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O LIVRO DAS LEIS E POSTURAS: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE

Por: Marta de Carvalho Silveira1

O Livro das Leis e Posturas é inegavelmente um marco jurídico seminal na história


medieval portuguesa. Tradicionalmente é entendido por seus estudiosos como uma das fontes
básicas para a análise dos mecanismos jurídicos forjados pelos reis borgonheses com o intuito
de garantir a aceitação da sua autoridade e a centralidade do seu poder em um reino ainda
marcado pela necessidade de garantir militarmente as suas fronteiras contra o avanço
muçulmano, de firmar a sua autonomia política e territorial frente à constante pressão leonesa
e castelhana e de resistir às constantes disputas internas de poder.
O objetivo deste trabalho é justamente apontar o potencial analítico dessa fonte para o
estudo da história político-jurídica da primeira dinastia portuguesa. Desta forma, na primeira
parte do trabalho será apresentado o quadro contextual de produção desse código jurídico e na
segunda parte se fará a caracterização da fonte e se apontará algumas das suas potencialidades
analíticas, que será seguida de uma conclusão.

1 – O Livro das Leis e Posturas e seu contexto de produção

O século XIII é considerado, por seus estudiosos, como um marco político, jurídico e
intelectual no período medieval, justamente por nele terem sido configuradas as monarquias
medievais e seus mecanismos institucionais e legais, pautados sobre tudo no saber produzido
nas universidades constituídas neste período.
Este processo pode ser detectado de forma clara também nas monarquias que se
constituíram na Península Ibérica, que, para Adeline Rucquoi, em seu artigo De los reyes que
non son taumaturgos (1992), possuíam a peculiaridade de basearem a centralidade da sua
monarquia na força política e militar dos seus reis, característica necessária para resistir às
constantes pressões fronteiriças muçulmanas.

1
Professora Adjunta de História Medieval da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisadora do
Programa de Pesquisa e Produtividade da UNESA.
A formação do reino de Portugal, no século XII, se deu justamente a partir da dupla
necessidade do fundador da casa de Borgonha, Afonso Henriques, de garantir o seu poder
sobre o condado que sua mãe, Tereza, havia recebido como presente de casamento de seu pai,
o rei castelhano, Afonso VI, fazendo com que ele se tornasse um espaço autônomo de poder
frente às constantes pressões de Afonso VII de Castela, e frente à constante ameaça das tropas
muçulmanas principalmente ao Norte do reino.
Desde a sua formação, portanto, os reis borgonheses se viram envolvidos em embates
com forças externas que constantemente influenciavam no equilíbrio das forças internas de
poder, traduzindo-se em rebeliões e oposições monárquicas que se arrastaram ao longo dos
séculos XII e XIII e que constantemente colocavam em campos opostos os membros da
própria dinastia. É o caso, por exemplo, da ascensão de Afonso III, o Bolonhês (1210 a 1279),
ao poder logo após a disputa militar que travou com seu irmão, o rei Sancho II, pelo controle
da Coroa e que lançou o reino em uma intensa guerra civil alimentada por uma aristocracia
ávida pelo controle de mais territórios e de ampliação do alcance do seu poder político.
Através de uma bula papal que lhe garantia plenos poderes sobre o reino português, o
infante Afonso III, chegou a Lisboa provavelmente entre o fim de 1245 e o início de 1246,
sendo bem acolhido pela burguesia lisboeta e portando o título de “defensor e visitador do
reino pelo Sumo Pontífice” (RIBEIRO, 1936), Inocêncio IV, mas despertando forte oposição
entre as forças nobiliárquicas do Norte. O rei Sancho II terminou isolado em Coimbra, onde
era protegido por alguns nobres e para livrar-se das tropas de seu irmão, recorreu a ajuda ao
rei castelhano Fernando III que, ocupado com os embates travados contra os muçulmanos na
fronteira Sul do seu reino, deixa a cargo de seu filho, o infante Afonso X, o socorro ao seu
aliado. Afonso X, então, dirige-se a Portugal com suas tropas transpondo a fronteira de Côa,
no ano de 1247, se estabelecendo em Coimbra e lutando contra as forças do Bolonhês, que
guerreavam ao sul do rio Mondego. Os bispos portugueses, aliados do rei Sancho II, reagem à
ousadia do infante decretando a sua excomunhão. Após algumas derrotas, as tropas
castelhanas terminam vencidas e se retiraram para Castela levando consigo Sancho, o rei
deposto, que morreu exilado, no ano seguinte, na corte castelhana (1248). A nobreza do Norte
ampliou a sua oposição ao novo monarca, o que levou o rei a abrir caminho com os seus
exércitos, na região entre o Douro e o Minho, em busca do apoio político da nobreza local, de
forma voluntária ou não.
Afonso III, então, assumiu a Coroa com o apoio de setores da nobreza, da Igreja e dos
concelhos municipais, o novo rei tinha diante de si o desafio de promover a centralidade do
poder real que pudesse fazer frente à anarquia presente no reinado anterior. Um dos primeiros
passos dados pelo monarca, após ter a sua autoridade reconhecida foi confirmar todos os foros
e as regalias da burguesia lisboeta, justamente para conseguir o apoio necessário na luta
contra as forças setentrionais que permaneciam fieis ao seu irmão. Este ato representou, sem
sombra de dúvida, um marco na relação que se estabeleceria futuramente entre a burguesia
portuguesa e os seus monarcas, já que a partir daí ela passaria a ser ouvida nas Cortes gerais
do reino.
A confirmação da autonomia jurídica dos concelhos municipais se deu também em
outras regiões do reino conforme o monarca avançava com as suas tropas em direção ao
Norte, contribuindo para que o monarca mobilizasse mais tropas e ampliasse sua autoridade
política e para que os vilões dos concelhos se sentissem mais seguros diante da violência das
tropas de alguns nobres setentrionais. Segundo nos informa Mattoso, durante este período o
monarca empenhou-se em “(...) captar o apoio dos nobres da região, a exigir-lhes a
homenagem vassálica ou o reconhecimento público da sua autoridade e a tomar medidas
destinadas a impor a ordem numa região profundamente abalada pela anarquia dos anos
anteriores.” (MATTOSO, 2001; p. 903).
Após apaziguar os conflitos internos gerados pela guerra civil em que mergulhou o
reino, Afonso III fixou-se na cidade de Lisboa, tornando-a a sede do seu reino. O monarca,
então, parecia estar pronto para o seu segundo desafio: consolidar o controle português sobre
a região do Algarve, seguindo uma tendência já iniciada por seus antecessores, Afonso II e
Sancho II, que procuraram estender as fronteiras portuguesas para o Sul (RUCQUOI, 2005; p.
196).
A perda sofrida em outras regiões fronteiriças, levou os castelhanos a voltar seus
interesses mais uma vez para o Algarve. Afonso III, então, iniciou a conquista definitiva da
região, em 1249, opondo-se mais uma vez às tropas do infante Afonso X que não atendeu às
ordens de Fernando III, seu pai, para abandonar à região. Para impedir um novo e longo
conflito entre o rei português e o infante castelhano, o papa Inocêncio IV intermediou o
embate pedindo que depusessem as armas. Os soberanos acataram ao pedido papal e firmaram
um acordo através do qual D. Beatriz, a filha mais velha de Afonso X, seria dada em
casamento a Afonso IIII. Sendo assim, os portugueses ficavam com o senhorio das terras e os
castelhanos com o seu domínio útil, até que o filho primogênito do futuro casal atingisse os
sete anos de idade. A vitória das tropas portuguesas garantiu-lhes o domínio de Faro, Porches,
Albuferia e outras terras, que foram divididas entre as tropas dos concelhos e as ordens
militares que apoiaram o monarca nesta empreitada e a conquista do Algarve foi de fato
consolidada no reinado de D. Dinis, o filho primogênito do referido casal.
Consolidada a autoridade real no Norte e definida as fronteiras ao Sul, Afonso III
reforçou a sua parceria política e militar com os seus aliados na nobreza, na Igreja e nos
concelhos. Para tanto, reforçou a economia do reino, favorecendo a captação de recursos pela
Coroa e investiu em sua reconfiguração administrativa e jurídica. Como informa Mattoso:

(...) a política de Afonso III durante os anos de 1253 a 1258 caracteriza-se


pela acumulação de numerosas medidas de carácter administrativo, entre as
quais a promulgação de dezenas de forais e aforamentos colectivos, a
implantação de um sistema de cobrança que facilitava o pagamento dos
direitos régios em moeda, o estabelecimento de numerosas tendas em
Lisboa, a captação de direitos alfandegários em Vila Nova de Gaia em
concorrência com os direitos cobrados pelo bispo da cidade, o pagamento de
uma pesada dívida em dinheiro ao mosteiro de Alcobaça — o que lhe
granjeava a simpatia e o apoio da mais poderosa ordem religiosa e lhe valia
fama de honradez e rigor no cumprimento dos seus compromissos —, a
redacção de uma grande quantidade de cartas de prazo de casais e herdades
situados em terras reguengas, etc. (MATTOSO, 2001; p. 905)

Está claro, então, que o avançar da reconquista territorial portuguesa, impetrada desde
a origem do próprio reino no século XII e efetivamente alcançada através dos exércitos da
casa de Borgonha, mais especificamente nos reinados de Afonso II, Afonso III, D. Dinis e
Afonso IV, levou os monarcas esta dinastia a investir em um projeto de governo pautado não
somente no exercício da força militar, mas sobretudo na construção de uma configuração
jurídica e administrativa para o reino.
José Matoso chama atenção para o fato de que graças a influência de uma visão de
história política tradicional e afeita à narrativa, torna-se difícil compreender de forma
adequada e isenta a história dos primeiros anos da monarquia portuguesa. O autor direciona
uma crítica contundente a Alexandre Herculano, que até a década de 1970, foi um dos
maiores tradutores da história da monarquia portuguesa, apresentando-a como uma monarquia
“paternalista, militar e rude”, operando numa lógica jurídica, legislativa, fiscal e
administrativa similar àquela que se instaurou no Estado Moderno. Desta forma, Herculano
concentrou a sua narrativa na disputa de poder entre a monarquia e os senhores locais e nos
desfechos diferenciados que eles alcançaram no “Norte, no Centro ou no Sul, em terras de
regime senhorial ou de regime concelhio, na cidade ou no campo.” No entanto, sem se levar
em consideração o papel decisivo que o clero desempenhou nestas disputas.
Para lançar luz sobre a história dos primeiros anos da monarquia portuguesa, que
Matoso considera como inevitavelmente marcada pela conjectura, mas fundamental para o
entendimento do processo de centralização monárquico que caracterizou o período moderno.
Para tanto, em seu artigo O triunfo da monarquia portuguesa: 1258-1264. Ensaio de história
política (2001), Matoso identificou duas datas como fundamentais para o triunfo da
perspectiva centralista do poder monárquico: 1258 (o momento em que o rei Afonso III
levantou as primeiras inquirições) e 1264 (a data da última das decisões seminais tomadas por
Afonso III para promover uma nova organização do Estado). Nota-se, portanto, que assim
como Ângelo Ribeiro, quanto como Alexandre Herculano, Mattoso considera os reinados dos
primeiros reis portugueses como fundamentais para a consolidação da figura do monarca
através do aparato jurídico e lembra aos seus leitores que:

Foi, decerto, o conhecimento directo da realidade no Norte do país, tornada


evidente para ele e para os membros da sua cúria durante as suas deslocações
a norte do Mondego, que levou o rei a decidir reeditar a medida tomada em
1220 por seu pai, Afonso II, de proceder a um rigoroso levantamento dos
foros e prestações devidas pelos seus súbditos e dependentes em todas as
terras do reino situadas a norte do Mondego. O cadastro dos foros e direitos
da coroa que daí resultou constitui um dos monumentos mais
impressionantes legados pela administração régia portuguesa durante toda a
Idade Média (MATTOSO, 2001; p. 907)
O material jurídico compilado nas inquirições, que foram organizadas com o intuito de
impedir que os direitos reais fossem usurpados, diminuindo os rendimentos da coroa, e
concretizar o senso de autoridade real em todos os súditos do reino, serviu como base para a
formulação de leis que foram sendo construídas desde o século XIII, mas só foram reunidas
em um código único, no século XIV, que ficou conhecido como o Livro de Leis e Posturas.

2 – O Livro de Leis e Posturas

Com a renovação teórica da própria historiografia peninsular, marcada pela


interdisciplinaridade e pela ampliação da noção de fonte histórica, a Península Ibérica tem se
revelado um espaço altamente rico em sua produção intelectual, construída sobre as bases da
rica interação das culturas cristão, judaica e muçulmana. A vivência cotidiana favoreceu as
trocas culturais, mas o apoio dos monarcas garantiu a sua intensificação e possibilitou que as
cortes ibéricas se tornassem centros produtores de saber, especialmente no campo jurídico. No
reino castelhano podemos identificar o a corte de Afonso X, o Sábio (1221-1284) como o
centro de uma intensa produção jurídica e a corte de Afonso III (1245-1279), de Portugal,
como o marco de uma produção legal que se estenderá por todos os reinados da casa de
Borgonha. Como nos lembra Adeline Rucquoi, D. Dinis, a exemplo do seu avô Afonso X,
abandou o uso do latim nas documentações oficiais e instruiu a chancelaria régia a redigi-las
em português, mandando traduzir também as obras jurídicas castelhanas e nelas se baseando
para a construção do aparato legal do seu reino. Além disso, o monarca fundou uma
universidade em Lisboa, em 1288, que depois foi transferida para Coimbra, em 1309.
É possível identificar nas cortes castelhana e portuguesa um duplo desafio: consolidar
o projeto centralista de poder monárquico e propiciar a boa convivência entre a população
altamente diversificada que compunha os dois reinos. A formulação de códigos legais que
reunissem orientações gerais sobre o ordenamento das ações dos súditos destas coroas tornou-
se vital tanto para garantir a interação cotidiana de uma população marcada pela
heterogeneidade propiciada pelas culturas cristã, muçulmana e judaica quanto para definir a
centralidade do poder monárquico em detrimento dos poderes locais e periféricos. Nota-se,
portanto, um esforço legal muito efetivo e producente tanto na corte afonsina castelhana,
quanto nas cortes portuguesas da dinastia de Borgonha.
O Fuero Real, elaborado na corte castelhana afonsina, e o Livro de Leis e Posturas,
dos reis borgonheses, foram instrumentos normativos fundamentais para a formulação e a
concretização deste projeto.
O Livro das Leis e Posturas tem aproximadamente 370 leis. Ao contrário do Fuero
Real, não possui uma organização interna em termos de assuntos a serem tratados, ou seja, as
leis não são organizadas em livros e sim somente em títulos específicos. As leis ali reunidas
foram produzidas ao longo dos reinados da primeira casa dinástica portuguesa e muitas delas
não são datadas. Estima-se que 24 leis tenham sido promulgadas no reinado de D. Afonso II,
18 no reinado de Afonso III, 89 no reinado de D. Dinis e 50 no reinado de D. Afonso IV. Nas
leis são tratados temas dos mais variados, desde as bases ideológicas do poder real até
questões como a definição de divisões patrimoniais, o funcionamento das feiras, a forma
como deveria se dar a relação entre cristãos, judeus e muçulmanos, as formas punitivas e
diversas outras temáticas.
O interessante é que estas leis eram promulgadas de forma a responder às demandas
imediatas dos súditos, logo boa parte delas se tratava de registros de costumes legais já
existentes, ou seja, sua base era o direito consuetudinário. As demandas pareciam ser
apresentadas diretamente à corte que movia-se por todo o território ou através dos seus
procuradores, o que fez com que as leis apresentassem datas e locais de produção variados.
Ao contrário da corte afonsina que produzia as leis a partir de um ponto fixo de produção que
era o scriptorum, a corte portuguesa parecia entender a produção legal como algo dinâmico e
imediato.
Alguns estudiosos da legislação portuguesa, como Armando Luis Homem, consideram
que os esforços legislativos dos reis portugueses podem ter sido precoces, mas não contínuos.
Sendo assim, é possível destacar três etapas de produção. Há um primeiro ciclo fundador
inaugurado com Afonso II, em 1211; um momento de refundação, com Afonso III, entre 1250
e 1279, marcado pela forte influência legislativa da corte do Sábio; e um terceiro momento,
que o autor denominada de “primeira maturidade” que abrange os reinados de Dinis (1279-
1325), Afonso IV (1325-1357) e Pedro I (1357-1367), reis abundantemente legisladores em
matéria judicial-processual, em ofícios régios e em instrumentos burocráticos (HOMEM,
1999; p. 179).
Para Homem, o Livro das Leis e Posturas é uma compilação legal rudimentar, se
comparado às demais obras jurídicas produzidas no século XIV, como as Ordenações de D.
Duarte e as Ordenações Afonsinas (HOMEM, 1999; p. 178). Muitos dos seus estudiosos
consideram este código como uma compilação desordenada de leis, que muitas das vezes se
repetem, não é fundamentada, na medida em que estas foram formuladas por um aparato
administrativo itinerante em resposta às demandas locais, muito influenciadas pelo direito
consuetudinário, que por vezes mostrava-se resistente à normatização.
A legislação portuguesa também tem sido alvo de variados estudos nos últimos anos.
Estudos que tanto se atém ao campo do Direito quanto ao campo histórico. No que se refere
ao Livro de Leis e Posturas há uma tendência geral em entendê-lo como um prenúncio
normativo às Ordenações Afonsinas e como uma primeira tentativa de sistematização do
direito português. Merece destaque as contribuições de Luiz Carlos de Azevedo, Aspectos da
Legislação Penal Editada pelos Primeiros Monarcas Portugueses (1984) que apresenta um
cuidadoso panorama jurídico de construção do Livro de Leis e Posturas, identificando a sua
importância na produção legal do período.
Nota-se, portanto, que o Livro de Leis e Posturas é uma fonte extremamente rica em
temáticas analíticas que podem versar desde estudos relativos ao campo político (como as
concepções de poder monárquico inauguradas pelos reis borgonheses, quanto pelos
mecanismos jurídicos que basearam a primeira monarquia portuguesa) e aos campos
econômico, social e cultural, oferecendo oportunidades para que se possa analisar a forma
como se davam as relações socioeconômicas horizontalmente (entre os próprios súditos) e
verticalmente (entre os súditos e seus monarcas), e a maneira como ocorriam as interações
culturais entre cristãos, muçulmanos e judeus.
O Livro de Leis e Posturas encontra-se na Torre do Tombo. Foi compilado em 12 de
maio de 1639, por ordem do doutor Gregório Mascarenhas, Guarda mor da Torre do Tombo,
sendo Cipriano de Figueiredo o escrivão que o compilou. Trata-se de um código de
pergaminho encadernado à carneira com 355 x 255 e têm 168 folhas, escritas em duas
colunas. A letra é gótica, do século XIV ou XV. Seu acesso é possível também através do site
O governo do Outros. Imaginários Políticos no Império Português, financiado pela Fundação
para Ciência e Tecnologia e desenvolvido no Instituto de Ciências Sociais da Universidade
Nova de Lisboa, com o objetivo de disponibilizar a legislação relativa ao governo político do
território e das populações do império português entre 1496 e 1961.

3 – Conclusão

O Livro de Leis e Posturas é, portanto, um código legislativo com um grande teor


analítico para aqueles que pretendem estudar a concepção de poder monárquico e os
mecanismos jurídicos e administrativos elaborados na dinastia de Borgonha para garantir o
projeto de centralidade política e jurídica do reino português. Trata-se de uma obra
particularmente interessante pelo seu caráter coletivo, na medida em que foi forjada ao longo
dos séculos XIII e XIV, sendo possível, através dela desvelar a forma como foram
constituídas as relações entre os monarcas e seus súditos caracterizados por uma grande
heterogeneidade sociocultural, pois como nos lembra Silveira: “Apesar do caráter natural e
divino da lei, o seu estabelecimento e cumprimento na sociedade ficavam a cargo do monarca,
pois a sua atuação é que garantia o ordenamento das relações estabelecidas entre os elementos
da comunidade nas mais variadas esferas. (SILVEIRA, 2017; p. 191).

4 – Referências Bibliográficas

FONTES PRIMÁRIAS

LIVRO DAS LEIS E POSTURAS. Disponível em


http://www.governodosoutros.ics.ul.pt/?menu=consulta&id_partes=43&accao=ver&pagina=4
Acessado em 10 de junho de 2018.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HOMEM,Armando Luís de Carvalho. Rei e “Estado real” nos textos legislativos da Idade
Média portuguesa. In: En la España Medieval. n. 22, 1999. p. 117 – 185.
MATTOSO,J. O triunfo da monarquia portuguesa: 1258-1264. Análise Social, vol. XXXV
(157), 2001, 899-935
RIBEIRO,A. História de Portugal. Morte e Revolução. De Afonso III a João I. Vol. 2.
Kindle Editions.
RUCQUOI,Adeline. História Medieval da Península Ibérica. Lisboa: Editorial Estampa,
2005, p. 216.
RUCQUOI,Adeline. De los reyes que no son taumaturgos. Relaciones 51, vol. XIII, n. 51,
1992.
SILVEIRA,M. de C. A Lei na Idade Média. Penalidades corporais na Castela do século
XIII. Curitiba: Prismas, 2017.

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