Epistemologia Da Linguística
Epistemologia Da Linguística
Epistemologia Da Linguística
1. EPISTEMOLOGIA DA LINGUÍSTICA
Antes de se começar a abordar sobre a linguística enquanto ciência, é deveras
importante começar por se esclarecer o que é linguagem e posteriormente o que
entendemos por língua. Assim, o conhecimento técnico de linguagem exige que,
paralelamente, estudemos também a noção de língua, uma vez que ambas são realidades
muito próximas para se estudar o fenómeno linguístico.
Convencionou-se atribuir o termo linguagem à capacidade geral que temos,
enquanto seres humanos, de utilizar sinais com vistas à comunicação. Assim, essa
capacidade chega a nós como resultado de um processo evolutivo. Todos os homens e
mulheres, independente de falarem uma língua natural (como português), ou de
utilizarem línguas de sinais na comunicação entre surdos, ou de serem acometidos de
patologias que prejudicam a comunicação verbal, são portadores dessa capacidade, ou
seja, têm linguagem. A língua, por sua vez, é uma noção que sugere que a capacidade de
linguagem se atualiza em um material concreto, disponível culturalmente, numa língua
natural.
É importante que fique claro que todo ser humano nasce dotado de uma
capacidade geral chamada linguagem, ou faculdade da linguagem, e que essa
capacidade se actualiza, se concretiza em uma língua específica, um conjunto de signos
e normas que permitem a comunicação em uma comunidade particular.
Dificilmente seríamos o que somos hoje, em termos de conhecimento, acesso a
informações, desenvolvimento tecnológico e relações interpessoais, sem uma linguagem
e sem uma língua. Todas as nossas actividades cotidianas exigem que, direta ou
indiretamente, usemos a capacidade linguística, seja para nos comunicarmos com outras
pessoas, seja para contar histórias aos nossos filhos, seja para negociar com o gerente de
nosso banco, seja para contar uma piada, uma mentira, fazer uma fofoca, etc. A
língua/linguagem é actividade constitutiva e incontornável de nossa natureza humana,
por isso, possivelmente, qualquer falante tem a habilidade de definir sua língua em
oposição a uma língua estrangeira, reconhecer outro falante como usuário de sua própria
língua, distinguir uma língua natural de um conjunto de sons ou letras sem sentido.
A linguística estuda o modo como a língua se estrutura genericamente, através
de propriedades de associação e distribuição, o que corresponde, parcialmente, às
tradicionais análises morfossintáticas que fazíamos ou fazemos na escola. Outra
preocupação da linguística é investigar como um falante sai de um estado em que
virtualmente não conhece sua língua materna (porque é bebê, por exemplo) e passa ao
estado em que domina as estruturas de sua língua, ou seja, adquire e desenvolve
conhecimentos linguísticos.
1.1. CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM
Ferdinand de Saussure (1916)
A língua não se confunde com a linguagem; é somente uma parte
determinada, essencial dela. É, ao mesmo tempo, um produto
social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções
necessárias, adoptadas pelo corpo social para permitir o exercício
Material de apoio: Linguística Portuguesa
ISPCAN: Celestino D. Katala
Dessa forma, considera que qualquer unidade linguística se define pela posição
que ocupa na rede de relações que constitui o sistema total da língua.
Hoje, Saussure é referência obrigatória para qualquer teoria linguística. Ele está
sempre presente nas mais diversas reflexões a respeito da linguagem.
É com Saussure que a Linguística ganha seu objecto específico: a língua. Para
ele, a língua é um “sistema de signos”, um conjunto de unidades que estão organizadas
formando um todo. É ele que considera o signo como a associação entre significante
(imagem acústica) e significado (conceito). É fundamental mencionar que não se pode
confundir a imagem acústica com o som, pois ela é, como o conceito, psíquica e não
física. Ela é a imagem que fazemos do som no nosso cérebro.
Um signo sempre tem relação com outro signo que ele não é. Por isso o valor do
signo é relativo e negativo: “cão” significa “cão” porque não significa “gato”; e “gato”
não significa “rato” e assim por diante.
A primeira diz respeito à língua vs fala. Para ele, a língua é um sistema abstrato,
um facto social, geral, virtual; a fala, ao contrário, é a realização concreta da
língua pelo sujeito falante, sendo circunstancial e variável. Ele excluiu a fala do
campo da Linguística, pois ela depende do indivíduo e não é sistemática.
A outra distinção é a que separa a sincronia (o estado atual do sistema da
língua) e diacronia (sucessão, no tempo, de diferentes estados da língua em
evolução). Ele não leva em conta a diacronia nos estudos da Linguística, pois,
segundo ele, é incompatível a noção de sistema e evolução.
Funcionalismo
A visão funcionalista ganha destaque na tradição antropológica americana, a
partir dos trabalhos de Sapir e Whorf. Nos anos de 1960, essa perspectiva teórica foi
postulada por Michael Alexander Kirkwood Halliday, para quem a linguagem é
proposta a partir de um sistema social e cultural, o que implica, necessariamente,
interpretá-la dentro de um contexto sociocultural em que tal processo se realiza.
Chomsky mostrou que as análises sintácticas da frase praticadas até então eram
inadequadas em diversos aspectos, sobretudo por que deixavam de considerar a
diferença entre os níveis “superficial” e “profundo” da estrutura gramatical. Ele propõe,
então, uma teoria a que chama gramática e centra seu estudo na sintaxe. Esta, para ele,
constitui um nível autónomo, central para a explicação da linguagem.
Aqui o que se leva em conta é um falante ideal e não locutores reais do uso
concreto da linguagem. Por isso, a teoria chomskiana conduz ao universalismo. A
faculdade da linguagem aparece aí como intrínseca à espécie humana: o homem já
nasce com ela. A linguagem é inata, faz parte da natureza do homem.