Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Hospital de Clínicas de Porto Alegre Programa de Residência Médica em Nefrologia
Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Hospital de Clínicas de Porto Alegre Programa de Residência Médica em Nefrologia
Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Hospital de Clínicas de Porto Alegre Programa de Residência Médica em Nefrologia
PORTO ALEGRE
2023
ANANDA LOUISE PASQUALOTTO
Porto Alegre
2023
INDICAÇÕES DE DIÁLISE PERITONEAL NO SÉCULO XXI - UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA
RESUMO
hemodiálise, incluindo melhor preservação da função renal residual, fator que pode melhorar
cardiovascular. Além disso, vantagens na qualidade de vida para DP têm sido relatadas de
forma consistente. Essa revisão sistemática teve como objetivo identificar e descrever as
indicações clínicas renais e extra-renais de diálise peritoneal como método de terapia renal
foram contemplados com a diálise peritoneal nas condições clínicas preferenciais. A busca
foi feita na base de dados PubMed e Embase, incluindo artigos publicados a partir do ano
2000. Novecentos e quarenta e oito artigos foram encontrados através das seguintes palavras
Destes, dez estudos (n = 111.148 pacientes) foram incluídos. Todos os estudos foram
dos estudos variou de 30 a 107.922 pacientes. Metade dos estudos tiveram mais de 100
pacientes. A idade média dos pacientes variou de 52.0 ± 10.8 a 90.0 ± 3.3. As principais
indicações clínicas avaliadas foram insuficiência renal aguda, doença hepática e cardíaca,
diálise não planejada e diálise peritoneal em idade avançada. Através desta revisão, pôde-se
concluir que a diálise peritoneal pode atuar em vários cenários clínicos trazendo desfechos
favoráveis aos pacientes, sendo tão praticável quanto outras terapias extracorpóreas já
consolidadas.
1. INTRODUÇÃO 5
2. MATERIAIS E MÉTODOS 7
2.1 Estratégia de Pesquisa 7
2.2 Seleção dos Estudos 7
2.3 Extração de Dados e Síntese 8
3. RESULTADOS 9
3.1 Características dos Estudos 10
3.2 Síntese dos Resultados 14
3.2.1 Doença Hepática 14
3.2.2 Insuficiência Renal Aguda 14
3.2.3 Insuficiência Cardíaca Congestiva 15
3.2.4. Diálise Não Planejada 17
3.2.5. Outras Condições Clínicas 18
3.3 Qualidade dos Estudos 19
5. CONCLUSÃO 26
6. REFERÊNCIAS 27
5
1. INTRODUÇÃO
acesso à diálise para tratamento de insuficiência renal ou lesão renal aguda 1. Estima-se que
3,8 milhões de pessoas em todo o mundo dependam atualmente de alguma forma de diálise
para o tratamento da doença renal terminal (DRC). Embora a prevalência da diálise peritoneal
(DP) varie de país para país, ela representa aproximadamente 11% dos pacientes em diálise2.
hemodiálise, incluindo melhor preservação da função renal residual, fator que pode melhorar
cardiovascular2–4.
associadas a sobrevida semelhante em pacientes com Doença Renal Crônica5,6, com possível
vantagem para a diálise peritoneal nos primeiros 1-2 anos de terapia 7. Além disso, no que diz
respeito a lesão renal aguda, revisões sistemáticas já demonstraram não haver diferença
A primeira aplicação humana da DP foi descrita por Georg Ganter em 1923 para o
tratamento da uremia9. E, ainda que seja principalmente indicada para tratamento de doença
renal exclusivamente, também já foi explorada para tratamento primário de outras condições,
A importância da diálise peritoneal para pessoas com ou sem doença renal crônica
tem aumentado na literatura recente e nas diretrizes clínicas. Dessa forma, foi realizada uma
extra-renais da diálise peritoneal como método de terapia renal substitutiva. E, além disso,
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, que foi realizada e descrita seguindo
as diretrizes PRISMA. A fim de identificar estudos que investigaram condições clínicas que
PubMed. A revisão sistemática da literatura foi realizada no segundo semestre de 2022, até o
dia 20 de agosto de 2022. As bases de dados foram pesquisadas com as seguintes palavras
ACB) para identificar artigos potencialmente relevantes para revisão de texto completo. As
foram resolvidas por um terceiro revisor ou por discussão e consenso da dupla. Os textos
foram feitas tentativas de contato com os autores para o texto e mais detalhes.
A revisão do texto completo foi realizada independentemente por dois revisores para
os seguintes critérios específicos de elegibilidade: (1) população adulta (> 18 anos); (2)
emprego de diálise peritoneal no tratamento; (3) idiomas português, inglês e espanhol e; (4)
abaixo). Estudos que envolviam crianças, animais e que foram publicados antes dos anos
Os dados foram extraídos por 1 revisor usando uma ficha profissional eletrônica
O risco de viés e a qualidade dos estudos foram avaliados qualitativamente com base
utilizada para avaliar a qualidade dos estudos incluídos nesta revisão. A escala avalia os
O desfecho primário de interesse foi a condição clínica que indicou o início da terapia
mortalidade, a melhora dos sinais e sintomas que levaram à diálise, frequência e duração de
hipoalbuminemia).
textuais e agrupamento.
9
3. RESULTADOS
222 artigos foram excluídos por terem sido publicados de 1955 a 1999. Depois que as
duplicatas sobrepostas e os artigos em outros idiomas que não português, espanhol e inglês
Outros 542 artigos foram excluídos, incluindo 418 estudos irrelevantes, 117 por
para avaliação. Destes, dezenove eram revisões de literatura e 3 eram relatos de caso.
Dezesseis artigos foram avaliados para elegibilidade. Não foi possível obter o texto de 2
contato com os autores. Outros 4 estudos foram excluídos por incluir pacientes com menos de
18 anos.
foram descritivos (n = 111.148 pacientes). Como esta revisão sistemática não foi projetada
para comparar os subtipos de DP, os pacientes foram considerados como tendo recebido
11
geográfica de origem dos estudos, bem como ano de publicação é mostrado na Figura 2. Seis
estudos são do Brasil, um é europeu, dois são da Ásia e apenas um da América do Norte.
Oitenta por cento dos estudos foram publicados nos últimos 10 anos. Todos os estudos foram
estudos tiveram mais de 100 pacientes. A idade média dos pacientes variou de 52.0 ± 10.8 a
90.0 ± 3.3. Apenas 1 estudo comparou diálise peritoneal com outras terapias extracorpóreas 16.
durante a primeira sessão de diálise. Já no estudo que avaliava síndrome cardiorrenal 15, doze
Figura 2. Distribuição dos estudos por (A) número de estudos por ano de publicação e (B) região geográfica.
12
Ponce et al. 12 Brasil 2021 53 64.8 ± 13.4 IRA em 15,1% 71,7% Peritonite
Insuficiência 11,3%
Hepática Mecânica 7,6%
Ponce et al. 13 Brasil 2012 150 63.86 ± 15.8 IRA 22,7% 57,3% Peritonite 12%
Mecânica 7,3%
Ponce et al. 15 Brasil 2017 64 68.8 ± 15.4 Síndrome 75% 32,8% Peritonite 7,8%
Cardiorrenal Mecânica
15,6%
Stack et al. 16 Estados Unidos 2003 107.922 61.5 ± 15.3 Insuficiência NA 25.2% NA
Cardíaca
Congestiva
Hiramatsu et al. Japão 2012 247 52.0 ± 10.8 Idade avançada NA NA Peritonite
17
70.1 ± 2.9 22.2%
79.7 ± 2.8 16.3%
90.0 ± 3.3 22.6%
6.5%
Portolés et al. 18 Espanha 2021 2435 72.9 DP > 65 anos NA 28.5% Peritonite
54,6%
Mecânica 12%
Dias et al. 20 Brasil 2016 35 57.7 ± 19.2 DRC (diálise NA 20% Peritonite
não planejada) 14,2%
Mecânica
25,7%
Pilatti et al. 21 Brasil 2022 137 54 ± 15 anos DRC (diálise NA 12,4% Peritonite
não planejada x 10,9%
planejada) Mecânica
13,8%
14
pacientes com doença hepática crônica tratados com DP e também determinar seu controle
semanalmente foi de 2,7 ± 0,37 e 71,7% de pacientes morreram. A principal causa de óbito
foi sepse (81,6%). Entre os sobreviventes, a recuperação de função renal foi de 53,3% na alta
hospitalar.
renal aguda (IRA) e necrose tubular aguda severa causada por dano isquêmico ou
nefrotóxico, e que foram tratados com diálise peritoneal de alto volume (24h por 7
de 1200 ml e 21 g/dL após quatro sessões, respectivamente. Peritonite ocorreu em 12% dos
IRA, 23% dos pacientes apresentaram recuperação da função renal, 6,6% dos pacientes
permaneceram em diálise após 30 dias e 57,3% dos pacientes morreram. Idade e sepse foram
identificados como fatores de risco para óbito. Não houve diferença significativa entre os
prognóstico mais severo, como idade mais avançada, quadro séptico e oligúria.
causa de IRA, tanto neste quanto no primeiro estudo foi sepse. A taxa de mortalidade foi de
pacientes foram retirados do suporte inotrópico. Trinta e nove pacientes tiveram hipercalemia
e 27 pacientes tiveram correção dentro de 1 dia após o início da DP. Quarenta e sete pacientes
complicação mais comum foi vazamento peri-cateter (17,3%), seguido de peritonite (5,33%),
que não afetaram a taxa de sobrevivência. Este estudo não especificou a dose de diálise
utilizada, porém relata uso de cateter rígido e trocas manuais, diferentemente do primeiro
estudo em que foram utilizadas cicladoras. Também não avaliou a taxa de recuperação de
função renal.
Dois estudos da seleção abordam doenças cardíacas, mas com resultados conflitantes.
O primeiro16, publicado em 2003, explora a hipótese de que pacientes com DREF (doença
renal estágio final) com história de insuficiência cardíaca congestiva (ICC) têm melhores
taxas de sobrevivência com diálise peritoneal do que com hemodiálise. Essa hipótese foi
16
testada numa coorte prospectiva com 107.922 pacientes. A prevalência geral de ICC foi de
33% na população. Houve 27.149 óbitos (25,2%), 5.423 transplantes (5%) e 3.753 (3,5%)
mortalidade foram significativamente maiores para pacientes com ICC tratados com diálise
peritoneal do que hemodiálise [diabéticos, risco relativo (RR) 1,30, intervalo de confiança de
95% (CI) 1,20 a 1,41; não diabéticos, RR 1,24, IC 95% 1,14 a 1,35]. Entre os pacientes sem
ICC, o risco de mortalidade ajustado foi maior apenas para pacientes diabéticos tratados com
diálise peritoneal em comparação com hemodiálise (RR 1,11, IC 95% 1,02 a 1,21) enquanto
insuficiência cardíaca aguda como diagnóstico primário e IRA estágio III de acordo com os
critérios AKIN. Estes pacientes foram submetidos a diálise peritoneal de alto volume (24h
por 7 dias/semana). Pacientes com doença renal crônica (TFG < 30 mL/min pela fórmula
MDRD) e transplantados foram excluídos, bem como pacientes com outras causas de IRA. A
idade média dos pacientes era 68.8 ± 15.4 anos. A maioria (53,1%) estava na enfermaria e
46,9% na UTI. Todos os pacientes já haviam recebido pelo menos 1 mg/Kg de diurético
(furosemida) duas vezes por dia e, mesmo assim, 14,1% tiveram indicação de diálise por
estabilizou após 4 sessões em torno de 2,6 L/dia. Houve um aumento progressivo de balanço
hídrico negativo de 1 para 3 sessões, com estabilização após 3 sessões em torno de -2,5 L/dia.
mortalidade foi de 32,8% e a principal causa de morte foi choque cardiogênico refratário. Os
17
não sobreviventes tinham parâmetros clínicos mais graves do que os sobreviventes, como
hospitalizados que iniciaram DP de maneira não planejada. Trinta e cinco pacientes foram
incluídos e a diabetes foi a principal causa de DRC (40,6%), sendo uremia a principal
indicação de início de terapia (54,3%). O controle metabólico e de volume foi atingido após 5
por 23,2 ± 7,2 dias recebendo 11,5 ± 0,3,1 sessões intermitentes de DP. Peritonite e
foi de 20% (11,1% em pacientes ≤ 60 anos e 25% em > 60 anos [p = 0.04]) e a sobrevida da
planejada (DP-plan) no primeiro ano de terapia em pacientes com doença renal crônica
estágio 5. Os pacientes do grupo US-PD iniciaram a terapia em até 7 dias após o implante do
cateter Tenckhoff e não receberam hemodiálise antes de iniciarem DP. A média de idade foi
mais idosos do que os do grupo US-PD. Hipertensão arterial (HA) e diabetes mellitus (DM)
foram as doenças mais prevalentes, afetando 83,2% e 42,3% dos pacientes, respectivamente.
Não houveram complicações infecciosas nos primeiros 30 dias de DP. Complicações não
grupo DP-plan. As principais complicações mecânicas nos primeiros 30 dias foram migração
da ponta do cateter (7,5% na DP-plan vs. 4,3% na USPD - p 0.49) e extravasamento (4,5% na
18
DP-plan vs. 5,7% na US-PD - p 0.74). Após o 30º dia em DP, 30 (22%) pacientes em ambos
primeiros 30 dias foi identificada como um fator de risco no grupo US-PD, com risco relativo
de 2,9 (IC 95% 1,1-7,5; p 0.03). No grupo DP-plan, a implantação de cateter pela técnica de
laparotomia foi identificada como fator de risco para a saída da DP. O principal motivo de
saída da terapia foi óbito, uma vez que 12% dos pacientes do estudo foram a óbito.
por equipe de enfermagem. Foram incluídos pacientes com dependência física ou que
moravam sozinhos (ou ambos), e que perderam a habilidade de realizar seu próprio
tratamento, bem como pacientes que estavam em hemodiálise e tiveram falência vascular ou
instabilidade hemodinâmica. A média de idade era de 72 anos (47-93 anos) e 60% eram
maiores de 65 anos, sendo também possível avaliar esta condição na população idosa. A taxa
paciente foi de 80% em 12 meses, 60% aos 24 meses e 23,3% aos 48 meses. A causa de
anos e compararam com pacientes com menos de 65 anos. Em um estudo multicêntrico com
2435 pacientes (31,9% com mais de 65 anos), foi observado que o grupo mais velho tinham
mais comorbidades, como diabetes (29,5% vs. 17,2%; p <0.001) e eventos cardiovasculares
19
prévios (34,5% vs. 14%; p <0.001). Não foram encontradas diferenças na eficácia e
adequação da diálise peritoneal, bem como no manejo de anemia e da pressão arterial. A taxa
de peritonite foi maior no grupo com mais de 65 anos (0.65 vs. 0.45 episódios/paciente/ano; p
<0.001), mas não houve diferença no perfil dos germes, na taxa de admissão ou no
seguimento. A mortalidade foi maior no grupo mais velho (28.4% vs 9,4%), como é
esperado. A principal causa de saída da modalidade entre o grupo mais jovem foi transplante
(48.3%) e, no grupo mais velho, transferência para hemodiálise (principalmente por fadiga do
objetivo foi abordar as indicações de DP em idosos divididos por faixas etárias (jovem (<64
anos, n = 99), jovem-idoso (65–74 anos, n = 55), idoso (75–84 anos, n = 62) e muito idoso
(≥85 anos, n = 31). Não houve diminuição significativa na produção de urina com o avanço
litros/dia) no grupo “muito idoso” (≥85 anos) em comparação com os outros grupos (p =
0,001). No entanto, um menor volume de fluido de DP no grupo de idosos “muito idoso” não
houve motivo de retirada de DP por subdiálise nos dois grupos com idade mais avançada.
DP. Três estudos eram retrospectivos e 7 eram prospectivos. Cinco estudos não descreveram a
Tabela 2.
4. DISCUSSÃO
Foi realizada uma revisão sistemática sobre indicação de diálise peritoneal por causas
DRC estágio 5. Dez estudos de 5 países diferentes, totalizando 111.148 pacientes, foram
incluídos. A maioria dos estudos eram provenientes de regiões com baixo recurso, como Ásia
e América do Sul e três estudos de países com economias desenvolvidas (Estados Unidos,
Japão e Espanha).
sendo a DP uma alternativa melhor tolerada. A DP pode ter vários benefícios potenciais em
evitar o uso de anticoagulantes e remoção direta do líquido ascítico 12,22. O estudo de Ponce et
al.12 sugeriu que a prescrição cuidadosa pode contribuir para fornecer tratamento adequado
contraindicações para uso de DP, permitindo controle metabólico e hídrico adequado, com
desenvolvem IRA devido à síndrome hepatorrenal em uma taxa de 18% e 39% em 1 e 5 anos,
respectivamente22.
usada em países em desenvolvimento por causa de seu custo mais baixo e requisitos mínimos
pacientes gravemente enfermos podem ser tratados com sucesso pela DP. Para superar
algumas das limitações clássicas do uso da DP na IRA, como alta chance de infecção e
dificuldade no controle metabólico, este estudo propôs o uso de cicladoras, cateter flexível e
Covid-19, até mesmo países desenvolvidos usaram a diálise peritoneal como TSR no
de hemodiálise7,24,25.
Os achados do estudo brasileiro15 sugerem que com uma prescrição cuidadosa pode-se
promover um tratamento adequado para a maioria dos pacientes com síndrome cardiorrenal
tipo 1. No entanto, algumas limitações devem ser consideradas neste estudo. O estudo foi
realizado em um único centro e o número de pacientes era pequeno (64 pacientes). Trata-se
de um estudo observacional e o tratamento com DP não foi comparado com outra modalidade
taxa de transplante entre os pacientes em diálise peritoneal e hemodiálise. Tal diferença pode
renal e, assim, deixando uma fração mais doente para análise. Ademais, uma revisão
ejeção do ventrículo esquerdo após início da DP, melhora da classe funcional segundo a New
York Heart Association, menor incidência de sintomas, e menor frequência e/ou duração da
Ainda que os dados disponíveis sobre diálise peritoneal de início urgente (US-PD)
sejam relativamente recentes, eles indicam que a mortalidade é pelo menos semelhante à de
O conceito de início não planejado de DP pode ser uma alternativa viável, segura e
entre pacientes incidentes que iniciam a terapia de diálise, como demonstrou Dias et al.20 Este
segundo lugar, o estudo representa a experiência de um único centro e isso não permite
generalização; não foi comparado características clínicas e resultados entre pacientes tratados
com DP não planejada versus HD não planejada ou DP não planejada versus DP planejada.
Um dos grandes desafios para o Brasil no século XXI será, em um país de dimensões
implementação de técnica de DP, porque muitos pacientes idosos vivem sozinhos e não têm
apoio familiar19.
24
visto que pacientes mais idosos são mais vulneráveis a problemas associados com a idade,
como o nível de independência e o seu prognóstico a longo prazo 28. O estudo brasileiro
desenvolvido por Franco et al.19 usando a diálise peritoneal automatizada assistida (DPAA)
como uma primeira opção de terapia renal substitutiva (TRS) para pacientes idosos com
indica que DPAA é uma escolha de cuidado domiciliar confiável e eficaz para pacientes com
Classicamente, a DP tem sido associada a pacientes jovens que conseguem manter o seu
al.18 e Franco et al.19 mostram resultados que encorajam a recomendação da livre escolha de
diálise do paciente, sem estabelecer um limite estrito de idade, mas sim usando uma avaliação
modalidade foi escolhida em 44 e 37% dos pacientes entre 75-85 anos e ≥ 85 anos,
respectivamente. A opção de terapia domiciliar com apoio familiar/comunitário pode ser uma
e de duração da hospitalização26.
Além disso, o grupo espanhol18 propõe três pilares como áreas potenciais para
para reduzir a taxa de peritonites. Em segundo lugar, estratégias de apoio integral para
pacientes com mais de 65 anos e seus cuidadores com uma equipe multidisciplinar que
por fim, modelos de DP assistidos em casas ou residenciais devem ser explorados para o
Nesta revisão sistemática, foram encontrados dados limitados de boa qualidade sobre
o uso de DP em diversos cenários clínicos. Importante ressaltar que alguns estudos foram
excluídos por incluir pacientes com menos de 18 anos, embora retratassem uma condição
Assim, na ausência de dados mais precisos, o médico precisa exercer seu julgamento
evidências de boa qualidade nesta importante área, estudos randomizados adicionais bem
5. CONCLUSÃO
literatura publicada sugere que o uso de diálise peritoneal pode trazer vantagens ou, ao
menos, ser tão praticável quanto a hemodiálise em diversos cenários e condições clínicas.
hemodiálise, tal cenário de custos não se reflete no Brasil. Torna-se, portanto, de suma
peritoneal além da DREF. Dispor de uma literatura que fundamente esta questão auxilia no
doente receba uma terapia individualizada e integral, além de priorizar a sua qualidade de
forma, definir esta modalidade de terapia renal substitutiva como terapia preferencial em
6. REFERÊNCIAS
1. Cho, Y. et al. Peritoneal Dialysis Use and Practice Patterns: An International Survey
Study. Am. J. Kidney Dis. 77, 315–325 (2021).
2. Teitelbaum, I. Peritoneal Dialysis. N. Engl. J. Med. 385, 1786–1795 (2021).
3. Klomjit, N., Kattah, A. G. & Cheungpasitporn, W. The Cost-effectiveness of Peritoneal
Dialysis Is Superior to Hemodialysis: Updated Evidence From a More Precise Model.
Kidney Med. 3, 15–17 (2021).
4. Jansen, M. A. M. et al. Predictors of the rate of decline of residual renal function in
incident dialysis patients. Kidney Int. 62, 1046–1053 (2002).
5. Heaf, J. G. & Wehberg, S. Relative Survival of Peritoneal Dialysis and Haemodialysis
Patients: Effect of Cohort and Mode of Dialysis Initiation. PLoS ONE 9, e90119 (2014).
6. Mehrotra, R., Chiu, Y.-W., Kalantar-Zadeh, K., Bargman, J. & Vonesh, E. Similar
Outcomes With Hemodialysis and Peritoneal Dialysis in Patients With End-Stage Renal
Disease. Arch. Intern. Med. 171, (2011).
7. Karkar, A. & Wilkie, M. Peritoneal dialysis in the modern era. 14.
8. Chionh, C. Y., Soni, S. S., Finkelstein, F. O., Ronco, C. & Cruz, D. N. Use of Peritoneal
Dialysis in AKI: A Systematic Review. Clin. J. Am. Soc. Nephrol. 8, 1649–1660 (2013).
9. Pratsinis, A., Devuyst, O. & Leroux, J.-C. Peritoneal dialysis beyond kidney failure? J.
Control. Release Off. J. Control. Release Soc. 282, 3–12 (2018).
10. Soar, J. et al. European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation 2010 Section
8. Cardiac arrest in special circumstances: Electrolyte abnormalities, poisoning,
drowning, accidental hypothermia, hyperthermia, asthma, anaphylaxis, cardiac surgery,
trauma, pregnancy, electrocution. Resuscitation 81, 1400–1433 (2010).
11. Marcus, R. G., Messana, J. & Swartz, R. Peritoneal dialysis in end-stage renal disease
patients with preexisting chronic liver disease and ascites. Am. J. Med. 93, 35–40 (1992).
12. Ponce, D. et al. The Role of Peritoneal Dialysis in the Treatment of Acute Kidney Injury
in Patients With Acute-on-Chronic Liver Failure: A Prospective Brazilian Study. Front.
Med. 8, 713160 (2021).
13. Ponce, D., Berbel, M. N., Regina de Goes, C., Almeida, C. T. P. & Balbi, A. L.
High-volume peritoneal dialysis in acute kidney injury: indications and limitations. Clin.
J. Am. Soc. Nephrol. CJASN 7, 887–894 (2012).
14. Garg, N. et al. Efficacy and outcome of intermittent peritoneal dialysis in patients with
acute kidney injury: A single-center experience. Saudi J. Kidney Dis. Transplant. Off.
28
Publ. Saudi Cent. Organ Transplant. Saudi Arab. 31, 423–430 (2020).
15. Ponce, D., Góes, C., Oliveira, M. & Balbi, A. Peritoneal Dialysis for the Treatment of
Cardiorenal Syndrome Type 1: A Prospective Brazilian Study. Perit. Dial. Int. J. Int. Soc.
Perit. Dial. 37, 578–583 (2017).
16. Stack, A. G., Molony, D. A., Rahman, N. S., Dosekun, A. & Murthy, B. Impact of
dialysis modality on survival of new ESRD patients with congestive heart failure in the
United States. Kidney Int. 64, 1071–1079 (2003).
17. Hiramatsu, M. et al. Application of peritoneal dialysis in elderly patients by classifying
the age into young-old, old, and oldest-old. Contrib. Nephrol. 177, 48–56 (2012).
18. Portolés, J. et al. Is peritoneal dialysis suitable technique CKD patients over 65 years? A
prospective multicenter study. Nefrologia 41, 529–538 (2021).
19. Franco, M. R. G. et al. A Brazilian experience in assisted automated peritoneal dialysis:
A reliable and effective home care approach. Perit. Dial. Int. 33, 252–258 (2013).
20. Dias, D. B., Banin, V., Mendes, M. L., Barretti, P. & Ponce, D. Peritoneal dialysis can be
an option for unplanned chronic dialysis: initial results from a developing country. Int.
Urol. Nephrol. 48, 901–906 (2016).
21. Pilatti, M. et al. Urgent vs. planned peritoneal dialysis initiation: complications and
outcomes in the first year of therapy. J. Bras. Nefrol. Orgao Of. Soc. Bras. E Lat.-Am.
Nefrol. S0101-28002022005021400 (2022) doi:10.1590/2175-8239-JBN-2021-0182.
22. Howard, C. S. & Teitelbaum, I. Renal replacement therapy in patients with chronic liver
disease. Semin. Dial. 18, 212–216 (2005).
23. Ponce Gabriel, D. et al. Peritoneal Dialysis in Acute Renal Failure. Ren. Fail. 28,
451–456 (2006).
24. El Shamy, O. et al. Acute Start Peritoneal Dialysis during the COVID-19 Pandemic:
Outcomes and Experiences. J. Am. Soc. Nephrol. 31, 1680–1682 (2020).
25. Sourial, M. Y. et al. Urgent Peritoneal Dialysis in Patients With COVID-19 and Acute
Kidney Injury: A Single-Center Experience in a Time of Crisis in the United States. Am.
J. Kidney Dis. 76, 401–406 (2020).
26. Chionh, C. Y., Clementi, A., Poh, C. B., Finkelstein, F. O. & Cruz, D. N. The use of
peritoneal dialysis in heart failure: A systematic review. Perit. Dial. Int. J. Int. Soc. Perit.
Dial. 40, 527–539 (2020).
27. Ivarsen, P. & Povlsen, J. V. Can peritoneal dialysis be applied for unplanned initiation of
chronic dialysis? Nephrol. Dial. Transplant. 29, 2201–2206 (2014).
28. Dimkovic, N. & Oreopoulos, D. G. Assisted peritoneal dialysis as a method of choice for
29
elderly with end-stage renal disease. Int. Urol. Nephrol. 40, 1143–1150 (2008).
29. Chuasuwan, A., Pooripussarakul, S., Thakkinstian, A., Ingsathit, A. & Pattanaprateep, O.
Comparisons of quality of life between patients underwent peritoneal dialysis and
hemodialysis: a systematic review and meta-analysis. Health Qual. Life Outcomes 18,
191 (2020).