lermos o nº2 do art. 253º CC tramos a seguinte conclusão quanto às modalidades, ou melhor,
quanto ao critério da autoria do dolo: temos o dolo do declaratário ou dolo do 3º; quanto aos
efeitos do dolo temos o dolo positvo ou dolo negatvo; e por últmo quanto aos critérios da
conduta, temos o dolo intencional e o dolo não intencional.
No art. 253º, nº1 CC, temos presente o dolos malus, que corresponde à intenção de prejudicar e
enganar alguém, estando em causa um ato ilícito.
No art. 253º, nº2 CC, temos presente o dolos bonus, que corresponde a artfcios e sugestões que
são utlizados nos usos do comércio de uma atvidade para convencer o cliente a comprar um
produto e que não podem ser interpretadas com dolo e com a intenção de enganar ou prejudicar.
Devem assim, ser considerados legítmos por não serem contrários a nenhuma norma legal ou
abusivos por contrários a boa fé, ou bons costumes, ou ordem pública.
O que distngue as duas modalidades é a ilicitude. Enquanto que o dolos bonus consttui uma
sugestão ou artfcio usual, que se possa considerar legítmo, segundo as conceções dominantes
no comércio jurídico, no dolos malus, existe um nexo de causalidade entre o dolo e o engano, há
uma intenção de enganar e prejudicar um terceiro. Os efeitos do dolo encontram-se previstos no
art. 254º CC.

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