Cap 1

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2.

AS MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS E SUA PROTEÇÃO JURÍDICA

As migrações internacionais têm se tornado um fenômeno cada vez mais


comum na atualidade, dado que atualmente há significativamente mais migrantes
internacionais do que em qualquer outro momento da história, sendo motivadas por
fatores como busca por melhores condições de vida, conflitos armados, perseguições
políticas, desastres naturais e mudanças climáticas. Contudo, muitas vezes esses
movimentos são acompanhados por riscos e desafios, como a falta de proteção
jurídica adequada aos migrantes. No livro “Migrações Internacionais no Plano
Multilateral: Reflexões para a política externa brasileira”, a autora Maria Rita Silva
Fontes Faria (2015, p. 23) observar que as migrações internacionais constituem um
tema global por excelência, não apenas por causa da quantidade massiva desses
movimentos, mas também porque eles são tão difundidos em todo o mundo.

No entanto, esse deslocamento nem sempre é fácil e muitas vezes os


migrantes enfrentam obstáculos legais, sociais e econômicos que colocam em risco
sua segurança e bem-estar. Por isso, a proteção jurídica dos migrantes é um tema de
grande importância para garantir que seus direitos sejam respeitados e que eles sejam
tratados com dignidade e justiça. A condição jurídica do estrangeiro, bem como a sua
proteção, é regulada no Brasil de acordo com as garantias internacionais de jurisdição
doméstica que se referem à reserva dos Estados em decidir quem são ou não são os
seus nacionais por normas infraconstitucionais (ATALANIO,2022, p.55).

As normas e instrumentos internacionais que regem a proteção jurídica das


migrações internacionais incluem a Convenção Internacional sobre a Proteção dos
Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas Famílias, a
Convenção sobre os Direitos da Criança, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher e a Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados.

A primeira convenção mencionada adotada pela Assembleia Geral das Nações


Unidas em 1990, estabelece os direitos e obrigações dos Estados em relação aos
trabalhadores migrantes e suas famílias. O artigo 1º da Convenção define um
trabalhador migrante como "toda pessoa que se envolve ou se prepara para se
envolver em um emprego remunerado em um Estado do qual não é nacional",
reconhecendo o direito dos migrantes e seus familiares a proteção contra a
discriminação, exploração e violência, bem como o direito a condições de trabalho
justas e favoráveis, remuneração igual por trabalho de igual valor, liberdade de
associação e o direito de transferir seus salários para o país de origem.

Artigo 1°
1. Salvo disposição em contrário constante do seu próprio texto, a
presente Convenção aplica-se a todos os trabalhadores migrantes e aos
membros das suas famílias sem qualquer distinção, fundada nomeadamente
no sexo, raça, cor, língua, religião ou convicção, opinião política ou outra,
origem nacional, étnica ou social, nacionalidade, idade, posição económica,
património, estado civil, nascimento ou outra situação.
2. A presente Convenção aplica-se a todo o processo migratório dos
trabalhadores migrantes e dos membros das suas famílias, o qual
compreende a preparação da migração, a partida, o trânsito e a duração total
da estada, a atividade remunerada no Estado de emprego, bem como o
regresso ao Estado de origem ou ao Estado de residência habitual.

Por sua vez, A Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados, adotada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas em 1951 e complementada pelo Protocolo de
1967, define quem é considerado um refugiado e estabelece os direitos e obrigações
dos Estados em relação a essas pessoas. Segundo o artigo 1º da Convenção, um
refugiado é "toda pessoa que, em razão de fundados temores de perseguição por
motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, encontre-
se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira se valer da proteção
desse país", definindo assim o conceito de refugiado e estabelece as obrigações dos
estados em relação a sua proteção. De acordo com a convenção, refugiado é toda
pessoa que:

"temendo ser perseguida por motivos de raça, religião,


nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, encontra-se fora do país de
sua nacionalidade e não pode ou não quer, em razão desse temor, acolher-
se à proteção desse país".
Os estados signatários da convenção têm a obrigação de oferecer proteção
aos refugiados e garantir que seus direitos humanos sejam respeitados. Além disso,
eles devem assegurar que os refugiados tenham acesso a serviços básicos, como
saúde, educação e emprego, e facilitar sua integração na sociedade de acolhida.

Além desses instrumentos internacionais, existem outras convenções e


tratados que tratam da condição jurídica do estrangeiro no plano internacional. A
Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas em 1948, estabelece que "toda pessoa tem o direito de procurar e
gozar em outros países asilo contra perseguição" (artigo 14). A Convenção
Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial,
adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1965, proíbe a discriminação
racial e estabelece que todos têm o direito de "gozar de liberdade de circulação e de
escolha de residência dentro das fronteiras de um Estado" (artigo 5º).

Há também diversas iniciativas e acordos regionais que visam garantir a


proteção dos migrantes, como a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de
1969, o Acordo de Cooperação em Matéria de Migração e Proteção de Refugiados da
América Central, de 2014, e a Declaração de Marrakech sobre a Migração, de 2018,
adotada pela Conferência Intergovernamental para a adoção do Pacto Global para a
Migração Segura, Ordenada e Regular.

Apesar desses avanços na proteção jurídica dos migrantes, ainda há muitos


desafios a serem enfrentados para garantir que seus direitos sejam plenamente
respeitados.

2.1. As características gerais dos fluxos migratórios

Os fluxos migratórios são movimentos populacionais que ocorrem em escala


global e têm diversas causas e características. De acordo com o relatório "Tendências
Globais: Deslocamento Forçado em 2020" do Alto Comissariado das Nações Unidas
para Refugiados (ACNUR), existem cerca de 82,4 milhões de pessoas deslocadas no
mundo, incluindo refugiados, deslocados internos e solicitantes de refúgio. Segundo
o relatório do ACNUR, o conflito armado foi a principal causa de deslocamento forçado
em 2020, afetando mais de 11 milhões de pessoas.

Trazendo assim movimentos de pessoas de um lugar para outro em busca de


melhores oportunidades, condições de vida ou para fugir de conflitos, desastres
naturais ou políticas repressivas. As mesmas causas – urbanização e metropolização
do mundo, pressão demográfica, desemprego, informação, transnacionalização das
redes migratórias – produziam em toda parte os mesmos efeitos, especialmente a
passagem à mobilidade de populações antes sedentárias, embora os mais pobres,
por falta de meios para partir, mantenham-se onde estão. (WIHTOL,2016, p.19).
Esses fluxos são uma característica constante da história da humanidade e
apresentam algumas características gerais que os distinguem de outros tipos de
movimentos populacionais.

Nesse viés, Maria Rita acertadamente, dispõe

Respondem aos chamados fatores de atração (pull factors), como a


perspectiva de melhores condições de vida que encontrarão nos países de
destino, em termos de oferta de empregos, padrões salariais e trabalhistas e
possibilidade de ascensão econômica. A segunda categoria de migrantes
representa aqueles que são, em variados graus, forçados a sair de seus
países, respondendo, portanto, a fatores de repulsão (push factors), que
tornam impraticável sua permanência nos países de origem. São fatores
como desastres naturais, conflitos civis ou perseguição política, racial ou
religiosa. (2015, p. 38).

Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), os fluxos


migratórios podem ter diversas causas, tais como "procurar trabalho, reunir-se com a
família, fugir da perseguição ou da violência, estudar, participar de eventos esportivos
ou religiosos, entre outras razões" (OIM, 2018). Como afirma a OIM, "as razões pelas
quais as pessoas migram variam amplamente entre os países, regiões e grupos de
pessoas" (OIM, 2018).

Portanto quase todas as regiões do mundo são afetadas pela migração


internacional e doméstica. Se as categorias de migrantes e países tornaram-se mais
fluidas em decorrência da globalização, paradoxalmente ocorre uma regionalização
dos fluxos migratórios concomitantemente à globalização das migrações. Uma vez
admitida em território nacional, a pessoa fica sujeita às leis locais, mas atenta para
situações fora do comum e que correspondam aos privilégios previstos em acordos
internacionais. A lei também estabeleceu as seguintes circunstâncias em que um
indivíduo não será aceito em território nacional, conforme preceitua o artigo 45:

Poderá ser impedida de ingressar no País, após entrevista individual


e mediante ato fundamentado, a pessoa: I - anteriormente expulsa do País,
enquanto os efeitos da expulsão vigorarem; II - condenada ou respondendo
a processo por ato de terrorismo ou por crime de genocídio, crime contra a
humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos
pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado
pelo Decreto no 4.388, de 25 de setembro de 2002; III - condenada ou
respondendo a processo em outro país por crime doloso passível de
extradição segundo a lei brasileira; IV - que tenha o nome incluído em lista de
restrições por ordem judicial ou por compromisso assumido pelo Brasil
perante organismo internacional; V - que apresente documento de viagem
que: a) não seja válido para o Brasil; b) esteja com o prazo de validade
vencido; ou c) esteja com rasura ou indício de falsificação; VI - que não
apresente documento de viagem ou documento de identidade, quando
admitido; VII - cuja razão da viagem não seja condizente com o visto ou com
o motivo alegado para a isenção de visto; VIII - que tenha, comprovadamente,
fraudado documentação ou prestado informação falsa por ocasião da
solicitação de visto; ou IX - que tenha praticado ato contrário aos princípios e
objetivos dispostos na Constituição Federal.

Os fluxos migratórios são mais complicados e imprevisíveis do que se possa


pensar, podendo os migrantes permanecer num local por um breve período de tempo,
por um período de tempo mais longo do que o previsto, ou mesmo regressar ao seu
país de origem antes do previsto. Essas mudanças ocorrem devido à alta
complexidade dos fatores que os levaram a migrar, podendo resultar na cessação
desses fatores ou mesmo no surgimento de novos fatores que os levam a se deslocar
para outro local.
Todas as pessoas que migram podem ter motivos pessoais que as levaram a
fazê-lo. Muitos fatores, inclusive pessoais e familiares, podem resultar em fluxos
migratórios.

Verificar assim as características dos fluxos migratórios, trazendo assim em


primeiro lugar, que os fluxos migratórios são processos complexos e multifacetados
que envolvem não apenas a movimentação física das pessoas, mas também uma
série de questões sociais, políticas e econômicas que afetam tanto os países de
origem quanto os de destino. Essas questões incluem a disponibilidade de trabalho, a
oferta de serviços públicos, as políticas de imigração, as diferenças culturais e as
tensões raciais e étnicas, entre outras.

No mesmo sentido, oportunamente, expõe Wenden

A fronteira determina a natureza dos fluxos, regulares e irregulares,


qualificados e não qualificados, internos e externos, e as políticas de emigração e de
imigração. (Wenden,2016, p.24).

As migrações atuais constituem o movimento mais amplo de pessoas, senão


de povos, de todos os tempos. Isso implica um encontro entre seres humanos que,
devido a motivos diferentes (econômicos, culturais, políticos ou religiosos) jamais
havia alcançado magnitude semelhante no passado.

Em segundo lugar, os fluxos migratórios são movimentos de longo prazo que


podem se estender por décadas ou até mesmo séculos. Eles são influenciados por
fatores demográficos, econômicos, políticos e ambientais, que afetam tanto os países
de origem quanto os de destino. Esses fatores incluem o crescimento populacional, a
taxa de desemprego, a oferta de empregos, a qualidade de vida, a instabilidade
política e os desastres naturais.

Em terceiro lugar, os fluxos migratórios são caracterizados por padrões e


direções específicas. Por exemplo, muitos fluxos migratórios ocorrem de países
menos desenvolvidos para países mais desenvolvidos, em busca de melhores
oportunidades econômicas e condições de vida. No entanto, existem também fluxos
migratórios dentro de um mesmo país ou região, como é o caso da migração rural-
urbana.

Outra característica dos fluxos migratórios é que eles geralmente envolvem


movimentos de pessoas entre países ou regiões geográficas. No entanto, também é
comum que ocorram deslocamentos internos, ou seja, dentro do próprio país de
origem. Segundo o mesmo relatório do ACNUR, havia cerca de 48 milhões de
deslocados internos no mundo em 2020. Os fluxos migratórios também podem ser de
curta ou longa duração.

Por fim, é importante destacar que os fluxos migratórios não são homogêneos
e podem variar de acordo com a idade, o gênero, a classe social e a etnia dos
migrantes. Além disso, eles também podem ser influenciados por questões legais e
políticas, como as políticas de imigração, que podem limitar ou facilitar a entrada de
pessoas em determinados países ou regiões.

2.2. O estrangeiro no plano internacional

Estrangeiro é uma palavra utilizada para descrever uma pessoa que vem de
outro país ou região, e que muitas vezes se encontra em um ambiente desconhecido.
O estrangeiro, no contexto internacional, é um indivíduo que se encontra fora do seu
país de origem e reside em um país estrangeiro. Esse indivíduo pode ser um
imigrante, um refugiado, um estudante estrangeiro ou um trabalhador expatriado,
entre outros.

A condição de estrangeiro pode ser desafiadora, pois envolve ajustar-se a uma


nova cultura, aprender uma nova língua e se adaptar a um novo ambiente. Além disso,
pode haver barreiras legais, sociais e econômicas que dificultam a integração do
estrangeiro na sociedade de destino. No mesmo sentido Carlos Eduardo de Abreu
Boucault, afirma em seu estudo:

Tais observações aludem ao contato cultural de matrizes diversas


que perpassam a experiência do idioma, da religião, da formação familiar, do
nível de escolaridade e, nesse diapasão, às implicações políticas decorrentes
da entrada do cidadão imigrante num determinado território e de sua
permanência temporária ou não, conforme a natureza do visto ou de atos
administrativos que regulem a legalidade da permanência do imigrante e de
sua família no estado receptor. Nesse sentido, as dificuldades de adaptação,
de socialização de grupos étnicos que se enquadram na condição de
imigrantes se avolumam em face das condições precárias de sua instalação
no estado de acolhimento, desde a existência de abrigos, alojamentos,
moradia e da atividade laboral.( 2019,p.90)

No plano internacional, a situação dos estrangeiros tem sido objeto de atenção


e debate, principalmente em relação aos direitos humanos e à proteção dos
refugiados. A questão dos direitos humanos aplicados à imigração emergiu como uma
questão central nas discussões internacionais sobre a proteção de imigrantes em todo
o mundo contra políticas de migração desenvolvidas por países individuais que
reduzem os estrangeiros ao status de sujeitos sem direitos. Mas, esta situação não
pode ser aceita porque, como dito anteriormente, cada indivíduo está de fato sujeito
ao direito internacional sem nenhuma restrição baseada em critérios territoriais. A
Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece o direito de toda pessoa de
deixar qualquer país, inclusive o próprio, e de voltar para ele, bem como o direito de
buscar asilo em outro país caso esteja sendo perseguida por motivos políticos,
religiosos ou étnicos.

Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades


proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente
de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra,
de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra
situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto
político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da
pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou
sujeito a alguma limitação de soberania.

Segundo as palavras de Accioly:

A Declaração Universal de 1948, bem como os instrumentos


subsequentemente adotados, no contexto da ONU, inscrevem-se no
movimento de busca de recuperação da dignidade humana, após os horrores
cometidos pelo nazifascismo, mas sobretudo se dá a mudança no enfoque,
quanto a ser o estabelecimento de sistema de proteção dos direitos
fundamentais intrinsecamente internacional. Todo o sistema se constrói a
partir de tal premissa. (ACCIOLY, 2012, p.714).

Neste momento, surge o direito internacional dos direitos humanos com o


objetivo de impedir a soberania estatal irrestrita, a exclusão de indivíduos e,
principalmente, o desrespeito aos direitos humanos. Trazendo assim princípios e
mecanismos internacionais de proteção aos estrangeiros em que esses direitos são
universais e não são afetados por nacionalidade ou critérios territoriais. Recorrendo
novamente aos ensinamentos de Carlos Eduardo de Abreu Boucault, para adentrar
um pouco mais na importância dos Direito Humanos.

Nesse sentindo dispõe

as políticas públicas de governos engajados na vertente democrática


e na proteção aos direitos e garantias do ser humano, irmandades com a
prática internacional em sua múltipla produção normativa em prol do fomento
aos Direitos Humanos, convergem para uma nova dinâmica do Direito
Internacional voltada para a reestruturação da ação estatal e de instituições
governamentais, comunitárias e não- governamentais que se destine a
propiciar um tratamento equânime e humano aqueles que não tem como
permanecer em sua pátria, por razões alheias a sua vontade.(2019, p.93).

No mesmo sentido, manifesta-se ainda

Todavia, essa expectativa não perde de vista as formas de controle


que o Estado exerce no processo de acolhimento de imigrantes e de seu
interesse na retirada ou saída dessa categoria de seu espaço físico, há limites
da ideologia nacional

Além disso, existem várias organizações internacionais que atuam na proteção


dos direitos dos estrangeiros, como o Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Essas
organizações trabalham para garantir a proteção e assistência aos estrangeiros,
especialmente os refugiados e os deslocados internos.
No entanto, apesar dos esforços de organizações internacionais e de alguns
países, a situação dos estrangeiros em muitos países ainda é preocupante. A
xenofobia, a discriminação e a falta de políticas de integração adequadas podem
dificultar a vida dos estrangeiros e torná-los vulneráveis a violações de seus direitos
humanos.

Nesse sentido, preceitua Maria Rita que

A rejeição de setores da sociedade local a essa tendência tida como


desagregadora inibe e desestimula a adoção, pelos governantes, de políticas
efetivas para a integração desses migrantes. (2015, p. 40).

Em resumo, a situação do estrangeiro no plano internacional envolve uma série


de desafios e questões importantes relacionadas aos direitos humanos, proteção e
integração na sociedade de destino. É fundamental promover políticas e ações que
garantam a proteção e o respeito aos direitos dos estrangeiros em todo o mundo

2.3. A condição jurídica do estrangeiro

No atual contexto de um mundo globalizado, a questão dos direitos humanos


aplicados à migração tornou -se uma questão central nas discussões internacionais
sobre a proteção de imigrantes em todo o mundo contra as políticas de migração
desenvolvidas por países individuais que reduzem os estrangeiros a condição de
sujeito sem direitos. Como afirma o professor de Relações Internacionais, Stephen
Castles, "a mobilidade humana é um dos temas mais controversos da política
internacional atual" (Castles, 2018). O fluxo de estrangeiros é muitas vezes objeto de
controvérsia, sendo criticado por alguns como uma ameaça ao mercado de trabalho,
aos serviços sociais e à identidade cultural de uma nação. Por outro lado, a presença
do estrangeiro também pode trazer benefícios econômicos, culturais e sociais para a
sociedade de destino.

Mas, dado que o indivíduo está de fato sujeito ao direito internacional sem
nenhuma limitação baseada em critérios territoriais, tal situação não pode ser aceita.
Quadro esse que se desfez em decorrência das inúmeras violações de direitos
humanos cometidas contra indivíduos, demonstrando a necessidade da proteção
internacional dos direitos humanos.

Nesse sentido a condição jurídica do estrangeiro dar se primeiramente na


distinção entre quem são os nacionais e os estrangeiros, de forma que ao chegar a
determinação dos seus nacionais o estado classifica automaticamente como
estrangeiros todos os outros indivíduos encontrados em seu território,
independentemente de serem temporários ou permanentes. Esses indivíduos podem
ter uma nacionalidade estrangeira ou podem ser apátridas, ou seja, não ter
nacionalidade alguma. (ACCIOLY,2012, p.753).

Ademais, estrangeiro goza, no estado que o recebe, os mesmos direitos


reconhecidos aos nacionais, excluídos apenas aqueles mencionados expressamente
pela legislação daquele país, cabendo-lhe cumprir as mesmas obrigações dos
nacionais. Embora isento do serviço militar, podem ser obrigados, como os demais
habitantes daquele país, a prestar serviços de bombeiros, em caso de incêndios ou
outros semelhantes em casos de calamidades públicas, como em terremotos,
inundações e outros. (ACCIOLY,2012, p.753).

Os direitos que devem ser reconhecidos aos estrangeiros são:

1º) os direitos do homem, ou individuais, isto é, a liberdade individual


e a inviolabilidade da pessoa humana, com todas as consequências daí
decorrentes, tais como a liberdade de consciência, a de culto, a
inviolabilidade do domicílio, o direito de comerciar, o direito de propriedade
etc.;
2º) os direitos civis e de família. Estes direitos não são absolutos,
tanto assim que o estrangeiro pode ser preso, mas não abusivamente ou sem
razão suficiente, nem condenado sem obediência das formalidades legais de
processo etc. Assim também o direito de propriedade pode ser suscetível de
restrições, determinadas pelo interesse público.(ACCIOLY,2012, p.753/754).

Todavia está sujeito ao conjunto de normas e regulamentações que regem a


presença e a atividade de estrangeiros em um determinado país. Essas normas
incluem regras de imigração, naturalização, residência, trabalho, estudo e direitos civis
e políticos. Os estrangeiros têm direitos e deveres que variam de acordo com a
legislação do país em que se encontram. Em geral, eles têm direito a receber
tratamento igualitário em relação aos nacionais do país, com exceção de alguns casos
específicos, como o direito de votar e ser eleito, que geralmente é restrito aos
cidadãos. Além disso, os estrangeiros têm a obrigação de respeitar as leis e normas
do país hospedeiro. Neste sentido, o autor ressalta que:

Desta forma, cada um dos Estados controla a sua imigração, dentro do


domínio de sua soberania, permitindo ou negando acesso ao seu território.
Contudo, faz-se necessário observar as normas e princípios dos direitos
humanos internacionais, assim, restando a soberania estatal de imigração
sujeita a tais direitos, muitos conflitos acabam sendo gerados . (COSTA;
REUSCH, 2016, p. 282).

Cada país tem suas próprias leis e regulamentações em relação aos


estrangeiros, contudo o artigo 15º da Declaração Universal dos Direitos Humanos de
1948 estabelece que “Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. Ninguém
pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de
nacionalidade”. Algumas nações adotam políticas mais abertas e favoráveis à
imigração, enquanto outras têm políticas mais restritivas e controladas. Alguns países
permitem que os estrangeiros adquiram a nacionalidade por meio de processos de
naturalização, enquanto outros têm leis mais rígidas e exigentes nesse sentido.

No Brasil, a condição jurídica do estrangeiro é regida pela Constituição Federal,


que estabelece em seu artigo 5º, inciso XIII, que os estrangeiros residentes no país
têm os mesmos direitos fundamentais dos brasileiros, exceto aqueles que são
exclusivos dos brasileiros natos, como o direito de votar e ser votado. Além disso, a
Constituição também estabelece em seu artigo 84, inciso XXI, que compete
privativamente ao Presidente da República conceder asilo político.

Expressamente, a Constituição Federal já defendia a equiparação dos direitos


fundamentais entre todos:

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,


garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade”. (BRASIL, 1988, Art. 5o).

O Estatuto do Estrangeiro, Lei nº 6.815/80, é a principal norma que regula a


condição jurídica do estrangeiro no Brasil. O Estatuto define as condições em que um
estrangeiro pode ingressar, permanecer e sair do país, bem como as suas obrigações
e responsabilidades enquanto estiver no território nacional. Entre as obrigações
previstas no Estatuto, destacam-se a de respeitar as leis e a ordem pública, a de
manter a documentação atualizada e a de contribuir para o desenvolvimento do país.

Além do Estatuto do Estrangeiro, existem outras normas que regulamentam a


condição jurídica do estrangeiro no Brasil, como a Lei nº 9.474/97, que dispõe sobre
o refúgio e a Lei nº 13.445/2017, que institui a Lei de Migração e estabelece normas
para a entrada e permanência de estrangeiros no país.

A condição jurídica do estrangeiro é um tema complexo que abrange diversas


áreas do direito, incluindo o direito internacional, o direito constitucional e o direito
administrativo, é geralmente regulamentada por uma série de leis e regulamentações,
que podem incluir leis de imigração, leis trabalhistas, leis de propriedade e leis de
direitos humanos. Essas leis são aplicadas de forma a proteger os direitos e interesses
tanto dos cidadãos do país como dos estrangeiros que nele residem ou trabalham.

Além disso, existem acordos internacionais e convenções que estabelecem


princípios e diretrizes para a proteção dos direitos dos estrangeiros. Um exemplo é a
Declaração Universal de Direitos Humano (DUDH), Convenção Internacional sobre a
Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e Membros de suas
Famílias, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1990. Essa
convenção estabelece os direitos e garantias dos trabalhadores migrantes e de suas
famílias, incluindo o direito à igualdade de tratamento, à liberdade de associação e ao
direito à educação.

A Declaração Universal de Direitos Humanos introduz a concepção moderna


de direitos humanos, caracterizando-os por sua universalidade, indivisibilidade e
crescente internacionalização, sendo seu titular o indivíduo. Os direitos humanos em
sua concepção atual, não são para um povo ou território, são para todos, devendo ser
aplicados universalmente, sem os limites fictícios de território, Estado e nação. Por
vezes os direitos humanos são uma construção para proteger o nacional de um país
de seu próprio Estado que pode vir a coagi-lo e ferir sua dignidade humana.
(LESSA,2014, p.5).

Os direitos humanos sem dúvida são sinônimos de modernidade e de uma


evolução filosófica, argumentativa e prática que se observa em plano internacional,
pois ao não permitir que uma pessoa seja violada em sua dignidade, tutela-se toda a
coletividade planetária, pois não se tolera internacionalmente determinados tipos de
conduta. (LESSA,2014, p.6).

Possuindo assim o DUDH fundamento na dignidade humana e foi desenvolvido


com o objetivo de influenciar o comportamento global, transmitindo a mensagem de
que os direitos humanos são universais e que o simples fato de ser uma pessoa o
habilita a exigir a proteção desses direitos, sob qualquer circunstância. A
universalidade da Declaração é o que a distingue, ou seja, todos os direitos
estabelecidos são aplicáveis a todos e a todos os indivíduos.

Visto que os direitos humanos são efetivamente universais, apenas um


requisito deve ser preenchido para que uma pessoa seja titular desses direitos: ser
membro da espécie humana. Assim, a universalidade refere -se genuinamente à
garantia de direitos, independentemente das circunstâncias em que o ser humano se
encontre.

No entanto, a condição jurídica do estrangeiro pode ser desafiadora em alguns


países, especialmente aqueles com políticas de imigração mais restritivas. Muitos
estrangeiros enfrentam barreiras na obtenção de vistos, autorizações de trabalho e
residência, e podem estar sujeitos a discriminação e violações de seus direitos
humanos. O estado tem o direito de negar o ingresso de estrangeiro em seu território,
mas não pode fazer discriminação baseada em motivos raciais ou religiosos.
(ACCIOLY,2012, p.755).
Por fim, o papel do estrangeiro no plano internacional é um tema complexo e
controverso que envolve questões de direitos humanos, política, economia e cultura.
É importante que os governos e as organizações internacionais trabalhem juntos para
garantir a proteção dos direitos do estrangeiro e promover a mobilidade humana
segura e regular. Como afirma a ONU, "a migração é uma realidade global que requer
soluções globais" (ONU, 2018).

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