Guerra Do PCC Com CV e Facções Locais Leva À Alta de Homicídios em 3 Estados Do Nordeste
Guerra Do PCC Com CV e Facções Locais Leva À Alta de Homicídios em 3 Estados Do Nordeste
Guerra Do PCC Com CV e Facções Locais Leva À Alta de Homicídios em 3 Estados Do Nordeste
Divulgação - 19.mar.2013
"O salve [ordem escrita] é para matar quem for PCC. Hoje mesmo mataram um e
mandaram um vídeo. Quando sair, tem que rasgar a camisa e ficar de boa", diz, por
telefone, um homem investigado, sendo retrucado em seguida por uma mulher
também investigada. "Não tem que rasgar a camisa, não; tem que arrancar a
cabeça dele."
São nestes três Estados que a maior facção criminosa do país, o PCC (Primeiro
Comando da Capital), está mais presente no Nordeste. E, em todos eles, está em
guerra com o CV (Comando Vermelho) e facções locais por espaço dentro e fora
dos presídios.
Decisões dos tribunais de Justiça dos outros seis Estados nordestinos, a cujo
conteúdo o UOL teve acesso, indicam que o grupo criminoso paulista está presente
em toda a região.
AP
As causas da guerra
"O PCC tem um caráter monopolista. A facção tem o desejo de controlar todas as
rotas de tráfico de drogas e os principais mercados do país e isso inclui,
obviamente, os Estados da região Nordeste", afirma procurador de Justiça de São
Paulo Márcio Sergio Christino, especializado em investigações sobre o PCC.
A guerra entre PCC e CV remonta ao ano de 2013 e teve origem em Mato Grosso.
Lá, membros do CV local passaram a impedir que o PCC cooptasse novos
criminosos nos presídios do Estado. A postura de enfrentamento ao grupo de
Marcola começou a ser seguida por outras facções regionais e franquias do CV.
"Mas eles disseram que não poderiam interferir em questões locais justamente
porque essas facções tinham autonomia", afirma o promotor.
"Tivemos um pico nos três primeiros meses, após a matança nos presídios. Dali
desencadearam esses comandos para se matarem, e isso tem por trás a disputa
nacional pelo tráfico", complementa.
"Certa vez, dois presos do CV pediram para ser levados para a ala do PCC em um
presídio aqui. Queriam guerra, iam morrer, e claro que não foi permitido. Mas eles
são assim, se arriscam sem planejamento, parecem loucos e impõem medo por
isso", contou um policial militar alagoano, sob sigilo.
Ceará com mais mortes
O Estado tem uma ligação histórica de cooptação de grupos como o CV, ainda na
década de 1990, e do PCC, nos anos 2000. Assaltos como ao do Banco Central em
Fortaleza, em 2006, tiveram participação do PCC. Como tem essa atuação mais
bem articulada, o Estado foi um dos que mais sentiram nas estatísticas as mortes
por conta da guerra.
A pasta afirmou ainda que o Ceará tem um dos maiores índices de elucidação de
homicídios do Brasil --"cerca de 22%, enquanto a média nacional é de 8%".
Violência extrema
A guerra não se marca não apenas por mortes. Como o padrão é mostrar força por
meio de violência extrema, são muitos os casos e até vídeos que circulam em
grupos de redes sociais mostrando mortos com cabeça ou coração arrancados.
"A ordem é matar, cortar cabeça. É guerra para ver quem manda no Estado. O PCC
queria dar ordens aqui, e ninguém aceita", conta uma mulher de detento que
participa da facção Sindicato do RN, que está em uma sangrenta disputa pelo poder
dentro dos presídios e pelo tráfico de drogas fora dele no Rio Grande do Norte.
Hermes conta que a dinâmica de atuação das facções não é só regional, mas sim
nacionalizada. E diz que o Estado brasileiro falhou como um todo nessa luta contra
os grupos.
Procurada por diversas vezes, por e-mail e telefone, durante a apuração dessa
reportagem, em julho e começo de agosto, a assessoria de imprensa da Secretaria
de Segurança Pública do Rio Grande do Norte não se manifestou nem
disponibilizou um porta-voz para falar sobre o aumento no número de homicídios e
a guerra de facções.
Preocupação regional
A questão das facções se tornou uma preocupação tão intensa que será alvo de
debate inédito entre os gestores da área dos Estados da região.
"Não há como pensar política de segurança que não passe pelo enfrentamento ao
PCC como estrutura organizada, desde a produção à distribuição de drogas. Ele se
tornou um multinacional para todos os Estados", completa.
Caveira é a facção baiana mais próxima do PCC, apurou o UOL. Na Bahia, o grupo
paulista montou uma espécie de centro de distribuição de cocaína em Feira de
Santana, segunda cidade mais populosa do Estado -- 622 mil habitantes de acordo
com estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)-- e
importante posto rodoviário do Nordeste. Pelo menos 18 integrantes da facção
foram presos na cidade desde 2015 em operações da Polícia Federal, de acordo
com decisões do Tribunal de Justiça a cujo conteúdo a reportagem teve acesso.
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