70 95 PB
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Revisão
Os Autores
Conselho Editorial
P974
CDD 150
Elaborada por Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166
Editora e-Publicar
Rio de Janeiro, Brasil
[email protected]
www.editorapublicar.com.br
2023
Apresentação
Editora e-Publicar
Sumário
CAPÍTULO 1 ........................................................................................................................... 10
DOENÇA DE PARKINSON E O PERFIL NEUROPSICOLÓGICO DE PACIENTES NESTA
CONDIÇÃO ............................................................................................................................. 10
Daniele de Fátima de Paiva Abreu
CAPÍTULO 2 ........................................................................................................................... 17
A PSICOLOGIA DOS SUPER-HERÓIS: IMPACTOS DA MÍDIA DE SUPER-HERÓIS NO
COMPORTAMENTO PRÓ-SOCIAL ..................................................................................... 17
Yanne Pacheco Barboza de Lira
Ana Luiza Romão Braz
Lara Camelo Oliveira
Edson Felipe Vieira Silva
Isabella Leandra Silva Santos
CAPÍTULO 3 ........................................................................................................................... 29
O QUE É ABUSIVO: UMA REVISÃO SOBRE RELACIONAMENTOS ABUSIVOS ...... 29
DOI 10.47402/ed.ep.c2311283289 Daniela Zibenberg
Letícia Bandeira de Mello da Fonseca Costa
CAPÍTULO 4 ........................................................................................................................... 46
O AUMENTO DO USO DE ANTIDEPRESSIVOS E ANSIOLÍTICOS PÓS PANDEMIA E
SEUS IMPACTOS ................................................................................................................... 46
DOI 10.47402/ed.ep.c2311294289 Ellen Oliveira Araújo
Gabriella Silva Ramos
Julia Silva Carrijo
Luan Mendes de Freitas
Mayara Beatriz Carvalho Gonçalves
Nayara Sílvia Santos
Janaina Jácome dos Santos
CAPÍTULO 5 ........................................................................................................................... 60
MODOS DE CONSUMO: A INFLUÊNCIA DA INDÚSTRIA CULTURAL NA
CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO JOVEM ................................................................. 60
DOI 10.47402/ed.ep.c2311305289 Thiago Frederik Mendes Batista
Jaciany Soares Serafim
CAPÍTULO 6 ........................................................................................................................... 70
INTEGRAÇÃO DA ESPIRITUALIDADE NO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO:
BENEFÍCIOS, DESAFIOS E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO................................... 70
DOI 10.47402/ed.ep.c2311316289 Kahlinne Rocha Brandão
Ramon Silva Silveira da Fonseca
CAPÍTULO 7 ........................................................................................................................... 90
COMPORTAMENTOS ANTISSOCIAIS NA ADOLESCÊNCIA ........................................ 90
Daniele de Fátima de Paiva Abreu
Willian Miguel de Araujo Pontes
CAPÍTULO 8 ........................................................................................................................... 98
ENTENDENDO A MISOGINIA ONLINE: ASPECTOS PSICOSSOCIAIS ........................ 98
Taciane Cavalcanti do Amaral Mota
RESUMO
A doença de Parkinson é uma doença lentamente progressiva e degenerativa caracterizada por tremores em
repouso, rigidez muscular, movimentos lentos e diminuídos. Tendo em vista o aumento significativo da sua
prevalência nas ultimas décadas, o presente capítulo objetivou a priori compreender as manifestações clínicas, os
critérios diagnósticos e a importância da neuropsicologia dentro na DP. Contudo, foi observado que a
neuropsicologia atua de forma singular no diagnóstico, no processo de reabilitação e intervenção comportamental,
visando sempre à recuperação da saúde do paciente. Espera-se que o capítulo possa trazer uma contribuição para
alunos e professores que pretendam entender os ângulos da DP no âmbito neuropsicológico.
1. INTRODUÇÃO
Foi estimado que 6,1 milhões de indivíduos em todo o mundo tiveram um diagnóstico
de DP em 2016, 2,4 vezes mais que em 1990 (DORSEY et al., 2018). Essa prevalência
crescente foi atribuída ao aprimoramento de métodos diagnóstico, ao envelhecimento da
população com o aumento da expectativa de vida e, possivelmente, à maior exposição ambiental
(MARRAS et al., 2018). A DP surge geralmente entre os 50 e os 80 anos de idade, com um
pico na sétima década de vida, sendo mais prevalente nos homens (GOETZ, 2011).
Os pesquisadores Silva et al. (2015) explanam que um dos grandes desafios desse século
é a criação de estratégias para o cuidado da população idosa que apresenta diversas
De fato, a teoria mais aceita de acometimento do SNC pela DP parte da descrição dos
seis estágios anátomo-patológicos da deposição dos corpos de Lewy, feita pelo neuroanatomista
alemão Heiko Braak em 2003 (Brandão, xx). Reconhece-se que a DP seja, na verdade, uma
doença que se distribui sistemicamente e envolve tanto neurônios dopaminérgicos quanto não
dopaminérgicos (serotoninérgicos, colinérgicos, noradrenérgicos), assim como sítios no SNC e
extra-SNC (MCCANN; CARTWRIGHT; HALLIDAY, 2016).
4. ASPECTOS COGNITIVOS DA DP
6. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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RESUMO
As mídias de super-heróis estão cada vez mais presentes na indústria do entretenimento contemporâneo, seja nos
filmes, séries e histórias em quadrinhos. Mas quais são seus impactos psicossociais na audiência? O presente
estudo objetivou apresentar sumariamente os efeitos das mídias de super-heróis na pró-sociabilidade, ou seja, o
conjunto de atitudes e comportamentos com a intenção de ajudar outras pessoas. Inicialmente foi apresentado o
panorama histórico dos super-heróis, desde sua origem moderna até os estudos iniciais no contexto da psicologia.
Especificamente tratando da pró-sociabilidade, pesquisas contemporâneas demonstram que mídias retratando
esses personagens tem impactos positivos de curto e longo prazo nessa variável. Finalmente, foram apresentadas
possibilidades de intervenção utilizando mídias de super-heróis, através do projeto “Super-heróis da Vida Real:
Desenvolvendo a pró-sociabilidade em Alunos do Ensino Médio com Mídias de Super-heróis”. É possível concluir
que, através de suas mensagens positivas (e.g. ajudar os outros), a mídia de super-heróis é eficaz em promover
comportamentos e atitudes pró-sociais.
1. INTRODUÇÃO
1
Programa de Bolsas de Extensão - Universidade Federal da Paraíba.
Numa discussão mais detalhada das funções psicossociais dos super-heróis, Kinsella e
colaboradores (2015) apresentam três características principais das histórias de heróis presentes
na cultura humana: esses personagens auxiliam a vida daqueles ao seu redor, os motivando a
ser pessoas melhores; eles representam os ideais de moralidade do contexto social; e,
finalmente, heróis protegem as pessoas, estando esse significado presente na própria etimologia
da palavra.
Corroborando essa discussão, Rosenberg (2013) aponta que a fascinação do público por
super-heróis se dá principalmente por seus aspectos positivos, por representarem versões ideais
de moralidade e cuidado dos que precisam. Contudo, o quão presentes estão esses assuntos nas
obras de heróis contemporâneas? Num estudo focado nos filmes de super-heróis, Bauer e
colaboradores (2016) observaram 12 temas positivos mais retratados durante essas obras, sendo
eles: ajudar e proteger o público, relacionamentos positivos, trabalho em equipe, personagens
femininas fortes, orientação, autossacrifício, importância da inteligência em comparação com
a força física, se responsabilizar pelas próprias ações, organização, superação de obstáculos,
honestidade, e decidir não fazer algo errado.
Mas esses temas positivos apresentados pela mídia de super-heróis de fato podem ter
impactos psicossociais na audiência? O Modelo Geral da Aprendizagem (GLM; BUCKLEY;
ANDERSON, 2006), corrobora teoricamente essa possibilidade. O GLM é uma metateoria que
expande o Modelo Geral da Agressão (ANDERSON; BUSHMAN, 2002) para responder a
seguinte pergunta: como variáveis biopsicossociais e de desenvolvimento impactam a
probabilidade de comportamento, tanto numa situação específica quanto a longo prazo
(GREITEMEYER, 2011)? Assim, o GLM postula que variáveis pessoais (características do
indivíduo) e situacionais (características do ambiente) impactam o estado interno do sujeito
(cognição, afeto e excitação), que, por sua vez, afetam os processos de tomada de decisão e
avaliação que geram um comportamento condizente com todas essas variáveis (BARLETT;
ANDERSON, 2012).
O presente estudo terá como foco exatamente esse comportamento pró-social, ou seja,
qualquer ação realizada de modo voluntário que objetiva beneficiar outra pessoa ou grupo
(EISENBERG et al., 2006), especificamente tratando de como as mídias de super-heróis o
afetam. Desse modo, num primeiro momento será discutida a linha temporal dos estudos
psicológicos acerca de super-heróis, seguindo para uma exposição de estudos acerca da relação
entre esses personagens e o comportamento pró-social, e por fim, apresentando um projeto de
intervenção desenvolvido acerca do tema.
Apesar de sua escassez, estudos relevantes foram feitos no século XX, aos quais é válido
discutir. A começar por um estudo realizado por Levinzon (1990), que pretendia entender os
significados dos desenhos de super-heróis veiculados na televisão para crianças brasileiras de
diferentes classes sociais e de ambos os sexos; Concluiu-se que os aspectos que mais chamavam
a atenção neste tipo de mídia eram a luta, a separação entre bem e mal e a onipotência dos
personagens; comprovou-se a hipótese, ainda, de que a diferença de sexo e classe social mudava
o significado atribuído à mídia assistida, tendo cada criança a interpretado conforme o seu
próprio desenvolvimento afetivo e cognitivo. E observou-se, ademais, que a mídia de super-
heróis poderia ocasionar impacto positivo, possibilitando um maior manejo da agressividade e
permitindo à criança desenvolver valores com os quais pudesse se identificar.
Por fim, um estudo de Bauer e Dettore (1997) discorre a respeito das brincadeiras de
super-heróis por crianças, concluindo que elas podem trazer benefícios, contribuindo para a
cooperatividade e aprendizado dos valores morais. O artigo também ensina como essas
brincadeiras podem ser conduzidas por professores para o alcance de resultados positivos, sem
que haja foco na violência.
Dessa forma, é possível que a psicologia apresenta uma relação complexa com as mídias
de super-heróis, mas que, quanto mais recentes os estudos, mais se observa uma tendência à
valorização do impacto positivo destas para o público infantojuvenil. Essa relação entre o
consumo dessas mídias e o comportamento pró-social será discutida mais detalhadamente a
seguir.
Como discutido no tópico anterior, têm-se estudado por muitos anos os efeitos positivos
e negativos das mídias de super-heróis. Nesse cenário, apesar da recente valorização do impacto
positivo, grande parte das pesquisas se concentram no lado negativo do consumo desse
conteúdo, principalmente na investigação do seu efeito no comportamento violento. Por isso,
faz-se necessária a elaboração de estudos que analisem a contribuição positiva que esse
conteúdo tão popular poderia ter para a sociedade.
Ainda se tratando de jogos eletrônicos, o jogo Hall of Heroes foi utilizado para o
treinamento de habilidades sociais de adolescentes por meio da execução de uma série de
missões heroicas que envolviam trabalho em equipe com outros estudantes (DEROSIER;
THOMAS, 2019). Assim, foi evidenciado que os jovens que participaram tiveram uma melhora
significativa não só em suas habilidades interpessoais, mas também em expressar emoções,
aceitar afeto, diminuindo sentimentos ansiosos e depressivos (DEROSIER; THOMAS, 2019).
Já o estudo de Santos et al. (2018) contribui para o tema numa perspectiva geral ao
trazer que o consumo de mídia de super-heróis não é capaz de predizer o comportamento pró-
social ou agressivo, entretanto, consegue estimular esses comportamentos. Constatou-se que as
meninas com maior contato com mídias de super-heróis apresentaram maiores escores de pró-
sociabilidade, com o oposto ocorrendo nos meninos. Enquanto isso, os garotos apresentaram
mais comportamentos agressivos quando comparados às meninas. Sendo duas possibilidades
discutidas pelos autores para esse resultado: meninas reagem mais a situações pró-sociais e
compreendem melhor o que foi exibido nos programas de super-heróis.
Sobre a temática, Cingel et al. (2020) observaram que as garotas tinham altos níveis de
comportamento pró-social e níveis similares de sentimentos agressivos em relação aos garotos.
Sendo que a presença de violência na série de super-heróis resultou em intenções maiores de
pró-sociabilidade dos participantes do que na ausência desse fator. Além disso, apenas os
adolescentes do sexo masculino apresentaram maior intenção pró-social significativamente na
condição de violência comparado ao sem violência, não sendo constatado efeitos antissociais
nas condições com ou sem violência. Sendo assim, os autores discutiram a possibilidade de os
adolescentes conseguirem compreender que a violência foi usada para ajudar as pessoas, por
isso o aumento pró-social, e ressaltaram o efeito moderador do gênero, tendo em vista que, por
exemplo, é aceito socialmente o comportamento agressivo masculino, ao contrário do feminino,
sendo esse público mais influenciado por esse tipo de mídia.
A extensa popularidade das obras com super-heróis e sua representação social faz com
que mesmo imagens desses heróis impactem o comportamento, ao menos de curto prazo, dos
sujeitos. De maneira análoga, foram realizados dois experimentos com figuras de heróis no
intuito de investigar os efeitos tanto na pró-sociabilidade quanto no sentido na vida. Os dados
mostraram o aumento de intenção e comportamento pró-social nos participantes, contribuindo
para o pressuposto que esse tipo de mídia poderia estimular comportamentos pró-sociais na
população (VAN TONGEREN et al., 2018).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve como objetivo central discutir a relação entre a pró-sociabilidade
e a mídia de super-heróis, divididos entre três tópicos que focalizavam na linha temporal de
estudos com a temática, alguns exemplos das pesquisas e ao final, projeto de intervenção
realizado a partir dessa mesma questão. A partir da discussão apresentada, é possível concluir
que os objetivos foram cumpridos.
Também é necessário ressaltar que ainda existem lacunas nos estudos psicológicos sobre
super-heróis, principalmente graças a escassez de pesquisas existentes no contexto brasileiro.
Além disso, muitos dos estudos prévios utilizam amostras pequenas, afetando o poder
estatístico das análises: acerca do tema, Kim e colaboradores (2020), por exemplo, recomendam
REFERÊNCIAS
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CAPÍTULO 3
O QUE É ABUSIVO:
UMA REVISÃO SOBRE RELACIONAMENTOS ABUSIVOS 2
Daniela Zibenberg
Letícia Bandeira de Mello da Fonseca Costa
RESUMO
Relacionamentos abusivos são um tema recorrente e crescente, por exemplo nas redes sociais. Contudo, não há na
literatura uma definição clara e uniforme a respeito das características que definem relacionamentos como
abusivos. Diante disso, o presente estudo buscou estudar, a partir de uma análise de literatura, definições de
relacionamentos abusivos. Encontrou-se que tais relacionamentos devem ser caracterizados por uma dinâmica de
poder e domínio, exercida por meio de algum tipo de violência. Discute-se a diferença destes relacionamentos para
violência doméstica e violência conjugal, e sua designação para além de relacionamentos amorosos heteroafetivos.
1. INTRODUÇÃO
Em 2010, uma pesquisa no site de busca Google pelo termo exato “Relacionamento
abusivo” decorreria em 73 resultados distribuídos em 8 páginas. A mesma pesquisa em 2015,
no entanto, decorreria em 136 resultados, distribuídos em 13 páginas. E, se feita em 2021,
decorreria em 187 resultados, distribuídos em 19 páginas. É evidente, portanto, o aumento de
produções e conteúdos sobre relacionamentos abusivos na mídia, com resultados em sites de
busca como o Google aumentando em mais de 200% em uma década. Deste modo, apesar de
relacionamentos abusivos não serem uma invenção nova (eg.: ALMEIDA, 2001), sua
nomenclatura vem sendo popularizada recentemente.
Relacionamento abusivo é um tema recorrente nas mídias sociais, por exemplo a hashtag
#relacionamentoabusivo no Instagram em 2022 contou com mais de 600 mil resultados de
busca. As postagens, no entanto, muitas vezes se entrelaçam com outras definições e
diagnósticos, como relacionamentos com narcisistas, relacionamento tóxico, dependência
emocional, depressão e ansiedade. Contudo, não há definição que operacionalize o que são
relacionamentos abusivos em manuais estatísticos de diagnóstico ou documentos legais (eg.:
CID-11, DSM-5, Código Civil), e este construto ainda é pouco explorado cientificamente.
2
Programa fomentador: CAPES; CNPQ.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Relacionamentos abusivos são, muitas vezes, descritos como compostos por ciclos de
violência que se repetem (NORONHA; DOURADO, 2012). Fases de tensão, agressão e
conflito, são seguidas por fases de desculpas e reconciliação, repletas de juras de amor e
promessas de mudança e melhora. Enquanto a reconciliação é denominada “lua de mel”, os
conflitos ocorrem de maneira crescente, com um aumento da tensão, podendo gerar
consequências cada vez mais graves e fatais. Contudo, não é evidente se o ciclo engloba apenas
a violência física ou também os demais tipos de violência (eg.: moral, patrimonial, psicológica
e sexual).
3. PRESENTE ESTUDO
4. MÉTODO
O presente estudo consistiu em uma revisão de literatura. Foi feita uma busca eletrônica
nas bases de dados Google Scholar, SciELO e PePSIC, utilizando as palavras-chaves
“relacionamento abusivo”. Foram adotados os critérios de inclusão: artigo no idioma Português,
publicado no período entre 2017 e 2021 e conter as palavras chaves no título. Foram
encontrados inicialmente 34 artigos (Google Scholar= 34; SciELO= 0; PePSIC= 0).
5. RESULTADOS
Tabela 1: Características dos Artigos e Definição de Relacionamentos Abusivos nos Artigos Revisados.
Figura 2: Nuvem de palavras organizadas por frequência e categoria usadas para descrever e definir
relacionamentos abusivos.
6. CONCLUSÃO
Deste modo, notou-se uma preocupação dos autores em apontar não só os aspectos
relacionados a violência física, mas também a dinâmica psicológica encontrada na relação
abusiva. A violência psicológica tem se tornado cada vez mais objeto de estudo no campo das
ciências sociais, ganhando reconhecimento social e respaldo legal com a criação da Lei n.
14.188/2021, que tipifica como crime o dano emocional resultante da vivência dessa forma de
violência pelas mulheres (MELLO, 2022).
Setenta por cento dos artigos analisados destacaram a dificuldade da vítima em perceber
que está em um relacionamento abusivo (D’AGOSTINI et al., 2021; SANTOS et al., 2019;
CARVALHO; FREITAS, 2022; SILVA, 2021; SILVA et al., 2020; FERNANDES et al.,
2019). Por exemplo, Leandro et al. (2022) e Carvalho e Freitas (2022) destacam a forma quase
imperceptível que o relacionamento abusivo começa, modificando as configurações do
relacionamento de forma sutil. Ainda, comportamentos abusivos são muitas vezes naturalizados
ou romantizados (FERNANDES et al., 2019; SILVA et al., 2020), entendidos muitas vezes
como formas de cuidado. Tais dados alertam para um dos obstáculos que constituem a
dificuldade da vítima em romper o relacionamento e/ou procurar ajuda relativa a uma queixa
relacional. Destaca-se portanto a importância de amigos e familiares interferirem no
relacionamento e alertarem para o perigo da integridade física e mental da vítima. Além disso,
a falta de percepção sobre estar em um relacionamento abusivo também se constitui como uma
limitação para a construção de instrumentos de autorrelato para avaliação de abusos em
relacionamentos.
Contudo, apesar das similaridades entre esses dois conceitos, compreende-se que os
relacionamentos abusivos podem englobar as demais relações, não sendo exclusivamente
resultante de uma dinâmica conjugal. Ademais, apesar de muito relacionada, relacionamentos
abusivos também não podem ser compreendidos como sinônimo de violência contra a mulher,
porque o conceito engloba todo tipo de relacionamento e gênero, seja ele homoafetivo, familiar,
ou de demais configurações, onde nem sempre a vítima será uma mulher.
Ainda, entende-se que os relacionamentos abusivos também não estão restritos aos
casos de violência doméstica, pois apesar deste conceito considerar de forma mais ampla os
atos de violência que não se restringem somente às relações conjugais e contra as mulheres, se
limitam aos casos de violências que ocorrem no ambiente familiar. Segundo Diniz e Angelim
(2003, p. 22) exemplos de violência doméstica são “abuso sexual de crianças e adolescentes,
incesto, estupro conjugal, espancamento, abuso de idosos”. As autoras postulam que, diferente
de simples atos de violência que ocorrem no ambiente doméstico, ainda permeia um cenário
complexo onde a lealdade familiar impossibilita o rompimento desse ciclo de violência.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, T. Violência nos relacionamentos amorosos. Brasil medicina, [S. l.], p. 1-7, 23.
2001. Retirado de https://www.academia.edu/download/6232374/artigo15.pdf. Acessado em:
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CAPÍTULO 4
O AUMENTO DO USO DE ANTIDEPRESSIVOS E ANSIOLÍTICOS PÓS
PANDEMIA E SEUS IMPACTOS
RESUMO
O presente trabalho buscou compreender como a pandemia da COVID-19 levou ao aumento do uso de
medicamentos como ansiolíticos e antidepressivos, os problemas do autodiagnóstico, os impactos que a
automedicação tem na vida dos sujeitos, além de descrever como ocorre o processo de mal uso, a fim de identificar
formas de reduzir a dependência e conscientizar a população sobre os riscos do uso inadequado e prolongado das
medicações. O trabalho se estrutura com a revisão bibliográfica e análise de dados coletados através de uma
pesquisa com profissionais médicos, psicólogos e farmacêuticas, que tem contato direto com esses pacientes. Com
a pesquisa realizada e o exame dos textos teóricos (ALVES, 2021), (FÁVERO, 2018) que embasaram o trabalho,
identificou-se que como esperado, houve o aumento do uso dos ansiolíticos e antidepressivos durante a pandemia
da COVID-19, como também o aumento pela busca solitária do autodiagnóstico, o despreparo das equipes que
atendem os pacientes em tratamentos de quadros ansiosos e depressivos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), e
ainda ressalta a importância de se manter o acompanhamento médico tal como o acompanhamento psicológico
dos sujeitos acometidos por esses transtornos e assim garantir que o uso de medicamentos controlados seja
acompanhado mais de perto e que não ultrapasse o tempo extremamente necessário para tratar os sintomas e, evitar
abusos e dependência.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho aborda uma questão atual na recém realidade pós pandêmica, que
aponta indícios de um possível aumento no uso de ansiolíticos e antidepressivos. Devido a
pandemia pelo COVID-19, mudanças drásticas e repentinas se fizeram presentes na vida de
milhões de pessoas no mundo e no Brasil não foi diferente, e muitos viram nos medicamentos
uma forma de lidar com essa fase.
2. A PANDEMIA E A MEDICALIZAÇÃO
A pandemia da COVID-19 trouxe prejuízos reais à vida das pessoas, como a perda de
familiares e amigos, o risco eminente de morte, o desemprego, as medidas sanitárias para evitar
o contágio e transmissão da doença, que incluíam o uso de máscaras e distanciamento social,
além da passagem de algumas empresas para o home office e das escolas para o ensino remoto.
Todas essas mudanças bruscas afetaram a saúde mental e o comportamento dos indivíduos, que
encontraram nas medicações, como antidepressivos e ansiolíticos, certo alívio e condições
psíquicas para enfrentar o momento. Com isso, algumas pesquisas buscam entender os impactos
que essas medicações têm provocado na vida dos indivíduos, e já se pode observar alguns dados
estatísticos a respeito do tema.
Segundo relatado por Melo et al. (2022), foi realizado um estudo transversal via redes
sociais que contou com a participação de 349 pessoas, com idade entre 18 e 35 anos. Todos
responderam a um questionário sociodemográfico e a perguntas sobre o uso de antidepressivos
e ansiolíticos, nos resultados, obtiveram os seguintes dados: 71 pessoas (20,3%) faziam uso de
antidepressivos e/ou ansiolíticos durante a pandemia. Destes, 20,5% faziam uso de ansiolíticos,
31,8% de antidepressivos e 28,4% de ambos concomitantemente. Os medicamentos mais
Segue abaixo o quadro com os dados de um levantamento feito pela Consulta Remédio
e publicado pela revista Medicina S/A:
Figura 1: Buscas comparativas antes e durante a pandemia no período de – 08/20 a 02/21 em relação ao ano
anterior (08/19 a 02/20), seis meses antes de iniciar a pandemia.
3. A MEDICALIZAÇÃO E O AUTODIAGNÓSTICO
Vasconcelos et al. (2009) traz a ideia de que, com a evolução das tecnologias, vários
sites especializados em autodiagnóstico surgiram na internet. Ele ainda diz que é perceptível
como os consumidores em saúde tendem à solidão e à busca solitária de informações a respeito
de como estão. Tudo isso pode fazer com que as pessoas fiquem perdidas em meio a tantos
aconselhamentos, que por vezes não são reais ou são alarmistas.
Melo et al. (2021) citando Garcia LP, Duarte E. (2020), relata sobre o conceito de
“infodemia”, termo que tem por significado o excesso de informações, nem sempre verdadeiras,
que ocorrem em resposta a situações graves como, por exemplo, a pandemia. Com isso, Melo
et al. (2021) comentam que o resultado desse estímulo e exposição a esse tipo de informações
pode ser um impulso tanto coletivo como individual a um autodiagnóstico, que leva ao uso,
sem comprovação médica/científica, de medicamentos. Vale ressaltar a fala de Domingos et al.
(2017), que no Brasil ocorreu uma avalanche de informações, medo e incertezas contribuindo
para a busca irracional nas farmácias.
De acordo com artigo publicado pela Organização Mundial da Saúde (1998) conceitua-
se a auto medicalização como sendo a seleção de medicamentos para tratar doenças
autodiagnosticadas ou sintomas. Segundo Domingos et al. (2017), os remédios são parte
importante para tratamento de doenças e melhora na qualidade de vida dos indivíduos. Porém,
o uso desses medicamentos de modo irresponsável e sem uma orientação médica pode trazer
prejuízos para a saúde. Esses autores também alertam que em decorrência da auto
medicalização foi gerado um aumento nas vendas de medicamentos, assim como crescem
também as anomalias derivadas, como resistência bacteriana e outras reações adversas.
Caso seja feita uma combinação errada entre medicamentos, pode-se gerar
consequências, tendo como exemplo reações alérgicas, dependência de medicamentos e até a
morte. Importante destacar que todos os remédios possuem efeitos colaterais. Tendo isso em
mente, aquilo que se imagina ser a solução, pode se tornar um grave problema. Vale ressaltar
que somente médicos podem diagnosticar doenças e indicar tratamentos e/ou medicações.
Um estudo realizado em Curitiba (Paraná) e citado por Alves et al. (2021), em 2017,
constatou que 84,4% das indicações de uso de psicofármacos, em especial os ansiolíticos, foram
realizadas por médicos, principalmente clínicos gerais (47%), psiquiatras (25%) e neurologistas
(15,6%). Os entrevistados que tinham recebido o medicamento de conhecidos somavam 25%,
e 15,6% disseram ter usado sem prescrição. Algumas das queixas que levaram ao uso foram a
insônia (62,5%), depressão (53,1%) e ansiedade (43,8%), embora alguns dos entrevistados
tivessem usado sem acompanhamento profissional e possivelmente sem terem diagnóstico. O
tempo de uso ultrapassava um ano em 68,7%, sendo que 30% relataram tentativa de parar com
o uso. Como justificativa, relataram a volta das queixas, como nervosismo e insônia.
Para o psiquiatra Guido Boabaid May (2022), do corpo clínico do Hospital Israelita
Albert Einstein, em entrevista relatada pelo portal de notícias R7, é possível que muitos
brasileiros que usam esses medicamentos não necessitem deles ou estejam fazendo mal uso, e
também ressalta que a maioria dessas pessoas usam sem acompanhamento psiquiátrico. May
(2022) ressalta ainda que os benzodiazepínicos causam tolerância e possível abuso e
dependência, e por isso não são todos os indivíduos que podem usá-los, como aqueles que
possuem histórico de abuso de substâncias e com alguns tipos de transtorno.
A abstinência surge pela interrupção das medicações após 5 a 10 dias, o que causa
impacto na vida social do indivíduo por seus sintomas como a irritabilidade, estresse, insônia,
à sudoração (transpiração excessiva), agitação, náusea, dores no corpo a até mesmo às
convulsões, lembrado que cada organismo reage de uma maneira diferentes, então esses
sintomas não são padronizados; o recomendado é que essa retirada de medicação seja gradual,
com orientação e acompanhamento médico por volta de 8 meses (CARLINI et al., 2001).
De acordo com estudo realizado por Orlandi e Noto (2005), citado por Higa (2018), essa
dependência está ligada a diversos fatores: médicos, como a indicação inadequada da
medicação, falha na orientação e manutenção da prescrição sem um planejamento prévio do
tempo de tratamento; e do usuário, com o uso inadequado da medicação, aumento da dosagem
por iniciativa própria, uso de artimanhas para conseguir o receituário e a não realização do
acompanhamento psicológico.
Por fim, é importante que haja uma conscientização acerca do uso de ansiolíticos e
antidepressivos pela população. Conforme proposto por Higa (2018) no projeto de intervenção,
os pacientes devem compreender seu adoecimento mental, o porquê do uso do medicamento,
seus efeitos e, principalmente, precisam estar conscientes de que o tratamento não é feito apenas
ingerindo os medicamentos, mas também através do acompanhamento psicológico adequado.
A pesquisa foi aplicada via google forms e contou com a participação de seis
profissionais, incluindo psicólogos, psiquiatras e farmacêuticos. Todos eles possuem entre oito
e vinte anos de experiência em suas respectivas áreas e foram escolhidos devido a suas áreas de
atuação na saúde. As perguntas realizadas se relacionam com as questões tratadas no referencial
teórico, sendo relacionadas principalmente às causas e impactos da medicalização. Consistem:
4. Qual a faixa etária das pessoas que mais buscam esses medicamentos?
7. Caso tenha identificado dependência, mal uso ou abuso, indique os medicamentos mais
recorrentes e explique.
9. De acordo com as vivências em sua área de atuação, quais as queixas que mais incitaram
o aumento da procura por antidepressivos e ansiolíticos após o surgimento da pandemia?
10. Você notou ou o paciente relatou impactos dessa medicalização na vida pessoal e
profissional?
Segundo 66,7 % dos entrevistados, a classe de medicamentos que teve uma maior
procura por parte dos consumidores nesse período pós pandemia foram os antidepressivos. Já
16,7% disseram que a alta do consumo foi de ansiolíticos, enquanto os outros 16,7% afirmaram
que a busca desses medicamentos ocorreu da mesma forma, havendo um nivelamento entre
eles.
Segue os dados obtidos das perguntas relacionadas à faixa etária e gênero mais
observados nos pacientes.
Figura 4: Qual a faixa etária das pessoas que mais buscam esses medicamentos?.
Ao questionar o sexo e faixa etária das pessoas que mais buscaram adquirir e consumir
essas medicações, 100% dos participantes da pesquisa responderam que os maiores
consumidores desses remédios são mulheres que possuem entre 32 e 45 anos de idade.
Figura 6: Em sua prática, você notou os seguintes problemas no que se refere à medicalização de
antidepressivos ou ansiolíticos?.
Nota-se que são remédios utilizados para insônia e efeito calmante, o que leva à
necessidade de utilizá-los para regular o sono, como o Zolpidem, um medicamento bastante
ressaltado em uma das respostas: ‘Muitas pessoas relataram dependência dele para conseguir
dormir!’. Percebe-se que essas pessoas não conseguem dormir à noite sem o uso da medicação,
e isso se reflete no proposto pela Clínica Jequitibá (2020), em que o abuso de substância se
manifesta pelo uso incorreto da medicação, chegando assim ao ponto de a falta da substância
causar abstinência.
Quando perguntados sobre os principais diagnósticos dos pacientes que fazem o uso de
antidepressivos e ansiolíticos, foram confirmadas as expectativas, tendo em mente, que as
doenças mentais mais frequentes são depressão e os transtornos de ansiedade (PREVEDELLO,
2017, apud PIGA. 2021), algo amplamente relatado pelos entrevistados, acrescentando a isso,
síndrome do pânico e dores crônicas.
Tendo em vista esses impactos, muitas vezes decorrentes do mal uso dos psicotrópicos,
também foi questionado sobre as possíveis alternativas para reduzir essa dependência. Uma das
respostas foi “profissionais mais capacitados para saber orientar o paciente”, o que condiz com
os estudos de que a dependência está ligada a fatores médicos como a indicação inadequada da
medicação, falha na orientação e manutenção da prescrição sem um planejamento prévio do
tempo de tratamento (ORLANDI; NOTO, 2005, apud HIGA, 2018).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entendeu-se que a pandemia pelo COVID-19 trouxe uma série de consequências que
afetaram a saúde mental das pessoas, o que acarretou na busca pela medicalização. Também se
revelou que este uso, quando realizado de forma incorreta, pode levar ao abuso de
medicamentos e uma possível dependência. Além disso, através dos estudos foi possível
concluir que o desmame deve ser incentivado nos casos em que for possível, e que o
acompanhamento psicológico é de suma importância para o tratamento efetivo dos pacientes,
realizado juntamente com o uso de medicamentos indicados pelo médico.
CLINICA JEQUITIBA. Uso, Abuso ou Dependência?. São Paulo, 2020. Disponível em:
https://www.clinicajequitiba.com.br/blog/uso-abuso-ou-dependencia/. Acessado em: Set.
2022.
MELLIS, F. Farmácias vendem em média 123 mil caixas de calmantes por dia no Brasil.
R7 Saúde, março de 2022. Disponível em: https://noticias.r7.com/saude/farmacias-vendem-
em-media-123-mil-caixas-de-calmantes-por-dia-no-brasil-03032022. Acessado em: Set. 2022.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. The role of the pharmacist in self-care and self-
medication [Internet]. Geneva: World Health Organization; 1998 [cited 2016 Dec 13].
Available from: http://apps.who.int/medicinedocs/pdf/whozip32e/whozip32e.pdf. Acessado
em: Set. 2022.
CAPÍTULO 5
MODOS DE CONSUMO:
A INFLUÊNCIA DA INDÚSTRIA CULTURAL NA CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE DO JOVEM
RESUMO
Os fenômenos midiáticos contribuíram para modificar a relação estabelecida entre o homem e o mundo. A
identidade deste cenário está marcada pela Indústria Cultural do consumo que provê o que se consome seja
simbólico ou materialmente, bem como a maneira de lidar com o não consumo, tendo em vista as vicissitudes que
abarcam o social. A juventude em situação de vulnerabilidade social vivencia a experiência do consumo em
processos que acentuam a relação com o mundo do trabalho para consumir. Objetivo: Analisar a construção da
identidade do jovem influenciada pela Indústria Cultural. Metodologia: Estudo de abordagem qualitativa, com
pesquisa de campo de corte transversal. Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada e
interpretados pela análise de conteúdo. A amostra foi constituída por 06 jovens estudantes da Educação para Jovens
e Adultos (EJA), de uma escola pública da cidade de Montes Claros - MG. Resultados: Foi possível se criar as
categorias de análise ‘Mídias sociais e suas utilizações’: Identificação das mídias utilizadas e seus modos de uso,
os quais compreendem o aparelho celular, internet e televisão; ‘As motivações e as viabilidades do consumo’: se
pautam na baixa renda e restrição financeira; ‘Consumo e sua relação com a identidade’: identidade de trabalhador
como via de acesso ao consumo. Considerações finais: Os resultados encontrados contribuíram para um
aprofundamento nos estudos sobre a Indústria Cultural e a massificação do consumo pela via dos veículos de
comunicação e sua conexão com a identidade dos jovens. Igualmente, pensar como em uma sociedade capitalista
os jovens constroem suas identidades com base nos modos de consumo.
1. INTRODUÇÃO
Por meio das escolhas que fazemos sobre como organizar e preencher o espaço onde
vivemos, como nos vestimos, os lugares que frequentamos, as comidas que elegemos
e as que rejeitamos, dentre outras escolhas, criamos significados e alimentamos
circuitos simbólicos. Sendo assim, nossas práticas de consumo vão muito além do
aspecto material, pois o que comunicamos se torna simbólico, representativo de um
estilo de vida, uma maneira de ser e de agir (CASTRO, 2014, p. 61).
Se por um lado o consumo contribui na construção de uma identidade social e cultural
através da identificação, por outro é preocupante, já que nem sempre é possível se consumir,
tendo em vista os empecilhos inerentes às classes socialmente e economicamente minoritárias;
fruto da categoria dialética inclusão/exclusão.
É, sobretudo, nas periferias das grandes cidades de baixa renda e maior dificuldade
econômica que se concentram os jovens que compõem uma das parcelas da população brasileira
em maior situação de vulnerabilidade 3. Como dispositivos desta Indústria Cultural, os veículos
de comunicação de massa, tais como a televisão, o cinema, o rádio, revistas, jornais e a internet,
objetivam a atração máxima de compradores dos produtos ali veiculados (THIAGO; RUSSO;
JUNIOR, 2016).
3
O conceito de vulnerabilidade é explorado por duas categorias distintas podendo ser compreendida
primeiramente pela integração à exclusão no que concerte a atividade laboral e da inserção ao isolamento na
ordem da sociabilidade básica. Dessa forma, a vulnerabilidade reside no fato de que o trabalho se torna
insuficiente diante do que se pode perceber de fragilidades inerentes às posições sócio econômicas desfavorecidas
(CARINHANHA; PENNA; OLIVEIRA, 2014).
A amostra foi constituída por saturação composta por 06 jovens (05 homens e 01
mulher) estudantes na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA) com idade entre 18
a 27 anos, de uma escola pública na cidade de Montes Claros – MG. Nesta pesquisa,
compreendeu-se que os participantes possuíram similaridades nas respostas, uma vez que a
amostra apresenta a faixa etária, local de moradia e vulnerabilidades similares.
A coleta dos dados foi realizada durante o mês de julho de 2018, aplicada pelos próprios
investigadores, com aproximadamente 40 minutos de duração, em local seguro e sigiloso. As
entrevistas foram gravadas em aparelho celular da marca LG e desgravadas após a transcrição.
Os participantes foram informados do procedimento através da leitura, explicação e assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
3. RESULTADOS
I. Mídias sociais e suas utilizações: Identificação das mídias utilizadas pelos jovens e seus
modos de uso, os quais compreendem o aparelho celular, internet e televisão;
III. Consumo e sua relação com a identidade: A identidade de trabalhador como via de
acesso ao consumo.
Esta concepção de mídia como um lugar ocupado por celebridades e foco de atenção se
apresenta como fato de interlocução com a sociedade do espetáculo, considerada como a forma
mais contemporânea da indústria cultural. Sociedade do espetáculo pode ser compreendida
como mecanismo de supervalorização da imagem em detrimento do discurso (KEHL, 2015).
Este lugar ocupado por celebridades é difundido pela televisão; veículo eleito pelos
adolescentes como meio de comunicação mais utilizado entre eles, o que corrobora a afirmação
de que “a televisão é a mais espetacular tradução da indústria cultural” (KEHL, 2015).
Outras mídias tais como o cinema, jornal impresso, rádio, revistas não foram
mencionadas. O não uso do jornal impresso ilustra o quadro de um país onde 27% da sua
população é composta por analfabetos funcionais (LEITE; MARTINS; PINHEIRO, 2018).
Neste cenário, o uso exacerbado dos veículos de comunicação digitais como a televisão e a
internet, em detrimento do jornal impresso parece refletir o imediatismo das relações sociais
atuais agravadas pela mídia, bem como uma reformulação das noções de tempo e espaço
(SOUSA; MORAIS; PRIOR, 2015). Estas relações e novos modos de consumo são
responsáveis pela produção de uma sociedade hedonista onde o hiperconsumo fomenta a
satisfação imediata das necessidades (VIEIRA; MARTINS; BRUGNEROTTO, 2018). Num
outro modo de compreender, estas necessidades refletem as experiências vivenciais e as suas
condições sociais, exercendo influência significativa na maneira como o sujeito se molda e,
consequentemente, as suas ações sociais e seus habitus (BOURDIEU, 2017).
Dificuldade, sei lá [...] Crise. Falta de dinheiro, né?! (risos) [...] Não compro tudo o
que eu quero, né [...], mas eu compro tudo o que eu preciso [...] O básico né!? Feira,
essas coisas [...] Iogurte, essas coisas naturais todo mundo gosta de usufruir, né... É
coisa básica mesmo pra comer bem, mas a gente compra uma coisinha melhor quando
o bolso deixa comprar (Entrevistado 1, 2018, entrevista concedida em 17/09/2018).
Do mesmo modo, o Entrevistado 2:
Consumir é coisa diária, igual lanche, essas coisas do dia a dia [...] Normal [...] Porque
a renda tá baixa, não tá dando pra comprar ainda não, uai, porque é muito caro né, tem
coisa que não tá no orçamento que a gente ganha, mas a gente faz o que pode, o que
dá e quando dá e mesmo assim, depois de ajudar em casa com o básico (Entrevistado
2, 2018, entrevista concedida em 17/09/2018).
A baixa renda obtida pela atividade laboral foi o principal fator para a impossibilidade
de se consumir o que deseja. A vulnerabilidade social, situação que se inserem os adolescentes,
é condição multidimensional e complexa que dificulta o acesso de grande parte da população a
alimentação. Por vulnerabilidade social compreende-se por uma expressão de segregação social
e de não contemplação dos seus direitos fundamentais (ROSANELI, 2015).
Entretanto, no caso desta pesquisa, a amostra parece ter a pobreza como uma condição
de agravo, já que o alimento aparece como um principal item de consumo entre os entrevistados.
O investimento em alimentos, bem como relatados por alguns adolescentes diz de uma
insegurança alimentar 4 que se insere em suas experiências corpóreas de submissão e
subalternidade na dinâmica social dominante (SAWAIA apud BERTINI, 2014).
4
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE, 2010), Montes Claros apresenta 36,3% de
famílias com renda de até ½ salário mínimo.
Eu nem vou olhar [...] Eu nem vou, nem olho. Eu só vou comprar uma coisa quando
eu sei que vou chegar, comprar e levar [...] porque chegar numa loja, e fica ‘ah eu
quero comprar esse tênis aqui’ e não tem dinheiro não, eu nem vou e a gente fica sem
graça passando vontade na frente do vendedor e ele achando que eu vou poder levar
[...] (Entrevistado 1, 2018, entrevista concedida em 17/09/2018).
E também corroborado pelo Entrevistado 4:
Uá! Eu me conformo. Porque tipo assim, eu não vou fazer nada demais [...] E aquele
trem, eu vou correr atrás. Trabalhar e levantar o dinheiro pra eu conseguir comprar o
que eu tô querendo. Não tem jeito, tem que trabalhar porque é a única coisa que vai
me dar dinheiro pra me sustentar (Entrevistado 4, 2018, entrevista concedida em
17/09/2018).
O consumo mensal foi a principal resposta em questionamento quanto à frequência que
consomem, onde percebeu-se uma satisfação diante da possibilidade de obtenção de um produto
desejado, ainda que mensalmente. Tal periodização vincula-se à condição de assalariado, com
recebimento mensal de “pagamento” pela mão de obra vendida (grifo nosso). Nesse sentido, o
trabalho pode ser compreendido como um atributo constituinte no processo de construção de
uma identidade desse adolescente e de sua representação social (DUTRA-THOMÉ; KOLLER,
2014).
Outro ponto relevante observado foi o de que os jovens não mencionaram alguns bens
de consumo, tais como o cinema, lazer, livros, cursos, viagens e curso superior, pois não são
contemplados em suas experiências nos seus contextos socioeconômicos, o que parece
restringir por estas vias de manifestação subjetiva como possibilidade de sublimação
(COELHO; PAULA, 2017). Quando questionados sobre os produtos que gostariam de
consumir e não consomem, os adolescentes do sexo masculino relataram desejo de consumo de
motocicleta e mais produtos de vestuário pessoal, sendo que a única entrevistada do sexo
feminino relatou desejo de consumo de produtos de vestuário, bem como produtos de cuidados
estéticos como maquiagem e cabelo.
Por toda a análise exposta até este ponto do texto, pode-se inferir que estes jovens
vivenciam situações de vulnerabilidade social agravada pela situação de pobreza, que produz
uma “consciência homogeneizada”, conformismo, o que conduz ao trabalho como via de acesso
ao consumo, ainda que tenha restrições. Essa situação de conformismo funciona segundo
comportamentos que agradem à sociedade e na condição de produção e de representação de
indivíduos que se localizam mais na heteronomia do que na autonomia (ENRIQUEZ, 2014).
Neste sentido, a responsabilidade da qualidade e da quantidade do consumo é significada de
modo individual, a-crítico e a-histórico (SAWAIA apud BERTINI, 2014).
É através do trabalho que estes adolescentes se veem em espaço onde podem construir
seus modos de ser no meio em que se inserem, a partir da sua submissão às necessidades
externas (NETO et al., 2015). Assim, pode-se entender que estas identidades circunscritas no
campo do trabalho são fruto do processo de vulnerabilização, fragilização e diminuição da
capacidade de consumo e da supervalorização das expressões laborais dos indivíduos, “o
trabalho que era tão desvalorizado nas sociedades antigas, torna-se um elemento
fundamentalmente integrador da sociedade, isto é, permite efetivamente a uma sociedade
engendrar, ou reforçar os laços sociais” (ENRIQUEZ, 1999, apud NETO et al., 2015).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados mostraram que essas identidades, por ora dissidentes, se ancoram numa
consciência homogênea ao trabalho como via de acesso aos ícones vendidos pela publicidade,
sobretudo pelos meios de comunicação de massa. Estes ícones identificados em entrevistas, se
Por fim, o objeto mais consumido na relação dos jovens participantes desta pesquisa
está atrelado ao símbolo da categoria trabalho, entretanto, esses não apresentaram nas falas ou
possíveis interpretações para esta representação de si, mas enquanto um trabalhador sem
liberdades de escolha de consumo, conformado ao consumo restrito.
REFERÊNCIAS
SOUSA, J. C.; MORAIS, R.; PRIOR, H. Tempo e espaço como reconfiguradores das noções
de público e privado: o papel dos dispositivos móveis. Covilhã: UBI, Livros LabCom, 2015.
Disponível em:
<https://www.academia.edu/11929415/Tempo_e_Espa%C3%A7o_como_reconfiguradores_d
as_no%C3%A7%C3%B5es_de_p%C3%BAblico_e_privado_o_papel_dos_dispositivos_m%
C3%B3veis>. Acessado em: Set. 2018.
ENTREVISTA CONCEDIDA
CAPÍTULO 6
INTEGRAÇÃO DA ESPIRITUALIDADE NO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO:
BENEFÍCIOS, DESAFIOS E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO
RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar uma revisão integrativa da literatura concernente à integração da dimensão
religiosidade/espiritualidade na prática clínica psicológica, investigando os benefícios da integração da R/E no
setting terapêutico, os desafios encontrados pelos profissionais de psicologia para o manejo das questões
religiosas/espirituais e as estratégias de intervenção clínica que estão sendo utilizadas pelos profissionais. A
pesquisa bibliográfica realizada nos portais eletrônicos PePSIC, SciELO e Google Acadêmico resultou na seleção
de 9 artigos na língua portuguesa e publicados no período de março de 2017 a 2022, além de outros artigos
anteriores, uma tese de doutorado e um livro considerados pertinentes ao trabalho. A literatura analisada aponta
haver resultados positivos na abordagem da R/E no processo psicoterápico, quando os pacientes trazem questões
de cunho religioso/espiritual ao setting, por se tratar de uma dimensão humana, indispensável à compreensão
integral de sua subjetividade. Assinala, ainda, haver muitos desafios enfrentados pelos profissionais no manejo de
tais questões; contudo, constata-se a existência de diversos protocolos e ferramentas que já vem sendo utilizados
como estratégias de intervenção na prática clínica.
1. INTRODUÇÃO
Razão pela qual, a partir de uma revisão integrativa da literatura nacional concernente à
integração da dimensão religiosa/espiritual dos pacientes no atendimento psicológico, a
presente pesquisa teve por objetivo responder aos seguintes questionamentos: A
religiosidade/espiritualidade vem sendo considerada importante e favorável no contexto
psicoterapêutico? Existem razões para não se menosprezar a dimensão religiosa/espiritual no
âmbito psicoterapêutico? Os psicólogos estão abertos a abordar as questões referentes à R/E
trazidas ao setting pelos pacientes? Encontram-se capacitados para tal abordagem? Quais as
dificuldades e os desafios que se apresentam quando o profissional adentra nessa seara? E
quanto aos limites éticos? Existem recursos terapêuticos ou intervenções disponíveis para
auxiliar a abordagem da R/E na psicoterapia? Atualmente, quais abordagens levam em
consideração a dimensão religiosa/espiritual no tratamento dos pacientes?
Trata-se de uma pesquisa qualitativa e descritiva que buscou averiguar como a temática
da religiosidade/espiritualidade vem sendo atualmente considerada pelos teóricos e
profissionais da psicologia, bem como verificar quais as abordagens psicoterapêuticas estão
mais voltadas a essa integração; em outras palavras, o que as principais linhas de psicoterapia
pensam a respeito. Para tanto, desenvolveu três eixos de investigação, a fim de melhor organizar
o levantamento e a reflexão do assunto: 1) os benefícios da integração da R/E na prática clínica;
2) os desafios encontrados pelos psicólogos na abordagem da R/E de seus pacientes; e 3) as
possíveis estratégias de intervenção clínica quanto à R/E. Desse modo, através dos referidos
eixos, a pesquisa buscou, de forma sintética, traçar o panorama da temática acima exposta,
conforme o contexto da psicologia praticada no âmbito nacional.
Nessa mesma ordem, levantou como hipóteses que: 1) existem benefícios advindos da
integração da R/E na prática clínica, 2) os desafios encontrados pelos psicólogos na abordagem
da R/E de seus pacientes podem ser superados, 3) algumas estratégias de intervenção clínica
quanto à R/E já estão sendo utilizadas pelos profissionais.
2. MÉTODO
A busca dos artigos ocorreu no mês de março de 2022 da seguinte forma: primeiramente
foram lançadas as palavras-chave “psicologia AND religião”, “psicologia AND religiosidade”,
“psicologia AND espiritualidade”, “psicologia AND espiritual”, sendo repetida a mesma
sequência trocando-se o primeiro termo por “psicoterapia”, “saúde mental” e “atendimento
psicológico”. Após exclusão dos títulos que não atendiam ao período delineado e/ou publicados
em língua estrangeira, assim como os repetidos e aqueles cujos resumos assinalavam temática
que extrapolavam o interesse da presente pesquisa, foram selecionados 9 artigos, apontados nas
referências. A fim de incrementar a pesquisa, foram selecionados, nas mesmas bases acima
mencionadas, alguns artigos anteriores a 2017 considerados pertinentes ao trabalho e
igualmente apontados nas referências. Alguns dos artigos selecionados, não obstante
publicados em outros campos (medicina, psiquiatria e enfermagem), dizem respeito à temática
de interesse do presente artigo.
Além dos referidos artigos, a pesquisa também fez uso do livro Diante do Mistério
Psicologia e Senso do Religioso (org. MASSIMI; MAHFOUD, 1999) e da tese de doutorado
intitulada Religiosidade/espiritualidade em uma amostra nacional de psicólogos brasileiros:
perfil e implicações na prática profissional (publicada em 2019), os quais proporcionaram aos
autores um aprofundamento e uma reflexão original do assunto ao sintetizar o material coletado.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Lucchetti et al. (2010), em seu artigo, trazem de forma bastante sintetizada os conceitos
de religião, religiosidade e espiritualidade. Para esses autores, a religião é “o sistema organizado
de crenças, práticas, rituais e símbolos designados para facilitar o acesso ao sagrado, ao
transcendente”, ou seja, diz respeito à institucionalização das crenças e práticas religiosas.
Nessa mesma linha, para Oliveira e Junges (2012), o conceito de religião “refere-se ao aspecto
institucional e doutrinário de determinada forma de vivência religiosa”. A religião, portanto, é
definida como um conjunto estruturado de crenças e rituais que visam a conexão com o
transcendente.
Nessa mesma linha, Lucchetti et al. (2010) apontam que alguns estudos vêm
evidenciando a relação entre R/E e saúde mental, já tendo sido demonstrado haver “menor
prevalência de depressão, menor tempo de remissão da depressão após o tratamento, menor
prevalência de ansiedade e menor taxa de suicídio”, bem como a relação da espiritualidade com
“melhor qualidade de vida e maior bem estar geral”, além de outras comprovações científicas
no campo dos distúrbios físicos. Portanto, os autores recomendam que o clínico deva conhecer
tais evidências a fim de perceber suas repercussões na saúde do paciente. Ora, ainda que tais
destaques e evidências correlacionando R/E e saúde/qualidade de vida estejam no campo da
medicina, pode-se observar sua importância, igualmente, na prática clínica psicológica, haja
vista a integração biopsicossocial/espiritual do ser humano, conforme acima pontuado.
Nessa mesma linha, Peres, Simão e Nasello (2007) trazem a importância da abordagem
da R/E no tratamento de TEPT (transtorno de estresse pós-traumático), haja vista que diante de
traumas psicológicos as pessoas tendem a buscar novos sentidos e significados em suas vidas,
a fim de ressignificar as experiências sofridas, que são caracterizadas, sobretudo, pelo
sentimento de desamparo. Ademais, conforme apontam os autores, estudos empíricos já
demonstraram que o tratamento pós-trauma, visando a superação dos efeitos psicológicos
traumáticos, pode se beneficiar do manejo da R/E, já que o acesso a essa dimensão promove “o
sentido de amparo, suporte e esperança” útil na recuperação e no restabelecimento do
sentimento de proteção para os pacientes. Para tanto, faz-se necessário que o profissional possua
abertura e prontidão para lidar com as perguntas existenciais dos pacientes.
Oliveira e Junges (2012), em seu estudo, aduzem que, na prática clínica, o acolhimento
e a escuta da dimensão da R/E dos pacientes pelo profissional favorecem “uma intervenção
qualificada no campo da espiritualidade”; assim, mediante tal atitude, a integração da dimensão
espiritual torna-se mais fácil e ajuda no processo de autoconhecimento e de autonomia
promovida aos pacientes. Todavia, conforme ressaltado por Cunha e Scorsolini-Comin (2019b),
“na maioria das vezes, a R/E não se trata do foco do atendimento, mas emerge como
possibilidade de ancoragem do sujeito em sua história de vida, em suas diferentes experiências
e também como recurso para o enfrentamento de situações e eventos de vida considerados
adversos”.
Raddatz, Motta e Alminhana (2019) alertam para o fato de que, não obstante as
evidências sobre a importância da R/E na saúde, na prática clínica ainda há barreiras entre os
profissionais da saúde e os pacientes na abordagem dessa temática, sendo que alguns
profissionais, por falta de treinamento adequado, acabam por deixar de ouvir seus pacientes em
relação às suas crenças religiosas/espirituais, criando, assim, uma lacuna à compreensão
integral da demanda sob seus cuidados. Assim, apontam haver “uma espécie de ‘círculo
vicioso’ entre falta de treinamento e insegurança de inserir a temática R/E na prática clínica”,
e que isso acontece não somente no âmbito da medicina como na área da saúde de modo geral.
Por outro lado, ponderam que alguns profissionais, quando se permitem adentrar nessas
questões de R/E junto a seus pacientes, acabam ressignificando suas próprias crenças.
Nesse ponto, assinala-se que uma das maiores preocupações dos profissionais da saúde
em tratar da temática em questão é ultrajar a ética profissional, receando, por exemplo, que seus
pacientes percam o senso de realidade ao abordarem sua R/E (RADDATZ; MOTTA;
ALMINHANA, 2019). Todavia, apesar de louvável o cuidado em não extrapolar os limites
éticos, tal preocupação dos profissionais advém da falta de treinamento nessa seara e de
capacitação quanto à forma adequada para lidar com essas questões nos tratamentos a que se
dedicam (no caso, em atendimento psicológico/psicoterapêutico), acarretando a lacuna acima
mencionada. Além do que, há também o bom senso a ser levado em conta nesse enfoque da
R/E do paciente, tendo em vista que em determinados momentos torna-se inadequado sua
abordagem; por exemplo, “em situações extremas como acidentes e eventos isquêmicos
coronarianos”, que podem promover o sentimento de medo, caso as questões de ordem
espiritual partam do profissional (LUCCHETTI et al., 2010).
5
O DSM-V igualmente dispõe sobre Problemas Relacionados a Outras Circunstâncias Psicossociais, Pessoais e
Ambientais, trazendo em seu código V62.89 (Z65.8) o denominado Problema Religioso ou Espiritual, como uma
categoria que pode ser usada quando o foco da atenção clínica for um problema religioso ou espiritual, incluindo-
se, a título de exemplos, experiências de perda, questionamento da fé, conversão a nova fé religiosa ou
questionamento de valores espirituais (tendo ou não relação com alguma igreja ou instituição religiosa organizada)
que podem estar causando sofrimento ao indivíduo.
Depreende-se, portanto, que a relação entre R/E e prática clínica vem sendo evocada
significativamente nos últimos tempos no Brasil (CUNHA; SCORSOLINI-COMIN, 2019a).
Todavia, esses autores alertam para o fato de ainda haver uma lacuna na formação acadêmica
no que tange à referida temática, posto que os psicólogos recém-formados não se sentem
preparados para lidar com as questões religiosas e espirituais trazidas pelos pacientes ao setting
terapêutico, em seus discursos e experiências relatadas, e temem se envolver em dificuldades
ético-profissionais caso adentrem nessa seara. Isso porque os profissionais atentam-se,
principalmente, para o disposto no art. 2, item b, do Código de Ética do Psicólogo (CEP),
segundo o qual é vedado ao psicólogo “Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais,
ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do
exercício de suas funções profissionais” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2005).
Ocorre que, conforme pontuado pelos referidos autores, “as recomendações éticas existem no
sentido de que o profissional não ‘influencie’ ou ‘induza’ seu paciente/cliente a determinados
posicionamentos religiosos ou práticas espirituais, o que não significa desconsiderar ou
negligenciar essa dimensão na escuta clínica”.
De outro giro, para Lopez (1999), um dos grandes desafios para o psicólogo clínico na
abordagem da R/E é a falta de eixos referenciais que o orientem a considerar as experiências
religiosas/espirituais dos pacientes quando surgem no setting terapêutico, ou seja, que o ajudem
em seu raciocínio avaliativo diante das narrativas dos pacientes. Essa lacuna no embasamento
teórico faz com que o profissional tente realizar suas considerações de cunho avaliativo à luz
de sua abordagem teórica; ocorre que as abordagens psicológicas geralmente não contemplam
as questões concernentes à R/E, deixando o profissional à deriva, buscando referenciais em
outras disciplinas ou em sua experiência pessoal (LOPEZ, 1999), arriscando a neutralidade
necessária.
Por outro lado, vale frisar que nem sempre os pacientes, ainda que religiosos, estão
abertos para intervenções envolvendo a R/E; sendo útil ao terapeuta que solicite a seus pacientes
que avaliem a inter-relação entre suas queixas clínicas e suas experiências religiosas/espirituais,
ajudando-os a perceber o papel da espiritualidade em sua vida (CAMPOS; RIBEIRO, 2017).
Ademais, esses autores apontam que, quando essas experiências são importantes para o
paciente, a tendência é que as traga gradualmente para a terapia, na medida em que percebem
a abertura do próprio terapeuta.
Nesse ponto vale frisar que determinadas abordagens psicológicas estão lançando um
olhar para a R/E na prática psicoterapêutica. Campos e Ribeiro (2017) relatam que algumas
abordagens teóricas de psicologia são mais favoráveis à integração da R/E na psicoterapia,
sendo a linha humanista uma das que mais consideram os temas religiosos/espirituais
importantes à prática clínica, porquanto o conceito de empatia torna-se um recurso para o
acolhimento da espiritualidade. Campos e Ribeiro (2017) trazem, ainda, que uma outra forma
de integração da R/E vem ocorrendo nas denominadas psicoterapias adaptadas à fé
(notadamente na esfera da Terapia Cognitivo-Comportamental), que, segundo apontam,
“mantêm os componentes básicos das abordagens seculares, e fazem modificações para
acomodar espiritualidade e religiosidade”.
Já a Logoterapia é citada por Nascimento e Caldas (2020) como sendo uma das
A seu turno, Ferreira et al. (2020) apontam que na teoria junguiana leva-se em conta a
importância da espiritualidade no processo psicoterapêutico, haja vista que Jung incluiu em sua
obra diversas reflexões acerca da influência do fenômeno religioso no psiquismo dos pacientes.
Portanto, para Jung, a atitude religiosa teria “uma função psíquica de incalculável alcance”,
capaz de favorecer a individuação (JUNG, 1995, p. 44, apud FERREIRA et al., 2020).
De outro giro, Peres, Simão e Nasello (2007) trazem em seu estudo a “neuroimagem da
religiosidade e estados alterados de consciência” o resultado de algumas pesquisas envolvendo
os estados alterados de consciência (EACs) e seu uso em psicoterapia, que revelam a influência
das experiências em tais estados na mudança de comportamento. Apontam, inclusive, que
diversos autores já comprovaram a efetividade da utilização do EAC como ferramenta para
formação de novos padrões de pensamento, sentimento e comportamento através da percepção
de imagens mentais; isso porque “diferentes estados de consciência podem promover novas
percepções a respeito de um mesmo fenômeno e, conseqüentemente, novos estados emocionais
favoráveis a superação de dificuldades e sofrimentos no âmbito psicológico”.
Contudo, a referida intervenção vai mais além, posto que também pode ser utilizada
como técnica adjuvante à psicoterapia realizada em consultório particular, visando fortalecer
os recursos psíquicos saudáveis e a resiliência, bem como promover qualidade de vida frente
ao adoecimento (ELIAS, 2019). Segundo a autora, por se tratar de uma psicoterapia breve, a
RIME pode ser aplicada por todos os profissionais da área de saúde, tanto em situação de
cuidados paliativos, como também em situação de possibilidades de cura, promovendo “a
conexão com a sabedoria interna, com o Sagrado, para minimizar angústias, ressignificar a dor
psíquica, a dor espiritual, ou um foco de sofrimento definido pelo paciente” (ELIAS, 2019).
Por outro lado, boa parte dos estudos analisados apontam a necessidade de treinamento
para que os profissionais adquiram competências para lidar com o tema da R/E, uma vez que,
nas palavras de Campos e Ribeiro (2017), “muitos terapeutas não sabem como compreender
seus clientes quando estes trazem suas experiências espirituais, nem reconhecer o sagrado
quando este se manifesta na relação terapêutica”. Esses autores também alertam para o fato de
que psicoterapeutas não treinados podem, inclusive, prejudicar seus clientes na medida em que
deixam de reconhecer a validade de suas vivências espirituais e/ou, de forma antiética, tentam
impor seus próprios valores seculares (CAMPOS; RIBEIRO, 2017).
Raddatz, Motta e Alminhana (2019), por sua vez, assinalam algumas alternativas
propostas por outros autores referindo-se à inclusão da espiritualidade nas discussões
acadêmicas: o oferecimento na matriz curricular de assuntos que reforcem a importância do
tema da R/E na prática profissional, bem como o oferecimento de cursos de extensão e estágios
complementares previstos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Superior, e
a possibilidade de um diálogo transversal quanto à importância do tema R/E na educação.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Paulino (2019), esse receio é gerado pela interpretação equivocada do código
de ética, o que reforça a necessidade de haver formação/treino dos profissionais de psicologia
O estudo acima referido ressalta ainda a importância de se ter em mente que todo
relacionamento terapêutico é uma experiência transcultural; sendo assim, as crenças religiosas
ou antirreligiosas dos profissionais podem interferir no encontro clínico com os pacientes, bem
como afetar o processo terapêutico. Em suas palavras de alerta, “há importância também no
debate para a prática clínica tendo em vista que o fosso entre R/E e psicoterapia ainda é grande
e contribui para que muitos não busquem auxílio na terapia acreditando que não terão o respeito
e a inclusão dessa dimensão”. Na tese da referida autora, foi constatado um fato interessante:
que 63,7% dos profissionais têm interesse em receber treinamento sobre R/E no curso de
Psicologia e 68% gostariam de se aperfeiçoar no tema concernente à correlação entre saúde,
psicologia e R/E. Contraditoriamente, percebe-se uma “carência na oferta de disciplinas ligadas
ao tema durante a formação do psicólogo: apenas 13% das Instituições de Ensino Superior
públicas e 16% das instituições privadas incluem a temática em seus currículos na graduação
de Psicologia”. E mais, essa lacuna nos currículos brasileiros de psicologia significa uma
indiferença quanto ao tema da R/E, decorrente de uma perspectiva que “ainda não compreendeu
que a ciência e a religião não precisam ser vistas em conflito” (PAULINO, 2019).
Assim, mais do que a busca por intervenções e protocolos, deve-se promover uma escuta
aberta para questões envolvendo a R/E, de modo que as ferramentas descritas nessa categoria
possam ser facilitadoras do processo, e não mecanismos diagnósticos ou que ofereçam um
Em outro estudo, a mesma dupla de autores sinaliza ser recomendado que o psicólogo
também saiba reconhecer a sua própria R/E, não negligenciando tal dimensão em si mesmo,
bem como afirmam que a discussão desse tema no campo acadêmico permitiria melhor reflexão
acerca do modelo biomédico seguido pela ciência psicológica, “onde a busca por evidências e
um ‘enquadramento’ do que é saudável ou doente desconsideram, por vezes, o saber tradicional
e cultural por trás das religiões, negligenciando a possibilidade de serem saberes distintos, mas
que falam sobre a mesma condição humana”. Além do que, permitiria, igualmente, “criar um
clima de tolerância e de respeito pelas diferenças, o que também ajudaria a combater
preconceitos” (CUNHA; SCORSOLINI-COMIN, 2019b).
Por sua vez, Marques e Goto (2021) sinalizam a necessidade da adoção de um novo
paradigma na atuação dos profissionais de saúde, cujas práticas ainda estão atreladas ao
paradigma tradicional biomédico da saúde ou, quando muito, ao paradigma biopsicossocial,
que vem possibilitando estratégias e recursos terapêuticos mais integrativos quanto à R/E.
Todavia, segundo os referidos autores, na perspectiva biopsicossocial a dimensão
religiosa/espiritual é considerada apenas um aspecto social ou psíquico e não uma esfera
própria; razão pela qual o manejo da R/E que vem ocorrendo ultimamente ampara-se no
chamado “paradigma emergente”, pelo qual o ser humano é entendido como ser complexo,
intersubjetivo, imprevisível e integral. Assim, essa nova perspectiva vai além da biopsicossocial
por levar em conta a complexidade do ser humano (MARQUES; GOTO, 2021). Em outras
palavras, essa nova premissa ou visão de mundo advém do paradigma da ciência contemporânea
emergente que, de acordo com Vasconcellos (2020), trata-se de um pensamento sistêmico e se
constitui de três novos pressupostos epistemológicos que vêm sendo adotados conjuntamente
pelo cientista/profissional: a crença na complexidade, em todos os níveis da natureza; a crença
na instabilidade do mundo, em processo de tornar-se; e a crença na intersubjetividade, como
condição de construção do conhecimento do mundo. Portanto, a psicologia enquanto campo
eminentemente científico precisa atualizar seus pressupostos, incorporando essa nova visão de
mundo que começa a ser vislumbrada pela ciência contemporânea; incluindo-se, aí, a integração
da dimensão religiosa/espiritual na prática clínica psicológica, ao buscar entender o ser humano
em sua complexidade.
Por fim, outro fator de dificuldade no manejo da R/E, conforme apontado em quase
REFERÊNCIAS
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/portal/resource/pt/lil-544002. Acessado em: Mar. 2022.
RESUMO
Os comportamentos antissociais em jovens e adolescentes têm sido motivo de crescente preocupação e debate na
sociedade atual. O presente capítulo objetivou a priori exprimir algumas especificidades do comportamento
antissocial na adolescência e discutir concepções teóricas que contribuem com a complexidade e prevalência desse
quadro na sociedade. Espera-se que o capítulo contribua com a literatura e que possa trazer uma contribuição para
os interessados que pretendam compreender o fenómeno antissocial na fase da adolescência no âmbito psicológico.
1. INTRODUÇÃO
2. DEFINIÇÕES
3. TEORIAS CLÁSSICAS
Nesse ínterim, a teoria da associação diferencial nos diz que o crime não é hereditário
ou um comportamento emitido de forma irracional, mas sim uma atitude aprendida. Outrossim,
Lima et al. (2017) salientam que, consoante o autor da teoria, o processo de aquisição dos
comportamentos criminosos abarcam todas as estruturas implicadas em qualquer outro
aprendizado.
Formulada por Albert Bandura (1925-2021), a teoria da aprendizagem social propõe que
os jovens adquirem comportamentos antissociais através da observação e imitação dos
comportamentos daqueles que fazem parte do seu ciclo social, como pais e amigos. Desse
modo, o adolescente que convive em um ambiente com pessoas que possuem comportamentos
agressivos de forma contínua será propenso a replicar comportamentos antissociais, conforme
aponta Vieira (2007).
Além disso, fatores como o sexo e os papéis ocupados pelo modelo observado surgem
como importantes no processo de aprendizagem, pois Vieira (2007) também expõe que crianças
do sexo masculino são reforçadas a ter o comportamento do pai, enquanto as meninas são
reforçadas a fazer o mesmo perante a mãe. Nesse sentido, a criança do sexo masculino tende a
observar e aprender mais comportamentos agressivos emitidos pelo pai, mesmo que a mãe
demonstre as mesmas condutas.
De acordo com Esteves (2014), a teoria da anomia social é uma teoria com fundamentos
sociológicos formulados por Enuke Durkheim (1858-1917) e Robert King Merton (1910-2003).
Esta teoria implica em dizer que a escassez de normas societais consistentes geram
comportamentos antissociais.
Durkheim refere-se a anomia como uma quebra da capacidade de uma sociedade para
regular os impulsos naturais dos indivíduos em face a concepção de objetivos culturalmente
mal concebidos nas rápidas mudanças sociais (COTE, 2002; BERMBURG, 2002, apud
4. TEORIAS DESENVOLVIMENTISTAS
Assim, Esteves (2014) reforça que os três fatores apresentados por Elliot para explicar
a falta de vínculo do sujeito com a sociedade foram: (1) a aflição entre as metas e os meios,
tendo em vista que o êxito acadêmico pode depender de fatores relacionados à oportunidade;
(2) desordem social; (3) pouca fomentação de práticas socializadoras adequadas na família e na
escola, causando pouca abertura para estabelecer vínculos. Além disso, o autor ainda aponta
que para Elliott, a falta de vínculos não é o bastante para justificar o surgimento da conduta
desviante, também enfatizando a influência do contato com grupos desviantes. Desse modo,
um elemento a mais é necessário para que apareça a desvio: o sujeito deve entrar em contato
com grupos desviantes, que reforcem e lhe induzam a realizar condutas problemas
(FERNANDES, 2014).
Proposto por Patterson et al. (1989), o modelo da coerção apresenta uma perspectiva
desenvolvimentista, buscando as raízes do comportamento antissocial nas primeiras etapas da
Desse modo, Esteves (2014) ainda acrescenta que para Patterson et al. (1989) o
comportamento antissocial advém e progride em quatro fases, sendo: (1) ambiente familiar; (2)
ambiente escolar; (3) afiliação com pares desviantes; (4) início da vida adulta. A primeira
envolve atividades parentais inapropriadas na infância, além da falta de normas claras que
reforcem o surgimento e continuidade de bons comportamentos. A segunda sucede da falta de
habilidades socialmente aceitáveis estabelecidas pelo ambiente familiar, de modo que a criança
passa a ter dificuldades para interagir com os colegas, assim como para desenvolver habilidades
acadêmicas. A terceira, por sua vez, decorre do fracasso escolar e da rejeição por parte dos
outros alunos, constituindo o sentimento de desamparo. O quarto e último abarca as fases
anteriores e se relaciona com a dificuldade em se ajustar para a vida adulta, como em relação
ao trabalho e a vida convencional, acarretando comportamentos antissociais e possíveis
envolvimentos com álcool e outras drogas.
5. FATORES CONTEXTUAIS
Por fim, percebe-se que uma análise abrangente do comportamento antissocial deve
considerar além dos traços de personalidade ou da inteligência, fatores contextuais ou
ambientais, comumente estudados pela psicologia ambiental, a exemplo do ambiente físico,
pois são importantes na determinação do comportamento.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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delinquent behaviors: A comparison between young offenders, adolescents at risk of social
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https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2017.01825/full. Acessado em: Abr. 2023.
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environment via mental fatigue. Environmental & Behavior, v. 33, n. 4, pp. 543-571. 2001.
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Journal of Science, v. 71, n. 2, pp. 65-72, 1971. Disponível em:
https://kb.osu.edu/bitstream/handle/1811/5597/1/V71N02_065.pdf. Acessado em: Abr. 2023.
RESUMO
Com o advento das tecnologias, a misoginia online surgiu, em detrimento disso, estudos foram desenvolvidos e
comprovaram o aumento dos casos de violência contra mulheres nas mídias sociais. Tendo isso em vista, podem
ser citadas várias pesquisas realizadas a fim de estudar esse fenômeno. Esses estudos são na área de masculinidade
tóxica, misoginia online, assédio online, revenge porn, gendertrolling e ódio contra a mulher. Essa problemática
é alarmante, pois a misoginia sofrida no mundo offline, também está presente no mundo online, e com isso,
surgiram diversas formas de opressão para a mulher também nas plataformas digitais. Portanto, serão discutidas
as diversas formas de misoginia na internet, como os infratores agem em casos reais, os diversos contextos
relacionados e a luta feminista para a libertação das mulheres.
1. INTRODUÇÃO
Com o avanço das tecnologias, foram criadas novas formas de misoginia, que só foram
possíveis através das novas possibilidades tecnológicas. Para a exemplificação desse fato, é
possível citar a pesquisa de Ging (2017), em seu estudo sobre a Manosfera, constatou que
homens betas autodescritos utilizam discursos misóginos em certos espaços online a fim de
promover que esses espaços continuem sendo masculinos e que a mulher se mantenha fora
desses ambientes virtuais.
2. MISOGINIA ONLINE
Para estudar as realidades virtuais, Espaig (2018) desenvolveu um estudo sobre o “trash
talk”, essa pesquisa foi realizada em uma comunidade de jogos online que incentiva a
desigualdade de gênero. Já o estudo de Semenzin e Bainotti (2020), pesquisou sobre a
divulgação de imagens íntimas de mulheres de forma não consensual em grupos de Telegram.
Além desses, também pode ser relatado os estudos de Ging (2017); Hess e Flores (2016) sobre
“Cum tribute”, que é a ejaculação na imagem da pessoa, em telas de smartphones ou fotos.
Diante desse cenário preocupante, é crescente o número de casos envolvendo a misoginia no
contexto online, sendo o Brasil um dos países mais desiguais do mundo em relação a gênero,
segundo o relatório de 2010 da ONU.
É visto que, mulheres e meninas que expõem suas opiniões publicamente online
enfrentam abusos, em detrimento da discriminação sexual e de gênero presente amplamente no
mundo offline e se mostra também no contexto online, conforme exposto no site Medium
(2018). Esse ódio contra mulheres pode gerar consequências negativas e esses impactos foram
investigados, a fim de analisar o que a misoginia online acarretou às mulheres que sofreram
com esse tipo de violência.
Pois, segundo uma pesquisa realizada pela Anistia Internacional (2017), cerca de 76%
das mulheres participantes disseram já ter sofrido algum tipo de abuso ou de assédio no meio
digital e que isso as levaram a mudar o modo de usar as plataformas midiáticas, como
restringindo publicações. Além disso, 61% das mulheres que sofreram os efeitos da misoginia
online disseram ter apresentado sintomas de baixa autoestima e perda da autoconfiança como
consequência da violência sofrida.
Tendo isso em vista, é notável que o espaço online tem se tornado cada vez mais
heteronormativo e hegemonicamente masculino, de acordo com Drakett et al. (2018). Se
tornando um espaço em que a masculinidade tóxica vem crescendo segundo Han (2018), pois
são vistos, de modo recorrente tweets que culpam e envergonham mulheres que sofreram
estupros, dos quais possuem mais retuítes do que aqueles que defendem essas sobreviventes de
violência sexual. (STUBBS-RICHARDSON et al., 2018).
3. ASSÉDIO ONLINE
O assédio online ocorre diariamente, podendo ser observado que o ódio cibernético de
gênero aumentou de forma muito acentuada desde 2011 (JANE, 2016). Existem evidências em
relação ao discurso de ódio nocivo, o qual envolve comunidades cada vez mais amplas,
acarretando o assédio de gênero cada vez maior do que quando comparado a literatura
acadêmica anterior (HERRING, 2002). O estudo da Pew Research Center (2017) encontrou
evidências de que 21% das mulheres que participaram do estudo, relataram já ter sofrido
violência sexual online, representando o dobro quando comparado aos homens participantes
desse mesmo estudo.
Além disso, outros dados apontam que 45% dos assédios de gênero, ocorrem
virtualmente (DIREITO DAS MULHERES, 2021), dos quais, estão fundamentados na
realidade offline, em que nas experiências próprias do cotidiano, as mulheres sofrem com o
sexismo advindo de uma sociedade patriarcal (MEGARRY, 2014).
Os tipos de assédio no mundo virtual são diversos, como por exemplo, os agressores
fazem xingamentos a aparência da mulher e a sua inteligência, como também, as ameaçam de
morte (CHEN et al., 2020). Além disso, já foram relatados diversos casos de assédio em
aplicativos de relacionamento ou sites de namoro (THOMPSON, 2018), e abusos sexuais
através de imagens (UHL et al., 2018).
Sendo então, a luta pela igualdade e liberdade (GOHN, 2013) as principais pautas do
movimento feminista, tendo em vista que “O feminismo se tornou a palavra (e o estandarte)
comum contra todas as causas de opressão feminina e a qual cada mulher, ou categoria
feminina, vincularia seus temas e reinvindicações” (CASTELLS, 2001).
5. CONLUSÃO
REFERÊNCIAS
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RESUMO
Esse trabalho trata sobre reflexões acerca da pesquisa qualitativa em psicologia, a qual discute significados,
crenças, atitudes e subjetividades, a fim de estudar os fenômenos sociais. Para esse tipo de pesquisa, existem
diversas técnicas utilizadas nas ciências sociais, mas serão discutidas nesse momento apenas a análise de conteúdo,
a entrevista semiestruturada, o grupo focal, a observação participante e, por fim, a pesquisa intervenção.
1. INTRODUÇÃO
[...] não procura enumerar e/ou medir os eventos estudados, nem emprega
instrumental estatístico na análise dos dados. Parte de questões ou focos de interesses
amplos, que vão se definindo a medida que o estudo se desenvolve. Envolve a
obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo
contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os
fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação
em estudo (GODOY, 1995, p. 58).
Tendo isso em vista, é compreendido o caráter discursivo e polissêmico (TAQUETTE;
MINAYO, 2016) da pesquisa qualitativa, a qual possui um abrangente escopo, que são
estudados pela literatura especializada (BICUDO; COSTA, 201; PATTON, 1990; LINCOLN;
GUBA, 1985). Tendo nesse tipo de pesquisa, diferentes perspectivas, modalidades, desenhos,
técnicas, abordagens, investigações, compreensões e etc (GONZÁLEZ, 2020). Portanto, a fim
de explorar e refletir sobre a temática, serão apresentados alguns dos métodos da pesquisa
qualitativa utilizados em psicologia.
2. ANÁLISE DE CONTEÚDO
É visto que, o método da análise de conteúdo surgiu das tentativas de analisar a bíblia
sagrada, e depois foi usado com outros intuitos, aplicado a psicologia clínica e a psicanálise,
por exemplo. O método de análise de conteúdo pode ser realizado tanto na pesquisa quantitativa
quanto na qualitativa, entretanto, com diferentes aplicações. Além disso, pode ser utilizada na
Sendo então, a análise de conteúdo uma metodologia de análise de dados que atua na
exploração de mensagens e informações, em trabalhos de natureza fenomenológica, dialética,
etnográfica, entre outras (MORAES, 1999). A qual tem como principais técnicas a análise
categorial; análise do discurso; análise de avaliação; análise de anunciação análise de expressão
e, por fim, a análise das relações (BARDIN, 1977).
3. A ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
Por fim, compreende-se a existência de vários tipos de perguntas que o pesquisador pode
fazer, se ele for da linha fenomenológica deve buscar descobrir os significados dos
comportamentos das pessoas, já a sócio-histórica está em busca de saber as razões do fenômeno
social, o método dialético realiza análise aprofundada dos fenômenos sociais.
4. GRUPO FOCAL
Essa técnica foi introduzida em 1940 e é trabalhada em várias áreas, como: pesquisas
sociais, marketing, propaganda, comunicação (STEWART; SHAMDASANI, 1990). O baixo
custo da utilização dessa técnica, aliada ao alto nível de dados confiáveis, fez com ela fosse
amplamente utilizada nas pesquisas de marketing (SILVA; TRAD, 2005), e também para os
campos da pesquisa social.
Por fim, podem ser realizadas análises dos núcleos de significação, em que é aberto um
espaço de diálogo para expressar sentimentos, experiências, valores, afetividade e reflexões
articulando a cognição e emoção. Buscando compreender, de acordo com a teoria Vygotskiana,
o percurso de vida e seu desenvolvimento pessoal e profissional, reconhecendo suas bases
afetivo-volitiva.
5. OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
A observação participante é uma técnica que vai muito além do descrever, é a busca
minuciosa sobre o fenômeno como o seu todo (RICHARDSON et al., 2012) procurando
explicar, identificar o sentido e a dinâmica do que se está observando, em busca de compreender
as pessoas e suas atividades na realidade da ação, onde o investigador tem contato direto com
os observados e recolhe os dados de forma sistemática, a qual passa por processos de validação
e controle.
Já para Lapassade (1991), existem três tipos de observação participante, sendo elas:
observação participante periférica: o qual o observador apresenta certa implicação no grupo; a
observação com participação ativa, em que o observador participa das atividades; e por fim, a
observação participante total, que possui indicação de estudos etnometodológicos.
Por fim, é compreendido que para a realização do estudo é utilizado o caderno de campo
para fazer as notas, tendo como foco os objetivos, para evitar a dispersão, além de tempo de
duração de atividades flexível. Tendo isso em vista, é acentuada a grande importância da
realização de notas de modo sistemático, para conseguir refletir posteriormente sobre a
experiência a que foi observada.
6. PESQUISA-INTERVENÇÃO
Tendo como alvo desordens para então realizar análises visando otimizar recursos e
relações, tendo como objetivo também a mudança da ordem social com a articulação da teoria
e da prática para promover transformações sociais e políticas, se preocupando com o coletivo.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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N. (Org.). Qualitative research in health care. London: BMJ Books, 2000.
LINCOLN, Y. S.; GUBA, E. G. Naturalistic inquiry. Beverly Hills: Sage Publications, 1985.
MCGRATH, C.; PALMGREN, P. J.; LILJEDAHL, M. Twelve tips for conducting qualitative
research interviews. Medical Teacher, 9, set. 2019. Disponível em:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30261797/. Acessado em: Abr. 2023.
TANAKA, O.; MELO, C. Reflexões sobre a avaliação em serviços de saúde e a adoção das
abordagens qualitativa e quantitativa. In: BOSI, M. L. M.; MERCADO, F. J. (Org.). Pesquisa
qualitativa de serviços de saúde. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 121-136.
CAPÍTULO 10
A PRÁTICA DA TENDÊNCIA ATUALIZANTE PELAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA NO ENFRETAMENTO DOS DESAFIOS PARA A PERMANÊNCIA
NO ENSINO SUPERIOR
RESUMO
As pessoas com deficiência tiveram seu direito de acesso ao ensino superior e técnico de nível médio, no Brasil,
com o advento da Lei n. 13.409/2016, que incluiu estes cidadãos no rol dos tutelados pelo sistema de cotas. No
entanto, muitos são os desafios que as pessoas com deficiência enfrentam para permanecer no ensino superior.
Este estudo objetivou discutir a percepção que os discentes com deficiência dos cursos de graduação do Centro de
Ciências Jurídicas e Sociais (CCJS) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), possuem desses
desafios e quais as estratégias de enfrentamento são criadas por eles O marco teórico utilizado foi a Abordagem
Centrada na Pessoa, de Carl R. Rogers, especificamente, discutindo-se o conceito de tendência atualizante. A
pesquisa teve caráter básico, de abordagem qualitativa e descritiva, tendo como amostra, sete pessoas com
deficiência, entre 18 e 53 anos, sendo quatro do sexo feminino e três do sexo masculino. Seis dos participantes
ingressaram na universidade por meio do sistema de cotas para pessoas com deficiência; dois possuem deficiência
visual, um possui deficiência auditiva e quatro possuem deficiência física. Para coleta de dados, aplicou-se uma
entrevista semiestruturada. Os dados coletados foram submetidos a uma análise de dados qualitativa, por meio da
análise de conteúdo de Bardin (2016). Os principais desafios identificados foram: as dificuldades financeiras,
demonstrando que a pobreza e a deficiência são marcas de uma sociedade desigual; problemas de infraestrutura
da instituição e na falta de estratégias pedagógicas adequadas por parte dos docentes; falta de abertura no meio
acadêmico para acolher e conviver com a diversidade que gera o preconceito e a exclusão; dentre outras. Como
estratégias de enfrentamento identificou-se a tendência atualizante, um fator protetivo (religiosidade) e a presença
de grupos de apoio (família, amigos), embora os participantes não os identifiquem como tal porque a visão é que
um grupo de apoio é algo institucional e, neste sentido, os participantes pouco conseguem identificar a sua
existência, no âmbito acadêmico.
1. INTRODUÇÃO
A educação exclusiva entende que as pessoas com deficiência devem todas estudar nos
mesmos locais, adaptados a promover sua aprendizagem de forma especializada. Assim, por
exemplo, pessoas dom deficiência visual devem todas serem reunidas num mesmo instituto
especializado em educá-las, como nos chamados Institutos de Cegos (SOUSA, 2013).
O art. 6.º da CRFB/88, formalizou o direito a educação como direito social de todos os
cidadãos brasileiros, independente, de seu nível econômico, crenças, identidades culturais ou
deficiências. A CRFB/88 ainda diz que é dever do Estado garantir a educação inclusiva a todos
que dela precisem (art. 208, III). Este direito também é garantido pela Lei de Diretrizes e Bases
da Educação, Lei n. 9394/1996 (art. 58, 59 e 60).
No Brasil, está em vigor a Lei n. 12.711, de 29 de agosto de 2012, que estabeleceu regras
para o que se conhece por “sistema de quotas” para o ensino superior, apresentando os critérios
de acesso, nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível
médio, para grupos vulneráveis socialmente. A princípio, esta ação afirmativa estatal abrangia
apenas pessoas oriundas de escolas públicas, de baixa renda, negros, pardos e indígenas.
No entanto, a ideia aqui não é discorrer sobre esta constatação, mas sobre a permanência
das pessoas com deficiência dentro das universidades do país, considerando as estratégias de
enfretamento dos inúmeros desafios encontrados por estas pessoas ao cursarem o ensino
superior. Desafios que vão desde uma infraestrutura e currículos inadequados até a realidade da
reprodução da segregação social no meio universitário.
Dessa forma, se propõe aqui uma reflexão sobre a questão da inclusão social das pessoas
com deficiência no ensino superior, a partir dos conhecimentos da Abordagem Centrada na
Pessoa (ACP) desenvolvida por Carl Rogers, com foco no conceito de tendência atualizante,
como elemento de contribuição para o enfrentamento dos desafios, por parte das pessoas com
deficiências.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
A abordagem centrada na pessoa (ACP) foi concebida por Carl Rogers, como fruto de
sua atuação profissional. Pertence as teorias de base existencial humanista e fenomenológica,
assim como a Gestal-Terapia, de Fritz Perls e a Logoterapia, de Viktor Frankl. Rogers
desenvolve o seu pensamento a partir de duas tendências: a tendência a realização, que seria
característica da vida orgânica e a tendência formativa, própria do universo.
Podemos dizer que em cada organismo, não importa em que nível, há um fluxo
subjacente de movimento em direção à realização construtiva das
possibilidades que lhe são inerentes. Há também nos seres humanos uma
tendência natural a um desenvolvimento mais completo e mais complexo. [...]
A tendência realizadora pode, evidentemente, ser frustrada ou desvirtuada, mas
não pode ser destruída, sem que se destrua também o organismo (ROGERS,
2009, p. 40).
Já a tendência formativa não seria algo de cada organismo, mas no próprio Universo.
Para Rogers (2009), o Universo não estaria tendendo para o caos, a desordem e a destruição,
no que comumente se chamada de entropia. Ao contrário, o universo teria uma tendência
constantemente atuante em direção a uma ordem crescente e a uma complexidade
interrelacionada, visível tanto no nível orgânico como no inorgânico. Esta também poderia ser
chamada de sintropia (ROGERS, 2009).
Dessa forma, é fácil perceber que a ACP possui uma imagem positiva do ser humano.
O homem não é um indivíduo doente, patológico, mas alguém, essencialmente bom. O objetivo
da psicoterapia é potencializar o que o indivíduo possui de bom. Portanto, não se demora nas
imperfeições do homem, mas em suas virtudes e capacidades.
Rogers (1983) apresenta a necessidade da formação para que o indivíduo possa viver
em harmonia e congruência consigo mesmo. Para tanto, seria necessária, entre outros fatores, a
tendência realizadora.
Lima, Barbosa e Peixoto (2018) escrevem que o modelo autoiniciado, caracterizado pela
aprendizagem de forma significante e centrada na pessoa, permite que todo e qualquer
indivíduo, independentemente de suas limitações, sejam biológicas ou cognitivas, se adapte às
modificações próprias da vida, de forma contínua, pois a vida é feita de mudanças, o que hoje
é estabelecido como certo, pode mudar amanhã. Onde existir um ser fenomenológico, haverá
mudanças. Não existem seres estáticos.
Zimring (2010) afirma que Rogers sugere, a partir de seu conceito de “não-diretividade”
e de sua experiência clínica, que os docentes deveriam ter posturas similares a um terapeuta no
trato com seus discentes, fazendo uso das atitudes facilitadoras (a autenticidade, a empatia e a
aceitação incondicional). Assim, o professor acolheria e compreenderia seu aluno, oferecendo
estima e presença nas experiências de novas descobertas, o que consolidaria uma aprendizagem
verdadeira. Para tanto, o professor deveria trabalhar a autenticidade, a empatia e a aceitação
incondicional em si mesmo, para adquirir uma atitude humanizada. Percebe-se o quanto essa
concepção é necessária à educação inclusiva.
O próprio Rogers (1983, p. 38) deixa claro que “se as pessoas são aceitas e consideradas,
elas tendem a desenvolver uma atitude de maior consideração em relação a si mesmas.”
Souza, Lopes e Silva (2013) afirmam que Rogers entende que o ato de aprender é
peculiar, individual, singular, de modo que a vivência subjetiva precisa ser considerada. O
discente assimila apenas o que lhe convém, o que relaciona ao seu contexto e dá importância.
O docente precisaria aceitar incondicionalmente o discente, em seus medos, hesitações e ritmo
de aprendizagem.
Ainda prelecionam Lima, Barbosa e Peixoto (2018) que Rogers dá ênfase a inclusão
como um processo, que conjectura uma evolução permanente, antecipando a concepção do “eu”
do indivíduo estabelecido neste processo. As pessoas se constituem, no cotidiano, por meio das
interações que estabelecem, conforme se tornam um “outro” para algum sujeito, perfazendo um
entrelaçado de “eus”. Ou seja, o “eu” (componente individual) articula-se com o “outro”,
formando conexões. Quanto mais entrelaçado com diversas pessoas, mais os indivíduos
evoluem, por meio da interação social.
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
Para corroborar a hipótese de que a tendência atualizante pode de Rogers pode colaborar
para que as pessoas com deficiência desenvolvam estratégias de enfrentamento aos desafios
para a sua permanência no ensino superior, aplicou-se uma pesquisa com discentes do Curso
de Bacharelado em Direito do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais (CCJS) da Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG).
Seis dos participantes ingressaram na universidade por meio do sistema de cotas para
pessoas com deficiência; dois possuem deficiência visual, um possui deficiência auditiva e
quatro possuem deficiência física. Para coleta de dados, utilizou-se uma entrevista
semiestruturada composta por quatro questões: uma perguntou se a pessoa identificava algum
desafio à sua permanência no seu curso e ter uma boa aprendizagem; outra sobre que
dificuldades eram percebidas pelas pessoas com deficiência no seu curso e para a sua
aprendizagem; outra sobre como elas enfrentam essas dificuldades e a última, se a pessoa
conhecia alguma rede apoio diante do enfrentamento desses desafios percebidos.
Os dados coletados foram submetidos a uma análise de dados qualitativa, por meio da
análise de conteúdo de Bardin (2016). Entre os objetivos da pesquisa, estava compreender se,
na fala das pessoas com deficiência, há elementos do conceito rogeriano de tendência
atualizante, na criação de estratégias de enfrentamento para sua permanência no ensino
superior.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 A percepção das pessoas com deficiência quanto aos desafios que enfrentam no ensino
superior
Barros, Silva e Costa (2015) escrevem que embora já se tenha um efetivo jurídico-
institucional de políticas alinhadas com as propostas e objetivos defendidos pela educação
inclusiva, existe uma distância razoável entre as ações político-jurídicas e o a realidade nos
ambientes escolares. As autoras apontam que não se podia ter outro resultado que essa
discrepância, visto que estes postulados oficiais são oriundos de um mundo globalizado e
neoliberal e que, no fim, a educação inclusiva pode estar, na verdade, restringindo a efetividade
da inclusão.
A fala deixa nítido que tanto os problemas estruturais como a “falta de atenção” de
alguns professores têm gerado um sentimento de desestímulo ao participante, inclusive,
sentindo-se excluído por causa de sua deficiência. Ou seja, a falta de abertura no meio social
para acolher e conviver com a diversidade, gera o preconceito e a exclusão.
A maior dificuldade são as provas, pois na maioria das vezes os professores elaboram
provas com letras muito pequenas para haver economia de papel. E isso me causa
muita dificuldade no momento de ler a prova com nitidez, causando assim prejuízo
no meu desempenho no momento da avaliação. O ideal é que houvesse prova
ampliada. Tenho dúvidas se os professores sabem da existência de alunos portadores
de necessidades especiais no campus. Acredito que não (Entrevistado 5, 2020,
informação verbal concedida em 19/04/2020).
Também foram apresentadas dificuldades que não dizem respeito a questões ligadas à
deficiência, mas que são preocupações do cotidiano de uma instituição de ensino superior,
como: métodos pedagógicos de alguns professores, número elevado de alunos nas salas, pouco
acesso à extensão e à pesquisa, pouco material disponível e, muitas vezes desatualizado, para
as demandas do Curso de Direito.
O discente não quis aprofundar sobre o que lhe causava este desconforto emocional, se
era vítima de preconceito, por exemplo. Dois participantes colocaram situações que enfrentam
em suas famílias. Já o Entrevistado 4 (2020) revelou um sentimento de inferioridade com
relação aos seus colegas de turma, ao passo que, trouxe o elemento das ausências em sala por
conta do acompanhamento médico que realiza diante da sua deficiência. Ela respondeu (2020):
O sistema de cotas é uma oportunidade única de acesso ao ensino superior mas uma
grande parte dessas pessoas que entram por meio dela não tem uma preparação
adequada para acompanhar o intelecto de outros colegas. No meu caso, a minha
deficiência acabou interferindo bastante no âmbito acadêmico devido as inúmeras
vezes que faltei nas instituições de ensino para fazer o tratamento dela (Entrevistado
4, 2020, informação verbal concedida em 19/04/2020).
Nota-se, portanto, que há uma grande diversidade de dificuldades percebidas, seja no
âmbito acadêmico, social, familiar ou subjetivo, desde desafios de estrutura da instituição à
problemas quanto as posturas docentes. Esse fato demonstra que a permanência das pessoas
4.2 As estratégias de enfrentamento aos desafios utilizadas pelas pessoas com deficiência
Santana (2013) cita que diversas sociedades possuem como padrão cultural a construção
de que somente uma pessoa que tenha plena atividade de suas funções atinge suas atribuições
sociais. No entanto, defende que essa condição cultural não pode impedir que o indivíduo se
torne agente ativo e transformador de sua própria vida. Destaca, ainda, que Rogers fazia
referência ao ser humano como agente transformador e ativo de sua vida.
Passa-se a apresentar as respostas dos participantes, para que melhor se visualize o que
se discorreu até agora sobre a tendência atualizante no enfrentamento dos desafios. Assim
respondeu o Entrevistado 1 (2020, informação verbal concedida em 12/04/2020): “Fé em Deus.
Também tenho muita vontade de vencer na vida. Sempre com muita humildade e respeito vou
procurar conversar com aqueles (as) que possa melhorar essa situação. E se precisar usarei a lei
ao meu favor.”
Urbano e Machado (2018) afirmam que a tendência atualizante permite que o ser
humano desenvolva suas potencialidades a partir de suas necessidades reais e assim, possa fazer
suas escolhas, crescendo e se desenvolvendo. E que o faz sem que tenha que abdicar do que
considera enriquecedor para si. É o que se pode observar nas falas dos entrevistados 1 (2020) e
2 (2020) citadas nos parágrafos anteriores.
Pode-se perceber, na fala acima, o que Justo apud Urbano e Machado (2018) traz sobre
a tendência atualizante. O ser humano, em sua totalidade, apresenta “uma tendência essencial
a adaptar-se, situar-se e ampliar-se a novas necessidades, de modo a propiciar o seu
crescimento. A Tendência à Atualização conduz o ser humano a fortificar-se quanto a sua
autonomia” (URBANO; MACHADO, 20018, p. 5). As ações humanas serão vistas como
necessidades em acrescer, independentemente da reação, pois todo indivíduo possuiria a
realização de seus potenciais como algo necessário (JUSTO, 1987, apud URBANO;
MACHADO, 2018).
Primeiramente, pelo fato de querer muito e por ter sido uma coisa que sempre esteve
incluído em meus sonhos e planos, conquistar não fácil, então não é agora que vou
desistir, segundo também por minha família, que junto comigo estão fazendo o
possível para que mais essa conquista seja realizada. Com fé e determinação, Deus
vai me ajudar a chegar lá! (Entrevistado 3, 2020, informação verbal concedida em
12/04/2020, grifo nosso).
O Entrevistado 6 (2020, informação verbal concedida em 20/04/2020) cita seu esposo e
suas colegas de classe como apoio social para enfrentar as adversidades que encontra no curso:
“Procuro estudar e resolver as questões de acordo com minha limitação. E quando há realização
de outra atividade, peço auxílio do meu esposo que também estuda na mesma sala que eu, ou
então das minhas amigas.”
Chamou atenção, o fato de que a maior parte dos participantes não conhecem ou
afirmam não existir nenhum apoio social. Três (42,8%) dizem não saber informar se existe
alguma rede de apoio e dois (28,6%) afirmam não existir nenhuma rede. O entrevistado 6 (2020,
informação verbal concedida em 20/04/2020) ainda lamenta as poucas bolsas que a
universidade disponibiliza e que “a burocracia é tão grande, que infelizmente desmotiva a
pessoa a buscar.”
Por fim, o único participante a citar o Serviço de Psicologia oferecido pelo Programa de
Atendimento ao Estudante (PAE), no caso, o Entrevistado 2 (2020), não o faz com segurança e
confessa que ainda não buscou essa ajuda:
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa pretendeu discutir a percepção dos desafios que as pessoas com
deficiência vivenciam para permanecer no ensino superior e suas estratégias de enfrentamento,
especialmente, depois que este direito lhes foi assegurado com a Lei n. 13.409, de 28 de
dezembro de 2016, que alterou a Lei n. 12.711, de 29 de agosto de 2012, incluindo as pessoas
com deficiência no rol de beneficiados pelo sistema de quotas do ensino superior, seja em
universidades federais, seja nas instituições federais de ensino técnico de nível médio.
Dessa forma, a pesquisa propôs uma reflexão sobre a questão da inclusão social das
pessoas com deficiência no ensino superior, a partir dos conhecimentos da Psicologia,
especificamente da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) desenvolvida por Carl Rogers. A
pesquisa sugeriu que os alunos com deficiência se utilizam tendência atualizante, como um
possível elemento de contribuição para o enfrentamento dos desafios. Além disso, a pesquisa
identificou a importância dos grupos de apoio social neste enfrentamento, notadamente, da
família, dos amigos e dos grupos religiosos.
O objetivo geral foi alcançado, visto que se identificou os principais desafios percebidos
pelas pessoas com deficiência que são alunas dos cursos de graduação do CCJS/UFCG e suas
formas de enfrentamento. Uma diversidade de desafios foram apontadas: as dificuldades
financeiras, que demonstram que a pobreza e a deficiência são marcas de uma sociedade
desigual; problemas de infraestrutura da instituição e na falta de estratégias pedagógicas
adequadas por parte dos docentes; falta de abertura no meio acadêmico para acolher e conviver
com a diversidade que gera o preconceito e a exclusão; problemas com os instrumentos
avaliativos que careciam de adaptações às necessidades educacionais das pessoas com
deficiência; dificuldades de locomoção, por parte dos que moram em outros municípios,
A Psicologia precisa, cada vez mais, discutir e pautar temas de relevo social, como os
direitos das pessoas com deficiência, cumprindo um importante papel na sociedade,
contribuindo como ciência e profissão, como se esboçou, nesta pesquisa.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades
federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm>.
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Bizzotto. 2. ed. Interlivros: Belo Horizonte, 1977.
ROGERS, C. R. Um jeito de ser. Trad. Maria Cristina Machado Kupfer, Heloísa Lebrão, Yone
Souza Patto. 1. ed. Editora Pedagógica Universitária: São Paulo, 1983.
ZIMRING, F. Carl Rogers. Tradução e organização: Marco Antonio Lorieri. Recife: Fundação
Joaquim Nabuco; Massangana, 2010.
ENTREVISTA CONCEDIDA
RESUMO
O objetivo do presente trabalho foi analisar a atividade trabalhista de uma profissional da área de saúde, visando
compreender os aspectos relacionados ao sentido e significado do trabalho que exercem forças significativas na
realização do trabalho e da profissão como um todo. Para tanto, o instrumento utilizado foi uma entrevista
semiestruturada com um total de oito perguntas abertas sobre a atividade de trabalho. A participante entrevistada
foi uma tecnóloga em radiologia. A análise mostrou que a profissional considera que o trabalho é algo vital para o
ser humano e que é preciso possuir um sentido e um significado para que este trabalho seja gratificante. Pode-se
concluir com o presente trabalho, portanto, que a entrevistada é uma pessoa realizada em sua vida profissional, a
qual ela atribui sentidos e significados, buscando-se aprimorar cada vez mais em sua área.
1. INTRODUÇÃO
O trabalho exerce muita influência na vida humana, dessa forma, deve ser considerado
dentro de sua característica de produção e reprodução social, sua natureza e sua relação de
sentido e significado para o ser humano que fundamentam sua relação com a profissão que
realiza (BERNARDO et al., 2017).
O trabalho pode ser visto e sentido em perspectivas distintas, o qual pode estar associado
a significados de tortura e sofrimento mencionados anteriormente. No entanto, a capacidade de
transformar a natureza também é geradora de significados (CODO, 1997) como justiça,
possibilidade de segurança e de autonomia, de autodesenvolvimento, de relacionamentos
satisfatórios, dentre muitos outros (MORIN, 2001). Ao serem atribuídos significados e sentido
positivos ao trabalho, certamente, sucede-se as tentativas gerencialistas de “motivar” os
trabalhadores.
Codo (1997, p. 26) faz menção que o trabalho pressupõe “[...] uma relação de dupla
transformação entre o homem e a natureza, geradora de significado”. É por meio do trabalho
que o ato de dar significado à natureza se concretiza; de mesmo modo a relação sujeito-objeto
é mediada pelo significado.
O valor traz como enfoque a satisfação, aquilo o qual se é atribuído algo, e essa relação
de satisfação do trabalho e desempenho estão relacionadas não só ao contexto pecuniário, mas
também aos processos motivacionais entre indivíduo e objeto, visto também por Vroom (1964),
principal expoente da Teoria da Expectância, o processo motivacional é desenvolvido conforme
as percepções que o indivíduo tem da relação entre os esforços que conscientemente estima que
deve realizar para alcançar um determinado objetivo, ou meta, e o valor que lhes atribui.
A motivação tem relação com o sentido de ser, alguns autores trazem o enfoque da
importância desse sentindo, dessa satisfação para que se possa exercer suas atividades e a
influência desse sentido fora do contexto trabalho, como relata Antunes (2000) destaca a relação
entre sentido e trabalho na atual realidade social em uma perspectiva sociológica, para que
exista uma vida cheia de sentido fora do trabalho, é necessária uma vida dotada de sentido
dentro do trabalho, levando em consideração o fato de que além de fonte de sustento, é fonte
de interação e contato social e dá a sensação de se possuir um objetivo (MORIN 1996, 2001).
O trabalho não é apenas visto como algo individual, de forma que ele alcança outras
perspectivas, como meio social, família, e traz um impacto ao alcance social. Para Dejours
(1987), o trabalho precisa fazer sentido para o próprio sujeito, para seus pares e para a
sociedade. O sentido do trabalho é formado por dois componentes: o conteúdo significativo em
relação ao sujeito e o conteúdo significativo em relação ao objeto.
O profissional que entende aquilo que faz, que encontra o sentindo na produção entende
a relação de fazer para transformar, e o contexto do impacto não só no individual, mas o meio
ao qual convive, a análise do trabalho visa sempre, de qualquer modo, compreender para
transformar (SANTOS, 2006).
O trabalho para a entrevistada significa ser algo vital à vida do indivíduo, acrescentando
a este termo, que toda atividade, seja esta remunerada ou não, é considerada trabalho. De acordo
com Neves et al. (2017) este tem relação com a perspectiva histórica, com o desenvolvimento
de como ocorre as relações de trabalho e a organização da sociedade, englobando diversos
sentidos que influenciam formação da identidade e dos papéis executados pelo homem no meio
o qual está inserido. Portanto, definir o que é trabalhar é uma tarefa complexa, que possui muitas
faces, e que necessita de diferentes concepções para seja compreendido.
Assim, como é de grande importância, para a profissional exercer o trabalho, essa atribui
a uma pessoa que não desempenha atividades no decorrer do dia, uma função vegetativa, não
fazendo nada.
Ainda, de acordo com Souza, Carrieri e Pinheiro (2009), essa relevância da inovação
do conhecimento ocorre pelas modificações nas relações de trabalho, o mercado fica mais
exigente, levando o indivíduo a buscar a sua qualificação profissional.
Dessa forma, isso é enfatizado por Morin (2001), uma vez que defendeu que, para os
trabalhadores, sua atividade não se restringe apenas à remuneração, mas concebem também que
pode ser um fator determinante para alcançar seus objetivos de vida e se constituir como gerador
de interações sociais.
Enquanto ao que diz respeito ao significado em que seu trabalho apresenta para outras
pessoas, é viável observar que a profissional demonstra a necessidade de ter seu exercício visto
como importante para sociedade. Segundo Tolfo e Piccinini (2007), isso acontece devido ao
fato de que, para o trabalhador, se sua atividade não for considerada útil e não oferecer
contribuições para a população, deixa de fazer sentido. Sendo assim, para o trabalho possuir
sentido, ele precisa abranger as dimensões individuais, sociais e organizacionais.
Apesar de possuir mais dois vínculos empregatícios na área, ela avalia cada um, citando
seus pontos positivos e negativos, e afirma que traz grandes contribuições para a sociedade. Por
outro lado, cita como ponto negativo a falta de tempo disponível para aproveitar o tempo de
folga.
Pode-se concluir com o presente trabalho, a entrevistada é uma pessoa realizada em sua
vida profissional, a qual ela atribui sentidos e significados e busca se aprimorar cada vez mais
em sua área. Como toda e qualquer atuação profissional, existem pontos positivos, aqueles que
levam a aos trabalhadores a procurarem sempre otimizar o desempenho, e também pontos
negativos, que podem desmotivar, mas que também podem mover para buscar melhorias
REFERÊNCIAS
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Saúde Coletiva, Minas Gerais, v. 8, n. 4, p. 1005-1018, nov. 2003. Disponível em:
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Acessado em: Mar. 2023.
CAPÍTULO 12
EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO PELA FACULDADE CESUSC EM
PSICOLOGIA DO ESPORTE
RESUMO
O presente relatório tem por objetivo descrever e analisar as intervenções realizadas em um clube de remo com
finalidade de alto rendimento, da cidade de Florianópolis. Para isso, foi necessário fazer uma breve revisão
científica e histórica sobre esse tipo de esporte e o local onde são feitas as suas práticas, incluindo aspectos
objetivos e subjetivos do desporto. Foi levado em consideração o mapeamento feito no Estágio Básico I sobre o
local e suas atividades, tendo em conta os comportamentos de todos que interagem dentro do clube de remo, sendo
eles praticantes do esporte ou não, levando em conta a rotina de treinamentos, atuação dos técnicos, a atuação da
diretoria na tomada de decisões dentro da instituição e, principalmente, a relação das pessoas que praticam o
esporte com a finalidade de competições de alto rendimento e as mulheres familiares que fazem o apoio aos
trabalhos realizados dentro do clube. Sendo assim, houve base suficiente para poder desenvolver intervenções
psicológicas adequadas dentro da psicologia, com uma abordagem cognitiva e social do esporte, envolvendo o
grupo paralímpico e o grupo olímpico, ambos existentes dentro do clube, a fim de, tentar promover mudanças que
podem ser temporárias ou permanentes dentro do contexto em que foi realizado o Estágio Básico II.
1. INTRODUÇÃO
O esporte de alto rendimento tem seu destaque no bem-estar físico, psicológico, social
e, por assim dizer, educativo desde os tempos antigos em que na antiga Grécia já era algo ligado
diretamente à qualidade de vida (MEDEIROS; LACERDA, 2020). Em território brasileiro,
Santa Catarina entra na história como sede de eventos esportivos no remo no ano de 1915, mas
outras localidades do Brasil já́ tinham suas atividades neste esporte aquático desde 1894, onde
o então governador da época Hercílio Luz, teve grande influência na inserção do remo no
Estado de Santa Catarina (DUTRA, 2019).
Tendo o remo no contexto dos esportes de alto rendimento, há que considerar que o
stress é uma constante, já que o atleta para chegar a determinados limites e conseguir alcançar
os seus objetivos, pode vivenciar em alguns momentos transtornos de ansiedade bem como
outros, diretamente ligados à vida de quem tem esta rotina diária de produção esportiva
(COLAGRAI et al., 2022). A liderança exercida, é um dos fatores que pode influenciar na vida
do atleta de alto rendimento, ocupando um papel fundamental no trabalho psicológico desses,
para que assim possam atingir o seu potencial máximo e identificar os melhores métodos para
Visando acompanhar o remo de alto rendimento, no âmbito cognitivo, este estágio tem
por função, colocar em prática ações da psicologia do esporte que possam causar alterações
positivas permanentes ou temporárias dentro de um clube do Sul de Santa Catarina utilizando
técnicas psicológicas da teoria cognitivo comportamental e da psicologia social do esporte com
os atletas, líderes da diretoria, técnicos, atletas e as mulheres familiares que acompanham
aqueles que praticam o remo.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
O Brasil fez história no remo paralímpico desde a sua inclusão nos jogos de Pequim, em
2008, com a paratleta Josiane Lima que conquistou a medalha de bronze para o País juntamente
com outro participante no Double Skiff (2X), sendo ela atleta do (Clube de Regatas Aldo Luz
(CRAL). Este feito se estende ao ponto de poder-se dizer que tanto no paralímpico quanto nas
olimpíadas, foi a primeira vez que o Brasil subiu ao pódio para receber medalhas com o remo
brasileiro (BRASIL, 2020).
No contexto dos paraesportes, os atletas são divididos segundo a sua dificuldade motora
sendo categorizados pela sua limitação física em que o PR1 (Para remo) ou TA (Trunks and
Arms) está designado à tripulação masculina ou feminina remando com o assento fixo com
encosto, o PR2 ou AS (Arms and Shoulders) sendo designado a movimentos de tronco e braço
com assentos fixos e barcos Double Skiff e o PR3 ou LTA (Legs, Trunks and Arms) que está
para o uso de pernas, tronco e braços com assento deslizante e conta com um timoneiro para
guiar o grupo e somente 50% da guarnição pode ter deficiência visual. A classificação se dá
não somente pela lesão corporal do atleta, mas como esta lesão afeta a remada do atleta (CBR,
2021).
Os paratletas enfrentam uma grande discriminação social pela sua condição física, e é
no esporte que eles conseguem superar muitas vezes esta discriminação devido as suas
limitações através dos feitos para conquistar o seu lugar no pódio porém, muito mais que um
ganho de medalhas e troféus, é necessário construir um espaço de visibilidade e valorização
como atleta, e também como cidadão (BRAZUNA; CASTRO, 2001).
As potencialidades para que um atleta paralímpico sirva como exemplo para atletas
olímpicos que tem tendência à baixa autoestima precisam ser estimuladas, uma vez que esses
paratletas são considerados exemplos de luta, constância e tantos outros fatores positivos que
podem servir de um apoio psicológico para aqueles que querem atingir as suas metas, mas não
conseguem por questões psíquicas e não físicas porém, é impossível negar que existem fatores
desafiadores na relação entre o olímpico e o paralímpico tais como: estigma, opressão e
discriminação, que ainda precisam ser socialmente superados (BRAZUNA; CASTRO, 2001).
Mesmo com diversos fatores que impactam os processos psicológicos e sociais, há uma
mudança importante quando há interação grupal entre atletas com deficiências e diferentes
capacidades físicas com o restante dos atletas durante os treinamentos, sendo observado nesta
interação, a diminuição da distância social e ampliação do contato pessoal entre os grupos, o
aumento às potencialidades e a capacidade de trabalho de equipe como um todo, contribuindo
com a redução dos casos de discriminação e com a expansão do nível de entendimento sobre as
dificuldades e sucessos do outro entre os atletas; trata-se de um importante trabalho de
unificação dos grupos, com o objetivo de impulsionar a equipe como um todo a trabalhar
coletivamente para alcançar as metas almejadas para o clube que atuam (SOUZA; MARQUES;
FERMINO, 2020).
Sendo o remo um esporte de alto rendimento que envolve movimentos amplos, com
capacidades aeróbicas e anaeróbicas, atividades técnicas e táticas para um bom
desenvolvimento, os treinamentos vão desde atividades específicas para a melhora da técnica
da remada, à atividades estressantes de alta velocidade envolvendo alguns elementos químicos
corporais que sofrem alterações hormonais, como no caso da leptina de plasma que dependendo
Porém, a ansiedade não deve ser vista no esporte como um fator meramente negativo, e
sim como um fator positivo quando bem medida e controlada em esportes de alto rendimento,
já que estruturas rígidas com regras pré-estabelecidas fazem parte do dia a dia dos atletas que
devem obedecer a códigos rigorosos para poder atingir as suas metas. Porém, fatores
alimentares, de stress e de ansiedade acabam sendo alterados com os treinamentos intensos,
principalmente quando não há uma moderação entre os treinamentos e os fatores que elevam a
ansiedade, atingindo diretamente o atleta que aumenta o grau de ansiedade a um nível de
transtorno psicológico, como é o caso da teoria da “inversão, da ansiedade multidimensional,
da catástrofe e das zonas individualizadas de performance”, afetando diretamente o seu
rendimento no preparo para as competições (MEDEIROS; LACERDA, 2020, p. 191).
Para o psicólogo do esporte Eli Straw (2021) existem cinco razões que interferem
diretamente sobre a ansiedade do atleta de alto rendimento, que são: a) questões cognitivas as
quais envolvem a preocupação sobre a perfeição, o medo de cometer erros, o medo de sentir
vergonha e a baixo autoestima; b) a resposta comportamental em relação ao perfeccionismo; c)
a baixa autoestima; d) a falta de preparo para a competição, seja em questões físicas e/ou
mentais; e) lembrança dos fracassos anteriores. Visto isso, é compreensível que alguns atletas
expressam comportamento mais agressivo ao terminarem as suas competições, o que requer
muitas vezes a atuação da psicologia do esporte (STRAW, 2021).
Além das funções habituais, o técnico é quem conduz o treinamento dos atletas sendo
responsável por dirigir o grupo dentro de um centro de treinamento, responsável por manter um
bom relacionamento entre os praticantes de esporte, não deixando que aconteçam atos de
discriminações mantendo assim, um clima amistoso e de bom conviver entre os atletas, evitando
que elementos negativos influenciem na diária de vida de treinos dos que estão praticando para
competir, tais como raça, idade ou condição física que não podem ser objetos de discriminação
dentro do esporte (MEDEIROS; LACERDA, 2020).
A sinergia exerce um papel importante para conduzir uma equipe de remadores, já que
os técnicos são responsáveis não somente por criar um time, mas fortalecê-lo dentro do que ele
significa para o lugar de trabalho e a grande importância que exerce naquele lugar, porém essa
sinergia não acontecerá se somente uma das partes for a que instrui. Faz-se necessário,
promover espaços de escuta para o atleta, incentivando a troca de informações durante os
treinos de forma clara, assim como na transmissão das ordens sobre os trabalhos que serão
executados, causando desta maneira, uma melhor fluência de comunicação evitando emoções
negativas que não irão ajudar o time a crescer como o esperado tais como a apatia, a ansiedade,
a produção de frustrações e a produção de raiva em determinados atletas (WALINGA, 2001).
Como “parceiro” partidário ao trabalho do técnico, os timoneiros são guias que exercem
funções primordiais aliadas aos desejos e parâmetros estabelecidos pelo treinador da equipe,
fazendo com que o barco ande e se comunique de forma adequada e satisfatória para o alcance
dos objetivos traçados e para tanto, reuniões constantes e instruções são passadas aos timoneiros
para que esse, possa agir como um segundo técnico dentro do barco, fazendo com que todos os
integrantes estejam dentro de um padrão e prontos para agir quando necessário. É o timoneiro
que irá se comunicar com os oficiais de prova dentro da água, bem como se assegurará de que
Para que um clube de remo se forme, é necessário que haja uma estrutura bem
organizada que possa gerenciar contratos, administrar os gastos de forma clara para todos,
estabelecer regras de conduta do local e do esporte como um todo, tomar ações que impulsione
o crescimento tanto da estrutura física estrutural dos clubes de remo quanto do esporte em si,
traçar estratégias junto ao técnico para garantir um bom andamento físico, social e psicológico
dos frequentadores dos associados e praticantes dos clubes de remo, regular questões desde
sociais até questões pertinentes aos cuidados e melhores interesses dos seus praticantes e da
instituição (KZN, 2012).
Considerando que esse grupo de pessoas que formam uma das lideranças mais
importantes dentro de um clube no que diz respeito a tomadas de decisões, é possível afirmar
que para o melhor interesse de todos no local, é imprescindível uma boa convivência tanto entre
as pessoas que interagem no próprio grupo formador da diretoria, como com atletas
participantes do local, com a Confederação Brasileira de Remo (CBR), e também com outros
clubes locais, a fim de manter uma harmonia entre todos, impulsionando potencialidades para
que os desportistas tenham oportunidades para alcançar grandes metas ao longo de sua trajetória
com o conhecimento previamente adquirido, já que é formada geralmente, por ex praticantes
ou praticantes ativos do esporte (FERGUSON, 2021).
Para que o grupo de uma diretoria funcione bem, é importante que haja diálogo,
flexibilidade para escutar outras opiniões, saber trabalhar em grupo para poder fazer uma boa
liderança, entender da área que está liderando e, principalmente do esporte que está dirigindo
para que as decisões possam ser benéficas para todos (NAVARRO, 2012). Somado a essa teoria
de trabalho colaborativo, Mello et al. (2014) ressaltam que saber aceitar opiniões contrárias, ser
flexível, reconhecer que as pessoas que compõem esse grupo são diferentes, tendo cada uma
delas uma história diferente de vida, mas que estão inseridas em um local que luta por um bem
comum, ter condições de dar feedback dentro de uma ética sabendo colocar-se de maneira
respeitosa de forma que todos possam refletir sobre os pontos de vista de quem os coloca, saber
Para Burlot, Richard e Joncheray (2016) os atletas de alto rendimento, tem pouca ou
nenhum tempo para poder ter uma vida social fora do espaço de tempo de treino, levando uma
vida sumamente estrita de horários, repleta de regras e muita tensão para poder ter algum tempo
para si ou para outros fora das inúmeras atividades diárias, esses competidores precisam
inventar maneiras de poder estar mais próximo de familiares, amigos e até para ter um tempo
de qualidade sem stress para si.
Elencando a ideia de que o atleta de alto rendimento é um ser que vive dentro de uma
realidade social e cultural, há a percepção de que nem todo atleta de alto rendimento visa
somente a busca pela vitória, mas em muitos casos, está em busca do prazer em adquirir uma
melhor saúde corporal bem como, a superação dos seus limites e para isso, é fundamental o
apoio de fatores externos sendo um deles, a busca por uma atividade prazerosa em um tempo
livre que também possa lhe proporcionar prazer e o apoio no meio em que vive, não se limitando
isso somente ao local das práticas, porém buscando incentivos externos na família e no meio
que vive (RUBIO, 2019).
Por outro lado, o meio em que o atleta de alto rendimento está inserido, é um meio que
não permite uma vida cheia de acontecimentos sociais, permitindo uma rede de comunicação
com rotinas diferenciadas de um trabalhador comum, tendo uma vida social que é afetada ao
chegar ao fim de carreira pela aposentadoria, pois, a separação dos colegas para assumir novos
ritmos com novas perspectivas chega a ser tão assustadora para alguns, que eles resistem ao
máximo ao afastamento tanto dos colegas de treinos, como das rotinas assumidas ao longo da
vida, gerando muitas vezes, sofrimento psicológico que vão de leves a graves, e que podem
levar o atleta a ter dificuldades na relação com álcool e outras drogas e drogas por não suportar
ter que assumir uma posição diferenciada no seu dia a dia (AGRESTA; BRANDÃO; NETO,
2008).
Como cita Samulski e Noce (2002), realizar uma intervenção psicológica com paratletas
voltada a técnicas de relaxamento, visualização, concentração, motivação e que possam
alcançar níveis de estado emocional que proporcionem um bom controle emocional, é uma
forma de motivação não somente para trabalhos individuais, mas também em trabalhos grupais.
A maneira como é feito o acesso a esta memória também é algo a ser explorado, uma
vez que tanto a forma com que é feita a escrita, quanto as cores e imagens que são utilizadas
para transpor momentos importantes de forma visual, podem ter um poder enorme de
memorização ao se fazer um mapa de ação para cada pessoa (TEITELBAUM, 1999).
3. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTÁGIO
4. ATIVIDADES REALIZADAS
Ficou claro que para resolver problemas e assimilar novas ações psicológicas, os
integrantes do grupo de WhatsApp criado pelo técnico local, agem e se reconhecem como um
grupo, o que possibilita a perspectiva psicológica comunitária de trabalho para a aplicação do
projeto do Estágio Básico II, em que são estimuladas a consciência crítica e ético-solidárias.
Uma vez que salienta a importância dos participantes e parceiros do clube reconhecerem a
história e posições da comunidade em que estão inseridos, bem como poder fazer
transformações neste espaço, conforme citam Pinheiros, Barros e Colaço (2012, p. 194) nos
seus estudos sobre Psicologia Comunitária e técnicas para o treinamento de grupos. Porém, foi
preciso fazer um trabalho de reconhecimento da importância do trabalho de grupo, de
diminuição de ansiedade e manejo do stress nos trabalhos efetuados entre a diretoria e o técnico
principal, sendo essa uma fragilidade que afetava os próprios integrantes desse grupo
específico.
Para trabalhar dentro do contexto proposto pensando no amparo psicológico para este
projeto, foram planejadas as seguintes ações:
• Elaborou-se um quadro com a foto das lideranças principais do Clube para que todos
pudessem identificar e recorrer aos membros da diretoria e aos dois técnicos, delimitando de
forma visível, quem exerce cada função dentro do clube e potencializando essas lideranças,
• Foi criada uma rede de apoio aos atletas e às mulheres familiares que acompanham esses
atletas fortalecendo os vínculos e diminuindo as ansiedades, principalmente, nas épocas de
competições;
• Criou-se com essa rede de apoio do clube, uma manhã de sábado que juntamente com os
técnicos, diretoria e famílias, os/as atletas do paralímpico e olímpico que já possuem domínio
dos barcos, pudessem dirigir-se a um local remando fazendo assim, atividades ligadas ao remo
direcionadas pelos técnicos de forma conjunta, tendo como término um almoço entre as
famílias. Ampliando, dessa maneira, a troca de informações das dificuldades, barreiras,
limitações e aumentando o vínculo entre o grupo paralímpico, olímpico e lideranças.
Em agosto, foi realizado um café da manhã pós treino e reunião com as atletas do 8+
para analisar junto com elas o nível de ansiedade dessas, e amenizar questões sobre o tema em
pré-competições. Após falar sobre os benefícios e malefícios da ansiedade pré-competição e os
benefícios da visualização antes da regata, foi realizada a escuta de cada atleta no que se refere
aos seus sentimentos frente a um momento competitivo muito visado pela cidade de
Florianópolis, a ser enfrentado em dois dias. Com base em cada relato, foi realizado um
aconselhamento psicológico grupal refletido nos textos citados no início da reunião e, em
seguida, outros aconselhamentos feitos de maneira individualizada, frente a diferentes formas
de estarem enfrentando a mesma situação de ansiedade antes da competição marcada. Para
reforçar a reflexão sobre ansiedade e visualização pré-competições, foi enviado via eletrônica
um vídeo feito por um atleta olímpico baseado em experiências próprias e com bases científicas.
O mesmo método foi utilizado com outra remadora que tinha dificuldade em lembrar de
organizar os seus dias e treinos devido a sua nova forma de organizar a sua vida diária, e acabava
frustrando-se em relação às exigências da prática do remo, versos ter que lembrar de cada
atividade, data ou hora para treinar dentro da sua nova maneira de viver. Segundo Teitelbaum
(1999) o cérebro funciona como um database, repleto de informações que acionado por
diferentes maneiras de composições visíveis em vez de palavra, pode aumentar
consideravelmente o poder de memorizar as coisas causando menores frustrações.
Com os paratletas com deficiência visual ou baixa visão, a partir da observação dos
relatos de cada um e notado que todos tinham a mesma demanda que era a necessidade de
realizar atividades de forma independente, ao mesmo tempo percebendo que esses estavam
No mesmo mês, ao observar que no remo olímpico ainda havia dúvidas sobre a
psicologia do esporte e a psicologia clínica, foi distribuído por meios sociais uma reportagem
contendo os benefícios da psicologia do esporte e a sua diferença quanto à psicologia clínica,
enfatizando que na psicologia do esporte não é aplicado um tratamento, mas um
acompanhamento psicológico com objetivos bem definidos em prol do bem do atleta e o local
onde treina, o que ajudou, de certo modo, na amplitude desse olhar sobre os trabalhos a serem
efetuados dentro do clube de remo. Essa amplitude de olhar, aparentemente, estendeu-se sobre
a diretoria possibilitando uma melhor abordagem para dar continuidade às propostas feitas para
esse estágio. Isso abriu campo para que o acompanhamento aos atletas na última etapa do
Nesse dia, movimentou-se todos os setores do clube, desde os que atendem somente a
questões sociais até os grupos técnicos. Os simuladores de remo, denominados remo
ergométricos, foram transportados ao trapiche da Avenida Beiramar enquanto os atletas e
participantes do evento foram caminhando até o local, alguns carregando um remo do clube e
outros somente acompanhando, mas todos em grupo. Ao chegar no local, o técnico do
paralímpico organizou as equipes em grupos de quatro pessoas para remar ao princípio e
posteriormente, foi convidando pessoas que estavam assistindo somente para poder
experimentar o simulador de remo. Várias pessoas de diferentes idades participaram do evento,
gerando não somente a importância da conscientização sobre a prevenção do câncer de mama,
mas também trazendo mais visibilidade sobre o esporte remo praticado dentro do CRAL,
especificamente. Após o evento, todos retornaram ao clube e fizeram uma confraternização com
um almoço preparado por todos em suas casas e levado até o local.
Percebeu-se que a música exerceu um papel importante, tanto nos preparativos para a
saída dos atletas, quanto durante o evento e após o evento, tendo diferentes intensidades para
cada momento, conforme cita Duarte (2009) sobre os efeitos da música nos diferentes contextos
dentro de uma perspectiva psicológica no esporte. A partir dela foram alavancadas emoções de
alegria, entrosamento, diminuição do stress, estímulos excitatórios necessários para fazer as
atividades propostas e, posteriormente, trouxe tranquilidade ao ambiente na hora do almoço
entre as famílias, fazendo uma espécie de retorno à tranquilidade antes que todos regressassem
aos seus lares.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O atleta de alto rendimento passa por situações de stress diariamente, seja em questões
físicas como psicológicas afirma Colagrai et al. (2022) e isso pode estar ligado ao fator
ansiedade que como citam Medeiros e Lacerda (2020), nem sempre deve ser tomado como um
fator negativo nesse tipo de categoria esportiva. Ao mesmo tempo, para um bom andamento e
sinergia entre os atletas, as lideranças exercem funções importantes no manejo do stress e
condução dos níveis de ansiedade uma vez que a flexibilidade na tomada de decisões e uma boa
escuta, podem fazer a diferença entre ganhar ou perder, unir ou separar o grupo (NAVARRO,
2012) ao mesmo tempo que as mesmas lideranças ao incentivarem atividades sociais, estão
contribuindo para a aproximação dos atletas às suas famílias e amigos, considerando que na
vida diária de treinamentos, não resta muito tempo para o convívio social (BURLOT;
RICHARD; JONCHERAY, 2016).
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