Aula 2 - Finalidades e Etapas

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DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO EM PSICOLOGIA

Finalidades e etapas
Profa. Ma. Elenice Esteves de Oliveira
Finalidades do Psicodiagnóstico

“Psicodiagnóstico é um processo bipessoal (psicólogo – avaliando/grupo familiar), de


duração limitada no tempo, com um número aproximadamente definido de encontros,
que procura descrever e compreender as forças e as fraquezas do funcionamento
psicológico de um indivíduo, tendo foco na existência ou não de uma psicopatologia
(Cunha, 2000)”. P.47
Finalidades do Psicodiagnóstico

O psicodiagnóstico pode ser entendido como um processo com início, meio e fim, que
utiliza entrevistas, técnicas e/ou testes psicológicos para compreender as potencialidades
e as dificuldades apresentadas pelo avaliando, tendo por base uma teoria psicológica e
buscando, assim, coletar dados mais substanciais para a realização de um
encaminhamento mais apropriado.

Possibilita descrever o funcionamento atual, confirmar, refutar ou modificar impressões;


realizar diagnóstico de transtornos mentais, comportamentais e cognitivos; identificar
necessidades terapêuticas e recomendar a intervenção mais adequada, levando em conta
o prognóstico (Witternborn, 1999).
Finalidades do Psicodiagnóstico
Arzeno (1995) refere que o psicodiagnóstico contempla algumas finalidades, como:
•Investigação diagnóstica: tem como objetivo explicar o que acontece além do que o
avaliando consegue expressar de ƒorma consciente – e isso não signiƒica rotulá-lo.
•Avaliação do tratamento: visa avaliar o andamento do tratamento. Seria o “reteste”, no
qual se aplica novamente a mesma bateria de testes usados na primeira ocasião ou uma
bateria equivalente.
•Como meio de comunicação: procura ƒacilitar a comunicação e, em consequência, a
tomada de insight.
•Na investigação: com o intuito de criar novos instrumentos de exploração da
personalidade e, também, de planejar a investigação para o estudo de uma determinada
patologia, etc.
Finalidades do Psicodiagnóstico

Embora não seja sua principal finalidade, pode ser terapêutico, uma vez que o vínculo
estabelecido entre avaliador e avaliado, assim como os resultados obtidos e
comunicados, pode contribuir para uma decisão mais assertiva por parte do avaliado
quanto à escolha entre um ou outro tratamento, à mudança de um estilo de vida, ou
mesmo quanto ao rumo que dará às recomendações do avaliador.
Finalidades do Psicodiagnóstico

Outro ponto relevante diz respeito ao uso ou não de uma bateria de testes e “retestes”,
isto é, entendemos que os testes psicológicos e as técnicas são recursos disponíveis,
mas que em nenhum momento substituem ou são mais importantes do que a escuta e
o olhar clínico do avaliador, pois nem sempre será necessária a utilização dessas
ferramentas.
Quem faz o Psicodiagnóstico?

Uma das atividades do psicólogo clínico é identificar e compreender, na singularidade


do indivíduo, suas características, seus sintomas e seu funcionamento psíquico, e,
assim, explicitar diagnósticos.
Processo de psicodiagnóstico

O processo tem início no encaminhamento, que é o que justifica a sua realização. Vários
são os profissionais que podem solicitar a avaliação psicológica, como neurologistas,
psiquiatras, pedagogos, entre outros. No entanto, muitas vezes o encaminhamento é
vago, cabendo ao psicólogo o seu esclarecimento prévio, para então ter certeza de que a
indicação é, de fato, para um psicodiagnóstico.
Passos de um processo de psicodiagnóstico
Passos Especificações
1 Determinar os motivos da consulta e/ou encaminhamento e levantar
dados sobre a história pessoal (dados de natureza psicológica, social,
médica, profissional, escolar).

2 Definir as hipóteses e os objetivos do processo de avaliações do processo


de avaliação. Estabelecer o contrato de trabalho com o examinando e/ou
responsável).

3 Estruturar um plano de avaliação (selecionar instrumentos e/ou técnicas


psicológicas).
4 Administrar as estratégias e os instrumentos de avaliação.
Processo de psicodiagnóstico
Passos Especificações
5 Corrigir ou levantar, qualitativamente e quantitativamente, as estratégias
e os instrumentos de avaliação.

6 Integrar os dados colhidos, relacionados com as hipóteses iniciais e com


os objetivos da avaliação.
7 Formular as conclusões, definindo potencialidades e vulnerabilidades.

8 Comunicar os resultados por meio de entrevista de devolução e de um


laudo/relatório psicológico. Encerrar o processo de avaliação
Processo de psicodiagnóstico

Vejamos o passo a passo: uma vez de posse do encaminhamento, cabe ao psicólogo


ampliar o motivo, elencando as principais queixas e sofrimentos psíquicos
apresentados pelo avaliando. O psicodiagnóstico pode ser realizado em consultórios
privados, clínicas psicológicas ou psiquiátricas, instituições, postos de saúde ou
hospitais.

Em média, dois meses, podendo ter uma frequência semanal maior ou menor,
dependendo do caso, totalizando, aproximadamente, 6 a 12 encontros, no máximo.
Processo de psicodiagnóstico

Entrevista inicial: para que se esclareça o encaminhamento.

No motivo de consulta deve-se discriminar entre o motivo maniƒesto e motivo latente”.

O motivo manifesto diz respeito ao que levou à solicitação do psicodiagnóstico, e é o


que, de fato, preocupa, a ponto de tornar-se um sinal de alerta;
O motivo latente diz respeito ao que não é tão óbvio, às hipóteses subjacentes
elaboradas pelo psicólogo enquanto escuta e reflete sobre o que é manifesto.
Processo de psicodiagnóstico

Entrevista inicial

Coletar o máximo de informações possível para que se possa conhecer exaustivamente a


pessoa a ser avaliada e extrair da entrevista dados para a formulação de hipóteses,
viabilizando, assim, o planejamento da avaliação;

Também nesse primeiro contato, após se esclarecer como o processo ocorrerá,


sugerimos que se proceda à assinatura de um termo de consentimento livre e
esclarecido, em que a pessoa a ser avaliada ou o seu responsável legal autorizará a
realização da avaliação. É importante salientar que, no caso de crianças, a primeira
entrevista precisa ser feita com os pais ou responsáveis;
Processo de psicodiagnóstico
Entrevista inicial

No que diz respeito ao psicodiagnóstico de adolescentes, a primeira entrevista poderá


ser realizada com os pais/responsáveis ou com o próprio adolescente, dependendo de
seu caso e/ou idade. Ainda assim, salientamos que o contato com os pais/responsáveis
é imprescindível, uma vez que eles precisam autorizar o processo de avaliação, já que
se trata de um menor de idade.
Processo de psicodiagnóstico

Muitas vezes, em caso de avaliandos crianças e adolescentes, embora seja solicitado que em
um primeiro momento compareçam somente os pais ou responsáveis, os avaliandos acabam
por vir junto. Nesses casos, é de suma importância que o psicólogo tenha muito cuidado com o
que será abordado na primeira entrevista, procurando preservar o avaliando, evitando expor
questões mais delicadas. É fundamental que, ao final desse primeiro encontro, fique agendado
um próximo momento somente com os pais ou responsáveis, devendo-se explicar para o
avaliando que isso ocorrerá uma vez que não é necessária sua presença, pois serão coletadas
informações que ele não teria condições de fornecer. Com o intuito de manter um vínculo com
o avaliando, agenda-se um horário somente com ele, dando início à escuta privativa,
procurando valorizar esse espaço ao demonstrar a importância de escutá-lo.
Processo de psicodiagnóstico

Para que o psicólogo tenha clareza do que deverá ser investigado, bem como para que
tenha dados suficientes para construir a história de vida do avaliando, podem ser
realizadas quantas entrevistas forem necessárias. Ainda assim, o profissional dispõe de
um tempo limitado, pois tanto a duração excessiva do processo como o seu
abreviamento podem ser prejudiciais. Ao longo dessas entrevistas, o psicólogo
naturalmente elenca algumas hipóteses, e, dessa forma, define que tipo de
instrumentos precisará utilizar e em que ordem deverá aplicá-los.
Processo de psicodiagnóstico

A partir do que foi coletado nas primeiras entrevistas, o psicólogo terá condições de
elaborar o plano de ação. O plano inicia com as primeiras entrevistas, e, ao longo delas,
se constrói o contrato de trabalho, em que são previstos os papéis de cada parte; a
questão de sigilo e privacidade; o número aproximado de encontros, incluindo-se as
primeiras entrevistas; a bateria de testes que será utilizada, se necessário; as entrevistas
de devolução; e a forma como serão pagos os honorários (caso se trate de consultas
particulares ou em uma instituição paga). Esse plano é construído nos primeiros
encontros, podendo sofrer variações ao longo do processo.
Processo de psicodiagnóstico
Por exemplo, ao ser feita uma hipótese inicial, decide-se, então, pela aplicação de alguns
testes, mas pode ocorrer que, em um segundo teste, se obtenha uma resposta para a
demanda. Assim, deve-se abrir mão da aplicação de outros instrumentos planejados a
priori, pois ela não será mais necessária, e, com isso, o número de encontros diminui. O
inverso também pode ocorrer, uma vez que se pode acrescentar outros métodos, testes
ou técnicas, o que acarretaria um número maior de entrevistas para que se tenha uma
compreensão mais exata do caso. Por meio do instrumental utilizado no
psicodiagnóstico, é possível alcançar uma compreensão da demanda, incluindo os
problemas, os sintomas e as queixas apresentados pelo avaliando, com mais brevidade
do que o necessário com outros métodos (González, 1999).
Processo de psicodiagnóstico
Um exemplo: em uma avaliação psicológica em que o avaliando veio encaminhado por
seu psiquiatra com suspeita de déficit intelectual, verificamos, durante a testagem, que
seus resultados no WAIS-III foram todos superiores à média estimada para sua faixa
etária, mudando, assim, o rumo da investigação.

Em decorrência disso, tornou-se necessária a utilização de outros testes que focassem no


funcionamento da personalidade e não no intelecto. Logo, o plano de avaliação deveria
contemplar todo o processo e servir de orientação ao profissional; ou seja, é o passo a
passo do que será realizado.
Processo de psicodiagnóstico

Bateria de testes
Pode-se incluir a aplicação de testes e/ou técnicas psicológicas, que constituem
ferramentas auxiliares no trabalho do psicólogo. Tais ferramentas podem ser um meio
para se alcançar um fim, porém nunca um fim em si (Urbina, 2007). Dessa maneira, “. .
. como outras ferramentas, os testes psicológicos podem ser extremamente úteis – e
até mesmo insubstituíveis – quando usados de forma apropriada e hábil” (Urbina,
2007, p. 14). Então, em um segundo momento, define-se a bateria a ser utilizada.
Processo de psicodiagnóstico

Bateria de testes

O planejamento deve levar em consideração as características do caso (idade, sexo,


escolaridade, ocupação/profissão, condições físicas, etc.), a sequência (ordem de
aplicação) e o ritmo (número de entrevistas previstas para a aplicação dos testes
selecionados).
Processo de psicodiagnóstico
Bateria de testes
Os testes psicológicos (psicométricos ou projetivos) refinam a capacidade do profissional
de captar e compreender indivíduos, grupos e fenômenos psicológicos (Urbina, 2007;
Werlang, Villemor-Amaral, & Nascimento, 2010).

Para que os resultados alcançados sejam válidos, além de seguir à risca as instruções e o
sistema de levantamento e interpretação do instrumento, é fundamental também
garantir condições básicas no ambiente físico, certificar-se dos estados físico e
psicológico do examinado, bem como gerenciar o contexto clínico em que será
desenvolvida a avaliação (Werlang & Argimon, 2003).
Processo de psicodiagnóstico

Bateria de testes
As condições físicas e psicológicas do examinado devem estar preservadas para que a
tarefa a ser desenvolvida seja compreendida de forma correta, sendo essenciais a
motivação, o interesse e o desejo de se submeter ao processo de avaliação.
Processo de psicodiagnóstico

Bateria de testes
Em situações especiais, como em casos de internação psiquiátrica, é fundamental considerar o
estado mental e até mesmo a possibilidade de impregnação por medicamentos que possam
diminuir a motivação para o trabalho e alterar os resultados da testagem. No caso de avaliação
forense, em que o periciado não se submete por livre vontade ao processo psicodiagnóstico, mas
por imposição judicial, a resistência a responder aos testes, a não cooperação e a distorção
consciente e intencional das respostas certamente irão repercutir na validade dos achados. Em
situações especiais, o psicólogo deve contar com sua sensibilidade clínica para manejar a situação
com propriedade, atenuando os obstáculos, observando e analisando todos os indícios
comportamentais de modo a isentar as variáveis que possam prejudicar o processo de avaliação.
Processo de psicodiagnóstico

Bateria de testes
Quando pensamos na ordem de aplicação da bateria de testes selecionada, é recomendável
que os primeiros testes sejam os menos ansiogênicos para a pessoa a ser avaliada, justamente
para que não se desenvolva alguma resistência ante o processo. Dito de outra forma, o teste
que mobiliza o motivo manifesto para a realização do psicodiagnóstico nunca deve ser o
primeiro a ser administrado. Assim, por exemplo, em uma criança encaminhada para avaliação
cognitiva, jamais se deve iniciar a bateria de testes pelo WISC-IV.
Fica evidente, então, que o primeiro objetivo diz respeito à formação do vínculo entre o
profissional e seu avaliando, a fim de garantir o bom andamento do processo, o que justifica a
não utilização, em um primeiro momento, de testes que mobilizem uma conduta que
corresponda ao sintoma. Tais testes devem ser deixados para um segundo momento.
Testes para avaliar o que?
- Aprendizagem
- Atenção
- Condutas sociais/desviantes
- Crenças/valores/atitudes
- Desenvolvimento
- Habilidades sociais
- Inteligência
- Interesses/motivações/expectativas https://satepsi.cfp.org.br/testesfavoraveis.cfm
- Personalidade
- Processos afetivos
- Processos neurológicos
- Processos cognitivos
- Saúde mental e psicipatologia
Síntese do Teste

Síntese do teste
I. SATEPSI
II. Nome do teste, objetivo, público-alvo, material, aplicação (individual, coletiva,
informatizado ou não informatizado, exige intervenção adicional do aplicador
durante a aplicação (por ex. testes de aplicação individual que exigem inquérito,
controle do tempo, manipulação de materiais etc), e correção (informatizada ou
não informatizada)
Processo de psicodiagnóstico

Dando continuidade ao processo de psicodiagnóstico, após a aplicação, o levantamento


e a interpretação dos resultados obtidos, espera-se que o profissional chegue a uma
conclusão que responda à demanda que o originou. Diante disso, deve comunicar os
resultados encontrados, visando um encaminhamento adequado para o avaliando. A
transmissão dessa informação é, sem dúvida, o objetivo primordial dessa avaliação, que
culmina em uma entrevista final, posterior à aplicação do último teste (Ocampo et al.,
2009).
Processo de psicodiagnóstico
Essa comunicação ocorre em duas vias: escrita e oral.

A primeira é realizada por meio de um laudo/relatório, devendo conter uma linguagem


clara, concisa, inteligível e precisa, adequada ao requerente, conforme orientação do CFP
por meio da Resolução Nº 6 de 29 de março 2019, restringindo-se às informações que se
fizerem necessárias.

A segunda trata da comunicação verbal, que pode ser realizada na forma de uma ou mais
entrevistas de devolução. Uma boa devolução inicia com um aprofundado conhecimento
do caso, que proporcionará uma base sólida para que se proceda com eficácia (Ocampo
et al., 2009).
Processo de psicodiagnóstico

Deve ser evitada a elaboração de laudos/relatórios de pouca qualidade técnico-científica,


que contenham universalidades e ambiguidades, assim como a elaboração de
laudos/relatórios sofisticados (excessivamente técnicos), sendo mais adequado um
estilo que ressalte a individualidade e a objetividade, usando uma linguagem correta,
simples, clara e consistente, que facilite a comunicação clínica.
Processo de psicodiagnóstico

Na entrevista de devolução, recomenda-se que se inicie abordando os aspectos mais


sadios, adaptativos e/ou preservados da dinâmica de funcionamento do avaliando, para,
em seguida, comunicar aqueles que requerem maior cuidado, na medida e no ritmo em
que possam ser compreendidos e tolerados pelo avaliando e/ou seus responsáveis, já
sugerindo os encaminhamentos apropriados.

Se realizado dessa forma, acreditamos que o processo favorecerá a compreensão e a


aceitação das indicações terapêuticas sugeridas pelo profissional.
Processo de psicodiagnóstico

Entrevista de devolução

Essas entrevistas devem ser realizadas dentro do contexto global do processo e serão de
responsabilidade única e exclusiva de quem realizou o psicodiagnóstico.
Processo de psicodiagnóstico
Entrevista de devolução

Na devolutiva, é importante salientar a linguagem a ser empregada. No caso de -


devolução para colegas psicólogos, pode-se usar termos técnicos, inclusive fazendo
referência aos recursos utilizados e discutindo de forma aprofundada os achados mais
primitivos, regressivos e maduros do avaliando. Porém, quando a devolutiva for dirigida
a outros profissionais, é imprescindível ater-se apenas às informações relevantes,
respondendo à demanda e preservando o sigilo e a confidencialidade (Pellini & Leme,
2011).
Processo de psicodiagnóstico

Dar atenção não só às inadequações, mas, também, às potencialidades, visando,


assim, o melhor encaminhamento e a realização de avaliações mais completas.

Não só o instrumento ou a técnica utilizada são cruciais, mas também a formação, a


sensibilidade clínica e a postura ética do profissional da psicologia.
Bibliografia

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