Tóxico - Blue Evelyn
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Blue Evelyn
1ª Edição
ILUSTRAÇÃO
AVISO DE GATILHOS
PLAYLIST
NOTA DA AUTORA
PREFÁCIO
EPÍGRAFE
DEDICATÓRIA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
BÔNUS
AGRADECIMENTOS
Este livro contém temas polêmicos e sensíveis. Durante a leitura,
haverá alguns gatilhos. Alguns deles serão apenas mencionados, mesmo
assim, deixarei aqui listados para que você, leitor(a), não seja pego(a) de
surpresa.
– Conteúdo sexual gráfico e agressivo;
– Violência física, verbal e psicológica;
– Automutilação;
– Uso de entorpecentes;
– BDSM;
– Abandono parental;
– Abuso sexual infantil;
– Aliciamento;
– Exploração sexual infantil;
– Relacionamento tóxico;
– Bullying;
– Assédio sexual.
Pode haver também menção à suicídio, depressão, ansiedade e
outros quesitos não mencionados acima.
Esta é uma obra de ficção, destinada a maiores de 18 anos. A autora
não concorda, nem compactua com quaisquer atitudes dos personagens que
fujam a ética e a moral. Se este tipo de conteúdo te for prejudicial de
alguma maneira, não inicie a leitura. Acima de tudo, preze pela sua saúde
mental.
Esse livro termina em Cliffhanger (final inacabado) e terá
continuação.
Escute as músicas que inspiraram a
autora a escrever Tóxico.
Um mês antes…
— Ok, agora me diz, pelo amor de Deus, o que foi aquilo na sexta-
feira — me pegando de surpresa e fazendo um pequeno baque ao colocar a
bandeja de comida na mesa do refeitório, Everly perguntou, fazendo
algumas pessoas sentadas em mesas próximas, olharem para nós. Apenas
soltei um leve risinho, estava contando os minutos até ela aparecer, cheia de
curiosidade — Por favor, Kim, por tudo o que é mais sagrado — largou a
bandeja, passando a mão no rosto em um gesto de aflição e colocando uma
mecha de cada lado de seu cabelo atrás das orelhas — Só me diz que você
não está se envolvendo com o Aidan.
Bufei enquanto mastigava um pedaço do sanduíche.
— Óbvio que não, Evy! Eu nem o conheço, como isso seria
possível?
Eu estava sendo sincera com a Evy, porém, omitindo o fato de que
não o conheci no colégio e que, quando o vi com aquele jeito imponente em
meu trabalho, tudo em mim estremeceu. E nenhum garoto havia mexido
comigo daquela forma antes, sem nem ao menos me dizer uma única
palavra.
— Não parecia, pelo jeito que ele te tratou naquele dia. Foi
estranho…
— Já parou para pensar que ele pode ser estranho? Aliás, você
mesma disse que ele não é exatamente o que parece ser. Pessoas assim
costumam ser instáveis. Vai ver é o caso dele. — dei de ombros.
— Tudo bem, você tem razão. Apenas fique longe dele. — mais
uma vez, como se soubesse que estávamos falando dele, e na verdade, ele
provavelmente sabia, Aidan passou por nossa mesa, me lançando um olhar
que causou arrepios no corpo e na nuca. Eu só não sabia dizer se isso era
algo bom ou ruim.
Mas logo em seguida, a loirinha da nossa sala, Bethany, chegou e
sentou no colo dele. No entanto, dessa vez, ele a tirou, fazendo-a encará-lo
de forma inquisidora.
— O quê? Tenho cara de banco por acaso? — perguntou com rudeza
— Senta aí e não me enche. — seus amigos pareceram estranhar sua
atitude, mas não dei importância a isso. Everly estava certa, Aidan Blake
era encrenca, tudo nele alertava para isso e eu deveria ficar o mais longe
possível.
E, como uma intervenção divina, o Nathan estava passando,
aparentemente indo sentar longe de nós, certamente com medo de alguma
atitude grosseira do Aidan e sua “trupe”, já que estávamos perto de sua
mesa, mas a Everly acenou para ele, o convidando para sentar com a gente.
E isso nos tirou o foco do assunto anterior.
AIDAN
Sete anos antes…
Eu tinha planejado tudo. Tinha que acabar com aquilo porque já não
suportava mais aquele olhar de carinho com o qual ela me olhava.
Depois do acidente, eu fiquei muito assustado, pensei ter matado a
garota, e por isso sumi. Porque não podia suportar a culpa de ter o sangue
de outra pessoa nas mãos. Depois acabei descobrindo que ela estava viva e
bem, porque conseguiu sair da minha frente antes que eu a atropelasse. E
depois de conversarmos, todos os que estavam no racha, fossem os que
participaram da corrida ou os que estavam apenas para assistir,
concordaram em não falar sobre aquele episódio para ninguém ou eu
poderia me ferrar.
Os dias passaram e a todo momento eu lembrava do olhar da
Kimberly enquanto cuidava de mim. E isso fez minha mente sentir culpa.
Sim, porque se eu a mantivesse em minha vida, acabaria a destruindo.
Destruindo o resto de algo bom, aquele olhar doce que ela ainda tinha, e
essa era a última coisa de que ela precisava. Foi por isso que decidi afastá-
la, nem que para isso eu tivesse que machucá-la.
Foi então que conversei com os caras do time que estudavam na
mesma sala que ela. Fiz isso porque, como confiavam totalmente em mim,
não fariam perguntas, apenas seguiriam o que eu dissesse.
Eu planejei cada detalhe, mas a peça-chave do teatro, e que eu não
esperava, foi a Bethany vir me beijar depois do treino. Eu cedi, mesmo não
querendo, porque nenhuma outra garota me fazia sentir as coisas que a
Kimberly fazia, nenhum outro toque na pele causava os formigamentos que
os dela causavam. E planejei tudo isso porque queria feri-la. Ela já estava
muito entregue a mim, então qualquer coisa que eu fizesse teria o resultado
esperado.
E mesmo assim, quando a vi nos observando, já que eu não senti
nada além de tesão com o beijo da Bethany, quando vi seu olhar de
decepção, pensei em recuar, em dizer para os rapazes deixarem de lado
aquela merda, tirarem o rato da mochila dela e jogarem fora. Mas já tinha
ido longe demais para voltar atrás.
Ainda assim, ao ouvir a piadinha do Ryder direcionada a Kimberly,
logo após ela desistir de ir até mim, empurrei a Bethany, voando em cima
dele, o derrubando no chão e segurando forte em seu pescoço. Ele, é claro,
ficou confuso, porque eu havia dito que a Kimberly era apenas uma boceta
qualquer que eu fodia, mas não, ela era bem mais do que isso. E por isso eu
estava tão atordoado.
Quando o soltei e saí de cima dele, vendo o olhar de choque de
todos que ali estavam, direcionados a mim, decidi que não iria para dentro
do colégio antes que eles fizessem o que ordenei. Era covarde demais para
me permitir ver sua expressão de pânico e tudo o que sucederia isso.
Próximo a sala, eu ouvi as risadas. Eles tinham feito. A tinham
humilhado, como pedi que fizessem.
As risadas eram altas, deveria ser divertido para mim, mas por que
não era?
Eu precisava sair dali, não podia continuar ouvindo. Porque me
fazia sentir péssimo.
Ao final, ela foi levada para a enfermaria, foi cuidada e, eu fiquei do
lado de fora de onde Kimberly estava o máximo que pude. Como se zelasse
seu sono. Mas isso nunca seria capaz de tirar a culpa de dentro do meu peito
ou apagar aquela merda da memória dela. Ficaria fincado, cravado. Para
sempre.
E quando ela acordou e me viu, seu olhar de ódio e desprezo estava
ali. Kimberly me odiava. Exatamente como eu queria que fosse. Mas por
que eu não estava feliz?
Quando você fecha os olhos, o que você vê?
Você segura a luz ou a escuridão está por baixo?
Em suas mãos há um toque que pode curar
Mas nessas mesmas mãos há o poder para matar.
Man or a Monster - Sam Tinnesz
KIMBERLY
Ele não permitiu que eu dissesse nada, segurou minha nuca com
firmeza, mexendo com todas as minha estruturas, daquele jeito que só ele
sabia fazer.
No mesmo instante, minhas pernas fraquejaram, meu coração
pareceu parar e eu tive a ligeira sensação de esquecer como se respirava.
Aidan foi aproximando o rosto do meu lentamente, em uma tortura
infindável, me fazendo salivar, ansiando por sua boca na minha. Roçou o
nariz em minha bochecha, bem perto da minha boca, e eu fechei os olhos.
Ele aspirou o cheiro da minha pele, como se cheirasse uma droga, me
fazendo delirar. Até que, finalmente, uniu nossos lábios e, em um ímpeto,
envolvi seu pescoço com meus braços.
Sua língua explorava todos os cantos da minha boca, parecendo
querer entrar em minha garganta, como se aquilo não fosse o suficiente para
ele.
Blake soltou minha nuca, pôs as mãos em minha cintura e me puxou
para cima, levando-me a entrelaçar minhas pernas em volta dele.
Imediatamente, senti sua ereção. Ele estava duro como pedra e não se
envergonhava disso. Na verdade, tinha a impressão de que queria que eu
soubesse como o deixava. E eu não podia negar que gostava daquilo. E
lembrar de como era tê-lo dentro de mim, me deixou ainda mais molhada
do que já estava e minha boceta pulsou.
O senti se movendo, indo para a frente, mas o beijo estava tão
gostoso, que eu me recusava a abrir os olhos para entender o que estava
acontecendo.
Segurei seus cabelos, repuxando-os, dando leves arranhadas em sua
nuca com minhas unhas. Afastei nossas bocas ao sentir algo molhado. E,
quando abri os olhos, percebi que estávamos na água.
Voltei a encará-lo, e ele me devolvia um olhar intenso e cheio de
desejo. Eu o queria demais e precisava aproveitar o que estávamos fazendo,
saber que o Aidan estava se entregando ao momento, a mim. Então, que se
fodesse o que era certo e errado. Que fosse para o inferno se a nossa
“relação” não era comum. Nada na minha droga de vida era comum. Eu
vivia no caos. Portanto, iria me permitir afogar mais um pouco no lamaçal e
viver o momento.
Continuamos nos beijando, com o céu e as estrelas acima de nós
testemunhando o quanto nos desejávamos. Eu estava tão em brasas, que
nem sentia o frio. Ele apertava minha bunda, meus seios, beijava, mordia e
chupava meu pescoço, deixando ali sua marca. E eu gemia, pedindo por
mais. A essa altura, minha calcinha deveria estar encharcada.
— O que você está fazendo comigo…? — perguntou, arfando, ao
parar o beijo e encostar nossas testas.
— Eu sinto o mesmo que você, Aidan. Por que não se entrega?
— Você quer mesmo saber? — desencostou sua testa da minha, me
analisando.
Meneei a cabeça. Aidan respirou fundo, parecendo arrependido de
ter me feito aquela pergunta. Em seguida, sem me soltar e sem nenhuma
dificuldade de me carregar, foi saindo da água.
Enquanto ele andava, eu não parava de admirá-lo. Como era lindo.
Aqueles olhos, aquela boca, os braços fortes, os cabelos lisos. Senti meu
coração bater mais forte e, sem perceber, estava sorrindo para ele, que
mesmo sem entender nada, e bastante sem jeito, retribuiu, sorrindo de
canto. E, me pegando de surpresa, roçou o nariz em minha bochecha e a
beijou.
Ali, em seus braços, me senti completa.
Não sabia para onde estávamos indo. E confesso que achei bem
estranho quando ele disse que sairíamos naquela noite. Não exatamente por
causa disso, mas porque era sexta-feira e eu sabia onde era sua parada todas
as sextas a noite. E com certeza não queria ir a um date com seus amigos.
Entrei em pânico quando ele parou o carro no estacionamento do bar
e fez menção com a cabeça para eu sair.
— É aqui que vamos ficar?
— Não. Só preciso entregar uma coisa a um dos caras do time. É
rápido. — ele levou a mão ao porta-luvas, pegando um pequeno embrulho.
— Eu preciso ir junto? Não posso esperar aqui?
— Qual é o problema, Kimberly? — apoiou o braço esquerdo no
encosto do meu banco, me analisando.
— Eu só não quero ir lá… Não sei se estou bem para me encontrar
com seus amigos — olhei para baixo, analisando a roupa que vestia. A
insegurança me tomando — Aliás, não sei se quero conhecê-los
formalmente. Eles podem não gostar de mim… É melhor eu esperar aqui.
— iria virar o rosto na direção oposta a dele, mas Aidan não permitiu,
segurando meu queixo para encará-lo.
Eu amava quando ele fazia isso, me permitindo enxergar além dos
seus olhos.
— Você não apenas está, como é linda — seu cheiro me inebriou —
E quanto a eles, que se fodam todos. O único que precisa gostar de você sou
eu. Quero que grave bem minhas palavras em sua mente e nunca mais
esqueça. — ainda segurando meu queixo, Blake juntou seus lábios aos
meus, me dando um beijo que me fez esquecer até meu nome.
Eu nunca me cansaria daquilo. Nunca.
— Vamos. Eu prometo que é coisa rápida. — Abriu a porta do carro
e saiu.
Já do lado de fora, estendeu a mão para eu segurar. Quando o fiz,
entrelaçou nossos dedos.
Cada vez que o Aidan agia dessa forma, dizendo publicamente,
ainda que não de forma verbal, que estávamos juntos, todas as borboletas
do universo dançavam em pares e faziam sexo em meu estômago. Eu podia
sentir o êxtase em cada célula pulsante.
Ao abrir a porta do estabelecimento, quando o sino tocou, todos os
olhares vieram sobre nós. Quer dizer, sobre ele primeiro, porque o Aidan
era muito alto, então ninguém conseguia ver que ele estava acompanhado
imediatamente. Inclusive, pude ver o sorriso da Bethany enlarguecer ao vê-
lo, mas assim que me viu de mãos dadas com ele, seu sorriso morreu. Seus
amigos nos encaravam com incredulidade, como se aquilo fosse coisa de
outro mundo. Mesmo que aquilo não fosse algo tão anormal, já que
estávamos quase sempre juntos no colégio nas últimas semanas. No
entanto, ainda não se acostumaram com isso e pareciam não gostar.
— Ora, se não é a ratinha... — um dos amigos dele comentou em
tom de zombaria, assim que nos aproximamos da mesa em que estavam, o
que me fez encolher e questionar que merda eu estava fazendo ali.
— O que disse? Acho que não ouvi bem. — Aidan, o lançando um
olhar duro, falou.
— Ah, qual é, Blake?! Vai dizer que…
Não o deixando terminar, Aidan segurou na gola de sua camisa com
firmeza, o fazendo gaguejar.
— O que eu tenho com a Kimberly, interessa apenas a nós dois. É
melhor calar a porra do fazedor de merda que você chama de boca, antes
que eu enfie a mão em sua cara. Seria um grande favor que eu estaria
fazendo ao mundo, arrebentando essa sua cara feia.
Blake o encarou com fúria, o maxilar travado, a outra mão já em
punho, até que o carinha que segurava meneou a cabeça, concordando com
o que ouviu e ele o largou.
Eu queria distância daquelas pessoas. E, depois de conhecer o Aidan
mais a fundo, tendo a certeza de que seus amigos não o conheciam tão bem,
me perguntava porque ele andava com eles. Não fazia sentido.
— Vou indo nessa. Vejo vocês na segunda. — Blake falou, logo
após entregar o embrulho a um dos rapazes.
— Não vai ficar, Aidan? — quando ele segurou minha mão
novamente, prestes a me guiar para fora dali, Bethany perguntou.
— Não. Tenho coisas muito melhores e mais importantes para fazer
— ele parecia desdenhar dela, e honestamente, no fundo da minha alma, eu
estava cantarolando e soltando fogos de artifícios por isso — E onde não
cabe a Kimberly, não me cabe também.
Eu jamais esperava ouvir tais palavras vindas dele, do cara que vivia
fugindo de qualquer coisa que se relacionasse a mim até algumas semanas
atrás. Se Aidan estava apenas brincando comigo, ele sabia esconder muito
bem suas reais intenções, porque parecia extremamente convicto no que
dizia. Qualquer um se convenceria do que ele disse.
Ele não esperou que ninguém mais o questionasse ou tentasse
insistir para que ficasse. Acho que nenhum deles se atreveria a isso,
conviviam com o Aidan há tempo suficiente para conhecê-lo bem.
— Kim? — Ao passarmos pela porta, alguém me chamou.
Aquela voz eu conhecia bem.
— Nathan? — Estava feliz e surpresa em vê-lo — O que faz aqui?
Pensei que não frequentasse esse tipo de lugar. Lembro-me bem de como
pediu para sairmos daqui várias vezes quando nos conhecemos daquela vez.
— contive um risinho, lembrando daquele dia, sem conseguir esquecer a
atitude do Aidan para com ele e comigo.
— E não frequento. Combinei com a Everly. — notei que o Nathan
olhou de soslaio para o homem imenso ao meu lado. Não tinha certeza se
ele estava com medo, mas também não duvidava que estivesse.
Aidan podia causar calafrios em qualquer um com apenas um olhar
devido ao seu jeito imponente.
— Infelizmente, não posso ficar. Mas vamos combinar alguma coisa
qualquer dia desses. — o abracei, me despedindo.
— Claro. Com você, eu topo tudo. — retribuiu o abraço, dando um
beijo em minha bochecha.
Nathan entrou no bar e eu segui com o Aidan em direção ao seu
carro. Ele não me esperou, andava em minha frente. Calado.
Estava com ciúmes?
— Já disse que não te quero perto dele. Ele gosta de você. —
quebrando o silêncio insuportável, sem desviar a atenção da direção, falou.
E realmente ele havia dito, logo depois de socar a cara do Nathan, no
Private.
— Está vendo coisa onde não tem.
— Você é mesmo ingênua, Kimberly — riu sem humor — Por que
acha que ele surtou daquele jeito no colégio? Por ter algum tipo de rixa
comigo?
— Levando em consideração o seu histórico, eu não duvidaria. —
dei de ombros.
— Eu nunca nem falei com aquele cara. Nem sei quem ele é. E
sinceramente, prefiro continuar assim, ele não me passa a menor confiança.
— Muitas pessoas dizem o mesmo sobre você, e olha onde estou.
— É diferente. Eu nunca me escondi para você. Você sabe coisas a
meu respeito, que ninguém mais sabe. Nem mesmo aquelas pessoas que
estavam no bar. Conhece lugares ligados a mim que nunca mostrei a
ninguém.
— A cachoeira? — indaguei, o olhando com os olhos brilhando.
Ele não respondeu e eu encarei seu silêncio como um sim.
— E por que acha que o Nathan esconde algo? Ele é um cara legal.
— Todos são legais quando querem se enfiar na boceta de uma
mulher.
— Foi por isso que se aproximou de mim? Que me protegeu?
— Se fosse, não acha que eu já teria me cansado de você? Nenhuma
outra garota fodeu com a minha mente como você. Nem mesmo a Susan —
dessa vez, olhou para mim — Você é o meu inferno na terra, Kimberly.
Corei, sentindo-me abobalhada. Por mais rude que suas palavras
fossem — porque era assim que ele se expressava — tinha um toque de
sentimento. Algo bom que eu não sabia explicar. E seus olhos nos meus
refletiam que eu não estava errada.
Naquele dia, assim que saí da lanchonete, para fazer meu coração
acelerar, ele estava lá, em frente, encostado na lataria de seu carro, usando
uma calça escura, botas de cano curto, uma camiseta preta, e como nas
poucas vezes em que o via de casaco, Aidan o estava usando. Era um de
moletom, aberto. Seus braços estavam cruzados sobre o peito e Blake
segurava um cigarro entre os dedos, o levando a boca por vezes.
Me questionava como podia ser tão lindo, a ponto de nem mesmo as
cicatrizes em seu rosto afetarem sua beleza rústica. Pelo contrário, pareciam
lhe dar um charme a mais.
Só percebi que estava parada no mesmo lugar, na porta da
lanchonete, quando Aidan deu uma última tragada no cigarro, jogando a
bituca no chão, pisoteando-a e entrando no carro enquanto soprava a
fumaça no ar.
— Como foi lá? Aliás, por que eles te levaram? — Com meu jeito
intrometido, eu nunca conseguia esconder minha curiosidade sobre tudo o
que se relacionava a ele, então questionei assim que entrei no lado do
passageiro.
— Não foi nada. Não se preocupe com isso. — respondeu sem tirar
os olhos da direção.
Estalei a língua na boca.
— Acredito que aqueles policiais não tenham ido a uma escola, se
preocupar com um adolescente por nada. Eles não teriam perdido o tempo
deles… — eu o estava encarando e ele tinha ciência disso.
Aidan bateu uma das mãos no volante, impaciente. Mas eu não me
assustei. Não dessa vez.
— O que eu digo sobre fazer perguntas demais, Kimberly?
— Eu só quero saber o que aconteceu. — Minha voz soou um pouco
acima de um sussurro.
Ele respirou fundo, antes de responder:
— Tem a ver com o acidente que eu sofri no dia do racha. Algum
idiota me denunciou, afirmando ter certeza de que eu matei alguém — ele
riu amargamente, apertando as mãos forte no volante, tão forte, que seus
dedos esbranquiçaram — O cuzão nem mesmo investigou a situação direito
para saber o que realmente aconteceu.
— Você sabe quem foi?
— Não tenho certeza, mas suspeito de uma pessoa.
— É alguém que conheço?
— Talvez. — seus lábios se curvaram em um sorriso, me fazendo
franzir o cenho, confusa.
Eu sabia que não adiantaria fazer mais perguntas, então deixei para
lá.
— O que aconteceu naquele dia?
Dessa vez, ele olhou para mim. Suas íris pareciam tentar me
desvendar, como se quisesse entender o que se passava em minha mente.
— Você é hilária às vezes, Kimberly — arqueei as sobrancelhas em
sinal de confusão — Qualquer outra pessoa me perguntaria se eu realmente
matei alguém, mas você não. Você quer entender minhas ações, minhas
razões, como me sinto…
— O que tem de errado nisso? Eu apenas acredito em você, quando
ninguém mais acredita. Confio em você, quando ninguém mais confia. E
não, não acredito que tenha matado alguém.
— Você acredita na mentira. Acredita apenas no que quer, Kimberly.
Um silêncio se formou no ar. Seu olhar sobre mim era intenso, e em
momentos como esse, por causa de sua expressão indecifrável, eu não sabia
o que se passava em sua mente, o que fazia com que eu não tivesse certeza
se ele estava falando a verdade ou apenas tentando me afastar, se infiltrando
em sua redoma.
— Eu não matei ninguém — suspirei aliviada quando ele disse —
Dessa vez.
Mais alguns minutos de estrada e chegamos em sua casa. Como já
estava anoitecendo, e para variar, nesse dia o clima estava mais frio, um
vento gélido soprou, balançando meus cabelos e me fazendo bater os dentes
e abraçar meu corpo como forma de proteção.
Ouvi quando o Aidan bateu a porta de seu carro, seguido de seus
passos atrás de mim. Ele parou ao meu lado, tirou o casaco e colocou sobre
os meus ombros. Não tirei os olhos dele um segundo sequer enquanto o
fazia, observando as tatuagens em seus braços, que eu amava admirar.
Especialmente a cabeça de lobo, com traços de uma floresta abaixo dele,
em seu braço esquerdo, e meu olhar pairou sobre uma na qual eu ainda não
tinha visto, no antebraço.
Instintivamente ergui a mão, tocando-a, como se desenhasse os
traços minuciosos e Aidan estremeceu sob meu toque.
— É linda. — elogiei, ainda tocando-a. Pareciam ser dois remos
cruzados, formando um X, e em cada espaço tinha um desenho. Em cima
um sol, no lado direito uma montanha, no lado esquerdo, uma onda, e
embaixo, uma van.
Era intrigante que, no meio de tantas tatuagens com desenhos
sombrios, houvesse essa. Mas eu não poderia negar sua beleza.
[1]
Cinta peniana, muito usada para dupla penetração, especialmente no BDSM.
[2]
Expressão popular muito usada entre jovens, para dizer que vão cair na noitada.
[3]
Traduzido para o português, significa “garota da grade”. De forma resumida, é a garota
responsável por erguer e abaixar a bandeira, dando largada e finalizando uma corrida de racha.