Problema 3 - Insuficiência Cardíaca
Problema 3 - Insuficiência Cardíaca
Problema 3 - Insuficiência Cardíaca
EPIDEMIOLOGIA
No Brasil, estima-se que cerca de 300 mil internações ocorrem por conta da IC,
consumindo milhões de reais por ano, sendo a primeira causa de internação pelo SUS por
doença cardiovascular, e principal causa nos pacientes acima de 60 anos de idade. A
incidência e a prevalência da IC aumentam com o crescimento da população acima dos 65
anos. A IC com fração de ejeção preservada é responsável por aproximadamente metade
dos casos, acomete preferencialmente mulheres, pessoas de faixas etárias mais elevadas e
hipertensos. Na America Latina, a prevalência de IC com fração de ejeção de ventrículo
esquerdo reduzida é de 64 a 69%.
CLASSIFICAÇÃO
A insuficiência cardíaca pode ser classificada conforme fração de ejeção, estágio da
doença e sintomas.
Classificação da NYHA
Avaliação da intensidade de dispneia para as atividades físicas habituais ou em
repouso, a clássica classe funcional da New York Heart Association (NYHA).
Assim, a classe funcional I compreende os pacientes que não têm dispneia para
realizar atividades físicas rotineiras; a classe funcional II designa os pacientes que têm
dispneia quando realizam atividades físicas habituais; a classe funcional III diz respeito aos
pacientes que têm dispneia quando realizam atividades físicas menos intensas que as
habituais; a classe funcional IV indica os pacientes que têm dispneia em repouso.
Fração de ejeção
A fração de ejeção é o método ecocardiográfico mais utilizado para se avaliar a
função ventricular esquerda de pacientes com insuficiência cardíaca; com base no valor da
fração de ejeção, pacientes com insuficiência cardíaca são classicamente categorizados
como tendo fração de ejeção reduzida (FEVE ≤ 40%), fração de ejeção preservada (FEVE ≥
50) ou fração de ejeção levemente reduzida (FEVE 41-49%). Esses estratos de pacientes
possuem características clínicas e epidemiológicas, prognóstico e resposta ao tratamento
distintos. Essas diferenças e o fato de que a medida da fração de ejeção é um método
bastante difundido e de fácil realização tornam essa classificação muito útil para a prática
clínica.
ICFER: a ICFEr ou insuficiência cardíaca sistólica resulta na diminuição da função da
bomba cardíaca (fração de ejeção do ventrículo esquerdo ≤ 40%), que está associada a
sinais e sintomas característicos, como dispneia, edema, fadiga e/ou tolerância
prejudicada ao exercício.
ICFEP: Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Preservada. Os pacientes
apresentam sinais e sintomas de insuficiência cardíaca com fração de ejeção normal ou
quase normal (FE ≥ 50%).
FISIOPATOLOGIA
ICFER
Na ICFER, encontramos redução no volume sanguíneo ejetado por distúrbio primário
na ejeção ventricular. O organismo responderá a essa redução do volume ejetado de três
formas:
1. Mecanismo de Frank-Starling: imagine o coração como uma grande cama elástica.
Quanto maior a quantidade de sangue que chega ao coração, maior a distensão de suas
fibras e mais sangue será ejetado. No entanto, tanto o coração como a cama elástica, têm
um limite de distensão. Após atingir esse limite, as fibras não respondem mais com
aumento do débito cardíaco. A quantidade de sangue que chega ao coração é
denominada pré carga. Na ICFER, encontramos sobrecarga de volume na cavidade
ventricular esquerda, que comprometerá o débito cardíaco. Por isso, utilizamos diuréticos
para reduzir a sobrecarga de volume no coração. O mecanismo de Frank-Starling: existe
um ponto máximo de distensão das paredes ventriculares. A partir desse ponto, as fibras
musculares não conseguem responder com aumento da contratilidade, piorando o volume
sistólico.
IC DIREITA
O ventrículo direito (VD) é uma cavidade com características diferentes do VE. Ele faz
a conexão da circulação sistêmica com a circulação pulmonar. Fisiologicamente, é uma
cavidade que lida com baixas pressões e, por isso, tem musculatura menos desenvolvida.
Por outro lado, como o retorno venoso é variável, o VD tem grande capacidade de
adaptar-se à volemia. Por isso, falamos que o VD tolera muito bem volume, mas não tolera
pressão! Além disso, o VD divide o septo interventricular com o VE. Com isso, parte da
força contrátil do VD depende da contração septal. Dessa forma, você deve imaginar que
a dinâmica de contração ventricular fica prejudicada nos pacientes com bloqueios de ramo
(o VE e VD irão contrair em momentos diferentes).
A maioria dos casos de IC direita está relacionada ao aumento da pós-carga direita
(relacionada a doenças pulmonares ou sobrecarga de cavidades esquerdas), mas também
pode ocorrer em casos de dano à musculatura ventricular direita (infarto de VD, por
exemplo). Quando a disfunção de VD ocorre por doença pulmonar, o quadro é chamado
de cor pulmonale.
A IC direita pode ocorrer de maneira aguda (tromboembolismo pulmonar, por
exemplo) ou crônica. Na IC direita aguda, o VD não tem tempo para tentar adaptar-se à
sobrecarga de pressão e dilata bastante. Se a causa de base não for resolvida, essa
sobrecarga de pressão comprometerá o funcionamento do VE, pois o VD sobrecarregado
comprimirá o VE, dificultando seu enchimento.
ETIOLOGIA
A IC é a manifestação inicial ou final de muitas patologias. Pode ser secundária a:
1. Doenças cardiovasculares sistêmicas como hipertensão arterial, aterosclerose (com
suas várias manifestações, como infarto do miocárdio, cardiomiopatia isquêmica etc.),
doenças das válvulas cardíacas ou doença congênita etc.
2. Cardiomiopatias primárias (de origem genética, mista ou adquirida) ou
secundárias.
3. Pericardiopatias.
4. Endocardiopatias. As etiologias mais frequentes da IC sistólica são cardiomiopatia
dilatada idiopática, isquêmica (aterosclerose coronariana determinando infarto), doença
de Chagas, hipertensão arterial, valvar, alcoólica, miocardite de origem indeterminada e
periparto. A IC com FEVEp mais frequente está geralmente associada à disfunção
diastólica, que, por sua vez, está relacionada a idade avançada, sexo feminino, obesidade,
diabete meli-to, doença coronariana, doença renal e estenose aórtica.
QUADRO CLÍNICO
Pacientes com dano miocárdico (estágio B), que potencialmente leva à IC,
permanecem assintomáticos por muito tempo, devido aos mecanismos compensatórios de
origem neuro hormonal e simpático. Quando esses mecanismos não são suficientes,
surgem os sintomas que podem ser decorrentes do quadro congestivo ou de baixo débito.
A sobrecarga de cavidades esquerdas (presente na IC sistólica e diastólica) promove
aumento da pressão venocapilar pulmonar. Esse aumento de pressão ocasiona
extravasamento de líquido vascular para o interstício pulmonar. O sistema linfático
consegue absorver esse líquido extravasado até um limite. Quando a pressão venocapilar é
superior a 20-25 mmHg, a drenagem linfática é insuficiente, surgindo o edema pulmonar,
responsável por toda sintomatologia respiratória na IC (cansaço, dispneia aos esforços,
ortopneia, dispneia paroxística noturna).
Quando há sobrecarga em cavidades direitas, observaremos a congestão sistêmica
(turgência jugular patológica, edema de membros inferiores, ascite, refluxo hepatojugular).
De uma maneira bem simples, o trânsito de sangue “engarrafa” antes do problema. Se o
problema é no VE, “engarrafa” primeiro o pulmão, depois o VD e depois, todo organismo.
Se o problema é exclusivamente no VD, o “engarrafamento” será sistêmico, poupando o
pulmão!
A história clínica e o exame físico serão fundamentais na avaliação inicial do paciente
com suspeita de IC. O sintoma que geralmente leva o paciente a procurar ajuda médica é a
dispneia. Como diversas doenças podem levar à dispneia, esse sintoma é pouco específico
para o diagnóstico, mas pode ser o primeiro indício de congestão pulmonar. Alguns
sintomas que devem ser investigados nesses pacientes:
● Ortopneia: dispneia ao deitar-se. Sintoma típico, porém, inespecífico. Uma forma de
questionar esse sintoma é perguntando o número de travesseiros que o paciente
utiliza para dormir.
● Dispneia paroxística noturna: surge horas após deitar-se. É uma dispneia súbita que
desperta o paciente. Esse sintoma é mais específico para o diagnóstico de IC.
● Tosse noturna: secundária à congestão da parede brônquica. Pode estar associada
à dispneia paroxística noturna. Em quadros mais acentuados, pode gerar
broncoespasmo (“asma cardíaca”).
● Fadiga: origem multifatorial. Os mecanismos associados à fadiga na IC são
desencadeados pela perfusão sanguínea inadequada, que afeta os músculos
respiratórios e periféricos, levando à diminuição da capacidade oxidativa. A fadiga
afeta mais da metade dos pacientes com IC e está associada a uma redução na
qualidade de vida, restrição de atividade física e pior prognóstico.
● Distúrbios do sono: os distúrbios do sono são comuns e subdiagnosticados em
pacientes com insuficiência cardíaca. As formas mais comuns são: apneia obstrutiva
do sono e apneia central do sono com respiração de Cheyne-Stokes (veremos
adiante). É importante reconhecer os distúrbios do sono porque estão associados a
piores desfechos cardiovasculares e maior mortalidade. Além disso, há evidências
de que o tratamento dos distúrbios do sono pode melhorar os resultados
relacionados à insuficiência cardíaca e à qualidade de vida.
Em casos mais avançados de IC, podemos ter congestão sistêmica secundária à
falência do ventrículo direito (VD). Nesses casos, a dispneia pode tornar-se menos
frequente, visto que a insuficiência ventricular direita ou a insuficiência tricúspide impedem
o bom funcionamento do VD, reduzindo a quantidade de sangue disponível na circulação
pulmonar e, com isso, há menor extravasamento de líquido para o alvéolo.
O diagnóstico é CLÍNICO. Uma boa história clínica e um bom exame físico serão
suficientes para o diagnóstico sindrômico de insuficiência cardíaca, na maioria das vezes.
Os exames complementares auxiliarão nos casos duvidosos, na investigação da etiologia e
identificação de complicações e causa da descompensação.
Congestão pulmonar:
- Inversão do padrão vascular: o edema intersticial, mais proeminente nos lobos
inferiores, tornam as veias presentes no ápice pulmonar mais proeminentes;
- Infiltrado intersticial: pode surgir como borramento perivascular, borramento
peribrônquico e infiltrado peri-hilar (em asa de borboleta);
- Linhas B de Kerley: sugestivo de edema intersticial. São linhas paralelas ao
diafragma, visualizadas na região inferior e lateral de ambos os hemitóraces.
- Derrame pleural: geralmente é bilateral, mas predomina à direita.
Eletrocardiograma
Fundamental na avaliação inicial do paciente com IC, pois pode fornecer informações
quanto à etiologia da IC ou ao fator de descompensação. Um eletrocardiograma (ECG)
normal na IC é incomum.
● Bloqueio de ramo esquerdo: os critérios diagnósticos estão na figura, mas vamos
simplificar: viu um QRS largo? Olha para V1! Se estiver para cima é BRD, para baixo
é BRE!
● Hemibloqueio anterior esquerdo + bloqueio de ramo direito: ligue todos os alertas
para doença de Chagas! O bloqueio de ramo direito: QRS largo e V1 com polaridade
positiva. O hemibloqueio anterior esquerdo você identifica através do desvio de eixo
para esquerda. Para identificar facilmente o eixo, olhe para D1 e aVL. No desvio de
eixo para a esquerda, teremos D1 positivo e aVL negativo.
Ecocardiograma
Está indicado, na avaliação inicial, para todos os pacientes com sinais e sintomas
sugestivos de IC. Traz informações sobre a função ventricular (sistólica e diastólica),
diâmetros cavitários, motilidade das paredes, função valvar e estado volêmico. O exame
deverá ser repetido em situações de mudança súbita do quadro clínico ou na reavaliação
da função ventricular, após terapia específica.
Exames laboratoriais
Além dos exames tradicionais, alguns exames específicos podem auxiliar na
abordagem do paciente com insuficiência cardíaca:
● Hemograma: traz informações importantes acerca da presença de anemia (fator de
descompensação e prognóstico na IC) e da presença de leucocitose, que pode
indicar um processo infeccioso como causador da descompensação.
● Gasometria arterial: recomendada em pacientes com baixo débito ou desconforto
respiratório. Além de avaliar o equilíbrio acidobásico e a oxigenação, fornece
informações quanto à perfusão tecidual. Acidose e hiperlactatemia são fatores de
mau prognóstico.
● Bioquímica: a dosagem de eletrólitos e função renal é fundamental na avaliação
inicial. A hiponatremia é comum em pacientes com IC e confere pior prognóstico.
Piora da função renal está relacionada à perfusão renal prejudicada pelo baixo
débito cardíaco ou à congestão renal. Deve ser monitorada durante todo curso da
internação pela possibilidade de evoluir com síndrome cardiorrenal.
● Troponina: tem valor prognóstico na IC. Valores persistentemente elevados, na
ausência de IAM, estão associados à maior mortalidade. Deve ser solicitada em
toda admissão por IC aguda, para exclusão ou confirmação de síndrome
coronariana aguda (SCA).
● Peptídeos natriuréticos (BNP): é um marcador de sobrecarga cardíaca. Além de
apresentarem valor prognóstico, possuem alto valor preditivo negativo (95%) para
exclusão do diagnóstico de IC. Valores menores que 100pg/mL tornam improvável o
diagnóstico. Valores elevados à admissão estão associados à pior evolução
hospitalar. A dosagem no momento da alta traz informações prognósticas
importantes, assim como a queda absoluta do BNP durante a internação. Contudo,
ainda não existem recomendações para sua utilização como alvo de tratamento.
Existem algumas situações que podem interferir diretamente na medida do BNP,
como anemia, insuficiência renal crônica, idade avançada (valores mais elevados de
BNP), assim como a obesidade (valores mais baixos de BNP).
● Hepatograma: a hepatomegalia secundária à insuficiência cardíaca pode alterar o
hepatograma. A alteração bioquímica mais comum nesses pacientes é a elevação
discreta da bilirrubina (presente em mais de 70% dos pacientes). Na maioria dos
casos, o nível sérico será menor que 3mg/dL, às custas de bilirrubina indireta. Nesses
doentes, o nível sérico de bilirrubina tem valor prognóstico. As transaminases estão
discretamente elevadas em 1/3 dos pacientes (até 3 vezes o valor de referência). Em
casos de descompensação da IC no contexto de hipotensão secundária à disfunção
ventricular, pode ocorrer elevação expressiva das transaminases, com quadro
semelhante ao de uma hepatite viral.
● Cinética do ferro: metade dos pacientes com IC possuem deficiência de ferro,
mesmo sem anemia presente, conferindo lhes pior prognóstico. Devemos dosar
ferritina sérica e saturação de transferrina em todos pacientes com IC. Em caso de
deficiência, está recomendada a reposição por via INTRAVENOSA, visando
melhorar a capacidade funcional e a qualidade de vida e reduzir hospitalizações,
independentemente da fração de ejeção. Estudos com reposição oral não
demonstraram benefícios (absorção ineficaz).
TRATAMENTO
A maioria dos ensaios clínicos tem mostrado redução consistente de mortalidade
cardiovascular com o tratamento apenas nos pacientes com ICFER.
O tripé clássico da terapia que modifica mortalidade na insuficiência cardíaca (IC) de
fração de ejeção reduzida é composto por: IECA/BRA, betabloqueadores e antagonistas
de mineralocorticoide (espironolactona). Dentre os betabloqueadores, os que modificam a
mortalidade comprovadamente são apenas: carvedilol, bisoprolol e succinato de
metoprolol.
Cinco primeiras opções de drogas que devem ser usadas: IECA/BRA,
betabloqueadores, espironolactona, sacubitril-valsartana e gliflozinas.
Após essas cinco opções, nos pacientes que estejam em uso de betabloqueadores em
dose máxima e persistam com FC> 70 bpm, há benefício de mortalidade com o uso de
ivabradina (um inibidor do canal IF do nó sinusal).
Além disso, a associação entre hidralazina e nitrato também é capaz de reduzir a
mortalidade em pacientes autodeclarados afrodescendentes ou em substituição aos
IECA/BRA em pacientes que não toleram essas medicações.
Para melhor controle de sintomas, sem alterar, no entanto, a mortalidade, você pode
prescrever diuréticos na menor dose necessária e digitálicos (principalmente se a fração de
ejeção for ≤ 45%).
Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e bloqueadores dos
receptores AT1 da angiotensina 2 (BRA)
O mecanismo de ação dos IECA é através de vasodilatação e bloqueio do sistema
renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), cuja atividade se encontra exacerbada nos
pacientes portadores de insuficiência cardíaca. A ativação do SRAA tem como
consequências a ocorrência de retenção hídrica e fibrose miocárdica, a qual está associada
ao remodelamento e disfunção ventricular esquerda. Ao bloquearem o SRAA, os IECA são
capazes de diminuir a hipervolemia e promover o remodelamento reverso do VE, o que se
associa a uma melhora da função ventricular.
Os IECA devem ser usados em todos os pacientes com ICFER sintomáticos,
independente da etiologia, assim como nos pacientes com disfunção ventricular
assintomática, a fim de evitar a evolução para a forma sintomática. Os principais
representantes dos IECA usados na prática clínica são o captopril, enalapril, ramipril,
lisinopril e perindopril.
Os bloqueadores dos receptores AT1 da angiotensina II (BRA) são uma classe de
medicações que também tem benefício na redução da morbimortalidade cardiovascular
nos pacientes com ICFER. Seu mecanismo de ação também dá-se através do bloqueio do
SRAA, agindo diretamente ao nível dos receptores da angiotensina II. Dessa forma, devem
ser utilizados como alternativa aos IECA nos pacientes com intolerância ou alergia
confirmada a essa classe medicamentosa.
Betabloqueadores
Os betabloqueadores (BB) são drogas que agem, basicamente, através do bloqueio
de dois possíveis receptores: beta-1, que é responsável por fazer taquicardia e aumento de
contratilidade cardíaca, e beta-2, que faz, principalmente, vasodilatação e
broncodilatação.
Essas drogas são consideradas de primeira linha para o tratamento da ICFER. São
benéficas ao promoverem antagonismo da hiperatividade simpática, que causa efeitos
deletérios no miocárdio, provocando fibrose, remodelamento e disfunção ventricular.
Dessa forma, os BB revertem os efeitos tóxicos do hiperadrenergismo no coração,
promovendo remodelamento reverso. Esse efeito é observado em algumas semanas a
meses após o início do tratamento.
Existem vários ensaios clínicos demonstrando o benefício dessa classe terapêutica na
redução de morbimortalidade por insuficiência cardíaca e morte súbita, além de redução
da taxa de reinternação por IC. Quanto à morte súbita, os betabloqueadores são as
drogas mais efetivas em sua prevenção. Esses resultados foram demonstrados de forma
consistente com o uso de 3 medicações dessa classe: o carvedilol, o bisoprolol e o succinato
de metoprolol.
Ivabradina
O controle da frequência cardíaca é um dos alvos terapêuticos na IC. A ivabradina é
uma substância que atua inibindo seletivamente a corrente elétrica “If” (essa corrente é
responsável pela modulação das correntes iônicas no nó sinusal), reduzindo, dessa forma, a
frequência cardíaca, o que tem efeito benéfico na ICFER devido à modulação do tônus
adrenérgico. Só por essa informação, já podemos perceber que seu uso é estrito aos
pacientes que estejam em ritmo sinusal, não havendo indicação em pacientes com
fibrilação atrial ou outras taquiarritmias não sinusais.
Dobutamina:
Milrinona:
Levosimendam:
Dopamina:
● Efeito dose-dependente:
○ Baixa dose: estimula receptores dopaminérgicos (efeito renal controverso).
○ Dose intermediária: efeito β1 e precursor de noradrenalina.
○ Dose alta: efeito α1 por noradrenalina.
● Não é de primeira linha, mas pode ser usada em dificuldade de manutenção da
pressão arterial.
● Dose: 0,5 a 25 μg/kg/min.
Noradrenalina:
Vasodilatadores:
Nitroglicerina:
Nitroprussiato de Sódio:
Neseritide:
DOENÇA DE CHAGAS
Introdução
A Doença de Chagas (DC) é causada pelo Trypanosoma cruzi, um protozoário que provoca
miocardite aguda e, mais frequentemente, uma miocardite crônica fibrosante. Isso leva à
cardiomiopatia crônica da doença de Chagas (CCC), sua manifestação mais relevante.
Epidemiologia
A transmissão pelo vetor (Triatoma infestans) está controlada no Brasil desde 2006, mas
surtos relacionados ao consumo oral, como açaí contaminado, continuam a ocorrer.
História Natural
A DC possui fases:
Cerca de 30% dos pacientes da forma indeterminada desenvolvem CCC após 10-30 anos.
A evolução pode levar à cardiomiopatia dilatada, com disfunção ventricular e IC.
Etiopatogenia
Na fase aguda, o dano é causado pela infestação do miocárdio. Na fase crônica, ocorre
destruição progressiva de fibras miocárdicas por miocardite de baixa intensidade,
culminando em fibrose e dilatação ventricular.
Manifestações Clínicas
Fase aguda
Fase crônica