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Caderno de Resumos - ABRAFI

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APRESENTAÇÃO

Com satisfação, apresentamos o Caderno de Resumos da X Jornada Brasileira


de Filosofia do Direito e Sociologia do Direito, e damos as boas-vindas a todas as pessoas
participantes deste encontro dedicado a reunir a comunidade de pesquisa e ensino em Filosofia
do Direito em nosso País, na Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da USP, nos dias 8, 9 e 10
de maio de 2024.

O tema da Jornada da ABRAFI em 2024 é crucial e exige intensa e crítica


dedicação teórica e prática: "Direito e Desigualdades".

Ao abrigar a X Jornada da ABRAFI e propor este tema para orientar as suas


discussões, a FDRP-USP reafirma seu compromisso com o Estado Democrático de Direito e
com seus princípios fundantes: a democracia, a diversidade e a igualdade.

Estamos confiantes de que as discussões promovidas durante esta jornada


contribuirão para a compreensão e enfrentamento de nossas questões mais urgentes.

Destacamos a qualidade dos mais de 90 trabalhos aprovados para apresentação


– que versam não só sobre o tema central da Jornada, mas expressam as preocupações teóricas
variadas que marcam os estudos sobre os fundamentos do Direito. Dedicado a promover uma
reflexão profunda e abrangente no campo da Filosofia do Direito e Sociologia do Direito, o evento
abrange também vasta gama de questões do campo, incluindo Teoria do Direito, Hermenêutica
Jurídica, Ética, Metodologia Jurídica, Lógica Jurídica, Teoria da Argumentação, Retórica, e
Introdução ao Direito. Fomenta-se diálogo rico e variado, refletindo sobre como o Direito se
entrelaça com diversas facetas da vida.

Expressamos nossa gratidão a todas as pessoas participantes por seu


compromisso em contribuir para o avanço do conhecimento em nossa área. Estamos ansiosos
para explorar cada uma das apresentações e para os debates enriquecedores que certamente
surgirão.

Que a X Jornada da ABRAFI seja marcada não apenas pela excelência


acadêmica, mas também pela empatia, pelo diálogo construtivo e pela busca por soluções que
promovam a justiça e a igualdade em nossa sociedade.

Sejam, todas as pessoas, muito bem-vindas!

Prof. Nuno Manuel Morgadinho dos Santos Coelho


Diretor da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da USP
Diretor Acadêmico da ABRAFI
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X JORNADA BRASILEIRA DE FILOSOFIA DO DIREITO E SOCIOLOGIA DO DIREITO


PROGRAMA DE GRUPOS DE TRABALHO ONLINE

GT ONLINE 1 – Filosofia do Direito Penal


Autor Michael Guedes da Rocha Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título Injustiça epistêmica e testemunho pericial: quando o Direito erra por excesso de crédito.
Resumo O objetivo da comunicação é explorar os efeitos do excesso de crédito concedido ao
testemunho de peritos no contexto de um processo judicial, com especial atenção ao
processo penal. Essa proposta ampla é desenvolvida em uma apresentação composta
por quatro partes: i – exposição do conceito de injustiça epistêmica como déficit de
credibilidade ao falante; ii – exposição dos argumentos que justificam a extensão do
conceito para casos de excesso de credibilidade; iii – dimensionamento do problema da
injustiça epistêmica por excesso de crédito a peritos no contexto do processo penal; e
iv – apresentação e resposta a algumas ‘questões persistentes’. O item ‘i’ será
desenvolvido com referência à obra seminal de Miranda Fricker — Epistemic Injustice:
Power and the Ethics of Knowing —, apresentando os argumentos que justificariam a
inadequação de tratar como injustiça epistêmica o excesso de crédito a um falante. Em
seguida, no item ‘ii’, exploram-se os complementos oferecidos por alguns autores —
como José Medina e Jeniffer Lackey — para justificar a extensão do conceito de injustiça
epistêmica também para cenários em que um falante recebe excesso de crédito. No
item ‘iii’, apresenta-se o caso de Ray Krone como representativo do problema do
excesso de crédito a peritos, bem como são expostos dados do Innocence Project sobre
erros judiciais por testemunho pericial falso ou enganoso. Por fim, em ‘iv’, há resposta a
duas questões que se considera persistentes: a) acentuar a falibilidade da ciência não
recai em negacionismo científico? e b) o problema dos erros periciais não reflete algo
antigo (tendo em conta a evolução da ciência desde casos como o de Krone) e estranho
ao Brasil (tendo em conta a ausência de utilização de provas como a de identificação
por marcas de mordida no Brasil)?

GT ONLINE 1 – Filosofia do Direito Penal


Autores Larissa Almeida Del Lhano Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Levi Teotônio de Souza
Título A desigualdade urbana através do conceito de não cidade: uma análise criminológica
sobre a ascensão da violência na cidade de Juiz de Fora.
Resumo A desigualdade social é um problema que influencia a vida humana em suas mais
variadas facetas, sendo um dos vetores que atua no incremento da violência urbana e,
concomitantemente, na concentração do poder punitivo estatal. O presente trabalho
pretende analisar a escalada da violência na cidade de Juiz de Fora, interior do estado
de Minas Gerais, pelas lentes do recente campo da criminologia da não cidade. Para
tanto, nos valemos especialmente dos estudos desenvolvidos por Rodrigo Iennaco
Moraes e Grégore Moura, na obra “A criminologia da não cidade: um novo olhar
urbanístico para o território da pobreza” (2020), combinados com a abordagem feita por
Ellen Rodrigues no artigo “A ‘escalada da violência’ em Juiz de Fora: Para pensar
melhor...” (2015).
No caminho, iniciamos com a exposição do conceito de criminologia da não cidade,
trazido pelos autores supracitados, bem como da sua correlação com a exclusão social
e a criminalização da pobreza no ambiente urbano. Para tanto, trazemos um sintético
estudo de diferentes campos criminológicos sob o viés do penalismo ilustrado, com
especial ênfase em Jean Paul Marat, a partir da ideia de culpabilidade compartilhada.
Trazemos ainda produções da Escola Sociológica de Chicago, que se vale da análise
de centros urbanos como objeto de estudo. Esse movimento traça um paralelo entre o
perfil do ambiente urbano e o fomento ou entrave de práticas criminosas, através da
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análise de diversos fatores, como a existência ou não de políticas públicas efetivas para
a população, níveis de segurança, desigualdade social e qualidade de vida.
Na sequência, partimos para uma análise mais específica dos aspectos sociológicos
referentes à ascensão da violência na cidade de Juiz de Fora/MG, com base em
Rodrigues (2015). A escolha do município mostra-se pertinente pois, além de possuir
histórico de relevância industrial para o País, encontra-se entre as cinco maiores cidades
do estado de Minas Gerais, com mais de quinhentos mil habitantes (IBGE, 2022), além
de ter grande importância econômica em diversos setores, como o de comércio e
serviços, educação e saúde. A cidade está em um importante eixo econômico da região
Sudeste, próxima às capitais Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Finalmente, em pesquisa
empírica, trazemos uma avaliação dos dados mais recentes divulgados sobre a violência
na referida cidade, investigando suas ligações com a desigualdade social como um fator
de concentração.
Em conclusão, percebe-se o quanto é crucial a efetivação de direitos humanos de forma
ampla e irrestrita, possibilitando a mitigação das desigualdades sociais e do cenário de
violência no ambiente urbano. No âmbito deste trabalho, o enfoque é dado na efetivação
da função social da cidade, conforme o art. 182 da Constituição Federal de 1988, uma
vez que é possível estabelecer uma relação entre a estruturação das cidades, o aumento
da incidência da criminalidade e a exclusão social dos indivíduos. Tendo como pano de
fundo a cidade de Juiz de Fora, na Zona da Mata de Minas Gerais, observa-se a
violência enquanto fenômeno social, sendo reflexo da deficiência de políticas públicas
no município voltadas à segurança e à promoção de direitos fundamentais,
especialmente sociais. Como consequência da concentração da violência em áreas de
maior abandono do Poder Público, o aumento da criminalidade faz surgir organizações
que desafiam a soberania estatal, passando a contar com uma atuação mais incisiva do
poder punitivo de forma desmedida. Portanto, é essencial que o direito à cidade seja
considerado como uma diretriz para a repartição de políticas públicas de inclusão social
e promoção de direitos, especialmente nas áreas mais carentes.

GT ONLINE 1 – Filosofia do Direito Penal


Autores Raphaela Abud Neves Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Alan Paulo Maurano Savedra
Título O bom comportamento e a (in)viabilização da progressão de regime.
Resumo Ao analisar o conjunto de práticas, instituições e discursos sobre pena criminal, Loïc
Wacquant concluiu que a penalidade neoliberal nos brinda com um paradoxo quando
busca por mais Estado policial e penitenciário e menos Estado econômico e social.
Segundo o autor, não importa se desenvolvido ou subdesenvolvido o país, essa fórmula
quando aplicada sempre causa uma escalada de insegurança ao reduzir a matéria da
“segurança” às questões de “mera dimensão criminal” (1999). Analisando o contexto
brasileiro, percebe-se que o Brasil, de fato, apresenta uma série de razões históricas e
sociais que justificam o aumento da violência criminal e, consequentemente, das
políticas públicas punitivas nas últimas décadas. Mas Wacquant destaca que “a
insegurança criminal no Brasil tem a particularidade de não ser atenuada, mas
nitidamente agravada pela intervenção das forças da ordem” (1999, p. 5).
Se as práticas punitivas são mobilizadas, em um primeiro momento, como se fossem
suficientes e necessárias para conter o avanço da violência e da criminalidade ao
contribuir para a ressocialização do indivíduo, na prática é preciso observar se a justiça
penal contribui mais para perpetuar um Estado punitivo do que para consolidar um
Estado de direito. Isso porque, mesmo durante a execução da pena, a justiça penal pode
suprimir direitos e garantias, contribuindo, por exemplo, para o prolongamento do tempo
de cumprimento da pena em um mesmo regime e a consequente aumento da lotação
dos presídios. Isso pode acontecer de muitas formas, mas na presente pesquisa,
buscaremos compreender a forma com a qual a progressão de regime se relaciona com
os significados atribuídos ao “bom comportamento” da pessoa em cumprimento de
pena.
A partir das análises processuais disciplinares e observações participantes dos
atendimentos da Defensoria Pública em sede de execução penal nos presídios
femininos do Rio de Janeiro, Pedro Heitor Geraldo e Betania Almeida de Andrade
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buscaram compreender como o controle disciplinar é organizado por meio do processo


e pode ocasionar, como consequência, o prolongamento do regime fechado. Para isso,
Geraldo e Andrade (2022) verificaram como se deram os trâmites para a apuração e
punição das faltas ocorridas dentro da prisão. As faltas graves geram processos
disciplinares que passam pelos policiais penais e diretores do presídio e são apreciados
pelos membros da Defensoria Pública (ou advogado, nos casos em que o apenado
possui um), Ministério Público e Magistrados.
Dentre os diversos pontos trazidos pelos autores, dois apresentam extrema relevância
para a proposta do presente trabalho. Inicialmente, destaca-se o uso do que eles
chamam de “jargão jurídico-prisional” que é composto por categorias, dentre elas,
categorias de fatos puníveis. No estudo de caso dos pesquisadores, a categoria “presa”
aparece para se referir genericamente às mulheres que cumprem pena, e o “balangar
das grades” como categoria de fato punível que pode desencadear um processo
disciplinar para apurar o cometimento de falta (que pode ter natureza leve, média ou
grave).
As categorias constam nos registros em que as autoridades reconhecem e validam seus
significados. Assim como a categoria “presa” possui um significado genérico e é
mobilizada em um determinado contexto (para a Defensoria Pública a categoria
“reeducanda” é sua substituta), o próprio “bom comportamento” surge como uma
categoria que, dentro do contexto de apuração de falta disciplinar, acaba sendo decisiva.
Isso porque, o segundo ponto trazido pelos autores que apresenta relevância para o
trabalho é justamente o fato de que o processo disciplinar no fim das contas “funciona
como um dispositivo de punição arbitrária e sem controle judicial” (2022, p. 73). Daí a
necessidade de analisar como isso pode ou não acontecer.
Dessa forma, o objetivo do trabalho é justamente compreender como, através de um
trabalho jurídico que envolve desde os presos, policiais penais, diretores de presídios,
defensores, etc. é possível atribuir determinados significados a categoria “bom
comportamento”, uma vez que é a partir desses significados que uma pessoa presa
pode ou não progredir de regime em sede de execução penal. Adotando o referencial
teórico sobre a sociologia do direito, da violência e da punição, serão mobilizados os
autores que trabalharam com as temáticas de teoria do controle, punição,
encarceramento em massa, categorização, como David Garland, Loic Wacquant e
outros.

GT ONLINE 1 – Filosofia do Direito Penal


Autores Guilherme Dutra Marinho Cabral Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Lucas Campos Ferreira
Sara Edwirgwens Barros Silva
Título Entre a arte oficial (grafite) e arte marginal (piche): a desigualdade do sistema penal na
criminalização do pichamento.
Resumo Durante o Renascimento, a relação entre Belo e Arte levou em consideração a Natureza
enquanto fonte representação artística. No século XVIII, reconheceu-se que essa beleza
natural está presente nas coisas e nas obras de arte, proporcionando prazer estético.
Surgiu então a Estética como disciplina filosófica, definindo-se como a ciência do Belo
e da Arte. Assim, a reflexão sobre a Arte evoluiu para uma ciência focada na apreciação
da Beleza universal, influenciada por tendências desde o século XVII, concebendo a
Arte como expressão humana que busca reproduzir a beleza natural.
O conceito de arte também compreende diversas dimensões: para uma perspectiva
fisiológico evolutiva, compreende a atividade que surge no reino animal, originada tanto
da sexualidade quanto de uma inclinação lúdica (conforme proposto por Schiller, Darwin
e Spencer), acompanhada por uma estimulação agradável da energia nervosa (segundo
Grant Allen). A definição prática, por sua vez, refere-se à arte como expressão externa,
seja por meio de formas, cores, gestos, sons ou palavras, das emoções experimentadas
pelo ser humano. Por último, Tolstói (1918) define a arte como a criação de um objeto
duradouro ou de uma ação efêmera, que não apenas proporciona prazer ativo ao seu
criador, mas também transmite uma impressão agradável a um determinado número de
espectadores ou ouvintes, independentemente de qualquer benefício pessoal que possa
resultar disso.
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A tentativa de estabelecer um conceito oficial para a arte e o belo também pode ser
encontrada em outros filósofos da ilustração como Kant (2018) e Schopenhauer (2003).
Enquanto o primeiro interpretou o belo como o voo livre da imaginação, o segundo
destacou que para se compreender o belo é preciso conhecer a si mesmo, reforçando
ainda mais a subjetividade do conceito.
Em que pesem todos esses esforços da filosofia, também é preciso reconhecer a
existência de uma arte marginal, ou seja, aquela que está aquém dos conceitos
atribuídos à sua singularidade da arte. Este sistema de diferenciações inclui tanto as
distinções visíveis quanto as invisíveis, sendo que estas últimas fundamentam as
primeiras. Dessa forma, a fronteira não aparente que divide a esfera do direito da esfera
do não-direito serve como base para a dicotomia perceptível entre o que é legal e o que
é ilegal, estabelecendo assim a organização do domínio do direito deste lado dessa
fronteira (BOAVENTURA, 2007).
Essa fronteira entre oficial e marginal pode ser facilmente encontrada na diferença entre
piche, como crime, e o grafite como arte. Dito de outro modo: enquanto algumas
atividades plásticas são reconhecidas e aceitas pelo poder público como arte, outras
legitimam a intervenção do sistema penal por meio da criminalização do piche.
Assim, nos termos do art. 65 da Lei 9.605/98, pune-se com pena de prisão de 3 meses
a 1 ano aquele que “pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento
urbano”. A enorme abertura semântica na norma, por si só, já habilita o exercício de um
poder configurador de alvos sociais vulneráveis. A desigualdade na aplicação da lei
penal se agrava quando §2º da norma afirma que não constitui crime o grafite que
valoriza o patrimônio público ou privado.
O trabalho, portanto, pretende analisar como os conceitos oficiais de arte e de belo
contribuem para a desigualdade do sistema penal por meio da criminalização do piche.
A revisão bibliográfica será realizada com base nos dados coletados pelo Observatório
Crítico da Lei Penal da Universidade Vale do Rio Doce/MG, além de jurisprudências do
Tribunal de Justiça de Minas Gerais e de outras fontes secundárias sobre o assunto.
Como resultado, espera-se levantar jurisprudências do TJMG comprovando que a
subjetividade no conceito de arte incrementa a seletividade punitiva ao classificar
algumas condutas como criminosas (arte marginal de pichar), atribuindo a outras o rótulo
de arte oficial de grafite.

GT ONLINE 1 – Filosofia do Direito Penal


Autores Rafael Aparecido Poleti Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Maria Eduarda Palaoro
Ana Paula Polacchini
Título Lei Maria da Penha: políticas públicas e seus aspectos institucionais no enfrentamento
da violência doméstica.
Resumo Introdução: A sociedade brasileira convive sobre uma base estrutural que se
fundamenta na cultura colonial, patriarcal, machista, sexista e misógina. Essa base é
referência para hierarquizações e violências, gerando processos de discriminação
estrutural que permitem e toleram a violência em todas as dimensões, físicas, sexuais,
psicológicas, econômicas, etc. (CIDH, 2021, p.40). A discriminação e violência de
gênero impõem o desafio da defesa e da garantia dos direitos das mulheres, de modo a
combater a desigualdade de gênero que se faz presente secularmente na vida das
brasileiras. Os movimentos feministas questionaram ao longo de décadas as relações
de poder, desigualdades e hierarquias. Ainda contribuíram para “mudanças em
legislações discriminatórias, proposição de novas leis, implementação de políticas
públicas e resistência aos retrocessos” (Andrade et. al., 2018, p. 7). A Constituição
Federal, em seu artigo 5º estabelece que todos são iguais perante a lei e garante o
direito à vida, a liberdade a igualdade a segurança e a propriedade. Em seu inciso I
prescreve expressamente que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações.
Vasta legislação tem sido construída na promoção dos direitos das mulheres, dentre as
quais a Lei Maria da Penha (11.340/06). Trata-se de ferramenta de articulação de
direitos e de políticas públicas e que assume caráter educativo, protetivo, preventivo e
punitivo. Compreender a lei e os caminhos de políticas públicas nela previstas e aquelas
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efetivamente instituídas a partir da cultura patriarcal e do feminismo jurídico é


fundamental no enfrentamento ao ciclo de violências e à cultura que as atravessa.
Objetivos: O objetivo geral é identificar, compreender e analisar, a partir do feminismo
jurídico, as políticas públicas instituídas a partir da lei nº 11.340/2006. Como objetivos
específicos, propõe identificar e compreender a estrutura da lei ante o contexto da
cultura patriarcal brasileira e de correntes do feminismo jurídico; identificar as diretrizes
e referências para políticas públicas preventivas e repressivas no âmbito da lei;
identificar o fluxo de atendimento previsto na lei e compreender o papel das instituições
garantidoras dessas políticas, verificando possíveis violações das instituições no
enfrentamento e combate à violência doméstica e de gênero.
Método: Para o desenvolvimento da pesquisa faz uso do feminismo jurídico para a
compreensão da legislação aplicável. Inicialmente indica o método dedutivo descrição
da lei nº 11.340/2006 e das políticas públicas nela estabelecidas e na sistematização
dos dados produzidos sobre sua aplicação. Em seguida promove a identificação e
sistematização do fluxo de atendimento das instituições que integram a rede de
enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher. Adota perspectiva
amparada no feminismo jurídico e decolonial (Biroli, 2014; Hollanda 2020; Sabadell,
2013, 2016) para a análise e compreensão da lei e das medidas por ela estabelecidas.
Desenvolvimento: A Constituição promulgada em 1988 define os direitos e garantias de
todos os brasileiros. Tanto estabelece a igualdade de gênero como direito e indica
caminhos para estabelecê-la ao proibir a discriminação e preconceito, fixar modos de
enfrentá-la e estabelecer expressamente a necessidade de combatê-la. O movimento
feminista e o trabalho das mulheres constituintes foram essenciais para essa
formalização e para que fosse pautado seu enfrentamento, tanto antes, quanto pós 88.
O movimento tem enfrentado há muito tempo a invisibilidade da igualdade de gênero e
seus elementos, dentre os quais a violência doméstica e familiar.
No ano de 2003 foi criado a Secretaria de Politicas Públicas para as Mulheres – SPM,
dando início a formulação da Politica Nacional de Enfrentamento à Violência contra a
Mulher, lançando diretrizes para atuação dos órgãos governamentais. A lei 11.340/2006
intitulada como Lei Maria da Penha, entra no ordenamento jurídico no ano de 2006,
definindo direitos e garantias e dando proteção formal para o enfrentamento efetivo da
violência de gênero no âmbito doméstico e familiar. Em 2007 com a lançamento do
Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres é consolida a rede
articulada de atendimento e o lançamento do Plano Nacional pelo Enfrentamento à
Violência Contra a Mulher, definiu 4 eixos temáticos, onde foram renovados em 2011
para 5, a saber: Garantia da aplicabilidade da Lei Maria da Penha; Ampliação e
fortalecimento da rede de serviços para mulheres em situação de violência; Garantia da
segurança cidadã e acesso à Justiça; Garantia dos direitos sexuais e reprodutivos,
enfrentamento à exploração sexual e ao tráfico de mulheres; Garantia da autonomia das
mulheres em situação de violência e ampliação de seus direitos. Nesta linha as
instituições passam a ter um papel crucial para o enfrentamento e o combate contra a
violência doméstica e familiar de gênero.
Conclusões: A previsão legislativa é fundamental para a efetivação de direitos, mas
constitui apenas uma etapa ou elemento no processo. O que foi promulgado na
Constituição de 1988 que todos são iguais perante a lei, sem distinção de sexo, é um
desafio constante na vida das brasileiras e dos brasileiros, cabendo ao Estado e à
sociedade romper com a cultura machista, patriarcal, sexista, articulando políticas
públicas para o enfrentamento da violência doméstica familiar e de gênero e dando
suporte às mulheres que cotidiana e estruturalmente são marginalizadas e violentadas
pela sociedade.

GT ONLINE 2 – Direito do Trabalho, Direitos Sociais e Direito Digital


Autor Felipe Gomes Mano Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título Entre novos direitos e por uma nova realidade: como regular o trabalho por plataformas
digitais?
Resumo A busca por melhores condições laborais por meio da regulação jurídica tem se
mostrado um caminho pertinente aos trabalhadores plataformizados, com diferentes
estratégias podendo ser implementadas, como por exemplo o reconhecimento de
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vínculos de emprego, direitos trabalhistas ou até mesmo a criação de uma nova


categoria legal para abarcar os trabalhadores plataformizados. São vários os exemplos
recentes de abordagens regulatórias sobre o tema ao redor do globo, destacando-se a
decisão da Supre Corte do Reino Unido, em fevereiro de 2021, que reconheceu vínculo
empregatício entre a Uber e todos seus motoristas no território. Assim, o Direito se
mostra uma ferramenta importante para a luta dos trabalhadores plataformizados.
Entretanto, os debates nessa seara não podem ser reduzidos a meras discussões
jurídicas, sobre a aplicabilidade de normas já existentes ou a necessidade de criação de
novos institutos jurídicos. Tais discussões devem ter uma perspectiva ampla,
envolvendo diferentes campos de análise, perspectivas e elementos, como, por
exemplo, um profundo estudo sobre as relações de produção capitalistas e os modelos
de negócio adotados pelas plataformas. Assim, esta proposta é norteada pela seguinte
pergunta: Quais horizontes devem guiar a transformação da economia digital e como
devem ser arquitetadas as propostas regulatórias ante os modelos de negócio das
plataformas? Propomos que a estruturação das políticas regulatórias seja elaborada em
dois momentos: uma etapa epistemológica e outra prática, esta com objetivos de curto,
médio e longo prazo. A etapa epistemológica é destinada à análise dos elementos
concretos que conformam as relações de produção, em um primeiro momento
identificando-se as condições materiais existentes no objeto da regulação (no caso, o
trabalho plataformizado); e após, definindo-se os horizontes concretos da ação político-
normativa regulatória (em outras palavras, quais rumos de transformação social se
pretende seguir). Essa etapa permite compreender materialmente o campo no qual as
relações laborais são desenvolvidas e quais forças macro (derivadas de estruturas e
contextos sociais amplos) e microestruturais (derivadas de estruturas e contextos
sociais particularizados) implicam em suas dinâmicas. Na etapa prática, por sua vez,
após localizado o ponto de partida da política regulatória e definido qual será o seu rumo,
poderão ser formuladas as medidas de caráter prático. Primeiramente, definem-se
medidas de curto prazo, que possuirão efeito mais imediato na vida dos trabalhadores,
como por exemplo o reconhecimento de direitos. Após, são definidas medidas de médio
e longo prazo, as quais possuem o objetivo de transformar a economia plataformizada,
superando o quadro de precarização permanente do trabalho e as desigualdades sociais
dele decorrentes. Parte-se do pressuposto de que a regulação jurídica se ampara em
uma forma mercantilizada de trabalho, própria do modo de produção capitalista, de
modo que, associada aos modelos de negócio das plataformas digitais, não é possível
articular medidas jurídicas de curto prazo que possuam eficácia a longo prazo para a
promoção de um quadro de trabalho decente, uma vez que mantêm os trabalhadores
sob o jugo das plataformas. Embora a regulação tradicional possa providenciar ganhos
imediatos aos trabalhadores, é preciso que as políticas regulatórias tentem ir além,
transformando a economia plataformizada pela redefinição dos padrões de propriedade
e produção. Nesse momento observa-se a dimensão política do Direito, a qual envolve
um amplo campo de debates, reflexões e demandas populares, havendo necessidade
de mobilização coletiva e participação dos trabalhadores tanto na elaboração de
reivindicações imediatas (como as concessões de direitos) quanto na construção de um
novo horizonte coletivo, com novas formas de propriedade e produção (como ocorre,
por exemplo, nos movimentos de cooperativismo de plataformas e na luta por soberania
digital). Epistemologicamente a presente proposta é guiada pelo pensamento complexo,
considerando a diversidade de fatores implicados no objeto de estudo, para que não
haja reducionismo ou uma hipersimplificação do tema. Metodologicamente, o método
do estudo de caso ampliado e o materialismo histórico-dialético permitirão que ao
considerar a complexidade do tema, a pesquisa transite entre aspectos macro e
microestruturais, estabelecendo o diálogo entre os elementos dessas duas dimensões
e o referencial teórico adotado. Com isso, espera-se construir uma análise sobre a
regulação do trabalho por plataformas digitais que vá além do mero debate jurídico, mas
que identifique a multiplicidade de fatores envolvidos, quais suas implicações e prefigure
caminhos a serem seguidos pelas políticas normativo-regulatórias para que seja
superado o quadro de precarização e desigualdade nas atividades laborais
plataformizadas. A pesquisa partirá do referencial teórico marxista, mas sem
desconsiderar outras correntes de pensamento que com ele se comuniquem.
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GT ONLINE 2 – Direito do Trabalho, Direitos Sociais e Direito Digital


Autora Maria Júlia Pompolo Habib Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título O Impacto das Ideias de Habermas no Direito Digital: Promovendo Comunicação
Autêntica e Democracia na Sociedade Tecnológica
Resumo Na era digital, o Direito Digital se destaca como uma área fundamental para abordar os
complexos desafios jurídicos associados à crescente digitalização das interações
humanas. Este ramo do direito cobre uma ampla gama de questões, desde privacidade
e proteção de dados até direitos autorais, segurança cibernética e a regulação de
tecnologias emergentes como a inteligência artificial e o blockchain. As teorias de Jürgen
Habermas, particularmente sua teoria da ação comunicativa, fornecem um quadro
teórico valioso para entender como o Direito Digital pode promover uma esfera pública
digital autêntica e democrática. Habermas concebe a comunicação como a pedra
angular da coordenação social e do entendimento mútuo, sustentando que a verdadeira
compreensão é alcançada através do diálogo racional e ético. Ao aplicar este conceito
ao Direito Digital, percebe-se que as leis podem ser projetadas não apenas para facilitar
interações, mas para assegurar que essas interações promovam um diálogo produtivo
e entendimento mútuo. Isso é crucial em áreas como a regulação de conteúdo online,
onde o equilíbrio entre liberdade de expressão e proteção contra discursos prejudiciais
deve ser cuidadosamente administrado para manter um espaço público digital saudável
e democrático. A noção de uma esfera pública digital é central para a aplicação das
teorias de Habermas ao Direito Digital. Habermas vê a esfera pública como um domínio
vital para o debate racional, essencial para a democracia. No ambiente digital, essa
esfera se expande para incluir plataformas como redes sociais e fóruns online, onde
ideias e informações são livremente trocadas. Assim, o Direito Digital deve proteger este
espaço, assegurando que seja um local de expressão livre, seguro e respeitoso, onde o
discurso não seja obstruído por preocupações com privacidade ou segurança.
Legislações que abordam a proteção de dados pessoais, como o GDPR na União
Europeia e a LGPD no Brasil, são exemplos de como o Direito Digital pode facilitar a
ação comunicativa ao proteger a privacidade dos indivíduos, permitindo-lhes participar
ativa e conscientemente no discurso público digital. Essas leis são fundamentais para
que os usuários sintam-se seguros ao comunicar e interagir na internet, promovendo
assim uma participação mais efetiva na esfera pública digital. Além disso, a democracia
digital, que é uma extensão da esfera pública digital, coloca em destaque o princípio da
ação comunicativa de Habermas. Em uma democracia digital, o objetivo é assegurar
que todas as vozes sejam ouvidas e que as decisões sejam tomadas com base em
consensos alcançados através do diálogo racional. Aqui, o Direito Digital desempenha
um papel duplo: deve garantir a liberdade de expressão enquanto estabelece limites
para combater a desinformação e o discurso de ódio. Essa regulamentação é
desafiadora, pois exige um equilíbrio delicado. Por um lado, a regulamentação excessiva
pode reprimir a liberdade de expressão; por outro, a falta de regulamentação pode
permitir que informações falsas e prejudiciais circulem livremente, comprometendo a
qualidade do diálogo democrático. As leis devem, portanto, ser cuidadosamente
formuladas para incentivar um diálogo aberto e respeitoso, apoiando a função da esfera
pública digital como um lugar para a sociedade deliberar sobre questões importantes.
Contudo, aplicar as teorias de Habermas ao Direito Digital não é sem desafios. A rápida
evolução da tecnologia frequentemente supera a capacidade das legislações de
acompanhar, e a globalidade da internet torna difícil a aplicação uniforme das leis, dado
que diferentes culturas têm diferentes noções sobre privacidade, liberdade de expressão
e o papel do governo. No entanto, esses desafios também representam oportunidades
para inovação no campo do Direito Digital. Adotando uma abordagem habermasiana,
focada no diálogo e na compreensão mútua, legisladores e juristas podem desenvolver
regulamentações que não apenas abordem os riscos associados à tecnologia, mas que
também promovam uma sociedade mais informada e engajada. Pelo método hipotético-
dedutivo foi possível chegar ao resultado apresentado partindo-se das reportagens
sobre o tema, doutrinas, pesquisas sobre o assunto.
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GT ONLINE 2 – Direito do Trabalho, Direitos Sociais e Direito Digital


Autor Mateus Henrique Silva Pereira Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título A dialética do direito social à alimentação no Brasil: avanços e retrocessos no século
XXI.
Resumo O artigo tem por objetivo aprofundar as questões envolvendo as políticas públicas de
Segurança Alimentar e Nutricional, ou seja, relacionadas ao direito social à alimentação,
promovidas, no Brasil, entre 2003 e 2022, no tocante à relação entre os arranjos jurídico-
institucionais e o pensamento crítico ao capitalismo. A hipótese é a de que os avanços
conquistados e os retrocessos vividos, nesse ínterim, no âmbito do Direito Humano à
Alimentação e à Segurança Alimentar e Nutricional, dependeram, em grande medida,
mais de movimentos econômicos globais da economia capitalista do que somente de
lutas políticas e arranjos jurídico-institucionais. Em determinado momento da história
recente, o capitalismo abandona níveis civilizatórios e democráticos conquistados, no
intuito de avançar os processos de acumulação de capital e de poder mais brutais.
Dessa forma, não somente as bases políticas da democracia burguesa são insuficientes,
mas também o direito mostrou-se incapaz de dar conta da realidade do país, ampliando
a desigualdade social. No caso específico do direito à alimentação, a fragilidade de suas
normas jurídicas e de seus arranjos políticos não impediu o aumento da insegurança
alimentar. Parte-se da premissa teórica da primazia da produção econômica sobre o
político e o jurídico no capitalismo. De acordo com a autora, o modo de produção
capitalista é capaz de distribuir bens políticos sem colocar em risco suas relações
constitutivas, suas ações coercitivas e suas desigualdades, gerando, portanto, a
redução da ênfase na cidadania. Da mesma maneira, aponta-se a impossibilidade de
realização plena de uma democracia efetiva no capitalismo, contrariando, assim,
fundamentos de democracia procedimental, preocupada, em muitos casos, apenas com
formas de governo e de organização do poder que não tocam nas bases do capitalismo
enquanto modo de produção. Da mesma forma, a realização efetiva de direitos sociais
vinculados a uma cidadania positiva é extremamente limitada, variando seus graus de
realização de acordo com continuidades e descontinuidades da acumulação capitalista.
Num horizonte prospectivo, torna-se mais eficaz projetar potencialidades da democracia
para superar o capitalismo a apostar na cidadania engendrada pelo capital. Na
especificidade brasileira, durante o período histórico acima referido, importante se faz
passar pelas análises realizadas por Francisco de Oliveira. Por meio de uma análise da
realidade do Brasil e de uma crítica arguta, o autor demonstra a evolução truncada do
capitalismo brasileiro e seu impasse para a realização de um estágio superior de direitos
da cidadania. Acredita-se que esta abordagem teórica para análise do direito à
alimentação, direito social previsto na Constituição Federal, é de extrema relevância,
pois foram desenvolvidos diversos arranjos jurídico-institucionais democráticos para o
combate à fome e a garantia da segurança alimentar e nutricional no Brasil a partir de
2003, que resultaram na redução da insegurança alimentar e saída do país no mapa do
fome. Posteriormente, a partir de 2015, inicia-se o desmonte de tais arranjos e,
consequentemente, o aumento da insegurança alimentar. Aponta-se a perspectiva de
Francisco de Oliveira de uma história brasileira sob a linha da dialética negativa, em que
problemas sociais não são superados, dando lugar a uma nova e superior contradição,
sendo que muitas soluções são falsas e são capazes de, com o passar do tempo, repor
os problemas a um estágio ainda inferior. Aponta-se que, no caso específico das
contradições do direito à alimentação no Brasil, por meio da progressão de contradições
postas e repostas, tenhamos chegado, em 2022, a um nível de insegurança alimentar e
nutricional maior do que os anos anteriores a 2003, como demonstram as pesquisas da
Rede PENSSAN. Destaca-se, portanto, que o direito social à alimentação no Brasil foi
permeado de momentos de avanços e de retrocessos, envolto a contradições
econômicas, políticas e jurídicas, sendo, portanto, necessário seu aprofundamento.
Dessa forma, tem-se como um dos resultados o fato de que as aparentes soluções do
direito social à alimentação encontradas por meio de arranjos jurídico-institucionais
democráticos se realizaram de maneira bastante limitada e insuficiente, encontrando
obstáculos no próprio desenvolvimento capitalista. No que toca ao método, realizou-se
uma revisão de literatura dos autores críticos e a construção de um material necessário
para a pesquisa, composto prioritariamente por dados diretos obtidos de fontes
primárias pelo próprio pesquisador, como a legislação relacionada ao Direito Humano à
11

Alimentação Adequada e à Segurança Alimentar e Nutricional; normas vinculadas às


criações, alterações, rupturas e permanências nos sistemas normativos e nos espaços
institucionais referentes ao âmbito nacional envolvendo políticas públicas relacionadas
à SAN a partir de 2003. Ademais, foram coletados dados indiretos, obtidos pelo
pesquisador por meio de fontes secundárias, tais como relatórios e pesquisas realizados
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), Ministério da Economia,
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e a Rede de Pesquisadores em Soberania e
Segurança Alimentar e Nutricional (PENSSAN).

GT ONLINE 2 – Direito do Trabalho, Direitos Sociais e Direito Digital


Autora Helimara Moreira Lamounier Heriger Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título Efetivação do princípio da eficiência na Administração Pública.
Resumo 1. Introdução. Em sentido amplo, a ideia de eficiência traz consigo o desejo de que “as
coisas” funcionem da melhor forma possível, em todos os âmbitos da vida humana.
Entretanto, o desenvolvimento tecnológico das últimas décadas e a adaptação cultural
trazidos pelas possibilidades decorrentes dessas mudanças trouxeram consigo também
a percepção de que, para ser eficiente, é preciso ser imediato. Contudo, nem sempre
aquilo que é feito de forma mais rápida é realizado de forma mais eficiente.
A eficiência pressupõe, além de agilidade, p.e., valores como a economicidade, eficácia,
efetividade e qualidade dos serviços prestados ou produtos oferecidos. Eficiência,
portanto, é a qualidade daquilo ou de quem realiza de maneira correta as suas funções,
alcançando seus objetivos da forma mais proveitosa possível.
Se esses valores são necessários na vida e no trabalho do indivíduo enquanto parte da
sociedade, não seria injusto ou desproporcional desejar que, de igual modo, o Estado
apresente características que transmitam a ideia de um Estado eficiente.
2. Objetivo. Desde a Reforma Administrativa ocorrida a partir da sua inclusão no art. 37,
da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB), pela Emenda Constitucional
(EC) nº 19/1998, o princípio da eficiência é um dos temas mais debatidos em termos da
Administração Pública. O entendimento de eficiência, no sentido de contenção de gastos
e efetivação de lucros, trouxe a preocupação de que a garantia dos direitos
constitucionais, individuais e coletivos, estivesse ameaçada pela aplicação de princípios
e valores oriundas da economia, enquanto ciência; que o papel do Estado, enquanto
garantidor dos direitos socialmente adquiridos, sucumbisse frente à busca do chamado
Estado gerencial ou regulador.
Entretanto, passadas mais de duas décadas desde a introdução da eficiência no rol dos
princípios constitucionais da Administração Pública, fato é que o princípio da eficiência
continua sob o pálio da desconfiança, até mesmo quanto à sua conceituação e
implicações. Não há consenso, sequer, se o mesmo se aplica apenas aos atos do poder
Executivo ou se abrange os demais poderes. E se, em caso de alcançar os poderes
Legislativo e Judiciário, se isso envolveria as suas funções precípuas ou apenas seus
atos administrativos.
O presente artigo trata do princípio da eficiência, abordando-o no contexto
patrimonialista do Estado brasileiro; sua condição jurídica, quanto a seu caráter
normativo ou não; a sua efetividade no cenário político/jurídico nacional; e a
possibilidade de sua efetivação por meio da aplicação da ferramenta da Análise Custo-
Benefício.
Procura evidenciar o grande desafio que é a efetivação do princípio num contexto
cultural e político patrimonialista e pela falta de consenso até mesmo quanto ao seu
significado e abrangência. Salientou a juridicidade do princípio, demonstrando que o
mesmo não pode ser tomado apenas como um postulado geral, mas, possui o peso de
norma juridicamente posta.
3. Metodologia. O presente trabalho se propõe, pelo método hipotético-dedutivo,
fundamentando a pesquisa em bibliografia científica, legislação e jurisprudência, a
analisar como ferramentas de análise de custo-benefício podem ajudar na efetivação do
princípio constitucional da eficiência.
4. Resultados e Considerações Finais. Num cenário de recursos escassos e de uma
população cada vez mais consciente de seus direitos enquanto cidadãos e com
12

demandas cada vez maiores, frequentemente, os agentes públicos são colocados em


situações de ter que decidir entre o máximo possível e o mínimo necessário; entre o
equilíbrio fiscal e o atendimento das diversas demandas sociais.
Seja qual for o caminho assumido por esse agente público, ele terá que — política,
econômica, moral e, em determinadas situações, até mesmo juridicamente — responder
pelas decisões tomadas.
Logo, a possibilidade de ter à mão ferramentas que lhe auxiliem no processo decisório
e lhe permitam tomadas de decisão que sejam adequadas do ponto de vista jurídico,
econômico, político e moral, é algo de extrema relevância e deveria ser visto com bons
olhos pelos atores envolvidos na gestão pública.
Não se trata de decidir entre o certo e o errado. Ambas as perspectivas, equilíbrio
econômico e investimento social, são necessários. Trata-se de identificar o ponto de
equilíbrio que permita que ambas as prioridades sejam supridas no grau máximo das
possibilidades estatais com os recursos disponíveis.
Analisa a inserção do princípio da eficiência no ordenamento jurídico brasileiro, como
um requisito à atividade administrativa no setor público, não se trata de uma batalha
entre campos excludentes do cenário político e social. Num ambiente democrático, o
mercado e o Estado não são entes em oposição, mas, interdependentes.
Na prática, o Estado é um dos principais atores do mercado, tendo inclusive a
capacidade de dar-lhe novos rumos, bem ou mal sucedidos, a depender de suas
decisões. Logo, um Estado eficiente deve fortalecer o mercado, assim como um
mercado fortalecido deve beneficiar o próprio Estado, propiciando uma maior atenção à
justiça distributiva. Esta análise demonstra que a ACB é um instrumento adequado e útil
ao gestor público no processo decisório na busca da efetividade do princípio da
eficiência.

GT ONLINE 3– Direito e Desigualdade I


Autora Giovanna Migliori Semeraro Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título O poder jurídico de nomeação - e a luta por dizer o direito
Resumo “Palavras constroem a realidade” (Bourdieu, 2014). Embora possa haver discussões
acerca desta afirmação quando se trata do mundo físico, no mundo social ela é
fortemente verdadeira. E é político este poder de nomear: o poder político é, em grande
parte, um poder sobre a nomeação. A linguagem é uma forma de categorização, uma
manipulação dos sentidos (Bourdieu, 2014).
Nenhum ente possui posição tão central no poder de nomeação do que o Estado, devido
a seu massivo processo histórico de aglutinação de capital simbólico (Bourdieu, 2014).
A todo momento, este Estado impõe, como se universais fossem, uma série de
categorizações, de visões de mundo. É o Estado o principal agente de categorização
social, utilizando-se de toda sua alta autoridade. É ele o encarregado de fixar as regras,
de falar com soberania. E o faz representando o ‘todo’ social, como se falasse pelo
conjunto.
O ato de direito consiste em afirmar com autoridade, de dizer um executório. Por estar
firmado no reconhecimento do Estado, o direito produz a existência daquilo que enuncia.
Falo da fronteira, da língua, da pessoa (como a jurídica), mas também do “devedor”, do
“apenado” e da “vítima”. O simples fato de dizer algo que enuncia o ser já produz uma
mudança no ser. Ao dizer as coisas com autoridade, ou seja, em nome de todos,
publicamente e oficialmente, estas são retiradas do arbítrio, sancionadas, santificadas
(Bourdieu, 1989, p. 114). O fato de uma ordem vir do Estado retira-a da esfera do arbítrio
e do interesse particular.
Pouco a pouco, as categorias de percepção impostas pelo Estado são integradas no
senso comum, no que Bourdieu (1989) se refere como habitus: um sistema de
disposições, de formas de perceber, de sentir, de fazer, de pensar (Thiry-Cherques,
2006). Uma interiorização no imaginário dos indivíduos ao entrar em contato social, uma
introjeção daqueles enunciados como se naturais fossem, algo tido como “assim
mesmo”. O habitus é uma rotina corporal inconsciente, produto de um aprendizado
daquilo que é ‘natural’ na vida social. As categorias de percepção do mundo social são,
essencialmente, produto da incorporação das estruturas objetivas do espaço social
(Bourdieu, 1989). E este habitus leva os indivíduos a pensar e agir em determinadas
13

situações. Constitui nossa maneira de perceber, julgar e valorizar o mundo. Ao agir de


forma automática em conformidade com o sistema social, este indivíduo contribui para
a construção desse mesmo sistema social, reforçando-o.
O direito, enquanto instância de socialização, é um componente poderoso de
constituição dessas concepções inconscientes. É o direito que dá as regras do jogo, que
fala simultaneamente pela ordem e pelo justo, e funda-se na retórica da autonomia, da
cientificidade, da universalidade (Weber, 2009). Com sua carga científica e imparcial,
possui um efeito de divinização de seus conteúdos. Coloca-se ainda acima de interesses
particulares, fazendo crer que não é um ponto de vista ele mesmo. O direito deve se
apresentar como acima dos interesses, dos conflitos, enfim, acima do espaço social.
Afinal, desde que estamos no espaço social, somos um ponto de vista, e, portanto,
relativizável (Bourdieu, 2014).
Toda decisão jurídica, contudo, já foi alvo de disputa. Tudo o que é óbvio, que é tido
como natural nas regras sociais é resultado de uma luta anterior, e historicamente
incorporado ao inconsciente. Não à toa o conteúdo do direito é tão disputado por
diversos agentes (incluindo legisladores, jurisprudência, doutrina, advogados,
estudantes, enfim, todo um campo jurídico). Dizer o direito significa dizer o justo, falar
pelo todo, contribuir para a construção do senso comum. Se a luta política é a luta sobre
os princípios de visão de mundo, mudar a linguagem sobre o mundo é, em grande parte,
mudar o próprio mundo social. A luta pelo direito representa uma disputa por impor um
certo sentido de mundo, com toda a força do Estado enquanto detentor do monopólio
da violência simbólica legítima (Bourdieu, 1989).
Nesse contexto, pretendo debruçar-me sobre a questão do poder simbólico da
nomeação pelo direito, e a luta por dizer o direito, mediante a partir dos escritos de Pierre
Bourdieu (1989, 2014) e Michel Foucault (1996). Pretendo avançar à teoria até então
posta, de modo a refletir sobre o papel da dogmática jurídica na criação e permanência
de diferentes visões de mundo.

GT ONLINE 3 – Direito e Desigualdade I


Autor Vitor Monteiro Raimondi Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título (Des)Igualdade como diversidade: a retórica da igualdade e os princípios políticos de
totalidade e subsidiariedade
Resumo A ideia de igualdade exerce um papel predominante na política contemporânea. Se traz
à tona problemas reais e certas conquistas, sua influência vai além disso. Sousa (2022c)
e Goytisolo (1968) enxergam nela a causa imediata da massificação. Com efeito, a força
dogmática dos princípios absolutos aterrou o que, à época de sua formulação, já estava
em declínio. O corpo social, assolado pelo Absolutismo, viu sua estrutura orgânica ser
substituída por uma vaga ideia de igualdade: não eram mais a consciência histórica e
as necessidades concretas fundamentos dos vínculos sociais, mas a igualdade
desenraizada e uniformemente compartilhada pelo amontoado de Citoyens
rousseaunianos (Brunner, 1961 apud Sousa, 2022c, p. 169).
O uso que tende fazer da referida ideia um absoluto muito se assemelha a um recurso
típico da política moderna: a razão de Estado, que Ayuso (2020, p. 36) descreve como
“reflexão conduzida em modo hipotético-dedutivo e aplicada com finalidade operativa,
impossibilitando qualquer relação dialética entre o individual e o comunitário”. Sua
legitimidade se deu pelo triunfo do jusnaturalismo racionalista. A retórica da igualdade,
por sua vez, se legitimou numa sociedade oprimida pelos abusos do poder econômico
e político, já sem autonomia e sem vida, mas a nivelou ao invés de fazê-la reviver. Por
isso, justifica-se a expressão retórica da igualdade: ela incute que, ou se adere à mais
cruel desigualdade - sinônimo de opressão, injustiça e miséria -, ou se confessa
religiosamente o dogma da igualdade - em toda sua abstração e males necessários.
Se essa contraditoriedade é real na “experimentación físico-matemática”, em que
igualdade e desigualdade se dão quantitativamente, o mesmo não acontece na
“dimensión específicamente social”, onde não são noções opostas, mas
complementares - "si está en juego la relación igualdad-desigualdad está en juego el
orden(...) y (...) la justicia. (Puceiro, 1976, p. 1126). Apesar de imerso na retórica da
igualdade, o atual contexto político percebe a necessidade dessa complementaridade,
como por exemplo ao reivindicar a igualdade de direitos, ao mesmo tempo que se alude
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ao identitarismo, ao pluralismo, à diversidade. Ora, uma sociedade plural e diversa não


é também, em certo aspecto, uma sociedade desigual?
A maior dificuldade surge ao discutir o exercício do poder ante a sociedade. Como já
compreendido pelos gregos, a organização política corresponde à tendência natural de
aperfeiçoamento social - realiza-se na/com/pela sociedade, não apesar dela. Como
resumido por Sousa (2020a), a constituição formal e política, em toda sua
especificidade, não deve derrogar a constituição real, histórica e social. Ainda que entre
ambas as esferas haja distinções de objeto e competência, há que se falar numa
necessária correspondência entre elas, particularmente da política à social, em virtude
da sua precedência cronológica. É nesse sentido que Mella fala em soberanía social e
soberanía politica, convergindo com a distinção romana entre auctoritas e potestas
redescoberta por Álvaro d’Ors (apud Ayuso, 1981). A limitação do poder é assim
sociologicamente justificada.
Em âmbito estritamente social, o poder é limitado pelo reconhecimento da autonomia
das soberanias sociais. Não deve absorver a dinâmica da sociedade nem deixá-la
carente, mas ajudá-la na realização de suas competências, coordená-las, prestar auxílio
aos grupos sociais quando se mostrarem subjetiva e relativamente incapazes de exercer
as atividades que lhes são próprias, circunstâncias dadas a conhecer através da
representação da sociedade perante o poder. Eis o princípio da subsidiariedade. Há
certas atividades, porém, às quais os grupos sociais são objetivamente incapazes por
concernir a coletividade enquanto tal - representando a razão de ser da organização
política. O poder age, então, como representante da unidade do corpus politicum, pois
a sociedade se tem em igual - e total - dependência do poder. Eis o princípio da
totalidade (Sousa, 2020b, 2021, 2022b).
Vê-se, portanto, a mútua dependência entre as formas de conceber o exercício do poder
e a constituição da sociedade, especificamente entre totalidade e igualdade,
subsidiariedade e desigualdade - ou diversidade. Seria em prejuízo da própria sociedade
simplificar a complexidade dessas relações. É o que faz a retórica da igualdade ao
absolutizar aquela perspectiva de total igualdade e dependência do poder. Na medida
em que ignora as soberanias sociais e a diversidade de suas autoridades, erige-se como
a única autoridade legítima e única fonte do direito (Lamas, 2005; Sousa et al., 2021),
tratando a sociedade como massa informe e levando ao rompimento de seus vínculos
naturais e históricos. É outra a postura que se impõe diante da desigualdade social: a
que a encara como diversidade; trata os grupos sociais na medida da sua desigualdade,
ou seja, ajuda-os na medida de suas necessidades reais, se subjetivamente incapazes.
Reconhecer a soberania social e a autonomia de suas autoridades fortalece a estrutura
orgânica da sociedade, inclusive sua capacidade de resistir nos tempos de crise.

GT ONLINE 3 – Direito e Desigualdade I


Autores Otávio Augusto Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Valentina Squizato Izique
Título A influência da desigualdade socioeconômica no acesso à justiça.
Resumo A expressão acesso à justiça encontra-se protegida pelo artigo 5°, XXXV, da
Constituição Federal, instaurando a inafastabilidade da tutela jurisdicional. Sua
concepção é amplamente divulgada e atribuída a inúmeros significados, sendo
majoritariamente concebida como o meio pelo qual indivíduos podem reivindicar seus
direitos lesionados, acionando aqueles que o lesionaram para que possam resolver o
litígio perante os auspícios do Estado. Este, por sua vez, é encarregado de assegurar
um acesso equânime ao sistema judiciário para todas as pessoas, independentemente
de sua posição socioeconômica. Entretanto, o acesso à justiça transcende a mera
capacidade de iniciar ações judiciais. Abrange também a qualidade e a justiça dos
procedimentos processuais, garantindo que todos os envolvidos tenham suas vozes
ouvidas e seus direitos considerados de forma imparcial.. . Logo, pode-se afirmar que o
acesso à justiça está diretamente ligado ao exercício da cidadania e constitucionalismo,
ancorando-se ao Estado democrático de Direito. Apesar dessas garantias
constitucionais, a realidade brasileira mostra que o acesso à justiça é frequentemente
comprometido por profundas desigualdades socioeconômicas. Essas desigualdades
ressaltam a distância entre cidadãos de diferentes classes sociais, onde aqueles com
15

menor renda encontram-se frequentemente desprivilegiados na busca por justiça. A falta


de recursos financeiros e o desconhecimento do ambiente jurídico frequentemente
levam à desistência de processos, perpetuando a limitação no exercício da cidadania.
Constantemente presentes em pautas e discursos políticos, as desigualdades compõem
uma das questões principais da atualidade em virtude de seu vínculo com a democracia,
pobreza, justiça social, desenvolvimento econômico, entre outros. Existem diversas
formas de estudar desigualdade, por isso é necessário definir qual a dimensão que será
pautada. Parte-se então, do pressuposto de que o desenvolvimento do acesso à justiça
não se resume em levar conflitos ao tribunal, mas também em entender as funções
processuais e a tramitação da justiça. Além disso, a análise das práticas em outros
países pode fornecer insights valiosos para a melhoria do sistema jurídico nacional.
Considerando a gravidade e a complexidade dessas questões, é imprescindível a
implementação de políticas públicas que promovam a equidade no acesso à justiça. Tais
políticas deveriam não só facilitar o acesso físico e financeiro aos tribunais, mas também
promover a educação jurídica básica para todos, de modo a reduzir as desigualdades
culturais que afetam o acesso à justiça. O presente artigo tem como objetivo analisar
como a desigualdade socioeconômica interfere na igualdade de acesso à justiça, aos
direitos dos cidadãos, abordando também demais fatores que ensejam na dificuldade
de seu acesso na realidade brasileira. A análise pretende desvendar como fatores
econômicos afetam a capacidade dos indivíduos de buscar reparação legal e de
participar efetivamente no processo judicial. Isso inclui não apenas a disponibilidade de
recursos financeiros para suportar o custo de litígios, mas também questões como a
educação jurídica, o letramento e a familiaridade com o idioma e os procedimentos
legais, que são frequentemente desproporcionais entre diferentes grupos
socioeconômicos. Além disso, o artigo examina outros fatores que contribuem para
dificultar o acesso à justiça, tais como a complexidade do sistema legal, a lentidão dos
processos e a burocracia excessiva, que podem desencorajar ou mesmo impedir os
cidadãos, especialmente os mais pobres e menos educados, de buscar seus direitos
legais. Ao focar nestes aspectos, a pesquisa visa fornecer uma compreensão mais
aprofundada sobre como as desigualdades socioeconômicas condicionam a eficácia da
garantia constitucional do acesso à justiça no Brasil. A metodologia deste trabalho será
dedutiva, utilizando procedimentos de revisão bibliográfica e análise documental, para
traçar um panorama abrangente das intersecções entre as desigualdades
socioeconômicas e o acesso à justiça, destacando as vias através das quais estas
desigualdades impactam tanto a viabilidade quanto o resultado das demandas judiciais.
Este estudo visa contribuir para um entendimento mais profundo do acesso à justiça
como um direito fundamental e uma expressão da cidadania em um contexto de
desigualdades marcantes.

GT ONLINE 3 – Direito e Desigualdade I


Autor Thiago Sousa Ramos Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título A cisão da vida do homem em bourgeois (burguês) e citoyen (cidadão) como realização
do fundamento humano do Cristianismo.
Resumo O ano de 1844 representa uma "virada de chave", uma mudança de compreensão nas
análises de Karl Marx frente às contradições da sociedade civil-burguesa. Ao se opor à
filosofia hegeliana – especificamente a uma camada mais jovem da academia, que se
voltava com duras críticas à realidade do Estado germânico-cristão, os Jovens
hegelianos –, Marx publica em 1844 um artigo em resposta a um grande expoente dessa
camada, Bruno Bauer. Esse artigo, intitulado "Sobre a questão judaica", é uma
contraposição a dois artigos de Bauer, nomeados "A questão Judaica" (Die Judenfrage)
e "A capacidade dos atuais judeus e cristãos de se tornarem livres" (Die Fähigkeit der
heutigen Juden und Christen, frei zu werden). Bruno Bauer, ao voltar-se para a oposição
religiosa que existia entre o judeu e o Estado cristão na Alemanha, conclui que, além da
questão judaica possuir um significado universal, por tratar-se da relação entre religião
e Estado, a sua solução se daria a partir da emancipação política. O Estado não
professaria nenhuma religião oficial (Estado laico) e como resultado a religião seria
superada e o homem se realizaria enquanto gênero. Para ele, a religião deveria ser
apenas aparência, algo que não se confunde com a essência dos indivíduos, a essência
16

humana, que é dada por meio da universalidade. O Estado, como representante dessa
realização, é como se fosse a vida real do homem, um contraste à sua vida aparente na
sociedade civil-burguesa. Bauer acredita, fielmente, que a partir da emancipação política
o poder secular (Estado) tem a capacidade de dominar o espírito religioso (religião). Karl
Marx, por outro lado, ao partir de escritos norte-americanos, inicia sua argumentação
demonstrando a falsidade desses argumentos, como em um país onde há uma
emancipação política plena se verifica "não só a existência da religião, mas a existência
da mesma em seu frescor e sua força vitais" (Marx, 2010, p.38). Marx confronta a
argumentação de Bauer e mostra como, a partir de seus meios, a questão da oposição
entre religião e Estado não pode ser resolvida, pois a religião subsiste, mesmo após a
emancipação política. Diante do exposto, uma breve apresentação dos argumentos de
Bruno Bauer e a caracterização da oposição que Karl Marx faz aos mesmos, a presente
pesquisa visa demonstrar que a cisão da vida do homem em bourgeois (burguês) e o
citoyen (cidadão), a partir da emancipação política, consiste na realização do
fundamento humano do cristianismo e, desse modo, permite a subsistência da religião
como tal. Para isso, a metodologia consiste na análise imanente do artigo “Sobre a
questão judaica”, de Karl Marx. Os resultados da pesquisa demonstram que Bruno
Bauer, ao partir de uma confusão acrítica acerca da emancipação política e da
emancipação humana, exigiu condições da segunda à primeira. Vislumbrou na
emancipação política a saída para a superação da religião, o que impedia os homens
de se realizarem enquanto gênero. No entanto, Karl Marx demonstra como que a própria
emancipação política, na verdade, não visa libertar o homem, mas apenas o Estado da
religião. Ele se conforma como um desvio do homem, no que toca à religião, um meio
para que ele a supere. Assim, a limitação presente na vida real, condicionamento do
homem à religião, aparece como uma qualidade da sociedade civil-burguesa. A religião
“não é mais a essência da comunidade, mas a essência da diferença” (Marx, 2010,
p.42), ela passa a expressar, de forma fantástica, o seu fundamento real, a cisão da vida
do homem – em bourgeois (burguês) e citoyen (cidadão) – conformada a partir da
emancipação política. Desse modo, ela se realiza na sociedade civil-burguesa no
momento que alcança seu fundamento humano, seu conteúdo mundano, que consiste
na inversão do mundo do homem. A relação invertida entre Estado (sujeito) e Sociedade
civil-burguesa (predicado), possui na religião seu compêndio enciclopédico, seu
complemento solene. Os fundamentos da religião, no que Marx se refere ao
cristianismo, só se tornam possíveis quando o Estado a liberta de seus fins profanos e
ela pode se voltar a seus fins sagrados. Por fim, da mesma forma que a religião, ao
mesmo tempo, protesta e expressa a miséria real, o Estado, por meio da política, ao
mesmo tempo, se coloca acima das limitações da sociedade civil-burguesa e as toma
como pressupostos. Ao afirmar o homem abstrato, estranhado, ou seja, o cidadão, como
realização do gênero humano, o homem real, o burguês, se perde no egoísmo e
contradições da sociedade civil-burguesa.

GT ONLINE 4 – Direitos Humanos II


Autor Camilo de Lélis Diniz de Farias Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título Tem Oxê no tribunal? Acesso à justiça e representação argumentativa das religiões afro-
ameríncias no STF
Resumo Introdução. O estudo dos processos decisórios no direito (interpretação da norma e
decisão judicial) é um dos temas centrais da ciência jurídica contemporânea. Constatada
a superação do paradigma estritamente formal preconizado pelo positivismo jurídico, a
aplicação da norma deixa de se resumir à subsunção dos fatos às prescrições legais e
passa a ser tratada como a sua concretização material perante o mundo real. A decisão
judicial, portanto, é encarada sob o prisma da necessidade de solucionar problemas
reais que envolvem pessoas, e que são apresentados ao judiciário.
O aumento do poder político do judiciário e a reafirmação da força normativa da
Constituição, características do pós positivismo, realçaram o caráter criativo da
jurisdição e deram às cortes constitucionais, como o STF, a autoridade de proferir a
última palavra em temas de grande repercussão social e política, permitindo que estes
tribunais, compostos por juízes sem legitimação democrática direta, no bojo da chamada
judicialização da política (HIRSCHL, 2009).
17

Igualmente, STF assumiu uma posição central para a efetivação dos direitos
fundamentais, uma vez que a autoridade de suas decisões tem o poder de consolidar
interpretações da norma, que devem ser seguidos por todos os outros órgãos do
judiciário. Assim, a efetivação dos direitos fundamentais e a legitimidade das decisões
dos tribunais - notadamente o STF - tornaram-se importantes problemas para a teoria
do direito brasileiro. Com isso, ganham força as concepções que ressaltam o caráter
dialógico e argumentativo das decisões judiciais e que entendem a interpretação da
norma como uma tarefa coletiva, como as teorias da sociedade aberta dos intérpretes
da Constituição (HABERLE, 2014) e da representação argumentativa (ALEXY, 2011).
Nesta perspectiva, destacam-se os instrumentos da audiência pública e do amicus
curiae, ambos já previstos em lei, porém de utilização ampliada nos últimos anos.
No entanto, o Brasil caracteriza-se como uma sociedade multicultural, de complexa
formação histórica, em que diversas desigualdades sociais ainda persistem, apesar de
a Constituição estabelecer o combate à discriminação, marginalização e desigualdades
como objetivos fundamentais da República.
Neste sentido, é importante refletir acerca da situação das religiões de matriz afro
ameríndia, que são importantes elementos da formação cultural do Brasil. Embora a
Constituição determine a punição contra quaisquer formas de discriminação e,
particularmente, a criminalização do racismo, além de prever uma série de direitos
relacionados ao estatuto das religiões, elas seguem sendo vítimas de graves
discriminações e violações de direitos, o que demanda uma solução a ser aplicada pelo
poder judiciário.
Porém, questiona-se como estas religiões têm acessado os órgãos da justiça e mesmo
se os seus argumentos são igualmente considerados no processo de construção das
decisões judiciais, enquanto outras instituições religiosas têm participado ativamente de
audiências públicas no STF e intervindo como amici curiae em processos de relevância
social, notadamente os que envolvem temas moralmente sensíveis, obtendo assim
amplo espaço para expressar seus argumentos e defender seus interesses.
Isto posto, o objetivo deste trabalho é analisar, a partir do estudo de decisões proferidas
pelo STF em casos que tiveram como partes interessadas religiosos ou instituições
religiosas de matriz afro-ameríndia, a efetividade de sua representação argumentativa,
isto é, se os argumentos delineados pelas partes e terceiros interessados foram
adequadamente levados em consideração no processo de construção e aplicação do
direito.
Objetivos
Geral: Analisar a representação argumentativa das religiões de matriz afro-ameríndia
em decisões proferidas pelo STF relativamente a temas de seu interesse.
Específicos: Realizar estudos de caso de decisões em que figuraram como partes ou
terceiros interessados religiosos ou instituições religiosas afro-ameríndias.
Analisar criticamente a participação destes sujeitos na construção de decisões
paradigmáticas para seus interesses.
Metodologia. Para a consecução dos objetivos do trabalho, propõe-se a realização de
estudo de caso, focado em decisões que versaram sobre questões de interesse das
comunidades de religiões afro-ameríndias, considerando que a jurisprudência, cada vez
mais, assume papel criativo e definidor do alcance e limites dos direitos previstos nas
normas positivas.
Assim, pretende-se analisar as seguintes decisões: Habeas Corpus 82.424/RS (2004),
que reconheceu pela primeira vez a prática do crime de racismo por motivo de religião
(praticado, no caso, contra a comunidade judaica); Recurso Ordinário em Habeas
Corpus 134.682/BA (2017) que, em caso similar, não reconheceu a prática do referido
crime contra as religiões de matriz afro-ameríndia em decorrência da publicação de obra
alegadamente discriminatória; Recurso Extraordinário 494.601 (2019), que analisou a
constitucionalidade do sacrifício ritual de animais; e Ação Direta de Inconstitucionalidade
4439 (2018), que decidiu pela constitucionalidade do ensino religioso confessional nas
escolas públicas.
Ressalte-se que o todo o conteúdo dos autos (peças escritas, vídeos das audiências
públicas e sustentações orais e decisões) encontra-se disponível no sítio eletrônico do
STF, com acesso aberto e gratuito, permitindo assim que seja feita a referida análise.
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GT ONLINE 4 – Direitos Humanos II


Autor Antonio José Franco de Souza Pêcego Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título O aborto precoce provocado sob um prisma jusfilosófico.
Resumo Descrição do objeto. Com o recente encerramento em 06/08/2018 de audiência pública
promovida pelo Supremo Tribunal Federal, em decorrência da ADPF 442 em que se
discutiu a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação, se reascendeu
essa discussão no Brasil que até pouco tempo atrás se restringiu ao já superado aborto
do anencéfalo.
O tema é interdisciplinar e reclama reflexões sobre possíveis respostas às questões
postas, dentre outras: 1) em que medida o aborto precoce provocado pela mulher é uma
violência que deve ser combativa com a violência estatal das sanções penais? 2) O
aborto precoce provocado estaria entre os direitos humanos da mulher? 3) Haveria,
nessa hipótese, a morte de alguém?
Eis a descrição do objeto da pesquisa.
Problematização científica.
O período fetal se inicia na décima segunda semana de gravidez, mas é a partir da 13ª
semana de gestação que o feto se apresenta com capacidade de percepção gustativa,
de diferenciar gostos, ou seja, começa a ter consciência no sentido comum; logo, o
embrião até doze semanas não passa de um estágio inicial de desenvolvimento de um
organismo que sequer é senciente; vale dizer, não existe como pessoa humana, não é
alguém.
Há que se tentar estabelecer um marco divisório da gestação que aponte quando passa
a existir alguém, um indivíduo. Somente a partir da existência do eu, indivíduo, é que
podemos dizer que provocar a cessão de sua vida é matar alguém que deve ser
criminalizado socialmente. A questão é, quando surge a pessoa? O filósofo Jeff
McMahan responde a essa problemática com base na abordagem da identidade que
advoga a mente corporificada.
A OMS é enfática em afirmar que a proibição não reduz a sua incidência, mas aumenta
o número de abortos inseguros. No mesmo sentido especialistas em direitos humanos
da própria ONU em setembro de 2017 que clamam pela descriminalização mundial por
reconhecerem o direito de toda mulher ao aborto seguro.
Considerações finais críticas.
A questão do aborto, em especial, precoce provocado como direito humano fundamental
envolve a autonomia reprodutiva da mulher que não tem sido objeto de abordagem por
meio de um senso jurídico crítico, mas apenas do senso jurídico comum que
desconsidera o foco interdisciplinar da questão. Não há políticas públicas que promovam
o aborto seguro, mas sim, com a sua criminalização, o fomento ao inseguro que
desrespeita direito à vida da mulher e a necessidade de promoção do bem-estar social
numa democracia.

GT ONLINE 4 – Direitos Humanos II


Autores Mariana Azevedo Saraiva Carneiro Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Rafael Araújo dos Santos
Título As ações afirmativas como forma de manifestação do princípio constitucional da
igualdade em seu âmbito formal e material.
Resumo Introdução. É indubitável que quando se trata de igualdade, esse tema é desde os
tempos remotos até o presente momento um dos temas de maior complexidade na
humanidade sob os seus diferentes aspectos político, filosófico, econômico, social e
jurídico.
A primeira noção quanto ao princípio de igualdade foi verificada por Aristóteles e
posteriormente serviu inspiração á Rui Barbosa ao escrever a Oração dos Moços, a qual
afirmou que a regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos
desiguais, na medida em que se desigualam, nesta desigualdade social, proporcionada
à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. (BARBOSA, 1976,
p.25)
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No ordenamento jurídico brasileiro o princípio da igualdade vem sendo assegurado


desde a Constituição do Império de 1824, previsto como a "igualdade perante a lei",
reforçando o sentido de igualdade formal, ou seja, impõe-se apenas o tratamento
uniforme de todas as pessoas perante a lei.
Atualmente, a Constituição Federal vigente, em seu art.5º assegura que todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos dos incisos desse artigo.
Porém, é inequívoco que a igualdade formal não é suficiente para reduzir as
desigualdades, tendo em vista que esta não considera as peculiaridades dos grupos e
indivíduos não favorecidos, não garantindo a eles as mesmas oportunidades que
confere aos demais.
Na acepção de Ferdinand Lassale, a sociedade é composta por duas constituições, a
primeira é Constituição real, no que ele entende como sendo a soma dos fatores reais
do poder que está sempre em mudança e a segunda é a Constituição escrita, ou seja,
que está positivada e só terá validade se for capaz de se ajustar a Constituição Real,
pois só é legítima se apresenta o efetivo poder social. (LASSALE, 2002).
Neste ponto, podemos observar que a Constituição real faz alusão a igualdade material
e a Constituição escrita é a igualdade formal, pois ambas só são válidas se estiverem
em consonância uma com a outra.
Portanto, o Poder Público deve buscar os meios e instrumentos para promover
condições de igualdade real e efetiva e não somente contentar-se com a igualdade
formal, em respeito a um dos objetivos fundamentais da República: construção de uma
sociedade justa. Para adoção desse preceito deve existir uma política legislativa e
administrativa que não pode contentar-se com a pura igualdade legal, adotando normas
especiais tendentes a corrigir os efeitos díspares ocasionados pelo tratamento igual dos
desiguais. (MORAES, 2007)
É nesse contexto que se destaca a existência de discriminações positivas ou affirmative
actions, aplicadas visando à correção das desvantagens que sofrem os grupos
socialmente menos favorecidos através da instituição de políticas compensatórias que
estimulam a igualdade de tratamento e de oportunidades, corrigindo injustiças do
passado.
Em consonância disso, CARVALHO (2006) , dispõe que
As ações afirmativas envolvem um conjunto de estratégias, iniciativas ou políticas
públicas que têm por escopo favorecer grupos ou segmentos sociais que se encontram
em piores condições de competição na sociedade em razão, na maioria das vezes, da
prática de discriminações negativas, presentes ou passadas. São medidas que
objetivam eliminar os desequilíbrios existentes entre determinadas categorias sociais
até que sejam eles neutralizados, concretizando-se mediante providências efetivas em
favor daquelas categorias que se encontram em situação desvantajosa.”
Assim sendo, o objetivo geral do presente trabalho reside na análise das ações
afirmativas criadas pelo Poder Público com o escopo de reduzir as desigualdades
presentes no território brasileiro.
A metodologia adotada compreenderá a coleta e análise das políticas públicas criadas,
bem ainda, na análise da atuação do Poder Legislativo e Poder Judiciário com as
questões relacionadas ao tema. A abordagem utilizada será qualitativa, permitindo a
análise aprofundada dos casos e suas repercussões.
Além disso, será realizada uma busca sistemática em bases de dados jurídicos,
periódicos científicos e livros especializados para identificar e analisar a produção
acadêmica existente sobre o tema. A revisão bibliográfica será fundamental para
estabelecer o embasamento teórico da pesquisa e compreender os fundamentos
conceituais e normativos relacionados ao assunto.
Em suma, devido ao que foi exposto, o que se espera do presente trabalho é explicitar
notória a importância do princípio da igualdade, que está disperso na maioria das
disposições normativas da Constituição Federal de 1988, de modo que, ao verificar a
sua aplicação através de ações afirmativas, será observado se essas providências
conduzem para a redução das desigualdades em nossa sociedade brasileira.
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GT ONLINE 4 – Direitos Humanos II


Autor Bernardo Andrade Antoniazzi Cirino Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título Operação acolhida: esforço humanitário ou exceção?
Resumo “Mas se considerarmos que a exceção é um dispositivo, o campo será aberto toda vez
que o dispositivo for acionado com esta finalidade, independentemente da decretação
formal do estado de exceção. Identificar quando e onde aparecem esses campos será
então a tarefa daquele viajante nosso contemporâneo que quer interpretar o seu tempo”.
No país em que vivemos, a barbárie está literalmente à nossa porta: pessoas vendem
bala nos semáforos, pedem esmolas na porta de lanchonetes, reviram sacos de lixo...
sempre em busca de terem acesso aos bens que, conforme o direito, lhes deveriam ser
garantidos. Ora, um olhar atento à realidade é suficiente para perceber que algo está
errado, sobretudo com o aparato jurídico-político que, conforme a sua Lei Maior – quer
seja, a Constituição da República Federativa do Brasil –, situações como as descritas
seriam não somente injustas, mas ilegais.
Muito se tenta pensar essa problemática sob uma ótica interna ao direito, para a qual
tamanhas afrontas a qualquer senso minimamente empático de humanidade são uma
questão de escolha política dos governantes; ou, pior, que tais situações mencionadas
são fruto das escolhas de vida de quem as vivencia. Qualquer dessas interpretações,
ou de suas possíveis variantes é insuficiente. Não questionar o direito tal como ele está
colocado para nós é, se não cínico, ao menos ingênuo.
Felizmente, alguns se enveredam por outro caminho, e Giorgio Agamben é um deles.
Em vasta produção teórica, que aborda diversas áreas da filosofia e do direito, o autor
italiano traz importantes chaves de leitura para vários fenômenos deste tão controverso
mundo. Dispositivo, exceção, estado de exceção e campo são alguns desses conceitos
com altíssima carga elucidativa. Daniel Nascimento, pesquisador brasileiro, também é
um desses questionadores, e seu trabalho de leitura de Agamben – a qual muitas vezes
é desafiadora – é de extrema valia para essa empreitada de interpretação crítica do
direito brasileiro.
Dessa forma, estudar a lastimável questão dos vendedores de bala, dos pedintes ou
dos reviradores de lixo a partir do escopo agambeniano seria de grandíssimo valor.
Entretanto, conforme intuiu Foucault , situações em que injustiças e contradições estão
postas de maneira mais sutil podem ser ainda mais perigosas e demandam uma análise
tão ou mais atenta. Exemplo de uma dessas circunstâncias é o quadro da migração
internacional.
Não há dúvidas, concede-se, que, em grande parte das vezes, o que se vê acerca dos
migrantes no noticiário remete a um quadro de maneira alguma mais sutil do que o da
mendicância ou o dos catadores de lixo: são amplamente conhecidos, por exemplo,
casos de acampamentos de imigração montados por determinados governos em suas
regiões de fronteira que em nada diferem dos campos de concentração nazistas. Porém,
de fato mais sutis – mas não menos problemáticas – são as medidas tomadas por
algumas outras administrações, que aparentam ser humanitárias e democráticas. O
Brasil é um desses casos.
Diante do alto fluxo migratório vindo da Venezuela em direção à fronteira com o estado
de Roraima, o governo brasileiro deflagrou, em 2018, a assim chamada Operação
Acolhida , capitaneada pelas Forças Armadas. Essa força tarefa, que poderia ser
interpretada como um dos raros esforços humanitários do governo de Jair Messias
Bolsonaro, vez que este, de fato, poderia ter fechado a fronteira e propagado um
discurso anti-imigração. Contudo, ela “revela os paradoxos de um duplo
comprometimento entre acolher e manter a ordem” , ou seja, ela inclui através da
exclusão, o que alude a uma relação de exceção , de acordo com a terminologia
agambeniana.
Nesse sentido, pretende-se investigar se a citada Operação Acolhida representa um
sincero esforço humanitário ou se configura o que Giorgio Agamben sustenta ser um
estado de exceção. Para tanto, busca-se, mediante revisão de bibliografia – tanto a
teórico-filosófica quanto a baseada em estudos de campo sobre o objeto de pesquisa
em tela –, compreender, de maneira aprofundada, as noções de dispositivo, exceção,
estado de exceção e campo em Agamben, bem como relacioná-las à situação-problema
descrita.
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Destarte, autores como o já mencionado Daniel Nascimento e Andityas Matos serão


essenciais para uma leitura mediata de Giorgio Agamben, cuja literatura direta também
será analisada. Também indispensáveis, neste caso para a análise fática da Operação
Acolhida, serão os trabalhos de Iana dos Santos Vasconcelos e Igor José de Reno
Machado.
Em última instância, o que se pretende com este trabalho é cumprir com a tarefa imposta
por Nascimento (vide epígrafe), fazendo as vezes de um bom viajante desse nosso
tempo, atento às suas injustiças e contradições, interpretando-o de maneira
verdadeiramente ética.

GT ONLINE 4 – Direitos Humanos II


Autor Ismar Nascimenro Junior Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título “Diante da Lei está um guarda” A violência policial contra advogados enquanto uma
barreira de acesso à justiça: reflexões sobre um dispositivo autoritário.
Resumo O advogado José Urbano do nascimento Junior foi torturado por policiais, em 2012, na
cidade de Rio Real, interior da Bahia, após intervir na tortura que era infligida a um
cliente. Meses depois, Urbano foi assassinado e o policial que o agrediu é apontado
como suspeito. No ano de 2022, um policial militar foi condenado por torturar um
advogado, Orcélio Ferreira Silvério Júnior, em Goiânia. Orcélio tentou, à época do crime,
intervir na condução de um “flanelinha”, que estava sendo levado por policiais. Os casos
aqui relatados aconteceram mesmo na vigência da Constituição Federal de 1988, que
garante a inviolabilidade dos advogados no exercício da profissão. Apesar da retórica
democrática que emana do texto constitucional, o objetivo deste trabalho é
problematizá-la, utilizando-se como marco teórico as ideias de “discurso” e “dispositivo”,
desenvolvidas por Foucault. Parte-se da hipótese de que a violência contra
advogados(as) de pessoas subalternizadas é parte integrante de um dispositivo
autoritário capaz de impedir que parcelas marginalizadas da população acessem à
justiça, de forma satisfatória. Conclui-se que a truculência policial voltada contra a
defesa dos detidos ou investigados é mais uma face do exercício do biopoder no Brasil,
que não admite questionamentos nem percebe os corpos subalternizados como sujeitos
de direitos, de modo que os seus defensores, quando não renomados, estão sujeitos à
violência estatal. Utiliza-se, como alegoria, a imagem do “porteiro diante da lei”, presente
na obra “O Processo”, escrita por Kafka, onde um guarda impede que um homem do
campo acesse à justiça.

GT ONLINE 4 – Direitos Humanos II


Autor Gabriel Oliveira da Costa Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título A criminalização da homofobia no Brasil pela perspectiva de Judith Butler.
Resumo O Supremo Tribunal Federal decidiu, no julgamento da Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão nº 26, que o Congresso Nacional se omitiu na
legislação de norma protetiva à comunidade LGBT, equiparando a homofobia ao crime
de racismo. A partir desse contexto, é possível vislumbrar conflitos entre a dignidade
humana de minorias e o exercício da liberdade de expressão, restringido por uma lei de
caráter penal. Dessa forma, o objetivo do trabalho é compreender a estratégia da
criminalização do discurso de ódio para enfrentar a discriminação, refletindo sobre o
impacto da regulação jurídica sobre a linguagem. Para isso, o trabalho abordará o
pensamento de Judith Butler, uma autora importante sobre a teoria queer, que investiga
sobre o desempenho da linguagem em atos discriminatórios e o problema do controle
estatal sobre o discurso.
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GT ONLINE 5 – Teoria e Filosofia do Direito


Autora Luiza Nogueira Barbosa Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título A recuperação do sentido «autêntico» do direito: notas a partir do existencialismo-
ontológico heideggeriano.
Resumo Ao longo de toda a sua história, a existência humana pensou e construiu narrativas e
práticas, de acordo com os seus valores e normas, para o problema do coexistir. Ao
estar-com-o-outro na unicidade do mundo foram apresentadas diferentes alternativas
de mediação. Se cada etapa do desenvolvimento (Entfaltung) carrega em si a sua
própria lei (Gesetz), é do homem a capacidade e a necessidade criativa capaz de
desbravar os caminhos e horizontes do conhecimento a partir do qual “um povo
compreende e realiza a sua existência no mundo histórico-espiritual”. E pode fazê-lo de
forma absorvida pelo mundo, em que, perdido nas ocupações da quotidianidade, (de)cai
em um seu esquecimento como um ente (Seiende) ou de forma autónoma, que, como
um estar-aí lançado ao mundo devolve às coisas o seu peso, é dizer, o seu ser (Sein) a
partir de uma sua auto compreensão (Hermeneutik) (Heidegger 1953, 6-9, tradução
nossa).
É com estas bases – e por meio de uma sua verdadeira desconstrução (Abbau,
Dekontruktion) – que trazemos o problema que aqui pretendemos enfrentar: o da
ocultação do sentido do direito a partir da conceção de verdade e ser que se estabeleceu
na modernidade e a possibilidade de uma «autêntica» recuperação do seu sentido.
Em que pese ser possível retornar longinquamente na história da filosofia para tratarmos
do problema da ocultação do ser pelo ente, importa-nos fazer este recorte temporal.
Marcamos a nossa reflexão a partir da emergência da crise da razão, i.e., a crise pela
qual, ao definir-se um método para “alcançá-la”, ela acabou por com ele se confundir
(Castanheira Neves 2003). Ao pretender alcançar um conhecimento de tudo – e do
todo? – através da epistemologia cientista, em busca de verdades ônticas imanentes, a
razão moderna (neuzeitlich) conduziu à perda da vinculação ao ser enquanto tal,
tornando-se um mero sistema racionalmente construído. Como uma sua consequência
sobre o Direito e o pensamento jurídico, o monismo existente entre a intenção filosófica
e a intenção prático-normativa do Direito foi rompido. A sua Filosofia, a sua reflexão
teorética-especulativa, deixou de estar baseada no valor próprio de justiça, para
posicionar-se como um meta-discurso do que agora também deveria ser compreendido
como ciência, o direito. Nesta sede de abordar o direito como um mero objeto, um algo-
simplesmente-dado (Vorhanden), este passou a ser compreendido e legitimado ora
pelos planos-programas materiais da política, ora da economia, ora da técnica, a ocultar,
em um eclipse decadente, a sua própria – e «autêntica» – dimensão axiológico-
normativa
A crise do Direito e da sua Filosofia não é de todo um problema novo (neste sentido, ver
Castanheira Neves 2003). Decerto, plúrimas são as vozes e reflexões a tentar
recuperar-lhe o sentido, devolvendo ao pensamento e metodologia jurídicos uma
unidade de perceção-concretização. Se o paradigma hermético de uma “ciência” do
direito parece ter sido superado – ou ao menos a consciência dos seus riscos parece
ter sido recuperada –, todavia estamos diante um espaço aberto de possibilidades para
(re-)construção de uma compreensão alternativa (Aroso Linhares 2009). Juntamo-nos,
portanto, ao coro de possibilidades-alternativas compreensivas do Direito, no sentido
daquilo que foi defendido por Heidegger: de que a filosofia deverá ser uma abertura
mental desbravadora (e desveladora) do conhecimento que estabelece padrões e
classificações, a tornar a existência histórica mais difícil, a fim de possibilitar o
aparecimento de tudo o que é grande e distintivo (Heidegger 1953, 6-9). E é isso que
cremos ser o Direito: um fenómeno humano-cultural que oferece a alternativa mais
autêntica à coexistência em um mundo partilhado, condição inerente ao estar-aí humano
e que tem como fundamento último o próprio homem.
Como todo o questionamento essencial da filosofia, e ainda o dizemos com Heidegger,
permanece necessariamente intempestivo (unzeitgemäß) o problema que aqui
apresentamos. No «pathos da incerteza» gerado por essa pluralidade dissonante das
suas tentativas de compreensão – importa ouvir (e pertencer; Hören und Gehören), nos
diria Heidegger –, a nossa proposta tem o seu fundar no existencialismo-ontológico
heideggeriano. Por conseguinte, afastamo-nos de toda e qualquer caracterização do
direito a partir do seu Seiende relativo-contextual, que busca a verdade no ente em si, e
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lançamo-nos às bases de uma releitura projetante da historicidade ontológica da


existência humana. É o estar-aí humano, em sua constituição fundamental de
transcendência em direção ao mundo, como ser-no-mundo (In-der-Welt-sein) que nos
permitirá perguntar pelo fenómeno jurídico originário e, na nossa condição de lançados
ao mundo, realizá-lo autenticamente.

GT ONLINE 5 – Teoria e Filosofia do Direito


Autores Homero Chiaraba Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Gianina Martins Baronni
Título Almachio Diniz e o Naturalismo Jurídico Baiano: fontes para uma nova leitura da
recepção de Nietzsche no Brasil (1900-1937).
Resumo O objeto deste trabalho é contribuir para os estudos acerca da recepção das ideias de
Frederich Niezsche no Brasil. O tema é relativamente bem estudado, porém contém
ainda algumas lacunas. Dentre estas lacunas está o papel de Almachio Diniz na
recepção das ideias nietzscheanas no Brasil. Jurista baiano radicado no Rio de Janeiro,
Diniz foi professor de Filofia do Direito na Faculdade Livre de Direito da Bahia e de
Direito Civill e Comercial na Faculdade Nacional de Direito. Embora não seja ignorado
pela área da Filosofia que "o mais notável dos polígrafos brasileiros", como-o definira
Silvio Romero, tenha se dedicado à leitura e ao estudo do filósofo alemão, ainda é
desconhecido entre os círculos jurídicos o desenvolvimento que este fez das ideias
nietzscheanas, associadas à Haeckel e Spencer, para o desenvolvimento de uma teoria
jurídica em muitos sentidos original e que iria marcar o nascimento de uma Escola
Baiana de Pensamento jurídico, com expoentes como Nestor Duarte, Nelson Sampaio,
Alto de Castro e Machado Neto.
Neste trabalho apresentamos fontes ainda inexploradas para que essa história possa
ser recontada com mais precisão. São livros e artigos de jornais nos quais Almachio
explica suas ideias jusfilosóficas e disserta sobre a influência de Nietzsche sobre seu
pensamento sistematizadas durante a pesquisa "Almachio Diniz: vida, obra e
contribuições para a cultura jurídica nacional", desenvolvida na Universidade Estadual
de Santa Cruz, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia
(FAPESB) e do programa Mais Futuro, do Governo do Estado da Bahia.

GT ONLINE 5 – Teoria e Filosofia do Direito


Autores Michael Lima de Jesus Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Leandra Iriane Mattos
Título O destino das próprias causas: a concepção de uma Filosofia do Direito emancipatória
do homo juridicus.
Resumo O presente artigo analisa a possibilidade de uma hermenêutica constitucional
emancipatória ante o ethos brasileiro. Para tal, dialoga com a tragédia de Édipo Rei,
colocando em destaque a noção irredimível de destino aplicada a ele. A tragédia de
Édipo rei fala de uma condição fatalista da natureza humana. Aponta aquilo que não
pode ser evitado, um destino do qual o ser não pode ser redimido. Descreve a
impotência humana ante as forças que são superiores. Torna escrava a racionalidade e
vontade ante as linhas irresistíveis da sorte já traçada.
A ideia do destino era corporificado na figura das Moiras, três irmãs que possuíam em
seu poder a determinação do destino. Seu ofício era o de fabricar, tecer e recortar o
símbolo do fio da vida de todos os indivíduos. As representantes do destino eram tidas
como impiedosas e insensíveis. Do agir das irmãs, nem mesmo os deuses do Olimpo
poderiam esquivar-se. A mitologia estabelecia o lugar da Moiras acima do próprio Zeus.
Ele mesmo, sendo o senhor do mundo, sob pena de ferir a harmonia cósmica, deveria
submeter-se ao desígnio de seus fios. Se o poder do Olimpo não era suficiente para
enfrentar o que era traçado pelas irmãs, a liberdade humana era por demais frágil para
apresentar-lhes resistência.
Comparativamente, considera a existência de um ethos epistemológico de necessária
análise no cenário brasileiro, aquele de caráter religioso e com perfil político
conservador-reacionário, como os seus destaques recentes no cenário político-jurídico.
Poderia existir um destino traçado ao homem do direito, ou ethos? Estaria o direito à
mercê de alguma espécie de sorte que define os passos daqueles que pavimentam os
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seus caminhos? O artigo inicia analisando a noção de destino existente da tragédia de


Édipo, para que sejam traçadas as linhas iniciais do estudo.
A seguir, reflete acerca da noção gadameriana hermenêutica. Observando a abertura
descrita como necessária para que o intérprete consiga apreender o objeto de
conhecimento que pretende desvelar. As linhas são traçadas como sendo o jurista o
objeto de tal hermenêutica, para que então consiga ser o seu ator. Ponderando também
em seguida se seria a “fé” o grande demiurgo da problemática, ou se algo para além
desta.
Ao final, o trabalho dialoga com a noção de reconstrução emancipatória de Habermas.
Colocando em perspectiva como esta traria ao cenário do homo juridicus um
amadurecimento hermenêutico-retórico diante das questões que hoje desafiam a
democracia e as instituições democráticas, assim como à sua inacabada jornada
iluminista. Findando com a questão primeira, ao considerar as relações arquetípicas
entre Édipo e o homo juridicus.
O estudo estabelece o que seria o ethos hermenêutico-retórico brasileiro — que
aparenta ser majoritário. Analisando eventos, discursos e posturas recentes que
remodelaram os limites para além da hermenêutica constitucional e da retórica
democrática. Mas que, por questões metodológicas, foram analisados a partir de tais
vetores. Partindo daí, o trabalho apresenta uma noção hermenêutica aberta e
desveladora em Gadamer, a qual será utilizada para estabelecer as possibilidades
emancipatórias em diálogo com o conceito de reconstrução em Habermas. O presente
artigo visa analisar tal cenário, tendo em mente a implicação dos novos desafios
democráticos que este inaugura, utilizando-se da revisão de literatura e empregando o
método hipotético-dedutivo para tal.

GT ONLINE 5 – Teoria e Filosofia do Direito


Autores Cecília Marília Moreira da Costa Viana Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Victor Azevedo de Aragão
Título Repensando o conceito de tolerância habermasiano na esfera pública: limites
discursivos em meio a ameaças democráticas
Resumo A teoria do pensador alemão Jürgen Habermas perpassa uma série de conceitos
trabalhados, a exemplo da “tolerância” e da “razão comunicativa”, por exemplo, com
intuito de explicar não apenas a democracia, mas também como esta se manifesta no
âmbito do espaço público. De maneira sintética, o pensamento habermasiano trabalha
a ideia da tolerância como um dos elementos fundamentais para o debate na esfera
pública, na medida em que a tolerância constituir-se-ia como um pressuposto para a
prática política entre grupos adversos. Dessa forma, mediante o mútuo respeito entre
estes e na razão comunicativa discursiva livre de distorções, a despeito de suas
adversidades ideológicas, poder-se-ia promover o debate de ideias com intuito de
fomentar e aprimorar a prática política democrática no espaço público, assentada
exatamente na “conformação” de concepções contrastantes.
Por outro lado, no momento atual, em que muitas democracias contemporâneas
atravessam, impõe-se a necessidade de revisitar os conceitos habermasianos supra
explicados. Visto que se observa a ascensão de grupos políticos em diversos países
que não apenas contestam diversas instituições democráticas, como também se opõem
a pilares fundamentais de um jogo político plural, torna-se imperioso ponderar os limites
da tolerância no debate público e em que medida ela, ao ser condescendente com
manifestações discursivas antidemocráticas, não comprometeria um fazer político que
possa ser, de fato, ético.
De maneira mais específica, o que se depreende do pensamento habermasiano é que
“a situação de fala na esfera pública pressupõe o estabelecimento de um diálogo entre
aqueles que se reconhecem como iguais no todo coletivo e, ao mesmo tempo, como
diferentes em sua individualidade”. Em outras palavras, mediante o mútuo respeito,
poder-se-ia construir um espaço público de diálogo entre diferentes atores no qual o
fazer político democrático floresceria. É nessa esfera que Habermas tece importantes
reflexões sobre a racionalidade comunicativa, na medida em que esta poderia ser uma
ferramenta para a convivência entre diferentes grupos culturais.
Entretanto, tal práxis só é possível por possuir como premissa o reconhecimento
recíproco dos atores envolvidos como sujeitos dentro de uma rede político-institucional
25

delimitada a qual permite a troca entre diferentes percepções no espaço público. Ou


seja, a tolerância no debate político pode se materializar por possuir como um de seus
pressupostos o mútuo reconhecimento dos atores políticos como sujeitos (racionais) e
também do reconhecimento dos limites político-institucionais imprescindíveis para o
delineamento do espaço democrático enquanto esfera de troca de ideias para o fazer
político
Dada todas as constatações observadas em diversos países ao longo do século XXI,
com a ascensão de grupos políticos extremistas e fundamentalistas que reiteradamente
contestam a prática democrática e improperam atores os quais não se alinham com seu
espectro ideológico, o que se observa, na prática, é um verdadeiro esfacelamento da
racionalidade – ética – argumentativa na práxis política de diversos contextos. De tal
maneira, os limites político-institucionais da esfera pública, os quais são indispensáveis
para o aflorar do debate e do fazer democrático, são constantemente colocados em
xeque por sujeitos os quais não reconhecem seus “oponentes” enquanto tais.
Assim, é em meio a esse contexto que se torna mister repensar o conceito
habermasiano de tolerância à luz do que se tem observado no panorama político do
século XXI, dada a emergência de discursos antiéticos e irracionais na esfera política
que, muitas vezes, não se propõem a respeitar os limites político-institucionais inerentes
ao espaço público democrático. Nesse ínterim, a tolerância proposta por Habermas
possui potencial de, ao invés de atuar como um “neutralizador dos efeitos da pluralidade
tensional”, justamente acentuar o tensionamento entre os diferentes atores, em razão
da complacência em se permitir a radicalidade de alguns discursos os quais ferem a
essência da política e das instituições democráticas.
Evidentemente que não se quer propor uma reflexão apoiada no cerceamento irrestrito
da liberdade de expressão ou da tolerância propriamente dita nos debates públicos. Por
certo, o que se propõe é uma nova interpretação do conceito de tolerância, nos termos
de Habermas, assentada numa racionalidade comunicativa a qual leva em conta
discursos extremistas que constantemente não respeitam os limites político-
institucionais da democracia e não consideram seus oponentes “sujeitos”, mas meros
“outros” que, para eles, mereceriam serem excluídos dos debates. Nesse sentido, com
o intuito de se preservar a esfera pública democrática a fim de que esta se mantenha
como um espaço plural de troca de ideias, talvez a tolerância não se revele o melhor
meio para se enfrentar discursos anti democráticos os quais se distanciam
expressivamente da ética comunicativa proposta por Habermas.

GT ONLINE 6 – Direito e Gênero


Autora Lívia Marinho Goto Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título A morte por razões de gênero após o término do relacionamento: uma análise da
jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Resumo Introdução e Objeto de Estudo: A violência de gênero constitui fenômeno histórico, o
qual possibilita a reiterada violação dos direitos humanos femininos e ultrapassa
desentendimentos familiares e conjugais esporádicos. A morte de mulheres em razão
do gênero, o feminicídio, existe em todas as sociedades e em diferentes contextos
sociopolíticos. Todavia, até pouco tempo atrás, a vida privada era considerada inviolável
pelo Estado, de maneira que o casamento legitimou numerosas violações à dignidade
feminina ao longo da história. Dessa forma, a união em matrimônio foi responsável por
naturalizar a violência contra a mulher no ambiente doméstico e familiar, inclusive em
sua forma mais radical. A promulgação da Lei nº 11.340/2006 ou Lei Maria da Penha é
a prova da omissão persistente do Estado brasileiro acerca da situação de violência de
gênero existente no país até então, o qual somente instituiu um instrumento normativo
próprio para coibir as situações de violência doméstica e familiar após sofrer intensa
pressão nacional e internacional. Posteriormente, promulgou-se a Lei nº 13.104/2015, a
qual inseriu uma nova qualificadora no crime de homicídio do Código Penal quando a
vítima fosse uma mulher e delito fosse praticado por razões da condição do sexo
feminino envolvendo violência doméstica e/ou menosprezo à condição de mulher. Na
maior parte dos casos, a violência doméstica e familiar antecede a ocorrência do
feminicídio, uma vez que a situação de violência contra a mulher costuma se agravar e
se intensificar com o decurso do tempo. As pesquisas sobre o tema e os casos que
chegam ao Judiciário também apontam que mesmo o término do relacionamento não
26

garante o fim das agressões, uma vez que a violência é empregada como meio de
controle sobre o corpo feminino ou feminilizado. Isso significa que as agressões podem
continuar, ainda que a relação tenha cessado, o que pode levar a perseguição da vítima
pelo agente, ao descumprimento reiterado de medidas protetivas previamente deferidas
e até a morte da mulher, nas hipóteses mais graves. Por isso, o Art. 5º, inciso III da Lei
Maria da Penha (LMP) dispõe que a violência doméstica pode acontecer em qualquer
relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação. Tal diploma pode ser aplicado mesmo quando
cessado o relacionamento, conforme o entendimento firmado em diversos precedentes
pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Nesse sentido, a presente pesquisa tem por
objeto de estudo uma análise da jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo
(TJSP) acerca dos casos de feminicídio que tramitaram na Comarca de São Paulo no
ano de 2020. Almeja-se verificar em quantos processos a morte da vítima aconteceu
após o término do relacionamento e em quais circunstâncias fáticas o crime ocorreu
(relação entre as partes, se verificado um histórico prévio de violência doméstica, se o
delito foi consumado ou tentado).
Objetivo: O objetivo geral da pesquisa é investigar como o TJSP julga os casos de
feminicídio. Além disso, espera-se relacionar as especificidades do feminicídio como
uma expressão da violência de gênero contra a mulher, bem como analisar os
precedentes do STJ para que fosse reconhecida a incidência da LMP nos casos de
agressão que aconteceram após o fim do relacionamento.
Metodologia: Trata-se de uma pesquisa empírica. Em primeiro lugar, um levantamento
bibliográfico será realizado em bases de dados científicas para seleção de produções
concernentes à temática e que versem sobre violência de gênero, violência doméstica
e suas formas, LMP e feminicídio. Os precedentes a serem analisados do STJ são: (i)
AgRg no AREsp 1885687/GO, (ii) AgRg nos EDcl no AREsp 1638190/RJ, (iii) HC
371002/SP, (iv) AgRg no RHC 74107/SP, (v) REsp 1416580/RJ e (vi) AgRg no AREsp
059208/DF. Posteriormente, uma busca será feita no repositório jurisprudencial do
TJSP, sendo utilizados os seguintes filtros: (a) Palavras-chave: “feminicídio”; “mulher”;
“vítima”; “sexo feminino”; (b) Classe: “Processo Criminal”; (c) Comarca “São Paulo” e (d)
julgamento entre 01/01/2020 a 31/12/2020. Os acórdãos levantados nessa fase
passarão por um exame qualitativo, adotando-se o método de análise de conteúdo
definido pela Bardin.
Resultados Parciais: A busca no repositório jurisprudencial do TJSP através dos filtros
supracitados resultou na seleção de 50 (cinquenta) acórdãos pertinentes a pesquisa.
Desse total, em 18 (dezoito) dos casos o feminicídio consumado/tentado ocorreu após
o término da relação entre as partes – ou seja, 36% (trinta e seis por cento) do total de
acórdãos analisados. A jurisprudência, assim como os estudos sobre o tema, indica que,
mesmo após o fim do relacionamento, as vítimas de violência doméstica ainda correm
um grande risco de serem perseguidas, violentadas e assassinadas por meios cruéis
pelos seus agressores. Ciúmes, suspeita de traição, gravidez indesejada também são
alguns outros motivos que apareceram com certa frequência nos processos levantados.

GT ONLINE 6 – Direito e Gênero


Autora Quellen Cristina de Souza Freitas Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título A Resolução 106/2010 do CNJ e a materialização do princípio da igualdade, a partir da
análise no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Resumo A Constituição da República Federativa do Brasil prevê no caput do artigo 5º, o princípio
da igualdade. O conceito do princípio da igualdade se subdivide em igualdade formal e
igualdade material. A igualdade formal é baseada na universalidade e pressupõe que os
sujeitos saem do mesmo ponto de partida, assim ambos detêm as mesmas condições
para alcançarem o mesmo objetivo. Enquanto a igualdade material observa o sujeito
individualmente, a partir dos critérios de gênero, idade e etc.
Quanto à igualdade de oportunidades entre homens e mulheres é certo que a construção
da sociedade deu-se em bases patriarcais, de modo que, ao longo da história, à mulher
caberia somente o espaço doméstico. Além disso, barreiras sociais e políticas
atravancaram ao longo da história a presença feminina em posições de poder. A
emancipação feminina trouxe à lume essa constatação.
27

Na magistratura paulista, o primeiro concurso a ter participação de mulheres, conforme


o Tribunal de Justiça de São Paulo, somente ocorreu em 1980 e dos 71 aprovados,
apenas 3 eram mulheres. Desde então, não houve uma mudança substancial para
alcançar a igualdade, ainda que somente numérica.
Constatação importante é a ausência durante anos de mulheres na composição do
Órgão Especial deste Tribunal. O Órgão Especial é composto por 25 desembargadores,
quais sejam: o membro nato que é o presidente do Tribunal de Justiça, doze dos
desembargadores mais antigos e doze desembargadores eleitos. Somente em 2018,
houve a posse da primeira desembargadora para compor o Órgão Especial, ou seja, 38
anos depois do ingresso das primeiras mulheres na magistratura paulista. Na
composição atual do Órgão Especial há somente duas desembargadoras como
membras eleitas e nenhuma desembargadora promovida por antiguidade.
Em 2019, dos 360 desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo, somente 30
eram mulheres, nem 10% das vagas eram preenchidas por mulheres. Em 2023, embora
o número de mulheres desembargadoras tenha aumentado para 37, não há o que
comemorar, ou falar em igualdade na magistratura brasileira, em especial, no Tribunal
de Justiça de São Paulo, pois a composição de desembargadores do Tribunal é quase
90% masculina.
O objetivo da resolução n. 106/2010, do Conselho Nacional de Justiça, se expande para
além da promoção de igualdade formal, pois origina políticas públicas para promover
maior participação de mulheres na magistratura brasileira e assenta instrumentos para
tanto. Além disso, esse objetivo, bem como o empoderamento de mulheres e meninas
são fundamentos da importante agenda 2030 da ONU e da Convenção para a
Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher – CEDAW, para que
tais metas sejam alcançadas são necessários instrumentos aptos e eficientes e ações
concretas. Não basta o mero reconhecimento de tais direitos.
Atual redação da resolução n. 106/2010, do Conselho Nacional de Justiça, constitui
mecanismo hábil para alcançar, em primeiro momento, a ainda intocada igualdade
formal. Para, em seguida, implementar a igualdade material e paridade de gênero,
consubstanciando o mandamento constitucional do princípio da igualdade, previsto no
caput, do artigo 5º, da Constituição da República Federativa do Brasil. Assim, além de
formal e materialmente constitucional, a resolução mencionada fomenta a realização
substancial e material do princípio da igualdade e deve ser reconhecida como
instrumento de garantia do princípio constitucional da igualdade, assim como dos
objetivos da agenda 2030 da ONU e da Convenção para a Eliminação de todas as
Formas de Discriminação contra a Mulher – CEDAW.

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Autores Lucas Catib De Laurentiis Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Felipe Grizotto Ferreira
Sarah Thiemy Kawato dos Santos
Título A relação entre música e desigualdade de gênero: um diagnóstico jurídico do caso
brasileiro à luz das teorias de Catharine MacKinnon e Judith Butler
Resumo O Brasil está permeado por profundas desigualdades. Entre elas, a desigualdade de
gênero toma uma magnitude alarmante, evidenciada pelos altos índices de violência
sexual e a posição do Brasil como um dos países do mundo que mais mata mulheres.
Paralelamente, o funk é um dos gêneros musicais mais populares nacionalmente e que
mais representam o país internacionalmente. Apesar da diversidade de conteúdo
produzido pelas músicas sob esse gênero musical, é frequente a veiculação de letras
que reforçam e estigmatizam a subordinação feminina em razão do sexo e incitam a
prática de condutas violentas ou até mesmo criminosas. Ao mesmo tempo, o funk tem
origem e reforça a visão de mundo advinda das favelas; através dele os artistas que
fazem parte de grupos marginalizados podem se expressar, sendo também um meio de
contestação social. Isso gera uma tensão específica entre a liberdade de expressão
artística e a noção de igualdade não é nova nos debates jurídicos. Nos Estados unidos
da américa são um território fértil às investigações constitucionais e políticas sobre os
limites da liberdade de expressão. Lá este problema é endossado corriqueiramente na
forma da proibição das diversas formas da pornografia. Nesses debates, os argumentos
e elementos jurídicos, políticos e filosóficos se misturam no âmbito doutrinário e
28

jurisprudencial. Dentro do próprio movimento feminista contemporâneo, autoras como


Catharine MacKinnon e Judith Butler apresentam visões distintas acerca da forma mais
eficaz de combater a desigualdade de gênero. De um lado, a regulamentação e eventual
restrição da liberdade de expressão se justifica como meio de combate aos atos de
violência que estão necessariamente intrínsecos ao discurso subordinatório. Nesta
perspectiva, quando não combatido, o discurso agressivo continuaria se propagando e
violentando mulheres. Isso indica que próprio discurso que ofende está pautado em
normas sociais de caráter performático: isto é, ao mesmo tempo que descrevem uma
situação de violência, a reproduzem. Entretanto, tais normas podem ser constantemente
reinterpretadas e, na medida em que existe a supressão do discurso, automaticamente
se eliminam os meios que os próprios grupos minoritários possuem de contestar o status
quo e construir uma nova realidade social. Partindo desse debate, o presente trabalho
apresenta a hipótese de que endossar e estimular produções musicais de natureza
discriminatória pode reforçar os padrões de subordinação existentes entre os gêneros e
de violência sexual. A pesquisa tem como escopo responder a seguinte pergunta: no
direito brasileiro é possível proibir esse tipo de música a fim de promover a igualdade de
gênero? Para identificar a profundidade teórica e a utilidade prática de fundamentações
jurídicas que resolvam o problema de colisão entre direitos fundamentais colocados, o
método utilizado é o dedutivo, através do qual serão analisadas as teorias políticas e
filosóficas de Catharine MacKinnon e Judith Butler. De forma complementar, para
diagnosticar a situação brasileira quanto à problemática colocada, é pertinente o
desenvolvimento de uma investigação empírica e qualitativa da jurisprudência brasileira.
Foram feitas buscas nos sites oficiais do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais
Regionais Federais, com base nas quais foram selecionados os casos que discutiam a
possibilidade de proibir (ou censurar) uma música, bem como aqueles que avaliam a
possibilidade de indenização em face dos artistas ou distribuidoras dessas obras. Foram
excluídas decisões que abordaram a questão do funk de forma lateral, como os casos
de danças em ambientes laborais e demissão por justa causa. Foi delimitada, assim,
uma amostra de 4 casos para análise. Ao final, será feita uma análise crítica das
decisões sob a ótica das teorias de ambas as autoras.

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Autoras Larissa Pizzotti Faiçal Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Patrícia Tuma Martins Bertolin
Título Com quem o direito se comunica? Os riscos do Direito como canto de Tritão
Resumo Por meio de seus mecanismos normativos, o Direito tem se prestado a positivar os
direitos fundamentais das mulheres e de outros grupos vulnerabilizados. Porém, muitas
dessas alterações manifestam apenas seu caráter simbólico, não afetando de forma
positiva a realidade prática dos cidadãos. O olhar acrítico sobre as mudanças trazidas
pelo mundo jurídico pode corroborar uma falsa percepção da realidade, em que
mudanças práticas estão, de fato, sendo realizadas. Com base nisso, e apoiando-se no
alerta de Carol Smart (2000) e do termo juridogenic, cunhado pela autora, o presente
trabalho tem por objetivo refletir sobre a in(efetiva) comunicação do Direito com o
público-alvo de suas medidas. Reflete-se, mais especificamente, sobre a comunicação
do Direito com as mulheres, público-alvo de muitas medidas que intentam promover a
igualdade material. A problemática desenvolvida se apoia na perspectiva de que o
Direito comunica para o grupo seleto dos “seus” e emite a mensagem de que o
patriarcalismo permanecerá vigente. Partindo dessa temática, passa-se a questionar se
o Direito se comunica de forma eficaz com os cidadãos ou se, por meio de seu discurso
formal e rebuscado, apenas se presta à manutenção do patriarcalismo, entoando um
sedutor canto de Tritão. Por meio revisão histórico-bibliográfica, indicando-se como
referencial teórico os alertas escritos por Carol Smart em sua obra “A Teoria Feminista
e o Discurso Jurídico” (2000), atentou-se para o mal que o Direito pode causar por meio
de suas próprias operações (juridogenic) e a forma pela qual acreditar única e tão
somente no poder transformador do Direito pode soar como o (en)canto da sereia.
Considerando a hipótese suscitada de que o Direito é criado por e para homens – seu
verdadeiro público-alvo -, optou-se pela substituição da sereia pela figura masculina do
Tritão. Essa exata dominação masculina sobre o meio jurídico aponta para a relevância
29

e justificativa da escolha temática: mais do que nunca o campo do Direito deve ser
mantido sob as cuidadosas lentes das feministas, sob risco de estagnação. A hipótese
de que o Direito deve ser aplicado de forma crítica e sempre revisitado pelas feministas
é corroborada pelos dados da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher (2023)
em que se verifica o reduzido número de mulheres que conhecem ou acionam os
mecanismos jurídicos existentes para sua proteção. Ademais, é necessário indicar como
fundamento da pesquisa o emergente número de mulheres em situação de violência
doméstica e familiar que, sem a efetiva promoção dos direitos previstos em lei, não
conseguem denunciar ou quebrar o ciclo diário de violência ao qual estão submetidas
(Conselho Nacional de Justiça, 2023).Expõe-se que o Direito é uma forte e válida
ferramenta de transformação, mas que depositar todas as fichas em sua singular
capacidade de mudança se reveste de riscos iminentes, sendo impreterível a atuação e
supervisão dos movimentos feministas.

GT ONLINE 6 – Direito e Gênero


Autor Carlos Eduardo Ferreira dos Santos Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título A igualdade entre homens e mulheres na Constituição Federal de 1988
Resumo A Carta Magna 1988, no seu artigo 5º, inciso I, assegura a igualdade entre homens e
mulheres nos direitos e nas obrigações, nos termos da Constituição. Tal preceito afigura-
se extremamente importante, pois robustece a igualdade de prerrogativas jurídicas entre
os gêneros feminino e masculino. Na perspectiva histórica da humanidade, a mulher
sempre sofreu diversas discriminações e violações em seus direitos básicos, visto que
era colocada em uma posição de inferioridade em relação ao homem. Aristóteles
afirmava: “o homem é superior e a mulher inferior, o primeiro manda e a segunda
obedece; este princípio, necessariamente, estende-se a toda humanidade” . Desde os
primórdios, cabia ao homem exercer o papel do chefe de família, caracterizando o
patriarcado. (“Patriarcado” consistia no princípio social no qual a descendência era
estabelecida pelo pai e não pela mãe, ou seja, era um regime em que o homem, como
chefe de família ou patriarca, tinha o poder absoluto em sua casa, resumindo toda a
instituição social de certas épocas da antiguidade).
No Brasil, em que pese a Constituição sempre assegurar o direito à igualdade desde a
primeira Carta Imperial de 1824, esse postulado foi descumprido profusamente. A título
de exemplo, a Constituição de 1891 assegurava a igualdade, declarando que “todos são
iguais perante a lei”; todavia, a legislação discriminava negativamente as mulheres (art.
72, § 2º CREUB de 1891). Isso porque, nos termos do art. 6º, inciso II do Código Civil
de 1916, as mulheres casadas eram relativamente incapazes a certos atos da vida civil
enquanto permanecessem na sociedade conjugal. Ao comentar sobre à codificação de
1916, Clóvis Bevilaqua esclarece: “o Projeto primitivo não consagrava a incapacidade
da mulher casada; mas a Comissão revisora, nomeada pelo governo, recusou a
inovação, aliás, sem a discutir (Atas, p. 37). O Código manteve a declaração da
incapacidade da mulher casada”. Além disso, no tocante aos efeitos do casamento, o
marido – por ser homem –, era o chefe da sociedade conjugal, competindo-lhe
representar legalmente a família e tinha o “direito” de autorizar sua esposa a exercer
uma profissão (art. 233, I, IV, CC de 1916). Daí se vê que é muito recente a concessão
da igualdade de direitos à mulher em relação ao homem, que sempre desfrutou dessas
prerrogativas pelo ordenamento jurídico.
Assim, o art. 5º, inciso I da Constituição Federal de 1988 assegura aos homens e às
mulheres os mesmos direitos e obrigações, sendo ambos regidos pelo princípio da
igualdade. Em razão disso, vedam-se discriminações em prejuízo da mulher, pois ela é
titular dos mesmos direitos dos homens, nos termos da Carta Magna. A expressão “nos
termos desta Constituição” significa que a igualdade dos homens e das mulheres, no
que se que refere aos direitos e obrigações, será efetivada conforme estabelecido nas
disposições constantes na Carta Magna. Ou seja, a própria Constituição Federal, ao
longo do seu texto normativo, pode criar prerrogativas ou deveres diferentes para
indivíduos do sexo masculino e feminino.
Desse modo, apesar da existência do princípio geral da igualdade, ao longo do texto da
atual Constituição são concedidos direitos e impostas obrigações de maneira diferente
entre os homens e as mulheres, sendo essas distinções constitucionais, conforme
30

exposição supra. Exemplicadamente, “às presidiárias serão asseguradas condições


para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação” (art.
5º, L, CF/1988); São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais: “licença à gestante,
sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias” (art. 7º,
XVIII, CF/1988); licença-paternidade, nos termos fixados em lei (art. 7º, XIX, CF/1988);
proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos
termos da lei (art. 7º XX, CF/1988); “O servidor abrangido por regime próprio de
previdência social será aposentado: no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos
de idade, se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem”, conforme
o art. 40, § 1º, III, CF/1988, com redação dada pela EC nº 103/2019.
Assim, o problema proposto neste estudo é o direito à igualdade entre homens e
mulheres na Constituição Federal de 1988, sendo a metodologia baseada na pesquisa
bibliográfica. Ao final, verifica-se que o texto constitucional contempla diversas medidas
em benefício da mulher com o objetivo de reduzir as desigualdades fáticas existentes,
em observância ao princípio da igualdade na perspectiva substancial.

GT ONLINE 7 – Direito Constitucional e Teoria do Estado


Autor José Arthur Sedrez Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título O advento do conceito jurídico contemporâneo de Estado, e os limites conceituais de
território e soberania.
Resumo O advento da globalização levanta questionamentos sobre as evoluções do
constitucionalismo, destacando uma crise no Estado e na soberania contemporâneos.
Surgem debates sobre um constitucionalismo sem Estado e Constituição, onde várias
formas convivem sem hierarquia definida. A análise visa avaliar o impacto da
globalização, especialmente na soberania e no direito constitucional, mostrando que a
concepção clássica de soberania está ultrapassada. Os tempos dinâmicos exigem
modelos de interpretação dinâmicos, considerando a sociedade complexa, paradoxal,
cosmopolita e interconectada.
A teoria clássica do Estado, que surgiu em cenários de imobilidade social, não se aplica
mais. O conceito de povo, território e soberania não é mais estático. Hoje, vivemos em
uma sociedade globalizada, onde as fronteiras estão cada vez mais próximas e as
identidades nacionais são ressignificadas. O território não é mais tão delimitado como
antes, com disputas territoriais e o cyber-espaço influenciando as interações sociais e
demandando novas normas.
A soberania também é questionada, com a crescente crise de representatividade e o
poder das grandes corporações tecnológicas no cyber-espaço. O mundo atual é
marcado por extremos e pela modernidade líquida, incompatíveis com a teoria clássica
do Estado. Para existir em uma sociedade dinâmica, é necessário um direito que
rompa com a estrutura tradicional de Estado e sociedade.
A teoria clássica do Estado falha ao não garantir a existência digna do povo, ao ignorar
o sangue derramado nas conquistas territoriais e ao legitimar formas de poder que
resultam em dominação. O Estado, como concebido, é a expressão da dominação dos
mais poderosos, controlando exércitos, fazendo leis e determinando a existência das
famílias.
Esse modelo de Estado tem um histórico de legitimar atrocidades como escravidão,
apartheid e guerras globais. Urge uma ressignificação do Estado, aceitando suas
paradoxalidades e buscando uma construção que atenda aos anseios da
contemporaneidade e tenha a não-violência como princípio orientador.
A pesquisa desenvolvida presente explorar o conceito contemporâneo de Soberania,
adentrando-se no debate que originou a consagração do tema na doutrina tradicional.
Com esta exposição, espera-se ter claro que a forma como se compreende a soberania
não pode mais ser admitida, necessitando de uma ressignificação deste conceito, tido
como tripé para a formação do Estado.
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GT ONLINE 7 – Direito Constitucional e Teoria do Estado


Autor Marcelo Raimundo da Silva Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Política da interpretação jurídica desde o parlamento: processo legislativo e o “princípio”
do “in dubio pro legislatore”
Resumo Na Ciência Jurídica atual, “hermenêutica” e “interpretação” constituem um dos muitos
exemplos de relacionamento entre princípios e aplicações. Assim, enquanto a
hermenêutica jurídica é teórica e visa a estabelecer princípios, métodos e orientação
geral epistêmica, a interpretação jurídica é de cunho prático, pois busca aplicar as
diretrizes ou os princípios hermenêuticos (Grau, 2009; Nader, 2024). Dessa forma, a
hermenêutica estuda e sistematiza os critérios aplicáveis na interpretação das regras
jurídicas, diante de uma coisa, fato ou caso concreto. Nesse vértice, alguns compêndios
teóricos, a exemplo de Fonteles (2024), identificam uma ampla agenda de pesquisa
desde a Hermenêutica Constitucional, que inclui a discussão sobre os princípios e sobre
as regras, à luz dos debates ‘interpretativismo” versus “não-interpretativismo” e
“procedimentalismo” versus “substancialismo”, sem esquecer o tema da
“derrogabilidade” (defeasibility) das normas. A propósito, os manuais de teoria
constitucional contemporânea (vide Sarmento e Souza Neto, 2024) apontam que existe
um conjunto identificável de princípios de interpretação constitucional, como é o caso do
“princípio de presunção ‘graduada’ de constitucionalidade dos atos normativos”, o qual
possui especial relevância para examinar o papel do Poder Legislativo na instituição de
determinada norma ou política pública. No caso específico da interpretação
constitucional na seara legislativa, alguns teóricos – como Streck (2017) – trazem
reflexões acerca da “inutilidade” jusfilosófica da distinção binária “subjetivismo” versus
“objetivismo”, ante a suposta antonímia entre “vontade da lei” (voluntas legis) e a
“vontade do legislador (voluntas legislatoris). Partindo desse introito, e considerando a
necessidade de se entender as disputas políticas também em matéria de interpretação
jurídica no processo legislativo brasileiro atual, verificamos que há uma literatura de
Direito Comparado que vem defendendo a existência do “princípio” do in dubio pro
legislatore, segundo o qual, havendo incertezas jurídicas sobre dada lei, o benefício da
dúvida ocorre em favor da própria lei, prevalecendo, ao fim, o sentido “legislativo” stricto
sensu da norma (Pulido, 2002; Horn, 2002; Quintana, 2016). Pois bem, o presente
trabalho adota, portanto, a perspectiva teórica de que a interpretação jurídica se
manifesta diante de um caso concreto, a fim de se investigar a aplicação de princípios
jurídicos no processo legislativo, em especial durante a etapa do controle prévio de
constitucionalidade de proposições legislativas, dentro do contexto de uma assembleia
legislativa estadual. Para tanto, a nossa hipótese é que a aplicação do princípio in dubio
pro legislatore no processo legislativo tem relação com a adoção de perspectivas não-
interpretativistas e procedimentalistas sobre a interpretação jurídica inclusive no âmbito
parlamentar. A metodologia da pesquisa é indutiva e fundamenta-se em estudo de caso,
tendo como objeto de análise o trabalho de interpretação das proposições legislativas
de origem parlamentar, desde a ótica do corpo técnico-profissional permanente que atua
na redação de pareceres de constitucionalidade, legalidade e técnica legislativa de
projetos de lei. Os resultados encontrados, que parecem confirmar a hipótese inicial,
foram os seguintes: ao passo que o Supremo Tribunal Federal parece ter utilizado o in
dubio pro legislatore apenas em casos nos quais não havia objetividade jurídica possível
para concluir se uma lei seria ou não constitucional (vide RE 658312/SC e ADI 41), o
Poder Legislativo parece utilizar o in dubio pro legislatore como estratégia política
subjetivista para “julgar” um projeto de lei em prol de interesses meramente eleitorais,
com base em uma hipotética “derrotabilidade” político-eleitoral da futura norma. Nesse
sentido, uma das variantes que encontramos, referente à aplicação do princípio in dubio
pro legislatore, foi o uso, pelo corpo técnico legislativo, de um correlato “princípio” do
respeito à vontade imediata do legislador, como forma de justificar a aprovação
pragmática de projetos injurídicos que vocalizariam, na verdade, apenas os interesses
daqueles setores sociais representados pelo parlamentar-legislador, mesmo que
injurídicos. Em outras palavras, o princípio in dubio pro legislatore fundamentou a
adoção de estratégias em favor de “(contra)ativismo legislativo”, que, por sua vez,
possibilitou, politicamente, a concretização da prestação de contas do legislador à sua
base eleitoral representada no mandato, ao mesmo tempo em que transferiu o ônus
32

político de possível invalidação da norma aos demais atores com poder de veto (veto
players), como o Poder Judiciário nacional, no caso o STF.

GT ONLINE 7 – Direito Constitucional e Teoria do Estado


Autores Raphaela Abud Neves Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Alan Paulo Maurano Savedra
Título A disputa pelo protagonismo no condomínio do poder: a grande reforma urbana e os
primeiros anos da capital da república (1899-1904)
Resumo A grande reforma urbana ocorrida na cidade do Rio de Janeiro no início do século XX
foi possibilitada e viabilizada, em parte, pela vitória do pensamento higienista. O período
foi marcado pelos pressupostos da higiene compondo uma ideologia que inicialmente
foi irradiada pelos médicos, mas não demorou para servir aos engenheiros,
responsáveis pelas grandes reformas, e aos juristas, que se envolveram nas infindáveis
e controversas discussões parlamentares sobre saúde pública.
A disputa pelo domínio das narrativas higiênicas e propugnação de soluções sanitárias,
travada pelas três categorias profissionais, viabilizou aos engenheiros que se tornassem
autoridades nas questões de higiene, salubridade e saneamento; e aos médicos que
obtivessem o reconhecimento da medicina enquanto profissão diante de críticas feitas
pela própria categoria a respeito das práticas homeopáticas e de curandeirismo. Mas,
nos bastidores da mesma crise sanitária, as discussões sobre medidas de saúde pública
eram discutidas em um parlamento composto em sua maioria por advogados e
magistrados, que ao fim e ao cabo também buscavam seu lugar de prestígio no
condomínio do poder.
O pensamento higienista e a própria medicina social (quando trouxe o espaço urbano
para o cerne dos desafios de saúde pública no início do século XX) evidenciaram um
conflito por jurisdição, em que os profissionais imperiais passaram a disputar o direito
de exercer autoridade sobre questões sanitárias. Edmundo Campos Coelho apresentou
uma pesquisa substancial sobre a trajetória da elite profissional brasileira em sua obra
que marca a sociologia das profissões: As profissões imperiais: medicina, engenharia e
advocacia no Rio de Janeiro quando se perguntou sobre o que médicos, engenheiros e
advogados estavam fazendo no século passado. O objetivo desta pesquisa é, portanto,
demonstrar o que médicos, engenheiros e advogados faziam especialmente em 1904,
quando a capital da república passava por uma crise sanitária e se tornou palco do maior
levante popular de sua história.
Para contextualização do período estudado, é preciso entender que com a passagem
do século XIX para o XX, dois acontecimentos marcaram os primeiros anos da capital
da república, quais sejam: a grande reforma urbana e a revolta da vacina. Ambos os
eventos foram permeados por uma disputa por jurisdição entre engenheiros, médicos e
advogados. Uma vez que o trabalho pretende demonstrar justamente como médicos,
engenheiros e advogados disputaram esse espaço de prestígio no condomínio do poder
no contexto de crise sanitária, a partir da própria provocação levantado por Edmundo
Campos Coelho na obra em As profissões imperiais, a sociologia das profissões será
mobilizada tendo como referencial teórico a contribuição do próprio Edmundo Campos
Coelho, em conjunto com as contribuições sobre competições profissionais de Maria da
Glória Bonelli e José Murilo de Carvalho, que estudou o período dando enfoque às
características políticas de um Brasil recém republicano.
Preliminarmente, percebe-se que, de acordo com a visão que cada grupo profissional
possuía em relação ao contexto vivido, e por almejarem poder, houve um movimento
para alcançar protagonismo frente às decisões e ações que eram necessárias serem
tomadas naquele momento histórico. Ao analisar as “profissões imperiosas”, Maria
Arminda Arruda (2000) destaca que os engenheiros mais respeitados não
demonstravam muito interesse em trabalhar no setor privado pois buscavam projetos
públicos de grande escala, como foi o caso da grande reforma urbana, uma vez que
almejavam uma posição estável e bem remunerada dentro do governo. Na disputa pelas
obras de saneamento, os médicos perderam destaque na política e coube a eles o
tratamento de doenças comuns e a revolta popular. Os advogados, por sua vez, também
perderam influência com a chegada da República, que acabou sendo dominada pelos
engenheiros, pois estavam associados à monarquia.
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Autor Mario Cesar Andrade Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Audiências Públicas no STF: experts na jurisdição constitucional?
Resumo A pesquisa objetiva analisar o papel do discurso científico e técnico nas audiências
públicas conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em especial, tendo em vista
o perfil dos expositores selecionados pelo Tribunal para participarem dessas audiências.
Em geral, as audiências públicas são enfatizadas pela doutrina e pelos próprios
ministros do STF como instituto jurídico de abertura democrática da jurisdição
constitucional à participação social, permitindo que pessoas externas ao processo
contribuam com a Corte com seu conhecimento especializado no tema envolvida na
controvérsia sob julgamento.
Em tese, essa abertura torna o processo de tomada de decisão do Tribunal mais plural,
dialógico e subsidiado, contribuindo para aumentar a fundamentação científica e a
legitimidade democrática das decisões do Tribunal. Conforme as Leis nºs 9.868 e 9.882,
as audiências públicas foram instituídas como ferramenta de informação judicial do STF,
em que o Tribunal pode obter informações especializadas sobre temas específicos não
abarcados pela formação jurídica.
Portanto, sua finalidade legal seria proporcionar ao STF a realização de oitiva de experts
ou "pericial" para a verificação de dados científicos e técnicos considerados relevantes
ou apropriados para a tomada de melhores decisões sobre o tema em questão, estando
previstas como espécie de instituto informativo do Tribunal ao lado, por exemplo, da
designação de comissão de peritos.
Contudo, mesmo nessa breve exposição, já é possível identificar uma duplicidade ou
mesmo uma contradição. Fica patente o contraste entre a finalidade de abertura
democrática e a de busca de aporte técnico-científico. Mais do que isso, essas
finalidades distintas podem ser contrapostas, a depender da natureza da controvérsia e
do perfil predominante dos expositores escolhidos pela Corte. Afinal, a oitiva de
contribuições advindas da representação social tendem a ter natureza eminentemente
política, a despeito de seus fundamentos ou inferências científicas.
Por outro lado, uma visão estritamente técnica e científica da audiência pública pode
acabar por retirar a análise da controvérsia constitucional do debate público, sob a
alegação de se tratar de uma discussão entre experts, franqueada apenas aos dotados
da respectiva expertise. Embora a oitiva de peritos técnicos e cientistas possa ser não
apenas útil, como até mesmo imprescindível, para a melhor decisão do Tribunal, esta
utilização do instituto não se confunde com qualquer forma de abertura “democrática”.
Cumpre destacar que a seleção dos expositores fica a cargo, exclusivamente, da
ministra ou ministro relator da ação judicial de referência, portanto, o perfil dos
“especialistas” selecionados tende a indicar a verdadeira finalidade buscada com a
realização da audiência, se a abertura democrática ou o acesso a aportes científicos
dos experts.
Nesse sentido, a série histórica das audiências públicas realizadas pelo STF permite
aferir uma pluralidade de finalidades, as quais vão muito além do desenho legal do
instituto. As audiências públicas passaram por uma ressignificação jurisprudencial, que
ampliou seu escopo de uso por parte do STF.
Como abordagem metodológica, aplica-se a análise bibliográfica e documental em
pesquisa qualitativa, vale-se de fontes doutrinárias, legais e jurisprudenciais, com ênfase
nos registros taquigráficos e em vídeo das audiências públicas conduzidas pelo STF,
bem como nos acórdãos dos julgamentos subsidiados por essas audiências.
Embora o objetivo oficial das audiências públicas fosse reunir informações científicas e
técnicas, a prática institucional do STF forjou uma nova finalidade democrática e
participativa para o instituto, com a ideia de abrir a jurisdição constitucional à
participação social, por exemplo, ouvindo entidades representantes de segmentos
sociais interessados na controvérsia. Com esse novo uso, a Corte estaria buscando
alterar seu paradigma decisório historicamente baseado na autorreflexão e no
solipsismo. Todavia, pela lista de palestrantes ouvidos pelo STF, percebe-se que a
tendência institucional do STF é focar na escuta de especialistas científicos e técnicos,
ou de autoridades estatais, deixando pouco espaço para representantes da sociedade
civil.
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Portanto, ainda que as diferentes finalidades identificadas sejam legítimas, elas não
devem ser confundidas, sob pena de frustração de sua utilização efetiva, seja ela
técnico-científica, dialógico-institucional ou democrático-pluralizante.

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Autor Bernardo Andrade Antoniazzi Cirino Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título A perda de centralidade da escrita e a dependência tecnológica: uma breve
compreensão.
Resumo A hipótese desenvolvida por David F. L. Gomes em recém-publicado artigo (GOMES,
2021) é bastante elucidativa se quisermos compreender alguns fenômenos sociais
contemporâneos com a profundidade sociológica que lhes é devida. A crise da
democracia vivenciada em vários países, frequentemente estudada do ponto de vista
institucional e formal, parece ser, como bem pontua Gomes (2021, p. 2), mais bem
abordada sob a ótica da perda de centralidade da escrita.
No texto em tela, o autor argumenta que a comunicação escrita, ao funcionar como o
centro de gravitação da sociedade moderna, estabiliza a constelação de categorias
teóricas sobre as quais se funda a modernidade, quais sejam: sociedade, razão,
comunicação, ciência, direito, democracia e emancipação. Dessa forma, quando a
comunicação escrita deixa de ter essa centralidade – e Gomes contextualiza o início
desse movimento na segunda década do século XXI (GOMES, 2021, p. 14) –, fica em
risco a existência do Estado Democrático de Direito, que é o reflexo institucional da dita
constelação (GOMES, 2021, p. 16).
Tendo em consciência a interdependência dos elementos dessa constelação, no sentido
de ser impossível analisar um deles isolado das influências do outro, e em que pese a
pertinência da crise democrática como problema a ser estudado, o objetivo deste artigo
é compreender, a nível introdutório, algumas repercussões no campo da economia que
podem atingir um país periférico como o Brasil num cenário de perda de centralidade da
escrita, motivadas pelo inevitável enfraquecimento da produção científica que o
fenômeno descrito por Gomes pode gerar. Para tanto, se faz pertinente a análise do
conceito de dependência tecnológica, trabalhado pelo economista brasileiro Celso
Furtado, segundo o qual o modo como a industrialização aconteceu nos países de centro
e nos de periferia fez com que esses se tornassem dependentes daqueles em termos
de tecnologia.
O que se propõe, assim, é uma compreensão da dinâmica que estaria por trás das
relações de causa e consequência entre a perda de centralidade da escrita e a condição
de dependência tecnológica num país periférico como o Brasil. Nesse sentido, tem-se
que quando a comunicação escrita deixa de ser o centro de gravitação da sociedade
moderna, fazendo esmorecer a “expectativa de exatidão nas comunicações e com ela a
ancoragem para as pretensões de verdade” (GOMES, 2021, p. 16, grifamos), a atividade
da pesquisa científica torna-se bastante prejudicada, bem como, por conseguinte, o
progresso técnico, considerado essencial para o desenvolvimento econômico de um
país aos olhos de Furtado (1978).
Destarte, o que ocorre quando persiste a condição de dependência tecnológica dos
países da periferia global frente aos países do centro é a ulterior manutenção de um
quadro de desigualdade internacional.

GT ONLINE 8 – Direito Público e Políticas Públicas


Autores Rodrigo Marchetti Ribeiro Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Daniel Paulo De Bonis Araujo
Título Capitalismo à brasileira: primeiras notas sobre a indexação econômica e a acumulação
capitalista na segunda metade do século XX
Resumo De todos os efeitos que a pandemia causou na vida econômica e social em diversos
países, Brasil incluído, talvez a inflação seja aquele que ainda está sendo mais sentido.
Um fenômeno praticamente desconhecido há quase cinco décadas nas economias
desenvolvidas (ao menos na forma de inflação descontrolada, hiperinflação) e
relativamente contido, a depender do caso, em grande parte do mundo subdesenvolvido
ou “em desenvolvimento”, a inflação é, além de problema econômico e social, também,
uma questão jurídica, seja nos seus modos de controle, seja, notadamente, nos
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mecanismos jurídicos que contribuem ou agravam o ciclo inflacionário, como aqueles


empregados por agentes econômicos, no âmbito privado, como forma de adaptar as
condições de suas relações a tal cenário. Entre tais mecanismos destaca-se a
indexação contratual.
A indexação, no Brasil, surge em um contexto de considerável desorganização do
sistema econômico nacional ao longo das décadas de 1980 e 1990. Acompanhando,
como causa ou consequência, a fragilização do próprio regime autoritário que até então
vigorava no país, a inflação foi imputada como uma das principais responsáveis por
aquilo que alguns teóricos da ciência econômica convencionaram chamar de “inflação
inercial”. Esse fenômeno, de um lado e como é comum a todas as “modalidades” de
inflação, consiste no aumento sustentado e generalizado de preços em uma economia,
mas que, de outro (e é aqui que ele se diferencia de outras formas inflacionárias)
retroalimenta-se, em larga medida, às medidas particulares que os agentes econômicos
privados e públicos adotam como resposta a ela. A atuação desses agentes,
circunstancialmente, nas relações econômicas interpessoais que mantém com outros
agentes, mas também generalizada, conforme essa prática se alastra pelo tecido social,
reflete um comportamento, manifestado por meio da forma jurídica, destina-se a
proteger a si e às suas fontes de renda (muitas vezes, passiva), contra os efeitos nocivos
da alta dos preços.
O desarranjo entre os preços e as formas de renda, notadamente, os salários, os lucros
e os aluguéis, têm diversos efeitos: do ponto de vista das contas públicas, o aumento
dos preços leva a um aumento da arrecadação – não é a troco de nada que todo ano o
impostômetro bate recorde –, sem que haja, necessariamente, um aumento de despesa
correspondente, o que leva a uma situação de disponibilidade de caixa. Já do ponto de
vista dos trabalhadores (e consumidores), os salários não conseguem acompanhar o
aumento dos preços, o que leva à corrosão do poder de compra. Os empresários, por
sua vez, têm maior dificuldade para realizar seus negócios em um cenário em que os
preços deixam de ser previsíveis (a inflação não é uniforme sobre todos os bens e
serviços) e, portanto, crescem os riscos envolvidos e, em última análise, os custos.
O cerne da questão é que, na medida em que a inflação se prolonga no tempo, este
cenário aparentemente caótico dá lugar a uma nova ordem. Da mesma forma que o
Estado consegue se apropriar pelo excedente gerado pela inflação, algumas classes
socioeconômicas mais favorecidas conseguem, também, utilizar-se do Direito (e,
portanto, em última análise, do próprio aparelho jurídico-estatal) para se apropriar do
excedente gerado pela inflação, em um autêntico mecanismos redistributivo de riqueza
concebido pelos mais favorecidos e voltado, justamente, para atender às demandas dos
mais favorecidos.
O Brasil, que já foi descrito como monumento à desigualdade, oferece um cenário
pródigo de exemplos. No período da hiperinflação muitas carreiras do funcionalismo
público, especialmente aquelas mais prestigiadas, conseguiram incluir gatilhos
inflacionários sobre seus vencimentos; os locadores (e, pois, proprietários de imóveis),
indexaram seus contratos pela inflação (o que, diga-se de passagem, existe até hoje);
os bancos, também, serviam-se amplamente da indexação em seus negócios, inclusive
com o Estado (até hoje, qualquer um pode comprar um título do Tesouro Direto indexado
pelo IPCA); investidores ganharam fortunas com hedge, inclusive cambial; o empregado
celetista, ao menos, dispunha do dissídio, que garante uma negociação anual do salário;
o empregado rural, por sua vez, só teve direitos trabalhistas garantidos com a Lei nº
5.889, de 1973; aqueles que viviam à margem do trabalho regulado (ou seja, na
informalidade) eram ainda mais afetados.
O presente trabalho, portanto, pretende discutir as opções de política pública e as
decisões de cunho privado que, no passado e também hoje, no presente, influem sobre
o fenômeno inflacionário. A relevância do tema decorre, dentre outros pontos, da
sensibilidade da opinião pública à deterioração do seu poder de compra e do
consequente impacto político que, quer em um regime autoritário, quer em uma
democracia, tende a surgir das deficiências econômicas das quais a inflação é um
sintoma. As medidas jurídicas à disposição dos agentes privados e aquelas tomadas
pelas autoridades públicas em relação ao tema devem, portanto, ser melhor
compreendidas pelos estudiosos do Direito de modo a fornecer explicações mais
coerentes e amplas à organização da sociedade em contextos delicados como o de
inflação.
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GT ONLINE 8 – Direito Público e Políticas Públicas


Autor Mateus Henrique Silva Pereira Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Transformações do sistema interestatal capitalista e rupturas da institucionalidade
jurídica: complexidade e repercussões para o desenvolvimento econômico brasileiro.
Resumo O desenvolvimento econômico é tema histórico e permanente no capitalismo, pela
própria natureza expansiva, reprodutora e inovadora deste. As complexidades do
desenvolvimento capitalista também avançam, possibilitando novos desafios teóricos e
empíricos. A temática tem destaque maior na literatura da economia e da política, mas
não menos relevante na história, sociologia e na geopolítica. Com menos destaque, o
Direito também trata questões envolvendo o desenvolvimento econômico.
Os caminhos para a rediscussão do desenvolvimento econômico, apontados por José
Luís Fiori, sob o ângulo do poder, da competição interestatal e das mudanças
geopolíticas dentro do sistema interestatal capitalista, e as relações com determinadas
instituições, é o que se destaca nesta pesquisa. Nesse mesmo sentido, é mister, como
aponta José Luís Fiori, repensar a relação entre os Estados nacionais e o
desenvolvimento desigual das economias capitalistas.
A partir dessas indicações teóricas atuais e de grande valia, o objeto dessa pesquisa é
a relação entre a pressão competitiva e expansiva do sistema interestatal capitalista e o
avanço da destruição de toda uma institucionalidade jurídica construída ao longo do
século XX. Busca-se, portanto, compreender se há uma determinação da atual pressão
expansiva desse sistema sobre as instituições jurídicas, e, se sim, qual o nível de
contribuição para a expropriação de direitos, e o aumento da desigualdade. A pesquisa
não enseja um resultado apenas de causa e efeito, que seria extremamente limitador da
complexidade que envolve esta relação, apesar de destacar esse ponto. Almeja-se
também um estudo amplo sobre o sistema interestatal e sua importância no
desenvolvimento econômico brasileiro, e as repercussões sobre as instituições jurídicas.
Dessa forma, de maneira didática e sintética, coloca-se a seguinte questão-problema
orientadora e para esta pesquisa: com o advento das transformações atuais nas
relações de poder do sistema interestatal capitalista, é possível relacioná-las com o
avanço da ruptura e da destruição da institucionalidade jurídica no Brasil? Se sim, qual
a funcionalidade desse novo arcabouço jurídico no Brasil para a reprodução do
desenvolvimento econômico desigual e combinado?
Com relação ao recorte temporal, à primeira vista, ter-se-á o ano de 2016, em razão de
diversos acontecimentos nacionais e internacionais, como o golpe de Estado ocorrido
no Brasil de 2016, a guerra da Síria, a eleição de Donald Trump, e os ataques à
institucionalidade jurídica a partir desse ano, como a Emenda Constitucional envolvendo
a criação do Teto de Gastos, a “reforma trabalhista”, a Lei da “Liberdade Econômica” e
por fim a Medida Provisória referente à Reforma Administrativa.
Acredita-se que novas configurações do poder global afetam diretamente as
transformações jurídico-econômicas dos Estados-economias nacionais e, de maneira
mais profunda e radical, os Estados periféricos num sistema internacional desigual e
hierarquizado política e economicamente. Portanto, a natureza expansiva de novas
formas de acumulação de capital e de poder atingem diretamente diversos “tipos” de
Direito: direitos de soberania, sociais, ambientais, trabalhistas entre outros. As relações
geopolíticas têm papel fundamental na institucionalidade jurídica verificada nos últimos
anos no Brasil. Tais ataques aos direitos não possuem raízes apenas em relações
políticas e econômicas endógenas. Dessa forma, aponta-se a limitação de discussões
estritamente jurídicas concernentes às relações entre os poderes executivo, legislativo
e judiciário (sistema de freios e contrapesos); aos temas de judicialização da política,
controle de constitucionalidade, e até mesmo no que tange a questões eleitorais e lutas
partidárias, quando se acredita que os problemas oriundos do capitalismo são apenas
de escolha de um ou outro partido, um ou outro político, escolhas racionais de
capacidade técnica e ética, sem apreender-se a realidade das disputas econômicas e
de poder, tema que a sociologia do Direito é capaz de analisar com maior
aprofundamento.
Nesse contexto, os juristas relacionados ao desenvolvimento econômico brasileiro ficam
presos a formalismos distantes da realidade, de caráter deontológico, como em
discussões de planejamento econômico, efetivação de direitos econômicos
constitucionais, formas de intervenção do Estado no desenvolvimento econômico, sem
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compreender, entretanto, o momento de total usurpação da atividade estatal e as


relações de poder pertencentes a ele, e a impossibilidade do retorno do Estado
Desenvolvimentista Brasileiro ocorrido entre 1930 a 1980. Dessa maneira, acredita-se
na perda substancial de características emancipatórias do Direito, não tendo a
capacidade de atuar como o primeiro “freio racional” do capital. O resultado da falta de
um olhar crítico ao Direito, resulta na menor efetividade de suas normas, prejudicando,
assim, a funcionalidade do Direito como mecanismo de emancipação humana.

GT ONLINE 8 – Direito Público e Políticas Públicas


Autor Thiago de Souza Aguiar Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título O uso subjetivo do erário público: a desigualdade do acesso à justiça e os julgamentos
que envolvem o Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado do Pará.
Resumo O orçamento público e o direito fundamental à saúde possuem caráter coletivo. Não
exagera o tributarista Luis Eduardo Schoueri ao indicar que é no texto constitucional que
se encontra a feição do Estado, prevendo-se, lá mesmo, os meios para seu custeio e
existência (CF, art. 145), mediante a atuação econômica da sociedade contribuinte para
compor o orçamento público. Alexandre de Moraes enfatiza que, no que diz respeito à
saúde, cabe ao Estado assegurá-la por meio do financiamento de políticas sociais e
econômicas que tenham como consequência a minimização do risco de enfermidades
e a disponibilização universal e equitativa de iniciativas e serviços para promover,
proteger e recuperar a saúde da população (CF, art. 196).
Os recursos públicos, além de patrocinar a saúde através do Sistema Único de Saúde,
também são destinados a promover o acesso à justiça, como direito fundamental que a
coletividade é titular. É mandamento constitucional que a lei não excluirá da apreciação
do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito (CF, art.5º, XXXV), e são notórios os
esforços do estado brasileiro para promover a democratização da justiça, mediante, por
exemplo, da assistência jurídica gratuita.
A relação entre o acesso a jurisdição e o direito à saúde encontram matéria no crescente
número de ações exigindo medicações e procedimentos negados por decisões
administrativas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com um
levantamento elaborado pelo Insper por solicitação do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), foram registrados 498,7 mil processos na primeira instância e 277,4 mil na
segunda instância durante 2008 e 2017.
As decisões judiciais em torno do objeto Sistema Único de Saúde (SUS) geram
influências significativas no erário público, de tal forma que, de acordo com Tribunal de
Contas da União, no SUS, entre 2010 e 2015, foram gastos R$ 1,5 bilhão em três
medicamentos de alta complexidade por ordens judiciais, superando o custo de todos
os outros medicamentos obtidos judicialmente.
Com o objetivo de analisar o perfil dos requerentes em matéria de saúde no Estado do
Pará, foram analisadas informações fornecidas pela plataforma Processo Judicial
Eletrônico (PJe). No Pará são 300 ações em matéria de saúde, e, destas, somente 174
ações são de cidadãos em contraposição ao Governo do Pará ou aos Municípios
Paraenses; nestas ações, de acordo com o Portal da Transparência, cerca de 38% dos
requerentes são vinculados ao Cadastro Único, instrumento utilizado no Brasil para
identificar e caracterizar as famílias de baixa renda.
A demonstrada predominância de requerentes paraenses com renda per capita acima
da média da população em geral faz com que, em nível nacional, a decisão judicial
favorável ao polo passivo desenvolve interpretação que desconsidera a sistemática
possibilidade de que o perfil do litigante paraense configure, na verdade, um padrão
sistemático de todos os Estados da Federação.
Em "Para uma Revolução Democrática da Justiça", Boaventura de Sousa Santos
argumenta que o sistema judiciário atual reproduz desigualdades sociais e econômicas,
privilegiando os interesses das elites e marginalizando grupos historicamente oprimidos.
O sociólogo Raymundo Faoro (2001, p. 885) propõe uma concepção na qual o
estamento patrimonial persiste no controle do Estado brasileiro, promovendo interesses
particularistas que sustentam um sistema de privilégios dentro da estrutura estatal.
A nível nacional, o descobrimento do perfil dos litigantes brasileiros que tenham como
objeto medicamentos e procedimentos cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é
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uma importante proposta de pesquisa quantitativa para instituições forenses do


Judiciário Brasileiro.
Ao se confirmar a correspondência entre o contexto nacional da judicialização em
matéria de saúde pública e o grupo específico analisado, a mentalidade do juízo que se
ampara na crença de estar ampliando o direito à saúde em suas decisões deve ser
reformada, sob a noção de estar, na realidade, desbalanceado as contas públicas em
nome de quem tem acesso a jurisdição, e, por conseguinte, ao fiscus publicus.

GT ONLINE 8 – Direito Público e Políticas Públicas


Autora Shayane Stherffany Silva dos Santos Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título FUNDEB: Instrumento Jurídico-Social na Luta Contra a Desigualdade Educacional.
Resumo No âmbito do debate sobre "Direito e Desigualdade", o FUNDEB (Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação) emerge como um mecanismo intrinsecamente relacionado à filosofia e
sociologia do direito, oferecendo uma resposta jurídico-social à desigualdade
educacional no Brasil. O FUNDEB se integra ao discurso filosófico, especialmente à luz
das teorias de John Rawls, e à análise sociológica de Pierre Bourdieu, enquanto aborda
os desafios e perspectivas no contexto da busca por uma educação mais igualitária.
John Rawls, em sua obra seminal "A Teoria da Justiça", apresenta o conceito de justiça
como equidade, que postula que os princípios de justiça devem ser selecionados sob
um véu de ignorância, garantindo assim imparcialidade e racionalidade na escolha, sem
conhecimento prévio das circunstâncias específicas de cada indivíduo. Esse véu
garante que as escolhas sejam feitas de forma justa, pois os indivíduos não podem
favorecer interesses próprios ou de grupos aos quais pertencem. Nesse sentido, o
FUNDEB pode ser considerado como uma aplicação prática desse princípio, buscando
assegurar que todos os indivíduos, independentemente de sua origem socioeconômica,
tenham acesso a oportunidades educacionais equitativas. Ao adotar uma abordagem
redistributiva no financiamento da educação, o FUNDEB visa promover um ambiente
educacional mais justo e inclusivo, alinhado com os ideais de justiça.
Rawls ressalta a importância de garantir que todos os indivíduos, independentemente
de sua origem socioeconômica, tenham acesso a oportunidades educacionais
equitativas. Ao direcionar recursos para escolas em regiões menos favorecidas, o
FUNDEB busca corrigir as desigualdades existentes no acesso à educação, garantindo
que todos os cidadãos tenham a chance de desenvolver seu potencial. Além disso,
Rawls destaca a importância de assegurar que as instituições sociais beneficiem
principalmente os menos favorecidos, uma vez que estes seriam os escolhidos se
estivéssemos por trás do véu de ignorância. Nesse sentido, ao garantir que todos os
indivíduos tenham acesso a uma educação de qualidade o FUNDEB se alinha com os
princípios de justiça rawlsianos, pois visa priorizar o financiamento das escolas
localizadas em regiões mais carentes, onde as desigualdades educacionais são mais
acentuadas. Isso contribui para reduzir as disparidades socioeconômicas e promover
uma sociedade mais justa e igualitária. Em suma, a teoria de Rawls oferece uma base
sólida para entender e justificar a importância do FUNDEB na promoção da igualdade
de oportunidades educacionais.
Por sua vez, Pierre Bourdieu, em suas análises sociológicas, destaca como as
desigualdades educacionais estão intrinsecamente ligadas às estruturas sociais mais
amplas, incluindo diferenças de classe e capital cultural. Ele introduz o conceito de
"capital cultural", que se refere ao conjunto de conhecimentos, habilidades e disposições
adquiridas por meio da socialização e são valorizadas pelas instituições educacionais.
Bourdieu argumenta que o sistema educacional tende a reproduzir e perpetuar essas
desigualdades, marginalizando grupos sociais menos favorecidos. Nesse contexto, o
FUNDEB assume um papel crucial ao fornecer recursos financeiros para escolas
localizadas em regiões desfavorecidas, visando reduzir as disparidades educacionais,
não obstante, aos desafios enfrentados na implementação efetiva do FUNDEB,
enfatizando a necessidade de abordar as estruturas sociais subjacentes que perpetuam
a desigualdade educacional.
No contexto do FUNDEB, a teoria de Bourdieu destaca como as desigualdades
educacionais são exacerbadas por diferenças estruturais na distribuição de recursos.
Sem uma intervenção adequada, o FUNDEB pode arriscar reproduzir essas
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desigualdades ao invés de combatê-las. Além disso, o sucesso acadêmico muitas vezes


está associado não apenas ao mérito individual, mas também ao capital cultural e social
dos alunos. Crianças que vêm de famílias com maior capital cultural tendem a ter mais
recursos e apoio para ter êxito na escola, enquanto aqueles de origens desfavorecidas
enfrentam obstáculos adicionais. Nesse contexto, o FUNDEB deve não apenas fornecer
recursos financeiros adicionais para escolas em áreas carentes, mas também abordar
as disparidades estruturais mais amplas que perpetuam as desigualdades educacionais.
Bourdieu oferece uma lente crítica importante para entender as complexidades das
desigualdades educacionais e sua relação com o FUNDEB. Ao destacar as disparidades
estruturais subjacentes, nos lembra da necessidade de uma abordagem holística e
multifacetada para enfrentar essas questões, que vai além do financiamento
educacional para abordar questões mais profundas de capital cultural, distribuição de
recursos e acesso equitativo à educação.
Estudos empíricos demonstram que o FUNDEB contribui significativamente para a
melhoria da infraestrutura escolar, a valorização dos profissionais da educação e o
aumento do acesso à educação básica em áreas vulneráveis. No entanto, persistem
desafios significativos, como a distribuição desigual dos recursos entre as diferentes
regiões e a necessidade de políticas complementares que abordem as desigualdades
estruturais subjacentes.
Portanto, o FUNDEB não apenas se configura como um instrumento jurídico essencial
para a promoção da educação básica, mas também como um elemento vital na luta
contra a desigualdade educacional. No entanto, sua eficácia e alcance pleno dependem
não apenas de sua estrutura legal, mas também de sua articulação com políticas mais
amplas de inclusão social e redistribuição de renda.

GT ONLINE 9 – Direito e Desigualdade II


Autores Henrique Domingues Dulicia Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Juliana Maria Corvino de Araújo
Título Indústria cultural e direito: a perpetuação da desigualdade por meio do ordenamento
jurídico.
Resumo Introdução: Insertos numa realidade amplamente tecnológica, inegável é a influência da
indústria cultural no cotidiano da civilização ocidental. A reprodução de valores através
do entretenimento industrializado e mecanizado, transmitidas pelos grandes veículos de
comunicação de massa, a fim de promover a alienação e submissão das classes
subalternas ao maquinário ideológico capitalista, não seria diferente com relação ao
Ordenamento Jurídico, o qual assume relevante papel social na conservação das
estruturas de poder vigentes. Deve-se atentar, principalmente, ao papel do Poder
Legislativo na construção das normas vigentes, de modo que seus membros, também
insertos numa realidade afetada pelas produções culturais da indústria do
entretenimento, bem como representantes de uma eleitorado eventualmente
massificado, sofrem seus efeitos e influências, seja de modo ativo, na elaboração de
normas que reproduzam valores ou meios de realização de valores em consonância
com o propagado pela indústria, ou de modo passivo, quando há a omissão da tutela
legislativa, decorrente dos valores e esteriótipos difundidos pelos meios de comunicação
e entretenimento. Objetivos: O presente trabalho tem por objetivo desvendar se,
efetivamente, existe uma perpetuação da desigualdade social a ser difundida e
reproduzida por parte do fenômeno da indústria cultural, e havendo, nesse caso, como
o ordenamento jurídico contribui para tanto. Metodologia: trata-se, eminentemente, de
um estudo de revisão bibliográfica, onde foram utilizados, majoritariamente, livros e
artigos acadêmicos. Resultados: Como resultado do estudo, comprovou-se que, não
apenas o fenômeno da Indústria Cultural promove e reitera, por meio de suas
manifestações, faticamente, as mazelas e discrepâncias sociais, econômicas e culturais
em sociedade, mas também que, o Direito, como típica representação cultural que é,
também pode promover tal situação, em consonância com valores e diretrizes ditadas
pela indústria, de maneira ativa, em razão de uma postura atuante por parte do Poder
Legislativo quando de uma análise fática, ou de maneira passiva, em razão duma
neutralidade ou indiferença à realidade social por parte deste ente. Conclusões: Conclui-
se dessa maneira, que o Direito, quando representativo de valores propagados e
difundidos pela indústria cultural, ou ainda, quando não vinculativo de valores ou meios
40

de realização de valor em divergência com aqueles preconizados pela indústria, cumpre


seu papel como parte integrante da superestrutura como imaginada pelo Marxismo, mas
não apenas isso, exerce verdadeiro entrave à emancipação social, causando, direta ou
indiretamente, situações de desigualdade social.

GT ONLINE 9 – Direito e Desigualdade II


Autor Erik Chiconelli Gomes Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Direito, Desigualdade e Estruturas de Poder: Uma Análise Interdisciplinar das Dinâmicas
Jurídicas e Sociais no Brasil.
Resumo A pesquisa de pós-doutorado sob orientação de Alysson Mascaro se propõe a explorar
a intersecção entre filosofia e sociologia do direito, investigando as relações entre direito,
desigualdade e as estruturas de poder na sociedade brasileira. Utilizando-se dos
referenciais teóricos de Perry Anderson, E.P. Thompson, Louis Althusser, Ciro Cardoso
e Jacob Gorender, o estudo analisa como o direito, enquanto superestrutura, reflete e
perpetua as bases econômicas e sociais que sustentam as desigualdades persistentes
no Brasil.
Perry Anderson, com suas análises sobre as superestruturas nas sociedades
capitalistas, fornece uma base para entender como as instituições legais e políticas não
apenas refletem, mas também moldam as relações econômicas e sociais. Anderson
destaca a necessidade de uma crítica histórica das formas legais e políticas para
compreender as continuidades e descontinuidades nas estruturas de poder.
E.P. Thompson, por sua vez, oferece insights sobre a agência dos subalternos dentro
das estruturas legais e econômicas. Sua abordagem enfatiza a maneira como os
sujeitos sociais utilizam o direito como ferramenta de resistência e negociação,
destacando a dinâmica entre a lei e a luta de classes.
Louis Althusser contribui para esta análise com sua teoria da ideologia e dos aparelhos
ideológicos de Estado, incluindo o sistema jurídico. Segundo Althusser, o direito
funciona como um mecanismo que interpela os indivíduos como sujeitos, incorporando-
os em estruturas de poder que parecem naturais e inevitáveis, mas que são, de fato,
construções sociais destinadas a manter a hegemonia.
Ciro Cardoso e Jacob Gorender são fundamentais para contextualizar esta discussão
no cenário brasileiro. Cardoso, ao discutir a escravidão e suas consequências
socioeconômicas, e Gorender, ao analisar o escravismo colonial, ambos examinam
como as formas passadas de exploração e resistência moldaram as desigualdades
contemporâneas e as funções do direito.
A pesquisa visa a desvelar como o direito, longe de ser um instrumento neutro de justiça,
é um campo de batalha onde se manifestam as tensões sociais, econômicas e políticas.
Ao fazer isso, o estudo não apenas traz à tona a relevância das lutas históricas, mas
também aponta para as possibilidades de reformulação do direito como um meio de
combater a desigualdade e promover uma sociedade mais justa.

GT ONLINE 9 – Direito e Desigualdade II


Autor Juraci de Souza Santos Junior Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Generalizações empíricas não calcadas em estereótipos de gênero: um convite para
argumentar adequadamente sobre fatos quanto a crimes contra a mulher.
Resumo Em sede de jurisdição, a inalcançabilidade racional de certezas intersubjetivamente
partilhadas sobre fatos ocorridos foi historicamente desconsiderada.
IIsso, ao que se adiciona o senso comum da confiabilidade nos sentidos, fatalmente faz
do julgador alvo de tática persuasiva sob a premissa de que seu convencimento é o fator
definidor da verdade relevante para o processo.
Tomar-se-á , em objeção à práxis que é preponderante no sentido apontado, como
adequada uma concepção cognoscitivista de acesso a fatos, que é a gênese da
chamada concepção racionalista de valoração da prova (que aparenta ser a
contextualização daquela primeira ao âmbito judicial) e a partir da qual se pode concluir
haver relação teleológica entre prova e verdade.
Dado o dito modelo, há de se ressaltar que a autopoiese característica do direito nos
termos que expõe LUHMANN não é bastante para afastar a necessidade de ida a outros
41

campos do conhecimento para nortear a tratativa de fatos enquanto pressupostos de


incidência de norma. A ida à epistemologia e a tomada, como é usual, do esquema
inferencial inaugurado TOULMIN, revela-se imprescindível.
A atividade probatória se processa mediante argumentos probatórios, que, tal qual
informam ANDERSON, SCHUM e TWINNING (1991, p. 94 e ss.), calcados em
TOULMIN, se compõem de um dado a partir do qual se realiza uma inferência voltada a
dar suporte a uma conclusão, estando a dita inferência calcada em uma generalização.
Dar-se-á foco especificamente às generalizações empregadas na formação de
argumentos probatórios aplicados a delitos praticados contra mulher (“delitos de
gênero”), para os quais são centrais, quanto à vítima, o gênero feminino e a
desigualdade histórica que sobre este recai.
Delibera-se, portanto, sobre “generalizações empíricas temáticas” em derredor do tema
gênero, invocando-lhes higidez ou não enquanto pressuposto de aplicabilidade num
dado caso para formação de argumento que justifique a tomada de uma dada hipótese
como suposto de fato sobre o qual incidir a norma de direito substancial.
Propõe-se, aqui, apresentar numa fração negativa (no sentido de não dever ser tomada
como referência de aplicação) rol de máximas de experiência (espúrias, portanto) a
compor referencial de avaliação de delitos de estupro contra mulher praticados em
contexto de clandestinidade. Trata-se de repaginação, mediante emprego dos conceitos
e institutos focam no direito probatório, daquilo que também já foi aproveitado por
ALMEIDA e NOJIRI (2018).
A referência é ao que reportam eles como categorias de análise (ALMEIDA; NOJIRI,
2018, p. 838), sendo as seguintes: (1) mulher honesta e (2) mulheres não são confiáveis.
O somatório das duas categorias (estereótipos) e exemplares respectivos, alocados no
terreno do direito probatório, configuram o que se pode chamar de generalizações
empíricas espúrias, sobre as quais a superação advém justamente de letramento em
gênero.
Assim sendo, indaga-se: é possível, ao deliberar sobre fatos (ao afirmar com aspiração
a ser correspondente à verdade histórica ocorrida) em sede de jurisdição que trate de
crimes que envolvam violência de gênero, inferir em termos minimamente não
enviesados a ponto de atenuar a desigualdade de gênero que é traço ainda marcante
da sociedade?
A hipótese de que se parte é a de que a prática judicial possibilita produção de
argumentação probatória (a que discorre, portanto, sobre as hipóteses que
correspondam aos fatos juridicamente relevantes) que, em sede de crimes que
envolvam violência de gênero, remonte a inferências calcadas em generalizações
empíricas não espúrias, assim entendidas aquelas que se descolem de estereótipos
descritivos e/ou normativos que inadequadamente reflitam o gênero feminino, seja
afirmando recorrência que não existe, seja invocando um dever-ser que fere a isonomia
entre gêneros.

GT ONLINE 9 – Direito e Desigualdade II


Autores Michael Lima de Jesus Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Leandra Iriane Mattos
Título Retórica predatória e exiguidade perceptiva das narrações: sobre um cenário de aridez
e hostilidade à Filosofia e Sociologia do Direito.
Resumo A eleição presidencial brasileira de 2022, trouxe consigo o que parece o vértice do
fenômeno político-social que é, ao final, chamado de bolsonarismo. O fenômeno, que
possuiu pequenos começos em anos anteriores, fez com que existisse um retorno à
busca e instrumentalização de uma “verdade” transcendental que vetora as questões
políticas e sociais.
Transformando o bem comum em um elemento soteriológico, e, afastando da política
brasileira, bem como em muito do Direito, as razões públicas que fundamentam a
democracia e estruturam as suas instituições. O discurso político-social ganhou tons
apologéticos, retirando de cena a lógica da convivência e tornando clara a existência de
uma retórica voraz e missiológica. A retórica criada é a de predação do outro, vendo-o
como uma ameaça a uma visão de mundo e forma de vida que é “correta”, baseada na
verdade quase que absoluta e arvorada, e meio único para a existência de uma
sociedade e democracia “saudável”.
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Quanto ao outro, ele é deslegitimado e visto como opositor. É retirada a noção de que
esse outro é parte integrante e constituinte da retórica democrática existente na
sociedade brasileira, fazendo com que ele seja suprimido, e, se preciso for, extinguido.
Com o resultado da eleição presidencial, que possuiu massiva participação e foi vencida
pela margem mais exígua da história, as patologias de tal cenário são visivelmente
descortinadas, tornando temerário o cenário social que virá.
Nesse ponto, o trabalho utiliza-se da obra de Byung-Chul Han, para demonstrar a tal
crise que se instaura em tal cenário. A retórica predatória que se instaura desumaniza o
outro, bem como a sua vida e narrações sociais. Problemas sociais passam a ser vistos
como meras informações, ou elementos narrativos, sendo destituídos do caráter
humanitário das narrações. Nesse contexto, demandas minoritárias nada mais são do
que argumentos narrativos. Até mesmo as desventuras, opressão e morte dos
vulneráveis é informação a ser ignorada.
Sem as narrações, como dito por Han, não há comunidade — padece qualquer ideia de
corpo político. Sem o conhecimento específico dos problemas sociais, como
estabelecendo por Rousseau em sua obra, a vontade geral não é constituída —
elemento essencial para o pacto social e a existência do “eu comum” deste pacto.
Novamente é estabelecida a vontade de todos, numérica e à mercê de uma maioria que
pode persevera insensível ante as demandas sociais mais urgentes.
O estudo não pressupõe o romantismo ideário de apelo à consciência moral dos que
“religiosamente converteram-se” à retórica predatória vista. Entretanto, a partir da
percepção do cenário desta, estabelece a necessidade da reconstrução da narrativa
humanizado. Compreendendo que somente assim as questões notadas pela Filosofia e
Sociologia do Direito, sobretudo as que giram em torno das desigualdades, serão
humanamente percebidas por estudantes, profissionais e comunidade.
O presente artigo analisará tal cenário, tendo em mente a implicação dos novos desafios
democráticos que eles inauguram, utilizando-se da revisão de literatura e empregando
o método hipotético-dedutivo para tal. Preliminarmente concluindo acerca da
necessidade de um progressivo esclarecimento da identidade constitucional dos
indivíduos que compõe a sociedade brasileira, a partir das referências teóricas
adotadas, bem como a necessidade de que extensões da acadêmica sejam
progressivamente materializadas para a concretização crescente de tais noções e
práticas.

GT ONLINE 10 – Direitos Humanos I


Autores Ernesto Miranda de Carvalho Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Thiago de Sousa Ramos
Título Igualdade, liberdade, segurança e propriedade: Marx e a crítica dos direitos do homem.
Resumo Entre os textos de juventude e os de maturidade de Marx é preciso reconhecer uma
linha de continuidade. O jovem Marx e o Marx maduro não se contrapõem simplesmente.
Não são dois lados incomunicáveis da mesma personalidade intelectual. Pelo contrário,
a leitura de seus textos aponta não para um suposto corte, mas para um
desenvolvimento que, longe de ser idêntico a si em cada um de seus momentos,
consiste na gradual definição, volver e aprofundamento de posições chave. Os escritos
de maturidade de Marx não se constituem em contraposição aos de juventude, a relação
entre eles não é negativa, é positiva. E isto, no exato sentido de que muitos dos passos
dados por Marx nas primeiras décadas da sua produção intelectual se farão presentes,
ainda que sob formas e contextos diversos, nas décadas posteriores. Escrito entre os
meses de agosto e dezembro de 1843 e publicado nos Anais Franco-Alemães em 1844,
Sobre a questão judaica é um texto que ilustra essas questões de maneira exemplar.
Escrito em resposta a Bruno Bauer e seu A questão judaica, como escrito polêmico,
portanto, o texto analisa de perto a situação dos judeus na Alemanha e sua busca pela
emancipação cidadã, a emancipação política. A agudeza da crítica de Marx a Bauer,
porém, reside propriamente na explicitação dos limites intrínsecos dessa emancipação
e do Estado político que é ou deve ser capaz de levá-la a termo, tudo isso entremeado
pelo igualmente agudo exame das relações existentes entre, de um lado, a religião e,
de outro, essa emancipação e Estado políticos. Para Bauer, a questão judaica, a
questão da emancipação dos judeus é uma questão sobre as relações entre a própria
religião e o Estado. Bauer ajuíza sobre o modo como o judaísmo se vê, por sua
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peculiaridade enquanto religião, em oposição ao cristianismo assumido pelo Estado e


sobre como o envolvimento religioso e a emancipação política se veem enredados em
uma contradição real. Antes de se emancipar politicamente o judeu deve se emancipar
de sua religião e o Estado de seu cristianismo, só a partir dessa condição que a
emancipação se torna possível. Só quando a religião se torna um assunto inteiramente
privado é que se pode falar de emancipação política. Marx se contrapõe a Bauer, pois é
precisamente o Estado político pleno, emancipado da religião, o Estado que relegou a
religião a assunto privado dos indivíduos, o Estado que dá a mais ampla margem e
liberdade para o pleno desenvolvimento da religião. A questão da religião, do
antagonismo religioso, tal como a questão judaica, não é solucionada pelo Estado
político pleno, pelo fato de a religião não ser mais um privilégio, antes, o Estado que
deixou de ser cristão somente relegou a religião a uma questão privada, ele sequer
tocou na carência que a existência da religião como tal exprime. Bauer faz depender a
emancipação religiosa da emancipação política, mas a emancipação política não liberta
o homem da religião, apenas o Estado. A emancipação política é sempre parcial, e é
isto que Bauer não percebe. O caráter parcial dessa emancipação se exprime já nos
direitos que ela traz como pressupostos. Igualdade, liberdade, segurança e propriedade
privada, conteúdos fundamentais das primeiras declarações de direitos, são
reconhecidos como elementos essenciais do Estado político pleno. A própria existência
do Estado é concebida em função deles. Estes direitos que são os chamados direitos
do homem são, no entanto, predicados da própria existência da sociedade civil
burguesa, da mesma maneira que o Estado é dela um predicado, uma consequência. O
propósito deste trabalho é analisar a crítica aos direitos humanos, em especial aos
direitos do homem, presente em Sobre a questão judaica. Para tanto, nossa
investigação emprega uma leitura imanente do texto marxiano, procurando explicitar
desde o interior do texto os movimentos e os nexos constitutivos de sua malha
categorial. Esperamos poder demonstrar que tais direitos não possuem um caráter
resolutivo em face das contradições da sociedade civil, eles apenas reafirmam relações
sociais já existentes em seu interior, o seu conteúdo não é, portanto, emancipatório, tais
direitos deixam a forma de sociabilidade que os engendra intocada e, por causa disso,
não negam o indivíduo, a pessoa egoísta que se encontra em sua base, antes o
pressupõem. A emancipação política que se opera mediante esses direitos não é ainda
a emancipação humana como tal. O homem permanece um ser estranho a ela.

GT ONLINE 10 – Direitos Humanos I


Autor Thiago de Sousa Ramos Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título A realização do fundamento humano do Cristianismo a partir da emancipação política.
Resumo No ano de 1844, em pleno desenvolvimento do pensamento Hegeliano no seio das
camadas mais jovens da Alemanha, foi publicada em Paris uma única edição dos Anais
Franco-Alemães, revista organizada por Karl Marx e Arnold Ruge. Foi nesse lançamento
que Marx publicou dois artigos imprescindíveis para o desenvolvimento do seu
pensamento: “Crítica da filosofia do direito de Hegel – Introdução” e “Sobre a questão
judaica”. Artigos que, excepcionalmente, se colocaram de forma crítica em relação à
religião, à política, ao Estado, ao direito, à filosofia hegeliana e aos seus
desenvolvimentos. Nesse período, havia uma tendência de contrapor a emancipação
política à religião. De acordo com Bruno Bauer, hegeliano de esquerda que Marx se
propõe a criticar em “Sobre a questão judaica”, as religiões são apenas “estágios
distintos do desenvolvimento do espírito humano” (Marx, 2010, p. 34), o qual, como uma
cobra que troca de peles, descarta-as na história. Por isso, o que deve ser evidenciado
é o homem enquanto homem, para além de suas roupagens religiosas, que apenas
aparecem, mas não se confundem com sua essência humana. Daí decorre à seguinte
conclusão: a partir de uma emancipação política, a vida na sociedade civil-burguesa,
onde, por exemplo, o judeu pode ser judeu, é apenas aparência, na medida em que,
antes de ser judeu, o indivíduo pertence à humanidade e, como homem, realiza sua
essência na vida estatal. Os deveres religiosos, desse modo, existindo como questão
puramente privada, não se defrontam com o homem livre da religião em sua face
universal, realizado na figura do cidadão por intermédio do Estado. As conclusões de
Bauer partem da premissa de que o Estado, ao se libertar da religião, ao conformá-la
como apenas mais um elemento da sociedade civil-burguesa, concomitantemente,
44

também liberta o homem. Diante do exposto, uma breve contextualização e


apresentação de alguns dos argumentos de Bruno Bauer, a presente pesquisa visa
demonstrar seu caráter contraditório e acrítico no que tange à oposição entre
emancipação política e religião. Destaca-se que o vínculo existente entre o bourgeois
(burguês) e o citoyen (cidadão) se conforma em uma relação religiosa e que a realização
do fundamento humano do cristianismo, em seu caráter não secular e secular, só se dá
por meio dessa cisão da vida do homem, decorrida da emancipação política. Para isso,
a metodologia consiste na análise imanente do artigo “Sobre a questão judaica”, de Karl
Marx. Os resultados provenientes da pesquisa demonstram que Bruno Bauer, ao
confundir de forma acrítica a emancipação humana com a emancipação política e ao
exigir condições da primeira à segunda, se põe de forma contrária ao que almejava com
sua crítica. A religião, de forma não secular, sagrada e fantástica, não pode ser
secularizada pela sua própria essência, ela está para além do mundo do homem. Atribuir
ao Estado a forma de Estado cristão, além de colocá-lo em contradição, no que diz
respeito à consciência religiosa – relação entre os fins sagrados e os fins seculares –, o
coloca no campo da irrealidade, como um objeto não confiável. Só na sua forma privada,
a religião, como um elemento da sociedade civil-burguesa, pode se realizar de forma
não secular. A partir daí, o Estado passa a não mais professar o cristianismo na forma
de religião, mas na forma de Estado. Marx demonstra como, mediante a abstração da
religião, o Estado passa a realizar, em si mesmo, o fundamento humano do cristianismo
em termos seculares, o homem como ente genérico real e soberano. Por fim, da mesma
forma que a religião é uma consciência invertida do mundo e põe na existência fantástica
do homem sua realização, a relação entre o Estado e a sociedade civil-burguesa, na
naturalização das contradições desta e na realização do homem enquanto gênero
naquela, é um mundo invertido. Assim como a dualidade entre a alma e o espírito, o
santo e o pecador se dá no cristianismo, a dualidade entre cidadão e burguês é o fruto
de uma emancipação que não almeja a libertação real do homem, é apenas algo que o
paralisa, como ópio, frente à realidade contraditória.
A Carta Magna 1988, no seu artigo 5º, inciso I, assegura a igualdade entre homens e
mulheres nos direitos e nas obrigações, nos termos da Constituição. Tal preceito afigura-
se extremamente importante, pois robustece a igualdade de prerrogativas jurídicas entre
os gêneros feminino e masculino. Na perspectiva histórica da humanidade, a mulher
sempre sofreu diversas discriminações e violações em seus direitos básicos, visto que
era colocada em uma posição de inferioridade em relação ao homem. Aristóteles
afirmava: “o homem é superior e a mulher inferior, o primeiro manda e a segunda
obedece; este princípio, necessariamente, estende-se a toda humanidade” . Desde os
primórdios, cabia ao homem exercer o papel do chefe de família, caracterizando o
patriarcado. (“Patriarcado” consistia no princípio social no qual a descendência era
estabelecida pelo pai e não pela mãe, ou seja, era um regime em que o homem, como
chefe de família ou patriarca, tinha o poder absoluto em sua casa, resumindo toda a
instituição social de certas épocas da antiguidade).
No Brasil, em que pese a Constituição sempre assegurar o direito à igualdade desde a
primeira Carta Imperial de 1824, esse postulado foi descumprido profusamente. A título
de exemplo, a Constituição de 1891 assegurava a igualdade, declarando que “todos são
iguais perante a lei”; todavia, a legislação discriminava negativamente as mulheres (art.
72, § 2º CREUB de 1891). Isso porque, nos termos do art. 6º, inciso II do Código Civil
de 1916, as mulheres casadas eram relativamente incapazes a certos atos da vida civil
enquanto permanecessem na sociedade conjugal. Ao comentar sobre à codificação de
1916, Clóvis Bevilaqua esclarece: “o Projeto primitivo não consagrava a incapacidade
da mulher casada; mas a Comissão revisora, nomeada pelo governo, recusou a
inovação, aliás, sem a discutir (Atas, p. 37). O Código manteve a declaração da
incapacidade da mulher casada”. Além disso, no tocante aos efeitos do casamento, o
marido – por ser homem –, era o chefe da sociedade conjugal, competindo-lhe
representar legalmente a família e tinha o “direito” de autorizar sua esposa a exercer
uma profissão (art. 233, I, IV, CC de 1916). Daí se vê que é muito recente a concessão
da igualdade de direitos à mulher em relação ao homem, que sempre desfrutou dessas
prerrogativas pelo ordenamento jurídico.
Assim, o art. 5º, inciso I da Constituição Federal de 1988 assegura aos homens e às
mulheres os mesmos direitos e obrigações, sendo ambos regidos pelo princípio da
igualdade. Em razão disso, vedam-se discriminações em prejuízo da mulher, pois ela é
45

titular dos mesmos direitos dos homens, nos termos da Carta Magna. A expressão “nos
termos desta Constituição” significa que a igualdade dos homens e das mulheres, no
que se que refere aos direitos e obrigações, será efetivada conforme estabelecido nas
disposições constantes na Carta Magna. Ou seja, a própria Constituição Federal, ao
longo do seu texto normativo, pode criar prerrogativas ou deveres diferentes para
indivíduos do sexo masculino e feminino.
Desse modo, apesar da existência do princípio geral da igualdade, ao longo do texto da
atual Constituição são concedidos direitos e impostas obrigações de maneira diferente
entre os homens e as mulheres, sendo essas distinções constitucionais, conforme
exposição supra. Exemplicadamente, “às presidiárias serão asseguradas condições
para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação” (art.
5º, L, CF/1988); São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais: “licença à gestante,
sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias” (art. 7º,
XVIII, CF/1988); licença-paternidade, nos termos fixados em lei (art. 7º, XIX, CF/1988);
proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos
termos da lei (art. 7º XX, CF/1988); “O servidor abrangido por regime próprio de
previdência social será aposentado: no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos
de idade, se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem”, conforme
o art. 40, § 1º, III, CF/1988, com redação dada pela EC nº 103/2019.
Assim, o problema proposto neste estudo é o direito à igualdade entre homens e
mulheres na Constituição Federal de 1988, sendo a metodologia baseada na pesquisa
bibliográfica. Ao final, verifica-se que o texto constitucional contempla diversas medidas
em benefício da mulher com o objetivo de reduzir as desigualdades fáticas existentes,
em observância ao princípio da igualdade na perspectiva substancial.

GT ONLINE 10 – Direitos Humanos I


Autor Malcon Rodrigues Pereira Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Os desafios do acesso e de representatividade dos (as) transexuais na disputa eleitoral
brasileira.
Resumo Em 1992 foi eleita a primeira pessoa transexual, Kátia Tapety, ao cargo de vereadora,
se tornando a primeira travesti no Brasil a assumir um cargo eletivo público. Esse marco
tem importância exponencial ao pensarmos a representatividade no campo democrático
institucional de uma parcela da população brasileira que fora negligenciada por muito
tempo à condição de cidadã. Neste contexto, pareceu possível e empírico o acesso aos
direitos políticos e de representação consagradas na Carta Pátria de 1988 a toda
população. Contudo, mesmo com avanços conquistados desde a redemocratização
quanto às representatividades das minorias sociais na área civil e administrativa, no
campo político-eleitoral parte dessas minorias continua afastada da garantia dos direitos
de representação e representatividade. São inúmeros os problemas que afetam o direito
basilar no Estado Democrático de Direito desses grupos politicamente minoritários, que
vão da possibilidade de votar à de serem votados no processo político-eleitoral vigente.
Assim, focalizando no acesso das pessoas transexuais nos processos eleitorais
brasileiros na contemporaneidade pode ser evidenciado como o assunto “financiamento
de campanha” se tornou um tema sensível, pois a arrecadação, administração e
alocação destes recursos aos candidatos ficaram sob responsabilidade dos líderes de
cada partido e, desse modo, tal discricionariedade, muitas vezes, impede qualquer
possibilidade de um candidato ou uma candidata transexual de concorrer a qualquer
pleito político-eleitoral. Desse cenário que se insere este trabalho, o qual buscou
analisar, a partir das postulações teóricas de Nancy Fraser e Robert Dahl, as questões
de representação e representatividade da população transexual no Brasil
contemporâneo e os desafios enfrentados nos quesitos de financiamento eleitoral e
acesso a esses direitos pelos (as) candidatos (as) desse grupo minoritário. A pesquisa
qualitativa do trabalho baseou-se nos dados do Tribunal Superior Eleitoral das eleições
de âmbito federal, estadual e municipal nos anos de 2018, 2020 e 2022, bem como os
relatórios divulgados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA),
pelo Ministério Público Federal e pela Defensoria Pública da União. Preliminarmente,
pode-se verificar que há diferença com potencial prejudicial no investimento dos partidos
políticos às campanhas eleitorais de candidatos (as) da comunidade trans, dificultando,
46

assim, a efetiva entrada dessa comunidade nas cadeiras políticas das instituições de
governo.

GT ONLINE 10 – Direitos Humanos I


Autores Emanuel Beija Flor Figueiredo Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Tiago Fuchs Marino
Título Pessoas defensoras de direitos humanos e o caso Gabriel Sales Pimenta: um olhar
sobre a desigualdade na américa latina e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Resumo Historicamente os países latino-americanos sofrem com um contexto de instabilidade
política e econômica, desigualdades sistemáticas e um quadro de violência massiva.
Isso resultou em diversos regimes ditatoriais ou em governos claramente autoritários
que exerceram o poder nesta parte do globo. Para que se possa ter uma dimensão do
problema, no ano de 1978, em que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(CADH) entrou em vigor, menos da metade de seus Estados-partes eram governos
eleitos democraticamente (PIOVESAN, 2016). Com o passar dos anos, a partir de um
processo de redemocratização verificado na América Latina, a quantidade de países
que se propuseram a ratificar o dito instrumento internacional se expandiu, chegando ao
número de 23 (vinte e três), que são os atuais membros do chamado “círculo menor” do
Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH): signatários tanto da carta da
Organização dos Estados Americanos (OEA) quanto da CADH (RAMOS, 2016). Nesse
contexto, o trabalho desempenhado pelo SIDH, notadamente a partir da implementação
de um tribunal especializado – a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH)
– se mostrou de grande relevância para a justiça de transição e a promoção de direitos
resultantes de lutas sociais, por meio de decisões emblemáticas que responsabilizaram
atos de repressão, o uso de força desproporcional por parte do Estado, situações de
violência estrutural e desrespeito aos direitos de minorias políticas e sociais, com
destaque para as pessoas defensoras de direitos humanos – que, conforme
entendimento da Assembleia Geral das Nações Unidas de 1998, expressado em sua
Resolução n° 53/144, são “todos os indivíduos, grupos e órgãos da sociedade que
promovem e protegem os direitos humanos e as liberdades fundamentais
universalmente reconhecidos”. Nesse viés, visando garantir a proteção dessas pessoas,
que muitas vezes foram perseguidas e mortas por governos que percebiam os direitos
humanos como uma agenda contra o Estado, a Corte IDH tem atuado para a
consolidação de um constitucionalismo regional vocacionado à real efetivação das
promessas conquistadas pelas constituições dos países da região após a superação de
regimes autoritários (BOGDANDY, 2017), tendo proferido relevantes condenações, com
destaque para o recente caso Sales Pimenta v. Brasil (2022), que constitui foco do
presente trabalho. Gabriel Sales Pimenta era um advogado defensor dos direitos dos
trabalhadores rurais no Estado do Pará, na região Norte, onde atuava em prol da
Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabá
na luta pela reintegração de terras. Essa conjunção de fatores o colocou diretamente no
lado oposto de fazendeiros e latifundiários da região, dentro de um contexto marcado
pelo autoritarismo e repressão em que o Brasil ainda se encontrava em uma ditadura
civil-militar. Apesar de Sales Pimenta ter relatado às autoridades inúmeras vezes que
estava sendo ameaçado por fazendeiros, seus pedidos de proteção estatal foram
ignorados e, no dia 18 de julho de 1982, ele foi assassinado com três tiros após sair de
uma reunião política, sem resposta satisfatória do Estado. Levando em conta o histórico
acima abordado e a sentença do caso Gabriel Sales Pimenta, o presente trabalho traz
como problemática o seguinte questionamento: como o contexto histórico e a
desigualdade intrínseca na realidade da América Latina criaram um cenário hostil e, em
alguns casos, até brutal para pessoas defensoras de direitos humanos? Nessa
perspectiva, o objetivo geral é analisar as raízes de tal problema e identificar como a
atuação e o fortalecimento da Corte IDH pode contribuir para construir um ambiente
mais favorável para esses defensores, dentro da consolidação do denominado “direito
a defender direitos”. Para alcançar sua finalidade, o trabalho utiliza o método dedutivo e
é realizado de forma descritiva e exploratória, mediante revisão bibliográfica. Como
resultado, verifica-se que a Corte IDH tem um papel fundamental na análise,
investigação e punição dos Estados diante da violação dos direitos das pessoas
defensoras de direitos humanos (ativistas, jornalistas, comunicadores sociais,
47

operadores da justiça, etc.), tendo inclusive determinado ao Estado Brasileiro a criação


de protocolo próprio para a investigação dos crimes cometidos contra tais indivíduos,
além de revisar os mecanismos de responsabilização já existentes e implementar um
sistema nacional de coleta de dados sobre a temática. Nesse sentido, conclui-se que a
referida Corte vem adotando medidas de reparação abrangentes para a superação do
cenário retratado, trazendo casos de negligência estatal à luz do debate jurídico e social.

GT ONLINE 10 – Direitos Humanos I


Autor Camilo de Lélis Diniz de Farias Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Cidadania religiosa e religiões de terreiro: entre o racismo e a luta por reconhecimento.
Resumo Introdução. A separação entre Estado e Religião é uma característica marcante das
democracias liberais modernas. No Brasil, com a Constituição de 1891, consagrou-se a
laicidade do Estado, mantida continuamente em todas as Constituições republicanas,
em oposição à Carta Magna de 1824, que tratava a Igreja Católica como religião oficial,
vedando a manifestação pública de quaisquer outros cultos.
A laicidade, no entanto, não se apresenta homogeneamente em todos os Estados, de
modo que podem ser destacados, a partir do magistério de Roger Raupp Rios (2014),
dois modelos distintos, a saber: o da neutralidade, que se limita a proclamar o direito à
liberdade religiosa ignorando, no mais, a presença da religião na vida política; e o da
pluriconfessionalidade, que além desta garantia, e mantendo a separação entre o poder
público e os cultos religiosos, leva em consideração a existência das religiões, tomando
a diversidade religiosa como um bem constitucional a ser protegido, permitindo, por fim,
a cooperação entre o Estado e as religiões, bem como a sua participação na esfera
pública política.
Embora com a proclamação da República e a Constituição de 1891 tenha havido uma
radical separação, entre o poder público e as religiões, a experiência constitucional
brasileira, especialmente após a Carta Magna de 1934, caracteriza-se pela adoção
deste último modelo.
Com a Constituição de 1988, houve a reafirmação da laicidade pluriconfessional, de
maneira que, além da previsão da liberdade religiosa, há a enumeração de diversos
direitos atrelados à religião e suas instituições, tais como imunidade tributária de
templos, assistência religiosa em estabelecimentos de internação coletiva, ensino
religioso de matéria facultativa e reconhecimento de efeitos civis do casamento religioso
havendo, ainda, a possibilidade de cooperação entre o Estado e instituições religiosas,
bem como a participação destas na vida política nacional, a exemplo do próprio processo
constituinte.
Diante deste quadro, é possível se falar no estabelecimento de uma cidadania religiosa,
consistente no reconhecimento e proteção da pluralidade como bem constitucional, na
titularidade e gozo dos direitos atrelados à religião e, por fim, na participação social das
instituições religiosas.
No entanto, questiona-se a sua efetivação prática em relação às religiões de matriz afro-
ameríndia, bem como um crescimento gradativo da influência da religião na vida política
dos Estados e dos sujeitos, que Peter Berger (2000) denomina de dessecularização do
mundo, que também põe em risco a sobrevivência das religiões de matriz afro-
ameríndia, na medida em que a laicidade, como destaca Habermas (2007), constituiu-
se como resposta necessária aos desafios do pluralismo religioso, resguardando a
integridade dos sujeitos e comunidades religiosas diante do potencial conflituoso da
convivência inter-religiosa.
Assim sendo, pode-se afirmar que há uma debilidade no reconhecimento destas
religiões, o que as coloca em situação de subordinação social (FRASER, 2004, p. 611)
visto que lhes é negado “o status de parceiro integral na interação social”, de modo que
o sistema de direitos e garantias enunciado pela Constituição de 1988 ainda encontra-
se distante da plena efetivação para elas.
Para explicar a situação de fragilidade social das religiões de terreiro, utilizamos a
categoria racismo religioso, aqui compreendida tanto em termos da própria
criminalização das condutas discriminatórias motivados por motivos de crença, quanto
para ilustrar a insuficiência da ideia de intolerância religiosa, compreendendo assim que
as religiões de terreiro são hierarquizadas e tratadas de modo inferior por terem sua raiz
48

nas culturas africana e indígenas, que seguem sendo postas em status de


subalternização social.
Objetivos:
Geral: Analisar a construção e efetivação da cidadania religiosa no âmbito das religiões
de matriz afro-ameríndias.
Específicos: Identificar os entraves à realização plena da cidadania religiosa no contexto
das religiões de matriz afro-ameríndia.
Analisar os processos de resistência e luta por reconhecimento das religiões de matriz
afro-ameríndia.
Metodologia: A presente pesquisa tem natureza qualitativa, conduzida pelo método de
abordagem dialético (RICHARDSON, 2012), uma vez que proporciona uma
compreensão profunda do objeto de estudo a partir da ideia de totalidade, superando o
viés ideológico das abordagens tradicionais, contando para isso com o auxílio do método
histórico, uma vez que se procurará analisar os fenômenos que constituem o objeto da
pesquisa do ponto de vista da história, para melhor compreender as suas razões e o
seu funcionamento.
Procedimentalmente, o estudo está baseado em pesquisa bibliográfica, pautada em
uma perspectiva interdisciplinar, exigência das análises sobre direitos humanos e
cidadania, recorrendo-se, assim, aos saberes oriundos, além do direito, da história,
filosofia, sociologia, antropologia e ciência política, como também documental, vez que
haverá utilização de normas legais e convencionais, além da jurisprudência dos tribunais
nacionais e internacionais, de modo a descrever o tratamento jurídico da cidadania
religiosa pelos órgãos judicantes.

GT ONLINE 11 – Teoria e Filosofia do Direito II


Autor Paulo Afonso Tavares Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título O Conceito de Justiça na Cidade de Deus de Agostinho de Hipona.
Resumo Na obra Cidade de Deus de Agostinho de Hipona, a justiça é explorada por meio de uma
dualidade profunda entre duas cidades metafóricas: a Cidade de Deus e a cidade
terrena. Escrita após a queda de Roma em 410 d.C., a obra é uma resposta teológica
às críticas pagãs que culpavam o cristianismo pelo enfraquecimento do império.
Agostinho divide a humanidade em duas "cidades", cada uma definida por seu objeto
de amor: o amor a Deus, que governa a Cidade de Deus, e o amor próprio, que domina
a cidade terrena.
Para Agostinho, a verdadeira justiça reside apenas na Cidade de Deus, onde o amor
por Deus dirige todas as ações e desejos. Esta cidade não é uma localidade geográfica,
mas uma comunidade espiritual formada por aqueles que buscam a vida eterna com
Deus e vivem de acordo com suas leis. Aqui, a justiça é uma força ordenadora que
mantém a cidade coesa, promovendo paz e harmonia entre seus membros. Agostinho,
influenciado por Cícero, define justiça como “dar a cada um o que é devido”, o que na
Cidade de Deus significa orientar todas as ações em direção a Deus, o supremo bem.
Em contrapartida, a cidade terrena é marcada por um amor próprio distorcido que
conduz à injustiça. Nesta cidade, a busca de poder, status e prazeres terrenos substitui
a verdadeira justiça. Sem a orientação divina, qualquer tentativa de justiça é falha, pois
se baseia em valores egoístas e efêmeros. Agostinho exemplifica a cidade terrena com
a Babilônia bíblica, um lugar de confusão e desordem, onde a justiça é corrompida pela
ambição e pela inveja.
A história de Caim e Abel exemplifica o conflito eterno entre essas duas cidades,
refletindo as inimizades e injustiças que emergem quando os homens se desviam de
Deus. Caim, movido pela inveja, comete fratricídio contra Abel, simbolizando a luta
contínua entre o amor próprio e o amor a Deus, entre a cidade terrena e a Cidade de
Deus.
As duas cidades estão interligadas na história humana até o Juízo Final, quando serão
definitivamente separadas. Até lá, a justiça em qualquer forma terrena é vista como
imperfeita e provisória. No entanto, Agostinho vê uma função providencial nessa
interação, onde os atos injustos da cidade terrena podem ser utilizados por Deus para
fins justos, contribuindo para o desenvolvimento moral e espiritual dos cidadãos da
Cidade de Deus.
49

Este arranjo entre as duas cidades permite a Agostinho discutir como a justiça, mesmo
que imperfeita, é mantida na cidade terrena e como ela serve aos propósitos divinos.
Ele explora como as ações dentro da cidade terrena, mesmo aquelas marcadas pelo
pecado e pela injustiça, são usadas por Deus para testar e purificar os cidadãos da
Cidade de Deus, preparando-os para a vida eterna.
Essa visão de justiça, para Agostinho, vai além de um princípio ético; é uma realidade
espiritual ancorada no amor divino. Ele apresenta as duas cidades como modelos
contrastantes de comunidade humana: uma orientada para o céu, a verdadeira justiça e
a eternidade, e outra presa às paixões e injustiças terrenas. Ele retrata a Cidade de
Deus como um ideal onde a verdadeira justiça se manifesta através da caridade e da
obediência à vontade de Deus, enquanto a cidade terrena é um lembrete constante das
falhas humanas e da necessidade de redenção.
Ao final, "Cidade de Deus" de Agostinho oferece uma visão onde a justiça transcendente
é a promessa para o fim dos tempos, quando a justiça divina prevalecerá e a cidade
celestial triunfará definitivamente sobre a terrena. Este panorama não apenas fornece
uma resposta aos desafios de seu tempo, mas também uma reflexão sobre a natureza
da justiça, do poder e da comunidade humana. Ele propõe que, no plano divino, todas
as ações, mesmo as injustas, estão interligadas e contribuem para a realização final da
justiça divina. Assim, Agostinho estabelece uma narrativa onde a esperança e a justiça
última são reservadas para aqueles que vivem segundo o espírito, na expectativa da
Cidade de Deus.

GT ONLINE 11 – Teoria e Filosofia do Direito II


Autora Jessica Holl Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Representatividade como uma Questão de Justiça: Reflexões sobre a teoria da Nancy
Fraser.
Resumo O presente trabalho parte da teoria da justiça desenvolvida por Nancy Fraser que é
consolidada em seu livro Scales of Justice (2010). Principalmente em seu capítulo 2,
Reframing Justice in a Globalizing World, Fraser traça os principais pontos de sua teoria,
que serão de grande contribuição para o presente trabalho. Assim, em um primeiro
momento serão apresentados os principais elementos da teoria proposta por Fraser,
para na sequência ser apresentada uma nova chave de leitura possível para a questão
da representatividade, ou de suas lacunas.
Para os objetivos deste trabalho, importa retomar a diferenciação proposta por Fraser
entre o que a autora considera como o primeiro e o segundo nível da falsa
representação. O primeiro nível seria o da falsa representação política-comum, que,
como já apresentado anteriormente, é caracterizado por estar situado ainda dentro do
tradicional enquadramento Keynesiano-Westfaliano (FRASER, 2009, p. 21-22). Nesse
nível da falsa representação, então, ter-se-ia o reconhecimento dos sujeitos como tais,
apesar dos procedimentos de representação, da forma como estabelecidos, impedirem
que esses sujeitos efetivamente acessem e atuem nas instâncias políticas — o que
também dificulta a eles postularem suas demandas por redistribuição e reconhecimento.
Já o segundo nível, o chamado mau enquadramento, é caracterizado por se negar a
determinados sujeitos sua condição como tal, em razão deles não estarem dentro do
enquadramento que define a comunidade em questão (FRASER, 2009, p. 22). Nesse
ponto Fraser coloca que a esses não-sujeitos seria negada a própria possibilidade de
formular questões de primeira ordem (FRASER, 2009, p. 23)
A proposta aqui apresentada pretende reconhecer que a falsa representação política-
comum está em um mesmo nível que o mau enquadramento, apesar das duas formas
de falsa representação estarem em eixos diferentes. O eixo espaço dos lugares diz
respeito àquelas demandas que ainda são apresentadas aos Estados, mesmo que com
a influência da globalização tenham adquirido uma nova conformação, através das
influências internacionais e transnacionais. Já o eixo espaço dos fluxos diz respeito às
demandas que não podem ser enquadradas no espaço limitador dos Estados Nacionais,
sob pena de se causar injustiças ainda maiores. E mesmo a divisão entre esses dois
eixos não objetiva ser estanque, por que os dois níveis não podem ser compreendidos
isoladamente — por mais que as relações transnacionais operem para além da estrutura
estatal, em muitos momentos ainda ocorrem mediações por Estados, da mesma forma
50

que relações, que em um primeiro momento aparentam ser internas aos Estados, são
influenciadas pelo internacional e transnacional.
Feita essa reorganização dos níveis da falsa representação política-comum e do mau
enquadramento em dois eixos, o que Fraser apresenta como terceiro nível da falsa
representação, isto é, a falsa representação meta-política, torna-se o segundo nível, que
se manifesta nos dois eixos da falsa representação. A falsa representação meta-política
manifesta no eixo do espaço dos fluxos consiste exatamente naquela descrita por
Fraser, em que Estados e elites transnacionais monopolizam o estabelecimento do
enquadramento e, consequentemente, a possibilidade de definir quem serão os sujeitos
políticos. De forma que é negado espaço àqueles que serão afetados pelo
enquadramento e impede-se a criação de arenas democráticas em que suas
reivindicações possam ser escutadas (FRASER, 2009, p. 33-34).
Por outro lado, a falsa representação meta-política também está presente no eixo do
espaço dos lugares. Nesse caso são as elites locais (que podem ser políticas ou
econômicas) aquelas que pretendem monopolizar as condições de conferir
materialidade à condição de sujeito político a determinados grupos formalmente
reconhecidos como sujeitos, mas que são sistematicamente marginalizados em razão
de questões de classe econômica e status social. Nesse caso, pretende-se negar a
esses grupos marginalizados a possibilidade de constituírem-se como sujeitos políticos
e de apresentarem e terem escutadas suas demandas por redistribuição e
reconhecimento.
Assim, a demanda por uma horizontalização do espaço dos meta-discursos manifesta-
se nos dois eixos apresentados, levando à demanda por uma democracia meta-política,
assim como destacado por Fraser. De acordo com a autora “[…] as lutas por justiça em
um mundo globalizado não podem alcançar êxito se não caminharem juntamente com
as lutas por democracia metapolítica. Então, nesse nível também, não há redistribuição
ou reconhecimento sem representação” (grifos no original) (FRASER, 2009, p. 34).
Desse modo, mesmo a estrutura dos eixos e níveis de falsa representação aqui proposta
não pretende alterar a conclusão apresentada por Nancy Fraser, que indica que a visão
da justiça como paridade representativa é adequada à abordagem da justiça
democrática pós-Westfaliana (FRASER, 2009, p. 36-37). Sendo que a abordagem da
paridade representativa também é capaz de incorporar a perspectiva dos dois eixos e
dois níveis aqui apresentada, por manter o foco no “quem” e no “como” da justiça, assim
como proposto por Fraser (FRASER, 2009, p. 37).

GT ONLINE 11 – Teoria e Filosofia do Direito II


Autor Alex Canal Freitas Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Liberalismo igualitário em Ronald Dworkin.
Resumo O presente trabalho pretende esboçar a teoria da igualdade liberal de Ronald Dworkin e
sua conexão com as noções de liberdade, igualdade e comunidade nas democracias
liberais contemporâneas. Dworkin defende uma concepção específica de liberalismo, a
igualdade liberal, que destaca a interdependência entre liberdade, igualdade e
comunidade. Em contraste com outras teorias políticas, que frequentemente veem
esses conceitos como conflitantes, o autor argumenta que são aspectos
complementares de um único ideal político. Para alcançar essa visão, é crucial entender
a igualdade em termos de recursos e oportunidades, a liberdade como respeito pelos
direitos dos outros e a comunidade como baseada no respeito compartilhado pela
liberdade e responsabilidade individuais. Essa concepção de liberalismo só se realiza
quando esses elementos são compreendidos e aplicados de acordo com essa
perspectiva.
Para Dworkin, o nervo do liberalismo é certa concepção de igualdade, por isso denomina
sua teoria de igualdade liberal. Isso implica na ideia de que o governo deve tratar os
seus cidadãos como iguais; uma vez que esses cidadãos discordam nas suas
concepções de boa vida, o governo não consegue satisfazer esta condição se preferir
uma concepção a outra.
De modo geral, os direitos individuais e outros princípios de justiça devem ser
identificados e as instituições políticas concebidas, sem empregar ideias controversas
sobre a natureza humana ou concepções do bem humano (DWORKIN, 2001, p. 303).
De acordo com Dworkin, na medida em que estamos comprometidos com a liberdade e
51

a igualdade como valores morais fundamentais do liberalismo, cabe a nós desenvolver


uma interpretação harmoniosa e não conflituosa deles que entenda ambos como apenas
um aspecto de um ideal liberal mais geral. Esse ideal mais geral é o que Dworkin chama
de “individualismo ético”, que pode ser observado em dois princípios: “O primeiro é o
princípio da igual importância: é importante, de um ponto de vista objetivo, que a vida
humana seja bem-sucedida, em vez de desperdiçada, e isso é igualmente importante,
daquele ponto de vista objetivo, para cada vida humana. O segundo é o princípio da
responsabilidade especial: embora devamos todos reconhecer a igual importância
objetiva do êxito na vida humana, uma pessoa tem responsabilidade especial e final por
esse sucesso - a pessoa dona de tal vida” (DWORKIN, 2005, p. XV).
Ambos os princípios devem agir conjuntamente e guiar a atuação estatal. O primeiro
princípio requer que o governo adote leis e políticas que assegurem que o destino de
seus cidadãos independa de quem eles sejam – seu histórico econômico, sexo, raça ou
determinado conjunto de especializações ou deficiências (o Estado deve ser “insensível”
a estes aspectos). O segundo princípio demanda que o governo se empenhe por tornar
o destino dos cidadãos considerando as escolhas que fizeram (o Estado deve ser
“sensível” a estas opções). Dworkin presume uma ética que supõe que somos
responsáveis pelas consequências das escolhas que fazemos com base em nossas
convicções, preferências ou personalidade.
Dworkin se preocupa ainda, além da fonte e da reponsabilidade, com a métrica da vida
boa. Qual seria o padrão de teste do êxito ou do fracasso da vida? Até que ponto é uma
questão do prazer ou da felicidade que a vida proporcionou à pessoa cuja vida se avalia?
Até que ponto é uma questão da diferença que a vida dessa pessoa fez para a vida de
outras pessoas ou para o cabedal de conhecimentos ou da arte no mundo? Em que
outro modo ou dimensão se deve julgar o valor ou o êxito geral da vida de alguém?
Acerca desta terceira questão abstrata ele apresenta vários modelos de valor ético e
defende o modelo do “desafio”, que afirma que a vida é bem-sucedida quando é uma
reação adequada às diferentes circunstâncias em que é vivida. Segundo ele, esse
modelo é mais intuitivo do que seu principal oponente, e ajuda a mostrar a verdade da
ideia platônica de que a justiça não é um sacrifício que destrói a capacidade de viver
uma vida bem-sucedida, mas sim um pré-requisito para uma vida bem-sucedida.
Por fim, pretende-se apresentar as principais críticas ao modelo igualitarista de Dworkin.

GT ONLINE 11 – Teoria e Filosofia do Direito II


Autores Homero Chiaraba Gouveia Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Ícaro Rodrigues de Jesus
Título Almachio Diniz: uma filosofia do Direito comunista no Brasil dos anos 1930.
Resumo A bibliografia já estabelecida sobre a vida de Almachio Diniz nos informa sobre a sua
atuação como advogado da Aliança Nacional Libertadora (ANL) no Mandado de
Segurança nº 111 impetrado junto ao Supremo Tribunal Federal por ocasião do decreto
de 1935, editado pelo governo de Getúlio Vargas, que suspendeu a existência daquela
associação de caráter anti-imperialista e anti-latifúndio liderada pelo revolucionário Luís
Carlos Prestes. O que não se sabe, contudo, é quais os caminhos que antecederam à
sua defesa intransigente da legalidade da ANL frente a Corte Suprema do país e contra
um presidente que já mostrava forte tendência autoritária. Na verdade, nada foi escrito
sobre a evolução no pensamento de Diniz durante a década de 1930 de modo que o
MS 111, até agora, não passou de uma anedota nos corredores das Faculdades de
Direito do país.
O presente trabalho busca mapear, por meio de artigos de sua autoria publicados na
Imprensa, o giro político e teórico de Almachio Diniz em face dos desdobramentos da
Revolução de 24 de Outubro de 1930, que depôs o candidato das velhas oligarquias,
abolindo conjuntamente mais de 40 anos de um antigo regime marcado pela ausência
de representação popular e forte concentração de poder. Mediante a análise de pouco
mais de 30 artigos publicados entre os meses de outubro de 1930 até dezembro de 1931
nos jornais “A Esquerda”, “Diário de Notícias” e “Diário da Manhã”, pretendemos
entender a posição política e teórica de Diniz, “velho revolucionário” como gostava de
se chamar, para as questões que fizeram parte do debate nacional à época. A nossa
pesquisa tem como perspectiva maior saber se houve uma contribuição sua para a
circulação de ideias marxistas no meio jurídico do período e, caso a resposta seja
52

positiva, em que caráter foi. Talvez, Diniz tenha sido o primeiro jusfilósofo latino-
americano a desenvolver uma teoria jurídica baseada no marxismo. Esta é a hipótese
que colocamos a teste.

GT ONLINE 11 – Teoria e Filosofia do Direito II


Autor Osvaldo Lucas Andrade Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Religião sem Deus e Deuses sem religião: Considerações sobre as tensões entre
liberdade e religiosa no Direito comparado a partir da obra de Dworkin.
Resumo No ano 2012, Ronald Dworkin iniciou uma série de conferências em Berna que tinha
como objeto diferentes aspectos da religião, envolvendo desde questões pragmáticas
até debates de natureza filosófica e metafísica. Após seu falecimento, em fevereiro
2013, essas conferências foram publicadas com o título religion whitout god.
recentemente publicado no Brasil com o título de “religião sem Deus”.
Para esse momento, nos interessa especialmente o capítulo 4 da obra, na qual o autor
retoma o debate acerca da liberdade religiosa, porém o contrapõe ao debate em torno
da igualdade, indagando acerca do limite ente proteção à liberdade religião e a criação
de categorias de privilégios a determinados grupos. Acrescentamos que esses debates
se tornam ainda mais densos quando essas questões envolvem debates preliminares
com elevado teor de subjetividade como o estabelecimento de requisitos para o
reconhecimento de uma religião pelo Estado , a identificação de uma crença individual
como sincera e qual o campo de delimitação pode ser fixado para proteger a liberdade
religiosa sem esvaziar ou agredir o direito a igualdade.
Nossa proposta é verificar, a partir de decisões paradigmáticas de Cortes
Constitucionais, como o direito comparado vem tratando essas questões. Para tanto
escolhemos as seguintes decisões: Natal v. Pillay ( África do Sul), 1 BvR 670/91
(Alemanha; conhecido como ‘caso como Osho’) e Clay x Estados Unidos.

GT ONLINE 12 – Direito e Arte


Autora Ana Letícia dos Santos Cetroni Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Análise da obra O Quarto de Despejo.
Resumo O presente trabalho busca desenvolver uma análise da obra ‘O Quarto de Despejo’, de
Carolina Maria de Jesus (2014) e das manifestações de desigualdade nela existentes,
a partir de uma abordagem interdisciplinar entre literatura e direito. O livro materializa
em texto retratos coletivos e individuais de realidades adversas. Ao propor uma análise
contextualizada da obra, com vistas à valorização e ênfase na sua relevância, observa-
se o direito de épocas (ou a sua violação) e suas mudanças, bem como instaura-se o
diálogo tanto com o conteúdo fático da época, quanto com o atual. O direito é também
ferramenta de mudança social. Nesta pesquisa trabalha-se o racismo, a fome e a miséria
como características de estruturas sociais desigualitárias, e as compreende a partir de
diplomas normativos aplicáveis à época, bem como dos atuais, como a Constituição
Federal (BRASIL, 1988), o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990). Essas
atuais normas determinam o afastamento da culpabilidade das famílias em decorrência
da pobreza, e indicam caminhos para a construção de arcabouços jurídicos que visam
justamente à tutela de seus direitos fundamentais. Para o desenvolvimento da pesquisa
que considera a análise da obra literária indicada e da legislação acima citada, utiliza
como referencial epistemológico Silvio Luiz de Almeida (2018), Djamila Ribeiro (2019) e
Lucinho Kowaric (2009). Faz uso da hermenêutica compreensiva de Hans-Georg
Gadamer (2002) para desenvolver a compreensão e interlocução das obras propostas.
Quarto de despejo é manifestação de arte, é um meio de entrar em contato com a
verdade, justamente por ser construída de maneira hermenêutica, num diálogo com a
própria realidade. Nas concepções de Gadamer, não conseguimos delimitar a verdade,
tão pouco acessá-la pelo método, ou por movimento procedural (2002). A verdade é um
movimento de hermenêutica vivencial abstrato, é a troca constante entre o ser e o
mundo. O Quarto de Despejo é manifestação de verdade portanto, porque se desprende
do método, da forma gramatical pré-estabelecida pelo social, expressa a realidade
organicamente pela essência da linguagem enquanto ente, enquanto fenômeno no
mundo. Kowaric destaca uma aparente naturalização dos acontecimentos e uma
53

neutralização dessa condição, para abordar a questão social sob o enfoque de uma
descidadanização. Refere-se a um fenômeno multidimensional, violento e que age sobre
indivíduos e grupos (2009). Pessoas são colocadas às margens das relações sociais,
isoladas, impedidas de se desenvolver no corpo social. Essa condição realça um
entendimento, da separatividade. A marginalização, essa manifestação de separação
converge para uma teoria filosófica denominada de solipsismo, crer na existência do eu,
enquanto único ser e suas sensações, determinando os outros entes e objetos como
coadjuvantes, sem expressão existencial própria, trata-se de um auto centrismo.
Dijamila Ribeiro utiliza esta teoria vinculada à desigualdade, ela cunha o termo
solipsismo branco, centralização do eu enquanto pessoa branca, da cultura de tal como
única lídima. Um movimento hermenêutico voltado ao conteúdo testemunhal do livro
permite identificar que a autora tinha a compreensão da segregação, da delimitação de
indivíduos em classes, subgrupos sociais caracterizados em sua maioria pela
vulnerabilidade, da chamada descidadanização apontada por Kowaric. Carolina
escreveu que “... Eu classifico São Paulo assim: O Palácio, é a sala de visita. A Prefeitura
é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos” (2014
p.27). Um exemplo de vida que ultrapassa o concebível, e se torna guardião de futuras
gerações através do exemplo, também contido na obra: “Mas o povo não deve cançar.
Não deve chorar. Deve lutar para melhorar o Brasil para os nossos filhos não sofrer o
que estamos sofrendo” (2014) A leitura crítica da obra conjuntamente a análise
parametrizada no direito, faz transcender uma limitação circunscrita a realidades
pessoais, tornando tangível a compreensão de vidas duras enfrentadas por pessoas que
buscam diariamente o mínimo para sua subsistência. A fome, tema elementar deste
trabalho, é entendida como a manifesta violação a direitos fundamental compositores
da própria condição natural do ser.
Concebe-se que a alimentação é atributo estruturativo do ser, tanto para sua construção
orgânica quanto para a formação social. Como se expressa a própria natureza do ser, a
vida é constituída em entrelaces que tanto derivam da natureza consumativa, material,
quanto afetiva e social.
A obra “O Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, é de indescritível
importância, pois transcende a barreira estabelecida pelos preconceitos, reafirmados
pela sociedade desigual. Carolina Maria de Jesus humano dá voz a tantos iguais, ela
rompe com o formalismo, sobrepondo essência sobre forma.
Abordar a obra “O Quarto de Despejo”, tida aqui como uma obra de arte da literatura,
materializa conhecimentos ao procurar entender vivências e desigualdades, em suas
diversas faces e configurações. Trata-se de um dar cognição ao real por via da
interpretação. Analisar a obra e percebê-la como documento para o estudo do direito à
igualdade, redução das desigualdades, à família e proteção da criança e do adolescente
é um modo importante de produzir conhecimento e compreender a história, vetor
fundamental na hermenêutica jurídica.

GT ONLINE 12 – Direito e Arte


Autora Taíssa Albertina de Nadai Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Macabéa e a sala de máquinas (do estado de exceção latente) do Brasil.
Resumo A presente pesquisa pretende, através da leitura d’A hora da estrela, de Clarice
Lispector, demonstrar que a protagonista Macabéa vive sob a égide de uma espécie de
“estado de exceção”, isto é, sob uma “zona em que as determinações jurídicas estão
desativadas” e, sobretudo, refletir sobre os motivos e as consequências desse estado
latente, hoje, no Brasil.
O próprio narrador Rodrigo SM, desde o tenro início da obra, aponta que a história de
Macabéa ocorre em “estado de emergência e calamidade pública”. A protagonista é,
então, narrada como uma completa “abandonada” da lei, constituindo-se pela “falta” de
direitos, que se traduz, em seu cotidiano, como uma “(Des)constituição” Federal,
calcada não em garantias fundamentais, mas naquilo que ela jamais foi e jamais será.
Tal “constituição ao revés” traduz-se como o “álbum de [suas] carências” estudado por
Nádia Gotlib.
Em outras palavras: denota-se e demonstra-se que a Constituição Federal não possui
“força de lei” sobre a vida de Macabéa (ao passo que não a alcança), sendo outros os
aspectos que se impõem na vida da protagonista, “como se lei fossem” (e que a
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submetem a uma vida precária).Propõe-se, em um primeiro momento, que este “estado


de exceção” ocorre justamente nos limiares das tensões existentes entre “promessa” e
“efetivação” da Constituição Federal, no sentido de que há o “direito ao grito”, mas, na
prática, Macabéa “não sabe gritar”. Isto é, os direitos estão previstos, mas o que constitui
a “(des)constituição” de Macabéa é justamente o seu desconhecimento acerca deles –
não apenas a norma não a enxerga, como ela mesma não enxerga a norma.
Nesse sentido, Vera Karam de Chueiri, lendo Roberto Gargarella, aponta que o Brasil
possui uma “sala de máquinas institucional de engrenagens antigas e inadequadas para
a democracia” que, por forjar-se para um modelo de Estado e de Governo de
concentração de renda, de poder e de privilégios, impossibilita a (progressista)
Constituição de 1988 de promover as devidas condições materiais de liberdade(s) e de
erradicação da desigualdade.
Por conter engrenagens “enferrujadas”, a “sala de máquinas” propicia ruídos que, em
muitos momentos, tendem a se confundir com o som do ambiente caótico,
naturalizando-se nas mentes dos(as) brasileiros(as). Por exemplo, quando Macabéa se
depara com a obra Humilhados e Ofendidos, ela chega a se emocionar com o título,
desenvolvendo uma breve vontade de se aproximar dele. Contudo, conclui que “nunca
foi ofendida” e desiste de lê-lo.
É como se a personagem, com sua sensibilidade que pulsa na contramão do que é
propagado pela força que age sobre ela, pudesse “pressentir” os ruídos da ferrugem das
máquinas institucionais, entendendo que algo não está correto, que algo a atinge em
alguma instância recôndita de sua audição, mas não conseguisse identificá-los
enquanto ruídos/ofensas. Assim, ela não se enxerga como preterida da lei e queda-se
inerte, o que impossibilita que ela queira mudar o status quo e que queira agir.
Suely Rolnik, por sua vez, trabalha com a ideia psicanalítica do “inconsciente” de cada
ser como uma autêntica “fábrica de subjetividade(s)”. Ela elenca que o processo de
subjetivação de nossas “fábricas”, no país, tem funcionado por repetição e pelo
cerceamento das possibilidades de criação – o que reduz a subjetividade dos seres a
sua experiência como sujeito, de modo a neutralizar “a complexidade dos efeitos das
forças do mundo no corpo”.
Ainda, denomina esse inconsciente corrompido como “inconsciente colonial-
capitalístico”, pois fica evidente que, no Brasil, “é a própria tradição psicológica, surgida
no centro dos impérios coloniais e patriarcais europeus, que, estando atravessada
desde suas origens por estrutura de opressão colonial e sexual, necessita de um duplo
processo de descolonização e despatriarcalização”.Unindo as teorias mencionadas,
pode-se dizer que, dentro da “autêntica fábrica” que nos constitui enquanto cidadãos
brasileiros, existe uma “máquina de engrenagens enferrujadas” entre os poderes
legislativo, judiciário e executivo (aparatos do modus operandi da política e da efetivação
de políticas públicas no país) que, ao invés de facilitar, dificulta o acesso à Lei.
Concomitantemente, tem-se uma força colonizada e capitalística que se amolda nos
ruídos da ferrugem de tais engrenagens, corroendo qualquer possibilidade de
pensamento que busque essa Lei.
Portanto, sugere-se, no desdobramento da pesquisa, que a “força de lei” que atua
perante a vida de Macabéa, e que reduz “a” norma a uma “(Des)constituição” e sua vida
ao estado de excepcionalidade (impedindo que ela grite), advém precisamente das
mazelas narradas por Chueiri e Rolnik: engrenagens que impossibilitam a efetivação da
Lei e “perversão” do inconsciente dos seres.
Exsurge, ao final, a pergunta a ser incitada em trabalhos futuros: após demonstrada a
existência de um estado excepcional, como poderíamos revertê-lo, propiciando à
Macabéa a possibilidade de constituir-se em plenitude de(os) direitos (já previstos)?

GT ONLINE 12 – Direito e Arte


Autores Lucas Campos Ferreira
Bernardo Gomes Barbosa Nogueira Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Letícia Vasconcellos Moreira
Rosileide de Souza Melo
Título O (des)ocultamento dos não-lugares e apagamentos dos rituais: um diálogo a partir da
obra "Quarto de Despejo - Diário de uma Favelada", de Carolina Maria de Jesus.
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Resumo Prioritariamente, tomaremos como base a obra literária "Quarto de Despejo - Diário de
uma Favelada", de Carolina Maria de Jesus. Através dessa literatura, é possível
compreender a cosmovisão do não-lugar (Marc Augé) e a dimensão ritualista
apresentada por Byung-Chul Han, delineadas em sua obra intitulada “O
desaparecimentos dos rituais: uma topologia do presente”, com ênfase nas técnicas
simbólicas de encasamento que tornam a vida um lugar familiar.
A narrativa literária retrata o diário mantido por Carolina Maria de Jesus durante sua
permanência na favela do Canindé. O título, "Quarto de Despejo", representa a metáfora
criada pela autora, onde a favela é comparada a um espaço de despejo da sociedade,
um lugar onde os marginalizados e invisíveis são relegados às margens da sociedade.
Isso implica em excluí-los dos ciclos sociais e ocultar suas vidas e narrativas.
O texto de Carolina é fundamental para revelar os problemas sociais enfrentados por
uma grande parte da população brasileira, sendo, portanto, precursor para entender as
condições do não-lugar. Neste sentido, Byung-Chul Han apresenta em sua obra literária,
“do desaparecimento dos rituais: uma topologia do presente”, a possibilidade de gerar
comunicação e criar comunidade através do campo ritual, entrando em contato com os
valores mais importantes para determinada sociedade. Com isso, uma comunidade
inserida em um lugar invisibilizado e marginalizado pelos ciclos sociais, como os
relatados pela autora, pode encontrar formas de resistência e resgate de identidade ao
compartilhar suas histórias e experiências. (HAN, 2021).
Han apresenta os rituais como técnicas simbólicas de instalação em uma casa, como
uma forma de transformar o “estar no mundo” em “estar em casa”. (HAN, 2021). Desta
forma, os rituais dão sentido à vida, são importantes por tornar a vida algo familiar,
possuindo sentido e significado. O espaço habitacional descrito por Carolina Maria de
Jesus, apesar de suas condições precárias, representa um lar e o único ambiente onde
os moradores se sentem verdadeiramente pertencentes. A favela não é apenas um local
de moradia, é também um ambiente de identidade e comunidade, onde os moradores
constroem relações significativas transformando o “estar no mundo” em “estar em casa”,
se sentindo seguros, acolhidos e capazes de expressar sua identidade e cultura.
iante dessa análise, partindo das filosofias de Byung Chul Han e da literatura de Carolina
Maria de Jesus, observa-se uma convergência intrínseca na compreensão do conceito
de "não-lugar". Ao nos referirmos a "não-lugar", estamos abordando duas realidades
complementares, porém distintas: os espaços criados para propósitos específicos (como
transporte, comércio, lazer) e a relação dos indivíduos com esses espaços, conceituada
por Han como "estar no mundo". Embora essas relações sejam amplamente praticadas
(as pessoas viajam, compram, descansam), elas não se confundem, pois os "não-
lugares" envolvem uma gama de interações consigo mesmo e com os outros que têm
uma ligação indireta com seus propósitos originais. Esses espaços geram uma
atmosfera marcada pela solidão e tensão, descrita por Han como o sentimento de "estar
em casa".
Entre o encontro de Marc Augé e Byung Chul Han, vislumbra-se na obra a
materialização dos conceitos atribuídos pelos autores, especialmente quando se analisa
a perspectiva de Maria Carolina de Jesus (2021, p.50):
Eu deixei o leito as 3 da manhã porque quando a gente perde o sono começa pensar
nas misérias que nos rodeia. (...) Deixei o leito para escrever. Enquanto escrevo vou
pensando que resido num castelo cor de ouro que reluz na luz do sol. Que as janelas
são de prata e as luzes de brilhantes. Que a minha vista circula no jardim e eu contemplo
as flores de todas as qualidades. (...) E preciso criar este ambiente de fantasia, para
esquecer que estou na favela.
Destarte, existem lugares que apenas ganham vida através das palavras que os
descrevem, não sendo lugares concretos, mas sim construções imaginárias,
representações utópicas ou clichês. Esses espaços são conceitos simbólicos ou
culturais, criados e mantidos por meio de representações linguísticas ou culturais,
possuindo significados profundos, embora não se refiram a espaços físicos palpáveis
(AUGÉ, 1994).
O trabalho, portanto, tem como objetivo analisar a obra “Quarto de Despejo – Diário de
uma favelada” e as desigualdades narradas por Carolina Maria de Jesus, dentro das
condições do "não-lugar" e da dimensão ritualista anunciada por Byung-Chul Han.
Adotar-se-á como percurso metodológico uma diálogo a partir da obra de Carolina Maria
de Jesus com a filosofia de Byung Chul-Han e a reflexão proposta por Augé.
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Como resultado, espera-se que, ao compreender as condições dos "não-lugares" com


base na filosofia de Byung Chul Han, seja possível ampliar a compreensão das
dimensões territoriais e das experiências e valores das comunidades marginalizadas.
Isso implica reconhecer a humanidade dessas comunidades e suas manifestações de
resistência na busca por um lugar que possam chamar de lar.

GT ONLINE 12 – Direito e Arte


Autor Rafael Tubone Magdaleno Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título "Não! A Justiça Francesa não é implacável": Perrot de Chezelles e a recepção de "Os
Miseráveis" de Victor Hugo pelos juristas no século XIX.
Resumo Victor Hugo, clássico da prosa e poesia francesa, intervém em seu tempo, tanto na
formulação e reformulação de um vocabulário político próprio, como materialmente
produzindo atos políticos por meio de obras literárias, dentre elas "Os Miseráveis". Um
dia antes da publicação de "Os Miseráveis", os leitores do jornal “La Presse”, por
exemplo, observam que “as magnificências de Notre-Dame de Paris” foram unidas à
análise do "O último dia de um Condenado" para produzir uma obra sobre “as misérias
de nosso estado social colocadas a nu com franqueza, mas explicadas com equidade ”
(NEFFTZER apud BACH, 1962, p. 595).
Quando, em 03 de abril de 1862, é publicada a obra "Os Miseráveis" rapidamente se
nota que o romance "esforça-se por ser um ato político" (BACH, p. 1596) e a recepção
da obra é bastante difundida por muitas camadas e grupos sociais e profissionais. Obra
que retrata a relação entre o Direito e a Miséria, entre a força bruta da lei e a
desigualdade material, os juristas frente à obra se debruçam sobre as verossimilhanças
jurídicas apontadas pelo autor e aproveitam-nas para expor seu próprio pensamento
sobre o direito e as necessidades de reformas jurídicas de seu tempo.
Dentre esses autores, temos Ernest Perrot de Chezelles (1825-1899), à época
procurador imperial em Châlon-sur-Marne, mas que terminara sua carreira como juiz de
instrução no Tribunal de la Seine. E. Perrot de Chezelles elabora, na edição de 1863 da
Révue critique de législation et de jurisprudence, uma importante publicação jurídica à
época, um longo comentário crítico sobre a obra hugoana.
A tonalidade do comentário pode ser notado desde sua epígrafe espinosana "non fiere,
non indignari, sed inteligere" a sugerir que a indignação não é caminho, mas sim a
compreensão, a intellegentia. E quem é capaz da inteligência não indignada? Ora,
naturalmente aqueles que, “como magistrado do ministério público” se esforçam em ser
“simplesmente sério e sincero – não violento e floreado, como são habitualmente os
advogados gerais” (PERROT DE CHEZELLES, 1.863, p.72), de forma nenhuma os
autores de romances ou filósofos sociais... Perrot de Chezelles pretende, portanto, fazer
um balanço do que, naquela obra anunciada como “o livro por excelência – Biblia e novo
testamento do futuro” (PERROT DE CHEZELLES, 1863, p. 68) , pode ser tomado ser
seriamente, desde que analisado a partir de verossimilhanças com a sua época.
A conclusão a que chegará é que a Victor Hugo, apesar de bastante imaginativo, falta
as faculdades de julgar ("luz dos espírito que permite discernir a relação entre as coisas")
e do gosto ("sentimento do verdadeiro, do justo e do belo"). O caminho que o jurista faz
para chegar até essas conclusões é o que exporei em minha comunicação.

GT ONLINE 12 – Direito e Arte


Autora Maria Eduarda Siuffo de Oliveira Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título "Sautés” das bailarinas em descompasso: desigualdades nas relações de trabalho das
companhias de dança.
Resumo "A minha arte é um esforço para expressar a verdade sobre mim em gestos e
movimentos" (Duncan, 2012, p.11). A célebre frase da coreógrafa e bailarina Isadora
Duncan em sua autobiografia “My life” ressoa não apenas como uma declaração
apaixonada sobre a arte da dança, mas também como um prenúncio das complexidades
inerentes à profissão da bailarina. Isso porque, para além do esforço a ser interpretado
no palco como forma de expressão artística, há, também, inúmeras dificuldades
enfrentadas por essas profissionais, no que tange ao seu labor, ao analisar as relações
de trabalho firmadas entre elas e os seus empregadores.
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Nesse contexto, surge o presente trabalho, extraído da pesquisa de monografia em


andamento dessa autora, intitulado “O pas de deux entre a bailarina e o seu empregador:
relações trabalhistas e precarização do trabalho das bailarinas na cidade de salvador”,
dedicando-se a uma investigação jurídico-exploratória e propositiva, cujo intuito é
compreender e analisar as relações de trabalho dentro de uma companhia de dança,
bem como o impacto dessas relações na precarização do trabalho dos seus membros.
Ressalte-se, também, que a autora deste trabalho é bailarina profissional há cinco anos
e atua como professora de ballet em uma escola de dança privada. Dessa forma, a ideia
do tema surgiu a partir da sua experiência profissional, na qual foi possível observar,
previamente, a existência da instabilidade na carreira artística e certa carência de
proteção social dos trabalhadores da dança.
Nessa perspectiva, a propósito do trabalho da bailarina dentro de um companhia de
dança, surgem indagações acerca dessa modalidade de labor, principalmente
relacionadas às suas especificidades, inerentes ao trabalho. Qual a natureza do vínculo
entre o profissional e a companhia de dança? Existe uma organização hierárquica e
especializada do trabalho dentro das companhias de dança? A posição dos bailarinos
influencia nas condições de trabalho, remuneração e segurança no emprego?
Estes questionamentos são importantes para que se possa analisar as desigualdades
nas relações trabalhistas no setor da dança à luz das regulamentações e leis trabalhistas
vigentes. A precarização do trabalho dentro dessas relações é uma questão relevante
para o campo jurídico e sociológico, principalmente sob a ótica da sociologia do trabalho,
uma vez que levanta preocupações sobre as desigualdades presentes dentro de um
mesmo setor de trabalho, principalmente em relação à remuneração, benefícios sociais
e condições da atividade laboral.
Para a elaboração do trabalho, o marco teórico no campo da sociologia do trabalho é
composto, essencialmente, pelas contribuições da socióloga Graça Druck e do
Professor Ricardo Antunes, principalmente no que tange às delimitações do conceito de
precarização do trabalho.
Além disso, também será utilizada a concepção trazida por Antonia Nacht quanto aos
tipos de companhias de dança: Companhia/projeto independente; Companhia particular
com patrocinador estável; Companhia público e dois conceitos criados pela filósofa
Annelies Van Assche, quais sejam, heart jobs (em tradução livre, trabalho de coração),
ou seja, o trabalho realizado por vocação e gosto, e wallet jobs (em tradução livre,
trabalho de carteira), os trabalhos aceitos principalmente por razões financeiras.
No âmbito jurídico, mostram-se fundamentais para a definição de conceitos básicos de
trabalho e Direito do Trabalho as concepções de Maurício Godinho Delgado, bem como
do Professor Lawrence Estivalet sobre as contratualidades espoliativas.
A escolha do termo “Sauté” (em francês, saltar) no título do trabalho faz referência a um
conceito do ballet clássico, que consiste num pequeno salto. Nesse sentido, a autora
faz uma espécie de analogia para com as relações de trabalho no meio artístico - mais
especificamente às bailarinas profissionais, tendo em vista os “saltos” de desigualdade
dentro da composição hierárquica nas companhias de dança e o impacto dessas
desigualdades no trabalho das profissionais.
Diante do exposto, o trabalho busca lançar luz sobre as relações trabalhistas nas quais
as bailarinas estão inseridas, explorando as desigualdades no ambiente de trabalho e
suas influência nas condições de emprego para, a partir disso, verificar se a posição
desses bailarinos na “empresa” possui relação com a precarização da sua atividade
laboral.
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X JORNADA BRASILEIRA DE FILOSOFIA DO DIREITO E SOCIOLOGIA DO DIREITO


PROGRAMA DE GRUPOS DE TRABALHO PRESENCIAIS

GT PRESENCIAL 1 – Teoria e Filosofia do Direito I


Autor Uirá Menezes de Azevêdo Sala C21 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título O que é isto - ter um direito? Alcances de uma aproximação analítico-formal ao conceito
de direitos subjetivos a partir do pensamento de Wesley N. Hohfeld.
Resumo A pesquisa explora os alcances de uma aproximação analítico-estrutural do conceito de
direitos (subjetivos), com o objetivo geral de compreender sob quais condições teóricas
a noção de “ter direitos” é coerente com um uso não necessariamente limitado à
linguagem estritamente jurídica.
O trabalho defendeu que concepções relacionais como a hohfeldiana, de direitos como
posições normativas, caminham para um modelo que, além de contribuir para um melhor
raciocínio jurídico-prático, pode responder às críticas negacionistas e restritivas do
conceito de direitos.
A pesquisa foi dividida em três etapas. A primeira se dedicou a estabelecer o problema
geral e o caminho para enfrentá-lo.
Se, por um lado, são muito escassas as posições, opiniões, reivindicações, críticas ou
aspirações relacionadas com a vida social e política que não possam ser expressas
utilizando o termo “direitos”; por outro, a noção de direitos também encerra um conceito
controverso.
Identificou-se 03 (três) obstáculos mais frequentes para uma aproximação conceitual
sobre os direitos: (a) a profusão de significados, (b) a imprecisão/vagueza da expressão,
e (c) o problema da emotividade envolvida nos discursos sobre direitos. Tais obstáculos
estimularam o aparecimento de muitos substitutivos terminológicos e vários epítetos ou
qualificadores: “direitos subjetivos”, “direitos públicos subjetivos”, “liberdades públicas”,
“direitos naturais”, “direitos morais”, “direitos humanos”, “direitos do homem”, “direitos
fundamentais”, etc.
Esses substitutos terminológicos, que responderam a variados contextos históricos,
foram respondidos com reações críticas (teórico-positivistas) que defenderam a
restrição de seu significado ante a alegada imprecisão e ambiguidade da noção de
“direitos naturais” (séc. XVIII).
Daí a necessidade de que a pesquisa discutisse as críticas dirigidas ao conceito, ou a
certas variantes dele, a fim de delimitar as razões e pressupostos dessas reduções e
críticas, e poder examinar se a proposta de Hohfeld ofereceria - como era a hipótese -,
ou não, respostas a elas.
O segundo passo foi, então, identificar e discutir essas críticas: escolheu-se as de León
Duguit, Alf Ross, Jeremy Bentham e Hans Kelsen.
As 04 (quatro) críticas têm como ponto de partida comum a dicotomia entre “Direito” no
sentido objetivo (como regra ou sistema de regras), e “direito” no sentido subjetivo (como
poder, faculdade ou prerrogativa).
Enquanto Duguit e Ross negam a própria existência da ideia de direitos subjetivos (por
falta de relevância teórica, ou por falta de correspondência na realidade empírica);
Bentham e Kelsen criticam uma certa definição de direitos, tecnicamente inadequada,
que poderia dissociá-los das ideias de governo, coerção do Estado.
Esta segunda etapa do trabalho sugeriu, por um lado, que as críticas negacionistas de
Ross e Duguit também partem de pressupostos empiristas (“os direitos não são uma
realidade com correspondência na experiência sensível”), e por outro, que a tese da
correlatividade entre direitos e deveres é central nas críticas reducionistas do conceito
de direitos subjetivos (caso de Bentham e Kelsen).
A terceira e última etapa da pesquisa foi o estudo da proposta estrutural de Hohfeld e o
exame do alcance de sua análise dos direitos como posições relacionais; das
contribuições que ela aporta sobre os significados das relações entre direitos e deveres;
e sobre que portas ela abre para o avanço e desenvolvimento do tema.
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A diferenciação lógica que Hohfeld faz não só entre privilégios e pretensões, mas
também o isolamento das noções de imunidade e poder, com a correspondente
identificação dos seus opostos e correlativos, permite afirmar que os direitos, em sentido
lato, são, em grande medida e até certo ponto, formal e estruturalmente
(conceitualmente) independentes de deveres e obrigações; e não seus correlativos
automáticos ou seus meros reflexos (Kelsen). Pode-se dizer e compreender
perfeitamente que alguém tem um direito sem que, para isso, se pressuponha que um
terceiro tenha necessariamente e de antemão uma obrigação em relação a ele.
A redução dos direitos a reflexos de obrigações, ou a uma mera técnica de proteção e
garantia, enfrenta assim dificuldades lógicas, uma vez que a proteção pressupõe a
existência prévia do objeto a proteger; como também problemas de coerência com a
prática jurídica e legislativa em geral - de modo a sua correlação, pelo menos em termos
fortes, foi alvo de críticas difíceis de escapar.
Sendo o argumento da correlação entre direitos e obrigações central para a defesa do
uso da linguagem dos direitos restrita a contextos jurídico-positivos, uma vez dissolvido
pela abordagem estrutural, abre-se caminho para um uso teoricamente defensável do
conceito em outros discursos, como de crítica e reivindicação (moral, política).
A análise puramente estrutural de Hohfeld, em suma, é capaz de demonstrar que os
direitos não são apenas, como os liberais clássicos entendem nos seus modelos de
Estado, uma proteção contra a interferência de terceiros na sua esfera de liberdade, ou
proibições contra danos de terceiros. Direitos podem ser reivindicações ou expectativas
de gozo de algo, de que algo aconteça, ou a um determinado estado de coisas, que por
sua vez fundamentam, contrafacutalmente, a fixação de proteções e obrigações de
terceiros.

GT PRESENCIAL 1 – Teoria e Filosofia do Direito I


Autora Franciele Coutinho Vizzotto de Barros Sala C21 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título Promessas e o conteúdo do direito: um diálogo entre Kelsen, Hart e Hershovitz.
Resumo Hans Kelsen foi e continua sendo um importante jurista do século XX em razão de sua
elaboração influente e sofisticada teoria do conteúdo do direito. Esta versão teve como
principal percursor o positivismo jurídico com base no ideal de cientificidade extraído
das ciências naturais. Kelsen teve uma extensa e complexa produção de trabalhos sobre
diversos temas, estima-se que ao longo de sua vida profissional tenha sido publicado
mais de quatrocentas obras sobre os mais variados temas. Exclusivamente a Teoria
Pura do Direito passou por duas edições, sendo que a segunda versão foi realizada no
ambiente anglo-saxônico junto com outra obra Teoria Geral do Direito e do Estado.
Contudo, conforme será visto neste trabalho, o ideal de objetividade científica de Kelsen
desenvolvida por meio da Teoria Pura do Direito, passará por alguma críticas, em
especial por Hebert Hart também filósofo do direito, tal qual, por meio de sua obra O
Conceito de Direito, enfrentou os componentes que envolvem a doutrina da norma
fundamental de Kelsen. Hart dedicará sua obra para fazer uma teoria analítica do direito.
Dentre os tópicos criticará o âmbito de aplicação, a necessidade de coerção e os atos
pelas quais a norma fundamental de Kelsen é deliberada. É no âmbito de aplicação, ou
seja, a análise daqueles que fizeram a norma e aqueles que se sujeitarão à ela que Hart
criticará o modelo de ordens apoiadas por ameaças, dado que para Kelsen o direito é
uma ordem coativa.
De acordo com Kelsen uma norma fundamental fará sentido se houver atos de coação
globalmente eficazes. Para o jurista austríaco, assim como para Austin, a concepção do
conteúdo do direito foi desenvolvida de acordo com uma teoria do comando. A teoria
afirma, resumidamente, que a norma fundamental são comandos emitidos por uma
autoridade soberana reconhecida dentro de um sistema jurídico, os comandos serão
acompanhados por uma sanção caso não seja cumprido. Nesse sentido, a obediência
habitual são condições necessárias e suficientes para determinar quem detém o poder
soberano capaz de certifica-la como norma fundamental.
Em objeção à teoria, Hart defenderá que esta não é a melhor forma de compreender o
direito, dado a importância de que todos devem estar vinculados às normas. A ideia de
norma como coerção, no entanto, sugere que apenas o sujeito à ordem está vinculado
à norma. A qualidade autovinculante de uma norma, nesse sentido, pode ser
compreendida de outras forma que não sejam somente o uso da coerção. Hart vai utilizar
60

como modelo os casos das promessas ou casos em que se assumem compromissos


para compreender algumas das características do direito.
É sobre esta temática que o presente trabalho se desenvolverá. Sobre as promessas
como conteúdo do direito. As promessas tem parte fundamental nas interações
humanas como um dos papeis centrais na formação de obrigações e expectativas. Ao
examinar como as promessas são tratadas no contexto jurídico, podemos obter uma
compreensão mais profunda da natureza do direito e de como ele é construído sobre
relações interpessoais.
Diante da limitação do tema, o problema motivador do trabalho gerará em torno da
seguinte dúvida: as promessas podem fornecer uma base mais sólida para a
fundamentação do conteúdo do direito do que a teoria positivista kelseniana? A hipótese
é a de que Kelsen dirá que o objeto jurídico tem uma dupla dimensão, isto é o significado
jurídico produzido por uma norma envolve interpretação, ou seja, algo que foge do
critério fisicalista. Com isso, os filósofos que desconstruíram o paradigma da filosofia
clássica do direito, iniciando por Hart, trarão de forma mais sólida e lógica a presença
da moral para o conteúdo do direito e, no pacote, as promessas.
Os objetivos do trabalho, nesse sentido, será: analisar a teoria do conteúdo do direito
de Kelsen, em especial a doutrina da norma fundamental, analisar as objeções de Hart
à estas, e por fim, analisar as promessas como conteúdo do direito na visão de Scott
Hershovitz. A metodologia empregada será a pesquisa bibliográfica e o método
hipotético-dedutivo. O trabalho se guiará por meio de três tópicos principais: 1) a
objetividade cientifica de Kelsen e a doutrina da norma fundamental; 2) a objeção de
Hebert Hart acerca da doutrina da norma fundamental e, por fim, 3) as promessas como
conteúdo moral do direito.

GT PRESENCIAL 1 – Teoria e Filosofia do Direito I


Autores Cezar Cardoso de Souza Neto Sala C21 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Nuno Manuel M. dos Santos Coelho
Título O saber e a política em Tomás de Aquino: dignidade e justiça na construção do bem
comum.
Resumo A análise das raízes culturais do Ocidente, o conceito de natureza política do ser
humano, desenvolvido por Tomás de Aquino, constata a influência aristotélica no sentido
de comunidade política como busca o bem comum, em que o conceito agostiniano de
dignidade humana evidencia sua relevância na estruturação jurídico-política ocidental.
Dotado de um intelecto aberto, o Aquinate procura conhecer as múltiplas formas do
saber, contribuindo no avanço da cultura ocidental e, estruturando uma forma de
participação no conhecimento que rompa com a desigualdade e possa servir como base
para uma nova maneira de pensar a comunidade política. Ademais, amplia os estudos
sobre a contribuição aritotélico-tomista ao pensamento jusfilosófico, político e histórico
ocidental.

GT PRESENCIAL 1 – Teoria e Filosofia do Direito I


Autor Pedro Henrique do Prado Haram Colucci Sala C21 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título A Filosofia da Punição de Antony Duff e o circuito dos standards probatórios: uma
proposta de aproximação a partir do realismo jurídico.
Resumo 1.Introdução: O campo da Epistemologia Judiciária tem como enfoque analisar a
produção e a valoração do conhecimento no âmbito do direito, isto é, a própria
possibilidade epistêmica de “[...] se atingir um conhecimento verdadeiro sobre a
determinação dos fatos para imposição de consequências normativas” (Badaró, 2019,
p. 77. A dimensão da prova ocupa a centralidade do debate sobre controle epistêmico
da decisão judicial penal, especialmente na instituição de standards probatórios na
investigação e nas fases processuais para aproximar o processo penal dos métodos e
técnicas testados e recomendados pela psicologia cognitiva (Matida; Herdy, 2019).
O crescente debate sobre raciocínio probatório aponta para uma estruturação de
agenda de pesquisa interdisciplinar que visa desativar os circuitos de processos
decisórios presos às contingências do senso comum, isto é, comportamentos de tomada
de decisão que ignoram a complexa cadeia de influência das intuições, vieses,
heurísticas e preconceitos velados que formatam e distorcem a determinação dos fatos
61

e as respostas jurídicas (Wojcioechowski; Rosa, 2021). A metodologia adotada nesse


estudo está centrada na recensão da literatura relacionada aos três eixos mencionados.
Como forma de localização desse movimento de crítica ao formalismo normativo e de
enfrentamento dos problemas que se descortinam quando os conceitos jurídicos
abstratos encontram a dimensão da realidade material, recorre-se ao movimento do
Realismo Jurídico Norte-americano, e sua proposta de abertura interdisciplinar do direito
com outras ciências (Frank, 1930; Llewellyn, 1931). Trata-se de buscar interpretar o
fenômeno da decisão judicial em diálogo com outros campos.
2 Desenvolvimento: Tanto o campo da epistemologia judiciária e do raciocínio probatório
estão preocupados com as ambições epistêmicas de provas e verdades por meio do
processo, isto é, o processo de como decidimos exatamente quem é culpado de quê e
qual a punição (se for o caso) devida, um tópico em que Antony Duff, jusfilósofo norte-
americano do direito penal, foi pioneiro. Duff (2015) busca em sua empreitada
jusfilosófica perscrutar as estruturas do edifício teórico do processo penal em suas
unidades mais reduzidas, questionando premissas dadas como postas pela dogmática
e que entram em conflito no momento da tomada de decisão ao se encontrarem com os
fatos concretos quando são alcançadas pela realidade material. Um exemplo é o ponto
fulcral em sua obra: a presunção de inocência: “O que é que se presume, por quem, de
quem? Qual é o efeito dessa presunção? O que é que a pode derrotar?” (Duff, 2013, p.
170).
Enquanto postulado basilar, Duff (2023) conduz seu pensamento calcado nas ideias que
estruturam o direito penal liberal a partir dos escritos de Marat e Beccaria no século XVIII
(Rodríguez, 2016) sobre os limites do poder de punir, tendo como balizas fixas que o
Estado só tem o direito de impor punições quando puder demonstrar, calcado em um
arcabouço probatório apropriado, que um indivíduo deve ser responsabilizado pelo
cometimento de uma ação criminosa já prevista anteriormente, seja por ação ou
omissão.
Assim, tendo como foco repensar as cláusulas gerais abstratas da realidade a partir de
uma perspectiva realista em movimento, busca-se uma aproximação interdisciplinar
para o reconhecimento das limitações e falibilidades inerentes à averiguação dos fatos
judiciais (Summers, 2023).
Coclusão: Dessa forma, se a premissa que sustenta a agenda interdisciplinar desta
pesquisa é o mau uso pelos juízes de seu livre convencimento e a falta de mecanismos
de controle institucionais da originalidade cognitiva do julgador, a solução não está em
acabar com o princípio da valoração livre, mas em desenvolver mecanismos de controle
epistêmicos sobre o processo de tomada de decisão e fixar standards que possam
assegurar um padrão mínimo, com lastro científico, na valoração da prova.

GT PRESENCIAL 2 – Direito e Desigualdade


Autor Luiz Fernando Coelho Sala C23 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título Escravidão e pelourinho: uma análise macrofilosófica.
Resumo O artigo refere-se à escravidão de negros africanos no Brasil colonial e suas
consequências para a sociedade brasileira. Mas não se trata do enfoque historiográfico
desse passado trágico e vergonhoso, que macula a história do Brasil e da humanidade,
mas dos mecanismos ideológicos que impregnaram a imagem do pelourinho, lugar de
castigo, dor e sofrimento, para transformá-la em símbolo de poder, autoridade e
jurisdição, uma análise macrofilosófica que envolve e psicanálise social e a teoria crítica
da sociedade.

GT PRESENCIAL 2 – Direito e Desigualdade


Autora Júlia de Paula Faria Sala C23 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título Entre Direito e Desigualdade: uma análise crítica das práticas jurídicas através da lente
filosófica contemporânea.
Resumo O presente estudo busca explorar as complexas relações entre direito, desigualdade
social através da filosofia contemporânea, com enfoque nos conceitos de Homo Sacer
de Agamben, Necropolítica de Mbembe e Biopolítica de Foucault. O problema central
da pesquisa é compreender como o direito, bem como os modelos sociais nele inseridos,
62

contribuem para a perpetuação de desigualdades sociais através de práticas de


exclusão e marginalização. Ora, a importância deste trabalho reside na necessidade
urgente de analisar como estas teorias filosóficas e sociológicas podem elucidar, criticar
e/ou solucionar os problemas, estratégias legais e políticas que moldam as condições
de vida em contextos modernos, que, por muitas vezes reforça a estratificação e
exclusão.
Portanto, este estudo busca investigar as bases filosóficas das práticas jurídicas de
exclusão e suas implicações para as desigualdades sociais, utilizando-se de conceitos
teóricos desenvolvidos pelos autores supracitados. De forma mais específica, pretende-
se analisar o conceito de Homo Sacer e sua aplicabilidade na explicação das zonas de
indistinção criadas pelo direito moderno; examinar como a Necropolítica e a Biopolítica,
se manifestam em políticas estatais que decidem sobre a vida e a morte em contextos
específicos; e avaliar como essas teorias se aplicam na análise de casos práticos que
marcaram a história mundial bem como seus efeitos ao longo prazo no contexto atual.
Destarte, é notória a importância de haver a elaboração correta desta temática com fim
de se compreender os mecanismos teóricos e práticos. Estes, por sua vez, interagem
com o direito através das forças políticas para que se configure então as realidades
sociais – muitas vezes resultando em exclusão e marginalização de grupos vulneráveis.
Ao explorar o questionado de como o direito pode ser instrumentalizado para justificar e
perpetuar desigualdades, esta pesquisa propõe uma reflexão crítica sobre as possíveis
reformulações das práticas legais e políticas, visando uma sociedade mais equitativa.
Vale ressaltar que a metodologia empregada neste estudo é qualitativa e interpretativa,
focando na análise de literatura secundária bem como partindo de revisão literária dos
textos dos autores citados anteriormente, bem como os conceitos dados por estes com
o fim de exemplificar os mecanismos contemporâneos de exclusão. O estudo pretende
iniciar com a revisão bibliográfica detalhada das obras destes autores, seguida pela
análise de como suas teorias podem ser observadas em políticas específicas que
regulam a vida e a morte.
Esta abordagem permitirá não apenas elucidar os aspectos teóricos, mas também
conectar essas teorias com a realidade prática, em enfoque na realidade político-social
brasileira. Proporcionando a concretização da importância da perspectiva crítica nas
análises jurídicas, argumentando que uma melhor compreensão das intersecções entre
direito e filosofia é essencial para desafiar as práticas existentes e promover mudanças
significativas nas políticas públicas.
Por fim, o presente estudo pretende contribuir para o campo do direito e da filosofia,
oferecendo uma análise crítica que pode informar tanto acadêmicos de ambas áreas
quanto formuladores de políticas sobre as maneiras pelas quais as práticas legais e
filosóficas podem ser alinhadas para combater a desigualdade e a exclusão social. Além
disso, espera-se que os resultados deste trabalho inspirem novas pesquisas e debates
sobre o papel do direito na sociedade contemporânea, especialmente em termos de
como ele pode ser reformulado para servir melhor aos interesses de justiça social e
igualdade.

GT PRESENCIAL 2 – Direito e Desigualdade


Autoras Angela Couto Machado Fonseca Sala C23 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Maria Luiza Giglio Muller
Título Vida sacrificial: a relação entre poder e vida no caso do aterro sanitário da Cidade
Industrial de Curitiba.
Resumo Este trabalho pretende discutir o conceito de "zonas de sacrifício" adotado no plano da
Ecologia Política, em particular a condição sacrificial das vidas lindeiras a um aterro
sanitário situado no município de Curitiba-PR, a partir da relação entre direito, poder e
vida. A pesquisa foi motivada pela atuação do Instituto de Democracia Popular (IDP),
organização da sociedade civil que atua com assessoria jurídica popular e política
urbana, que identificou nas reivindicações de diferentes comunidades situadas na
Cidade Industrial de Curitiba a insustentabilidade da permanência do aterro sanitário
mantido pela empresa Solvi Essencis S/A. Do ponto de vista jurídico, não obstante as
inúmeras irregularidades constatadas nos processos de licenciamento e licitação, a
continuidade do funcionamento das atividades do aterro após 27 anos tem representado
uma ameaça às comunidades lindeiras, consolidada área de habitação informal. O
63

discurso do poder público, seja na renovação das licenças de operação, seja na


argumentação apresentada nos processos de reintegração de posse, ou até mesmo na
comunicação oficial da Prefeitura, que reiteradamente aponta Curitiba como "cidade-
modelo" no que diz respeito às questões ambientais, parece não apenas legitimar a
manutenção do funcionamento irregular do aterro sanitário, como também reforçar a
precisão de sua localização. Observa-se a construção de uma narrativa quanto à
população que "não deveria estar ali", aludindo à informalidade das habitações e ao
zoneamento que prioriza o uso e ocupação predominantemente industrial no bairro mais
populoso da cidade, a qual consolida uma distribuição discriminatória de riscos
ambientais no que a Ecologia Política convencionou nomear "zona de sacrifício". Posto
esse quadro mais geral dos problemas que emolduram a presente pesquisa, nosso
recorte se ocupa em desdobrar do interior da noção de “zona de sacrifício” a categoria
do sacrifício em três diferentes análises: 1) suas articulações móveis no território do
sagrado e do profano – aqui nomeadamente o direito, 2) o modo como o sacrifício será
tomado na reflexão sobre a relação entre poder e vida – se quisermos, na esteira do
horizonte biopolítico e necropolítico aberto por Foucault na década de 70 – para pensar
os contextos das vidas sacrificáveis, pois não pertencem à proteção das coisas
humanas ou sequer à guarida protetiva das coisas sagradas e 3) como essas vidas da
região do aterro sanitário em Curitiba se constituem como sacrificiais e de que modo
podem ser compreendidas como sacrificiais.

GT PRESENCIAL 2 – Direito e Desigualdade


Autoras Flaviany de Paula Bezerra Sala C23 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Mikaelly Cristy Neves dos Santos
Título A Vulnerabilidade de crianças, adolescentes e mulheres enquanto vítimas do tráfico
humano na fronteira de Cáceres, Mato Grosso e Bolívia para fins de exploração sexual.
Resumo O presente resumo visa abordar uma realidade pouco conhecida, o tráfico de crianças
e mulheres nas fronteiras, especificamente na fronteira Cáceres MT e Bolívia, com a
finalidade de exploração sexual. A princípio se faz necessário entender a parte
conceitual e a forma que se configura.
O tráfico de pessoas é a prática de recrutar, transportar, transferir, abrigar ou receber
pessoas, utilizando meios como coerção, engano, ameaça ou abuso de poder, com o
objetivo de explorá-las, este crime está tipificado no Código Penal Brasileiro. Diante
disso, essa prática se torna mais recorrente nas fronteiras devido a situação
socioeconômica desta população, decorrente da falta de investimento em áreas
fundamentais, educação, saúde, desenvolvimento etc.
Além disso, pôr a fronteira ser extensa, não há o policiamento suficiente para conter e
controlar o fluxo intenso de imigrantes, no caso específico fronteira Cáceres MT e
Bolívia, sendo assim uma das rotas com maior probabilidade de Tráfico de Pessoas,
principalmente de mulheres, crianças e adolescentes, os menores por ser um alvo
vulnerável por questão de desenvolvimento pessoal e ainda podem ser “vendidos” pela
própria família, crime este tipificado no Estatuto da Criança e do Adolescente.
A mulher podendo ser enganada com falsas promessas de uma boa condição de vida,
em situação de vulnerabilidade pessoal, situacional e circunstancial acaba sendo vítima
deste crime.
Nesse contexto o objetivo é identificar as políticas públicas aplicadas na região da
fronteira, com relação ao Tráfico de Crianças e Mulheres, como também verificar a
implantação do Posto Avançado de Atendimento ao Migrante (PAAHM), para melhor
acompanhamento do fluxo de migrantes na fronteira de entrada e saída buscando assim
melhor segurança e diminuindo as chances do Tráfico de crianças e mulheres na região
de fronteira.
Métodos: O estudo teve como métodos utilizados pesquisa campo na região de fronteira,
onde se observou as questões acima citadas, dados de pesquisa da Estratégia Nacional
de Segurança Pública nas Fronteiras (ENAFRON) e análise de documentos do Comitê
de Estado de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (CETRAP MT) com
intuito de aprofundar e buscar respostas para os questionamentos correspondentes
tanto para as rotas do Tráfico de Pessoas como das Políticas Públicas de Enfrentamento
desse crime na região de Fronteira Cáceres MT e Bolívia.
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Resultados: Com base em pesquisas, os apontamentos mostram que a região norte da


fronteira Cáceres MT e Bolívia é apontada para implantação do Posto Avançado de
Atendimento ao Migrante (PAAHM), devido haver rotas que possibilita o tráfico
internacional de pessoas para Guiana e Suriname, consequentemente decorre a
vulnerabilidade das crianças, adolescentes e mulheres da região fronteiriça, pois está
presente somente o GEFRON, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal.
No tocante, ao Enfrentamento e amparo às vítimas do Tráfico de Pessoas que atende a
área fronteiriça, Cáceres MT e Bolívia temos o Comitê de Estado de Prevenção e
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (CETRAP MT) e o Núcleo Estadual de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETRAP MT), que juntamente com o Governo
do Estado e autoridades da Bolívia em pauta de reunião, trataram sobre a aplicabilidade
das políticas públicas.
As seguintes propostas foram de instalação do Posto Avançado de Atendimento ao
Migrante (PAAHM) em Cáceres MT conforme a política nacional e estadual de
enfrentamento ao Tráfico de Pessoas solicitado ao Ministério da Justiça e Segurança
Pública, solicitado também ao Ministério das Relações Exteriores que fosse instalado
um consulado brasileiro em San Matias e San Inácio, pois o consulado mais próximo
está localizado em Santa Cruz de La Sierra e impede o acesso dos mais vulneráveis.
Dentre as políticas públicas promovidas pela CETRAP MT e Centro de Direitos
Humanos em visita às escolas fronteiriças, foi a implementação de palestras e ações de
conscientização e prevenção ao Tráfico de Pessoas.
Conclusões: Diante do exposto observa-se que neste momento há somente a presença
do CETRAP MT e NETRAP MT no enfrentamento, prevenção e amparo as vítimas do
tráfico de pessoas na fronteira Cáceres MT e Bolívia no desenvolvimento de ações de
enfrentamento ao tráfico de pessoas nas escolas fronteiriças, com relação a implantação
do Posto Avançado de Atendimento ao Migrante (PAAHM) ainda se encontra em
análise.
Além do projeto de extensão promovido por nós acadêmicas do Curso de Direito da
Unemat Cáceres com intuito de mobilização, conscientização, prevenção e amparo as
vítimas por meio de palestras, oficinas, dentre outras dinâmicas nas escolas e
Universidades de Cáceres e da fronteira, objetivando difundir informações à sociedade
cacerense e chamar atenção dos órgãos competentes sobre o tema Trafico de Meninas
e Mulheres para fins de Exploração Sexual, principalmente na região de fronteira para
que tenhamos as respectivas concretizações das propostas acima citadas, buscando
diminuir esse índice tão alarmante do Tráfico Humano.

GT PRESENCIAL 2 – Direito e Desigualdade


Autores Cezar Cardoso de Souza Neto Sala C23 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Maria Rafaela Junqueira Bruno Rodrigues
Título Entre o lucro e a dignidade: o contributo de Bartolomeu de Las Casas.
Resumo O embate entre o desenvolvimento econômico, que visa o lucro e gera a exclusão social,
e a defesa dos excluídos, originou-se no período colonial com o testemunho de
Bartolomeu de Las Casas. Fundada no eurocentrismo, a superioridade europeia
estabeleceu-se como forma colonial de dominação e exclusão social ao justificar a
desigualdade e a exploração, o que ainda se mostra atual. Permanece a necessidade
da superação das desigualdades, da proteção da natureza e em defesa dos explorados,
principalmente, as populações originárias. Evidencia-se a relevância da construção
histórica das desigualdades como elemento de dominação, bem como a defesa dos
explorados e a denúncia da desigualdade como forma de perpetuação da manutenção
no poder e a necessidade dessa discussão na atualidade.
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GT PRESENCIAL 3 – Direito Constitucional, Teoria do Estado e Direito Público I


Autores Lucas Bruno Amaral Mendes Sala C24 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Paulo Afonso de Ávila Carvalho Filho
Título Desigualdade e diferença entre Estados: a necessidade de reimaginação do Conselho
de Segurança das Nações Unidas.
Resumo Se realizarmos um breve resgate histórico acerca dos esforços humanos em estabelecer
uma ordem internacional harmônica e que preserve a paz, conseguimos ver três
modelos distintos, embora em certas características semelhantes, que são
fundamentalmente construídos para evitar conflitos entre Estados. Ao olharmos para o
século XIX, decorrente das guerras napoleônicas, os impérios resistentes e vencedores
se reuniram no Congresso de Viena, em 1814-1815, para organizar uma nova ordem
internacional, sustentada pelo equilíbrio de poder e na aliança de países que possuem
valores comuns. No segundo modelo, mais sofisticado que o primeiro e com o intuito de
“acabar com todas as guerras”, vemos que se buscou firmar uma ordem internacional
baseada em um diretório de Estados-potências assistidos por uma Liga, em que todos
os Estados pudessem participar. A Liga das Nações, não obstante seus esforços em
também desenhar um sistema de Estados harmônico e que preserve a paz, se mostrou
menos eficaz que o desenho de paz estabelecido em Viena, pouco mais de 100 anos
antes da criação dessa nova Organização (1920). Da mesma forma que o sistema de
Viena definhou e se mostrou insuficiente para compreender os desafios da política
internacional e evitar um conflito entre as grandes potências imperiais da época, a Paz
Wilsoniana (com seus 14 pontos) se apresenta quase como irrealizável, descolada da
dinâmica de poder no sistema internacional e dentro de vinte anos, como lembra Carr
em Vinte anos de crise 1919-1939, se finda com a Segunda Guerra Mundial.
Notadamente, e aqui inserimos o terceiro modelo, uma nova forma, embora semelhante
ao idealismo wilsoniano do pós-Primeira Guerra, de garantir a harmonia e paz entre
Estados, a Organização das Nações Unidas (ONU), sustentada, ainda atualmente, pelos
vencedores da Segunda Guerra Mundial. Ainda que pese as críticas a um modelo que
representa uma ordem de mais de 75 anos, a ONU é hoje o organismo internacional que
reúne 193 países e tem como objetivo contribuir na preservação da paz entre os
Estados, além dos objetivos e esforços definidos por diversas Convenções e Tratados
Internacionais sobre a extensão de sua funcionalidade. Entretanto, entre o que
funcionou e o que não funcionou no âmbito das Nações Unidas, o presente trabalho
propõe refletir acerca dos seus malogros. Sobretudo, acerca da formação do Conselho
de Segurança, que garante apenas aos membros permanentes a prerrogativa de veto,
concentrando o poder nos vitoriosos da Segunda Guerra, cabendo aos demais membros
a “condição de clube de debates, com poderes residuais”. Nesse contexto, o
pensamento de Mangabeira Unger se fará imprescindível para o intuito da presente
pesquisa. Ao compreender a sociedade como um artefato, Unger nos fornece chaves
para interpretar as instituições como recursos infinitos da cultura, capazes de serem
reimaginados de acordo com a movimentação da realidade. E não seria diferente com
esse órgão tão relevante para o mundo num contexto de globalização. Reimaginar o
Conselho de Segurança das Nações Unidas, portanto, é um exercício para refletir
acerca dos bens públicos globais, que Unger definirá como “benefícios para toda a
humanidade, que Estados soberanos são incapazes de assegurar por sua iniciativa
independente”, embora desejem efetivar. Nesse sentido, seria de responsabilidade do
Conselho direcionar a ação dos Estados não para um “amontado de soluções distintas
para problemas práticos desconectados”, e sim para um projeto coerente capaz de lidar
com o diferente, com o inacabado e com o inesperado. Para isso, pensar na diferença -
e não na desigualdade - dos Estados é imprescindível para o presente trabalho, uma
vez que “a humanidade só desenvolve seus poderes desenvolvendo-os em direções
diferentes”. Lutar contra a formação atual do Conselho de Segurança, no qual as
decisões não são cumpridas, efetivamente, nem mesmo pelos seus membros, e contra
a falta de diversidade cultural nas cadeiras do Conselho são tarefas essenciais para se
pensar um projeto de futuro em que a diversidade civilizacional e a soberania dos
Estados sejam os princípios em voga. Huntington, já na década de 90, nos alertava
quanto ao choque de civilizações e ao já desgastado molde do Conselho, e é propositivo
ao estabelecer que “em um mundo civilizacional, o ideal seria que cada civilização
principal tivesse pelo menos um assento permanente no Conselho de Segurança.” Não
66

à toa, diversos países, excluídos desta configuração atual, fazem suas propostas de
serem incluídos novos membros, mas todos em completa frustração. O próprio Brasil,
em diversas tentativas, protagonizou tentativas de reorganização das cadeiras
permanentes, mas sem nenhum êxito. Assim, o presente trabalho pretende refletir
acerca da desigualdade entre os Estados e a ineficiência da atual conjuntura do
Conselho de Segurança, na tentativa de reimaginá-lo a fim de pensar uma organização
em que pese a diferença e a diversidade cultural na completa e necessária afirmação
da autodeterminação dos povos.

GT PRESENCIAL 3 – Direito Constitucional, Teoria do Estado e Direito Público I


Autores Rubens Beçak Sala C24 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Matheus Conde Pires
Título Democracia Utópica: por um adjetivo aberto.
Resumo A utopia carrega consigo seu estigma como algo inalcançável, inatingível e irrealizável.
Os utópicos são alocados em posições marginais como meros sonhadores
desconectados do mundo real. Um esforço utópico seria um gasto enérgico
desnecessário e, assim, o sentido original da palavra se perde diante do suposto
realismo. O “Não Lugar” de Thomas More de fato carrega um sentido idealista, mas
oferece um giro para deslocar o centro de poder. Se em sua realidade a estrutura
sociojurídica era fundamentada em algo metafísico, em Utopia as instituições gestadas
pelo homem caminham em direção a um “lugar feliz”. Em outras palavras, trata-se de
uma sociedade auto constituída, de forma a abrir espaço para colocar a ação humana
em destaque. A Utopia possui um aspecto autoritário ao indicar um único caminho ideal
a ser seguido, como se não houvesse alternativas ou outras possibilidades possíveis.
Nesta direção, o “Não Lugar” é associado ao sentido de um espaço de dever-ser
inexistente. Porém, a presente investigação se afasta do aspecto normativo para
explorar outra via, associando o termo ao signo de “lugar vazio”. No contexto moderno
a Democracia se apresenta acompanhada sempre de um adjetivo: constitucional, liberal,
representativa, dentre outros. Os adjetivos demonstram sempre uma restrição à
expressão democrática, como se a mesma estivesse em menoridade e precisasse de
alguém ao lado. Assim, a Democracia estaria restrita aos limites constitucionais, à
expressão representativa ou ao cumprimento de princípios universais sedimentados ao
longo da história. Este movimento parte do pressuposto de que Democracia e
constitucionalismo, se não são sinônimos, se complementam. Como se o
constitucionalismo fosse a precondição do estabelecimento democrático, tornando-se
seu fundamento. A Democracia seria fundamentada a partir de preceitos éticos e morais
pretensamente universais e determinados. Ou seja, há uma inversão na qual o ideal de
soberania popular é marginalizado e tratado como coadjuvante em sua própria
constituição . O “Povo”, nomeado como soberano, pode decidir, porém dentro de
determinadas limitações estabelecidas. Tais restrições são naturalizadas, o que oculta
seus aspectos contingentes e, por conseguinte, a própria arbitrariedade que lhe envolve.
Isto posto, a presente pesquisa parte do seguinte questionamento: é possível pensar a
Democracia sem fundamento? A hipótese sustentada consiste na ideia de que adjetivar
a Democracia como utópica permite inverter a lógica presente no léxico dominante e,
assim, resgatar o potencial democrático em torno do ideal de soberania popular. A ideia
de Democracia Utópica consiste em oferecer um adjetivo sem uma restrição definida. A
Utopia no sentido de “lugar vazio” abre as portas para pensar a democracia sem um
fundamento plenamente estabelecido. Não significa negar a existência ou a
necessidade da formulação de um fundamento para a prática democrática, mas sim
percebê-lo como uma construção social e discursiva, encarando de frente a não
neutralidade das institucionalidades constituídas. Tal termo também permite ressaltar
que toda prática democrática carrega necessariamente seu resquício arbitrário. Este
raciocínio não recai necessariamente na negação da prática democrática, mas na
necessidade de concebê-la sem um fundamento plenamente determinável. A utopia
aponta para o futuro, para a Democracia em construção permanente, sem indicar um
ponto final determinado. Nesse sentido, o exercício de um pensamento utópico, de um
sonhador, consiste em pensar a institucionalidade de maneira permanentemente aberta.
Enquanto isso, aquele que se apresenta como pragmático, se prende em pretensas
ideias universais que sustentam uma realidade abertamente distópica. O utopista ao
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encarar de frente a precariedade dos termos democráticos estabelecidos possui maior


capacidade de oferecer respostas práticas do que os teóricos intencionados em salvar
sua democracia presa em princípios transcendentais.

GT PRESENCIAL 3 – Direito Constitucional, Teoria do Estado e Direito Público I


Autores Sergio Franco de Lima Filho Sala C24 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Juliana Castro Torres
Título "Isegoria", processualidade e os planejamentos urbanos: importância da participação
democrática.
Resumo A Constituição Federal de 1988 concebeu a República Federativa do Brasil como sendo
um Estado Democrático de Direito, fixando a cidadania com um dos seus fundamentos
centrais. Nesse contexto, de importância primordial da democracia e da cidadania para
o Estado brasileiro, ganha especial destaque a necessidade de participação dos
cidadãos nos ambientes de tomada de decisão pública. Adquire fundamental relevância,
assim, a participação democrática dos cidadãos nas deliberações estatais que buscam
o bem comum. Não é sem razão que cada vez mais ganha força a ideia de
processualidade como parâmetro a ser seguido pelo Poder Público nas suas atuações
nas mais diversas frentes, inclusive na seara administrativa. Nem mesmo a edição de
meros atos administrativos pode ser vista, atualmente, como uma atuação isolada do
Estado ao exercer a sua atividade administrativa, sendo imprescindível que o ato do
Poder Público nessa esfera, isto é, que o ato administrativo seja o resultado de um
autêntico processo no âmbito do qual aos cidadãos tenham ficado garantidos o direito
de manifestação, o direito de voz e o direito de que as suas manifestações e as suas
falas sejam levadas em consideração pelo Estado no momento da edição do ato que o
processo tem a finalidade de preparar. Nessa perspectiva, não se adéqua ao Estado
Democrático de Direito, em que se constitui o Estado brasileiro segundo o art. 1º da
Constituição Federal, o ato administrativo autista, como diz Floriano de Azevedo
Marques Neto para criticar a atuação estatal que ignora por completo a participação
cidadã e democrática na definição dos rumos da coisa pública. E não é de hoje que essa
participação cidadã e democrática vem sendo destacada como fundamental para a
definição dos destinos que devem ser dados à "res publica". Já na Grécia antiga se vê,
com a democracia lá instituída, a participação dos cidadãos, em condições de igualdade,
como algo indispensável para a definição dos caminhos que deverão ser traçados para
a coisa pública em direção à consecução do bem comum. De fato, a "isegoria" presente
na democracia grega pode ser vista como forma de concretização da cidadania
democrática, tendo em vista o seu fundamento de garantia da oportunidade e da
igualdade de fala em assembleia para todos os cidadãos objetivando discutir e definir
os assuntos e as questões da "polis". E é nesse campo, da participação cidadã e
democrática, bem assim dos instrumentos que se destinam a viabilizá-la, que se coloca
o Plano Diretor, como importante mecanismo de atuação estatal que deve seguir o
padrão da processualidade, permitindo planejamentos e concretizações urbanas
adequadas a partir de um amplo diálogo com as populações afetadas. O Plano Diretor,
assim, deve ser tomado e tratado como um importante instrumento capaz de viabilizar
a intervenção democrática dos cidadãos nas ações do Poder Público, a fim de que
possam contribuir, com suas manifestações, visões e opiniões, para se atingir soluções
e decisões mais adequadas para os problemas urbanísticos decorrentes da
hiperurbanização, problemas esses que tanto têm contribuído para o aprofundamento
da desigualdade social, especialmente em centros urbanos de alta densidade
populacional. A pesquisa que se pretende desenvolver a partir deste resumo é teórica,
qualitativa e bibliográfica. O método que se pretende empregar é o dedutivo, valendo-
se de material histórico, sociológico e jurídico, a partir de livros e artigos científicos.

GT PRESENCIAL 3 – Direito Constitucional, Teoria do Estado e Direito Público I


Autores Nathan Gomes Pereira do Nascimento Sala C24 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Carolina Silva Campos
Título Cashback tributário: considerações sobre justiça fiscal, progressividade tributária e
desigualdades no contexto brasileiro.
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Resumo Esta pesquisa se propõe a investigar o mecanismo jurídico-econômico do cashback


tributário, inserido na reforma da tributação sobre o consumo aprovada no Brasil, em
2023, como um instrumento tendente à consecução da progressividade tributária.
Partindo disso, define-se como problema de pesquisa a seguinte indagação: o
mecanismo do cashback tributário, na forma como restou previsto na Emenda
Constitucional nº 132/2023, apresenta-se como uma política pública capaz de contribuir
para a promoção da justiça fiscal e para a diminuição das disparidades econômicas e
sociais no país?
Para tanto, dividiremos o estudo em cinco partes. Na primeira parte, apresentaremos a
dicotomia entre o libertarianismo tributário e o igualitarismo tributário, no debate das
teorias da justiça, com o fito de consignar os fundamentos jurídico-filosóficos que
sustentam a visão encampada nesta pesquisa acerca da função da tributação em uma
sociedade. Na segunda parte, por sua vez, exibiremos as definições de progressividade
e regressividade tributária e explicaremos as razões pelas quais a doutrina
majoritariamente se posiciona no sentido de afirmar que o sistema tributário brasileiro é
regressivo. Em seguida, buscaremos explorar dados referente à desigualdade
socioeconômica no Brasil, para elucidar o nefasto contexto em que nos encontramos,
cujo combate se faz premente. Posteriormente, será esmiuçado o mecanismo jurídico-
econômico do cashback tributário, para que possamos, seguidamente, analisar sob
quais balizas normativas tal mecanismo foi inserido no ordenamento jurídico brasileiro,
por meio da previsão na Emenda Constitucional nº 132/2023. Por fim, serão
relacionados os conhecimentos expostos nas etapas anteriores, de modo a identificar
as potencialidades referentes ao cashback tributário previsto na reforma da tributação
sobre o consumo, investigando se a sua previsão normativa no Brasil tem o condão de
contribuir para a promoção da justiça fiscal e para a redução das desigualdades
econômicas e sociais.
Este estudo será conduzido por meio de pesquisa bibliográfica e de pesquisa
documental, utilizando-se o método dedutivo para explorar as relações entre justiça
fiscal, progressividade tributária e o cashback tributário como instrumento de política
fiscal. Outrossim, importa destacar a realização de revisão bibliográfica da literatura
acadêmica e de análise documental da legislação constitucional mencionada, de modo
a ser estabelecida uma estrutura dedutiva para a análise dos dados coletados. Ao final,
os resultados obtidos serão sintetizados e as conclusões sobre a potencial efetividade
do cashback tributário como instrumento de política tributária tendente à promoção da
justiça fiscal e à redução das desigualdades no Brasil serão apresentadas, destacando
suas contribuições e limitações.

GT PRESENCIAL 3 – Direito Constitucional, Teoria do Estado e Direito Público I


Autor João Pedro Silva de Toledo Sala C24 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título Esboços de um direito tributário crítico: contribuições hegeliano-marxistas à tributação e
à economia.
Resumo O trabalho investiga possíveis contribuições críticas da doutrina hegeliano-marxista para
os estudos da relação entre economia e direito tributário. Acredita-se que uma pesquisa
de cunho mais teórico é de suma importância para a elevação do debate e das
abstrações a respeito do real. Sem isso, pode-se prejudicar qualquer análise da
realidade, das normas e de sua respectiva evolução histórica. É no intuito de evitar
parcialidades e atingir a universalidade que a pesquisa é feita. Sendo esse o objetivo
geral, sua concretização se dará pelos seguintes objetivos específicos: (i) avaliar as
correntes liberais clássica, neoclássica e da Law Economics sobre tributação; (ii) estudar
como Hegel entendia economia a partir da doutrina da sociedade civil e do Estado; (iii)
entender a crítica de Marx ao idealismo de Hegel, como ele busca a materialidade da
forma mercadoria e valor e como o Estado é derivado destas; (iv) relacionar toda a
bibliografia levantada para a produção de uma crítica.
Para tanto, dá-se conta de um levantamento bibliográfico, selecionando os textos que
considera relevantes para a melhor compreensão do tema. Essa seleção é baseada na
relevância e notoriedade dos autores que a própria academia lhes conferiu ao longo dos
anos. Além disso, eventuais artigos acadêmicos auxiliares serão eleitos a partir do
sistema “Busca integrada USP”, cujas palavras-chave principais – e respectivos
correspondentes em inglês ou francês, se necessário – para o recorte serão (i) “‘direito
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tributário’ E ‘economia OU análise econômica’” para a compreensão moderna do direito


tributário e economia; (ii) “‘Hegel’ E ‘economia OU sociedade civil’” para os estudos
hegelianos; (iii) “‘Marx’ E “Derivação” E ‘Estado OU Teoria do Estado’” para a corrente
marxista.
Na primeira parte da pesquisa, irá se ater, em termos dialéticos, à fase do entendimento,
de maneira a estudar as principais ideias liberais sobre economia e tributação. Isso será
possível pelo contato com os dois autores clássicos sobre o tema: Adam Smith e David
Ricardo. Apesar disso, reconhece-se que a chamada “Law and Economics” é bastante
ligada à teoria neoclássica, portanto não faltando levantamento de autores como Carl
Menger, Ronald Coase e Arthur Laffer. Com isso, espera-se extrair ao máximo o que
eles propõem a respeito da tributação e ter um panorama geral sobre a perspectiva
liberal.
Após isso, fará um estudo sobre as ideias de Hegel a respeito da economia e do Estado.
Primeiro, evidenciará o tempo histórico em que o autor estava inserido, com quem ele
estava em diálogo e quem ele criticava. É de se atentar que Hegel era leitor dos
economistas escoceses (como Adam Smith), justificando esse levantamento histórico.
Apesar disso, o foco dessa parte será nas duas últimas etapas do espírito objetivo
expostas nas Linhas Fundamentais da Filosofia do Direito, quais sejam Sociedade Civil
e Estado. É nessa relação que Hegel descreve a sociedade burguesa e suas
contradições, bem como a importância do Estado para a resolução dessas. Além disso,
será trazido comentadores contemporâneos sobre Hegel e sua relação com a economia.
São eles Slavoj Žižek e Christopher J. Arthur.
Já Marx será enfrentado a partir de duas óticas. Primeiro, é possível ter uma noção
inicial de como o autor entendia o Estado e o idealismo alemão por meio de sua crítica
à filosofia do direito de Hegel, obra de sua juventude. Depois, o foco passa para as
seções I e II do livro I d’O Capital, onde estão pressupostas as principais contradições
do capitalismo advindas das formas mercadoria e valor. Ainda que se reconheça a
limitação desse recorte, eis que não adentra na esfera da produção e da reprodução do
Capital, ela será útil para entender uma das principais correntes marxista sobre Teoria
do Estado. É quando a escola derivacionista entra em cena, cujo principal representante
é Joachim Hirsch.
Com isso, os resultados esperados é a realização de uma crítica potente à relação entre
direito tributário e economia. Por parte de Hegel, é sabido que ele realizou uma
justificativa poderosa para a existência do Estado, que, entretanto, é pouco aproveitada
pelos liberais na atualidade. A alusão à doutrina hegeliana pode afastar o foco no
contribuinte e da razão utilitarista da “Law and Economics”, trazendo a perspectiva da
totalidade estatal e da racionalidade dialética. Espera-se, por exemplo, que se exponha
os motivos da sociedade civil buscar diminuir seu passivo tributário mesmo
reconhecendo a relevância do Estado para a reprodução da sociedade. Da parte de
Marx, espera-se que a evidenciação do tributo enquanto valor revele como a tributação
está ligada às contradições do capitalismo. Tal qual a teoria derivacionista deriva o
Estado da forma mercadoria para lhe analisar, a derivação do tributo do valor pode trazer
importantes contribuições para a doutrina.

GT PRESENCIAL 4 – Teoria e Filosofia do Direito II


Autor João Pedro Felipe Godoi Sala C21 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título O Território nas soberanias: a presença do elemento espacial no pensamento de
soberania de Bodin, Hobbes e Rousseau.
Resumo A soberania se consolidou como um conceito central na emergência e no
desenvolvimento do Estado moderno. A construção deste conceito esteve atrelada ao
desenvolvimento de um modelo chamado de Estado territorial soberano, Estado-nação,
ou Estado nacional, sobre o qual se desenvolveu o Estado moderno e, sequencialmente,
da própria teoria constitucional. Trata-se da forma atualmente convencional de estrutura
da organização do poder, que reivindica para si um território, para exercer de forma
absoluta o poder político. A construção e sedimentação do conceito de soberania
passou por teorias desenvolvidas por autores como Jean Bodin, Thomas Hobbes e
Jean-Jacques Rousseau. Em comum, tem-se que ambas as teorias citadas trabalham,
em alguma medida, com a relação entre soberania e território. Diante disso, o presente
trabalho busca responder a seguinte questão: como o conceito de território foi articulado
70

nas teorias da soberania de Bodin, Hobbes e Rousseau? Trata-se de uma pesquisa


teórica, que busca investigar a forma como esses autores interpretaram o conceito de
território, bem como o seu papel no modelo de organização política pautada na noção
de soberania. Justifica-se o recorte teórico realizado pelo fato das teorias desses três
autores serem as matrizes para o estabelecimento dos conceitos de soberania absoluta,
soberania do Estado e soberania popular, noções essas que contribuíram para a
fundação e o desenvolvimento do Estado moderno. Em sua teoria da soberania, Bodin
pensou nos fins que o Estado deveria atingir. Dentre as realizações básicas e
fundamentais que um Estado eficiente deveria atender para a sua consolidação, o autor
destacou as necessidades materiais do ser humano, que estavam ligadas à
alimentação, vestimenta, hidratação e segurança do povo. Para atingir a realização de
ordem material, o Estado precisava se relacionar com o seu território e sua geografia, a
fim de gerir e utilizar os recursos disponíveis na terra em benefício das pessoas.
Ademais, caberia ao Estado a construção de fortificações e a utilização dos limites
naturais para demarcar suas fronteiras. Portanto, observa-se que, na teoria de Bodin,
há a presença do elemento territorial, o qual deveria ser dominado e operado pelo
Estado em benefício do povo. Desse modo, é possível notar que o território foi pensado
por Bodin como um elemento de estruturação do Estado, para garantir as demandas
básicas de seu povo, servindo, ainda, como delimitador espacial da atuação da
autoridade soberana. Realizando um movimento similar ao de Bodin, Hobbes discorre
sobre os recursos naturais disponíveis no território do Estado e sua utilização para o
atendimento das necessidades dos súditos. Em sua teoria, é possível notar a presença
do território como o definidor do espaço ocupado pela comunidade política, bem como
limitador da atuação do soberano. Ao Estado é conferido o direito de governar sobre o
espaço geográfico onde está situada a comunidade política vinculada a ele. Significa,
assim, que o Estado ganha direitos sobre o território, delimitando o espaço de atuação
do seu poder soberano, bem como demarcando os limites e as fronteiras de suas áreas
de controle. Nesta perspectiva, o Estado é o sujeito dos direitos territoriais, isto é, o ente
estatal é o único agente legitimado a usar e controlar um território. Por essa razão, pode-
se inferir que Hobbes sofistica a relação do soberano com o território, conferindo ao
Estado os direitos territoriais, ou seja, o direito de controlar e usar o território sobre o
qual exerce a sua autoridade, sendo a base para a compreensão da soberania territorial.
Já na teoria de Rousseau, o território vai aparecer como um elemento determinante para
a escolha da forma de governo. A exemplo dos autores anteriores, em Rousseau o
acesso das pessoas aos recursos provenientes da terra é uma preocupação do Estado,
que influencia na decisão de escolha da forma de governo adequada. A dimensão
territorial também impacta no modelo de governo a ser adotado, em virtude da
dificuldade que um território extenso poderia oferecer para a reunião das pessoas em
um processo político decisório. Ademais, ao elaborar o Projeto para a constituição da
Córsega, Rousseau apresenta os elementos que entende necessários para a
estruturação do Estado. A estratégia de fortificação do Estado passa diretamente pela
utilização do seu território, por meio da realização de atividades produtivas que
garantam o sustento do povo e a distribuição da população sobre o território. Dessa
forma, nota-se que as três teorias articulam o conceito de território a partir da
preocupação de garantia de necessidades básicas da população por meio dos recursos
disponíveis no respectivo território. Além disso, apesar das diferenças existentes entre
as concepções de soberania desses autores, observa-se que o território assume uma
função de estruturação e fortalecimento do Estado, bem como de limitação ao exercício
do poder soberano, revelando que o componente territorial possui um papel essencial
na construção do conceito de soberania, sobre o qual se ergueu o modelo do Estado
moderno.

GT PRESENCIAL 4 – Teoria e Filosofia do Direito II


Autora Amanda Cassab Ciunciusky Toloni Sala C21 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título Do paradigma da legalidade à juridicidade: Análise de aplicabilidade em “hard cases”
envolvendo a Tutela Dos Direitos Coletivos e Humanos em Litígios Transnacionais.
Resumo A transição do paradigma da legalidade, que tradicionalmente orientou a interpretação
e aplicação do direito para o da juridicidade é analisada à luz das complexas demandas
da sociedade contemporânea, especialmente em litígios transnacionais que envolvem a
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proteção de direitos coletivos e humanos. Nesse contexto, analisa-se a classificação de


litígios transnacionais em matéria de direitos humanos e coletivos como potenciais "hard
cases", sujeitos à quebra do paradigma. A investigação prioriza a efetividade da tutela
jurídica e a proteção dos direitos fundamentais em contextos globais, ao mesmo tempo
em que destaca a importância de uma análise cuidadosa das condições de cada caso e
dos limites da jurisdição nacional. A abordagem busca enfatizar a necessidade de
preservar a integridade do sistema jurídico e permitir que os juízes atuem como
intérpretes construtivos na busca por soluções justas e coerentes, especialmente em
casos complexos de transnacionalidade. Inicia-se, assim, a análise da transição do
paradigma da legalidade para o da juridicidade, enfatizando os princípios e regras que
refletem importantes percepções sobre a natureza dinâmica e complexa do sistema
jurídico contemporâneo. A distinção entre princípios e regras é explorada à luz da teoria
dworkiana, destacando a importância da flexibilidade e adaptabilidade no sistema
jurídico, a fim de que, mediante uma interpretação construtiva do direito, conforme
proposta por Dworkin, desafiem-se paradigmas positivistas ao reconhecer a
inevitabilidade da discricionariedade judicial em situações lacunares. A integridade do
direito é apresentada como um ideal político e moral que orienta a interpretação e
aplicação das normas. Tal abordagem busca promover uma visão mais coesa e alinhada
aos valores da comunidade e aos objetivos da ordem jurídica estabelecida. Por outro
lado, a a abordagem dos "hard cases" em litígios transnacionais envolvendo direitos
humanos e coletivos tem por fundamento a necessidade de preservar a integridade do
sistema jurídico nacional. A abordagem pragmática nessas deliberações judiciais pode
levar a uma falta de ação efetiva, ressaltando a importância de uma análise cuidadosa
das condições de cada caso e dos limites da jurisdição nacional, razão pela qual, a
cooperação entre diferentes sistemas judiciais e a harmonização de procedimentos são
essenciais para garantir a efetiva proteção dos direitos humanos em contextos
transnacionais, especialmente quando confrontados com desafios complexos de
natureza ambiental e corporativa. A abordagem também explora os limites da jurisdição
nacional em relação a processos coletivos, incluindo casos de jurisdição internacional
que lidam com situações jurídicas envolvendo diversos atores em múltiplas jurisdições.
O estudo conclui que a transição do paradigma da legalidade para o da juridicidade traz
desafios significativos para o sistema jurídico contemporâneo, especialmente em casos
transnacionais envolvendo direitos humanos e coletivos. A teoria da integridade de
Dworkin oferece um arcabouço teórico sólido para compreender e aprimorar o papel do
judiciário na promoção da justiça e na proteção dos direitos fundamentais em uma
sociedade globalizada. Além disso, o estudo revela a necessidade de equilibrar os
princípios jurídicos com as realidades práticas da aplicação do direito em contextos
transnacionais, enfatizando a importância da cooperação judicial internacional para lidar
com "hard cases". A integração entre diferentes sistemas jurídicos pode fornecer
soluções mais justas e eficazes, promovendo a proteção de direitos humanos e coletivos
em escala global. A pesquisa se baseia no método hipotético-dedutivo e em uma revisão
bibliográfica, incorporando a teoria da integridade de Ronald Dworkin para abordar a
problemática apresentada, além de trazer à análise estudos que abordam os desafios
enfrentados pelo sistema jurídico atual em relação à proteção de direitos humanos e
coletivos em contextos transnacionais.

GT PRESENCIAL 4 – Teoria e Filosofia do Direito II


Autor Gabriel Henrique Haddad Sala C21 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título Alegoria da sociedade de consumo: um paralelo entre o Banquete de Platão e o
capitalismo contemporâneo.
Resumo A obra clássica de Platão, o Simpósio (ou banquete), apresenta um diálogo entre os
personagens em que cada um discorre sobre suas concepções de amor e suas
singularidades. Contudo, por trás deste famoso texto, emerge, também, uma reflexão
sobre a natureza humana, pois, Sócrates apresenta uma perspectiva intrigante sobre o
tema, descrevendo-o como o desejo de possuir o que não se tem, ou seja, amamos
aquilo que não possuímos.
Nessa perspectiva, este artigo objetiva traçar um paralelo entre os conceitos filosóficos
sobre o amor – em seu sentido amplo - discutidos no "Banquete" destacando as
dinâmicas de consumo e desigualdade presentes na sociedade atual.
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No diálogo platônico, Sócrates narra os ensinamentos da sacerdotisa Diotime, que o


instrui sobre o amor como um processo de busca pela beleza e pela perfeição. O filósofo
descreve o desejo incessante de alcançar algo que falta, um anseio por completude que
nos impulsiona a buscar a excelência em diversas formas (Platão, 2010, p. 53). Diante
dessa ótica, o objetivo do presente estudo é comparar o conceito clássico platônico e a
contemporânea sociedade de consumo capitalista.
No contexto contemporâneo, o consumo desempenha um papel central na economia e
na sociedade. O capitalismo, em sua busca incessante por crescimento e lucro, estimula
um ciclo de produção e demanda que, majoritariamente, é alimentado pelo desejo de
possuirmos aquilo que não temos. A publicidade e o marketing são utilizados para criar
e reforçar desejos por produtos e serviços, que levam as pessoas a acreditar que a
felicidade e o sucesso estão intrinsecamente ligados à posse de determinados bens
materiais.
No entanto, essa busca desenfreada pelo consumo, ao invés de beneficiar a sociedade,
acaba por resultar na estratificação social e desencadeia profundas desigualdades
sociais e econômicas. Enquanto uma parcela da população tem acesso a uma variedade
de recursos e oportunidades, outra parte é deixada à margem, lutando para satisfazer
necessidades básicas como alimentação, moradia e saúde. A desigualdade
contemporânea é alimentada por esse sistema econômico capitalista, que valoriza o
acúmulo de riqueza em detrimento do bem-estar coletivo.
Ao analisarmos o conceito de amor apresentado por Sócrates à luz do capitalismo
contemporâneo, podemos identificar paralelos interessantes entre o desejo de possuir
o que não se tem e o comportamento consumista. Assim como no amor, no capitalismo,
o desejo por aquilo que está fora de nosso alcance impulsiona um ciclo interminável de
busca e aquisição. As pessoas são constantemente incentivadas a desejar e adquirir
novos bens, em uma tentativa de preencher suas expectativas ou de alcançar uma
sensação ilusória de plenitude.
A referida obra oferece uma visão profunda sobre a natureza humana e suas
motivações, incluindo o desejo constante de possuir o que não se tem. Ao relacionarmos
esse conceito ao capitalismo contemporâneo, podemos perceber como o consumo
desempenha um papel central na sociedade atual, moldando comportamentos e
perpetuando desigualdades.
Para investigar tais conjecturas, lançaremos mão de uma revisão de literatura que
contemple textos, artigos e livros que abordem os temas relacionados a pesquisa, como
metodologia adequada, utilizaremos o método hipotético-dedutivo como meio para
interpretar e aplicar os resultados obtidos à luz da filosofia.
Por fim, buscamos questionar até que ponto essa busca incessante por satisfação
material realmente nos traz felicidade e realização genuínas, e se, por meio dessa, o
“verdadeiro amor”, seja pelo “belo”, pelo “bom” ou pelo “outro”, não reside em algo além
da mera capacidade de possuí-lo. A reflexão sobre essas questões, por meio dessa
espécie de “alegoria comparativa” apresentada, pode nos fornecer, minimamente,
subsídios alternativos, dentro da filosofia, para discutirmos as desigualdades sociais e
buscarmos caminhos de equidade.

GT PRESENCIAL 4 – Teoria e Filosofia do Direito II


Autor Hugo Rezende Henriques Sala C21 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título Direito, desigualdade e diferença, excurso sobre um diálogo necessário.
Resumo O presente trabalho se inscreve no bojo de um esforço de luta pela inscrição daquilo
que temos denominado “Direito à Diferença” no rol dos Direitos Fundamentais brasileiros
e nas reflexões pátrias sobre cidadania. Fruto das reflexões de diversos membros da
Escola Jusfilosófica Mineira, o “Direito à Diferença” emerge como uma das resultantes
dos debates entre a Filosofia do Direito e a Filosofia do Estado no âmbito das pesquisas
do grupo dos “Seminários Hegelianos”, tendo por prumo o pensamento do grande
filósofo do idealismo alemão. Dentre os chamados hegelianos à reflexão acerca do
Estado, e especialmente do Estado pós-revolucionário então nascente, que
conhecemos desde então como Estado de Direito, e que tem por base os esforços e a
luta pela democracia e pela cidadania, saltam à vista os chamados a que cada cidadão
contribua com o Estado sendo o mais consciente de si mesmo, elevando-se à sua
verdade enquanto sujeito em-si-para-si, singular, e a que se viva tal verdade com paixão.
73

(Auto)consciência e paixão, portanto, dão a tônica do que se compreenda, do ponto de


vista subjetivo, a proposta formulada então, a partir da perspectiva hegeliana, de um tal
“Direito à Diferença”. Por outro lado, Hegel tem plena convicção, uma que com ele
compartilhamos, de que o esforço subjetivo não se dá, e não é possível que se dê, fora
de um espaço objetivo, em termos hegelianos, o espírito subjetivo só se desenvolve na
relação dialética que estabelece com o espírito objetivo, que por sua vez tem no Estado
seu espaço de mais pleno desenvolvimento ético. Assim, temos que para além da
perspectiva subjetivista, que poderia redundar em renovado esforço individualista da
busca pela diferença como algo estritamente subjetivo, a partir dessa perspectiva temos
que as condições objetivas, simbólicas e materiais, que possibilitam a busca subjetiva
da singularidade não podem ser descuradas. O “Direito à Diferença” clama, nesse
sentido, por um combate a toda forma de desigualdade que impeça a consciência de si
dos sujeitos, o que, em nossa leitura, implica numa renovação dos compromissos do
Estado do Direito com a efetiva cidadania, como organização de um espaço (material e
simbólico) objetivamente posto pelo Estado e garantidor da possibilidade efetiva de
desenvolvimento subjetivo tão plenamente quanto possível, arrancando os sujeitos tanto
do reino da necessidade estrita, isto é, da Natureza, quanto do império da necessidade
que caracteriza o que Hegel denomina, na Filosofia do Direito, como a “Sociedade Civil
Burguesa”. Tal empreitada não implica necessariamente na supressão deste momento
da eticidade marcada pela busca de interesses e pelo egoísmo, mas sua organização
racional pelo e para os objetivos do Estado de Direito (i.e. democracia e cidadania), para
além dos quais toda ação estritamente egoísta atenta contra a própria existência da
sociedade, enquanto tal, mas também e justamente contra um efetivo “Direito à
Diferença” a que fazem jus todos os cidadãos igualmente, bem em sentido jurídico
formal como em sentido material, de possibilidade efetiva da persecução de sua
autoconsciência e singularidade.

GT PRESENCIAL 4 – Teoria e Filosofia do Direito II


Autor Renato Amaral Braga da Rocha Sala C21 - Sexta, 10 de maio, de 14h a 16h
Título Apontamentos sobre a dimensão subjetiva do ‘servus’ na experiência jurídica romana.
Resumo Ao longo da experiência jurídica da Roma Antiga, nomeadamente nos períodos clássico
e pós-classico, pode-se verificar a existência de categorias de entes que remetem a uma
necessária correlação entre os modernos conceitos de personalidade e subjetividade.
Com efeito, distinguiam-se, entre os romanos, seres humanos que, embora tomados
como tais, possuíam diferentes graus de aptidão para a titularidade de direitos, vale
dizer, diferentes medidas de capacidade de direito ou distintas posições na escala de
subjetividade. Nesse contexto, tem-se a figura do ‘servus’, cuja situação jurídica, em
Roma, constitui objeto de intensos debates doutrinários ao longo da história, nos
campos da Teoria Geral do Direito e da Filosofia do Direito, e resta, até o presente,
bastante controvertida.
Recorrente na generalidade da doutrina tradicional do Direito, a ponto de se converter
praticamente em lugar-comum no tratamento da matéria, a afirmação de que o ‘servus’
constituía, para os romanos, mera e ordinária ‘res’ ganhou largo curso e se refletiu no
discurso de autores de grande prestígio, como HANS KELSEN, que diz
peremptoriamente: “Os escravos não são pessoas, não têm qualquer personalidade
jurídica” (KELSEN 1985, 185).
Na doutrina contemporânea, ou já a partir do último quartel do séc. XX, porém, à vista
de consideráveis avanços verificados no âmbito da teoria da pessoa, autores há que
aduzem às reflexões sobre o tema oportunas considerações e ponderações, as quais
põem em questão a crença dogmática em uma natureza meramente real do escravo
romano.
Assim escrevem, por exemplo, CORRÊA & SCIASCIA: “Mas de fato, [...] se reconhece
que o escravo é também homem, de forma que sua personalidade moral não demorou
a ter reconhecimento jurídico”, para em seguida lembrar, no plano da experiência
concreta, diversos traços da subjetividade do ‘servus’ (CORRÊA & SCIASCIA 1988, 40-
1).
RONALDO POLETTI, por seu turno, admite que a dimensão de ‘res’ constitui apenas
uma das possíveis perspectivas do ‘servus’, e, ao fazer menção a conhecidos registros
74

das expressões persona servilis e persona servi de ULPIANO (Dig. 50.17.22pr.),


reconhece que “o escravo é, a um só tempo, persona e res” (POLETTI 1996, 74).
PIERANGELO CATALANO, por fim, chama a atenção para o dado histórico da ativa
participação do ‘servus’ em várias esferas da experiência jurídica romana (CATALANO
1995, 41), o que põe em evidência certos aspectos funcionais do escravo na sociedade
de então, além de sua capacidade patrimonial, de sua responsabilidade obrigacional e,
de modo geral, de um considerável grau de reconhecimento e proteção legal a si
conferida.
O exame das fontes romanas não deixa margem para dúvida quanto a ter sido o servus
reconhecido em sua dimensão de ser humano, conforme se pode verificar em notáveis
fragmentos da obra de GAIO, nos quais se estabelece a summa divisio personarum
entre os homens, uns livres, outros servos: ‘Et quidem summa divisio de iure personarum
haec est, quod omnes aut liberi sunt aut servi’ (GAIO, Inst. 1.9); ‘Summa itaque de iure
personarum divisio haec est, quod omnes homines aut liberi sunt aut servi’ (GAIO, Dig.
1.5.3).
Em se podendo divisar, assim, nítido reconhecimento da condição de ser humano do
servus, o qual figura, aqui e ali, associado a idéias e vocábulos como ‘homo’ e ‘persona’,
resulta forçoso reconhecer que essas categorias efetivamente pudessem compreender,
para além dos homens livres, em algum grau e de alguma forma — ainda que, conforme
diz EVA CANTARELLA, de modo oblíquo ou implícito, (CANTARELLA 2017, 168) —,
também aqueles a quem faltasse o ‘status libertatis’.
Não sendo recusada pelo direito ao servus sua evidente condição humana, e
estabelecida a incindível correlação entre homem e pessoa no pensamento jurídico
romano, resta difícil concordar com a dogmática tradicional quando esta
peremptoriamente afirma, de forma um tanto precipitada e simplista, a mera condição
de ‘res’ do escravo entre os romanos.
À vista disso, pois, deve-se concluir que a figura do servus tenha sofrido, entre os
romanos, não uma restrição de caráter absoluto, que a equiparasse, ‘tout court’, a
simples ‘res’, em um plano que podemos traduzir como o da personalidade —
equivalente a um conceito absoluto, rígido e monolítico, que não comporta partição ou
gradação —, mas sim na dimensão da subjetividade, entendida esta, tal qual o moderno
conceito de capacidade de direito, como conceito relativo, elástico e graduável, que
comporta limitação ou parcialização (cf. BRAGA DA ROCHA 2001, 57).
Assim, o escravo romano, reconhecido induvidosamente como ser humano — e, por
conseguinte, situado em certo ponto na escala de subjetividade —, estaria a sofrer não
a absoluta negativa da condição de pessoa, mas meras limitações, conquanto
substanciais e severas, na dimensão do que modernamente chamamos de capacidade
de direito.

GT PRESENCIAL 5 – Direito e Sociologia I


Autor Fábio Marques Gonçalves Sala C23 – Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Direito e não-direito nos palcos do Estado Democrático Espetacular.
Resumo O presente trabalho constrói um quadro reflexivo a partir, fundamentalmente, das obras
de Guy Debord e Giorgio Agamben para realizar uma análise da manifestação do direito
na era do espetáculo, momento no qual a vida passa a se dar mediada por imagens e
midiatizações. Busca-se, assim, elucidar as implicações desse modo de vida na
construção do pensamento jurídico e na aplicação jurisdicional do direito no bojo do
Estado Democrático de Direito brasileiro, trazendo-se à discussão alguns casos
exemplares apreciados pelo judiciário, de modo a se desvelar o paradigma da
administração espetacular e excepcional da justiça no país. Por essas sendas, a
investigação tenta responder seu questionamento central, qual seja: o que é o direito na
“era do espetáculo” (DEBORD/AGAMBEN)?
O trabalho, para tanto, é dividido em dois momentos. Em sua primeira parte, busca-se
o delineamento dos dispositivos que conformam a virtualização do cotidiano a partir da
construção de um viver midiatizado, em que os meios de comunicação assumem um
papel central na condução da vida das pessoas e dos acontecimentos políticos do país,
bem como em que as próprias pessoas passam, a partir da domesticação midiática, a
reproduzir, “por conta própria”, um modo espetacular de viver. Em seguida, inicia-se uma
reflexão sobre o fenômeno jurídico, a partir da compreensão de que o direito está
75

completamente inserido nas dinâmicas desse mundo de luzes, câmeras e virtualizações


– trazendo-se à reflexão, a partir de uma abordagem metodológica paradigmática
(AGAMBEN), alguns casos recentes, ocorridos no espaço jurídico-político brasileiro, a
partir dos quais se pode compreender a construção espetacular do direito e da justiça,
bem como a transformação do estado de exceção na regra geral das práticas do Estado
(inclusive das práticas do poder judiciário), conduzindo-se a um cenário em que se
amplia constantemente a desigualdade e a exclusão de grandes parcelas da população.
Pela abordagem paradigmática de tais questões, pretende-se “constituir e tornar
inteligível um contexto histórico-problemático mais amplo” (AGAMBEN), no qual se
mostra a violência do direito e a manifestação de um estado de exceção jurisdicional.
Os dispositivos espetaculares – desde a mídia tradicional até as novas tecnologias de
comunicação e informação (e o modo de vida que a partir disso se instaura) – dominam
todos os aspectos da vida contemporânea, transformando-a em um viver mediado por
imagens e simulacros, governado pelos meios de comunicação e por sua lógica de fazer
ver tudo (a despeito de praticamente nada ser efetivamente mostrado): vive-se a era do
espetáculo, época em que o ser linguístico humano é constantemente alienado, em que
a mentira toma o lugar da verdade e nada vale se não for mostrado e visualizado nas
tramas espetaculares.
Nesse contexto, o direito também é alienado, construindo-se a partir de ficções
distanciadas da realidade das lutas sócio-políticas próprias da democracia, isto é, alheio
à sua função de garantia do espaço democrático, bem como alheio à tradição jurídica
moderna, na qual emerge o Estado Democrático de Direito, de modo que é esquecido
seu papel de limitação do poder e de transformação da vida social através da garantia
e efetivação de direitos fundamentais.
A propensão é no sentido de que o direito, sempre mais, perca lugar para o não-direito,
consubstanciado em diversas posturas e racionalidades: econômicas, morais, políticas,
mero arbítrio. O direito está submisso e sendo regulado pelas leis espetaculares: o
discurso jurídico é esvaziado, não tendo importância se não estiver amparado por
imagens e midiatizações; é o que se depreende do "lavajatismo", paradigma exemplar
da administração espetacular da “justiça” no Brasil, por meio do qual o autoritarismo
espetacular vem à cena jurídico-política, estabelecendo paradoxalmente que exceção e
violência são necessárias à consecução do Estado de Direito e da democracia, bem
como que o descumprimento da lei é necessário se o que se pretende é o cumprimento
da lei – o modo de agir da “Operação Lava-jato” (e seus desdobramentos) exemplifica e
anuncia, através do espetáculo e da exceção, a franca decadência daquela ordem
jurídica (supostamente) erigida pela modernidade. Nesse cenário de escombros da
democracia, o homo sacer videns (AGAMBEN/SARTORI), conduzido pelo Príncipe
Eletrônico (IANNI) e suas tecnologias, se entrega a quaisquer príncipes que lhe
prometam (espetacularmente) abrigo à vida sob o manto das decisões soberanas – e é
esse ser sagrado e vidente que a ordem jurídico-política captura como seu fundamento.
O trabalho se deu pela técnica de revisão bibliográfica e buscou sua abordagem
metodológica pela elaboração de um quadro referencial teórico internamente coerente
e apto à análise que se buscou desenvolver; teve-se o cuidado de se trazer ao debate
pensadores que elaboram sua reflexão a partir da transformação operada na filosofia,
no século XX, que colocou os novos caminhos pelos quais se passou a compreender a
centralidade da linguagem na existência humana, com as reviravoltas que isso gera.

GT PRESENCIAL 5 – Direito e Sociologia I


Autores Juan Rodrigurs Alves de Melo Sala C23 – Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Tiago de Souza Fuzari
Título Caso Ângela Diniz: uma visão midiática do crime.
Resumo A presente pesquisa analisa o impacto da mídia no processo de tomada de decisão dos
jurados em julgamentos no Tribunal do Júri. Para tanto, utiliza-se a revisão bibliográfica
de autores que abordam os efeitos da mídia na sociedade, como Guy Debord e também
aqueles que estudam a imparcialidade do sistema jurídico como Robert Alexy e Hans
Kelsen. Por meio dessa pesquisa pretende-se verificar se há influência da mídia na
tomada de decisão dos jurados e como a mídia comporta-se em relação ao exercício do
direito constitucional à liberdade de informação. Esse assunto torna-se relevante diante
da grande influência exercida pela mídia em diversos âmbitos da sociedade. A
76

informação e a comunicação exercem um papel significativo na formação de opiniões


públicas e no funcionamento da justiça, assim questiona-se sobre quais seriam os
limites legais e éticos das atividades midiáticas, esses resultados podem contribuir para
as reflexões a respeito dessa delimitação. Prefacialmente, o estudo passa por um
entendimento do processo histórico da discricionariedade e a imparcialidade sobre as
decisões proferidas pelo juiz. Percorrendo desde a Escola da Exegese até o contexto
atual, ou seja, pós-positivista. Faz-se, portanto, um panorama do papel do juiz acerca
da forma como este relaciona-se com os fatores externos ao processo decisório,
passando-se pelo pensamento exegético, no qual se tinha a crença na figura do juiz
como boca inanimada da lei; identificando-se, a partir da moldura de Kelsen, o ponto de
entrada dos elementos não jurídicos e, por fim, chegando-se ao pós-positivismo com o
reconhecimento dos elementos na estrutura jurídica a partir das normas-princípio.
Posteriormente, o estudo passa por uma análise do emblemático caso de homicídio de
Ângela Diniz e os seus resultados jurídicos em decorrência da pressão midiática
exercida na época dos fatos. A trajetória de Ângela Diniz, uma vítima de um crime que
provocou intensos debates na sociedade brasileira, reacende questionamentos sobre
como a cobertura midiática impactou o julgamento e a sentença, bem como se essa
influência foi capaz de modificar a percepção pública sobre o caso. Estudar sobre a
pressão midiática na tomada de decisão, compreendendo melhor as questões éticas e
legais envolvidas, permite-nos discutir sobre as possíveis interações entre a mídia e
justiça, contribuindo para o entendimento dos desafios enfrentados pela busca de um
sistema jurídico imparcial e justo, possibilitando uma análise mais clara dos processos
psicológicos envolvidos na chamada espetacularização da mídia sobre figuras
midiáticas e o papel da mídia no entendimento do crime. Para tal é utilizado o conceito
de espetacularização midiática criado por Guy Debord em seu livro “A Sociedade do
Espetáculo”. Sendo esse um ponto essencial da tese, na qual é utilizado de base para
entender como a mídia, perpassada por uma ideologia capitalista, reproduz fatos como
verdades únicas visando unicamente o consumo da informação e, consequentemente,
o lucro. Relacionando-se à figura da vítima Ângela Diniz, a partir da conclusão de que
esta é uma figura midiática, traz um enfoque maior em si e em seu entorno. Dessa forma,
a mídia propulsiona-se por essa figura. É importante esclarecer que se denomina figura
midiática uma persona da mídia de expressivo enfoque, influência e admiração social.
Além disso, é possível aferir relações entre as exposições dos fatos criminais através
da mídia e as crenças estabelecidas pelos espectadores. Construído tal cenário, chega-
se ao objeto central desta pesquisa, de modo que se observa que há um perigoso risco
de influência da mídia sobre os jurados e sobre os processos decisórios. Tal risco não
está atrelado ao fato de a mídia exercer livremente a liberdade de informação (livre
manifestação do pensamento). A questão cinge-se ao fato de que os processos de
eleição daquilo que é noticiado não se norteia com base na liberdade de informar ou na
livre apresentação das diversidades valorativas existentes na sociedade, mas sim no
fato de que estas escolhas acerca do que se informa ocorrem a partir de uma
perspectiva meramente econômica. Com isso, o que se noticia e a forma como se noticia
tem como elemento norteador o lucro e não a expressão valorativa de um grupo ou a
mera apresentação da informação pela informação. Tem-se uma informação construída
com base em interesses econômicos/mercadológicos que, por vezes, influenciam os
jurados em seu processo decisório. A metodologia utilizada é o tipo de pesquisa
bibliográfica de caráter qualitativo e método analítico.

GT PRESENCIAL 5 – Direito e Sociologia I


Autor Renan Antônio da Silva Sala C23 – Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Entre facers e tubers: redes sociais, sexualidade LGBTQIA+fobia.
Resumo O computador foi criado para ser uma ferramenta de auxílio de determinadas atividades.
Atualmente, com a ampliação de sua rede, atua como um meio de socialização e
universalização da informação, provocando impactos e mudanças nos comportamentos
e atitudes de seus usuários, em sua maioria, jovens. Dentre as temáticas de interesse
desses usuários, percebe-se que a sexualidade ganha ênfase, sendo que esse
dispositivo digital possibilita que seus usuários socializem suas concepções,
experiências e saberes tornando-se protagonistas no processo de construção do
conhecimento. O objetivo do presente projeto, oriundo de pesquisas da linha “Educação,
77

Cultura, Memória e Arte” (GPECUMA) – UNESP e PUC/SP, é provocar reflexões sobre


esses espaços no qual circulam representações, (des)informações, posicionamentos e
resistências referentes ao preconceito contra a sexualidade não pautadas na norma
heterossexual. Os estudos pós-estruturalistas auxiliam nessa proposta, já que os
discursos vinculados virtualmente também podem atuar como marcadores sociais que
mantém e/ou problematizam preconceitos homofóbicos. Busca-se explorar fontes
virtuais, utilizadas por usuários de redes sociais, como possíveis espaços de
posicionamento de representações acerca de sexualidade LGBTTTIQ. Para tal,
analisar-se-ão os discursos de membros de fóruns de discussão existentes no facebook
relativos à sexualidade e homofobia e comentários postados por usuários acerca dos
vídeos produzidos e mais acessados no youtube. A presente pesquisa poderá contribuir
para a compreensão dos discursos sociais que sustentam o desconhecimento sobre as
possibilidades da vivência da sexualidade fora da norma heterossexual, bem como das
formas do preconceito homofóbico. No cenário educacional, esse material, e as
reflexões oriundas de sua análise e interpretação, poderia ser utilizado por educadores
para inserir debates relacionados à construção sociocultural da sexualidade nos
espaços escolares.

GT PRESENCIAL 5 – Direito e Sociologia I


Autora Nicole Candido Garcia Sala C23 – Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Entre a precariedade e a busca por eficácia: um estudo do Sistema Prisional Brasileiro.
Resumo Esta pesquisa destina-se a abordar a temática do encarceramento para analisar
aspectos associados a sua eficácia no Brasil, diante da indagação da prisão como
solução para o crime. Estabelece como critérios para a análise os objetivos da execução
da pena, das condições das prisões e da reincidência dos presos. Utiliza como
referência o pensamento de Angela Davis (2003), Ana Lúcia Sabadell (2013), Juliana
Borges (2019) e Nilo Batista (1990).
Apesar das mudanças de caráter humanista implementadas nos modelos prisionais no
século XIX, os estabelecimentos prisionais são dotados de precariedade e
desigualdades, sendo suas condições e as violações de direitos neles ocorridos
constantemente denunciados.
A população negra no Brasil historicamente enfrenta punições baseadas exclusivamente
na sua cor de pele. A fundação do Brasil tem como pilar a escravização baseada na
hierarquização racial e o racismo é uma das ideologias fundamentadoras da sociedade
brasileira (BORGES, 2019, p. 57). Os negros não tiveram nenhum tipo de suporte na
libertação formal da escravidão. Inclusive, para ascender como classe trabalhadora
enfrentaram dificuldades tendo continuidade a um processo de marginalização na
sociedade brasileira até os dias atuais. Com efeito, ao excluir uma parte da população
e a hierarquizar é construído um mecanismo que retroalimenta a insegurança, aprofunda
a vigilância e repressão (BORGES, 2019, p. 86).
A lógica formal que fundamenta a retirada de alguém da sociedade, que restringe seu
acesso à família e controla seu tempo, é que essa tal pessoa merece ser punida e
representa algum tipo de perigo para a sociedade e deve se regenerar. Porém, de
acordo com o Departamento Penitenciário Nacional, em um relatório de estudo sobre a
reincidência criminal no Brasil, “a média de reincidência no primeiro ano é em torno de
21%, progredindo até uma taxa de 38,9% após 5 anos” (2022, p. 18). Desse modo, a
indagação sobre o papel do sistema prisional se vê confrontada pela verificação de que
presos são postos em liberdade em condições complexas de inserção social e de
trabalho com mais riscos de infringirem a lei novamente do que de quando entraram.
Outrossim, essa temática é reflexo e ecoa em uma sociedade em que presos são
esquecidos em suas celas e o corpo social influenciado pelo crescente movimento do
“bandido bom, é bandido morto”, que reitera a desumanização de quem está na cadeia.
Por consequência, o senso comum leva à crença de que aqueles em regime de pena
privativa de liberdade, quando em condição de invisibilidade, não têm direito à
dignidade. Batista, reforça que toda pessoa humana é detentora de direitos humanos -
independente do que seja, tenha, pense ou faça (1990, p. 158). Nesse sentido, na
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 347, o Supremo Tribunal
Federal reconheceu as condições de violações de direitos, a superlotação e as
78

condições degradantes do sistema prisional que configuram um cenário fático


incompatível com a Constituição Federal (BRASIL, ADPF, 2015).
O objetivo geral se pauta na análise da eficácia do encarceramento no Brasil a partir dos
objetivos da pena, das condições dos estabelecimentos prisionais e da reincidência
criminal. Já os objetivos específicos são levantar e analisar a legislação aplicável;
identificar a reincidência criminal; levantar e analisar dados de precariedade dos
presídios brasileiros.
Com relação a metodologia, promove uma pesquisa bibliográfica, a partir do
levantamento de artigos de periódicos sobre encarceramento, condições das prisões e
reincidência no Brasil e empírica no levantamento de dados seguido de sua respectiva
análise. Considera as obras “Encarceramento em Massa” (BORGES, 2019) e “Estarão
as prisões obsoletas?” (DAVIS, 2003) como referencial para delimitar os critérios de
seleção e posterior análise dos textos ante a temática do aprisionamento. O trabalho
identifica os sentidos da reincidência criminal apontados para o relatório DEPEN
divulgado em 2022 (DEPEN, UFPE, 2022), analisa as conclusões do mencionado
relatório ante os objetivos da pena estabelecidos pelos artigo 1º da Lei de Execução
Penal (1984) e para a discussão de eficácia considera a proposta de Sabadell (2013).
O estudo também incorpora uma análise de dados estatísticos relacionados ao sistema
prisional e à desigualdade social. Nesse sentido, são examinados gráficos que
demonstram o déficit de vagas no sistema prisional brasileiro, conforme informado pelo
Relatório de Informações Penais de 2023, permitindo uma compreensão mais
aprofundada das condições estruturais das prisões. Utiliza dados de outro gráfico,
apresentado pelo IBGE no ano de 2021, que apresenta o rendimento domiciliar per
capita entre a população branca, preta e parda, proporcionando alarmantes percepções
sobre as disparidades socioeconômicas e raciais que permeiam o contexto prisional e
as violações de direitos nele ocorridas.

GT PRESENCIAL 5 – Direito e Sociologia I


Autoras Ana Paula Polacchini de Oliveira Sala C23 – Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Maria Clara Tinti Crepaldi
Título Vigiar e punir: uma interlocução com a aplicação de medidas socioeducativas instituídas
no ordenamento jurídico brasileiro.
Resumo Foucault ao versar sobre métodos disciplinares para moldar e controlar as mentes e
comportamentos dos indivíduos que se encontram no sistema prisional, trata do
“panoptismo” enquanto modalidade de controle eficaz, sem uso de força física, auxiliado
por regulamento de normas e dotado de forte característica de vigilância (2009). Esse
mecanismo pode ser identificado no cumprimento de medidas socioeducativas, sejam
elas em meio fechado ou aberto, instituídas pelo ECA, artigo 112, I a VII. Todavia, de
acordo com o Sistema de Garantia de Direitos estabelecido pelo ECA e pelo Sistema
Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), os adolescentes são sujeitos de
direitos e sua proteção deve ser integral, estando a qualidade do atendimento
socioeducativo aí incluídos. Dentre as diretrizes a serem adotadas pelo Sistema estão
a construção de novos projetos desenvolvidos com a família e o adolescente; a
humanização das unidades de internação; a garantia das visitas familiares; garantia do
direito à educação e acesso à saúde; a integração operacional dos órgãos que compõem
o sistema; garantia da reavaliação e progressão da medida, entre outros. Por
conseguinte, o caminho percorrido desde a aplicação dos castigos físicos até os sociais,
com ajuda das reformas prisionais do século XVIII, traz uma nova sensibilidade social a
respeito da gravidade dos delitos e impactos gerados, bem como sobre a função punitiva
pautada em cálculo econômico e político; logo, entende-se que o objetivo não se
concentra na ressocialização do indivíduo perante a sociedade, e sim, na produção de
corpos dóceis e obedientes (vide processo de cumprimento das medidas
socioeducativas), as denominadas instituições coercitivas, classificadas neste trabalho
como Fundação Casa. Objetivos: Realizar análise do livro “Vigiar e Punir” (Foucault,
2009), a partir dos recursos propostos pelo autor (docilização dos corpos, bom
adestramento e panoptismo) e associa-los ao cumprimento das medidas
socioeducativas previstas na legislação nacional. Métodos: analítico, quanto ao
referencial teórico proposto e relativamente às partes de disciplina e prisão, buscando
reconhecer de forma análoga o modo de execução das medidas socioeducativas.
79

Dedutivo quanto à análise da legislação. Empírico para o levantamento de dados do


Sinase à respeito das sanções repreensivas e pedagógicas, bem como as condutas e
procedimentos adotados para seu cumprimento. Com base na análise houve
comparação para reconhecer as formas de vigilância exercidas pelo Estado durante o
período em que o adolescente se encontra cumprindo medida socioeducativa, em meio
aberto ou fechado. Resultados: Conforme o desenvolvimento da pesquisa constatou-se
que existem semelhanças entre o métodos de disciplina utilizados no sistema prisional
e aqueles presentes no cumprimento das medidas socioeducativas; desse modo, foi
constatada uma grande quantidade de adolescentes que se encontram neste processo,
ou seja, ainda que o Estado cumpra seu papel de vigilância e punição, as ações de
prevenção e ressocialização são escassas em algumas localidades ou aplicadas de
maneira contrária à previsão legislativa. Conclusões: Com a finalização da pesquisa e
confronto dos dados diante da forma de aplicação dos mecanismos de controle nas
medidas socioeducativas, percebeu-se que o dever dos conselhos municipal, estadual
e nacional (CMDCA, CONDECA E CONANDA) de fiscalizar e garantir o exercício dos
direitos não é efetivo, conforme demonstram os resultados obtidos. Nesse sentido, ainda
que existam dificuldades em relação à real aplicabilidade do Plano Individual de
Atendimento (PIA) e projetos de vida aos adolescentes, os Conselhos devem seguir
inspecionando os meios de cumprimento, bem como focar no desenvolvimento de
políticas públicas, as quais auxiliarão os jovens no processo de ressocialização e
prevenção da reincidência; ou seja, é de suma importância que a reinserção na
sociedade seja realizada de maneira digna e respeitosa, em concordância com as
determinações legislativas que garantam sua proteção.

GT PRESENCIAL 6 – Direito e Sociologia II


Autor José Ricardo Cunha Sala C24 – Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título O sujeito da injustiça social entre o direito e ética.
Resumo Embora a injustiça possa ser considerada uma experiência subjetiva, existe uma
injustiça que pode ser aferida objetivamente e até mesmo quantificada por métricas e
estatísticas: trata-se da injustiça social. Aqueles que estão expostos a esse tipo de
injustiça, geralmente expressada em situações de exploração, opressão e exclusão, são
os sujeitos da injustiça social. É preciso uma perspectiva da filosofia do direito que
compreenda tais sujeitos a partir do imperativo de sua condição concreta e que seja
inspirada pelo dever ético da responsabilidade absoluta. O pensamento de Emmanuel
Lévinas, com sua ética como filosofia primeira, parece propício para estruturar uma base
filosófica que afirme a responsabilidade incondicional que se deve ter por esse outro.
Em se tratando, particularmente, do sujeito da injustiça social, a ética levinasiana
oferece fundamentos propícios para entender que a responsabilidade sobre o outro
implica uma abertura para o outro em sua própria outricidade, partindo da emergência
de sua narrativa e da urgência de sua temporalidade.
Parece extremamente interessante, e até promissor, que se introduza a ética da
alteridade como elemento de crítica no âmbito do Direito, especialmente porque sem o
outro não há relação jurídica. Contudo, a alteridade no mundo jurídico costuma ser
tomada como ameaçadora. E o sistema jurídico se volta muito mais para o
fortalecimento do “eu” do que para o acolhimento do outro. Daí o desafio de se pensar
o direito outramente.
Outramente é um dos neologismos criados por Lévinas. Ganhou destaque no título de
seu livro Autrement qu’être ou au-delà de l’essence. Esse estranho advérbio
“outramente” expressa uma fissura naquela tradição ontológica que reduz tudo ao
“mesmo” (totalidade) por intermédio de conceitos, categorias e representações.
Importante ter em mente que essa fissura na ontologia se realiza não por ser de outro
modo (o que ainda estaria no campo do ser), mas por outro modo de ser, isto é, pelo
desfazimento da condição ontológica. O caminho para isso, segundo Lévinas, é a ética,
pois ela redefine a subjetividade humana a partir da responsabilidade incondicional pelo
outro.
É importante que fique claro que a crítica do direito a partir da ética da alteridade não se
confunde em nada com o debate sobre a relação entre direito e moral, que foi
especialmente difundido em função da altercação entre os adeptos do positivismo
80

jurídico e os adeptos do pós-positivismo. Todavia, ela pode oferecer parâmetros


transontológicos que ajudem a reposicionar o lugar do humano no âmbito do direito.
Um ponto de partida interessante para essa reflexão é o fato de que para a ética da
alteridade o outro não pode ser representado, já que qualquer representação é também
uma redução da outricidade e, por conseguinte, da própria humanidade. O rosto não é
apenas uma metáfora, mas também a expressão de uma proximidade real. Não há
conceito ou palavra que manifeste tanto sobre outrem quanto o seu próprio rosto. Aqui
já estamos diante de uma aporia na nossa reflexão, já que o direito positivo sempre
captura o humano em categorias jurídicas, transforma quem em quê. Aos poucos, os
iniciados no direito e os administradores de órgãos públicos tendem a se distanciar cada
vez mais das pessoas reais e a convertê-las em conceitos ou abstrações. Para os que
são mais pragmáticos, essa forma de operar poderia se justificar pela necessidade de
administração impessoal e de massa. Entretanto, sob uma perspectiva ética, isso gera
riscos significativos.
Tais riscos se distinguem numa escala de gravidade. Em um nível mais tênue temos o
problema da superficialidade, isto é, não considerar as pessoas pelo que elas realmente
são, pela sua história de vida e por suas condições materiais. Já em um nível mais
dramático, o risco dessa abstração jurídica do humano está ligado ao problema da
denegação de reconhecimento aos elementos que permitem a autorrealização do outro.
Isso costuma se expressar na forma de uma hierarquia de identidades instituída na
sociedade, hierarquia essa que oprime certos grupos e reduz as oportunidades sociais
das pessoas que integram esses grupos oprimidos. Já em um nível devastador, essa
transformação de pessoas em categorias ou números, pode significar uma brutal
desumanização. E aqui é importante ter em conta que a desumanização é o caminho
para a destruição ou aniquilação de pessoas em sociedades que cultivam o ódio nas
relações sociais.
É imprescindível que o direito abra espaço para que o outro testemunhe a si mesmo.
Todavia, não basta a abertura desse espaço, pois em cada cômodo do edifício jurídico
se esconde uma armadilha formalista, e o formalismo carrega o pernicioso truque de
ouvir sem escutar. Ou seja, não basta que se crie as condições para que a alteridade se
apresente, é preciso acolhê-la de frente, sem reconduzi-la às abstrações que
enfraquecem sua presença. Esse é, precisamente, o sentido extramoral da ideia de
justiça no âmbito da ética: acolher o outro na proximidade do face a face.

GT PRESENCIAL 6 – Direito e Sociologia II


Autor João Pedro Silva de Toledo Sala C24 – Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título O valor da forma equivalente e o dinheiro fiduciário: aportes da ciência da lógica de
Hegel sobre a forma valor.
Resumo Na primeira Seção d’O Capital, encontra-se uma tensão intrigante entre a falta de
expressão de valor da forma equivalente e a necessidade de o dinheiro, determinação
última da forma equivalente, ser produto de trabalho social. Essa questão intrincada
ecoa através das páginas d’O Capital de Marx, desafiando os leitores a reconciliarem
conceitos aparentemente contraditórios. É um dos desafios expostos por Rômulo Melo,
quem apresenta algumas respostas das diferentes correntes marxistas sobre o tema.
Ele expõe e avalia, entre outras questões, como a moeda fiduciário seria evidência de
que o tempo social para a emissão do dinheiro não seria relevante para a sociedade
capitalista, desfazendo pelo real a contradição dada por Marx.
Apesar disso, acredita-se que houve uma ausência relevante de sua investigação, qual
seja um retorno à filosofia de Hegel. Nesse sentido, o objetivo do trabalho é averiguar
se um estudo mais retido a respeito da dialética hegeliana pode trazer novos olhares a
respeito da contradição acima mencionada e, se sim, como isso se compatibilizaria com
o atual sistema monetário. Para isso, o artigo propõe fazer um levantamento bibliográfico
a respeito dos principais estudos sobre a relação entre Hegel e Marx, além de investigar
a função do direito tributário e financeiro no sistema monetário do capitalismo.
Para isso, a primeira parte do artigo fará uma breve, porém imprescindível explicação
sobre a suposta contradição averiguada entre a forma equivalente e o tempo
socialmente necessário para emissão de dinheiro. Resume-se como Marx trata a
mercadoria, o valor de uso, o valor, o dinheiro e a forma-preço. Tudo isso são, em última
81

instância, expressões complexas das relações sociais e do trabalho humano. Depois irá
mostrar n’O Capital quais os trechos que levantam a contradição objeto deste estudo.
Após isso, faz-se uma rápida exposição sobre os autores que defendem a correlação
entre os dois filósofos alemães, tais como Ruy Fausto, Christopher J. Arthur e Slavoj
Žižek. Por meio deles, evidencia-se como a estrutura da Ciência da Lógica auxilia na
interpretação da obra magna marxista. É nesse livro de Hegel que a doutrina da
essência explora a natureza das relações entre os fenômenos, revelando como os
opostos podem coexistir e se transmutar dialeticamente um no outro. Dentro desse
contexto, o conceito de efetivação emerge como uma chave para desvendar a dinâmica
subjacente à expressão de valor na economia política. Em termos abstratos, a
efetivação do valor acontece pela forma-preço, sendo totalmente possível que ele não
se expresse, desde que esta tenha pleno funcionamento na dinâmica do capitalismo.
A possível superação da contradição lógica e teórica por meio da efetivação do valor na
forma-preço pode ajudar a entender a realidade capitalista. Em síntese, é no âmbito do
direito tributário e das normas do sistema financeiro que o Estado adquire valor e, ao
mesmo tempo, emite moeda, influenciando nos diferentes preços das mercadorias. Via
tributação, ele conquista uma parte do valor criado pelos particulares de maneira direta.
Pelo sistema financeiro, possui condições de regulamentar o capital portador de juros.
Nessas duas situações, os valores angariados servem para a realização de políticas
monetárias e de preço. Portanto, haveria aqui a efetivação abstratamente descrita.
Na tentativa de provar essa questão, ainda se fará um breve levantamento dos
dispositivos constitucionais e legais dos sistemas tributário e financeiro (bem como da
doutrina mais recente) para verificar se existem normas jurídicas que indiquem a
necessidade de o Estado instituir um regime fiscal para a reprodução do sistema
capitalista. Eventualmente, espera-se também desvelar possíveis finalidades até então
obscuras do constituinte e/ou do legislador para a criação de determinadas formas de
tributação, de controle das finanças públicas e de regulamentação bancária.

GT PRESENCIAL 6 – Direito e Sociologia II


Autor Paulo Afonso de Ávila Carvalho Filho Sala C24 – Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título A querela contemporânea dos direitos humanos: reflexões sobre universalidade e
imperialismo.
Resumo Diante de um contexto em que o modelo de organização das culturas e dos povos sob
a forma de Estados soberanos difundiu-se mundialmente, cada cultura representa um
olhar para a realidade, e cada visão cultural é uma verdade em si mesma. Hegel propõe
que todo Estado – ou seja, cada totalidade cultural – é detentor da verdade para si
mesmo, pois cada Estado, enquanto unidade estatal reconhecida, expressa a vontade
dos membros da comunidade que congrega. Cada Estado, portanto,é uma expressão
da cultura de um povo, sendo a expressão jurídica do seu maximum ético, como nos
ensina Joaquim Carlos Salgado, uma cumeada da autodeterminação de um povo, e
mesmo em um cenário de conflito generalizado entre Estados soberanos, não haverá
um caminho correto, capaz de ser apreendido aprioristicamente, pois “todos [os
Estados] têm um verdadeiro direito” de se autodeterminar; são soberanos por
excelência. Pois bem, se cada Estado possui um olhar próprio sobre a realidade, é
possível pensar um denominador comum para todas estas unidades culturais? Existe
uma verdade universalizável a todas as culturas? Sem dúvidas, pelo menos a filosofia
ocidental se esforça para comprovar essa existência de um radical universal humano.
Karine Salgado, jusfilósofa mineira, argumenta que a filosofia se esforça para ir além da
contingência, e apesar de refletir os dilemas históricos e culturais do seu tempo
presente, possui, em si, uma vocação para o universal. Um dos maiores símbolos desse
esforço de universalização na contemporaneidade são os direitos humanos. Nesse
sentido, frutos da cosmovisão do ocidente, sobretudo da história europeia, os direitos
humanos são um artefato cultural que sedimenta séculos de interesse filosófico, jurídico,
político, social e econômico pela centralidade do homem no mundo, e congrega em si a
tentativa de compreender aquilo que seria universal e necessário a todos os humanos a
partir de um esforço filosófico, de fundamentação, e de um esforço efetivo, de
experiência, capazes de atribuir a esse símbolo a força motriz de emancipação da
humanidade. Entretanto, esse esforço universalizante dos direitos humanos ganha um
relevo contemporâneo potente ao ser contrastado com a diversidade cultural inerente
82

ao mundo globalizado, uma vez que é fomentado por instituições internacionais desde
o século XX, e é sob a égide da Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH) que
a diversidade cultural assumiu uma posição de relevância global como a que
conhecemos hoje. A defesa cultural dos Estados está impregnada pelos discursos
internacionalistas, e a universalidade destes direitos parece garantir e legitimar essa
proteção. Karine Salgado nos relembra que o universal, apesar de ser uma categoria
marcante do pensamento filosófico ocidental, não pode pertencer a uma cultura, pois se
assim o fosse, já não seria universal, e ainda nos provoca a refletir: “é possível pensar
em direitos humanos que prescindam, ou mais, que recusem a ideia de universal?”.
Contudo, partindo do paradigma de que cada Estado detém o poder de se
autodeterminar e de expressar a vontade cultural de seu povo, estabelecer um único
caminho, certo e necessário, para todas as culturas, implica numa redução da
diversidade cultural frente a um aspecto impositivo exterior. Sobretudo quando este
caminho se apresenta como uma categoria à priori, e portanto universal, como se
pretendem os direitos humanos, pois diante deste cenário, o desenvolvimento de um
Estado poderia ver-se condicionado a um artefato cultural que não lhe pertence,
historica e culturalmente, culminando numa situação em que a cultura de um povo vê-
se limitada a uma dimensão exterior à sua vontade, como ocorre nos processos de
imperialismo. Assim, colocamos a querela contemporânea dos direitos humanos: entre
relativismos e universalismos, há como pensar um denominador comum a toda
humanidade sem ferir a soberania dos Estados e autodeterminação dos povos? O
Direito é, por excelência, uma dimensão cujo objeto é a realidade, em que disputam
entre si os fatos, as normas e os valores. Cada fato gera uma fricção na realidade, seja
em seu contraste com as normas ou com os valores, ou com ambos, e diante novos
fatos, novas fricções, e essa é a realidade das ciências humanas, e propriamente do
direito. Sendo o objeto do direito a realidade, este tentará ao máximo lê-la e avaliá-la
com a maior precisão, mas somente conseguirá se aproximar, sem nunca poder atingir,
uma representação justa do mundo. Nunca, pois a realidade tem esse caráter
caleidoscópico, em que cada visão altera a percepção do que se é, e nem por isso anula
a verdade da perspectiva do outro ângulo. E o direito, mediador da realidade, está
fadado a este ninho de (cosmo)visões. Portanto, pensar os direitos humanos implica em
pensar em suas cosmovisões, e, então, propriamente em sua dimensão cultural. Nesse
sentido, refletir sobre a história dos direitos humanos e dialetizar a fundamentação e a
experiência destes nos ajudará a compor caminhos para uma possível resposta à
querela supracitada.

GT PRESENCIAL 6 – Direito e Sociologia II


Autor Haron Barberio Francelin Sala C24 – Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título A multiposicionalidade como fundamento do campo jurídico.
Resumo O sujeito histórico imbuído da atividade jurídica tem “inerentemente” a sua posição como
agente e disposição como classe social uma dualidade insuperável, a rigor, ocupa ou
uma posição de Estado que o confere a outorga de missionário do Universal, ou por
outro lado de mandatário de um conflito de interesse inconciliável (Dezalay, 2002;
Bourdieu 1986), contudo tal posse simbólica não consegue por concreto desassociar-se
de suas características enquanto sujeito autônomo.
Essa tensão gerada é o que impõe para o mundo social na sociologia espontânea certo
questionamento quanto a atitudes desinteressadas do campo jurídico, valor sine qua
non de sua perpetuação enquanto instrumento legitimo das sociedades liberais. Tal
processo de impessoalidade, contudo, é uma construção histórica (Weber,1990) que
ainda não obteve uma completa superação dos modelos de reprodução de poder
precedentes, como bem assinalou Pierre Bourdieu (2013) na obra “Sobre Estado”.
Nessa via, portanto é interessante pensar o agente jurídico como um ator politico que
tem uma ambiguidade multiposicional particular (Boltanski,1979) isto é, tem a sua
trajetória social e tem a sua ação de mandatário seja publico ou privado em constante
tensão quanto a identidade produzida, que ao tempo que se produz, o qualifica, o
diferencia enquanto forma de expertise na divisão social do trabalho.
Tal tensão é ainda mais encontrada quando os agentes sócias avançam na topográfica
hierárquica do campo (Dezalay, 1996); ao passo que quanto mais se eleva no campo,
83

mas suas disposições podem ser legitimadas de maneira mais fácil pelo revestimento
de impessoalidade.
Tomando essa premissa como objetiva é importante através de uma revisão
bibliográfica sedimentar o núcleo teórico do primeiro começo. Estudar as estruturas
elementares, como pontuou Durkheim (2003) é revelar as arestas do que estava em
discussão quanto algo que era costume se tornou instituição. Portanto, para investigar
esse recalque da personalidade essencial ao exercício da atividade jurídica, é evidente
trazer em voga fenômenos históricos que causaram essa dissociação. Como exemplo
inaugural pode se apresentar a revolução francesa.
A revolução francesa foi uma virada de chave nos sistemas de reprodução de poder em
que o Sistema de Reprodução multiposicional e impessoal, superou o sistema de
reprodução dinástico e hereditário que se perpetuava através da figura do rei.
“Sem pretender desordenar o conhecimento, penso que se compreenderia muito melhor
a Revolução Francesa caso se visse que ela talvez seja o triunfo de um modelo
impessoal sobre o modo de reprodução pessoal. Por fim- digo isso para que vocês
tenham logo o intuito grau de minha exposição-, as categorias que possuem mais
interesse [pela Revolução] são aquelas que cuja perpetuação [ de suas posições de]
poder depende do sistema escolar, do capital cultural etc.; elas têm interesse em
promover uma definição de Estado mais universal que as categorias sociais cujo poder
e cuja transmissão depende da hereditariedade (Bourdieu,2013,p.350)
Esses processos devem ser entendidos com a tomada de posição do Estado impessoal
em face ao de um Estado dinástico, em que ambos têm em suas características
sistemas de reproduções muito diferentes.
É imperioso tomar de partida essa forma de reprodução do sistema próprio do campo
jurídico, haja vista que qualquer agente no campo jurídico tem a peculiaridade de sempre
atuar em uma razão ambígua, seja nos contenciosos privados em que é procurador de
um interesse alheio. Seja no âmbito do direito público, em que confere na sua razão
prática uma ambiguidade com essa multiposiçao pública e universal.
Ou seja, a inerência a atuação posicional no campo jurídico é majoritariamente
racionalizada em uma natureza bidimensional. Seja nos “gestores do campo” agente
que tem consagra em razão do acervo de capital que possuem (Bourdieu,2007), bem
como naqueles irrisórios em razão de complexidade, como os patrocinadores de
interesses inconciliáveis nas instâncias menores.
Em outras palavras, seja os ministros de uma suprema corte ou doutrinadores
consagrados, seja, os advogados de jurisdição contenciosa da justiça comum, ambos
têm que reforçar o caráter multiposicional de seus interesses.
Contudo, tal senso prático tem uma distribuição demasiadamente desigual. Essa
desigualdade, todavia, se manifesta, sobretudo na contundência simbólica de seu
comportamento, e na capacidade de alterar os usos da interpretação do corpus
objetivado do direito, a saber, as normas.
A multiposicionalidade de um mandatário de justiça comum de interesses privados não
o possibilita de alterar o senso prático e porque não dizer os códigos resolutivos do
campo. Já um nível alto da hierarquia tem uma multiposição legitimada ao ponto de
interpretação da constituição por exemplo.
Assim, propõe apresentar em específico nesse artigo às propriedades sociais dos
Ministros da Suprema Corte Nacional, aqueles que têm maior poder recursiva do uso
social da multiposicionalidade, em um plano bidimensional através da análise de
correspondência múltipla ACM no período da redemocratização 1988-2022, com virtude
de explorar sociologicamente quais são as trajetórias sociais recalcadas desses sujeitos
que tem a primazia prática da multiposicionalidade desinteressada.

GT PRESENCIAL 7 – Direito Constitucional, Teoria do Estado e Direito Público II


Autor Antônio Luiz Fagundes Meireles Júnior Sala C34 – Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Peter Häberle e o alargamento do círculo de intérpretes da constituição: a participação
da sociedade nos processos de controle de constitucionalidade mediante a existência
de audiências públicas no Supremo Tribunal Federal.
Resumo Na obra “Hermenêutica Constitucional: a sociedade aberta dos intérpretes da
constituição”, Peter Häberle estabelece que o procedimento de interpretação das
84

normas constitucionais não pode se restringir a uma “sociedade fechada” de intérpretes


oficiais, mas, sim, deve ser um “processo aberto”, na mesma conotação de um
pluralismo que se verifica em meio à sociedade para qual a norma se dirige .
No entanto, a interpretação constitucional tem sido, até o presente momento,
propriedade de um grupo reduzido e muito bem definido de atores, formados apenas
por operadores do direito, sejam eles magistrados ou agentes legítimos de atuação
formal nos processos judiciais (procuradores e advogados). A estes cabe o ônus (ou o
bônus) de não apenas realizar a interpretação das normas constitucionais, mas, ainda,
de conferi-las aplicabilidade.
Quem está inserido diretamente no contexto regulado pela norma (ou seja, seu
destinatário), para Häberle (1997) deve ocupar a posição de cointérprete, não existindo
um monopólio da hermenêutica constitucional, já que a principal função de uma Corte
Constitucional é a de interpretar a Constituição com base em uma perspectiva atualizada
de sua visão pública.
Assim, o processo de interpretar e aplicar a norma não está totalmente dissociado da
realidade. Em outras palavras, envolve a consideração de elementos concretos na
interpretação constitucional, não se limitando apenas às questões factuais, mas
incorporando todos os fatos relevantes na elaboração e aplicação da norma em questão.
No Direito brasileiro, os juízes e tribunais não são os únicos responsáveis pela
interpretação jurídica da CRFB/88, havendo diversos outros agentes, especialmente as
forças públicas; a título de exemplo, se nenhum dos agentes legitimados (art. 103 da
CRFB/88) provocarem ao Supremo Tribunal Federal (STF) que realize o controle
concentrado de constitucionalidade, as normas continuam em vigor, mesmo sem a
devida realização de interpretação judicial. Não obstante, a ampliação do “rol de
intérpretes” se expande ainda mais, quando se leva em consideração a utilização de
mecanismos jurídicos de subsídios as decisões dos tribunais, como é o caso da análise
de fatos, mediante audiência pública.
A Lei n.º 9.868/99, que estabelece as diretrizes para o processo da ação direta de
inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade no STF,
explicitamente permite a consideração de fatos e projeções, com a assistência de
indivíduos que não são partes no processo. Assim, em um processo considerado
objetivo, é viável esclarecer situações factuais relacionadas ao tema em debate por meio
de consultas a especialistas e aos tribunais competentes para julgar os processos
subjetivos relativos à norma em questão.
Entre os institutos jurídicos de subsídios as decisões dos tribunais, previstos na
legislação brasileira, as audiências públicas representam o principal (embora não
exclusivo), mecanismo utilizado para investigar e esclarecer fatos no processo de
controle concentrado de constitucionalidade STF.
Em 20 de abril de 2007, o STF conduziu uma audiência pública como parte do processo
de instrução da Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 3510, iniciada pela
Procuradoria-Geral da República, que contestou dispositivos da Lei de Biossegurança
(Lei nº 11.105/2005). Essa foi à primeira audiência realizada pelo STF como meio de
prova em uma ADI, na qual vinte e dois especialistas foram ouvidos sobre o uso de
células-tronco de embriões humanos em pesquisas e terapias, divididos em dois grupos:
um favorável e outro contrário à permissão legal. Desde então, a corte constitucional
realizou diversas outras audiências públicas.
É frente ao cenário acima descrito que, a presente pesquisa, busca verificar se a adoção
sistemática das audiências públicas pelo STF, ao longo desses dezessete anos, buscou
estabelecer um diálogo com os diversos setores da sociedade, de modo a conferir
racionalidade e legitimidade às suas decisões, alargando o círculo de interpretes da
constituição, conforme a teoria de Peter Häberle.
A análise é tanto teórica, fundamentada em doutrina nacional e estrangeira, quanto
prática, baseada na interpretação do Supremo Tribunal Federal. O objetivo é contribuir
para a precisa delimitação e aplicação do instituto, além de demonstrar que eles
ampliam os recursos processuais disponíveis ao STF em seu papel de corte
constitucional.
85

GT PRESENCIAL 7 – Direito Constitucional, Teoria do Estado e Direito Público II


Autor Patrick Luiz Martins Freitas Silva Sala C34 – Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título Moralidade e Ciência no Supremo Tribunal Federal: Decisões Envolvendo o Direito à
Vida.
Resumo Este estudo examina as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) relativas ao direito
à vida, focando em casos emblemáticos como a pesquisa com células-tronco
embrionárias (ADI 3510/2008), interrupção da gestação de fetos anencéfalos (ADPF
54/2012) e a discussão sobre a interrupção da gestação até o terceiro mês (ADPF
442/2023). Analisamos como os princípios jurídicos, descobertas científicas e
sentimentos morais se interligam nessas decisões, destacando a complexidade inerente
à jurisprudência de direitos fundamentais. Propomos que sentimentos morais, conforme
concebidos por David Hume, predominantemente orientam as decisões judiciais,
influenciando a tomada de decisão. Este trabalho explora como tais sentimentos se
manifestam e influenciam as interpretações legais e científicas, sugerindo uma
predominância dos fatores morais sobre os puramente legais ou científicos.
Exploramos as intersecções entre moralidade e julgamento humano, sugerindo que as
inclinações ideológicas dos juízes são cruciais nas decisões judiciais. A pesquisa foca
em decisões do STF que envolvem questões morais centrais e incorporam pareceres
científicos, permitindo uma análise detalhada de como estes elementos influenciam o
processo decisório. A ciência é mobilizada nas decisões judiciais não apenas como uma
fonte de conhecimento objetivo, mas também como um meio de legitimar posições
morais, potencialmente ocultando as influências morais subjacentes.
As decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre questões relacionadas ao direito
à vida ilustram como os ministros constroem seus argumentos integrando aspectos
legais, científicos e morais. Através da análise dessas decisões, percebe-se uma
interação complexa entre a defesa dos direitos fundamentais, a precisão científica e uma
correção moral que permeia o discurso judicial.
No contexto das pesquisas com células-tronco embrionárias, observa-se uma clara
manifestação de correção moral nos argumentos utilizados pelos ministros. Por
exemplo, a ministra Cármen Lúcia emprega a expressão "lixo genético" para referir-se
aos embriões não viáveis, uma escolha terminológica que não apenas ressalta a
inviabilidade da vida nesses embriões, mas também tenta mitigar o dilema moral de
utilizar material biológico humano em pesquisas. De maneira similar, ministros como
Ellen Gracie, Carlos Menezes e Eros Grau, ao diferenciarem embriões viáveis de não
viáveis, buscam superar constrangimentos morais, argumentando sob uma perspectiva
que minimiza conflitos éticos ao focar na não viabilidade da vida.
No caso da interrupção da gestação de fetos anencéfalos, as posições morais são ainda
mais evidentes. O ministro Marco Aurélio comparou a obrigatoriedade de manter uma
gravidez de feto inviável a um "cárcere no próprio corpo", uma metáfora que transmite a
injustiça e a crueldade da situação imposta à mulher. Da mesma forma, a ministra
Cármen Lúcia argumenta que forçar a continuidade de tal gravidez constitui uma
crueldade, enfatizando a carga moral da decisão e defendendo a autonomia e a
dignidade feminina.
Por último, no julgamento ainda em curso da ADPF 442, a ministra Rosa Weber
expressa uma correção moral enfatizando a opressão enfrentada pelas mulheres em
decisões sobre seus próprios corpos. Ela destaca o silenciamento histórico das
mulheres na arena democrática, sublinhando a importância de reconhecer e validar a
voz feminina em debates sobre questões reprodutivas. Suas palavras refletem uma
preocupação com a autodeterminação feminina e com a necessidade de conciliar
maternidade e outras dimensões de uma vida digna, revelando como sentimentos
morais influenciam significativamente a interpretação e aplicação do direito.
Esses exemplos demonstram que, embora os ministros do STF utilizem argumentos
legais e científicos para legitimar suas decisões, existe uma camada significativa de
correção moral que orienta suas escolhas. Esse entrelaçamento de direito, ciência e
moralidade não apenas complexifica a análise das decisões judiciais, mas também
destaca o papel crucial da moral na conformação dos julgamentos sobre o direito à vida.
Ao destacar a interação entre direito, moralidade e ciência, o estudo oferece uma
compreensão aprofundada sobre como estes domínios se entrelaçam nas práticas
judiciais, desafiando visões simplistas da imparcialidade judicial e ressaltando a
86

complexidade e os desafios éticos inerentes à tomada de decisão dentro de um contexto


interdisciplinar. Este enfoque permite uma investigação mais rica sobre o papel dos
sistemas éticos na formação das decisões judiciais, promovendo uma discussão sobre
a natureza da moralidade e sua influência nas decisões judiciais do STF.

GT PRESENCIAL 7 – Direito Constitucional, Teoria do Estado e Direito Público II


Autora Natália Marques Andrade Sala C34 – Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título A linguagem simples como ferramenta na busca da redução das desigualdades sociais.
Resumo Delimitação do Tema: A linguagem simples é um movimento social e uma técnica de
comunicação, uma ferramenta de grande importância no enfrentamento das
desigualdades sociais. O presente estudo se concentra na compreenção de como a
linguagem jurídica formal impede o direito dos cidadãos entenderem as informações que
conduzem a sua vida na sociedade e aumenta as desigualdades sociais. Esta pesquisa
explora como as diretrizes de linguagem simples podem ser incorporadas à
comunicação jurídica para que todo cidadão possa compreender seus direitos e exercê-
los.
Objeto e Objetivos: O objeto de estudo é a utilização das diretrizes da linguagem simples
como instrumento para tornar a linguagem jurídica complexa acessível, aproximando o
Direito das pessoas, de forma clara e eficaz. O objetivo principal é analisar e investigar
como o uso de palavras conhecidas, da empatia, da hierarquia das informações e o
raciocínio simplificador podem facilitar a compreensão e o acesso aos Direitos. E deste
modo, analisar como os operadores do Direito podem atuar como combater as
desigualdades sociais.
Metodologia: A pesquisa será conduzida por meio de uma abordagem qualitativa,
envolvendo o levantamento e análise de leis e normas regulamentadoras da aplicação
da linguagem simples, revisão bibliográfica sobre linguagem simples e comunicação
jurídica, com o intuito de mapear as práticas e desafios envolvidos na aplicação da
linguagem simples para redução das desigualdades sociais.
Hipóteses: Partimos da hipótese de que a utilização das diretrizes da linguagem simples
pelo operadores do Direito pode auxiliar significativamente na redução das
desigualdades sociais e na busca por uma sociedade mais justa e transparente. A
substituição de jargões por palavras conhecidas, a prática da empatia, juntamente com
a narrativa simplicada dos argumentos legais e científicos pode aumentar a
conscientização, influenciando a sociedade e o governo para ações eficazes. Além
disso, acreditamos que governos são mais propensos a agir quando as informações são
apresentadas de forma clara e impactante, criando uma ponte entre o conhecimento
técnico e o entendimento público.
Considerações Finais: Este estudo busca contribuir para o movimento social pelo direito
de entender as informações que orientam a vida em sociedade, ao apresentar
estratégias concretas para aperfeiçoar a comunicação jurídica, a interpretação de leis,
a criação de comunicados e documentos jurídicos, para que todo cidadão possa
compreender. Espera-se facilitar o acesso a direitos e à justiça, como forma de inclusão
e democracia. A união do direito com a linguagem simples representa um campo
promissor para futuras pesquisas e práticas, mostrando um caminho inovador na luta
contra as desigualdades sociais.

GT PRESENCIAL 7 – Direito Constitucional, Teoria do Estado e Direito Público II


Autor Antônio Luiz Fagundes Meireles Júnior Sala C34 – Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título "Constitucionalismo abusivo como mácula da democracia: um estudo sobre o desenho
institucional brasileiro".
Resumo A erosão da democracia não se restringe mais aos métodos convencionais de golpes
de Estado perpetrados por generais autoritários, como observam Levitsky e Ziblatt
(2018). A democracia, em sua decadência, pode sucumbir não apenas ao jugo militar,
mas também por indivíduos eleitos pelo volto popular em processos eleitorais
aparentemente legítimos e livres.
O desmantelamento das democracias contemporâneas adquiriu uma sofisticação
possível de encontrar raízes no próprio direito. Instituições dissimulam suas verdadeiras
87

intenções ao servirem de fachada para governos autoritários. Este fenômeno insidioso


revela a necessidade de uma vigilância constante e uma compreensão aguçada dos
mecanismos pelos quais a democracia pode ser corroída de dentro para fora e não
apenas de fora para dentro.
Cunhado originalmente por David Landau (2013), o conceito de Constitucionalismo
Abusivo toma como base o uso de mecanismos e institutos jurídicos criados para
viabilizar alterações necessárias à constituição, para minar a própria ordem e “tornar o
Estado menos democrático”. Diferentemente dos tradicionais golpes de Estado, o
Constitucionalismo Abusivo não “salta aos olhos”, muito pelo contrário, se reveste de
uma roupagem de aparente conformidade com o Estado de Direito, dificultando seu
combate.
Assim, a deturpação do modelo de Constitucionalismo não só auxilia, como propícia um
ambiente perfeito para a efetivação de novas modalidades de governos autoritários ou
semiautoritários, sem a necessidade da utilização de mecanismos violentos, como
“golpes de estado”, para que os agentes do Constitucionalismo Abusivo cheguem ou
mantenham-se no poder do estado.
A pesquisa investigará o fenômeno do Constitucionalismo Abusivo, suas características,
categorizações e manifestações, diferenciando-o de outros fenômenos similares que
podem existir dentro do Estado de Direito que, eventualmente, buscam subverter o
regime democrático. Em seguida, objetiva apontar situações em que o Congresso
Nacional, pós “revolução democrática” de 1988, se utilizou do seu poder de emenda
para diminuir a força dos colegiados que colaboram para a criação de políticas públicas,
bem como para a restrição direta de direitos fundamentais. O presente estudo ainda
busca apontar situações de constitucionalismo abusivo, considerando a nova identidade
constitucional construída com a constituição de 1988, oriunda de um pacto democrático
da sociedade brasileira.

GT PRESENCIAL 7 – Direito Constitucional, Teoria do Estado e Direito Público II


Autor Almir Valente Felitte Sala C34 – Sábado, 11 de maio, de 8h a 10h
Título O impacto da transição da escravidão ao trabalho livre no desenvolvimento da
segurança pública brasileira.
Resumo Há um grande consenso em torno da ideia de que o período escravista deixou marcas
profundas na sociedade brasileira até os dias de hoje. Nesse sentido, o século XIX,
marcado pela transição entre a escravidão legalizada de pessoas negras e a
consolidação do trabalho livre assalariado, é um período que desperta grande interesse
em qualquer análise histórica que busque compreender o Brasil moderno. Neste
trabalho, buscaremos demonstrar o quanto as preocupações das camadas dominantes
em realizar esta transição nas relações de produção do país sem perder o controle sobre
as camadas trabalhadoras foi central na construção e no desenvolvimento das
estruturas de segurança pública brasileiras. Os primeiros grandes regulamentos
criminais e policiais do país, tais como o Código Criminal do Império de 1830, o Código
de Processo Penal de 1832 e sua reforma de 1841, a criação do inquérito policial em
1871 e a permissão de que cada província criasse seus próprios corpos policiais
militarizados em 1831, coincidem com o período compreendido entre a primeira lei
abolicionista brasileira, a Lei Barbacena de 1831, e a Lei Áurea de 1888.
Demonstraremos, desta forma, como este fato vai muito além de mera coincidência
histórica, apresentando uma verdadeira relação político-social entre os dois fenômenos.
Para tanto, partiremos da análise consagrada por autores como Clóvis Moura, Caio
Prado Jr. e Florestan Fernandes, deste período que, para muitos, representa a
revolução burguesa no Brasil e a consequente consolidação de um Estado burguês
nacional. Um período que compreende quatro etapas principais, a saber: a
independência política, a supressão do tráfico africano, a imigração de trabalhadores
europeus e a abolição do trabalho escravo. Compreendendo as peculiaridades de um
país localizado na periferia do sistema capitalista global, atentaremos para as
especificidades dos interesses dominantes no Brasil, no sentido de que a racionalidade
burguesa brasileira operou em uma dupla articulação que visava compatibilizar a
dominação imperialista externa com o desenvolvimento desigual interno. Assim, é neste
contexto que se inserem três contradições fundamentais que merecem aprofundamento
no estudo do tema proposto: a entre o negro recém-liberto e as classes dominantes do
88

Império arvoradas em estruturas de poder ainda ideologicamente escravistas; a entre o


imigrante que chega ao país para vender sua força de trabalho e os interesses de um
modelo de capitalismo dependente; e a entre a classe trabalhadora negra, marginalizada
e reduzida ao espaço de exército industrial de reserva, e a classe trabalhadora imigrante.
É a partir da análise destas novas contradições surgidas nas relações de poder e
trabalho no Brasil do século XIX que buscaremos compreender de que forma se deu a
dominação burguesa no país, sobretudo em seus aspectos de controle sobre a máquina
do Estado, com foco em suas estruturas de segurança pública, demonstrando a relação
entre os interesses dominantes e a formação deste aparato estatal de segurança no
país.
89

X JORNADA BRASILEIRA DE FILOSOFIA DO DIREITO E SOCIOLOGIA DO DIREITO


PAINÉIS TEMÁTICOS

Painel Temático 1

Local: Auditório
Sexta, 10 de maio, de 16h a 17h30

Título Produção da verdade na jurisdição constitucional: fronteiras entre direito,


política e ciências.
Integrantes Margarida Maria Lacombe Camargo (Proponente)
Mario Cesar Andrade
Ana Paula Lemes de Souza
Diego Martinez Fervenza Cantoario
Patrick Luiz Martins Freitas Silva
Silvagne Vasconcelos Duarte
Ricardo Reis Messaggi
Antônio Luiz Fagundes Meireles Júnior

Painel Temático 2

Local: sala C23


Sexta, 10 de maio, de 17h a 18h30

Título Filosofia experimental do Direito.


Integrantes Noel Struchiner
Sérgio Nojiri (Proponente)
Gabriela Perissinotto de Almeida
90

Painel Temático 3

Local: Anfiteatro
Sexta, 10 de maio, de 16h a 17h30

Título 30 anos do pós-escrito de H. L. A. Hart: estudos sobre o debate Hart-Dworkin.


Integrantes Ronaldo Porto Macedo Júnior
Luis Fernando Coelho
Nuno Manuel Morgadinho dos Santos Coelho
Amanda Bombardi Bortolin
Thiago Shaaban Soler (Proponente)

Painel Temático 4

Local: sala C 34
Sexta, 10 de maio, de 16h a 17h30

Título Inteligência Artificial, discriminação algorítmica e vigilância.


Integrantes Paola Cantarini Guerra (Proponente)
Tito J. Bonagamba
Fernando Santos Osorio
Evandro Eduardo Seron Ruiz
Fausto Santos de Morais
Roberto Novaes
91

Painel Temático 5

Local: sala Auditório


Sábado, 11 de maio, de 10h a 11h30

Título Inteligência Artificial, democracia e impacto ambiental da IA - Estado


Democrático de Direito desde a concepção e sustentabilidade "dy design”.
Integrantes Paola Cantarini Guerra (Proponente)
Cristina Godoy Bernardo de Oliveira
Thiago Gomes Marcilio
Renato Tinós
Willis Santiago Guerra Filho
Rafael Sacramento

Painel Temático 6

Sala Anfiteatro
Sábado, 11 de maio, de 10h a 11h30

Título Estudos sobre os 90 anos da Teoria Pura do Direito.


Integrantes Vinícius Ormelesi
Adrian Sgarbi
Thiago Shaaban Soler (Proponente)
Ernesto Miranda de Carvalho
92

X Jornada Brasileira de Filosofia do Direito e


Sociologia do Direito
9, 10 e 11 de maio de 2024
Associação Brasileira de Filosofia do Direito e Sociologia do Direito
Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

Associe-se à ABRAFI: https://filosofiadodireito.org.br/associe-se/

Quinta, 9 de maio
Quinta, 9 de Solenidade de Abertura. Margarida Maria Lacombe Camargo (UFRJ,
maio, 19h. Presidenta da ABRAFI).
Anfiteatro. Nuno Manuel Morgadinho dos Santos Coelho (Diretor
da FDRP-USP e Diretor Acadêmico da ABRAFI).

Quinta, 9 de Anúncio do vencedor do Autor da Tese: Ariel Engel Pesso.


maio, 19:30- Prêmio ABRAFI de Teses Orientador: José Reinaldo de Lima Lopes.
21h. 2024, e exposição e Título da Tese:
Anfiteatro. discussão da Tese. As Faculdades de Direito e a Escravidão no Brasil
(1827-1888): Direito Natural e Economia Política na
fundamentação teórica do “elemento servil”.
Sexta, 10 de maio
Sexta, 10 de Recital do Departamento Rubens Russomanno Ricciardi (Maestro da USP
maio, 8:30h. de Música da Faculdade Filarmônica e Professor da FFCLRP-USP).
Auditório. de Filosofia, Ciências e Padre Christian Ferreira (Estudante de Graduação da
Letras de Ribeirão Preto FFCLRP-USP) - Barítono.
da Universidade de São Matheus Luís de Andrade (Estudante de Graduação
Paulo (FFCLRP-USP). da FFCLRP-USP) - Percussão.
Obras de Gilberto
Mendes, Dorival
Caymmi/Radamés
Gnattali e Hanns Eisler.
Sexta, 10 de Conferências Plenárias. Matthias Mahlmann (Universidade de Zurique,
maio, 9-12h. Presidente da Internationale Vereinigung for Rechts-
Auditório. und Sozialphilosophie – IVR, Associação Internacional
de Filosofia do Direito e Filosofia Social): The justice of
rights and the rise of anti-egalitarian ideologies.

Diego Luna
(Universidade de Buenos Aires, Asociación Argentina de
Filosofía del Derecho - AAFD):
Desigualdades y creación de igualaciones. A
propósito de una teoría egológica de la justicia.

Vera Karan de Chueiri (Universidade Federal do


Paraná, 1ª Vice-Presidenta da ABRAFI).
Sexta, 10 de Lançamento de livros. Autoras(es) e obras a anunciar.
maio, 12-13h.
Foyer.

Pausa para Almoço


93

Sexta, 10 de Grupos de Trabalho São 3 GTs presenciais em funcionamento simultâneo,


maio, 14-16h. (Sessões Paralelas, em neste horário.
caráter presencial). Programação em
https://docs.google.com/document/d/1jXZy4c6ufne0t-
2u28DVD2QlaIs2uBN2CNAA6KA-S-g/edit?usp=drivesdk
Sexta, 10 de Grupos de Trabalho São 5 GTs online em funcionamento simultâneo (Google
maio, 14-16h. (Sessões Paralelas, a Meet), neste horário.
distância). Programação em
https://docs.google.com/document/d/1jXZy4c6ufne0t-
2u28DVD2QlaIs2uBN2CNAA6KA-S-g/edit?usp=drivesdk
Pausa para Café
Sexta, 10 de Painéis Temáticos São 4 Painéis Temáticos em funcionamento simultâneo,
maio, 16- (Sessões Paralelas, em neste horário.
17:30h. caráter presencial). Programação em
https://docs.google.com/document/d/1gJm4UL1-
CUzmsWANJcTqZmlFVackf03iGaQKNsZ1HYQ/edit?us
p=drivesdk
Pausa para Café
Sexta, 10 de Conferência Plenária. Ronaldo Porto Macedo Júnior (Faculdade de Direito
maio, 18h- da USP, Key Speaker junto ao Congresso Mundial da
19:30h. Internationale Vereinigung for Rechts- und
Anfiteatro. Sozialphilosophie – IVR, Associação Internacional de
Filosofia do Direito e Filosofia Social - Seoul, 2024).
Sexta, 10 de Jantar de Jantar por adesão.
maio, 20h. confraternização.

Sábado, 11 de maio
Sábado, 11 de Grupos de Trabalho São 7 GTs em funcionamento simultâneo, neste horário.
maio, 8h-10h. (Sessões Paralelas, em Programação em
caráter presencial). https://docs.google.com/document/d/1jXZy4c6ufne0t-
2u28DVD2QlaIs2uBN2CNAA6KA-S-g/edit?usp=drivesdk

Sábado, 10 de Grupos de Trabalho São 4 GTs em funcionamento simultâneo (Google


maio, 8h-10h. (Sessões Paralelas, a Meet), neste horário.
distância). Programação em
https://docs.google.com/document/d/1jXZy4c6ufne0t-
2u28DVD2QlaIs2uBN2CNAA6KA-S-g/edit?usp=drivesdk
Sábado, 11 de Painéis Temáticos São 2 Painéis Temáticos em funcionamento simultâneo,
maio, 10h- (Sessões Paralelas, em neste horário
11:30h. caráter presencial). Programação em
https://docs.google.com/document/d/1gJm4UL1-
CUzmsWANJcTqZmlFVackf03iGaQKNsZ1HYQ/edit?us
p=drivesdk

Sábado, 11 de Sessão de Encerramento. Margarida Maria Lacombe Camargo (Presidenta da


maio, 11:30h. ABRAFI).
Anfiteatro. Cristina Godoy Bernardo de Oliveira (Chefe do
Departamento de Filosofia do Direito e Disciplinas
Básicas da FDRP-USP).
Isabella Tardin Cardoso (UNICAMP, Presidenta da
Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos).
Sábado, 11 de Visita ao Museu Portinari Conforme interesse e disponibilidade das pessoas
maio, 14:30h- (Brodowski, SP). participantes.
17h.

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