Relato de Experiencia Da Atuacao Do Nutricionista

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COMUNICAÇÃO | COMMUNICATION

Relato de experiência da atuação


do nutricionista em Residência
Multiprofissional em Saúde

Experience report of dietitians


working in multidisciplinary
health residency

Claudia Cristina ALVES 1,2


Maria Carolina NETTO 2
Ana Paula Geraldo de SOUSA2
Macarena Urrestarazu DEVINCENZI 2,3

RESUMO

Residências Multiprofissionais em Saúde constituem uma estratégia de formação de recursos humanos para o
Sistema Único de Saúde. Ainda que sejam implementadas as necessárias mudanças curriculares nas graduações
em saúde, há que se considerar essa modalidade como uma oportunidade de educação permanente. O presente
artigo propõe apresentar um relato de experiência da atuação de nutricionistas em um Programa de Residência
Multiprofissional em Saúde, enfatizando as potencialidades e os desafios de um fazer coletivo em equipe multi-
profissional tanto no âmbito da atenção primária quanto no da atenção terciária à saúde, nas linhas de cuidado
do adulto e do idoso, da mulher e do recém-nascido, da criança e na saúde mental. A elevada carga horária, a
diversidade de cenários e a complexidade das situações vivenciadas na Residência preparam o profissional para
os desafios de sua futura atuação no Sistema Único de Saúde.
Palavras-chave: Educação de pós-graduação. Nutrição. Recursos humanos. Sistema Único de Saúde.

ABSTRACT

Multidisciplinary health residencies constitute a human resource training strategy for the Unified Health Care
System. Even if the necessary curricular changes are implemented in health undergraduate programs, this
modality has to be considered an opportunity for ongoing education. The present article proposes to present

1
Universidade Federal de São Paulo, Curso de Nutrição, Departamento de Biociências. R. Silva Jardim, 136, Campus Baixada
Santista, 11015-020, Santos, SP, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: CC ALVES. E-mail: <[email protected]>.
2
Universidade Federal de São Paulo, Programa de Residência Multiprofissional em Atenção à Saúde. Santos, SP, Brasil.
3
Universidade Federal de São Paulo, Curso de Nutrição, Departamento de Gestão e Cuidados em Saúde. Santos, SP, Brasil.

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a dietitians’ report of their experience working in a multidisciplinary health residency program, emphasizing
the potentialities and challenges of collective work in a multidisciplinary team, both in primary and tertiary
health cares, in caring for adults, older adults, women, newborns, children, and individuals with mental health
problems. The high working time, scenario diversity, and complexity of the situations seen during the residency
prepare the professional for their future work at the Unified Health Care System.
Keywords: Education, graduate. Nutrition. Human resources. Unified Health System.

INTRODUÇÃO aproximar o ensino da gestão em saúde, o que


por si só já constitui inegável inovação na formu-
Frente à nova configuração da atenção à
lação de políticas para formação de trabalhadores
saúde e atuação em equipe, o Sistema Único de
do e para o SUS1.
Saúde (SUS), responsável pela qualificação dos
recursos humanos, desenvolveu, através do Mi- No processo de formação do residente, a
nistério da Saúde e do Ministério da Educação, população, o controle social, a equipe da unidade,
os programas de Residência Multiprofissional e as escolas do bairro, enfim, todos os envolvidos
em área Profissional em Saúde. As Residências são convidados a pensar e a produzir espaços de
visam a formação de recursos humanos qualifi- saúde e qualidade de vida. Essas experiências
cados para a reorganização assistencial da saúde demonstram o quão produtivos os lugares podem
proposta pelo SUS1. se tornar quando devidamente estimulados. São
histórias de pessoas que pensam o cuidado como
O Ministério da Saúde vem apoiando Resi-
algo complexo e possível de ser realizado com
dências Multiprofissionais em Saúde desde 2002.
integralidade, que demonstram como se tem tra-
O estabelecimento de financiamento regular para
balhado de forma dinâmica na prática dos serviços
esse tipo de programa no Brasil e o investimento
para promover a solução dos problemas de saúde
na sua potencialidade pedagógica e política tem
de forma transdisciplinar e intersetorial, aten-
por objetivo possibilitar tanto a formação de pro-
tando às questões socioeconômicas, culturais,
fissionais quanto contribuir com a mudança do
ecológicas e religiosas1.
desenho tecnoassistencial do SUS1.
Os Programas de Residência Multi- Atualmente, sabe-se que a abordagem ali-
profissional em Saúde constituem uma pós- mentar e nutricional ganha relevância e está
-graduação lato sensu oferecida às categorias associada à melhoria do perfil epidemiológico da
profissionais que se relacionam com a saúde, com população, levando a diminuição dos gastos com
exceção da médica, caracterizada essencialmente saúde pelo Estado. Isso indica a notória necessida-
por educação em serviço. Trata-se de uma forma- de de ampliar a formação para o cuidado alimen-
ção que acontece em dedicação exclusiva, com tar e nutricional da população. Nesse sentido,
carga horária total de 5.760 horas, sendo que Santos et al.4 verificaram que a experiência de
4.608 horas são práticas (80%) e 1.152, teóricas inserção do nutricionista por meio da Residência
ou teórico-práticas (20%)2,3. Multiprofissional em Saúde da Família oportu-
A intrínseca característica da interdiscipli- nizou vivências práticas, ampliando conhecimen-
naridade confere caráter inovador aos programas tos, habilidades e atitudes suficientes para atuar
de Residência Multiprofissional em Saúde, visando na diversidade das demandas sociais, econômicas,
a formação coletiva inserida no mesmo campo políticas e educativas no contexto das comuni-
de trabalho sem, no entanto, deixar de priorizar dades e do SUS.
e respeitar os núcleos específicos de saberes de Entende-se, assim, a necessidade de pro-
cada profissão. Os diversos lugares os quais cons- dução de conhecimento e divulgação das expe-
truíram esses programas, o fizeram procurando riências na área, visto que esse novo modelo de

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fazer em saúde vem se consolidando gradativa- desenvolvem-se na atenção primária e terciária


mente. Considera-se, ainda, a potencialidade da em saúde nas seguintes linhas de cuidado: saúde
Residência Multiprofissional em Saúde para rom- do adulto e do idoso; saúde da mulher e do recém-
per com os paradigmas existentes em relação à -nascido; saúde da criança e do adolescente; e
formação de profissionais para o SUS, bem como saúde mental6.
em contribuir para qualificar a atenção que os O Programa firmou parceria com o Hospi-
serviços de saúde locais necessitam ofertar às suas tal Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de
comunidades. Essa necessidade tem sido apon- Santos e com a Secretaria Municipal de Saúde da
tada recentemente na área de nutrição em estudo cidade. Ambos viabilizaram cenários de prática
desenvolvido por Aguiar & Costa5 com nutri- aos residentes e funcionários como preceptores,
cionistas de Núcleos de Apoio à Saúde da Famí- constituindo pilares imprescindíveis da proposta
lia do estado de Goiás. Os profissionais manifes- de preparo de profissionais de saúde para o tra-
taram que sua formação acadêmica não as pre- balho em equipe na perspectiva da integralidade
parou para esse tipo de atuação. Entretanto, ainda no cuidado e da contínua relação com as políticas
que sejam implementadas as necessárias mudan- de saúde locorregionais, interligando o ensino e
ças curriculares nas graduações em saúde, há que o serviço6.
se considerar a Residência em Saúde como uma
A carga horária semanal de 60 horas foi
oportunidade de formação continuada.
dividida ao longo da semana, sendo que de se-
Dessa forma, o presente artigo propõe gunda a quinta-feira aconteciam as atividades
apresentar um relato de experiência da atuação práticas nos cenários de atuação e, na sexta-feira,
de nutricionistas em um Programa de Residência as atividades teóricas na Unifesp, ambas das 7h
Multiprofissional em Saúde. A partir disso, busca às 19h. Com relação a estas últimas, as mesmas
enfatizar as potencialidades e os desafios de um eram divididas em discussões de casos, aulas mul-
fazer coletivo em equipe multiprofissional tanto tiprofissionais e encontros mensais com tutores
no âmbito da atenção primária quanto no da específicos de cada profissão.
atenção terciária à saúde.
No programa, em uma atividade de exten-
são da Unifesp, Campus Baixada Santista, parti-
Residência Multiprofissional em cipavam tutores e docentes os quais acompanha-
Atenção à Saúde vam os aspectos acadêmicos da formação, bem
como realizavam supervisões nos cenários de
Com a finalidade de formar um profis- serviço. Segundo a Resolução nº 2 de 13 de abril
sional de saúde capaz de colocar o saber espe- de 2012 da Comissão Nacional de Residência
cífico na direção de um saber compartilhado e Multiprofissional em Saúde, a função de tutor ca-
que, não abrindo mão da sua formação, possa racteriza-se por atividade de orientação acadê-
estar atento às diferenças, aos movimentos de mica de preceptores e residentes, estruturada pre-
inclusão e ao interprofissionalismo em todos os ferencialmente nas modalidades de tutoria de
níveis de atenção à saúde junto a indivíduos, fa- núcleo e tutoria de campo. A tutoria de núcleo
mílias e redes sociais, a Universidade Federal de corresponde à atividade de orientação acadêmica
São Paulo, Campus Baixada Santista (Unifesp), voltada à discussão das atividades teóricas,
implantou, em 2010, o Programa de Residência teórico-práticas e práticas do núcleo específico
Multiprofissional em Atenção à Saúde. Esse pro- profissional; já a tutoria de campo corresponde à
grama assumiu como eixo transversal a “Atenção atividade de orientação acadêmica voltada para
à saúde do indivíduo, família e sua rede social” e a discussão das atividades teóricas, teórico-práticas
oito eixos perpendiculares (áreas profissionais). e práticas desenvolvidas pelos preceptores e
Tanto o eixo transversal quanto os perpendiculares residentes no âmbito do campo de conhecimento,

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integrando os núcleos de saberes e práticas das e Orla). Importante destacar que as UBS indicadas
diferentes profissões que compõem a área de con- pela Secretaria Municipal de Saúde de Santos para
centração do programa, nesse caso, a saúde serem cenários das atividades práticas do Pro-
coletiva. grama de Residência funcionavam até as 21h,
Dessa forma, os tutores de campo dedi- sendo possível, portanto, cumprir a carga horária
cavam quatro horas, ou seja, um período na se- diária necessária. Já a atenção terciária ocorria
mana, para a supervisão das práticas nos serviços na Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de
junto à equipe multiprofissional de residentes e Santos, sendo este o Hospital de referência para
preceptores, sendo que havia tutores da atenção a Baixada Santista e região do Vale do Ribeira.
básica e da área hospitalar. Os tutores de núcleo No primeiro mês do Programa, havia um
eram os responsáveis pelos encontros específicos período de integração e aulas teóricas multipro-
com os residentes de cada área profissional, os fissionais na Unifesp, apresentando temas rela-
quais aconteciam uma vez por semana, também cionados ao SUS, território, trabalho em equipe,
com duração de quatro horas, para discussão visitas domiciliárias, estratégias de grupos, pro-
teórica específica. jetos terapêuticos singulares, entre outros. Essa
A multiprofissionalidade desenvolvida integração tinha como finalidade que os residen-
nesse programa de Residência articulava as áreas tes se conhecessem, além de envolver os tutores
de Educação Física (a partir de 2012), Enferma- e preceptores do programa em diferentes mo-
gem, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia, Serviço So- mentos, visando uma aproximação inicial. Após
cial e Terapia Ocupacional. Anualmente, ofertavam- esse período, era realizado um sorteio entre os
-se 14 vagas, distribuídas nas sete profissões, 14 profissionais para dividi-los em duas equipes
sendo que, para a prática nos cenários, os resi- (uma para cada cenário de atuação) e, depois de
dentes eram agrupados em duas equipes multi- 10 meses de atuação, ocorria a troca de equipes
profissionais com um representante de cada área. nos cenários. Eram promovidos encontros mensais
Entre os anos de 2010 e 2012, foram oferecidas com as duas equipes chamados de “reuniões de
vagas para a área de Farmácia, sendo excluída a integralidade”, visando discutir casos e construir
partir de 2013. linhas de cuidado e visão de rede.

O programa partia dos princípios e dire- A troca de cenário acontecia em um pe-


trizes do SUS, buscando promover uma visão am- ríodo chamado de “transição”, onde os residentes
pliada do processo saúde-doença que convergisse de cada cenário apresentavam o ambiente, equi-
com uma atuação ética e integral. Tudo isso sem pes do serviço, atividades e propostas de trabalho
negligenciar a premissa da multiprofissionalidade realizadas àqueles que lá iniciariam suas ativi-
e da interdisciplinaridade, mantendo o foco tanto dades. A “transição” durava, aproximadamente,
na atenção terciária quanto na atenção primária uma semana no ambiente hospitalar e duas na
à saúde. UBS.

No intuito de vivenciar a experiência de


integralidade da atenção à saúde, havia um pe- Estratégias de atuação na Atenção
ríodo de estágio no nível primário e um no ter- Básica
ciário. Nesses períodos, os residentes podiam
organizar e discutir a referência e a contrarrefe- A política nacional de atenção básica mais
rência de casos na rede de saúde. Assim, o campo recente caracteriza-se por um conjunto de ações,
de prática na atenção primária ocorria em Uni- no âmbito individual e coletivo, que abrange a
dades Básicas de Saúde (UBS) (ao longo dos anos, promoção, a proteção e a manutenção da saúde,
equipes de residentes atuaram nas diferentes a prevenção de agravos, o diagnóstico, o trata-
regiões da cidade: Centro, Morros, Zona Noroeste mento, a reabilitação e a redução de danos com

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o objetivo de desenvolver uma atenção integral psicologia. Outros profissionais, como o fisiote-
que impacte na situação de saúde e autonomia rapeuta e o terapeuta ocupacional, estão inseridos
das pessoas e nos determinantes e condicionantes apenas em outros serviços, na atenção secundária,
dessa situação nas coletividades. Para tanto, prevê como no Ambulatório de Especialidades e na
a utilização de tecnologias de cuidado complexas Seção de Reabilitação e Fisioterapia, por exemplo.
e variadas as quais devem auxiliar no manejo das A necessidade de organizar a equipe de
demandas e necessidades de saúde de maior residentes para dar início aos trabalhos foi o maior
frequência e relevância no território, observando de todos os desafios, afinal as mesmas eram for-
critérios de risco, vulnerabilidade, resiliência e o madas por pessoas diferentes, vindas de locais e
imperativo ético de que toda demanda, neces- formações distintos. Além disso, existia a neces-
sidade de saúde ou sofrimento devem ser acolhi- sidade de comunicação com os profissionais da
dos7. Nesse aspecto, a proposta dos programas própria unidade básica, visando esclarecer a pro-
de Residência, além da formação de profissionais posta de inserção e atuação dos residentes em
recém graduados, é de ser uma política indutora seu ambiente de trabalho. Muitos desentendi-
para educação permanente dos trabalhadores do mentos aconteceram, porém, foram trabalhados
SUS, os quais atuam como preceptores. Estes po- de maneira adequada, sem afetar ou prejudicar
dem, a partir do encontro com os residentes, rever a população atendida.
seus processos de trabalho8.
Em um primeiro momento, o grupo de re-
Nesse sentido, a proposta de atuação e sidentes passou por um período de observação
vivência dos residentes nesse Programa de Resi- para que as intervenções fossem baseadas nas
dência Multiprofissional em Atenção à Saúde da necessidades da população atendida. Nesse sen-
Universidade Federal de São Paulo, Campus Baixa- tido, foram trabalhados os pressupostos da multi-
da Santista (Unifesp), baseou-se, inicialmente, na profissionalidade através de dinâmicas em grupo,
atuação em UBS localizadas em bairros com altos atividades educativas, salas de espera, sensibi-
índices de violência, prostituição, uso e tráfico de lização da equipe e dos usuários, abarcando a
drogas e vulnerabilidade social. Inicialmente comunidade e os profissionais de saúde.
houve certa apreensão por parte dos residentes,
A experiência do nutricionista enquanto
porém após a inserção, foram desenvolvidas for-
residente na atenção básica fez com que repen-
mas de lidar com o contexto, como, por exemplo,
sasse a prática dos profissionais da área de saúde,
deixar o local, sempre que possível, na companhia
a qual deve abranger não apenas o atendimento
dos agentes comunitários de saúde, com identi-
individual, mas buscar formas de atender o cole-
ficação ou uso de jalecos, sempre em duplas ou
tivo. A partir disso, foram proporcionadas trocas
com mais membros da equipe; além disso, foi
de experiências com a comunidade e outros pro-
incentivada a criação de vínculos com os mora-
fissionais através da elaboração de projetos multi-
dores e locais estratégicos da região, como comér-
profissionais, isso porque a demanda de um indi-
cios e outros serviços.
víduo certamente vai além do aspecto nutricional.
Outra dificuldade foi atuar 12 horas por O projeto multiprofissional, baseado no conceito
dia em um serviço onde não existem, diariamente, da clínica ampliada e compartilhada, foi organi-
funcionários de todas as categorias profissionais zado para cada linha de cuidado por meio da
da equipe multiprofissional da residência. Somen- interação entre os vários conhecimentos técnicos
te médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem específicos, almejando a produção de uma so-
e agentes comunitários de saúde trabalham todos lução/proposta de intervenção a qual não poderia
os dias nas unidades onde aconteciam as ativi- ser alcançada pelos profissionais isoladamente8.
dades. Em dias específicos da semana, há o aten- Para o atendimento nutricional, as formas
dimento da assistência social, da nutrição e da de intervenção mais utilizadas foram as atividades

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em grupo, aproximando os profissionais dos dúvidas e demandas individuais das gestantes,


usuários e valendo-se de atendimentos indivi- mas nem sempre era possível responder às ques-
duais, quando necessário. Apesar de terem sido tões durante os encontros. Dessa forma, algumas
desenvolvidas atividades nas diferentes linhas de aproximações individuais foram requisitadas e
cuidado, a nutrição esteve mais presente na área acompanhadas, o que ampliou ainda mais a pos-
materno-infantil. A atuação aconteceu em dois sibilidade de conhecer e contribuir com essa fase
grupos, um de aleitamento materno e outro de da gestação.
gestantes, afetivamente denominado “Unidos por Em vista da devolutiva positiva recebida
cordão e coração”. das participantes, verificada por meio da frequên-
Na chegada à Unidade Básica de Saúde, cia constante nos encontros e da procura espon-
identificou-se, durante o período de observação, tânea pelos profissionais residentes na UBS tanto
a ausência de atividades coletivas destinadas ao nos grupos quanto nos acompanhamentos indivi-
período gestacional, sendo este um dos motivos duais, acredita-se que foi possível compreender
que levou ao direcionamento de maior atenção a as alterações provocadas na vida das gestantes e
esse público. O grupo foi desenvolvido semanal- tentar encontrar conjuntamente caminhos para
mente em dois horários, antes das consultas com que pudessem prosseguir da melhor maneira,
os ginecologistas. No início, houve dificuldades entendendo as dificuldades desse período e re-
para constituí-lo, mas essa não era uma realidade conhecendo aspectos positivos na gravidez, tor-
apenas do grupo de gestantes, vários outros en- nando a ansiedade um sentimento positivo até o
frentam dificuldades até estarem totalmente es- nascimento do bebê.
truturados e obterem adesão satisfatória. Embora Os residentes foram em muito contami-
o início tenha sido conturbado e desafiador, não nados pela ansiedade em conhecer a criança
houve desistência por parte dos residentes e, acompanhada durante a fase gestacional, sendo
assim, as propostas de trabalho continuaram. esta amenizada quando, muitas vezes, as mães
Depois das primeiras semanas, era marcante a traziam seus bebês para a consulta com a pediatra
presença contínua de algumas munícipes o que ou para o grupo de aleitamento materno. Res-
tornou possível, enfim, a consolidação das ativi- salta-se, assim, a importância de dar continuidade
dades com o grupo que, a cada dia, era presti- ao atendimento para que as dúvidas sejam escla-
giado com mais participantes e com o interesse e recidas e para que as gestantes e puérperas conti-
envolvimento das gestantes. nuem encontrando espaços de acolhimento.
Vários grupos aconteceram e muitas de- O grupo de aleitamento materno acon-
mandas foram levantadas. Foram abordados te- tecia às 12h nas segundas-feiras, antes da consul-
mas, como: preparo das mamas; amamentação; ta com o pediatra. O grupo já existia na unidade
relação com os filhos mais novos; tabagismo; tipos e era conduzido pela pediatra, que foi muito re-
de parto; direito das mulheres; alterações corpo- ceptiva e corresponsabilizou os residentes pela
rais na gestação; cuidados com o recém-nascido; condução do mesmo. Os trabalhos foram ini-
suplementação nutricional: a importância do ciados sob livre demanda, sem temas pré-deter-
sulfato ferroso e do ácido fólico; musculatura do minados, com abordagens em aleitamento, nutri-
assoalho pélvico; saúde bucal; alimentação na ção da mãe e do bebê, vínculo entre o bebê e
gestação; puerpério e lactação; mitos e verdades; outros familiares (pai, irmãos etc.), desenvolvi-
sexo na gestação; fases do desenvolvimento fetal; mento neuropsicomotor, estimulação precoce e
e, por fim, a importância das vacinas no período cuidados com o recém-nascido.
gestacional. A cada semana, a equipe de resi- A estimulação do bebê, por exemplo, foi
dentes planejava e estruturava um novo tema a um tema bastante discutido, tendo sido apresen-
ser debatido. Havia o desejo e o esforço em sanar tadas as etapas do desenvolvimento da criança e

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orientações sobre estimulação a partir da constru- aleitamento, sendo acolhidas e valorizadas em seu
ção de um espaço livre e seguro para a criança conhecimento, bem como recebendo suporte
explorar, além de esclarecidas dúvidas com relação para o enfrentamento das dificuldades encon-
ao uso de andadores e a permanência da criança tradas no processo de amamentação.
no carrinho por longos períodos. Vale frisar, ainda, Ao final do período de atuação da resi-
que houve a participação de familiares e com- dência na UBS, observou-se que foram atingidos
panheiros das lactantes em alguns grupos, os os objetivos propostos para esse grupo específico,
quais se interessavam pelas informações discu- no que diz respeito à importância do acom-
tidas e também apontavam questionamentos. A panhamento gestacional, puerperal e do recém-
participação destes no processo de aleitamento -nascido. As ações entraram em congruência com
materno, estimulação e desenvolvimento do bebê as políticas de incentivo ao aleitamento materno
é essencial para compreender a importância em exclusivo do Ministério da Saúde e, por meio
dividir tarefas com a puérpera, não apenas orien- delas, buscou-se chegar mais próximo do usuário
tando, mas, principalmente, dando apoio e aten- e de seu cuidado integral ao longo da trajetória.
ção, essencial no período de amamentação.
Além da linha de cuidado materno-infantil
Durante esse processo, o aleitamento ma- também foram desenvolvidas atividades com a
terno exclusivo até os seis meses de idade foi saúde do adulto e do idoso através de atendimen-
extensamente discutido e preconizado. A manu- tos individuais e em grupos. Já existiam grupos
tenção do aleitamento até os dois anos de idade conduzidos pelos profissionais da unidade básica
ou mais foi igualmente incentivado. Nesse pe- em questão, um com pacientes insulinodepen-
ríodo, as participantes traziam dúvidas, trocavam dentes e outro visando a estimulação à prática
experiências e construíam uma identidade dentro de exercícios físicos. A participação da equipe
do grupo. Muitas vezes, as mulheres eram obser- multiprofissional de residentes permitiu diversi-
vadas compartilhando informações aprendidas ficar a dinâmica e os temas dos grupos.
durante os encontros.
O grupo de pacientes insulinodependentes
Algumas participantes relatavam dificul- (tanto de diabetes mellitus 1 quanto da 2) foi de-
dades na amamentação devido a feridas e racha- senvolvido nos dias de entrega de insumos e medi-
duras nos mamilos e, por meio de conversas, veri- camentos, facilitando a participação da comuni-
ficava-se que a mamada da criança estava quase dade. A nutrição participou diversas vezes, abor-
sempre inadequada, favorecendo as intercor- dando temas como alimentação saudável e índice
rências. Além disso, muitas mães recorriam ao
glicêmico dos alimentos. Foram esclarecidas
uso de pomadas sem orientação médica, o que
muitas dúvidas, especialmente sobre o consumo
prejudicava ainda mais o processo de aleitamento,
de frutas, uma vez que era comum sua restrição
pois, entre outras consequências, esses produtos
por parte dos munícipes devido a orientações
alteram o gosto do leite, contribuindo com a
recebidas de outros profissionais.
recusa por parte do recém-nascido. Algumas das
participantes, que já haviam vivenciado situação No grupo de exercícios físicos, a nutrição
semelhante, repassavam as orientações já adqui- foi abordada com o tema importância da hidra-
ridas em grupos anteriores, como, por exemplo, tação e, em outro momento, foi realizada uma
passar o próprio leite do peito nos mamilos e/ou dinâmica para esclarecer dúvidas, sobre diversos
aréola. assuntos que envolviam alimentação, daqueles
Desde o início da abordagem, houve o que permaneciam na sala de espera da UBS.
cuidado em não culpabilizar as puérperas, caso Uma questão fundamental durante todo
não amamentassem exclusivamente. Foram orien- o processo de trabalho foi o contato com a reali-
tadas, no entanto, com relação à importância do dade social das famílias, observado através de

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visitas domiciliares que, para muitos residentes, de cada unidade de internação, a equipe de resi-
era algo novo, nunca antes vivenciado. Foram dentes elaborava um plano de ações de acordo
observados e atendidos munícipes em situação com as especificidades da enfermaria e atuava
de rua, moradores de cortiços em precárias condi- por cerca de dois meses em cada uma das linhas
ções higiênico-sanitárias, mães com uma média de cuidado. Embora os residentes multipro-
de sete filhos alimentados com um único pacote fissionais atuassem nas unidades de internação,
de macarrão instantâneo, além de mulheres que não eram responsáveis pelos pacientes nelas aten-
se prostituíam para alimentar a família, entre didos; essa responsabilidade era do preceptor de
outras. Todas essas vivências ajudaram a refletir cada área ou de outro profissional do serviço
e amadurecer tanto profissionalmente quanto (preceptor de campo).
pessoalmente. Como havia somente uma equipe de resi-
Para atuar em cenário de tamanha com- dentes multiprofissionais, não foi possível atender
plexidade, a Residência permitiu compor com as todos os pacientes de cada unidade de internação.
estratégias adotadas pela equipe de saúde da Dessa forma, foram estabelecidos critérios para
UBS, especialmente com os agentes comunitários selecionar e acompanhar os pacientes de acordo
de saúde no contato com a comunidade. Também com as características de cada unidade de inter-
aconteceu a participação em reuniões do territó- nação e considerando a proposta de intervenções
rio, envolvendo profissionais de outros setores, voltadas à integralidade. Todos os pacientes aten-
como a assistência social e a educação, e em didos pela equipe de residentes tinham uma dupla
reuniões do conselho local de saúde. Além disso, ou trio de profissionais de referência a fim de
a vivência de trabalho da própria equipe multipro- estabelecer um contato mais próximo no período
fissional de residentes, especialmente com as de internação e a melhor condução das propostas
áreas de terapia ocupacional, psicologia e serviço de intervenção.
social, ampliou as competências e estratégias de Após a seleção do caso, o atendimento
cuidado em saúde na comunidade. tinha início com o acolhimento do paciente e/ou
familiares por uma dupla de residentes, com a
finalidade de conhecer o histórico de vida e pro-
Desafios de atuação no ambiente
cesso saúde-doença para identificação das neces-
hospitalar
sidades. Após entrevista e coleta de informações
As atividades da Residência Multipro- sobre o paciente e familiares, cada caso era dis-
fissional em Atenção à Saúde inseridas no am- cutido por toda a equipe de residentes, junta-
biente hospitalar da Irmandade da Santa Casa mente com alguns dos preceptores, em uma reunião
de Misericórdia de Santos ocorreram nas enfer- diária, para que todos pudessem sugerir inter-
marias que contemplam as linhas de cuidado: venções e participar da construção do Projeto Te-
saúde do adulto e do idoso; da mulher e do recém- rapêutico Singular (PTS).
-nascido; e da criança. Esse hospital é uma insti- O PTS é um conjunto de propostas e con-
tuição filantrópica, bem como um hospital auxiliar dutas terapêuticas articuladas para um indivíduo
de ensino, atendendo tanto pacientes do SUS ou grupo, que objetivarão ampliar o cuidado em
quanto da saúde suplementar. Entretanto, como saúde. É um instrumento o qual ultrapassa o para-
o programa de Residência em questão era uma digma médico centrado, buscando a resolução
iniciativa para a formação de profissionais para o das necessidades das pessoas para além do critério
SUS, assistia exclusivamente os pacientes dele diagnóstico9. A construção do PTS é feita nas
oriundos. reuniões das equipes de saúde com apoio matri-
Após um período de adaptação com o cial, se necessário, sendo este uma retaguarda
intuito de vivenciar a dinâmica de funcionamento especializada para equipes e profissionais encar-

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regados da atenção à saúde. O apoio matricial é Houve a constante busca de informações,


uma metodologia de trabalho complementar a esclarecimento de dúvidas e realização de tra-
qual utiliza mecanismos de referência e con- balho compartilhado com os profissionais da uni-
trarreferência, protocolos e centros de regulação. dade de internação. No entanto, como a insti-
Ele se dá através da assistência direta aos usuários tuição era um hospital de ensino, existia uma alta
ou do suporte técnico-pedagógico às equipes de rotatividade de residentes e internos da medicina,
saúde10. estagiários da graduação e nível técnico de dife-
Para a construção do PTS, ou seja, para a rentes áreas da saúde, dificultando a integração
elaboração de um plano de cuidado individual nas unidades de internação.
ou coletivo, foram considerados os acometi-
mentos físicos e emocionais; as formas de orga-
nização do cuidado pelo indivíduo e/ou família; a Saúde do adulto e do idoso
composição e dinâmica familiar; a relação pa-
ciente/cuidador; a relação paciente/profissionais A enfermaria que contemplou essa linha
de saúde; e o processo de hospitalização. Tudo de cuidado era composta por pacientes do gênero
isso buscando abordar os aspectos relacionados masculino das vagas da Rede de Urgência e Emer-
à saúde a partir do ponto de vista biopsicossocial. gência (RUE) e por pacientes da neurocirurgia de
A partir do PTS, além da intervenção hospitalar, a ambos os gêneros oriundos do SUS. A Rede de
equipe articulava a alta com os serviços de as- Atenção às Urgências prioriza as linhas de cuidado
sistência, educação e saúde necessários para a cardiovascular, cerebrovascular e traumatológica.
continuidade do cuidado no território, por meio A organização da RUE tem a finalidade de arti-
de contatos telefônicos e do envio de relatórios cular e integrar todos os serviços de saúde, obje-
de contrarreferências. tivando ampliar e qualificar o acesso humanizado
Para melhor organização e comunicação e integral aos usuários em situação de urgência/
entre os profissionais da instituição e a equipe de emergência nos serviços de saúde de forma ágil
residentes, foram elaboradas escalas para acom- e oportuna. As vagas são articuladas pela refe-
panhamento da passagem do plantão da enfer- rência da região e a secretaria que as coordenam
magem. Esse procedimento teve o intuito de é responsável pela administração e encaminha-
conhecer as admissões da enfermaria e identificar mento dos pacientes aos referidos leitos11.
os pacientes que atendiam aos critérios de sele- Com recursos regulados a partir da Porta-
ção, além de obter mais informações para as dis- ria nº 1.267, de 20 de junho de 2012, sobre o
cussões dos casos já atendidos pela equipe de Plano de Ação da Rede de Atenção às Urgências
residentes. do Estado de São Paulo12, o hospital Santa Casa
Foram realizadas intervenções em grupos de Santos está inserido na RUE e conta com 60
com pacientes e seus acompanhantes, oficinas leitos de enfermaria e 30 de UTI. As prioridades
de brinquedos, ações pontuais focando a saúde dos leitos RUE na instituição são cardiovascular,
do trabalhador com os funcionários da unidade cerebrovascular e traumatológica, trabalhadas a
de internação, entre outras. Todo o planejamento partir de suas respectivas linhas de cuidado.
e execução das ações eram discutidos entre a A seleção de pacientes para o atendimento
equipe de residentes e os preceptores. As inter- pela equipe de residentes seguiu um ou mais dos
venções foram planejadas de acordo com o tipo seguintes critérios: maiores de 18 anos; indicação
de unidade de internação e público-alvo. Buscou- pelos profissionais da unidade de internação;
-se, com pouco êxito, a inserção nas discussões demandas identificadas nos atendimentos das
da residência médica e outras categorias profis- áreas específicas; e pacientes pertencentes ao
sionais de forma a contribuir com a prática multi- território abrangente da UBS onde estava a outra
profissional. equipe de residentes.

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No contexto da nutrição, além da contri- A equipe multiprofissional realizou inter-


buição específica nos diferentes pacientes sele- venções desde a admissão da paciente até o
cionados pela equipe de residentes, a atuação acompanhamento no momento do parto, sendo
ocorreu com a realização da rotina já estabelecida elas: o acolhimento da parturiente, a comuni-
pelo serviço da unidade de internação. As ativi- cação entre ela e seus familiares, esclarecimentos
dades foram supervisionadas pela nutricionista sobre a assistência ao parto, bem como condutas
responsável pela enfermaria, a qual também era voltadas ao alívio da dor e preparo do parto feitas
preceptora do Programa de Residência. Foram pela fisioterapeuta e pela enfermeira da equipe.
realizadas visitas diárias à beira do leito para Foram realizadas atividades em grupos com as
adaptação da dieta conforme as doenças, sinto- mães dos recém-nascidos internados na Unidade
mas, intolerâncias e preferências alimentares dos de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) e com ges-
pacientes; orientação de dieta na alta hospitalar; tantes, puérperas e acompanhantes as quais per-
e discussão dos casos com os profissionais da uni- maneciam na enfermaria. Além disso, foram feitas
dade (incluindo a equipe médica da Nutrologia). intervenções com os funcionários do setor,
Também eram realizadas avaliações nutricionais visando a discussão dos processos de trabalho e
dos pacientes em uso de terapia nutricional oral, a promoção do autocuidado, considerando que
enteral ou parenteral e também daqueles sob risco o hospital vinha realizando mudanças para se
nutricional ou com quadro de desnutrição. adequar às diretrizes da Rede Cegonha. Foram
propostas ações sem grande interferência na ro-
tina de trabalho, mas que estimulassem a consti-
Saúde da mulher e recém-nascido tuição de um ambiente saudável e de maior inte-
ração entre a equipe.
As atividades da equipe de residentes na
linha de cuidado de saúde da mulher e recém- No âmbito da nutrição, realizaram-se ati-
-nascido foram realizadas com atendimentos às vidades já estabelecidas pela nutricionista respon-
gestantes internadas com alguma patologia sável pela unidade, além de outras ações neces-
obstétrica e às puérperas, acompanhadas de seus sárias na rotina diária identificadas pela equipe
recém-nascidos. As pacientes selecionadas para de residentes. Foram feitas visitas à beira do leito
o atendimento pela equipe de residentes eram para adaptação da dieta, considerando as condi-
usuárias do SUS (pois, nessa enfermaria, também ções clínicas, como doenças/sintomas, intole-
havia pacientes atendidas na saúde suplementar), râncias e preferências alimentares das gestantes
primigestas/primíparas com até 16 anos, gestan- e puérperas etc. Ações individuais ou em grupo
tes com patologias obstétricas, puérperas com foram utilizadas para orientar a respeito do aleita-
antecedentes pessoais de patologias (hipertensão mento materno e da pega correta, da alimentação
arterial, diabetes, dentre outras), puérperas com na gestação, do puerpério e da lactação. Também
idade maior ou igual a 40 anos, pacientes indi- foram realizadas avaliações nutricionais de ges-
cados pelos profissionais da maternidade e pa- tantes e orientações sobre o consumo alimentar
cientes pertencentes ao território abrangente da para a alta hospitalar naquelas com necessidade
UBS da região do Centro, local onde a outra equi- de restrição devido a alguma patologia.
pe de residentes estava atuando.
As ações dos residentes nessa unidade de Saúde da criança
internação se concretizaram por meio dos atendi-
mentos individualizados ou compartilhados, O atendimento na linha de cuidado de
seguidos da discussão dos casos com os profis- saúde da criança foi realizado em uma unidade
sionais da unidade. Buscou-se estabelecer arti- de internação a qual atendia desde crianças
culação com a rede de cuidados. recém-nascidas até jovens com 14 anos, 11 meses

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e 29 dias. Os pacientes permaneciam internados processo de compartilhar os saberes e a troca das


acompanhados por seus responsáveis. A seleção especificidades amplia o olhar de cada profissional
das crianças seguiu a indicação dos profissionais e resulta no objetivo comum e central do cuidado
da unidade e as demandas identificadas nos aten- integral ao paciente.
dimentos específicos, abrangendo somente aque- A busca pela clínica ampliada, a multipro-
les pertencentes ao território da UBS da região fissionalidade e a interdisciplinaridade vivenciadas
do Centro. no dia a dia da atenção básica e no ambiente
As ações da equipe de residentes multi- hospitalar permitiram aos residentes reconhecer
profissionais foram atendimentos individualizados a importância fundamental da atuação de cada
e/ou compartilhados. Sempre que possível, houve profissão ao juntar os saberes específicos para a
reuniões com os profissionais da unidade de inter- melhor condução/intervenção. Além disso, foi im-
nação para discutir os casos. A equipe de residen- portante perceber o quanto é imprescindível o
tes buscou articulação com a rede de cuidados, (re)conhecimento do histórico de vida de cada
além de realizar atividades na sala de conforto paciente para melhor intervenção e adesão ao
dos acompanhantes da UTI Pediátrica. Foram cuidado proposto. Assim, a intensa carga horária,
realizadas oficinas de brinquedos com materiais a diversidade de cenários e a complexidade das
recicláveis, práticas corporais com os acom- situações proporcionadas pela Residência prepa-
panhantes, além de uma ação pontual de ava- ram o profissional para os desafios de sua futura
liação do crescimento e do desenvolvimento atuação no SUS.
neuropsicomotor em crianças previamente sele-
cionadas menores de um ano de idade.
COLABORADORES
A atuação do residente de nutrição junto
à equipe da Residência foi importante e visou a CC ALVES participou na redação e revisão críti-
conversa direta com as crianças ou responsáveis ca relevante do conteúdo intelectual da redação do
para adaptar a dieta conforme as condições clí- artigo e aprovação final da versão a ser publicada. MC
nicas observadas em prontuário e os sintomas NETTO e APG SOUSA colaboraram na redação do arti-
presentes no decorrer do tratamento. Para a go. MU DEVINCENZI participou na redação e revisão
adaptação das dietas, foram consideradas intole- crítica relevante do conteúdo intelectual da redação
râncias e preferências alimentares das crianças de do artigo e aprovação final da versão a ser publicada.
acordo com o relato dos acompanhantes ou do
próprio paciente.
REFERÊNCIAS
Nessa unidade de internação, também
houve a necessidade de fazer orientações sobre 1. Brasil. Ministério da Saúde. Residência Multipro-
aleitamento materno, pega correta e alimentação fissional em Saúde: experiências, avanços e desafios.
Brasília: Ministério da Saúde; 2006.
complementar. O estado nutricional das crianças
2. Brasil. Presidência da República. Lei nº 11.129, de
foi identificado por meio das avaliações nutri-
30 de junho de 2005. Institui o Programa Nacional
cionais e, depois do diagnóstico, verificou-se a de Inclusão de Jovens - ProJovem; cria o Conselho
necessidade de intervir nutricionalmente e moni- Nacional da Juventude - CNJ e a Secretaria Nacional
torar, durante a internação, a aceitação da dieta de Juventude. Diário Oficial da União. 2005; 30
e evolução do estado nutricional. jun, p.1.
3. Brasil. Ministério da Educação. Resolução nº 3, de
4 de maio de 2010. Dispõe sobre a organização e
CONSIDERAÇÕES FINAIS a carga horária dos programas de Residência
Multiprofissional em Saúde e em Residência em
Área Profissional da Saúde e sobre a avaliação e a
A possibilidade da atuação multiprofis- frequência dos profissionais da saúde residentes.
sional para o nutricionista é enriquecedora. O Diário Oficial da União. 2010; 5 maio, p.14.

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4. Santos IG, Batista NA, Devincenzi MU. Residência 9. Brasil. Ministério da Saúde. Clinica ampliada, equipe
Multiprofissional em Saúde da Família: concepção de referencia e projeto terapêutico singular. Textos
de profissionais de saúde sobre a atuação do nutri- Básicos de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde;
cionista. Interface. 2015; 19(53). http://dx.doi.org/ 2008.
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10. Campos GWS, Domitti AC. Apoio matricial e equipe
5. Aguiar CB, Costa NMSC. Formação e atuação de de referência: uma metodologia para gestão do
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Família. Rev Nutr. 2015; 28(2):207-16. http://dx. Pública. 2007; 23(2):399-407.
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11. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.600, de 7
6. Perego MG, Devincenzi MU. A gestação de um tra-
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balho em grupo no contexto da Residência Multi-
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profissional. In: Pereira EMA, organizador. Inova-
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ções curriculares: experiências no ensino superior
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Unicamp; 2014. v.1, p.863-901. Disponível em: 12 Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.267 de
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7. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Estado de São Paulo e municípios, e aloca recursos
Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde; financeiros para sua implantação. Diário Oficial da
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8. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de
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ampliada e compartilhada. Brasília: Ministério da Versão final: fevereiro 3, 2016
Saúde; 2009. Aprovado: fevereiro 22, 2016

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