ACB Infra Hídrica - Estudo de Caso Muriaé
ACB Infra Hídrica - Estudo de Caso Muriaé
ACB Infra Hídrica - Estudo de Caso Muriaé
Este Estudo de Caso é parte integrante de uma série de estudos setoriais que visam a
divulgar, solidificar e subsidiar a preparação e avaliação de propostas de investimento em
infraestrutura segundo a metodologia definida pelo Guia ACB e o Manual ACB Infra
Hídrica. Os estudos de caso e o manual setorial são resultados da parceria entre a
Secretaria de Desenvolvimento da Infraestrutura da Secretaria Especial de Produtividade
e Competitividade do Ministério da Economia (SDI/SEPEC/ME) com o Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A partir dessa parceria, o Consórcio
Engecorps-Ceres foi então contratado para desenvolver o presente manual, o qual em sua
fase de elaboração foi amplamente discutido com órgãos federais protagonistas deste
setor, como a Secretarias Nacional de Saneamento e a Secretaria Nacional de Segurança
Hídrica do Ministério do Desenvolvimento Regional.
Esta publicação, portanto, cumpre não apenas com o objetivo de disseminar de melhores
práticas sobre avaliação socioeconômica de projetos de infraestrutura hídrica, mas
também garantir maior prestação de contas dos recursos do contribuinte investidos na
elaboração deste produto.
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Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020
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Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020
Sumário
1. APRESENTAÇÃO ................................................................................................. 7
2. SUMÁRIO EXECUTIVO......................................................................................... 8
3. FUNDAMENTOS PARA INTERVENÇÃO ............................................................... 11
DESCRIÇÃO DO CONTEXTO .............................................................................................. 11
DEFINIÇÃO DE OBJETIVOS ............................................................................................... 15
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO, ALTERNATIVAS E CENÁRIO BASE .............................................. 16
Projeto e Alternativas ................................................................................... 16
Cenário Basel ................................................................................................ 19
4. ESTIMAÇÃO DE CUSTOS ECONÔMICOS ............................................................. 22
DISPÊNDIO DE CAPITAL PARA CRIAÇÃO OU AMPLIAÇÃO DE CAPACIDADE EM INFRAESTRUTURA
(CAPEX)....................................................................................................................... 22
Estimativa de valor residual de investimentos ............................................. 27
Cálculo da desagregação do CapEx .............................................................. 29
DESPESAS COM GESTÃO, MANUTENÇÃO E OPERAÇÃO DE INFRAESTRUTURA (OPEX) ................. 31
Cálculo da desagregação do OpEx ................................................................ 32
RESULTADOS DE ESTIMATIVA DE CUSTOS ECONÔMICOS ........................................................ 34
5. ESTIMAÇÃO DE BENEFÍCIOS ECONÔMICOS ........................................................ 36
ETAPAS ........................................................................................................................ 36
ESTIMATIVA DO VALOR EM RISCO: CARACTERIZAÇÃO DO CENÁRIO BASE .................................. 37
Levantamento de registros de danos e perdas históricos na região ............ 37
Reunião de dados hidrológicos e hidráulicos caracterizando as cheias e
inundações.................................................................................................... 42
Elaboração das curvas de probabilidade de excedência de danos .............. 43
ESTIMAÇÃO DAS PERDAS EVITADAS COM O PROJETO ............................................................ 45
CÁLCULO DOS BENEFÍCIOS: PERDAS EVITADAS .................................................................... 46
Perdas evitadas com base em Banco Mundial, 2020 ................................... 46
Perdas evitadas com base em valoração dos prejuízos privados................. 48
BENEFÍCIO DA MELHORA NO BEM-ESTAR VIA PROXY DA VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA .................. 50
PROJEÇÕES DOS BENEFÍCIOS NO FUTURO ........................................................................... 53
Danos e prejuízos econômicos crescentes ................................................... 53
Mudança do clima ........................................................................................ 54
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Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020
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Licitação: JOF-1934/2020 Contrato: BRA10/694/38391/702/38399/2020
Índice de Figuras
Figura 3.1 - Mapa da região de interesse - Complexo de Barragens Muriaé.................... 13
Figura 5.1 - Curva de perdas em função da probabilidade de eventos de inundação e
enxurradas sem o projeto (base) ...................................................................................... 44
Figura 5.2 - Curva de perdas em função da probabilidade de eventos de inundação e
enxurradas com o projeto ................................................................................................. 46
Figura 5.3 - Curva de perdas em função da probabilidade de eventos de inundação e
enxurradas com e sem o projeto ...................................................................................... 47
Figura 5.4 - Projeções de extremos climáticos.................................................................. 55
Figura 5.5 - Curva de perdas em função da probabilidade de eventos de inundação e
enxurradas com e sem o projeto projetados para o ano T30 ........................................... 56
Figura 6.1 - Relação entre o VAB Privado (serviços e indústria), o porte populacional e o
registro de eventos de inundações e enxurradas (nos últimos vinte anos) ...................... 62
Figura 6.2 - Resultados da regressão logística para restrição econômica ........................ 63
Figura 6.3 - Resultados da regressão logística para restrição econômica ........................ 63
Figura 8.1 - Resultados da simulação de Monte Carlo da alternativa 1 (∆VSPL, milhões) 81
Índice de Tabelas
Tabela 2-1 - Quadro Resumo dos Resultados do Complexo Muriaé .................................. 9
Tabela 3-1 - Mitigação dos Efeitos das Cheias Obtida com a Implantação das Obras
Propostas para os Subsistemas 1 e 2 do SIEMEC .............................................................. 20
Tabela 4-1 - Formulário de Dados cadastrais e técnicos .................................................. 23
Tabela 4-2 - Formulário de dados técnicos do empreendimento .................................... 24
Tabela 4-3 - Formulário de dados Econômicos - CapEx .................................................... 24
Tabela 4-4 - Formulário de preços-sombra, fatores de conversão setorial e cambial ..... 26
Tabela 4-5 - Participação relativa dos componentes de infraestrutura no CapEx –
Complexo de Barragens Muriaé – Alternativa 1 ............................................................... 27
Tabela 4-6 - CheckList de dados prévios de projeto ......................................................... 28
Tabela 4-7 - Estimativa de vida útil de componentes da infraestrutura........................... 28
Tabela 4-8 - Tabela CapEx - Complexo de Barragens Muriaé - Alternativa 1 ................... 29
Tabela 4-9 - Alíquotas de referência para mão de obra qualificada e não-qualificada
conforme componentes do CapEx .................................................................................... 31
Tabela 4-10 - Tabela OpEx - Complexo de Barragens Muriaé - Alternativa 1 ................... 33
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Tabela 4-11 - Resultados da estimativa dos custos da alternativa 1 (R$, milhões) .......... 34
Tabela 5-1 - Classificação COBRADE de eventos de interesse, categoria “Naturais”, grupo
"Hidrológicos" ................................................................................................................... 38
Tabela 5-2 - Eventos de desastres registrados nos municípios de interesse na base CEPED
........................................................................................................................................... 39
Tabela 5-3 - Categorias do FIDE - Formulário de Informações do Desastre ..................... 40
Tabela 5-4 - Perdas (danos e prejuízos) registrados nos municípios de interesse na base
CEPED, com valores na data-base de 2020 ....................................................................... 41
Tabela 5-5 - Valores anualizados de perdas esperadas para cada município com e sem o
projeto............................................................................................................................... 48
Tabela 5-6 – Valores anualizados de pessoas afetadas para cada município com e sem o
projeto............................................................................................................................... 49
Tabela 5-7 - Parâmetros para a valor da produção cessante das pessoas afetadas......... 50
Tabela 5-8 – Habitações danificadas para cada município com e sem o projeto (valor
anualizado) ........................................................................................................................ 51
Tabela 5-9 - Benefício da melhora no bem-estar via proxy da valorização imobiliária .... 52
Tabela 5-10 - Benefício das perdas evitadas (R$, milhões)............................................... 57
Tabela 6-1 - Benefício da indução do investimento (R$, milhões) ................................... 64
Tabela 7-1 - Indicadores da ACB Social ............................................................................. 65
Tabela 7-2 - Quadro Resumo dos Resultados do Complexo Muriaé ................................ 68
Tabela 8-1 - Análise de sensibilidade para identificação de variáveis-críticas ................. 69
Tabela 8-2 - Valores de inflexão para que o ∆VSPL seja 0 (zero) ...................................... 71
Tabela 8-3 - Análise de cenários da alternativa 1 para o ∆VSPL ....................................... 72
Tabela 8-4 - Análise de sensibilidade para componentes dos benefícios......................... 73
Tabela 8-5 – Resumo da análise qualitativa de riscos....................................................... 77
Tabela 8-6 - Análise de robustez da alternativa 1 (análise de Monte Carlo) .................... 80
Tabela 9-1 - Distribuição dos custos e benefícios por stakeholders (R$, milhões, VPL) ... 83
Tabela 9-2 - Desalojados e desabrigados .......................................................................... 84
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Análise custo-benefício de projetos de infraestrutura de energia e recursos hídricos
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1. APRESENTAÇÃO
Este documento apresenta o resultado do estudo de caso de aplicação da metodologia de
Análise Custo-Benefício (ACB) no empreendimento Complexo de Barragens Muriaé. Esse
empreendimento foi classificado na tipologia Controle de Cheias, conforme metodologia
apresentada nos documentos Manual de Análise Socioeconômica de Custo-Benefício de
Projetos de Infraestrutura Hídrica (Manual ACB Infra Hídrica) e Guia Geral de Análise
Socioeconômica de Custo-Benefício de Projetos de Investimento em Infraestrutura (Guia
ACB).
O documento está estruturado em 9 capítulos. Além desta apresentação, o capítulo 2
sumariza o estudo de caso. Já o capítulo 3 aborda os fundamentos para intervenção que
embasaram a concepção do empreendimento. No capítulo 4 são detalhadas as
estimativas de custos econômicos durante o ciclo de vida do projeto, enquanto no
capítulo 5 o mesmo é feito para os benefícios antevistos como decorrentes da
implantação do empreendimento. O capítulo 6 apresenta as externalidades e os efeitos
indutivos.
No capítulo 7 são apresentados os resultados das estimativas anteriores por meio de
indicadores da análise custo-benefício. Após a apresentação dos resultados, são feitas
análises de risco (capítulo 8) e distributiva (capítulo 9), de maneira a complementar a
interpretação da análise efetuada neste estudo de caso.
Os dados computados em planilha são apresentados no Anexo 1 (Anexo Digital).
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2. SUMÁRIO EXECUTIVO
O projeto em estudo, da tipologia de controle de cheias, trata do problema do elevado
grau de risco de tais eventos na bacia do rio Muriaé, entre os estados de Minas Gerais e
Rio de Janeiro.
O número de desabrigados e desalojados nos municípios devido aos eventos de cheias é
bastante significativo, denotando a severidade do problema. Entre os anos de 1991 e
2019, somam-se 17 mil afetados em Carangola, 60 mil em Muriaé, 8 mil em Cardoso
Moreira, 27 mil em Itaperuna, 10 mil em Laje do Muriaé e 13 mil em Porciúncula. As
perdas econômicas (danos e prejuízos, públicos e privados) são estimadas em R$ 879
milhões nos últimos vinte anos.
Após os eventos de grandes prejuízos em 2012, desenvolveu-se o estudo Sistema de
Intervenções Estruturais para Mitigação dos Efeitos das Cheias (SIEMEC), realizado para a
bacia do rio Muriaé, e que trouxe a definição de medidas e intervenções com vistas a
mitigar os efeitos das cheias nessas bacias, com foco nas seguintes cidades:
▪ Na bacia do rio Muriaé - sub-bacia do rio Carangola: Carangola e Tombos, municípios
de Minas Gerais; e
▪ Na bacia do rio Muriaé: Miraí e Muriaé, em Minas Gerais, e Porciúncula, Natividade,
Laje do Muriaé, Itaperuna, Italva e Cardoso Moreira, no estado do Rio de Janeiro.
Especificamente na sub-bacia do rio Muriaé, onde estão situados os barramentos
propostos (nos rios Muriaé e Carangola), ocorreram as maiores cheias de caráter regional.
São comuns eventos críticos nessa sub-bacia, com cidades atingidas quase que
anualmente por inundações em pontos isolados (ANA, 2019).
Essa sub-bacia apresenta área de drenagem de 8.162 km² e abrange 30 municípios, dos
quais, Muriaé, Carangola e Itaperuna são os mais importantes. Com exceção das cidades
de Miraí e Tombos, todas as demais sedes urbanas situadas na bacia são afetadas por
frequentes eventos de inundações.
O estudo SIEMEC, que foi incluído no Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH) (ANA,
2019) e habilitado para o Programa de Segurança Hídrica, traz como a principal alternativa
(Alternativa 1) para o problema a implantação das seguintes intervenções:
▪ Três barragens para contenção de cheias, quais sejam: barragens de Carangola (CC-
MG-011) e Tombos (CC-MG-012), no rio Carangola e barragem do rio Muriaé, em
Muriaé (CC-MG-010), com alturas variando de 14m a 28m
▪ Obras de canalizações nas áreas urbanas das cidades de Carangola, Porciúncula,
Natividade, Miraí, Laje do Muriaé, Itaperuna, Italva e Cardoso Moreira, envolvendo
canais revestidos em gabião, em sua maioria, um canal revestido em concreto e canais
sem revestimento.
Já a Alternativa 2 é constituída apenas por canalizações de travessias de cursos d’água em
áreas urbanas, com características semelhantes às obras previstas na Alternativa 1, e
também cumpre o mesmo objetivo de evitar inundações dessas áreas, porém implicando
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custos mais elevados, devido ao maior porte das obras envolvidas, além da necessidade
de maiores desapropriações.
Caso as obras propostas não sejam implantadas, supõe-se que a bacia do rio Muriaé
continue sujeita a frequentes episódios de cheias, com inundações das áreas urbanas de
vários municípios, do que resultam grandes prejuízos, quer para a população, quer para
as prefeituras. Tais prejuízos são potencializados, em grande parte, pelas ocupações
irregulares existentes, muitas vezes dentro do leito menor e até mesmo dentro do leito
vazante dos cursos d’água que cruzam as áreas urbanas.
Tabela 2-1 - Quadro Resumo dos Resultados do Complexo Muriaé
Indicadores de viabilidade Resumo dos pontos principais das análises
(1º e 3º quartis da análise complementares
probabilística)
Alternativa
Análise Análise
∆VSPL TRE Índice B/C Análise de
Qualitativa de Distributiva
(R$, MM) (%) (B/C) Sensibilidade
Risco
Alto risco: O poder público
desatualização municipal é o
Alta sensibilidade da modelagem principal ator
+44,52 10,18 1,21 ao CapEx faz com hidráulico- beneficiado, se
1- Sistema de apropriando de
que haja 48% de hidrológica;
barragens e (-62 a (6,88 a (0,82 a 32%. Os
chances de o opção
canais +73) 10,71) 1,27) munícipes em
projeto não tecnológica
retornar ∆VSPL analisada não geral dos locais
positivo. Alt considera beneficiados
sensibilidade interação com devem se
também ao demais soluções apropriar de 30%
benefício da possíveis, tais dos benefícios,
indução do como enquanto o setor
-44,92 7,23 0,85 investimento, infraestruturas de serviços
pois sem sua verdes e medidas privado outros
2- Sistema de 26%.
canais (-212 a (4,41 a (0,58 a consideração, de gestão - estas
-37) 7,63) 0,90) ∆VSPL passa a se fazem O projeto não
ser negativo necessárias para prevê pagamento
reduzir os custos de tarifas ou
do investimento subvenções
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DESCRIÇÃO DO CONTEXTO
O projeto Complexo de Barragens Muriaé, classificado na tipologia Controle de Cheias, é
intervenção classificada como habilitada com estudo complementar para o Programa de
Segurança Hídrica (PSH), aderente aos critérios de intervenção estruturante e estratégica,
pelo Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH)1.
O PNSH é estudo conduzido pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA)
em parceria com o Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR) concluído em 2019. O
PNSH inventariou, analisou e selecionou um conjunto de intervenções de natureza
estratégica e estruturante, com amplitude interestadual ou relevância regional em
diferentes fases de planejamento e implementação, identificados junto a setores usuários
de água e órgãos e entidades estaduais e federais com envolvimento em recursos hídricos
e/ou infraestrutura hídrica.
Segundo o Relatório de Identificação de Obras (RIO) do PNSH, que detalha as intervenções
habilitadas para o Programa de Segurança Hídrica, seis barragens são componentes do
que se chamou de Estudo de alternativas em áreas de alta vulnerabilidade a inundações
na bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, com foco em sua sub-bacia Muriaé.
▪ Codificação do PNSH: CC-MG-009 - Barragem dos Rios Muriaé e Preto | CC-MG-010 -
Barragem Muriaé | CC-MG-011 - Barragem Carangola | CC-MG-012 - Barragem
Tombos | CC-RJ-001 - Barragem de Itaperuna | CC-RJ-002 - Barragem de Laje do
Muriaé;
▪ Manancial - Fonte hídrica: Rio Preto (CC-MG-009), Rio Muriaé (CC-MG-010 | CC-RJ-
001 | CC-RJ-002), Rio Carangola (CC-MG-011 | CC-MG-012);
▪ Localização: Muriaé/MG (CC-MG-009 | CC-MG-010), Carangola/MG (CC-MG-011),
Tombos/MG (CC-MG-012), Itaperuna/RJ (CC-RJ-001), entre os municípios de Laje do
Muriaé e Itaperuna/RJ (CC-RJ-002);
▪ Executores e intervenientes:
o Departamento de Obras Públicas do Estado de Minas Gerais - DEOP/MG (CC-
MG-009);
o Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico - ANA (CC-MG-010 | CC-MG-
011) | CC-MG-012);
o Secretaria de Estado do Ambiente - SEA-RJ (CC-RJ-001 | CC-RJ-002);
▪ Finalidade atendida: Controle de cheias;
▪ Descrição: Conjunto de intervenções estruturais destinados à mitigação do efeito das
cheias na Bacia do Rio Paraíba do Sul. São propostas cinco barragens nos mananciais
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ANA - Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (Brasil). Plano Nacional de Segurança
Hídrica. 116 p. Brasília: ANA, 2019.
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afluentes do rio Paraíba do Sul, sendo quatro situadas no estado de Minas Gerais e
duas no Rio de Janeiro.
o CC-MG-009: Barragem proposta no rio Preto, a nove quilômetros da
confluência com o rio Muriaé, com 27 metros de altura e volume de
reservação de 43,2 hm3.
o CC-MG-010: Barragem proposta no rio Muriaé, com 14 metros de altura e
volume máximo de reservação de 28,5 hm3;
o CC-MG-011: Barragem proposta no rio Carangola, com 28 metros de altura e
volume máximo de reservação de 26,6 hm3;
o CC-MG-012: Barragem proposta no rio Carangola, com 18,5 metros de altura
e volume máximo de reservação de 21,0 hm3;
o CC-RJ-001: Barragem proposta no rio Muriaé, com volume máximo de
reservação de 14,6 m3 e;
o CC-RJ-002: Barragem proposta no rio Muriaé, com volume máximo de
reservação de 9,6 hm3.
Além das seis barragens acima listadas, uma outra compõe a recomendação do PNSH para
estudos futuros no âmbito do controle de cheias na bacia do rio Paraíba do Sul, mas não
na bacia do rio Muriaé, foco dessa ACB. Trata-se da barragem que abrange a bacia
hidrográfica do rio Pomba, codificada pelo PNSH como CC-MG-008: Barragem proposta
no rio Xopotó (afluente do rio Pomba), com 40 metros de altura e volume máximo de
reservação de 61,4 hm3.
A bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul é formada por cursos d’água que se estendem
por três Unidades da Federação - Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro -, sendo,
portanto, a gestão dos seus recursos hídricos de responsabilidade da Agência Nacional de
Águas e Saneamento Básico (ANA), de forma compartilhada entre os três estados.
O rio Muriaé é um dos afluentes da bacia do rio Paraíba do Sul, tendo extensão de 300
km, desde sua nascente em Miraí, no estado de Minas Gerais, até o desemboque no rio
Paraíba do Sul, nas proximidades do município de Campos dos Goytacazes, no estado do
Rio de Janeiro. O curso d’água é formado pela confluência dos rios Bom Sucesso e
Samambaia; seus principais tributários são os rios Glória, Gavião, Santo Antônio e
Carangola.
Ao longo dos anos, a bacia do rio Paraíba do Sul sofreu com ações antrópicas, o que
contribuiu para elevar a produção de sedimentos e acelerar o assoreamento dos cursos
de água afluentes, como o rio Muriaé, e do próprio rio Paraíba do Sul.
Especificamente na sub-bacia do rio Muriaé, onde estão situados os barramentos
propostos (nos rios Muriaé e Carangola), ocorreram as maiores cheias de caráter regional.
São comuns eventos críticos nessa sub-bacia, com cidades atingidas quase que
anualmente por inundações em pontos isolados. (ANA, 2019)
Essa sub-bacia apresenta área de drenagem de 8.162 km² e abrange 30 municípios, dos
quais, Muriaé, Carangola e Itaperuna são os mais importantes. Com exceção das cidades
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de Miraí e Tombos, todas as demais sedes urbanas situadas na bacia são afetadas por
frequentes eventos de inundações.
A figura a seguir apresenta mapa da região de interesse.
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Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (Brasil). Atlas de Vulnerabilidade a Inundações.
20 p. Brasília: ANA, 2014.
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as inundações nos rios Muriaé, apresentando 37 trechos de rio com alta vulnerabilidade
a inundações.
No intuito de mitigar os efeitos mais críticos das cheias que ocorrem na bacia hidrográfica
do rio Muriaé, em especial nos municípios indicados na Figura 2.1, foi proposto um
sistema de intervenções estruturais para a região composta de barragens de contenção
de cheias e canais.
Tal sistema, denominado Sistema de Intervenções Estruturais para Mitigação dos Efeitos
das Cheias (SIEMEC), foi concebido por estudo conduzido entre os anos de 2011 e 2012
pela ANA e elaborado pela ENGECORPS Engenharia S.A., com apoio em modelagens
hidrológico-hidráulicas robustas, para identificação de obras de infraestrutura hídrica
visando ao controle de cheias na bacia do rio Paraíba do Sul, com destaque aos seus
afluentes localizados em Minas Gerais, entre eles, o rio Muriaé3.
O referido estudo (Sistema de Intervenções Estruturais para Mitigação dos Efeitos das
Cheias) foi utilizado como fonte complementar de dados ao PNSH na elaboração do
presente estudo de caso de Análise Custo-Benefício, sendo doravante referenciado por
sua sigla (SIEMEC).
Quanto ao planejamento territorial na área de intervenção, nota-se pela Tabela 3-1 que
não há provável interferência em unidades de conservação. Adicionalmente, o estudo
SIEMEC foi conduzido de forma detalhada e envolveu levantamento de campo que
permitiu propor que as barragens fossem concebidas com base na otimização entre as
menores áreas de alagamento possível e os menores custos de desapropriação. Pôde-se
assim identificar que não deve haver interferências de ordem territorial por meio de
intervenções em locais de restrição ambiental tais como unidades de conservação, terras
indígenas e outras (SIEMEC).
Apesar da importância desses barramentos na região, o PNSH habilitou a intervenção
mediante recomendação da realização de estudo adicional para a verificação dos efeitos
individuais e combinados dessas intervenções sobre a contenção e atenuação de cheias,
notadamente quanto à necessidade de implementação conjunta com vistas a se obter os
benefícios esperados.
Segundo o PNSH, o estudo recomendado tem a seguinte descrição:
▪ Para as intervenções do referente relatório, recomenda-se a realização de estudos de
viabilidade técnica, econômica e ambiental (EVTEA) para assegurar sua eficácia.
▪ Pontos que necessitam ser esclarecidos:
o Efeitos individuais e combinados das barragens sobre a contenção e
atenuação de cheias;
o Avaliação da otimização dos barramentos existentes.
3
ANA/ENGECORPS, 2012. Elaboração de Estudos para Concepção de um Sistema de Previsão de
Eventos Críticos na Bacia do Rio Paraíba do Sul e de um Sistema de Intervenções Estruturais para
Mitigação dos Efeitos de Cheias nas Bacias dos Rios Muriaé e Pomba e Investigações de Campo
Correlatas. Relatório RF34.
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DEFINIÇÃO DE OBJETIVOS
O projeto em estudo, da tipologia de controle de cheias, trata do problema do elevado
grau de risco de tais eventos na bacia do rio Muriaé, entre os estados de Minas Gerais e
Rio de Janeiro.
O estudo Sistema de Intervenções Estruturais para Mitigação dos Efeitos das Cheias
(SIEMEC), realizado para a bacia do rio Muriaé, trouxe a definição de medidas e
intervenções com vistas a mitigar os efeitos das cheias nessas bacias, as mais vulneráveis
a acidentes ambientais, e envolveu levantamentos de campo e modelagens hidrológico-
hidráulicas com foco nas seguintes cidades:
▪ Na bacia do rio Muriaé - sub-bacia do rio Carangola: Carangola e Tombos, municípios
de Minas Gerais; e
▪ Na bacia do rio Muriaé: Miraí e Muriaé, em Minas Gerais, e Porciúncula, Natividade,
Laje do Muriaé, Itaperuna, Italva e Cardoso Moreira, no estado do Rio de Janeiro.
Os resultados da modelagem hidrológico-hidráulica realizada confirmaram a
vulnerabilidade das cidades à ocorrência de eventos de cheias: à exceção da cidade de
Tombos, onde o leito menor do rio Carangola comporta uma vazão de 10 anos de período
de retorno, as demais cidades são afetadas por cheias com Períodos de Retorno inferiores
a 2 anos.
O número de desabrigados e desalojados nos municípios é bastante significativo,
denotando a severidade dos eventos de cheias. Entre os anos de 1991 e 2019, somam-se
17 mil em Carangola, 60 mil em Muriaé, 8 mil em Cardoso Moreira, 27 mil em Itaperuna,
10 mil em Laje do Muriaé e 13 mil em Porciúncula.
Sobre a Unidade Autossuficiente de Análise, parte-se diretamente do objetivo do SIEMEC,
que foi a análise de toda a bacia hidrográfica do rio Muriaé, acrescida dos limites
municipais dos eventuais municípios que ultrapassem tal limite (Tombos). Essa definição
se apoia diretamente na questão hidrológica-fisiográfica e no fato de que o foco do
controle de cheias e consequente redução de danos e prejuízos está nas áreas urbanas
dos dez municípios afetados pelos eventos na bacia hidrográfica do Rio Muriaé:
Carangola, Tombos, Miraí, Muriaé, Porciúncula, Natividade, Laje do Muriaé, Itaperuna,
Italva e Cardoso Moreira.
Quanto ao horizonte temporal de análise, segue-se a orientação do Manual ACB Infra
Hídrica que prevê o intervalo de 30 anos. Uma vez que a vida útil das infraestruturas do
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complexo Muriaé deve superar esse prazo, o cômputo dos custos econômicos prevê a
geração de valores residuais (conforme item 4).
Projeto e Alternativas
1- Alternativas analisadas pelo SIEMEC
Conforme item 3.1, o complexo de seis barramentos recomendados para estudos futuros
pelo PNSH não corresponde com a alternativa recomendada pelo SIEMEC. Para a
identificação das obras recomendadas por este, foram definidos critérios referentes aos
seguintes parâmetros de projeto: (i) períodos de recorrência das cheias e níveis de
mitigação a alcançar; (ii) critérios para comparação de intervenções identificadas; e (iii)
critérios para exclusão e inclusão no SIEMEC de intervenções identificadas, de forma a se
alcançar a composição ideal.
Foram estudadas, ao todo, oito alternativas para os Subsistemas 1 e 2 do SIEMEC,
envolvendo a implantação de diferentes combinações de barramentos e obras de
canalização dos cursos d’água nos trechos de travessias das áreas urbanas, para Períodos
de Retorno de 25, 50 e 100 anos.
Em todas as alternativas que incorporaram a construção de barragens, foi considerada a
sua complementação por canalizações; em uma das alternativas, foi considerada apenas
a implantação de canalizações, neste caso, mediante canais de maiores dimensões para
escoamento das mesmas vazões, dada a ausência de barragens a montante das áreas
urbanas.
Essas alternativas foram comparadas mediante a aplicação de um modelo multicriterial,
considerando custos das obras, áreas necessárias para desapropriação e áreas alagadas
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As requalificações naturais que têm impacto direto ou indireto na velocidade de escoamento
superficial são, dentre outras: (i) restauração de zonas úmidas naturais (várzeas), geralmente
ocupadas por agricultura ou pasto; (ii) restauração de áreas prioritárias para proteção de serviços
ecossistêmicos de regulação de regulação de regime hídrico; (iii) adoção de práticas
conservacionistas agrícolas que reduzam a velocidade de escoamento das águas; (iv) requalificação
de estradas rurais para redução da velocidade de escoamento da água, com implantação de pontos
estratégicos de acumulação; (v) eliminação de pontos de estreitamento do leito fluvial.
5
Dentre outros, destacam-se: (i) InVEST (Integrated Valuation of Ecosystem Services and Tradeoffs
do The Natural Capital Project, Stanford University, University of Minnesota, The Nature
Conservancy, e World Wildlife Fund); e (ii) ARIES (Artificial Intelligence for Environment &
Sustainability do Basque Centere for Climae Change).
6
Disponível em: https://mapbiomas.org
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nos resultados do SIEMEC, mas não por isso deixando de recomendar que os estudos
consequentes abordem as infraestruturas verdes.
Cenário Basel
Conforme o Manual ACB Infra Hídrica, o cenário base (ou contrafactual) deve trazer uma
estimação realista da continuação atual do contexto no qual o projeto se insere. Trata-se
da linha de base contra a qual os benefícios serão computados, pois a ACB é uma
metodologia agregativa que traz em seu cerne o custo de oportunidade.
No caso do tratamento de um problema de cheias recorrentes, via um projeto que visa o
controle de cheias, o cenário base pressupõe a continuidade de tais eventos em algum
grau de perdas esperadas no futuro sem a intervenção. Tal construção demanda
compreender se haveria a adoção autônoma, ou seja, independente do projeto, de
alguma forma de controle de cheias que poderia alterar os graus de perdas esperadas.
Para apreciar tal possibilidade, deve-se conhecer o que a alternativa de projeto traz como
potencial mitigação dos eventos esperados, concepção contrafactual própria das
intervenções de controle de cheias. Os resultados dos estudos do SIEMEC indicaram que
a Alternativa A1 constitui excelente escolha para a mitigação das cheias nas cidades da
bacia do rio Muriaé, que é atingida com muita frequência por inundações. Caso fosse
implantada a alternativa A2, os efeitos também seriam bastante positivos.
Para exemplificar os efeitos da alternativa A1, vale citar:
▪ As barragens de Carangola e Tombos, propostas para a mitigação das cheias das
cidades de Carangola geram proteção para elevados Períodos de Retorno em ambas
as cidades (TR de 50 anos em Carangola e de 100 anos em Tombos). O amortecimento
das vazões provocado pelas bacias de detenção previstas é de 68% e 43%, nas cidades
de Carangola e Tombos, respectivamente;
▪ As obras propostas para Natividade geram proteção para um período de retorno de
25 anos;
▪ Para a cidade de Miraí, a obra de canalização proposta resulta numa proteção da área
urbana para TR de 100 anos;
▪ Quanto à cidade de Laje do Muriaé, as obras de canalização propostas mostraram
ótimo resultado, oferecendo proteção da área urbana para TR de 25 anos;
▪ A cidade de Cardoso Moreira, com 12.821 habitantes (estimativa IBGE para 2020), é
a mais crítica da bacia do rio Muriaé. Está situada nas proximidades da foz do rio
Muriaé no rio Paraíba do Sul, em uma região de extensa planície de inundação, e
sujeita a grandes vazões de cheia. A única solução identificada foi o rebaixamento da
calha do rio Muriaé no segmento que atravessa a cidade e também a jusante, num
longo trecho com extensão de aproximadamente 13 km;
▪ Considerando um Período de Retorno de 25 anos, as 12 áreas urbanas da bacia
contempladas pelos estudos do SIEMEC sofrem com inundações que alcançam uma
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área de cerca de 17 km2. Se considerado Período de Retorno de 100 anos, esse valor
sobe para 20 km2.
A Tabela 3-1 sintetiza os benefícios obtidos em termos de percentual de abatimento das
cheias resultante das obras propostas para as áreas urbanas dos municípios da bacia do
rio Muriaé.
Tabela 3-1 - Mitigação dos Efeitos das Cheias Obtida com a Implantação das Obras Propostas
para os Subsistemas 1 e 2 do SIEMEC
Cardoso
25 1.904 1.587 16,6 1.587
Moreira
*Canal natural
**Não está previsto barramento a montante da cidade
Elaboração ENGECORPS, 2012
A concepção do cenário base demanda compreender que o porte das obras, em seu
conjunto, supera o âmbito de ação dos municípios. Em suporte a esse pressuposto, tem-
se que a quantidade de afetados pelos episódios de cheias que constam da base de dados
de desastres desde 1991 não demonstra indicação de redução, mesmo ao longo dos 30
anos observados. Ademais, o PNSH aponta como intervenientes a Agência Nacional de
Águas e Saneamento Básico (ANA) e a Secretaria de Estado do Ambiente (SEA-RJ),
denotando a envergadura da intervenção frente aos municípios beneficiados, que são de
menor porte.
Ainda outro reforço à conclusão advém do transcorrer de tempo desde a finalização dos
estudos detalhados (2012) e o ano desta ACB (2021), durante o qual também não foram
realizados investimentos estruturantes para a gestão do risco de eventos extremos.
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Concede-se, não obstante, que o poder público dos municípios afetados possa vir a
realizar pequenas adequações urbanas para reduzir a materialização dos prejuízos mais
frequentes, porém de menor intensidade. Essa suposição, por mais plausível e provável
que seja, no entanto, é difícil de ser quantificada e valorada, dada a pulverização das ações
e dos próprios municípios contemplados pelo projeto.
Como forma de não prejudicar o resultado da ACB, seja por meio da não contabilização
de custos no cenário base e/ou da contabilização de benefícios que já seriam reduzidos
(ocorrendo em dupla contagem nas alternativas com o projeto), adotou-se a premissa de
que tanto os custos das possíveis pequenas remediações municipais quanto as perdas
geradas por eventos de retorno de 2 anos (que contabilizariam benefícios uma vez
evitadas) não são contabilizados.
Em resumo, caso as obras propostas pelo SIEMEC não sejam implantadas, supõe-se que a
bacia do rio Muriaé continue sujeita a frequentes episódios de cheias, com inundações
das áreas urbanas de vários municípios, do que resultam grandes prejuízos, quer para a
população, quer para as prefeituras. Tais prejuízos decorrem, em grande parte, das
ocupações irregulares existentes, muitas vezes dentro do leito menor e até mesmo dentro
do leito vazante dos cursos d’água que cruzam as áreas urbanas, processo de urbanização
do qual não se observa perspectiva de reversão.
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emprego da planilha computacional formatada especialmente para esse fim (ver Anexo 1
– Anexo Digital – Planilha computacional – ACB Complexo de Barragens Muriaé).
Na Tabela 4-1 e Tabela 4-2 a seguir, apresentam-se os formulários de entrada de
informações na planilha computacional, destacando-se as seções de dados cadastrais e
técnicos mencionados. Logo a seguir, são anotados os dados de CapEx conhecidos, todos
eles acompanhados de informação de fonte da informação anotada.
Importante ressaltar que o horizonte de análise é de 30 anos, segundo Manual ACB Infra
Hídrica, sendo que o ano corrente, ou seja, o da elaboração da ACB, pode ser tido como
o “ano 0”, ou ponto de partida, de convergência da análise (data-base). Neste “ano 0” não
ocorrem investimentos nem apuração de benefícios, servindo apenas de referência (ano
de convergência do valor presente) e data-base para custos e benefícios. Os custos e o
benefícios se iniciam, cada qual com seu cronograma previsto, no ano 1.
Tabela 4-1 - Formulário de Dados cadastrais e técnicos
Cabeçalho Resposta Fonte Referência
Dados Cadastrais
CC-MG-010/CC-MG-011/CC-MG-
Código no PNSH PNSH
012
Sistema de Intervenções
Nome do Estruturais para Mitigação dos
PNSH
Empreendimento Efeitos de Cheias na Bacia do
Rio Muriaé
Empreendedor PNSH
Operador PNSH
Ano de registro da
2021 - Ano em que é realizada a ACB
ACB
Manual ACB Adotar 30 anos como padrão de
Horizonte da ACB 2051
Infra Hídrica análise
Manual ACB Adotar 30 anos como padrão de
Período de análise 30 anos
Infra Hídrica análise
Data-base de dados Ano declarado pelo originador
2012 PNSH
do projeto do projeto
Ano declarado pelo originador
Horizonte de projeto 2035 PNSH
do projeto
Ano declarado pelo originador
Anos de implantação 4 PNSH
do projeto ou adotado no PNSH
Ano de início de Ano declarado pelo originador
2025 PNSH
operação (previsto) do projeto ou adotado no PNSH
Mananciais afetados Rios Carangola e Muriaé PNSH
Estados afetados Minas Gerais e Rio de Janeiro PNSH
Carangola, Tombos, Porciúncula,
Natividade, Miraí, Muriaé, Laje
Municípios afetados PNSH
do Muriaé, Itaperuna, Italva e
Cardoso Moreira
Além do Empreendedor e
Órgãos públicos Operador, informar demais
envolvidos órgãos ou instituições de direito
públicos envolvidos
População afetada
2035
(mil hab.)
Tipologia Controle de Cheias (Publicação)
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7
Além disso, a sua anotação servirá de verificação para o analista comparar com dado similar
informado para a fase de operação e que incidirá nos custos de OpEx, conforme descrito no item
subsequente.
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Por esse motivo, a entrada de dados de CapEx deve considerar a participação relativa
dessas componentes de custos como % do CapEx e, em função dessa participação, estimar
os custos decorrentes de mão de obra mais qualificada e menos qualificada, bens e
serviços comercializáveis, além de também condicionar o cálculo da depreciação
calculada dos ativos. De maneira análoga, essa divisão do CapEx nessas componentes civil,
equipamentos e adutoras/ tubulações irá compor a estrutura de custos de Gestão,
Operação e Manutenção (OpEx) abordada no próximo item.
Para o caso do projeto Complexo de Barragens Muriaé, foi considerada a participação
informada no quadro abaixo.
Tabela 4-5 - Participação relativa dos componentes de infraestrutura no CapEx – Complexo de
Barragens Muriaé – Alternativa 1
Cabeçalho Resposta Fonte Referência
Componente
Equipamentos elétricos, eletrônicos ou mecânicos
Equipamentos -
0% PNSH fixados à infraestrutura (não confundir com
Participação relativa no
equipamentos para construção)
CapEx
Componente Adutora - Adutoras e tubulações enterradas ou aparentes,
Participação relativa no 0% PNSH incluindo válvulas, controles, proteções e
CapEx miscelâneas
Toda infraestrutura construída exceto
equipamentos e tubulações (inclui: trabalhos de
Componente Civil -
preparação de terreno, drenagens permanentes,
Participação relativa no 100% PNSH
movimentos de terra, sistemas viários, estruturas,
CapEx
edificações, instalações e dispositivos de controle
associados)
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Novamente, este formulário de CheckList serve ao analista como registro de que está de
posse de toda a informação necessária para obter uma análise custo-benefício
consistente. Quando a pergunta “Infraestrutura terá vida útil superior à definição
temporal de análise?” é respondida com “Sim”, como é o caso neste projeto analisado,
então o cálculo de depreciação da infraestrutura é automaticamente computado em
função da participação relativa de cada componente no CapEx estimado do projeto,
resultando num valor residual calculado para o final do período de análise.
Em função dos três componentes principais de infraestrutura considerados
(equipamentos, adutoras e obras civis), são estipulados os períodos médios de vida útil
com base em bibliografia de referência do setor (Estudo de vida útil econômica e taxa de
depreciação da ANEEL)8, resultando nos seguintes valores:
Tabela 4-7 - Estimativa de vida útil de componentes da infraestrutura
Cabeçalho Resposta Fonte Referência
Componente Equipamentos – Anos de
25 Aneel
vida útil
8
ANEEL. “Estudo de vida útil econômica e taxa de depreciação”. Aneel, 2001.
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Custos de Investimento
Resposta Fonte Referência
(CapEx)
ambientais (exceto custos ambientais
e licenciamentos) e outros serviços
técnicos especializados fora do
canteiro.
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análise, essas alíquotas são ponderadas pelas participações relativas de cada componente
no projeto (já estabelecidas conforme Tabela 4-5 - Participação relativa dos componentes
de infraestrutura no CapEx), resultando nas participações informadas na tabela anterior
(12% de mão de obra qualificada e 26% não-qualificada).
A tabela a seguir apresenta as participações relativas de referência adotadas no Manual
ACB Infra Hídrica e empregadas neste estudo de caso.
Tabela 4-9 - Alíquotas de referência para mão de obra qualificada e não-qualificada conforme
componentes do CapEx
Componentes MO não qualificada - Capex MO qualificada - Capex
Equipamentos 3,11% 10,45%
Adutora 3,11% 10,45%
Civil 26,25% 11,55%
9
Outros custos do fluxo de caixa da firma comumente levantados em análises financeiras de
viabilidade do empreendimento (como seguros, dívidas etc.) não são contabilizados na análise de
custo-benefício, conforme estabelecido no Guia ACB.
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ETAPAS
O processo orientador desta etapa está em definir quais os danos e perdas (D&P)
associados às cheias no cenário base e posteriormente com o projeto, sendo a soma das
perdas e danos evitados pelo projeto contabilizada como benefício do mesmo. Para tal,
faz-se necessário construir as curvas de probabilidade de ocorrência de danos e perdas
por cheias com e sem o projeto para cada município da bacia em consideração. Os
próximos itens descrevem os passos adotados e seus resultados para a bacia em estudo.
Incluem:
▪ Estimativa do valor em risco: caracterização do cenário base:
o Levantamento de registros de danos e perdas históricos na região;
o Reunião de dados hidrológicos e hidráulicos caracterizando as cheias e
inundações;
o Elaboração das curvas de probabilidade de excedência de danos.
▪ Estimação dos danos e prejuízos com o projeto;
▪ Cálculo do benefício: danos e perdas evitados;
▪ Cálculo do benefício: valorização imobiliária;
▪ Cálculo do benefício: valorização dos prejuízos privados;
▪ Projeções dos benefícios no futuro:
o Vulnerabilidade e exposição crescentes: danos e prejuízos econômicos
crescentes;
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pela CEPED, as informações continuarão a ser alimentadas ao S2ID, tornando-se esta a base de
dados mais adequada para o cômputo dos danos e perdas por desastres. Disponível em:
https://s2id.mi.gov.br.
12Foi elaborada a partir da classificação utilizada pelo Banco de Dados Internacional de Desastres
(EM-DAT) do Centro para Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres (CRED) e da Organização
Mundial de Saúde (OMS/ONU), com o propósito de adequar a classificação brasileira às normas
internacionais. Disponível em: https://www.gov.br/mdr/pt-br/centrais-de-
conteudo/publicacoes/protecao-e-defesa-civil-sedec/DOCU_cobrade2.pdf.
13
Segundo a definição COBRADE, são alagamentos (código 12300): Extrapolação da capacidade de
escoamento de sistemas de drenagem urbana e consequente acúmulo de água em ruas, calçadas
ou outras infraestruturas urbanas, em decorrência de precipitações intensas.
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é sabido que tal classificação é passível de erro interpretativo pelo agente declarador do
desastre, sobretudo em registros mais antigos.
Por exemplo, o mesmo evento hidrológico ocorrido em 17 de dezembro de 2008 foi
classificado como inundação para os municípios de Tombos, Porciúncula, Natividade, Laje
do Muriaé, Itaperuna, Italva e Cardoso Moreira, mas como enxurrada para o município de
Muriaé. O episódio hidrológico que o projeto intenta controlar, no entanto, é o mesmo.
De acordo com o já citado Relatório de Danos Materiais e Prejuízos Decorrentes de
Desastres Naturais no Brasil (Banco Mundial, 2020), entre os anos de 1995 e 2019, foram
encontrados um total de 68 registros nos dez municípios de interesse, resultando em uma
média de 6,8 registros por município, ou ainda, na média, um evento a cada 2,9 anos em
cada cidade. Estes registros podem ser consolidados em 11 eventos de interesse
(inundações e enxurradas), conforme tabela a seguir:
Tabela 5-2 - Eventos de desastres registrados nos municípios de interesse na base CEPED
Data do Laje do Cardoso
Carangola Tombos Porciúncula Natividade Miraí Muriaé Itaperuna Italva
Evento Muriaé Moreira
11/03/2018 Afetado
12/12/2013 Afetado
29/12/2011 Afetado
05/01/2009 Afetado
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Vale registrar que, para o projeto analisado, considerou-se o valor total de cada
subcategoria na valoração dos danos e prejuízos causados pelo evento e que seriam
evitados pelo projeto. Em outros projetos, por exemplo, pode-se ter de desconsiderar (ou
considerar parcialmente) uma ou outra subcategoria, caso o projeto não traga benefícios
(perdas evitadas) em um ou outro caso.
Com as datas dos eventos de inundações e enxurradas agregadas pelas categorias de
danos e prejuízos acima discriminados (Tabela 5-3), apresenta-se na Tabela 5-4 (abaixo)
os valores para os 10 municípios beneficiados em cada um dos onze eventos de desastres
hidrológicos, com valores em mil reais a preços de dezembro de 2020.
Tabela 5-4 - Perdas (danos e prejuízos) registrados nos municípios de interesse na base CEPED,
com valores na data-base de 2020
Categ. Danos Materiais (R$, mil) Prejuízos (R$, mil)
TOTAL
29/12/11 29.386 3.276 155.070 11.913 25.852 342 8.935 10.374 245.148
05/01/09 4.200 169 33.323 2.049 580 215 158 1.532 34.254
17/12/08 42.303 804 145.125 22.011 18.572 2.374 4.765 7.063 243.018
10/01/07 25.289 4.095 45.384 12.925 13.505 673 2.023 21.665 125.559
TOTAL 130.139 20.698 462.065 54.766 58.622 4.935 39.318 163.131 933.674
hidrológicos passados, estes foram atualizados com base no Índice Geral de Preços –
Disponibilidade Interna (IGP-DI) de final de período, equalizando-se assim os valores
monetários apresentados pelos municípios em diferentes anos (Banco Mundial, 2020).
Para a ACB, os valores reportados pelo CEPED foram novamente corrigidos, pelo mesmo
índice de preços, para a data-base de dezembro de 2020 (ano “0”), equiparando-os em
termos monetários à data-base dos custos econômicos (capítulo 4).
14
O Projeto utilizou de simulações pelo modelo hidráulico (software HEC-RAS).
15
O Portal é ferramenta integrante do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos
(SNIRH) e oferece o acesso ao banco de dados que contém todas as informações coletadas pela
Rede Hidrometeorológica Nacional (RHN), reunindo dados de níveis fluviais, vazões, chuvas,
climatologia, qualidade da água e sedimentos. Os dados disponíveis no Portal HidroWeb se
referem à coleta convencional de dados hidrometeorológicos, ou seja, registros diários feitos pelos
observadores e medições feitas em campo pelos técnicos em hidrologia e engenheiros hidrólogos.
Disponível em: http://www.snirh.gov.br/hidroweb/apresentacao
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Itaperuna) e Italva (entre Itaperuna e Cardoso Moreira). Já a cidade de Miraí fica nas
cabeceiras da bacia e é a montante de Muriaé.
Probabilidade de excedência
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dos benefícios, quais sejam: (i) quantidade de habitações afetadas; e (ii) número de
pessoas afetadas pelos eventos críticos. Estas duas informações são disponibilizadas pela
mesma base de dados do CEPED (op. cit.).
Probabilidade de excedência
16
A depender do caso concreto, recomenda-se mensurar e calcular os prejuízos associados à
ocorrência de danos físicos às pessoas (mortos e feridos). Da mesma forma, recomenda-se calcular
também o custo do aumento da morbidade, em decorrência da maior proliferação de doenças,
com prejuízos ao sistema de saúde.
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Perda (R , mil)
Probabilidade de excedência
17
Olsen, A. et al. Comparing Methods of Calculating Expected Annual Damage in Urban Pluvial
Flood Risk Assessments. Water 2015, 7, 255-270; doi:10.3390/w7010255
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Tabela 5-5 - Valores anualizados de perdas esperadas para cada município com e sem o projeto
Os resultados acima se referem a t=0 uma vez que há expectativa de aumento das perdas
no futuro devido ao aumento na severidade e/ou frequência dos eventos extremos e
também do crescimento econômico dos municípios (que aumenta a base de ativos em
risco), como é explorado no item 5.6, que trata da evolução temporal das curvas
encontradas. Antes, no entanto, apresentam-se nos itens subsequentes outras duas
valorações de benefícios decorrentes do projeto.
milhões em perdas, sendo R$ 188 milhões referentes aos danos materiais e R$ 57 milhões
aos prejuízos (públicos e privados). Dos prejuízos, reportou-se R$ 11,9 milhões (5% do
total) aos serviços privados, não obstante o evento tenha causado desarticulação viária
no município e afetado a todos os seus habitantes por um intervalo de tempo equivalente
a diversos dias.
É plausível conceber, portanto, que haja uma subnotificação do prejuízo aos serviços
privados. Com base nessa hipótese, pode-se calcular o dano que ocorre a esse setor
econômico pela proxy do valor da produção momentaneamente cessante que teria sido
gerado pelas pessoas diretamente afetadas pelos desastres.
Uma vez que a valoração por método próprio do dano evitado ao setor de serviços
privados, resulta em dupla contagem com os valores reportados pelo Banco Mundial
(2020), sua consideração se dá mediante a exclusão dessa mesma categoria dos cálculos
do benefício anual, conforme apresentado no item anterior (5.4.2)18.
De modo semelhante ao que foi realizado para o cômputo dos benefícios via danos
evitados, calculados com base nos dados de Banco Mundial (2020), compilam-se as curvas
de pessoas afetadas em função da probabilidade de eventos de inundação e enxurradas
com e sem o projeto.
Tabela 5-6 – Valores anualizados de pessoas afetadas para cada município com e sem o projeto
Pessoas afetadas em t=0
Uma vez realizada a estimativa anualizada de pessoas afetadas pelos eventos, pode-se
atribuir a elas um valor econômico de produção, gerando a proxy do prejuízo privado pela
produção momentaneamente cessante. Para estimar a remuneração diária média por
pessoa, foi utilizada a informação de salários e outras remunerações do Cadastro Central
18
Com essa exclusão, o benefício anualizado passa a ser de R$ 10,97 milhões, e não mais de R$
11,72 milhões.
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Considerando que cada pessoa diretamente afetada pelo desastre se restrinja de produzir
durante 15 dias, tem-se que o total da produção cessante por pessoa afetada é de R$
940,26 por ano, na média dos dez municípios. Uma vez que esse parâmetro é arbitrário,
realizam-se teses de sensibilidade quanto ao seu grau de influência nos resultados finais.
A multiplicação das pessoas que, com o projeto, deixam de ser diretamente afetadas
pelos desastres (anualizadas), com o valor da produção média diária de cada pessoa,
resulta em um benefício anual de R$ 6,52 milhões.
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A maior garantia da não ocorrência de eventos críticos de cheias tem um efeito positivo
nos valores dos imóveis nas áreas anteriormente afetadas. A valoração desse benefício
foi feita com base no parâmetro arbitrário de 15% de valorização no valor equivalente ao
aluguel do imóvel beneficiado19. Para fins de cômputo do valor do aluguel que o projeto
19
Embora arbitrado, o parâmetro guarda referência em sua ordem de grandeza aos resultados
encontrados para a diferença no valor dos aluguéis de imóveis sem rede de coleta de esgotos com
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espera aumentar por meio da segurança contra eventos de enchentes, foram realizados
os seguintes passos:
▪ Por meio de consulta ao Sinduscon de cada um dos estados, obteve-se o CUB (custo
unitário básico) da construção de um m2 de padrão residencial normal (R$ 1.518 em
MG e R$ 1.551 no RJ);
▪ O CUB foi então multiplicado pela área de 60 m2 como forma de espelhar o valor de
um imóvel residencial pequeno, equivalente à menor área possível de ser construída
pelo Programa Federal Minha Casa Minha Vida - obtendo-se assim um balizador
mínimo para o valor do imóvel;
▪ Consultou-se, então, o índice FIPE-Zap20 para o rental yield mensal médio (dado único
para todo o País), que é reportando em sendo 0,39%;
▪ O resultado é a estimativa de valor anual de aluguel, por imóvel, de R$ 4.264 para o
estado de Minas Gerais e de R$ 4.536 para o estado do Rio de Janeiro.
Considerando-se que o aluguel na área de risco é, ao menos, 15% valor do que o aluguel
de imóvel similar em área sem risco, pode-se estimar o efeito econômico da melhora no
bem-estar por meio dessa proxy. Uma vez que o parâmetro de (des)valorização imobiliária
é arbitrário, realiza-se teses de sensibilidade quanto ao seu grau de influência nos
resultados.
Tabela 5-9 - Benefício da melhora no bem-estar via proxy da valorização imobiliária
Incremento no valor
Aluguel em área sem Aluguel teórico de médio do aluguel em
risco (por imóvel) imóvel na área de risco decorrência da
redução de risco
Unidade da Federação R$/ano R$/ano R$/ano
Por fim, multiplicou-se o valor diferencial no aluguel pela quantidade de habitações que
deixam de ser danificadas. Como forma de contemplar o aumento no bem-estar
propiciado à toda a região que tem seu risco minorado, arbitrou-se que para cada
habitação que teria sido diretamente afetada, outras onze também gozariam do benefício
por deixarem de estar em áreas de risco. O resultado final resulta em um benefício anual
de R$ 1,94 milhões.
outros em situações e condições similares, porém com acesso à rede coletora (16,4%). O acesso a
água tratada também tem efeito positivo sobre o valor do aluguel (9,0%), bem como a existência
de banheiro no domicílio (7,4%). [Freitas, F. G. et al. Benefícios econômicos e sociais da expansão
do saneamento no Brasil. Relatório de pesquisa produzido para o Instituto Trata Brasil. São Paulo:
Ex Ante Consultoria Econômica, 2018.]
20
Disponível em: https://fipezap.zapimoveis.com.br/noticias/noticias-fipezap/pesquisas-e-
relatorios/indice-residencial/indice-residencial-aluguel/
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21
Na ausência de projeções econômicas, uma forma alternativa de se balizar a possível variação
futura nos danos e prejuízos é por meio da variação projetada na população.
22
Disponível em: https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-
abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-
440/NT%20Cenário%20Econômico%2010%20anos%202029%20VF.pdf
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análise, a taxa de 2,4% foi mantida constante, pois alinha-se com as expectativas de
crescimento de longo prazo para o Brasil trazidas pelo Fundo Monetário Internacional23.
Sabe-se que a pandemia da Covid-19 gerou repercussões econômicas de grande
magnitude, cujo desfecho em termos de crescimento ainda é incerto. No entanto,
segundo a Nota Informativa do Ministério da Economia intitulada Projeções de
Crescimento Econômico e Medidas Fiscais, de 29 de janeiro de 2021, pode-se esperar uma
recuperação célere, de forma que não se alteram as projeções de prazos mais alongados,
acima descritas, em função da pandemia.
Essa projeção econômica é aplicada aos benefícios ao longo dos trinta anos de horizonte
temporal. Tal exercício permite a elaboração de curvas futuras de danos e prejuízos para
o ano t=30.
Mudança do clima
Sabe-se que a concepção inicial do projeto, suas premissas hidrológicas e obras, não levou
em conta os efeitos da mudança do clima (conforme o já citado relatório SIEMEC). Assim,
os resultados consideram a estacionariedade das séries de vazões históricas na bacia, a
qual, sendo equivocada precisa ser, de alguma forma, corrigida. A mudança do clima trará
um efeito de deslocamento nas curvas de perdas e suas probabilidades, já que os eventos
hoje teriam seus períodos de retorno (probabilidades de ocorrer) alterados no futuro -
uma chuva com TR 50 hoje poderá ter uma TR 25 no futuro, por exemplo.
Não cabe a este estudo de caso e a uma ACB Preliminar discorrer quanto à ciência do
clima, seus achados e premissas, além da miríade de modelos e projeções climáticas
disponíveis e necessárias a uma avaliação mais robusta das tendências
hidrometeorológicas para a região. Por exemplo, a plataforma “Projeções Climáticas no
Brasil” disponibilizadas pelo INPE e MCTI, permite navegar por uma infinidade de
modelos, cenários, variáveis e dados que, após extenso tratamento estatístico, trariam
projeções confiáveis, mesmo que dentro de faixas de incerteza.
Aqui, no entanto, a fim de considerar o possível efeito do clima, buscou-se alguma
referência mais geral e ampla das tendências previstas para a região, sobretudo no que
diz respeito aos eventos extremos de chuva. Toma-se como base os mapas de projeções
climáticas do país disponíveis na 4ª Comunicação Nacional às Nações Unidas no âmbito
do Acordo de Paris (UNFCCC)24 relacionados a projeções do projeto Helix e à variável
RX5day, ou seja, a precipitação máxima acumulada em cinco dias consecutivos
(intrinsecamente relacionada a eventos de cheias).
As figuras a seguir mostram extratos dos mapas disponibilizados na 4ª Comunicação
Nacional para a variação do RX5day no inverno e verão em relação ao período histórico
para o cenário de aquecimento SWL4 (Specific Warming Level).
23
World Economic Outlook (WEO). Disponível em:
https://www.imf.org/en/Publications/WEO/weo-database/2020/October
24
UNFCCC: United Nations Framework Convention on Climate Change. Disponível em:
https://unfccc.int/non-annex-I-NCs
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Modelos
Meses de verão
Meses de inverno
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Projeto
Probabilidade de excedência
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ESTIMAÇÃO DE EXTERNALIDADES
A implantação de um projeto como o complexo de barragens e canais para controle de
cheias na bacia hidrográfica do rio Muriaé deverá trazer benefícios sociais, os quais muitos
não estão a mercado e necessitaram de valoração específica, como é o caso das perdas
evitadas e da melhora no bem-estar (via proxy da valorização imobiliária). Dessa forma,
os benefícios do aumento da resiliência à mudança do clima e redução da vulnerabilidade
ao risco dos desastres já estão devidamente contabilizados. Aqui são abordadas as
externalidades, pois são impactos que recaem sobre terceiros sem uma devida
compensação, capazes de gerar, portanto, um custo (ou benefício) que extravasa do
projeto para partes externas.
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usos consuntivos; e (iv) pelo suprimento de água para usos não consuntivos. Cada qual é
abordado na sequência, sendo que a avaliação é realizada de forma qualitativa.
Regularização de vazão
Quanto ao primeiro efeito, sabe-se que a região estudada conta com um regime de
precipitações com uma sazonalidade bastante marcada. Segundo as normais climáticas
(1981 a 2010) do INMET para o município de Muriaé, exatamente metade de toda a
precipitação anual ocorre em três meses (de dezembro a fevereiro). Durante outros seis
meses do ano (de abril a setembro), pode-se esperar apenas 20% da precipitação anual.
Isso demonstra que as vazões são também bastante marcadas, indicando que pode haver
um impacto significativo em sua regularização.
Adicionalmente, os reservatórios previstos para controle de cheias não serão os únicos a
regularizarem vazões nos rios Carangola e Muriaé. Em consulta ao cadastro de usinas e
pequenas centrais hidrelétricas (PCH), identificaram-se 17 aproveitamentos hidrelétricos:
▪ Rio Carangola (afluente ao rio Muriaé): PCH Carangola, no município homônimo, PCHs
São Lourenço e Tombos, no município de Tombos;
▪ Rio Glória (afluente ao rio Muriaé): PCH São Pedro no município de Fervedouro, PCHs
Bicuíba, São Francisco do Glória, Mariano e Santa Cruz, no município de São Francisco
do Glória e PCH Ormeo Junqueira Botelho, no município de Muriaé;
▪ Rio Fumaça (afluente ao rio Preto): PCH Coronel Domiciano, no município de Muriaé;
▪ Rio Preto (afluente ao rio Muriaé): PCH Preto, no município de Muriaé (e outros 3
aproveitamentos inventariados);
▪ Rio Muriaé: PCHs Comendador Venâncio, Itaperuna, Arã, Paraíso e São Joaquim,
todas no município de Itaperuna-RJ e PCH Italva, no município homônimo.
Por mais que as PCHs possam operar a fio d’água, acabam por regularizar vazões e
diminuir o pulso de vazão que ocorre nos meses de chuvas mais intensas (verão). Essa
regularização pode não gerar a segurança necessária para o controle de cheia, mas para
afirmar se esse é o caso e, para eventualmente considerar a operação das hidrelétricas
como potenciais auxiliares à contenção de eventos extremos, deve-se realizar modelagem
hidráulica-hidrológica com a inclusão dos barramentos existentes e previstos. Algumas
PCHs podem estar inventariadas, o que demanda conhecer o potencial dos rios para esse
fim e considerar suas operações em conjunto.
Esse importante aspecto não foi considerado pelo SIEMEC, e tampouco cabe ao escopo
da presente ACB Preliminar, pois demanda modelagem hidráulica-hidrológica. Não
obstante, é tema de maior interesse para o encaminhamento do aprofundamento dos
estudos para o projeto, como aborda-se no item 7.1.
Retornando aos serviços ecossistêmicos, cabe destacar que a regularização das vazões
pelos reservatórios e canais do projeto não tem o intuito de abastecer usos consuntivos,
portanto não afetarão os volumes de água disponibilizados aos cursos d’água. Outro
ponto que ameniza a potencial geração de externalidades negativas é o fato de não se
tratar de reservatórios de capacidade muito elevada de reservação (ver item 3.3.1).
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Atenta-se que as emissões de GEE oriundas do consumo energético não devem ser
consideradas, seguindo a orientação do Manual ACB Infra Hídrica, uma vez que já o foram
(ou deveriam ter sido) quando da decisão pela fonte geradora de energia. Fazê-lo
novamente seria incorrer em dupla contagem sob o ponto de vista social.
Ademais, poderão ocorrer emissões durante a fase de implantação do projeto, mas estas
são de cunho pontual em relação à vida útil do mesmo. Retoma-se o explanado no item
6.1.1, que aborda a valoração das externalidades durante as obras com base no valor de
custeio dos programas ambientais que os mitigam.
61
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Figura 6.1 - Relação entre o VAB Privado (serviços e indústria), o porte populacional e o registro
de eventos de inundações e enxurradas (nos últimos vinte anos)
Uma análise visual (Figura 6.1, acima) da relação entre o VAB (serviços privados e
indústria) e o porte populacional dos municípios, destacando-se aqueles com o elevado
62
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Uma vez que não se pode concluir pela distribuição normal da variável (Shapiro-Wilk’s p
<0,0001), considera-se o teste de Welch.
63
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mais eventos de cheias apresentam um VAB (serviços privados e indústria) que é 99,86%
daqueles que não sofreram com tais eventos.
Os resultados do modelo podem, portanto, ser considerados para valorar o benefício da
indução do investimento nos municípios beneficiados pela redução do risco de desastres
no caso da bacia do rio Muriaé. Assume-se, pois, que o projeto trará um alívio à restrição
econômica existente, por meio da geração de mudanças comportamentais locais em
termos de decisão de investimento em uma ambiência de risco de eventos hidrológicos
muito reduzido.
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INDICADORES DA ACB
Com os custos e benefícios do projeto e suas alternativas determinados, é possível realizar
o cálculo dos indicadores da análise de custo-benefício por meio do fluxo de caixa social
do projeto, apresentado em detalhes no anexo digital. O fluxo de caixa dos custos e dos
benefícios econômicos esperados, ano a ano pelo projeto, é reduzido a um valor comum
e de mesma base temporal por meio da aplicação da Taxa Social de Desconto (TSD).
▪ Valor Social Presente Líquido Comparativo (∆VSPL): a diferença entre o VSPL do
cenário alternativo e base – representa o benefício ou custo social líquido do projeto
trazido a valor presente à Taxa Social de Desconto;
▪ Valor Anual Equivalente (VAE): valor que, se recebido anualmente pela vida útil do
projeto, teria o mesmo ∆VSPL que o próprio projeto;
▪ Taxa de Retorno Econômica (TRE): a taxa de desconto que resulta em um valor igual
a zero para o ∆VSPL, corresponde ao retorno socioeconômico do projeto;
▪ Índice Benefício-Custo (B/C): dado pelo quociente entre os valores presentes de
benefícios e custos econômicos.
A tabela abaixo traz os resultados de cada um destes indicadores para as duas alternativas
de projeto consideradas, lembrando que ambas trazem os mesmos benefícios (são
alternativas equivalentes em termos de resultado finalístico), embora difiram em custos
de implantação.
Tabela 7-1 - Indicadores da ACB Socioeconômica
Alternativa 1 Alternativa 2
Indicadores da ACB social (combinação de 3 (canais,
barragens e canais) sem barragens)
A ACB permite facilmente identificar que a alternativa 1 (combinação entre três barragens
e canais) é mais custo-benéfica do que a Alternativa 2 (sistemas de canais de maior porte,
sem barragens). Enquanto a alternativa 1 apresenta o valor presente dos custos de R$ 212
milhões, a alternativa 2 é R$ 89 milhões mais custosa.
A alternativa 1, além de apresentar melhores indicadores de viabilidade social do que a
alternativa 2, agrega valor líquido à sociedade, pois seu índice benefício/custo supera a
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unidade (1,21). Ou seja, o projeto gera benefícios sociais que superam em 21% os custos
sociais (VPL dos custos de R$ 212 milhões contra o VPL dos benefícios de R$ 256 milhões).
Pela ótica agregativa da ACB, a implantação do projeto gera um valor positivo líquido de
R$ 44,5 milhões em valor social (valor social presente líquido - ∆VSPL).
O resultado da TRE da alternativa 1 também permite concluir pela suficiência na geração
de valor econômico, uma vez que seu resultado, de 10,18%, supera a TSD de 8,50%, que
é representativa do mínimo necessário para compensar o custo de oportunidade social
do investimento no tempo.
A TSD foi determinada pela Secretaria de Desenvolvimento da Infraestrutura do
Ministério da Economia (Nota Técnica nº 19.911/2020)26 para aplicação em análises
custo-benefício de projetos de investimento em infraestrutura em 8,50% ao ano,
refletindo a percepção da sociedade quanto ao custo de oportunidade do capital para
novos investimentos.
Segundo Manual ACB Infra Hídrica, quando o resultado da TRE fica acima de 11,4%, o
projeto pode ser considerado viável mediante realização de análise de sensibilidade e de
riscos padrão. Eis que, no caso do presente estudo, nenhuma das alternativas ultrapassam
esse limiar. Resultados entre 8,5% e 11,4%, como é o caso da alternativa 1, devem ser
submetidos à análise probabilística de riscos, por meio de simulação de Monte Carlo ou
equivalente, para permitir ao gestor melhor inferir sobre a robustez do resultado
apresentado.
Ainda segundo Manual ACB Infra Hídrica, quando o resultado da TRE se apresenta entre
5,7% e 8,4%, como é o caso para a alternativa 2, o projeto é a princípio classificado como
inviável. Caso essa fosse a melhor das alternativas, recomendar-se-ia proceder a uma
cuidadosa análise dos efeitos distributivos do projeto (capítulo 9), além da própria análise
probabilística de riscos (capítulo 8). Como a alternativa 1 é custo-benéfica e trata
exatamente do mesmo problema social dos desastres hidrológicos aos municípios
envolvidos que a alternativa 2, pode-se desconsiderar esta última da análise subsequente.
Muito embora o foco da análise, doravante, passe a ser apenas a alternativa 1, cabe
discorrer novamente sobre as alternativas: idealmente uma ACB Preliminar da tipologia
de controle de cheias deveria analisar diversas alternativas de projeto, e não apenas duas
que são, por sua vez, focadas exclusivamente em opções de engenharia convencional
(conforme item 3.3).
Dessa forma, um possível encaminhamento a partir dos resultados obtidos é que haja
uma remodelação das alternativas de engenharia para a contenção de cheias,
contemplando opções potencialmente menos custosas que a alternativa 1.
A partir disso, em especial da análise dos efeitos distributivos, o gestor do projeto poderá
melhor decidir sobre a continuidade ou não do projeto, considerando sobretudo as
possibilidades de, nos estudos futuros, reduzir os custos de implementação via:
26
Disponível em: https://www.gov.br/economia/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/notas-
tecnicas/2020/nt_taxa-social_vf.pdf/view
66
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8. ANÁLISE DE RISCO
A análise de risco se divide em análise de sensibilidade a parâmetros-chave (8.1), análise
qualitativa de riscos (8.2) e análise probabilística (8.3), seguindo instruções do Manual
ACB Infra Hídrica e do Guia ACB. Todas são conduzidas com base na alternativa 1, de
acordo com as conclusões do capítulo anterior.
ANÁLISE DE SENSIBILIDADE
A análise de sensibilidade é realizada para parâmetros-chave, sendo um teste do efeito
individual que cada um apresenta sobre os resultados da modelagem realizada. Uma vez
que a ACB Preliminar pressupõe conhecimento limitado sobre o projeto e seus benefícios,
um de seus principais resultados que a análise pode fornecer está na possibilidade de
identificar a quais parâmetros os resultados são mais sensíveis. A partir dessa
identificação, tem-se um direcionamento para as etapas posteriores de avaliação do
projeto.
Identificação de variáveis-críticas
Uma primeira forma de se realizar a análise de sensibilidade é simples e direta: para cada
variável, impõe-se uma modificação (um choque) de ±1% do valor adotado na ACB,
avaliando-se a resposta dessa variação no ∆VSPL. Caso esse choque na variável
desencadeie uma resposta maior que a unidade, ou seja, maior que 1% no ∆VSPL, pode-
se identificá-la como crítica.
As variáveis testadas o são de forma independente entre si (ou seja, mantendo-se todos
os demais parâmetros constantes) e ao nível mais desagregado possível. Destacam-se na
tabela abaixo as variáveis críticas.
Tabela 8-1 - Análise de sensibilidade para identificação de variáveis-críticas
Variação % do ∆VSPL a um choque de 1% na variável
Variáveis Alternativa 1
1,11% crítica
evitada dos serviços privados)
Parâmetro de valorização imobiliária (benefício bem-
0,44% não crítica
estar)
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Variáveis Alternativa 1
OpEx)
Das nove variáveis testadas, cinco se mostram críticas. Destas, a mais relevante no
aspecto dos benefícios é o valor histórico dos danos e benefícios: um choque de 1% é
suficiente para promover uma variação de 2,9% no ∆VSPL . Quanto aos custos, o projeto
se mostra pouco sensível ao OpEx, muito embora seja muito sensível ao CapEx, que é a
variável mais crítica: um choque de 1% no CapEx é suficiente para impor uma variação de
4,7% no ∆VSPL , tornando-se assim uma variável crítica.
A análise de sensibilidade revela ainda que variações nos parâmetros da modelagem são
relativamente menos sensíveis. Destes, as projeções socioeconômicas são as de maior
impacto nos resultados. Estas projeções balizam não apenas a leitura do incremento dos
ativos em risco, mas também o crescimento do VAB industrial e dos serviços privados que
é utilizado para a valoração dos benefícios da indução do investimento.
O parâmetro do modelo de avaliação da indução do investimento é também variável
crítica. Por aí se vê também, que a consideração do próprio benefício de indução do
investimento, que está na categoria de efeitos econômicos induzidos (WEI), é de alta
relevância para a composição dos resultados do projeto: em sua ausência, o mesmo não
seria custo-benéfico, destruindo R$ 13 milhões ao invés de acrescendo R$ 44 milhões.
Das quatro variáveis analisadas sob o aspecto dos benefícios, três são identificadas como
críticas. O resultado dessa análise permite inferir que se trata de uma alternativa de
investimento que precisa ser avaliada com cautela, pois pode não ser robusta.
Valores de inflexão
Outra forma de avaliar a sensibilidade dos resultados às variações em parâmetros e
premissas da modelagem é por meio dos seus graus de inflexão. Trata-se do valor que a
variável analisada teria que atingir para que o ∆VSPL do projeto igualasse a zero, ou seja,
para que o sinal de viabilidade do projeto se inverta.
A tabela abaixo apresenta os resultados dos valores de inflexão para que o ∆VSPL de cada
alternativa seja equivalente a 0 (zero) tomando como base as mesmas variáveis que foram
testadas na análise anterior.
Os cálculos dos valores de inflexão reforçam as conclusões da sensibilidade das variáveis
críticas acima descritas, pois permitem identificar que há uma grande sensibilidade aos
custos: um acréscimo de 21% no CapEx, relativamente pequeno em relação ao histórico
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Variáveis Alternativa 1
-90,3%
evitada dos serviços privados)
Parâmetro de valorização imobiliária (benefício bem-
-225,9%
estar)
OpEx)
Uma redução de 34,3% no valor histórico dos danos e prejuízos é suficiente para zerar o
∆VSPL. O resultado mostra a relevância desse benefício que é, de fato, o propósito do
projeto. Dificilmente, no entanto, as perdas históricas foram mais de uma terça-parte
superestimadas - ao contrário, como visto no item 5.4, é mais provável que as perdas
históricas estejam subestimadas.
27
O BID mapeou 200 conflitos locais relacionados a projetos de infraestrutura na América Latina
que resultaram em atrasos de execução para 81% dos casos e extrapolação dos custos em 58%
deles, além de redesenho dos projetos (42%) e cancelamento total (18%). Na média dessa amostra,
os projetos tiveram atrasos de cinco anos de execução, incorrendo em custos adicionais
equivalentes a 69% dos orçamentos originais.
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Default 280 83 70 58 45 32 19 6
308 62 49 36 23 10 -3 -16
Cenário
336 41 28 15 2 -11 -24 -37
pessimista
364 20 7 -6 -19 -32 -45 -58
Nota-se pela tabela acima que a imposição de uma combinação de menos 30% no valor
histórico das perdas e de um acréscimo de 30% nos custos de implementação do projeto
resultam não apenas na inversão do ∆VSPL para o campo negativo, como a geração de
prejuízos que são mais amplos do que os benefícios esperados na situação default. Essa
combinação, que é a de cenário pessimista, promove a destruição de valor social. Nota-
se que qualquer combinação no campo do cenário pessimista traz mais prejuízos do que
benefícios, sendo importante para permitir a recomendação adequada dos estudos
posteriores do projeto. Por outro lado, os benefícios podem aumentar significativamente
caso os custos se mantenham, mas o histórico de perdas esteja subestimado.
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Análise de componentes
Esta última análise de sensibilidade apresenta os resultados da ACB correspondentes às
modificações nas categorias de benefícios. Objetiva-se com essa análise ponderar o peso
relativo dos componentes.
A primeira simulação dos componentes é a que retira da análise a consideração própria
dos prejuízos aos serviços privados (conforme item 5.4.2). Estes são apenas um
componente das perdas totais, que incluem prejuízos aos demais setores econômicos
privados (agropecuária e indústria) e ao setor público, além dos danos materiais (às
habitações, instalações públicas e infraestrutura).
Não obstante, trata-se de componente das perdas no qual se supõe haver subestimação.
Caso se opte por considerar os valores dos prejuízos aos serviços privados trazidos por
Banco Mundial (2020), em detrimento aos calculados por meio dos dias improdutivos da
população diretamente afetada, o resultado do projeto seria significativamente inferior,
como se observa na tabela abaixo.
Tabela 8-4 - Análise de sensibilidade para componentes dos benefícios
∆VSPL VAE TRE B/C
(R$, milhões) (R$, milhões) (%) (índice)
Resultados desconsiderando os
benefícios ao bem-estar R$ 24,81 R$ 2,31 9,45% 1,12
Resultados desconsiderando os
benefícios da indução do investimento -R$ 12,93 -R$ 1,20 7,99% 0,94
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Quanto à probabilidade de ocorrência: A. improvável (0-10%); B. pouco provável (10-33%); C.
probabilidade média (33-66%); D. provável (66-90%); E. muito provável (90-100%).
29
Quanto à severidade da ocorrência sobre o bem-estar social gerado pelo projeto: I. nenhum
efeito significativo; II. pequena perda (afetando minimamente os efeitos de longo-prazo); III.
moderado (há perdas, principalmente danos financeiros); IV. crítico (alto nível de perda, ocorrência
compromete as funções primárias do projeto); V. catastrófico (podem resultar em perda grave ou
total das funções do projeto).
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▪ Conexão com análise de sensibilidade: valor futuro dos danos e prejuízos em função
das projeções econômicas e mudanças do clima.
▪ Classificação quanto à probabilidade: probabilidade média (C).
▪ Classificação quanto à severidade do impacto: moderado (III).
▪ Nível resultante de risco: C x III = moderado.
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Nível de
Risco Mapeado Consequência Medida Mitigadora
risco
regularização de vazão com
outras barragens
ANÁLISE PROBABILÍSTICA
Este item apresenta os resultados da análise probabilística dos resultados da ACB para a
alternativa 1, realizada com base na simulação de Monte Carlo. Esse método permite
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realizar uma leitura estatística dos indicadores de viabilidade obtidos por meio de 9.999
simulações que impõe à modelagem variações aleatórias em suas variáveis-chave.
Cada uma das quase dez mil alternativas traz uma composição única, produzindo um
range diverso de resultados que, dada sua aleatoriedade, permite inferir conclusões sobre
a robustez dos resultados obtidos pela análise default, conforme apresentada no capítulo
7. Em suma, o método utiliza da aleatoriedade (pressupondo-se uma distribuição normal)
para gerar resultados estatísticos para melhor compreender as incertezas inerentes à
modelagem.
As seguintes configurações do projeto Complexo de Barragens Muriaé foram impostas às
variações, quais sejam:
▪ Variação em faixas mais positivas para os custos, pois essa é a realidade dos
orçamentos nacionais em infraestrutura30: CapEx e OpEx no intervalo entre -10% e
+100% dos custos estimados, assumindo-se que os orçamentos podem ter sido
realizados de forma demasiadamente otimista;
▪ Variação entre faixas mais positivas para o valor histórico dos danos e prejuízos dos
desastres de inundações e enxurradas, pois tem-se potencial subestimação dos
registros: variação no intervalo de -20% a +120%; e
▪ Variação entre -60% e +60% para os demais parâmetros (valorização imobiliária,
projeções socioeconômicas, mudanças do clima, dias improdutivos, fração de
abatimento para eventos que superam o TR do projeto e parâmetro de indução do
investimento), dada a incerteza que se tem sobre seus verdadeiros parâmetros.
Quanto à taxa social de desconto (TSD), a simulação a manteve constante em 8,5%, pois
não obstante a viabilidade seja sensível a ela, é definida pelo Ministério da Economia.
Uma vez que as rodadas de simulação são aleatórias na alocação das variações, os
resultados obtidos podem ser lidos estatisticamente para ponderar sua robustez. Os
resultados da simulação de Monte Carlo para a alternativa 1 revelam que há uma chance
muito elevada, de 48%, do ∆VSPL ser menor do que zero, ou seja, de o projeto não cumprir
com seu objetivo de agregar valor social.
Em contrapartida, a análise revela a probabilidade de que, em 52% das vezes, o projeto
consiga agregar valor à sociedade. As quase dez mil simulações revelam que há 34% de o
resultado se manter entre o zero e o ∆VSPL default, de R$ 45 milhões, mas em 17% das
vezes o ∆VSPL pode ser maior.
A tabela abaixo apresenta os resultados para os indicadores da ACB para a alternativa 1.
30
BID. De estruturas a serviços: O caminho para uma melhor infraestrutura na América Latina e no
Caribe. Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), 2020.
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Os resultados mostram, ainda, que entre o ∆VSPL do 1º quartil (25%) e do 3º quartil (75%),
tem-se uma faixa que vai de negativos R$ 62 milhões até positivos R$ 73 milhões. Esse
intervalo pode ser compreendido como o mais provável para os resultados, pois
concentra 50% de todos os possíveis. O resultado da avaliação demonstra, assim, o grande
risco que está embutido na configuração analisada para a redução das perdas pelas cheias
nos municípios contemplados. Muito embora tanto a média quanto a mediana do ∆VSPL
das simulações sejam positivos, o são em valores singelos em relação aos custos do
empreendimento.
Os gráficos abaixo permitem identificar a função de densidade de probabilidade do ∆VSPL
(à esquerda) e o gráfico “violino” (à direita), que apresenta as curvas de densidade dos
pontos no entorno do boxplot. Ambos apresentam confirmação da viabilidade apertada
da alternativa 1, cuja probabilidade de destruir valor social ao invés de incrementar é
muito elevada (quase metade das vezes).
O risco da alternativa 1, portanto, pode ser considerado como muito alto. Uma vez que
se trata de projeto com fins de solucionar um problema de grande relevância local,
recomenda-se realizar estudos complementares com outras configurações de mitigação
dos riscos de perdas por meio do controle de eventos extremos na região de interesse.
Nas próximas etapas de análise, outras alternativas e configurações de projeto, como os
apontados no item 7.1, devem ser contrastados via ACB. Ademais, é importante abordar
os riscos de cunho institucional, e propor a adoção de medias preventivas e mitigadoras.
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9. ANÁLISE DISTRIBUTIVA
Como abordado no Manual ACB Infra Hídrica, a ACB é uma metodologia agregativa (ou
seja, seu resultado é fruto da somatória dos benefícios e custos monetizados), logo a
distribuição destes entre os beneficiários não é claramente expressa pelos indicadores de
viabilidade do projeto e deve, portanto, ser complementada via análise distributiva.
31
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Estudos e Pesquisas em Engenharia e
Defesa Civil – Ceped/UFSC. Atlas Digital de Desastres no Brasil. Site. 2020. Disponível em:
www.atlas.ceped.ufsc.br. Acesso em: março. 2021.
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Tabela 9-1 - Distribuição dos custos e benefícios por stakeholders (R$, milhões, VPL)
Poder Público Local Setor Privado Local
Sociedade Geral
Empreendedor
(B/C líquido)
Empreiteiro
Munícipes
Governo /
conversão
em geral
Fator de
Stakeholders
infraestrutura
Agropecuário
Instalações e
Habitações
Industrial
Setor de
Públicos
Serviços
Serviços
(R$ milhões, VPL)
Setor
Setor
Perdas
62 21 17 67 7 6 1,00 179
Benefício
evitadas
s
Melhora no
20 1,00 20
bem-estar
Indução ao
Ext. e WEI
57 1,00 57
Investimento
Externalidade
* 1,00 0
potencial*
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justamente sobre aquelas que chegaram a ser reconhecidas pelo Governo Federal como
Situação de Emergência ou Calamidade Pública.
Vale notar que os prejuízos públicos envolvem gastos necessários para o
restabelecimento dos serviços públicos após os desastres.
A sociedade em geral tem a ganhar com o projeto, pois é beneficiada pela redução das
perdas nos três setores econômicos, pela melhora no bem-estar e pela indução do
investimento. Juntos, os atores privados dos municípios beneficiados auferem um total
de R$ 157 milhões.
Tomando os cidadãos moradores das cidades, chama a atenção o item de danos em
habitações, o qual representou em torno de 6% do benefício total. Tal valor representaria
gastos evitados pelos cidadãos das cidades afetadas.
O benefício da melhora no bem-estar, embora seja calculada por meio da proxy da
valorização imobiliária, é representativo de um acréscimo de valor intangível para toda a
sociedade beneficiada. De forma análoga, o benefício da indução do investimento recai
sobre os atores privados municipais. Juntos, estes benefícios representam 30% do total.
Os benefícios aos serviços privados são muito maiores (26%), comparativamente aos
demais, devido à valoração própria que se realizou, contabilizando os dias improdutivos
por cada pessoa diretamente afetada pelos eventos de desastres.
Desalojados e desabrigados
A tabela (abaixo) traz o número de cidadãos desalojados e desabrigados contabilizados
em algumas cidades principais, vítimas de eventos de enxurradas e inundações ocorridos
entre 1991 e 2019.
Embora a análise desenvolvida não contabilize desalojados e desabrigados “evitados”, ou
seja, que não existiriam com a presença do projeto, é possível inferir que estes reduzirão
drasticamente com a implementação das obras.
Tabela 9-2 - Desalojados e desabrigados
Número de desabrigados/desalojados
Municípios com dados (1991-2019)
Carangola 17.156
Muriaé 59.600
Cardoso Moreira 8.448
Itaperuna 26.950
Laje do Muriaé 10.000
Porciúncula 13.450
Para fins ilustrativos, pode-se dizer que, caso o projeto reduza em 80% o número de
afetados, e os eventos se repetissem no futuro, o projeto teria evitado cerca de 108 mil
pessoas desabrigadas ou desalojadas em 28 anos nos 6 municípios acima.
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EFEITOS DISTRIBUTIVOS
Este último item traz, seguindo o Manual ACB Infra Hídrica e o Guia ACB, a necessidade
de maior detalhamento dos efeitos do projeto na população mais vulnerável
socioeconomicamente.
Conforme observado pelo item acima (9.1), uma grande fração dos beneficiados pelas
perdas evitadas são os poderes públicos municipais. Dessa forma, não haveria
necessidade de transferências de valores de uma classe mais privilegiada para uma menos
privilegiada, resultando desnecessária a inclusão de compensações monetárias.
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