Produtos Naturais de Algas e Seu Potencial Antioxi - 240822 - 234813

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 9

Revista Brasileira de Farmacognosia

Brazilian Journal of Pharmacognosy


Recebido em 18/12/06. Aceito em 26/08/07 17(4): 631-639, Out./Dez. 2007

Produtos naturais de algas marinhas e seu potencial antioxidante


Fabíola Dutra Rocha1,2, Renato Crespo Pereira3, Maria Auxiliadora Coelho Kaplan1,
Valéria Laneuville Teixeira3*
1
Núcleo de Pesquisa de Produtos Naturais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ilha do Fundão, 21941-590,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil,
2
NUPESC, Faculdade e Fundação UNIRG, Alameda Madrid 545, Jardim Sevilha, 77410-470, Gurupi, TO,
Brasil,
3
Departamento de Biologia Marinha, Instituto de Biologia, Universidade Federal Fluminense,
P.O. Box 100.644, 24001-970, Niterói, RJ, Brasil

RESUMO: Os radicais livres e outros derivados ativos do oxigênio são inevitavelmente co-
produzidos em algumas reações biológicas e exercem papel siológico importante. No entanto,
essas espécies reativas têm sido descritas como fatores que participam diretamente dos
mecanismos siopatológicos relacionados com a continuidade e as complicações de diversos
estados patológicos como a aterosclerose, a diabetes, o câncer, a artrite reumatóide, entre
outros. Dessa forma, a terapia antioxidante preveniria o desenvolvimento e a progressão dessas
complicações. As algas marinhas representam uma importante fonte de substâncias antioxidantes
naturais, uma vez que têm sistemas de defesas antioxidantes bem desenvolvidos. O presente
trabalho é uma compilação das pesquisas realizadas sobre a atividade antioxidante de produtos
naturais marinhos e extratos de algas marinhas bentônicas.

Unitermos: Estresse oxidativo, antioxidantes, algas marinhas bentônicas.

ABSTRACT: “Natural products from marine seaweeds and their antioxidant potential”
Free radicals and other reactive species of oxygen are co-produced in some biological reactions
and they play important physiological role, and nevertheless they are reported as factors that take
straight part in the pathophysiologic mechanism associated with continuity and complications of
the several pathological process such as arteriosclerosis, diabetes mellitus, cancer, and arthritis,
among others. In this way, the antioxidant therapy should prevent the development and progress
of these complications. Seaweeds can be valuable source of natural antioxidant compounds since
they have a well-developed antioxidant defense system. The present work is a compilation of the
antioxidant activities of marine natural products and benthonic marine seaweeds crude extracts
researches.

Keywords: Oxidative stress, antioxidants, benthonic marine seaweeds.

INTRODUÇÃO tem sido correlacionada com um grande número de


doenças, mas não como agentes etiológicos e sim como
O O2 tem um signicado fundamental para fatores que participam diretamente dos mecanismos
os organismos aeróbios, pois participa na obtenção de siopatológicos, os quais determinam a continuidade e
energia na forma de ATP, através da cadeia respiratória, as complicações de diversos estados patológicos (Rover
como aceptor nal de elétrons. Participa também de Júnior et al., 2001).
várias reações metabólicas como a biossíntese de Os organismos aeróbios, desde as cianobactérias
prostaglandinas e esteróides e na oxidação de muitas até o homem, desenvolveram uma série de mecanismos
substâncias aromáticas, entre outras (Fleschin et al., siológicos e biomoleculares de defesa contra os efeitos
2000). Os radicais livres e outros derivados ativos das espécies reativas do oxigênio (EROs). Nas células
do oxigênio são inevitavelmente co-produzidos de organismos fotossintetizantes esses mecanismos
nessas reações biológicas e exercem papel siológico estão mais fortemente desenvolvidos em comparação
importante, mas também estão envolvidos em vários com outras células, uma vez que as membranas
processos deletérios ao organismo humano como o fotossintéticas, os tilacóides, são alvo primário
câncer, a aterosclerose, a Diabetes mellitus, a artrite para os efeitos deletérios oxidativos, por conterem
reumatóide, a distroa muscular, a catarata, as desordens lipídeos não saturados como elementos estruturais
neurológicas e o processo de envelhecimento (Nordberg; majoritários. Portanto, vários mecanismos de proteção
Arnér, 2001). Finalmente, a presença de radicais livres são desenvolvidos nessas células. De fato, as folhas

ISSN 0102-695X 631


* E-mail: [email protected], Tel./Fax +55-21-26292311
Fabíola Dutra Rocha, Renato Crespo Pereira, Maria Auxiliadora Coelho Kaplan, Valéria Laneuville Teixeira

das plantas vasculares e os talos das algas contêm (Fujimoto; Kaneda, 1980). Fujimoto e Kaneda (1980)
numerosas substâncias antioxidantes. As algas estão usaram o teste de estabilidade do éster metílico do óleo
sempre submetidas a rápidas variações de intensidade de girassol e constataram que 60% das frações solúveis
de luz e concentrações de O2 e CO2 ao longo da coluna em CHCl3 dos extratos das algas testadas foram capazes
de água e, assim, sua sobrevivência depende de uma de estender o período de indução da reação do substrato
resposta eciente ao estresse oxidativo. Por essa razão, éster (tempo necessário para atingir um ponto crítico de
esses organismos podem representar uma importante oxidação). As algas pardas, em geral, apresentaram maior
fonte de substâncias antioxidantes naturais tanto para atividade antioxidante, particularmente, Eisenia byciclis,
as indústrias alimentícias como para as farmacêuticas Sargassum kjellmanianum, Ishige okamurae, Undaria
(Matsukawa et al., 1997). pinnatida, Heterochordaria abientina e Scytosiphon
A denição mais aceita para antioxidantes lomentaria. A partir do fracionamento dos extratos
(AO) é que seriam substâncias as quais, mesmo em CHCl3 de E. byciclis e U. pinnatida, os autores
presentes em baixas concentrações em relação ao identicaram como princípios ativos responsáveis pela
substrato oxidante, poderiam atrasar ou inibir as AAO as frações fosfolipídicas (fosfatidiletanolamina
taxas de oxidação (Sies, 1993). Vários componentes e fosfatidilinositídeo) e o carotenóide fucoxantina,
siológicos são conhecidos pela capacidade de inativar respectivamente. Em um outro trabalho os mesmos
ou neutralizar radicais livres, como o -tocoferol, o autores pesquisaram a AAO de 36 espécies de algas
ascorbato, o -caroteno, o ácido úrico, a ubiquinona, a bentônicas e, novamente, constataram que as algas
transferrina, a ceruloplasmina, entre outros (Olszewer, pardas apresentavam maior AAO (Fujimoto; Kaneda,
1995; Fleschin, 2000; Matkovics, 2003). Alguns metais 1984).
são cofatores na síntese de radicais livres e, substâncias Em 1990, Le Tutour et al. (1990) pesquisou
quelantes de metais como o EDTA, a desferroxamina e a AAO dos extratos apolares de 7 algas marinhas
a D-penicilamina são empregados como antioxidantes bentônicas da costa francesa. Mais uma vez os resultados
exógenos (Olszewer, 1995; Olszewer; Carter, 1988; para as algas pardas foram os melhores, principalmente
Tully, 1999). Substâncias naturais com atividade os obtidos com Laminaria digitata e Himanthalia
redutora e neutralizadora de radicais livres são muito elongata. Os extratos dessas duas espécies mostraram
usadas como agentes antioxidantes exógenos. (Favier sinergia com a vitamina E no teste de estabilidade do
et al., 1995; Rice-Evans et al., 1996; Pietta, 2000; éster metílico do óleo de girassol. Cahyana et al. (1992),
Nordberg; Arnér, 2001). De fato, os produtos naturais identicaram a pirofeotina a, um metabólito da clorola
parecem ser uma fonte promissora de substâncias com a, como um dos princípios antioxidantes presente no
atividade antioxidante e pesquisas realizadas nos últimos extrato da alga Eisenia bicyclis, alga parda comestível
anos evidenciam que o enriquecimento dos sistemas muito popular no Japão. Em um trabalho posterior,
orgânicos com antioxidantes naturais pode corrigir a Cahyana et al. (1993), analisaram os possíveis efeitos
homeostasia viciada (Tiwari, 2001). sinérgicos de derivados porrínicos (clorola a, feotina
Constam na literatura vários trabalhos de busca a e pirofeotina a) com o -tocoferol e ácido ascórbico,
de substâncias com atividade antioxidante (AAO) através dos métodos do tiocinato e substâncias reativas
em algas (Tabela 1), porém, no Brasil, esse campo de ao ácido tiobarbitúrico. Todas as substâncias testadas
pesquisa ainda não foi devidamente explorado, apesar mostraram melhor efeito AO quando na presença de
da riqueza da nossa ora cológica marinha. -tocoferol ou ácido ascórbico, sugerindo um efeito
sinérgico.
ALGAS MARINHAS E SEU POTENCIAL Foti et al. (1994), sabendo que meroditerpenos
ANTIOXIDANTE (Figura 1: estruturas 1-2) isolados de algas pardas do
mar Mediterrâneo do gênero Cystoseira são análogos
O interesse inicial pelo estudo de substâncias aos tocoferóis e, portanto, com potencial para uma boa
com atividade antioxidante (AAO) em algas surgiu AAO, como aromaticidade e alto nível de oxigenação,
no Japão, na busca de novos aditivos para alimentos, zeram uma avaliação das propriedades dessas
em substituição àqueles antioxidantes sintéticos substâncias como quelantes de 1O2 (através do teste
utilizados, como o hidrixianisol butilado (BHA) e o de decomposição térmica do 1,4-dimetilnaftaleno
hidroxitolueno butilado (BHT), os quais mostravam 1,4-endoperóxido, em comparação com o padrão
efeitos carcinogênicos, alterações enzimáticas e 2,5-difenil-3,4-benzofurano), ânion superóxido (ensaio
lipídicas em animais. O fato de algumas algas secas da xantina-oxidase) e radicais peróxidos (ensaio da
poderem ser estocadas por um longo período sem o inibição da peroxidação do -caroteno, mediada pelo
perigo de deterioração oxidativa, mesmo apresentando radical peróxido do linoleato de metila na presença de
mais de 30% do total de seus ácidos graxos na forma O2 e radical iniciador 2,2’-azobis-(2-metilpropionitrila)
de cadeias poliinsaturadas (principalmente as algas - AIBN). Os três metabolitos testados apresentaram boa
pardas), despertou o interesse dos pesquisadores atividade sequestrante do 1O2 e nenhuma atividade sobre
em relação ao mecanismo AO presente nessas algas o ânion superóxido. As substâncias 1 e 2 também foram
Rev. Bras. Farmacogn.
632 Braz J. Pharmacogn.
17(4): Out./Dez. 2007
Produtos naturais de algas marinhas e seu potencial antioxidante

ativas contra os radicais lipoperóxidos. com a vitamina E, enquanto a clorola a e suas


Os “orotaninos” formam uma classe de substâncias relacionadas mostraram um grande efeito
substâncias naturais características de Phaeophyceae e sinérgico. A atividade neutralizadora de radicais DPPH
de grande potencial farmacológico. Essas substâncias e hidroxila ( OH) foi avaliada por Yan et al. (1998) para
caracterizam-se por uma unidade estrutural de 27 espécies de algas marinhas, muitas das quais usadas
oroglucinol (1,3,5-triidroxibenzeno) e por terem as como alimento na Ásia e áreas do Pacíco. O ensaio
características químicas dos taninos, e.g., estruturas 3 do DPPH foi feito em atmosfera de nitrogênio, usando
a 7 (Figura 1). Em 1996, Yan et al. (1996) avaliaram dimetilsulfóxido (DMSO) como solvente. Os extratos
a AAO dos orotaninos de Sargassum kjellmanianum, em metanol foram os que apresentaram melhores
usando o ensaio da determinação do período de indução resultados nesse ensaio, sendo que 15 espécies do total
da oxidação dos ácidos graxos (tempo necessário para testado mostraram boa AAO e, dentre essas, 6 espécies
se atingir um ponto crítico de oxidação do óleo de peixe destacaram-se: Gelidium amansii, Gloisiphonia
acarretando um aumento na massa total dos ácidos graxos capillaris, Polysiphonia urceolata e Rhodomela teres
em 6%). Os autores constataram que os orotaninos têm (vermelhas); Sargassum kjellmanianum e Desmarestia
uma boa AAO contra a rancicação do óleo de peixe, viridis (pardas). A atividade neutralizadora de •OH foi
sendo inclusive cerca de 2,6 vezes maior do que o BHT. avaliada no ensaio da desoxirribose e as espécies R. teres
O método do tiocianato foi usado por Anggadiredja et e Chorda lium foram as que apresentaram melhores
al. (1997) para avaliar a AAO dos extratos em metanol, resultados.
em éter etílico e em hexano das algas, secas e frescas, Xue et al. (1998) testaram a atividade
Sargassum polycystum (alga parda) e Laurencia obtusa antioxidante de vários polissacarídeos hidrossolúveis
(alga vermelha), coletadas nas águas das Ilhas Seribu de algas marinhas (alginato, sulfato de alginato,
(Indonésia). Os resultados revelaram que os extratos das sulfato de propilenoglucolalginato, sulfato de
algas secas não apresentaram atividade antioxidante, propilenoglucolmanuronato, oligossacarídeo
enquanto que os extratos das algas frescas foram de quitosana, N,O-carboximetilquitosana e
muito ativos. Para S. polycystum o extrato metanólico hidropropilquitosano) e lipossolúveis (hexanoilquitosano
mostrou melhor atividade do que aqueles em éter e N-benzoilhexanoilquitosano). O ensaio usado para os
etílico e em hexano. Ainda, em 1997, Matsukawa et polissacarídeos hidrossolúveis foi a lipoperoxidação de
al. (1997) avaliaram os extratos aquosos e etanólicos lipossomas de fosfatidilcolina iniciada pelo cloridrato
de 17 espécies de algas quanto a AAO por inibição da de 2,2’-azobis(2-amidinopropano) (AZPH), no qual
enzima lipoxigenase e atividade redutora de radical testou-se a propriedade dos diferentes polissacarídeos de
livre (RL) pelo ensaio de descoloração do 1,1-difenil- inibir o acúmulo de peróxidos da fosfatidilcolina. Para
2-picrilidrazila (DPPH). Os resultados mostraram que os derivados lipossolúveis, a atividade neutralizadora
os extratos em etanol possuem AAO, sendo que os de radical peróxido foi avaliada pelo monitoramento da
extratos das algas pardas, nos dois ensaios, mostraram concentração do peróxido de metilinoleato, induzido pelo
os melhores resultados. Nesse estudo, as 3 espécies AMVN (2,2’-azobis(2,4-dimetilvaleronitrila). Todos os
de Sargassum avaliadas mostraram melhor atividade polissacarídeos testados mostraram AAO, indicando
do que os demais grupos de algas testadas. O extrato que os derivados de quitina e alginato exercem papel
da alga Eisenia bicyclis também mostrou atividade importante no mecanismo antioxidante dos sistemas
nos dois ensaios (inibição da lipoxigenase e atividade biológicos.
redutora do radical DPPH), corroborando os resultados Yan et al. (1999) avaliaram a AAO frente ao
de Fujimoto e Kaneda (1980). Nenhuma correlação DPPH dos extratos de algumas algas pardas comestíveis
entre os mecanismos de inibição enzimática e atividade no Japão. Os melhores resultados foram encontrados
neutralizadora de radicais foi observada. para Undaria pinnatida, Sargassum fulvellum e
Em 1998, Le Tutour (1998) ampliou o trabalho Hizikia fusiformis. No fracionamento do extrato dos
de 1990, pesquisando os extratos de mais três algas talos frescos de H. fusiformes, a substância com maior
pardas: Fucus vesiculosus, F. serratus e Ascophyllum AAO foi isolada do extrato em acetônico e identicada
nodosum com o intuito de isolar e identicar os como sendo a fucoxatina. Ruberto et al. (Ruberto et al.
princípios responsáveis pela AAO e vericar a sinergia 2001), avaliaram a AAO de oito espécies do gênero
com a vitamina E. Todos os extratos testados mostraram Cystoseira, usando um modelo de sistema micelar,
a propriedade de estender o período de indução da onde se avalia a capacidade da amostra em proteger da
oxidação do substrato e efeito sinérgico com a vitamina peroxidação lipídica o ácido linoleico. Eles zeram uma
E. Na puricação dos extratos, observou-se uma grande correlação entre a AAO e a composição dos extratos
concentração de clorola a nos extratos de L. digitata e, em derivados tetrapreniltoluquinóis. Os resultados
para os extratos das demais algas, foram identicados encontrados mostraram o potencial antioxidante do
como princípios AO as chamadas substâncias gênero Cystoseira, diferenciado entre as espécies de
relacionadas com a clorola a, tocoferóis, fucoxantina acordo com o conteúdo em tetrapreniltoluquinóis dos
e fosfolipídeos. A fucoxantina não apresentou sinergia extratos. Novoa et al. (Novoa et al., 2001), apresentaram
Rev. Bras. Farmacogn.
Braz J. Pharmacogn.
633
17(4): Out./Dez. 2007
Fabíola Dutra Rocha, Renato Crespo Pereira, Maria Auxiliadora Coelho Kaplan, Valéria Laneuville Teixeira

os resultados da avaliação da atividade inibidora da Halimeda incrassata, alga verde, coletadas em Havana/
peroxidação lipídica do extrato aquoso da alga marinha Cuba, em reduzir a formação de EROs intracelular sob
vermelha Bryothamnion triquetrum. Eles determinaram condições oxidativas basais, usando uma linhagem de
a concentração inibitória média (IC50) de 23,3 g células de hipotálamo de camundongo GT1-7. Também
para o extrato testado e determinaram para o mesmo avaliaram o efeito protetor dos extratos destas duas
um conteúdo em polifenóis de 8,08 mg/g de extrato algas contra estímulos químicos (H2O2 e CH3HgCl)
liolizado. Através do fracionamento do extrato puderam que induzem morte neuronal através de mecanismos
identicar a presença dos ácidos trans-cinâmico, envolvendo formação de EROs e depleção de glutationa
-cumárico e ferúlico em concentrações relevantes e reduzida (GSH). Ambos os extratos, em concentrações
associaram, pelo menos em parte, a atividade AO do superiores a 0,20 mg/mL, exerceram proteção contra
extrato de B. triquetrum à presença dessas substâncias. os efeitos deletérios e morte celular induzidos por
Os polissacarídeos sulfatados, de baixo peso H2O2, embora somente o extrato de H. incrassata tenha
molecular da alga parda Laminaria japonica foram podido prevenir também contra a formação basal de
avaliados por Xue et al. (2001) quanto a AAO, usando o EROs. Quanto aos efeitos deletérios e morte celular,
modelo de oxidação de lipoproteínas de baixa densidade assim como formação de EROs mediados pelo cloreto
(LDL). Os polissacarídeos testados foram fortemente de metilmercúrio (MeHgCl), os extratos das duas algas
ativos na proteção da oxidação de LDL induzida por mostraram proteção em concentrações maiores que 0,05
(dicloreto de 2,2’-azobis(2-amidinopropano) (AAPH), mg/mL.
mas não para aquela induzida por Cu2+. Rupérez et al. Nagai e Yukimoto (2003) apresentaram um
(2002) testaram a AAO dos polissacarídeos de Fucus trabalho sobre o potencial AO de bebidas preparadas
vesiculosus (alga parda) frente à redução de íons com quatro algas comuns na culinária japonesa:
férricos como poder antioxidante no ensaio denominado Ecklonia cava (trombeta-do-mar), Undaria pinnatida
“ferric reducing ability of plasma” (FRAP), ou seja, a (“wakame”), Hizikia fusifome (“hizikia”) e Ulva pertusa
capacidade antioxidante do plasma. Em 2002, Lim et (alface-do-mar). Foram empregados quatro métodos
al. (2002) apresentaram um trabalho de avaliação da diferentes: avaliação da AAO sobre a peroxidação
AAO do extrato de Sargassum siliquastrum, usando o lipídica do ácido linoleico, atividade neutralizadora
modelo de inibição da oxidação e hemólise de células do radical O2 no sistema xantina/xantina-oxidase,
vermelhas pelo AAPH (dicloreto de 2,2’-azobis(2- atividade redutora do radical DPPH e atividade inibidora
amidinopropano)), supressão da peroxidação lipídica em da oxidação da 2-desoxiribose pelo radical OH no
homogenato de cérebro de rato e atividade sequestrante sistema desoxirribose/H2O2. Os autores concluíram
de radical O2 . Eles mostraram que a fração mais ativa que as bebidas têm um bom potencial AO, sendo
era rica em fenólicos, mas não encontraram correlação aquela obtida de trombeta-do-mar mostrou os melhores
entre o teor total de fenólicos e AAO. Burritt et al. resultados e aquela obtida de alface-do-mar teve menor
(2002) zeram um estudo sobre os danos às membranas atividade. Os mesmos autores também encontraram
e metabolismo da alga vermelha Stictosiphonia uma correlação entre o conteúdo de polifenóis e a AAO.
arbuscula, imediatamente após reidratação de espécimes Ainda, em 2003, Perez et al. (2003a,b) apresentaram em
dessecadas, e constataram que a capacidade de prevenir um congresso internacional os resultados da pesquisa
ou reduzir a produção de EROs, se deve a um aumento sobre a AAO dos extratos das algas marinhas Laurencia
na atividade das enzimas requeridas na regeneração do sp., Gelidium sp., Bryothamnion sp. e Gracilaria sp. Os
ascorbato e da glutationa. Esse mecanismo protege a extratos foram avaliados quanto à capacidade AO frente
alga de danos celulares causados pela dessecação. aos radicais O2 , OH e radicais gerados sob luz UV. Os
Baseados nos resultados de Foti et al. (1994), autores registraram uma AAO dos extratos comparáveis
Fisch et al. (2003) avaliaram a AAO dos extratos em à de antioxidantes já bem conhecidos como a vitamina E
diclorometano e metanol de Cystoseira crinita, assim e a melatonina. Os resultados foram correlacionados com
como de alguns derivados tetrapreniltoluquinólicos, o conteúdo de polifenóis desses extratos. Os mesmos
tetrapreniltoluquinônicos e tripreniltoluquinólicos extratos também foram testados quanto à capacidade
(Figura 1: estruturas 8-15) isolados e puricados a partir inibidora da peroxidação lipídica e formação de
da fração em acetona do extrato metanólico. Foram malondialdeído, através do teste de substâncias reativas
utilizados os métodos de reação com o radical DPPH, de ao ácido tiobarbitúrico (TBARS). Kang et al. (2004)
avaliação de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico zeram a avaliação da AAO dos extratos de 17 algas
(TBARS), de quimiluminescência e de avaliação marinhas. Três deles, Ulva pertusa, Symphyocladia
da capacidade antioxidante equivalente ao trolox latiuscula e Ecklonia stolonifera apresentaram boa
(TEAC). Todas as substâncias testadas apresentaram atividade inibidora da formação de EROs em um
bom potencial AO, apesar da ecácia variar de acordo modelo usando homogenato de rim de ratos Wistar
com o método usado. Em 2003, Fallarero et al. (2003) e diacetato de 2’,7’-diclorodiidrouoresceína. Em
avaliaram a capacidade dos extratos aquosos de seguida, eles testaram as frações solúveis em n-hexano,
Bryothamnion triquetrum, uma alga vermelha, e de diclorometano, acetato de etila e n-butanol do extrato
Rev. Bras. Farmacogn.
634 Braz J. Pharmacogn.
17(4): Out./Dez. 2007
Produtos naturais de algas marinhas e seu potencial antioxidante

Figura 1. Substâncias isoladas de algas marinhas com potencial antioxidante.

Rev. Bras. Farmacogn.


Braz J. Pharmacogn.
635
17(4): Out./Dez. 2007
Fabíola Dutra Rocha, Renato Crespo Pereira, Maria Auxiliadora Coelho Kaplan, Valéria Laneuville Teixeira

Tabela 1. Avaliação da atividade antioxidante em algas marinhas.

Rev. Bras. Farmacogn.


636 Braz J. Pharmacogn.
17(4): Out./Dez. 2007
Produtos naturais de algas marinhas e seu potencial antioxidante

AO: atividade antioxidante; RL: radical livre; pO2: pressão parcial de oxigênio; AAO: atividade antioxidante; -TOH: -tocoferol;
O2 : ânion superóxido; ROO: radical peróxido; EROs: espécies reativas do oxigênio; TBARS: substâncias reativas ao ácido
tiobarbitúrico; TEAC: AAO equivalente ao trolox.

em metanólico de E. stofonifera. A fração em acetato muitos desses métodos, os resultados obtidos dependem
de etila foi a mais potente, sendo isolados 5 derivados do modelo usado e da hidrolicidade/lipolicidade
fenólicos: o oroglucinol, o eckstolonol, o eckol, o da amostra antioxidante testada. Assim, devido às
orofucofuroeckol A e o dieckol, (Figura 1, estruturas diferenças entre os sistemas de testes empregados para
3-7), os quais também mostraram atividade muito boa, se fazer a avaliação da atividade, recomenda-se o uso
sendo o eckol e o orofucofuroeckol os mais ativos, de pelo menos dois métodos, dependendo do potencial
inclusive mais ativos que trolox (usado como controle esperado e da origem da amostra.
positivo). As algas marinhas, especialmente as algas As algas marinhas, assim como as plantas
pardas, são ricas em polissacarídeos como alginatos, superiores, podem ser uma importante fonte de
fucanos e laminaranos, os quais possuem várias substâncias antioxidantes naturais e, de fato, constam
propriedades biológicas, mas poderiam interferir na na literatura vários trabalhos de busca por substâncias
solubilidade total em água dos extratos de algas. Assim, com atividade antioxidante em algas, porém, no Brasil,
em 2004, Ahn et al. (2004) apresentaram um trabalho em apesar da riqueza da nossa ora cológica marinha,
que prepararam extratos hidrossolúveis de Scytosiphon esse campo de pesquisa ainda não foi devidamente
lomentaria (alga parda) a partir de material previamente explorado.
hidrolisado por enzimas carboidrases (5 classes) e
proteases (5 classes). Esses extratos foram testados AGRADECIMENTOS
quanto a AAO frente aos radicais OH, alquila e DPPH,
usando a técnica de ressonância de elétron spin. Todos Os autores agradecem ao CNPq pelo auxílio
os 10 extratos obtidos tiveram sua atividade antioxidante à pesquisa e pela bolsa concedida à F.D.R e bolsas de
similar àquela da vitamina C frente aos radicais OH e produtividade de V.T.L., R.C.P e M.A.C.K.; à CAPES
alquila e menor em relação ao radical DPPH. Os autores pela bolsa concedida à F.D.R no programa PDEE
sugerem que extratos assim preparados têm a vantagem (Programa de Doutorado com Estágio no Exterior) e
de melhor solubilidade em água e maior facilidade de a HEFCE (The Higher Education Funding Council for
processamento. England) pelo auxílio à pesquisa.
Os presentes autores acreditam no grande
potencial da ora marinha bentônica como fonte de REFERÊNCIAS
fármacos e insumos farmacêuticos diversicados e,
principalmente no que diz respeito às diversas patologias Ahn CB, Kang DS, Shin TS, Jung BM 2004. Free radical
associadas ao estresse oxidativo. scavenging activity of enzymatic extracts from a
Brown seaweed Scytosiphon lomentaria by electron
CONCLUSÃO spin resonance spectrometry. Food Res Int 37:
253-258.
Substâncias antioxidantes podem atuar através Anggadiredja J, Andyam R, Hayati M 1997. Antioxidant
de mecanismos variados como capturar ou regenerar activity of Sargassum polycystum (Phaeophyta) and
radicais livres, decompor peróxidos, extinguir O21, Laurencia obtusa (Rhodophyta) from Seribu Islands.
inibir enzimas envolvidas no processo de formação de J Appl Phycol 9: 477-479.
radicais livres, inibir a cascata de reação dos radicais Burritt DJ, Larkindale J, Hurd CL 2002. Antioxidant metabolism
livres, entre outros. Por essa razão, a capacidade de in the intertidal red seaweed Stictosiphonia arbuscula
uma variedade de substâncias antioxidantes em atuar following desiccation. Planta 215: 829-838.
como nalizadores do processo em cadeia das reações Cahyana AH, Shuto Y, Kinoshita Y 1992. Pyropheophytin a
radicalares tem sido indiretamente avaliada, através as an antioxidative substance from the marine alga,
de métodos diversos, usando vários modelos. Para arame (Eisenia bicyclis). Biosc Biotech Bioch 56:
Rev. Bras. Farmacogn.
Braz J. Pharmacogn.
637
17(4): Out./Dez. 2007
Fabíola Dutra Rocha, Renato Crespo Pereira, Maria Auxiliadora Coelho Kaplan, Valéria Laneuville Teixeira

1533-1535. Chem 81: 327-332.


Cahyana AH, Shuto Y, Kinoshita Y 1993. Synergistic Nordberg J, Arnér SJ 2001. Reactive oxygen species,
antioxidative effects of porphyrin derivatives with antioxidants, and the mammalian thioredoxin system.
-tocopherol and ascorbic acid. Biosci Biotech Bioch Free Radical Biol Med 31: 1287-1312.
57: 1753-1754. Novoa AV, Motidome M, Mancini-Filho J, Linares AF,
Fallarero A, Likkanen JJ, Männistö PT, Castañeda O, Vidal Tanae MM, Torres LMB, Lapa AJ. 2001. Actividad
A 2003. Effects of aqueous extracts of Halimeda antioxidant y ácidos fenólicos del alga marina
incrassata (Ellis) Lamourox and Bryothamnion Bryothamnion triquetrum (S.G.gmelim) Howe. Braz
triquetrum (S.G.Gmelim) Howe on hydrogen J Pharm Sci 37: 373-382.
peroxide and methyl mercury-induced oxidative Olszewer E 1995. Radicais Livres em Medicina 2a ed. São
stress in GT1-7 mouse hypothalamic immortalized Paulo: Fundo Editorial Byk, 204 p.
cells. Phytomedicine 10: 39-47. Olszewer E, Carter JP 1988. EDTA Chelation therapy in
Favier AE, Cadet J, Kalyanaraman B, Fontecave M, Pierre chronic degenerative disease. Medical Hypotheses
JL 1995. Analyses of Free Radicals in Biological 27: 41-49.
Systems. Basel/Switzerland: Birkhauser Verlag. Perez E, Rodríguez-Mlaver A, Padilla N, Medina-Ramirez G,
275p. Laenna E 2003a. Antioxidant capacity of seaweed
Fisch KM, Böhm V, Wright AD, König GM 2003. Antioxidative extracts on superoxide anion, hydroxyl radical and
meroterpenoids from the brown alga Cystoseira radicals generated by UV-light. Free Rad Biol Med
crinita. J Nat Prod 66: 968-975. 35(Suppl. 1): 117.
Fleschin S, Fleschin M, Nita S, Pavel E, Magearu V 2000. Free Perez E, Rodríguez-Mlaver A, Padilla N, Medina-Ramirez
radicals mediated protein oxidation in biochemistry. G, Laenna E 2003b. Antioxidant capacity of
Roum Biotech Lett 5: 479-495. seaweed extracts during lipid peroxidation wister rat
Foti M, Piattelli M, Amico V, Ruberto G 1994. Antioxidant homogenates. Free Rad Biol Med 35(Suppl. 1): 121
activity of phenolic meroditerpenoids from marine Pietta PG 2000. Flavonoids as antioxidants. J Nat Prod 63:
algae. J Photochem Photobio B 26: 159-164. 1035-1042.
Fujimoto K, Kaneda T 1980. Screening test for antioxigenic Rice-Evans CA, Miller NJ, Paganga G 1996. Structure-
compounds from marine algae and fraction from antioxidant activity relationships of avonoids and
Eisenia bicyclis and Undaria pinnatida. Bull Japan phenolic acids. Free Rad Biol Med 20: 933-956.
Soc Sci Fisheries 46: 1125-1130. Rover Júnior L, Höehr NF, Vellasco AP 2001. Sistema
Fujimoto K, Kaneda T 1984. Separtion of antioxygenic antioxidante envolvendo o ciclo metabólico da
(antioxidant) compounds from marine algae. glutationa associado a métodos eletroanalíticos na
Hydrobiologia 116: 111-113. avaliação do estressse oxidativo. Quim Nova 24:
Kang HS, Chung JY, Kim JY, Son BW, Jung HA, Choi JS 2004. 112-119.
Inhibitory phlorotannins from the edible brown alga Ruberto G, Baratta MT, Biondi DM, Amico V 2001.
Ecklonia stolonifera on total reactive oxygen species Antioxidant activity of extracts of the marine algal
(ROS) generation. Arch Pharm Res 27: 194-198. genus Cystoseira in a micellar model system. J Appl
Le Tutour B, Benslimane F, Gouleau MP, Gouygou JP, Saldan Phycol 13: 403-407.
B, Quemeneur F 1990. Antioxidative activities of Rupérez P, Ahrazem O, Leal JA 2002. Potential antioxidant
algae extracts, synergistic effect with vitamin E. capacity of sulfated polysaccharides frrom the edible
Phytchemistry 29: 3759-3765. marine Brown seaweed Fucus vesiculosus. J Agr
Le Tutour B 1998. Antioxidant and pro-oxidant activities of Food Chem 50: 840-845.
the brown algae, Laminaria digitata, Himanthalia Sies H 1993. Strategies of antioxidant defense. Eur J Biochem
elongata, Fucus vesiculosus, Fucus serratus and 215: 213-219.
Ascophyllum nodosum. J Appl Phycol 10: 121-129. Tiwari AK 2001. Imbalance in antioxidant defense and human
Lim SN, Cheung PCK, Ooi VEC, Ang PO 2002. Evaluation diseases: Multiple approach of natural antioxidants
of antioxidant activity of extracts from a brown therapy. Curr Sci 81: 1179-1187.
seaweed, Sargassum siliquastrum. J Agric Food Tully S 1999. EDTA chelation therapy. Altern Integr Med Soc
Chem 50: 3862-3866. I: 7.
Matkovics A 2003. An overview of free radical research. Acta Xue C-H, Yu G, Hirata T, Terao J, Lin H 1998. Antioxidative
Biologica Szegediensis 47: 93-97. activities of several marine polysaccharides evaluated
Matsukawa R, Dubinsky Z, Kishimoto E, Masaki K, Masuda in a phosphatidylcholine-liposomal suspension
Y, Takeuchi T, Chihaara M, Yamamoto Y, Niki E, and organic solventes. Biosci Biotech Bioch 62:
Karube I 1997. A comparison of screening methods 206-209.
for antioxidant activity in seaweeds. J Appl Phycol Xue C-H, Fang Y, Lin H, Chen L, Li Z-J, Deng D, Lu C-X 2001.
9: 29-35. Chemical characters and antioxidative properties of
Nagai T, Yukimoto T 2003. Preparation and functional sulfated polysaccharides from Laminaria japonica. J
properties of beverages made from sea algae Food Appl Phycol 13: 67-70.
Rev. Bras. Farmacogn.
638 Braz J. Pharmacogn.
17(4): Out./Dez. 2007
Produtos naturais de algas marinhas e seu potencial antioxidante

Yan X, Xiancui L, Chengxu Z, Xiao F 1996. Prevention of


sh oil rancidity by phlorotannins from Sargassum
kjellmanianum. J Appl Phycol 8: 201-203.
Yan X Nagata T, Fan X 1998. Antioxidative activities in
some common seaweeds. Plant Food Hum Nutr 52:
253-262.
Yan X, Chuda Y, Suzuki M, Nagata T 1999. Fucoxanthin as the
major antioxidant in Hijikia fusiformis, a common
edible seaweed. Biosci Biotech Bioch 63: 605-607.

Rev. Bras. Farmacogn.


Braz J. Pharmacogn.
639
17(4): Out./Dez. 2007

Você também pode gostar