Neoclássico - Romantismo - Realismo

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 17

Unidade 3

Da Arte Neoclássica às
vanguardas europeias

Convite ao estudo
Ao longo da História da Arte da Europa, percebemos mudanças
acontecendo em processos lentos, que duraram séculos para se
estabilizarem e tornarem-se parte da linguagem artística. Quase
sempre esses processos artísticos tiveram grande conexão com
a religião e o poder político-econômico. O século XIX inicia com
uma produção estética que rompe com a religião tanto quanto
com o poder político. Dessa forma, a arte vai criando o seu
próprio campo de atuação independente. Ao longo do século
XIX há uma explosão de novos processos tecnológicos (tubo de
tinta industrial, fotografia, cinema etc.) que abrem ainda mais as
possibilidades das linguagens artísticas. A arte, então, debruça-se
sobre questionamentos a respeito de seus próprios processos
criativos (temas, técnicas, função do artista etc.).

Esta unidade apresenta o processo de transformação da arte,


com base nos preceitos clássicos, para uma produção artística com
pressupostos nos quais a única função social da arte é produzir
experiências estéticas, e não mais tratar de assuntos religiosos
ou propagar a imagem dos poderosos de sua época. Isso abre
caminho para diversas possibilidades estéticas, tornando o campo
da arte mais complexo e variado.

A complexidade da arte e a velocidade que essas mudanças


sociais, tecnológicas e culturais passaram a ter a partir do século
XIX sempre o deixou intrigado, sobretudo porque tiveram total
influência para a sua área de formação e atuação profissional. Por
conta disso, você decide iniciar uma pesquisa para compreender
melhor o período e, consequentemente, seu campo de atuação.
Logo de início, nota que o grande conceito por trás de uma série
de escolas e estilos está nas mudanças dos parâmetros do que

U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias 135


era considerada arte até então, alterando assim todo o rumo da
história e da concepção de Estética. Essas observações o deixam
com mais vontade de pesquisar sobre o assunto, mas para isso
você prefere organizar a pesquisa em três momentos distintos, que
acabam seguindo a organização desta unidade, dividida em três
seções de conteúdo, a saber:

1) Da Arte Neoclássica ao Impressionismo: com as revoluções


burguesas (Revolução Francesa, Constituição dos Estados
Unidos e Revolução Industrial) temos mudanças de paradigmas
socioculturais profundas que transformarão, ao longo do século
XIX e início do século XX, os valores estéticos da arte ocidental.
A Arte Neoclássica, o Romantismo e o Realismo são soluções
estéticas para diferentes aspectos dessas mudanças radicais
pelas quais o cenário sociocultural estava a passar. Nessa seção,
também trataremos do impacto da indústria na produção artística,
por meio da apresentação de movimentos que deram novas
soluções estéticas a partir da experiência industrial (Arts & Crafts,
Art Nouveau, Secessão são alguns exemplos), sobretudo para
objetos cotidianos e funcionais. Finalizaremos essa seção com o
movimento impressionista, que rompe totalmente com os valores
clássicos e propõe uma arte para esse novo cenário.

2) Novos rumos da Arte: nessa seção, voltaremo-nos para


os aspectos de análise estética que surgem devido a essas novas
experiências artísticas, assim tratar do pensamento de Hegel
e Schelling se fará necessário. Apresentaremos os artistas pós-
impressionistas e demonstraremos como eles fazem parte do
mesmo processo que gera as vanguardas artísticas europeias.
As vanguardas tentam trazer soluções estéticas que rompem
com pressupostos das artes feitas com valores clássicos. Porém,
cada movimento acaba por centrar-se em algumas temáticas e
dedicar crítica e novas soluções a diferentes aspectos, tornando
suas propostas muito diferentes entre si, deixando a arte cada
vez mais polifônica. Trataremos nessa seção principalmente dos
artistas pós-impressionistas, da produção expressionista, fauvista,
cubista, futurismo, orfismo etc. Também trataremos das diretrizes
processuais que levam a construir a arte abstrata.

136 U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias


3) Vanguardas europeias: a última seção de conteúdo desta
unidade lida com os desdobramentos das primeiras vanguardas em
debates e propostas ainda mais radicais. Rompem com a forma de
ensinar arte, e isso transforma radicalmente os resultados, criando
linguagens artísticas absolutamente inovadoras. Nesse quesito,
destacaremos o cenário soviético – as chamadas vanguardas
soviéticas ou russas, por exemplo: o Raionismo, o Construtivismo
Russo, o Produtivismo e o Suprematismo; e sua consequência
direta, a Bauhaus. Bem como os movimentos de Art Deco,
Neoplasticismo/De Stijl, Surrealismo e Tachismo. Destacaremos
ainda o radicalismo crítico do Dadaísmo, que rompe até mesmo
com os pressupostos do que são os suportes artísticos. Do ponto
de vista da análise estética, traremos Benedetto Croce e Georg
Lukács.

U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias 137


Seção 3.1
Da Arte Neoclássica ao Impressionismo
Diálogo aberto
Você decide pesquisar como as mudanças sociais, tecnológicas
e culturais culminaram no desenvolvimento de várias áreas
profissionais, incluindo a sua própria. Neste primeiro momento de sua
pesquisa, inicia com o século XIX, já que é o período que traz uma
série de inovações tecnológicas que originaram em novos modos de
executar, ver e entender a sociedade e, consequentemente, a arte.
O que chama sua atenção é o tipo de mudança que teve entre o
Realismo e o Impressionismo: até que ponto ambos estão ligados
e diferem-se? Como os adventos tecnológicos trouxeram novos
modos de executar a arte? Qual é a importância da fotografia no
período? A fotografia teve alguma influência para a arte pictórica?
Esse questionamento é a parte inicial, mas significativa, de sua
pesquisa sobre o desenvolvimento de sua própria profissão.

Não pode faltar


O cenário do século XIX é de transformações profundas
na sociedade ocidental, tendo havido revoluções e mudanças
tecnológicas que modificaram para sempre o modo de vida e as
mentalidades. Por um lado, ocorreu a Revolução Francesa (1789),
que destruiu o Absolutismo francês e estabeleceu um regime político
e social inspirado nas ideias dos filósofos iluministas (STAROBINSKI,
1989, p. 17). Por outro, a Revolução Industrial (1760) transformou
o universo econômico, tecnológico e social. Essas duas revoluções
geraram as bases que tornaram possível todo o século XIX, XX e XXI
em termos socioculturais e artísticos.

Neoclássico

A arte neoclássica é uma reação às manifestações artísticas da


corte absolutista. A intenção é romper com o estilo Rococó. Para

138 U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias


tanto, retomar os valores clássicos da Antiguidade (Grécia e Roma)
foi o caminho escolhido. Suas características principais consistem em
ser austera, solene, ordenada, racional e calma; seus temas principais
são os grandes marcos históricos gregos, romanos, a mitologia
greco-romana e os heróis da Revolução Francesa, a intenção maior
da arte neoclássica é inspirar, difundir e glorificar o moralismo cívico
francês laico. As personagens e a composição seguem os ditames
da geometria simples, cujas figuras possuem a solidez de estátuas
de mármore da Antiguidade Clássica. A técnica de pintura é baseada
na linha, e as pinceladas são suaves e exaustivamente sobrepostas
como se fossem polidas. Quem inaugura essa proposta na pintura é
Jacques-Louis David (1748-1825).
Figura 3.1 | O juramento dos Horácios

Fonte: Jacques-Louis David, O juramento dos Horácios, 1784-5, ost (óleo sobre tela), 330 x 425 cm, Musée du Louvre,
Paris. Licenciado sob domínio público. Disponível em: <https://goo.gl/2xQShr>. Acesso em: 26 jun. 2017.

Em O juramento dos Horácios (Figura 3.1), o tema são os irmãos


que juram ir juntos à guerra por Roma, estando os três dispostos a
entregar suas vidas a um bem maior (STAROBINSKI, 1989). No quadro,
de um lado há o grupo masculino, que é composto de corpos firmes
(como esculturas), resolutos, com o civismo impassível dos romanos,
e do outro lado, o grupo de mulheres, representando a maneira
antiga de pintar: elas são suaves, em cores esmaecidas, como em
uma pintura Rococó.

U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias 139


No ápice de sua fase revolucionária, Jacques-Louis David (1748-
1825) faz um retrato de seu amigo jornalista, Marat, que foi assassinado
em seu banho medicinal (Figura 3.2). O artista viu a cena do crime e
tomou notas, assim David o pinta como um herói moderno.

Quando Napoleão Bonaparte chega ao poder na França,


Jacques-Louis David se torna chefe do programa de arte. Ele muda
sua maneira de pintar, deixa o estilo simples e sóbrio do período
revolucionário e passa a produzir obras que demonstram a pompa
imperial. O acabamento continua o mesmo, extremamente limpo e
brilhante, mas as cores são mais vivas. Com Napoleão ampliando seu
poder pela Europa, a pintura de David torna-se modelar na França e
em boa parte do mundo.

Figura 3.2 | A morte de Marat ou Marat Figura 3.3 | Napoleão atravessando os Alpes
assassinado ou Napoleão na passagem de São Bernardo

Fonte: Jacques-Louis David, A morte de Marat ou Marat Fonte: Jacques-Louis David, Napoleão atravessando os
Assassinado, 1793, ost, 162 x 128 cm, Musées Royaux des Alpes ou Napoleão na passagem de São Bernardo, c.1803,
Beaux-Arts, Bruxelas, Bélgica. Licenciado sob domínio 260 x 221 cm, Musée National du Château de Malmaison,
público, via Wikimedia Commons. Disponível em: < Rueil (há várias versões dessa pintura). Licenciado sob
https://goo.gl/XnXVXw>. Acesso em: 26 jun. 2017. domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível
em: < https://goo.gl/vU8iiw>. Acesso em: 26 jun. 2017.

David fez escola, e Jean-Auguste Dominique Ingres (1780-1867)


foi seu principal aluno. Este tinha a pincelada e o acabamento do
mestre, estudou as referências clássicas, em especial vasos gregos,
o que o levou a pintar com figuras planas e lineares, e isso o
distinguiu do mestre. Seus nus femininos são exemplos (sensuais)

140 U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias


de seu estilo, demonstrando o distanciamento da estatuária greco-
romana, pois Ingres não obedece às proporções ou à imitação do
modelo. Ele não tem interesse ideológico ou político, sendo que o
que o preocupa é a arte como pura forma, nada de sentimentos;
a pessoa retratada é apenas uma "coisa" cuja forma o pintor deve
definir claramente.

Figura 3.4 | A grande Odalisca

Fonte: Jean-Auguste-Dominique Ingres, A grande Odalisca, 1814, ost, 91 x 162 cm, Musée du Louvre, Paris, França.
Licenciado sob domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível em: <https://goo.gl/tSrPcL>. Acesso em:
26 jun. 2017.

Francisco José de Goya y Lucientes (1746-1828) é um pintor


que tem formação no universo Rococó e Neoclássico, mas
desenvolveu sua própria linguagem ao longo de uma vida artística
muito rica e cheia de desafios. Produz retratos da realeza e da
corte e se deparou com a corrupção e com a violenta repressão
católica, o que começou a torná-lo crítico aos seus compradores
(a família real espanhola). Por isso, pinta seus clientes com crueza,
tentando revelar, para além da forma física, as personalidades
perversas em suas pinceladas. Em O três de maio de 1808 (Figura
3.6), a violência do momento é passada pela composição acurada,
pela paleta sem contrastes violentos e pela iluminação teatral, além
de criar o impacto. É importante saber que, em outras pinturas do
período, a guerra é tratada como algo glorioso; os soldados são
heróis.

U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias 141


Figura 3.5 | Carlos IV e sua família

Fonte: Francisco de Goya, Carlos IV e sua família, c. 1800, 280 x 336 cm, Museo del Prado, Madri, Espanha. Licenciado
sob domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível em: <https://goo.gl/2JMYkR>. Acesso em: 26 jun. 2017.

Figura 3.7 | Saturno


Figura 3.6 | O Três de Maio de 1808 devorando seus filhos

Fonte: – Francisco de Goya, O três de maio de 1808 ou O Fuzilamento dos Fonte: Francisco de Goya. Saturno
defensores de Madri, 1814, ost, 266 x 345 cm, Museo del Prado, Madri, Espanha. devorando seus filhos. 1819-23,
Licenciado sob domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível em: <https:// óleo sobre gesso sobre tela, 146
goo.gl/Gn3Ecp>. Acesso em: 26 jun. 2017. x 83 cm, Museo del Prado, Madri,
Espanha. Licenciado sob domínio
público, via Wikimedia Commons.
Disponbível em: <https://goo.
gl/34owty>. Acesso em: 26 jun.
2017.

Goya teve uma doença muito grave, que o fez mergulhar em uma visão
bastante sombria da vida. De 1820 a 1822 pinta 14 obras murais em preto,
marrom e cinza (são chamadas “pinturas negras”), cujos personagens são
frutos da mente humana. Assim inaugura a principal característica de um
pintor moderno: expressar seus pensamentos e sentimentos.

142 U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias


Romantismo

Os artistas românticos reagem às formas e aos modelos


neoclássicos e também são contra o materialismo da sociedade
industrial. Basicamente, eles escolhem a emoção e a intuição
como caminhos para construir as suas obras, o que virá a criar uma
relação com a natureza bem diferente da abordagem neoclássica,
pois não é a imitação dela que importa, mas conseguir expressar
a sua força. Um dos melhores exemplos é Caspar David Friedrich
(1774-1840), que teve formação neoclássica, mas prefere se
debruçar sobre o cenário natural de sua região para desenvolver
sua linguagem. Sua pintura supera a ideia de imitar o que vê. Ela é
motivo para o pintor externar sua sensibilidade, seus sentimentos.
É o início da pintura moderna de paisagem, considerada, a partir
desse ponto, não mais um treinamento, mas um gênero.
Figura 3.8 | O andarilho (ou viajante) acima do mar de névoa

Fonte: Caspar David Friedrich, O andarilho (ou viajante) acima do mar de névoa, 1817-18, ost, 95 x 75 cm, Kunsthalle,
Hamburgo, Alemanha. Licenciado sob domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível em: <https://goo.gl/
WzMfzu>. Acesso em: 11 jul. 2017.

U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias 143


Figura 3.9 | O pesadelo Figura 3.10 | O Ancião dos Dias

Fonte: O pesadelo, 1780-81, Oil on canvas, 77 x 64 cm,m Fonte: William Blake, O Ancião dos Dias (Deus como
Goethe-Museum, Frankfurt, Alemanha. Licenciado sob arquiteto), 1793-4, técnica mista sobre papel (calcogravura,
domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível em: caneta, tinta e aquarela), British Museum, Stapleton
<https://goo.gl/i3JW8T>. Acesso em: 11 jul. 2017. Historical Collection, Londres, Reino Unido. Licenciado
sob domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível
em: <https://goo.gl/CRuane>. Acesso em: 11 jul. 2017.

Como você já deve estar imaginando, se cada artista romântico pinta o


que sente, expõe seu eu, logo cada um terá uma maneira de se expressar.
Há os que mergulham em sonhos e fantasias tornando-os expostos,
transformando em real aquilo que é irreal. Destacamos aqui dois artistas,
Heinrich Füssli (1741-1825) e William Blake (1757-1827). Füslli vê a arte
como uma produção espiritual e mesmo antinaturalista. A visão racional
científica não o convence. Para ele a razão está morta, e seu mundo
é fantasmagórico e onírico, portanto sem controle e perigosamente
erótico. Já Blake é um artista inglês que produziu artisticamente apenas
o que provinha de sua imaginação (GOMBRICH, 1993). Para ele, a arte
era exercício puro do espírito humano, trata-se de conhecimento com
base na intuição, esta compreendida como força do universo (ARGAN,
1992), Blake dava a suas personagens a grandiosidade dos corpos
“michelangeanos”, fundindo-os a uma atmosfera de sonho e fantástico.
Segundo Gombrich, “[...] se rebelou conscientemente contra os padrões
aceitos da tradição, e não podemos criticar os seus contemporâneos
porque o consideravam chocante” (1993, p. 388). Demorou um século
para ser reconhecido como um dos mais importantes artistas ingleses.

Na França, os artistas românticos não só pintavam a força da natureza


e das emoções, mas viviam vidas intensas. Jean-Louis-Théodore
Géricault (1791-1824) é um exemplo. Era ligado aos revolucionários e
teve formação neoclássica, todavia subverte isso com sua maneira muito

144 U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias


expressiva de pintar. Géricault é responsável por gerar uma modificação
na sensibilidade artística francesa, até então, Neoclássica: ele pinta a força
destrutiva. Para fazer A barca do Medusa (Figura 3.11), usa procedimento
e formato neoclássico: ele pesquisa profundamente o evento e cria o
repertório necessário para sua composição. E, assim, concebe uma
pintura histórica sobre um momento de horror, criando uma narrativa
que conta o episódio trágico do naufrágio do navio francês Medusa, que
transportava colonos para o Senegal e afundou na costa da África. O seu
espírito romântico buscou norte na emoção.

Figura 3.11 | A barca da Medusa

Fonte: Théodore Géricault, A barca da Medusa, 1818-19, ost, 491 x 716 cm, Musée du Louvre, Paris, França. Licenciado
sob domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível em: <https://goo.gl/ecAsza>. Acesso em: 11 jul. 2017.

Figura 3.12 | A morte de Sardanapalus

Fonte: Eugène Delacroix, A morte de Sardanapalus, 1827, ost, Oil on canvas, 392 x 496 cm, Musée du Louvre, Paris,
França. Licenciado sob domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível em: <https://goo.gl/cqouNf>. Acesso
em: 11 jul. 2017.

U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias 145


Outro grande romântico francês foi Eugene Delacroix (1798-
1863), que pintou desde temas literários (Dante e Byron, por exemplo)
até temas da História Contemporânea e alegorias. Porém, vale
destacarmos que tendo uma personalidade de traços românticos
somou a isso uma experiência transformadora: uma viagem ao
Marrocos, em 1832. A partir daí pinta com outras cores e a violência
passa a fazer parte de maneira contundente de suas obras. Do ponto
de vista técnico, Géricault e Delacroix pintavam com pinceladas
expressivas, com fortes contrastes de luz e sombra e faziam o uso
da diagonal em suas composições pictóricas, criando atmosferas
em franco movimento de queda ou ascensão.
O mundo inglês tem manifestações românticas que destacam a
maneira como a natureza foi mote criativo e demonstra a autenticidade
dos artistas ingleses. John Constable (1776-1837) e Joseph Mallord
William Turner (1775-1851) são primordiais para compreendermos
como a pintura inglesa teve grande impacto na Europa com suas
formas sui generis de pintar. Constable estudou os mestres da paisagem
holandesa e francesa e, a partir desse conhecimento, desenvolveu a sua
forma de pintar, olhando atentamente a sua amada Suffolk (Inglaterra).
Construiu quadros com atenção à atmosfera local, transmitindo sua
emoção frente a essa paisagem tão doméstica. Tinha o hábito de pintar
diversas vezes o mesmo local, pois acreditava que a cada momento o
que tinha à frente era outra paisagem, devido às condições climáticas
que alteram a visão sobre o lugar (algo que depois será muito praticado
pelos impressionistas). Sua exposição na França, em 1824, teve grande
impacto nos artistas que atuavam em Paris, influenciando movimentos
como o Realismo e o Impressionismo.
Figura 3.13 | Catedral de Salisbury vista do jardim do bispo

Fonte: John Constable, Catedral de Salisbury vista do jardim do bispo, c.1825, ost, 88 x 112 cm, Metropolitan Museum of
Art, New York, EUA. Licenciado sob domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível em: <https://goo.gl/h8rkBS>.
Acesso em: 11 jul. 2017.

146 U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias


Figura 3.14 | Chuva, vapor e velocidade – A grande estrada de ferro ocidental

Fonte: William Turner, Chuva, Vapor e Velocidade – A Grande Estrada de Ferro Ocidental, c.1844, ost, 91 x 122 cm,
National Gallery, Londres, Reino Unido. Licenciado sob domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível em:
<https://goo.gl/xQBUJN>. Acesso em: 11 jul. 2017.

Ao contrário de Constable, William Turner era muito reconhecido


em seu tempo. Em suas obras, a fusão entre atmosfera, indivíduo e
natureza é levada aos limites da destruição figurativa. A sensação de
perda sobre qualquer objetividade da sensibilidade visível é tal que,
equivocadamente, podemos pensar que são pinturas abstratas, mas
não o são. Em Chuva, vapor e velocidade (Figura 3.14), tenta expressar
a ideia de velocidade, ar, vapor, tudo misturado e acontecendo ao
mesmo tempo. Turner pintou o trem se desfazendo na atmosfera do
vapor e do fluxo de sua velocidade.

Realismo

Este movimento é uma reação ao Neoclassicismo, que já era


anacrônico em meados do século XIX, e ao Romantismo, que possuía
um caráter de escapismo e alienação que incomodava uma parte dos
artistas. Os realistas são um grupo que não idealizava ou escapava
aos problemas sociais, denunciando-os cruamente por meio da arte,
representando apenas aquilo com o que tinham embate concreto.
O caráter de denúncia social é exemplar em Honoré Daumier (1808-
1879), que debochava dos poderosos com suas caricaturas e fazia
homenagens às pessoas comuns. Em sua obra O Vagão da Terceira

U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias 147


Classe (Figura 3.15), retrata a vida dos trabalhadores urbanos que se
apertam em um vagão de trem, com ar de dignidade, apesar das
condições terríveis dos transportes. Entre os realistas, a partir do
impacto da exposição de Constable, no Salon de 1824, houve grupo
que passou a querer se aproximar da natureza, ca fim de se tornarem
críticos do formato de vida urbana. A esse grupo foi dado o nome de
Escola de Barbizon. Cada um desenvolveu sua própria maneira de
pintar, por meio de seu olhar para a natureza rural e vida cotidiana que
os cercava. Apesar de essas duas correntes do Realismo parecerem
diferentes entre si, há algo que as une: a observação do que os
cerca e a representação desta a partir do que os seus olhos veem.
Destacamos aqui: Honoré Daumier, Jean-Baptiste-Camille Corot
(1796-1875), Gustave Courbet (1819-1877), Jean-François Millet (1814-
1875) e Théodore Rousseau (1812-1867).
Figura 3.15 | O vagão de terceira classe (versão inacabada)

Fonte: Honoré Daumier, O vagão de terceira classe (versão inacabada), 1860-63, ost, 65 x 90 cm, Metropolitan Museum
of Art, New York, EUA. Licenciado sob domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível em: <https://goo.gl/
KggT9K>. Acesso em: 11 jul. 2017.

Figura 3.16 | Bom dia, Senhor Courbet

Fonte: Gustave Courbet, Bom dia, Senhor Courbet, 1854, ost, 129 x 149 cm, Musée Fabre, Montpellier, França. Licenciado
sob domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível em: <https://goo.gl/TPPjxj>. Acesso em: 11 jul. 2017.

148 U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias


Figura 3.17 | As semeadoras

Fonte: Jean-François Millet, As semeadoras, 1857, ost, 85,5 x 111 cm, Musée du Louvre, Paris, França. Licenciado sob
domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível em: <https://goo.gl/RvuFmf>. Acesso em: 11 jul. 2017.

Arquitetura Neoclássica e arquitetura da Era Industrial

A Arquitetura Neoclássica se inspira nos modelos construtivos


gregos e romanos para o seu desenvolvimento. Dessa maneira,
templos gregos e abóbodas romanas se espalharam pela Europa,
chegando às Américas, como o Capitólio de Washington D.C.
(EUA) ou o de Havana (Cuba). No entanto, a grande transformação
do século XIX, em termos de engenharia e arquitetura, ocorre com
a Revolução Industrial, que introduziu novos materiais, como o
uso do ferro que, de estruturação, passou a ser material exposto
e mesmo ornamental. Um exemplo é a Torre Eiffel (Figura 3.18),
em Paris, projetada por Gustave Eiffel (1832-1923), feita para ser
um monumento à era industrial para a Exposição Internacional de
Paris, em 1889. É um novo tipo de arquitetura que não faz mais
alusão ao passado, mas que faz da estrutura um novo espetáculo
plástico da cidade.

U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias 149


Figura 3.18 (a-f) | Processo de construção da Torre Eiffel, Paris
(a) (b)

Fonte: 18 juillet 1887: Commencement du montage Fonte: 7 décembre 1887: Montage de la partie inférieure
métallique de la pile n°4. Licenciado sob domínio público, sur les pylones en charpente. Licenciado sob domínio
via Wikimedia Commons. Disponível em: <https://goo.gl/ público, via Wikimedia Commons. Disponível em:
Xem9yA>. Acesso em: 11 jul. 2017. <https://goo.gl/gU67xb>. Acesso em: 11 jul. 2017.

(c) (d)

Fonte: 20 mars 1888: Montage des poutres horizontales


sur l'échafaudage du milieu. Licenciado sob domínio
público, via Wikimedia Commons. Disponível em:
<https://goo.gl/3Nf2tE>. Acesso em: 11 jul. 2017. Fonte: 21 août 1888: Montage de la deuxième plate-
forme. Licenciado sob domínio público, via Wikimedia
Commons. Disponível em: <https://goo.gl/BQS1LS>.
Acesso em: 11 jul. 2017.
(e)
(f)

Fonte: 26 décembre 1888: Montage de la partie Fonte: Fin mars/début avril 1889: Vue générale de
supérieure. Licenciado sob domínio público, via l'ouvrage achevé. Licenciado sob domínio público, via
Wikimedia Commons. Disponível em: <https://goo.gl/ Wikimedia Commons. Disponível em: <https://goo.
SrZKRB>. Acesso em: 11 jul. 2017. gl/3SGz5G>. Acesso em: 11 jul. 2017.

150 U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias


Arts & Crafts (Artes & Ofícios) e Pré-Rafaelitas

O movimento Arts & Crafts, liderado por William Morris (1834-


1896), era uma crítica ao mundo industrial e a favor da volta do sistema
de guildas (forma de produção medieval). Os artistas representantes
desse movimento produziam os objetos artesanalmente, porém
isso os tornou muito elitizados. Em conjunto com o Arts & Crafts,
havia um grupo de artistas que se autointitulavam Pré-Rafaelitas.
O nome já denuncia que suas referências são das artes anteriores
ao artista Rafael, suas obras têm ar melancólico e com forte caráter
simbólico, inspirados ou pelo mundo medieval ou místico cristão e
shakespeariano. São Pré-afaelitas: William Holman Hunt (1827-1910),
John Everett Millais (1829-1896), Edward Coley Burne-Jones (1833-
1898) e Dante Gabriel Rosseti (1828-1882).
Figura 3.19 | Padrão: O ladrão de morangos

Fonte: William Morris, Pattern: The Strawberry Thief (Padrão: O ladrão de morangos), 1883, algodão impresso (técnica
de block printed), Stapleton Historical Collection, Londres, Reino Unido. Licenciado sob domínio público, via Wikimedia
Commons. Disponível em: <https://goo.gl/dRGEiZ>. Acesso em: 11 jul. 2017.

U3 - Da Arte Neoclássica às vanguardas europeias 151

Você também pode gostar