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A UNIFICAÇÃO DA ITÁLIA
A PENÍSULA ITÁLICA NA ERA DAS REVOLUÇÕES, 1789 - 1848
Com a Revolução francesa, a partir de 1789, o quadro institucional europeu
sofreu profundas mudanças. A “velha ordem” foi em boa medida destruída pelos novos preceitos ideológicos, constitucionais e políticos. Os habitantes dos reinos italianos conheceram essa nova fase em 1796-97, quando Napoleão Bonaparte levou seus exércitos para o norte da península. Com uma série de vitórias e a expulsão dos até então predominante austríacos. Napoleão introduziu novas mudanças na cartografia italiana, as áreas mais próximas da França, como Piemonte e Gênova foram anexadas e governadas diretamente de Paris. A partir de 1815, houve um colapso no sistema e a tentativa de restauração da velha ordem. As conquistas napoleônicas introduziram no campo administrativo por toda a Europa, alguns dos preceitos mais caro da Revolução Francesa, com investidas contra os privilégios feudais, da nobreza e do clero, princípios de organização e eficiência baseados no mérito e no serviço militar obrigatório. Mesmo com resistências populares a alguns desses princípios, sobretudo o serviço militar, e a derrota de Napoleão, o novo modelo de Estado tornou-se dominante na Europa. Para todos os Estados europeus essas mudanças foram importantes e ajudaram a preparar o terreno para a semente nacionalista. Os exércitos revolucionários, mesmo derrotados espalharam pela Europa não apenas os ideais de “liberdade, igualdade e fraternidade” mas também os princípios de liberalismo, autogoverno e nacionalismo.
AS REVOLTAS NACIONALISTAS DE 1848 NA ITÁLIA
Na primeira metade do século XIX, a península itálica continuava, em boa
medida no mesmo quadro de fragmentação e divisão que havia caracterizado nos séculos anteriores. Em termos políticos, houve restauração r reformatação da situação pré-napoleônica. O sul da Itália foi reunido no Reino das Duas Sicílias, com um rei da família Bourbon, províncias: Emília Romanha, Roma, Marcas e Úmbria. O império austríaco conseguiu reafirmar sua posição dominante no norte e no centro da península. O Vêtano e a Lombardia foram anexado ao império, enquanto vários pequenos ducados da Itália Central (Parma, Lucca, Módena, Toscana) foram entregues a nobres da casa real Habsburgo. Poetas e escritores discorriam sobre a unidade italiana, produzindo livros, ainda que sob perspectivas muitos diversas, sobre a história do povo italiano, como Carlo Troya (1784 – 1858), Vincenzo Gioberti (1801-1852) e Cesere Balbo (1789-1853). Também surgiu, nesses anos, publicações como Archivio Storico Italiano (1842), destinada a compor uma História nacional e associações como a Societá Nazionale Italiana, de Giorgio Pallavicino (1857) que procuravam articular os que lutavam pela unidade italiana. Sociedades secretas também foram criadas para discutir a opressão e a unidade da Itália. A mais famosa foi a dos CARBORARI, assim chamada, segundo algumas versões, porque seus membros se disfarçavam, às vezes de carvoeiros. Foi criada por Filippo Bounarrotti, já no final do século XVIII, para combater os Bourbon no sul e defendia a República e a união da Itália contra o despotismo. Revoltas populares também aconteceram em várias partes da Itália, em algumas delas seu motor era o sentimento nacionalista. A revolta de 1848 em Milão foi especialmente importante, ainda que sufocada pelos exércitos austríacos. A revolta de 1848 representa a manifestação em território italiano de um nacionalismo típico da primeira metade do século XIX europeu, ou seja, associava luta pela nacionalidade com a defesa da democracia e de direitos sociais e políticos, em território italiano. No processo de criação de um Estado independente italiano (o que é chamado em italiano, de risorgimento ou seja, ressurgimento) as motivações dos estadistas piemonteses e dos que apoiavam eram mais ideológicas e culturais do que econômicas. A economia do Estado piemontês estava muita mais voltada à França e os países germânicos do que ao restante da península, e a própria economia dos outros Estados italianos, em especial os do sul, era fraca demais para estimular a cobiça da burguesia piemontesa por um Estado unificado. Em compensação, a ideia de que a Itália devia ser unificada em torno de um Estado único, liberal e moderno era muito forte em boa parte das elites italianas e cresceu de modo acentuado no decorrer do século XIX. Uma análise de três dos mais importantes personagens do processo de unificação da Itália, permite compreender os diversos nacionalismos que estavam em disputa e a luta que se estabeleceu entre eles para definir quais seriam os contornos do novo Estado e da nova nacionalidade que se pretendia criar. GIUSEPPE MAZZINI (1805 – 1872) Foi um dos grandes defensores da ideia de uma Itália unificada e republicana. Ele foi o fundador do grupo Giovane Italia ( Jovem Itália) e participou ativamente nas lutas pela unificação italiana no século XIX. Mazzini estava determinado a expulsar os austríacos e unificar a Itália, mas eram moderados em termos sociais, defendendo a propriedade privada e destetando o socialismo. Ele tinha também uma visão internacional da problemática nacionalistas, desejando que os patriotas de todos os países se levantassem contra o jugo da tirania e do despotismo. CAMILO BENSO, Conde Cavour (1810 – 1861) identificava o nacionalismo com liberalismo e o progresso. Cavour era um nobre e homem de negócios piemontês que, por quase a década de 1850, graças ao apoio da casa de Savóia, soberana do país, esteve na direção do governo do Reino do Piemonte. Defensor de princípios liberais e moderados, modernizou a economia e a sociedade, dando-lhe uma Constituição e promovendo valores burguês. Sua grande meta era unificar a Itália em torno da família Savóia, tornando o novo reino um prolongamento do Piemonte. Cavour via com desconfiança a participação popular nesse processo, em decorrência da revolta de 1848 em Milão. Cavour considerava que a construção da Itália seria, acima de tudo, uma obra de estadistas e militares. GIUSEPPE GARIBALDI (1807 – 1882), oriundo da camada mais baixa da sociedade, compartilhava ao menos de algumas das ideias de Mazzini e defendia o regime republicano ou, no mínimo que fosse o povo a escolher a forma de governo da nova Itália. Em 1848 participou ativamente das lutas pela independência, incluindo a efêmera tentativa de criação de uma República romana em 1849. Garibaldi resolveu lançar uma política de fato consumado para obrigar o Piemonte a anexar o sul e, em maio de 1860 uma expedição por ele organizado na ligúria desembarcou na Sicília e, em poucos meses, com o apoio popular, liberou do domínio dos Bourbon toda a Itália meridional, com exceção da Roma. Trechos do território que hoje é italiano ainda demorariam para ser incorporados à Itália, como Vêneto em 1866, Roma 1870 e Trento e a Venezia-Giulia, ocupados apenas em 1918. O Estado italiano foi formalmente construído em 1860, tendo sido proclamado oficialmente em 1861.