Relatório de Estágio em Saúde - Emilly Christina Damasceno de Almeida

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 9

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


FACULDADE DE PSICOLOGIA

Relatório de Estágio Básico em Saúde

Emilly Christina Damasceno de Almeida

Belém – PA
2022

1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
FACULDADE DE PSICOLOGIA

Relatório de Estágio Básico em Saúde

Dados da Estagiária
Nome: Emilly Christina Damasceno de Almeida
Número de matrícula: 201910740062
Curso e Período: Psicologia, oitavo período

Dados do Local de Estágio


Local: Centro de Atenção à Saúde da Mulher e da Criança
Orientadora: Profa. Dra. Hevellyn Ciely da Silva Corrêa
Supervisora: Profa. Dra. Izabella Paiva Monteiro de Barros

Belém – PA
2022

2
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................04
2. METODOLOGIA...............................................................................................................04
3. RESULTADOS....................................................................................................................05
4. DISCUSSÃO........................................................................................................................06
5. CONSIDERAÇÕES
FINAIS..............................................................................................08
6. REFERÊNCIAS..................................................................................................................09

3
1. INTRODUÇÃO

A disciplina de Estágio Básico em Saúde tem como principal objetivo introduzir o


discente nas possibilidades de atuação da Psicologia nesse contexto, por meio da qual esse
será capaz de analisar, descrever e interpretar processos psicológicos e comportamentais, bem
como compreender os princípios que regem o Sistema Único de Saúde (SUS), os quais
nortearão suas intervenções. Nesse ínterim, o referente estágio esteve vinculado ao projeto de
pesquisa O lugar da mulher na função materna: torções entre o feminino e o materno no
cuidado à criança, coordenado pela Profa. Dra. Hevellyn Ciely da Silva Corrêa, o qual possui
como finalidades oferecer uma escuta breve às mães que acompanham seus filhos atendidos
no Centro de Atenção à Saúde da Mulher e da Criança (CASMUC) e dar suporte terapêutico a
essas crianças a partir do brincar, com a criação de uma Brinquedoteca.

O Centro está ligado à Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará e,


enquanto um serviço de saúde especializado, busca promover atendimento a nível
ambulatorial à comunidade, como também formação aos graduandos internos e residentes de
Medicina. Presta serviços de Assistência Social, Enfermagem, nas especialidades de
Ginecologia (Mastologia, Climatério, Planejamento Familiar e PCCU – Exame preventivo de
colo de útero); de alergia e imunologia do adulto e da criança; e de pediatria
(Gastroenterologia, Cardiologia, Reumatologia, Oncologia, Aprendizagem, Crescimento e
Desenvolvimento). Atualmente, o CASMUC tem se tornado referência no acompanhamento
de crianças com alguma implicação ligada ao desenvolvimento, como Transtorno do Espectro
Autista (TEA) e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), seja com
suspeita diagnóstica ou diagnóstico já fechado.

2. METODOLOGIA

O estágio foi realizado na Brinquedoteca do CASMUC, às segundas e sextas das 09h


às 12h, onde buscou-se oferecer suporte terapêutico às crianças enquanto aguardavam ser
atendidas. Por tratar-se de uma pesquisa-intervenção, criou-se uma planilha no Excel com a
finalidade de coletar dados, como nome da criança, idade, acompanhante e diagnóstico (em
aberto ou fechado); além disso, um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido era
apresentado aos responsáveis, a fim de lhes expor os objetivos do projeto. O principal recurso
utilizado foi a “caixinha lúdica”, a qual continha uma variedade de brinquedos e materiais
recreativos, como de encaixar e montar, quebra-cabeças, carrinhos, bolas, massinhas, lápis de
cor e carimbos, livros de estorinhas etc.
4
As atividades realizadas na Brinquedoteca possuíam como base teórica a Psicanálise,
sobretudo no que tange à constituição do sujeito em paralelo ao desenvolvimento
(JERUSALINSKY, 1997/2002) e o brincar enquanto fundamental para a criança desenvolver-
se motora, cognitiva e psiquicamente, bem como para revelar as manifestações do
inconsciente (DOLTO, 1982/2013). Nesse sentido, sendo imprescindível à Psicanálise unir
teoria e prática, tais atividades foram acompanhadas de pesquisa bibliográfica, a qual foi mais
bem alcançada com a Iniciação Científica da estagiária no segundo semestre, também
vinculada ao projeto de pesquisa e que objetiva compreender as implicações do diagnóstico na
relação mãe-criança. Além disso, ocorreram supervisões mensais com a equipe da
Brinquedoteca, de maneira grupal e, no geral, presencial no próprio CASMUC (pontualmente,
houve supervisões em formato online).

3. RESULTADOS

Ao todo, foram acompanhadas 73 crianças na Brinquedoteca, das quais 62 são do sexo


masculino e 11 do sexo feminino. Em relação ao diagnóstico (em aberto ou fechado), mais da
metade engloba TEA e TDAH; e, a respeito dos responsáveis, a maioria possui a mãe como
principal cuidadora. Nesse ínterim, as atividades realizadas consistiam na brincadeira
espontânea, permitindo à criança que, apresentada à “caixinha lúdica”, pudesse escolher com
o que e como brincar. Assim, o foco estava na estimulação dessa espontaneidade e, junto à
criança, não apenas em mediar a brincadeira, como em adentrar em seu mundo simbólico, o
que, em alguns casos, possibilitou à criança sentir-se confortável para narrar situações pelas
quais passou, até mesmo ligadas ao motivo de estar no ambulatório. Nesses momentos, o
desenho se mostrou como um significativo recurso terapêutico para que tais narrações
ocorressem, sobretudo em crianças que possuíam alguma implicação no desenvolvimento da
fala.

Cabe pontuar que as brincadeiras não eram realizadas de maneira individual, isto é, as
crianças ocupavam o mesmo espaço na Brinquedoteca (em média, 5 crianças por dia). De
maneira geral, havia uma interação uma com as outras, com ressalva em casos nos quais a
criança não conseguia estabelecer essa interação – aspecto ligado às próprias características
dos diagnósticos. Nesses casos, era importante que a criança não fosse segregada daquele
espaço interacional e, ao mesmo tempo, o reconhecimento de suas limitações priorizando sua
associação livre nas brincadeiras – ainda que o brincar ocorresse apenas entre ela e o
estagiário.

5
Pontualmente, houve a execução de duas atividades temáticas com os usurários do
CASMUC, uma parceria entre a equipe da Brinquedoteca com os demais profissionais do
Centro. Ambas as atividades tiveram como principais objetivos a educação em e promoção de
saúde, das quais uma fez alusão ao Dia das Crianças e, a outra, ao Natal. Em relação à
primeira, realizada na semana do dia 12 de outubro, a Brinquedoteca teve como finalidade
expor à comunidade a importância terapêutica do brincar tal qual incentivá-la na relação entre
pais e filhos. Para tanto, propôs a brincadeira de mímica às crianças e aos responsáveis, para
que fizessem juntos. Posteriormente, na segunda atividade, realizada no dia 12 de dezembro, a
Brinquedoteca buscou priorizar o vínculo entre pais e filhos por meio do desenho. O foco da
dinâmica foi em possibilitar, no desenhar, uma maior troca, um maior diálogo, uma maior
disponibilidade em se fazer presente naquele ato, principalmente por parte dos cuidadores e,
assim, propôs-se aos pais e às crianças que desenhassem e pintassem juntos. Para as crianças
de uma faixa etária maior, poderia ser incentivado a criação de uma historinha, sem a
obrigatoriedade de expô-la. Já para as crianças de uma faixa etária menor, o desenho seria
mais livre e a mãe/o pai poderia pintar o desenho feito pela criança e vice-versa.

Em ambas as propostas da Brinquedoteca, foi observado uma resistência dos


responsáveis em participar das dinâmicas junto às crianças, além da execução não ter saído
como o planejado, visto que em certos momentos as crianças preferiram outras brincadeiras.
Aqui, cabe salientar que tais programações realizadas pela coordenação do Centro não teve
como participação apenas a Brinquedoteca; como dito, outros profissionais, como assistentes
sociais e médicos, estavam presentes. Nesse sentido, reconhece-se que a própria estrutura do
evento pode ter corroborado para uma baixa adesão dos pais e dispersão das crianças, dado
que outras atividades estavam ocorrendo simultaneamente, como, por exemplo, orientação aos
pais para a retirada da Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro
Autista. Além disso, não descarta-se as implicações subjetivas e questões sociais envolvidas:
boa parte dos usuários são residentes da zona rural do Pará e, por conseguinte, necessitam
viajar horas (de barco e/ou ônibus) para aderirem aos serviços do Centro, além de aguardarem
na sala de espera. Assim, aspectos como desmotivação, cansaço físico e mental também
devem ser considerados.

4. DISCUSSÃO

A psicanálise com crianças tem contribuído na compreensão do brincar enquanto um


aspecto fundamental do desenvolvimento infantil e, em específico, da constituição do sujeito.

6
Como pontua Dolto (1982/2013), à nível clínico tem-se revelado um significativo suporte
terapêutico, através do qual a criança pode simbolizar suas vivências. São nesses pressupostos
que a Brinquedoteca se apoia, além de se utilizar das brincadeiras espontâneas a partir da
noção freudiana de associação livre, visto que é o sujeito do inconsciente que se busca pôr em
cena. Em outras palavras, é possibilitar um espaço no qual a singularidade da criança seja
considerada, em contraponto a um saber biomédico que, em alguma medida, busca reduzi-la
ao diagnóstico. Nesse sentido, por meio das brincadeiras, a criança pode expressar seus
desejos, suas fantasias, suas frustações, o que lhe é atravessado entre a chegada ao Centro até
o atendimento propriamente dito. Quando se observa, por exemplo, a tentativa de narrar sua
percepção e seus sentimentos acerca de como é frequentar um serviço ambulatorial, vê-se a
maneira da criança em lidar com essa rotina. Ainda que não necessariamente por meio da fala,
possibilitar que expresse esses sentimentos ambivalentes – seja da rotina ambulatorial, das
avaliações pelas quais necessita passar, até mesmo da relação com os pais, a escola etc. – faz-
se imprescindível para a própria qualidade do tratamento prestado.

Além disso, a Brinquedoteca foca na importância da relação mãe-criança para o


desenvolvimento e a constituição do sujeito. Como pontuado, um dos objetivos do projeto é
oferecer escuta às mães que acompanham seus filhos no Centro e, diante das supervisões em
conjunto com a equipe de psi’s, foi possível estabelecer um interessante paralelo entre a
narrativa das mães e das crianças, dado que algumas estavam sendo acompanhadas pelos
estagiários. Isto é, a maneira como é para essa mãe ter um filho atípico; como esse filho se
constituiu na dinâmica familiar desde a gravidez até ao nascimento; como essa criança é posta
no desejo materno; e, em contraponto, a maneira como a criança percebe essa relação e
expressa isso por meio das brincadeiras. Tal importância é destacada por Jerusalinsky
(1997/2002), a qual também evidenciará as situações em que essa relação é atravessada pela
possibilidade ou concretude do diagnóstico, o que à nível de intervenção em saúde exige dos
profissionais um olhar crítico e humanizado. De acordo com a autora, em alguns casos pode
haver o não estabelecimento desse vínculo, bem como a tentativa de sobrepor o diagnóstico à
criança, destituindo-a de sua condição de sujeito e tornando-a um mero objeto de cuidados.

Tendo como recorte o CASMUC, inserido em um âmbito acadêmico, onde a maioria


dos serviços prestados volta-se para usuários em situação de vulnerabilidade social, é
imprescindível que essa relação mãe-criança seja pensada contextualmente. Como observado,
por exemplo, nas programações de Dia das Crianças e Natal, houve uma baixa adesão dos
pais nas dinâmicas propostas; além disso, no próprio cotidiano da Brinquedoteca, os
7
responsáveis pouco participam. De maneira geral, é proposto e incentivado às famílias que
acompanhem as crianças na Brinquedoteca, seja para receberam um acolhimento (e, se
necessário, uma escuta mais direcionada), seja para observarem como as crianças se
comportam naquele ambiente, como brincam, como interagem uma com as outras. Contudo, a
própria estrutura do ambulatório exige que, muitas vezes, os pais necessitem aguardar na sala
de espera pois muitos têm receio de perder o atendimento. Há, também, queixas quanto à
demora da fila e ao cansaço da rotina de cuidados com uma criança atípica. Assim, pensar a
relação mãe-criança a partir da psicanálise, demanda que esses pontos sejam considerados,
não correndo o risco de reduzir um fenômeno tão complexo à culpabilização dos pais.

Essa problemática também ressoa nos desafios do fazer psicanalítico em dispositivos


de saúde – e, no que tange ao estágio, em um ambulatório. Como pontuado por Figueiredo
(2002), não se trata de dividir a psicanálise em diferentes contextos – como a psicanálise
clínica e a psicanálise ambulatorial; ao contrário, faz-se necessário reconhecer que a
psicanálise pode e deve ocupar esses espaços enquanto promotora de saúde, sem, contudo,
desconsiderar os seus limites teóricos e práticos. No que concerne a tais limites, e em
destaque à saúde pública que tem como norteadores os princípios do SUS (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2002), a intersecção entre múltiplos saberes é fundamental para um cuidado
humanizado que não perpasse apenas pela proteção, mas, sobretudo, prevenção em saúde.
Diante disso, o fato de, por exemplo, as dinâmicas propostas pela Brinquedoteca não terem
sido executadas como planejado, ilustra de forma interessante tais desafios. Em última
análise, não se trata de um fracasso do saber psicanalítico, como se estivesse fadado ao
contexto clínico onde só ali, supostamente, o sujeito do inconsciente seria posto em cena; ao
contrário, situações como essa revelam a necessidade de que esse saber esteja aberto ao
diálogo com demais áreas do conhecimento, contextualizando os fenômenos que se propõe a
estudar, sem, contudo, abrir mão de seus pressupostos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inicialmente, o projeto de pesquisa ao qual o estágio esteve vinculado não tinha como
objetivo a criação de uma Brinquedoteca. A demanda surge a partir do momento em que o
plano de trabalho é posto em prática, revelando-nos o quanto a pesquisa é um fazer vivo que,
por vezes, exige renunciar a certo controle. Observou-se que, para que a escuta oferecida às
mães fosse de qualidade, seus filhos deveriam ser acompanhados enquanto aguardavam o
atendimento. Posteriormente, a Brinquedoteca mostrou-se não um mero passatempo; ao

8
contrário, tornou-se um suporte terapêutico fundamental no cuidado humanizado prestado
pelo Centro, ao evidenciar a necessidade de um espaço lúdico em um dispositivo de saúde
voltado para infância.

Além disso, como dito, o Centro tem se tornado referência no acompanhamento de


crianças com alguma implicação ligada ao desenvolvimento, como Transtorno do Espectro
Autista (TEA) e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), seja com
suspeita diagnóstica ou diagnóstico já fechado. Tal fato tem exigido do CASMUC a atuação
de uma equipe cada vez mais multidisciplinar; e, nesse ponto, destaca-se a resistência por
parte da instituição em reconhecer a atuação da Psicologia, em específico as intervenções que
o projeto têm realizado – em um espaço hierarquicamente estruturado, o qual, dada à própria
história de criação do CASMUC, segue priorizando o saber biomédico. Concomitante a isso,
tem-se o desafio para a Brinquedoteca em estabelecer diálogo com os demais profissionais
que acompanham as crianças, seja para ter acesso aos prognósticos, como também expor a
esses profissionais o que se tem observado a partir do brincar, dados esses que, inclusive,
podem contribuir para o fechamento do diagnóstico.

Em suma, o estágio alcançou os objetivos principais da disciplina e contribuiu para


uma formação crítica e compromissada da discente. Além disso, o projeto de pesquisa seguirá
com as atividades no próximo ano de 2023, focando em um melhor investimento na
Brinquedoteca (como mais recursos para a “caixinha lúdica”), tal qual uma melhor
compreensão da relação mãe-criança e de como esse espaço é percebido tanto pela instituição
quanto pelos usuários. Ademais, tem-se como meta a divulgação para a comunidade dos
dados obtidos, a fim de explanar o compromisso social da pesquisa (como submissão de
resumos em congressos; produção de artigo científico; e, sobretudo, atividades que novamente
envolvam profissionais e usuários).

6. REFERÊNCIAS

DOLTO, F. (1982). Seminário de Psicanálise de Crianças. São Paulo: WMF Martins Fonte,
2013.
FIGUEIREDO, A. (1997). Vastas confusões e Atendimentos Imperfeitos: A Clínica
Psicanalítica no Ambulatório Público. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
JERUSALINSKY, J. (2002). Enquanto o futuro não vem: A Psicanálise na clínica
interdisciplinar com bebês. Salvador: Ágalma, 2019.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. (2002). O Sistema Público de Saúde Brasileiro. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/sistema_saude.pdf.
9

Você também pode gostar