Medicina Legal

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MEDICINA LEGAL

INTRODUÇÃO À MEDICINA LEGAL E PERÍCIA E PERITOS E


DOCUMENTOS MÉDICO LEGAIS

INTRODUÇÃO À MEDICINA
LEGAL E PERÍCIAS E PERITOS E
DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS

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MEDICINA LEGAL

INTRODUÇÃO À MEDICINA LEGAL E PERÍCIA E PERITOS E


DOCUMENTOS MÉDICO LEGAIS

Sumário
MEDICINA LEGAL: INTRODUÇÃO À MEDICINA LEGAL E PERÍCIAS E PERITOS E DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS
........................................................................................................................................................................... 3
1. CONCEITO DE MEDICINA LEGAL .................................................................................................................... 3
2. SUBDIVISÕES DA MEDICINA LEGAL ............................................................................................................... 5
3. PERÍCIAS E PERITOS ....................................................................................................................................... 6
3.1. Perícia ......................................................................................................................................................... 6
3.2. Peritos ....................................................................................................................................................... 12
3.3. Crime de Falsa Perícia ............................................................................................................................... 16
4. INFORTUNÍSTICA.......................................................................................................................................... 17
5. DOCUMENTOS MÉDICO LEGAIS .................................................................................................................. 22
5.1. Relatórios (Laudos e Autos) ...................................................................................................................... 22
5.2. Parecer Médico-Legal ............................................................................................................................... 25
5.3 Atestado .................................................................................................................................................... 26
5.3.1 Tipos de Atestados ......................................................................................................................... 26
5.3.2 Classificação quanto ao modo de fazer ou conteúdo, os atestados podem ser: ........................... 27
5.3.3 Atestado de óbito ........................................................................................................................... 28
5.3.4 Notificação Compulsória ................................................................................................................ 30
5.4. Depoimentos Orais ................................................................................................................................... 30
5.5 Prontuários ................................................................................................................................................ 31

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MEDICINA LEGAL: INTRODUÇÃO À MEDICINA LEGAL E PERÍCIAS E PERITOS E DOCUMENTOS MÉDICO-


LEGAIS

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

⦁ Art. 6º, VII, CPP


⦁ Art. 158, CPP
⦁ Art. 158-A a 158-F, CPP
⦁ Art. 159 a 184, CPP
⦁ Art. 235, CPP
⦁ Arts. 275 a 281
⦁ Art. 525, 527 e 530-D, CPP
⦁ Art. 543, II, CPP
⦁ Art. 50, §1º, Lei de Drogas
⦁ Art. 129, §1º do CP
⦁ Art. 269 do CP
⦁ Art. 342 do CP
⦁ Lei 12030/09 inteira

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!


⦁ Art. 158, CPP
⦁ Art. 158-A a 158-F, CPP (muito importante!)
⦁ Art. 159, §1º, §5º, CPP
⦁ Art. 160 a 163, CPP
⦁ Art. 167 a 169, CPP
⦁ Art. 171, CPP
⦁ Art. 180, CPP
⦁ Art. 184, CPP
⦁ Art. 276 e 278, CPP
⦁ Art. 50, §1º, Lei de Drogas
⦁ Art. 2º da Lei 12030/09

1. CONCEITO DE MEDICINA LEGAL

O conceito de medicina legal é tratado de maneira geral, como ciência e como arte. Na visão de
Delton Croce, a Medicina Legal é ciência e arte extrajurídica auxiliar alicerçada conjuntamente com
conhecimentos médicos, paramédicos e biológicos com a finalidade de defender os direitos e os interesses
dos homens e da sociedade. Tais conhecimentos médicos, especificamente relacionados com a Patologia,
Fisiologia, Traumatologia, Psiquiatria, Microbiologia e Parasitologia, Radiologia, Tocoginecologia, Anatomia,
patológica entre outras, com bem como o Direito; por isso, diz Medicina Legal.

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A medicina legal é uma disciplina eminentemente jurídica, pois, por mais que traga seus conceitos
da medicina e outros ramos das ciências biológicas, seus conhecimentos são destinados para a utilização no
ramo do Direito. Essa é a razão pela qual se afirma que a Medicina Legal é a mais importante e significativa
das ciências subsidiárias do Direito (Wilson Palermo).

Conceituação dada por diversos autores:

LACASSAGNE → é a arte de por os conceitos médicos ao serviço da administração da justiça.


FRANÇA → é a contribuição da medicina, da tecnologia e outras ciências afins, às questões do Direito na
elaboração das leis, na administração judiciária e na consolidação da doutrina.
HOFFMAN → é a ciência que tem por objetivo o estudo das questões no exercício da jurisprudência civil e
criminal e cuja solução depende de certos conhecimentos médicos.
HYGINO → medicina a serviço das ciências jurídicas e sociais, enquanto arte e ciência, destituída de método
e objeto próprio, mas que carece de especialização, sob pena de prejuízo do laudo (conceito mais restritivo).
HÉLIO GOMES → “O conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos destinados a servir ao Direito,
cooperando na elaboração, auxiliando na interpretação e colaborando na execução dos dispositivos legais,
no seu campo de ação de medicina aplicada”.
ANDRÉ PARÉ → “Arte de fazer relatórios em juízo.”
TOURDES → “a aplicação do conhecimento médico às questões que concernem aos direitos e aos deveres
dos homens reunidos em sociedade”.

Ainda sobre a conceituação de medicina legal:

Concordamos com ambos (Lacassagne e Hoffman), pois a medicina legal é, a um


só tempo, arte e ciência. É arte porque a realização de uma perícia médica requer
habilidade na prática do exame e estilo na redação do laudo; é ciência porque,
além de ter um campo próprio de pesquisas, vale-se de todo o conhecimento
oferecido pelas demais especialidades médicas. HERCULES, Hygino de C. Medicina
Legal, texto e Atlas, 2ª Edição, pg. 13.

Caiu em prova Delegado PR/2021! Entre os conceitos a seguir, assinale a alternativa que apresenta uma
definição de medicina legal: Arte de fazer relatórios em juízo.

ATENÇÃO! Algumas provas cobram aspectos históricos.


● O pai da medicina legal é Ambroise Paré (França).
No Brasil a medicina legal sofreu influência da Alemanha, França e Itália (cuidado: Portugal não
influenciou a medicina legal no Brasil – já foi questionado em prova).
● Segundo Oscar Freire, pode ser dividida em 3 fases:
1. Estrangeira (período colonial até 1877).
2. De transição (início de 1877).
3. De Nacionalização (a partir de 1985).
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Principais nomes:
● Agostinho J.S. Lima (RJ, 1922): tanatologia.
● Raymundo Nina Rodrigues (BA, 1930): pesquisa científica, tornando a medicina legal uma
ciência acadêmica no BR.
● Oscar Freire de Carvalho (SP, 1930).

A Medicina Legal é aplicável a diversas disciplinas.


● Criminal: homicídio, lesão corporal, crimes contra a dignidade sexual, aborto, infanticídio,
inimputabilidade.
● Civil: capacidade civil, investigação de paternidade.
● Trabalhista (infortunística forense): acidentes de trabalho, concessão de adicionais de
insalubridade e periculosidade.
● Previdenciária: concessão de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez.
● Penitenciária: psicologia do detento em diversos pontos como no livramento condicional e
psicossexualidade das prisões.
● Processual: perícias, tratamento psicológico de vítimas e testemunhas.

De acordo com Hélio Gomes a Medicina Legal propriamente dita é dividida em três grupos,
tomando em consideração o indivíduo:

1. O indivíduo em relação a si próprio – identidade, capacidade e responsabilidade e psicologia da prova,


através da Antropologia Forense, da Psicologia Forense e da Psicologia Judiciária;
2. O indivíduo em relação ao meio – fatos referentes à vida, em que encontramos a Sexologia Forense,
subdividida em razão do casamento (Himeneologia), da procriação (Obstetrícia Forense) e do amor
(Erotologia Forense); fatos referentes à morte, destacando os traumas e acidentes do trabalho
(Traumatologia Forense e Infortunística), asfixias (Asfixiologia Forense), envenenamentos (Toxicologia
Forense) e, por final, a morte em si (Tanatologia Forense);
3. O indivíduo em relação às decisões dos juízes e tribunais – no tocante aos problemas médico-legais e em
referência às investigações policiais, emergindo daí a Jurisprudência Médico-legal e a Polícia Técnica
(Policiologia).
Caiu em prova Delegado AL/2023! No que diz respeito à medicina legal, julgue o item seguinte. De acordo
com a divisão clássica da medicina legal, considera-se o indivíduo em relação a si próprio, o indivíduo em
relação ao meio e o indivíduo em relação às decisões dos juízes e tribunais. (Item correto).

2. SUBDIVISÕES DA MEDICINA LEGAL

(A) PATOLOGIA FORENSE - estuda a TRAUMATOLOGIA FORENSE e a TANATOLOGIA


● Traumatologia forense - estuda as energias vulnerantes, seus mecanismos de ação e suas
consequências.
● Tanatologia – estuda a morte, sua causa jurídica e os fenômenos cadavéricos.

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(B) TOXICOLOGIA FORENSE - tem por objeto de estudo as substâncias tóxicas, seus efeitos sobre o ser
humano, seu mecanismo de ação, seu modo de detecção em casos concretos e o esclarecimento de
aspectos de repercussão jurídica.

(C) ANTROPOLOGIA FORENSE - estuda os restos mortais com objetivo de esclarecer sua identidade,
causa de morte e ascendência.

(D) SEXOLOGIA FORENSE - abrange aspectos relacionados com o diagnóstico de virgindade, violência
sexual, gravidez, puerpério, aborto e problemas médicos legais relativos ao casamento.

(E) PSIQUIATRIA FORENSE - tem por finalidade a avaliação da responsabilidade penal e a capacidade
civil, que podem estar alteradas em função de distúrbios mentais. Nela são abordados os aspectos
médico-legais da embriaguez e as toxicomanias.

3. PERÍCIAS E PERITOS

3.1. Perícia

● CONCEITO: O objeto da medicina legal é a perícia médica.


A perícia médico-legal consiste em todo ato médico com o propósito de contribuir com as
autoridades administrativas, policiais ou judiciárias com conhecimentos específicos da área médica.
Genival Veloso de França conceitua a perícia como:

"Define-se PERÍCIA MÉDICO-LEGAL como um conjunto de procedimentos médicos


e técnicos que tem como finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da
justiça. A perícia, segundo seu modo de realizar-se, pode ser sobre o fato a analisar
(peritia percipiendi) ou sobre uma perícia já realizada (peritia deducendi), o que
para alguns constitui-se em um Parecer".

● Perícia percipiendi - é feita logo após o exame de corpo de delito para investigar mais o crime.
● Perícia deducendi - é um parecer, uma análise posterior feita pelo perito em um estágio mais maduro
do processo.
A perícia pode ser definida como todo exame realizado por profissional não-médico com o fim de ser
usado como meio de prova em juízo.
A perícia médico-legal, por sua vez, compreende todos os exames realizados por profissionais da
medicina, tanto na fase administrativa policial, quanto em juízo.

Não se esqueça que a prova pericial é um dos meios de provas admitidos em direito para formar o livre
convencimento do juiz.

Nesse campo, têm-se:


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a) As perícias médicas: psiquiátrica, necroscópica, traumatológica e sexológica;


b) As perícias não médicas: contábil, de engenharia, física, química e a balística;
c) Os exames: podem ser diretos ou indiretos.

▪ Exame DIRETO: é aquele realizado sobre o corpo de delito, que corresponde a qualquer evidência
da prática do crime (materialidade delitiva direta). Todavia, não é sempre que o corpo de delito está
disponível, o que enseja o exame indireto por meio de evidências, testemunhas e vestígios.
▪ Exame INDIRETO: é aquele realizado sobre evidências, testemunhas, vestígios etc.

A perícia possui duas partes:

▪ Parte Objetiva: Relacionada às alterações visíveis encontradas nas lesões e, nos laudos, serão
destacadas na descrição.
▪ Parte Subjetiva: Valoração da parte objetiva. Aqui podem surgir divergências que serão destacadas
na parte de discussão dos laudos.

Caiu em prova Delegado RO/2022! Acerca das perícias e dos peritos, é correto afirmar que os aspectos
objetivos de uma perícia, relacionados às alterações visíveis verificadas por quem procede ao exame, serão
destacados nos respectivos laudos na parte da descrição. (item correto)

● FINALIDADES DA PERÍCIA:
Elenca-se 3 (três) finalidades da perícia:

(1) Retratação: narrativa (percipiendi). O perito analisa a situação e narra em palavras suas percepções.
A descrição dos fatos é feita de forma simples para que leigos entendam a observação técnico-
científica pericial.
(2) Interpretativa: viés científico (deducendi). É a mais comum. O perito fornece o retrato da cena e
suas deduções técnicas. O fato é analisado e interpretado cientificamente pelo perito.
(3) Opinativa: O perito, além de narrar a cena e apresentar suas deduções, expõe de forma conclusiva
sua opinião científica. Vale dizer que o perito não julga, mas apenas apresenta sua opinião.

● MOMENTO DA PERÍCIA:

(1) Retrospectiva: depois da ocorrência do fato. Via de Regra, a perícia será retrospectiva.
(2) Prospectiva: dizendo o que pode vir a acontecer.

● EXAME DE CORPO DE DELITO X CORPO DE DELITO:

▪ O exame do corpo de delito, embora redundante, é o exame que é realizado sobre o corpo de delito.
▪ O corpo de delito é o elemento objetivo que o delito deixou / materialidade delitiva - o próprio crime
tipificado, o local do fato, o instrumento utilizado.
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ATENÇÃO: Cuidado para não confundir corpo da vítima com corpo de delito. Exemplo: em uma cena de
homicídio mediante arma de fogo, a arma utilizada também compõe o corpo de delito.

O corpo de delito, por sua vez, pode ser:


(1) Delicta factis permanentis – com o caráter de ser permanente.
(2) Delicta fatis transeunteis – podendo deixar de existir facilmente.

Não confunda o conceito de corpo de delito com a definição de corpus criminis, corpus
instrumentorium e corpus probatorium. Vejamos:

▪ Corpus Criminis - Toda coisa ou pessoa sob a qual recai a conduta delitiva.
▪ Corpus Instrumentorium – São os instrumentos, objetos e meios utilizados pelo agressor para
cometer a prática delitiva.
▪ Corpus Probatorium – São os vestígios.

O autor Wilson Palermo (sinopse medicina legal) tece algumas considerações importantes sobre a perícia
na literatura médico-legal:

- Pode envolver qualquer aspecto do ser humano.


- Pode ser sobre o fato a analisar (perícia percipiendi), ou seja, aquela procedida sobre fatos cuja avaliação é
feita baseada em alterações ou perturbações produzidas por diversas maneiras, seja pelas energias
causadoras de danos, seja por doenças. É vista sob uma ótica qualitativa e quantitativa.
- Pode ser sobre uma perícia já analisada (perícia deducendi). É feita sobre fatos pretéritos com relação aos
quais possa existir discordância das partes ou do julgador.
- A finalidade da perícia é produzir a prova, que nada mais é do que a materialização do fato.
- No Processo Penal, como regra, o laudo médico-legal não é documento sigiloso. Porém, a depender do caso
concreto, pode ser decreto segredo de justiça.
- Pode ser realizada em vivos, cadáveres, esqueletos, animais e nos objetos. Sobre a importância de cada um:

→ Nos vivos: diagnóstico de lesões, determinação de idade e sexo.


→ Nos mortos: diagnóstico da causa de morte, causa jurídica da morte, tempo da morte, identificação de
cadáver.
→ Nos esqueletos: identificação do sexo e tempo de morte.
→ Nos objetos: exames de armas, projéteis, procura por sangue, fluídos, impressões digitais, etc.

O art. 158 do CPP exige exame pericial nos corpos que deixam vestígios, não podendo supri-lo a
confissão do acusado.

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Art. 158, CPP. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de
corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito
quando se tratar de crime que envolva:
I - violência doméstica e familiar contra mulher;
II - Violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.

Caiu em prova Delegado BA/2022! Sobre o corpo de delito, perícia e peritos, analise a afirmativa: O exame
de corpo de delito é obrigatório para a tipificação das infrações que deixam vestígios. (item correto).

ATENÇÃO! O CPP foi alterado pelo Pacote Anticrime e passou a prever o procedimento acerca da cadeia de
custódia. Apesar de não seja tema afeto à medicina legal, a LEITURA DOS ARTIGOS É IMPRESCINDÍVEL pois
o objeto da cadeia de custódia são as evidências angariadas no exame pericial.

A partir do momento em que uma prova é coletada ou uma evidência é apreendida, ela deve ser
custodiada (guardada) e todo esse caminho deve ser documentado exatamente para que não haja nenhuma
dúvida quanto à lisura e legalidade da prova.
Nessa esteira, pode-se definir a CADEIA DE CUSTÓDIA como o procedimento de documentar a
história cronológica da evidência. Esse procedimento visa a garantir o rastreamento das evidências utilizadas
em processos judiciais, registrar quem teve acesso ou realizou o manuseio desta evidência.
Portanto, vale a leitura dos artigos relacionados à cadeia de custódia previstos no CPP. Eem destaque:

Art. 158-A, CPP. Considera-se CADEIA DE CUSTÓDIA o conjunto de todos os


procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do
vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e
manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte.
§ 1º O INÍCIO DA CADEIA DE CUSTÓDIA dá-se com a preservação do local de crime
ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência
de vestígio.
§ 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse
para a produção da prova pericial fica responsável por sua preservação.
§ 3º VESTÍGIO é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou
recolhido, que se relaciona à infração penal.

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas


seguintes etapas:

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ESQUEMATIZANDO:
1 - RECONHECIMENTO: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a produção da
prova pericial;
2 - ISOLAMENTO: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o ambiente
imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime;
3 - FIXAÇÃO: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no corpo de
delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou croqui,
sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo perito responsável pelo atendimento;
4 - COLETA: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando suas
características e natureza;
5 - ACONDICIONAMENTO: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de forma
individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, para posterior análise,
com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o acondicionamento;
6 - TRANSPORTE: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições adequadas
(embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de suas
características originais, bem como o controle de sua posse;
8 - PROCESSAMENTO: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a metodologia
adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado desejado, que
deverá ser formalizado em laudo produzido por
7 - RECEBIMENTO: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser documentado com, no
mínimo, informações referentes ao número de procedimento e unidade de polícia judiciária relacionada,
local de origem, nome de quem transportou o vestígio, código de rastreamento, natureza do exame, tipo
do vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu;
9 - ARMAZENAMENTO: procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do material a ser
processado, guardado para realização de contraperícia, descartado ou transportado, com vinculação ao
número do laudo correspondente;
10 – DESCARTE: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação vigente e,
quando pertinente, mediante autorização judicial.

Obs. Segundo o autor Wilson Palermo, embora a lei tenha previsto sequencialidade, deve-se se ater a
critérios lógicos, entendendo que é possível que as etapas de reconhecimento e isolamento podem ser
invertidas. O doutrinador ainda ressalta que embora a lei tenha previsto sequencialidade, deve-se se ater a
critérios lógicos; ele entende que são possíveis pequenas inversões, desde que não comprometa a
integridade e não se perca a história do vestígio, obedecendo o princípio da eficiência.

O art. 161, do CPP estabelece que o exame de corpo de delito possui lugar e hora, devendo ser
realizado o quanto antes. A exceção fica a cargo da necropsia que deve ser realizada após 6 (seis) horas da
morte no caso de ser fundamental para apurar os sinais de morte (art. 162, CPP).

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Art. 161, CPP. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a
qualquer hora.

Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os
peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes
daquele prazo, o que declararão no auto.

Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo
do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões
externas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de
exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante.

Por que há esse período de 6 horas após a morte?


Na medicina legal há um período chamado Período de Incerteza de Tourdes que será visto na
matéria afeta a Cronotanatognose (diagnóstico do tempo de morte), estudando os fenômenos cadavéricos
– transformativos, destrutivos, etc. – não aparecem ao mesmo tempo, pois a morte é um processo, e não
um instante. Logo, deve-se ter cuidado em esperar o tempo de 06 horas para a realização de quaisquer
exames.

EXCEÇÕES - Não será necessário aguardar o período de 6 horas quando se tratar de:

● MORTE VIOLENTA - Veremos em Tanatologia que a morte violenta é a morte causada por problemas
externos, ou seja, tem origem por ação externa (“vindas de fora”) nas quais se incluem o homicídio,
o suicídio e o acidente).
● LESÕES EXTERNAS PERMITIREM PRECISAR A CAUSA DA MORTE - Quando o cadáver apresentar sinais
inconfundíveis, como decapitação (cabeça separada do corpo), espostejamento ferroviário (secção
das partes do corpo fora das articulações em decorrência de acidente de trem).

OBS.1: Comentário do art. 162 à luz da medicina legal


● Uma necropsia é constituída de exame interno e externo de um cadáver. Com isso temos que o
parágrafo único do art. 162 não está dispensando a realização da necropsia, isso porque, nos
casos de morte violenta ou suspeita, a necropsia é obrigatória. O dispositivo dispensa tão
somente o exame interno, já o exame externo - que faz parte do exame cadavérico – deve ser
realizado.
● Para a medicina legal deve-se sempre questionar a aplicabilidade prática deste dispositivo. Sendo
assim quando em provas aparecer a literalidade da lei, considerar a alternativa como correta.
Agora, se o examinador trouxer um caso concreto e questionar a aplicabilidade do dispositivo, o
candidato deve desconfiar da possiblidade de aplicação. Isso porque, toda doutrina médico legal
questiona a aplicabilidade desse dispositivo de lei, pois há situações que só poderão ser de fato
compreendidas com exames internos, mesmo que estes sejam dispensados por lei.

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O exame pode, ainda, ser complementado por nova perícia após 30 (trinta) dias para verificar a
existência de sequelas, nos termos do art. 168, CPP. Isso se revela de suma importância, pois a ausência de
eventual perícia complementar serve tanto para desclassificar a lesão, quanto resultar na absolvição por
falta de materialidade delitiva (art. 386, II, CPP)

Art. 168, CPP. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido
incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da
autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público,
do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.
§ 1º No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito,
a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.
§ 2º Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I,
do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da
data do crime.
§ 3º A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.

3.2. Peritos

De acordo com o artigo 159 do Código de Processo Penal, com redação dada pela Lei n.º 11.689/08,
para ser perito é necessário que o profissional tenha nível superior, sendo que o curso superior não o vincula
necessariamente à área de atuação.
Depois de designado pela autoridade competente ele presta seus serviços de conhecimento à justiça
ou à polícia sobre fatos, pessoas ou coisas.

Art. 159, CPP. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por
perito oficial, portador de diploma de curso superior.

a) Oficial: Para a conceituação duas leis merecem destaque: a Lei n.o 11.690/08 (que reformou o CPP) e a
Lei n.o 12.030/09 (que dispõe sobre as perícias de natureza criminal). Essa lei traz autonomia técnica,
científica e funcional no exercício da carreira de Perito Oficial.

Art. 1o - Esta Lei estabelece normas gerais para as perícias oficiais de natureza
criminal.
Art. 2o - No exercício da atividade de perícia oficial de natureza criminal, é
assegurado autonomia técnica, científica e funcional, exigido concurso público,
com formação acadêmica específica, para o provimento do cargo de perito oficial.
Art. 3o - Em razão do exercício das atividades de perícia oficial de natureza criminal,
os peritos de natureza criminal estão sujeitos a regime especial de trabalho,
observada a legislação específica de cada ente a que se encontrem vinculados.
Art. 5o - Observado o disposto na legislação específica de cada ente a que o perito
se encontra vinculado, são peritos de natureza criminal os peritos criminais,
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peritos médico-legistas e peritos odontolegistas com formação superior


específica detalhada em regulamento, de acordo com a necessidade de cada órgão
e por área de atuação profissional.

O Perito Oficial compõe os quadros do Estado, seu ingresso se dá mediante concurso público, são
investidos, portanto, por lei e podem ser perito criminal com formação de curso superior em qualquer
espécie; perito médico legista com formação em medicina; perito odontolegista com formação em
odontologia.

OBS.1: Em alguns Estados o Perito Criminal é Policial Civil, como, por exemplo, em Minas Gerais e Rio de
Janeiro. Em outros, a Superintendência da Perícia está vinculada diretamente a Secretária de Estado de
Segurança, como, por exemplo, a Perícia Científica do Paraná.
OBS.2: As Superintendências de Perícia Técnico-Científica, estejam ou não vinculadas à Polícia Civil, se
subdividem em três institutos: médico legal, de criminalística e de identificação.

Embora não seja tema atinente à medicina legal, para provas de Delegado de Polícia, é importante
ficar atento ao julgado proferido pelo STF:

O exame de corpo de delito deve ser realizado por perito oficial (art. 159 do CPP). Do
ponto de vista estritamente formal, o perito papiloscopista não se encontra previsto
no art. 5º da Lei n.o 12.030/2009, que lista os peritos oficiais de natureza criminal.
Apesar disso, a perícia realizada por perito papiloscopista não pode ser considerada
prova ilícita nem deve ser excluída do processo. Os peritos papiloscopistas são
integrantes de órgão público oficial do Estado com diversas atribuições legais, sendo
considerados órgão auxiliar da Justiça. Não deve ser mantida decisão que determinava
que, quando o réu fosse levado ao Plenário do Júri, o juiz-presidente deveria esclarecer
aos jurados que os papiloscopistas – que realizaram o laudo pericial – não são peritos
oficiais. Esse esclarecimento retiraria a neutralidade do conselho de sentença. Isso
porque, para o jurado leigo, a afirmação, pelo juiz, no sentido de que o laudo não é
oficial equivale a tachar de ilícita a prova nele contida. Assim, cabe às partes, respeitado
o contraditório e a ampla defesa, durante o julgamento pelo tribunal do júri, defender
a validade do documento ou impugná-lo. STF. 1ª Turma. HC 174400 AgR/DF, rel. orig.
Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 24/9/2019.
(Info 953)

b) Não Oficial ou Juramentado: Trata-se de pessoa idônea nomeada na falta de Perito Oficial, portadora de
diploma de curso superior, preferencialmente, na área específica.
Devem prestar juramento de bem e fielmente desempenhar o encargo (arts. 159, §§1° e 2° do CPP).

Art. 159, CPP. (...)

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DOCUMENTOS MÉDICO LEGAIS

§ 1° Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas,
portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica,
dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do
exame. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 2° Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente
desempenhar o encargo. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

OBS.3: Prazo para entrega do laudo. Em regra, o prazo para a entrega do laudo é de dez dias (art. 160, p. ú.,
CPP). Contudo, existem situações excepcionais: (i) art. 50, §1°, da Lei n.° 11.343/06, estabelece que para
autuação da prisão em flagrante, o Delegado deve requisitar a elaboração do laudo preliminar; (ii) exame
complementar da lesão corporal (art. 129, §1°, CP) será realizado em trinta dias após a data do fato; (iii)
exame de sanidade mental em que o prazo é de 45 dias.

OBS.4: O Assistente Técnico é o perito de confiança contratado pela parte para atuação no processo. Por
isso, não há que se falar em imparcialidade do assistente técnico em razão da relação de confiança com a
parte. Além disso, essa figura foi introduzida com a reforma de 2008. É exigido curso superior e sua atuação
tem por objetivo confrontar o laudo pericial confeccionado pelo Perito Oficial. A indicação é facultada as
partes: Ministério Público, ofendido, querelante, acusado e assistente de acusação (art. 159, §3° do CPP).
Contudo, a admissão só pode ser em fase judicial e, após, a elaboração dos laudos do perito oficial. Essa
admissão é sujeita ao crivo do Magistrado e é irrecorrível (art. 273 do CPP). Esse assistente técnico se
manifesta de duas formas, a saber, através de parecer ou depoimento. Além disso, o assistente técnico pode
ter acesso ao material probatório, desde que requerido pelas partes, sendo o exame realizado nas
dependências do órgão oficial e na presença de um perito oficial.

ASSISTENTE TÉCNICO PERITOS


Auxilia as partes. Auxilia o juízo.
Atua apenas na fase processual. Atua tanto na fase processual quanto na fase
investigatória.
Indicado pela parte e admitido pelo juiz. Perito ad hoc é nomeado pelo juiz.

Não é funcionário público, não exerce múnus Perito oficial é funcionário público
público. Perito ad hoc exerce múnus público.
Sem imparcialidade. Com imparcialidade.

Caiu em prova Delegado AL/2023! Acerca da atuação profissional no exame de corpo de delito, julgue o item
subsequente, à luz do disposto no Código de Processo Penal. O assistente técnico atuará a partir de sua
admissão pelo membro do Ministério Público e durante a realização dos exames. (Item incorreto). De acordo
com CPP - Art. 159 § 4º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos
exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.

CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES:

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Questão – Qual o número de peritos necessário para realizar a perícia técnica e confeccionar um laudo? Se
perito oficial basta um a partir da reforma promovida pela Lei n.° 11.690/08, pois antes eram exigidos dois
Peritos Oficiais. Se Perito Não Oficial: são exigidos dois (art. 159, §1°, do CPP).

ANTES DA REFORMA DE 2008 APÓS A REFORMA DE 2008

Basta 1 perito oficial, mas nas perícias complexas é


2 peritos oficiais possível a nomeação de mais de 1 perito oficial.
2 peritos nomeados, ad hoc.

EXCEÇÃO: Na lei de drogas, o laudo provisório pode ser firmado por apenas 1 perito oficial ou, na falta
deste, por pessoa idônea.

Art. 50, Lei n.° 11.340/06. (...) § 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em
flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de
constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na
falta deste, por pessoa idônea.

Questão – E se houver divergência entre os peritos? Em regra, para cada área é nomeado um perito. Porém,
há a possibilidade de perícia complexa a depender do caso concreto que envolva mais de uma área e,
consequentemente, uma pluralidade de peritos. Ocorrendo divergência entre eles, no auto do exame serão
constadas as respostas em separado ou cada um redigirá seu laudo, cabendo ao juiz nomear um terceiro
perito. Se este divergir de ambos, a autoridade poderá determinar a realização de novo exame com outros
peritos

Art. 180, CPP. Se houver divergência entre OS PERITOS, serão consignadas no auto
do exame as declarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá
separadamente o seu laudo, e a autoridade nomeará um terceiro; se este divergir
de ambos, a autoridade poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos

ATENÇÃO: O juiz NÃO FICARÁ ADSTRITO AO LAUDO, podendo ACEITÁ-LO ou REJEITÁ-LO, NO TODO ou EM
PARTE (art. 182, CPP).

DICA DE PROVA – É comum o examinador inserir nas alternativas que os peritos nomeados não podem
divergir no exame, devendo estes concordar com os achados periciais e assim emitir laudo único. (item
errado). É sim possível a divergência entre peritos nomeados, porque a perícia é um ato médico, portanto, é
ato de autonomia do perito.

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Questão – E os peritos que ingressaram antes das alterações legislativas e que não possuem curso
superior? Continuam a atuar nas suas respectivas áreas, salvo os peritos médicos legistas que estão
impedidos de atuar, exigindo o curso superior de medicina.

Questão – As partes podem intervir na nomeação do perito? As partes não intervirão na nomeação do perito
(art. 276 do CPP).

Questão – O perito nomeado pode se recusar? O perito nomeado é obrigado a aceitar, salvo motivo
justificado, estando, inclusive, sujeito a multa nas seguintes situações: não atendimento a intimação ou ao
chamado; não comparecimento no dia e hora designados; não entregar o laudo.

Art. 277, CPP. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o
encargo, sob pena de multa de cem a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível.
Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada
imediatamente:
a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade;
b) não comparecer no dia e local designados para o exame;
c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos
estabelecidos.

Questão – É possível a condução coercitiva do perito?


Sim, é possível, conforme o art. 278 do CPP.

Questão – Impedimento e suspeição: os impedimentos do art. 279 do CPP são específicos para o perito
nomeado.
Art. 279, CPP. Não poderão ser peritos:
I - os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos ns. I e IV do art.
69 do Código Penal (leia-se art. 47, I e II, do CP);
II - os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente
sobre o objeto da perícia;
III - os analfabetos e os menores de 21 anos.

Além disso, é possível ser alegada a suspeição do perito (art. 280 do CPP).

Art. 280, CPP. É extensivo aos peritos, no que lhes for aplicável, o disposto sobre
suspeição dos juízes.

3.3. Crime de Falsa Perícia

O perito presta o depoimento oral. Ao prestar seu depoimento, ele o faz sob pena de falsa perícia,
inclusive se silenciar sobre algo que deveria declarar, conforme o supracitado art. 342, CP.
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Ele deve ser intimado a comparecer com 5 (cinco) dias de antecedência da data de realização da
audiência e sua ausência importa em condução coercitiva
Cumpre destacar que, para fins penais no exercício da função, os peritos privados nomeados são
considerados funcionários públicos, conforme o art. 327, CP.

Falso testemunho ou falsa perícia


Art. 342, CP. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha,
perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo,
inquérito policial, ou em juízo arbitral
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1° As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado
mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir
efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da
administração pública
§ 2° O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu
o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.

4. INFORTUNÍSTICA

É o ramo da Medicina legal que cuida dos infortúnios do trabalho, estuda os acidentes do trabalho,
as doenças profissionais e as doenças do trabalho.

Acidente do trabalho (Lei 8213, art. 19): Ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa
ou de empregador doméstico, ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11
da Lei n° 8213, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou
redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

Considera-se também acidente do trabalho a doença profissional e a doença do trabalho (Lei n°


8213, art. 20, inc. I e II).

✔ Doença profissional (ou tecnopatia) - é a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho


peculiar a determinada atividade, constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do
Trabalho e da Previdência Social. Resulta em sequelas permanentes com redução da capacidade de
trabalho (Decreto no 3.048/99, art. 104, que regulamenta a Lei no 9.732, de 11/11/1998). Apresenta
uma síndrome típica encontrada em outros trabalhadores de mesma situação, com instalação lenta
e gradual, tendo como causa um fator conhecido.

Exemplos:
– saturnismo – intoxicação pelo chumbo (Pb) que ocorre em trabalhadores da mineração, da
indústria automobilística e naval, assim como em pessoas que podem intoxicar por fragmentos de
chumbo de projéteis alojados no corpo;
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– silicose – doença pulmonar pela sílica em trabalhadores da mineração.

Doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições


especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione (constante da relação do Ministério do
Trabalho).

É a chamada mesopatia, doença indiretamente profissional, que também se instala de forma lenta e gradual,
mas difere da doença profissional por não apresentar um risco específico, surgindo devido a certas condições
biológicas do indivíduo, não tendo o trabalho em si um significado fundamental na sua existência.
Tem-se como exemplo a LER / DORT, conjunto de perturbações que atinge os músculos, tendões e nervos
decorrentes do excesso de uso do sistema osteomuscular no trabalho.

Não são consideradas como doença do trabalho (Lei 8213, art. 20, § 1º):
a) a doença degenerativa;
b) a inerente a grupo etário;
c) a que não produza incapacidade laborativa;
d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo
comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.

✔ Equiparam-se ao acidente do trabalho (Lei n° 8213, art. 21):

I – acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja
contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua
capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a
sua recuperação;
II – acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em
consequência de:
a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou
companheiro de trabalho;
b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada
ao trabalho;
c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de
companheiro de trabalho;
d) ato de pessoa privada do uso da razão;
e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de
força maior;
doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de
sua atividade;
III – acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho:
a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;

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b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo


ou proporcionar proveito;
c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por
esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra,
independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de
propriedade do segurado;
d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer
que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.
§ 1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação
de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o
empregado é considerado no exercício do trabalho.
§ 2º Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão
que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às
consequências do anterior.

O acidente do trabalho deverá ser caracterizado administrativamente pelo setor de benefícios do


INSS, que estabelece o nexo entre o trabalho exercido e o acidente. Já a Perícia Médica do INSS estabelece
tecnicamente o nexo entre a doença e a lesão, entre a doença e o trabalho e entre a causa mortis e o
acidente.

Teoria do risco - Qualquer trabalho, por mais simples que seja, traz sempre consigo um risco próprio
independente de culpa. É risco profissional inerente ao próprio trabalho, não importando se houve culpa do
patrão, do operário, de terceiros ou outras causas. O acidente é inevitável, sendo os interesses e prejuízos
tanto do patrão, que fica sem a mão de obra, como do operário que, apesar de não deixar de ganhar, o que
recebe não satisfaz suas necessidades.

O risco profissional pode ser:


✔ genérico – é o que incide sobre todas as pessoas, quaisquer que sejam suas atividades ou
ocupações;
✔ específico – é aquele a que está sujeito determinado operário em função da própria natureza
do trabalho que executa; decorre da ação direta do trabalho, dos instrumentos ou meios
utilizados no seu exercício;
✔ genérico agravado – é aquele a que está sujeito o empregado, em virtude de circunstâncias
especiais do trabalho ou das condições em que este o realiza.

Elementos que caracterizam o acidente do trabalho:

a) lesão pessoal – decorrente do trabalho, causada por qualquer energia externa, violenta, involuntária, no
exercício do trabalho, ou por doenças profissionais ou por certas condições de tempo e lugar em que o
trabalho e exercido (doenças das condições do trabalho).

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b) incapacidade para o trabalho – pode ser:


• temporária – afasta o indivíduo do trabalho por período inferior a 1 ano.
• parcial e permanente – reduz atividade laborativa por toda a vida, mesmo com a consolidação das
lesões;
• total e permanente – é a invalidez, que reduz a capacidade do indivíduo para qualquer atividade
ou ocupação.
• incapacidade total e definitiva – morte.
c) nexo de causalidade – vinculando a lesão ao acidente, à doença profissional ou à doença do trabalho;
d) existência de determinadas condições de tempo e lugar.

Considera-se como dia do acidente, no caso de doença profissional ou do trabalho, valendo para esse
efeito o que ocorrer primeiro:

• a data do início da incapacidade laborativa para o exercício da atividade habitual; ou


• o dia da segregação compulsória; ou
• o dia em que for realizado o diagnóstico.

As concausas preexistentes e supervenientes não descaracterizam o acidente de trabalho no que diz respeito
ao amparo legal.

Consideram-se também inclusas nos benefícios as doenças anteriores que sejam agravadas pelo trabalho.
Não constitui agravação ou complicação de acidente do trabalho a doença que seja resultante de outro
acidente e se associe ou se superponha às consequências do anterior.

É necessária avaliação objetiva, afastando-se alegações inverídicas do examinado.

Avaliação médico-legal: Não raras vezes as pessoas simulam quadros de doença de trabalho para conseguir
benefícios trabalhistas. São casos de fraude:

● Simulação – o paciente alega situações inexistentes, geralmente sinais e sintomas falsos, subjetivos,
como dores, paralisias, surdez, anestesias, ou fenômenos objetivos como hérnias, tumores, afecções
cutâneas, sem nexo de causa e efeito, ou até ferimentos atribuídos a acidentes, mas produzidos por
futebol ou outras atividades recreativas do domingo (acidentados da segunda-feira). O objetivo é
obter resultado favorável aos próprios interesses: licenças médicas, aposentadorias, seguros,
inimputabilidade penal etc.

ATENÇÃO! Não se pode confundir com transtornos mentais:


– simulação – o paciente tem consciência dos sintomas falsos e da motivação que o leva a agir de maneira
enganosa.

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– transtorno fáctico – a intenção de referir sintomas falsos é igual, mas há um desejo inconsciente de assumir
uma doença, como ocorre na síndrome de Münchausen, na qual o paciente pode até praticar autoflagelação,
conseguir ser internado e operado, ou transformar seus filhos menores em vítimas de seu transtorno.
– transtornos dissociativo e conversivo – o paciente não tem consciência dos sintomas, nem interesse ou
percepção de suas motivações, podendo apresentar sintomas de perda da audição, da visão, da voz, dos
movimentos e da sensibilidade e, em casos raros, crises convulsivas.

● Metassimulação – as consequências do acidente existem, mas são inferiores ao que o paciente alega,
isto é, há exagero de sinais e sintomas existentes.
● Dissimulação – é a simulação negativa, onde o paciente apresenta-se como normal, ou seja, simula
não ter sintomas para obter vantagens com a volta ao trabalho.

Deve desconfiar o médico perito diante de comportamento exagerado, atitude teatral, número
exagerado de sintomas, confirmação indiscriminada de sintomas sugeridos, alegações de alucinações
auditivas e visuais durante o exame. O sintoma mais referido é a dor, que é um fenômeno físico-psíquico. O
exame pericial da dor deve considerar vários fatores:

– sexo – as mulheres suportam mais as dores;


– idade – os jovens são mais sensíveis;
– trabalho e fadiga – potencializam a dor;
– perturbações mentais – podem até abolir a sensação dolorosa;
– destros – lado direito mais doloroso pela inervação mais acentuada no plano muscular mais
desenvolvido.

Pesquisa dos chamados sinais da dor:

• Sinal de Müller: Aponta-se o ponto doloroso dentro de um círculo na região onde a dor é referida.
A seguir, mantendo-se o indivíduo de olhos vendados, comprime-se com o dedo um ponto que não
seja sensível à dor e, na sequência, passa-se rapidamente a comprimir o ponto doloroso. No caso de
simulação, o paciente não percebe a mudança.
• Sinal de Levi: Solicita ao paciente que olhe à distância e se faz compressão no local referido como
doloroso. Quando a dor existe, verificam-se contrações e dilatações das pupilas.
• Sinal de Imbert: É usado na simulação dolorosa dos membros. Coloca-se o paciente em repouso e
contam-se as pulsações. Em seguida, manda-se que ele fique apoiado na perna ou que segure um
peso com o braço apontados como dolorosos. Quando a dor alegada é real, há um aumento das
pulsações. Para não se afirmar aquilo que inexiste ou negar uma existência real de dano, pode-se
utilizar a imagem térmica infravermelha de alta resolução (termografia, teletermografia ou
termometria), capaz de contribuir de maneira objetiva no diagnóstico da dor. É o único meio
conhecido de registrar objetivamente a fisiologia por imagem da alteração ou lesão de nervos e de
tecidos moles, pois possibilita registro de irritação ou lesão de nervos indicando que algo está

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DOCUMENTOS MÉDICO LEGAIS

anormal. Note-se que imagem infravermelha não identifica o fenômeno dor nem mostra sua
intensidade, mas apenas permite demonstrar uma perturbação fisiológica capaz de explicá-la.

#DICA DD: Contudo, como não se pode assegurar com certeza que alguém sente ou não dor, pela diferença
entre as pessoas, a imagem infravermelha deve ser utilizada complementando outros exames.

5. DOCUMENTOS MÉDICO LEGAIS

Documento médico-legal é a anotação que tem por objetivo reproduzir e representar uma
manifestação do pensamento, baseada em critérios médico-legais. São instrumentos através dos quais o
médico fornece esclarecimentos à justiça. Constam todas as informações, de conteúdo médico ou não, que
tenham interesse judicial.
São documentos médico-legais os relatórios, os pareceres, os atestados, as notificações compulsórias
e os depoimentos orais.

Conceitos e peculiaridades:
1) Relatório médico-legal: Subdivide-se em (i) auto - ditado diretamente ao escrivão; (ii) e laudo -
redigido pelos peritos.
2) Parecer;
3) Atestado;
4) Notificação compulsória;
5) Depoimento oral.

5.1. Relatórios (Laudos e Autos)

O relatório médico-legal é o documento mais minucioso. A narração escrita de todas as operações


de uma perícia médica determinada por autoridade policial ou judiciária.
Quando ditado a um escrivão durante o exame, chama-se AUTO.
Se redigido depois de terminada a perícia, deve ser chamado de LAUDO.

Caiu em prova Delegado SC/2024! No dia 04/11/2023, Adelaide procurou a Delegacia da Mulher da Cidade
de Xanxerê para registrar ocorrência de lesão corporal praticada no contexto de violência doméstica e
familiar contra a mulher, haja vista que parte do seu dedo indicador da mão direita foi necrosada em virtude
de uma agressão praticada por Jonas, seu companheiro. Por ocasião de seu atendimento, foi encaminhada
para o Instituto Médico-Legal (IML) que abrange a região, para a realização dos procedimentos periciais
pertinentes. Nesse sentido, levando-se em consideração a atuação do perito nos diversos ramos do Direito,
bem como a manifestação daqueles através dos documentos médico-legais, é correto afirmar que a perícia
a ser realizada no IML é o exame de corpo de delito, através do perito médico-legista, que irá detalhar as
lesões existentes mediante descrição objetiva, cujo resultado será materializado por meio do relatório
médico-legal. (item correto).

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DOCUMENTOS MÉDICO LEGAIS

Caiu em prova Delegado ES/2022! Chama-se de auto o relatório que é ditado diretamente ao escrivão e
diante de testemunhas. (item correto)

Caiu em prova Delegado PF/2013! O laudo pericial, na classificação de documentos médico-legais, se


enquadra como atestado. (item incorreto) Como vimos, laudo é uma das formas de relatório.

Caiu em prova Delegado SP/2021! A diferença entre laudo e auto médico-legal é que o primeiro é escrito e
o segundo é ditado a um escrivão perante testemunhas. (item correto)

Caiu em prova Delegado AL/2023! Em relação aos tipos de documentos utilizados na perícia bem como aos
métodos de identificação policial ou judiciária, julgue os itens que se seguem. Denomina-se parecer o
relatório redigido por um dos peritos logo após o exame de corpo de delito. (item incorreto) A resposta
correta é Laudo.

O relatório pode ser dividido em 7 partes:


i. Preâmbulo;
ii. Quesitos;
iii. Histórico;
iv. Descrição;
v. Discussão;
vi. Conclusão; e
vii. Resposta aos quesitos.

(i) PREÂMBULO:
É um tipo de introdução na qual constam:
▪ A qualificação da autoridade solicitante;
▪ A qualificação do perito;
▪ A qualificação do examinado;
▪ O local onde é feito o exame;
▪ A data e a hora;
▪ O tipo de perícia a ser feita.

(ii) QUESITOS:
Segundo o autor Hygino Hercules, esta parte é constituída de perguntas que têm por finalidade a
caracterização de fatos relevantes.

(iii) HISTÓRICO/COMEMORATIVO:
Contém o registro dos fatos mais importantes que deram origem à requisição.
O autor Hygino Hercules assevera que tais informações são obtidas através da anamnese do próprio
examinando.
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Em se tratando de autópsia, é preciso não esquecer que os dados da guia de remoção cadavérica
devem ser transcritos, não endossados. A parte do histórico é de extrema importância para orientar o perito
na realização do exame, pois pode fornecer dados relevantes a respeito da dinâmica do evento.

(iv) DESCRIÇÃO:
É a parte mais importante do relatório médico-legal, porque é nele que o perito coloca em pratica o
“visum et repertum”, (ver e reportar). Os peritos deverão expor todas as particularidades que a lesão
apresenta, devendo ser claro e objetivo. Ex.: A evolução das lesões pelo processo inflamatório faz com que
os aspectos se modifiquem. Nas lesões em cadáveres, os processos de decomposição modificam seu
aspecto. Logo, o melhor momento para a boa descrição é o primeiro exame.

(v) DISCUSSÃO:
É destinada a serem discutidas todas as hipóteses eventualmente elencadas quando da descrição.
Se não houver contradições aparentes, pode não ser necessária. Contudo, quando surge alguma
discrepância é imperiosa.
Os achados têm que ser analisados sob novos ângulos, tentando encontrar uma explicação para as
diferenças. Podem ser formuladas hipóteses diferentes, por vezes envolvendo a necessidade de estudos mais
detalhados e exames complementares. É importante destacar que nessa parte do relatório o perito deve
tomar cuidado para não emitir juízo pessoal. *é mais comum nos pareceres médicos legais, que são respostas
ás consultas médico-legais, onde há espaço para que os peritos se manifestem sobre pontos controvertidos*

(vi) CONCLUSÃO:
É a síntese da parte descritiva com a de discussão.
Terminadas a descrição e a discussão, se houver, o perito assume uma posição quanto à ocorrência,
ou não, do fato com base nas informações do histórico, nos achados do exame objetivo e no seu confronto.
As conclusões podem ser afirmativas ou negativas.

(vii) RESPOSTA AOS QUESITOS:


Encerrado o relatório, os peritos devem responder aos quesitos de forma objetiva e concisa.
Em caso de dúvida, os peritos devem responder que não têm dados para esclarecê-la.
Terminado o relatório, o perito deve assiná-lo. A data do exame pode constar do preâmbulo, estar
no início da descrição, ou ser colocada antes das assinaturas finais.

OBS.1: Consulta médico-legal - é um documento que exprime a dúvida e no qual a autoridade, ou mesmo
um outro perito, solicita esclarecimento sobre pontos controvertidos do relatório, em geral formulando
quesitos complementares.

Vamos esquematizar?

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Espécie de introdução. Consta data, hora, local, nome, qualificação do examinado,


PREÂMBULO
qualificação dos peritos...
QUESITOS São as perguntas que os técnicos irão responder, de forma afirmativa ou negativa.
HISTÓRICO OU
Relato dos fatos ocorridos, por informações colhidas do interessado ou de terceiros.
COMEMORATIVO
É a parte mais importante do relatório (já caiu em prova várias vezes), pois descreve o
DESCRIÇÃO (VISUM
perito descreve minuciosamente o que encontrou no exame. (EXAMES MÉDICOS,
ET REPERTUM)
CLÍNICOS...).
As lesões encontradas são analisadas cientificamente e comparadas com os dados
DISCUSSÃO
históricos, gerando a formulação de hipóteses
CONCLUSÃO O perito toma uma postura após o diagnóstico, juízo de valor.
A finalidade é estabelecer a existência de um fato típico ou não. Ao encerrar o relatório,
RESPOSTA AOS os peritos devem responder de forma sucinta e convincente SIM ou NÃO de acordo
QUESITOS com o achado constante na descrição. Se por motivo justo não tiver certeza, pode
responder “sem elementos ou prejudicado”.

Caiu em prova Delegado ES/2022! A perícia se diferencia da prova testemunhal, porque o perito não se limita
à descrição minuciosa dos fatos, mas também emite um juízo de valor. (item correto)

5.2. Parecer Médico-Legal

Consiste em respostas técnicas dadas às consultas médico-legais. Devem ter as mesmas partes do
relatório médico-legais com exceção a descrição. Quando uma consulta médico-legal envolve divergências
importantes quanto à interpretação dos achados de uma perícia, de modo a impedir uma orientação correta
dos julgadores, estes, ou qualquer das partes interessadas, podem solicitar esclarecimentos a uma instituição
ou a um perito. O documento gerado por esse tipo de consulta recebe o nome de PARECER.
Assim, o parecer médico legal consiste no documento utilizado para dirimir divergências na
interpretação de uma perícia, sendo solicitado a uma pessoa de renome. Geralmente, é um documento
particular solicitado pela parte. Possui valor de prova técnica, a ser estimada de maneira relativa pelo juiz.
É usado:
▪ Quando há divergências importantes quanto à interpretação dos achados de uma perícia, de modo a
impedir uma orientação correta dos julgadores, ou
▪ Quando estes querem solicitar esclarecimentos mais aprofundados a uma instituição cujo corpo
técnico tem competência inquestionável, ou a um perito ou professor cuja autoridade na matéria seja
reconhecida.
Segundo Fávero, um parecer consta de:
▪ Preâmbulo;
▪ Exposição;
▪ Discussão; e

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▪ Conclusão.

#DICA DE PROVA: é muito comum tentarem confundir as partes do relatório com as partes do parecer!
Tomem cuidado, ok?
ATENÇÃO: NO PARECER NÃO HÁ DESCRIÇÃO!

PARECER RELATÓRIO
Produzido em momento posterior ao Produzido no momento do exame de corpo de
exame de corpo de delito (exame indireto). delito (exame direto).
Possui 6 elementos (ou 4 a depender da doutrina) Possui 7 elementos - há descrição.
– não há descrição.
Elementos mais importantes: discussão e Elemento mais importante: descrição.
conclusão.

5.3 Atestado

O Atestado é uma afirmação pura e simples, por escrito, de um fato médico e suas consequências,
ou de um estado de sanidade. O documento não exige o compromisso legal, mas não significa que o médico
não esteja obrigado a relatar a verdade. A sua falsidade enseja o crime do art. 302 do CP: Falsidade de
Atestado Médico.
Trata-se de documento particular e dotado de fé pública.

#DICA DD: É comum ser cobrado em provas da seguinte forma:


“Atestado é um documento público apenas emitido por peritos oficiais”. (item incorreto)
Como visto, trata-se de um documento particular, sendo ainda considerado o mais simples da Medicina Legal
dentre o rol dos documentos médico-legais, haja vista exigir menos requisitos para sua elaboração, podendo
ser elaborado por qualquer médico no exercício da medicina.

5.3.1 Tipos de Atestados

Os atestados podem ser


a) Oficiosos;
b) Administrativos; ou
c) Judiciários.

a) Oficiosos — são os atestados solicitados por quaisquer pessoas a cujo interesse atendam. Visam
exclusivamente ao interesse privado. São por exemplo, os atestados de saúde para admissão, etc.
b) Administrativos — são os determinados pelas autoridades administrativas. São dessa categoria os
que os empregados/servidores públicos são obrigados a apresentar quando solicitam licença ou

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requerem a aposentadoria, atestados de vacinação ou atestados de sanidade física e mental para


admissão em escolas e repartição pública.
c) Judiciários – são os atestados requisitados por juiz. O exemplo comum são aqueles com que os
jurados justificam suas faltas ao tribunal do júri. Só os atestados que interessam à justiça constituem
documentos médico-legais.

Vamos esquematizar?

ATESTADOS
OFICIOSOS ADMINISTRATIVOS JUDICIÁRIOS
Fazem provas ou justificativas Solicitado para o Serviço Público, Requisitados pelo juiz, por
mais simples, como ausência às para efeito de licenças, interesse da administração da
aulas e provas. É solicitado pelo aposentadoria, abono de faltas, Justiça (ex: para justificar uma
paciente, para atender interesses concurso público, etc. É solicitado falta em uma audiência, um
particulares. por autoridade administrativa. depoimento, etc.).

Caiu em prova Delegado AL/2023! Em relação aos tipos de documentos utilizados na perícia bem como aos
métodos de identificação policial ou judiciária, julgue os itens que se seguem. Classifica-se como oficioso o
atestado médico apresentado por um agente de polícia a seu superior hierárquico, por solicitação da
administração pública, no qual conste o código internacional de doença (CID). (item incorreto). É um
atestado administrativo.

Caiu em prova Delegado BA/2013! Quando solicitado por autoridade competente, o relatório do médico
legista acerca de exame feito em vestígio relacionado a ato delituoso recebe a denominação de atestado
médico. (item incorreto)

ATENÇÃO: Relatórios e atestados possuem o mesmo valor probante, diferenciando-se por tratarem de
assuntos diferentes.

Caiu em prova Delegado AL/2012! O atestado médico é a afirmação do profissional acerca do fato
examinado, já o laudo é o relatório emitido pelo perito, que pode ser o perito médico legista. Nesse caso,
trata-se do laudo pericial médico-legal. (item correto)

5.3.2 Classificação quanto ao modo de fazer ou conteúdo, os atestados podem ser:

a) Idôneos — É aquele expedido pelo profissional habilitado e verdadeiro.


b) Complacentes/De favor — Feito para agradar o cliente, para, por exemplo, ampliar a clientela. Além
de ferir a ética, pode configurar um atestado falso.
c) Imprudente – Emitido de forma descuidada, sem a realização dos devidos exames.

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d) Falsos – É o que afirma uma inverdade, omite a verdade, ou é emitido sem exame do paciente.
Configura o crime de falsidade de atestado médico (art. 302, CP) e, no caso de atestado de óbito, o
crime de falsidade ideológica em documento público (art. 299, CP).

5.3.3 Atestado de óbito

O médico que fornece o atestado de óbito, devendo observar as normas legais para tanto.
Primeiramente, é preciso fazer uma diferenciação quanto aos tipos de morte:

MORTE NATURAL MORTE VIOLENTA MORTE SUSPEITA


Doença ou envelhecimento Entende-se por violenta a morte Morte suspeita é aquela cuja
não natural decorrente da ação causa jurídica precisa ser
No caso de morte natural, em de energias externas. Pode esclarecida.
regra, o médico que acompanha assumir a forma de:
o paciente tem o dever de ⦁ Acidente; Na morte suspeita, não há sinais
atestar o óbito. ⦁ Suicídio; de violência, mas também não
Caso o médico não tenha ⦁ Crime. há certeza de que tenha sido
assistido o paciente, ele fica Nesses casos, o corpo será morte natural.
impedido de preencher a encaminhado ao IML e a
declaração. autópsia é obrigatória.

Caiu em prova Delegado GO/2013! A respeito dos documentos médico-legais, tem-se o seguinte:
A) relatório médico somente poderá ser elaborado por médico legista.
B) laudo e auto são documentos idênticos.
C) o atestado de óbito poderá ser assinado por profissional não médico.
D) notificação é uma comunicação feita pelo médico ao delegado de polícia sobre um fato relevante na
investigação.
Gabarito: Letra C.

Vale aqui comentar toda a questão:


A) ERRADO. O relatório é o documento que relata a perícia. Em regra, a perícia médico-legal é elaborada por
um perito oficial, que é médico legista. Contudo, na falta deste, a perícia poderá ser realizada por 2 peritos
não-oficiais, o que significa dizer que o relatório pode ser elaborado por quem não é médico legista. Art. 159,
§ 1º, CPP Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de
diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica
relacionada com a natureza do exame. (Redação dada pela Lei n.° 11.690, de 2008)
B) ERRADO. Os relatórios se dividem em autos e laudos. Delton Croce aduz que: “Se o relatório é ditado
diretamente ao escrivão, na presença de testemunhas, chamar-se-á auto, e, se redigido posteriormente
pelos peritos, ou seja, após suas investigações e consultas ou não a tratados especializados, recebe o nome
de laudo”.
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C) CORRETO. É permitido que 2 pessoas, que tiverem presenciado ou verificado o óbito, atestem o óbito, se
não houver médico na localidade do óbito. Delton Croce esclarece que "será permitido o sepultamento do
cadáver sem o atestado de óbito, por inexistência de médico no lugar, o qual, conforme o art. 77 da Lei n.°
6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos), é suprido pelo testemunho de duas pessoas
qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a morte. E o art. 83 estabelece que, “Quando o assento
for posterior ao enterro, faltando atestado de médico ou de duas pessoas qualificadas, assinarão, com a que
fizer a declaração, duas testemunhas que tiverem assistido ao falecimento ou ao funeral e puderem atestar,
por conhecimento próprio ou por informação que tiverem colhido, a identidade do cadáver”".
D) ERRADO. Notificação é uma comunicação de um fato por necessidade social ou sanitária. Ex.: doenças
infecto-contagiosas.

OBS.1: O atestado de óbito fetal não é obrigatório se o feto contar com:


▪ Menos de 500 gramas;
▪ Menos de 25 centímetros;
▪ Menos que 20 semanas.

Resolução nº 1.779/06 do Conselho Federal de Medicina:

a) Prematuras/precoce: o médico não emitirá declaração de óbito tratando-se de um feto prematuro.


· Feto com menos de: 500 gramas, ou 25 cm, ou cinco meses de gestação (20 semanas).
b) Intermediárias: o médico terá que emitir a declaração de óbito.
· Feto com: entre 500 e 1000 gramas, ou de entre 25 e 35 cm, ou até seis meses (20 até 27 semanas)
de gestação.
c) Tardias: o médico terá que emitir a declaração de óbito.
· Feto com mais de: 1000 gramas, ou mais de 35 cm, ou seis meses de gestação, acima de 27 semanas.

O autor Hygino de C. Hercules explica que “a obrigatoriedade recai sobre as perdas fetais tardias
(acima de 28 semanas, acima de 1000 g e acima de 35 cm). As perdas precoces e as intermediárias são
consideradas aborto e o médico não está obrigado a fazer a declaração de óbito. Contudo, a OMS recomenda
que sejam preenchidas voluntariamente para que as informações possam ser aproveitadas na confecção das
tabelas de mortalidade, com fins sanitários e estatísticos.”

Questão - É possível revelar o diagnóstico do atestado? O diagnóstico só poderá ser revelado em um


atestado se tiver a autorização do paciente, ainda que esse diagnóstico seja dado na forma do CID
(Classificação Internacional de Doenças). Portanto, o profissional médico não se exime de possíveis
responsabilidades (ex.: crime de violação de segredo profissional), caso alegue que mesmo diante da não
autorização do paciente, colocou o diagnóstico em forma de CID. Isso porque, é possível que a doença seja
descoberta com uma simples busca na relação de classificação por qualquer um por meio da internet por
exemplo.

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5.3.4 Notificação Compulsória

São comunicações compulsórias feitas pelos médicos às autoridades competentes, por razões sociais
ou sanitárias. Caso o médico (apenas para o médico) deixe de fazer a comunicação, estará enquadrado no
crime de omissão de notificação de doença:

Art. 269, CP. Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja
notificação é compulsória.

Situações que ensejam notificação compulsória:


▪ Doenças ou agravos, que constam da Portaria 104 do Ministério da Saúde;
▪ Ação penal pública incondicionada cujo conhecimento deu-se em função do exercício da medicina;

* Lembrando que agora todos os crimes contra a dignidade sexual são crimes de ação penal pública
incondicionada, de modo que o médico deverá notificar a autoridade responsável para apurar o caso.

ATENÇÃO! Médico não pode acionar a polícia para investigar paciente que procurou atendimento médico-
hospitalar por ter praticado manobras abortivas, uma vez que se mostra como confidente necessário,
estando proibido de revelar segredo do qual tem conhecimento, bem como de depor a respeito do fato
como testemunha. STJ. 6ª Turma. HC 783927/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 14/3/2023
(Info 767).

▪ Lesão ou morte causada por atuação de não médico;


▪ Esterilizações cirúrgicas;
▪ Diagnóstico de morte encefálica;
▪ Tortura;
▪ Violência contra a mulher e maus-tratos contra criança, adolescente ou idoso.

5.4. Depoimentos Orais

São os esclarecimentos dados pelo perito, acerca do relatório apresentado, perante o júri ou em
audiência de instrução e julgamento.
O depoimento oral deriva da oitiva do perito em juízo, com valor probatório de prova técnica, e não
testemunhal. Dessa forma, quando o perito é chamado a falar em juízo sobre alguma divergência, ele atua
na condição de perito, e não de testemunha.
É de suma importância deixar claro, desde já, que a atuação do perito se limita à análise dos vestígios
do crime, enquanto a atuação da autoridade policial deve conduzir a sua atuação para alcançar indícios do
crime. O vestígio é material; enquanto o indício é subjetivo.
O perito não afirmará que houve um estupro, ele relatará que há indícios de conjunção carnal. Porém,
como sabemos, o estupro exige o dissenso da vítima. Nesse caso, cabe ao Delegado de Polícia buscar
elementos que o possibilitem afirmar que houve não só a conjunção carnal, mas também o constrangimento.
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Ou seja, a autoridade deverá colher indícios de que a atuação do agente foi criminosa, forçada, contra a
vontade da vítima.
Em caso de fatos obscuros ou conflitantes em um relatório de uma perícia, o magistrado pode adotar
3 medidas:
(i) Nomear um parecerista – produção de um parecer.
(ii) Intimar o perito para responder a quesitos suplementares – produção de um laudo suplementar.
(iii) Intimar o perito para prestar esclarecimentos em audiência – depoimento oral.

5.5 Prontuários

Conjunto de documentos padronizados e ordenados, onde são registrados todos os cuidados


profissionais prestados ao paciente em instituições de saúde ou consultórios.
Trata-se de um documento histórico que não se resume apenas ao registro da anamnese do paciente.
É criado por interesses médicos, mas pode produzir relevantes efeitos jurídicos. Pertence ao
paciente, cabendo ao médico e à instituição à qual ele se vincula apenas o dever de guarda.

ATENÇÃO! Divergência quanto a possibilidade de requisição pelo delegado de polícia.

Parecer CFM 315/2015: o prontuário possui informações protegidas de forma absoluta por reserva de
jurisdição, não sendo cabível a sua disponibilização mediante requisição do delegado, não obstante o
disposto no art. 2°, §2°, da Lei n.° 12.830/13, isso porque, o sigilo profissional é uma garantia constitucional
e, portanto, de reserva absoluta de jurisdição.

Enunciado nº 13, do II Encontro Nacional de Delegados de Polícia (2015): o poder requisitório do delegado
abarca o prontuário médico que interesse à investigação policial, não estando albergado por cláusula de
reserva de jurisdição, sendo dever do médico ou gestor de saúde atender à ordem no prazo fixado, sob pena
de responsabilização criminal por crime de desobediência, visto que a Resolução é norma infralegal,
enquanto o poder requisitório tem fundamento em lei federal.

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