2022 NUNES Paisagens Antropogênicas em TeresinaPiauí

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HIKARO KAYO DE BRITO NUNES

PAISAGENS ANTROPOGÊNICAS EM TERESINA/PIAUÍ: DINÂMICA E


PROCESSOS SUPERFICIAIS ASSOCIADOS

Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Geografia do


Programa de Pós-Graduação em Geografia, do Centro de
Ciências e Tecnologia, da Universidade Estadual do
Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de
Doutor em Geografia.
Área de Concentração: Análise Geoambiental, Ordenação
e Produção do Território.
Linha de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica das
Paisagens.
Orientador: Prof. Dr. Frederico de Holanda Bastos

FORTALEZA – CEARÁ
2022
26

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


Universidade Estadual do Ceará
Sistema de Bibliotecas

Nunes, Hikaro Kayo de Brito.


Paisagens antropogênicas em Teresina/Piauí: dinâmica e processos
superficiais associados [recurso eletrônico] / Hikaro Kayo de Brito Nunes.
- 2022.
276 f. : il.

Tese (DOUTORADO ACADÊMICO) - Universidade Estadual do


Ceará, Centro de Ciências e Tecnologia, Curso de Programa de Pós-
graduação Em Geografia - Doutorado, Fortaleza, 2022.
Orientação: Prof. Pós-Dr. Frederico de Holanda Bastos.
1. Antropogeomorfologia. 2. Paisagens antropogênicas. 3.
Processos superficiais. 4. Suscetibilidades. 5. Cidade de
Teresina/Piauí..
I. Título.
27

HIKARO KAYO DE BRITO NUNES

“PAISAGENS ANTROPOGÊNICAS EM TERESINA/PIAUÍ: DINÂMICA E PROCESSOS


SUPERFICIAIS ASSOCIADOS”

Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Geografia do


Programa de Pós-Graduação em Geografia, do Centro de
Ciências e Tecnologia, da Universidade Estadual do
Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de
Doutor em Geografia. Área de Concentração: Análise
Geoambiental, Ordenação e Produção do Território. Linha
de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica das
Paisagens.
Orientador: Prof. Dr. Frederico de Holanda Bastos

Aprovado em: 13 de junho de 2022.

BANCA EXAMINADORA:

________________________________________
Prof. Dr. Frederico de Holanda Bastos
Universidade Estadual do Ceará – UECE
(Orientador/Presidente)

________________________________________
Prof. Dr. Davis Pereira de Paula
Universidade Estadual do Ceará – UECE
(Membro interno)

________________________________________
Profª. Dra. Cleide Rodrigues
Universidade de São Paulo – USP
(Membro externo)

________________________________________
Profª. Dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima
Universidade Federal do Piauí – UFPI
(Membro externo)

________________________________________
Prof. Dr. Jorge Eduardo de Abreu Paula
Universidade Estadual do Piauí – UESPI
(Membro externo)
28

A todos e todas que buscam e ajudam por um


mundo melhor.
29

AGRADECIMENTOS

Chegar ao término de um curso de Doutorado é, no mínimo, cansativo, exaustivo e com


pensamento de dever cumprido, mesmo com todas as limitações e realizações, realizando-se
em momentos de grandes “confusões sentimentais”, de modo que a finalização é inteiramente
relacionada aos constantes apoios, ajudas, abraços (mesmos que distantes) que tornaram
possível meu sonho de ser Doutor em Geografia por uma universidade pública, gratuita e de
qualidade. Mesmo com inúmeras pressões e críticas anticientíficas, mantemo-nos de pé e
continuaremos assim!!!
Ciente de que ainda há muito a se fazer e que essa estrada está apenas começando, é tempo de
agradecer a quem acompanha essa caminhada de perto. Ao meu bom Deus e à Virgem Maria,
pelas incontáveis presenças nas horas difíceis, pelas constantes dádivas, proteção e iluminação
nessa jornada. Que continuem junto a mim e que a Fé continue me enchendo de entusiasmo
para continuar firme.
À minha família, em especial meus pais (José Domingos e Rosa Maura) e ao meu irmão
(Hitallo), pela ajuda, carinho, por acreditarem no meu sonho e me incentivarem a ter foco,
honestidade e dedicação. Por provarem que só se conquista algo com estudo e trabalho e por
respeitarem minhas longas horas trancado (entre papeis, computador e mapas) no quarto.
Ao Edenilson Andrade (Ed), parceiro de campos e de sonhos, pelos incentivos em todos os
momentos, pela confiança, por me fazer pensar em um futuro melhor e por ser alicerce. Grande
anjo que chegou em minha vida.
Ao Prof. Frederico (Fred) Holanda Bastos, pela orientação e solicitude de sempre. Por acreditar
no projeto e no meu potencial nos estudos geográficos, por estimular a autonomia e
autoconfiança e por me fazer enxergar aspectos em campo que ainda não ainda havia verificado.
Obrigado pela disponibilidade, por se fazer presente durante toda a pesquisa compartilhando
dos seus conhecimentos científicos, acadêmicos e de vida e por preocupar-se com o andamento
da pesquisa no início do curso (ainda em Fortaleza/CE) e no decorrer (em Teresina/PI e em
Tefé/AM). A distância que incialmente tanto me preocupava não causou a inviabilidade da
pesquisa.
À minha maravilhosa turma (Turma 10) de Doutorado pelas discussões, apoios, carinho e
diálogos constantes, compartilhando realizações e aflições em momentos caóticos: Fredson
Silva (o único que tive a honra de conhecer antes do curso e parceiro de compartilhar a
“quitinete 3” nas primeiras semanas), Carol Damasceno (grande amiga e presente potiguar pelas
longas conversas durante o curso), Alisson Medeiros (amigo e grande professor de temas da
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Geografia Física que eu tinha pouco contato/acesso) . Saudades do nosso passeio numa sexta-
feira chuvosa na orla de Iracema. Ao Eudázio Sampaio (grande estudioso dos temas regionais
e socioeconômicos), à Ana Paula Damasceno (fonte de inspiração sobre a importância dos
estudos sobre gênero), ao Diego Gadelha (pelas necessárias e indispensáveis provocações que
me fizeram repensar pontos importantes não só da pesquisa, mas sobre a própria importância
da Geografia). Ao Elitom Rodrigues (pelas provocações teóricas durantes as aulas), ao
Hamilton Andrade (pelas frutíferas discussões em torno dos estudos ambientais) e à Maria
Bonfim (por me fazer compreender melhor a dinâmica costeira). As nossas aulas (presenciais
e remotas) serão inesquecíveis. Em cada página desta Tese tem um pedaço de vocês.
Ao Prof. Abner Monteiro, Profª. Lúcia Mendes, Prof. Otávio Lemos e Prof. Wagner Amorim,
pelas valiosas contribuições teóricas e metodológicas durante as aulas no PropGeo.
À Secretaria do ProPGeo, Adriana Livino e Nívia Oliveira, pela presteza, dedicação e atenção
quando das minhas (inúmeras) solicitações e dúvidas.
Sendo um reflexo de todos os(as) professores(a) que passaram pela minha vida acadêmica, pelo
apoio e constantes incentivos, por me fazerem acreditar na Geografia e no magistério e ainda
por tirarem inúmeras dúvidas que me fizeram crescer pessoalmente e profissionalmente,
agradeço os(as) da Graduação em Geografia na Universidade Estadual do Piauí (UESPI):
Egnaldo Belo, Elisabeth Baptista, Francisca Lima, Irene Batista, Joana Aires, Jorge Martins,
Josafá Santos (in memorian), Josenete Cardoso, Laryssa Sheydder, Liége Moura, Livânia
Norberta, Manoel Afonso, Rodrigo Rodrigues e Tereza Alencar. Destaco as grandes
contribuições, apoios e exemplos de humanos e de profissionais da Profª. Suzete Sousa, pelos
ensinamentos geográficos e teórico-metodológicos e por me apresentar Teresina com outro
olhar, da Profª. Luzineide Gomes, pela amizade, palavras de incentivo pessoal e profissional,
carinho, pelos sorrisos sempre cativantes, abraços fraternos e puxões de orelha e do Prof. Jorge
Eduardo Paula, pela amizade, incentivos, por guiar-me nos caminhos acadêmicos, por me
aproximar da temática ambiental e por se fazer presente em todos os momentos, ainda por ter
gentilmente contribuído com esta Tese durante a Qualificação e por aceitar realizar uma nova
leitura para a Defesa.
Agradeço também os(as) professores(as) do Mestrado em Geografia na Universidade Federal
do Piauí (UFPI), em especial Profª. Cláudia Sabóia (pela solicitude de sempre, por acreditar no
meu potencial e incentivar para seleção de Doutorado), Prof. Antonio Façanha (pelas
importantes discussões e reflexões sobre a necessidade de se incluir cada vez mais a temática
social nos estudos geográficos) e Profª. Iracilde Moura Fé (pelos ensinamentos, discussões e
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momentos de descontração, pelas dicas quanto às práticas de campo, pelos incentivos e palavras
de carinho e por contribuir com esta Tese tanto na Qualificação quanto na Defesa).
À Profª. Cleide Rodrigues pelas ricas e importantes discussões durante a disciplina de Impacto
Humano no Meio Físico em que tive a oportunidade de participar como aluno especial, além
de, gentilmente, contribuir com esta pesquisa tanto na Qualificação quanto na Defesa, sendo,
ainda, grande fonte de inspiração no âmbito dos estudos do Antropoceno.
Ao Prof. Davis Pereira de Paula pelo acompanhamento durante atividades do curso, pela
solicitude e por contribuir com a pesquisa participando da Banca Examinadora de Defesa desta
Tese.
À Profª. Bartira Viana, pela compreensão e ajuda necessária durantes as primeiras semanas do
curso, oportunidade que também estava como professor na UFPI.
Aos meus colegas do Colegiado de Geografia do Centro de Estudos Superiores de Tefé (CEST)
da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), pelo apoio, confiança e compreensão durante
o curso: Prof. Davy Rabelo, Profª. Eliane Feitosa, Profª. Eubia Andrea, Prof. Jubrael Mesquita,
Prof. Kristian Queiroz, Prof. Leonardo Mendes, Profª. Viviane Sussumo e Prof. Wagner Dias.
À D. Sonia, moradora do bairro Satélite, por seu depoimento (informal) sobre os riscos em que
sua casa e sua família sofrem frequentemente com os episódios de enxurradas e inundações.
À Beatriz Ribeiro (Bia), companheira de Geografia (do Fundamental ao Mestrado), de sonhos
e de realizações. Obrigado Bia, pelo apoio, pela confiança, por estar sempre ao meu lado em
todos os momentos, regados por açaí e subway, choros e alegrias.
Aos amigos de sempre e irmãos camaradas, que me acompanham a anos e que me
ajudaram/estimularam em momentos que eu mesmo não acreditava: André Reis, Clícia Batista,
Derlany Barros, Jéssica Barros, Juan Carlos, Kádson Wanole, Marcus Affonso, Romulo
Lacerda e Wilder Márcio (in memorian). Tamo junto, brothers!
À Camila Carneiro, Prof. Francisco Wellington, Prof. Francílio Amorim e Profª. Roneide
Sousa, pela riquíssima contribuição nas etapas de geoprocessamento e sensoriamento remoto.
Vocês entenderam minhas dúvidas mesmo eu não sabendo explicar o que eu queria. Deu certo!
Aos grandes conhecedores dos estudos climatológicos e que me auxiliaram na obtenção,
manipulação e análise de dados importantes sobre Teresina, Prof. Jamersson Brito e Prof.
Ivamauro Silva. Obrigado pelo compartilhamento de seus conhecimentos. Agradeço, também,
aqueles(as) que tive a honra de conhecer em Tefé/AM, Prof. Caio Florindo, Prof. Leonardo
Fonseca e Profª. Márcia Gil. Obrigado pela acolhida e momentos divertidos que me ajudaram
a superar a distância da família e amigos.
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Aos funcionários da PRODATER, em especial à Andreia, Reginaldo e Wanderlan pelo auxílio


e disponibilidade de documentos e fotografias aéreas.
Ao Prof. Rodrigo Rodrigues por disponibilizar gentilmente documentos importantes (planos
diretores) de Teresina que me fizeram compreender a dinâmica da cidade sob a ótica do
planejamento urbano.
Aos amigos e companheiros de docência, Prof. José Francisco, Prof. Leilson Alves e Prof.
Tiago Caminha, pela amizade e apoio constante.
À Barbara Andressa, Felipe Costa, Jessika Weluma e Jonas Alves, pelos abraços fraternos,
sorrisos sempre cativantes e torcida de sempre.
Aos ex-alunos e ex-orientandos (UEMA e UFPI) que acompanharam esta pesquisa desde a
construção do projeto até a finalização da pesquisa, estimulando e participando desta
caminhada: Arylson Alvino, Gabriel Cunha, José Henrique, Mayara Beatriz, Ozilene Silva,
Patrícia Pereira e Verlando Marques.
Ao Alencar Egeu e à Rejane Souza pelas grandes ajudas na revisão gramatical dos textos da
Qualificação e da Defesa, e ainda pelas traduções do resumo.
À todos os pesquisadores que estudam o Antropoceno em seus variados campos de observação
e análise, aos pesquisadores que discutem Teresina e a todos que fazem, defendem e difundem
o conhecimento científico de qualidade nesse mundo tão conflituoso.

À vocês meu muito obrigado e minha eterna gratidão.


Que a estrela de vocês continuem brilhando!!
33

Por isso, digo sempre aos meninos e meninas que têm


origem parecida com a minha: não há vida com limite
preestabelecido. Seu lugar é aquele em que você sonhar
estar (Lázaro Ramos).
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RESUMO

As feições antropogênicas são importantes indicadores de modificações das características físico-


naturais nas cidades à medida que o relevo é ocupado e modificado, auxiliando na existência de
processos superficiais. Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar a gênese, classificação e
espacialização de paisagens antropogênicas na cidade de Teresina (Piauí), buscando a compreensão das
dinâmicas e processos superficiais no contexto da transformação da fisiografia das paisagens locais
(bairros Parque Juliana, Flor do Tempo, Satélite, Matadouro e São Joaquim); e, como objetivos
específicos os seguintes: a) Discutir o processo de expansão urbana e apropriação do relevo de
Teresina/Piauí de modo a oferecer subsídios para o entendimento da formação de paisagens
antropogênicas; b) Identificar e caracterizar as paisagens antropogênicas no que diz respeito à sua gênese
e classificação, notadamente relacionando às dinâmicas em que estão inseridas; c) Mapear as
modificações geomorfológicas nas paisagens antropogênicas estudadas no âmbito das unidades
morfológicas complexas como consequência da materialização da dinâmica entre sociedade e natureza;
e d) Determinar e categorizar os processos superficiais associados e/ou presentes nas paisagens
antropogênicas considerando a pressão antrópica existente e suas suscetibilidades. Metodologicamente
optou-se por procedimentos subsequentes e/ou concomitantes, que, apoiados no Geossistema e no
Materialismo Histórico e Dialético, vislumbrou-se uma análise ambiental integrada com abordagem da
Antropogeomorfologia e da Geomorfologia Urbana, com base em atividades de gabinete, campo e
geoprocessamento, auxiliando na discussão dos aspectos socioeconômicos, físico-naturais, de ocupação
urbana, das tipologias de feições antropogênicas, além da categorização das suscetibilidades
identificadas na área de estudo, considerando processos, dinâmicas e formas. Os principais resultados
obtidos detalham que, em sintonia com as coberturas superficiais, a estruturação geológica, o padrão de
drenagem e escoamento superficial, bem como as características morfométricas e de precipitação
pluviométrica, somadas à existência de magnitude das interferências humanas/urbanas ao longo de
quase 50 anos, diversidade de exemplos do processo de Geotecnogênese com a existência de made
ground, worked ground, infilled ground, disturbed ground e landscaped ground e com depósitos de
variadas características e tipologias através de sua composição, atrelado, ainda, a aterramento/
canalização/tamponamento de cursos fluviais, escavações tanto em planícies e terraços quanto em
vertentes e topos de morros. Tais modificações acarretaram na existência e intensificação de processos
superficiais de inundação (Matadouro, São Joaquim, Flor do Campo e Satélite), enxurradas (Satélite),
processos erosivos (Flor do Campo, Parque Juliana e Satélite), queda de blocos (Satélite) e
deslizamentos (Flor do Campo, Parque Juliana e Satélite), o que conferiu a identificação de 12 setores
em que há maior suscetibilidade, abrangendo um total de 1005 residências, que, expostos e marcando
contextos urbanos distintos (período e forma de ocupação), contrastam com a realidade em cada bairro
e demonstram como o poder público capitaneia os referidos processos, ora por omissão, ora por estímulo
na ocupação. Destes setores os que se destacaram negativamente (intensidade da suscetibilidade
associada à antropogeomorfologia com Zoneamento Alto, Cadastro Iminente e Ocupação Urbana
Densa) foram SJM 01 e SJM 02 (nos bairros São Joaquim e Matadouro), SAT 01 (no Satélite) e FLO
01 e FLO 02 (ambos no Flor do Campo), que, juntos, abrangem aproximadamente 58% do total de
residências. Destarte, a diversidade dos elementos morfocronológicos, morfoestruturais, morfométricos,
morfodinâmicos, morfológicos e morfogenéticos nas paisagens estudadas atrela-se com os graus de
ocupação urbana exprimindo tais processos superficiais em seus contextos espacial e temporal desde o
início da urbanização teresinense.

Palavras-chaves: Antropogeomorfologia. Paisagens antropogênicas. Processos superficiais.


Suscetibilidades. Cidade de Teresina/Piauí.
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ABSTRACT

Anthropogenic features are important indicators of changes in physical-natural characteristics, both in


degradational and aggradational processes that become spatialized as the urban relief is occupied and
modified, helping and recreating the existence of superficial processes. This ongoing research aims to
analyze the genesis, classification and spatialization of anthropogenic landscapes in the city of Teresina
(Piauí), seeking to understand the dynamics and surface processes in the context of the transformation
of the physiography of local landscapes (Parque Juliana, Flor do Tempo, Satélite, Matadouro and São
Joaquim); and, as specific objectives, the following: a) Discuss the process of urban expansion and
appropriation of the relief of Teresina/Piauí in order to provide subsidies to the scenarios of formation
of anthropogenic landscapes; b) Identify and characterize the anthropogenic landscapes in terms of their
genesis and classification, notably relating to the dynamics in which they are inserted; c) Mapping the
geomorphological changes in the anthropogenic landscapes studied in the context of complex
morphological units as a consequence of the materialization of the dynamics between society and nature;
and d) Determine and categorize the surface processes associated with present in anthropogenic
landscapes considering the existing human pressure and their susceptibilities. Methodologically, we
opted for subsequent and concomitant procedures, which, supported by the Geosystem and the Historical
and Dialectical Materialism, envisaged an integrated environmental analysis with an approach of
Anthropogeomorphology and Urban Geomorphology, based on in office, field and geoprocessing
activities, assisting in the discussion of socioeconomic, physical-natural, urban occupation, typologies
of anthropogenic features, in addition to the categorization of susceptibilities identified in the study area,
considering processes, dynamics and forms. The main results obtained detail that, in line with the surface
coverage, the geological structure, the pattern of drainage and surface runoff, as well as the
morphometric and rainfall characteristics, added to the existence of magnitude of human/urban
interferences over almost 50 years, diversity of examples of the process of Geotechnogenesis with the
existence of made ground, worked ground, infilled ground, disturbed ground and landscaped ground and
with deposits of different characteristics and typologies through its composition, still linked to
grounding/channeling/plugging of river courses, excavations in plains and terraces as well as in slopes
and hilltops. Such changes led to the creation and intensification of surface flooding processes
(Matadouro, São Joaquim, Flor do Campo and Satélite), flooding (Satélite), erosive processes (Flor do
Campo, Parque Juliana and Satélite), falling blocks (Satélite) and landslides (Flor do Campo, Parque
Juliana and Satélite), which identified 12 sectors where there is greater susceptibility, covering a total
of 1005 residences, which, exposed and marking different urban contexts (period and form of
occupation), contrast with the reality in each neighborhood and demonstrate how the public power
spearheads the aforementioned processes, sometimes by omission, sometimes by stimulus in the
occupation. Of these sectors, the ones that stood out negatively (intensity of susceptibility associated
with anthropogeomorphology with High Zoning, Imminent Registration and Dense Urban Occupation)
were SJM 01 and SJM 02 (in the São Joaquim and Matadouro districts), SAT 01 (on the Satélite) and
FLO 01 and FLO 02 (both in Flor do Campo), which together cover approximately 58% of total
residences. Thus, the diversity of the morphochronological, morphostructural, morphometric,
morphodynamic, morphological and morphogenetic elements in the studied landscapes is linked to the
degrees of urban occupation, expressing such superficial processes in their spatial and temporal contexts
since the beginning of Teresina's urbanization.

Keywords: Anthropogeomorphology. Anthropogenic Landscapes. Superficial Processes.


Susceptibilities. City of Teresina/Piauí.
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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Representação do Inferno baseada na obra Divina Comédia, de


Dante Alighieri........................................................................................ 25
Figura 2 – Localização da cidade de Teresina/PI com identificação das áreas de
interesse................................................................................................... 29
Figura 3 – A tríade geomorfológica......................................................................... 35
Figura 4 – Filogênese da Geomorfologia................................................................. 38
Figura 5 – Esquematização piramidal das condições e características
endógenas (litologia e características diagenéticas, estrutura
geológica, cobertura detrítica, solo e coberto vegetal) e exógenas
(clima e ação antrópica), fundamentais na avaliação da evolução do
relevo num quadro analítico de tipo geossistêmico. Tais condições se
movimentam no espaço (o cubo) e no tempo (Ti e Ti+1 a marcar
evolução).................................................................................................. 42
Figura 6 – Propostas de demarcação e subdivisão do Antropoceno..................... 44
Figura 7 – Relação entre o grau de desenvolvimento e os processos
geomorfológicos antropogênicos............................................................ 49
Figura 8 – Modificações morfológicas do promontório de San Benigno (em
Génova/Itália) nos dois últimos séculos. Em A, início do século XX,
pré-demolição do promontório; e, em B, destaque o antigo perfil do
promontório............................................................................................ 51
Figura 9 – Modificações geomorfológicas no Rio de Janeiro (RJ). Em A, Morro
do Castelo e sua ocupação original; em B e C, desmonte do Morro
do Castelo iniciado em 1921, e; em D, Av. Presidente Antônio Carlos
e a urbanização da Esplanada do Castelo em 1944............................. 52
Figura 10 – Tipos de artificial ground conforme British Geological Survey.......... 55
Figura 11 – Exemplos de hierarquia dos terrenos artificiais conforme British
Geological Survey................................................................................... 56
Figura 12 – Diferentes tipos de feições antropogênicas e elementos associados
em ambiente urbano............................................................................... 58
Figura 13 – Gênese dos riscos geomorfológicos e suas suscetibilidades.................. 62
Figura 14 – Em A, modelo geossistêmico proposto por Bertrand (ação antrópica
com a mesma dimensão na organização do geossistema); e, em B,
Modelo geossistêmico proposto por Sotchava (atividades humanas
influenciam a estrutura do geossistema) .............................................. 64
Figura 15 – Fluxograma metodológico da pesquisa com base em Libault (1971)... 67
Figura 16 – Organização metodológica e instrumental iniciais dos mapas
geomorfológicos. Em A, montagem dos pares de fotos; em B,
overlay, interpretação visual e estágio inicial da organização da
simbologia; em C, sobreposição das feições originais (pré-
intervenção) em impressão de imagem de satélite com a morfologia
atual; em D; vetorização no Google Earth Pro e organização do
esboço para, posteriormente, organização final no QGis................... 80
Figura 17 – Esboço das províncias geológicas e unidades estruturais, em
destaque o estado do Piauí, a localização de Teresina (A) e
arquitetura deposicional da bacia sedimentar do Parnaíba (B) ........ 88
Figura 18 – Corte de vertente por construção de avenida, em destaque as
formações Piauí e, sobre ela, a Pedra de Fogo....................................... 89
Figura 19 – Cronolitoestratigrafia de trecho da porção centro-norte da bacia do
Parnaíba, em destaque o contexto litoestrutural em que Teresina se
assentou................................................................................................... 90
Figura 20 – Aspectos geológicos e bens minerais do ambiente urbano de
Teresina, em destaque as áreas de estudo............................................. 92
37

Figura 21 – Características do relevo do bairro Flor do Campo. Em A, destaque


para os terrenos com cota altimétrica mais elevadas, e; em B,
destaque para a descaracterização antrópica da geometria da
vertente.................................................................................................... 95
Figura 22 – Aspectos geomorfológicos (4º táxon) do ambiente urbano de
Teresina e locas de afundamento (colapso/subsidência), em destaque
as áreas de estudo.................................................................................... 97
Figura 23 – Hipsometria do ambiente urbano de Teresina, em destaque as áreas
de estudo.................................................................................................. 100
Figura 24 – Declividade do ambiente urbano de Teresina, em destaque as áreas
de estudo.................................................................................................. 101
Figura 25 – Unidades geotécnicas do ambiente urbano de Teresina, em destaque
as áreas de estudo................................................................................... 104
Figura 26 – Imagens do satélite GOES em relação a atuação da ZCIT sobre a
cidade de Teresina................................................................................... 105
Figura 27 – Drenagem e massas d’água do ambiente urbano de Teresina, em
destaque as áreas de estudo................................................................... 110
Figura 28 – Corpos hídricos identificados na área de estudo e pressões
antrópicas sobre eles. Em A, canal (entre dois morros com tendência
a arredondamento) alterado em decorrência de abertura de rua no
bairro Flor do Campo; em B, canal em final de trecho de
tamponamento e início de trecho com leito com pouca
descaracterização no bairro Satélite; em C, Lagoa Piçarreira do
Cabrinha (em primeiro plano) e Lagoa Piçarreira do Lourival
(segundo plano) com perímetros retificados no bairro Matadouro;
e, em D, fundo de vale com canal de escoamento efêmero................... 112
Figura 29 – Predomínio de solos do ambiente urbano de Teresina, em destaque
as áreas de estudo.................................................................................... 114
Figura 30 – Cobertura vegetal no bairro Parque Juliana com predominância de
arbustos em áreas com anterior atividade de extração de materiais
para a construção civil............................................................................ 115
Figura 31 – Compartimentação ambiental da cidade de Teresina, em destaque
as áreas de estudo.................................................................................... 118
Figura 32 – Densidade demográfica (hab/hectare) e rede de água encanada e
esgotamento sanitário da cidade de Teresina, em destaque as áreas
de estudo.................................................................................................. 124
Figura 33 – Espacialização, considerando os principais rios piauienses, da então
Vila de Oeiras e as opções para mudança da capital............................. 129
Figura 34 – Em A, Fábrica de Fiação durante evento de inundação na década de
1920; e, em B, mesmo espaço em 2021, após aterramento de parte
da via........................................................................................................ 132
Figura 35 – Processos geotecnogênicos em riacho e lagoa. Em A, pontilhão sobre
o barrocão na década de 1930; em B, mesmo espaço, agora (2021)
com riacho aterrado/tamponado; em C, lagoa Palha de Arroz
(década de 1950) oriunda da drenagem do barrocão, e; em D, praça
Da Costa e Silva, construída após aterramento da lagoa.................... 133
Figura 36 – Antropização no leito de canal de drenagem no bairro Promorar.
Em A, trecho final do tamponamento do canal, e; em B, episódios de
enxurradas e alagamentos em 2019....................................................... 137
Figura 37 – Alterações geomorfológicas associadas à ação antrópica. Em A,
gênese de worked ground associada ao rebaixamento da linha férrea;
e, em B, episódio de subsidência de solo em 1999 na Rua Simplício
Mendes exemplificando disturbed ground............................................ 138
Figura 38 – Episódio de rompimento de barragem no Parque Rodoviário no ano
de 2019. Em A, destaque para o rompimento de rua que servia como
38

barreira; em B, área após rompimento; em C, canal de drenagem


com leito descaracterizado pela ocupação urbana; em D, passagem
da água durante a enxurrada; e, em E, altura do nível da água......... 140
Figura 39 – Ocupação urbana de Teresina com identificação das áreas de riscos,
faixa LMEO e destaque para as áreas de interesse da pesquisa.......... 144
Figura 40 – Zoneamento urbano de Teresina, em destaque de interesse da
pesquisa................................................................................................... 154
Figura 41 – Dinâmica de uso, ocupação e cobertura da terra dos bairros
Matadouro e São Joaquim para os anos de 1973, 1983, 2005 e 2021... 157
Figura 42 – Testemunhos de paleocanais na margem direita do rio Parnaíba,
São Joaquim............................................................................................ 159
Figura 43 – Perfil geomorfológico e características litológicas de trecho do
terraço fluvial dos bairros Matadouro e São Joaquim........................ 160
Figura 44 – Morfologia pré-intervenção (1972) dos bairros Matadouro e São
Joaquim................................................................................................... 162
Figura 45 – Fotografia aérea (1983) destacando o início do processo de
escavação da cava que originou a Lagoa Piçarreira do Lourival, a
lagoa oriunda da cava da Lagoa Piçarreira do Cabrinha, e uma
lagoa com extração de material às suas margens.................................. 164
Figura 46 – Esquema de ligação entre as lagoas naturais e antropogênicas e o
sistema de bombeamento (recalque), com destaque a área de estudo. 165
Figura 47 – Depósito antropogênicos ladeando o dique para abertura de acesso
a ruas, com a presença de processo erosivo e árvores inclinadas no
bairro São Joaquim................................................................................. 167
Figura 48 – Depósito antropogênico sobre terraços fluviais e às margens de
lagoa próximo às ruas Alfa, São Joaquim............................................. 168
Figura 49 – Mosaico de fotos ilustrando as alterações antropogeomorfológicas e
a gênese de landscaped ground antes (A, B e C) e durante (D, E, F e
G) a execução do PLN. Em A, casas construídas sobre feições
antropogênicos depositadas sobre a lagoa; em B, canal
antropogênico e depósitos nas suas margens; em C e D vista aérea
das lagoas do Cabrinha e do Lourival, antes e depois
(respectivamente); em E, vista panorâmica da orla urbanizada da
lagoa do Cabrinha; em F, canal urbanizado de ligação entre as
lagoas; em G, depósito antropogênico sobre lagoa em área ainda não
urbanizada............................................................................................... 170
Figura 50 – Morfologia atual (2022) dos bairros Matadouro e São Joaquim......... 171
Figura 51 – Dinâmica de uso, ocupação e cobertura da terra do bairro Satélite
para os anos de 1973, 1983, 2005 e 2021................................................ 173
Figura 52 – Perfil geomorfológico e características litológicas do bairro Satélite.. 175
Figura 53 – Morfologia pré-intervenção (1972) do bairro Satélite......................... 177
Figura 54 – Worked ground. Em A, fotografia aérea identificando relevo
negativo oriundo da mineração; em B, manto de alteração da
Formação Pedra de Fogo exposto em talude de corte em destaque as
linhas representativas da superfície pré-intervenção........................... 179
Figura 55 – Identificação dos depósitos antropogênicos sobrepostos a antigos
terrenos alagadiços e de planície de inundação, e seus respectivos
testemunhos atuais.................................................................................. 180
Figura 56 – Trechos de intervenção antropogeomorfológica ao longo de canais
de drenagem. Em A, trecho de transição entre seção tamponada e
seção com leito semi-preservado em destaque desmonte da
desembocadura e amostragem do depósito antropogênico na Rua
Branca; em B, margens modificadas por depósitos antropogênicos e
trecho final de tamponamento na Rua Vênus; em C, trecho
tamponado (canal principal) e com recepção de águas servidas na
39

Rua Edgar Gaioso; e, em D, modificação do canal de drenagem


(afluente da margem direita) acima da superfície da rua com
residência construída sobre o canal....................................................... 181
Figura 57 – Depósito antropogênico situado no fundo de canal de drenagem com
características de materiais terrosos e restos de construção civil
carreados após chuva, na interseção com a rua Deputado Sebastião
Leal........................................................................................................... 182
Figura 58 – Depósitos antropogênicos construídos nas margens dos canais de
drenagem na interseção das ruas Urano e Jornalista Joel Oliveira.
Em A, presença de depósito formado por materiais terrosos e de
sacos de areia para contenção do aterro; em B, depósito com
presença de materiais terrosos, restos de construção civil, madeira
e plástico.................................................................................................. 183
Figura 59 – Morfologia atual (2022) do bairro Satélite........................................... 184
Figura 60 – Dinâmica de uso, ocupação e cobertura da terra do bairro Parque
Juliana para os anos de 1973, 1983, 2005 e 2021.................................. 187
Figura 61 – Representação do perfil geológico esquemático da extração de
massará.................................................................................................... 190
Figura 62 – Morfologia pré-intervenção (1972) do bairro Parque Juliana............ 191
Figura 63 – Representação da extração de massará e seixo e desfiguração do
relevo (década de 1990) no entorno da área de estudo. Em A, cava a
céu aberto e, em evidência, três níveis de escavação; em B, marcas
de picareta e enxada para o desmonte inicial do terreno; em C,
assinaturas antropogênicas de intervenção no relevo........................ 193
Figura 64 – Assinaturas antropogeomorfológicas associadas à mineração
(worked ground). Em A, atividade recente com indícios de utilização
de máquinas para rastejo e acúmulo do material retirado; em B,
comparativo temporal das superfícies escavadas (terreno plano,
base da vertente, e, agora, terço superior da vertente); em C,
destaque para atuais vertentes antropogênicas; e, em D, plano
diferenciado da primeira superfície escavada e formação de
terrenos planos........................................................................................ 194
Figura 65 – Dinâmica temporal de um worked ground associado à mineração na
Rua José dos Santos Chaves com exposição de manto de alteração
“barro” da Formação Pedra de Fogo. Em A, recuo da vertente
antropogênica (imagens de satélite); e em B, tomada visual de
ângulo horizontal com características da geometria antropogênica e
destaque para a antiga morfologia......................................................... 195
Figura 66 – Feição tabuliforme antropogênica oriunda do Aterro de Teresina,
em destaque as vertentes construídas sobre aterros em degraus 197
artificiais..................................................................................................
Figura 67 – Morfologia atual (2022) do bairro Parque Juliana.............................. 199
Figura 68 – Dinâmica de uso, ocupação e cobertura da terra do bairro Flor do
Campo para os anos de 1973, 1983, 2005 e 2021................................... 202
Figura 69 – Perfil geomorfológico e características litológicas de trecho do
bairro Flor do Campo............................................................................. 204
Figura 70 – Cangas lateríticas de dimensões variadas capeando as feições de
topo. Em destaque ainda assinaturas antropogeomorfológicas de
escavação e maquinização para corte do talude.................................... 204
Figura 71 – Morfologia pré-intervenção (1972) do bairro Flor do Campo............. 206
Figura 72 – Dinâmica temporal do processo de escavação e urbanização sobre
as vertentes e base da vertente originando talude de corte (tracejado
amarelo)................................................................................................... 208
Figura 73 – Exemplos das intervenções geomorfológicas. Em A, feições erosivas
em sulcos e ravinas em talude de corte no terço superior de vertente
40

paralela à Rua dos Fernandes; e em B, blocos de rochas atualmente


seccionados para abertura de rua e construção de residências........... 209
Figura 74 – Depósitos antropogênicos sobre antigos terrenos alagadiços entre a
Avenida Ferroviária e o canal de drenagem. Em A, visão
bairro/avenida; em B, visão avenida/bairro.......................................... 210
Figura 75 – Antes (2018) e depois (2022) do aterramento (depósito
antropogênico) de um canal de drenagem............................................ 211
Figura 76 – Morfologia atual (2022) do bairro Parque Juliana............................. 212
Figura 77 – Modelagem 3D do setor SJM 01 e sua posição frente aos setores
identificados na área de estudo.............................................................. 216
Figura 78 – Modelagem 3D do setor SJM 02 e sua posição frente aos setores
identificados na área de estudo.............................................................. 218
Figura 79 – Episódios de inundação no setor SJM 02. Em A, Print de vídeo
postado relacionando com o sistema de recalque; em B, terrenos
inundados na Vila Apolônia. ................................................................. 219
Figura 80 – Modelagem 3D do setor SAT 01 e sua posição frente aos setores
identificados na área de estudo.............................................................. 221
Figura 81 – Modelagem 3D do setor SAT 02 e sua posição frente aos setores
identificados na área de estudo.............................................................. 223
Figura 82 – Modelagem 3D do setor SAT 03 e sua posição frente aos setores
identificados na área de estudo.............................................................. 224
Figura 83 – Interações e reflexos dos processos superficiais de inundação e
enxurradas no setor SAT 03. Em A, destaque para a altura (± 2,2m)
das muretas de proteção e a direção do fluxo do escoamento na rua
Bela; em B, muros construídos nos limites dos terrenos servindo
como corredor artificial para o escoamento na rua Saturno Quadra
2; em C, altura da calçada e presença de barreira de proteção (±
1,5m) e em D, artefatos antropogênicos e bueiros destruídos após
episódio de alta vazão da drenagem tamponada, ambas no
cruzamento das ruas Plutão e Eng. Edgar Gaioso................................ 225
Figura 84 – Modelagem 3D do setor PAJ 01 e sua posição frente à área de estudo 228
Figura 85 – Modelagem 3D do setor FLO 01 e sua posição frente aos setores
identificados na área de estudo.............................................................. 230
Figura 86 – Modelagem 3D do setor FLO 02 e sua posição frente aos setores
identificados na área de estudo.............................................................. 231
Figura 87 – Modelagem 3D do setor FLO 03 e sua posição frente aos setores
identificados na área de estudo.............................................................. 232
Figura 88 – Modelagem 3D do setor FLO 04 e sua posição frente aos setores
identificados na área de estudo.............................................................. 234
Figura 89 – Modelagem 3D dos setores FLO 05 e FLO 06 e suas posições frente
aos setores identificados na área de estudo............................................ 235
41

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Inserção do Quinário e do Tecnógeno no tempo geológico.................. 46


Quadro 2 – Impactos geomorfológicos da sociedade humana, com tipologia de
intervenção, impactos e exemplos......................................................... 50
Quadro 3 – Síntese da descrição das classificações de depósitos antropogênicos
com base na constituição dos seus materiais......................................... 73
Quadro 4 – Estrutura da legenda associada à cartografia geomorfológica............ 82
Quadro 5 – Comparativo das feições geomorfológicas dos períodos inicial e final
do recorte temporal para os bairros Matadouro e São Joaquim.......... 172
Quadro 6 – Comparativo das feições geomorfológicas dos períodos inicial e final
do recorte temporal para o bairro Satélite........................................... 185
Quadro 7 – Comparativo das feições geomorfológicas dos períodos inicial e final
do recorte temporal para o bairro Parque Juliana.............................. 200
Quadro 8 – Comparativo das feições geomorfológicas dos períodos inicial e final
do recorte temporal para o bairro Flor do Campo............................... 213
Quadro 9 – Síntese dos processos superficiais e suscetibilidades associadas à
antropogeomorfologia em cada setor estudado................................... 237
42

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Síntese dos elementos climáticos de Teresina na série 1980-2017


(média) e no ano de 2018......................................................................... 106
Tabela 2 – Levantamento pluviométrico diário (mais significativos) entre os
anos de 2000 e 2020 para a cidade de Teresina a partir de dados de
estações automáticas do INMET............................................................ 107
Tabela 3 – Capitais nordestinas (exceto Teresina) a partir de dados de
polígonos BATER.................................................................................... 143
43

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Quantidade populacional dos bairros estudados na série 1991-1996-


2000-2007-2010........................................................................................ 120
Gráfico 2 – Comparação do número de domicílios e média de moradores para
os anos de 2000 e 2010 dos bairros estudados........................................ 121
Gráfico 3 – Domicílios por classe de rendimento nominal mensal (em salários
mínimos) para o ano de 2010 nos bairros estudados............................. 122
Gráfico 4 – Evolução populacional de Teresina (1851/2021)................................... 142
44

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ha Hectare
% Porcentagem
hab Habitante
Km Quilômetro
km² Quilômetro quadrado
.kml Keyhole Markup Language
ABEQUA Associação Brasileira de Estudos do Quaternário
AGESPISA Águas e Esgotos do Piauí S.A.
BATER Base Territorial Estatística de Área de Risco
BGS British Geological Survey
BRADAR Embraer Defesa e Segurança
C2pi Formação Piauí
CEPRO Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais
CPRM Serviço Geológico do Brasil
GAAE Geomorfologia, Análise Ambiental e Educação
GENAT Grupo de Pesquisa em Gerenciamento de Riscos e Desastres Naturais
GERATEC Núcleo Interinstitucional de Estudo e Geração de Novas Tecnologias
GPS Sistema de Posicionamento Global
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
IF Fraturas interiores
IFPI Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí
IS Depressão interior
LAGESOLOS Laboratório de Geomorfologia Ambiental e Solos
LDN Lagoas do Norte
LI Linhas de Instabilidade
LMEO Linha Média de Enchentes Ordinárias
Ma Milhões de anos
MDE Modelos Digitais de Elevação
MDT Modelo Digital de Terreno
mEc Massa Equatorial Continental
MOC Lagoa do Mocambinho
mTa Massa Tropical Atlântica
MZD Macrozona de Desenvolvimento
MZIA Macrozona de Interesse Ambiental
MZOC Macrozona de Ocupação Condicionada
MZOM Macrozona de Ocupação Moderada
NEGEO Núcleo de Estudos em Geografia Física
P12pf Formação Pedra de Fogo
PDDrU Plano Diretor de Drenagem Urbana
PDDU Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
PDF Portable Document Format
PDLI Plano Diretor Local Integrado
PDOT Plano Diretor de Ordenamento Territorial
PET Plano Estrutural de Teresina
PETGeografia Programa de Educação Tutorial do curso de Geografia
PEU Plano Específico de Urbanização
PEV Ponto de Entrega Voluntária
45

PIB Produto Interno Bruto


PMT Prefeitura Municipal de Teresina
PRODATER Empresa Teresinense de Processamento de Dados
ProPGeo Programa de Pós-graduação em Geografia
PRR Ponto de Recolhimento de Resíduo
RACN Região Administrativa Centro-Norte
RAL Região Administrativa Leste
RAS Região Administrativa Sul
RASe Região Administrativa Sudeste
S.M Salário Mínimo
SAAD Superintendência de Ações Administrativas Descentralizadas
SAAP Sistema Aquífero Poti-Piauí
SEMAM Secretaria Municipal do Meio Ambiente
SEMPLAN Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão
SIRGAS Sistema de Referência Geodésico para as Américas
SPU/PI Superintendência do Patrimônio da União no Piauí
TGS Teoria Geral dos Sistemas
UECE Universidade Estadual do Ceará
UESPI Universidade Estadual do Piauí
UFPB Universidade Federal da Paraíba
UFPI Universidade Federal do Piauí
UFPR Universidade Federal do Paraná
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
ZDC Zona de Desenvolvimento Centro
ZDCL Zona de Desenvolvimento Corredor Leste
ZDCN Zona de Desenvolvimento Corredor Norte
ZDCS Zona de Desenvolvimento Corredor Sul
ZDCS Zona de Desenvolvimento Corredor de Manejo Sustentável
ZDL Zona de Desenvolvimento Leste
ZDSE Zona de Desenvolvimento Corredor Sudeste
ZEIC Zonas Especiais de Interesse Cultural
ZEII Zonas Especiais de Interesse Institucional
ZEUS Zonas Especiais de Uso Sustentável e APPs
ZIA Zonas de Interesse Ambiental
ZOC Zonas de Ocupação Condicionada
ZOM Zonas de Ocupação Moderada
ZR Zona de Reestruturação
ZS Zona de Serviços
46

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................... 24
2 GEOMORFOLOGIA, ANTROPOCENO E PROCESSOS
SUPERFICIAIS: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS........................... 34
2.1 Geomorfologia: teorias, abordagens e escala - Por uma sustentação
teórica...................................................................................................... 34
2.1.1 A busca pelo entendimento do relevo e a dinâmica da/na Natureza......... 37
2.2 Antropoceno e Tecnógeno: advento, evolução e a transformação da
“natureza”............................................................................................... 44
2.2.1 Antropogeomorfologia, Geomorfologia Antropogênica,
Neogeomorfologia e Geomorfologia Urbana: apontamentos teóricos..... 48
2.2.2 Processos, Formas, Terrenos e Depósitos Antropogênicos...................... 54
2.3 Suscetibilidades, processos superficiais e in(certezas) no ambiente
urbano...................................................................................................... 59
2.4 Geossistema e Materialismo Histórico e Dialético: aproximações
metodológicas.......................................................................................... 62
3 MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................. 67
3.1 Etapa de Gabinete.................................................................................. 69
3.2 Levantamento de Campo (reconhecimento)........................................ 70
3.3 Identificação e determinação da suscetibilidade a processos
superficiais.............................................................................................. 74
3.4 Geoprocessamento e produção cartográfica........................................ 77
3.4.1 Mapas temáticos (caracterização físico-natural e ocupação urbana)....... 77
3.4.2 Cartografia geomorfológica das paisagens antropogênicas..................... 79
3.4.3 Mapeamento de uso, ocupação e cobertura da terra................................. 83
3.4.4 Ilustrações diversas................................................................................... 85
4 QUADRO NATURAL E SOCIOECONÔMICO DO AMBIENTE
URBANO DE TERESINA..................................................................... 87
4.1 Aspectos geológico-geomorfológicos e geotécnicos.............................. 87
4.2 Aspectos hidroclimáticos....................................................................... 105
4.3 Aspectos pedológicos e vegetacionais.................................................... 113
4.4 Compartimentação físico-natural da cidade de Teresina................... 116
4.5 Caracterização socioeconômica............................................................. 119
47

5 ANTROPOGEOMORFOLOGIA, GEOTECNOGÊNESE E A
FORMAÇÃO DO AMBIENTE URBANO DE TERESINA:
ABORDAGEM HISTÓRICA............................................................... 127
5.1 Teresina, da fundação aos dias atuais: ambiente, cidade e
Geotecnogênese....................................................................................... 127
5.2 Parcelamento do solo, ordenamento territorial e as bases legais
municipais: dimensões de suscetibilidades, riscos e vulnerabilidades 145
6 FEIÇÕES ANTROPOGÊNICAS E AS ALTERAÇÕES DA/NA
PAISAGEM............................................................................................ 156
6.1 Bairros São Joaquim e Matadouro....................................................... 156
6.1.1 Dinâmica temporal do uso, ocupação e cobertura da terra....................... 156
6.1.2 Cartografia geomorfológica..................................................................... 158
6.1.2.1 Cartografia geomorfológica original (pré-intervenção)......................... 158
6.1.2.2 Cartografia geomorfológica do estágio atual de intervenção................ 163
6.1.2.3 Síntese comparativa................................................................................. 172
6.2 Bairro Satélite......................................................................................... 173
6.2.1 Dinâmica temporal do uso, ocupação e cobertura da terra....................... 173
6.2.2 Cartografia geomorfológica...................................................................... 174
6.2.2.1 Cartografia geomorfológica original (pré-intervenção)......................... 174
6.2.2.2 Cartografia geomorfológica do estágio atual de intervenção................ 178
6.2.2.3 Síntese comparativa................................................................................. 185
6.3 Bairro Parque Juliana............................................................................ 186
6.3.1 Dinâmica temporal do uso, ocupação e cobertura da terra........................ 186
6.3.2 Cartografia geomorfológica...................................................................... 188
6.3.2.1 Cartografia geomorfológica original (pré-intervenção)........................ 188
6.3.2.2 Cartografia geomorfológica do estágio atual de intervenção................ 192
6.3.2.3 Síntese comparativa................................................................................. 200
6.4 Bairro Flor do Campo............................................................................ 201
6.4.1 Dinâmica temporal do uso, ocupação e cobertura da terra....................... 201
6.4.2 Cartografia geomorfológica...................................................................... 203
6.4.2.1 Cartografia geomorfológica original (pré-intervenção)......................... 203
6.4.2.2 Cartografia geomorfológica do estágio atual de intervenção................ 207
6.4.2.3 Síntese comparativa................................................................................. 213
48

7 PROCESSOS SUPERFICIAIS, ANTROPOGEOMORFOLOGIA


E SUSCETIBILIDADES ASSOCIADAS............................................. 215
7.1 Bairros São Joaquim e Matadouro: caracterização, categorização,
zoneamento e cadastramento de suscetibilidades associadas às
modificações antropogeomorfológicas.................................................. 215
7.2 Bairro Satélite: caracterização, categorização, zoneamento e
cadastramento de suscetibilidades associadas às modificações
antropogeomorfológicas......................................................................... 220
7.3 Bairro Parque Juliana: caracterização, categorização, zoneamento
e cadastramento de suscetibilidades associadas às modificações
antropogeomorfológicas......................................................................... 227
7.4 Bairro Flor do Campo: caracterização, categorização, zoneamento
e cadastramento de suscetibilidades associadas às modificações
antropogeomorfológicas......................................................................... 229
7.5 Síntese comparativa................................................................................ 236
CONCLUSÃO........................................................................................ 241
REFERÊNCIAS..................................................................................... 246
APÊNDICES........................................................................................... 269
APÊNDICE A – RELAÇÃO DOS QR CODES E SEUS LINKS
PARA O YOUTUBE DOS VÍDEOS POSTADOS E OBTIDOS
JUNTO A REDES SOCIAIS.................................................................. 270
APÊNDICE B – TRANSECTOS GEOMORFOLÓGICOS DA
CIDADE DE TERESINA....................................................................... 271
APÊNDICE C – QUADRO SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS
FÍSICO-NATURAIS E DE OCUPAÇÃO URBANA........................... 272
ANEXOS................................................................................................. 274
ANEXO A – ESPACIALIZAÇÃO DA POPULAÇÃO EXPOSTA
EM ÁREA DE RISCO (2010) DA REGIÃO NORDESTE, EM
DESTAQUE A CIDADE DE TERESINA............................................ 275
ANEXO B – SEÇÕES TOPOBATIMÉTRICAS TRANSVERSAIS
AO CANAL DO RIO PARNAÍBA NO TRECHO DOS BAIRROS
MATADOURO E SÃO JOAQUIM...................................................... 276
24

1 INTRODUÇÃO

Investigações científicas sobre o Antropoceno, Tecnógeno e o Quinário consideram, sob


diferentes escalas (temporal e espacial, principalmente) e contextos, os registros
geomorfológicos da ação humana nas formas de relevo e sistemas ambientais. O
desenvolvimento das técnicas, somado à capacidade da sociedade de intervir e modificar as
características naturais, (re)criam e potencializam suscetibilidades, notadamente em espaços
urbanos ou densamente povoados e/ou modificados, especialmente nos processos superficiais.
Apesar de para muitos estes termos serem apresentados como sinônimos, Antropoceno,
Tecnógeno e o Quinário diferenciam-se pelo sentido cronológico, estratigráfico e de
intensidade das modificações relacionadas à ação humana, contudo, possuem como ponto em
comum de análise e representação, a busca da compreensão do papel do ser humano agindo
na/sobre a natureza e, mais do que isso, atuando de forma significativa como agente geológico-
geomorfológico, resultando, assim, em um novo momento no tempo geológico, configurado
pela existência de terrenos antropogênicos, tecnogênicos ou artificiais (RHOADS; CAHILL,
1999; CRUTZEN; STOEMER, 2000; PELOGGIA, 2011; STEFFEN; et al, 2015), inclusive
com expressiva visibilidade e interesse da mídia, da opinião pública e de um leque de ciências,
a exemplo da Geografia, Geomorfologia, Geologia, Engenharias, Arqueologia e Biologia.
A sociedade, ao modificar as propriedades e localização dos materiais superficiais,
interferir no balanço de energia, gerar novas morfologias e alterar as condições hidrogeológicas,
auxilia na criação de feições dessa artificialidade, sob investigação especialmente da
Geomorfologia Urbana e Antropogênica. Essas formas são geradas ou associadas, direta e/ou
indiretamente por ação antrópica, pela pressão e transformação da fisiografia das paisagens com
a criação de relevos antropogênicos de origens e dinâmicas distintas.
Tal concepção se aproxima da exposta por Charles Lyell em Principles of Geology de
que a atuação antrópica ilustra os processos geológicos no que concerne a, pioneiramente, o
que se denomina por processos e ambientes antropogênicos. A obra apresenta, conforme
Peloggia e Ortega (2016, p. 117), que o Inferno de Dante (figura 1) seja a primeira referência
literária a uma feição antropogênica, que, no caso, seria a canalização de rios italianos ao longo
do século XIII, além da existência de diques que separavam um “riacho de lágrimas” de um
“escaldante deserto arenoso”. Enquanto no Brasil se destacam os sambaquis1 como uma das
feições mais antigas a respeito da capacidade humana para modificação de ambientes.

1
Relacionada aos povos que viveram entre 8 e 2 mil anos antes do presente, são caracterizados como construções
de povos pré-históricos feitas (principalmente com uso de conchas, ossos de animais, artefatos, restos de fogueiras
25

Figura 1 – Representação do Inferno baseada na obra Divina Comédia, de Dante Alighieri

Fonte: https://jornalggn.com.br/artes/exposicao-do-inferno-de-dante-chega-a-sao-paulo/

Dada a complexidade do ambiente urbano, ocorre a concentração populacional; o


crescimento acelerado e não planejado do sítio urbano; o aumento da frota de veículos e de
obras de construção civil; a impermeabilização do solo urbano; a descaracterização do relevo
natural; a geração de solos antrópicos; a alteração no balanço hídrico e no fluxo de matéria e
energia, além de pressão sobre áreas naturais, de modo que favorece a existência de riscos
inerentes à intensa relação sociedade e natureza. Os solos, em especial, são intensamente
modificados pela dinâmica urbana, desde a retirada da cobertura vegetal, implicando em
mudanças nas propriedades físicas, químicas e na atividade biológica; os processos erosivos; e
a incorporação de artefatos indicando a antropização em meio aos horizontes pedológicos.
As referidas feições são, conforme Silva e Nunes (2018), formadas a partir da ação
humana, sendo encontradas em ambientes urbanos e rurais. No meio acadêmico brasileiro, essa
temática possui forte relação com a Geomorfologia Urbana, a cartografia geomorfológica e os
riscos geomorfológicos, desenvolvendo-se, ainda conforme os autores anteriores, a partir da
década de 1990 e assumindo grande importância a partir do 1º Encontro Brasileiro do
Tecnógeno, realizado em 2005.

e ossos humanos) ao longo do tempo e se referem a ocupação e abandono de áreas ao longo do litoral brasileiro
(BIGARELLA, 1962; SCHEEL-YBERT; et al., 2009).
26

Ao longo desses anos, indica-se para um desenvolvimento recente, porém, com um


vasto leque de possibilidades de entendimentos e interpretações no contexto de uma história
antropogênica ou geoambiental brasileira, principalmente associados à mineração, agricultura,
infraestrutura e urbanização, como destacado nos estudos sobre o tema. Destaca-se ainda a
atuação da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário (ABEQUA), existente desde 1984,
com sede em São Paulo, bem como do periódico Quaternary and Environmental Geosciences,
desde 2009 e vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Sobre a ocupação humana em diferentes áreas, cada ambiente se comporta de forma
diferente frente à incorporação e mobilização presente nele (ROGACHEVSKAYA, 2006).
Quando há a retirada ou incremento de materiais em áreas urbanas, por exemplo, configura-se
a predisposição de acidentes em contexto local, regional e/ou global, causados principalmente
pelas instabilidades que deixam o ambiente exposto, podendo refletir na qualidade de vida e
nos aspectos socioeconômicos, bem como interferir na paisagem local.
Optou-se, nesta pesquisa, por trabalhar com o conceito de paisagem, encarado por
Suertegaray (2010, p. 24) como operacional e associado ao de ambiente, sendo “imprescindível
enfocar a sua dimensão fisionômica e processual. Ao escolher trabalhar com ambiente, se busca
revelar a inter-relação do ser social com seu entorno” evidenciando os processos de
transfiguração do ambiente.
Ao se discutir a paisagem e a apropriação do relevo, consideram-se as forças antagônicas
de forma associada, em escalas espacial e temporal, ao passo que o conhecimento das
características geomorfológicas favorece a alocação e realocação de assentamentos humanos,
bem como na alteração dos fluxos de matéria e energia (SILVA; CORRÊA, 2004; CORDEIRO;
GARCEZ; BASTOS, 2014; CASTRO; SILVA, 2014; SUERTEGARAY, 2018).
Cabe mencionar que o termo Paisagem Antropogênica se direciona para estudos como
os de Costa e Souza (2009); Ivanov e Kovalchuk (2012); Biondi et al (2013); Silva (2017);
Spehar (2018); Faria e Silva (2020); Dorofeev (2020) e Vorovka (2021) ao levantarem
discussões sobre a formação de modelados artificiais a partir do processo de apropriação e
ocupação do relevo sob o tempo histórico.
Destarte, a apropriação dos compartimentos geomorfológicos favorece a gênese de
feições antropogênicas que, em muitos casos, originam impactos decorrentes desta dinâmica.
O modelado é caracterizado como forma de relevo produzida direta ou indiretamente pela ação
antrópica, que pode ocorrer tanto de forma conjunta e associada (como o relevo antropogênico
urbano) quanto em formas isoladas (PELLOGIA, 1998). Já os depósitos antropogênicos ou
tecnogênicos são configurados por sua “grande variedade, feições diferenciadas, diversidade de
27

composição e grande variação de espessura, os quais caracterizam uma classe genética


independente, embora possam ser traçadas de forma relacionada com depósitos naturais”
(MACHADO, 2013, p. 3).
Sobre a gênese e transformação das feições antropogênicas há, conforme Rodrigues
(2005) e Guerra (2011), a geração e alteração de processos superficiais como deslizamentos,
inundações e alagamentos que auxiliam nos cenários de riscos e vulnerabilidades relacionadas
às suscetibilidades e condições de estabilidade e equilíbrio do ambiente em virtude da
morfologia antropogênica, sendo, portanto, elementos importantes que contemplam as relações
sociedade-natureza e de acompanhamento das intervenções morfológicas.
Neste cenário insere-se a cidade de Teresina (capital do Piauí) que, desde o início de sua
urbanização, a partir de sua fundação (em 1852), caracterizou-se como acelerado, contudo,
limitado a Leste pelo rio Poti, a julgar pela inexistência de pontes sobre este. Perpassada essa
barreira natural (construção da ponte Juscelino Kubitschek em 1957 e a instalação do campus
da Universidade Federal do Piauí-UFPI no início da década de 1970), a configuração das
paisagens urbanas foi se modificando à medida que os ambientes naturais foram transformados,
tanto por incentivo público quanto por econômicos e ocupações espontâneas, incorporando
populações dos espaços recém-urbanizados e, ainda, de migrantes atraídos pelos serviços
urbanos, provocando o parcelamento de terras ociosas em loteamentos/conjuntos habitacionais.
A Antropogeomorfologia é a abordagem científica pela qual este estudo está alinhado,
caracterizado por estudos de cunho ambiental objetivando a compreensão das interferências
antrópicas sobre os sistemas morfogenéticos. Assim, o estudo se justifica na releitura dessas
interferências com foco na cidade de Teresina e na necessidade de investigações com base nas
noções de tempo (curto, médio e longo) e de espaço, relacionando-se com a totalidade do tempo
social-histórico sob a abordagem da relação sociedade-natureza.
Teresina, sob coordenadas de 05°05’12’’ Sul e 42°48’42” Oeste, localiza-se na porção
Centro-Norte do estado do Piauí, em área de influência do semiárido, da floresta amazônica e
do cerrado, na sub-região nordestina do Meio-Norte. Além disso, caracteriza-se como a única
capital nordestina não inserida no litoral, fato explicado pela ocupação do território. Conurbada
com a cidade de Timon (estado do Maranhão), Teresina faz limite com os municípios piauienses
de José de Freitas, União, Altos, Lagoa do Piauí, Pau d’Arco do Piauí, Demerval Lobão,
Monsenhor Gil, Curralinhos, Nazária e Palmeirais. Destes, todos fazem parte da Região
Integrada de Desenvolvimento (RIDE) da Grande Teresina, com exceção de Palmeirais. Além
destes limítrofes a Teresina, a RIDE é composta ainda por Beneditinos, Coivaras, Lagoa Alegre,
Lagoa do Piauí e Miguel Leão.
28

A cidade de Teresina possui uma população de 767.527 habitantes, distribuídos em 123


bairros e quatro regiões administrativas (Sul, Sudeste, Leste e Centro-Norte) em uma área de
239,95 km² (TERESINA, 2018), em que pese a existência, por toda a cidade, de feições
antropogênicas. Como exemplo citam-se aquelas encontradas nos bairros Promorar, Bela Vista,
Portal da Alegria, Vila Afonso Gil e Residencial Torquato Neto III e IV (todas na Região
Administrativa Sul (RAS2); São Raimundo, Todos os Santos e Flor do Campo (todos na Região
Administrativa Sudeste/RASe); Satélite, Vila do Gavião e Novo Uruguai (na Região
Administrativa Leste/RAL) e Olarias, Matadouro, São Joaquim, Poti Velho e Santa Rosa (todos
na Região Administrativa Centro-Norte/RACN).
Expostos os conceitos (Paisagem, Antropoceno, Tecnógeno e Ambiente) para a
compreensão da problemática, cabe mencionar que, ao discutir o histórico de uso e ocupação
urbano e os impactos associados na cidade de Teresina, nota-se cada vez mais o papel da
sociedade na intervenção da dinâmica natural, notadamente em escala local. Assim, chega-se a
uma gama de resultados, que, apoiados em três pontos (urbanização, características físico-
naturais e ocupação das terras), proporcionam a construção de um retrato dos cenários sobre
feições antropogênicas e de suscetibilidades sob a abordagem antropogeomorfológica.
Os loteamentos e conjuntos habitacionais foram construídos em quantidade
considerável ao longo dos muitos canais que compõem a drenagem local (microbacias urbanas)
seguindo processos de agradação e degradação. Geomorfologicamente a cidade situa-se em
Planícies e Terraços Fluviais; Superfícies Intensamente Retrabalhadas pela Drenagem com
Morros Residuais e Morros com Tendência ao Arredondamento Limitados por Relevo
Escalonado (LIMA, 2011), sustentados geologicamente ora pela Formação Piauí, ora pela
Formação Pedra de Fogo, ambas pertencentes à Bacia Sedimentar do Parnaíba, onde se
encontram grandes áreas de coberturas superficiais como lateritas e massará, particularmente.
No ambiente urbano de Teresina, em especial onde ocorrem adensamentos
populacionais, há a modificações dos aspectos relacionados ao relevo, solos, cobertura vegetal
e hidrodinâmica para que ocorra o aproveitamento para novas ocupações. Nesse sentido e
considerando as regiões administrativas da cidade, o estudo focaliza as seguintes áreas/bairros
(figura 2) enquanto áreas de interesse/espaços amostrais: Parque Juliana (principalmente no
entorno do Aterro de Teresina), Flor do Campo (Vila Nova Esperança e Residencial Pe. Pedro
Balzi), Satélite, Matadouro e São Joaquim, a julgar pelas diferenças no âmbito do processo de
suas ocupações.

2
As siglas RAS, RASe, RAL e RACN não são utilizadas oficialmente pela Prefeitura de Teresina, portanto seu
uso iniciará com este estudo como forma de contribuir com a discussão dos resultados e facilitar a leitura.
29

Figura 2 – Localização da cidade de Teresina/PI com identificação das áreas de interesse

Organização: o autor (2022)


30

A escolha específica pelas áreas de investigação (bairros Parque Juliana, Flor do Campo,
Satélite, Matadouro e São Joaquim) correspondem às suas próprias características
geomorfológicas, de urbanização (infraestrutura) e uso da terra, mudanças dentro da história de
urbanização de Teresina, e de modificações (e sua sequência) morfológicas que acarretam
mudanças junto aos processos superficiais e desencadeamento e ampliação do
dimensionamento de impactos ambientais.
Sobre os bairros Matadouro e São Joaquim (localizados na RACN), estes compreendem
parte do sistema lagunar-fluvial envolvendo as lagoas das planícies de inundação dos canais
dos rios Poti e Parnaíba e que está passando por um importante processo de revitalização
(Programa Lagoas do Norte). Com ocupação acelerada (desde a década de 1960) de pessoas
pobres e sem opções de moradia, a área vincula-se com a atividade de mineração (areia,
massará, seixo, além de argila3 e cascalho aluvionar), inclusive originando lagoas tendo em
vista a presença de um lençol freático superficial, a exemplo das lagoas da Piçarreira, do
Cabrinha e do Lourival.
Em relação ao bairro Satélite (RAL), com cotas altimétricas entre 85 e 134 metros,
caracterizado por possuir uma das maiores altitudes do espaço urbano de Teresina, sua
ocupação se deu na década de 1980. Em decorrência da sua característica topográfica e os
padrões de ocupação (principalmente em áreas suscetíveis à escorregamento), além de
ocupação em canais de drenagem, que, em alguns trechos, ora se apresenta com barramento e
canalização, ora tamponado e interligado com o esgoto doméstico e com lixos e entulhos no
seu canal.
No que se refere ao Aterro de Teresina (RAS), este se localiza no bairro Parque Juliana,
desde a década de 1970 é o destino final da coleta de lixo na cidade, inclusive durante décadas
serviu como lixão a céu aberto, com aproximadamente 124 metros de altitude. A atividade
humana associada ao processamento do material residual exemplifica as mudanças promovidas
na morfodinâmica natural, principalmente na geração de novas formas de relevo e na
descaracterização de canais de drenagem próximos, somados à atividade de extração mineral
no seu entorno.
A última área de investigação é, também, a mais recente na dinâmica urbana de
Teresina. A Vila Nova Esperança (localizada no bairro Flor do Campo), com cotas altimétricas
que variam de 74 a 138 metros, teve sua origem após o ano de 2009 com vínculo a atividade de

3
A extração de argila na área é, ainda, um fator cultural e social, tendo em vista que é a matéria prima para a
produção de artesanatos em argila e cerâmica na região, sendo fonte de renda para muitas famílias.
31

mineração de massará somada à construção de um conjunto habitacional. O aterro de canais de


drenagem, deposição de lixo e alteração no relevo ilustram os processos antropogênicos.
Mesmo com a ausência de estudos científicos no campo da antropogeomorfologia sobre
essas áreas, ao longo dos anos a problemática dos riscos se intensifica ao passo que as ocupações
se tornam claramente mais aceleradas e desorganizadas. Como adotado por Bastos (2012) na
sua investigação sobre a dinâmica dos movimentos de massas da Serra de Baturité (Ceará), a
utilização de matérias de jornal serve para examinar e constatar análises episódicas sobre
determinado fato ou fenômeno. No contexto do estudo desta Tese, apresentam-se as seguintes:
publicada em janeiro de 2018, o Portal Meio Norte apresenta matéria com o título “Cratera de
30 metros ameaça casas no Pedro Balzi, zona Sudeste4”; ao passo que o Portal O Dia divulga
em janeiro de 2019 “Aterro de lixo de Teresina tem vida útil de apenas cinco anos”. Já o G1
Piauí divulga com alerta “Diques dos rios Poti e Parnaíba podem não suportar cheia e Zona
Norte corre risco de enchente” (janeiro de 2019) e “Deslizamentos de terra deixa mais de 30
famílias desabrigadas em Teresina” (em março de 2018).
É imperioso compreender, como já verificado nos títulos anteriores, o forte vínculo dos
processos superficiais com a dinâmica climato-meteorológica de Teresina, evidenciando, por
conseguinte, que os riscos são potencializados no período chuvoso (primeiro quadrimestre do
ano) influenciado pela atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).
A realização da pesquisa se caracteriza pela existência de análise integrada da paisagem,
atentando-se para dinâmica da natureza com a dinâmica da sociedade (essa última agindo pelo
mecanismo de feedback que repercute na dinâmica dos sistemas naturais), especialmente para
modificações dos processos geomorfológicos e das paisagens da área. Salienta-se ainda que não
há, em Teresina/PI, estudos (em nível de Mestrado e Doutorado) que se debruçaram sobre a
investigação dos processos antropogênicos, logo, carecendo de investigações.
Soma-se ainda a possibilidade de agrupar novos conhecimentos sobre a temática no
âmbito do Nordeste brasileiro, uma vez que outras regiões brasileiras (no caso a Sul e a Sudeste)
possuem quantidades significativas de estudos a respeito, bem como a aplicação do
conhecimento geomorfológico e cartográfico nos estudos antropogênicos. Proporcionará,
ainda, a construção de subsídios na formulação de estratégias e de planejamento urbano inserida
no ordenamento territorial, além da mitigação dos riscos.

4
A utilização do termo “zona” para agrupar diferentes espaços urbanos de Teresina está em desuso desde 2013,
com atualizações da Lei Orgânica do Município. A partir desta, a Prefeitura Municipal de Teresina (PMT) por
meio da Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão (SEMPLAN), utiliza o termo “região” para figurar as
Regiões Centro-Norte, Sul, Leste e Sudeste, contudo, o termo “zona” ainda é utilizado de forma popular e habitual.
32

Como hipótese de estudo tem-se que a ocupação do relevo e a formação de paisagens


antropogênicas na área estudada são reflexos da compartimentação geomorfológica e da
atuação dos agentes produtores do espaço urbano que se dinamizam ao longo dos anos, de modo
que as mudanças geomorfológicas são oriundas do elevado grau de perturbação ambiental
antrópica. Nesse caso, a relação processo-resposta dos sistemas dinâmicos atrela-se a uma
densidade demográfica intensa, e que, nessa situação, acredita-se que a população ocupante
possui alto grau de vulnerabilidade social, desprovida de infraestrutura e expostas a riscos
(caracterizados por magnitudes maiores àquelas situadas em condições naturais).
O teste das referidas hipóteses está sustentado nos seguintes questionamentos: Como se
configura o processo da gênese de paisagens antropogênicas em Teresina/Piauí? De que forma
essas paisagens estão relacionadas com a expansão urbana (inclusive as políticas urbanas) e
apropriação do relevo? Até que ponto as modificações antropogeomorfológicas interferem nos
processos superficiais?
Diante do exposto, o presente estudo de Tese tem como objetivo geral analisar a gênese,
classificação e espacialização de paisagens antropogênicas na cidade de Teresina (Piauí),
buscando a compreensão das dinâmicas e processos superficiais no contexto da transformação
da fisiografia das paisagens locais (bairros Parque Juliana, Flor do Tempo, Satélite, Matadouro
e São Joaquim). Como objetivos específicos têm-se os seguintes:
a) Discutir o processo de expansão urbana e apropriação do relevo de Teresina/Piauí de
modo a oferecer subsídios para o entendimento da formação de paisagens antropogênicas;
b) Identificar e caracterizar as paisagens antropogênicas no que diz respeito à sua gênese
e classificação, notadamente relacionando às dinâmicas em que estão inseridas;
c) Mapear as modificações geomorfológicas nas paisagens antropogênicas estudadas no
âmbito das unidades morfológicas complexas como consequência da materialização da
dinâmica entre sociedade e natureza; e
d) Determinar e categorizar os processos superficiais associados e/ou presentes nas
paisagens antropogênicas considerando a pressão antrópica existente e suas
suscetibilidades.
O presente texto está dividido em 7 seções. A primeira seção, caracterizada por ser a
Introdução, apresenta o panorama geral dos estudos sobre o tema e seu delineamento e
aplicação no contexto urbano de Teresina, além das hipóteses, objetivos e justificativa. A
segunda seção, Geomorfologia, Antropoceno e Processos Superficiais: Considerações
Teóricas, representa o aporte teórico e conceitual que serve como suporte a todo o estudo. Nele,
tem-se a discussão teórica em torno das Teorias, Abordagens e Escalas no que diz respeito ao
33

conhecimento geomorfológico e sua relação com o entendimento do relevo e da natureza,


seguindo-se pela abordagem teórica sobre o Antropoceno, Tecnógeno, Antropogeomorfologia
e conceitos associados, além da descrição dos processos antropogênicos e aqueles superficiais,
especialmente localizados no ambiente urbano.
A terceira seção, intitulada Materiais e Métodos, como o próprio nome sugere, refere-
se à descrição dos caminhos metodológicos utilizados na pesquisa, principalmente em relação
aos métodos da pesquisa, procedimentos de gabinete e campo, tipologias das classificações
utilizadas e etapas de geoprocessamento e sensoriamento remoto, com descrição da obtenção,
tratamento e finalização dos produtos cartográficos.
A quarta seção com o título Quadro natural e socioeconômico do ambiente urbano
de Teresina apresenta os dados e descrição dos principais elementos físico-naturais da área, no
que se refere à geologia, geomorfologia, climatologia, hidrogeografia, pedologia e
vegetacionais, além de uma proposta de compartimentação físico-natural como síntese desta
descrição. Soma-se, ainda, a caracterização socioeconômica da área.
A quinta seção, com o título Antropogeomorfologia, Geotecnogênese e a formação
do ambiente urbano de Teresina: abordagem histórica, apresenta informações sobre a
ocupação do espaço teresinense e como este contribuiu para o processo de geotecnogênese
representados pelas interferências morfológicas, notadamente em que pese à variedade de
interferências nos processos superficiais ao longo da história urbana da cidade e como as áreas
estudadas se inserem nesse recorte temporal.
A sexta seção intitulada Feições antropogênicas e as alterações da/na paisagem
refere-se aos resultados obtidos junto à identificação, classificação, descrição e análise das
feições antropogênicas nas áreas estudadas, com foco na cartografia geomorfológica e na
dinâmica temporal do uso, ocupação e cobertura das terras, oferecendo assim subsídios para a
compreensão da gênese e da sequência de interferências morfológicas.
A sétima seção, sob título Processos superficiais, antropogeomorfologia e
suscetibilidades associadas, evidencia como processos superficiais, tais como inundação,
alagamentos, movimentos de massas e aceleração do processo erosivo estão associados com a
evolução destas paisagens antropogênicas, possibilitando, portanto, o mapeamento desses
eventos, sua classificação e suscetibilidade. O texto é seguido pelas Referências, Anexos e
Apêndices.
34

2 GEOMORFOLOGIA, ANTROPOCENO E PROCESSOS SUPERFICIAIS:


CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

Ao longo dos anos, o conhecimento geomorfológico prova, por si só, seu grande papel
na compreensão da estrutura e dos processos das paisagens, tanto na primeira natureza, quanto
na segunda natureza (considerando o exposto por Santos, 1992). O desenvolvimento de estudos
sobre o relevo conseguiu capitanear um significativo ganho de ordem teórico-conceitual e
principalmente metodológico, sobretudo na utilização de técnicas de outras áreas do
conhecimento (SELBY, 1985; TRICART, 1986; COLTRINARI, 2000) como a Geologia, a
Climatologia e a Geotecnia.
Vitte (2010, p. 1), ao levar em consideração a história da Geomorfologia no Brasil,
destaca a existência de quatro momentos distintos em que houve a base da sua sistematização:
a) os Primórdios, sob sustentação da teoria do Ciclo Geográfico de William Morris Davis; b) a
Ruptura Epistemológica (década de 1950), com a aplicação da Teoria da Pediplanação de Lester
King; c) a Problemática Ambiental, sob influência da concepção geossistêmica proposta por
Georges Bertrand e d) a Fase Atual, caracterizada pelo aprofundamento das questões ambientais
“como a urbana, com o desenvolvimento de metodologias de estudos [...] há um crescente
aumento de estudos de morfotectônica, quando a neotectônica passa a ser uma componente
importante dos estudos geomorfológicos”.
Partindo da explanação do autor anterior e tendo em vista a temática desta Tese, a
presente seção expõe, com auxílio de distintos autores, contribuições teóricas e conceituais
principalmente no que diz respeito à Teorias, Abordagens, Escalas (temporal e espacial),
Paisagem, Ambiente, Antropoceno, Tecnógeno, e processos superficiais face à concepção
geomorfológica, sob a “Fase Atual” da Geomorfologia brasileira.

2.1 Geomorfologia: teorias, abordagens e escala - Por uma sustentação teórica

A ciência, em seu sentido mais amplo, busca encontrar novos conhecimentos por meio
da criação, desenvolvimento e justificação de ideias e teorias, ao passo que todas as observações
são sustentadas por teorias. Sobre isso, inicialmente, a observação envolve interpretação e
classificação, as quais só podem ocorrer inseridas em um contexto de conceitos teóricos pré-
existentes, e que, no caso da Geomorfologia, a teoria é vista como central, mas frágil, e que
ambas (teoria e observação de perspectiva empírica) são vistas simbioticamente (RHOADS;
THORN, 1993).
35

Centrado nessa discussão, parte expressiva do debate em Geomorfologia refere-se às


características das teorias e das tipologias de argumentos científicos que estão sustentadas. A
observação e a existência de conceitos já ilustram a problemática, muitas vezes até invalidando
a aplicação de uma dada teoria em um determinado ambiente, em virtude principalmente dos
avanços metodológicos e da rediscussão teórica-conceitual, o que direciona para uma tentativa
de abordagem unificada da Geomorfologia. Considera-se assim, que a Geomorfologia estuda o
modelado terrestre, sua gênese e dinâmica, constituindo-se como importante ferramenta para o
estudo da diversidade das formas da superfície terrestre, refutando, corroborando ou criando
novas explicações de como e de que maneira se dá o desenvolvimento das formas de relevo,
examinando tempos pretéritos, atuais e realizando prognósticos.
Na Tríade Geomorfológica (BARROS; VALADÃO, 2018) por exemplo, estão os
conceitos fundantes para a sistematização da Geomorfologia, com destaque para as formas de
relevo, os materiais e os processos (figura 3). Para isso, tem-se a influência da estruturação
geológica, da dinâmica climato-hidrológica, da cobertura pedológica, bem como das
interferências bióticas e antrópicas para a modelagem do relevo, tendo este em seus suportes
genéticos, cronológicos, morfológicos, morfométricos e dinâmicos.

Figura 3 – A tríade geomorfológica

Fonte: adaptado de Barros e Valadão (2018)

As forças e processos que exprimem relação com o relevo condicionam características


que fortalecem a estruturação dinâmica e multiforme da superfície terrestre, ao passo que tais
formas se originam e se comportam em um sistema ambiental de maneiras distintas, mesmo
36

que em áreas próximas, trazendo à tona a importância da compreensão e da correta delimitação


das escalas e da compreensão dos processos evolutivos associados.
Dentro deste contexto, a Geomorfologia é de fundamental importância no campo de
investigação da ciência geográfica, de modo que os processos físicos são, em parte,
responsáveis pela dinâmica do espaço geográfico, como em uma produção agrícola, na
construção de uma hidrelétrica e até mesmo no planejamento de uma cidade, razão por si só
imperiosa para que o conhecimento geomorfológico detenha espaço cativo e crescente.
Aliado às formas de relevo, aos processos e aos materiais, o tempo (HAMELIN, 1964;
KOHLER, 2002; BARROS; VALADÃO, 2018) é tido como uma continuidade de cenários
potencializando a dinamicidade e sendo o construto das formas de relevo, dos processos e dos
materiais, devendo, sobremaneira, ao se compreender a escala temporal em que pese o tempo
longo (tempo geológico) e o tempo mais curto (aquele derivado das ações antropogênicas).
É nessa construção teórica que o próprio entendimento do que a Geomorfologia estuda
passou por um significativo processo de reformulações, tanto em nível internacional quanto no
contexto nacional (Brasil), sob influência de outros autores, sendo expressivo em distintas
colocações (KOSTENKO, 1975; KÜGLER, 1976; PENTEADO, 1980; JATOBÁ; LINS, 2001;
BIGARELLA; BECKER; PASSOS, 2003; KAKANI, 2013; GREGORY; LEWIN, 2014;
SUERTEGARAY, 2018; SINGH, 2018; BIERMAN; MONTGOMERY, 2020).
À vista destes autores, toma-se como base que, ao longo dos anos, a interpretação dos
processos auxiliou na compreensão dos problemas geomorfológicos, notadamente no que diz
respeito à sua relação com as paisagens (landscape) e com a gênese de formas de relevo
(landforms) e materiais. Logo, as pesquisas que estão voltadas à concepção ambiental da ciência
geográfica devem se debruçar na justaposição de processos em diferentes períodos e
intensidades, a paisagem como herança (AB’SABER, 2003), e, não apenas como uma sucessão
linear de fatos e fenômenos.
Em virtude das (re)transformações no ambiente e da sua situação local, as formas de
uso, ocupação e cobertura do solo, somada às forças intempéricas e antrópicas, justificam a
existência ainda mais acelerada de processos morfodinâmicos (ações atuantes que auxiliam na
transformação do relevo, a exemplo da aceleração de processos erosivos) em detrimento aos
processos morfogenéticos (aqueles associados à origem, formação e evolução das formas de
relevo, a exemplo da linha do divisor topográfica entre duas bacias hidrográficas), sustentados
pela escala temporal (tempo curto) e espacial (local) e pelo aumento da velocidade de
tecnificação da sociedade.
37

2.1.1 A busca pelo entendimento do relevo e a dinâmica da/na Natureza

Não é pretensão desta subseção traçar uma análise detalhada da trajetória da


Geomorfologia, fato já realizado de maneiras distintas em inúmeras obras, como Chorley
(1962), Abreu (2003), Huggett (2007), Oldroyd, Grapes e Grigelis (2008), Vitte (2010), García-
Ruiz (2015) e Suertegaray (2018); contudo, torna-se fundamental elencar alguns eventos que
condicionaram e determinaram a situação atual da abordagem geomorfológica, como
sustentação teórica para o presente estudo, notadamente no que diz respeito às concepções mais
contemporâneas da “Geografia Física”5.
Ao longo da evolução da Geografia Física, como apresentado por Ken Gregory em seu
The Nature of Physical Geography (1985) sob uma sequência cronológica entre as décadas de
1850 e 1980, conforme o autor, seria a melhor maneira para se realizar um apanhado sobre a
Geografia Física, mesmo que apresentando dificuldades (tendo em vista que esta não foi tão
obviamente influenciada por vários paradigmas, o que auxiliaria no delineamento cronológico
para a referida revisão), somado às reflexões (desde 1981) entre os geógrafos físicos que há a
ausência de uma teoria geral e que se encontram em um vácuo conceitual.
Existe, há muito tempo, a tendência de a Geomorfologia ser dominante no campo dos
estudos da Geografia Física, de maneira que se deve atentar que ambas não são sinônimas.
Outras áreas do conhecimento, como a Hidrologia, são inevitavelmente adotadas para
explicações da Geografia Física, reforçando assim que o objeto de estudo desta pode ser
incorporado a conhecimentos de outras disciplinas em países diferentes, daí a existência de uma
natureza complexa nos seus estudos (PENTEADO, 1980; GREGORY, 1992).
Entre 1850 e 1950, por exemplo, destaca-se a fundação das sociedades geográficas
(como a Royal Geographycal Society, em Londres) e a criação de cátedras nas universidades
(como em 1809 em Sorbonne, e, em 1899, com a criação de mais cinco em outras universidades
francesas). E, no campo das influências, com destaque para as concepções defendidas em
momentos distintos ora pelo Uniformitarismo (Jammes Hutton e John Playfair), ora pela
consideração dos postulados sobre a Evolução das Espécies (Charles Darwin) e, após, pela
influência da obra de William Morris Davis sobre o que se denominou de Ciclo Geográfico.
Tanto o Uniformitarismo quanto o Ciclo Geográfico contribuíram de maneira significativa para

5
A utilização das “aspas” na palavra Geografia Física indica, na visão do autor desta Tese, o seu direcionamento
diante de uma Geografia una e totalizante, mesmo que, para muitos geógrafos, essa divisão (“Geografia Física” e
“Geografia Humana”) esteja cristalizada. O tema discutido nesta Tese por si só ilustra tal direcionamento, inter-
relacionando aspectos ambientais (natureza) e sociais (humanos) sustentados na categoria de Totalidade.
38

o início dos conhecimentos sistematizados sobre o sistema geomorfológico, apreendendo,


assim, a filogênese da Geomorfologia (figura 4).

Figura 4 – Filogênese da Geomorfologia

Fonte: adaptado de Abreu (2003)

A teoria geomorfológica foi edificada sobremaneira sob o postulado de William Morris


Davis e a gênese da conhecida Linhagem Epistemológica (ou Tendência) Anglo-Americana,
sob influência notadamente do contexto histórico e socioeconômico à época (ocupação do Oeste
dos Estados Unidos e relação com a abertura de minas de carvão mineral) que, de maneira geral,
houve incorporação dos conhecimentos estadunidenses aos ingleses e franceses até a II Guerra
Mundial (entre 1939-1945). Nesse sentido, De Martonne (1982, p. 368) afirma que “los
progresos de la Geomorfología siempre han estado ligados a los de la Geología: los primeiros
geomorfólogos, como Richtofen, Heim, Gilbert y Lapparent, eran geólogos”.
Nesta, o relevo surgia “como função da estrutura geológica, dos processos operantes e
do tempo, dando a este último a tônica em um modelo que valorizava particularmente o aspecto
histórico” (ABREU, 2003, p. 8), concernente a um aspecto finalista, subjetivo, dedutivista e de
39

pouca atenção aos processos em operação e, ainda, com baixa relação com outras áreas do
conhecimento, como a Hidrografia, a Climatologia e a Biogeografia.
Por outro lado, a então dominante interpretação do relevo sob a concepção Davisiana
entra em declínio/reformulação com a Linhagem Epistemológica (ou Tendência) Germânica
sob fundamental contribuição dos naturalistas Ferdinand Von Richtofen e Albrecht Penck. Esta
vislumbrava a gênese do relevo a partir de uma teia de relações que, de maneira mais intensa,
estava relacionada principalmente com a “petrografia, a química do solo, a hidrologia e a
climatologia” (ABREU, 2003, p. 12) além dos conhecimentos técnicos da Cartografia. Neste
caso, a Geomorfologia era encarada sob um viés mais objetivo sob forte influência da
importância das relações entre os elementos, corroborando assim que, “[...] cuando más viaja,
más se convence el geógrafo de que el clima es um fator decisivo da Geomorfología” (DE
MARTONNE, 1982, p. 369).
As concepções destas tendências tornaram-se mais evidentes com as teorias de como se
daria a origem do relevo, em Davis por exemplo, havia a defesa do down-wearing (o relevo
evoluía de cima para baixo) e que o processo denudacional iniciaria após o término do
soerguimento. Já o sistema Penckiano interpretaria o papel do back-wearing (recuo lateral das
vertentes) e que a denudação acontece concomitantemente ao soerguimento.
Com a construção da Geomorfologia, um dos focos dela seria a relação entre a forma e
o processo, considerando ainda que muitas formas não podem ter sua gênese totalmente
entendidas e explicadas pela natureza e diante da intensidade dos processos atuantes hoje,
devendo-se considerar a existência e dinâmica dos eventos ocorridos preteritamente
(SUMMERFIELD, 2013).
As mudanças teóricas e conceituais ocorridas ao longo século XX auxiliaram no
encaminhamento da Geomorfologia atual, não só na direção para articulação para outras áreas
da Geografia, como para uma interdisciplinaridade com as ciências da terra, sociais, exatas e
biológicas (GAMMA; DIMUCCIO, 2013; SUERTEGARAY, 2018). Essas transformações
condicionam a criação de métodos e técnicas de análise, além do aperfeiçoamento de linguagens
e escalas de análise do relevo (CRUZ, 1985; BOER, 1992; KOHLER, 2002; MILLAR, 2013;
WALKER, et al, 2017), originárias de uma múltipla variedade de perspectivas.
As investigações geomorfológicas mais do que se isolaram em um ou outro tipo
conceitual, procuraram, em muitos casos, inter-relacioná-los, dando ênfase em uma construção
baseada na combinação destes tipos (PENTEADO, 1980), de que muitas respostas de um dado
problema geomorfológico seriam dadas pela relação da Geomorfologia com as Geociências,
como a Sedimentologia, Pedologia, Geofísica, Geologia Estrutural, Oceanografia, Hidrologia,
40

Climatologia e a Biogeografia; como por exemplo, na relação Geomorfologia-Pedologia, a


descrição minuciosa e quantitativa de um dado solo proporciona evidências sobre os processos
morfogenéticos e pedogenéticos ao longo de uma vertente.
A própria construção dos conceitos de Natureza e Meio Ambiente acompanhou o
avanço da discussão geomorfológica e, acima de tudo, do processo de mudança da sociedade,
considerando que este está intimamente relacionado ao modo em que cada época e sociedade
viam como conjunto de verdades para aquele momento, de maneira que corrobora a concepção
de que o conceito de Natureza é um produto social.

Esse contexto, que habita o conceito social da natureza e que em sua dialética
associou-se ao desenvolvimento do sistema capitalista, garantiu a
transformação do ambiente em mercadoria calçado no ideal de maximização
do lucro. Por isso, a aceleração competitiva capitalista associou-se
diretamente com a ampliação da utilização do meio natural, transformando-o
em bem econômico. [...] ver a natureza como um conjunto de objetos que não
possuem criatividade, sendo reversíveis, imutáveis e inertes, corrobora com a
ideologia de que a natureza é uma fonte inesgotável de recursos (CAMARGO,
2005, p. 28).

Ao longo da transformação conceitual (HORKHEIMER, 1976; ENGERLS, 1979;


CAPRA, 1982; SMITH, 1988; MERCHANT, 1992), a questão da Natureza foi sendo vista
como um conjunto de elementos amplamente interconectados e interdependentes que
proporcionam o entendimento das reais dinâmicas, agentes e processos atuantes, sob uma
abordagem integralizadora, associando-se até mesmo com o conceito geográfico de Meio6
(CANGUILHEM, 1989; GERALDINO, 2013; SUERTEGARAY, 2017).
Sob esse paradigma integralizador e totalizante, há o surgimento da Teoria Geral dos
Sistemas – TGS (criada por Ludwig Von Bertalanffy7), caracterizada por um importante campo
metodológico pautado na análise interconectiva holística, sendo necessária ainda, para sua
análise, a compreensão das características de equifinalidade, retroação (feedback) e
adaptabilidade (ou comportamento adaptativo). Conforme Christofoletti (1974; 1982; 1999) e
Gregory (1992), os pressupostos básicos para sustentação deste paradigma se sustentavam em
5 pilares: a) integração entre as ciências naturais e sociais; b) centralização em uma mesma

6
O conceito de Meio é subjugado na epistemologia da ciência geográfica em decorrência principalmente do seu
caráter dialético e polissêmico, além do seu grau de generalização, passível, em muitas oportunidades, de ser
substituído por outros termos e/ou conceitos (GERALDINO, 2013).
7
É necessário estudar não somente partes e processos isoladamente, mas também resolver os decisivos problemas
encontrados na organização e na ordem que os unifica, resultante da interação dinâmica das partes, tornando o
comportamento das partes diferentes quando estudado isoladamente e quando tratado no todo (BERTALANFFY,
1973, p. 53).
41

teoria; c) tal teoria poderia ser concebida com o intuito de alcançar conhecimentos exatos em
campos não físicos das ciências; d) desenvolvimento de princípios verticais no universo das
ciências, considerando a meta da unidade científica e; e) condução para integração da educação
científica.
No campo de estudo da Geomorfologia, a TGS influenciou após seu papel na Ecologia,
sendo um ponto de entrada para a Geografia Física (BERTRAND; 1971; SOTCHAVA, 1977;
TRICART, 1977) no geral. Ao longo da origem e evolução da Geografia Física, a Geografia
experimentou inúmeras contribuições teóricas e metodológicas até dar lugar a uma postura
neopositivista sustentada pela Revolução Teorético-Quantitativa, ao passo que o processo de
incorporação do pensamento sistêmico perdurou 35 anos (de 1935 a meados de 1971, com a
publicação de Physical Geography: a systen approach, de Chorley e Kennedy) (GREGORY,
1992). A partir desse momento, indiscutivelmente a concepção sistêmica é uma das diretrizes
principais no âmbito da Geografia Física principalmente com o objetivo de promover uma
análise integrada da natureza.
Oriunda da concepção sistêmica, o Geossistema surge baseado na sustentação teórica
do russo Viktor Borisovich Sotchava, considerando que os sistemas territoriais naturais que se
particularizam em um dado contexto geográfico, constituem-se de elementos inter-relacionados
no tempo e no espaço, sendo, portanto, um sistema natural de caráter homogêneo ligado a um
território, se caracterizando por uma morfologia, funcionamento, dinâmica e comportamento
de três tipos de elementos (abióticos, bióticos e antrópicos) mutuamente condicionados
combinando os fatores geológicos, climáticos, geomorfológicos, hidrológicos, pedológicos,
biológicos e antrópicos (BEROUTCHACHVILI; BERTRAND, 1978; CHRISTOPHERSON;
BIRKELAND, 2017; DIAS; PEREZ FILHO, 2017).
Na experienciação geossistêmica (figura 5), a Geomorfologia permite uma discussão
transversal com maior amplitude de conhecimento, sobretudo no contexto das escalas de análise
(do global ao local, passando pelo regional e vice-versa) em sentido não exclusivamente
espacial, considerando ainda o reconhecimento do relevo como elemento fundamental do meio
físico-natural no procedimento cognitivo de interpretação e classificação dos sistemas
ambientais (GAMA; DIMUCCIO, 2013; MARQUES NETO, 2016; LOPATIN; ZHIROV,
2017).
42

Figura 5 – Esquematização piramidal das condições e características endógenas (litologia e


características diagenéticas, estrutura geológica, cobertura detrítica, solo e coberto vegetal) e exógenas
(clima e ação antrópica), fundamentais na avaliação da evolução do relevo num quadro analítico de
tipo geossistêmico. Tais condições se movimentam no espaço (o cubo) e no tempo (Ti e Ti+1 a marcar
evolução)

Fonte: adaptado de Gama e Dinuccio (2013).

Esta concepção é entendida como a relação entre o real e o representado pela análise e
leva em conta a representação da esfericidade de um geossistema considerando o aspecto
morfológico da área e que é possível salientar as porções do espaço e os valores estabelecidos
entre os processos relacionados à referida dinâmica.
A ação antrópica aqui tem significativa importância na compreensão da natureza, de
modo que, com o seu advento no âmbito da Geografia Física argumentar-se-ia que os
profissionais dessas áreas minimizaram (ou até retiraram) a atenção dos efeitos da atividade
humana “ao concentrar seus esforços nas áreas rurais, nas áreas dos espaços não modificados e
nas escalas temporais anteriores à época em que a atividade humana começou a exercer
influência significativa” (GREGORY, 1992, p. 212).
43

Nesta abordagem se insere ainda mais a questão geomorfológica e expressa de maneira


marcante em Coates (1971) apud Gregory (1992, p. 214) de que a Geomorfologia Ambiental
seria aquela utilizada para a

[...] solução de problemas onde o homem deseja modificar as formas de relevo


ou utilizar e modificar os processos superficiais [...]. Além disso, a
Geomorfologia Ambiental inclui a extração de materiais superficiais e a
proteção de certas paisagens, tais como as praias, que beneficiam o homem.
A meta dos estudos geomorfológicos ambientais é minimizar as distorções
topográficas e compreender os processos inter-relacionados necessários à
restauração ou à manutenção do equilíbrio natural.

Esse argumento reforça a capacidade das ações antropogênicas, em áreas urbanas ou


rurais, de alterar as características naturais do modelado, principalmente ao levar em
consideração a escala local, o que acarretaria problemas geomorfológicos, que poderia ter, de
acordo com sua tipologia e magnitude, dimensões variadas. Cabe ressaltar que ambientes
urbanos ou aqueles densamente povoados se caracterizam justamente por essas modificações
associadas ao crescimento urbano, as distintas formas de uso e cobertura do solo, bem como
com ações da construção civil.
A sua relevância considera, assim, as atividades humanas e as organizações espaciais e,
inclusive, serve como parâmetro para ocupação de novas áreas e loteamentos, que, em muitos
casos, a não atenção às características do relevo contribui com a geração de danos muitas vezes
irreversíveis, como a tragédia do Morro do Bumba (no ano de 2010 em Niterói, no Rio de
Janeiro/Brasil) em que houve deslizamento de terra em ocupação irregular numa área que
anteriormente era um lixão; os deslizamentos de terra na Washington (Estados Unidos da
América) no ano de 2014, associado com fortes tempestades e ocupação em áreas de risco; e os
constantes episódios de alagamento e enxurrada no Conjunto Torquato Neto (em
Teresina/Piauí) relacionados com a ocupação e descaracterização do fundo de uma microbacia
hidrográfica, motivando destruição e abandono de casas, destruição de vias e de vegetação,
além de uma morte no ano de 2018.
Como ilustrado, os estudos geomorfológicos expressam uma visão sistêmica, inserindo
a ação antrópica e seus objetivos como um dos vértices dos problemas morfogenéticos
(PEDROSA, 1994; SAADI, 1998; BASTOS, 2012; DOKE et al., 2018), e que essa visão
holística contribui para o entendimento dos processos naturais e antropogênicos e dos diferentes
elementos que compõem a paisagem, dando subsídios para a compreensão do papel da ação
antrópica na perturbação ambiental.
44

2.2 Antropoceno e Tecnógeno: advento, evolução e a transformação da “natureza”

A discussão sobre o momento geológico em que a agência humana é detentora da


capacidade de interferir na natureza de maneira significativa ainda é envolta por discussões
conceituais, principalmente quanto aos termos Antropoceno, Tecnógeno e Quinário. Nessa
linha discursiva a inclusão do termo Antropoceno (CRUTZEN; STOEMER, 2000;
ROCKSTROM; et al, 2009; BIERMANN, 2012; ARTAXO, 2014; STEFFEN; et al, 2015) em
muito se confunde com o Tecnógeno, entendido para muitos até como sinônimos, causando
confusão no emprego8 destes termos.
O Antropoceno é tido como o intervalo de tempo (geológico) em que a humanidade tem
modificado consideravelmente as características atmosféricas, hidrológicas, biogeoquímicas e
biológicas, exemplificadas pelo aumento excessivo da quantidade de gases relacionados ao
efeito estufa; pela acidificação dos oceanos; pela perda da biodiversidade; pela degradação de
terras aráveis e de reservas de águas potáveis; pela diminuição e alteração dos fluxos fluviais e
dos recursos naturais não renováveis; e, pela destruição de paisagens e ecossistemas,
(MCNEILL, 2014) com fortes vínculos a atividades urbanas, industriais e agrícolas.
Como recorte temporal, um dos marcos de início amplamente aceitos se dá com a
Revolução Industrial, ocorrida no século XVIII, contudo, outros marcadores (figura 6) são
discutidos teoricamente, sem, no entanto, ainda está apresentada oficialmente na Carta
Cronoestratigráfica9. Os registros em discussão que marcam a urgência do Antropoceno se dão
especialmente com intervalos de tempo recentes, a exemplo de alterações (tanto agradacionais
quanto degradcionais) no relevo e de modificações em cursos fluviais, que convergem a áreas
antropogênicas, que, nem sempre a nomenclatura reflete a temporalidade e inserção (ou não)
na cronoestratigrafia (MERRITS; WET; MENKING, 2014).

Figura 6 – Propostas de demarcação e subdivisão do Antropoceno

Fonte: Modificado de Goudie e Viles (2016)

8
Conforme Oliveira (2014, p. 1), “embora ainda não tenha sido formalmente definido como unidade da escala de
tempo geológico, o termo Antropoceno já vem sendo largamente aplicado no mundo científico e foi adotado
definitivamente pela mídia”.
9
A Carta Cronoestratigráfica oficial pode ser obtida junto ao sítio eletrônico da International Comission on
Stratigraphy, disponível em: https://stratigraphy.org/chart. A última atualização se deu em fevereiro de 2022.
45

Importante destacar que, no bojo da abordagem geocronológica (estratigráfica), a


dificuldade se dá em grande parte associada aos registros antropogênicos e como as
intensidades e abrangências da agência humana contribuem para as modificações físico-
naturais em sua mensuração, particularmente no contexto da relação sociedade-natureza em um
período histórico-cultural determinado, em suas causas, consequências, frequências,
circunstancias, abrangências e magnitudes.
A marcha humana (STEFFEN; CRUTZEN; MCNEILL, 2007) recebe um grande
reforço com a sua capacidade tecnológica ou organizacional para igualar ou, talvez, dominar as
forças da natureza. Os autores ainda contribuem em uma proposta de periodização desta
influência caracterizando o Antropoceno: a) Era Industrial (de 1800 a 1945), sendo a primeira
fase e marcada pelo início da industrialização e finalizando quando iniciou-se um período mais
acelerado e predador na relação homem-meio ambiente; b) A segunda fase, Grande Aceleração
(de 1945 a 2015), é caracterizada pela modificação de ecossistemas de forma mais acelerada
em toda a escala evolutiva da história humana e c) Terceira fase (iniciando em 2015), onde a
humanidade deterá ainda forte força geológica, contudo há a preocupação com o surgimento de
estratégias universais com o intuito de garantir a sustentabilidade contra as alterações
desenfreadas ocasionadas pela ação antrópica.
Soma-se ainda a contribuição de Ter-Stepanian (1988) considerando que o Quinário
seria um período (sucedendo o Quaternário) e o Tecnógeno apresentado como sua época; ao
passo que Rohde (2005) como mencionado por Silva, Dias e Mathias (2014) observa a
necessidade de divisão do Tecnógeno em dois momentos diferentes, o primeiro, com início por
volta de 10.000 AP, com a eclosão dos desiquilíbrios ambientais ocasionados pela atividade
antrópica caracterizado pela criação da segunda natureza; e, o segundo, com a redução ou
eliminação dos impactos gerados anteriormente.
A referida classificação considera que o Quaternário representa a evolução natural do
planeta (como também apresentado por Suguio, 2010) e que, no Quinário, o ser humano atua
consideravelmente no desempenho do papel de agente geológico e geomorfológico (quadro 1)
na geração de formas, processos e depósitos superficiais modificando as paisagens.
46

Quadro 1 – Inserção do Quinário e do Tecnógeno no tempo geológico


ERA PERÍODO ÉPOCA IDADE PAISAGENS
Tecnógeno II Paisagens
Quinário Tecnógeno
Tecnógeno I tecnogênicas/antropogênicas
CENOZÓICO

Quaternário Holoceno
(3 Ma - ) Pleistoceno
(66 Ma - )

Neógeno
(Terciário Superior)
(23 Ma – 3 Ma) Paisagens
Paleógeno naturais
(Terciário Inferior)
(66 Ma – 23 Ma)
Fonte: elaborado a partir de Cunha (2000) e Oliveira (2005)

O advento, evolução e transformação da natureza, principalmente no que se refere à


questão geológica, em muito se sustentam nas contribuições teóricas de autores como Pavlov10
(1922), Chemekov (1983), Ter-Stepanian (1988) e Crutzen e Stormer (2002), ao lançarem e
defenderem a utilização de termos e conceitos (muitos já reelaborados) acerca das modificações
“produzidas pelas sociedades humanas nas formas, materiais (expressos essencialmente em
registros sedimentares e solos) e nos processos modeladores da superfície terrestre, e suas
implicações na concepção do tempo geológico” (OLIVEIRA; PEIXOTO; MELLO, 2018, p. 2),
que, muitas vezes, estes entendimentos não são convergentes quanto aos marcos temporais que
ilustram o início das modificações pela sociedade.
Outro conceito utilizado para essa discussão é o de Geotecnogênese, que trata dos
diferentes níveis da agência11 dos grupos humanos, abrindo um importante caminho
metodológico para análise dos processos da dinâmica externa (processos erosivos ou
deposicionais) que auxiliam na gênese de formas de relevo, depósitos sedimentares e solos,
sendo necessário, portanto, a compreensão e assimilação das técnicas e tempos geológicos e
geomorfológicos (PELOGGIA; OLIVEIRA, 2005).
Todavia, cabe destacar a importância de obras científicas ainda no século XIX acerca
da temática, notadamente no que se refere a Man and Nature publicado pela primeira vez em
1864 pelo estadunidense George Perkins Marsh; Principles of Geology em uma nova edição de
1867, pelo geólogo britânico Charles Lyell; Corso di Geologia publicada em 1873 pelo geólogo
italiano Antonio Stoppani; além de Elements of Geology publicado em 1879 pelo geólogo
estadunidense Joseph Le Conte. Ao se cruzar as informações principais apresentadas por tais

10
Alexei Petrovich Pavlov, geólogo soviético, propôs durante o XIII Congresso Geológico Internacional de
Bruxelas a utilização do termo Antropogênico (Antropogeno).
11
Proposto no lugar de “ação”, “agência” representa a originalidade e complexidade da atuação (circunstância,
intenção, racionalidade e consciência) dos seres humanos e sua diferenciação dos processos naturais que estão
associados às leis físicas e comportamentos puramente biológicos (ROBB, 2005; PELOGGIA, 2019).
47

autores nas referidas obras percebe-se a capacidade da ação social (humana) de interferir e
influenciar o ambiente, mesmo que expostas, nestas produções, de maneiras distintas.
Ao longo do século XX destacam-se, entre tantos, as contribuições de Vernadsky
(1926), Chemekov (1983), Ter-Stepanian (1988) e Turner et al. (1990) no contexto das relações
humanas frente à questão ambiental. Destes, Turner et al. (1990), relacionam as mudanças
ambientais como oriunda de forças principais (driving forces), forças mitigadoras (mitigating
forces), além do comportamento humano. Serve como base, também, a proposta de Rohde
(2005) por evidenciar a atividade humana na modificação dos aspectos e processos naturais,
compreendendo as seguintes efetuações:
a) Efetuação paisagística (como feições geomorfológicas antropogênicas, e
aceleração/intensificação do processo erosivo);
b) Efetuação litológica (criação de depósitos geológicos artificiais e a destruição ou
modificação de formações geológicas preexistentes, além da criação de depósitos
tecnogênicos);
c) Efetuação geodinâmica (tentativa antrópica de reduzir e eliminar processos
geodinâmicos e o desencadeamento de fenômenos ou fatos relacionados); e
d) Efetuação fossilífera (produção de fósseis artificiais).
São as atividades humanas acelerando os processos que antes do Tecnógeno/Quinário
ocorreriam de maneira mais lenta, gradual e processual. A vista disso, a influência humana
sobre a natureza é perceptível em distintas escalas, principalmente aquelas locais e regionais,
sendo características do desenvolvimento tecnológico e socioeconômico, cada vez mais intenso
à medida que este desenvolvimento se acelera e, em muitos casos, torna-se descontrolado.
Exemplifica-se com a dinâmica do fenômeno urbano brasileiro (principalmente a partir
da década de 1970), além de outros casos de influência, como o desmatamento na Amazônia
(2018 e 2019), o derrame de petróleo no litoral do Nordeste Brasileiro (2019), e os desastres
em Mariana (2015) e Brumadinho (2019) que, em muito, auxiliaram no comprometimento das
características físico-naturais, como qualidade da água e do solo, assoreamento de rios (e
modificação das redes de drenagem) e alterações no clima principalmente em microescala.
Nesse contexto insere-se a contribuição teórica de Felds (1958) ao considerar que a
sociedade, por meio de técnicas e objetivos, proporciona efeitos diretos como no deslocamento
de massas nos lugares de habitação, na atividade de mineração e no regime de cursos fluviais,
em que pese o processo denudacional, ora acrescido, ora atenuado.
48

2.2.1 Antropogeomorfologia, Geomorfologia Antropogênica, Neogeomorfologia e


Geomorfologia Urbana: apontamentos teóricos

As análises acerca das interferências humanas sob o modelado terrestre, principalmente


no tocante à Geomorfologia, se depara com um número considerável de temas que, de certa
forma, prejudica uma tentativa de um acompanhamento teórico e estado da arte. Conceitos,
categorias e abordagens, como Antropogeomorfologia, Geomorfologia Antropogênica,
Geomorfologia Urbana e Neogeomorfologia, por exemplo, condicionam e ilustram a
complexidade do tema e a relação entre técnica e sua utilização para apropriação do ambiente.
No contexto brasileiro, a discussão sobre Geomorfologia e ambiente urbano não é tão
recente, Ab’Saber (1957) e Christofoletti (1967) já indicavam com o forte destaque e atenção
para o relevo em áreas condicionadas pelas ações do meio social, principalmente voltada às
modificações ali existentes. Em relação à Antropogeomorfologia, o ser humano é apresentado
como agente geomorfológico tendo condições suficientes para transformar não só a paisagem,
como também a própria morfogênese do relevo (NIR, 1983), ao se considerar a relação espaço-
tempo dos processos geomorfológicos junto à três classes de urbanização (a. Pré-urbano; b.
Construção; c. Desenvolvimento urbano), expressando a configuração de criação da paisagem
(landscape) ou da paisagem da cidade (cityscape) (COATES, 1976; GOUDIE; VILES, 1997;
RODRIGUES, 1999; SANTOS FILHO, 2011).
Dessa forma, a Antropogeomorfologia se caracteriza como um estudo, no tempo e no
espaço, da interferência humana sobre as características físico-naturais, relacionando-se, em
muitos casos, com a existência e intensificação de riscos e vulnerabilidades, além de considerar
em sua análise, três elementos básicos (HART, 1986): formas, materiais e processos da
superfície terrestre. Cabe mencionar ainda que esta área do conhecimento ganha destaque à
medida que se avança o fenômeno urbano nas grandes cidades, como já mencionado
anteriormente. A Antropogeomorfologia se subdivide em duas áreas de investigação: a) análise
sobre os impactos das atividades humanas principalmente nos solos (processo de
metapedogênese), e b) análise acerca dos impactos das atividades humanas sobre as formas de
relevo (sua alteração e transformação) em função da construção da cidade (GOUDIE, 1993;
1994; GOUDIE; VILES, 1997).
Nir (1983) ao interpretar o grau de desenvolvimento e os de modificações
antropogeomorfológicas, se propôs a ordenar cronologicamente e hierarquicamente uma série
de atividades humanas e sua relação com o impacto geomorfológico, especialmente relacionado
49

ao que nomeou como Taxa de Processos Geomorfológicos Antropogênicos (AGP), variando de


0 (inexistente) a 1 (desastroso), conforme figura 7.

Figura 7 – Relação entre o grau de desenvolvimento e os processos geomorfológicos antropogênicos

Fonte: adaptado de Nir (1983).

Atividades como pastagem, queimadas, incêndios, lavoura, aragem, mineração,


agricultura mecanizada, construção de rodovias, portos e ferrovias, além da instalação de
cidades são, conforme o autor, grandes exemplos de intervenções que ocasionam mudanças das
taxas de intervenção e refletindo em cinco estágios: a) AGP inexistente; b) processos facilmente
controláveis; c) processos controláveis com instalação de meios para contenção dos processos
erosivos; d) processos controláveis com intervenções intensivas; e, e) AGP desastroso.
Diante disso, a necessidade de uma sistematização interna no âmbito da geomorfologia
antropogênica sinaliza para a compreensão das ações diretas e indiretas relacionadas à agência
humana na superfície e seus impactos (SZABÓ, 2010). Os impactos diretos são caracterizados
como intencionais e conscientes, com consequências reconhecíveis e facilmente associadas ao
aspecto geomorfológico, a exemplo de construções, escavações e obras hidrológicas; ao passo
que os indiretos são mais difíceis de serem identificados, a exemplo de aceleração do processo
erosivo, afundamento e falha de declive (Quadro 2).
50

Quadro 2 – Impactos geomorfológicos da sociedade humana, com tipologia de intervenção, impactos e


exemplos
Impactos
Tipo de Tipo de
Diretos Indiretos
intervenção relevo
Primários Secundários Qualitativo Quantitativo
Poços/cavas a
E - Subsidências
céu aberto Formas fluviais
Montanhosa Vales causadas pelo
Acumulação
(mineração) P - preenchidos por influxo de água
de poços
lixo da mina
A - Resíduos Elevações
Bacias de lagos Pedreiras para Movimentos
E
de resfriamento aplainamento de massa em
Erosão acelerada
Propriedades Reservatórios locais de
Industrial P pelo influxo de
industriais de lama deposição de
esgoto
Bases para Terrenos de matéria-prima
A
moinhos deposição industrial
E Cavernas Poços de barro
Erosão por
Locais de
P Construções Desabamento escoamento de
Urbana descarte de lixo
de cavernas superfícies
Colinas
A Cemitérios seladas
antropogênicas
Cortes de
E Pista rebaixada
estrada Aumento de
Tráfego Quedas em
Montes tubulações e
(vias) P Aeródromos aterros
removidos encanamentos
A Aterro Estrada
Canais
E Poços
Gestão de artificiais Abrasão
Bueiros e incisão
águas P Pôlderes Corte de água devido a
rápida
(drenagem) Canais de represamento
A Dique
dragagem
Lago para Poços de
E Ravinas Erosão eólica
dessedentação escavação
Espalhamento de
Agricultura P Terraços Pseudoterraços Fluxo laminar
lodo
Terraços em Cristas de Leques Formação de
A
linhas verticais pedras aluviais delta
Crateras de
E Fossos Cursos de água
bombas Deslizamentos
modificados por
Guerra Destruição de causados por
P Aeródromos erosão para fins
assentamentos explosões
de defesa
A Terraplanagem “Rümmelberge”
Lagos para lazer
E
e recreação Esportes de Abrasão ao Aceleração da
Turismo e
Pistas de campo (moto- longo do lago erosão ao longo
esportes P
esportes cross) de recreação das trilhas
A Rampas de salto
E = processos de escavação; P = processos de planificação; A = processos de acumulação.
Fonte: adaptado de Szabó (2010, tradução nossa).
51

Goudie (1990) ratifica ainda que a participação humana na criação de formas de relevo
se dá por meio dos processos antropogênicos diretos (atividades construtivas, interferência na
natureza hidrológica) e indiretos (como a aceleração da erosão e sedimentação e nos episódios
de movimentos de massa).
O papel da escala espaço-temporal é uma das preocupações para a realização de estudos
antropogeomorfológicos mais coerentes sobre dada realidade e sem interpretações errôneas,
tendo em vista que a escala pequena poderá levar à perda de referência do sistema, enquanto a
escala grande pode ser insuficiente para a identificação e compreensão dos processos ali
existentes (RODRIGUES, 1999; 2005). Já a escala temporal se destaca para o entendimento da
rapidez e mensuração das intervenções antrópicas, como ilustrado em estudo de Brandolini et
al. (2018) sobre as modificações geomorfológicas ocasionadas pela pressão antrópica
(principalmente escavação) no centro histórico da cidade de Génova (Itália), principalmente no
entorno do porto, conforme figura 8.

Figura 8 – Modificações morfológicas do promontório de San Benigno (em Génova/Itália) nos dois
últimos séculos. Em A, início do século XX, pré-demolição do promontório; e, em B, destaque o
antigo perfil do promontório

Fonte: Brandolini et al. (2018).


52

Nota-se, com a figura anterior, considerável intervenção morfológica da área, o que,


segundo os autores do estudo, determinou uma série de modificações na rede de drenagem que
deságua neste trecho do Mar Mediterrâneo, considerado um dos principais portos marítimos
que auxiliou no crescimento econômico e internacionalização da região. Da mesma forma e
guardando as devidas proporções, Silva e Eduardo (2020) se propõem a analisar as
transformações geomorfológicas na cidade do Rio de Janeiro durante os séculos XIX e XX,
conforme figura 9.

Figura 9 – Modificações geomorfológicas no Rio de Janeiro (RJ). Em A, Morro do Castelo e sua


ocupação original; em B e C, desmonte do Morro do Castelo iniciado em 1921, e; em D, Av.
Presidente Antônio Carlos e a urbanização da Esplanada do Castelo em 1944

Fonte: Adaptado de Silva e Eduardo (2020).

Nesse cenário, estão em um mesmo patamar e utilizados como sinônimos os termos


Antropogeomorfologia, Geomorfologia Antropogênica, Geomorfologia Antrópica e
Neogeomorfologia, como mencionam distintos autores tais como Haff (2001), Crutzén (2002),
Slaymaker (2009), Lóczy e Gyenizse (2010), Szabó (2010) e Paschoal, Simon e Cunha (2015),
com implicações voltadas para o gerenciamento ambiental e engenharia de paisagens e,
principalmente no tangente às geomorfologias Ambiental, Fluvial, Costeira e Urbana, aos riscos
geomorfológicos, à dinâmica de encostas e ao mapeamento geomorfológico.
53

Sobre a Geomorfologia Urbana, esta se aproxima do rol das ciências dos sistemas
humano-paisagísticos (HARDEN, et al. 2014), com destaque para a ação dos processos em um
determinado ambiente artificial (JORGE, 2011), de modo que deixa ainda mais clara a inserção
do elemento antrópico nos estudos geomorfológicos em espaços urbanos. Tal preocupação se
deu mediante a diminuição da qualidade de vida urbana no tocante à crise ambiental, de modo
que é indispensável o papel dessa subárea na definição e execução de políticas públicas,
principalmente em contribuir na análise de dados e em soluções para problemas urbanos
(COATES, 1976).
Seguindo essa premissa, a tarefa da Geomorfologia Urbana pode ser dividida em três
partes, sendo: a) conhecer o relevo em que a cidade é construída; b) entender os processos
geomorfológicos atuais modificados pela urbanização e; c) predizer as futuras mudanças
geomorfológicas que ocorrerão (DOUGLAS, 1988). Portanto, a Geomorfologia Urbana, ao ser
tratada sob abordagem da análise ambiental integrada, possibilita ações de planejamento
urbano, gestão da cidade, ordenamento territorial, zoneamento econômico e outras ações que,
associadas às dinâmicas de superfície e subsuperfície auxilia enquanto instrumento
fundamental, como no planejamento de vias (ruas e avenidas) e loteamentos, além da drenagem
urbana. É nesse cenário que a paisagem urbana é alterada e as cidades dinamizadas, tendo em
vista que o relevo é encarado como base física e inerte, em que as dimensões sociais,
econômicas, históricas e culturais se instalam de maneira dialética, em uma interface ainda com
a Geologia, Engenharia e o Planejamento Urbano.
A vista disso, a urbanização deve ser amplamente compreendida e estudada uma vez
que é caracterizada por ser a ação de maior impacto sobre os sistemas geomorfológicos,
interferindo as suas formas, processos e materiais (DOUGLAS, 2005) resultando em processos
geomorfológicos de naturezas direta e efetiva (DOUGLAS, 1977) e criando paisagens
associadas a profundas modificações no balanço de matéria e energia, como ações de
impermeabilização, esgotamento do lençol freático, aumento da instabilidade de vertentes,
alteração de canais fluviais, além da formação e destruição de superfícies (DOUGLAS, 1988).
De maneira metabólica (KENNEDY; PINCETL; BUNJE, 2011), a cidade é entendida
como sistema aberto e completo, direcionando-se a uma multidimensionalidade (SANTOS,
1996; COELHO, 1999) em decorrência das alterações na paisagem natural (GUERRA;
MARÇAL, 2006), notadamente no que diz respeito aos inputs antrópicos sobre a superfície
(GOUDIE, 1993; GUERRA; SANTOS FILHO, 2008), como: morfologia do povoamento;
edificações em encostas e próximas a canais fluviais; estruturas viárias; processos modificados
em encostas; edificações em encostas; drenagem e esgotamento sanitário e lixo.
54

As consequências relacionadas a essas modificações se dividem em diretas/locais


(onsite) e indiretas/afastadas (offsites), as primeiras vinculam-se à perda efetiva de solo “como
de sua capacidade de retenção de água”, enquanto as segundas devem-se ao escoamento de
água e sedimentos, provocando “danos relacionados a enchentes, contaminação de corpos
hídricos e, principalmente, assoreamento” (PAULA; SANTOS; UBER, 2010, p. 135).
Considera-se ainda a existência de feedbacks positivos (causadores de instabilidade) e
negativos (amenizadores de instabilidade) oriundos da forma como as alterações afetam as
atividades antrópicas e os usos e apropriações dos recursos naturais (CHIN, et al., 2014),
notadamente ao se levar em consideração as diferentes inter-relações dinâmicas existentes em
uma determinada espacialidade. A materialidade dessas inter-relações se dá por meio das
feições e paisagens antropogênicas, tão próximas e inseridas no cotidiano das cidades.

2.2.2 Processos, Formas, Terrenos e Depósitos Antropogênicos

No contexto da apropriação e ocupação do relevo, notadamente no que se refere à


inserção do ser humano como agente modificador, há a intensificação da agência humana
(Geotecnogênese), que corresponde ao conjunto de 3 níveis de ação (PELOGGIA, 1998)
associados às formas, aos processos e aos depósitos superficiais, sendo: a) A modificação do
relevo e as modificações físico-naturais da paisagem, como por exemplo a retificação de canais
fluviais, obras de terraplanagem e áreas mineradas. Outros autores elencaram diferentes
nomenclaturas, como “novos tipos de relevo tecnogênico” (TER-STEPANIAN, 1988),
“superfícies decapadas” (scalped land surfaces) (FANNING; FANNING, 1989) e “morfotipos
artificiais” (ROHDE, 2005); b) A alteração da fisiologia das paisagens, materializada pela
“criação, indução, intensificação ou modificação do comportamento de processos da dinâmica
geológica externa [...] que podem atingir portes comparáveis aos resultantes de variações
climáticas ou dos efeitos dos movimentos tectônicos”; e c) A criação de depósitos
antropogênicos, os quais servem como marcos estratigráficos em um dado local em virtude do
grau e sequência de intervenção.
É nesse cenário que os terrenos artificiais (artificial ground) são gerados, como
apresentado na classificação do British Geological Survey (FORD; et al., 2010) ao considerar
que a compreensão da natureza e distribuição dessas feições artificiais são fundamentais para o
desenvolvimento no ambiente urbano, levando em consideração ainda atividades de campo,
mapas históricos e informações perfuração de poços.
55

A classificação inicial (figura 10) se dá em: a) made ground (terreno feito),


caracterizando áreas em que o homem depositou artificialmente material sobre a superfície
naturalmente pré-existente; b) worked ground (terreno trabalhado), representando superfícies
que foram escavadas pelo homem; c) infilled ground (terreno preenchido), áreas que foram
escavadas (worked ground) e posteriormente preenchida (made ground); d) disturbed ground
(terreno perturbado), áreas que, após escavação provocou subsidência pelo funcionamento e
deterioração da superfície; e) landscaped ground (terreno paisagístico), representando áreas
onde a superfície anterior foi excessivamente remodelada e que, no momento, não se tem como
separar as três em made ground, worked ground ou disturbed ground.

Figura 10 – Tipos de artificial ground conforme British Geological Survey

Fonte: Ford et al. (2010)

A classificação é completada (FORD, et al.; 2010, p. 6) com a inserção de três outras


tipologias de terrenos antropogênicos, dessa vez destacando a origem e a forma e em uma
hierarquia considerando (figura 11): a) Unidade (unit): fornecem o mais alto nível de detalhe,
permitindo tipos específicos de aterramento artificial, com escala 1:10.000 ou superior; b) os
Tipos (types): sendo sugeridos para uso “quando uma classificação em nível de unidade é
impossível devido a dados insuficientes, complexidade do terreno ou recursos limitados do
projeto”, com detalhe de levantamento de 1:10.000, não permitindo subdivisão e a c) Classe
(class), por ser o maior nível, há o risco de que informações específicas e significativas sejam
perdidas dentro dessa generalização.
56

Figura 11 – Exemplos de hierarquia dos terrenos artificiais conforme British Geological Survey

Fonte: Ford et al. (2010)

A morfodinâmica dos processos superficiais verificados nas figuras anteriores expressa


o quanto as propriedades originais do relevo são passíveis de modificação pelas intervenções
humanas, com vistas à intensificação das propriedades socioreprodutoras, e agravamento maior
à medida que o meio social (como o processo de urbanização) interfere e faz uso dos recursos,
como solos e minerais como suporte para edificação. Esse construto deixa em evidência o
interesse pela dinâmica das formas (modelado) associados às organizações e construções
sociais sob o relevo em um tempo curto, podendo abranger “desde o tempo histórico até o tempo
imediato, de modo que o tempo geológico praticamente em nada importa à análise”
(ASCENÇÃO; VALADÃO, 2016, p. 195), com vínculo ainda à geomorfologia funcional
(HAMELIN, 1964), aos estudos das vertentes (GOUDIE, 1985) à geomorfologia aplicada
(HART, 1986) e sua compreensão nos espaços urbanos (DOUGLAS, 2005).
A vista disso, esses terrenos são definidos como sendo maciços formados por materiais
geológicos ou superfícies de relevo oriundas “direta ou indiretamente da agência humana,
formados por processos de agradação (acumulação de material geológico), degradação
(desgaste ou remoção de material) e transformação (modificação in situ de substratos
geológicos ou superfícies geomorfológicas preexistentes)” (SANTOS, et al., 2017, p. 828).
Os autores argumentam ainda a necessidade de, nas investigações sobre terrenos
antropogênicos, compreender uma série de conceitos que auxiliarão no entendimento da
dinâmica desses ambientes, como “geodiversidade” apresentada como a variedade de tipos de
57

terrenos antropogênicos em posições diferentes no relevo; “depósito” entendida como


formações superficiais diretamente criadas, acumuladas ou induzidas pela agência humana;
“feição” sendo a forma de relevo associada ao terreno antropogênico de agradação ou
degradação e “ambiente”, definido como o contexto determinado em que a formação de um
terreno antropogênico específico ocorre no compartimento do relevo, no substrato geológico e
formações superficiais e a posição em virtude das ocupações humanas.
Sistematizando essas morfologias oriundas da agência humana, o conceito de unidades
morfológicas complexas surge como importante parâmetro de sistematização, hierarquização e
possibilidade de compreensão e avaliação do impacto humano em sua correlação de
indicadores, parâmetros e medidas de mudanças, combinando, portanto, morfologia original à
morfologia antropogênica na definição de unidades espaciais (RODRIGUES, 2005).
Os padrões de arruamento, apropriação do relevo, impermeabilização e intervenção
condicionam a criação de elementos aerolares (cortes e aterros), pontuais e lineares
(arruamento, rupturas e nascentes antropizadas), dentre outros, além de processos erosivos
superficiais de saída de material (como sulcos e ravinas) e de deposição (RODRIGUES, et al,
2012), bem como nos níveis de perturbação antropogênica, particularmente discriminados sob
forma de geoindicadores (RODRIGUES, et al., 2019), a exemplo dos morfológicos-
morfométricos (comprimento, declividade, amplitudes topográficas de morfologias,
sinuosidade de canais, geometria de subunidades de vertentes, dentre outros); dos de
distribuição e da natureza de materiais superficiais (materiais pedológicos, rochas e materiais
antropogênicos); e dos de processos (aumento de superfícies geradoras de escoamento
superficial concentrado, mudanças na magnitude das vazões extremas, dentre outros).
Sob essa ótica, a relevância da compreensão destes indicadores se dá pelo norteamento
e hierarquização das observações (em campo e cartograficamente), em que pese a possibilidade
de se realizar inferências quando da análise de morfologias de ruas, da drenagem urbana e do
escoamento superficial. Isto posto, a compreensão de como ocorreu a ocupação urbana e como
se caracterizava os elementos geomorfológicos antes da ocupação permite importantes
constatações sobre a sequência de intervenção e comportamento dos processos superficiais,
suas respostas, magnitudes e frequências frente à agência humana.
Frente a isso, tem-se uma série de estudos com distintos objetivos que se debruçam sobre
a temática, como Rodrigues, et al, (2012; 2019); Santos et al. (2017), Pellogia (2017; 2018),
Luberti (2018), Mathias e Nunes (2019) e Zhichkina, et al. (2020), bem como o estudo realizado
por Edgeworth (2013) a respeito da estratigrafia associada aos processos e feições
antropogênicas (figura 12) em Leicester (Reino Unido) e em Abu Hureyra (Síria),
58

evidenciando, portanto, a complexidade da gênese e comportamentos destes terrenos


antropogênicos.

Figura 12 – Diferentes tipos de feições antropogênicas e elementos associados em ambiente urbano

Fonte: Edgeworth (2013)

A representação detalha as categorias de terrenos antropogênicos (como verificado


anteriormente) evidenciando elementos importantes dentro desse processo, tais como terraços,
dumping, poluição industrial, corte de fossas, aterro, além de pontos de estratificação intacta,
que auxiliam na gênese e/ou intensificação de processos superficiais geomorfológicos no
ambiente urbano e caracterizados como exemplos da relação processo-resposta diante da
artificialização do meio e potencializados pela marginalização e baixa capacidade de resiliência
de grupos sociais.
Face a isso, a taxonomia geomorfológica (ROSS, 1992) contribui para que se elabore
relações entre o modelado original e o antropogênico, principalmente ao se colocar em
observação os últimos táxons, relacionando-os a atributos de elevação, declividade, orientação
e curvatura de vertentes, processos erosivos e feições antropogênicas, possibilitando a definição
de unidades e compartimentos em escalas cartográficas específicas.
59

2.3 Suscetibilidades, processos superficiais e in(certezas) no ambiente urbano

Na concepção de Coelho (1999), os estudos relacionados ao ambiente urbano são, pela


sua própria natureza, detentores de uma complexidade de processos, principalmente ao se
considerar os impactos ambientais urbanos, ora apresentando dois desafios fundantes, a
problematização da realidade e construção do objeto, bem como a articulação coerente entre os
processos biofísico-químicos e os sociais.
Nessa concepção lança-se como base as considerações teóricas de Marx e Engels no
tocante à indivisibilidade entre natureza e sociedade, ao considerar, ainda, a dialética
apresentada no contato das mudanças sociais e ambientais em distintas escalas, configurando o
aprofundamento da intensificação de ambientes de riscos e vulnerabilidades ao considerar a
interferência junto aos processos superficiais (características físico-naturais) e sociais para a
geração de uma “sociedade de risco” (BECK, 2010; CIDADE, 2013; OLÍMPIO; ZANELLA,
2017) em volta a uma gama de cenários de suscetibilidades. Nesse sentido, tal abordagem
auxilia no delineamento explicativo a respeito das particularidades socioespaciais
principalmente no tocante à infraestrutura e aos serviços urbanos.
O risco apresentado é tido como escorregadio, invisível e sua temporalidade está
associada ao futuro, uma vez que possui potencialidade destrutiva de médio e longo prazos,
bem como possuidor da capacidade de atingir distintas classes sociais ao mesmo evento ou
episódio, diferenciando-se pelas condições técnicas dos indivíduos ou grupo social (BECK,
2010) em um necessário reconhecimento dos processos superficiais que operam de formas
diretas e indiretas com os aspectos geomorfológicos, drenagem superficial e subsuperficiais,
condições litológicas, características pedológicas e de cobertura vegetal.
O conceito de vulnerabilidade se caracteriza como sendo detentor de uma
multidimensionalidade e engloba diversas temáticas à medida que as variáveis de análise se
alteram ou se direcionam para novos sentidos, atribuindo assim outros termos, como
suscetibilidade, danos, riscos e resiliência (KASPERSON et al., 2005), configurada, dessa
maneira, em uma abordagem contextual e de resultado, além de ser apresentada como conceito
complementar ao de risco.
Seguindo essa consideração conceitual, a “exposição aos riscos designa a maior ou
menor susceptibilidade de pessoas, lugares, infraestruturas ou ecossistemas sofrerem algum
tipo particular de agravo” (ACSERALD, 2006, p. 2), ao ponderar ainda no campo dos estudos
críticos a inseparabilidade da relação sociedade e meio ambiente, tendo em vista que é um
mundo material socializado.
60

Os riscos muitas vezes são adotados de maneira genética e associada a um imediatismo


de um certo perigo. Contudo, cabe reforçar que não necessariamente haja uma situação de
perigo, tendo em vista que este é inerente à própria condição humana, o que reforça a concepção
de que o risco é um “objeto social” (VEYRET, 2007, p. 11). Acrescenta-se ainda que o risco
está associado a outros conceitos como perigo, instabilidade, vulnerabilidade, susceptibilidade,
desastre e resiliência, sobretudo dinâmicos no que diz respeito às escalas temporal e espacial,
indicando um momento ou situação futura.
Essa abordagem auxilia ainda na gestão e ordenamento do espaço no tocante à sua
estabilidade frente às situações adversas, como em relação à ocupação humana em uma área de
encostas ou nas margens de um rio que, com eventos pluviométricos intensos somados às
características geomorfológicas e pedológicas pode potencializar a suscetibilidades a desastres,
diferenciando-se entre si face à excepcionalidade e magnitude do evento.
Em que pese a suscetibilidade, esta é definida no âmbito das geociências como a
predisposição ou propensão de determinado ambiente ao desenvolvimento de um fenômeno ou
processo do meio físico, e com forte relação com os fatores predisponentes e a propensão do
terreno à existência de processos superficiais e subsuperficiais (parâmetros a serem analisados
conjuntamente), não indicando, portando a frequência de determinada ocorrência, mas, sim,
classes de probabilidade (BITAR, 2014; KARKANI, et al., 2020; COCO, et al, 2021; MELO;
SOUZA; GUERRA, 2021), principalmente aos processos de movimentos de massa, aqueles
hidrológicos (inundações, enxurradas e alagamentos) e os erosivos, facilmente encontrados nos
ambientes urbanos em detrimento aos níveis de ocupação e perturbação, caracterizando,
portanto, a agência humana como instrumento de interferência na dinâmica natural, podendo
acelera-la ou retarda-la.
Frente à agência humana, a concentração de águas pluviais, a ausência ou deficiência
da drenagem urbana e o lançamento de águas servidas, por exemplo, auxilia, principalmente
com a existência de vazamentos, a saturação do solo e a possibilidade de coexistência de
alagamentos e deslizamentos, considerando as características morfométricas locais. De outra
forma, os cortes do relevo possibilitam a perda de estabilidade das encostas, principalmente em
função da sua declividade, orientação, materiais superficiais e grau de ocupação e interferência.
Já as interferências morfológicas em canais fluviais possibilitando retificação,
tamponamento, barramento e outras ações configuram mecanismos de interferência nas
suscetibilidades a processos superficiais, notadamente em terrenos alagadiços, fortemente
ocupados ou próximos a seus exutórios; enquanto os processos erosivos são acelerados em
maiores graus em virtude da retirada da vegetação e extração mineral, por exemplo,
61

desencadeando o transporte de materiais para as áreas mais baixas e interferindo nos outros
processos (alagamentos e inundações) em virtude do acúmulo do material.
As deposições antropogênicas conferem, ainda, casos de suscetibilidade tendo em vista
o baixo grau de compactação, elevada permeabilidade, heterogeneidade dos materiais (muitos
com artefatos como papelão, plástico e vidro) acarretando movimentações por gravidade e
possibilidade de saturação, rachaduras e descontinuidade dessas feições.
Face à classificação dos riscos ambientais – por associar eventos naturais acentuados
pela condição antrópica configurando-se como ameaça, é a que se encaixa mais no âmbito desta
Tese – Cerri e Amaral (1998) apontam a existência de três tipologias principais, os tecnológicos
(como vazamentos de produtos tóxicos), os sociais (como guerras, assaltos e sequestros) e os
naturais, divididos em: a ) Físicos: atmosféricos (furações, secas e tempestades, por exemplo),
hidrológicos (enchentes e inundações) e geológicos, subdividido em endógenos (terremotos,
tsunamis, vulcanismo, dentre outros) e exógenos (escorregamentos, assoreamentos, erosão,
dentre outros), e; b) Biológicos, associados à fauna e à flora.
Nota-se que os riscos ambientais, nesta classificação, é a tipologia com maior classe,
incluindo classes e subclasses. Cabe mencionar o quanto a noção de perigo está inserida com a
iminência de ocorrer algum processo ou evento desastroso, perfeitamente relacionáveis aos
espaços urbanos principalmente junto aos riscos geológicos exógenos e os hidrológicos. Chama
atenção a inclusão dos riscos tecnológicos e sociais como classes dos riscos ambientais, em
uma ponte conceitual do que é natural e ambiental.
Particularmente no contexto geomorfológico e relacionando-se aos ambientes urbanos,
tem-se a classificação apresentada em Oliveira (2004), integrando elementos dos sistemas físico
e antrópico sob a base dos espaços urbanos (figura 13). Nesta, os processos geomorfológicos,
principalmente associados à dinâmica fluvial e das vertentes configuram áreas de ocupação
irregular e condicionam a existência de riscos geomorfológicos, principalmente ao se levar em
consideração os padrões morfométricos.
62

Figura 13 – Gênese dos riscos geomorfológicos e suas suscetibilidades

Fonte: adaptado de Oliveira (2004)

A respeito dessas classificações (CERRI; AMARAL, 1998; OLIVEIRA, 2004), nota-se


o quanto a suscetibilidade é relacionada com o parcelamento e uso do solo, principalmente os
urbanos ou aqueles densamente povoados/antropizados, os quais estão ligados aos
condicionantes físicos do ambiente, como a configuração geológica, geomorfológica,
pedológica, climática e fitogeográfica, o que auxilia na particularização de cada local frente aos
processos superficiais existentes.
As cidades são apresentadas como espaços hegemônicos e palco de produções e trocas
complexas (SANTOS, 1994), sendo um meio de habitat denso e uma diversidade funcional
(PUMAIN; PAQUOT; KLEINSCHMAGER, 2006) e o locus de elaboração da civilização. Essa
civilização, inclusive, em que foi proporcionado o desenvolvimento da informação, inovação e
acumulação de riquezas (BRUNET; FERRAS; THÉRY, 1993), são espaços em que tanto
indivíduos quanto ambientes são expostos a diferentes graus e tipos de suscetibilidades,
frequentemente oriundas da ocupação do solo e utilização dos recursos naturais ao longo da sua
dinâmica socioespacial.

2.4 Geossistema e Materialismo Histórico e Dialético: aproximações metodológicas

A investigação sobre processos antropogênicos requer procedimentos a respeito da


reconstituição da história de ocupação local de modo a subsidiar a compreensão da modificação
63

da paisagem pela ação antrópica e, para isso, recorre-se ao Materialismo Histórico e Dialético
como um dos suportes teórico-metodológico. Por estar alicerçado em uma perspectiva
sistêmica, este estudo tem como referência a ideia de que a Geografia Física deve analisar a
unidade oriunda da integração e as inter-relações presentes em conjunto (CHRISTOFOLETTI,
1999). Portanto, aqui será realizado um diálogo entre métodos diferentes, Geossistema e
Materialismo Histórico e Dialético, em decorrência das especificidades do tema e da área de
estudo.
A esse respeito, ambos os métodos já são próximos a partir do início da formulação do
primeiro, de modo que os textos produzidos por Sotchava estavam pautados, dentre outras
visões teórico-metodológicas, no Materialismo Histórico e Dialético, coincidindo ainda com
postulados de uma série de autores russos, considerando que a sustentação filosófica pela visão
marxista era encarada como clássica (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2010;
OLIVEIRA; MARQUES NETO, 2020), servindo como base para estudos sobre o meio
ambiente e o espaço em uma concepção materialista do tempo e do espaço, servindo, assim,
como ponte para os estudos integrados da natureza.

Na perspectiva materialista toda a realidade é reduzida à matéria, embora o


próprio conceito de matéria possa variar bastante. De modo geral, portanto, o
materialismo nega a existência da alma ou da substância pensante cartesiana,
bem como a realidade de um mundo espiritual ou divino cuja existência seria
independente do mundo material (OLIVEIRA; MARQUES NETO, 2020, p.
10).

Sobre isso, Marx defende a necessidade do conhecimento dos atributos sociais e


econômicos de um dado momento sob forma articulada, integrada e dialética, associado às lutas
de classes e considerando o ambiente como reflexo da relação dialética, sistêmica, complexa e
holística entre os condicionantes físico-naturais e os socioeconômicos, daí seu reflexo nas
proposições geossistêmicas tanto em Bertrand (1971) quanto em Sotchava (1977).
A figura 14 ilustra as diferenciações entre os reflexos do Materialismo Histórico e
Dialético nas concepções de Bertrand (compreendendo as atividades antrópicas como um dos
três elementos que compõem o geossistema e que este está ligado a um território. Equipara os
três elementos com o mesmo nível de importância dentro da estruturação e dinâmica
geossistêmica em uma dimensão mais cultural) e de Sotchava (sob caráter bio-físico-químico-
energético, destaca que, mesmo que os geossistemas tenham singularidade com os processos e
fenômenos naturais, os aspectos socioeconômicos atuam e influenciam sua estruturação,
acarretando peculiaridades em virtude desta atuação externa).
64

Figura 14 – Em A, modelo geossistêmico proposto por Bertrand (ação antrópica com a mesma
dimensão na organização do geossistema); e, em B, Modelo geossistêmico proposto por Sotchava
(atividades humanas influenciam a estrutura do geossistema)

Fonte: adaptado de Oliveira e Marques Neto (2020)

Contudo, tem-se a ciência de que o Materialismo Histórico como método não permite a
realização de investigações analíticas no bojo das ciências da natureza por ser, em síntese,
associado às ciências sociais e humanas, o que permite contribuir com análises na relação
natureza-sociedade com base na categoria Trabalho, sendo antecedido pelo processo de
dialetização da natureza (MARX, 1979).
Frente a isso, a adoção deste possibilita a compreensão da dinâmica social na área de
estudo, principalmente no que diz respeito ao processo de ocupação do espaço em um dado
recorte histórico, o que auxilia em evidenciar temáticas como divisão de classes, contradições,
apropriação da natureza12 e a relação entre poder local e totalidade social. O diálogo entre estes
dois métodos (RODRIGUES, 2005; SANTOS, 2008; GOUVEIA, 2010; BARBOSA, 2015;
NASCIMENTO, 2015; SILVA, 2017; JATOBÁ, 2017; BLONIARZ; CONSTANTINE, 2017;
FRANCH-PARDO, et al., 2017) favorece, portanto, uma leitura integrada e complexa entre
Antropoceno, Antropogeomorfologia, Geomorfologia Urbana e Processos superficiais,
subsidiando a análise teórica dos dados e informações coletados tanto em campo quanto em
gabinete.

12
Neste método a natureza é encarada como recurso/mercadoria/objeto, possuindo, dessa maneira, valor de uso e
troca. Esta visão reflete inclusive como se deu o processo de ocupação da área de estudo, com forte ligação às
atividades de mineração.
65

Reforça-se ainda que, como ponto de aproximação, são adotadas as orientações básicas
(princípios e categorias) propostas por Rodrigues (2005) para análise dos efeitos das ações
antropogênicas sobre o meio físico, sendo:
a. Observar as ações humanas como ações geomorfológicas na superfície
terrestre: partindo da concepção de que as atividades humanas, em suas variadas
tipologias e objetivos, modificam as propriedades e localização dos materiais
superficiais, além de interferirem nas taxas e balanços dos processos, bem como na
geração direta e/ou indireta de morfologias antropogênicas;
b. Investigar nas ações humanas padrões significativos para a morfodinâmica: a
partir deste princípio torna-se exequível o reconhecimento da dinâmica de ocupação
e de modificações característica da agência humana que ora contribui com as
interferências nos balanços naturais e geração de degradação ambiental;
c. Investigar a dinâmica e a história cumulativa das intervenções humanas,
iniciando com os estágios pré-pertubação13: possibilita a compreensão da
sequência de modificações morfológicas e quais processos e materiais (originais ou
não) fazem parte desta dinâmica visando o entendimento da magnitude dos
impactos;
d. Empregar diversas e complementares escalas espaço-temporais: objetiva a
adoção de escalas que possam contribuir com a maior quantidade de detalhes sem
perder informações do contexto regional. Essa perspectiva de análise multiescalar
pode ser adotada a partir da proposta de Ross (1992) em termos de
compartimentação geomorfológica;
e. Empregar e investigar as possibilidades da cartografia geomorfológica de
detalhe: objetiva a discriminação e detalhamento das feições geomorfológicas,
inclusive aquelas antropogênicas;
f. Explorar a abordagem sistêmica: considerando a análise integrada do ambiente e
como os aspectos socioeconômicos influenciam no meio físico;
g. Usar a noção de limiar geomorfológico e a análise de magnitude e frequência:
associada à tipologia dos eventos, sua frequência de ocorrência e classes de
magnitudes enquanto abordagem para a avaliação de processos em Geomorfologia;

13
“Entende-se por morfologia original, ou pré-intervenção, aquela morfologia cujos atributos como extensão,
declividades, rupturas e mudanças de declives, dentre outros, não sofreram alterações significativas por
intervenção antrópica direta ou indireta. Modificação significativa é aquela que já implica em dimensões métricas
nos atributos mencionados” (RODRIGUES, 2005, p. 103).
66

h. Dar ênfase à análise integrada em sistemas geomorfológicos: enquanto sistema


aberto, a análise integrada nos sistemas geomorfológicos possibilita a compreensão
dos processos e influências pelos quais estão expostos em seus múltiplos
componentes de matéria, energia e estrutura, suas expressões espaciais e influências
antrópicas;
i. Levar em consideração as particularidades dos contextos morfoclimáticos e
morfoestruturais: em que pese a necessidade de compreensão do suporte
morfoestrutural e morfoclimático dos processos antropogênicos que contribuem
para a geração de novas morfologias;
j. Ampliar o monitoramento de balanços, taxas e geografia dos processos
derivados e não derivados de ações antrópicas: principalmente no que diz respeito
a relação dessas ações antrópicas com episódios de processos superficiais, tais como
inundações, alagamentos, enxurradas, movimentos de massa e aceleração do
processo erosivo, em uma compreensão dos processos anteriores e posteriores às
interferências morfológicas sustentadas pela agência humana.
Em virtude da complexidade retratada e materializada pelas dinâmicas naturais e sociais
pelas quais as paisagens antropogênicas são caracterizadas na área de estudo, as contribuições
teóricas anteriores auxiliam no delineamento teórico-metodológico, uma vez que apontam e
direcionam as leituras, análises e construção das reflexões associadas aos resultados da pesquisa
mediante operacionalização das etapas.
67

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Sobre os aspectos metodológicos, faz-se necessária a adoção de etapas, ora subsequentes


ora concomitantes, com o intuito de se promover uma análise ambiental integrada com
abordagem da antropogeomorfologia (sustentado nos aspectos quali-quantitativos, a fim de
fundamentar as evidências investigadas), com base em trabalhos de gabinete, campo e
laboratório, conforme ilustrado na figura 15, e estruturada em três (Compilatório, Correlatório
e Semântico) dos quatro níveis da pesquisa geográfica conforme Libault (1971), excetuando-se
o Normativo.

Figura 15 – Fluxograma metodológico da pesquisa com base em Libault (1971)

Organização: o autor (2022)


68

Conforme Libault (1971) o nível Compilatório corresponde à aquisição de informações


prévias; já o nível Correlatório está associado, como o próprio nome indica, à correlação dos
dados obtidos com o escopo da característica da estudo; o nível Semântico já caracteriza-se pela
reorganização dos dados e estabelecimento de resultados próprios do estudo. Sobre o
Normativo, caracterizado pela distribuição dos resultados em torno de um modelo resultante
das variáveis e indicadores tratados, este pode ser alcançado posteriormente a partir de, por
exemplo, zoneamento e mapeamentos diversos.
A Etapa de Gabinete refere-se ao levantamento de dados bibliográficos, teórico-
documentais, cartográficos e iconográficos já existentes em fontes locais, nacionais e
internacionais, tanto em âmbito material (impresso) quanto no âmbito digital, contribuindo,
assim, com a construção de um banco de dados que favoreça as aproximações iniciais entre
Teoria, Método e Área de Pesquisa.
Para iniciar o estudo teórico foi realizado levantamento em anais de evento, artigos
científicos, dissertações, teses, livros (impressos e digitais), relatórios técnicos e notícias de
jornal (impressas e digitais) que refletissem tanto a temática do estudo quanto a área
investigada, como em Coates (1976); Penteado (1980); Nir (1983); Ross (1992); Cutter (1996);
Goudie e Viles (1997); Peloggia (1998; 2011); Rodrigues (1999; 2005); Veyret (2007); Szabó
(2010); Ford et al. (2010); Jorge (2011); Lima (2011; 2013); Edgeworth (2013); Gama e
Dinuccio (2013); Steffen et al. (2015); Nunes (2017); Cordeiro (2017); Barros e Valadão
(2018); Suertegaray (2018); Singh (2018); Mathias e Nunes (2019); Bierman e Montgomery
(2020); Nunes, Ferreira e Lima (2020) e Silva e Eduardo (2020).
Acesso a sites, redes sociais e eventos on-line14 contribuíram para uma aproximação
prévia de quais grupos/núcleos de pesquisa, universidades e profissionais se dedicam ao tema.
Já a Etapa de Campo ocorre desde a elaboração do projeto de Tese, somado as leituras
que contribuíram nos aspectos teóricos, metodológicos e analíticos. Essa etapa contribuiu para
o reconhecimento da área e sua caracterização ambiental in loco, registro fotográfico e
identificação das feições antropogênicas.

14
O início da pesquisa se deu durante a Pandemia da COVID-19, e, diante das ações para diminuição do contágio,
muitos profissionais da Geografia (e de outras áreas) realizaram atividades virtuais/remotas em distintas
plataformas, tais como YouTube, Instagram, Google Meet e Zoom. Além de favorecer uma continuação, mesmo
limitada, de estudos, essas atividades proporcionaram a disseminação, troca e discussão de conhecimento
científico. O Laboratório de Geomorfologia Ambiental e Solos (LAGESOLOS) da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), o Programa de Educação Tutorial (PET) de Geografia da Universidade Estadual do Ceará
(UECE) e o Grupo de Pesquisa em Gerenciamento de Riscos e Desastres Naturais (GENAT) da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB) são exemplos de grupos que contribuíram para tal.
69

3.1 Etapa de Gabinete

Esta etapa percorre toda a pesquisa, sendo de fundamental importância nos seus
momentos iniciais considerando o levantamento, aquisição e compilação de dados
bibliográficos e técnicos, iconográficos, cartográficos e de notícias de jornal pré-existentes,
marcando assim o nível Compilatório, considerando a proposta de Libault (1971).
Neste sentido, foi construído, desde a elaboração do projeto de pesquisa para seleção no
Programa de Pós-graduação em Geografia (ProPGeo) da Universidade Estadual do Ceará
(UECE), um banco de dados com informações diversas e de escalas temporais e espaciais
distintas sobre a área de estudo e principalmente a base teórica para sistematização e
compreensão da inter-relação entre geomorfologia urbana, antropogeomorfologia, paisagens
antropogênicas e suscetibilidade.
Isto posto, leituras fundamentais15 sobre o percurso evolutivo da Geomorfologia
(SELBY, 1985; TRICART, 1986; COLTRINARI, 2000; ABREU, 2003; VITTE, 2010;
BARROS; VALADÃO, 2018; SUERTEGARAY, 2018; SINGH, 2018; BIERMAN;
MONTGOMERY, 2020), considerações sobre o Antropoceno e Geotecnogênese no ambiente
urbano (AB’SABER, 1957; CHRISTOFOLETTI, 1967; NIR, 1983; CHEMEKOV, 1983;
TER-STEPANIAN, 1988; DOUGLAS, 1988; 2005; GOUDIE, 1990; GOUDIE; VILES, 1997;
RODRIGUES, 1999; 2005; ROHDE, 2005; PELOGGIA; OLIVEIRA, 2005; GUERRA;
MARÇAL, 2006; STEFFEN; CRUTZEN; MCNEILL, 2007; SANTOS FILHO, 2011; SZABÓ,
2010; SUGUIO, 2010; GUERRA, 2011; HUDSON; GOUDIE; ASRAT, 2015; OLIVEIRA;
PEIXOTO; MELLO, 2018), classificações e conceitualizações a respeito das feições
antropogênicas e conceitos associados (TER-STEPANIAN, 1988; FANNING; FANNING,
1989; PELOGGIA, 1998; 2017; 2018; RODRIGUES, 2005; ROHDE, 2005; FORD; et
al.,2010; EDGEWORTH, 2013; SANTOS; et al., 2017; LUBERTI, 2018; MATHIAS; NUNES,
2019; ZHICHKINA; et al., 2020), além da compreensão teórica sobre suscetibilidade, riscos e
processos superficiais (KASPERSON; et al., 2005; ACSERALD, 2006; VEYRET, 2007;
CIDADE, 2013; OLÍMPIO; ZANELLA, 2017; COCO, et al. 2021; MELO; SOUZA;
GUERRA; 2021) constituíram-se referências fundamentais para o delineamento teórico-
metodológico desta pesquisa.
Ainda nesta etapa foram visitados sítios eletrônicos da Secretaria Municipal de
Planejamento e Coordenação de Teresina (SEMPLAN), Empresa Teresinense de

15
Soma-se as discussões tidas em sala de aula durante a realização das disciplinas do curso e a participação em
eventos remotos, em decorrência da Pandemia da COVID-19.
70

Processamento de Dados (PRODATER), Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais


(CEPRO), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Serviço Geológico do Brasil
(CPRM), dos repositórios institucionais da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Universidade
Estadual do Piauí (UESPI) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí
(IFPI) e da produção de grupos/núcleos de pesquisas locais, tais como o grupo Geomorfologia,
Análise Ambiental e Educação (GAAE) da UFPI e o Núcleo de Estudos em Geografia Física
(NEGEO) da UESPI.
A etapa de gabinete contribuiu ainda para análises de notícias de jornal e portais
eletrônicos sobre as áreas de estudo e de imagens de satélite disponibilizadas pelo Google Earth
em que houve observações principalmente sobre o adensamento urbano e alterações das
características físico-naturais, sobretudo relevo e canais de drenagem, com utilização das
funções “Mostrar imagens históricas” e “Mostrar perfil de elevação”, considerando manchas
diferenciadas de vegetação/exótica, surgimento de novos depósitos, feições erosivas
decorrentes de águas pluviais, exposição de camada pedológica e movimentação de material.
Destas funções, suas aplicações foram mais proveitosas para a Vila Nova Esperança (bairro
Flor do Campo) e para as lagoas presentes nos bairros Matadouro e São Joaquim em decorrência
das recentes modificações morfológicas.
Para aquisição de fotografias antigas da cidade de Teresina objetivando o entendimento,
mesmo que simplificado, do contexto urbano à época do início da ocupação da área de estudo
e seguindo o que foi trabalhado em Boy e Uitermark (2015) e Davies, Lorn e Sealey-Huggins
(2019), foram utilizados perfis no Instagram a exemplo do “Museu Virtual da Imagem e do
Som do Piauí (MUVIS/PI)”, “Teresinando em Teresina”, “Passado Policrômico” e “Teresina,
Eu Amo Eu Cuido”, além do levantamento de fotografias aéreas do ano de 1983 pela Aerofoto
Cruzeiro S.A em escalas de 1:15000 e 1:60000 disponíveis pela Prefeitura Municipal de
Teresina.
Todos estes procedimentos foram importantes para se compreender a aplicação da
temática na área de estudo além de subsidiar os levantamentos de campo.

3.2 Levantamento de Campo (reconhecimento)

As atividades de campo (uma associação entre os níveis Compilatório e Correlatório)


auxiliaram na compreensão de uma série de aspectos relacionados à área de estudo, sendo de
fundamental importância para a realização da pesquisa. Esta etapa contribuiu para a construção
de um roteiro de diferentes acessos às áreas, uma vez que, de posse da divisão administrativa
71

de Teresina possibilitou a compreensão dos limites dos bairros, além de ruas e vielas que se
tornaram pouco visíveis pelo Google Earth Pro, servindo, assim, como aproximação necessária
e sistematizada com o objeto estudado.
A utilização de aparelho de GPS Garmin E-trex 20x, câmera fotográfica pessoal, Google
Earth Pro manipulado em aparelho de smartphone e automóvel pessoal foi de grande
necessidade para o alcance dos objetivos desta etapa. Para este reconhecimento (pré-campo e
campo de reconhecimento), foram utilizados produtos cartográficos obtidos junto aos sítios
eletrônicos da SEMPLAN e PRODATER, além de estudos científicos, sendo:
• Perímetro urbano de Teresina, conforme Plano Diretor de Ordenamento Territorial
(2020), na escala 1:45.000;
• Macrozoneamento urbano de Teresina, conforme Plano Diretor de Ordenamento
Territorial (2020), na escala 1:45.000;
• Zoneamento urbano de Teresina, conforme Plano Diretor de Ordenamento Territorial
(2020), na escala 1:45.000;
• Divisão administrativa da cidade de Teresina (2020), na escala 1:25.000;
• Posteamento de energia elétrica (2016), na escala 1:27.500;
• Rede de esgoto, estações elevatórias e estações de tratamento (2016), na escala
1:30.000;
• Rede de abastecimento de água (2016), na escala 1:30.000;
• Microbacias e drenagem de Teresina (2013), na escala 1:45.000;
• Mapa de relevo da zona urbana de Teresina (2016), na escala 1:27.000;
• Mapa de declividade da zona urbana de Teresina (2016), na escala 1:27.000;
• Mapa geológico da porção da Bacia Hidrográfica do rio Poti no município de Teresina
(NUNES; SILVA; AQUINO, 2017), na escala 1:50.000, e;
• Mapa geomorfológico da porção da Bacia Hidrográfica do rio Poti no município de
Teresina (NUNES; SILVA; AQUINO, 2017), na escala 1:50.000.

Acrescenta-se ainda a utilização do mapa virtual cadastrado no Google My Maps tendo


como título “Teresina Geo – Infraestrutura”, associado ao Google Earth Pro16 e disponibilizado
pelo sítio eletrônico da SEMPLAN. Essas atividades, ocorridas durante o mês de março de
2021, foram realizadas utilizando-se o Método Check-List sob forma de caderneta de campo,

16
https://www.google.com/maps/d/u/0/viewer?hl=pt-BR&hl=pt-BR&ll=-4.966225386489128%2C-
42.92937850363603&z=11&mid=1R3WKU9SEytPSQ3N0XtxE4KLhuyok43W7
72

compreendendo as seguintes informações: a) tipologia dos acessos; b) presença de esgoto e lixo


a céu aberto; c) presença de terrenos baldios; d) características do relevo local; e) presença de
canal(is) de drenagem e acesso a ele(s); f) situação do(s) canal(is) de drenagem; g) presença de
descaracterização de taludes e vertentes; h) existência de residências próximas a taludes; i)
presença de processos erosivos e sua tipologia; j) localização e caracterização prévia de feições
antropogênicas; k) presença de solo exposto; l) características de ocupação e adensamento
urbano, e m) presença de bueiros e galerias.
A adoção do Método Check-List, também chamado Método de Listagem, mesmo diante
de suas limitações e generalizações, contribuiu para um reconhecimento e aproximação com a
área. Conforme Rovere (1992, p. 32), esse método, um dos primeiros a serem criados com este
fim, possibilita “relações padronizadas de fatores ambientais a partir das quais identificam-se
os impactos provocados por um projeto específico”, a julgar pela sua praticidade, como
corroborado por Silva et al. (2012) e Sánchez (2013).
A partir das informações prévias coletadas em campo, estas foram analisadas para
auxiliar no planejamento da etapa relacionada à classificação e caracterização das feições
antropogênicas e a suscetibilidade a processos superficiais influenciados pela agência humana.
Isto posto, cabe mencionar a necessidade dessa análise para compreensão da complexidade
associada à geotecnogênese, não só nos aspectos morfológicos do terreno quanto nas
características dos materiais (solos e sedimentos) em virtude da magnitude da intervenção
antrópica nas paisagens. Frente a isso, ao se trabalhar com abordagem antropogênica, sobretudo
no estudo das paisagens, há a compreensão das modificações e transformações existentes,
associados, ainda, a tipologias, classificações, características e impactos geoecológicos
associados a dinâmica antrópica (LANG; BLASCHKE, 2009; RODRIGUEZ; SILVA;
CAVALCANTI, 2010; FERNÁNDEZ-LOZANO et al. 2020).
Dessa forma, estas feições antropogênicas, como já mencionado anteriormente, são
originados pela atividade antrópica e auxiliam sobremaneira na intervenção de características
topográficas e pedológicas, uma vez que há, entre eles, presença de artefatos humanos (como
resquícios de telha, asfalto, plástico, cerâmica, madeira, dentre outros) e modificações na
geometria de vertentes.
A partir de atividade de campo e utilização de imagens de satélite disponibilizadas pelo
Google Earth Pro e conforme indicado em Douglas (1988), Rodrigues (2005), Szabó (2010),
Miyazaki (2014), Vitorino et al. (2016), Peloggia et al. (2018) e Mathias, Lupinacci e Nunes
(2020), a identificação dessas feições, considerou os seguintes aspectos: a) área de intensa
modificação antrópica; b) manchas diferenciadas de vegetação/exótica; c) feições erosivas
73

decorrentes de águas pluviais com consequente movimentação de material; d) exposição de


camada pedológica; e) terrenos baldios e antigos lixões e “bota-foras”; f) compactação do solo;
g) ambiente de formação (terrestre, fluvial ou lagunar), e h) predominância da tipologia do
material (orgânico, inorgânico, terrígeno ou químico). Inicialmente foram identificados
principalmente as feições do tipo agradacionais (depósitos).
Nessas etapas de campo recorre-se à classificação dos depósitos antropogênicos
considerando as propostas de Chemekov (1983), Fanning e Fanning (1989) e Peloggia et al
(2014), conforme Quadro 3.

Quadro 3 – Síntese da descrição das classificações de depósitos antropogênicos com base na


constituição dos seus materiais
CLASSIFICAÇÃO CLASSES DESCRIÇÃO
Construídos Resultantes do transporte e deposição de materiais por
Built technogenic ação direta da ação antrópica, como aterros e corpos de
deposits rejeito.
Induzidos
Induced Resultantes de processos naturais modificados
Chemekov (1983) technogenic (acelerados) como assoreamento e aluviões modernos
deposits
Modificados
Resultantes de alterações ocasionadas por ações
Modified
antrópicas em depósitos naturais já existentes, como
technogenic
contaminação e poluição do solo.
deposits
Materiais terrosos com fragmentos de objetos
Materiais
manufaturados pela ação antrópica, como restos de
úrbicos
tijolos, vidro, escória, cinzas, concreto, asfalto, pregos,
Urbic materials
madeira serrada, plástico, ligas metálicas e brita.
Materiais Material detrítico com resíduos orgânicos (em
gárbicos quantidade suficiente para gerar metano em condições
Garbic materials anaeróbicas) e artefatos.
Material terroso proveniente da escavação do manto de
Materiais intemperismo, principalmente em decorrência de
Fanning e Fanning espólicos equipamentos de movimentação de terra na superfície,
(1989) Spolic materials como par construção de rodovias e loteamentos.
Contém poucos artefatos de objetos manufaturados.
Materiais Materiais do solo (geralmente minerais) que foram
dragados dragados pela ação humana dos cursos de água.
Dredged
materials
Superfícies Superfícies de terra onde os solos ou materiais
descapadas geológicos existentes foram retirados pela ação
Scalped Land antrópica, esta, assim, enquanto agente
Surface geomorfológico.
Terrenos naturais ou previamente escavados e
Depósito de
superfícies sobrepostas por depósitos tecnogênicos. Se
agradação
divide em “Depósitos construídos de 1º geração” (Built
Peloggia et al. (2014) Aggraded
up deposits of 1st generation) a exemplo de aterros e
technogenic
lixões; “Depósitos induzidos de 1º geração” (Induced
ground
deposits of 1st generation) a exemplo de depósito de
74

sedimentos em sistemas de drenagem; “Depósito de 2º


geração” (2nd generation deposits) como depósitos
oriundos por deslocamento ou erosão de depósitos
tecnogênicos pré-existentes.
Solo natural ou tecnogênico perturbado e alterado
Depósito de topograficamente por remoção ou deslocamento de
degradação material. Se divide em “Cicatrizes induzidas por
Degraded erosão” (Induced erosion scars) como solo/terreno
technogenic erodido, solo/terreno escorregado e solo/terreno
ground afundado e em “Cicatrizes de escavação” (Excavation
scars)
Depósito São os terrenos naturais com camadas modificadas in
modificado situ. Podem ser “Solo quimicamente alterado”
Modified (Chemically Altered Soil) ou “Solo mecanicamente
technogenic alterado” (Mechanically Modified Soil).
ground
Solo formado por superposição de dois ou mais
camadas tecnogênicas. Nesta classe a análise pode se
Depósito misto dá pela composição, como os “Depósitos em camadas”
Mixed (Layered Deposits) a exemplo de aterros sobre
technogenic depósitos induzidos; e pela complexidade, como os
ground “Depósitos ou solos complexos” (Complex Deposits or
Soils) a exemplo de aterros sanitários alterados por
efluentes.
Fonte: Chemekov (1983), Fanning e Fanning (1989) e Peloggia et al. (2014). Organizado pelo autor
(2022).

Ainda para a localização e caracterização das paisagens antropogênicas estudadas, fez-


se uso dos níveis taxonômicos (ROSS, 1992) notadamente no que se refere ao 4º táxon (formas
de relevo individualizadas), ao 5º táxon (seções de forma de relevo, como tipo de vertentes) e
ao 6º táxon (microformas, a exemplo de ravinas e voçorocas), este último mais próximo da
agência humana.

3.3 Identificação e determinação da suscetibilidade a processos superficiais

Para a determinação da suscetibilidade aos processos superficiais associados às


modificações antropogeomorfológicas recorreu-se aos processos atuais, tais como eventos de
inundação, alagamento, movimentos de massa e processos erosivos, além daqueles processos
secundários, a exemplo de subsidência, fendilhamento, alagamento e enxurrada. Frente a isso,
recorre-se às orientações expostas em Tricart (1965), Douglas (1988; 2005), Godoy, Silva e
Souza Filho (2002), Rodrigues (2005) e Javidan et al (2021) para se proceder com a análise dos
aspectos físico-naturais (morfometria, declividade, caracterização das vertentes, tipo de solo,
drenagem superficial, drenabilidade do terreno e ocupação urbana).
75

Em campo, as áreas foram visitadas no período chuvoso, principalmente após episódios


de fortes chuvas, com vistas à identificação in loco de parâmetros básicos, a exemplo de
rachaduras em paredes, muros e nas vias públicas; marcas de inundação nas paredes (linhas de
lama ou de água); detritos e destroços (sedimentos, restos de construção civil e restos de plantas)
nas vias públicas; visualização da tortuosidade/sinuosidade de árvores e arbustos característicos
da grande energia exercida pela água (enxurrada); pontos de afundamento das ruas; visualização
dos comportamentos dos canais fluviais, lagoas e encostas logo após os episódios, além do
registro fotográfico das feições antropogênicas já identificadas anteriormente, dentre outros
fatores.
No que se refere à drenabilidade e à estratigrafia local, foram obtidos junto ao portal do
Sistema de Informações de Águas Subterrâneas (SIAGAS) informações a respeito dos poços
das referidas áreas, principalmente com informações sobre profundidade e características
geológicas. Na área dos bairros Matadouro e São Joaquim, e entorno, foram identificados 52
poços, destes, 3 se localizam no município de Timon (MA) e apenas 5 dentro dos limites destes
bairros. Os demais poços se localizam em grande parte em áreas institucionais (Águas e Esgotos
do Piauí S.A./AGESPISA e Aeroporto) e condomínios residenciais. Já no bairro Satélite e
entorno foram identificados 15 poços, destes, 8 estão no bairro; enquanto no bairro Flor do
Campo e entorno foram identificados 37 poços (em grande parte associado a sítios), 14
localizados no bairro. Não foram encontrados registros de poços no bairro Parque Juliana, no
entanto foi encontrado 1 poço em bairro próximo, com aproximadamente 300m do limite oeste
do bairro.
O mapeamento da morfologia pré-pertubação foi fundamental para estabelecer as
conclusões, principalmente em virtude de modificações de encostas, canais fluviais e formação
de depósitos antropogênicos, possibilitando a compreensão dos elementos morfológicos
(forma), morfométricos (dimensão real de cada forma), morfogenéticos (origem da forma),
morfocronológicos (idade da forma) e morfodinâmicos (processos atuais). Considerou-se,
ainda, a existência de intervenções a exemplo de infraestruturas de arruamento e de drenagem
do loteamento (obras viárias urbanas e de drenagem) e modificações do relevo a plantas urbanas
e industriais (cortes e aterros), sobretudo a partir de leitura de relatórios técnicos, auxiliando,
portanto, a identificação de processos de dinâmica externa e a compreensão dos seus
desencadeamentos.
Foram obtidos junto à Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão dados referentes
ao posteamento (e sua posição topográfica), além de arquivos de curvas de nível, lotes e
arruamentos, o que auxiliará na cartografia geomorfológica das paisagens estudadas. Inclusive
76

para a definição do Fator LS, referindo-se ao comprimento e inclinação da rampa (BERTONI;


LOMBARDI NETO, 2008), de modo que “L” representa o comprimento da encosta, em metro
e “S” representa a declividade, em graus. Soma-se a utilização de informações relativas à
taxonomia do relevo apresentada por Ross (1992).
Acrescenta-se a utilização da Carta de Suscetibilidade a Movimentos Gravitacionais de
Massa e Inundações de Teresina (CPRM, 2014), Cartas de Aptidão à Urbanização frente a
desastres naturais (CPRM, 2020) e de interpretações de imagens de satélite (LandSat 5 e 7)
como instrumentos metodológicos para ratificar a existência e tipologia das suscetibilidades,
bem como de relatórios técnicos da Defesa Civil Municipal.
Como parte do recorte metodológico, recorreu-se à identificação através de notícias de
jornal (KAUFMANN et al, 2016; FEITOSA; SILVA NETO; NUNES, 2021) dos eventos já
ocorridos nas áreas de estudo, correlacionando-os com os índices de precipitação daquelas
datas, de modo a compreender como se dá o suporte e dinâmica das áreas com a precipitação
pluviométrica, possibilitando, assim, um painel de informações a respeito da quantidade
“mínima” de precipitação diária que auxilie na suscetibilidade.
Para o zoneamento e cadastramento adaptou-se a terminologia apresentada por Braga,
Peloggia e Oliveira (2016) em estudo sobre riscos. Para zoneamento (setorização):
• Alto: Áreas com grande probabilidade de ocorrência de fenômenos destrutivos,
generalizados ou localizados, porém frequentes, ou envolvendo volumes de materiais
que sejam potencialmente causadores de danos ou vítimas.
• Médio: Áreas com possibilidade de ocorrência de fenômenos destrutivos localizados
ou envolvendo pequenos volumes de material mobilizado, sendo reduzida a
probabilidade de danos ou vítimas.
• Baixo: Áreas com condições de estabilidade satisfatórias, com baixa probabilidade de
desenvolvimento de fenômenos destrutivos, a não ser em condições extremas e caso não
sejam realizadas modificações na configuração do terreno.

E, para o cadastramento (BRAGA; PELOGGIA; OLIVEIRA, 2016):


• Iminente: Há evidências de processo destrutivo em andamento. Esta definição não
guarda relação à gravidade das consequências do desenvolvimento do processo, o qual
poderá evoluir em futuro próximo com ou sem a ocorrência de condições atmosféricas
adversas.
77

• 1: Situação de potencial instabilidade gerando elevada possibilidade de destruição da


moradia e ocorrência de vítimas. Recomenda-se a adoção de medidas emergenciais,
mesmo que provisórias, visando melhorar a condição de estabilidade local, e
acompanhamento da evolução das condições existentes.
• 2: Situação de potencial instabilidade de menor gravidade, sendo reduzida a
possibilidade de destruição da moradia e ocorrência de vítimas. Recomenda-se
vigilância quanto à evolução das condições existentes e adoção de medidas preventivas.

3.4 Geoprocessamento e produção cartográfica

Para elaboração dos produtos cartográficos, serão utilizados programas tais como QGIS
3.16 (versão Zürich), ArcGIS 10.3 e Google Earth Pro.

3.4.1 Mapas temáticos (caracterização físico-natural e ocupação urbana)

Os mapas temáticos produzidos se dividem em dois grupos, os de caracterização físico-


natural e os de ocupação urbana. Os mapas de caracterização físico-natural, a exemplo do
geológico, geomorfológico e de drenagem, foram elaborados com utilização de arquivos
vetoriais (shapefiles ou .shp) já existentes, como: Microbacias e drenagem de Teresina
(1:45.000), Relevo da zona urbana (1:27.000), Declividade da zona urbana (1:27.000), LIMA
(2011) na escala 1:100.000, Teresina Norte (CPRM) na escala 1:50.000 e Teresina Sul (CPRM)
na escala 1:50.000. A exemplo do de drenagem, ajustes foram feitos utilizando o Google Earth
Pro uma vez que alguns canais não estão dimensionados corretamente, desta forma, os arquivos
vetoriais foram inseridos no Google Earth Pro, sucedido de ajustes e transformação destes
arquivos no formato Keyhole Markup Language (.kml).
O mapa de bens minerais, foi obtido por meio de duas folhas (Teresina Norte e Teresina
Sul) em arquivo Portable Document Format (PDF). Inicialmente foi realizado o
georreferenciamento de todo o documento, seguido de sua reprojeção e posterior etapa de
vetorização. Nele ainda foram incluídos elementos a respeito da hidrogeologia local e presença
de estruturas geológicas (falhas/fraturas). O mapa de relevo foi elaborado com base em arquivos
vetoriais já existentes conforme classificação de Lima (2011), enquanto o mapa de unidades
geotécnicas através de mapeamento da Carta geotécnica de aptidão à urbanização frente a
desastres naturais, elaborada pela CPRM.
78

Quanto ao mapa de compartimentação físico-natural, este foi elaborado levando em


consideração os mapeamentos anteriores sob a concepção geossistêmica, considerando os
aspectos geológicos, geomorfológicos, geotécnicos, pedológico e drenagem no arranjo espacial
de Teresina, uma vez que, conforme Ross (2019, p. 12), “não se pode entender a gênese e a
dinâmica das formas de relevo sem que se entenda os mecanismos motores de sua geração”.
Após serem feitos os recortes dos aspectos dos solos, relevo, minerais e geotécnica do
limite urbano de Teresina, foi feito a reprojeção dos arquivos vetores para o sistema Geodésico
de Referência SIRGAS 2000 UTM zona 23 SUL. Com os shapefiles no sistema plano o passo
seguinte consistiu na criação de uma coluna na tabela de atributos de cada arquivo, e, em
seguida, a organização das colunas que continham erros quanto a descrição de unidades ou
simbologia.
Com a coluna criada, o procedimento seguinte compreendeu a atribuição de valores de
acordo com as classes ou unidades presentes em cada arquivo. Ressalta-se que no caso de
classes presente em dois ou mais aspectos, era atribuído o mesmo valor, exemplo: classe de
corpos de água presente no shapefile de solos e bens minerais, atribui-se o valor 1. Em seguida
foi feito a reclassificação de cada aspecto, a partir da transformação do arquivo shapefile em
raster, com o uso das ferramentas Conversion Tools > To Raster > Polygon to raster. Após
esse procedimento foi feito o cruzamento das informações, utilizando a calculadora raster,
conforme as ferramentas Spatial Analyst Tools > Map Algebra > Raster Calculator. Com o
cruzamento, o resultado consistiu na definição das unidades que apresentam semelhança em
seus aspectos físico-naturais elencados para a pesquisa.
Com o arquivo raster criado após o cruzamento, o passo seguinte correspondeu na
transformação para shapefile, utilizando como ferramentas Conversion Tools > To raster >
Raster to polygon. Cabe destacar que esses procedimentos foram realizados no software ArcGis
versão 10.2.
Os produtos cartográficos de hipsometria e declividade foram elaborados tendo como
fonte o Modelo Digital de Elevação (MDE), Aster GDEM v2, com resolução espacial de 30
metros (adquirido na base de dados Earth Explorer da USGS). Quanto aos procedimentos de
mapeamento, foi feito inicialmente o mosaico das imagens baixadas, através das ferramentas
Raster > Miscelânea > Mosaico. Após esse procedimento foi realizado a fixação do arquivo
para o sistema de referência e reprojetado para o sistema plano UTM, englobando a zona 23
Sul, Datum SIRGAS 2000, a partir da ferramenta Raster > Projeções > Reprojetar.
Em seguida foi realizado o recorte da imagem raster utilizando o shapefile
correspondente ao município de Teresina, com base na ferramenta Raster > Extrair > Recorte.
79

Em seguida foi aplicado uma renderização falsa cor no arquivo, utilizando do indicador mínima
e máxima, para assim gerar o mapa hipsométrico, a partir da definição das classes de altitude.
Já na confecção do mapa de declividade, as ferramentas do Qgis utilizadas foram Raster
> Análise > MDE. Após ser gerado o arquivo foram delimitadas 4 classes que variam de plano
a ondulado, utilizando como referência as classes da EMBRAPA (1979), adaptadas à área de
estudo. Com relação ao mapa de orientação das vertentes, este foi confeccionado a partir da
plugin Terrain Analysis ferramenta Aspect do software Qgis, sendo utilizado a mesma imagem
Aster GDEM.
A identificação e delimitação dos sistemas ambientais permite uma visão sinóptica
baseada no agrupamento de áreas com condições específicas similares na escala de 1:1.100.000
em papel A417 (espaço urbano de Teresina) assim como os mapas anteriores, com identificação
de localização das paisagens antropogênicas estudadas.
Em todos os mapas físico-naturais foram adicionados arquivo raster (utilizado na
elaboração da Carta de Movimentos Gravitacionais e Inundações de Teresina) referente ao
sombreamento (a partir do Modelo Digital de Terreno, com 2,5 m de resolução espacial, gerado
pela BRADAR) do relevo de Teresina, e, sobre ele, as camadas vetoriais com opacidade de no
máximo 60%.
Já o mapa de ocupação urbana foi obtido a partir de cruzamento de informações
publicadas em diferentes produções científicas. Os polígonos de ocupação urbana e suas
devidas informações temporais foram elaborados no Google Earth Pro, com arquivos salvos
em formato kml. e, em seguida, para o formato shp. Ainda neste mapa, foram inseridos a faixa
de Linha Média de Enchentes Ordinárias (LMEO) disponibilizada pelo Superintendência do
Patrimônio da União no Piauí (SPU/PI) e as áreas de riscos já identificadas em Teresina em
levantamentos tanto da Prefeitura quanto da CPRM. Sobre as áreas de riscos, suas localizações
foram obtidas junto a relatórios e aplicativo Teresina Geo – Infraestrutura, com posterior
identificação no Google Earth Pro e manipulações necessárias. O mapa de zoneamento urbano
foi elaborado a partir de arquivos vetoriais disponibilizados no site da SEMPLAN.

3.4.2 Cartografia geomorfológica das paisagens antropogênicas

O mapeamento da morfologia original (anterior à fase de urbanização) sustenta-se no


entendimento de que é aquela em que não houve intervenção direta nas formas do relevo e na

17
210 mm de largura por 297mm de altura.
80

supressão vegetal. Para este mapeamento foram utilizadas cartas topográficas e fotografias
aéreas mais antigas possíveis e que ofereceram informações da caracterização morfológica à
época, neste caso, foram manipuladas cartas topográficas anteriores à década de 1970,
fotografias aéreas de 1983, imagens do Google Earth Pro e atividades de campo (figura 16).
Informações como geometria e declividade de vertentes, intervenções da rede de drenagem e
dinâmica da atividade de mineração foram obtidas junto a este levantamento, tendo como base
ainda os mapeamentos já existentes de expansão urbana de Teresina.

Figura 16 – Organização metodológica e instrumental iniciais dos mapas geomorfológicos. Em A,


montagem dos pares de fotos; em B, croqui, interpretação visual e estágio inicial da organização da
simbologia; em C, sobreposição das feições originais (pré-intervenção) em impressão de imagem de
satélite com a morfologia atual; em D; vetorização no Google Earth Pro e organização do esboço para,
posteriormente, organização final no QGis

Fonte: organização do autor (2022)

Em relação às fotografias aéreas (2.295m de altura do voo e 153mm de distância focal),


foram utilizadas um total de 18 (3 para os bairros Matadouro e São Joaquim, 4 para o bairro
Flor do Campo, 7 para o bairro Parque Juliana e 4 para o bairro Satélite) na escala 1:15.000
executado pela Aerofoto Cruzeiro S.A. como parte da cobertura aerofotogramétrica da cidade
de Teresina e entorno.
81

Para o mapeamento de morfologia antropogênica foram adotados indicadores e


simbologia que representem mudanças, somadas ao mapeamento de uso, ocupação e cobertura
da terra, a exemplo de “Morfologia original ou semipreservada”, “Morfologia relativa ao
estágio atual de ocupação”, “Depósitos antropogênicos” e “Mineração”, considerando
Comprimento, Padrão, Forma, Altitude e Área, além de feições, a exemplo de divisor de águas
e vertentes (côncava, convexa ou retilínea), associados, ainda, à classificação de Ford et al.
(2010) do British Geological Survey acerca de artificial ground, sendo: made ground, worked
ground, infilled ground, disturbed ground e a hierarquia destes, sendo class, type e unit.
Além do cruzamento do mapeamento nas paisagens antropogênicas com a classificação
do relevo (LIMA, 2011) e a drenagem urbana (mediante o Plano Diretor de Drenagem
Urbana/PDDrU, 2012).
A partir de leituras em fontes nacionais e internacionais – Tricart (1965), Vertstappen e
Zuidam (1975), Ross (1992), Rodrigues (2005), Gustavsson, Kolstrup, Seijmonsbergen (2006)
e Paschoal, Cunha e Conceição (2012), Berges (2013), IBGE (2013), CPRM (2014), Santos e
Rodrigues (2018) e Marques Neto (2020) – foi elaborada uma estrutura de legenda para a
cartografia geomorfológica associando letras, cores e símbolos de modo a identificar tanto as
feições naturais quanto as antropogênicas, associando elementos morfocronológicos,
morfoestruturais, morfométricos, morfodinâmicos, morfológicos e morfogenéticos de cada
paisagem antropogênica estudada.
Com as informações coletadas em materiais diversos, as feições se dividem em quatro
grandes aspectos (quadro 4):
a) Morfoestruturais e geológicos/hidrogeológicos: falhas/fraturas e formações
geológicas-hidrogeológicas;
b) Morfológicos e drenagem, tanto naturais quanto antropogênicos: topo convexo, topo
plano, vertente “terço superior” e suas características geométricas, ruptura natural
de declividade, base da vertente “terços inferiores e médios”, dambo, colo, terreno
plano, planície natural, terraço fluvial, terrenos alagados (brejo), paleocanal, lagoas
naturais, canal de drenagem (perene e intermitente), fundo de vale (em V e
dissimétrico), lagoas/açudes antropogênicas, drenagem natural em que o canal foi
tamponado e/ou retificado, canal antropogênico (origem), poços tubulares,
mineração ativa, mineração desativada, vertentes com geometria antropogênica,
depósitos antropogênicos, conduto, rochas (material de origem) expostas após
mineração e urbanização (arruamentos), rochas expostas na vertente,
cicatrizes/feições erosivas (sulcos), terreno escavado/mineração;
82

c) Coberturas superficiais (conforme classificação de CPRM, 1996): associação


argilas, areias, siltes e cascalhos, associação silexitos, siltitos e arenitos silicificados,
barro, solos, material elúvio-coluvionar;
d) Outros: ponto cotado, curvas de nível, caimento topográfico e quadras urbanas.

Quadro 4 – Estrutura da legenda associada à cartografia geomorfológica


ASPECTOS FEIÇÕES SIMBOLOGIA FONTE
Falhas/fraturas
Morfoestrutura
e hidrogeológia

Formação Pedra de Fogo


(produtividade hidrogeológica muito baixa, P12pf
porém localmente baixa) CPRM (2014)
Formação Piauí
(produtividade hidrogeológica moderada) C2pi

Topo convexo
Topo tabular Elaboração própria
Vertente
Côncava
Convexa Vertstappen; Zuidam
Retilínea (1975)
Ruptura de declividade (natural)
Dambo Santos; Rodrigues
(2018)
Colo Tricart (1965)
Base da vertente Elaboração própria
Terreno plano Elaboração própria
(naturais e antropogênicos)

Planície de inundação
Morfológicos e drenagem

Berges (2013)
Terraço
Brejo/terrenos alagadiços CPRM (2014)
Paleocanal IBGE (2013)
Lagoas naturais
Lagoas/açudes antropogênicas
Gustavsson;
Drenagem (canal) perene Kolstrup;
Drenagem (canal) intermitente Seijmonsbergen
(2006)
Drenagem natural em que o canal foi
tamponado e/ou retificado
Fundo de vale em V Vertstappen; Zuidam
Fundo de vale em dissimétrico (1975)
Canal antropogênico (origem) Elaboração própria
Poços tubulares Elaboração própria
Mineração ativa Convenção
Mineração desativada cartográfica
Vertentes com geometria antropogênica Elaboração própria
Depósitos antropogênicos Elaboração própria
Conduto Paschoal, Cunha e
Conceição (2012)
83

Rochas (material de origem) expostas


após mineração e urbanização Elaboração própria
(arruamentos)
Rochas expostas na vertente Elaboração própria
Cicatrizes/feições erosivas (sulcos) Vertstappen; Zuidam
(1975)
Terreno escavado/mineração Elaboração própria
Associação argilas, areias, siltes e
cascalhos (riscos diagonais na cor marrom)
Coberturas superficiais

Massará/seixo (linhas verticais na cor rosa)

Associação silexitos, siltitos e arenitos


silicificados (linhas horizontais na cor verde) Elaboração própria
Barro* (linhas diagonais na cor laranja)

Solos* (pontilhados diagonais na cor amarela)


Material elúvio-coluvionar (linhas verticais
na cor lilás)
Ponto cotado x120m
Curvas de nível
Outros

Convenção
cartográfica
Caimento topográfico
Quadras urbanas
Organização: o autor (2022).

3.4.3 Mapeamento de uso, ocupação e cobertura da terra

Os procedimentos do mapeamento temporal do uso e cobertura da terra dos bairros de


Teresina dessa pesquisa envolveram várias etapas. Para tanto, foi utilizado Sistema de
Informação Geográfica, imagens de satélites gratuitas, fotografias aéreas e cartas topográficas
da Diretoria do Serviço Geográfico (DSG) do Exército Brasileiro. O primeiro passo consistiu
na aquisição das imagens no programa Google Earth Pro, sendo a escolha definida com base
na qualidade das mesmas, principalmente relacionada à ausência de cobertura de nuvens.
Ressalta-se que grande parte das imagens disponíveis no programa possuem uma alta resolução.
Para o referido mapeamento foram escolhidas as imagens com as seguintes datas: os
mapas de uso do ano de 2005 possuem imagens datadas de 4 de janeiro de 2005; as imagens
dos mapas de uso do ano de 2021 são datadas de 9 de setembro de 2021. O mapa de uso para o
ano de 1983 teve como fontes: imagem do satélite Landsat disponíveis no Google Earth Pro e
as imagens de fotografias aéreas do ano de 1983.
Para o mapeamento do uso de 1972 foram utilizadas as cartas topográficas DSG do
Exército, sendo a Folha SB.23-X-D-II-1 em escala 1:50.000 usada para os bairros Matadouro,
84

São Joaquim e Satélite e a Folha SB.23-X-D-II em escala 1:100.000 para os bairros Parque
Juliana e Flor do Tempo, pois a carta com a escala de maior detalhe não abrangia esses bairros.
Posterior à escolha das imagens do Google Earth pro foi realizado o
georreferenciamento de cada imagem para todos os bairros de forma individualizada (a escolha
em trabalhar imagens de satélite com os bairros de maneira individualizada, se deu porque a
imagem apresentou maior qualidade, o que facilitou no momento da classificação).
Para tanto, com o uso do software QGis (versão livre 2.18.1) o georreferenciamento foi
desenvolvido com base nas ferramentas Raster > georreferenciador. Em seguida foi feito a
reprojeção das imagens para SIRGAS 2000 UTM zona 23 Sul. O procedimento de
georreferenciamento também foi aplicado nas cartas topográficas. Além das imagens citadas,
também foi utilizado na elaboração do mapa de uso e cobertura, os arquivos vetoriais da área
urbana de Teresina que se encontram na SEMPLAN.
No processo de elaboração do mapa de uso e cobertura, foi utilizado como referência na
metodologia de definição das classes o Manual Técnico de Uso da Terra do IBGE (2013), no
entanto deve-se apontar que foram adaptadas as nomenclaturas adotadas para as classes de uso,
considerando as análises realizadas preliminarmente em campo e depois confirmando as
dúvidas necessárias na área.
A delimitação das classes de uso no Qgis foi realizada a partir de uma classificação
supervisionada utilizando o plugin Dsetzaka. Foram criadas camadas vetoriais (shapefiles de
polígono), e assim pontuados os polígonos em cada imagem georreferenciada, para cada ano
dos bairros. Salienta-se que a criação dos polígonos teve como base a interpretação visual dos
elementos da imagem.
Após a classificação realizada no plugin mencionado, foram feitos os recortes dos
bairros em cada imagem já classificada tendo como base as ferramentas
Raster>Extrair>Recorte. Deve-se ressaltar que os arquivos vetores dos bairros foram
transformados para sistema de referência UTM Zona 23 SUL Datum SIRGAS 2000.
Quanto a definição da cobertura e uso para o ano de 1972, foi feito uma vetorização de
polígonos nas áreas correspondentes à cada bairro, utilizando como referência na definição do
tipo de nomenclatura, a legenda que se encontra disponível na própria carta topográfica.
No processo de cálculo das áreas de cada classe de cobertura nos arquivos criados,
ressalta-se que foi utilizado o ArcMap 10.8. Para tanto foi realizado inicialmente uma
reclassificação dos arquivos raster dos anos de 1983, 2005 e 2021 com base nas ferramentas
Spatial Analyst Tools > Reclass > Reclassify e posteriormente foi transformado os arquivos
85

para vetor (polígono) a partir das ferramentas Conversion Tools > From raster > Raster to
polygon.
Na etapa de classificação foi adotada a classificação supervisionada pelo método
automatizado da máxima verossimilhança e interpretação visual, obtendo as seguintes classes:
Vegetação (densa e rasteira); Área urbanizada/edificada; Água; Superfície deformada (em
virtude da mineração); Solo exposto; Área desmatada; Areia e Aterro.
Acrescenta-se que a escolha pelo recorte temporal refere-se a três motivos: a)
disponibilidade de dados passíveis de serem manipulados; b) capacidade de análise do período
pré-urbanização e estágio atual; c) inserir, no recorte, os anos de 1988 e 2005, como anos em
que marcam grandes mudanças urbanas em Teresina, seja pelo período do início de grande
aumento da franja urbana local, de adensamento populacional em novas áreas e de modelagem
de relevos antropogênicos.
Os mapas (de 1971, 1983, 2005 e 2021) foram finalizados sob Datum SIRGAS 2000,
impressos considerando o tamanho do papel A5 (148 x 210 mm) e com escala final de 1:21.000
(para os bairros Flor do Campo e Parque Juliana) e 1:23.000 (para os bairros Satélite e
Matadouro/São Joaquim). Soma-se ainda a utilização de planos diretores municipais a exemplo
do Plano Diretor de Drenagem Urbana – PDDrU (TERESINA, 2012) e Plano Diretor de
Ordenamento Territorial – PDOT (TERESINA, 2019), de modo a situar as áreas de estudo no
contexto da gestão urbana municipal.

3.4.4 Ilustrações diversas

Como forma ainda de auxiliar na representação gráfica, ilustrações diversas foram


confeccionadas, a exemplo dos transectos (perfis transversais) envolvendo os aspectos
geomorfológicos e os litológicos, elaborados a partir do Google Earth Pro e da simbologia
litológica existente no portal SIAGAS.
Na elaboração das representações dos setores de riscos estudados, foram utilizados os
dados de curva de nível (1m) sobrepostos às imagens de satélite disponibilizadas pelo Google
Earth Pro. Ainda para agregar detalhes, principalmente informações de cunho superficial
(morfometria e declividade, por exemplo), foram construídos modelos 3D de elevação.
Para a elaboração da classificação do Modelo Digital de Elevação (MDE), iniciou-se
com a delimitação da área a ser estudada, sendo necessário o processamento de imagem em
SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), visando a extração e delimitação de curvas de
nível adequadas à escala de trabalho, criando, assim, arquivo TIN dentro software de
86

processamento de dados. Para a criação da visualização de terreno em 3D, utilizou-se o MDE


classificado, a partir da extensão ArcScene do software ArcGis, onde o MDE passou por
processamento para a definição de suas camadas em 3D.
Junto às discussões dos processos superficiais em cada setor de risco estudado, foram
obtidos vídeos postados na rede social Instagram das pessoas que moram ou que passaram pelos
setores durante eventos de inundação e enxurrada, por exemplo. Salvos estes vídeos, os mesmos
foram postados (com link restrito) no Canal do YouTube do autor desta Tese, identificando a
origem oficial destes. Com utilização dos serviços gratuitos do site “QR Code Fácil”
(https://www.qrcodefacil.com/), os links foram transformados em códigos QR e adicionados
dentro da discussão. O acesso aos vídeos poderá ser feito com a leitura do código pelo
smartphone do leitor(a) deste texto. O Apêndice A contém tanto o código QR quanto o link
padrão.
87

4 QUADRO NATURAL E SOCIOECONÔMICO DO AMBIENTE URBANO DE


TERESINA

Esta seção objetiva, através de dados já produzidos e validados por meio de atividades
de campo, além de produções cartográficas existentes, a apresentação e discussão do quadro
natural e socioeconômico de Teresina, respeitando a escala espacial, nas quatro áreas de
interesse da pesquisa. Importante salientar que o aspecto físico-natural é encarado sob a ótica
de sua dinâmica e transformação constante, servindo como limitador e facilitador de atividades
socioeconômicas e urbanização, além de sua ligação com riscos e vulnerabilidades.

4.1 Aspectos geológico-geomorfológicos e geotécnicos

No tocante ao aspecto geológico, o ambiente urbano de Teresina está assentado na Bacia


Sedimentar do Parnaíba, a qual insere-se na Província Sedimentar do Parnaíba (anteriormente
Província Sedimentar do Meio-Norte). A Bacia do Parnaíba, com origem influenciada por
pulsos magmáticos durante o final do ciclo Brasiliano, é caracterizada por ter sido depositada
sobre os riftes de Jaibaras, Jaguarapari, Cococi/Rio Jucá, São Julião e São Raimundo Nonato,
além da sua caracterização pelo tipo fraturas interiores (IF) com depressão interior (IS),
intracratônica, do Siluriano-Triássico, sendo reflexo da abertura do Oceano Atlântico, inclusive
com contato geológico com a porção Noroeste (bacia Taoudeni) da África (GÓES, 1995; VAZ,
et al., 2007; CRUZ; CÓRDOBA; SOUSA, 2019).
Ademais, seu formato elíptico, com diâmetro acentuado no sentido Nordeste-Sudoeste
sob geometria hexagonal, é oriundo de sua abordagem estrutural, de tectônica linear
exemplificada e marcada pelos lineamentos, flexuras e falhamentos, contribuindo para seus
eixos deposicionais e estratos (SCHOBBENHAUS FILHO; CAMPOS, 1984; GÓES; FEIJÓ,
1994). Tal sedimentação, em seus quase 600 mil km², ocorreu em três megaciclos (neo-
ordoviciana a eocarbonífera; neocarbonífera a jurássica; e cretácica, com coberturas do
Terciário e do Quaternário) separados por discordâncias estratigráficas e caracterizando sua
coluna de sedimentos (com espessura de aproximadamente 3.400m em seu depocentro, pequena
em virtude da lenta subsidência) (CAROZZI, et al., 1975; GÓES, 1995), confirme figura 17.
88

Figura 17 – Esboço das províncias geológicas e unidades estruturais, em destaque o estado do Piauí, a
localização de Teresina (A) e arquitetura deposicional da bacia sedimentar do Parnaíba (B)

Fonte: adaptado de ANP (2015) e Lima (2020).

Seu processo deposicional é marcado por três supersequências – Grupo Serra Grande
(Siluriano), Grupo Canindé (Devoniano) e Grupo Balsas (Carbonífero-Triássico) – este último
compreendendo a estrutura geológica da cidade de Teresina, particularmente nas Formações
Piauí e Pedra de Fogo, sob influência estrutural dos lineamentos Transbrasiliano e Picos-Santa
Inês, ao passo que Teresina está em área próxima do contato entre tais estruturas (GÓES, 1995).
A Formação Piauí (C2pi) é composta por folhelhos e argilitos na sua porção superior,
enquanto na inferior há o predomínio de arenitos finos a médios homogêneos e pouco argilosos
sob deposição em ambientes continental fluvial e litorâneo, com intercalações marinhas
(LIMA; BRANDÃO, 2010). Espacialmente, essa unidade está localizada ao longo do leito do
rio Parnaíba e em trecho relativamente alongado em parte do leito do rio Poti. Apenas uma
porção dos bairros Matadouro e São Joaquim (área de interesse) está assentada na referida
formação.
89

Já a formação Pedra de Fogo (P12pf) no contexto da sua espacialização na área urbana,


inclusive sendo encontrada na totalidade em três áreas de interesse para a pesquisa (Aterro,
Pedro Balzi e Satélite) e porção dos bairros Matadouro e São Joaquim, é composta basicamente
por arenitos, folhelhos, calcários e silexitos, sob ambiente deposicional marinho raso e
litorâneo, com características porosas e superfriáveis, possibilitando riscos (LIMA;
BRANDÃO, 2010) inclusive quanto à infiltração, até mesmo de canais e águas residuais.
A formação Pedra de Fogo, mais recente que a Piauí, é facilmente identificada pela
coloração e textura quando da existência de obras como de avenidas e atividades minerárias em
que há, em muitos casos, a gênese de feição antropogênica como corte e recuo artificial de
vertentes (figura 18). Outro exemplo representativo desta formação é a existência da Floresta
Fóssil em um trecho do leito do rio Poti, diferenciando-se de outras florestas fósseis por esta
possuir os troncos em posição de vida (vertical) e por ser a única existente em uma capital
brasileira.

Figura 18 – Corte de vertente por construção de avenida, em destaque as formações Piauí e, sobre ela,
a Pedra de Fogo

Fonte: pesquisa direta (2021)

A partir de cruzamento de informações cronolitoestratigráficas presentes nas Folhas SB-


23 (Teresina) e SB-24 (Jaguaribe), as formações geológicas presentes em Teresina são
margeadas pelas formações (em sequência deposicional): Poti (grupo Canindé) com deposição
entre 345 e 326 Ma; Motuca (grupo Balsas), entre 253 e 251 Ma; Pastos Bons, Corda e Sardinha
(pertencentes ao grupo Mearim), entre 161 e 145 Ma, 161 e 125 Ma e 150 e 110 Ma,
respectivamente, sob períodos geológicos, sistemas deposicionais e litologias distintas (figura
19).
90

Figura 19 – Cronolitoestratigrafia de trecho da porção centro-norte da bacia do Parnaíba, em destaque o contexto litoestrutural em que Teresina se assentou

Organização: o autor (2022)


91

Conforme Correia Filho e Moita (1996), em levantamento sobre depósitos minerais para
construção civil, há, na atual delimitação da cidade de Teresina, os seguintes bens minerais não
metálicos: areias e argilas (para argamassa e cerâmica vermelha); solo arenoso a areno-argiloso
(para revestimento de estradas, aterros e fins agrícolas); material coluvionar (para revestimento
e base de estradas); laterita e canga laterítica (para estradas, construção de aterros e muros,
fundações e revestimentos); sedimento areno-argiloso e/ou argiloso-arenoso, conhecido
popularmente como “barro” (para argamassa, base e revestimento de estradas, aptidão agrícola
e pastoril, e muito utilizado pela população de baixa renda para construção de casas de taipa);
sedimento com matriz areno-argilosa, ligante, friável e com seixos, popularmente conhecido
como “massará” (emprego diverso na construção civil) e silexitos oolíticos, pisolíticos e
maciços ou amorfos (para fundações e pavimentação poliédrica).
A referida caracterização e espacialização geológica e mineralógica ilustrada na figura
20 contribui ainda para o aspecto hidrogeológico do ambiente urbano de Teresina. Sob
influência granular e porosa do Sistema Aquífero Poti-Piauí (SAPP) com espessura média de
450 metros e subdividido em Livre (produtividade moderada) e Confinado ou Semi-confinado
(produtividade elevada) (MONTEIRO et al, 2016).
Importante destacar que, quanto às estruturas geológicas e considerando mapeamento
de CPRM (2014), são cartografadas nos bairros estudados uma série de falhas e fraturas
geológicas, a exemplo das cinco encontradas (sentido Sudoeste-Nordeste) no bairro Satélite,
seis (quatro no sentido Sudoeste-Nordeste, uma sentido Oeste-leste e uma sentido Noroeste-
Sudoeste) no Flor do Campo e oito (quatro no sentido Norte-Sul, três sentido Noroeste-Sudeste
e uma sentido Oeste-Leste) no Parque Juliana, todas sob a formação Pedra de Fogo.
92

Figura 20 – Aspectos geológicos e bens minerais do ambiente urbano de Teresina, em destaque as


áreas de estudo

Organização: o autor (2022)


93

Como ainda observado na figura, nas áreas de interesse da pesquisa, tem-se os seguintes
bens minerais: no bairro Satélite há, no seu extremo Leste, faixa de material eluvio-coluvionar,
correspondendo às maiores elevações ali presentes, enquanto nas demais áreas do bairro são
encontradas associações de silexitos, siltitos e arenito silicificado; já nos bairros Matadouro e
São Joaquim, toda área engloba associações entre argilas, areias, siltes e cascalhos, bem
relacionados com a dinâmica de transporte e deposição de sedimentos dos rios, além da questão
econômica de extração de argila para construção civil e artesanato; no bairro Parque Juliana,
há, nas porções Nordeste e extremo Sudeste, presença de depósitos de massará/seixo e, nas
demais áreas, depósito de barro, o que relaciona-se com as atividades de extração de material
ainda presente; e no bairro Flor do Campo, no seu extremo Oeste a presença de depósitos de
argilas, areias, siltes e cascalhos, associados às menores altitudes da área, no extremo Noroeste,
solos bem caracterizados; na porção Leste, associações entre silexitos, siltitos e arenitos
silicificado, e, na maior parte (Norte, Oeste, Sul e faixa central), material eluvio-coluvionar
bordejando as maiores altitudes do bairro.
Mesmo não identificado no mapeamento utilizado, mas observado a partir de
levantamentos de campo, foram encontradas feições lateríticas nos bairros Parque Juliana (em
quantidade expressiva na superfície e subsuperfície, estas últimas expostas em virtude da
extração de material para a construção civil e de raspagem e alargamento de ruas sem
calçamento) em dimensões de aproximadamente 4 cm de diâmetro; e Flor do Campo, com
presença de seixos lateríticos concrecionários e não contínuos, de dimensões variadas (alguns
superiores a 15 cm de diâmetro) em grande quantidade formando carapaças lateríticas
(altamente resistentes aos processos erosivos) que recobrem os morros e baixas colinas locais,
e que, com o peso (ocupações sobre elas), tendem a ceder e causar problemas estruturais em
virtude da baixa resistência do material abaixo delas.
Estando dispostas sobre a formação Pedra de Fogo e em superfícies tabulares
aplainadas, as referidas feições, também denominadas Canga (BARBOSA; RODRIGUES,
1965), Laterita (PATON; WILLIANS, 1972); Ferricrete (NAHON, 1986) e Crosta laterítica
(CONACHER, 1991), têm sua gênese associada ao material de origem (devendo conter Fe2O3
em sua composição) e à questão climática (ambientes com estações bem definidas, sendo uma
seca com duração média de 6 meses) temperatura média anual de 28ºC e umidade relativa do
ar próxima de 70% (TARDY, 1997).
Levando em consideração a classificação geomorfológica de Lima (2011), na cidade de
Teresina são identificadas três classes de relevo, sendo: Planícies e Terraços Fluviais;
Superfícies Intensamente Retrabalhadas pela Drenagem com Morros Residuais e Morros com
94

Tendências a Arredondamentos Limitados por Relevo Escalonado (inserido na classe


Superfícies Residual Recortada por Vales Encaixados que possui um segundo tipo de relevo,
Mesas com Topos Achatados Limitados por Escarpas, não encontrado na cidade de Teresina).
As Planícies e Terraços Fluviais, como já indica, estão associadas principalmente aos
leitos dos rios Poti e Parnaíba, daí os bairros Matadouro e São Joaquim (margem direita do
Parnaíba) estarem inseridos totalmente nesta unidade; além de parte da porção oeste do bairro
Flor do Campo (Pedro Balzi), em conexão com os terraços na margem direita do Poti. Esse
relevo, com cota altimétrica de no máximo 70 metros, se caracteriza por possuir feições de
acumulação em decorrência da dinâmica fluvial com forte relação ainda com os meandros do
rio Poti que auxiliam no desenho de extensos terraços e planícies aluviais, que servem, também
como áreas de extração mineral, a exemplo de seixo e “massará”.
Essas áreas estão em processo de descaracterização em decorrência da ação antrópica,
seja pela agricultura, seja pela urbanização (como construção de edificações e avenidas, que
auxiliam ainda como dique), sem, contudo, evitar eventos de inundação. Ainda são encontradas
lagoas marginais que servem como ponto final de riachos – como aqueles encontrados nos
bairros Flor do Campo (drenam para a Lagoa do Saco) e Satélite (drenam para a Lagoa do
Zoobotânico) – e, daí, quando do aumento do volume extravasam para o Poti.
Já as Superfícies Intensamente Retrabalhadas pela Drenagem com Morros Residuais em
grande parte nos bairros Satélite, Parque Juliana e Flor do Campo são caracterizadas por
possuírem formas modeladas por intensa erosão, com variação altimétrica de 71 a 100 metros,
e por ser a melhor distribuída espacialmente na cidade de Teresina, representando dissecação
desses materiais diversos e suas formações ao longo das vertentes e dos perfis longitudinais.
No que diz respeito aos Morros com Tendências a Arredondamentos Limitados por
Relevo Escalonado, se caracterizam por possuírem topos bem definidos e reafeiçoados (com
tendência ao arredondamento), recortados por vales encaixados, e com cota altimétrica entre
100 e 170 metros, e são aqueles em que há a existência de riscos de deslizamentos. Estes são
encontrados na porção Leste (entre as ruas Urano, 3 e Avenida Zequinha Freire) do bairro
Satélite e em uma área isolada em um quadrante formado pelas ruas Santa Teresinha, São
Vicente de Paulo, Apolo XI, Rua Dom Bosco e Rotary Club. Em todo ponto do bairro, pode-se
observar estas elevações (com no máximo 139 metros de altitude), principalmente quando se
olha, da Avenida Presidente Kennedy, no sentido Leste, as elevações, inclusive podendo
acompanhar o vale da drenagem que cruza o bairro.
No bairro Parque Juliana, em parte da sua porção Oeste, são encontradas elevações (+/-
140 metros de altitude) que se inserem nesse relevo e auxiliam ainda na delimitação da
95

drenagem (servindo como divisor topográfico) entre as bacias do Poti e do Parnaíba, e que,
atualmente está sendo descaracterizado pela atividade minerária para a construção civil, a
exemplo das ruas Celso Veras (e entorno), Luísa Barbosa de Miranda (e entorno). Do topo deste
morro para a base do Aterro Sanitário é de aproximadamente 41 metros de diferença.
Os bairros se caracterizam pelos tipos de relevo encontrados, tais como: planícies
fluviais (bairros Matadouro, São Joaquim, Satélite e Flor do Campo), tabuleiros (bairros
Satélite, Parque Juliana e Flor do Campo), superfícies de aplainamento (bairros Satélite, Parque
Juliana e Flor do Campo), colinas amplas e suaves (bairros Parque Juliana e Flor do Campo) e
escarpa (bairro Flor do Campo), esta última influenciada pela atividade de mineração que
contribuiu para a descaracterização do relevo, no que se refere à sua vertente.
Ao se considerar o bairro, o Flor do Campo é o que há maior distribuição espacial,
principalmente na sua porção Leste, com altitude máxima de 137 metros e, dentre as áreas de
estudo, a única em que são encontrados os três tipos de relevo (figura 21), conforme
classificação de Lima (2011), identificados na cidade, com amplitude topográfica de 65 metros.

Figura 21 – Características do relevo do bairro Flor do Campo. Em A, destaque para os terrenos com
cota altimétrica mais elevadas, e; em B, destaque para a descaracterização antrópica da geometria da
vertente

Fonte: A – pesquisa direta (2021); Sousa (2017)


96

Ainda no contexto geológico-geomorfológico, há, em Teresina, presença de terrenos


cársticos, ainda pouco estudados, em virtude da presença de lentes de calcário (rochas
carbonáticas dissolúveis) na formação Pedra de Fogo, provocando acidentes como colapsos e
subsidências de solo, principalmente na porção central da cidade. Estes processos estão
associados com a urbanização e atividades antrópicas (vazamento de tubulações, escavações,
minerações, impermeabilização do solo) além de oscilação do nível do lençol freático que
favorece a existência de dolinas no subsolo, com posterior afundamento do terreno.
Em relação às tipologias das vertentes, nas áreas de estudo, estão caracterizadas em suas
formas côncava, convexa e retilínea, a considerar os compartimentos topográficos em cada área,
bem como de topografia plana nas áreas de planícies e terraços fluviais. Representativamente,
a figura 22 ilustra a distribuição espacial dos tipos de relevo encontrados na cidade de Teresina.
A vista disso, e julgando a escala espacial, principalmente nas seções 6 e 7, serão
considerados e integrados os fatos geomórficos e microformas (processos erosivos e depósitos
antropogênicos, por exemplo) e seus elementos morfocronológicos, morfoestruturais,
morfométricos, morfodinâmicos, morfológicos e morfogenéticos associados às paisagens
antropogênicas e as suscetibilidades associadas.
97

Figura 22 – Aspectos geomorfológicos (4º táxon) do ambiente urbano de Teresina e locais de


afundamento (colapso/subsidência), em destaque as áreas de estudo

Organização: o autor (2022)


98

A partir disso, e considerando a classificação taxonômica de Ross (1992), tem-se, para


a área, os seguintes táxons:
• 1º táxon (Unidade Morfoestrutural): Bacia Sedimentar do Parnaíba
• 2º táxon (Unidade Morfoescultural): Baixos Planaltos do Médio-Baixo Parnaíba
• 3º táxon (Subunidades Morfoesculturais): Áreas de acumulação inundáveis (planícies
flúvio-lacustres), Planaltos Rebaixados e Agrupamento de Mesas
• 4º táxon (Padrões de Relevo): Planícies e Terraços Fluviais, Superfícies Intensamente
Retrabalhadas pela Drenagem com Morros Residuais, Morros com Tendências a
Arredondamentos Limitados por Relevo Escalonado e Mesas com Topos Achatados
Limitados por Escarpas.
A vista disso e considerando uma possibilidade de maiores detalhamentos da
caracterização geomorfológica de Teresina, sua hipsometria (figura 23) é marcada por três
classes (Classe 1, de 36 a 76m; Classe 2, de 76,1 a 116m; e Classe 3, de 116,1 a 156m). Por se
constituir como as áreas de estudo com as menores cotas altimétricas, os bairros Matadouro e
São Joaquim estão totalmente inseridos na primeira classe. O bairro Parque Juliana possui
73,6% (184ha) para a Classe 2 e 26,4% (66ha) para a Classe 3. Já os bairros Flor do Campo e
Satélite possuem as três classes de declividade, sendo, respectivamente: classe 1 (4%/10ha e
1%/2ha), classe 2 (62%/154ha e 84%/137ha) e classe 3 (34%/82ha e 15%/32ha).
As menores cotas correspondem às áreas próximas aos canais dos rios Poti e Parnaíba e
ao longo dos trechos finais dos seus principais afluentes, caracterizado ainda a existência de
lagoas marginais de dimensões variadas, existindo, portanto, riscos de inundação quando do
aumento da precipitação pluviométrica (Apêndice B). Acrescenta-se que, em relação a classe
2, esta possui características marcantes quanto mapeadas, sendo: 1) é o divisor topográfico entre
as bacias do Poti (a direita) e Parnaíba (a esquerda) na saída Sul de Teresina; 2) possui
comportamento quase que em linha reta (sentido Sudeste-Noroeste) em um conjunto de morros
e colinas com cotas similares.
Sobre os aspectos de declividade (figura 24), foram identificadas 4 classes: Plano (0 -
3%), Suave Ondulado (3 - 8%), Ondulado (8 - 20%) e Forte Ondulado (20 - 45%). Este
elemento é importante para se conhecer o tempo do escoamento superficial em um dado local,
de modo que quanto maior a declividade maior é a velocidade do escoamento e menor o tempo
de concentração da precipitação, auxiliando a identificar locais com riscos de enxurradas,
inundações e deslizamentos, quando associada aos materiais superficiais existentes.
99

Além de influenciar no planejamento urbano, o conhecimento da declividade da área


possibilita ainda identificar quais locais precisam de maior atenção de infraestrutura e de
prevenção de riscos, a exemplo da classe “forte ondulado” existente nos bairros Satélite e Flor
do Campo por já se constituírem áreas de riscos de movimentos de massa.
Para os bairros foram identificados a classe “plano” e “suave ondulado” para os bairros
Matadouro e São Joaquim; enquanto para os demais bairros foram observadas todas as classes
de declividade “plano” (nas áreas próximas a confluência de canais de drenagem), “suave
ondulado” (seguindo os canais de drenagem), “ondulado” (com destaque para o Satélite e
Parque Juliana) e forte ondulado” (com destaque para o Flor do Campo).
Guardando analogia com a declividade, a orientação das vertentes auxilia sobremaneira
no entendimento da descrição tridimensional do terreno. Em virtude da variação de altitude e
das similaridades e continuidade de vertentes em Teresina, foram identificadas predomínio de
orientação nos sentidos SW, NW e W (correspondendo ao direcionamento das falhas e fraturas
apresentadas anteriormente e ao sentido preferencial de escoamento superficial), voltadas para
as margens direitas dos rios.
Para os bairros Matadouro e São Joaquim, em virtude de estarem em área de planícies
fluviais, margeando o rio Parnaíba e com baixa amplitude topográfica, não foram considerados
valores e orientação de vertentes. Em relação ao Satélite, há o predomínio da orientação W; ao
passo que no Flor do Campo e Parque Juliana são encontradas orientações nos sentidos W, NW
e S. Considera-se que em virtude da geotecnogênese a partir de atividades de mineração,
algumas faces de vertentes tiveram sua orientação alterada principalmente nos bairros Flor do
Campo e Parque Juliana, caracterizando-as como vertentes antropizadas com alterações em
suas geometrias, com mudanças quanto ao fluxo laminar e sua influência na gênese de ravinas,
implicando no balanço de materiais e natureza dos processos.
Os táxons de ordem 5º (Tipos de vertentes) e 6º (Formas de processos atuais) são
tratados juntamente com a discussão sobre as paisagens e depósitos antropogênicos e os
processos superficiais associados em cada área de interesse da pesquisa.
100

Figura 23 – Hipsometria do ambiente urbano de Teresina, em destaque as áreas de estudo

Organização: o autor (2022)


101

Figura 24 – Declividade do ambiente urbano de Teresina, em destaque as áreas de estudo

Organização: o autor (2022)


102

Relacionando a espacialização das características geológicas e geomorfológicas,


conforme CPRM (2020) foram identificadas cinco unidades geotécnicas em Teresina, com
gêneses e dinâmicas diferenciadas, sendo: Depósitos Aluvionares Arenosos e Areno-Argilosos,
Colúvio/Residual com substrato de rochas sedimentares pouco consolidadas indiviso,
Colúvio/Residual com substrato de rochas sedimentares consolidadas indiviso,
Colúvio/Residual com substrato de conglomerados pouco consolidados e Colúvio/Residual
com substrato de arenitos pouco consolidados.
Os Depósitos Aluvionares Arenosos e Areno-Argilosos são distribuídos principalmente
ao longo dos canais dos rios Poti e Parnaíba, ao longo dos maiores riachos existentes na cidade,
e, principalmente na área de confluência destes dois rios. Conforme levantamento são
caracterizados por possuírem sedimentos argilo-arenosos, argilo-siltosos ou areno-argilosos,
com coloração entre vermelha, marrom, cinza e cinza esbranquiçada, com potenciais processos
naturais a exemplo de inundações, enchentes e solapamentos, além da possibilidade de
contaminação do lençol freático. Espacialmente, ocupam toda a área dos bairros Matadouro e
São Joaquim, uma vez que estão na confluência dos dois rios; além da parte central do bairro
Satélite e a porção Oeste do bairro Flor do Campo.
Já a unidade Colúvio/Residual com substrato de rochas sedimentares pouco
consolidadas indiviso é pouco encontrada em Teresina e está identificada na área de estudo
apenas no bairro Flor do Campo em uma faixa que bordeja o terreno mais elevado no bairro.
Caracteriza-se por possuir colúvios pouco espessos ou inexistentes e camada pedológica
residual argilosa-siltosa que capeia a rocha pouco consolidada, com potenciais riscos de
deslizamentos.
A unidade Colúvio/Residual com substrato de rochas sedimentares consolidadas
indiviso representa o trecho com as maiores cotas altimétricas da cidade, inclusive com grande
expressividade nas áreas periurbanas Leste e Sudeste. Seu perfil intempérico é composto por
saprolito sedimentar (com camadas arenosas, argilosíltico-arenosas e lâminas de argila)
sobreposto por crosta laterítica e/ou horizonte concrecionário, com potenciais riscos de
deslizamentos. Está presente no extremo Leste dos bairros Satélite e Flor do Campo e em quase
a totalidade do bairro Parque Juliana.
Caracterizada por possuir colúvios pouco espessos ou inexistentes com solo residual
argilo-siltoso que capeia a rocha pouco consolidada, a unidade Colúvio/Residual com substrato
de conglomerados pouco consolidados é a menos encontrada em Teresina e está identificada
em pequenas áreas isoladas nos bairros Parque Juliana e Flor do Campo, possuindo, ainda,
103

camadas pouco espessas de conglomerados com arcabouço composto por seixos graníticos bem
arredondados, com potenciais riscos de deslizamentos.
Com maior representação espacial em Teresina, a unidade Colúvio/Residual com
substrato de arenitos pouco consolidados está presente em parte considerável dos bairros
Satélite e Flor do Campo e nas porções Leste e Noroeste do bairro Parque Juliana. Está
caracterizada pela presença de colúvios pouco espessos somados com solo residual argilo-
siltoso capeando a rocha pouco consolidada constituída por arenitos friáveis, com potenciais
riscos de deslizamentos.
Representativamente, levando em consideração as unidades geotécnicas de Teresina, os
bairros Matadouro e São Joaquim se destacam por possuírem apenas uma dessas unidades,
enquanto o bairro Flor do Campo se destaca por ser aquele em que há as cinco unidades
geotécnicas presentes no ambiente urbano, como ilustra a figura 25.
104

Figura 25 – Unidades geotécnicas do ambiente urbano de Teresina, em destaque as áreas de estudo

Organização: o autor (2022)


105

4.2 Aspectos hidroclimáticos

Em relação à caracterização climática e considerando a classificação de Köppen,


Teresina possui tipo climático AW/aw’, marcado por ser tropical-equatorial e subúmido quente
(megatérmico) de savana, com duas estações bem definidas, uma seca, entre junho e
novembro18, e uma chuvosa, de dezembro a maio, com forte relação com a atuação espacial e
temporal da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) notadamente no trimestre Janeiro-
Fevereiro-Março, evidenciando a dinâmica atmosférica regional (figura 26) e auxiliando ainda
na recarga dos rios Poti e Parnaíba, dos canais de drenagem (riachos) e nos níveis das lagoas.

Figura 26 – Imagens do satélite GOES em relação a atuação da ZCIT sobre a cidade de Teresina

Fonte: INPE/CPTEC, adaptado pelo autor (2022)

A atuação da ZCIT, quando se posiciona mais ao Sul da Linha do Equador, possibilita


a contribuição de Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCANs), formação de Linhas de
Instabilidade (LI) e de Aglomerados Convectivos, possuindo forte relação com os ventos alísios
de Nordeste, com a umidade e a troca de calor (sensível e latente), somados ainda com o reflexo
do La Niña como desencadeador para as precipitações pluviométricas acima da média
contribuindo com enchentes, inundações, alagamentos, enxurradas e deslizamentos de terra
(FEITOSA, 2014; CHAVES, 2015; MENEZES; MEDEIROS; SANTOS, 2016), marcando seu
perfil transicional19 entre o clima semiárido (Nordeste) e o clima úmido (Amazônia).

18
Localmente o intervalo entre os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro é chamado “B-R-O-BRÓ”,
caracterizado pelas maiores temperaturas do ar.
19
Inserido na sub-região Nordestina do Meio-Norte.
106

Por estar em zona de baixa latitude (5º S), a cidade recebe uma alta radiação solar por
todo o ano, sob influência ainda das massas de ar, no inverno a circulação é comandada pela
Massa Tropical Atlântica (mTa) com a ausência de chuvas (inverno seco) e, no verão (chuvoso)
as chuvas são marcadas pela Massa Equatorial Continental (mEc) e, também, pela ZCIT,
caracterizando, portanto, os elementos climáticos locais (tabela 1).

Tabela 1 – Síntese dos elementos climáticos de Teresina na série 1980-2017 (média) e no ano de 2018
MÉDIA ANUAL
ELEMENTO CLIMÁTICO
2018 1980-2017
Temperatura média do ar (ºC) 28,5 28,2
Temperatura máxima do ar (ºC) 34,1 34,0
Temperatura mínima do ar (ºC) 22,8 22,4
Umidade relativa do ar (%) 66,1 69,5
Insolação (h d-1) 7,9 7,8
-1
Evapotranspiração sob método de Penman-Monteith (mm d ) 4,7 4,7
TOTAL ANUAL
Precipitação (mm) 1.606,5 1.318
Fonte: Bastos e Andrade Júnior (2019), adaptado pelo autor (2022)

As condições expostas interferem na delimitação das duas estações materializadas


principalmente pela precipitação pluviométrica irregular e com grande variação ao longo do
ano. Na estação chuvosa, há o aumento do nível do volume da drenagem superficial orientada
pelos rios Poti e Parnaíba. Sobre isso, Teresina possui uma extensa rede de drenagem composta
por dois rios regionais, lagoas (a maioria marginais aos rios) e uma extensa quantidade de canais
de drenagem, que, conforme Lima (2011) e Nunes, Silva e Aquino (2017), apresentam pequena
extensão (muitos com nascentes na zona rural) e que deságuam na zona urbana, muitas vezes
tamponados e canalizados em galerias pluviais somados ao despejo de esgoto doméstico.
Considerando as particularidades pluviométricas da cidade de Teresina e levando em
conta os dados diários de chuva disponibilizados pelas estações automáticas INMET, foi
analisado a série temporal 2000-2020, contudo, a julgar pela ausência de dados (de 2000 a 2003)
e pela existência de dados corrompidos (de 2004 a 2007), a análise se dá do ano de 2008 a 2020
em virtude do maior grau de confiabilidade das informações. Optou-se em discutir os dados
diários tendo em vista que estes estão mais associados com os riscos de inundação, enxurrada,
alagamento e movimentos de massa.
Dentre os anos analisados foram obtidos 186 dados diários (tabela 2) em que a
precipitação pluviométrica foi bem além do teto de 10mm diários (mais significativos), quando
há. Dos valores apresentados, de 20mm (12/03/2020) a 108,4mm (05/02/2020) e 145mm
(30/03/2018), estes dois últimos foram os únicos que extrapolaram a precipitação diária de
100mm.
107

Tabela 2 – Levantamento pluviométrico diário (mais significativos) entre os anos de 2000 e 2020 para a cidade de Teresina a partir de dados de estações automáticas
do INMET
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Dados ausentes Dados corrompidos
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Data mm Data mm Data mm Data mm Data mm Data mm Data mm Data mm Data mm Data mm Data mm Data mm Data mm
28/01 28,0 09/01 22,6 01/01 28,4 16/04 38,0 11/02 49,4 09/01 56,4 25/01 27,4 19/02 65,2 09/01 31,2 11/01 26,2 13/01 20,6 14/01 24,4 07/01 34,0
01/02 30,6 17/01 51,6 19/01 41,8 20/04 54,0 17/02 69,6 15/01 51,8 28/01 27,0 10/03 20,6 14/01 29,0 10/02 84,0 15/01 23,0 16/01 24,8 31/01 26,0
16/02 83,0 25/01 29,8 25/01 49,8 23/04 40,8 18/02 21,4 29/03 39,0 09/02 35,4 05/04 31,8 24/01 60,6 11/02 47,4 20/01 39,2 26/01 26,8 05/02 108,4
14/03 27,6 30/01 41,0 24/02 42,8 25/04 47,6 28/02 33,6 05/04 36,6 15/02 55,0 09/04 87,6 28/01 67,2 13/02 54,8 23/01 28,4 07/02 35,2 14/02 42,4
30/03 29,8 02/02 23,2 19/03 37,0 28/04 34,4 06/03 46,6 07/04 62,6 16/02 38,2 27/05 20,8 26/02 20,4 14/02 20,6 27/01 21,6 16/02 22,6 15/02 20,6
31/03 82,6 12/02 49,8 21/03 25,4 03/05 44,0 08/03 46,6 21/04 40,6 17/02 65,6 14/03 20,2 17/02 31,0 08/02 40,0 21/02 60,2 21/02 22,6
01/04 45,6 04/03 42,2 04/04 26,6 20/05 72,8 22/04 59,2 24/04 20,4 13/03 23,6 17/03 28,6 01/03 25,0 12/02 26,8 27/02 28,4 25/02 56,4
02/04 38,6 05/03 33,8 09/04 30,6 01/12 28,4 25/04 24,8 16/03 33,6 30/03 34,4 09/03 30,6 21/02 24,2 05/03 41,8 07/03 29,4
03/04 67,4 14/03 44,2 16/04 39,8 29/04 39,6 26/03 21,6 07/04 36,8 17/03 32,8 28/02 29,2 06/03 25,0 12/03 20,0
06/04 42,6 16/03 24,6 18/04 31,2 24/11 24,6 28/03 46,2 21/03 21,6 01/03 26,2 10/03 32,8 13/03 44,0
15/04 53,2 17/03 43,4 31/05 51,4 29/03 39,4 31/03 23,0 26/03 30,4 12/03 20,8 16/03 34,8
29/04 43,8 26/03 40,8 02/06 29,6 11/04 51,6 29/04 30,0 28/03 39,0 15/03 68,4 18/03 31,4
05/05 46,0 04/04 64,2 17/04 59,4 01/05 54,6 30/03 145,0 24/03 70,6 19/03 33,6
10/05 50,4 11/04 28,4 04/05 44,2 29/05 36,6 04/04 61,2 01/04 20,4 20/03 25,2
03/12 78,0 12/04 31,4 22/05 20,2 21/12 49,4 06/04 32,0 02/04 29,0 27/03 36,4
20/12 57,4 13/04 57,6 06/12 21,0 09/04 52,8 03/04 36,8 13/04 22,2
19/04 48,6 10/04 32,0 04/04 76,8 21/04 36,6
20/04 54,4 16/04 49,4 19/04 35,2
22/04 36,6 14/05 49,2 22/04 28,6
27/04 53,8 03/12 36,8
30/04 61,6 04/12 93,6
02/05 64,4 06/12 54,2
03/05 30,8 09/12 69,2
05/05 38,8 17/12 39,2
11/05 29,0
13/05 70,2
25/12 67,0
30/12 75,2
LEGENDA:
Dados ausentes Dados corrompidos Precipitação diária < 50mm Precipitação diária < 100mm Menor precipitação da série
Fonte: dados do INMET. Organização: o autor (2022)
108

Foram observados que os anos de 2009 e 2018 foram os que tiveram maior número de
eventos pluviométricos extremos para a cidade, ao passo que 2015 e 2011 foram os com
menores eventos. Em relação aos dias que ultrapassaram a marca dos 100mm [108,4mm
(05/02/2020) e 145mm (30/03/2018)], ambos episódios (influenciados pela ZCIT e sinalizados
como “Alerta” pelo CEMADEN) geraram problemas na cidade, ampliados com a
ausência/deficiência de infraestrutura que pudesse mitigar os danos, como apresentado em
notícias em sítios eletrônicos, sendo:

a. Para o episódio do dia 05/02/2020:


• “Morador anda de caiaque em rua alagada durante forte chuva em Teresina”20
• “Comércios, ruas e Mercado Central ficam alagados após forte chuva em Teresina”21
• “Em 24 horas, Teresina registra quase 50% da chuva prevista para fevereiro”22
b. Para o episódio do dia 30/03/2018:
• “Tempestade da ZCIT alaga Teresina”23
• “Teresina teve o mês de março mais chuvoso dentre as capitais do Nordeste”24
• “BR-343 é “partida ao meio” após rompimento de bueiro na zona Sudeste de Teresina”25
• “Em 12 horas, chove em Teresina metade do esperado para todo o mês de março”26
O rio Parnaíba27 é o coletor final da drenagem superficial e subsuperficial do estado do
Piauí, sendo, ainda, o canal principal da bacia hidrográfica homônima que abrange os estados
do Piauí, Maranhão e Ceará. Teresina, à direita do referido rio, está na transição do Médio para
o Baixo Curso (a partir da foz do Poti) e apresenta um canal retilíneo (aproximadamente 27
quilômetros) compreendendo as Bacias Difusas do Médio Parnaíba. Segundo análises de
imagens de satélite, o canal possui uma largura de 281 metros quando adentra no espaço urbano
de Teresina, no bairro Angelim; 650 metros na foz do rio Poti, e 323 metros quando sai do

20
https://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2020/02/05/morador-anda-de-caiaque-em-rua-alagada-durante-forte-
chuva-em-teresina-veja-video.ghtml
21
https://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2020/02/05/comercios-ruas-e-mercado-central-ficam-alagados-apos-
forte-chuva-em-teresina.ghtml
22
https://cidadeverde.com/noticias/317427/em-24-horas-teresina-registra-quase-50-da-chuva-prevista-para-
fevereiro
23
https://www.climatempo.com.br/noticia/2018/03/30/tempestade-da-zcit-alaga-teresina-8624
24
https://www.oitomeia.com.br/noticias/2018/03/31/teresina-teve-o-mes-de-marco-mais-chuvoso-dentre-as-
capitais-do-nordeste/
25
https://www.oitomeia.com.br/noticias/2018/03/30/br-343-e-partida-ao-meio-apos-rompimento-de-bueiro-na-
zona-sul-de-teresina/
26
https://www.portalodia.com/noticias/piaui/em-12-horas,-chove-em-teresina-metade-do-esperado-para-todo-o-
mes-de-marco-316030.html
27
Apresenta uma extensão de cerca de 1.450 Km, desde suas nascentes principais na Chapada das Mangabeiras
(na divisa entre os estados do Piauí, Maranhão, Tocantins e Bahia) até a foz (em delta em mar aberto) no Oceano.
Em todo o seu percurso, apresenta direção geral Sul-Norte, formando o limite territorial com o estado do
Maranhão, tornando-se, assim, um rio federal para efeito de gestão de suas águas (LIMA, 2017).
109

espaço urbano, no bairro Chapadinha, além das mudanças no canal por meio do processo de
deposição de sedimentos em bancos de areia (popularmente chamado “coroa”) e barras laterais.
O rio Poti, importante coletor de drenagem da porção Centro-Norte do Piauí, possui
nascentes no município de Quiterianópolis (Ceará) e, no estado do Piauí, há seus Médio 28
(iniciando no Planalto da Ibiapaba) e Baixo cursos (a partir de Prata do Piauí), sendo, Teresina,
o ponto final do escoamento e a área em que o rio recebe maior antropização em decorrência
da urbanização. Os 29 km de comprimento do seu canal na cidade são caracterizados pelo perfil
meândrico – com leito menor raso e um extenso leito maior – larguras de canal de 112 metros
ao adentrar na cidade no bairro Bom Princípio (margem direita) e de 174 metros na sua foz,
ladeada pelos bairros Santa Rosa (margem direita) e Olarias (margem esquerda).
Caracteriza-se pela baixa declividade, por possuir os maiores afluentes em Teresina,
principalmente na sua margem direita, além de possuir direção de escoamento Sul-Norte,
quando próximo aos bairros Zoobotânico e Embrapa, muda o sentido de drenagem para Leste-
Oeste (com duas inflexões, a primeira no sentido anti-horário e a segunda no sentido horário)
possibilitando sua foz no Parnaíba com um ângulo próximo de 90º que auxilia na influência que
este sofre pelo remanso do rio Parnaíba formando uma barreira natural. A figura 27 apresenta
a divisão das microbacias urbanas de Teresina.

28
Seu sentido de escoamento é alterado para Noroeste (ainda no Ceará) e, no Piauí, novamente para Oeste, em
decorrência da influência de falhas associadas aos lineamentos Transbrasiliano, Picos-Santa Inês e Falha de Tauá.
110

Figura 27 – Drenagem e massas d’água do ambiente urbano de Teresina, em destaque as áreas de


estudo

Organização: o autor (2022)


111

A Prefeitura Municipal de Teresina publicou, em 2012, o Plano Diretor de Drenagem


Urbana (PDDrU). Neste, foram identificadas 70 sub-bacias urbanas, sendo 20 unidades na
margem direita do rio Parnaíba (P), 16 na margem direita do rio Poti (PD), 32 na margem
esquerda do rio Poti (PE), além de 2 unidades com ambiente lagunar e tendência natural a
acumulação de água, Lagoas do Norte (LDN) e do Mocambinho (MOC).
Como observado, as áreas de interesse desta pesquisa abrangem porções das seguintes
sub-bacias: Lagoas do Norte (LDN), nos bairros Matadouro e São Joaquim; Poti Direita 7
(PD7), no bairro Satélite; Poti Direita 3 (PD3), no bairro Flor do Campo; Poti Esquerda 3 (PE3)
e Poti Esquerda 27 (PE27), no bairro Parque Juliana. A partir de dados da PDDrU (2012), de
observações de campo e de imagens de satélite, foi possível a identificação das principais
características das sub-bacias encontradas na área de estudo.
A LDN possui forma alongada e área de 1.052 ha (destes, 199 ha compreendem os
bairros Matadouro e São Joaquim) e apresenta densa ocupação residencial além de atividades
de extração mineral. A sua dinâmica natural associada à baixa declividade e, por estar na
planície conjunta dos dois rios (Poti e Parnaíba) com o nível freático próximo à superfície,
caracteriza-se pela recorrência frequente de episódios de inundação e alagamentos, além de
outras dinâmicas superficiais. Na área há 3 lagoas (Piçarreira do Cabrinha, Piçarreira do
Lourival e Lagoa do São Joaquim), dois canais (Padre Eduardo e São Joaquim) com escoamento
Sul-Norte que auxiliam na conexão entre as lagoas da área, além do rio Parnaíba, separado do
bairro pelo dique29 da Avenida Boa Esperança e, entre ambos, vestígios de paleocanais.
A PD7, forma triangular e escoamento deficiente, é a segunda maior sub-bacia de
Teresina. Possui área de 5.910,71 ha (destes, 158 ha no bairro Satélite, de densa ocupação
residencial) e muitas nascentes na zona rural de Teresina, além de outras próximas ao respectivo
bairro. Nela, há um canal de drenagem (riacho Gavião, com escoamento Sudeste-Noroeste) que
é receptor de outros dois canais, um originando do bairro Samapi (escoamento Sudoeste-
Nordeste) e outro do bairro Porto do Centro (escoamento Nordeste-Sudoeste), que drenam para
a lagoa do Zoobotânico e, desta, para o rio Poti. Esta lagoa tem dinâmica controlada pela gestão
do Zoobotanico, utilizando-se de sua água para abastecer as lagoas internas (artificiais) para a
dessedentação dos animais, porém, atualmente encontra-se sem cuidados, estado em processo
de colmatação, poluição e invadida por plantas invasoras. Nas últimas décadas a ocupação
urbana tem se expandido ao longo do riacho Juriti, afluente de Nordeste.

29
Construído na década de 1970, pelo Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS), o dique do rio
Parnaíba (Dique Boa Esperança ou Dique Parnaíba) é composto por aterramento sobre aluviões silto-arenosos e
silto-argilosos (CPRM, 2015).
112

Sobre a PE3 e PE27, estas duas sub-bacias abrangem o bairro Parque Juliana. A
primeira, de forma circular, possui área de 329 ha (destes, 148 ha no bairro) e possui caráter
institucional, tendo em vista ser aquela em que é localizado o Aterro Controlado de Teresina.
A segunda, de forma alongada, possui área de 283 ha (destes, 95 ha no bairro) e favorável ao
escoamento. Ambas possuem canais temporários (escoamentos Oeste-Leste e Noroeste-
Sudeste, respectivamente) que, em alguns pontos, seus talvegues recebem esgoto doméstico.
Já a PE3, com forma circular, é a terceira maior sub-bacia que drena Teresina com área
de 4.783 ha (destes, 234 ha estão no bairro Flor do Campo). Possui drenagem deficiente, com
inundações frequentes em alguns pontos e a presença de um riacho (escoamento Nordeste-
Sudoeste) com nascente no espaço rural e, dentro do bairro, este recebe a contribuição hídrica
de outros dois riachos (temporários), com escoamento Noroeste-Sudeste e Leste-Oeste,
respectivamente. A figura 28 ilustra alguns corpos hídricos localizados na área de estudo.

Figura 28 – Corpos hídricos identificados na área de estudo e pressões antrópicas sobre eles. Em A,
canal (entre dois morros com tendência a arredondamento) alterado em decorrência de abertura de rua
no bairro Flor do Campo; em B, canal em final de trecho de tamponamento e início de trecho com
leito com pouca descaracterização no bairro Satélite; em C, Lagoa Piçarreira do Cabrinha (em
primeiro plano) e Lagoa Piçarreira do Lourival (segundo plano) com perímetros retificados no bairro
Matadouro; e, em D, fundo de vale com canal de escoamento efêmero

Fonte: pesquisa direta (2021)


113

Em virtude das características geomorfológicas e de drenagem, mesmo com feições


diferenciadas, são observados terrenos alagados (úmidos) sob característica de brejo tanto no
bairro São Joaquim quanto nos bairros Matadouro e Flor do Campo.

4.3 Aspectos pedológicos e vegetacionais

No que se refere aos aspectos pedológicos e considerando mapeamento (na escala


1:250.000) realizado pela EMBRAPA (2011) e pela Folha SB 23 – Teresina (IBGE, 2019), na
cidade de Teresina há o predomínio de três associações de solo: LATOSSOLO AMARELO
Distrófico (LAd), ARGISSOLOS VERMELHOS-AMARELOS Distróficos (FFc),
ARGISSOLOS AMARELOS Distróficos (RYve), conforme figura 29.
Na maior parte da área encontra-se a associação entre LATOSSOLO AMARELO
Distrófico, ARGISSOLOS VERMELHOS-AMARELOS Distróficos, ARGISSOLOS
AMARELOS Distróficos e PLINTOSSOLOS PÉTRICOS Concrecionários, com predomínio
do primeiro, inclusive abrangendo as quatro áreas da pesquisa (sendo a totalidade dos bairros
Satélite, Matadouro e São Joaquim). Esta associação se caracteriza por possuir textura média,
e, face à expressão espacial do LATOSSOLO AMARELO, este se apresenta por ser mineral e
homogêneo em decorrência da pequena diferenciação (pela cor) entre os horizontes, somadas à
elevada coesão entre seus agregados estruturais e baixa fertilidade (LUMBRERAS, et al. 2015).
Em seguida, quanto à distribuição espacial, a associação entre PLINTOSSOLOS
PÉTRICOS Concrecionários, NEOSSOLOS LITÓLICOS Distróficos, PLINTOSSOLOS
ARGILÚVICOS Distróficos e PLANOSSOLOS HÁPLICOS Eutróficos, com predominância
do primeiro, está presente na porção Nordeste de Teresina e em partes consideráveis dos bairros
Flor do Campo e Parque Juliana. Já os NEOSSOLOS FLÚVICOS Ta Eutróficos, em associação
com os PLINTOSSOLOS HÁPLICOS Distróficos e CAMBISSOLOS Háplicos Ta Eutróficos
se apresentam nos extremos Noroeste e Sudoeste da cidade, com influência do canal do rio
Parnaíba, contudo, mesmo não sendo mapeados em virtude da escala adotada, os terrenos
marginais ao Parnaíba e ao Poti, além dos trechos finais dos canais com maior volume de água.
114

Figura 29 – Predomínio de solos do ambiente urbano de Teresina, em destaque as áreas de estudo

Organização: o autor (2022)


115

Sobre a cobertura vegetacional, esta é reflexo da faixa de transição (Amazônia a Oeste,


Caatinga a Leste e Cerrado ao Sul) com exemplares de hipo e hiperxerófilas, sub-perenifólias,
subcaducifólias, materializada pela Mata dos Cocais (carnaúba “Copernicea prunifera (Mill)
H. E. Moore”, babaçu “Attaleyaspeciosa ou Orbygniamartiana”, buriti “Mauritiavinifera L. f”
e macaúba “Acrocomia aculeata (Jacq.) Loddex Mart”, além ainda da existência de angico preto
“Anadenanthera peregrina”, angico branco “Anadenanthera colubrina”, ipês “Handroanthus
albus” e caneleiro “Cenostigma macrophyllum Tul”, este último considerado a árvore símbolo
da cidade (VIANA, 2013; FEITOSA, 2014; NUNES, 2017).
Contudo, em decorrência da crescente urbanização e descaracterização de ambientes, a
vegetação nativa apresenta-se bastante alterada, excetuando-se em parques ambientais, algumas
praças, em trechos das margens dos rios e na área periurbana. No bairro Satélite, por exemplo,
predomina-se a vegetação em calçadas e quintais, em clubes e em terrenos (sem ocupação
aparente) marginais ao canal do riacho Gavião. Nos bairros Matadouro e São Joaquim a
vegetação é mais expressiva na margem do rio Parnaíba e em trechos isolados ao longo dos
canais Padre Eduardo e São Joaquim.
O bairro Parque Juliana é aquele em que há a maior cobertura vegetal (figura 30),
nitidamente secundária ainda em processo inicial de recolonização (a exemplo do capim rabo
de burro “Andropogon sp.”, indicador de degradação ambiental, solo compactado e ácido com
baixo teor de cálcio) em virtude da extração de material para a construção civil, a somadas ao
baixo adensamento populacional. Em seguida, o bairro Flor do Campo, sob influência da zona
rural teresinense e com vegetação expressiva em trechos ao longo do canal de drenagem,
próximo à lagoa e na parte ainda não urbanizada e ocupada.

Figura 30 – Cobertura vegetal no bairro Parque Juliana com predominância de arbustos em áreas com
anterior atividade de extração de materiais para a construção civil

Fonte: pesquisa direta, 2021.


116

Essa caracterização relacionada aos aspectos pedológicos e vegetacionais auxiliam, sob


abordagem da análise geográfica integrada, a base da compreensão sobre como se comporta o
processo de urbanização e em quais áreas podem ser exemplos de como aqueles bairros eram
no período pré-urbanização, além de servirem como parâmetros para o entendimento dos riscos
e vulnerabilidades, a julgar pela capacidade no suporte e manutenção da qualidade ambiental.

4.4 Compartimentação físico-natural da cidade de Teresina

A partir do cruzamento dos dados litológicos, geomorfológicos, geotécnicos,


pedológicos e de drenagem, foram identificados, nesta proposta de compartimentação físico-
natural, três compartimentos (Vales e terrenos inundáveis; Superfícies de aplainamento e
dissecação com relevos residuais; e Baixas chapadas e mesas) para a cidade de Teresina, com
forte influência dos padrões do relevo e de suas coberturas superficiais (figura 31).
O Compartimento 1 (Vales e terrenos inundáveis), com aproximadamente 72,28 km² de
área, sustenta-se litologicamente em terrenos aluvionares com associação entre argila, areia,
silte e cascalho, principalmente sobrepostos à Formação Piauí. Corresponde às planícies e
terraços fluviais dos rios Poti (leito achatado) e Parnaíba (leito raso), ambos com alimentação
também por água subterrânea, bem como dos trechos finais dos maiores afluentes do Poti, daí
sua área pertencer às cotas altimétricas mais baixas da cidade e ser mais significativa na região
Centro-Norte da cidade. O referido compartimento é marcado pela presença de lagoas
marginais, terrenos alagadiços e caracterização pedológica tanto de LATOSSOLOS
AMARELOS Distróficos quanto de NEOSSOLOS FLÚVICOS Ta Eutróficos.
Dentre as áreas de estudo, os bairros Matadouro e São Joaquim estão incluídos
totalmente neste compartimento, além do extremo Oeste do bairro Flor do Campo. Em relação
à presença de falhas e/ou fraturas, foram identificadas principalmente no contato desta com as
Superfícies de aplainamento e dissecação com relevos residuais, margeando-as.
O Compartimento 2 (Superfícies de aplainamento e dissecação com relevos residuais)
com aproximadamente 116,64 km² dentro da cidade de Teresina, corresponde ao maior
compartimento físico-natural (cerca de 48%). Com relação aos bens minerais, a área possui
associações entre barro; massará e seixos; silexitos; lateritas e cangas lateríticas e material
elúvio-coluvionar; contribuindo consideravelmente com formação de concrecionários e de
canga limonítica ferruginosa dura bastante e resistente à erosão. É o compartimento que possui
maior intensidade de falhas e fraturas, com orientações e dimensões variadas. A presença de
morros residuais, associados aos canais de drenagem favorecem o aplainamento e o processo
117

de desgaste natural do relevo em virtude do direcionamento local do fluxo de drenagem Leste-


Oeste para os afluentes do rio Poti na sua margem direita, além de servir como divisor
topográfico entre a drenagem superficial e subsuperficial de ambos os rios, daí consideráveis
extensões dos canais.
Em relação às unidades geotécnicas, há associação entre os colúvios de arenitos e
conglomerados pouco consolidados, além de substratos de rochas sedimentares consolidadas e
pouco consolidadas. Sua cobertura pedológica é caracterizada pela presença em grande parte
dos LATOSSOLOS AMARELOS Distróficos e dos PLINTOSSOLOS PÉTRICOS
Concrecionários, estes últimos principalmente nas cabeceiras de drenagem, refletindo assim
problemas de lixiviação das camadas superiores, adensamento das camadas mais profundas,
refletindo em exemplos de encrostamentos. Toda a área do bairro Satélite, a maior parte do Flor
do Campo e parte do Parque Juliana se inserem neste compartimento.
O Compartimento 3 (Baixas chapadas e mesas) com aproximadamente 51,31km², está
totalmente sobre a Formação Pedra de Fogo e é o que possui a maior quantidade de falhas e
fraturas. Os bens minerais presentes são silexitos, siltitos e arenitos silicificados; massará e
seixo; e barro. Há morros com tendência a arredondamento e baixas chapadas que auxiliam,
assim como as Superfícies de aplainamento e dissecação com relevos residuais, como divisor
topográfico entre a drenagem superficial e subsuperficial de ambos os rios, constituindo-se em
flancos associados à erosão fluvial intensa sobre camadas de arenitos duros e lentes de sílex.
Enquanto unidades geotécnicas, possui tanto substratos de conglomerados quanto de
substratos de rochas sedimentares. Sua cobertura pedológica é caracterizada pela presença em
grande parte dos LATOSSOLOS AMARELOS Distróficos e dos PLINTOSSOLOS
PÉTRICOS Concrecionários. O bairro Parque Juliana é o único inserido neste compartimento.
118

Figura 31 – Compartimentação ambiental da cidade de Teresina, em destaque as áreas de estudo

Organização: o autor (2022)


119

O apêndice C sintetiza os aspectos físico-naturais das áreas de estudo.

4.5 Caracterização socioeconômica

Em relação aos aspectos demográficos, o município de Teresina (que, dos seus


1.391,98 km² apenas 17% estão na zona urbana) possui uma população estimulada (para
2020) de 868.075 habitantes, destes, aproximadamente 94% residem no ambiente urbano
(dividido em 123 bairros). E, estando em uma posição geográfica privilegiada em termos
regionais, Teresina influencia indiretamente 282 municípios – nos estados do Piauí,
Maranhão, Ceará e Pernambuco – totalizando cerca de 4,2 milhões de pessoas e
caracterizando-a como Capital Regional A30 (TERESINA, 2017; 2020a; NUNES, 2017).
A referida classificação está associada ao entroncamento rodoviário e pelo seu
papel central entre as regiões Norte e Nordeste do Brasil, além de ser a única capital
nordestina a se posicionar fora da faixa litorânea, conferindo-a particularidades quanto a
questão estruturante, de fixos e fluxos. Esta condição contribui significativamente para a
distribuição dos postos de trabalho – Serviços (40%), Administração Pública (26%) e
Comércio (18%) – e de situação do Produto Interno Bruto (PIB) de Teresina
correspondendo a 47,4% no estado do Piauí, além do Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDHM) de 0,751 “Alto” (TERESINA, 2020a).
Neste aspecto, inserem-se as áreas de estudo, principalmente no tocante às suas
populações. Em virtude da relação intrínseca entre riscos ambientais com a caracterização
socioeconômica, os aspectos a serem trabalhados são: educação (nível de escolarização e
quantidade de escolas) em virtude da conscientização de risco; saúde e segurança
(quantidade de unidades de saúde ou hospitalares, além da presença e distância de postos
de segurança, relacionado a suas respostas frente a cenários e iminência de desastres) e
infraestrutura (rede de abastecimento de água e de esgoto, além das características do
arruamento) tendo em vista que uma rede mal feita pode servir como agente
impulsionador de eventos gravitacionais potencializados com as características viárias e
sua relação com as curvas de nível locais.
Na série temporal 1991-1996-2000-2007-2010, os cinco bairros tiveram variações
significativas, como as que caracterizam o bairro Satélite como o mais populoso e o bairro
Parque Juliana como o menos populoso. Importante ressaltar que tanto o bairro Parque

30
De acordo com a hierarquia e rede urbana no Brasil, “Capitais Regionais A” são aquelas com influencia
estadual e regional, além de possuírem população de até 955 mil habitantes
120

Juliana como o Flor do Campo são caracterizados por serem bem recentes na divisão
urbana. O primeiro sofreu alteração de sua área em sucessivas leis, enquanto o segundo
foi criado em 2009 com o desmembramento do bairro Todos os Santos (gráfico 1).

Gráfico 1 – Quantidade populacional dos bairros estudados na série 1991-1996-2000-2007-2010


14.000

12.000

10.000

8.000

6.000

4.000

2.000

0
Satélite São Joaquim Matadouro Parque Juliana Flor do Campo

1991 1996 2000 2007 2010

Fonte: TERESINA (2018a; 2018b; 2018c; 2018d; 2020b). Organização: o autor (2022).

Para o ano de 2010, os bairros possuíam, em ordem decrescente, os seguintes


dados brutos para a quantidade populacional – Satélite (11.606 habitantes), São Joaquim
(10.558 habitantes), Matadouro (5.530 habitantes), Flor do Campo (252 habitantes) e
Parque Juliana (89 habitantes) – e retratam a disposição populacional e de subsídios para
a densidade demográfica de cada um, sendo 91,8 hab/ha do São Joaquim, 73 hab/ha do
Satélite, 72,7 hab/ha do Matadouro, 1 hab/ha do Flor do Campo e 0,356 hab/ha do Parque
Juliana.
Esses dados associam-se ainda com a quantidade de domicílios e a média de
moradores por unidade domiciliar (gráfico 2). Estabelecendo-se comparações entre os
anos de 2000 e 2010, o bairro São Joaquim foi o único com diminuição de número de
domicílios, de 2.659 para 2.648, além da diminuição da média de moradores por
domicílio, dinâmica similar aquelas encontradas no Satélite e no Matadouro.
121

Gráfico 2 – Comparação do número de domicílios e média de moradores para os anos de 2000 e


2010 dos bairros estudados
3.500 4,7 5
4,47
4,25 4,5
3.000
3,9 3,99 4
3,77 3,7
2.500 3,5 3,5
2.959 2.648
2.000 3
2,5
1.500 2
2.683 2.659 1.466
1.000 1,5
1
500 1.151
0,5
0 0 24 0 0 71
0 0
Satélite São Joaquim Matadouro Parque Juliana Flor do Campo

2000 Nº de domicílios 2010 Nº de domicílios


2000 Moradores por domicílio 2010 Moradores por domicílio

Fonte: TERESINA (2018a; 2018b; 2018c; 2018d; 2020b). Organização: o autor (2022).

Em contrapartida, os bairros Satélite e Matadouro, e principalmente o bairro Flor


do Campo, tiveram aumento no número de domicílios, estes com forte relação com os
aglomerados subnormais31, como as vilas Bandeirante e Fraternidade e Moradia no bairro
Satélite; vilas Carlos Feitosa e Padre Eduardo no bairro São Joaquim; vilas Bom Jesus
Norte e Santo Afonso no bairro Matadouro (neste há ainda o Residencial Lagoa Azul e o
Conjunto Cíntia Portela) e a Vila Nova Esperança no bairro Flor do Campo (além do
Residencial Padre Pedro Balzi). Acrescenta-se ainda que no Parque Juliana há a existência
de dois loteamentos, o Maria Eduarda e o Parque Porto Alegre.
No que se refere à relação entre rendimento nominal mensal (o Salário
Mínimo/S.M. à época era de R$ 510,00) por domicílio, a situação econômica dos bairros
mostra suas características frente à questão financeira (gráfico 3). A maior quantidade de
domicílios sem rendimento ficou concentrada no Satélite, seguida do São Joaquim (65),
Matadouro (39), Flor do Campo (2) e Parque Juliana (sem domicílios). Conferindo os
dados mais significativos, no Satélite 1.054 domicílios se mantinham com uma faixa de
2 a 5 salários mínimos; enquanto no São Joaquim 2.160 domicílios conviviam com até 1
S.M.; no Matadouro 542 domicílios com 2 a 5 S.M.; no Parque Juliana com 12 domicílios
com 2 a 5 S.M.; e, no Flor do Campo, 34 domicílios conviviam até 1 S.M.

31
Aglomerado Subnormal é uma “forma de ocupação irregular de terrenos de propriedade alheia – públicos
ou privados – para fins de habitação em áreas urbanas e, em geral, caracterizados por um padrão urbanístico
irregular, carência de serviços públicos essenciais e localização em áreas com restrição à ocupação” (IBGE,
2020, p. 5).
122

Gráfico 3 – Domicílios por classe de rendimento nominal mensal (em salários mínimos) para o
ano de 2010 nos bairros estudados
2400

2000

1600

1200

800

400

0
Satélite São Joaquim Matadouro Parque Juliana Flor do Campo

Sem rendimentos Até 1 S.M. De 1 a 2 S.M. De 2 a 5 S.M.


De 5 a 10 S.M. De 10 a 20 S.M. Acima de 20 S.M.

Fonte: TERESINA (2018a; 2018b; 2018c; 2018d; 2020b). Organização: o autor (2022).

Em relação aos dados apresentados, observa-se que os cinco bairros possuem


características socioeconômicas distintas, em que pese a sua relação com os graus de uso
e ocupação da área, bem como na geração de riscos e cenários de vulnerabilidade, uma
vez que situações de insalubridade estão associadas à ausência de infraestrutura urbana.
Tais características auxiliam no aumento dos riscos (depreciação da qualidade de vida) e
no grau de velocidade das respostas (capacidade de resiliência) frente a estes,
considerando, portanto, que não se apresentam homogeneamente no espaço.
Sobre os aspectos de infraestrutura de saneamento básico, a situação dos referidos
bairros é distinta em relação à disponibilidade de água encanada, esgotamento sanitário e
coleta de lixo. Sobre o abastecimento de água, nos bairros Satélite, Matadouro e Parque
Juliana todos os domicílios estão conectados com a rede geral de abastecimento, fato não
verificado com São Joaquim (99% conectado com a rede geral e 1% “outros”) e Flor do
Campo (76% conectado com a rede geral, 23% oriunda de poços tubulares e 1% “outros”
(TERESINA, 2018a; 2018b; 2018c; 2018d; 2020b). Tal cenário foi verificado em campo,
principalmente nos bairros São Joaquim, Flor do Campo e Parque Juliana (em recente
ocupação em área de encosta e fundo de vale) com conexões à mostra, sem estrutura, com
vazamentos e aparentemente irregulares.
Em relação ao esgotamento sanitário o cenário de ausência e deficiência de
infraestrutura é reflexo da baixa cobertura na cidade. Sobre os bairros, o Satélite possui
49% com fossa rudimentar, 36% com fossa séptica, 14% com rede de esgoto e 1% sem
banheiros; no Flor do Campo 90% consta com fossa séptica, 7% com fossa rudimentar e
123

3% sem banheiro; o Parque Juliana possui 67% com fossa séptica e 33% com fossa
rudimentar; no São Joaquim 51% consta com fossa séptica, 36% com fossa rudimentar,
11% com rede de esgoto e 2% sem banheiro; e o Matadouro possui 41% com rede de
esgoto, 36% com fossa séptica, 20% com fossa rudimentar e 3% sem banheiro
(TERESINA, 2018a; 2018b; 2018c; 2018d; 2020b).
Tal como verificado em campo em relação à estrutura aparente do abastecimento
de água encanada, o esgotamento sanitário é ainda mais perceptível com a quantidade de
áreas com esgoto a céu aberto (inclusive com escoamento sob as vertentes) e de
visualização em campo de obras para abertura de fossas, gerando cenário de diminuição
da qualidade de vida da população local. A partir disso, a ausência de rede coletora
(principalmente nos bairros Flor do Campo e Parque Juliana) proporciona o uso de outros
instrumentos que, frequentemente, podem causar transtornos como rompimento de
fossas; dificuldade de limpezas (muitas ruas não comportam a entrada de veículos para
este fim); odores; vazamento e contaminação do solo, do lençol freático e até mesmo dos
poços próximos; proliferação de doenças; além de possibilidade de influências estruturais
no relevo, principalmente em áreas de encostas.
Em relação à coleta de lixo, 98% dos domicílios do bairro Satélite possuem esse
serviço, seguido por 97% dos bairros São Joaquim e Matadouro, 92% do Parque Juliana
e 83% do Flor do Campo. Em todos eles foram observados áreas irregulares (próximos a
canais de drenagem e lagoas) de despejos de lixo e resíduos sólidos, a exemplo de
resíduos de construção civil, podas de árvores e demais materiais, ilustrando origem de
feições antropogênicas. Quanto à coleta especial de resíduos, apenas o São Joaquim
possui um Ponto de Entrega Voluntária (PEV32) e um Ponto de Recolhimento de Resíduo
(PRR33).
Estes resultados ilustram o retrato da cidade (figura 32) em escalas nacionais,
ocupando, conforme o Ranking do Saneamento (2021) do Instituto Terra Brasil o 83º
lugar entre as 100 maiores cidades brasileiras, apontando ainda que há a necessidade de
9.041 novas ligações para a universalização da água encanada e de 218.154 novas
ligações para a universalização para o esgotamento sanitário.

32
Para posterior reciclagem (em cooperativas e associações) de materiais como papel, plástico, vidro e
metais.
33
Para recebimento de materiais como resíduos de podas, capinas, varrição e de construção; móveis
inservíveis e demais resíduos volumosos.
124

Figura 32 – Densidade demográfica (hab/hectare) e rede de água encanada e esgotamento


sanitário da cidade de Teresina, em destaque as áreas de estudo

Organização: o autor (2022)

Em relação aos aspectos educacionais (alfabetização para maiores de 10 anos e


disponibilidade de unidades de ensino) os resultados comparativos mostram uma
125

considerável diferença entre os bairros. O bairro Flor do Campo possui apenas uma
unidade de ensino (infantil) e com taxa de alfabetização de 76,2%, sendo a menor taxa
entre os bairros de Teresina (com 91,5%); no Satélite há 7 unidades de ensino (infantil,
fundamental e médio) e com taxa de alfabetização de 85,5%; no Parque Juliana não há
unidades de ensino e possui taxa de alfabetização de 88,9%; no São Joaquim existem 9
unidades de ensino (infantil, fundamental e médio) e uma taxa de alfabetização de 90,5%,
enquanto no Matadouro estão localizadas 3 unidades de ensino (infantil, fundamental e
médio), com 91,1% de alfabetização (TERESINA, 2018a; 2018b; 2018c; 2018d; 2020b).
Este cenário evidencia e problematiza, a partir do nível educacional, a
complexidade da população para a realidade socioambiental vivenciada e aos riscos e
vulnerabilidades existentes face às suscetibilidades aos professos superficiais, mesmo
levando em consideração os aspectos socioeconômicos e de renda das famílias em um
paradigma crítico, transformador e emancipatório principalmente nas áreas com menores
infraestruturas e de arruamentos fora de padrões (estreitos, curvos e com desnível, por
exemplo), como aqueles que são construídos sobre o aterramento de lagoas no São
Joaquim e sobre os recuos de vertentes no Flor do Campo, áreas com riscos construídos
e intensificados em virtude da ocupação humana e da omissão ou reduzida ação do poder
público para com a problemática existente.
Em que pese às suscetibilidades e sua materialização, serviços de saúde e de
segurança são inevitáveis para a urgência e resiliência da população enquanto capacidade
de resposta. Entre os bairros, apenas o Satélite e o Matadouro possuem unidades de saúde
públicas, enquanto os demais precisariam de deslocamentos para bairros mais
longínquos; assim como o São Joaquim, o único a possuir um batalhão da Polícia Militar,
enquanto demais bairros contam com abrangência tanto de batalhão quanto de distrito
policial sediados em outros bairros.
Em relação aos serviços mais voltados ao acompanhamento quando da
materialização de riscos, tanto a sede do Corpo de Bombeiros quanto da Defesa Civil
Municipal é distante em relação ao tamanho da cidade. O bairro Flor do Campo, por
exemplo, dista aproximadamente 15 km do Corpo de Bombeiros e 11 km da Defesa Civil;
enquanto para o Satélite são 12 km e 11 km, respectivamente; Parque Juliana, 10 km e 12
km, respectivamente; São Joaquim, 7 km e 9 km, respectivamente; e Matadouro, 6 km e
8 km, respectivamente; o que dificultaria o tempo de respostas frente a desastres, o que
agravaria ainda pela intensidade e escalada dos dados.
126

Assim, ao se “escolher” o domicílio frente aos riscos ambientais, a capacidade


financeira dos grupos sociais está associada, principalmente ao valor da terra, sua
disponibilidade e tamanho (CARTIER, et al, 2009) ao ponto que os grupos sociais mais
providos economicamente possuem a opção de, a depender do risco, sair com
antecedência (CANNON, 2017) e não sofrer com a sua efetividade, engendrando-se
assim os laços entre vulnerabilidade social e vulnerabilidade ambiental (ROCHA;
ALMEIDA, 2019), ampliando ainda mais quando dos casos de discriminações
contribuindo para a concentração e segregação de determinados grupos populacionais em
áreas de maior degradação e risco ambiental (BULLARD, 1994).
As condições físico-naturais, a exemplo do relevo e dos corpos d’água, ao se
combinarem com as condições sociais, econômicas e culturais auxiliam no delineamento
do retrato de cada área no que diz respeito a como ela se associa com riscos e
vulnerabilidades, dependendo, ainda, de como as políticas públicas e parcelamento do
solo são viáveis e ambientalmente sustentáveis, principalmente em áreas densamente
povoadas.
127

5 ANTROPOGEOMORFOLOGIA, GEOTECNOGÊNESE E A FORMAÇÃO DO


AMBIENTE URBANO DE TERESINA: ABORDAGEM HISTÓRICA

A Antropogeomorfologia, a partir da Geotecnogênese, se consolida como


processo em que as atividades antrópicas alteram consideravelmente as características
físico-naturais, dotando-as de feições e características distintas, principalmente em
ambientes urbanos em que há, pela própria instalação de infraestrutura, ações que
interferem os parâmetros naturais, a exemplo de obras de terraplanagem, cortes de relevo
e canalização de rede de drenagem.
A vista disso, os processos superficiais (como alagamentos, inundações e
movimentos de massa) pré-existentes, são potencializados a julgar pela modificação
acelerada e “desordenada” das cidades, fato comum nos centros urbanos brasileiros,
notadamente a partir da segunda metade do século XX.
Diante disso, a presente seção intenta-se à discussão de como a cidade de Teresina
se comportou diante das características físico-naturais locais desde a sua fundação e de
que forma estes processos superficiais pré-existentes se perpetuam e se multiplicam em
diferentes momentos urbano-históricos materializando, dinamizando e retratando a
espacialização nas quatro áreas de interesse desta pesquisa.

5.1 Teresina, da fundação aos dias atuais: ambiente, cidade e geotecnogênese

Teresina possui o título de primeira capital de estado a ser planejada a partir do


período imperial no Brasil, com data de fundação em 185234, seguida por Aracaju (1855),
Belo Horizonte (1897) e Goiânia (1935). A cidade, conforme Andrade (2017), se
caracterizava como espaço complexo, dinâmico e diversificado em que foram
(re)construídas relações socioespaciais diversas, marcando-a como uma projeção de
heranças históricas.
Contudo, mesmo antes da existência de Teresina, suas características físico-
naturais, além da localização geográfica demonstravam interesse por parte das elites à
época e como forte candidata para a retirada do posto de capital da Província do

34
O espaço de Teresina anteriormente Vila Nova do Poti foi escolhido em 1852 “em função do imaginário
progressista estabelecido por um grupo de políticos liderado por José Antônio Saraiva que acreditava ser
esse espaço favorável à comunicação e ao transporte, alternativas naquele momento, capazes de
solucionarem os problemas do homem moderno” (ARAÚJO, 1995, p. 7).
128

“Piauhy35” da então Oeiras, localizada no “sertão seco e estéril a 30 léguas do rio Parnaíba
e uma enorme distância do mar” (ADRIÃO NETO, 2006, p. 227), fato que já a
diferenciava das demais capitais nordestinas por ser a única instalada no interior, processo
relacionado à ocupação da área, no sentido interior-litoral.
No período do Brasil Colônia já havia a discussão para a mudança da capital da
Província, uma vez que se acreditava que a capital de então possuía limites físico-naturais
intransponíveis para o desenvolvimento econômico, a exemplo das condições climato-
meteorológicas de características semiáridas; ausência de grandes rios para navegação,
comunicação e transporte de mercadorias e a baixa fertilidade do solo para o aumento das
lavouras.
Em uma urgente necessidade de rompimento com este isolamento e estagnação
econômica, contribuição que viria a ocorrer com a navegação a vapor, sendo o rio
Parnaíba o principal elemento físico-natural para fundamentar a mudança e a integração
da Província à economia nacional, além da necessidade do fim da dependência em relação
às cidades maranhenses de Caxias e São Luís.
Com essa intenção, ocorreram, durante o Brasil Colônia e estendendo-se ao Brasil
Império, debates acerca desta transferência, ora com aumento destes debates ora com
períodos sem discussão em virtude dos grupos sociais que estavam no governo da
Província, formando e definindo opções para que saíssem do atraso e pudessem figurar
no rol do desenvolvimento, progresso, modernidade e inclusão no cenário capitalista.
Em decorrência do próprio processo de ocupação, foram se diversificando os
adensamentos populacionais no Piauí, a exemplo do surgimento de uma pequena
povoação (Vila do “Poty”36) próximo da foz do rio Poti no rio Parnaíba, além do
crescimento das vilas de São João da Parnaíba (hoje cidade de Parnaíba) e Santo Antônio
de Campo Maior (hoje cidade de Campo Maior), além de outras na porção Centro-Norte,
o que inclusive auxiliou para ampliação do debate e controvérsias do novo local.
O discurso mudancista (figura 33) apareceu pela primeira vez em 1728, por Maia
da Gama, então Governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará, que sugeria a mudança
da sede administrativa para a Povoação do Poti (Freguesia Barra do Poti, criada em 1827,
e, em 1832, elevada à categoria de Vila), contudo, o segundo Governador da Capitania
do Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro (1769 a 1775), incentivou a ideia da
transferência da capital para a Vila de São João do Parnaíba, sendo uma proposta

35
A grafia atual é Piauí, por isso a utilização das aspas para destaque.
36
A grafia atual é Poti, por isso a utilização das aspas para destaque.
129

rediscutida entre o final do século XVIII e as décadas iniciais do século XIX, discussão
que tornou mais forte por José Ildefonso de Sousa Ramos com a possibilidade de se
escolher o local da então Vila de São Gonçalo (atual cidade de Regeneração) instalada
em 1832 (LIMA, 2002; MONTE, 2010; COSTA, 2019; TEIXEIRA, 2019).

Figura 33 – Espacialização, considerando os principais rios piauienses, da então Vila de Oeiras


e as opções para mudança da capital

Organização: o autor (2022)

Em 1848, o então Vice-presidente da Província do Piauí Francisco Xavier de


Cerqueira, considerou e aprovou a mudança da capital para a Vila do Poti, sendo vetado
tal mudança pelo seu sucessor, Inácio Francisco da Mota, em 1849. A mudança
130

finalmente aconteceria em 1852, pelo Presidente da Província José Antônio Saraiva em


parceria com políticos, padre Mamede Lima e apoio da população (principalmente elite)
da Vila do Poti (ABREU; LIMA, 2020), oficialmente, no dia 16 de agosto.
A definição do local exato da nova capital passou por ajustes tendo em vista que
o local da então Vila sofria constantemente com os eventos de inundação do rio Poti por
se localizar em área de terraço fluvial formado pela confluência dos dois rios, além de
febres endêmicas que prejudicavam a população. A capital pensada para ser às margens
do rio deveria afastar-se dele por conta de sua dinâmica natural, sendo indicado que a
capital deveria ser construída seis quilômetros ao Sul da Vila do Poti, em área com cota
altimétrica mais elevada, em planalto conhecido como Chapada do Corisco, às margens
do Parnaíba, o que facilitaria a navegação.
O terreno a ser delimitado pertencia à sesmaria denominada “Data Covas”, e seu
traçado inicial contando com 100 quarteirões para abrigar igrejas, prédios públicos,
comerciais, residenciais e praças, além de destinação dos pontos para cemitério, cadeia
poços e estradas para corresponder os anseios da sociedade local, formada pela população
da Vila Velha do Poti, a elite de Oeiras, os migrantes e retirantes, a população escrava e
as pessoas oriundas do Leste Maranhense (LIMA, 2002; ANDRADE 2016; ABREU;
LIMA, 2020).
Seu plano urbanístico inicial assemelhava-se a um tabuleiro de xadrez (dificultado
e limitado pelas peculiaridades topográficas, como grotões, lagoas e áreas inundáveis),
com ruas paralelas, tendo como parâmetro a localização do rio Parnaíba enquanto
elemento gerador da cidade. Deste modo, posições privilegiadas para as primeiras
edificações públicas, a exemplo da Igreja de Nossa Senhora do Amparo (iniciada em
1850), a Cadeia Pública e o Cemitério, atual Cemitério São José (em 1852), o Quartel
(em 1853), o Hospital da Caridade e o Mercado Público (em 1854), a Igreja de Nossa
Senhora das Dores (iniciada em 1865) e a Igreja de São Benedito (iniciada em 1874) no
Alto da Jurubeba e, décadas depois, a construção da praça Demostenes Avelino no cume
deste morrote. Não obstante “ter sido construída para capital da Província, cresceu com
todos os defeitos inerentes a um desenvolvimento prematuro e apressado” (CHAVES,
1998, p. 27).
Ainda no século XIX, houve, em Teresina, um inchaço populacional e um tímido
espraiamento dos seus limites que tinham sido feitos no plano inicial, mesmo possuindo
características rurais e de infraestrutura precária, tendo em vista que havia pequenas
chácaras e quintas, inclusive com criação de animais. Na década de 1860, a cidade possuía
131

aproximadamente um quilômetro de extensão no sentido Norte-Sul, do Largo do Quartel


até o Barrocão37, enquanto no sentido Leste-Oeste seu desenvolvimento era menos
expressivo, sem, contudo, aproximar-se dos canais dos rios Poti e Parnaíba.
Juntamente com o Barrocão, outras características do relevo da cidade
impossibilitavam seu crescimento e deixava ainda mais complicada a vida na urbe. Em
1871, o Jornal A Pátria já noticiava os riscos, como os presentes na Rua da Imperatriz
(atual Rua Rui Barbosa), “pois que só com perigo de vida se pode passar aí de noite: tal
é o número de grotões que a cada passo se encontra [...] uma rua no estado em que se acha
a de que falamos. A Câmara poderá mandar nivelá-la com pouco dinheiro” (A PÁTRIA,
1871, p. 3, grifo nosso) e “[...] verdadeiros grotões, onde a gente sente medo de afogar-
se em uma noite escura e chuvosa” (A PÁTRIA, 1871, p. 3, grifo nosso), em uma nítida
intenção de se iniciar um processo de geotecnogênese na área que até então limitava o
crescimento no sentido Sul, fato agravado com o contexto da seca de 1877 e 1878 quando
retirantes, ao passarem por Teresina em direção ao Norte do país, fixaram residência e
caracterizaram um evidente problema populacional.
Em relação às alterações antropogeomorfológicas na área, em 1893 foi construída
a Fábrica de Fiação e Tecidos, às margens do rio Parnaíba, que hoje corresponde ao
cruzamento da Avenida Maranhão com a Rua Desembargador Freitas. O referido local
passou por consideráveis modificações antropogênicas, uma vez que o terreno era um
desaguadouro natural de um barrocão que tinha início próximo ao Alto da Pitombeira
(local em que hoje é sediado o Liceu Piauiense) e à Baixa da Égua, famoso grotão presente
na área e que alimentava a lagoa, que, inclusive, serviu como origem do material para a
construção de tijolos e telhas para a supracitada fábrica; e que, logo depois, fora aterrada
para a finalização das obras.
Na década de 1920, surgiram os bairros Matinha e Mafuá, em áreas mais afastadas
daquela inicialmente pensada, além da inicial ocupação do bairro Matadouro, em alusão
ao Matadouro Municipal ali construído que, tanto ele quanto o bairro São Joaquim foram
delimitados, assim como outros, pelo traçado de terra (atual rua Rui Barbosa) existente
entre a antiga Vila do Poti e o Centro, somados, ainda, ao aterro e retificação da estrada
para a cidade de Monsenhor Gil.
Caracterizada como uma lagoa marginal ao canal do rio Parnaíba, esta, na
classificação de Ford et al (2010), passou por estágios distintos na gênese de terrenos

37
Nome popular para desaguadouro natural.
132

artificiais, a exemplo de infilled ground, em que houve a escavação e, posteriormente, o


preenchimento, uma sucessão, assim de worked ground e made ground.
A figura 34 ilustra a Fábrica de Fiação em 1924, quando houve o avanço das águas
do Parnaíba sobre seu leito maior, fato que aconteceu repetidas vezes, a exemplo da
“grande cheia de 192638”, inclusive que tanto a Rua da Estrela (atual Rua Desembargador
Freitas) quanto a Rua João Cabral eram navegáveis, que o nível do rio chegou à Rua
Barroso (limite do plano de urbanização) e o desabamento de inúmeras moradias em
virtude deste episódio fluvial (MONTEIRO, 1988), além das situações de calamidade ao
Sul (no então Povoado Areias, hoje bairro) e ao Norte (no Poty Velho), em mesmo
período do surgimento das primeiras rodovias no Piauí (COSTA, 2019).

Figura 34 – Em A, Fábrica de Fiação durante evento de inundação na década de 1920; e, em B,


mesmo espaço em 2021, após aterramento de parte da via

Fonte: MUVIS (2018); pesquisa direta (2021)

Na década de 1930, sob governo municipal de Domingos Monteiro, houve início


de um processo de modernização associado aos Códigos de Posturas da cidade, a exemplo
da proibição de casas de palha, abertura de vias e aterramento e canalização de linhas
d’água como forma de expandir os serviços públicos, fato que contribuiu com a plena
ocupação da área central planejada, em quase um século de tímida ocupação.
Entre os anos 1940 e 1960 a expansão se deu no sentido Norte (terrenos
alagadiços) e Sul (terrenos inicialmente planos e, mais adiante, acidentados), sob a égide
da política de integração nacional apresentando Teresina como ponto de ligação entre o
Nordeste e o Norte, perpassando barreiras naturais até então intransponíveis e refletindo

38
“O Parnaíba, de alguns anos para cá tem avolumado assustadoramente as suas águas. Quer parecer
que este ano vamos ter a mesma quadra de prejuízos e horrores que as invernadas de 1917 e 1924
nos trouxeram [...]. O que de bom ou não eles (meses de março e abril) nos reservam, não se pode prever”
[...] (O PARNAÍBA...,1926, p. 1, grifo nosso).
133

na produção espacial urbana tanto no crescimento do tecido quanto nas formas de uso e
ocupação do solo e de espacialização dos grupos sociais.
Teresina, até este momento histórico estava limitada às áreas de planícies e
terraços fluviais do rio Parnaíba, em cotas altimétricas baixas e, por isso, a criação de
terrenos antropogênicos é característico a esse momento, tendo em vista que apenas
décadas depois a cidade foi ocupando as áreas de encostas, ampliando a diversidade de
formas e processos antropogênicos, enquanto a cidade como imã (ROLNIK, 1995),
paisagem ímpar (CERTEAU, 1982) e multifacetada (BRESCIANI, 1991), notadamente
quando do processo de embelezamento do centro de Teresina e expulsão da população de
baixa renda para a periferia durante o Estado Novo.
O foco no discurso de modernidade e preparação da cidade para o seu primeiro
centenário contribuiu com a geração de novos terrenos característicos da
antropogeomorfologia, do tipo made ground no aterramento de lagoas marginais e
córregos, a exemplo do aterramento e canalização da Baixa do Chicão, Baixa da Égua e
da Lagoa da Palha de Arroz (figura 35), e landscaped ground quando essas intervenções
foram excessivas ao ponto de não se poder separar quais tipologias unitárias.

Figura 35 – Processos geotecnogênicos em riacho e lagoa. Em A, pontilhão sobre o barrocão na


década de 1930; em B, mesmo espaço, agora (2021) com riacho aterrado/tamponado; em C,
lagoa Palha de Arroz (década de 1950) oriunda da drenagem do barrocão, e; em D, praça Da
Costa e Silva, construída após aterramento da lagoa

Fonte: Silva (2011); Pessoa (2019) e pesquisa direta (2021). Organização: o autor (2022).
134

A vista disso, a análise do desenho urbano e dos elementos físicos que os


compõem (rios, lagos, topografia e etc) torna-se importante para demonstrar, dentro de
diferentes realidades, como se estrutura o espaço urbano e qual papel destes elementos
para a criação e manutenção do mesmo. O próprio planejamento da cidade desconsiderou
as características topográficas e de drenagem (riachos e lagoas), com traçado
perpendicular ao leito do rio e cortes perpendiculares às curvas de nível, fato que auxilia
na elevação do escoamento superficial e danos à jusante. O aterramento parcial ou total
de lagoas, a ocupação de diques marginais e em áreas abaixo das cotas de inundação
evidenciam e expõe Teresina a uma diversidade de riscos e vulnerabilidades,
evidenciadas de forma concreta nos grandes episódios de inundação, como em 1917,
1924, 1926, 1947, 1950, 1960, 1979, 1985, 2004, 2008 e 2009 (MONTEIRO, 1988;
SILVA, 2011).
Nesse recorte histórico, os principais elementos do relevo da área ocupada eram
os morros da Esperança, São João e do Querosene, os morrotes Alto da Jurubeba, Alto da
Pitombeira e Alto da Moderação e as lagoas na planície fluvio-lagunar dos rios Poti e
Parnaíba, da Palha de Arroz, Barrocão, Pirajá e Baixa da Égua, além dos grotões e
terrenos rochosos39 (SILVA, 2011).
Na década de 1950 a preocupação da administração municipal focava no alcance
da modernidade para o aniversário de 100 anos da jovem capital, inclusive com críticas
expressas em jornais locais, tais como o Jornal do Comércio que anunciava a “Pobre
Teresina!” (JORNAL DO COMÉRCIO, 1952) para evidenciar seus aspectos de
saneamento básico e limpeza, com críticas sobre as chagas sociais, problemas sociais e
misérias na cidade.
Tal ideário modernista contrastava com a realidade da infraestrutura local, o que
auxiliou, a partir desta década, o aumento de modificações antropogeomorfológica,
evidenciado com o recebimento, em Teresina, de grande número de migrantes (motivados
pelo declínio do extrativismo) potencializados pelo característica de entroncamento
rodoviário da cidade, tendo em vista a construção das BRs 316 (saída Sul) e 343 (saída
Leste) e a construção da ponte Juscelino Kubistchek (em 1957) facilitando a ocupação,
anos depois, de áreas além rio Poti.

39
Principalmente no cruzamento das ruas Desembargador Freitas e Riachuelo, em que, “em junho de 1868
foi determinado [...] ali se levantavam enormes rochas, à flor da terra, dificultando o trânsito” (CHAVES,
1998, p. 39).
135

Neste processo, foram incorporados, à Norte, os bairros Vila Operária, Vila


Militar, Feira de Amostra e Matadouro, ao Sul, os bairros Vermelha, São Pedro, Tabuleta
e Piçarra, além dos bairros Cabral e Ilhotas enquanto a periferia do Centro.

[...]surgindo os primeiros problemas de ocupação em relação à


drenagem, pois com a expansão dos serviços de calçamento as lagoas e
os vales dos riachos (chamados de “grotas” ou “grotões”) foram sendo
pavimentados formando as primeiras “baixas” do relevo do sítio
urbano, que entre outras podem ser citadas a “baixa do Chicão” ao sul
(hoje Av. José dos Santos e Silva), a “Baixa da Égua” ao norte (atual
Praça Landri Sales) e a lagoa da “palha de arroz” (hoje Praça Da Costa
e Silva), no centro-sul (MENDES, 2000, p. 4).

A partir da década de 1960 a população se dirige para as porções mais elevadas


da cidade, somados aos conjuntos habitacionais que foram construídos mais afastados do
centro da cidade, a exemplo dos Conjuntos Dirceu Arcoverde (bairro Itararé), Saci,
Mocambinho, ampliação do Parque Piauí, além do processo de favelização, como as
favelas Gogó da Ema, Eucalipto, Moi de Varas, Morro do Querosene e a favela da Lucaia.
Esta última em uma área alagadiça entre lagoas e o rio Parnaíba sendo posteriormente
aterrada (made ground).
Com a valorização das terras nas porções Leste e Sudeste, a ocupação da porção
Norte por famílias de classes sociais de menor renda foi mais evidente principalmente
nos terrenos ribeirinhos aos rios Parnaíba e Poti e em volta das lagoas existentes, a
exemplo da origem do atual bairro São Joaquim. A própria dinâmica de ocupação no
sentido Norte confunde-se tanto com a problemática de moradia quanto com os usos e
apropriação de recursos naturais em detrimento do uso da terra principalmente na
disposição de argila para a construção de telhas e tijolos e, posteriormente, o início da
cadeia produtiva do artesanato, auxiliando na descaracterização das lagoas naturais e
produção de lagoas artificiais, com dimensões variadas, algumas, inclusive, utilizadas
suas margens para construção de edificações.
Associado a esta ocupação e modificações na paisagem urbana e como
consequência aos eventos de inundação que assolavam a área repetidamente, foi
construído um dique40 de proteção que se estende do bairro Acarape ao Mocambinho e,
sobre ele, a construção de boa parte da Avenida Boa Esperança e da Rua Desembargador
Flavio Furtado, em um exemplo de made ground com tipologia engineered embankment

40
Os diques são construídos com solos sobre aluviões silto-arenosos e silto-argilosos, depositados nas
planícies dos rios (BRASIL, 2015).
136

e road embankment contribuindo para alteração da cota de inundação, tornando-o limite


topográfico e aumento da proteção da população local. No entanto, como a área estava
naturalmente em cota inferior ao dique, o fluxo de escoamento das lagoas para o rio
também foi comprometido.
A supracitada intervenção foi adicionada posteriormente com a instalação de dois
sistemas de recalque (um na lagoa dos Oleiros com capacidade de 2m³/s e outro na lagoa
do Mocambinho com capacidade de 1m³/s) para o bombeamento do excedente de águas
(TERESINA, 1999), somados posteriormente com a construção de canais de interligação
(canais Padre Eduardo e São Joaquim) das lagoas para um maior, a dos Oleiros e, desta,
há o bombeamento das águas para o rio Parnaíba, geotecnogênese alterando a drenagem
local.
É neste momento urbano que também a cidade ultrapassa as barreiras naturais
impostas pelo rio Poti, contudo, com status social superior às demais área ocupadas por
constituir, a área além do Poti (bairros Jóquei Clube, Fátima e São Cristóvão, por
exemplo, além da abertura da Avenida Nossa Senhora de Fátima em 1974 e a construção
do campus universitário da UFPI), ocupou inicialmente as áreas de altos terraços e baixos
morros do referido rio, além de ocupações próximas a seus afluentes, intensificando, nos
anos seguintes, a canalização (channeling stream) e tamponamento de muitos destes.
Dentre esses bairros, estavam o Planalto Ininga, cuja ocupação resultou de uma invasão,
o Cidade Satélite e o Piçarreira (MONTE, 2010), além da favela Purgal (as famílias foram
transferidas para o Itararé), no bairro Jóquei Clube, como uma das metas da administração
municipal ser a “desfavelização de Teresina”.
Neste recorte temporal, na década de 1960 foi criado o bairro Cidade Satélite,
sendo, a partir de descaracterização da área com doação de terrenos para construção de
clubes, tornado apenas Satélite em 1988 (TERESINA, 2018c), em igual momento do
surgimento do bairro Parque Juliana, tendo o Aterro (outrora lixão) construído na década
anterior.
Soma-se a abertura das avenidas Miguel Rosa, Maranhão e Castelo Branco, as
duas últimas inclusive proporcionaram o aterramento de lagoas marginais condicionando
a gênese de made ground. Muitas famílias expostas a estes riscos, principalmente de
inundação, foram remanejadas para bairros como Buenos Aires e Água Mineral, em
virtude da ociosidade dos terrenos existentes e por apresentarem topografia elevada, se
comparada às áreas anteriormente ocupadas. Esse é o início da fase em que Teresina
137

começa o adensamento populacional em seus morros e vertentes, o que por si só auxilia


na existência de artificial ground.
O que antes deveria ser aterrado para residir (como o terreno alagadiço que foi
aterrado para a construção do Centro Administrativo do Piauí, na década de 1970),
passaria agora a recortar morros, a exemplo do recuo de vertentes para fixação de
residências e/ou abertura de vias, tais como os cortes do relevo na Avenida Duque de
Caxias e na Rua Guaporé, ambas na região Centro-Norte da cidade.
O impasse com a retiradas de favelas só foi resolvido com a criação do programa
PROMORAR, em que houve a remoção de famílias para o novo bairro homônimo a este
programa, no início da década de 1980, contribuindo inicialmente para a canalização (na
década seguinte) seguida de tamponamento de um riacho. As próprias características
geomorfológicas do bairro indicam o direcionamento do escoamento, inclusive com
riscos de enxurradas e alagamentos no período chuvoso (figura 36), fato agravado com a
impermeabilização asfáltica total das vias do bairro, contribuindo para o aumento e
velocidade do escoamento superficial.

Figura 36 – Antropização no leito de canal de drenagem no bairro Promorar. Em A, trecho final


do tamponamento do canal, e; em B, episódios de enxurradas e alagamentos em 2019

Fonte: A- pesquisa direta (2021); B- Carta Piauí (2019). Organização: o autor (2022).

Neste escopo, o processo de crescimento da cidade expressa produções espaciais


que ilustram a (re)estruturação urbana em suas formas e conteúdos (BUENO; LIMA,
2015) no tangente ao cotidiano da sociedade. A expansão urbana, o baixo preço da terra
e a quantidade de terrenos ociosos contribuíram para, principalmente entre as décadas de
1970 e 1990, o surgimento de conjuntos habitacionais e ocupações em espaços não
planejados, desconsiderando, em muitos casos, as limitações físico-naturais destes
espaços e que até hoje torna-se evidente nas construções mais recentes, mesmo com a
existência de legislações e planos diretores, em uma alusão aos agentes produtores
(CORREA, 2004) do espaço urbano.
138

A ausência de mecanismos para mitigar os problemas ambientais foi mais nítida


com o surgimento de novos bairros e as constantes modificações no limite urbano, em
que pese o acompanhamento e aumento da expressividade de ocupações ao longo de
canais de drenagem e morros, evidenciando a construção de cenários de riscos. No final
da década de 1980 outra modificação das características geomorfológicas de Teresina
tornou-se mais nítida na área central da cidade com o rebaixamento da linha férrea com
a criação de um fosso com aproximadamente 4 km de comprimento e 28 m de largura e
5 m de profundidade, em um exemplo de worked ground¸ com taludes impermeabilizados
com material cerâmico (figura 37A).
Além disso, na área central, em decorrência do expressivo uso de poços tubulares
(principalmente na primeira metade do século XX), contribuiu para que houvesse
exemplos de disturbed ground, como observado nos eventos de subsidência em 1999 na
Rua Simplício Mendes (figura 37B), em 2008 na Rua Francisco Mendes associados às
áreas cársticas em Teresina, somado, ainda, aos episódios em 2018 no bairro Água
Mineral (CIDADEVERDE.COM, 2018) e o de 2019 no bairro São Joaquim (G1 PIAUÍ,
2019), como parte dos mais de quinze pontos de riscos de afundamento.

Figura 37 – Alterações geomorfológicas associadas à ação antrópica. Em A, gênese de worked


ground associada ao rebaixamento da linha férrea; e, em B, episódio de subsidência de solo em
1999 na Rua Simplício Mendes exemplificando disturbed ground

Fonte: pesquisa direta (A); Barradas et al (2010).

Igualmente associado aos diques próximos às confluências dos rios, foram


construídas avenidas que tinham como objetivo inicial diminuir os riscos com as
inundações, como a Avenida Marechal Castelo Branco (margem esquerda do rio Poti) na
década de 1980 e seu prolongamento na primeira década dos anos 2000, inclusive com
sua nítida elevação (road embankment) se comparado ao terreno do entorno.
A partir da década de 1990, a especulação imobiliária contribuiu para a construção
dos primeiros shoppings centers em Teresina, na região Leste, sobre lagoas aterradas
139

(made ground), exemplo comum ainda na construção e prolongamento das avenidas


marginais aos rios. Além de ocupações originadas com o aterramento (parcial) de lagoas
e canais, a exemplo das vilas Carlos Feitosa, Padre Eduardo, Apolônia, Pantanal,
Mocambinho e São Francisco na região Centro-Norte, evidenciando ainda com
ocupações sobre os diques de proteção e prejudicando sua estabilidade, como laudos
elaborados pela CPRM (BRASIL, 2015).
Com a ocupação em terrenos com curvas de nível mais elevadas e distantes do
leito maior dos rios, os empreendimentos provocaram alterações significativas nas
características de drenagem e topográfica, principalmente associadas a aterros, cortes do
relevo e interrupção de canais de drenagem promovendo a descaracterização de subbacias
hidrográficas, de modo que o tecido urbano criado nas últimas décadas se sobrepõe ao
que antes era visto como barreiras naturais que impediam o crescimento da cidade,
agravando cenários de riscos de inundação, alagamentos, enxurradas e deslizamentos.
Exemplifica-se com as descaracterizações ocorridas ao longo do riacho Itararé,
localizado na maior subbacia urbana de Teresina, que conta com seu leito natural ocupado
por edificações diversas, além de obras de aterros e canalizações em diferentes pontos, a
exemplo da construção da BR-343 na primeira metade do século XX e com a construção
do Condomínio Mirante do Lago sobre seu leito e auxiliando na intensificação dos
episódios de enxurradas e alagamentos. Exemplifica-se com os eventos de abril de 2015
e noticiado com a manchete “Chuva bloqueia BR, avenida e alaga condomínio luxuoso
em Teresina” (PORTAL O DIA, 2015) e “BR-343 rompe em Teresina e veículos são
carregados por enxurrada” (180 GRAUS, 2018), somados às áreas de risco por onde passa
o canal do referido riacho, tais como trechos da Avenida Joaquim Nelson e dos bairros
Recanto das Palmeiras e São João, sobretudo na Vila São Raimundo, caracterizada por
ser uma área naturalmente alagada e com formação de lagoas, justificando seu pouco
adensamento populacional.
Ao desconsiderar os aspectos do ciclo hidrológico da cidade, são observados
outros exemplos de processos antropogênicos que condicionam a existência de riscos, tais
como: a construção do conjunto Torquato Neto em uma área de exutório da subbacia PE-
31, proporcionando eventos de alagamentos e enxurradas quando do aumento da
precipitação pluviométrica −“Mulher é achada morta após ser levada por enxurrada
durante chuva forte em Teresina” (G1 PIAUÍ, 2018); descaracterização de vertentes e
fundos de vales no Vale do Gavião; a construção e duplicação (em andamento) da Estrada
da Alegria com a canalização de riachos e aterramentos parcial de lagoas e riachos; o
140

represamento e posterior rompimento (em 2019) de barragem no Parque Rodoviário


(figura 38), com anterior descaracterização de canal de drenagem.

Figura 38 – Episódio de rompimento de barragem no Parque Rodoviário no ano de 2019. Em A,


destaque para o rompimento de rua que servia como barreira; em B, área após rompimento; em
C, canal de drenagem com leito descaracterizado pela ocupação urbana; em D, passagem da
água durante a enxurrada; e, em E, altura do nível da água

Fonte: Marcelo; Costa (2019); Oliveira (2019). Organização: o autor (2022)

Acrescenta-se a retirada de material (massará) para a construção civil,


principalmente nos bairros Monte Verde, Alegre e Aroeiras, na região Centro-Norte, e
Bela Vista na região Sul; o aterramento de parte da planície e terraço do rio Parnaíba na
recente ocupação Vila Lindalma Soares; e a mineração por dragas de sucção no leito
menor dos rios Parnaíba e Poti descaracterizando seu canal.
Outros exemplos de dinâmicas antropogênicas recentes (e ainda em processo)
podem ser observadas, na região Sul: ao longo da Vila da Paz, com ocupações em áreas
de risco próximas a um canal de drenagem que, em seu projeto de requalificação urbana
já se encontra, em parte, canalizado, ilustrando made ground e landscaped ground; em
áreas do bairro Bela Vista com made ground ao longo de canais de drenagem (próximo
141

às ruas Irmã Alzira Carvalho, Gávea, Prof. Diniz, Grécia e Elesbão Veloso Soares) com
deposição de materiais diversos, tais como madeiras, rejeitos de construção civil,
plásticos e gesso; na Vila Afonso Gil e Vila Irmã Dulce, com made ground e canalização
de riachos, ocupações sobre o leito e casos de desabamento de residências associadas ao
processo de geotecnogênese.
Na região Sudeste de Teresina são observados, além dos exemplos anteriormente
listados, a descaracterização de leitos de riachos com a gênese de made ground (fato
também observado ao longo do prolongamento da Estrada da Redonda com aterro e
modificação da topografia de áreas de planícies do rio Poti), inclusive com
cimentação/impermeabilização das vertentes, a exemplo daqueles próximos às ruas
Moisés Castelo Branco Filho e Carlotinha Brito e avenidas Itararé, Antônio Rodrigues e
Padre Humberto Pietrogrande. Worked ground pode ser verificado com dimensões
variadas nas ruas Prof. Camilo Filho (Estrada da Usina Santana) e Ferroviária, esta última
associada ao rebaixamento da linha férrea.
Nesse contexto, o bairro Flor do Campo corresponde à área acrescida
(desmembrada do bairro Todos os Santos) ao espaço urbano pela Lei Nº 3.906, de 31 de
agosto de 2009, e com a implantação do Residencial Padre Pedro Balzi, com as famílias
em programas de retirada de pessoas de áreas de riscos, principalmente da região Centro-
Norte da cidade (TERESINA, 2020b).
Sobre a região Leste, artificial ground mais expressivos são: dique da Potycabana,
aterros de lagoas e canalização de riachos, como os observados ao longo da Av. Ulisses
Marques com diversos pontos de made ground e worked ground, além de exemplos nos
bairros Satélite, Vila Bandeirante e Samapi e ao longo da Avenida Aviador Rossini.
Acrescenta-se ainda que, como parte considerável desta região está plenamente ocupada,
a identificação de terrenos artificiais torna-se de difícil acesso em uma primeira
visualização, tornando necessário um estudo aprofundado em decorrência dos existentes
landscaped ground.
As formas, materiais e processos associados à história antropogeomorfológica de
Teresina sintetizam a relação relevo e expansão urbana, em que pese a gênese de
morfologias antropogênicas em diferentes estágios (pré-urbanização, urbanização e
urbanização consolidada) associadas ainda a morfologias semi-preservadas ou
preservadas/originais.
Rupturas topográficas (abrupta ou suave); descaracterização de vertentes, fundos
de vales e colos topográficos; cortes topográficos (abrupto ou suave); degraus antrópicos;
142

contenção de encostas (com pneus e madeira, por exemplo); intervenção (retificação,


canalização, tamponamento ou aterro) de canais de drenagem e de canais de escoamento
de esgoto e água servida; cavas e cicatrizes de mineração; diques artificiais; trincas em
pavimentos, muros e paredes; aumento de áreas de solo exposto; antropização de
processos erosivos (laminar, sulcos, ravinas e voçorocamentos) em virtude de mudanças
topográficas, de drenagem e na cobertura vegetal; além da gênese de depósitos
antropogênicos, exemplificam os processos agradacionais (deposicionais) e
degradacionais (denudacionais) existentes.
Frente ao abordado, a cidade continua crescendo em sentido oposto às planícies e
terraços fluviais, ocupando assim, morros e baixos planaltos e diversificando os riscos
existentes e intensificados com a ocupação sem levar em consideração as particularidades
de cada ambiente e auxiliando na espacialização da população teresinense desde a
fundação da cidade, como verificado no gráfico 4, em um arcabouço socioambiental
urbano complexo nos aproximadamente 240 km² de área urbana.

Gráfico 4 – Evolução populacional de Teresina (1851/2021)


1000000
861.442
900000 822.364 836.475 844.245
850.198
871.126
800000 735.164 830.231840.600847.430
868.075
767.557
700000 613.767 676.596
600000
556.911
500000

400000
339.042
300000

200000 98.329 181.071


48.614 67.641
100000 49 13.122 31.523
90.723
0 8.000 21.692 45.316 57.500
1851
1854
1855
1872
1890
1900
1910
1920
1940
1950
1960
1970
1980
1991
1996
2000
2007
2010
2011*
2012*
2013*
2014*
2015*
2016*
2017*
2018*
2020*
2021*

(*) População estimada para todo o município. Fonte: BRASIL (1872), Nunes (2007), Queiroz
(2011), TERESINA (2019); IBGE (2021). Organização: o autor (2022).

Inseridos principalmente ao longo dos rios, as áreas de risco se consolidam como


sérios problemas para a cidade que, considerando a Linha Média de Enchentes Ordinárias
(LMEO), definida pela Marinha Brasileira como limite de risco, parte considerável da
região Centro-Norte não deveria ser ocupada (MATOS, 2017), sendo, portanto, área non
aedificandi.
143

Em levantamento realizado para o ano de 2010, o relatório “População em áreas


de risco no Brasil” (IBGE, 2018) quantificou os domicílios e a população exposta a riscos
de inundações, enxurradas e movimentos de massa, considerando a Base Territorial
Estatística de Área de Risco (BATER41). Desse quantitativo, para a cidade de Teresina
foram identificados 28 polígonos, 6.974 domicílios e 26.773 pessoas em áreas de riscos
e 28 polígonos BATER, ficando, em termos comparativos com as demais capitais
nordestinas (Tabela 3 e Anexo A), em 5º lugar em quantidade de polígonos, 4º lugar em
domicílios e 4º lugar em quantidade de pessoas em áreas de riscos.

Tabela 3 – Capitais nordestinas (exceto Teresina) a partir de dados de polígonos BATER


PESSOAS EM
CAPITAIS POLÍGONOS DOMICÍLIOS
ÁREAS DE RISCO
São Luís (MA) 9 259 972
Aracaju (SE) 17 1.066 3.980
João Pessoa (PB) 17 3.999 13.890
Recife (PE) 20 60.019 206.761
Maceió (AL) 45 20.997 70.343
Natal (RN) 46 29.376 104.433
Fortaleza (CE) 60 27.923 102.836
Salvador (BA) 226 385.191 1.217.527
Fonte: IBGE (2018), adaptado pelo autor (2022).

Dessa forma, Teresina se inclui neste panorama de riscos (com os dados das
capitais nordestinas como universo) com aproximadamente: 1% de domicílios em áreas
de riscos, 2% da população em áreas de riscos, 6% da quantidade de polígonos BATER.
Conforme cruzamento e refinamento de dados entre relatórios da CPRM (2020),
da SEMPLAN e do aplicativo Teresina Geo-Equipamento, são identificadas em Teresina
um total de 52 áreas de risco, sendo 22 na região Centro-Norte, 11 na região Sul, 13 na
região Leste e 06 na região Sudeste. Destas áreas, são elencados riscos de inundação,
alagamento e deslizamentos potencializados e determinados pelo avanço da urbanização
e instabilidade das características físico-naturais locais (figura 39).

41
O polígono da BATER constitui-se na menor área possível resultante da interseção das áreas
de risco com as feições censitárias mais aderentes aos objetivos do trabalho. Representa a melhor
aproximação possível para a apresentação de informações demográficas e socioeconômicas,
considerando-se as características geométricas das feições envolvidas e o sigilo estatístico (IBGE,
2018, p. 27)
144

Figura 39 – Ocupação urbana de Teresina com identificação das áreas de riscos, faixa LMEO e
destaque para as áreas de interesse da pesquisa

Organização: o autor (2022).

As áreas de riscos catalogadas, são, na Região Centro-Norte, os bairros Morro da


Esperança, Por Enquanto, Primavera, Água Mineral, Alto Alegre, Mafrense, Olarias, São
145

Joaquim, Parque Alvorada, Matadouro, com uma área cada, além dos bairros
Mocambinho (com três áreas), Poti Velho (com quatro áreas) e Nova Brasília (com quatro
áreas); todos com inundação (rios Poti e Parnaíba, seus afluentes e lagoas marginais)
enquanto tipologia de risco. Na Região Sul têm-se os bairros Vila da Paz, Parque
Rodoviário, Irmã Dulce, Torquato Neto, Dagmar Mazza, Cidade Nova, Cristo Rei e
Monte Castelo com riscos de inundação e/ou alagamento; o bairro Bela Vista com risco
de deslizamento e a Vila Afonso Gil e o Parque Vitória com episódios tanto de inundação
quanto de deslizamentos. Os riscos de inundação estão associados aos afluentes dos rios
Poti e Parnaíba.
Já na Região Leste, são encontradas nos bairros São João, Fátima (com duas
áreas), Pedra Mole, Cidade Jardim, Porto do Centro e Samapi, com riscos de inundação
tanto do rio Poti quanto de seus afluentes; bairros Vale do Gavião e Verde Lar (duas
áreas) com deslizamentos; além do bairro Satélite, com áreas detentoras de risco de
inundação, queda de blocos e deslizamento. Os riscos de inundação estão associados ao
rio Poti e seus afluentes; ao passo que na Região Sudeste foram identificadas no bairro
Flor do Campo, com áreas possuidoras de risco de deslizamentos e inundação, além de
quatro áreas no bairro São Sebastião expostas a riscos de inundação. Assim como na
Região Leste, os riscos de inundação estão associados ao rio Poti e seus afluentes.
Como ainda observado, parte considerável das áreas de risco correspondem
aqueles espaços ocupados até meados da década de 1950 e entre os anos de 1971 e 1991,
este último período caracterizado como aquele em que a cidade ocupou novos espaços,
sobretudo em terrenos com características topográficas distintas do entorno, a exemplo
dos morros, morretes e baixos planaltos, inclusive em áreas de nascentes.

5.2 Parcelamento do solo, ordenamento territorial e as bases legais municipais:


dimensões de suscetibilidades, riscos e vulnerabilidades

Normativamente e considerando a regulação da ocupação do seu espaço, Teresina


possui uma série de normas jurídicas, a exemplo do Plano Diretor Local Integrado (PDLI)
em 1969, o I Plano Estrutural de Teresina (PET) em 1977, o Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano (PDDU) em 1983, o II Plano Estrutural de Teresina (PET) em
1988, a Agenda Teresina 2015 em 2002, a Agenda Teresina 2030 em 2015 e, por fim, o
Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) em 2019.
146

Tal levantamento é importante no campo da abordagem histórica na


antropogeomorfologia uma vez que auxilia, dentre muitos aspectos, na compreensão da
influência do poder público no incentivo a novas ocupações, particularmente na análise
de situações e construção de cenários; no acompanhamento das modificações físico-
naturais em decorrência da urbanização e do aproveitamento dos recursos naturais; no
entendimento da concepção do planejamento urbano local frente à preservação ambiental
e à estrutura e funcionamento do meio; na identificação de suscetibilidades e processos
superficiais e suas diversidades e complexidades; em como a Geomorfologia se insere no
planejamento e desenvolvimento urbano, a exemplo da geometria do relevo e seus
aspectos genéticos, além dos padrões de arruamento e ocupação de encostas e margens
de canais fluviais que propiciem o entendimento dos processos antropogeomorfológicos
tanto diretos (a exemplo da mineração) quanto indiretos (indução ao aceleramento da
geomorfogênese em virtude da urbanização e de fixação de infraestruturas).
O primeiro plano a ser elaborado, o PDLI, após a fundação da cidade, caracterizou
o início de um processo de planejamento necessário para a cidade, tendo em vista a
indispensável reorganização dos serviços, considerando ainda que Teresina foi a
“primeira capital brasileira a dispor de um instrumento de trabalho dessa natureza, que
assegura a compatibilização dos aspectos físico-territorial, econômico, social e
institucional, bem como a adequação dos objetivos locais ao planejamento nacional,
regional e estadual (TERESINA, 1969, p. 7).
O referido plano era composto de três partes. Inicialmente foi elaborado um
diagnóstico municipal (Teresina: entraves e impulsos no seu desenvolvimento),
objetivando “encontrar o móvel do desenvolvimento local que permitisse romper com o
círculo vicioso da pobreza” (TERESINA, 1969, p. 8), envolvendo aspectos físico-naturais
(geologia, relevo, drenagem e clima, etc.), dinâmica de expansão urbana, estagnação da
economia local, processo migratório, além de indicadores sociais, para que só depois
fossem definidas estratégias de intervenção urbana.
A segunda parte (Estratégias de desenvolvimento local) era caracterizada por
possuir propostas de intervenção a serem implantadas objetivando o impulsionamento
econômico e social teresinense, bem como pela definição de diretrizes para a ocupação,
inclusive associado aos aspectos topográficos e microclimáticos, projetando-se “novos
bairros residenciais nas partes mais altas do interflúvio, em direção aos terrenos mais
irregulares de colinas e morros a sudeste da antiga linha de tiro” (TERESINA, 1969, p.
55) para diminuir a sensação do intenso calor característico da cidade. A terceira parte
147

(Programa de ação) possuía uma série de reformas tanto no sistema administrativo da


cidade quanto reformas no espaço urbano.
O PDLI auxiliou na definição do primeiro zoneamento e de estratégias para obras
de infraestrutura calcadas no desenvolvimento e planejamento urbano, tais como abertura
e pavimentação de vias (a exemplo da Avenida Miguel Rosa), ampliação do fornecimento
de água, energia elétrica e sistema de esgoto. Contudo, tais obras privilegiaram apenas
determinados grupos sociais, além de contribuírem para a supervalorização de terrenos e
a geração de vazios urbanos, até hoje característicos da cidade. Por questões financeiras
e de ausência de legislações urbanas específicas, o referido plano não foi executado, mas
contribuiu consideravelmente com os diagnósticos elaborados.
Sua relação com os corpos hídricos (apenas os rios Parnaíba e Poti) se deu com a
delimitação de áreas verdes públicas, áreas livres e de recuperação urbana, sem, contudo,
considerar seus afluentes e lagoas. Na dimensão da antropogeomorfologia, o Plano
contribuiu ainda para o entendimento das transformações geomorfológicas existentes, tais
como o desmonte de afloramentos rochosos, bem como na dimensão de transformações
futuras, a exemplo dos taludes de cortes, principalmente aqueles feitos em solos argilosos
e sílticos por exigirem maiores cuidados, além dos reduzidos problemas de
terraplanagem. Por mais que a cidade já esteja ocupando áreas de riscos, principalmente
de inundação, pouca atenção foi dispensada ao assunto.
Na década seguinte, o I PET (1977) foi dividido em três volumes: o primeiro
consta de uma avaliação e um diagnóstico sobre os aspectos físico-naturais, sociais e
econômicos, bem como sobre a estrutura físico-espacial da cidade; o segundo possui a
identificação dos problemas das áreas urbanas, além de um plano de ação e um Projeto
de Lei de Uso e Ocupação do Solo; enquanto o terceiro foi constituído dos mapas sínteses.
Caracterizado por ser uma revisão crítica e avaliativa do PDLI, o I PET e suas
intervenções propostas direcionavam-se sobretudo para os bairros mais carentes da
cidade, diferentemente dos demais que priorizavam as áreas centrais. Diante disso, e do
aumento populacional, as ocupações em áreas vulneráveis (principalmente nas margens
dos rios Poti e Parnaíba), a atual região Centro-Norte seria aquela em que haveria maior
cenário de riscos ambientais e de ausência de projetos estruturantes na área associados às
ocupações irregulares com o surgimento inclusive de vilas e favelas.
O referido plano dividiu os 108 bairros como livres, inundáveis, ocupáveis,
agrícolas ou reservas paisagísticas, além de dividir a cidade levando em consideração seus
aspectos topográficos, havendo, assim, três classes para ocupação, admissível, normal e
148

impeditivo. Os bairros Matadouro e São Joaquim, por exemplo, estavam localizados em


ambientes inundáveis e de ocupação impeditiva, estando inseridos na região “mais
desvalorizada da cidade” (MATOS, 2017, p. 133), daí também serem áreas que deveriam
ter a ocupação urbana congelada, assim como o Satélite, em virtude destas limitações
naturais. Estes dois primeiros bairros inclusive com cenários que aumentavam a
complexidade, uma vez que existiam atividades de extração de argila auxiliando em
impactos no solo em decorrência das escavações.
Quanto aos processos geotecnogênicos planejados vislumbrava-se que a
disposição do lixo coletado na cidade deveria ser em aterros sanitários a serem localizados
nos terrenos mais baixos e alagadiços para a consolidação de uma topografia local.
Acrescenta-se ainda que, conforme o Projeto de Lei que acompanhava o plano em seu
Art. 7º, não deveria haver parcelamento do solo urbano em terrenos baixos, alagadiços e
inundáveis, antes que o(a) requerente não fizesse obras de aterros e drenagem, do mesmo
modo para terrenos com declividades superior a 30%. Tal parcelamento não deveria
ocorrer em terrenos já aterrados com materiais perigosos à saúde que, conforme Art. 9º,
poderia ocorrer apenas com as necessárias medidas de saneamento do local.
Em relação aos cursos d’água, apontava-se que qualquer terreno poderia ser
aterrado, retificado ou desviado após parecer técnico da Prefeitura, além de que os fundos
de vales ou talvegues deveriam possuir faixa non aedificandi, conforme Arts. 11 e 12.
Em 1983, apesar dos estudos e relatórios produzidos, o PDDU não foi concluído,
impossibilitando assim, a efetivação das ações previstas. A estrutura do estudo que, pela
primeira vez adotou o nome “Plano Diretor” estava dividida em quatro relatórios
(Alternativas de Desenvolvimento; Formulação de Políticas e Estratégias; Consolidação
das Políticas e Estratégias e Consolidação do PDDU). O estudo defendera uma cidade
polinucleada e descentralizada, com destaque para a região Sul e o sistema viário, além
de compreender em si a abordagem integrada entre Teresina e a cidade de Timon
(separadas apenas pelo rio Parnaíba).
Mesmo sem ter ações efetivas, o PDDU apontava para os necessários ajustes em
áreas com topografia acidentadas para garantir nestes terrenos, a existência de programas
habitacionais. Os episódios de inundações e alagamentos associados à drenagem urbana
levava em consideração a existência de drenagem deficitárias em grotões com utilização
de canais naturais, bem como da necessidade de se efetivar ações que dessem condições
de segurança de proteção aos solos dos efeitos do processo erosivo.
149

Em parte da região Centro-Norte, em decorrência de sua condição de área


inundável, o Plano consolidava ações diversas, como a existência de obras de aterro que
deveriam proporcionar uma declividade artificial para garantir uma drenagem adequada
para futuras ocupações. Além disso, listavam-se: o rebaixamento de ½ metro do nível das
lagoas, inclusive com utilização das áreas marginais para urbanização; seleção de áreas
menos deterioradas para recuperação em obras de aterro, de modo que este aterro deveria
ter altura estimada em 1,5 m; interligação das lagoas com a construção de canais artificiais
para, em segundo o plano, resolver a configuração dessas “áreas problemas”.
Nas demais áreas da cidade, dever-se-ia atentar para a proteção dos taludes de
cortes visando evitar os efeitos erosivos e que os cursos d’água pudessem ser alargados,
retificados e revestidos para obras do sistema de drenagem enquanto métodos estruturais;
além do disciplinamento do uso do solo e restrição de ocupação de áreas marginais
enquanto métodos não-estruturais. Os trechos revestidos deveriam estar localizados em
ambientes já urbanizados e que seus exutórios deveriam possuir curvatura tangenciando
no sentido do percurso do escoamento para facilitar o deságue nos rios Poti e Parnaíba
durantes as cheias.
Para estes terrenos deveriam ser construídas caixas de areia no sopé dos morros
para diminuir o assoreamento dos canais a jusante, além de intervenções como o
revestimento dos canais principais e dos talvegues secundários, além da manutenção,
quando possível, do traçado natural da rede de drenagem.
Cinco anos depois, a partir do Seminário Planejando Teresina, a elaboração do II
PET (um marco entre os planos antecessores e os sucessores) marca o estabelecimento de
metas para a transformação do espaço urbano considerando aspectos físico-naturais,
sociais, políticos e administrativos, reunindo documentos e leis sobre parcelamento do
solo urbano, delimitação de bairros, criação de zonas de preservação ambiental, diretrizes
para uso e ocupação do solo (TERESINA, 1988), além de incentivar o crescimento
vertical e implantação de paisagismo e descentralização dos serviços.
Acrescenta-se ainda a proposta de novo zoneamento urbano e de integração viária
entre as regiões Sul e Leste, delimitação de áreas de proteção ambiental (a exemplo das
Áreas de Preservação Permanente ao longo dos dois rios) e industrial, regulamentação
urbana em virtude da construção de conjuntos habitacionais em áreas mais periféricas.
Este plano direcionava a ocupação e desenvolvimento urbano para a região Leste, em
virtude da área entre rios (regiões Sul e Centro-Norte) já estar sobrecarregada e com
150

limitações físico-naturais que impediriam esta ocupação. Áreas dos bairros Socopo, Pedra
Mole, Satélite, Todos os Santos e São Sebastião foram privilegiadas.
Houve, ainda, restrição de ocupação da região Sul em decorrência de sua
topografia acidentada e da proteção dos bens para abastecimento de água, e da região
Norte em virtude da concentração de lagoas e de terrenos alagadiços, além da implantação
do programa Vila Bairro para auxiliar famílias em áreas de risco e de aproveitamento dos
terrenos ribeirinhos de forma sustentável.
Tido como inovador e participativo, o plano dividiu a cidade em zonas
(residencial, serviço, industrial, especial e de preservação ambiental). Em relação às de
preservação ambiental, estas consideravam “as margens dos rios sujeitas a inundações
como zona de preservação, autorizando o uso apenas para o ócio, a recreação, as
atividades agropecuárias, a extração de material e a atividade oleira” (TERESINA, 1988).
Em 1992 e 1993 foram feitas revisões em forma de leis que seguiram até 2002.
Em 2002, no bojo da aprovação da Agenda 21 e do Estatuto da Cidade, o plano
Teresina Agenda 2015 foi elaborado e dividido em três cenários: Teresina que Temos
(identificando os problemas da cidade), Teresina que Queremos (com as potencialidades
e metas) e Teresina que Faremos (com planos de ações para sua devida implementação),
sendo atualizado e regulamento na forma da lei em 2006, a partir do Plano de
Desenvolvimento Sustentável. Era um agrupado de 14 grandes áreas de interesse, sendo:
Requalificação Urbana; Meio Ambiente e Paisagem; Regeneração Cultural; Operações
Urbanas Consorciadas; Integração Regional; Integração Municipal; Sistema de
Mobilidade; Acessibilidade e Transportes; Habitação Social; Dotação de Equipamentos
Sociais; Saneamento Ambiental; Desenvolvimento Econômico; Desenvolvimento do
Turismo e Atração de Investimentos (TERESINA, 2002).
No âmbito dos cenários de riscos, o estudo aponta, dentre outros: para erosão por
gravidade, em que pese a utilização, com sucesso, de muros de arrimo à base de
entrelaçamento de pneus ao longo dos canais, fato que não surtiu o mesmo efeito para a
contenção das margens do rio Poti. Nestas áreas em que foram ocupadas por vilas e
favelas, “4,5% estavam localizados em áreas de risco; 3,6%, ocupavam leitos de ruas; e
2,8%, áreas alagadiças” (TERESINA, 2002, p. 28); ocupação habitacional de áreas de
risco no cerne da política habitacional; e que,

[...] o traçado de vias públicas e a pavimentação da cidade,


ignorando curvas de níveis, riachos e talvegues, e impermeabilizando
151

cada vez mais áreas a montante desses riachos, bem como a falta ou a
inadequação de galerias, tem contribuído para o aumento das
inundações, desgastando a pavimentação, formando voçorocas, e
trazendo transtornos para o trânsito e a população, por algumas horas
durante e após as chuvas. A grande maioria das galerias,
principalmente as que drenam as águas das lagoas ciliares e das
encostas íngremes, não levam em conta a dissipação da energia da
água, os tipos de solos que são drenados, bem como a carga de
sedimentos que transporta, uma vez que são dimensionadas para
grandes volumes de água (de uma grande área ou de várias micro-
bacias). Como consequência observa-se intenso desgaste erosivo dos
terraços fluviais e encostas e grande quantidade de sedimentos
levados para os rios (TERESINA, 2002, p. 15, grifo nosso).

Inseridos na proposta do plano, foram elencados na seção Teresina que Faremos,


especialmente na seção de recuperação de áreas degradadas e de lagoas limpas,
especialmente os seguintes pontos: revegetação e obras de contenção em encostas, taludes
e terraços fluviais; bem como a recuperação da vegetação de riachos (grotas)
transformando-os em unidades de conservação ou, no mínimo, estabelecendo limites de
preservação; realocação de edificações que ocupem áreas de risco; além de impedir o
aterramento deliberado de lagoas e o seu uso como áreas de despejo de esgotos
domésticos ou industriais (TERESINA, 2002).
A vista disso, o supracitado plano se diferencia dos anteriores por inserir a política
do desenvolvimento sustentável, além de evidenciar e reconhecer as inundações,
drenagem urbana e mobilidade urbana enquanto problemas socioambientais e urbanos,
adicionados por outros planos e legislações. No âmbito da Agenda Teresina 2030, em
2015, o plano se alinha a acordos globais enquanto estratégia para alcance dos Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável (ODS) em um cenário de mudanças climáticas,
subdividindo-se em cinco eixos temáticos (Cidade Sustentável, Cidade de Oportunidades,
Cidade de Direitos, Cidade Criativa e Governança Eficiente).
Entre as metas do plano (TERESINA, 2015), principalmente voltadas aos cenários
de suscetibilidades, riscos, vulnerabilidades e de degradação ambiental, estão: Realizar
estudos e elaborar projetos de engenharia para manejo das águas pluviais; Identificar,
desapropriar e retirar edificações localizadas em áreas de risco; Normatizar o Plano
Diretor de Ordenamento Territorial para compensação dos impactos da
impermeabilização do solo no sistema de drenagem; Recuperar áreas degradadas,
principalmente as de preservação permanente; Ampliar o programa de recuperação de
áreas degradadas conforme modelo adotado no Programa Lagoas do Norte para outras
regiões da cidade; Promover remanejamento dos domicílios localizados em áreas de
152

risco; Executar o Plano de Parcelamento do Solo Urbano; Monitorar as áreas de


preservação permanente; Recuperar a área degradada na confluência das avenidas Boa
Esperança e Flávio Furtado, na altura do Parque Ambiental Encontro dos Rios e construir
um grande espaço cultural, esportivo e de lazer.
As referidas metas estão associadas aos eixos Cidade Sustentável (subeixos
saneamento básico; habitação e situação fundiária; infraestrutura urbana e meio ambiente)
e Cidade de Oportunidades (subeixo desenvolvimento econômico e turismo). Em
especial, nota-se o direcionamento das ações para o sistema de drenagem e de manejos
de águas que, em períodos chuvosos, auxilia na multiplicação das áreas de risco,
sobretudo em decorrência do favorecimento da ocupação irregular em áreas de limitações
físico-naturais que, urbanizadas, dificultam a infiltração e condicionam alagamentos,
enxurradas e transbordamentos de afluentes dos rios sem, contudo, ainda não haver
políticas e programas efetivos de proteção, regulamentação, zoneamento e fiscalização
das áreas, inclusive proibindo ocupações e recuperando-as.
O PDOT, publicado através da Lei Complementar nº 5.481 (20 de dezembro de
2019), foi lançado para suprir demandas seculares para o ordenamento territorial visto a
ocupação urbana. Nele, em seu artigo 6º, volta-se para dimensões da sustentabilidade,
resiliência, degradação da qualidade ambiental, além de se comprometer para a redução
de situações de risco da população aos desastres, através de uma visão de cidade
compacta, coordenada e conectada, enquanto no seu art. 29 são apontados princípios para
a qualidade ambiental, como: “III - Valorização do sistema de recursos hídricos de
Teresina como integrante do patrimônio paisagístico e ambiental; [...] IV - Preservação
de áreas com valor ambiental e com regras de uso e ocupação do solo adequadas; [...] VI
- Recuperação de áreas degradadas ambientalmente [...]” (TERESINA, 2019, p. 9).
No artigo 30, são evidenciados processos geotecnogênicos enquanto diretrizes a
serem adotadas na estratégia Qualidade do Ambiente, a exemplo da restauração dos
canais naturais de drenagem; do retardamento do fluxo das águas por meio de bacias de
detenção e de restauração das calhas fluviais do terreno, bem como:

XVI - Manter, recuperar ou recompor as APPs - Áreas de Preservação


Permanente; XX - Implementar medidas de prevenção e mitigação de
impactos ambientais e de redução de passivos ambientais; XXII - Nas
áreas urbanas com ocupação consolidada adotar reservatórios de
amortecimento e estratégias de reaproveitamento de águas pluviais,
sempre que possível, combinando estes com a ampliação dos serviços
de drenagem e manejo das águas pluviais urbanas; XXIII -
153

Regulamentar as exigências em relação à drenagem urbana, incluindo


o uso de reservatórios de amortecimento, de acordo com normativa
municipal ou plano municipal de drenagem vigente; XXXIII - Mapear
as áreas vulneráveis e com eventos climáticos que tragam riscos a
população do Município (TERESINA, 2019, p. 10-11).

Em seu macrozoneamento, Teresina possui quatro macrozonas urbanas


(Macrozona de Desenvolvimento – MZD; Macrozona de Ocupação Moderada – MZOM;
Macrozona de Interesse Ambiental – MZIA; Macrozona de Ocupação Condicionada –
MZOC). Destas, as áreas de interesse desta pesquisa se inserem, da seguinte forma:
bairros São Joaquim e Matadouro (MZIA e MZD); Satélite (MZD e MZOM); Parque
Juliana (MZOM e Zona especial na área do Aterro Sanitário) e Flor do Campo (MZOM
e MZOC). A partir deste macrozoneamento, foram estipuladas 27 zonas urbanas divididas
em 17 tipologias (figura 40). Importante considerar que,

Art. 55. A Macrozona de Desenvolvimento – MZD - é a parcela do


território urbano de Teresina que se apresenta majoritariamente
ocupada, com poucos vazios urbanos, com maior disponibilidade de
infraestrutura e serviços urbanos, concentração de comércio,
equipamentos públicos e institucionais e malha viária completa. [..] Art.
76. A Macrozona de Ocupação Moderada – MOM - tem uso
majoritariamente residencial, apresentando-se parcialmente
consolidada e com as seguintes características: I - Infraestrutura
incompleta e significativa presença de vazios urbanos em alguns
setores, com potencial para densificação através da ocupação destes
vazios; II - Oferta de comércio, serviços e de equipamentos públicos
em menor proporção do que a Macrozona de Desenvolvimento; III -
Grande incidência de residências unifamiliares; IV - Presença
significativa de núcleos urbanos informais. [...] Art. 82. A Macrozona
de Interesse Ambiental - MZIA - caracteriza-se principalmente pela sua
suscetibilidade aos alagamentos e inundações e, consequentemente,
pela sua importância para o sistema de drenagem do município,
contemplando as áreas identificadas pelo Plano Municipal de
Drenagem Urbana. [...] Art. 86. A Macrozona de Ocupação
Condicionada – MZOC - caracteriza-se pela presença de terrenos
ainda sem ocupação, baixa densidade urbana, pouca ou nenhuma
oferta de infraestrutura e serviços urbanos, pouca oferta de comércios e
serviços, não sendo prioritária à ocupação por estar distante de áreas
mais urbanizadas, devendo somente ser adensada após ocupação das
outras macrozonas; [...] Art. 91. Zonas Especiais são parcelas do
território que apresentam características peculiares que se
sobressaem em relação às Zonas de Uso nas quais se inserem e
necessitam de regras específicas de ordenamento e uso do solo
(TERESINA, 2019, p. 21-22-23-25-26, grifo nosso).
154

Figura 40 – Zoneamento urbano de Teresina, em destaque de interesse da pesquisa.

Organização: o autor (2022).

Destas zonas, tem-se: Zona de Reestruturação (ZR); Zona de Serviços (ZS); Plano
Específico de Urbanização (PEU); Zona de Desenvolvimento Centro (ZDC); Zona de
Desenvolvimento Leste (ZDL); Zona de Desenvolvimento Corredor Leste (ZDCL); Zona
155

de Desenvolvimento Corredor Sul (ZDCS 1 e 2); Zona de Desenvolvimento Corredor


Norte (ZDCN); Zona de Desenvolvimento Corredor Sudeste (ZDSE); Zona de
Desenvolvimento Corredor de Manejo Sustentável (ZDCS); Zonas Especiais de Interesse
Cultural (ZEIC); Zonas Especiais de Interesse Institucional (ZEII); Zonas Especiais de
Interesse Social (ZEIS); Zonas Especiais de Uso Sustentável e APPs (ZEUS); Zonas de
Interesse Ambiental (ZIA); Zonas de Ocupação Condicionada (ZOC) e Zonas de
Ocupação Moderada (ZOM). Com base nesse zoneamento, tem-se: Bairro São Joaquim:
inserido na ZEUS, ZIA e ZDCS; Bairro Matadouro: inserido na ZEUS, ZIA, ZDCS e
ZDCN; Bairro Satélite: inserido na ZDCL e ZOM; Bairro Parque Juliana: inserido na
ZOM e ZEII; e, Bairro Flor do Campo: inserido na ZOC e ZOM.
Como observado, as características de ocupação dos referidos bairros auxiliam
ainda no entendimento da gênese das paisagens antropogênicas e ilustram os cenários de
suscetibilidades, riscos e vulnerabilidades. A ZEU, na faixa do extremo Oeste (margem
direita do rio Parnaíba) dos bairros São Joaquim e Matadouro possui aparente qualidade
ambiental e apresentada como patrimônio ambiental a ser protegido; já a ZIA (nos
mesmos bairros), sintetiza a necessidade de normas específicas de uso e ocupação do solo,
além da preocupação com os fundos de vales e terrenos inundáveis, carecendo de projetos
estruturantes de drenagem e saneamento; a ZDCS (nos mesmos bairros) tem como
finalidade a viabilização de melhorias das condições de drenagem urbana; ao passo que
a ZDCN (apenas no bairro Matadouro), dentre os objetivos, possui a necessária ocupação
dos vazios urbanos e dos imóveis não ocupados e subutilizados e incentivo de ocupações
sustentáveis e resilientes às mudanças climáticas, como foco na melhoria ambiental
(TERESINA, 2019).
A ZDCL possui a mesma característica e objetivo da ZDCN do bairro Matadouro
e é verificada no bairro Satélite, assim como a ZOM, que possui graus variados de oferta
de infraestrutura e equipamentos urbanos com características diversificadas, também
identificada nos bairros Parque Juliana e Flor do Campo. Diferencia-se, estes dois bairros,
com a presença da ZEII no Parque Juliana em virtude de equipamentos com destaque na
estrutura urbana e por constituir-se como referência, no caso o Aterro Sanitário, no
primeiro bairro; e a ZOC no segundo bairro, em que devem ser mantidas as características
de ocupação com baixa densidade e constituir-se como área reserva para ocupações
futuras (TERESINA, 2019).
O apêndice C sintetiza os aspectos físico-naturais e de ocupação urbana das áreas
de estudo.
156

6 FEIÇÕES ANTROPOGÊNICAS E AS ALTERAÇÕES DA/NA PAISAGEM

Esta seção objetiva, a identificação, caracterização e classificação das feições


antropogênicas na área de estudo, buscando a compreensão do processo de modificação
nas paisagens em uma sequência de intervenções sobre a geomorfológica original.
Em virtude das especificidades (principalmente de caracterização
geomorfológica, de ocupação urbana e de existência de morfologia antropogênica), foram
analisados, em cada área de interesse, exemplos da Geotecnogênese. As intervenções se
dão em grande parte associada a dois fatores principais, a extração mineral (início da
intervenção) e a urbanização (consolidação da intervenção), caracterizadas tanto por
mudanças morfológicas (como em vertentes e formação de depósitos antropogênicos),
hidrológicas (nos canais de drenagem, principalmente em que pese suas dimensões,
sinuosidades e canalização) e sedimentológicos (nos canais em que apresentam
morfologia natural e/ou com baixa intervenção, servindo como receptora de materiais a
montante).
O período de acompanhamento da urbanização e por conseguinte da intervenção
morfológica se dá nos seguintes anos: década de 1970, 1983, década de 1990, 2010 e
2022, conforme dados a seguir. A integração dos 1º, 2º, 3º e 4º táxons geomorfológicos
vistos anteriormente com os 4º (aprofundamento), 5º e 6º táxons juntamente com a
dinâmica antropogeomorfológica suscita a importância da utilização da escala espacial
para o entendimento do comportamento das formas de relevo.

6.1 Bairros São Joaquim e Matadouro

6.1.1 Dinâmica temporal do uso, ocupação e cobertura da terra

Com ocupação que antecede a década de 1970, os bairros Matadouro e São


Joaquim constituem-se em recortes que exemplificam a complexa forma de ocupação da
área, somada às omissões do poder público (haja vista a ocupação em áreas de risco) e as
intervenções pelo poder público nas recentes obras na área. Estes bairros, são os que
possuem maior tempo de intervenção (em relação às outras áreas de interesse da
pesquisa), principalmente associado às características geomorfológicas locais (terrenos
com baixa altimetria e pantanosos), tipologia do início da ocupação (extração mineral),
157

adensamento da ocupação sobre as lagoas e mudanças hidrológicas e recentemente obras


de requalificação urbano-ambiental; daí as especificidades maiores neste caso.
A partir do mapeamento das formas de uso, ocupação e cobertura realizado, foi
identificada uma série de modificações (figura 41), tanto associadas às questões
socioeconômicas quanto às físico-naturais relacionadas ao relevo, à cobertura vegetal e à
área dos espelhos de água das lagoas.

Figura 41 – Dinâmica de uso, ocupação e cobertura da terra dos bairros Matadouro e São
Joaquim para os anos de 1973, 1983, 2005 e 2021

Fonte: o autor (2022)

Foi observado que no ano de 1973 havia 4 classes de formas de uso, ocupação e
cobertura, com destaque para a classe superfície deformada (86,9%) compreendendo
quase a totalidade da área e relacionada com as atividades minerárias, inclusive com a
existência da classe “areia” (2,6%) em virtude das caixas de acumulação oriundas da
dragagem tanto do rio Parnaíba quanto da área de terraços fluviais, assim já classificadas
como áreas com alterações morfológicas.
Esta primeira classe contribuiu ainda para o início da ocupação urbana nos bairros,
existentes em apenas 1,6%, nos extremos Nordeste e Sudeste, em contato com os bairros
do entorno. A classe água foi identificada em 8,9%, correspondendo tanto a lagoas
naturais quanto aqueles reflexos da abertura de cavas de mineração e alcance do lençol
freático.
158

Em 1983, foi o primeiro ano em que houve a identificação classe vegetação


(70,7%) em decorrência da diminuição da atividade minerária e do avanço da cobertura
vegetal sobre estes terrenos, além da contribuição existente na vegetação ripária do rio
Parnaíba. Importante destacar nessa feição que nestes anos houve projetos de
reflorestamento em muitos trechos que margeiam os rios em Teresina. A classe
urbanização/edificação compreendeu 17,8% como o início da ocupação da área, somado
aos 11,5% da classe água. O aumento da classe água se deu principalmente pelo aumento
das cavas de mineração.
Em 2005, a classe vegetação chegou a 13,1% da área, em contrapartida a de
urbanização/edificação avançou sobre 48,7% do terreno, somado a 12,6% da classe água
e 25,6% de vegetação rasteira (composta em conjunto por gramíneas, vegetação
secundária de pequeno porte e a agricultura de vazante).
No ano de 2021 a classe vegetação chegou a 4,2%, somados aos 20,9% da classe
água (o aumento se deu pelas obras de intervenção e requalificação urbana do Projeto
Lagoas do Norte, com o saneamento e limpeza das lagoas e reformas nos canais de
ligação), 1,6% de solo exposto em pontos de aterramento de algumas lagoas, terrenos
baldios e caixas de acúmulo de material para a construção civil; além dos 73,3% de
ocupações urbanas/edificações.
Observa-se, portanto, que as alterações das classes corresponderam à dinâmica
urbana teresinense e à intensa ocupação da área, tanto por projetos habitacionais quanto
por ocupações espontâneas e de baixa estrutura, fato observado tanto em campo quanto
pelas imagens de satélite pela configuração irregular de ruas, quadras e lotes urbanos,
além da proximidade com as lagoas. Destacam-se a supressão de 1.74km² de cobertura
vegetal e o aumento de 1,40% de cobertura urbana/edificada.

6.1.2 Cartografia geomorfológica

6.1.2.1 Cartografia geomorfológica original (pré-intervenção)

Com características geomorfológicas particulares e dinâmicas, se comparada ao


restante da malha urbana da cidade de Teresina, os bairros São Joaquim e Matadouro são
caracterizados pelo baixo gradiente (54m ≤ 65m) do relevo e por apresentar feições
planas, rebaixadas e alagadiças, sob influência das planícies e terraços fluviais, com
decréscimo altimétrico quando se aproxima do canal do rio Parnaíba (a Oeste). A vista
159

disso, o padrão de escoamento superficial das águas pluviais apresenta, originalmente,


tendência à baixa velocidade e, consequentemente, à baixa capacidade erosiva, uma vez
que, inclusive apresenta originalmente lenta drenagem das águas pluviais.
Soma-se, nesse sistema ambiental em que os bairros estão inseridos, dois
testemunhos de paleocanais, figura 42, tanto na faixa de planície de inundação
(541.450m²) quanto nos terraços fluviais (1.509.160m²), indicando migração lateral do
canal do rio Parnaíba para Oeste, contribuindo para a existência de faixas longitudinais
em terrenos rebaixados (de até dois metros abaixo do nível altimétrico do entorno),
alagadiços e sujeitos a acúmulo de água e sedimentos.

Figura 42 – Testemunhos de paleocanais na margem direita do rio Parnaíba, bairro São Joaquim

Fonte: Google Earth Pro (2022), adaptado pelo autor (2022)

Como observado (SIAGAS, 201?a) na estratigrafia de um poço (localizado em


área de terraço e a uma distância aproximada de 400m do canal do Parnaíba) de 104m de
profundidade útil e perfurado em 1999, há peculiaridades principalmente no que se refere
ao tempo de deposição e a espessura do pacote sedimentar, com grande tempo de
deposição de arenito siltoso associado a paleoambiente fluvial representativamente com
sua vinculação aos folhelhos, que, geralmente, possuem significativa matéria orgânica.
Sobreposta a esta camada de no mínimo 90m de espessura, há uma deposição (±2m) de
silexitos, vinculando-os a rochas carbonáticas originadas por silicificação, inferindo-se a
existência de alteração hidrotermal, tanto que sua espessura é diferenciada das demais
160

camadas. Ligeiramente mais exposta, a camada de argilito (±11m) indica a fase final de
migração do canal do Parnaíba, além da sua capacidade de depositar sedimentos de
granulação fina.
A faixa de terraço (figura 43), que se estende a Norte, a Sul e a Leste destes bairros,
possui formação ligeiramente plana e levemente inclinada, neste caso para Oeste e para
Norte, conferindo, a esta feição, características pretéritas de episódios de inundação e
deposição de planícies anteriores, estando em nível superior à planície, tanto sob
influência paleoclimática quanto geomorfológicas, com mudança no nível de base, além
de contribuir com a existência de depósitos de terraço, resultado, portanto “de
sedimentação fluvial de alta energia (sistema braided)” (VIANA, 2013, p. 67).

Figura 43 – Perfil geomorfológico e características litológicas de trecho do terraço fluvial dos


bairros Matadouro e São Joaquim

Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do Google Earth Pro e SIAGAS

A deposição de argila, areia, silte e cascalho (depósitos aluvionares arenosos e


areno-argilosos recentes) indica a presença de terrenos mal drenados e com nível de água
subterrâneo aflorante a raso, bem como de solos hidromórficos principalmente próximo
à terreno alagado/brejo (62.387m²). Em relação a estas feições, o terreno alagado/brejo
(swamp), apresentado como feição agradacional disposta próxima a cursos d’água e
caracterizada pela presença de solos encharcados, sem, contudo, formar lâmina d’água,
está em área adjacente a um testemunho de paleocanal no extremo Norte do bairro São
Joaquim em área de terraço.
161

Ainda sobre a planície, sua área aumenta em direção a jusante, tendo uma largura
aproximada de 60m no início do bairro Matadouro, 271m no limite deste com o bairro
São Joaquim, e 283m na saída deste último; aumentando progressivamente à medida que
se aproxima da, também, planície do rio Poti, a jusante. Em relação ao canal, está a uma
diferença aproximada de 2,8m de altitude.
Ainda caracterizando a geomorfologia local pré-intervenção e considerando ainda
os sistemas lacustres, foram identificadas 6 lagoas naturais (56.663m²), todas no terraço
fluvial, as de menores dimensões (três) localizadas preteritamente no bairro Matadouro,
enquanto as demais no bairro São Joaquim, dispostas em cordões subparalelos e sem
conexão hídrica superficial aparente entre elas. Em relação a estes sistemas, a área com
características mais diversificadas se encontra no extremo Norte do bairro São Joaquim,
com a presença de dois testemunhos de paleocanais, um terreno alagado e uma lagoa,
dispostos tanto no terraço quanto na planície.
Em relação aos processos superficiais, em decorrência das características
geomorfológica, há um natural e progressivo processo erosivo, principalmente no período
chuvoso e após ele principalmente na área de contato entre o canal e a planície. Além
disso, mesmo não estando dentro da área de estudo, mas por se constituírem indicadores
do processo morfodinâmico e hidrodinâmico do rio Parnaíba, foram identificados bancos
de areia ao longo do canal. A figura 44 ilustra as feições geomorfológicas na fase pré-
intervenção da referida área.
Figura 44 – Morfologia pré-intervenção (1972) dos bairros Matadouro e São Joaquim
162

Fonte: o autor (2022)


163

A partir desta cartografia geomorfológica foi possível compreender a dinâmica


ambiental da área pré-intervenção, uma vez que parte da ocupação da área tem relações
próximas com tais características, principalmente de ordem geomorfológica e de
coberturas superficiais, bem como constatar a superioridade do tamanho dos terraços em
detrimento à planície de inundação.

6.1.2.2 Cartografia geomorfológica do estágio atual de intervenção

Em que pese as intervenções ocorridas na área, estas se concentram sobremaneira


nos aspectos morfológicos e de drenagem superficial. Com vistas a isso, a discussão das
morfologias antropogênicas se dará nestes dois grandes grupos, considerando tanto os
aspectos agradacionais quanto os degradacionais. Importante compreender ainda que
tanto a área de terraço quanto a de planície e de terrenos alagados passou por processos
significativos, inclusive modificando seus tamanhos, sendo, atualmente de 1.572.844m²,
337.373m² e 51.458m² respectivamente. Os paleocanais não passaram por interferências
antropogênicas aparentemente.

a. Worked ground

Com a característica morfológica de padrão plano e de direcionamento das águas


pluviais para Oeste e para Norte, somada a feições rebaixadas e às características dos
aspectos superficiais, a área de estudo, no início de sua ocupação, foi marcada por uma
série de escavações para a retirada de material com vistas ao abastecimento da construção
civil e artesanato, sobretudo da argila sedimentar de natureza aluvionar, para a construção
de telhas, tijolos e utensílios de cerâmica, por exemplo.
A partir desse processo de Geotecnogênese, tem-se a criação de worked ground
caracterizado pela existência de superfícies em que houveram escavações 42 (de maneira
rudimentar/manual utilizando-se pás e peneiras, além de dragas hidráulicas de sucção
para aqueles mineradores com maiores posses), nesse caso resultando nas duas maiores
lagoas presentes na área de estudo, a Lagoa Piçarreira do Cabrinha e a Lagoa Piçarreira
do Lourival. Em Araújo (2015, p. 115) sobre a percepção ambiental na área, uma
entrevista apontou que “a área era assim plana, aí o dono da terra que morava daquele

42
“O relato de moradores indica que a lavra era feita por dragas de sucção, com mangotes de 8” e 10”,
lavrando em profundidades de até 8 metros” (VIANA; LIMA, 2018, p. 188).
164

outro lado e aí foi que colocaram a draga e começaram a cavar para tirar o seixo, areia e
massará. Aí foi que ficou este buraco alí e se transformou na Lagoa”.
A própria Piçarreira do Cabrinha foi uma das primeiras a iniciarem o processo de
escavação e, também, uma das primeiras a encerrarem suas atividades em virtude do
esgotamento da jazida associado ao encontro com o lençol freático, abandono da cava de
mineração e o respectivo preenchimento desta pela água, gerando, portanto, uma lâmina
d’água correspondente à ação humana. A Lagoa Piçarreira do Lourival (52.393m² e
1.052m, de área e perímetro atualmente, respectivamente), iniciou suas atividades no
início da década de 1980, com dinâmicas posteriores à ocorrida na Piçarreira do Cabrinha
(38.351m² e 776m, de área e perímetro atualmente, respectivamente), figura 45.

Figura 45 – Fotografia aérea (1983) destacando o início do processo de escavação da cava que
originou a Lagoa Piçarreira do Lourival, a lagoa oriunda da cava da Lagoa Piçarreira do
Cabrinha, e uma lagoa com extração de material às suas margens

Fonte: PMT/Aerofoto Cruzeiro S.A. (1983), adaptado pelo autor (2022).

Em relação à dinâmica de intervenção existente, nota-se o vínculo entre o uso dos


recursos naturais com a transformação e apropriação do relevo, principalmente quando
posto em análise a ausência de planejamento, de levantamentos ambientais para a
expropriação na área e de vinculação/fiscalização com o poder público, de modo a
auxiliar no ordenamento local. Ainda relacionado tanto às lagoas naturais quanto aquelas
influencias pela atividade de mineração, durante décadas essas lagoas foram alvos de
165

degradação ambiental, servindo como receptoras de esgotos in natura, e de lixo,


acarretando ainda mais problemas de saneamento ambiental.
Além destes exemplos de worked ground de característica de área, na década de
1990 com vistas a diminuir os impactos causados pelas frequentes inundações do rio
Parnaíba e do aumento excessivo do volume de água nas lagoas, acarretando seus
transbordamentos, foram construídos dois canais (Padre Eduardo e São Joaquim,
totalizando 2.686m) de ligação entre as lagoas para uma maior, influenciando, ainda, no
padrão de escoamento local.
Os referidos canais (de característica trapezoidal) possuem larguras variadas entre
7 e 14 metros, e uma diferença topográfica de 4 metros entre seus pontos inicial e final e
são definidos (CHOW, 1959; MURRAYRUST; VANDER VELDE, 1994) como canais
de escoamento superficiais (figura 46) abertos para condução de fluidos concentrados em
contato com o ar, a pressão atmosférica, gravidade e inclinação do conduto, apresentando,
ainda, formas regulares, rugosidades atenuadas, construídos fora do fundo de vale e
alterando a dinâmica do sistema hidrológico.

Figura 46 – Esquema de ligação entre as lagoas naturais e antropogênicas e o sistema de


bombeamento (recalque), com destaque a área de estudo

Fonte: adaptado de Campelo, Braúna e Silva (2019)

Soma-se enquanto exemplo de worked ground a abertura de 5 poços tubulares


com profundidades que variam entre 50 e 104m perfurados desde 1962, tanto por órgãos
públicos (como DNPM e DNOCS) quanto por empresas privadas. Estas feições
166

representativas de worked ground exemplificam as assinaturas topográficas humanas nas


interações hidrogeomorfológicas locais, principalmente associada e repercutindo nas
formas e processos; na funcionalidade, pelas formas, técnicas e serviços vinculados e na
circulação hidrológica contribuindo para a gênese de uma paisagem artificial.

b. Made ground

A partir da deposição de material em superfície natural, a gênese de made grounds


particularizam e exemplificam a existência dos depósitos antropogênicos de origens,
características e funcionalidades diversas. Deste modo, foram identificados uma
quantidade significativa de depósitos, muitos até sobrepostos aumento a cota altimétrica,
modificando a microforma e evidenciando momentos distintos de ocupação e
funcionalidade, principalmente no entorno das lagoas antropogênicas, na transição do
terraço para a planície e nos terrenos alagadiços.
Dos identificados, o maior depósito (4.753m de comprimento e 18.155m² de área)
e, também o mais antigo, refere-se ao Dique construído na década de 1970 (com vistas a
proteger a área das inundações do Parnaíba) e, sobre ele, a Avenida Boa Esperança, sendo
incorporado aos poucos à malha viária teresinense. Os diques (dikes) são definidos tanto
sob a ótica hidráulica (para suportar um possível aumento do nível de água,
principalmente em cheias intensas) e estrutural (devendo ser estanque e com estabilidade
similar à de uma barragem).
Este depósito, com cota de coroamento (greide) que varia de 59,3m a 60,10m
(TERESINA, 2017), é formado por solo sobreposto às coberturas superficiais pretéritas,
caracterizando-o como depósito: construído “built” (CHEMECKOV, 1983); espólico
“spolic” (FANNING; FANNING, 1989) e agradacional “agradded” (PELOGGIA, et al.,
2014), contribuindo para a caracterização de pôlder na sua margem direita (sentido
lagoas). Margeando o dique e reflexo da ocupação não planejada da área, outros depósitos
foram criados (figura 47), inclusive contribuindo para danos estruturais no dique.
Tal observação e depósitos marginais cobrem uma área de planície de inundação
de aproximadamente 56.904m², servindo-se como aterros irregulares (alguns com quase
dois metros de altura) para servir como fundação/base de residências e até sobrados, além
de tais materiais estarem mal compactados e, ainda possuir indícios de erosão laminar.
Nestes casos, considerando as classificações utilizadas, marcam-se como: construído
“built” (CHEMECKOV, 1983); úrbico “urbic” e gárbico “garbic” (FANNING;
167

FANNING, 1989) tendo em vista a presença de artefatos como madeira, vidro, concreto
e restos de construção civil como materiais de aterro; e agradação “agradded” e misto
“mixed”, tendo em vista a existência de camadas distintas de aterramento.

Figura 47 – Depósito antropogênicos ladeando o dique para abertura de acesso a ruas, com a
presença de processo erosivo e árvores inclinadas no bairro São Joaquim

Fonte: pesquisa direta (2022)

Outros depósitos (±19.322m²) foram identificados como aterramento de três


pequenas lagoas naturais localizadas no bairro Matadouro e que, atualmente, tal espaço
está ocupado por residências e ruas. Em virtude da não possibilidade de visualizar os
depósitos em si, infere-se que foram processos e materiais similares ao verificado no
parágrafo anterior.
Demais exemplos de depósitos antropogênicos (figura 48) referem-se àqueles
feitos sobre a áreas de terraço, de terrenos inundáveis e de lagoas, totalizando 132.801m²
e classificados em: construído “built” (CHEMECKOV, 1983); úrbico “urbic” e gárbico
“garbic” (FANNING; FANNING, 1989) tendo em vista a presença de artefatos como
madeira, vidro, concreto e restos de construção civil como materiais de aterro; e
agradação “agradded” e misto “mixed”, tendo em vista a existência de camadas distintas
de aterramento, a exemplo daqueles encontrados nas ruas Caldeirão, Engraxate Adão
Santos, Alfa e Cristo Rei (no bairro São Joaquim) e Mestre Assunção, Itamaraty e Pedro
II (no bairro Matadouro).
168

Figura 48 – Depósito antropogênico sobre terraços fluviais e às margens de lagoa próximo às


ruas Alfa, São Joaquim

Fonte: pesquisa direta (2022)

Ao longo dos canais do Padre Eduardo e São Joaquim foram também observados
depósitos (11.594m²) de características diversas, a exemplo do encontrado na Rua
Radialista Jim Borralho, próximo ao cruzamento desta com o canal de drenagem, sendo:
construído “built” (CHEMECKOV, 1983); úrbico “urbic” (FANNING; FANNING,
1989) tendo em vista a presença de artefatos como madeira, vidro, concreto e restos de
construção civil como materiais de aterro; e agradação “agradded” e misto “mixed”, tendo
em vista a existência de deposição em uma pequena área que era utilizada como lixão a
céu aberto.
Ao redor das atuais Lagoas Piçarreira do Lourival e Piçarreira do Cabrinha tendo
em vista a realização de obras de requalificação ambiental e urbana, a orla destas lagoas
passaram por processos ora de desobstrução e retirada de moradias que, em alguns casos
aterraram parte das lâminas d’água, ora como área receptora (23.763m²) de materiais para
correção na geometria do talude interno (antigas cavas), sendo esta última classificada
em: construído “built” (CHEMECKOV, 1983); espólico “spolic” (FANNING;
FANNING, 1989) e agradacional “agradded” (PELOGGIA, et al., 2014).
De maneira similar e compreendendo áreas em que houveram deposição de
material dragado, cerca de 24.401m² referem-se a depósitos do tipo “built”
(CHEMECKOV, 1983); dragados “dredged” (FANNING; FANNING, 1989) e
agradacional “aggraded” (PELOGGIA, et al., 2014), destes, cerca de 6.333m² é,
169

eventualmente, caracterizado também como úrbico “urbic” (FANNING; FANNING,


1989).

c. Landscaped ground

Em decorrência da escala espacial e possibilitando visualizar observações em uma


só tomada, é caracterizado como landscaped ground os terrenos que margeiam as lagoas
antropogênicas, o dique e parte do canal do Pe. Eduardo, tendo em vista principalmente
por serem áreas que passaram excessivamente por intervenção antropogeomorfológica.
No início da ocupação, por exemplo, a área de terraços possuía pequenas lagoas naturais
e, a partir da década de 1960 houveram aberturas de cavas de mineração e, posteriormente
desativação desta atividade contribuindo para a gênese de lagoas antropogênicas.
A partir da expansão urbana na área e o consequente preço acessível da terra,
muitas moradias foram feitas tanto na orla destas lagoas quanto aterrando parte destas
com vistas à ampliação de lotes e aberturas de vias, somados a construção do dique e dos
canais de interligação das lagoas.
Ainda em processo de intervenção (figura 49), os bairros Matadouro e São
Joaquim, aqui, possuem características distintas ao considerar a área de atuação do
Programa Lagoas do Norte (PLN), já finalizado no bairro Matadouro.

O Programa Lagoas do Norte - PLN é um programa da Prefeitura


Municipal de Teresina - PMT, em parceria com o BIRD e o Governo
Federal, que tem como objetivo atuar, a partir de ações integradas com
abrangência multissetorial, em 13 bairros da zona norte da cidade de
Teresina, onde residem cerca de 100 mil habitantes. O Programa
Lagoas do Norte está estruturado em três componentes: I –
Modernização da Gestão Municipal [...]; Requalificação Urbana e
Ambiental [...]; Desenvolvimento Econômico e Social (TERESINA,
2016, p. 4).
170

Figura 49 – Mosaico de fotos ilustrando as alterações antropogeomorfológicas e a gênese de


landscaped ground antes (A, B e C) e durante (D, E, F e G) a execução do PLN. Em A, casas
construídas sobre feições antropogênicos depositadas sobre a lagoa; em B, canal antropogênico
e depósitos nas suas margens; em C e D vista aérea das lagoas do Cabrinha e do Lourival, antes
e depois (respectivamente); em E, vista panorâmica da orla urbanizada da lagoa do Cabrinha;
em F, canal urbanizado de ligação entre as lagoas; em G, depósito antropogênico sobre lagoa
em área ainda não urbanizada.

Fonte: pesquisa direta (2021; 2022) e TERESINA (2014).

A figura 50 representa a morfologia atual a partir das intervenções


antropogeomorfológicas realizadas na área.
Figura 50 – Morfologia atual (2022) dos bairros Matadouro e São Joaquim
171

Fonte: o autor (2022)


172

6.1.2.3 Síntese comparativa

Com base nos dados apresentados e de modo a quantificar as alterações existentes


ente o período pré-intervenção (1972) e o estágio atual de ocupação (2022), o quadro 5
apresenta tais taxas compreendendo o período de 5 décadas.

Quadro 5 – Comparativo das feições geomorfológicas dos períodos inicial e final do recorte
temporal para os bairros Matadouro e São Joaquim
PRÉ- ESTÁGIO
INTERVENÇÃO ATUAL
FEIÇÕES (1972) (2022) SITUAÇÃO
Quantidade/ Quantidade/
Dimensões Dimensões
Terraço fluvial 1.509.160m² 1.512.163m² Aumentou
Planície de inundação 541.450m² 404.123m² Diminuiu
Terrenos alagadiços
62.387m² 51.458m² Diminuiu
(brejo)
Paleocanais 2un 2un Diminuiu
Lagoas naturais 56.663m² 20.449m² Diminuiu
Lagoas/açudes 4 feições
- Diminuiu
antropogênicas (93.399m²)
Canal de drenagem
2.381m 2.381m Inalterado
(natural)
Canal de drenagem
- 2.686m Aumentou
(antropogênico)
Poços tubulares - 5un Aumentou
Condutos/Pontes/
- 12un Aumentou
tubulações antropogênicas
Depósitos antropogênicos - 279.407m² Aumentou
Terrenos escavados
- 93.399m² Aumentou
(mineração)
LEGENDA:
Pontos Linhas Polígonos
Fonte: o autor (2022)

Como observado, das feições observadas no período pré-intervenção, apenas o


canal de drenagem natural (rio Parnaíba) e os paleocanais não sofreram alterações de
tamanho e/ou morfológicas. Contudo, ainda considerando o Programa Lagoas do Norte,
há um direcionamento para que a malha viária local seja ampliada, sendo existente duas
opções, uma o alargamento da Avenida Boa Esperança, e consequentemente obras no
Dique (adequação do coroamento), e, uma segunda, de modo a evitar a quantidade
considerável de retirada/demolição de imóveis, é a abertura de uma vida entre o dique e
o canal do rio Parnaíba, representando a área de um paleocanal.
173

Caso a segunda opção aconteça, será necessário o aterramento de parte (ou total)
e descaracterização do paleocanal existente, tendo em vista a necessária construção de
um dique (com altos taludes) que acarretará a perda de objetivo do dique atual (este na
faixa entre a planície e o terraço). Além disso, apontam-se ainda outras possíveis
modificações (TERESINA, 2017): alterações do processo erosivo entre o canal e a
planície; aterramento ou adequação do terreno entre os dois diques; além de possíveis
alterações na margem esquerda do rio Parnaíba (município de Timon/MA).

6.2 Bairro Satélite

6.2.1 Dinâmica temporal do uso, ocupação e cobertura da terra

A análise da dinâmica das formas de uso, ocupação e cobertura da terra (figura


51) do bairro Satélite expressam e auxiliam na compreensão das interferências
geomorfológicas obtidas ao longo do tempo.

Figura 51 – Dinâmica de uso, ocupação e cobertura da terra do bairro Satélite para os anos de
1973, 1983, 2005 e 2021

Fonte: o autor (2022)

Para o ano de 1973, foram identificadas no bairro Satélite um total de três classes,
sendo 49% correspondendo à vegetação (a exemplo de pau darco, caneleiro e palmáceas),
174

47,8% de superfícies deformadas em virtude de atividades minerárias, e 3,2% referente a


solo exposto no extremo Leste do bairro, correspondendo a parte de uma via de acesso
que liga a cidade à zona rural. Mesmo não havendo imagens e dados que possam auxiliar
na compreensão da cobertura total do bairro antes dessa intervenção, acredita-se que toda
sua área era composta pelos tipos de vegetação encontrados nos bairros do entorno em
caráter semi-preservado ou preservado.
Em 1983, a classe de vegetação foi observada em 88,7%, somadas aos 0,6% de
vegetação rasteira em virtude do aparecimento de cobertura vegetal nas antigas áreas
deformadas, identificando, portanto, a desativação da mineração e o surgimento de
vegetação que indica a degradação. A ocupação urbana ocupava 10,7% do bairro, em
áreas isoladas, principalmente próximo aos limites com outros bairros do entorno.
Em 2005 a classe de vegetação alcançou 38,4%, ladeadas pela ocupação urbana
(58,5%) e pelo solo exposto (3,1%), sobretudo em decorrência do grande número de ruas
sem pavimentação. Observou-se uma aceleração ocupação do bairro nos 22 anos, com
edificações de características e padrões distintos.
Em 2021 a classe de vegetação ocupava 7,5% da área, somada aos 2,5% de
vegetação rasteira, 2,5% de solo exposto e 87,5% de áreas urbanizadas/edificadas,
caracterizando quase a totalidade do bairro pelo caráter da urbanização. As áreas em que
há o predomínio de vegetação refere-se a sítios e antigos clubes, além de fundos de vale
com presença de grotões que impedem, até o momento, a ocupação urbana.
Destarte, ao longo destes 48 anos de série temporal, as maiores mudanças referem-
se à perda de 0,66km² de cobertura vegetal e o aumento de 1,39km² de áreas urbanizadas
e edificadas, contribuindo para as alterações nos aspectos físico naturais pré-urbanização.

6.2.2 Cartografia geomorfológica

6.2.2.1 Cartografia geomorfológica original (pré-intervenção)

Em face aos aspectos geomorfológicos do bairro Satélite, este possui


características peculiares em virtude das diferenças altimétricas e seu posicionamento,
com a presença de dois pequenos vales transversais (sentido Sul-Norte/Noroeste) que
cruzam o bairro e auxiliando na compartimentação geomorfológica em três conjuntos
(figura 52), unidos por um terreno plano (disposto no sentido Oeste-Leste) em conexão
175

com áreas isoladas de planície de inundação e de terrenos alagadiços. Sobre as vertentes,


estas foram divididas em dois grupos (considerando a declividade e hipsometria):
vertentes (do terço superior ao terço médio) e base da vertente (do terço médio ao terço
inferior).

Figura 52 – Perfil geomorfológico e características litológicas do bairro Satélite

Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do Google Earth Pro e SIAGAS (201?b)

Os três topos convexos (25.509m²), dispostos isoladamente nos conjuntos de


relevo observados, indicam processo morfodinâmico de arredondamento em relevo
escalonado (com caimento topográfico principalmente para Oeste, em direção aos canais
de drenagem e com declividades diferenciadas) dessa feição e acúmulo de materiais.
Soma-se a existência de feições com topos tabulares (503.678m²).
As coberturas superficiais do bairro indicam a presença de material eluvio-
coluvionar nas porções com maiores cotas altimétricas (extremo Leste), indicando a
possibilidade de movimento de massa. As demais áreas possuem cobertura de silexito,
siltito e arenito silicificado, principalmente na faixa que divide os compartimentos “2” e
“3” com a presença de depósitos aluvionares arenosos e areno-argilosos, com aumento de
largura a jusante (bairros Porto do Centro, Morros e Zoobotânico) em direção ao rio Poti.
Os topos tabulares estão em conexão com sistemas geomorfológicos para além do
bairro e auxiliam na formação de um anfiteatro (com 1,2km na porção mais larga) aberto
para Norte. Tais topos delineiam feições de rampas “denotando eventual controle
176

estrutural [...] e resultando de processos de dissecação” (IBGE, 2018, p. 44). As vertentes


(317.033m²), de caimento topográfico, largura, geometria (côncavas e convexas) e
tamanho distintos e dispostas irregularmente, apresentam faixas estreitas principalmente
no início das feições mais altas (a Leste), contribuindo para que haja vertentes (retilínea,
com blocos de rocha in situ) bastante íngremes bordejando os topos e as encostas
escarpadas do compartimento “3”. Há, ainda, vertentes (voltadas para Norte e para Sul)
que se apresentam isoladas em virtude da sua conexão com feições dos bairros do entorno.
Em relação às bases das vertentes (455.218m²), estas bordejam as unidades
geomorfológicas superiores a ela, com maior distribuição espacial (± 295.969m²
contínua) na porção Centro-Leste. As faixas de ruptura de declividade (2.143m) se
localizam tanto nos topos tabulares quanto nas vertentes e bases das vertentes.
As feições agradacionais de terrenos planos (307.449m²) fazem parte do anfiteatro
já citado e é a área receptora de toda a drenagem superficial do bairro, bem como seu
sistema é composto ainda pelos dois terrenos alagadiços (15.075m²) e por uma faixa de
planície de inundação (22.620m²), ambas no extremo Norte. Tanto os terrenos alagadiços
quanto a planície fazem parte de uma rede de drenagem que ultrapassa os limites do bairro
e que, nele, possui 5 canais fluviais (2.714m) de dimensões e orientações variadas, com
a presença de três vales em “V” (dois destes associados a falhas/fraturas) e um vale
dissimétrico, ambos auxiliando na definição das vertentes, bases das vertentes e com as
linhas dos talvegues.
A figura 53 ilustra a caracterização geomorfológica no cenário pré-intervenção.
Figura 53 – Morfologia pré-intervenção (1972) do bairro Satélite
177

Fonte: o autor (2022)


178

Com base na representação cartográfica das feições geomorfológicas, pôde-se


compreender como as feições se especializam e se relacionam umas com as outras, tendo
em vista os modelados (recortados) de agradação e dissecação, de modo que as feições
de vertentes e bases das vertentes concentram a maior área do bairro, com 772.251m²,
seguido dos topos (529.187m²) e planície e terrenos alagadiços (322.524m²),
evidenciando a dinâmica geomorfológica do bairro de ainda estar passando por processos
de dissecação do relevo.
Por constituir aproximadamente 49% da área total dos bairros, as feições de
vertentes e bases das vertentes ilustram a caracterização geomorfológica acidentada do
mesmo.

6.2.2.2 Cartografia geomorfológica do estágio atual de intervenção

A morfologia atual ilustra como os cenários de modificação humana contribuíram


para a descaracterização principalmente nos topos tabulares, nas vertentes, nos terrenos
planos e na modificação da geometria dos canais de drenagem outrora sem interferência
antropogênica.

a. Worked ground

A configuração geomorfológica do bairro, além da presença de coberturas


minerais para extração, auxiliou para a existência de dois worked ground associados a
terrenos escavados (44.969m²), um com mineração desativada e um recente, escavado
para a ampliação de um lote residencial e contribuindo para a existência do total 1.849,6m
de vertentes com geometrias antropogênicas oriundas do processo de escavação e
elaboração de taludes de corte.
Ainda sobre a gênese de worked ground, no início da década de 1980 o extremo
Sudoeste do bairro teve uma significativa área escavada (figura 54A), sendo uma
continuação da mineração (de materiais associados a silexitos, siltitos e arenitos
silicificados) empreendida no bairro SAMAPI (ao Sul), além do talude de corte (figura
54B) de gênese recente, e, ambos, situados em outrora topos tabulares, contribuindo para
que este tipo de topo tenha atualmente 458.709m². Já os topos convexos possuem
atualmente área de 24.958m², com intervenção associada a cortes do relevo para a
179

construção de residências e arruamentos, o que auxiliou na formação de geometrias


antropogênicas transversais aos topos.

Figura 54 – Worked ground. Em A, fotografia aérea identificando relevo negativo oriundo da


mineração; em B, manto de alteração da Formação Pedra de Fogo exposto em talude de corte
em destaque as linhas representativas da superfície pré-intervenção

Fonte: PMT/Aerofoto Cruzeiro S.A. (1983), adaptado pelo autor (2022); o autor (2022).

As linhas de ruptura de declividade (além dos fundos de vale e rochas expostas na


vertente) não foram aparentemente modificadas em virtude da urbanização e/ou outro
processo de capacidade intervencional em virtude das características hipsométricas das
feições em que estão localizadas e, pelo bairro ainda possuir áreas verdes, principalmente
bordejando os topos tabulares.
Outros exemplos de worked grounds referem-se aos poços tubulares, que, no
bairro, há um total de 8. Destes, cinco foram perfurados em topos tabulares (com 65m em
terrenos de silexitos, siltitos e arenitos silicificados; com 69m e 150 em terrenos eluvio-
coluvionares; e os outros dois também em terrenos eluvio-coluvionares, sem, contudo,
possuir dados de profundidade), um perfurado (150m de profundidade) na feição base de
vertente e os outros dois (com 37m e 100m) em terreno plano próximo à planície de
inundação.

b. Made ground

As feições agradacionais (72.056m²) estão associadas tanto às feições quanto às


intervenções ao longo dos canais de drenagem. Tanto os terrenos alagadiços quanto a
planície tiveram áreas diminuídas, atualmente com, respectivamente 4.304m²
(diminuição de ± 62%) e 13.371m² (diminuição de ± 55%). Essa diminuição refere-se
180

principalmente a obras de aterramento destes terrenos alagadiços, a exemplo da área de


interseção entre as ruas Vieira Sampaio, José Bezerra de Andrade e Deputado Sebastião
Leal; e ruas Desembargador Luiz Lopes, Paralela, Júpiter e Deputado Sebastião Leal,
ambas com formação de depósitos antropogênicos classificados em: construído “built”
(CHEMEKOV, 1983); espólico “spolic” (FANNING; FANNING, 1989) e agradação
“aggraded” (PELOGGIA, et al, 2014). Os depósitos produzidos sobre a planície de
inundação possuem classificação de construído “built” (CHEMEKOV, 1983); úrbico
“urbic” (FANNING; FANNING, 1989) e agradação “aggraded” (PELOGGIA, et al,
2014), a exemplo da área de interseção entre as ruas Netuno, Urano, Giovane Prado e
Deputado Sebastião Leal (figura 55).

Figura 55 – Identificação dos depósitos antropogênicos sobrepostos a antigos terrenos


alagadiços e de planície de inundação, e seus respectivos testemunhos atuais

Fonte: adaptado do Google Earth Pro

Nas áreas de worked ground a atividade de escavação contribuiu para a existência


de depósitos classificados em induzidos “induced” (CHEMEKOV, 1983), espólico
“spolic” e superfícies descapadas “scalped land surface” (FANNING; FANNING, 1989)
e agradação “aggraded” e degradação “degradded” (PELOGGIA, et al, 2014).
Em relação aos canais, estes passaram por transformações intensas ao longo do
processo de urbanização do bairro, passando de 2.714m de canal sem intervenção para
1.325m (± 50% de mudança), de ordem morfológica (sinuosidade e tamanho dos canais),
de ordem deposicional (aterro sobre o sistema de canalizado antropogênica), de fundo de
181

canal (fragmentos de entulho nos talvegues dos canais abertos) e aterramento das
margens, principalmente nos vales em V e dissimétrico.
As alterações mais significativas são de ordem morfológica e referem-se à
transformação de seções de canais em seções retificadas e tamponadas (1.389m)
misturando-se ao sistema de galerias e esgotos domésticos (figura 56), a exemplo dos
canais ao longo das ruas Engenheiro Edgar Gaioso, Santa Quitéria, Saturno, Mercúrio,
Vênus, Urano, Xavantino, Branca e Da Glória. Acima da retificação ou tamponamento,
as feições foram aterras e estes depósitos antropogênicos são classificados em construídos
“built” (CHEMEKOV, 1983), espólico “spolic” (FANNING; FANNING, 1989) e
agradação “aggraded” (PELOGGIA, et al, 2014), em virtude da alocação direta de
materiais terrosos.

Figura 56 – Trechos de intervenção antropogeomorfológica ao longo de canais de drenagem.


Em A, trecho de transição entre seção tamponada e seção com leito semi-preservado em
destaque desmonte da desembocadura e amostragem do depósito antropogênico na Rua Branca;
em B, margens modificadas por depósitos antropogênicos e trecho final de tamponamento na
Rua Vênus; em C, trecho tamponado (canal principal) e com recepção de águas servidas na Rua
Edgar Gaioso; e, em D, modificação do canal de drenagem (afluente da margem direita) acima
da superfície da rua com residência construída sobre o canal.

Fonte: o autor (2022).


182

As demais alterações estão associadas ao depósito in situ de artefatos


antropogênicos, tanto nos talvegues quanto nas margens dos canais. Estas deposições
possuem materiais diversos e, nos talvegues, são mais presentes no período chuvoso
quando há o carreamento de materiais da superfície para o fundo do canal, a exemplo de
restos de construção civil, madeira, plástico e materiais terrosos diversos. Nas margens,
as características de composição do made ground têm mudanças em virtude do objetivo
desta deposição, em grande parte vinculada ao aterramento para aumento de lotes urbanos
e residências, e, portanto, possui a alocação de materiais diferenciados.
Nos talvegues (figura 57), os depósitos são classificados em induzidos “induced”
(CHEMEKOV, 1983), úrbico “urbic” (FANNING; FANNING, 1989) e agradação
“aggraded” (PELOGGIA, et al, 2014). E, nas margens (figura 58), classificados em
construídos “built” (CHEMEKOV, 1983), úrbico “urbic” e espólico “spolic”
(FANNING; FANNING, 1989) e misto “mixed” (PELOGGIA, et al, 2014); esse último
tendo em vista que há mais de duas camadas de aterro, com materiais e artefatos
diferentes.

Figura 57 – Depósito antropogênico situado no fundo de canal de drenagem com características


de materiais terrosos e restos de construção civil carreados após chuva, na interseção com a rua
Deputado Sebastião Leal

Fonte: o autor (2022).


183

Figura 58 – Depósitos antropogênicos construídos nas margens dos canais de drenagem na


interseção das ruas Urano e Jornalista Joel Oliveira. Em A, presença de depósito formado por
materiais terrosos e de sacos de areia para contenção do aterro; em B, depósito com presença de
materiais terrosos, restos de construção civil, madeira e plástico

Fonte: o autor (2022).

As intervenções ao longo dos canais de drenagem possuem ainda uma quantidade


de 9 condutos que auxiliam tanto para os arruamentos quanto para a modificação do
sentido da drenagem. A figura 59 sintetiza a morfologia antropogênica (atual) do bairro
Satélite
Figura 59 – Morfologia atual (2022) do bairro Satélite
184

Fonte: o autor (2022)


185

Reserva-se ainda o fato de que as modificações realizadas na área contribuíram


significativamente para mudanças (canalização, tamponamento e retificação, por
exemplo) de padrão de escoamento principalmente em virtude das vertentes
antropogênicas oriundas de obras de arruamento e das mudanças nas curvas de nível para
as interferências ao longo dos canais de drenagem.

6.2.2.3 Síntese comparativa

Por meio da cartografia geomorfológica pré-intervenção (original) e com o estágio


atual de intervenção, foi possível quantificar as mudanças ao longo dessas cinco décadas,
conforme Quadro 6.

Quadro 6 – Comparativo das feições geomorfológicas dos períodos inicial e final do recorte
temporal para o bairro Satélite
PRÉ- ESTÁGIO
INTERVENÇÃO ATUAL
FEIÇÕES (1972) (2022) SITUAÇÃO
Quantidade/ Quantidade/
Dimensões Dimensões
Topo convexo 25.509m² 24.958m² Diminuiu
Topo tabular 503.678m² 458.709m² Diminuiu
Vertente 317.033m² 307.879m² Diminuiu
Base da vertente 455.218m² 445.896m² Diminuiu
Ruptura de declividade 2.143m 2.143m Inalterada
Terreno plano 307.449m² 290.326m² Diminuiu
Terrenos alagadiços 15.075m² 4.304m² Diminuiu
Planície natural 22.620m² 13.371m² Diminuiu
Canal de drenagem 5 canais (2.714m) 5 seções (1.325m) Diminuiu
Canal antropogênico
- 5 seções (1.389m) Aumentou
(tamponado/retificado)
Fundo de vale em V 3un 3un Inalterado
Fundo de vale
1un 1un Inalterado
dissimétrico
Rochas expostas 2un 2un Inalterado
Poços tubulares - 8un Aumentou
Terreno escavado - 44.969m² Aumentou
Vertentes com
geometria - 1.849,6m Aumentou
antropogênica
Depósitos
- 72.056m² Aumentou
antropogênicos
Conduto - 9un Aumentou
LEGENDA:
Pontos Linhas Polígonos
Fonte: o autor (2022)
186

Como observado, as intervenções geomorfológicas acompanharam a ocupação


urbana do bairro, com maiores modificações nos terrenos alagadiços, planícies e
diretamente nos canais de drenagem. Importante destacar ainda possíveis intervenções
que acontecerão, caso prossiga algumas modificações no bairro, sendo:
a) tanto a planície quanto os terrenos alagadiços podem ainda passar por
modificações em virtude de, no seu entorno, existirem propriedades
aparentemente ociosas, e, caso haja a ocupação, existe a tendência que ocorra mais
aterramentos;
b) em alguns vales, a exemplo do localizado próximo às ruas Jornalista Joel
Oliveira e Urano e às ruas Apolo XI e Voyage, a identificação de construção de
baldrames (para residências) em estágio inicial, poderá contribuir com o aumento
de carga de aterro sobre o canal para aumentar suas propriedades (assim como
próximo as ruas Branca e Plutão);
c) mais vertentes de geometria antropogênica poderão surgir com o indício de
intervenção no extremo Leste da rua Apolo XI (inclusive com a tendência de
formação de depósito antropogênico) e próximo as ruas Talmo Iran Leal,
Principal, “1” e “2”.

6.3 Bairro Parque Juliana

6.3.1 Dinâmica temporal do uso, ocupação e cobertura da terra

Por suas particularidades no contexto da configuração urbana de Teresina, o bairro


Parque Juliana possui características únicas que diferenciam a dinâmica temporal das
formas de uso, ocupação e cobertura da terra (figura 60). No início da década de 1970 a
área do bairro tinha, em sua totalidade, vegetação densa, sobretudo aquelas típicas de
zonas de ecótono, com exemplos de pau darco, caneleiro e palmáceas.
Em 1983, as primeiras alterações na cobertura da área são identificadas, o lixão,
no extremo Norte com aproximadamente 0,29km², além de uma área desmatada na porção
Leste, com 0,07km², que, somados, perfaziam um total de 14,4% de modificação da
cobertura original. Diante disso, cabe ressaltar que a área desmatada e o lixão não havia
aparente ligação no âmbito das duas atividades, a primeira resultando em lavoura e a
segunda como ponto final dos resíduos sólidos produzidos na cidade.
187

Figura 60 – Dinâmica de uso, ocupação e cobertura da terra do bairro Parque Juliana para os
anos de 1973, 1983, 2005 e 2021

Fonte: o autor (2022)

No ano de 2005, duas décadas após a última classificação, foi observada a inclusão
de uma nova classe (área urbanizada/edificações). Frente a isso, a classe de vegetação
abrangia 73,6% da área, seguido 16,4% do aterro (aumentando para os eixos Leste e Sul),
8,0% de área desmatada e 2,0% de área urbanizada/edificações. A partir disso, a
identificação de edificações (residências) reflete no início da ocupação urbana do bairro,
inicialmente no entorno do lixão e em áreas isoladas da porção Sudoeste do bairro, mesmo
com a ausência aparente de vias.
Em 2021, seguindo a tendência das classificações anteriores, houve acréscimo de
uma classe (solo exposto). A classe de vegetação abrangia 37,6% da área, seguido 30,0%
de área desmatada, 24,0% do aterro (aumentando para os eixos Leste e Sul, além de
acompanhamento das novas ocupações urbanas), 4,8% de área urbanizada/edificações e
3,6% de solo exposto.
Em destaque, a classe de solo exposto refere-se a áreas oriundas do processo de
remobilização e descaracterização do relevo em decorrência da atividade de mineração,
tal como as áreas desmatadas indicando os loteamentos para futuras ocupações
residenciais, inclusive com existência, em alguns trechos, de posteamentos e lotes
cercados, indicando a posse de alguns destes.
188

Foi observada, assim, a mudança do padrão de uso e cobertura da terra,


inicialmente com vegetação totalizante na área e, atualmente, com reflexos de
desmatamento, solo exposto, urbano médio, configuração inicial de arruamentos no
entorno do núcleo urbano, indicando, portanto, as alterações resultantes da agência
humana. As maiores mudanças referem-se à diminuição de 1,56km² de vegetação e
aumento de 1,47km² de feições como urbanas, antropogênicas e desmatamento.

6.3.2 Cartografia geomorfológica

6.3.2.1 Cartografia geomorfológica original (pré-intervenção)

Os aspectos geomorfológicos do bairro Parque Juliana estão fortemente


vinculados à dinâmica erosiva dos rios Parnaíba (a Oeste) e Poti (a Leste), tendo em vista
que o bairro está inserido em um trecho do divisor topográfico entre as duas bacias e por
contar com uma amplitude topográfica (morfologia original) de aproximadamente 51m,
apresentando diversidade de feições geomorfológicas, sobretudo no sistema vertente.
Em relação aos topos das elevações, há, na área, tanto topos convexos (96.750m²)
quanto tabulares (718.412m²), sustentados geologicamente sobre a Formação Pedra de
Fogo, assim como todo o bairro. Os topos convexos (identificados apenas em campo e
com escala aproximada) possuem formato arredondado com decréscimo topográfico
principalmente para Leste e Nordeste (em direção à calha do rio Poti) e inseridos em
relevo escalonado retrabalhado pela drenagem, inclusive de alta energia de transporte, em
virtude da visualização na área de seixos rolados com tamanhos variados. À vista dessa
influência, cabe mencionar que a área dista aproximadamente de 5km (em linha reta) para
ambos os canais dos rios, reforçando o caráter denudacional, próximo ao divisor
topográfico, e que o vale do rio Poti possui formato alargado.
Os topos das feições possuem abrangência espacial dos tabulares, com exceção
dos extremos Norte e Nordeste do bairro e, por tal característica, auxilia na caracterização
dos baixos planaltos encontrados no entorno do bairro, principalmente a Sul e a Noroeste,
compartimentados e dissecados pela drenagem superficial.
Em relação às vertentes, estas foram divididas em dois grupos (considerando a
declividade e hipsometria): vertentes (do terço superior ao terço médio) e base da vertente
(do terço médio ao terço inferior). A partir disso, aproximadamente 664.133m² de
vertente foram identificados, em suas tipologias côncavas e convexas com caimento
189

topográfico principalmente para Leste e Nordeste. Contudo, outros caimentos


topográficos das vertentes foram observados (para Oeste e Sul) considerando a existência
de talvegues locais. Acrescenta-se ainda a existência de colo topográfico, inferindo o
avanço dos processos denudacionais e que, conforme Machi e Cunha (2007), pode
acarretar o rompimento do topo.
Sobre a base da vertente (500.964m²), esta possui configuração e área distintas ao
bordejar as elevações, apresentando maior cobertura espacial a Leste e menor cobertura
na área central e Sudoeste, influenciadas pela rede de drenagem e setores de maiores
declividades, marcando e auxiliando no delineamento dos interflúvios locais.
Considerando as cotas altimétricas mais baixas, os terrenos planos (476.046m²) se
localizam principalmente na porção Nordeste, em área de drenagem dos canais com
sentido Oeste-Leste e Sul-Norte, além de faixa estreita perpendicular ao extremo
Sudoeste do bairro. Estes terrenos compreendem ainda a áreas de dois vales, um de fundo
dissimétrico, contribuindo com a morfologia original de um anfiteatro “aberto” para
Norte e associado a uma falha/fratura; e outro de fundo em “V”, também associado a uma
falha/fratura. No total são identificados no bairro um total de oito falhas/fraturas com
sentidos e orientações diversas. Como parte do processo denudacional da área, foi
identificado um total de seis canais de drenagem (intermitente) com aproximadamente
4.811m de extensão com direção de fluxos variadas.
No que se refere às coberturas superficiais, no bairro Parque Juliana há a presença
de depósitos de massará e seixo, além de barro. O massará (matriz areno-argilosa)
associado a seixos, são encontrados principalmente em morros residuais ao longo
principalmente do interflúvio entre os rios Parnaíba e Poti, caracterizando estas faixas
como as de maiores reservas (para construção civil), e resultantes da decomposição in
situ do substrato rochoso da Formação Pedra de Fogo, sobretudo o arenito caulínico.
Definido como material coeso com seixos e associado a sedimentos de
granulometria mais fina (nas camadas superiores), permanece estratificado em
acamamento e friável (figura 61) “os quais já sofreram litificação (diagênese) e são
continuamente dissecados por processos erosivos, principalmente por águas pluviais”
(VIANA, 2013, p. 103).
190

Figura 61 – Representação do perfil geológico esquemático da extração de massará

Fonte: Correia Filho e Moita (1997) adaptado pelo autor (2022).

Correia Filho e Moita (1997) reforçam ainda que a origem fluvial destes
sedimentos possibilitou que sua matriz possua grãos angulosos e arredondados e cimento
sílico-caulinítico, contribuindo para a propriedade ligante, além de referir-se à natureza
clástica e estrutura sedimentares. Em relação ao barro, os mesmos autores o definem
como sedimento de pouca consistência (areno-argiloso e/ou argilo-arenosos) e friável.
Tanto o massará quanto o barro são topônimos popularmente conhecidos localmente, com
usos diversos na construção civil, e são frequentemente dissecados pelos processos
erosivos, imprimindo-lhes feições ravinadas. A figura 62 ilustra a morfologia
original/pré-intervenção do bairro.
Figura 62 – Morfologia pré-intervenção (1972) do bairro Parque Juliana
191

Fonte: o autor (2022)


192

Importante ressaltar ainda que a drenagem superficial (intermitente) contribui para


a formação de uma sub-bacia que escoa para o rio Poti, podendo ser observado pela BR-
316 (parte do divisor topográfico Parnaíba/Poti) parte do percurso dos canais ao levar em
consideração as manchas de vegetação, principalmente no período chuvoso.

6.3.2.2 Cartografia geomorfológica do estágio atual de intervenção

As intervenções geomorfológicas na área e que marcam e caracterizaram a


morfologia atual se associam inicialmente à atividade de mineração de massará, seixo e
barro, além da instalação, no bairro do lixão de Teresina (atualmente Aterro Sanitário).
Em virtude dessas modificações houve mudanças significativas de âmbito morfológico e
de drenagem superficial, tendo em vista que as duas atividades impactam diretamente os
aspectos físico-naturais e a paisagem local, a julgar pela atual presença de vertentes
retilíneas e com geometria antropogênica, terrenos escavados, depósitos e açudes
antropogênicos, mineração ativa e feições erosivas, impactando tanto as vertentes quanto
os topos das feições (apenas os topos convexos não passaram por aparente interferência),
os terrenos planos e os canais de drenagem.

a. Worked ground

A mineração é atividade que marca consideravelmente o início das intervenções


geomorfológicas no bairro. Os topos tabulares (atualmente com 526.842m²), as vertentes
(atualmente com 560.979m²) e as bases das vertentes (atualmente com 373.856m²) foram
as feições que passaram por maiores alterações tanto em sua geometria quanto na sua
forma em processos degradacionais. O material (massará) teve ampliação de extração e
busca pela construção civil a partir da década de 1980, comportando-se como material de
maior procura, principalmente para edificação de moradias para famílias com baixo poder
aquisitivo, tanto que, conforme Viana (2013), a prefeitura de Teresina implantou o
programa “Massará do Povo” para atendimento à população de baixa renda, fornecendo,
além do massará, outros materiais sendo que a própria população entrava com a mão de
obra da produção, em muitos casos sob regime de mutirão.
Segundo Correia Filho e Moita (1997), havia, na área, no ano de 1994 uma reserva
estimada em 1.800.000m³ de massará e seixo, uma das maiores dentre as reservas
catalogadas à época, com produção mensal de 14.304m³ de massará e 3.840m³ de seixo.
193

A extração mineral deste material teve seu início rudimentar (figura 63), com a utilização
de alavancas, enxadas, pás e picaretas para o desmonte e descaracterização do relevo,
utilizando-se das peneiras para a separação do seixo e outros fragmentos de materiais
encontrados nas lavras.

Figura 63 – Representação da extração de massará e seixo e desfiguração do relevo (década de


1990) no entorno da área de estudo. Em A, cava a céu aberto e, em evidência, três níveis de
escavação; em B, marcas de picareta e enxada para o desmonte inicial do terreno; em C,
assinaturas antropogênicas de intervenção no relevo

Fonte: adaptado de Correia Filho e Moita (1997)

Em virtude da extração rudimentar principalmente nas áreas de barreiras, era


comum a morte de trabalhadores por soterramento (vinculada à inclinação do talude),
tanto que no período chuvoso a extração é cessada em virtude das características
mineralógicas do massará e, também, do desaquecimento da construção civil no período.
Em relação ao barro, com o passar dos anos sua extração foi diminuída (muito utilizada
para construção de casas de taipa).
194

A extração, além de impactar diretamente o relevo, impacta também na supressão


da cobertura vegetal, na aceleração do processo erosivo, no assoreamento e
descaracterização de vales e canais de drenagem, denudação da superfície e
remobilização do solo. A extração passou por alguns anos cessadas, contribuindo para
que vegetação arbustiva nascesse na área, indicando que preteritamente teria passado por
degradação ambiental. Contudo, nos últimos anos a extração tem voltado de forma
acelerada (figura 64), avançando sobre as superfícies outrora não modificadas, a exemplo
das antigas áreas de terço superior da vertente (que hoje estão caracterizadas sob
geometria antropogênica com aproximadamente 8.116,3m, caracterizadas ainda como
vertentes retilíneas).

Figura 64 – Assinaturas antropogeomorfológicas associadas à mineração (worked ground). Em


A, atividade recente com indícios de utilização de máquinas para rastejo e acúmulo do material
retirado; em B, comparativo temporal das superfícies escavadas (terreno plano, base da vertente,
e, agora, terço superior da vertente); em C, destaque para atuais vertentes antropogênicas; e, em
D, plano diferenciado da primeira superfície escavada e formação de terrenos planos

Fonte: o autor (2022)

Do total atualmente de 127.703m² de terrenos escavados, há, inclusive, a retirada


de material (empréstimo) para realocação e aterro (agradação) para obras da duplicação
195

da BR-316, desfigurando vertentes (agora com declividade de 90º), expondo a


estratigrafia e contribuindo para o processo erosivo (figura 65), além de contribuir para
alargamento de via e abandono de grandes blocos de rochas. As interferências
antropogênicas identificadas dão origem a superfícies negativas ou de erosão,
contribuindo para o desequilíbrio e reconfiguração dos elementos geossistêmicos ao
considerar as modificações do funcionamento do sistema ambiental da área, notadamente
relacionado às feições de topo, vertente, terrenos planos e drenagem superficial.
A paisagem geomorfológica modificada figura-se então como dinâmica a partir
da combinação dos elementos naturais exógenos (e sua atuação sobre as forças
morfocronológicas e morfogenéticas) e da ação antrópica, podendo desencadear
aceleração do processo erosivo, aterramento/descaracterização de canais de drenagem,
contribuindo, portanto, para modificação dos aspectos morfodinâmicos locais.

Figura 65 – Dinâmica temporal de um worked ground associado à mineração na Rua José dos
Santos Chaves com exposição de manto de alteração “barro” da Formação Pedra de Fogo. Em
A, recuo da vertente antropogênica (imagens de satélite); e em B, tomada visual de ângulo
horizontal com características da geometria antropogênica e destaque para a antiga morfologia

Fonte: Google Earth Pro (adaptado pelo autor); o autor (2022)


196

Além disso, a própria atividade mineral (formas degradacionais) contribui ainda


para a gênese de feições agradacionais tendo em vista os depósitos induzidos pelo rejeito
de materiais escavados ou da aceleração da erosão, reforçando, assim, a necessidade de
se inserir a ação humana para a compreensão dos sistemas geomorfológicos atuais. Em
que pese esta atividade, há três tipos de forma de relevo (DÁVID; PATRICK, 1998),
sendo as formas negativas (escavação), as formas positivas (acumulação do material
retirado) e as formas destruídas (levam o nivelamento da superfície), sendo possível ainda
a combinação destas três formas.
Acrescenta-se a escavação para a construção de lagoas antropogênicas
(7.357,1m²) vinculadas ao complexo do Aterro Sanitário em terrenos originalmente
planos. Ainda considerando o processo de mineração local, houve, sob responsabilidade
desta atividade produtiva, a descaracterização de 5 dos 6 canais de drenagem intermitente,
restando, atualmente, apenas um canal (683m) sem aparente intervenção
antropogeomorfológica.

b. Made ground

Os made grounds da área referem-se sobretudo à abrangência espacial (em ordem


crescente) do Aterro de Teresina, da presença de depósitos oriundos da mineração e da
presença em alguns pontos do bairro de áreas de lixão “bota-fora”, principalmente em
espaços sem ocupação residencial. Os depósitos antropogênicos possuem área total de
313.123,4m². A área em que está inserido o Aterro foi adquirida na década de 1970 pela
Prefeitura, com descarte de resíduos sem tratamento, fato que começou a ser modificado
em meados da década de 1990 com o início do desenvolvimento de projetos e ações para
adequações futuras (TERESINA, 2018).

A implantação do novo aterro sanitário se deu em área vizinha do atual


aterro controlado, que deverá ser recuperado ambientalmente. O
modelo proposto para o projeto é de um aterro celular, compondo um
sistema integrado de gerenciamento de resíduos. O dimensionamento
das células foi baseado no princípio de maior aproveitamento da área e
o consequente ganho no alcance do projeto, assim a operação das
células se dará em três fases distintas. [...] O sistema de destinação final
dos resíduos sólidos prevê capacidade de tratamento e destinação final
de uma média de 547 toneladas de resíduos por dia, durante o período
de 10 anos (TERESINA, 2018, p. 107).
197

Sob morfologia antropogênica tabular e com vertentes de geometria


consequentemente tabular, o Aterro de Teresina (figura 66) com área de 311.835m² e
perímetro de 2.988m, caracteriza-se como depósito construído “built” (CHEMEKOV,
1983); gárbico “garbic” e úrbico “urbic” (FANNING; FANNING, 1989) e misto “mixed”
(PELOGGIA, et al, 2014), em virtude ainda do processo agradacional e elevada
topografia em virtude da deposição de área de material coletado na cidade.

Figura 66 – Feição tabuliforme antropogênica oriunda do Aterro de Teresina, em destaque as


vertentes construídas sobre aterros em degraus artificiais

Fonte: Google Earth Pro (adaptado pelo autor); o autor (2022)

A partir disso, as características de um aterro controlado referem-se à alocação de


resíduos em camadas terrosas (para proteção mecânica contra ruptura das camadas), além
da segregação da tipologia dos resíduos descartados. O Aterro, em virtude da sua
funcionalidade e dos materiais em que são dispensados nele, possui camadas arenosas
para supressão e compactação dos resíduos alocados. A ação direta por meios mecânicos
auxilia no seu formato tabular e nos taludes íngremes, relacionados à geotecnogênese de
apropriação do relevo marcando tempos (geológico e histórico) diferentes e contribuindo
para a criação de uma nova paisagem antropogênica, vista de inúmeros bairros da capital.
A substituição, dessa área, de coberturas superficiais recentes por Aterro (produto
social) oriundos da ação humana reflete e expressa consideravelmente na força na
produção de aterros e morrotes artificiais com acúmulo de materiais terrosos, entulho,
198

lixo e matéria orgânica sobressaindo na configuração da paisagem local, influenciando


no arruamento e na qualidade do ar no seu entorno.
A modificação e criação de vertentes antropogênicas e taludes retificados
(servindo como via de circulação interna sobre o depósito) contribui para o aumento da
declividade e da hipsometria, inclusive com faces de terreno exposto e outras faces com
cobertura vegetal em gramíneas para estabilidade dos taludes, criando descontinuidades
entre as diferentes camadas de deposição gárbica e úrbica, elevando-se altimetricamente
à medida que a produção de lixo e resíduos na capital cresce, apontando
consideravelmente para resultados imediatos (interferência direta) e mediato (deposições
subsequentes) em seu sentido morfológico, alterando ainda as características
hidrogeomorfológicas e o equilíbrio dinâmico do ambiente local.
Conforme dados do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de
Teresina (TERESINA, 2018) até o final do ano de 2032 estima-se que serão geradas 650
toneladas de resíduos por dia no município e, como ponto de recepção, o Aterro
Municipal.
Em função das características similares, as feições made grounds identificadas nas
ruas Luísa Barbosa de Miranda, Celso Veras e 12, são classificados como: built
(CHEMEKOV, 1983), urbic (FANNING; FANNING, 1989) e aggraded (PELOGGIA,
et al, 2014) em virtude principalmente da existência de fragmentos e artefatos tais como
restos de construção civil, plástico, madeira, dentre outros, configurando a feição em seu
processo agradacional em pequenos lixões “bota-fora”.
Já nas ruas José dos Santos Chaves, Luísa Barbosa de Miranda, Deputado Juarez
Tapety, 9 e 17, os depósitos foram formados indiretamente da ação humana por meio
principalmente da aceleração do processo erosivo (lixiviação) relacionada às escavações
e/ou cortes do relevo (feições degradacionais), assim, tem-se como: induzidos “induzed”
(CHEMEKOV, 1983), espólico “spolic” (FANNING; FANNING, 1989) e aggraded
(PELOGGIA, et al, 2014), sob formação constituinte principalmente de material terroso.
Cartograficamente, a figura 67 representa a morfologia atual a partir das
intervenções antropogeomorfológicas realizadas na área.
Figura 67 – Morfologia atual (2022) do bairro Parque Juliana
199

Fonte: o autor (2022)


200

6.3.2.3 Síntese comparativa

Como observado no quadro 7, as modificações mais significativas referem-se às


mudanças das áreas do sistema vertentes (diminuição dos topos convexos e tabulares, das
vertentes e bases das vertentes) em virtude da atividade de extração mineral contribuindo
para a produção de vertentes com geometria antropogênica e descaracterização de 5
canais de drenagem intermitentes.

Quadro 7 – Comparativo das feições geomorfológicas dos períodos inicial e final do recorte
temporal para bairro Parque Juliana
PRÉ- ESTÁGIO
INTERVENÇÃO ATUAL
FEIÇÕES (1972) (2022) SITUAÇÃO
Quantidade/ Quantidade/
Dimensões Dimensões
Topo convexo 96.750m² 92.563m² Diminuiu
Topo tabular 718.412m² 526.842m² Diminuiu
Vertente 664.133m² 560.979m² Diminuiu
Base da vertente 500.964m² 373.856m² Diminuiu
Colo 1un 1un Inalterado
Fundo de vale em V 1un 1un Inalterado
Fundo de vale Inalterado
1un 1un
dissimétrico
Terreno plano 476.046m² 283.366m² Diminuiu
Canal de drenagem 6 canais 1 canal
Diminuiu
(natural) (4.811m) (683m)
Vertentes com
geometria - 8.116,3m Aumentou
antropogênica
Depósitos
- 313.123,4m² Aumentou
antropogênicos
Lagoas/açudes
- 7.357,1m² Aumentou
antropogênicas
Terrenos escavados
- 127.703m² Aumentou
(mineração)
Cicatrizes/feições
- 407m Aumentou
erosivas (lineares)
LEGENDA:
Pontos Linhas Polígonos
Organização: o autor (2022)

Sob processo deposicional, os depósitos antropogênicos auxiliaram na


modificação da paisagem geomorfológica local, tendo em vista a gênese de feições
201

artificiais do relevo, direta e indiretamente produzidas pela agência humana. Em virtude


da ainda interferência no bairro, projeta-se principalmente 3 pontos:
a) a produção de lixo e resíduos urbanos aumenta consideravelmente ao longo dos
anos e, como o Aterro é o único na cidade, suas dimensões e características
geomorfológicas (altitude, declividade e hipsometria, por exemplo) tendem a
permanecerem dinâmicas;
b) a área ainda possui reservas para extração mineral (barro, massará e seixo), que,
sem fiscalização, aspira-se ainda provocar danos no sistema geomorfológico,
sobretudo nas bases das vertentes e nas vertentes a julgar pelas cicatrizes da
mineração se concentrarem principalmente na porção Oeste do bairro;
c) o bairro ainda possui grandes áreas sem ocupação residencial, contudo, há lotes
já definidos, sobretudo nas vertentes, bases das vertentes e terrenos com topos
tabulares ao Sul, projetando-se que, com a ocupação na área, principalmente nos
trechos com declividades mais acentuadas, as interferências geomorfológicas
terão uma maior diversidade, principalmente nos processos agradacionais (aterro)
e degradacionais (corte/escavação).

6.4 Bairro Flor do Campo

6.4.1 Dinâmica temporal do uso, ocupação e cobertura da terra

A partir da série temporal selecionada, os resultados das formas de uso, ocupação


e cobertura da terra para o bairro Flor do Campo (figura 68) apontaram para significativas
mudanças nos últimos 10 anos, refletindo na própria incorporação do terreno ao espaço
urbano de Teresina, somado a construção do Residencial Pedro Balzi e das ocupações
irregulares no entorno. Na década de 1970 a totalidade do bairro era ocupada por
vegetação densa, sobretudo exemplares de cerrado, palmáceas e cocais, além de espécies
de floresta estacional decidual principalmente nas mais elevadas cotas altimétricas.
Em 1983 já foram identificadas duas classes adicionais (área desmatada e área
urbanizada/edificada). Neste ano, a vegetação abrangia aproximadamente 93,5% do
terreno, seguido de 4,9% de área desmatada (para posterior lavoura, a exemplo de milho
e feijão, além da abertura de vias, com cobertura tanto de areia quanto de piçarra) e 1,6%
de área urbanizada/edificada, correspondendo a instalação das primeiras edificações
correspondentes a sítios e moradias rurais, tendo em vista a cultura de muitos teresinenses
202

que moram na cidade possuírem residências na zona rural próximo à Teresina,


constituindo-se em “segundas moradias”, além da presença de clubes de empresas,
associações, sindicatos e órgãos públicos.

Figura 68 – Dinâmica de uso, ocupação e cobertura da terra do bairro Flor do Campo para os
anos de 1973, 1983, 2005 e 2021

Fonte: o autor (2022)

Em 2005, 22 anos depois do último ano de análise, foram identificadas um total


de 6 classes. A de vegetação correspondendo a 71,5%, a de vegetação rasteira com 13,1%
e lavoura com 12,6% (essas duas últimas sucedendo as antigas áreas desmatadas e
ampliando-se para o entorno). A área urbanizada/edificada alcançou neste ano 1,2% (a
pequena diminuição decorre, em alguns trechos, pelo avanço da vegetação e lavoura sobre
antigas vias, além do incipiente aumento de edificações. Tanto a classe de solo exposto
(no entorno das áreas edificadas) quanto a classe água (em açudes e lagoa) totalizaram
0,8% do terreno. Importante ressaltar que até aqui o terreno ainda fazia parte da zona rural
de Teresina, fato que mudou em 2009.
No ano de 2021, 12 anos após a anexação ao perímetro urbano, o perfil das formas
de uso, ocupação e cobertura da terra acompanhou tal característica. A vegetação
abrangendo 52,4% (principalmente na porção Leste), seguido de vegetação rasteira com
28,8% na porção Oeste, solo exposto com 10,2% (em decorrência tanto da característica
203

de ausência de pavimentação nas vias quanto da atividade minerária) e área


urbanizada/edificada com 8,6% no entorno da classe anterior.
Os dados apontam que ao longo de 48 anos o terreno perdeu uma cobertura de
vegetação natural (floresta estacional decidual) de aproximadamente 1,17km² ao passo
que houve um incremento de 0,47km² de solo exposto e área urbanizada. Cabe considerar
ainda que o padrão de ocupação do bairro é dividido em três tipos, uma área ainda com
cobertura vegetal natural (a Leste), uma área com propriedades rurais com diferentes
tamanhos em que há considerável vegetação (sobretudo frutíferas) ao Sul e a área
residencialmente/urbanamente ocupada, na parte central do bairro, conectada às demais
por vias asfaltadas, não asfaltadas e com pavimentação poliédrica. Infere-se ainda que a
cobertura vegetacional ainda continue diminuindo, tendo em vista os recentes inícios de
construção de condomínios (verticais e horizontais) no bairro.

6.4.2 Cartografia geomorfológica

6.4.2.1 Cartografia geomorfológica original (pré-intervenção)

As feições geomorfológicas encontradas no bairro Flor do Campo estão inseridas


em um conjunto de elevações paralelas à franja periurbana Leste e Sudeste de Teresina.
Sustentados geologicamente sobre a Formação Pedra de Fogo possui cobertura superficial
(figura 69) tanto de silexitos, siltitos e arenitos silicificados nos topos tabulares, material
elúvio-coluvionar nas vertentes (terço superior) e depósitos aluvionares arenosos e areno-
argilosos em parte do terreno plano e na área de planície.
No que se refere às feições, os topos tabulares (315.762m²) da área são capeados
por uma camada de canga laterítica (figura 70) dispostas horizontalmente com dimensão
variada. Com cota altimétrica média de 136m, os topos tabulares (setor mais alto do
interflúvio) se localizam na porção Centro-Leste do bairro e indicam a existência de
relevo escalonado com topos com sutis tendência a arredondamento e se conectam com
feições na área rural de Teresina, além da presença, próxima (±1,2km) a este topo tabular,
de topo arredondado, sugerindo que tal feição já esteja adiantada no seu processo
denudacional.
204

Figura 69 – Perfil geomorfológico e características litológicas de trecho do bairro Flor do


Campo

Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do Google Earth Pro e SIAGAS (201?c; 201?d)

Figura 70 – Cangas lateríticas de dimensões variadas capeando as feições de topo. Em destaque


ainda assinaturas antropogeomorfológicas de escavação e maquinização para corte do talude

Fonte: Google Earth Pro (adaptado pelo autor); o autor (2022)


205

As vertentes, bordejando os topos tabulares em todos os sentidos, possuem área


de 634.029m², com larguras relativamente extensas (se comparada às vertentes das
demais áreas de estudo), sugerindo estágio de arredondamento. Com uma área
aproximada de 33mil m², há, no terço superior da vertente a existência de dambo,
caracterizada como concavidade (abertas ou fechada) que eventualmente pode anteceder
cabeceiras de drenagem, e não necessariamente conectada à rede de drenagem superficial
(SANTOS, 2018), possuindo, ainda, fluxo concentrador em virtude de sua morfologia.
A geometria das vertentes se dá tanto das tipologias côncava, predominando ao
Norte e ao Sul, quanto da convexa, em sentido Oeste, para a calha do rio Poti, inclusive
com os canais de drenagem escoando para tal.
Há originalmente 7 trechos de rupturas de declividade, principalmente entre o topo
e o terço médio-superior das vertentes e entre este e o terço médio-interior, em grande
parte escalonados para Sudoeste. A base da vertente (148.867m²) possui baixa largura,
principalmente ao Norte da vertente, contribuindo para a declividade acentuada de
algumas rampas (porção Noroeste), principalmente na conexão desta com os terrenos
planos (1.054.837m²) com grande concentração espacial ao longo das porções Sul,
Sudoeste, Centro-Sul e extremo Sudeste.
As faixas de brejo (65.585m²) e de planície (152.571m²) completam o sistema
geomorfológico local. A primeira disposta em duas porções (extremo Norte e Centro Sul)
e a segunda no extremo Oeste. A drenagem superficial pré-intervenção contava com três
canais de drenagem, um intermitente (±490m de tamanho e amplitude topográfica de
±40m) com exfiltração próxima ao dambo e escoando no sentido Sul-Norte partindo do
terço superior da vertente e dois perenes, um de 2.094m (sentido Leste-Oeste, e, depois,
Norte-Sudoeste, com amplitude topográfica de ±18m) sendo o canal receptor (com
nascente na zona rural) da drenagem do bairro; e, um último canal de 1.309m (sentido
Leste-Oeste, com nascente no terço superior de uma vertente e amplitude topográfica
±42m).
Toda a drenagem superficial do bairro é drenada para uma lagoa (3.907m) e, desta,
escoando para a margem direita do rio Poti, próximo ao trecho em que ele muda de
direção, do sentido Sul-Nordeste para o sentido Nordeste-Sudoeste, e, em seguida, para
Noroeste.
A figura 71 representa a cartografia geomorfológica no período pré-intervenção.
Figura 71 – Morfologia pré-intervenção (1972) do bairro Flor do Campo
206

Fonte: o autor (2022)


207

6.4.2.2 Cartografia geomorfológica estágio atual de intervenção

A morfologia atual do bairro Flor do Campo, um dos mais recentes da cidade de


Teresina, é reflexo tanto da ocupação urbana quanto da atividade de mineração, em alguns
pontos ainda ativa. Diante disso, a produção de feições agradacionais e degradacionais é
correspondente a estes processos que, mesmo relativamente recentes, têm contribuído
para significativas mudanças no sistema geomorfológico, principalmente nas vertentes.

a. Worked ground

Os terrenos escavados (91.268m²) estão dispostos em oito áreas do bairro,


principalmente ao Sul, interferindo na morfologia tanto das vertentes (atualmente com
619.049m²) quanto das bases das vertentes (atualmente com 159.561m²), além de
contribuir para o aumento de terrenos planos (atualmente com 1.104.275m²). As
escavações são as principais responsáveis pela gênese de vertentes com geometria
antropogênica (1637m) e de vertentes retilíneas, com avanço da ocupação urbana sobre
antiga superfície com cota altimétrica superior. Os taludes de corte são aqueles em que
há a retirada de material (área de empréstimo), e possui, na área de estudo, trechos com
altura de aproximadamente 30m e com ângulo de inclinação próximo de 90º e indicando
a morfologia de um anfiteatro antropogênico com abertura para Sul/Sudoeste (figura 72).
A referida feição é a mais visualmente encontrada no bairro, inclusive com bairros
distantes, tendo em vista que a superfície altimétrica e a diferença de cor do talude se
destacam na paisagem urbana, surpreendendo por suas dimensões em cortes verticais e
subverticais, exemplificando, assim, a criação, indução, intensificação e interferências do
comportamento antrópico face aos processos geomorfológicos, com influência direta.
208

Figura 72 – Dinâmica temporal do processo de escavação e urbanização sobre as vertentes e


base da vertente originando talude de corte (tracejado amarelo)

Fonte: Google Earth Pro (adaptado pelo autor); o autor (2022)

A referida interferência possibilitou a criação de nova morfologia e de novos


padrões de drenagem, modificações estas que proporcionam mudanças das taxas de
escoamento superficial/subsuperficial e de infiltração, bem como na aceleração de
processos erosivos (com 11 feições encontradas totalizando 792,1m), figura 73A.
A atividade mineral contribuiu ainda para a supressão de três rupturas de
declividade originais, e para o avanço sobre a área do dambo, impactando diretamente o
canal intermitente outrora encontrado. A partir disso, há, no bairro, em antiga área de base
de vertente, a presença de quatro blocos de rochas que serviam como material de origem
do terreno sotoposto a ela, agora servindo como parte da fundação de residências (figura
73B) e para abertura de vias de acesso.
209

Figura 73 – Exemplos das intervenções geomorfológicas. Em A, feições erosivas em sulcos e


ravinas em talude de corte no terço superior de vertente paralela à Rua dos Fernandes; e em B,
blocos de rochas atualmente seccionados para abertura de rua e construção de residências

Fonte: o autor (2022)

Os terrenos escavados, principalmente a jusante destes, estão relacionados com


processos erosivos (em sulcos e ravinas) em virtude das alterações geomorfológicas e
supressão vegetal, contribuindo para aceleração deste processo morfodinâmico.
Adiciona-se aos terrenos escavados os 14 poços tubulares, com profundidades de 50m a
200m e distribuídos em todas as feições geomorfológicas originalmente identificadas,
principalmente em terrenos planos e na planície de inundação, bem como as 11 lagoas
antropogênicas (13.382m²) construídas nos terrenos planos e nos terrenos alagadiços,
inclusive com grande concentração impactando diretamente o canal de drenagem
principal do bairro.

b. Made ground

As feições deposicionais (made ground) foram encontradas em áreas isoladas,


sobretudo ao longo dos canais, planícies e terrenos alagadiços. No total, foram
identificados 38.862m² de depósitos antropogênicos. Destes, tem-se obras de aterro para
supressão de 748m de canal de drenagem (atualmente o bairro conta com 2.432m de canal
natural), impactados ainda pelas constantes escavações a montante, assim, tal depósito
(próximo à rua Flor do Tempo e adjacências) classifica-se em: construído “built”
(CHEMEKOV, 1983); espólico “spolic” (FANNING; FANNING, 1989) e agradação
“aggraded” (PELOGGIA, et al, 2014).
210

De igual modo, parte dos terrenos alagadiços foram passaram por deposição de
materiais de origem antrópica, classificados em construído “built” (CHEMEKOV, 1983);
úrbico “urbic” (FANNING; FANNING, 1989) e agradação “aggraded” (PELOGGIA, et
al, 2014), a exemplo dos depósitos (figura 74) encontrados ao longo da Avenida
Ferroviária que margeia o extremo Norte do bairro.

Figura 74 – Depósitos antropogênicos sobre antigos terrenos alagadiços entre a Avenida


Ferroviária e o canal de drenagem. Em A, visão bairro/avenida; em B, visão avenida/bairro

Fonte: o autor (2022)

Bem como os terrenos alagadiços (agora com 49.615m²), foram identificados


depósitos antropogênicos no topo do tabular, sob característica de “bota fora” e
classificado como construído “built” (CHEMEKOV, 1983); úrbico “urbic” (FANNING;
FANNING, 1989) e agradação “aggraded” (PELOGGIA, et al, 2014). Em relação à
planície (atualmente com 143.690m²) parte dela foi aterrada para construção de
residências e arruamentos, com a presença inclusive de pontos de cinco condutos e
canalização do riacho (figura 75), indicando ainda especulação imobiliária e futuras
ocupações. Estes depósitos foram classificados como construído “built” (CHEMEKOV,
1983); úrbico “urbic” e gárbico “garbic” (FANNING; FANNING, 1989) e agradação
“aggraded” (PELOGGIA, et al, 2014).
211

Figura 75 – Antes (2018) e depois (2022) do aterramento (depósito antropogênico) de um canal


de drenagem

Fonte: o autor (2018; 2022)

Relacionados ao processo erosivo e à mineração, outros depósitos foram


identificados sob característica terrosa, principalmente próximo às cavas e aos taludes de
corte, neste caso foram classificados como induzidos “induced” (CHEMEKOV, 1983);
espólico “spolic” e superfícies descapadas “scalped land surface” (FANNING;
FANNING, 1989) e degradação “degraded” (PELOGGIA, et al, 2014).
A figura 76 representa a morfologia atual do bairro Parque Juliana.
Figura 76 – Morfologia atual (2022) do bairro Parque Juliana 212

Fonte: o autor (2022)


213

6.4.2.3 Síntese comparativa

Os modelados e feições observadas pré-intervenção e atualmente correspondem


às taxas de mudanças identificadas e quantificadas no Quadro 8. Com mudanças
(degradacionais) principalmente nas antigas vertentes e base de vertentes que deram
origem a terrenos escavados e vertentes com geometria antropogênica, e agradacionais
nas áreas de terrenos alagadiços e planícies.

Quadro 8 – Comparativo das feições geomorfológicas dos períodos inicial e final do recorte
temporal para o bairro Flor do Campo
PRÉ- ESTÁGIO
INTERVENÇÃO ATUAL
FEIÇÕES (2000) (2022) SITUAÇÃO
Quantidade/ Quantidade/
Dimensões Dimensões
Topo tabular 315.762m² 302.590m² Diminuiu
Vertente 634.029m² 619.049m² Diminuiu
Base da vertente 148.867m² 129.561m² Diminuiu
Dambo 33.273m² 33.273m² Inalterado
Ruptura de declividade
7un 3un Diminuiu
natural
Terreno plano 1.054.837m² 1.104.275m² Aumentou
Terreno alagadiço 65.585m² 49.615m² Diminuiu
Planície natural 152.571m² 143.690m² Diminuiu
Lagoas naturais 6.158m² 6.158m² Inalterado
Canal de drenagem 3 canais (3.907m) 2 canais (2.432m) Diminuiu
Poços tubulares - 14 Aumentou
Vertentes com geometria
- 1637m Aumentou
antropogênica
Depósitos antropogênicos - 38.862m² Aumentou
Conduto - 5un Aumentou
Rochas (material de
origem) expostas após
- 4un Aumentou
mineração e urbanização
(arruamentos)
Lagoas/açudes 11 feições
- Aumentou
antropogênicas (13.382m²)
Terrenos escavados
- 91.268m² Aumentou
(mineração)
Cicatrizes/feições 11 feições
- Aumentou
erosivas (lineares) (792,1m)
LEGENDA:
Pontos Linhas Polígonos
Organização: o autor (2022)
214

Em virtude das características de ocupação acelerada e sem respeito aos limites


impostos pelo quadro físico-natural local, projeta-se que:
a) a atividade minerária tenha crescimento na porção Sudeste e Nordeste (aqui
descaracterizando o dambo, até então aparentemente intacto), descaracterizando
vertentes e bases das vertentes;
b) há a tendência de aterramento contínuo do maior canal de drenagem (já
modificado com condutos, açudagem e arruamentos), proporcionando sérios
danos a hidrogeomorfologia da subbacia em que está inserido, a jusante, por
exemplo, tal canal já sofre significativas pressões; e,
c) a ocupação urbana forçará novas mudanças na geometria do anfiteatro
antropogênico, tanto na sua base quanto no seu topo, com aumentos consideráveis
de ruas, quadras e lotes residenciais.
215

7 PROCESSOS SUPERFICIAIS, ANTROPOGEOMORFOLOGIA E


SUSCETIBILIDADES ASSOCIADAS

As alterações antropogeomorfológicas contribuíram para interferir nos processos


superficiais existentes na área no período pré-urbanização, conferindo e particularizando,
quando se comparado com o grau de interferência, a existência de suscetibilidades
variadas, a exemplo das inundações, movimentos de massa e erosão. A partir do
cruzamento das informações geomorfológicas pré-urbanização e de estágio atual,
somadas às pesquisas sobre os processos superficiais atuais, nas áreas de interesse da
pesquisa foram identificados setores que, em virtude das suas características, os
individualizam dos demais ambientes.
Com as observações de campo e os dados (quantitativos e qualitativos) discutidos
ao longo do estudo, foram delimitados 12 setores de dimensões e contextos específicos,
considerando o dimensionamento de episódios e ocorrência de eventos instantâneos
(BRUNSDEN, 1996) e a avaliação dos impactos no meio físico, além do zoneamento e
cadastramento (BRAGA; PELOGGIA; OLIVEIRA, 2016), sendo os seguintes: SJM 01
e SJM 02 (para os bairros São Joaquim e Matadouro), SAT 01, SAT 02 e SAT 03 (para
o bairro Satélite), PJU 01 (para o bairro Parque Juliana) e FLO 01, FLO 02, FLO 03, FLO
04, FLO 05 e FLO 06 (para o bairro Flor do Campo).

7.1 Bairros São Joaquim e Matadouro: caracterização, categorização, zoneamento


e cadastramento de suscetibilidades associadas às modificações
antropogeomorfológicas

Em virtude das especificidades de antropogenização e dos atores vinculados aos


processos superficiais, os setores identificados para os bairros São Joaquim e Matadouro
foram dois (SJM 01 e SJM 02), compreendendo terrenos agradacionais (deposição de
materiais antropogênicos) na interseção entre a planície de inundação e terraço fluvial e
em área de lagoas, respectivamente.
O setor SJM 01 (área de 120.977m²) está localizado paralelamente ao rio Parnaíba,
nos bairros Matadouro e São Joaquim, e refere-se ao dique construído para proteção
contra as inundações do rio (figura 77) em área densamente ocupada, à exceção da área
de testemunho de paleocanal. O setor compreende tanto o dique quanto seu entorno (lados
direito e esquerdo), haja vista a pressão antrópica sobre ele principalmente ocasionada
216

pela construção de moradias no talude, totalizando 208 imóveis. No lado esquerdo do


dique, os processos superficiais se concentram em dois tipos, inundação e erosão.

Figura 77 – Modelagem 3D do setor SJM 01 e sua posição frente aos setores identificados na
área de estudo

Organização: o autor (2022)

A inundação do rio Parnaíba na área de estudo está associada tanto às chuvas à


montante quanto as que escoam pelo rio Poti, interferindo na vazão do Parnaíba e com
seu fluxo seja diminuído e contribuindo para o aumento do nível da água. Levando em
consideração a capacidade do dique de proteção para episódios de inundação com taxas
de retorno de 2, 5 e 10 anos, conforme Souza, Fernandes e Castro (2018), referente à
vazão de 3100m³/s no rio Parnaíba e às seções topobatimétricas (Anexo B).
A referida feição antropogênica, construída em outrora área de contato entre
planície e terraço fluvial, se deu em virtude da urbanização de uma planície inundável,
217

tornando o ambiente, naturalmente exposto, detentor de uma ampliação dos processos


superficiais e consequentemente dos danos que os mesmos podem provocar. Além disso,
a área entre o dique e o rio sofreu processos de deposição de materiais antropogênicos,
contribuindo para a ampliação dos cenários de suscetibilidade, uma vez que os materiais
utilizados, em grande parte, não são estáveis em virtude da pouca compactação, do tipo
de material e da pressão exercida pela construção e fixação de edificações.
Localmente e associada à agência humana há a presença de depósitos
antropogênicos diversos, tais como trincas em moradias, muro embarrigado, feições
erosivas (em sulcos e ravinas ao longo do dique, como as feições encontradas na
proximidade do dique “Avenida Boa Esperança” com as ruas Dalas, Caldeirão e Gama),
degraus de abatimento (entre o dique e o rio, ocasionando trincas no piso) e inclinações
de árvores e postes, ilustrando processos de movimentação do terreno, acelerados também
pela existência de esgoto a céu aberto.
Por constituir-se como ambiente de planície de inundação com declividades muito
baixas associadas a terrenos mal drenados, planos e com solos hidromórficos, o Setor
SJM 01 enquadra-se como de Alta Suscetibilidade e de cadastramento Iminente a
eventos de inundação, somados à problemática do processo erosivo natural da margem
do rio Parnaíba e do processo erosivo acelerado em virtude dos tipos de materiais
alocados juntos aos depósitos antropogênicos, além das condições de estabilidade do
referido dique, por “não apresentar garantias de segurança quanto aos aspectos
hidrológicos, hidráulicos e geotécnicos” (TERESINA, 2017, p. 17), a exemplo da
existência de interferências como ocupação sobre o dique, escavações (fundações e
poços), além de árvores de grande porte.
Tal unidade morfológica faz parte, dentro do zoneamento urbano teresinense tanto
de Zonas Especiais de Uso Sustentável e APPs (ZEUS) quanto de Zonas de Interesse
Ambiental (ZIA), abrangendo, de maneira ambígua, a necessidade da proteção ambiental
e a realidade local de suscetibilidades e riscos face às modificações no âmbito
geomorfológico e perpassa as vilas Apolônia, Carlos Feitosa, Bom Jesus e Santo Afonso.
O Setor SJM 02 (área de 70.180m²), densamente ocupado, está localizado em
original área de terraço fluvial, lagoa e terrenos alagadiços (brejo) que, após geração de
made ground sob tipologia de depósitos antropogênicos, foram instalados
aproximadamente 169 imóveis, expostos tanto a inundações do sistema lacustre quanto a
processos erosivos em decorrência dos materiais utilizados para aterramento (figura 78).
218

Figura 78 – Modelagem 3D do setor SJM 02 e sua posição frente aos setores identificados na
área de estudo

Organização: o autor (2022)

A lagoa, que servia como armazenamento temporário de águas pluviais perdeu


sua capacidade de armazenamento em decorrência da diminuição da sua área, somadas
ainda ao aumento da superfície impermeabilizada que auxilia no aumento da velocidade
do escoamento superficial. Em decorrência dos sinais de saturação e as cenas de intensa
degradação ambiental, a qualidade da água também é um caso a se discutir, a julgar pelo
lançamento de esgoto doméstico e águas servidas, auxiliando na coloração escura e no
mal cheiro principalmente no período chuvoso, representando problemas ambientais e
sanitários, agravando-se à medida que as ocupações avançam sobre os terrenos originais.
Em relação aos processos erosivos, foram observados sulcos e ravinas nas feições
aterradas, com dimensões variadas, associadas com o lançamento de esgoto doméstico in
219

natura por entre as ruas em direção à lagoa, exemplificando cenários de baixa cobertura
de saneamento básico e de infraestrutura urbana. As tubulações irregulares de esgoto
constituem ainda um indicativo de suscetibilidade principalmente no período chuvoso,
quando há o transbordamento da lagoa e o refluxo das águas servidas, prejudicando,
ainda, as fossas sépticas abertas na área.
Tal como o setor SJM 01, foram identificados depósitos antropogênicos, trincas
em moradias, muro embarrigado, degraus de abatimento e presença tanto de lixo quanto
de esgoto a céu aberto, ampliando as suscetibilidades no período chuvoso (figura 79A)
quando a maior parte do escoamento superficial da região da Lagoas do Norte drena para
esta lagoa e, em seguida, para o rio Parnaíba a exemplo do acumulado de 307,4mm entre
os dias 29 de dezembro de 2021 e 02 de janeiro de 2022. O quadrante com maior
suscetibilidade a estas inundações lacustres faz parte da Vila Apolônia (que também se
estende ao bairro Olarias, a jusante), em destaque para as ruas Dalas, Caldeirão, Um,
Travessas 1, 2 e 4, Engraxate Adão Santos, São Joaquim e Alfa (figura 79B), todas
situadas em original faixa de terraço e terrenos alagados. Assim como o Setor SJM 01, o
setor SJM 02 faz parte de Zonas Especiais de Uso Sustentável e APPs (ZEUS) e de Zonas
de Interesse Ambiental (ZIA).

Figura 79 – Episódios de inundação no setor SJM 02. Em A, Print de vídeo43 postado


relacionando com o sistema de recalque; em B, terrenos inundados na Vila Apolônia.

Fonte: @instagram (03/01/2022); Portal ODIA, de 27/01/2022).


43
QR CODE de acesso a vídeo
postado (03/01/2022) em rede
social sobre os eventos de
inundação no setor SJM 02
220

Nos episódios de extrema precipitação (acúmulo de 199,6mm em três dias)


ocorridos no ano de 2022 a área passou por sérios problemas de inundação lacustre,
intensificadas pela deficiência do sistema de recalque da drenagem local. Notícias de
jornal refletem a problemática existente, estendendo-se ao longo de todo o primeiro
quadrimestre, a exemplo das seguintes: “A situação é desesperadora”, diz morador sobre
alagamentos em Teresina (Portal VIAGORA, de 03/01/2022) e Vila Apolônia: Prefeitura
de Teresina não tem prazo para retirar desabrigados de escolas (Portal ODIA, de
27/01/2022).
Por constituir-se como terrenos de cotas baixas, terrenos alagadiços (solos
hidromórficos) e pela dinâmica de transbordamento da lagoa, o Setor SJM 02 enquadra-
se como de Alta Suscetibilidade e de cadastramento Iminente a eventos de inundação,
somados ao processo erosivo acelerado pela tipologia de materiais alocados nos depósitos
antropogênicos.
Em detrimento às características e posição dos setores SJM 01 e SJM 02 na sub-
bacia hidrográfica do Lagoas do Norte, seu Coeficiente de Compacidade (Kc) é de 1,42
indicando que não há ocorrência de alagamentos e inundações, contudo, em virtude das
suas baixas cotas e características pedológicas, há a existência destes processos em
virtude do acúmulo e escoamento provocados pelas precipitações; enquanto o Parâmetro
Curva Número (CN) estimado é de 85 (TERESINA, 2012), como combinação do tipo de
ocupação do solo, das características pedológicas e das condições de umidade antecedente
do solo, refletindo na permeabilidade e nas características de escoamento.
Em que pese a relação com os resíduos sólidos, estima-se que 5.524,48 kg/ano
passam pelas ruas e redes de drenagem e que 2.435,86 kg/ano alcançam o exutório da
bacia (TERESINA, 2012). A quantidade é maior no período chuvoso, quando tais
resíduos são levados pelo escoamento superficial, entupindo bueiros, condutos, ficando
retidos nas bordas das lagoas e ampliando os cenários de perigos dada a agência humana.

7.2 Bairro Satélite: caracterização, categorização, zoneamento e cadastramento de


suscetibilidades associadas às modificações antropogeomorfológicas

O Setor SAT 01 (com 15.034m² de área) corresponde a parte dos terrenos com as
maiores altitudes do bairro, abrangendo tanto feições de topos convexos quanto seu
escalonamento para topo plano, com ruptura de declividade a Oeste contribuindo para a
existência de vertente retilínea, que, somada à densa urbanização (o setor conta com 42
221

imóveis) e as modificações características pela agencia humana, principalmente no


sistema corte-aterro e lançamento de águas servidas, proporciona a existência de
movimentos de massa enquanto processo superficial.
Com amplitude altimétrica de 19 metros (113 < 132m), o setor (figura 80) possui
ocupações não planejadas nos três compartimentos (topo, encosta e base), refletindo na
instabilidade da vertente, observada in loco com a presença de trinca no terreno, muros
embarrigados, depósitos antropogênicos, inclinação de árvores e postes, além de
escavações de fossas e fundações de casas, comprometendo a estabilidade local.

Figura 80 – Modelagem 3D do setor SAT 01 e sua posição frente aos setores identificados na
área de estudo

Organização: o autor (2022)

Compreendido no quadrante entre as ruas São Vicente de Paulo, Plutão, Santa


Quitéria, Vênus e Lions Club, abrangendo topos plano e convexo com vertente retilínea
volta a Oeste com a maior cota altimétrica do bairro somados à vertentes antropogênicas
construídas com abertura de ruas paralelas e perpendiculares ao quadrante, os blocos de
222

rochas presentes na vertente e mapeados na cartografia geomorfológica do bairro


condicionam a presença de movimentos de massa do tipo queda de blocos, intensificados
pela fragilidade dos arenitos silicificados que os sustentam, pela ocupação humana e pelo
lançamento de águas servidas, e caracterizando a movimentação sob velocidades muito
altas (m/s) em consequência do tipo de queda livre ou em plano inclinado.
Relatórios da CPRM (2020) indicam inclusive o histórico de deslizamentos e
rolamento de blocos acelerados pela erosão regressiva durante eventos de precipitação
extrema, em virtude do número significativo de blocos com iminência de queda. Notícias
de jornal já expuseram essa realidade, a exemplo de Barranco de mais de cinco metros já
vitimou duas pessoas em Teresina (G1 PIAUÍ, de 27/07/2015) e Com galerias inacabadas,
moradores do Satélite convivem com alagamentos durante as chuvas: na Rua Santa
Quitéria, o medo é que as casas desabem com deslizamento de terra em uma encosta
(PORTAL O DIA, de 27/10/2021). A partir destas constatações, o Setor SAT 01
enquadra-se como de Alta Suscetibilidade e de cadastramento Iminente a eventos de
movimentos de massa, neste caso caracterizados por queda de blocos.
O Setor SAT 02 (21.969m² de área) caracterizado por ter densa urbanização e, na
sua porção central, a presença de um “grotão” (vale em “V”) inseridos na unidade base
da vertente, reflexo da antiga passagem natural de um canal de drenagem, modificado a
montante e a jusante. Em decorrência das suas características geomorfológicas, a
ocupação é bordejante (39 imóveis), com existência de processos de inundação (em
pequena escala, em virtude da declividade local, contudo o escoamento é prejudicado
com a presença de condutos e sistema de drenagem deficiente) e em grande parte riscos
de movimentos de massa (deslizamentos) em decorrência dos materiais antropogênicos
alocados (made ground) sobre as margens do canal.
Suas especificidades geomorfológicas conferem ao setor, com amplitude
altimétrica de 16m (91<107m), a presença de depósitos antropogênicos e condutos que
auxiliaram na modificação da morfologia local que desencadeiam processos de
movimentos de massa, sobretudo nos materiais alocados antropicamente, a exemplo de
artefatos de madeira, plástico e restos de construção civil.
O canal de drenagem como receptor tanto das águas pluviais quanto do esgoto
doméstico, provoca, principalmente no período chuvoso, erosão das camadas mais frágeis
do terreno e contribui para o desgaste dos depósitos antropogênicos, como observado no
rompimento de dois condutos durante as chuvas da segunda quinzena do mês de
223

novembro de 2021, e para o solapamento das margens (algumas com obras tímidas de
contenção com utilização de pneus), figura 81.

Figura 81 – Modelagem 3D do setor SAT 02 e sua posição frente aos setores identificados na
área de estudo

Organização: o autor (2022)

Trincas no terreno e em moradias, presença de feições erosivas (em sulcos e


ravinas) e de degraus de abatimento (principalmente na porção Norte do setor), somadas
ao descarte e lançamento de lixo, resíduos sólidos e águas servidas/esgotos e ao
dimensionamento irregular das obras conferem características que incluem o setor SAT
02 como de suscetibilidade Média e cadastramento 1 em que pese a dinâmica encontrada.
A presença de vegetação na porção central do setor auxilia na diminuição da
suscetibilidade, sem, contudo, anulá-la, em virtude da pressão urbana.
O Setor SAT 03 (com 117.588m² de área) refere-se a uma área densamente
urbanizada (ZOM) com 286 imóveis e localizada na porção central do bairro, servindo
como recepção de todo o escoamento superficial das porções Leste, Sul e Oeste em que
224

havia a presença de um canal de drenagem que atualmente encontra-se


tamponado/retificado, inclusive passando por debaixo de residências.
O referido setor engloba trechos das ruas Voyage (terreno plano), Bela (inserida
em um vale em “V” ladeada por terrenos planos), Apolo XI (com trecho inserido em um
vale dissimétrico), Branca, Vênus e Lions Clube (todas com vertente retilínea no seu
extremo Leste), Marfins (terreno plano), Saturno, Mercúrio, Santa Teresinha (ambas em
base da vertente e vertente), Netuno (margeia a Leste uma faixa de planície de inundação)
e Urano (transversalmente perpassa as seguintes unidades, sentido Leste-Oeste: topo
plano, vertente côncava, base da vertente, terreno plano, planície de inundação, terreno
plano, base da vertente e vertente convexa), com pontos de maiores suscetibilidades a
depender do escoamento das ruas a montante (figura 82).

Figura 82 – Modelagem 3D do setor SAT 03 e sua posição frente aos setores identificados na
área de estudo

Organização: o autor (2022)


225

Geomorfologicamente o setor possui amplitude altimétrica de 20m (80<100) e


contribui para a existência de processos de inundação e enxurrada ampliados pela
urbanização e não respeito as curvas de nível locais. A presença de galerias entupidas, o
asfaltamento de boa parte do setor e a ineficiência da drenagem urbana amplia os
processos principalmente nas ruas Branca, Bela, Saturno e Vênus (figura 83) em uma
combinação de vertentes concavas e convexas, vales em “V” e dissimétrico e unidades
de base da vertente e terreno plano favorecendo o fluxo turbulento nas vertentes
urbanizadas sob enxurrada em direção aos vales e planície de inundação.

Figura 83 – Interações e reflexos dos processos superficiais de inundação e enxurradas no setor


SAT 03. Em A, destaque para a altura (± 2,2m) das muretas de proteção e a direção do fluxo do
escoamento na rua Bela; em B, muros construídos nos limites dos terrenos servindo como
corredor artificial para o escoamento na rua Saturno Quadra 2; em C, altura da calçada e
presença de barreira de proteção (± 1,5m) e em D, artefatos antropogênicos e bueiros destruídos
após episódio de alta vazão da drenagem tamponada, ambas no cruzamento das ruas Plutão e
Eng. Edgar Gaioso

Fonte: pesquisa direta (2022)

Durante as chuvas do primeiro trimestre de 2022, as chuvas intensas


desencadearam sérios problemas estruturantes, além de uma vítima fatal (carro arrastado
pela enxurrada), como retratado nas notícias seguintes: Com galerias inacabadas,
226

moradores do Satélite convivem com alagamentos durante as chuvas (PORTAL O DIA,


de 27/10/2021), Cratera preocupa moradores do bairro Satélite: “Essa rua vai deixar de
existir” (PORTAL O DIA, de 29/11/2021), Chuva forte deixa grandes estragos no bairro
Satélite em Teresina (VIAGORA, de 05/02/2022) e Jovem morre após ter veículo
arrastado pela chuva no bairro Satélite em Teresina (LUPA 1, de 02/01/2022).
Para o Setor SAT 03 foi atribuída suscetibilidade Alta e cadastramento 1, tendo
em vista as observações apresentadas, à rede de drenagem natural precedente à
urbanização e aos talvegues identificados e caracterizados como ponto de fuga do
escoamento do entorno44.
O volume da água não ocasiona processo erosivo em virtude da
impermeabilização do setor, contudo auxilia na destruição de estruturas (calçadas,
moradias, vias e galerias) em virtude do mal dimensionamento das tubulações
subterrâneas, exibindo trincas de terrenos, depósitos antropogênicos, lixos e esgotos a céu
aberto e vazamentos frequentes da água encanada. Calçadas altas, muretas de contenção,
inexistência de calçadas, barreiras de ferro em portões e janelas revelam a tentativa de
bloqueio como medida de amenizadoras, como durante os eventos com acumulado de

44

QR CODE de acesso a vídeo QR CODE de acesso a vídeo da


QR CODE de acesso a vídeo
de enxurrada nas ruas Branca situação das ruas Bela, Vênus e
de enxurrada na rua Branca.
(100m de altitude) e Plutão Saturno Q2 após enxurrada e
100m de altitude.
(95m de altitude). inundação. 89m de altitude

QR CODE de acesso a vídeo


QR CODE de acesso a vídeo de enxurrada e inundação nas
de enxurrada e inundação na ruas Urano e Netuno no dia
área das ruas Urano e Netuno. 01/01/2022, episódio com
85m de altitude carro arrastado resultando em
vítima fatal. 85m de altitude
227

307,4mm entre os dias 29 de dezembro de 2021 e 02 de janeiro de 2022, além dos


episódios entre os dias 05 e 09 de março de 2022 com acumulado de 193,8mm.
No que diz respeito à regionalização em subbacias teresinenses (TERESINA,
2013), os setores SAT 01, SAT 02 e SAT 03 estão inseridos na PD 07, apresentando
Coeficiente de Compacidade de 1,35 e Parâmetro Curva Número (CN) estimado em 84,6,
e tempo de concentração (relação entre talvegue, declividade e área impermeabilizada,
enquanto parâmetro hidrológico) de 23,06min, com estimativa de 5.111,50 kg/ano de
resíduos sólidos que passam pelas ruas e redes de drenagem e 2.253,77 kg/ano que
alcançam o exutório da bacia.

7.3 Bairro Parque Juliana: caracterização, categorização, zoneamento e


cadastramento de suscetibilidades associadas às modificações
antropogeomorfológicas

No bairro Parque Juliana foi identificado um setor representativo de processos


superficiais associados às modificações antropogeomorfológicas, no caso worked
ground. O Setor PAJ 01 possui 242.914m² e ilustra processos de movimentos de massa e
erosão em terrenos originalmente de topo tabular, vertente e base da vertente e com
amplitude altimétrica de 25m (114m/139m) e com ocupação urbana classificada em
inexistente/baixa, tendo em vista as recentes ocupações (seis imóveis), ao fim no que seria
a continuidade da Avenida José dos Santos Chaves, transversalmente abrangendo sentido
Sul-Norte, unidades de topo tabular, vertente, base da vertente, vale em “V”, base da
vertente, vertente e topo tabular.
O setor, em virtude dos aspectos geomorfológicos e da agência humana, possui
suscetibilidade a movimentos de massa, associados ao sistema de corte do relevo,
desmatamento e geração de encostas retilíneas, somados às características litológicas do
material extraído em que pese a sua pegajosidade, e aos solos jovens e rasos, inferindo-
se a possibilidade de deslizamento de barreiras, tanto sob movimentação lenta quanto
rápida, a considerar a intensidade da precipitação e a continuidade de novas
interferências, fato já observado, causando a diminuição da estabilidade dos terrenos.
Compreendendo tais características, este setor (figura 84) foi zoneado como de
Baixa suscetibilidade e cadastramento 2, em virtude, em grande parte, da baixa ocupação
e da situação do setor por ser incluído em uma Zona de Ocupação Moderada (ZOM)
ladeada por uma Zona Especial de Interesse Institucional/ZEII (atrelada ao Aterro) e, por
228

este motivo, revela altas restrições para ocupação e atividades produtivas, mesmo já
existindo atividades.

Figura 84 – Modelagem 3D do setor PAJ 01 e sua posição frente à área de estudo

Organização: o autor (2022)

O processo erosivo e os movimentos de massa agem de maneira simbiótica, tanto


nas áreas de topo quanto nas vertentes antropogênicas e na superfície decapada, em
229

formas de sulcos e ravinas em grande parte no sentido Sudoeste-Nordeste, indicando as


antigas linhas de drenagem intermitentes descaracterizadas pela atividade minerária e
pelas próprias características morfométricas.
Estando localizada na subbacia PE 3, o setor reflete ainda o Coeficiente de
Compacidade de 1,23 e Parâmetro Curva Número (CN) estimado de 81,2 associado ao
solo exposto e a baixa urbanização e tempo de concentração (relação entre talvegue,
declividade e área impermeabilizada) de 16,27min, influenciando inclusive na estimativa
de 329,05 kg/ano de resíduos sólidos que passam pelas ruas e redes de drenagem e 208,77
kg/ano que alcançam o exutório da bacia (TERESINA, 2012).

7.4 Bairro Flor do Campo: caracterização, categorização, zoneamento e


cadastramento de suscetibilidades associadas às modificações
antropogeomorfológicas

O setor FLO 01 (com 41.359m² de área) é um dos mais representativos no que diz
respeito à agência humana sobre o relevo de amplitude altimétrica de 29m (88<117m),
com morfologia original caracterizada por topo tabular, vertente e terreno plano,
modificados a partir da atividade minerária resultando em relevo negativo e encostas
retilíneas, com interferências na sua estabilidade natural.
Com ocupação urbana moderada (com 74 imóveis), o setor (figura 85) possui a
presença de suscetibilidade a processos superficiais de movimentos de massa
(deslizamentos) e processos erosivos influenciados pela retificação das vertentes e pelo
substrato geológico composto de arenito e com solos jovens (pouco profundos) que
ilustram o histórico de deslizamentos.
Os processos superficiais estão exemplificados pela presença de degraus de
abatimento, inclinação de árvores e muros, muros embarrigados e trincas no terreno e em
moradias (principalmente na porção superior do setor), além dos depósitos
antropogênicos e lixo e esgoto a céu aberto, por onde escoam águas servidas auxiliando
no desgaste do terreno e existência de processos erosivos em sulcos e pequenas ravinas
que se estendem por parte da vertente exposta a agentes intempéricos.
A não obediência às curvas de nível para as ocupações residenciais, somadas à
ocupação não planejada, omissão do poder público e escavações irregulares
potencializam processos de movimentação do terreno, seja na queda de blocos (pelo
caráter retilíneo) seja na forma de rastejo em alguns pontos. A retirada da vegetação, a
230

exposição do solo, a descontinuidade e irregularidade das vias e a mudanças no


escoamento e infiltração são exemplos que evidenciam a preocupação junto ao setor,
tendo em vista a deficiência de infraestrutura urbana (arruamentos e saneamento),
iniciados pela exploração mineral e posterior ocupação do topo, da cava e adjacências.

Figura 85 – Modelagem 3D do setor FLO 01 e sua posição frente aos setores identificados na
área de estudo

Organização: o autor (2022)

Situado entre as ruas Quatro, Cinco e Seis, e outras sem nome, o setor FLO 01,
localizado na vertente sul do morro, possui suscetibilidade Alta e com cadastramento
iminente, e, em decorrência da atividade mineral, possui terreno plano e vertente
antropogênica com topo tabular.
O setor FLO 02 (com 26.335m² de área) caracterizado pela morfologia original de
terrenos plano e alagadiços e, atualmente, com presença de depósitos antropogênicos que
auxiliaram no aterramento de um canal de drenagem, sua ocupação é moderada (92
231

imóveis) e com amplitude altimétrica de 5m (78 < 83m), possuindo suscetibilidade a


inundação, haja vista as modificações nos padrões de escoamento superficial.
O córrego presente na rua, resquício da drenagem original, alcança grande volume
de água no período chuvoso, quando boa parte do escoamento superficial do bairro
direciona-se para este local. A não obediência às curvas de nível para a abertura das vias
e posicionamento dos lotes urbanos intensifica os processos, somados ao lixo e esgoto a
céu aberto, lançamento de águas servidas e ao refluxo do esgoto quando há o
transbordamento (figura 86).

Figura 86 – Modelagem 3D do setor FLO 02 e sua posição frente aos setores identificados na
área de estudo

Organização: o autor (2022)

Situado entre as ruas Dois, Três e Seis, e outras sem nome, o setor FLO 02 possui
suscetibilidade Alta e com cadastramento iminente, agravado com as ocupações recentes
sobre terrenos planos e terreno alagadiço (brejo).
232

O setor FLO 03 (área de 9.269m²) é caracterizado originalmente pela presença de


terreno plano e planície de inundação, modificadas pela deposição de material
antropogênico e pela modificação de canal de drenagem (com conduto e represamento),
com cota altimétrica entre 80 e 81m e ocupação urbana inexistente/baixa (2 imóveis).
A suscetibilidade à inundação de um dos principais canais de drenagem desta
subbacia (com nascente na zona rural) é intensificada pelas modificações existentes, tanto
no canal em si quanto nas suas margens (deposição de materiais antropogênicos
modificando a geometria do canal originalmente meandrante) a montante, contribuindo
para o aumento da velocidade do escoamento e transbordamento do canal (figura 87).

Figura 87 – Modelagem 3D do setor FLO 03 e sua posição frente aos setores identificados na
área de estudo

Organização: o autor (2022)


233

A baixa amplitude topográfica e declividade, somadas aos terrenos argilo-


arenosos (mal drenados), condicionam para problemas durante o período chuvoso, com o
grande transporte tanto de sedimentos quanto de lixos e resíduos sólidos, reflexos da baixa
cobertura de saneamento básico e dos made grounds.
A construção recente de muros e tubulações interceptando o canal, no setor e a
instalação de condutos a montante induzem a problemas futuros tendo em vista o mal
dimensionamento das tubulações, haja vista o canal ser o ponto de fuga do escoamento
de todo o bairro e de parte da zona rural. O Setor FLO 03 foi enquadrado como de Média
sustentabilidade e cadastramento 1.
O Setor FLO 04 (59.741m²) possui amplitude altimétrica de 32m (96 < 128m) e
refere-se à morfologia original de topo tabular e vertente, modificada tanto pelo sistema
corte-aterro das vertentes (a oposta à do Setor FLO 01). Com ocupação urbana média (87
imóveis), o setor possui suscetibilidade a movimentos de massa (deslizamentos),
intensificados pela ocupação irregular descontinuando curvas de nível, com abertura de
fossas e alocação de depósitos antropogênicos.
A identificação de trincas no terreno e em moradias, muros embarrigados,
inclinação de muros, degraus de abatimento, esgoto e lixo a céu aberto, vazamentos de
tubulações (irregulares) de água e lançamento de águas servidas sobre o terreno auxiliam
na abertura de sulcos e ravinas que se direcionam principalmente para o sentido Sudoeste
diminuindo a estabilidade da vertente, potencializados com a supressão da cobertura
vegetal para a instalação de novas edificações.
Há, assim como em outras partes do bairro, descontinuidades de ruas, ausência de
saneamento básico, ocupação não planejada, edificações com variadas características de
construção (alvenaria e taipa) que exemplificam a existência de movimento de massas
caracterizados como rastejo, observados em campo após eventos pluviométricos com a
deposição nas porções mais baixas do setor, de materiais constituintes da litologia local.
Preocupações também surgem com relação à estabilidade do material elúvio-
coluvionar que, exposto à energia de precipitação pluviométrica, à fragilidade induzida
ao terreno, à ausência de cobertura vegetal e demais modificações, ampliam os
dimensionamentos a partir das interferências nos padrões de infiltração e escoamento. As
ruas, oficialmente ainda sem nome, refletem a omissão do poder público junto a este setor
(figura 88), caracterizado como de suscetibilidade Média e cadastramento 1.
234

Figura 88 – Modelagem 3D do setor FLO 04 e sua posição frente aos setores identificados na
área de estudo

Organização: o autor (2022)

Por possuírem características similares, os setores FLO 05 (29.741m²) e 06


(96.959m²) são exemplos de existência de processos erosivos (sulcos e ravinas) e
eventualmente movimentos de massa (de pequeno porte, considerando o cenário atual de
degradação) gerados a partir da mineração. Com amplitudes altimétricas de 35m (87 <
122m) e 36m (98 < 134m), respectivamente, em áreas originalmente de vertentes e
ocupação urbana inexistente, os setores revelam ainda indicações futuras de ampliação
de extração mineral dos silexitos, siltitos e arenitos silicificados, além dos materiais
eluvio-coluvionares (figura 89).
235

Figura 89 – Modelagem 3D dos setores FLO 05 e FLO 06 e suas posições frente aos setores
identificados na área de estudo

Organização: o autor (2022)

Tanto o Setor FLO 05 quanto o Setor FLO 06 foram caracterizados como Baixa
suscetibilidade associada a movimentos de massa (deslizamentos) e processo erosivo,
com cadastramento 2, contudo, cabe mencionar que o grau de suscetibilidade aumenta à
medida que novas modificações aconteçam, principalmente nas características de
amplitude e declividade.
As notícias de jornal, assim como a Defesa Civil, indicam a região do Pedro Balzi
como zona mais crítica de Teresina (PMT, de 27 de janeiro de 2021) e Teresina:
moradores do Pedro Balzi denunciam problemas com ruas esburacadas durante chuvas
(PORTAL O DIA, de 16 de fevereiro de 2022).
236

Situados em zonas distintas no zoneamento urbano de Teresina, os cenários


futuros de ocupação urbana também revelam possibilidades de agravamento da
suscetibilidade. Os setores FLO 01, FLO 02, FLO 03 e FLO 04 estão em ZOM, indicando
a capacidade de novas ocupações, ordenadas ou não, enquanto os setores FLO 05 e FLO
06 incluem-se em ZOC, não sendo prioritários para futuras ocupações em decorrência da
ausência de infraestrutura e serviços urbanos.
Hidrograficamente, todos os setores estão inseridos na subbacia PD 03, com
Coeficiente de Compacidade (Kc), Parâmetro Curva Número (CN) estimado em 76,3 e
Tempo de Concentração de 25,90min (TERESINA, 2012). Sobre os resíduos sólidos,
estima-se que 2205,54 kg/ano passam pelas ruas e redes de drenagem e que 972,47 kg/ano
alcançam o exutório da bacia (TERESINA, 2012), contudo, como tal levantamento foi
realizado durante o início da ocupação no bairro, projeta-se que os referidos valores
tenham modificados consideravelmente.

7.5 Síntese comparativa

A compreensão dos processos superficiais associados às modificações


antropogeomorfológicas revela significados importantes de como a agência humana
contribui para intervenção de estabilidades e taxas dos processos, aqui associadas tanto à
urbanização quanto à atividade mineral, envolvendo variáveis físico-naturais e
socioeconômicas para representação das suscetibilidades identificadas nos 12 setores
(quadro 9).
237

Quadro 9 – Síntese dos processos superficiais e suscetibilidades associadas à antropogeomorfologia em cada setor estudado
PROCESSOS E SUSCETIBILIDADE
Bairros

ANTROPOGEOMORFOLOGIA
Altitude Morfologia Ocupação Processos Imagem
Setores Zoneamento Cadastro Imóveis
(min./máx.) Original Atual Urbana superficiais representativa
Made ground
sobre antiga Inundação e
SJM Planície de
São Joaquim e

59 < 61m área de contato Densa processos ALTO IMINENTE 208


Matadouro

01 inundação
entre planície e erosivos
terraço fluvial
Made ground
Inundação e
SJM Terraço sobre antiga
55 < 59m Densa processos ALTO IMINENTE 169
02 fluvial área de terraço
erosivos
fluvial
Topo tabular e
Movimentos
Topo vertente
SAT de massa
113 < 132m tabular e antropogênica Densa ALTO IMINENTE 42
01 (queda de
Satélite

vertente com made


blocos)
ground
Base da
SAT Base da vertente com Movimentos
91 < 107m Densa de massa MÉDIO 1 39
02 vertente presença de
(deslizamentos)
made ground
238

Made ground
sobre antiga
área de Terreno
Terreno
plano e planície
SAT plano e Inundação e
80 < 100m de inundação, Densa ALTO 1 286
03 planície de enxurrada
com
inundação
tamponamento
de rede
drenagem
Worked ground
Topo
sobre antiga Movimentos
Juliana
Parque

tabular,
PAJ área de topo Inexiste/ de massa e
114 < 139m vertente e BAIXO 2 06
01 tabular, Baixa processos
base da
vertente e base erosivos
vertente
da vertente
Topo tabular,
Topo vertente e Movimentos
tabular, terreno plano, de massa
FLO
88 < 117m vertente e modificados Moderada (deslizamentos) ALTA IMINENTE 74
01 e processos
terreno pela presença
erosivos
Flor do Campo

plano de worked
ground
Terreno
FLO plano e Terreno plano e
78 < 83m Moderada Inundação ALTA IMINENTE 92
02 terrenos made grounds
alagadiços
Terreno plano e
Terreno
planície de
FLO plano e Inexiste/
80 < 81m inundação com Inundação MÉDIO 1 2
03 planície de Baixa
condutos e
inundação
made grounds
239

Topo tabular e
Topo Movimentos
FLO vertente com
96 < 128m tabular e Média de massa MÉDIO 1 87
04 presença de
vertente (deslizamentos)
made grounds
Movimentos
Worked ground
FLO caracterizada de massa
87 < 122m Vertente Inexiste (deslizamentos) BAIXO 2 -
05 por terreno de
e processos
escavação erosivos
Worked ground
FLO caracterizada Processos
98 < 134m Vertente Inexiste BAIXO 2 -
06 por terreno de erosivos
escavação
Organização: o autor (2022)
240

Os resultados apontam para o agravamento dos processos de inundação, erosão e


movimentos de massa à medida que a ocupação urbana é acelerada, potencializada pela
deposição e retirada de materiais dos terrenos naturais, pela ausência/ineficiência do poder no
planejamento urbano e ordenamento territorial e pela precariedade de algumas edificações. A
inter-relação e caracterização das formas, processos e materiais, em sintonia com as
modificações antropogeomorfológicas, exibe uma relação muito forte com os processos
geológico-geomorfológicos, em que pese o potencial destrutivo em função da ocupação
humana e configurando-se como instrumento de planejamento ordenamento territorial, tendo
em vista a análise de detalhe dos setores.
Os fenômenos destrutivos identificados foram ora induzidos pela ocupação humana (a
exemplo dos setores SAT 02 e FLO 01) ora agravados pela ocupação humana (como os setores
PAJ 01 e SJM 02), em virtude das caraterísticas geológicas, geomorfológicas e geotécnicas que
geram os perigos e expõe restrições de determinados usos, diferenciando-se entre processos
naturais e processos naturais acelerados pela agência humana, principalmente nos artificial
ground.
No caso dos setores dos bairros São Joaquim e Matadouro, suas similaridades de
zoneamento e cadastramento da suscetibilidade e dos processos superficiais existentes
proporcionam cenários de inundação e processos erosivos que, com o respeito as restrições do
ambiente não teriam o poder destrutivo que possuem sobre os 377 imóveis, que aumenta desde
o início da ocupação nos bairros.
Os setores do bairro Satélite representam a ocupação de Teresina no momento em que
o rio Poti deixou de ser restrição para o crescimento no sentido Leste e, hoje, reflete a
suscetibilidade de movimentos de massa (deslizamentos e queda de blocos), inundações e
enxurradas, com a ocorrência de vítimas fatais e expondo 377 imóveis, deixando marcas de
destruição ao longo do bairro. No bairro Parque Juliana, o setor identificado ainda passa por
processos de transformação, uma vez que a atividade minerária ainda é ativa, influenciando a
existência de movimentos de massa e processos erosivos, principalmente ao longo das vertentes
antropogênicas.
Cronologicamente na cidade de Teresina, um dos bairros mais recentes é o Flor do
Campo, concentrador de 6 setores e que ilustram todos os processos superficiais destrutivos da
cidade, inundações, processos erosivos e movimentos de massa (deslizamentos), expondo 255
imóveis e marcando cenários de suscetibilidades associadas à agência humana em Teresina,
principalmente nos espaços periurbanos.
241

CONCLUSÃO

A utilização da abordagem antropogeomorfológica em combinação com os processos


superficiais e suscetibilidades a episódios de inundação, movimentos de massa e processos
erosivos, por exemplo, possibilita uma série de interpretações que, a depender das escalas
(espacial e temporal) suscita o conhecimento cronológico de ocupação e intervenção em uma
referida área, principalmente as modificações relativamente recentes, tendo em vista a
possibilidade de ainda constar com elementos naturais ou não intensamente alterados.
Do mesmo modo, cabe reforçar a importância e a viabilidade teórico-conceitual e
metodológica obtida junto à utilização dos métodos Materialismo Histórico e Dialético e
Geossistema, para a compreensão tanto do primeiro (a partir dos resultados alcançados com
base na organização social, classes sociais, Trabalho e inclusão/exclusão social, principalmente
no tocante às formas de início da ocupação de cada bairro – com forte relação às atividades de
mineração – e, também, às características atuais de infraestrutura, como arruamentos,
esgotamento sanitário e serviço de água encanada) quanto do segundo (integração entre os
aspectos físico-naturais – notadamente aqueles voltados ao 4º e 5º táxons do relevo, hidrologia
superficial e subsuperficial, além das condições climáticas –, bem como das explorações e
impactos associados à agência humana, refletindo nas suscetibilidades.
O estudo possibilitou análises fundamentais a partir dos contextos físico-naturais,
sociais, econômicos, apropriação dos recursos naturais, políticos e históricos, desencadeando
como e de que forma as práticas e produções sociais urbanas se espacializaram nas feições
geomorfológicas estudadas, reforçando, alcançando e confirmando as hipóteses anteriormente
apresentadas.
Em Teresina, as centenas de exemplos de interferências nos aspectos geomorfológicos,
tanto com processos deposicionais quanto agradacionais, é reflexo da expansão da cidade, na
construção de infraestruturas urbanas (como vias) e na ocupação “desordenada” em vazios
urbanos, fato que a investigação científica sob essa ótica desencadeia uma série de análises que
perpassa a própria caracterização natural e social, passando por indicadores de saneamento
básico, planejamento urbano, ordenamento territorial, atuação e omissão do poder público,
ausência de fiscalização, segregação e exclusão espacial e social.
Apesar de ser considerada uma cidade relativamente plana em decorrência em grande
parte pelo posicionamento dos rios Parnaíba (médio e baixo cursos) e Poti (baixo curso) em que
pese suas capacidades erosivas, vê-se, em escala de maiores detalhes, significativas amplitudes
altimétricas, tanto no centro urbano quanto nos bairros mais afastados e nas áreas periurbanas,
242

indicando, portanto, a existência natural de processos superficiais (combinados com outras


características) a exemplo de movimentos de massa que, baseados na dinâmica natural dos
processos morfogenéticos e morfodinâmicos atuam na natural esculturação do relevo, este
último acelerados pela agência humana.
Este estudo possibilitou, através de leituras teóricas, procedimentos metodológicos (a
exemplo das notícias de jornal e acompanhamento de redes sociais) e análise e interpretação de
resultados, enxergar Teresina com olhares anteriormente não apresentados em termos
científicos, exceto estudos isolados, inter-relacionando Expansão e história urbana,
Caracterização geomorfológica original, Antropogeomorfologia, Processos superficiais e
Suscetibilidades, tendo como objetos bairros que representam tanto a regionalização
administrativa da cidade quanto a própria história urbana, em um espaço de quase 8 décadas
(de +/- 1928 do bairro Matadouro a 2009 com a oficialização do bairro Flor do Campo).
Cada uma das quatro áreas de interesse apresenta particularidades no âmbito da
antropogeomorfologia e da própria dinâmica temporal das formas de uso, ocupação e cobertura
da terra. Nos bairros Matadouro e São Joaquim, processos e feições degradacionais representam
o início das interferências e desencadeando lagoas antropogênicas (cavas de mineração),
posteriormente com abertura de canais artificiais e com a existência de feições agradacionais,
tanto no aterro de lagoas e antigos testemunhos de paleocanais quanto na construção de um
dique para proteção aos episódios de inundação.
No bairro Satélite, as assinaturas humanas associam-se com feições agradacionais,
degradacionais e com a canalização e tamponamento de canais fluviais, sendo receptores de
esgoto doméstico não tratado e de resíduos sólidos. Tal como o Parque Juliana, o Flor do Campo
apresenta uma série de exemplos de feições agradacionais e degradacionais, bastante
expressivas principalmente na descaracterização de vertentes em decorrência da mineração e
da própria expansão urbana, interferindo, consideravelmente, na estabilidade do terreno. Apesar
da identificação dos terrenos antropogênicos, é natural a impossibilidade de cartografar todos,
tendo em vista que muitos já podem estar incorporados e invisibilizados pela própria
urbanização.
Nos bairros São Joaquim e Matadouro as alterações da morfologia (de planície e terraço
fluvial para made grounds sobre as feições originais), somados à densa ocupação urbana atual,
refletiu na existência de dois setores em que há a existência tanto de inundação (fluvial e
lagunar) quanto de processos erosivos. Ambos zoneados como de Alta suscetibilidade e de
cadastramento iminente e abrangendo um total de 377 imóveis expostos tanto aos processos
naturais (como a inundação do rio Parnaíba) como aquelas intensificadas pela agência humana.
243

Em relação ao Satélite, há uma relativa diversidade geomorfológica na área, daí a


complexidade de estudar e setorizar os três setores identificados, que, juntos, abrangem 367
imóveis e com densa ocupação urbana. Dois setores foram zoneados como de Alta
Suscetibilidade a processos de movimentos de massa (queda de blocos), além de inundação e
enxurrada, este último sob cadastro 1, ao passo que o primeiro é necessário cadastramento
iminente. As alterações morfológicas também se diversificam nestes dois setores, um com made
ground construído sobre topo tabular e vertente e outro com made ground sobre antiga área de
terreno plano e planície de inundação, somados ao tamponamento de rede drenagem. O outro
setor (SAT 02) foi zoneado como Média Suscetibilidade e cadastro 1 em virtude dos
movimentos de massa (deslizamentos) associados a made ground sobre antiga base de vertente.
No Parque Juliana, em decorrência das suas particularidades, associadas ao Aterro de
Teresina e à extração mineral, um único setor foi identificado (com 6 imóveis) e zoneado como
de Baixa suscetibilidade e cadastro 2 para processos erosivos e de movimentos de massa,
ilustrados pelas alterações geomorfológicas (worked ground) em áreas de topo tabular, vertente
e base da vertente.
Já no Flor do Campo, foram identificados 6 setores e totalizando 255 imóveis. Tanto o
FLO 01 quanto o FLO 02 foram zoneados como de Alta suscetibilidade e cadastro iminente, o
primeiro associado a movimentos de massa (deslizamentos) e processos erosivos, com
morfologia atual de topo tabular, vertente retilínea e terreno plano, modificados pela presença
de worked ground; ao passo que o segundo está associado a inundação, com morfologia original
de terreno plano e made grounds. Em ambos a ocupação urbana é moderada, e, portanto, ainda
passível de aumentar-se.
Os setores FLO 03 e FLO 04 foram zoneados como de Média suscetibilidade e cadastro
1. O primeiro exposto a processos de inundação, com morfologia atual de terreno plano e
planície de inundação com condutos e made grounds, ao passo que o segundo, caracterizado
pela presença de movimentos de massa (deslizamentos), há feições de topo tabular e vertente
com presença de made grounds. Quanto ao FLO 05 e FLO 06, ambos são reflexos da extração
mineral em trechos de vertente, desencadeando movimentos de massa (deslizamentos) e
processos erosivos e zoneados como de Baixa suscetibilidade e cadastro 2. Em ambos não há
ocupação urbana/residencial.
Importante compreender que tanto os setores quanto seus tamanhos e processos
característicos são dinâmicos, tornando-se necessário análises frequentes, em que pese
principalmente mudanças da configuração urbana e alteração da tipologia de intervenção
geomorfológica. Instalação de manilhas mal dimensionadas, condutos e estrangulamento de
244

canais somados a baixa cobertura de saneamento básico ampliam os processos de inundação e


eventos de alta energia de fluxo nos fundos de vales. Ruas sem pavimentação e drenagem, por
exemplo, auxiliam a existência e aceleração do processo erosivo, fato agravado em vertentes
ou em áreas de topo, podendo desencadear movimentos de massa em virtude do grau de
saturação do terreno.
Como recomendações, estas, a partir deste estudo, se dividem em dois grupos, um em
especial para os(as) estudiosos(as) da cidade e outro com foco ao poder público. Para a
comunidade científica e interessados pelo tema, sugere-se: a) Inserir o carste nos estudos
geomorfológicos teresinenses, em decorrência principalmente da quantidade insuficiente de
investigações e pela localização dos pontos já identificados serem densamente ocupados e
possuírem similaridades geológicas e geomorfológicas; b) Voltar os olhos para os espaços
periurbanos da capital, notadamente em seu aspecto geomorfológico, principalmente nos
sentidos Leste (Vale do Gavião e entorno), Sul (Torquato Neto e entorno) e Norte (Santa Maria
da Codipi e entorno), além das áreas de ocupações recentes que possuem baixa infraestrutura e
expressivos riscos, principalmente aquelas às margens dos canais fluviais (Vila Lindalma
Soares, por exemplo) e aquelas próximas a vertentes (Vila Dagmar Mazza, por exemplo); c)
Destacar e levar em consideração os aspectos voltados à testemunhagem nas feições
antropogênicas agradacionais, tendo em vista que a análise deste material pode contribuir para
a compreensão de sua origem, tempo de deposição, características de compactação, dentre
outros; d) Realização de estudos sobre geomorfologia histórica/retrospectiva, destacando as
tendências de processos principalmente na região Leste, tendo em vista ser densamente
urbanizada e por possuir frequentemente episódios de enxurradas e alagamentos; e)
Mapeamento, categorização e classificação de pontos de alagamentos em Teresina,
possibilitando seu entendimento para além da deficiência e ausência da drenagem urbana; f)
Identificação das áreas suscetíveis a inundação ao longo das dezenas de canais fluviais
existentes na cidade, principalmente aqueles que desaguam na margem direita do Poti por
possuírem maiores extensões, volumes de água e amplitude altimétrica, se comparado aos
demais; g) Compreensão e caracterização dos processos erosivos existentes na cidade,
sobretudo aqueles desencadeados pela extração mineral em todas as regiões de Teresina; h)
Identificação, sob a escala de detalhe, dos bairros que possuem áreas de suscetibilidades de
movimentos de massa, incorporando ainda o caráter histórico e de conversa com a população
local; i) Incorporação da percepção de risco (caráter humanístico) nos estudos geomorfológicos,
a julgar pelas valiosas contribuições que os moradores (principalmente os mais antigos) têm a
relatar sobre as ocupações iniciais do bairro; j) Pensar a existência de atividades sobre educação
245

para os riscos, sobretudo nos bairros em que já são identificados processos, a exemplo dos Três
Andares, Matadouro, Mocambinho, Água Mineral, Satélite, Dagmar Mazza, Gurupi e Torquato
Neto, e; k) Prognose associando os processos superficiais, as alterações climáticas, o aumento
de precipitações extremas e a capacidade de suporte tanto da própria base física da cidade
quanto das estruturas urbanas.
Para o Poder Público, sobretudo o municipal, sugere-se: a) Fiscalização efetiva da
política urbana e territorial de Teresina; b) Colocação de placas e avisos em áreas suscetíveis a
processos superficiais perigosos; c) Criação de uma política municipal para prevenção e
mitigação de desastres; d) Investimento, ampliação e capacitação da Defesa Civil Municipal;
e) Coibir ocupação em áreas naturalmente vulneráveis; f) Evitar ações apenas em períodos de
risco iminente, principalmente no período chuvoso; g) Demandar sensibilização e
conscientização da população em relação à ocupação em áreas suscetíveis e coibir especulação
imobiliária em áreas inadequadas; h) Recuperação de áreas vulneráveis, principalmente ao
longo dos canais fluviais (rios e seus afluentes) e em áreas de encostas; i) Fiscalizar atividades
de mineração e seus reflexos na paisagem local; j) Implantação de um sistema de drenagem
urbana eficiente, bem como a universalização do esgotamento sanitário; h) Garantir a
preservação dos canais de drenagem presentes no bairro e que, por hora, não sofreram
interferências; i) Pensar a existência de atividades sobre educação para os riscos, sobretudo nos
bairros em que já são identificados processos; j) Estudar a viabilidade de intervenções
estruturais (soluções de engenharia, como escada hidráulica, drenos horizontais profundos,
muros de arrimo e cortinas atirantadas) ou não estruturais (como medidas educativas,
planejamento, simulação e seguros), e; k)Prognose associando os processos superficiais, as
alterações climáticas, o aumento de precipitações extremas e a capacidade de suporte tanto da
própria base física da cidade quanto das estruturas urbanas.
Diante disso, o estudo realizado contribuiu para importantes reflexões no bojo das
relações existentes entre os meios natural e social, e como cada um destes se comporta frente a
pressão exercida pelo outro, interferindo em dinâmicas naturais e sociais, podendo responder
os questionamentos que fundamentaram esta Tese e reforçar a hipótese lançada, em relação à
dinâmica processo-resposta dos sistemas geomorfológicos quando da ocupação urbana e
instalação de população desprovida da infraestrutura (tornando-a vítima tanto da resposta à
perturbação ambiental quanto da omissão do poder público), contribuindo para a ampliação das
suscetibilidades associadas face à apropriação do relevo.
246

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VASYUKOVA, A. T.; SMIRNOVA, Z. A. Monitoring of technogenic pollution of soil in the
region. IOP Conference Series: Materials Science and Engineering, n. 862, 2020.
268

APÊNDICE
269

Apêndice A – Relação dos QR CODES e seus links para o YouTube dos vídeos postados e
obtidos junto a redes sociais
QR CODE de acesso a vídeo QR CODE de acesso a
QR CODE de acesso a
TÍTULO
postado (03/01/2022) em vídeo de enxurrada nas
vídeo de enxurrada na
rede social sobre os eventos ruas Branca (100m de
rua Branca. 100m de
de inundação no setor SJM 02 altitude) e Plutão (95m de
altitude
altitude)
QRCODE

https://youtube.com/shorts/wQq7cd https://youtube.com/shorts/pscjo
Link https://youtu.be/E5hAIiuJuOU
Gbc9Q Gfo6sg
QR CODE de acesso a
vídeo de enxurrada e
QR CODE de acesso a vídeo QR CODE de acesso a
inundação na área das
TÍTULO

com demonstrando situação vídeo de enxurrada e


ruas Urano e Netuno no
das ruas Bela, Vênus e inundação na área das ruas
dia 01/01/2022, episódio
Saturno Q2 após enxurrada e Urano e Netuno. 85m de
com carro arrastado
inundação. 89m de altitude altitude
resultando em vítima
fatal. 85m de altitude
QRCODE

https://www.youtube.com/shorts/qDvD https://youtube.com/shorts/epOLPF https://youtu.be/w8mOQH7wdP


Link XFemqQg Cli1o w
Organização: o autor (2022)
270

Apêndice B – Transectos geomorfológicos da cidade de Teresina

Fonte: adaptado do Google Earth pelo autor.


271

Apêndice C – Quadro síntese das características físico-naturais e de ocupação urbana


CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-NATURAL CARACTERIZAÇÃO
ÁREA DE ESTUDO

1º 2º 3º 5º 6º DE OCUPAÇÃO
4º TÁXON
TÁXON TÁXON TÁXON TÁXON TÁXON
Morfoescultura COMPARTIMENTO FÍSICO- URBANA
NATURAL
Morfometria Litologia (zoom do mapa de compartimentação
Morfoestrutura Padrões de Formas de
Unidade Tipos de formas Tipos de dominante / Tipos de solos físico-natural)
formas processos Macrozona Zona
morfoescultural de relevo vertentes Altimetria bens dominantes
semelhantes atuais
minerais
Inundações;
Carreamento de
MATADOURO

sedimentos;
BAIRRO

Erosão (laminar); ZEUS,


56 < 63m
Descaracterização MZIA e ZIA,
Plana (amplitude de de canais; MZD ZDCS e
7m) Depósitos ZDCN
tecnogênicos;
Formação Cicatrizes de
Vales e terrenos inundáveis (em
mineração.
Áreas de Piauí (Grupo verde)
Baixos Planaltos do Médio-Baixo Parnaíba

acumulação Balsas)
_ LATOSSOLO
inundáveis Planícies e
AMARELO
Bacia Sedimentar do Parnaíba

(planícies Terraços Fluviais Associação Distrófico Inundações;


flúvio- entre argilas, Carreamento de
SÃO JOAQUIM

lacustres) areias, siltes sedimentos;


BAIRRO

55 < 63m e cascalhos Erosão (laminar); ZEUS,


Descaracterização MZIA e
Plana (amplitude de ZIA e
de canais; MZD
8m) Depósitos ZDCS
tecnogênicos;
Cicatrizes de
mineração.

Vales e terrenos inundáveis (em


verde)
Formação Colúvios; Erosão
Superfícies Pedra de (laminar, sulcos e
Intensamente Fogo (Grupo ravinas);
Retrabalhadas Descaracterização
Balsas)
pela Drenagem _ de canais;
SATÉLITE

Aterros;
BAIRRO

com Morros
Planaltos 86 < 139m Material LATOSSOLO Cortes e
Residuais; Convexas e MZD e ZDCL e
Rebaixados Retilíneas
(amplitude de eluvio- AMARELO aplanamento de
Morros com morros; MZOM ZOM
53m) coluvionar; Distrófico
Tendências a Cicatrizes de
Arredondamentos associação de
mineração;
Limitados por silexitos, Desmonte de Superfícies de aplainamento e
Relevo siltitos e morros; dissecação com relevos residuais (em
Escalonado arenito Depósitos laranja)
silicificado tecnogênicos
272

Superfícies Colúvios; Erosão


Intensamente Formação (laminar, sulcos e
PARQUE JULIANA

Retrabalhadas ravinas);
Pedra de
pela Drenagem Aterros;
Fogo (Grupo Cortes e
BAIRRO

com Morros Balsas)


Convexas, 89 < 140m LATOSSOLO aplanamento de MZOM e
Residuais; _ ZOM e
Côncavas e (amplitude de AMARELO morros; Zona
Morros com Retilíneas Cicatrizes de ZEII
51m) Barro e Distrófico Especial
Tendências a mineração;
Arredondamentos associação
Desmonte de
Limitados por entre massará morros;
Relevo e seixo Depósitos Superfícies de aplainamento e
Escalonado tecnogênicos dissecação com relevos residuais (em
laranja) e Baixas chapadas e mesas
(em lilás)
Formação
Pedra de Inundações;
Planícies e Fogo (Grupo Carreamento de
Terraços Balsas) sedimentos;
Fluviais; _ Descaracterização
Superfícies de canais;
FLOR DO CAMPO

Intensamente Solos; Colúvios; Erosão


Retrabalhadas Material (laminar, sulcos e
BAIRRO

pela Drenagem 72 < 137m eluvio- PLINTOSSOLO ravinas);


Convexas e coluvionar; Aterros; MZOM e ZOC e
com Morros Retilíneas
(amplitude de PÉTRICOS Cortes e
Associação MZOC ZOM
Residuais; 65m) Concrecionários aplanamento de
Morros com entre argilas,
morros;
Tendências a areias, siltes Cicatrizes de
Arredondamentos e cascalhos; mineração;
Limitados por e associação Desmonte de
de siltitos, morros; Superfícies de aplainamento e
Relevo
silexitos e Depósitos dissecação com relevos residuais (em
Escalonado
arenito tecnogênicos laranja) e Vales e terrenos inundáveis
silicificado (em verde)
Organização: o autor (2022)
273

ANEXOS
274

Anexo A – Espacialização da população exposta em área de risco (2010) da Região Nordeste,


em destaque a cidade de Teresina

Fonte: IBGE (2018), adaptado pelo autor (2022)


275

Anexo B – Seções topobatimétricas transversais ao canal do rio Parnaíba no trecho dos bairros Matadouro e São Joaquim

Fonte: Souza, Fernandes e Castro (2018), adaptado pelo autor (2022)

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