Aula 2 - Psicanálise

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PSICANÁLISE APLICADA À

PSICOPEDAGOGIA
AULA 2

Prof. Gustavo Thayllon França Silva


CONVERSA INICIAL

Falar sobre sexualidade na infância não é fácil, tendo em vista que a


sociedade ainda confunde muito a sexualidade com o próprio ato sexual. Assim,
nesta aula vamos trabalhar conteúdos epistemológicos acerca da sexualidade
infantil proposta por Freud, avaliando de que forma esses temas influenciaram a
sociedade de Viena na época.
Além disso, falar de sexualidade pelo viés da psicanálise é falar sobre o
próprio desenvolvimento humano do sujeito, a partir do seu nascimento. Nós,
que somos da área da educação, provavelmente conhecemos muitos bem os
estágios do desenvolvimento de Jean Piaget, Wallon, dentre outros. Pois bem,
com Freud não é tão diferente. O que acontece é que ele não focou apenas na
inteligência ou nas aprendizagens sociais, tendo trabalhado ainda o trauma, as
relações da criança com a mãe, o pai, bem como o desenvolvimento de uma
forma mais ampla.
Possivelmente, vocês devem estar se perguntando o motivo por que
precisamos compreender tais conceitos. Freud, quando desenvolveu a teoria do
desenvolvimento, percebeu que muitas coisas que aconteciam com as crianças
tinham repercussões na vida adulta. Como a psicanálise é um método
investigativo, isso acabava se revelando na clínica psicanalítica por meio da
associação livre.
Nós, enquanto profissionais de psicopedagogia, além de conhecer os
conceitos da psicanálise, precisamos entender como Freud entendia o
desenvolvimento, pois esse arcabouço pode contribuir para uma avaliação
psicopedagógica mais eficiente.
Por exemplo, uma criança de 10 anos que ainda não consegue fazer o
controle dos esfíncteres, nem mesmo da bexiga, provavelmente é uma criança
ainda fixada no estágio anal. Precisamos realizar essa investigação, pois
provavelmente a situação afeta a aprendizagem. Assim, é importante lembrar
que nosso objeto de estudo é a aprendizagem, e que todos os conceitos
aprendidos nesta disciplina podem ser aplicados na psicopedagogia e por
consequência na educação.

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TEMA 1 – DESENVOLVIMENTO DA SEXUALIDADE INFANTIL: HISTÓRICO

Em geral, falar da sexualidade infantil não é um tema fácil. Freud (1901-


1905) comenta que é muito comum negligenciarmos o fator da sexualidade
infantil, pois acabamos entendendo a sexualidade apenas em relação ao seu
desenvolvimento na puberdade.
A nossa trajetória infantil (às vezes, só nos lembramos de questões mais
marcantes) deixam traços marcantes em nossa vida psicológica ou anímica. Isto
é, na perspectiva de Freud, já nascemos com instintos sexuais, ainda que eles
sejam diferentes da sexualidade que vivenciamos na vida adulta, sexualidade
com o intuito de satisfação de um desejo. Por exemplo, o prazer na alimentação.
De acordo com Quadros (2018), Freud chocou toda a sociedade ao
afirmar que a criança apresentava sexualidade. Essa ideia apareceu em seu
texto Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Vale ressaltar, mais uma vez,
que tal sexualidade se difere da sexualidade do adulto, pois as suas
manifestações são diferentes, isto é, acontecem em zonas erógenas pelas quais
a libido se desloca. Segundo Roudinesco e Plon (1998, p. 471) podemos definir
libido da seguinte forma:

Termo latino (libido = desejo*), inicialmente utilizado por Moriz


Benedikt* e, mais tarde, pelos fundadores da sexologia* (Albert Moll* e
Richard von Krafft-Ebing*), para designar uma energia própria do
instinto sexual, ou libido sexualis. Sigmund Freud* retomou o termo
numa acepção inteiramente distinta, para designar a manifestação da
pulsão* sexual na vida psíquica e, por extensão, a sexualidade*
humana em geral e a infantil em particular, entendida como
causalidade psíquica (neurose*), disposição polimorfa (perversão*),
amor-próprio (narcisismo*) e sublimação*.

Assim a libido perpassa várias zonas e fases, oral, anal, fálica, latência ou
genital, cada uma com suas manifestações. Quando falamos desse tema,
precisamos compreender que existem vários impulsos, razão pela qual Freud
chamou a criança de perverso polimorfo (Quadros, 2018). Ou seja, a criança
obtém prazer de várias formas, como na sucção do peito da mãe, o que
justamente é um ato de aprendizagem e desenvolvimento, pois a boca também
é um órgão e um instrumento de linguagem.
Sobre esse contexto, Beer (2017) define que a sexualidade começa desde
o nascimento, sendo importante distinguir sexual de genital, pois a sexualidade
é um termo amplo, que envolve outros aspectos, como o afeto, a amizade e o

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próprio desenvolvimento humano, indo além de uma noção meramente genital.
Feist et al. (2015, p. 27) estabelecem:

Freud (1917/1963) dividiu o período infantil em três fases, de acordo


com qual das três zonas erógenas primá- rias cujo desenvolvimento é
o mais relevante. A fase oral começa primeiro e é seguida, em ordem,
pela fase anal e pela fase fálica. Os três períodos infantis se
sobrepõem uns aos outros, e cada um continua após o início dos
estágios posteriores.

Neste contexto de estágios, surge o conceito de fixação. Já sabemos,


principalmente a partir dos conceitos da psicodinâmica, que a personalidade e o
desenvolvimento não são estanques. Portanto, podem se desenvolver ou
regredir, ou ainda se fixar em determinado estágio, mesmo já tendo passado
cronologicamente por ele. Nesse mesmo sentido, Zimerman (2007, p. 92)
elucida:

Os “pontos de fixação” formariam-se a partir de uma exagerada


gratificação ou frustração de uma determinada “zona erógena”. No
primeiro caso, o sujeito, diante de angústias insuportáveis, tenta
regredir para um tempo e um espaço que lhe foi tão protetor e
gratificante; no caso de uma excessiva frustração que foi a
determinante do ponto de fixação, a regressão dá-se, muitas vezes,
sabemos hoje, como uma tentativa de resgatar alguns “buracos negros
“existenciais.

Fica evidente a necessidade de estudo e pesquisa em psicanálise,


sobretudo acerca das considerações e contribuições que a área traz para o
campo psicopedagógico, considerando o viés do desenvolvimento humano dos
sujeitos.

TEMA 2 – FREUD E A PSICANÁLISE COM CRIANÇAS

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Crédito: CC/PD.

Freud sempre analisou adultos. Ao longo dos anos de desenvolvimento


da técnica psicanalítica, atendeu apenas uma criança, o que foi o pontapé inicial
para o trabalho da psicanálise com crianças. Antes de abordar esse caso, é
importante conceituar o que seria a psicanálise com crianças, ou psicanálise
infantil.
A psicanálise com crianças e adolescentes nada mais é do que uma
psicanálise com um público de idade diferente, isto é, com técnicas semelhantes
porém readequadas, pois mudamos o setting. É essencial ter uma sala lúdica
para realizar a análise. Assim, como técnica primordial, utilizamos o brincar:

observando o mais óbvio, como convém a todas as grandes


descobertas, percebeu que as crianças expressavam suas fantasias,
seus desejos e experiências de um modo simbólico por meio de
brinquedos e jogos. Relacionou isso, de imediato, com os mesmos
meios de expressão arcaica, filogenéticos, a mesma linguagem que era
familiar ao estudos dos sonhos, como realizados por Freud. Ressaltou
– e isto me parece da maior importância – que o simbolismo era só
uma parte desta linguagem. (Zimerman, 2007, p. 422)

Ou seja, na análise de crianças, iremos utilizar todos os materiais que


estão ao nosso alcance para realizar a transferência e a contratransferência
positiva, observando os sintomas manifestados e latentes que acometem aquele
sujeito.
Quando digo que Freud, além de Melanie Klein, foi um dos percursores
da psicanálise infantil, isso quer dizer que ele deu o pontapé inicial à prática, com
o caso do Pequeno Hans. Em 1909, Freud escreveu Análise de uma fobia de um
menino de cinco anos, onde relata o caso de Hans.
Freud atendeu o pequeno Hans apenas uma vez. Antes e depois desse
atendimento, Freud repassou orientações ao pai. Por incrível que pareça, os
sintomas foram tratados por meio desse processo de mediação.
O que levou o pai de Hans a buscar Freud foi um medo inconsciente que
Hans tinha de ser mordido por cavalos, ou ainda de cair de carros puxados por
esses animais. Além disso, Hans já apresentava curiosidade sexual. Ele se
questionava quem tinha “pipi” e quem não tinha. Por exemplo, em uma
passagem relatada por Freud, Hans disse: “Um cachorro e um cavalo têm pipi;
a mesa e a cadeira, não.” Trata-se do descobrimento da diferença entre objetos
animados e inanimados (Freud, 1986, p. 6)

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Uma questão relevante do caso era o ciúme provocado pela chegada de
um novo bebê na família. Hans sempre quis se sentir superior ao bebê. É
interessante que, com 3 anos e nove meses, Hans relatou o seu primeiro sonho,
no qual estava brincando com a filha do senhorio da família. Assim, podemos
ver o potencial analítico do trabalho com crianças.
Freud trocou diversas cartas com o pai de Hans, que lhe encaminhava
relatos, a partir dos quais ele analisava a fobia e o medo de cavalos. Vale ainda
destacar que o garoto sempre desenhava os cavalos com as características do
pai, o que apresentava uma ansiedade de castração, ou seja, o medo de perder
o “pipi”.
Esse medo se originava da rivalidade que tinha com o pai e do medo de
separação da mãe. Ele gostava quando o pai viajava, pois então ele podia dormir
com a mãe; quando o pai retornava, ele tinha medo de que o pai ocupasse o seu
lugar. A partir das recomendações de Freud, Hans passou a compreender o
verdadeiro lugar que ocupava na relação familiar, entendendo a relação do pai
com a mãe. Por meio de desenhos, Hans conseguiu trabalhar a sua sintomática,
ajudando Freud a desenvolver os conceitos do complexo de Édipo.

TEMA 3 – FASE ORAL E ANAL

Considerando o desenvolvimento do sujeito sob o viés da psicanálise,


observe a imagem a seguir.

Crédito: Tongo51/Shutterstock.

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O primeiro estágio descrito e adotado por Freud é o oral. A zona erógena
concentra-se na boca da criança. Muitas questões são importantes nesse
estágio, como o seio da mãe, além de gratificações ou repressões excessivas,
que podem causar efeitos negativos na vida adulta, como uso obsessivo de
álcool.
De acordo com Nasio (1999, p. 61), nesse estágio não é apenas a
alimentação que proporciona prazer à criança, mas o ato de sugar, levar tudo à
boca, inclusive os dedos, bem como “pôr em movimento os lábios, a língua e o
palato, numa alternância ritmada.”
O autor complementa que pode existir uma fase oral tardia, com o
aparecimento de dentes e o ato de morder, com prazer no processo de sucção
e até no início da ingestão de alimentos. Uma observação muito interessante é
que, juntamente com a boca, outros órgãos também compõem a fase oral
(Zimerman, 2007, p. 92):

Deve ficar bem claro, no entanto, que a boca não é o único órgão
importante dessa fase evolutiva, mas sim que ela se constitui um
modelo de incorporação e de expulsão, ou seja, como um protótipo de
funcionamento arcaico que intermedeia o mundo interno com o mundo
externo. Assim, também devem ser consideradas nessa fase oral,
outras zonas corporais que cumprem a mesma função, como: o
complexo sistema aerodigestivo, sobretudo, todo o trato gastrintestinal;
os órgãos da fonação e da linguagem; as sensações cinestésicas
(alude ao “equilíbrio” corporal), enteroceptivas (as que provêm de
órgãos internos) e as proprioceptivas (derivam das camadas mais
profundas da pele); a pele que, além das aludidas sensações
profundas, também propicia as funções de tato e a de uma, essencial,
aproximação “pele-pele” com a mãe; todos os órgãos sensoriais, como
olfato, paladar, tato, audição e visão. Em outra parte deste capítulo
será melhor explicitada a importante função que o “olhar” desempenha
na estruturação da personalidade da criança

Vale lembrar que o estágio oral vai do nascimento até, mais os menos, 18
meses, lembrando que tais processos não são estanques. Na sequência, temos
o estágio anal. Observe a imagem.

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Crédito: Irina Wilhauk/Shutterstock.

O estágio anal tem início logo após o oral, a partir dos dois até o terceiro
e quarto anos. O ânus é aqui a zona erógena, e as fezes acabam sendo a
materialização das pulsões. As crianças, quando percebem que algo foi expulso
delas, ficam encarando as fezes e muitas vezes querem tocá-las. Ganham
destaque, nessa fase, o controle dos esfíncteres, a questão da excreção e da
retenção, que é dividida em duas, conforme descreve Feist (2015, p. 28):

Durante o período anal inicial, as crianças encontram satisfação


destruindo ou perdendo objetos. Nessa época, a natureza destrutiva
do impulso sádico é mais forte do que a erótica, e as crianças, com
frequência, se comportam agressivamente em relação a seus pais por
frustrá-las com o treinamento esfincteriano. Então, quando entram no
período anal final, elas, por vezes, assumem um interesse amistoso
em relação a suas fezes, um interesse que provém do prazer erótico
de defecar. Com frequência, apresentam suas fezes aos pais como um
presente valioso.

O autor ainda complementa que a repressão causará muitos danos nesse


estágio. Portanto, o elogio precisa estar presente – caso isso aconteça, é
provável que as crianças se tornem adultos generosas; caso contrário, quando
adultos poderão apresentar resistência e rigidez.

TEMA 4 – FASE FÁLICA E PERÍODO DE LATÊNCIA

Seguindo na concepção de desenvolvimento infantil, temos a fase fálica,


que tem início pelos quatro anos de idade, sobretudo com o entendimento e a
curiosidade pelas diferenciações anatômicas. A zona erógena é o próprio genital.
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É quando tem início a dicotomia entre masculino e feminino. Esse estágio
perdurará até os cinco anos de idade.
Nessa etapa, de acordo com Zimerman (2007), surgem conceitos
importantes que precisam discutidos, como a masturbação, ligada ao processo
de excitação, em meninos e meninas, de seus órgãos genitais. Além disso, surge
a famosa fase dos “porquês”, em que a curiosidade se sobrepõe a todas as
coisas, incluindo a curiosidade sexual – de onde vem os bebês, por que eu tenho
“pipi” e assim por diante. Nessa fase, a maioria das perguntas

se refere às origens das diferenças entre pares opostos, como


masculino-feminino; seio-pênis; grande-pequeno, etc., e que a
constatação progressiva dessas diferenças provoca um acréscimo de
angústia, que encontra alívio numa explicação adequada por parte do
educador; caso contrário, obrigará a criança a construir as mais
estapafúrdias teorias. (ZImerman, 2007, p. 94)

É justamente nesse período que surge o que chamamos de complexo de


Édipo (termo oriundo da mitologia grega), que se desenvolve em meninos e
meninas. Feist (2015, p. 29) comenta sobre o Édipo em meninos:

O menino agora vê seu pai como um rival pelo amor da mãe. Ele deseja
afastar seu pai e possuir sua mãe em uma relação sexual. Essa
condição de rivalidade com o pai e sentimentos incestuosos pela mãe
é conhecida como complexo de Édipo masculino simples. O termo é
retirado da tragédia grega de Sófocles, na qual Édipo, rei de Tebas, é
levado pelo destino a matar seu pai e a se casar com sua mãe.

Ainda sobre o complexo de Édipo, agora em meninas, o Feist (2015, p.


30) complementa:

A fase fálica toma um ca- minho mais complicado para as meninas do


que para os meninos, e essas diferenças se devem às distinções
anatô- micas entre os sexos (Freud, 1925/1961). Assim como os
meninos, as meninas pré-edípicas assumem que todas as outras
crianças possuem genitais semelhantes aos seus. Logo, elas
descobrem que os meninos não só possuem ge- nital diferente, como
também têm algo extra. As meninas, então, passam a ter inveja desse
apêndice, sentem-se lu- dibriadas e desejam possuir um pênis. Tal
experiência de inveja do pênis é uma força poderosa na formação da
per- sonalidade das meninas. Diferente da ansiedade de castra- ção
nos meninos, a qual é rapidamente reprimida, a inveja do pênis pode
durar anos, em uma forma ou outra. Freud (1933/1964) acreditava que
a inveja do pênis é frequentemente expressa como um desejo de ser
um menino ou de ter um homem. Quase universalmente, ela é
transferida para o desejo de ter um bebê e às vezes pode encontrar
ex- pressão no ato de dar à luz, especialmente a um menino.

Seguindo, entramos a seguir na fase de latência, e, que impera a


estagnação das energias e da libido, não havendo uma zona erógena, pois ela
se inicia nos seis anos de idade. A preocupação agora está no processo de

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socialização, sobretudo porque a criança entra para o período de escolarização
e começa a interagir com os seus pares, sobretudo sem a supervisão de seus
pais. Nesse período, começam a aparecer outras questões, como o
entendimento de “aspirações morais, estéticas e sociais, de modo tal que este
período é comumente considerado como sendo aquele que consolida a
formação do caráter” (Zimerman, 2007, p. 95). Feist (2015, p. 31) ainda
complementa:

A continuação da latência é reforçada pela supressão constante da


parte de pais e professores e da parte de sentimentos internos de
vergonha, culpa e moralidade. O im- pulso sexual, é claro, ainda existe
durante a latência, mas seu alvo foi inibido. A libido sublimada agora
se apresenta em realizações sociais e culturais.

TEMA 5 – FASE GENITAL

Uma das questões mais interessantes do período genital aparece na


puberdade e na adolescência, com mudanças orgânicas, afetivas e de
personalidade, o luto pelo corpo de criança e a busca constante por aceitação
no mundo dos adultos. Esses sujeitos acabam por desenvolver estratégias ou
ainda os chamados “mecanismos de defesa”, para que o sujeito possa se
proteger, o que em muitos momentos se confunde com rebeldia e
incompreensão.

Crédito: Bearfotos/Shutterstock.

Chegamos ao último estágio do desenvolvimento, conforme proposto por


Freud, que é o genital. Aqui finalmente podemos falar de sexualidade genital,

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com a busca pelo orgasmo e pelo prazer, além de questões afetivas, emocionais
e de procriação.
Esse estágio tem início logo na puberdade e na adolescência. Aos 18
anos, a personalidade estará mais estável. Segundo Zimerman (2007, p.95)
“considera-se que a adolescência abrange três níveis de maturação e
desenvolvimento: a puberdade (ou pré-adolescência), no período dos 12 aos 14
anos, a adolescência propriamente dita (dos 15 aos 17) e a adolescência tardia
(dos 18 aos 21)”.
Uma questão muito interessante proposta por Freud, na visão de Pervin
e John (2007), é que o sucesso no desenvolvimento dos estágios faz com que o
adolescente que está na fase genital (consequentemente, na vida adulta)
alcance uma maturidade psicológica que o torna capaz de amar e trabalhar.
Assim, esse estágio de maturidade psicológica é “alcançado depois que a
pessoa passou pelos períodos evolutivos anteriores de maneira ideal.
Infelizmente, a maturidade psicológica raras vezes acontece, porque as pessoas
têm muitas oportunidades de desenvolver psicopatologias ou predisposições
neuróticas” (Feist, 2015, p.32).

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NA PRÁTICA

Para nos aproximarmos da prática psicanalítica e psicopedagógica,


vamos trazer um estudo de caso. Na sequência, vocês deverão responder as
indagações ligadas ao texto.
João tem 9 anos de idade. Ele está no 4º ano do Ensino Fundamental.
João sempre urina e defeca na roupa. Seus colegas de sala e outros alunos riem
e caçoam dele. Quando João tinha cerca de um ano e meio, era sempre
repreendido quando não conseguia controlar os esfíncteres da mesma forma
como fazem as outras crianças.
As professoras não sabem mais o que fazer e como agir, tendo em vista
que o caso é recorrente – isto é, João não consegue pedir à professora para ir
ao banheiro, e acaba fazendo as necessidades fisiológicas na roupa.
Esse contexto influencia diretamente na aprendizagem de João, tendo em
vista que ele não se preocupa com o aprendizado, pois as suas energias estão
direcionadas para o controle dos esfíncteres e da urina. Além disso, João
apresenta uma forte tendência de obsessão com objetos, além de
desorganização e vontade de dominar as situações e os seus pais.
Partindo desses dados iniciais, tente responder, com suas palavras,
formulando um texto único:

• Em qual fase do desenvolvimento, a partir da ótica psicanalítica, João


deveria estar?
• Em qual estágio do desenvolvimento, a partir da ótica psicanalítica, João
se encontra de fato?
• Quais as possíveis causas da fixação nesse estágio?
• Como trabalhar as questões relativas à aprendizagem?
• Como a psicopedagogia pode contribuir com esse estudo de caso?
• De que maneira podemos orientar os pais?
• Como podemos realizar uma intervenção com as professoras de João?
• Você acha que as informações do estudo de caso são suficientes para
entender o panorama de João?
• O que mais poderia ser acrescentado?

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FINALIZANDO

Olá, caros estudantes! Perceberam como as teorias psicanalíticas


contribuem para o trabalho psicopedagógico? Eu costumo dizer que os estágios
do desenvolvimento são um ponto nevrálgico para o trabalho clínico e
institucional, pois assim conseguimos perceber alguns traços da personalidade
dessas pessoas. Veja, a seguir, um esquema que sintetiza os principais
conceitos da nossa aula.

Quadro 1 – Finalizando

•Discutimos o descobrimento da sexualidade infantil por Freud e os impactos


dessa descoberta na sociedade.
Tema 1

•Trabalhamos com um histórico do caso do menino Hans, o único caso infantil


trabalhado por Freud, considerado pontapé para a análise infantil.
Tema 2

•Iniciamos as discussões acerca do desenvolvimento dos estágios freudianos,


com os dois primeiros: oral e anal.
Tema 3

•Conversamos sobre a fase fálica, o complexo e o mito de Édipo e o período


de latência, periodo marcado por questões de socialização.
Tema 4

•Por fim, falamos sobre a fase genital, que vai da puberdade até o
envelhecimento.
Tema 5

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REFERÊNCIAS

BEER, P. Psicanálise e ciência: um debate necessário. São Paulo: Blucher,


2017.

FEIST, J. et al. Teorias da personalidade. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015.

FREUD, S. Duas histórias clínicas: O “Pequeno Hans” e o “Homem dos ratos”).


In: _____. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1986. v. X.

NASIO, J.-D. O prazer de ler Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999.

PERVIN, L. A.; JOHN, O. P. Personalidade teoria e pesquisa. Porto Alegre:


Artmed 2007.

QUADROS, E. Fundamentos psicanalíticos. Curitiba: InterSaberes, 2018.

ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar,


1998.

ZIMERMAN, D. E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica – uma


abordagem didática. Porto Alegre: Artmed, 2007.

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