Adesão Ao Tratamento Medicamentoso e Não Medicamentoso em Adultos Com Diabetes Tipo 2
Adesão Ao Tratamento Medicamentoso e Não Medicamentoso em Adultos Com Diabetes Tipo 2
Adesão Ao Tratamento Medicamentoso e Não Medicamentoso em Adultos Com Diabetes Tipo 2
Resumo
O tratamento no diabetes é basicamente realizado por terapia medicamentosa e não medicamentosa (atividade física e
nutrição). Entretanto a adesão ao tratamento é um constante desafio sendo necessário maior compreensão e direcionamento
dos múltiplos aspectos que podem interferir na adesão a esses diferentes tipos de tratamento. Portanto, o estudo buscou
estimar a prevalência dos aspectos que influenciam a adesão aos tratamentos medicamentosos e não medicamentosos
de pessoas que vivem com diabetes tipo 2. Este foi um estudo descritivo e transversal, com 139 usuários, cadastrados e
participantes dos programas voltados para o público diabético em uma Unidade Básica de Saúde da Família na cidade de
Manaus, Amazonas, Brasil. Os dados foram coletados por meio de entrevista com aplicação formulário semiestruturado com
questões referente aos aspectos sociodemográficos, econômicas, clínico e de saúde em geral, tratamento medicamentoso
e não medicamentoso (atividade física e nutrição). A prevalência de adesão ao tratamento medicamentoso foi a mais
elevada (74,8%), seguida da adesão somente à atividade física (56,1%). Houve baixa prevalência de adesão somente da
nutrição (10,2%). Ao estimar a prevalência combinada, o tratamento medicamentoso associado à prática de atividade física
foi a mais prevalente (40,3%). A adesão combinada entre tratamento medicamentoso e não medicamentoso (atividade
física e nutrição) foi baixa (5,8%). O estudo conclui reforçando que a ação da equipe multiprofissional de saúde é uma
ferramenta fundamental para atuar com uma abordagem integral na promoção, prevenção e manutenção da saúde e que
pode contribuir para maior adesão ao tratamento de usuários com diabetes tipo 2.
Palavras-chave: Diabetes Mellitus. Atenção Primária à Saúde. Cooperação e Adesão ao Tratamento. Tratamento Farmacológico.
Doenças Não Transmissíveis.
INTRODUÇÃO
DOI: 10.15343/0104-7809.202044381396
Participaram da pesquisa 139 usuários com menos adesão (10,1%) (Figura 1-A).
385 diabéticos do tipo 2. No que se referi ao Ao verificar a adesão simultânea, o
perfil sociodemográficos, a maior parte dos tratamento combinado entre medicamento e
usuários eram do sexo feminino, na faixa atividade física foi o que apresentou maior
etária de 30 a 59 anos, casado/ união estável, prevalência (40,3%). Em contrapartida,
moravam acompanhado de família ou outras foi identificada baixa prevalência (5,8%)
pessoas, com escolaridade até o ensino para a adesão considerada como ideal ao
fundamental, com renda familiar inferior tratamento de diabetes tipo 2 (combinação
a um salário mínimo, do lar e referira ter entre medicamento, atividade física e
alguma religião crença (Tabela 1). nutrição) (Figura 1B).
Em relação ao perfil clínico e de saúde Em relação ao perfil do tratamento
dos pacientes entrevistados a maioria dos medicamentoso, a maioria dos usuários
participantes da pesquisa reportaram ter o realizavam o controle glicêmico
tempo de diagnóstico superior a cinco anos, semanalmente, faziam uso do medicamento
descobriram a doença por meio de exame de diariamente, reportaram utilizar os
rotina, possuem outras doenças crônicas, não medicamentos metformina e glibenclamida,
apresentam problemas bucais relacionados retiravam a medicação na farmácia gratuita
ao diabetes, não tem o hábito de consumir da UBSF e não faziam uso de medicamento
cigarro ou álcool, estão com excesso de caseiro (Tabela 3).
peso ou obesidade e apresentam risco para Quando aderem ao tratamento
complicações metabólicas (Tabela 2). medicamentoso, 88,5% dos usuários
A prevalência das pessoas que possuem conseguem explicar como fazem uso da
as comorbidades foi elevada (48,2%) (Tabela medicação, e desses, 61,8% o fazem conforme
2). Com relação a outras doenças crônicas, a prescrição médica. Ao serem questionados
foram mencionadas como sendo as mais se possuíam alguma dificuldade para usar os
comuns: hipertensão arterial sistêmica, medicamentos prescritos, 56,1% disseram
dislipidemias, doenças osteomioarticulares, que sim, e dentre as dificuldades mais
doenças autoimunes, doenças renais, doenças relatadas, foram citados o efeito adverso, o
respiratórias e Câncer. Já as alterações esquecimento e a dificuldade em administrar
bucais relatadas foram: doença periodontal, o medicamento. Contudo, vale salientar
xerostomia, cárie dentária, perda de dente, que estratégias para ajudar o usuário a
distúrbios de gustação e sensibilidade e aftas. lembrar-se de usar os medicamentos foram
De acordo com as informações coletadas, referidas por 87,0%, sendo a principal delas
os usuários com diabetes tipo reportaram o acondicionamento dos medicamentos em
maior prevalência da adesão ao tratamento local de fácil.
medicamentoso (74,8%) em comparação ao No que se refere à ao perfil do tratamento
tratamento não medicamentoso (atividade não medicamentoso, a maioria dos usuários
física e nutrição) (Figura 1-A). Analisando eram ativos ou muito ativos fisicamente,
isoladamente, a atividade física foi o tipo não apresentavam limitação para a
de tratamento não medicamentoso mais prática de atividade física, não realizavam
prevalente (56,1%), e a nutrição foi o tipo acompanhamento nutricional, não seguiam
Tabela 3– Perfil de aspectos relacionados aos tratamentos medicamentosos e não medicamentosos de usuários
diabéticos de uma Unidade Básica de Saúde da Família, Manaus, Amazonas, 2017.
Figura 1– Adesão ao tratamento medicamentoso e não medicamentoso (isolado e simultaneamente) por usuários
diabéticos em uma Unidade Básica de Saúde da Família de Manaus, Amazonas, 2017.
DISCUSSÃO
CONCLUSÃO
De forma geral, este estudo ofereceu um ou associada à atividade física, sendo a nutrição o
panorama dos aspectos sociodemográficos, tipo de terapia a que os usuários menos aderiram.
econômicos, clínicos e de saúde dos usuários com No entanto, muitos usuários foram considerados
diabetes tipo 2. Observou-se também que muitos não aderente ao tratamento ideal, uma vez que
aderiram à terapia medicamentosa de forma isolada apenas 5,8% aderiram concomitantemente à
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