Bancário - Contestacao Reintegracao Posse Leasing Encargos Suspensao Conexao Preliminar Merito

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 00ª VARA CÍVEL DA CIDADE

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL


Art. 55 – Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando
lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.

Art. 57 - Quando houver continência e a ação continente tiver


sido proposta anteriormente, no processo relativo à ação
contida será proferida sentença sem resolução de mérito, caso
contrário, as ações serão necessariamente reunidas.

Art. 58 - A reunião das ações propostas em separado far-se-á no


juízo prevento, onde serão decididas simultaneamente.

Ação de Reintegração de Posse


Proc. nº. 44556.11.8.99.0001
AA: XXXXXX
RR: XXXXXXXX

JOÃO MARIA, casado, bancário, residente e domiciliado na


Rua X, nº. 0000 – Fortaleza (CE) – CEP nº 0000-00, possuidor do CPF(MF) nº. 111.222.333-44,
com endereço eletrônico [email protected], ora intermediado por seu mandatário ao final
firmado – instrumento procuratório acostado –, esse com endereço eletrônico e profissional
inserto na referida procuração, o qual, em obediência à diretriz fixada no art. 106, inc. I c/c art.
287, ambos do CPC, indica-o para as intimações que se fizerem necessárias, vem, com o devido
respeito à presença de Vossa Excelência, com suporte nos arts. 336 e segs. c/c art. 337, inc.
IV e VII da Legislação Adjetiva Civil, oferecer a presente

CONTESTAÇÃO,
em face da presente Ação de Reintegração de Posse, aforada por ZETA S/A ARRENDAMENTO
MERCANTIL, em decorrência das justificativas de ordem fática e de direito abaixo delineadas.

1 – DA TEMPESTIVIDADE

Contata-se que o ato citatório e muito menos a reintegração de


posse do veículo em ensejo não foram concretizados.

O Réu, portanto, espontaneamente comparece ao processo e, por


isso, tem-se por suprida a citação.

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Art. 239 – Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou do


executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de
improcedência liminar do pedido.
§ 1º - O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a falta ou a
nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para apresentação de
contestação ou de embargos à execução.

Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE RESCISÃO


CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, MATERIAIS E LUCROS
CESSANTES C/C REINTEGRAÇÃO DE POSSE E PEDIDO LIMINAR. COMPARECIMENTO
ESPONTÂNEO. REVELIA DECRETADA. DESNECESSIDADE DE DESENTRANHAMENTO
DOS DOCUMENTOS JUNTADOS PELO REVEL (ART. 322 DO CPC) [CPC/2015, art. 346].
FATO NOVO INEXISTENTE. DECISÃO RECORRIDA RATIFICADA.
1. A citação, matéria de ordem pública, consiste, em síntese, no ato pelo qual se
chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se defender, podendo se realizar de pelo
correiro, por oficial de justiça, por edital ou por meio eletrônico segundo permitido por
Lei, todavia, nos termos do artigo 214, § 1º, do CPC [CPC/2015, art. 239, § 1º], poderão
ser supridas tais formalidades, caso haja o comparecimento espontâneo do requerido
em cartório. 2. Não apresentada a peça contestatória no prazo legal, resulta impositiva
a decretação da revelia do agravado nos termos do artigo 319 do CPC [CPC/2015, art.
344], ressalvadas as hipóteses elencadas no artigo 320 do mencionado diploma
processual [CPC/2015, art. 345]. 3. Decretada a revelia, mostra-se desnecessário o
desentranhamento da peça contestatória e demais documentos acostados pelo revel,
consoante norma disciplinada no artigo 320 do CPC [CPC/2015, art. 345], porquanto os
efeitos da revelia devem se estender somente às questões de fato e, não, às de direito
arguidas pela parte. 4. Não infirmados pela parte agravante os requisitos que
embasaram a decisão recorrida, desmerece modificação o ato monocrático verberado.
Agravo regimental desprovido. (TJGO; AI 0219912-51.2015.8.09.0000; Piranhas; Sexta
Câmara Cível; Relª Desª Sandra Regina Teodoro Reis; DJGO 01/09/2015; Pág. 209)
2 – PRELIMINARES AO MÉRITO

2.1. Conexão (CPC, art. 64, caput c/c art. 337, inc. VIII)

A instituição financeira em apreço ajuizou, na data de 00/11/2222, a


presente Ação de Reintegração de Posse.

Em que pese esse aspecto, já se encontra em tramitação perante a


00ª Vara Cível de Curitiba (PR), na data de 11/22/0000, uma Ação Revisional contra a ora
Autora. Ambas tratam do mesmo contrato e envolvem as mesmas partes, o que se depreende
da certidão narrativa e consultas processuais ora imersas. (docs. 01/02) Desse modo, são ações
conexas (CPC, art. 55, caput).

De outro lado, vê-se que a Ação Revisional (ação continente) tem


pedidos mais amplos do que a Ação de Reintegração de Posse (ação contida). Nesse passo, as
ações devem ser reunidas (CPC, art. Art. 55, § 1º e § 3º c/c art. 57), o que, no anterior Código
Buzaid, dúvida havia por conta da expressão “pode ordenar” (CPC/73, art. 105).

Impende registrar que, atualmente, mesmo que não conexas, mas


com poder de trazer decisões conflitantes ou contraditórias, as ações devem ser reunidas. (CPC,
art. 55, § 1º)

Com efeito, urge trazer à colação o magistério de José Miguel


Garcia Medina:
“II. Obrigatoriedade da reunião de causas perante o juízo prevento. A reunião de
causas conexas para julgamento tem por finalidade propiciar a prolação de decisões
coerentes e harmônicas entre si. Diante de tal circunstância, não se permite ao juiz
deixar de determinar a reunião de causas (cf. § 1º do art. 55 do CPC/2015;...”
(MEDINA, José Maria Garcia. Novo Código de Processo Civil comentado: com ... – São
Paulo: RT, 2015, p. 132)
(negritos do texto original)

Igualmente por esse prisma é o entendimento de Nélson Nery


Júnior:
“4. Norma cogente. Sendo a conexão matéria de ordem pública, o juiz é obrigado a
determinar a reunião de ações conexas para julgamento. Ao contrário do que constava
no artigo CPC/1973 105, do qual constava que o juiz podia ordenar a reunião dos
processos, este CPC 57 obriga essa reunião, desde que configurada a continência e
desde que a ação continente tenha sido ajuizada posteriormente à ação contida. “
(NERY JÚNIOR, Nélson; ANDRADE NERY, Rosa Maria de. Comentários ao Código de
Processo Civil. – São Paulo: RT, 2015, p. 343)

Destarte, ao ser manejada a presente Ação de Reintegração de


Posse, outra já havia destacada a prevenção (CPC, art. 58), ou seja, perante a 00ª Vara Cível
(Proc. nº. 44444-07.2015.8.06.0001). Essa fora distribuída primeiramente em 11/22/3333, o
que se comprova pela cópia integral do aludido processo, ora anexado. (doc. 03)

Nesse prisma:

“Sob a égide do CPC/2015, portanto, pouco importa que as demandas conexas


tramitem no mesmo foro ou em foros distintos: prevento será aquele perante o qual
se der o registro ou a distribuição da primeira demanda (entre as conexas) proposta. A
anterioridade na propositura (em verdade, no registro ou na distribuição) é critério
sem dúvida mais adequado e mais intuitivo do que a anterioridade no despacho inicial
(critério adotado pelo art. 106 do CPC/1973) ou do que a precedência na realização da
citação (critério consagrado no art. 219 do CPC/1973). “ (Tereza Arruda Alvim
Wambier... [et al.], coordenadores. Breves comentários ao Novo Código de Processo
Civil. – São Paulo: RT, 2015, p. 228)

Nesse caso, havendo mais de uma vara competente para apreciar


os processos, torna-se prevento aquele juízo onde a ação fora primeiramente distribuída (CPC,
art. 43, art. 58 e art. 59).

Assim, tendo-se em conta que houvera ajuizamento de ação conexa


anterior à presente em um outro juízo, para esse deverá ser enviada a presente demanda, a fim
de serem julgadas simultaneamente.

Com esse enfoque:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÕES CONEXAS EM TRÂMITE NA MESMA


COMARCA. INEXISTÊNCIA EM AMBAS DE DESPACHO DETERMINANDO A CITAÇÃO.
PREVENÇÃO QUE SE RESOLVE PELA PRIMEIRA DISTRIBUIÇÃO. CONFLITO
IMPROCEDENTE.
Se as ações conexas tramitam em juízos da mesma Comarca, a prevenção é daquele
que despachou em primeiro lugar ordenando a citação (CPC, art. 106) [CPC/2015, art.
58]. Quando, porém, esse critério for insuficiente, como parâmetro objetivo para a
caracterização da prevenção, deve ser utilizada a data do ajuizamento da ação, isto é,
da primeira distribuição (CPC, art. 263). (TJPR; ConCompCv 1372290-0; Curitiba; Quinta
Câmara Cível em Composição Integral; Rel. Des. Adalberto Jorge Xisto Pereira; Julg.
22/09/2015; DJPR 02/10/2015; Pág. 110)

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE CANCELAMENTO DE PROTESTO.


EXISTÊNCIA DE CONEXÃO COM AÇÃO DE EXECUÇÃO. PREVENÇÃO. APLICAÇÃO DO
ART. 106 DO CPC [CPC/2015, art. 58].
1. Sendo as ações de execução e de conhecimento decorrentes de uma mesma relação
jurídica, devem ser apensadas em razão da conexão, visando evitar decisões
conflitantes. 2. A prevenção é daquele que despachou em primeiro lugar, quando as
ações, embora conexas, estiverem tramitando separadamente perante juízes que têm
a mesma competência territorial. Conflito julgado improcedente. Declarada a
competência do juízo suscitante. (TJGO; CC 0222979-24.2015.8.09.0000; Valparaíso de
Goiás; Segunda Seção Cível; Rel. Des. Carlos Escher; DJGO 26/08/2015; Pág. 117)

Desse modo, inexorável a conclusão que as causas de pedir entre


ambas as ações são idênticas e, por conseguinte, adequado que os processos em liça sejam
reunidos. Assim, com a manifestação prévia da parte adversa (CPC, art. 64, § 2º, art. 9º, caput
c/c art. 351), requer-se a remessa destes autos ao juízo prevento (CPC, art. 64, § 3º c/c art. 58)
e, de logo, pleiteia-se a realização de nova audiência conciliatória (CPC, art. 340, § 4º).

2.2. Inépcia da inicial (CPC, art. 320 c/c art. 337, inc. IV)

Entende o Promovido que não houve notificação do débito de


forma válida, como exige a lei.
Não há na inicial nenhuma comprovação de que a uma possível
notificação extrajudicial, via Notário ou outra maneira, tenha sido destinada ao Réu, como desse
modo exige a Lei.

Certo ainda que a intimação por edital, em face do protesto do


pacto, como ocorreu na hipótese em estudo (fls. 06), apenas seria cabível nas circunstâncias em
que não fosse possível a localização da pessoa indicada, a teor da lei de protesto.

LEI Nº. 9.492/97


Art. 15 - A intimação será feita por edital se a pessoa indicada para aceitar ou pagar
for desconhecida, sua localização incerta ou ignorada, for residente ou domiciliada
fora da competência territorial do Tabelionato, ou, ainda, ninguém se dispuser a
receber a intimação no endereço fornecido pelo apresentante.

Dessa feita, evidente que inexiste qualquer obstáculo à comprovação


da mora por meio do protesto realizado por meio de edital, todavia desde que demonstrado
nos autos que não foi possível a localização do devedor anteriormente.

O Réu reside e tem domicílio no endereço fornecido no contrato. A


instituição financeira, entrementes, “optou” pela regra mais traiçoeira de dá conhecimento ao
devedor de sua inadimplência, ou seja, com a ciência via editalícia, mediante o protesto do
contrato.

Acerca do tema em vertente, lecionam Nelson Nery Junior e Rosa


Maria de Andrade Nery que:
"2. Requisito básico. Deve ser tentada a localização pessoal do réu por todas as
formas. Somente depois de resultar infrutífera é que estará aberta a oportunidade
para a citação por edital. " (In, Comentários ao Novo Código de Processo Civil. – São
Paulo: RT, 2015, p. 799).

Enfatize-se que há o dever de exaurimento de todas as tentativas


para a notificação pessoal do devedor, para, só então, apenas no caso de
comprovadamente terem sido inexitosas, realizar-se a intimação por edital.

Nesse sentido é altamente ilustrativo transcrever os seguintes


arestos:

APELAÇÃO CIVIL. BUSCA E APREENSÃO. PROTESTO POR EDITAL. DOCUMENTO


APRESENTADO APENAS EM SEDE DE APELAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE
NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL E COMPROVAÇÃO DE ESGOTAMENTO DE TODOS OS
MEIOS POSSÍVEIS PARA LOCALIZAR O DEVEDOR. AUSÊNCIA DE OPORTUNIDADE
PARA EMENDA DA INICIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 284 DO CPC. PRECEDENTES DO STJ.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1.Caberia ao banco apresentar a notificação extrajudicial ainda no juízo a quo, não
sendo cabível sua apresentação apenas agora, em sede de apelação, uma vez que tal
hipótese só seria possível se demonstrado a impossibilidade de apresentálo
anteriormente, o que não ocorreu no caso em tela. 2.O credor, inicialmente, deve
providenciar a realização de notificação extrajudicial enviada ao endereço do devedor,
para então, caso reste infrutífera, por não ser encontrado o destinatário, buscar sua
cientificação através do protesto por edital, cabível apenas quando provada que foi
frustrada a mencionada notificação extrajudicial. Precedentes do STJ. 3.Não consta nos
autos notificação extrajudicial do promovido, realizada no endereço constante no
contrato, tampouco comprovação de que o autor envidou todos os esforços a fim de
encontrálo, sendo o protesto por edital válido somente quando empreendido todos os
meios possíveis para encontrar o devedor. 4.Ausência de oportunidade para emenda,
todavia. Necessidade. CPC, arts. 282, 283 e 284. 5.Recurso conhecido e parcialmente
provido. (TJCE; APL 084101058.2014.8.06.0001; Terceira Câmara Cível; Rel. Des.
Antônio Abelardo Benevides Moraes; DJCE 29/10/2015; Pág. 46)

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE BUSCA E


APREENSÃO. CONSTITUIÇÃO EM MORA. PROTESTO POR EDITAL. NÃO
ESGOTAMENTO DAS TENTATIVAS DE LOCALIZAÇÃO DO DEVEDOR. AUSÊNCIA DE
FATO NOVO.
1. Afigura-se irregular o protesto efetivado por edital, quando verificado que o credor
não esgotou as vias ordinárias para a notificação. 2. A simples certidão dos correios
informando a impossibilidade da notificação do devedor porque não atendido no
endereço informado, não é capaz, por si só de levar a conclusão de que o requerido
encontra-se em lugar incerto e não sabido, o que poderia ensejar a notificação por
edital. 3. Ausentes nos autos fatos novos hábeis à modificação da decisão recorrida, a
rejeição do agravo regimental é medida que se impõe. 4. Agravo regimental conhecido
e desprovido. (TJGO; AI 0317447-77.2015.8.09.0000; Goiânia; Quinta Câmara Cível;
Rel. Des. Delintro Belo de Almeida Filho; DJGO 29/10/2015; Pág. 292)

APELAÇÃO CÍVEL.
Ação de busca e apreensão. Contrato de financiamento com garantia de alienação
fiduciária. Processo extinto, sem resolução de mérito, com fundamento nos artigos
267, I e 284, parágrafo único do CPC. Ausência de comprovação da mora. Notificação
extrajudicial acostada não entregue e não recebida pelo devedor. Protesto via edital
que apenas é possível quando esgotados os meios necessários a fim de localizar o
devedor. Inocorrência no caso. Documento comprovando a constituição em mora que
é imprescindível a ação de busca e apreensão. Facultada emenda à inicial.
Determinação não atendida. Sentença de extinção mantida. Recurso de apelação
conhecido e desprovido. (TJPR; ApCiv 1339981-2; Telêmaco Borba; Décima Quarta
Câmara Cível; Relª Juíza Conv. Sandra Bauermann; Julg. 07/10/2015; DJPR 27/10/2015;
Pág. 496)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO DE BUSCA E


APREENSÃO. NÃO COMPROVADA/O NOS AUTOS VÁLIDA/O
NOTIFICAÇÃO/PROTESTO. EXTINÇÃO DA AÇÃO ORIGINÁRIA.
Para que seja cabível a intimação do protesto por edital, a par de configurada(s)
hipótese(s) prevista(s) no art. 15 da Lei nº 9.492/97, deve restar demonstrado que o
credor esgotou as possibilidades de localização do devedor. Invalidade de
notificação/protesto no caso concreto. Extinta, de ofício, a ação originária de busca e
apreensão por ausência de pressuposto de constituição e de desenvolvimento válido e
regular do processo - Art. 267, inc. IV, do CPC. Recurso prejudicado. Decisão
monocrática. (TJRS; AI 0377955-05.2015.8.21.7000; Panambi; Décima Quarta Câmara
Cível; Relª Desª Miriam Andréa da Graça Tondo Fernandes; Julg. 13/10/2015; DJERS
27/10/2015)

Há uma forma prescrita em lei e, dessa maneira, quando feita em


contrário, corresponde à sua nulidade (CC, art. 104).

Quanto à imprescindibilidade do ato de notificação do devedor, esta


já se encontra sumulada pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça:

SÚMULA 369 DO STJ


No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja cláusula
resolutiva expressa, é necessária a notificação prévia do arrendatário para
constituí-lo em mora.

A ação, por esse ângulo, deve ser extinta, sem resolver-se o mérito
(CPC, art. 485, inc. IV).

3 – QUESTÃO PREJUDICIAL “EXTERNA”


PEDIDO DE SUSPENSÃO DESTE PROCESSO

Em razão do ajuizamento de Ação Revisional (Proc. nº.


55.777.88.9.-0001), vem o Réu requerer a imediata suspensão da Ação de Reintegração de
Posse, até o julgamento da Ação Revisional em tela. Esse pleito é feito com abrigo na regência
do art. 313, V, ´a`, do Código de Processo Civil.

O julgamento de mérito eventualmente favorável ao Promovido


importa, diretamente, no resultado da presente Ação de Reintegração de Posse.

Por esse motivo, esta ação deve ser suspensa até o deslinde da
ação que busca apreciar, sobretudo, se, de fato, há mora do devedor, aqui Promovido.
Com efeito, urge transcrever arestos com precedentes acerca do
tema, verbis:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO E AÇÃO REVISIONAL


ORIGINÁRIAS DO MESMO CONTRATO. DECISÃO QUE DETERMINOU A SUSPENSÃO
DO PROCESSO DE BUSCA E APREENSÃO ATÉ O JULGAMENTO DEFINITIVO DA AÇÃO
REVISIONAL. POSSIBILIDADE. RELAÇÃO DE PREJUDICIALIDADE EXTERNA
RECONHECIDA. APLICAÇÃO DO ART. 265, IV, "A", DO CPC [CPC/2015, art. 313, inc. V,
“a”]. PRECEDENTES DO STJ. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. DECISÃO
INTERLOCUTÓRIA MANTIDA.
1. Insurgese o agravante contra a decisão, determinada pelo juízo a quo, que, nos
autos da Ação de Busca e Apreensão (Proc. Nº 087489041.2014.8.06.0001),
determinou a suspensão dessa até o julgamento definitivo da Ação Revisional nº
087422610.2014.8.06.0001, na qual são discutidos os termos do contrato de
financiamento do veículo em questão.
2. Efetivamente, acerca da suspensão do processo, o Código de Processo Civil, em seu
art. 265, IV, "a" [CPC/2015, art. 313, inc. V, “a”], estabelece que: "Suspendese o
processo quando a sentença de mérito depender do julgamento de outra causa, ou da
declaração da existência ou inexistência da relação jurídica, que constitua o objeto
principal de outro processo pendente".
3. Por sua vez, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que: "Há relação de
prejudicialidade entre as ações de busca e apreensão e revisional relativas ao mesmo
contrato de alienação fiduciária, o que justifica a suspensão da ação de busca e
apreensão, na hipótese em que as obrigações contratuais, cujo inadimplemento
ensejou a mora, estejam em discussão em demanda revisional anteriormente ajuizada.
Precedentes Agravo improvido. " (STJ AGRG no AG 923.836/MG, Rel. Ministro SIDNEI
BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/04/2009, DJe 12/05/2009)
4. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E IMPROVIDO. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA
MANTIDA. (TJCE; AI 062611494.2014.8.06.0000; Sexta Câmara Cível; Relª Desª Maria
Vilauba Fausto Lopes; DJCE 15/10/2015; Pág. 58)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.


Ação revisional de contrato em tramitação entre as partes. Questão prejudicial - Art.
265 inc. IV "a" do CPC [CPC/2015, art. 313, inc. V, “a”]. Suspensão da busca e
apreensão até o trânsito em julgado da revisional. Sentença desconstituída. Apelação
prejudicada. (TJRS; AC 0161285-70.2015.8.21.7000; Novo Hamburgo; Décima Terceira
Câmara Cível; Relª Desª Lúcia de Castro Boller; Julg. 28/05/2015; DJERS 02/06/2015)

Por fim, a corroborar as decisões antes mencionadas, insta


transcrever a doutrina de Luiz Guilherme Marinoni, o qual assevera, ad litteram:

“A necessidade de resolução de questão prejudicial externa (art. 313, V, a) e da


verificação de determinada alegação de fato ou da produção de prova requisitada a
outro juízo (art. 313, V, b) suspende o processo pelo prazo de até um ano (art. 313, §
4º). A necessidade de suspensão do processo atende a duas necessidades distintas: no
primeiro caso, evitar decisões colidentes; no segundo, bem instruir o feito. Questão
prejudicial é uma questão prévia cuja resolução influencia no teor da resolução da
questão subordinada – por exemplo, a questão de paternidade para fins de saber se
são ou não devidos alimentos ou se determinada herança deve ser destinada a quem a
postula constitui uma questão prejudicial. “ (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART,
Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo curso de processo civil: tutela dos ... – São Paulo:
RT, 2015, vol. 02, pp. 131-132)

4 – ARRENDAMENTO MERCANTIL (“LEASING”)


APLICABILIDADE DO CDC

É consabido que a prestação de serviços bancários encontra-se


regida pelas normas de proteção ao consumidor. Isso porque plenamente cabível o
enquadramento das instituições financeiras, prestadora de serviços, na conceituação de
fornecedor, preconizada no art. 3º, caput, da Lei n. 8.078/90. De igual sorte, perfeitamente
compreendida a situação do aderente na definição de consumidor, disposta no caput do art. 2º
do mesmo ordenamento:
Art. 3º - Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Art. 2º - Consumidor é toda a pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto
ou serviço como destinatário final.

Nesse passo, observa-se que ambos os dispositivos remetem às


expressões "produtos" ou "prestação de serviços" a fim de se aferir a efetiva aplicabilidade da
legislação protetiva às atividades desenvolvidas no mercado.

E, também sob esse aspecto, inequívoco que as atividades


bancárias, financeiras e de crédito restam inseridas na enunciação de produtos e serviços, por
força de preceito legal expresso nesse sentido:

Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante


remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito ou securitária,
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. (art. 3º, § 2º, do CDC).

Afora isso, a submissão das atividades bancárias às normas


protetivas consumeristas é entendimento já sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça:

Súmula 297 do STJ - O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições


financeiras.
Acompanhando o preceito sumular, colhem-se os seguintes
precedentes emanados do Egrégio Superior Tribunal de Justiça:

REVISIONAL. CONTRATO BANCÁRIO. ARRENDAMENTO MERCANTIL. DISPOSIÇÕES DE


OFÍCIO. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. TARIFAS BANCÁRIAS. MULTA
CONTRATUAL. MORA. COMPENSAÇÃO DE VALORES E RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO.
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS.
1. Apesar de a relação jurídica existente entre o contratante e a instituição financeira
ser disciplinada pelo Código de Defesa do Consumidor, a segunda seção do Superior
Tribunal de Justiça entende que o julgamento realizado de ofício pelo tribunal de
origem ofende o princípio tantum devolutum quantum appellatum, previsto no artigo
515 do CPC. Ficam arredadas as determinações referentes aà comissão de
permanência e à cláusula que obriga o arrendatário a pagar o VRG mesmo na hipótese
de não exercício da opção de compra do bem, restando prejudicado o exame do
mérito das matérias trazidas no especial no tocante a tais disposições. 2. As instâncias
ordinárias não se manifestaram acerca da expressa pactuação da capitalização mensal
de juros, o que impossibilita a sua cobrança, já que, nesta esfera recursal
extraordinária, não é possível a verificação de tal requisito, sob pena de afrontar o
disposto nos Enunciados nºs 5 e 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. 3.
Autorizada a cobrança da comissão de permanência, ficam afastados a correção
monetária e os demais encargos moratórios, inclusive a multa moratória. Súmulas nºs
30, 294 e 296/STJ. 4. O tema relativo à capitalização mensal dos juros não foi
conhecido. Logo, resta descaracterizada a mora do devedor. Outrossim, não
remanesce o fundamento para que o bem seja retirado da posse do devedor. Também
fica vedada a inscrição do nome do devedor nos cadastros de inadimplência. (REsp n.
1.061.530, segunda seção, Rel. Min. Nancy andrighi, julgado em 22/10/2008). 5. Fica
autorizada a cobrança da tarifa de abertura de crédito. 6. A jurisprudência deste
sodalício superior é assente no sentido de que a compensação de valores e a repetição
de indébito são cabíveis sempre que verificado o pagamento indevido, em repúdio ao
enriquecimento ilícito de quem o receber, independentemente da comprovação do
erro. Precedentes. 7. Recurso Especial parcialmente conhecido e, na extensão,
parcialmente provido para afastar as disposições de ofício e para permitir a cobrança
da tarifa de abertura de crédito. (STJ; REsp 1.299.800; Proc. 2012/0003156-8; RS;
Quarta Turma; Rel. Min. Luis Felipe Salomão; DJE 28/09/2015)

RECURSO ESPECIAL. CONTRATOS BANCÁRIOS. ARRENDAMENTO MERCANTIL. AÇÃO


REVISIONAL E AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE.
1. Apesar de a relação jurídica existente entre o contratante e a instituição financeira
ser disciplinada pelo Código de Defesa do Consumidor, a Segunda Seção do Superior
Tribunal de Justiça entende que o julgamento realizado de ofício pelo tribunal de
origem ofende o princípio tantum devolutum quantum appellatum, previsto no artigo
515 do CPC. 2. Admite-se a comissão de permanência durante o período de
inadimplemento contratual, à taxa média dos juros de mercado, limitada ao
percentual fixado no contrato (súmula nº 294/STJ), desde que não cumulada com a
correção monetária (súmula nº 30/STJ), com os juros remuneratórios (súmula nº
296/STJ) e moratórios, nem com a multa contratual. 3. Derruídos os fundamentos que
reformou a sentença de procedência da ação de reintegração da posse, quais sejam,
inexistência de mora e indevida cobrança antecipada de VRG, deve ser reestabelecida
nesse ponto. 4. È devida a devolução das parcelas referentes ao VRG, pagas
antecipadamente, à conta de ser uma conseqüência da reintegração do bem, somente
se o produto da soma do VRG quitado com o valor da venda do bem for maior que o
total pactuado como VRG na contratação. 5. Recurso Especial provido. (STJ; REsp
1.246.946; Proc. 2011/0073865-5; RS; Quarta Turma; Rel. Min. Luis Felipe Salomão;
DJE 17/06/2015)
Nessa esteira de raciocínio, colecionamos as lições de Cláudia
Lima Marques:

“ A inclusão do contrato de leasing no campo de aplicação do CDC não é mais


polêmica. Os casos do leasing em dólar consolidaram a aplicação do CDC ao
arrendamento mercantil. Efetivamente, o contato de leasing massificou-se no
Brasil, as novas leis sobre consórcio e patrimônio de afetação tratam o leasing
conjuntamente com outros contratos de consumo e a própria jurisprudência
propugna o diálogo das fontes com o CDC. A verdade é que o leasing conquistou o
mercado de consumo (tanto em bens de pequeno valor, como nos de grande valor),
e a este leasing massificado perante os consumidores é aplicável o CDC.
O contrato de leasing, mesmo que regulado com a denominação de
arrendamento mercantil está sendo utilizado como contrato de consumo simples
de pessoas física, especialmente no caso do leasing de computadores, de
eletrodomésticos e, em especial, de automóveis. “ (MARQUES, Cláudia Lima.
Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 6ª Ed. São Paulo: RT, 2011. Págs.
573-574)

No mesmo sentido:

As operações bancárias estão abrangidas pelo regime jurídico do CDC, desde que
constituam relações jurídicas de consumo. [...] Não há dúvida sobre a natureza
jurídica da atividade bancária, que se qualifica como empresarial. [...] Analisado o
problema da classificação do banco como empresa e de sua atividade negocial,
tem-se que é considerado pelo art. 3º, caput, do CDC, como fornecedor, vale dizer,
um dos sujeitos da relação de consumo. O produto da atividade negocial do banco é
o crédito; agem os bancos, ainda, na qualidade de prestadores de serviço, quando
recebem tributos mesmo de não clientes, fornecem extratos de contas bancárias
por meio de computadores etc. [...] Suas atividades envolvem, pois, os dois objetos
das relações de consumo: os produtos e os serviços. (GRINOVER, Ada Pellegrini, et
al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado pelos autores do
anteprojeto. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p. 524/526).

Com a mesma sorte de entendimento, evidenciamos julgados de


diversos Tribunais:

APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL. INOVAÇÃO RECURSAL. INADMISSIBILIDADE.


REVISÃO DE CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL. RELATIVIZAÇÃO DO
PACTA SUNT SERVANDA. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. COMPROVAÇÃO.
AUSÊNCIA. ÔNUS DA PARTE AUTORA. IMPROCEDÊNCIA. TARIFA DE CADASTRO.
LEGALIDADE, DESDE QUE COBRADA NO INÍCIO DO RELACIONAMENTO ENTRE
CONSUMIDOR E A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. TARIFA DE ABERTURA DE CRÉDITO.
COBRANÇA NÃO DEMONSTRADA. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. INEXISTÊNCIA DE
PROVA DA MÁ-FÉ DO CREDOR. RESTITUIÇÃO NA FORMA SIMPLES.
De acordo com o Enunciado de Súmula nº 297, do Superior Tribunal de Justiça, "o
Código de Defesa do Consumidor é aplicável às Instituições Financeiras".. É admitida a
revisão de cláusulas de Contrato bancário pelo Poder Judiciário, por força da garantia
do art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, e do direito assegurado no art. 6º, incisos V e
VII, do Código de Defesa do Consumidor, com relativização do Princípio do Pacta Sunt
Servanda.. Não havendo, nos autos, prova de que a Instituição Financeira praticou a
cobrança de juros de forma capitalizada, ônus que competia ao autor (art. 333, I, do
CPC), deve ser mantida a improcedência do pedido inicial quanto à questão. O
Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial nº 1.251.331/RS,
consolidou o entendimento sobre a legalidade da cobrança da Tarifa de Cadastro,
desde que no início do relacionamento entre o consumidor e a Instituição Financeira. A
devolução em dobro da quantia cobrada indevidamente, prevista, atualmente, nos
arts. 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor, e 940, do Código Civil
(de redação praticamente equivalente à do art. 1.531, do CCB/1916), depende de
prova cabal da má-fé do suposto credor. Recurso desprovido. (TJMG; APCV
1.0290.12.013556-8/001; Rel. Des. Roberto Vasconcellos; Julg. 27/10/2015; DJEMG
29/10/2015)

APELAÇÃO. ARRENDAMENTO MERCANTIL. O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR É


APLICÁVEL AOS CONTRATOS DE ARRENDAMENTO MERCANTIL. PORÉM, ISSO, POR SI
SÓ, NÃO FAZ COM QUE O PEDIDO SEJA TOTALMENTE PROCEDENTE. AS INSTITUIÇÕES
FINANCEIRAS NÃO ESTÃO OBRIGADAS À OBSERVÂNCIA DAS TAXAS DE JUROS
MÁXIMAS FIXADAS EM LEI PARA OS NEGÓCIOS FORA DO SISTEMA FINANCEIRO, O
QUE É DE JURISPRUDÊNCIA ASSENTADA, RAZÃO PELA QUAL OS JUROS PODIAM TER
SIDO PACTUADOS LIVREMENTE. TENDO SIDO PREVISTA NO CONTRATO A
CAPITALIZAÇÃO MENSAL (A TAXA DE JUROS ANUAL É EVIDENTEMENTE MAIOR QUE
A MENSAL MULTIPLICADA POR DOZE), CORRETA SUA APLICAÇÃO NO CASO SOB
EXAME. NÃO TEM RAZÃO O CONSUMIDOR AO INSURGIR-SE CONTRA OS JUROS
UTILIZADOS NO CÁLCULO DAS PRESTAÇÕES PREFIXADAS NO CONTRATO, UMA VEZ
QUE TEVE CIÊNCIA DA QUANTIA A SER PAGA MENSALMENTE E DO SEU TOTAL.
"Nos contratos bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN
2.303/96) era válida a pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão
de carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, ressalvado o exame
de abusividade em cada caso concreto" (RESP nº 1.255.573-RS). É "forçoso reconhecer
a abusividade das cláusulas que transferem indevidamente ao consumidor os custos
inerentes à própria atividade desenvolvida pelo fornecedor (apelação nº 0007833-
15.2011.8.26.0445, Relator Orlando Pistoresi). Apelação do autor provida em parte.
Apelação do réu desprovida. (TJSP; APL 1014151-81.2014.8.26.0577; Ac. 8918947; São
José dos Campos; Trigésima Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Lino Machado; Julg.
21/10/2015; DJESP 28/10/2015)
PROCESSO CIVIL. AÇÃO REVISIONAL CONTRATUAL. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. LEASING. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DA
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. LEGALIDADE DA COBRANÇA DE DESPESAS INCLUÍDAS NO
CUSTO EFETIVO TOTAL. AUSÊNCIA DE VANTAGEM EXCESSIVA. LEGALIDADE DA
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA QUANDO PACTUADA. REPETIÇÃO DE INDÉBITO EM
DOBRO DEPENDE DE PROVA DO PAGAMENTO INDEVIDO E DA MÁ-FÉ. PEDIDO DE
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS PREJUDICADO. RECURSO DESPROVIDO. 1) A
jurisprudência do STJ pacificou-se no sentido de que, aplicável o Código de Defesa do
Consumidor aos casos que envolvem relação de consumo, é permitida a revisão das
cláusulas contratuais pactuadas, diante do fato de que o princípio pacta sunt servanda
vem sofrendo mitigações, notadamente diante dos princípios da boa-fé objetiva, da
função social dos contratos e do dirigismo contratual. 2) O arrendamento mercantil é
instituto distinto dos financiamentos em geral e, por não se enquadrar em operação
financeira, o custo do dinheiro está embutido nas contraprestações, sendo impossível
discutir juros e capitalização de juros. Precedentes TJES3) As verbas denominadas
como tarifa de cadastro, serviço de terceiros, inclusão de gravame eletrônico, tarifa de
avaliação de bens e custo de registro integram o chamado custo efetivo total (CET) das
operações de crédito bancário, conforme o disposto na Resolução nº 3.517/2007 do
CMN, razão pela qual a cobrança das mesmas é considerada legitima. Somente
poderiam ser afastadas se demonstrada, de forma objetiva, a percepção de vantagem
exagerada pela instituição financeira e, por conseguinte, o desequilíbrio da relação
contratual, o que não se verifica na hipótese dos autos. 4) Na espécie, não há
pactuação de comissão de permanência cumulada a outros encargos. 5) Não há que se
falar em repetição em dobro do indébito, prevista no parágrafo único do art. 42 do
CDC, porquanto não comprovada a existência de má-fé da instituição financeira, que
efetuou cobrança com lastro em contrato. 6) O não acolhimento das pretensões
recursais prejudica a análise dos pedidos de condenação da parte adversa em
honorários e, por conseguinte, de majoração da verba. 7) Recurso desprovido. (TJES;
AG-AP 0031217-10.2011.8.08.0024; Segunda Câmara Cível; Rel. Des. José Paulo
Calmon Nogueira da Gama; Julg. 20/10/2015; DJES 27/10/2015)

5 – JUROS REMUNERATÓRIOS
SUA COBRANÇA EM CONTRATOS DE “LEASING”

As instituições financeiras afirmam, máxime em suas defesas,


quanto ao pacto de arrendamento mercantil, a inexistência de cobrança de juros remuneratórios.
Segundo as mesmas, trata-se de contrato de locação de bem, com possibilidade de sua
aquisição ao final do pacto, não havendo, desse modo, cobrança do encargo remuneratório
(juros).

Há um engano nessa orientação.

No trato contrato em espécie, de arrendamento mercantil financeiro,


por suas características próprias, a retribuição financeira pelo arrendamento é chamada de
“contraprestação”. Essa nomenclatura inclusive é a utilizada na Lei nº. 6099/74, que cuida da
questão tributária dos contratos em espécie.

Dito isso, é necessário compreender quais os componentes


monetários que integram a contraprestação, o que extraímos do magistério de José Francisco
Lopes de Miranda Leão, verbo ad verbum:

“Isso significa que a somatória das contraprestações de arrendamento pactuadas com


o valor residual garantido do bem deve equivaler à somatória do capital empregado
pelo arrendador na aquisição, mais o custo financeiro desse capital mais a renda bruta
que deve ser produzida pela atividade econômica. Esta renda bruta irá cobrir os
custos administrativos, os custos tributários e as provisões de inadimplemento, e
proporcionar o lucro líquido da operação. “ (LEÃO, José Francisco Lopes de Miranda.
Leasing – O arrendamento financeiro. – São Paulo: Malheiros Editores, 1999, pp. 24-
25)
(destacamos)

Afinal de contas essa igualmente é a disciplina imposta pela


Resolução nº. 2.309/96, do Banco Central do Brasil, verbis:

“Art. 5º - Considera-se arrendamento mercantil financeiro a modalidade em que:


I – as contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela
arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o custo
do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente,
obtenha um retorno sobre os recursos investidos; “
(não existem os destaques no texto original)

Esse ganho, essa recompensa financeira, normalmente nos


contratos de arrendamento é nominado de “taxa de retorno do arrendamento”. Essa taxa é
expressa por percentual e equivale aos juros remuneratórios.

É necessário não perder de vista que há inclusive informação nesse


sentido no próprio site do Bacen. É dizer, pode-se verificar a taxa de juros remuneratória
média cobrada pelas instituições financeiras ou sociedades de arrendamento mercantil nas
relações contratuais de “leasing”.
Nesse compasso, resulta das considerações retro que não há, de
fato, a cobrança direta dos juros remuneratórios nos contratos de arrendamento mercantil.
Todavia, é um dos componentes inarredável na construção da parcela a ser cobrada do
arrendatário.

A propósito, perceba que no campo 3.22.2.1 do contrato em tablado


é encontrada a expressão “taxa de retorno do arrendamento”, com o respectivo percentual
remuneratório (mensal e anual).

Desse modo, é inexorável a conclusão de que há sim cobrança de


juros remuneratórios nos contratos de arrendamento mercantil. Inclusivamente faz parte da
fórmula para encontrar-se o “valor ótimo” da contraprestação.

6– JUROS MORATÓRIOS
CAPITALIZAÇÃO – ILEGALIDADE

Há igualmente outra cláusula abusiva no enlace contratual em


estudo, entrementes no período de anormalidade contratual (inadimplência).

Vê-se da cláusula 29 do contrato de arrendamento a seguinte


redação, ad litteram:

“29. Atraso de pagamento e multa – Se houver atraso no pagamento ou vencimento


antecipado, o Arrendatário pagará juros moratórios de 0,49%(zero vírgula quarenta e
nove por cento) ao dia, capitalizados mensalmente. “ (sublinhamos)
Inexiste qualquer previsão legal quanto à possibilidade da
cobrança de juros moratórios capitalizados. Ao revés disso, há limite expressamente
estabelecido no montante de 1% a.m. (CC, art. 406 e CTN, art. 161, § 1º)

Bem a propósito a seguinte súmula do Superior Tribunal de


Justiça:

STJ, Súmula 379: Nos contratos bancários não regidos por legislação específica, os
juros moratórios poderão ser fixados em até 1% ao mês.

Não bastasse isso, a Resolução 2.309/96 do Bacen igualmente


limita os encargos do período de inadimplência, in verbis:

“Art. 7º - Os contratos de arrendamento mercantil . . .


(...)
XI – as obrigações da arrendatária, nas hipóteses de:
a) inadimplência, limitada a multa de mora de 2% (dois por cento) do valor em
atraso;

Com efeito, a situação fere o quanto estabelecido no art. 170, inc. V


da Constituição Federal, além do art. 51, inc. IV, do Código de Defesa do Consumidor.

Nesse sentido:

AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS CUMULADA COM REPETIÇÃO DE


INDÉBITO E ANTECIPAÇÃO DE TUTELA.
Contrato de financiamento firmado em 20.10.2010.preliminar. Sentença com relação a
serviços de terceiros. Nulidade parcial da sentença. Apelação cível 1. Leandro cagliari
da cruz. Pleito de exclusão da cobrança de juros capitalizados. Não acolhido.
Contratação clara e expressa. Taxa de juros anual superior ao duodécuplo da taxa de
juros mensal. Contrato celebrado após 31.03.2000.legalidade da cobrança. Limitação
de juros moratórios a taxa mensal de 1%. Possibilidade. Pactuação de juros
moratórios capitalizados mensalmente a taxa de 0,49% ao dia. Abusividade. Súmula
nº 379 do Superior Tribunal de justiça. Recurso conhecido e parcialmente provido.
Apelação cível 2. Banco itaucard s/a. Revisão contratual. Suporte legal no inc. V, art.
6º, do Código de Defesa do Consumidor. Tarifas de registro de contrato e de inclusão
de gravame eletrõnico pactuadas de forma clara. Legalidade. Cobrança não vedada
pelo ordenamento jurídico pátrio. Condição de eficácia do contrato. Valor não abusivo.
Tarifa de cadastro. Cobrança autorizada. Nº recurso repetitivo 1.251.331/rs STJ e
1.255.573/rs. STJ. Repetição do indébito. Desnecessária a prova de erro. Sucumbência
mínima da parte requerida (art. 21, parágrafo único do cpc). Condenação da parte
autora a arcar com a integralidade do ônus sucumbencial e honorários advocatícios.
Recurso conhecido e parcialmente. Provido. (TJPR; ApCiv 1323511-3; Curitiba; Quarta
Câmara Cível; Relª Desª Maria Aparecida Blanco de Lima; Julg. 21/07/2015; DJPR
26/08/2015; Pág. 344)

JUROS. CAPITALIZAÇÃO. ENTIDADE PERTENCENTE AO SISTEMA FINANCEIRO


NACIONAL. POSSIBILIDADE. ENCARGOS MORATÓRIOS CONTRATUAIS. JUROS
MORATÓRIOS CAPITALIZADOS. ILICITUDE. RAZÃO DE 0,49% AO DIA. ABUSIVIDADE.
É lícita a capitalização de juros em contratos firmados por entes que integrem o
Sistema Financeiro Nacional, desde que tenha expressa pactuação neste sentido, e que
seja posterior a 31 de março de 2000. Os juros moratórios não são passíveis de
capitalização e a sua incidência na razão de 0,49% ao dia é abusiva. (TJMG; APCV
1.0428.11.000911-8/001; Rel. Des. Cabral da Silva; Julg. 04/08/2015; DJEMG
14/08/2015)
7 – QUANTO À COMISSÃO DE PERMANÊNCIA

Extrai-se que no pacto em estudo houve ajuste de cobrança de


comissão de permanência (cláusula 28). De mais a mais, esse acerto contratual possibilita,
ilegalmente, a cobrança desse encargo cumulado com multa contratual e juros moratórios.

Totalmente descabido.

( 1 ) Impossível a cobrança de comissão de permanência em


contratos de “leasing”

Não é adequada a cobrança de comissão de permanência no acerto


de arrendamento mercantil. E por vários motivos.

( 1.1.) Não há mútuo

É incontestável que o contrato de arrendamento mercantil está longe


de apresentar alguma forma de empréstimo sob a modalidade de mútuo. A um, porquanto não
se trata de empréstimo (“financiamento”) sob o enfoque de mútuo, pois esse só se dá com bens
fungíveis (CC, art. 586); a dois, por que é da natureza desse contrato a presença de mútuo
feneratício.

No julgamento do Recurso Especial nº 1.061.530 – RS, o qual


decidido sob o rito de recursos repetitivos em matéria bancária (CPC, art. 543-C), ficou
estabelecido que comissão de permanência tem tríplice finalidade, verbis:
“Esclareceu-se, portanto, que a natureza da cláusula de comissão de permanência é
tríplice: índice de remuneração do capital (juros remuneratórios), atualização da
moeda (correção monetária) e compensação pelo inadimplemento (encargos
moratórios). Assim, esse entendimento, que impede a cobrança cumulativa da
comissão com os demais encargos, protege, como valor primordial, a proibição do
bis in idem.”
(destacamos)

Ora, se a comissão de permanência tem, além de outros propósitos,


a finalidade de remunerar o capital emprestado, então deduzimos pela não capacidade de
utilizá-lo nos contratos de arrendamento mercantil. É dizer, como não é mútuo oneroso (com
remuneração de juros), mas sim contraprestação pela utilização de bem alheio, torna-se
totalmente imprestável para esse propósito.

( 1.2.) Cumulação com outros encargos moratórios

De outra banda, como afirmado alhures, urge evidenciar que a


Autora estipulou condição para, também, haver cobrança de juros moratórios e multa contratual.

Nesse passo, vai de encontro às seguintes Súmulas do STJ:

Súmula 30: A comissão de permanência e a correção monetária são inacumuláveis.

Súmula 296: Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão de


permanência, são devidos no período de inadimplência, à taxa média de mercado
estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual contratado.
Súmula 472: A cobrança de comissão de permanência – cujo valor não pode
ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato –
exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa contratual.

( 1.3.) Não há mora

De outro bordo, não há que se falar em mora do Réu.

A mora reflete uma inexecução de obrigação diferenciada,


maiormente quando representa o injusto retardamento ou o descumprimento culposo da
obrigação. Assim, na espécie incide a regra estabelecida no artigo 394 do Código Civil, com a
complementação disposta no artigo 396 desse mesmo Diploma Legal.

CÓDIGO CIVIL
Art. Art. 394 - Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor
que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.

Art. 396 - Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora.

Foram cobrados encargos abusivos durante o período de


normalidade contratual, o que descaracteriza a mora. Do mesmo teor a posição do Superior
Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. SFH. RECONHECIMENTO DA


COBRANÇA DE ENCARGOS ABUSIVOS NO PERÍODO DA NORMALIDADE.
DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA.
Impossibilidade de cobrança de multa e de juros moratórios. Agravo regimental
desprovido. (STJ; AgRg-REsp 1.325.626; Proc. 2012/0109512-9; DF; Terceira Turma;
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino; DJE 18/02/2015)

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REVISÃO DE


CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. COBRANÇA DE
QUANTIAS INDEVIDAS NO PERÍODO DA NORMALIDADE CONTRATUAL.
1. A constatação de abuso na exigência de encargos durante o período da normalidade
contratual afasta a configuração da mora. Na hipótese dos autos, o acórdão declarou
que foram cobradas quantias indevidas a título de correção monetária e de despesas e
honorários extrajudiciais. 2. Agravo regimental não provido. (STJ; AgRg-AREsp 443.637;
Proc. 2013/0399449-8; RS; Terceira Turma; Rel. Min. Ricardo Villas Boas Cueva; DJE
12/02/2015)

8 – DESPESAS EXTRAJUDICIAIS

Com a exordial vê-se que a Autora traz em sua planilha cobrança


referente a “despesas extrajudiciais de cobrança”. Também se encontra expressa na cláusula
22. Essa impõe ao arrendatário, ora Réu, a obrigação de ressarcir as despesas de cobrança
judicial e ou extrajudicial.

Inegavelmente essa situação traz uma desvantagem gritante ao


consumidor, consoante se depreende do Código de Defesa do Consumidor:

Art. 51 - São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
(...)
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a
equidade;
(...)
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem
que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;

Lapidar nesse sentido o entendimento expendido nos arestos


abaixo:

APELAÇÃO CÍVEL. REVISÃO DE CONTRATO. FINANCIAMENTO BANCÁRIO. CÉDULA DE


CRÉDITO BANCÁRIO. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. CONHECIMENTO PARCIAL
DO RECURSO DA AUTORA. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. POSSIBILIDADE. ENCARGOS
MORATÓRIOS. JUROS DE MORA. MULTA CONTRATUAL E JUROS REMUNERATÓRIOS.
POSSIBILIDADE. DESPESAS DE COBRANÇA. IMPUTAÇÃO APENAS AO CONSUMIDOR.
IMPOSSIBILIDADE.
1. Não se conheceda parte do recurso, na qual não tenha interesse recursal manifesto
(CPC, artigo 499). 2. Admite-se, no contrato de cédula de crédito bancário, a
capitalização mensal de juros (art. 28, § 1º, I, da Lei nº. 10.931/2004). 3.A norma do §
3º do art. 192 da Carta Magna que exigia a normatização da matéria referente ao
Sistema Financeiro Nacional por meio de legislação complementar, foi revogada pela
Emenda Constitucional nº 40/2003. 4. O STF ao julgar a ADIN 2.316-1, autorizou a
capitalização de juros em empréstimos bancários com periodicidade inferior a um ano,
entendendo que a Medida Provisória n. 2.170-36, que autorizou o cálculo de juros
compostos, é constitucional. 5.É lícita a cumulação de juros remuneratórios, juros de
mora de 1% AM e multa contratual de 2%. 6. É nula a cláusula que prevê a
responsabilidade apenas do consumidor em relação às despesas com honorários
advocatícios e cobrança por inadimplemento (CDC, XII, art. 51). 7. Recurso da autora
parcialmente conhecido e, na parte conhecida, desprovido. Recurso do réu conhecido
e desprovido. (TJDF; Rec 2013.04.1.008248-3; Ac. 882.889; Quinta Turma Cível; Rel.
Des. Carlos Rodrigues; DJDFTE 04/08/2015; Pág. 292)

APELAÇÃO CÍVEL.
Demanda revisional de contrato de financiamento para aquisição de automotor.
Sentença de parcial procedência da pretensão deduzida na exordial. Irresignação da
financeira. Código de Defesa do Consumidor. Incidência. Exegese da Súmula nº 297 do
Superior Tribunal de Justiça. Princípios do pacta sunt servanda, ato jurídico perfeito e
autonomia da vontade que cedem espaço, por serem genéricos, à norma específica do
art. 6º, inciso V, da Lei nº 8.078/90. Possibilidade de revisão do contrato, nos limites do
pedido do devedor. Inteligência dos arts. 2º, 128, 460 e 515, todos do código de
processo civil. Aplicação da Súmula nº 381 do Superior Tribunal de Justiça e da
orientação 5 do julgamento das questões idênticas que caracterizam a multiplicidade
oriunda do RESP n. 1.061.530/RS, relatado pela ministra nancy andrighi, julgado em
22/10/08. Cláusula resolutória expressa. Previsão no contrato sem, contudo, dar opção
ao consumidor entre a resolução do pacto ou sua manutenção. Dever de
alternatividade não respeitado. Afronta ao art. 54, § 2º, da Lei nº 8.078/90. Cláusula
resolutiva abusiva. Sentença mantida neste viés. Honorários extrajudiciais e despesas
em razão de eventual cobrança. Banco que almeja o reconhecimento da legalidade das
exigências. Inviabilidade. Imposição ao consumidor do montante pago pela casa
bancária a título de honorários advocatícios extrajudiciais e despesas de cobrança.
Ofensa ao art. 51, inciso XII, do pergaminho consumerista. Nulidade estampada.
Decisão inalterada nesta seara. Repetição do indébito. Prescindibilidade de produção
da prova do vício. Inteligência do art. 42 do Código de Defesa do Consumidor.
Aplicação do verbete n. 322, do Superior Tribunal de Justiça. Permissibilidade na forma
simples. Compensação dos créditos. Partes reciprocamente credoras e devedoras.
Incidência do art. 368 do Código Civil. Quantum pago a maior. Correção monetária
conforme o INPC/IBGE desde o efetivo pagamento. Provimento n. 13/95 da
corregedoria-geral da justiça deste areópago estadual. Juros moratórios limitados em
1% a. M. Exigíveis desde a citação. Incidência dos arts. 406 do Código Civil, 161, § 1º,
do Código Tributário Nacional e 219 do código buzaid. Recurso improvido. (TJSC; AC
2015.048449-1; Criciúma; Quarta Câmara de Direito Comercial; Rel. Des. José Carlos
Carstens Kohler; Julg. 25/08/2015; DJSC 31/08/2015; Pág. 480)

APELAÇÃO CÍVEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. PROCESSO DE CONHECIMENTO. PEDIDO


REVISIONAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. JULGAMENTO CONJUNTO.
PARADIGMAS DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
Observância das teses emanadas dos processos repetitivos, julgados na forma do art.
543-c do CPC. Código de Defesa do Consumidor e pedido revisional. O CDC é aplicável
as instituições financeiras, nos termos da Súmula nº 297 do STJ. É possível o pedido de
revisão das cláusulas contratuais, com fundamento no art. 6º, inciso V, do CDC. A
incidência do CDC e a possibilidade do pedido revisional não asseguram a procedência
dos pedidos formulados pelo consumidor. Juros remuneratórios. Tese paradigma.
Recurso Especial nº 1.061.530/RS. É admitida a revisão da taxa de juros
remuneratórios quando a abusividade fique cabalmente demonstrada. Caso concreto.
Percentual que não discrepa substancialmente da taxa média de mercado do período.
Inexistência de abusividade. Capitalização dos juros. Constitucionalidade do art. 5º da
medida provisória nº 2.170. Recurso extraordinário nº 592.377. Repercussão geral.
Tema 33. As entidades integrantes do Sistema Financeiro Nacional estão sujeitas ao
art. 5º da medida provisória nº 2.170, que autoriza a capitalização dos juros em
periodicidade inferior a anual. Súmula nº 539 do STJ. Inaplicabilidade do art. 591 do
Código Civil. Prevalência da Lei Especial. Forma de contratação. Tese paradigma.
Recurso Especial nº 973.827/RS. A capitalização pode ser demonstrada pela redação
das cláusulas convencionadas ou quando a taxa anual dos juros é superior ao
duodécuplo da taxa mensal. Súmula nº 541 do STJ. Caso concreto. Capitalização
contratada. Mantida a forma de composição das parcelas na forma contratada.
Descaracterização da mora. Tese paradigma. Recurso Especial nº 1.061.530/RS. A
constatação de encargos abusivos durante o período da normalidade afasta a
caracterização da mora. Caso concreto. Encargos da normalidade mantidos conforme
contratados. Inexistência de motivo que justifique o afastamento da mora. Comissão
de permanência e demais encargos cobrados no período da inadimplência. Caso
concreto. Inexistência de previsão de incidência da comissão de permanência.
Contratação de cobrança de juros remuneratórios, além da multa de 2% e dos juros
moratórios em 1% ao mês. Possibilidade de incidência de juros remuneratórios de
acordo com a taxa média de mercado, observado o percentual contratado, nos termos
da Súmula nº 296 do STJ. Encargos da inadimplência limitados aos termos da
fundamentação. Tarifa de abertura de crédito (tac), tarifa de emissão de carnê (tec) ou
outra denominação cobrada pelo mesmo fato gerador. Tese paradigma. Recurso
Especial nº 1.251.331/RS e nº 1.255.573/RS. Desde a entrada em vigor da resolução nº
3.518/2007 do Conselho Monetário Nacional, a cobrança por serviços bancários
prioritários ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma
padronizadora expedid inexistência de previsão contratual da cobrança. Carência de
interesse. Apelo não conhecido no tópico. Tarifa de cadastro. Tese paradigma. Recurso
Especial nº 1.251.331/RS e nº 1.255.573/RS. É válida a tarifa de cadastro
expressamente tipificada em ato normativo, a qual somente pode ser cobrada no
início do relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira. Caso concreto.
Mantida a validade da cobrança. Ressarcimento de despesas decorrentes de prestação
de serviços por terceiros. A resolução nº 3.518/64 do Conselho Monetário Nacional
autoriza a cobrança, desde que devidamente explicitado. Caso concreto. Contrato não
especifica as despesas que englobam o valor cobrado. Ausência de transparência. Art.
52, inciso III, do CDC. Declarada a ilegalidade. Tarifa de avaliação do bem dado em
garantia. O art. 5º, inciso V, da resolução nº 3.518/2007 do Conselho Monetário
Nacional admite a cobrança, desde que explicitado ao cliente. Caso concreto.
Inexistência de previsão contratual da cobrança. Carência de interesse. Apelo não
conhecido no tópico. Despesas com o registro do contrato e inclusão de gravame. A
resolução nº 3.518/2007 do Conselho Monetário Nacional não proíbe o repasse das
despesas administrativas ao consumidor, se houver a devida especificação do valor e
da finalidade correspondente. Caso concreto. Inexistência de previsão contratual da
cobrança. Carência de interesse. Apelo não conhecido no tópico. Imposto paradigma.
Recurso Especial nº 1.251.331/RS e nº 1.255.573/RS. As partes podem convencionar o
pagamento do imposto sobre operações financeiras e de crédito (IOF) por meio de
financiamento acessório ao mútuo principal, sujeitando-o aos mesmos encargos
contratuais. Caso concreto. Mantida a validade da cobrança na forma contratada.
Despesas de cobrança judicial e/ou extrajudicial. É abusiva a cláusula que obriga o
consumidor a ressarcir as despesas de cobrança judicial e/ou extrajudicial. A
condição imposta fere as disposições do art. 51, IV do CDC. Desvantagem exagerada
do consumidor. Declarada a nulidade da cláusula contratual. Compensação e/ou
repetição de valores. Caso concreto. A alteração dos encargos contratados justifica o
deferimento do pedido de compensação e, caso quitado o débito, a restituição dos
valores pagos a maior, na forma simples. Indeferida a antecipação de tutela. Ação de
busca e apreensão. Caso concreto. Ajuizamento da ação antes da entrada em vigor da
Lei nº 10.043/14. Ausência da notificação regular do devedor em mora.
Desatendimento das formalidades exigidas pela legislação pertinente. Notificação não
foi enviada por intermédio do cartório de títulos e documento. Extinção da ação por
ausência da notificação regular do devedor em mora. Art. 267, IV, do CPC. Apelo
conhecido em parte e, na parte conhecida, parcialmente provido. (TJRS; AC 0269218-
05.2015.8.21.7000; Alvorada; Décima Terceira Câmara Cível; Relª Desª Angela
Terezinha de Oliveira Brito; Julg. 13/08/2015; DJERS 28/10/2015)

Por esse norte, é totalmente descabida a cobrança desse encargo


contratual, devendo, por isso, ser afastada.
9 – PRODUÇÃO DE PROVAS

Com efeito, a matéria aduzida pela parte Promovida necessita -- o


que de logo requer -- ser provada por meio de:

✔ ( a ) prova pericial contábil

Assim, pretende-se provar que: ( i ) o pacto na verdade, desde o seu


nascedouro, já trouxera encargos contratuais excessivos, perdurando pois durante o “período de
normalidade”, o que descaracterizará a mora do Réu; ( ii ) houvera cobrança de juros
remuneratórios abusivos e mascarados no pacto de leasing;

Sem a prova pericial, não há como este Julgador proferir sentença


destacando a eventual cobrança de encargos excessivos no “período da normalidade”. Até
mesmo destacar a existência de juros remuneratórios no pacto de arrendamento mercantil.

Desse modo, constitui fragrante cerceamento de defesa o


indeferimento e/ou julgamento antecipado do mérito, caso não seja acolhido o presente pedido
de produção de prova pericial, devidamente justificado.

Ante o exposto, requer o Promovido que Vossa Excelência se digne


de admitir a produção da prova pericial aqui requerida, delimitando, também, na oportunidade
processual pertinente, os pontos controvertidos desta querela judicial (CPC, art. 347 c/c art. 357,
inc. II). Subsidiariamente, requer a realização de prova técnica simplificada (CPC, art. 464, §
2º e § 3º).
Diante da hipossuficiência técnica, pede seja invertido o ônus da
prova (CPC, art. 373, § 1º c/c CDC, art. 6º, inc. VIII).

10 – EM CONCLUSÃO

POSTO ISSO,
o Réu expressa o desejo que Vossa Excelência se digne de tomar as seguintes providências:

1)Pleiteia o acolhimento das preliminares ao


mérito levantados nesta peça vestibular;

2) subsidiariamente(CPC, art. 326), almeja


sejam JULGADOS IMPROCEDENTES OS PEDIDOS
FORMULADOS PELA AUTORA, condenando-a no ônus de
sucumbência, o que de logo requer;

3) ainda subsidiariamente(CPC, art. 326),


almeja a improcedência do pedido de pagamento
os encargos contratuais abusivos citados nesta
defesa, com a condenação supra-aludida;

4) protesta provar o alegado por todos meios


admissíveis em direito, nomeadamente pela prova
pericial, tudo de logo requerido (CPC, art.
369).
Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de janeiro do ano de 0000.

Fulano de Tal
Advogado – OAB 0000

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