Diego Rodrigues Alves - Tcc-Defesa
Diego Rodrigues Alves - Tcc-Defesa
Diego Rodrigues Alves - Tcc-Defesa
Parauapebas
2022
DIEGO RODRIGUES ALVES
Parauapebas
2022
DIEGO RODRIGUES ALVES
BANCA EXAMINADORA
RESUMO
ABSTRACT
The custodial sentence used for millennia around the world to punish those who
commit crimes. With the application it’s the society has the feeling that it’s protected
from violence and crime. The general objective of this study was to discuss the
symbolic function of the custodial sentence, as a means of social control and the
State punitive function, in the face of supposed popular adhesion. It’s descriptive and
dissertative research, through hypothetical and deductive methods, using the
qualitative approach. The analysis of the doctrine on the purpose of the sentence in
Brazil showed that the sense of security with the application of the custodial sentence
is false, since the prisons don’t have conditions to return to the social community
resuscitated individuals, who will not recur in crime. In fact, when the criminal law and
criminal procedure are hardened, as is the case with the Anti-Crime Bill, presented by
the federal government, the punitive power of the State increases, especially on the
less favored portion of the population. Projects that present good results in terms of
recovery of the prisoner and also economic ones, such as the Association of
Protection and Assistance to the Convicted (APAC) don’t expand by the country, due
to the vices of the public administration. Thus, society will continue to have a false
sense of security, believing that custodial sentences alone will resolve the issue of
crime and violence, when in fact it would be necessary to improve the socioeconomic
conditions of the population, to prevent crime
CF Constituição Federal
APAC Associação de Proteção e Assistência ao Condenado
CNJ Conselho Nacional de Justiça
CoNDege Colégio Nacional de Defensores Públicos Gerais
FBAC Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados
LEP Lei de Execução Penal
ONG Organização Não-Governamental
CP Código Penal
STF Supremo Tribunal Federal
CPC Código de Processo Penal
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 11
2. A PENA 15
3. AS PENAS ALTERNATIVAS 26
4. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO 49
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 57
REFERÊNCIAS 62
1. INTRODUÇÃO
2. A PENA
um meio para a reintegração social, logicamente indispensável, mas nem por isso de
maior alcance, porque a melhor defesa da sociedade se obtém pela política social
do Estado e pela ajuda pessoal. A finalidade da pena como medida de integração
social do condenado tem sido contestada pela Criminologia Crítica, que acredita que
a criminalidade é um fenômeno social "normal" de toda estrutura social, sendo até
útil ao desenvolvimento sócio-cultural, e não estado patológico social ou individual.
Na lei da Idade Média, os atos criminosos se cruzam por meio de choques,
resultando nas mais terríveis sanções. Os indivíduos morrem nas praças públicas
das formas mais sanguinárias, como fogueiras, afogamentos e enforcamentos, com
o objetivo de intimidar toda a sociedade. As penalidades são baseadas nas
condições sociais do infrator. Diante desse comportamento bárbaro, destaca-se um
trecho de uma obra clássica, relatando o sofrimento de seus compatriotas sem
senso de justiça. O doutrinador Foucault acrescentou:
Danmies fora condenado, a 2 de março de 1757 [...] na praça
de Greve, e sobre um patíbulo que ai será erguido, atenazado
nos mamilos, braços, coxas e barriga das pernas, sua mão
direita segurando a faca com que cometeu o dito parricídio,
queimada com fogo de enxofre e às partes em que será
atenazado se aplicarão chumbo derretido, óleo fervente, piche
em fogo, cera e enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir
seu corpo será puxado e desmembrado por quatro cavalos e
seus membros e corpo consumidos ao fogo, reduzidos a cinza,
e suas cinzas lançadas ao vento.(nucci 1987, p. 7).
Diante desses fatos bárbaros, bárbaros e bárbaros, isso prova que existem
princípios e salvaguardas para fazer cumprir a pena, pois em uma sociedade brutal e
violenta, deve haver regras que limitem o poder de punição do Estado e atribuam
importância às sanções retaliatórias. O réu educa e socializa. Desta forma, violou o
princípio cruel de que toda a dor foi colocada no réu na época, e serviu de exemplo
para os outros.
A tendência moderna é a de que a execução da pena deve estar programada
de molde a corresponder à idéia de humanizar, além de punir. Deve afastar-se a
pretensão de reduzir o cumprimento da pena a um processo de transformação
científica do criminoso em "não criminoso". Nem por isso, deve deixar-se de visar à
educação do condenado, criando-se condições por meio das quais possa, em
liberdade, resolver os conflitos próprios da vida social, sem recorrer ao caminho do
delito.
17
reintegração ao convívio da sociedade, da qual foi retirado, como se retira de uma cesta
uma fruta podre para que não apodreça as demais.
2.1.1 Na Antiguidade
1 JESUS, Damásio E. Direito Penal: Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 457.
22
2COSTA, Álvaro Mayrink da. Curso de direito penal: parte geral. 3. ed.. Rio de Janeiro: Forense,
1993, p. 449-466.
3 AMERICANO, Odin I. do Brasil. Manual do direito penal. São Paulo: Saraiva, 1985, p. 391.
23
cumpriam pena privativa de liberdade em 2016. Cerca de 75% dos presos possuíam
apenas o Ensino Fundamental (BRASIL, 2017).
O registro da cor da pele pelo escrivão da Polícia Civil só tem sentido se a cor
tiver significado em um sistema de ideologias raciais, onde:
[...] o negro ocupa posição nitidamente aproximada à ocupada
pelo escravo de antes, marcada pela marginalização, pela
indiferença, pela subinclusão. A diferença é que agora essa
violência é institucionalizada, autorizada por um Estado
negligente e que fundamenta na sua negligência o discurso da
ordem e do progresso. O sistema de Justiça criminal é seletivo,
portanto, o sistema penitenciário apenas corrobora com tal
circunstância (WANDERLEY, 2018, p. 5).
pena privativa de liberdade limitada apenas aos delitos mais graves, destinadas a
retirar do convívio social os indivíduos mais perigosos.
26
3 AS PENAS ALTERNATIVAS
3.1 DEFINIÇÃO
4 CARVALHO, Amilton Bueno de. Direito alternativo em movimento. 3. ed. Niterói: Luam, 1999. p. 78.
27
3.2 ANTECEDENTES
5
HERKENOFF, João Batista. Crime: tratamento sem prisão. São Paulo: Vozes, 1997, p. 135.
6BITENCOURT, Cezar Roberto. Limitação de fim de semana: uma alternativa inviável no Brasil.
Revista dos Tribunais, v. 82, n. 693, p. 397-308, jul. 1993.
28
7JESUS, Damásio E. de. Lei dos juizados especiais criminais anotada. São Paulo: Saraiva, 1997, p.
7.
29
sentimento de impunidade.
Em meados dos anos 50, o Direito Penal tinha uma feição tutelar, fragmentária
e de intervenção mínima. A norma penal incriminadora visava a proteger os bens
jurídicos fundamentais da sociedade. Não de forma absoluta, resguardava somente
os bens considerados os mais relevantes, como a vida, a incolumidade física, a honra,
entre outros. “E em relação aos interesses mais importantes, não os amparava de todas
as condutas ofensivas, incriminando exclusivamente as de maior gravidade”8.
8JESUS, Damásio E. de. Sistema penal brasileiro: execução das penas no Brasil. Revista Consulex.
Brasília: Consulex, ano I, n. 1, p. 17-20, jan. 1997.
9 Ibid.
30
10
JESUS, op. cit., p. 17.
11 JESUS, op. cit.
31
12 Ibid., p. 18.
13 JESUS, op. e loc. cit.
14ZAFFARONI, Raul Eugênio. Político criminal latino-americana. Buenos Aires: Editorial Hamurabi,
1982 apud JESUS, op. e loc. cit.
32
mas sim, aplicar-lhes penas condizentes com a gravidade de seus crimes. Também,
não se pretende deixar os criminosos fora das prisões pelo simples fato de não
existirem dependências nos presídios. O que se quer, na realidade, é que sejam
aplicadas as determinações legais já existentes na legislação penal.
Daí, o porque dos sistemas penitenciários mundial e o brasileiro em especial
estarem sob fogo cerrado da crítica. Acusações generalizadas de sua falência são
postas em relevo na imprensa com inusitada freqüência. Mudanças são pedidas, via
de regra pela solução equivocada da exasperação das penas, como se isso, por si
só, tivesse o condão mágico de resolver o gravíssimo problema do incremento
assustador da violência, máxime a urbana.
Parte considerável da crítica responsabiliza o sistema penitenciário Pátrio
como o grande vilão, o grande ofensor desse ideal de segurança pública, levado aos
primeiros lugares nas pesquisas como desejo da população. Nessa esteira, é pedida
não só a exasperação das penas dos delitos, mas também a reforma da Lei de
Execuções Penais e até cresce o chamar pela pena de morte. Avolumando-se os
seus defensores.
Que o sistema prisional brasileiro é deficiente, mais que isso é perverso,
ineficaz, verdadeira fábrica de criminosos, universidade do crime, não temos dúvida
em concordar. Será, entretanto, que esse sistema está em conformidade com a Lei
de Execuções Penais? Será que é preciso mudar a lei ou apenas aplicá-la correta e
integralmente?
Uma leitura atenta nos artigos da Lei nº 7.210/84 revelará, com surpreendente
clareza, que ela simplesmente ainda não foi aplicada em sua inteireza no sistema
prisional brasileiro. Cumpre observar que os estabelecimentos penais, à luz da lei
regente, são de seis espécies:
1) a Penitenciária, destinada ao condenado à pena de reclusão, cumprida
em regime fechado;
2) a Colônia Agrícola, Industrial ou similar, reservada para o cumprimento
de pena de reclusão ou detenção em regime semi-aberto;
3) a Casa do Albergado, para acolher os condenados à pena privativa da
liberdade em regime aberto, e bem assim aos condenados à pena limitada aos fins
de semana;
4) o Centro de Observação, para realização de exames gerais e
criminológicos dos apenados;
33
Fonseca, que:
Todos sabemos que um dos mais graves problemas do país, que
exige solução corajosa, urgente e global é o chamado fenômeno da
conurbação, isto é, da exagerada concentração populacional urbana. As
regiões metropolitanas do país concentram mais de 80% da população
brasileira. No Rio essa concentração é ainda maior, o que torna
difícil, quando não frustra, todos os planejamentos urbanos e seus
serviços públicos de transporte de passageiros, de energia, de gás,
de telecomunicações, [...]. 15
18 Ibid., p. 85.
39
É que o direito penal, por mau, vingativo, ditatorial, excludente, só deve ser
reservado para situações-limite, de autêntico caos, onde os demais ramos do direito
não logram dar respostas razoavelmente eficazes. Talvez o atuar crítico tenha o
próprio abolicionismo, ou seja, que se construa instrumental que possa dar conta do
caos sem o socorro do penal.
Diante disso, o Judiciário começa a ter importância quando a democracia
chega com ela. A população ousa postular por seus direitos e descobre no Judiciário
uma arena onde se pode travar luta pela concretização desses direitos em face da
opressão que se lhe impõe.
A necessária independência da Magistratura é ressaltada por Dalmo de Abreu
Dallari, ao afirmar que:
Longe de ser um privilégio para os juízes, a independência da
Magistratura é necessária para o povo, que precisa de juízes
imparciais, para a harmonização pacífica e justa dos conflitos de
direito. A rigor, pode-se afirmar que os juízes têm a obrigação de
defender sua independência, pois sem esta, a atividade jurisdicional
pode, facilmente, ser reduzida a uma farsa, uma fachada nobre para
ocultar do povo a realidade das discriminações e das injustiças.20
Para Dallari, o juiz deve ser parceiro de caminhada dos litigantes na construção
democrática. Deixar de ser a estrela do espetáculo forense para ser companheiro
das partes na busca da autonomia, no sentido de que elas mesmas construam sua
história. Como imparcial ético inibirá a possibilidade de o melhor preparado ou do
economicamente mais forte transformar o diálogo em instrumento para conquista de
vantagens espúrias.
Evidente que poderá surgir hipóteses em que o juiz deverá tomar decisões
verticalizadas. Mas elas só deverão vir quando esgotadas todas, absolutamente
todas, as possibilidades dialogais, ou seja, no caos do caos da democracia. Todavia,
após ter trilhado o caminho do diálogo, o juiz estará melhor preparado à decisão:
conhecerá melhor os fatos e as pessoas.
21 CERNICCHIARO, Luiz Vicente. Direito alternativo. Revista Consulex. Brasília: Consulex, n. 7, p. 15,
jul. 1997.
22 Ibid., p. 20.
41
[...] Devemos lembrar que não é o Estado que outorga direitos, mas
sim a sociedade dos seres humanos que os constrói, preserva,
transforma, derruba. Esse direito plural, construído pela luta dos
sujeitos coletivos, não tem patrão, porque é obra coletiva e
inacabada desse ser concreto e contraditório, que desenha sua
trajetória fugaz, buscando consistência nesse momento de vida
histórica, limitado entre o mistério da morte e do nascimento.25
Por fim, o direito Alternativo que merece ser efetivado, deve também ter como
limite os princípios gerais do direito, mesmo quando ambiciona criar ou destruir
princípios positivistas, e ter como norte a real democratização da vida em sociedade.
internas para tudo, desde a organização da forma de manter relações sexuais com
as mulheres nos dias de visita, até aplicações de sanções para aqueles que furtam
dos demais dentro da cadeia, bem como, para aqueles que cometem delações. Neste
local a primeira coisa que se aprende é que para permanecer vivo é preciso não
ouvir, não ver e não falar nada.
Prisões abarrotadas, imundas, em vez de melhorar os ruins, pervertem e
degradam definitivamente os recuperáveis. Além dos fatores que contribuem para
degradação da saúde física e mental. As deficiências de alojamento e de
alimentação facilitam o aparecimento da tuberculose, enfermidade, excelências das
prisões. As quais, contribuem igualmente, para deteriorar a saúde dos detentos
devido às más condições de higiene dos locais originados da falta de ar, a umidade
e os odores nauseabundos. A falta de distribuição entre o ócio e o trabalho presume
um dano considerável na condição físico-psíquica do interno, pois a falta de trabalho
vicia o sujeito a um estado de inoperância e descompasso.
Problemas psicológicos também são constatados como conseqüência do
encarceramento. O ambiente penitenciário perturba e impossibilita o funcionamento
dos mecanismos compensadores da psique, que são os que permitem conservar o
equilíbrio psíquico e mental. Este ambiente ainda exerce uma influência tão
negativa, que a ineficácia dos mecanismos de compensação psíquica propicia a
aparição de desequilíbrios que podem ir desde uma simples psicopática
momentânea até um intensivo e duradouro quadro psicótico, segundo a capacidade
de aptidão de que o sujeito dispõe. Por outro lado, vale ressaltar que muitos indivíduos
já entram no presídio com manifestas debilidades psicológicas e sérios desvios de
conduta.
A vida na prisão é dura e, como se não bastasse, após o recluso cumprir sua
pena, não raras vezes continua pagando por seus erros, agora não os que o
levaram à prisão, mas sim os cometidos lá dentro. Como por exemplo, quando o
sujeito sai da cadeia e, voltando à sua atividade sexual normal, enfrenta problemas
psicológicos de impotência sexual, ejaculação precoce, complexo de culpa pelas
relações homossexuais que manteve dentro da prisão, além de grandes dificuldades
de retornar à vida matrimonial. Pois, o encarceramento de um dos cônjuges acaba
por destruir os laços íntimos, que não conseguem ser compartilhados dentro da
prisão, além de impossibilitar contatos mais prolongados e amorosos. Gera, isto, um
grande número de divórcios entre estes casais, já nos primeiros anos que são
47
separados.
De acordo com o jurista Cezar Roberto Bitencourt, sobre o assunto em tela,
afirma que:
As esposas são vítimas implícitas da prisão; não sendo raro sofrerem
de problemas psicológicos dentre os quais a culpa, solidão,
depressão, ansiedade, etc. É óbvio que a vida afetiva do preso é
desmoronada pela supressão das relações afetivas e sexuais,
gerando também efeitos como infidelidade e o abandono.26
26 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência das penas de prisão. Porto Alegre: RT, 1993, p. 53.
27 LEAL, César Barros. Um direito do Preso: visita íntima. Revista Consulex. Brasília: Consulex, n. 41,
p. 30-32, 31 maio 2000.
48
outros”.28
A maioria dos presos freqüentou a escola por pouco tempo e mesmo assim
mantém uma falta de freqüência e uma desregularidade nos seguimentos didáticos,
ou seja, o sujeito entra e sai várias vezes no mesmo ano letivo, até desistir,
definitivamente, no colégio. Quanto à vida profissional, a grande maioria teve poucos
trabalhos não especializados e temporários, em regra, nos ramos da construção civil
e setores primários da economia brasileira. Diante disso, mantêm uma profunda
irregularidade na freqüência e na continuidade dos serviços e ganham pouco.
Por fim, em poucas palavras, pode-se afirmar que a maioria dos detentos em
presídios de nosso País são homens desprovidos de condições econômicas desde
sua infância, tendo que delinqüir desde cedo, persistindo com estas atitudes durante
a adolescência e sua maioridade. Sem muita definição de valores, o indivíduo que
geralmente não consegue um trabalho onde ganhe o suficiente para conseguir
sobreviver, passa a praticar atos contra a sociedade, e após os primeiros crimes
mais relevantes, acaba caindo num ciclo vicioso, do qual não consegue se
desvincular mais. Depois de um tempo, acaba sendo preso e penetrando num
presídio, onde sofrerá, infelizmente, as diversas degradações acima analisadas.
O poder judiciário, como Estado que é, como poder que é (em sentido amplo),
tem o dever de executar penas, com a finalidade de contribuir na ressocialização do
indivíduo, mantendo assim, da melhor forma, o equilíbrio entre o direito e a justiça.
Uma distribuição desigual das penalidades faz nascer uma contradição dentro
do judiciário. Os altos índices de reincidência têm sido, historicamente, invocados
como um dos fatores principais da comprovação do efetivo fracasso da pena
privativa de liberdade, a despeito da presunção de que, durante a reclusão, os
internos são submetidos a um tratamento ressocializador.
Diante da falência da pena privativa de liberdade, que não atende aos anseios
do recluso, e nem mesmo da própria sociedade, a tendência moderna é procurar
substitutivos penais para esse método sancionador, ou pelo menos, no que se
relaciona com os crimes de menor gravidade, criminosos de pequeno porte, cujo
encarceramento não é aconselhável.
Restringir os direitos do indivíduo que comete um ato infracional, é fazer com
que ele seja punido, mas sem deixar de ser cidadão, contribuindo para seu próprio
progresso. A prisão consiste numa fuga diante ao enfretamento das questões
sociais, responsável pela grande parcela do estado criminalidade que impera em
meio à sociedade. Assim, a prisão exerce, não se pode negar, forte influência no
fracasso do tratamento do recluso.
É impossível pretender recuperar alguém para a vida em liberdade em
condições de não-liberdade. Com efeito, os resultados obtidos com a aplicação da
pena privativa de liberdade são, sob todos os aspectos, desalentadores.
A prisão, ao invés de conter a delinqüência, tem servido-lhe de estímulo,
convertendo-se em um instrumento que oportuniza toda espécie de desumanidades.
Não traz nenhum benefício ao apenado, ao contrário, possibilita toda a sorte de
vícios e degradações. Enfim, a maioria dos fatores que dominam a vida carcerária
imprimem a esta um caráter criminógeno, de sorte que, em qualquer prisão clássica,
as condições materiais e humanas, podem exercer efeitos nefastos na personalidade
dos reclusos.
Existe, de há muito, uma luta incessante no sentido de se romper com o
sistema clássico da pena de prisão, em especial, para determinadas infrações que
podem e devem ser punidos com outras formas de sanções menos aviltantes e
50
menos dispendiosas para o erário publico e, muitas vezes, com relevante alcance
social e, com isto, mais eficientes.29
Assim, com a nova redação dada a vários dispositivos do Código Penal,
aumentaram o número de penas alternativas, com caráter de substituição da pena privativa
de liberdade, e extremamente alargadas as possibilidades de incidência no caso concreto.
São estas autônomas, e não podem ser aplicadas conjuntamente com as penas
privativas, quando preenchidos os requisitos legais do Código Penal.
A Lei nº 9.714 de 25 de novembro de 1998 constitui um verdadeiro marco no
direito penal brasileiro. As suas inovações vêm ao encontro da política criminal
moderna que busca cada vez mais a erradicação (ou pelo menos a restrição) da
pena privativa de liberdade, pelos sabidos efeitos deletérios de sua aplicação,
mormente em nosso país.
As novas determinações sobre as penas restritivas de direitos, introduzidas
no Código Penal pela referida lei, ampliam consideravelmente os limites temporais
anteriormente estabelecidos para o cumprimento de pena no cárcere, admitindo a
substituição da pena privativa de liberdade de até 4 (quatro) anos de condenação
pela aplicação de penas alternativas.
Além da prestação pecuniária e perda de bens e valores, criou-se entre as
penas restritivas, as de interdição temporária de direitos, a proibição de freqüentar
determinados lugares. A prestação de serviços à comunidade passou a ser
denominada prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas.
Vale expor:
Art. 43. As penas restritivas de direitos são:
I - prestação pecuniária;
II - perda de bens e valores;
III - (VETADO);
IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades
públicas;
V - interdição temporária de direitos;
VI - limitação de fim de semana.
A prestação pecuniária (art. 45 CP), é fixada com base nos dados disponíveis
no processo de modo que, não existe previsão legal, específico de procedimento
para calcular o prejuízo resultante da prática do crime. Assim, consiste no
pagamento em espécie à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou
privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz da condenação.
Dispõe ainda a lei, no novel art. 45, § 2º do CP, que, se houver aceitação do
beneficiário, ou seja, do ofendido ou da entidade pública ou privada com destinação
social, a prestação pecuniária poderá constituir-se, por decisão do juiz, em prestação
de outra natureza, como por exemplo, o fornecimento de cestas básicas. É
obrigatória, pois, a consulta ao beneficiário, pelo juiz da execução, para que se
efetue a referida substituição.
De acordo com o que reza o dispositivo do art. 45, § 3º, do CP, é o confisco
em favor do Fundo Penitenciário Nacional, de quantia que pode atingir até ao valor
referente ao prejuízo causado ou do provento obtido pelo terceiro, em conseqüência
da prática do crime, prevalecendo aquele que for maior. Esses bens e valores serão
destinados, preferencialmente, ao lesado ou de terceiro de boa-fé.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMERICANO, Odin I. do Brasil. Manual do direito penal. São Paulo: Saraiva, 1985.
COSTA, Álvaro Mayrink da. Curso de direito penal: parte geral. 3. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1993.
DALLARI, Dalmo de Abreu. O poder dos juízes. São Paulo: Saraiva, 1996.
DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1998.
HERKENOFF, João Batista. Crime: tratamento sem prisão. São Paulo: Vozes, 1997.
JESUS, Damásio E. de. Sistema penal brasileiro: execução das penas no Brasil.
Revista Consulex. Brasília: Consulex, n. 1, p. 17-20, jan. 1997.
JESUS, Damásio E. de. Direito pena: parte geral. São Paulo: Saraiva, 1997.
LEAL, César Barros. Um direito do preso: visita íntima. Revista Consulex. Brasília:
Consulex, n. 41, p. 30-32, maio 2000.
MIRABETE, Julio Fabrini. Código penal interpretado. São Paulo: Atlas, 1999.