Caderno de Resumos - ABRAFI
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APRESENTAÇÃO
análise de diversos fatores, como a existência ou não de políticas públicas efetivas para
a população, níveis de segurança, desigualdade social e qualidade de vida.
Na sequência, partimos para uma análise mais específica dos aspectos sociológicos
referentes à ascensão da violência na cidade de Juiz de Fora/MG, com base em
Rodrigues (2015). A escolha do município mostra-se pertinente pois, além de possuir
histórico de relevância industrial para o País, encontra-se entre as cinco maiores cidades
do estado de Minas Gerais, com mais de quinhentos mil habitantes (IBGE, 2022), além
de ter grande importância econômica em diversos setores, como o de comércio e
serviços, educação e saúde. A cidade está em um importante eixo econômico da região
Sudeste, próxima às capitais Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Finalmente, em pesquisa
empírica, trazemos uma avaliação dos dados mais recentes divulgados sobre a violência
na referida cidade, investigando suas ligações com a desigualdade social como um fator
de concentração.
Em conclusão, percebe-se o quanto é crucial a efetivação de direitos humanos de forma
ampla e irrestrita, possibilitando a mitigação das desigualdades sociais e do cenário de
violência no ambiente urbano. No âmbito deste trabalho, o enfoque é dado na efetivação
da função social da cidade, conforme o art. 182 da Constituição Federal de 1988, uma
vez que é possível estabelecer uma relação entre a estruturação das cidades, o aumento
da incidência da criminalidade e a exclusão social dos indivíduos. Tendo como pano de
fundo a cidade de Juiz de Fora, na Zona da Mata de Minas Gerais, observa-se a
violência enquanto fenômeno social, sendo reflexo da deficiência de políticas públicas
no município voltadas à segurança e à promoção de direitos fundamentais,
especialmente sociais. Como consequência da concentração da violência em áreas de
maior abandono do Poder Público, o aumento da criminalidade faz surgir organizações
que desafiam a soberania estatal, passando a contar com uma atuação mais incisiva do
poder punitivo de forma desmedida. Portanto, é essencial que o direito à cidade seja
considerado como uma diretriz para a repartição de políticas públicas de inclusão social
e promoção de direitos, especialmente nas áreas mais carentes.
A tentativa de estabelecer um conceito oficial para a arte e o belo também pode ser
encontrada em outros filósofos da ilustração como Kant (2018) e Schopenhauer (2003).
Enquanto o primeiro interpretou o belo como o voo livre da imaginação, o segundo
destacou que para se compreender o belo é preciso conhecer a si mesmo, reforçando
ainda mais a subjetividade do conceito.
Em que pesem todos esses esforços da filosofia, também é preciso reconhecer a
existência de uma arte marginal, ou seja, aquela que está aquém dos conceitos
atribuídos à sua singularidade da arte. Este sistema de diferenciações inclui tanto as
distinções visíveis quanto as invisíveis, sendo que estas últimas fundamentam as
primeiras. Dessa forma, a fronteira não aparente que divide a esfera do direito da esfera
do não-direito serve como base para a dicotomia perceptível entre o que é legal e o que
é ilegal, estabelecendo assim a organização do domínio do direito deste lado dessa
fronteira (BOAVENTURA, 2007).
Essa fronteira entre oficial e marginal pode ser facilmente encontrada na diferença entre
piche, como crime, e o grafite como arte. Dito de outro modo: enquanto algumas
atividades plásticas são reconhecidas e aceitas pelo poder público como arte, outras
legitimam a intervenção do sistema penal por meio da criminalização do piche.
Assim, nos termos do art. 65 da Lei 9.605/98, pune-se com pena de prisão de 3 meses
a 1 ano aquele que “pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento
urbano”. A enorme abertura semântica na norma, por si só, já habilita o exercício de um
poder configurador de alvos sociais vulneráveis. A desigualdade na aplicação da lei
penal se agrava quando §2º da norma afirma que não constitui crime o grafite que
valoriza o patrimônio público ou privado.
O trabalho, portanto, pretende analisar como os conceitos oficiais de arte e de belo
contribuem para a desigualdade do sistema penal por meio da criminalização do piche.
A revisão bibliográfica será realizada com base nos dados coletados pelo Observatório
Crítico da Lei Penal da Universidade Vale do Rio Doce/MG, além de jurisprudências do
Tribunal de Justiça de Minas Gerais e de outras fontes secundárias sobre o assunto.
Como resultado, espera-se levantar jurisprudências do TJMG comprovando que a
subjetividade no conceito de arte incrementa a seletividade punitiva ao classificar
algumas condutas como criminosas (arte marginal de pichar), atribuindo a outras o rótulo
de arte oficial de grafite.
humana, que é dada por meio da universalidade. O Estado, como representante dessa
realização, é como se fosse a vida real do homem, um contraste à sua vida aparente na
sociedade civil-burguesa. Bauer acredita, fielmente, que a partir da emancipação política
o poder secular (Estado) tem a capacidade de dominar o espírito religioso (religião). Karl
Marx, por outro lado, ao partir de escritos norte-americanos, inicia sua argumentação
demonstrando a falsidade desses argumentos, como em um país onde há uma
emancipação política plena se verifica "não só a existência da religião, mas a existência
da mesma em seu frescor e sua força vitais" (Marx, 2010, p.38). Marx confronta a
argumentação de Bauer e mostra como, a partir de seus meios, a questão da oposição
entre religião e Estado não pode ser resolvida, pois a religião subsiste, mesmo após a
emancipação política. Diante do exposto, uma breve apresentação dos argumentos de
Bruno Bauer e a caracterização da oposição que Karl Marx faz aos mesmos, a presente
pesquisa visa demonstrar que a cisão da vida do homem em bourgeois (burguês) e o
citoyen (cidadão), a partir da emancipação política, consiste na realização do
fundamento humano do cristianismo e, desse modo, permite a subsistência da religião
como tal. Para isso, a metodologia consiste na análise imanente do artigo “Sobre a
questão judaica”, de Karl Marx. Os resultados da pesquisa demonstram que Bruno
Bauer, ao partir de uma confusão acrítica acerca da emancipação política e da
emancipação humana, exigiu condições da segunda à primeira. Vislumbrou na
emancipação política a saída para a superação da religião, o que impedia os homens
de se realizarem enquanto gênero. No entanto, Karl Marx demonstra como que a própria
emancipação política, na verdade, não visa libertar o homem, mas apenas o Estado da
religião. Ele se conforma como um desvio do homem, no que toca à religião, um meio
para que ele a supere. Assim, a limitação presente na vida real, condicionamento do
homem à religião, aparece como uma qualidade da sociedade civil-burguesa. A religião
“não é mais a essência da comunidade, mas a essência da diferença” (Marx, 2010,
p.42), ela passa a expressar, de forma fantástica, o seu fundamento real, a cisão da vida
do homem – em bourgeois (burguês) e citoyen (cidadão) – conformada a partir da
emancipação política. Desse modo, ela se realiza na sociedade civil-burguesa no
momento que alcança seu fundamento humano, seu conteúdo mundano, que consiste
na inversão do mundo do homem. A relação invertida entre Estado (sujeito) e Sociedade
civil-burguesa (predicado), possui na religião seu compêndio enciclopédico, seu
complemento solene. Os fundamentos da religião, no que Marx se refere ao
cristianismo, só se tornam possíveis quando o Estado a liberta de seus fins profanos e
ela pode se voltar a seus fins sagrados. Por fim, da mesma forma que a religião, ao
mesmo tempo, protesta e expressa a miséria real, o Estado, por meio da política, ao
mesmo tempo, se coloca acima das limitações da sociedade civil-burguesa e as toma
como pressupostos. Ao afirmar o homem abstrato, estranhado, ou seja, o cidadão, como
realização do gênero humano, o homem real, o burguês, se perde no egoísmo e
contradições da sociedade civil-burguesa.
Igualmente, STF assumiu uma posição central para a efetivação dos direitos
fundamentais, uma vez que a autoridade de suas decisões tem o poder de consolidar
interpretações da norma, que devem ser seguidos por todos os outros órgãos do
judiciário. Assim, a efetivação dos direitos fundamentais e a legitimidade das decisões
dos tribunais - notadamente o STF - tornaram-se importantes problemas para a teoria
do direito brasileiro. Com isso, ganham força as concepções que ressaltam o caráter
dialógico e argumentativo das decisões judiciais e que entendem a interpretação da
norma como uma tarefa coletiva, como as teorias da sociedade aberta dos intérpretes
da Constituição (HABERLE, 2014) e da representação argumentativa (ALEXY, 2011).
Nesta perspectiva, destacam-se os instrumentos da audiência pública e do amicus
curiae, ambos já previstos em lei, porém de utilização ampliada nos últimos anos.
No entanto, o Brasil caracteriza-se como uma sociedade multicultural, de complexa
formação histórica, em que diversas desigualdades sociais ainda persistem, apesar de
a Constituição estabelecer o combate à discriminação, marginalização e desigualdades
como objetivos fundamentais da República.
Neste sentido, é importante refletir acerca da situação das religiões de matriz afro
ameríndia, que são importantes elementos da formação cultural do Brasil. Embora a
Constituição determine a punição contra quaisquer formas de discriminação e,
particularmente, a criminalização do racismo, além de prever uma série de direitos
relacionados ao estatuto das religiões, elas seguem sendo vítimas de graves
discriminações e violações de direitos, o que demanda uma solução a ser aplicada pelo
poder judiciário.
Porém, questiona-se como estas religiões têm acessado os órgãos da justiça e mesmo
se os seus argumentos são igualmente considerados no processo de construção das
decisões judiciais, enquanto outras instituições religiosas têm participado ativamente de
audiências públicas no STF e intervindo como amici curiae em processos de relevância
social, notadamente os que envolvem temas moralmente sensíveis, obtendo assim
amplo espaço para expressar seus argumentos e defender seus interesses.
Isto posto, o objetivo deste trabalho é analisar, a partir do estudo de decisões proferidas
pelo STF em casos que tiveram como partes interessadas religiosos ou instituições
religiosas de matriz afro-ameríndia, a efetividade de sua representação argumentativa,
isto é, se os argumentos delineados pelas partes e terceiros interessados foram
adequadamente levados em consideração no processo de construção e aplicação do
direito.
Objetivos
Geral: Analisar a representação argumentativa das religiões de matriz afro-ameríndia
em decisões proferidas pelo STF relativamente a temas de seu interesse.
Específicos: Realizar estudos de caso de decisões em que figuraram como partes ou
terceiros interessados religiosos ou instituições religiosas afro-ameríndias.
Analisar criticamente a participação destes sujeitos na construção de decisões
paradigmáticas para seus interesses.
Metodologia. Para a consecução dos objetivos do trabalho, propõe-se a realização de
estudo de caso, focado em decisões que versaram sobre questões de interesse das
comunidades de religiões afro-ameríndias, considerando que a jurisprudência, cada vez
mais, assume papel criativo e definidor do alcance e limites dos direitos previstos nas
normas positivas.
Assim, pretende-se analisar as seguintes decisões: Habeas Corpus 82.424/RS (2004),
que reconheceu pela primeira vez a prática do crime de racismo por motivo de religião
(praticado, no caso, contra a comunidade judaica); Recurso Ordinário em Habeas
Corpus 134.682/BA (2017) que, em caso similar, não reconheceu a prática do referido
crime contra as religiões de matriz afro-ameríndia em decorrência da publicação de obra
alegadamente discriminatória; Recurso Extraordinário 494.601 (2019), que analisou a
constitucionalidade do sacrifício ritual de animais; e Ação Direta de Inconstitucionalidade
4439 (2018), que decidiu pela constitucionalidade do ensino religioso confessional nas
escolas públicas.
Ressalte-se que o todo o conteúdo dos autos (peças escritas, vídeos das audiências
públicas e sustentações orais e decisões) encontra-se disponível no sítio eletrônico do
STF, com acesso aberto e gratuito, permitindo assim que seja feita a referida análise.
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garante o fim das agressões, uma vez que a violência é empregada como meio de
controle sobre o corpo feminino ou feminilizado. Isso significa que as agressões podem
continuar, ainda que a relação tenha cessado, o que pode levar a perseguição da vítima
pelo agente, ao descumprimento reiterado de medidas protetivas previamente deferidas
e até a morte da mulher, nas hipóteses mais graves. Por isso, o Art. 5º, inciso III da Lei
Maria da Penha (LMP) dispõe que a violência doméstica pode acontecer em qualquer
relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação. Tal diploma pode ser aplicado mesmo quando
cessado o relacionamento, conforme o entendimento firmado em diversos precedentes
pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Nesse sentido, a presente pesquisa tem por
objeto de estudo uma análise da jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo
(TJSP) acerca dos casos de feminicídio que tramitaram na Comarca de São Paulo no
ano de 2020. Almeja-se verificar em quantos processos a morte da vítima aconteceu
após o término do relacionamento e em quais circunstâncias fáticas o crime ocorreu
(relação entre as partes, se verificado um histórico prévio de violência doméstica, se o
delito foi consumado ou tentado).
Objetivo: O objetivo geral da pesquisa é investigar como o TJSP julga os casos de
feminicídio. Além disso, espera-se relacionar as especificidades do feminicídio como
uma expressão da violência de gênero contra a mulher, bem como analisar os
precedentes do STJ para que fosse reconhecida a incidência da LMP nos casos de
agressão que aconteceram após o fim do relacionamento.
Metodologia: Trata-se de uma pesquisa empírica. Em primeiro lugar, um levantamento
bibliográfico será realizado em bases de dados científicas para seleção de produções
concernentes à temática e que versem sobre violência de gênero, violência doméstica
e suas formas, LMP e feminicídio. Os precedentes a serem analisados do STJ são: (i)
AgRg no AREsp 1885687/GO, (ii) AgRg nos EDcl no AREsp 1638190/RJ, (iii) HC
371002/SP, (iv) AgRg no RHC 74107/SP, (v) REsp 1416580/RJ e (vi) AgRg no AREsp
059208/DF. Posteriormente, uma busca será feita no repositório jurisprudencial do
TJSP, sendo utilizados os seguintes filtros: (a) Palavras-chave: “feminicídio”; “mulher”;
“vítima”; “sexo feminino”; (b) Classe: “Processo Criminal”; (c) Comarca “São Paulo” e (d)
julgamento entre 01/01/2020 a 31/12/2020. Os acórdãos levantados nessa fase
passarão por um exame qualitativo, adotando-se o método de análise de conteúdo
definido pela Bardin.
Resultados Parciais: A busca no repositório jurisprudencial do TJSP através dos filtros
supracitados resultou na seleção de 50 (cinquenta) acórdãos pertinentes a pesquisa.
Desse total, em 18 (dezoito) dos casos o feminicídio consumado/tentado ocorreu após
o término da relação entre as partes – ou seja, 36% (trinta e seis por cento) do total de
acórdãos analisados. A jurisprudência, assim como os estudos sobre o tema, indica que,
mesmo após o fim do relacionamento, as vítimas de violência doméstica ainda correm
um grande risco de serem perseguidas, violentadas e assassinadas por meios cruéis
pelos seus agressores. Ciúmes, suspeita de traição, gravidez indesejada também são
alguns outros motivos que apareceram com certa frequência nos processos levantados.
e justificativa da escolha temática: mais do que nunca o campo do Direito deve ser
mantido sob as cuidadosas lentes das feministas, sob risco de estagnação. A hipótese
de que o Direito deve ser aplicado de forma crítica e sempre revisitado pelas feministas
é corroborada pelos dados da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher (2023)
em que se verifica o reduzido número de mulheres que conhecem ou acionam os
mecanismos jurídicos existentes para sua proteção. Ademais, é necessário indicar como
fundamento da pesquisa o emergente número de mulheres em situação de violência
doméstica e familiar que, sem a efetiva promoção dos direitos previstos em lei, não
conseguem denunciar ou quebrar o ciclo diário de violência ao qual estão submetidas
(Conselho Nacional de Justiça, 2023).Expõe-se que o Direito é uma forte e válida
ferramenta de transformação, mas que depositar todas as fichas em sua singular
capacidade de mudança se reveste de riscos iminentes, sendo impreterível a atuação e
supervisão dos movimentos feministas.
político de possível invalidação da norma aos demais atores com poder de veto (veto
players), como o Poder Judiciário nacional, no caso o STF.
Portanto, ainda que as diferentes finalidades identificadas sejam legítimas, elas não
devem ser confundidas, sob pena de frustração de sua utilização efetiva, seja ela
técnico-científica, dialógico-institucional ou democrático-pluralizante.
Quanto ao outro, ele é deslegitimado e visto como opositor. É retirada a noção de que
esse outro é parte integrante e constituinte da retórica democrática existente na
sociedade brasileira, fazendo com que ele seja suprimido, e, se preciso for, extinguido.
Com o resultado da eleição presidencial, que possuiu massiva participação e foi vencida
pela margem mais exígua da história, as patologias de tal cenário são visivelmente
descortinadas, tornando temerário o cenário social que virá.
Nesse ponto, o trabalho utiliza-se da obra de Byung-Chul Han, para demonstrar a tal
crise que se instaura em tal cenário. A retórica predatória que se instaura desumaniza o
outro, bem como a sua vida e narrações sociais. Problemas sociais passam a ser vistos
como meras informações, ou elementos narrativos, sendo destituídos do caráter
humanitário das narrações. Nesse contexto, demandas minoritárias nada mais são do
que argumentos narrativos. Até mesmo as desventuras, opressão e morte dos
vulneráveis é informação a ser ignorada.
Sem as narrações, como dito por Han, não há comunidade — padece qualquer ideia de
corpo político. Sem o conhecimento específico dos problemas sociais, como
estabelecendo por Rousseau em sua obra, a vontade geral não é constituída —
elemento essencial para o pacto social e a existência do “eu comum” deste pacto.
Novamente é estabelecida a vontade de todos, numérica e à mercê de uma maioria que
pode persevera insensível ante as demandas sociais mais urgentes.
O estudo não pressupõe o romantismo ideário de apelo à consciência moral dos que
“religiosamente converteram-se” à retórica predatória vista. Entretanto, a partir da
percepção do cenário desta, estabelece a necessidade da reconstrução da narrativa
humanizado. Compreendendo que somente assim as questões notadas pela Filosofia e
Sociologia do Direito, sobretudo as que giram em torno das desigualdades, serão
humanamente percebidas por estudantes, profissionais e comunidade.
O presente artigo analisará tal cenário, tendo em mente a implicação dos novos desafios
democráticos que eles inauguram, utilizando-se da revisão de literatura e empregando
o método hipotético-dedutivo para tal. Preliminarmente concluindo acerca da
necessidade de um progressivo esclarecimento da identidade constitucional dos
indivíduos que compõe a sociedade brasileira, a partir das referências teóricas
adotadas, bem como a necessidade de que extensões da acadêmica sejam
progressivamente materializadas para a concretização crescente de tais noções e
práticas.
titular dos mesmos direitos dos homens, nos termos da Carta Magna. A expressão “nos
termos desta Constituição” significa que a igualdade dos homens e das mulheres, no
que se que refere aos direitos e obrigações, será efetivada conforme estabelecido nas
disposições constantes na Carta Magna. Ou seja, a própria Constituição Federal, ao
longo do seu texto normativo, pode criar prerrogativas ou deveres diferentes para
indivíduos do sexo masculino e feminino.
Desse modo, apesar da existência do princípio geral da igualdade, ao longo do texto da
atual Constituição são concedidos direitos e impostas obrigações de maneira diferente
entre os homens e as mulheres, sendo essas distinções constitucionais, conforme
exposição supra. Exemplicadamente, “às presidiárias serão asseguradas condições
para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação” (art.
5º, L, CF/1988); São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais: “licença à gestante,
sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias” (art. 7º,
XVIII, CF/1988); licença-paternidade, nos termos fixados em lei (art. 7º, XIX, CF/1988);
proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos
termos da lei (art. 7º XX, CF/1988); “O servidor abrangido por regime próprio de
previdência social será aposentado: no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos
de idade, se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem”, conforme
o art. 40, § 1º, III, CF/1988, com redação dada pela EC nº 103/2019.
Assim, o problema proposto neste estudo é o direito à igualdade entre homens e
mulheres na Constituição Federal de 1988, sendo a metodologia baseada na pesquisa
bibliográfica. Ao final, verifica-se que o texto constitucional contempla diversas medidas
em benefício da mulher com o objetivo de reduzir as desigualdades fáticas existentes,
em observância ao princípio da igualdade na perspectiva substancial.
assim, a efetiva entrada dessa comunidade nas cadeiras políticas das instituições de
governo.
Este arranjo entre as duas cidades permite a Agostinho discutir como a justiça, mesmo
que imperfeita, é mantida na cidade terrena e como ela serve aos propósitos divinos.
Ele explora como as ações dentro da cidade terrena, mesmo aquelas marcadas pelo
pecado e pela injustiça, são usadas por Deus para testar e purificar os cidadãos da
Cidade de Deus, preparando-os para a vida eterna.
Essa visão de justiça, para Agostinho, vai além de um princípio ético; é uma realidade
espiritual ancorada no amor divino. Ele apresenta as duas cidades como modelos
contrastantes de comunidade humana: uma orientada para o céu, a verdadeira justiça e
a eternidade, e outra presa às paixões e injustiças terrenas. Ele retrata a Cidade de
Deus como um ideal onde a verdadeira justiça se manifesta através da caridade e da
obediência à vontade de Deus, enquanto a cidade terrena é um lembrete constante das
falhas humanas e da necessidade de redenção.
Ao final, "Cidade de Deus" de Agostinho oferece uma visão onde a justiça transcendente
é a promessa para o fim dos tempos, quando a justiça divina prevalecerá e a cidade
celestial triunfará definitivamente sobre a terrena. Este panorama não apenas fornece
uma resposta aos desafios de seu tempo, mas também uma reflexão sobre a natureza
da justiça, do poder e da comunidade humana. Ele propõe que, no plano divino, todas
as ações, mesmo as injustas, estão interligadas e contribuem para a realização final da
justiça divina. Assim, Agostinho estabelece uma narrativa onde a esperança e a justiça
última são reservadas para aqueles que vivem segundo o espírito, na expectativa da
Cidade de Deus.
que relações, que em um primeiro momento aparentam ser internas aos Estados, são
influenciadas pelo internacional e transnacional.
Feita essa reorganização dos níveis da falsa representação política-comum e do mau
enquadramento em dois eixos, o que Fraser apresenta como terceiro nível da falsa
representação, isto é, a falsa representação meta-política, torna-se o segundo nível, que
se manifesta nos dois eixos da falsa representação. A falsa representação meta-política
manifesta no eixo do espaço dos fluxos consiste exatamente naquela descrita por
Fraser, em que Estados e elites transnacionais monopolizam o estabelecimento do
enquadramento e, consequentemente, a possibilidade de definir quem serão os sujeitos
políticos. De forma que é negado espaço àqueles que serão afetados pelo
enquadramento e impede-se a criação de arenas democráticas em que suas
reivindicações possam ser escutadas (FRASER, 2009, p. 33-34).
Por outro lado, a falsa representação meta-política também está presente no eixo do
espaço dos lugares. Nesse caso são as elites locais (que podem ser políticas ou
econômicas) aquelas que pretendem monopolizar as condições de conferir
materialidade à condição de sujeito político a determinados grupos formalmente
reconhecidos como sujeitos, mas que são sistematicamente marginalizados em razão
de questões de classe econômica e status social. Nesse caso, pretende-se negar a
esses grupos marginalizados a possibilidade de constituírem-se como sujeitos políticos
e de apresentarem e terem escutadas suas demandas por redistribuição e
reconhecimento.
Assim, a demanda por uma horizontalização do espaço dos meta-discursos manifesta-
se nos dois eixos apresentados, levando à demanda por uma democracia meta-política,
assim como destacado por Fraser. De acordo com a autora “[…] as lutas por justiça em
um mundo globalizado não podem alcançar êxito se não caminharem juntamente com
as lutas por democracia metapolítica. Então, nesse nível também, não há redistribuição
ou reconhecimento sem representação” (grifos no original) (FRASER, 2009, p. 34).
Desse modo, mesmo a estrutura dos eixos e níveis de falsa representação aqui proposta
não pretende alterar a conclusão apresentada por Nancy Fraser, que indica que a visão
da justiça como paridade representativa é adequada à abordagem da justiça
democrática pós-Westfaliana (FRASER, 2009, p. 36-37). Sendo que a abordagem da
paridade representativa também é capaz de incorporar a perspectiva dos dois eixos e
dois níveis aqui apresentada, por manter o foco no “quem” e no “como” da justiça, assim
como proposto por Fraser (FRASER, 2009, p. 37).
positiva, em que caráter foi. Talvez, Diniz tenha sido o primeiro jusfilósofo latino-
americano a desenvolver uma teoria jurídica baseada no marxismo. Esta é a hipótese
que colocamos a teste.
neutralização dessa condição, para abordar a questão social sob o enfoque de uma
descidadanização. Refere-se a um fenômeno multidimensional, violento e que age sobre
indivíduos e grupos (2009). Pessoas são colocadas às margens das relações sociais,
isoladas, impedidas de se desenvolver no corpo social. Essa condição realça um
entendimento, da separatividade. A marginalização, essa manifestação de separação
converge para uma teoria filosófica denominada de solipsismo, crer na existência do eu,
enquanto único ser e suas sensações, determinando os outros entes e objetos como
coadjuvantes, sem expressão existencial própria, trata-se de um auto centrismo.
Dijamila Ribeiro utiliza esta teoria vinculada à desigualdade, ela cunha o termo
solipsismo branco, centralização do eu enquanto pessoa branca, da cultura de tal como
única lídima. Um movimento hermenêutico voltado ao conteúdo testemunhal do livro
permite identificar que a autora tinha a compreensão da segregação, da delimitação de
indivíduos em classes, subgrupos sociais caracterizados em sua maioria pela
vulnerabilidade, da chamada descidadanização apontada por Kowaric. Carolina
escreveu que “... Eu classifico São Paulo assim: O Palácio, é a sala de visita. A Prefeitura
é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos” (2014
p.27). Um exemplo de vida que ultrapassa o concebível, e se torna guardião de futuras
gerações através do exemplo, também contido na obra: “Mas o povo não deve cançar.
Não deve chorar. Deve lutar para melhorar o Brasil para os nossos filhos não sofrer o
que estamos sofrendo” (2014) A leitura crítica da obra conjuntamente a análise
parametrizada no direito, faz transcender uma limitação circunscrita a realidades
pessoais, tornando tangível a compreensão de vidas duras enfrentadas por pessoas que
buscam diariamente o mínimo para sua subsistência. A fome, tema elementar deste
trabalho, é entendida como a manifesta violação a direitos fundamental compositores
da própria condição natural do ser.
Concebe-se que a alimentação é atributo estruturativo do ser, tanto para sua construção
orgânica quanto para a formação social. Como se expressa a própria natureza do ser, a
vida é constituída em entrelaces que tanto derivam da natureza consumativa, material,
quanto afetiva e social.
A obra “O Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, é de indescritível
importância, pois transcende a barreira estabelecida pelos preconceitos, reafirmados
pela sociedade desigual. Carolina Maria de Jesus humano dá voz a tantos iguais, ela
rompe com o formalismo, sobrepondo essência sobre forma.
Abordar a obra “O Quarto de Despejo”, tida aqui como uma obra de arte da literatura,
materializa conhecimentos ao procurar entender vivências e desigualdades, em suas
diversas faces e configurações. Trata-se de um dar cognição ao real por via da
interpretação. Analisar a obra e percebê-la como documento para o estudo do direito à
igualdade, redução das desigualdades, à família e proteção da criança e do adolescente
é um modo importante de produzir conhecimento e compreender a história, vetor
fundamental na hermenêutica jurídica.
Resumo Prioritariamente, tomaremos como base a obra literária "Quarto de Despejo - Diário de
uma Favelada", de Carolina Maria de Jesus. Através dessa literatura, é possível
compreender a cosmovisão do não-lugar (Marc Augé) e a dimensão ritualista
apresentada por Byung-Chul Han, delineadas em sua obra intitulada “O
desaparecimentos dos rituais: uma topologia do presente”, com ênfase nas técnicas
simbólicas de encasamento que tornam a vida um lugar familiar.
A narrativa literária retrata o diário mantido por Carolina Maria de Jesus durante sua
permanência na favela do Canindé. O título, "Quarto de Despejo", representa a metáfora
criada pela autora, onde a favela é comparada a um espaço de despejo da sociedade,
um lugar onde os marginalizados e invisíveis são relegados às margens da sociedade.
Isso implica em excluí-los dos ciclos sociais e ocultar suas vidas e narrativas.
O texto de Carolina é fundamental para revelar os problemas sociais enfrentados por
uma grande parte da população brasileira, sendo, portanto, precursor para entender as
condições do não-lugar. Neste sentido, Byung-Chul Han apresenta em sua obra literária,
“do desaparecimento dos rituais: uma topologia do presente”, a possibilidade de gerar
comunicação e criar comunidade através do campo ritual, entrando em contato com os
valores mais importantes para determinada sociedade. Com isso, uma comunidade
inserida em um lugar invisibilizado e marginalizado pelos ciclos sociais, como os
relatados pela autora, pode encontrar formas de resistência e resgate de identidade ao
compartilhar suas histórias e experiências. (HAN, 2021).
Han apresenta os rituais como técnicas simbólicas de instalação em uma casa, como
uma forma de transformar o “estar no mundo” em “estar em casa”. (HAN, 2021). Desta
forma, os rituais dão sentido à vida, são importantes por tornar a vida algo familiar,
possuindo sentido e significado. O espaço habitacional descrito por Carolina Maria de
Jesus, apesar de suas condições precárias, representa um lar e o único ambiente onde
os moradores se sentem verdadeiramente pertencentes. A favela não é apenas um local
de moradia, é também um ambiente de identidade e comunidade, onde os moradores
constroem relações significativas transformando o “estar no mundo” em “estar em casa”,
se sentindo seguros, acolhidos e capazes de expressar sua identidade e cultura.
iante dessa análise, partindo das filosofias de Byung Chul Han e da literatura de Carolina
Maria de Jesus, observa-se uma convergência intrínseca na compreensão do conceito
de "não-lugar". Ao nos referirmos a "não-lugar", estamos abordando duas realidades
complementares, porém distintas: os espaços criados para propósitos específicos (como
transporte, comércio, lazer) e a relação dos indivíduos com esses espaços, conceituada
por Han como "estar no mundo". Embora essas relações sejam amplamente praticadas
(as pessoas viajam, compram, descansam), elas não se confundem, pois os "não-
lugares" envolvem uma gama de interações consigo mesmo e com os outros que têm
uma ligação indireta com seus propósitos originais. Esses espaços geram uma
atmosfera marcada pela solidão e tensão, descrita por Han como o sentimento de "estar
em casa".
Entre o encontro de Marc Augé e Byung Chul Han, vislumbra-se na obra a
materialização dos conceitos atribuídos pelos autores, especialmente quando se analisa
a perspectiva de Maria Carolina de Jesus (2021, p.50):
Eu deixei o leito as 3 da manhã porque quando a gente perde o sono começa pensar
nas misérias que nos rodeia. (...) Deixei o leito para escrever. Enquanto escrevo vou
pensando que resido num castelo cor de ouro que reluz na luz do sol. Que as janelas
são de prata e as luzes de brilhantes. Que a minha vista circula no jardim e eu contemplo
as flores de todas as qualidades. (...) E preciso criar este ambiente de fantasia, para
esquecer que estou na favela.
Destarte, existem lugares que apenas ganham vida através das palavras que os
descrevem, não sendo lugares concretos, mas sim construções imaginárias,
representações utópicas ou clichês. Esses espaços são conceitos simbólicos ou
culturais, criados e mantidos por meio de representações linguísticas ou culturais,
possuindo significados profundos, embora não se refiram a espaços físicos palpáveis
(AUGÉ, 1994).
O trabalho, portanto, tem como objetivo analisar a obra “Quarto de Despejo – Diário de
uma favelada” e as desigualdades narradas por Carolina Maria de Jesus, dentro das
condições do "não-lugar" e da dimensão ritualista anunciada por Byung-Chul Han.
Adotar-se-á como percurso metodológico uma diálogo a partir da obra de Carolina Maria
de Jesus com a filosofia de Byung Chul-Han e a reflexão proposta por Augé.
56
A diferenciação lógica que Hohfeld faz não só entre privilégios e pretensões, mas
também o isolamento das noções de imunidade e poder, com a correspondente
identificação dos seus opostos e correlativos, permite afirmar que os direitos, em sentido
lato, são, em grande medida e até certo ponto, formal e estruturalmente
(conceitualmente) independentes de deveres e obrigações; e não seus correlativos
automáticos ou seus meros reflexos (Kelsen). Pode-se dizer e compreender
perfeitamente que alguém tem um direito sem que, para isso, se pressuponha que um
terceiro tenha necessariamente e de antemão uma obrigação em relação a ele.
A redução dos direitos a reflexos de obrigações, ou a uma mera técnica de proteção e
garantia, enfrenta assim dificuldades lógicas, uma vez que a proteção pressupõe a
existência prévia do objeto a proteger; como também problemas de coerência com a
prática jurídica e legislativa em geral - de modo a sua correlação, pelo menos em termos
fortes, foi alvo de críticas difíceis de escapar.
Sendo o argumento da correlação entre direitos e obrigações central para a defesa do
uso da linguagem dos direitos restrita a contextos jurídico-positivos, uma vez dissolvido
pela abordagem estrutural, abre-se caminho para um uso teoricamente defensável do
conceito em outros discursos, como de crítica e reivindicação (moral, política).
A análise puramente estrutural de Hohfeld, em suma, é capaz de demonstrar que os
direitos não são apenas, como os liberais clássicos entendem nos seus modelos de
Estado, uma proteção contra a interferência de terceiros na sua esfera de liberdade, ou
proibições contra danos de terceiros. Direitos podem ser reivindicações ou expectativas
de gozo de algo, de que algo aconteça, ou a um determinado estado de coisas, que por
sua vez fundamentam, contrafacutalmente, a fixação de proteções e obrigações de
terceiros.
à toa, diversos países, excluídos desta configuração atual, fazem suas propostas de
serem incluídos novos membros, mas todos em completa frustração. O próprio Brasil,
em diversas tentativas, protagonizou tentativas de reorganização das cadeiras
permanentes, mas sem nenhum êxito. Assim, o presente trabalho pretende refletir
acerca da desigualdade entre os Estados e a ineficiência da atual conjuntura do
Conselho de Segurança, na tentativa de reimaginá-lo a fim de pensar uma organização
em que pese a diferença e a diversidade cultural na completa e necessária afirmação
da autodeterminação dos povos.
instância, expressões complexas das relações sociais e do trabalho humano. Depois irá
mostrar n’O Capital quais os trechos que levantam a contradição objeto deste estudo.
Após isso, faz-se uma rápida exposição sobre os autores que defendem a correlação
entre os dois filósofos alemães, tais como Ruy Fausto, Christopher J. Arthur e Slavoj
Žižek. Por meio deles, evidencia-se como a estrutura da Ciência da Lógica auxilia na
interpretação da obra magna marxista. É nesse livro de Hegel que a doutrina da
essência explora a natureza das relações entre os fenômenos, revelando como os
opostos podem coexistir e se transmutar dialeticamente um no outro. Dentro desse
contexto, o conceito de efetivação emerge como uma chave para desvendar a dinâmica
subjacente à expressão de valor na economia política. Em termos abstratos, a
efetivação do valor acontece pela forma-preço, sendo totalmente possível que ele não
se expresse, desde que esta tenha pleno funcionamento na dinâmica do capitalismo.
A possível superação da contradição lógica e teórica por meio da efetivação do valor na
forma-preço pode ajudar a entender a realidade capitalista. Em síntese, é no âmbito do
direito tributário e das normas do sistema financeiro que o Estado adquire valor e, ao
mesmo tempo, emite moeda, influenciando nos diferentes preços das mercadorias. Via
tributação, ele conquista uma parte do valor criado pelos particulares de maneira direta.
Pelo sistema financeiro, possui condições de regulamentar o capital portador de juros.
Nessas duas situações, os valores angariados servem para a realização de políticas
monetárias e de preço. Portanto, haveria aqui a efetivação abstratamente descrita.
Na tentativa de provar essa questão, ainda se fará um breve levantamento dos
dispositivos constitucionais e legais dos sistemas tributário e financeiro (bem como da
doutrina mais recente) para verificar se existem normas jurídicas que indiquem a
necessidade de o Estado instituir um regime fiscal para a reprodução do sistema
capitalista. Eventualmente, espera-se também desvelar possíveis finalidades até então
obscuras do constituinte e/ou do legislador para a criação de determinadas formas de
tributação, de controle das finanças públicas e de regulamentação bancária.
ao mundo globalizado, uma vez que é fomentado por instituições internacionais desde
o século XX, e é sob a égide da Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH) que
a diversidade cultural assumiu uma posição de relevância global como a que
conhecemos hoje. A defesa cultural dos Estados está impregnada pelos discursos
internacionalistas, e a universalidade destes direitos parece garantir e legitimar essa
proteção. Karine Salgado nos relembra que o universal, apesar de ser uma categoria
marcante do pensamento filosófico ocidental, não pode pertencer a uma cultura, pois se
assim o fosse, já não seria universal, e ainda nos provoca a refletir: “é possível pensar
em direitos humanos que prescindam, ou mais, que recusem a ideia de universal?”.
Contudo, partindo do paradigma de que cada Estado detém o poder de se
autodeterminar e de expressar a vontade cultural de seu povo, estabelecer um único
caminho, certo e necessário, para todas as culturas, implica numa redução da
diversidade cultural frente a um aspecto impositivo exterior. Sobretudo quando este
caminho se apresenta como uma categoria à priori, e portanto universal, como se
pretendem os direitos humanos, pois diante deste cenário, o desenvolvimento de um
Estado poderia ver-se condicionado a um artefato cultural que não lhe pertence,
historica e culturalmente, culminando numa situação em que a cultura de um povo vê-
se limitada a uma dimensão exterior à sua vontade, como ocorre nos processos de
imperialismo. Assim, colocamos a querela contemporânea dos direitos humanos: entre
relativismos e universalismos, há como pensar um denominador comum a toda
humanidade sem ferir a soberania dos Estados e autodeterminação dos povos? O
Direito é, por excelência, uma dimensão cujo objeto é a realidade, em que disputam
entre si os fatos, as normas e os valores. Cada fato gera uma fricção na realidade, seja
em seu contraste com as normas ou com os valores, ou com ambos, e diante novos
fatos, novas fricções, e essa é a realidade das ciências humanas, e propriamente do
direito. Sendo o objeto do direito a realidade, este tentará ao máximo lê-la e avaliá-la
com a maior precisão, mas somente conseguirá se aproximar, sem nunca poder atingir,
uma representação justa do mundo. Nunca, pois a realidade tem esse caráter
caleidoscópico, em que cada visão altera a percepção do que se é, e nem por isso anula
a verdade da perspectiva do outro ângulo. E o direito, mediador da realidade, está
fadado a este ninho de (cosmo)visões. Portanto, pensar os direitos humanos implica em
pensar em suas cosmovisões, e, então, propriamente em sua dimensão cultural. Nesse
sentido, refletir sobre a história dos direitos humanos e dialetizar a fundamentação e a
experiência destes nos ajudará a compor caminhos para uma possível resposta à
querela supracitada.
mas suas disposições podem ser legitimadas de maneira mais fácil pelo revestimento
de impessoalidade.
Tomando essa premissa como objetiva é importante através de uma revisão
bibliográfica sedimentar o núcleo teórico do primeiro começo. Estudar as estruturas
elementares, como pontuou Durkheim (2003) é revelar as arestas do que estava em
discussão quanto algo que era costume se tornou instituição. Portanto, para investigar
esse recalque da personalidade essencial ao exercício da atividade jurídica, é evidente
trazer em voga fenômenos históricos que causaram essa dissociação. Como exemplo
inaugural pode se apresentar a revolução francesa.
A revolução francesa foi uma virada de chave nos sistemas de reprodução de poder em
que o Sistema de Reprodução multiposicional e impessoal, superou o sistema de
reprodução dinástico e hereditário que se perpetuava através da figura do rei.
“Sem pretender desordenar o conhecimento, penso que se compreenderia muito melhor
a Revolução Francesa caso se visse que ela talvez seja o triunfo de um modelo
impessoal sobre o modo de reprodução pessoal. Por fim- digo isso para que vocês
tenham logo o intuito grau de minha exposição-, as categorias que possuem mais
interesse [pela Revolução] são aquelas que cuja perpetuação [ de suas posições de]
poder depende do sistema escolar, do capital cultural etc.; elas têm interesse em
promover uma definição de Estado mais universal que as categorias sociais cujo poder
e cuja transmissão depende da hereditariedade (Bourdieu,2013,p.350)
Esses processos devem ser entendidos com a tomada de posição do Estado impessoal
em face ao de um Estado dinástico, em que ambos têm em suas características
sistemas de reproduções muito diferentes.
É imperioso tomar de partida essa forma de reprodução do sistema próprio do campo
jurídico, haja vista que qualquer agente no campo jurídico tem a peculiaridade de sempre
atuar em uma razão ambígua, seja nos contenciosos privados em que é procurador de
um interesse alheio. Seja no âmbito do direito público, em que confere na sua razão
prática uma ambiguidade com essa multiposiçao pública e universal.
Ou seja, a inerência a atuação posicional no campo jurídico é majoritariamente
racionalizada em uma natureza bidimensional. Seja nos “gestores do campo” agente
que tem consagra em razão do acervo de capital que possuem (Bourdieu,2007), bem
como naqueles irrisórios em razão de complexidade, como os patrocinadores de
interesses inconciliáveis nas instâncias menores.
Em outras palavras, seja os ministros de uma suprema corte ou doutrinadores
consagrados, seja, os advogados de jurisdição contenciosa da justiça comum, ambos
têm que reforçar o caráter multiposicional de seus interesses.
Contudo, tal senso prático tem uma distribuição demasiadamente desigual. Essa
desigualdade, todavia, se manifesta, sobretudo na contundência simbólica de seu
comportamento, e na capacidade de alterar os usos da interpretação do corpus
objetivado do direito, a saber, as normas.
A multiposicionalidade de um mandatário de justiça comum de interesses privados não
o possibilita de alterar o senso prático e porque não dizer os códigos resolutivos do
campo. Já um nível alto da hierarquia tem uma multiposição legitimada ao ponto de
interpretação da constituição por exemplo.
Assim, propõe apresentar em específico nesse artigo às propriedades sociais dos
Ministros da Suprema Corte Nacional, aqueles que têm maior poder recursiva do uso
social da multiposicionalidade, em um plano bidimensional através da análise de
correspondência múltipla ACM no período da redemocratização 1988-2022, com virtude
de explorar sociologicamente quais são as trajetórias sociais recalcadas desses sujeitos
que tem a primazia prática da multiposicionalidade desinteressada.
Painel Temático 1
Local: Auditório
Sexta, 10 de maio, de 16h a 17h30
Painel Temático 2
Painel Temático 3
Local: Anfiteatro
Sexta, 10 de maio, de 16h a 17h30
Painel Temático 4
Local: sala C 34
Sexta, 10 de maio, de 16h a 17h30
Painel Temático 5
Painel Temático 6
Sala Anfiteatro
Sábado, 11 de maio, de 10h a 11h30
Quinta, 9 de maio
Quinta, 9 de Solenidade de Abertura. Margarida Maria Lacombe Camargo (UFRJ,
maio, 19h. Presidenta da ABRAFI).
Anfiteatro. Nuno Manuel Morgadinho dos Santos Coelho (Diretor
da FDRP-USP e Diretor Acadêmico da ABRAFI).
Diego Luna
(Universidade de Buenos Aires, Asociación Argentina de
Filosofía del Derecho - AAFD):
Desigualdades y creación de igualaciones. A
propósito de una teoría egológica de la justicia.
Sábado, 11 de maio
Sábado, 11 de Grupos de Trabalho São 7 GTs em funcionamento simultâneo, neste horário.
maio, 8h-10h. (Sessões Paralelas, em Programação em
caráter presencial). https://docs.google.com/document/d/1jXZy4c6ufne0t-
2u28DVD2QlaIs2uBN2CNAA6KA-S-g/edit?usp=drivesdk