Diagnóstico Por Imagem Nas Síndromes Do Estalido Ou Do Ressalto
Diagnóstico Por Imagem Nas Síndromes Do Estalido Ou Do Ressalto
Diagnóstico Por Imagem Nas Síndromes Do Estalido Ou Do Ressalto
Henrique Ribeiro da Silva1, Marcelo Novelino Simão2, Jorge Elias Júnior3, Valdair Francisco
Muglia3, Marcello Henrique Nogueira-Barbosa3
Resumo A síndrome do estalido ou do ressalto ocorre durante a movimentação de várias articulações e pode ser
acompanhada de dor local e de crepitação ou de estalido audível. Nem sempre o estalido audível ou a cre-
pitação articular à palpação têm significado patológico ou implicam necessidade de tratamento. Esta síndrome
tem causas variadas intra-articulares e extra-articulares e os achados clínicos podem ser pouco precisos,
com dificuldade para definir o melhor método de imagem que confirme o diagnóstico. O objetivo deste tra-
balho é discutir as causas mais comuns da síndrome do estalido em cada articulação e enfatizar a indicação
e a limitação de cada um dos diferentes métodos diagnósticos em situações específicas da prática clínica.
Unitermos: Articulações; Ressalto; Ultrassonografia; Tomografia computadorizada; Imagem por ressonância
magnética.
Abstract Snapping syndromes occur during certain movements in several joints and may be accompanied by local
pain and crepitation or audible snapping sensation. Snapping joints may eventually have no pathologic
significance and in this case no treatment is required. There is an array of intra- and extra-articular causes
of snapping syndrome and the lack of precise clinical findings impairs the definition of the most appropriate
imaging method to confirm the diagnosis. The present study is aimed at discussing the most frequent causes
of snapping syndrome in different joints, emphasizing the indications and limitations of each of the different
diagnostic methods in specific situations of the clinical practice.
Keywords: Joints; Snapping; Ultrasonography; Computed tomography; Magnetic resonance imaging.
Silva HR, Simão MN, Elias Jr J, Muglia VF, Nogueira-Barbosa MH. Diagnóstico por imagem nas síndromes do estalido ou do
ressalto. Radiol Bras. 2009;42(1):49–55.
INTRODUÇÃO Pode estar associada ou não a outros sin- mações que permitem escolher ou planejar
tomas clínicos como dor e mais raramente o tratamento.
A síndrome do ressalto, ou do estalido, a alterações neurológicas(1,2). É uma con- É importante conhecer as causas mais
abrange um grupo de alterações que aco- dição clínica desafiadora, pois pode ocor- comuns desta síndrome em cada articula-
metem as articulações dos membros. A rer por causas variadas, por exemplo, tumo- ção para poder escolher o método de ima-
apresentação clínica inclui estalido ou res- res, anormalidades anatômicas, corpos li- gem adequado para avaliação.
salto durante a movimentação articular. vres intra-articulares, cirurgia ou trauma O tratamento, se necessário, em geral é
prévio, degeneração articular e processos conservador. Eventualmente, há necessi-
inflamatórios. As causas de estalido podem dade de tratamento com procedimento ci-
* Trabalho realizado no Serviço de Radiodiagnóstico do Cen-
tro de Ciências das Imagens e Física Médica do Hospital das ser intra- ou extra-articulares. O ressalto rúrgico ou artroscopia, e os resultados são
Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Univer-
sidade de São Paulo (CCIFM/HC-FMRPUSP), Ribeirão Preto, SP,
articular pode ser encontrado sem associa- variáveis dependendo da etiologia(3–10).
Brasil. ção com outras queixas e nestes casos não As formas mais comuns da síndrome do
1. Médico Residente do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HC-
há necessidade de tratamento. ressalto nas grandes articulações dos mem-
-FMRPUSP), Ribeirão Preto, SP, Brasil. O diagnóstico é obtido basicamente bros serão discutidas nesta revisão e será
2. Mestre, Médico Assistente do Serviço de Radiodiagnóstico com a história clínica e o exame físico. No enfatizado o papel das diferentes técnicas
do Centro de Ciências das Imagens e Física Médica do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da exame físico identifica-se estalido audível de imagem para cada articulação.
Universidade de São Paulo (CCIFM/HC-FMRPUSP), Ribeirão
Preto, SP, Brasil.
ou pode-se palpar um ressalto, em geral ao
3. Doutores, Professores do Centro de Ciências das Imagens realizar manobras específicas ou ao tentar RESSALTO NO QUADRIL
e Física Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medi-
cina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (CCIFM/HC-
reproduzir os movimentos que resultam na
-FMRPUSP), Ribeirão Preto, SP, Brasil. queixa do paciente. Os métodos de diag- A forma mais relatada de síndrome do
Endereço para correspondência: Dr. Marcello Henrique Noguei-
ra-Barbosa. Avenida Bandeirantes, 3900, Campus Universitário.
nóstico por imagem são utilizados para ressalto na literatura ocorre no quadril,
Ribeirão Preto, SP, Brasil, 14048-900. E-mail: marcello@fmrp. confirmar e documentar as estruturas ana- mais frequentemente com causa extra-arti-
usp.br
tômicas ou as lesões associadas e pode cular(11–14). No quadril, a síndrome do res-
Recebido para publicação em 8/6/2008. Aceito, após revisão,
em 16/9/2008. auxiliar na condução do caso, com infor- salto, ou coxa saltans, muitas vezes se apre-
senta como um estalido audível ou palpá- vestigação da maioria dos casos do ressal- sonografia, devem ser indicados os estudos
vel acompanhado de dor durante a movi- to extra-articular no quadril. seccionais. A ressonância magnética pode
mentação da articulação. O estudo por ultrassonografia é reali- eventualmente demonstrar processo infla-
O ressalto medial se relaciona com o zado com transdutores lineares de alta fre- matório na região do ressalto tendíneo ou
deslocamento abrupto do tendão do mús- quência, entre 5 e 12 MHz. O paciente deve identificar uma bursa que pode estar rela-
culo iliopsoas sobre a eminência iliopectí- ficar inicialmente em decúbito dorsal, com cionada ao ressalto (Figuras 2 e 3). Para
nea ou estruturas ósseas adjacentes. O res- os membros inferiores estendidos. Depois, estudo do ressalto de causa intra-articular
salto lateral do quadril se relaciona ao des- o paciente é posicionado em decúbito la- pode ser utilizada a ressonância magnética
locamento abrupto do tensor da fáscia lata teral, e novamente são estudadas as regiões (Figura 4) ou um dos métodos seccionais
ou do glúteo máximo sobre o trocanter anteriores e laterais dos quadris, com a precedidos de artrografia: a artrorressonân-
maior do fêmur. avaliação do trocanter maior e dos tecidos cia e a artrotomografia computadorizada(15).
Às vezes, a causa do estalido ou do res- moles adjacentes nos planos transversal e O tratamento usualmente é clínico e
salto pode estar relacionada a fatores ou longitudinal. Na pesquisa do ressalto me- conservador, com bons resultados na maio-
lesões intra-articulares. Dentre as causas dial o estudo deve ser direcionado para o ria dos casos. Para casos sem boa resposta
intra-articulares podem ser citados corpos iliopsoas, e no ressalto lateral a pesquisa é clínica e particularmente quando a causa é
livres, osteocondromatose sinovial e as direcionada para o tensor da fáscia lata e intra-articular, o tratamento cirúrgico ou
rupturas do lábio acetabular(5,6,15). para o glúteo máximo. por artroscopia é considerado(5,6,11,12,15).
Se houver indicação clínica de investi- O ressalto lateral também deve ser exa-
gação complementar do ressalto do quadril, minado com o transdutor em posição trans- RESSALTO DA ESCÁPULA
podem ser utilizadas, inicialmente, as ra- versal sobre o trocanter maior (Figura 1),
diografias simples, que permitirão identi- com o paciente em pé e apoiado sobre o A crepitação palpável, e às vezes audí-
ficar exostoses ósseas ou tumores ósseos e outro membro. Tanto na posição deitada vel, da articulação escapulotorácica nem
articulares, ou ainda corpos livres intra-ar- quanto na posição ortostática o paciente sempre deve ser considerada patológica.
ticulares. deve reproduzir o movimento que causa o Trata-se de fato relativamente comum e na
No passado, a tenografia e a bursogra- ressalto. A presença ou não de dor durante maioria das vezes indolor.
fia do iliopsoas foram utilizadas para pos- o ressalto deve ser questionada quando se A síndrome do ressalto entre a escápula
sibilitar o estudo dinâmico e a documenta- realiza o exame. Para o ressalto medial, o e o gradeado costal pode ser identificada
ção do ressalto abrupto do iliopsoas nas transdutor deve ser posicionado transver- em atletas que realizam movimentos de
imagens da fluoroscopia(16). Porém, a ul- salmente ou ligeiramente oblíquo, no plano arremesso sobre a cabeça(3). Porém, alguns
trassonografia, atualmente, é preferível, anterior da articulação do quadril, com o autores não encontraram qualquer relação
pela possibilidade da avaliação dinâmica paciente em decúbito dorsal, em posição de direta dos sintomas com o tipo de trabalho
com estudo durante as manobras que de- flexão com abdução e rotação lateral do realizado, com os esportes praticados ou
sencadeiem o ressalto e por ser método não quadril, na posição de rã. com alterações de postura, e relatam o diag-
invasivo(17). Em geral, as radiografias sim- Nos casos em que o diagnóstico não for nóstico mesmo em pacientes sedentários ou
ples e a ultrassonografia bastam para a in- esclarecido pelas radiografias e pela ultras- no membro não dominante(18).
Figura 1. Imagens de ultrassonografia da região peritrocantérica Figura 2. Paciente do sexo feminino, 14 anos de idade, com diagnóstico de ressalto late-
do quadril. Cortes seccionais transversais obtidos em rotação ral do quadril ao exame físico. Imagens de ressonância magnética em sequências sensí-
interna do quadril (A) e em rotação externa (B). As setas des- veis a líquido e com saturação da gordura demonstram processo inflamatório na região
contínuas indicam o tensor da fáscia lata, que se desloca em peritrocantérica e espessamento do tensor da fáscia lata (setas), nos cortes coronal (A) e
relação ao trocanter (troc) e em relação ao tendão glúteo mais axial (B).
profundo (setas longas contínuas).
Figura 3. Cortes axiais de ressonância magnética na ponderação T2 com Figura 4. Ressalto no quadril de causa intra-articular. As imagens de resso-
saturação da gordura no quadril direito (A,B). Corte coronal de ressonância nância magnética evidenciam corpo livre intra-articular (setas), em sequências
magnética na região anterior do quadril com ponderação T2 e saturação da sensíveis a líquido e com saturação da gordura, no plano coronal (A) e no plano
gordura (C). As setas indicam a distensão da bursa do iliopsoas, que even- axial (B).
tualmente pode estar associada à síndrome do ressalto medial no quadril.
Os pacientes geralmente se queixam de importante avaliar o peitoral menor, o tra- Embora elastofibromas (Figura 5), os-
dor com o aumento de atividades que en- pézio e o elevador da escápula, com o in- teocondromas (Figura 6) e outros tumores
volvem o ombro. Um dos achados mais tuito de detectar maior tensão destes mús- sejam relatados como causas desta síndro-
consistentes é a crepitação ao movimentar culos no lado afetado. Existem várias bur- me na região escapulotorácica, em muitas
a escápula. A inspeção no exame físico sas que repousam ao redor da escápula que ocasiões não se identificam facilmente le-
pode evidenciar assimetria escapular, sendo são causas potenciais de crepitação(3,8). sões ou tumores associados, e a causa pode
Figura 5. A: Elastofibroma da região infraescapular direita confirmado na histologia. No corte axial de tomografia computadorizada se evidencia lesão hete-
rogênea com densidade de partes moles e densidade de gordura. B: O mesmo paciente em exame de ressonância magnética, corte axial na ponderação T2,
que mostra massa heterogênea junto ao gradeado costal. C: Corte sagital de ressonância na ponderação T2 mostra que a massa heterogênea tem áreas de
hipossinal em relação aos músculos. A lesão é indicada pelas setas.
RESSALTO NO TORNOZELO
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