PDF - Misaelle Do Nascimento Oliveira
PDF - Misaelle Do Nascimento Oliveira
PDF - Misaelle Do Nascimento Oliveira
Campina Grande - PB
Março de 2014
MISAELLE DO NASCIMENTO OLIVEIRA
Campina Grande - PB
Março de 2014
MISAELLE DO NASCIMENTO OLIVEIRA
Banca Examinadora
Dedico este trabalho a minha família
que sempre está me dando apoio, em
especial a meus pais, pelas angústias
e preocupações que passaram por mi-
nha causa, por terem dedicado suas
vidas a mim, pelo amor carinho e es-
tímulo que me ofereceram, ao meu fi-
lho, que sem dúvida alguma, plantou
em mim forças para que eu pudesse
chegar ao fim, a prima da minha mãe,
Maria José, que me acolheu em sua
casa com tanta felicidade, dedico-lhes
essa conquista como gratidão.
Agradecimentos
Primeiramente, a Deus por este sonho realizado. Pelo dom da vida, pela fé e perseverança
para vencer os obstáculos surgidos nesta fase da minha vida, a todos os professores que
lecionaram no curso, em especial à Professora Luciana Roze de Freitas, que mim orientou
com tanto carinho, paciência e compreensão e esteve ao meu lado durante esta última fase do
curso, ao Professor Aldo Trajano Lourêdo pela compreensão em momentos de angústia, ao
Professor Luiz Lima de Oliveira Júnior que desde o curso de graduação têm estado presente
nesta minha caminhada, aos colegas que trilharam este caminho comigo e as pessoas que
indiretamente com o seu carinho, muitas vezes, uma palavra amiga, contribuiram de forma
significativa para este momento, a meus pais pelo apoio e carinho em todos os momentos
nesta fase da minha especialização.
“No fim tudo termina bem.
Se tudo não estiver bem, é
porque ainda não é o fim."
(Autor Desconhecido)
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo apresentar um resultado de Análise utilizado nas
mais diversas áreas da matemática pura, o Teorema de Arzelá-Ascoli, que nos dirá quais
as condições necessárias para que uma sequência de funções contínuas definidas num sub-
conjunto compacto de um espaço métrico tenha uma subsequência uniformemente conver-
gente. Posteriormente, utilizamos o teorema para garantir a existência de soluções de uma
E.D.O. - Equações Diferenciais Ordinárias. Como suporte a este estudo, elencamos resulta-
dos primordiais para o desenvolvimento desta pesquisa. Primeiramente, coletamos concei-
tos básicos elementares, em seguida, demonstramos em duas versões o teorema principal, o
qual, posteriormente, é aplicado no Teorema de Peano, concluindo assim, a pesquisa.
This paper aims to present a result of analysis used in several areas of pure mathematics, the
Arzelá-Ascoli theorem, that will tell us what are the necessary conditions for a sequence of
continuous functions defined on a compact subset of a metric space has a uniformly conver-
gent subsequence. Subsequently, we use the theorem to guarantee the existence of solutions
of an ODE - Ordinary Differential Equations. To support this study, we selected primary
outcomes for the development of this research. First, collect elementary basics then shown
in two versions main theorem, which subsequently is applied in the Peano theorem, thus
completing the study.
Introdução 9
1 Resultados Preliminares 11
1.1 Espaços Métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1.1 Espaços Métricos Completos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.2 Contrações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.3 Conjuntos Totalmente Limitados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2 O Teorema de Arzelá-Ascoli 27
2.1 Equicontinuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.2 Resultado principal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3 Aplicações 34
Conclusão 39
Referências 40
A Contexto Histórico 41
B Desigualdade de Minkowski 43
I, veremos alguns pré-requisitos que são indispensáveis para uma melhor compreensão do
Teorema de Arzelá-Ascoli, bem como da sua aplicação. No Capítulo II, estudaremos em
detalhes o teorema mencionado anteriormente, bem como, apresentaremos uma demons-
tração detalhada de fácil compreensão. No terceiro e último capítulo, iremos apresentar
uma importante aplicação do Teorema de Arzelá-Ascoli nas Equações Diferenciais Ordiná-
rias, o Teorema de Peano, que exige apenas a continuidade como condição de regularidade,
para garantir a existência de solução de um Problema de Valor Inicial.
1 Resultados Preliminares
(i) ρ(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y;
Exemplo 1.1. Seja X um conjunto não vazio qualquer. Defina ρ : X × X −→ [0, ∞) pondo:
(
1, se x 6= y
ρ(x, y) =
0, se x = y.
ρ(x, y) constitui uma métrica sobre X.
De fato, dados x, y, z ∈ X temos:
(i) ρ(x, y) = 0 ⇐⇒ y = x.
12
ρ(x, z) = 0 ou ρ(x, z) = 1,
ρ(x, y) = 0 ou ρ(x, y) = 1,
ρ(y, z) = 0 ou ρ(y, z) = 1.
Daí
d(x, y) = |x − y|
é um espaço métrico.
Com efeito,
(i) d(x, y) = 0 ⇔ |x − y| = 0 ⇔ x = y;
temos que
|x1 − y1 |p = 0, . . . , |xn − yn |p = 0 ⇔ x1 = y1 , . . . , xn = yn ⇔ x = y.
ou
n
X
ds (x, y) = di (xi , yi ),
i=1
ou ainda,
v
u n
uX
d(x, y) = t di (xi , yi )2 .
i=1
1
ver desigualdade de H. Minkowski no Apêncide (B).
14
⇐⇒ di (xi , yi )2 = 0, ∀i ∈ {1, . . . , n}
⇐⇒ xi = yi , ∀i ∈ {1, . . . , n}
⇐⇒ x = y.
Pois, para cada i ∈ {1, . . . , n}, di constitui uma métrica em Mi e, portanto, di (xi , yi ) =
di (yi , xi ), ∀i ∈ {1, . . . , n}.
(iii) Temos v
u n
uX
d(x, z) = t di (xi , zi )2
i=1
e mostraremos
d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z).
De fato, a verificação da desigualdade acima, segue análogo do item (iii), exemplo 1.3,
onde particularizamos p, para, p = 2.
15
Exemplo 1.5. Seja C ([a, b], R) = {f : [a, b] −→ R ; f contínua} com a métrica da convergên-
cia uniforme ρ(f, g) = kf − gk∞ , f, g ∈ C ([a, b], R) e kf k∞ = sup{|f (t)| : t ∈ [a, b]}, ∀ f ∈
C ([a, b], R) . Note que, tal supremo existe pois, f é limitada.2
(i) ρ(f, g) = 0 ⇐⇒ f = g.
De fato, sejam f, g ∈ C ([a, b], R). Daí,
= kg − f k∞ = ρ(g, f ).
(iii) ρ(f, h) ≤ ρ(f, g) + ρ(g, h), ∀f, g, h ∈ C ([a, b], R) , t ∈ [a, b].
De fato,
ρ(f, g) = kf − gk∞ = sup |f (t) − g(t)| = sup |f (t) − h(t) + h(t) − g(t)|
t∈[a,b] t∈[a,b]
Logo,
ρ(f, g) ≤ ρ(f, h) + ρ(h, g).
Definição 1.2. A bola aberta de centro x e raio r é definida como sendo o conjunto Br (x) dos
pontos de X cuja distância a x é menor que r. Ou seja,
Definição 1.3. A bola fechada de centro x e raio r é definida como sendo o conjunto Br [x]
dos pontos de X, cuja distância a x é menor do que ou igual a r. Ou seja,
Definição 1.4. Seja (X, ρ) um espaço métrico, um conjunto E ⊂ X é dito aberto em (X, ρ) se,
para cada x ∈ E existe rx > 0 tal que Brx (x) ⊂ E.
Definição 1.5. Seja (X, ρ) um espaço métrico, um conjunto F ⊂ X é dito fechado em (X, ρ)
se F c (complementar de F com respeito a X) é aberto em (X, ρ).
(ii) A interseção finita de conjuntos abertos em (X, ρ) é um conjunto aberto em (X, ρ);
Demonstração. (i) Seja A uma coleção qualquer de conjuntos abertos em X. Denotemos por
U a união de todos os conjuntos abertos pertencentes a A.
Queremos mostrar que U é aberto.
Seja x ∈ U, então x ∈ A para algum conjunto aberto A ∈ A. Portanto, existe δ > 0 tal
que Bδ (x) ⊂ A. Mas, A ⊂ U, logo Bδ (x) ⊂ U. Donde U é aberto.
(ii) Sejam A1 , A2 , . . . , Ak uma coleção finita de conjuntos abertos em X e A = ki=1 Ai .
T
Temos que !c
k
[ k
\
c
F = Fi = Fic
i=1 i=1
mas, a última interseção nos dá um conjunto aberto por (ii). Portanto, F c é aberto, o que
implica em F fechado.
(ii) O fecho de E, denotado por E, como sendo a interseção de todos os fechados de (X, ρ)
que contém E. Isto é,
\
E = {F ; F é fechado e E ⊂ F };
Definição 1.7. Seja (X, ρ) um espaço métrico, x ∈ X e (xn )n ⊂ X. Dizemos que (xn ) converge
para x em X se d(xn , x) → 0 em R quando n → ∞. Assim, quando isso acontece, escrevemos
xn −→ x em X.
(i) x ∈ E;
Demonstração. (i) ⇒ (ii) Suponha, por contradição, que existe r > 0 tal que Br (x) ∩ E = ∅,
Br (x) ⊂ E c , logo, x ∈ intE c . Como (intE c )c é fechado e E ⊂ (intE c )c e x 6∈ (intE c )c , temos
que
x 6∈ E.
Br (x) ∩ E 6= ∅, ∀r > 0.
xn −→ x e x 6∈ E,
c
então por (ii), existe r > 0 tal que Br (x) ⊂ E e, portanto, existe n0 ∈ N, tal que ∀n > n0
c
temos xn ∈ E , o que é um absurdo, pois (xn ) ∈ E. Donde concluímos que x ∈ E.
Definição 1.8. Sejam (X1 , ρ1 ), (X2 , ρ2 ) espaços métricos. Uma função f : X1 −→ X2 é dita
contínua em um ponto x de X1 se, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que
Proposição 1.3. Sejam (X1 , ρ1 ), (X2 , ρ2 ) espaços métricos. Uma função f : X1 −→ X2 é con-
tínua se, e somente se, a imagem inversa f −1 (U ) de qualquer conjunto aberto U ⊂ (X2 , ρ2 ) é
um conjunto aberto em (X1 , ρ1 ).
Bε (f (x)) ⊂ X2
−1
e, consequentemente, f Bε (f (x)) é um aberto em X1 que contém x.
Segue que, existe δ > 0 tal que Bδ (x) ⊂ f −1 Bε (f (x)) e f é contínua em x. Como x é
arbitrário, segue que f é contínua.
19
Demonstração. Seja (xn ) uma sequência, se lim xn = a no espaço métrico M então, dado ε > 0,
existe n0 ∈ N tal que
ε
n > n0 ⇒ ρ(xn , a) < .
2
Daí, se tomarmos m, n > n0 teremos
ε ε
ρ(xm , xn ) ≤ ρ(xm , a) + ρ(xn , a) < + = ε.
2 2
Exemplo 1.6. O espaço métrico (X, ρ), onde X é um conjunto não vazio e ρ é a métrica
discreta em X é um espaço métrico completo.
De fato, seja (xn ) ⊂ X uma sequência de Cauchy. Tome ε < 1, logo
ou ainda,
xn = xm , para todo n, m ∈ N.
Logo,
xn = x0 para algum x0 ∈ X e para todo n ∈ N.
xk = (xk1 , . . . , xkn )
em M converge para a = (a1 , . . . , an ) ∈ M , numa, dentre as três métricas do Exemplo 1.4 se,
e somente se, converge nas duas outras. Em particular,
(qualquer que seja, dentre as três já referidas, a métrica considerada em M ) se, e somente,
xki −→ ai , i = 1, . . . , n (segundo di ).
Exemplo 1.9. O Rn , munido de qualquer das métricas definidas no Exemplo 1.4, é um espaço
métrico completo.
Segue diretamente do exemplo 1.8 e do fato de R ser completo pelo exemplo 1.7.
Exemplo 1.10. O espaço das funções contínuas de [a, b] em R, C [a, b]; R , munido da mé-
trica da convergênciauniforme, é completo.
Seja (fn ) ⊂ C [a, b]; R uma sequência de Cauchy. Assim, dado ε > 0, existe um
n0 ∈ N tal que, para m, n > n0 , tem-se
Isso mostra que, (fn (x0 )) é uma sequência de Cauchy em R e desde que R é completo (Exem-
plo 1.7), (fn (x0 )) converge, ou seja, existe y = f (x0 ) ∈ R tal que fn (x0 ) → y quando n → ∞.
Desta forma, defina
f : [a, b] −→ R
x 7−→ f (x) = lim fn (x).
n→∞
Observe que f está bem definida graças a unicidade do limite que a define .
Agora, basta mostrar que
fn −→ f
e
f ∈ C ([a, b], R) ,
21
respectivamente.
De 1.2 fazendo m → ∞, temos
Donde,
||fn − f || < ε ∀n ≥ n0 .
Demonstração. (i) Seja (xn ) ⊂ M uma sequência de Cauchy. Desde que (X, ρ) é completo,
(xn ) converge para algum elemento x ∈ X. Mas, M é fechado e, portanto, x ∈ M . Donde M
é completo.
(ii) Seja x ∈ M , logo, pela Proposição 1.2, existe (xn ) ⊂ M que converge para x. Como,
pela Proposição 1.4 toda sequência convergente é de Cauchy, temos x ∈ M e, portanto, M é
fechado.
1.2 Contrações
Definição 1.11. Seja (X, ρ) um espaço métrico completo. Uma aplicação T : X → X é
chamada uma contração em X, se existe 0 < k < 1 tal que
ρ(T x, T y) ≤ kρ(x, y)
para todo x, y ∈ X.
Demonstração. Vamos construir uma sequência (xn ) ⊂ X e mostrar que ela é de Cauchy, de
modo que convirja em X. Depois, provaremos que o limite de (xn ) é ponto fixo de T e T não
possui outros pontos fixos.
Tome x0 ∈ X arbitrário e defina uma sequência iterativa (xn ) da seguinte
forma:
x 0 = x0
x1 = T (x0 )
x2 = T (x1 ) = T 2 (x0 )
..
.
xn = T (xn−1 ) = T n (x0 ).
..
.
Observe que
Agora, como 0 < k < 1, dado ε > 0 existe n0 ∈ N tal que, se m > n0 temos
km
ρ(x1 , x0 ) < ε. (1.4)
1−k
23
ρ(xm , xn ) < ε,
ou seja, (xn ) é uma sequência de Cauchy. E, como X é completo, concluímos que (xn ) con-
verge, isto é, xn → x, com x ∈ X.
Agora mostraremos que x é um ponto fixo da aplicação T .
Da desigualdade triangular e da definição de contração temos:
daí,
ρ(x, x0 ) − kρ(x, x0 ) ≤ 0
0 ≤ ρ(x, x0 ) ≤ 0
ou ainda,
ρ(x, x0 ) = 0
Observação 1.1. Note que, tal ínfimo existe, pois, todo conjunto não-vazio e limitado inferi-
ormente possui ínfimo.
Definição 1.14. Sejam E, F ⊂ X subconjuntos não vazios de um espaço métrico (X, ρ). A
distância de E a F , denotada por ρ(E, F ) é o número
ρ(E, F ) = inf{ρ(y, z) ; y ∈ E e z ∈ F }.
Definição 1.15. O diâmetro de um subconjunto E ⊂ (X, ρ), onde (X, ρ) é um espaço métrico,
é dado por
diam(E) = sup{ρ(x, y) ; x, y ∈ E}.
Definição 1.16. Se (X, ρ) é um espaço métrico, dizemos que E ⊂ X é totalmente limitado se,
para cada ε > 0, E pode ser coberto por um número finito de bolas de raio ε, isto é, existem
a1 , a2 , . . . , an ∈ E tais que E ⊂ ∪ni=1 Bε (ai ).
Demonstração. (⇒) Suponha que E é completo e totalmente limitado. Seja (xn ) uma sequên-
cia em E. Pela Definição 1.16, E pode ser coberto por um número finito de bolas de raio
ε = 21 assim, para n > n0 , n0 ∈ N ao menos uma dessas bolas contém xn . Sendo assim,
tome xn ∈ B1 ⊂ ∪nj=1 B (aj ) para n ∈ N1 . Logo, pela definição 1.16 E ∩ B1 pode ser coberto
por um número finito de bolas de raio 212 e, portanto, uma dessas bolas deve conter xn para
n > n1 ∈ N. Considere então, xn ∈ B2 para n ∈ N2 . Assim, por meio de um processo indu-
tivo, obtemos uma sequência de bolas Bj de raio 21j e uma sequência N ⊃ N1 ⊃ N2 ⊃ . . . ⊃ Nj
decrescente de subconjuntos infinitos Nj de N tais que xn ∈ Bj para n ∈ Nj . Agora, esco-
lha n1 ∈ N1 , n2 ∈ N2 , . . . de tal forma que n1 < n2 < . . . < nj . Então, xnj ∈ B 1j (aj ) e
2
4
Em todo o texto Λ denota um conjunto arbitrário de índices.
25
ρ(xnk , xnj ) < 21j + 21j = 22j se k > j. Logo, (xnj ) é uma sequência de Cauchy em E, a qual é
uma subsequência de (xn ) e, portanto, converge para um elemento de E, pois, E é completo.
(⇐) Suponha que E não é completo e que toda sequência em E possui uma sub-
sequência que converge para um elemento de E. Logo, existe (xn ), uma sequência de Cau-
chy em E, que não converge para um elemento de E. Desta forma, nenhuma subsequência
(xnj ) ⊂ (xn ) converge em E, pois do contrário (xn ) convergiria para o mesmo limite. Con-
tradizendo a hipótese de toda sequência em E possuir uma subsequência convergente em
E. Logo, E é completo.
Suponha agora que E não é totalmente limitado e toda sequência em E possui uma
subsequência que converge para um elemento de E. Assim, existe ε > 0, e existe um con-
junto finito F = {a1 , a2 , . . . , ak } tal que E 6⊂ ∪kj=1 Bε (aj ).Escolha x1 , x2 , . . . , xk ∈ E tal que
xk+1 ∈ E − ∪kj=1 Bε (aj ). Então, ρ(xn , xm ) ≥ ε para todo m, n e, portanto, (xn ) não pode ter
subsequência convergente.
Lema 1.2. Seja E um subconjunto de um espaço métrico (X, ρ). As seguintes afirmações são
equivalentes:
(i)(Propriedade de Bolzano-Weirstrass) Toda sequência em E possui uma subsequência
que converge para um ponto de E.
(ii)(Propriedade de Heine - Borel) Para cada cobertura, {Vα }α∈Λ , de E por abertos de
(X, ρ), existe um conjunto finito I ⊂ Λ tal que {Vα }α∈I cobre E.
Demonstração. (⇒) Suponha, por contradição, que para todo n ∈ N existe uma bola Bn de
raio 21n tal que Bn ∩ E 6= ∅ e Bn 6⊂ Vα para algum α ∈ Λ. Tome xn ∈ Bn ∩ E. Então, por (i),
existe uma subsequência (xnj ) de (xn ) que converge para algum x em E. Por simplicidade
de notação, continuaremos denotando a subsequência por (xn ).
Note que se x ∈ E, então x ∈ Vα para algum α ∈ Λ e, como Vα é aberto, existe ε > 0 tal
que Bε (x) ⊂ Vα . Assim, fazendo n suficientemente grande, tal que ρ(xn , x) < 21n < 3ε , temos
então,
Bn (x) ⊂ Bε (x) ⊂ Vα ,
é uma cobertura de E por abertos sem cobertura finita. Contradição!. Logo, toda sequência
(xn ) ⊂ E possui subsequência convergente.
26
Teorema 2.1 ( Riesz). Seja V um espaço vetorial normado. A bola unitária B[0; 1] é compacta se, e
somente se, dim V < ∞. (ver [5]).
Assim, por exemplo, a bola unitária fechada B[0; 1] de V = C([0, 1]; R), formada pelas fun-
ções contínuas f : [0; 1] → R tais que |f (x)| ≤ 1 para todo x ∈ [0, 1], embora limitada e
fechada, não é compacta, pois dim V = ∞.
O Teorema de Arzelá-Ascoli, nosso principal resultado, a ser estabelecido neste capí-
tulo, assevera que a equicontinuidade é a condição adicional que um subconjunto limitado de
C(K; Rn ), com K compacto, precisa cumprir para ter fecho compacto.
2.1 Equicontinuidade
No que se segue,
F(M ; N ) := {f : M −→ N ; f contínua}.
ε
ρ(x, a) < δ ⇒ ρ(fn (x), fn (a)) < ∀ n.
2
Fazendo n → ∞, obtemos
ε
ρ(f (x), f (a)) ≤ < ε.
2
Em particular, f é contínua.
Lema 2.1. Se uma sequência equicontínua (fn ) converge pontualmente para f , então a con-
vergência é uniforme em cada parte compacta K ⊂ M .
ε
n ≥ nx ⇒ ρ(fn (x), f (x)) < .
3
ε ε
y ∈ Bx ⇒ ρ(fn (y), fn (x)) < e ρ(f (y), f (x)) < .
3 3
S
Da cobertura aberta K ⊂ x∈K Bx , extraímos uma subcobertura finita
K ⊂ Bx1 ∪ . . . ∪ Bxp .
Seja n0 := max{nx1 , . . . , nxp }. Se n > n0 e x ∈ K, existe i ∈ {1, . . . , p} tal que x ∈ Bxi . Logo,
ε
ρ(fn (x), fn (xi )) < .
3
Assim,
ρ(fn (x), f (x)) ≤ ρ(fn (x), fn (xi )) + ρ(fn (xi ), f (xi )) + ρ(f (xi ), f (x)) < ε.
29
Proposição 2.1. Seja (fn ) equicontínua. Suponhamos que, para cada x ∈ M , o conjunto
{fn (x) : n ∈ N} tenha fecho completo em N . Se (fn ) converge pontualmente num subonjunto
denso D ⊂ M , então (fn ) converge uniformemente em cada parte compacta de M .
Demonstração. Basta notar que (fn ) converge pontualmente em todo o M . Com efeito, to-
mando arbitrariamente x ∈ M , dado ε > 0, existe uma bola aberta B, contendo x, tal que
ε
y ∈ B ⇒ ρ(fn (y), fn (x)) < para todo n.
3
ε
m, n > n0 ⇒ ρ(fm (y), fn (y)) < .
3
ρ(fm (x), fn (x)) ≤ ρ(fm (x), fm (y)) + ρ(fm (y), fn (y)) + ρ(fn (y), fn (x)) < ε.
Sendo, pois, (fn (x)) de Cauchy existe, por hipótese, limn fn (x). O resultado segue-se do
Lema anterior.
f : M −→ N
é uniformemente contínua.
Demonstração. Suponha que f não é contínua logo, existe ε > 0 e para cada n ∈ N, pontos
xn , yn ∈ M tais que
1
ρ(xn , yn ) < (2.1)
n
e
ρ(f (xn ), f (yn )) ≥ ε. (2.2)
30
Passando a uma subsequência se preciso for, supomos, pela compacidade de M, que existe
lim xn = a ∈ M . Então, por (2.1), lim yn = a também. Segue, da continuidade de f e da
distância, que
lim ρ(f (xn ), f (yn )) = ρ(f (a), f (a)) = 0,
n→∞
C(X, R) := {f : X −→ R ; f contínua}
o espaço métrico das funções contínuas com a métrica uniforme, donde segue análogo do
Exemplo (1.10), que C(X, R) é completo.
Definição 2.2. Uma família F de funções é dita uniformemente limitada se existe K > 0 tal que
|f (x)| ≤ K, ∀ x ∈ X.
Demonstração. (⇒) Suponha que F é relativamente compacto, isto implica que o fecho F é
compacto e, por sua vez, é totalmente limitado. Como, F ⊂ F temos que F é totalmente
limitado, logo, dado ε > 0 existem f1 , f2 , . . . , fn ∈ C(X, R) tais que
n
[
F⊂ B 3ε (fi ).
i=1
Seja f ∈ F, arbitrário. Assim, f ∈ B 3ε (fi0 ) para algum i0 ∈ {1, 2, . . . , n}, assim, para x ∈ X
|f (x)| = |f (x) − fi0 (x) + fi0 (x)| ≤ |f (x) − fi0 (x)| + |fi0 (x)|
ε ε
≤ + Mi0 ≤ + max Mi
3 3 1≤i≤n
ε
≤ +M =M f,
3
ε
sup |f (x) − fj (x)| <
x∈X 3
Logo,
|f (x) − f (x0 )| ≤ |f (x) − fj (x)| + |fj (x) − fj (x0 )| + |fj (x0 ) − f (x0 )|
2ε
≤ + |fj (x) − fj (x0 )|.
3
ε
ρ(x, x0 ) < δ =⇒ |fj (x) − fj (x0 )| < .
3
L = {α : E → F ; α é uma função}
ε
Fα := {f ∈ F ; |f (xi ) − α(xi )| < , 1 ≤ i ≤ n} (2.3)
4
logo,
sup |f (x) − g(x)| ≤ ε
x∈X
o que implica,
diam Fα ≤ ε
Corolário 2.3. Seja (fn )n∈N uma sequência de aplicações contínuos fn : [a, b] −→ R e supo-
nha que existem constantes M, K > 0 tais que, para cada n ∈ N e quaisquer s, t ∈ [a, b],
Então existe uma subsequência de (fn ) que é uniformemente convergente para uma
certa aplicação contínua f : [a, b] −→ R.
Corolário 2.4. Seja (fn )n∈N uma sequência de aplicações contínuas fn : [a, b] −→ Rm e supo-
nha que existem constantes M, K > 0 tais que, para cada n ∈ N e quaisquer s, t ∈ [a, b],
Então existe uma subsequência de (fn ) que é uniformemente convergente para uma
certa aplicação contínua f : [a, b] −→ Rm .1
1
Ver [2]
3 Aplicações
ϕ(t0 ) = x0 , se t0 ∈ I
e
ϕ(t0 ) = x0 ,
neste caso dizemos que ϕ é uma solução do problema de valor inicial (3.1).
Observe que se ϕ : I → Rn é uma solução do problema (3.1) em I, então
0
integrando x = f (t, x) em I obtemos
Z t
ϕ(t) = x0 + f (s, ϕ(s))ds, para t ∈ I. (3.2)
t0
35
e
b
α = min a, .
M
Lema 3.1. Dado qualquer 0 < ε ≤ δ existe uma aplicação contínua ϕε : [t0 − δ, t0 + α] −→ Rn
tal que, para quaisquer t, u ∈ [t0 − δ, t0 + α], valem
Demonstração. Definimos
(
x0 t ∈ [t0 − δ, t0 ],
ϕε (t) = Rt
x0 + t0 f (s, x0 )ds t ∈ [t0 , t0 + α1 ],
onde α1 = min{α, }. Observe que para qualquer t ∈ [t0 , t0 + α1 ] vale
Z t Z t
f (s, x0 )ds = f (s, ϕε (s − ε))ds,
t0 t0
u, t ∈ [t0 , t0 + α1 ],
temos Z t
|ϕε (t) − ϕε (u)| ≤ f (s, x0 )ds ≤ M |t − t0 |
u
36
e Z t
|ϕε (t) − x0 | ≤ f (s, x0 )ds ≤ M |t − u| ≤ M α1 ≤ M α ≤ b.
t0
Lema 3.2. Seja (ϕn ) uma sequência de C ([a − 1, b], Rm ) que converge uniformemente para
ϕ em [a − 1, b] e defina ϕ̃n (s) = ϕn (s − n1 ) para a ≤ s ≤ b. Mostre que (ϕ̃n ) converge
uniformemente para a restrição de ϕ a [a, b].
ε
kϕn (s) − ϕ(s)k < , ∀ n ≥ n0 , ∀s ∈ [a − 1, b]. (3.5)
2
Como cada ϕn ∈ C ([a − 1, b], Rm ) é contínua e está definida em um compacto segue que, ϕn
é uniformemente contínua, ou seja, existe δ > 0
ε ε
kϕ̃n (s) − ϕ(s)k ≤ + = ε, ∀ n ≥ n1 .
2 2
Portanto,
ϕ̃n −→ ϕ uniformemente em C ([a, b]) .
Lema 3.3. Sejam (fn ) uma sequência de C ([a, b], Rm ) que converge uniformemente para f
em [a, b] e g : Rm −→ Rk uma aplicação uniformemente contínua. Defina hn , h ∈ C [a, b], Rk
pela composição, ou seja, hn (s) = g(fn (s)) e h(s) = g(f (s)) para a ≤ s ≤ b. Mostre que (hn )
converge uniformemente para h em [a, b].
Demonstração. Queremos mostrar que (hn ) converge uniformemente para h em [a, b]. Sejam
hn (s) = g(fn (s)) e h(s) = g(f (s)). Dado ε > 0, ∃ δ > 0 tal que
logo, como (fn ) converge uniformemente, temos que existe n0 ∈ N tal que,
kfn (s) − f (s)k < δ, para todo n > n0 e para todo ∈ [a, b].
∀ n ≥ n0 , ∀ s ∈ [a, b].
donde obtemos Z t
ϕ(t) = x0 + f (s, ϕ(s))ds,
t0
isto é, concluímos que ϕ(t) é uma solução de x0 = f (t, x), x(t0 ) = x0 . Analogamente, mostra-
mos que existe uma solução para x0 = f (t, x), x(t0 ) = x0 em [t0 − α, t0 ] e assim, como ambas
soluções possuem valor x0 e derivada f (t0 , x0 ) no ponto t0 , basta concatená-las, para obter
uma solução definida em todo intervalo [t0 − α, t0 + α].
Conclusão
[1] LIMA, Elon L. Espaços Métricos. Associação Instituto Nacional de Matemàtica Pura e
Aplicada, 2003, 299pp.(Projeto Euclides)
[2] DOERING, Claus Ivo. Equações Diferenciais Ordinárias/ Claus Ivo Doering, Artur Os-
car Lopes. 5.ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2012. 421 p.: il.; 23 cm. (Coleção matemática
universitária)
[3] KREYSZIG, Erwin. Introductory Functional Analysis with Applications, John Wiley
Classic Library, 1989.
[5] BRÉZIS, H.;Functional Analysis, Sobolev Spaces and Partial Differential Equations.
Springer, New York, 2011.
[6] LIMA, Elon L. Curso de análise: vol. 2. 9 ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2006.
[7] LIMA, Elon Lages. Análise real: vol. 1. 11 ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2012.
A Contexto Histórico
Por sua vez, Cesare Arzelá nasceu em 6 de março de 1847, em Santo Stefano di
Magra, La Spezia, Itália e morreu em 15 de março de 1912, em sua Terra Natal. De família
com meios financeiros limitados. Frequentou o liceu em Sarzana por dois anos 1856-1858.
Posteriormente, ele foi para o Liceu, em Pisa, onde passou três anos 1858-1861. Após ter
ganho um concurso de admissão para a Escola Normal Superior de Pisa, que lhe deu uma
bolsa de estudos, ele começou seus estudos como um estudante de ciências matemáticas e
42
físicas, em novembro de 1861. Em 1869 Arzelá graduou-se tendo seu trabalho concluído
com a dissertação sobre a teoria do potencial.
Depois de se formar, Arzelà continuou a frequentar cursos de análise superior,
física matemática e mecânica superior, entre outros. Iniciou sua carreira de professor no
Liceu de Macerata e, após dois anos, pediu licença para continuar seus estudos em Pisa
no ano de 1872-1873, passando a frequentar um curso sobre a elasticidade dado por Enrico
Betti, que também o orientou em sua tese e, um curso sobre a teoria de funções de uma
variável real dada por Ulisse Dini.
Arzelá deixou várias contribuições, entre elas, o mais importante trabalho ci-
entífico, onde elaborou o conceito de convergência uniforme gradual que dá uma condição
necessária e suficiente para uma série de funções contínuas convergir para uma função con-
tínua ( 1883 ). Na verdade, ele publicou três artigos em 1885: Sulla Integrazione por série;
Sulla integrabilità di una serie di Funzioni e Sui prodotti Infiniti. Foi quatro anos depois que
ele publicou o resultado para o qual ele é mais conhecido hoje em seu artigo Sulle Funzioni
di linee (1895). Ele provou o resultado hoje conhecido como o teorema de Ascoli - Arzelà
sobre a existência de uma subsequência uniformemente convergente em cada seqüência de
funções equilimitada e equicontinua. Ambos, Giulio Ascoli e Arzelà tinham estudado o con-
ceito de equicontinuidade e o teorema de Arzelà era uma generalização de um muito mais
fraco do que tinha sido provado por Ascoli, em 1884.
Note-se que hoje o teorema de Ascoli - Arzelà é um resultado sobre compaci-
dade mas, essa ideia só foi introduzida por Maurice Fréchet em 1904.
B Desigualdade de Minkowski
Exemplo 1.3
∞
! p1 ∞
! p1 ∞
! p1
X X X
|ξi − ηi |p ≤ |ξk |p + |ηm |p . (B.1)
i=1 k=1 m=1
∞ ∞
! p1 ∞
! 1q
X X X
|ξj ηj | ≤ |ξk |p |ηm |q (B.4)
j=1 k=1 m=1
e encontramos ! p1 ! 1q
n
X n
X n
X
|ξj ||ωj |p−1 ≤ |ξk |p (|ωm |p−1 )q . (B.5)
j=1 k=1 m=1
44
(p − 1)q = pq − q = p + q − q = p
pois, pq = p + q onde p e q são ditos expoentes conjugados. Já que, sendo p > 1 definimos q por
1 1
+ = 1.
p q
1
= q − 1,
p−1
de modo que
u = tp−1 implica t = uq−1
n n
! p1 n
! 1q
X X X
|ηj ||ωj |p−1 ≤ |ηk |p |ωm |p . (B.6)
j=1 k=1 m=1
n
n
! p1 n
! p1 n
! 1q
X X X X
|ωj |p ≤ |ξk |p + |ηk |p |ωm |p . (B.7)
m=1
j=1 k=1 k=1
1 1
Dividindo pelo o último fator na direita e observando que 1 − = , obtemos (B.1)
q p
com n em vez de ∞.
Agora n −→ ∞. À direita, isso gera duas séries que convergem, porque, x, y ∈ lp .
Por isso, a série no lado esquerdo também converge, e (B.1) está provada.
Assim, de (B.1) segue-se que a série em
∞
! p1
X
ρ(x, y) = |ξj − ηj |p , (B.8)
j=1
45
temos
X 1 ⊃ X2 ⊃ . . . ⊃ Xn ⊃ . . .
am = inf Xm ,
am ≤ xn < a + ε,
isto é,
xn ∈ (a − ε, a + ε).
1
Ver [1], Proposição 3, pág. 162 e Proposição 4, pág. 119.
D Mais alguns Resultados
ε
n > n0 ⇒ |fn (x) − f (x)| < ,
3
para todo x ∈ X.
Fixemos um número natural n > n0 . Como fn é contínua no ponto a, existe δ > 0 tal
que x ∈ X,
ε
|x − a| < δ =⇒ |fn (x) − fn (a)| < ,
3
donde