2019 Conhecimentos e Sociedade-Daniela Alves Maíra Baumgarten Orgs.
2019 Conhecimentos e Sociedade-Daniela Alves Maíra Baumgarten Orgs.
2019 Conhecimentos e Sociedade-Daniela Alves Maíra Baumgarten Orgs.
Os direitos de todos os textos contidos neste livro eletrônico são reservados a seu autor ou autora, e
estão registrados e protegidos pelas leis do direito autoral. Esta é uma edição eletrônica (e-book)
comercial. Este livro eletrônico não pode ser impresso.
VERBENA EDITORA
Editores:
Arno Vogel
Benicio Schmidt
Fabiano Cardoso
Conselho Editorial:
Santiago Alvarez (Argentina) Lia Zanotta Machado
Geniberto Paiva Campos Paulo Baía
Arnaldo Brandão Carlos Alves Müller
Lia Zanotta Machado
Paulo Baía
Carlos Alves Müller
ISBN: 978-85-64857-57-5;
e-book
A
obra Conhecimentos e Sociedade: Teorias, Políticas e
Controvérsias é o resultado de um esforço coletivo em reunir
textos apresentados nos fóruns e mesas redondas do VII
Simpósio Nacional de Ciência, Tecnologia e Sociedade (VII
ESOCITE.BR/tecsoc). Agradecemos aos autores e autoras que
disponibilizaram seus textos para esta publicação. Ao Fabrício Neves pela
iniciativa de captação de recursos junto à FAP/DF. Ao Ivan da Costa
Marques pela contribuição generosa no resgate histórico dos eventos que
deram origem à ESOCITE.BR, relatados na seção Origens e Caminhos. À
ESOCITE.BR pela iniciativa e pelo apoio na revisão dos textos. Agradecemos,
sobretudo, pelo apoio da FAP/DF, patrocinadora desta obra, através do
projeto 0193.000827/2017.
SUMÁRIO
PREFÁCIO
ESOCITE.BR – Uma história
Ciência e tecnologia na sociedade brasileira do limiar dos anos 2020 –
notas para reflexão
PARTE 1 – Experiências e Práticas Científicas em Ciência, Tecnologia
e Inovação no Brasil
A Contribuição da UnB aos Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia
A Formação de Professores-Pesquisadores em Ciências com
Enfoque CTS: Elementos de Experiências Exitosas no Contexto
Amazônico-Paraense
Um só basta? Agenciando gametas e noções de gênero na Reprodução
Assistida (RA)
Práticas Biomédicas e Novas Materializações de Gênero
e Sexualidade Feminina
PARTE 2 – Teorias, políticas e controvérsia
Mentalidades Dissonantes: Bases Cognitivas sobre as Relações C&T
e Sociedade na Teoria Crítica da Tecnologia e nos Estudos CTS
Latino-Americanos
Para Concebir una Política Cognitiva para la Retomada
“Somos” = “Temos”
SOBRE OS AUTORES
PREFÁCIO
C
omo escrever diante de um colapso? Como pesquisar em meio ao
caos? Essas perguntas são postas a milhares de pesquisadoras e
pesquisadores brasileiros que, nas últimas décadas de período
democrático, achavam ter garantido condições mínimas para
implementar seus projetos e que o desenvolvimento científico
transcorreria em ritmo progressivo. Fomos tomados de assalto por um
regime obscurantista que, além de governar pela propagação da mentira e
da ode à ignorância, fustiga a comunidade acadêmica a revisitar trincheiras
abandonadas das “guerras da ciência” onde jazem argumentos tolos opondo
as ciências naturais e “exatas” às chamadas humanidades.
É nesse cenário que os pesquisadores dos estudos sociais das ciências e das
tecnologias são conclamados a se pronunciar. Ao reunir parcela significativa
da produção recente dos estudos de CTS (Ciência, Tecnologia & Sociedade)
no Brasil, este livro é também o resultado de um esforço de
institucionalização do campo em torno da Associação Brasileira de Estudos
Sociais das
Ciências e das Tecnologias (ESOCITE.BR). Em um contexto tão desfavorável
ao pensamento crítico e humanista é, de fato, um alento e uma necessidade
vital que nos organizemos para fortalecer as nossas associações. Mais do
que nas dinâmicas de nossas resiliências individuais, é no associativismo
que pautaremos a resistência à intolerância e à violência dos dias atuais.
Reflexo do crescimento e da sofisticação intelectual de nossa comunidade
CTS – evidenciada nos simpósios da ESOCITE.BR –, o livro organizado por
Maíra Baumgarten e Daniela Alves é uma importante ferramenta para o(a)
leitor(a) desejoso(a) de maiores informações sobre uma possível
“assinatura” brasileira para os estudos sociais das ciências e das tecnologias.
Sem abdicar de demonstrar uma sólida inserção nas redes de pesquisa e de
diálogo internacionais, os artigos ora dispostos apresentam um conjunto de
“saber-fazer” marcadamente tocados pela experiência de produzir ciência a
partir do Brasil e de suas especificidades. De certo, não se trata de buscar
um lugar isolado, monádico, dos acadêmicos brasileiros em relação aos
fluxos de ideias globais, mas de situar nossas práticas em um solo marcado
por cicatrizes históricas, dilemas nacionais e desigualdades latentes.
Esperamos que a leitura agrade aos já iniciados(as) e que, ao mesmo tempo,
cative os neófitos. Lembrando sempre aos detratores do conhecimento que
a Terra é redonda e dá voltas!
Origem e caminhos
P
ara contar um pouco da história da Associação Brasileira de
Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias (ESOCITE.BR), é
importante voltar a Bogotá 2006, quando ocorreu um encontro da
ESOCITE Latino-Americana (Asociación Latinoamericana de
Estudios Sociales de La Ciencia y La Tecnología), ocasião em que
ficou combinado, entre os presentes de diferentes países da América Latina,
que buscariam criar em seus países associações de estudos sociais de
ciência e tecnologia para que se unissem posteriormente em uma
organização latino-americana sobre o tema. Também nessa ocasião foi
decidido que a próxima reunião da Asociación Latinoamericana de Estudios
Sociales de La Ciencia y La Tecnología seria no Rio de Janeiro, Brasil, sob a
responsabilidade de Ivan da Costa Marques.
Em 2008 ocorreu a reunião ESOCITE Latino-Americana. Até então,
entretanto, nada fora providenciado no sentido de criar a associação no
Brasil, o que somente ocorreu em Curitiba (2009), durante o III Simpósio
Nacional de
Tecnologia e Sociedade (TECSOC), quando decidiu-se, em assembleia, e,
portanto, formalizou-se a criação da nova associação, denominada
Associação Brasileira de Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias
(ESOCITE.BR). Ivan da Costa Marques ficou encarregado dos trâmites
formais e burocráticos.
A ESOCITE.BR foi, portanto, fundada no final de 2009. Entretanto ainda foi
preciso que transcorresse quase um ano até que a sociedade tivesse
existência como pessoa jurídica. Esse período foi ocupado por trâmites
burocráticos para o registro como associação. A seguir, um extrato de seu
estatuto que nos indica suas principais características e atribuições.
A Associação Brasileira de Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias
(ESOCITE.BR) foi fundada em 14 de outubro de 2010 e tem por objetivos
promover e coordenar estudos e eventos compreendidos na área de
Estudos Sociais das Ciências e Tecnologias e temas afins. São suas missões
precípuas:
Junho de 2019.
1 Essa breve história da ESOCITE.BR foi elaborada a partir de relato do Profº Ivan da Costa Marques,
primeiro presidente da associação, documentos e nossas memórias.
Ciência e tecnologia na sociedade brasileira do
limiar dos anos 2020 – notas para reflexão
Introdução
N
este capítulo introdutório trazemos algo do debate recente dos
estudos sociais de ciência e tecnologia no Brasil, articulado no
momento histórico em que ressurgem o espectro do anti-
intelectualismo, as atitudes de negação das virtualidades
positivas da ciência e da tecnologia e a hegemonia da
perspectiva colonialista que coloca nossa sociedade e nossa ciência como
subalternas aos centros capitalistas globais de produção e disseminação de
conhecimentos.
O objetivo deste texto é pensar como as ciências sociais e a perspectiva que
trabalha a relação entre ciência, tecnologia e sociedade (CTS) podem
contribuir para o debate a respeito do imaginário social sobre o papel e
lugar das ciências na conjuntura contemporânea brasileira. Conjuntura essa
que apresenta um cenário de ceticismo com relação à ciência e à tecnologia,
ataques à autonomia universitária e cortes de verbas destinadas à educação
e à ciência, entre outros problemas. Aspectos igualmente importantes na
disputa de narrativas sobre as instituições científicas constituem o
patrocínio ideológico da prática de reprodução ampliada de notícias falsas
nas mídias digitais, bem como a modificação do perfil dos estudantes
universitários com as políticas inclusivas.
A pós-modernidade não parece ser, para grande parte dos intelectuais pós-
modernistas, um momento histórico e, sim, a condição humana em si.
Forças aparentemente incontroláveis parecem estar por detrás do ceticismo
politicamente paralisante, do relativismo moral e epistêmico da cultura pós-
modernista.
Nesta vertente, as principais características do pós-modernismo seriam:
1. Pessimismo político, em que só há possibilidade de resistências
particulares e separadas, pois não existem sistemas ou histórias
suscetíveis à análise causal;
2. Concepção como aspectos dominantes do capitalismo o consumismo,
a multiplicidade de padrões de consumo e a proliferação de “estilos
de vida”;
3. Ceticismo epistemológico e relativismo epistêmico;
4. Sentido de novidade.
Referências
2 O debate sobre a pós-modernidade deste texto retoma as notas para o debate sobre Pós-Modernidade e
Sociologia de Baumgarten (2005), aprofundando a discussão e relacionando-a com o atual movimento
anti-intelectualista e contra a ciência.
3 Wright Mills, C., 1972; Foulcault, M., 1970; Lyotard, 1984; Jameson, 1983; Derrida, 1984, entre outros.
4 Albagli (1999) aponta a existência de uma simbiose entre ciência, tecnologia e poder (econômico e
político), a partir da qual o progresso científico-tecnológico é incorporado ao domínio da esfera pública,
em que os novos conhecimentos científicos e tecnológicos passam a ser objetos de crescente privatização
pelos agentes econômicos. As questões referentes à propriedade intelectual, como patentes, apropriação
por empresas transnacionais de plantas e micro-organismos, têm sido objeto de acirrado debate. Sobre
este assunto, ver ainda Leite (2000), Santos (2000) e Carvalho (2000).
5 Para o debate sobre tecnociência, ver Araújo (1998) e Santos (2000).
6 Há certa controvérsia quanto a ser ou não adequado o termo sociedade do conhecimento para definir a
sociedade atual, pois, segundo alguns autores, o que surge como sua característica mais destacada são,
antes, a informação e seus diferentes fluxos do que conhecimento. Para diversas posições sobre o
assunto, ver Castells (2000, v. I), Lastres e Albagli (1999), Baumgarten (2001).
7 Touraine (1969) e Bell (1973), entre outros.
8 É importante ressaltar que, ao mesmo tempo em que a internet ajuda na destruição das culturas locais e
em certa uniformização do pensamento a partir da perspectiva hegemônica e colonial, ela também é
utilizada para resistir ao pensamento único, por meio de diferentes movimentos, como o movimento
Wiki, o movimento Hacker, o movimento de tecnologias livres e ciência cidadã, entre outros, que
questionam a perspectiva hegemônica e as formas do fazer científico, como apontam diversos estudos.
9 O que não significa pensar que a própria ciência seja autônoma e, sim, que é possível uma autonomia
relativa, considerando que todo conhecimento produzido tem virtualidades positivas e negativas que,
muitas vezes, correspondem aos grupos em disputa na sociedade. Nas ciências humanas, por exemplo,
encontramos paradigmas de explicação da realidade voltados à naturalização e manutenção da ordem
social hegemônica, mas também encontramos teorias que possibilitam a crítica dessa ordem e apontam
para sua superação. Aceitar que a ciência possui uma autonomia relativa é ter consciência que existe uma
realidade objetiva a ser representada e que a forma de aproximação a essa realidade (o método ou os
óculos a serem utilizados) irá possibilitar maior ou menor acuidade nesta representação.
PARTE 1 – Experiências e Práticas Científicas em
Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil
A Contribuição da UnB aos Estudos
Sociais de Ciência e Tecnologia
Fernanda A. da F. Sobral
Introdução
E
ste capítulo apresenta a contribuição do Programa de Pós-
Graduação em Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) para
os Estudos Sociais em Ciência e Tecnologia. Faz uma retrospectiva
histórica da produção do referido programa na linha de pesquisa,
que hoje se intitula “Educação, Ciência, Tecnologia”, desde a
criação do Programa em 1970 até o ano 2016. Essa retrospecção ocorre pela
análise de dados quantitativos referentes à produção e também da análise
dos temas estudados e das formas de abordagem predominantes nas
dissertações e teses dos estudantes além das principais publicações
(artigos, capítulos e livros) dos professores desta área de pesquisa. Ao fim,
aponta como os temas e as abordagens estão relacionados às principais
tendências de avanços nas ciências sociais e também a certas características
dos contextos social, político, econômico e institucional, evidenciando-se a
associação entre o social e o cognitivo no processo de produção de
conhecimento. Mostra ainda que, a produção de conhecimento, aliada à
formação de recursos humanos, contribui também, de forma expressiva,
para a elaboração de políticas públicas nesta área.
As origens
Os números indicam
Os temas “falam”
Conclusão
Sebastião Rodrigues-Moura
Rafael Cordeiro-Rodrigues
Alexandre Guimarães Rodrigues
Licurgo Peixoto de Brito
Reflexões iniciais
E
m primeiro lugar, é preciso voltarmos nossos olhares ao contexto
educacional brasileiro, em especial durante a década de 1980,
período em que se iniciou um movimento por uma educação em
Ciências que trouxesse contribuições alinhadas à compreensão e
ao uso da tecnologia e para a consolidação da democracia
(AMORIM, 1995). Esse movimento foi apoiado por estudiosos e
pesquisadores da área, os quais buscaram influenciar nas discussões sobre
questões relacionadas à Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS).
Nesse formato de movimento educacional, observa-se um debate
fomentando as temáticas e propostas alinhadas à formação docente em
Ciências com enfoque em CTS, por ser considerado entre os teóricos uma
abordagem ampla e apresentar convergências entre os pesquisadores da
área e adeptos da linha formativa.
No contexto amazônico, apesar de uma ação incipiente, o movimento CTS
tem ganhado espaço em grupos de estudos e pesquisas, nos programas de
formação de professores – cursos de licenciatura –, com mais eficácia na
pós-graduação, pela existência de linhas de pesquisas e áreas de
concentração relacionadas à temática e ao formato, tanto de propostas
voltadas para o processo ensino-aprendizagem quanto de abordagem
aplicadas a contextos reais da sala de aula e na formação de professores de
Ciências e Matemática na região.
Observa-se, na literatura, o crescente interesse de novos pesquisadores e
preocupações emergentes em torno da temática CTS na educação, o que traz
resultados e novas propostas didáticas e sua diversificação no âmbito
educacional (STRIEDER, 2012). Esse subsídio, dado por estudiosos e
pesquisadores da área, tem feito com que a demanda no entorno da
abordagem CTS para a educação em ciências traga contribuições
interessantes para o contexto amazônico, enfoques qualitativos mais
aplicados em sala de aula e, principalmente, seja elemento-chave para que
novos estudiosos e, sobretudo professores em formação possam se
apropriar da temática e analisar outras vertentes.
Como motivação inicial para esta discussão, destacamos a influência do
enfoque CTS na educação brasileira desde 1980, o aumento da diversidade
de propostas em torno da temática e, em especial o fato de que a educação
com enfoque em CTS apresenta um respaldo legal nos documentos oficiais
da educação nacional. Apresenta também indícios e elementos que podem
ser observados em projetos de formação pedagógica em ciências na
Amazônia, a citar os elementos encontrados nos programas curriculares dos
cursos de formação docente no Estado do Pará.
Enquanto professores-pesquisadores, consideramos como ação pertinente
para a literatura da área a nossa atitude em analisar elementos da educação
CTS presentes nos projetos de formação docente de ciências no contexto
amazônico-paraense. Entre as intenções iniciais, apresentamos:
I. A possibilidade da educação CTS no contexto amazônico-paraense de
formação docente;
II. Elementos e indícios associados ao desenvolvimento de práticas de
professores em formação com abordagem CTS na região.
Percurso metodológico
Compreendemos que essas quatro etapas da ATD são relevantes para que
possamos chegar aos objetivos propostos e conseguir apresentar uma
análise mais detalhada dos elementos obtidos em nossa investigação.
Para além do que foi destacado, notamos que a formação cidadã para o
contexto amazônico é crucial para os sujeitos, pois a educação deve
considerar a realidade na qual os estudantes estão inseridos para que a
aprendizagem não fique pouco limitada à atuação dos sujeitos/cidadãos. E a
formação de professor com esse perfil é delineada para que haja
contrapartida no processo de ensino-aprendizagem, a fim de aumentar a
criticidade dos docentes e, sobretudo, para que eles determinem valores e
discursos que os direcionem nas práticas pedagógicas diversificadas.
Essa formação permite:
Garantir o acesso ao conhecimento produzido e acumulado, de modo a
contribuir para o exercício pleno da cidadania, fundada em
formação humanística, crítica, reflexiva e investigativa (L15, 2008, p.
4 – Grifos nossos).
São esses aspectos da abordagem CTS observados e analisados nos PPCs dos
cursos de formação de professores de Ciências no contexto amazônico-
paraense que consideramos relevantes, pelo fato de priorizarem a
valorização das relações interpessoais dos sujeitos, o desenvolvimento da
autonomia, a formação crítico-reflexiva, a formação cidadã e a tomada de
decisão, entre outros elementos intrínsecos à educação CTS.
Tecendo considerações
Referências
10 Essa proposta foi originalmente desenvolvida por Brito (2004) e intitulada Ensino de Física Através de
Temas (EFAT).
Um só basta? Agenciando gametas e noções de
gênero na Reprodução Assistida (RA)
Débora Allebrandt
Introdução
H
á décadas, pesquisadores das mais diversas áreas de estudo têm
se dedicado a trabalhar as implicações, agenciamentos e tabus
da ausência involuntária de filhos, comumente associada a
terminologia biomédica da infertilidade (COLLIER;
YANAGISAKO, 1987; CORRÊA, 2000; COSTA, 2002; FRANKLIN,
1997; INHORN; BALEN, 2002; LUNA; DUARTE, 2004; RAMÍREZ-GÁLVEZ,
2009; SILVA; MACHADO, 2009; STRATHERN, 1992; TAMANINI, 2010;
THOMPSON, 2001, 2005).
Inhorn e Balen (2002) discutem as tensões entre o uso corriqueiro da
palavra infertilidade versus o termo ausência involuntária de filhos. O
objetivo dos autores é dissociar o ter ou não ter filhos de uma perspectiva
biomédica que, muitas vezes, não está associada a um diagnóstico e
tratamentos de infertilidade. Há na utilização do termo ausência
involuntária de filhos uma tentativa de contextualizar o desejo de ter filhos
e dar espaço para expectativas diversas de filiação. Trata-se de uma
sinalização de que, em determinados contextos, ter um filho em vez de cinco
pode ser compreendido como o mesmo que não ter filho algum. Portanto,
falar em ausência involuntária de filhos permite demarcar experiências
semelhantes de pessoas com e sem filhos sob o mesmo espectro de estigma
e tabu que paira sobre a infertilidade, independente de qualquer condição
biomédica.
Um dos principais tabus associados à infertilidade gira em torno das
múltiplas facetas da culpabilização da mulher pela condição de
“infertilidade”. Representações da cultura popular situam uma mulher sem
filhos como uma “árvore seca” e associam a fertilidade e a reprodução à
realização da mulher (MARTIN, 1991a; ROHDEN, 2001; STRATHERN, 1991).
Os estudos feministas contribuíram em muito no deslocamento dessas
construções que associam a maternidade a um caminho inevitável na vida
das mulheres. Em parte, a essencialização desse papel, fortemente associada
ao sonho de um filho biológico, lançado pela RA foi duramente criticada por
esses estudos.
Charis Thompson (2005) demonstra como os estudos feministas passaram
de uma crítica ferrenha a RA para um entendimento das escolhas
individuais envolvidas ali.
Muitos teóricos desenvolveram críticas da centralidade da intervenção da
RA sobre o corpo da mulher (COLLIER; YANAGISAKO, 1987; CORRÊA, 2001;
FRANKLIN; ROBERTS, 2006; NAARA LUNA, 2007; RAMÍREZ-GÁLVEZ,
2014; STRATHERN, 1991; TAMANINI, 2004). No entanto, ainda são pouco
numerosos os estudos nas ciências humanas e especialmente na
antropologia que considerem a infertilidade a partir da experiência dos
homens (NASCIMENTO, 2011).
No entanto, a preocupação com os homens no universo da RA era central
para um de meus interlocutores. Durante minha pesquisa de pós-doutorado,
realizada entre 2013-2015 em uma clínica de RA em Porto Alegre, meu
principal interlocutor sempre reclamava dos homens. Inconsolável, ele me
dizia: “Você precisa estudar isso, entender por que os homens não aceitam
intervenções como as mulheres aceitam…”. Depois dessa frase seguiam-se
uma série de exemplos em que homens com “esperma ruim” arruinariam
um excelente resultado na estimulação ovariana e finalmente “estragando
[potenciais] embriões”.
Durante essa pesquisa, meu principal foco foi entender a utilização de
espermatozoide heterólogo por meio da doação anônima organizada por
um banco de sêmen no Brasil e as dinâmicas de criopreservação de
embriões, sua circulação e agenciamentos (ALLEBRANDT, 2018). Mais
recentemente, ao adentrar outra fase de análise dos dados produzidos,
busquei descentralizar a preocupação do meu interlocutor em entender o
porquê de os homens não serem “bons pacientes” a fim de buscar
compreender como novos dados e técnicas ajudam a configurar
contemporaneamente o problema da infertilidade masculina – ou o “fator
masculino”. Na fala de meu interlocutor, muitas vezes o “ser” um bom
paciente estava associado à capacidade de aceitar o uso de material
heterólogo para fins de fertilização –simplesmente utilizar sêmen de um
doador.
Para a pesquisa que venho desenvolvendo, tomo os dados de campo que
apontam para o problema da qualidade do sêmen e procuro contextualizar e
tencionar o modo como esses dados fazem eco nas pesquisas realizadas no
Brasil e no mundo sobre esse tema. Trata-se de uma pesquisa documental e
qualitativa dividida em duas fases. Na primeira, será analisado o material
publicado em periódicos científicos brasileiros e, na segunda fase, a
pesquisa será expandida para portais e indexadores de periódicos
internacionais, privilegiando as publicações em inglês. Os dados coletados
serão classificados e triados com a ajuda do software de análise de dados
qualitativos Nvivo.
A hipótese trabalhada é a de que ainda parece existir uma grande ênfase no
desenvolvimento de tecnologias e intervenções reprodutivas voltadas
hegemonicamente para o corpo da mulher (ROHDEN, 2001) e que, a partir
de 1992, com o advento da Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide
(ICSI), não houve novos desenvolvimentos tecnológicos para o tratamento
da infertilidade masculina. O ano de 1992 foi tomado como um marco
temporal, pois, a ICSI, chamada também de “técnica do espermatozoide
preguiçoso”, foi popularizada como a solução para a infertilidade masculina,
ainda que não tenha sido desenvolvida para esse fim11.
Para melhor compreender esse problema, cabe ainda perguntar quais os
tipos de intervenção e produção técnicas são pensadas para os corpos
masculinos? Como marcadores sociais da diferença, especialmente de
gênero, influenciam práticas de pesquisa e clínica no contexto da RA? E
ainda, de que modo a ausência ou presença de produções bibliográficas nas
ciências da saúde sobre o “fator masculino” na RA dialogam com o contexto
prático da clínica em Porto Alegre?
Essa discussão inicia-se abordando uma das principais reflexões acerca da
diferença do tratamento científico entre os sexos e os estereótipos de
gênero e uma atualização desse problema. Em seguida, exploram-se alguns
dos dados coletados no contexto das pesquisas realizadas no Brasil.
Corpos e obstáculos
O artigo foca a comparação entre fator masculino e fator tubário. Como fugir
das dicotomias e oposições simplistas entre homens e mulheres? Quais são
os critérios que justificam a comparação entre o fator tubário e a
infertilidade masculina? Para além dessa escolha aleatória, é preciso atentar
para o fato de que o método divide os resultados a partir da idade materna.
Não é citada idade do homem. No corpo do artigo lê-se uma referência à
idade dos homens, mas, apesar de ser mais elevada que a média etária das
mulheres, não é levada em consideração. É preciso notar que, apesar de
estudos apontarem que os homens e suas células também envelhecem, esse
importante aspecto é negligenciado em um artigo que se propõe a pautar a
infertilidade masculina. De modo semelhante ao que Gallo (2017) anuncia
na reportagem veiculada na CBN, discutida anteriormente, é dito que há
evidências do impacto da idade do homem para a fertilidade, mas esse
impacto não é o mesmo que o das mulheres e pode ainda ser
desconsiderado já que a espermogênese produz muitos espermatozoides.
Há também uma divisão sexual do trabalho reprodutivo que parece seguir
uma série de pressupostos como o de que a idade da mulher é mais
relevante para avaliar a infertilidade masculina do que a do homem. Essa
lógica é conduzida para outras esferas como a doação de gametas no Brasil.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) contava um uma resolução de 1992
para reger os assuntos de reprodução assistida. A resolução cita o
anonimato da doação e está centrada na mulher receptora e não na doadora.
IV - DOAÇÃO DE GAMETAS OU EMBRIÕES
1 - A doação nunca terá caráter lucrativo ou comercial.
2 - Os doadores não devem conhecer a identidade dos receptores e vice-
versa.
3 - Obrigatoriamente será mantido o sigilo sobre a identidade dos
doadores de gametas e embriões, bem como dos receptores. Em situações
especiais, as informações sobre doadores, por motivação médica, podem
ser fornecidas exclusivamente para médicos, resguardando-se a
identidade civil do doador.
4 - As clínicas, centros ou serviços que empregam a doação devem
manter, de forma permanente, um registro de dados clínicos de caráter
geral, características fenotípicas e uma amostra de material celular dos
doadores.
5 - Na região de localização da unidade, o registro dos nascimentos
evitará que um(a) doador(a) venha a produzir mais do que uma gestação
de criança de sexo diferente numa área de um milhão de habitantes.
6 - A escolha dos doadores é de responsabilidade da unidade. Dentro do
possível deverá garantir que o doador tenha a maior semelhança
fenotípica e imunológica e a máxima possibilidade de compatibilidade
com a receptora.
7 - Não será permitido ao médico responsável pelas clínicas, unidades ou
serviços, nem aos integrantes da equipe multidisciplinar que nelas
trabalham participar como doador nos programas de RA.
11 Essa técnica, desenvolvida a partir da Fertilização in vitro (FIV), introduziu também uma interferência
da RA nos processos “naturais” da reprodução. Com a FIV, óvulo e espermatozoides eram colocados em
um meio de cultura e naturalmente os óvulos eram fertilizados. Com a ICSI, os embriologistas
selecionam um espermatozoide e o injetam dentro do óvulo, induzindo a fecundação. Retira-se desse
processo a “seleção natural”
12 Gallo, 2017.
13 O especialista está se referindo ao trabalho apresentado no Congresso Anual da European Society for
Human Reproduction and Embriology, que ocorreu em 2017 em Genebra. O trabalho de L. Dodge, A.
Penzias e M. Hacker, intitulado “The impact of male partner age on cumulative incidence of live birth
following in vitro fertilization” foi apresentado na sessão 49 e seu resumo pode ser consultado no link:
<https://www.eshre.eu/Annual-Meeting/Geneva-2017/Searchable.aspx#!abstractdetails/0000492970>.
Acesso em 18/06/2018.
14 A tradução do texto está disponível em
<http://www.necso.ufrj.br/Trads/O%20ovo%20e%20o%20esperma.htm>. Acesso em 18/06/2018. Todos
os trechos traduzidos foram retirados dessa tradução.
15 A menstruação é um tema tabu e suas potencialidades e perigos foram amplamente explorados por
Mânica e Mânica e Rios (MANICA, 2011, 2016; MANICA; RIOS, 2016).
16 No texto original lê-se: “Yet ovulation does not merit enthusiasm in these texts either. Textbook
descriptions stress that all of the ovarian follicles containing ova are already present at birth. Far from
being produced, as sperm are, they merely sit on the shelf, slowly degenerating and aging like
overstocked inventory: ‘At birth, normal human ovaries contain an estimated one million follicles [each],
and no new ones appear after birth. Thus, in marked contrast to the male, the newborn female already has
all the germ cells she will ever have. Only a few, perhaps 400, are destined to reach full maturity during
her active productive life. All the others degenerate at some point in their development so that few, if
any, remain by the time she reaches menopause at approximately 50 years of age.’ Note the ‘marked
contrast’ that this description sets up between male and female: the male, who continuously produces
fresh germ cells, and the female, who has stockpiled germ cells by birth and is faced with their
degeneration.”
17 Em outra ocasião desenvolvi as transformações dessa passagem de dentro para fora do corpo a partir da
reflexão de Rose (2007) acerca da molecularização/molarização da ciência e sua interface com a saúde.
18 Organização sem fins lucrativos, criada por doadoras de óvulos em diferentes países, com sede nos EUA
e Canadá. Para mais informações ver: <http://www.weareeggdonors.com/blog>. Acesso em 18/06/2018.
Práticas Biomédicas e
Novas Materializações de Gênero
e Sexualidade Feminina
Fabíola Rohden
N
o Brasil, assim como em muitos outros países, as concepções e
práticas vigentes atualmente em termos de perspectivas,
orientações e tratamentos de questões relativas à sexualidade
estão largamente ancoradas nos parâmetros da biomedicina e
na noção de disfunções sexuais19. O objetivo deste capítulo é
discutir que tipo de abordagem e de tratamento relativos à sexualidade
feminina são praticados no contexto do atendimento médico privado
oferecido em uma das grandes cidades do país20. Esse interesse é
decorrente de, pelo menos, duas percepções, relacionadas aqui a duas
intenções: a primeira delas de caráter empírico e a segunda, de cunho
teórico.
No primeiro caso, trata-se do reconhecimento, em função de pesquisas já
realizadas, de que também no Brasil assistimos, especialmente desde o final
do século XX, a um processo acentuado de medicalização e, mesmo,
farmaceuticalização da sexualidade. Entende-se por via desses conceitos
que aspectos até então não diretamente passíveis de intervenção médica
passam a ser concebidos e tratados por meio de concepções e recursos
terapêuticos advindos da biomedicina21. O caso da disfunção sexual
masculina, ou mais especificamente disfunção erétil, é definido como um
dos melhores exemplos do processo de criação de um diagnóstico em
função da existência de um novo fármaco destinado a seu tratamento. A
promoção, especialmente por parte de urologistas vinculados à indústria
farmacêutica, dessa disfunção como gradual, temporária e passível de
tratamento, ao lado da valorização da sexualidade ou da potência sexual
associada a juventude, saúde e bem-estar, foi fundamental para o sucesso de
medicamentos como o Viagra e seus similares22.
ABRAHAMSSON, S.; BERTONI, F.; MOL, A.; MARTÍN, R. I. Living with omega
3: new materialism and enduring concerns. Environment and Planning D:
Society and Space, v. 33, p. 4-19, 2015.
CLARKE, A. E.; SHIM, J.; MAMO, L.; FOSKET, J.; FISHMAN, J. (Ed.).
Biomedicalization technoscience and transformations of health and
illness in the U.S. Durham: Duke University Press, 2010.
CONRAD, P. Medicalization of Society: on the transformation of human
conditions into treatable disorders. Baltimore: The Johns Hopkins Univ.
Press, 2007.
DUMIT, J. Drugs for life: how pharmaceutical companies define our health.
Durham and London: Duke University Press, 2012.
FARO, L. F. T. Mulher com bigode nem o diabo pode: um estudo sobre
testosterona, sexualidade feminina e biomedicalização. 2016. Ph. D. Thesis –
Federal University of Rio de Janeiro, Brazil, 2016.
FARO, L. F. T.; CHAZAN, L. K.; ROHDEN, F.; RUSSO, J. Man with a capital ‘M’.
ideas of masculinity (re)constructed in pharmaceutical marketing.
Cadernos Pagu, v. 40, p. 287-321, 2013.
FARO, Livi; RUSSO, Jane. Testosterona, desejo sexual e conflito de interesse:
periódicos biomédicos como espaços privilegiados de expansão do mercado
de medicamentos. Horizontes Antropológicos, v. 23, n. 47, p. 61-92, 2017.
FAUSTO-STERLING, A. Sexing the body: gender politics and the
construction of sexuality. Nova York: Basic Books, 2000.
FAUSTO-STERLING, A. ʻFemale Viagra’ is no feminist triumph. Boston
Review, v. 23, nov. 2015.
FISHMAN, J. Manufacturing desire: the commodification of female sexual
dysfunction. Social Studies of Science, v. 34, n. 2, p. 187-218, 2004.
GAIMI, A. De l’impuissance à la dysfonction éretile: destins de la
médicalization de la sexualité. In: FASSIN, D.; MEMMI, D. (Ed.). Le
gouvernemant des corps. Paris: Éditions EHESS, 2004. p. 77-108.
HARAWAY, D. Situated knowledges: the science question in feminism and
the privilege of partial perspective. Feminist Studies, v. 14, n. 3, p. 575-599,
1988.
HARTLEY, H. The ‘pinking’ of Viagra culture: drug industry efforts to create
and repackage sex drugs for women. Sexualities, v. 9, n. 3, p. 363-378,
2006.
HOBERMAN, J. Testosterone dreams – Rejuvenation, aphrodisia, doping.
Berkeley: Univ. of California Press, 2005.
LAW, J. After ANT: complexity, naming and topology. In: LAW, J.; HASSARD,
J. (Ed.). Actor – Network theory and after. Oxford: Blackwell, 1999. p. 1-
14.
LAW, J. After method: mess in social science research. New York:
Routledge, 2004.
LAW, J.; MOL, A. Notes on materiality and sociality. The Sociological
Review, v. 43, p. 274-294, 1995.
LEXCHIN, J. Bigger and better: how Pfizer redefined erectile dysfunction.
Plosmedicine, v. 3, n. 4, p. 1-4, 2006.
LOE, M. Fixing broken masculinity: Viagra as a technology for the
production of gender and sexuality. Sexuality and culture, v. 5, n. 3, p. 97-
125, 2001.
LOE, M. The rise of Viagra: how the little bleu pill changed sex in America.
New York: New York Universtiy Press, 2004.
MACHADO, P. S. Intersexuality and the ʻChicago Consensus’: the vicissitudes
of nomenclature and their regulatory implications. Revista Brasileira de
Ciências Sociais, v. 23, n. 68, p. 109-123, 2008.
MANICA, Daniela; NUCCI, Marina. Sob a pele: implantes subcutâneos,
hormônios e gênero. Horizontes Antropológicos, v. 23, n. 47, p. 93-129,
2017.
MARSHALL, B. Science, medicine and virility surveillance: ʻsexy seniors’ in
the pharmaceutical imagination. Sociology of Health & Illness, v. 32, n. 2,
p. 211-224, 2010.
MARSHALL, B.; KATZ, S. Forever functional: sexual fitness and the ageing
male body. Body & Society, v. 8, n. 4, p. 43-70, 2002.
MOL, A. Ontological politics: a word and some questions. In: LAW, J.;
HASSARD, J. (Ed.) Actor – Network theory and after. Oxford: Blackwell,
1999. p. 74-89.
MOL, A. The body multiple: ontology in medical practice. New York: Duke
University Press, 2002.
MOL, A. Mind your plate! The ontonorms of dutch dieting. Social Studies of
Science, v. 43, n. 3, p. 379-396, 2012.
MOL, A.; LAW, J. Regions, networks and fluids: anaemia and social topology.
Social Studies of Science, v. 24, p. 641-671, 1994.
MOL, A.; LAW, J. Embodied action, enacted bodies: the example of
hypoglycaemia. [S.l. : s.n.t.]: Centre for Science Studies, Lancaster University,
2004. Disponível em: <http://www.comp.lancs.ac.uk/sociology/
papers/Mol–Law–Embodied–Action.pdf>.
MOYNIHAN, R.; MINSTZES, B. Sex, lies + Pharmaceuticals: how drug
companies plan to profit from female sexual dysfunction. Vancouver:
Reystone, 2010.
OUDSHOORN, N. Beyond the natural body: an archeology of sex hormones.
London: Routledge. 1994.
ROBERTS, C. Messengers of sex: hormones, biomedicine and feminism.
New York: Cambridge University Press, 2007.
ROBERTS, C. Puberty in crisis: the sociology of early sexual development.
New Yor: Cambridge University Press, 2015.
ROHDEN, F. The reign of hormones and the construction of gender
differences. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 15, p. 133-152,
2008.
ROHDEN, F. Accessed through sex: the medicalization of male sexuality at
two different moments. Ciência e Saúde Coletiva, v. 17, p. 2645-2654,
2012.
ROHDEN, F. Gender differences and the medicalization of sexuality in the
diagnosis of sexual dysfunctions. In: Sexuality, culture and politics: a
South American reader. Rio de Janeiro: CEPESC/CLAM, 2013. p. 620-638.
ROSE, N. The politics of life itself: biomedicine, power, subjectivity in the
twenty –First century. Princeton: Princeton University Press, 2007.
RUSSO, J.; ROHDEN, F.; FARO, L.; NUCCI, M.; GIAMI, A. Clinical sexology in
contemporary Brazil: the professional dispute among divergent medical
views on gender and sexuality. International Journal of Sexual Health, v.
25, p. 59-74, 2013.
SANABRIA, E. From sub–to super–citizenship: sex hormones and the body
politic in Brazil. Ethnos Journal of Anthropology, v. 75, n. 4, p. 377-401,
2010.
TIEFER, L. Female sexual dysfunction: a case study of disease mongering
and activist resistance. Plosmedicine, v. 3, n. 4, p. 1-5, 2006.
WILLIAMS, S. J.; MARTIN, P.; GABE, J. The pharmaceuticalisation of society?
A framework for analysis. Sociology of Health & Illness, v. 33, n. 5, p. 710-
725, 2011.
Ricardo T. Neder
Introdução
***
Referências
Referências
31 Algumas das questões-chave aqui discutidas foram dialogadas durante a Esocite Brasil, em 2017, na
Universidade de Brasília (UnB). Este capítulo tem por base quase 10 anos de pesquisas sobre diferentes
escopos e problemáticas vinculados ao grupo de pesquisa Observatório do Movimento pela Tecnologia
Social na América Latina e Caribe, ao Núcleo de Política CTS do Instituto de Estudos Avançados
CEAM (Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares) da UnB (www.npcts.ceam.unb.br) e à
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da UnB. Todas têm em comum a atuação com e a
partir de experiências populares paradigmáticas de adequação sociotécnica entre trabalhos de
pesquisadores na universidade e movimentos sociais, instituições e políticas públicas de Ciência &
Tecnologia, arranjos autogestionários de economia solidária, grupos sociais urbanos e rurais no Brasil e
América Latina, considerando elementos sociocognitivos e formação sociotécnica por experiências para
novos formatos de políticas de C&. Apoios: (2010-15) CAPES, Escola de Altos Estudos (2009/2010
proc.aux.pe.eae 1365/2009 e Proc. aux-pe-eae 042/2013); CNPQ (Proc. 420377-2013-1), CAPES
Estágio Sênior junto ao Instituto de Estudíos Sociales de la Ciencia y Tecnología – Univ. Nac. Quilmes,
Argentina, 2015; CNPq/SENAES Edital ITCP 2017 (Proc. 441.893/2017-1); e CAPES/Escola de Altos
Estudos (2017-18) para o Ciclo III de Estudos CTS Formação científica contemporânea e a
democratização do projeto tecnológico – UnB (Proc. Capes/Eae 88881. 123112/2016-01).
Para Concebir una Política
Cognitiva para la Retomada
Renato Dagnino
Introducción
E
ste trabajo es la cuarta versión de un documento preparado en el
marco de un proceso de discusión en un grupo de militantes de
izquierda brasileños cuyo coordinador solicitó que yo resumiera
en dos páginas los argumentos que había expuesto en una
reunión que tuvimos. Para atender a ese requisito, adopté el estilo
– “si quiere saber más” lea la nota – insertando diecinueve notas de fin de
documento, dispensé referencias bibliográficas y escribí lo menos posible.
Ese documento fue traducido al español y publicado en el número 22,
Ciencia e Izquierda, de la revista uruguaya Hemisferio Izquierdo del 20 de
junio de 2018 y está disponible en
<https://www.hemisferioizquierdo.uy/articulos/author/Renato –
Dagnino>.
Posteriormente, una adaptación para la misma lengua que intercaló
aquellas notas en el texto principal fue publicada en la revista Ciencia,
Tecnología y Política Año 1 Número 1, 2018, de la Universidad de La Plata,
con el título “Elementos para una Política Cognitiva, popular y soberana”.
Ella se encuentra disponible en
<https://revistas.unlp.edu.ar/CTyP/article/view/5909>.
Fue con base en esa tercera versión, más adaptada al formato de este libro,
que preparé este trabajo. Mantuve su tono – conciso y directo – porque él
me parece apropiado para asumir la urgente y prácticamente insustituible
tarea que tenemos l@s investigador@s del campo de los Estudios Sociales
de la Ciencia y la Tecnología (ESCT) de reflexionar y explicar la paradójica
complejidad de la coyuntura que estamos enfrentando. Y también porque
creo que es@s compañer@s a las que él ahora se destina están, mucho más
que el grupo para el cual fue producido aquel documento, familiarizado con
esos argumentos; lo que haría redundante detallarlos.
De hecho, la actual coyuntura, marcada por el hecho de que hoy gobiernan
varios países latinoamericanos fuerzas políticas cuyo modelo de desarrollo
prescinde de la concreción de las promesas que ha hecho la élite científica,
de contribuir en el plano cognitivo hacia una sociedad igualitaria, justa y
ambientalmente responsable, difícilmente podrá ser explicada por otro
actor que no la nuestra comunidad de los ESCT.
Para empezar, hay que advertir que el modo consecuente, incisivo y
expedito, como ellas vienen cortando drásticamente el recurso asignado a la
política cognitiva (de educación y de ciencia y tecnología) era de esperar. Y
explicar porque los que se beneficiarían de la concreción de aquellas
promesas – los estratos sociales subalternos – no se están movilizando para
oponerse al corte.
También hay que dilucidar la forma como la élite científica – el segmento de
la comunidad de investigación que controla esa política – viene tratando de
sensibilizar a esos estratos ya la opinión pública invocando, de una manera
a menudo corporativa y artificial, la relevancia de las actividades a que se
viene dedicando.
Hay que reiterar que l@s investigador@s que se dedican, desde su
surgimiento de los ESCT en América Latina, y que por ello siempre lucharon
– en el campo académico, de la policy y de la politics – para que esas
promesas se concreten, no se hurtan a denunciar ese corte.
Además, para ser coherentes con nuestra trayectoria, es necesario que
llamemos a la élite científica, que elabora la política cognitiva y el conjunto
de la comunidad de investigación a comprometerse con la concreción de
aquellas promesas de modo a retribuir a aquellos estratos subalternos el
impuesto que pagan para financiarla.
No sería legítimo si, al recuperar el presupuesto dedicado al complejo de
instituciones públicas de enseñanza e investigación, esos estratos
continuasen teniendo las demandas cognitivas asociadas a sus necesidades
materiales excluidas de las agendas que lo ocupan.
Un diagnóstico
Cursos de acción
A modo de conclusión
La perspectiva de que las fuerzas políticas conservadoras que hoy
gobiernan varios países latinoamericanos sean derrotadas, y que un modelo
de desarrollo igualitario, justo y ambientalmente responsable sea
implementado, reserva a los investigadores e investigadoras de los ESC T un
papel esencial. Corresponde a nosotros, revertida la actual coyuntura, hacer
que el recurso destinado a la política cognitiva en las instituciones públicas
de enseñanza e investigación sea orientado a satisfacer las demandas
cognitivas asociadas a ese modelo. Y, en especial, a concretar aquellas
promesas que hace la élite científica y así retribuir el impuesto que pagan
los estratos subalternos para financiar la política cognitiva.
Es para desempeñar este papel que este texto pretende contribuir.
“Somos” = “Temos”
Fernando Severo
Henrique Cukierman
Isabel Cafezeiro
Ivan da Costa Marques
Rodrigo Primo
C
onsta que houve entre os dois grandes romancistas norte-
americanos a seguinte troca de frases:
***
***
***
As comunidades de software livre tipicamente se identificam como
comunidades globais. O efeito decorrente da informação que integra o
quase “senso comum” da participação aberta no software livre faz que, com
a ausência de propriedade, nós, brasileiras, não sem certa ironia nas
palavras, “temos” o software livre, o que nos leva à ideia de que “somos”
atrizes neste importante campo da atividade informática.33 Um exame
minucioso, no entanto, revela um descompasso até certo ponto
surpreendente, entre o que os brasileiros e as brasileiras acreditamos e
indulgentemente até nos autoincentivamos a acreditar que “somos” –
atrizes de peso significativo no software livre – e o que “temos”, obrigando-
nos a reconhecer que não “somos” o que pensamos que “somos” porque não
“temos” entre nós, em escala significativa e proporcional, a residência de
autoras do software livre.
***
Trazemos uma quarta situação, que se faz visível aqui e mundo afora, em
que há um descompasso entre o que cientistas (ciência) e profissionais
(trabalho) da computação pensamos que “somos” e o que efetivamente
“temos”, no que diz respeito aos programas que escrevemos. Esse
descompasso se sustenta em uma separação entre o pensar e o fazer, que
por sua vez tem suas bases na separação entre mente e corpo. Na narrativa
que conduzimos aqui, a sobrevalorização daquilo que se estabelece como
ciência–pensar–mente se faz diretamente presente em nossas vidas, ao
demarcar um território especialmente reservado para o software
proprietário. Se “somos” cientistas, “temos” o software proprietário, que,
por ser validado e certificado pelos pressupostos de exatidão e objetividade
da lógica matemática, tem justificado o seu preço estratosférico. Se “somos”
engenheiros, “temos” o código aberto, que opera no mundo da vida, pela
dinâmica e fluidez dos processos sociais, contaminado pelo trabalho–fazer–
corpo.
Na Ciência da Computação, chamamos de “especificações formais de
software” as descrições abstratas de um software, em linguagem lógico-
matemática. A meta é que dessa descrição matemática se possam derivar
implementações, bem como provar propriedades sobre o software.
Costuma-se dizer que o software que cumpre com propriedades expressas
em sua especificação formal está “formalmente verificado”, ou seja, pode ser
considerado correto e confiável. Essa concepção que situa o software como
um objeto formal nasceu na conveniência de estabelecer o campo da Ciência
da Computação como ciências exatas, como se vê nas declarações dos
cientistas fundadores desse campo na década de 1960: “Programação de
computadores é uma ciência exata, em que todas as propriedades de um
programa e todas as consequências de executá-lo em qualquer ambiente
podem, em princípio, ser encontradas no próprio texto do programa através
de raciocínio puramente dedutivo”38 (HOARE, 1969: 576). Todavia, ainda na
década de 1960, acreditar que “somos” matemáticos, supostamente
habitantes de um mundo formal, encontrava resistência por parte daqueles
que entendiam que o que “temos” na construção de software (assim como
na própria matemática) é uma atividade coletiva, cujo sucesso depende de
negociação: “(…) o estudo de algoritmos e modelos de programas se
desenvolverá como qualquer outra atividade matemática, principalmente
por meio de mecanismos sociais informais, e muito pouco, ou mesmo nada,
por meio de mecanismos formais”39 (De MILLO, Lipton et al., 1979: 277).
***
Uma parte cada vez maior do cotidiano das pessoas se aloja no ciberespaço.
Antes visto como o lugar das realidades virtuais, um lugar que se dizia sem
espaço (“a spaceless place”), o ciberespaço torna-se cada vez um lugar real
por onde as pessoas transitam em suas atividades cotidianas. As portas de
entrada e saída desse lugar encontram-se na materialidade dos teclados,
dos controles (mouses), das telas, dos óculos e das cada vez mais diversas
próteses. Tornou-se mais visível que a cada dia atravessamos diversas vezes
essas portas, intercalando idas e vindas ao ciberespaço (onde as coisas
acontecem nas memórias das máquinas) no fluxo de nosso mundo da vida.
Houve eleições em 2018 no Brasil. Na cabine eleitoral, “somos” eleitores que
rapidamente entram e saem de um ciberespaço, transitando pelas portas
oferecidas pela urna eletrônica que “temos” crucialmente imbricada com a
sociedade e, de modo geral, enaltecida por aqueles “somos” que “detêm” os
demais dispositivos que a sustentam na rede. Dizem eles hoje:
[e]scolhemos pelo voto, em eleições absolutamente livres e promovidas
com imensa eficiência e com competência pelo Tribunal Superior
Eleitoral, os ocupantes do poder executivo. Se há uma coisa que deu certo
(nos quase trinta anos de regime democrático) foi o aperfeiçoamento do
nosso processo eleitoral. Hoje, é todo controlado eletronicamente, sem
fraudes, sem filas, sem os inconvenientes “cabos eleitorais” e o melhor: é
rápido. (Antonio Delfim Netto, Folha de São Paulo, 24∕05∕2017, p. A2)
(ênfase acrescentada).
Observações finais
Por serem mais atrelados ao mundo da vida, o único mundo em que, aqui e
agora, cada um goza, sua, ama e odeia, os “temos” oferecem mais clareza e
maior potencial de mobilização do que os “somos”, mais permeáveis às
promessas mistificadoras. À guisa de conclusão, naquela mesa do V
Congresso da Associação Brasileira de Estudos Sociais das Ciências e das
Tecnologias (ESOCITE.BR) defendemos a ideia de que, nos debates sobre o
que seria “o Brasil que eu quero”, devemos inclinar a balança, aumentando o
peso dos circunstancialistas “temos” em relação aos essencialistas “somos”.
Referências
32 “Uma população indígena conta ‘1, 2, 3, 4, 5, muitos’, possivelmente porque não necessita de um
conceito de acumulação como o nosso, e daí não faz sentido para eles contar além do 5, distinguir o 6 do
7, ou o 1.000 do 2.000” (FERREIRA, E. S., 2005). Racionalidade dos índios brasileiros. Scientific
American Brasil, v. 11, p. 90-93. (Edição Especial Etnomatemática).
33 Opta-se nesta seção por usar o feminino no lugar do masculino para se referir a ambos os gêneros.
Espera-se com isso convidar a leitora a uma reflexão sobre as desigualdades entre homens e mulheres.
No contexto da Engenharia de Software, essa desigualdade se manifesta de diversas maneiras, como ao
favorecer as alterações de código feitas por homens em comparação com as alterações feitas por
mulheres, conforme demonstrado por uma análise das contribuições feitas utilizando a plataforma de
hospedagem de código-fonte GitHub. Terrell, J. e. a. (2017). “Gender differences and bias in open
source: pull request acceptance of women versus men.” PeerJ. Computer Science, v. 3, May 2017.
Disponível em: <https://peerj.com/articles/cs-111>. Acesso em: 24 jul. 2017.
34 Disponível em: <https://w3techs.com/technologies/overview/content_management/all>. Acesso em: 25
maio 2018.
35 Tradução nossa de “Everything you see here, from the documentation to the code itself, was created by
and for the community. WordPress is an Open Source project, which means there are hundreds of people
all over the world working on it”. Disponível em: <https://wordpress.org/about>. Acesso em: 28 fev.
2017.
36 O core é denominado o núcleo central do WordPress. Apenas um grupo restrito de desenvolvedoras com
autorização pode alterá-lo diretamente. O restante da comunidade deve enviar contribuições que podem
ser aceitas ou não ou então estender as funcionalidades do core, criando um plugin.
37 Um commit é o ato de enviar para um repositório de código uma alteração em um ou mais arquivos.
Cada commit cria uma nova versão no repositório, que armazena informações sobre a alteração, como o
que foi feito, por quem e quando.
38 Tradução nossa de “Computer programming is an exact science in that all the properties of a program
and all the consequences of executing it in any given environment can, in principle, be found out from
the text of the program itself by means of purely deductive reasoning”.
39 Tradução nossa de “the study of algorithms and model programs will develop like any other
mathematical activity, chiefly by informal, social mechanisms, very little if at all by formal
mechanisms”.
40 Tradução nossa de “Testing shows the presence, not the absence of bugs”.
41 Tradução nossa de “There are two ways to write error-free programs; only the third one works”.
42 Tradução nossa de “On the basis of ten years experience in the design, implementation and use of
software (…) I cannot recall a single instance in which a proof of a program’s correctness would have
been useful”.
43 Tradução nossa de “[T]he time is ripe to embark on an international Grand Challenge project to
construct a program verifier that would use logical proof to give an automatic check of the correctness of
programs submitted to it”.
44 Tradução nossa de “The project will provide the scientific basis of a solution for many of the problems
of programming error that afflict all builders and users of software today”.
45 Tradução nossa de “We anticipate that the project would last more than ten years, consume over one
thousand person-years of skilled scientific effort, drawn from all over the world”.
46 Tradução nossa de “The ultimate aim of the project is that the program verifier will certify all programs
automatically”.
47 Tradução nossa de “In practice, at any given time there will always be a percentage of verification
conditions that the verifier cannot prove. For these, the traditional techniques of testing and run-time
checking will be employed”.
48 Tradução nossa de “[I]f we promise cheaper program development (…) we are unfortunately – as you
know as an English person – in competition with a number of charlatans (Tony Hoare laughs), who
would claim that by massaging the process of management of the work of a programmer, one can deliver
cheaper and more reliable software. (…) And we will not be able to do what those charlatans – we won’t
say the word “charlatan” – what those people over there say they can do, but we will do something else.
And it seems to me, that is the only point where I hope to see an improvement of what is a truly
marvelous description of why I am a scientist and not an engineer”.
49 Tradução nossa de “For us, the engineers (…) are people like Linus Torvalds, with his attitude to
specifications being what it is”.
50 Tradução nossa de “A ‘spec’ is close to useless. I have never seen a spec that was both big enough to be
useful and accurate. And I have seen lots of total crap work that was based on specs. It’s the single worst
way to write software, because it by definition means that the software was written to match theory, not
reality. So there’s two MAJOR reasons to avoid specs: (1) They’re dangerously wrong. Reality is
different and anybody who thinks spec matter over reality should get out of kernel programming NOW.
When reality and specs clash, the spec has zero meaning. Zilch. Nada. None. It’s like the real science: if
you have a theory that doesn’t match experiments, it doesn’t matter how much you like that theory. It’s
wrong. You can use it as an approximation, but you MUST keep in mind that it’s an approximation. (2)
Specs have an inevitable tendency to try to introduce abstraction levels and wording and documentation
policies that make sense for a written spec. Trying to implement actual code off the spec leads to the
code looking and working like CRAP. The classic example of this is the OSI network model protocols.
Classic spec-design, which had absolutely zero relevance for the real world. We still talk about the seven
layers model, because it’s a convenient model for discussion, but that has absolutely zero to do with any
real-life software engineering. In other words, it’s a way to talk about things, not to implement them.
And that’s important. Specs are basis for talking about things. But they are not a basis for implementing
software. So please, don’t bother talking about specs. Real standards grow up despite specs, not thanks to
them”.
SOBRE OS AUTORES
Daniela Alves
Professora do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal de Viçosa. Doutora em
Sociologia (UFRGS). Secretária Geral da Esocite.BR (2017-2019).
Coordenadora do Laboratório de Estudos de Ciências, Tecnologia e
Sociedade (DCS/UFV).
Contato: <[email protected]>.
Débora Allebrandt
Professora adjunta da Universidade Federal de Alagoas. Graduação em
Ciências Sociais (2005) e mestrado em Antropologia Social pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2008). Doutora em
Antropologia pela Université de Montréal (2013). Estágio de pós-doutorado
junto ao PPGAS-UFRGS entre 2013-2015. Tem desenvolvido trabalhos que
convergem entre parentesco e ciência, como a busca das origens
biogenéticas de adotados e filhos de doadores de gametas. Sua atuação se
estende aos seguintes temas: estudos sociais da ciência, direitos humanos,
políticas públicas, direitos sexuais e reprodutivos, antropologia e ética.
Contato: <[email protected]>.
Fabíola Rohden
Professora adjunta do Departamento de Antropologia e integrante do
Núcleo de Pesquisa em Antropologia do Corpo e da Saúde (NUPACS) da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Doutora em Antropologia Social
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2000). Pesquisadora do CNPq
e líder do grupo de pesquisa “Ciências na vida: Produção de conhecimento e
articulações heterogêneas”.
Contato: <[email protected]>.
Fernanda A. F. Sobral
Professora/Pesquisadora Colaboradora Sênior do Programa de Pós-
Graduação em Sociologia (UnB). Participante do GT criado pelo CNPq para
elaborar diretrizes de uma política científica e tecnológica para as áreas de
Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas. Membro do Conselho
Consultivo da FINEP, de 2016 a 2018 e do Conselho Superior da FAP-DF, de
2014 a 2016 Atualmente é membro do Conselho Superior da Capes, além de
ser membro do Conselho da SBPC e da Esocite.BR.
Contato: <[email protected]>.
Fernando Severo
Graduação em Engenharia de Telecomunicações pela Universidade Federal
Fluminense (2006). Mestrado em Engenharia de Sistemas e Computação
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2016). Doutorado em
andamento pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Sistema e
Computação da COPPE/UFRJ (2017), na linha de pesquisa Informática e
Sociedade.
Membro fundador e colabora na coordenação do Laboratório de Informática
e Sociedade (LabIS), vinculado ao PESC/COPPE/UFRJ que trabalha em
parceria com a Rede Brasileira de Bancos Comunitários de
Desenvolvimento e o Centro Popular de Educação e Cultura (CPCD).
Contato: <[email protected]>.
Henrique Cukierman
Professor associado da UFRJ. Professor do curso de Engenharia de
Computação e Informação e nas pós-graduações do Programa de
Engenharia de Sistemas e Computação da COPPE/UFRJ e do Programa de
História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia. Graduação em
Engenharia de Sistemas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (1977). Mestrado em Engenharia de Sistemas e Computação pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996). Doutorado em Engenharia
Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001). Doutorado
sanduíche junto ao Program In History and Philosophy of Science da
Stanford University (2001). Professor do Curso de Tecnologia em Sistemas
de Computação do Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de
Janeiro – CEDERJ (apoiado pela FAPERJ). Foi Superintendente Acadêmico de
Pós-Graduação da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da UFRJ
(2015-2016). É fellow da Fundação Alexander von Humboldt e foi
selecionado pela Comissão Fulbright para ocupar a University of Texas-
Fulbright Chair in Brazilian Studies (Austin) em 2019.
Contato: <[email protected]>.
Isabel Cafezeiro
Professora Titular do Instituto de Computação da Universidade Federal
Fluminense, e professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em
História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia, da UFRJ. Atua na área
de Ciência da Computação, com ênfase em Lógicas e Semântica de
Programas, na área de Sistemas de Informação com ênfase em Computação
e Sociedade e Abordagens Sociotécnicas, e na área de Estudos Sociais de
Ciência e Tecnologia, focando principalmente a História da Computabilidade
e investigações sobre o trabalho acadêmico. Sócia fundadora e membro do
comitê consultor da Associação Brasileira de Estudos Sociais de Ciência e
Tecnologia (Esocite.BR).
Contato: <[email protected]>.
Rafael Cordeiro-Rodrigues
Licenciado Pleno em Ciências Naturais – com habilitação em Química pela
Universidade do Estado do Pará. Tem experiência em educação em ciências,
com ênfase na linha de Ensino de Ciências com Metodologia inovadoras.
Atua como professor-pesquisador nos seguintes temas: abordagem
CTS/CTSA e fundamentos e metodologias para o ensino de ciências,
questões sociocientíficas e temas regionais.
Contato: <[email protected]>.
Renato Dagnino
Professor Titular na Universidade Estadual de Campinas (professor
visitante em várias universidades latino-americanas) nas áreas de Estudos
Sociais da Ciência e Tecnologia e de Política Científica e Tecnológica. Pós-
doutorado na Universidade de Sussex, na Inglaterra. Entre os livros que
publicou estão: Ciência e Tecnologia no Brasil: o processo decisório e a
comunidade de pesquisa; Neutralidade da Ciência e Determinismo
Tecnológico; Tecnologia Social: ferramenta para construir outra sociedade;
Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e Política de Ciência e Tecnologia:
abordagens alternativas para uma nova América Latina.
Contato: <[email protected]>.
Ricardo T. Neder
Professor Associado da Universidade de Brasília, atua na graduação,
especialização e pós-graduação da UnB, vinculado a Faculdade UnB
Planaltina e no Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares – CEAM –
UnB. Coordenador do Núcleo NP+CTS (Núcleo de Políticas Ciência,
Tecnologia, Sociedade) e da Incubadora Tecnológica de Cooperativas
Populares da UnB /Rede ITCP Brasil. Professor visitante (2016/17) Centro
de Estudos Sociais – CES Universidade de Coimbra (Núcleo Economia
Solidária na Sociedade Contemporânea) e no Núcleo de Inovação
Tecnológica da Universidade Técnica de Lisboa (dez 2016 fev 2017).
Contato: <[email protected]>.
Rodrigo Primo
Graduado em Pedagogia pela Universidade de São Paulo (2007) e mestrado
em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro (2017). Desde 2005 trabalha com desenvolvimento de software
livre, com enfoque em sistemas web utilizando PHP e Python. Participa de
movimentos sociais relacionados à economia solidária e mobilidade urbana.
Contato: <[email protected]>.
Sebastião Rodrigues-Moura
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará
(IFPA/Campus Parauapebas). Possui Licenciatura em Ciências Naturais com
habilitação em Física pela Universidade do Estado do Pará (UEPA).
Mestrado em Educação em Ciências e Matemáticas pela Universidade
Federal do Pará (UFPA). Atualmente dedica-se à gestão institucional e atua
em cursos de ensino médio, licenciatura e especialização, abordando temas
relacionados à educação, especificamente à educação em ciências,
metodologias ativas, ensino de física através de temas, abordagem CTS e
instrumentação para o ensino de ciências.
Contato: <[email protected]>.