Adesão Ao Tratamento Medicamentoso e Não Medicamentoso em Adultos Com Diabetes Tipo 2

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Adesão ao tratamento medicamentoso e não medicamentoso em

adultos com diabetes tipo 2


Andreia Coelho Gomes*
381 Gabriela Amanne Medeiros Ribeiro**
Mikael Seabra Moraes***
Isabela Cristina de Miranda Gonçalves**
Jacqueline de Almeida Gonçalves Sachett**;****

Resumo
O tratamento no diabetes é basicamente realizado por terapia medicamentosa e não medicamentosa (atividade física e
nutrição). Entretanto a adesão ao tratamento é um constante desafio sendo necessário maior compreensão e direcionamento
dos múltiplos aspectos que podem interferir na adesão a esses diferentes tipos de tratamento. Portanto, o estudo buscou
estimar a prevalência dos aspectos que influenciam a adesão aos tratamentos medicamentosos e não medicamentosos
de pessoas que vivem com diabetes tipo 2. Este foi um estudo descritivo e transversal, com 139 usuários, cadastrados e
participantes dos programas voltados para o público diabético em uma Unidade Básica de Saúde da Família na cidade de
Manaus, Amazonas, Brasil. Os dados foram coletados por meio de entrevista com aplicação formulário semiestruturado com
questões referente aos aspectos sociodemográficos, econômicas, clínico e de saúde em geral, tratamento medicamentoso
e não medicamentoso (atividade física e nutrição). A prevalência de adesão ao tratamento medicamentoso foi a mais
elevada (74,8%), seguida da adesão somente à atividade física (56,1%). Houve baixa prevalência de adesão somente da
nutrição (10,2%). Ao estimar a prevalência combinada, o tratamento medicamentoso associado à prática de atividade física
foi a mais prevalente (40,3%). A adesão combinada entre tratamento medicamentoso e não medicamentoso (atividade
física e nutrição) foi baixa (5,8%). O estudo conclui reforçando que a ação da equipe multiprofissional de saúde é uma
ferramenta fundamental para atuar com uma abordagem integral na promoção, prevenção e manutenção da saúde e que
pode contribuir para maior adesão ao tratamento de usuários com diabetes tipo 2.

Palavras-chave: Diabetes Mellitus. Atenção Primária à Saúde. Cooperação e Adesão ao Tratamento. Tratamento Farmacológico.
Doenças Não Transmissíveis.

INTRODUÇÃO

O Diabetes Mellitus tipo 2 tornou-se um racional de medicamentos para controle


dos principais problemas de saúde pública glicêmico de acordo com as necessidades
no Brasil e no mundo, configurando-se como observadas2. Ademais, importa destacar que no
uma das doenças crônicas mais frequentes, o longo prazo o diabetes não controlado pode
que acaba sendo um desafio para os serviços comprometer a acuidade visual, causando
de saúde, bem como para os profissionais cegueira, insuficiência renal, complicações
da área1. Vale salientar que o tratamento da cardiovasculares e amputações de membros,
doença requer mudança nos hábitos de vida, sendo essa doença responsável por gastos
incluindo orientação nutricional, prática expressivos em saúde ou até mesmo o aumento
regular e orientada de atividade física e uso da mortalidade1,3. Assim, é de suma importância

DOI: 10.15343/0104-7809.202044381396

*Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz Amazônia). Manaus/AMs, Brasil.


**Universidade do Estado do Amazonas. Manaus/AM, Brasil.
***Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis/SC, Brasil.
****Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia "Alfredo da Matta". Manaus/AM, Brasil.
E-mail: [email protected]

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que a adesão ao tratamento seja realizada de simultânea aos diversos tipos de tratamento.
forma séria e comprometida. Apesar do direcionamento em relação aos
Nesse contexto, o controle do diabetes, fatores associados ao diabetes, na maioria
no âmbito da Atenção Básica, pode evitar dos componentes11, há uma tendência de
o surgimento de complicações graves e não adesão ao tratamento, o que leva ao 382
contribuir com a redução do número de aumento das comorbidades relacionadas à
internações hospitalares e mortes3,4. A patologia, como obesidade, dislipidemias,
detecção precoce dos indivíduos portadores alterações vasculares e hipertensão12. Nesse
desse mal pelos serviços de saúde é um dos sentido, a maior parte dos estudos investigaram
elementos imprescindíveis para o sucesso do os aspectos relacionados ao tratamento
controle da doença, considerando-se que, a medicamentoso, porém o tratamento não
partir do diagnóstico, a equipe de Saúde da medicamentoso necessita de maiores
Família (ESF) pode realizar o acompanhamento direcionamentos. Ademais, além de verificar a
periódico com a finalidade de atender de forma adesão de maneira isolada, é necessário avaliar
integral às necessidades dos grupos sociais de a adesão simultânea aos diferentes tipos de
responsabilidade do território5, conforme as tratamento. Além disso, há uma necessidade
diretrizes gerais determinadas pela Política na literatura de se identificar a relação entre
Nacional de Atenção Básica6. os aspectos sociodemográficos, econômicos,
A maioria dos estudos enfatizam clínicos e de saúde geral que podem interferir
ser primordial a adesão ao tratamento na adesão ao tratamento no diabetes. Assim, o
medicamentoso, havendo, além desse, a objetivo deste estudo foi estimar a prevalência
necessidade de investigar concomitantemente dos fatores sociodemográficos, econômicos,
fatores relacionados à prática de atividade clínicos e de saúde que interferem na adesão
física e aos aspectos alimentares7,8. A prática aos tratamentos medicamentosos e não
regular de atividade física está diretamente medicamentosos (atividade física e nutrição)
relacionado controle glicêmico, diminuição dos usuários diagnosticados com diabetes tipo
das dosagens de medicamento, disposição e 2 de uma unidade básica de saúde de Manaus,
sensação de bem estar9. Além disso, ao aderir Amazonas.
ao plano alimentar, o portador de DM pode
reduzir o percentual glicêmico a curto, médio e
a longo prazo, sendo importante para prevenir, MÉTODO
controlar e evitar agravos, tornando-se uma
estratégia para o autocuidado na adesão ao Trata-se de estudo epidemiológico,
tratamento10. transversal e quantitativo, realizado a partir de
O conceito de adesão é definido como dados primários coletados entre outubro de
o grau em que o comportamento de uma 2016 e janeiro de 2017 e aprovada pelo Comitê
pessoa – uso de medicamentos, seguimento de de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado
dieta prescrita e mudanças no estilo de vida - do Amazonas, com parecer nº. 1.907.494.
corresponde e concorda com as recomendações A pesquisa foi desenvolvida em uma Unidade
de profissionais de saúde11. Esse, porém, não Básica de Saúde da Família (UBSF), localizada
pode ser visto como um construto unitário, pois na zona leste de Manaus, capital do estado
o portador de Diabetes pode aderir a um tipo do Amazonas. Os critérios de inclusão foram:
de tratamento, porém não aderir a outro8. Nesse ser maior de 18 anos, diabético do tipo 2,
sentido é importante avaliar a adesão isolada e cadastrado pela UBSF e/ou participante dos

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programas desenvolvidos pela UBSF voltados 60 - 79 anos (idosos jovens) ou > 80 anos (idosos
ao público diabético, e que, durante a pesquisa, longevos)]13, o estado civil (casado/união estável,
estivesse morando em domicílio pertencente ao divorciado, solteiro ou viúvo), a situação de
território da UBSF. Foram excluídos os indivíduos moradia (mora acompanhado ou mora sozinho),
383 que não atenderam a qualquer um dos critérios a escolaridade (analfabeto, ensino fundamental,
estabelecidos, assim como os pacientes que se ensino médio ou ensino superior), a renda
auto declararam indígenas. familiar em salários mínimos (≤ 1, 2 a 3 ou ≥ 4)
A amostra foi determinada partindo de uma com valor em reais referente ao ano de 2017
população alvo de 217 usuários diabéticos (R$ 937,00), a profissão ou atividade profissional
cadastrados no Programa de Hipertensão e (desempregado, aposentado, do lar, comércio /
Diabetes (HiperDia). Foi realizada amostra serviços ou outros) e a religião ou crença (sim
não probabilística do tipo por conveniência. A ou não). A faixa etária foi categorizada desta
abordagem ao público alvo da pesquisa se deu maneira visando caracterizar os participantes de
nas dependências da UBSF enquanto o usuário acordo com o risco de maiores complicações
aguardava para a consulta, em visita domiciliar ao relacionadas ao diabetes tipo 2.
endereço cadastrado na UBSF ou no momento Para o perfil clínicos e de saúde dos usuários
em que o usuário fazia a retirada da medicação foram investigados o tempo de diagnóstico (<
na farmácia da UBSF. Após o convite e obtenção 1 ano, ≥ 1 até 3 anos, > 3 até 5 anos ou > 5
do consentimento para a pesquisa, por meio da anos); como descobriu a doença (após episódio
assinatura do Termo de Consentimento Livre e agudo, apresentou sintomas ou exames de
Esclarecido (TCLE), era aplicado o formulário por rotina); a presença de comorbidades decorrente
um membro da equipe de pesquisa. do diabetes como doenças nos rins, coração,
A equipe da coleta foi previamente treinada olhos cérebro, amputações, doenças vasculares
e era formada por equipe multiprofissional das (sim ou não); se possui outras doenças crônicas
áreas de farmácia, odontologia, educação física (sim ou não); se possui doenças bucais (sim ou
e enfermagem. Os dados foram coletados por não); os hábitos de consumir cigarro e álcool
meio de entrevista com aplicação de formulário (tabagismo, etilismo ou sem hábitos).
aos usuários elegíveis. Cada membro da equipe Adicionalmente, o Índice de Massa Corporal
ficava em um ponto estratégico da UBSF (sala (IMC) foi calculado por meio da medição
de triagem, farmácia gratuita, local de espera estatura (em centímetros) e massa corporal (em
para consulta e/ou recepção) realizando o quilogramas), as quais foram coletadas de acordo
convite para as pessoas elegíveis para o estudo. com a padronização propostas por Marfell-Jones
A entrevista ocorria nas dependências da UBSF. et al.14. Para a estatura, o instrumento utilizado foi
O instrumento de coleta divide-se em três o estadiômetro compacto tipo trena, da marca
eixos: 1) perfil dos aspectos sociodemográficos, Sanny® (São Bernado do Campo, São Paulo,
econômicos, clínico e de saúde dos usuários; 2) Brasil), com estatura máxima até 210 cm. A
perfil dos aspectos relacionados ao tratamento massa corporal foi medida com balança médica
medicamentoso dos usuários; 3) perfil dos antropométrica digital Welmy® modelo W200A
aspectos relacionados ao tratamento não (São Paulo, Brasil), com capacidade de até 200
medicamentoso dos usuários. kg. Todas as medidas foram realizadas pela
Os aspectos sociodemográficos e econômicos equipe de coleta de dados na sala de triagem
investigados foram o sexo (masculino ou da UBSF, local em que estavam localizados
feminino), a faixa etária [30 - 59 anos (adultos), os instrumentos. Os valores de IMC foram

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classificados de acordo com os pontos de corte Internacional de Atividade Física (IPAQ)17 e
da Organização Mundial de Saúde (OMS)15, do Summary of Diabetes Self-Care Activities
sendo considerado: Peso normal (IMC 18,5 a Questionnaire (SDSCA)18 (Quadro 1).
24,99); Excesso de peso (IMC 25,0 a 29,99); A classificação do nível de atividade
Obesidade grau 1 (IMC 30,0 a 34,99); Obesidade física pelo IPAQ foi determinada a partir da 384
grau 2 (IMC 35,0 a 39,99); e Obesidade grau 3, contagem da intensidade (leve, moderada ou
mórbida (IMC ≥40). vigorosa), da frequência (em dias da semana) e
Ainda, o perímetro da cintura foi da duração (em minutos), subdividindo-se nas
mensurado (em centímetros) por meio da categorias: muito ativo; ativo; irregularmente
trena antropométrica Cescorf® (Porto Alegre, ativo; e sedentário)17. No que diz respeito à
Brasil) com hastes metálicas, precisão de 0,1 adesão isolado ao tratamento, os participantes
centímetros e até dois metros de comprimento. “muito ativo” e “ativo” foram como aderem ao
Os valores foram classificados de acordo com tratamento não medicamentoso de atividade
os pontos de corte da OMS16, respectivamente: física.
Baixo risco (< 94 e < 80); Risco aumentado (≥94 Para os aspectos nutricionais foi verificado se
a 102 e ≥ 80 a 88); e Risco muito aumentado (≥ o usuário realiza acompanhamento nutricional
102 e ≥ 88). Para a apresentação dos resultados (sim ou não) e se segue a prescrição alimentar (sim
os dados foram dicotomizados em risco (risco ou não). Ainda, foi avaliada a ingestão isolada e
aumentado e risco muito aumentado) e baixo simultânea de alimentos que estão diretamente
risco. associados ao diabetes descompensado como
Os aspectos relacionados aos tratamentos alimentos ricos em amido (sim ou não), riscos
medicamentosos foram controle glicêmico em glicose (sim ou não) e mais que três porções
semanal (sim e não); uso de medicamento de frutas ao dia (sim ou não)3. Para classificar
[diariamente, uso irregular (apenas quando a adesão foi considerada as respostas em
se sentia mal ou se lembrava) ou não faz relação a seguir a prescrição alimentar. Os que
uso]; medicação utilizada (metformina, responderam “sim” foram considerados como
glibenclamida, glicazida) ou não faz uso; local aderiram ao tratamento não medicamentoso por
de acesso a medicação (farmácia gratuita da meio da nutrição.
UBS, farmácia popular do Brasil ou farmácia A adesão ao tratamento medicamentoso
comercial); uso de medicamento caseiro (sim e não medicamentoso foi realizada de forma
ou não). Em relação à adesão ao tratamento isolada, ou seja, a adesão apenas por meio
isolado, os usuários que tomavam algum tipo do medicamento, ou da atividade física ou da
de medicação foram classificados em “aderi ao nutrição. Além disso, os tipos de adesão ao
tratamento medicamentoso” e os que reportaram tratamento foram avaliados de forma simultânea.
não fazer uso de nenhum medicamento como Para isso, foram realizadas diversas combinações
“não aderi ao tratamento medicamentoso”. de acordo com os tipos de adesão investigados,
O tratamento não medicamentoso foi ou seja, o medicamento, a atividade e os
identificado por meio de aspectos relacionados aspectos nutricionais.
a prática de atividade física e a nutrição. Para Os dados foram digitados e analisados por
a atividade física foram investigados o nível de meio do software Epiinfo versão 7.2® (Atlanta,
atividade física habitual e presença de limitação Georgia Estados Unidos das Américas). A análise
para a prática de atividade física (sim ou não). descritiva dos dados foram estimadas por meio
A atividade física habitual foi mensurada por da distribuição de frequências e descrição
meio de questionário adaptado do Questionário percentual.

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RESULTADOS

Participaram da pesquisa 139 usuários com menos adesão (10,1%) (Figura 1-A).
385 diabéticos do tipo 2. No que se referi ao Ao verificar a adesão simultânea, o
perfil sociodemográficos, a maior parte dos tratamento combinado entre medicamento e
usuários eram do sexo feminino, na faixa atividade física foi o que apresentou maior
etária de 30 a 59 anos, casado/ união estável, prevalência (40,3%). Em contrapartida,
moravam acompanhado de família ou outras foi identificada baixa prevalência (5,8%)
pessoas, com escolaridade até o ensino para a adesão considerada como ideal ao
fundamental, com renda familiar inferior tratamento de diabetes tipo 2 (combinação
a um salário mínimo, do lar e referira ter entre medicamento, atividade física e
alguma religião crença (Tabela 1). nutrição) (Figura 1B).
Em relação ao perfil clínico e de saúde Em relação ao perfil do tratamento
dos pacientes entrevistados a maioria dos medicamentoso, a maioria dos usuários
participantes da pesquisa reportaram ter o realizavam o controle glicêmico
tempo de diagnóstico superior a cinco anos, semanalmente, faziam uso do medicamento
descobriram a doença por meio de exame de diariamente, reportaram utilizar os
rotina, possuem outras doenças crônicas, não medicamentos metformina e glibenclamida,
apresentam problemas bucais relacionados retiravam a medicação na farmácia gratuita
ao diabetes, não tem o hábito de consumir da UBSF e não faziam uso de medicamento
cigarro ou álcool, estão com excesso de caseiro (Tabela 3).
peso ou obesidade e apresentam risco para Quando aderem ao tratamento
complicações metabólicas (Tabela 2). medicamentoso, 88,5% dos usuários
A prevalência das pessoas que possuem conseguem explicar como fazem uso da
as comorbidades foi elevada (48,2%) (Tabela medicação, e desses, 61,8% o fazem conforme
2). Com relação a outras doenças crônicas, a prescrição médica. Ao serem questionados
foram mencionadas como sendo as mais se possuíam alguma dificuldade para usar os
comuns: hipertensão arterial sistêmica, medicamentos prescritos, 56,1% disseram
dislipidemias, doenças osteomioarticulares, que sim, e dentre as dificuldades mais
doenças autoimunes, doenças renais, doenças relatadas, foram citados o efeito adverso, o
respiratórias e Câncer. Já as alterações esquecimento e a dificuldade em administrar
bucais relatadas foram: doença periodontal, o medicamento. Contudo, vale salientar
xerostomia, cárie dentária, perda de dente, que estratégias para ajudar o usuário a
distúrbios de gustação e sensibilidade e aftas. lembrar-se de usar os medicamentos foram
De acordo com as informações coletadas, referidas por 87,0%, sendo a principal delas
os usuários com diabetes tipo reportaram o acondicionamento dos medicamentos em
maior prevalência da adesão ao tratamento local de fácil.
medicamentoso (74,8%) em comparação ao No que se refere à ao perfil do tratamento
tratamento não medicamentoso (atividade não medicamentoso, a maioria dos usuários
física e nutrição) (Figura 1-A). Analisando eram ativos ou muito ativos fisicamente,
isoladamente, a atividade física foi o tipo não apresentavam limitação para a
de tratamento não medicamentoso mais prática de atividade física, não realizavam
prevalente (56,1%), e a nutrição foi o tipo acompanhamento nutricional, não seguiam

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a prescrição alimentar (Tabela 3). Tabela 1– Perfil dos aspectos sociodemográficos e
Ainda em relação aos aspectos nutricionais, econômicos dos usuários diabéticos de uma Unidade
Básica de Saúde da Família no Município de Manaus,
importa destacar que a proporção de usuários
Amazonas, 2017.
que relataram ingerir esses tipos de alimentos
386
foi de 98,6% em alimentos ricos em amido, Variáveis n (139) %
67,6% em alimentos ricos em glicose, e Sexo
36,7% na ingestão de mais de 3 porções Masculino 57 41,0
de frutas por dia. A maioria dos usuários Feminino 82 59,0
diabéticos, 45,3%, ingerem alimentos ricos Faixa etária (anos de idade)
em amido associados a alimentos ricos em 30-59 75 54,0
glicose, seguindo-se a associação entre 60-79 62 44,6
todos os alimentos (ricos em amido + ricos > 80 02 1,4
em glicose + mais que 3 porções de frutas/ Estado Civil
dia) com 22,3%. De forma isolada, 17,3% Casado/União Estável 85 61,2
dos usuários relataram somente a ingestão Divorciado 14 10,1
de alimentos ricos em amido e 13,7% de Solteiro 23 16,5
ricos em amido + >3 porções de frutas. Viúvo 17 12,2
As associações “> 3 porções de frutas” e Situação de Moradia
“Nenhuma das opções” foram identificadas Mora acompanhado (família, outros) 125 89,9
em 1,4% (Tabela 3). Mora sozinho 14 10,1
Dos usuários que informaram alguma Escolaridade
limitação para a prática de atividade física, Analfabeto 07 5,0
55,9% indicaram os comprometimentos Ensino Fundamental 70 50,4
osteomioarticulares, seguidos por 14,7% Ensino Médio 50 36,0
dos usuários com complicações do Ensino Superior 12 8,6
diabetes descompensados, e 10,3% com Renda Familiar (salário mínimo)
a pressão arterial não controlada. O medo ≤1 66 47,5
de se machucar ou cair e a presença de 2a3 56 40,3
distúrbios respiratórios foi referido por 8,8% ≥4 17 12,2
e 5,9% respectivamente. As limitações Profissão ou Atividade Profissional
de indisposição/ cansaço, insegurança/ Desempregado 07 5,0
violência local e problema do trato urinário Aposentado 31 22,3
de forma isolada também foram citadas como Do lar 42 30,2
limitação para prática de atividade física. Comércio e serviços 39 28,1
Dos usuários que declararam realizar Outros 20 14,4
acompanhamento nutricional, apenas 6,5% Religião/ Crença
seguiam a prescrição alimentar, ou seja, Sim 108 77,7
aderiam à nutrição como uma terapia para Não 31 22,3
o controle do diabetes, enquanto 3,6%
(cinco) não seguem/não aderem à prescrição n: número amostral, %: porcentagem. Fonte: Dados da
pesquisa, 2017.
alimentar.

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Tabela 2– Perfil clínico e de saúde dos usuários diabéticos tipo 2 de uma UBSF Básica de Saúde da Família no
Município de Manaus, Amazonas, 2017.
Variáveis n (139) % Variáveis n (139) %
Tempo de diagnóstico Não 96 69,1
387 < 1 ano 25 18,0 Hábitos de consumir cigarro e álcool
≥ 1 até 3 anos 31 22,3 Tabagismo 13 9,4
> 3 até 5 anos 14 10,1 Etilismo 39 28,0
> 5 anos 69 49,6 Sem hábitos 87 62,6
Como descobriu a doença Índice de Massa Corporal (kg/m²)
Após episódio agudo 25 18,0 Peso Normal 33 23,7
Apresentou sintomas 47 33,8 Excesso de Peso 53 38,1
Exame de rotina 67 48,2 Obesidade 1 36 25,9
Presença de comorbidades Obesidade 2 13 9,4
Sim 67 48,2 Obesidade 3 04 2,9
Não 72 51,8 Perímetro da cintura (cm)
Doenças crônicas Risco 71 51,1
Sim 102 73,4 Baixo risco 68 48,9
Não 37 26,6
n: número amostral, %: porcentagem; kg/m²: quilogramas por metro ao
Doenças Bucais quadrado; cm: centímetros. Fonte: Dados da pesquisa, 2017.
Sim 43 30,9

Tabela 3– Perfil de aspectos relacionados aos tratamentos medicamentosos e não medicamentosos de usuários
diabéticos de uma Unidade Básica de Saúde da Família, Manaus, Amazonas, 2017.

Variáveis do tratamento medicamentoso


Irregularmente ativo 39 28,1
Controle Glicêmico (semanalmente) Sedentário 22 15,8
Sim 96 69,0 Presença de limitação para prática de AF
Não 43 31,0 Sim 68 48,9
Uso do medicamento Não 71 51,1
Diariamente 104 74,8 Realiza acompanhamento nutricional
Uso irregular 28 20,2 Sim 13 9,4
Não faz uso 07 5,0 Não 126 90,6
Medicação utilizada* Segue prescrição alimentar
Metformina (500 mg ou 850mg) 105 75,5 Sim 14 10,1
Glibenclamida (5 mg) 74 53,2 Não 125 89,9
Glicazida (30 mg ou 60 mg) 7 5,0 Ingestão isolada de alimentos nocivos à saúde do
Não faz uso 17 12,2 diabético**

Local de acesso à medicação* Alimentos ricos em amido 137 98,6


Farmácia Gratuita 130 93,5 Alimentos ricos em glicose 94 67,6
Farmácia Popular do Brasil 6 4,3 Ingestão > 3 porções de frutas por dia 51 36,7
Farmácia Comercial 31 22,3 Ingestão simultânea de alimentos nocivos à saúde
do diabético
Faz uso de medicamento caseiro
Ricos Amido + Ricos Glicose + > 3 porções Frutas 31 22,3
Sim 67 48,2
Ricos Amido + Ricos Glicose 63 45,3
Não 72 51,8
Ricos Amido + > 3 porções Frutas 19 13,7
Variáveis do tratamento não medicamentoso n %
Somente Ricos Amido 24 17,3
Nível de atividade física habitual
Outras combinações 2 1,4
Muito ativo 10 7,2
* O participante poderia marcar mais de uma opção de resposta; ** foram
Ativo 68 48,9 colocados na tabela apenas os que responderam sim para estas variáveis.
Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

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388

Figura 1– Adesão ao tratamento medicamentoso e não medicamentoso (isolado e simultaneamente) por usuários
diabéticos em uma Unidade Básica de Saúde da Família de Manaus, Amazonas, 2017.

DISCUSSÃO

Os principais resultados deste estudo foram: (principalmente a hipertensão), doenças bucais,


1) perfil sociodemográficos (os participantes excesso de peso e risco cardiovascular. A
eram do sexo feminino, com idade menor que prevalência de adesão ao tratamento isolado
60 anos, baixa renda e baixa escolaridade); 2) foi maior para a terapia medicamentosa
perfil clínico e de (os usuários tinham tempo (74,8%) seguido da atividade física (56,1%). Ao
de diagnóstico do diabetes superior a 5 anos, estimar a prevalência combinada identificou-
descoberto a doença por exame de rotina, se: 1) a terapia medicamentosa associada a
comorbidades relacionadas ao diabetes prática de atividade física foi a mais prevalente

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(40,3%); 2) a adesão combinada entre terapia anteriores7,20,25.
medicamentosa, atividade física e nutrição foi A maior parte dos pacientes (48,2%)
baixa (5,8%). Ainda, 15,1% das pessoas que descobriu a doença por meio de exames de
vivem com diabetes não adeririam nenhum rotina, afirmando o comprometimento dos
389 tratamento. profissionais da Estratégia Saúde da Família em
Em relação às características realizar rastreamento e diagnóstico do agravo
sociodemográficas da amostra, houve na população da área adscrita, uma vez que o
prevalência do sexo feminino (59%), o que exame de glicemia, utilizado no diagnóstico,
corrobora as diretrizes e outras pesquisas é recomendado para todos os indivíduos com
nacionais3,7,19–21, em que a prevalência de idade superior a 45 anos, qualquer indivíduo
diabetes foi maior em mulheres, o que evidencia acima do peso e que apresentem algum
que este é um grupo particularmente vulnerável fator de risco associado as doenças crônicas
e necessita de atenção especial. A participação (inatividade física, diabéticos com grau de
reduzida do público masculino pode ser parentesco próximo, etnia afroamericana,
justificada devido ao fato de esses procurarem latina ou indígena, diagnóstico ou tratamento
o serviço de saúde apenas em situação de de hipertensão artéria)3,10. Esses dados sugerem
doença manifesta, por vezes não reconhecendo que a estratégia aplicada pelos profissionais
a importância e a necessidade das ações de tem sido eficaz para o diagnóstico precoce da
prevenção ou de promoção da saúde22. Além doença.
disso, há incompatibilidade entre os horários Entre os participantes da pesquisa, 48,2%
de trabalho e o período de funcionamento das apresentaram uma ou mais comorbidades
UBSF pode ser uma barreira. relacionadas ao diabetes, sendo a mais
A média de idade dos pacientes diabéticos comum os problemas de visão ou a cegueira.
entrevistados foi de 57,6 anos, aproximando- Além disso, 30,9% relataram ter uma ou mais
se da média de idade encontrada pelo estudo doenças crônicas, sendo a mais prevalente a
realizado no Hospital das Clínicas de Ribeirão hipertensão arterial sistêmica. Da mesma forma,
Preto19. Em relação à renda familiar mensal, estudo realizado em João Pessoa9 identificou
essa foi declarada como sendo de inferior um associação entre diabetes, hipertensão arterial
salário mínimo, corroborando com estudo de sistêmica e retinopatia. Adicionalmente, estudo
São Paulo que relatou que 43,4% dos usuários realizado em Porto Alegre identificou que o
diabéticos vivem com até um salário mínimo7, perfil mais prevalente dos pacientes diabéticos
o que impacta em diversos aspectos (qualidade foi de baixa renda, baixa escolaridade, usuários
de vida, comportamento preventivos de saúde, de hipoglicemiante oral e com retinopatia10.
qualidade de tratamento, apoio social, recursos O estudo enfatiza, que a maioria realiza
comunitários, autoconhecimento da doença, acompanhamento médico, não aderem as
a atividades física e dieta) que interferem na recomendações e desconhece as doenças
adesão tratamento. Ainda em relação a essa associadas ao diabetes, o que potencializa as
questão, outro estudo mostrou associação complicações decorrentes da doença.
diretamente prorporcional entre renda e adesão Do total da amostra, 30,94% relataram
ao tratamento23. a presença de doenças bucais sendo a mais
Houve baixa escolaridade na amostra comum foi a doença periodontal. Uma
do presente estudo (50,4% com ensino revisão sistemática26 constatou que de fato
fundamental), concordando com os resultados a periodontite é o problema mais prevalente
encontrados em outros estudos nacionais7,24. nos diabéticos. Estudo mostrou que 59,8%
Quanto ao tempo de diagnóstico da doença, dos diabéticos tinham periodontite, e principal
49,6% afirmaram ter diabetes a mais de 5 causa foi a glicemia descompensada (>126mg/
anos, confirmando os resultados de estudos dl)27.

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Na amostra estudada, houve adesão realizava atividades domésticas. Esse dado
expressiva (74,8%) ao uso de medicamentos. pode ser explicado em virtude do sexo feminino
Resultado semelhante foi identificado estudo ser o mais prevalente nessa pesquisa e que a
realizado em Minas Gerais (84,4%)28. Possível principal atividade/profissão reportada foi a “do
justificativa para este resultado pode estar lar”. No domínio do lazer, a principal atividade 390
relacionado ao fácil acesso ao medicamento realizada foi a caminhada (22,3%, dados não
(farmácia gratuita), pois 93,6% dos usuários apresentados em tabelas), ou seja, uma atividade
obtêm seus medicamentos por meio da aeróbica (pouca intensidade e alta duração).
UBSF de forma regular, recorrendo a outras O American College of Sports Medicine30
fontes apenas na falta parcial ou total dos recomenda que pessoas com diabetes realizem
medicamentos prescritos. exercícios de força (musculação) associados
Quanto aos usuários que fazem uso de a exercícios aeróbicos. Portanto, apesar da
remédios caseiros, muitos afirmaram não ter elevada prevalência diabéticos fisicamente
recebido indicação de profissionais de saúde, ativos, é necessário repensar quanto ao tipo de
fazendo uso de acordo com o conhecimento atividade física que está sendo praticada.
popular. Houve divergências quanto às Uma das possíveis explicações para a escolha
informações e padronizações no preparo ou somente de exercícios aeróbios (principalmente
uso. Devido ao uso concomitante de remédios a caminhada) são as limitações reportadas
caseiros com medicamentos prescritos para a prática de atividade física, pois 55,9%
por médicos, abrem-se oportunidades de dos entrevistados apresentam algum tipo de
questionar sobre os efeitos adversos e a comprometimento osteomioarticular, e 14,7%
dificuldade em seguir a terapia. Por isso, faz-se complicações do diabetes descompensado,
necessário questionar os usuários sobre o uso sendo estas barreiras para a prática de atividade
de alternativas terapêuticas, que tanto podem física.
otimizar quanto trazer ônus ao tratamento. Ainda, constatou-se que apenas 10,1%
Os achados sobre o uso de medicamentos aderem à terapia nutricional. Os dados
indicados para comorbidades cardiovasculares encontrados nesta pesquisa corroboram os
e renais por 58,3% dos usuários é justificado resultados de outro estudo28 que apresentou
pelo fato de 73,4% dos usuários apresentarem baixa adesão à terapia nutricional (1,6%)
doenças crônicas, dentre elas, a mais notória entre diabéticos. Uma das dificuldades que
é a hipertensão arterial sistêmica. Vale a pena podem estar relacionadas à baixa adesão é a
ressaltar que poucos usuários fazem uso escolha dos alimentos, pois, quase a totalidade
de antidiabéticos orais ou medem glicemia dos usuários (98,6%) ingeriam semanalmente
de forma regular, mesmo sendo altamente alimentos ricos em amido (pão, farinha, arroz,
recomendada29, o que reforça a necessidade macarrão) e 67,6% ingeriam alimentos ricos
de intervenções de educação em saúde que em glicose (doces, bolos, pudins), ou faziam
estimulem e facilitem a adesão ao tratamento o consumo desses dois tipos de alimentos
na prática cotidiana do diabético. associados 45,3%. Além disso, fatores regionais
Em relação à terapia não medicamentosa, e culturais estão associados ao elevado
56,1% dos participantes aderiram à atividade consumo de amido, pois a alimentação do
física. Estes achados estão em conformidade manauara tem por base a farinha de mandioca
com os resultados encontrados em estudos e o pão francês. Tais comportamentos estão
realizados em outras capitais brasileiras7,8. O diretamente associados ao excesso de peso.
nível de atividade física habitual compreende Aproximadamente 76,3% dos usuários
quatro domínios: atividades físicas no trabalho, estavam acima do peso (38,1% com excesso de
nas atividades domésticas, no deslocamento e peso, 38,1% com obesidade). Os dados desta
no tempo de lazer. No presente estudo a maioria pesquisa estão de acordo com estudo realizado

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em Minas Gerais28, em que 90% dos usuários e, consequentemente, ao desenvolvimento de
estavam com sobrepeso e obesidade. O excesso comorbidades que podem vir a reduzir sua
de peso e a obesidade aumentam os riscos de expectativa de vida3,4. A natureza, os sentidos
desenvolvimento de doenças cardiovasculares, e os determinantes do comportamento de
391 principalmente quando a gordura está localizada não adesão ao tratamento são complexos e
na região abdominal. Entre os participantes difíceis de serem entendidos34. Por isso, há que
da pesquisa, a maioria (51,0%) apresentou se considerar essa questão sob outra ótica,
risco, ou seja, alta concentração de gordura levando em conta a subjetividade do paciente,
abdominal. Esse achado vai ao encontro de bem como suas necessidades e dificuldades,
uma pesquisa realizada no sudeste do Brasil mais do que a precisão com que ele segue as
(76,1%)28. Logo, é necessário repensar as recomendações. Portanto, vale a pena que
estratégias de intervenção nutricional em nível as equipes de saúde investiguem os motivos
de saúde pública, pois a alimentação saudável e que levam esses usuários a não optarem por
o tipo de atividade física praticada permanecem nenhuma adesão.
como as principais barreiras do gerenciamento As limitações encontradas para a realização
de tratamento para o diabetes tipo 231. deste estudo foi o recrutamento dos pacientes
Em relação aos diferentes tipos de o que refletiu em um tempo mais longo
tratamentos, de forma isolada, os tipos de de coleta. Entretanto, constatou-se que a
adesão mais prevalentes foram o uso de população estudada acessava o serviço de
medicamentos (74,8%) e a prática de atividade saúde com menor frequência que o esperado e
física (56,1%), sendo a nutrição a que obteve preconizado. Os pontos fortes do estudo foram
menor adesão (10,1%). Apenas 5,8% dos a avaliação de diversos fatores relacionados a
usuários atenderam ao tratamento ideal adesão ao tratamento no diabetes, a medição
preconizado internacionalmente11, ou seja, direta do IMC e perímetro de cintura e, a análise
à adesão a terapia medicamentosa, atividade descritiva de forma isolada e simultânea dos
física e nutrição, concomitantemente. Mesmo tipos de adesão ao tratamento (medicamentosa
assim, foi possível observar associações entre e não medicamentosa), o que pode servir como
os tipos de tratamento que remetem a ganhos subsídio para futuros projetos de intervenção e
significativos e a redução de danos no controle maior compreensão das barreiras e facilitadores
do diabetes. Destaca-se a adesão simultânea relacionas a adesão ao tratamento no diabetes.
entre a terapia medicamentosa e a prática de Os principais resultados deste estudo foram:
atividade física (40,3%). O uso de antidiabéticos 1) perfil sociodemográficos (os participantes
orais associados ao exercício físico produz eram do sexo feminino, com idade menor que
aumento da sensibilidade à insulina, menor 60 anos, baixa renda e baixa escolaridade);
glicemia de jejum, menor resposta glicêmica à 2) perfil clínico e de (os usuários tinham
sobrecarga oral de glicose, menor concentração tempo de diagnóstico do diabetes superior
de hemoglobina glicada, demonstrando, a 5 anos, descoberto a doença por exame de
portanto, o que leva a um melhor controle rotina, comorbidades relacionadas ao diabetes
glicêmico em diabéticos do tipo 232,33. Esses (principalmente a hipertensão), doenças
benefícios tornam-se acentuados quando há bucais, excesso de peso e risco cardiovascular.
combinação de exercícios aeróbicos com A prevalência de adesão ao tratamento isolado
treinamento de força, perfil não apresentado foi maior para a terapia medicamentosa
pela amostra desta pesquisa. (74,8%) seguido da atividade física (56,1%). Ao
Um dado expressivo e preocupante do estimar a prevalência combinada identificou-
presente estudo é a proporção de usuários que se: 1) a terapia medicamentosa associada a
não aderiram a nenhum tipo de tratamento prática de atividade física foi a mais prevalente
(15,1%). Esse é um cenário alarmante, pois o (40,3%); 2) a adesão combinada entre terapia
usuário expõe-se às complicações do diabetes medicamentosa, atividade física e nutrição foi

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baixa (5,8%). Ainda, 15,1% das pessoas que rotina, afirmando o comprometimento dos
vivem com diabetes não adeririam nenhum profissionais da Estratégia Saúde da Família em
tratamento. realizar rastreamento e diagnóstico do agravo
Em relação às características na população da área adscrita, uma vez que o
sociodemográficas da amostra, houve exame de glicemia, utilizado no diagnóstico, 392
prevalência do sexo feminino (59%), o que é recomendado para todos os indivíduos com
corrobora as diretrizes e outras pesquisas idade superior a 45 anos, qualquer indivíduo
nacionais3,7,19–21, em que a prevalência de acima do peso e que apresentem algum
diabetes foi maior em mulheres, o que evidencia fator de risco associado as doenças crônicas
que este é um grupo particularmente vulnerável (inatividade física, diabéticos com grau de
e necessita de atenção especial. A participação parentesco próximo, etnia afroamericana, latina
reduzida do público masculino pode ser ou indígena, diagnóstico ou tratamento de
justificada devido ao fato de esses procurarem hipertensão artéria)3,10. Esses dados sugerem
o serviço de saúde apenas em situação de que a estratégia aplicada pelos profissionais
doença manifesta, por vezes não reconhecendo tem sido eficaz para o diagnóstico precoce da
a importância e a necessidade das ações de doença.
prevenção ou de promoção da saúde22. Além Entre os participantes da pesquisa, 48,2%
disso, há incompatibilidade entre os horários apresentaram uma ou mais comorbidades
de trabalho e o período de funcionamento das relacionadas ao diabetes, sendo a mais
UBSF pode ser uma barreira. comum os problemas de visão ou a cegueira.
A média de idade dos pacientes diabéticos Além disso, 30,9% relataram ter uma ou mais
entrevistados foi de 57,6 anos, aproximando- doenças crônicas, sendo a mais prevalente a
se da média de idade encontrada pelo estudo hipertensão arterial sistêmica. Da mesma forma,
realizado no Hospital das Clínicas de Ribeirão estudo realizado em João Pessoa9 identificou
Preto19. Em relação à renda familiar mensal, associação entre diabetes, hipertensão arterial
essa foi declarada como sendo de inferior um sistêmica e retinopatia. Adicionalmente, estudo
salário mínimo, corroborando com estudo de realizado em Porto Alegre identificou que o
São Paulo que relatou que 43,4% dos usuários perfil mais prevalente dos pacientes diabéticos
diabéticos vivem com até um salário mínimo7, foi de baixa renda, baixa escolaridade, usuários
o que impacta em diversos aspectos (qualidade de hipoglicemiante oral e com retinopatia10.
de vida, comportamento preventivos de saúde, O estudo enfatiza, que a maioria realiza
qualidade de tratamento, apoio social, recursos acompanhamento médico, não aderem as
comunitários, autoconhecimento da doença, recomendações e desconhece as doenças
a atividades física e dieta) que interferem na associadas ao diabetes, o que potencializa as
adesão tratamento. Ainda em relação a essa complicações decorrentes da doença.
questão, outro estudo mostrou associação Do total da amostra, 30,94% relataram
diretamente prorporcional entre renda e adesão a presença de doenças bucais sendo a mais
ao tratamento23. comum foi a doença periodontal. Uma
Houve baixa escolaridade na amostra revisão sistemática26 constatou que de fato
do presente estudo (50,4% com ensino a periodontite é o problema mais prevalente
fundamental), concordando com os resultados nos diabéticos. Estudo mostrou que 59,8%
encontrados em outros estudos nacionais7,24. dos diabéticos tinham periodontite, e principal
Quanto ao tempo de diagnóstico da doença, causa foi a glicemia descompensada (>126mg/
49,6% afirmaram ter diabetes a mais de 5 dl)27.
anos, confirmando os resultados de estudos Na amostra estudada, houve adesão
anteriores7,20,25. expressiva (74,8%) ao uso de medicamentos.
A maior parte dos pacientes (48,2%) Resultado semelhante foi identificado estudo
descobriu a doença por meio de exames de realizado em Minas Gerais (84,4%)28. Possível

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justificativa para este resultado pode estar apresentados em tabelas), ou seja, uma atividade
relacionado ao fácil acesso ao medicamento aeróbica (pouca intensidade e alta duração).
(farmácia gratuita), pois 93,6% dos usuários O American College of Sports Medicine30
obtêm seus medicamentos por meio da recomenda que pessoas com diabetes realizem
UBSF de forma regular, recorrendo a outras exercícios de força (musculação) associados
393
fontes apenas na falta parcial ou total dos a exercícios aeróbicos. Portanto, apesar da
medicamentos prescritos. elevada prevalência diabéticos fisicamente
Quanto aos usuários que fazem uso de ativos, é necessário repensar quanto ao tipo de
remédios caseiros, muitos afirmaram não ter atividade física que está sendo praticada.
recebido indicação de profissionais de saúde, Uma das possíveis explicações para a escolha
fazendo uso de acordo com o conhecimento somente de exercícios aeróbios (principalmente
popular. Houve divergências quanto às a caminhada) são as limitações reportadas
informações e padronizações no preparo ou para a prática de atividade física, pois 55,9%
uso. Devido ao uso concomitante de remédios dos entrevistados apresentam algum tipo de
caseiros com medicamentos prescritos comprometimento osteomioarticular, e 14,7%
por médicos, abrem-se oportunidades de complicações do diabetes descompensado,
questionar sobre os efeitos adversos e a sendo estas barreiras para a prática de atividade
dificuldade em seguir a terapia. Por isso, faz-se física.
necessário questionar os usuários sobre o uso Ainda, constatou-se que apenas 10,1%
de alternativas terapêuticas, que tanto podem aderem à terapia nutricional. Os dados
otimizar quanto trazer ônus ao tratamento. encontrados nesta pesquisa corroboram os
Os achados sobre o uso de medicamentos resultados de outro estudo28 que apresentou
indicados para comorbidades cardiovasculares baixa adesão à terapia nutricional (1,6%)
e renais por 58,3% dos usuários é justificado entre diabéticos. Uma das dificuldades que
pelo fato de 73,4% dos usuários apresentarem podem estar relacionadas à baixa adesão é a
doenças crônicas, dentre elas, a mais notória escolha dos alimentos, pois, quase a totalidade
é a hipertensão arterial sistêmica. Vale a pena dos usuários (98,6%) ingeriam semanalmente
ressaltar que poucos usuários fazem uso alimentos ricos em amido (pão, farinha, arroz,
de antidiabéticos orais ou medem glicemia macarrão) e 67,6% ingeriam alimentos ricos
de forma regular, mesmo sendo altamente em glicose (doces, bolos, pudins), ou faziam
recomendada29, o que reforça a necessidade o consumo desses dois tipos de alimentos
de intervenções de educação em saúde que associados 45,3%. Além disso, fatores regionais
estimulem e facilitem a adesão ao tratamento e culturais estão associados ao elevado
na prática cotidiana do diabético. consumo de amido, pois a alimentação do
Em relação à terapia não medicamentosa, manauara tem por base a farinha de mandioca
56,1% dos participantes aderiram à atividade e o pão francês. Tais comportamentos estão
física. Estes achados estão em conformidade diretamente associados ao excesso de peso.
com os resultados encontrados em estudos Aproximadamente 76,3% dos usuários
realizados em outras capitais brasileiras7,8. O estavam acima do peso (38,1% com excesso de
nível de atividade física habitual compreende peso, 38,1% com obesidade). Os dados desta
quatro domínios: atividades físicas no trabalho, pesquisa estão de acordo com estudo realizado
nas atividades domésticas, no deslocamento e em Minas Gerais28, em que 90% dos usuários
no tempo de lazer. No presente estudo a maioria estavam com sobrepeso e obesidade. O excesso
realizava atividades domésticas. Esse dado de peso e a obesidade aumentam os riscos de
pode ser explicado em virtude do sexo feminino desenvolvimento de doenças cardiovasculares,
ser o mais prevalente nessa pesquisa e que a principalmente quando a gordura está localizada
principal atividade/profissão reportada foi a “do na região abdominal. Entre os participantes
lar”. No domínio do lazer, a principal atividade da pesquisa, a maioria (51,0%) apresentou
realizada foi a caminhada (22,3%, dados não risco, ou seja, alta concentração de gordura

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abdominal. Esse achado vai ao encontro de não aderiram a nenhum tipo de tratamento
uma pesquisa realizada no sudeste do Brasil (15,1%). Esse é um cenário alarmante, pois o
(76,1%)28. Logo, é necessário repensar as usuário expõe-se às complicações do diabetes
estratégias de intervenção nutricional em nível e, consequentemente, ao desenvolvimento de 394
de saúde pública, pois a alimentação saudável e comorbidades que podem vir a reduzir sua
o tipo de atividade física praticada permanecem expectativa de vida3,4. A natureza, os sentidos
como as principais barreiras do gerenciamento e os determinantes do comportamento de
de tratamento para o diabetes tipo 231. não adesão ao tratamento são complexos e
Em relação aos diferentes tipos de difíceis de serem entendidos34. Por isso, há que
tratamentos, de forma isolada, os tipos de se considerar essa questão sob outra ótica,
adesão mais prevalentes foram o uso de levando em conta a subjetividade do paciente,
medicamentos (74,8%) e a prática de atividade bem como suas necessidades e dificuldades,
física (56,1%), sendo a nutrição a que obteve mais do que a precisão com que ele segue as
menor adesão (10,1%). Apenas 5,8% dos recomendações. Portanto, vale a pena que
usuários atenderam ao tratamento ideal as equipes de saúde investiguem os motivos
preconizado internacionalmente11, ou seja, à que levam esses usuários a não optarem por
adesão a terapia medicamentosa, atividade nenhuma adesão.
física e nutrição, concomitantemente. Mesmo As limitações encontradas para a realização
assim, foi possível observar associações entre deste estudo foi o recrutamento dos pacientes
os tipos de tratamento que remetem a ganhos o que refletiu em um tempo mais longo
significativos e a redução de danos no controle de coleta. Entretanto, constatou-se que a
do diabetes. Destaca-se a adesão simultânea população estudada acessava o serviço de
entre a terapia medicamentosa e a prática de saúde com menor frequência que o esperado e
atividade física (40,3%). O uso de antidiabéticos preconizado. Os pontos fortes do estudo foram
orais associados ao exercício físico produz a avaliação de diversos fatores relacionados a
aumento da sensibilidade à insulina, menor adesão ao tratamento no diabetes, a medição
glicemia de jejum, menor resposta glicêmica à direta do IMC e perímetro de cintura e, a análise
sobrecarga oral de glicose, menor concentração descritiva de forma isolada e simultânea dos
de hemoglobina glicada, demonstrando, tipos de adesão ao tratamento (medicamentosa
portanto, o que leva a um melhor controle e não medicamentosa), o que pode servir como
glicêmico em diabéticos do tipo 232,33. Esses subsídio para futuros projetos de intervenção e
benefícios tornam-se acentuados quando há maior compreensão das barreiras e facilitadores
combinação de exercícios aeróbicos com relacionas a adesão ao tratamento no diabetes.
treinamento de força, perfil não apresentado
pela amostra desta pesquisa.
Um dado expressivo e preocupante do
presente estudo é a proporção de usuários que

CONCLUSÃO

De forma geral, este estudo ofereceu um ou associada à atividade física, sendo a nutrição o
panorama dos aspectos sociodemográficos, tipo de terapia a que os usuários menos aderiram.
econômicos, clínicos e de saúde dos usuários com No entanto, muitos usuários foram considerados
diabetes tipo 2. Observou-se também que muitos não aderente ao tratamento ideal, uma vez que
aderiram à terapia medicamentosa de forma isolada apenas 5,8% aderiram concomitantemente à

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terapia medicamentosa, à nutrição e à atividade atuar com uma abordagem integral na promoção,
física regularmente. prevenção e manutenção da saúde e que pode
Nesse sentido, a ação da equipe multiprofissional contribuir para maior adesão ao tratamento de
de saúde é uma ferramenta fundamental para usuários com diabetes tipo 2.
395

REFERÊNCIAS

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Recebido em abril de 2020.


Aceito em agosto de 2020.

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