HIDROCINESIOTERAPIA Manual

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 29

FISIOTERAPIA AQUÁTICA

HIDROCINESIOTERAPIA

Profa. Stella Peccin


HIDROCINESIOTERAPIA

SISTEMATIZAÇÃO DA TERAPIA PELO MOVIMENTO NA PISCINA TERAPÊUTICA

APRESENTAÇÃO

Quando o fisioterapeuta avalia seu paciente e então detecta os déficits, as


queixas e as funções comprometidas, o próximo passo é programar o tratamento de
acordo com objetivos estabelecidos a curto, médio e longo prazo. Vários podem ser os
objetivos com o paciente: analgesia, ganho de ADM, ganho de força e resistência
muscular localizada, equilíbrio muscular e equilíbrio corporal, propriocepção,
reeducação de gestos motores, congruências articulares, estabilização articular e
outros.

Dentro de suas perspectivas, o programa terapêutico deve ser coerente com o


objetivo o qual se busca. Para tanto, é fundamental que o fisioterapeuta domine a
interação do corpo humano com o complexo de forças físicas existentes no meio
líquido. Este motivo estimulou a presença deste capítulo nesta obra: sistematizar os
exercícios terapêuticos no meio líquido, a fim de que as propostas sugeridas pelo
fisioterapeuta respeitem as diferenças da cinesioterapia convencional ou em seco com
a hidrocinesioterapia.

O conteúdo aqui apresentado abrange uma proposta de classificação de


exercícios em fisioterapia aquática, mais especificamente no tocante à cinesioterapia
de segmentos corporais, MMSS e MMII. É apenas mais um pequeno passo nesse
processo infinito de aprendizagem e experiências na recuperação funcional humana.
Neste caminho, acreditamos que o amor que sentimos pela hidrocinesioterapia e as
descobertas vivenciadas a cada dia de trabalho venham a ser também vivências de
muitos outros colegas e pacientes. Só assim a hidrocinesioterapia ou a fisioterapia
aquática poderá conquistar o seu lugar de ciência amplamente reconhecida, para que
tantos outros indivíduos possam desfrutar desta forma tão maravilhosa e complexa de
fisioterapia.
1. INTRODUÇÃO

“A terapia pela água é tão antiga quanto o homem e é uma ironia que uma
medicina tão antiga e natural tenha que ser redescoberta a cada era”.
Dian Dincin.

O ‘óxido de dihidrogênio’, H2O, ou simplesmente água, é um dos principais


elementos da natureza humana e da própria Terra. Suas características físicas e
químicas a tornam um dos elementos naturais mais fascinantes para os estudos
científicos e aplicações empíricas pelas mais diversas formas de vida.

Não há dúvidas quanto ao fascínio humano pela água. Várias teorias podem
explicá-lo, dentre as quais a idéia de que a água é o nosso habitat ancestral, tanto pela
ótica da teoria da evolução das espécies (Darvin), quanto pela concepção de que
fomos gerados em um ambiente líquido, no interior do ventre materno, além do fato de
a água ser também o nosso elemento constituinte essencial.

Segundo o Ayurveda, a medicina tradicional da Índia é a mais antiga de que se


tem notícia, a água, como um dos elementos essenciais da natureza, possui um tipo de
energia vital chamada prana. Entre as qualidades do prana está a capacidade de
energizar o organismo, tornando-o mais saudável e vibrante (BONTEMPO, 1994).

Atualmente as atividades aquáticas com fins terapêuticos são utilizadas pelas


mais diversas áreas. Educadores físicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais,
fisiatras, ortopedistas e reumatologistas, neurologistas, cardiologistas, geriatras,
pediatras, endocrinologistas, nutricionistas, psiquiatras, psicólogos e pedagogos
indicam aos seus alunos e pacientes banhos de imersão e atividades aquáticas como a
natação, hidroginástica e hidroterapia. As atividades realizadas no meio líquido podem
ter caráter preventivo ou terapêutico.

Os lagos, rios, mares, cachoeiras e piscinas sempre suscitaram atividades


físicas. Em estâncias hidrominerais e escolas de natação em geral, bem como em
piscinas terapêuticas, são muitas vezes realizadas atividades físicas com fins
profiláticos e lúdicos. A prática da natação, em seus diversos estilos, tem sido utilizada
como desporto em diversos locais e seus efeitos benéficos para o corpo são
indiscutíveis.

Nas últimas décadas muitas outras atividades aquáticas têm sido desenvolvidas
internacionalmente. Dentre elas, destacam-se a hidroginástica (com suas variações:
“hidroaero”, “hidrolocal”, “hidropower“, “hidrogestante”, hidroalongamento”,
“hidropostural”, “hidrojump”, “aquadança”, etc.), o jogging aquático ou atividades em
“deep water”. Essas atividades são usualmente realizadas em grupo e podem ter um
cunho terapêutico ou profilático. A clientela varia, mas na maioria é composta por
mulheres. Muitos obesos e idosos também buscam na hidroginástica uma fonte de
saúde e lazer. A natação para bebês e a natação especial, indicada para crianças com
deficiências físicas e mentais também tem obtido destaque na utilização das piscinas
de escolas de natação. Além disso, atividades recreativas também podem ser
desenvolvidas em piscinas de hotéis e clubes, sobretudo em períodos de férias.

O nado sincronizado e o pólo aquático são desportos olímpicos bastante


praticados em alguns países e menos comuns no Brasil, enquanto o biribol (vôlei em
piscinas) tem sido descoberto como uma atividade física muito divertida e eficiente
como prática sistemática para jovens e adultos.

Outras atividades podem ser realizadas em piscinas, como preparação física de


diversos desportos terrestres de alto nível, como futebol, vôlei, basquete, atletismo,
tênis e muitos outros. Além disso, programas de relaxamento, dança e expressão
corporal são muito interessantes. Em alguns lugares do mundo, são desenvolvidas em
piscinas sessões de psicoterapia e hipnose, embora isto ainda seja incomum no nosso
País. Enfim, as piscinas tem demonstrado grande versatilidade quanto à sua
aplicabilidade em atividades humanas em geral e, embora muito já tenha sido
desenvolvido, há ainda muitos horizontes a serem descobertos e divulgados neste
sentido.

Existem diversas formas de se usar a água como elemento terapêutico. O termo


hidroterapia engloba todas elas, mas podem ser diferenciadas algumas formas distintas
de utilização da água em processos profiláticos ou terapêuticos, tais como: a
hidroterapia por via oral, ou uso hidropínico da água, a balneoterapia, as duchas
quentes, frias ou mornas, as compressas úmidas, a crioterapia, a talassoterapia, a
fangoterapia, a crenoterapia, saunas, turbilhão, hidromassagem, e a
hidrocinesioterapia ou fisioterapia aquática.

A hidrocinesioterapia é na realidade parte da fisioterapia aquática. Esta última já


define que o que se faz é fisioterapia na água, envolvendo todas as práticas
terapêuticas que constituem a fisioterapia em piscinas: desde a massoterapia ou
terapia manual até o tecnologicamente moderno biofeedback aquático. Os avanços
científicos na área têm crescido cientificamente principalmente nas últimas décadas. O
número de publicações internacionais em revistas especializadas tem aumentado muito
e a origem das pesquisas variam entre diversos países do mundo, embora a grande
maioria dos autores ainda seja composta de norte-americanos e europeus. Dentre os
estados do Brasil que se destacam no trabalho de hidrocinesioterapia, podem ser
citados São Paulo, Paraná e o Rio Grande do Sul. Há algumas clínicas especializadas
em hidrocinesioterapia nas grandes cidades do País inteiro, enquanto o interior de
alguns estados ainda seja carente de piscinas terapêuticas e pessoal especializado.

A hidrocinesioterapia constitui um conjunto de técnicas terapêuticas


fundamentadas no movimento humano. É a cinesioterapia na água, ou a prática de
exercícios terapêuticos em piscinas, associada ou não a manuseios, manipulações,
hidromassagem e massoterapia, configurada em programas de tratamento específicos
para cada paciente. Na maioria dos casos, o tratamento é realizado em piscinas
aquecidas entre 31,5° e 35° C, uma vez que os efeitos do calor são positivos em muitos
processos patológicos, como os das doenças reumáticas, respiratórias, neurológicas e
ortopédicas, entre outras. As piscinas terapêuticas devem ser adaptadas, com a
inclusão de barras simples, barras paralelas, escadas especiais, bancos e macas no
seu interior. O piso das piscinas deve ser antiderrapante, para viabilizar os exercícios
de marcha e deslocamentos dos pacientes e dos fisioterapeutas. Além disso, devem
estar disponíveis materiais acessórios para explorar a flutuação, ou flutuadores
como pranchinhas, halteres plásticos, bolas de diversos diâmetros, bóias de braço, de
peito, ‘espaguetes’, tapetes, tornozeleiras, ‘pull-buoys’, etc. Materiais para explorar a
turbulência, como nadadeiras, palmares, luvas de lycra, tábuas, sacos de tecido
impermeável, etc. também são necessários, além de materiais suaquáticos como
tábuas de propriocepção, almofadas d’água, bolinhas de tênis, tapetes de borracha,
camas elásticas e skates, os quais podem enriquecer o programa terapêutico enquanto
tornam as sessões mais criativas.

Algumas considerações práticas se fazem necessárias. O paciente e o


fisioterapeuta devem utilizar vestimenta adequada, como touca de natação, sunga ou
maiô, óculos ou máscara de natação, se necessário, além de chinelos para a área
externa à piscina. Se a piscina for de azulejo ou possuir piso deslizante, pode-se utilizar
meias específicas para piscinas ou botinhas emborrachadas para provocar atrito sob os
pés. Conforme o local, é interessante o uso de roupões ou toalhas ao sair da água.
Deve-se evitar o uso de cremes ou óleos, além de maquiagem, para preservar a
qualidade da água. A higiene também deve ser realizada antes da imersão na piscina,
e o uso de jóias ou bijouterias pesadas ou volumosas deve ser evitado. Pacientes e
fisioterapeutas devem evitar o uso de lentes de contato, enquanto permite-se o uso de
óculos em casos de diminuição importante da acuidade visual. Pacientes que não
suportam água nos ouvidos, bem como aqueles com história de otites, devem ser
orientados para o uso de tampões de ouvido. A menstruação não é um fator restritivo
de imersão, mas orienta-se a paciente a fazer a higiene antes de entrar na piscina, de
forma que se troque o absorvente interno imediatamente antes e após a entrada na
piscina.

Muitos efeitos terapêuticos benéficos obtidos com a imersão na água aquecida


(como o relaxamento, a analgesia, a redução do impacto e da agressão sobre as
articulações) são associados aos efeitos possíveis de se obter com os exercícios
realizados quando se exploram as diferentes propriedades físicas da água (empuxo,
turbulência, pressão hidrostática, etc.). Desta forma, um programa de
hidrocinesioterapia adequado a cada paciente pode representar um grande incremento
no seu tratamento, obtendo-se efeitos de melhora em tempo abreviado e com menor
risco de intercorrências, tais como dor muscular tardia e microlesões articulares
decorrentes do impacto.

Alguns princípios acerca da avaliação do paciente devem ser seguidos: a


anamnese tradicional deve ser acrescentada de informações acerca da experiência do
paciente com a água, imersão e domínio ou não de nados. O exame físico pode ser
acrescentado de impressões sobre a massa corporal e é interessante uma avaliação
cineantropométrica. A análise dos exames complementares, bem como avaliação dos
movimentos funcionais são indispensáveis para se estabelecer os objetivos do
tratamento e prognóstico idealizado, para então serem determinados os procedimentos
hidrocinesioterapêuticos em escala progressiva. A primeira sessão do paciente na água
visa complementar a avaliação convencional, a fim de se observar sua adaptação e
habilidades no meio líquido, densidade corporal e flutuabilidade e, bem como o seu
comportamento na piscina.

As entradas e saídas do paciente na piscina devem ser diferenciadas entre


pacientes que deambulam e que não deambulam, bem como os procedimentos
utilizados para a adaptação do indivíduo ao meio líquido. Um fator importante é a
adaptação e experiência com piscinas por parte do próprio fisioterapeuta, uma vez que
a segurança transmitida ao paciente é uma condição fundamental para o bom
andamento do tratamento.

4. PRINCÍPIOS FÍSICOS DA ÁGUA E HIDRODINÂMICA

4.1. Introdução

O fisioterapeuta deve ter conhecimento sobre o comportamento do corpo humano


imerso no meio líquido. Por isso, é interessante que relembremos alguns princípios
físicos da água e de hidrodinâmica (SKINNER e SAYLISS, 1993). Os princípios físicos
da água são: massa, peso, densidade, densidade relativa, adesão, coesão, atrito,
viscosidade, refração, tensão superficial, volume, fricção, EMPUXO, PRESSÃO
HIDROSTÁTICA e TURBULÊNCIA (SKINNER e THOMSON, 1985).

4.2. Propriedades físicas da água


A água constitui uma matéria, que como tal, é composta de moléculas que
podem se apresentar na forma de sólidos (gelo), líquidos ou gases (vapor). Como
outras formas de matéria, a água possui massa, peso e densidade. Além disso, ela
possui características de adesão das suas moléculas a qualquer corpo nela imerso,
além de coesão entre as suas próprias moléculas. A força de coesão entre as
moléculas de água se manifesta como uma película elástica na sua superfície,
denominada tensão superficial, a qual representa uma pequena resistência à sua
compressão. Outra característica que a torna diferente do ar é o fato dela provocar o
efeito de refração das ondas luminosas, de forma que os raios de luz sofrem deflexão
no sentido da normal quando penetrados no interior do meio líquido. Esta deflexão se
deve ao fato de que a luz passa de um meio menos denso (ar) para um meio mais
denso (água), o que ocorre também no sentido contrário. Todavia, quando a luz passa
do meio líquido para o ar, ela tente a afastar-se da linha normal. O efeito da refração
ocorrida na água torna a imagem da forma dos corpos deformada.

• Densidade e Densidade relativa: densidade é a medida que relaciona a massa


do corpo com o volume: d = massa / volume. A água é mais densa a 4°C, quando o
seu valor equivale a 1 g/cm³. Este valor tende a modificar tanto em temperaturas mais
baixas quanto em mais altas, diminuindo a densidade do líquido como conseqüência da
sua expansão em volume. Quando se compara a densidade da água com a de outro
corpo, usa-se o termo densidade relativa.

• Flutuação: é a força experimentada para cima que atua em sentido oposto à


força gravitacional - empuxo. O Princípio de Arquimedes estabelece que, quando um
corpo é submerso na água ou fluido em repouso, ele experimenta uma força de
empuxo igual ao peso do líquido por ele deslocado. Todo o corpo com densidade
menor do que 1 pode flutuar, considerando-se que a densidade da água seja de valor
1. Os corpos com densidade maior do que 1 afundarão, e os de valor equivalente
permanecerão parcialmente flutuantes.

Cada pessoa possui a sua própria densidade, a qual depende da distribuição de


massa corpórea. A proporção da massa dos tecidos (músculos, ossos, gordura,
vísceras, pele e tec. conjuntivo articular, et.) determina a densidade do indivíduo, a qual
pode variar entre os segmentos corporais. A quantidade de ar nos pulmões também
influencia na densidade do corpo. Quando os pulmões se enchem de ar, o corpo
aumenta sua capacidade de flutuação.

A densidade relativa do corpo humano varia: a média de acordo com a idade é


de 0,86 para crianças, 0,97 em adolescentes e adultos jovens. Adultos e idosos
costumam ter menores densidades, uma vez que é comum ocorrer uma certa hipotrofia
e um aumento de tecido adiposo, além do fato de poder ocorrer uma perda de massa
óssea com o avanço da idade.

A flutuação do corpo sofre variação com a profundidade da água (McMILLAN,


1993). O peso corporal de indivíduos jovens reduz aproximadamente 2,4% quando a
água está na altura dos tornozelos, 49% na altura dos quadris, 84% na altura dos
ombros, enquanto que há uma diminuição do peso em 92% quando a profundidade da
água atinge o pescoço. Se houver retirada de um segmento fora d’água, o efeito de
flutuação ou redução do peso diminuirá. Por exemplo, se os MMSS forem retirados da
água, quando ela está na altura dos ombros, a redução do peso passa de 84% para
75% (KRUEL, 1994).

• Metacentro: o princípio do metacentro está relacionado com o equilíbrio na


água. Um corpo está sujeito a duas forças opostas- gravidade e empuxo, quando
imerso na água. Se estas duas forças opostas forem de igual valor, o corpo estará em
equilíbrio na água. Por outro lado, se estas forças forem desiguais ou desalinhadas,
ocorrerá movimento rotacional no sentido vertical ou horizontal (plano sagital ou
transversal). A rotação continuará até que haja equilíbrio novamente. Os conceitos
acerca do centro de gravidade e metacentro (centros de equilíbrio) e do movimento
rotacional baseiam-se nos princípios das alavancas, de forma que eles mudam de
posição conforme o movimento realizado (SKINNER e THOMSON, 1993).

• Fricção ou atrito: é a resistência ao deslizamento relativo entre duas


superfícies, provocado pela adesão das suas moléculas. A fricção entre a pele e a
água tem sido determinada como sendo 790 vezes maior do que aquela existente entre
a pele e o ar. Esta força de atrito, aumentada com a presença de pelos, dificulta o
movimento dentro d’água, o que explica em parte a depilação realizada por nadadores
de alto nível. Além disso, a fricção ocorrida no meio líquido também provoca estímulos
mecânicos sobre a pele bem maiores do que no ar.

• Viscosidade: é o atrito interno entre as moléculas de um fluido, a qual causa


resistência ao fluxo do líquido. A viscosidade diminui com o aumento da temperatura do
líquido. Esta fricção provocada entre as moléculas só é observada quando o fluido está
em movimento, atuando como resistência ao mesmo. Quando um objeto se move
através de um líquido que flui lentamente, a uma velocidade mais alta à do próprio
líquido, ele provoca turbulência.

• Turbulência: REYNOLDS (1849-1912) demonstrou que o fluxo de um líquido


pode ser laminar (linear) ou turbulento. A turbulência é formada quando a velocidade
de fluxo é aumentada além da ‘velocidade crítica do líquido’. O fluxo turbulento cria
movimentos rotatórios, ou redemoinhos, os quais aumentam a resistência friccional.
Enquanto que a resistência oferecida pelo fluxo laminar é diretamente proporcional à
velocidade, no fluxo turbulento a resistência é proporcional ao quadrado da velocidade
implantada. Na turbulência, um fluxo de ‘esteira’é formado atrás do objeto, devido à
diminuição de pressão na sua parte posterior. Por outro lado, a parte anterior do objeto
deslocado sofre um aumento de pressão. Esta pressão anterior positiva provoca um
efeito de resistência ao deslocamento, enquanto que a pressão negativa na parte
posterior do objeto provoca uma tendência de sucção do que estiver colocado na sua
traseira. Desta forma, a turbulência pode ser utilizada para resistir movimentos na
piscina, ou para facilitar movimentos realizados posteriormente ao fluxo turbulento. Ela
pode também ser utilizada para auxiliar ou perturbar o controle do equilíbrio de uma
forma sutil, ou para mover o corpo de um paciente através da água, como pode ser
necessário para o treino da natação. Quanto maior a área da superfície deslocada e
quanto maior a velocidade do movimento, maior a resistência oferecida ao
deslocamento anterior do objeto.

• Pressão hidrostática: a Lei de Pascal afirma que as moléculas de um líquido


exercem uma pressão igual sobre cada parte da área da superfície de um corpo
imerso. A pressão aumenta com a densidade do líquido e com a profundidade,
provocando estímulos mecânicos sobre a pele.

Outros conceitos mecânicos devem ser considerados na prática de exercícios


aquáticos. A inércia de repouso e de movimento, a ação gravitacional, as posturas
relativas entre os segmentos, bem como conceitos cinesiológicos e biomecânicos
específicos do corpo humano são fundamentais na dinâmica da hidrocinesioterapia.
Serão citadas abaixo algumas variáveis importantes a serem consideradas durante as
sessões de hidrocinesioterapia.

*Variáveis a serem consideradas durante o movimento na água:

• Força Gravitacional - princípios de torques

• Força de flutuação - densidade relativa dos segmentos

• Pressão Hidrostática

• Fricção - Atrito

• Viscosidade

• Massa - Peso da água

• Velocidade - Aceleração

• Fluxo laminar - Fluxo turbulento - Fluxo em esteira

• Área - Superfície do segmento deslocado


• Princípios das alavancas - movimento angular

• Aparatos que incrementam resistência: flutuadores e aumento de superfícies

• Temperatura da água

• Dinâmica muscular e articular

• Engramas motores e sensoriais

• Atividade reflexa

• Sensibilidade cinestésica

5. CINESIOLOGIA E BIOMECÂNICA NA ÁGUA: FUNDAMENTOS DA


HIDROCINESIOTERAPIA

5.1. Introdução

A Cinesiologia e a Biomecânica humana têm dedicado sua atenção para a


manifestação motora no ambiente terrestre e, para tanto, muitos instrumentos têm
evoluído tecnologicamente na busca de respostas mais específicas e fidedignas sobre
a complexa motricidade humana.

Os movimentos realizados no meio líquido, embora tenham merecido a atenção


de muitos autores, dados os seus efeitos benéficos indiscutíveis a nível empírico, não
possuem uma clara sistematização, como aqueles realizados “em seco”. Com base nos
princípios físicos da água, descritos acima, somados aos conceitos já explorados pela
cinesiologia humana, nós temos procurado uma forma didática e reflexiva de abordar o
movimento humano no meio líquido. Para tanto, é necessário que utilizemos conceitos
fundamentais das ciências do movimento, como planos e eixos, graus de liberdade
articular e princípios de torque e alavancas.

5.2. Proposta de Classificação dos exercícios aquáticos

Durante a prática da hidroterapia em piscinas, em nível clínico e acadêmico, nós


temos utilizado uma classificação de exercícios na água, com o intuito de
SISTEMATIZAR CINESIOLOGICAMENTE AS ATIVIDADES FÍSICAS AQUÁTICAS.
Esta proposta visa acima de tudo a reflexão por parte do fisioterapeuta, no sentido de
melhor estabelecer os seus procedimentos e programas de tratamento com base nos
objetivos propostos para cada paciente. Desta forma, para as atividades com o objetivo
de reabilitação, segue abaixo uma forma de classificação dos exercícios terapêuticos
realizados no meio líquido:
Não há dúvidas quanto às diferenças entre os elementos gasosos, sólidos e
líquidos. O meio líquido possui propriedades e princípios físicos determinantes quando
se realizam movimentos com o corpo submerso. Num primeiro momento, precisamos
entender a interação entre os três elementos: o ar e a força gravitacional, o corpo
humano e seus segmentos - elementos sólidos, e o elemento fluido, a água. Dentre as
propriedades físicas determinantes para a análise do movimento no meio líquido,
destacam-se a densidade do meio líquido, densidade relativa e peso hidrostático do
corpo submerso. Além disso, são fundamentais as considerações acerca da pressão
hidrostática, tensão superficial, viscosidade, fluxo laminar e fluxo turbulento do líquido,
além da fricção entre a superfície da pele e fâneros e a água.

O movimento humano realizado no ambiente “seco” encontra princípios


mecânicos como peso do segmento, adicionado ou não a sobrecargas, além de
princípios mecânicos do movimento angular, como torque ou momentos de força e de
resistência. Neste contexto, a força gravitacional é o princípio determinante para as
análises acerca da cinesiologia humana. Já o movimento realizado na água encontra,
além da força da gravidade agindo sobre os segmentos corporais, princípios físicos
como a força de flutuação e o efeito friccional do viscoso meio líquido, além do efeito
de sucção provocado pela turbulência. Esta última representa uma resistência ao
deslocamento anterior do segmento determinada pela velocidade de deslocamento do
líquido e pela área do segmento em deslocamento. Por esta razão, é fundamental que
se analise o movimento submerso a partir da postura do corpo e do segmento corporal
em relação à água, além do sentido e velocidade do movimento. Antes de
apresentarmos a classificação dos exercícios na água, é importante revisarmos alguns
princípios da matéria no estado líquido, os quais foram apresentados por Skinner e
Thomson (1985):

1) Densidade e densidade relativa: a densidade de uma substância é a relação


entre sua massa e seu volume (d = m/v). A densidade relativa ou gravidade específica
de uma substância é a relação entre a massa de um dado volume de substância e a
massa do mesmo volume de água. A densidade relativa da água pura é 1; um corpo
com gravidade específica menor do que 1 flutuará, e um corpo com mais de 1
afundará na água.

2) Flutuação: a flutuação é a força que atua em sentido oposto à gravidade.


Determinada pelo princípio de Arquimedes, a flutuação ocorre quando um corpo está
completa ou parcialmente imerso em um líquido em repouso, uma vez que sofre uma
força de empuxo para cima igual ao peso do líquido deslocado. O corpo humano
apresenta variabilidade diante da flutuação. Se a quantidade de ar na caixa torácica
determinar uma densidade igual ou menor do que 0,95, ele flutuará. Todavia, a
capacidade pulmonar pode determinar diferenças quanto à flutuação. Além disso, a
densidade do corpo humano é dependente da composição corporal, a qual é
determinada pela relação entre as quantidades dos diferentes tecidos que o compõem,
relativamente à sua superfície. Desta forma, pessoas com diferentes densidades
possuem diferentes densidades relativas, e isso é determinante para a flutuabilidade
dos corpos. Quando o corpo está flutuando, a relação entre as partes submersas e
aquelas não submersas é de 0,95: 0,05. Se a porção não submersa do corpo exceder
0,05, a quantidade de água deslocada pelo restante será insuficiente para sustentar o
peso do corpo, e segmentos como a pelve e os membros inferiores afundarão. Uma
vez que a relação entre a gravidade e o empuxo determinam centros de equilíbrio,
quando o peso do corpo flutuante iguala-se ao peso do líquido deslocado, os centros
de flutuação e de gravidade estão na mesma linha vertical, o corpo é mantido em
equilíbrio estável. Quando se deseja explorar a flutuação para a realização de
exercícios, podem ser utilizados flutuadores para reduzir a densidade de segmentos
corporais, seja para sustentação do corpo, facilitação ou resistência a movimentos.

3) Pressão Hidrostática: a Lei de Pascal afirma que as moléculas de um líquido


exercem um impulso sobre cada parte da área de superfície de um corpo imerso. Este
impulso por unidade de área é a pressão do líquido. A pressão hidrostática é exercida
igualmente sobre todas as áreas da superfície de um corpo imerso em repouso, a uma
dada profundidade. A pressão aumenta com a densidade do líquido e com a
profundidade.

4) Fluxo laminar: é o fluxo alinhado com uma correnteza. O fluxo alinhado com a
corrente é um movimento firme contínuo de líquido, com a velocidade de movimento
em qualquer ponto fixo permanecendo constante. Ele pode ser figurado como camadas
muito delgadas de moléculas de líquido deslizando uma sobre a outra, as camadas
mais internas movendo-se rapidamente, as mais externas movendo-se lentamente, e
as mais externas permanecendo estacionárias. Uma vez que a velocidade crítica da
água é muito baixa, somente movimentos com baixa velocidade podem manter o fluxo
laminar, enquanto que movimentos com maior velocidade provocam turbulência, a qual
provoca resistência ao movimento.

5) Fluxo turbulento: o fluxo turbulento é produzido quando a velocidade de fluxo é


aumentada além de um certo nível - a velocidade crítica da água. É um movimento
irregular do líquido, criando movimentos rotatórios ocasionais denominados
redemoinhos. A resistência friccional devida ao fluxo turbulento é maior do que aquela
devida ao fluxo alinhado com a corrente. No fluxo alinhado, a resistência é diretamente
proporcional à velocidade, enquanto que no fluxo turbulento a resistência é
proporcional ao quadrado da velocidade. A resistência oferecida pelo fluxo laminar é
devido ao atrito entre as camadas das moléculas do líquido apenas, enquanto que no
fluxo turbulento a resistência é devida ao atrito entre moléculas individuais do líquido e
a superfície do corpo deslocado. Quando um corpo se desloca através da água,
desenvolve-se uma diferença na pressão da água entre a frente e a traseira do corpo.
Uma pressão é formada na frente e diminuída na traseira, resultando em um fluxo de
água para dentro da área de pressão reduzida - conhecido como “esteira”.
Redemoinhos são formados na esteira, em parte a partir da água em torno das bordas
e em parte a partir da água atrás do corpo. O fluxo para dentro da esteira é assim
dificultado, tendendo a arrastar para trás o objeto. O aumento da velocidade do
movimento determina aumento no arrasto, incrementando assim a resistência. Se o
movimento é subitamente invertido, ele sofre a oposição da inércia da água, e ocorre
turbulência. Se a esteira chocar-se com uma superfície, o rebote causa também
turbulência. Corpos de pequena superfície que se deslocam na água alinham-se com a
corrente, enquanto que corpos de grande superfície desalinham-se, provocando
turbulência, e, portanto, maior resistência ao movimento. Por esta razão, a velocidade
do movimento e a superfície do segmento corporal deslocado determinam maior ou
menor resistência aos movimentos.

A turbulência provoca também estímulos exteroceptivos para a face localizada


posteriormente ao deslocamento realizado. É possível que estes estímulos de suave
pressão estimulem uma percepção mais rica do sentido, velocidade e aceleração,
amplitude e magnitude de força aplicada durante um gesto. Desta forma, pode-se
inferir que a percepção cinestésica seja favorecida pelos estímulos adicionais
presentes nos movimentos que provocam o fluxo turbulento.

Outros princípios físicos da água participam da hidrodinâmica, tais como adesão


e coesão das moléculas, tensão superficial, viscosidade e refração das ondas
luminosas. Todavia, eles não serão aprofundados aqui.

PRINCÍPIOS CINESIOLÓGICOS DA HIDROCINESIOTERAPIA: UMA


PROPOSTA DIDÁTICA

• Conceitos acerca da avaliação do paciente: anamnese, exame físico e


análise dos exames complementares, bem como avaliação dos movimentos funcionais
são indispensáveis para se estabelecer os objetivos do tratamento e prognóstico
idealizado, para então serem determinados os procedimentos em escala progressiva. A
primeira sessão do paciente na água visa complementar a avaliação convencional, a
fim de se observar sua adaptação e habilidades no meio líquido, densidade corporal e
flutuabilidade e, bem como, suas atitudes comportamentais na piscina.

• Exercícios Terapêuticos :

1) Exercícios Passivos: são exercícios realizados por forças externas,


preferencialmente com a musculatura envolvida relaxada. Os exercícios passivos
podem visar mobilização inicial do paciente, previamente a uma sessão de exercícios.
Podem também visar ganho de ADM (amplitude de movimento) ou mesmo para
relaxamento do paciente. No ambiente aquático, algumas forças externas podem ser
utilizadas para a realização de exercícios passivos. Desta forma, é possível se fazer a
seguinte subdivisão:

a) Passivos Manuais: são manuseios e mobilizações passivas realizadas pelo


fisioterapeuta. Nesta categoria, são incluídas manobras de decoaptação articular,
movimentos translatórios articulares, osteopatia e demais formas de abordagem ou
terapia manual. Além disso, técnicas de massoterapia também são aqui enquadradas,
como escovação, descolamento, deslizamento e amassamento, percussão e
massagem com bolinhas terapêuticas e outros materiais. São também aqui
enquadrados os exercícios rotatórios passivos, como alongamentos passivos manuais
de diferentes articulações.

b) Passivos pela força de arrasto: na realidade, soma-se ao start garantido pela


força do fisioterapeuta, o qual impulsiona, traciona ou puxa uma parte do corpo do
paciente na superfície da água, de forma que a força de arrasto ou pressão provocada
pela água provoque um ou mais movimentos em outra(s) articulação(ões). Por
exemplo, estando o paciente em supino, sustentado por flutuadores, se o fisioterapeuta
tracioná-lo pelos calcâneos, naturalmente os ombros sofrerão um efeito da força de
arrasto que os levarão à abdução. Desta forma, o movimentro de abdução de ombros
bilateralmente será realizado pela força de arrasto ou pressão exercida pela água
sobre a face medial dos MMSS do paciente.

c) Passivos pela inércia de movimento do fluxo da água: a inércia de


movimento presente no fluxo de esteira da água também pode ser utilizada como forma
para a realização de movimentos passivos. Estes exercícios são bem aplicados para
relaxamento e mobilizações do paciente, seja para ganho de ADM ou mesmo para
iniciar a deformação dos elementos articulares passivos (como ligamentos e cápsulas).
Estes exercícios também necessitam do start garantido pela força do fisioterapeuta.
Normalmente esta força se manifesta após o término da aplicaçào da força do fisio. Por
exemplo, utilizando o mesmo exemplo anterior: após o término da aplicação da força
de “puxar” o paciente pelos calcâneos (a qual havia provocado a abdução dos ombros
do paciente), o movimento de adução dos ombros ocorrerá pela força do fluxo de
esteira, que tende a continuar pela inércia de movimento da água. Outro exemplo:
estando o paciente em supino, sustentado por flutuadores no tórax, cervical e pelve, se
o fisioterapeuta tracionar os calcâneos ocorrerá flexão de joelhos e quadris do paciente
passivamente, através da pressão exercida pelo fluxo de esteira da água,
imediatamente após a tração axial realizada pela força de “puxar” exercida pelo fisio
previamente.

d) Passivos pelo empuxo ou flutuação: são movimentos ou posições mantidas


pela força de flutuação. Para a realização destes exercícios, utilizam-se flutuadores
para garantir uma força ascencional que provoque um ou mais movimentos articulares.
Pode-se utilizar este tipo de exercícios para ganho de ADM ou para alongamentos. Por
exemplo, se um paciente for orientado a realizar pernadas de crawl com uma
pranchinha, a força de flutuação exercida pela pranchinha provocará o movimento de
flexão dos ombros, podendo servir como uma proposta terapêutica para um paciente
com diminuição de ADM na flexão do ombro. Da mesma forma, se um aquatub for
colocado no dorso do pé do paciente, estando ele na postura de pé, a força de
flutuação provocará plantiflexão do tornozelo e flexão do joelho, podendo ser indicado
como um exercício para alongamento de quadríceps.

2) Exercícios Ativo-assistidos: estes exercícios podem ser realizados com o


auxílio das mesmas forças descritas nos exercícios passivos. A diferença entre os
ativo-assistidos e os passivos é que nestes últimos, é solicitado ao paciente que ele
realize o movimento auxiliado pelas forças já descritas. São indicados para grupos
musculares que têm força muscular menor do que 3 (não vencem a gravidade), como
por exemplo, em lesões de nervos periféricos ou seqüelas de lesões centrais
(músculos paréticos). Para o start do movimento, o fisioterapeuta pode aplicar a força
inicial, no caso de se utilizar a inércia de movimento do fluxo da água como força
auxiliar.

3) Exercícios de Facilitação: o próprio nome já define: são exercícios facilitados,


mas não assistidos. Neste caso, o peso do segmento a ser movimentado é reduzido
pelo uso de flutuadores e o movimento é realizado ativamente pelo paciente. Os
exercícios de facilitação na água seguem o princípio de que quanto maior o volume do
flutuador ou número de flutuadores, mais facilitado será o movimento, já que a redução
do peso do segmento aumenta. Além disso, quanto maior o braço momento do
empuxo, maior o seu torque e, portanto, mais facilitado será o movimento. Tais
exercícios devem ser realizados na superfície da água, de forma lenta e no sentido do
fluxo de esteira. Desta forma, varia a posição do paciente na água conforme o
movimento que se deseja facilitar. Deve ficar claro que alguns casos têm contra-
indicações de certos posicionamentos, o que requer flexibilidade na técnica de
facilitação e criatividade por parte do fisioterapeuta. A aplicação dos exercícios
facilitados usualmente ocorre em casos de déficit de força muscular, espasticidade,
ADM diminuída, incoordenação ou mesmo visando relaxamento. São indicados para
grupos musculares que têm força muscular menor do que 3 (não vencem a gravidade),
como por exemplo, em lesões de nervos periféricos ou seqüelas de lesões centrais
(músculos paréticos). Além disso, eles podem ser utilizados para gestos que envolvam
músculos tensos, espasmódicos e/ou dolorosos, a fim de prover uma variação de
comprimento muscular sem desencadear tensão. A sustentação do segmento,
proporcionada pela flutuação, auxiliará o paciente no movimento, uma vez que o peso
do segmento a ser movimentado é reduzido pelo uso de flutuadores. Este tipo de
movimento assemelha-se aos chamados “movimentos de polia”, conhecidos pela
fisioterapia terrestre. Os exercícios de facilitação na água seguem o princípio de que
quanto maior o volume do flutuador ou número de flutuadores, mais facilitado será o
movimento, já que a redução do peso do segmento aumenta. Além disso, há uma
relação entre o torque do empuxo e o torque gravitacional. Quanto maior o braço
"momento do empuxo", maior o seu torque e, portanto, mais facilitado será o
movimento. Todavia, braços mecânicos mais longos também aumentam o torque
gravitacional, o que confere à graduação deste tipo de exercício a necessidade de
pesquisas para a quantificação de forças externas. Tais exercícios devem ser
realizados na superfície da água, de forma lenta para evitar grande turbulência. Desta
forma, varia a posição do paciente na água conforme o movimento que se deseja
facilitar.

Deve ficar claro que alguns pacientes têm contra-indicações de certos


posicionamentos, o que requer flexibilidade na técnica de facilitação e criatividade por
parte do fisioterapeuta.

Exemplos de realização de um movimento com o segmento aparatado de


flutuadores de forma a mantê-lo na superfície da água.

• flexo-extensão (decúbito contralateral)

• adução - abdução (decúbito dorsal)

• rotação medial - lateral (ortostase)

• flexo-extensão horizontal (ortostase)

3) Exercícios Resistidos: os exercícios resistidos podem ser realizados de


diversas formas no meio líquido: por resistência do empuxo ou flutuação, pela
turbulência, por resistência manual, por sobrecarga , ou por extensores elásticos.
Pode-se ainda combinar mais de um tipo de resistência, o que denominamos de
exercícios mistos.

A rigor é impossível se determinar uma força resistente apenas durante a


realização de um exercício. Várias forças resistentes se somam durante a realização
de movimentos no meio líquido, como por exemplo, viscosidade, arrasto ou atrito,
turbulência e flutuação, no caso do uso de implementos flutuantes ou flutuadores. A fim
de facilitar a sistematização dos exercícios, faremos aqui uma subdivisão dos
exercícios de acordo com a força resistente (ou as forças) predominante (s).

Com finalidade didática, nós propomos uma classificação quanto às forças


resistentes predominantes, sem todavia afirmar que esta é a única força resistente. Ao
termo turbulência, pode-se atribuir o somatório dos efeitos da resistência da própria
turbulência, somada à fricção ou atrito e viscosidade da água. Desta forma,
considerando as forças predominantemente resistentes, os exercícios resistidos podem
ser realizados de diversas formas no meio líquido como apresentado previamente.

Os exercícios resistidos têm o objetivo de aumento de força muscular ou da


resistência muscular localizada (RML), conforme a intensidade/carga e o número de
repetições realizados. Eles devem ser realizados progressivamente, de acordo com o
quadro clínico e com as respostas de cada paciente ao programa de tratamento. Deve-
se ter cuidados com situações de processos degenerativos de articulações, edemas
importantes ou quadros inflamatórios, bem como doenças agravadas pela fadiga,
hipertensões arteriais e outros casos. O trofismo muscular é proporcional à força, o que
determina uma resposta de hipertrofia como resultado do programa de fortalecimento,
mas não podemos deixar de considerar que o paciente adquire melhor habilidade em
recrutar unidades motoras após o início do programa de fortalecimento. Alguns
profissionais determinam números de repetições dos exercícios subjetivamente.
Todavia, podem ser utilizados os sintomas de fadiga como o limite para o repouso
entre as séries de exercícios.

Os exercícios com uso de sobrecarga são os menos utilizados, porque os


mesmos são realizados convencionalmente na fisioterapia “em seco”. O uso de
implementos com alta densidade, como os compostos por chumbo ou areia tem sido
apresentados pelo mercado para a utilização dos mesmos no meio líquido. Apesar de
oferecerem resistência ao movimento, uma vez que não são objetos flutuantes, eles
reproduzem os princípios mecânicos utilizados no meio terrestre, porém adicionados da
força friccional da água bem como da força resistente provocada pela flutuação.

Podem ser utilizados os exercícios com uso de extensores ou materiais elásticos


para oferecer resistência ao movimento, embora as borrachas apresentem problemas
de deterioração com a umidade, sobretudo as faixas. Os extensores elásticos
apresentam uma resistência progressiva à extensão do seu comprimento, o que
determina gestos motores de contração concêntrica e excêntrica na “ida” e “volta”,
respectivamente. O mercado tem apresentado uma graduação de resistência conforme
a característica do material, o que tem sido diferenciado a partir das cores das faixas.

Os exercícios resistidos por resistência manual incrementam a propriocepção e


determinam um controle maior da resistência por parte do fisioterapeuta. Além disso,
pode-se optar pela resistência manual quando a posição para explorar o empuxo ou a
turbulência são contra-indicados para o paciente. Todavia, a resistência manual
depende muito do aspecto subjetivo de percepção de força por parte do fisioterapeuta.

Os exercícios resistidos predominantemente pelo empuxo ou flutuação


caracterizam-se por serem seletivos quanto ao grupo muscular agonista, o qual realiza
a contração isotônica concêntrica quando afunda o segmento e excêntrica quando
desacelera o movimento realizado pela flutuação. Se o segmento corporal a ser
movimentado tiver densidade menor do que 1 não há necessidade de uso de
flutuadores para pequenas resistências. Quando se pretende explorar a resistência da
flutuação, devem ser levados em consideração os princípios de graduação de força,
que são: o volume e o número de flutuadores; a distância dos flutuadores em relação à
articulação (o que determina o braço de resistência), a profundidade da piscina e a
velocidade do movimento. A variável velocidade do movimento incorpora a resistência
oferecida também pela turbulência oriunda do deslocamento do segmento. Os
exercícios resistidos por flutuadores podem ser classificados em Simples e
Combinados:

a) Simples: quando apenas um movimento articular é realizado contra o empuxo.


É muito raro, uma vez que comumente várias articulações se movimentam durante um
gesto motor. Ex: flexão do punho utilizando-se um flutuador na mão.

b) Combinados dinâmicos: quando mais de uma articulação realiza movimento


contra o empuxo (ex: extensão de joelho e quadril com o paciente de pé).

c) Combinados estático-dinâmicos: quando um grupo muscular estabiliza uma


articulação com o segmento submerso enquanto uma articulação vizinha realiza
movimento contra o empuxo (ex: o paciente de pé, com o flutuador no tornozelo,
afunda a coxa estabilizando-a enquanto flete o joelho).

Os exercícios resistidos pelo empuxo apresentam uma limitação em relação aos


resistidos pela turbulência. Enquanto que os exercícios resistidos pela turbulência
permitem que todo o arco do movimento seja realizado em uma única postura, os
resistidos pelo empuxo requerem algumas vezes alteração de postura, conforme o
ângulo de movimento que se deseja trabalhar. Por exemplo, na adução e abdução do
ombro: Resistindo o movimento pela turbulência, o paciente adota apenas a postura
supina ou prona para trabalhar todo a amplitude do movimento. Todavia, para resistir
somente a adução pelo empuxo, precisam ser adotadas três posturas. De 180° a 90°, o
pcte adota o decúbito ipsilateral; de 90°a 0°, o paciente adota a posição vertical
(ortostase ou agachado, conforme a profundidade da piscina); para realizar a
hiperadução, somada à flexão do ombro, o paciente adota o decúbito contralateral.
Para resistir à abdução os decúbitos são: de 0 a 90: ipsilateral; 90 a 180: de ponta
cabeça - o que já limita bastante os exercícios resistidos pelo empuxo de abdução do
ombro em toda a sua ADM. Estas características conferem aos exercícios resistidos
pelo empuxo uma certa limitação em algumas amplitudes de movimento de algumas
articulações, o que exige do fisioterapeuta criatividade e senso crítico ao desenvolver
seu programa de tratamento, no sentido de variar as formas de resistência conforme o
objetivo de tratamento..
**OBS: Há uma forma de se realizar contração isotônica concêntrica de grupos
antagonistas com o uso de flutuadores: quando, ao invés de se desacelerar o
movimento a favor do empuxo, realiza-se o movimento “forçado” contra e a favor do
empuxo, de forma a incrementar a velocidade do movimento no sentido da flutuação.
Neste caso, a resistência será oferecida pelo fluxo turbulento formado, bem como pelo
peso da água, sua viscosidade e pressão hidrostática, EMBORA HAJA UMA FORÇA
ASCENCIONAL AUXILIANDO O MOVIMENTO. Isto determina normalmente cargas de
resistência mais baixas do que aquelas oferecidas somente pela turbulência. Este
exercício pode ser classificado como resistido predominantemente pelo empuxo na
primeira fase, enquanto que a segunda fase (ou a “ volta” do segmento à superfície),
pode ser considerado como resistido predominantemente pela turbulência, atrito e peso
da coluna de água.

Os exercícios resistidos predominantemente pela turbulência são aqueles


realizados com uma velocidade que seja capaz de formar turbulência. Na realidade,
somam-se as resistências oferecidas pela viscosidade do fluido, do atrito ou fricção e
da resistência oferecida na parte posterior do segmento, devida à turbulência formada.
Para tanto, eles devem ser realizados com velocidade superior à velocidade crítica da
água, a fim de provocar o efeito de turbulência, a qual determina redemoinhos que
provocam efeito de sucção sobre o segmento em movimento. O segmento em
movimento deve estar submerso e pode ocorrer no sentido horizontal, paralelo em
relação à água, na vertical ou na diagonal.

A resistência provocada pela turbulência é proporcional ao quadrado da


velocidade implantada pelo movimento. Portanto, o aumento da velocidade aumenta
grandemente a resistência ao movimento. Os exercícios realizados com a força
máxima do paciente de forma que a velocidade se estabilize, são capazes de produzir
uma contração semelhante à isocinética, a qual se caracteriza pelo recrutamento
sincronizado das unidades motoras. Os exercícios contra a turbulência, caracterizam-
se por exigir a contração de dois grupos musculares antagonistas de forma isotônica
concêntrica. Podemos determinar maior ou menor exigência de um dos grupos se
modificarmos a área de deslocamento da água (superfície do segmento ou do
implemento utilizado), a velocidade do movimento, ou o braço de resistência da
alavanca corporal. Além disso, o aumento da profundidade do segmento em
movimento determina maior resistência.

Os exercícios mistos são aqueles que combinam a resistência pela flutuação (ou
empuxo) e pela turbulência. Para tanto, utilizam-se flutuadores e movimentos no
sentido horizontal da piscina. Um grupo muscular encarrega-se de estabilizar o
flutuador sob a água, através de isometria, enquanto dois outros grupos musculares
trabalham dinamicamente, em contração isotônica concêntrica ou isocinética
explorando a turbulência. Tais exercícios podem ser classificados em:
a) Exs. Mistos tipo 1: quando um grupo muscular de uma dada articulação
estabiliza o segmento sob a água, enquanto dois outros grupos, da mesma articulação,
realizam movimentos horizontais na piscina através de contração concêntrica ou
isocinética. Ex: sentado, com flutuadores nos punhos, o paciente mantém a 90 graus
os ombros, com os braços submersos pela isometria dos adutores, enquanto realiza
flexão e extensão horizontal dos ombros dinamicamente.

b) Exs. Mistos tipo 2: um grupo muscular de uma articulação mantém um


segmento submerso, enquanto dois outros grupos movimentam outra articulação
explorando a turbulência. Ex: sentado, o paciente mantém os ombros submersos a 90
graus e em rot. medial, pela isometria de adutores dos ombros, enquanto flexores e
extensores do cotovelo exploram dinamicamente a turbulência.

Os exercícios complexos são aqueles que exploram a turbulência e o empuxo,


mas, por serem realizados em diversos eixos, variam os músculos estabilizadores e os
de contração dinâmica, alternando movimentos contra o empuxo e contra a turbulência.
Desta forma, o gesto motor é composto de contrações concêntricas, excêntricas e
estáticas, exigindo maior propriocepção e coordenação motora. Ex: de pé, com os
ombros submersos e com um flutuador na porção distal do MS, realizar movimentos de
flexão-adução-rotação medial e rotação lateral-abdução-extensão, desenhando um
“oito” imaginário sob a água.

CONCLUSÃO

A sistematização de exercícios realizados no meio líquido possibilita o


desenvolvimento de programas de exercícios terapêuticos e de condicionamento físico
mais específicos. Por outro lado, o desenvolvimento de análises cinesiológicas de
gestos motores podem colaborar com estudos mais aprofundados de programas de
condicionamento físico e treinamento em piscinas. A classificação hidrocinesiológica é
apenas um passo para o aprofundamento científico na área, havendo a necessidade de
instrumentalização de mais centros de pesquisa do movimento humano na água, tendo
em vista a expansão das atividades aquáticas como fator preventivo e terapêutico.

6. CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA

Algumas considerações práticas importantes podem ser feitas ao se considerar


a fisioterapia aquática na sua dinâmica de trabalho. A seguir, faremos alguns
comentários sobre temas pertinentes:

TEMPERATURA DA ÁGUA: é importante considerar o gradiente de


temperatura entre o ambiente externo e a piscina. Desta forma, a determinação da
temperatura da piscina leva em consideração o clima e o período do ano, bem como a
localização da cidade. Em locais frios, a temperatura da piscina pode variar de 34 a 36
graus, enquanto que em cidades quentes equatoriais a temperatura ficará
freqüentemente entre 32 e 33 graus centígrados. Na experiência do grupo de
Fisioterapia Aquatica da Profa. Dra. Flavia Martinez, em Porto Alegre, sul do País, 33 a
34 graus são boas temperaturas para a reabilitação aquática em geral. Em uma
pesquisa realizada nos EUA, através de questionário, foi constatado que a temperatura
em que os indivíduos sentem maior bem-estar é 33 graus centígrados.

O ideal seria a adequação da temperatura da piscina para o tipo de paciente.


Por exemplo, pacientes espásticos, tensos, com dor miofascial ou fibromialgia, bem
como pacientes com diminuição de ADM, requerem temperaturas mais altas da água,
como 34 graus. Entretanto, gestantes, pacientes de reabilitação desportiva, ortopédicos
e traumatológicos em geral, bem como em doenças neurológicas que sofram com a
fadiga, como distrofia muscular progressiva, esclerose múltipla, esclerose lateral
amiotrófica entre outros casos, são melhor beneficiados se trabalharem em piscinas
menos quentes (31,5 /32 a 33 graus no máximo). Desta forma, o ideal seria ter mais de
uma piscina, a fim de selecionar os casos para o trabalho na temperatura ideal.

ESTRUTURA DO SERVIÇO: a estrutura do serviço deve garantir acessos


seguros, corrimões, piso antiderrapante e pessoal qualificado para auxiliar os
pacientes. Além disso, é interessante que haja serviços conveniados ou um local para
Primeiros Socorros, em virtude de incidentes eventuais na piscina. Além disso, noções
de salvamento são importantes.

PROFUNDIDADE DA PISCINA: o ideal é o piso móvel, de forma que permita o


ajuste da profundidade para o paciente, quando o mesmo está realizando exercícios ou
treino de marcha, e para o fisioterapeuta, quando este realiza manuseios,
deslocamentos do corpo do paciente ou mesmo aplicação de métodos como Watsu e
Jahara. Uma vez que o custo é alto, pode-se ter uma piscina com diversas
profundidades, desde 60, 70 ou 80 cm até 2m ou mais, para atividades em deep water.
A maior parte da piscina deve ter entre 1,20 e 1,50, para a realização da maioria das
propostas terapêuticas.

AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA: deve ser realizada a avaliação


convencional, com uma boa anamnese e exame físico, incluindo considerações de
quais são os objetivos do paciente e da equipe de saúde com a fisioterapia aquática.
Além disso é muito importante a análise dos exames complementares, como RX,
ressonância magnética, tomografia computadorizada, densitometria óssea,
escanometria, entre outros, dependendo do caso. A primeira sessão (ou as primeiras
sessões) devem incluir avaliação complementar, quando serão detectadas
informações como: densidade do corpo do paciente, adaptação ao meio líquido,
comportamento na água, respostas de aprendizagem motora, força muscular,
propriocepção e equilíbrio, respiração, relaxamento, etc. Com base em todos os dados,
pode-se então programar o tratamento a curto médio e longo prazo.

FREQÜÊNCIA DAS SESSÕES: a freqüência semanal das sessões fica


interdependente com a freqüência das sessões de fisioterapia convencional. Alguns
pacientes alternam duas, três vezes por semana. Outros fazem fisio aquática
diariamente. Tudo depende do momento da lesão ou da doenca e dos objetivos à curto
prazo.

DURAÇÃO DAS SESSÕES: de 30 minutos a uma hora, dependendo do caso.


45 minutos é uma boa opção para a maioria dos casos.

SESSÕES EM GRUPO OU INDIVIDUAIS: as sessões individuais são mais


produtivas, pois a atenção do fisioterapeuta é exclusiva do paciente. Alguns pacientes
como neurológicos graves ou com deficiência física dependentes, ou mesmo idosos e
pessoas não-adaptadas ao meio líquido requerem igualmente sessões individuais. As
sessões em grupo são aquelas onde embora cada paciente tenha o seu programa de
tratamento, a atenção do profissional e o espaço na piscina é dividido entre 3, 4 ou 5
pacientes.

FISIOTERAPIA EM SECO x FISIOTERAPIA AQUÁTICA: a fisioterapia aquática


costuma ser considerada um complemento ao tratamento do paciente. Uma vez que o
habitat natural do homem é definitivamente o ambiente “terrestre”, não podemos
desconsiderar que a fisioterapia convencional é indispensável. É claro, todavia, que há
momentos ou fases do tratamento que a fisioterapia aquática pode ter um papael mais
importante na reabilitação do paciente, como por exemplo quando o objetivo
fundamental é ganho de ADM.

HIDRATAÇÃO: é importante que fisioterapeutas e pacientes estejam atentos à


hidratação permanente, pois a diurese aumentada pela imersão provoca uma perda
hídrica considerável, sobretudo para os profissionais, que permanecem maior tempo
imersos. Desta forma, oferecer água, chás e sucos é uma boa atitude a ser tomada por
parte do serviço.

TRATAMENTO DA ÁGUA: freqüentemente se utiliza o cloro, mas atualmente a


utilização do sal (NaCl) tem sido comum.

UMIDADE: o controle da umidade é importante tanto pelo aspecto da saúde


quanto pela manutenção do material, pois a umidade costuma ser causa da
deterioração de muitos materiais.
VESTIÁRIOS: vestiários individuais são uma boa opção para as piscinas
terapêuticas, pois garantem maior privacidade ao paciente. Estes devem ser adaptados
e seguros.

USO DE MATERIAIS: podem ser classificados em:

• Barras, barras paralelas, escada de fibra, macas, bancos, bicicletas, steps e


acessórios da estrutura da piscina: importantes suportes, de preferência móveis, para
liberar eventualmente a piscina.

• Flutuadores: halteres, bolas, bóias de braço, pull-boys, tapetes, pranchinhas,


tornozeleiras, aquatubs ou espaguettis, etc. Servem para dar suporte, facilitar ou
resistir a movimentos.

• Resistores: aquafins, nadadeiras, luvas, palmares, remos, harpas, sorrisos, etc.


São materiais que exploram mais a turbulência para proverem resistência aos
movimentos.

• Materiais de propriocepção: de fundo de piscina e flutuantes: são materiais que


oferecem instabilidade ao paciente, para treino de equilíbrio ou propriocepção. Podem
ser explorados em cadeia fechada ( materiais de fundo de piscina) ou em cadeia aberta
( materiais flutuantes ou flutuadores)

7. PROPRIOCEPÇÃO NA ÁGUA

A proposta de criação de exercícios para fins de incremento da propriocepção,


equilíbrio e coordenação surge ao hidroterapeuta constantemente em seu trabalho,
Cada exercício executado seja qual for o seu propósito (fortalecimento, resistência ou
alongamento) deve conter tais elementos, de forma consciente ou não para que dele
sejam obtidos a melhoria da performance, o aumento do esquema corporal e a
diminuição dos riscos de lesão. Na verdade, não poderemos isolar cada um desses
conceitos , estão interligados no processo gestual, podemos apenas optar pela
primazia de um sem no entanto ignorar os outros.

“A propriocepção (lat. Próprio, de alguém , ceptive, receber) refere-se ao uso do


ïnput sensorial dos receptores dos fusos musculares, tendões e articulações para
discriminar a posição e os movimentos articulares, inclusive a direção, amplitude e
velocidade, bem como a tensão relativa sobre os tendões .Alguns neurofisiologistas
incluem os órgãos vestibulares no sistema proprioceptivo pois sua eferência
proporciona o conhecimento consciente da orientação dos movimentos da cabeça
“(LEHMKUL & SMITH 1989).Podemos inserir no contexto da propriocepção a
sensibilidade profunda consciente e inconsciente, assim como a exterocepção ;A
sensibilidade térmica e tátil.
Os exercícios aquáticos com o fim de incremento à propriocepção podem ser
realizados das seguintes formas:

1- Com apoio fixo ( fundo da piscina, degraus, barras laterais e paralelas)

2- Com apoio em flutuadores (pranchas, espaguetes, bóias e bolas ).

1 - Fundo da piscina ou degraus como apoio:

Propriocepção podal

• Inicialmente serão descritos exercícios com fins de incremento à propriocepção


podal . .A postura inicial será a ortostática e a orientação ao paciente será de:

• Observar e sentir seu apoio no fundo da piscina sem apoios auxiliares (em
casos neuropatológicos de desequilíbrio tônico ou déficit sensorial deverá haver
atividades prévias de regularização tônica ou estimulação sensorial conforme cada
caso)

• Executar marcha analítica; apoio do calcanhar, bordo externo, amortecimento


das cargas e antepé respectivamente em diversas velocidades explorando-se a
turbulência ou a sustentação pelo empuxo

• Executar estruturação dos arcos plantares (segundo BÉZIÈRES) variando-se a


orientação e intensidade dos exercícios propostos ( marcha normal, acelerada, em slow
- motion , lateral, de costas etc.)

• Executar apoios unipodais com as orientações já descritas anteriormente


variando-se o posicionamento do MMII contralateral, exigindo então a estruturação do
arco plantar em outros graus de liberdade com alavancas diversas.(poderemos variar
as posições dos joelhos, quadris, tronco e MMSS em inúmeras combinações

• Conforme a fase do tratamento e as condições do pcte. usar os exercícios já


descritos combinados com saltos e\ou trocas radicais de posicionamento.

• Exercícios semelhantes aos já descritos (estruturação dos arcos plantares)


poderão ser executados com apoio de um dos pés nos degraus variando-se as ADMS
dos joelhos e quadris assim como rotações do tronco combinadas às variações de
ADM com orientações diversas; liberando-se inversões e eversões (conforme os
objetivos buscados) ou fomentando se a estabilidade dos arcos estruturais.

2 - Barras laterais e paralelas como apoio :


Serão descritos a seguir exemplos de exercícios neuromusculares utilizando-se
as barras laterais e paralelas como PONTOS FIXOS (propriocepção podal).

• Posição: apoio de MMSS nas paralelas, decúbito dorsal, estimular habilidades


preensivas dos pés segurando objetos tais como: bolas de diversos tamanhos,
halteres, flutuadores etc. Nesta posição poderemos variar os graus de ADM das
diversas articulações suprajacentes de forma simétrica ou não.

• Posição idem à anterior variando-se da horizontal para a vertical e para posição


prona (nesse caso será exigido do pcte. um esforço muscular bem superior ao ex.
anterior sendo este um exercício de fortalecimento acima de tudo.)

• Posição ortostática, com apoio nas paralelas (MMSS) colocar sob os pés do
pcte. objetos que possam estimular a superfície plantar; halteres com água ,bolinhas
que não flutuem etc.

• Posição idem à anterior utilizando-se pranchas de propriocepção (de madeira


densa) circulares, retangulares, longitudinais ou transversais

• Posição idem à anterior, utilizar-se de objetos com densidade menor que a da


água (exercício misto; com apoio(também sobre flutuadores ) espaguetes,
pranchas, bóias etc.

• Posição: apoio de ambas as mãos em barra lateral, apoio dos pés na parede
lateral da piscina , varia-se os ângulos de flexão dos joelhos simetricamente
ou não orientando o pcte. a manter a estabilidade e o alinhamento da
articulação tibio-társica

3- Uso da viscosidade, tensão superficial e turbulência :

• Os exercícios proprioceptivos podais utilizando a viscosidade e a turbulência


poderão ser utilizados em várias profundidades dependendo apenas do quadro a ser
tratado e dos objetivos buscados, por exemplo:

• Em casos de paralisias periféricas ou déficits sensitivos poderemos realizar


passivamente movimentos em diversas velocidades em imersão total ou parcial com o
intuito de estimular os receptores sensoriais de pressão , de vibração os receptores
cinestésicos através da turbulência e\ou movimentação.

• Movimentos ativos em todos os graus de liberdade poderão ser executados em


diversas velocidades tais como; batidas de pernas dos diversos nados , padrões
Kabat, etc.
8. ESQUEMA PRÁTICO DE UMA SESSÃO DE HIDROTERAPIA OU
FISIOTERAPIA AQUÁTICA

AQUECIMENTO: podem ser utilizados, no início das sessões de pacientes


ortopédicos ou mesmo neurológicos leves: Treinos de marcha, deslocamentos na
horizontal ou “bicicletas” podem ser orientados. Diferenças cinesiológicas das
diferentes propostas:

• Marcha de frente: músculos da cadeia posterior são mais exigidos:


paravertebrais, glúteos,ísquios e tríceps sural

• Marcha de costas: cuidados com a lombar: evitar hiperextensão exagerada de


quadril em pacientes hiperlordóticos e/ou com lombalgias. Exige mais atividade de
flexores do quadril (principalmente psoas ilíaco e reto femoral), bem como quadríceps e
co-contração de tibial anterior e tríceps sural.

• Marcha de lado: pode ser feita com mini-agachamentos ou com o joelho


estendido. A atividade maior é de adutores de quadril, pequena atividade de
quadríceps, bem como pronadores e supinadores da subtalar. Os abdutores trabalham
em cadeia aberta.

• Marcha cruzada: pode-se fazer cruzando o MI pela frente ou por trás.


Cruzando por trás há um aumento da lordose lombar. Por isso, deve-se pensar na
indicação. É um tipo de marcha que incrementa a dissociação de cinturas, com uma
atividade mais intensificada na musculatura abdutora e rotadora lateral do quadril
(como pelvitrocanterianos, glúteo médio e glúteo máximo.a musculatura prono-
supinadora da subtalar.

• As “bicicletas” podem ser feitas com o apoio das barras paralelas ou por
flutuadores, tais como os aquatubs. Se a ênfase da aceleração for no sentido de
afundar os calcâneos, a musculatura mais ativa é a posterior de MMII; se houver
dorsiflexão a atividade maior é de glúteos e ísquios, durante a isometria de
dorsiflexores. Os abdominais podem ser estabilizadores e o torque de resistência para
os músculos do MI é menor do que se esta bicicleta for realizada com plantiflexão.

Se a ênfase do exercício for dada ao “chutar” a água, há mais ênfase ao


quadríceps e psoas-ilíaco, além de tensor da fáscia lata, durante um trabalho
isométrico de plantiflexores e flexores dos artelhos – se houver plantiflexão, ou de
dorsiflexores e extensores dos artelhos, se houver dorsiflexão. Nesta última forma, o
torque de resistência é menor e a exigência da musculatura é menor.

8.1. MOBILIZAÇÕES PASSIVAS


Podem ser realizadas no ínicio, no meio ou no final da sessão, com objetivos de
relaxamento, preparação para os exercícios, incremento da percepção e ADM.
Incluem-se aqui manobras passivas, decoaptações articulares e terapia manual. Para a
realização das técnicas escolhidas, o paciente pode estar fixo ou suportado por
implementos, como flutuadores, bancos, macas, etc., com um trabalho mais cinético ou
dinâmico. Tudo vai depender do objetivo.

8.2. ALONGAMENTOS PASSIVOS MANUAIS

São utilizados antes, no meio ou no final das sessões. É importante se ter a


certeza de que há realmente o efeito que se espera. Por isto, aspectos como conforto
ao paciente e boa fixação por parte de paciente e fisioterapeuta é muito importante.
Várias propostas de alongamento e pegadas serão desenvolvidas com treinamento
pratico, incluindo a musculatura: No MI, intrínsecos e extrínsecos do pé, tríceps sural
(sóleo e gastrocnêmios), adutores do quadril, isquiotibiais, rotadores laterais e trato
iliotibial, psoasilíaco, glúteos, rotadores mediais de quadril. Além disso, a musculatura
do MS: extensores e flexores horizontais, adutores e abdutores das escápulas, flexores
e extensores de cotovelo e musculatura de punho e dedos.

8.3. ALONGAMENTOS E EXERCÍCIOS PASSIVOS PELO EMPUXO

Aqui são utilizados flutuadores como suporte, quando pode-se alongar diversos
grupos musculares dos segmentos.

8.4. UTILIZAÇÃO DE MÉTODOS TERAPÊUTICOS

Sobretudo o Bad Ragaz é muito utilizado para os segmentos, mas há boa


aplicação de Feldenkrais, Burdenko, Osteopatia Aquática, Halliwick , Jahara e mesmo
métodos de fisioterapia em seco adaptados à água.

8.5. EXERCÍCIOS ATIVOS

Serão utilizados exercícios progressivos, em uma ordem lógica estabelecida no


programa de tratamento, incluindo, se necessário, ativo-assistidos ou facilitados,
evoluindo para os resistidos de diferentes tipos. É muito importante o feedback visual e
a percepção da sensação subjetiva sobre a intensidade dos exercícios. A progressão
deve ser cuidadosa e a análise cinesiológica dos mesmos é fundamental para que os
objetivos sejam alcançados

O questionamento do fisioterapeuta a si próprio, ao propor um exercícios de por


que se quer este exercício e a qual objetivo ele contempla é fundamental para um
programa de reabilitação eficaz.
O número de repetições, o intervalo entre as séries e a carga do exercícios
devem ser bem estabelecidos. As teorias de treinamento e prescrição de exercícios
devem ser aqui aplicadas, para que o programa tenha sucesso. A utilização de
exercícios que utilizem o músculo-alvo (aquele que se quer realmente atingir) ou a
cadeia de músculos-alvo pode ser realizada com o músculo ou os músculos atuando
como agonistas ou sinergistas. É necessário se observar o tipo de contração realizada
e o tempo de contração durante os exercícios.

É necessário se observar os seguintes aspectos, ao se programar um exercício;

• tipo de material resistor: número e volume de flutuadores, densidade do objeto


ou poder de flutuação, área frontal do resistor, etc.

• a velocidade dos movimentos, uma vez que quanto mais se tenta acelerar o
movimento, maior é a turbulência e o atrito.

• torque de resistência: quanto maior o comprimento do braço mecânico, maior o


torque. A posição dos implementos é importante.

8.6. MANUSEIOS RELAXANTES NA PISCINA e RELAXAMENTOS NA ÁGUA

Podem ser utilizadas massagens de diferentes tipos nos segmentos corporais.


Relaxamento passivo ou autógeno podem ser aplicados na piscina.

O AI-CHI é uma forma interessante de se promover, percepção cinestésica,


equilíbrio, controle respiratório e relaxamento. Exercícios perceptivos e mobilizações
passivas podem também ser incluídos aqui.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

- SKINNER e THOMSON. Exercícios na água. Ed Manole

- RUOTI R, MORRIS DM, COLE AJ..Reabilitação Aquática. Ed Manole. Sao


Paulo, 2000.

- COLE, Terapia Aquática Moderna. Ed Manole. Sao Paulo

- CAMPION MR, Hidroterapia: Principios e Pratica. Ed Manole. Sao Paulo, 2000.

- BATES A, HANSON N. Exercícios Aquáticos Terapêuticos. Ed Manole. Sao


Paulo, 1998.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

- DULL H. Watsu – Exercicios para o corpo na agua. Summus Editorial. Sao


Paulo, 2001.

- WHITE MD – Exercicios na agua. Ed. Manole. Sao Paulo, 1998.

- ABOAARRAGE N – Hidro treinamento. Ed. Shape. Rio de Janeiro, 2003.

- SANZ M, SANZ M. Tu Hijo y el Agua: Natacion precoz para bebes y ninos.


Ediciones B. Buenos Aires. 2006.

- JAKAITIS F. – Reabilitação e Terapia Aquática: aspectos clinicos e praticos. Ed.


Roca.Sao Paulo, 2007.

- PARREIRA P, BARATELLA TV. Fisioterapia Aquatica. Ed. Manole. Sao Paulo,


2010.

OBS: Parte deste material foi desenvolvido na Acquaticus - Saúde e Movimento de


Porto Alegre, sob coordenação da Profa. Dra. Flavia Martinez e gentilmente cedido
para uso no curso de graduação em Fisioterapia da UNIFESP.
(http://www.acquaticus.com.br)

Você também pode gostar