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Fundamentos

Metodológicos do
Ensino de História
e Geografia
Material Teórico
Concepções Sobre Natureza e Meio Ambiente

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Adriana Aparecida Furlan
Prof.ª Dr.ª Vivian Fiori

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites

v1.1
Concepções Sobre Natureza
e Meio Ambiente

• Introdução;
• A Nova Natureza com a Ciência e o Capitalismo;
• Meio Ambiente e Educação Ambiental.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Refletir sobre as concepções de natureza e meio ambiente;
• Relacionar a questão ambiental ao ensino.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Concepções Sobre Natureza e Meio Ambiente

Introdução
Nesta unidade, abordaremos as concepções sobre a natureza ao longo do tempo
e conforme diferentes povos e sociedades, assim como reflexões sobre meio am-
biente e educação ambiental.

Reflexões Sobre o que é Natureza


Em nossa sociedade capitalista e industrial, separamos sociedade de natureza,
ou seja, separamo-nos da natureza, não nos consideramos parte dela. Todos nós
pensamos assim? Será que há outras sociedades ou agrupamentos humanos que,
neste início de século XXI, pensam de outra forma?

Segundo Moreira (1999), todos nós usamos os termos natural e natureza como
oposição àquilo que consideramos artificial. O senso comum diz que natural é
aquilo que não foi feito pelo homem, o que é próprio da natureza, e artificial é tudo
aquilo feito pelo homem, mesmo que com recursos e ajuda da natureza.

Vejamos. Uma árvore plantada em um jardim de uma casa é natural ou artificial?


A tendência é considerarmos que seja natural, mesmo que tenha sido colocada ali
pelo homem. Uma cadeira de madeira é natural ou artificial? Nesse caso, tendemos
a considerar que é artificial, pois foi fabricada pelo homem. A madeira transforma-
da em cadeira deixou de ser natureza? Por quê?

Essa discussão é complexa, mas queremos chamar a atenção para o fato de que
os conceitos são muito mais do que simples definições sobre as coisas. Envolvem
uma forma de concebê-las, e essa forma pode mudar ao longo do tempo, como a
história humana o tem demonstrado.

Para Moreira (1999, p. 11),


Importante é compreender que entre os seres humanos e os outros seres
que compõem a nossa realidade as diferenças não se devem ao fato de uns
serem naturais e outros não. As diferenças encontramos nas dinâmicas,
nos ritmos, nas finalidades, nas formas, na reprodução, na recriação que
cada um ou o conjunto de seres que compõem o planeta apresenta. [...] É
entre os seres humanos, ou para as sociedades humanas, que tem sentido
dizer que os homens fizeram ou fazem sua própria história. A natureza
também tem a sua própria história. Mas é a história que nós contamos!

O que a citação de Moreira significa? Em primeiro lugar, que a natureza, por si


mesma, não escreve sua história, embora o passado geológico da Terra, por exem-
plo, esteja registrado nas rochas. Mas cabe ao homem, com base nas suas ideias,
desvendar e dar nomes aos fatos e elementos do planeta, a começar por chamar
determinadas coisas de rocha. Em segundo lugar, os homens reconhecem que exis-
te um conjunto de elementos (a que chamam de natureza) que se manifestam de
forma distinta das chamadas coisas humanas. Para o autor citado, a diferença entre

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esses dois conjuntos (natureza e sociedades) é que a característica, composição e
ritmos de cada um são diferentes.

Por exemplo, um morro leva milhares e até milhões de anos para se formar, mas
a ação humana pode transformá-lo ou eliminá-lo em uma semana, um dia! Além dos
diferentes ritmos que há na natureza e na sociedade, os significados de cada elemento
que as compõem muda ao longo do tempo e a partir da visão de mundo que cada
povo, no presente e no passado, tem desses elementos. Por exemplo: uma floresta.

Uma floresta pode ter diferentes significados, dependendo de quem a olha.


Um madeireiro pode imaginar riqueza nas árvores, a partir de seu corte e venda da
madeira. Para os indígenas, a floresta é fonte de alimento e moradia. Para os eco-
turistas, a floresta é lugar de lazer e contemplação. Para os laboratórios farmacêu-
ticos, é fonte de pesquisa e lucros. E poderão existir ainda outros olhares e outras
significações para uma floresta.

Da mesma forma, a natureza, em cada uma das diferentes sociedades que habi-
taram e habitam este planeta, será vista e assumirá significados distintos segundo
os valores e objetivos de cada agrupamento social.

Dessa forma, a construção da ideia de natureza (e de tantos outros conceitos que uti-
lizamos em nosso cotidiano) é cultural, não natural. Conforme Gonçalves (1996, p. 34),
[...] toda sociedade, toda cultura cria, inventa, institui uma determinada
ideia do que seja a natureza. Nesse sentido, o conceito de natureza não é
natural, sendo na verdade criado e instituído pelos homens. Constitui um
dos pilares através do qual os homens erguem suas relações sociais, sua
produção material e espiritual, enfim, a sua cultura.

Percebemos, então, que diferentes ideias são reflexo de diferentes tempos e de


diferentes sociedades. O surgimento de novas concepções acerca dos elementos
do mundo e das relações entre as coisas sempre significa que algumas mudanças
ocorreram em determinada sociedade.

A aceitação de explicações (novas) dependeria (e depende) de mudanças nas


relações estabelecidas entre os homens, pois essas mudanças é que são capazes de
criar exigências de conhecimento, de relacionamento e de explicações das coisas
naturais. Assim, diferentes sociedades produzem diferentes explicações de mundo.

A natureza e a história do homem estão intrinsecamente ligadas, já que faz par-


te da natureza do homem produzir ideias, concepções, modos de vida, hábitos de
convivência, ou seja, produzir cultura.

No princípio, homem e natureza integravam um todo indissociável, mas isso não


é mais assim, ao menos em nossa sociedade, pois, mesmo afirmando o contrário,
não nos consideramos parte da natureza. A natureza reconhecida como alteridade
(o outro) indica o início de mudanças nas relações sociais, ocorrendo a divisão entre
o mundo natural e o mundo social. Por que ocorre essa divisão? Veremos que o
homem, para poder explorar a natureza em seu benefício (sem se sentir culpado),

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UNIDADE Concepções Sobre Natureza e Meio Ambiente

precisou se afastar dela, conhecer seu funcionamento e explicá-la (a partir do sur-


gimento e aperfeiçoamento das ciências).

Todas as verdades que já disseram sobre a natureza, e todas que ainda serão
ditas, dão ao poeta liberdade de entendê-la como produto (“doença”) das nossas
ideias, e a nós, a certeza de que a melhor e mais correta maneira de a ela (natureza)
nos referirmos não é a de dizermos o que ela é abstratamente, mas sim o que ela
tem sido para nós, ao longo de cada um dos diferentes momentos históricos que os
homens já produziram (CARVALHO, 1999).

Concepções Sobre Natureza


Os primeiros agrupamentos humanos (chamados de primitivos, por terem sido
os primeiros) ainda existem hoje espalhados pelo planeta, e muitos vivendo como
seus antepassados de centenas e até alguns milhares de anos atrás.

Para esses povos, natureza e sociedade formam um todo indissociável e cada ser
é parte desse todo, sem diferença entre eles. A relação com os outros elementos
não humanos é dada através de ritos mágicos e as explicações para a existência
de tudo se dá através de mitos (poderes sobrenaturais). Não há, para esses povos,
diferenças sociais, pois cada um exerce seu papel para que o mundo “funcione”.

Com o passar do tempo, pequenos avanços tecnológicos – como a invenção do


arado e de ferramentas utilizadas para o plantio e colheita – reduziram o tempo de
trabalho necessário para a produção de alimentos e deixaram tempo livre para que
pudessem ser realizadas festas, viagens, ritos etc. Nesse momento, esses grupos
não tinham necessidade de produzir excedentes, ou seja, de produzir mais do que
fosse necessário para sua sobrevivência.

Na medida em que alguns grupos começaram a produzir mais do que necessita-


vam e a trocar ou comercializar esses produtos, eles acabaram por abandonar sua
condição de comunidade selvagem (da selva). Iniciou-se um processo de estratifi-
cação social culminando na desigualdade social, em que uns passaram a ter mais
poder (como os pajés, curandeiros, caciques, faraós, sacerdotes, entre outros), por-
que se relacionavam com o sobrenatural, e outros passaram a obedecer a esses em
função do poder que eles exerciam, começando, além disso, a produzir excedentes
de comida para alimentá-los (já que sua função é outra que não a de trabalhar para
produzir seu alimento).

Surgiu, assim, a partir de processos internos dos agrupamentos sociais ou de


guerras e escravizações, a desigualdade social. Dessa forma, na distribuição das ativi-
dades, passou a haver diferenças, pois existiam diferentes funções e cada um ocupava
um lugar distinto na sociedade. Por exemplo, os faraós, sacerdotes, reis, governantes
e poderosos em geral isolavam-se dos produtores e dos lugares de produção.

O lugar de produção era o campo e esses produtores ficavam em contato direto


com a natureza (produzindo alimentos para si e para os comandantes), enquanto os
governantes ficavam distantes da natureza (dessa pelo menos). Dessa forma, podemos
considerar que a diferenciação social precedeu a distinção entre o social e o natural,

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ou seja, primeiro uns homens tornaram-se diferentes dos outros e estabeleceram no-
vas relações sociais (uns dominando os outros) e depois partiram para a dominação
da natureza para satisfação de suas necessidades, cada vez maiores, de bens.

Ao olharmos para o passado e contarmos a história da natureza (criada por nós


mesmos), percebemos que há diferentes concepções de natureza e, em diferentes
momentos, ocorreram rupturas na estrutura social vigente e na relação dos homens
com essas concepções.

Os egípcios e outros povos do oriente tinham como natureza as “leis” dos mi-
tos e relacionavam-se com o mundo de forma mágica, através da manipulação
dos poderes sobrenaturais pelos sacerdotes, reis e faraós, sendo esses as próprias
(encarnações das) divindades. Todos deviam obediência a eles, que, em troca, lhes
davam proteção contra qualquer adversidade ou mal.

Os gregos antigos avançaram muito em certas áreas do conhecimento e seu


legado está presente ainda hoje. Na medida em que questionaram a forma de
explicação das coisas do mundo e de sua origem, propuseram novas concepções
de mundo. As relações sociais e a organização da sociedade grega apresentavam
padrões muito distintos daqueles dos povos primitivos. Na Grécia antiga existia a
polis e participavam da vida do Estado (cidades-estados) somente os cidadãos; os
considerados não cidadãos eram excluídos (novas formas de relações sociais e de-
senvolvimento da exclusão social).

Nessa sociedade, os homens do campo produziam excedentes para alimentar os


governantes e também os pensadores (filósofos), que tinham por função produzir
novas concepções de mundo e desenvolver uma linguagem sobre a natureza e o
natural. Esses filósofos afirmaram a alteridade (o outro), quando diziam que havia
dois mundos distintos: o mundo da natureza e o mundo da sociedade.

O mundo da natureza foi investigado e diversos filósofos propuseram, de manei-


ras distintas, a origem de tudo: para uns, tudo surgiu a partir da água; para outros,
a partir da terra; outros afirmaram que tudo se originou a partir do ar; e outro
grupo defendia a ideia do fogo como o início de tudo.

Aristóteles, famoso filósofo grego, afirmava que a natureza era tudo aquilo que
não fosse produzido pelo homem, que era a matéria-prima da qual eram feitas as
coisas (ideia de natural e artificial muito presente hoje no senso comum). Com o
passar do tempo, diversas transformações foram ocorrendo e as sociedades se
diversificando e mudando a forma de pensar o mundo. Que outras ideias e formas
de explicar o mundo seriam possíveis? Vamos avançar um pouco mais no tempo.

Chegamos ao período medieval (na chamada Idade Média). Esse período na


Europa foi fortemente dominado pela Igreja Católica e sua visão de mundo, segun-
do a qual Deus criou todas as coisas presentes neste planeta, inclusive o homem à
sua imagem e semelhança. Qualquer outra explicação para a origem das coisas que
fosse contra as Sagradas Escrituras e os dogmas e crenças cristãs seria considerada
uma afronta, uma heresia, e quem assim fizesse seria passível de punição (autos
de fé e fogueiras para os hereges). Nesse período da Idade Média, na Europa, a

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UNIDADE Concepções Sobre Natureza e Meio Ambiente

natureza era a própria Terra criada por Deus e perfeita; era a Terra o centro do
Universo (também perfeito, pois foi criado por Deus).

Com o passar do tempo, essas explicações não satisfaziam mais a grupos que
apresentavam novas perspectivas de vida e de futuro. Para que a natureza pudesse
ser explorada (em função de novas necessidades econômicas que estavam surgin-
do), o homem precisou afastar-se dela, explicá-la e controlá-la para dela retirar o
que fosse necessário para sua satisfação. Se ainda acreditasse que a natureza estava
povoada por seres sobrenaturais e que explorá-la poderia ser uma ofensa a Deus,
o progresso da sociedade (em termos materiais) seria impossível. Então, as novas
ideias sobre progresso levaram a uma nova relação com a natureza e, consequen-
temente, a uma nova visão e explicação sobre ela.

O final desse período é considerado por muitos autores como um período de


transição, em que teria ocorrido uma revolução nas concepções sobre o que é na-
tural e o que é natureza. Nesse período, o mundo assistiu ao surgimento de uma
nova classe social, denominada burguesia (que surgiu nos burgos, ou seja, cidades).
Essa classe desenvolveu-se e ganhou força com o final do Feudalismo e com o sur-
gimento de novas relações sociais e econômicas na sociedade, que se transformou
rapidamente (em comparação com o período feudal).

Do mercantilismo (comércio entre a Europa e demais regiões do planeta) pas-


samos a um novo sistema socioeconômico, no qual as relações entre os homens
alteraram-se e a busca pela riqueza e por seu acúmulo transformou as relações dos
homens com a natureza.

Por que ocorreu essa transformação? Vejamos. Para produzir cada vez mais (in-
dústria) e poder vender cada vez mais (comércio), a matéria-prima precisava estar
disponível. Ocorreu, nesse momento, uma ruptura definitiva entre o homem e a
natureza e essa passou a ser vista de uma nova maneira.

Com a derrocada final do Feudalismo, no século XV, começaram a se consti-


tuir os países (na forma como conhecemos hoje) e novas concepções de mundo
e de natureza foram difundidas, não somente na Europa, mas também nas terras
conquistadas pelos povos europeus além desse continente. A visão europeia de
realidade era reflexo de uma nova cultura (ocidentalizada) que se tornou universal
(espalhou-se pelos “quatro cantos do mundo”).

Entre os séculos XV e XVIII ocorreu a consolidação do capitalismo (que passou


de comercial para industrial) e novas relações entre as pessoas foram estabelecidas
(principalmente após a Revolução Industrial).

Na sociedade capitalista, a natureza passou a ser considerada fonte de matéria-


-prima, como recurso a ser usado. Todos os elementos da natureza deveriam estar
à disposição da sociedade, a qual, deles, retirava sua sobrevivência. Somente a
sobrevivência? Não estamos retirando da natureza muito mais do que precisamos
para satisfazer nossas necessidades? Mas quais são nossas necessidades?

Os seres humanos sempre precisaram dos recursos naturais (como todos os ou-
tros animais) para sobreviverem, alimentarem-se, abrigarem-se e se reproduzirem.

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Fazemos isso desde que o homem é homem. O que mudou? Mudou a forma como
resolvemos essas necessidades. Não queremos mais comer carne de caça crua ou
assada em fogueiras; agora desenvolvemos novas necessidades alimentares (e po-
demos confirmar isso nas centenas de comerciais de alimentos veiculados, a todo
momento, na mídia, como na TV, por exemplo).

Nós precisamos nos abrigar das mudanças climáticas, dos predadores? Não
nos escondemos mais em cavernas e tocas, mas queremos casas maiores e cada
vez mais confortáveis, com objetos que satisfaçam nossas novas necessidades. Por
exemplo, tínhamos, no passado, televisões cujos botões eram manuais e que nos
obrigava a levantar do sofá para arrumar a faixa vertical que ficava correndo pela
tela ou para mudar de canal ou aumentar/diminuir o volume. E hoje? Não precisa-
mos mais nos levantar para isso, pois as TVs têm controle remoto.

Criamos a necessidade de não nos levantarmos mais, acreditando que isso nos
traz mais conforto. E quanto maior a tela da TV, melhor; e, com alta definição, temos
um cinema em casa! Então, todos nós, genericamente falando, queremos consumir
e ter uma dessas novas maravilhas televisivas. E a reprodução? Bem, nós inventamos
novas formas de reprodução para garantir a continuidade de nossa espécie.

Será que realmente precisávamos de todas essas novas coisas que criamos e das
quais (muitas delas) nos tornamos dependentes? Karl Marx falava sobre as necessi-
dades socialmente criadas. Elas são fruto do capitalismo, pois esse sistema, para se
manter em funcionamento, depende do consumo. Se não consumirmos, o que as
indústrias produzirão? Para quem venderão? Como os capitalistas farão para obter
lucro, acumular capital e enriquecer?

Dessa forma, somos levados a crer que, quanto mais tivermos, em termos mate-
riais, melhores seremos e maior será nosso status nessa sociedade. Retornando à
ideia de natureza, temos, então, que, para nossa sociedade, diferente das socieda-
des que a precederam, esse conceito ganha uma nova concepção. A ciência desen-
volve-se, cada vez mais, para conhecer o funcionamento da natureza e “desvendar
seus mistérios” e, dessa forma, poder utilizá-la (como fonte de lucro).

A Nova Natureza com a Ciência e o Capitalismo


A partir de Charles Darwin, com sua Teoria da Evolução das Espécies (1859),
ocorreu a consolidação da concepção atual de Natureza, que se deu com a conso-
lidação da sociedade industrial.

Nos séculos XVIII e XIX, novas concepções de mundo e natureza surgiram,


motivadas pelas novas relações sociais desenvolvidas no sistema capitalista, o qual
tem como ingredientes básicos a luta de classes, a relação capital versus trabalho,
o surgimento da crítica ao sistema e a proposta do socialismo, as ideias liberais de
progresso e evolução. Isso confirma o fato de que criar cultura, hábitos de convivên-
cia, entre outras coisas, faz parte da natureza humana e, toda vez que isso mudar,
mudarão as concepções que os homens têm das coisas, inclusive da natureza.

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UNIDADE Concepções Sobre Natureza e Meio Ambiente

Podemos acompanhar, hoje, as discussões sobre clonagem, pesquisas com cé-


lulas-tronco, transgênicos, experimentos com o corpo humano no espaço, entre
outras. Isso leva-nos a refletir se estamos caminhando para uma nova relação entre
os seres humanos e para uma nova concepção de natureza.

Transgênico: é um organismo que recebe um gene retirado de outro, o que lhe confere uma
Explor

característica nova. A depender do gene adicionado, a planta pode se tornar mais nutritiva
ou mais resistente à seca, a pragas ou a agrotóxicos. Entre os argumentos mais usados a fa-
vor da transgenia, está o de que essas técnicas permitirão ampliar a oferta de produtos agrí-
colas para atender à necessidade de alimentos da crescente população mundial. Os críticos
reagem com a frequente menção de potenciais riscos no médio e no longo prazo dessas cul-
turas para a saúde humana (como o de aumento de alergias e da resistência a antibióticos)
e para o meio ambiente (como o uso de substâncias tóxicas e radiação).Recentes estudos,
feitos inclusive na Comunidade Europeia, não descartam riscos na produção e consumo de
transgênicos – afirma o advogado Maurício Guetta, do Instituto Socioambiental (ISA).

Fonte: Agência Senado

Será que a investigação e a utilização do corpo humano estão atingindo um novo


limite, novo limiar? Será que estamos cada vez mais nos aprofundando para des-
vendar outros mistérios, agora relativos ao corpo dos organismos (e dos homens)?
Tudo indica que as novas relações sociais que tomam lugar neste século XXI podem
levar a uma nova concepção de mundo e, consequentemente, de natureza. Só o
tempo nos dirá.

Meio Ambiente e Educação Ambiental


Ao tratar das questões ambientais, cabe ressaltar que essa temática faz parte
dos temas transversais presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs),
sendo um tema muito importante de ser tratado na educação, dada a emergência
pela qual passa o mundo, a natureza e a degradação ambiental.

Entende-se a questão ambiental como mais uma dimensão a ser analisada no


espaço geográfico e desenvolvida no ensino fundamental. A questão ambiental
precisa ser analisada considerando a interface entre a sociedade e a natureza, evi-
denciando os diferentes usos do território no espaço geográfico e como a natureza
é apropriada pelos diferentes agentes sociais.

Existem muitas visões sobre meio ambiente, vamos nos ater às visões sistêmica e
crítica. A primeira é a visão sistêmica, observando que tudo que existe no mundo e no
planeta Terra está interligado. Se existe um sistema natural de vertentes (encostas) e
há uma ocupação humana, certamente isso alterará os processos naturais existentes.
Explor

Assista ao vídeo A história das coisas. Disponível em: https://youtu.be/Q3YqeDSfdfk

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Logo, tanto os processos naturais são sistémicos quanto as alterações promovi-
das pela vida do homem em sociedade também alteram esse sistema. Uma cidade
em si é um grande sistema, onde interagem processos naturais, antrópicos (da ação
humana), transformando a primeira natureza ou o meio natural.

As transformações existentes com o processo de urbanização tornaram as cida-


des cada vez mais artificiais, sendo até complicado definirmos em tais espaços se
ainda há natureza. Um rio que foi retificado, canalizado, é natural?

Com técnicas e tecnologias cada vez mais artificiais, com biotecnologia, super-
produções com técnicas que se distanciam dos modos naturais, o ser humano vai
recriando as formas de produção de modo mais artificial. Basta ver os alimentos
ultra processados com os quais nos alimentamos.

Os processos de urbanização vêm transformando o modo de vida e as condições


existentes no espaço, de modo que, com as transformações técnicas existentes
hoje, alcançamos uma verdadeira revolução técnico-científica-informacional, com
essas técnicas e tecnologias a serviço dos interesses capitalistas.

O mundo muda a cada momento, então, cabe-nos compreendê-lo como um


processo de produção constante, em cada tempo social, em diferentes contextos
sociais, políticos e espaciais, que redundam em transformações ambientais. Isso é
a visão crítica!

Nesse sentido, para a concepção crítica é fundamental entender o contexto em


que as situações acontecem. Contextualizar é palavra-chave! Se alguém discute,
por exemplo, um problema ambiental, em qual contexto ocorre? Quais os atores
envolvidos? Quais os papéis que cada um dos atores envolvidos tem? Precisa-se con-
textualizar do ponto de vista social, econômico, político, ou seja, considerando-se a
questão ambiental em suas diversas dimensões.

Entender as temáticas ambientais como processo histórico, já que os fenômenos


não são isolados, muito menos devem ser analisados como processos que têm um
começo e um fim. Não são produções acabadas: há sempre um devir, o mundo
sempre muda e, ao mesmo tempo, algumas situações são mais duradouras.

É importante considerar o meio ambiente como um sistema integrado (biológico,


físico, social, econômico, cultural etc.) e, ao mesmo tempo, analisar as questões da
interface ambiental-urbana do ponto de vista crítico.

A abordagem crítica visa a esclarecer a relação entre a sociedade-natureza, base-


ando-se principalmente na lógica dialética. Considera a dinâmica política, social e
econômica que reflete nas condições ambientais de degradação, nos diferentes usos
da natureza e nos problemas ambientais.

Ao estudar ou analisar uma questão urbano-ambiental, é fundamental procurar


ser interdisciplinar e destacar os papéis sociais que cada agente tem, contextuali-
zando essa relação como um processo cheio de contradições.

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UNIDADE Concepções Sobre Natureza e Meio Ambiente

Uma proposta crítica-dialética considera a complexidade do mundo, buscando


evidenciar o papel dos diversos atores sociais e sua relação com a questão ambien-
tal nas diversas dimensões (sociais, econômicas, políticas, culturais e naturais).

Exemplifica-se: um rio, em princípio, é natural. Contudo, seu uso é social, eco-


nômico e político. De quem é a competência de cuidar dos rios no Brasil? Depen-
de, se for um rio que corre só em um município, será municipal (prefeitura); se for
em vários municípios de um só Estado, ela será estadual; e se passar por vários
Estados, será federal. Por isso, o rio Tietê é estadual (SP) e o rio Paraná é federal.
Desse modo, o uso do rio é político!

Em outras palavras, a expressão de um fenômeno ou problema ambiental não


pode ser compreendida somente na escala da política nacional, nem tampouco
deve ser analisada como algo inerente apenas à dimensão natural.

O que dizer, por exemplo, da construção de uma hidrelétrica em uma região


brasileira? Há mudanças na dimensão natural do território, com a construção de
represas e outros objetos, que alteram a dinâmica dos rios, da hidrologia, da vege-
tação e da fauna, que serão modificados em virtude da construção da barragem,
mas também se alteram as relações sociais, as formas espaciais, as moradias etc.

Logo, essa visão crítica aponta os usos do espaço urbano e por quais agentes
e com quais intenções. Um agente ou ator social pode ser o Estado (governo), os
grupos excluídos, os donos de indústrias, os promotores imobiliários etc. Cada um
tem um papel social, uma intenção e condição de poder na cidade.

Você Sabia? Importante!

A preocupação em relacionar a educação com a vida do aluno — seu meio, sua comuni-
dade — não é novidade. Ela vem crescendo especialmente desde a década de 1960 no
Brasil. Exemplo disso são atividades como os “estudos do meio”. Porém, a partir da década
de 1970, com o crescimento dos movimentos ambientalistas, passou-se a adotar explici-
tamente a expressão “Educação Ambiental” para qualificar iniciativas de universidades,
escolas, instituições governamentais e não-governamentais por meio das quais se busca
conscientizar setores da sociedade para as questões ambientais. Um importante passo foi
dado com a Constituição de 1988, quando a Educação Ambiental se tornou exigência a ser
garantida pelos governos federal, estaduais e municipais (artigo 225, § 1o, VI).

Fonte: MEC

Para desenvolver essa consciência ambiental que considera o território, é funda-


mental um método e algumas metodologias que não sejam tradicionais. Seja por
meio de uma abordagem crítica ou sistêmica, é importante usar múltiplas lingua-
gens, para o desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental.

Entre elas, destacamos: o estudo do meio; o uso de vídeo, filmes e imagens de


forma significativa; atividades lúdicas (jogos e brincadeiras), projetos ambientais,

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entre outros, sempre considerando as mediações e o contexto no qual as atividades
serão desenvolvidas.

Cada grupo sociocultural, conforme sua formação, modo de vida, experiência


e faixa etária, pode requerer uma metodologia diferente para Educação Ambien-
tal. Uma metodologia que pode ser utilizada é o levantamento das representações
sociais, que ocorre por meio de uma atividade expositiva com os participantes de
uma atividade de Educação Ambiental, através de uma dinâmica com depoimentos,
colagem, teatro, conversas, ou seja, de forma dialógica, com dinâmicas de grupos
nas quais haja interação e descontração no grupo.

A realização de tal atividade possibilita observar as diferentes opiniões e conhe-


cimentos pré-existentes sobre um tema, bem como desconstruir e reconstruir os
depoimentos durante o processo de ensino-aprendizagem, chegando a uma cons-
trução coletiva sobre um determinado tema.

Exemplifica-se: em uma atividade sobre os problemas dos resíduos sólidos em


determinada cidade brasileira pode-se, a partir da metodologia das representações
sociais, questionar aos participantes o que sabem sobre o assunto. Qual o problema
em sua cidade em relação à coleta dos resíduos? Como é feito o destino final desses
materiais? Qual seria a solução, considerando-se a opinião de cada um ou de cada
grupo? Isso pode ser apresentado através de painéis (recortar/colar textos e ima-
gens, desenhos etc.), oralmente e/ou por meio de depoimentos por grupos, ou por
representação teatral, sempre com a mediação do professor/educador.

Em uma atividade, por exemplo, sobre áreas verdes e sua importância ambiental,
o uso de recursos informatizados (imagem do Google Earth, Google Street View,
outras fontes de imagens da internet) auxilia na identificaçao das coberturas vege-
tais. O estudo do meio pode ser interessante para reconhecimento in loco, bem
como o uso de jogos educativos pode compor um rol de estratégias interessantes.

Atividades de educação ambiental


Nos terceiro e quarto ciclos, é grande a dificuldade de obter uma visão mais global da
realidade, uma vez que geralmente o conhecimento é apresentado para os alunos de
forma fragmentada pelas disciplinas que compõem a grade curricular. Entretanto, a
formulação do projeto educacional da escola, por meio da discussão, decisão e en-
caminhamentos conjuntos, com atribuição de responsabilidades, possibilita superar
o fracionamento do saber: as divergências de interesses, as várias formações profis-
sionais e as diferentes escalas de valores, por terem que se articular na efetivação de
um projeto pedagógico, podem contribuir para a construção desse espaço coletivo.
Além disso, viabilizar o diálogo entre docentes, e a atuação conjunta (professores
entre si, professores com alunos e com a comunidade), em que será possível a cons-
trução de atitudes e valores. Atividades como a realização de excursões, criação de
viveiros de muda e hortas comunitárias, participação em debates etc. possibilitam
um trabalho mais integrado, com maior envolvimento dos alunos, e a participação
no espaço social mais amplo, no que se refere à solução dos problemas ambientais.

Fonte: MEC. Meio Ambiente. Temas Transversais. Disponível em: http://bit.ly/2PJ7kAZ

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UNIDADE Concepções Sobre Natureza e Meio Ambiente

Contudo, cabe lembrar que qualquer resultado dependerá também do método


utilizado. Não basta, por exemplo, em uma atividade de jogos educativos sobre po-
luição do ar nas grandes cidades, fazermos questionamentos no jogo com pergun-
tas e respostas diretas, com vistas apenas a observar a memorização sobre o tema.

É necessária a problematização sobre o tema. Quais são as condições que le-


vam à poluição do ar em nossa cidade? Há alternativas para melhorar tal situação?
Quais são? Depende de cada um como indivíduo, do governo, de quais atores
sociais? Quais decorrências da poluição do ar? Logo, não se trata somente de um
jogo de certo ou errado, mas de estratégias que conduzam à reflexão mais profunda
sobre a poluição do ar. Há diversas temáticas que podem ser tratadas: desperdício
de água; de onde vem para onde vai o lixo; a falta de áreas verdes nas cidades;
áreas de risco; enchentes; a poluição do ar, entre tantos outros.

ZOMBINI, Edson Vanderlei; PELICIONI, Maria Cecília Focesi. Saneamento básico: estratégia
Explor

para a promoção da saúde da criança. Material educativo para apoio pedagógico. São Paulo:
Faculdade de Saúde Pública, USP, 2013. Disponível em: https://bit.ly/3TPCbMa

Como afirmam Albanus e Zouvi (2012), é essencial cumprir com as seguintes


etapas: definir um dilema/problema; pensar algumas alternativas para a questão,
definindo alguns aspectos positivos e negativos e suas contradições, sempre com a
mediação do educador.

Outra estratégia e procedimento metodológico para envolver de forma direta os par-


ticipantes são as oficinas. As oficinas tornam-se um formato importante para desenvol-
ver ações sobre a seleção e reutilização de materiais; sobre hortas e jardins; desperdício
e práticas sobre uso da água; com dinâmicas em grupo e atividades práticas.

Finalizando, destacamos nesta unidade diversas concepções sobre natureza e


meio ambiente, mostrando como serem desenvolvidas no ensino.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Armas, germes e aço – os destinos das sociedades humanas
DIAMOND, J. Armas, germes e aço – os destinos das sociedades humanas. 4. ed. Rio
de Janeiro: Record, 2003.
Educação e meio ambiente: uma relação intrínseca
LUZZI, Daniel. Educação e meio ambiente: uma relação intrínseca. Barueri: Ed.
Manole, 2012. p. 111-156. [e-book]

Vídeos
Primeira e Segunda Revolução Industrial
https://youtu.be/dBT266GCJF0
Aula de Revolução Industrial – Parte ½
https://youtu.be/meSQG6bNvOM

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UNIDADE Concepções Sobre Natureza e Meio Ambiente

Referências
ALBANUS, L. L. F.; ZOUVI, C. L. Ecopedagogia: educação e meio ambiente.
Curitiba: InterSaberes, 2012. [e-book]

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura (MEC). Parâmetros Curriculares Na-


cionais: Meio Ambiente. Temas Transversais. Brasília: MEC, 1997. Disponível:
em; <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/meioambiente.pdf>. Acesso em:
20 jul. 2015.

CAMARGO, T. D.; TONSO, S. Educação ambiental crítica: desafios para a trans-


formação social. Revista Científica Ciências. Humanas e Educação, Londrina, v.
12, n. 1, p. 5-12, Jun. 2011. Disponível em: <http://www.pgss.com.br/revistacien-
tifica/index.php/humanas/article/viewFile/679/631>. Acesso em: 20 jul. 2015.

CARVALHO, M. de. O que é natureza. São Paulo: Brasiliense, 1999.

DESCARTES, R. Discurso do método. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

GONÇALVES. C. W. P. Os (des)caminhos do meio ambiente. 5. ed. São Paulo:


Contexto, 1996.

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