Linhas de Transmissão

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1

PROGAGAÇÃO EM LINHAS DE TRANSMISSÃO

1 - Definição: Linhas de transmissão (LT) são dispositivos usados para a transmissão de sinais
(informação) ou de energia através da propagação guiada de ondas eletromagnéticas.

2 - Tipos de Linha de Transmissão (exemplos):

Linha bifilar
Cabo coaxial
Microfita (microstrip)

Exemplo: Transmissão através de um cabo coaxial.

3 - Teoria de Circuitos × Teoria de Linhas de Transmissão

Exercício: Calcular a tensão na carga para:


a) l = 5 m e f = 60 Hz; vL(t)
b) l = 1000 km e f = 60 Hz;
c) l = 5 m e f = 10 MHz.

Considere que a onda de tensão se propaga sem atenuação e com v = 3×108 m/s.
2

a) l = 5 m e f = 60 Hz:

Por teoria de circuitos (divisão de tensão):

v L t   5 cos2f t .

Entretanto, o atraso de propagação introduz uma defasagem :

 2  v 3  108
      , com       5  106 m
   f 60

 2 
   6 
 5  2  106 rad    0,00036o
 5  10 

Portanto: 
v L t   5 cos 2f t  0,000360 .

b) l = 1000 km e f = 60 Hz:

 2   2  2
      6 
 106  rad    72o
    5  10  5

Assim:  
v L t   5 cos 2f t  720 .

c) l = 5 m e f = 10 MHz:
v 3 108
   30 m
f 10 106

 2   2  
        5     60o
    30  3

Portanto:  
v L t   5 cos 2f t  600 .

Conclusão: A teoria de circuitos, que é uma aproximação da teoria mais geral de Linhas de
Transmissão, apresenta bons resultados somente quando l << λ.
3

4 - Parâmetros Primários de uma LT:

R = resistência série por unidade de comprimento [/m]  associada às perdas e às quedas


de tensão ao longo da linha devidas às imperfeições nos condutores;
L = indutância série por unidade de comprimento [H/m]  associada às quedas de tensão
ao longo da linha devidas ao fluxo magnético produzido pelas correntes nos condutores;
G = condutância paralela por unidade de comprimento [S/m]  associada às perdas e às
correntes de condução entre condutores devidas às imperfeições no dielétrico;
C = capacitância paralela por unidade de comprimento [F/m]  associada às correntes de
deslocamento entre condutores devidas ao fluxo elétrico produzido pelas cargas neles.

5 - Possíveis Circuitos Equivalentes de um Segmento z de uma LT:

Modelo T Modelo π

6 – Análise de uma Linha de Transmissão:

Usando o Modelo T no domínio da frequência:


4

LTK (laço externo):

R L R L
 VS  IS   j z  (IS  IS )  j z  VS  VS  0.
2 2 2 2

VS
 (R  jL)IS  R  jLIS .
1
Ou seja,
z 2

Fazendo Δz → 0, tem-se que ΔIS → 0. Assim, a taxa de variação da tensão com a distância ao
longo da linha é dada por:

VS
 (R  jL)IS . (1)
z

A equação (1) mostra que a variação da tensão é proporcional à impedância série da linha e à
corrente nos condutores.

LTK (laço interno):

R L 1
 VS  IS   j z  IS  0.
2 2 (G  jC)z

IS
 (G  jC)VS  (G  jC)R  jLISz.
1
Ou seja,
z 2

Fazendo Δz → 0, obtém-se a taxa de variação com a distância ao longo da linha:

IS
 (G  jC)VS . (2)
z

Como esperado, equação (2) mostra que a variação da corrente é proporcional à admitância
paralela da linha e à diferença de potencial entre os condutores.
A partir de (1) e (2), é possível obter uma equação única em termos apenas de uma variável (a
tensão, por exemplo). Para isso, deriva-se (1) em relação a z:

 2 VS I
 (R  jL) S .
z 2
z

Utilizando (2), tem-se:

 2 VS
 (R  jL)(G  jC)VS . (3)
z 2
5

A equação anterior é uma equação diferencial linear a coeficientes constantes, a qual pode ser
reescrita como:
 2 VS
  2 VS ,
z 2

onde:

  (R  jL)(G  jC)    j (constante de propagação). (4)

Soluções de (3):

VS  V0 e  z  onda de tensão se propagando no sentido +z (onda incidente)

VS  V0 e z  onda de tensão se propagando no sentido -z (onda refletida).

Solução completa:

Como a equação é linear, a soma de duas soluções também é uma solução válida. Assim:

VS  VS  VS .

Considerando uma linha sem reflexões (VS  0)

VS  V0 e  z  V0 e z e  jz (domínio da frequência).

No domínio do tempo:

V(z, t )  V0 ez cos(t  z). (5)

6.1 - Comparação das equações das LTs com as equações da O.P.U.:

OPU LT

E xS VS
  jH yS  (R  jL)IS
z z
H yS IS
 (  j)E xS  (G  jC)VS
z z
 2 E xS  2 VS
 j(  j)E xS  (R  jL)(G  jC)VS
z 2 z 2

Desta forma, verifica-se que existe uma grande semelhança entre as equações que regem a
propagação numa linha de transmissão e as equações que regem a propagação de uma onda plana
uniforme.
6

6.2 - Analogia entre as grandezas:

OPU ExS HyS   

LT VS IS L G C R

Assim, as equações e definições associadas às linhas de transmissão podem ser obtidas por
analogia com as equações obtidas anteriormente para as OPUs.

OPU LT

1 - Campo elétrico 1 - Tensão

E xS  E x 0e z  E x 0e z VS  V0 e z  V0e z

2 - Constante de Propagação 2 - Constante de Propagação

  j(  j)    j   (R  jL)(G  jC)    j

3 - Impedância Intrínseca 3 - Impedância Característica

E xS j VS R  jL


 ˆ   Z0 ˆ  
H yS   j IS G  jC

Para meios sem perdas:    /  Para linhas sem perdas: Z0  L / C

4 - Campo Magnético 4 - Corrente

E x 0  z E x 0 z V0  z V0 z
H yS  e  e IS  e  e
  Z0 Z0

5 - Velocidade de Fase 5 - Velocidade de Fase

 
vf  f vf  f
 

Para meios sem perdas: v f 1  Para linhas sem perdas: v f  1 LC


7

OPU LT

6 - Coeficiente de Reflexão 6 - Coeficiente de Reflexão

E x10 2  1 V0 Z L  Z0
 ˆ    ˆ  
E x10 2  1 V0 Z L  Z0

meio 1 meio 2 Meio 1: linha Meio 2: carga

OI OT +
Z0(LT) VL ZL
-
OR

1 - meio onde se propaga a onda incidente; 0 - linha de transmissão;


2 - meio onde se propaga a onda transmitida. L - carga (ex.: antena, circuito receptor, etc.).

7 - Coeficiente de Transmissão 7 - Coeficiente de Transmissão

E x 20 22  ˆ
VL

2ZL
  1
 ˆ    1 

E x10 2  1 V0 ZL  Z0

8 - Coeficiente de Onda Estacionária 8 - Coeficiente de Onda Estacionária

E x máx 1  Vmáx 1  
SWR ˆ  VSWR ˆ 
E x mín 1  Vmín 1  

9 - Impedância de Entrada (meio sem perda) 9 - Impedância de Entrada (LT sem perda)

E xS1 2  j1tg1  VS ZL  jZ 0 tg 


in ˆ  1 Zin ˆ  Z0
H yS1 1  j2 tg1  IS z
Z0  jZ L tg 
z 

Meio 1 (sem perdas) Meio 2


Linha sem perdas
carga
1 2 Z0 ZL
 in
Zin z=0
z=-
z   z0 z
8

7 - Linha de Transmissão Sem Perdas:

Uma linha sem perdas é feita com condutores perfeitos (σc → ∞) e com dielétricos perfeitos
(σd = 0). Desta forma, tem-se: R = 0 e G = 0. Portanto:

Constante de propagação:   j LC  0 e    LC (6)

L
Impedância característica: Z0  . (7)
C

Assim, para uma linha sem perdas, as ondas de tensão e corrente estão em fase (no tempo e no
espaço) e se propagam sem atenuação.

8 - A Linha sem Perdas Terminada

A figura abaixo mostra uma LT sem perdas, com impedância característica Z0, terminada numa
carga arbitrária ZL, a qual pode representar uma antena transmissora, um circuito receptor, uma
outra linha, um elemento localizado, etc.

Vref Z L  Z 0
Coeficiente de reflexão:   (8)
Vinc Z L  Z 0

Coeficiente onda estacionária (VSWR): (VSWR = Voltage Standing Wave Ratio)

Vmáx Vinc  Vref 1  


VSWR ˆ   (1  VSWR < ) (9)
Vmin Vinc  Vref 1  
9

Módulo da tensão ao longo da linha: (para Vinc = 1 V e  = 0,3).

Pref   Pinc
2
Potência refletida: (10)

Potência transmitida à carga: 


Ptra  PL  1  
2
P
inc . (11)

8.1 - Definições adicionais:

Perda por reflexão (“reflection loss”):


P 

ref . loss ˆ 10 log inc   10 log 1   2  [dB] (12)
 Ptra 

P 
Perda de retorno (“return loss”): ret. loss ˆ 10 log inc   20 log  [dB]. (13)
 Pref 

8.2 - Casos particulares:

a) linha casada (sem reflexão): ZL = Z0

 =0  VSWR = 1  ref. loss = 0 dB  ret. loss = 

b) linha curto-circuitada (reflexão total): ZL = 0

  = -1  VSWR =   ref. loss =   ret. loss = 0 dB

c) linha em aberto (reflexão total): ZL = 

 =1  VSWR =   ref. loss =   ret. loss = 0 dB


10

8.3 - Impedância de entrada: razão entre os fasores tensão e corrente na entrada da linha.

V Z L  jZ 0 tg l
Z in   Z0 (LT sem perdas) (14)
I z  l Z 0  jZ L tg l

Casos particulares:

a) linha casada (ZL = Z0): Zin  Z 0  Z L

b) linha terminada em curto-circuito (ZL = 0): Zin  jZ0 tg l  (-j < Zin < j)

 jZ 0
c) linha terminada em circuito aberto (ZL = ): Zin  (-j < Zin < j)
tg l 

d) l = /2: l = (2/)(/2) =   tg l = 0  Z in  Z L

Z 02
e) l = /4: l = (2/)(/4) = /2  tg l =   Z in  (transformador de /4)
ZL
11

EXERCÍCIOS

Exercício 1: Uma linha de transmissão sem perdas (usada como fio de descida de antenas de TV) possui
impedância característica Z0 = 300 Ω. Em 82 MHz, o comprimento de onda na linha é de 3 m. Calcular os
valores de L e C (por unidade de comprimento) da linha.

LT sem perdas: R = 0 e G = 0

1
vf   f  3  82 106  2,46 108 m / s
LC

L
Z0   300
C

1 L 1 1 1
v f Z0    C   C  13,6 pF/ m
LC C C v f Z0 2,46 108  300

L  C Z02  13,6 1012  3002  L  1,22H / m .

Exercício 2: Em que condições uma linha de transmissão com perdas tem impedância característica real?

R  jL LR L  j L R L  j


Z0    .
G  jC CG C  j C G C  j

R G
Condição para Z0 real:  (condição de Heaviside)
L C

Observação: Implicações da condição de Heaviside:

  (R  jL)(G  jC)  L(R L  j)C(G C  j)  LCG C  j

L
G  j LC .
C
L R
Portanto: G G  RG
C G

 1
   LC  vf   .
 LC
12

Desta forma, verifica-se que quando a condição de Heaviside é obedecida, tanto a atenuação quanto a
velocidade de propagação da onda na linha são independentes da frequência. Portanto, nesse caso, sinais com
diferentes componentes de frequência se propagam sem distorção.
Em linhas telefônicas, de maneira geral tem-se que R/L >> G/C. Assim, a condição de Heaviside pode ser
atendida aumentando-se artificialmente a indutância distribuída da linha. Isso pode ser feito inserindo
bobinas regularmente espaçadas ao longo da linha.

Essa técnica é conhecida como “pupinização”, em homenagem ao físico sérvio-americano Mihajlo Pupin,
que a propôs em 1899. Atualmente, as linhas telefônicas transmitem sinais digitais, menos sujeitos a efeitos
da distorção. Por conta disso, as linhas não são mais pupinizadas, pois a pupinização diminui a largura de
faixa do sistema, limitando as taxas de transmissão.

Exercício 3: Uma linha com Z0 = 50 Ω alimenta uma carga composta por um resistor de 20 Ω em série com
um capacitor C, produzindo um coeficiente de onda estacionária VSWR = 4. Se a frequência de operação é
de 600 MHz, calcule o valor de C.

1 
VSWR  4   3 5
1 

ZL  Z0 20  jX C  50  30  jX C 3
   
ZL  Z0 20  jX C  50 70  jX C 5

302  X C2 3 1
  X C  36,74  
702  X C2 5 C

1
C  C  7,2 pF .
2fXC
13

Exercício 4: Uma linha de transmissão sem perdas, com 2,0 m de comprimento, conecta uma antena a um
receptor FM. A linha tem Z0 = 300 Ω e vf = 2,5 × 108 m/s. A impedância de entrada do receptor FM é de
300 Ω e a antena receptora pode ser modelada por seu equivalente de Thévenin: fonte de tensão alternada
com amplitude de 0,6 mV e impedância interna de 300 Ω, com f = 100 MHz. Determinar a tensão, a corrente
e a potência ativa (média): a) na entrada da linha; b) na carga.

vg(t) = 0,6 cos(2π × 108t) [mV]


Zg = ZL = Z0 = 300 Ω
l=2m

VS, IS, VL e IL → fasores

VS Z  jZ0 tg l 
a) Zin   Z0 L  Z0  300  (linha sem reflexão: ZL  Z0 ).
IS Z0  jZ L tg l 

Circuito equivalente (visto pela fonte):

Corrente: IS 
Vg
Zg  Zin

0,6  103 00
300  300
 106 00 A  
is t   1 cos 2 108 t  A

Tensão: VS  Zin IS  300106 00  0,3 103 00 V  


vs t   0,3 cos 2 108 t  mV
 0,3 103  106 
Potência: PS  VS ef IS ef cos S    
 2  cos 0 
0
PS  1,5 1010 W  150pW .
 2  

b) Como não há reflexão (linha casada), há uma única onda na linha, propagando-se da fonte para a carga.
Uma vez que a linha é sem perdas, essa onda sofrerá apenas um atraso de fase ao longo do comprimento da
linha.

 2 108
   0,8 rad / m  1440 / m (α = 0)
v f 2,5 108

Assim, a propagação ao longo dos 2 m da linha introduz um atraso de fase de 2  144º = 288º. Portanto:
14

VL  0,3 103   2880 V  


vL t   0,3 cos 2 108 t  2880  mV
I L  106   2880 A  i L t   1 cos2 108 t  2880  A
 0,3  103  106 
PL  VL ef I L ef cos  L     cos 00  PL  1,5 1010 W  150pW .
 2  2 


Como a linha é sem perdas, a potência na saída é igual à potência na entrada ( PL  PS ).

Exercício 5: Refazer o exercício anterior supondo que a carga agora é formada por dois receptores FM
idênticos, cada um com impedância de entrada de 300 Ω, ligados em paralelo na saída da linha.

vg(t) = 0,6 cos(2π × 108t) [mV]


ZL = 300 Ω // 300 Ω = 150 Ω
l=2m  βl = 288º

ZL  jZ0 tg l  150  j300 tg(2880 )


a) Zin  Z0  300  509,71  23,790   466,4  j205,6  .
Z0  jZL tg l  300  j150 tg(288 )
0

Circuito equivalente (visto pela fonte):

IS 
0,6  103 00
300  466,4  j205,6
 7,56  107 15,020 A 
 is t   0,756 cos 2 108 t  15,020  A

  
VS  509,71  23,790  7,56 107 15,020  3,85104   8,770 V

 vs t   0,385 cos 2 108 t  8,770  mV
 0,385 103  0,756 106 
PS  VS ef IS ef cos S     cos 23,790  PS  1,331010 W  133pW .
 2  2 
15

Observa-se que a potência que entra na linha é menor do que no exercício anterior. Isso ocorre porque
antes se tinha máxima transferência de potência da fonte pra linha (Zin = Zg =300 Ω), o que não acontece no
caso presente (Zin ≠ Zg). Além disso, agora se tem duas ondas propagando-se na linha (uma da fonte para a
carga e outra no sentido oposto). Assim, a tensão na entrada da linha corresponde à soma das tensões das
duas ondas em z = -l. e, do mesmo modo, a tensão na carga corresponde à soma das tensões das duas ondas
em z = 0. Por essa razão, não se pode usar o mesmo procedimento do exercício anterior para calcular a
tensão e a corrente na carga.
Entretanto, como a linha é sem perdas, tem-se:

PL  PS  1,331010 W .
VL ef2
Como a carga é puramente resistiva (real): PL 
RL

VL ef  PL R L  1,331010 150  1,41104 Vrms .

Portanto: VL pico  2 VL ef  2 1,41104  VL pico  0,2 mV

VL pico 0,2  103


I L pico    IL pico  1,33A .
RL 150

Neste caso particular, como a linha é sem perdas, ainda foi possível calcular os valores de pico da tensão
e da corrente na carga. O equacionamento geral do problema será feito na próxima seção.

9 – Forma Hiperbólica das Equações de Linhas de Transmissão

O objetivo aqui é o de fazer o equacionamento completo de um sistema que inclui uma linha de
transmissão, a qual poderá ser com ou sem perdas e estar ou não casada com a carga.

9.1 – Introdução: Antes de proceder à análise, será apresentada uma breve revisão das funções
hiperbólicas.

Definição: cosh 
2

1  
e e  (A)

senh  
1  
2
e e  (B)

senh
tgh   . (C)
cosh
24

VL  VS e  

   
VL  5,85  4,770 e 0,0074 j0,0356200  5,85  4,770 e 1,48 j7,12

  
VL  5,85  4,770 0,228  407,950  1,33  412,720  1,33  52,720 Vrms  VL ef  1,33 Vrms

VL 1,33  52,720
IL    1,91 103   41,300 A rms  IL ef  1,91 mArms
ZL 696,8  11,420


PL  VL ef I L ef cosL  1,331,91103 cos 11,420   PL  2,49 mW

10 – Népers e Decibéis

Até aqui, a atenuação nas linhas de transmissão foi dada em népers por metro (Np/m).
Entretanto, particularmente em linhas de transmissão usadas em telecomunicações, é mais usual
exprimir a atenuação na linha em decibéis por metro. O objetivo aqui é de definir decibel e fazer a
transformação de népers em decibéis.

10.1 - Definição de decibel:

Na figura abaixo, o sistema representa um quadripolo qualquer (por exemplo, um amplificador,


um filtro, um atenuador, uma linha de transmissão, etc.):

P 
Ganho em decibéis: G (dB)  10 log L  (33)
 PS 

P 
Atenuação em decibéis: D(dB)  10 log S   G(dB) . (34)
 PL 

Por exemplo, se a potência na saída for 1000 vezes maior que a potência na entrada, tem-se que
o ganho é de 30 dB. Também, caso a potência na saída seja 100 vezes menor que a potência na
entrada, a atenuação será de 20 dB.
25

10.2 – Atenuação numa linha de transmissão:

Seja o sistema de transmissão de sinais:

Zin = Rin + jXin

ZL = RL + jXL

Como a potência ativa desenvolve-se apenas na parte real (resistiva) das impedâncias, tem-se:

2 2
1 VL 1 VS
PL  RL e PS  R in .
2 ZL 2 Zin

Assim, a atenuação em decibéis na linha de transmissão é dada por:

1 2

 VS
R in 
 PS  2 Zin 
D(dB)  10 log   10 log 2 . (35)
 PL  1 VL 
2 RL 
 ZL 

Para uma linha sem reflexão, tem-se que Zin = Z0 = ZL e Rin = RL. Assim, as potências na entrada
e na saída desenvolvem-se sobre impedâncias de mesmo valor. Nesse caso, tem-se:

V 
  20 log VS  .
2

D(dB)  10 log S V  (36)


 VL   L 
 

10.3 – Transformação de népers para decibéis:

Para uma linha sem reflexão, tem-se apenas a onda que se propaga no sentido fonte-carga, cuja
amplitude sofre uma atenuação exponencial com a distância. Portanto, a amplitude da tensão na
carga é dada por:

VL  VS e  . (37)
26

Atenuação em Népers:

N    VL  VS e  N . (38)

Por exemplo, uma atenuação de 1 Np corresponde a uma redução na amplitude da tensão por um
fator e-1, 2 Np corresponde a uma atenuação da tensão por um fator e-2, etc.

Atenuação em decibéis:

A partir de (36) e (37), vem:

V   VS 
D(dB)  20 log S   20 log  
 
  20 log e  20 log e . (39)
 VL   VS e 
Ou seja,

D(dB)
D(dB)  8,686   8,686 N   8,686  . (40)

Tem-se, portanto, que uma atenuação de 1 Np/m corresponde a uma atenuação de 8,686 dB/m.
Dessa forma, a conversão é feita usando as equações abaixo:

1 Np / m  8,686 dB / m e 1 dB / m  0,1151 Np / m . (41)

Exercício: Uma linha de transmissão com  = 50 m, terminada em sua impedância característica, fornece
1250 W à carga. Se a potência na entrada da linha é de 1600 W, determinar:
a) o rendimento (eficiência) da transmissão;
b) a constante de atenuação da linha;
c) a relação entre as amplitudes da tensão no ponto médio da linha e nos terminais de entrada.

PL 1250
a)      0,781 78,1%
PS 1600
27

P   1600
b) D(dB)  10 log S   10 log   1,072dB .
 PL   1250

Assim, a atenuação por unidade de comprimento na linha é de 1,072 dB/50 m = 0,02144 dB/m. Como
não há reflexão, pode-se usar (40):

D(dB) 0,02144
     2,47 103 Np / m .
8,686 8,686

VPM
c) VPM  VS e  / 2   e   / 2
VS

VPM 3 VPM
 e  2, 4710 25   0,94 .
VS VS

11 – Casamento de Impedâncias

A figura abaixo mostra um sistema de transmissão de sinais, incluindo dois dispositivos para
adaptação de impedâncias.

Dispositivo de casamento 1: tem a função de casar a linha com a carga, de modo a não haver ondas
refletidas na linha de transmissão.

Condição: Zin1 = Z0.

Dispositivo de casamento 2: sua função é possibilitar a máxima transferência de potência da fonte


para a entrada da linha e, consequentemente, para a carga.

Condição: Zin2 = Zg*.

Na prática, os circuitos de transmissão são projetados para terem impedância Zg com o mesmo
valor da impedância característica da linha (Z0), o qual geralmente corresponde a algum valor
padronizado (50 Ω, por exemplo). Assim, o dispositivo de casamento 2 geralmente é desnecessário.
28

11.1 – Exemplos de dispositivos de casamento

a) Transformador de quarto de onda: segmento de uma linha de transmissão sem perdas, com
impedância característica Z0' e comprimento   ' / 4, colocado entre a linha principal e a carga.

É preciso lembrar que o comprimento de onda no transformador de quarto de onda não é igual ao
comprimento de onda na linha principal, ou seja, λ' ≠ λ. O comprimento do casador deve
corresponder a um quarto do comprimento de onda nele próprio, conforme será visto na sequência.
A impedância de entrada do transformador de quarto de onda terminado na carga ZL é dada por:

 ZL 
  jZ '0 
Z  jZ tg 
'
tg 
Zin  Z'0 'L 0
 Z'0  ,
Z0  jZ L tg   '
Z0 
  jZ L 
 tg  

2  '  
com     tg   tg    .
' 4 2 2

Assim,

 Z'  ( Z' ) 2
Zin  Z'0  0   0 . (42)
 ZL  ZL

Para não haver reflexão, é necessário que Zin = Z0:

( Z'0 ) 2
 Z0  Z'0  Z0  ZL . (43)
ZL

Portanto, a impedância característica do transformador de quarto de onda tem que ser igual à
média geométrica entre a impedância da linha principal e a impedância de carga.
29

Exemplo: Projetar um transformador de quarto de onda para casar uma linha sem perdas, cujos parâmetros
primários são L = 1,22 μH/m e C = 13,6 pF/m, com uma carga resistiva de 560 Ω.

L 1,22 106
Z0    Z0  300 
C 13,6 1012

Z'0  Z0 ZL  300 560  Z'0  410  .

Por exemplo, pode-se projetar a linha de transmissão a ser usada como transformador de quarto de onda
de modo que seus parâmetros primários sejam L' = 2,05 μH/m e C' = 12,2 pF/m ( Z0'  L' C'  410  ).
Caso a frequência de operação seja de 100 MHz, o comprimento do casador é calculado conforme abaixo.

 ' v' f 1 1
       0,5 m .
4 4f 4f L' C' 4  108 2,05  106  12,2  1012

Desta forma, um segmento de linha Z0' com l = 0,5 m, intercalado entre a carga e a linha principal, faz o
casamento de impedâncias na frequência de 100 MHz.

O transformador de quarto de onda tem duas limitações principais:


- o casamento só é obtido numa frequência única. De fato, no exemplo acima, o perfeito casamento
só é obtido na frequência de operação de 100 MHz. Para outros valores de frequência, o
comprimento do casador deixa de corresponder a um quarto de onda, de modo que a equação (42)
não é mais válida. Nesse caso, a escolha de Z0' conforme (43) não garante mais um casamento
perfeito. Portanto, o transformador de quarto de onda é um casador de banda estreita. Entretanto,
pode-se mostrar que a largura de banda do casamento pode ser aumentada com o uso de mais de um
transformador de quarto de onda em cascata.
- O valor de impedância obtido a partir de (43) dificilmente corresponderá a um valor padronizado
(50 Ω ou 75 Ω, por exemplo). Portanto, deve-se projetar e construir uma linha especificamente para
usar como casador, o que nem sempre é viável.

b) Casamento com elemento localizado

Esta técnica consiste em conectar um elemento de circuito, em paralelo com a linha, a uma dada
distância a partir da carga, de modo a evitar ondas refletidas na linha à esquerda do ponto de
conexão. O valor do elemento de circuito e a posição exata onde será conectado são calculados de
forma a obter o casamento.

Exemplo: Uma linha sem perdas, com impedância característica Z02 = 600 Ω e l = 0,2λ, é terminada numa
carga ZL = 200 Ω. A linha de 600 Ω é carga de uma outra linha de transmissão, com Z01 = 300 Ω. Que
impedância deve ser conectada (em paralelo) na junção das linhas de modo que não haja ondas refletidas na
linha de 300 Ω?
30

A onda, vindo da esquerda, propaga-se na linha de impedância Z01 = 300 Ω. Ao chegar ao ponto de
junção, enxerga o paralelo de Z com Zin. Assim para que não haja reflexões no ponto de junção entre as
linhas, deve-se ter:

1 1 1
Zin // Z  Z01    .
Zin Z 300

ZL  jZ02 tg l 
Mas Zin  Z02 ,
Z02  jZ L tg l 

 2 
com     0,2  0,4 rad  72o .
  

Assim:

200  j600 tg 72o


Zin  600  1.296,5638,08o  .
600  j200 tg 72o

Portanto:

1 1 1
   Z  360,4  10,03o   354,9  j62,8  .
1.296,5638,08 Z 300
o

Observa-se que a impedância requerida para o casamento tem uma parte resistiva. Na prática, isso deve
ser evitado, pois a parte resistiva está associada à dissipação de potência. Desta forma, deve-se usar um
elemento puramente reativo (indutor ou capacitor). Isso não foi possível neste caso porque já se fixou
previamente a posição a partir da carga onde a impedância seria conectada. Num caso prático, tanto a
posição quanto o valor do elemento reativo devem ser calculados simultaneamente.
34

12 – Cálculo dos Parâmetros Primários das Linhas de Transmissão

Conforme visto anteriormente, calcula-se a constante de propagação e a impedância


característica de uma linha de transmissão a partir do conhecimento de seus parâmetros primários
(R, L, G e C por unidade de comprimento). Estes dependem dos aspectos construtivos da linha
(geometria e materiais usados) e podem também variar com a frequência. Nesta sessão, serão
apresentadas as equações para o cálculo dos parâmetros primários dos principais tipos de linhas de
transmissão. O equacionamento completo não será apresentado, mas segue o procedimento descrito
na sequência.

Cálculo de R: Para calcular a resistência distribuída da linha de transmissão, usa-se a equação


abaixo.

2
R , (45)
S

onde l é o comprimento total da linha de transmissão e S é a área da seção transversal por onde flui
a corrente. O fator 2 no numerador deve-se ao fato de a resistência por unidade de comprimento da
linha incluir a resistência dos dois condutores que a compõem (supondo-os idênticos). A área da
seção transversal deve levar em conta o efeito pelicular, caso seja relevante.

Cálculo de L: Para calcular a indutância distribuída, aplica-se uma corrente na linha, a qual produz
um campo magnético. A partir do cálculo do fluxo magnético total (Φm) entre os condutores,
calcula-se a indutância conforme abaixo:

m
L . (46)
I

Vale lembrar que Φm inclui tanto o fluxo magnético no espaço entre os condutores (fluxo
externo) quanto o fluxo dentro dos próprios condutores (fluxo interno). Assim, a indutância total
por unidade de comprimento é dada por:

 int   ext
L  Lint  Lext . (47)
I

Cálculo de C: Para calcular a capacitância distribuída, aplicam-se densidades lineares de cargas


elétricas de sinais opostos (± q, em C/m) em cada um dos dois condutores da linha, o que produz um
campo elétrico. Fazendo a integração de linha do campo elétrico ao longo de qualquer percurso
ligando os dois condutores, tem-se a diferença de potencial (V) entre eles. Assim, pode-se calcular a
capacitância distribuída:

q
C . (48)
V

Cálculo de G: Para calcular a condutância distribuída, aplica-se uma diferença de potencial (V)
entre os condutores e calcula-se o campo elétrico resultante. A partir do campo elétrico, obtém-se a
35

corrente de condução no dielétrico (Jc = σd E), o que permite calcular a corrente I (por unidade de
comprimento, em A/m) que flui entre os dois condutores da linha. Assim, a condutância distribuída
é dada por:

I
G . (49)
V

Os parâmetros Lext, C e G não dependem da distribuição de corrente dentro dos condutores. Por
essa razão, são independentes da frequência. Já os parâmetros R e Lint dependem da distribuição de
corrente e, portanto, dependem da frequência. Quanto maior a frequência, mais intenso será o efeito
pelicular, de modo que R aumenta com a frequência e Lint diminui. Nas equações que seguem, será
considerado que os todos os materiais são não magnéticos (μ = μ0).

12.1 - Cabo Coaxial: Consiste num par de condutores concêntricos preenchidos com um
dielétrico. Sua principal vantagem reside no fato de não apresentar campos externos (ou seja, é
autoblindado). Por isso, não interfere em circuitos próximos nem sofre interferência de campos
externos.

Parâmetros:

b
Condutor: c , 0
a
c Dielétrico: d , 0 , 

2
C [F/m] (50)
b
ln  
a
36

0  b 
L ext  ln   [H/m] (51)
2  a 

2 d
G [S/m]. (52)
b
ln  
a

Observação: Pode-se mostrar que, para qualquer linha de transmissão, as seguintes relações são
válidas:

Lext C  0 (53)

C G
 . (54)
 d

Portanto, basta calcular apenas um parâmetro (C, Lext ou G) e os outros dois podem ser obtidos
diretamente a partir de (53) e (54).

Em baixas frequências: Neste caso, o efeito pelicular é desprezível. Assim, pode-se considerar que
as correntes têm distribuição uniforme na seção reta dos condutores.
Condição:   a e   c  b 
  1 / f0c 
1 1 1 
R  2 2  [Ω/m] (55)
 c  a c  b2 

0 0  2 4b 4  c 
Lint   2 
c  3b 2
 ln   [H/m]. (56)
8 8(c  b ) 
2
c  b  b 
2 2

Em altas frequências: Neste caso, o efeito pelicular é intenso e as correntes fluem pela periferia
externa do condutor interno e pela periferia interna do condutor externo.
Condição:   a e   c  b

1 1 1
R    [Ω/m] (57)
2 c  a b 

0  1 1 
Lint     [F/m]. (58)
4  a b 

Como  diminui com o aumento de frequência, R aumenta e Lint diminui para frequências mais
elevadas.
37

Exercício: Seja um cabo coaxial oco (preenchido com ar), com condutores de alumínio (μr = 1 e
σc = 4  107 S/m), tendo a = 0,5 mm, b = 4 mm e c = 4,5 mm. Que percentagem da indutância total a
indutância interna representa em a) f = 0; b) f = 10 MHz e c) f = 100 MHz.

 0  b  4  107  4 
L ext  ln   ln   Lext  416nH / m
2  a  2  0,5 

a) Em f = 0:

0 0  2 4b 4  c 
Lint   c  3b 2
 ln 
8 8(c  b ) 
2 2
c  b  b 
2 2

4  107 4  107  2 4  44  4,5 


Lint   2 
4,5  3  4 2
 ln   Lint  57,4 nH / m
8 8(4,5  4 ) 
2
4,5  4  4 
2 2

Lint 57,4
Portanto:   0,121  Lint  12,1% L total .
L total 57,4  416

b) Em f = 10 MHz:

1 1
     0,025mm
f 0 c   10  4  107  4  107
7

 0   1 1  4  107  0,025  1 1 
Lint         Lint  5,63nH / m
4  a b  4  0,5 4 

Lint 5,63
Portanto:   0,0134  Lint  1,34% L total .
L total 5,63  416

c) Em f = 100 MHz:

1 1
     0,00796mm
f 0 c   108  4  107  4  107

 0   1 1  4  107  0,00796 1 1 
Lint         Lint  1,79 nH / m
4  a b  4  0,5 4 

Lint 1,79
Portanto:   0,0043  Lint  0,43% L total .
L total 1,79  416

De maneira geral, para qualquer tipo de linha, observa-se que a indutância interna pode ser desprezada em
frequências mais elevadas. Entretanto, em frequências baixas (60 Hz, por exemplo), a indutância interna
pode representar uma parcela significativa da indutância total. Por essa razão, geralmente a indutância
interna não é levada em conta nos cálculos dos parâmetros em frequências usadas em telecomunicações, mas
é considerada em cálculos envolvendo linhas de transmissão de potência.
38

12.2 - Linha Bifilar Paralela: Consiste num par de condutores paralelos. Sua principal
vantagem é a facilidade de construção e o baixo custo. Entretanto, apresenta campos externos,
podendo assim ter problemas de interferência com circuitos próximos, além de perdas por radiação.

Parâmetros:

C [F/m] (59)
 d 
arccos h 
 2a 

0  d 
L ext  arccos h  [H/m] (60)
  2a 

 d
G [S/m]. (61)
 d 
arccos h 
 2a 

Em baixas frequências: Efeito pelicular desprezível.


Condição:   a .

2
R [Ω/m] (62)
c a 2

0
L int  [F/m]. (63)
4

Em altas frequências: Efeito pelicular intenso.


Condição:   a .
39

1
R [Ω/m] (64)
c a

0
Lint  [F/m]. (65)
2a

 
Observação: Como arccoshx   ln x  x 2  1 , tem-se que arccoshx   ln2x  para |x| >>1.
 d  d
Assim, arccosh   ln  para d >> a. Por essa razão, é comum ver as equações dos parâmetros
 2a  a
da linha bifilar dados em termos da função “ln”, e não em termos de “arccosh”. As mesmas
equações também se aplicam às linhas de transmissão de potência constituídas de condutores em
paralelo.

12.3 - Linha do Tipo Microfita (ou “Microstrip”): É composta por um plano condutor (plano
de terra) e uma fita condutora de espessura W, separados por uma camada dielétrica (substrato) de
espessura h e constante dielétrica relativa εr. É de fácil construção (utiliza os mesmos processos que
os circuitos impressos convencionais) e tem vasta gama de aplicações, não só como linhas de
transmissão, mas também como filtros, antenas, acopladores, etc. As linhas de microfita apresentam
baixo perfil, peso reduzido e são de fácil integração com outros componentes na mesma placa
(componentes eletrônicos, antenas impressas, etc.). Suas principais desvantagens são a baixa
capacidade de transmissão de potência, as perdas elevadas e a possibilidade de interferências com
circuitos próximos.

A principal dificuldade de análise reside no fato de os campos existirem em dois meios com
propriedades diferentes (o ar e o substrato dielétrico). Desta forma, análises precisas envolvem a
resolução das equações de Maxwell, geralmente feita através de métodos numéricos. Aproximações
analíticas também podem ser obtidas, permitindo uma análise mais simples e direta. As equações
dadas abaixo são aproximações bastante simples, servindo apenas como referência.

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