ACB Infra Hídrica - Estudo de Caso Muriaé

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 87

Estudo de Caso ACB Infraestrutura Hídrica

Tipologia Controle de Cheias: Complexo de Barragens Muriaé


APRESENTAÇÃO
O hiato histórico de investimentos em infraestrutura no Brasil, comparado à crescente
demanda por novos avanços nesse setor, tem criado uma pressão cada vez maior sobre
os recursos disponíveis. Somado a isso, estudos recentes sobre a gestão do investimento
público no Brasil apontam, de maneira convergente, que uma das áreas com deficiências
mais significativas é a avaliação e seleção de projetos de infraestrutura (Banco Mundial
2017; FMI 2018; TCU, 2020). Especificamente para infraestrutura hídrica, a situação não
é diferente.

Nesse contexto, foram desenvolvidos o Guia Geral de Análise Socioeconômica de Custo-


Benefício de Projetos de Investimento em Infraestrutura (Guia ACB) e o Manual de Análise
Socioeconômica de Custo-Benefício de Projetos de Infraestrutura Hídrica (Manual ACB
Infra Hídrica) [link]. O Guia ACB busca sintetizar as melhores práticas nacionais e
internacionais de análise de custo-benefício e o Manual ACB Infra Hídrica a contextualiza
para o setor de infraestrutura hídrica. As ferramentas oferecidas nessas publicações
objetivam a otimização da eficiência socioeconômica na seleção de projetos de
investimento em infraestrutura a partir de uma análise objetiva, transparente e
sistemática.

Este Estudo de Caso é parte integrante de uma série de estudos setoriais que visam a
divulgar, solidificar e subsidiar a preparação e avaliação de propostas de investimento em
infraestrutura segundo a metodologia definida pelo Guia ACB e o Manual ACB Infra
Hídrica. Os estudos de caso e o manual setorial são resultados da parceria entre a
Secretaria de Desenvolvimento da Infraestrutura da Secretaria Especial de Produtividade
e Competitividade do Ministério da Economia (SDI/SEPEC/ME) com o Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A partir dessa parceria, o Consórcio
Engecorps-Ceres foi então contratado para desenvolver o presente manual, o qual em sua
fase de elaboração foi amplamente discutido com órgãos federais protagonistas deste
setor, como a Secretarias Nacional de Saneamento e a Secretaria Nacional de Segurança
Hídrica do Ministério do Desenvolvimento Regional.

Esta publicação, portanto, cumpre não apenas com o objetivo de disseminar de melhores
práticas sobre avaliação socioeconômica de projetos de infraestrutura hídrica, mas
também garantir maior prestação de contas dos recursos do contribuinte investidos na
elaboração deste produto.

Além de oferecer informações indispensáveis à tomada de decisão, como indicadores de


viabilidade, análise de risco e de efeitos distributivos, a adoção do modelo de ACB
proposto garante, também, ganho em competitividade da carteira de projetos desse
setor. Nesse sentido, recomendamos o uso de tal metodologia para garantir maior
transparência e efetividade na estruturação e priorização de projetos de investimento de
infraestrutura hídrica, tornando-os cada vez mais alinhados com as principais
necessidades da sociedade.

Secretaria de Desenvolvimento da Infraestrutura

1
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Documento elaborado e entregue pelo Consórcio Engecorps-Ceres como Produto 07 -


Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos - Tipologia Controle de
Cheias - Complexo de Barragens Muriaé, do contrato BRA10/694/38391/702/38399/2020,
Solicitação de Proposta (SDP) nº JOF 1934/2020, no âmbito de parceria da SDI/ME com o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Projeto BRA/19/15. Após sua
entrega, este produto foi revisado e atualizado pela SDI/SEPEC/ME para sua publicação
definitiva. Sua redação final pode divergir pontualmente, portanto, daquela inicialmente
apresentada pelo Consórcio e aprovada pela SDI/SEPEC/ME.

Equipe técnica Consórcio Engecorps-Ceres responsável pela elaboração deste produto:

Adriana Gonçalves Costa


Aída Maria Pereira Andreazza
Andrei de Mesquita Almeida
Daniel Thá
Emerson Massaiti Haro
José Ricardo Junqueira do Val
José Wanderley Marangon Lima
Marcos Oliveira Godoi
Maria Bernardete Sousa Sender
Sibele Dantas

Equipe técnica SDI/SEPEC/ME responsável pela revisão e aprovação deste produto:

Subsecretário de Inteligência Econômica e de Monitoramento de Resultados


Rodolfo Gomes Benevenuto

Coordenador-Geral de Monitoramento de Resultados


Rafael Ribeiro Silveira

Coordenador-Geral de Inteligência Econômica


Diego Camargo Botassio

Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental


Renato Alves Morato

2
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Sumário
1. APRESENTAÇÃO ................................................................................................. 7
2. SUMÁRIO EXECUTIVO......................................................................................... 8
3. FUNDAMENTOS PARA INTERVENÇÃO ............................................................... 11
DESCRIÇÃO DO CONTEXTO .............................................................................................. 11
DEFINIÇÃO DE OBJETIVOS ............................................................................................... 15
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO, ALTERNATIVAS E CENÁRIO BASE .............................................. 16
Projeto e Alternativas ................................................................................... 16
Cenário Basel ................................................................................................ 19
4. ESTIMAÇÃO DE CUSTOS ECONÔMICOS ............................................................. 22
DISPÊNDIO DE CAPITAL PARA CRIAÇÃO OU AMPLIAÇÃO DE CAPACIDADE EM INFRAESTRUTURA
(CAPEX)....................................................................................................................... 22
Estimativa de valor residual de investimentos ............................................. 27
Cálculo da desagregação do CapEx .............................................................. 29
DESPESAS COM GESTÃO, MANUTENÇÃO E OPERAÇÃO DE INFRAESTRUTURA (OPEX) ................. 31
Cálculo da desagregação do OpEx ................................................................ 32
RESULTADOS DE ESTIMATIVA DE CUSTOS ECONÔMICOS ........................................................ 34
5. ESTIMAÇÃO DE BENEFÍCIOS ECONÔMICOS ........................................................ 36
ETAPAS ........................................................................................................................ 36
ESTIMATIVA DO VALOR EM RISCO: CARACTERIZAÇÃO DO CENÁRIO BASE .................................. 37
Levantamento de registros de danos e perdas históricos na região ............ 37
Reunião de dados hidrológicos e hidráulicos caracterizando as cheias e
inundações.................................................................................................... 42
Elaboração das curvas de probabilidade de excedência de danos .............. 43
ESTIMAÇÃO DAS PERDAS EVITADAS COM O PROJETO ............................................................ 45
CÁLCULO DOS BENEFÍCIOS: PERDAS EVITADAS .................................................................... 46
Perdas evitadas com base em Banco Mundial, 2020 ................................... 46
Perdas evitadas com base em valoração dos prejuízos privados................. 48
BENEFÍCIO DA MELHORA NO BEM-ESTAR VIA PROXY DA VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA .................. 50
PROJEÇÕES DOS BENEFÍCIOS NO FUTURO ........................................................................... 53
Danos e prejuízos econômicos crescentes ................................................... 53
Mudança do clima ........................................................................................ 54
3
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

RESULTADOS DOS BENEFÍCIOS DO PROJETO ........................................................................ 56


6. EXTERNALIDADES E EFEITOS INDUTIVOS ........................................................... 58
ESTIMAÇÃO DE EXTERNALIDADES ..................................................................................... 58
Externalidades negativas consideradas no CapEx e OpEx ............................ 58
Serviços ecossistêmicos hídricos .................................................................. 58
Emissão de gases de efeito estufa ................................................................ 60
EFEITOS ECONÔMICOS INDUTIVOS, INDIRETOS E DE SEGUNDA ORDEM ................................... 61
Avaliação dos Efeitos Econômicos Indutivos ................................................ 61
Valoração do benefício da indução do investimento ................................... 64
7. INDICADORES DE VIABILIDADE DO PROJETO ..................................................... 65
INDICADORES DA ACB .................................................................................................... 65
RESUMO DOS RESULTADOS ............................................................................................. 68
8. ANÁLISE DE RISCO ............................................................................................ 69
ANÁLISE DE SENSIBILIDADE.............................................................................................. 69
ANÁLISE QUALITATIVA DE RISCOS..................................................................................... 74
ANÁLISE PROBABILÍSTICA ................................................................................................ 78
9. ANÁLISE DISTRIBUTIVA ..................................................................................... 82
INCIDÊNCIA DE BENEFÍCIOS E BENEFICIÁRIOS ...................................................................... 82
EFEITOS DISTRIBUTIVOS .................................................................................................. 85
10. ANEXO 1 – ANEXO DIGITAL – PLANILHA COMPUTACIONAL – ACB COMPLEXO DE
BARRAGENS MURIAÉ ............................................................................................... 86

4
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Índice de Figuras
Figura 3.1 - Mapa da região de interesse - Complexo de Barragens Muriaé.................... 13
Figura 5.1 - Curva de perdas em função da probabilidade de eventos de inundação e
enxurradas sem o projeto (base) ...................................................................................... 44
Figura 5.2 - Curva de perdas em função da probabilidade de eventos de inundação e
enxurradas com o projeto ................................................................................................. 46
Figura 5.3 - Curva de perdas em função da probabilidade de eventos de inundação e
enxurradas com e sem o projeto ...................................................................................... 47
Figura 5.4 - Projeções de extremos climáticos.................................................................. 55
Figura 5.5 - Curva de perdas em função da probabilidade de eventos de inundação e
enxurradas com e sem o projeto projetados para o ano T30 ........................................... 56
Figura 6.1 - Relação entre o VAB Privado (serviços e indústria), o porte populacional e o
registro de eventos de inundações e enxurradas (nos últimos vinte anos) ...................... 62
Figura 6.2 - Resultados da regressão logística para restrição econômica ........................ 63
Figura 6.3 - Resultados da regressão logística para restrição econômica ........................ 63
Figura 8.1 - Resultados da simulação de Monte Carlo da alternativa 1 (∆VSPL, milhões) 81

Índice de Tabelas
Tabela 2-1 - Quadro Resumo dos Resultados do Complexo Muriaé .................................. 9
Tabela 3-1 - Mitigação dos Efeitos das Cheias Obtida com a Implantação das Obras
Propostas para os Subsistemas 1 e 2 do SIEMEC .............................................................. 20
Tabela 4-1 - Formulário de Dados cadastrais e técnicos .................................................. 23
Tabela 4-2 - Formulário de dados técnicos do empreendimento .................................... 24
Tabela 4-3 - Formulário de dados Econômicos - CapEx .................................................... 24
Tabela 4-4 - Formulário de preços-sombra, fatores de conversão setorial e cambial ..... 26
Tabela 4-5 - Participação relativa dos componentes de infraestrutura no CapEx –
Complexo de Barragens Muriaé – Alternativa 1 ............................................................... 27
Tabela 4-6 - CheckList de dados prévios de projeto ......................................................... 28
Tabela 4-7 - Estimativa de vida útil de componentes da infraestrutura........................... 28
Tabela 4-8 - Tabela CapEx - Complexo de Barragens Muriaé - Alternativa 1 ................... 29
Tabela 4-9 - Alíquotas de referência para mão de obra qualificada e não-qualificada
conforme componentes do CapEx .................................................................................... 31
Tabela 4-10 - Tabela OpEx - Complexo de Barragens Muriaé - Alternativa 1 ................... 33
5
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Tabela 4-11 - Resultados da estimativa dos custos da alternativa 1 (R$, milhões) .......... 34
Tabela 5-1 - Classificação COBRADE de eventos de interesse, categoria “Naturais”, grupo
"Hidrológicos" ................................................................................................................... 38
Tabela 5-2 - Eventos de desastres registrados nos municípios de interesse na base CEPED
........................................................................................................................................... 39
Tabela 5-3 - Categorias do FIDE - Formulário de Informações do Desastre ..................... 40
Tabela 5-4 - Perdas (danos e prejuízos) registrados nos municípios de interesse na base
CEPED, com valores na data-base de 2020 ....................................................................... 41
Tabela 5-5 - Valores anualizados de perdas esperadas para cada município com e sem o
projeto............................................................................................................................... 48
Tabela 5-6 – Valores anualizados de pessoas afetadas para cada município com e sem o
projeto............................................................................................................................... 49
Tabela 5-7 - Parâmetros para a valor da produção cessante das pessoas afetadas......... 50
Tabela 5-8 – Habitações danificadas para cada município com e sem o projeto (valor
anualizado) ........................................................................................................................ 51
Tabela 5-9 - Benefício da melhora no bem-estar via proxy da valorização imobiliária .... 52
Tabela 5-10 - Benefício das perdas evitadas (R$, milhões)............................................... 57
Tabela 6-1 - Benefício da indução do investimento (R$, milhões) ................................... 64
Tabela 7-1 - Indicadores da ACB Social ............................................................................. 65
Tabela 7-2 - Quadro Resumo dos Resultados do Complexo Muriaé ................................ 68
Tabela 8-1 - Análise de sensibilidade para identificação de variáveis-críticas ................. 69
Tabela 8-2 - Valores de inflexão para que o ∆VSPL seja 0 (zero) ...................................... 71
Tabela 8-3 - Análise de cenários da alternativa 1 para o ∆VSPL ....................................... 72
Tabela 8-4 - Análise de sensibilidade para componentes dos benefícios......................... 73
Tabela 8-5 – Resumo da análise qualitativa de riscos....................................................... 77
Tabela 8-6 - Análise de robustez da alternativa 1 (análise de Monte Carlo) .................... 80
Tabela 9-1 - Distribuição dos custos e benefícios por stakeholders (R$, milhões, VPL) ... 83
Tabela 9-2 - Desalojados e desabrigados .......................................................................... 84

6
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

1. APRESENTAÇÃO
Este documento apresenta o resultado do estudo de caso de aplicação da metodologia de
Análise Custo-Benefício (ACB) no empreendimento Complexo de Barragens Muriaé. Esse
empreendimento foi classificado na tipologia Controle de Cheias, conforme metodologia
apresentada nos documentos Manual de Análise Socioeconômica de Custo-Benefício de
Projetos de Infraestrutura Hídrica (Manual ACB Infra Hídrica) e Guia Geral de Análise
Socioeconômica de Custo-Benefício de Projetos de Investimento em Infraestrutura (Guia
ACB).
O documento está estruturado em 9 capítulos. Além desta apresentação, o capítulo 2
sumariza o estudo de caso. Já o capítulo 3 aborda os fundamentos para intervenção que
embasaram a concepção do empreendimento. No capítulo 4 são detalhadas as
estimativas de custos econômicos durante o ciclo de vida do projeto, enquanto no
capítulo 5 o mesmo é feito para os benefícios antevistos como decorrentes da
implantação do empreendimento. O capítulo 6 apresenta as externalidades e os efeitos
indutivos.
No capítulo 7 são apresentados os resultados das estimativas anteriores por meio de
indicadores da análise custo-benefício. Após a apresentação dos resultados, são feitas
análises de risco (capítulo 8) e distributiva (capítulo 9), de maneira a complementar a
interpretação da análise efetuada neste estudo de caso.
Os dados computados em planilha são apresentados no Anexo 1 (Anexo Digital).

7
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

2. SUMÁRIO EXECUTIVO
O projeto em estudo, da tipologia de controle de cheias, trata do problema do elevado
grau de risco de tais eventos na bacia do rio Muriaé, entre os estados de Minas Gerais e
Rio de Janeiro.
O número de desabrigados e desalojados nos municípios devido aos eventos de cheias é
bastante significativo, denotando a severidade do problema. Entre os anos de 1991 e
2019, somam-se 17 mil afetados em Carangola, 60 mil em Muriaé, 8 mil em Cardoso
Moreira, 27 mil em Itaperuna, 10 mil em Laje do Muriaé e 13 mil em Porciúncula. As
perdas econômicas (danos e prejuízos, públicos e privados) são estimadas em R$ 879
milhões nos últimos vinte anos.
Após os eventos de grandes prejuízos em 2012, desenvolveu-se o estudo Sistema de
Intervenções Estruturais para Mitigação dos Efeitos das Cheias (SIEMEC), realizado para a
bacia do rio Muriaé, e que trouxe a definição de medidas e intervenções com vistas a
mitigar os efeitos das cheias nessas bacias, com foco nas seguintes cidades:
▪ Na bacia do rio Muriaé - sub-bacia do rio Carangola: Carangola e Tombos, municípios
de Minas Gerais; e
▪ Na bacia do rio Muriaé: Miraí e Muriaé, em Minas Gerais, e Porciúncula, Natividade,
Laje do Muriaé, Itaperuna, Italva e Cardoso Moreira, no estado do Rio de Janeiro.
Especificamente na sub-bacia do rio Muriaé, onde estão situados os barramentos
propostos (nos rios Muriaé e Carangola), ocorreram as maiores cheias de caráter regional.
São comuns eventos críticos nessa sub-bacia, com cidades atingidas quase que
anualmente por inundações em pontos isolados (ANA, 2019).
Essa sub-bacia apresenta área de drenagem de 8.162 km² e abrange 30 municípios, dos
quais, Muriaé, Carangola e Itaperuna são os mais importantes. Com exceção das cidades
de Miraí e Tombos, todas as demais sedes urbanas situadas na bacia são afetadas por
frequentes eventos de inundações.
O estudo SIEMEC, que foi incluído no Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH) (ANA,
2019) e habilitado para o Programa de Segurança Hídrica, traz como a principal alternativa
(Alternativa 1) para o problema a implantação das seguintes intervenções:
▪ Três barragens para contenção de cheias, quais sejam: barragens de Carangola (CC-
MG-011) e Tombos (CC-MG-012), no rio Carangola e barragem do rio Muriaé, em
Muriaé (CC-MG-010), com alturas variando de 14m a 28m
▪ Obras de canalizações nas áreas urbanas das cidades de Carangola, Porciúncula,
Natividade, Miraí, Laje do Muriaé, Itaperuna, Italva e Cardoso Moreira, envolvendo
canais revestidos em gabião, em sua maioria, um canal revestido em concreto e canais
sem revestimento.
Já a Alternativa 2 é constituída apenas por canalizações de travessias de cursos d’água em
áreas urbanas, com características semelhantes às obras previstas na Alternativa 1, e
também cumpre o mesmo objetivo de evitar inundações dessas áreas, porém implicando

8
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

custos mais elevados, devido ao maior porte das obras envolvidas, além da necessidade
de maiores desapropriações.
Caso as obras propostas não sejam implantadas, supõe-se que a bacia do rio Muriaé
continue sujeita a frequentes episódios de cheias, com inundações das áreas urbanas de
vários municípios, do que resultam grandes prejuízos, quer para a população, quer para
as prefeituras. Tais prejuízos são potencializados, em grande parte, pelas ocupações
irregulares existentes, muitas vezes dentro do leito menor e até mesmo dentro do leito
vazante dos cursos d’água que cruzam as áreas urbanas.
Tabela 2-1 - Quadro Resumo dos Resultados do Complexo Muriaé
Indicadores de viabilidade Resumo dos pontos principais das análises
(1º e 3º quartis da análise complementares
probabilística)
Alternativa
Análise Análise
∆VSPL TRE Índice B/C Análise de
Qualitativa de Distributiva
(R$, MM) (%) (B/C) Sensibilidade
Risco
Alto risco: O poder público
desatualização municipal é o
Alta sensibilidade da modelagem principal ator
+44,52 10,18 1,21 ao CapEx faz com hidráulico- beneficiado, se
1- Sistema de apropriando de
que haja 48% de hidrológica;
barragens e (-62 a (6,88 a (0,82 a 32%. Os
chances de o opção
canais +73) 10,71) 1,27) munícipes em
projeto não tecnológica
retornar ∆VSPL analisada não geral dos locais
positivo. Alt considera beneficiados
sensibilidade interação com devem se
também ao demais soluções apropriar de 30%
benefício da possíveis, tais dos benefícios,
indução do como enquanto o setor
-44,92 7,23 0,85 investimento, infraestruturas de serviços
pois sem sua verdes e medidas privado outros
2- Sistema de 26%.
canais (-212 a (4,41 a (0,58 a consideração, de gestão - estas
-37) 7,63) 0,90) ∆VSPL passa a se fazem O projeto não
ser negativo necessárias para prevê pagamento
reduzir os custos de tarifas ou
do investimento subvenções

Das alternativas estudadas, a alternativa 1 é mais custo-benéfica do que a alternativa 2,


sendo assim a escolhida para a sequência da avaliação do projeto. Essa opção é realizada
com base no custo uma vez que ambas as alternativas são idênticas na produção de
benefícios.
A alternativa 1 agrega valor líquido à sociedade, pois seu índice benefício/custo supera a
unidade (1,21). Ou seja, o projeto gera benefícios sociais que superam em 21% os custos
sociais (VPL dos custos de R$ 212 milhões contra o VPL dos benefícios de R$ 256 milhões).
Deve gerar valor positivo líquido de R$ 44,5 milhões em valor social (∆VSPL). O resultado
da TRE também permite concluir pela suficiência na geração de valor econômico, uma vez
que seu resultado, de 10,18%, supera a TSD de 8,50%, que é representativa do mínimo
necessário para compensar o custo de oportunidade social do investimento no tempo.
Muito embora o resultado seja positivo, a análise de risco aponta para diversos aspectos
relevantes que devem ser avaliados com cuidado na sequência de avaliação do projeto.
9
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Ressalta-se, ainda, que as duas alternativas são focadas exclusivamente em opções de


engenharia convencional. Um encaminhamento, a partir dos resultados obtidos, é que
haja uma remodelação das alternativas de engenharia para a contenção de cheias,
contemplando opções potencialmente menos custosas que a alternativa 1, perpassando
a adoção de Soluções baseadas na Natureza, medidas de gestão (soft) em conjunto com
as PCHs existentes na bacia, e potencial aproveitamento hidrelétrico para aumentar os
benefícios líquidos.

10
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

3. FUNDAMENTOS PARA INTERVENÇÃO

DESCRIÇÃO DO CONTEXTO
O projeto Complexo de Barragens Muriaé, classificado na tipologia Controle de Cheias, é
intervenção classificada como habilitada com estudo complementar para o Programa de
Segurança Hídrica (PSH), aderente aos critérios de intervenção estruturante e estratégica,
pelo Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH)1.
O PNSH é estudo conduzido pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA)
em parceria com o Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR) concluído em 2019. O
PNSH inventariou, analisou e selecionou um conjunto de intervenções de natureza
estratégica e estruturante, com amplitude interestadual ou relevância regional em
diferentes fases de planejamento e implementação, identificados junto a setores usuários
de água e órgãos e entidades estaduais e federais com envolvimento em recursos hídricos
e/ou infraestrutura hídrica.
Segundo o Relatório de Identificação de Obras (RIO) do PNSH, que detalha as intervenções
habilitadas para o Programa de Segurança Hídrica, seis barragens são componentes do
que se chamou de Estudo de alternativas em áreas de alta vulnerabilidade a inundações
na bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, com foco em sua sub-bacia Muriaé.
▪ Codificação do PNSH: CC-MG-009 - Barragem dos Rios Muriaé e Preto | CC-MG-010 -
Barragem Muriaé | CC-MG-011 - Barragem Carangola | CC-MG-012 - Barragem
Tombos | CC-RJ-001 - Barragem de Itaperuna | CC-RJ-002 - Barragem de Laje do
Muriaé;
▪ Manancial - Fonte hídrica: Rio Preto (CC-MG-009), Rio Muriaé (CC-MG-010 | CC-RJ-
001 | CC-RJ-002), Rio Carangola (CC-MG-011 | CC-MG-012);
▪ Localização: Muriaé/MG (CC-MG-009 | CC-MG-010), Carangola/MG (CC-MG-011),
Tombos/MG (CC-MG-012), Itaperuna/RJ (CC-RJ-001), entre os municípios de Laje do
Muriaé e Itaperuna/RJ (CC-RJ-002);
▪ Executores e intervenientes:
o Departamento de Obras Públicas do Estado de Minas Gerais - DEOP/MG (CC-
MG-009);
o Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico - ANA (CC-MG-010 | CC-MG-
011) | CC-MG-012);
o Secretaria de Estado do Ambiente - SEA-RJ (CC-RJ-001 | CC-RJ-002);
▪ Finalidade atendida: Controle de cheias;
▪ Descrição: Conjunto de intervenções estruturais destinados à mitigação do efeito das
cheias na Bacia do Rio Paraíba do Sul. São propostas cinco barragens nos mananciais

1
ANA - Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (Brasil). Plano Nacional de Segurança
Hídrica. 116 p. Brasília: ANA, 2019.
11
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

afluentes do rio Paraíba do Sul, sendo quatro situadas no estado de Minas Gerais e
duas no Rio de Janeiro.
o CC-MG-009: Barragem proposta no rio Preto, a nove quilômetros da
confluência com o rio Muriaé, com 27 metros de altura e volume de
reservação de 43,2 hm3.
o CC-MG-010: Barragem proposta no rio Muriaé, com 14 metros de altura e
volume máximo de reservação de 28,5 hm3;
o CC-MG-011: Barragem proposta no rio Carangola, com 28 metros de altura e
volume máximo de reservação de 26,6 hm3;
o CC-MG-012: Barragem proposta no rio Carangola, com 18,5 metros de altura
e volume máximo de reservação de 21,0 hm3;
o CC-RJ-001: Barragem proposta no rio Muriaé, com volume máximo de
reservação de 14,6 m3 e;
o CC-RJ-002: Barragem proposta no rio Muriaé, com volume máximo de
reservação de 9,6 hm3.
Além das seis barragens acima listadas, uma outra compõe a recomendação do PNSH para
estudos futuros no âmbito do controle de cheias na bacia do rio Paraíba do Sul, mas não
na bacia do rio Muriaé, foco dessa ACB. Trata-se da barragem que abrange a bacia
hidrográfica do rio Pomba, codificada pelo PNSH como CC-MG-008: Barragem proposta
no rio Xopotó (afluente do rio Pomba), com 40 metros de altura e volume máximo de
reservação de 61,4 hm3.
A bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul é formada por cursos d’água que se estendem
por três Unidades da Federação - Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro -, sendo,
portanto, a gestão dos seus recursos hídricos de responsabilidade da Agência Nacional de
Águas e Saneamento Básico (ANA), de forma compartilhada entre os três estados.
O rio Muriaé é um dos afluentes da bacia do rio Paraíba do Sul, tendo extensão de 300
km, desde sua nascente em Miraí, no estado de Minas Gerais, até o desemboque no rio
Paraíba do Sul, nas proximidades do município de Campos dos Goytacazes, no estado do
Rio de Janeiro. O curso d’água é formado pela confluência dos rios Bom Sucesso e
Samambaia; seus principais tributários são os rios Glória, Gavião, Santo Antônio e
Carangola.
Ao longo dos anos, a bacia do rio Paraíba do Sul sofreu com ações antrópicas, o que
contribuiu para elevar a produção de sedimentos e acelerar o assoreamento dos cursos
de água afluentes, como o rio Muriaé, e do próprio rio Paraíba do Sul.
Especificamente na sub-bacia do rio Muriaé, onde estão situados os barramentos
propostos (nos rios Muriaé e Carangola), ocorreram as maiores cheias de caráter regional.
São comuns eventos críticos nessa sub-bacia, com cidades atingidas quase que
anualmente por inundações em pontos isolados. (ANA, 2019)
Essa sub-bacia apresenta área de drenagem de 8.162 km² e abrange 30 municípios, dos
quais, Muriaé, Carangola e Itaperuna são os mais importantes. Com exceção das cidades
12
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

de Miraí e Tombos, todas as demais sedes urbanas situadas na bacia são afetadas por
frequentes eventos de inundações.
A figura a seguir apresenta mapa da região de interesse.

Figura 3.1 - Mapa da região de interesse - Complexo de Barragens Muriaé

O Atlas de Vulnerabilidade a Inundações, publicado em 2014 pela ANA2, indica a


pertinência do projeto, ao apontar como destaque de vulnerabilidade na região Sudeste

2
Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (Brasil). Atlas de Vulnerabilidade a Inundações.
20 p. Brasília: ANA, 2014.
13
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

as inundações nos rios Muriaé, apresentando 37 trechos de rio com alta vulnerabilidade
a inundações.
No intuito de mitigar os efeitos mais críticos das cheias que ocorrem na bacia hidrográfica
do rio Muriaé, em especial nos municípios indicados na Figura 2.1, foi proposto um
sistema de intervenções estruturais para a região composta de barragens de contenção
de cheias e canais.
Tal sistema, denominado Sistema de Intervenções Estruturais para Mitigação dos Efeitos
das Cheias (SIEMEC), foi concebido por estudo conduzido entre os anos de 2011 e 2012
pela ANA e elaborado pela ENGECORPS Engenharia S.A., com apoio em modelagens
hidrológico-hidráulicas robustas, para identificação de obras de infraestrutura hídrica
visando ao controle de cheias na bacia do rio Paraíba do Sul, com destaque aos seus
afluentes localizados em Minas Gerais, entre eles, o rio Muriaé3.
O referido estudo (Sistema de Intervenções Estruturais para Mitigação dos Efeitos das
Cheias) foi utilizado como fonte complementar de dados ao PNSH na elaboração do
presente estudo de caso de Análise Custo-Benefício, sendo doravante referenciado por
sua sigla (SIEMEC).
Quanto ao planejamento territorial na área de intervenção, nota-se pela Tabela 3-1 que
não há provável interferência em unidades de conservação. Adicionalmente, o estudo
SIEMEC foi conduzido de forma detalhada e envolveu levantamento de campo que
permitiu propor que as barragens fossem concebidas com base na otimização entre as
menores áreas de alagamento possível e os menores custos de desapropriação. Pôde-se
assim identificar que não deve haver interferências de ordem territorial por meio de
intervenções em locais de restrição ambiental tais como unidades de conservação, terras
indígenas e outras (SIEMEC).
Apesar da importância desses barramentos na região, o PNSH habilitou a intervenção
mediante recomendação da realização de estudo adicional para a verificação dos efeitos
individuais e combinados dessas intervenções sobre a contenção e atenuação de cheias,
notadamente quanto à necessidade de implementação conjunta com vistas a se obter os
benefícios esperados.
Segundo o PNSH, o estudo recomendado tem a seguinte descrição:
▪ Para as intervenções do referente relatório, recomenda-se a realização de estudos de
viabilidade técnica, econômica e ambiental (EVTEA) para assegurar sua eficácia.
▪ Pontos que necessitam ser esclarecidos:
o Efeitos individuais e combinados das barragens sobre a contenção e
atenuação de cheias;
o Avaliação da otimização dos barramentos existentes.

3
ANA/ENGECORPS, 2012. Elaboração de Estudos para Concepção de um Sistema de Previsão de
Eventos Críticos na Bacia do Rio Paraíba do Sul e de um Sistema de Intervenções Estruturais para
Mitigação dos Efeitos de Cheias nas Bacias dos Rios Muriaé e Pomba e Investigações de Campo
Correlatas. Relatório RF34.
14
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

De fato, a análise do relatório SIEMEC indica que a composição recomendada para a


composição do Sistema de Intervenções Estruturais não é composta pelo conjunto das
seis barragens elencadas pelo PNSH, mas sim uma combinação entre três dessas
barragens e uma série de canais que auxiliam o escoamento das águas excedentes e
realizam o controle dos eventos extremos de forma mais eficiente e menos impactante
do que a série das barragens. A solução trazida pelo SIEMEC e analisada sob a ótica da
ACB é detalhada como Alternativa 1 no item 3.3.

DEFINIÇÃO DE OBJETIVOS
O projeto em estudo, da tipologia de controle de cheias, trata do problema do elevado
grau de risco de tais eventos na bacia do rio Muriaé, entre os estados de Minas Gerais e
Rio de Janeiro.
O estudo Sistema de Intervenções Estruturais para Mitigação dos Efeitos das Cheias
(SIEMEC), realizado para a bacia do rio Muriaé, trouxe a definição de medidas e
intervenções com vistas a mitigar os efeitos das cheias nessas bacias, as mais vulneráveis
a acidentes ambientais, e envolveu levantamentos de campo e modelagens hidrológico-
hidráulicas com foco nas seguintes cidades:
▪ Na bacia do rio Muriaé - sub-bacia do rio Carangola: Carangola e Tombos, municípios
de Minas Gerais; e
▪ Na bacia do rio Muriaé: Miraí e Muriaé, em Minas Gerais, e Porciúncula, Natividade,
Laje do Muriaé, Itaperuna, Italva e Cardoso Moreira, no estado do Rio de Janeiro.
Os resultados da modelagem hidrológico-hidráulica realizada confirmaram a
vulnerabilidade das cidades à ocorrência de eventos de cheias: à exceção da cidade de
Tombos, onde o leito menor do rio Carangola comporta uma vazão de 10 anos de período
de retorno, as demais cidades são afetadas por cheias com Períodos de Retorno inferiores
a 2 anos.
O número de desabrigados e desalojados nos municípios é bastante significativo,
denotando a severidade dos eventos de cheias. Entre os anos de 1991 e 2019, somam-se
17 mil em Carangola, 60 mil em Muriaé, 8 mil em Cardoso Moreira, 27 mil em Itaperuna,
10 mil em Laje do Muriaé e 13 mil em Porciúncula.
Sobre a Unidade Autossuficiente de Análise, parte-se diretamente do objetivo do SIEMEC,
que foi a análise de toda a bacia hidrográfica do rio Muriaé, acrescida dos limites
municipais dos eventuais municípios que ultrapassem tal limite (Tombos). Essa definição
se apoia diretamente na questão hidrológica-fisiográfica e no fato de que o foco do
controle de cheias e consequente redução de danos e prejuízos está nas áreas urbanas
dos dez municípios afetados pelos eventos na bacia hidrográfica do Rio Muriaé:
Carangola, Tombos, Miraí, Muriaé, Porciúncula, Natividade, Laje do Muriaé, Itaperuna,
Italva e Cardoso Moreira.
Quanto ao horizonte temporal de análise, segue-se a orientação do Manual ACB Infra
Hídrica que prevê o intervalo de 30 anos. Uma vez que a vida útil das infraestruturas do

15
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

complexo Muriaé deve superar esse prazo, o cômputo dos custos econômicos prevê a
geração de valores residuais (conforme item 4).

IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO, ALTERNATIVAS E CENÁRIO BASE


O SIEMEC foi estruturado em três Subsistemas de Intervenções, que são base para a
identificação do projeto, suas alternativas e o cenário base:
▪ Subsistema 1: implantação de reservatórios para contenção de cheias, que visam
reduzir localmente a vazão de pico, diminuindo a onda de cheia nos trechos a jusante;
▪ Subsistema 2: soluções que garantam o incremento de capacidade das calhas fluviais
que atravessam as cidades do SIEMEC, de forma a acomodar adequadamente a cheia
de projeto sem ocasionar transbordamentos e/ou inundações nas áreas ribeirinhas;
e
▪ Subsistema 3: como critério geral, considera a construção de dispositivos que desviem
parte do fluxo da calha principal para estruturas de by-pass construído em áreas
disponíveis.
Os estudos realizados apresentaram propostas de intervenções de engenharia
convencional (infraestrutura cinza) para os Subsistemas 1 e 2, que se mostraram
adequadas e suficientes para a mitigação das cheias previstas.

Projeto e Alternativas
1- Alternativas analisadas pelo SIEMEC
Conforme item 3.1, o complexo de seis barramentos recomendados para estudos futuros
pelo PNSH não corresponde com a alternativa recomendada pelo SIEMEC. Para a
identificação das obras recomendadas por este, foram definidos critérios referentes aos
seguintes parâmetros de projeto: (i) períodos de recorrência das cheias e níveis de
mitigação a alcançar; (ii) critérios para comparação de intervenções identificadas; e (iii)
critérios para exclusão e inclusão no SIEMEC de intervenções identificadas, de forma a se
alcançar a composição ideal.
Foram estudadas, ao todo, oito alternativas para os Subsistemas 1 e 2 do SIEMEC,
envolvendo a implantação de diferentes combinações de barramentos e obras de
canalização dos cursos d’água nos trechos de travessias das áreas urbanas, para Períodos
de Retorno de 25, 50 e 100 anos.
Em todas as alternativas que incorporaram a construção de barragens, foi considerada a
sua complementação por canalizações; em uma das alternativas, foi considerada apenas
a implantação de canalizações, neste caso, mediante canais de maiores dimensões para
escoamento das mesmas vazões, dada a ausência de barragens a montante das áreas
urbanas.
Essas alternativas foram comparadas mediante a aplicação de um modelo multicriterial,
considerando custos das obras, áreas necessárias para desapropriação e áreas alagadas
16
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

pelos reservatórios (com seus respectivos impactos socioeconômicos, quantificados de


forma qualitativa), resultando na seleção da Alternativa A1 como a opção mais atraente
para a bacia do rio Muriaé. A Alternativa A1 é constituída pelas seguintes intervenções:
▪ Três barragens para contenção de cheias, quais sejam: barragens de Carangola (CC-
MG-011) e Tombos (CC-MG-012), no rio Carangola e barragem do rio Muriaé, em
Muriaé (CC-MG-010), com alturas variando de 14 m a 28 m (codificação do PNSH);
▪ Obras de canalizações nas áreas urbanas das cidades de Carangola, Porciúncula,
Natividade, Miraí, Laje do Muriaé, Itaperuna, Italva e Cardoso Moreira, envolvendo
canais revestidos em gabião, em sua maioria, um canal revestido em concreto e canais
sem revestimento.
Já a Alternativa A2 estudada pelo SIEMEC, constituída apenas por canalizações de
travessias de cursos d’água em áreas urbanas, com características semelhantes às obras
previstas na Alternativa A1, também cumpriu o mesmo objetivo de evitar inundações
dessas áreas, tal como o objetivo da alternativa selecionada, porém, implicando custos
mais elevados, devido ao maior porte das obras envolvidas, além da necessidade de
maiores desapropriações.
Sua vantagem estaria na composição de canais que evitariam a regularização de vazões
do rio Muriaé. O estudo SIEMEC, no entanto, não detalha as implicações negativas que
essa regularização traria, tampouco explicita as vazões regularizadas, pois o objetivo é a
contenção dos eventos extremos.
O SIEMEC também analisou seis outras alternativas, todas estas prevendo diferentes
combinações entre barramentos e canais que não mostraram vantagens em relação à
Alternativa A1, sendo então desconsideradas para a ACB.
Para o presente estudo de caso, portanto, optou-se por considerar a Alternativa A1 como
a opção principal, e a Alternativa A2 como segunda opção para contenção de cheias nas
áreas urbanas dos municípios da bacia do rio Muriaé.
2- Possíveis alternativas não consideradas (requalificação de bacia)
O estudo do SIEMEC, embora tenha analisado oito alternativas, contemplou combinações
entre intervenções exclusivas da engenharia convencional (infraestrutura cinza),
desconsiderando a possibilidade de combiná-las com infraestrutura verde para atingir os
mesmos objetivos com custos econômicos menores e/ou benefícios econômicos maiores.
A consideração da infraestrutura verde para o caso de controle de cheias na bacia do rio
Muriaé pode ser realizada com base em duas vertentes, abaixo descritas e
potencialmente complementares entre si:
▪ Implantação de áreas naturais para o escoamento das águas excedentes, tal como em
reservatórios off-stream, porém sendo estes compostos por áreas alagáveis (naturais
ou não), mas cuja função passaria a ser essa; e

17
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

▪ Adoção de diversas requalificações naturais em escala de bacia hidrográfica para


reduzir a velocidade de escoamento rápido e reduzir, com isso, vazões de pico4.
A consideração da infraestrutura natural, principalmente as tangentes à requalificação,
demanda modelar os efeitos físicos que tais ações teriam no regime hidrológico, com
especial atenção ao escoamento rápido (quick-flow). Essa consideração demanda
modelagem na escala de bacia hidrográfica, que embora possa ser realizada com bases
de dados secundários e softwares específicos de uso aberto5, não é tarefa simples ou
trivial.
Deve-se primar, ainda pela integração entre as alternativas de infraestrutura cinza com as
vertentes da infraestrutura verde. Em alternativas mistas, os custos de implementação
das primeiras podem vir a ser reduzidos, rendendo (potencialmente) alternativas de
melhor custo-benefício. A atenção em relação à implementação de infraestrutura natural
se justifica por meio das externalidades positivas que são geradas, tangentes àquelas
esperadas pela revitalização de bacias hidrográficas e abrangendo, dentre outras: (i)
maior regulação hídrica; (ii) melhoria na qualidade da água via retenção de aporte de
sedimentos e nutrientes; (iii) sequestro e retenção de carbono na biomassa vegetal.
Na bacia do rio Muriaé, torna-se especialmente relevante considerar ações de
requalificação natural, pois segundo o próprio relatório SIEMEC, a bacia sofreu com ações
antrópicas que contribuíram para elevar a produção de sedimentos e acelerar o
assoreamento dos cursos de água. Em consulta ao mapa de uso e ocupação do solo em
2019 (coleção 5 do MapBiomas)6, vê-se que aproximadamente 20,2% do uso e cobertura
do solo é dedicado às formações naturais (florestais e não florestais), enquanto 79% é
dedicado à agropecuária (e 79,3% desta sendo dedicado às pastagens).
Inobstante a relevância de se analisarem alternativas combinadas entre infraestrutura
verde e cinza, a análise desta só se faz possível via modelagem hidrológico-hidráulica a
nível de bacia hidrográfica, o que foge ao escopo do presente estudo de caso. Conforme
apontado pelo Manual ACB Infra Hídrica, a tipologia de controle de cheias apresenta a
necessidade de se conhecerem as vazões do projeto para a definição de seu
dimensionamento (por meio de estudo hidrológico), associando-as a diferentes períodos
de recorrência. Dado esse requisito, o presente estudo de caso se apoia exclusivamente

4
As requalificações naturais que têm impacto direto ou indireto na velocidade de escoamento
superficial são, dentre outras: (i) restauração de zonas úmidas naturais (várzeas), geralmente
ocupadas por agricultura ou pasto; (ii) restauração de áreas prioritárias para proteção de serviços
ecossistêmicos de regulação de regulação de regime hídrico; (iii) adoção de práticas
conservacionistas agrícolas que reduzam a velocidade de escoamento das águas; (iv) requalificação
de estradas rurais para redução da velocidade de escoamento da água, com implantação de pontos
estratégicos de acumulação; (v) eliminação de pontos de estreitamento do leito fluvial.
5
Dentre outros, destacam-se: (i) InVEST (Integrated Valuation of Ecosystem Services and Tradeoffs
do The Natural Capital Project, Stanford University, University of Minnesota, The Nature
Conservancy, e World Wildlife Fund); e (ii) ARIES (Artificial Intelligence for Environment &
Sustainability do Basque Centere for Climae Change).
6
Disponível em: https://mapbiomas.org
18
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

nos resultados do SIEMEC, mas não por isso deixando de recomendar que os estudos
consequentes abordem as infraestruturas verdes.

Cenário Basel
Conforme o Manual ACB Infra Hídrica, o cenário base (ou contrafactual) deve trazer uma
estimação realista da continuação atual do contexto no qual o projeto se insere. Trata-se
da linha de base contra a qual os benefícios serão computados, pois a ACB é uma
metodologia agregativa que traz em seu cerne o custo de oportunidade.
No caso do tratamento de um problema de cheias recorrentes, via um projeto que visa o
controle de cheias, o cenário base pressupõe a continuidade de tais eventos em algum
grau de perdas esperadas no futuro sem a intervenção. Tal construção demanda
compreender se haveria a adoção autônoma, ou seja, independente do projeto, de
alguma forma de controle de cheias que poderia alterar os graus de perdas esperadas.
Para apreciar tal possibilidade, deve-se conhecer o que a alternativa de projeto traz como
potencial mitigação dos eventos esperados, concepção contrafactual própria das
intervenções de controle de cheias. Os resultados dos estudos do SIEMEC indicaram que
a Alternativa A1 constitui excelente escolha para a mitigação das cheias nas cidades da
bacia do rio Muriaé, que é atingida com muita frequência por inundações. Caso fosse
implantada a alternativa A2, os efeitos também seriam bastante positivos.
Para exemplificar os efeitos da alternativa A1, vale citar:
▪ As barragens de Carangola e Tombos, propostas para a mitigação das cheias das
cidades de Carangola geram proteção para elevados Períodos de Retorno em ambas
as cidades (TR de 50 anos em Carangola e de 100 anos em Tombos). O amortecimento
das vazões provocado pelas bacias de detenção previstas é de 68% e 43%, nas cidades
de Carangola e Tombos, respectivamente;
▪ As obras propostas para Natividade geram proteção para um período de retorno de
25 anos;
▪ Para a cidade de Miraí, a obra de canalização proposta resulta numa proteção da área
urbana para TR de 100 anos;
▪ Quanto à cidade de Laje do Muriaé, as obras de canalização propostas mostraram
ótimo resultado, oferecendo proteção da área urbana para TR de 25 anos;
▪ A cidade de Cardoso Moreira, com 12.821 habitantes (estimativa IBGE para 2020), é
a mais crítica da bacia do rio Muriaé. Está situada nas proximidades da foz do rio
Muriaé no rio Paraíba do Sul, em uma região de extensa planície de inundação, e
sujeita a grandes vazões de cheia. A única solução identificada foi o rebaixamento da
calha do rio Muriaé no segmento que atravessa a cidade e também a jusante, num
longo trecho com extensão de aproximadamente 13 km;
▪ Considerando um Período de Retorno de 25 anos, as 12 áreas urbanas da bacia
contempladas pelos estudos do SIEMEC sofrem com inundações que alcançam uma

19
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

área de cerca de 17 km2. Se considerado Período de Retorno de 100 anos, esse valor
sobe para 20 km2.
A Tabela 3-1 sintetiza os benefícios obtidos em termos de percentual de abatimento das
cheias resultante das obras propostas para as áreas urbanas dos municípios da bacia do
rio Muriaé.
Tabela 3-1 - Mitigação dos Efeitos das Cheias Obtida com a Implantação das Obras Propostas
para os Subsistemas 1 e 2 do SIEMEC

Vazão de Cheia Abatimento Vazão Escoada


TR de Vazão pelo Canal
para o TR de das Cheias
Cidade Projeto Amortecida Projetado ou
Projeto Resultante
(Anos) (m³/s) Canal Natural
(m³/s) (%) (m³/s)

Carangola 50 355 227 36,1 227

Tombos 100 459 255 44,4 255*

Porciúncula 100 548 309 43,6 309

Natividade 25 552 374 32,2 374

Miraí 100 185 185 0** 185

Laje do Muriaé 25 801 651 18,7 651

Itaperuna 100 1.971 1.541 21,8 1.541

Italva 25 1.808 1.503 16,9 1.503

Cardoso
25 1.904 1.587 16,6 1.587
Moreira
*Canal natural
**Não está previsto barramento a montante da cidade
Elaboração ENGECORPS, 2012

A concepção do cenário base demanda compreender que o porte das obras, em seu
conjunto, supera o âmbito de ação dos municípios. Em suporte a esse pressuposto, tem-
se que a quantidade de afetados pelos episódios de cheias que constam da base de dados
de desastres desde 1991 não demonstra indicação de redução, mesmo ao longo dos 30
anos observados. Ademais, o PNSH aponta como intervenientes a Agência Nacional de
Águas e Saneamento Básico (ANA) e a Secretaria de Estado do Ambiente (SEA-RJ),
denotando a envergadura da intervenção frente aos municípios beneficiados, que são de
menor porte.
Ainda outro reforço à conclusão advém do transcorrer de tempo desde a finalização dos
estudos detalhados (2012) e o ano desta ACB (2021), durante o qual também não foram
realizados investimentos estruturantes para a gestão do risco de eventos extremos.

20
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Concede-se, não obstante, que o poder público dos municípios afetados possa vir a
realizar pequenas adequações urbanas para reduzir a materialização dos prejuízos mais
frequentes, porém de menor intensidade. Essa suposição, por mais plausível e provável
que seja, no entanto, é difícil de ser quantificada e valorada, dada a pulverização das ações
e dos próprios municípios contemplados pelo projeto.
Como forma de não prejudicar o resultado da ACB, seja por meio da não contabilização
de custos no cenário base e/ou da contabilização de benefícios que já seriam reduzidos
(ocorrendo em dupla contagem nas alternativas com o projeto), adotou-se a premissa de
que tanto os custos das possíveis pequenas remediações municipais quanto as perdas
geradas por eventos de retorno de 2 anos (que contabilizariam benefícios uma vez
evitadas) não são contabilizados.
Em resumo, caso as obras propostas pelo SIEMEC não sejam implantadas, supõe-se que a
bacia do rio Muriaé continue sujeita a frequentes episódios de cheias, com inundações
das áreas urbanas de vários municípios, do que resultam grandes prejuízos, quer para a
população, quer para as prefeituras. Tais prejuízos decorrem, em grande parte, das
ocupações irregulares existentes, muitas vezes dentro do leito menor e até mesmo dentro
do leito vazante dos cursos d’água que cruzam as áreas urbanas, processo de urbanização
do qual não se observa perspectiva de reversão.

21
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

4. ESTIMAÇÃO DE CUSTOS ECONÔMICOS


A estimação de custos econômicos compreende aqueles custos atribuídos diretamente
ao empreendimento, tanto em sua fase de implantação quanto durante a operação da
infraestrutura construída. De forma a permitir a sua aplicação na ACB, os custos
considerados devem representar a diferença monetária entre a realização do
investimento para entrada em operação de uma nova capacidade de infraestrutura ante
a ausência ou continuidade da prestação do serviço correlato por meios existentes ou
tendenciais, em mesmo período de análise; ou em comparação com alternativa de
projeto que configure infraestrutura com custos e benefícios distintos. Benefícios
negativos ou externalidades negativas não configuram custos econômicos do
empreendimento, e são tratados adiante no capítulo 5.
Nos itens a seguir, são abordadas as categorias de custos econômicos considerados na
análise custo-benefício de empreendimento de Controle de Cheias levantados para o
projeto do Complexo de Barragens Muriaé. Esse processo de análise de custos é
amparado em planilha computacional (ver Anexo 1 – Anexo Digital – Planilha
computacional – ACB Complexo de Barragens Muriaé), na qual são alimentados os dados
de entrada e processados os cálculos conforme parâmetros pré-estabelecidos, o que será
demonstrado passo-a-passo a seguir. Ao final das estimativas, os resultados são
carregados ao fluxo de caixa social do projeto, em conjunto com os benefícios
econômicos.

DISPÊNDIO DE CAPITAL PARA CRIAÇÃO OU AMPLIAÇÃO DE CAPACIDADE EM


INFRAESTRUTURA (CAPEX)

O valor orçado ou estimado para dispêndio de capital na criação/ ampliação de


capacidade em infraestrutura (CapEx) equivale ao capital fixo estimado do
empreendimento e despesas de implantação, incluindo serviços técnicos de engenharia
e estudos ambientais. Ele pode ser informado pelo originador do empreendimento e, caso
tenha sido incorporado à carteira de projetos do Plano Nacional de Segurança Hídrica
(PNSH), deverá constar das bases de dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento
Básico (ANA).
Esse valor poderá estar acompanhado de uma planilha mais ou menos detalhada de
abertura de composição dos custos do investimento, e deverá ter uma data-base
associada, bem como a informação do responsável pelo orçamento/ estimativa. Os
valores deverão ser atualizados à data-base de referência do estudo (conforme
estabelecido no PNSH) por meio de aplicação de índice de preços da construção civil
(INCC) ou outro indicado pelo MDR.
Para o caso do projeto do Complexo de Barragens Muriaé, essas informações são
encontradas na versão atual do PNSH, complementadas com as informações dos canais
que assim perfazem as alternativas completas, conforme o referido estudo (Sistema de
Intervenções Estruturais para Mitigação dos Efeitos das Cheias), utilizado como fonte
complementar de dados ao PNSH. Os dados são tabulados e aplicados na ACB mediante

22
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

emprego da planilha computacional formatada especialmente para esse fim (ver Anexo 1
– Anexo Digital – Planilha computacional – ACB Complexo de Barragens Muriaé).
Na Tabela 4-1 e Tabela 4-2 a seguir, apresentam-se os formulários de entrada de
informações na planilha computacional, destacando-se as seções de dados cadastrais e
técnicos mencionados. Logo a seguir, são anotados os dados de CapEx conhecidos, todos
eles acompanhados de informação de fonte da informação anotada.
Importante ressaltar que o horizonte de análise é de 30 anos, segundo Manual ACB Infra
Hídrica, sendo que o ano corrente, ou seja, o da elaboração da ACB, pode ser tido como
o “ano 0”, ou ponto de partida, de convergência da análise (data-base). Neste “ano 0” não
ocorrem investimentos nem apuração de benefícios, servindo apenas de referência (ano
de convergência do valor presente) e data-base para custos e benefícios. Os custos e o
benefícios se iniciam, cada qual com seu cronograma previsto, no ano 1.
Tabela 4-1 - Formulário de Dados cadastrais e técnicos
Cabeçalho Resposta Fonte Referência
Dados Cadastrais
CC-MG-010/CC-MG-011/CC-MG-
Código no PNSH PNSH
012
Sistema de Intervenções
Nome do Estruturais para Mitigação dos
PNSH
Empreendimento Efeitos de Cheias na Bacia do
Rio Muriaé
Empreendedor PNSH
Operador PNSH
Ano de registro da
2021 - Ano em que é realizada a ACB
ACB
Manual ACB Adotar 30 anos como padrão de
Horizonte da ACB 2051
Infra Hídrica análise
Manual ACB Adotar 30 anos como padrão de
Período de análise 30 anos
Infra Hídrica análise
Data-base de dados Ano declarado pelo originador
2012 PNSH
do projeto do projeto
Ano declarado pelo originador
Horizonte de projeto 2035 PNSH
do projeto
Ano declarado pelo originador
Anos de implantação 4 PNSH
do projeto ou adotado no PNSH
Ano de início de Ano declarado pelo originador
2025 PNSH
operação (previsto) do projeto ou adotado no PNSH
Mananciais afetados Rios Carangola e Muriaé PNSH
Estados afetados Minas Gerais e Rio de Janeiro PNSH
Carangola, Tombos, Porciúncula,
Natividade, Miraí, Muriaé, Laje
Municípios afetados PNSH
do Muriaé, Itaperuna, Italva e
Cardoso Moreira
Além do Empreendedor e
Órgãos públicos Operador, informar demais
envolvidos órgãos ou instituições de direito
públicos envolvidos
População afetada
2035
(mil hab.)
Tipologia Controle de Cheias (Publicação)
23
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Tabela 4-2 - Formulário de dados técnicos do empreendimento


Cabeçalho Resposta Fonte Referência
Dados Técnicos
Vazão Regularizada
- PNSH (Publicação)
Média (m³/s)
Vazão para
Abastecimento - PNSH (Publicação)
Urbano (m³/s)
Vazão para Irrigação
- PNSH (Publicação)
(m³/s)
A bacia do rio Paraíba do Sul drena uma
das regiões mais desenvolvidas do País,
abrangendo aproximadamente 55 mil
km2, ocupados por parte dos Estados de
São Paulo e Minas Gerais e metade do
Estado do Rio de Janeiro, abrigando uma
população estimada em mais de 5,2
milhões de habitantes no ano de 2005,
distribuída em 180 municípios.
Em contrapartida, processos continuados
de desmatamento, instalação de
atividades industriais e de mineração de
grande porte, além de concentração de
população nas áreas urbanas e
intervenções nos recursos hídricos,
Caracterização da
associados a características naturais da
situação atual da
bacia, tais como as suas condições PNSH (Publicação)
área de influência
geológico-geomorfológicas e
direta
vulnerabilidade à erosão, têm sido
responsáveis pela ocorrência de eventos
de cheias de alta criticidade,
acompanhados de rompimentos de
barragens, com efeitos adversos de
grande magnitude principalmente nas
áreas de jusante da bacia.
Esse cenário requer a estruturação de um
conjunto de ações articuladas, visando à
previsão de eventos extremos e à
mitigação de efeitos de acidentes
ambientais, atendendo a necessidades
que se mostram emergenciais, dado o
grau de fragilidade a que está exposta a
bacia.

Tabela 4-3 - Formulário de dados Econômicos - CapEx


Cabeçalho Resposta Fonte Referência
Dados Econômicos - CapEx
Equivale ao capital fixo estimado do
Valor de Investimento inicial
empreendimento e despesas de
previsto (CapEx - R$ milhões -R$ 279,62 PNSH
implantação, incluindo serviços técnicos
correntes)
de engenharia e estudos ambientais.

24
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Cabeçalho Resposta Fonte Referência

Data-base de referência para os valores


Ano base de referência para o do projeto, que pode não ser equivalente à
2018 PNSH
CapEx data-base da análise e, portanto,
demandar atualização monetária

índice de correção monetária Consultar evolução do Índice nacional de


para atualização do valor de 1,0813 BCB custo da construção (INCC) junto ao Banco
investimento previsto Central do Brasil
Quanto maior a obra, menor a
participação relativa de serviços de
engenharia deve ser, num intervalo
aproximado de 8 a 12% do montante a
Participação relativa estimada
investir. Para empreendimentos da ordem
de serviços de engenharia fora
de 500 milhões de reais, pode-se prever
do canteiro (inclui
10% Estimada uma taxa média de 10%, que incluiria
Gerenciamento, Gestão,
Gerenciamento e Supervisão de projeto e
Projetos e Estudos
obra, serviços de campo, projetos básicos
Ambientais) no Investimento
e executivos, estudos ambientais (exceto
custos ambientais e licenciamentos) e
outros serviços técnicos especializados
fora do canteiro.
Equipamentos elétricos, eletrônicos ou
Componente Equipamentos - mecânicos fixados à infraestrutura (não
0% PNSH
Participação relativa no CapEx confundir com equipamentos para
construção)
Adutoras e tubulações enterradas ou
Componente Adutora -
0% PNSH aparentes, incluindo válvulas, controles,
Participação relativa no CapEx
proteções e miscelâneas
Toda infraestrutura construída exceto
equipamentos e tubulações (inclui:
trabalhos de preparação de terreno,
Componente Civil -
100% PNSH drenagens permanentes, movimentos de
Participação relativa no CapEx
terra, sistemas viários, estruturas,
edificações, instalações e dispositivos de
controle associados)

Para efeito desta análise custo-benefício, a valoração dos custos (e benefícios)


econômicos será feita em contraposição a cenário alternativo de solução técnica com
vistas a solucionar a mesma situação-problema de forma e custos diferentes. Para tanto,
devem ser realizadas análises inteiras em ambos os cenários para ao final comparar os
resultados. No Anexo 1 – Anexo Digital – Planilha computacional – ACB Complexo de
Barragens Muriaé são apresentados os arquivos digitais de ambas as alternativas
estudadas.
Reforça-se que para fins de exposição do passo-a-passo de preenchimento de dados e
cálculo da ACB do projeto, apresentaremos somente dados referentes à Alternativa 1,
sendo que os resultados da Alternativa 2 serão comparados no capítulo de indicadores da
ACB (capítulo 6).
Uma vez anotados os custos estimados de CapEx, devem ser preenchidas informações
complementares, iniciando pela anotação da participação relativa estimada de serviços
25
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

de engenharia (inclui Gerenciamento, Gestão, Projetos e Estudos Ambientais) no


investimento. Esse dado, ainda que não implique diretamente nenhuma alteração no
cálculo de custo econômico do empreendimento, serve para registrar a expectativa que
o analista tem quanto à participação de serviços técnicos especializados fora do canteiro
de obras, e para verificar o valor de referência sugerido pelo Manual ACB Infra Hídrica7.
Como referência, o Manual ACB Infra Hídrica indica o intervalo de 8 a 12% do valor do
CapEx como comprometidos com esse tipo de serviço especializado que, por sua vez,
pode incorporar cerca de 17% do custo de mão de obra geral do empreendimento, ou até
49% particularmente da mão de obra qualificada. Como estabelecido no Manual ACB Infra
Hídrica, o custo de CapEx deve ser, sempre que possível, desagregado entre quatro
categorias: custo com mão de obra especializada, não-especializada, equipamentos e
insumos nacionais comercializáveis e não comercializáveis. Por esse motivo, a
discriminação da participação de serviços técnicos intensivos em mão de obra, e
particularmente a mão de obra qualificada, resulta significativa.
Ademais, os preços sombra, fatores de conversão setorial e cambial de referência (obtidos
do Guia ACB e atualizados pelo ME/IPEA no Catálogo de Parâmetros) devem ser anotados
nos respectivos campos previstos no formulário de entrada de dados, posto que incidem
sobre os demais custos de investimento, que em uma obra típica de infraestrutura hídrica
podem ser agrupadas em civil, equipamentos e adutora/ tubulações. A tabela a seguir
apresenta o campo de informação dos preços sombra, fatores de conversão setorial e
cambial atualizados.
Tabela 4-4 - Formulário de preços-sombra, fatores de conversão setorial e cambial
Cabeçalho Resposta Fonte Referência
Parâmetros
Definida pela Nota Técnica SEI no 19911/2020/ME
Taxa Social de (Taxa social de desconto para avaliação de
8,50% ME
Desconto (TSD) investimentos em infraestrutura: atualização pós
consulta pública) de 22 de maio de 2020
Catálogo de Parâmetros do IPEA: Preço Sombra da
Preço Sombra - Mão
0,7458 ME / IPEA Mão de Obra no Brasil (abril/2021), "cenário atual",
de Obra qualificada
região Sudeste (pág. 23)
Preço Sombra - Mão Catálogo de Parâmetros do IPEA: Preço Sombra da
de Obra não- 0,7371 ME / IPEA Mão de Obra no Brasil (abril/2021), "cenário atual",
qualificada região Sudeste (pág. 23)
Índice "Insumos de construção" a partir de fatores de
conversão setoriais de Catálogo de Parâmetros do
IPEA: Fatores de Conversão Setoriais (abril/2021),
Fator de Conversão
“Tabela A4 – Fator de conversão para bens
Setorial - Bens
0,9150 ME / IPEA comercializáveis - 2018" para setores (clusters) de
nacionais
"Outras máquinas e equipamentos mecânicos - 14%",
comercializáveis
"Cimento- 31,5%", "Artigos de plástico - 7%", "Artigos
de borracha - 3,5%", "Produtos de madeira, exclusive
móveis - 7%", "Semi-acabados, laminados planos,

7
Além disso, a sua anotação servirá de verificação para o analista comparar com dado similar
informado para a fase de operação e que incidirá nos custos de OpEx, conforme descrito no item
subsequente.
26
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Cabeçalho Resposta Fonte Referência


longos e tubos de aço - 7%", água e energia elétrica -
30%
Fator de Conversão Catálogo de Parâmetros do IPEA: Fatores de
Setorial - Bens Conversão Setoriais (abril/2021), “Tabela 4 – Fator de
0,9350 ME / IPEA
nacionais não- conversão para bens não comercializáveis - 2018”,
comercializáveis Cluster de 128 produtos
Fator de Conversão da
Fornecidos no Catálogo de Parâmetros, parte
Taxa Cambial - 1,0000 ME / IPEA
integrante do Guia ACB
Insumos importados

Por esse motivo, a entrada de dados de CapEx deve considerar a participação relativa
dessas componentes de custos como % do CapEx e, em função dessa participação, estimar
os custos decorrentes de mão de obra mais qualificada e menos qualificada, bens e
serviços comercializáveis, além de também condicionar o cálculo da depreciação
calculada dos ativos. De maneira análoga, essa divisão do CapEx nessas componentes civil,
equipamentos e adutoras/ tubulações irá compor a estrutura de custos de Gestão,
Operação e Manutenção (OpEx) abordada no próximo item.
Para o caso do projeto Complexo de Barragens Muriaé, foi considerada a participação
informada no quadro abaixo.
Tabela 4-5 - Participação relativa dos componentes de infraestrutura no CapEx – Complexo de
Barragens Muriaé – Alternativa 1
Cabeçalho Resposta Fonte Referência
Componente
Equipamentos elétricos, eletrônicos ou mecânicos
Equipamentos -
0% PNSH fixados à infraestrutura (não confundir com
Participação relativa no
equipamentos para construção)
CapEx
Componente Adutora - Adutoras e tubulações enterradas ou aparentes,
Participação relativa no 0% PNSH incluindo válvulas, controles, proteções e
CapEx miscelâneas
Toda infraestrutura construída exceto
equipamentos e tubulações (inclui: trabalhos de
Componente Civil -
preparação de terreno, drenagens permanentes,
Participação relativa no 100% PNSH
movimentos de terra, sistemas viários, estruturas,
CapEx
edificações, instalações e dispositivos de controle
associados)

Estimativa de valor residual de investimentos


No formulário seguinte de CheckList, encontram-se as seguintes perguntas a serem
respondidas simplesmente com “Sim” ou “Não” pelo analista:
▪ Possui Estudos de Demanda?
▪ Possui Estudos Hidrológicos?
▪ Possui definição territorial de análise?
▪ Possui definição temporal de análise?

27
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

▪ Possui matriz de partes interessadas definida?


▪ Infraestrutura terá vida útil superior à definição temporal de análise?
Para o caso do projeto Complexo de Barragens Muriaé, as respostas consideradas foram
as da tabela a seguir.
Tabela 4-6 - CheckList de dados prévios de projeto
Cabeçalho Resposta Fonte Referência

Possui Estudos de Projeção de demanda em base anual durante o


Não (fonte)
Demanda? período de projeto considerado

Caso aplicável, estudos hidrológicos da bacia


Possui Estudos
Sim (fonte) afetada baseado em séries históricas e cartografia
Hidrológicos?
atualizada
Refere-se ao limite espacial do projeto, tanto na
Possui definição territorial abrangência dos estudos de demanda,
Sim (fonte)
de análise? hidrológicos, como no alcance da infraestrutura
projetada
Refere-se à duração da vida útil do projeto (ciclo
Possui definição temporal de vida do projeto), tanto na abrangência dos
Não (fonte)
de análise? estudos de demanda, hidrológicos, como no
alcance da infraestrutura projetada
Além do Empreendedor, Operador e eventuais
Possui matriz de partes órgãos públicos relacionados, confirmar se as
Não (fonte)
interessadas definida? partes interessadas foram devidamente
identificadas (incluindo população atendida)
Infraestrutura terá vida Ver Manual ACB Infra Hídrica para referências
útil superior à definição Sim (fonte) bibliográficas de estimativas de vida útil de
temporal de análise? componentes de infraestrutura

Novamente, este formulário de CheckList serve ao analista como registro de que está de
posse de toda a informação necessária para obter uma análise custo-benefício
consistente. Quando a pergunta “Infraestrutura terá vida útil superior à definição
temporal de análise?” é respondida com “Sim”, como é o caso neste projeto analisado,
então o cálculo de depreciação da infraestrutura é automaticamente computado em
função da participação relativa de cada componente no CapEx estimado do projeto,
resultando num valor residual calculado para o final do período de análise.
Em função dos três componentes principais de infraestrutura considerados
(equipamentos, adutoras e obras civis), são estipulados os períodos médios de vida útil
com base em bibliografia de referência do setor (Estudo de vida útil econômica e taxa de
depreciação da ANEEL)8, resultando nos seguintes valores:
Tabela 4-7 - Estimativa de vida útil de componentes da infraestrutura
Cabeçalho Resposta Fonte Referência
Componente Equipamentos – Anos de
25 Aneel
vida útil

8
ANEEL. “Estudo de vida útil econômica e taxa de depreciação”. Aneel, 2001.
28
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Cabeçalho Resposta Fonte Referência

Componente Adutora – Anos de vida útil 50 Aneel

Componente Obras civis – Anos de vida


75 Aneel
útil

Cálculo da desagregação do CapEx


No formulário seguinte são calculados os valores de despesas com mão de obra e bens e
serviços nacionais ou importados como desagregação do CapEx do empreendimento.
Para tanto, são recuperados os dados informados no formulário de entrada para repassar
a metodologia de cálculo dos custos de CapEx, como valor total do investimento inicial e
participação relativa dos serviços de engenharia. Conforme estipulado pelo Manual ACB
Infra Hídrica, neste formulário as únicas informações adicionais a preencher são a
estimativa de participação de custos com máquinas, equipamentos e materiais de
construção de aquisição nacional que, por esse critério, poderão ser considerados como
bens nacionais comercializáveis; e a estimativa de custos com serviços especializados em
canteiro e energia elétrica durante a construção que não tenham sido computados nos
custos de mão de obra ou equipamentos em seus respectivos campos, considerados não-
comercializáveis.
Da mesma forma, deve-se informar a participação estimada de insumos importados caso
estes sejam de conhecimento do analista e estejam expressamente indicados na
informação recebida do projeto. Caso contrário, a recomendação do Manual ACB Infra
Hídrica é considerar este dado sempre como nulo, de maneira que afinal sejam
computados apenas os valores de serviços especializados em canteiro e energia elétrica
para construção, e a participação de máquinas, equipamentos e materiais de construção.
Para o caso estudado do Complexo de Barragens Muriaé, os dados informados foram os
apresentados na tabela a seguir.
Tabela 4-8 - Tabela CapEx - Complexo de Barragens Muriaé - Alternativa 1
Custos de Investimento
Resposta Fonte Referência
(CapEx)
Equivale ao capital fixo estimado do
Valor de Investimento empreendimento e despesas de
inicial previsto (CapEx - R$ -R$ 302,35 PNSH implantação, incluindo serviços
milhões de 2020) técnicos de engenharia e estudos
ambientais.
Quanto maior a obra, menor a
Participação relativa participação relativa de serviços de
estimada de serviços de engenharia deve ser, num intervalo
engenharia fora do aproximado de 8 a 12% do montante a
canteiro (inclui investir. Para empreendimentos da
10% Estimada
Gerenciamento, Gestão, ordem de 500 milhões de reais, pode-
Projetos e Estudos se prever uma taxa média de 10%, que
Ambientais) no incluiria Gerenciamento e Supervisão
Investimento de projeto e obra, serviços de campo,
projetos básicos e executivos, estudos
29
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Custos de Investimento
Resposta Fonte Referência
(CapEx)
ambientais (exceto custos ambientais
e licenciamentos) e outros serviços
técnicos especializados fora do
canteiro.

Função da participação de principais


Participação estimada de
12% Guia Setorial de ACB componentes da obra definidos na
mão de obra qualificada
Entrada
Participação estimada de Função da participação de principais
mão de obra não- 26% Guia Setorial de ACB componentes da obra definidos na
qualificada Entrada
Participação estimada de
Serviços não discriminados em
serviços em canteiro e 10% Guia Setorial de ACB
equipamento, mão de obra e material
energia elétrica
Participação estimada de 0% (considerar importados apenas se
0% Guia Setorial de ACB
insumos importados expressamente previstos em projeto)
Participação estimada de
Adotar o restante do Custo Total após
máquinas, equipamentos e 52% Guia Setorial de ACB
demais participações
materiais de construção
Valor de despesas com
mão de obra qualificada -R$ 34,92 Guia Setorial de ACB
(R$ milhões correntes - P0)
Valor de despesas com
mão de obra não-
-R$ 79,37 Guia Setorial de ACB
qualificada (R$ milhões
correntes - P0)
Valor de despesas com
bens e serviços nacionais
-R$ 30,23 Guia Setorial de ACB
não-comercializáveis (R$
milhões correntes - P0)
Valor de despesas com
insumos importados (R$ R$ 0,00 Guia Setorial de ACB
milhões correntes - P0)
Valor de despesas com
bens nacionais
-R$ 157,83 Guia Setorial de ACB
comercializáveis (R$
milhões correntes - P0)

Como visto, a participação da mão de obra é separada em qualificada e não-qualificada


adotando-se os parâmetros do Manual ACB Infra Hídrica, que já vem estabelecido na
planilha computacional e que representa a divisão normal do trabalho em canteiro em
função dos componentes principais da obra. Assim, para a parcela do CapEx
correspondente a equipamentos ou adutoras, adota-se a proporção de 3,11% para mão
de obra não qualificada e 10,45% para mão de obra qualificada. No caso de obras civis,
esses valores são adotados como 26,25% e 11,55% respectivamente. Para obter-se o valor
monetário da participação de mão de obra qualificada e não-qualificada no projeto em

30
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

análise, essas alíquotas são ponderadas pelas participações relativas de cada componente
no projeto (já estabelecidas conforme Tabela 4-5 - Participação relativa dos componentes
de infraestrutura no CapEx), resultando nas participações informadas na tabela anterior
(12% de mão de obra qualificada e 26% não-qualificada).
A tabela a seguir apresenta as participações relativas de referência adotadas no Manual
ACB Infra Hídrica e empregadas neste estudo de caso.
Tabela 4-9 - Alíquotas de referência para mão de obra qualificada e não-qualificada conforme
componentes do CapEx
Componentes MO não qualificada - Capex MO qualificada - Capex
Equipamentos 3,11% 10,45%
Adutora 3,11% 10,45%
Civil 26,25% 11,55%

DESPESAS COM GESTÃO, MANUTENÇÃO E OPERAÇÃO DE INFRAESTRUTURA (OPEX)


Como definido no Manual ACB Infra Hídrica, o valor estimado para OpEx equivale ao total
anual dos custos e despesas do operador do empreendimento ao longo do período de
análise, incluindo serviços técnicos de engenharia e programas ambientais. Deve abarcar
custos de gestão e operação da infraestrutura, além de manutenção preventiva e
corretiva prevista das infraestruturas civis, eletromecânicas e tubulações, incluindo
custeio de material e mão de obra9. Ele pode ser informado pelo originador do
empreendimento e, caso tenha sido incorporado à carteira de projetos do Plano Nacional
de Segurança Hídrica (PNSH), deverá constar das bases de dados da Agência Nacional de
Águas e Saneamento Básico (ANA).
Ainda, esse valor poderá estar acompanhado de uma planilha mais ou menos detalhada
de abertura de composição dos custos de operação, e deverá ter uma data-base
associada, bem como a informação do responsável pelo orçamento/ estimativa. Os
valores deverão ser atualizados à data-base de referência do estudo (conforme
estabelecido no PNSH) por meio de índice de preços da construção civil (INCC) ou outro
indicado pelo MDR.
Por outro lado, é pouco provável que o projeto tenha discriminado ainda na fase de ACB
Preliminar a sua estrutura de custos de operação e manutenção, e este é o caso do projeto
estudado neste documento. Nessa situação, é usual a adoção de alíquota global de custos
de OpEx anual em função do valor global do investimento (CapEx). Na falta de alíquota
estabelecida em projetos correlatos, o Manual ACB Infra Hídrica indica considerar
intervalo de 1 a 5% do CapEx como equivalente à despesa anual com custos de gestão,
operação e manutenção (exceto energia elétrica). Neste estudo de caso, optou-se por
refinar essa estimativa admitindo-se uma curva de crescimento do custo de OpEx desde

9
Outros custos do fluxo de caixa da firma comumente levantados em análises financeiras de
viabilidade do empreendimento (como seguros, dívidas etc.) não são contabilizados na análise de
custo-benefício, conforme estabelecido no Guia ACB.
31
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

o primeiro ano de operação da infraestrutura até o atingimento do ano típico operacional,


a partir do qual essa alíquota anual é adotada de forma constante e linear durante todo
o período de análise. No formulário de entrada de dados há campo específico para a
informação do patamar inicial do OpEx (em % sobre o ano típico operacional, sempre
admitido um incremento anual de 10% até o patamar normal de 100%). No caso do
Complexo de Barragens Muriaé, o patamar inicial de OpEx informado foi de 60%.
Segundo o Manual ACB Infra Hídrica, caso a estrutura em análise considere que a vida útil
da infraestrutura será menor do que o período de análise considerado, um valor de capital
de reposição de ativos (RepEx) poderá ser estimado, o qual entrará na conta de capital do
empreendimento e não deverá ser confundido como OpEx ou “capital de manutenção”.
Nesse sentido, o analista deverá considerar que todo o dispêndio acumulado anualmente
em OpEx traria uma parcela dedicada à manutenção das condições suficientes para a
continuidade da operação de cada componente da infraestrutura em seu normal
operacional, observando-se o limite de sua vida útil como referência para o cálculo da
depreciação do investimento a ele associado e como gatilho para a aferição de novo
investimento de reposição de ativo (RepEx). No caso do projeto Muriaé, não foi
considerada a necessidade de RepEx durante o período estudado.

Cálculo da desagregação do OpEx


Como já ficou dito, a estimativa do custo de OpEx considera as participações relativas dos
componentes da infraestrutura (equipamentos, adutoras e obras civis), uma vez que para
cada componente se aferirá uma participação distinta de mão de obra qualificada ou não.
Considerando-se que a operação de uma infraestrutura hídrica como barragem de
controle de cheias deverá ser pouco intensiva em mão de obra, a qual será percebida
mais significativamente em serviços de manutenção preventiva e corretiva, nos quais são
executados pequenos e médios reparos, reposições, substituições de peças e materiais
ao longo do ciclo de vida do projeto, o Manual ACB Infra Hídrica recomenda sejam
adotadas as mesmas alíquotas de mão de obra qualificada e não-qualificada já
estabelecidas no CapEx.
Logo, o valor decorrente desse cálculo será desagregado em parcela qualificada e não-
qualificada de mão de obra, assim como o emprego de equipamentos e insumos nos
serviços de manutenção assim estimados serão da mesma ordem que aqueles
considerados na fase de construção, motivo pelo qual são mantidos os mesmos
percentuais de participação relativa para esses itens.
Para a informação da participação relativa de serviços especializados em canteiro e custos
com energia elétrica de operação, no entanto, recomenda-se ponderar os serviços de
manutenção corretiva em projetos superiores a 10 anos de operação, uma vez que eles
poderão crescer acima do percentual médio estimado, o que muito provavelmente
resultará em valor porcentual na fase de operação superior ao estimado na fase de
implantação. Além disso, essa mesma alíquota deverá incluir a consideração do peso
relativo dos custos de energia elétrica para operação, estimando-se a demanda e
consumo de energia elétrica com base em parâmetros setoriais em função de variáveis

32
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

conhecidas do projeto e comparando com infraestruturas semelhantes. Para o caso


estudado do Complexo de Barragens Muriaé, essa alíquota foi estimada em 10% do OpEx.
Outra exceção que se observa na fase de operação se dá na estimativa de custos com
programas ambientais, que configuram uma despesa herdada da fase de implantação (e
que naquela etapa estava agregada ao custo total do CapEx estimado), e que na fase de
operação é discriminado em separado aos custos de operação e manutenção correntes.
Neste caso, o Manual ACB Infra Hídrica confia ao analista a avaliação da importância
prevista que os programas ambientais poderão assumir na fase de operação da
infraestrutura, indicando o percentual de participação relativa estimada de programas
ambientais na gestão, operação e manutenção como proporção do OpEx no formulário
de entrada de dados. No caso do projeto analisado, o percentual adotado foi de 0,5%.
Com isso, a aplicação dos preços sombra, fatores de conversão setorial e cambial na fase
de operação do empreendimento de controle de cheias poderá ser realizada. A tabela a
seguir apresenta o formulário de OpEx preenchido para o projeto do Complexo de
Barragens Muriaé.
Tabela 4-10 - Tabela OpEx - Complexo de Barragens Muriaé - Alternativa 1
Custos de Gestão, Operação e
Resposta Fonte Referência
Manutenção (OpEx)
Deve abarcar custos de Gestão e
Operação da infraestrutura, além de
manutenção preventiva e corretiva
Custo anual médio de Gestão, prevista das infraestruturas civis,
Operação e Manutenção eletromecânicas e tubulações,
-R$ 3,02 Estimada
previsto, exceto energia elétrica incluindo custeio de material e mão
(OpEx - R$ milhões 2020) de obra, exceto energia de operação.
Na falta de alíquota estabelecida em
projetos correlatos, considerar de 1 a
5% do CapEx.
Participação no custo de Opex
estimado. Na fase de operação,
Participação relativa estimada de
desconsiderar serviços de
Programas Ambientais na 0,5% Estimada
engenharia e considerar apenas
Gestão, Operação e Manutenção
alíquota para custeio de programas
ambientais.
Função da participação de principais
Participação estimada de mão de
12% Guia Setorial de ACB componentes da obra definidos na
obra qualificada
Entrada
Função da participação de principais
Participação estimada de mão de
26% Guia Setorial de ACB componentes da obra definidos na
obra não-qualificada
Entrada
Ponderar serviços de manutenção
corretiva em projetos superiores a 10
anos de operação; estimar demanda
Participação estimada de
e consumo de energia elétrica com
serviços em canteiro e energia 15% Guia Setorial de ACB
base em parâmetros setoriais em
elétrica
função de variáveis conhecidas do
projeto e comparando com
infraestruturas semelhantes

33
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Custos de Gestão, Operação e


Resposta Fonte Referência
Manutenção (OpEx)
0% (considerar importados apenas
Participação estimada de
0% Guia Setorial de ACB se expressamente previstos em
insumos importados
projeto)
Participação estimada de
Adotar o restante do Custo Total
máquinas, equipamentos e 47% Guia Setorial de ACB
após demais participações
materiais de construção
Valor de despesas com mão de
obra qualificada (R$ milhões -R$ 0,35 Guia Setorial de ACB
correntes - P0)
Valor de despesas com mão de
obra não-qualificada (R$ milhões -R$ 0,79 Guia Setorial de ACB
correntes - P0)
Valor de despesas com bens e
serviços nacionais não-
-R$ 0,45 Guia Setorial de ACB
comercializáveis (R$ milhões
correntes - P0)
Valor de despesas com insumos
importados (R$ milhões R$ 0,00 Guia Setorial de ACB
correntes - P0)
Valor de despesas com bens
nacionais comercializáveis (R$ -R$ 1,43 Guia Setorial de ACB
milhões correntes - P0)
Custeio de Programas Ambientais
Valor de despesas com custos
pode ser declarado em separado do
ambientais (R$ milhões -R$ 0,02 Guia Setorial de ACB
valor do OpEx do projeto quando
correntes - P0)
conveniente

RESULTADOS DE ESTIMATIVA DE CUSTOS ECONÔMICOS


Os resultados do CapEx e do OpEx ao longo do período de análise, decorrentes das
premissas ora apresentadas, são detalhados em seu passo-a-passo em planilha
computacional (ver capítulo 10, Anexo Digital), cabendo aqui resumir seus resultados para
alguns anos.
Tabela 4-11 - Resultados da estimativa dos custos da alternativa 1 (R$, milhões)
Categorias de Custos Ano 1 ... Ano 3 ... Ano 5

MDO Qualificada 6,51 ... 6,51 ... 0

MDO Não-qualificada 14,63 ... 14,63 ... 0


Bens Nacionais Comercializáveis 36,27 ... 36,27 ... 0
CapEx

Bens Nacionais Não-comercializáveis 7,07 ... 7,07 ... 0

Insumos importados 0 ... 0 ... 0


TOTAL 64,47 ... 64,47 ... 0

MDO Qualificada 0 ... 0 ... 0,16


OpEx

MDO Não-qualificada 0 ... 0 ... 0,35


Bens Nacionais Comercializáveis 0 ... 0 ... 0,79
34
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Categorias de Custos Ano 1 ... Ano 3 ... Ano 5

Bens Nacionais Não-comercializáveis 0 ... 0 ... 0,25

Insumos importados 0 ... 0 ... 0


TOTAL 0 ... 0 ... 1,55

Custos Totais CapEx e OpEx 64,47 ... 64,47 ... 1,55

35
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

5. ESTIMAÇÃO DE BENEFÍCIOS ECONÔMICOS


A presente seção visa descrever os passos adotados para a estimação dos benefícios
econômicos do projeto. Este segue o racional descrito no Manual ACB Infra Hídrica,
aplicado ao caso do Complexo de Barragens Muriaé. O projeto visou a definição de
medidas/intervenções para mitigar os efeitos das cheias nessas áreas, que constituem as
sub-bacias da bacia do rio Paraíba do Sul mais vulneráveis a inundações e a acidentes
ambientais.
Nos itens a seguir, são abordadas as etapas de estimação do valor em risco no cenário
base, dos danos e prejuízos com o projeto, o cálculo dos benefícios, traduzido pelos danos
e prejuízos evitados e, por fim, a distribuição dos mesmos no período de análise,
considerando cenários socioeconômicos e a mudança do clima. Ademais, o item 5.5
descreve o benefício da melhora ao bem-estar trazido pelo projeto.
Esse processo de análise de benefícios é amparado em planilha computacional (ver Anexo
1 – Anexo Digital – Planilha computacional – ACB Complexo de Barragens Muriaé), na qual
são alimentados os dados de entrada e processados os cálculos conforme métodos aqui
descritos. Ao final das estimativas, os resultados são carregados ao fluxo de caixa social
do projeto, em conjunto com os custos econômicos.

ETAPAS
O processo orientador desta etapa está em definir quais os danos e perdas (D&P)
associados às cheias no cenário base e posteriormente com o projeto, sendo a soma das
perdas e danos evitados pelo projeto contabilizada como benefício do mesmo. Para tal,
faz-se necessário construir as curvas de probabilidade de ocorrência de danos e perdas
por cheias com e sem o projeto para cada município da bacia em consideração. Os
próximos itens descrevem os passos adotados e seus resultados para a bacia em estudo.
Incluem:
▪ Estimativa do valor em risco: caracterização do cenário base:
o Levantamento de registros de danos e perdas históricos na região;
o Reunião de dados hidrológicos e hidráulicos caracterizando as cheias e
inundações;
o Elaboração das curvas de probabilidade de excedência de danos.
▪ Estimação dos danos e prejuízos com o projeto;
▪ Cálculo do benefício: danos e perdas evitados;
▪ Cálculo do benefício: valorização imobiliária;
▪ Cálculo do benefício: valorização dos prejuízos privados;
▪ Projeções dos benefícios no futuro:
o Vulnerabilidade e exposição crescentes: danos e prejuízos econômicos
crescentes;
36
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

o Perigos hidrometeorológicos crescentes: mudança do clima.

ESTIMATIVA DO VALOR EM RISCO: CARACTERIZAÇÃO DO CENÁRIO BASE


As próximas etapas permitirão a construção da curva de danos e prejuízos sem o projeto,
a qual será confrontada com a curva considerando o projeto. É importante lembrar que a
curva será construída para o presente (ou seja, t=0). A próxima seção (Projeções dos
benefícios no futuro) tratará da evolução da mesma nos anos vindouros, por meio da sua
construção em t=30 considerando efeitos de aumento de vulnerabilidade socioeconômica
(maiores ativos em risco) e dos perigos associados à mudança do clima (maiores chances
de ocorrência dos eventos de cheias). Portanto, embora chamemos este item de
caracterização do cenário base, trata-se somente do ano zero (t=0), ao passo que a sua
evolução será abordada mais à frente.

Levantamento de registros de danos e perdas históricos na região


Foram levantados e organizados registros de eventos de desastres por cheias, seus danos
e prejuízos (aqui nomeados perdas) em cada município.
Unidade de análise: cidades beneficiadas. A área de intervenção das obras de controle
de cheias prevista inclui um conjunto de municípios beneficiados diretamente pela
redução de desastres desta natureza. Assim, a estimação dos benefícios foi feita de
maneira desagregada para cada município beneficiado, mais precisamente para as suas
sedes urbanas, e incluem ao todo dez municípios:
▪ Bacia do rio Muriaé, sub-bacia do rio Carangola: Carangola-MG e Tombos-MG; e
▪ Bacia do rio Muriaé: Porciúncula-RJ, Natividade-RJ, Miraí-MG, Muriaé-MG, Laje do
Muriaé-RJ, Itaperuna-RJ, Italva-RJ e Cardoso Moreira-RJ.
Sobre a base de dados. Foi utilizada a base de dados atualizados do “Relatório de Danos
Materiais e Prejuízos Decorrentes de Desastres Naturais no Brasil: 1995 – 2019” (Banco
Mundial, 2020)10.
Os dados empregados na elaboração deste relatório são provenientes dos registros de
desastres informados pelos municípios ao órgão estadual de Defesa Civil ou à Secretaria
Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC)11. Trata-se, portanto, das declarações

10“Relatório de danos materiais e prejuízos decorrentes de desastres naturais no Brasil: 1995 –


2019” / Banco Mundial. Global Facility for Disaster Reduction and Recovery. Fundação de Amparo
à Pesquisa e Extensão Universitária. Centro de Estudos e Pesquisas em Engenharia e Defesa Civil.
[Organização Rafael Schadeck] – 2. ed. – Florianópolis: FAPEU, 2020. Disponível em
https://relatoriodedesastres.ceped.ufsc.br.
11Os dados estão disponíveis no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID), que
integra diversos produtos da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. Embora o
levantamento de danos materiais e prejuízos ocorridos nos últimos 20 anos tenha sido realizado

37
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

municipais de Situação de Emergência (SE) ou Estado de Calamidade Pública (ECP)


reconhecidas pelo Governo Federal. Assim sendo, foi possível obter dados no nível
municipal para as ocorrências dos últimos vinte anos.
Codificação e eventos de interesse: os registros do relatório foram todos convertidos
para a codificação de desastres COBRADE12. Embora o relatório agrupe os eventos em
Hidrológicos, Climatológicos e Meteorológicos, foram considerados os desastres
específicos (até o nível de subtipo) de acordo com o COBRADE. Os subtipos de desastres
de interesse ao estudo estão dentro da categoria “Naturais” e grupo "Hidrológicos",
sendo:
Tabela 5-1 - Classificação COBRADE de eventos de interesse, categoria “Naturais”, grupo
"Hidrológicos"
Cód. Subtipo de
Definição
COBRADE Desastre

Submersão de áreas fora dos limites normais de um curso de água em


zonas que normalmente não se encontram submersas. O
12100 Inundações
transbordamento ocorre de modo gradual, geralmente ocasionado por
chuvas prolongadas em áreas de planície.

Escoamento superficial de alta velocidade e energia, provocado por


chuvas intensas e concentradas, normalmente em pequenas bacias de
12200 Enxurradas relevo acidentado. Caracterizada pela elevação súbita das vazões de
determinada drenagem e transbordamento brusco da calha fluvial.
Apresenta grande poder destrutivo.

Há uma importante distinção entre eventos de inundação e enxurradas e os de


alagamentos, sendo que os primeiros são decorrentes de vazões excessivas, enquanto o
último é decorrente de precipitações extremas em áreas urbanas13. Os alagamentos,
assim, são eventos não correlatos às vazões dos corpos d’água, portanto fora do alcance
do projeto de mitigação de eventos de cheias fluviais.
Embora haja a distinção técnica entre eventos de inundação (COBRADE 12100) e de
enxurradas (COBRADE 12200), esta não foi utilizada na avaliação de dados, uma vez que

pela CEPED, as informações continuarão a ser alimentadas ao S2ID, tornando-se esta a base de
dados mais adequada para o cômputo dos danos e perdas por desastres. Disponível em:
https://s2id.mi.gov.br.
12Foi elaborada a partir da classificação utilizada pelo Banco de Dados Internacional de Desastres
(EM-DAT) do Centro para Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres (CRED) e da Organização
Mundial de Saúde (OMS/ONU), com o propósito de adequar a classificação brasileira às normas
internacionais. Disponível em: https://www.gov.br/mdr/pt-br/centrais-de-
conteudo/publicacoes/protecao-e-defesa-civil-sedec/DOCU_cobrade2.pdf.
13
Segundo a definição COBRADE, são alagamentos (código 12300): Extrapolação da capacidade de
escoamento de sistemas de drenagem urbana e consequente acúmulo de água em ruas, calçadas
ou outras infraestruturas urbanas, em decorrência de precipitações intensas.
38
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

é sabido que tal classificação é passível de erro interpretativo pelo agente declarador do
desastre, sobretudo em registros mais antigos.
Por exemplo, o mesmo evento hidrológico ocorrido em 17 de dezembro de 2008 foi
classificado como inundação para os municípios de Tombos, Porciúncula, Natividade, Laje
do Muriaé, Itaperuna, Italva e Cardoso Moreira, mas como enxurrada para o município de
Muriaé. O episódio hidrológico que o projeto intenta controlar, no entanto, é o mesmo.
De acordo com o já citado Relatório de Danos Materiais e Prejuízos Decorrentes de
Desastres Naturais no Brasil (Banco Mundial, 2020), entre os anos de 1995 e 2019, foram
encontrados um total de 68 registros nos dez municípios de interesse, resultando em uma
média de 6,8 registros por município, ou ainda, na média, um evento a cada 2,9 anos em
cada cidade. Estes registros podem ser consolidados em 11 eventos de interesse
(inundações e enxurradas), conforme tabela a seguir:
Tabela 5-2 - Eventos de desastres registrados nos municípios de interesse na base CEPED
Data do Laje do Cardoso
Carangola Tombos Porciúncula Natividade Miraí Muriaé Itaperuna Italva
Evento Muriaé Moreira

11/03/2018 Afetado

12/12/2013 Afetado

04/01/2012 Afetado Afetado

29/12/2011 Afetado

27/11/2010 Afetado Afetado

17/12/2009 Afetado Afetado

05/01/2009 Afetado

17/12/2008 Afetado Afetado Afetado Afetado Afetado Afetado Afetado Afetado

10/01/2007 Afetado Afetado Afetado Afetado Afetado Afetado Afetado

04/03/2005 Afetado Afetado Afetado Afetado Afetado Afetado

13/01/2004 Afetado Afetado Afetado

Danos e prejuízos considerados: a base de dados do relatório do CEPED organiza as


informações disponibilizadas pelos municípios no FIDE (Formulário de Informações do
Desastre). As principais informações econômicas ali registradas se dividem em:
▪ Danos Materiais, os quais se referem às informações de danos em habitações e
infraestrutura e em instalações públicas e privadas, apresentados em número de
registros e em valores monetários.
▪ Prejuízos, os quais se referem às perdas reportadas nos setores público e privado,
sendo que, no segundo, os valores informados estão segmentados nos setores
econômicos de agricultura, pecuária, indústria e serviços.
A tabela a seguir resume as categorias discriminadas na base de dados do relatório do
CEPED e descreve as subcategorias que as compõem, de acordo com o Formulário de
Informações do Desastre (FIDE). O valor de cada categoria é relatado pelo município
afetado para cada evento.
39
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Tabela 5-3 - Categorias do FIDE - Formulário de Informações do Desastre


Categorias Subcategorias do Formulário de Informações do Valor relatado
discriminadas na base Desastre (FIDE) pelo município
do CEPED
DANOS MATERIAIS
De saúde – hospitais, postos de saúde e outros
De ensino – escolas, colégios, faculdades e outros
Prestadoras de outros serviços – outras edificações ou
Instalações Públicas
instalações públicas
De uso comunitário – instalações comunitárias, como valor em R$
centros de convivência, creches e outras correspondente a
Unidades habitacionais – edificações residenciais, casas e edificações
Habitações
edifícios e demais unidades habitacionais danificadas ou
Obras de infraestrutura pública – Sistema viário (estradas destruídas
e rodovias), Obras de arte (pontes, pontilhões, viadutos e
Infraestrutura outros), Sistema de abastecimento de água (dutos),
Sistema de energia (postes e transformadores), Sistema
de drenagem (bueiros, canaletas etc.)
PREJUÍZOS
Assistência médica, saúde pública e atendimento de
emergências médicas – valor necessário para o
restabelecimento da assistência médica
Abastecimento de água potável – valor necessário para
restabelecimento da Rede, da Estação e do Manancial
Esgoto de águas pluviais e sistema de esgotos sanitários –
o valor necessário para restabelecimento da Rede
Coletora e da Estação de Tratamento
Sistema de limpeza urbana e de recolhimento e
destinação de lixo – valor necessário para
restabelecimento da Coleta e do Tratamento Valor em R$ da
recuperação dos
Sistema de desinfestação e desinfecção do habitat e de
Públicos: serviços diversos itens que
controle de pragas e vetores – valor necessário para o
essenciais que foram compõem os
restabelecimento desse sistema
prejudicados ou sistemas
Geração e distribuição de energia elétrica – valor
interrompidos pelo prestadores dos
necessário para restabelecimento da rede e da geração
desastre serviços (valor
de energia
para
Telecomunicações – valor necessário para
restabelecimento)
restabelecimento da Rede e das Estações retransmissoras
Transportes locais, intermunicipais e interestaduais –
valor necessário para restabelecimento das vias (malha
viária) e dos Terminais
Distribuição de combustíveis, especialmente os de uso
doméstico
Segurança pública – valor necessário para
restabelecimento das funções de segurança pública
Ensino – valor necessário para restabelecimento da rede
de ensino
valor do prejuízo devido à perda de diversos tipos de Valor em R$ da
Agricultura
lavoura, em razão do desastre recuperação dos
Serviços
valor do prejuízo em decorrência de animais mortos ou diversos itens que
Privados Pecuária
doentes, em função do desastre compõem os
(setores)
valor estimado de custo da produção do setor industrial sistemas
Indústria
afetado pelo desastre prestadores dos

40
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Categorias Subcategorias do Formulário de Informações do Valor relatado


discriminadas na base Desastre (FIDE) pelo município
do CEPED
serviços (valor
valor estimado de custo dos prestadores de serviços
Serviços para
prejudicados pelo desastre
restabelecimento)

Vale registrar que, para o projeto analisado, considerou-se o valor total de cada
subcategoria na valoração dos danos e prejuízos causados pelo evento e que seriam
evitados pelo projeto. Em outros projetos, por exemplo, pode-se ter de desconsiderar (ou
considerar parcialmente) uma ou outra subcategoria, caso o projeto não traga benefícios
(perdas evitadas) em um ou outro caso.
Com as datas dos eventos de inundações e enxurradas agregadas pelas categorias de
danos e prejuízos acima discriminados (Tabela 5-3), apresenta-se na Tabela 5-4 (abaixo)
os valores para os 10 municípios beneficiados em cada um dos onze eventos de desastres
hidrológicos, com valores em mil reais a preços de dezembro de 2020.
Tabela 5-4 - Perdas (danos e prejuízos) registrados nos municípios de interesse na base CEPED,
com valores na data-base de 2020
Categ. Danos Materiais (R$, mil) Prejuízos (R$, mil)
TOTAL

Instalações Privado: Privado: Privado: Privado: Prejuízos (R$, mil)


Eventos Habitações Infraestrutura
públicas Serviços Indústria Pecuária Agricultura Públicos

11/03/18 13 139 3.310 0 0 0 0 243 3.705

12/12/13 9 0 209 0 0 0 12 0 230

04/01/12 1.681 450 9.046 0 0 53 137 922 12.289

29/12/11 29.386 3.276 155.070 11.913 25.852 342 8.935 10.374 245.148

27/11/10 2.256 125 8.327 1.778 25 1.126 6.388 7.439 27.465

17/12/09 5.395 1.005 17.585 3.940 19 6 2.849 5.346 44.118

05/01/09 4.200 169 33.323 2.049 580 215 158 1.532 34.254

17/12/08 42.303 804 145.125 22.011 18.572 2.374 4.765 7.063 243.018

10/01/07 25.289 4.095 45.384 12.925 13.505 673 2.023 21.665 125.559

04/03/05 13.572 735 40.801 78 70 146 587 91.258 147.246

13/01/04 6.036 9.900 3.884 71 0 0 13.464 17.289 50.643

TOTAL 130.139 20.698 462.065 54.766 58.622 4.935 39.318 163.131 933.674

A Tabela 5-4 (acima) sintetiza os dados econômicos de perdas (danos e prejuízos)


encontrados no Relatório de Danos Materiais e Prejuízos Decorrentes de Desastres
Naturais no Brasil (Banco Mundial, 2020), sendo válido pontuar que os valores ali
apresentados estão a preços de 2019. Uma vez que os valores se referem a eventos
41
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

hidrológicos passados, estes foram atualizados com base no Índice Geral de Preços –
Disponibilidade Interna (IGP-DI) de final de período, equalizando-se assim os valores
monetários apresentados pelos municípios em diferentes anos (Banco Mundial, 2020).
Para a ACB, os valores reportados pelo CEPED foram novamente corrigidos, pelo mesmo
índice de preços, para a data-base de dezembro de 2020 (ano “0”), equiparando-os em
termos monetários à data-base dos custos econômicos (capítulo 4).

Reunião de dados hidrológicos e hidráulicos caracterizando as cheias e


inundações
Após reunir dados econômicos de perdas e danos associados aos onze episódios de
desastres de cheias ocorridas na bacia do rio Muriaé, coube consolidar dados hidrológicos
que embasassem a próxima etapa de construção das curvas de probabilidade de
ocorrência de danos.
Tempos de retorno identificados no Hidroweb: Cada evento extremo, em cada
localidade, está relacionado a uma determinada vazão extrema dos corpos d’água
associados (rio Muriaé e rio Carangola). Estas vazões, embora tenham sido submetidas à
modelagem hidrológica com software específico no desenvolvimento do projeto
SIEMEC14, podem também ser computadas a partir dos dados disponíveis no Portal
HidroWeb, da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico15. Para a análise de custo-
benefício, interessam as vazões ou os níveis fluviais, a depender se o projeto em análise
traz informações de abatimento das cheias em função de um ou outro indicador dos
eventos que se intenta reduzir.
Na presente análise, utilizou-se dos dados de vazão das seguintes estações fluviométricas:
Carangola (estação número 58930000), Porciúncula (estação num. 58934000), Muriaé
(estação n. 58920000, após a confluência dos rios Muriaé e Preto), Itaperuna (estação n.
58940000) e Cardoso Moreira (estação n. 58960000).
Nota-se que nem todas as cidades beneficiadas contam com estações fluviométricas, o
que pode (e foi) contornado por meio da inferência da hidrologia nos demais municípios
com base em suas localizações na sub-bacia hidrográfica. Tombos, por exemplo, localiza-
se entre as cidades de Carangola e Porciúncula, enquanto Natividade é entre Porciúncula
e Itaperuna. O mesmo ocorre com o município de Laje do Muriaé (entre Muriaé e

14
O Projeto utilizou de simulações pelo modelo hidráulico (software HEC-RAS).
15
O Portal é ferramenta integrante do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos
(SNIRH) e oferece o acesso ao banco de dados que contém todas as informações coletadas pela
Rede Hidrometeorológica Nacional (RHN), reunindo dados de níveis fluviais, vazões, chuvas,
climatologia, qualidade da água e sedimentos. Os dados disponíveis no Portal HidroWeb se
referem à coleta convencional de dados hidrometeorológicos, ou seja, registros diários feitos pelos
observadores e medições feitas em campo pelos técnicos em hidrologia e engenheiros hidrólogos.
Disponível em: http://www.snirh.gov.br/hidroweb/apresentacao
42
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Itaperuna) e Italva (entre Itaperuna e Cardoso Moreira). Já a cidade de Miraí fica nas
cabeceiras da bacia e é a montante de Muriaé.

Elaboração das curvas de probabilidade de excedência de danos


Para a elaboração das curvas de probabilidade de excedência de danos, são necessários
tanto (i) os dados históricos de eventos de cheias e seus prejuízos e danos associados,
para cada município, como (ii) os dados hidrológicos da região de estudo suficientes para
embasar uma avaliação crítica dos mesmos.
Nessa etapa, busca-se associar os tempos de retorno (TR) de eventos hidrológicos
extremos com os eventos históricos registrados, gerando assim curvas de probabilidade
associado ao valor em risco para cada TR. Os seguintes passos metodológicos foram
tomados (o passo-a-passo pode ser consultado no Anexo 1 – Anexo Digital – Planilha
computacional – ACB Complexo de Barragens Muriaé):
▪ Em consulta ao HidroWeb e com base nas vazões históricas lá registradas, identificou-
se o tempo de retorno associado a cada um dos onze eventos de desastres por
inundações e enxurradas ocorridos na bacia de interesse, consultando-se a vazão
máxima no dia da ocorrência;
▪ Adotou-se a premissa de que os eventos de pior materialização de perdas econômicas
(maiores perdas) estão associados a TR superiores a 100 anos;
▪ Conforme concepção do cenário base (item 3.3.2), as perdas eventualmente
associadas aos tempos de retorno de 2 anos foram desconsideradas;
▪ Mediante as premissas definidoras para as perdas e TRs máximos e mínimos, realizou-
se a associação das perdas dos demais eventos de TR inferiores, por meio de
interpolação com base nas vazões e nos registros de perdas econômicas, alocadas na
proporção da TR dos eventos ocorridos de maior proximidade aos de 10, 25 e 50 anos;
o Como exemplo, tem-se Porciúncula, cuja maior perda econômica (R$ 15
milhões) foi registrada no desastre de dezembro de 2008. Associou-se tal
perda ao TR de 100 anos; já para a perda esperada por um TR de 50 anos,
associou-se o valor de R$ 1,4 milhões, fruto da proporção entre a perda de
R$ 2,4 milhões ocorrida em janeiro de 2007 associada à uma TR de 85 anos;
como a base de perdas não apresenta outras ocorrências de perdas com TR
inferiores, não foi associado expectativas de perdas para os TR de 25 e de 10
anos.
▪ Uma vez que as estações fluviométricas não cobrem todas as cidades consideradas,
realizou-se a associação entre os TR de cidades próximas daquelas com informações
fluviométricas por meio de inferências, respeitando-se o desenho fisiográfico da
bacia:
o Para o município de Tombos, utilizou-se da referência de vazão das estações
de Carangola e Porciúncula;
o Para Natividade, a vazão das estações de Porciúncula e Itaperuna;
43
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

o Para Laje do Muriaé, a vazão das estações de Muriaé e Itaperuna; e


o Para Italva, a vazão das estações de Itaperuna e Cardoso Moreira.
A elaboração das curvas de probabilidade de excedência de perdas traz, nessa etapa
preliminar de análise, limitações intrínsecas à ausência de uma modelagem hidrológica
que tenha associado as vazões dos eventos passados com seus respectivos tempos de
retorno. Com base nesta, poder-se-ia precisar a área de inundação dos eventos históricos
e eventos projetados, em função de diversos TR, em polígonos. Muito embora o SIEMEC
tenha realizado a modelagem hidrológica para associar o porte das obras aos tempos de
retorno, deixou de fazê-lo frente aos eventos passados e seus polígonos de inundação, o
que teriam rendido maior facilidade e precisão à presente análise.
É importante lembrar que as premissas aqui adotadas deverão ser confrontadas com
estudos mais aprofundados, sobretudo hidrológicos, que confirmem ou refinem as
inferências aqui feitas quando da avaliação do projeto em etapas mais refinadas de
análise.
A figura a seguir mostra a curva de probabilidade de excedência sem o projeto (base) no
presente (t=0), construída a partir dos eventos de inundações e enxurradas com
intensidade suficiente para terem gerado declarações de situação de emergência ou
calamidade pública, ocorridos nos últimos vinte anos (com dados de Banco Mundial,
2020). Nota-se que cada município tem sua própria curva, em função dos eventos e das
perdas (danos e prejuízos) a eles associados; a figura, de forma simplificada, demonstra a
soma das curvas dos 10 municípios.
Perda (R , mil)

Probabilidade de excedência

Figura 5.1 - Curva de perdas em função da probabilidade de eventos de inundação e enxurradas


sem o projeto (base)
Uma vez que a curva de probabilidade de excedência de danos associou valores
econômicos aos tempos de retorno (ou seja, às probabilidades de ocorrência, em um ano
qualquer, de evento daquela magnitude de perda associada), seguiu-se da mesma
sequência de passos para associar outras duas informações utilizadas para a estimação

44
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

dos benefícios, quais sejam: (i) quantidade de habitações afetadas; e (ii) número de
pessoas afetadas pelos eventos críticos. Estas duas informações são disponibilizadas pela
mesma base de dados do CEPED (op. cit.).

ESTIMAÇÃO DAS PERDAS EVITADAS COM O PROJETO


Para esta etapa, ambas alternativas do projeto são equivalentes, já que, embora com
técnicas distintas, objetivam reduzir exatamente os mesmos efeitos de cheias (abatem os
mesmo danos e prejuízos). Sendo assim, os cálculos aqui apresentados se aplicam a
ambas indistintamente.
De forma pragmática, a implementação de projetos de controle de cheias visa
essencialmente deslocar a curva de probabilidade de eventos e seus danos associados, ou
seja, fazer com que os impactos de eventos com TR maiores sejam nulos ou reduzidos.
Na prática, obras de engenharia irão garantir que, até um certo TR, não haja cheia na
localidade como antes havia. De acordo com os dados do SIEMEC, uma série de obras
(barragens e/ou canais) foram pensados para atender aos 10 municípios afetados pelos
eventos recorrentes de inundações e enxurradas na bacia hidrográfica do rio Muriaé e
sub-bacia do rio Carangola. Esse planejamento considerou a redução máxima possível à
exposição dentro de um critério de economicidade em termos de alternativas técnicas
possíveis (ver definição de projeto e alternativas, item 3.3.1).
Para isso, e com base em SIEMEC, os seguintes eventos passam a ser totalmente evitados
com a situação de projeto:
▪ Em Natividade, Laje do Muriaé, Italva e Cardoso Moreira, abate-se um evento
equivalente ao TR de 25 anos;
▪ Em Carangola, um TR de 50; e
▪ Nos demais municípios (Tombos, Porciúncula, Miraí, Muriaé e Itaperuna), um TR de
100 anos.
O SIEMEC não apresentou como alternativa o abatimento de todos os TR (acima de 100)
em todos os municípios. Dessa forma, mesmo com a implantação do projeto, algum dano
deverá continuar a ocorrer nos locais analisados. Nota-se que quanto maior o período de
retorno que se almeja evitar, maior será o custo da intervenção, pois maiores serão as
estruturas de contenção de cheias. Outras possíveis combinações de tempos de retorno
poderiam ter sido testadas, na fase de concepção do projeto, via ACB Preliminar.
Qualquer evento antes da TR de projeto passará a ter dano ou prejuízo nulo. Para os
eventos que superem a TR do projeto, considerou-se que, eventos a partir da TR de
projeto, terão desastres associados, porém causando danos e prejuízos menores,
amortecidos pelas obras presentes. Aplicou-se uma fração de abatimento de danos para
a ocorrência de eventos acima da TR do projeto, de forma arbitrária. Uma vez que estes
percentuais de abatimento remanescente foram assim definidos, são submetidos aos
testes de sensibilidade para verificar sua influência no resultado da ACB. São eles:
▪ TR 25 para TR 50 (quando aplicável): 50% de abatimento de perdas com o projeto; e
45
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

▪ TR 50 para TR 100 (quando aplicável): 33% de abatimento de perdas com o projeto.


Assim, partindo da curva de perdas do cenário base e aplicando os novos TR de cheia e
abatimentos descritos, temos a nova tabela de danos por TR e a curva de associada (aqui
novamente de forma agregada). A Figura 5.2, abaixo, manteve a mesma escala que a
anterior (Figura 5.1), demonstrando com clareza a redução esperada nas perdas (perdas
evitadas) com a implementação do projeto.
Perda (R , mil)

Probabilidade de excedência

Figura 5.2 - Curva de perdas em função da probabilidade de eventos de inundação e enxurradas


com o projeto
O Anexo 1 – Anexo Digital – Planilha computacional – ACB Complexo de Barragens Muriaé
traz abas compilando as informações descritas e detalhando as etapas acima. A Aba
“4_Ben-Curvas_T0” traz os resultados do levantamento de perdas econômicas,
combinado com a análise hidrológica para plotar ambas as curvas em conjunto. Esta aba
também já calcula a diferença de ambas as curvas de forma anualizada, objeto da seção
seguinte.

CÁLCULO DOS BENEFÍCIOS: PERDAS EVITADAS

Perdas evitadas com base em Banco Mundial, 2020


Com as tabelas de TR e os danos e prejuízos nos cenários sem e com o projeto (as quais
refletem as curvas de probabilidade de excedência de perdas), basta subtrair uma da
outra para se obter os valores evitados com a implementação do projeto16.

16
A depender do caso concreto, recomenda-se mensurar e calcular os prejuízos associados à
ocorrência de danos físicos às pessoas (mortos e feridos). Da mesma forma, recomenda-se calcular
também o custo do aumento da morbidade, em decorrência da maior proliferação de doenças,
com prejuízos ao sistema de saúde.
46
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Perda (R , mil)

Probabilidade de excedência

Figura 5.3 - Curva de perdas em função da probabilidade de eventos de inundação e enxurradas


com e sem o projeto
Para o cálculo do valor anualizado de benefícios, deve-se computar a integral da diferença
entre as curvas de perdas esperadas com e sem o projeto. Utilizou-se o método indicado
no Manual ACB Infra Hídrica, que é um dos métodos propostos por Olsen et al. (2015)17,
também utilizado pelo Manual de ACB chileno.
Em suma, deve-se fazer a média da perda prevista no período (t) com a perda prevista no
período anterior (t-1) e multiplicá-la pela diferença na probabilidade de excedência. Uma
vez que a perda evitada é a somatória da diferença das curvas com e sem o projeto, o
resultado anual do benefício é dado pelo resultado da soma obtida pelos valores
anualizados.
Como o projeto atende a dez municípios, novamente tem-se uma somatória dos valores
anualizados de perdas esperadas para cada um deles, conforme demonstra a tabela
abaixo. O resultado é uma expectativa de benefício anualizado, fruto da redução das
perdas esperadas a partir da implementação do projeto.
A Tabela 5-5 apresenta os valores anualizados de perdas esperadas para cada um dos
municípios na situação com e sem o projeto, revelando a geração de um benefício
anualizado da ordem de R$ 11,72 milhões.
Nota-se também que em alguns dos municípios o risco identificado pelo cenário base é
totalmente abatido na situação com a implementação do projeto (Tombos, Porciúncula,
Miraí, Muriaé e Itaperuna). Já nos demais municípios, o projeto tal como concebido abate
uma (grande) fração das perdas futuras estimadas, mas não todas.

17
Olsen, A. et al. Comparing Methods of Calculating Expected Annual Damage in Urban Pluvial
Flood Risk Assessments. Water 2015, 7, 255-270; doi:10.3390/w7010255
47
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Tabela 5-5 - Valores anualizados de perdas esperadas para cada município com e sem o projeto

Perdas (danos e prejuízos) atuais esperados em t=0 (R$)

Município Base (B) Alternativo (com Projeto) (A)


Carangola 2.950.589 182.744
Tombos 18.869 0
Porciúncula 96.468 0
Natividade 211.936 73.401
Miraí 240.956 0
Muriaé 6.607.543 0
Laje do Muriaé 241.039 117.868
Itaperuna 832.614 0
Italva 917.234 263.730
Cardoso Moreira 468.384 231.574
12.585.632 869.317
TOTAL
Benefício líquido anual em t=0 11.716.315

Os resultados acima se referem a t=0 uma vez que há expectativa de aumento das perdas
no futuro devido ao aumento na severidade e/ou frequência dos eventos extremos e
também do crescimento econômico dos municípios (que aumenta a base de ativos em
risco), como é explorado no item 5.6, que trata da evolução temporal das curvas
encontradas. Antes, no entanto, apresentam-se nos itens subsequentes outras duas
valorações de benefícios decorrentes do projeto.

Perdas evitadas com base em valoração dos prejuízos privados


Conforme identificado no item 5.2, os valores em risco têm como base o compêndio de
informações dos desastres ocorridos no passado. As perdas econômicas foram
sistematizadas por Banco Mundial (2020) com dados do Sistema Integrado de
Informações sobre Desastres (S2ID) da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. O
S2ID, por sua vez, tem como fonte primária o Formulário de Informações sobre o Desastre
(FIDE), a ele submetido pelos municípios que pleiteiam o reconhecimento de Situação de
Emergência (SE) ou Estado de Calamidade Pública (ECP).
Conforme exposto na Tabela 5-3 do item 5.2.1, as perdas econômicas por danos materiais
são preponderantes em valor frente aos prejuízos (66% contra 44%, respectivamente).
Dentre os prejuízos, por sua vez, preponderam aqueles aos serviços públicos, que
representam 51% do total entre prejuízos aos serviços, à indústria, à pecuária e à
agricultura.
O pior dos desastres, em perdas totais (dentre os 10 municípios), foi o ocorrido em
dezembro de 2011 no município de Muriaé, que sozinho reportou a ocorrência de R$ 245
48
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

milhões em perdas, sendo R$ 188 milhões referentes aos danos materiais e R$ 57 milhões
aos prejuízos (públicos e privados). Dos prejuízos, reportou-se R$ 11,9 milhões (5% do
total) aos serviços privados, não obstante o evento tenha causado desarticulação viária
no município e afetado a todos os seus habitantes por um intervalo de tempo equivalente
a diversos dias.
É plausível conceber, portanto, que haja uma subnotificação do prejuízo aos serviços
privados. Com base nessa hipótese, pode-se calcular o dano que ocorre a esse setor
econômico pela proxy do valor da produção momentaneamente cessante que teria sido
gerado pelas pessoas diretamente afetadas pelos desastres.
Uma vez que a valoração por método próprio do dano evitado ao setor de serviços
privados, resulta em dupla contagem com os valores reportados pelo Banco Mundial
(2020), sua consideração se dá mediante a exclusão dessa mesma categoria dos cálculos
do benefício anual, conforme apresentado no item anterior (5.4.2)18.
De modo semelhante ao que foi realizado para o cômputo dos benefícios via danos
evitados, calculados com base nos dados de Banco Mundial (2020), compilam-se as curvas
de pessoas afetadas em função da probabilidade de eventos de inundação e enxurradas
com e sem o projeto.
Tabela 5-6 – Valores anualizados de pessoas afetadas para cada município com e sem o projeto
Pessoas afetadas em t=0

Município Base (B) Alternativo (com Projeto) (A)


Carangola 1.383 195
Tombos 6 0
Porciúncula 69 0
Natividade 25 16
Miraí 27 0
Muriaé 4.168 0
Laje do Muriaé 125 39
Itaperuna 1.019 0
Italva 369 59
Cardoso Moreira 83 29
7.273 339
TOTAL
Diferença anual em t=0 6.934

Uma vez realizada a estimativa anualizada de pessoas afetadas pelos eventos, pode-se
atribuir a elas um valor econômico de produção, gerando a proxy do prejuízo privado pela
produção momentaneamente cessante. Para estimar a remuneração diária média por
pessoa, foi utilizada a informação de salários e outras remunerações do Cadastro Central

18
Com essa exclusão, o benefício anualizado passa a ser de R$ 10,97 milhões, e não mais de R$
11,72 milhões.
49
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

de Empresas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como mostra a


tabela abaixo.
Tabela 5-7 - Parâmetros para a valor da produção cessante das pessoas afetadas
Total dos
Pessoal Valor corrigido Valor da
salários e Remuneração
ocupado pela inflação remuneração
Município outras média em
total em para data-base média por dia
remunerações 2018
2018 de 2020 por pessoa
em 2018
R$, mil Pessoas R$/pessoa/ano R$/pessoa/ano R$/pessoa/dia

Carangola 104.667 6.289 16.642,87 18.009,25 50,03


Tombos 16.654 1.170 14.234,19 15.402,81 42,79
Porciúncula 49.376 2.101 23.501,19 25.430,64 70,64
Natividade 50.122 2.455 20.416,29 22.092,47 61,37
Miraí 48.733 2.581 18.881,44 20.431,61 56,75
Muriaé 538.972 26.741 20.155,27 21.810,01 60,58
Laje do Muriaé 22.067 1.064 20.739,66 22.442,39 62,34
Itaperuna 569.226 24.678 23.066,13 24.959,86 69,33
Italva 42.450 2.108 20.137,57 21.790,87 60,53
Cardoso Moreira 35.292 1.665 21.196,40 22.936,62 63,71

TOTAL 1.477.559 70.852 20.854,16 22.566,29 62,68

Considerando que cada pessoa diretamente afetada pelo desastre se restrinja de produzir
durante 15 dias, tem-se que o total da produção cessante por pessoa afetada é de R$
940,26 por ano, na média dos dez municípios. Uma vez que esse parâmetro é arbitrário,
realizam-se teses de sensibilidade quanto ao seu grau de influência nos resultados finais.
A multiplicação das pessoas que, com o projeto, deixam de ser diretamente afetadas
pelos desastres (anualizadas), com o valor da produção média diária de cada pessoa,
resulta em um benefício anual de R$ 6,52 milhões.

BENEFÍCIO DA MELHORA NO BEM-ESTAR VIA PROXY DA VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA


O item 5.4, acima, tratou dos benefícios econômicos gerados pelas perdas evitadas, ou
seja, danos e prejuízos que o projeto impedirá de que venham a ocorrer no futuro. Há,
ainda, uma outra categoria de benefícios que captura a melhoria na segurança e no bem-
estar da população beneficiada por ter seus riscos de desastre diminuídos. Trata-se do
benefício de incremento no bem-estar por aqueles que passam a conviver com menores
níveis de risco.
Sua valoração se faz possível por meio da proxy da valorização dos imóveis que deixam
de ser atingidos e também daqueles imóveis que teriam risco de serem atingidos. Nota-
se que o custo evitado com a reparação dos imóveis já está contabilizado via perdas
evitadas (item 5.4), restando aqui contabilizar a melhora no bem-estar utilizando do

50
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

parâmetro de valorização imobiliária como forma de capturar tal apropriação de forma


pecuniária.
Deve-se atentar ao risco de dupla contagem em relação aos prejuízos materiais já
computados, cabendo aqui esta importante distinção: a valorização imobiliária é utilizada
apenas como forma de se traduzir, em termos monetários, o benefício da melhora no
bem-estar. Para tanto, a forma de valoração compila a quantidade de economias que
seriam danificadas na ausência do projeto e aplica, sobre elas, a potencial valorização
imobiliária. Esta valorização, posteriormente, é multiplicada por um quantitativo de
residências que simulam o entorno das regiões, nos municípios estudados, mais propícias
a sofrerem com os efeitos das cheias.
Como forma de estimação desse quantitativo de residências, utiliza-se da mesma base de
dados que para as perdas evitadas, associando dessa vez as habitações que foram
danificadas no passado com os tempos de retorno, permitindo compilar a quantidade de
habitações que se esperam valorizar. Utilizou-se das mesmas curvas de probabilidade de
excedência de perdas, pois a base de dados (Banco Mundial, 2020) traz para cada evento
a quantidade de habitações danificadas.
Tabela 5-8 – Habitações danificadas para cada município com e sem o projeto (valor anualizado)
Habitações danificadas em t=0

Município Base (B) Alternativo (com projeto) (A)


Carangola 4 1
Tombos 1 0
Porciúncula 5 0
Natividade 0 0
Miraí 2 0
Muriaé 176 0
Laje do Muriaé 6 2
Itaperuna 36 0
Italva 16 3
Cardoso Moreira 9 3
253 8
TOTAL
Diferença anual em t=0 245

A maior garantia da não ocorrência de eventos críticos de cheias tem um efeito positivo
nos valores dos imóveis nas áreas anteriormente afetadas. A valoração desse benefício
foi feita com base no parâmetro arbitrário de 15% de valorização no valor equivalente ao
aluguel do imóvel beneficiado19. Para fins de cômputo do valor do aluguel que o projeto

19
Embora arbitrado, o parâmetro guarda referência em sua ordem de grandeza aos resultados
encontrados para a diferença no valor dos aluguéis de imóveis sem rede de coleta de esgotos com

51
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

espera aumentar por meio da segurança contra eventos de enchentes, foram realizados
os seguintes passos:
▪ Por meio de consulta ao Sinduscon de cada um dos estados, obteve-se o CUB (custo
unitário básico) da construção de um m2 de padrão residencial normal (R$ 1.518 em
MG e R$ 1.551 no RJ);
▪ O CUB foi então multiplicado pela área de 60 m2 como forma de espelhar o valor de
um imóvel residencial pequeno, equivalente à menor área possível de ser construída
pelo Programa Federal Minha Casa Minha Vida - obtendo-se assim um balizador
mínimo para o valor do imóvel;
▪ Consultou-se, então, o índice FIPE-Zap20 para o rental yield mensal médio (dado único
para todo o País), que é reportando em sendo 0,39%;
▪ O resultado é a estimativa de valor anual de aluguel, por imóvel, de R$ 4.264 para o
estado de Minas Gerais e de R$ 4.536 para o estado do Rio de Janeiro.
Considerando-se que o aluguel na área de risco é, ao menos, 15% valor do que o aluguel
de imóvel similar em área sem risco, pode-se estimar o efeito econômico da melhora no
bem-estar por meio dessa proxy. Uma vez que o parâmetro de (des)valorização imobiliária
é arbitrário, realiza-se teses de sensibilidade quanto ao seu grau de influência nos
resultados.
Tabela 5-9 - Benefício da melhora no bem-estar via proxy da valorização imobiliária
Incremento no valor
Aluguel em área sem Aluguel teórico de médio do aluguel em
risco (por imóvel) imóvel na área de risco decorrência da
redução de risco
Unidade da Federação R$/ano R$/ano R$/ano

Minas Gerais 4.263,56 3.624,02 639,53

Rio de Janeiro 4.535,51 3.855,19 680,33

Por fim, multiplicou-se o valor diferencial no aluguel pela quantidade de habitações que
deixam de ser danificadas. Como forma de contemplar o aumento no bem-estar
propiciado à toda a região que tem seu risco minorado, arbitrou-se que para cada
habitação que teria sido diretamente afetada, outras onze também gozariam do benefício
por deixarem de estar em áreas de risco. O resultado final resulta em um benefício anual
de R$ 1,94 milhões.

outros em situações e condições similares, porém com acesso à rede coletora (16,4%). O acesso a
água tratada também tem efeito positivo sobre o valor do aluguel (9,0%), bem como a existência
de banheiro no domicílio (7,4%). [Freitas, F. G. et al. Benefícios econômicos e sociais da expansão
do saneamento no Brasil. Relatório de pesquisa produzido para o Instituto Trata Brasil. São Paulo:
Ex Ante Consultoria Econômica, 2018.]
20
Disponível em: https://fipezap.zapimoveis.com.br/noticias/noticias-fipezap/pesquisas-e-
relatorios/indice-residencial/indice-residencial-aluguel/
52
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

PROJEÇÕES DOS BENEFÍCIOS NO FUTURO


Os cálculos anteriores permitem chegar ao valor anualizado das duas categorias de
benefício valoradas (perdas evitadas e melhora no bem-estar) para o conjunto dos dez
municípios afetados pelo projeto. A fim de considerar a distribuição dos benefícios no
futuro, no entanto, dois outros importantes fatores precisam ser levados em conta:
▪ Vulnerabilidade e exposição crescentes: danos e prejuízos econômicos crescentes,
refletindo maiores ativos em risco;
▪ Perigos hidrometeorológicos crescentes: mudança do clima.
Ao nível de uma ACB Preliminar não caberia uma investigação aprofundada dos
comportamentos destes dois fatores. No entanto, é prudente considerá-los de alguma
maneira uma vez que certamente ambos deverão ocorrer. Afinal, espera-se que as
economias dos municípios apresentem crescimento, ao menos para acompanhar o
crescimento demográfico previsto. Esse crescimento aumenta a vulnerabilidade e
exposição aos eventos de desastres, o que potencialmente acresce benefícios no futuro.

Danos e prejuízos econômicos crescentes


Espera-se que o valor em risco se altere no futuro em função do crescimento da economia
dos municípios beneficiados. Estes irão alterar o benefício anual projetado, pois a base de
ativos em risco será maior, mesmo que o evento hidrológico subjacente seja o mesmo.
A projeção de crescimento econômico para cada um dos municípios pode ser utilizada
como proxy para os danos e prejuízos que se esperam ter no futuro com desastres de
inundações e enxurradas21. Não foram encontradas projeções econômicas ao nível
municipal, mas uma leitura das taxas de crescimento econômico pretéritas dos municípios
permite identificar que não se trata de ambiência de pujança econômica.
Na ausência de projeções econômicas específicas para cada município, assume-se que há
andamento pari-passu ao PIB nacional, corrigindo-se pela correlação histórica (2002-
2018) do PIB de cada um dos municípios com o da Federação. Essa correlação é
estabelecida a partir dos valores dos PIB municipal obtidos junto ao IBGE. A correlação
histórica do PIB nacional com o PIB de cada um dos municípios é mantida constante no
tempo, balizando a aplicação da expectativa de crescimento do PIB nacional para os
municípios.
As expectativas de crescimento do PIB nacional foram obtidas na Nota Técnica 017/2019
da EPE, denominada Cenário econômico para os próximos dez anos (2020-2029)22. A
expectativa trazida pelo referido documento é e um crescimento de 2,1% entre os anos
de 2021 e 2024, passando então para 2,4% entre 2025 e 2029. Para os demais anos de

21
Na ausência de projeções econômicas, uma forma alternativa de se balizar a possível variação
futura nos danos e prejuízos é por meio da variação projetada na população.
22
Disponível em: https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-
abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-
440/NT%20Cenário%20Econômico%2010%20anos%202029%20VF.pdf
53
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

análise, a taxa de 2,4% foi mantida constante, pois alinha-se com as expectativas de
crescimento de longo prazo para o Brasil trazidas pelo Fundo Monetário Internacional23.
Sabe-se que a pandemia da Covid-19 gerou repercussões econômicas de grande
magnitude, cujo desfecho em termos de crescimento ainda é incerto. No entanto,
segundo a Nota Informativa do Ministério da Economia intitulada Projeções de
Crescimento Econômico e Medidas Fiscais, de 29 de janeiro de 2021, pode-se esperar uma
recuperação célere, de forma que não se alteram as projeções de prazos mais alongados,
acima descritas, em função da pandemia.
Essa projeção econômica é aplicada aos benefícios ao longo dos trinta anos de horizonte
temporal. Tal exercício permite a elaboração de curvas futuras de danos e prejuízos para
o ano t=30.

Mudança do clima
Sabe-se que a concepção inicial do projeto, suas premissas hidrológicas e obras, não levou
em conta os efeitos da mudança do clima (conforme o já citado relatório SIEMEC). Assim,
os resultados consideram a estacionariedade das séries de vazões históricas na bacia, a
qual, sendo equivocada precisa ser, de alguma forma, corrigida. A mudança do clima trará
um efeito de deslocamento nas curvas de perdas e suas probabilidades, já que os eventos
hoje teriam seus períodos de retorno (probabilidades de ocorrer) alterados no futuro -
uma chuva com TR 50 hoje poderá ter uma TR 25 no futuro, por exemplo.
Não cabe a este estudo de caso e a uma ACB Preliminar discorrer quanto à ciência do
clima, seus achados e premissas, além da miríade de modelos e projeções climáticas
disponíveis e necessárias a uma avaliação mais robusta das tendências
hidrometeorológicas para a região. Por exemplo, a plataforma “Projeções Climáticas no
Brasil” disponibilizadas pelo INPE e MCTI, permite navegar por uma infinidade de
modelos, cenários, variáveis e dados que, após extenso tratamento estatístico, trariam
projeções confiáveis, mesmo que dentro de faixas de incerteza.
Aqui, no entanto, a fim de considerar o possível efeito do clima, buscou-se alguma
referência mais geral e ampla das tendências previstas para a região, sobretudo no que
diz respeito aos eventos extremos de chuva. Toma-se como base os mapas de projeções
climáticas do país disponíveis na 4ª Comunicação Nacional às Nações Unidas no âmbito
do Acordo de Paris (UNFCCC)24 relacionados a projeções do projeto Helix e à variável
RX5day, ou seja, a precipitação máxima acumulada em cinco dias consecutivos
(intrinsecamente relacionada a eventos de cheias).
As figuras a seguir mostram extratos dos mapas disponibilizados na 4ª Comunicação
Nacional para a variação do RX5day no inverno e verão em relação ao período histórico
para o cenário de aquecimento SWL4 (Specific Warming Level).

23
World Economic Outlook (WEO). Disponível em:
https://www.imf.org/en/Publications/WEO/weo-database/2020/October
24
UNFCCC: United Nations Framework Convention on Climate Change. Disponível em:
https://unfccc.int/non-annex-I-NCs
54
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Modelos

Meses de verão

Meses de inverno

Figura 5.4 - Projeções de extremos climáticos


A figura acima traz as projeções de extremos climáticos: Variação da precipitação máxima
acumulada em 5 dias – RX5day (%) em relação ao período de referência (1981-2010), para
o SWL4 no verão e inverno para cada experimento realizado com o modelo HadGEM3
(extraído de Fourth National Communication of Brazil to the UNFCCC, Brasil, 2020).
A partir de uma análise qualitativa e visual do conjunto de mapas associado aos modelos,
é possível concluir que é esperada uma piora nos indicadores de extremos de chuvas,
tanto no verão quanto no inverno. Logo, pode-se esperar que as mudanças do clima
aumentem os danos e prejuízos associados aos eventos de inundações e enxurradas. O
percentual de variação para o indicador RX5days chega a mais de 60% em alguns
experimentos (como são chamados os modelos) e em alguns poucos casos há redução
prevista.
Como pode ser observado pelos onze eventos históricos de cheias ocorridos na região do
Muriaé entre os anos de 1995 e 2019, todos ocorreram entre novembro e março (sendo
4 em dezembro e 5 em janeiro). Dessa forma, o período do verão é o de maior interesse,
já que coincide com as piores chuvas e aquelas associadas aos eventos com danos do
passado. Nessa temporada, todos os mapas da 4ª Comunicação Nacional apontam uma
variação positiva do indicador de 20% a 40% no cenário SWL4 (decorrentes dos cenários
climáticos futuros em que o aquecimento médio global é de 4o C).
Embora a consideração do SWL4 possa parecer exagerada para o horizonte do projeto, as
trajetórias atuais de emissões globais apontam para este cenário provável, sendo
recomendado que políticas de adaptação sejam desenhadas para o mesmo.
Considerando os percentuais discutidos acima, optou-se por aplicar uma piora arbitrária
de 20% nos efeitos hidrológicos do clima sobre os resultados do projeto no ano final da
análise (ano 30). Na prática, isso significou reduzir os tempos de retorno nesse percentual

55
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

e recalcular as curvas de probabilidade de excedência de danos e seus efeitos anualizados


para o ano 30.
Sabe-se que a mudança do clima pode ser uma variável de suma importância na ACB de
projetos intrinsecamente dependentes de variáveis hidrometeorológicas e que, embora
existam estudos cada vez mais robustos de projeções climáticas e que as variáveis têm
apontado para direções relativamente mais estabelecidas, ainda é passível de muita
incerteza. Cabe, ao nível de uma ACB Preliminar, “testar” a sensibilidade deste fator nos
resultados de tomada de decisão final, como será feito na seção correspondente (capítulo
8, análise de sensibilidade).
A figura a seguir mostra as curvas considerando os efeitos socioeconômicos (item
anterior, 5.6.1) e da mudança do clima (presente item) de forma concomitante para o ano
t=30. Nota-se que os valores de danos e prejuízos aumentam em relação ao t=0, assim
como os tempos de retorno dos eventos considerados reduzem. Com as curvas em t=0 e
t=30 e seus valores anuais, foi possível distribuir os benefícios no tempo, adotando-se a
premissa simplificadora de uma distribuição linear (próximo item, 5.7).

Sem projeto (Contrafactual)


Perda (R , mil)

Projeto

Probabilidade de excedência

Figura 5.5 - Curva de perdas em função da probabilidade de eventos de inundação e enxurradas


com e sem o projeto projetados para o ano T30

RESULTADOS DOS BENEFÍCIOS DO PROJETO


As premissas apresentadas permitem compilar a somatória dos benefícios das perdas
evitadas (sendo que os prejuízos correspondentes ao setor de serviços privado contam
com estimativa própria, enquanto os demais prejuízos e danos materiais seguem a
estimativa de Banco Mundial, 2020) e do aumento do bem-estar pela redução do risco de
eventos de cheias promovido pelo projeto.

56
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

O resultado da somatória dos benefícios econômicos no ano t=30 é de R$ 19,43 milhões


(anualizado). Já no ano t=30, espera-se que o aumento dos ativos em risco e o aumento
do risco climático eleve o benefício para R$ 36,48 milhões (anualizado). Como forma de
distribuir os benefícios no tempo, entre o ano 2 e o ano 29, adotou-se a premissa
simplificadora de uma distribuição linear, cujo incremento anual no valor do benefício é
equivalente a R$ 0,59 milhões. A tabela a seguir apresenta os resultados para alguns anos,
iniciando-se no 5º uma vez que nos quatro primeiros anos o benefício não pode ser
contabilizado devido ao período de implementação do projeto.
Tabela 5-10 - Benefício das perdas evitadas (R$, milhões)
Município Ano 5 ... Ano 15 ... Ano 30
Perdas Evitadas 19,61 ... 24,92 ... 32,89

Melhora no bem-estar 2,17 ... 2,74 ... 3,59


TOTAL 21,78 ... 27,66 ... 36,48

57
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

6. EXTERNALIDADES E EFEITOS INDUTIVOS


O presente item aborda a consideração das externalidades e dos efeitos indutivos, que
podem ter efeito positivo ou negativo e, conforme Manual ACB Infra Hídrica, são tratadas
respectivamente como benefícios ou benefícios negativos para não desencadearem
interpretações indevidas com os custos de implementação e operação do projeto (CapEx
e OpEx, tratados no capítulo 4).

ESTIMAÇÃO DE EXTERNALIDADES
A implantação de um projeto como o complexo de barragens e canais para controle de
cheias na bacia hidrográfica do rio Muriaé deverá trazer benefícios sociais, os quais muitos
não estão a mercado e necessitaram de valoração específica, como é o caso das perdas
evitadas e da melhora no bem-estar (via proxy da valorização imobiliária). Dessa forma,
os benefícios do aumento da resiliência à mudança do clima e redução da vulnerabilidade
ao risco dos desastres já estão devidamente contabilizados. Aqui são abordadas as
externalidades, pois são impactos que recaem sobre terceiros sem uma devida
compensação, capazes de gerar, portanto, um custo (ou benefício) que extravasa do
projeto para partes externas.

Externalidades negativas consideradas no CapEx e OpEx


A primeira consideração sobre as externalidades potenciais do Complexo Muriaé é sobre
aquelas já computadas e que não devem ser novamente consideradas para não haver
dupla contagem. São elas:
▪ O uso alternativo da terra que deve ser desapropriada para a implantação das
barragens (e principalmente de seus lagos) e dos canais, que foi considerado nos
custos com aquisições de propriedades, de acordo com as estimativas do SIEMEC
(inclusive compõe grande parte da diferença de custos entre as duas alternativas
analisadas); e
▪ Os impactos ambientais temporários decorrentes da instalação do projeto, que
devem ser compensados por meio da execução dos programas ambientais
resultantes do processo de licenciamento, cuja previsão orçamentária compõe os
custos (ver capítulo 4).
O custo de tais externalidades já está considerado na estimativa de CapEx e/ou de OpEx.

Serviços ecossistêmicos hídricos


Conforme orientação do Manual ACB Infra Hídrica, especial atenção deve ser dedicada às
externalidades nos ecossistemas hídricos e seus serviços ecossistêmicos. A influência do
projeto pode se dar: (i) pela regularização de vazão, modificando a disponibilidade natural
a jusante; pela (ii) retenção de sedimentos e nutrientes; (iii) pelo suprimento de água para

58
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

usos consuntivos; e (iv) pelo suprimento de água para usos não consuntivos. Cada qual é
abordado na sequência, sendo que a avaliação é realizada de forma qualitativa.
Regularização de vazão
Quanto ao primeiro efeito, sabe-se que a região estudada conta com um regime de
precipitações com uma sazonalidade bastante marcada. Segundo as normais climáticas
(1981 a 2010) do INMET para o município de Muriaé, exatamente metade de toda a
precipitação anual ocorre em três meses (de dezembro a fevereiro). Durante outros seis
meses do ano (de abril a setembro), pode-se esperar apenas 20% da precipitação anual.
Isso demonstra que as vazões são também bastante marcadas, indicando que pode haver
um impacto significativo em sua regularização.
Adicionalmente, os reservatórios previstos para controle de cheias não serão os únicos a
regularizarem vazões nos rios Carangola e Muriaé. Em consulta ao cadastro de usinas e
pequenas centrais hidrelétricas (PCH), identificaram-se 17 aproveitamentos hidrelétricos:
▪ Rio Carangola (afluente ao rio Muriaé): PCH Carangola, no município homônimo, PCHs
São Lourenço e Tombos, no município de Tombos;
▪ Rio Glória (afluente ao rio Muriaé): PCH São Pedro no município de Fervedouro, PCHs
Bicuíba, São Francisco do Glória, Mariano e Santa Cruz, no município de São Francisco
do Glória e PCH Ormeo Junqueira Botelho, no município de Muriaé;
▪ Rio Fumaça (afluente ao rio Preto): PCH Coronel Domiciano, no município de Muriaé;
▪ Rio Preto (afluente ao rio Muriaé): PCH Preto, no município de Muriaé (e outros 3
aproveitamentos inventariados);
▪ Rio Muriaé: PCHs Comendador Venâncio, Itaperuna, Arã, Paraíso e São Joaquim,
todas no município de Itaperuna-RJ e PCH Italva, no município homônimo.
Por mais que as PCHs possam operar a fio d’água, acabam por regularizar vazões e
diminuir o pulso de vazão que ocorre nos meses de chuvas mais intensas (verão). Essa
regularização pode não gerar a segurança necessária para o controle de cheia, mas para
afirmar se esse é o caso e, para eventualmente considerar a operação das hidrelétricas
como potenciais auxiliares à contenção de eventos extremos, deve-se realizar modelagem
hidráulica-hidrológica com a inclusão dos barramentos existentes e previstos. Algumas
PCHs podem estar inventariadas, o que demanda conhecer o potencial dos rios para esse
fim e considerar suas operações em conjunto.
Esse importante aspecto não foi considerado pelo SIEMEC, e tampouco cabe ao escopo
da presente ACB Preliminar, pois demanda modelagem hidráulica-hidrológica. Não
obstante, é tema de maior interesse para o encaminhamento do aprofundamento dos
estudos para o projeto, como aborda-se no item 7.1.
Retornando aos serviços ecossistêmicos, cabe destacar que a regularização das vazões
pelos reservatórios e canais do projeto não tem o intuito de abastecer usos consuntivos,
portanto não afetarão os volumes de água disponibilizados aos cursos d’água. Outro
ponto que ameniza a potencial geração de externalidades negativas é o fato de não se
tratar de reservatórios de capacidade muito elevada de reservação (ver item 3.3.1).

59
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Retenção de sedimentos e nutrientes


Quanto ao segundo efeito, de retenção de sedimentos e nutrientes, não se tem
elementos suficientes para a análise, embora se saiba que todo reservatório é retentor
de sedimentos. Os efeitos de tal retenção, no entanto, são dificilmente quantificados e
valorados, pois alguns usuários poderão se beneficiar da retenção (usos de captação para
abastecimento humano, por exemplo), enquanto outros podem vir a se prejudicar devido
ao menor aporte de nutrientes (irrigantes, por exemplo).
O estabelecimento dos diversos vínculos físicos, biológicos (eventualmente) e
socioeconômicos, demanda estudos que superam a abrangência desta ACB Preliminar,
mas que não apresentam altos riscos para o projeto por não se vislumbrarem,
preliminarmente, ocorrências intensas e muito impactantes.
Suprimento de água para usos consuntivos
O terceiro efeito de geração de externalidade nas categorias de serviços ecossistêmicos
de interesse, é o aumento do suprimento de água para usos consuntivos por meio dos
novos reservatórios. Uma vez que os reservatórios estejam em operação, pode-se
vislumbrar a possibilidade do aproveitamento de suas águas reservadas por usos
múltiplos, tais como o abastecimento público, agricultura, indústria, geração de energia
termelétrica e outros.
Em consulta ao PNSH, verificou-se que não há, na região, risco hídrico nas dimensões
humana e econômica, tanto na situação atual (2017) como prospectiva (2035). Estes
dados permitem concluir que dificilmente um aproveitamento de usos consuntivos dos
novos barramentos venha a suprir uma demanda já existente. Pode-se, outrossim,
vislumbrar novas oportunidades de uso das águas, mas que possivelmente serão
socialmente neutras (não deverá haver incrementalidade).
Suprimento de água para usos não consuntivos
Por fim, o quarto efeito de externalidade é quanto ao suprimento de água para usos não
consuntivos, como a produção de energia hidrelétrica, recreação e pesca. Estes efeitos
poderão ocorrer e tendem a ser localmente significativos, com novas oportunidades de
lazer gerando emprego e renda. Entretanto, não é possível afirmar se nas economias
desenvolvidas do local do projeto esse incremento ocorrerá de forma líquida, ou seja, sem
que haja uma mera transferência de atividades.
Como visto, no entanto, o aproveitamento hidrelétrico pode vir a ser considerado como
um importante módulo a ser adicionado ao projeto no intuito de gerar maiores benefícios
sociais, como aborda-se no item 7.1.

Emissão de gases de efeito estufa


O projeto abrange a implantação de três barramentos e uma série de canais para reduzir
os danos de eventos extremos de cheias, não havendo, portanto, influência na geração
de energia elétrica ou consumo de combustível associado à sua operação. Por essa razão,
as externalidades de emissão de gases de efeito estufa não são consideradas relevantes.

60
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Atenta-se que as emissões de GEE oriundas do consumo energético não devem ser
consideradas, seguindo a orientação do Manual ACB Infra Hídrica, uma vez que já o foram
(ou deveriam ter sido) quando da decisão pela fonte geradora de energia. Fazê-lo
novamente seria incorrer em dupla contagem sob o ponto de vista social.
Ademais, poderão ocorrer emissões durante a fase de implantação do projeto, mas estas
são de cunho pontual em relação à vida útil do mesmo. Retoma-se o explanado no item
6.1.1, que aborda a valoração das externalidades durante as obras com base no valor de
custeio dos programas ambientais que os mitigam.

EFEITOS ECONÔMICOS INDUTIVOS, INDIRETOS E DE SEGUNDA ORDEM

Avaliação dos Efeitos Econômicos Indutivos


Efeitos econômicos indutivos, indiretos e de segunda ordem (Wider Economic Impacts -
WEIs) devem ser analisados com cautela, pois pode-se incorrer em dupla contagem de
benefícios caso os mercados secundários, afetados pelas mudanças promovidas pelo
projeto, sejam relativamente eficientes.
A partir das alternativas do projeto de controle de cheias do Muriaé, investiga-se o
potencial benefício econômico indutivo oriundo da redução das ocorrências de eventos
de cheias e enxurradas. Uma vez que os municípios beneficiados passem a contar com
uma redução substancial do risco de ocorrência destes desastres, deve-se investigar se
poderá haver indução sobre o mercado de trabalho, sobre aglomeração produtiva ou
ainda indução ao investimento.
Cada uma destas três categorias de WEIs, trazidas pelo Guia ACB, são analisadas para o
presente caso do Complexo Muriaé:
▪ Não se vislumbram alterações induzidas pelo projeto no comportamento da oferta de
mão de obra, devendo ser desconsiderado o efeito indutivo sobre o mercado de
trabalho.
▪ Também não se vislumbra a geração de efeitos de aglomeração, pois não se trata de
projeto que deve modificar a densidade de determinadas atividades econômicas e
reduzir seus custos de transação.
▪ Pode-se esperar, no entanto, um efeito positivo do projeto via indução do
investimento nos municípios beneficiados pela redução do risco de desastres. Em
teoria, os municípios poderão apresentar restrições atuais ao investimento dada a
conhecida probabilidade de perda ou cessão de atividade econômica trazida pelos
desastres. Afinal, os eventos de inundações e enxurradas são frequentes e
recorrentes, como se observou no item 5.2, podendo-se supor que com amplo acesso
à informação, os agentes econômicos poderiam estar alterando seu comportamento
em função do risco. Como forma de se investigar essa hipótese de restrição
econômica pelo risco, traçou-se a seguinte hipótese, testada empiricamente confirme
se descreve abaixo:

61
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

o H0: há restrição econômica pela recorrência de inundações e enxurradas,


materializada em taxas econômicas suprimidas;
o H1: não há restrição econômica pelo risco de inundações e enxurradas.
Para testar a hipótese, utilizou-se dos seguintes dados: (i) a quantidade de eventos de
inundações e enxurradas, de 1995 até 2019; (ii) o valor agregado bruto do setor de
serviços privado (excluindo, portanto, os serviços públicos) e o valor agregado bruto da
indústria (em 2018, último ano disponível para municípios), uma vez que estes são os
agregados econômicos que, em tese, devem ser os mais sensíveis ao risco das enxurradas
e inundações urbanas; e (iii) a população estimada em 2020.
A base de dados foi compilada para todos os municípios dos estados de São Paulo, Minas
Gerais e Rio de Janeiro (1.590 municípios), pois são os estados da bacia do rio Paraíba do
Sul onde se localiza a sub-bacia do Muriaé. Dentre este universo, selecionou-se aqueles
com população entre 30 e 150 mil habitantes, faixa que engloba os municípios de
Carangola, Muriaé e Itaperuna. Estes três municípios são os que concentram 73% das
perdas econômicas passadas dentre os dez municípios na sub-bacia analisada, bem como
apresentam uma quantidade relevante de episódios de ocorrência dos eventos de
interesse (6, 7 e 6 eventos, respectivamente).
O resultado é um conjunto de 272 municípios, diferenciados pela ocorrência de 6 ou mais
eventos de cheias no intervalo de 1995 a 2019 (conforme Banco Mundial, 2020), assim
identificando 37 municípios. Essa frequência de eventos se traduz na ocorrência de um
episódio de cheia a cada 4 anos, na média. Julga-se que esse intervalo deva ser frequente
o suficiente para impor restrições ao investimento.

Figura 6.1 - Relação entre o VAB Privado (serviços e indústria), o porte populacional e o registro
de eventos de inundações e enxurradas (nos últimos vinte anos)
Uma análise visual (Figura 6.1, acima) da relação entre o VAB (serviços privados e
indústria) e o porte populacional dos municípios, destacando-se aqueles com o elevado
62
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

nível de eventos de cheias, permite inferir que a plausibilidade da hipótese da restrição


econômica. As premissas adotadas selecionam, enfim, um conjunto razoavelmente
equivalente de municípios (considerando tanto o porte de suas populações como sua
localização geográfica, na bacia do rio Paraíba do Sul) que podem ter seu VAB distintos,
na média, devido aos eventos de cheias e inundações recorrentes.

Figura 6.2 - Resultados da regressão logística para restrição econômica


Além da inspeção visual, testou-se a hipótese de que os eventos de cheias são fatores
restritivos por meio do teste t para o VAB, identificando-se pelo resultado que a mesma
não deve ser rejeitada25, como observa-se pela figura acima.
Uma vez que, estatisticamente, identifica-se a restrição econômica pela recorrência de
eventos de cheias, o próximo passo é identificar seu grau de influência, ou seja, quão
menor tende a ser, na média, a diferença entre o VAB (serviços privados e indústria) dos
municípios que tiveram mais de 6 eventos de cheias em comparação aos demais.

Figura 6.3 - Resultados da regressão logística para restrição econômica


Para tal, foi realizada regressão logística cujo modelo se mostra estatisticamente
significativo, com um x2 = 18,7662, sendo que o pseudo R2 (Nagelkerke) explica 12,15% da
variância e classificou corretamente 100% dos casos. Tanto a variável de porte
populacional quanto a do VAB são estatisticamente significativas, embora o parâmetro da
primeira seja muito baixo. Nota-se pelo coeficiente (figura acima) do VAB que a esperada
relação inversa com a ocorrência de eventos se verifica. Uma vez que o p <0,001 é
estatisticamente significativo, pode-se concluir que os municípios que sofreram com 6 ou

25
Uma vez que não se pode concluir pela distribuição normal da variável (Shapiro-Wilk’s p
<0,0001), considera-se o teste de Welch.
63
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

mais eventos de cheias apresentam um VAB (serviços privados e indústria) que é 99,86%
daqueles que não sofreram com tais eventos.
Os resultados do modelo podem, portanto, ser considerados para valorar o benefício da
indução do investimento nos municípios beneficiados pela redução do risco de desastres
no caso da bacia do rio Muriaé. Assume-se, pois, que o projeto trará um alívio à restrição
econômica existente, por meio da geração de mudanças comportamentais locais em
termos de decisão de investimento em uma ambiência de risco de eventos hidrológicos
muito reduzido.

Valoração do benefício da indução do investimento


Com base nos resultados históricos do VAB de serviços públicos e do VAB industrial,
adotou-se o mesmo roteiro que o exposto no item 5.6.1 para a realização da projeção de
tais valores no futuro. Sobre a projeção do VAB para cada ano, do ano 1 ao ano 30 da
análise, aplicou-se o parâmetro de liberação econômica desvendado pelo modelo acima
descrito.
Tabela 6-1 - Benefício da indução do investimento (R$, milhões)
Município Ano 5 ... Ano 15 ... Ano 30
Carangola 516,59 ... 653,67 ... 930,40

Tombos 69,54 ... 87,17 ... 122,33


Porciúncula 217,03 ... 268,90 ... 370,84

Natividade 181,23 ... 221,81 ... 300,32

Miraí 254,01 ... 307,34 ... 409,05


Muriaé 2.193,05 ... 2.651,84 ... 3.526,10

Laje do Muriaé 76,69 ... 90,86 ... 117,19


Itaperuna 2.637,66 ... 3.111,87 ... 3.987,70

Italva 228,99 ... 268,28 ... 340,21

Cardoso Moreira 189,37 ... 218,33 ... 270,29


Total 6.564,15 ... 7.880,05 ... 10.374,44

Os valores do benefício da indução são bastante relevantes, representando R$ 6,14


milhões no ano 1 e crescendo até R$ 10,37 milhões no ano 30. Em relação aos benefícios
das perdas evitadas, tem-se que a indução representa cerca de 30% destes.

64
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

7. INDICADORES DE VIABILIDADE DO PROJETO

INDICADORES DA ACB
Com os custos e benefícios do projeto e suas alternativas determinados, é possível realizar
o cálculo dos indicadores da análise de custo-benefício por meio do fluxo de caixa social
do projeto, apresentado em detalhes no anexo digital. O fluxo de caixa dos custos e dos
benefícios econômicos esperados, ano a ano pelo projeto, é reduzido a um valor comum
e de mesma base temporal por meio da aplicação da Taxa Social de Desconto (TSD).
▪ Valor Social Presente Líquido Comparativo (∆VSPL): a diferença entre o VSPL do
cenário alternativo e base – representa o benefício ou custo social líquido do projeto
trazido a valor presente à Taxa Social de Desconto;
▪ Valor Anual Equivalente (VAE): valor que, se recebido anualmente pela vida útil do
projeto, teria o mesmo ∆VSPL que o próprio projeto;
▪ Taxa de Retorno Econômica (TRE): a taxa de desconto que resulta em um valor igual
a zero para o ∆VSPL, corresponde ao retorno socioeconômico do projeto;
▪ Índice Benefício-Custo (B/C): dado pelo quociente entre os valores presentes de
benefícios e custos econômicos.
A tabela abaixo traz os resultados de cada um destes indicadores para as duas alternativas
de projeto consideradas, lembrando que ambas trazem os mesmos benefícios (são
alternativas equivalentes em termos de resultado finalístico), embora difiram em custos
de implantação.
Tabela 7-1 - Indicadores da ACB Socioeconômica
Alternativa 1 Alternativa 2
Indicadores da ACB social (combinação de 3 (canais,
barragens e canais) sem barragens)

Valor Presente Líquido dos Custos -R$ 211,79 -R$ 301,23

Valor Presente Líquido dos Benefícios R$ 256,31 R$ 256,31

Valor Social Presente Líquido Comparativo (∆VSPL) R$ 44,52 -R$ 44,92

Valor Anual Equivalente (VAE) R$ 4,14 -R$ 4,18

Taxa de Retorno Econômica (TRE) 10,18% 7,23%

Índice Benefício-Custo (B/C) 1,21 0,85

A ACB permite facilmente identificar que a alternativa 1 (combinação entre três barragens
e canais) é mais custo-benéfica do que a Alternativa 2 (sistemas de canais de maior porte,
sem barragens). Enquanto a alternativa 1 apresenta o valor presente dos custos de R$ 212
milhões, a alternativa 2 é R$ 89 milhões mais custosa.
A alternativa 1, além de apresentar melhores indicadores de viabilidade social do que a
alternativa 2, agrega valor líquido à sociedade, pois seu índice benefício/custo supera a
65
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

unidade (1,21). Ou seja, o projeto gera benefícios sociais que superam em 21% os custos
sociais (VPL dos custos de R$ 212 milhões contra o VPL dos benefícios de R$ 256 milhões).
Pela ótica agregativa da ACB, a implantação do projeto gera um valor positivo líquido de
R$ 44,5 milhões em valor social (valor social presente líquido - ∆VSPL).
O resultado da TRE da alternativa 1 também permite concluir pela suficiência na geração
de valor econômico, uma vez que seu resultado, de 10,18%, supera a TSD de 8,50%, que
é representativa do mínimo necessário para compensar o custo de oportunidade social
do investimento no tempo.
A TSD foi determinada pela Secretaria de Desenvolvimento da Infraestrutura do
Ministério da Economia (Nota Técnica nº 19.911/2020)26 para aplicação em análises
custo-benefício de projetos de investimento em infraestrutura em 8,50% ao ano,
refletindo a percepção da sociedade quanto ao custo de oportunidade do capital para
novos investimentos.
Segundo Manual ACB Infra Hídrica, quando o resultado da TRE fica acima de 11,4%, o
projeto pode ser considerado viável mediante realização de análise de sensibilidade e de
riscos padrão. Eis que, no caso do presente estudo, nenhuma das alternativas ultrapassam
esse limiar. Resultados entre 8,5% e 11,4%, como é o caso da alternativa 1, devem ser
submetidos à análise probabilística de riscos, por meio de simulação de Monte Carlo ou
equivalente, para permitir ao gestor melhor inferir sobre a robustez do resultado
apresentado.
Ainda segundo Manual ACB Infra Hídrica, quando o resultado da TRE se apresenta entre
5,7% e 8,4%, como é o caso para a alternativa 2, o projeto é a princípio classificado como
inviável. Caso essa fosse a melhor das alternativas, recomendar-se-ia proceder a uma
cuidadosa análise dos efeitos distributivos do projeto (capítulo 9), além da própria análise
probabilística de riscos (capítulo 8). Como a alternativa 1 é custo-benéfica e trata
exatamente do mesmo problema social dos desastres hidrológicos aos municípios
envolvidos que a alternativa 2, pode-se desconsiderar esta última da análise subsequente.
Muito embora o foco da análise, doravante, passe a ser apenas a alternativa 1, cabe
discorrer novamente sobre as alternativas: idealmente uma ACB Preliminar da tipologia
de controle de cheias deveria analisar diversas alternativas de projeto, e não apenas duas
que são, por sua vez, focadas exclusivamente em opções de engenharia convencional
(conforme item 3.3).
Dessa forma, um possível encaminhamento a partir dos resultados obtidos é que haja
uma remodelação das alternativas de engenharia para a contenção de cheias,
contemplando opções potencialmente menos custosas que a alternativa 1.
A partir disso, em especial da análise dos efeitos distributivos, o gestor do projeto poderá
melhor decidir sobre a continuidade ou não do projeto, considerando sobretudo as
possibilidades de, nos estudos futuros, reduzir os custos de implementação via:

26
Disponível em: https://www.gov.br/economia/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/notas-
tecnicas/2020/nt_taxa-social_vf.pdf/view
66
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

▪ Combinação de infraestruturas verdes e cinzas, por meio de Soluções baseadas na


Natureza (SbN) para reservar fluxos em excesso off stream em área alagáveis (de
preferências áreas naturais que deixaram de exercer essa função devido ao uso
antrópico) e promover a revitalização da bacia hidrográfica por meio de seus pontos
críticos para o escoamento superficial, adoção de práticas conservacionistas,
restauração de zonas úmidas e eliminação de pontos de estreitamento.
▪ Atuação coordenada com os aproveitamentos hidrelétricos existentes (são 17 PCHs
nos rios de interesse, conforme listagem trazida no item 6.1.2), estabelecendo regras
operativas que possam restringir as vazões máximas dos eventos extremos mediante
sistema de operação emergencial conjunta. Essa é uma medida de gestão (soft) em
detrimento à de engenharia, cujo custo de implantação é potencialmente irrisório em
comparação ao custo de R$ 212 milhões da alternativa 1 (em VPL).
o Para avaliar a viabilidade técnica dessa solução, é necessário que os estudos
considerem modelagens hidráulico-hidrológicas das PCHs existentes e dos
demais aproveitamentos que eventualmente serão instalados na sub-bacia,
considerando sua operação conjunta.
o Mesmo que as regras operativas das PCHs não venham a ser suficientes para
reduzir, per se, as perdas ao nível de risco almejado pelo projeto, torna-se
bastante plausível que possam gerar, minimamente, um redimensionamento
a menor dos barramentos projetados exclusivamente para o controle de
cheias.
▪ Promoção do aproveitamento hidrelétrico de uma ou mais barragens do projeto, de
forma a estudar a geração de energia como um módulo que agregaria benefícios
sociais e poderia reduzir o risco de inviabilidade socioeconômica.
▪ Ainda outra alternativa para a redução dos custos do projeto, e que não é de cunho
hidrológico, é a promoção do reassentamento (mesmo que involuntário) de
propriedades que se localizem em locais mais sensíveis aos episódios de inundação e
enxurrada. Poder-se-ia, assim, reduzir os ativos econômicos em risco. O custo de tais
reassentamentos pode (eventualmente) ser menor do que o da implantação das
obras (barragens e canais) que também promoveriam algum reassentamento
involuntário, embora nos locais de construção das barragens e canais.
Ainda outro encaminhamento para os estudos complementares ao projeto é a obtenção
de dados primários junto aos municípios mais afetados com vistas a abordar potenciais
subestimações na estimativa dos danos evitados. Conforme esclarecido no capítulo 5, a
base de dados para o cômputo das perdas evitadas contabiliza tanto danos materiais
como prejuízos. Estes prejuízos traduzem o valor monetário correspondente as atividades
econômicas que deixaram de ser realizadas devido à ocorrência do desastre.
Embora o Formulário de Informações do Desastre (FIDE) seja subdividido nos setores
econômicos de indústria, serviços, agricultura e pecuária, seu preenchimento é de
responsabilidade do município. Pode-se supor que haja, portanto, uma subestimação dos
valores, que se concentram mais em danos do que em prejuízos. Como é mais bem
detalhado na seção de análise distributiva, mesmo com resultados positivos
67
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

relativamente tímidos o projeto traz benefícios sociais do ponto de vista do bem-estar da


população que passaria a não mais conviver com os desastres.

RESUMO DOS RESULTADOS


A tabela abaixo apresenta o resumo dos resultados da ACB Preliminar econômica do
projeto Complexo Muriaé, incluindo os resultados da análise de risco (capítulo 8) e da
análise distributiva (capítulo 9) que são objeto dos próximos capítulos. Seu intuito é o de
facilitar a comunicação dos resultados obtidos.
Tabela 7-2 - Quadro Resumo dos Resultados do Complexo Muriaé
Indicadores de viabilidade Resumo dos pontos principais das análises
(1º e 3º quartis da análise complementares
probabilística)
Alternativa
Análise Análise
∆VSPL TRE Índice B/C Análise de
Qualitativa de Distributiva
(R$, MM) (%) (B/C) Sensibilidade
Risco

Alto risco: O poder público


desatualização municipal é o
Alta sensibilidade da modelagem principal ator
ao CapEx faz com hidráulico- beneficiado, se
1- Sistema de +44,52 10,18 1,21 apropriando de
(-62 a (6,88 a (0,82 a que haja 48% de hidrológica;
barragens e chances de o opção 32%. Os
canais +73) 10,71) 1,27) munícipes em
projeto não tecnológica
retornar ∆VSPL analisada não geral dos locais
positivo. Alt considera beneficiados
sensibilidade interação com devem se
também ao demais soluções apropriar de 30%
benefício da possíveis, tais dos benefícios,
indução do como enquanto o setor
investimento, infraestruturas de serviços
-44,92 7,23 0,85 pois sem sua verdes e medidas privado outros
2- Sistema de (-212 a (4,41 a (0,58 a 26%.
consideração, de gestão - estas
canais -37) 7,63) 0,90) O projeto não
∆VSPL passa a se fazem
ser negativo necessárias para prevê pagamento
reduzir os custos de tarifas ou
do investimento subvenções

68
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

8. ANÁLISE DE RISCO
A análise de risco se divide em análise de sensibilidade a parâmetros-chave (8.1), análise
qualitativa de riscos (8.2) e análise probabilística (8.3), seguindo instruções do Manual
ACB Infra Hídrica e do Guia ACB. Todas são conduzidas com base na alternativa 1, de
acordo com as conclusões do capítulo anterior.

ANÁLISE DE SENSIBILIDADE
A análise de sensibilidade é realizada para parâmetros-chave, sendo um teste do efeito
individual que cada um apresenta sobre os resultados da modelagem realizada. Uma vez
que a ACB Preliminar pressupõe conhecimento limitado sobre o projeto e seus benefícios,
um de seus principais resultados que a análise pode fornecer está na possibilidade de
identificar a quais parâmetros os resultados são mais sensíveis. A partir dessa
identificação, tem-se um direcionamento para as etapas posteriores de avaliação do
projeto.
Identificação de variáveis-críticas
Uma primeira forma de se realizar a análise de sensibilidade é simples e direta: para cada
variável, impõe-se uma modificação (um choque) de ±1% do valor adotado na ACB,
avaliando-se a resposta dessa variação no ∆VSPL. Caso esse choque na variável
desencadeie uma resposta maior que a unidade, ou seja, maior que 1% no ∆VSPL, pode-
se identificá-la como crítica.
As variáveis testadas o são de forma independente entre si (ou seja, mantendo-se todos
os demais parâmetros constantes) e ao nível mais desagregado possível. Destacam-se na
tabela abaixo as variáveis críticas.
Tabela 8-1 - Análise de sensibilidade para identificação de variáveis-críticas
Variação % do ∆VSPL a um choque de 1% na variável

Variáveis Alternativa 1

Valor histórico dos danos e prejuízos 2,92% crítica

Parâmetro de dias improdutivos pelo desastre (perda


Benefícios

1,11% crítica
evitada dos serviços privados)
Parâmetro de valorização imobiliária (benefício bem-
0,44% não crítica
estar)

Parâmetro da indução do investimento 1,29% crítica

Projeção socioeconômica 1,67% crítica


Modelagem
Parâmetros

Sensibilidade pelas Mudanças do Clima 0,46% não crítica

Fração de abatimento para TR>100 0,15% não crítica

69
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Variação % do ∆VSPL a um choque de 1% na variável

Variáveis Alternativa 1

CapEx do projeto 4,74% crítica


(CapEx e
Custos

OpEx)

OpEx do projeto 0,4% não crítica

Das nove variáveis testadas, cinco se mostram críticas. Destas, a mais relevante no
aspecto dos benefícios é o valor histórico dos danos e benefícios: um choque de 1% é
suficiente para promover uma variação de 2,9% no ∆VSPL . Quanto aos custos, o projeto
se mostra pouco sensível ao OpEx, muito embora seja muito sensível ao CapEx, que é a
variável mais crítica: um choque de 1% no CapEx é suficiente para impor uma variação de
4,7% no ∆VSPL , tornando-se assim uma variável crítica.
A análise de sensibilidade revela ainda que variações nos parâmetros da modelagem são
relativamente menos sensíveis. Destes, as projeções socioeconômicas são as de maior
impacto nos resultados. Estas projeções balizam não apenas a leitura do incremento dos
ativos em risco, mas também o crescimento do VAB industrial e dos serviços privados que
é utilizado para a valoração dos benefícios da indução do investimento.
O parâmetro do modelo de avaliação da indução do investimento é também variável
crítica. Por aí se vê também, que a consideração do próprio benefício de indução do
investimento, que está na categoria de efeitos econômicos induzidos (WEI), é de alta
relevância para a composição dos resultados do projeto: em sua ausência, o mesmo não
seria custo-benéfico, destruindo R$ 13 milhões ao invés de acrescendo R$ 44 milhões.
Das quatro variáveis analisadas sob o aspecto dos benefícios, três são identificadas como
críticas. O resultado dessa análise permite inferir que se trata de uma alternativa de
investimento que precisa ser avaliada com cautela, pois pode não ser robusta.
Valores de inflexão
Outra forma de avaliar a sensibilidade dos resultados às variações em parâmetros e
premissas da modelagem é por meio dos seus graus de inflexão. Trata-se do valor que a
variável analisada teria que atingir para que o ∆VSPL do projeto igualasse a zero, ou seja,
para que o sinal de viabilidade do projeto se inverta.
A tabela abaixo apresenta os resultados dos valores de inflexão para que o ∆VSPL de cada
alternativa seja equivalente a 0 (zero) tomando como base as mesmas variáveis que foram
testadas na análise anterior.
Os cálculos dos valores de inflexão reforçam as conclusões da sensibilidade das variáveis
críticas acima descritas, pois permitem identificar que há uma grande sensibilidade aos
custos: um acréscimo de 21% no CapEx, relativamente pequeno em relação ao histórico

70
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

de sobrecustos em obras de infraestrutura27, é suficiente para zerar o ∆VSPL . Já em


relação ao OpEx, não se verifica sensibilidade, pois este teria de ser irreais 251% maiores
para que houvesse inflexão dos resultados.
A sensibilidade à mudança do clima não gera inflexão, pois mesmo ao se considerar o
futuro sob a mesma probabilidade de risco hidrológico que o passado, o projeto ainda
retorna ∆VSPL positivo, embora reduzido para R$ 28 milhões ao invés de R$ 45 milhões.
Outra variável que não influencia os resultados de forma significativa é a fração adotada
para o abatimento de riscos em eventos superiores aos tempos de retorno do projeto.
Uma vez que esse parâmetro fora adotado de forma arbitrária, torna-se importante
verificar que não será fator decisivo para os resultados da análise.
Tabela 8-2 - Valores de inflexão para que o ∆VSPL seja 0 (zero)
Variação % do ∆VSPL a um choque de 1% na variável

Variáveis Alternativa 1

Valor histórico dos danos e prejuízos -34,3%

Parâmetro de dias improdutivos pelo desastre (perda


Benefícios

-90,3%
evitada dos serviços privados)
Parâmetro de valorização imobiliária (benefício bem-
-225,9%
estar)

Parâmetro da indução do investimento -77,5%

Projeção socioeconômica -72,9%


Modelagem
Parâmetros

não promove inflexão, mas reduz o


Sensibilidade pelas Mudanças do Clima
∆V L de R$ 45 para R$ 28 MM

Fração de abatimento para TR>100 -659,5%

CapEx do projeto +21,0%


(CapEx e
Custos

OpEx)

OpEx do projeto +251,4%

Uma redução de 34,3% no valor histórico dos danos e prejuízos é suficiente para zerar o
∆VSPL. O resultado mostra a relevância desse benefício que é, de fato, o propósito do
projeto. Dificilmente, no entanto, as perdas históricas foram mais de uma terça-parte
superestimadas - ao contrário, como visto no item 5.4, é mais provável que as perdas
históricas estejam subestimadas.

27
O BID mapeou 200 conflitos locais relacionados a projetos de infraestrutura na América Latina
que resultaram em atrasos de execução para 81% dos casos e extrapolação dos custos em 58%
deles, além de redesenho dos projetos (42%) e cancelamento total (18%). Na média dessa amostra,
os projetos tiveram atrasos de cinco anos de execução, incorrendo em custos adicionais
equivalentes a 69% dos orçamentos originais.
71
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Quanto ao parâmetro de valorização imobiliária, utilizado como parte da valoração do


benefício ao bem-estar, tem-se pouca sensibilidade: apenas uma redução improvável de
226% conseguiria reduzir o ∆VSPL a zero.
O parâmetro de dias improdutivos pelo desastre, componente da valoração própria dos
prejuízos ao setor de serviços privados, é mais sensível. Este foi arbitrado como sendo de
15 dias improdutivos para as pessoas diretamente afetadas pelos eventos, mas caso
caísse para 1,5 dias por evento (redução de 90%), haveria a inflexão dos resultados. Muito
embora essa variação seja plausível, não se julga provável, pois foi calculada apenas com
base na quantidade de residências efetivamente afetadas pelos desastres históricos. Pelo
resultado da análise de inversão, observa-se que a escolha da valoração própria dos
prejuízos causados aos serviços privados é, per se, relevante para os resultados da análise.
Análise de cenários
A última análise de sensibilidade recomendada pelo Manual ACB Infra Hídrica é a de
cenários: trata-se da combinação de valores assumidos para as variáveis críticas,
demonstrando situações positivas e negativas entre elas. As variáveis críticas para a
análise de cenário do projeto são: (i) o valor histórico dos danos e prejuízos (R$, milhões);
e (ii) o CapEx, aqui considerado como o valor total do projeto (R$, milhões).
Tabela 8-3 - Análise de cenários da alternativa 1 para o ∆VSPL
Valor Histórico das Cenário otimista Default Cenário pessimista
Perdas (linha)
CapEx (coluna) 876 809 742 674 607 539 472

196 147 134 121 108 95 82 69


Cenário
224 126 113 100 87 74 61 48
otimista
252 105 92 79 66 53 40 27

Default 280 83 70 58 45 32 19 6

308 62 49 36 23 10 -3 -16
Cenário
336 41 28 15 2 -11 -24 -37
pessimista
364 20 7 -6 -19 -32 -45 -58

Nota-se pela tabela acima que a imposição de uma combinação de menos 30% no valor
histórico das perdas e de um acréscimo de 30% nos custos de implementação do projeto
resultam não apenas na inversão do ∆VSPL para o campo negativo, como a geração de
prejuízos que são mais amplos do que os benefícios esperados na situação default. Essa
combinação, que é a de cenário pessimista, promove a destruição de valor social. Nota-
se que qualquer combinação no campo do cenário pessimista traz mais prejuízos do que
benefícios, sendo importante para permitir a recomendação adequada dos estudos
posteriores do projeto. Por outro lado, os benefícios podem aumentar significativamente
caso os custos se mantenham, mas o histórico de perdas esteja subestimado.

72
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Análise de componentes
Esta última análise de sensibilidade apresenta os resultados da ACB correspondentes às
modificações nas categorias de benefícios. Objetiva-se com essa análise ponderar o peso
relativo dos componentes.
A primeira simulação dos componentes é a que retira da análise a consideração própria
dos prejuízos aos serviços privados (conforme item 5.4.2). Estes são apenas um
componente das perdas totais, que incluem prejuízos aos demais setores econômicos
privados (agropecuária e indústria) e ao setor público, além dos danos materiais (às
habitações, instalações públicas e infraestrutura).
Não obstante, trata-se de componente das perdas no qual se supõe haver subestimação.
Caso se opte por considerar os valores dos prejuízos aos serviços privados trazidos por
Banco Mundial (2020), em detrimento aos calculados por meio dos dias improdutivos da
população diretamente afetada, o resultado do projeto seria significativamente inferior,
como se observa na tabela abaixo.
Tabela 8-4 - Análise de sensibilidade para componentes dos benefícios
∆VSPL VAE TRE B/C
(R$, milhões) (R$, milhões) (%) (índice)

Resultados default R$ 44,52 R$ 4,14 10,18% 1,21

Resultados sem a valoração própria dos


R$ 4,81 R$ 0,39 8,66% 1,02
prejuízos privados

Resultados desconsiderando os
benefícios ao bem-estar R$ 24,81 R$ 2,31 9,45% 1,12

Resultados desconsiderando os
benefícios da indução do investimento -R$ 12,93 -R$ 1,20 7,99% 0,94

Já quanto ao efeito do benefício de incremento do bem-estar, observou-se pela análise


de inflexão que apenas uma redução improvável de 226% conseguiria reduzir o ∆VSPL a
zero. Inobstante o resultado que indica uma baixa sensibilidade, trata-se de uma
importante categoria de benefício. A desconsideração desse benefício, cuja proxy é a
valorização dos imóveis que deixam de ser afetados pelos eventos de cheias, pode levar
o ∆VSPL de R$ 45 milhões (default) para R$ 25 milhões, como se observa na tabela (acima)
que apresenta os indicadores da alternativa 1 sem essa categoria de benefício.
Por fim, quanto ao benefício da indução do investimento, tem-se que este é essencial
para o resultado positivo do projeto. A liberação da restrição ao investimento devido à
frequência de eventos é responsável por uma significativa fração dos benefícios totais e
sem ela, o projeto traria um ∆VSPL negativo de R$ 12,9 milhões.

73
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

ANÁLISE QUALITATIVA DE RISCOS


O presente item traz a análise qualitativa de riscos, que busca informar o tomador de
decisão quanto aos eventos adversos que poderão ocorrer com o projeto durante o prazo
de análise. A análise é realizada com base na identificação e avaliação dos eventos
adversos, seguido de classificação quanto à probabilidade28 e severidade29 de ocorrência.
No cruzamento entre estas a probabilidade e a severidade, tem-se o nível resultante de
risco, conforme orientação do Manual ACB Infra Hídrica e Guia ACB.

Desatualização da modelagem hidráulico-hidrológica


▪ Avaliação: embora o projeto figure no PNSH, de 2019, e ainda não tenha sido
executado, o estudo que embasou a presente avaliação é de 2014 (SIEMEC). No
intervalo até o presente, diversas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) podem ter
sido instaladas ou estão em vias de serem instaladas nos rios de interesse (tendo sido
inventariadas), fazendo com que haja o risco de o estudo de base estar desatualizado.
Outras intervenções que podem ter sido implementadas são as barragens que não
foram selecionadas pelo SIEMEC, mas que estão contempladas pelo PNSH, cujos
executores e intervenientes são: Departamento de Obras Públicas do Estado de Minas
Gerais - DEOP/MG (CC-MG-009) e Secretaria de Estado do Ambiente - SEA-RJ (CC-RJ-
001 | CC-RJ-002);
▪ Consequência: a modelagem hidráulica-hidrológica de base para o projeto, que
determina o conjunto de intervenções (barragens e canais na alternativa 1), pode não
refletir a situação atual.
▪ Reflexo nos indicadores da ACB: modificação na concepção do projeto (três barragens
e diversos canais, na alternativa 1), com potencial redução de custos de instalação e
de operação.
▪ Conexão com análise de sensibilidade: CapEx e OpEx (certamente) e benefícios
(eventualmente).
▪ Classificação quanto à probabilidade: provável (D).
▪ Classificação quanto à severidade do impacto: moderado (III).
▪ Nível resultante de risco: D x III = alto.

Riscos de engenharia frente às mudanças do clima


▪ Avaliação: conforme o estudo SIEMEC, que dá base à presente avaliação, as soluções
desenhadas para o controle de cheias tem como base de dimensionamento de

28
Quanto à probabilidade de ocorrência: A. improvável (0-10%); B. pouco provável (10-33%); C.
probabilidade média (33-66%); D. provável (66-90%); E. muito provável (90-100%).
29
Quanto à severidade da ocorrência sobre o bem-estar social gerado pelo projeto: I. nenhum
efeito significativo; II. pequena perda (afetando minimamente os efeitos de longo-prazo); III.
moderado (há perdas, principalmente danos financeiros); IV. crítico (alto nível de perda, ocorrência
compromete as funções primárias do projeto); V. catastrófico (podem resultar em perda grave ou
total das funções do projeto).
74
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

estruturas (barramentos e canais) que não necessariamente consideram o efeito das


mudanças do clima. Eis que as alterações nos padrões de precipitação podem ser
muito grandes, trazendo chuvas mais duras (maiores volumes em menor espaço de
tempo) que podem demandar redimensionamento das estruturas.
▪ Consequência: o risco é da necessidade de redimensionamento das estruturas
projetadas, tanto a das barragens como a dos canais, quando do desenho detalhado
das estruturas, rebatendo-se em custos mais altos.
▪ Reflexo nos indicadores da ACB: custos de instalação e de operação mais altos.
▪ Conexão com análise de sensibilidade: CapEx e OpEx.
▪ Classificação quanto à probabilidade: pouco provável (B).
▪ Classificação quanto à severidade do impacto: pequeno (II).
▪ Nível resultante de risco: B x II = baixo.

Riscos da opção tecnológica analisada


▪ Avaliação: conforme descrito no item 3.3, as duas alternativas de projeto se apoiam
exclusivamente em soluções de engenharia convencional para o controle de cheias,
não considerando as interações com infraestruturas verdes e com opções de gestão
(medidas soft) coordenando a regularização de vazão com outras barragens.
▪ Consequência: o risco de se considerar apenas uma opção tecnológica é o de
superdimensionar o projeto, com o risco menor de não se alcançar os objetivos
devido às interações não antevistas com as demais searas.
▪ Reflexo nos indicadores da ACB: pode tanto se rebater em custos de instalação e
operação mais altos, como eventualmente em reduções de benefícios.
▪ Conexão com análise de sensibilidade: CapEx e OpEx (certamente) e benefícios
(eventualmente).
▪ Classificação quanto à probabilidade: probabilidade média (C).
▪ Classificação quanto à severidade do impacto: crítico (IV).
▪ Nível resultante de risco: C x IV = alto.

Incertezas relativas à mudança do clima e projeções econômicas


▪ Avaliação: o efeito das mudanças do clima e das projeções econômicas alteram os
valores e as probabilidades de risco futuro. Estes riscos dão base à expectativa de
perdas que o projeto almeja evitar, tanto pela severidade dos eventos quanto pela
base de ativos em risco.
▪ Consequência: caso as expectativas estejam erradas, pode-se ter tanto uma
superestimação dos benefícios como uma subestimação, afetando os resultados da
análise.
▪ Reflexo nos indicadores da ACB: benefícios das perdas evitadas mais altos ou mais
baixos (incertos).
75
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

▪ Conexão com análise de sensibilidade: valor futuro dos danos e prejuízos em função
das projeções econômicas e mudanças do clima.
▪ Classificação quanto à probabilidade: probabilidade média (C).
▪ Classificação quanto à severidade do impacto: moderado (III).
▪ Nível resultante de risco: C x III = moderado.

Riscos de investimentos autônomos reduzirem as perdas


▪ Avaliação: conforme descrito no item 3.3, o cenário base foi concebido de forma a
minimizar os riscos de se ter sobreposições de investimentos que resultariam em
dupla contagem na presente avaliação. A probabilidade de que investimentos
autônomos realizados pelas prefeituras municipais possam vir a reduzir o nível de
riscos das perdas é pequena, mas não nula.
▪ Consequência: caso haja uma quantidade significativa de inversões autônomas por
parte das prefeituras municiais, o nível de perdas é reduzido e, com isso, os benefícios
do projeto se tornam ainda mais tímidos frente aos seus custos, que estariam
superdimensionados.
▪ Reflexo nos indicadores da ACB: redução dos benefícios esperados pelo projeto.
▪ Conexão com análise de sensibilidade: sensibilidade dos benefícios.
▪ Classificação quanto à probabilidade: improvável (A).
▪ Classificação quanto à severidade do impacto: moderado (III).
▪ Nível resultante de risco: A x III = baixo.

Externalidades negativas aos serviços ecossistêmicos hídricos


▪ Avaliação: esse risco é condicional à avaliação das externalidades aos serviços
ecossistêmicos hídricos, principalmente quanto à regularização de vazão, que pode
trazer prejuízos não identificados.
▪ Consequência: caso a externalidade seja alta, os custos sociais do projeto serão
afetados, podendo inviabilizá-lo.
▪ Reflexo nos indicadores da ACB: adição de novos custos de investimento (CapEx) e de
operação (custos mitigatórios).
▪ Conexão com análise de sensibilidade: não há.
▪ Classificação quanto à probabilidade: pouco provável (B).
▪ Classificação quanto à severidade do impacto: moderado (III).
▪ Nível resultante de risco: B x III = moderado.

Riscos inerentes à fase de implantação do projeto


▪ Avaliação: uma vez que o projeto demanda obras civis de grande porte, certamente
incorrerá em riscos adversos decorrentes da implantação do projeto.
76
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

▪ Consequência: Estes riscos poderão retardar o início da geração de benefícios do


projeto, bem como poderão elevar os custos de CapEx.
▪ Reflexo nos indicadores da ACB: CapEx.
▪ Conexão com análise de sensibilidade: CapEx.
▪ Classificação quanto à probabilidade: probabilidade média (C).
▪ Classificação quanto à severidade do impacto: pequena (II).
▪ Nível resultante de risco: C x II = moderado.

Riscos locais não mapeados


▪ Avaliação: por se tratar de uma etapa preliminar de avaliação, estudos mais
aprofundados deverão revelar diversos riscos locais não mapeados, que vão desde
geológicos, passando pelos orçamentários (como usos mais rentáveis das terras que
devem ser desapropriadas, por exemplo), até apoio político local ao projeto.
▪ Consequência: estes riscos não são avaliados nessa etapa preliminar.
A Tabela 8-5, abaixo, apresenta o resumo da análise qualitativa de riscos.
Tabela 8-5 – Resumo da análise qualitativa de riscos
Nível de
Risco Mapeado Consequência Medida Mitigadora
risco

A modelagem hidráulica- Atualizar a modelagem


hidrológica de base para o hidráulico-hidrológica com
Desatualização da
projeto, que determina o base nas modificações que
modelagem
Alto conjunto de intervenções podem ter ocorrido na bacia do
hidráulico-
(barragens e canais na rio Muriaé durante os sete
hidrológica
alternativa 1), pode não refletir anos transcorridos desde o
a situação atual estudo SIEMEC

Uma vez que as soluções


O risco é da necessidade de desenhadas para o controle de
redimensionamento das cheias tem como base de
estruturas projetadas, tanto a dimensionamento de
Riscos de engenharia
das barragens como a dos estruturas (barramentos e
frente às mudanças Baixo
canais, quando do desenho canais) que não
do clima
detalhado das estruturas, necessariamente consideram o
rebatendo-se em custos mais efeito das mudanças do clima,
altos devem ser reavaliados sob essa
ótica

O risco de se considerar apenas Considerar interações das


uma opção tecnológica é o de soluções de engenharia
superdimensionar o projeto, convencional desenhadas para
Riscos da opção
Alto com o risco menor de não se o controle de cheias com
tecnológica analisada
alcançar os objetivos devido às infraestruturas verdes e com
interações não antevistas com opções de gestão (medidas
as demais searas soft) coordenando a

77
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Nível de
Risco Mapeado Consequência Medida Mitigadora
risco
regularização de vazão com
outras barragens

Caso as expectativas estejam


Considerar cenários climáticos
Incertezas relativas à erradas, pode-se ter tanto uma
atuais para a estimativa das
mudança do clima e superestimação dos benefícios
Moderado perdas esperadas no futuro na
projeções como uma subestimação,
ausência do projeto (cenário
econômicas afetando os resultados da
base)
análise

Caso haja uma quantidade


Consultar as prefeituras dos
significativa de inversões
municípios beneficiados para
autônomas por parte das
Riscos de atualização e consideração de
prefeituras municiais, o nível
investimentos eventuais medidas realizadas
Baixo de perdas é reduzido e, com
autônomos na redução de risco das perdas
isso, os benefícios do projeto se
reduzirem as perdas ocorridas durante os sete anos
tornam ainda mais tímidos
transcorridos desde o estudo
frente aos seus custos, que
SIEMEC
estariam superdimensionados

Conduzir avaliação das


Externalidades externalidades aos serviços
Caso a externalidade seja alta,
negativas aos ecossistêmicos hídricos,
os custos sociais do projeto
serviços Moderado principalmente quanto à
serão afetados, podendo
ecossistêmicos regularização de vazão, que
inviabilizá-lo
hídricos pode trazer prejuízos não
identificados

Estes riscos poderão retardar o


Riscos inerentes à
início da geração de benefícios Estudo de impacto ambiental e
fase de implantação Moderado
do projeto, bem como poderão projeto executivo de qualidade
do projeto
elevar os custos de CapEx

Por se tratar de uma etapa


preliminar de avaliação,
estudos mais aprofundados
deverão revelar diversos riscos
locais não mapeados, que vão
Riscos locais não Estes riscos não são avaliados
- desde geológicos, passando
mapeados nessa etapa preliminar
pelos orçamentários (como
usos mais rentáveis das terras
que devem ser desapropriadas,
por exemplo), até apoio
político local ao projeto

ANÁLISE PROBABILÍSTICA
Este item apresenta os resultados da análise probabilística dos resultados da ACB para a
alternativa 1, realizada com base na simulação de Monte Carlo. Esse método permite
78
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

realizar uma leitura estatística dos indicadores de viabilidade obtidos por meio de 9.999
simulações que impõe à modelagem variações aleatórias em suas variáveis-chave.
Cada uma das quase dez mil alternativas traz uma composição única, produzindo um
range diverso de resultados que, dada sua aleatoriedade, permite inferir conclusões sobre
a robustez dos resultados obtidos pela análise default, conforme apresentada no capítulo
7. Em suma, o método utiliza da aleatoriedade (pressupondo-se uma distribuição normal)
para gerar resultados estatísticos para melhor compreender as incertezas inerentes à
modelagem.
As seguintes configurações do projeto Complexo de Barragens Muriaé foram impostas às
variações, quais sejam:
▪ Variação em faixas mais positivas para os custos, pois essa é a realidade dos
orçamentos nacionais em infraestrutura30: CapEx e OpEx no intervalo entre -10% e
+100% dos custos estimados, assumindo-se que os orçamentos podem ter sido
realizados de forma demasiadamente otimista;
▪ Variação entre faixas mais positivas para o valor histórico dos danos e prejuízos dos
desastres de inundações e enxurradas, pois tem-se potencial subestimação dos
registros: variação no intervalo de -20% a +120%; e
▪ Variação entre -60% e +60% para os demais parâmetros (valorização imobiliária,
projeções socioeconômicas, mudanças do clima, dias improdutivos, fração de
abatimento para eventos que superam o TR do projeto e parâmetro de indução do
investimento), dada a incerteza que se tem sobre seus verdadeiros parâmetros.
Quanto à taxa social de desconto (TSD), a simulação a manteve constante em 8,5%, pois
não obstante a viabilidade seja sensível a ela, é definida pelo Ministério da Economia.
Uma vez que as rodadas de simulação são aleatórias na alocação das variações, os
resultados obtidos podem ser lidos estatisticamente para ponderar sua robustez. Os
resultados da simulação de Monte Carlo para a alternativa 1 revelam que há uma chance
muito elevada, de 48%, do ∆VSPL ser menor do que zero, ou seja, de o projeto não cumprir
com seu objetivo de agregar valor social.
Em contrapartida, a análise revela a probabilidade de que, em 52% das vezes, o projeto
consiga agregar valor à sociedade. As quase dez mil simulações revelam que há 34% de o
resultado se manter entre o zero e o ∆VSPL default, de R$ 45 milhões, mas em 17% das
vezes o ∆VSPL pode ser maior.
A tabela abaixo apresenta os resultados para os indicadores da ACB para a alternativa 1.

30
BID. De estruturas a serviços: O caminho para uma melhor infraestrutura na América Latina e no
Caribe. Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), 2020.
79
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Tabela 8-6 - Análise de robustez da alternativa 1 (análise de Monte Carlo)


∆VSPL TRE
VAE B/C
Resultados agregados de (Valor Social (Taxa de
(Valor Anual (Índice
9.999 simulações Presente Retorno
Equivalente) Benefício/Custo)
Líquido) Econômico)

Resultados default R$ 44,52 R$ 4,14 10,18% 1,21

Média 6,82 0,63 8,90% 1,07

Desvio Padrão 94,74 8,82 2,75% 0,34

Mínimo -260,42 -24,23 1,92% 0,40

1º Quartil -62,00 -5,77 6,88% 0,82

Mediana 4,83 0,45 8,64% 1,02

3º Quartil 73,04 6,80 10,71% 1,27

Máximo 323,81 30,13 19,07% 2,67

Os resultados mostram, ainda, que entre o ∆VSPL do 1º quartil (25%) e do 3º quartil (75%),
tem-se uma faixa que vai de negativos R$ 62 milhões até positivos R$ 73 milhões. Esse
intervalo pode ser compreendido como o mais provável para os resultados, pois
concentra 50% de todos os possíveis. O resultado da avaliação demonstra, assim, o grande
risco que está embutido na configuração analisada para a redução das perdas pelas cheias
nos municípios contemplados. Muito embora tanto a média quanto a mediana do ∆VSPL
das simulações sejam positivos, o são em valores singelos em relação aos custos do
empreendimento.
Os gráficos abaixo permitem identificar a função de densidade de probabilidade do ∆VSPL
(à esquerda) e o gráfico “violino” (à direita), que apresenta as curvas de densidade dos
pontos no entorno do boxplot. Ambos apresentam confirmação da viabilidade apertada
da alternativa 1, cuja probabilidade de destruir valor social ao invés de incrementar é
muito elevada (quase metade das vezes).
O risco da alternativa 1, portanto, pode ser considerado como muito alto. Uma vez que
se trata de projeto com fins de solucionar um problema de grande relevância local,
recomenda-se realizar estudos complementares com outras configurações de mitigação
dos riscos de perdas por meio do controle de eventos extremos na região de interesse.
Nas próximas etapas de análise, outras alternativas e configurações de projeto, como os
apontados no item 7.1, devem ser contrastados via ACB. Ademais, é importante abordar
os riscos de cunho institucional, e propor a adoção de medias preventivas e mitigadoras.

80
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Figura 8.1 - Resultados da simulação de Monte Carlo da alternativa 1 (∆VSPL, milhões)


A simulação de Monte Carlo para a alternativa 2 não é apresentada devido ao fato dessa
alternativa já ser descartada pela análise dos indicadores de viabilidade do projeto. Para
fins de confirmação, tem-se que as 9.999 simulações resultam em uma probabilidade de
84% de geração de valor social negativo, reforçando a inviabilidade dessa alternativa. O
intervalo interquartílico do ∆VSPL é de negativos R$ 212 milhões a também negativos R$
37 milhões.
Uma vez que os benefícios de ambas as alternativas é o mesmo, pode-se ver por esses
resultados a inviabilidade de se terem soluções com custos superiores ao da alternativa
1, que per se já se apresenta como pouco robusta.

81
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

9. ANÁLISE DISTRIBUTIVA
Como abordado no Manual ACB Infra Hídrica, a ACB é uma metodologia agregativa (ou
seja, seu resultado é fruto da somatória dos benefícios e custos monetizados), logo a
distribuição destes entre os beneficiários não é claramente expressa pelos indicadores de
viabilidade do projeto e deve, portanto, ser complementada via análise distributiva.

INCIDÊNCIA DE BENEFÍCIOS E BENEFICIÁRIOS


No caso em estudo, o projeto Complexo de barragens e canais na bacia hidrográfica do
rio Muriaé prevê o aporte de infraestrutura hídrica para a redução dos riscos de perdas
em eventos de inundações e enxurradas, afetando (de forma direta ou indireta) uma vasta
gama de stakeholders. A presente análise é subdividida em dois tópicos, que abordam
questões complementares quanto à incidência de benefícios e beneficiários.
Espera-se que ao final o gestor possa ponderar aspectos distributivos relevantes para a
tomada de decisão, notadamente frente ao encaminhamento desse projeto que traz
resultados sociais líquidos positivos.
Matriz de stakeholders
Seguindo orientação do Guia ACB, apresenta-se abaixo a incidência de benefícios (matriz
de stakeholders) do projeto, subdividida pelos atores mais intensamente afetados. Trata-
se de uma forma de visualizar a distribuição de custos e benefícios, em valor presente
líquido, entre os atores beneficiários. A própria consideração de setores usuários como
beneficiários das alternativas analisadas permite identificar a distribuição de benefícios
que recaem a cada um (Tabela 9-1), que é realizada para a alternativa 1.
Os beneficiários foram identificados com base no CEPED31, que, por sua vez, compila
dados registrados pelos Formulários de Identificação de Desastres - FIDE da Defesa Civil,
sistematizados por Banco Mundial (2020). Este formulário identifica categorias de
prejudicados com desastres e seus danos e prejuízos arcados em públicos e privados e
algumas subcategorias. Estas serão utilizadas na análise distributiva dos danos e prejuízos
evitados.
Nota-se que o projeto Complexo de barragens e canais na bacia hidrográfica do rio Muriaé
não envolve a cobrança direta de tarifas, tampouco se prevê alguma forma de parceria
público-privada, subvenção ou de operação privada. As estruturas de controle de cheias
são financiadas e operadas pelo setor público estadual e federal, conforme identificado
no capítulo 3. Ressalta-se que o projeto, tal como concebido pelo SIEMEC e proposto pelo
PNSH, não traz clareza em relação ao arranjo institucional necessário à operação das
estruturas, o que deve render análises adicionais de distribuição de custos.

31
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Estudos e Pesquisas em Engenharia e
Defesa Civil – Ceped/UFSC. Atlas Digital de Desastres no Brasil. Site. 2020. Disponível em:
www.atlas.ceped.ufsc.br. Acesso em: março. 2021.
82
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

Tabela 9-1 - Distribuição dos custos e benefícios por stakeholders (R$, milhões, VPL)
Poder Público Local Setor Privado Local

Sociedade Geral
Empreendedor

(B/C líquido)
Empreiteiro
Munícipes

Governo /

conversão
em geral

Fator de
Stakeholders
infraestrutura

Agropecuário
Instalações e

Habitações

Industrial
Setor de
Públicos
Serviços

Serviços
(R$ milhões, VPL)

Setor

Setor
Perdas
62 21 17 67 7 6 1,00 179
Benefício

evitadas
s

Melhora no
20 1,00 20
bem-estar
Indução ao
Ext. e WEI

57 1,00 57
Investimento
Externalidade
* 1,00 0
potencial*

MDO qual. 5 -21 0,75 -16

MDO ñ qual. 12 -48 0,74 -35


CapEx

B&S com. 10 -119 0,92 -109

B&S ñ com. 1 -23 0,94 -22

MDO qual. -2 0,75 -2

MDO ñ qual. -4 0,74 -4


OpEx

B&S com. -9 0,92 -9

B&S ñ com. -3 0,94 -3


Tributos e
-17 17 1,00 0
Obrigações

FLUXO LÍQUIDO 62 21 17 67 7 6 77 12 -212 - 56


* Não valorado, porém identificado como potencial externalidade negativa

Os danos materiais públicos associados a instalações públicas e infraestruturas, os quais


seriam grandes beneficiários do projeto, tal como concebido, representam 24% do total
de benefícios gerados. Obviamente, este alto valor segue a alta proporção de danos desta
categoria no cenário base. Tais danos, muitas vezes são cobertos por fundos de
emergência federais.
O poder público local se beneficia em R$ 83 milhões em perdas evitadas. A maior fração
desse valor (R$ 62 milhões) está nos danos materiais evitados às instalações públicas e
infraestrutura. Os demais R$ 21 milhões se devem à não interrupção de serviços públicos.
Ou seja, o valor dos danos materiais inclui uma transferência entre agentes econômicos
que deve ser considerada nesta análise distributiva, pois o cômputo das perdas é realizado

83
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

justamente sobre aquelas que chegaram a ser reconhecidas pelo Governo Federal como
Situação de Emergência ou Calamidade Pública.
Vale notar que os prejuízos públicos envolvem gastos necessários para o
restabelecimento dos serviços públicos após os desastres.
A sociedade em geral tem a ganhar com o projeto, pois é beneficiada pela redução das
perdas nos três setores econômicos, pela melhora no bem-estar e pela indução do
investimento. Juntos, os atores privados dos municípios beneficiados auferem um total
de R$ 157 milhões.
Tomando os cidadãos moradores das cidades, chama a atenção o item de danos em
habitações, o qual representou em torno de 6% do benefício total. Tal valor representaria
gastos evitados pelos cidadãos das cidades afetadas.
O benefício da melhora no bem-estar, embora seja calculada por meio da proxy da
valorização imobiliária, é representativo de um acréscimo de valor intangível para toda a
sociedade beneficiada. De forma análoga, o benefício da indução do investimento recai
sobre os atores privados municipais. Juntos, estes benefícios representam 30% do total.
Os benefícios aos serviços privados são muito maiores (26%), comparativamente aos
demais, devido à valoração própria que se realizou, contabilizando os dias improdutivos
por cada pessoa diretamente afetada pelos eventos de desastres.
Desalojados e desabrigados
A tabela (abaixo) traz o número de cidadãos desalojados e desabrigados contabilizados
em algumas cidades principais, vítimas de eventos de enxurradas e inundações ocorridos
entre 1991 e 2019.
Embora a análise desenvolvida não contabilize desalojados e desabrigados “evitados”, ou
seja, que não existiriam com a presença do projeto, é possível inferir que estes reduzirão
drasticamente com a implementação das obras.
Tabela 9-2 - Desalojados e desabrigados
Número de desabrigados/desalojados
Municípios com dados (1991-2019)

Carangola 17.156
Muriaé 59.600
Cardoso Moreira 8.448
Itaperuna 26.950
Laje do Muriaé 10.000
Porciúncula 13.450

Para fins ilustrativos, pode-se dizer que, caso o projeto reduza em 80% o número de
afetados, e os eventos se repetissem no futuro, o projeto teria evitado cerca de 108 mil
pessoas desabrigadas ou desalojadas em 28 anos nos 6 municípios acima.

84
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

As obras de engenharia de ambas as alternativas incluem a necessidade de


desapropriações para sua implementação. Habitantes e donos de imóveis a serem
desapropriados serão os principais atores a arcar com algum ônus do projeto. Não foi
possível no nível preliminar quantificar tais ônus e seus membros, no entanto cabe um
alerta para sua devida consideração na etapa de ACB Completa.
Também é válido registrar que os custos de desapropriação foram contabilizados no
CapEx de ambas as alternativas (sendo que a segunda apresenta custos bastante elevados
desta categoria) e que devem, se bem precificados, compensar os envolvidos.

EFEITOS DISTRIBUTIVOS
Este último item traz, seguindo o Manual ACB Infra Hídrica e o Guia ACB, a necessidade
de maior detalhamento dos efeitos do projeto na população mais vulnerável
socioeconomicamente.
Conforme observado pelo item acima (9.1), uma grande fração dos beneficiados pelas
perdas evitadas são os poderes públicos municipais. Dessa forma, não haveria
necessidade de transferências de valores de uma classe mais privilegiada para uma menos
privilegiada, resultando desnecessária a inclusão de compensações monetárias.

85
Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020

PRODUTO - Relatório de estudo de caso sobre aplicação da ACB Recursos Hídricos -


Tipologia Controle de Cheias - Complexo de Barragens Muriaé

10. ANEXO 1 – ANEXO DIGITAL – PLANILHA COMPUTACIONAL – ACB COMPLEXO


DE BARRAGENS MURIAÉ

86

Você também pode gostar