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Cesário Verde

analise do sentimento de um ocidental

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Cesário verde

Cesário Verde é capaz de transfigurar o real e criar uma outra realidade. Ele deixa se levar pelo
seu “eu” e realiza fugas imaginárias, transfigurando o real, ou partindo para outros espaços ou
outros tempos. A sua linguagem desprende-se do sentimentalismo, focando-se sobretudo no
real e na expressão da realidade. O cenário preocupante e desolador é nos revelado
gradualmente, ao mesmo tempo que o sujeito poético revela a sua tomada de consciência e o
mal-estar que o aflige.
O sentimento dum ocidental encontra-se na obra “O Livro de Cesário Verde” (1887) o único
livro do autor (publicado postumamente). Este foi escrito como homenagem a Camões,
publicado numa folha impressa (Jornal de Viagens), no Porto (1880).
Nos seus poemas faz a representação da cidade e dos tipos sociais existentes.
Ao deambular pela cidade ou pelo campo, observa e capta o real. A sua perceção sensorial é
marcada através das sensações visuais, olfativas, táteis, gustativas e auditivas.
Para Cesário Verde o campo representa a pureza, a vida, a saúde, a felicidade, enquanto a
cidade simboliza tristeza, morte, doença, infelicidade.

Influência Artísticas na Poesia de


Cesário Verde
o Impressionismo, o real é captado através de impressões, tais como o movimento, cor,
luz que proporcionam ao sujeito poético o despertar das sensações e reflexões.
o Realismo, o ponto de partida da poesia é o real, onde através da observação do que o
rodeia faz análise, uma descrição e uma crítica à sociedade.
o Parnasianismo, descrição visual ao pormenor, objetivo, procura da perfeição formal.

Recursos Expressivos
o Comparação, “E, como as grossas pernas de um gigante”
o Enumeração, “Com santos e fiéis, andores, ramos, velas”
o Hipérbole, “De prédios sepulcrais, com dimensões de montes”
o Metáfora, “Que grande cobra, a lúbrica pessoa”
o Sinestesia, “Brancuras Quentes”

“O sentimento dum ocidental “


As rimas são geralmente interpoladas e emparelhadas (num esquema ABBA), com métrica de
12 sílabas (alexandrino) e um verso decassílabo no primeiro verso de cada estrofe.
Análise interna do poema:
 Tempo
O poema decorre durante a noite (“Ao anoitecer”, “Ao cair das badaladas”, “Fim da tarde”,
“Hora de jantar” …).
Em contraste, o sujeito poético procura um tempo de evasão (descobrimentos) e de um tempo
imaginado. Este tempo real corresponde a um tempo de decadência nacional e civilizacional. A
evasão surge pela necessidade de compreender a realidade e a procura da solução para os
problemas presentes (não existe grande otimismo no futuro).

 Espaço
O principal espaço é a cidade de Lisboa, pela qual o eu poético se passeia e observa o mundo à
sua volta. A visão representada é a de um observador acidental que se desloca pela cidade à
noite.
 Personagens
• Povo (positivas) – pessoas desprotegidas, frágeis, vítimas…
• Burgueses (negativas) – pessoas favorecidas pela sorte ao que andam à volta dessas
pessoas
• Regulação social – representantes das condições em vigor (soldados, patrulhas,
padres…).
• Conscientes e sensíveis – reconhecem a realidade à sua volta (emparedados), sem
nada poderem fazer para altera-la.

Críticas do poema
A vontade e os sonhos dos portugueses deixaram de existir, as gentes passaram a ser
submissas e desgraçadas, abusadas pelos poderes instituídos (minoria privilegiada e feliz).
O poeta encara com felicidade aqueles que partem e com tristeza os que ficam, pois são os
que vão sofrer mais.
A critica recai maioritariamente sobre os mais favorecidos, que se deixam levar pela sua
situação sem ter consciência das outras realidades. Outra das críticas presentes reside na
utilização de estrangeirismos ou de produtos vindos do estrangeiro.

Análise do poema
 Avé-marias
Na primeira estrofe segundo o poeta, o anoitecer, com sua atmosfera soturna (triste,
sombria) e melancólica, desperta nele um “absurdo” (enorme) desejo de sofrer.
Na segunda estrofe, há uma referência a londres, para enfatizar a urbanização da cidade,
centro da revolução industrial, é uma cidade pragmática no que diz respeito ao
crescimento urbano desordenado e às suas consequências, como a miséria e a
criminalidade.
Na sexta estrofe, faz-se alusão ao episódio em que Camões, durante um naufrágio, teria se
lançado ao mar para salvar o seu poema “Os Lusíadas “.
A referência aos peixes pobres remete à miséria e à degradação urbana, e a ideia de que
esses mesmos peixes geram focos de infeção está relacionada à perspetiva cientificista,
cara aos escritores realistas-naturalistas, preocupados em detetar patologias (doenças)
físicas e psicológicas.

Influência do espaço exterior/Sujeito poético:


Emoções contraditórias: melancolia, tédio, aborrecimento, mas este cenário inspira o
sujeito poético “O fim de tarde inspira-me.… incomoda”; “desejo absurdo de sofrer”.
Efeitos resultantes do ambiente envolvente: multidão e edifícios envoltos em sombras
• céu pesado que esmaga; náusea (gás, maresia);
• opressão, enclausuramento.

 Noite Fechada
O passeio continua, agora num espaço mais confinado, com a referência à cadeia do aljube
(metáfora para a cidade confinadora), com espaços mórbidos, negros e metafóricos da
ideia de enclausuramento e de solidão, numa perfeita sintonia com o título.
Ao anoitecer (“ao acender das luzes”, verso 6), a realidade circundante sofre projeção
imaginativa do “eu” poético, que vislumbra na cidade do presente a jugo do clero negro e
fúnebre do passado.
Os prédios que “muram” o narrador são os que se ergueram sobre os corpos soterrados
no terramoto de 1755, numa explícita denúncia de uma sociedade opressora e que
agoniza o viandante. E é nessa mancha negra que o sujeito poético vislumbra, “num
recinto público e vulgar” (verso 21), a estátua do invulgar Camões, por entre “bancos de
namoro”.
Na estrofe 7, a evocação das doenças (“Cólera” e “Febre”) é aplicada ao regresso dos
soldados aos quartéis.

 Ao Gás
 Prostituição e doença na cidade.
 Melancolia que permanece desde o início, desperta ao “eu” o desejo de sofrer.
 Registo de acontecimentos que ocorrem à volta do “eu”.
A escuridão é agora evidente – “A noite pesa, esmaga.” (verso 1) -, o que cria uma
atmosfera de alucinação, conduzindo à interpenetração da realidade externa com a
realidade subjetiva do sujeito poético na sua errância. Desconforto com o ambiente de riso
e jogo abatido pelo peso e esmagamento da noite sensibilidade para com o sofrimento nos
hospitais e para com os pobres.
 As “impuras” (verso 2) – mulheres levianas de uma sociedade doente
 As “burguesinhas” (verso 9) – lembram freiras, pois só sabem tocar piano e rezar
 A “cobra, a lúbrica pessoa” (verso 25) – mulher sensual e escorregadia
 A “velha, de bandós” (verso 29) – mulher solitária
Sente-se cercado sente que as lojas são semelhantes a catedrais cerco provocado pela
religião e pelo desequilíbrio social.
Por oposição à visão doentia das impuras, surge o forjador e o cheiro do pão que transmite
vigor, honestidade, saúde (estrofe 4), numa clara referência à dicotomia cidade/campo.
Também deseja escrever um livro que cause impacto no qual pudesse ver uma cidade
diferente: “E eu medito um livro que exacerbe, / Quisera que o real e a análise mo
dessem” (versos 17 e 18). Intenção de intervir na sociedade, acredita que a poesia deve
exprimir o real através da análise antipatia para com as casas de confeção.
Mas a cidade que ele observa é perpetradora de agudas diferenças sociais, numa
sociedade em que o comércio atrai a cobiça do pobre “ratoneiro” (verso 20), enquanto os
ricos fazem as suas compras (estrofes 7 e 8).

 Horas Mortas
Na cidade “às escuras” (verso 6), caminha-se de lanterna. A noite da cidade já não sufoca,
porque reintegrada na noite natural, mas, por baixo do “teto fundo de oxigénio” (verso 1),
a ideia de prisão está lá, com os portões e os bloqueios.
Oposição entre a luz e a escuridão. A luz símbolo de liberdade e amor “luz em mansões de
vidro transparente” e a escuridão da cidade “de prédios sepulcrais”.
Noite cerrada, as estrelas brilham no céu – “Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras”;
“os guardas, que revistam … / caminham de lanterna (…)”; – nova transfiguração
surrealista, alucinatória.
A transfiguração do real é notória, com os faróis próximos de uma carruagem que são
olhos sangrentos, em contraste com o som pastoril de uma flauta distante, paradigma de
libertação associada ao campo (estrofe 1 e 2).
A cidade é percorrida pelos bêbados, pelos guardas e pelas imorais (espaço ameaçador,
opressivo, agressivo) e a perspetiva do amor é uma quimera, visto que a morte é
inexorável e a esperança está confinada às gerações vindouras (estrofe 5).
O poema termina em tom acentuadamente disfórico, negativo: a cidade é o espaço
onde;” A dor humana busca os amplos horizontes, / E tem marés, de fel, como um sinistro
mar!”. Revela a consciência de que a dor humana busca soluções, mas com grande
dificuldade (devido à realidade).

Conclusão
 O imaginário épico – Subversão da memória épica: o Poeta, a viagem e as
personagens.
 Ao longo das quatro secções, há uma clara dicotomia realidade/fantasia, já que
disforia do presente leva ao desejo de evasão do “eu” lírico através do sonho, da
evocação de um passado glorioso que já não tem lugar no presente, como podemos
observar nas estrofes 3,5,6 e 7 da primeira secção “Ave Marias”.
 Este tema prossegue na segunda secção, “Noite fechada”, na qual o narrador continua
a evocar o tempo passado, daí a necessidade de evocar os grandes heróis portugueses
para fazer frente à miséria do presente. Neste contexto, a estátua de Camões
relembra que houve um outro passado bem diferente do passado sinistro da
Inquisição e do terramoto. Contudo, no presente, restam o mar e a saudade, restam a
melancolia e o desencanto, porque a esperança de superar o agora taciturno e
fechado esfuma-se perante o olhar triste do narrador.
 Na quarta e última secção, “Horas Mortas”, apesar do desejo do sujeito poético em
vislumbrar um futuro diferente, projetar um futuro glorioso sustentado pela grandeza
do passado (estrofe 4 e 5), a certeza é só uma: a esperança de repetir a história e
encetar nova epopeia é minada pelo “sinistro mar” e pelas suas “marés, de fel”, sem
que “A Dor humana” possa extinguir-se em “amplos horizontes”. A evasão não é
possível e os novos “heróis” são o povo trabalhador.

Analise temática do poema


Personagens representativas de tipos sociais:
• povo/ classe trabalhadora – representa a produtividade, vitalidade e autenticidade (obreiras,
varina, vendedora) – alvo de simpatia e solidariedade do sujeito poético. Resumos Soltos |
Português 11º ano Cesário Verde O sentimento dum ocidental
• Burguesia – ociosidade, inércia, artificialidade (criado de bairro, dentista…) – alvo de crítica e
ironia por parte do sujeito poético.
• Marginais da cidade – degradação social e moral (ladrão, bêbado…) – alvo de crítica só
sujeito poético.
Relação com Os Lusíadas:
Poema antiépico que se pode ser associado ao “Os Lusíadas”, apesar de ambos se tratarem de
epopeias, isto é, texto narrativo em prosa.
Neste poema a capacidade humana são menosprezadas, enquanto que n’Os Lusíadas estas
capacidades são exaltadas.
A narrativa corresponde à viagem pela cidade (demonstrando a degradação social e moral), já
n’Os Lusíadas a viagem marítima (descobrimentos) constitui o relato.
As personagens de “O sentimento dum Ocidental” são marginais, ociosas e/ou artificiais,
sendo exaltadas as classes trabalhadoras (personagens épicas). N’Os Lusíadas Luís de Camões
exalta todo o povo português na figura de Vasco da Gama e dos marinheiros durante a viagem
à Índia

“Num Bairro Moderno”

Estrutura interna
 1.a parte: 1.a - 3.a estrofes: oposição entre o sujeito poético que se dirige para o
emprego e o bairro que ainda dorme;
 2.a parte: 4.a - 6.a estrofes: chegada da vendedeira de fruta e Hortaliça:
sentimentos de simpatia e solidariedade;
 3.a parte: 7.a - 12.a estrofes: transfiguração dos frutos e hortaliças da giga da
vendedeira num corpo humano; (feminino, a terra-mãe, associado ao campo por
oposição à cidade);
 4.a parte: 13.a - 20.a estrofes: o sujeito poético, desperto pelo pedido de ajuda da
vendedeira vai dispersar-se pela observação do mundo à sua volta.

Características temáticas/estilísticas
 Descrição objetiva do real;
 Denúncia das desigualdades sociais/ Solidariedade para com os desfavorecidos, os
trabalhadores;
 Caráter deambulatório; (o poema vai surgindo ao ritmo da deambulação, à medida
que se desloca para o emprego vai registando as impressões do quotidiano lisboeta,
apresentando pequenos quadros pictóricos- há pessoas, paisagem, ruas, cores...);
 aspeto cinético e visualismo (apresentação de aspetos genéricos e globalizantes,
descendo depois aos aspetos particulares que descreve pormenorizadamente)
obedecendo assim, ao código realista;
 aspeto pictórico: influência dos movimentos e técnicas pictóricas da época (Realismo e
Impressionismo); nomeadamente da pintura;
 O estilo impressionista. O poeta valoriza a cor, a luz e o movimento. Apresenta as
impressões dadas pelas cores, luz ou movimento em primeiro lugar e só depois surge
o objeto ou a figura que pretende apresentar.
Exemplos:
A descrição da vendedeira. Em primeiro lugar aparecem as características, as impressões “E
rota, pequenina, azafamada/notei de costas uma rapariga”, a identificação do sujeito, a quem
atribui os aspetos de pobreza, desembaraço e fragilidade, aparece depois das características, à
maneira impressionista.
 presença do quotidiano citadino e campestre;
 binómio: cidade/campo (morte, tristeza, doença, infelicidade, prisão e sombra/vida
pureza, felicidade, saúde, alegria, liberdade...)
 imagem da mulher: a mulher do povo, sofredora e doente («Contrariedades» e «Num
Bairro Moderno» - a regateira trabalha para sobreviver);
 O jogo do real/irreal;
 objetividade/subjetividade: as fugas imaginativas;
 surrealismo (a transfiguração da realidade, ex.: os legumes e frutos da vendedeira
transformam-se num corpo humano: os nabos são ossos, o tomate, coração; o melão
lembra um ventre; etc. ... ver as analogias)

Poetização do real
 Originalidade na linguagem, no estilo e na conceção de poesia
 Cesário dá estatuto poético a objetos, coisas comuns, realidades prosaicas,
aparentemente banais;
 vocabulário preciso, conciso e pragmático;
 empréstimos
 valor expressivo dos diminutivos; (bracinhos...)
 figuras de estilo: sinestesia (ex. brancuras quentes) e hipálage (um cobre ignóbil);

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