Alanpatricio, 03 Portuguese Experiencies of Violence Among Students of Public Schools

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ARTIGO ORIGINAL

Levantamento sobre vivências de violência entre estudantes


de escolas públicas
Experiences of violence among students of public schools
Andréia Isabel Giacomozzi1, Jane Laner Cardoso2, Camila Detoni Sá de Figueiredo3, Natália
Cristina de Oliveira Meneghetti3, Giorgia Andréa Wiggers4, Priscila Pereira Nunes5, Vanessa
Philippi Cecconi6
Resumo
Open acess
Universidade Federal de Santa
1 Introdução: A violência escolar é um problema que envolve
Catarina, Professora Doutora da muitas consequências ruins para a vida dos alunos Portanto,
Pos-graduaçãoda Psicologia;
prevenir e pesquisar sobre isso é muito importante.
Secretaria de Estado de Santa
2
Objetivo: Identificar as experiências de violência de alunos
Catarina, Brasil. Vigilancia
Epidemiologica. de escolas públicas participantes do PSE - Programa de
Saúde na Escola e SPE - Saúde e Prevenção nas Escolas de
3
Secretaria Estadual de Educação Florianópolis.
de Santa Catarina. Brasil.
Método: Participaram 871 alunos da 9ª série do ensino
4
Administradora escolar – fundamental ao 3º ano do ensino médio, com média de idade
Coordenação do Programa Saude
na Escola- Secretaria Municipal de
de 15 anos e 6 meses.
Educação - Florianópolis, Santa Resultados: Em relação às experiências de violência, 81,6%
Catarina, Brasil.
afirmaram já ter presenciado cenas de violência, sendo 51,1%
5
Discente do Curso em Graduação delas na escola. Além disso, 28% dos participantes relataram
de Psicologia da Universidade já ter sofrido preconceito na escola. Houve associação
Federal de Santa Catarina
estatisticamente significante entre comportamento violento e
6
Professora do Ensino Infantil. ser menino, com o hábito de assistir filmes e jogar videogame
Secretaria Municipal de Educação com conteúdo violento, matar aulas e ter um relacionamento
- Florianópolis, Santa Catarina, regular a ruim com os professores.
Brasil.
Autor correspondente
Conclusão: A violência faz parte das atividades diárias do
[email protected] aluno, envolvendo um contexto amplo e está praticamente
Manuscrito recebido: Setembro 2019
relacionada à escola.
Manuscrito aceito: Janeiro 2020
Versão online: Maio 2020

Palavras-chave: violência, estudantes, escola, adolescentes.

Suggested citation: Giacomozzi AI, Cardoso JL, Figueiredo CDS, Meneghetti NCO, Wiggers GA, Nunes PP, et al. Experiences
of violence among students of public schools. J Hum Growth Dev. 2020; 30(2):179-187.
DOI: https://doi.org/10.7322/jhgd.v30.10365

J Hum Growth Dev. 2020; 30(2):179-187. DOI: https://doi.org/10.7322/jhgd.v30.10365 I


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Síntese dos autores

Por que este estudo foi feito?


Este estudo foi feito para possibilitar aos profissionais da saúde e educação que trabalham com a presença de violência nas escolas,
no âmbito do PSE, reconheçam as principais violências que ocorrem no ambiente escolar. Conhecer tais dados é importante para que
se possam programar ações de prevenção nas escolas.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?


Os pesquisadores realizaram um estudo amplo, de levantamento de dados acerca das violências vivenciadas pelos estudantes da
rede publica de ensino de Florianópolis. Os principais achados demonstram que a violência faz parte do cotidiano dos estudantes,
estando principalmente associada ao ambiente escolar.

O que essas descobertas significam?


Tais dados chamam a atenção para o grande numero de ocorrências de situações de violência no ambiente escolar.

INTRODUÇÃO
No âmbito escolar brasileiro, foram firmadas Trevisol e Uberti4, fizeram uma pesquisa em uma
parcerias entre o Ministério da Saúde e Educação com o pequena cidade de Santa Catarina, Brasil, e um dos pontos
intuito de efetivar ações de prevenção à saúde em todas de conclusão é que a escola tem sido palco de agressões
as esferas da gestão pública, representadas pelo Projeto e conflitos, principalmente bullying. Segundo Nogueira5,
Prevenção e Saúde na Escola, no governo estadual e esse fenômeno é definido como um comportamento cruel
Programa Saúde na Escola, no município. As iniciativas e intrínseco nas relações sociais, no que os mais fortes
de ambos os programas são articuladas por abordagens tornam mais fracos seus objetos de diversão e prazer,
de promoção da saúde e prevenção de doenças, além de usando piadas que disfarçam o propósito de repetidamente
temas relacionados à saúde reprodutiva e sexual. As ações abusar e intimidar.
de saúde direcionadas aos alunos são relevantes uma vez Estudos demonstram que o assédio moral costuma
que esse público vivencia experiência significativa em sua ser direcionado a grupos com características específicas,
interação na escola. e podem ser físicas, socioeconômicas, étnicas e sexuais,
A violência tem sido destacada como um dos como por exemplo, estudantes obesos6,7 e sobrepeso8,
maiores problemas da saúde pública mundial, de forma e filhos homossexuais9-11 são mais suscetíveis a sofrer
que em 2015 foi listada como agenda prioritária pela bullying.
Organização das Nações Unidas (ONU). A Organização Considerando esses problemas, nesta pesquisa
Mundial de Saúde (OMS)1 define violência como “O uso serão discutidos os conceitos de bullying e preconceito,
intencional de força ou poder físico, ameaçado ou real, ainda que distintos, pois se observa que a definição de
contra si mesmo, outra pessoa ou contra um grupo ou bullying se aproxima do conceito de preconceito, desde
comunidade, que tem alta probabilidade de resultar em que fatores sociais determinem grupos-alvo, como
ferimento, morte, dano psicológico, mau desenvolvimento aqueles que terão o poder de assediar os outros12. Portanto,
ou privação”. o bullying é entendido como resultado de um processo de
Portanto, a violência é um fenômeno preconceito13.
multidimensional, que atinge a integridade física, psíquica, “O preconceito tem em sua essência na falta
emocional e simbólica de indivíduos ou grupos e ocorre de respeito à diferença, ou melhor, a falta de respeito
em espaços públicos ou privados. Também é importante de “eu” em relação ao “outro” e estabelece modelos de
destacar que atualmente a violência tem sido relacionada comportamento individual e social que colocam o diferente
a eventos que antes eram considerados prática normal sob a ótica de “ruim”, “inadequado “ou” inferior”. O outro
regulada nas relações sociais, como violência dentro da seria um intruso que traria o caos e, portanto, precisaria
família, contra mulheres ou crianças e violência simbólica ser calado14.
contra grupos, categorias sociais ou etnias2. Inicialmente, o preconceito foi estudado pela
Entre a violência que ocorre em um espaço psicologia como uma característica psicológica do
público, há a violência escolar. Segundo Charlot3, a indivíduo15, negligenciando fatores socioeconômicos
violência escolar pode se apresentar de várias maneiras: que muitas vezes são poderosos na determinação desse
violência na escola, violência contra a escola e violência fenômeno16. No entanto, numa perspectiva social e mais
escolar. Enquanto os dois primeiros tipos são a violência recente, que analisa as relações intergrupais, no contexto
praticada pelos estudantes, o último aponta para uma em que quando os conflitos nascem, o preconceito é
violência institucional. Segundo o autor, a violência na visto como uma forma organizada de relacionamento
escola acontece dentro desse espaço, mas não está ligada intergrupal, arredondando as relações de poder entre os
às atividades da instituição. Essa abordagem refere-se grupos. Aqui, são produzidas representações ideológicas
a várias formas de violência que são simbolicamente para justificar atitudes agressivas e negativas em relação a
determinadas no e para o ambiente escolar. Este estudo membros de grupos considerados minoritários17,18.
pretende discutir a primeira violência, violência na escola, A teoria do aprendizado social afirma que o
por meio de preconceito, bullying e violência física indivíduo tende a copiar o comportamento com base em
ocorrida entre os alunos, bem como hábitos de lazer dos modelos agressivos que observa19. Os filhos dos pais que
participantes associados à violência fora do contexto adotam castigos violentos, sejam físicos ou verbais, tendem
escolar. a usar os mesmos recursos quando interagem com outras

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pessoas20,21. O dados da pesquisa de Trevisol e Uberti4 Instrumento
sobre o diálogo e bullying com a Teoria da Aprendizagem Utilizou-se um questionário autoaplicável com um
Social, conclui que um dos principais motivos que levam bloco de conteúdo sócio demográfico de perguntas com
o indivíduo a praticar bullying está relacionado às suas variáveis como: sexo, idade, escolaridade e também com
características pessoais, ou seja, à natureza de agressões quem os alunos moram. As demais questões referem-se à
que são pessoais, provenientes das experiências vividas por participação dos jovens em brigas, acesso a jogos e filmes
eles. Além da punição violenta, a exposição à disciplina violentos e cenas de violência assistidas, preconceitos,
inconsistente, pouca supervisão, rejeição e / ou indiferença entre outros.
quando os pais estão com os filhos são fatores que podem
contribuir para que adultos sejam mais agressivos22-25. Análise de dados
Partindo do referencial teórico de que o As questões fechadas foram organizadas no pacote
desenvolvimento resulta de vários níveis de interação estatístico Statistical Package for the Social Sciences
entre fatores de risco e proteção, presentes em nossa (SPSS), versão 17.0, para análise dos dados. Foi realizada
sociedade, uma pesquisa com adolescentes em conflito análise estatística descritiva e verificada a associação
com a lei concluiu que a família, a comunidade e a escola entre variáveis elencadas. As comparações das sub
são atores essenciais para evitar que o adolescente cometa amostras (sexo, idade, participação na briga, etc.) foram
uma infração26. analisadas pela tabela de contingência (testes estatísticos
Outros fatores têm sido associados ao não paramétricos) e comparação entre médias.
comportamento agressivo e / ou violento dos jovens. As
questões de gênero estão incluídas, uma vez que estudos Aspectos éticos
comprovam por que o homem afirma sentir-se menos A pesquisa foi aprovada em comitê de ética em
culpado e ansioso quando manifesta comportamento pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal
agressivo, enquanto as mulheres afirmam ter mais de Santa Catarina com protocolo número 2178/11. A
preocupação com uma possível retaliação27-29. Quanto avaliação foi realizada de acordo com que está estabelecido
a diferença entre os sexos, estudos demostram que o na resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde.
comportamento está ligado à educação e à estimulação
de que meninas e meninos são expostos. Em geral, os RESULTADOS
meninos são ensinados a agir de maneira agressiva e ativa, Relacionamentos Familiares
as meninas a serem dóceis e passivas28,30. Entre os estudantes, 55,1% moravam com ambos
Além disso, dados apontam que a exposição os pais, 20,4% moravam apenas com a mãe, 11,6% com
dos jovens à violência na mídia (incluindo filmes e a mãe e outro tutor, 5,1% apenas com o pai, 4,1% com
videogames com conteúdo violento) pode ser um tutores, exceto mãe e pai e 3,7% com avós.
importante fator de deflagração da violência individual O próximo item que foi investigado foram os
e social. DeGaetano e Gossman31 realizaram uma meta- relacionamentos familiares. O primeiro tópico foi o
análise com 3.500 pesquisas sobre os efeitos da violência relacionamento com a mãe. Desses, 84,9% afirmaram
na mídia e observaram que 99,5% demonstraram algum ter bom relacionamento com a mãe, 9,6% afirmaram ser
tipo de efeito negativo na audiência. Estudos posteriores regular, 2% não têm contato com a mãe, 2% afirmaram
corroboraram esses dados32,33. No entanto, não é possível que a relação é ruim e 1,5% disseram que eles não têm
adotar uma perspectiva de causalidade linear, vinculando mãe. Os dados sobre o pai foram diferentes, 73,8%
a mídia violenta diretamente à violência cotidiana. Uma afirmaram ter um bom relacionamento com o pai, 12,2%
análise deve ser feita sobre a exposição na mídia com afirmaram ser regular, 6,8% não têm contato com o
conteúdo de caráter violento como fator significativo para pai, 4,4% afirmaram não ter pai e 2,8% afirmaram que
a efetividade de comportamentos agressivos34. a relação é ruim. Terceiro, o relacionamento entre pais,
Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi 53,8% afirmaram ser bom, 26,8% não vivem junto, 15,5%
identificar as experiências de violência de alunos de disseram que é regular e 4% disseram que é ruim. Além
escolas públicas participantes do PSE - Programa de Saúde disso, 30,7% dos participantes declararam que alguém da
na Escola e do SPE - Saúde e Prevenção nas Escolas em família bebe demais ou usa algum tipo de droga.
Florianópolis.
Experiências escolares
MÉTODO Quanto ao desempenho escolar, 62,8% dos
Trata-se de um estudo quantitativo, qualitativo e de participantes afirmam nunca ter faltado na escola, enquanto
natureza descritiva e analítica35. 27,6% faltaram uma vez e 9,6% mais que duas vezes.
Quanto ao relacionamento com alunos e professores,
Participantes 56,6% afirmam que é bom, 40,8% regular e 2,6% ruim.
Participaram da pesquisa 871 alunos de escolas Nas relações com amigos, 86,7% dos participantes
públicas, por serem matriculados e estar frequentando o afirmam ter um bom relacionamento, 11% regulares e
9º ano do ensino fundamental ou 1º, 2º e 3º ano do ensino 2,3% afirmam não ter amigos. Analisando a associação
médio. Os sujeitos tinham entre 12 e 26 anos e a média de dessa variável com o sexo dos participantes, observou-se
idade foi de 15 anos e 6 meses com desvio padrão de 1,6. que meninas (64%) referem ter um bom relacionamento
Quanto ao sexo dos participantes, 53,6% eram meninas e com o professor, enquanto a maioria dos meninos (48,9%)
46,4% eram meninos.

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refere relacionamento regular com educadores. [χ2 = estatisticamente significante entre meninos e meninas,
21,76; gl = 2; p = 0,001] sendo que os meninos jogam esses jogos mais que as
Em relação às experiências dos participantes, meninas [χ2 = 98,4: g l = 1; p = 0,001].
81,6% deles afirmam que já presenciaram cena de
violência, sendo 51,1% dessas cenas ocorridas na escola, Comportamento de Risco
28,2% na rua, 8,9% em casa, 6,6% em outros locais, 4,3% Em relação ao comportamento de risco, 34% dos
no bairro e 0,9% nos locais de lazer. participantes afirmaram que já faltaram aulas, dentre eles,
Além disso, 28% dos participantes (12,5% dos 39,6% são meninos e 27,9% meninas. Houve associação
meninos e 15,5% das meninas) encaminhados já sofrem estatisticamente significante entre faltar aula e sexo,
algum tipo de preconceito ou bullying na escola e, demonstrando que meninos faltaram mais aulas que
dentre esses, 33,6% refere-se ao peso corporal, 18,7 % meninas [χ2 = 11,99; g 1 = 1; p = 0,001].
preconceito racial, 16,8% homofobia, 12,3% sofreram No tópico questões jurídicas 11,9% dos estudantes
outros tipos de preconceito, 7,8% devido à aparência física afirmam que já tiveram problemas com a justiça, dentre
e 4,9% assédio moral em geral. Comparando os estudantes esses, 13,5% eram meninos e 10,5% eram meninas, e
por sexo, conclui-se que entre os que relataram sofrer esse não houve associação estatisticamente significante entre
tipo de preconceito/ bullying, os meninos relataram sofrer variáveis.
mais preconceito étnico / racial (69,4% dos meninos contra Sobre o uso de drogas, 15,3% afirmaram já
30,6% das meninas) e homofobia (53,3 % contra 46,7%), consumir algum tipo de droga (16,3% dos meninos
enquanto as meninas relataram sofrer mais preconceito / e 14,5% meninas), sendo 13,24% afirmaram que já
bullying sobre aparência física (61,9% contra 38,1%) e consumiram maconha, 3,3% cocaína e 0,1% crack. Sobre
peso corporal (57,8% contra 42,2%) do que os meninos as bebidas, 65,3% disseram que já beberam de forma
[χ2 = 20 88; g = 6; p <0,005]. abusiva recentemente, sendo 67,4% meninos e 63,3%
meninas.
Hábitos de Lazer Além disso, 13% afirmaram que já sofreram
A investigação sobre hábitos de lazer e violência acidentes (15,2% dos meninos e 11,1% das meninas), tais
mostrou que 41,2% dos participantes afirmaram que como: 60,7% em queda, 20,2% em transporte terrestre,
costumam assistir filmes com conteúdo violento. Quanto 3,4 queimaduras e 15,7% outros tipos de acidentes. Não
ao sexo dos participantes, de acordo com a Tabela 1, 58,9% houve associação estatisticamente significante entre essa
dos meninos e 26,2% das meninas afirmaram assistir esse variável e sexo dos participantes.
tipo de filmes, sendo que os meninos assistem mais a Outro aspecto foi o envolvimento em brigas,
esses filmes do que as meninas e, houve uma associação 14,8% afirmaram que já se envolveram em brigas.
estatisticamente significativa entre essas variáveis [χ2 = Verificando a associação de sexo dos participantes com
82,7; g 1 = 1; p = 0,001]. essas variáveis, observou-se que 19,5% dos meninos
Em relação aos videogames violentos, 42,3% dos afirmaram envolvimento em brigas contra 10,7% das
participantes afirmaram jogar todos os dias. Analisando meninas, e houve associação estatisticamente significante
a correlação entre essa variável com o sexo, observou- entre o sexo e a participação em brigas [χ2 = 11,74; g 1 =
se que 60,4% dos meninos afirmaram jogar videogames 1; p = 0,001], meninos participaram mais que meninas em
violentos, contra 26,3% das meninas. Houve diferença brigas.

Tabela 1: Diferença entre as atividades relacionadas à violência, por sexo dos participantes.
Variáveis Masculino Feminino p
Assistir filmes violentos 58,9% 26,2% ,001
Jogar jogos violentos 60,4% 26,3% ,001
Envolver-se em brigas 19,5% 10,7% ,001

Associações entre comportamento violento e O relacionamento ruim ou regular com os


outra variável professores foi outra variável associada à participação
Ao analisar a associação das variáveis: prévia em brigas. Entre os que já lutaram, 53,7% afirmaram
envolvimento no comportamento das lutas e o hábito ter um relacionamento regular com os professores e 5,8%
de assistir filmes violentos observaram-se que 65% dos uma relação ruim [χ2 = 19,31; g = 2; p = 0,001].
que já se envolveram em brigas, afirmaram também que Outra associação foi entre usar drogas e brigar,
assistem filmes violentos [χ2 = 34,05; g 1 = 1; p = 0,001]. uma vez que entre os estudantes que afirmaram nunca
Também houve associação entre participação em brigas usar drogas, 11,3% relataram ter participação em brigas,
e o hábito de jogar jogos violentos em vídeo, pois 65,5% enquanto entre os que já usavam drogas, esse percentual
dos que afirmaram envolver-se em brigas costumam jogar chega a 32% [ χ2 = 34,18; g 1 = 1; p = 0,001].
esses jogos [χ2 = 30,24; g 1 = 1; p = 0,001].
Outra associação obtida foi entre a participação
em brigas e faltar aulas, pois 63,3% dos que afirmaram já
estarem envolvidos em brigas costumam faltar aulas. [χ2 =
58,68; g 1 = 1; p = 0,001].

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Tabela 2: AAssociação entre comportamento violento e outras variáveis.
Variáveis Participacao em brigas p
Ver filmes violentos 65% ,001
Jogar jogos violentos 65,5% ,001
Skip classes 63,3% ,001
Relacao regular com professor 53,7% ,001

DISCUSSÃO período. Sobre o consumo de maconha, também houve um


A maioria dos adolescentes já viu a cena da violência aumento quando comparado com a pesquisa anterior47,
em vários contextos, mas o local onde eles apontam como uma vez que 7% dos estudantes declararam seu uso e
aquele onde observam a maioria das cenas de violência foi nesta pesquisa foram 13,24%.
na escola. O ambiente escolar foi definido como o espaço Pesquisas têm demonstrado falta de efetividade de
onde os alunos encontram, elaboram e experimentam ações direcionadas aos jovens com o objetivo de impedir
violência, contrariando a premissa de que a escola deve o uso de drogas48. No contexto escolar, as ações mais
ajudar os alunos a construir um relacionamento e conduta eficientes são aquelas que promovem a sociabilidade e
adequados com seus colegas de classe36-38. Além disso, potencializam as relações entre os estudantes49 do que
essa experiência de violência na escola foi descrita como ações focadas em “dizer não às drogas”50. Em relação à
preditora de distúrbios psicológicos na idade adulta38. campanha da mídia sobre drogas, o resultado do estudo de
A escola também parece ser um local de vivência de Allara et al.51 apontou a necessidade de precaução, uma
preconceito e bullying para os participantes do estudo, uma vez que essa publicidade pode produzir efeitos inesperados
vez que 28% deles afirmaram que já sofreram algum tipo e até prejudicar a população a que se destina.
de preconceito nessa instituição (12,5% meninos e 15,5% Outra questão foi a manifestação de comportamento
meninas), sendo que os meninos referiram sofrer mais violento, ou seja, envolvimento em brigas. Observou-se
preconceitos raciais e homofóbicos, enquanto as meninas relação com ser menino, faltar às aulas e ter de regular
afirmam sofrer mais preconceitos quanto à aparência física. a mau relacionamento com os professores, além de ter
A Pesquisa Nacional de Saúde do Estudante (PENSE), hábitos de lazer associados à violência, como assistir
envolvendo 134.310 escolares do ensino fundamental filmes e jogar jogos com conteúdo violento e usar
do 9º ano do Brasil em 2015, observou que 7,2% dos drogas. Portanto, são observados os fatores de risco que
alunos entrevistados já sofreram bullying, e a maioria apresentam efeito multiplicativo entre os adolescentes,
foi entre meninos, contradizendo os dados deste estudo. ou seja, mais fatores de risco, maior probabilidade de se
No entanto, as causas de bullying relatadas na PENSE envolver em situação de violência52.
são bastante semelhantes às encontradas neste estudo, ou A diferença de comportamento entre os sexos
seja, 18,6% dos estudantes relataram sofrer bullying por estão ligados à educação e aos estímulos, a que meninas
imagem ou aparência física, 16,2% por aparência, 6,8% e meninos estão expostos. Em geral, os meninos são
raça/cor, 2,9% orientação sexual, 2,5% religião e 1,7% ensinados a agir de forma agressiva e ativa, enquanto as
local de nascimento, sendo que o preconceito homofóbico meninas são ensinadas a desenvolver um comportamento
e racial também foi maior nos meninos. doce e passivo28,30. No entanto, meninos e meninas se
Alguns estudos observam a relação entre envolvem em situações de violência na escola, mas
prática de bullying e violência39. A prática de bullying a forma de manifestá-la é diferente. Os meninos são
na adolescência foi associada ao aumento do risco de mais propensos a sofrer violência física e as meninas se
fumar40, consumo excessivo de álcool41,42, uso de drogas43 envolvem mais em experiências indiretas ou verbais53-55.
e envolvimento com delinquência e violência44,45, além Em relação à mídia, ao produzir um levantamento
da adoção de comportamento agressivo na idade adulta46. bibliográfico sobre violência na mídia, Strasburger34 define
E sofrer bullying na adolescência aumenta o risco de a agressividade como um comportamento aprendido, de
desenvolver sintomas de estresse, depressão, baixa maneira que, com o passar dos anos, a compreensão do
autoestima, ansiedade e favorece baixo desempenho indivíduo sobre as consequências adversas da violência
escolar46. Por esse motivo, é importante que as escolas tende a aumentar. O tempo de adolescência é permeado
trabalhem com metodologias que envolvam a promoção por vários estigmas socialmente delimitados, o que pode
de relações tolerantes entre os alunos. acarretar um tratamento diferenciado ao adolescente, pois
Foi observado o uso de drogas por 15,3% dos esse indivíduo não é criança nem adulto e está em intenso
participantes deste estudo. Quanto ao consumo de bebidas processo corporal, sexual, social e de identidade afetiva56.
alcoólicas, 65,3% dos que já fazem uso de bebidas, 67,4% Para esse processo de estruturação, é necessário analisar
são meninos e 63,3% meninas. Esses dados são bastante de que maneira o conteúdo em geral pode ou não afetar o
preocupantes, considerando que estudos anteriores nas desenvolvimento dos indivíduos nessa fase.
mesmas escolas da cidade47 observaram-se uso compulsivo Em relação aos filmes com conteúdo violento,
de bebidas em 35,2% dos meninos e 25,4% das meninas. Batista et al.57, produziram um experimento com o
Tais dados mostram um aumento considerável dessa objetivo de investigar os efeitos de filmes violentos no
modalidade de consumo de bebidas pelos estudantes nesse comportamento infantil, medindo a diferença do grau

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de agressividade expresso em artigos feitos antes e violência, como a violência psicológica através da prática
depois do filme. Os resultados indicaram um nível mais de bullying, por exemplo.
alto de agressividade dos estudantes após expô-los ao A fim de construir alternativas para o relacionamento
filme Mortal Kombat por dois dias. Esses resultados são dos alunos na escola em vários níveis (individual e
indicativos de que assistir filmes com conteúdo violento em grupo) e de diferentes complexidades, vale a pena
afeta o comportamento de crianças de ambos os sexos, investir em um bom relacionamento entre professor e
quando avaliados por ensaios. aluno, considerando que dados importantes deste estudo
Observou-se ainda que o bom relacionamento com apontam para o fato de que um relacionamento adequado
os professores diminui a manifestação de comportamento com professores diminui a possibilidade do escolar se
violento dos alunos. O estudo de Marriel et al.58 aponta envolver em comportamentos violentos.
uma relação entre manter um bom relacionamento
com colegas e autoestima de professores e alunos. Contribuição dos Autores
Também mostrou que estudantes com baixa autoestima AIG - Coordenou a pesquisa, elaborou o projeto,
se relacionam pior com colegas e professores do que auxiliou na coleta e digitação dos dados. Realizou as
aqueles com elevada autoestima. Além de estarem mais análises estatísticas, descreveu e discutiu os resultados.
frequentemente na posição de vítimas de violência na JLC - Participou da elaboração do projeto de
escola têm mais dificuldade de se sentirem bem dentro do pesquisa, tendo submetido-o ao comitê de ética em
ambiente escolar. pesquisa da UFSC. Realizou revisão final no texto.
Pesquisas ainda indicam que, para prevenir CDSF - Participou da elaboração do projeto
comportamentos violentos, basta investir em uma de pesquisa, auxiliou na coleta e digitação dos dados.
representação otimista de si mesma, reconhecendo o Auxiliou na discussão dos resultados. Realizou revisão
potencial do adolescente, fortalecendo sua autoestima e final no texto bem como sua tradução para o inglês.
estimulando-o a entender seus próprios limites, bem como NCOM - Participou da elaboração do projeto
os limites das pessoas ao seu redor e da sociedade em de pesqisa, bem como da coleta e digitação dos dados.
geral59. Realizou revisão final no texto.
GAW - Participou da elaboração do projeto de
CONSIDERAÇÕES FINAIS pesquisa bem como coleta e digitação dos dados. Realizou
A violência faz parte das atividades diárias do revisão final no texto.
aluno, envolvendo um contexto amplo e está praticamente PPN - Auxiliou na coleta e digitação dos dados da
relacionada à escola. A escola foi citada pelos participantes pesquisa bem como preparou o manuscrito nas normas da
como o local onde observaram mais cenas de violência, revista para a publicação.
além disso, alguns alunos afirmam ter sofrido bullying e VPC - Participou da elaboração do projeto de
vários preconceitos nessa instituição. pesquisa. Participou da coleta e digitação dos dados.
As questões de gênero estão relacionadas, uma
vez que a manifestação do comportamento violento por Apoio financeiro
meio de brigas, hábitos de lazer associados à violência, Esta pesquisa foi financiada pelo CNPQ através
assistir a filmes, jogar jogos com conteúdo violento e o PIBIC, ano 2015/2016.
uso de drogas estão ligados ao ser menino. No entanto, as
meninas não deixam de se envolver com outras formas de

REFERÊNCIAS

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2. Porto MSG. Crenças valores e representações sociais da violência. Sociologias. 2006;8(16):250-73.
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Abstract

Introduction: School violence is a problem that involves a lot of bad consequences for the lives of
students. So preventing and researching about it is very important.

Objective: The objective of this study was identify the experiences of violence of students from public
schools participating in the PSE - School Health Program and SPE - Health and Prevention in the
Schools of Florianópolis.

Methods: Participants were 871 students from the 9th grade of elementary school to the 3rd year of
high school with an average age of 15 years and 6 months.

Results: Regarding the experiences of violence, 81.6% stated that they had already witnessed scenes
of violence, with 51.1% of these scenes occurring at school. Besides, 28% of the participants reported
having already suffered prejudice at school. There was a significant statistical association between
violent behavior and gender (being a boy), having a habit of watching movies and playing video games
with violent content, skipping classes and having a regular to bad relationship with teachers.

Conclusions: Violence is part of student’s daily activities, involving a broad context and it is pretty much
related to school.

Keywords: violence, students, school, teenagers.

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