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SOCIOLOGIA

UNIDADE 8
SOCIEDADE, POLÍTICA E DEMOCRACIA NO BRASIL
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SOCIEDADE, POLÍTICA E DEMOCRACIA NO BRASIL 3

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ----------------------------------------------------------------------------------------- 5

2. A POLÍTICA MODERNA, DEMOCRACIA E DIVISÃO DE PODERES ------------------------- 6

3. A POLÍTICA DEMOCRÁTICA COMO ESPAÇO DE IGUALDADE, LIBERDADE E CIDADANIA

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 7

4. A DEMOCRACIA NO BRASIL: A GRADATIVA CONQUISTA DE DIREITOS E A CONSTITUI-

ÇÃO CIDADÃ DE 1988 ---------------------------------------------------------------------------------- 11

5. O NOVO SISTEMA DEMOCRÁTICO BRASILEIRO ---------------------------------------------- 13

5.1 Presidencialismo associado ao Multipartidarismo --------------------------------------------- 14

5.1.1 Problemas desse arranjo: ------------------------------------------------------------------------ 15

5.2 Lista aberta associada à Representação proporcional ---------------------------------------- 15

6. FINANCIAMENTO PRIVADO DE CAMPANHA ------------------------------------------------- 16

7. REFORMA POLÍTICA – O QUE REFORMAR? ------------------------------------------------- 17

REFERÊNCIAS ------------------------------------------------------------------------------------------- 18

ANEXO - GLOSSÁRIO ---------------------------------------------------------------------------------- 19


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1. INTRODUÇÃO

Chegamos à reta final de nosso curso de Sociologia, abordando algumas questões mais práticas que se fazem

presente em nossa vida social. Estudamos a temática da diversidade cultural e analisamos o conceito de es-

tratificação social, bem como o fato marcante da desigualdade no Brasil. Nesta última unidade, vamos nos

concentrar em um campo da vida coletiva essencial para a compreensão de nossa convivência conjunta – o

campo político. Para que possamos analisar esse campo, precisamos desenvolver um debate teórico e prático

a respeito da democracia em nossas sociedades modernas, visto que essa é a forma de governo amplamente

difundida e disseminada pela maioria das nações ao redor do mundo.

Um dos mais importantes historiadores do século XX, Eric Hobsbawn apontou em seu famoso livro A era dos

extremos (1994) que após a Segunda Guerra Mundial as nações ao redor do mundo foram, gradativamente,

sendo levadas (por caminhos mais pacíficos ou mais turbulentos) a adotarem sistemas políticos abertos, re-

presentativos e participativos. Não é exagero afirmar que com o passar do tempo, a discussão a respeito das

melhores formas de governo - debate este clássico no pensamento político clássico - foi perdendo muito de

seu sentido, já que a democracia consolidou-se de maneira quase que inquestionável como o sistema mais

adequado para a organização política de nossas modernas sociedades. Atualmente, na teoria e na prática polí-

tica ocidental é muito difícil encontrar um princípio tão aceito e disseminado como a ideia de que a democra-

cia é a melhor forma de governo. A ausência dela é algo reconhecido amplamente como um grave problema,

o que, em consequências mais extremas, já foi, inclusive, justificativa para conflitos entre países.

Mas, se há consenso sobre a importância e o valor da democracia, não há igual acordo sobre o significado

desse sistema político. Ao longo do século XX, alguns importantes pensadores e, mesmo, várias lideranças

políticas, enxergavam a democracia como um sistema cuja função era estritamente promover uma alternân-
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cia de poder entre as elites políticas. O povo, nesse sentido, era concebido como um ator que só deveria exer-

cer sua participação no momento do voto. No entanto, outras pessoas perceberam que a democracia poderia

ser compreendida para além desse sentido minimalista, integrando aos objetivos desse sistema os ideais de

justiça social e igualdade de direitos civis, itens que não seriam alcançados apenas pelo voto e pela alternância

das elites políticas no poder. Assim, os princípios de igualdade, participação e cidadania vão, pouco a pouco,

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consolidando-se como aspectos centrais para pensarmos o aprofundamento democrático. Por essa razão,

torna-se necessário investigarmos a importância desses princípios na estruturação de nossas democracias

contemporâneas – especialmente a democracia brasileira.

2. A POLÍTICA MODERNA, DEMOCRACIA E DIVISÃO DE PODERES.

No século XVIII, o grande pensador francês Barão de Montesquieu formulou as bases daquilo que seriam as

diretrizes fundamentais na organização dos sistemas democráticos modernos. O autor propõe que as repú-

blicas deveriam instituir um arranjo institucional equilibrado e capaz de afastar a possibilidade de governos

absolutistas e evitar a produção de normas tirânicas. Para ele, o ponto a ser valorizado e perseguido é a ga-

rantia de que as nações ao redor do mundo pudessem ser capazes de instituírem sistemas políticos nos quais

os indivíduos teriam suas liberdades asseguradas, mas sem perder a eficiência e organização do Estado e seus

processos. Assim, o autor propõe uma tripartição de poderes , divisão essa que pudesse estabelecer tanto

as funções específicas das diversas esferas do poder que compõem o Estado, bem como a garantia da autono-

mia e dos limites de cada uma delas.

Tripartição de Poderes: Montesquieu analisa as relações que as leis têm com a natureza

e os princípios de cada governo, desenvolvendo a teoria de governo que alimenta as ideias

do constitucionalismo. Assim, busca-se distribuir a autoridade, de modo a evitar o arbítrio

e a violência. Tais ideias se encaminham para a melhor definição da separação dos poderes,

ainda hoje um dos pilares do exercício do poder democrático. Ele descreveu cuidadosamente

a separação dos poderes em Executivo, Judiciário e Legislativo, trabalho que influenciou os

elaboradores da Constituição dos Estados Unidos.

Refletindo sobre o abuso do poder real, Montesquieu conclui que “só o poder freia o poder”,
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no chamado “Sistema de Freios e Contrapesos”. Daí a necessidade de cada poder manter-se

autônomo e constituído por pessoas e grupos diferentes: os poderes atuariam mutuamente

como freios, cada um impedindo que o outro abusasse de seu poder.

Os três poderes propostos por Montesquieu seriam, portanto, o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o

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Poder Judiciário. O Legislativo apresenta, como função fundamental, a criação e a produção de leis para a

regulamentação do convívio social. O Executivo, pois, é a esfera do poder estatal com o papel de garantir a

plena execução das leis, através do planejamento e da efetivação de políticas públicas. Por fim, o Judiciário

tem como atribuição principal o julgamento das transgressões às leis, bem como as punições a esses atos. É

importante ressaltar que tanto Legislativo, quanto o Executivo e o Judiciário apresentam mais uma atribui-

ção fundamental em comum: todos eles devem se empenhar na fiscalização dos outros poderes. Isso ocor-

re para assegurar o equilíbrio entre eles. Montesquieu aponta essa dinâmica como um sistema de freios e

contrapesos, ou seja, a contenção do poder pelo poder, de modo que cada um deve ser autônomo e exercer

determinada função, porém, o exercício desta função será controlado pelos outros poderes. Assim, pode-se

dizer que os poderes são independentes, porém harmônicos entre si. Atualmente, a maioria absoluta das de-

mocracias ao redor do globo se fundamenta nessa dinâmica da tripartição de poder.

3. A POLÍTICA DEMOCRÁTICA COMO ESPAÇO DE IGUALDADE, LIBERDADE E CIDADANIA.

Embora a tripartição de poder seja um princípio consolidado como fundamental para as democracias ao

redor do mundo, ela não é condição suficiente para propiciar um contexto de efetiva igualdade e liberdade

entre os cidadãos – princípios esses fundamentais para a realização do sistema democrático. De fato, não é

exagero dizer que o maior desafio de qualquer democracia moderna é o de alcançar o delicado equilíbrio en-

tre os ideais da igualdade e da liberdade na convivência política coletiva. Tal objetivo da política democrática

moderna aparece desde o século XVIII na Revolução Francesa (1789) através da Declaração dos homens e

dos cidadãos. Leiam os dois primeiros artigos dessa declaração.

Art.1.º Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem funda-

mentar-se na utilidade comum.


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Art. 2.º A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescri-

tíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão.

Ao analisarmos os artigos introdutórios da clássica declaração francesa, percebemos que os princípios da

liberdade e da igualdade são compreendidos pelos revolucionários como direitos inatos e inalienáveis de

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todo e qualquer ser humano. Para eles, o papel da esfera política seria o de garantir que tais direitos fossem

plenamente assegurados e garantidos a todo indivíduo.

Já em meados do século XX, a filósofa alemã Hannah Arendt também desenvolve uma reflexão sobre o papel

da política na garantia dos direitos:

Os homens não nascem iguais, mas tornam-se iguais como membros de uma coletividade, em

virtude de uma decisão conjunta que garante a todos direitos iguais. A igualdade não é um dado,

é construída, elaborada convencionalmente pela ação dos homens, enquanto cidadãos, na comu-

nidade política.

O critério mais fundamental de cidadania é o direito a se ter direitos. E isso só é alcan-

çado dentro da comunidade política.

Existe uma diferença fundamental entre a reflexão de Arendt e aquela da Declaração dos Homens e dos Ci-

dadãos no contexto da Revolução francesa. Para a filósofa, os princípios da “igualdade” e da “liberdade” não

seriam inatos ao ser humano, mas sim construções possíveis apenas no contexto de uma comunidade polí-

tica. Isso significa que a garantia de direitos é o papel, por excelência, da esfera pública democrática. Dentro

da comunidade política, os indivíduos passam a alcançar a garantia mais fundamental para sua existência: o

direito a se ter direitos.

Dessa forma, consolida-se a concepção de que, no contexto da política democrática moderna, não há maneira

mais efetiva de se aproximar dos horizontes da igualdade e da liberdade que através da conquista dos direi-

tos de cidadania. Na década de 60, o sociólogo britânico T.H. Marshall analisou o processo histórico de

consolidação da cidadania moderna a partir de três aspectos distintos: a cidadania civil, a cidadania política
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e a cidadania social. Cada uma dessas categorias abrange um conjunto de direitos específicos, referentes a

campos distintos da convivência social. Cabe, portanto, definirmos cada uma delas.

Direitos de Cidadania: Na década de 60, o sociólogo britânico T.H. Marshall analisou o

processo histórico de consolidação da cidadania moderna a partir de três aspectos distin-

tos: a cidadania civil, a cidadania política e a cidadania social. Cada uma dessas categorias

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abrange um conjunto de direitos específicos, referentes a campos distintos da convivência

social. Cidadania Civil se refere aos direitos e liberdades individuais. A cidadania política

diz respeito à inserção e participação dos indivíduos no sistema democrático. Já a cidadania

social aponta a questão das garantias de qualidade de vida para os cidadãos assegurada pelo

Estado nacional.

 Cidadania Civil (Figura 1)

Essa categoria diz respeito ao conjunto de direitos necessários para o estabelecimento das liberdades indivi-

duais mais fundamentais como, por exemplo.

• Direito de ir e vir

• Liberdade de pensamento e de expressão

• Direito à propriedade

• Acesso à justiça

Figura 1: Martin Luther King Jr. Lutou pela conquista de direito civis
dos negros nos Estados Unidos
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 Cidadania Política

Essa categoria está inevitavelmente relacionada à consolidação da forma de governo democrática. Represen-

ta o acesso dos indivíduos à participação e à integração do indivíduo no espaço político. Os dois principais

direitos nesse contexto são:

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• Direito ao voto e a ser votado;

• Direito de participar e de criar partidos políticos.

 Cidadania Social (Figura 2)

Figura 2: Os direitos sociais objetivam a qualidade de vida dos cidadãos.

Essa categoria de cidadania diz respeito à garantia da qualidade de vida da população, aceita com um mínimo

admissível de bem-estar social e econômico. Para a consolidação dos direitos de cidadania social torna-se

essencial a participação ativa do Estado como promotor desses direitos. São eles:

• Direito à educação;

• Direito à saúde;

• Direito ao trabalho;

• Direito de proteção das minorias.

De acordo com T.H Marshall, cada um desses segmentos de cidadania é central no processo de constituição

das sociedades democráticas na modernidade. Algumas nações, como a Inglaterra, conquistaram cada um

desses conjuntos de direitos de forma gradual: começando pelos direitos civis, passando pelos direitos po-
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líticos para, por fim, alcançarem os direitos sociais. Outras nações como os EUA garantiram direitos civis e

políticos ao mesmo tempo. O Brasil, por sua vez, ainda luta para a conquista plena de muitos desses direitos,

especialmente aqueles referentes à cidadania social. Porém, não é exagero afirmar que um grande passo nes-

sa direção foi dado com a promulgação da Constituição Federal de 1988. Cabe agora analisarmos a constru-

ção da democracia brasileira no contexto contemporâneo.

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4. A DEMOCRACIA NO BRASIL: A GRADATIVA CONQUISTA DE DIREITOS E A CONSTITUI-

ÇÃO CIDADÃ DE 1988.

Cem anos após a independência do Brasil, nos anos 1920, o legado colonial, principalmente da escravidão,

continuou presente na sociedade brasileira. Os valores da liberdade individual praticamente inexistiam na

sociedade escravocrata e pouco significavam para a maioria da população. De fato, alguns direitos civis até

já estavam na constituição, mas não eram efetivados na prática. Somente no final da década de 1920, em

decorrência da imigração e da luta dos trabalhadores nas grandes cidades do país, algumas conquistas foram

alcançadas, como os direitos de organização, de manifestação, de escolha do trabalho e de se fazer greve. Mas,

o Estado ainda atuava sobre a população com atitudes frequentemente repressoras e, além disso, as oligar-

quias regionais constantemente ignoravam que tais direitos eram garantias de todos.

Os direitos políticos no Brasil também foram, durante muito tempo, restritos. Na constituição de 1881 só

podiam votar homens, alfabetizados com renda acima de 200 mil réis. Em decorrência disso, nas eleições

parlamentares de 1886, por exemplo, só puderam votar pouco mais de 100 mil eleitores, ou seja, 0,8% da

população brasileira da época. Se os direitos civis e políticos eram tão restritos, os direitos sociais no Brasil

até a década de 1930 eram quase inexistentes. A assistência social estava nas mãos de irmandades religiosas

ou sociedade de auxílios fora do Estado. Apenas com a chegada do governo de Getúlio Vargas os trabalha-

dores conseguiram conquistar alguns desses direitos. Um dos primeiros atos desse governo foi a criação de

um Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, ideia completada em 1943 com a Consolidação das Leis do

Trabalho (CLT). Inédita no Brasil, essa legislação continua vigente com poucas alterações importantes. As

disposições mais significativas dessa lei foram a jornada de trabalho de 8h para os trabalhadores da indústria

e comércio, a regulamentação do trabalho de menores e do trabalho feminino, o direito a férias remuneradas

e a implantação de um salário mínimo.


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A chegada da ditadura militar no Brasil pôs a perder todo esse conjunto de direitos que haviam sido tão len-

tamente conquistados por nossa população. Por essa razão, houve, nas décadas de 1960 a 1980, uma grande

mobilização e organização dos movimentos sociais dos mais diversos tipos com os mais diversos objetivos,

por exemplo, o movimento operário, movimento negro, movimento feminista, movimento dos estudantes,

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etc. Embora gestados em um contexto de plena repressão das liberdades de cidadania, esses movimentos

buscaram se fortalecer na sociedade civil, estabelecendo alianças entre si, pressionando o Estado brasileiro e

organismos internacionais e contribuindo, inclusive, para o processo de redemocratização e suas conquistas

inestimáveis de cidadania.

Com a Constituição de 1988 foi possível haver, pela primeira vez, na história brasileira, uma legislação demo-

crática capaz de assegurar uma plenitude importante dos direitos civis, políticos e sociais no Brasil. Um dos

aspectos mais marcantes da Carta é que os direitos e garantias fundamentais são explicitados e enumerados

antes da própria disposição sobre o funcionamento dos poderes políticos! Isso significa que a garantia dos di-

reitos de cidadania são, enfim, consolidados como marcos primários e indispensáveis para nossa democracia.

Ainda assim, há muito por fazer para que as pessoas possam, de fato, viver dignamente.

Constituição de 1988: A constituição de 1988 é a atual carta magna da República Federativa

do Brasil. Foi elaborada no espaço de 20 meses por 558 constituintes entre deputados e

senadores à época, e trata-se da sétima na história do país desde sua independência. Promulgada

no dia 5 de outubro de 1988, ganhou quase que imediatamente o apelido de constituição ci-

dadã, por ser considerada a mais completa entre as constituições brasileiras, com destaque

para os vários aspectos que garantem o acesso à cidadania. A constituição está organizada em

nove títulos que abrigam 245 artigos dedicados a temas como os princípios fundamentais,

direitos e garantias fundamentais, organização do estado, dos poderes, defesa do estado e das

instituições, tributação e orçamento, ordem econômica e financeira e ordem social. Entre as

conquistas trazidas pela nova carta, destacam-se o restabelecimento de eleições diretas para

os cargos de presidente da república, governadores de estados e prefeitos municipais, o direito

de voto para os analfabetos, o fim à censura aos meios de comunicação, obras de arte, músicas,
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filmes, teatro e similares.

A preocupação com os direitos do cidadão é claramente uma resposta ao período histórico

diretamente anterior ao da promulgação da constituição, a ditadura militar.

(Retirado de: http://www.infoescola.com/direito/constituicao-de-1988/)

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Analise no quadro abaixo uma série de conquistas inéditas que passam a estar garantidas em nossa atual

constituição:

Constituição de 1988, a “constituição cidadã”.

Avanços na inclusão da cidadania:

+ Direito de voto para índios e analfabetos;

+ Voto facultativo para jovens entre 16 e 18 anos;

+ Direito a greve e liberdade sindical;

+ Diminuição da jornada de trabalho;

+ Licença maternidade de 120 dias;

+ Abono de férias e décimo terceiro salário para os aposentados;

+ Seguro desemprego e férias remuneradas;

+ Estatuto da Criança e do Adolescente;

+ Possibilidade das “Leis de iniciativa popular”;

+ Previsão da criação do Sistema Único de Saúde.

5. O NOVO SISTEMA DEMOCRÁTICO BRASILEIRO

Uma das principais conquistas da Constituição de 1988 foi lançar as bases para o renascimento da democra-

cia brasileira após mais de 20 anos de ditadura militar. Desde a independência brasileira, o país carecia da

institucionalização da democracia, em oposição às lideranças carismáticas, que até o momento marcavam

os poucos momentos de governos democráticos no Brasil. Assim, a partir de 1988, ficou estabelecido que a

democracia no Brasil seria consolidada através da fundamentação dos três poderes de Estado (tal como pro-
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posto por Montesquieu) e funcionaria por meio das seguintes instituições políticas (Figura 3):

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Figura 3: As instituições do sistema democrático no Brasil a partir da constituição de 1988

Apesar do importante avanço nessa institucionalização da democracia, com o tempo foi possível notar algu-

mas contradições no sistema. A partir de agora analisaremos algumas delas.

5.1 Presidencialismo associado ao Multipartidarismo

O fato de haver inúmeros partidos sendo representados no Legislativo, isso acaba impedindo que o presiden-

te consiga aprovar sua agenda de propostas e políticas públicas no Congresso. O sistema político brasileiro

possui tantos partidos e eles são tão fragmentados ideologicamente entre si que a prática de governo, por

parte do presidente da República, é tarefa quase impossível, pois a formação de maioria na Câmara dos Depu-

tados é processo de extrema complexidade (Figura 4). Dessa forma, encontrou-se uma saída, nesse contexto

político brasileiro, o chamado presidencialismo de coalizão. Esse termo indica a prática de formação de

vínculos e alianças entre partidos em troca de apoio no Congresso. Por meio de tais coalizões – que ocorrem
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ainda no período eleitoral - o presidente e seu partido conseguem efetivar suas propostas e projetos.

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Figura 4: O espectro ideológico brasileiro demonstra a enorme fragmentação partidária no Brasil.

5.1.1 Problemas desse arranjo:

• Intensa prática de migração partidária. As coalizões, por vezes, são realizadas durante o mandato e

não nas eleições, o que confunde os eleitores e os fazem sentir-se menos representados por aqueles

que eles próprios elegeram;

• Muitas vezes, as coalizões são incoerentes com as ideologias partidárias.

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5.2 Lista aberta associada à Representação proporcional

No Brasil, a representação política é proporcional. Isso significa que as cadeiras no Congresso são distri-

buídas a partir do número de votos nos partidos de cada estado da federação, ou seja, o objetivo do sistema

proporcional é garantir um grau de correspondência entre votos e cadeiras recebidas pelos partidos em uma

eleição. Por exemplo, um partido que tenha recebido 15% dos votos teria direito a aproximadamente 15% das

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cadeiras. Porém, a incongruência ocorre pelo fato de que, na hora dos eleitores votarem, eles escolhem as

pessoas e não consideram os partidos nos quais estão votando. Os brasileiros costumam votar sem se aten-

tar aos partidos de seus candidatos porque nosso sistema eleitoral baseia-se na chamada “lista aberta”. Isso

significa que o eleitor pode escolher votar no candidato que quiser, independente de seu partido. Em outros

países, como a Inglaterra, os eleitores não votam diretamente em seus candidatos, mas escolhem um partido

de preferência, a partir de uma lista pré-ordenada de candidatos selecionados pelas organizações partidárias.

O problema da Lista Aberta, associada ao sistema proporcional, é que ela enfraquece os partidos e fortalece

os candidatos, fazendo com que os partidos percam sua referência e base popular. Mas, ao mesmo tempo, os

partidos continuam sendo a base para a ocupação do Congresso, o que gera uma enorme contradição. A gran-

de consequência dessa contradição é dada pelo contexto exposto pelo sociólogo francês Bernard Manin. Para

ele, quando a população escolhe candidatos sem se atentarem a seus partidos os resultados são os seguintes:

• O candidato deixa de ser avaliado por sua competência, mas pela capacidade de comunicação

e oratória;

• As imagens determinam a escolha dos eleitores;

• A Presença e influência maciça da mídia, eleitor flutuante;

• Irrelevância da ideologia política para escolha dos candidatos;

• Predileção pelos candidatos que “mais pareçam confiáveis”.

6. FINANCIAMENTO PRIVADO DE CAMPANHA


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Figura 5: O problema do financiamento privado de campanha sobre a representação democrática

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O Financiamento Privado das campanhas eleitorais diz respeito ao fato de que, no período de campanha

eleitoral, os partidos e os candidatos podem receber quantias em dinheiro de pessoas físicas e jurídicas, com

limites muito altos nos valores permitidos para doação (Figura 5). Essa regra possibilita às grandes empresas

financiarem os candidatos, criando uma viabilidade recorrente de que os grupos do grande capital financeiro

atuem diretamente na operação dos governantes que foram financiados por elas. Essa situação gera, frequen-

temente, a distorção na representação democrática, já que muitos dos candidatos financiados pelas grandes

empresas acabam por abrirem mão da representação de causas políticas em detrimento do favorecimento

daqueles que doam dinheiro para suas campanhas. Além disso, privilegia os candidatos ricos em detrimento

dos candidatos de origem pobre.

7. REFORMA POLÍTICA – O QUE REFORMAR?

Essa é uma questão apropriada para nossa reflexão tanto como estudantes do ensino superior, mas princi-

palmente como cidadãos. Em setembro de 2014, algumas organizações não-governamentais se uniram para

realizar um plebiscito popular sobre a possibilidade do Estado brasileiro instaurar uma constituinte exclusiva

para tal objetivo. Mais de 7 milhões de pessoas votaram na consulta. As manifestações favoráveis à convo-

cação de uma assembleia exclusiva para reforma política somaram 97,05% do total, as contrárias, 2,57% e

0,38% foram votos brancos e nulos. Quando se falar em reforma política, deve-se refletir sobre tudo que ela

poderá representar para uma sociedade. O desenho do sistema político e eleitoral é que determinará, entre

outras coisas, a organização do estado republicano, a natureza do processo político decisório, as funcionali-

dades dos poderes públicos, o tamanho de estado e a qualidade da representação democrática. É com essa

perspectiva que se poderá calcular o tamanho da conta que a população terá de pagar, e assim desenhar um

modelo tributário, ou a sua reforma. E, como foi dito, as demais reformas naturalmente nascerão a partir daí.
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Cabe agora, um aprofundamento do debate público a esse respeito. Finalizamos, portanto, essa unidade com

as diversas possibilidades de reforma política de nosso arranjo institucional democrático.

Lista aberta x Lista Fechada

Sistema proporcional x Sistema Majoritário x Sistema Distrital

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Voto obrigatório x Voto facultativo

Financiamento privado x público x misto

Fidelidade Partidária x Possibilidade da migração partidária

REFERÊNCIAS

COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 3.ed. São Paulo: Moderna, 2010.

MANIN, Bernard. As metamorfoses do governo representativo. Disponível em: <http://www.anpo-

cs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_29/rbcs29_01.htm> Acesso em: 10 nov. 2014.

MONTESQUIEU, C. O Espírito das Leis. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/

marcos/hdh_montesquieu_o_espirito_das_leis.pdf> Acesso em: 10 nov. 2014.

T.H. MARSHALL. Cidadania, Classe Social e Status. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.

TOMAZI, Nelson D. Sociologia para o ensino médio. São Paulo: Atual, 2007.

GLOSSÁRIO

Segunda Guerra Mundial: O marco inicial ocorreu no ano de 1939, quando o exército alemão invadiu a

Polônia. De imediato, a França e a Inglaterra declararam guerra à Alemanha. De acordo com a política de

alianças militares existentes na época, formaram-se dois grupos : Aliados (liderados por Inglaterra, URSS,

França e Estados Unidos) e Eixo (Alemanha, Itália e Japão ). O período de 1939 a 1941 foi marcado por vi-

tórias do Eixo, lideradas pelas forças armadas da Alemanha, que conquistou o Norte da França, Iugoslávia,
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Polônia, Ucrânia, Noruega e territórios no norte da África. O Japão anexou a Manchúria, enquanto a Itália

conquistava a Albânia e territórios da Líbia. Em 1941 o Japão ataca a base militar norte-americana de Pearl

Harbor no Oceano Pacífico (Havaí). Após este fato, considerado uma traição pelos norte-americanos, os es-

tados Unidos entraram no conflito ao lado das forças aliadas. De 1941 a 1945 ocorreram as derrotas do Eixo,

iniciadas com as perdas sofridas pelos alemães no rigoroso inverno russo. Neste período, ocorre uma regres-

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SOCIEDADE, POLÍTICA E DEMOCRACIA NO BRASIL 19

são das forças do Eixo que sofrem derrotas seguidas. Com a entrada dos EUA, os aliados ganharam força nas

frentes de batalhas.

O Brasil participa diretamente, enviando para a Itália (região de Monte Cassino) os pracinhas da FEB, Força

Expedicionária Brasileira. Os cerca de 25 mil soldados brasileiros conquistam a região, somando uma impor-

tante vitória ao lado dos Aliados.

Este importante e triste conflito terminou somente no ano de 1945 com a rendição da Alemanha e Itália. O

Japão, último país a assinar o tratado de rendição, ainda sofreu um forte ataque dos Estados Unidos, que

despejou bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagazaki. Uma ação desnecessária que provocou

a morte de milhares de cidadãos japoneses inocentes, deixando um rastro de destruição nestas cidades.

(Retirado em: http://www.suapesquisa.com/segundaguerra/)

Revolução Francesa: Considera-se a Revolução Francesa de 1789 o acontecimento político e social mais

espetacular e significativo da história contemporânea. Foi o maior levante de massas até então conhecido que

fez por encerrar a sociedade feudal, abrindo caminho para a modernidade. A Revolução Francesa trata de

acontecimentos que acontecerem e mudaram a política do país entre 5 de maio de 1789 e 9 de novembro de

1799 e foi um dos maiores acontecimentos da humanidade.

Neste intervalo de tempo, houve a convocação dos Estados Gerais, juntamente com a queda de Bastilha, além

do golpe de estado de Napoleão Bonaparte, mais conhecido como 18 de Brumário. Foi a Revolução Fran-

cesa que estimulou o início da Idade Contemporânea e seu principal benefício foi a eliminação da escravidão,

a servidão e os direitos feudais, a promoção da liberdade e dos direitos individuais e da sociedade que foram

conquistados.
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